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Professor Cherlio Scandian

Rodrigo de Oliveira Pezzin

Mecânica da fratura
Sumário

2.5 - Instabilidade e curva R


2.5.1 - Razões para o formato da curva R
2.5.2 - Controle de carga versus controle de deslocamento
2.5.3 - Estruturas com flexibilidade finita
2.5 Instabilidade e a curva R

A propagação da trinca ocorre quando:


𝒢 = 2𝑤𝑓
Onde 𝓖 é a taxa de liberação de energia e 𝒘𝒇 é a energia de fratura.
Mas o crescimento da trinca pode ser estável ou instável, dependendo de
como 𝒢 e 𝑤𝑓 variam com o tamanho da trinca.
A fim de ilustrar os comportamentos estável e instável, torna-se conveniente
substituir 𝑤𝑓 por 𝑹, que é a resistência do material à propagação da trinca.
2.5 Instabilidade e a curva R
Quando plota-se 𝑅 em função do tamanho da trinca, temos uma curva
conhecida como curva de resistência ou curva R.
Analogamente, se plotarmos 𝒢 em função do tamanho da trinca, temos a curva
de força motriz.
2.5 Instabilidade e a curva R

Considerando uma placa infinita com uma trinca


passante de comprimento inicial igual a 2𝑎0 .
A uma tensão constante, 𝜎, aplicada no infinito, a
taxa de liberação de energia varia linearmente com
o tamanho da trinca. Isso foi visto na equação
mostrada abaixo:
𝜋𝜎 2 𝑎
𝒢=
𝐸
2.5 Instabilidade e a curva R
Abaixo, temos a comparação de curvas R e de força motriz de dois diferentes
tipos de comportamentos de materiais.
2.5 Instabilidade e a curva R

O primeiro caso mostra uma curva R plana, onde a


resistência do material é constante com o
crescimento da trinca.
Quando a tensão é igual a 𝜎1 , a trinca é estável.
A fratura ocorre quando a tensão atinge o valor de
𝜎2 , onde a trinca se propaga de forma instável, pois
a força motriz aumenta com o crescimento da
trinca, mas a resistência do material permanece
constante.
* 𝒢𝑐 é a taxa crítica de liberação de energia.
2.5 Instabilidade e a curva R

O segundo caso ilustra um material com uma curva


R crescente.
A trinca cresce uma pequena quantidade quando a
tensão atinge 𝜎2 , mas não pode crescer mais a não
ser que a tensão aumente.
Quando a tensão é fixada em 𝜎2 , a força motriz
aumenta a uma taxa menor que a de 𝑅.
O crescimento estável da trinca continua enquanto
a tensão cresce até 𝜎3 .
2.5 Instabilidade e a curva R

Quando a tensão finalmente atinge 𝜎4 , a curva de


força motriz é tangente à curva R.
O crescimento da trinca se torna instável porque a
taxa de variação na força motriz excedeu a
inclinação da curva R.
2.5 Instabilidade e a curva R

As condições para um crescimento estável de uma


trinca podem ser expressos por:
𝒢=𝑅
E
𝑑𝒢 𝑑𝑅

𝑑𝑎 𝑑𝑎
Logo, o crescimento instável da trinca vai ocorrer
quando:
𝑑𝒢 𝑑𝑅
>
𝑑𝑎 𝑑𝑎
2.5 Instabilidade e a curva R
Quando a curva R é plana, podemos definir um valor crítico de taxa de
liberação de energia, 𝒢𝑐 , inequivocadamente.
Porém, um material com uma curva R crescente não pode ser caracterizado por
um valor único de resistência.
2.5 Instabilidade e a curva R
𝑑𝒢 𝑑𝑅
>
𝑑𝑎 𝑑𝑎
A equação acima, já vista, mostra que um material com defeitos falhará
quando a curva de força motriz for tangente à curva R.
Porém, esse ponto de tangente depende do formato da curva de força motriz,
que depende da configuração da estrutura.

𝜋𝜎 2 𝑎 𝑃2 𝑎2
𝒢= 𝒢=
𝐸 𝐵𝐸𝐼
𝐼 é o momento de
inércia do corpo
Double Cantilever Beam (DCB)
Viga sob carregamento duplo
2.5 Instabilidade e a curva R

Materiais com uma curva R crescente podem ser caracterizados pelo valor de 𝒢
no início do crescimento da trinca.
Entretanto, a tenacidade ao início de crescimento usualmente não é sensível à
geometria estrutural. Existem outros problemas.
É virtualmente impossível determinar o momento exato do início de
crescimento da trinca na maioria dos materiais.
Uma aproximação de engenharia para a iniciação da trinca geralmente é
utilizada. Análoga ao deslocamento de 0,2% da tensão de escoamento para
ensaios de tração.
2.5.1 Razões para o formato da curva R

Alguns materiais apresentam uma curva R crescente enquanto outros


apresentam uma curva plana.
O formato da curva R depende do comportamento do material e da
configuração da estrutura trincada.
A curva R para um material idealmente frágil é plana porque a energia de
superfície é uma propriedade invariante do material.
Mas quando o comportamento não-linear do material acompanha a fratura, a
curva R pode assumir várias formas.
2.5.1 Razões para o formato da curva R

Por exemplo, a fratura dúctil em metais geralmente resulta em uma curva R


crescente.
Uma zona plástica na ponta da trinca aumenta em tamanho a medida que a
trinca cresce.
A força motriz deve aumentar em tais materiais para manter o crescimento da
trinca.
Se o corpo trincado é infinito (ou seja, a zona plástica muito pequena em
relação ao corpo), o tamanho da zona plástica e o valor de 𝑅 eventualmente
encontrarão um estado estacionário e, então a curva R se torna plana.
2.5.1 Razões para o formato da curva R
Alguns materiais podem apresentar uma curva R decrescente.
Quando um metal falha por clivagem, por exemplo, a resistência do material é
dada pela energia de superfície e a dissipação plástica local.
Nesse caso a curva R poderia ser relativamente plana se o crescimento da
trinca fosse estável.
Entretanto, a propagação da clivagem é geralmente instável.
2.5.1 Razões para o formato da curva R
A clivagem ocorre nos planos e nas direções menos densos e, dessa forma
necessita de menos energia para ocorrer.
O material perto da ponta da trinca é sujeito a taxas de deformação muito
altas, que suprimem a deformação plástica.
Assim, a resistência ao rápido crescimento de uma trinca de clivagem é menor
do que a resistência no início da fratura.
2.5.1 Razões para o formato da curva R

O tamanho e a geometria da estrutura fraturada podem exercer alguma


influencia sobre o formato da curva R.
Uma trinca em uma folha fina tende a produzir uma curva R mais acentuada
que uma trinca em uma chapa espessa porque existe um menor grau de tensão
triaxial na ponta da trinca na folha fina enquanto o material próximo à ponta
da trinca na chapa espessa pode estar em um estado plano de deformação.
A curva R também pode ser afetada por uma trinca crescendo que se aproxima
de uma superfície livre na estrutura.
Uma chapa larga pode exibir um comportamento de resistência ao crescimento
de uma trinca diferente do de uma chapa estreita do mesmo material.
2.5.1 Razões para o formato da curva R

Idealmente, a curva R deveria ser uma propriedade apenas do material e não


depender do tamanho ou formado do corpo.
Muito na mecânica da fratura é previsto assumindo-se que a tenacidade à
fratura é uma propriedade do material.
Porém efeitos da configuração podem ocorrer e devemos estar cientes de seus
efeitos e potencial influência na precisão da análise.
2.5.2 Controle de carga x Controle de deslocamento

𝑑𝒢 𝑑𝑅 𝑑𝒢 𝑑𝑅
𝒢=𝑅 ; ≤ ; >
𝑑𝑎 𝑑𝑎 𝑑𝑎 𝑑𝑎
De acordo com equações já vistas, a estabilidade de crescimento de uma trinca
depende da taxa de variação de 𝒢, ou seja, a derivada segunda da energia
potencial.
Embora a força motriz (𝒢) seja a mesma, tanto para o controle de carga quanto
para o controle de deslocamento, a taxa de variação da curva de força motriz
depende de como a estrutura é carregada.
2.5.2 Controle de carga x Controle de deslocamento

O controle de deslocamento tende a ser mais


estável que o controle de carregamento.
Com algumas configurações, a força motriz
decresce com o crescimento da trinca no
controle de deslocamento.
2.5.2 Controle de carga x Controle de deslocamento
Referindo-se à figura ao lado, considere uma
estrutura com uma trinca sujeita a um
carregamento 𝑃3 e um deslocamento ∆3 .
Se a estrutura é controlada pelo carregamento,
ela está no limite da instabilidade, onde a curva
de força motriz é tangente à curva R.
No controle de deslocamento, entretanto, a
estrutura é estável porque a força motriz
diminui com o crescimento da trinca.
O deslocamento tem que ser aumentado para a
trinca continuar crescendo.
2.5.2 Controle de carga x Controle de deslocamento
Quando uma curva R é determinada
experimentalmente, o corpo de prova é,
geralmente, testado em controle de
deslocamento.
Como as geometrias mais comuns de corpos de
prova exibem curvas de força motriz
decrescentes no controle de deslocamento, é
possível obter uma significante quantidade de
crescimento de trinca estável.
Se uma instabilidade ocorrer durante o ensaio, a
curva R não pode ser definida além do ponto de
falha.
2.5.3 Estruturas com flexibilidade finita

A maioria das estruturas reais estão sujeitas a


condições entre o controle de carga e o controle
de deslocamento.
Essa situação intermediária pode ser
representada por uma mola em série com a
estrutura que apresenta uma trinca.
A estrutura é fixa a um deslocamento constante
no infinito, ∆ 𝑇 .
2.5.3 Estruturas com flexibilidade finita

A mola representa a flexibilidade do sistema,


𝐶𝑀 .
Controle puramente por deslocamento
corresponde a uma mola infinitamente rígida,
onde 𝐶𝑀 = 0.
Controle puramente por carga, implica em uma
mola infinitamente flexível, onde 𝐶𝑀 = ∞.
2.5.3 Estruturas com flexibilidade finita

Quando a flexibilidade do sistema é finita, o


ponto de instabilidade da fratura obviamente
recai em algum lugar entre os extremos de
controle puramente de deslocamento ou
puramente de carga.
2.5.3 Estruturas com flexibilidade finita
No momento da instabilidade as seguintes condições
são satisfeitas:
𝒢=𝑅
E
𝑑𝒢 𝑑𝑅
=
𝑑𝑎 ∆𝑇
𝑑𝑎

Onde a derivada do lado esquerdo da equação acima é:


−1
𝑑𝒢 𝜕𝒢 𝜕𝒢 𝜕∆ 𝜕∆
= − 𝐶𝑀 +
𝑑𝑎 ∆𝑇
𝜕𝑎 𝑃
𝜕𝑃 𝑎
𝜕𝑎 𝑃
𝜕𝑃 𝑎
Conclusões
A curva R de um material idealmente frágil é plana (sua resistência é constante)
pois a energia de superfície é uma propriedade invariante do material.
Porém, quando o material apresenta deformação plástica, a curva R se
apresenta de forma não linear.
Essa forma não linear pode ser crescente devido ao aumento da resistência ao
crescimento da trinca em função do crescimento da trinca.
Porém algumas configurações apresentam curvas R decrescentes, como a
clivagem.
A clivagem ocorre nos planos e nas direções menos densos e, dessa forma
necessita de menos energia para ocorrer. A trinca de clivagem cresce de
maneira muito rápida e a taxa de deformação na ponta da trinca é tão alta que
suprime a deformação plástica, que é um mecanismos de resistência de
propagação da trinca, gerando uma curva R decrescente.
Conclusões

Quando plotamos a taxa de liberação de energia em função do tamanho da


trinca, temos a curva de força motriz.
Quando plotamos a resistência do material à propagação da trinca em função
do tamanho da trinca, temos a curva de resistência, também conhecida como
curva R.
A forma da curva R é afetada pelo tamanho e geometria da estrutura.
Essas curvas podem nos fornecer informações importantes. Quando a
inclinação da curva de força motriz para uma dada tensão é igual a inclinação
da curva R, temos definido o ponto de início da propagação instável da trinca.
Conclusões

O controle de deslocamento tende a ser mais estável que o controle de


carregamento, pois em alguns casos, a força motriz decresce com o
crescimento da trinca no controle de deslocamento, ou seja, o deslocamento
tem que ser aumentado para a trinca continuar crescendo.
Referências

ANDERSON, T. L. Fracture Mechanics: Fundamentals and applications. 4º


Edition. Boca Raton, FL. CRC Press. 2017.

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