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Caso Prá tico

Maria
Fevereiro de 2023

Dados sobre o Perfil Pessoal

Miguel Santos, Mónica Maia e Susana Martins


CASO PRÁTICO

CONHECENDO MARIA: alguns dados sobre o Perfil Pessoal

A Maria é uma jovem de 19 anos. Mora com os pais, irmãos e uma prima, com a qual
divide o quarto. A mãe é a representante legal e com isso, para além das necessidades
apontadas pela Maria, também participa na tomada de decisões nos variados aspetos
da vida da filha. A Maria tem o 12º ano de escolaridade completo e atualmente não
exerce atividade a nível profissional.
A jovem apresenta baixa autoestima, por repetidas vezes chama-se de “burra” quando
executa alguma tarefa sem sucesso ou apresenta maiores dificuldades; “feia” e
“gorda”, por causa de espinhas e sentir-se acima do peso, quando veste roupas que
ficam apertadas e causam desconforto. Veste-se sozinha, no entanto, a Maria escolhe
vestir-se com roupas com que a mãe geralmente não está de acordo, seja porque não
estão adequadas à temperatura ou pela combinação calças/camisola/casaco. Dado
isto, quem faz a escolha é a própria mãe.
A Maria é comunicativa e quando está pessoalmente com outros sujeitos tende a
puxar assuntos, fazer perguntas, a querer conhecer melhor as pessoas e também a
falar de si e contar as suas próprias histórias. Quando comunica a respeito de algo do
seu interesse, mantém contato visual. Defende os seus pontos de vista, costuma dar
opiniões e quando é confrontada tem comportamento opositor e evita contato visual.
Quanto à fala, a Maria frequenta semanalmente consultas com uma terapeuta da fala
para trabalhar a pronúncia das palavras. Nas palavras em que há presença da letra “r”
no meio ou final da sílaba, bem como a presença da letra “s”, tende a omitir o som
dessas. Por exemplo, diz “binquedo” (brinquedo), “buxa” (bruxa), “tataruga”
(tartaruga), “usso” (urso), “Fancico” (Francisco), “catelo” (castelo), etc. Também troca
o som do “j” pelo do “z”, diz “zacaré” (jacaré), “hoze” (hoje). Para além da pronúncia,
os exercícios da terapia visam melhorar a saúde bocal de Maria.
A Maria tem um telemóvel e frequentemente carrega-o na mão, telefona para diversas
pessoas que tem nos contatos e na maior parte das vezes não é atendida. Quando isso
acontece fica chateada, por vezes insiste ao ligar novamente até que a pessoa atenda
ou então desista de telefonar por vontade própria.
Quando é atendida, ao contrário do que acontece pessoalmente, perde-se nas
conversas, seja por repetir assuntos ou até mesmo não ter algo definido para dizer.
Entretanto, despede-se com “até logo, beijinhos” e geralmente é correspondida.
Mostra gosto por trocar mensagens na aplicação Whatsapp, pede ajuda para ler e
redigir mensagens, dado que lê e escreve poucas palavras completas e as descodifica
foneticamente a fim de juntar as letras e formar sílabas até compreender o todo da
palavra.
Ainda em relação à escrita, tem a iniciativa de redigir à mão, pega em papel e caneta
para escrever bilhetes ou externalizar ideias. Neste momento, troca a grafia de
algumas letras ou escreve-as espelhadas, mas com ajuda faz as devidas correções.
Escreve as palavras juntas, sem deixar espaços, elabora frases curtas e esquece-se de
utilizar as pontuações. Neste sentido, também está a frequentar uma psicopedagoga,
duas vezes por semana.
No contexto de casa, a Maria tem o hábito de deitar as próprias roupas e toalha de
banho no chão do quarto ou casa de banho e assim mantê-las, ao contrário de guardá-
las no armário ou levar para o cesto das roupas sujas. Deixa a cama por fazer e quando
é questionada se o quarto está organizado, responde que já o arrumou. Tem iniciativa
para arrumá-lo quando é chamada a fazer. A responsabilidade que tem em relação às
outras divisões restringe-se a mantê-los organizados, sem objetos de uso pessoal
espalhados (como por exemplo a máscara, andante, computador, carregadores) bem
como após utilizar os objetos de uso coletivo (prato, copo, chávena – por exemplo,
quando toma o lanche da tarde em casa).
A Maria prepara o próprio lanche sozinha, faz uso da torradeira, microondas, escolhe o
que comer e por vezes é chamada à atenção por familiares em relação a quantidade.
Aceita as dicas que são dadas para manusear melhor a faca para cortar os pães e pôr
manteiga. Acontecem repetidas vezes o hábito de querer preparar o lanche apenas
com uma mão, quando a outra está a segurar o telemóvel. Além de preparar o lanche
para si, oferece-se para preparar para quem estiver por perto, gosta de partilhar os
momentos de refeição.
Realiza os cuidados de higiene pessoal sozinha, entretanto é preciso ser chamada,
insistentemente, para fazê-los. Faz poucos movimentos com a escova ao lavar os
dentes, a limpeza é feita de modo superficial. O momento do banho requer maior
atenção, pois recusa-se a aceitar orientações de como melhorar neste aspeto. Penteia
os cabelos sozinha, embora superficialmente, por baixo ficam nós. Também seca os
cabelos sozinha, com dificuldades em manusear o secador e escovar ao mesmo tempo.
Ao escolher a roupa para vestir apresenta dúvidas no que colocar, é resistente ao
aceitar sugestões.
A Maria só sai de casa para os compromissos acompanhada. As deslocações envolvem
caminhadas e viagens de autocarro. Geralmente atravessa a rua sem olhar para os
lados, tende a avançar durante o sinal vermelho e é impaciente quando espera pelo
autocarro na paragem, e expressa-se oralmente em relação a isso. Ao subir para o
autocarro, precisa que lhe digam o momento certo para carregar no botão e sair.
Nas idas ao mercado e cafés, antes de efetivamente escolher o que consumir, a Maria
faz perguntas quanto ao preço dos produtos e se conseguirá pagar com o dinheiro que
tem. A mesma atitude serve para juntar a quantia adequada para pagar às pessoas
destes estabelecimentos. Esta situação também ocorre quando nos deslocamos a uma
loja para carregar o cartão andante.
Quanto à localização temporal, a Maria sabe os dias da semana e meses, porém tem
dificuldades ao dizer em qual dia e mês do ano em que está. Eventualmente localiza-se
de acordo com o compromisso do dia, dado a rotina já estabelecida das diversas
atividades que realiza (equitação terapêutica, psicopedagoga, terapia da fala, grupo de
jovens). Vê as horas no relógio e tende a dizer horários aleatórios que não
correspondem com a realidade.

Perspetivas sobre o Futuro


- A Maria gosta de ir à missa aos sábados de manhã, mas acorda tarde e por vezes
atrasa-se. Tem dias que está mais proativa, outros em que executa estas tarefas com
lentidão (tomar banho, arranjar-se, arrumar o quarto e apanhar o autocarro). Ao
entrar na igreja, lá permanece sozinha.
- A Maria é assídua e gosta de ir ao grupo de jovens. Gosta de chegar com
pontualidade e geralmente fica impaciente ao esperar o autocarro, mesmo que ainda
tenha tempo. Geralmente confunde o dia do grupo.
- A Maria quer trocar mensagens com familiares e amigos, escrever bilhetes e
comunicar-se através da escrita. Toma iniciativa e pede ajuda para conseguir realizar
estas trocas.
- A Maria tem iniciativa de querer sair para lanchar, pede dinheiro à mãe ou ao pai,
que geralmente dão. Pede ajuda para juntar o dinheiro necessário para pagar, diz que
quer aprender matemática por este motivo.
- Os contatos de Maria restringem-se maioritariamente à própria família e amigos dos
familiares. É expectativa da jovem conhecer novas pessoas. É também expetativa da
mãe que a Maria faça novas amizades.
- A Maria gostava de ter um namorado e, um dia, viver com ele.
- A Maria gostava de ter um trabalho relacionado com o cuidar de crianças

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