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LITERÁRIOS
“Sabes, pai, gosto de pensar que nunca mais vou ficar sozinho e que alguém há de ficar
comigo para sempre sem me abandonar.
O Crisóstomo disse ao Camilo: todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e
a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que
nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as
nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãs uns dos outros.
Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de
pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós.” (p. 130-131)
O livro escolhido foi romance “O filho de mil homens” do premiado escritor português
Valter Hugo Mãe (nome artístico). O romance, a primeira instância, parece desorganizado, uma
espécie de coletânea de crônicas independentes entre si. A continuidade da leitura faz com que
toda a teia de personagens se encontre e construa uma história só sobre amor.
Primeiramente, o motivo da escolha se deu por ser o último livro que li durante esse ano
e o primeiro que li do autor. Eu estava passando por um momento difícil e um podcast que
acompanho recomendou o livro, me interessei e rapidamente comecei a leitura. A forma como
Valter Hugo escreve seus livros é muito diferente de qualquer outro que já tinha lido. Ele
escreve de forma simples, poética, seus personagens são pessoas extremamente humanas e
verossímeis, os diálogos são todos incorporados nos mesmos parágrafos que as narrações,
tornando a leitura em um ritmo muito singular e em uma beleza descomplicada.
No momento em que lia, tentei incorporar algumas das reflexões realizadas pelo
personagem Crisóstomo, que consegue realizar o sonho de construir uma família, de ser o
dobro, como é falado no livro. A passagem ocorre em um momento de conversa entre
Crisóstomo e seu filho Camilo e também justifica o título do romance. A romance, que começa
com a frase: “Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho.”,
tem posteriormente o mesmo homem pensando que “quem tem menos medo de sofrer, tem
maiores possibilidades de ser feliz” e se encerra com o personagem se preenchendo com o que
lhe faltava, sendo imensamente feliz.
Por fim, é impossível não considerar que a maneira como li e interpretei o texto não
configurem, de certa forma, uma outra versão do texto lido. As diferentes interpretações que o
livro permite vão além das intenções do próprio autor, dessa forma, é compreensível e normal
a ressignificação de trechos para segmentos da nossa própria vivência, tornando assim mil
versões de um livro só.
RERERÊNCIAS:
MÃE, Valter Hugo. O Filho de Mil Homens. São Paulo: Cosac & Naify, 2012.