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A busca pela harmonização

das normas internacionais


de contabilidade
Julio Candido de Meirelles Junior
Camyla D´Elyz do Amaral Meirelles

O crescimento da globalização e, O processo de convergência às nor- o Plano de Contas Referencial, elaborado


mas internacionais de contabilidade é pela equipe técnica do Sistema Público
principalmente, a maior inte­g ração um dos grandes desafios para a Ciência de Escrituração Digital (SPED), com o
Contábil e para os estudiosos em Con- objetivo de uniformizar as informações
entre os diferentes mercados
tabilidade. contábeis das empresas que efetuarão a
mundiais trouxeram a necessidade A Ciência Contábil torna-se cada Escrituração Contábil Digital (ECD).
vez mais reconhecida como linguagem
da adoção de padrões contábeis universal de negócios e a única capaz Princípios versus
de interpretar, de forma homogênea, Normas
unificados. Seguidas por diversos
os fenômenos econômicos envolvidos
mercados importantes, as normas nessas relações. Observa-se com frequência uma con-
Os profissionais da Contabilidade fusão entre o significado de princípios e
internacionais de contabilidade almejam por harmonizar as normas contá- normas. Os princípios são revestidos de
beis para que efetivamente possam atingir universalidade e generalidade, elemen-
começam a alterar a forma como
um grau satisfatório de confiabilidade tos que caracterizam o conhecimento
as empresas brasileiras emitem perante o público externo, dando maior científico, juntamente com a certeza, o
transparência e segurança às informações método e a busca das causas primeiras. As
demonstrações financeiras. Este contábeis. normas dirigem a ação, são proposições
Visando à harmonização das normas com carga de ordem e comando, leis que,
pequeno estudo abre as portas
contábeis, empenhos têm sido feitos em se não forem obedecidas, levam risco ao
para o entendimento das questões vários países. No Brasil, a Lei das Socieda- comportamento.
des por Ações – Lei nº. 6.404/76, alterada A palavra princípios, em nosso idio-
propostas por colegas e alunos e pela Lei nº. 11.638/07, abriu definitiva- ma, tem acepções variadas. No singular,
mente o ‘acesso’ para a convergência aos emprega-se com o significado de ‘origem’,
com ele espera-se evidenciar um padrões internacionais. Por outro lado, ‘começo’ e também ‘regra a seguir’,
norte para a questão. essa sequência de eventos veio ainda co- ‘norma’. No plural, tem o significado de
laborar para novos direciona­d ores, como ‘elementos’, ‘rudimentos’, ‘convicções’.
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Assim se emprega o termo, seguindo com que se estabelece como base ou medida de fatos patrimoniais; modelo ou
alguma fidelidade o que representava para a realização ou avaliação de alguma exemplo de um procedimento em
em sua origem etimológica, ou seja, no coisa”. As ‘normas’ são convencionais e escrituração ou em pesquisas de con-
Latim, onde tinha um sentido próprio e estabelecidas por doutrinadores ou profis- tabilidade; maneira de proceder em
um particular. A palavra principium, na sionais, com a finalidade de harmonizar e contabilidade. As normas contábeis
Roma antiga, como substantivo, sugeria homogeneizar os resultados obtidos com não devem ser confundidas com as
‘começo’, ‘origem’, ‘exórdio’, ‘prelúdio’ a aplicação prática dos conhecimentos Leis Contábeis. Filosoficamente existe
e ‘em primeiro lugar’. Tais significados científicos. São condicionadas aos parâ- uma diferença bem nítida entre esses
são os que se empregam na linguagem metros estabelecidos pelos ‘princípios’. conceitos. Várias entidades impõem
comum e que, naturalmente, sugerem- As normas podem, portanto, variar suas Normas Contábeis, feitas ao
nos tais ideias quando evocados. (SÁ, segundo o ambiente cultural ou econômi- sabor das comissões de profissionais
2007). co, atendendo às necessidades específicas designados para tal fim.
O conceito de ‘princípios’, para fins do meio em que são aplicadas. O ideal é
de uso em Contabilidade, tem sentido que as normas sejam uniformizadas uni- O Conselho Federal de Contabilidade,
próprio. O Conselho Federal de Con- versalmente para serem entendidas por por meio da Resolução de nº. 751/93,
tabilidade – CFC, órgão fiscalizador da todos aqueles que delas se utilizam. Para dispõe sobre as Normas Brasileiras de
profissão, através de sua Resolução os usuários envolvidos em transações de Contabilidade evidenciando o estabele-
de nº. 750/93, regula o conceito a ser naturezas econômicas das mais diversas, é cimento de regras de conduta profissio-
reconhecido e adotado. Os avanços das necessário que as informações contábeis nal e procedimentos técnicos a serem
ciências exigem adaptações, e não se sejam baseadas em normas ou critérios observados.
podem negar as intensas mudanças que uniformes e homogêneos, a fim de que
vêm operando. Na realidade, a vontade de não concorram para distorções ou má Segundo Sá (2007): “critério hoje
padronização corre naturalmente quando interpretação das mesmas. aceito pela maioria dos grandes expo-
os conhecimentos adquirem avanços em N e s s e s e n t i d o , S á ( 19 9 5 ) n o s entes da Contabilidade é o de que os
suas doutrinas. orienta: princípios devem apoiar-se em Doutrina
A palavra norma, segundo Ferreira Norma contábil – uma regra de e Teorias e as Normas devem apoiar-se
(2002), pode ser definida como: “aquilo contabilidade; preceito a respeito em Princípios.”
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Doutrinas, princípios e normas

Doutrinas e Teorias Princípios Fundamentais Normas Contábeis

Figura 1 – Doutrinas, princípios e normas.


Fonte: Sá (2007).

As principais normas contábeis legais gerais no marco conceitual e na teoria nais. Observa-se, portanto, a necessidade
do Brasil estão contidas: no Código Co- geral da contabilidade desses países que de participação efetiva dos profissionais
mercial Brasileiro (Lei 556/1850), alterado fundamentam suas normas contábeis. da área e do meio acadêmico nesse
pelas regras do Novo Código Civil Brasi- Esse processo considera a influência processo, criando condições para que a
leiro (Lei 10.406/2002); Lei 6.404/1976, dessas normas na economia dentro de harmonização das normas contábeis deixe
também alterada pela Lei 11.638/2007; um contexto de unicidade de mercados. de ser um simples objetivo a ser buscado
Lei 4.320/1964, para entidades públicas; (MADEIRA; SILVA; ALMEIDA, 2004). e se torne realidade. (MADEIRA; SILVA;
Resoluções emitidas pela CVM, SUSEP, Quando se fala em harmonização, ALMEIDA, 2004).
BACEN, entre outras ordenações. é importante destacar que existem van- É crescente a importância das normas
tagens, desvantagens e obstáculos. De internacionais para conseguir a harmoni-
Harmonização versus acordo com Lisboa (1998): zação contábil e, ao analisar o conteúdo
Padronização Vantagens: comparabilidade na ava- delas, percebe-se que as mesmas forne-
liação do desempenho de empresas cem algum progresso à uniformidade, pois
Volta-se a um tema já estampado na em nível mundial; maior facilidade em cada nova norma certa quantidade de
mídia, evidenciado nos meios contábeis e para o ensino da contabilidade, uniformidade é acrescentada em direção
amplamente debatido nas universidades, maior facilidade para transferência à harmonização. (MADEIRA; SILVA; AL-
fato este decorrente dos reflexos da Lei de pessoal entre as subsidiárias de MEIDA, 2004).
11.638, de 2007. Para o leitor ainda não uma multinacional; maior facilidade Contudo, observam-se pronuncia-
familiarizado com o tema, torna-se neces- para o acesso das empresas a recursos mentos interessantes, com bases cientí-
sária uma pesquisa que pode ser iniciada financeiros internacionais; permite ficas, de grandes autoridades, como em
a partir de uma investigação no dicionário, harmonização de pré-requisitos para recente entrevista do Dr. Antônio Lopes
em que Ferreira (2002) evidencia: que as empresas possam ter seus de Sá a Robson Lopes Bezerra na Revista
Harmonização: ação ou efeito de papéis negociados em diferentes Contábil & Empresarial Fiscolegis (2008).
harmonizar. Harmonizar: pôr em bolsas de valores. Nela, Lopes de Sá alerta e critica IASB e
harmonia; tornar harmônico; con- Desvantagens: não reconhece que NIC em desrespeito aos princípios Con-
ciliar. Harmonia: disposição bem diferentes países precisam de normas tábeis e ressalta que as novidades da Lei
ordenada entre as partes de um todo; diferentes, de acordo às suas especifi- das Sociedades por Ações aumentam a
proporção; ordem; simetria; acordo; cidades culturais, legais e econômicas; incerteza no campo das avaliações:
conformidade. a harmonização implica na redução As demonstrações contábeis são
Padronização: redução dos objetos do de opções de práticas contábeis bem preparadas e apresentadas para
mesmo gênero a um só tipo, unificado fundamentadas. usuários externos em geral, tendo
e simplificado, segundo um padrão ou Obstáculos: o alto grau das diferenças em vista suas finalidades distintas
modelo preestabelecido; ato ou efeito entre as normas e práticas contábeis e necessidades diversas. Governos,
de padronizar; estandardização. dos diversos países; a falta, em alguns órgãos reguladores ou autoridades
países, de entidades de profissionais fiscais, por exemplo, podem especi-
Harmonização contábil é um processo com poder de influência e naciona- ficamente determinar exigências para
pelo qual vários países, de comum acordo, lismo. atender a seus próprios fins. Essas
promovem mudanças nos seus sistemas exigências, no entanto, não devem
e normas contábeis, tornando-os com- Uma das mais importantes vantagens afetar as demonstrações contábeis
patíveis, respeitando as peculiaridades da harmonização é, sem dúvida, o fluxo preparadas segundo esta Estrutura
e características de cada região. Esse de recursos econômicos e de profissionais Conceitual. A forte pressão exercida
processo parte da identificação das linhas entre empresas e mercados internacio- pelas multinacionais para que pre-
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valecessem os padrões anglo-saxões academia e os sindicatos têm sido con- e podem atrair mais investidores, uma
continua; a IASB é dirigida por elas sultados em todos os países? Uma ótima vez que estas práticas já são utilizadas
mesmas; na realidade simula-se um reflexão para o assunto. Mas é preciso por eles.”
padrão europeu, mas, na prática ele caminhar no sentido internacional, antes De acordo com o CFC (2008), a
não existe nesse particular. O que firmada a intenção de que deve ser feito crescente importância da internacionali-
existe, sim, é reação de importantes com consciência, com ciência, visando zação das normas contábeis tem levado
países da Comunidade Européia o aprimoramento científico envolvido inúmeros países a caminhar para um
contra as normas do IASB (França, para que não se fique à mercê de cultura processo de convergência que tenha
Áustria, Espanha etc.). imposta sem a devida reflexão e estudos como resultado a redução de riscos nos
adequados. investimentos internacionais sob a forma
Realmente, é um momento de refle- Diante do contexto interna- de empréstimo financeiro ou de partici-
xão não só das autoridades contábeis do cional percebe-se a necessidade de pação societária; nesse caso, percebe-se
país, mas de toda a classe, que deve estar demonstrações contábeis harmônicas a necessidade tendo em vista os últimos
envolvida; afinal de contas, o processo, à medida que as empresas atuam em acontecimentos internacionais, bem como
em escritórios e empresas, termina nas ambientes competitivos, ou que sofram os créditos de natureza comercial, redução
mãos dos profissionais, que ficam à deriva ação desses ambientes. Nesse sentido, de riscos, essa derivada de um melhor
e muitas vezes não são consultados, mas as palavras de Carvalho e Lemes (2002, entendimento das demonstrações contá-
apenas arrebanhados para o trabalho p. 62) esclarecem: beis elaboradas pelos diversos países por
hodierno da contabilidade sem o devido Relatórios contábeis que, seguramen- parte dos investidores, financiadores e
preparo e o tempo necessário de adequa- te, podem suportar o mercado de fornecedores de crédito. E também maior
ção que permitam uma preparação para negócios globalizado, se sustentam facilidade de comunicação internacional
a nova realidade. em três pilares: no mundo dos negócios, com o uso de
Enfim, os obstáculos para a harmoni- 1. padrões contábeis emitidos com uma linguagem contábil bem mais homo-
zação podem ser superados. A verdadeira qualidade, clareza, consistência e gênea, e a redução do custo do capital,
harmonização deve ser um processo compreensibilidade, cujas regras que deriva dessa harmonização, o que no
realmente internacional, mas que não fira reflitam, razoavelmente, a realidade caso é de interesse e, particularmente,
a contabilidade como ciência, bem como a econômica. vital para o Brasil.
integridade cultural dos países. Devem vir 2. práticas e políticas contábeis e
como consequência normal dos processos de auditoria capazes de traduzir Normas Internacionais
de interação social e comercial e não como aqueles padrões com acurácia, com de Contabilidade
imposição, mas, com amadurecimento níveis adequados de entendimento
e nesses termos, devem-se questionar e em relatórios oportunos para as Obser vam-se duas ver tentes na
algumas circunstâncias reais que leva- empresas. contabilidade internacional: a conhecida
ram à crise financeira internacional dos 3. estrutura normatizadora e fiscali- contabilidade estadunidense, cujas regras
últimos meses. E a pergunta fica no ar: zadora capaz de fornecer e manter a são organizadas pela entidade civil FASB
onde estavam as garantias reais? Onde disciplina necessária dos mercados. (The Financial Accounting Standards
estavam os princípios de contabilidade? Board); e as regras de contabilidade
Uma ótima reflexão para a academia e, No processo de harmonização, as organizadas pelo IASB, defendidas pela
principalmente, para o labor diário da ações da CVM estão voltadas para seus União Europeia.
contabilidade. atos normativos, que tratam de procedi- Direcionamentos, que segundo a
Por outro lado, ainda persistem dois mentos contábeis, de forma a aproximá-los orientação de Martins (2008), devem ser
problemas importantes. O primeiro é que o mais possível das normas internacionais posicionados da seguinte forma:
a maioria dos países não aceita a forma e, mais recentemente, nesse contexto, Contabilidade Internacional não exis-
de pensar dos anglo-saxões, cujas normas houve a revisão da Lei das Sociedades te. Na verdade, a especialização em
contábeis atendem às considerações do por Ações (Lei nº. 11.638/07). Contabilidade Internacional trata-se
mercado de capital. O segundo problema Segundo Marchesini (200 8) “as da denominação dada ao estudo das
é que o procedimento para aprovar as nor- Normas Contábeis que serão adotadas normas contábeis vigentes no Brasil,
mas é o de divulgar os rascunhos de pro- pela legislação brasileira, os International na União Européia, nos Estados Uni-
nunciamentos, para receber comentários. Financial Reporting Standards (IFRS), dos e em outros países aplicáveis à
Como muitos países não estão habituados devem beneficiar as grandes empresas Contabilidade Geral, tendo em vista
ao processo, não respondem, tornando brasileiras a partir do ano que vem” [...] a realização de operações internacio-
imperfeito o processo de decisão. E outra e continua a dizer: “as Normas Contábeis nais e a captação de recursos financei-
questão fundamental: a classe contábil, a dos IFRS são interessantes para o Brasil ros principalmente nos mercados de
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capitais norte-americano e europeu. modelos comportamentais segundo como compromisso principal desenvolver
O IASB – Conselho das Normas In- suas intenções, nem sempre de acor- um modelo único de normas contábeis
ternacionais de Contabilidade, que do com a doutrina do conhecimento internacionais de alta qualidade, que
substituiu a IASC – Fundação Comitê contábil. requeiram transparência e comparabili-
das Normas Internacionais de Conta- dade na elaboração de Demonstrações
bilidade, vem tentando unificar essas Como se pode observar, é um ca- Contábeis, e que atendam ao público
normas para que as Demonstrações minho sem volta, independentemente interessado, sejam eles investidores,
Contábeis e a escrituração contábil até dos pronunciamentos dos autores administradores, analistas, pesquisadores
obedeçam a padrões uniformizados em tela; contudo, os responsáveis pela ou quaisquer outros usuários e leitores
mundialmente. adaptação devem observar os direciona- de tais demonstrações.
Sendo assim, a chamada Contabili- dores internacionais que muitas vezes É importante observar que a IFRS 1,
dade Internacional tem por objetivo seguem intencionalmente determinados que trata de adoção de IFRS, pela primeira
levar aos profissionais de contabili- rumos. Existem falhas ainda, mas as leis vez, é diferente da IAS 1, que trata do for-
dade os conhecimentos necessários não nascem sempre perfeitas e, por mato, do conteúdo e da apresentação das
sobre as Normas de Contabilidade isso, há mecanismos para aprimorá-las; Demonstrações Contábeis preparadas de
vigentes no mundo, de forma que e espera-se que isso aconteça, pois em acordo com as IFRS, e assim por diante.
possam adaptar as demonstrações muito irá favorecer o mercado livre e a Em dezembro do mesmo ano, o nome
contábeis às exigências de determi- sadia concorrência. do SIC (Standing Interpretations Commit-
nados países em que a empresa sob tee) foi mudado para IFRIC (International
sua responsabilidade tenha interesses Histórico Financial Reporting Interpretations Com-
comerciais e financeiros. mittee). O IFRIC passou, portanto, a ser
Em complementação, devem ser O Comitê de Pronunciamentos responsável pela publicação, a partir de
estudadas também as características Contábeis Internacionais chamado IASC 2002, de todas as interpretações sobre o
das operações financeiras privadas (International Accounting Standards conjunto de normas internacionais.
e públicas no mercado financeiro Committee), foi criado em 1973 pelos Desde 1º de janeiro de 2005, todas as
internacional, incluindo a utilização de organismos profissionais de contabilidade empresas europeias abertas passaram a
Planejamento Tributário Internacional de 10 países: Alemanha, Austrália, Cana- adotar obrigatoriamente as normas IFRS
mediante a ocultação de bens e valo- dá, Estados Unidos da América, França, para publicar suas demonstrações finan-
res monetários em paraísos fiscais. Irlanda, Japão, México, Países Baixos e ceiras consolidadas. A iniciativa foi inter-
Faz-se necessário também o estudo Reino Unido. A nova entidade foi criada nacionalmente acolhida pela comunidade
das normas contábeis e dos controles com o objetivo de formular e publicar, financeira. Atualmente, numerosos países
operacionais existentes no Brasil, que de forma totalmente independente, um têm projetos oficiais de convergência das
em alguns casos oferecem melhores novo padrão de normas contábeis inter- normas contábeis locais para as normas
garantias de segurança do que em nacionais que pudesse ser mundialmente IFRS, inclusive o Brasil.
outros países considerados desen- aceito. Os primeiros pronunciamentos
volvidos. contábeis publicados pela IASC foram Estrutura
chamados de International Accounting
Sá (1995), em seu livro Dicionário de Standards (IAS). Numerosas normas IAS O conjunto de normas e interpre-
Contabilidade, conceitua as ditas Normas ainda estão vigentes. tações composto por IFRS, IAS, IFRIC e
Internacionais de Contabilidade: Em 1997, o IASC criou o SIC (Standing SIC forma o que se conhece por Normas
Normas Internacionais de Contabili- Interpretations Committee), um comitê Internacionais de Contabilidade:
dade – critérios objetivos de conceitu- técnico dentro da estrutura do IASC cujo • IFRS: Os pronunciamentos IFRS (In-
ações e procedimentos na tecnologia objetivo era responder às dúvidas de ternational Financial Reporting Standard)
contábil dos registros, demonstrações interpretações dos usuários. são emitidos pelo IASB. São, portanto, os
e informações, emanados de entida- Em 2001, substituindo o antigo mais recentes.
des de representati­v idade interna- International Accounting Standards • IAS: Os pronunciamentos IAS (In-
cional, visando a uniformidade de Committee, ou IASC, foi criado o Inter- ternational Accounting Standards) são
procedimentos gerais. [...] todavia, o national Accounting Standards Board, os primeiros pronunciamentos emitidos
que se tem percebido é uma notória ou IASB, sediado em Londres. O IASB pelo IASC.
influência de determinados Países é a organização internacional sem fins • IFRIC: As interpretações IFRIC
sobre uma cultura que desejam impor, lucrativos que publica e atualiza as (International Financial Reporting Inter-
sem uma democratização competente Normas Internacionais de Contabilidade pretations Committee). São, portanto, as
do conhecimento, desejando produzir – IAS / IFRS em língua inglesa – e tem interpretações mais recentes.
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• SIC: As interpretações SIC (Standing IFRS julho de 2007, determina que as empresas
Interpretations Committee). brasileiras de capital aberto publiquem
• Framework: O framework não é ofi- O International Financial Reporting suas demonstrações financeiras conforme
cialmente um pronunciamento técnico. Standards, ou IFRS, trata de normas as IFRS, a partir de 2010. Ainda há um
internacionais de relato financeiro longo caminho a ser percorrido pelas
US GAAP emitidas pelo IASB. O principal objetivo organizações nacionais.
é desenvolver um modelo único de De acordo com a KMPG (2008), as
United States Generally Accepted normas contábeis internacionais de alta principais fases de conversão para os pa-
Accounting Principles, ou US GAAP, são qualidade, que requeiram transparên- drões internacionais podem ser resumidas
Princípios Contábeis Geralmente Aceitos cia e comparabilidade na elaboração conforme a figura 2.
nos Estados Unidos. Quando elaboramos de Demonstrações Contábeis, e que Com toda essa regulamentação, fica
um Balanço Patrimonial aqui no Brasil, de atendam ao público interessado nessas evidente que os processos precisam ser
acordo com a legislação brasileira, algumas demonstrações, sejam eles investidores, adaptados para alimentar os requerimen-
empresas ‘traduzem’ este balanço para os administradores, analistas, pesquisadores tos advindos do novo padrão.
norte-americanos utilizando os US GAAP. ou quaisquer outros usuários e leitores São grandes os desafios brasileiros
Os US GAAP incorporam convenções, de tais demonstrações. para essa adequação, principalmente
regras e procedimentos necessários para Conforme dito anteriormente, desde com relação à base da estrutura em to-
definir práticas contábeis aceitas, não se janeiro de 2005, todas as empresas dos os sentidos e colocando em foco os
limitando a serem guias de aplicação gené- europeias abertas passaram a adotar contadores que ainda não estão treinados
rica, mas partindo para o detalhamento. Em obrigatoriamente as normas IFRS para para esse questionamento. É fundamental
ordem de importância, são os seguintes: publicar suas demonstrações financeiras que o Conselho Federal de Contabilidade
FASB Statement of Financial Accounting consolidadas. A iniciativa foi interna- e as organizações brasileiras verifiquem
Standards (FAS); FASB Interpretations cionalmente acolhida pela comunidade os impactos e iniciem treinamentos e
(FASIs); APB Opinions; American Institute financeira. Atualmente, numerosos países uma preparação para desenvolver as
of Certfied Public Accoutants (AICPA); têm projetos oficiais de convergência das demonstrações no novo formato, a partir
Accounting Research Bulletins (ARBs); e normas contábeis locais para as normas de 2010.
Releases of the SEC7 (Regulation S-X, Ac- IFRS, inclusive o Brasil. O processo de convergência da
counting Series Release – ASRs e Financial A instrução da Comissão de Valores normatização contábil brasileira para
Reporting Releases – FRRs). Mobiliários (CVM) de nº. 457, editada em as IFRS está regulamentado por meio

FASE 1 FASE 2 FASE 3

Escopo e planejamento Aprendizado e elaboração Implementação com


da conversão de ferramentas acompanhamento em IFRS no
sistema paralelo dia a-dia

Avaliação DESENHO IMPLEMENTAÇÃO


Mobilização da equipe central. Mobilidade das funções financeiras Rodar processos em paralelo.
do negócio e funções de TI.
Identificação de diferentes Reavaliação do fechamento do
contabilizações e gerenciamento Treinamento na prática internacional balanço contábil.
de decisões-chave. definida.
Balanço contábil comparativo
Avaliação dos impactos financeiros. Elaboração de ferramentas (políticas, (X0-X1).
balanço conjunto de relatórios).
Avaliação dos impactos nos altos Gerenciamento do negócio
níveis sistêmicos. Conversão de sistemas e processos. conforme fundamentos da prática
internacional definida.
Determinação do caminho da con- Testes de sistemas e processos.
versão e planejamento/orçamento. Transferência de habilidades e
Transferência de habilidades e
conhecimento.
conhecimento.

Figura 2 – Principais fases de conversão para os padrões internacionais.


Fonte: KPMG (2008).
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da Resolução nº. 1.103/07 do CFC, que
cria o Comitê Gestor da Convergência O impacto das IFRS nas organizações
no Brasil.
Nesse sentido, Melo (2008) destaca:
Tendo em vista a inserção do Brasil no Alterações na
mercado internacional e levando-se remuneração
em conta a consolidação do mercado Mudança nas dos executivos
brasileiro de capitais, a escolha das cláusulas restritivas Treinamento
de empréstimos dos analistas
IFRS sinaliza o aumento da transpa-
rência e da comparabilidade entre
(covenants)
diferentes companhias nos diferentes
países que as adotam. Os Estados Uni-
dos, que têm seu próprio padrão con- Mudança nos
tábil, o USGAAP, já sinalizaram que lucros obtidos
vão aceitar as normas internacionais. Mudança nos resultados
Assim, os investidores estrangeiros e indicadores-chave de
poderão analisar as demonstrações
performance
(KPIs)
das empresas brasileiras à luz de Mudança nas
padrões conhecidos. estratégias de
hedging
Introdução
A implementação das IFRS envolve das IFRS
muito mais que a conformidade com as
novas normas contábeis, a qual poderá Mudança nos
causar um impacto significativo em toda contratos com
fornecedores Aperfeiçoamento
a organização. Segundo uma das grandes dos sistemas
empresas de auditoria atuante no merca- contábeis e de
do, a Deloitte Touche Tohmatsu (2008), reporte
o impacto das IFRS nas organizações será
o seguinte (figura 3):
De acordo com a KPMG (2008), os Treinamento
Mudança nos
principais benefícios que a migração métodos de dos Mudança nos
para os padrões IFRS trará para o nosso cálculo de profissionais lucros obtidos
país serão: passivos internos
• Aumento da comparabilidade e
da transparência nas demonstrações
financeiras. Figura 3 – O impacto das IFRS nas organizações.
• Integração supranacional do mer- Fonte: Deloitte Touche Tohmatsu (2008).
cado de capitais.
• Disponibilização de informações • O sistema de reporting é padroniza- para o US GAAP, uma vez que a abordagem
financeiras com mais qualidade para do, resultando em comunicação financeira deste é inteiramente fundamentada em
acionistas e autoridades responsáveis. uniforme. uma malha legal e infralegal própria dos
• Aumento da qualidade e da eficiên- • Os números contábeis conforme as Estados Unidos da América. Por extensão,
cia de grupos internacionais. IFRS oferecem melhor auxílio na tomada as normas contábeis norte-americanas são
• Potencialização das ambições de de decisões gerenciais, pois são mais intrinsecamente ligadas aos preceitos do
crescimento internacional do Brasil. orientados para uma reflexão realista da direito societário, da lei comercial e da lei
Ainda segundo a KPMG (2008), a eficiência econômica. de valores mobiliários dos EUA.
implementação das IFRS também propor- O fato de as IFRS advirem de uma en-
ciona vantagens decisivas para o negócio, Uma das grandes dúvidas sobre essa tidade supranacional, incluindo a maioria
tais como: nova padronização diz respeito à escolha, dos países da União Europeia, confere a
• A preparação de relatórios internos pelo Brasil, das normas contábeis interna- elas um caráter mais internacionalizado
e externos de acordo com as IFRS con- cionais, em detrimento do US GAAP. De e objetivo. No processo de discussão e
tribui ativamente para o gerenciamento acordo com a CVM, é preferível que as elaboração das normas, ocorre uma ampla
eficiente. companhias migrem para as IFRS, e não participação mundial. Com isso, reduz-se
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As mudanças na LSA colocam o Brasil
Adesões das IFRS mundo afora em um novo patamar e, de acordo com
Alguns países não europeus em que as IFRS são uma exigência para companhias Melo (2008):
listadas na bolsa: Essas alterações vão impulsionar
mudanças importantes nas práticas
• El Salvador • Nepal
contábeis das empresas brasilei-
• República Dominicana • Egito ras. De fato, ao traçar o caminho
• Venezuela • Quênia de convergência entre as normas
• Uruguai • Kuwait brasileiras e as melhores práticas
• Chile • Namíbia contábeis internacionais, a nova Lei
• Austrália • Malavi das Sociedades por Ações insere o
• Filipinas • África do Sul Brasil no mercado global. É a garantia
• Hong Kong • Tanzânia institucional de que o país concorda
com as regras que a maior parte do
Figura 4 – Adesões das IFRS mundo afora. mundo utiliza.
Fonte: www.iasplus.com As conseqüências das mudanças ul-
trapassam os segmentos econômicos
a chance de o debate ser dominado por A Lei nº. 11.638, ligados à contabilidade. A nova Lei
um interesse geográfico em particular. de 28/12/2007 das SAs vai trazer mais transparência,
Ressalta-se, também, que as IFRS já comparabilidade e segurança à eco-
foram adotadas por cerca de sete mil Após sete anos de tramitação na nomia brasileira. O resultado desse
companhias abertas. Câmara dos Deputados com diversas upgrade contábil será o amadureci-
A adoção das IFRS implica, ainda, modificações no texto original, o Projeto mento da economia de mercado no
vantagens financeiras relativas. O custo de Lei (PL) nº. 3.741/00 foi finalmente país. Outro ponto importante da nova
de acompanhamento da norma norte- aprovado na Comissão de Assuntos Eco- legislação é o incentivo à expansão do
americana é, no conjunto, mais alto do nômicos (CAE), no plenário do Senado conceito de governança corporativa.
que o do similar internacional. Federal, e sancionado pelo Presidente da Dessa forma, a nova Lei das SAs
As normas internacionais de de- República em 28 de dezembro de 2007, vai contribuir para a melhoria do
monstrações financeiras, de fato, estão tornando-se a Lei nº. 11.638/07, que ambiente econômico, o que, por sua
fazendo jus à sua nomenclatura (figura modifica a Lei nº. 6.404/76. vez, funcionará como estímulo para
4). O número de empresas ligadas ao Foram introduzidas as mais recentes o desenvolvimento.
padrão internacional passava de 7 mil conquistas conceituais e normativas em
em 2007, de acordo com o guia de matéria contábil de países mais desenvol- Considerando as alterações significati-
demonstrações financeiras 2006/2007 vidos, incorporando-as à realidade jurídica vas impostas pela lei, entre elas a adoção
da PricewaterhouseCoopers (PwC). “No e econômica de nosso País, além de serem das normas brasileiras em consonância
médio e no longo prazo, a tendência é aperfeiçoadas inúmeras disposições e com as normas internacionais, e os
de existência do US GAAP nos Estados institutos já contemplados na legislação desafios que as empresas enfrentarão,
Unidos e do IFRS no resto do planeta”, anterior e serem consagradas as melho- a figura 5 apresenta o quadro resumo
prevê Ana Maria Elorrieta, sócia da área res práticas de governança corporativa. dos impactos da aprovação da Lei nº.
de risco e qualidade da PwC. (BRAGA; ALMEIDA, 2008). 11.638/07, como segue:

Adoção das IFRS Adoção das Normas da CVM Publicação de DFS Auditoria

SAs abertas sim(2) sim sim sim


SAs fechadas – grande porte não opcional sim sim
SAs fechadas – outras não opcional sim
(3)
não
Ltdas – grande porte não não não sim
Ltdas – outras não não não não
(1) A Lei determina que a CVM, a partir de agora, deve observar as normas internacionais de contabilidade quando da emissão de instruções ou quaisquer orientações.
(2) Demonstrações financeiras consolidadas a partir de 2010.
(3) Exceto para as companhias com menos de 20 acionistas e Patrimônio Líquido inferior a R$ 1 milhão.

Figura 5 – Quadro resumo dos impactos da Lei no. 11.638/07.


Fonte: KPMG (2008).
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Nesse sentido, a nova Lei das Socieda- mativos aprovando os pronunciamentos
des por Ações deu outra redação ao artigo do CPC. Nesse caso, as companhias fecha-
177, em consonância com os padrões das também poderão adotar as normas
internacionais de contabilidade: expedidas pela CVM, conforme previsto É provável que a
Art. 177. § 3º As demonstrações finan- no § 6º do mesmo artigo 177. (BRAGA; harmonização plena
ceiras das companhias abertas obser- ALMEIDA, 2008). não seja fácil, devido
varão, ainda, as normas expedidas A CVM já emitiu atos normativos sobre
pela Comissão de Valores Mobiliários, a convergência das Normas Internacio- às diferenças culturais
e serão obrigatoriamente auditadas nais de Contabilidade. Os tipos de atos e econômicas entre
por auditores independentes regis- normativos que a CVM emite podem ser: países, podendo
trados na mesma comissão. Instruções, Deliberações, Notas Explicati-
algumas discrepâncias
§ 5º As normas expedidas pela Comis- vas e Pareceres de Orientação.
são de Valores Mobiliários a que se À medida que forem surgindo novas ser até toleradas, em
refere o § 3º deste artigo deverão ser dúvidas sobre a referida Lei nº. 11.638/07, certos casos; mas jamais
elaboradas em consonância com os a CVM pretende emitir novos atos, com
poderão ser admitidas
padrões internacionais de contabilida- o objetivo de manter o mercado sempre
de adotados nos principais mercados atualizado. opções conflitantes
de valores mobiliários. De acordo com a KPMG (2008), com os Princípios
para o atendimento à Lei nº. 11.638/07, Fundamentais de
O processo de convergência aos as empresas precisam estar atentas aos
Contabilidade.
padrões internacionais de contabilidade seguintes aspectos:
está em andamento, graças aos esforços • Quais as diferenças existentes entre
que vêm sendo desenvolvidos por pro- a escrituração contábil atual da empresa
fissionais, mesmo antes, e a partir da e as mudanças das práticas contábeis
criação do CPC. inseridas pela Lei nº 11.638/07? necessário que as empresas estejam em
A CVM e o Banco Central do Brasil, • Qual o envolvimento esperado das sinergia com os mercados.
por sua vez, já emitiram comunicados áreas operacionais no fornecimento das Apesar das dúvidas, estamos em posi-
estabelecendo a época prevista para o informações necessárias para a prepara- ção privilegiada, pois podemos aprender
processo de convergência para as normas ção das demonstrações financeiras? com as empresas europeias que adotaram
contábeis emanadas do IASB (ano de • Quais áreas administrativas seriam as IFRS em 2005 e nos beneficiarmos dos
2010), com referência às demonstrações impactadas pelas mudanças e a quais avanços das normas internacionais de
contábeis consolidadas das companhias aspectos de treinamento ou capacitação contabilidade. Esse avanço diz respeito
abertas e das instituições financeiras. dos profissionais a empresa precisa estar à adoção das IFRS pela primeira vez,
Em outras palavras, isso significa que adequada? contribuindo significativamente para a
essas entidades divulgarão, no início de • Quais procedimentos já devem ser convergência dos padrões.
2011, suas demonstrações consolidadas planejados para possibilitar a preparação A IFRS 1 funciona como um guia práti-
relativas aos exercícios encerrados em de demonstrações financeiras auditadas co para a conversão e tem como objetivo
2009 e 2010. Essas demonstrações con- do exercício a ser encerrado em 31 de facilitar o processo de transição, dirimir
tábeis consolidadas não têm reflexos dezembro de 2008? dúvidas e evitar diferenças significativas
societários e tributários, representan- • Para as empresas de capital aberto, de tratamento entre as empresas.
do, somente, informações adicionais a quais alterações para a preparação do De acordo com a KPMG (2008), para
serem fornecidas ao mercado. (BRAGA; ITR do primeiro trimestre de 2008 serão adotar as IFRS, deverão ser feitos os
ALMEIDA, 2008). necessárias? seguintes procedimentos:
As demonstrações contábeis individu- • Identificar qual será a primeira
ais, com efeitos societários e tributários, Responder a essas e outras questões demonstração financeira em IFRS.
serão elaboradas de acordo com a Lei nº. não é uma tarefa simples nem tão pouco • Preparar um balanço de abertura na
6.404/76, com as modificações introduzi- fácil. Essa conversão altera o habitual e data de transição, ou seja, no primeiro dia
das pela Lei nº. 11.638/07, a partir de 1º atinge a empresa como um todo. Modifica do exercício financeiro que está sendo
de janeiro de 2008. Essas demonstrações os processos, sistemas, necessidades de apresentado para fins de comparação.
ainda não estarão harmonizadas com as pessoas, e altera o balanço, o resultado • Selecionar as políticas contábeis em
normas internacionais do IASB (IFRS), o e os indicadores. Altera a forma como a vigor na data da primeira demonstração
que somente ocorrerá à medida que a empresa vê seu desempenho e como os financeira em IFRS e aplicá-las retroativa-
CVM e/ou o BACEN emitirem atos nor- outros percebem esse desempenho. É mente para o período de transição.
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• Considerar quais exceções à regra de do já em pleno processo de realização Referências
aplicação retroativa serão adotadas. em âmbitos regionais e internacionais. BRAGA, Hugo Rocha; ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti.
Mudanças contábeis na lei societária: lei n 0 11.638
• Aplicar as quatro proibições existen- Por outro lado, pode-se afirmar que as de 28 de dezembro de 2007. São Paulo: Atlas,
tes para aplicação retroativa. normas contábeis são regras ‘consensuais 2008.
• Divulgar extensivamente os im- e compulsórias’, ou guias de orientação BRASIL. Lei das Sociedades por Ações, Lei n 0 6.404,
de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as
pactos da transição para IFRS e incluir para registros e demonstrações contábeis, sociedades por ações. Brasília: DOU, 17.12.1976.
afirmação explícita de cumprimento e que o respeito aos Princípios Fundamen- _______. Lei n 0. 11.638, de 28 de dezembro de
integral de IFRS. tais de Contabilidade é básico para fixar 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei n 0 6.404,
de 15 de dezembro de 1976, e da Lei n 0 6.385, de
essas normas, principalmente quando se 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades
As IFRS exigem demonstrações finan- pensa em sua harmonização. de grande porte disposições relativas à elaboração
e divulgação de demonstrações financeiras.
ceiras comparativas. A IFRS 1 determina É provável que a harmonização plena
Brasília: DOU, 28.12.2007.
que a data de transição corresponda ao não seja fácil, devido às diferenças cultu-
CARVALHO, L. Nelson; LEMES, Sirlei. Padrões
início do mais antigo período no qual rais e econômicas entre países, podendo contábeis internacionais do IASB: um estudo com-
estejam sendo apresentadas demons- algumas discrepâncias ser até toleradas, parativo com as normas contábeis brasileiras e sua
aplicação. Departamento de Ciências Contábeis e
trações financeiras completas em IFRS, em certos casos; mas jamais poderão Atuariais. UNB: Brasília, vol. 6, n. 2, 2. sem. 2002.
comparativamente. Considerando a ser admitidas opções conflitantes com COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS.
situação em 31 de dezembro de 2010, os Princípios Fundamentais de Contabi- Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>.
Acesso em: 10/06/2008.
comparada com 31 de dezembro de 2009, lidade, pois isso representaria a negação
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS.
será esta, portanto, a data de transição. da existência de conceituação básica da Disponível em: <http://www.cpc.org.br>.
Na prática, para as companhias abertas, Ciência Contábil. Acesso em: 10/05/2008.

significa que todas as transações ocorridas A adoção das IFRS será uma enorme CFC – CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE.
Disponível em: <http://www.cfc.org.br>.
a partir de 1º de janeiro de 2009 já devem mudança para muitas comunidades Acesso em: 06/04/2008.
considerar os requerimentos das IFRS. As financeiras. As demandas da conversão DELOITTE TOUCHE TOHMATSU. Disponível em:
informações trimestrais de 2010 deverão para uma nova base de relatório serão <http://www.deloitte.com>.
Acesso em: 03/03/2008.
ser publicadas comparativamente a 2009. significativas e, além disso, a aplicação das
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo
(KPMG, 2008). normas internacionais de contabilidade dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
envolve bastante julgamento. Nova Fronteira, 2002.
Conclusão Um dos desafios na adoção das KPMG. Disponível em: < http://www.kpmg.com.
br>. Acesso em: 02/07/2008.
normas, com base em princípios como
LISBOA, Lázaro. FIPECAFI/FEA/USP. Contabilidade
Observa-se que o grande desafio da as IFRS, é alcançar a consistência no Internacional. São Paulo: Atlas, 1998.
profissão contábil, no século XXI, será entendimento e, portanto, na aplicação MADEIRA, Geová J.; SILVA, Cátia B. A.; ALMEIDA,
a harmonização das normas contábeis dessas normas. Ao final, o objetivo será Fabiana L. Harmonização de normas contábeis: um
estudo sobre as divergências entre normas contá-
em face da globalização da economia e atingir maior transparência e comparabi-
beis internacionais e seus reflexos na contabilidade
dos negócios internacionais, fenômeno lidade no relatório financeiro e, com isso, brasileira. Revista Mineira de Contabilidade. Belo
que caminha rápido e já preocupa os obter as melhores informações para os Horizonte: Conselho Regional de Contabilidade de
MG, ano V, n. 16, 4. trim. 2004.
contadores da atualidade. acionistas.
MARCHESINI, Adriele. Mudanças nas regras devem
A mundialização empresarial faz com beneficiar empresas em 2009. Press Cliping – Fena-
que as empresas deixem de ser apenas con – DCI. Acesso em 15/10/2008. Disponível em:
Julio Candido de Meirelles <www.fenacon.org/presscliping/2008/outubro/06/
nacionais, para se tornarem transnacio- Junior – Contador, Mestre dci2.htm>.
nais, ou globalizadas, fato que exige a har- em Contabilidade. Professor MARTINS, Eliseu. Normas Contábeis Brasileiras
monização de normas em todo o mundo, das Faculdades Integradas e sua Integração às Normas Internacionais. São
Vianna Júnior e da Fundação Paulo: Atlas, 2008.
para a consolidação de seus balanços e Educacional Machado Sobri- MELO, Pedro. KPMG Business Magazine, n. 11, mar.
para facilitar o entendimento. nho/Faculdade de Ciências 2008. Disponível em: < http://www.kpmg.com.br>.
A globalização da economia já evi- Contábeis – Juiz de Fora/MG. Acesso em: 02/07/2008.
Membro da ACIN – Associação Científica Internacio-
dencia, direciona a Contabilidade como nal Neopatrimonialista. Prêmio Ivan Carlos Gatti –
REVISTA CONTÁBIL & EMPRESARIAL FISCOLEGIS.
Antônio Lopes de Sá. Entrevista concedida em 7 de
um único denominador comum para 2004. Pesquisador, Assessor e Perito Contábil. julho de 2008. Disponível em: <www.revistaconta-
mensurar as atividades econômicas. É a bil.fiscolegis.com.br>. Acesso em: 29/07/2008.
Contabilidade que irá trazer a homoge- Camyla D´Elyz do Amaral
SÁ, Antônio Lopes de. Curso de auditoria. 10. ed.
São Paulo: Atlas, 2002.
neidade universal no tratamento, registros Meirelles – Contadora e
Especialista em Auditoria e ______. Princípios fundamentais de contabilidade.
e divulgação de fatos contábeis de uma 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
Contabilidade Financeira.
mesma natureza. ______. Dicionário de Contabilidade. 9. ed. São
A harmonização das normas contábeis Paulo: Atlas, 1995.
é, portanto, necessária e inevitável, estan-
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