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Franco 2009

11.1 PRINCÍPIOS CONTÁBEIS

Como ciência aplicada, a Contabilidade precisa subordinar-se a regras de procedi.mentos, que até
recentemente eram rotuladas, por doutrinadores e profissionais, in.distintamente, de princípios ou
normas, porém necessário se faz distinguir as que constituem a conceituação básica da Contabilidade
daquelas que são meras regras, ou guias-de-orientação, para sua aplicação prática.

Não havia, pois, por parte de profissionais, e nem mesmo de alguns douti nadores, preocupação de
distinguir o que é fundamental ou básico para o procedimento contábil (princípio) do que é
complementar ou meramente convencional (norma).

Essa distinção será enfatizada em páginas seguintes.

11.1.1 Conceito de princípio

Princípio é a causa da qual algo procede. É a origem, o começo de um fenômeno ou de uma série de
fenômenos. Pode-se também defini-lo como uma verdade funda mental, evidente e
inquestionavelmente comprovada.

Os princípios, quando entendidos como preceitos fundamentais de uma ciência são imutáveis,
quaisquer que sejam as circunstâncias de tempo ou lugar em que uma doutrina é estudada. Nisso eles
se distinguem das normas, que são regras ou guias de orientação para sistematizar o procedimento do
registro contábil e da elaboração da de monstração contábil, permitindo que a Contabilidade forneça
informações e orientação uniforme e precisa para interpretação dos fenômenos patrimoniais e dos
efeitos que eles produzem no patrimônio e no resultado do exercício.

Convém reiterar que os princípios, como preceitos básicos e fundamentais de um corpo de doutrinas,
são imutáveis, quaisquer que sejam as circunstâncias de tempo e lugar em que devam ser aplicados, ao
passo que as normas são adaptáveis a essas circunstâncias.

Como integram o conjunto doutrinário de uma ciência, os princípios não são esta.belecidos por
doutrinadores ou por profissionais, pois já são intrínsecos à própria natu reza da ciência, e independem
da vontade de quem a estuda. Eles precisam apenas ser identificados, isto é,"descobertos", para que sua
existência seja reconhecida, e, se não forem observados ou respeitados, essa natureza científica
descaracteriza-se, impedindo a ciência de alcançar sua finalidade,

Alguns doutrinadores fazem distinção entre princípio e postulado, entendendo que o postulado contábil
é uma verdade axiomática, que independe de demonstração e,portanto, mais arraigado à natureza
contábil que o próprio princípio contábil. Não tenho adotado tal distinção, por não julgá-la essencial à
diferenciação entre o que é fundamental e o que é acessório para a Contabilidade e sua aplicação
prática.
Além desses preceitos básicos, assenta-se também a Contabilidade em outras regras convencionais -
pacificamente aceitas pelos profissionais da Contabilidade coma necessárias à adequada representação
do estado patrimonial e dos resultados do exercicio - bem como em critérios e sistemas de aplicação
desses preceitos e regras, a que denominamos normas contábeis e de elaboração das demonstrações
contábeis.

Muito se tem discutido, nos últimos anos, sobre a validade ou a adequação da expressão "Princípios
Contábeis", sob a alegação, de alguns, de que a Contabilidade não possui em realidade "princípios
imutáveis", mas apenas normas, padrões, critérios, convenções ou procedimentos "geralmente aceitos".
Outros, ainda, insurgem-se contra a expressão "geralmente aceitos", por muitos anos adotada nos
Estados Unidos e mesmo no Brasil, onde foi consagrada pela Lei das Sociedades por Ações (Lei n°
6.404/76) perguntando: aceitos por quem? Estes argumentam que tais "Princípios" não estão arrolados
em uma lista, ou não constam de algum "manual" que esclareça sejam aqueles, e não quaisquer outros,
os "geralmente aceitos".

A finalidade prática da identificação dos chamados Princípios Contábeis é a de servir de guia ou


parâmetro para o registro de fatos e a elaboração de demonstrações,orientando a fixação de regras
uniformes que facilitem a função informativa da Contabilidade.

Alguns profissionais têm sugerido a adoção da expressão "Princípios Contábeis Preferidos", para indicar
aqueles que seriam mais indicados ou mais adequados para aplicação em cada caso específico. Os atuais
Princípios, já arrolados em alguns países e que vêm sendo adotados de forma quase universal, bem
como aqueles emitidos em pronunciamentos de entidades internacionais, como o IASC (International
Accounting Standards Committee), por exemplo, seriam os "preferidos". Alguns deles, entretanto,não
passam de meras normas de contabilização.

Aliás, alguns dos principais organismos que fixam os "Princípios", como o FASB(Financial Accounting
Standards Board), nos Estados Unidos, e o citado IASC, utilizam a expressão Accounting Standards, que
se traduz por "Normas, ou Padrões Contábeis",em lugar de "Princípios".

No âmbito da Associação Interamericana de Contabilidade, existem duas correntes de opiniões, uma


propondo a eliminação da expressão "geralmente aceitos" e outra propondo a substituição de toda a
expressão "princípios da contabilidade geralmente aceitos" por outra que distinguiria as chamadas
"características da informação contábil".Princípios Contábeis", reunindo sob essa denominação também
conceitos que na realiddade representam normas, critérios, convenções e até procedimentos contábeis.
Ao corrigirmos essa generalização, entretanto, não poderemos negar que realmente exis.tem Princípios
na Contabilidade, os quais, por serem imutáveis e impossíveis de ser desrespeitados, sob pena de
negarmos os fundamentos doutrinários da Contabilidade,não podem eles ser descaracterizados como
Princípios.

Daí a necessidade de distinguirmos os Princípios Fundamentais da disciplina,que não podemos alterar


nem desobedecer, daqueles que são apenas convenções contábeis, que orientam o registro dos fatos e
que podem ser mudados e adaptados às circunstâncias e ao meio ambiente econômico e social, bem
como à época em que se os aplicar.
11.1.2 Processo de identificação de princípios contábeis

Como surgem ou são identificados os Princípios Contábeis?ii

Por serem inerentes à própria Contabilidade e existirem independentemente da vontade ou da escolha


por parte de doutrinadores e profissionais, os Princípios preci sam ser identificados, reconhecidos e
respeitados, para que essa ciência, em sua apli.cação aos fins a que se destina, alcance seus objetivos de
informar e orientar, com uniformidade, clareza, precisão e eficiência, a situação e as variações
patrimoniais da entidade a que se aplica.

O processo de identificação dos Princípios difere daquele de fixação de normas contábeis. Esta fixação
decorre do juízo de doutrinadores e profissionais, que buscam,através desse processo, encontrar as
regras mais adequadas para contabilização dos fatos, objetivando cumprir os fins informativos e
orientadores da Contabilidade.

Os Princípios Fundamentais devem ser imutáveis em quaisquer circunstâncias,épocas ou locais de sua


aplicação, ao passo que as normas podem ser adaptadas às circunstâncias, desde que não conflitem
com os Princípios Fundamentais.

Para se identificar, reconhecer e justificar a existência de um Princípio Contábil, é necessário analisar e


interpretar as condições essenciais para que a Contabilidade exista. Por exemplo, se um fenômeno
ocorre é porque existe uma Entidade, titular da riqueza patrimonial em que o fenômeno se verifica.
Todo patrimônio exige uma entidade,pessoa física ou jurídica, como titular, e sem patrimônio não existe
Contabilidade,pois não há o que registrar, demonstrar, analisar e controlar. Por outro lado, todos os
fenômenos patrimoniais precisam ser registrados e demonstrados, sem exceção, para que não haja
distorções na apreciação desse patrimônio e dos resultados de sua movimentação. Deve existir,
portanto, uma Universalidade ou Integralidade de registros e demonstrações, que precisam ser,
também, mantidos e demonstrados de forma una e não dispersos, revelando a existência do Princípio
da Unidade. A entidade deve, ainda,ter Continuidade, ou seja, suas atividades devem ser ininterruptas,
para que o valor de realização do patrimônio não seja distorcido, embora os resultados e as
demonstrações devam ser apresentados com determinada Periodicidade. Os registros devem ser feitos
dentro do período de Competência dos Exercícios, com Uniformidade de Moeda e pelo Valor Original
das Transaçoes, mas procedendo-se, periodicamente, à Atualfzação Monetária do Valor Original,
quando a desvalorização da moeda assim o exigir.Deve haver Prudência nas avaliações, de forma que
não seja ultrapassado o Valor de Realização dos Ativos Registrados. Os registros devem, também,
obedecer a principios de Ética, de Legalidade e de Legitimidade.

Esses são, em minha opinião, alguns dos Princípios Fundamentais: Entidade,Continuidade,


Universalidade (ou Integralidade), Unidade, Periodicidade, Competência dos Exercícios, Uniformidade
da Moeda, Registro pelo Valor Original, Atualização Monetária, Prudência nas Avaliações, Valor de
Realização dos Ativos Registrados, Ética, Legalidade e Legitimidade.

11.2 OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE


NO BRASIL

A Lei n² 6.404/76, em seu art. 177, determina que a escrituração da companhia seja mantida com
obediência aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, terminologia esta não mais aceita no
Brasil porque é muito genérica e não distingue os Princípios Fundamentais de Contabilidade das simples
normas contábeis.

11.2.1 Resolução n° 750/93, do Conselho Federal de Contabilidade

Em 29 de dezembro de 1993, o Conselho Federal de Contabilidade editou a Resolução n° 750, publicada


no DOU, em 31-12 e em 7-2-94, que "Dispõe sobre os principios fundamentais de contabilidade (PFCy".
É a seguinte a íntegra dessa Resolução:

"O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e

regimentais.

CONSIDERANDO que a evolução da última década na área da Ciência Contábil reclama a atualização
substantiva e adjetiva dos Princípios Fundamentais de Contabilidade a que se refere a Resolução CFC n²
530/81.

RESOLVE:

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E SUA OBSERVÂNCIA

Art. 19 Constituem PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE (PFC) os

enunciados por esta Resolução.

S 1°A observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão


e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC).

S 2° Na aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade a situações concre-

tas, a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais.

CAPÍTULO I

DA CONSTITUIÇÃO, DA AMPLITUDE E DA ENUMERAÇÃO

Art. 2° Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias


relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predo.minante nos universos científico
e profissional de nosso País. Concernem, pois, à Contabili dade no seu sentido mais amplo de ciência
social, cujo objeto é o Patrimônio das Art. 3° São Princípios Fundamentais de Contabilidade:

Entidades.
1- da ENTIDADE;II- da CONTINUIDADE;II/- da OPORTUNIDADE;

IV- do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL;

V- da COMPETÊNCIA;

VI- da PRUDÊNCIA.

Seção I

O PRINCÍPIO DA ENTIDADE

Art. 4° O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabili dade e afirma a
autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos
patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma
sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem tins lucrativos. Por
conseqüência, nesta acepção, o patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou
proprietários, no caso de sociedade ou insti tuição.

Parágrafo único. O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou
agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova EN.TIDADE, mas numa unidade de
natureza econômico-contábil.

Seção II

O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE

Art. 5° A CONTINUIDADE ou não da ENTIDADE, bem como sua vida definida ou provável, deve ser
considerada quando da classificação e avaliação das mutações patrimoniais, quantitativas e qualitativas.

S 1° A CONTINUIDADE influencia o valor econômico dos ativos e, em muitos casos,o valor ou o


vencimento dos passivos, especialmente quando a extinção da ENTIDADE tem prazo determinado,
previsto ou previsível.

S 2% A observância do Princípio da CONTINUIDADE é indispensável à correta aplica ção do Princípio da


COMPETÊNCIA, por efeito de se relacionar diretamente à quantifica ção dos componentes patrimoniais
e à formaçao do resultado, e de constituir dado importante para aferir a capacidade futura de geração
de resultado.

Seção II

O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE

Art. 6° O Princípio da OPORTUNIDADE refere-se, simultaneamente, à tempestividade e à integridade do


registro do patrimônio e das suas mutações, determinando que este seja feito de imediato e com a
extensão correta, independentemente das causas que as originaram.
Parágrafo único. Como resultado da observância do Princípio da OPORTUNIDADE:I - desde que
tecnicamente estimável, o registro das variações patrimoniais deve ser feito mesmo na hipótese de
somente existir razoável certeza de sua ocorrência;

I1- o registro compreende os elementos quantitativos e qualitativos, contemplando os

aspectos físicos e monetários;

Il - o registro deve ensejar o reconhecimento universal das variações ocorridas no patrimônio da


ENTIDADE, em um período de tempo determinado, base necessária para gerar informações úteis ao
processo decisório da gestão.

Seção IV

O PRINCÍPIO DO REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL

Art. 7° Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das transações com
o mundo exterior, expressos a valor presente na moeda do País, que serão mantidos na avaliação das
variações patrimoniais posteriores, inclusive quando configurarem agregações ou decomposições no
interior da ENTIDADE.

Parágrafo único. Do Princípio do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL resulta:

1- a avaliação dos componentes patrimoniais deve ser feita com base nos valores de entrada,
considerando-se como tais os resultantes do consenso com os agentes externos ou da imposição destes;

II - uma vez integrado no patrimônio, o bem, direito ou obrigação não poderão ter alterados seus
valores intrínsecos, admitindo-se, tao-somente, sua decomposição em elementos e/ou sua agregação,
parcial ou integral, a outros elementos patrimoniais;

IlI - o valor original será mantido enquanto o componente permanecer como parte do

patrimônio, inclusive quando da saída deste;

IV - os Princípios da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA e do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL são compativeis


entre si e complementares, dado que o primeiro apenas atualiza e mantém atualizado o valor de
entrada;

V - o uso da moeda do País na tradução do valor dos componentes patrimoniais

constitui imperativo de homogeneização quantitativa dos mesmos.

Seção V

O PRINCÍPIO DA ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

res dos componentes patrimoniais.


Art. 89 Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser re conhecidos nos
registros contábeis através do ajustamento da expressão formal dos valo.Parágrafo único. São
resultantes da adoção do Princípio da ATUALIZAÇÃO 1- a moeda, embora aceita universalmente como
medida de valor, nao representa unidade constante em termos do poder aquisitivo;

MONETÁRIA:

Il-para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações orig.nais (art. 79), é
necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que permaneçam
substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por conseqüência, o do
patrimônio líquido;

Ill - a atualização monetária não representa nova avaliação, mas, tão-somente, o ajustamento dos
valores originais para determinada data, mediante aplicação de in dexadores, ou outros elementos
aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda nacional em um dado período.

Seção VI

O PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA

Art. 9° As receitas e as despesas devem ser incluidas na apuração do resultado do período em que
ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, inde pendentemente de recebimento
ou pagamento.

S 19 0 Princípio da COMPETÊNCIA determina quando as alterações no ativo ou no passivo resultam em


aumento ou diminuição no patrimônio líquido, estabelecendo diretrizes para classificação das mutações
patrimoniais, resultantes da observância do Princípio da OPORTUNIDADE.

S 2° 0 reconhecimento simultâneo das receitas e despesas, quando correlatas, é

conseqüência natural do respeito ao período em que ocorrer sua geração.

S 3° As receitas consideram-se realizadas:

I - nas transaçoes com terceiros, quando estes efetuarem o pagamento ou assu mirem compromisso
firme de efetivá-lo, quer pela investidura na propriedade de bens, ante riormente pertencentes à
ENTIDADE, quer pela fruição de serviços por esta prestados;II - quando da extinção, parcial ou total, de
um passivo, qualquer que seja o motivo,sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor
igual ou maior;

II - pela geração natural de novos ativos independentemente da intervenção de ter

ceiros;

IV - no recebimento efetivo de doações e subvenções.

5 4° Consideram-se incorridas as despesas:


I - quando deixar de existir o correspondente valor ativo, por transferência de sua

propriedade para terceiro;

I1- pela diminuição ou extinção do valor econômico de um ativo;

eressão fonal de valor, não ie ya nacional, a inr

aa narcvonal deg pcípio da ATun pres das transaje ntes patrimonte,

I1l -pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente ativo

Seção VII

O PRINCÍPIO DA PRUDÊNCIA

Art. 10.O Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do menor valor para os componentes do ATIVO e
do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a
quantificaçao das mutaçoes patrimoniais que alterem o patrimônio líquido.

S 1° 0 Princípio da PRUDÊNCIA impõe a escolha da hipótese de que resulte menor patrimônio líquido,
quando se apresentarem opções igualmente aceitáveis diante dos de.mais Princípios Fundamentais de
Contabilidade.

5 29 Observado o disposto no art. 79, o Princípio da PRUDÊNCIA somente se aplica às mutações


posteriores, constituindo-se ordenamento indispensável à correta aplicação do Princípio da
COMPETÊNCIA.

S 3° A aplicação do Princípio da PRUDÊNCIA ganha ênfase quando, para definição dos valores relativos às
variações patrimoniais, devem ser feitas estimativas que envolvem incertezas de grau variável.

Art. 11. A inobservância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade constitui intração às alineas c, d e
e do art. 27 do Decreto-lei n° 9.295, de 27 de maio de 1946 e,quando aplicável, ao Código de Ética
Profissional do Contabilista.

Art. 12. Revogada a Resolução CFC n° 530/81, esta Resolução entra em vigor a par-

tir de 19 de janeiro de 1994.

Brasília, 29 de dezembro de 1993.

11.3 PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE IDENTIFICADOS

PELO AUTOR

Em 1972, a X Conferência Interamericana de Contabilidade, reunida em Punta del Este, Uruguai,


aprovou trabalho de minha autoria sobre Princípios e Normas Contábeis.Em se tratando de tentativa
pioneira, no Brasil, de arrolar tais princípios e normas, seria natural que o trabalho contivesse
imperfeições, o que me levou, posteriormente, a reformulá-lo. Não obstante, foi para mim grande
satisfação constatar que a Resolução no 750/93, do CFC, consagrou seis Princípios Fundamentais de
Contabilidade, dos quais cinco já tinham sido por mim identificados em 1972.

Hoje reconheço que alguns daqueles por mim arrolados, na época, como Principios, são, em realidade,
Normas Convencionais. Outros, que ainda hoje estou convencido de que são Principios Fundamentais de
Contabilidade, não foram reconhecidos como tal pela Resolução CFC n° 750/93.

Reiterando o que foi dito no item 11.3, reconheço como Princpios Fundamentais

os seguintes:

11.3.1 11.3.2 11.3.3 11.3.4 11.3.5 11.3.6 11.3.7 11.3.8 11.3.9 11.3.10 11.3.11 11.3.12 11.3.13

Da Entidade

Da Continuidade

Da Universalidade (ou da Integralidade)

Da Unidade

Da Periodicidade

Da Competência

Da Uniformidade na Moeda de Registro

Do Registro pelo Valor Original

Da Atualização Monetária Da Prudência nas Avaliações Do Valor de Realização dos Ativos Da Ética e da
Legalidade

Da Legitimidade

A conceituação de cada um desses Princípios é a seguinte:

11.3.1 Da entidade

A função contábil só pode ser exercida no pressuposto de que a Entidade cujo patrimônio a
Contabilidade estuda e controla tem existência identificada e efetiva, distin ta e independente das
pessoas fisicas ou juridicas que a compõem, podendo subsisti mesmo após o desaparecimento destas.

Assim, o patrimônio da Entidade não se confunde, sob qualquer aspecto, com a riqueza patrimonial de
seus titulares, nem sofre os reflexos das variações nela verifica das.
As mutações ocorridas no patrimônio da Entidade, sejam meramente permutati vas ou modificativas do
patrimônio líquido, somente se refletem na riqueza patrimonia de seus titulares quando a estes são
atribuídos resultados econômicos, positivos ou ne gativos.

O princípio da existência da Entidade distinta e patrimonialmente independente das pessoas a ela


vinculadas é indispensável à identificação dos fenômenos patrimoni ais e à possibilidade de aplicação de
outros principios contábeis, tais como o da Uni versalidade desses fenômenos e o da Unidade dos
registros e demonstrações, que estudaremos a seguir.

Este princípio aparentemente nao foi respeitado por normas da Lei n° 6.404, que estabeleceram a
avaliação dos investimentos em coligadas e controladas (art. 248) pelo valor do patrimônio líquido da
investida (equivalência patrimonial) e a exigência de ba.lanços consolidados (art. 250). Esses
dispositivos, entretanto, ampliaram o conceito

PRINCÍPIOS E NORMAS CONTÁBEIS

197 contábil de Entidade e reforçaram os princípios da Universalidade e da Unidade, pois mandam


incluir, nas demonstrações contábeis da Entidade, fenômenos ocorridos em outro patrimônio de que ela
participa, os quais influirão, direta ou indiretamente, no balanço patrimonial e nos resultados da
Entidade, não sendo, portanto, a ela alheios,Alguns autores não classificam a Entidade como um
princípio, mas como um postulado, uma vez que ela antecede à própria Contabilidade, que não existiria
sem a sua existência. Como o conceito de postulado é o de ser um princípio que não precisa ser
comprovado, por ser evidente, poderíamos classificar a Entidade como um princípio de Contabilidade,
ou como um postulado, indistintamente, neste último caso visando a ser distinguido dos demais
princípios.

11.3.2 Da continuidade da entidade

o balanço patrimonial somente reflete adequadamente a situação econômico-financeira do patrimônio,


no momento de sua elaboração, quando há presunção de que a entidade prosseguirá no processo
contínuo de realização de suas atividades. Embora seja o balanço uma fotografia da situação estática do
patrimônio nesse momento, a avaliação de seus componentes está condicionada à realização dos
valores patrimoniais segundo essa avaliação, o que se presume ocorrer somente quando não há solução
de continuidade na vida da entidade.

Se interrompidas suas atividades, a realização dos valores patrimoniais da Entida-

de não se processa de acordo com o balanço, pelas seguintes razões:

a. Alguns débitos e créditos de terceiros, de vencimento futuro, têm, na data do balanço, valores atuais
inferiores aos nominais constantes das demonstrações contábeis. Quando há presunção de que a vida
da entidade não sofrerá interrupção, a atualização dos valores em cada balanço nem sempre é exigida,
por ser tarefa difícil e de pouca utilidade prática, quando a taxa de inflação não é elevada.
Os valores do ativo permanente, depreciados e corrigidos anualmente por processos teóricos, podem
estar apresentados no balanço com valores atuais diferentes dos valores de mercado, que
corresponderiam ao valor de realização em caso de liquidação da entidade.

c. Alguns valores diferidos - como despesas antecipadas e despesas pré-operacionais - perdem sua
possibilidade de realização, quando a Entidade encerra suas atividades.

d. Alguns ativos intangiveis, tais como marcas, patentes, fundo de comércio, direitos de exploração e
outros, somente têm valor, em certos casos, quando há continuidade na vida operacional da Entidade.

Os estoques - mesmo que avaliados segundo o critério da prudência, optando-se pelo menor preço,
entre o de custo e o de mercado - podem não alcan-çar o valor da avaliação quando a entidade tem
necessidade de liquidar seus bens a curto prazo.

198

CONTABILIDADE GERAL

A cessação das atividades da Entidade importa em imediata interrupção de suas receitas, mas nem
sempre interrompe seus custos fixos, que prosse.guem na fase de liquidação.

Daí termos de aceitar o princípio de que as demonstrações contábeis somente re.fletem


adequadamente a situação econômico-financeira do patrimônio quando há pre.sunção de continuidade
na vida operacional da Entidade.

Alguns autores classificam a continuidade como um postulado, no pressuposto de que ela representa
uma verdade em si mesma, sem necessidade de comprovação,como é o caso da Entidade. Não penso,
entretanto, dessa forma, pois a Contabilidade não pode existir sem a Entidade, o que não ocorre com
sua continuidade, pois podem ocorrer situações em que a interrupção dessa continuidade em nada
altera a veraci.dade das demonstrações contábeis. Isto pode ocorrer em três circunstâncias, todas elas
prováveis de se concretizar:(1) a Entidade pode ter sido constituída por prazo determi nado, com
previsão de liquidação ao serem concluídos determinados objetivos, como é o caso das sociedades em
conta de participação; (2) o ativo da Entidade poderá ser constituído somente por valores líquidos, de
realização imediata, em nada influindo so.bre eles a eventual liquidação da Entidade; (3) por mais
complexo que seja o patrimônio de uma Entidade, caso sua liquidação seja antecipadamente prevista ou
deliberada,provisões e ajustes podem ser previamente contabilizados, mesmo a longo prazo, de forma
que as demonstrações que antecedem o encerramento representem, de forma razoavelmente
aproximada, o valor de liquidação da Entidade. A falta de continuidade,nesses casos, em nada invalida
as qualidades informativas da Contabilidade, o que também não invalida o Princípio da Continuidade,
pois ele não deve ser desconsi derado, uma vez que a regra geral é a de que as demonstrações
contábeis são sempre elaboradas na presunção da continuidade da Entidade.

Não creio, entretanto, que se possa considerar esse princípio como um postulado.como no caso da
Entidade, da qual a Contabilidade depende para sua própria existência.
11.3.3 Da universalidade (ou integralidade)

O Princípio da Universalidade (ou da Integralidade) significa que todos os fenômenos relacionados com
o patrimônio objeto de controle devem, sem exceção, sujei.tar-se ao registro contábil. Ele resulta do
entendimento de que o objeto da Contabili.dade é o patrimônio como um todo, não aceitando a
hipótese de que nos registros ou has demonstrações contábeis possa ocorrer omissão de qualquer
fenômeno que importe na desfiguração do conjunto, dos componentes do patrimônio (bens, direitos,
obrigações e situação líquida), ou do resultado do exercício (receitas, despesas e resultado).O Princípio
da Universalidade não implica a impossibilidade de demonstrações contábeis parciais, desde que elas
sejam específicas para determinado objetivo e que incluam todos os fenômenos a ele relacionados. O
inventário dos estoques, por exem plo, é parcial em relação ao conjunto patrimonial, mas especifico e
geral como elemento demonstrativo de um dos componentes patrimoniais, devendo abranger todos os
itens que o compõem, sem exceção.

PRINCÍPIOS E NORMAS CONTÁBEIS

199 Um arrolamento de alguns ou mesmo de todos bens do ativo, ainda que representado em conjunto
com os demais componentes do patrimônio, mas não com todos eles, somente pode ter utilidade para
fins específicos de demonstração patrimonial, mas nunca como demonstração do estado geral do
patrimônio,

O mesmo se pode dizer das receitas ou das despesas, que somente podem ser apresentadas em
conjunto, evidenciando o resultado líquido do exercício, para serem analisadas e interpretadas como
resultado desse exercício.

Não podem ser admitidos, também, registros contábeis que omitam qualquer operação de valor
relevante, que seja relativa a valores patrimoniais ou ao resultado. Da mesma forma não se admitem
demonstrações incompletas dos componentes do patrimônio ou das receitas e despesas, para efeito
informativo do estado patrimonial ou do resultado do exercício.

o desrespeito ao Princípio da Universalidade invalida as demonstrações contá-beis, pois, não incluindo a


totalidade dos fenômenos patrimoniais, essas demonstrações nao poderão refletir adequadamente a
situação econômico-financeira do patrimônio,nem o resultado do exercício. Eis por que os dispositivos
dos arts. 248 e 250 da Lei ns 6.404 reforçam este princípio, considerando a necessidade de demonstrar
em conjunto,em determinados casos ou circunstâncias, fenômenos de mais de um patrimônio, quando
intimamente relacionados entre si.

11.3.4 Da unidade dos registros e das demonstrações

A unidade dos registros e das demonstrações contábeis signitica que todos os fenômenos relacionados
com um mesmo patrimônio devem ser registrados e demonstrados através de um sistema uno e
integrado, de forma que haja apenas uma demonstração contábil representativa da totalidade dos
fenômenos patrimoniais relativos a cada aspecto que se deseja demonstrar. É um princípio que
complementa o da Universalidade dos fenômenos patrimoniais, uma vez que este não subsistiria sem a
existência daquela unidade, que impõe a necessidade de serem os registros, pelo menos
periodicamente, centralizados e consolidados em demonstrações unificadas.

O Princípio da Unidade não impede que a Entidade proceda a seus registros contábeis de forma
descentralizada, por diferentes setores ou diversos processos de registro, resguardada, entretanto, por
ocasião da elaboração de demonstrações periódicas, a unificação de todos os registros e sua
consolidação em uma demonstração, que revele a situação global do patrimônio ou do resultado do
exercício.

Não se podem, também, realizar vários registros parciais para representar uma mesma operação, pois
isso desrespeitaria o princípio da Unidade e dificultaria a interpretação do fenômeno ocorrido.

As demonstrações contábeis, quando elaboradas para evidenciar diferentes aspectos do patrimônio ou


de suas variações - Balanço Patrimonial, Balanço Financeiro,Balanço de Mutações do Patrimônio
Líquido, Balanço de Origem e Aplicação de Recursos, Demonstração do Resultado do Exercicio - devem,
todas elas, guardar correspondência entre si, conjugando algarismos que se subordinem ao Princípio
Geral da unidade expositiva.

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CONTABILIDADE GERAL

As demonstrações contábeis somente refletem adequadamente a situação econô.mico-financeira do


patrimônio e o resultado do exercício quando caracterizadas por essa unidade, indivisível e indissolúvel.
O fim informativo e orientador da Contabilidade não será alcançado se o Princípio da Unidade dos
registros e demonstrações não for obedecido. Como vimos anteriormente, os arts. 248 e 250 da Lei n°
6.404 reforçam esse princípio, mandando incluir em uma mesma demonstração fenômenos ocorridos
em mais de uma empresa, porém com efeitos conjugados.

11.3.5 Da periodicidade das demonstrações contábeis

A cronologia dos registros contábeis outorga à Contabilidade uma função histórica cuja importância se
evidencia quando se quer identificar o momento em que determina.dos fenômenos ocorreram. A
utilidade dessa função tem, através dos tempos, decresci do, com a concomitante ampliação da
importância da função informativa e orientadora quanto aos aspectos qualitativos e quantitativos dos
componentes patrimoniais e suas variações, monetariamente representados. A finalidade contábil de
divulgação dos as.pectos monetários tem-se revelado mais útil, porque informa o efeito de um
fenômeno sobre a riqueza, sendo de menor significação a data em que o fenômeno ocorreu, salvo em
casos específicos, sob aspectos legais e fiscais, em que a cronologia é mais impor.tante do que a
expressão monetária dos fenômenos patrimoniais.

A contínua e ininterrupta ocorrência de fenômenos no patrimônio de uma Entidade impede a pronta


avaliação dos efeitos de tais fenômenos na riqueza patrimonial. Daí a necessidade de serem
estabelecidos momentos definidos para avaliação desses efei.tos, quer na composição do patrimônio,
quer no resultado econômico produzido pela dinâmica patrimonial. Como as Entidades não podem
interromper suas atividades para que seja avaliado seu estado patrimonial e apurados os resultados,
procede-se a um"corte" no registro cronológico dos fenômenos, criando-se os períodos administrativos,
ao fim dos quais as demonstrações contábeis são elaboradas.

Esses períodos administrativos, chamados exercícios, devem ter sempre a mesma

duração, para que possam ser comparados entre si.

Do Princípio da Periodicidade decorre a possibilidade de aplicação das mais im.

portantes técnicas contábeis, a saber:

a demonstração expositiva - realizada através de demonstrações contábeis que, por imposição legal ou
fiscal, e por necessidade administrativa, devem ser periódicas;

a auditoria -cujo objetivo é confirmar se os registros e as demonstrações con tábeis foram elaborados de
acordo com os Princípios de Contabilidade - depende da fixação de uma data, em que o auditor possa
julgar a adequação das demonstrações contábeis, em relação à situação econômico-financeira da
Entidade, monetariamente considerada, bem como dos resultados econômi cos em relação à dinâmica
do periodo examinado;

a análise de balanços - assim considerada a técnica de decomposição e comparação dos fenômenos


patrimoniais entre si e em relaçao a seu conjuntoque depende não só da periodicidade das
demonstrações, mas também da uniformidade dos períodos, para dar interpretação aos fenômenos
patrimoniais, estática ou dinamicamente considerados,

A inexistência do Princípio da Perlodicidade tiraria à Contabilidade seu próprio objetivo, que é o de


oferecer informações e orientação, e até mesmo interpretações, sobre os fenômenos patrimoniais,
encarados como um todo, em respeito aos Princípios da Universalidade e da Unidade,

Do Princípio da Periodicidade decorre outro muito importante, que é o da Com

petência dos exercícios.

Os arts. 175 e 176 da Lei n° 6.404 estabelecem que o exercício social terá a dura-ção de um ano e que ao
fim de cada exercício a Diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as
demonstrações contábeis, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e
as mutações ocorridas no exercício.

11.3.6 Da competência dos exercícios

Já nos referimos à necessidade de se dividir a atividade econômico-administrativa das entidades em


períodos, chamados exercícios, para que se possa, ao fim de cada um, avaliar a situação econômico-
financeira do patrimônio e os resultados alcançados com a atividade desenvolvida nesse período.

Como a dinâmica patrimonial não pode ser interrompida ao fim de cada período, a técnica contábil deve
estabelecer normas para a realização do "corte" em determinado momento, no qual se procede ao
levantamento das demonstrações contábeis, sem necessidade de interrupção no processo contínuo de
desenvolvimento dos fenômenos patrimoniais.

No momento do "corte" devemos levar em consideração o fato de que muitas receitas e despesas,
registradas pelo recebimento ou pagamento, não correspondem ao período, bem como outras,
correspondentes ao período, não foram registradas por não se ter ainda verificado o recebimento e/ou
o pagamento.

A norma para regularização dos registros deve estar subordinada ao Princípio da Competência dos
Exercícios, que consiste em apropriar todas as receitas geradas no mesmo período, mesmo que ainda
não recebidas, bem como todos os custos a elas correspondentes. Por outro lado, devem figurar como
receitas ou despesas diferidas aquelas que, embora já recebidas ou pagas, são atribuíveis ao exercício
seguinte.A inobservância a esse princípio gera a atribuição de resultados irreais ao exercí-cio e
compromete a fidelidade da demonstração patrimonial, pois nesta não figurariam as despesas e receitas
diferidas -que constituem componentes patrimoniais apropriá-veis aos resultados de exercícios futuros
-, nem os direitos e obrigações decorrentes de receitas e despesas não apropriadas

A necessidade de obediência a este Princípio foi confirmada pela Lei n° 6.404, em

seus arts. 177 e 187,S 19.

11.3.7 Da uniformidade na moeda de registro

Para os registros dos fatos contábeis deve ser utilizada uma moeda uniforme pois o patrimônio é um
conjunto de fenômenos positivos e negativos cuja soma al gebrica é expressa por algarismos, que
constituem o denominador comum de fenômenos heterogêneos, não se podendo admitir que tais
algarismos sejam repre.sentativos de unidades também heterogêneas.

No Brasil, cuja legislação estabelece que os registros contábeis devem ser feitos em moeda nacional, o
desrespeito a esse princípio constituiria infração legal. Doutri.nariamente, a falta de uniformidade nas
moedas de registro importaria na impossibili.dade de se compararem os diversos fenômenos
patrimoniais e de reuni-los em um so balanço demonstrativo, pois não se podem somar ou comparar
coisas heterogêneas.Sem essa uniformidade, não seria possível o respeito ao Princípio da Unidade e à
re.gra da Uniformidade de critérios de avaliações e registros, nem a comparabilidade en.ïre as
demonstrações contábeis, impedindo, assim, sua análise e interpretação.Os fenômenos heterogêneos
que compoem o patrimônio devem ser representados por um denominador comum, que é a moeda. Se
esta não for uniforme, não existirá o denominador comum.

Como em nossos dias inexiste a estabilidade cambial entre as diferentes moedas- mesmo entre as de
países economicamente fortes -, torna-se impraticável a elabo.ração de registros e demonstrações
contábeis sem respeito ao Principio da Uniformidade da Moeda. Quando as atividades de uma Entidade
se desenvolvem em países de diferentes moedas, devendo-se - em respeito aos Princípios da
Universalidade e da Unidade - elaborar demonstrações contábeis consolidadas, as conversões a uma
moeda uniforme deverão ser procedidas, respeitadas as taxas de conversão indicadas em cada
circunstância.

Para maior respeito a este Princípio é que a tendência atual, nos países de moeda instável, em virtude
de processo inflacionário, é de proceder-se à correção monetária integral, que transforma as
demonstrações contábeis numa representação em moeda estável, de um mesmo poder aquisitivo,
qualquer que seja a época em que os fenômenos venham a ocorrer dentro de um mesmo exercício.

11.3.8 Do registro pelo valor original

Sempre que um registro contábil é procedido, o valor da operação deverá ser aque le constante do
comprovante original que o suporta, que se presume seja um documento legitimo. Esse é o único valor a
ser tomado como base para a contabilização, mesmo que ele não corresponda, por razões negociais ou
circunstanciais, ao valor real da coisa negociada, mas desde que a operação seja legítima. Eventuais
diferenças de valor, decorrentes de circunstâncias do mercado, não impeditivas de que a operação fosse
aceitávelpara a entidade, serão futuramente ajustadas, quando se proceder à avaliação patrimonial,
para efeitos informativos e orientadores dos administradores e demais usuários das demonstrações
contábeis. Isso significa que um bem adquirido, por exemplo, por 10, será registrado por esse valor
original da operação, não obstante o fato de que seu valor real ou intrínseco possa ser de 8 ou 12. O
ajuste da diferença será feito oportunamente, por pcasião da avaliação patrimonial, para fins de
demonstrações contábeis,

Fatores advindos de ocorrências futuras, que possam determinar ajustes desse valor, tais como
desgastes do bem pelo uso (depreciação), reavaliação do ativo (por valorização ou mais valia) e ajustes
decorrentes de perda de poder aquisitivo da moeda(correção monetária) devem ser registrados por
ocasião da elaboração das demonstrações contábeis, de forma que estas possam representar de
maneira adequada o estado patrimonial e os resultados do período. Esses ajustes serão legitimados pela
aceitação do Princípio da Atualização Monetária do Valor Original, que veremos a seguir.

11.3.9 Da atualização monetária do valor original

Nos países em que o processo inflacionário corrói o poder aquisitivo da moeda, as demonstrações
contábeis deixam de representar adequadamente a situação do patrimônio e seus resultados.

Por muitos anos vigorou em países de moeda estável o conceito de que a estabilidade da moeda de
registro constituía um princípio fundamental a reger a escrituração e as demonstrações contábeis, não
se admitindo a correção dos valores registrados, procedimento interpretado como causador de
distorções na fidelidade das demonstrações.

Os países de perene processo inflacionário, entretanto, não somente desconhecem a estabilidade


monetária, como também sentem a necessidade de adotar normas para corrigir as distorções
provocadas pela espiral inflacionária.

No Brasil, onde convivemos com a inflação durante várias décadas, a necessidade de ajuste monetário
dos valores patrimoniais e dos resultados atingiu proporções tão dramáticas que o próprio poder
público assumiu posição diante do problema, criando legislação específica e realista para a correção
monetária dos mais variados aspectos da economia nacional, inclusive do ativo permanente e do
patrimônio líquido, com reflexo no resultado das empresas, admitindo e até mesmo exigindo a correção
monetária equivalente à distorção provocada pela desvalorização da moeda.

Em matéria de doutrina contábil é hoje aceita, no Brasil, a regra de que a correção monetária é uma
necessidade fundamental para que as demonstrações contábeis representem adequadamente a
situação do patrimônio e os resultados econômicos do fxercício, em época de elevada taxa inflacionária.

Mesmo países de moeda tradicionalmente estável já estão sentindo, embora em Tenores proporções, os
efeitos da desvalorização da moeda sobre a economia, o que os Stá levando a admitir a necessidade da
correção monetária (ou outras formas de ajuste,fpmo o preço corrente), por exemplo, como medida
retificativa dessas distorções.

Acreditamos que, pelo menos em teoria contábil, deve-se aceitar a norma de que,

dos os países em que o processo inflacionário pode causar distorções nas demons-trações contábeis, os
valores patrimoniais, bem como os resultados do exercício, devem

ser monetariamente ajustados segundo critério adequado.

A Lei n² 6.404, em seu art. 185, consagrou a regra de corrigir monetariamente componentes do ativo e
do resultado, ampliando seu conceito e sua sistemática, man.dando corrigir o ativo permanente e o
patrimônio líquido, com reflexos no resultado.O conceito de ajuste patrimonial foi ainda ampliado por
essa lei (arts. 8°, 182, S 39 e 187,5 2%), que admite a reavaliação dos bens do ativo, além dos limites da
correção monetária, para constituição de Reserva de Reavaliação.

A CVM ampliou ainda mais esse princípio, estabelecendo a obrigação da correção

monetária integral como vemos a seguir:

"INSTRUÇÃO N° 64, 19-5-1987 - CVM. Estabelece que as companhias abertas elaborarão e publicarão,
além das demonstrações atualmente exigidas pela Lei n° 6.404/76,demonstrações contábeis
complementares, com o plano de atendimento do Princípio do Denominador Comum Monetário
(Deliberação CVM n° 29/86), onde serão registrados todos os elementos num único padrão monetário
(OTN), observados os critérios e procedi.mentos constantes deste ato, com relação ao balanço
patrimonial complementar, de demonstrações complementares do resultado, das origens e aplicações
de recursos e das mutações do patrimônio líquido, notas explicativas e relatório da administração,
dispensa de publicação em situações específicas, parecer dos auditores, prazo para guarda de docu
mentos e outras providências."

Em 26-12-95, contudo, a Lei ne 9.249 revogou os dispositivos sobre a correção monetária do balanço,
em face da drástica queda na taxa inflacionária no País, o que não nos parece ter sido medida sadia para
a boa apresentação das demonstrações contábeis.
11.3.10 Da avaliação prudente

Os princípios da Realização e da Avaliação se complementam, sendo mesmo interdependentes. A


realização somente tem possibilidade de se efetivar pelo valor de avaliação quando esta é realizada com
prudência e de forma adequada em relação a cada caso, especificamente considerado.

A prudência é atitude indispensável para que a avaliação não atinja valores irrealizáveis, pois isso
constituiria superavaliação, que em linguagem informal se chama de"aguamento do patrimônio".

Assim, tem sido norma tradicionalmente aceita a de escolher, entre os preços de custo e de mercado, o
menor, para evitar apuração de resultados irreais, que se transformariam em resultados negativos de
exercícios futuros.

O respeito a essa norma de prudência não deve, entretanto, ser exacerbado ao ponto de ser esquecida a
norma de adequação, isto é, o menor preço deve ser adotado sempre que não se distancie
demasiadamente da realidade, pois isso importaria em subavaliação, que tornaria a demonstração
contábil tão irreal quanto no caso anterior.

Podemos citar como exemplo a adoção do método UEPS (o último produto a entrar é o primeiro a sair)
de movimentação dos estoques, que torna mais real a apropriação dos custos do exercício, mas
redunda, em economias inflacionárias, em grave subavaliação dos estoques. Trata-se de critério
prudente, mas que resulta inadequado à boa representação desse importante componente do
patrimônio.

O mesmo ocorre quando são constituidas provisões em excesso, para depreciações, amortizações e
riscos de crédito, importando tais medidas em formação de reservas ocultas, que tiram as
demonstrações contabeis a característica de representarem adequadamente a situação econômico-
financeira do patrimônio. Inú-meros são os critérios de avaliação aplicáveis a cada caso específico,
podendo-se selecionar os que melhor se aplicam a cada fenômeno patrimonial. Como princípio
geral,entretanto, devemos reconhecer que a avaliação deve ser prudente e adequada.Embora inexista
possibilidade de conceituação precisa e objetiva de avaliação prudente e adequada, pois os termos
assumem, neste caso, conotações subjetivas, podemos citar como exemplo o de que, na avaliação do
estoque, seria prudente adotar o custo médio em vez dos métodos UEPS e PEPS (o primeiro a entrar é o
primeiro a sair), que representariam os extremos, embora estes também utilizem preços de custo.Com
relação aos componentes do passivo, recomenda o Princípio da Prudência que a opção seja pelo maior
valor, sempre que haja mais de um a ser escolhido.

Não obstante a subjetividade que envolve a aplicação deste princípio, parece-nos inatacável a
necessidade de aceitá-lo como fundamental para que as demonstrações contábeis representem, da
forma mais adequada possível, a realidade patrimonial.A correção monetária dos elementos
componentes do ativo permanente e do patrimônio líquido, prevista no art. 185 da Lei n° 6.404, hoje
revogada, constituía forma adequada de avaliar esses componentes do patrimônio em período
inflacionário, evitando distorções nas demonstrações contábeis. A reavaliacão dos bens do ativo,
mediante constituição de reserva de reavaliação, prevista nos arts. 8°, 182, S 3°, e 187, S 29,da mesma
lei, é também uma forma adequada, quando prudentemente realizada a nova avaliação, de divulgar os
valores prováveis de realização desses bens.

Em seu art. 195, S 1°, a lei recomenda o princípio da prudência na constituição

das Reservas para Contingências.

11.3.11

Da realização dos valores patrimoniais

Através de sua função expositiva, a Contabilidade alcança seu tim primordial, que é o de fornecer
informações e orientação sobre os fenômenos patrimoniais em seus aspectos estático e dinâmico. Do
ponto de vista estático, o balanço patrimonial é a demonstração que deve refletir a situação do
patrimônio em determinado momento, como reprodução fotográfica multidimensional dos diferentes
fatores que influem na avaliação dos componentes do patrimônio, destacando-se:

1. a depreciação dos bens de uso;

2. a correção monetária dos bens duráveis;

3. os riscos de crédito;

4. as variações cambiais;os fenômenos contingentes;os ônus em potencial;

os custos e receitas diferidos;a correção monetária dos custos;9. o ativo potencial;

além de outros fatores que devem ser levados em conta na demonstração patrimonial para que ela
represente, da forma mais adequada possível, a riqueza patrimonial.O Princípio mais importante no
julgamento dessa adequação do balanço em re.lação ao valor real do patrimônio é o da Realização, pois
somente quando ela é efetivada poderemos assegurar-nos de que os critérios de avaliação dos
componentes patrimoniais foram tecnicamente adequados.

O patrimônio é uma grandeza em constante mutação, em virtude de vários fa-

tores, entre os quais podemos indicar:

a própria dinâmica da atividade social;

a desvalorização da moeda;

as variações cambiais;o desgaste dos bens de uso;e. as perdas eventuais.

Como nem todos esses fenômenos podem ser registrados concomitantemente com suas manifestações,
a Contabilidade deverá fazer, periodicamente, sempre que as demonstrações contábeis sejam
elaboradas, o registro das variações ocorridas, para efeito de avaliação dos componentes patrimoniais -
tendo em vista a possibilidade de realização dos valores - e para que o balanço patrimonial possa refletir
adequadamente a situação econômico-financeira do patrimônio nessa data.
Alguns autores enunciam esse Princípio de maneira um pouco diferente, focali zando apenas a
realização das receitas, o que importa sem dúvida na realização de um valor patrimonial, pois, desde o
momento em que a receita foi registrada, criou-se no ativo um valor a receber, que precisará ser
realizado para que as demonstrações contábeis possam ser consideradas uma representação fiel do
patrimônio e do resultado do exercício.

Não são apenas esses créditos, entretanto, que devem ter a possibilidade de serem realizados, mas
também, para que a representação patrimonial seja correta, todos os demais valores constantes do
ativo.

O balanço não será demonstração fiel dos componentes patrimoniais se estes não

forem representados por valores pelos quais seja possível sua realização.

Ao tratar dos critérios de avaliação do ativo, a Lei n° 6.404, em seu art. 183, ressalta a necessidade da
criação de provisões para ajustar os bens e direitos ao valor provável de realização, confirmando, assim,
a necessidade de respeito a este Princípio.

11.3.12 Da ética e da legalidade

o Princípio da Ética e da Legalidade deve estar implícito em qualquer registro ou demonstração contábil,
sem o que não se pode afirmar que foram observados os "Principios Fundamentais de Contabilidade".

O desrespeito a este princípio pode decorrer de ato consciente ou inconsciente de seu autor, como
resultado de incapacidade profissional, de negligencia, de fraude ou de qualquer outro ato, culposo ou
doloso, o que não deixa, entretanto, de representar infra-ção à ética ou à legislação em vigor no País.
Como não podemos desvincular os Principios de Contabilidade, do Código de Ética Profissional, bem
como da legislação do País, é inevitável que se identifique este Princípio como inerente à Ciência
Contábil e indispensável ao exercício profissional e à elaboração dos registros e demonstrações
contábeis.

Em seu art. 177, a Lei n° 6.404 determina que "a escrituração da companhia será mantida em registros
permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta lei e aos princípios de
contabilidade geralmente aceitos..." O grifo é meu,porque atualmente essa expressão não está mais em
uso no Brasil,

A VII Conferência Interamericana de Contabilidade aprovou, como postulado da Contabilidade, a


Eqüidade. A Resolução n° 530/81, do CFC, revogada pela de ne 750/93, também havia incluído, em seus
Princípios Fundamentais, o da Eqüidade,enunciando-o da seguinte forma:"No registro contábil da
transação, o seu efeito devese sobrepor a quaisquer interesses conflitantes". Esse enunciado pode
perfeitamente enquadrar-se no princípio da Ética e da Legalidade, pois o desrespeito a direitos pessoais
é sempre um atentado à ética e, muitas vezes, à própria lei,

11.3.13 Da legitimidade dos registros


Este Princípio, que também pode ser chamado de "autenticidade dos registros",envolve a exigência
óbvia e implícita de que os fatos registrados nos livros da Entidade sejam legítimos e autênticos, para
que sejam também legítimas e autênticas as demonstrações contábeis decorrentes desses registros.

A falta de documentação adequada e idônea que suporte o registro, ou sua insuficiência ou incorreção,
ou, ainda, qualquer vício que ponha em dúvida sua autenticidade invalida o documento como legítima
comprovação da operação registrada.

As diferenças ou os erros de cálculo, as fraudes ou os enganos nos registros, os erros técnicos que
distorcem a realidade dos fatos sobre a riqueza patrimonial, são mais alguns exemplos que destroem a
legitimidade dos registros e das demonstrações contábeis deles decorrentes.

Não obstante óbvia e implícita, nao se pode deixar de arrolar a legitimidade como preceito fundamental
da Contabilidade, dada sua imprescindibilidade na elaboração dos registros contábeis.

Se por um lado se considera que não podem ser omitidos, nos registros contábeis quaisquer fatos
ocorridos, em face do princípio da universidade dos fenómenos ou que ocorreram de forma ilegal,
imoral ou ilegitima.

moniais, por outro lado também nao se podem admitir registros de fatos não ocorridog Este principio
complementa, pois, o anterior e talvez pudesse nele ser fundido,com a denominação de Da Etica, da
Legalidade e da Legitimidade dos Registros e De.

monstrações Contábeis.

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