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VOLUME II

XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E


ENGENHARIA GEOTÉCNICA
TOMO III
ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, MODELAGEM FÍSICA E
NUMÉRICA, OBRAS DE TERRA E ENROCAMENTO, SOLOS NÃO
SATURADOS, EXPANSIVOS, COLAPSÍVEIS E MOLES
ANAIS
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil

VOLUME II
XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E
ENGENHARIA GEOTÉCNICA
TOMO III
ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, MODELAGEM FÍSICA E
NUMÉRICA, OBRAS DE TERRA E ENROCAMENTO, SOLOS NÃO
SATURADOS, EXPANSIVOS, COLAPSÍVEIS E MOLES
Realização:

Patrocinadores Ouro:

Patrocinadores Prata:

Patrocinadores Bronze:

Patrocinadores Estanho:

Apoio:
SUMÁRIO GERAL

VOLUME I – Listagem Geral de Artigos


VOLUME II – XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
TOMO I - Análise e Gerenciamento de Riscos, Desempenho e Segurança de Obras Geotécnicas,
Estruturas de Contenção, Fundações, Obras de Infraestrutura
TOMO II – Educação em Geotecnia, Geossintéticos, Geotecnia Ambiental, Geotecnia Social,
Inovações em Geotecnia
TOMO III - Ensaios de Laboratório e Campo, Modelagem Física e Numérica, Obras de Terra e
Enrocamento, Solos não Saturados, Expansivos, Colapsíveis e Moles
VOLUME III – VIII Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VOLUME IV – IX Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia
VOLUME V – V Simposio Panamericano de Deslizamientos
VOLUME VI – VIII Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
DIRETORIA NACIONAL DIRETORIA NRBa
Biênio 2017/2018 Biênio 2017/2018
Presidente: Alessander C. Morales Kormann Presidente: Luis Edmundo Prado de Campos
Vice-Presidente: Alexandre Duarte Gusmão Vice-Presidente: Demóstenes de A. Cavalcanti Jr.
Secretário Geral: Maurício Martinez Sales Secretário Geral: Fabricio Nascimento de Macedo
Secretário Executivo: Paulo Cesar de A. Maia Secretário Executivo: Luciene de M. Eirado Lima
Tesoureiro: Celso Nogueira Corrêa Tesoureiro: Ronaldo Ramos de Oliveira

CONSELHO DIRETOR (2017/2018)

NRBA NRRS
Luis Edmundo Prado de Campos / Hélio Machado Antonio Thomé / Felipe Gobbi / Fernando Schnaid
Baptista / Marcos Strauss / Cezar Augusto Burkert Bastos /
Luiz Antonio Bressani
NRCO
Antônio Luciano Espindola Fonseca / José NRSP
Camapum de Carvalho / Wilson Conciani / Marcia Paulo J. R. de Albuquerque / Celso Orlando / Akira
Maria dos Anjos Mascarenha / Ennio M. Palmeira / Koshima / Nelson Aoki / Urbano Rodrigues Alonso
Gilson de Farias Neves Gitirana Jr. / Jaime Domingos Marzionna / Tarcísio Barreto
Celestino / Artur Rodrigues Quaresma Filho /
NRES Frederico Fernando Falconi / Mário Cepollina /
Uberescilas Fernandes Polido Hugo Cássio Rocha / Marcos Massao Futai /
Celso Nogueira Corrêa / Ilan Davidson Gotlieb /
NRMG Luiz Guilherme F. Soares de Mello / Maria
Gustavo Rocha Vianna / Gustavo Ferreira Simões Eugênia Gimenez Boscov / Makoto Namba / Paulo
/ Cássia Maria Dinelli de Azevedo / Terezinha de Teixeira da Cruz / Mauri Gotlieb
Jesus Espósito / Ivan Libanio Vianna / Sergio
Cançado Paraiso / Lucio Flávio de Souza Villar / CBMR
Fernando Portugal Maia Saliba Lineu Azuaga Ayres da Silva / Milton Assis Kanji /
Sergio Augusto Barreto da Fontoura / Nick Barton /
NRNE Eda Freitas de Quadros / Vivian Rodrigues
Ricardo Nascimento Flores Severo / Roberto Marchesi / João Luiz Armelin / Fernando Olavo
Quental Coutinho / Karina Cordeiro de Arruda Franciss / Paulo Alberto Neme / Anna Luisa
Dourado / Alexandre Duarte Gusmão / Isabella Marques Ayres da Silva / Ricardo Antonio Abrahão
Santini Batista / Joaquim Teodoro Romão de / Reuber Ferreira Cota
Oliveira
CBT
NRNO Werner Bilfinger / Argimiro Alvarez Ferreira /
Gerson Jacques Miranda dos Anjos / Julio Carlos Eduardo Moreira Maffei / Fernando Leyser
Augusto de Alencar Jr Gonçalves / Maria Cecília Guazzelli / Denis
Vicente Perez Vallejos / Eloi Angelo Palma Filho /
NRPS André Jum Yassuda / Edson Peev / Marlísio
Luiz Henrique Felipe Olavo / Edgar Odebrecht / Oliveira Cecílio Jr. / George Joaquim Teles de
Antonio Belincanta / Ney Augusto Nascimento / Souza / Marco Aurélio Abreu Peixoto da Silva /
Luiz Antoniutti Neto / Carlos José Marques da Luis Rogério Martinati / Luis Ferreira Vaz
Costa Branco
Conselheiros Vitalícios (ex-presidentes ABMS)
NRRJ Fernando E. Barata / Alberto Henriques Teixeira /
Ana Cristina C. Fontela Sieira / Bernadete Ragoni Carlos de Sousa Pinto / Faiçal Massad / Francis
Danziger / Ian Schumann Marques Martins / Bogossian / Sussumu Niyama / Willy A Lacerda /
Fernando Artur Brasil Danziger / Mauricio Ehrlich / Waldemar Hachich / Alberto S F J Sayão / Jarbas
Manuel de Almeida Martins / Anna Laura Lopes da Milititsky / Arsenio Negro Jr. /
Silva Nunes / Denise Maria Soares Gerscovich / André P. de Assis
Paulo Henrique Vieira Dias / André Pereira Lima /
Luciano Jacques de Moraes Jr
COMISSÃO ORGANIZADORA
Presidente do Congresso: Luís Edmundo Prado de Campos
Presidente da Comissão Organizadora: Luciene de Moraes Eirado Lima
Captação de Patrocínios: João Carlos B. Jorge da Silva / Celso Nogueira Corrêa
Tesoureiro: Ronaldo Ramos de Oliveira
XIX COBRAMSEG
COMISSÃO CIENTÍFICA COMITÊ ASSESSOR DO CONGRESSO (CAC)
Hélio Machado Baptista (presidente) Roberto Coutinho (Cobramseg 2012)
Carlos Carrillo W. Delgado Maurício Sales (Cobramseg 2014)
Paulo Gustavo C. Lins Gustavo Simões (Cobramseg 2016)
Maurício Martines Sales Representante da diretoria da ABMS junto ao CAC:
Alexandre Gusmão
VIII GEOJOVEM
COMISSÃO ORGANIZADORA
Maria do Socorro Costa São Mateus (Presidente)
Mário Sérgio de Souza Almeida
Ronaldo Ramos de Oliveira

COMITÊ CIENTÍFICO
Maria do Socorro Costa São Mateus
IX CLBG
COMISSÃO ORGANIZADORA COMITÊ CIENTÍFICO
Manuel M. Fernandes (Presidente SPG) Emanuel Maranha das Neves (IST)
José L. M. do Vale (ex-Presidente SPG) Ricardo Oliveira (COBA)
Luís Lamas (LNEC) Pedro Sêco e Pinto (LNEC)
Jorge Almeida e Sousa (U. Coimbra) Ana Quintela (Tetraplano)
Vitor Cavaleiro (Univ. da Beira Interior) José Mateus de Brito (CENOR)
Alessander Kormann (Presidente ABMS) Jorge Sousa Cruz (LCW)
Maurício Sales (Secretário Geral ABMS) Jorge Vazquez (EDIA)
Luis Edmundo P. Campos (Presidente COBRAMSEG) Celso Lima (EDP)
Alberto Sayão (PUC-Rio) João Marcelino (LNEC)
António Viana da Fonseca (FEUP)
V SPD
COMISSÃO ORGANIZADORA
Marcos Massao Futai (Presidente do SPD)
Adrian Torrico Siacara
Carlos Carrillo Delgado
José Orlando Avesani Neto
Leonardo De Bona Becker
Luiz Antonio Bressani
Luiz Antoniutti Neto
Roberto Bastos Guimarães
Willy Lacerda (Presidente de honra do SPD)
VIII SBMR
COMISSÃO ORGANIZADORA
Lineu Azuaga Ayres da Silva (presidente)
Sergio Augusto Barreto da Fontoura
Vivian Rodrigues Marchesi
Paulo Gustavo Cavalcante Lins

COMITÊ CIENTÍFICO
Carlos Emmanuel Ribeiro Lautenschläger
REVISORES DE TRABALHOS – XIX COBRAMSEG

Adriano Frutuoso da Silva – UFRR Ilan Davidson Gotlieb – MG&A


Akira Koshima – NOVATECNA Ivan Libanio Vianna – NOVASOLO
CONSOLIDAÇÕES E CONSTRUÇÕES S/A Jean Rodrigo Garcia – UFU
Alberto Sayão – PUC RIO João Carlos Baptista Jorge Da Silva – JCJ
Aldo Durand Farfán – UENF CONSULTORIA E PROJETOS
Alfran Sampaio Moura – UFC Joaquim Teodoro Romão De Oliveira – UNICAP
Ana Cristina Castro Fontela Sieira – UERJ José Adriano Cardoso Malko – PUC RIO
Ana Cristina Strava Correa – SIPAM Jose Antonio Schiavon – USP
Ana Luiza Rossini Valente de Oliveira – PUC José Camapum De Carvalho – UNB
RIO/TERRATEK José Maria de Camargo Barros – IPT
André Luís Brasil Cavalcante – UNB Juan Felix Rodriguez Rebolledo – UNB
André Pacheco de Assis – UNB Juan Manuel Girao Sotomayor – PUC RIO
Andrelisa Santos de Jesus – UFG Juliane Andréia Figueiredo Marques – UFAL
Anna Silvia Palcheco Peixoto – UNESP Júlio Augusto de Alencar Junior – UFPA
Antonio Thomé – UPF Karina Cordeiro de Arruda Dourado – IFPE
Argimiro Alvarez Ferreira – METRO SÃO PAULO Katia Vanessa Bicalho – UFES
Arlam Carneiro Silva Júnior – IFG Larissa de Brum Passini – UFPR
Bernadete Ragoni Danziger – UERJ Lilian Medeiros Gondim – UFC
Bruno Teixeira Lima – UERJ / UFF Lílian Ribeiro De Rezende – UFG
Carina Maia Lins Costa – UFRN Luan Carlos De Sena Monteiro Ozelim – UNB
Carlos Alberto Lauro Vargas – UFG Luciene de Moraes Eirado Lima – UFBA
Carlos Medeiros Silva – EMBRE/CEUB Lúcio Flávio de Souza Villar – UFMG
Carlos Petrônio Leite da Silva – IFB Luis Henrique Rambo – UNIFAP
Carlos Wilfredo Carrillo Delgado – ENVGEO Luiz Carlos de Figueiredo – IFMT
ENGENHARIA / UNIJORGE Luiz Guilherme F. S. de Mello – VECTTOR
Celso Romanel – PUC-RIO PROJETOS
Cibele Clauver de Aguiar – UFV Luiz Russo Neto – PUCPR
Cláudia Azevedo Pereira – IFG Magnos Baroni – UFSM
Cláudia Francisca Escobar de Paiva – UFABC Manoel de Melo Maia Nobre – UFAL
Cláudia Márcia Coutinho Gurjão – UNB Manuelle Santos Góis – UNB
Clovis Gonzatti – UFRGS Márcia Maria Dos Anjos Mascarenha – UFG
Consuelo Alves da Frota – UFAM Marcos Fábio Porto De Aguiar – IFCE
Delma De Mattos Vidal – ITA Maria Claudia Barbosa – UFRJ
Denilson José Ribeiro Sodré – UFPA Maria de Oliveira Cruz Mariano – CESI DO
Denise Maria Soares Gerscovich – UERJ BRASIL
Edmundo Rogerio Esquivel – EESC/USP Marta Pereira da Luz – ELETROBRAS
Eduardo Pavan Korf – UFFS FURNAS/PUC GOIÁS
Elisabeth Ritter – UERJ Maruska Tatiana Nascimento da Silva Bueno –
Enio Fernandes Amorim – IFRN UNICEUB
Ennio Marques Palmeira – UNB Mauricio Abramento – USP / CEG ENGENHARIA
Fagner Alexandre Nunes de França – UFRN Mauricio Giambastiani – UNIVERSIDADE
Faiçal Massad – USP NACIONAL DE LA RIOJA
Fernando Antonio Medeiros Marinho – USP Maurício Martines Sales – UFG
Fernando Eduardo Rodrigues Marques – UERJ Milton Assis Kanji – USP
Fernando Henrique Martins Portelinha – UFSCAR Miriam F. Carvalho Machado – UCSAL
Fernando Olavo Fanciss – PROGEO Mylane Viana Hortegal – DNIT
CONSULTORIA DE ENGENHARIA Nelson Padron Sanchez – UNB
Fernando Saboya Albuquerque Junior – UENF Newton Moreira de Souza – UNB
Fernando Silva Albuquerque – UFS Nilton de Souza Campelo – UFAM
Flavia Silva Dos Santos – ABMS/RIO Nima Rostami Alkhorshid – UNIFEI
Gentil Miranda Junior – GEOPROVA Olavo Francisco dos Santos Júnior – UFRN
Gilson De Farias Neves Gitirana Junior – UFG Osvaldo de Freitas Neto – UFRN
Gisleine Coelho de Campos – IPT Patrício José Moreira Pires – UFES
Glacielle Fernandes Medeiros – ITPAC Paulo Augusto Diniz Silva – IFG
Gracieli Dienstmann – UFSC Paulo César de Almeida Maia – UENF
Gregório Luís Silva Araújo – UNB Paulo César Lodi – UNESP
Guilherme Bravo De Oliveira Almeida – UFS Paulo Gustavo Cavalcante Lins – UFBA
Gustavo Ferreira Simões – UFMG Paulo Márcio Fernandes Viana – LTEC / UEG
Hélio Machado Baptista – ENVGEO Petrucio Jose dos Santos Junior – MACCAFERRI
ENGENHARIA LTDA / UNIJORGE Rafaela Faciola Coelho de Souza Ferreira – UFAL
Heraldo Luiz Giacheti – UNESP Raquel Souza Teixeira – UEL
Hudson Regis Oliveira – ABMS NRPS Rebecca Pezzodipane Cobe – PUC RIO
REVISORES DE TRABALHOS – XIX COBRAMSEG

Renata Conciani Nunes – UCB


Renato Cabral Guimarães – UEG / FURNAS
Renato Resende Angelim – UFG
Ricardo Adriano Martoni Pereira Gomes – USP
Ricardo Nascimento Flores Severo – IFRN
Rinaldo Jose Barbosa Pinheiro – UFSM
Roberto Aguiar dos Santos – UNESP / UFMT
Rodrigo Cesar Pierozan – UNB
Rodrigo de Lima Rodrigues – FUNDAÇÃO
PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU
Sérgio Pacífico Soncim – UNIFEI
Sérgio Tibana – UENF
Stela Fucale Sukar – UPE
Suelly Helena de Araújo Barroso – UFC
Suzana Aparecida da Silva – IFMT
Vítor Pereira Faro – UFPR
Waldemar Coelho Hachich – USP
Werner Bilfinger – VECTTOR PROJETOS
Wilson Conciani – IFB
Yuri Daniel Jatoba Costa – UFRN
MENSAGEM DA ABMS

Temos certeza de que boas recordações ficarão na memória das 1.500 pessoas que estiveram na edição
2018 do Cobramseg em Salvador.
O evento, que congregou também o VIII Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia, o V Simposio Panamericano
de Deslizamientos, o VIII Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas e o VIII Simpósio Brasileiro de
Engenheiros Geotécnicos Jovens, foi organizado em uma época desafiadora para a engenharia de nosso país.
Mas a determinação e dedicação dos colegas do Núcleo Bahia da ABMS conseguiram superar os obstáculos,
tendo nos brindado com um evento bem-sucedido em todos os aspectos, certamente um marco na história
da nossa associação.
A edição de Salvador veio para coroar uma trajetória crescente do Cobramseg, que já é um importante
acontecimento da engenharia nacional. Esse sucesso se traduz nos números do evento: 946 trabalhos
publicados, 459 apresentações em 50 sessões técnicas e pôsteres, 44 palestras especiais em sessões
paralelas e 30 apresentações plenárias. O grande público presente, que envolveu também muitos colegas
portugueses e dos países sul-americanos, reforça o alcance e o potencial do Cobramseg.
Não temos dúvida de que estes anais do evento constituem um amplo retrato de desenvolvimentos práticos
e acadêmicos, onde o leitor poderá encontrar um conjunto de referências que traduzem muito do estado da
arte da geotecnia nacional e internacional.

Saudações,

Alessander Kormann Alexandre Gusmão


Presidente da ABMS Vice-Presidente da ABMS
MENSAGEM DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO

Caros Colegas Geotécnicos,


É com imensa satisfação que entregamos os Anais do Cobramseg 2018, realizado no Othon Bahia Palace
Hotel, em Salvador-Bahia, entre os dias 28 de agosto e 1ª de setembro de 2018. O tema principal do evento
foi “Geotecnia e o Desenvolvimento Urbano”, com vistas à discussão sobre os problemas que afligem nossas
metrópoles em um ambiente de crescimento muitas vezes desordenado e sem levar em consideração as
particularidades dos solos e rochas constituintes da geologia do sítio urbano.

Nesses volumes estão todos os artigos submetidos e aprovados pela Comissão Científica do Congresso, e
que foram tema de discussão ao longo dos dias de evento, com apresentações dos trabalhos mais relevantes
dispostos nos diversos temas da Geotecnia, com inúmeras sessões paralelas de apresentação oral e em
formato de pôster.

No evento tivemos recorde de inscritos, mais de 1.500 pessoas circulando pelos corredores e salas do Othon
Bahia, aproveitando a programação científica e a área de exposição, onde nossos patrocinadores
apresentaram seus serviços e produtos.

Pela primeira vez foi realizada uma sessão plenária com toda a mesa e palestrantes do sexo feminino, com
objetivo de homenagear a força das mulheres geotécnicas, e demonstrar que a Geotecnia é plural e
diversificada. Esperamos que essa singela demonstração de admiração e respeito possa disseminar o espírito
de igualdade entre nossos colegas geotécnicos.

Além das discussões técnicas tivemos ainda a primeira Corrida Geotécnica, a “Run Geo Run” onde os colegas
puderam se exercitar e socializar, ao longo do percurso de 5 km na belíssima orla atlântica de Salvador.

No jantar Luso-Brasileiro, realizado no Restaurante Bargaço, com pratos típicos da culinária praiana da Bahia,
foi possível congraçar os colegas, para além das discussões geotécnicas, criando vínculos de amizades entre
os lusófonos.
No penúltimo dia do evento, à noite, teve lugar o Jantar de Confraternização e a GeoMicareta. Ambos
realizados em paralelo, no boêmio bairro do Rio Vermelho, onde pulsa a noite soteropolitana.
Com o sentimento de dever cumprido, essa comissão agradece a todos que participaram e contribuíram
para o engrandecimento do evento e da Geotecnia nacional.
Axé!

Luciene de Moraes Eirado Lima Hélio Machado Baptista


Presidente da Comissão Organizadora Presidente do Comitê Científico
SUMÁRIO
TEMA: ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, MODELAGEM FÍSICA E NUMÉRICA

CB 35296 A Influência da Incorporação de Cimento em Misturas de Solos Residuais de Granito da Região Rural de Biguaçu,
Santa Catarina, na Umidade Ótima, Considerando sua Aplicabilidade em Projetos de Pavimentação - Wellington
Borba Broering; Patricia Odozynski da Silva; Fábio Krueger da Silva; Fernanda Simoni Schuch
CB 35593 A Influência da Inserção de Cinza da Casca de Arroz no Desempenho de uma Areia Estabilizada com Cimento
Portland - Helena Batista Leon; Mariana da Silva Carretta; Matteo Conti; João Victor Linch Daronco; Nilo Cesar
Consoli
CB 35149 A Numerical Investigation of Chamber Size and Boundary Effects on the Helix Bearing Resistance of Helical Piles
in Sand - Diego M. da Silva; Cristina de H. C. Tsuha
CB 36617 Abordagem Experimental para Ensaio em Colunas de Solo Indeformado - Lizardo Glorioso Romero Velasquez;
Patrícia Österreicher-Cunha; Eurípedes do Amaral Vargas Jr
CB 35596 Abordagem Poroelástica Aplicada ao Estudo do Fluxo Transiente Induzido pela Rotação de um Cilindro no Solo -
Gracieli Dienstmann; Adrien Fayolle; Felipe Schaedler de Almeida; Fernando Schnaid; Samir Maghous
CB 36360 Adição de Cal em um Solo Sedimentar de Curitiba: Fatores que Influenciam na Resistência Mecânica - Jair Arrieta
Baldovino; Eclesielter Batista Moreira; João Luiz Rissardi; Ronaldo dos Santos Izzo; Juliana Lundgren Rose
CB 36357 Adição de Cal Hidratada em Três Solos da Formação Guabirotuba: Relação entre Resistência à Compressão
Simples e à Tração por Compressão Diametral - Ronaldo Dos Santos Izzo; Juliana Lundgren Rose; Jair Arrieta
Baldovino; Eclesielter Batista Moreira; João Luiz Rissardi
CB 36375 Adição de Cimento Portland em um Solo Sedimentar de Curitiba/PR: Efeito da Porosidade, Teor de Cimento e
Peso Específico Seco de Moldagem na Resistência - Jair Arrieta Baldovino; Eclesielter Batista Moreira; Ronaldo Dos
Santos Izzo; João Luis Rissardi; Juliana Lundgren Rose
CB 35085 Analise Comparativa da Caracterização Geotécnica de Misturas Convencionais e Alternativas Utilizadas em
Barreiras Impermeabilizantes de Aterro Sanitários - Yago Guidini da Cunha; Ligia Abreu Martins; Karla Maria
Wingler Rebelo
CB 35516 Análise Comparativa de Resultados de Ensaios de Massa Especifica dos Grãos Determinadas no Picnômetro à Gás
- Rocio Del Carmen Perez Collantes; José Camapum de Carvalho
CB 34879 Análise da Influência da Adição de Lignina na Resistência ao Cisalhamento de um Solo Superficial Residual,
Laterítico e Colapsível de Cascavel/PR. - Leonir Luiz Paludo Junior; Rafaela Lazzarin; Maycon André de Almeida
CB 35144 Análise da Influência da Porosidade e do Intemperismo na Resistência das Rochas Utilizadas como Agregados para
Lastro Ferroviário - Júlia Guimarães Santos; Thacio Carvalho Pereira; Fernando Antônio Borges Campos; Hebert da
Consolação Alves; Tatiana Siman Magalhães; Victor Moreira Faria
CB 34278 Análise da Influência da Sucção Matricial na Resistência à Compressão Simples de um Solo Siltoso Estabilizado
com Cal - Amanda Dalla Rosa Johann; Marcele Dorneles Bravo; António Joaquim Pereira Viana da Fonseca; Nilo
Cesar Consoli
CB 35924 Análise da Influência da Umidade na Variação da Velocidade de Propagação de Ondas de Cisalhamento em Solos
Compactados Utilizando Bender Elements - Bruno Bueno Nader Das Chagas; Francisco de Assis Cavallaro; Fernando
A. M. Marinho
CB 35000 Análise da Resistência de uma Amostra Arenosa Melhorada com Cimento - Thiago Moura da Costa Ayres; Lara de
Oliveira Costa; Carla Beatriz Costa de Araújo
CB 35414 Análise de Deslocamentos Horizontais em Cortina de Estaca Secante Através de Modelagem Numérica
Bidimensional pelo Método dos Elementos Finitos - Eduardo Vidal Cabral; Enzo Cosenza Zucchi; Alessandra Conde
de Freitas
CB 35133 Análise de Misturas de Solo – Cal a Curto Prazo - Rosemary Janneth Llanque Ayala; José Camapum de Carvalho;
Ana Laura Martínez Hernández
CB 35207 Analise de Tensões em Camada de Sub-Base de Solo-Cimento e Pó de Pedra - João Henrique de Freitas; Jeselay
Hemetério dos Reis; Antonio Belincanta
CB 35783 Análise de Agregados de Resíduos de Construção e Demolição Empregados em Camadas de Pavimentação -
Beatriz de Mello Massimino; Carlos Vinicius Santos; Leonardo Hideki Nagata; Willian Fakhouri
CB 35327 Análise do Comportamento Mecânico de uma Areia Reforçada com Fibra Natural de Sisal por Meio de Ensaios de
Cisalhamento Direto em Verdadeira Grandeza - Leila Maria Coelho de Carvalho; Michéle Dal Toé Casagrande;
Nelson Padrón Sánchez
CB 34873 Análise do Grau de Compactação através de Ensaios de Cone de Penetração Dinâmica (CPD) em Solo Laterítico de
Cascavel/PR - Beatriz Anne Bordin Zen; Reinaldo Horst Rinaldi; Maycon André de Almeida
CB 34542 Análise dos Efeitos do Aumento de Temperatura de Cura para Amostras de Areia – Cinza Volante – Cal, em Relação
a Resistência e Durabilidade com Ciclos de Congelamento e Degelo. - Vinícius Batista Godoy; Nilo Cesar Consoli;
Lennon Ferreira Tomasi
CB 35164 Análise Laboratorial de Misturas Asfálticas com Rejeito de Ardósia Proveniente da Cidade de Papagaios, Minas
Gerais. - Matheus Evangelista Gonçalves Bispo; Fernando Abecê; Hebert da Consolação Alves; Rodolfo Gonçalves;
Nilton Aparecido de Souza; Samuel de Mendonça; Lucas Moreira Araújo; Edgar Alfredo Sá; Ronderson Queiroz
Hilário
CB 35780 Análise Limite Usando Programação Semidefinida e Cônica de Segunda Ordem, com Aplicação em Túneis Rasos -
Jhonatan Edwar Garcia Rojas; Eurípedes Vargas Jr.
CB 34297 Análise Numérica de Fundações Estaqueadas Compostas por Estaca de Pequeno Diâmetro - Jean R Garcia; Paulo J
R Albuquerque
CB 35521 Análises Numéricas de Aterros Estaqueados Submetidos a Carregamento Assimétrico - Lívia Mazzeu Grizendi;
Mario Riccio Vicente Filho
CB 34924 Aplicabilidade de Solo Arenoso Compactado e Melhorado com Cimento em Pavimentos Flexíveis - José Wilson
dos Santos Ferreira; Vitor Hugo Gomes; Victor Antonio Cancian; Renan Felipe Braga Zanin; Alana Dias de Oliveira;
Flávia Gonçalves; Carlos José Marques da Costa Branco; Raquel Souza Teixeira
CB 35009 Aplicação de Redes Neurais Artificiais na Estimativa de Propriedades Geotécnicas de Solos Argilosos - Amandio G.
Oliveira Filho; Kátia Vanessa Bicalho; Willian Hiroshi Hisatugu; Celso Romanel; Lucas Broseghini Totola
CB 36598 Avaliação da Degradação de Fibras (Natural e Sintética) e Sua Influência no Comportamento Mecânico de um Solo
Arenoso - Fernanda Pecemilis Dalla Bernardina; Michéle Dal Toé Casagrande
CB 34596 Avaliação da Erodibilidade de Misturas SOLO – RCC para Camada de Cobertura e Proteção de Taludes - Ana Luiza
Caovilla Kaiber; Eduardo Rosendo de Lucena; Ana Elza Dalla Roza; Raul Tadeu Lobato Ferreira; Flavio Alessandro
Crispim; Augusto Romanini
CB 35953 Avaliação da Permeabilidade Anisotrópica de Solo Argiloso Compactado da Região Metropolitana de Belém. -
Reginaldo César Lima Álvares Júnior; Gabriel Raykson Matos Brasil de Araújo; Beatriz Ferreira Pantoja
CB 36338 Avaliação da Permeabilidade de um Horizonte Residual Jovem Pertencente às Áreas de Risco da Região do Grande
ABC - São Paulo - Brasil, através da Aplicação da Metodologia MCT. - Paloma Capistrano Pinheiro; Cláudia F. E. de
Paiva
CB 34758 Avaliação da Resistência Mecânica como Parâmetro de Projeto de Construção de Ponteira de Resistividade -
Marco Aurélio Bizarri; Caio Gorla Nogueira; Anna Silvia Palcheco Peixoto
CB 35580 Avaliação da Resistência Mecânica de um Solo Arenoso com a Inclusão de Fibras de Polietileno - Maitê Rocha
Silveira; Paulo César Lodi; Régis Marçal; Rafael Marçal; Roger Augusto Rodrigues; Caiol Gorla Nogueira
CB 35597 Avaliação das Variáveis Mecânicas em Solos Coluvionares de Depósitos de Encostas Naturais de Blumenau, SC -
Lucas Emanuel Cardoso Alves; Murilo da Silva Espíndola; Vitor Santini Muller; Mateus Zanini Broetto; Wellington
Sutil de Oliveira
CB 34687 Avaliação de Fluxo de Calor, Geração de Poropressão e Adensamento Térmico em Solo Argiloso - João Alberto
Machado Leite; Sérgio Tibana; Fernando Saboya Albuquerque Jr.; Renato de Abreu Fernandes; John S. McCartney
CB 35904 Avaliação de Métodos para Determinação de Índices de Vazios Mínimo e Máximo de Materiais Granulares -
Mateus Costa de Medeiros; Gustavo Santos Domingos; Fernando Artur Brasil Danziger; Claudio Pereira Pinto
CB 34816 Avaliação de Perfis de Estacas por Meio de Ensaios de Integridade de Baixa Deformação - Felipe Mantovani; Paulo
José Rocha de Albuquerque; Reynaldo Luiz de Rosa
CB 36243 Avaliação do Fator de Segurança de um Talude com Base na Geração de Campos Aleatórios - Omar de Barros
Silvestre Junior; António Milton Topa Gomes
CB 35668 Avaliação do Mecanismo de Ruptura do Talude do Santo Antônio Além do Carmo, Salvador, BA - Carolina Manhães
Silva; Tacio Mauro Pereira de Campos; Luis Edmundo Prado de Campos
CB 34651 Avaliação Numérica de Modelos Reológicos de um Aterro Sobre Solo Mole Reforçado com Geossintético - Jean
Lucas dos Passos Belo; Jefferson Lins da Silva
CB 35724 Capacidade de Carga e Eficiência de Grupos de Duas e Quatro Estacas Helicoidais sob Tração - Gracianne Maria
Azevedo do Patrocínio; Yuri Daniel Jatobá Costa; João Paulo da Silva Costa; Pedro Henrique dos Santos Silva
CB 36282 Características Deletérias dos Agregados Miúdos da Região Metropolitana do Cariri Cearense (RMC) - Ingride
Macedo Alves; Antonio Nobre Rabelo; Jefferson Heráclito Alves de Souza; Juliana Gomes Rabelo
CB 36234 Características dos Materiais de Pavimentação da Via040 (Brasília/DF a Juiz de Fora/MG) - José Geraldo de Souza
Júnior; Mateus Lino Leite; Ana Mara Araújo Torres; Aline Ferreira Andalicio
CB 36577 Caracterização de Resistência e Deformabilidade de um Solo da Formação Barreiras na Condição Compactada. -
Ray de Araujo Sousa; Osvaldo de Freitas Neto; Anderson Dantas de Morais; Joyce Karyne de Medeiros; Amanda
Celeste Moreira
CB 35728 Caracterização do Solo de Vias da Cidade de Angicos/RN - Juliana Estefanie da Silva Santos; Antunes França
Eduardo; Jacimara Villar Forbeloni
CB 35715 Caracterização e Classificação de Solos da área de Implantação do Campus da UFSC Joinville/SC - Helena Paula
Nierwinski; Sophia Scharf Dirksen; Simone Malutta
CB 35297 Caracterização Física de um Solo Residual com Aplicabilidade em Projetos de Pavimentação no Município de
Biguaçu – Santa Catarina - Wellington Borba Broering; Patricia Odozynski da Silva; Fábio Krueger da Silva; Fernanda
Simoni Schuch
CB 35787 Caracterização Física e Mecânica de Solos de Diferentes Pontos do Município de Francisco Beltrão – Paraná -
Suéllen Leticia Buzzacaro; Tâmili Batistella; Rodrigo Julio Demartini; Camila Regina Eberle
CB 34519 Caracterização Física, Mineralógica e Mecânica do Solo do Campo Experimental da UFRGS – Araquari, SC - Laura
Araque Lavalle; Fernando Schnaid
CB 34899 Caracterização Físico-Química e Mineralógica de Três Solos do Estado do Paraná - Flávia Gonçalves; Renan Felipe
Braga Zanin; Lívia Fabrin Somera; Alana Dias de Oliveira; José Wilson Santos Ferreira; Carlos José Marques da Costa
Branco; Raquel Souza Teixeira
CB 35779 Caracterização Geológica–Geotécnica do Subsolo de um Edifício Localizado na Formação Barreiras da Cidade de
João Pessoa-PB - Carlos Rolim Neto; Roberto Quental Coutinho; Amábelli Nunes dos Santos
CB 35301 Caracterização Geológico-Geotécnica do Solo Residual Proveniente de Gnaisses Migmatíticos do Complexo Embu,
São Paulo, SP - Mariane Borba de Lemos; Fernando Antônio Medeiros Marinho
CB 36058 Caracterização Geotécnica de Solos em uma Topossequência Típica no Município de Cruz das Almas – BA - Josué
Gomes de Oliveira; Jennyfer Drielle Santos Pereira; Helena Santos Ribeiro; Weiner Gustavo Silva Costa; Mario Sergio
de Souza Almeida
CB 36213 Caracterização Geotécnica de um Resíduo Filtrado (Lama Vermelha) Estocado na Forma de Aterro Densificado -
Manoela Cristina do Amaral Neves; Eurípedes do Amaral Vargas
CB 36042 Caracterização Geotécnica do Solo de uma Encosta em Setor de Risco Muito Alto da Formação Barreiras da Cidade
de João Pessoa-PB - Jéssica Maria De Barros Bezerra; Roberto Quental Coutinho
CB 34861 Caracterização Geotécnica e Determinação de Parâmetros Hidráulicos de Solos Naturais e Compactados do Aterro
Sanitário da Regional Seridó-Caicó a Ser Implantado no Estado do RN - Ricardo Nascimento Flores Severo; Olavo
Francisco dos Santos Júnior; Osvaldo de Freitas Neto; Karina Cordeiro de Arruda Dourado; Danisete Pereira de Souza
Neto
CB 36053 Caracterización Experimental del Comportamiento Elasto-plástico con Daño Continuo de un Suelo Granular
Mejorado con Fibras de Polipropileno - Sebastián Gianninoto; Daniela Bóveda; Rubén Alcides López; Eduardo José
Bittar; Fulgencio Antonio Aquino; Ruben Alejandro Quiñónez Samaniego
CB 34944 Classificação de Solos e Rochas da Região de Santa Maria e do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Segundo
a Metodologia MCT - Jéssica Anversa Venturini; Lucas Eduardo Dornelles; Taiana Poerschke Damo; Rinaldo José
Barbosa Pinheiro
CB 34846 Classificação MCT com Relação ao Comportamento Resiliente e Deformação Permanente em Solos do Mato
Grosso - Ana Elza Dalla Roza; Laura Maria Goretti Da Motta
CB 35529 Comparação do Ângulo de Atrito de um Rejeito de Minério de Ferro, no Estado de Regime Permanente,
Determinado a partir de Ensaios Triaxial, Ring Shear, e Cisalhamento Direto - Ignez Merly de Oliveira André; Ana
Cláudia de Mattos Telles; Leonardo de Bona Becker; Maria Claudia Barbosa
CB 36395 Comparação dos Parâmetros de Resistência de um Solo Arenoso Submetido a Ensaios de Cisalhamento Direto
com Carregamentos Monotônicos e Carregamentos Cíclicos. - Wagner da Silva Stein; Ana Carolina Ferreira; Victor
Henrique Silva Salmaso; Lucas Deleon Ferreira; Bruno de Oliveira Costa Couto; Eleonardo Lucas Pereira; Romero
Cesar Gomes
CB 36268 Comparativo de Tensões Admissíveis Obtidas por Meio da Aplicação de Parâmetros de Resistência com Base em
Ensaios de Cisalhamento Direto em Estado Inundado e Não Inundado, em Amostras Indeformadas de Solos da
Região do Xingu. - Marcos Coelho Milhomem; Solon Silva de Lima; Samuel Rodrigues da Costa Neto; Flavio da Silva
Ornelas
CB 36648 Comparison Test of Pullout Resistance in Three Types of Soil Applying Coating by Pump And Manually Projection
- Marcus dos Reis; Luiz Carlos Rusilo; Almir Donizette Vicente Gouvea; Eduardo César Sansone; Abelino de Sousa
Gonzalez
CB 35637 Comportamento Geomecânico de Solos Compactados: Resultados de Ensaios em um Solo Residual de Arenito
Botucatu Utilizado como Solo Reforçado no RS - Cleber de Freitas Floriano; Eduardo Moreira Pfeifer; Victor Gallina
Bertaso; Alan Donassollo
CB 34909 Comportamento Geomecânico de um Compósito Solo-fibra - Aline Cátia da Silva; Evandro José da Silva; Stela Fucale
Sukar; Silvio Romero de Melo Ferreira
CB 36349 Validação Experimental de um Modelo Construtivo Simples para Solos Estruturados - Robinson Andrés Giraldo
Zuluaga; Márcio Muniz de Farias; Cristhian Camilo Mendonza Bolaños
CB 36585 Contribuição para o Estudo de Solos Não Convencionais com Fitas Metálicas e Poliméricas por Meio de Simulação
Numérica - Luiz Paulo Vieira de Araújo Júnior; Marcos Antônio Garcia Ferreira
CB 35682 Correlação entre a Descrição Geotécnica de Testemunhos de Sondagem e o Mapeamento Geotécnico In Situ da
Mina Ingá, Crixás, Goiás - Andressa Santos Carvalho; Thaísa Letícia Cardoso de Souza; Jairo Henrique da Silva;
Gustavo Antônio Pereira Batista; Gerson Rincon Ribeiro
CB 35143 Correlação entre Métodos de Classificação de Solos Convencionais e para Solos Tropicais - Marcela Leão
Domiciano; Augusto Costa Silva; Márcia Maria dos Anjos Mascarenha; Rita de Cássia Silva
CB 35890 Correlação entre os Ensaios de Cone (CPT) e Sondagem à Percussão (SPT) para a Área Urbana de Balneário
Camboriú – SC - Déborah Kenig Alexandre; Luis Fernando Pedroso Sales
CB 36128 Correlação entre Prova de Carga Estática Cíclica e Ensaio Dinâmico em Estaca Tubada Metálica de 1,0m de
Diâmetro - Daniel Kina Murakami; Fabian Corgnier; André Filipe Pereira da Silva
CB 36152 Correlation between Dynamic Penetrometer Light and Cone Penetration Tests in Intermediate Soils: A Statistical
Comparison - Claver Pinheiro; Fausto Molina-Gómez; Sara Rios; António Viana da Fonseca; Tiago Miranda
CB 35716 CPTu e SDMT na Investigação de um Perfil de Solo Arenoso - Roberto Aguiar dos Santos; Breno Padovezi Rocha;
Nathália Marques da Silva; Heraldo Luiz Giacheti
CB 34612 Deformabilidade das Misturas Solo-cal - Gissele Souza Rocha; Gustavo Diniz da Corte; Heraldo Nunes Pitanga;
Claudio Henrique de Carvalho Silva; Ecidinéia Pinto Soares de Mendonça; Dario Cardoso de Lima
CB 34916 Deformabilidade de Três Diferentes Solos para Uso em Pavimentação - Caroline Dias Amancio de Lima; Carine
Norback; Laura Maria Goretti da Motta
CB 34547 Desempenho de Misturas de Fresado de Asfalto - Cinza Volante – Cal de Carbureto, Submetidas a Condições
Climáticas Severas. - Vinícius Batista Godoy; Nilo Cesar Consoli; Hugo Carlos Scheuermann Filho; Caroline M. De
Carli Rosembach; Antônio H. Carraro; Helena Batista Leon; Mariana da Silva Carretta
CB 36150 Desenvolvimento de Software para Análise e Dimensionamento de Drenos Verticais 2D - Udo Henrique Cordeiro
dos Santos; Cláudio Henrique de Carvalho Silva; Leandro Moreno De Souza; Uhanny Ahynnara Saldanha de Souza
CB 34353 Avaliação da Influência da Incorporação de Pó de Pedra Proveniente da Britagem de Agregado Basáltico em
Mistura de Solo-Cimento para Uso de Revestimento Primário em Estradas Vicinais - José Carlos Bressan Júnior;
Fabiano Alexandre Nienov; Lucas Zampieri Quiocca; Gislaine Luvizão; Renata Piva Chiarani
CB 34273 Determinação das Equações de Calibração dos Valores de Sucção Medidos com Sensores de Matriz Granular -
Gabriel Bellina Nunes; Orlando Martini Oliveira; Rafael Augusto dos Reis Higashi; Cândida Bernardi; Narayana
Saniele Massocco; Vitor Santini Muller; Marcos Massao Futai
CB 35192 Determinação dos Parâmetros Geotécnicos e Morfológicos de um Latossolo da Cidade de Anápolis – GO - Gabriel
de Sousa Meira; Antônio Lázaro Ferreira Santos; Natália Godoi de Oliveira; Alexia Regine Costa Silva; Virlei Álvaro de
Oliveira; Rafael Veloso de Moura
CB 34501 Diretrizes de Projeto de Empilhamento de Rejeito de Minério de Ferro Filtrado em Forma de “Torta” na Empresa
Minerita Minérios Itaúna Ltda. - Lúcio José Cerceau da Silva; Terezinha de Jesus Espósito Barbosa
CB 36048 Efecto de la Temperatura de Cura en Suelos Dispersivos Estabilizados con Cal y Reforzados con Fibra de
Polipropileno en Términos de Resistencia y Durabilidad - Luis Duré; Pamela Santos; Oscar Almada; Federico Oro;
Rubén Alcides López; Eduardo José Bittar; Fulgencio Antonio Aquino; Ruben Alejandro Quiñónez Samaniego
CB 35282 Efeito da Compactação Estática sobre as Deformações por Colapso de um Solo Arenoso - Ana Patrícia Aranha de
Castro; Roger Augusto Rodrigues
CB 36607 Efeito da Salinidade nas Propriedadde Físicas e Limites de Consistência de Amostras de Solos Artificiais - Diego de
Freitas Fagundes; Míriam Zanol Remde; Patrícia Rodrigues Falcão; Francielle Rocha
CB 36480 Efeito do Aumento da Energia de Compactação na Resistência à Compressão Simples de um Solo Silto-arenoso da
Formação Geológica Guabirotuba. - Ronaldo Luis dos Santos Izzo; Eclesielter Batista Moreira; João Luiz Rissardi;
Alexandre Cardoso; Érico Rafael da Silva; Wagner Teixeira; Igor Dalmagro
CB 34548 Efeitos da Adição de NaCl e Fibras de Polipropileno em Misturas de Areia - Cinza Volante – Cal, em Relação a
Resistência e Durabilidade. - Vinícius Batista Godoy; Nilo Cesar Consoli; Caroline M. de C. Rosenbach; Lennon
Ferreira Tomasi; Thaís M. de Paula; Anderson Peccin da Silva
CB 35810 Emprego de um Sistema Autônomo de Medição da Resistividade (Condutividade) do Solo - Sonda Geofísica. -
Stilante Koch Manfrin; Marcelo Bender Perotoni; Cláudia Francisca Escobar de Paiva
CB 36281 Emprego do SDMT para a Caracterização de um Perfil de Solo Tropical e para a Estimativa de Recalques de
Fundações Rasas. - Breno Padovezi Rocha; Jeferson Brito Fernandes; Roberto Aguiar dos Santos; Heraldo Luiz
Giacheti
CB 34737 Ensaios de Carregamento de Clusters de Estacas em Centrífuga Geotécnica - Priscila de Almeida Cardoso Santiago;
Fernando Saboya Albuquerque Jr.; Sergio Tibana; Rodrigo Martins Reis
CB 36366 Ensaios Dilatométricos em Aterro Compactado da Barragem do Ribeirão João Leite - Rafael Louza Goulart; Renato
Resende Angelim; Maurício Martines Sales; Renato Pinto da Cunha
CB 36114 Ensaios Reológicos em Rejeito de Minério de Ferro para Determinação da Tensão de Escoamento - Luísa Mazzini
Baby; Patrício José Moreira Pires; Neemias Almeida Dias
CB 34917 Erodibilidade do solo: Correlações entre a Metodologia MCT e suas Propriedades Físico/químicas - Elisa Zago
Porto; Leila Posser Fernandes; Rinaldo J. B. Pinheiro; Andrea Valli Nummer
CB 35326 Estabilização de um Solo Areno-siltoso com Matéria Orgânica Usando Cal e Cimento - Aziz Tebechrani Neto;
Marcelo Heidemann; Helena Paula Nierwinski
CB 36593 Estabilização de um Solo Silto Arenoso da Formação Guabirotuba com Cal para Uso em Pavimentação - Wagner
Teixeira; Vanessa Corrêa de Andrade; Ronaldo Luis dos Santos Izzo; Eclesielter Moreira
CB 35871 Estimativa do Ângulo de Atrito e Coesão Através de Índices de Resistência Obtidos pela Sondagem SPT em Solo
Laterítico e Colapsível Característico da Cidade de Cascavel no Estado do Paraná. - Maycon André de Almeida;
Rafael Magrini Marques de Oliveira
CB 35038 Estimativa do Parâmetro de Pressão Neutra B̅ de Skempton em Solos Compactados de Decomposição de Rocha
da Região Metropolitana de São Paulo - Beatriz Herter Pozzebon; Faiçal Massad; Maurício HiromiYamaji
CB 35411 Estudio del Comportamiento Mecánico y Económico de Suelos Dispersivos de la Región del Bajo Chaco – Paraguay,
con Adición de Cal Hidratada - Christian Krauch; José Gómez; Rubén Alcides López; Eduardo José Bittar; Ruben
Alejandro Quiñónez Samaniego; Fulgencio Antonio Aquino
CB 36043 Estudo Comparativo de Métodos de Previsão de Capacidade de Carga Axial e Prova de Carga Estática em Estacas
Hélice Contínua Executadas em Goiânia-GO - Hugo Rodrigo de Oliveira; Marcos Fábio Porto de Aguiar; Giullia
Carolina de Melo Mendes; Francisco Heber Lacerda de Oliveira
CB 34647 Estudo da Estabilização de um Solo de Baixa Resistência da Região de Concórdia-SC com Adição de Cimento -
Helen Aline Jacinto; MSc. Lucas Quiocca Zampieri; MSc. Gislaine Luvizão; Dr. Fabiano Alexandre Nienov
CB 34276 Estudo da Estabilização do Rejeito de Manganês de Licínio de Almeida-BA com Uso da Cal - Deivid Sousa Lima;
Hélio Marcos Fernandes Viana; Felipe Bezerra Lima; João Paulo Freire Rocha; Rubem Xerxes Trindade Rodrigues;
Deivid Sousa Lima; Hélio Marcos Fernandes Viana; Felipe Bezerra Lima; João Paulo Freire Rocha; Rubem Xerxes
Trindade Rodrigues
CB 35232 Estudo da Influência do Teor de Umidade na Correlação do Índice de Penetração Estático, Dinâmico e CBR Sem
Imersão - João Henrique de Freitas; Jeselay Hemetério dos Reis; Antonio Belincanta
CB 34405 Estudo da Permeabilidade e Coesão em Argamassas Mistas Contendo Saibro - Wellington Amorim Rêgo; Romilde
Almeida de Oliveira; Vanderley Moacyr John; Silvio Romero de Melo Ferreira
CB 35172 Estudo da Utilização do Penetrômetro Dinâmico de Cone no Controle de Compactação de Solo Evoluído do
Noroeste do Paraná - Tiago João Pizoli; Jeselay Hemetério dos Reis; Antônio Belincanta
CB 36132 Estudo da Viabilidade da Prospecção do Subsolo com Penetrômetro Dinâmico Leve (DPL) para Projetos de
Fundações de Edificações de Pequeno Porte - Waldemar Sacramento Neto; Marcos Fábio Porto de Aguiar; Lucas
Menezes Marques; Sávio Feitosa Veríssimo
CB 34306 Estudo das Características Físicas, Químicas e Estruturais de um Perfil de Intemperismo no Município de Cunha -
SP. - Êmila Flávia Da Silva Oliveira; Mariana Ferreira Benessiuti Motta; George de Paula Bernardes
CB 36311 Estudo de Campo e Laboratório do Comportamento Mecânico de um Solo Sulfatado Estabilizado com Cal -
Eduardo José Bittar; Rubén Alejandro Quiñónez Samaniego; Nilo César Consoli
CB 34927 Estudo de Utilização de Camada de Poliestireno Expandido - EPS como Preenchimento entre Camas de Solo em
Aterros - Andrei Bacelar Cezar; Jairo Furtado Nogueira
CB 34352 Estudo do Comportamento de Misturas de Solo-Cimento Plástico com Utilização de Solo Argiloso para Uso em
Fundações de Obras de Pequenas Cargas - Willian Ricardo Boesing; Fabiano Alexandre Nienov; Lucas Zampieri
Quiocca; Gislaine Luvizão; Guilherme Rauschkolb
CB 34360 Estudo do Comportamento de Solos Tropicais de Santa Maria/RS Através dos Ensaios de Mini-CBR, Expansão e
Contração - Taiana Poershke Damo; Lucas Eduardo Dornelles; Rinaldo José Barbosa Pinheiro
CB 35469 Estudo do Comportamento Mecânico de Material de Depósito Eólico em Fortaleza Considerando Resultados de
Ensaios de Laboratório e de Campo - Laura Terezinha da Silva Maia; Marcos Fábio Porto de Aguiar; Giullia Carolina
de Melo Mendes; Francisco Heber Lacerda de Oliveira
CB 34269 Estudo do Comportamento Mecânico e Numérico de Grupo de microestacas em Solo Poroso do Distrito Federal -
Cristhian Mendoza; Renato Cunha; Max Barbosa
CB 34848 Estudo do Solo-cimento com Incorporação de Resíduo de Construção e Demolição – RCD - Larissa Martins de
Oliveira; Karine Bianca de Freitas; Jennef Carlos Tavares; Jose Daniel Jales Silva; Daniel de Oliveira Santos
CB 35702 Evidências do Fenômeno de Quartzilização nos Perfis de Solos do Distrito Federal - Silvana Costa Ferreira Senaha;
José Camapum de Carvalho; Renato Cabral Guimarães; Sabrina Marques Rodrigues; Wisley Moreira Farias; Renato
Batista de Oliveira
CB 35571 Impact of the Soil Saturation on the Determination of the Hydraulic Conductivity by Means of Infiltration in
Rectangular Ditches: A Numerical Study - Vanessa A. Godoy; Gian Franco Napa-García
CB 34864 Implantação e Caracterização Geotécnica do Campo Experimental de Engenharia do Centro Universitário Assis
Gurgacz em Cascavel/PR. - Beatriz Anne Bordin Zen; Maycon André de Almeida
CB 36351 Implementação e Avaliação de um Modelo Constitutivo para a Representação do Comportamento Mecânico de
Solos Arenosos Reforçados com Fibras - Franz Kevin Calvay Pinedo; Raquel Quadros Velloso; Michéle Dal Toé
Casagrande
CB 34311 Implementação em Elementos Finitos de um Modelo Constitutivo para Comportamento Mecânico de Resíduos
Sólidos Urbanos - Jose Domingos de Souza Neto; Sandro Lemos Machado; Paulo Gustavo Cavalcante Lins
CB 34897 Influência da Compactação nos Parâmetros de Adensamento de um Solo Argiloso - Renan Felipe Braga Zanin; Alana
Dias de Oliveira; José Wilson Santos Ferreira; Flávia Gonçalves; Carlos José Marques da Costa Branco; Raquel Souza
Teixeira
CB 34836 Influência da Posição da Amostra Sobre a Resistência ao Cisalhamento de um Solo Residual Compactado - Paulo
César Baptiston; Paulo Sergio de Almeida Barbosa; Géssica Soares Pereira; Heraldo Nunes Pitanga; Natália de Faria
Silva
CB 36356 Influência do Ensaio de Módulo Resiliente na Resistência à Compressão Simples de Misturas com Diferentes
Teores de Resíduos de Construção Civil em um Solo Argiloso da Formação Geológica Guabirotuba. - Eclesielter
Batista Moreira; Jair Arrieta Baldovino; João Luiz Rissardi; Juliana Lundgren Rose; Ronaldo Luis dos Santos Izzo
CB 34668 Influência do Fator de Escala sobre as Propriedades de Deformação por Adensamento de Solos Residuais da
Região do Alto Paraopeba - Sarah Santana Menezes; Heraldo Nunes Pitanga; Juliana de Paula Rezende; Natália de
Faria Silva
CB 35820 Influência do Índice Porosidade/Teor Volumétrico de Cal na Resistência e na Rigidez de um Solo Residual Tratado
com Cal - Mozara Benetti; Lidiane da Silva Ibeiro; Karla Salvagni Heineck; Nilo Cesar Consoli
CB 34912 Influência do Teor de Umidade de Compactação no Comportamento de Diferentes Solos Empregados em Aterros
para Pavimento - José Wilson dos Santos Ferreira; Renan Felipe Braga Zanin; Alana Dias de Oliveira; Flávia
Gonçalves; Carlos José Marques da Costa Branco; Raquel Souza Teixeira
CB 34890 Influência do Teor de Umidade de Compactação nos Parâmetros de Adensamento de um Solo Arenoso - Renan
Felipe Braga Zanin; Daniele Satie Koga; Alana Dias de Oliveira; José Wilson Santos Ferreira; Flávia Gonçalves; Carlos
José Marques da Costa Branco; Raquel Souza Teixeira
CB 35481 Interpretação de Ensaios de Piezocone em Solos Intermediários Compactados - Fernando Crisóstomo Mellia;
Roberto Quental Coutinho
CB 36594 Investigação dos Subleitos da Cidade de Morada Nova-Ceará - Erbene Rabelo Alves; Juceline Batista dos Santos
Bastos
CB 36423 Investigação Experimental de Campo e de Laboratório sobre a Condutividade Hidráulica de um Solo Residual de
Arenito Botucatu - Anays Mertz Antunes; Lucas Siscate Bohrer; Luiz Antônio Bressani
CB 34305 Mapeamento do Parametro do Coeficiente do Empuxo no Repouso (Ko) em Maciços Terrosos, com o Uso da Celula
Ko - João Carlos Baptista Jorge da Silva
CB 34459 Mechanical Behavior of Bentonite Reinforced with Crushed Polyethylene Terephthalate (PET) - Nathalia dos
Santos Lopes Louzada; José Adriano Cardoso Malko; Michéle Dal Toé Casagrande
CB 35834 Método para Análise da Variabilidade em Ensaios de Piezocone: Aplicação a Resíduos de Mineração - Letícia
Perini; Gracieli Dienstmann
CB 35243 Mistura Asfáltica com Utilização de Agregados Alternativos - Edgar Alfredo Sá; Fernando Abece; Rodolfo Gonçalves
Oliveira da Silva; Hebert da Consolação Alves; Ronderson Queiroz Hilário; Marcelo Mário Gonçalves Júnior; Nilton
Aparecido de Souza; Matheus Evangelista Gonçalves Bispo; Sabrine Julia Alves Rodrigues; Miguel Arcanjo Gomes
CB 34336 Modelagem Física Centrífuga da Simulação de Tráfego em uma Camada de RCD - Juliana Azoia Lukiantchuki; José
Renato M. S. Oliveira; Juliana Pessin; Márcio S. S. Almeida; Márcio Henrique Sena
CB 34335 Modelagem Física Centrífuga de Dutos Submetidos a Movimentos de Massa - José Renato M. S. Oliveira; Khader I.
Rammah; Pablo C. Trejo; Márcio S. S. Almeida; Maria Cascão F. Almeida
CB 35455 Modelagem Física em Escala Reduzida de Radiers Estaqueados com a Presença de Estacas Defeituosas - Ary Franck
Baia Cordeiro; Renato Pinto da Cunha; Maurício Martines Sales
CB 35215 Modelagem Numérica de Estruturas de Contenção de Solo Reforçado no Software Crisp92-C - Luisa Muniz Santos
Sampaio; Amandio Gonçalves de Oliveira Filho; Elaine Cristina Furieri
CB 35766 Modelagem Numérica de Provas de Carga em Radier Estaqueado Executado em Solo Arenoso do Nordeste
Brasileiro - Jeandson Willck Nogueira de Macedo; Osvaldo de Freitas Neto; Wilson Cartaxo Soares; Roberto Quental
Coutinho; Renato Pinto da Cunha
CB 34615 Modelagem Numérica do Processo de Cravação de Estacas Metálicas Tubulares de Ponta Aberta com a Utilização
de Elementos de Interface - Jaqueline Rodrigues Ferreira; Carlos Alberto Lauro Vargas; Maurício Martines Sales
CB 36302 Modelagem Numérica para Estimativa de Deslocamentos e Esforços Devidos a Sobrecargas Assimétricas –
Encontro da Ponte sobre o rio Luís Alves na Duplicação da BR-470 - Miryan Yumi Sakamoto; Marciano Maccarini;
Gracieli Dienstmann; Rafael Fabiano Cordeiro; Pedro Ivo Oliveira de Almeida
CB 34856 Moldagem e Ensaios Triaxiais em Areias Fofas - Arthur Amaral Corrêa; Arthur Santos Coelho; Alberto de Sampaio
Ferraz Jardim Sayão; Sandro Salvador Sandroni
CB 35807 Montagem do Aparelho de Inderbitzen com Dimensões Reduzidas para Avaliação da Erodibilidade de Solos
Residuais Jovens Pertencentes às Áreas de Risco do Grande ABC-SP. - Bruna Chyoshi; Cláudia Francisca Escobar de
Paiva
CB 34845 O Emprego do Equipamento Triaxial Geocomp em Ensaios Triaxiais Sob Baixas Tensões Confinantes - George Lício
Vieira Teles; Graziella Maria Faquim Jannuzzi; Fernando Artur Brasil Danziger; Ian Schumann Marques Martins
CB 35550 O Ensaio DPL na Avaliação do Terreno Arenoso de Assentamento de Fundações Superficiais de Obra de Armazéns
no Distrito Industrial de Rio Grande/RS - Cezar Augusto Burkert Bastos; Antonio Marcos de Lima Alves
CB 35025 Os Primeiros Ensaios de DSS (Direct Simple Shear) na Argila Mole de Sarapuí II. - Graziella Maria Faquim Jannuzzi;
Fernando Artur Brasil Danziger; Ian Schumann Marques Martins
CB 34906 Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento de um Solo Arenoso Indeformado e após Compactação - Alana Dias
de Oliveira; Lucas Rossato de Oliveira; Flávia Gonçalves; Renan Felipe Braga Zanin; José Wilson Santos Ferreira;
Carlos José Marques da Costa Branco; Raquel Souza Teixeira
CB 36305 Parâmetros Geotécnicos e a Classificação de um Latossolo no Câmpus UEG CCET Anápolis – GO - Rafael Veloso de
Moura; Gabriel de Sousa Meira; Antonio Lazaro Ferreira Santos; Nathália Aparecida Araújo Leão; Lucas Pereira
Gonçalves; Fernanda Neves da Silva; Natália Godoi de Oliveira; Valdeci Ricardo Soares Silva; Caroliny Alves Silva;
Alexia Regine Costa Silva
CB 35124 Parâmetros Naturais e Intrínsecos da Argila de Londres e sua Relação com o Taguá da Cidade de São Paulo - Flávia
Beatriz Demarchi; Bruna Cuccurullo Pioli; Fernando Antônio Medeiros Marinho
CB 34762 Perfil de Solo Residual e Laterítico Típico de Londrina-PR: Uma Caracterização Física, Química e Mineralógica -
Amanda Regina Foggiato Christoni; Pedro Rodolfo Siqueira Vendrame; Paulo Rogério Catarini da Silva; Raquel Souza
Teixeira; Carlos José Marques da Costa Branco
CB 35561 Perfilagem do Subsolo no Município de Apucarana-PR com Base em Dados de Sondagens de Simples
Reconhecimento com SPT - Mariana Alher Fernandes; Augusto Montor de Freitas Luiz
CB 36415 Potencial de Biodegradação de Óleos Minerais em Colunas de Solo Saturado - Patrícia Österreicher; Lizardo
Glorioso Romero Velásquez; Eurípedes do Amaral Vargas Jr
CB 35806 Previsão do Comportamento Erodível de Quatro Solos Pertencentes às Áreas com Potencial para Expansão
Urbana nos Municípios de Santo André e Ribeirão Pires - SP através da Metodologia MCT (Miniatura, Compactada,
Tropical). - Aloá Dandara Oliveira Damasceno; Camila Pereira Santos; Cláudia Francisca Escobar de Paiva
CB 36214 Procedimentos Especiais para Interpretação de ensaio DMT em Siltes - Marcus Vinicius Alves Belloli; Fernando
Schnaid; Edgar Odebrecht; Diego Marchetti
CB 35916 Processo de Execução de um Modelo Reduzido Físico de uma Barragem de Terra - Larissa Roedel; Manuela Cabral
Caetano; Thiago da Silva Ribeiro; Vítor Pereira Faro; Sidnei Helder Cardoso Teixeira
CB36413 Proposição de um Projeto Estrutural de Pavimento a partir do Reaproveitamento de Cinzas de Carvão
Provenientes de Usinas Termelétricas - Sarah Denise Vasconcelos; Francisco de Assis Franco Vieira; Suelly Helena
de Araújo Barroso; Francisco Heber Lacerda de Oliveira
CB 3466 Propriedades Mecânicas de Misturas Solo-EPS Visando a Aplicação em Pavimentação e Obras de Terra - Luiz Filipe
Caríssimo Soares; Matheus Luiz Rodrigues Da Silva; Heraldo Nunes Pitanga; Marcela Giacometti De Avelar
CB 35532 Resistência ao Cisalhamento do Rejeito de Mineração de Zinco - Luciana Prado Leite Praça; Bruna Zakharia Hoch;
Lucas Festugato; Sérgio Filipe Veloso Marques; João Victor Linch Daronco
CB 34434 Resistência ao Cisalhamento e Capacidade de Carga de Fundações Superficiais em Solos do Município de
Erechim/SC - Pedro Eugênio Gomes Boehl; Taciano Renato Serraglio; Mauro Leandro Menegotto
CB 36485 Retroanálise Tridimensional por Equilíbrio Limite da Ruptura de Talude em Belo Horizonte/MG - Thiago Cruz
Bretas; Sergio Maurício Pimenta Velloso Filho
CB 35979 Simulação do Comportamento Mecânico de Lastro Ferroviário pelo Método dos Elementos Discretos - Alan Borges
da Silva; Raquel Quadros Velloso; Michéle Dal Toé Casagrande
CB 35821 Simulação do Fluxo Bifásico em Reservatórios com um Método do Tipo IMPES - Ana Carolina Loyola Caetano Rios;
Manoel Porfírio Cordão Neto
CB 34639 Simulação Numérica de Fundação Apoiada sobre Solo Não Coesivo Reforçado com Geotêxtil Usando o Método
dos Elementos Discretos - Rômulo Damião Nascimento Behmer; Pérsio Leister de Almeida Barros
CB 35603 Simulação Numérica de Modelo Elastoplástico em Rocha Carbonática Carstificada - Rayane Conceição Ribeiro da
Silveira Mattos; Daniel Araújo Farias de Melo; Marinésio Pinheiro de Lima; Tiago de Freitas Viana; Igor Fernandes
Gomes; Leonardo José do Nascimento Guimarães
CB 35316 Simulação Numérica do Comportamento Colapsível de um Solo Arenoso Não Saturado - Isabela Augusto Silveira;
Rodrigo Botelho Dumont; Roger Augusto Rodrigues
CB 36315 Solos Dispersivos Expansivos e Sulfatados do Chaco Paraguaio estabilizados com Cal e Cinza Volante-Cal - Eduardo
José Bittar; Rubén Alejandro Quiñónez Samaniego; Nilo César Consoli
CB 34746 Solos Residuais Melhorados Quimicamente: Uma Abordagem Experimental - Miriam de Fátima Carvalho; Quislom
Albuquerque da Silva; Paulo Henrique Amaral Fagundes; Raymundo Wilson da Silva Dórea
CB 35315 Uso de Modelagem Física para Estudo da Estabilidade de Pilhas de Resíduos Industriais - Gisleine Coelho de
Campos; Kleib Henrique Fadel
CB 36358 Uso do DCP para Controle de Compactação de um Aterro Estrutural de uma Contenção em Solo Reforçado - Filipe
Diógenes de Quadros; Cleber de Freitas Floriano
CB 35831 Uso do Ensaio Paralelo Sísmico na Avaliação do Comprimento de uma Estaca Protendida na Baixada Santista -
Tiago de Jesus Souza; Paulo Scarano Hemsi; Otávio Coaracy Brasil Gandolfo; Paulo César Aoki
CB 35620 Utilização de Polietileno Tereftalato Triturado na Pavimentação Asfáltica - Mieka Arao; Michéle Dal Toé
Casagrande; Antonio Carlos Rodrigues Guimarães
CB 34699 Utilização do Penetrômetro Dinâmico para Estimativa da Tensão Admissível do Solo de Cascavel-PR, em Função
do Teor de Umidade - Claudino Schmitt Neto; Maycon André de Almeida
CB 34941 Utilização do Permeâmetro de Tubo na Determinação do Coeficiente de Permeabilidade de Camadas Superficiais
de Solos - Marcos Túlio Fernandes; Glaucimar Lima Dutra; Laís Emily de Assis
CB 35952 Validação e Análise de Sensibilidade de Algoritmo de Integração IMPLEX via Tecnica de Elementos Finitos com o
Modelo Elasto-Plástico de Druker-Prager - Nayara Torres Belfort Acioli Magalhães; Leonardo José do Nascimento
Guimarães; Igor Fernandes Gomes; Leila Brunet de Sá Beserra; Jonathan da Cunha Teixeira
CB 36350 Validação Experimental de um Modelo Constitutivo Simples para Solos Estruturados - Robinson Andrés Giraldo
Zuluaga; Márcio Muniz de Farias; Cristhian Camilo Mendoza Bolaños
CB 35696 Variabilidade de Parâmetros de Resistência de Solos Eólicos - Weber Anselmo dos Ramos Souza; Carina Maia Lins
Costa; Yuri Daniel Jatoba Costa; Luiz Augusto da Silva Florêncio; Rafaella Fonseca da Costa

TEMA: OBRAS DE TERRA E ENROCAMENTO

CB 35494 Compatibilidade de Deformações na Estabilidade de Aterros sobre Solos Moles Reforçados com Geossintéticos
na Base - Paulo J. Brugger; Cristina F. Schmidt; Edwin Fernando Ruiz Blanco
CB 36575 Depósitos Coluviais na Rodovia BR-116/RJ - km 15 ao km 101 - Mauricio Ehrlich; Rafael Cerqueira Silva; Douglas
Pereira da Costa
CB 35710 Efeito da Estrutura de Correlação Espacial no Dimensionamento de um Aterro sobre Solo Mole por Métodos de
Equilíbrio Limite - Gabriel Ferrara Bilesky; Waldemar Coelho Hachich
CB 35700 Estudo das Propriedades Hidráulicas das Misturas entre Solo e Elevados Teores de Emulsão Asfáltica Aplicadas à
Barragens - Carlos Gutierrez Farias Pereira; Silvrano Adonias Dantas Neto; Ammanda Aragão Abreu
CB 34420 Estudo da Ruptura e Soluções Geotécnicas de Estabilização de um Talude de Aterro Localizado em Itatiba/SP -
João Alexandre Paschoalin Filho; Brenno Augusto Marcondes Versolatto
CB 35273 Estudos Geológicos-Geotécnicos para Implantação da Barragem Itaíba, localizada na Bacia Hidrográfica do Riacho
Caraíba, Itaíba – PE - Hosana Emília Abrantes Sarmento Leite; Rafaella Teixeira Miranda; Maiara de Araújo Porto

TEMA: SOLOS NÃO SATURADOS, EXPANSIVOS, COLAPSÍVEIS E MOLES

CB 36355 Analise da Ascensão Capilar de uma Areia em Diferentes Porosidades - Jair De Jesús Arrieta Baldovino; Eclesielter
Batista Moreira; João Luiz Rissardi; Ronaldo Dos Santos Izzo
CB 36083 Análise de Estabilidade de uma Pilha Piloto se Rejeito sobre Solo Mole - Letícia Gabriela Andrade Policarpo; Juliano
Fagner Santana; Rodrigo Peres de Oliveira; Frank Marcos da Silva Pereira; Flávio Luiz de Carvalho; Tales Moreira de
Oliveira
CB 35842 Análise de Estabilidade em Solos Moles Considerando a Queda de Resistência Pós-Pico do Ensaio de Palheta -
Guilherme Pereira Pinto; Marcus Pacheco; Denise Gerscovich; Bernadete Danziger
CB 34456 Análise de Poropressões no CPR Grouting - Alessandro Cirone
CB 34416 Análise dos Interceptos de Coesão de um Solo Residual de Diabásio Compactado em Três Diferentes Condições
de Moldagem - Luana Lenzi Pecapedra; Orlando Martini de Oliveira; Rafael Augusto dos Reis Higashi
CB 34673 Análises dos Parâmetros Geotécnicos de Resistência e da Estabilidade em Perfis com Solo Mole de Tubarão-SC -
Narayana Saniele Massocco; Ângela Grando; Marciano Maccarini
CB 36346 Analysis of Capillary Rise in a Sedimentary Soil - Ronaldo dos Santos Izzo; Jair de Jesús Arrieta Baldovino; Eclesielter
Batista Moreira; Wagner Teixeira; Erico da Silva; Vanessa Corrêa de Andrade; Henrique Neo São Marcos; Carlos
Nakashima; Juliana Rose
CB 35898 Aterro por Carregamento a Vácuo para Aceleramento de Recalque sobre Solos Moles: Sistema Membrana
Impermeável ou Dreno-a-Dreno - Camila Vasconcelos Ferreira; Daniel Lemos Mouço
CB 34826 Avaliação Analítica das Técnicas de Melhoramento em Solos Colapsíveis - Amabelli Nunes dos Santos; Monalyssa
Caroline Lira da Silva Ramos; Carlos Rolim Neto; Tahyara Barbalho Fontoura
CB 35498 Avaliação da Expansividade de Solos Argilogos do Município de Bonito/PE por Meio de Métodos Qualitativos e
Quantitativos. - Thalita Cristina Rodrigues Silva; Silvio Romero de Melo Ferreira
CB 34805 Avaliação da Qualidade de Amostras Indeformadas de Solos Moles - Alison de Souza Norberto; Maria Isabela
Marques da Cunha Vieira Bello; Vitor Hugo de Oliveira Barros; Rafaella de Moura Medeiros
CB 35908 Avaliação de Barreira Capilar com Geotêxtil Associado - Raul Fernando Polisseni Graça; Maria das Graças Gardoni
Almeida; Lúcio Flávio de Sousa Villar
CB 35335 Avaliação do Comportamento do Solo do Campo Experimental da FTC - Vitória da Conquista – BA Frente as
Variações de Umidade. - Hélio Marcos Fernandes Viana; Yágor Ribeiro Menezes; Ronildo Soares Bahiano Filho
CB 35293 Características de um Solo Colapsível e o Efeito do Grau de Compactação - Jailly Moreira Xavier; Roberto Quental
Coutinho; João Barbosa de Souza Neto; Ana Patrícia Nunes Bandeira
CB 34806 Caracterização de Misturas Solo-Cal e Solo-Cinza Aplicadas na Estabilização de um Solo Expansivo da Cidade de
Agrestina – PE - Jayne Araújo Silva; Rafaella de Moura Medeiros; Raisa Pires Vieira de Lorena e Sá; Maria Isabela
Marques da Cunha Vieira Bello; Rômulo Fontoura de Oliveira Júnior; Silvio Romero de Melo Ferreira
CB 36011 Caracterização de um Solo Expansivo do Município de Paulista no Estado Natural e após Tratamento com Areia -
Maria Gabriella Vilaça; Aline Hadassa Gouveia Gomes; Kaliny Maria Pereira; Joanderson James Oliveira Morais; Luíza
Cavalcanti; Silvio Romero Ferreira
CB 35971 Caracterização Geotécnica das Argilas Moles do Projeto de Engenharia para Duplicação da BR-135/MA. - Layza
Verbena de Souza Santos Machado Costa; Roberto Quental Coutinho; Alexandre Duarte Gusmão; Gilmar de Brito
Maia
CB 36019 Caracterização Geotécnica de um Depósito de Solo Mole do Canal Teijipió/Lagoa do Araçá em Recife-PE - Roberto
Quental Coutinho; Bruno Andrade de Freitas
CB 36381 Comportamento de Aterro Sobre Solo Mole nas Obras de Expansão de um Porto Maritimo no Litoral de Santa
Catarina, Brasil - André Silva; Fabian Corgnier; Daniel Murakami
CB 34883 Comportamento Geomecânico de um Solo Expansivo no Município de Paulista no Estado de Pernambuco com a
Adição de Cal, Areia e Cinza de Casca de Arroz - Camila de Souza Constantino; Thalita Cristina Rodrigues Silva;
Letycia Viviane Porfirio da Silva; Silvio Romero de Melo Ferreira
CB 35449 Descrição de Técnicas de Melhoramento para Construção de Aterro sobre Solos Moles. - Thaís Oliveira Santos;
Lucas Cavalcante de Almeida; Francisco Heber Lacerda de Oliveira; Tommy de Almeida Pinto; Marcos Fábio Porto
de Aguiar
CB 36410 Determinação de Perfis de Sucção Através de Solução Analítica de Lu e Likos (2004) - Marcela Moreira da Rocha
Almeida; Francisco Chagas da Silva Filho
CB 35888 Estimativa de Recalques em Aterro Sobre Solo Mole - Luiza Helena Magalhães Leiros; Osvaldo de Freitas Neto;
Olavo F. dos Santos Júnior
CB 36402 Estudo de Provas de Carga em Placa em Solo com Diferentes Sucções - Marcela Moreira da Rocha Almeida;
Francisco Chagas da Silva Filho; Elis Ferreira Lopes; Alfran Sampaio Moura
CB 35429 Estudo do Potencial de Colapso do Solo de Fundação do Campus Paricarana da UFRR - Adriano Frutuoso da Silva;
Jéssica Souza Cerquinho; Joel Carlos Moizinho
CB 34715 Estudo do Recalque de Ensaio de Placa Assente em um Solo Não Saturado de Fortaleza-CE. - Elis Ferreira Lopes;
Francisco Chagas da Silva Filho; Pedro Henrique Lustosa Bezerra De Menezes; José Melchior Filho; Yago Machado
Pereira de Matos; Marcela Moreira da Rocha Almeida
CB 35205 Identificação de Solos Colapsíveis da Região de São Bento do Norte/RN através de Ensaios de Caracterização e
Provas de Carga em Placa. - Arthur Gomes Dantas de Araújo; Gabrielle Pinheiro de Caldas; Silvio Romero de Melo
Ferreira; Carlos Rolim Neto; Alfredo Nunes da Silva Neto
CB 34599 Influência da Duração do Carregamento na Resistência Não Drenada de Argilas Moles - Giana Laport Alves de
Souza; Marcus Peigas Pacheco; Rubenei Novais Souza
CB 35472 Influência da Inundação sobre a Resistência ao Cisalhamento e Coeficiente de Empuxo no Repouso de um Solo
Colapsível no Município de Petrolina – PE - Bruna Naiane Alexandrino Santos; Gustavo Henrique Ortega Teixeira;
Aldo Ferreira Montenegro; Camila de Souza Constantino; Isabel Mendes Pereira da Silva; Marta Lúcia Rolim de
Almendra Freitas; Cecilia Maria Mota Silva Lins; Silvio Romero de Melo Ferreira
CB 36389 Influência da Sucção Matricial em um Solo Siltoso Estabilizado com Cal ao Longo do Tempo - Ronaldo Dos Santos
Izzo; Jair Arrieta Baldovino; Eclesielter Batista Moreira; João Luiz Rissardi; Juliana Lundgren Rose
CB 35189 Influência do Tratamento Térmico nas Propriedades Físicas e na Compressibilidade de uma Amostra de Solo Mole
Argiloso - Mário Shojiro Honma; Faiçal Massad
CB 36430 Manifestações Patológicas em Obras Populares - Jefferson Heráclito Alves de Souza; Ana Patrícia Nunes Bandeira;
Francisca Laudeci Martins Souza
CB 35708 Melhoramento de um Solo de Santa Maria da Boa Vista – PE Misturado com Resíduo de Construção e Demolição
- Rafaella Pereira Marinho; Silvio Romero de Melo Ferreira
CB 36414 Obtenção da Resistência Não Drenada e Coeficiente de Adensamento Horizontal através de Ensaios de CPTU e
Palheta. - Fernanda Raphaela Gomes de Oliveira; Tiago Onuczak Poncio; Rodrigo André Klamt; Roberta Centofante
CB 35013 Parâmetros de Compressibilidade de um Perfil de Solo Arenoso Colapsível - Alfredo Lopes Saab; Roger Augusto
Rodrigues
CB 35573 Perfis Geotécnicos Típicos de Argilas Moles/Orgânicas da Planície Sedimentar do Recife/PE - Roberto Quental
Coutinho; Higo Tavares Barbosa
CB 35678 Relação entre as Curvas Características e a Macro e Microestrutura de Solos Tropicais Intemperizados. - Fernando
Carolino da Silva; Sabrina Marques Rodrigues; Renato Cabral Guimarães; Manoel Porfirio Cordao Neto; Jose
Camapum de Carvalho
CB 35289 Solo Colapsível do Campo Experimental da UFCA - Antonio Maciel Moura Chaves; Samuel José Celestino de Oliveira;
Damião Wellington Alves Mascena; Ana Patricia Nunes Bandeira; João Barbosa de Souza Neto
CB 34858 Utilização do Método Papel Filtro e Centrífuga para Determinação de Curvas de Retenção de Água no Solo e
Correlações com Parâmetros Geotécnicos - Ana Carolina Dias Baêsso; Eduardo Souza Cândido; Roberto Francisco
de Azevedo; Gustavo Armando dos Santos; Tulyo Diniz Oliveira
 

TEMA:  
ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, MODELAGEM FÍSICA E NUMÉRICA 
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A Influência da Incorporação de Cimento em Misturas de Solos


Residuais de Granito da Região Rural de Biguaçu, Santa Catarina,
na Umidade Ótima, Considerando sua Aplicabilidade em Projetos
de Pavimentação
Wellington Borba Broering
IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
wellbbroering@gmail.com

Patricia Odozynski da Silva


IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
patricia.odozynsk@gmail.com

Fernanda Simoni Schuch


IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fernandass@ifsc.edu.br

Fábio Krueger da Silva


IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fabio.krueger@ifsc.edu.br

RESUMO: Utilizando a técnica de solo-cimento, a presente pesquisa analisa a influência do cimento


nos resultados de ensaios de compactação, comparando amostras de solo natural com as estabilizadas
quimicamente com teores de cimento a 3% e 7%, em massa de solo seco. O material foi retirado da
região rural do município de Biguaçu, Santa Catarina, caracterizando-se como solo residual de
granito. Utilizou-se o ensaio de compactação na energia normal. Realizaram-se 3 ensaios de
compactação (natural, 3% e 7% de cimento) com 17 corpos de prova, 5 para os teores natural e 3% e
7 para 7% de incorporação. Observa-se que há um aumento na umidade ótima se comparado os
valores encontrados com 3% e 7% de incorporação de cimento. No entanto, os valores de umidade
diminuem se comparados com os de solo natural. Conclui-se que na análise da umidade ótima, com
secagem em estufa, no valor encontrado não é considerado a água para hidratação do cimento.

PALAVRAS-CHAVE: Compactação, Solo-cimento, Umidade Ótima, Solo Residual de Granito,


Estabilização Química, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO Dentre todos os materiais que constituem o


pavimento, o maior destaque vai para o solo, que
Construir um pavimento exige conhecimentos causa interferência em todos os estudos. Este
específicos acerca dos materiais que constituem pode não ser eventualmente utilizado em
as camadas desse pavimento, além dos materiais algumas camadas previstas, no entanto, sempre
que compõem o subleito como um todo. O constitui suporte para a estrutura.
estudo dessas características torna-se importante A estabilização de solos é uma técnica
na previsão das possíveis interferências nos utilizada para aumentar a resistência deste e
cortes e aterros, além da construção dos drenos e torna-lo mais durável, resistindo com maior
de acostamentos (SENÇO, 2007). eficiência aos esforços do tráfego e os efeitos das
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intempéries (PEREIRA, 2012). A estabilização seco.


química baseia-se na adição de uma ou mais
substâncias químicas ao solo, gerando mudança
no seu comportamento final, seja quanto ao 2 ESTUDO DO SOLO NA
ganho de resistência e estabilidade quanto a CONSTITUIÇÃO DE UM PAVIMENTO
resistência às intempéries. Essas mudanças
também influenciam na permeabilidade e 2.1 Conceitos gerais de solo e pavimento
deformabilidade, alcançando os parâmetros
estabelecidos em projeto. O uso mais corrente é A constituição das camadas de um pavimento
o da cal e do cimento como estabilizador exige conhecimentos específicos para sua
químico em misturas com solos finos, argilosos elaboração, principalmente com relação ao seu
com teores elevados de matérias orgânica ou até subleito, camada de fundação. O solo é o maior
solos mais graduados (PEREIRA, 2012). destaque, que interfere em todos os pontos de
O pavimento é uma superestrutura constituída estudo, podendo eventualmente não ser utilizado
por uma combinação de camadas finitas, em algumas camadas previstas, no entanto,
assentes sobre um terreno ou fundação chamada sempre representa suporte para a estrutura.
de subleito (DNIT, 2006a). Na execução de um No final do século XIX e início do século XX
pavimento, essas camadas apresentam níveis ocorreu um marco na movimentação de grandes
específicos de compactação, onde são utilizadas volumes de terra, adequando-se as necessidades
informações como peso dos equipamentos de do homem, com mais cargas assentes sobre os
compactação, número de passadas e parâmetros solos de fundações. Senço (2007) indica que,
do solo a ser utilizado na camada em execução. com a evolução da construção, as grandes obras
A Figura 1 apresenta uma representação gráfica passaram a ter maiores pesos, exigindo cada vez
de uma seção típica de pavimentação. Dentre mais conhecimento adequado do maciço onde se
esses parâmetros destaca-se a umidade ótima, assentavam.
obtida através de ensaios de compactação O DNIT (2006b) indica que solo é um
realizados em laboratório, indicando a maior material da crosta terrestre, de maneira não
massa específica a ser obtida em função da consolidada, advindos da decomposição geral
umidade. das rochas pela ação de agentes de
intemperismo, em que suas partículas são
desagregáveis pela simples agitação dentro da
água.
Para a engenharia rodoviária, solo é todo tipo
de material orgânico ou inorgânico,
inconsolidado ou parcialmente cimentado que
pode ser encontrado na superfície da terra. Além
disso, “considera-se como solo qualquer material
Figura 1. Esquema de seção transversal do pavimento. que possa ser escavado com pá, picareta,
Fonte: Manual de Pavimentação do DNIT (2006a). escavadeiras, etc., sem necessidade de
explosivos” (DNIT, 2006b, p.17).
Sendo assim, utilizando a técnica de solo- Em se tratando da sua origem, o DNIT
cimento, que é um tipo de estabilização (2006b) indica que os solos podem ser divididos
envolvendo uma mistura homogênea de solo, em dois grandes grupos: solos residuais e solos
cimento e água, com proporções pré-definidas, a transportados. Caracteriza-se como solo residual
presente pesquisa busca analisar a influência do aquele em que os produtos da rocha
cimento nos resultados de ensaios de intemperizada permanecem ainda no local em
compactação, comparando amostras de solo que se deu a transformação; por sua vez, solo
natural e amostras estabilizadas quimicamente transportado é quando os produtos de alteração
com cimento a 3% e a 7%, em massa de solo
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foram transportados para um local diferente ao propriedades que são almejadas após a
da sua transformação, de acordo com um agente estabilização, dentre elas pode-se citar:
qualquer. 1) Aumento da resistência e menor
sensibilidade à umidade;
2.2 Estabilização de solos para uso em 2) Diminuição da deformabilidade;
pavimentos 3) Diminuição da permeabilidade.

Pereira (2012) indica que a estabilização de solos Andrade (2017) relata que um aditivo
é uma técnica utilizada para aumentar sua estabilizador só ganha utilidade prática se for
resistência e durabilidade, suportando com maior suficientemente barato. No entanto esse conceito
eficiência os esforços do tráfego e os efeitos de economia tem sentido relativo. Andrade
causados pelas intempéries. Ou seja, quando não (2017) também relata que existem situações
é possível a dosagem de frações nas proporções onde só seja viável economicamente o emprego
requeridas, recorre-se a estabilização dos solos, de aditivos que sejam produzidos
aditando um “ingrediente novo” na mistura, lhe industrialmente em larga escada, como o
conferindo propriedades específicas. Dentre cimento Portland, ou outros subprodutos
alguns dos principais estabilizantes, destacam- industriais com preços mais baixos.
se: asfaltos e betumes, cimento Portland, cal e Nos trabalhos de Dias (2012) é retratado que
outros produtos químicos e industrializados. as principais justificativas na adoção do recurso
Muitas vezes o material encontrado na região de estabilização de solos são:
de implantação rodoviária não apresenta as 1) Fornecer bases de qualidade para
características adequadas de projeto, portanto, pavimentos quando o recurso aos materiais
torna-se necessário o engenheiro geotécnico ter normalmente utilizados não é viável
a sua disposição um “leque” de estratégias, com economicamente;
o intuito de solucionar problemas com relação as 2) Permitir a utilização de estradas
especificações do solo. Dentre essas estratégias, secundárias e rurais em boas condições;
Medina (1987) destaca: 3) Permitir a circulação de tráfego militar ou
1) Evitar ou contornar o terreno de emergência em determinadas áreas e durante
inadequado; curtos intervalos de tempo;
2) Remover o solo inadequado e substituí-lo 4) Atuar como fonte de absorção de ruído,
por outro com melhores propriedades; particularmente em zonas urbanas;
3) Fazer um projeto compatível com o solo 5) Necessidade de desenvolver áreas
ruim; economicamente pobres.
4) Melhorar ou estabilizar o solo existente.
2.3 Estabilização química
“Estabilizar um solo pode ser entendido como
alterar suas propriedades a fim de melhorar seu A estabilização química baseia-se na adição de
desempenho mecânico e de engenharia, usando uma ou mais substâncias químicas ao solo,
para obter esta mudança um processo artificial gerando mudança no seu comportamento final,
que pode ser: químico, físico ou físico-químico” seja quanto ao ganho de resistência e
(PEREIRA, 2012, p.29). Objetiva-se, portanto, estabilidade quanto às intempéries. Essas
um material de natureza estável, onde a mudanças também influenciam na
exposição a cargas externas ou outras situações permeabilidade e deformabilidade, alcançando,
de mudança não interfiram na capacidade que o por conseguinte, os parâmetros estabelecidos em
solo adquiriu em resistir à essas tensões. De tal projeto, com redução do índice de plasticidade e
modo, as alterações das propriedades de um solo aumento da trabalhabilidade resultante de
podem ser de natureza mecânica, física e evoluções granulométricas, garantindo o
química. O mesmo autor indica algumas aumento da rigidez a médio e longo prazo.
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O uso mais corrente é o da cal e do cimento tipo de estabilização envolvendo uma mistura
como estabilizador químico em misturas com homogênea de solo, cimento e água, com
solos finos, argilosos com teores elevados de proporções pré-definidas. Após a mistura ocorre
matéria orgânica ou até solos mais graduados. a compactação, com posterior período de cura,
Para estes últimos, utiliza-se um aglomerante resultando em um produto com propriedades
asfáltico (CAP – Cimento Asfáltico de Petróleo), satisfatórias com relação a resistência mecânica
promovendo ligação entre as partículas e durabilidade.
(PEREIRA, 2012). De acordo com Santos (1976), os principais
Esse método traz a possibilidade de empregar usos de misturas de solo-cimento são: construção
solos disponíveis no local da construção nos de camadas de base para estradas, ruas e pistas
pavimentos rodoviários, sobretudo devido à de aviação, construção de camadas de base em
baixa qualidade que o material apresenta, não pavimentos rígidos ou flexíveis, pavimentação
podendo ser empregado isoladamente. Além de bermas em estradas e aeródromos,
disso, torna-se uma substituição cada vez mais pavimentação de áreas de estacionamento,
interessante em relação aos agregados naturais, pavimentação de áreas de armazenamento para
considerando vantagens ambientais e agregados, materiais diversos ou equipamento,
econômicas (Sherwood, 1995). pavimentação de passeio ou pistas de ciclistas e
As reações químicas decorrentes da na construção de sub-bases de vias rodoviárias e
estabilização química ocorrem entre o aditivo e ferroviárias especialmente em zonas de transição
os minerais do solo (fração coloidal), ou com a entre aterros e estruturas rígidas.
água presente nos poros. A cimentação que se Somado a esses fatos, a melhoria de solos
forma após a reação solo-cimento acresce rigidez disponíveis no local pode trazer grandes
a mistura, sendo esta identificada como reação benefícios na execução, evitando uma grande
pozolânica (MEDINA, 1987). quantidade de empréstimos de material
Vizcarra (2010) aponta que numa solução adequado, bem como a necessidade de ter uma
descontinua o estabilizante não preenche todos jazida com grandes volumes de material de boa
os poros, ocorrendo três modos de ações qualidade à disposição.
principais: Ingles e Mtcalf (1972) afirmam que quando
1) Modificação das características das não se dispõe de um material ou uma
superfícies das partículas; combinação específica de materiais que atinjam
2) Vedação inerte dos poros; as características de resistência,
3) Interconexão entre as partículas do solo deformabilidade, permeabilidade ou
(solda por pontos). durabilidade adequadas ao projeto é possível
recorrer à técnica de aplicação de solo-cimento,
Pereira (2012) aponta que a estabilização além de outras técnicas de estabilização, de
química do tipo solo-cimento é a mais utilizada, acordo com a necessidades e possibilidades do
sobretudo por conta do ganho de resistência que local de obra.
confere ao sistema através das reações Dias (2012) afirma que desde 1915, nos
pozolânicas e sílica ativa presente no solo. Além Estados Unidos, são utilizadas camadas de solo
disso, a estabilização com cimento atinge maior tratadas com cimento na construção de bases e
resistência em idades inferiores em comparação sub-bases de pavimentos rodoviários,
com a cal, além de ter afinidade com uma melhorando várias propriedades no
variedade maior de solos. comportamento do solo, além de ser aplicado
para uma grande variedade de solos, desde
2.3.1 Solo-cimento materiais granulosos, solos siltosos e até argilas
em algumas ocasiões. A Figura 2 ilustra o uso de
A ABCP – Associação Brasileira de Cimento solo-cimento como material de base para
Portland (1986) aponta que o solo-cimento é um pavimentos rodoviários.
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solo, variando entre um valor mínimo


considerável de 4 até um valor máximo de 16%
em relação à massa de solo seco, sendo mais
usuais em camadas de sub-base.
Para tanto, a adição de pequenas quantidades
de cimento (até 2%) modifica as propriedades do
solo, enquanto quantidades maiores as alteram
radicalmente. Dias (2012) também afirma que as
propriedades do solo mudam no sentido de
aumento da capacidade de carga, durabilidade a
Figura 2. Uso de solo-cimento como material de base para ciclos de molhagem, secagem aumenta em geral,
pavimentos rodoviários. permeabilidade diminui (em solos argilosos
Fonte: Bernucci et. al. (2010). aumenta), a tendência à retração aumenta em
solos granulares e a tendência à expansão reduz
Sendo assim, Foppa (2005) aponta que a em solos argilosos.
técnica em questão usa aproximadamente 90% Dias (2012) salienta que a quantidade de água
de material que pode ser obtido no local da obra a ser utilizada nas misturas de solo-cimento
(solo), necessitando apenas de 10% (cimento) corresponde ao teor de umidade ótima na
com necessidade de transporte ao local. Somado compactação, obtida através do ensaio Proctor
ao fato de execuções em locais com larga na mistura solo-cimento. A justificativa baseia-
produção de cimento na região, o custo pode ser se no fato de assegurar a hidratação do cimento
essencialmente reduzido, além de contribuir para satisfazendo as necessidades da compactação, de
a diminuição no consumo de recursos naturais, acordo com as perdas durante o período de cura.
quantidade de tráfego, poluição e danos globais A possibilidade de utilizar aditivos para
para o meio ambiente. melhorar o comportamento das misturas é
Dos vários tipos de cimentos existentes, Dias enfatizada por Dias (2012), reduzindo o teor de
(2012) argumenta que o cimento Portland IV é cimento a ser empregado. Os mais utilizados
um cimento pozolânico de alta resistência nesses casos têm sido o cloreto de cálcio, cloreto
química, utilizado principalmente em ambientes de sódio e hidróxido de sódio.
agressivos e em obras que apresentam exigências
específicas quanto a durabilidade. Cita-se que é
essencialmente indicado para pavimentos 3 COMPACTAÇÃO DO SOLO
rodoviários, betonagens em meios agressivos,
ambientes marítimos e misturas de solo cimento, 3.1 Características quanto ao solo e ao cimento
com elevada impermeabilidade em idades
avançadas muito por conta da adição pozolânica, De acordo com Dias (2012) a compactação é o
variando de 15 a 50% em massa. processo na qual uma massa de partículas
sólidas, água e ar é reduzida em questões de
2.3.2 Propriedades das misturas de solo-cimento volume a partir de uma aplicação de carga, com
expulsão de ar sem significativa mudança na
Bernucci et. al. (2010) indica que uma quantidade de água e solo.
estabilização com cimento de forma econômica Cada solo apresenta uma curva característica
deve ter certa proporção de areia, pois altos de massa seca e teor de umidade para uma
teores de argila exigem teores elevados de determinada energia de compactação, o que
cimento, além de se comportarem com excessiva define um teor ótimo de umidade para valores de
retração. Estima-se uma faixa viável entre 5 e 9% densidade máxima, com a tendência a se obter
de cimento em relação à massa total. De acordo resistências máximas no sistema. Specht (2000)
com o ACI 230 (1990), as percentagens de indica que, em uma mistura de solo-cimento, a
cimento variam consoante as propriedades do
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umidade ótima retrata valores máximos de talude apresentado na Figura 3, mediante a


densidade e, consequentemente, resistência utilização de ferramentas como pá e picareta,
máxima. envolvendo posteriormente todo o material em
Em alguns casos, Foppa (2005, apud. sacos plásticos para posterior transporte até o
Lightsey et. al., 1970) indica que a umidade Laboratório de Materiais e Solos do IFSC.
ótima não necessariamente proporciona a
máxima resistência e durabilidade. O grau de
compactação pode ser obtido com dois teores de
umidade diferentes, um abaixo e outro acima da
umidade ótima.
Em campo, o grau de compactação é
determinado através de equipamentos próprios e,
caso seja necessário, serão tomadas medidas
para melhorar sua densidade, seja pela adição de
água em toda sua extensão (quando a umidade
está abaixo da ótima) ou pelo processo de
remexer a camada, permitindo seu arejamento
(quando a umidade está acima da ótima).
De similar importância à quantidade de
cimento é a densidade da mistura compactada
(INGLES; METCALF, 1972). O aumento da
densidade causa aumento da resistência,
diminuindo a permeabilidade até um valor
mínimo, próximo à um teor de umidade ótimo,
depois esta começa a aumentar novamente.
Dessa forma, a redução do número de vazios
acarreta o aumento da resistência.

Figura 3. Talude estudado pelos autores da pesquisa, com


4 METODOLOGIA indicação do ponto da coleta da amostra, ao pé do talude
de corte.
4.1 Material e local de estudo

A pesquisa foi realizada em solos residuais de


granito originados da região rural do município
de Biguaçu, em Santa Catarina. O talude objeto
desta pesquisa faz parte do Complexo Canguçu,
sendo massas rochosas com formas
diferenciadas, preferencialmente alongadas na
direção NE-SW ou NNE-SSW. A região de
estudo se encontra em uma área com eminência
de solo Podzólico Vermelho-Amarelo Álico,
usualmente bem drenados, com grandes
quantidades de argila de atividade baixa e textura
variada, presença ou não de cascalhos, calhaus e
matacões.
Foram coletadas amostras de solo Figura 4. Ponto da coleta da amostra, evidenciando a
localização do talude a partir das coordenadas geográficas
deformadas, em um ponto de análise, ao pé do 27º 28’ 09.89’’ S e 48º 43’ 20.58’’ S.
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O intuito da escolha desse talude foi pelo aditivo de 3% de cimento e 7 com aditivo de 7%.
conhecimento da sua utilização em obras de É importante ressaltar que cada solo possui
pavimentação como um material que comporia uma curva própria de umidade por massa
as camadas do pavimento de obras na região específica aparente seca, para uma determinada
mencionada. Além disso, com a escavação do energia de compactação. Quando se utiliza um
material, foi possível realizar uma prévia teor de umidade ótimo a tendência é obter
classificação tátil-visual, determinando valores de densidade e resistência máximas, por
propriedades geotécnicas ao longo da inspeção. conta da redução do número de vazios, e em uma
Dos vários cimentos existentes, o utilizado mistura de solo-cimento não é diferente.
para a estabilização química foi o cimento Dessa maneira, objetivando-se encontrar a
Portland IV. É um cimento pozolânico que umidade ótima para as três misturas propostas
possui alta resistência química para a fabricação (solo natural, solo-cimento a 3% e solo-cimento
de concretos e argamassas sujeitas a ambientes a 7%), foram realizados ensaios de compactação
mais agressivos, além de obras que apresentem para estas três misturas. Inicialmente, para a
requisitos específicos quanto à durabilidade. amostra natural, destaca-se a Tabela 1, com os
Dias (2012) argumenta que ele é essencialmente resultados dos dados obtidos no ensaio de
indicado para pavimentos rodoviários, compactação.
concretagens em meios agressivos, ambientes
marítimos e misturas de solo-cimento. Tabela 1. Dados obtidos com o ensaio de Compactação
Utilizando a amostra Natural.
4.2 Procedimento de compactação U PC + SU PCa + PCa + Uf
PA (g)
(%) (g) SU (g) SS (g) (%)
18,00 642,06 4320,00 34,91 32,21 20,19
O Ensaio de Compactação é regido pela norma
NBR 7182/2016, onde, para esta pesquisa, 20,00 713,40 4372,00 42,31 38,19 21,39
considerou-se o reuso de material com secagem 22,00 784,74 4404,00 57,03 49,69 22,41
prévia até a umidade higroscópica, baseando-se 24,00 856,08 4391,00 56,75 48,86 24,25
na energia normal de compactação com o 26,00 927,42 4350,00 52,25 45,40 25,31
cilindro Proctor pequeno, considerando 3 Legenda: U: Umidade; PA: Peso da Água; PC: Peso do
camadas, cada uma com 26 golpes. Optou-se Cilindro; SU: Solo Úmido; PCa: Peso da Cápsula; SS:
Solo Seco; Uf: Umidade Final.
pelo reuso do material em função da
disponibilidade do mesmo e também pelo tempo
Finalizando a etapa laboratorial e com a
decorrido de ensaio, concluindo-se que para uma
obtenção dos dados necessários, é possível
duração de 2h não há hidratação do cimento
iniciar os cálculos determinando a massa
significativa que interfira nos resultados finais.
específica aparente seca através da Equação 01.
Foram realizados o total de 3 ensaios de
compactação, gerando 3 curvas de compactação 100
finais, considerando amostra de solo natural, 𝛾𝑠 = 𝑃ℎ 𝑥 𝑉 (100+ℎ) (01)
amostra de solo estabilizada quimicamente com
cimento a 3% e outra amostra com estabilização
a 7%. A busca pela estabilização com cimento a Onde:
3 e 7% é, sobretudo, tentando retratar uma 𝛾𝑠 = massa específica aparente seca, em
situação de modificação das propriedades do g/cm³;
solo (3%) e alterações mais significativas nas 𝑃ℎ = peso úmido do solo compactado, em g;
propriedades do material empregado (7%). 𝑉 = volume útil do molde cilíndrico, em cm³;
O procedimento de pesquisa, realizado no ℎ = teor de umidade do solo compactado, em
Laboratório de Solos e Materiais do IFSC, %.
totalizou a moldagem de 17 corpos de prova
ensaiados, sendo 5 para a amostra natural, 5 com 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Com o valor das umidades características é De maneira análoga à amostra Natural,


possível realizar os cálculos da massa específica realizaram-se os ensaios para as amostras com
aparente seca (em g/cm³), expostos pela Tabela 3% e 7% de massa de cimento incorporada, com
2, e gerar a curva de compactação final para a os resultados compreendidos pela Tabela 3 e
amostra Natural de solo, conforme apresentado Figura 6, e Tabela 4 e Figura 7, respectivamente.
na Figura 5.
Curva Ótima de Compactação
Tabela 2. Resultados finais do ensaio de Compactação Massa específica aparente seca (g/cm³)

Massa específica aparente seca (g/cm³)


realizado na amostra Natural. 1,62
Dados do Cilindro Proctor Resultados do 1,6
Utilizado Ensaio 1,58
D A M. E. A. S. 1,56
P (g) V (cm³)
(cm) (cm) (g/cm³) 1,54
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,55 1,52
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,58 1,5
1,48
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,59
1,46
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,56 1,44
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,51 17,00% 19,00% 21,00% 23,00% 25,00% 27,00%
Umidade
Legenda: P: Peso; D: Diâmetro; A: Altura; V: Volume; M.
Figura 6. Curva de Compactação Final da amostra com
E. A. S.: Massa Específica Aparente Seca.
incorporação de 3% de cimento em massa.

Curva Ótima de Compactação Tabela 4. Resultados finais do ensaio de Compactação


Massa específica aparente seca (g/cm³) realizado na amostra com incorporação de 7% de cimento
1,62 em massa.
Massa específica aparente seca (g/cm³)

1,6 Dados do Cilindro Proctor Resultados do


1,58 Utilizado Ensaio
1,56 D
P (g) P (g) D (cm) P (g)
1,54 (cm)
1,52 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,53
1,5 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,55
1,48 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,57
1,46 2453,00
10,00 12,73 999,812 1,55
1,44 2453,00 10,00 12,73 999,812
19,00% 21,00% 23,00% 25,00% 27,00%
1,51
Umidade Legenda: P: Peso; D: Diâmetro; A: Altura; V: Volume; M.
Figura 5. Curva de Compactação Final da amostra de Solo E. A. S.: Massa Específica Aparente Seca.
Natural.
Curva Ótima de Compactação
Massa específica aparente seca (g/cm³)
Tabela 3. Resultados finais do ensaio de Compactação
Massa específica aparente seca (g/cm³)

1,58
realizado na amostra com incorporação de 3% de cimento
em massa. 1,56
Dados do Cilindro Proctor Resultados do 1,54
Utilizado Ensaio
D 1,52
P (g) P (g) D (cm) P (g)
(cm) 1,5
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,52
1,48
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,57
1,46
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,60
1,44
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,56 19,00% 21,00% 23,00% 25,00% 27,00%
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,53 Umidade
Legenda: P: Peso; D: Diâmetro; A: Altura; V: Volume; M. Figura 7. Curva de Compactação Final da amostra com
E. A. S.: Massa Específica Aparente Seca. incorporação de 7% de cimento em massa.
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É importante ressaltar que foram expostos diminuição da massa específica aparente seca
apenas os resultados dos cinco melhores pontos máxima. Esse comportamento também é
para o desenvolvimento da curva de observado nos estudos de Muhunthan e
compactação da amostra com 7% de Sariosseiri (2008).
incorporação de cimento, excluindo-se os Conforme Dias (2012) também discorre, no
demais. trabalho de Al-Amoundi et. al. (2010), em
Como resultado final, destacam-se as ensaios de compactação de misturas de solo-
umidades ótimas e as densidades máximas cimento observou-se uma redução na umidade
encontradas através das curvas de compactação ótima, com acréscimo da massa específica
geradas (Tabela 5), além de um gráfico com as aparente seca máxima. Dias (2012) também
três curvas para comparativos (Figura 8). apresenta em seu trabalho o aumento na umidade
ótima quando utilizados maiores teores de
Tabela 5. Resultados finais das umidades ótimas cimento incorporados na mistura, com posterior
encontradas através das curvas de compactação geradas. decréscimo da massa específica aparente seca
Amostra Amostra
Amostra
incorporada a incorporada a
máxima.
Natural Observa-se nos resultados que há uma ligeira
3% 7%
UO DM UO DM UO DM diminuição da umidade ótima no comparativo
(%) (g/cm³) (%) (g/cm³) (%) (g/cm³) entre a amostra natural e a amostra com 3% de
22,486 1,594 21,963 1,598 22,521 1,567 incorporação de cimento. Comparando-se a
Legenda: UO: Umidade Ótima; DM: Densidade Máxima. amostra natural e a amostra com 7% de
incorporação de cimento, o aumento da umidade
Curva Ótima de Compactação - Natural
Massa específica aparente seca (g/cm³) - Natural
ótima é ligeiramente pequeno. A comparação
Curva Ótima de Compactação - 3% entre as duas amostras com cimento incorporado
Massa específica aparente seca (g/cm³) - 3% mostra um aumento da umidade ótima com o
Curva Ótima de Compactação - 7%
Massa específica aparente seca (g/cm³) - 7% aumento do teor de cimento, reafirmando as
1,62 conclusões obtidas por Cruz (2004), Muhunthan
e Sariosseiri (2008) e Dias (2012).
Massa específica aparente seca (g/cm³)

1,6

1,58 Vale destacar a afirmação de Dias (2012) que


na determinação da umidade ótima das misturas
1,56
de solo-cimento por secagem em estufa, parte da
1,54
água corresponde à hidratação do cimento, o que
1,52 implica em um peso de água livre menor,
1,5 resultando em teores menores. Dessa forma,
1,48
explica-se a diminuição da umidade ótima no
comparativo entre a amostra natural e a amostra
1,46
com 3% de incorporação de cimento, onde parte
1,44 da água, na realidade, foi destinada para a
17,00% 19,00% 21,00% 23,00% 25,00% 27,00%
Umidade hidratação do cimento, portanto, ficou retida, o
Figura 8. Correlação das três curvas de compactação que resultou em um menor teor de umidade.
geradas nos ensaios. Portanto, quando se calcula a quantidade de água
a ser incorporada na mistura de solo-cimento,
Specht (2000) afirma que em uma mistura de não se está levando em consideração a água
solo-cimento, o teor de umidade ótimo conduz a destinada a hidratação do cimento.
valores máximos de densidade, atribuída a uma Dias (2012) ainda indica que para se obter
máxima resistência. Dias (2012) apresenta que teores de umidade ótima é necessário realizar
nos estudos efetuados por Cruz (2004), é notável uma curva de compactação a partir da umidade
que o aumento da quantidade de cimento resulta adicionada em cada etapa de ensaio, só assim
em uma maior quantidade de partículas finas, o será possível obter-se uma base de cálculo com
que provoca aumento na umidade ótima e
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um teor de umidade próximo da umidade ótima, REFERÊNCIAS


em uma estimativa mais real da quantidade de
água a ser adicionada à mistura, considerando o ACI 230 (1990).1R-90 – State-of-the-Art report on soil
ambiente de laboratório ou em obra. No entanto, Cement, ACI Material Journal, 87 (4), pgs. 402-403.
Andrade, M. H. F. (2017). Estabilização com Aditivos,
há o inconveniente das condições de operação, Transportes B – Pavimentação, Paraná, PR, p. 1-9.
pois a tarefa de homogeneização completa torna- ABCP (1986). Estudo Técnico 35: Dosagem das misturas
se árdua e incompatível com as condições de de solo-cimento: Normas de dosagem, 3. ed, São
ensaio previstas. Paulo, SP, 51 p.
DIAS, J. J. F. M. S. (2012). Tratamento de solos com
cimento para obtenção de melhores características
6 CONCLUSÕES mecânicas, Dissertação (Mestrado) - Curso de
Engenharia Civil, Universidade Nova de Lisboa,
Observa-se, portanto, que há um aumento na Portugal, 117 p.
umidade ótima se comparado os valores DNIT (2006a). Manual de pavimentação, Diretoria de
encontrados para a amostras com 3% e 7% de Planejamento e Pesquisa, Coordenação Geral de
Estudos e Pesquisa, Instituto de Pesquisas Rodoviárias,
incorporação de cimento. No entanto, os valores 3. ed., Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
diminuem se comparados com a amostra de solo DNIT (2006b). Manual de estudos de tráfego, Diretoria de
natural. Planejamento e Pesquisa, Coordenação Geral de
A explicação para tal fenômeno decorre da Estudos e Pesquisa, Instituto de Pesquisas Rodoviárias,
não contabilização da hidratação do cimento na Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
FOPPA, D. (2005). Análise de variáveis chave no controle
determinação da umidade, pois, após a secagem, da resistência mecânica de solos artificialmente
a água destinada para tal fenômeno não é cimentados, Dissertação de Mestrado, Programa de
considerada, afetando diretamente os valores Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade
obtidos de umidade ótima. Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, PA, Brasil
Sendo assim, partindo do mesmo princípio INGLES, O. G., METCALF, J. B. (1973). Soil
stabilization: principles and practice, Butterworth-
exposto por Dias (2012), haveria a necessidade heinemannltd, 384 p.
de determinar a umidade ótima através da MEDINA, J. (1987). Apostila de Estabilização de Solos –
umidade adicionada durante o ensaio, em um COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
ambiente controlado, sem reuso de material, MEDINA, J. (1997). Mecânica dos Pavimentos, 1ª ed.,
minimizando todas as variáveis possíveis. Editora UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
PEREIRA, K. L. A. (2012). Estabilização de um Solo com
Dessa forma, seria possível obter uma curva Cimento e Cinza de Lodo para Uso em Pavimentos,
de compactação a partir da umidade que foi Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
adicionada em cada etapa de ensaio, ou seja, em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
estando o mais próximo possível da umidade Grande do Norte, Natal, RN, Brasil, 125 p.
ótima real. O inconveniente para tal situação SANTOS, J. (2008). Estudo de formulação de Solo-
Cimento e Solo-Cal e Respectivas Aplicações,
seria a dificuldade de reproduzir essas Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia
considerações, pois durante a realização do Geotécnica e Geoambiente, Instituto Superior de
ensaio sempre existem condições que Engenharia do Porto, Porto, Portugal.
influenciam diretamente na quantidade de água SENÇO, W. (1997). Manual de técnicas de pavimentação,
adicionada à mistura. volume I, 1ª. Ed., Pini, São Paulo, SP, Brasil.
SHERWOOD, P. (1995). Soil Stabilization with Cement
Como sugestão para trabalhos futuros and Lime – State of the art review, Transport Research
destaca-se a análise hipotética de uma curva de Laboratory, HMSO, Londres, Inglaterra.
compactação, considerando o material de solo- VIZCARRA, G. O. C. (2010). Aplicabilidade de Cinzas de
cimento, utilizando a umidade que foi Resíduo Sólido Urbano para Base de Pavimentos,
adicionada em cada etapa de ensaio. Deve-se Dissertação de Mestrado, Civil Engineering
Departament of Pontifical Catholic University of Rio
também levar em conta as condições adversas, de Janeiro, PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
observando sua influência no parâmetro final.
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A influência da inserção de cinza da casca de arroz no


desempenho de uma areia estabilizada com cimento Portland
Helena Batista Leon
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, helenableon@gmail.com

Mariana da Silva Carretta


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, marianacarretta@gmail.com

Matteo Conti
Politecnico di Milano, Milão, Itália, teo.conti@me.com

João Victor Linch Daronco


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, joaovictorlinch@gmail.com

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

RESUMO: Resíduos agroindustriais, tais como casca de arroz, têm contribuído com o agravamento
de problemas ambientais decorrentes do descarte incorreto desses resíduos na natureza, liberando
uma grande quantidade de gás metano. O presente trabalho tem o objetivo de utilizar a cinza
proveniente do processo de queima da casca de arroz, a fim de melhorar as características
geotécnicas de um solo arenoso estabilizado com cimento CPV-ARI e cinza da casca de arroz.
Estabeleceu-se uma previsão do comportamento mecânico, utilizando os parâmetros de resistência à
compressão simples (qu), resistência à tração por compressão diametral (q t), módulo de rigidez inicial
(G0) e a perda de massa acumulada (PMA) das misturas, concomitantemente com a análise da
influência da porosidade e do teor de cimento, utilizando a relação denominada η/Civ.

PALAVRAS-CHAVE: Cinza da Casca de Arroz, Cimento Portland, Resistência, Durabilidade,


Rigidez.

1 INTRODUÇÃO 12 milhões de toneladas de arroz na safra de


2016/2017 (CONAB, 2017), produzindo mais
O estudo de novos materiais geotécnicos pode de 2 milhões de toneladas de casca como
contribuir tanto para o desenvolvimento de resíduo, de acordo com Ali, Adnan e Choy
técnicas de melhoramento de solos, como para o (1992) que estimam que a cada 4 toneladas de
aproveitamento de resíduos agrícolas, industriais arroz beneficiado, 1 tonelada de casca é gerada.
ou urbanos. A cinza da casca de arroz (CCA) é A queima da casca no processo com
um resíduo agroindustrial com grande potencial temperatura controlada, em sistema de
para ser utilizado como adição e/ou substituição combustão por meio de leito fluidizado, mantém
parcial do cimento nas dosagens de solo- as características de pozolanicidade da cinza,
cimento, devido a alta concentração de sílica originando produtos com alto grau de
acumulada pela planta de arroz (BOATENG; amorficidade. Temperaturas de queima abaixo
SKEETE, 1990). de 500ºC podem não garantir a queima de todo
No Brasil, foram colhidos aproximadamente o material orgânico, enquanto temperaturas
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acima de 900ºC produzem cinzas cristalinas 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL


(BOATENG; SKEETE, 1990). De acordo com
Juliano (1985), a casca de arroz, quando 2.1 Materiais
incinerada, produz aproximadamente 20% de
seu peso de cinza, permitindo a estimativa de Utilizou-se, neste estudo, uma areia proveniente
que cerca de 600 mil toneladas de cinza teriam do município de Osório/RS. A referida areia
sido produzidas a partir da incineração de toda a apresenta uma granulometria fina e uniforme,
casca proveniente da safra 2016/2017 no Brasil. com diâmetro médio das partículas (D50) de 0,16
O cimento usualmente utilizado para mm e peso específico real dos grãos igual a 26,3
estabilização de solos é do tipo Portland, kN/m³. O solo pode ser classificado como uma
composto pela combinação de óxidos de cálcio, areia SP pelo Sistema Unificado de Classificação
silício, alumínio e ferro, provenientes do dos Solos (ASTM, 2017a) e A-3 pelo Sistema
calcário, da argila e do gesso. A presença de Rodoviário de Classificação (ASTM, 2015a). A
sílica (SiO2) e da alumina (Al2O3) tem Figura 1 apresenta a microscopia óptica dos
importância fundamental na obtenção de grãos da areia estudada.
produtos com elevadas resistências
(COUTINHO, 1973).
Em solos granulares a cimentação ocorre
através dos produtos gerados na hidratação e
hidrólise do cimento, Equações (1) e (2),
respectivamente, propiciando a cimentação dos
grãos nos seus pontos de contato. A cimentação
se torna mais eficiente quanto melhor a
distribuição granulométrica do solo, menor o
índice de vazios e maior o número de contatos
entre partículas. Quando há presença de
pozolanas no solo, o processo de cimentação Figura 1. Microscopia óptica da Areia de Osório
continua através de reações secundárias,
Equações (3) e (4), devido à presença de sílica A CCA é um subproduto do beneficiamento
(dióxido de silício) e alumina (óxido de do arroz e queima da casca, como combustível
alumínio), dando origem ao silicato hidratado de para a geração de energia térmica e elétrica no
cálcio (CSH = CaO.SiO2.H2O) e ao aluminato município de Alegrete/RS. O processo de
hidratado de cálcio (CAH = CaO. Al2O3.H2O), incineração ocorre em altas temperaturas,
respectivamente. capazes de manter de forma estável e controlada
o estado amorfo da sílica contida na casca de
2(3CaO.SiO2) + 6H2O → 3CaO.2SiO2.3H2O + arroz. O peso específico real dos grãos do
3Ca(OH)2 (1) referido material é 22,0 kN/m³.
Os dados referentes às amostras contendo
Ca(OH)2 → Ca++ + 2(OH)- (2) apenas areia de Osório e cimento CPV–ARI,
utilizados como referencial nesta pesquisa, são
Ca++ + 2(OH)- + SiO2 → CaO.SiO2.H2O (3) provenientes dos estudos de Consoli, Cruz e
Floss (2011).
Ca++ + 2(OH)- + Al2O3 → CaO. Al2O3.H2O (4) As curvas granulométricas e as propriedades
físicas da areia de Osório e da CCA podem ser
verificadas na Figura 2 e na Tabela 1.
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kN/m³.
Foi utilizada água destilada para os
procedimentos de moldagem dos corpos de
prova. Para a imersão das amostras,
antecedendo os ensaios de ultrassom e
compressão simples, foi utilizada agua
proveniente da rede pública de abastecimento da
cidade de Porto Alegre.

2.2 Métodos

2.2.1 Moldagem e Cura dos Corpos de Prova


Figura 2. Curva granulométrica dos materiais utilizados
nesta pesquisa
Para os ensaios de resistência (compressão
simples e diametral) e de rigidez (ultrassom)
Tabela 1. Propriedades e composição granulométrica dos
materiais foram utilizados moldes cilíndricos tripartidos de
Propriedades Areia de Osório CCA 100 mm ± 1 mm de altura e 50 mm ± 0,5 mm de
diâmetro. Para os ensaios de durabilidade
Peso específico real 26,3 22,0 (molhagem e secagem) foram moldados corpos
dos grãos (kN/m³) de prova de 127 mm ± 1.27 mm de altura e 100
mm ± 1 mm de diâmetro. Os teores utilizados de
Areia média (0.425 0,3 -
mm a 2.0 mm) (%)
cada uma das adições (CPV–ARI e CCA), assim
como os pesos específicos aparente secos
Areia fina (0.075 97,6 - adotados, podem ser verificados na Tabela 2.
mm a 0.425 mm) Um total de 57 corpos de prova foram
(%) moldados para os ensaios de resistência e rigidez
e 8 para os ensaios de durabilidade, com teor de
Silte (0.002 mm a 1,63 91,0
0.075 mm) (%) umidade de aproximadamente 14%.
A fim de verificar a durabilidade das misturas
Argila (< 0.002 0,47 9,0 de solo melhorado, foram escolhidas algumas
mm) (%) dosagens específicas para serem submetidas aos
ciclos de molhagem e secagem. A determinação
Diâmetro médio 0,16 0,022
das partículas, D50
dessas dosagens sucedeu a realização dos
(mm) ensaios de resistência e ultrassom, tendo sido
escolhidas as amostras que demonstraram maior
Empregou-se cimento Portland de alta representatividade do comportamento das
resistência inicial (CPV–ARI) nas misturas misturas.
utilizadas para o melhoramento do solo O teor de umidade ótima e os pesos
supracitado, motivado pela capacidade de específicos aparente seco para a moldagem dos
atingir elevadas resistências com reduzido corpos de prova foram obtidos a partir das
tempo de cura. O referido aglomerante é capaz curvas de compactação das misturas de areia,
de alcançar, aos 7 dias de idade, cerca de 80% teores variáveis de CCA (10%, 20% e 30%) e
da resistência obtida aos 28 dias. Essa um teor intermediário de cimento (8%),
característica permitiu que o tempo de cura conforme apresenta a Figura 3.
adotado para a execução dos ensaios
compressivos fosse de 7 dias. O peso específico
real dos grãos do cimento corresponde a 31,5
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Tabela 2. Dosagens dos corpos de prova moldados entre a Equação (5) e a Equação (6), conforme
Ensaio γd(kN/m³) CCA (%) Cimento (%) inicialmente proposto por Consoli et al. (2007),
Resistência e 16,5; 15,5; considera que o teor de cimento Portland é o
10, 20, 30 5, 8, 11
Rigidez 14,5 agente estabilizador do solo. O teor de material
17,5 30 11 pozolânico não é contabilizado como
16,5 10 11 participante das reações cimentícias, embora as
16,5 20 11 mesmas ocorram entre a pozolana e o hidróxido
16,5 30 11 de cálcio liberado durante as reações
Durabilidade secundárias de hidratação do cimento. O teor
15,5 10 11
adicionado de material pozolânico é
15,5 30 11
contabilizado apenas para o cálculo da
16,5 30 5 porosidade da amostra, admitindo-se que o
16,5 30 8 mesmo atua como fíller. Esse efeito é dado pelo
melhor preenchimento dos vazios do material a
partir da inserção dos finos, que melhora a
granulometria e contribui, por conseguinte, com
a redução da porosidade.
Subsequentemente à moldagem, os corpos de
prova foram removidos dos moldes e os seus
pesos, diâmetros e alturas foram aferidos com
precisão de aproximadamente 0,01 mm. As
amostras foram curadas em câmara úmida a
23ºC ± 2ºC e umidade relativa de cerca de 95%
(ASTM, 2013). Foram considerados adequados
para os ensaios aqueles corpos de prova que
satisfizessem as tolerâncias de variação máxima
Figura 3. Curvas de compactação de ± 0,5 g/cm³ do peso específico aparente seco
(γd) e 1% das dimensões do molde.
Após atingir completa homogeneização da
mistura, realizou-se a compactação estática, 2.2.2 Ensaios de Resistência à Compressão
proposta por Ladd (1978), em três camadas Simples e Resistência à Tração por Compressão
escarificadas entre si, até atingir o peso Diametral
específico aparente seco estipulado por
dosagem. A fim de melhor caracterizar as Os ensaios de resistência à compressão simples
dosagens realizadas, foi utilizado o parâmetro (qu) seguiram a norma ASTM D 1633 (ASTM,
η/Civ (CONSOLI et al., 2007), que leva em 2017b), enquanto os de resistência à tração por
consideração a porosidade da mistura compressão diametral (qt) seguiram a norma
compactada (η), Equação (5), e o teor ASTM C 496 (ASTM, 2017c). Aos 6 dias de
volumétrico de cimento, Equação (6). cura, as amostras foram colocadas em imersão,
durante 24 horas, para reduzir os efeitos de
(5) sucção (CONSOLI; CRUZ; FLOSS, 2011).
Utilizou-se, para a ruptura dos corpos de prova,
uma prensa automática composta por anéis
(6) dinamométricos calibrados, com capacidades de
10kN e 50kN e velocidade de 1,14 mm/min.
O parâmetro porosidade/teor volumétrico de
cimento (η/Civ), calculado a partir do quociente
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2.2.3 Ensaios de Velocidade de Pulso e 3 RESULTADOS E ANÁLISES


Constantes Elásticas Ultrassônicas
3.1 Ensaios de Resistência e Rigidez
Os parâmetros elásticos em pequenas
deformações das misturas de CCA e cimento 3.1.1 A influência do parâmetro η/Civ para
com areia puderam ser determinados através dos resistência à compressão simples (qu)
ensaios de velocidade de pulso ultrassônico,
seguindo a norma ASTM D2845 (ASTM, Os resultados obtidos para a resistência à
2008). Os transdutores são ligados aos dois compressão simples das misturas de areia e
extremos dos corpos de prova usando um gel cimento com diferentes teores de adição de
específico para a transmissão e recepção de CCA podem ser observados na Figura 4,
ondas cisalhantes. Por se tratar de um ensaio plotados em função do parâmetro
não destrututivo, foram utilizados os mesmos porosidade/teor volumétrico de cimento (η/Civ).
corpos de prova dos ensaios de resistência, As Equações (8), (9), (10) e (11) descrevem o
antes da sua ruptura. comportamento quanto à resistência à
A medida do tempo que a onda de compressão das misturas com 0%, 10%, 20% e
cisalhamento leva para percorrer a distância 30% de CCA, respectivamente.
entre os transdutores, correspondente a altura
do corpo de prova, permite determinar o qu = 2,12 x 105 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,96] (8)
módulo cisalhante inicial (G0) de cada amostra,
através da Equação (7). Sendo ρ igual ao peso qu = 3,21 x 105 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,87] (9)
específico natural do corpo de prova e Vs igual a
velocidade de onda cisalhante medida no ensaio. qu = 5,35 x 105 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,77] (10)

G0 = ρ x Vs2 (7) qu = 6,95 x 105 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,78] (11)

2.1.4 Ensaios de Durabilidade (Molhagem e Quatro equações são obtidas quando a


Secagem) resistência das amostras é plotada em relação ao
parâmetro η/Civ, pois o mesmo considera a
Os ensaios têm por objetivo avaliar a influência apenas do cimento como agente
durabilidade dos corpos de prova através da cimentante da mistura, e, portanto, é possível
quantificação da perda de massa acumulada avaliar o incremento médio de resistência
(PMA) ao final de 12 ciclos de molhagem, proveniente dos diferentes acréscimos de
secagem e escovação. Os ensaios seguiram as pozolana.
recomendações da ASTM D559 (ASTM,
2015b).
Cada ciclo inicia submetendo as amostras a
imersão durante 5 horas à temperatura de 23º ±
2ºC. Em seguida, as amostras são dispostas em
estufa por 42 horas a 71º ± 2ºC. Finalmente,
cada corpo de prova é escovado de 18 a 20
vezes usando uma força de aproximadamente
13N.
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Sendo assim, o expoente externo empírico a =


-3,6 (1/a ≈ 0.28) é coerente com o especificado
pelo modelo dos referidos autores.

qu ou qt = K (η/Civ1/a)-a (12)

Na prática de engenharia brasileira,


recomenda-se que, para a utilização de solo-
cimento como base de rodovias, seja garantida
uma resistência mínima de 2,1 MPa aos 7 dias
de cura (DNIT, 2010; ABNT, 2012). Ao
analisar os resultados apresentados na Figura 4,
percebe-se que para as amostras sem a adição de
CCA, apenas aquelas com a relação η/Civ menor
do que 25 atendem ao requisito. Em
contrapartida, quando há o acréscimo de 30%
dessa pozolana, as amostras constituídas por
η/Civ de moldagem igual a 35 já se demonstram
compatíveis com as exigências das normativas.
Assim, observa-se que quanto maior o valor de
η/Civ, maior a porosidade da amostra (menor
Figura 4. Variação da resistência à compressão simples compactação requerida) e menor o teor de
(qu) em função do parâmetro porosidade/teor volumétrico agente cimentante, representando uma economia
de cimento (η/Civ0,28) para areia de Osório, cimento e
real na quantidade de cimento necessária para a
teores crescentes de CCA
estabilização do solo e na energia despendida
com a compactação.
Diambra et al. (2017) com a utilização de
Por exemplo, as características de moldagem
conceitos da superposição da contribuição da
necessárias para que uma amostra com 10% de
resistência da matriz do solo e da resistência da
CCA atinja pelo menos 2,1 MPa aos 7 dias são:
fase cimentante, juntamente com a aplicação de
γ = 16,5 kN/m³ e 8% de CPV–ARI (qu = 2,53
princípios do estado crítico, desenvolveram um
MPa) ou γ = 15,5 kN/m³ e 11% de CPV–ARI
modelo teórico para prever a resistência à
(qu = 2,65 MPa). O mesmo critério poderia ser
compressão de solos tratados com cimento
atendido com γ = 15,5 kN/m³- 5% CPV - 20%
Portland. O referido modelo, fornece uma
CCA e 14,5 kN/m³- 5% CPV - 30% CCA.
conexão direta entre as propriedades do material
e os coeficientes empíricos das Equações (8),
3.1.2 A influência do parâmetro η/Civ para
(9), (10) e (11), fornecendo um significado
resistência à tração (qt)
físico aos resultados dos dados.
A Equação (12) explica o modelo
As Equações (13), (14), (15) e (16) representam
desenvolvido por Diambra et al. (2017), sendo
a resistência à tração das misturas de areia e
“K” e “a” escalares. O modelo sugere que o
teores crescentes de CCA (0%, 10%, 20% e
valor de “K” é afetado pela resistência das
30%, respectivamente) em relação ao parâmetro
ligações cimentantes e da matriz do solo, sendo
η/Civ. A Figura 5 apresenta as curvas de
a influência do agente cimentante muito mais
resistência de todas as amostras ensaiadas à
efetiva nesse caso. O expoente externo “a”, por
tração por compressão diametral.
sua vez, é controlado pelas propriedades da
Assim como o comportamento relativo à
matriz do solo e relacionado com a relação entre
compressão simples, a resistência à tração
a resistência de pico e a densidade do material.
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aumenta com a diminuição do valor de η/Civ,


que caracteriza a diminuição da porosidade das
amostras, aumento do teor de agente cimentante
(17)
e o acréscimo de pozolana ao solo.

qt = 3,12 x 104 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,96] (13)

qt = 3,98 x 104 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,87] (14)


(18)
qt = 5,11 x 104 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,89] (15)

qt = 6,34 x 104 (η/Civ0,28)-3,60 [R² = 0,83] (16)


(19)

(20)

Utilizando a metologia proposta por Consoli


(2014), é possível calcular o ângulo de atrito de
solos granulares artificialmente cimentados a
partir da razão entre as resistências a
compressão e a tração (ξ), conforme a Equação
(21). Adicionalmente, a partir do emprego da
Equação (22), o intercepto coesivo pode ser
determinado se a razão qt/qu e a resistência à
compressão simples (qu) forem conhecidas.
Pode-se inferir que o ângulo de atrito aumenta
Figura 5. Variação da resistência à tração (qt) em função
com o incremento dos teores de CCA
do parâmetro porosidade/teor volumétrico de cimento
(η/Civ0,28) para areia de Osório, cimento e teores adicionados ao solo (ϕ0%CCA = 34,9º, ϕ10%CCA =
crescentes de CCA 43,17º, ϕ20%CCA = 48,60º e ϕ30%CCA = 51,30º).

As Equações (17), (18), (19) e (20)


(21)
apresentam as razões entre a as resistências à
tração e a compressão das misturas estudadas.
Os resultados indicam que existe uma
proporcionalidade direta entre as resistências e (22)
que essa relação é independente da porosidade,
do teor de cimento e da relação porosidade/teor
volumétrico de cimento (η/Civ). Segundo as
análises teóricas realizadas por Diambra et al.
(2018), a razão entre as resistências está
relacionada principalmente com a resistência
friccional das ligações cimentícias.
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3.1.4 A influência do parâmetro η/Civ na rigidez Conforme ilustrado na Figura 7, foram


das amostras obtidos valores de G0 que variaram entre 2 GPa
e 6 GPa para as dosagens estudadas. Ambos os
A Figura 7, assim como as Equações (23), (24) valores foram observados para os corpos de
e (25) demonstram os resultados de módulo prova extremos da dosagem. O de maior
cisalhante inicial (G0) para os diferentes valores módulo, corresponde ao corpo de prova de
de η/Civ de moldagem. Embora os resultados maior peso específico, maior teor de agente
estejam visivelmente dispersos, o parâmetro cimentante e maior teor de pozolana (γ = 16,5
η/Civ foi capaz de descrever o comportamento kN/m³- 11% CP V - 30% CCA) e o de menor
referente à rigidez inicial das amostras com uma módulo é correspondente ao menor peso
razoável acurácia [correlações com coeficiente específico, menor teor de agente cimentante e
de determinação de (R²) = 0,70 para 10% de menor teor de pozolana (γ = 14,5 kN/m³- 5%
CCA, (R²) = 0,76 para 20% de CCA e (R²) = CP V - 10% CCA).
0,87 para 30% de CCA]. Salienta-se que a O aumento dos teores de CCA e cimento
Figura 7 reúne as medidas de G0 para todos os fortalecem e enrijecem a matriz de areia. As
corpos de prova moldados (compressão e relações lineares apresentadas pela Figura 8 e
tração). calculadas pelas Equações (26) e (27) sugerem
que G0/qu é um escalar e, consequentemente,
G0 = 2,34 x 106 (η/Civ0,28)-2,00 [R² = 0,70] (23) independente de η/Civ.

G0 = 2,86 x 106 (η/Civ0,28)-2,00 [R² = 0,76] (24) G0 = 922,27 x qu [R² = 0,94] (26)

G0 = 3,04 x 106 (η/Civ0,28)-2,00 [R² = 0,87] (25) G0 = 9285,99 x qt [R² = 0,95] (27)

Figura 8. Relação resistência versus rigidez para as


amostras submetidas aos ensaios de compressão (qu) e
tração (qt)

3.2 Ensaios de Durabilidade


Figura 7. Variação do módulo cisalhante inicial (G0) em
função do parâmetro porosidade/teor volumétrico de A Figura 9 apresenta a variação da perda de
cimento (η/Civ0,28) para as misturas de areia de Osório, massa acumulada (PMA) com o número de
cimento e cinza
ciclos de molhagem e secagem para as dosagens
de areia compactada com cimento e CCA. De
um modo geral, pode-se observar para todas as
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misturas estudadas que, quanto maior o peso


específico das misturas e os teores de cimento e
CCA, menor a PMA após um determinado
número de ciclos.
De acordo com as exigências de durabilidade
estabelecidas por USACE (1984), a PMA
máxima permitida, após 12 ciclos de molhagem
e secagem, é de 11% para material granular com
baixo índice de plasticidade. Já as
recomendações da PCA (1992) recomendam Figura 10. Variação do módulo cisalhante inicial (G0) ao
uma PMA admissível de até 14% para solos do longo dos ciclos 0, 1, 3, 6, 9 e 12 dos ensaios de
tipo A-3 estabilizados com cimento. As duas durabilidade
amostras moldadas com 10% de CCA
apresentaram o pior desempenho frente ao
ensaio de durabilidade, porém todas as PMA 4 CONCLUSÕES
mantiveram valores inferiores a 2%, muito
abaixo dos valores regulamentados. A atual e crescente conjectura sustentável, que
evidencia o aproveitamento de resíduos em
obras de engenharia, demonstra a necessidade
de avaliar e ponderar as melhores alternativas
disponíveis. Dessa forma, a presente pesquisa
demonstrou que reduzir o consumo de cimento
Portland através da inserção de um material
pozolânico, representa atribuir grandes
vantagens tanto em termos de economia e
rentabilidade, quanto do ponto de vista
sustentável.
O parâmetro, porosidade/teor de cimento,
ajustado pelo expoente 0,28 (η/Civ0,28) mostrou
Figura 9. Perda de massa acumulada (PMA) ao longo
dos 12 ciclos dos ensaios de durabilidade ser um parâmetro apropriado para avaliar
relações em termos de: 1) resistência à
O módulo de rigidez inicial foi aferido ao compressão simples (qu), 2) resistência à tração
decorrer dos ciclos dos ensaios de durabilidade, por compressão diametral (qt) e 3) módulo de
especificamente nos ciclos 0, 1, 3, 6 e 9. A cisalhamento inicial a pequenas deformações
variação apresentada por cada uma das amostras (G0). Ao introduzir a CCA em uma mistura de
ensaiadas pode ser observada na Figura 10. solo-cimento, observa-se que para atingir a
Pode-se observar que a maior rigidez é mesma resistência anteriormente apresentada
demonstrada pelos corpos de prova de menor pela mesma, pode-se adotar, como critério de
porosidade. Além disso, em geral, os maiores dosagem, uma maior razão η/Civ. Essa
incrementos de rigidez são constatados nos três alternativa tornaria viável a utilização de menor
primeiros ciclos, enquanto que para os demais, o energia de compactação e/ou menor consumo
G0 pouco varia ou até mesmo reduz. de cimento, reduzindo majoritariamente os
custos da obra. O cimento foi
considerado o material aglomerante das
misturas, enquanto a CCA foi considerada como
filler, melhorando a distribuição granulométrica
do material. Consequentemente, pode-se dizer
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que a areia de Osório foi submetida a processos American Society for Testing and Materials. D3282:
de estabilização química e mecânica. Standard Practice for Classification of Soils and Soil-
Aggregate Mixtures for Highway Construction
Embora parte das reações pozolânicas já Purposes. West Conshohocken: ASMT, 2015a. 6 p;
tenham sido realizadas aos 7 dias de cura, Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 12253:
optou-se por não considerar a CCA como Solo-cimento — Dosagem para emprego como
agente cimentante do solo (juntamente com o camada de pavimento - Procedimento. Rio de
cimento). Acredita-se, para tanto, que as Janeiro: ABNT, 2012. 3 p;
reações pozolânicas continuarão ocorrendo por Boateng, A. A.; Skeete, D. A. Incineration of Rice Hull
for Uses as a Cementitious Material. The Guyana
um período de tempo mais prolongado. Experience. Cement and Concrete Research. USA, p.
A grande maioria das dosagens realizadas 795-802. 1990;
com a incorporação de CCA atenderam aos Companhia Nacional de
critérios de resistência mínima e todas Abastecimento. Acompanhamento da Safra
atenderam aos requisitos de perda de massa Brasileira de Grãos. Brasília: CONAB, 2017. 157 p;
Coutinho, A de S. Fabrico e Propriedades do Betão.
máxima para a aplicação de solo-cimento em
Lisboa: Lnec, 1973. 610 p.
obras geotécnicas usuais. Tendo as referidas Consoli, N. C. A method proposed for the assessment of
misturas apresentado, inclusive, desempenho failure envelopes of cemented sandy
muito superior àquelas que contemplam apenas soils. Engineering Geology, v. 169, p.61-68, fev2014;
a utilização de solo-cimento. Consoli, N. C. et al. Key Parameters for Strength
Control of Artificially Cemented Soils. Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v.
133, n. 2, p.197-205, fev. 2007;
REFERÊNCIAS Consoli, N. C.; Cruz, R. C.; Floss, M. F. Variables
Controlling Strength of Artificially Cemented Sand:
Ali, F. H; Adnan, A; Choy, C. K. Geotechnical Influence of Curing Time. Journal of Materials in
Properties of a Chemically Stabilized Soil from Civil Engineering, v. 23, n. 5, p.692-696, maio 2011;
Malaysia Witch Rice Husk Ash as an Additive. Departamento Nacional de Infraestrutura de
Geotechnical and Geological Engineering, Transportes. 143/2010 - ES: Pavimentação - Base de
Amsterdam, v. 10, n. 2, p.117-134, 1992; solo-cimento - Especificação de serviço. Rio de
American Society for Testing and Materials. C496: Janeiro: DNIT, 2010. 10 p;
Standard Test Method for Splitting Tensile Strength Diambra, A. et al. Theoretical Derivation of Artificially
of Cylindrical Concrete Specimens. West Cemented Granular Soil Strength. Journal of
Conshohocken: ASMT, 2017c. 5 p; Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v.
American Society for Testing and Materials. C511: 143, n. 5, p.1-9, maio 2017;
Standard Specification for Mixing Rooms, Moist Diambra, A. et al. Modelling tensile/compressive
Cabinets, Moist Rooms, and Water Storage Tanks strength ratio of artificially cemented clean
Used in the Testing of Hydraulic Cements and sand. Soils and Foundations, v. 58, n. 1, p.199-211,
Concretes. West Conshohocken: ASMT, 2013. 3 p; fev. 2018;
American Society for Testing and Materials. D559: Juliano, B. O. Rice: Chemistry and Technology. St Paul,
Standard Test Methods for Wetting and Drying Minneapolis: American Association of Cereal
Compacted Soil-Cement Mixtures. West Chemists, 1985. 774 p;
Conshohocken: ASMT, 2015b. 6 p Portland Cement Association. Soil-Cement Laboratory
American Society for Testing and Materials. D1633: Handbook. Skokie: Pca, 1992. 57 p;
Standard Test Methods for Compressive Strength of U.S. Army Corps of Engineers. EM 1110-3-137: Soil
Molded Soil-Cement Cylinders. West Conshohocken: Stabilization for Pavements Mobilization
ASMT, 2017b. 4 p; Construction. Washington, D.C: USACE, 1984. 32 p.
American Society for Testing and Materials. D2487:
Standard Practice for Classification of Soils for
Engineering Purposes (Unified Soil Classification
System). West Conshohocken: ASMT, 2017a. 10 p;
American Society for Testing and Materials. D2845:
Standard Test Method for Laboratory Determination
of Pulse Velocities and Ultrasonic Elastic Constants
of Rock. West Conshohocken: ASMT, 2008. 7 p;
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A numerical investigation of chamber size and boundary effects


on the helix bearing resistance of helical piles in sand
Diego Moreira da Silva
EESC/USP, São Carlos, Brazil, eng.laum@gmail.com

Cristina de Hollanda Cavalcanti Tsuha


EESC/USP, São Carlos, Brazil, chctsuha@sc.usp.br

ABSTRACT: Currently, a large calibration chamber is being constructed at the University of São
Paulo to investigate the behavior of helical foundations installed in instrumented soil samples. For
the design of this chamber, a numerical study was carried out using Plaxis 2D software to evaluate
the effect of the chamber size and boundary conditions on the helix bearing resistance under tension
and compression static loadings. Additionally, in this work the influence of the size of the central
hole of the annular pressurized membrane (central space for the pile shaft installation) on the
stresses in the soil sample was evaluated numerically. To evaluate the influence of the size of the
calibration chamber on the pile response, tensile and compressive loadings on a helical pile model
were numerically simulated, considering the installation effect on the soil above the helix. The
results indicate that for a calibration chamber of 1.20 m diameter and 1.50 m height, the use of a
pressurized membrane with a central hole of 100 mm diameter does not influence the model pile
response. Also, the investigated chamber size is suitable to study the response of helical foundations
using a model of a pile section with helices in sizes up to 200 mm diameter.

KEYWORDS: Calibration chamber, helical foundations, numerical analysis.

1 INTRODUCTION installation process, the helical pile penetrates


into the ground causing torsional and vertical
Helical piles are composed of one or more shearing, the soil is displaced laterally and the
helical-shaped circular plates welded to a surrounding soil stresses are modified. The
central steel shaft. During installation, they are cylinder of soil penetrated by the helical pile is
"screwed" into the ground by the application of disturbed and this disturbance influences the
a torque to the top of the rod, with a penetration uplift response of the pile.
rate of one pitch per revolution. This type of Under the scenario described above,
foundation has been widely used to resist tensile experimental investigations are necessary for a
and compressive forces in transmission line better understanding of the behavior of helical
towers, solar panels, wind towers and other foundations. In field tests, the soil conditions
types of structures. are normally not controlled. However, for the
The current understanding of the behavior of tests carried out on physical models in the
this type of pile is still limited, and the existing natural scale or with reduced size, most of the
methods to estimate the ultimate uplift or environmental soil conditions can be
compressive capacity are not satisfactory. One reproduced. The calibration chambers tests is a
of the reasons for this observed discrepancy physical model technique that allow the use of
between predicted and measured load capacities soil samples under known and controlled
is the effect of the installation not being stresses.
considered in the predictions. During the An example of the use of a calibration
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chamber to investigate the behavior of pile influence of the diameter of the central hole of
foundations is presented in Figure 1. Foray et al. the membrane used to apply pressure to the
(1998) used calibration chamber tests to sand sample; (2) verification of the influence of
investigate the effect of overconsolidation on the size of the calibration chamber on the
the bearing capacity of piles driven into dense response of tensile and compressive loading
sands. For this study, the sand sample tests on a helical pile model.
preparation was interrupted for placing total
stress at different depths in the chamber. These
cells were used to follow the variations in the 2 NUMERICAL MODELING
sand mass during installation of the pile and
during static pile load testing. 2.1 Soil parameters

The sand sample used in the numerical


simulations for the installation of the pile model
is the sand used and described in Schiavon
(2016). The soil is a dry fine-grained Hostun
sand (HN38), with relative density (Dr) of 99%.
Table 1 shows the main characteristics of the
sand.

Table 1. Sand parameters of the Hostun sand (Schiavon et


al. 2017).

Figure 1. Schematic of the INPG calibration chamber


(Foray et al., 1998) 2.2 Calibration of the soil parameters by
numerical simulation of triaxial tests
In order to investigate the helical pile
response under tensile and compressive For the calibration of the soil parameters used in
loadings, a large calibration chamber is being the numerical model, triaxial compression tests
constructed at the University of Sao Paulo. For were simulated in PLAXIS version 8.5. By
the design of this chamber, numerical comparing the best fit between the numerical
simulations were carried out to evaluate if the results and the experimental curves of triaxial
size of the calibration chamber was large tests presented in Schiavon (2016), it was
enough to prevent boundary effects. These possible to obtain the soil parameters to be used
numerical simulation was performed using the as input data of the numerical modeling. For
finite element program PLAXIS 8.5. this comparison, an axisymmetric model (1.0 m
The soil used for the simulation is the fine x 1.0 m) was used (Figure 2).
sand tested in the centrifuge models of The dimensions shown in figure 2 are not
Schiavon (2016). The numerical analysis was realistic, but they are chosen for simplicity (the
divided into two phases: (1) evaluation of the size of the soil model does not influence the
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results). In this configuration the stresses and


strains are uniformly distributed over the
geometry. The constitutive model used in this
simulation was the Hardening-Soil (HS).
Figure 3 shows the best fit obtained between
the simulation results and the experimental
results of the triaxial tests for confining stresses
(3) of 50, 100 and 200KPa.
From the numerical adjustment shown in figure
3, the obtained strength and stiffness parameters
are presented in Table 2. These parameters were
used in the numerical model to simulate the
behavior of the undisturbed sand during loading
tests on the helical pile.

Figure 2. Geometry of the sand specimen in PLAXIS 8.5.

1200

q = 1 - 3 (kPa)

1000

800

600

Experimental (200 kPa)

Numerical (200 Kpa)


400
Numerical (100 Kpa)
Numerical (50 Kpa)
Experimental (100 kPa)
200
Experimental (50 kPa)

0
0,00 -0,01 -0,02 -0,03 -0,04 -0,05 -0,06 -0,07 -0,08 -0,09 -0,10 -0,11 -0,12 -0,13
ea
Figure 3 - Comparison between the numerical and experimental results of the triaxial tests of Schiavon (2016) for (a) 3
= 50 KPa, (b) 3 = 100 KPa; and (c) 3 = 200 KPa.

2.3 Geometry of the numerical model figure 4. The axisymmetric model is used for
circular structures with a uniform radial cross
The numerical simulations were performed section and loading scheme around the central
using a two-dimensional axisymmetric model axis, where the deformation and stress state are
with the vertical axis of symmetry passing assumed to be identical in any radial direction.
through the center of the pile, as shown in The generation of the mesh was done
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through the option "generate mesh". For a first the Hardening-Soil (HS) model (similarly to the
analysis, the "coarse" option was used for all the Mohr-Coulomb model) the stress limit state is
geometries (soil, shaft, helical plates, etc.). The described by the friction angle (), cohesion (c)
top part of the model is a free surface located at and dilation angle ().The mechanical
y = 1.50 meters from the bottom. properties of the intact soil were obtained based
The mesh representing the soil mass was on the calibration of the triaxial tests presented
divided into 2 clusters based on the geometry in Figure 2. Table 2 shows the parameters
shown in figure 4. Cluster 1 is the natural soil considered in the numerical simulation of the
not disturbed by the installation of the helical undisturbed and disturbed sand.
pile. Cluster 2 is the disturbed soil above the The mechanical properties of the disturbed
plate that was "loosened" during the helical pile soil (cylinder of soil disturbed by the
installation. Finally, Cluster 3 represents the installation of the helical pile) were established
steel helical pile. by the reduction of soil resistance and stiffness
parameters. Pérez (2017) performed several
parametric analyzes varying the sand friction
angle and the Young modulus of the disturbed
sand of Schiavon (2016) until reaching a good
agreement between experimental and numerical
results of load-displacement curves obtained
from tensile load tests on a single-helix anchor
in centrifuge. In this cited work, the elastic
modulus found for the disturbed soil was 80%
of the value of the intact soil. For the current
numerical study, to simulate the disturbed soil
the same reduction in the elastic modulus was
adopted, and a friction angle of 37° was used.

Table 2. Properties of the undisturbed (Cluster 1) and


disturbed sand (Cluster 2).

Figure 4 - Geometry of the numerical model in PLAXIS

2.4 Material properties and constitutive


models

The numerical models performed involves 2


main materials: steel of the helical pile and the
sand (undisturbed and disturbed). For the steel, 2.5 Numerical analysis
the linear elastic model was used. The
properties considered in the numerical model The numerical analysis performed is divided
are: Stiffness modulus (E = 200 GPa), Poisson’s into three steps: (1) initiation of stresses with
ratio ( = 0,15), and Unit weight ( = 70 the installed helical pile, (2) tensile loading; and
KN/m³). (3) compressive loading.
The sand was simulated using the In the first step, four different conditions of
constitutive model Hardening soil, which is initial soil stresses after the installation of the
based on the Mohr-Coulomb (MC) model. For pile were simulated: (1) no pressure applied to
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the membrane on top of the sand sample; (2) 3 RESULTS AND DISCUSSION
applied pressure of 50 KPa on the top of the
sand sample; (3) applied pressure of 100 KPa 3.1 Influence of the size of the central hole
on the top of the sand sample; and (4) applied of the membrane
pressure of 150 KPa on the top of the sand
sample. In order to evaluate the importance of
In the second step, a tensile loading was considering the effect of the central hole of the
applied to the pile head to simulate the pile pressurized membrane on the load-displacement
pullout test. For the four different conditions of response of helical piles, initially a simulation
stresses in the soil (simulation of four different was performed in which the top of the sand
depths of the bottom section of the pile) the sample was submitted to a pressure of 50 kPa
tensile force was increased until a maximum and 150 kPa.
value. The calibration chamber is 1.50 meters high
In the third step, a compressive loading was and 1.20 meters in diameter. As it is an
applied to the pile head [in Plaxis compression axisymmetric model, the geometry to be drawn
is taken as negative (-)] to simulate the pile in PLAXIS 8.5 was 1.5m high and 0.6m in
under compressive loading. For the four depth diameter.
conditions evaluated, the compressive loading
was increased until a maximum value.

Figure 5 – Vertical stresses for the applied pressure of 50 kPa: (a) without the central hole; (b) hole diameter of 50 mm;
(c) hole diameter of 75 mm.
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Figure 6 - Vertical stresses for the applied pressure of 150 kPa: (a) without the central hole; (b) hole diameter of 50 mm;
(c) hole diameter of 75 mm.

The sand sample under an applied pressure penetration of the helical plate. Since the degree
of 150 KPa (Figure 6) simulates the field soil at of disturbance is not known, the parameters of
a depth of approximately 10 meters depth. the disturbed soil described in table 2 were
Figure 5 and 6 illustrates the initial geostatic reduced in relation to the intact soil.
stresses before the helical pile installation. It For the evaluation of the influence of the size
can be seen in these figures that the larger the of the calibration chamber chosen on the results
diameter of the central hole the greater the zone of the loading tests on a single helix-pile, the
influenced by the hole. contours of vertical and horizontal
These simulations are very important to help displacements were examined numerically.
the decision about the minimum depth needed Four different values of pressure applied by
to install the helical plate of the model pile (for the upper membrane on the top of the sand
tensile loading tests) to prevent any effect of the sample to simulate different conditions of the
membrane hole. depth of the bottom section of a helical pile
The influence of the central hole of the were evaluated: (1) no pressure; (2) applied
membrane on the vertical stresses shown in pressure of 50 KPa; (3) applied pressure of 100
Figures 5 and 6 indicate that the membrane of KPa; and (4) applied pressure of 150 KPa. A
50 mm radius is suitable for the simulation of helical plate of 200 mm diameter was adopted
the sand sample. Therefore, this size of central for the simulations.
hole was chosen for the current study. Figure 7 and figure 8 show the vertical and
horizontal displacements caused by a tensile
3.2 Influence of the size of the calibration loading (maximum value) applied on the
chamber bottom section of a helical pile, under the four
different stresses conditions mentioned above
After the installation of the helical pile, a (helical plates installed at different depths).
cylindrical column of soil is disturbed by the
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Figure 7 - Vertical displacement contours during the tensile loading (a) no pressure; (b) 50 KPa; (c) 100 KPa; and (d)
150 KPa.

As expected, with increasing the applied displacements are concentrated within the
pressure at the top of the sand sample disturbed soil cylinder. In all cases the
(simulating the increase in the depth of the displacements does not reach the edges of the
helical plate) the vertical displacements calibration chamber.
decrease (figure7). It can be seen that the largest

Figure 8 - Horizontal displacement contours during a tensile loading applied to the helical pile: (a) no pressure; (b) 50
KPa; (c) 100 KPa; and (d) 150 KPa.

Figure 8 indicates a concentration of cases of applied pressure of 100 and 150 KPa
horizontal displacement along the outer the displacements reach the edges of the
perimeter of the helix at the interface between calibration chamber, however, these
disturbed and undisturbed soil. As the applied displacements are very small (0.8x10-6 mm) and
pressure to the top of the sand increases, the can be considered insignificant.
horizontal displacements increases, especially in Figures 9 and 10 show the vertical and
the zone just above the helical plate. For the horizontal displacements caused by the
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compressive loading applied on the bottom vertical and horizontal displacements that reach
section of a helical pile. Figure 9 shows that the the edges and the bottom of the calibration
largest displacements occur beneath the helical chamber are very small, and can be considered
plate, as expected for a compression test. In all insignificant.
cases the displacements do not reach the base of Therefore, for this calibration chamber and
the calibration chamber. model pile configurations, in which the distance
Figure 10 indicates a concentration of between the bottom of the chamber and the
horizontal displacements bellow the helical helical plate is 2.5 times the diameter of the
plate. With increasing the pressure on the top of helix (50 mm), and the horizontal distance
the sand sample the horizontal displacements between the edge of the plate and the chamber
increase. The largest displacements are wall is also is 2.5 times the diameter of the
concentrated below the helical plate in the zone helix, the edge of the chamber seems to not
of undisturbed soil in the form of a “water affect the load tests results.
drop” (Figure 10(a) in yellow and figure 10b, in
blue).
In the case of compressive loading, the

Figure 9 – Vertical displacement contours during compressive loading: (a) no pressure; (b) 50 KPa; (c) 100 KPa; and
(d) 150 KPa.
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Figure 10 - Horizontal displacement contours during compressive loading: (a) no pressure; (b) 50 KPa; (c) 100 KPa;
and (d) 150 KPa.

4 CONCLUSIONS overconsolidated sands. Canadian Geotechnical


Journal, 35(2), 374-385.
The numerical simulations carried out in Pérez, Z. A. (2017) Numerical analysis of the effect of
this work showed that for the size of calibration installation of helical anchors in sand. MSc thesis –
chamber investigated: (1) the pressurized School of Engineering of São Carlos, University of
membrane with a central hole of 50 mm radius São Paulo, São Carlos, 157p.
is suitable for tests on helical pile models; (2)
Plaxis, B. V. PLAXIS 2D Version 8.2-Finite element code
for applied pressures on the top of the sand for soil and rock analysis. AA Balkema, Delft (2004).
sample of 50 KPa, 100 KPa and 150 KPa there
is no influence of the calibration chamber size Schiavon, J. A. (2016) Behaviour of helical anchors
for a pile with a 200 mm helical plate. subjected to cyclic loadings. Ph.D. Thesis, São Carlos
Therefore, the calibration chamber of 1.20 m school of Engineering, University of São Paulo, São
Carlos, 300p.
diameter and 1.50 m height are adequate for
carrying out the loading tests on helical pile Schiavon, J. A., Tsuha, C. H. C., & Thorel, L. (2017).
models with helices in sizes up to 200 mm Cyclic and post-cyclic monotonic response of a
diameter. single-helix anchor in sand. Géotechnique Letters,
7(1), 11-17.

ACKOWLEGEMENTS

The authors would like to thank José Schiavon


for the sand data used for the simulations, and
to Professor Daniel Dias for assisting in
numerical modeling.

REFERENCES

Foray, P., Balachowski, L., & Colliat, J. L. (1998).


Bearing capacity of model piles driven into dense
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Abordagem experimental para ensaio em colunas de solo


indeformado
Lizardo Glorioso Romero Velásquez
PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, lizardo.romero@aluno.puc-rio.br

Patricia Österreicher-Cunha
PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, osterr@esp.puc-rio.br

Eurípedes do Amaral Vargas Jr


PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, vargas@puc-rio.br

RESUMO: O objetivo foi desenvolver uma metodologia para diminuir o fluxo preferencial nas
paredes laterais em ensaios de coluna com solo indeformado. Decidiu-se usar uma membrana termo
retrátil de polietileno (Ratchem®, USA), que apresenta melhor adesão ao solo, não reage com
compostos presentes em solos tropicais brasileiros e pode ser usada para avaliar solos
contaminados. Foi desenvolvida uma metodologia para a coleta de solo não deformado usando um
tubo de alumínio bi-partido. No laboratório, a coluna de solo indeformado foi introduzida na
membrana graças a esse tubo, sendo em seguida o conjunto solo-membrana reintroduzido no tubo
de alumínio, hermeticamente fechado com auxílio da borda da própria membrana, e conectado
diretamente aos frascos de Mariotte. Na saturação do solo, aumentou-se gradualmente a carga
hidráulica para não criar cavitação nem fluxo preferencial por percolação, até atingir uma carga
constante após a saturação. Após vários ensaios e medidas de permeabilidade, obtiveram-se
resultados na faixa de valores encontrados na literatura para este mesmo tipo de solo os quais se
mostraram condizentes numericamente.

PALAVRAS-CHAVE: Coluna, fluxo preferencial, membrana termo retrátil, condutividade hidráulica.

1 INTRODUÇÃO umidade irrealistas.


O fluxo preferencial lateral em coluna de
Representar um ensaio no laboratório próximo solos é um problema difícil de evitar ou atenuar
às condições de campo é complexo, porém e é agravado em ensaios com solo indeformado,
importante, pois estas vão influenciar nos ou existindo, devido à água estar buscando
processos estudados. Simulações em laboratório caminhos mais fáceis de percorrer que vão
são preferidas devido à possibilidade de ter influenciar nos ensaios e nos resultados. Estes
condições experimentais controladas, quando caminhos podem conter poros com bolhas de ar
medidas de campo podem dar resultados oclusas por água ou estarem preenchidos com
errados ou irrelevantes se projetadas ou água.
operadas de forma inadequada. Estes poros reduzem a velocidade de fluxo
A aparente simplicidade na construção de que dependem do volume derramado, gradiente
colunas de solo esconde uma série de questões hidráulica, das características, estrutura e
técnicas que afetam os resultados do mineralogia do solo.
experimento, como a presença ou ausência de Sendo assim, após avaliação de idéias
macroporos, caminhos de fluxo preferencial, variadas e testes de diferentes tipos de
injeção de infiltração não ideal e regimes de materiais, determinou-se que utilizado um tubo
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de membrana termo retrátil, aderida ao solo Um método possível para reduzir o fluxo da
indeformado, e que ficará no interior de um parede seria fazendo furos no cilindro de PVC
tubo de aluminio constituindo o suporte da após a coleta do núcleo e injetar espuma de
coluna.
poliuretano expansível para preencher quaisquer
vazios entre o monólito do solo e a parede de
2 REVISÃO BIBLIOGRAFICA PVC como feito por Strock e Cassel (2001) e
Meshkat et al. (1999).
Entre os diversos problemas encontrados, está o Martins (2015) recomendou testar o uso de
fluxo preferencial da água percolante na coluna, gesso líquido como material de preenchimento
difícil de contornar em ensaios com solo da região entre a parede interna do tubo em
indeformado. Informações que se encontram na
PVC e a superfície lateral da amostra
literatura relacionadas ao fluxo preferencial em
ensaios de coluna, dizem respeito a colunas de indeformada de solo, com o objetivo de impedir
solo deformado, mas pouca literatura foi ou minimizar o fluxo preferencial.
encontrada a respeito de solo indeformado. Farias (2003) colocou um disco delgado de
Para continuar a pesquisa em solo saturado, e pedra porosa na parte superior do corpo de
esclarecer algumas das questões levantadas prova, e o espaço existente entre o disco e a
anteriormente, foram avaliadas diversas
parede do cilindro do corpo de prova foi
possibilidades de melhoria para a abordagem
experimental, mediante revisão bibliográfica, preenchida com cola 3M para evitar o possível
além de testes de diversas ideias. fluxo preferencial pela parede, garantindo
Segundo o Corwin (2000), o melhor meio assim, que o fluxo só passasse pela pedra
para eliminar o fluxo da parede lateral de uma porosa.
coluna de solo é escavar uma amostra de solo Alguns dos outros problemas abordados na
não perturbado intacta e envolver a coluna de construção das colunas foram: o monitoramento
solo com um material que pode se expandir e
durante o ensaio, a instrumentação das colunas,
contrair em uníssono com o solo. Ele propôs um
projeto simples, mas eficaz, que reduziu como a amostragem; questões específicas para a
significativamente o fluxo da parede com o uso montagem das colunas (válvulas e conexões
de anéis no interior da coluna para desviar o adequadas, controle do fluxo de água, portas de
fluxo da parede lateral para o interior da coluna, acesso) e operacionalizar a coleta de solo
isso antes da coleta do solo. indeformado.
Propuseram-se ideias para evitar a
canalização da água entre o solo e a parede do
lisímetro que incluem fazer a superfície da 3 PRINCIPAIS ETAPAS DA DEFINIÇÃO
parede do lisímetro áspera e instalar uma DA ABORDAGEM EXPERIMENTAL
barreira. Smajstrla (1985) propôs fazer
rugosidade da parede lateral no interior da 3.1 Controle do fluxo preferencial
coluna para diminuir o fluxo preferencial entre
Após cuidadoso exame das possiblidades de
o solo e a parede da coluna. Uma abordagem testar os meios mais comuns de se evitar,
similar foi proposta por Sentenac et al. (2001): reduzir ou mitigar o fluxo preferencial lateral
colar areia na parede lateral para reduzir o fluxo em ensaios de coluna, ficou evidente a
preferencial. necessidade de um enfoque diferente.
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3.2 Construção do tubo bipartido de aluminio

Um novo suporte foi elaborado para a coleta de


solo in situ, para evitar fraturamento na coluna
de solo e visando possibilitar a introdução da
coluna indeformada na membrana termo retrátil.
Foram confeccionadas colunas de tubo de
aluminio bi-partido que serão unidas com
abraçadeiras para a coleta de solo indeformado,
com diâmetro de 9,6cm e comprimento de
40cm, como mostrado na Figura 1.
Figura 2. Coleta de solo na coluna in situ

3.4 Amostragem

Ficou estabelecido que não seja feitas


amostragens de solo ao longo do ensaio.

4 MONTAGEM DA COLUNA DE SOLO

No laborátorio a coluna de solo foi armazenada


nas condições adequadas para não alterar as
caracteristicas de solo em relação às do campo.

4.1 Caracteristicas da membrana termo retrátil


Figura 1. Coluna de aluminio bi-partida com abraçadeiras

Como resultado de pesquisas de


3.3 Classificação e coleta do solo
possibilidades, optou-se por utizar uma
membrana termo retrátil de 150mm de
O solo coletado se encontra no Campo
diâmetro, que se contrai até 50mm (Ratchem®
Experimental da PUC-Rio. Trata-se de uma
LVIT-150/50-A/U-4, USA).
argila residual plastica. No laboratório do
A membrana é de material de Poliolefina,
LGMA da PUC-Rio se fez o ensaio da
um termoplástico do grupo do polietileno (PE) e
permeabilidade saturada a carga constante com
do polipropileno (PP).
permeâmetro de parede flexível, e classificando
Junto a sua baixa densidade, o material se
com a tabela de Casagrande de tipo do solo e
distingue também por uma excelente
permeabilidade, corresponderia a uma argila
estabilidade e resistência química, uma baixa
estratificada com escoamento correspondente a
absorção de água e boa resistência ao desgaste.
um aquífero pobre.
A cor escolhida foi o preto, a faixa de
Durante a coleta de solo se teve cuidado para
temperatura operacional é de 105°C.
não criar fraturas na coluna de solo e que o tubo
de aluminio estivesse preenchido do solo, como
4.2 Colocação da membrana termo retrátil
mostra a Figura 2. O solo foi coberto com um
filme para ser levado no laborátorio do solo,
Para o ensaio se utlizou um segmento de
garantindo dessa forma a total estanqueidade do
50cm de comprimento de membrana que foi
sistema.
cortado, prevendo uma camada de 5cm de areia
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nas extremidades e 10cm de material a ser membrana (Figura 7).


virado nas extremidades da coluna (Figura 3).

Figura 3. Membrana termo retrátil Figura 7. Retirada do tubo de aluminio da coluna de solo

A coluna de alumínio com o solo foi aberta Com o soprador térmico com a temperatura
(Figura 4), uma metade retirada, a outra, menor à maxima possível (105oC), promoveu-
contendo a coluna de solo, foi inserida na se a contração de um lado da membrana; a
membrana, o suporte de alumínio sendo em seguir, a própria meia-coluna de alumínio
seguida retirado. retirada permitiu virar o conjunto e aquecer o
outro lado da membrana (Figura 8).

Figura 4. Abertura de coluna de aluminio

A introducção do solo na membrana termo


retrátil se fez lentamente para evitar fraturas ou
alterar as propriedades do solo (Figuras 5 e 6).
Figura 8. Contração da memebrana com soprador termico

Dessa forma, toda a coluna de solo está


envolta pela membrana termo retrátil, a qual
fica estreitamente aderida à sua superfície,
conforme na Figura 9.

Figura 5. Introdução do solo na membrana termo retratil

Figura 9. Coluna de solo emvolto na membrana termo


retratil

4.2 Colocação do solo no tubo de aluminio


Figura 6. Introdução completa do solo na membrana
Uma vez a membrana termo retrátil esfriada,
Em seguida retira-se a outra metade do tubo a coluna de solo revestida é recolocada no tubo
de alumínio para que o solo esteja inserido na de alumínio bipartido, que servirá de suporte
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para o ensaio, lacrado com abraçadeiras e


acoplado ao resto do sistema (Figura 10).

Figura 10. Coluna de solo recolocada no tubo de aluminio

O excesso das extermidades é virado e


aquecido, para ficar perfeitamente aderido ao
alumínio ao contrair-se, e vai servir para colocar
as tampas nas extremidades (Figura 11).

Figura 13. Montagem final da coluna de solo

5 TESTE DE SATURAÇÃO, PERCOLAÇÃO


E CONTROLE DO FLUXO NA COLUNA.

A coluna montada foi acoplada a um


Figura 11. Adesão da membrana ao tubo de aluminio reservátorio de carga constante (frasco de
Mariott) para ser em seguida saturada. O fluxo
As extremidades são preenchidas com areia foi controlado mediante aumento gradual na
lavada e inerte para reter os finos do solo sem altura do Mariott, para que a carga da água seja
influência na permeabilidade (Figura 12). lenta e assim evitar cavitação ou criar caminhos
preferenciais na coluna de solo. Alem disso se
adicionou em ambas as extremidades uma
camada de areia para diminuir a velocidade do
fluxo.

Figura 12. Prenchimento com areia nas extremidades

4.3 Acomplagem e montagem do sistema

Acoplada a coluna ao resto do sistema, foram


conectadas e encaixadas as conexões, válvulas e
mangeiras testadas previamente, e a coluna
ficou pronta para ser testada, vide Figura 13.

Figura 14. Saturação gradual da coluna de solo


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O sistema se mostrou funcional e estanque, Tabela 1. Estagios da medição da permeabilidade.


como na figura 13. No ΔH V t vel Ksat
Segundo Zanon (2014), o ensaio de coluna se testes (cm) (cm3) (s) (cm/h) (cm/s)
1 11,5 70 3781 0,85 3,95E-04
inicia como um ensaio de permeabilidade
2 11,5 75 3781 0,91 4,23E-04
convencional com carga hidraulica total, mas
3 9,0 925 38940 1,09 6,47 E-04
em diferentes estagios e que após a passagen de
4 9,0 300 15900 0,86 5,14E-04
um volume de água igual a dois volumes de 5 7,0 250 10380 1,10 8,43E-04
vazios do corpo-de-prova, ou após a 6 7,0 240 9300 1,18 9,04E-04
regularização de vazão efluente, subsitui-se a 7 6,0 200 8400 1,09 9,73E-04
alimentação de água por uma solução aquosa de
composição e concentração conhecidas, Finalmente, a média da velocidade do fluxo
mantendo-se a gradiente hidráulica aplicada e a foi de 1,01cm/h, nos testes feitos as velocidades
percolação ininterrupta. Mas na pesquisa são muito parecidas, segundo a Tabela 1, e a
continuou-se utilizando a àgua, e o tempo total média da permeabilidade saturada
de saturação foi de três dias. -4
Ksat=6,71x10 cm/s. Pois no laboratório a
permeabilidade saturada foi 3,22x10-7 cm/s,
A figura 15 mostra a clasificação de solo
6 CALCULO DA PERMEABILIDADE relacionada com a ordem de grandeza da
permeabilidade para diferentes tipos de solo.
Para o calculo da permeabilidade, a frequência
dos intervalos de leitura de volume percolado Ksat (cm/s) 10-8 10-7 10-5 10-3 10-1 1 102
foi diária, e os tempos foram variaveis, “Impermeável”
siltosa
utilizando a relação de Darcy - as equações 1, 2 Para fins de
engenharia
Silte argiloso
Areia fina
Argilosa
e 3, tendo em conta a percolação de fluxo. Argila Silte argiloso Areia Pedregulho

V × n× L Figura 15: Ordem de grandeza da permeabilidade saturada


K sat = (1)
A × t × ∆H (Ksat) para diferentes solos (Alonso, 2007).

V Segundo a Figura 15 a permeabilidade está


vel = (2) na faixa para um solo silte argiloso, quando a
A× t
classificação do solo é de uma argila plástica.
Esta diferença pode ser devida à forma e ao
A = π R2 (3) método de ensaio. No laboratorio é ensaiada
uma amostra uniforme enquanto no
Onde: L é o comprimento do solo (cm), R é o experimento com coluna pode haver
raio da amostra do solo (cm), A é a área da irregularidades no solo (pedregulho, raiz, etc)
amostra do solo (cm2), n é a porosidade do solo, e/ou possibilidade de caminho preferencial.
ΔH é a carga hidráulica (cm), V é o volume da
água percolada (cm3), t é o tempo de percolação
(s), vel é a velocidade de percolação (cm/h) e 7 CONCLUSÕES
Ksat e a permeabilidade saturada (cm/s).
Os dados na coluna e no solo: L=35 cm, A membrana termo retrátil aderiu
R=4,88 cm, por ende A=74,82 cm2 e n=0,55. completamente e tomou a forma do solo, sem a
A tabela 1, mostra os resultados de 7 estágios formação de fraturas na coluna de solo.
com diferentes cargas de pressão e tempo de A montagem completa da coluna de solo não
saturação. foi muito complicada e não houve problema de
vazamento de fluxo.
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Com a saturação gradual evitaram-se Soil & Crop Science Society of Florida,
problemas de cavitação ou de fluxo preferencial PROCEEDINGS, 28, p. 1867–1870.
Strock, J.S. e Perry, D.K. (2001) Developing and testing a
durante o ensaio. system for studying unsaturated solute transport on
Com este tipo de equipamento, o fluxo undisturbed soil blocks, Journal of Soil and Water
preferencial nas paredes do lisímetro é Conservation 56, Vol. 2, p. 112-119.
diminuído. Zanon, T.V.B. (2014) Avaliação da contaminação de um
O valor da permeabilidade no ensaio foi solo laterítico por lixiviado de aterro sanitário
através de ensaios de laboratório e análise de dados
considerada aceitável para ensaios de coluna. de campo, Dissertação de mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Estructuras e
geotécnica, Escola Politécnica da Universidade de São
AGRADECIMENTOS Paulo, São Paulo, 101 p.

Este trabalho foi feito com a colaboração da


equipe técnica, que aportaram diversas ideias e
ajudaram na construção da coluna.
Ao CNPq pelo apoio financeiro e ao
laboratorio de Geotecnia e Meio Ambiente da
PUC-Rio por proporcionar as instalações para
este ensaio.

REFERÊNCIAS

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aquíferos, 1ra ed., Oficina de Textos, São Paulo, SP,
BRASIL, 152 p.
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42, p. 35-49.
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tropicais compactados a hidrocarbonetos da
gasolina, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal
de Brasilia, Brasilia, 152 p.
Martins, C.P. (2007) Avaliação da biodegradação de
compostos BT da gasolina, com e sem a adição de
etanol, em solos residuais de Gnaisse por meio de
ensaios em coluna, Tese de Doutorado, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental,
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Smajstrla, A. (1985) A field lysimeter system for crop
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Abordagem poroelástica aplicada ao estudo do fluxo transiente


induzido pela rotação de um cilindro no solo
Gracieli Dienstmann
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, g.dienstmann@gmail.com

Adrien Fayolle
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, fayolle.adrien@gmail.com

Felipe Schaedler de Almeida


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, schaedleralmeida@gmail.com

Fernando Schnaid
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, fschnaid@gmail.com

Samir Maghous
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, samir.maghous@ufrgs.br

RESUMO: Materiais de permeabilidade transitória (10-5 a 10-8 m/s), materiais siltosos, tendem a
desenvolver um comportamento parcialmente drenado quando submetidos a carregamento, o que
introduz erros na interpretação de ensaios como palheta e piezocone. Neste contexto, visando
contribuir a interpretação de ensaios executados em materiais de comportamento transitório, o
presente trabalho apresenta um modelo simplificado para a análise da consolidação induzida pela
rotação de um cilindro infinito no solo. O modelo foi verificado com base em simulações numéricas
em elementos finitos (software Abaqus@). Na sequência, os resultados foram interpretados no espaço
de velocidade normalizada ( V ) e grau de drenagem ( U ), demostrando que o modelo é capaz de
prever as transições de comportamento drenado para parcialmente drenado e parcialmente drenado
para não-drenado. Os resultados apresentados contribuem para a interpretação das condições de
drenagem em ensaios de campo (palheta) executados em materiais siltosos.

PALAVRAS-CHAVE: Poroelasticidade, Fluxo Transiente, Ensaio de palheta.

1 INTRODUÇÃO princípios da elasticidade e o fluido é tratado


como um material viscoso, que escoa segundo
Na teoria da poroelasticidade desenvolvida por uma lei de fluxo (Lei de Darcy).
Biot (1941) e contextualizada por de Boer No presente trabalho, a teoria de Biot é
(2000); Wang (2000), Coussy (2004), Selvadurai aplicada para análise da consolidação devido a
(2007) e outros, o meio poroso é tratado como a rotação de um cilindro sólido infinito em um
superposição de dois domínios ou duas fases, meio elástico isotrópico poroso. Partindo do
sólida (solo) e fluida, ambas contínuas, onde as pressuposto que a condição de drenagem em
posições das partículas do esqueleto e do fluido solos saturados depende da permeabilidade,
coincidem em um instante de tempo qualquer. compressibilidade, resistência ao cisalhamento e
Considerando o meio poroso elástico taxa de carregamento (Silva et al., 2005; Lehane
(poroelasticidade) o comportamento da fase et al, 2009; Kim et al., 2008; Schneider et al.,
sólida ou matriz sólida é descrito pelos 2007), espera-se que uma mudança na
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velocidade de rotação produza variações no DeJong, 2012). Entretanto, interpretações


perfis de poropressão, induzindo mudanças na teóricas baseadas em previsões de
resistência e rigidez do solo. Identificar tais comportamento (e.g. Silva et al, 2005;
variações de comportamento é uma questão Dienstmann et. al 2017), ainda merecem uma
fundamental em projetos de fundações, maior atenção, sendo este o escopo do presente
estruturas de contenção, túneis entre outros, e trabalho. A descrição completa do modelo
embasa a interpretação de ensaios in situ. poroelástico desenvolvido para análise da
A modelagem teórica, brevemente descrita no rotação de um cilindro infinito no solo, pode ser
presente trabalho, visa fornecer uma ferramenta encontrada em Dienstmann et al. (2018).
simplificada para análise dos efeitos da taxa de
variação de poropressão sobre a resposta de 2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E
rotação de um cilindro infinito inserido no meio METODOLOGIA DE ANÁLISE
poroso. Em particular, a análise é capaz de
identificar as condições de drenagem que Esta seção descreve as principais características
ocorrem em torno do cilindro para diferentes do modelo poromecânico adotado para a análise
taxas de carregamento. da consolidação induzida pela rotação de um
No contexto de ensaios de campo, piezocone cilindro rígido de comprimento infinito, inserido
e palheta, a avaliação dos efeitos de drenagem em um meio poroelástico isotrópico. O cilindro
costuma ser apresentada em um espaço que é submetido a uma rotação prescrita e sua
relaciona velocidade normalizada V e grau de geometria pode ser vista como um modelo
drenagem U. Seguindo a proposta de Randolph e conceitual simples de uma estaca, ou de um
Hope (2004), a velocidade normalizada V pode ensaio de palheta. A análise apresentada é
estruturada em deformações planas de acordo
ser escrita por:
com a seção transversal do cilindro e meio
poroso circundante, restringindo os
Vd
V= (1) deslocamentos e o fluxo em duas dimensões
ch (Figura 1).

Onde: d – diâmetro do equipamento, V


velocidade de carregamento/ velocidade de
execução do ensaio e ch coeficiente de
consolidação horizontal. O grau de drenagem U,
pode ser representado diretamente pela relação
de poropressões:

u
U=1- (2) Figura 1. Seção caraterística de análise
u 0,max
O solo que envolve o cilindro é modelado
Neste caso u - poropressão medida na como saturado, isotrópico e isotérmico.
velocidade avaliada, u0,max - máxima
poropressão medida, representando uma 2.1 Formulação Constitutiva
condição não-drenada.
Propostas de interpretação das condições de Com o objetivo de analisar a consolidação
drenagem em ensaios in situ utilizando a induzida pela rotação de um cilindro infinito no
normalização dos resultados (espaço V x U) solo um modelo de comportamento foi proposto
podem ser encontradas em literatura (House et por Dienstmann et al. (2018). O modelo teórico
al, 2001; Schnaid et al, 2004; Randolph & Hope, desenvolvido baseia-se na equivalência em
2004; Chung et al, 2006; Schneider et al, 2007; carregamento monotônico de uma resposta
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perfeitamente plástica e um comportamento onde ε ref  1 representa uma deformação de


poroelástico fictício não-linear. O referência que fisicamente representa a ordem de
comportamento não-linear foi considerado magnitude das deformações mobilizadas na
através de um módulo de cisalhamento elástico plastificação.
(G) que evolui com o nível de deformações. O Adotando um valor constate para o módulo de
modelo será brevemente descrito no presente deformações volumétricas K e considerando
trabalho para o caso simplificado onde as tensões uma abordagem similar a adotada por
e poropressões iniciais são nulas (isto é, Lemarchand et al. (2002) e Maghous et al.
σ 0 =p 0 =0 ). A extensão para um estado inicial (2009) uma maneira simples de atender a
diferente de zero e detalhes do modelo podem ser condição acima consiste em considerar a
encontrados no trabalho original. seguinte lei de comportamento [Maghous et al.
Visando capturar a não-lineariedade do (2009)]:
material, considerou-se que o módulo de
cisalhamento elástico G evolui de acordo com 1 1/ε
as deformações e poropressão, ou seja,
G(ε d ,ε v ,p)= T(h-Kε v -(1-b)p)× ref (6)
2 1+ε d /ε ref
G=G(ε d ,ε v ,p) , onde ε d = (ε- 13 trε):(ε- 13 trε) e
ε v =trε definem respectivamente, a deformação Na Figura 2 é apresentada a representação
gráfica do comportamento definido pela
desviadora e volumétrica, e p é a poropressão. Equação 6.
Considerando o critério de plastificação de
Drucker-Prager :

F(σ´ )=σ d +T (σ m ' - h )  0 (3)

Onde σ'=σ+p 1 é a tensão efetiva de Terzaghi,


σ d = (σ- 13 trσ):(σ- 13 trσ) é a tensão desviadora
1
σ m '= trσ'=σ m +p é a tensão média efetiva de
3
Terzaghi. Parâmetros h e T caracterizam Figura 2. Representação do comportamento não-linear
elástico com um critério de plastificação de Druker-
respectivamente, a parcela de resistência coesiva Prager.
e o coeficiente de atrito.
A primeira equação de estado do meio Retornando ao problema de rotação, as
poroelástico representa a relação entre a variação deformações e poropressões mobilizadas devem
de deformações, poropressões e tensões, sendo satisfazer a condição de equilíbrio ( div Δσ=0 ),
expressa por:
de acordo com as condições de contorno
2 relacionadas aos deslocamentos ξ :
σ=σ 0 +(K- G)trε1+2Gε-bΔp1 (4)
3  ξ=α R eθ em r=R
 t0 (7)
As tensões representadas em (4) devem ξ=0 em r=a>R
satisfazer a condição limite de plastificação
(Equação 5): A primeira condição em (7) específica que um
ângulo de rotação α é aplicado na face do
lim F(σ'=σ+p 1)=0 (5) cilindro (em r = R), enquanto que a segunda
ε d /ε ref → condição indica que os deslocamentos são nulos
a uma distância a  R . A distância a define a
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zona de influência do problema, região a partir resolução do problema será obtida através da
da qual não acontecem mais perturbações devido solução do problema de fluxo.
a rotação do cilindro.
Observando a simetria do problema, a 2.2 Solução do problema de Fluxo
solução para o campo de deslocamentos é
buscada de acordo com a seguinte representação: A solução do problema de fluxo é obtida
observando inicialmente a chamada segunda
ξ= f(r) eθ + g(r) e r (8) equação de estado do meio poroelástico:

Com o respectivo tensor de deformações: 1


 = b trε+ Δp (14)
ε=ε rr e r  e r +ε θθ e  eθ +ε rθ ( e r  eθ +eθ  e r ) (9) M

Sendo: A qual relaciona a variação da porosidade


1 Lagrangiana  =  − 0 com a variação
ε rr =g'(r), ε θθ =g(r)/r, ε rθ = ( f'(r)-f(r)/r ) (10)
volumétrica do esqueleto sólido ( ε v =trε ) e da
2
poropressão ( Δp=p-p0 ). Nesta equação, b e M,
Resultando, de acordo com a lei poroelástica
representam respectivamente, o coeficiente e
adotada nos seguintes incrementos em tensões:
módulo de Biot.
A Equação 14 é combinada com o balanço de
Δσ rr =  k-2G/3 ( g'(r)+g(r)/r ) +2G g'(r)-b Δp massa fluida e lei de fluxo. Negligenciado as

Δσθθ =  k-2G/3 ( g'(r)+g(r)/r ) +2G g(r)/r-b Δp (11) variações da densidade, o balanço de massa

Δσ rθ =G ( f'(r)-f(r)/r )
fluida em deformações infinitesimais do
Δσ = k-2G/3 g'(r)+g(r)/r -b Δp esqueleto sólido pode ser escrito por:
 zz  ( )

Que introduzidos na equação de equilíbrio + div q=0 (15)
t
local ( div Δσ=0 ) produzem duas equações
diferenciais que governam as funções de onde q é o vetor de infiltração. Este último
deslocamento ( f e g ) e a pressão do fluido conecta-se a poropressão u através da lei de
poroso ( p ): fluxo. Considerando como lei de fluxo a Lei de
  2G  Darcy:
 K ( g'(r)+g(r)/r ) + ( 2g'(r)-g(r)/r ) -bΔp  +
r 3  (12) q= - k × u (16)
2G
+ ( g'(r)-g(r)/r ) = 0
r
sendo k o tensor de permeabilidade. Para o meio
 f'(r)-f(r)/r
G ( f'(r)-f(r)/r )  +2G =0 (13) isotrópico k=k1 . Sendo k a permeabilidade.
r r
A segunda equação de estado (14) e a lei de
fluxo (16) são substituídas na expressão do
As Equações 12 e 13 demostram que o
balanço de massa (15) resultando em:
problema é caracterizado como não-linear e que
a solução de fluxo e de tensões é acoplada
 trε 1  p
através do módulo de cisalhamento G, sendo b + = k 2 u (17)
G=G(ε d ,ε v ,p)=G (f, g , p) , que é, portanto, uma t M t
função da coordenada polar (e também do
tempo). com  2 o operador Laplaciano.
A terceira equação diferencial necessária para Da definição clássica para o meio
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poroelástico não-linear, a seguinte equação de intervalo de tempo, é introduzido apenas para a


Navier generalizada pode ser derivada: equação de difusão, enquanto a expressão não-
linear do módulo de cisalhamento será
 trε 2 G  p preservada nas equações de equilíbrio (12) e
( K+ 43 G ) + ( 2g'(r)-g(r)/r ) = b (18)
r 3 r r (13).

A Equação 18, enfatiza o forte acoplamento 2.3 Procedimento incremental-interativo para


entre deformações e poropressões. Nas solução do problema poroelástico
formulações clássicas a variação de poropressão
é somente afetada pelas variações volumétricas O problema do fluxo desacoplado, definido para
do esqueleto sólido, o que simplifica bastante a um intervalo de tempo t n  t  t n+1 é resolvido
resolução. Entretanto, na presente formulação as pela equação 19 e condições de contorno e
pressões são também influenciadas pelas iniciais hidraúlicas:
deformações através do módulo de cisalhamento
G(ε d ,ε v ,p) . Neste caso, para obtermos as  u / r=0 em r=R ;  t  [t n , t n+1 ]

soluções das distribuições de poropressões e  u=0 em r=a 0 ;  t  [t n , t n+1 ] (21)
deslocamentos, é necessário resolver o sistema  u=u(r, t ) em t=t n ; R  r  a 0
acoplado definido pelas equações diferenciais  n

(12, 13 e 18).
Visando a obtenção de soluções analíticas, A primeira equação em (21) é a condição de
um procedimento simplificado foi utilizado em impermeabilidade na parede rígida do cilindro,
Dienstmann et al. (2018) e será brevemente enquanto a segunda equação expressa que o
descrito. A ideia consiste em introduzir um excesso de poropressão induzido pela rotação do
módulo G equivalente G(ε d ,ε v ,p)  G eq para cilindro rígido é nulo para a região de dimensão
maior que a0 (zona de influência das
cada incremento de tempo. Com base nesta
poropressões). Enquanto que a terceira
consideração, a Equação (18) integrada em
expressão refere-se à pressão no fluido poroso no
relação a coordenada radial resulta em:
instante t=t n . Para t=0, u=u 0 (r) , poropressão
( K+ 4
3 G eq ) trε=b Δp+C(t) (19) inicial devido a instalação do cilindro.
A solução geral para o problema definido
pelas equações (20) - (21) é:
Observando que o estado poromecânico não é
afetado pela instalação e rotação do cilindro 
u(r,t) =  C*i  ωi Y0 (αi r)-J 0 (αi r)  e-cf αi ( t-t n )
2

rígido além da zona de influência ( (22)


i =1
ε (r,t)=Δp (r,t)=0 para r>a ), verifica-se que a
função de integração C(t) é nula. Um raciocínio Com:
clássico que se baseia nas equações (17) e (19),
 Δp  u a
juntamente com a igualdade,
t
=
t
permite
Ci * =

R
u (r, t n ) [ωi Y0 (αr)-J 0 (αr)] r dr
(23)
a
obter uma equação desacoplada de difusão:  R
[ωi Y0 (αr)-J 0 (αr)]2 r dr

u
= cf  2 u; com cf =k M
( K+ 3 G eq ) (20) 4
As funções J 0 e Y0 são funções de Bessel
t Mb 2 + ( K+ 43 G eq ) de primeira e segunda espécie e ordem zero. O
escalar α i é a i-éssima raiz da expressão (24) em
Destaca-se que o conceito de módulo de relação a variável x .
cisalhamento equivalente ( G eq ) ao longo do
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Y1 (x R) J 0 (x a 0 )-J1 (x R) Y0 (x a 0 )=0 (24) deslocamentos definida por a, e a zona de


influência da poropressão inicial a0.
com J1 e Y1 funções de Bessel de primeira e
segunda espécie e ordem um (1). O escalar ωi 3 APLICAÇÃO DO MODELO PROPOSTO
é obtido de α i :
Uma série de simulações numéricas foi realizada
considerando o conjunto de dados apresentado
ωi =-Y1 (αi R) /J1 (αi R) (25) na Tabela 1. Observa-se que o conjunto de dados
adotado representa um material de referência.
Uma vez obtido a poropressão u através das Um valor de raio do cilindro R=0,025m foi
Equações 20 - 25, o incremento de poropressão adotado nas análises, este representa uma palheta
Δp=u-u 0 pode ser computado e introduzido nas de diâmetro de 5cm. Uma zona de influência
equações (12 e 13) para obtenção das para os deslocamentos de 100 vezes o raio foi
deformações e tensões. Este procedimento é considerada (a=100R). Para a região de
repetido para cada incremento de tempo. Para o influência das poropressões dois valores de a0
módulo Geq utilizou-se um módulo médio para foram adotados: a0=10R e a0=25R.
para o intervalo t n+1 , de acordo com: Os parâmetros de resistência de Drucker-
Prager h e T foram obtidos a partir da coesão c
a
e ângulo de atrito  segundo:
1
G ( ε d (r,t n ) ; ε v (r,t n ) ; p(r,t n ) ) dr
a-R R
G eq (t n )=
h=c/tan (29)
(26)
sendo t n o incremento de tempo anterior. T=6sen / (3 − sen ) (30)
O algoritmo completo de resolução pode ser
encontrado em Fayolle (2016). A condição inicial é definida por um estado
isotrópico σ 0 =σ 0 1 com distribuição de
2.4 Distribuição inicial de poropressão poropressões de acordo com equação (27).
O processo de carregamento é simulado
De acordo com as condições definidas pela através da aplicação do deslocamento ξ θ =α R na
Equação (21), a solução do problema de fluxo
necessita ter conhecimento prévio da face do cilindro, partindo de um valor inicial
poropressão no instante anterior a rotação do igual a zero até um valor máximo, o qual
cilindro. A expressão 27 proposta por representa o final do ensaio. O valor máximo foi
Dienstmann et al. (2017) será utilizada como fixado com base em um critério de deformações
referência nas análises. máximas ε d =10% .

Tabela 1. Parâmetros utilizados nas simulações


F(r)
u 0 (r) = u 0,max (27) Parâmetros Valor adotado
F(R) K 20MPa
com ref 10-3
b 0,98
a0 a0 a0 M 2,3GPa
F(r)=1- + ln para R ≤ r ≤ a0 (28) c 2kPa
r R r  25º
k 10-3m/s
Sendo u 0,max o máximo valor de poropressão  150kPa
u0,max 100kPa
na face do cilindro. Para valores de a0 < r < a, a a0 10R; 25R
poropressão inicial é nula. Ou seja, existe uma a 100R
distinção entre a zona de influência dos
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Três velocidades de carregamento foram resitência ao cisalhemento mobilizada é sensível


avaliadas, V=10-5 mm/s , a qual caracteriza um a velocidade de carregamento. Ambos os
comportamento drenado (todo excesso de modelos, analítico e numérico, indicam que uma
poropressão é dissipado durante a rotação do redução na velocidade de carregamento produz
um incremento direto na resitência máxima
cilindro), V=10-3 mm/s , representando uma
mobilizada. Comparando os diferentes valores
condição parcial de drenagem e V=1 mm/s de a0, magnitude da área de influência das
correpondendo a uma condição de carregamento poropressões iniciais, observa-se que para os
não-drenado. casos de comportamento drenado ( V=10-5 mm/s
Em complemento aos resultados obtidos pelo
) e não drenado ( V=1 mm/s ) não há significativa
modelo analítico, simulações utilizando
elementos finitos também foram realizadas. mudança dos valores de resistência mobilizados.
Nestas simulações, utilizou-se o software Entretanto, para a velocidade V=10-3 mm/s ,
Abaqus@ com um modelo poroplástico com velocidade intermediária, observa-se que quanto
fluxo acoplado. O problema de consolidação menor a região de influência (a0=10R) maior a
simulado em elementos finitos é apresentado na resistência mobilizada, caracterizando que o
Figura 03, e representa uma análise em estado processo de dissipação é mais rápido nos casos
plano de deformações. A malha utilizada é onde a região definida por a0 é menor.
composta por elementos do tipo CAX8RP. Como Ainda da Figura 4, observa-se que
modelo constitutivo utilizou-se o modelo linear instabilidades numéricas foram observadas nas
elástico com critério de plastificação de Drucker simulações em elementos finitos (Abaqus) para
Prager. Neste contexto, os parâmetros utilizados os casos de carregamento com V=10-5 mm/s e
são os mesmos apresentados na Tabela 1, exceto
V=10-3 mm/s (evolução de ε d é interrompida
pelo módulo G que é definido como constante
G 0 =G(ε d =0,ε v =0) . antes de ε d =10% , valor máximo pre-definido).
Neste sentido, para discussão dos resultados no
espaço p x qu sendo p=- σm (r=R) , Figura 5,
apenas os resultados numéricos das simulações
utilizando o software Abaqus@ para V=1 mm/s
serão utilizados.

Figura 3. Seção caracteristica adotada para as simulações


numéricas software Abaqus@ (sem escala)

As Figuras 4 e 5 apresentam o resultado do


comportamento na face do cilindro obtido pelas
simulações analíticas e numéricas. Nas Figuras
4a e 4b são plotadas as evoluções das resistências
q u =σ d (r=R) normalizadas por Th (parâmetros
de resistência de Drucker Prager), para a0=10R e
a0=25R, respectivamente. Observa-se que a
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(a) a0=10R
(a) a0=10R

(b) a0=25R
Figura 4. Evolução das tensões cisalhanetes na face do
(b) a0=25R
cilindro
Figura 5. Trajetória de tensões na face do cilindro
O espaço p x qu apresentado na Figura 5a e
5b, destaca que as trajetórias de tensões não- Adicionalmente, na Figura 6 são apresentadas
drenadas dos modelos numérico e analítico são as distribuições de poropressão em relação a
similares. Para os casos de drenagem plena ( distância radial. Nesta Figura, para comparação
V=10-5 mm/s ) e parcial ( V=10-3 mm/s ) o com os resultados do modelo analítico, somente
os resultados da simulação numérica (Abaqus@)
modelo analítico representa trajetórias
para V=1 mm/s são apresentados. Para este caso
crescentes.
de comportamento não-drenado, observa-se uma
boa concordância entre as distribuições de
proropressão previstas pelos modelos. As
simulações para V=10-3 mm/s , comportamento
parcialmente drenado, e V=10-5 mm/s ,
comportamento drenado do modelo analítico
indicam que uma redução da região definida por
a0, torna o processo de dissipação mais rápido,
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conforme já observado para os resultados na face drenado para drenado acontece em V = 10−4 .
do cilindro. Para a 0 =25R , a transição de comportamento
não-drenado para parcialmente drenado é a
mesma que a observada quando a 0 =25R , ou
seja em V = 10−1 . Já a transição de
comportamento parcialmente drenado para
drenado, neste caso acontece em V = 10−5 .
Velocidades normalizadas entre os valores
especificados caracterizam a ocorrência de
drenagem parcial e devem ser evitadas em
campo. Os valores encontrados para a região de
transição, especialmente para a velocidade de
transição não-drenada para parcialmente drenada
é condizente com valores encontrados em
(a) a0=10R literatura (e.g. Randolph e Hope, 2004; DeJong
et al., 2012).

Figura 7. Espaço normaizado V x U

(b) a0=25R 4 CONCLUSÕES


Figura 6. Distribuição radial de poropressão

Concebido como uma abordagem simplificada


Sequencialmente, os resultados das para o estudo dos efeitos decorrentes do fluxo em
simulações analíticas foram reinterpretados no solos de permeabilidade intermediária, um
espaço normalizado V x U (Equações 1 e 2). modelo poroelástico não-linear foi formulado. O
Para a interpretação no espaço de velocidades objetivo do modelo desenvolvido, e brevemente
normalizadas, simulações complementares com discutido no presente trabalho, é capturar os
diferentes valores de V foram necessárias. Os efeitos da taxa de rotação sobre as distribuições
resultados para a 0 =10R e a 0 =25R são de tensões e poropressões. A solução
apresentados na Figura 7. A análise das curvas poromecânica foi obtida com base nas condições
apresentadas permite identificar as velocidades de contorno em deslocamentos e poropressões.
normalizadas que caracterizam a transição de Soluções semi-analiticas foram obtidas com base
em uma simplificação para solução do problema
comportamento. Para a 0 =10R , observa-se que a
de fluxo.
transição de comportamento não-drenado para Os resultados da aplicação do modelo para um
parcialmente drenado acontece em V = 10−1 . Já a material de referência foram diretamente
transição de comportamento parcialmente comparados com resultados de simulações
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numéricas em elementos finitos, demostrando porous medium. Computers and Geotechnics, v. 97, p.
uma boa concordância entre modelos, 134-154, 2018.
House, A.R., Oliveira, J.R.M.S., Randolph, M.F. (2001).
principalmente para as previsões de Evaluating the coefficient of consolidation using
comportamento não-drenado. penetration tests. International Journal of Physical
Com base na interpretação dos resultados das Modelling in Geotechnics, 1(3): 17-25.
simulações no espaço de velocidade normalizada Kim, K., Prezzi, M., Salgado, R., Lee, W. (2008). Effect
of penetration rate on cone penetration resistance in
V x U foi possível identificar a transição de saturated clayey soils. Journal of Geotechnical and
comportamento não-drenado para parcialmente Geoenvironmental Engineering,
drenado e de parcialmente drenado para drenado. 10.1061/(ASCE)1090-0241(2008)134:8(1142).
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normalizadas intermediárias aos valores que M.F. (2009). Rate effects on penetrometer resistance in
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definem as transições de comportamento Lemarchand, E., Ulm, F.J., Dormieux, L. (2002). The
produzem respostas parcialmente drenadas e effect of inclusions on the friction coefficient of
devem ser evitadas em campo. highly-filled composite materials. Journal of
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Adição de cal em um solo sedimentar de Curitiba: fatores que


influenciam na resistência mecânica
Jair Arrieta Baldovino
UTFPR, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

Eclesielter Batista Moreira


UTFPR, Curitiba, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

João Luiz Rissardi


UTFPR, Curitiba, Brasil, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


UTFPR, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

Juliana Lundgren Rose


UTFPR, Curitiba, Brasil, julrose@gmail.com

RESUMO: O presente estudo avalia os fatores que influenciam na resistência à compressão simples
e à tração indireta de um solo siltoso da Formação geológica Guabirotuba de Curitiba/Brasil
cimentado artificialmente com cal hidratada. O estudo apresenta a relação do crescimento da
resistência da compressão não confinada (qu) e tração por compressão diametral (qt) de um solo
siltoso curado em 30 dias com a influência de fatores como a relação água/cal (a/L), porosidade (η)
e a relação porosidade/teor volumétrico de cal (η/Lv). Os parâmetros de controle avaliados foram: o
teor de cal (L), a umidade de moldagem (ω), o peso específico seco aparente de moldagem (γd) e a
porosidade. Os resultados mostram um crescimento de qu e qt com o aumento de teor de cal e com a
diminuição da porosidade dos corpos de prova. Também foi calculada uma relação geral de
tração/compressão igual a 0,16.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-cal, Resistência mecânica, Vazios/cal.

1 INTRODUÇÃO pouco utilizadas regionalmente, como é o caso


da estabilização dos solos com cal. A
O uso de materiais cimentantes como a cal vem estabilização permite o uso de solos locais,
sendo empregados com sucesso na engenharia melhorando as propriedades geotécnicas, de
geotécnica para a estabilização e melhoramento modo a enquadrá-los dentro das especificações
mecânico em solos, principalmente de tipo construtivas vigentes; o uso é antigo e está
argilosos e siltosos. Em período recente, com o sempre em processo de atualização,
salto econômico vivenciado pelo país há alguns principalmente a partir de 1945 (Guimarães,
anos atrás, nota-se a necessidade de 2002; Lima et al., 1993). Esta pesquisa visou
infraestruturas e têm-se por exigência quantificar os benefícios alcançados com a
construções que sejam técnica e estabilização de solos com cal. As pesquisas
economicamente viáveis, com o menor impacto atuais têm encontrado a influência das
ambiental possível. Frente a isso, verifica-se a quantidades de materiais cimentantes no
necessidade de estudos em materiais e técnicas comportamento mecânico desses tipos de solo,
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como as realizadas por Consoli et al. (2001, compressão diametral qt de um solo da Formação
2012, 2014) onde aplicam-se teores de 3%, 5%, geológica de Guabirotuba.
7% e 9% de cal para estabilização. Os tipos de
cal comumente usados para estabilizar solos 2 MATERIAIS E MÉTODOS
finos são a cal hidratada com conteúdo alto de
cálcio, cal calcítica, cal dolomítica 2.1 Materiais
monohidratada e cal viva dolomítica. O teor de
cal para usar na estabilização na maioria dos 2.1.1 Solo
solos varia entre o intervalo de 5 até 10%.
Quando se coloca cal nos solos argilosos, O solo usado para o presente estudo foi coletado
acontecem duas reações químicas pozolânicas: a na terceira camada da Formação Guabirotuba no
troca de cátions e floculação-aglomeração das município de Fazenda Rio Grande (PR)-Brazil,
partículas (Das, 2000). Os solos da Formação em um local de construção de habitações
geológica de Guabirotuba, localizados na cidade populares, com localização geográfica
de Curitiba-PR e região metropolitana, têm por 25°41'03.9"S e 49°18'32.5"W. O solo é
sua granulometria a maioria de finos. composto por 9 % de argila (< 0,002 mm), 57,6
Os solos de Guabirotuba não podem em % de silte (0,002 a 0,075 mm), 25,9 % de areia
grande parte serem empregados para camadas de fina (0,075 a 0,42 mm) e 7,5 % de areia média
sub-base e base de pavimentação, para o suporte (0,42 a 2,0 mm). A Figura 1 mostra a curva
de fundações superficiais como as sapatas e para granulométrica do solo. A umidade natural
proteção de encostas. A técnica de encontrada do solo in-situ é próxima a 40%.
melhoramento desse solo também pode ser
utilizada nas fundações de edificações de 100
90
pequeno porte, em solos com baixa capacidade
80
Portentagem passante (%)

de suporte ou que apresentam baixa estabilidade 70


volumétrica. Tais condições são problemáticas 60
na medida em que podem causar severas 50
patologias na edificação (Inglês e Metcalf, 40
1972). A resistência à compressão simples qu de 30
um solo de grão fino compactado em um teor de 20
umidade ótima pode variar de 170 kPa a 2100 10
0
kPa, dependendo da natureza do solo. Com uma 0,001 0,01 0,1 1 10 100
adição de entre 3 a 5% de cal e um período de Diâmetro dos grãos (mm)
cura de 28 dias, a resistência à compressão
simples pode aumentar em 700 kPa ou mais Figura 1. Curva granulométrica do solo
(Das, 2000).
É de interesse fundamental o estudo do Tabela 1. Propriedades físicas do solo
melhoramento de solos locais de Curitiba em Valores
Propriedades Físicas
quanto se podem aproveitar solos que não estão Médios
sendo empregados por más propriedades físico- Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³
mecânicas. Além disso, fazer uma pesquisa para Areia média 7,5 %
a construção de um banco de dados de locais de Areia fina 25,9%
tais solos é essencial, para encontrar soluções Silte 57,6%
técnicas que sejam de fácil execução e Argila 9%
economicamente viáveis. Assim, esta pesquisa Limite de liquidez, LL 53,1%
busca determinar a influência de diferentes Índice de plasticidade, IP 21,3%
teores de cal na resistência à compressão não
confinada qu e na resistência à tração por Mostra-se também na Tabela 1 as
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propriedades físicas do solo; segundo o Sistema 14


12,2
Unificado de Classificação de Solos – SUCS – o 12
solo é classificado como um silte elástico 12,4 12,5 12,5 12,51 12,51
arenoso. A partir da curva granulométrica e da 10
11
composição presente na Tabela 1, nota-se que o

Valor de pH
8
solo apresenta um limite de liquidez alto (53,1%)
e o índice de plasticidade indica que a argila é 6

altamente plástica com 21,3% (IP>15). 4 3,8

2
2.1.2 Cal 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Teor de cal (%)
A cal usada para o estudo foi uma cal hidratada
dolomítica CH-III composta principalmente por Figura 2. Variação do pH com o teor de cal.
hidróxidos de cálcio -Ca(OH)2- e magnésio-
Mg(OH)2-, produzida no município de 2.2.2 Dosagem das misturas
Almirante Tamandaré, região metropolitana de
Curitiba. O percentual retido acumulado no De acordo com os ensaios de pH das misturas
diâmetro 0,075 mm foi de 9% [≤15%, como solo-cal e tendo em consideração diferentes
especifica a norma brasileira NBR 7175 (ABNT, pesquisas sobre o tema, definiu-se para o
2003)]. A massa específica da cal é igual a 2,39 presente estudo 5 teores de cal a usar (0%,3%,
g/cm3. 5%, 7% e 9%); incluindo o teor de 0% para
verificar a variação da resistência em suas
2.1.3 Água propriedades físicas. O teor mínimo de cal usado
foi definido em função da porcentagem de cal
A água empregada tanto para a moldagem de que atingiu o máximo valor constante do pH, que
corpos de prova como para os ensaios de de acordo à Figura 2 é de 3%. O ensaio de
caracterização do solo foi destilada conforme as resistência não confinada e de tração das
especificações das normas, enquanto está livre misturas constituiu como as principais variáveis
de impurezas e evita as reações não desejadas. de estudo e de avaliação. Dessa forma, são
definidas as propriedades dos corpos de prova a
2.2 Métodos partir dos ensaios de compactação.

2.2.1 Ensaios de pH 2.2.3 Ensaios de compactação e pontos de


moldagem
Para a realização das misturas de solo com a cal,
definiu-se qual é o menor teor que se pode Foram realizados ensaios de compactação do
utilizar para a estabilizar a mistura. Portanto, solo nas três energias (normal, intermediaria e
empregou-se a metodologia proposta por Rogers modificada) de compactação segundo a norma
et al. (1997), também chamada de método do NBR 7182 (ABNT, 2016). A Figura 3 mostra as
ICL (Initial Comsumption of Lime). O método curvas de compactação do solo estudado. Além
se refere a uma variação do pH com a adição de disso, ensaios de compactação com a cal foram
cal. O teor mínimo de cal a usar para estabilizar realizados na energia normal para ver a variação
o solo é aquele onde o pH atinge um valor do peso especifico seco máximo e a umidade
constante máximo. A Figura 2 mostra a variação ótima. Assim, a Tabela 2 apresenta a variação do
do pH das misturas com o teor de cal usado. peso específico seco máximo e a umidade ótima
Nota-se que alcança um valor máximo constante para os teores 3%, 5%, 7% e 9% de cal. Nota-se
de 12,5 depois de chegar ao 3% de cal (teor que a variação é bem pequena devido aos baixos
mínimo a usar nas misturas). teores utilizados. As pesquisas apresentadas por
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Consoli et al. (2007), onde trata o solo com por compressão diametral foram moldados
cimento, e Consoli et al. (2001) que usa a cal de corpos de prova de 100 mm de altura e 50 mm
carbureto como material cimentante para o solo, de diâmetro. O silte foi secado totalmente em
pode-se notar que os pontos de moldagem nestas estufa a 100±5°C e logo colocado em porções
pesquisas são estratégicos. uniformemente distribuídas para serem
De acordo aos resultados dos ensaios de misturadas com os diferentes teores de cal.
compactação se tomaram como pontos de Coloca-se a quantidade de cal seca com
moldagem os pontos ótimos das curvas de referência ao peso seco da amostra do solo. Por
compactação nas três energias do solo: (Energia seguinte, realiza-se a mistura de maneira que a
Normal: EN, Energia Intermediária: EI e Energia mescla final se torna a mais homogênea possível.
Modificada: EM). Também denomina-se os Uma porcentagem de peso de água foi
pontos de moldagem como A1 (EN), A2 (EI) e adicionada na amostra de solo com cal e
A3 (EM). Onde A1 é d=13,80 kN/m3 e =28.5 misturada novamente para atingir a umidade
%, A2 é d=15,10 kN/m3 e =22.8 % e ótima. Durante a moldagem dos corpos de prova,
finalmente A3 é d=16,15 kN/m3 e =20 %. eram compactadas estaticamente duas camadas
Assim, com estes pontos de moldagem, variam- em um molde de aço inox com diâmetro interno
se a porosidade, o peso específico aparente seco de 50 mm e altura de 100 mm, para atingir o peso
e a umidade dos corpos de prova. específico seco aparente de moldagem. Depois
de ser compactado o corpo de prova é retirada do
Energia
molde com a ajuda de um extrator hidráulico,
16,5 A3 Normal
Energia
pesando-a em sequência em uma balança de
16
15,5
Intermediaria precisão de 0,01 g; tomando-se suas dimensões
A2 Energia
15 Modificada com o uso de um paquímetro. Logo após, eram
Sr=100%
envoltas com plástico transparente para
γd (kN/m3)

14,5
14 assegurar a conservação da umidade. Por último,
13,5 A1 levam-se os corpos de prova até a câmara úmida
13 para processo de cura durante 30 dias, com
12,5 Pontos de
moldagem temperatura média de 25°C. Além disso, os
12
11,5
corpos de prova tinham que respeitar as
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 seguintes condições para serem consideradas no
ω (%) ensaio de compressão simples e tração:

Figura 3. Curvas de compactação do solo e pontos de - Dimensões dos corpos de prova: variações de
moldagem diâmetro em ±0,5 mm e altura em ±1 mm;
- Massa específica aparente seca (γd ): dentro de
Tabela 2. Propriedades de compactação (energia normal)
do solo com diferentes teores de cal. ±1% do valor alvo;
Peso específico Umidade - Teor de umidade (w): dentro de ±0,5% do valor
Teor de cal seco
(%)
máximo, ótima, alvo.
γdmax (kN/m3) ω (%)
3 13,58 32,5 Os procedimentos dos ensaios de compressão
5 13,50 32,0 simples seguiram a norma americana ASTM D
7 13,50 31,5 5102 (ASTM, 1996) e os de tração a norma
9 13,50 30,0 ASTM C 496/C 496M (ASTM, 2004). Adota-se
a resistência à compressão não confinada ou
2.2.4 Ensaios de resistência à compressão simples (qu) como o quociente entre a carga de
simples e à tração por compressão diametral ruptura (PR) e a área transversal (AT) do corpo de
prova (qu= PR/AT) e adota-se a resistência à
Para os ensaios de compressão simples e tração tração por compressão diametral (qt) como o
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quociente entre a duas vezes carga de ruptura em seguida o aumento do teor de cal usado
(PR) e o produto entre PI (π), o diâmetro (D) e a também proporciona um aumento nos resultados
altura do corpo de prova (L): (qt= 2PR/ πDL). de qt. Fazendo uma comparação das resistências
qt dos pontos A3 e A1 (menor e maior peso
2.2.5 Ensaios de sucção matricial especifico seco de moldagem, respectivamente)
para 30 dias de cura pode-se mencionar que
A sucção é um dos parâmetros que interferem na houve um acréscimo em porcentagem de 88, 90,
resistência do solo, já que é definida como a 250, 239 e 165% na resistência qt com o emprego
capacidade do solo para reter a água. Assim, no de 0, 3, 5, 7 e 9% de cal.
presente trabalho se estudou a influência da De igual maneira que para os resultados de
sucção matricial na resistência das misturas solo- compressão simples, os resultados de qt seguem
cal com o uso da técnica do papel filtro usada por um comportamento linear com o aumento do
Marinho (1995). Foram usadas os corpos de tempo de cura da forma qt= a2*L + K2. O
prova de solo-ca (de 50 mm de diâmetro e 25 mm comportamento linear é proporcional também ao
de espessura) que foram submetidas a peso específico seco aparente de moldagem dos
compressão e tração. corpos de prova devido a que os valores das
constantes a e k crescem com o aumento de d
3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS tanto para qu como para qt. A través da regressão
linear se obtiveram os maiores valores de
3.1 Influência do teor de cal na resistência à coeficiente de determinação (desde 0,90 até
compressão simples e à tração indireta 0,98).

A Figura 4 (a) mostra os resultados de qu das 3.2 Influência da relação água/cal na


amostras depois de 30 dias de cura com a resistência à compressão simples e à tração
variação dos teores de cal de 0 até 9%. Observa- indireta
se que com o aumento do peso especifico seco
das amostras aumenta sua resistência à A influência do parâmetro água/agente
compressão simples, e, em seguida o aumento do cimentante se considera um fator importante
teor de cal usado também proporciona um para obter resistências à compressão simples
aumento nos resultados de qu. para uma relação desejada. No concreto armado,
Comparando as resistências qu dos pontos por exemplo, a relação água/cimento (A/C) é
A3 e A1 (menor e maior peso especifico seco de muito empregada para a estimativa da resistência
moldagem, respectivamente) para 30 dias de axial aos 28 dias de cura. No caso de solos
cura, pode-se mencionar que houve um melhorados com cal hidratada, pode-se estudar a
acréscimo em porcentagem de 115, 185, 243, influência da relação água/cal (A/L) na
297 e 234% na resistência qu com a utilização de resistência final das misturas.
0, 3, 5, 7 e 9% de cal. A melhor forma de Segundo as Figuras 5 (a) e 5 (b), a relação
representar o acrescimo de qu com o aumento do A/L varia de 2,4 a 6,8 para a energia modificada,
teor de cal foi com uma tendencia linear com a de 2,7-7,8 na energia intermediária e de 3,4-9,8
forma: qu= a1*L + K1, onde L é o teor de cal, a1 na energia normal, isto acontece devido a que o
e K1 são coeficientes obtidos por regressão de teor de umidade diminui ao aumentar a energia o
mínimos quadrados. grau de compactação com que foram moldadas
A Figura 4 (b) mostra os resultados de qt as misturas solo-cal. Tanto qu como qt aumentam
das amostras depois de 30 dias de cura com a com a diminuição de A/L e também com o
variação dos teores de cal de 0 até 9%. Observa- aumento da energia de compactação.
se que com o aumento do peso especifico seco
das amostras aumenta sua resistência à tração, e,
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4000 700
A1 :qu= 58,71 L+272,77 (R2=0,95) A1 :qt= 112,71 L+33,01 (R2=0,90)
3500 600
A2 :qu= 175,82 L+426,6 (R2=0,95) A2 :qt= 28,75 L+30,33 (R2=0,94)
3000 2
A3 :qu= 256 L+666,99 (R2=0,98) 500 A3 :qt= 45,63 L+50,93 (R =0,94)
2500
qu (kPa)

qt (kPa)
400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Teor de cal, L (%) Teor de cal, L (%)
a) Compressão simples b) Tração indireta
Figura 4. Influência do teor de cal na resistência qu e qt

4000 700
EN :qu=12,61(A/L)2-228,8(A/L)+1453,1 (R2=0,93) EN :qt=4,65(A/L)2-75,94(A/L)+364,9 (R2=0,93)
3500 =-1,71(A/L)2-191,9(A/L)+2425 (R2=0,99) EI :qt=7,36(A/L)2-119,9(A/L)+566,51 (R2=0,97)
EI :qu 600
2 2 EM :qt=7,68(A/L)2-148,1(A/L)+775,3 (R2=0,97)
EM :qu=42,61(A/L) -769,9(A/L)+4513,9 (R =0,99)
3000
500
2500
qu (kPa)

qt (kPa)

400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
2 3 4 5 6 7 8 9 10 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Relação Água/Cal (A/L) Relação Água/Cal (A/L)
a) Compressão simples b) Tração indireta
Figura 5. Influência da relação água/cal na resistência qu e qt

 Vs  Vs L
3.3 Influência da porosidade na resistência à ( d L ) ( d L ) (100)
compressão simples e à tração indireta 1+ 100 1+ 100 (1)
+
ss sL
Para Consoli et al. (2012) a porosidade tem uma η=100-100
influência na resistência dos solos estabilizados Vs
com cal, haja vista que quando se reduz os vazios
do solo, a mistura se torna mais rígida. A Onde VS é o volume total do corpo de
variação da tração e compressão com a prova em cm3, d é o peso específico seco
diminuição da porosidade foi avaliada na aparente de moldagem em g/cm3, L é teor de cal
presente pesquisa. A porosidade de um corpo de em porcentagem, e sS e sL são o peso unitário
prova solo-cal pode ser calculada como: dos grãos do solo e da cal, respectivamente dados
em g/cm3. Assim, as Figuras 6 (a) e 6 (b)
mostram a influência da porosidade na
resistência à compressão simples e à tração
indireta das misturas solo-cal para 30 dias de
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cura, respectivamente. Observa-se a variação da moldagem da energia modificada (A3),


porosidade de 39% a 49% para 3%, 5%, 7% e intermediário (A2) e normal (A1),
9% de cal. Se apresenta, também uma relação respectivamente. A melhor maneira de
inversamente proporcional da porosidade com qu caracterizar a variação da porosidade (na faixa
e qt, pois a medida que a porosidade diminui o qu estudada) e os resultados da resistência à
e qt aumentam, essa relação aplica para os teores compressão simples e tração foi através de uma
de cal dentro da faixa estudada. De acordo à curva linear já que através dela se obtiveram os
Figura 6 (a) e 6 (b) e aplicando a Equação 1, são maiores valores de coeficiente de determinação
encontrados 3 valores médios de porosidade de (desde 0,88 até 0,99).
39,5, 43,5 e 48,5 correspondentes ao ponto de

4000 700
L=3% :qu=-85,41η+4583,7 (R2=0,98)
3500 L=3% :qt=-6,8η+30,9 (R2=0,88)
L=5% :qu=-158,33η+8332 (R2=0,99) 600
L=5% :qt=-23,03η+1195,3 (R2=0,94)
3000 L=7% :qu=-218,21η+11200 (R2=0,98)
L=9% :qu=-223,02η+11639 (R2=0,99) 500 L=7% :qt=-29,41η+1521,9 (R2=0,97)
2500 L=9% :qt=-33,30η+1769,2 (R2=0,93)
qu (kPa)

qt (kPa)
400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
Porosidade (η) Porosidade (η)
a) Compressão simples b) Tração indireta
Figura 6. Influência da porosidade na resistência qu e qt

Para qt e qu η/Lv varia de 20 a 29,2 para L=3%,


3.4 Influência da relação porosidade/teor de 12 a 17,7 para L=5%, de 9 a 13 para L=7% e
volumétrico de cal (η/Lv)na resistência à finalmente de 6,9 a 10 para L=9%, os resultados
compressão simples e à tração indireta de qu vs η/Lv e qt vs η/Lv mostram que com o
aumento do teor de cal a variação de η/Lv vai
As Figuras 7 (a) e 7 (b) mostram a influência da diminuindo, isto ocorre porque os menores
relação porosidade/teor volumétrico de cal na teores de cal nos pontos de moldagem
resistência à compressão simples e à tração representam maior dispersão de η/Lv e poucos
indireta para 30 dias de cura, respectivamente. O ganhos de resistência à compressão simples e à
teor volumétrico de cal (Lv) é definido como a tração como é possível observar nas Figuras 7 (a)
razão entre volume cal pelo volume de um corpo e 7 (b). A variação de η/Lv se manteve constante
de prova (Equação 2). O teor volumétrico para qu e qt, assim qu e qt vai aumentando
aumenta com o aumento do teor de cal enquanto proporcionalmente ao teor de cal dos corpos de
a relação porosidade/teor volumétrico diminui. prova. Embora exista uma tendência linear dos
pontos para cada teor de cal, os pontos
Vs γd L experimentais de todos os teores apresentam
((1+L/100 (100)) /sL ) uma leve tendência potencial não bem definida.
(2)
Lv =
Vs
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4000 700
L=3% :qu=-86,17(η/Lv)+2906,5 (R2=0,97) L=3% :qt=-6,85(η/Lv)+256,7 (R2=0,86)z
3500 2
L=5% :qu=-259,83(η/Lv)+5212,1 (R =0,99) 600 L=5% :qt=-37,75(η/Lv)+740,2 (R2=0,92)
L=7% :qu=-504,91(η/Lv)+7041,9 (R2=0,99)
3000 L=7% :qt=-66,72(η/Lv)+947,6 (R2=0,96)
L=9% :qu=-648,36(η/Lv)+7385,9 (R2=0,99) 500 2
L=9% :qt=-95,52(η/Lv)+1122,7 (R =0,92)
2500
qu (kPa)

qt (kPa)
400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
η/Lv η/Lv
a) Compressão simples b) Tração indireta
Figura 7. Influência da relação porosidade/teor volumétrico de cal na resistência qu e qt

.5 Relação entre a resistência à tração indireta compactação, assim 3 delas eram tomadas para
e a resistência à compressão simples realizar ensaios de compressão e 3 para ensaio de
tração. Assim, a Figura 8 (b) mostra uma relação
global entre a tração e a compressão para todos
A relação entre a resistência à tração por os teores de cal e todas as energias de
compressão diametral e a compressão simples é compactação. Observa-se que a relação global de
uma variável muito importante na mecânica de qt e qu sem depender da relação porosidade/teor
solos cimentados artificialmente, já que com a volumétrico de cal ajustado η/Lv0,20 é de 0,16
obtenção de uma das duas resistências se pode com coeficiente de determinação de 0,94. A
fazer uma estimativa da outra. Segundo Consoli relação constante de 0,16 também foi encontrada
et al. (2014) pode-se encontrar uma tendência por Consoli et al. (2012).
única dos pontos da resistência à compressão e à
tração se o teor volumétrico de cal (Lv) é ajustado 3.6 Influência da sucção matricial na
a um exponente. No caso da presente pesquisa o resistência mecânica das amostras
exponente com o qual os pontos se organizam e
se obtém os melhores coeficientes de Depois de realizados os ensaios de compressão
determinação é de 0,20. simples e tração por compressão diametral, foi
Na Figura 8 (a) se pode perceber um medida a sucção matricial mediante a técnica do
aumento potencial da resistência à tração e à papel filtro. Os corpos de prova apresentaram
compressão das misturas de solo com cal. Assim, uma variação de ±0,5% do teor de umidade
é possível estabelecer uma relação entre qt e qu inicial, estando a saturação compreendida entre
tendo em consideração a relação η/Lv0,20. O valor 80% e 82,5%. A sucção calculada com o papel
de qt/qu encontrado foi de 0,16, ou seja, o valor filtro apresentou resultados de 1% até 5,5% dos
da tração é 16% do valor da compressão. valores da resistência à compressão e tração.
Outra forma para o encontrar a relação entre a Pode-se concluir que para estes valores a sucção
tração indireta e a compressão simples de não se torna em uma variável relevante para as
maneira direta é colocar em um mesmo plano análises do presente estudo.
cartesiano os valores correspondentes de qt e qu
das amostras, ou seja, para um teor de cal usado
nos ensaios de resistência eram moldados 6
corpos de prova para uma energia de
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700

600 qt= 0,16 qu (R2=0,94)


500

qt (kPa)
400

300

200

100

0
0 1000 2000 3000 4000
qu (kPa)

b) Relação qt/qu sem o uso da relação η/Lv


a) Relação qt/qu com o uso da relação η/Lv
Figura 8. Relação entre a tração e a compressão simples

3 CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
Observa-se que a mistura solo-cal é uma solução
bastante eficaz para estabilizar solos, Os autores querem agradecer o apoio do
principalmente quando o solo encontrado nos Programa de Pós-Graduação em Engenharia
locais de obra não atende aos requisitos exigidos Civil (PPGEC) da Universidade Tecnológica
para realização de obras de barragens e Federal do Paraná (Curitiba, Brazil). Também
pavimentação. O uso de cal em solos com baixas querem agradecer às instituições de fomento de
capacidades mecânicas é de importância pesquisa brasileiras CNPq, CAPES e Fundação
significativa, pois a adição de cal ao solo Araucária do Paraná pelo apoio financiero
acrescentou em mais de 4 vezes a resistência à
compressão simples e de 6 vezes a resistência à REFERÊNCIAS
tração do solo usado para a pesquisa.
Existe uma relação direta e proporcional American Society For Testing Materials. ASTM D 5102.
entre o teor de cal usado, o tempo de cura (1996). Standard Test Method for Unconfined
Compressive Strength of Compacted Soil-Lime
empregado e a resistência à compressão simples Mixtures.
e à tração indireta, elevando a resistência American Society For Testing Materials. C. 496/C 496M–
gradualmente em curto período de análise; com 04. (2004). Splitting Tensile Strength of Cylindrical
resultados satisfatórios à compressão simples e à Concrete Specimens. American Society for Testing and
tração. Assim, a resistência à compressão Materials (ASTM) Committee C, v. 9.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7175.
simples qu e tração qt teve um aumento linear (2003). Cal hidratada para argamassas.
com o aumento do teor da cal e com o aumento Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182.
do tempo de cura. (2016). Ensaio de compactação.
Existe uma relação constante entre tração e Consoli, N. C., Prietto, P. D. M., Carraro, J. A. H.,
compressão simples para o solo estudado com Heineck, K. S. (2001). Behavior of compacted soil-fly
ash-carbide lime mixtures. Journal of Geotechnical
cal em 30 dias de cura igual a 0,16. Em and Geoenvironmental Engineering, v. 127, n. 9, 774-
contrapartida, o teor de cal mínimo a ser usado 782.
está limitado pelas reações imediatas da cal com Consoli, N. C., Foppa, D., Festugato, L., e Heineck, K. S.
o solo e pelo pH. (2007). Key parameters for strength control of
artificially cemented soils. Journal of geotechnical and
geoenvironmental engineering. v. 133, n. 2, 197-205.
Consoli, N. C., Dalla Rosa Johann, A., Gauer, E. A., Dos
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Santos, V. R., Moretto, R. L., e Corte, M. B. (2012).


Key parameters for tensile and compressive strength of
silt–lime mixtures. Géotechnique Letters, 2(3), 81-85.
Consoli, N. C., Prietto, P. D. M., da Silva Lopes, L., e
Winter, D. (2014). Control factors for the long term
compressive strength of lime treated sandy clay soil.
Transportation Geotechnics, 1(3), 129-136.
Das, B.M. (2000). Fundamentals of Geotechnical
Engineering, Brooks/Cole, Pacific.
Guimarães, J. E. P. (2002). A cal – Fundamentos e
aplicações na engenharia civil. 2. ed., São Paulo: Pini.
341p.
Ingles, O. G.; Metcalf, J. B. (1972). Soil Stabilization. In:
Principles and Practice. Sidney: Butterworths. 374p.
Lima, D. C.; Röhm, S. A.; Barbosa, P. S. A. (1993).
Estabilização dos solos III – mistura solo-cal para fins
rodoviários. 1. ed., Viçosa: Universidade Federal de
Viçosa, 46p.
Marinho, F. A. M. (1995). Suction measurement through
filter paper technique. Proc., Unsaturated Soils
Seminar. Porto Alegre, Brazil: UFRGS.
Rogers, C. D. F., Glendinning, S., e Roff, T. E. J. (1997).
Lime modification of clay soils for construction
expediency. In Proceedings of the Institution of Civil
Engineers: Geotechnical Engineering (Vol. 125, No.
4).
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Adição de cal hidratada em três solos da Formação Guabirotuba:


relação entre resistência à compressão simples e à tração por
compressão diametral
Ronaldo Luis dos Santos Izzo
UTFPR, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

Juliana Lundgren Rose


UTFPR, Curitiba, Brasil, julrose@gmail.com

Jair Arrieta Baldovino


UTFPR, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

Eclesielter Batista Moreira


UFRGS, Porto Alegre, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

João Luiz Rissardi


UTFPR, Curitiba, Brasil, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo determinar a relação entre a resistência à tração
indireta (qt ou STS) e a resistência à compressão simples (qu ou UCS). Para isso, foram utilizados três
solos da Formação Geológica de Guabirotuba, Curitiba (Brasil). Os solos foram coletados em
diferentes horizontes da Formação, e então moldaram-se corpos de prova de 50 mm de diâmetro e
100 mm de altura, para submetê-los aos ensaios de tração indireta e de compressão simples. As
amostras foram estabilizadas nos teores de 3, 5, 7 e 9% de cal e curados por um período de 30 dias,
em câmara úmida apropriada. Os corpos de prova foram moldados em diferentes pesos específicos
secos aparentes e umidades para variar o valor da porosidade, do volume dos vazios e do volume de
cal. Variáveis como a relação de volume de vazios por volume de cal e porosidade por teor
volumétrico de cal (η/Lv) foram avaliadas e, também, sua influência sobre a relação qt/qu. Os
resultados demostraram que o valor de qt varia entre 10% e 16% do valor de qu para os três solos
estudados. Os resultados também demonstraram que, qt e qu seguem uma única tendência
exponencial, quando normalizados, na análise da relação η/Lv.

PALAVRAS-CHAVE: Formação Guabirotuba, Solo-Cal, Resistência Mecânica.

1 INTRODUÇÃO importantes nos solos estabilizados com cal


incluem: coagulação, agregação, afinidade
Os solos coesivos misturados com cal e depois reduzida para a água, compatibilidade melhorada
compactados (solo-cal) são denominados solos e maior resistência mecânica. Outro efeito
estabilizados. As reações entre a cal e os importante com a adição de cal é a diminuição
minerais de argila presentes no solo resultam em da expansão e da contração nos solos (Emarah e
mudanças das propriedades plásticas e estrutura Seleem, 2017; Belchior et al., 2017; Abd el-aziz
do solo e, portanto, em uma maior capacidade de et al., 2013; Schanz et al., 2017; Robin et al.,
suporte. Schanz et al. (2017), Abd el-aziz et al. 2015; Thyagaraj et al., 2014). Um dos efeitos
(2013), Alrubaye et al. (2017) e Mohd Yunus et mais importante da adição de cal é o ganho na
al. (2017) indicam que as mudanças mais resistência mecânica, cujo aumento depende de
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vários fatores como, o tempo de cura, o teor de minerais de argila e, portanto, facilita o
cal usado e a temperatura. A primeira reação desenvolvimento de novos minerais, através de
entre solo e cal é um aumento imediato no pH da reações pozolânicas responsáveis pela formação
água do solo, devido à dissolução parcial de dos agentes cimentantes. A reação prossegue
Ca(OH)2. somente enquanto a água está presente e é capaz
As melhoras no ponto de vista geotécnico das de transportar íons de cálcio e hidroxilas para a
misturas solo-cal, são atribuídas a quatro reações superfície da argila. Os minerais de argila que
básicas: geralmente são encontrados em solos residuais
Troca de cátions: As ordens de substituição tropicais, como a caulinita, a haloisita e os
dos cátions comuns associados aos solos são hidróxidos de alumínio cristalizado, também
dadas pela série isotrópica: Na+ < K+ < Ca++ < contribuem para as reações pozolânicas,
Mg++. Um cátion vai ter uma tendência à enquanto os compostos de ferro são
esquerda dela, e os cátions monovalentes são considerados nocivos ou neutros (de Brito
geralmente substituíveis por cátions Galvão et al., 2004). Os principais componentes
multivalentes. Em alguns casos, o complexo de dos solos lateríticos tropicais que são
troca é praticamente Ca++ saturado antes da responsáveis por reações pozolânicas e as
adição de cal e a troca de cátions não acontece, reações a longo prazo são: sílica amorfa e
ou é minimizada. alumina (Townsend et al., 1971). Quando
Floculação e aglomeração de partículas: adicionada a um solo, a cal induz uma redução
Essas reações resultam em mudanças aparentes do teor de água por hidratação (formação de
na textura (junto com a troca de cátions), são hidróxido de cálcio a partir de óxido de cálcio) e
principalmente responsáveis pelas mudanças na evaporação (reação de hidratação exotérmica),
plasticidade, características de expansão e também provoca a floculação das partículas,
contração e na trabalhabilidade, mas não produz reduzindo ainda mais a plasticidade do solo.
aumento na resistência mecânica das misturas Além disso, leva à formação de compostos
solo-cal. cimentantes através de reações pozolânicas, que
Carbonatação da cal: A cal reage com o unem as partículas do solo e resultam na
dióxido de carbono para formar os agentes de melhoria da viabilidade do solo e do seu
cimentação: carbonatos de Ca e Mg. A comportamento mecânico, a longo prazo após a
Carbonatação da cal é uma das reações mais compactação (Bourokba Mrabent et al., 2017).
lentas e seu efeito pode aparecer em dias, meses A relação tração/compressão fornece um
ou anos (Ola, 1978). parâmetro de grande utilidade. Com esse
Reação pozolânica: Esta é uma reação entre a parâmetro pode-se estimar valores de qt ou qu
sílica do solo e a alumina da cal para formar partindo de um valor real único entre eles,
vários tipos de agentes de cimentação. Os também pode-se estabelecer resistências
agentes de cimentação são geralmente mecânicas empíricas de maneira rápida em
considerados como a principal fonte para o campo. Alguns autores manifestam a
aumento na resistência mecânica da mistura. importância da relação qt/qu. Thomsom (1965),
Semelhante à carbonatação da cal, a reação por exemplo, encontrou valores de qt/qu entre
pozolânica pode acontecer desde dias até anos. 0,10 e 0,16 para diferentes solos finos
De acordo com Ingles e Metcalf (1972), a cal estabilizados com cal, em diferentes tempos de
reage com minerais de argila para formar um gel cura. Consoli et al. (2012a) avaliou o
de silicato de cálcio hidrossolúvel. Com o tempo, comportamento mecânico de um solo siltoso
este gel cristaliza gradualmente em agentes de tratado com cal com 30 dias de cura, encontrando
cimentação bem definidos, tais como hidratos de um valor de qt/qu igual a 0,16. Consoli et al.
cálcio, silicato e hidrato de aluminato de cálcio. (2012b) encontrou um valor da relação qt/qu
A alta alcalinidade em presença de água altera as igual a 0,15 para um silte reforçado com fibras
condições físico-químicas das superfícies de polipropileno e com cal hidratada. Por outro
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lado, os estudos realizados por Johann (2013)


revelaram que em média qt/qu é de 0,09.
Recentemente, Novaes (2016) encontrou uma Tabela 1. Propriedades físicas dos solos
relação qt/qu de 0,13 para misturas de cal de Propriedade Solo 1 Solo 2 Solo 3
Limite de liquidez 53,1% 50,4% 47,74%
carbureto com cinza volante.
Índice de 21,3% 14,41% 14,24%
Assim, o presente trabalho procura calcular a plasticidade
relação qt/qu de três solos da Formação Massa especifica 2,71 2,63 2,61
Guabirotuba da cidade de Curitiba, Brasil, real dos grãos
tratados com cal hidratada e com 30 dias de cura. Areia grossa (2,0 0% 6,0% 2,81%
mm < < 4,75 mm)
Areia média (0,42 7,5% 12,0% 6,52%
2 MATERIAIS mm<  <2,0 mm)
Areia fina (0,075 25,9% 15,0% 16,38%
2.1 Solos mm <  < 0,42
mm)
Três tipos de solos foram usados para estudar a Silte (0,002 mm < 57,6% 53,0% 54,0%
sua relação de tração/compressão simples. A  < 0,075 mm)
Argila ( < 0,002 9,3% 14,0% 20,29%
Tabela 1 apresenta as propriedades físicas dos mm)
solos. O solo 1 foi coletado no Município Diâmetro efetivo 0,025 0,030 0,034mm
Fazenda Rio Grande/PR, o solo 2 foi coletado no (D50) mm mm
Município São José dos Pinhais/PR e solo 3 foi Classificação pelo MH MH ML
coletado no Município de Curitiba/PR, onde SUCS
todos fazem parte da mesma Formação
Geológica Guabirotuba. Segundo a classificação
unificada de solos (SUCS), os três solos são 2.2 Água
classificados como silte elástico com areia
(MH). A água empregada tanto para a moldagem de
O solo 1 apresenta uma coloração vermelha corpos de prova como para os ensaios de
suave, o solo 2 uma coloração amarela e o solo 3 caracterização do solo foi destilada conforme as
uma coloratura vermelha, as amostras de solo especificações das normas, enquanto está livre
são apresentadas na Figura 1, demonstrando de impurezas e evita as reações não desejadas.
assim a diferença de coloração. Os ensaios de
granulometria dos solos foram realizados de 2.3 Cal
acordo à ASTM D2487 (ASTM, 2000), limites
de Atterberg dos solos de acordo à ASTM 4318 A cal usada para o estudo foi uma cal hidratada
(ASTM, 2010) e massa específica real dos grãos dolomítica CH-III composta principalmente por
dos solos de acordo à ASTM D854 (ASTM, hidróxidos de cálcio -Ca(OH)2- e magnésio-
2014). Mg(OH)2-, produzida no município de
Almirante Tamandaré, região metropolitana de
Curitiba. O percentual retido acumulado no
diâmetro 0,075 mm foi de 9% (≤15%, como
especifica a norma NBR 7175 de 2003). A massa
específica da cal é igual a 2,39 g/cm3.

3 METODOLOGIA

3.1 Ensaios de compressão simples e tração


Solo 1 Solo 2 Solo 3 por compressão diametral
Figura 1. Coloraturas dos solos
Para os ensaios de compressão simples e tração
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por compressão diametral foram moldados capacidade de 4,5 kN e 10 kN. Os ensaios foram
corpos de prova de 100 mm de altura e 50 mm feitos com um sistema de coleta de dados
de diâmetro. Os três solos foram secados automatizado, medindo, principalmente, a força
totalmente em estufa a temperatura de 100±5°C aplicada, a deformação, com sensibilidade de
e logo colocados em porções uniformemente 0,001 mm, e a velocidade (1 mm/s) do ensaio.
distribuídas para ser misturados com diferentes Os procedimentos dos ensaios de compressão
teores de cal. Adicionou-se a quantidade de cal simples seguiram a norma brasileira NBR 12770
seca com referência ao peso seco da amostra de (ABNT, 1992). A resistência a compressão
solo. Realizou-se a mistura do solo com a cal de simples é o valor da carga máxima de ruptura do
modo que a mistura ficasse a mais homogênea material ou o valor da pressão correspondente à
possível. Em seguida, foi adicionada uma carga na qual ocorre deformação específica do
porcentagem de água em peso, sendo esta cilindro de 20%, naqueles casos em que a curva
porcentagem referente ao teor de água ótimo da tensão-deformação axial não apresenta um pico
mistura definida pelos pontos de moldagem. máximo. Adota-se a resistência à compressão
As amostras para a moldagem dos corpos de não confinada ou simples (qu) de acordo com a
prova foram compactadas estaticamente em duas seguinte expressão, quando, no ensaio a curva
camadas com um molde de aço inox com tensão-deformação axial, alcança-se um pico
diâmetro interno de 50 mm, altura de 100 mm e máximo:
espessura de 5mm, nas condições ótimas. Para
assegurar o peso específico, foi realizado o
cálculo do volume do molde e do peso de mistura PR
qu = (1)
úmida necessários para cada corpo de prova. AT
Após esses cálculos, foram pesados a quantidade
necessária para cada corpo de prova. Depois do
processo de compactação, a amostra foi retirada Onde PR é a carga de ruptura no pico da curva
do molde com a ajuda de um extrator hidráulico. tensão-deformação axial e AT é a área transversal
Os corpos de prova foram pesados em uma corrigida do corpo de prova. Para os ensaios de
balança de precisão de 0,01 g e eram tomadas as tração por compressão diametral foi usada a
dimensões do mesmo com o uso de um mesma prensa que se usou para os ensaios de
paquímetro de 0,1 mm de erro. Os corpos de compressão simples. O ensaio de tração por
provas extraídos foram envoltos com plástico compressão diametral, também chamado de
transparente para assegurar a não perda da ensaio de tração indireta ou ensaio brasileiro, foi
umidade. Por último, levou-se os corpos de desenvolvido de maneira independente no Brasil
prova para câmara úmida para processo de cura e no Japão em 1943. O ensaio é realizado por
durante 30 dias a temperatura média de 25°C, meio da aplicação de uma carga de compressão
para prevenir mudanças significativas no em um corpo de prova cilíndrico que se encontra
controle de umidade até o dia do ensaio. As entre duas peças retangulares, com dimensões
amostras tinham que respeitar os seguintes erros em função do diâmetro do corpo de prova,
máximos para serem usadas para o ensaio de localizadas de maneira diametralmente opostas,
compressão simples e tração por compressão conforme a Figura 2.
diametral: dimensões das amostras com
Placa de 4 mm de espessura
diâmetro de ±0,5 mm e altura de ±1mm, massa
4 mm
específica aparente seca (γd ) de ±1% e teor de
umidade () de ±0,5%. Corpo de prova solo-cal
50 mm
Para a realização dos ensaios de
compressão simples foi usada uma prensa
4 mm
automática com capacidade máxima de 10 kN
com anéis calibrados para carga axial com D=50 mm 100 mm
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Figura 2. Corpo de prova solo-cal submetido ao ensaio de Os corpos de prova moldados para a realização
tração por compressão diametral dos ensaios de resistência à compressão e à
tração estão compostos por 4 fases volumétricas
A resistência à tração por compressão e de peso: solo, cal, água e ar. A quantidade de
diametral ou tração indireta é calculada com a cal seca em pó (por exemplo: 3%, 5%, 7%, 9%)
seguinte expressão: é adicionada em referência à massa seca do solo,
sendo a massa seca dos sólidos do corpo de prova
2 PR (2)
qt = calculada como:
𝜋𝐷𝐿
L
Onde PR é a carga de ruptura no pico da curva Wds =Wd +Wd ( ) (3)
100
tensão-deformação diametral, D e L são o
diâmetro e o comprimento do corpo de prova, Onde Wds é a massa seca dos sólidos
respectivamente. Os ensaios de resistência à (solo+cal), Wd é a massa seca do solo e L é a
tração indireta seguiram as recomendações da quantidade adicionada de cal em porcentagem.
norma brasileira ASTM C496-96 (ASTM, Então da Equação (3), Wd pode ser calculado
1996). Os corpos de prova para os ensaios de como:
resistência à compressão e tração foram imersos Wds
em água destilada 24 horas antes dos testes com Wd =
L (4)
a finalidade de diminuir o efeito da sucção. 1+ 100

3.2 Pontos de moldagem O valor de Wds pode ser encontrado se o peso


específico seco aparente de moldagem do corpo
Os pontos de moldagem foram escolhidos de de prova (d) é multiplicado por seu volume (Vs).
maneira que variasse a porosidade e o peso Assim, o valor de Wd resulta:
específico seco aparente dos corpos de prova
para estudar o efeito da relação vazios/cal ou d Vs
porosidade/teor volumétrico de cal sobre a Wd =
L (5)
resistência à compressão simples e tração por 1+ 100
compressão diametral, tal e como proposto nos
estudos de Consoli et al. (2012a, 2012b). Assim, Para encontrar o valor do volume de solo (Vss)
o Quadro 2 apresenta os pontos de moldagem contido no corpo de prova, deve-se dividir a
escolhidos para cada tipo de solo como também Equação (5) pelo peso específico dos grãos do
o número de corpos de prova. solo (s). Onde s é Gss multiplicado pelo peso
específico da água (s= Gssw). O valor de Vss
Tabela 2. Pontos de moldagem e número de corpos de resulta em:
prova
Quantidade
Solo d (g/cm )
3
 (%) L (%)
de CPs d Vs
Solo 1 1,38 28,5 3,5,7 e 72 (para qt e L
1+ 100 (6)
1,52 e 20 e 9 qu)
Vss =
1,62 22,5 Gss w
Solo 2 1,65 17,9 5, 7 e 9 18 (para qt e
1,50 e 21,9 e qu)
1,35 27 Da mesma maneira o peso da cal (ML) pode
Solo 3 1,60 e 25 3, 5, 7 e 24 (para qt e ser calculado como uma porcentagem de Wd
1,41 9 qu) [Equação (5)]. Assim, o volume da cal (VL)
também pode ser calculado se seu peso é divido
3.3 Relações peso-volume dos corpos de pela massa seca específica dos grãos de cal L
prova solo-cal (L= GsLw):
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compressão simples varia entre 435 e 3010 kPa


e a tração varia entre 65 e 520 kPa. A Figura 4
d Vs L
( apresenta os resultados de tração e compressão
L ) (100) (7)
1+ 100 simples do solo 2 tratado com cal; os valores de
VL = qu variaram entre 190 e 1020 kPa e os valores de
GsL w
qt variaram entre 20 e 110 kPa. Finalmente, a
Figura 5 exibe os resultados de qu e qt do solo 3
O valor da porosidade pode ser calculado misturado com cal mostrando valores de
como: compressão entre 800 e 3800 kPa e de tração
entre 115 e 425 kPa. Os valores de qt e qu foram
Vss +VL
η=100-100 (8) estudados e plotados influenciados pela relação
Vs porosidade/teor volumétrico de cal obtida pela
divisão das Equações (9) e (10). A relação η/Lv
Colocando as Equações (6) e (7) na Equação constitui-se como o principal parâmetro que
(8) produz a expressão geral para determinar a influência nos valores de resistência de solos
porosidade de qualquer corpo de prova solo-cal: cimentados artificialmente (Consoli et al.,
2012a; 2012b). Para fornecer uma melhor
tendência dos pontos experimentais de
d Vs d Vs L resistência e obter um melhor coeficiente de
( L ) ( L ) (100)
1+ 100 1+ 100 (9) determinação o valor do teor volumétrico de cal
ss + sL ajusta-se a um exponente C. O exponente C
η=100-100 depende do tipo de solo e do tipo de agente
Vs
cimentante. Na presente pesquisa o valor de C
foi obtido entre 0,1 e 1,0 com variações de 0,01.
O teor volumétrico de cal é definido como a
Para o solo 1 o valor de C que forneceu o melhor
razão entre volume cal pelo volume de um corpo
ajuste para os pontos experimentais de tração e
de prova. Lv pode ser calculado com a Equação
compressão foi de 0,20; para o solo 2 foi de 0,10
(10):
e para o solo 3 foi de 0,15 como pode ser visto
nas Figuras 3, 4 e 5, respectivamente.
Vs γd L
100 (( ( )) /GsL )
1+L/100 100 (10)
Lv =
Vs 3500

3000 Compressão :qu=670·107(η/Lv0,20)-4,39


O teor volumétrico aumenta com o aumento (R2=0,92)
do teor de cal enquanto a relação porosidade/teor 2500 Tração :qt=105·107(η/Lv0,20)-4,39
qu e qt (kPa)

volumétrico diminui. Assim, pode-se estabelecer (R2=0,95)


2000
segundo Consoli et al. (2012a) uma relação entre qt/qu=0,16
os vazios e cal denominada relação vazios/cal ou 1500
porosidade/teor volumétrico de cal:
1000
η VV /VS VV Volume de Vazios
= = = (11) 500
Lv VL /Vs VL Volume de Cal
0
26 29 32 35 38 41 44
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
η/Lv 0,20

A Figura 3 mostra os resultados dos ensaios de Figura 3. Relação tração/compressão do solo 1


resistência à compressão simples e à tração
indireta para o solo 1. Nota-se que a resistência à
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1200 cresce com o tempo de cura, o que significa que


as resistências qt e qu também aumenta, já o valor
Compressão :qu=655·107(η/Lv0,10)-4,56
1000 (R2=0,95) de B fica constante com o tempo de cura. Assim,
Tração :qt=68·107(η/Lv0,10)-4,56 se a tração e a compressão simples seguem a
(R2=0,99)
800
mesma equação, pode-se determinar um
qu e qt (kPa)

qt/qu=0,10 quociente qt/qu para cada tipo de solo estudado.


600
Ao realizar a operação matemática o valor
(η/LvC)-B é eliminado pela divisão, sendo o valor
de qt/qu dependente da constante A em função da
400
tração f(qt) e da compressão simples f(qu).
Assim, qt/qu é independente de η/Lv:
200

-B
0
η
30 32 34 36 38 40 42 44 qt =Af(qt) ( C )
η/Lv0,10 Lv Af(qt)
-B → qt /qu = (13)
Figura 4. Relação tração/compressão do solo 2
η Af(qu)
qu =Af(qu) ( C )
4500 Lv
4000 Compressão :qu=3050·107(η/Lv0,15)-4,56
(R2=0,94) A Figura 3, 4 e 5 apresentam a forma da
3500 Tração :qt=335·107(η/Lv0,15)-4,56
(R2=0,90)
Equação (12) tanto para tração como para
3000 compressão. Obteve-se para cada tipo de solo
qu e qt (kPa)

qt/qu=0,11
2500 uma relação empírica única tração/compressão
com o uso da relação (η/LvC). Assim, para o solo
2000
1 valor encontrado de qt/qu foi de 0,16; para o
1500 solo 2 foi de 0,10 e para o solo 3 de 0,11. Ou seja,
1000 o valor da tração indireta representa um 16%,
500
10% e 11% do valor da compressão simples para
o solo 1, 2 e 3, respectivamente.
0
31 33 35 37 39 41 43 45 Outra forma de representar um crescimento
η/Lv0,15 único da resistência qu e qt dos três tipos de solos
Figura 5. Relação tração/compressão do solo 3 é mediante a normalização (divisão) das
resistências. Segundo Consoli et al. (2017) a
As Figuras 3-5 exibem um crescimento da normalização é obtida dividindo a Equação (12)
resistência à tração e à compressão simples com por um valor específico arbitrário de resistência
a diminuição da relação vazios cal ajustada a um à compressão simples e à tração, correspondente
exponente C (η/LvC). O uso de η/LvC fornece a um valor de um dado ajustado de porosidade,
excelentes ajuntes (coeficientes de determinação η/LvC =Ω, que leva a:
entre 0,90 e 0,99) da evolução de qu e qt. A
evolução de qu e qt é descrita por uma equação qu
ou
potencial que segue a forma: η
qu ( C =Ω)
Lv
-B -B (14)
η qt A(η/Lv C ) C -B
qu 𝑜𝑢 q𝑡 =A ( C ) (12) = B
=(Ω) (η/Lv )
Lv η A(Ω)-B
qt ( C =Ω)
Lv
Onde A e B são constantes dependentes dos
ajustes matemáticos. Segundo Baldovino et al. O valor de Ω pode ser escolhido da faixa de
(2017) e Consoli et al. (2012b) o valor de A
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η/LvC média dos três tipos de solos. Para o que descreve o comportamento de qt e qu para os
presente trabalho foi escolhido o 35. Assim, com três solos:
o valor de  = 35, a Equação (14) se converte
em: qu
ou
η
qu qt -B qu ( C =35)
ou = A(η/Lv C ) Lv
η η (15) qt -4,59
(16)
qu ( =35) qt ( =35) = 11831784(η/Lv C )
Lv C Lv C
η
qt ( C =35)
Lv
Cada valor real de qt e qu deve ser divido pela
sua respectiva resistência de normalização
A Equação (16) pode ser empregada para
resultante de valor específico de η/LvC=35 e
estimar a resistência de qualquer dos 3 tipos de
calculado com as expressões que seguem a
solos estudados com o uso da relação η/LvC ou
forma da Equação (12) para cada um dos solos.
pode estender-se a outro tipo de solos da
Formação Guabirotuba com similar
5
granulometria, limites de Atterberg e massa
4.5
Solo 1 Solo 2 Solo 3 específica real dos grãos. O valor de C está
4 qu/qu(η/LvC=35) ou relacionado diretamente com o tipo de solo e tipo
qt/qt(η/LvC=35)=11831784(η/LvC=35)-4,59
qu/qu (η/LvC=35)-B ou

3.5
(R2=0,94)
de agente cimentante.
qt/qt(η/LvC=35)-B

3
2.5 4 CONCLUSÕES
2
1.5
Dos resultados e das análises apresentadas no
trabalho pode concluir-se que a adição de cal faz
1
aumentar a resistência à tração indireta e à
0.5
compressão simples de três tipos de solos da
0 Formação Guabirotuba. O emprego da relação
25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45
η/LvC vazios/cal forneceu uma melhor tendência dos
Figura 6. Normalização das resistencias dos solos pontos experimentais podendo-se estabelecer
estabilizados com cal uma relação única de tração/compressão para
tipo de solo que variou entre 0,10 e 0,16. Por
Os valores de resistência normalizada para o outra parte foi demonstrado que a diminuição
solo 1 são então: 1115,9 e 174,9 kPa para dos vazios nas amostras e o aumento do volume
compressão e tração, respectivamente. Para o de cal nos corpos de prova faz aumentar qu e qt.
solo as resistências de normalização são: 596,1 e Finalmente, uma equação geral de estimativa da
61,9 kPa para compressão e tração, resistência dos três tipos de solo foi calculada
respectivamente; e finalmente para o solo 3 as com o uso da relação η/LvC=35 e que pode
resistências de normalização são: 2876,1 e 315,9 estender-se como uma relação única devido a
kPa para compressão e tração, respectivamente. que apresentou um bom coeficiente de
Quando cada valor experimental de resistência é determinação (0,94).
dividido pela sua respectiva resistência de
normalização é obtido um valor cociente. Os AGRADECIMENTOS
valores cocientes de compressão e tração indireta
dos três tipos de solos estudados formam uma Os autores agradecem ao Programa de Pós-
mesma tendência potencial descrita pela graduação em Engenharia Civil da Universidade
Equação (15) e mostrada na Figura 6 junto com Tecnológica Federal do Paraná
a normalização das resistências. Assim, a (PPGEC/UTFPR), à CAPES e CNPq pelo
Equação (16) converte-se e, uma equação única suporte financeiro.
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Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
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Adição de cimento Portland em um solo sedimentar de Curitiba/PR:


efeito da porosidade, teor de cimento e peso específico seco de
moldagem na resistência
Jair Arrieta Baldovino
UTFPR, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

Eclesielter Batista Moreira


UFRGS, Porto Alegre, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


UTFPR, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

João Luiz Rissardi


UTFPR, Curitiba, Brasil, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Juliana Lundgren Rose


UTFPR, Curitiba, Brasil, julrose@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de equações que permitem estimar a


resistência à compressão simples (qu) de um solo siltoso da cidade de Curitiba/PR estabilizado com
cimento Portland V (CP V). As equações foram desenvolvidas com o uso da relação porosidade/teor
volumétrico de cimento (η/Civ) ou também chamada relação vazios/cimento. Foram moldados corpos
de prova de solo-cimento em quatro pesos específicos secos aparentes (γd) empregando teores de
cimento de 3%, 5%, 7% e 9% (em relação ao peso seco do solo) e posteriormente ensaiados em
condições saturadas depois de 28 dias de cura. Os resultados demostram que a adição do cimento
aumenta a resistência das misturas solo-cimento de maneira linear. O aumento do peso específico
seco de moldagem tambem aumenta os valores de qu. Por outra lado, se a porosidade das misturas
diminui, qu aumenta. Demonstra-se que com a diminuição da relação η/Civ os valores de qu crescem.
O valor de qu máximo obtido com o cimento Portland V foi de 3365,1 kPa. Uma equação geral de
estimativa para qu foi desenvolvida para estimar a resistência das misturas. As equações e os ajustes
matemáticos demonstram que é possível estimar o valor de qu do solo estabilizado dentro das faixas
de γd, quantidade de cimento, relação η/Civ e tempo de cura empregado no presente trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-cimento, Vazios/volume de cimento, Resistência mecânica.

1 INTRODUÇÃO sendo empregada há 100 anos (Firoozi et al.


2017).
Uma das metodologias para melhorar as O solo-cimento é definido como uma
propriedades físico-mecânicas dos solos é a mistura de solo e quantidades medidas de
adição de cimento. A metodologia tem sido cimento Portland e água e compactado para a
utilizada para estabilizar solos para uso em densidade desejada. O cimento é mais
camadas de pavimentos, para reforço de solos comumente empregado para aumentar a
usados como suporte de fundações superficiais, resistência de solos com granulometria mais
proteção de encostas e taludes e para construção arenosa. Quando a água é adicionada na mistura
de fundações profundas. A metodologia vem solo-cimento e logo compactada, se dá a
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hidratação, o que significa que são formados influência dos tipos de cimento Portland (I, III
compostos cimentantes de hidrato de silicato de e IV) em um solo arenoso adicionando de 3% a
cálcio e hidrato de aluminato de cálcio e o 9% de cimento ao solo com tempos de cura de
excesso de hidróxido de cálcio [CaOH] é 2, 7 e 28 dias. Os autores mostraram que há
liberado (Ronoh et al. 2014). acréscimo de resistência qu de até 1600 kPa,
Lade e Trads (2014) reportaram o papel da 2600 kPa e 1600 kPa para o cimento I, III e IV,
cimentação no comportamento de solos respectivamente. Outros autores como Por et al.
cimentados artificialmente baseados em (2017) apresentaram resultados de compressão
estudos experimentais mediante modelos simples com adição de 5 e 10%, em relação ao
elastoplásticos para estabelecer a influência do peso seco do solo, obtendo resultados de até
poder da cimentação no desenvolvimento da 1500 kPa aos 14 dias e 2900 kPa aos 28 dias de
resistência do material solo-cimento. Por outra cura, esses resultados são semelhantes aos
parte, Horpibulsuk et al. (2010) analisaram o reportados por Consoli et al. (2013). Os autores
desenvolvimento da resistência de misturas de também reportam a diminuição significativa do
uma argila siltosa misturada com cimento índice de plasticidade e expansão do solo,
baseados em considerações microestruturais, diminuindo de 8% (sem adição de cimento)
estudando a influência do teor de umidade, do para 0% com adição de cimento.
tempo de cura e da quantidade de cimento. A Como foi visto anteriormente, o tópico de
adição do cimento melhora a estrutura do solo estabilização de solos com cimento vem sendo
aumentando a ligação inter-cluster e reduzindo bastante pesquisado, sobretudo em lugares
assim o espaço dos poros. Para Horpibulsuk et onde os solos por suas própias caracteristicas
al. (2010) a água influencia tanto nos produtos fisico mecânicas não podem ser empregados na
de hidratação como nos tamanhos dos poros, engenharia geotécnia nem na construção civil.
sendo a água ótima 0.8 vezes o valor da Assim, o presente trabalho presenta os efeitos
umidade ótima de compactação. da adição de cimento CP V na resistência à
Pakbaz and Alipour (2012) pesquisaram a compressão simples de um solo siltoso da
influência da adição de cimento Portland nas região metropolitana de Curitiba/PR. O artigo
propriedades geotécnicas em um solo argiloso, apresenta os fatores que influenciam no
com adições de cimento de 4, 6, 8 e 10% em acresimo ou disminuição da resistência
referência ao peso seco do solo, usando três mecânica.
umidades de mistura, 30, 48 e 70% e
empregando 7, 14 e 28 dias de cura. Os 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
pesquisadores reportaram a resistência à
compressão simples de 250 kPa para 4% de O programa experimental foi dividido em duas
cimento chegando a 2900 kPa para adição de etapas: a primeira foi a realização dos ensaios
10% de cimento, ambos aos 28 dias de cura. A de caracterização do solo e do cimento:
massa real dos grãos (Gs) após a cura aumentou granulometria do solo de acordo à norma
ligeiramente de 2,68 (para a amostra não americana ASTM D2487 (ASTM, 2000),
estabilizada) para 2,73-2,76 (para amostras limites de Atterberg do solo de acordo às
estabilizadas com cimento). Os valores do Gs normas brasileiras NBR 7180 (ABNT, 1984) e
das amostras tratadas diminuíram com um NBR 6459-84 (ABNT, 1984), a massa
aumento do teor de cimento e tempo de cura. especifica real dos grãos do solo de acordo à
Recentemente, Jin et al. (2018) reportaram norma ASTM D854 (ASTM, 2014), massa
valores de até 5000 kPa com misturas de solo especifica real dos grãos dos tipos de cimento
estabilizado com 3 e 15% de cimento em de acordo à norma brasileira NBR 6474
referência ao peso seco do solo e com (ABNT, 1984) e as propriedades de
significativa redução da plasticidade da compactação do solo nas três energias (normal,
mistura. Consoli et al. (2013) estudaram a intermediária e modificada) de acordo à norma
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brasileira NBR 7182 (ABNT, 2016); e a fina de 25,9%; silte 57,6% e de argila de 9,3%,
segunda etapa, consistiu-se na moldagem, cura sendo a porcentagem de silte (0,002 mm <  <
e rompimento dos corpos de prova solo- 0,075 mm) compõe a maior parcela do solo.
cimento submetidos a ensaios de compressão
simples. 2.2 Definição dos pontos de moldagem e
condições de cura
2.1 Materiais
Os pontos de moldagem foram estabelecidos
No presente trabalho foram utilizados três após a realização dos ensaios de compactação
materiais: solo, cimento Portland CP V e água do solo nas três energias: normal, intermediária
destilada. A amostra de solo foi coletada na e modificada, de acordo com a norma brasileira
zona sul da cidade de Curitiba (Brasil) de NBR 7182 (ABNT, 1986). A Figura 2 mostra
maneira manual em estado deformado, as curvas de compactação do solo, as curvas de
evitando uma possível contaminação e em saturação de 100, 80 e 60% e os pontos de
quantidade suficiente para a realização de todos moldagem propostos (A1, A2, A3 e A4).
os ensaios. O solo já foi utilizado em estúdios
prévios por Baldovino et al. (2018a; 2018b) 100

para estabilização com cal. 90


O cimento foi fornecido por um produtor 80
local. A Tabela 1 apresenta as propriedades 70
Porcentagem passante (%)

físico-químicas do cimento. As propriedades


60
químicas foram fornecidas pelo produtor e as
50
físicas foram calculadas no laboratório. De
acordo à Tabela 1 o cimento CP V tem uma 40
massa especifica de 3,11. 30

20
Tabela 1. Propriedades físico-químicas do cimento
10
Propriedade Valor
% MgO 4,11 0
% SO3 2,99 0.001 0.01 0.1 1 10 100
% CaO 60,73 Diâmetro dos grãos (mm)
% Resíduo insoluvel 0,77
Resistência aos 28 dias 53 MPa Figura 1. Curva de distribuição granulométrica do solo
% Finura 0,04
GsC 3,11 Tabela 2. Propriedades físicas do solo
Propriedade Valor
Para a realização de todos os ensaios de Limite de liquides 53,1%
Índice de plasticidade 21,3%
caracterização do solo, das misturas solo-
Densidade dos grãos 2,71
cimento e para a moldagem de corpos de prova Brita (4,75 mm <  < 19 mm) 0%
foi usada água destilada a 24±3°C para evitar Areia grossa (2,0 mm <  < 4,75 mm) 0%
reações não desejadas e limitar o número de Areia média (0,425 mm<  <2,0 mm) 7,5%
variáveis no estudo. Areia fina (0,075 mm <  < 0,425 mm) 25,9%
Segundo o Sistema Unificado de Silte (0,002 mm <  < 0,075 mm) 57,6%
Classificação de Solos, o solo é classificado Argila ( < 0,002 mm) 9,3%
Diâmetro efetivo (D50) 0,025 mm
como um silte elástico arenoso (MH). A curva
Classificação SUCS MH
de distribuição granulométrica do solo é
apresentada na Figura 1. Os resultados dos
Com o objetivo de estudar a influência do
ensaios de caracterização física do solo são
peso específica seco e dos vazios sobre a
apresentados na Tabela 2. O solo apresenta
resistência mecânica do solo cimentado
uma porcentagem de areia média de 7,5%; areia
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artificialmente com o cimento mencionado, quantidade de cimento seco com referência ao


foram definidos 4 pontos de moldagem: A1, peso seco da amostra de solo em quatro teores
A2, A3 e A4 (Tabela 3 e Figura 2). diferentes de adição (3, 5, 7 e 9%) de acordo a
Estes pontos de moldagem foram definidos estudos prévios (Consoli et al. 2007; Rios et al.
estrategicamente considerando possíveis 2012). Realizou-se a mistura do solo com o
condições de campo, entre 15,10 kN/m³ e 13,10 cimento de modo que a mistura ficasse a mais
kN/m³, com uma variação do peso específico homogênea possível. Em seguida, foi
seco em 0,67 kN/m³ e com uma umidade adicionada uma porcentagem de água em peso,
constante de 23%. Pontos de moldagem sendo esta porcentagem referente ao teor de
estratégicos para estudar solos melhorados já umidade dos pontos de moldagem
foram utilizados anteriormente por Rios et al. estabelecidos na Tabela 3. A mistura do solo-
(2012) e Consoli et al. (2017a; 2017b). Todos cimento com a água destilada foi realizada em
os corpos de prova solo-cimento foram um período não superior a 5 minutos, com isto
submetidos a ensaios depois de 28 dias de cura tentando minimizar as reações do cimento com
em condições de saturação para anular o a água antes do processo de moldagem dos
máximo possível a influência da sucção sobre a corpos de prova. As amostras para a moldagem
resistência nas misturas. dos corpos de prova foram compactadas
estaticamente em uma camada única com um
17
Energia
molde de aço inox com diâmetro interno de 50
16.5 normal mm, altura de 100 mm e espessura de 5mm, nas
16 Energia

15.5
intermediária
Energia
condições de compactação mostradas na Tabela
A1 modificada 3 e Figura 2. Para assegurar o peso específico
15 S=100%
γd(kN/m3)

14.5 A2 S=80% seco máximo, obtido durante os ensaios de


14
A3 S=60% compactação, foi realizado o cálculo do volume
13.5 do molde e do peso de mistura úmida
Pontos de
13 moldagem
A4 necessários para cada corpo de prova. Após
12.5
12
esses cálculos, foi pesada a quantidade
11.5 necessária de material para cada corpo de
11 prova. A moldagem foi feita com a ajuda de
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
uma prensa hidráulica manual. Depois de cada
ω(%)
Figura 2. Curvas de compactação e pontos de moldagem
processo de moldagem, três amostras da
mistura eram tomadas para medir o teor de
Tabela 3. Definição dos pontos de moldagem umidade em estufa durante 24 horas.
Pontos de γd (kN/m3) ω (%) Os corpos de prova foram pesados em uma
moldagem balança de precisão de 0,01 g e as dimensões do
A1 15.10 23 mesmo eram medidas com o uso de um
A2 14.43 23
A3 13.77 23 paquímetro de 0,1 mm de erro. Os corpos de
A4 13.10 23 provas extraídos foram envolvidos com
plástico filme transparente para manter o teor
2.3 Ensaios de compressão simples de umidade. Por último, os corpos de prova
foram armazenados em câmara úmida para
Para os ensaios de compressão simples foram processo de cura durante 27 dias (a temperatura
moldados corpos de prova de 100 mm de altura média de 25°C) para prevenir mudanças
e 50 mm de diâmetro. Depois da coleta em significativas de umidade até o dia do ensaio.
campo, o solo foi seco, totalmente, em estufa à As amostras tinham que respeitar os seguintes
temperatura de 100±5°C, e colocado em erros máximos para serem usadas nos ensaios
porções uniformemente distribuídas para ser de compressão simples: dimensões das
misturado com o cimento. Adicionou-se a amostras com diâmetro de ±0,5 mm e altura de
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±1 mm, peso específico aparente seco (γd ) de específico seco das amostras aumenta-se a
±1% e teor de umidade () de ±0,5%. Para cada resistência à compressão simples, assim como
ponto de moldagem e teor de cimento foram com o aumento do teor de cimento também há
moldados 3 corpos de prova. Após os 27 dias um aumento na resistência à compressão
de cura, os corpos de prova eram imersos em simples. No ponto de moldagem A1, os corpos
um tanque com água destilada durante 24 horas de prova com 3% de cimento alcançaram um
antes do ensaio para garantir a sua saturação e valor médio de qu = 1191,6 kPa, para 5% de
evitar com isto a influência da sucção na cimento alcançaram uma resistência média de
resistência. Depois da imersão, eram secados qu = 2011,1 kPa, para 7% de cimento
superficialmente com um pano seco. Assim, alcançaram uma resistência média de
todas as amostras foram curadas durante 28 qu=2622,6 kPa e, finalmente, com 9% de
dias. cimento, o valor de qu alcançado pelos corpos
Para a realização dos ensaios de compressão de prova foi de 3365,1 kPa. No ponto de
simples foi usada uma prensa automática com moldagem A2, os corpos de prova com 3% de
anéis calibrados para carga axial com cimento alcançaram um valor de qu = 1095,9
capacidade de 4,5 kN e 10 kN. Os ensaios kPa, para 5% de cimento alcançaram uma
foram feitos com um sistema automatizado, resistência de qu = 1874,9 kPa, para 7% de
medindo, principalmente, a força aplicada, com cimento alcançaram uma resistência de qu =
resolução de 2,5 N, a deformação, com 2421,9 kPa e, finalmente, com 9% de cimento
sensibilidade de 0,001 mm, sendo a velocidade o valor de qu alcançado pelos corpos de prova
do ensaio de 1 mm/min. Os procedimentos dos foi de 2675,8 kPa. No ponto de moldagem A3,
ensaios de compressão simples seguiram a os corpos de prova alcançaram resistências à
norma brasileira NBR 5739 (ABNT, 1980). A compressão simples de 916,8; 1356,9; 1868,4 e
resistência a compressão simples é o valor da 2201,6 kPa com o emprego de 3, 5, 7 e 9% de
carga máxima de ruptura do material ou o valor cimento, respectivamente. Por último, no ponto
da pressão correspondente à carga na qual A4 os corpos de prova alcançaram resistências
ocorre deformação específica do corpo de à compressão simples de 801,8; 950,9; 1232,3
prova de solo de 20%, naqueles casos em que a e 1985,9 kPa com o emprego de 3, 5, 7 e 9% de
curva tensão-deformação axial não apresenta cimento CP V, respectivamente.
um pico máximo. Adota-se a resistência à
3500
compressão não confinada ou simples (qu) de
acordo com a seguinte expressão, quando, no 3000
ensaio a curva tensão-deformação axial,
2500
alcança um pico máximo:
qu (kPa)

2000
PR
qu = (1) 1500
AT
1000 A1:qu= 356.6c+157.9 (R2=0.99)
Onde PR é a carga de ruptura no pico da A2 :qu= 264.3c+431.2 (R2=0.95)
curva tensão-deformação axial e AT é a área da 500 A3 :qu= 218.4c+275.9(R2=0.97)
A4 :qu= 191.7c+92.6 (R2=0.88)
seção transversal corrigida do corpo de prova. 0
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Cimento, c (%)
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 3. Influência do teor de cimento na resistência à
compressão simples
A Figura 3 mostra os resultados de qu das
amostras depois de 28 dias de cura com a Assim, comparando as resistências qu nos
variação dos teores de cimento CP V de 3 até pontos A4 e A1 (menor e maior peso especifico
9%. Nota-se que com o aumento do peso de moldagem, respectivamente), pode-se
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mencionar que houve um acréscimo, em et al. (2013) também reportaram em seus


valores percentuais, de 49, 116, 112 e 70% na estudos que a diminuição da porosidade com o
resistência qu com o uso de 3, 5, 7 e 9% de aumento de qu.
cimento CP V, respectivamente, isto é, quanto É observada na Figura 5 a influência da
maior for o peso específico de moldagem do relação porosidade/teor volumétrico de cimento
corpo de prova, maior será a resistência à na resistência à compressão simples.
compressão simples do material, e esse ganho
na resistência será maior, quanto maior for o 3500
percentual de cal acrescido ao solo. Assim,
3000 c=9%
pode-se dizer que tanto o aumento do peso
específico seco faz aumentar qu, como também c=7%
2500
o aumento do teor do cimento CP V. c=5%
Analisa-se na Figura 4 a influência da

qu (kPa)
2000 c=3%
porosidade inicial na resistência à compressão
1500
simples das misturas solo-cimento. Observa-se
uma variação na porosidade de 44% a 52% para 1000
3%, 5%, 7% e 9% de cimento. Há, também,
uma relação inversamente proporcional da 500
porosidade com qu, pois à medida que a
0
porosidade diminui, a qu aumenta. 5 10 15 20 25 30 35 40 45
η/Civ
3500
Figura 5. Influência da relação porosidade/teor
3000 volumétrico de cimento na resistência à compressão
simples
2500
O teor volumétrico de cimento (Equação 2)
qu (kPa)

2000
é definido como a razão entre volume cimento
1500 c=9% pelo volume de um corpo de prova.
c=7%
1000
c=5% γd c
500 Civ = ( ( )) /sc (2)
c=3% 1+c/100 100
0
42 44 46 48 50 52 54
η (%)
Figura 4. Influência da porosidade na resistência à
O teor volumétrico de aumenta com o
compressão simples aumento do teor de cimento, enquanto que a
relação porosidade/teor volumétrico diminui.
A melhor maneira de caracterizar a variação Para as misturas, a relação η/Civ varia de
da porosidade e os resultados da resistência à 10,1-13,6; 12,7-17,1; 17,5-23,5 e de 28,5-38,2
compressão simples observados foi através da para 9, 7, 5 e 3% de cimento, respectivamente
terminação de uma curva de regressão que (Ver Figura 5). Em média, o range de η/Civ para
pudesse representar, de forma satisfatória, os cada teor de cimento é de 3,6; 4,5; 6,3 e 10,5
resultados. A curva de regressão que melhor para 9, 7, 5 e 3%, respectivamente. Ou seja, o
representou os pontos foi uma curva linear. Em range cresce com a diminuição da quantidade
média, a redução de 8 pontos porcentuais na de cimento no corpo de prova, e, o quando o
porosidade dos corpos de prova solo-cimento range diminui fornece os maiores valores de
aumentou em 1050 kPa a resistência à resistência mecânica.
compressão simples das amostras. Ingles e Pode-se observar na Figura 5 que existe uma
Metcalf (1972); Moore et al. (1970) e Consoli tendência linear de qu dependente de η/Civ para
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cada teor de cimento. Embora exista uma valor de Civ é ajustado a um exponente entre
tendência linear dos pontos para cada teor de 0,01 e 1,00 dentro da faixa da relação η/Civ
cimento, os pontos experimentais de todos os específica estudada. Desta maneira, os valores
teores apresentam uma leve tendência reportados na Figura 6 foram ajustados a um
potencial. Assim, procurando estabelecer a exponente decimal entre 0,01 e 1,00 sendo o
relação η/Civ para parâmetro único que prevê os exponente de 0,40 o qual forneceu o melhor
resultados de qu, uma tendência potencial foi coeficiente de determinação para o cimento
definida e é apresentada na Figura 6. empregado. Assim, os valores de qu
dependendo da relação η/Civ0,40 para os
3500 cimentos são apresentados na Figura 7.
CP V(c=9%)
3000 CP V(c=7%) 3500

2500 CP V(c=5%) CP V(c=9%)


3000
CP V(c=3%) CP V(c=7%)
qu (kPa)

2000
2500 CP V(c=5%)
1500 qu (kPa) CP V(c=3%)
2000
1000
1500
500 𝜂 −1,10 2
𝑞𝑢 = 46500 [ ] (𝑅 = 0,86) 1000
𝐶𝑖𝑣
0 −2,64
500 𝜂
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 𝑞𝑢 = 18 ∙ 106 [ 0,40
] (𝑅2 = 0,95)
η/Civ (𝐶𝑖𝑣 )
0
Figura 6. Influência da relação porosidade/teor 20 23 26 29 32 35 38 41 44 47 50
volumétrico de cimento na resistência à compressão
η/Civ0.40
simples (regressão potencial)
Figura 7. Influência da relação porosidade/teor
volumétrico de cimento (ajustado a um exponente de
A Equação 3 define o crescimento de qu com 0,40) na resistência à compressão simples
a diminuição de η/Civ com a regressão potencial
apresentada na Figura 6:
Nota-se na Figura 7 que os valores de
𝜂 −1,10 coeficientes de determinação com o emprego
𝑞𝑢 = 46500 [ ] (𝑅 2 = 0,86) (3) do exponente de ajuste 0,40 aumentaram de
𝐶𝑖𝑣
0.86 até 0.95 para o cimento CP V. A redução
Nota-se que a Equação 3 segue a forma: de 20 pontos porcentuais de η/Civ0,40=45 até
𝜂 −𝐵 η/Civ0,40=25 fornece crescimentos de 2893 kPa
𝑞𝑢 = 𝐴 [𝐶 ] ; onde A e B são constantes. O nos valores de qu. A Equação 4 define o
𝑖𝑣
valor de A pode depender do tempo de cura ou crescimento de qu com a diminuição de
também do elemento cimentante. η/Civ0,40:
A Figura 6 mostra que comparando a
𝜂 −2,64
redução de 20 pontos porcentuais de η/Civ se 𝑞𝑢 = 18 ∙ 106 [ ] (𝑅 2 = 0,95) (4)
obtém que, por exemplo, se se reduz a relação (𝐶𝑖𝑣 )0,40
vazios/cimento de uma mistura de η/Civ=35 a
η/Civ=15 aumenta a sua resistência em 1430 Pode-se observar que a Equação 4 segue a
𝜂 −𝐵
kPa. forma: 𝑞𝑢 = 𝐴 [𝐶 𝐶 ] . Baseado nos estudos
Consoli et al. (2017c) sugere que uma 𝑖𝑣

melhor tendência dos pontos experimentais de feitos por Consoli et al. (2007; 2013; 2017c) o
resistência à compressão simples de misturas valor de B e C depende do tipo de solo. O valor
solo-cimento e solo-cal pode ser obtida se o de A com o uso do exponente 0,40 cresce
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dependendo do tipo de cimento empregado. REFERÊNCIAS


Assim, consegue-se obter um mesmo
comportamento dos resultados de compressão ASTM (2000). ASTM D2487: “Standard classification
simples com o uso da relação η/Civ0,40. A of soils for engineering purposes (unified soil
relação η/CivC é capaz de fornecer uma classification system)”. West Conshohocken, PA:
tendência única da resistência do solo siltoso ASTM International.
ASTM (2014). ASTM D854: “Standard test methods for
experimentado no presente trabalho cimentado
specific gravity of soil solids by water pycnometer”.
artificialmente com um cimento de alta West Conshohocken, PA: ASTM International
resistência inicial. Para Rios et al. (2012) e Baldovino, J. A., Moreira, E. B., Teixeira, W., Izzo, R.
Mola-Abasi et al. (2016) a relação η/Civ L. S., and Rose, J. L. (2018a). Effects of lime addition
demonstra ser um ótimo parâmetro de ajuste on geotechnical properties of sedimentary soil in
Curitiba, Brazil. Journal of Rock Mechanics and
para descrever o comportamento à compressão
Geotechnical Engineering, 1–7.
não confinada de solos estabilizados com Baldovino, J. A., Moreira, E. B., Izzo, R. L. D. S., &
cimento. Rose, J. L. (2018b). Empirical Relationships with
Unconfined Compressive Strength and Split Tensile
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4 CONCLUSÕES Soil. Journal of Materials in Civil
Engineering, 30(8), 06018008.
De acordo ao tipo de solo empregado na Brazilian Standard Association. (1980). Mortar and
presente pesquisa (solo siltoso), ao tipo de concrete—Test method for compressive strength of
cylindrical specimens. NBR 5739, Rio de Janeiro,
cimento usado, aos teores de cimento (3-9%) e Brazil (in Portuguese).
o tempo de cura de 28 dias a que foram Brazilian Standard Association. (1984). Determination
submetidos os corpos de prova além das of the Plasticity Limit. NBR 7180, Rio de Janeiro,
análises dos resultados, as seguintes conclusões Brazil (in Portuguese).
são abordadas: Brazilian Standard Association. (1984). Determination
of the Liquid Limit. NBR 6459, Rio de Janeiro, Brazil
1. A resistência à compressão simples dos (in Portuguese).
corpos de prova de misturas solo-cimento Brazilian Standard Association. (1984). Portland cement
aumentou com o acréscimo do teor de cimento and other powdered materials: determination of the
e com o aumento do peso específico seco de specific mass. NBR 6474, Rio de Janeiro, Brazil (in
moldagem. Além disso, uma tendência linear Portuguese).
Brazilian Standard Association. (1984). Soil-compaction
foi a melhor forma de representar o crescimento testing. NBR 7182, Rio de Janeiro, Brazil (in
de qu com a variação do teor de cimento de 3 a Portuguese).
9%. Por outra parte, a diminuição da porosidade Consoli, N. C., Foppa, D., Festugato, L., and Heineck, K.
das amostras também fez aumentar qu. S. (2007). Key parameters for strength control of
2. A relação porosidade/teor volumétrico de artificially cemented soils. Journal of geotechnical
and geoenvironmental engineering, 133(2), 197-205.
cimento (η/Civ) demonstrou ser um parâmetro Consoli, N. C., Festugato, L., Da Rocha, C. G., and Cruz,
eficiente para estudar o comportamento R. C. (2013). Key parameters for strength control of
mecânico das misturas como foi reportado em rammed sand-cement mixtures: Influence of types of
estudos prévios. Um exponente de 0,40 sobre o portland cement. Construction and Building
teor volumétrico de cimento (η/Civ0,40) forneceu Materials, 49, 591–597.
Consoli, N. C., Marques, S. F. V., Floss, M. F., and
melhor ajuste das amostras ensaiadas à Festugato, L. (2017a). Broad-Spectrum Empirical
compressão simples. Correlation Determining Tensile and Compressive
Strength of Cement-Bonded Clean Granular
AGRADECIMENTOS Soils. Journal of Materials in Civil
Engineering,29(6), 06017004
Os autores gostariam de agradecer à Consoli, N. C., Marques, S. F. V., Sampa, N. C.,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná e Bortolotto, M. S., Siacara, A. T., Nierwinski, H. P.,
ao apoio da CAPES e do CNPq. Pereira, F., and Festugato, L. (2017b). A general
relationship to estimate strength of fibre-reinforced
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cemented fine-grained soils. Geosynthetics


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Análise Comparativa da Caracterização Geotécnica de Misturas


Convencionais e Alternativas Utilizadas em Barreiras
Impermeabilizantes de Aterro Sanitário
Yago Guidini da Cunha
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, yagoguidinic@gmail.com

Ligia Abreu Martins


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, ligiaabreumartins@gmail.com

Karla Maria Wingler Rebelo


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, kmwingler@gmail.com

RESUMO: A utilização da bentonita misturada ao solo natural para a aplicação em barreiras


impermeabilizantes visando reter o lixiviado é comum em aterros sanitários. Entretanto, estudos
têm sido realizados a fim de aprimorar e formar novos materiais geotécnicos compósitos para essa
utilização. Nesse contexto, esta pesquisa avaliou algumas misturas que consistem em adição de
bentonita sódica por meio de ensaios de laboratório. Foram preparadas, então, misturas de solo –
bentonita (S/B) com solo tropical proveniente da região de Santa Maria de Jetibá (ES) e misturas
zeólita-bentonita (Z/B), nas proporções de 0%, 3%, 5% e 7%. Os resultados mostram que a adição
de bentonita se torna favorável, uma vez que, adequa os solos às características físicas e químicas
necessárias para utilização como barreiras. No que diz respeito à capacidade de troca catiônica a
zeólita apresentou uma CTC de aproximadamente 35 vezes maior que a do solo inicial acarretando
uma garantia maior em casos de percolação do lixiviado.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro Sanitário, Camada de Argila Compactada, Bentonita, Barreiras


Impermeabilizantes.

1 INTRODUÇÃO executada com solos puros, argila compactada e


materiais sintéticos.
Uma das características da evolução dos As barreiras impermeabilizantes de fundo
grandes centros comerciais e do aumento são executadas na fundação do aterro, a fim de
populacional é o crescimento da geração dos impedir que o líquido gerado pelo material
resíduos sólidos urbanos que, por sua vez, armazenado (lixiviado, chorume ou percolado)
requerem atenção especial quanto à sua contamine o lençol freático. As barreiras de
destinação. Ao se decomporem geram líquidos cobertura, por sua vez, impedem que líquidos
e gases com capacidade de contaminar os externos, por exemplo, a chuva, adentre no
lençóis freáticos e, consequentemente, originar aterro e aumente a formação de percolados.
riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Em alguns casos, por não apresentarem
Dentre as principais alternativas possíveis geotecnicamente características adequadas, não
para a disposição final desses resíduos, é possível utilizar os solos locais para a
destacam-se os aterros sanitários e industriais. construção de liners. Nessas ocasiões, utilizam-
Um dos componentes essenciais desse sistema é se aditivos no solo objetivando melhorias no
a barreira impermeável, também conhecida por comportamento hidráulico e mecânico.
liner, composta por elementos com baixa Nesse contexto, a bentonita, importante
condutividade hidráulica, podendo ser argilomineral do grupo dos silicatos, tem sido
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aplicada em misturas com materiais arenosos 2.1 MATERIAIS


substituindo ou complementando os solos finos
em face de suas propriedades de baixa O solo utilizado nesta pesquisa, denominado
permeabilidade e elevada expansão. solo inicial, é um solo tropical arenoso,
Em nível internacional, alguns pesquisadores geralmente utilizado como aterro para base de
vêm estudando o comportamento de outros rodovias, proveniente da região de Santa Maria
aditivos como substitutos aos materiais de Jetibá (ES). A amostra de bentonita foi
granulares em misturas areia - bentonita. Citam- adquirida na empresa Bentonisa – Bentonita do
se como exemplos os trabalhos de Kaya & Nordeste S.A e foi classificada como bentonita
Durukan (2004) e Tuncan et al. (2003), que sódica.
avaliaram o potencial de utilização misturas A zeólita, por sua vez, foi adquirida por meio
zeólitas – bentonita como barreira de doação feita pela empresa Celta Brasil. As
impermeabilizante. amostras, coletadas pela própria empresa,
Segundo Monte e Resende (2005), as provêm da região de Cotia – SP. A fim de se
zeólitas apresentam como principais obter uma amostra com granulometria
características a baixa densidade e o elevado previamente estabelecida com base em
volume de vazios, quando desidratadas, com trabalhos anteriores, foi realizada uma mistura
canais relativamente uniformes, além de que contém 75 kg, com diâmetro aproximado
estrutura cristalina estável. Estas características entre 0,4 a 1 mm e 25 kg de material fino, de
favorecem o uso de zeólitas como peneiras aproximadamente 0,045 mm.
moleculares, isto é, as zeólitas podem
seletivamente separar moléculas de acordo com 2.2 MÉTODOS
sua forma e tamanho.
Assim como as montmorilonitas Foram analisadas duas misturas: solo –
(argilominerais constituintes da bentonita), as bentonita (S/B) e zeólita – bentonita (Z/B). A
zeólitas possuem elevada capacidade de troca quantidade de bentonita adicionada ao solo
catiônica (CTC). Justamente pela elevada CTC inicial foi determinada em relação à massa de
e pelo alto poder de adsorção, as zeólitas têm solo seco com proporções de 0%, 3%, 5% e 7%,
sido utilizadas na Geotecnia Ambiental, em conforme sugerido por Kaya & Durukan
especial, nas barreiras verticais de contenção. (2004). As amostras foram denominadas S00,
A Companhia de Tecnologia de Saneamento S03, S05 e S07, conforme seu percentual de
Ambiental (CETESB, 1993) descreve alguns aditivo. As proporções para as misturas de
requisitos necessários para solos serem Zeólita e Bentonita seguiram as mesmas
utilizados como barreiras impermeáveis: proporções e foram denominadas Z00, Z03,
Classificação unificada CL, CH, SC ou OH; Z05 e Z07, seguindo o mesmo padrão.
porcentagem de finos maior que 30%; limite de Para a caracterização física do solo
liquidez igual ou superior a 30% e índice de inicial, zeólita e das misturas foram realizados
plasticidade igual ou superior a 15%; pH igual os ensaios de granulometria conjunta (ABNT
ou superior a 7,0 e a permeabilidade igual ou NBR 7181/16); massa específica dos grãos
inferior a 10-7cm/s. (NBR 6458/16); limite de liquidez (NBR
Este artigo apresenta uma avaliação 6459/16), limite de plasticidade (NBR 7180/16)
comparativa das características físicas e e ensaio de compactação com energia do
químicas de duas misturas de materiais Proctor Normal (NBR 7182/16).
compactados para utilização como liner. Foram necessárias algumas adaptações nos
procedimentos padronizados para a
caraterização. A amostra ensaiada de bentonita
2 MATERIAIS E MÉTODOS foi reduzida de 70g para 25g e ficou sete dias
em solução de hexametafosfato de sódio e água
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destilada e, para o ensaio de densidade real dos argila teve comportamento praticamente linear
grãos, a amostra de bentonita foi reduzida a com uma aderência de R² = 0,999, como mostra
quantidade de material de 50g para 15g, que a Figura 1.
permaneceu durante sete dias em água
destilada. O prolongamento no tempo de
repouso da bentonita se fez necessário para que
ela alcançasse perfeita hidratação enquanto a
diminuição da quantidade de material ensaiado
ocorreu devido à sua grande expansão.
Para caracterização química do solo inicial,
bentonita pura e da zeólita, foram realizados os
ensaios de pH em CaCl2 e pelo método pH-SM
e de capacidade de troca catiônica. A empresa
responsável pelos ensaios foi a IBRA, que fica
localizada em São Paulo, no bairro Jardim Nova
Veneza Sumaré. Os ensaios foram realizados
por meio de amostras, de aproximadamente
200g de cada material. Figura 1. Índice de Plasticidade das amostras S/B.

O aumento do IP tem relação direta com o


3 RESULTADOS aumento do Limite de Liquidez, visto que o
Limite de Plasticidade teve uma variação quase
3.1 SOLO-BENTONITA (S/B) nula em todas as amostras. Tal efeito pode ser
justificado pelo fato do LP depender
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos para majoritariamente da mineralogia do material e
os ensaios de caracterização física do solo em como a porcentagem do aditivo é baixa, a
seu estado natural, da bentonita e do solo mineralogia permanece praticamente a mesma,
misturado com as porcentagens predefinidas do o que ocorre de forma contraria ao LL, que
aditivo. depende da porcentagem de finos no material
que tende a aumentar com o acréscimo da
Tabela 1. Resultado dos Ensaios de Caracterização S/B. bentonita.
Síntese dos Amostras Ainda segundo Das (2001), os valores
Resultados S00 S03 S05 S07 S09 B. típicos do LL para as montmorilonitas variam
s (g/cm³) 2,75 - - - - 3,05 entre 100-900, o LP entre 50-100 e a atividade
LL (%) NL 41,1 57,2 70,2 81,7 378,1 1,5 -7,0. Todos os valores encontrados nos
LP (%) NP 20,5 21,5 21,1 21,2 46,46 ensaios de caracterização estão dentro dessas
IP (%) - 20,6 35,7 49,1 60,4 331,7 zonas. No que diz respeito à atividade das
misturas, foi possível constatar uma tendência
Finos Ø 0,075 de crescimento ao se adicionar a bentonita
19,9 35,7 37,7 37,2 40,40 40,4
mm (%) sendo todas consideradas ativas.
Atividade - 1,58 2,50 3,37 3,57 4,25 A Tabela 2 apresenta os resultados da análise
granulométrica conjunta das amostras. As
Classificação
SM SC SC SC SC CH curvas granulométricas do solo inicial e da
Unificada
bentonita e das misturas solo-bentonita são
apresentadas nas Figuras 2 e 3,
Assim como observado por Seed, Woodward
respectivamente.
e Lundgren (1964) apud Das (2011), a relação
do Índice de Plasticidade com o aumento de
bentonita, ou seja, o aumento de fração de
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As misturas foram classificadas como areia


argilosa (SC), com um percentual de finos e o
Tabela 2. Resultado dos Ensaios de Granulometria S/B. limite de liquidez maior que 30 e o índice de
Fração plasticidade maior que 15, logo, passam a
S00 S03 S05 S07 B.
Granulométrica
atender a todos os critérios de caracterização
Argila (%) 6,45 13,02 14,24 14,58 77,98 indicados pela CETESB para base de aterro
Silte (%) 13,39 22,64 23,39 21,59 20,43 sanitário. Com isso, foi possível constatar que
Areia Fina (%) 9,06 12,17 11,63 13,98 1,59 um acréscimo do percentual de bentonita
Areia Média (%) 13,10 14,22 13,42 14,21 0 alterou consideravelmente a caracterização do
Areia Grossa (%) 33,10 16,72 18,31 18,99 0 solo.
Na Tabela 3, são expostos os parâmetros
ótimos encontrados por meio do ensaio de
compactação nas misturas de solo inicial e nas
misturas solo-bentonita. Devido à alta
plasticidade da bentonita, não foi possível
realizar este ensaio para a bentonita pura. Todas
as curvas de compactação foram plotadas em
um único gráfico, que está apresentado na
Figura 4.

Tabela 3. Parâmetros de Compactação do Solo inicial e


das misturas S/B.
Parâmetros S00 S03 S05 S07 S09
Figura 2. Curva Granulométrica do solo inicial e
dmáx (g/cm³) 1,99 1,94 1,92 1,9 1,89
Bentonita
Wót (%) 10,75 11,7 11,8 12,15 12,50

Figura 3. Curva granulométrica do solo inicial e das


misturas solo - bentonita
Figura 4. Curvas de Compactação do Solo inicial e das
Misturas S/B
Por meio do Sistema Unificado de
Classificação (SUCS), a bentonita foi É evidente o aumento da umidade ótima com
classificada como uma argila de alta a porcentagem de bentonita adicionada,
compressibilidade (CH), enquanto o solo inicial enquanto, por outro lado, na massa específica
se apresenta como uma areia siltosa (SM) com seca máxima houve uma queda com o aumento
percentual de finos menor que 30, não líquido e da bentonita, o que já era esperado. Geralmente,
não plástico. Valores esses que não são aceitos como observado por Morandini (2009), em
dentro dos parâmetros da CETESB para solos argilosos, essa massa é menor do que em
utilização como barreira impermeável.
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solos arenosos, o oposto do que ocorre com a


umidade ótima.
A análise química da amostra de solo inicial,
possibilitou constatar que o solo se apresenta
com uma baixa capacidade de troca catiônica de
1,86 meq/100g e um pH de 7,21, o que já seria
o suficiente para atender o mínimo exigido pela
CETESB.

3.2 ZEÓLITA-BENTONITA (Z/B)


Figura 5. Índice de Plasticidade das amostras Z/B.
A Tabela 4 a seguir apresenta os resultados
obtidos para os ensaios de caracterização física
A Tabela 5 apresenta os resultados da análise
da zeólita pura (Z00) e das misturas zeólita-
granulométrica conjunta das amostras. As
bentonita.
curvas granulométricas da bentonita e da zeólita
Tabela 4. Resultado dos Ensaios de Caracterização Z/B. pura são apresentadas na Figura 6, enquanto as
Amostras
curvas granulométricas das misturas zeólita –
Síntese dos Resultados bentonita são apresentadas na Figura 7.
Z00 Z03 Z05 Z07
s (g/cm³) 2,49 - - - Tabela 5. Resultado dos Ensaios de Granulometria Z/B.
LL(%) 50,7 68,2 81,8 94,1 Amostras
Fração Granulométrica
LP(%) - 18,1 19,7 18,7 Z00 Z03 Z05 Z07
IP(%) - 50,1 62 75,5 Argila (%) 4,27 4,58 6,86 8,53
Silte (%) 18,31 19,35 17,60 17,83
Finos Ø 0,075 mm (%) 23,10 24,6 25,3 26,7
Areia Fina (%) 0,68 1,72 1,96 1,51
Atividade - 10,93 9,04 8,85 Areia Média 12,35 11,65 12,27 12,97
Classificação Unificada SM SC SC SC Areia Grossa 64,39 62,70 61,31 59,16

A zeólita utilizada nessa pesquisa


demonstrou-se não plástica, portanto não ativa.
Entretanto, foi possível realizar o ensaio de
limite de liquidez, conforme a norma (NBR
6459/16). Esse fato, da zeólita possui limite de
liquidez e ser um materal não plástico, também
foi observado por Kaya & Durukan (2004).
A partir do incremento de 3% de bentonita, a
amostra passou a ter plasticidade. Entretanto,
não houve muita variação com o aumento a
partir dessa quantidade.
Assim como nas amostras S/B, houve um Figura 6. Curva Granulométrica da Zeólita pura e
acréscimo no LL devido à quantidade de fino Bentonita
aumentar com o acréscimo de bentonita. A
relação entre o índice de plasticidade com o
incremento da bentonita apresenta um
comportamento crescente e linear com R² =
0,999 e está retratado na Figura 5.
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Assim como nas curvas para as misturas de


solo – bentonita, a curva se comportou
conforme esperado: diminuiu, mesmo que, de
forma pequena, a massa específica seca máxima
e aumentou a umidade ótima ao se acrescentar a
bentonita.
Quanto maior for a CTC de um solo, maior
será o número de cátions que ela poderá reter,
ou seja, será de melhor qualidade. De acordo
com a análise química realizada pelo
laboratório, a zeólita apresentou uma CTC de
65,17 meq/100g, divergindo do valor
Figura 7. Curva granulométrica da zeólita pura e das divulgado, em laudo, pela empresa Celta Brasil
misturas Z/B. que, teoricamente, seria de 200 meq/100g.
Kitsopoulos (1999) aponta a necessidade de
Tanto a zeólita pura quanto as misturas de 12 dias para que haja a saturação completa,
zeólita – bentonita possuem a porcentagem de tempo menor do que o utilizado neste ensaio,
finos menor do que o critério utilizado pela visto que o resultado foi retornado após 7 dias
CETESB no valor de 30%. É necessário, no que a amostra chegou no laboratório da empresa
entanto, ressaltar que tais características não são IBRA.
pautadas em norma, e são apenas O pH é outro fator que também influencia na
recomendações. Na Tabela 6, são apresentados adsorção dos metais, pois um aumento no pH
os parâmetros ótimos encontrados por meio do diminui a competição dos cátions metálicos
ensaio de compactação nas misturas zeólita - com os íons H+. A amostra apresentou um pH
bentonita e as curvas de compactação, todas de 7,47 sendo superior aos critérios para as
plotadas no mesmo gráfico para melhor camadas de base.
visualização, encontram-se na Figura 8.
3.3 COMPARAÇÃO S/B E Z/B
Tabela 6. Parâmetros de Compactação do Zeólita Pura e
das misturas Z/B.
Nas duas misturas, a influência da bentonita nos
Amostras
Parâmetros solos a qual foi incorporada se deu de forma
Z00 Z03 Z05 Z07
positiva. A bentonita agiu no índice de
dmáx (g/cm³) 1,35 1,32 1,31 1,30 plasticidade, fazendo com que ocorresse um
Wót (%) 29,6 30,7 31,7 31,90 crescimento linear nas duas amostras, conforme
mostrado na Figura 9.

Figura 8. Curvas de Compactação da Zeólita Pura e das


misturas Z/B. Figura 9. Índice de plasticidades das amostras ensaiadas.
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Também foi possível observar maiores finalidade.


valores de IP para as misturas zeólita – No que diz respeito à capacidade de troca
bentonita. catiônica, por sua vez, a zeólita apresentou uma
Apesar dessa melhoria, no entanto, as CTC de aproximadamente 35 vezes maior que a
amostras zeólita-bentonita não se enquadraram do solo inicial, acarretando uma garantia maior
em todos os critérios exigidos pela CETESB, em casos de percolação do lixiviado.
como ocorreu nas mistura de solo – bentonita.
A quantidade de finos presentes nas amostras
zeólita-bentonita foi menor do que o mínimo AGRADECIMENTOS
estabelecido pela CETESB, indicando a
principio não ser adequado a sua utilização Os autores agradecem a empresa Celta Brasil,
como barreira impermeabilizante. pelo fornecimento da zeólita, uma das matérias
Por meio da análise dos gráficos de primas para a realização desta pesquisa.
comparação das curvas de compactação, Figura
10, percebe-se que as amostras de S/B possuem
uma massa específica seca máxima maior e uma REFERÊNCIAS
umidade ótima menor que as amostras de Z/B.
Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental (1993) Resíduos sólidos industriais. 2ª ed.
São Paulo, SP, 234 p.
Das, B.M (2007) Fundamentos da Engenharia
Geotécnica. 6ª ed. São Paulo, SP,562p.
Kaya, A. e Durukan, S. (2004) Utilization of bentonita-
embedded zeolite as clay liner. Applied Clay Science,
v.25, p. 83-91.
Kitsopoulos, K.P. (1999) Applicability of the ammonium
acetate saturation, Clays and Clay Minerals, New
York, NY, USA, v.47, n.6.
Morandini, T.L.C. (2009) Condutividade hidraúlica e
compatibilidade em combinações de solos tropical e
bentonita para uso em barreiras, Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade
Federal de Ouro Preto, 171 p.
Figura 10. Curvas de compactação de todas as amostras.
Tuncan et al. (2003) Use of natural zeolite as a landfill
liner. Applied Clay Science, v. 25, p.83-91.
4 CONCLUSÃO Monte, M.B.M. e Resende, N.G.A (2005) Zeólitas
Naturais. Comunicação técnica elaborada para
Ao se analisar os requisitos exigidos pela edição do livro Rochas & Minerais Industriais: Usos
CETESB, todas as misturas de solo – bentonita e Especifícações. CETEM, Rio de Janeiro, p. 699-
720.
atendem aos critérios especificados por ela para
o percentual de finos, pH, limite de liquidez e
plasticidade. Nas misturas realizadas com
zeólita e bentonita, nenhuma atingiu todos os
critérios, sendo reprovadas apenas no
percentual de finos.
É importante destacar que tais propriedades
para o solo a ser utilizado em barreiras
impermeáveis não estão pautadas em normas.
Essa falta de adequação aos parâmetros das
misturas zeólita – bentonita não deve
descaracterizar o seu possível uso com esta
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Análise Comparativa de Resultados de Ensaios de Massa


Especifica dos Grãos Determinadas no Picnômetro à Gás.
Rocío del Carmen Pérez Collantes
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, pcrocio@yahoo.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

RESUMO: O objetivo das investigações é realizar uma análise comparativa dos resultados do
ensaio de massa especifica dos grãos para amostras de solos retiradas ao longo de um perfil de solo
tropical localizado no Campo Experimental do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Brasília
/ DF. As amostras foram preparadas nas quatro condições a seguir: solo natural passando na peneira
de malha nº 4, seco em estufa à temperatura de 110 °C por 24 horas e não submetido a
destorroamento; solo destorroado, passando na peneira de malha nº 4 e seco na estufa à 110 °C por
24 horas, solo passando na peneira de malha n° 4, desagregado por meio de ultrassom e seco na
estufa à 40 °C por 48 horas e submetido a destorroamento e por último solo passando na peneira de
malha n° 4, desagregado por meio de ultrassom, seco na estufa à 40 °C por 48 horas e seco na estufa
à 110 °C por 24 horas e submetido a destorroamento. Nesse experimento usando o pentapicnômetro
o procedimento de secagem é necessário para evitar que a presença de água interfira no resultado da
massa específica medida. Nessas quatro situações estudadas os resultados evidenciam sobretudo a
importância do destorroamento nos valores da massa específica dos grãos. Eles apontam ainda para
uma maior sensibilidade aos tratamentos dos solos mais superficial (mais laterizado) e mais
profundo (menos intemperizado). Os resultados obtidos são utilizados em análises granulométricas
nas curvas de saturação inseridas no gráfico de compactação.

PALAVRAS-CHAVE: Perfil de Solo Tropical, Curva de Compactação, Teor de Umidade,


Destorroamento, Secagem.

1 INTRODUÇÃO As amostras utilizadas nesse estudo foram


coletadas no Campo Experimental do Programa
A massa específica dos grãos é relevante no de Pós-Graduação em Geotecnia da
estudo dos solos por interferirem nos resultados Universidade de Brasília, Brasília, DF. Serão
de índices como o de vazios e no grau de analisadas quatro amostras provenientes do
saturação. Ela é também indispensável na mesmo perfil de intemperismo coletadas a 1 m,
análise dos resultados de sedimentação. Nos 5 m, 9 m e 11 m de profundidade.
solos tropicais muitas vezes elas apresentam O equipamento utilizado na determinação da
significativa variação ao longo do perfil em massa específica dos grãos adota o princípio de
função da composição químico-mineralógica do Arquimedes (deslocamento de fluido) e a lei de
solo. Boyle (expansão de gás) para encontrar o
O objetivo das investigações foi realizar uma volume real do material sólido e com o auxílio
análise comparativa dos resultados do ensaio de de uma balança com precisão de 0,00001 g
massa especifica dos grãos para uma mesma obtém-se a massa de solo viabilizando-se assim
amostra de solo quando submetida a diferentes a determinação da massa especifica dos grãos do
tipos de preparação da amostra. solo. Embora tenha sido utilizada uma balança
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com essa precisão a técnica admite o uso de


balanças com até 0,0001 g de precisão.
O uso do gás garante uma maior acurácia nos
resultados, e embora possam ser usados vários
tipos deles, é recomendável usar o gás Hélio
devido a que este apresenta um menor tamanho
atómico permitindo a penetração em fissuras e
poros mais pequenos (“Quantachrome
Instruments”, [s.d.]).
Os resultados obtidos permitiram avaliar a
influência da metodologia utilizada na
preparação das amostras nos resultados de Figura 2. Lupa eletrônica ZEISS.
massa específica dos grãos e o impacto dessas
variações na análise granulométrica e na análise
da curva de saturação presente na curva de
compactação.

2 METODOLOGIA

2.1 Equipamentos Usados

Os equipamentos usados nesta pesquisa foram


os seguintes: pentapycnometro para
determinacão do Gs (Figura 1); lupa para
observar os solos nas condições úmida e seca Figura 3. Ultrassom UP400S marca HIELSCHER.
(Figura 2); ultrassom para desagregar os solos
Além desse equipamentos foram ainda
por um período de tempo de 3 minutos (Figura
utilizados provetas e denssímetro na realização
3).
dos ensaios de sedimentação e um compactador
MCT na execução das curvas de compactação
na energia equivalente ao Proctor intermediário.

2.2 Solos Estudados

Para esta pesquisa será feito o estudo de quatro


(4) amostras, coletadas ao longo de um perfil
(a) (b) típico de intemperismo do Distrito Federal
constituído por solos profundamente
Figura 1. Pentapicnômetro modelo 5200e. (a) e balança de intemperizado ou lateriticos, solo de transição e
precisão (b) solo pouco intemperizado ou saprolítico.
As amostras foram identificadas com as
seguintes profundidades: 1 m e 5 m, (solos
lateríticos), 9 m (solo de transição) e 11 m (solo
saprolítico), todas coletadas em um mesmo
perfil localizado no Campo Experimental do
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Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da obtidos por meio do pentapycnometro estão


Universidade de Brasília. apresentados na Tabela 1 em termos de
densidade real (Gs). A Tabela 2 apresenta
apenas os valores médios obtidos para cada
2.3 Preparação das Amostras profundidade segundo o tratamento dispensado
ao solo.
Nesse experimento usando o pentapicnômetro
(Figura 1) o procedimento de secagem é Tabela 1. Densidades dos grãos das amostras analisadas.
necessário para evitar que a presença de água MEDIA
interfira no resultado da massa específica SOLO Gs Gs
medida. 2.6825 2.6831
Foi utilizado no estudo: 1 m natural e seco a 110°C
2.6837
a) Solo natural passando na peneira de malha
2.7175 2.7160
nº 4, seco em estufa à temperatura de 110 1 m destorroado e seco a 110°C
2.7144
°C por 24 horas e não submetido a
1 m desagregado com ultrassom e 2.7148 2.7139
destorroamento manual; seco a 40°C 2.7129
b) Solo passando na peneira de malha nº 4 1 m desagregado com ultrassom e 2.7361 2.7371
destorroado manualmente e seco na estufa à seco a 110 °C
110 °C por 24 horas; 2.7380
c) Solo passando na peneira de malha n° 4, 2.7128 2.7140
5 m natural e seco a 110°C
desagregado com equipamento de ultrassom 2.7151
e seco na estufa à 40 °C por 48 horas e 5 m destorroado e seco a 110°C
2.7518 2.7503
submetido a destorroamento manual; 2.7488
d) Solo passando na peneira de malha n° 4, 5 m desagregado com ultrassom e 2.7454 2.7496
desagregado com equipamento de seco a 40°C 2.7537
ultrassom, seco na estufa à 40 °C por 48 5 m desagregado com ultrassom e 2.7537 2.7553
horas e seco na estufa à 110 °C por 24 horas seco a 110°C 2.7568
e submetido a destorroamento manual. 2.7368 2.7374
9 m natural e seco a 110°C
2.7379
9 m destorroado e seco a 110°C 2.7939 2.7993
2.4 Ensaios Realizados 2.8046
9 m desagregado com ultrassom e 2.7983 2.8010
Além dos ensaios de massa específica dos grãos
seco a 40°C 2.8037
usando o pentapicnômetro foram ainda 9 m desagregado com ultrassom e 2.7949 2.7969
realizadas análises granulométricas seco a 110°C
convencionais com e sem o uso de defloculante 2.7989
e ensaios de compactação MCT na energia 11 m natural e seco a 110°C 2.8529 2.8532
equivalente ao Proctor intermediario. 2.8534
2.8833 2.8785
11 m destorroado e seco a 110°C
2.8736
3 RESULTADOS 11 m desagregado com ultrassom e 2.8954 2.8998
seco a 40°C
2.9041
3.1 Densidade dos Grãos 11 m desagregado com ultrassom e 2.9353 2.9400
seco a 110°C 2.9447
Os resultados de massa específica dos grãos
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Tabela 2. Gs médio dos solos coletados a 1 m, 5 m, 9 m e com a profundidade o que pode estar refletindo
11 m de profundidade. as variações do teor de gibbsita ao longo do
perfil, pois o teor desse mineral de menor
Ultrassom Ultrassom densidade diminui com o aumento da
Prof. Natural Destorroado 40°C 110°C profundidade.
(m) Gs Gs Gs Gs
1 2.6831 2.7160 2.7139 2.7371 3.2 Imagens com Lupa
5 2.7140 2.7503 2.7496 2.7553
9 2.7374 2.7993 2.8010 2.7969 As Figuras 5, 6, 7 e 8 apresentam
11 2.8532 2.8785 2.8998 2.9400 respectivamente imagens dos solos coletados a 1
m, 5 m, 9 m e 11 m de profundidade, en estado
A Figura 4 apresenta os perfis de Gs obtidos úmido (a) e seco (b). De u modo geral observa-
para os diferentes tratamentos dispensados ao se que o processo de secagem gera certa
solo. Observa-se nessa figura que os resultados aglutinação das partículas ampliando o tamanho
obtidos para o solo natural não dstorroado dos agregados naturais existentes a 1 m e 5 m de
apresentou valores inferiores de Gs o que aponta profundidade ou gerando pseudo agregados a 9
para o não acesso do gás Hélio a certos poros m e 11 m de profundidade.
presentes nos agregados. Verifica-se também
que para a profundidade de 1 m os valores
obtidos com destorroamento do solo no
ultrassom e manual com secagem a 110 °C
levou a valores um pouco maiores de Gs
apontando para a eliminação de eventuais poros
residuais que impediam o acesso do gás Hélio.
Tem-se ainda para a profundidade de 11 m, (a) (b)
apesar desse solo não conter, em princípio, Figura 5. Solo de 1 m de profundidade na condição
natural (a) e seca (b).
agregados que o Gs sofreu influência de todas as
técnicas de preparação das amostras. Destaca-se
no entanto, que após o uso do ultrassom o solo
úmido passa por processo de secagem podendo
formar pseudo agregados o que estaria
intervindo nos resultados.

(a) (b)
Figura 6. Solo de 5m de profundidade na condição natural
(a) e seca (b).

(a) (b)
Figura 4. Ensaio de Gs de amostras de 1,5, 9 e 11m. Figura 7. Solo de 9m de profundidade na condição natural
(a) e seca (b).
A Figura 4 mostra ainda que o Gs aumenta
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(a) (b)
Figura 8. Solo de 11m de profundidade na condição
natural (a) e seca (b).

As Figuras 9 e 10 apresentam respectivamente


solos de 1 m e 5 m de profundidade, em seu Figura 11. Análise Granulométrico do solo de 1 m de
profundidade considerando Gs minimo e máximo.
estado natural seco a 110°C formando torrões
ou grumos e após destorroamento a mão para
fazer os ensaios.

Figura 12. Análise Granulométrica do solo de 5 m de


profundidade considerando Gs mínimo e máximo.
(a) (b)
Figura 9. Solo de 1 m de profundidade na condição
natural seco (a) e depois de ser destorroado a mão (b).

(a) (b)
Figura 10. Solo de 5 m de profundidade na condição Figura 13. Análise Granulométrica de solo de 9 m de
destorroada a mão (a) e natural seco (b). profundidade considerando Gs mínimo e máximo.

3.3 Análises Granulométricas

As Figuras 11, 12, 13 e 14 apresentan as curvas


granulométricas obtidas com e sem o uso de
defloculante para os solos coletados a 1 m, 5 m
9 m e 11 m de profundidade, respectivamente.
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Figura 14. Análise Granulométrica do solo de 11 m de


profundidade considerando Gs mínimo e máximo.
Figura 15. Curva de compactação de solo 1m de
Das curvas de sedimentação se observa que profundidade com Linha de Saturação de Gs mínima e
praticamente não ocorre influência do Gs nos Máximá.
resultados calculados considerando-se os
valores mínimos e máximos de Gs obtidos para
cada solo estudado. Portanto, para esse tipo de
ensaio qualquer das técnicas d preparação de
amostras adotada é satisfatória.

3.4 Ensaio de Compactação MCT

Os ensaios realizados de Mini – Compactação


MCT na energia intermediária (6 golpes –
soquete com Peso = 4540 gf), objetivaram obter
as curvas de compactação representativas dos
solos correspondentes ao perfil de intemperismo
estudado. Foram incluídos nos gráficos as
curvas de saturação considerando os valores de Figura 16. Curva de compactação de solo 5m de
Gs minimo e máximo obtidos. profundidade com linha de saturação de Gs Mínima e
As Figuras 15 a 18 apresentam Máxima.
respectivamente as curvas de compactação e
saturação obtidas para as amostras coletadas a 1
m, 5 m, 9 m e 11 m de profundidade.
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Profundidade d máx w ótima


(m) kN/m3 %
1 16,12 21,65
5 16,16 22,30
9 16,55 21,92
11 15,79 23,70

Considerando-se o fato de que o peso


específico aparente seco não possibilita a
avaliação da influência da densidade real dos
grãos na porosidade do solo optou-se por avaliar
a curva de compactação para as profundidades 1
m (solo laterítico) e 11 m (solo saprolítico) em
termos do índice de vazios. As Figuras 19 e 20
Figura 17. Curva de compactação de solo 9m de mostram respectivamente para essas duas
profundidade com linha de saturação de Gs Mínima e
profundidades as curvas de compactação em
Máxima.
termos de índice de vazios.

Figura 19. Curvas de comapactação em termos do índice


de vazios para a profundidade de 1 m.
Figura 18. Curva de compactação de solo 11m de
profundidade com linha de saturação de Gs Mínima e
Máxima.

Os resultados mostrados nessas figuras


indicam ser a técnica de determinação do Gs
relevante para a definição das curvas de Grau de
saturação.
A Tabela 3 apresenta os valores de peso
específico aparente seco máximo e umidade
ótima obtidos para cada solo. Observa-se que
apenas para a profundidade de 11 m os
resultados apresentam diferenças significativas
em relação aos resultados obtidos para as Figura 20. Curvas de comapactação em termos do índice
de vazios para a profundidade de 11 m.
demais profundidades.
Tabela 3. Resultados do ensaio de compactação.
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eficiente aquela na qual o solo foi desagregado


Pode-se observar que o índice de vazios tem com uso de ultrassom e em seguida destorroado
uma significativa variação com os valores de Gs manualmente. Isso se dá devido à eliminação de
mínimo e máximo realçando a importância das microporos inacessíveis ao gás Hélio utilizado
análises realizadas em termos do índice de nos ensaios.
vazios em lugar do peso específico aparente
seco.
AGRADECIMENTOS

4 CONCLUSÕES Os autores agradecem a Universidade de


Brasília e a CAPES e ao CNPq, que
Verificou-se de maneira geral que para os solos possibilitaram a realização desta pesquisa e a
estudados provenientes das profundidades de 1 divulgação dos resultados.
m, 5 m, 9 m e 11 m o valor de Gs pode sofrer
alterações significativas devido á forma de REFERÊNCIAS
preparação das amostras para ensaios com o uso
do equipamento pentapicnômetro à gás. Camapum, J. de C., Gitana, G de F.N., Machado, S.L.,
Também se conclue a partir dos ensaios de Mascarenha, M. M. Dos A., y Chagas, F. Da S.
análise granulométrica realizados que as (2015). Solos não saturados no contexto geotécnico.
São Paulo: Associação Brasileira de Mecânica dos
variações registradas nos valores de Gs segundo Solos e Engenharia Geotécnica.
a técnica usada na preparação das amostras Quantachrome Instruments (s.d.).
exerceram pouca ou nenhuma influência sobre http://www.quantachrome.com/technologies/density.ht
as curvas granulométricas. ml
No caso dos ensaios de compacatação se NBR-7181. (2016). NBR 7181 Solo-Análise
Granulométrica, método de ensaio. Brasil.
observou uma relevante influência da técnica de
preparação das amostras para determinação do
Gs nas curvas de saturação.
As análises realizadas permitiram destacar
ainda a influência do Gs nas curvas de
compactação representadas em termos de índice
de vazios.
Os valores de Gs seguem a seguinte
sequencia, para os solos provenientes das
profundidades de 1 m, 5 m, 9 m e 11 m em
reelação às tecnicas de preparação de amostras
adotadas:

Gs S. Natural < Gs S. destorroado < Gs S. Ultrassom40°C <


Gs S. Ultrassom 110°C

Nesse caso, a variação ou diferença entre os


valores de Gs pode ser menor ou maior, vai
depender do grau de intemperismo sofrido pelo
solo.
Entende-se que o Gs mais representativo do
solo é aquele onde se obtém a máxima
separação das partículas. Dentre as técnicas
utilizadas pode-se considerar como mais
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Análise da influência da adição de Lignina na resistência ao


cisalhamento de um solo superficial residual, laterítico e
colapsível de Cascavel/PR.
Leonir Luiz Paludo Junior
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, leonirpaludo.sh@hotmail.com

Rafaela Lazzarin
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, rafaela_lazzarin@hotmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

RESUMO: Diversos estudos têm sido conduzidos com o material Lignina, armazenado em plantas
terrestres e abundantes na madeira, a fim de verificar os possíveis ganhos na trabalhabilidade e
resistência que o material pode proporcionar na mistura com solos de base, podendo ser uma boa
alternativa ecológica. O presente artigo teve como objetivo determinar a influência da adição de
variados teores de Lignosulfonato de cálcio (lignina) em solo argiloso-laterítico, analizando-se o
intercepto coesivo, ângulo de atrito e resistência ao cisalhamento desta mistura. Por meio do ensaio
de compressão triaxial, foram moldados doze corpos de prova com adições de lignina com os teores
que variam até 10%. Através da análise dos resultados com a mistura entre solo e lignina foi
possível verificar um crescimento nos parâmetros de resistência conforme o aumento de seu teor no
material. A adição de 7,5% foi a que apresentou o maior ganho proporcional na resistência ao
cisalhamento do solo. Através do ensaio de índice suporte Califórnia (ISC), comprovou-se também
que a lignina não apresentou um bom rendimento como reforço estrutural de pavimentos asfálticos,
apresentando ISC inferiores aos com o solo nas condições naturais.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência ao cisalhamento; Lignosulfonato de Cálcio; Índice Suporte


Califórnia.

1 INTRODUÇÃO tornar esse solo estável, a fim de que ele


permaneça com esta propriedade mesmo depois
O solo tem papel fundamental na engenharia de submetido às ações externas e intempéries
civil, uma vez que nele são lançados todos os (Araujo, 2009).
esforços das construções. Para que não ocorram Vários materiais são utilizados para
patologias em obras, o solo deve apresentar estabilizar quimicamente os solos, sendo os
características que possam suportar tais mais comuns o cimento, CAP (Cimento
esforços. Asfáltico de Petróleo), a cal, raspas de pneus,
Devido a crescente demanda de prédios com cinza de casca de arroz, etc.
subsolos e a necessidade de estabilização de É de grande importância para a engenharia
taludes, faz-se necessário conhecer meios mais civil a determinação da resistência ao
baratos para melhoramento e estabilização de cisalhamento de um solo. Logo, isso gera uma
solos, com segurança, rapidez e economia. necessidade de estudos sobre possíveis
A estabilização de um solo consiste em materiais que interferem nos valores de coesão
utilizar um processo físico e/ou químico para
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e atrito das partículas e consequentemente nos suscetivel a reduções volumétricas acentuadas


parâmetros de resistência ao cisalhamento. quando sob carregamento e aumento de
Além disso, com o grande aquecimento da umidade.
economia brasileira, técnicas para estabilização Realizando ensaios de compactação (Proctor
de solos visando à pavimentação devem ser normal) em corpos de prova com solo
aprimoradas, focando sempre no baixo custo, superficial do CEEF, Zen (2016) determinou
velocidade de execução e durabilidade, uma massa especifica seca máxima de 1,32
evitando desta maneira gastos exorbitantes com g/cm³ e um teor de umidade ótima de 32%.
manutenções e retrabalhos de pistas (Bernucci,
2006). 2.2 Lignina
Diversos estudos têm abordado o material de
origem vegetal denominado Lignina, A lignina é um material proveniente da
armazenado em plantas terrestres e abundantes madeira, e que, para a sua extração, é submetida
na madeira, visando satisfazer os quesitos de a uma sulfonação através do cozimento da
trabalhabilidade e resistência empregando-o na celulose. De acordo com Schwendler (2013), é
mistura de solos de base. relativamente estável em soluções de ácidos
Passa a ser de grande interesse do setor minerais e solúveis em bases aquosas quentes,
rodoviário, e da área geotécnica, apresentar sendo facilmente oxidadas devido ao seu alto
melhorias nas propriedades do solo, bem como teor de compostos aromáticos.
a necessidade de apresentar novos materiais que Caracteriza-se como um polímero
atendam aos parâmetros de resistência, e que tridimensional de fenil-propanóico com cerca
sejam economicamente mais viáveis, desta de 20% do seu peso constituido de biomassa.
forma, reduzindo o custo para implantação de Segundo Amico (2014), sua estrutura é
subleitos asfálticos. composta de três monômeros: o álcool
cumarílico, álcool coniferílico e o álcool
sinapílico. As duas ligações carbono-carbono e
2 MATERIAIS E MÉTODOS carbono-oxigênio também estão presentes na
lignina.
2.1 Solo de Cascavel/PR A lignina possui coloração amarela e sua
textura é muito fina, equivalente a pó, a
A caracterização do solo do Campo tornando assim, um material de fácil manuseio
Experimental de Engenharia do Centro quando em contato com o solo, suas partículas
Universitário Assis Gurgacz (CEEF) foi se agregam facilmente às partículas de solo. Ao
realizada por Zen (2016). Segundo a autora, a acrescentar água no material, a mistura se torna
classificação do solo, conforme especificado na uma espécie de “caramelo”, e na moldagem dos
ABNT (2016a) e de acordo com a curva corpos de prova para a realização dos ensaios,
granulométrica, apresenta cerca de 90% de pode-se notar que o solo fica mais compactado
particulas finas, sendo classificado como uma com a adesão da lignina.
argila silto arenosa. Em relação ao sistema
unificado (SUCS), é classificado como um solo 2.3 Compressão Triaxial
argiloso muito compressível (CH), ao passo no
sistema rodoviário (T.R.B), foi identificado Os corpos de prova utilizados no ensaio triaxial
como A-7-6, correspondendo a uma argila foram moldados com a ajuda de molde
siltosa medianamente plástica, classificada com cilíndrico de diametro 5 cm e altura de 10 cm.
regular a mau para utilização como subleito. Foram realizadas compactações em 5 camadas
Trata-se de um solo residual proveniente de com 26 golpes cada, com soquete pisoteador
rochas eruptivas basalticas, apresentando Harvard Miniature (Proctor Normal), conforme
comportamento laterítico, e portanto, muito apresentado na Figura 1.
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Foram moldados de 3 a 4 corpos de prova


para cada teor em massa de lignina utilizada
(2,5%, 5%, 7,5% e 10%). A mistura foi
realizada com solo seco, retirado da estufa, e
adição de água suficiente para que o solo
chegasse ao teor de umidade ótimo.
Para a realização dos ensaios de compressão
triaxial nas amostras, selecionou-se o ensaio
adensado não drenado (CU), pois permite
determinar a envoltória de resistência em
termos de tensão totais, em um tempo reduzido,
quando comparado ao ensaio adensado drenado.
Figura 1. Molde metálico e soquete Harvard Miniature Para a aplicação da tensão axial, foi utilizada
uma de velocidade de 0,064 mm/min., pois
O solo utilizado para moldagem foi coletado conforme concluído por Bjerrum (1954, apud
do CEEF na camada superficial, a uma Gerscovich, 2016), a geração de poro-pressão
profundidade de 1 metro. A Figura 2 detalha o torna-se independente do tempo de ruptura após
corpo de prova montado na câmara do 5 horas.
equipamento, com a membrana de látex. Após a realização do ensaio, o software
Triaxial Pavitest® estático I-1077, gerou os
circulos de Mohr de cada amostra,
determinando automaticamente o valor do
intercepto de coesão e do ângulo de atrito.

2.4 Indice Suporte Califórnia (ISC)

O procedimento de preparo do solo para o


ensaio de ISC foi realizado com o mesmo
procedimento do ensaio triaxial. Com solo
passado nas peneiras de abertura de 19 mm,
foram compactados na umidade ótima,
conforme as energias de compactações
determinadas pelo ensaio de Proctor normal
(ABNT, 1986), executado usando a combinação
de cilindro e soquete de tamanho grande. As
compactações foram realizadas em 5 camadas
com 26 golpes cada, utilizando soquete de 4,5
kg.
Foram confeccionados 2 corpos de prova
para cada teor em massa de lignina (total de 8
corpos de prova). Inicialmente foram deixados
72 horas submersos em água para análise de
expansão e contração, e em seguida foram
Figura 2. Corpo de prova posicionado entre conjuntos de
papel filtro e pedra porosa, envolvidos por uma
ensaiados em prensa conforme ABNT (2016b),
membrana latex, regulado por linhas de pressão conforme apresentado na Figura 3.
coomputadorizadas
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Figura 3. Execução ensaio ISC. Figura 4. Tensão desviadora x deformação axial para o
corpo de prova com teor de lignina de 2,5%.
Ainda segundo a ABNT (2016b), o ISC é
determinado pela relação entre a maior pressão
obtida entre as deformações de 2,54 mm ou
5,08 mm e a pressão padronizada em brita para
a respectiva deformação.

3 RESULTADOS OBTIDOS

3.1 Compressão Triaxial

Foram conduzidos ensaios com adição de


Lignina em 4 teores diferentes em massa (2,5%,
5%, 7,5% e 10%). Para cada teor de lignina,
foram moldados de 3 a 4 corpos de prova, com Figura 5. Tensão desviadora x deformação axial para o
tensões confinantes (σ3) de 1,0 kgf/cm², 2,0 corpo de prova com teor de lignina de 5,0%.
kgf/cm², 2,5 kgf/cm² e 3,0 kg/cm². A partir
disso foram traçados curvas de tensão
desviadora x deformação de cada ensaio, como
ilustrado nas Figura 4 a 7, através do software
Pavitest.

Figura 6. Tensão desviadora x deformação axial para o


corpo de prova com teor de lignina de 7,5%.
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relatório do intercepto de coesão e do angulo de


atrito, como pode ser verificado na Figura 8,
para os 3 ensaios realizados com teor de 2,5%
de lignina,.

Figura 7. Tensão desviadora x deformação axial para o


corpo de prova com teor de lignina de 10%.

Figura 8. Circulos de Mohr referente aos corpos de prova


Pode-se verificar pequenas distorções no com teor de lignina de 2,5%.
comportamento das amostras, principalmente
para os teores de 2,5% e 10%. No entanto, os Molina e Gandin (2015), ensaiaram amostras
resultados apresentaram-se coerentes ao final, indeformadas do 1° metro do subsolo do CEEF,
pela análise dos circulos de Mohr. e obtiveram, para o solo natural, um ângulo de
A Tabela 1 apresenta a relação dos teores em atrito entre os grãos de 14 graus e intercepto de
porcentagem de massa de lignina utilizada no coesão de aproximadamente 2 kN/m².
solo, as tensões confinantes fixadas nos ensaios Comparando com o solo nas condições
triaxiais e as tensões normais obtidas na naturais, foi constatada uma grande
ruptura, para cada ensaio realizado. variabilidade no ângulo de atrito, com um
ganho de resistência expressivo em pequenos
Tabela 1. Tensões σ1 obtidas para cada teor de lignina
teores de adição e uma tendência de redução
Corpo de σ3 σ1
% lignina
Prova (kgf/cm²) (kgf/cm²)
com grandes porcentagens de adição (7,5% ou
CP1 1,0 3,42 superior), conforme apresenta a Tabela 2.
2,5% CP2 2,0 4,83
Tabela 2. Resumo dos resultados obtidos com adição de
CP3 3,0 7,69
lignina ao solo
CP1 1,0 6,46 Porcentagem adição lignina (em massa)
5% CP2 2,0 5,01 Parâmetro
2,5% 5,0% 7,5% 10%
CP3 3,0 2,91 Angulo de
CP1 2,5 7,72 22° 16° 18° 7°
atrito
7,5% CP2 1,5 5,52 Intercepto
CP3 3,5 9,35 coesivo 0,31 0,46 0,99 0,71
CP1 1,0 2,32 (kgf/cm²)
CP2 3,0 5,30
10%
CP3 2,0 4,24 Pode-se observar que, conforme o teor de
CP4 2,5 4,86 lignina aumenta, a variação do ângulo de atrito
não foi linear, e o maior acrescimo constatado
No software Pavitest, foi possível plotar os do ângulo foi de 22 graus, para 2,5%, o que
circulos de Mohr referentes a cada teor de representa um ganho relativo de 63% no
lignina em massa e gerando automaticamente o parâmetro.
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Já quanto a coesão, não foi constatada uma Na Tabela 3 é apresentado um resumo dos
tendência de aumento ou redução com relação valores de ISC e da expansão média obtidos
ao mesmo solo, quando comparado com o solo para cada par de amostras, nas porcentagens em
nas condições naturais. massa de adição de lignina de 3,3%, 6,6% e
10%.
3.2 Indice Suporte Califórnia (ISC)
Tabela 3. Média dos resultados de expansão e ISC para
Após a moldagem dos corpos de prova, os 3 teores de lignina nos corpos de prova
utilizando a energia normal de Proctor e a Teor de lignina 3,33% 6,60% 10,0%
umidade ótima do solo, deixou-se as amostras Expansão (%) 0,70% 0,96% 0,48%
imersas em água durante um período de 72 ISC (%) 10,57 11,68 9,32
horas, realizando leituras de
expansão/contração a cada 24 horas. Após o
Pode-se observar que a melhor composição
termino, os corpos de prova foram conduzidos
de solo-lignina é de 6,6% em massa, com índice
para o ensaio de penetração, afim de determinar
ISC máximo de 11,68%. Comparando com o
os valores de ISC de cada amostra.
ISC in natura do mesmo solo de 14%,
Nas Figuras 9 e 10 são apresentadas as
determinado por Santos e Guth (2015), verifica-
curvas de pressão (kPa) x penetração (mm)
se que o material não propicia uma melhora na
obtidas para os ensaios ISC, para dois corpos de
resistência, e em teores maiores tende a reduzir
prova realizados em cada um dos três teores de
ainda mais a mesma.
lignina, totalizando seis corpos de prova.

4 CONCLUSÕES

Dentre os teores de amostras ensaiados, a


dosagem 7,5% de lignina foi o teor que obteve
os maiores indicadores nas propriedades de
resistência ao cisalhamento (intercepto coesivo
de 0,99 kg/cm² e ângulo de atrito de 18,37º),
porém, quando comparados com o solo in
natura, é possível analisar que não há um ganho
expressivo na resistência.
A porcentagem em massa de 6,66% de
Figura 9. Ensaio de penetração ISC na amostragem 1.
adição de lignina, apresentou o melhor Índice
Suporte Califórnia (ISC) dentre as 3 misturas,
porém, quando comparado com o ISC do solo
nas condições naturais, ensaiado por Santos e
Guth (2015), não foi constatado ganho
significativo em sua capacidade de suporte que
justifique sua utilização junto ao solo para
aplicação como subleitos e sub-bases asfálticas.
Conclui-se, portanto, que esse aditivo não é
viável para ser utilizado como reforço de
pavimentos asfálticos, principalmente devido ao
seu alto valor de mercado atual.
Figura 10. Ensaio de penetração ISC na amostragem 2. De acordo com o DNER (2010), dosagens
acima de 10% podem se tornar inviáveis para
utilização em grandes obras de engenharia civil
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como subleitos de rodovias e aterros para fins Rodoviários. Monografia de conclusão do


compactados, justificando, portanto, porque não curso de Engenharia Civil. Universidade Santa Cruz
do Sul, Santa Cruz do Sul/PR.
foram ensaiadas dosagens em massa acima de Molina M. D.; Gandin R. M. (2015). Determinação dos
10% de lignina. parâmetros de resistência ao cisalhamento através de
Quanto a característica do material em si, foi ensaio de compressão triaxial rápido (cu) do subsolo
observado que na dosagem de 10% a mistura de da FAG em Cascavel/PR. Monografia de conclusão
solo e lignina ficou com um aspecto muito do curso de Engenharia Civil. Centro Universitário
Assis Gurgacz, Cascavel/PR.
líquido, o que dificultou sua trabalhabilidade na Santos, C. J.; Guth, F. (2015). Comparação dos
moldagem dos corpos de prova, visto que a Resultados dos Ensaios de Cone de Penetração
lignina apresenta uma característica semelhante Estática (CPE), Cone de Penetração Dinâmica
ao caramelo ao ser adicionado em água. Isso se (CPD) com o Califórnia Bearing Ratio (CBR) em
dá devido ao seu poder aglutinante, o que pode Vários Teores de Umidade. Monografia de conclusão
do curso de Engenharia Civil. Centro Universitário
ser uma propriedade importante para o uso em Assis Gurgacz, Cascavel/PR.
encostas e contenção de morros, empregando-a Zen, B. (2016) Caracterização geotécnica do subsolo do
como um estabilizante para o solo. campo experimental do centro acadêmico da Fag em
Mais ensaios com concentrações de lignina Cascavel- PR. Monografia de conclusão do curso de
em teores em massa diferentes podem ser Engenharia Civil. Centro Universitário Assis
Gurgacz, Cascavel/PR.
pertinentes, de modo a comprovar realmente
sua aplicabilidade como melhoramento de
solos.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.


NBR 7182 (1986). Ensaio de Compactação. Rio de
Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 7181 (2016a). Análise Granulométrica. Rio de
Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 9895 (2016b). Índice de suporte Califórnia
(ISC) - Método de ensaio. Rio de Janeiro.
Amico, S. (2014). Graftização de Partículas de Lignina
pelo PLLA. Trabalho de Diplomação, UFRGS, Rio
Grande do Sul/ RS.
Araujo, A. F. (2009). Avaliação de Misturas de Solos
Estabilizados com Cal, em pó e em Pasta para
Aplicação em Rodovias do Estado do Ceará.
Dissertação de Mestrado, Programa de Mestrado em
Engenharia do Transportes, Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, CE, 175 fl.
Bernucci, et. al., (2006) Pavimentação Asfáltica:
Formação Básica Para Engenheiros, Rio de Janeiro:
Petrobras: Abeda. 504 p.
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
transportes (2006). Manual de Pavimentação. 3ed.
Rio de Janeiro.
Gerscovich, D. M. S. (2016). Estabilidade de Taludes.
2. ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Oficina de Textos.
Schwendler, D. H (2013). Estabilização de dois solos do
Rio Grande do Sul com Lignosulfonato de Cálcio
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Análise da Influência da Porosidade e do Intemperismo na


Resistência das Rochas Utilizadas Como Agregados Para
Lastro Ferroviário

Júlia Guimarães Santos


Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil, julia-2410@hotmail.com

Thácio Carvalho Pereira


Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil, thacio.cp@gmail.com

Fernando Antônio Borges Campos


Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil, fernandoabece@gmail.com.br.

Hebert da Consolação Alves


Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil, hebertalvesa@yahoo.com.br

Tatiana Siman Magalhães


Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil, tatianasiman@outlook.com

Victor Moreira Faria


Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil,victorfaria98@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho tem como finalidade determinar a influência da porosidade e da ação do
intemperismo em materiais pétreos e em alternativos (escória de aciaria) a serem utilizados como
lastro ferroviário. Para o seu desenvolvimento foram utilizadas britas de gnaisse e de escória de
aciaria, separadas pelo processo de quarteamento, em seguida determinando sua granulometria.
Foram realizados os ensaios: resistência ao choque no aparelho Treton NBR 5564 (ABNT, 2014),
abrasão “Los Angeles” NBR NM51 (ABNT, 2001) e carga pontual NBR 5564 (ABNT, 2014). Após
determinado o comportamento mecânico inicial das amostras, foram realizados dois ensaios
simultâneos com adaptações das normas: resistência a intempérie NBR 5564 (ABNT, 2014) e
resistência ao congelamento e degelo NBR 15845 (ABNT, 2010). Com os resultados obtidos
verificou-se uma redução da resistência mecânica dos agregados quando submetidos às intempéries
e ao congelamento, entretanto não atigiram as especificações do lastro padrão sendo necessária a
realização de mais ensaios.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência; Temperatura; Intemperismo.

1 INTRODUÇÃO estruturais que as constitui. Os minerais são


compostos químicos decorrentes de processos
As características físicas das rochas dependem inorgânicos e se encontram facilmente na
do seu processo de formação e dos elementos natureza. Cada tipo de mineral possui
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características inerentes devido ao seu processo temperatura que podem levar à fadiga e ruptura
de formação e sua composição química. do material, alterando seus parâmetros
As rochas são aglomerados de minerais estruturais e com isso conferir sua resistência.
sólidos de origem natural que se consolidam de Já o químico ocorre com as reações, durante a
várias maneiras. As rochas Magmáticas (Ígneas) percolação da água e do ar nos poros das
são provenientes do resfriamento do magma que rochas, que modificam a conformação dos
pode ocorrer de forma intrusiva e extrusiva. minerais. Geralmente ocorrem em regiões de
Rochas intrusivas (plutônicas) são consolidadas clima tropical devido aos altos índices
de forma lenta no interior do planeta por pluviométricos. Por fim, o biológico, se dá
processos denominados de plutonismo, com através da ação de bactérias que decompõem os
isso, têm-se cadeias cristalinas bem materiais orgânicos (PRESS et al., 1995).
desenvolvidas. Como o magma é composto na Desde as primeiras civilizações,
maior parte de misturas de silicatos, rochas há registros da utilização das rochas como
magmáticas possuem boa resistência e são material de construção civil. Baseando-se
muito utilizadas na construção civil, como nesses argumentos, é de suma importância
granito, diorito e o gabro. Já as rochas analisar os diversos fatores que influem na
extrusivas provem do processo de efusão do durabilidade e eficiência dos materiais
material magmático (vulcanismo) que em utilizados na construção, especialmente para o
contato direto com a atmosfera resfriam uso como lastro ferroviário.
rapidamente dificultando a cristalização dos
minerais constituintes. Dentre elas tem-se o No caso da via permanente ferroviária, as
riolito e o basalto. rochas são utilizadas como material mais
As rochas sedimentares (ou estratificadas) granular, componentes de sublastro e de lastro.
Além dos trilhos, a via permanente ferroviária é
por sua vez são formadas pelo intemperismo de
dividida em sublastro e lastro, os quais são
outras rochas e material orgânico, que se
constituídos de materiais que apresentam
acumulam em bacias. Com as condições de
características específicas. De acordo com
temperatura e pressão ideias essas rochas são
NABAIS. (2014), as rochas utilizadas como
compactadas e consolidadas. As rochas
sublastro devem conter algumas características,
sedimentares químicas, como o calcário e o
tais como:
dolomito, na maioria das vezes suportam
esforços compressionais e são formadas por  Conter a penetração do lastro no sublastro;
carbonatos, sulfatos, sílica e fosfatos.  Aumentar a resistência do leito à erosão;
As rochas metamórficas, como o gnaisse e  Favorecer uma melhor drenagem da via;
o quartzito são formadas pela transformação  Permitir relativa elasticidade ao apoio do
(metamorfismo) de uma rocha já existente, ou lastro;
seja, há uma reorganização dos minerais
presentes em outras cadeias estruturais Já o lastro ferroviário, deve apresentar
conferindo uma textura laminada. características como:
Com o passar do tempo, as rochas sofrem  Resistência aos esforços transmitidos.
uma série de alterações que influenciam  Possuir elasticidade limitada para abrandar os
significantemente em sua estrutura. Parte destas choques.
alterações se dá devido ao fenômeno
 Ter dimensões que permitam sua
denominado intemperismo, podendo ser
denatureza física, química ou biológica. O interposição entre os dormentes e sublastro.
físico se origina com a atuação da pressão e  Ser resistente aos agentes atmosféricos.
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 Ser material não absorvente, não poroso e de 19,0 - 90 – 100


grãos impermeáveis. 12,0 95 – 100 98 – 100
 Não deve produzir pó. Na Tabela 3, verifica-se as informações
O lastro Padrão que se localiza entre os sobre o ensaio da abrasão Los Angeles.
dormentes e o sublastro, devem apresentar
características previstas por normas técnicas Tabela 3. Desgaste abrasão Los Angeles
vigentes. O aspecto elástico do agregado deve
Característica Valor Verificado
ser competente em aumentar a durabilidade do conforme
material rodante (locomotivas e vagões), da Desgaste Los Igual ou inferior ABNT/NBR
infraestrutura, trilhos e assessórios segundo a Angeles a 30% NM51
especificação técnica de serviço (ETS) 001
(DNIT 001, 2016) Para uma análise geomecânica das rochas
Na Tabela 1, observa-se as características utilizadas como lastro ferroviário, é necessário
que serão utilizadas como parâmetros de avaliar parâmetros que influem na resistência de
avaliação de desempenho do lastro ferroviário, cada material. Os principais índices a serem
segundo a NBR 5564 (ABNT, 2014). observados são: porosidade, peso específico,
alterabilidade e durabilidade.
Tabela 1. Características do lastro ferroviário
Característica Valor Verificado Segundo Azevedo et al.(2014), a água
conforme intersticial, retida nos poros, pode causar
Resistência à 10% Anexo C impactos importantes quando o agregado é
intempérie submetido a diferentes condições climáticas. A
(máxima)
Resistência a 100 MPa Anexo D variação do coeficiente de dilatação dos
compressão diversos minerais que compõem a rocha faz
axial (mínima) com que estes recebam esforços intermitentes,
Resistência ao 25% Anexo E ocorrendo a fadiga desses minerais que serão
choque (índice
de tenacidade
desagregados com grande facilidade e
Treton máximo) reduzindo-os em pequenos fragmentos. Dessa
forma, os materiais mais porosos aceleram o
Na Tabela 2, encontra-se a granulometria processo de infiltração de soluções aquosas em
que deve ser verificada de acordo com a NM- meio às fraturas preexistentes. Essas soluções se
ISO 3310 (ABNT, 2010). alojam nesses materiais que podem sofrer
expansão do seu volume quando congelados,
Tabela 2. Distribuição granulométrica do lastro gerando consequentemente novos
ferroviário fraturamentos.
Lado da malha Porcentagem em massa acumulada O peso específico se relaciona aos estados
da peneira de (%)
saturado, seco, e natural aos constituintes
acordo com a
ABNT NBR NM
sólidos da amostra do material rochoso.
ISSO 3310-1 Padrão A Padrão B Alterações no valor da densidade das rochas
(mm) podem alterar o valor da resistência à
compressão.
76,2 - 0–0
63,5 0–0 0 – 10 Perturbações advindas das variações no
50,8 0 – 10 -
nível de tensões (aquecimento-resfriamento,
umedecimento-secagem, congelamento-degelo),
38,0 30 – 65 40 – 75
podem causar diferentes níveis de deformação
25,4 85 – 100 -
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nas rochas, dependendo das características temperatura mínima de -15 °C por 24 horas, na
físico-químicas de cada material analisado. qual após seu completo congelamento, eram
deixadas descongelando por ± 12 horas em
A predisposição de que uma determinada rocha
temperatura ambiente, para que possa iniciar o
tem de alterar-se é denominado alterabilidade e
ciclo novamente. Após o final dos ciclos, os
tem relação direta com o grau de intemperismo
ensaios iniciais de resistência ao choque,
da rocha e indica a disposição à desagregação.
abrasão “Los Angeles” e carga pontual foram
Este índice é útil, por apresentar uma faixa
mais uma vez realizados para comparar com os
relativa de durabilidade da rocha, que é definida
resultados iniciais.
como a dificuldade que uma determinada rocha
de se alterar.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
2 OBJETIVOS
4.1 GRANULOMETRIA

Buscar parâmetros e resultados científicos


Os resultados do ensaio de granulometria das
através de experimentos laboratoriais de
amostras de escória e de gnaisse, que passaram
adaptações de normas que atestem ou não, que
por ciclos de congelamento/degelo e intempérie,
a porosidade e o intemperismo influem na
estão presentes nas Tabelas 4 e 5.
resistência das rochas utilizada como material
para lastro ferroviário.
Tabela 4. Granulometria escória

3 METODOLOGIA

As amostras utilizadas nos ensaios foram


gnaisse e a escória de aciaria. Iniciou-se
coletando amostras a partir do processo de
quarteamento, em seguida foram realizados os
ensaios de granulometria e posteriormente por
ensaios de resistência ao choque no aparelho Tabela 5. Granulometria gnaisse
Treton NBR 5564 (ABNT, 2014), abrasão “Los
Angeles” NBR NM51 (ABNT, 2001), e carga
pontual NBR 5564 (ABNT, 2014). Após
determinado o comportamento inicial das
amostras foram realizados dois ensaios
simultâneos, de resistência a intempérie e
resistência ao congelamento e degelo, utilizando
adaptações das normas NBR 5564 (ABNT,
2014) e NBR 15845 (ABNT, 2010), Analisando os parâmetros quanto à
respectivamente. Para o ensaio de resistência à distribuição granulométrica do lastro pressupõe-
intempérie foram realizados 30 ciclos, se que com desgaste das amostras, houve
constituídos de no mínimo 8 horas de alterações nos valores retidos para cada peneira.
submersão em solução de sulfato de sódio Isto é, partículas perderam coesão e foram
( , seguindo por 8 horas de secagem na desagregadas. Consequentemente o volume dos
estufa à 100 ± 5 °C. Para o ensaio de resistência agregados diminuiu alterando-se a
ao congelamento e degelo foram realizados 18 granulometria e retendo-os em peneiras com
ciclos, nos quais as amostras foram submersas uma bitola menor.
em água e colocadas em um freezer com
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Nota-se que os valores obtidos não se ao desgaste das rochas, não foi possível obter 3
encaixam com o padrão de amostragem amostras para a realização do ensaio, como
estabelecido pela NM-ISO 3310. Porém se proposto na ABNT/NBR 5564 - anexo E. Assim
mantiveram próximos ao padrão A. os ensaios foram realizados com apenas duas
4.2 ABRASÃO LOS ANGELES amostras.
A as Tabelas 8 e 9, exibem os resultados
Na Tabela 6 e 7 são apresentados os obtidos de cada ensaio e porcentagens de
resultados do ensaio da abrasão Los Angeles. desgaste.

Tabela 6. Ensaio de abrasão Los Angeles – Gnaisse Tabela 8. Resultados do ensaio de resistência ao choque

Tabela 9. Resultados do ensaio de resistência ao choque


Tabela 7. Ensaio de Abrasão Los Angeles – Escória
asciaria

Como esperado, o ataque químico


provocado pelo sulfato de sódio, presente na
Comparando os resultados das tabelas solução, e as expansões e contrações devido o
acima com os valores limites admitidos na congelamento/degelo, causaram deteriorações
norma NBR NM51, nota-se que os agregados na estrutura da rocha. Quando submetida a
apresentam características físicas que não se esforços, como o choque, os agregados
enquadram aos parâmetros esperados para apresentaram uma menor resistência quando
lastro. Porém, pode-se perceber que houve comparada com a resistência inicial da amostra
perda de resistência com o desgate após a padrão.
realização dos ensaios específicos.
As dimensões de todos agregados
4.3 RESISTÊNCIA AO CHOQUE utilizados na amostra para os ensaios de carga
pontual, estavam em conformidade com as
Analisando os parâmetros do ensaio de especificações normativas. Porém mesmo antes
resistência ao choque, pressupõe-se que devido dos ataques químicos e físicos, os tipos de
rochas analisados não atenderam ao esperado
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para o lastro padrão, uma vez que, como ainda maior, pois o surgimento de fissuras
descrito na ABNT NBR 5564, estes deveriam permite a maior entrada de solução na rocha,
resistir a uma compressão axial mínima de danificando-a ainda mais, como demonstrado
25%. nas figuras 2.

4.4 CARGA PONTUAL

A seguir, os valores com as tensões médias


encontradas no ensaio de carga pontual.

Tabela 8. Resultados do ensaio de Carga Pontual Figura 2. Amostra de escória pós ensaio de carga pontual
CARGA PONTUAL
Valor médio das tensões
Material (escória)
(Mpa)
Padrão 10,87 Do mesmo modo na figura 3, verificamos o
Pós intempérie 10,60 plano de ruptura da amostra de gnaisse,
Pós congelamento 9,25 submetida ao ensaio de congelamento/degelo.

Tabela 9. Resultados do ensaio de Carga Pontual


CARGA PONTUAL
Valor médio das tensões
Material (gnaisse)
(Mpa)
Padrão 10,02
Pós intempérie 7,65
Pós congelamento 8,54

Observa-se na figura 1 os planos


preferencias de ruptura da amostra que
governam o comportamento mecânico da rocha.

Figura 3. Amostra (congelamento/degelo) gnaisse pós


ensaio de carga pontual

5 CONCLUSÃO

Apesar de muitas amostras (gnaisse e escória)


apresentarem menor resistência após serem
Figura 1. Amostra de escoria, submetida ao ensaio de submetidas aos ciclos de ensaios, nota-se que os
carga pontual. resultados obtidos não se encaixaram nos
parâmetros inicalmente estabelecidos para o
As descontinuidades apresentadas, se lastro padrão.
relacionam com a porosidade das rochas. Como foram utlizadas adapatações de
Quanto maior o número de poros, maior será a normas para os ensaios de congelamento/degelo
saturação do agregado, consequentemente, e intempérie, é necessária a realização de mais
maior a pressão nos poros, o que pode causar estudos sobre o tema, utilizando um maior
fissuras. Para o ensaio de intempérie o dano é número de amostras e ciclos, para verificar se
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há uma convergência de resultados obtidos no


presente trabalho.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos técnicos e
professores do Laboratório de Ferrovias e
Asfalto da Universidade Federal de Ouro Preto
pelo auxilio prestado e também ao incentivo da
Fundação Gorceix a produção cientifica.

REFERÊNCIAS

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas


(2014) NBR 5564: Via férrea – Lastro Ferroviário –
Requisitos e métodos, Rio de Janeiro.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2010) NBR 15845: Rochas para Revestimento –
Métodos de ensaio, Rio de Janeiro.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2001) NBR NM51: Agregado graúdo – Ensaio de
abrasão “Los Angeles”, Rio de Janeiro.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2001) NBR NM51: Agregado graúdo – Ensaio de
abrasão “Los Angeles”, Rio de Janeiro.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2011) NBR NM-ISSO 3310: Peneiras de ensaio -
Requisitos técnicos e verificação - Parte "I Peneiras
de ensaio com tela de tecido metálico, Rio de Janeiro.
AZEVEDO, A. I.; M, E. (2002). Introdução à mecânica
das rochas. Viçosa: UFV 2002. 363 p. (Cadernos
didáticos; 85). ISBN 8572691154
NABAIS, R. J. S. Manual Básico de Engenharia
Ferroviária. São Paulo: Oficina De Textos, 2014.
PRESS, F.; GROTZINGER, J.; SIEVER, R.; JORDAN,
T. H. Para Entender a Terra. Tradução: MENEGAT,
R. (coord.). 4a edição. Porto Alegre: Bookman, 2006.
SILVA, Maria Elizabeth. Avaliação Da Susceptibilidade
De Rochas Ornamentais E De Revestimentos À
Deterioração – Um Enfoque A Partir Do Estudo Em
Monumentos Do Barroco Mineiro. 2017. 126 P.
Doutorado (Programa De Pós-Graduação Em
Geologia)- Instituto de Geociências , Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
Disponível em:
<http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstrea
m/handle/1843/MPBB-76ZJ33/cap_iv_altera
o_de_rocha.pdf?sequence=5> . Acesso em: 08 dez.
2017.
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Análise da influência da sucção matricial na resistência à


compressão simples de um solo siltoso estabilizado com cal
Amanda Dalla Rosa Johann
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, amandajohann@utfpr.edu.br

Marcele Dorneles Bravo


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, marcele.bravo@gmail.com

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

António Joaquim Pereira Viana da Fonseca


Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, viana@fe.up.pt

RESUMO: Ensaios de resistência à compressão simples são comumente utilizados para verificar a
efetividade da estabilização de solos com cal. Na realização deste ensaio a amostra de solo-cal
encontra-se na condição não-saturada, onde espera-se que um determinado nível de sucção esteja
presente. As medidas de sucção neste trabalho têm o objetivo de verificar qual sua magnitude e se
esta apresenta variação significativa entre as amostras. Para atingir os objetivos da pesquisa foram
realizados ensaios de resistência à compressão simples (qu) e ensaios de sucção matricial (Su) em
amostras com diferentes teores de cal, diferentes porosidades, diferentes teores de umidade e
diferentes tempos de cura. A partir dos resultados obtidos pode-se verificar que a Su tende a
aumentar à medida que diminui o índice de vazios. Além disso, os corpos-de-prova não
apresentaram grandes variações em relação a Su, que não passa de 15% da qu em todas as amostras
ensaiadas.

PALAVRAS-CHAVE: solo-cal, resistência à compressão simples, sucção matricial.

1 INTRODUÇÃO al., 2017; Consoli et al., 2011; Viana da


Fonseca et al., 2009; Consoli et al., 2009; Rios
A cal é utilizada na estabilização de solos desde et al., 2017, Dalla Rosa, 2009; Silvani, 2013;
a antiguidade, com aplicação principalmente em Guedes, 2013) quando se deseja verificar a
pavimentações e aterros, melhorando as efetividade da estabilização com cal ou acessar
características do solo, que por ser um material aspectos relativos à importância de fatores
complexo e muito variável nem sempre satisfaz influentes sobre a resistência de solos
as necessidades da obra a ser realizada. melhorados. Uma das razões para tal é a sua
Os solos tratados com cal exibem um simples e rápida execução. Além disso possui
comportamento mecânico complexo, baixo custo, é confiável e é amplamente
influenciado por diversos fatores (quantidade de difundido no meio técnico. Contudo, as
cal adicionada, porosidade da mistura, teor de amostras de solo-cal quando submetidas a este
umidade e tempo de cura). Neste contexto, tipo de ensaio estão no seu teor de umidade de
ensaios de resistência à compressão simples têm moldagem, encontrando-se na condição não-
sido utilizados na maioria dos programas saturada. Sendo assim, espera-se que um
experimentais relatados na literatura (Consoli et determinado nível de sucção esteja presente.
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De acordo com Cruz (2001), em geral, os percentagem passante se distribui entre as


solos compactados próximos ao teor ótimo de frações silte e argila: 22% de argila (< 0,002
umidade apresentam grau de saturação variando mm) e 78% de silte (0,002 a 0,075 mm). O
entre 70% e 90%, com valores de sucção limite de liquidez (38%) é baixo, considerando
compreendidos entre 0 kPa e 1000 kPa. O autor a média apresentada pelas argilas. O índice de
também apresenta medidas de sucção de treze plasticidade (4%) indica um solo fracamente
solos residuais lateríticos compactados, para os plástico (1 < IP < 5). Portanto, o caulim rosa, de
quais encontrou valores de sucção variando de acordo com o SUCS (Sistema Unificado de
30 kPa até 250 kPa. Da mesma forma, Marinho Classificação de Solos) (ASTM D 2487, 1993),
e Silva (2001) citam que a maioria dos solos é classificado como um silte de baixa
compactados apresentam, no teor ótimo de plasticidade.
umidade, sucções variando de 50 kPa a 300 A cal utilizada no trabalho é uma cal
kPa. hidratada dolomítica, comercialmente chamada
Dalla Rosa (2009) ao estudar misturas solo- de “Primor Extra”, produzida em Caçapava do
cinza-cal encontrou valores de sucção de no Sul – RS, com massa específica real dos grãos
máximo 820 kPa. Para a realização das medidas igual a 2,49 g/cm3.
de sucção as amostras foram imersas em água, A água utilizada para a moldagem dos
as quais atingiram grau de saturação, em média, corpos-de-prova é a água potável proveniente
de 70%. da rede de abastecimento pública. Já para os
Silvani (2013) ao estudar uma areia ensaios de caracterização utilizou-se água
estabilizada com cal e cinza volante encontrou destilada quando especificada pela respectiva
valores de sucção variando de 2 kPa a 12 kPa. norma..
Guedes (2013) ao estudar um solo-cimento
reforçado com fibras encontrou valores de 2.2 Métodos
sucção de no máximo 297 kPa. Os dois autores
também realizaram as medidas de sucção 2.2.1 Moldagem e cura dos corpos de prova
matricial após a imersão das amostras, que
atingiram grau de saturação, em média de 87%. Para os ensaios de resistência à compressão
Neste contexto, as medidas de sucção simples e sucção matricial, foram moldados
matricial neste trabalho têm o objetivo de corpos de prova cilíndricos de 50mm de
verificar qual sua magnitude sobre a resistência diâmetro e 10mm de altura. Após a pesagem
à compressão simples das amostras solo-cal e se dos materiais, o solo e a cal foram misturados
esta apresenta variação significativa entre as até a mistura adquirir uma consistência
amostras. uniforme. Após esse processo, a água então era
adicionada, continuando o processo de mistura
até que a homogeneidade fosse obtida.
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL Após o processo de mistura do material
suficiente para um corpo de prova, a mistura
2.1 Materiais foi armazenada em um recipiente fechado para
evitar perdas de umidade antes da compactação.
O material denominado “caulim” utilizado nesta Duas pequenas porções da mistura eram
pesquisa é comercialmente conhecido como retiradas, para determinação da umidade ().
caulim rosa, originário do município de Pântano O corpo de prova era compactado
Grande-RS. estaticamente, em 3 camadas, em um molde de
A partir da análise da curva granulométrica ferro fundido, de modo que cada corpo de prova
percebe-se que 100% do material passa na atingisse o seu peso específico aparente seco
peneira 200 (0,075 mm), e que essa (d) desejado. Após o processo de moldagem, o
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corpo de prova foi imediatamente extraído do medições de sucção foram realizadas com o
molde, e seu peso, diâmetro e altura medidos objetivo de verificar a sua magnitude e verificar
com precisão de cerca de 0,01 g e 0,1 mm. Os se houve variação significativa entre os corpos
corpos de prova foram então, colocados dentro de prova de diferentes porosidades e diferentes
de sacos plásticos, para evitar variações quantidades de cal.
significativas do teor de umidade. Além disso, A sucção medida foi a matricial, ou seja, a
eles foram curados por 28, 90 e 360 dias em que decorre das forças de capilaridade no
uma câmara úmida com 23º±2º C e umidade interior do corpo de prova. Ela foi medida
relativa do ar acima de 95%. usando a técnica do papel filtro. O papel filtro
Os corpos de prova que foram considerados utilizado foi o Whatman No 42. As equações de
aptos para os ensaios respeitaram as seguintes calibração utilizadas para este papel filtro foram
tolerâncias: as apresentadas por Chandler et al. (1992).
• d: dentro de ± 1% do valor alvo; Segundo Bicalho (2015) o método do papel
• : dentro de ± 0,5% do valor alvo; filtro é o mais simples dos métodos disponíveis
• Dimensões: diâmetro de ± 0,5 mm e altura para estimar a sucção do solo e pode ser
de ± 1mm em relação ao valor alvo. utilizado em uma ampla faixa de sucção (30
kPa a 30000 kPa). O método estima
2.2.2 Ensaios de Resistência à Compressão indiretamente a sucção do solo, através da
Simples determinação da umidade do papel filtro em
equilíbrio hidráulico com o solo.
Após a cura em câmara úmida as amostras
foram submersas em um tanque com água por 2.2.4 Programa de ensaios de resistência à
24 horas para saturação, e assim minimizar a compressão simples e sucção matricial
sucção, antes da realização dos ensaios de qu. A
temperatura da água foi mantida a 23±2ºC. As percentagens de cal (Ca = 3, 5, 7 e 9%,
Para a realização dos ensaios de 28 e 360 sendo Ca a massa de cal em relação a massa
dias foi utilizada uma prensa automática seca de solo) foram definidas a partir de outras
(LEGG/ENVIRONGEO – UFRGS) com pesquisas para posteriores comparações, e estão
capacidade máxima de 100 kN, além de anéis de acordo com a experiência brasileira e
dinamométricos calibrados com capacidade de internacional com solo-cal. O programa de
10 kN e 50 kN e resolução de 0,005 kN (0,5 ensaios de qu teve como objetivo avaliar a
kgf) e 0,023 kN (2,3 kgf), respectivamente. Para influência das variáveis: quantidade de cal (Ca),
os ensaios de 90 dias foi utilizada a prensa umidade () e porosidade () sobre a qu.
automática do LABGEO– FEUP, que consiste Para que seja possível a mensuração da
em uma prensa automática com capacidade influência de uma variável isoladamente é
máxima de 100 kN equipada com células de necessário que as outras variáveis sejam
carga de 5, 10, 20, 25 e 100 kN. A taxa de mantidas constantes. Para isto foi elaborado o
deslocamento adotado foi de 1,14 mm por programa de ensaios conforme apresenta a
minuto. O procedimento dos ensaios de Figura 1. Observa-se que os pontos de
resistência à compressão simples seguiram a moldagem foram posicionados em três linhas
norma americana ASTM D 5102/96. verticais (pontos: A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7,
A8 e A9), denominadas linhas “A”, com três
2.2.3 Ensaios de Sucção Matricial diferentes teores de umidade (17, 20 e 23%) e
diferentes pesos específicos aparentes secos.
Em sua umidade de moldagem todos os corpos Cada ponto da linha “A” foi moldado com 4
de prova estão em um estado insaturado, e um diferentes percentagens de cal (3, 5, 7 e 9%) e
certo nível de sucção pode estar presente. As as amostras foram curadas durante 28, 90 e 360
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dias. Os corpos de prova com 90 e 360 dias de


cura apresentam as mesmas tendências (Figuras
3 e 4, respectivamente).
Pode-se observar que a quantidade de cal
tem efeito significativo sobre a resistência à
compressão simples do material para os corpos-
de-prova ensaiados, que aumenta linearmente
com o aumento da quantidade de cal. Além
disso, a resistência à compressão simples
aumenta com o aumento do peso específico
aparente seco e com o aumento do tempo de
cura.

Figura 1. Programa de ensaios de resistência à


compressão simples e de sucção matricial.

3 RESULTADOS E ANÁLISES

3.1 Ensaios de Resistência à compressão


simples

3.1.1 Amostras com 17% de umidade


Figura 3. Variação da resistência à compressão simples
Os resultados dos ensaios de resistênica à (qu) com a quantidade de cal para 17% de umidade aos
compressão simples para as misturas com 17% 90 dias de cura
e 28 dias de cura são apresentados na Figura 2,
que apresenta resultados considerando os pesos
específicos aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5
g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%,
5%, 7% e 9%.

Figura 4. Variação da resistência à compressão simples


(qu) com a quantidade de cal para 17% de umidade aos
360 dias de cura

3.1.2 Amostras com 20% de umidade


Figura 2. Variação da resistência à compressão simples
(qu) com a quantidade de cal para 17% de umidade aos Os resultados dos ensaios de resistênica à
28 dias de cura compressão simples para as misturas com 20%
e 28 dias de cura são apresentados na Figura 5,
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que apresenta resultados considerando os pesos


específicos aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5
g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%,
5%, 7% e 9%. Os corpos de prova com 90 e 360
dias de cura apresentam as mesmas tendências
(Figuras 6 e 7, respectivamente).

Figura 7. Variação da resistência à compressão simples


(qu) com a quantidade de cal para 23% de umidade aos
360 dias de cura

3.1.3 Amostras com 23% de umidade

Os resultados dos ensaios de resistênica à


Figura 5. Variação da resistência à compressão simples compressão simples para as misturas com 23%
(qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos e 28 dias de cura são apresentados na Figura 8,
28 dias de cura que apresenta resultados considerando os pesos
específicos aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5
9000 g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%,
 d = 1,40 g/cm3 : q u = 350,2Ca - 443,5 (R2 = 0,95)
8000  d = 1,50 g/cm3 : q u = 508,8Ca - 402,7 (R2 = 0,95) 5%, 7% e 9%. Os corpos de prova com 90 e 360
7000  d = 1,60 g/cm3 : q u = 729,7Ca - 428,4 (R2 = 0,92)
dias de cura apresentam as mesmas tendências
6000
5000
(Figuras 9 e 10, respectivamente).
qu (kPa)

4000
3000
2000
1000
0
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ca (% )

Figura 6. Variação da resistência à compressão simples


(qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos
90 dias de cura

Pode-se observar que a quantidade de cal


tem efeito significativo sobre a resistência à
compressão simples do material para os corpos-
de-prova ensaiados, que aumenta linearmente Figura 8. Variação da resistência à compressão simples
(qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos
com o aumento da quantidade de cal. Além
28 dias de cura
disso, a resistência à compressão simples
aumenta com o aumento do peso específico Pode-se observar que a quantidade de cal
aparente seco e com o aumento do tempo de tem efeito significativo sobre a resistência à
cura. compressão simples do material para os corpos-
de-prova ensaiados, que aumenta linearmente
com o aumento da quantidade de cal. Além
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disso, a resistência à compressão simples relação ao índice de vazios, girando em torno de


aumenta com o aumento do peso específico 75% para todos os corpos-de-prova. O valor
aparente seco e com o aumento do tempo de médio obtido para a sucção matricial de todos
cura. os corpos-de-prova da linha “A” das amostras
com 17% de umidade e 28, 90 e 360 dias de
cura ficou em 122 kPa.
A Figura 11 apresenta a tendência e a relação
existente entre a medida de sucção matricial e o
índice de vazios. Apesar da dispersão dos
pontos pode-se verificar que a sucção matricial
tende a aumentar à medida que diminui o índice
de vazios, para qualquer tempo de cura
estudado.

Figura 9. Variação da resistência à compressão simples


(qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos
90 dias de cura

Figura 11 – Relação entre medidas de sucção matricial e


índice de vazios nas amostras de caulim-cal com 17% de
umidade ensaiadas com 28, 90 e 360 dias de cura

Na Figura 12 é apresentada a variação da


resistência à compressão simples pela relação
entre a sucção e a resistência à compressão
Figura 10. Variação da resistência à compressão simples simples (em porcentagem). Nota-se que a
(qu) com a quantidade de cal para 23% de umidade aos influência da sucção varia de 1 a 9% da
360 dias de cura
resistência à compressão simples nos corpos-de-
prova ensaiados com 28, 90 e 360 dias de cura.
3.2 Ensaios de Sucção Matricial
Nota-se também, na Figura 12 que a
influência da sucção não passa de 10% da
3.2.1 Amostras com 17% de umidade
resistência à compressão simples em todos os
corpos-de-prova ensaiados. Assim, observa-se
Verificou-se que o grau de saturação de
que os corpos-de-prova não apresentaram
moldagem das amostras com 28 dias de cura
grandes variações em relação a sucção.
variou, em média, de 45% até 71%. Após a
imersão por 24 horas, os corpos-de-prova de
menor índice de vazios absorveram menor
quantidade de água, como era de se esperar.
Entretanto, o grau de saturação obtido após a
imersão apresentou pequena variação em
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Figura 13 – Relação entre medidas de sucção matricial e


índice de vazios nas amostras de caulim-cal com 20% de
Figura 12 – Influência da sucção nos valores de umidade ensaiadas com 28, 90 e 360 dias de cura
resistência à compressão simples das amostras de caulim-
cal com 17% de umidade ensaiadas 28, 90 e 360 dias de
cura
Nota-se também, na Figura 14 que a
influência da sucção não passa de 10% da
3.2.2 Amostras com 20% de umidade resistência à compressão simples em mais de
83% dos corpos-de-prova ensaiados. Entretanto,
Verificou-se que o grau de saturação de para os outros corpos-de-prova ensaiados a
moldagem das amostras com 28, 90 e 360 dias sucção não passa de 14% da sua resistência à
de cura variou, em média, de 53% até 83%. compressão simples. Assim, observa-se que os
Após a imersão por 24 horas, os corpos-de- corpos-de-prova não apresentaram grandes
prova de menor índice de vazios absorveram variações em relação a sucção.
menor quantidade de água, como era de se
esperar. Entretanto, o grau de saturação obtido
após a imersão apresentou pequena variação em
relação ao índice de vazios, girando em torno de
78% para todos os corpos-de-prova. O valor
médio obtido para a sucção matricial de todos
os corpos-de-prova da linha “A” das amostras
com 20% de umidade e 28, 90 e 360 dias de
cura ficou em 129 kPa.
A Figura 13 apresenta a tendência e a relação
existente entre a medida de sucção matricial e o
índice de vazios. Apesar da dispersão dos
pontos pode-se verificar que a sucção matricial Figura 14 – Influência da sucção nos valores de
tende a aumentar à medida que diminui o índice resistência à compressão simples das amostras de caulim-
de vazios, para qualquer tempo de cura cal com 20% de umidade ensaiadas 28, 90 e 360 dias de
estudado. cura
Na Figura 14 é apresentada a variação da
resistência à compressão simples pela relação 3.2.3 Amostras com 23% de umidade
entre a sucção e a resistência à compressão
simples (em porcentagem). Nota-se que a Verificou-se que o grau de saturação de
influência da sucção varia de 1 a 14% da moldagem das amostras com 28, 90 e 360 dias
resistência à compressão simples nos corpos-de- de cura variou, em média, de 64% até 95%.
prova ensaiados com 28, 90 e 360 dias de cura. Após a imersão por 24 horas, os corpos-de-
prova de menor índice de vazios absorveram
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menor quantidade de água, como era de se resistência à compressão simples nos corpos-de-
esperar. Entretanto, o grau de saturação obtido prova ensaiados com 28, 90 e 360 dias de cura.
após a imersão apresentou pequena variação em Nota-se também, na Figura 16 que a
relação ao índice de vazios, girando em torno de influência da sucção não passa de 10% da
81% para todos os corpos-de-prova. O valor resistência à compressão simples em mais de
médio obtido para a sucção matricial de todos 88% dos corpos-de-prova ensaiados. Assim,
os corpos-de-prova da linha “A” das amostras observa-se que os corpos-de-prova não
com 20% de umidade e 28, 90 e 360 dias de apresentaram grandes variações em relação a
cura ficou em 122 kPa. sucção.
A Figura 15 apresenta a tendência e a relação Dalla Rosa (2009) também identificou que
existente entre a medida de sucção matricial e o após a imersão das amostras de solo-cinza-cal a
índice de vazios. Apesar da dispersão dos sucção matricial não passou de 16% da
pontos pode-se verificar que a sucção matricial resistência à compressaõ simples. Guedes
tende a aumentar à medida que diminui o índice (2013) identificou que após a imersão das
de vazios (e consequente menor grau de amostras de solo-cimento-fibra a sucção
saturação), para qualquer tempo de cura matricial não passou de 10% dos valores de
estudado. Esta mesma tendência foi observada resistência à compressão simples e tração
por Dalla Rosa (2009). diametral. Silvani (2013), que estudou uma
Lira (2015) também identificou esta areia estabilizada com cal e cinza volante, relata
tendência ao estudar um solo areno argiloso que após a imersão das amostras a sução
compactado no peso específico aparente seco matricial não passou de 1% da resistência à
máximo e em três graus de saturação diferentes compressão simples.
(condição saturada, condição na umidade ótima,
condição seca). Em que a sucção matricial foi
maior para as amostras com menor grau de
saturação.

Figura 16 – Influência da sucção nos valores de


resistência à compressão simples das amostras de caulim-
cal com 23% de umidade ensaiadas 28, 90 e 360 dias de
cura
Figura 15 – Relação entre medidas de sucção matricial e
índice de vazios nas amostras de caulim-cal com 23% de
umidade ensaiadas com 28, 90 e 360 dias de cura 4 CONCLUSÕES
Na Figura 16 é apresentada a variação da A partir dos dados apresentados neste trabalho,
resistência à compressão simples pela relação as seguintes conclusões podem ser
entre a sucção e a resistência à compressão evidenciadas:
simples (em porcentagem). Nota-se que a • Quanto maior a quantidade de cal (Ca),
influência da sucção varia de 1 a 15% da maior o peso específico aparente seco e maior o
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tempo de cura, maior a resistência à compressão No. 42 filter paper. Pan American Conference on Soil
simples (qu) das misturas solo-cal estudadas. Mechanics and Geotechnical Engineering, PCSMGE,
Buenos Aires, 2015. v. 15. p. 2071-2077.
• Analisando-se os resultados de sucção Chandler, R. J., Crilly, M. S., Montgomery-Smith, G.
matricial pode-se perceber que a mesma tende a (1992). A low-cost method of assessing clay
aumentar à medida que diminui o índice de desiccation for low-rise buildings. Institute of Civil
vazios das amostras. Engineers, Civil Engineering, Vol. 92, p. 82-89.
• Contudo, observou-se que mesmo assim Consoli, N.C.; Viana da Fonseca, A.; Cruz, R.C.;
Heineck, K.S. (2009). Fundamental parameters for the
a influência da sucção matricial não passou de stiffness and strength control of artificially cemented
15% da resistência à compressão simples dos sands. Journal of Geotechnical and
corpos-de-prova ensaiados, para todos os Geoenvironmental Engineering, ASCE, Vol. 135,
tempos de cura e teores de umidade estudados. p.1347-1353.
Este fenômeno se deve ao fato de que ao Consoli, N.C.; Dalla Rosa, A.; Saldanha, R.B. (2011).
Variables governing strength of compacted soil-fly
mesmo tempo que a diminuição do índice de ash-lime mixtures. Journal of Geotechnical and
vazios (e consequente menor grau de saturação) Geoenvironmental Engineering, ASCE, Vol. 23,
proporciona um aumento da sucção matricial p.432-440.
também proporciona um aumento da resistência Consoli, N.C.; Saldanha, R. B.; Mallmann, J.E.C.; Paula,
T.M.; Hoch, B.Z. (2017). Enhancement of strength of
à compressão simples da amostra. Mesmo fato
coal fly ash–carbide lime blends through chemical
observado por Dalla Rosa (2009). E também and mechanical activation. Construction and Building
por Lira (2015), em que valores maiores de Materials, Eselvier. Vol. 157, p. 65-74.
sucção também indicaram maiores valores de Cruz, P. T. (2001). Compacted Soils – A Particular Case
índice de suporte de Califórnia (ISC) para um of Non Saturated Material. Simpósio Brasileiro de
Solos Não Saturados, Ñsat, ABMS, Porto Alegre,
solo compactado em diferentes graus de
Vol. 4, p.113-133.
saturação. Dalla Rosa, A. (2009). Estudo dos Parâmetros-chave no
• Além disso, observa-se que o processo Controle da Resistência de Misturas Solo-Cinza-Cal.
de imersão dos corpos-de-prova por 24 horas se Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
mostrou satisfatório no aumento e Graduação em Engenharia Civil, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 198p.
uniformização do grau de saturação das
Guedes, Saul Barbosa. (2013). Estudo do Desempenho
amostras, diminuindo a variabilidade da sucção Mecânico de um Solo-Cimento Microreforçado com
matricial no solo-cal estudado. Fibras Sintéticas para Uso como Revestimento
Primário em Estradas não Pavimentadas, Tese de
AGRADECIMENTOS Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 515 p.
Os autores demonstram agradecimento ao Lira, G. A.; Carneiro, D. A. ; Monteiro, F. F. ; Aguiar, M.
suporte financeiro da CAPES e do CNPq. F. P. ; Oliveira, F. H. L. (2015). Avaliação da
Relação Entre Sucção e Resistência De Solos Para
Fundações Sobre Aterros. Simpósio Brasileiro de
Solos Não Saturados, Ñsat, ABMS, Fortaleza, Vol. 8.
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ASTM D 2487 (1993). Standard Practice for Some Brazilian Soils. Simpósio Brasileiro de Solos
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Society for Testing and Materials. Philadelphia. Rios, S.; Cristelo, N.; Viana da Fonseca, A.; Ferreira, C.
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Unconfined Compressive Strength of Compacted Soil- Alkali-Activated Fly Ash from Small to Large Strains.
Lime Mixtures. American Society for Testing and International Journal of Geomechanics, ASCE. Vol.
Materials. Philadelphia. 17, 04016087.
Bicalho, K. V.; Chrystello, A. C.; Cupertino K. F.; Silvani, C. (2013). Influência da Temperatura de Cura no
Fleureau, J-M.; Correia A. G. (2015). Study of Comportamento Mecânico de Misturas Areia-cinza
suction-water content calibrations for the Whatman volante-cal, Dissertação de Mestrado, Programa de
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Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade


Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 127 p.
Viana da Fonseca, A.;Cruz, R.C.; Consoli, N.C. (2009b).
Strength properties of sandy soil-cement admixtures.
Geotechnical and Geological Engineering. Vol. 27, p.
681-686.
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Análise da influência da umidade na variação da velocidade de


propagação de ondas de cisalhamento em solos compactados
utilizando Bender Elements
Bruno Bueno Nader das Chagas
Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil, bruno.bndc@gmail.com

Francisco de Assis Cavallaro


Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil, francisco.assis@unicid.edu.br

Fernando A. M. Marinho
Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil, fmarinho@usp.br

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados preliminares de um estudo sobre a determinação


da velocidade de onda no solo utilizando-se bender elements. Com o objetivo de avaliar o sistema
desenvolvido para o bender elemets investigou-se a influência da umidade de compactação na
variação da velocidade da onda de cisalhamento (Vs). A determinação da velocidade de onda foi
feita por meio do uso de bender elements que é constituido de placa cerâmica com propriedades
piezoelétricas, capaz de transmitir e receber ondas. O bender element tem se mostrado um método
interessante para ser utilizado em controle de compactação, pois relaciona os principais parâmetros
necessários para uma compactação de qualidade, como a densidade e o teor de umidade. Foram
feitos testes com três tipos de solos artificialmente preparados para cobrir uma faixa ampla de
comportamento. Os resultados obtidos indicam que o sistema implementado demonstrou eficiência
permitindo identificar as relações entre os parâmetros do solo compactado e a velocidade de onda.

PALAVRAS-CHAVE: Compactação, Bender Elements, Velocidade da Onda de Cisalhamento,


Umidade, Curva de Compactação.

1. INTRODUÇÃO se a energia do Proctor intermediário, seguindo


as especificações da ABNT (1986).
Em diversas obras de engenharia, a necessidade Visando avaliar os efeitos do processo de
de realização de aterros de qualidade é fator compactação, de modo a no futuro desenvolver
essencial para o bom desempenho da obra. um procedimento de controle tecnológico para
Contudo, devido às especificações e compactação, foram feitas medições de
características dos projetos, os solos podem não velocidade de onda em corpos de prova
ser adequados ao suporte dos carregamentos compactado ao longo da curva de compactação.
planejados. Para isso, se faz uso das diversas Em um primeiro momento o procedimento a ser
técnicas de compactação e controle. Como se desenvolvido deverá está associado aos
sabe a densidade seca do solo depende do teor procedimentos usualmente utilizados para
de umidade de compactação e da energia controle de compactação (e.g. Hilf) de modo a
aplicada. As características do solo compactado calibrar a sua aplicação.
dependem das especificações do projeto e Foram obtidos dados relativos a velocidade
levam em conta a resistência ao cisalhamento, de onda em três solos sob diversas condições de
compressibilidade e condutividade hidráulica. compactação, possibilitando avaliar o efeito do
O solo estudado foi compactado utilizando- teor de umidade e densidade seca na velocidade
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de propagação da onda cisalhante (S). Embora


não seja o foco do presente trabalho, a Tabela 1. Características dos solos testados.
determinação da velocidade de onda possibilita Solo Coloração Classificação
a obtenção de parâmetros como o módulo Solo A Marrom Argiloso com Mat. Orgânica
Solo B Vermelho Arenoso
cisalhante máximo (Gmáx). Solo C Bege Argiloso

1.1. Bender Elements Estes solos foram escolhidos de modo a se


ter uma faixa de variação em termos de teor de
A constatação de que as deformações em umidade ótimo e densidade seca máxima,
diversas obras de engenharia se encontram na possibilitando a verificação das relações entre
faixa de pequenas deformações, e a limitação os parâmetros de compactação e velocidade da
das técnicas de ensaio em medir tal nível de onda de cisalhamento.
deformação, levaram ao desenvolvimento do Todos os solos utilizados nos ensaios de
método bender elements (Geonor, 1985). Este compactação foram submetidos a processos de
método atualmente é bastante difundido para preparação e caracterização, conforme a norma
medição de parâmetros a pequenas NBR 6457 (ABNT, 1986).
deformações, na faixa de 0,001%. Os resultados dos ensaios de caracterização
Os bender elements têm sido implementados foram obtidos conforme as normas NBR 7181
com êxito em diversas aplicações (e.g. (ABNT, 1984); NBR 6459 (ABNT, 1984);
Pennington et al., 2001; Ng & Leung, 2007; NBR 7180 (ABNT, 1984); NBR 6508 (ABNT,
Camacho-Tauta et al, 2015, entre outros), 1984). A densidade relativa dos grãoes (Gs) foi
apresentando-se como sendo uma tendência arbitrada conforme mostrado na Tabela 2.
para se tornar um ensaio corrente, sobretudo por
relativa simplicidade e do tempo reduzido do Tabela 2. Propriedades dos Solos.
ensaio, além da facilidade dos cálculos. Solo Gs LP (%) LL (%)
Os ensaios consistem na emissão de uma (g/cm3)
onda de cisalhamento no solo, que é possível Solo A 2,60 22 36
devido à utilização do sensor piezoelétrico, Solo B 2,60 NP¹
capaz de gerar uma onda mecânica no corpo de Solo C 2,65 17 34
prova, sendo possível a emissão de ondas de ¹NP = não plástico.
cisalhamento e compressão, a depender da
polarização do transdutor utilizado. A partir do Nos ensaios de compactação, realizados com
ensaio com bender elements, é possível obter a a energia intermediária (E=1267,9 kN-m/m³),
velocidade de propagação da onda cisalhante foram obtidas as curvas de compactação,
(S) no solo,. definindo-se a umidade ótima (wótima) e
densidade seca máxima (d(máx)) dos solos,
2. MATERIAIS conforme mostrado na Figura 1. Observa que o
Solo B (arenoso) apresentou uma baixa
Para o presente estudo, foram utilizados três umidade ótima, e um grau de saturação no
tipos de solo de características diversas. Os ponto ótimo de 43%, para um Gs = 2,60.
solos utilizados foram extraídos em área
próxima ao rio Tietê (São Paulo/SP), e
misturados de modo a se obter materiais com
caracteríticas de classificação geotécnica
distintas. As características e classificação dos
materais utilizados neste estudo estão mostradas
na Tabela 1.
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1.90 elemento receptor é tt. (e.g. Viggiani e


Atkinson, 1995; Dyvik e Madshus, 1985).
1.80

1.70 (1)
 d (g/cm3)

1.60
Assim, a relação entre estas duas grandezas
1.50
fornece a velocidade de propagação da onda de
Solo A
1.40 Solo B
cisalhamento no interior do solo.
Solo C S = 80%
1.30 3.2. Calibração dos transdutores
0 5 10 15 20 25 30
Teor de umidade (%)
Antes do início dos testes com os corpos de
Figura 1. Curvas de compactação dos solos estudados.
prova compactados é necessária a calibração
dos bender elements.
Os ensaios de caracterização foram
Para isso, foi realizado o contato direto entre
executados no Laboratório de Mecânica dos
os sensores para a medição do tempo de
Solos da Universidade Cidade de São Paulo –
propagação da onda. A recepção do sinal
UNICID.
transmitido deveria ser a mesma, porém isso
A Tabela 3 apresenta os valores de teor de
não é observado, devido a interferências
umidade ótimo e densidade seca máxima
causadas pelos próprios equipamentos do
obtidos nos ensaios.
ensaio. Portanto, este atraso de tempo aferido
Tabela 3 – Parâmetros de compactação obtidos
(time delay) deverá ser considerado, e com isso,
Solo wot (%) d (máx) (g/cm3)
será descontado do tempo total medido nos
Solo A 19,3 1,65 testes com os corpos de prova.
Solo B 6,5 1,87 Para a medição deste time delay, os
Solo C 15,5 1,80 parâmetros da onda transmitida foram iguais
aos utilizados nos ensaios com os corpos de
3. METODOLOGIA DOS ENSAIOS COM prova, cujos valores variaram nas etapas de
BENDER ELEMENTS tomadas de dados, conforme se observa na
Tabela 4 abaixo:
3.1. Bender Elements
Tabela 4. Time Delay dos sensores Bender Elements.
Os bender elements são pequenas placas Dados da Onda Frequências Time Delay
(s)
retangulares piezo-cerâmicas que sofrem flexão
5kHz 96 – 112
quando excitadas por pulsos elétricos ou geram
pulsos elétricos quando fletidas. Os bender 7kHz 84 – 96
Senoidal (onda
elements trabalham em pares, sendo um única) 10kHz 72 – 84
elemento transmissor e outro receptor, e são 20 Vpp
12kHz 66 – 80
posicionados em faces opostas do corpo de 10ms
15kHz 62 – 72
prova (e.g. Viggiani e Atkinson, 1995;
20kHz 60 – 64
Squeglia, 2009).
O cálculo da velocidade da onda de
3.3. Procedimento de Ensaio
cisalhamento (Vs) que atravessa o solo é dado
pela equação (1). Esta determinação considera
A distância percorrida pelo pulso de
que o comprimento percorrido pela onda
cisalhamento (Ltt) foi tomada como a distância
corresponde a distância entre as extremidades
entre as extremidades dos bender elements que
do elemento transmissor e receptor (Ltt) e que o
foram integradas ao corpo de prova, seguindo a
tempo que a onda leva no percurso até o
sugestão de Viggiani e Atkinson (1995). Para
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isso, o comprimento saliente dos elementos que Tabela 5. Parâmetros dos ensaios com Bender Elements.
penetra no solo, que neste trabalho variou de Solo Tipo de Amplitude Frequências
Onda
4,89mm a 5,25mm, foi descontado da altura do
corpo de prova. 5kHz
O tempo de percurso (tt) foi tomado por 7kHz
meio do método pico a pico, sendo aferido o Solo A
Senoidal 10kHz
Solo B 20Vpp
primeiro pico da onda transmitida até o Solo C
(onda única)
12kHz
primeiro pico após a deflexão do sinal recebido,
15kHz
conforme mostrado na Figura 2.
20kHz
Calibração, E10, Voltage = 20Vpp, Onda Senoidal, 5kHz
Em teoria, o tempo de propagaçao da onda
de cisalhamento não deveria variar ao modificar
Entrada: Onda Senoidal
a frequência, contudo na prática isto não é
observado. Seguindo a sugestão de diversos
tt (pico a pico)
autores, neste estudo foi realizada a medição
utilizando-se diversas frequências. O tempo de
propagação foi subtraído do time delay aferido
na etapa de calibração, correspondente a cada
frequência transmitida. Em seguida, foi feito o
Saída: Onda S
cálculo da média dos tempos aferidos em cada
frequência, para ser considerado como o tempo
de propagação da onda no solo (tt).
Figura 2. Medição do tempo de propagação da onda.

Osciloscópio
3.4. Aparato Experimental

Para realizar os ensaios com os bender elements


foi utilizado um gerador de funções modelo
Minipa MFG-4205B, empregado para a
transmissão da onda ao transdutor piezoelétrico.
Gerador de funções
Para captar as ondas pelo elemento receptor, foi
Topo e base do sistema
utilizado um osciloscópio digital modelo
Minipa MVB-DSO, onde foi possível a tomada
Bender element Bender elemento na base
dos dados para posterior análise em
computador. A configuração do aparato
experimental e detalhes do bender element e sua
montagem estão indicados na Figura 3.
Os testes com os bender elements foram
executados conforme os parâmetros informados Figura 3. Aparato experimental e detalhes do sistema.
na Tabela 5. A calibração e os ensaios com os
corpos de prova seguiram a mesma 4. RESULTADOS
configuração.
4.1 Tempo de Propagação da Onda nos
Solos

Para cada valor de teor de umidade, o tempo de


propagação da onda de cisalhamento (onda S)
foi determinado por meio da medição de seis
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tempos de propagação da onda referentes às 4.2 Correlação de Vs com os parâmetros de


frequências transmitidas (Tabela 5), e calculada compactação.
a média entre elas. A título de ilustração é
apresentado na Figura 4 a imagem da onda Segundo a teoria de propagação de ondas
emitida e recebida, bem como a definição do sísmicas, os solos podem ser considerados
tempo (tt). como um meio elástico e homogêneo. Contudo,
a propagação da onda de cisalhamento não se
Solo A (orgânico), A-22, Sat = 59,3%, Onda Senoidal, 7kHz
propaga em meio fluido, por isso a análise da
umidade é necessária, sobretudo em solos
compactados onde ocorre uma variação da
densidade seca do solo.
Entrada: Onda Senoidal Na Figura 5 são apresentados, de forma
interligada, os resultados que correlacionam a
velocidade de onda com o teor de umidade,
densidade seca e grau de saturação. Na Figura
5a observa-se que a velocidade de onda
Saída: Onda S aumenta com a redução do teor de umidade,
independentemente do tipo de solo.
O solo arenoso (Solo B) apresenta um
comportamento diferente em relação aos outros
Figura 4. Exemplo da onda S transmitida e recebida pelos dois, indicando uma velocidade de propagação
transdutores no solo A. menor para o mesmo teor de umidade. Este
comportamento deve estar associado ao fato do
Tendo em vista as variações de altura dos solo não ser plástico, o que combina uma maior
corpos de prova é necessária a medição em cada densidade com menores teores de umidade.
caso. Na Tabela 6 está apresentada a Observa-se que para o solo A, mais plástico
nomenclatura dos corpos de prova ensaiados, (ver Figura 5b) a relação entre a densidade seca
associados à curva de compactação, a densidade e teor de umidade se inverte. Um dos pontos
seca e o teor de umidade correspondente, experimentais do solo C foi desconsiderado nas
juntamente com a velocidade de propagação da análises por apresentar um valor de velocidade
onda (Vs). de onda que não seguia a tendência esperada.
Quando se avalia o efeito da densidade seca
Tabela 6. Dados e resultados da medição. na velocidade de onda (Figura 5b) observa-se
Solo Ponto de d w (%) Vs que o comportamento segue aparentemente a
Compactação (g/cm3) (m/s)
forma da curva de compactação, apresentando
A1 1,47 12.4 378.0
A2 1,52 16.2 303.2 um pico. É necessário um maior
A A3 1,65 19.3 297.1 aprofundamento nesta correlação para verificar
A4 1,64 20.0 189.0 a relação entre o ponto de máximo encontrado e
A5 1,52 22.7 176.5 a densidade seca máxima da curva de
A6 1,41 25.9 139.1 compactação. Contudo, nesta análise o solo que
A7 1,38 28.3 0.1
B1 1,81 4.9 291.1 se destaca com um comportamento distinto em
B2 1,86 5.7 265.3 relação aos demais é o solo A (que apresenta
B B3 1,87 6.3 406.4 matéria orgânica).
B4 1,78 9.0 156.5 A correlação da velocidade de onda com o
B5 1,57 13.1 114.3 grau de saturação, apresentado na Figura 5c
C1 1,71 13.4 378.6
C2 1,81 15.3 322.1 sugere um comportamento semelhante ao
C observado por Marinho et al. (1995), sem
C3 1,70 20.1 171.7
C4 1,62 22.4 150.3
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contudo ficar caracterizado um pico para a 5. CONCLUSÕES


velocidade de onda.
Com os ensaios realizados, foi possível concluir
35 que, como previsto na teoria de propagação de
Solo A ondas sísmicas, a velocidade da onda S que
30 Solo A Solo B percorreu os solos analisados sofre influência
Teor de Umidade (%)

25 Solo C direta do teor de umidade e também da variação


20 da densidade seca induzida pela compactação.
Solo C Com isso, a aplicação do controle de
15
compactação pela velocidade da onda S é
10
possível, pois correlaciona estes dois
5
(a) Solo B parâmetros (umidade e massa específica).
0 A correlação entre Vs e o teor de umidade
0 100 200 300 400 500 indicou que o solo arenoso (solo B) apresenta
Velocidade (m/s)
2.00 menores valores de velocidade de onda do que
1.90 Solo B os demais.
Observou-se uma relação entre a densidade
Densidade seca (g/cm3)

1.80
1.70 seca e Vs com um formato semelhante ao da
1.60 Solo C curva de compactação. É necessário mais
estudos para melhor definir este aspecto de
1.50
modo a possibilitar o seu uso em controle de
1.40
compactação.
(b) Solo A
1.30 O grau de saturação também apresenta uma
1.20 relação não linear com a velocidade de onda.
0 100 200 300 400 500
Velocidade (m/s) Observou-se um valor máximo para a
100 velocidade de onda além do qual a velocidade
90 Solo C não se altera. A eventual redução da velocidade
80
de onda pode estar associada à formação de
Grau de Saturação (%)

70
60
Solo A trincas no corpo de prova em processos de
50 secagem.
40 O método bender elements vem se
30 Solo B mostrando ao longo dos anos mais eficaz,
20
(c) apesar da falta de padronização dos testes.
10 Contudo, é um método com aplicação
0 interessante no processo de controle de
0 100 200 300 400 500
Velocidade (m/s) compactação, pois correlaciona os seus
Figura 5. Teor de Umidade e Densidade Seca versus Vs. principais parâmetros envolvidos no processo.
Na Tabela 7 estão apresentados os valores de AGRADECIMENTOS
teor de umidade ótimo, velocidade de onda e o
Gmáx estimado para uma situação não confinada. Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio e
pela bolsa fornecida e à Universidade Cidade de
Tabela 7. Módulo de Cisalhamento Máximo (Gmáx) dos
Solos em Umidade Ótima (wótima).
São Paulo – UNICID pelo apoio e
Solo wótima Vs Gmáx disponibilização dos laboratórios. Ao Prof.
(%) (m/s) (MPa) Charles Ng da HKUST pelo fornecimento dos
Solo A 19,3 293 223 bender elements utilizados.
Solo B 6,5 238 147
Solo C 15,5 317 266
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REFERÊNCIAS

ABNT. (1984). NBR 6459 – Solo – Determinação do


limite de liquidez. Rio de Janeiro.
ABNT. (1984). NBR 7180 – Solo – Determinação do
limite de plasticidade. Rio de Janeiro.
ABNT. (1984). NBR 7181 – Solo – Análise
granulométrica. Rio de Janeiro.
ABNT. (1986). NBR 6457 – Amostras de Solo –
Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Rio de Janeiro.
Camacho-Tauta, J.F.; Cascante, G. Viana da Fonseca, A.
& Santos, J.A. (2015). Time and frequency domain
evaluation of bender element systems. Géotechnique
65, No. 7, 548–562.
Dyvik, R. e Madhsus, C. (1985). Lab measurements of
Gmax using bender elements. Proceedings ASCE
Annual Convention: Advances in the art of testing
soils under cyclic conditions, pp. 186-197.
Geonor A/S. (1996). Instructions for Use – Laboratory
Measurements of Gmáx Using Bender Elements.
Instruction Manual.
Marinho, F.A.M.; Chandler, R.J. & Crilly, M.S. (1995).
Stiffiness measurements on an unsaturated high
plasticity clay using bender elements. Proceedings of
the 1st Int. Con. on Unsaturated Soils – UNSAT 95.
Pareis. Vol 2. Pp. 535-539.
Ng, C.W.W. & Leung, E. H. Y. (2007). Determination of
Shear-Wave Velocities and Shear Moduli of
Completely Decomposed Tuff. J. of Geot. and
Geoenvir. Eng., Vol. 133, No. 6, June, pp. 630-640.
Pennington, D. S., Nash, D. F. T., and Lings, M. L.
(2001). Horizontally Mounted Bender Elements for
Measuring Anisotropic Shear Moduli in Triaxial Clay
Specimens. Geotechnical Testing Journal, GTJODJ,
Vol. 24, No. 2, June, pp. 133–144.
Squeglia, N.; Pallara, O.; Russo, S.; Lo Presti, D. (2009).
Innovative Use of Bender Elements in Triaxial Cell
for the Measurements of G˳. XVII Int. Conf. on Soil
Mechanics & Geotechnical Engineering.
Viggiani, G. & Atkinson, J. H. (1995). Interpretation of
bender element tests. Géotechnique 45, No. 1, 149–
154.
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Análise da Resistência de uma Amostra Arenosa Melhorada com


Cimento
Thiago Moura da Costa Ayres
Engenheiro Civil, Fortaleza, Brasil, thiagoayres1@hotmail.com

Lara de Oliveira Costa


Engenheira Civil, Fortaleza, Brasil, eulara10@hotmail.com

Carla Beatriz Costa de Araújo


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, carlabeatriz@unifor.br

RESUMO: O seguinte estudo tem o objetivo de analisar o ganho de resistência de uma amostra de
solo arenoso com os teores de 1%, 2%, 3%, 4% e 5% de adição de cimento. A amostra foi
classificada como um solo arenoso mal graduado pelo Sistema Unificado de Classificação dos
Solos (SUCS) e como um A-3 pelo Transportation Research Board (TRB). O ensaio de densidade
real dos grãos obteve como resultado 2,54g/cm³. A umidade ótima e a densidade máxima seca
encontradas no ensaio de compactação foram de 6,5% e 1,98g/cm³, respectivamente, utilizando-se
a energia de Proctor Intermediário. No ensaio de cisalhamento direto, foram moldadas as amostra
com as misturas de solo, cimento e água dentro do próprio molde da célula de cisalhamento,
deixando-se curar durante 2 dias. As tensões normais adotadas foram de 50 kPa, 100kPa, 200 kPa e
300 kPa. O intercepto coesivo variou de 16,16 a 114,59 kPa e o ângulo de atrito de 39,67° a 50,89°,
tais resultados mostram a influência da cimentação nos mecanismos de resistência do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Cisalhamento, Resistência, Cimento.

1 INTRODUÇÃO rodoviários, na proteção superficial de taludes


de barragens de terra, na contenção de
O estudo da resistência do solo é fundamental contaminantes e na construção de camadas de
em obras de engenharia geotécnica para suporte para execução de fundações superficiais
entender o seu comportamento quando (SILVA, 2016).
submetido às tensões, podendo limitar a Para Consoli et al (2011), as principais
viabilidade técnica e econômica do projeto. variáveis que definem as características e
Para solucionar problemas dessa natureza, uma propriedades da mistura de solo, cimento e
das soluções adotadas é o tratamento de solos, água, são o tipo de solo, a proporção de
objetivando obter melhores características cimento, as condições de umidade e o grau de
geotécnicas. compactação.
Em situações que o solo não apresenta Além disso, o solo melhorado com cimento é
resistência suficiente para uma determinada uma solução que melhora parâmetros do solo,
finalidade, pode-se utilizar técnicas que como resistência, deformabilidade, durabilidade
melhorem tal resistência. Dentre as técnicas de e permeabilidade.
melhoramento de solo existentes, a adição de Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho
cimento ao solo é uma das mais utilizadas, e que é analisar o ganho de resistência de uma
vem sendo empregado com sucesso na amostra de solo arenoso adicionando-se os
construção de bases para pavimentos teores de 1%, 2%, 3%, 4% e 5% de cimento.

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2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS como densidade, rugosidade, forma, etc. Por
exemplo, para uma mesma areia o ângulo de
2.1 Resistência ao cisalhamento atrito desta areia no estado compacto é maior
do que no estado fofo (φdensa > φfofa)
Caputo (2015) afirma que a propriedade dos (BARATA, 1984).
solos de suportar cargas depende da resistência
ao cisalhamento do solo, quando excedida essa 2.1.2 Resistência por coesão
resistência, toda massa de solo se rompe.
De acordo com Pinto (2006), a ruptura Segundo Vargas (1981), de uma forma
do solo é quase sempre um fenômeno de intuitiva, a coesão é a resistência que a fração
cisalhamento. Sendo a resistência do solo argilosa empresta ao solo, pelo qual ele se torna
definida como a máxima tensão de capaz de se manter coeso em forma de torrões
cisalhamento que o solo pode suportar sem ou blocos, ou pode ser cortado em formas
sofrer ruptura, ou a tensão de cisalhamento do diversas e manter esta forma. Os solos que têm
solo no plano em que a ruptura estiver essa propriedade chamam-se coesivos. Os solos
ocorrendo. não-coesivos, que são areias puras e
A resistência ao cisalhamento de um solo pedregulhos, esboroam-se facilmente ao serem
saturado pode ser descrita pelas diversas cortados ou escavados.
combinações críticas da tensão normal efetiva No caso de solos considerados coesivos, há a
com a tensão de cisalhamento. Essas presença de uma maior ligação entre as
combinações descrevem uma envoltória partículas, fazendo com que se exerça um
conhecida na mecânica dos solos como esforço maior parar se efetuar o movimento.
envoltória de ruptura de Mohr-Coulomb Isso levando em consideração que a coesão ou
(GERSCOVICH, 2016). intercepto de coesão (c) é apenas uma
resistência a mais que o material terá ao
2.1.1 Resistência por atrito deslocamento.
Existe porém, o fenômeno de coesão
Segundo Fiori (2009), o conceito de atrito está aparente. Segundo Pinto (2006), a coesão real,
fundamentalmente ligado ao movimento, pois o gerada pela atração química entre as partículas,
atrito surge quando se há a tendência ao deve ser bem diferenciada da coesão aparente,
movimento. Levando em conta que só há que é uma parcela da resistência ao
movimento por ação de forças, conclui-se que o cisalhamento de solos úmidos, não saturados,
atrito é a resistência ao movimento, uma força devido à tensão gerada da pressão capilar da
que se opõe à força provocadora de água. A coesão aparente é, na verdade, um
deslocamento. fenômeno de atrito, onde a tensão normal que a
O atrito é função da interação entre duas determina é consequente da pressão capilar.
superfícies na região de contato. Nos materiais Além disso, o fenômeno físico da coesão não
granulares, constituídos de grãos isolados e deve ser confundido com a coesão
independentes, o atrito é um misto de correspondente a uma equação de resistência ao
escorregamento (deslizamento) e de rolamento, cisalhamento, que representa simplesmente o
afetado fundamentalmente pela entrosagem dos intercepto de um equação linear de resistência
grãos. Enquanto no atrito simples de válida para uma faixa de tensões mais elevadas
escorregamento entre os sólidos o ângulo de e não para a tensão normal nula ou próxima de
atrito “φ” é praticamente constante, o mesmo zero.
não ocorre com os materiais granulares, em que
as forças atuantes modificam sua compacidade, 2.2 Adição de cimento
variando o ângulo de atrito “φ” para um mesmo
solo. Portanto, o ângulo de atrito interno do A pesquisa de Schnaid et al (2001) mostra que
solo depende do tipo de material, e para um para uma dada variação de tensões, a resistência
mesmo material, depende de diversos fatores, ao cisalhamento de solos naturalmente e

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artificialmente cimentados pode ser constante, cerca de 10%, sendo praticamente
representada por uma envoltória reta de Mohr- independente do teor de cimento.
Coulomb, definida por um intercepto coesivo,
que é apenas função da cimentação, e por um
ângulo de atrito que parece não ser afetado pela 3 MATERIAIS E MÉTODOS
cimentação. Além disso, a parcela de coesão da
resistência ao cisalhamento é predominante em Inicialmente, realizou-se a coleta das amostras,
pequenas deformações, porém, depois de um em seguida, procedeu-se aos ensaios de
certo nível de deformação, ocorre uma quebra laboratório e, com os resultados desses ensaios,
gradual da cimentação e a resistência por atrito foram feitas as análises do solo para conceber
torna-se predominante. as conclusões.
Em elevadas deformações, há uma O solo utilizado nos ensaios deste trabalho
destruição total da cimentação estrutural e a foi coletado do material de bota fora da obra de
resistência ao cisalhamento é de natureza uma academia localizada internamente ao
completamente friccional. Em geral, o campus da Universidade de Fortaleza (Figura
comportamento tensão-deformação de solos 1), na cidade de Fortaleza, estado do Ceará. O
cimentados pode ser descrito como inicialmente campus se localiza na Avenida Washington
rígido, aparentemente linear até um ponto de Soares, 1321.
plastificação bem definido, além do qual o solo
sofre aumento nas deformações plásticas até a
ruptura. Outra característica apresentada é a
marcante fragilidade na ruptura com a
formação de planos de ruptura. Tal fragilidade
aumenta com o acréscimo da quantidade de
cimento e diminui com o acréscimo da tensão
efetiva média (SCHNAID et al., 2001).
Ingles e Metcalf (1972) afirmam em seus
estudos que, com a hidratação do cimento, o
solo estabilizado torna-se mais resistente às
intempéries. Também salientam que esse efeito Figura 1 – Local de retirada da amostra.
é generalizado e proporcional à quantidade de
cimento utilizada. A adição de pequenos teores Realizou-se ensaios de granulometria, limite
de cimento, a partir de 2%, são suficientes para de liquidez, limite de plasticidade, densidade
alterar as propriedades do solo, enquanto real dos grãos e compactação e cisalhamento
grandes quantidades do aglomerante alteram direto.
radicalmente essas propriedades. Neste trabalho foram realizados ensaios de
Para Mâcedo (2004), a literatura tradicional cisalhamento direto em corpos de prova na
e a prática rodoviária definem o solo melhorado condição de saturação. As amostras de solo
ou modificado com cimento como aquele que foram moldadas em formas quadradas de 5 cm
utiliza teores de 2% a 4%. O solo-cimento de lado por 2 cm de altura.
apresenta percentual acima de 5%. Foram feitas as moldagens da amostra por
Kédzi (1979) e Oliveira (2016) observaram meio da compactação das misturas de solo,
que, em ensaios de compactação, a umidade cimento e água dentro do próprio molde e, após
ótima e o peso especifico seco máximo não a retirada da amostra de dentro do molde, a
variam muito com a adição de cimento, mesmo armazenagem dentro de recipientes de isopor
com a pequena quantidade de cimento para manter a umidade. Prosseguiu-se, depois
adicionada a mistura. de 2 dias de cura, à transferência de cada
Foppa (2005) detectou, em sua pesquisa, que amostra para a célula de cisalhamento, onde
o teor de umidade com o qual se obteve a houve o inundamento dos corpos de prova antes
máxima resistência era aproximadamente

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da aplicação das tensões normais, iniciado-se o Transportation Research Board (TRB), como
ensaio após a leitura dos sensores de um A-3.
deslocamento se estabilizarem. Foram No ensaio de densidade real dos grãos,
ensaiados cerca de 50 corpos de prova, dos obteve-se o resultado de 2,54 g/cm³.
quais foram selecionados as amostras que mais Prosseguiu-se ao ensaio de compactação
se aproximavam de um resultado para a determinação da umidade ótima e do
representativo, uma vez que algumas amostras peso específico máximo seco, cujo os valores
mostraram uma resistência muito abaixa das são, respectivamente, 6,5% e 1,98g/cm³. A
restantes, podendo ser devido a alguma falha no Figura 3 apresenta a curva de compactação
processo executivo do ensaio. obtida no ensaio.
Durante o ensaio de cisalhamento, a
velocidade de deformação foi controlada no
valor de 0,1 mm/min e as tensões normais
aplicadas foram de 50 kPa, 100 kPa, 200 kPa e
300kPa. Os valores considerados para a tensão
normal foram devido a capacidade do
equipamento.
A partir desses ensaios foram encontrados os
resultados apresentados no item a seguir. Dessa
forma, foi possível determinar o ângulo de
atrito e coesão de cada amostra, por meio da
Figura 3 – Gráfico do ensaio de compactação.
equação da reta de cada gráfico. Sendo a
equação reduzida de uma reta qualquer definida As Figuras de 4 a 9 apresentam os resultados
pela Equação 1: obtidos por meio do ensaio de cisalhamento
direto para as diferentes tensões aplicadas.
(1)

4 Resultados

O resultado obtido do ensaio de granulometria


está representado na Figura 2.

Figura 4 – Resultado do ensaio de cisalhamento direto


sem acréscimo de cimento.

Figura 2 – Curva granulométrica.

Segundo os ensaios de limite de liquidez e


limite de plasticidade, o solo apresenta-se como
não plático. A amostra classifica-se como um
solo arenoso mal graduado e com poucos finos,
utilizando-se o Sistema Unificado de Figura 5 – Resultado do ensaio de cisalhamento direto na
Classificação dos Solos (SUCS), e, segundo o amostra com acréscimo de 1% de cimento.

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A Tabela 1 apresenta o resumo dos parâmetros
de resistência encontrados nos ensaios de
cisalhamento direto apresentados
anteriormente.

Tabela 1. Coesão (c) e ângulo de atrito () encontrados


no ensaio de cisalhamento direto
Teor de
0% 1% 2% 3% 4% 5%
cimento
φ (°) 39,67 39,95 44,86 47,74 50,61 50,89
c (kPa) 16,16 23,71 80,96 83,88 89,08 114,59
Figura 6 – Resultado do ensaio de cisalhamento direto na
amostra com acréscimo de 2% de cimento. Em relação ao ângulo de atrito da amostra
sem cimento, as variações foram de 1%, 13%,
20%, 28% e 28%, respectivamente aos
acréscimos de 1 a 5%. Já em relação à coesão,
essas variações foram de 47%, 401%, 419%,
451% e 609%, respectivamente aos mesmos
acréscimos.
As Figuras de 10 a 13 apresentam as curvas
de tensão x deslocamento horizontal do ensaio
de cisalhamento direto.
Notam-se variações de inclinação das curvas
em relação ao eixo das abscissas, sendo mais
Figura 7 – Resultado do ensaio de cisalhamento direto na
amostra com acréscimo de 3% de cimento.
evidente quanto maior o percentual de adição
de cimento.

Figura 8 – Resultado do ensaio de cisalhamento direto na Figura 10 – Curvas tensão x deslocamento das amostras
amostra com acréscimo de 4% de cimento. submetidas a 50 kPa de tensão normal.

Figura 9 – Resultado do ensaio de cisalhamento direto na Figura 11 – Curvas tensão x deslocamento das amostras
amostra com acréscimo de 5% de cimento. submetidas a 100 kPa de tensão normal.

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influência da cimentação nos dois mecanismos
de resistência ao cisalhamento, principalmente
sobre a coesão, que apresentou maior variação
em função do grau de cimentação, assim como
Schnaid et al (2001), que havia mostrado em
seu trabalho que o acréscimo de coesão é
apenas função da cimentação, porém, não
havendo influência da cimentação sobre o
ângulo de atrito.
Conforme os gráficos de tensão x
Figura 12 – Curvas tensão x deslocamento das amostras deslocamento, pode-se notar que os efeitos da
submetidas a 200 kPa de tensão normal. cimentação a partir de 2% tornam-se notórios
com formação de picos. Ingles e Metcalf (1972)
também mostram em sua pesquisa que
acréscimo a partir de 2% são suficientes para
alterar as propriedades do solo.
Com a adição de cimento, as curvas foram
gradualmente sofrendo mudanças no formato
do traçado e atingindo maiores valores de
tensão de ruptura. Com relação a esse tipo de
comportamento de Schnaid et al (2001)
afirmam que o comportamento tensão-
deformação de solos cimentados pode ser
Figura 13 – Curvas tensão x deslocamento das amostras descrito como inicialmente rígido,
submetidas a 300 kPa de tensão normal. aparentemente linear até um ponto de
plastificação bem definido, além do qual o solo
Nota-se que as curvas tensão x deslocamento sofre aumento nas deformações plásticas até a
apresentam um pico conforme ocorre uma ruptura.
maior adição de cimento, já para as amostras de
0% e 1% de acréscimo de cimento, o
comportamento da ruptura não apresentam tais REFERÊNCIAS
picos, sendo estas mais semelhantes entre si.
Observa-se nas curvas correspondentes à BARATA, F. E. Propriedades Mecânicas dos Solos: uma
adição de 5% de cimento da Figura 12 e às introdução ao Projeto de Fundações. Rio de Janeiro:
adições de 2% e 3% da Figura 13 mudanças de Livros Técnicos e Científicos, 1984.
CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos Solos e Suas
inclinação. Esse comportamento pode ser Aplicações. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
devido às variações naturais do solo ou Científicos, 2015. 1.vol. 7. ed.
variações da homogeneização da amostra, CONSOLI, Nilo; ROSA, Daniela A.; CRUZ, Rodrigo C.;
ocasionando em regiões do corpo de prova onde DALLA ROSA, Amanda. Water Content and
Voids/Cement Ratio as Parameters Controlling
o efeito da cimentação foi mais efetiva.
Strength of Artificially Cemented Clays. Ano 2011
FIORI, Alberto Pio; CARMIGNANI, Luigi. Fundamentos
de mecânica dos solos e das rochas: aplicação na
5 Conclusão estabilidade dos taludes. Curitiba: Editora da UFPR,
2009.
FOPPA, Diego. Análise de variáveis-chave no controle da
Os resultados dos ensaios de cisalhamento
resistência mecânica de solos artificialmente
direto mostram que o acréscimo de cimento cimentados. 2005. 146 f. Dissertação (Mestrado) -
proporcionou um aumento da coesão e do Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal do
ângulo de atrito, que variaram de 16,16 a Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
114,59 kPa e de 39,67° a 50,89°, GERSCOVICH, D. M. S. Estabilidade de taludes. São
Paulo: Oficina de Textos, 2016
respectivamente. Tais resultados mostram a

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INGLES, O. G.; METCALF, J. B. Soil Stabilization:
principles and Practice. Sydney: Butterworths, 1972.
KÉZDI, Árpád. Stabilized earth roads. Amsterdam:
Elsevier Science, 1979. 328 p.
MÂCEDO, Mirtes Maria de. Solos modificados com
cimento – efeito no módulo de resiliência e no
dimensionamento de pavimentos. 2004. 289 p.
Dissertação (Mestrado) – Curso de Engenharia Civil,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.
OLIVEIRA, Alex Duarte de. Comportamento mecânico
de solos artificialmente cimentados: ensaios,
modelagem e aplicação. 201. 108 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil: Geotecnia) – Centro
de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2016.
PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 3ed.
São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
SCHNAID, Fernando; PRIETTO, Pedro D.M.;
CONSOLI, Nilo C. Prediction of Cemented Sand
Behavior in Triaxial Compression. Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
New York: ASCE, v.127, n.10, 2001.
SILVA, L. A. (2016) Estudo experimental do
comportamento de tensão, deformação e resistência
de solos artificialmente cimentados. 2016. 108 f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil:
Geotecnia) – Centro de Tecnologia, Universidade
Federal do Ceará, Fortaleza.
VARGAS, M. Introdução a mecânica dos solos. 2 ed. São
Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1981.

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Análise de Deslocamentos Horizontais em Cortina de Estaca


Secante Através de Modelagem Numérica Bidimensional pelo
Método dos Elementos Finitos
Eduardo Vidal Cabral
Sigma 1 Consultoria & Projetos, Rio de Janeiro, Brasil, eduardo.cabral@sigma1.eng.br

Enzo Cosenza Zucchi


Universidade Federal do Rio de janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, enzocz@poli.ufrj.br

Alessandra Conde de Freitas


Universidade Federal do Rio de janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, alessandracfreitas@poli.ufrj.br

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados das análises dos deslocamentos horizontais de uma
estrutura de contenção ocorridos durante a execução de uma escavação instrumentada com
inclinômetros. A estrutura em balanço responsável por conter o solo é composta por estacas
secantes com perfis metálicos implantados nas estacas de fechamento. Foi utilizada também berma,
ou escavação, de alívio. A obra consiste na construção de uma edificação comercial com um nível
de subsolo com pé direito elevado. O estudo trata da avalição dos resultados obtidos com o
programa Plaxis 2D que utiliza o método dos elementos finitos para análise de problemas
geotécnicos. Os resultados foram comparados com os dados obtidos pela instrumentação, tendo sido
considerados satisfatórios para os deslocamentos observados na cortina em balanço. Constatou-se
que o modelo constitutivo Hardening-Soil forneceu resultados mais próximos aos medidos para a
escavação avaliada. Constatou-se, também, a redução dos deslocamentos horizontais em função da
presença da escavação de alívio.

PALAVRAS-CHAVE: Deslocamento horizontal, escavação, modelagem numérica, Plaxis 2D.

1 INTRODUÇÃO de utilização de fluido estabilizante em sua


execução e nem de equipamento auxiliar. Pode
A necessidade de otimizar o uso dos terrenos, ser uma alternativa para casos onde outras
torna cada vez mais usual a utilização de técnicas não sejam aplicáveis, seja sob o ponto
subsolos como pavimentos de de vista técnico ou econômico.
empreendimentos, sejam estes residenciais ou Devido ao crescente número de escavações
comerciais. É sempre uma preocupação em meios urbanos densamente ocupados, a
estabilizar, de forma segura, a massa de solo preocupação com a diminuição da ocorrência de
durante e após a escavação. Atualmente, vibrações e ruídos tem sido recorrente na
existem inúmeras soluções de contenção, sendo construção civil. As estacas secantes,
a cortina de estacas secantes uma das técnicas caracterizadas por emitirem baixo ruído e
disponíveis no mercado. vibração têm sido cada vez mais utilizadas
A cortina de estacas secantes começou a como alternativa para as contenções. Sob o
ganhar espaço no mercado de contenções, pelo ponto de vista técnico e econômico, a solução
fato de apresentar grande versatilidade se em estacas secantes é uma alternativa às paredes
comparada às técnicas tradicionais (como por diafragma, sobretudo para contenções de até
exemplo a parede diafragma), pois não necessita dois níveis de subsolos convencionais.
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As estacas formam uma estrutura rígida com contenção a ser executado, e como guia para
elevada resistência ao empuxo horizontal execução das estacas.
provocado pelo solo e pela água e, além disso, a A perfuração das estacas é feita por uma
cortina é praticamente impermeável. A cortina perfuratriz hidráulica semelhante ao empregado
de estacas pode ser construída em locais de na execução de estacas hélice contínua. Seu
dimensões reduzidas e junto à estruturas já diferencial é possuir um cabeçote de dupla
existentes. A técnica de perfuração para as rotação, capaz de girar a hélice em sentido
estacas secantes permite a construção das horário e o tubo de revestimento no sentido
paredes em condições de terreno difíceis, solos oposto. A ponta do tubo é confeccionada em
de alta resistência e variabilidade entre vídea (material utilizado na confecção de brocas
camadas. e equipamentos de corte), para permitir o
No presente trabalho será analisado, em recorte das peças de concreto.
termos de deslocamentos horizontais, o O bombeamento do concreto é feito
desempenho de um trecho de cortina de estacas simultaneamente à retirada do trado interno e,
secantes em balanço utilizada para contenção de assim, pode-se girar o tubo em sentido anti-
escavação em terreno predominantemente horário, favorecendo a retirada do material e
arenoso. O caso estudado trata-se da construção diminuindo o atrito deste com o solo. A saída
de subsolo de uma edificação no município do do concreto se dá por uma válvula existente na
Rio de Janeiro, no bairro Barra da Tijuca. lateral da ponteira da hélice.
Os deslocamentos horizontais obtidos na A perfuração das estacas secundárias
análise numérica, realizada com o programa (fechamento) sempre deve cortar as estacas
Plaxis 2D, serão comparados com os obtidos primárias de forma a eliminar falhas e garantir
por meio de instrumentação. Com o objetivo de estanqueidade da cortina. Para que a perfuratriz
reproduzir o comportamento dos materiais consiga fazer esse corte lateral, é necessário que
geotécnicos que compõem o subsolo, serão as estacas sejam executadas com concreto com
utilizados dois modelos constitutivos, Mohr- slump alto (28 ± 2 cm), com características
Coulomb e Hardening-Soil. especiais de plasticidade e trabalhabilidade.
Geralmente as estacas primárias possuem
armação somente para fissuração, sendo
2 MÉTODO EXECUTIVO – CORTINA preenchidas com concreto ou argamassa,
DE ESTACA SECANTE enquanto as secundárias devem receber a
armação principal necessária para suportar a
O método para execução das estacas secantes é solicitação de empuxos. As estacas receberão a
uma derivação da técnica de construção das armação após o término do processo de
estacas de hélice contínua que são usadas desde concretagem, e como a cortina será solicitada à
1990. Utiliza-se o mesmo equipamento para esforços de flexão, devem ser providas de
perfuração, porém adaptado com novos armação capaz de combater os momentos
acessórios. O procedimento executivo apresenta fletores atuantes. A armação pode ser composta
cinco fases distintas: construção da mureta guia, por barras verticais e estribos soldados (Gaiola)
perfuração das estacas primárias, concretagem, ou pelo emprego de perfis laminados de aço.
perfuração das estacas secundárias (ou de Por fim, para completar a construção da
fechamento), lançamento da armadura ou perfil cortina de estacas secantes, a execução das
metálico. estacas primárias e secundárias é repetida
A execução da mureta guia consiste na alternadamente até que se complete todo o
escavação de uma vala, onde são posicionadas perímetro da escavação. A Figura 1 apresenta
as fôrmas de polietileno (isopor) que receberão sequência executiva recomendada para a
o concreto. Elas servem para delinear o muro de realização da cortina.
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envoltória de resistência de Mohr-Coulomb.


BRINKGREVE (2002) afirma que, em
contraste com o modelo Mohr-Coulomb, a
superfície de plasticidade do modelo
Hardening-Soil não é fixa, ela expande devido
às deformações plásticas. O HS considera
rigidezes diferentes para os domínios de
Figura 1. Sequência executiva recomendável (ABEF, descompressão-recompressão e de compressão
2004). virgem, para isso, este modelo utiliza diferentes
módulos de elasticidade, E50, Eoed, Eur, além dos
3 ANÁLISE NUMÉRICA - PLAXIS 2D critérios de ruptura do próprio modelo de MC.
O modelo elástico linear que representa a Lei
O método dos elementos finitos (MEF) é uma de Hooke é muito limitado para simular o
ferramenta numérica muito utilizada na prática comportamento de solos, visto que este possui
atual da engenharia devido à sua capacidade de comportamento não linear. Entretanto, pode ser
simular problemas reais. Originalmente usado para a modelagem de estruturas. Os
desenvolvido para resolver problemas de cunho materiais do tipo elástico linear possuem
estrutural, o MEF recebeu modificações de módulo de elasticidade constante,
forma a permitir seu uso em outras áreas. independentemente do estado de tensões ao qual
Segundo POTTS & ZDRAVKOVIC (1999), está sendo submetido.
vem sendo cada vez mais comum o uso do
método para análise de problemas geotécnicos.
O Plaxis 2D é um programa de elementos 4 CASO ESTUDADO
finitos desenvolvido para análises de
deformações, estabilidade e fluxo de lençol 4.1 Apresentação da obra
freático em problemas geotécnicos. O programa
possui vários modelos constitutivos do O caso utilizado para análise de deslocamento
comportamento tensão-deformação dos horizontal de cortina de estacas secantes, com
materiais, sendo possível representar solos e escavação de alívio no tardoz da cortina, através
estruturas em um dado problema geotécnico. de modelagem numérica pelo programa Plaxis
Para as análises que compõem o presente 2D trata-se da construção de um
trabalho, foram utilizados os modelos empreendimento comercial com um nível de
constitutivos de Mohr-Coulomb e Hardening- subsolo de elevado pé-direito ocorrida durante o
Soil para os diversos solos. Para a representação ano de 2015, na Zona oeste da cidade do Rio de
da cortina de estacas secantes será usado o Janeiro.
modelo elástico linear. O trecho em planta da escavação utilizado
O modelo de Mohr-Coulomb está inserido na neste trabalho possui cerca de 24,80 m de
categoria de modelos elastoplásticos perfeitos. extensão por 10,72 m de largura. O presente
Nesta categoria as deformações são estudo irá se limitar apenas a uma das paredes
decompostas em duas parcelas, uma elástica e da escavação (24,80 m) a qual é indicada na
outra plástica. No comportamento elástico, o Figura 2. Sua escolha ocorreu devido à
material recupera todas as deformações, proximidade da instrumentação (tubo guia -
enquanto que ao atingir a plasticidade, uma inclinômetro 1) e da sondagem (SP-02),
parcela da deformação é irreversível. Além buscando ser o mais representativo possível.
disso, possui um critério de ruptura, no qual o
material se comporta como linear elástico até
atingir a condição de ruptura, definida pela
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Na Tabela 1 são mostradas as diversas etapas


executivas da obra. As estratigrafias do terreno,
bem como os parâmetros representativos, serão
apresentadas no item 4.3.

Tabela 1: Fases de construção da estrutura de contenção


Fases Descrição da Fase
Execução das estacas-secantes em toda a
periferia da obra e instalação dos inclinômetros
Fase 1 Execução da viga de coroamento
Leitura zero do inclinômetro
Escavação de alívio na retroárea do limite do
subsolo
Fase 2 Escavação do subsolo até aproximadamente o
nível d’água (2,9m abaixo do NT, Figura 3)
Leitura do inclinômetro
Instalação e acionamento do rebaixamento do
nível d’água
Fase 3 Escavação até a camada de argila (3,9m abaixo
Figura 2. Seção AA utilizada (Adaptado, Sigma 1 do NT, Figura 3)
Consultoria & Projetos, 2015). Leitura do inclinômetro
Escavação até a cota determinada/nivelamento
Foram escavados pouco mais de 4 metros Fase 4 (4,15m abaixo do NT)
de profundidade de solo, quase em sua Leitura do inclinômetro
totalidade arenoso, (Figura 3). Como forma de
contenção da massa de solo, estacas secantes 4.2 Ensaios e instrumentação
foram utilizadas no perímetro de toda a
escavação, conforme já mencionado. As estacas De acordo com a sondagem SP-02 (sondagem
possuem um diâmetro de 42 cm e 12 m de mais próxima à seção estudada), é possível
comprimento, dos quais 7,85 m correspondem à notar que o subsolo escavado é composto em
ficha. sua grande maioria por solo arenoso com nível
d’água a 2,9 metros abaixo do nível do terreno
original (cota +3,2m). Assim que a escavação se
aproximou do lençol, foi acionado o sistema de
rebaixamento de forma a rebaixar o nível
d’água para aproximadamente 4,65 metros de
profundidade em relação ao nível do terreno
original.
Para a instrumentação, tubos guias de
inclinômetros foram instalados no interior de
estacas selecionadas previamente à realização
da cortina, com o intuito de possibilitarem a
medida de deslocamento horizontal da cortina
Figura 3. Representação esquemática e foto da fase final devido ao empuxo da massa de solo e da água.
da escavação. No presente trabalho foi analisado o
inclinômetro 1. A direção principal AA é a
A execução da escavação ocorreu em 4 direção perpendicular à parede da escavação. As
fases. Ao término de cada fase eram medidos os medições foram executadas sempre ao término
deslocamentos horizontais com o inclinômetro. de cada fase executiva (Tabela 1). Finalizada a
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escavação, foi medido um deslocamento Tabela 2. Fatores de correção médios C, DÉCOURT et


máximo de aproximadamente 21 mm no al. (1989).
País C
primeiro meio metro de profundidade.
Argentina 0,75
Brasil 1,2
4.3 Parâmetros geotécnicos
China 1
Colômbia 0,83
Os parâmetros geotécnicos representativos do
Japão 1,27
subsolo necessários às análises foram obtidos
Paraguai 1,2
através de correlações com ensaio SPT
U.K 0,92
disponíveis na literatura. Schnaid & Odebrecht
U.S.A 1,05
(2012) destacam que é sempre desejável
Venezuela 0,72
comparar os valores de parâmetros estimados
empiricamente por meio das medidas de NSPT
com aqueles obtidos por meio de outros ensaios Pesquisas mais recentes com base em
(de campo ou laboratório), porém, para o caso medidas reais de energia em ensaios no Brasil
estudado, não foi possível tal comparação (por exemplo, BELINCANTA,1998;
devido à ausência de ensaios adicionais. CAVALCANTE, 2002; ODEBRECHT, 2003)
Com o objetivo de tornar comparável o indicam a expressão abaixo:
número de golpes NSPT em diferentes países, foi
necessário padronizar os resultados obtidos no (3)
ensaio SPT. Pesquisas desenvolvidas por
Palacios (1977) e Schmertmann & Palacios Para a estimativa do módulo de
(1979) mostraram que o número de golpes no elasticidade dos solos, foram utilizadas duas
ensaio, NSPT, é inversamente proporcional à correlações. São elas:
energia que chega ao topo da composição de De acordo com SCHNAID (2000) para
hastes, para um número de golpes NSPT até 50. solos argilosos . Com isso,
A ISSMFE (1989) estabeleceu 60% da energia
potencial teórica (E* = 474 J) como a referência (4)
internacional. Então, havendo a realização do
ensaio SPT, o valor de NSPT deve ser convertido
De acordo com FREITAS et al. (2012), o
para N60, através da expressão (1).
módulo de elasticidade de areias sedimentares
(1) pode ser estimado de acordo com a expressão
(5).

(5)
onde: E é a energia real aplicada ao amostrador,
correspondente a NSPT;
E60 é a energia corresponde a 60% da Para o modelo Hardening-Soil, são
energia potencial teórica. necessários 3 diferentes módulos de
elasticidade, E50, Eoed e Eur, tendo sido definidos
Sendo C a relação da energia aplicada e a a partir das seguintes relações: e
energia internacionalmente admitida de 60% da . Já para o modelo Mohr-Coulomb é
energia teórica de queda (equação 2), têm-se os utilizado apenas o modulo de elasticidade E =
seguintes valores sugeridos para a correção do E50.
número de golpes (Tabela 2). Para o ângulo de atrito efetivo, a
correlação para areias, equação (6), foi obtida
(2) de KULHAWY & MAYNE (1990).
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Tabela 4. Sugestões de coeficiente de Poisson. BARATA


(1983).
(6) Tipo de solo Valor de υ
Argilas saturadas 0,5
Argilas não saturadas 0,1 - 0,3
onde: é o ângulo de atrito do ensaio de Areias argilosas 0,2 - 0,3
compressão triaxial; Siltes 0,3 - 0,35
é a tensão efetiva vertical no centro Areias 0,2 - 0,4
da camada;
é uma tensão de referência (100 kPa);
A Tabela 5 resume os parâmetros
é o NSPT corrigido para 60% da
geotécnicos utilizados, já o perfil estratigráfico
energia teórica de queda livre.
é apresentado na Figura 4, de acordo com
No caso dos solos argilosos, por
ZUCCHI (2018).
apresentarem comportamento não drenado,
considerou-se φ =0. O ângulo de dilatância (ψ) Tabela 5. Parâmetros do solo utilizados nas análises.
foi adotado segundo a proposta de Su
Espes. γunsat γsat Φ Ψ
BRINKGREVE et al. (2002) que recomenda Camadas
(m) (kN/m³) (kN/m³) (°) (°)
c
para argilas o valor de ψ= 0º. Já para areias com (kPa)
φ ≤ 30º, indica-se ψ= 0º e para areias com φ > 1 2,8 17 18 30 0,0 5
30º adota-se ψ = φ - 30 º. 2 1,1 19 20 38 8 0
3 0,8 13 15 0 0 10
Para as camadas de areia, adotou-se a
4 19 20 38 8 0
coesão nula. Para a camada de argila utilizou-se
5 20 21 44 14 0
o comportamento não drenado com c = Su. No 6 13,4 20 21 46 16 0
caso da lente de argila mole foi adotado uma 7 20 21 40 10 0
resistência não drenada de 10 kPa, já para o 8 19 20 37 7 0
aterro uma coesão de 5 kPa, sugeridos pelo Espes. E50 Eoed Eur
Camadas
projetista da referida obra. (m) (Mpa) (Mpa) (Mpa)
Foram considerados para peso específico 1 2,8 33 33 98
do solo arenoso os valores correspondentes à 2 1,1 60 60 179
sua classificação, disponível no boletim de 3 0,8 3 3 9
sondagem, de acordo com a Tabela 3. 4 65 65 195
5 118 118 353
Tabela 3. Peso específico (Adaptado de BUDHU, 2015). 6 13,4 169 169 506
Nspt Descrição γ (kN/m³) 7 126 126 379
0-4 Muito fofa 11 - 13 8 99 99 298
4 - 10 Fofa 14 - 16 Aterro
10 - 30 Média 17 - 19 Argila muito mole
Areia
30 - 50 Compacta 20 - 21
> 50 Muito compacta > 21

Como sugestão, BARATA (1983),


utilizou para areias e aterro um Coeficiente de
Poisson igual 0,3, considerados representativos
para solos de compressibilidade rápida. Para a
camada de argila saturada foi utilizado, υ =
0,499. Abaixo segue Tabela 4 sugerida por
BARATA (1983).
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Os dados do perfil metálico foram obtidos


do catálogo de estacas da Gerdau e os dados da
estaca secante foram obtidos do projeto de
contenção fornecido pela empresa Sigma1
Consultorias & Projetos.
Para o cálculo do módulo de elasticidade
secante do concreto utilizou-se a expressão
sugerida pela NBR 6118/ 2014 (equação 7).

(7)

(8)

Substituindo a equação (7) na equação (8), tem-


se a equação (9).

(9)

Figura 4. Perfil estratigráfico utilizado (ZUCCHI, 2018). onde: é igual a 1 para granito e gnaisse;
é a resistência característica à
4.4 Parâmetros estruturais da cortina
compressão do concreto;

A seção real da cortina é composta por perfil .


metálico W 250 x 32,7 inserido de forma
Os resultados do cálculo da rigidez à
centralizada nas estacas secantes secundárias
flexão equivalente para o conjunto (perfil
(fechamento) e nas estacas primárias são
metálico - estaca secante) são apresentados na
utilizadas armaduras em aço CA-50
Tabela 6 (ZUCCHI, 2018).
convencional para combate à fissuração. As
estacas têm o comprimento de 12 metros e 42 Tabela 6. Dados de entrada no Plaxis para a cortina.
cm de diâmetro, Figura 5. Seção Homogênea
α(Eaço/Econc) 10,96
Eaço (Mpa) 2,10 x 105
EIeq (kNm²/m) 3,96 x 104
EAeq (kN/m) 3,54 x 106

Foi adotada a sugestão de GOUW


(2014) e BRINKGREVE et al. (2002) em
adicionar elementos de interface à estaca e
estendê-los um pouco além do comprimento da
ficha, de forma a evitar, na análise numérica,
problemas de integração em função de mudança
abrupta de rigidez.

4.5 Modelagem numérica

Figura 5. Detalhamento das estacas secantes, (Sigma 1 As análises numéricas consideraram o subsolo
Consultoria & Projetos).
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modelado com os parâmetros apresentados no horizontais em todas as etapas da escavação


item 4.3, Tabela 5. Para a estrutura de (fases 2, 3 e 4) usando os dois modelos
contenção, foi utilizada a rigidez equivalente do constitutivos citados: Mohr-Coulomb e
perfil conforme mencionado no item 4.4 e Hardening-Soil. No caso da análise com modelo
apresentada na Tabela 6. constitutivo Mohr-Coulomb foram usados os
A simulação da escavação modelada no parâmetros de resistência c, φ, ψ e para o
Plaxis consistiu em 4 fases operacionais: módulo de elasticidade constante foi adotado o
E’=E50 para cada camada. O modelo
Tabela 7. Modelagem das fases da obra. constitutivo Hardening-Soil difere do Mohr-
Fases Descrição da Fase Coulomb, pois leva em consideração que o
Ativação do elemento de placa e sua módulo de elasticidade sofre variação conforme
Fase 1 interface, simulando a cortina de estaca
o solo é carregado, descarregado e recarregado.
secante;
Desativação do solo na região da Para isso, são introduzidos 3 valores de módulo
Fase 2 escavação de alívio e da escavação de elasticidade, E50, Eoed e Eur (Tabela 5).
principal até o nível d’água; A Figura 7 mostra os deslocamentos
Rebaixamento do nível d’água e horizontais da cortina obtidos na análise
Fase 3
desativação de 1 metro de solo; numérica (Plaxis 2D) e os valores medidos no
Desativação do último trecho de solo
Fase 4
escavado, nivelamento.
campo, finalizada a escavação.

Adotou-se o nível d’água horizontal, na


profundidade de 2,9 metros durante o processo
de cálculo das fases 1 e 2. Já durante as fases 3
e 4, foi simulado o rebaixamento do lençol
freático dentro da região da escavação. De
forma a simplificar o modelo, foram
consideradas as pressões hidrostáticas, embora
no caso em estudo, seja provável a ocorrência
de fluxo estacionário. A Figura 6 apresenta a
geometria modelada no Plaxis 2D.

Figura 7. Deslocamentos horizontais medidos


(Inclinômetro 1) e obtidos numericamente versus
profundidade – Fase 4 (ZUCCHI, 2018).

Em termos de deslocamentos horizontais,


o modelo numérico permitiu prever de maneira
satisfatória os deslocamentos da obra no trecho
avaliado. Observando-se as curvas da Figura 7 e
os dados da Tabela 8, é possível concluir que o
modelo constitutivo Hardening-Soil, para a
Figura 6. Modelo da escavação com berma de alívio -
etapa correspondente ao término da escavação
Plaxis 2D (ZUCCHI, 2018).
(fase 4), forneceu resultados que mais se
ZUCCHI (2018) efetuou análises aproximam das medições feitas no campo em
numéricas para estimativa dos deslocamentos baixas profundidades, tendo sido obtida uma
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diferença percentual na profundidade de 0,5m O modelo Mohr-Coulomb forneceu


de aproximadamente 3,5%. Já o modelo valores máximos de momento fletor inferiores e
constitutivo Mohr-Coulomb apresentou uma profundidade de ocorrência ligeiramente acima,
diferença superior, da ordem de 13%. Para em torno de 20 cm, quando comparados aos
profundidades maiores os dois modelos obtidos com o modelo Hardening-Soil. A
apresentam resultados similares. Um Tabela 9, apresenta os valores de momentos
refinamento dos parâmetros poderia resultar em fletores máximos seguidos da diferença
curvas mais próximas à obtida com base na percentual entre ambos os modelos.
instrumentação. Cumpre salientar que o modelo
Hardening-Soil considera o descarregamento no Tabela 9.Fase 4 – Valores do Momento fletor máximo.
modulo de elasticidade. Observou-se que a Profundidade MC HC Dif.
(m) (kN.m) (kN.m) (%)
ferramenta utilizada (Plaxis 2D) possibilitou, de
forma razoável, a previsão das profundidades 5,53 -44,09 -
15,8
nas quais os deslocamentos e rotações da parede 5,73 - -52,37
foram desprezíveis (≈ 0).
Para mensurar a importância da escavação
Tabela 8. Deslocamentos horizontais e erros percentuais de alívio, uma análise de sensibilidade foi
Mohr- Hardening- MC HS realizada, utilizando-se o modelo constitutivo
Prof. Inc. Coulomb Soil Erro Erro
(m) (mm) (mm) (mm) (%) (%)
Hardening-Soil. Nesta análise foi
desconsiderada a escavação no tardoz da
0,50 -21,1 -18,4 -20,4 13,0 3,5 cortina. O resultado é mostrado na tabela 10.

Além dos deslocamentos, os momentos Tabela 10. Análise de sensibilidade – Escavação de alívio
fletores da cortina também foram previstos Com Sem
Aumento
escavação escavação
numericamente (ZUCCHI, 2018). Para as (%)
de alívio de alívio
diversas fases analisadas o programa Plaxis
possibilita a obtenção de perfis de momentos Deslocamento -22 -34 54
máximo
fletores. Os resultados obtidos foram
Momento -52 -75 43
compatíveis com o esperado para a escavação Fletor máximo
em balanço, como ilustrado pela figura 8.
É notória a influência da escavação de
alívio nos resultados tanto em termos de
momento fletor atuante quanto em termos de
deslocamentos horizontais obtidos. Sem a
realização da escavação, a cortina teria um
deslocamento horizontal máximo 54 % superior
e um aumento no momento fletor máximo
atuante em 43%.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há diversas soluções de estruturas de


contenção. Cada uma possui características
peculiares que dão suporte para a tomada de
Figura 8. Momentos fletores atuantes na cortina decisão. É imprescindível que o projetista tenha
(ZUCCHI, 2018). conhecimento das diversas opções disponíveis,
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de modo que possa atender tanto os requisitos REFERÊNCIAS


de projeto quanto as restrições observadas em
campo, escolhendo uma solução técnica e ABEF (2004). Manual de Especificações de Produtos e
economicamente viável. No caso, o método Procedimentos ABEF Engenharia de fundações e
Geotecnia. 3ª Edição.
escolhido foi uma cortina de estacas secantes. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
O estudo foi possível em função dos dados TÉCNICAS (2001). NBR 6484: Solos –
obtidos a partir dos ensaios de campo sondagens de simples reconhecimento com SPT –
realizados, bem como da instrumentação de Método de ensaio.
campo instalada para o monitoramento da obra. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2014). NBR 6118: Projeto de
Dessa forma, foi possível avaliar se as estruturas de concreto.
considerações feitas em projeto foram próximas BELINCANTA, A (1998). Avaliação de fatores
da realidade. É importante frisar que se invista intervenientes no índice de resistência à
nas fases investigativas, pois uma boa penetração do SPT. Tese de Doutorado - Escola
campanha de ensaios permite um melhor de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Carlos.
conhecimento do problema e possibilita uma BELINCANTA, A (1985). Energia dinâmica no SPT:
análise mais acurada. Assim como um resultados de uma investigação
monitoramento adequado durante a execução teóricoexperimental. Tese (Dissertação) - Escola
possibilita ajustar premissas de projeto. Politécnica da Universidade de São Paulo, São
Paulo.
Os deslocamentos horizontais obtidos com a
BRINKGREVE, R. B. J (2002). Finite Element Code for
modelagem no Programa Plaxis 2D foram Soil and Rock Analyses – PLAXIS– 2D user’s
muito próximos aos encontrados em campo manual, Rotterdam, Netherlands, Balkema.
com base na instrumentação. Sendo assim, BUDHU, Muni (2015). Fundações e estruturas de
confirmada a eficácia desta ferramenta nos contenção. 1a Edição: LTC, Rio de Janeiro.
CAVALCANTE, E. H (2002). Investigação teórico-
projetos geotécnicos de escavações com
experimental do SPT. Tese de Doutorado em
contenção, principalmente quando o projeto Engenharia Civil – COPPE, Universidade Federal
requer o uso de geometrias complexas, que do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
dificultariam as estimativas através de métodos FREITAS, A.C.; Pacheco, M. ; Danziger, B.R. (2012).
de cálculos analíticos. Além disso, foi Estimating Young Moduli in Sands from the
Normalized N60 Blow Count. Soils & Rocks, v. 35,
constatado que o modelo Hardening-Soil
p. 89-98.
apresenta resultados ligeiramente mais ODEBRECHT, E (2003). Medidas de energia no ensaio
próximos dos medidos pela instrumentação, do SPT. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) –
sendo uma melhor opção para avaliação do Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
comportamento de solos no caso de escavações. Alegre.
OU, Chang-yu (2006). Deep Excavation theory and
O recurso de escavação de alívio na retroárea
Practice. Editora: Taylor & Francis Group,
da contenção, também denominado de London, UK.
escavação temporária em banqueta, ou berma de SANTOS, Karolyn Resch de Moraes (2016). Contenções
alívio, teve como objetivo reduzir os esforços em cortinas com ficha descontínua: um caso de
solicitantes sobre a cortina e consequentemente obra contemplando instrumentação, modelagem
numérica e métodos usuais de projeto. Dissertação
os deslocamentos horizontais. Foi possível de Mestrado. Rio de Janeiro, RJ. Universidade do
observar que caso não fosse adotada a técnica Estado do Rio de Janeiro.
de escavação de alívio na retroárea, haveria um SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E. (2012). Ensaios de
aumento de cerca de 50% no deslocamento campo e sua aplicação à engenharia de
máximo horizontal da cortina e de 40% em fundações. 2ª Edição.
ZUCCHI, Enzo Cosenza (2018). Análise numérica de
relação ao momento fletor máximo, apontando, deslocamentos horizontais em cortina de estaca
portanto, a eficácia desta técnica na seção secante. Dissertação de graduação em Engenharia
analisada, de acordo com as análises numéricas civil. Rio de Janeiro, RJ. Universidade Federal do
efetuadas. Rio de Janeiro.
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Análise de Misturas de Solo – Cal a Curto Prazo


Rosemary Janneth Llanque Ayala
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, jannethllanque@gmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Ana Laura Martínez Hernández


Instituto Tecnológico de Querétaro, Querétaro, México, almh72@gmail.com

RESUMO: O estudo teve por objetivo avaliar a influência a curto prazo da cal nas propriedades e
comportamento de um solo tropical profundamente intemperizado. A natureza da influência a curto
prazo geralmente tende a ser distinta daquela que ocorre alongo prazo tendo em vista que a curto
prazo ocorrem apenas trocas iônicas e reações de carbonatação. Geralmente se avalia o
comportamento a longo prazo, ou seja, para um período de cura de no mínimo 14 a 28 dias. Foram
usados no estudo dois tipos de cal, uma CH-I e outra CH-III em teores 4%, 6% e 10%. Os ensaios
foram realizados após 24 horas de repouso. Foram realizados os seguintes ensaios: análise
granulométrica, limites de Atterberg, raios X, compactação e mini-CBR. Os resultados obtidos
mostram que tanto as propriedades como o comportamento do solo a curto prazo são afetados pela
adição de cal.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização solo-cal, Indice de Plasticidade, Troca catiônica, Difração de


Raios X, Compactação, Mini-CBR.

1 INTRODUÇÃO
2 MELHORIA DE SOLOS COM CAL
A cal é um aditivo usado na estabilização de
solos desde tempos antigos. A melhoria do Existe mais de um critério para a determinação
comportamento do solo depende não só das do teor ótimo de cal a ser usado na estabilização
propriedades e características do solo como de um solo (Oliveira, 2010; Basso et al. 2005).
também das especificidades da cal. Geralmente No presente estudo optou-se por considerar o
a cal, a depender do tipo de solo, contribui para método bazeado na variação do pH com o teor
a melhoria do comportamento mecânico dos de cal, por ser um método simples e de rápida
solos (Rezende, 2003; Pessoa, 2004; Önal, 2015; avaliação.
Leite et al. 2016). Essa melhoria pode ocorrer em A eficiência da cal na melhoria do
consequencia de trocas iônicas e/ou da formação comportamento mecânico do solo depende
de ligações cimentícias entre os grãos. A cal muito da composição químico-mineralógica do
quase sempre contribui ainda para a melhoria da solo e das propriedades da cal.
trabalhabilidade do solo. Com relação ao tempo de cura, Amadi &
Ambos, a melhoria da trabalhabilidade e o Okeiyi, (2017) consideraram o aporte da cal na
ganho de resistência potencializa seu uso em melhoria de um solo argiloso e avaliaram dois
construções rodoviárias. tipos de cal, cal virgem e cal hidratada. Eles
O objetivo desse estudo é analisar a influência identificaram uma mudança de tendência na
da cal a curto prazo nas propriedades e no resistência à compressão simples das misturas
comportamento de um solo laterítico fino. solo-cal hidratada quando adicionados 7,5 e 10%
em peso (curva). Esta variação no
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comportamento não foi registrada nas misturas Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da


solo-cal virgem que apresentou uma tendência Universidade de Brasília (UnB).
linear crescente indicando melhoria. O A Figura 1 apresenta as unidades geológicas
comportamento para ambos os tipos de cal foi da região, identificando-se o predomínio de uma
linearmente ascendente até 2,5% de cal. cobertura detrito laterítico.
Leite et al. (2016) avaliaram a influência da
cal em um solo expansivo e verificaram que ela
reduziu a fração argila e aumentou as frações
silte e areia, reduziu o indice de plasticidade e
gerou uma redução da expansão de 20% para
1,8%, os resultados foram obtidos a partir de um
tempo de cura de 7 dias.
Alrubaye et al. (2016) avaliaram a influência
de uma cal hidratada nos limites de Atterberg de
uma argila caulinítica e verificaram que ela
gerou uma redução no índice de plasticidade
sendo a mesma atribuida a reações pozolânicas
ocasionadas pela presença de silicatos e
aluminatos no solo. Os autores verificaram que a
partir de 9% de cal ocorria um aumento no limite
de liquidez.
Önal (2015), avaliando a influência da cal em
solos salinos verificou resultados satisfatórios da
Figura 1. Localização da área de estudo.
resistência à compressão simples para teores de
cal de 8% em um tempo de cura de 6 meses
Na Figura 2 observa-se a cor avermelhada do
obtendo um aumento de 120 kPa para 772 kPa.
solo indicando presença de óxido de ferro sendo
Em termos de classificação o solo mudou na
que os elementos maiores são apenas torrões que
classificação unificada de CH para MH.
se desfazem facilmente não constituindo
Thyagaraj & Zodinsanga, (2015) usam uma
agregados propriamente ditos.
técnica de precipitação com cal em solos
expansivos adicionando CaCl2 e NaOH
reduzindo assim o índice de plasticidade e
melhorando a resistência à compressão simples,
acelerando a atividade pozolânica nos
compostos.
Neste trabalho será feita uma análise da ação
da cal na fase inicial das misturas sobre as
propriedades e comportamento de um solo
laterítico.

3 MATERIAIS UTILIZADOS

3.1. Solo Figura 2. Solo laterítico puro.

3.2 Cales
O solo foi coletado entre 2 e 3 metros de
profundidade no Campo Experimental do As cales utilizadas foram do tipo hidratada
dolomítica enquadradas nas categorias CH-I
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(Figura 3) e CH-III, sendo a marca da cal CH-I Tabela 1. Variação textural do solo estudado (NBR6502).
MASSICAL e da CH-III SUPERCAL. areia areia areia
silte argilas
% grosa média fina
0,06 -
2-0,6 0,6 - 0,2 0,2 - 0,06
0,002
<0,002
-Solo com
defloculante 1,30 18,07 31,40 24,27 24,96
-Solo sem
defloculante 0,83 46,45 34,48 14,42 3,78

Os ensaios para determinar a consistência do


solo foram realizados segundo as normas NBR
6459/2016 e NBR 7180/2016 para determinar
respectivamente os limites de liquidez (wl) e de
plasticidade (wp). Os resultados obtidos estão
Figura 3. Cal hidratada CH-I apresentados na Tabela 2. O índice de
plasticidade (IP) do solo indica tratar-se um solo
4 RESULTADOS OBTIDOS
medianamente plástico.
A determinação da densidade real dos grãos
Para identificação do tamanho de partículas foi
foi realizada no equipamento pentapicnómetro
realizado o ensaio de granulometria segundo a
de marca Quantachrome 5200e. Obteve-se para
norma NBR 7181/84. Na Figura 4 são
o solo estudado o valor 2,69 para o solo.
apresentadas as curvas granulométricas do solo
A partir dos parâmetros de caracterização
obtidas com e sem o uso de defloculante.
considerando-se a granulometria obtida fazendo-
Com defloculante Sem defloculante
se uso de defloculante o solo estudado foi
100,0
classificado no sistema unificado (SUCS) como
90,0 CL (argila de baixa plasticidade), e segundo a
80,0 TRB como A-6, no entanto, considerando-se a
% que passa

70,0
análise granulométrica realizada sem o uso de
60,0
50,0
defloculante o solo classifica-se como SC
40,0 segundo o SUCS e como A-2-6 segundo o
30,0 sistema de classificassão TRB.
20,0
Segundo a metodologia MCT utilizando a
10,0
0,0 norma DNER-CLA 259/96 o solo estudado se
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000 classifica como uma areia argilosa laterítica
Diâmetro das partículas (mm)
(LA’) o que corresponde a classificação SUCS
Figura 4. Curvas granulométrias do solo puro. sem uso de defloculante na análise
Nota-se que para o solo com uso de granulométrica. Na Tabela 2 é apresentado o
defloculante aproximadamente 50% passa na resumo da caracterização do solo estudado sem
peneira #200. Já sem o uso de defloculante esse o uso de defloculante nas análises
percentual cai para 23% fazendo com que o solo granulométricas.
seja classificado como areno-siltoso devido a sua
Tabela 2. Resumo da caracterização do solo.
formação agregada. Material Solo
Na Tabela 1 são apresentados os teores das Classificação MCT LA'
diferentes frações granulométricas obtidas com e Classificação SUCS (SD) SC
sem o uso de defloculante segundo os limites Classificação TRB (SD) A-2-6
Gs 2,69
estabelecidos na NBR 6502/95. Esses resultados
wl 35
mostram que a granulometria obtida sem o uso wp 23
de defloculante reflete melhor o comportamento IP 12
dos solos lateríticos. SD= sem defloculante
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Realizadas as determinações das densidades A análise de difração de raios X (DRX) foi


reais dos grãos das cales verificou-se (Tabela 3) realizada no laboratório de DRX do Instituto de
que os resultados estão na faixa (2,5 a 2,6) Geociências da Universidade de Brasília. A
enquadrando-se na faixa (2,4 a 2,6) estabelecida preparação das amostras foi realizada com água
pela National Lime Association (2016) para a cal destilada em um centrifugador de marca Thermo
dolomítica di hidratada (Ca(OH)2.Mg(OH)2). Scientific usando-se dois intervalos de tempo: 7
minutos para a fração total e 30 minutos para a
Tabela 3. Densidade real dos grãos das cales usadas. fração argila. Após preparadas as amostras em
Cal Gs lâminas de vidro, as mesmas foram levadas ao
CH-I 2,50 equipamento de análise de DRX de marca
CH-III 2,57
RIGAKU.
Nas análises mineralógicas fazendo-se uso de
Medindo o pH do solo em água, foi obtido o raios X identificou-se no solo puro a presença
valor 5,5 e em KCl, 6,2. Com isso tem-se para o dos seguintes minerais: Quartzo (Q), Caulinita
solo um ponto de carga zero (PCZ) determinado (K), Gibbsita (G), Rutilo (R), Hematita (H),
segundo Keng & Uehara (1974) (PCZ = 2.pHKCl Goethita (Go) e Vermiculita (V) sendo esta
– pHH20) igual a 6,9. pouco frequente nos solos profundamente
Ambas as cales apresentaram pH igual a 13,3. intemperizados como é o caso do solos estudado.
Assim, como a adição de cal eleva o pH do Nas análises de raios X realizadas sobre as
solo, ao passar pelo ponto de carga zero existe o cales dos tipos CH-I e CH-III, foram obtidas nas
risco de sua desagregação. análises realizadas para as cales totais (Tt) e para
A Figura 5 apresenta a estrutura compactada as frações finas (fa) a identificação dos seguintes
do solo puro e na Figura 6 solo-cal CH-I 10% minerais principais: Portlandita (P), Calcita (Ca),
comparándo-se ambas se presume desagregação Aragonita (Ar) e Anhydrito (An).
do solo quando adicionada a cal. A Figura 7 apresenta uma síntese dos ensaios
realizados nas misturas solo-cal. Esses ensaios
foram realizados após um período de repouso de
24 horas das misturas solo-cal objetivando
verificar influências nas propriedades e
comportamento mais ligadas a trocas iônicas.
Inicialmente analisou-se a influência do teor
de cal no pH das misturas solo-cal. Foram
testadas as porcentagens de 2%, 3%, 4%, 5%,
6%, 7%, 8%, 9%, 10%, 11% e 12% das cales tipo
CH-I e CH-III (Figura 8). Observa-se nessa
figura que até 4% de cal o pH da mistura varia
Figura 5. Estrutura do solo puro compactado (x200). consideravelmente para ambos os tipos de cal
passando a apresentar variações irrelevantes a
partir de aproximadamente 8% de cal. Partindo
dessa observação adotou-se no estudo os teores
de 4%, 6% e 10% para avaliação do
comportamento das misturas solo-cal, sendo que
4% corresponde ao ponto de inflexão na curva,
10% a um teor onde o pH já se encontra com
certa estabilidade. 6% é um ponto intermediário.

Figura 6. Estrutura do solo-cal CH-I 10% compactado


(x200).
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1 com defloculante 1 sem defloculante 4%CH-I


Características
Caracterização 6%CH-I 10%CH-I
Mecânicas
100,0
90,0
80,0
Granulo Compac
70,0
metria tação
60,0

% que passa
50,0
40,0
30,0
Gs CBR
20,0
10,0
0,0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000
Diâmetro das partículas (mm)
Wl-Wp Tração
Figura 9. Curvas granulométricas solo-cal CH-I.

Verifica-se que a cal influencia na


granulometria do solo gerando certa
DRX Solo-Cal
desagregação das frações areia e silte e pouco
Figura 7. Fluxograma de ensaios realizados nas misturas aumento na fração argila, provavelmente devido
solo-cal. a desagregação das frações areia e silte.
Embora a diferença seja pequena, observa-se
nessas figuras que o solo é estruturalmente um
pH-CH-I pH-CH-III pouco mais sensível à cal hidratada CH-III que à
13,4
CHI.
13,2
13,0 1 com defloculante 1 sem defloculante 4% CH-III

12,8 6% CH-III 10% CH-III


pH

100,0
12,6
90,0
12,4 80,0

12,2 70,0
60,0
% que passa

12,0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 50,0
40,0
Teor de Cal (%)
30,0
Figura 8. Influência da cal no pH do solo. 20,0
10,0
Destaca-se, que considerando-se o fato de que 0,0
o PCZ do solo é igual a 6,9, tem-se para ambas 0,001 0,010 0,100 1,000 10,000
Diâmetro das partículas (mm)
as cales que mesmo o acréscimo de 2% de cal é
susceptível de propiciar a desagregação do solo Figura 10. Curvas granulométricas solo-cal CH-III.
(Figura 8). A influência da cal é compatível com a análise
As Figura 9 e Figura 10 apresentam as curvas realizada em relação ao ponto de carga zero do
granulométricas do solo puro (1) com e sem o solo, ou seja, como a adição da cal eleva o pH
uso de defloculante e das misturas solo-cal para passando pelo ponto de carga zero já era
os três teores de cal analisados usando-se esperada certa desagregação do solo com a
respectivamente os dois tipos de cal hidratada adição da cal.
(CH-I e CH-III). A Tabela 4 apresenta a classificação dos solos
a partir das misturas solo-cal comparados ao solo
puro, verífica-se a predominância de siltes e
areias finas.
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Tabela 4. Composição dos solos. 40


areia areia
areia fina silte argilas
grosa média
% 30
0,02 -
2-0,6 0,6 - 0,2 0,2 - 0,05 <0,002
0,002 20

(%)
Solo com
def 1,30 18,07 31,40 24,27 24,96
Solo sem 10
def 0,83 46,45 34,48 14,42 3,78
S-4%CH-I 1,36 28,13 41,13 29,38 0,00 0
0 2 4 6 8 10
S-6%CH-I 1,09 30,02 39,31 29,58 0,00 Teor de Cal (%)
S- Wl - CH-I Wp-CH-I IP CH-I
1,37 33,44 39,03 26,17 0,00
10%CH-I Wl - CH-III Wp - CH-III IP CH-III
S-4%CH-
III
1,20 33,63 37,63 27,54 0,00 Figura 12. Influência das cales nos limites de
S-6%CH- consistência.
1,93 34,41 37,36 26,29 0,00
III
S- Verifica-se que o wl praticamente não é
10%CH- 0,86 30,53 33,02 35,59 0,00
III afetado pela adição de qualquer das cales, no
entanto, o wp aumenta para o teor de cal 4% e
A Figura 11 apresenta a variação da depois se mantem praticamente constante para os
densidade real dos grãos (Gs) do solo sob dois tipo de cal. As variações registradas para o
influência da cal. Verifica-se que o Gs do solo IP diminuindo de 12% para 7% na cal CH-I e 5%
diminui com o incremento do teor de cal, mas na cal CH-III são condizentes com os
existe um ponto (6%) em que essa variação muda comportamentos verificados quanto ao wl e ao
de sentido incrementando o valor do Gs (10%) wp. Esses resultados mostram que o ponto de
sem que, no entanto, atinja o valor registado para inflexão registrado para aproximadamente 4%
o solo puro. As tendências são semelhantes para de cal no gráfico que relaciona o pH das misturas
os dois tipos de cal. solo-cal com os teores de cales é definidor da
interferência da cal cal na plasticidade do solo
estudado.
2,70 Gs Realizadas as análises de DRX para as
2,65 misturas solo-cal verifica-se na Tabela 5 que
2,60 formou-se a gipsita, sulfato de cálcio hidratado,
2,55 cuja cela unitária apresenta a composição:
Ca(SO4) • 2H2O. Este sulfato de cálcio hidratado
Gs

2,50
2,45 geralmente apresenta aspecto lamelar e
2,40 característica aglutinante, o que pode ter
2,35 contribuído para a agregação da fração argila não
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% agregada presente no solo em estado puro. Sua
% Cal densidade, 2,32 g/cm3, é próxima à da gibbsita
Solo-Cal CH-I Solo-Cal-CH-III
que varia entre 2,3 e 2,4. Nessa Tabela: Q =
Figura 11. Influência da cal no Gs do solo. Quartzo, K = Caulinita, G = Gibbsita, H =
O tipo de cal também influência nesta Hesmectita, R = Rutilo, A = Anastácio,
variação, sendo que a cal tipo III apresenta Go=Goethita, V = Vermiculita como
valores um pouco menores de Gs a partir de 6% componentes predominantes do solo e Ca =
de cal. Calcita, P = Portlandita, Ar = Aragonita e Ah =
Na Figura 12 apresenta-se a influência da cal Anhidrito como minerais principais da cal (I e
nos limites de consistência. III); e a Gi = Gipsita, mineral novo nas misturas
solo – cal.
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Tabela 5. Influência da cal na mineralogia da mistura Solo Puro CH - I - 4% CH-I-6%


solo-cal. CH-I-10% CH-III-4% CH-III-6%
CH-III-10%
Compostos Q K G H R A Go V Ca P Ar Ah Gi 16,0

Peso específico aparente seco (kN/m3)


Solo x x x x x x x x 15,5
Cal (I e III) x x x x
15,0
S-4% CH-I x x x x x x x x x x
14,5
S-6% CH-I x x x x x x x x x x
14,0
S-10% CH-I x x x x x x x x x x
13,5
S-4% CH-III x x x x x x x x x x
13,0
S-6% CH-III x x x x x x x x x x 15 17 19 21 23 25 27 29

S-10% CH-III x x x x x x x x x x Umidade (%)


Figura 13. Influência da cal na compactação.
Os minerais Portlandita (Ca(OH)2), Aragonita Em termos de peso específico aparente seco
(Ca(CO)3) e Anhidrito (CaSO4) desaparecem nas máximo os valores obtidos para as duas cales são
misturas solo-cal. O hidróxido da Portlandita semelhantes tendendo a umidade ótima a ser um
reage com os oxigênios do solo e o Cálcio pouco superior para a cal CH-III. Isso significa
substitui os sódios do solo formando cristais que a oclusão da fase ar estaria ocorrendo para a
cimentantes no solo estes cristais de silicatos e mesma porosidade mas com distribuição de
aluminatos de calcio irão cristalizar durante o poros um pouco distinta entre as cales. A maior
processo de cura que ocorre em maiores suavidade dos ramos seco e úmido das curvas
intervalos de tempo. O Anhidrito é disolvido na obtidas para a cal CH-III aponta, para uma maior
água transformando-se em Gipsita que atuará uniformidade nos poros quando do tratamento do
como retardador do tempo de cura permitindo a solo com essa cal, sobressaindo aparentemente
trabalhabilidade do composto (proceso certa agregação do solo quando do uso de 10 %
semelhante ao da fabricação de cimento). A de cal. No ramo seco da curva de compactação a
Aragonita se junta à Caulinita (Dana & Hurlbut, maior suavidade da curva pode se dar em função
1960). de um ou mais dos seguintes fatores: menor
A compactação foi realizada para o solo em variação da sucção com o aumento do teor de
estado natural e com a adição de cal (Figura 13). umidade o que aponta para poros mais
O ensaio foi realizado conforme a norma DNER- uniformes; menor quebra de agregados ou de
ME 256/94. grãos; menor efeito lubrificador da água. Já no
Os resultados apresentados na Figura 13, ramo úmido a maior suavidade da curva indica
mostram que a cal influenciou no resultado da que se está a gerar menor incremento de pressão
compactação do solo diminuindo o peso neutra no solo quando da compactação ao se
específico aparente seco máximo e aumentando aumentar o teor de umidade.
o teor de umidade ótimo com o aumento do teor Quanto ao comportamento do mini-CBR
de cal. Verifica-se ainda da comparação entre os observa-se que para um mesmo valor de peso
resultados de compactação que o tipo de cal específico aparente seco ele aumenta com o teor
interviu na forma da curva. Para a cal CH-III de cal sendo possível evidenciar que o aumento
tanto o ramo seco como o úmido das curvas de tende a ser mais significativo para a cal CH-I
compactação se tornaram mais suaves sendo esta (Figura 14).
suavidade menos intensa para o teor 10%.
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Solo Puro CH - I - 4% CH - I - 6%
CH - I -10% CH - III - 4% CH - III - 6%
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
CH - III - 10%

A partir dos resultados obtidos pode-se afirmar


42
que:
37 - Após a escolha de 3 teores de cal (4%, 6% e
32 10%) verificou-se que a cal influencia
27 diretamente no pH do solo mas este não é
mini - CBR

22
suficiente para determinar o teor de cal ótimo em
misturas solo-cal para solos lateríticos como o
17
estudado como estabelece a norma ASTM
12
D6279 mencionada no manual de dosagem e
7 procedimentos de ensaios para misturas solo-cal
2 da National Lime Association, (2006) que indica
13 13,5 14 14,5 15 15,5 16
um pH 12,4 como valor que determina o teor
Peso específico aparente seco (kN/m3) ótimo de cal. Cabe destacar que essa análise se
Figura 14. Influência da cal no mini-CBR do solo. fundamenta no comportamento a curto prazo
sendo necessário que se avalie também o
Ao se observar a Figura 15 que relaciona o
comportamento a longo prazo antes de uma
mini-CBR com o teor de umidade de
conclusão definitiva;
compactação, verifica-se certa tendência ao
- Realizadas as análises de granulometria
comportamento das misturas solo-cal
verifica-se que a cal gerou no solo estudado certa
melhorarem no ramo seco com o aumento do
desagregação na fração silte e areia apontando
teor de cal sendo aparentemente melhor para a
como relevante a consideração do PCZ nas
cal CH-I. No ramo úmido os resultados tendem
análises de estabilização dos solos lateríticos
a se sobreporem. Comparando-se os gráficos
com cal;
obtidos para as misturas solo-cal em função do
- Dos resultados obtidos a partir da
teor de umidade de compactação com os
determinação do Gs das misturas e comparados
resultados obtidos para o solo puro verifica-se
ao do solo verificou-se uma diminuição que
que a cal promove um deslocamento das curvas
depende do tipo de cal sendo maior para o tipo
para a direita e só atinge o valor máximo de mini-
III, no entanto essa variação não mostrou-se
CBR obtido para o solo puro para misturas com
dependente do teor de cal;
6% (cal CH-I) e 10% (CHI e CH-III) de cal.
- Com relação aos limites de Atterberg
Solo Puro CH - I - 4% CH - I - 6% verificou-se que para o solo estudado as cales
CH - I -10% CH - III - 4% CH - III - 6% influenciaram apenas o limite de plasticidade
CH - III - 10%
intervindo por consequência no índice de
42 plasticidade;
37
- Dos resultados de DRX evidenciou-se a
formação de novos minerais contribuintes tanto
32
na determinação do tempo de cura (Portlandita)
27 quando no tempo de pega (Gypsita),
mini - CBR

22 presupondo-se que a quantidade de cal


17 influenciará diretamente na quantidade de
12
Gypsita na mistura, o que aponta para a
necessidade de se limitar o teor de cal para se
7
obter menores tempos de cura;
2
15 17 19 21 23 25 27 29
- A curto prazo verificou-se que a cal
contribui para a melhoria do mini-CBR em
Umidade (%)
função do teor de cal requerendo, no entanto,
Figura 15. Influência da cal no umidade do CBR do solo.
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estudos complementares para que se defina o Requisitos. Associação Brasileira de Normas


teor ótimo de cal. Técnicas. 4p.
NBR 7180/84 (1984) Solo – Determinação de limite de
plasticidade. Associação Brasileira de Normas
AGRADECIMENTOS Técnicas. 6p.
NBR 7181/84 (1984) Solo - análise granulométrica.
Agradecimento ao CNPQ pelo financiamento do Associação Brasileira de Normas Técnicas. 13p.
projeto. Nnochiri, E. S., Emeka, H. O., & Tanimola, M. (2017).
Geotechnical Characteristics of Lateritic Soil
Stabilized With Sawdust Ash-Lime Mixtures. The
Civil Engineering Journal, 1(7), 66–76.
REFERÊNCIAS Nnochiri, E. S., Ogundipe, O. M., & Oluwatuyi, O. E.
(2017). Effects of Palm Kernel Shell Ash on Lime-
Alrubaye, A. J., Hasan, M., & Fattah, M. Y. (2016). Stabilized Lateritic Soil. Slovak Journal of Civil
Engineering properties of clayey soil stabilized with Engineering, 25(3), 1–7.
lime. ARPN Journal of Engineering and Applied Oliveira, E. (2010). Emprego da Cal na Estabilização de
Sciences, 11(4), 2434–2441. Solos Finos de Baixa Resistência e Alta Expansão:
Amadi, A. A., & Okeiyi, A. (2017). Use of Quick and Estudo de Caso no Município de Ribeirão das
Hydrated Lime in Stabilization of Lateritic Soil: Neves/MG. Dissertação de Mestrado. Programa de
Comparative Analysis of Laboratory Data. Pós-Graduação em Engenheria Civil. Universidade
International Journal of Geo-Engineering, 8(1), 3. Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, SC. 171p.
Basso, R. V., Ferraz, R. L., Belincanta, A. & Ramos, F. S. Önal, O. (2015). Lime Stabilization of Soils Underlying a
(2003). Aplicação do Método Físico-Químico de Salt Evaporation Pond: A Laboratory Study. Marine
Dosagem de Misturas Solo-Cimento aos Solos Típicos Georesources & Geotechnology, 33(5), 391–402.
do Noroeste do Paraná. IV Encontro Tecnológico da Pessoa, F. H. C. (2004). Análises dos Solos de Urucu para
Engenharia Civil e Arquitetura. ENTECA. 348-357. Fins de Uso Rodoviário. Dissertação de Mestrado..
Dana, J. D., & Hurlbut Jr. C. S. (1960). Manual de Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Mineralogia. 2a. Ed. Editorial Reverté S.A. 578 p. Universidade de Brasília, Brasília, DF. 151p.
DNER-ME 256/94 (1994). Solos compactados com Rezende, L. E. (2003). Estudo do Comportamento de
equipamento miniatura-determinação da perda de Materiais Alternativos Utilizados em Estruturas de
massa por imersão. Departamento Nacional de Pavimentos Flexíveis. Tese de Doutorado.
Estradas. Rio de Janeiro, RJ. 6p. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
DNER-ME 254/97 (1997). Solos compactados em Universidade de Brasília, Brasília, DF. 372p.
equipamento miniatura-Mini-CBR e expansão. Thyagaraj, T., & Zodinsanga, S. (2015). Laboratory
Departamento Nacional de Estradas Rio de Janeiro, Investigations of In Situ Stabilization of an Expansive
RJ. 14p. Soil by Lime Precipitation Technique. American
DNER-CLA 259/96 (1996). Solos compactados em Society of Civil Engineers, 27(7), 1–8. 533.0001184.
equipamento miniatura-Mini-MCV. Departamento
Nacional de Estradas. Rio de Janeiro, RJ. 6p.
Keng, J.C.W. & Uehara, G. (1974). Chemistry,
mineralogy and taxonomy of Oxisols and Ultisols.
Proceedings Soil and Crop Science Society of Florida,
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Leite, R., Cardoso, R., Cardoso, C., Cavalcante, E., &
Freitas, O. De. (2016). Lime stabilization of expansive
soil from Sergipe - Brazil. E3S Web of Conferences, 9,
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National Lime Association. (2006). Mixture Design and
Testing Procedures for Lime Stabilized Soil. Technical
Brief, (October), 1–6.
National Lime Association. (2016). Properties of typical
commercial lime products. Arlinton Virginia.
NBR 6459/84 (1984) Solo – Determinação de limite de
liquidez. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
6p.
NBR 6502/95 (1995) Rochas e Solos. Associação
Brasileira de Normas Técnicas. 18p.
NBR 7175/03 (2003) Cal hidratada para argamassas -
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ANALISE DE TENSÕES EM CAMADA DE SUB-BASE DE


SOLO-CIMENTO E PÓ DE PEDRA
João H. Freitas (1)
Universidade Estadual de Maringá, Maringá Brasil, joaohenriquedefreitas@gmail.com
Jeselay H. Reis (2)
Dr. Professor Universidade Estadual de Maringá. Maringá Brasil, jeselay@hotmail.com
Antonio. Belincanta (3)
Dr. Professor Universidade Estadual de Maringá. Maringá Brasil, abelincanta@uem.br

RESUMO:A falta de recursos naturais na pavimentação remete a estudos que buscam alternativas
viáveis no quesito ambiental, econômico e estrutural. O objetivos desse trabalho é estudar a
capacidade de carga e distribuição de tensão da camada solo-cimento com a utilização do pó de
pedra. Neste artigo é avaliado o comportamento carga vs. recalque de uma camada de 30 cm de
solo-cimento e pó de pedra. Para tanto, foram realizados ensaios de prova de carga em placa de
diâmetro de 33 cm, além ensaios em laboratório, além de apresentar análise das tensões por meio do
software ELSYM5. O resultado referente a prova de carga sobre a camada estudada demonstrou
capacidade de suporte adequada alcançando carga de ruptura de 1,76 MPa, as análises numérica
mostrou-se compatível com observado em campo. Conclui-se que o resíduo da atividade de
mineração tem potencial de incorporação em camada de sub-base de pavimentos rodoviários.

PALAVRAS-CHAVE: Sub-base de solo-cimento e pó de pedra. Prova de carga em placa. Analise


das tensões.

1. INTRODUÇÃO Maringá, apresenta pouco ou nenhum valor


comercial e costuma ser estocado ao ar livre no
Quando se trata de obra de engenharia é pátio das pedreiras, se tornando agente de
observada a necessidade de se conhecer o solo degradação ambiental. Uma alternativa para
sobre o qual estará situada, sendo este, de reduzir a destinação inadequada deste material é
fundamental importância para a descrição do por meio da reutilização do pó de pedra em
comportamento estrutural. No caso de materiais de construção civil, objetivando
pavimentos, que são constituído por diferentes manter ou melhorar o desempenho mecânico do
camadas com espessuras e comportamentos solo avaliado, interesse que serviu de fomento
mecânicos distintos, destaca se a necessidade de para esse estudo.
conhecer a forma de distribuição de tensão. Os A determinação da curva pressão recalque é
pavimentos podem ser definidos como fundamental para a avaliação do
estruturas de múltiplas camadas, com a função comportamento real das misturas estudadas.
de resistir as intempéries e aos esforços de Para isso, a norma do DNIT 055/2004 e a
tráfego de veículos norma internacional ASTM-D1196/D1196M-12
Como alternativa para melhorar o definem os ensaios de prova de carga em placa
desempenho das camadas constituintes dos como ensaios reduzidos submetidos a
pavimentos, o presente trabalho traz um estudo carregamentos sequenciais e incrementais. A
que visa analisar o comportamento da curva abordagem usada para a interpretação de provas
pressão recalque para a sub-base com adição de de carga em pavimentos, consiste na
pó de pedra. O pó de pedra, produto da determinação do módulo de reação vertical
britagem de rochas que encontra-se na região de (kV).
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Além disso, a estrutura dos pavimentos Segundo Alves et al. (2010) a


necessita de grande volume de materiais com compactação de misturas de solo-cimento e pó
baixa compressibilidade, de modo a melhorar o de pedra para a aplicação em sub-bases e bases
desempenho e diminuir os danos associados aos de pavimentos rodoviários melhora as
recalques nos pavimentos. A escolha de características de compactação das misturas em
materiais de baixa compressibilidade questão, cujos solos apresentam alto teor da
representa, em alguns casos, custos elevados, fração de finos, e desde que essa fração não
que variam sistematicamente em função da ultrapasse 35%, o aumento na proporção do
localização das jazidas e do tipo de material. cimento melhora as propriedades e as condições
Desse modo, pesquisas tem sido de compactação.
desenvolvidas no sentido de aplicar materiais Faganello (2006), observou que amostras
alternativos para melhorar o comportamento da de finos de britagem e pó de pedra,
sub-base. Assim, este trabalho apresenta um incorporados à mistura de solo-cimento,
estudo sobre as sub-bases executadas com solo- produzem significativa melhora na
cimento e pó de pedra, por meio da análise pelo granulometria do solo em questão e, com isso,
software ELSYM5. melhora a estabilização da matriz solo-cimento.
Além disso, as misturas apresentaram
2. SOLO CIMENTO REFORÇADO COM resistência à compressão simples, à idade de 7
PÓ DE PEDRA dias, superiores ao valor de referência de 2,1
Com o objetivo de se obter materiais cada MPa para pavimentação.
vez mais sustentáveis e diminuir o impacto Costa (2015) realizou ensaios de resistência
ambiental da construção civil, novas a compressão simples (RCS) e resistência a
composições estão sendo estudadas. O pó de tração por compressão diametral (RTCD) em
pedra é um resíduo da mineração, que pode corpos de prova de mistura de solo areno-
representar um problema por não receber uma argiloso com adição de cimento nos teores de
destinação correta. 4%, 6% e 8%, com adição de 50% de pó de
A norma ABNT NBR 7225/93 define o pedra, os valores de RCS respectivamente aos
pó de pedra como o material resultante da valores de teores de cimento e pó de pedra são:
britagem da pedra, utiliza o termo “fíler” para 4,60 MPa, 4,49MPa, 5,02 MPa. Os valores de
designar o material composto por pó de pedra e RTCD respectivamente aos valores de teores de
outros materiais inertes, de dimensão nominal cimento e pó de pedra são: 0,25 MPa, 0,39
máxima inferior a 0,075 mm, destinado ao uso MPa, 0,48 MPa.
em enchimento de pavimentações betuminosas. Costa (2015) realizou ensaio triaxial de
Quanto ao material proveniente do britamento cargas repetidas para a obtenção das
de pedra de dimensão entre 0,075 mm e 4,8 deformações resilientes, em corpos de prova de
mm, a norma ABNT NBR 7225/93 denomina mistura de solo areno-argiloso com adição de
de “pedrisco”, sendo dividido em pedrisco cimento nos teores de 4%, 6% e 8% e com
grosso (entre 4,8 mm e 2,0 mm), pedrisco adição de 50% pó de pedra. Para os pares de
médio (entre 2,0 mm e 0,42 mm) e pedrisco tensão confinante (σ3) igual a 138 kPa e a
fino (entre 0,42 mm e 0,075 mm). tensão desvio (σd) igual a 412 kPa, apresenta
Segundo Neves e Lima (2001), os valores de módulo de resiliência (MR)
pedriscos finos são considerados o principal respectivamente aos valores de teores: 2334
rejeito da atividade de mineração. Sendo MPa, 2330 MPa e 1386 MPa.
estocados em pilhas nos pátios das pedreiras, Kumar e Hudson (1992) estudaram a
representam um problema por não receber incorporação de finos de pedreira (pedra
destinação adequada, pois provocam alteração calcária) à mistura de areia e cimento com
de paisagem, poluição atmosférica, alteração destinação à utilização como base e sub-base de
em sistemas hidráulicos e de drenagem. pavimentos. Com a realização dos ensaios de
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tração indireta e compressão simples foi granulometria do solo estudado, evidenciando


constatado que o material pode ser usado como sua aplicabilidade em camadas de aterro. Solos
fonte de agregados para vias de baixo volume arenosos apresentam um melhor desempenho e
de tráfego, destacando que as condições estudas trabalhabilidade quando comparado aos solos
podem apresentar maior vantagem econômica argilosos (Senço, 2007; Medina, 1997).
em relação às tradicionais práticas.
Tabela 1. Características do solo
3. MATERIAIS E MÉTODOS Local da retirada Mandaguaçu
Areia 66,03
Foram usados nessa pesquisa solo, cimento e Argila 28,91
pó de pedra, caracterizados de tal forma a Silte 5,46
permitir repetitividade e reprodutibilidade da
LL (%) 30
pesquisa. Foram realizadas duas provas de
carga em placa circular de 0,34 m de diâmetro LP (%) 17
no campo experimental de geotecnia da UEM. IP (%) 13
Das camadas: Uma de solo-cimento e pó de IG 0,6
pedra, com dimensões de 0,3 m de HRB A-2-6
profundidade por 1 m de largura e 1 m de NBR 6508/95 Areia argilosa
comprimento. O tempo de cura para a camadas
foi de 28 dias. O último ensaio foi realizado 3.2.Cimento
sobre a camada de solo natural que serviu de
leito para a camada de solo-cimento e pó de O cimento utilizado na pesquisa é o Cimento
pedra. Portland CPII-E-32 da marca Cauê. As
Em laboratório foi realizado análise de especificações mecânicas e físicas estão dentro
Resistência a Compressão Simples (RCS), do permitido por norma NBR 11578.
Resistência a Tração por Compressão Diametral
(RTCD) e Módulo de Resiliência (MR), além 3.3. Pó de Pedra
da análise das tensões na camada pela
modelagem numérica por meio do ELSYM5. O pó de pedra utilizado foi cedido pela
Para os ensaio em laboratório foram empresa de mineração EXTRACON, localizada
ensaiados quatro corpos de prova por condição, na cidade de Maringá-PR, estrada Carlos
o tempo de cura em câmera úmida foi de 28 Correia Borges, km 06, lote 55. Assim como o
dias. Foi analisado o comportamento da solo, o pó de pedra foi seco sob temperatura
composição solo-cimento e pó de pedra na ambiente, homogeneizado, separado pela
condição inundada (após a cura os corpos de peneira de nº 10 e em seguida armazenado em
prova ficaram sujeito a 12 horas de inundação). tambores
Os ensaios em laboratório foram realizados para
a descrição mecânica da camada além de Tabela 2. Classificação granulométrica do pó de pedra
fornecer informações para a análise do mais pedrisco
comportamento das tensões observadas no Fonte: Costa (2016)
ELSYM5.

3.1.Solo

O solo utilizado na pesquisa foi retirada a


uma profundidade média de 1,5 m e conduzida
até o laboratório de Mecânica dos Solos da
UEM. A Tabela 1 mostra o resumo da
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3.4. Mistura Solo-Cimento e Pó de Pedra σt Média (kPa) 770 740


Desvio padrão
As condições experimentais assumidas neste (kPa) 50 10
trabalho são compostas por 1 tipo de solo, 1 Coef. de
teor de cimento e 1 teor de pó de pedra, Variação (%) 7,12 1,74
totalizando 1 misturas de análise. A composição
desse arranjo é realizada por percentual em
massa de solo. Com o intuito de definir a 3.4.2. Módulo de resiliência
dosagem, foi necessário estudar pesquisa
desenvolvida com a mistura ensaiada. Para O ensaio triaxial de cargas repetidas fornece
compor a fração de solo-cimento e pó de pedra as deformações resilientes no corpo de prova
foi empregada a curva de compactação de Costa correspondentes aos pares de tensão confinante
(2016), com massa especifica seca de 2,09 (σ3) e tensão desvio (σd) a estes aplicados.
(g/cm³) e umidade de 9,7 (%). A simplificação Com as deformações resilientes obtidas no
da denominação das misturas foi obtida ensaio, foram calculados os valores de módulo
utilizando os valores em porcentagem e letra de resiliência (MR) para cada par de tensões
para cada componente, separados por traço (–). aplicado. Para isso escolheu-se os últimos pares
A representação do arranjo solo-cimento e pó de tensões aplicado aos corpos de prova durante
de pedra: S(48%)-P(48%)-C(4%). a realização do ensaio. Os resultados
encontrados para os valores de módulo de
3.4.1. Resistência a Compressão resiliência (MR) para as misturas analisadas
Simples (RCS) Tração Por Compressão estão expostos na Tabela 4.
Diametral (RTCD)
Tabela 4. Valores de módulo de resiliência
Conforme a Tabela 3, a RCS média (σc) para S(48%)-P(48%)- S(48%)-P(48%)-
S(48%)-P(48%)-C(4), alcançou 4640 kPa. Por outro CP C(4%) C(4%) Inunda
lado a condição Inundado, apresentou RCS de σ3 σd
4580 kPa. Pode observar que os corpos de (kPa) (kPa) MR (MPa)
prova que ficaram sujeito a inundação 0,1379 0,1379 2509 1413
reduziram sua RCS, a redução foi de 1,3 % em 0,1379 0,2747 1807 1341
relação ao seu valor não inundado. 0,1379 0,412 1619 1318
Conforme a Tabela 3, a RTCD média (σt)
para S(48%)-P(48%)-C(4), alcançou 770 kPa. Para a 3.4.3. Comparação Dos Valores
condição inundado a RTCD foi de 740 kPa. Obtidos Na Pesquisa Com Os Da
Pode observar que os corpos de prova que Referência Bibliográfica
ficaram sujeito a inundação reduziram sua
RTCD. A composição de S(48%)-P(48%)-C(4), Conforme a tabela 5 o valor característico
apresentou uma redução de 3,9 % em sua médio de RCS encontrado apresentou se
RTCD em relação ao seu valor não inundado. próximo ao encontrado na pesquisa de Costa
Tabela 3. Valores dos ensaios de RCS e RTCD (2015), o valor médio de RTCD encontrado é
três vezes superior ao encontrado na pesquisa
S(48%)-P(48%)- S(48%)-P(48%)-
CP de Costa (2015), o valor médio de MR
C(4%) C(4%) Inund.
encontrado na pesquisa de Costa (2015) é 72 %
σc Média (kPa) 4640 4580 do valor obtido nessa pesquisa. Podemos
Desvio padrão observar que os valores encontrados não foram
(kPa) 390 230 similares ao da referência bibliográfica, porem
Coef. de ambos apresentaram condições de resistência
Variação (%) 8,40 5,11 satisfatória.
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Na Figura 1 observa-se o comportamento do


Tabela 5. Valores médios de RCS, RTCD e MR recalque (mm) por carga (kN), no qual podemos
comparados com a pesquisa de Costa (2015) verificar que para 20 kN o deslocamento é
Costa inferior a 2 mm. Para os carregamentos de 25
S(48%)-P(48%)-
CP (2015)/S(46%)- kN e 30 kN tem-se deslocamento de 3 mm e 6
C(4%)
P(50%)-C(4%) mm, respectivamente. A carga de 35 kN, não
σc Média apresentou estabilização dos deslocamentos,
4640 4600
(kPa) ocorrendo a ruptura do leito. No trecho do
σt Média descarregamento observa-se que o valor do
770 250
(kPa) deslocamento recuperável foi de 2,93 mm,
MR (MPa) 1619 2234 aproximadamente 3 mm. Observa-se que o
deslocamento recuperável foi equivalente ao
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS carregamento de 25 kN.

Os resultados apresentados trata-se de ensaio Carga (kN)


realizado em campo por meio de prova de carga 0 50 100 150 200
0
em placa. Realizou se analise pelo software
10
ELSYM5, com os parâmetros de entrada do
Recalque (mm)
20
solo: coeficiente de Poisson (ν) 0,3 e módulo de 30
resiliência (MR) obtido em laboratório por meio 40
do ensaio. Os carregamentos adotados para a 50
simulação no ELSYM5, corresponde aos 60
valores analisados na prova de carga em placa 70
em campo.
Figura 2. Prova de carga em placa S(48%)-P(48%)-C(4)

4.1. Resultados da Prova de Carga


Na Figura 2 observa-se o comportamento do
Carga (kN) recalque (mm) por carga (kN), para a sub-base
0 10 20 30 40 de S(48%)-P(48%)-C(4) realizou-se dois ciclos de
0 carregamento, o último ciclo de carga foi
realizado até atingir a carga de ruptura.
10
Recalque (mm)

Podemos verificar que o carregamento de 50 kN


20 para o primeiro ciclo de carregamento
corresponde ao deslocamento de 0,78 mm. Para
30
a carga 50 kN realizou-se o primeiro ciclo de
40 descarregamento, o deslocamento recuperável
50 foi de 0,50 mm. Observa-se que o deslocamento
recuperável para o primeiro descarregamento é
Figura 1. Prova de carga em placa solo natural
equivalente ao carregamento de 40 kN.
Segundo Terzaghi e Peck (1967), os Na sequência deu início ao segundo ciclo de
resultados das provas de carga somente carregamento, pode-se observar, que somente
representam as características do solo até dois no segundo ciclo o deslocamento foi superior a
diâmetros abaixo da placa, área de influência do 2 mm, para o carregamento de 80 kN. A carga
bulbo de tensão da placa. Os resultados não de 160 kN não apresentou estabilização dos
podem ser extrapolados para sapatas de maiores deslocamentos ocorrendo a ruptura da sub-base.
diâmetros quando a mesma solicita camadas de Para o segundo trecho do descarregamento
distintas características às do ensaio. Para evitar observa-se que o valor do deslocamento
este problema, é necessário conhecer a recuperável foi de 7 mm.
estratigrafia do local em estudo. Para a camada de S(48%)-P(48%)-C(4) foi
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observado um processo de surgimento de


fissuras. Não ocorreu a penetração da placa na
camada estudada, além de apresentar fissuras
concêntricas na placa, no decorrer do ensaio.
Ao atingir a carga de ruptura observou-se perda
progressiva da capacidade de carga. Conforme a
Figura 3 por meio de analise em campo
verificou-se que a ruptura da sub-base ocorreu
por falha a flexão na interface da fibra inferior
da camada.

Figura 3. Característica da fissura da camada estudada


Figura 2. Pontos de analise na camada S(48%)-P(48%)-
4.2.Simulação Numérica C(4), e camada de solo natural.

As análises de tensões para a camada S(48%)-


P(48%)-C(4) podemos visualizar o comportamento
das tensões (σx, σz) e cisalhamento (τxz). A
Figura 2 destaca os pontos de análise, além da
cota (0,3 m) de transição da camada S(48%)-
P(48%)-C(4), para o solo natural.
O cálculo do MR em função da tensão
desvio se deu por meio dos dados coletado no
ensaio de modulo de resiliência Tabela 4 para o
cálculo do MR, realizou se uma aproximação
iterativa, simulando uma análise não linear do
MR da camada S(48%)-P(48%)-C(4), por meio do
ELSYM5.
Os gráficos plotados dependem dos valores
de tensão calculado por meio do ELSYM5,
considerando os dados de campo e laboratório.
Para a plotagem dos gráficos foi utilizado o
software SURFER 7.0.
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Tabela 6. Imagens da tensão σx, σz e τxz Tabela 7. Imagens da tensão σx, σz e τxz
máximo por meio do máximo por meio do
ELSYM5 ELSYM5
Carga 25 kN Carga 50 kN
σx σx
Distäncia do Centro (m) Distäncia do Centro (m)
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
0.0 0.0

-0.1 -0.1

-0.2 -0.2
Profundidade (m)

Profundidade (m)
-0.3 -0.3
180 kPa 600 kPa
-0.4 -0.4

-0.5 100 kPa -0.5 100 kPa

-0.6 -0.6
20 kPa
-400 kPa
-0.7 -0.7

σz σz
Distäncia do Centro (m) Distäncia do Centro (m)
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
0.0 0.0

-0.1 -0.1

-0.2 -0.2
Profundidade (m)

Profundidade (m)

-0.3 -0.3
500 kPa
-0.4 200 kPa -0.4

-0.5 300 kPa


120 kPa -0.5

-0.6 -0.6
40 kPa 100 kPa

-0.7 -0.7
τxz τxz
Distäncia do Centro (m) Distäncia do Centro (m)
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
0.0 0.0

-0.1 -0.1

-0.2 -0.2
Profundidade (m)

Profundidade (m)

-0.3 -0.3
-10 kPa
-0.4 -0.4 -40 kPa

-0.5 -70 kPa -0.5


-160 kPa

-0.6 -0.6
-130 kPa
-280 kPa
-0.7 -0.7
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Tabela 8. Imagens da tensão σx, σz e τxz Pode se observar nas tabela 6, 7 e 8 as


máximo por meio do tensões em σx, σz e τxz máximo para a camada
ELSYM5
Carga 160 kN
de S(48%)-P(48%)-C(4), para os carregamentos de
σx 25 kN, 50 kN e 160 kN. O estágio de
Distäncia do Centro (m) carregamento de 160 kN atingiu valor de tração
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 na fibra inferior, acima do valor de resistência
0.0
obtido no ensaio de RTCD, em laboratório.
-0.1 Segundo Terzaghi (1943) a aplicação de
uma carga vertical concentrada na superfície
-0.2
horizontal de qualquer corpo sólido produz um
Profundidade (m)

-0.3 conjunto de tensões verticais em cada plano


2000 kPa horizontal dentro do corpo. A pressão máxima
-0.4 em qualquer seção horizontal, denota o
-0.5 500 kPa espraiamento das tensões, bem como sua
redução com o aumento da profundidade abaixo
-0.6 -1000 kPa da superfície carregada. Observa-se na Tabela
-0.7
5,6 e 7 o comportamento do espraiamento das
tensões em σz no decorrer da profundidade,
σz para σx tem-se o comportamento de
Distäncia do Centro (m)
compressão na fibra superior (cota 0) e tração
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
0.0 na fibra inferior (cota 0,3 m) da camada S(48%)-
-0.1
P(48%)-C(4). A solicitação ao τxz observado nas
imagens na Tabela 5, 6 e 7 indica a
-0.2 concentração de cisalhamento na fibra inferior
Profundidade (m)

da camada, destacando-se como possível ponto


-0.3
de ruptura.
1400 kPa
-0.4
5. CONCLUSÃO
-0.5 800 kPa

-0.6 Pode-se concluir que a composição de S(48%)-


200 kPa P(48%)-C(4) alcançou resistência média
-0.7
satisfatória para RCS como para a RTCD,
τxz quando comparadas com os valores já
Distäncia do Centro (m) encontrados em pesquisas anteriores. A
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
0.0 composição de S(48%)-P(48%)-C(4) apresenta ser
suscetível a perda de resistência quando
-0.1
submetido ao processo de inundação, fato
-0.2 verificado em laboratório.
Profundidade (m)

Por meio do ensaio triaxial de cargas


-0.3
repetidas foi possível analisar o MR para a
-100 kPa
-0.4 composição S(48%)-P(48%)-C(4) os valores foram
satisfatórios. Observou se perda no MR quando
-0.5 -500 kPa
submetido ao processo de inundação.
-0.6 Podemos destacar que a ligação entre o solo,
-900 kPa
cimento e pó de pedra tem comportamento
-0.7 solúvel, pois a quantidade de cimento na
composição não é suficiente para envolver
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completamente as partículas de solo, e AGRADECIMENTOS


consequentemente estabilizar totalmente o solo.
Desde modo, nos casos inundados, a agua Primeiramente a Deus por tudo que vem me
interage com os minerais do solo não proporcionando. Agradeço aos meus pais e
estabilizados pelo cimento provocando a amigos pelo apoio. Agradeço aos técnicos e
diminuição da resistência. professores da UEM, principalmente aos
Com base nos resultados verifica-se que professores Jeselay Hemetério dos Reis e
ruptura da camada de S(48%)-P(48%)-C(4) em Antonio Belicanta, pelo apoio na pesquisa. Por
campo envolve um processo progressivo de fim agradece a Universidade Estadual de
perda de resistência a tração na fibra inferior da Maringá-UEM pelos recursos para a realização
camada, rompendo por flexão. do trabalho.
Para a camada S(48%)-P(48%)-C(4) foi
analisada a distribuição de tensões por meio do REFERÊNCIAS
ELSYM5, para os estágios de 25 kN, 50 kN e
160 kN (carga de ruptura obtida em campo). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Pode-se concluir que o comportamento das TÉCNICAS. NBR 12253: Solo-cimento – Dosagem
para emprego como camada de pavimento. Rio de
tensões observadas pelo ELSYM5 aproximou Janeiro, 1992.
da condição verificada em campo, uma vez que,
foi verificado que a fibra inferior da camada de ABNT NBR 7182 (1984) SOLO- Ensaio de
S(48%)-P(48%)-C(4) apresentou valores de tração compactação. Associação Brasileira de Normas
superior ao obtido no ensaio de RTCD, Técnicas- ABNT, São Paulo, Brasil.
constatando a ruptura da camada por perda ABNT NBR 6457 (1986) AMOSTRA DE SOLO-
progressiva de resistência a tração. Preparação para ensaios de caracterização”.
Conforme a tabela 8, que corresponde Associação Brasileira de Normas Técnicas- ABNT,
ao carregamento de 160 kN temos as tensões na São Paulo, Brasil.
fibra inferior da camada de sub-base obtido pelo
ABNT NBR 6508 (1984) Grãos de solos que passam na
ELSYM5, os valores de tração são superiores a peneira de 4,8 mm- Determinação da massa
1000 kPa, valor que é superior ao valor obtido especifica. Associação Brasileira de Normas
no ensaio de RTCD que obteve valor médio de Técnicas- ABNT, São Paulo, Brasil.
770 kPa, corroborando com a forma de ruptura
observada em campo. ABNT NBR 7181 (1984) SOLO - Analise
granulométrica. Associação Brasileira de Normas
Por meio dos resultados pode-se Técnicas- ABNT, São Paulo, Brasil.
constatar que ao passo que aumentava-se o MR
em função do nível de tensão na camada S(48%)- AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
P(48%)-C(4) tínhamos uma condição de maior MATERIALS. D1196M-12: Standard Test Method
rigidez, devido ao aumento das tensões de For Nonrepetitive Static Plate Load Tests Of Soils
confinamento, implicando em menores And Flexible Pavement Components, For Use In
Evalution And Design Of Airport And Highway
deslocamento, aliado a redução das tensões no Pavements, 2016.
solo natural, corroborando com o observado em
campo. COSTA, V.S.M. avaliação da viabilidade de utilização de
Conclui se que a construção da camada pó de pedra em misturas com solo-cimento para
S(48%)-P(48%)-C(4) com espessura de 0,3 m aplicação em base e sub-base de pavimentos.
compactada na energia normal, oferece ganho Maringá, 2016, 99f (Dissertação mestrado) -
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana,
de capacidade de carga satisfatório para a sub- 2016.
base, uma vez que sua carga de ruptura atingiu
160 kN. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-
ESTRUTURA DE TRANSPORTE- DNIT 134/2010-
ME, Pavimentação- solos- Determinação do módulo
de resiliência-Método de ensaio. Rio de janeiro-RJ,
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NEVES, L., LIMA, J. R. B. Quarry fines generation – A


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NBR 6459: Solo - Determinação do limite de liquidez.


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FAGANELLO, A. M. P. Rejeitos de britagem de origem


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ANÁLISE DE AGREGADOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE


CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EMPREGADOS EM
CAMADAS DE PAVIMENTAÇÃO
Beatriz de Mello Massimino
Unoeste, Presidente Prudente, Brasil, beatrizmassimino@gmail.com

Carlos Vinicius Santos


Unoeste, Presidente Prudente, Brasil, cvinicius.s@hotmail.com

Leonardo Hideki Nagata


Unoeste, Presidente Prudente, Brasil, leonardohideki_@hotmail.com

Willian Fakhouri
Unoeste, Presidente Prudente, Brasil, willianfakhouri@hotmail.com

RESUMO: O trabalho visa a análise laboratorial do agregado reciclado de resíduos de construção e


demolição na pavimentação por meio de ensaios de caracterização física (composição, teor de
materiais indesejáveis, granulometria, índice de forma, absorção e resistência à abrasão), além de
verificação do comportamento mecânico por meio do ensaio de Índice de Suporte Califórnia. O
estudo foi desenvolvido em três amostras distintas (duas com presença de solo e uma composta
apenas pelo agregado reciclado). Com base na normalização brasileira, os resultados demonstraram
boas características físicas para o agregado reciclado. E em termos de comportamento mecânico,
uma amostra apresentou capacidade de suporte aceitável para emprego nas camadas de reforço do
subleito e sub-base, já as outras duas amostras possuem também capacidade de aplicação em base
de vias de baixo tráfego.

PALAVRAS-CHAVE: RCD, Agregado Reciclado, Pavimento

1 INTRODUÇÃO além de destinação final apropriada.


Todas estas medidas apontadas pela
O desenvolvimento sustentável, evidente resolução reduzem os impactos negativos nas
atualmente, ocasiona a necessidade de se pensar cidades. A reciclagem é uma das mais
em alternativas para o reaproveitamento dos interessantes, pois permite a produção de uma
resíduos de construção e demolição, tornando- nova matéria-prima, podendo substituir
se essencial a implantação de uma gestão materiais naturais e não renováveis empregados
apropriada desses resíduos, possibilitando a na construção civil. Estes resíduos de
viabilização de destinos mais nobres. construção e demolição possuem grande
A publicação, em 2002, da Resolução nº 307 potencial de reciclagem para aplicação na
do Conselho Nacional do Meio Ambiente engenharia, principalmente como agregado para
(CONAMA) estabeleceu diretrizes e pavimentação, pois apresentam boa resistência e
procedimentos para o gerenciamento desses baixa expansibilidade.
resíduos. Esta determina responsabilidades para Em vários países, assim como no Brasil,
os geradores, na qual devem minimizar a estão sendo desenvolvidos estudos sobre as
geração e promover reciclagem e reutilização, propriedades físicas, químicas e mecânicas
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desse material reciclado, buscando definir pertencentes à classe A da Resolução 307 do


diretrizes para sua utilização na construção CONAMA (engloba os resíduos reutilizáveis ou
civil, inclusive em camadas de pavimentação. A recicláveis), a fim de evitar a presença de
normalização nacional referente aos resíduos materiais indesejáveis para reciclagem e para
sólidos da construção civil foi publicada em aplicação em camadas de pavimentos. Nessa
2004, pela ABNT (Associação Brasileira de mesma triagem, buscou-se realizar uma coleta
Normas Técnicas). A publicação consiste em homogênea em relação à natureza desses
um conjunto de normas que tratam desses resíduos, ou seja, que apresentasse uma
resíduos e de sua aplicação. quantidade semelhante entre os materiais
Neste trabalho, tendo como base a NBR cimentícios, rochosos e cerâmicos.
15115 (2004) e a especificação técnica Basicamente, foram coletados resíduos de
PMSP/SP ETS – 001 (2003), que tratam de concretos, argamassas, pisos e blocos
agregados reciclados utilizados na cerâmicos.
pavimentação, foram realizados ensaios para Embasado na NBR 15115 (2004), que
caracterização física do material e verificação especifica que a dimensão característica
de algumas propriedades mecânicas de máxima do agregado reciclado para aplicação
diferentes proporções de misturas entre solo e na pavimentação deve ser de 63,5 mm,
agregado reciclado, além do agregado reciclado procedeu-se a escolha da dimensão da peneira
sozinho. do triturador mecânico. Limitou-se a escolha à
Pesquisas e experiências já vinham maior dimensão possível sem ultrapassar o
demonstrando o bom comportamento de limite estabelecido por norma. Dessa forma, foi
agregados de RCD (resíduo de construção e escolhida a peneira de 19,1 mm, sendo a maior
demolição) na pavimentação, logo, este trabalho disponível.
visou ampliar estes estudos por meio de análises Para a amostragem, o material passou
laboratoriais. A partir dos resultados, pode-se previamente pelo processo de secagem e
criar a possibilidade de gerir e manejar mais homogeneização. O processo de amostragem foi
adequadamente esses materiais, possibilitando realizado para facilitar o armazenamento e
melhor destinação dos resíduos derivados da manejo do solo e do agregado RCD. Do
construção civil. mateiral armazenado, foram preparados 3 tipos
distintos de amostras, para realização dos
2 METODOLOGIA ensaios posteriores, conforme a Tabela 1.

2.1 Preparo do Material Tabela 1. Informação sobre as amostras preparadas.


Tipo da amostra Composição
O programa experimental deste trabalho
A 50% solo 50% RCD
objetivou analisar algumas características
físicas e propriedades mecânicas dos agregados B 25% solo 75% RCD
reciclados e de diferentes misturas entre solo e C - 100% RCD
RCD. A metodologia aplicada consiste em
ensaios laboratoriais a fim de verificar os
requisitos mínimos exigidos pela NBR 15115 2.2 Caracterização Física
(2004) e pela especificação técnica PMSP/SP
ETS-001 (2003). 2.2.1 Composição
Para a realização dos procedimentos de
análise laboratorial, foram coletados cerca de Para determinação dos diferentes tipos de
250 kg de RCD. Previamente foi realizada uma materiais constituintes e de suas respectivas
triagem procurando coletar apenas materiais concentrações, foi realizada uma análise
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macroscópica, por meio de triagem, com uma 0,42 mm e os coeficientes de uniformidade e de


amostra representativa de RCD. A amostra foi curvatura.
passada na peneira de 4,76 mm de abertura, Os ensaios para análise granulométrica
onde somente o material retido foi analisado, foram realizados com base na NBR 7181
pois o material passante possui dimensões (1984), que é usada para ensaios de solos e
muito pequenas, gerando dificuldade na análise definida pela NBR 15115 (2004) como a norma
visual e classificação da partícula. de referência para esse tipo de análise.
Para fins de análise, este material miúdo com A partir das amostras representativas de solo
dimensão entre 4,76 mm e 0,074 mm, e os finos e RCD, foram preparadas três amostras (A, B e
com dimensões menores que 0,074 mm, foram C), conforme as proporções definidas na
denominados como “agregado miúdo”. Os amostragem, formando porções de 5 kg, além
grãos retidos na peneira 4,76 mm foram disso, também foi ensaiada uma amostra de
separados conforme a classificação da solo.
Resolução 307 do CONAMA, sendo a classe A O agregado reciclado foi lavado na peneira
subdividida conforme as naturezas cimentícia, 0,075 mm, para retirar as partículas finas
rochosa e cerâmica; e as demais classes B, C e aderidas aos grãos, e secado na estufa à 105ºC.
D sendo classificadas em um único grupo A distribuição granulométrica foi verificada por
denominado de resíduos indesejáveis. meio de peneiramento com agitador mecânico,
Após a separação dos materiais, estes com 11 peneiras da série normal e
tiveram as massas aferidas. Em seguida, apenas intermediária: 3/4’’, 1/2’’, 3/8’’, 1/4’’, 4, 8, 16,
o material separado, com dimensão maior que 30, 50, 100 e 200. O procedimento foi dividido
4,76 mm, foi passado em um jogo de peneiras em duas etapas: primeiramente o material foi
(3/4’’, 1/2’’, 3/8’’, 1/4’’, 4) com agitação passado nas peneiras com abertura maior e igual
mecânica, verificando a composição a 4,76 mm (3/4’’, 1/2’’, 3/8’’, 1/4’’ e 4) e,
granulométrica referente à cada natureza, com depois, o material passante na peneira 4 foi
exceção dos materiais indesejáveis. passado nas peneiras de abertura inferior a esta
Além disso, a determinação da composição (4, 8, 16, 30, 50, 100 e 200), obtendo-se as
dos agregados reciclados graúdos por análise frações graúdas e miúdas da amostra,
visual foi realizada pela NBR 15116 (2004), respectivamente. Esse procedimento foi
classificando como ARC (agregados de resíduos repetido para cada tipo de amostra.
de concretos) ou ARM (agregados de resíduos Posteriormente ao peneiramento e divisão
mistos). das diferentes frações granulométricas, foi
construída a curva granulométrica das amostras
2.2.2 Granulometria A, B e C. A partir da curva obtida é possível
classificar granulometricamente o material
Apesar da NBR 15115 (2004) e da quanto a sua uniformidade e graduação. Com
especificação técnica PMSP/SP ETS-001 base nessa análise granulométrica, também foi
(2003) não estabelecerem uma faixa possível verificar todos os requisitos
granulométrica que seja mais adequada à determinados em norma e na especificação
utilização do agregado reciclado de RCD em técnica.
camadas de pavimentação, elas estabelecem que
a curva granulométrica deve ser bem graduada e 2.2.3 Índice de Forma
não uniforme, além de apresentar alguns
requisitos que devem ser atendidos, como a A NBR 15115 (2004) estabelece a utilização da
dimensão característica máxima dos grãos, a NBR 7809 (2005) para a determinação do
porcentagem de material passante na peneira índice de forma do agregado reciclado por meio
do método do paquímetro. E a NBR 15116
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(2004) aponta os requisitos para o índice de De acordo com a graduação C, o agregado


forma de agregado reciclado destinado para foi colocado no tambor junto com 8 esferas e
aplicação em pavimentação submetido a 500 rotações, sendo 30 rotações
O ensaio é realizado com agregados graúdos por minuto. Posteriormente, o material foi
com dimensão máxima característica maior que recolhido e passado na peneira de 1,7 mm, no
9,52 mm. Como os agregados reciclados qual a massa retida foi lavada e secada em
utilizados nesse trabalho possuem dimensão estufa.
menor que 19 mm, foi aprontada uma amostra
de 5 kg, conforme norma. As frações passantes 2.3 Comportamento Mecânico
na peneira de 9,52 mm foram retiradas da
análise, permanecendo apenas as frações retidas 2.3.1 Ensaio de compactação
nas peneiras 12,7 e 9,52 mm, correspondendo a
2.615,01 g. A NBR 15115 (2004) determina, no caso de
material para sub-base e base, a utilização, no
2.2.4 Absorção mínimo, de energia intermediária para
compactação. No entanto, para a determinação
A determinação da absorção foi realizada por da umidade ótima para utilização no ensaio de
meio da norma DNER-ME 081/98 (1998), que Índice de Suporte Califórnia, optou-se por
consiste na imersão do agregado em água à encontrá-la por meio da energia normal, pois
temperatura ambiente durante 24 horas. Para o essa umidade ótima fica no ramo úmido da
ensaio escolheu-se uma amostra representativa curva de compactação da energia intermediária.
aleatória do agregado reciclado, da qual foi Dessa forma, a intenção foi avaliar o suporte do
utilizado apenas o material retido na peneira material sob condições desfavoráveis de
4,76 mm. O ensaio foi realizado com amostra umidade.
conforme a composição verificada Neste trabalho, o ensaio de compactação foi
anteriormente, ou seja, não houve separação realizado com base na NBR 7182 (1986), com a
para análise individual de cada natureza. finalidade de determinar a umidade ótima e a
Após a imersão em água por 24 horas, o massa específica aparente seca das três amostras
agregado foi removido e sua água superficial foi (A, B e C).
retirada com auxílio de um pano, aferindo a
massa do agregado saturado com superfície 2.3.2 Índice de Suporte Califórnia
seca. Em seguida, os agregados foram
colocados na estufa, com temperatura Tanto a NBR 15115 (2004), como a PMSP/SP
aproximada de 105ºC. Após a secagem, a massa ETS-001 (2003), utilizam o ISC (Índice de
do material seco foi verificada. Suporte Califórnia) como parâmetro para
aplicação do agregado reciclado de RCD em
2.2.5 Abrasão pavimentação. Ambas estabelecem valores
mínimos conforme a camada do pavimento,
Neste trabalho, o ensaio de abrasão “Los além de considerar também a expansão do
Angeles”, foi realizado conforme a norma NBR material.
NM 51 (2001). Tendo em vista que a amostra Para a determinação do ISC das diferentes
apresenta maiores quantidades de grãos de 4,76 amostras (A, B e C) foram realizados ensaios de
e 6,3 mm, foi adotada a graduação C da acordo com a norma DNER-ME 049/94 (1994).
especificação, que utiliza uma amostra de 5.000 O ensaio completo compreende três etapas: a
g de grãos dessa dimensão e massa de carga moldagem do corpo-de-prova com
abrasiva de 3.330 g. compactação; a imersão do corpo-de-prova em
água destilada por um período de 96 horas para
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verificação da expansão e a penetração no 3.1 Caracterização Física


corpo-de-prova por um pistão de diâmetro
padronizado, com velocidade constante, A partir da análise de composição de uma
registrando as marcações do anel amostra representativa aleatória de RCD, foi
dinamométrico acoplado à prensa. possível verificar a quantidade correspondente
Neste trabalho foram preparados 5 corpos- de cada natureza dos materiais constituintes. A
de-prova para cada tipo de amostra, ou seja, 15 porção denominada de “agregado miúdo”
no total. Esses corpos-de-prova foram moldados representa 49,9% da amostra. Já a porção
em cilindros metálicos padronizados, utilizando utilizada na análise tem 3.507,21 g,
somente material passante na peneira 19,0 mm, representando 50,1% da amostra representativa
conforme norma. A compactação foi realizada de 7.000 g. A Tabela 2 apresenta a porcentagem
com energia intermediária, que corresponde à em massa dos resíduos cimentícios, rochosos e
compactação em 5 camadas com 26 golpes cerâmicos, conforme a granulometria.
cada, adotando a umidade ótima verificada no Nota-se que a maior parte dos agregados
ensaio de compactação anterior. reciclados é procedente de materiais
Em cada corpo-de-prova foi colocada uma cimentícios, ou seja, concretos e argamassas,
haste de expansão e uma sobrecarga de discos representando 46,59% da porção. Os agregados
anelares de 4,536 kg. Na haste foi colocado um oriundos de resíduos rochosos representam
extensômetro fixo a um tripé para medição das 33,02%, compostos basicamente por brita, e
expansões. Em seguida foi realizada a imersão 20,39% são de resíduos cerâmicos, compostos
dos corpos-de-prova durante quatro dias, para principalmente por tijolos e pisos cerâmicos.
simular uma condição desfavorável no ensaio Devido à pré-triagem realizada, a porcentagem
seguinte de penetração. de materiais indesejáveis é desprezível nessa
A cada 24 horas foram realizadas as leituras amostra, não sendo considerada nessa análise.
do extensômetro para verificar as variações na
altura dos corpos-de-prova. Após o período de Tabela 2 – Análise da composição do RCD.
imersão, cada corpo-de-prova foi colocado para Peneira Natureza do material em massa (g)
escoamento da água em excesso por 15 # mm Cimentícia Rochosa Cerâmica
minutos. Em seguida, os corpos-de-prova foram
398,16 108,97 221,63
submetidos ao ensaio de penetração. Foram 4 4,76
colocados na prensa onde um pistão de 4,96 cm 54,64 (%) 14,95 (%) 30,41 (%)
de diâmetro penetrou no corpo-de-prova a uma 617,15 276,61 330,75
velocidade de 1,27 milímetros por minuto. As 1/4'' 6,35
cargas foram registradas por meio do anel 50,40 (%) 22,59 (%) 27,01 (%)
dinamométrico e as leituras feitas conforme os 467,86 473,32 108,68
tempos e penetrações do pistão, segundo a 3/8'' 9,52
44,56 (%) 45,08 (%) 10,35 (%)
norma, e controladas pelo extensômetro apoiado
no cilindro metálico. 149,52 298,20 53,35
1/2'' 12,7
O ISC foi determinado por meio da curva 29,84 (%) 59,51 (%) 10,65 (%)
pressão x penetração. As curvas que inflexão
foram corrigidas com uma tangente até o eixo Total 1.634,19 1.157,93 715,09
das abscissas, alterando os valores das
penetrações de 2,54 e 5,08 mm e corrigindo as Em relação à granulometria, os resíduos
pressões correspondentes. rochosos estão em maior quantidade nas
granulometrias de 9,52 e 12,7 mm, devido sua
3 RESULTADOS maior resistência à quebra. Todavia, os resíduos
cerâmicos e cimentícios apresentam o
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comportamento inverso, estando em maiores e 50% de RCD. Conforme a curva verificou-se


quantidades nas granulometrias menores. O o Cu e o Cc, 3,69 e 0,51, respectivamente.
processo de trituração produz grande impacto Assim a mistura é uniforme e mal graduada.
ao resíduo, e o peneiramento mecânico Verificou-se também que 56% do material
realizado também pode provocar desgaste passa na abertura de 0,42mm.
abrasivo nesses materiais, principalmente no de
origem cerâmica, influenciando na
granulometria final. Outro fator que pode
influenciar é o impacto proporcionado pela
compactação do solo.
A determinação da composição dos
agregados reciclados graúdos por análise visual
conforme a NBR 15116 considera apenas o
material de origem cimentícia e rochosa para
classificação. Nessa amostra, a somatória das
duas porcentagens representa 79,61%. Como
Figura 2 – Curva granulométrica da amostra tipo A.
essa somatória é menor que 90%, pode-se
classificar esse material como agregado de
A Figura 3 apresenta a curva granulométrica
resíduo misto (ARM).
de uma amostra tipo B, que possui na sua
Os requisitos para aplicação do agregado
composição 25% de solo e 75% de RCD. De
reciclado de RCD em pavimentação foram
acordo com a curva, o Cu é igual a 16,0, e o Cc
analisados conforme os resultados obtidos pelos
igual a 0,18, ou seja, a mistura mostra-se não
ensaios de granulometria, de acordo com a NBR
uniforme, mas apesar de pouca, apresenta certa
7181, para os diferentes tipos de amostras (A, B
descontinuidade, não sendo tão bem graduada.
e C), além de análise do solo, para verificação
Quanto ao material passante na abertura de 0,42
de sua composição.
mm, este representa 36% da amostra.
A Figura 1 apresenta a curva granulométrica
do solo. O solo apresentou Cu igual a 2,08, e Cc
igual a 1,08, ou seja, é bem graduado e
uniforme. Quanto à composição, o solo é
composto por 3,88% de argila e silte, 85,12%
de areia fina e 11% de areia média, logo, é um
solo arenoso com predominância de areia fina.

Figura 3 – Curva granulométrica da amostra tipo B.

A Figura 4 exibe a curva granulométrica de


uma amostra tipo C, constituída 100% por
RCD. Essa amostra apresentou Cu de 17,92 e
Cc de 0,78, sendo assim, não é uniforme e
apresenta graduação razoavelmente boa. Em
Figura 1 – Curva granulométrica do solo laterítico.
relação ao material passante na abertura de 0,42
mm, este representa 19% da amostra.
A Figura 2 exibe a curva granulométrica de
uma amostra tipo A composta por 50% de solo
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Os agregados reciclados apresentaram


absorção de 9,2%. Os parâmetros de base deste
trabalho, a NBR 15115 (2004) e a PMSP/SP
ETS-001 (2003), não especificam valores de
absorção para esse material. A heterogeneidade
desse material propicia variações na absorção
dependendo da quantidade de determinado
resíduo. Leite (2007) analisou separadamente
cada tipo de resíduo, sendo apresentadas as
absorções na Tabela 3.
Figura 4 – Curva granulométrica da amostra tipo C.
Tabela 3 – Teor de absorção para diferentes naturezas de
Em relação à dimensão característica RCD.
máxima, a NBR 15115 especifica o limite
Natureza do material Absorção (%)
máximo de 63,5 mm, enquanto a PMSP/SP
ETS-001 adota o valor de 50 mm. Nesse caso, Britas (rochosa) 3,8
todas as amostras atenderam às duas
especificações. Cimentícios 11,5
Quanto à porcentagem de material passante Telhas/tijolos (cerâmica) 20,7
na abertura de 0,42 mm, a norma estabelece um
limite entre 10 e 40%, e a especificação, 10 e
30%. A amostra tipo A não atendeu nenhum Ficam evidenciadas na Tabela 3 as diferentes
dos limites, a tipo B atendeu apenas a NBR capacidades de absorção de cada material,
15115, e a amostra tipo C atendeu ambos. estando essa capacidade relacionada com a
Concluindo a análise granulométrica, foram porosidade. Agregados cerâmicos, por exemplo,
verificados os coeficientes de uniformidade possuem capacidade muito maior de absorção
(Cu) e de curvatura (Cc). Para este último, em comparação com os rochosos, devido a sua
apenas a PMSP/SP ETS-001 determina um maior quantidade de poros.
limite, 1 ≤ Cc ≤ 3. Já para o coeficiente de Apesar dessa variação, o agregado reciclado
uniformidade, a norma e a especificação deste trabalho apresentou teor de absorção de
estabelecem Cu ≥ 10. Para o coeficiente de 9,2%, ficando próximo da média dos teores
curvatura nenhuma das amostras atendeu ao obtidos em outras pesquisas, que é de 9,4%.
requisito, e para o coeficiente de uniformidade Mesmo assim, cabe ressaltar a importância da
apenas as amostras B e C atenderam ao valor determinação da composição do agregado
especificado. reciclado, pois esta influencia diretamente no
A norma NBR 15116 (2004) especifica valor comportamento do arranjo, influenciando
máximo de 3,0 como limite ao emprego de também na quantidade de água para
agregados reciclados na pavimentação. Quanto compactação adequada desse material.
mais próximo de 1, maior a cubicidade do Já abrasão “Los Angeles” do agregado
agregado, em contrapartida, os grãos lamelares reciclado deste trabalho resultou em 40,16%, ou
apresentam valores superiores à 3. seja, 40%, com aproximação de 1% conforme a
Conforme os valores levantados, verificou-se norma.
a presença de apenas 24 grãos com índice de Da mesma forma que a absorção, a
forma acima do valor limite, representando uma resistência à abrasão não tem valores
parcela de 12% da amostra em análise. O índice especificados pela NBR 15115 (2004) e pela
de forma encontrado para essa amostra de PMSP/SP ETS-001 (2003). Assim, para melhor
agregado reciclado de RCD foi de 2,1, ou seja, análise foram consideradas normas que tratam
dentro dos parâmetros estabelecidos. do assunto, as condições são diferentes, porém
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pode-se estabelecer uma relação. A NBR 11804 respectivas umidades ótimas obtidas
(1991) determina que sub-bases e bases anteriormente.
estabilizadas granulometricamente devem A primeira etapa de moldagem e
apresentar abrasão “Los Angeles” de no compactação dos corpos-de-prova foi realizada
máximo 55%. Com base na norma de de acordo com a umidade ótima obtida no
referência, é possível afirmar que o agregado ensaio de compactação. Em seguida
reciclado deste trabalho apresentou valor de procederam-se com as duas etapas posteriores:
abrasão “Los Angeles” satisfatório. No entanto, ensaio de expansibilidade e de penetração.
assim como há variação nas características Os corpos-de-prova apresentaram expansão
físicas verificadas anteriormente, também há praticamente nula, ficando bem abaixo dos
variação na resistência à abrasão, que depende limites para base, sub-base e reforço do
da composição, porosidade e forma dos grãos subleito, especificados pela NBR 15115 (2004)
da amostra, tornando-se difícil estipular um e pela PMSP/SP ETS-001 (2003). Em relação
valor limite de desgaste para este tipo de ao ensaio de penetração, os resultados são
material. apresentados na Tabela 5.

3.2 Comportamento Mecânico Tabela 5 – Resultados do ensaio de penetração do ISC.


Tipo da amostra ISC (%) ISC médio (%)
3.2.1 Ensaio de compactação 1 15
2 24
As curvas de compactação foram obtidas a A 3 25 21
partir da moldagem de 5 corpos-de-prova para 4 15
cada tipo de amostra, obtendo dois pontos no 5 24
ramo seco, um próximo à umidade ótima e dois 1 114
no ramo úmido da curva.
2 91
Tabela 4 – Resultados do ensaio de compactação. B 3 99 95
Tipo da Massa específica aparente Umidade 4 69
amostra seca (g/cm³) ótima (%) 5 103
A 1,880 12,25 1 59
B 1,880 12,15 2 78
C 1,726 16,65 C 3 69 76
4 93
É possível observar que as amostras tipo A e 5 82
B apresentaram resultados praticamente iguais.
Já a amostra tipo C, composta 100% por Todos os tipos de amostras apresentaram
agregado reciclado de RCD, apresentou massa dois corpos-de-prova com valores discrepantes
específica aparente seca menor e umidade ótima em relação à média (15% e 15% para a amostra
bem maior, certamente pela maior porosidade A; 69% e 114% para a amostra B; 59% e 93%
do conjunto em relação às outras duas misturas. para a amostra C), contudo, apresentaram outros
três corpos-de-prova com ISC próximos do ISC
3.2.2 Índice de Suporte Califórnia médio (24%, 24% e 25% para a amostra A;
91%, 99% e 103% para a amostra B; 69%, 78%
A determinação do ISC das diferentes amostras e 82% para a amostra C).
(A, B e C) foi realizada por meio da norma Em termos de atendimento dos requisitos
DNER-ME 049/94. Foram ensaiados cinco para uso em camadas de pavimentação, todas as
corpo-de-prova para cada tipo de amostra, nas amostras satisfazem a normalização. A amostra
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A pode ser aplicada em reforço de subleito (ISC elas está a composição do material, que
≥ 12%) e em sub-base (ISC ≥ 20%). Já as geralmente apresenta grande heterogeneidade,
amostras B e C apresentaram ISC bem superior, sendo um aspecto que dificulta a repetição dos
podendo ser aplicadas nas camadas de reforço resultados. Juntando-se a este fator está a
de subleito e sub-base, além de poder ser aplicação de impacto e vibração ao material.
empregada em base de pavimentos com baixo Procedimentos como peneiramento e
volume de tráfego, pois possuem ISC ≥ 60%. principalmente como a compactação podem
A partir dos resultados, pode-se observar o causar alteração na forma e granulometria e,
ganho de resistência que o acréscimo de consequentemente, na capacidade de absorção,
agregado reciclado propicia ao corpo-de-prova. resistência à abrasão e no comportamento
Essa diferença é evidente comparando-se as mecânico. Assim, o material que atende os
amostras que possuem determinada quantidade requisitos, após esses processos pode passar a
de solo em sua mistura (A e B). O aumento da não atender mais, ou vice-versa.
quantidade de agregados na mistura B, Na verificação do comportamento mecânico
acarretou em um grande ganho de suporte em pelo ensaio de Índice de Suporte Califórnia, foi
relação à mistura A, comprovando o bom utilizada a umidade ótima determinada pela
comportamento mecânico desse tipo de energia normal de compactação, para submeter
material. No entanto, a amostra C, que é o agregado reciclado a uma condição de
totalmente composta por RCD, apresentou bom umidade mais elevada. A partir da determinação
valor de ISC, porém, abaixo da mistura B, que da umidade ótima dos três tipos de amostras por
possui apenas 75% de RCD. Esse decréscimo meio do ensaio de compactação, foi realizado o
na resistência pode ser explicado pela ausência ensaio de ISC com energia intermediária. Em
de solo na mistura, pois sendo miúdo, este termos de expansibilidade, os valores obtidos
consegue proporcionar melhor coesão e foram praticamente nulos, atendendo a restrição
travamento aos grãos. Apesar da amostra C da norma e da especificação. Já no ensaio de
apresentar boa quantidade de finos provenientes penetração foram obtidos ISC médio de 21%,
dos RCD, o comportamento destes é distinto do 95% e 76%, para as amostras A, B e C,
solo, podendo ter influenciado no resultado respectivamente. De acordo com a NBR 15115
final. (2004) e com a PMSP/SP ETS-001 (2003), a
amostra A possui condição de ser utilizada em
4 CONCLUSÃO sub-base e reforço do subleito, enquanto as
amostras B e C apresentaram bom
São realizadas conclusões a partir dos comportamento, podendo ser empregadas em
resultados dos ensaios de caracterização física e base de vias de tráfego com número equivalente
comportamento mecânico dos agregados de operações do eixo padrão menor ou igual a
reciclados de RCD, buscando avaliar a 106 durante o período de projeto, ou seja, o
aplicabilidade desses agregados como material comportamento mecânico foi bastante
de pavimentação com base nos requisitos satisfatório mesmo com a utilização de um teor
estabelecidos pela norma NBR 15115 (2004) e de umidade um pouco elevado.
pela especificação técnica PMSP/SP ETS-001 Com os resultados de ISC é possível
(2003). verificar o ganho de resistência que o acréscimo
A partir de toda a análise física realizada, de agregado reciclado proporciona, evidente nas
pode-se concluir que o agregado reciclado amostras que possuem solo na sua mistura (A e
apresenta boas características para aplicação em B). Em relação à amostra C, observou-se uma
camadas de pavimentação. Contudo, como já diminuição no suporte comparando com a
mencionado, deve-se atentar para alguns fatores amostra B, que possui 25% a menos de RCD.
que influenciam nessas características. Dentre Essa diminuição pode ser explicada pela falta
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de solo, que como já mencionado, tem 15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da
importância na diminuição do volume de construção civil - Utilização em pavimentação e
preparo de concreto sem função estrutural –
vazios, aumentando o travamento entre os Requisitos. Rio de Janeiro.
grãos, a coesão e a massa específica. Apesar da Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2005), NBR
amostra C possuir praticamente 50% de 7809: Agregados graúdos – Determinação do índice
agregado miúdo (menor que 4,76 mm), que de forma pelo método do paquímetro - Método de
também ajuda na coesão, este não possui o ensaio. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, (2001). NBR
mesmo comportamento apresentado pelo solo NM 51: Agregado graúdo – Ensaio de abrasão “Los
laterítico. Angeles”. Rio de Janeiro.
Pode-se concluir que o agregado reciclado de Brasil. Ministério do Meio Ambiente/Conselho Nacional
RCD possui grande potencial de aplicabilidade do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução n° 307,
na execução de bases, sub-bases e reforços do de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios
e procedimentos para a gestão dos resíduos da
subleito de pavimentos, em substituição aos construção civil. Diário Oficial da União, Brasília/DF,
materiais convencionais. Essa alternativa é 17 jul. de 2002. Disponível em:
bastante interessante por uma série de fatores. A <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?c
reciclagem e reaproveitamento dos resíduos de odlegi=307>. Acesso em: 20 mai. 2016.
Departamento Nacional de Estradas e Rodagem, (1994),
construção e demolição, em decorrência de um
DNER-ME 049/94: Solo – determinação do índice de
gerenciamento adequado, resultam na suporte Califórnia utilizando amostras não
diminuição da disposição irregular, da extração trabalhadas. Rio de Janeiro.
de recursos naturais e dos impactos ambientais, Departamento Nacional de Estradas e Rodagem, (1998),
além disso, reduz gastos da gestão pública, DNER-ME 081/98: Agregados – Determinação da
absorção e da densidade de agregado graúdo. Rio de
podendo gerar renda para outros setores. Um
Janeiro.
melhor controle da composição do material para Leite, F. C., (2007), Comportamento Mecânico de
diminuição da variabilidade das características Agregado Reciclado de Resíduo Sólido da
físicas, assim como uma execução adequada, Construção Civil em Camadas de Base e Sub-base de
pode resultar em um pavimento com bom Pavimentos. Dissertação (Mestrado) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, 216 p.
desempenho.
Prefeitura do Município de São Paulo. PMSP/SP ETS-
001: Camadas de reforço do subleito, sub-base e base
AGRADECIMENTOS mista de pavimento com agregado reciclado de
resíduos sólidos da construção civil. Disponível em:
Agradencimentos aos técnicos da UNOESTE <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/
infraestruturaurbana/normas_tecnicas_de_pavimentac
pelo auxílio na execução dos ensaios e a ao/pmspets0012003.pdf>. Acesso em 26 de jul. 2016.
UNESP – Presidente Prudente, por proporcionar
a trituração do resíduo no triturador mecânico
localizado no Núcleo Morumbi.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984), NBR


7181: Solo – análise granulométrica – Método de
ensaio. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, (1986), NBR
7182: Solo – ensaio de compactação – Método de
ensaio. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2004), NBR
15115: Agregados reciclados de resíduos sólidos da
construção civil – Execução de camadas de
pavimentação – Procedimentos. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, (2004). NBR
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Análise do comportamento mecânico de uma areia reforçada com


fibra natural de sisal por meio de ensaios de cisalhamento direto
em verdadeira grandeza
Leila Maria Coelho de Carvalho; Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil,
leila.mariacarvalho@hotmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande; Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil,


michele.casagrande@hotmail.com

Nelson Padrón Sánchez; Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil,


nelsonwerpnsn@gmail.com

RESUMO: Os solos são materiais complexos, onde muitas vezes, não apresentam as condições
solicitadas em projeto para sua utilização em obra. Um dos métodos recomendado para melhorar o
solo existente é a inclusão de um material adicional. O presente trabalho teve como objetivo estudar
o comportamento mecânico do compósito areia-fibra através da inserção de fibra natural de sisal em
uma matriz arenosa, com teores de fibra distintos, onde as fibras foram distribuídas na forma
aleatória na massa de solo. A etapa experimental foi realizada a partir de ensaios de cisalhamento
direto, em amostras de dimensão 300 mm x 300 mm e 200 mm de altura. As fibras de sisal tiveram
25 mm de comprimento, nos teores de 0,5% e 0,75%, em relação ao peso seco do solo, e o solo com
uma densidade relativa de 50% com um teor de umidade de 10%. Os resultados se mostraram
satisfatórios, com valores de resistências superiores na inclusão de fibras naturais de sisal como
reforço de solos.

PALAVRAS-CHAVE: cisalhamento direto, fibra natural, melhoramento de solos.

1 INTRODUÇÃO dos solos com a adição de fibras é usada pela


humanidade há muito tempo, porém, somente
Durante o último meio século as fibras depois da segunda metade do século XX que
artificiais, como acrílico, poliéster e vários trabalhos foram publicados com o
polipropileno, foram bastante utilizadas em interesse de se analisar o efeito da adição de
todo o mundo devido ao seu custo. Atualmente, fibras vegetais na melhoria do comportamento
o homem tem observado problemas como o uso mecânico dos solos.
e esgotamento dos seus recursos, verificando a Existem diversos tipos de fibras que são
necessidade do desenvolvimento de materiais utilizadas no mundo, podendo considerar dois
alternativos como um novo caminho para grandes grupos: as fibras sintéticas, compostas
sustentabilidade. Por isso, nota-se um aumento por materiais artificiais, resultado de processos
nas pesquisas com novos materiais, de origem industriais, que apresenta vantagem nas suas
natural, provenientes de fontes renováveis e propriedades mecânicas constantes, bem
menos poluentes. definidas, e maior resistência ao intemperismo;
A aplicação de materiais alternativos para o e as fibras naturais, na sua maioria de origem
reforço de solos é um tema crescente e de vegetal (orgânicas), apresentam constância nas
interesse nas diversas áreas da engenharia. A suas características físicas (diâmetro, e
técnica de melhorar as propriedades mecânicas comprimento), mas ainda assim fornecem bons
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resultados como reforço de solo, porém como com fibras depende das características das
desvantagens estão sujeitas à degradação fibras (resistência à tração, módulo de
biológica, seu uso é uma forma de reciclagem elasticidade, comprimento, teor e rugosidade),
para contribuir com a preservação do meio do solo (tamanho, forma e granulometria das
ambiente. partículas, índice de vazios, etc.), da tensão de
A ideia principal do reforço de solo é obter confinamento e do modo de carregamento.
uma melhoria nos parâmetros de resistência do Assim, existem vários tipos de fibras para
solo. De acordo com Michell e Villet (1987), o reforços de solo, cada uma com características
conceito de solo reforçado foi desenvolvido na de comportamento distintas, isto é, propriedades
década de 60, pelo engenheiro francês Henri físicas e mecânicas diferentes. Fazendo-se
Vidal, que patenteou uma de suas descobertas, a necessário o entendimento dos mecanismos de
“Terra Armada”, onde provou que introduzindo interação matriz-reforço e suas parcelas de
um elemento de reforço na matriz do solo, a contribuição no comportamento do material
resistência ao cisalhamento do solo melhoraria. compósito para a definição do melhor tipo de
Atualmente observa-se um crescente reforço (fibra) a ser utilizado.
interesse no uso de novos materiais como O desenvolvimento de materiais compósitos
reforço de solo. Sendo as fibras vegetais boas reforçados por fibras de origem vegetal é em
opções, devido seu baixo custo e grande grande parte motivado por uma maior
disponibilidade. consciência ambiental, devido aos problemas de
Diversos autores relataram em seus trabalhos eliminação de resíduos e o esgotamento dos
algumas mudanças que ocorrem no recursos petroquímicos (Dittenber e Gangarao,
comportamento mecânico dos solos reforçados 2012). Em boa parte dos casos de reforço com
com fibras. Estas mudanças são relacionadas à fibras vegetais, o maior benefício obtido por
compactação, resistência ao cisalhamento, reforçar matrizes frágeis é a melhoria do
deformabilidade, modo de ruptura, variação comportamento pós-fissuração da matriz.
volumétrica, rigidez inicial e condutividade Segundo Izquierdo (2011), o Brasil é o maior
hidráulica. produtor de sisal do mundo, onde o estado da
A técnica de reforçar solos com fibras está Bahia é responsável por 80% da produção da
estabelecida na tecnologia dos materiais fibra nacional. Algumas vantagens apresentadas
compósitos, sendo este uma combinação de dois pela fibra de sisal são: facilidade de cultivo,
ou mais materiais que tenham propriedades que material biodegradável proveniente de fonte
os materiais componentes não possuem por si renovável, boas propriedades como isolante
próprios. Sendo assim, estes são formados por térmico, acústico alta tenacidade, resistência à
uma matriz (solo, concreto, argamassa) e pelo abrasão e baixo custo, por esses motivos a fibra
elemento de reforço (fibras, aço e outros). de sisal é uma das fibras naturais mais
As melhorias das propriedades mecânicas de estudadas no país.
um material, criando assim um novo material, Vários trabalhos nos últimos anos foram
denominado compósito, podem ocorrer tanto desenvolvidos utilizando a fibra de sisal como
por processos físicos e/ou químicos. Quando se reforço de solo. Leocádio (2005) estudou o
aborda o tema melhoria de solos, normalmente comportamento de um solo laterítico reforçado
estando associado a processos químicos de com fibras de sisal através dos ensaios de
estabilização, enquanto que o termo reforço de compactação, Índice de Suporte Califórnia
solos está associado a processos físicos, como (CBR) e cisalhamento direto. Verificando um
por exemplo, a inserção de fibras na matriz do aumento na capacidade de suporte com a
solo. inclusão das fibras, variando teor e
O melhoramento ou alteração das comprimento.
propriedades mecânicas dos solos reforçados
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Dentro deste contexto o presente trabalho


visa contribuir com a finalidade de um melhor
destino às fibras naturais, estudando o
comportamento mecânico do solo reforçado
com fibras naturais com influencias de tipo,
comprimento, teor, disposição, densidade e
impermeabilização. Assim, estimular o uso de
misturas solo-fibra em obras de terra e
proporcionar um destino distinto para esses
resíduos.
Figura 1. Distribuição granulométrica da areia.

2 PROGRAMA EXPERIMENTAL Tabela 1. Índices físicos da areia.


CARACTERISTICAS VALOR MÉTODO DE ENSAIO
Densidade dos grãos (Gs) 2,68 ABNT NBR 6458:2016
O programa experimental consistiu na execução Índice de vazios máximo ( ) 0,89 ABNT NBR 12051:1991
de ensaios de cisalhamento direto de médias Índice de vazios mínimo ( ) 0,59 ABNT NBR 12004:1990
Coeficiente de não uniformidade (CNU) 2,40
dimensões (300 mm de largura x 300 mm de
Coeficiente de curvatura (Cc) 1,07
comprimento x 200 mm profundidade) para a Diâmetro efetivo  0,175 mm
ABNT NBR 7181:2017

determinação dos parâmetros de resistência que Diâmetro efetivo  0,385 mm

serviram como base para identificar e avaliar o


efeito da inclusão de fibras de sisal, dispostas de 2.1.2 Fibra de sisal
forma aleatória, nas propriedades mecânicas de
um solo granular. A fibra de sisal, da espécie Agave sisalana e da
família Agavaceae, é derivada da folha de uma
2.1 Materiais e Métodos planta (Figura 2) considerada indígena na
América Central e do Sul (Costa, 2013).
2.1.1 Areia Segundo Martins (2014), o Brasil, juntamente
com a Indonésia e países do leste africano, está
A areia empregada apresenta granulometria entre os maiores produtores de sisal.
uniforme e de acordo com o Sistema Unificado
de Classificação de Solos (SUCS), se trata de
uma areia mal graduada (SP). A escolha do solo
arenoso se dá por se tratar de um material com
comportamento mecânico bem definido e
estável, de modo a facilitar a interpretação dos
efeitos causados pela adição de fibras. A curva
granulométrica (Figura 1), e os índices físicos
do material (Tabela 1) foram determinados no
Laboratório de Geotecnia na Universidade de
Brasília (UnB), em Brasília-DF.

Figura 2. Plantação de sisal (Santiago, 2011).

As fibras de sisal classificam-se no grupo de


fibras chamadas ‘estruturais’, cuja função é dar
sustentação e rigidez as folhas. Estando
dispostas longitudinalmente ao longo do
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comprimento da folha. relativa de 50%.


As fibras de sisal foram compradas da A preparação do corpo de prova é realizada
Associação de Desenvolvimento Sustentável e por compactação manual em camadas, dividido
Solidário da Região Sisaleira (APAEB), do em cinco camadas de areia ou areia-fibra, na
município de Valente, Bahia. Na Tabela 2 e própria caixa do ensaio de cisalhamento direto.
Tabela 3 são apresentados valores, disponíveis O peso da mistura é calculado de acordo com os
na literatura, para as principais características da parâmetros desejados, como densidade relativa
fibra utilizada. e teor da fibra do compósito solo-fibra.

Tabela 2. Propriedades físicas da fibra de sisal.


Diâmetro Área Densidade Cristalinidade Referência
(mm) (mm²) (g/cm³) (%)

0,08 - 0,30 - 0,75 - 1,07 - Tolêdo Filho, 1997


0,15 - - - Santiago, 2011
0,228 - 1,13 - Pinto, 2007
0,174 - - - Martins, 2014
- 0,023 - 76,3 Fidelis, 2014

Tabela 3. Propriedades mecânicas da fibra de sisal.


Resistência à Módulo de Deformação na Referência Figura 3. Fibra de sisal utilizada neste trabalho.
tração (MPa) Young (GPa) ruptura (%)

227,8 - 1002,3 10,9 - 26,7 2,8 - 4,2 Tolêdo Fillho, 1997 2.2 Ensaios de Cisalhamento Direto
340 12 3,3 Santiago, 2011
484 19,5 3,3 Fidelis, 2014
O equipamento de cisalhamento direto de
médias dimensões (Figura 4) utilizado na
2.1.3 Preparação da amostra pesquisa foi desenvolvido por Palmeira (1998)
até adaptação feita por Sánchez et al. (2016) no
Foram executados ensaios com matrizes de Laboratório de Geotecnia da na Universidade de
areia com 0.0, 0.5 e 0.75 % de adição de fibras Brasília – UnB.
de sisal de 25 mm de comprimento (Figura 3) e
variação da tensão efetiva média inicial (25, 50
e 100 kPa). As fibras foram distribuídas de
forma aleatória na massa de solo. A Tabela 4
resume as variáveis investigadas

Tabela 4. Variáveis investigadas.


Comprimento Tensões
Teor (%) fibra de sisal Distribuição confinantes
(mm) (kPa)
0,00 - -
0,50 25 Aleatória 25, 50, 100
0,75 25 Aleatória
Figura 4. Visão geral do equipamento de cisalhamento
direto e da instrumentação (Sánchez, 2018).

Os parâmetros de moldagem das amostras de Para obter os parâmetros de resistência foram


solo e solo-fibra foram os mesmos usados por realizados ensaios de cisalhamento direto em
Casagrande (2005), Girardello (2010), Santiago amostras de solo arenoso e em compósito solo-
(2011), Sotomayor (2014) e Louzada (2015), fibra. As amostras utilizadas apresentam
que também trabalharam com solo arenoso, dimensões de 300 mm x 300 mm de largura e
sendo o teor de umidade de 10% e densidade 200 mm de altura. As amostras foram
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executadas com uma densidade relativa de 50%


e teor de umidade de 10%. A velocidade
utilizada no ensaio é de 0,508 mm/min e o
deslocamento cisalhante máximo do aparelho é
de 40 mm.

3 RESULTADOS E ANÁLISES
Figura 7. Curvas tensão cisalhante x deformação
As Figuras 5, 6 e 7 apresentam as curvas de horizontal para areia pura e compósito areia-fibra nos
tensão de cisalhamento x deslocamento teores 0,5 e 0,75% para tensão de 100 kPa.
horizontal, para todas as tensões confinantes
(25, 50 ou 100 kPa). As fibras de sisal foram
cortadas no comprimento de 25 mm, variando
os teores em 0.0, 0.5 e 0.75% de fibra, que
foram dispostas de forma aleatória na massa de
solo. A Figura 8 mostra os resultados de todos
os ensaios.

Figura 8. Visão geral das curvas tensão cisalhante x


deformação horz para areia pura e compósito areia-fibra
nos teores 0,5 e 0,75% para tensão de 25, 50 e 100 kPa.

Nas figuras apresentadas, todas as tensões


aplicadas tiveram uma tendência com o
aumento da tensão, bem como um acréscimo da
Figura 5. Curvas tensão cisalhante x deformação resistência quando adicionado à fibra de sisal no
horizontal para areia pura e compósito areia-fibra nos compósito de areia.
teores 0,5 e 0,75% para tensão de 25 kPa. As curvas de areia pura apresentam ganhos
menos significativos de tensão cisalhante a
partir de 10 mm de deslocamento horizontal.
A partir dos ensaios sem adição da fibra,
verifica-se que a densidade relativa adotada
indica que a areia utilizada tem caracteristicas
de uma areia fofa, sem apresentar resistência de
pico. Desta forma, foi necessário adotar um
valor fixo de deslocamento para avaliação do
melhoramento dos parâmetros mecânicos da
Figura 6. Curvas tensão cisalhante x deformação areia e do compósito. Adotando-se assim, uma
horizontal para areia pura e compósito areia-fibra nos tenão cisalhante de ruptura correspondente a um
teores 0,5 e 0,75% para tensão de 50 kPa. deslocamento de 40 mm.
Os parâmetros de resistência da areia e do
compósito (Figura 9) apresentam os seguintes
resultados: ângulo de atrito 29⁰ e coesão
aparente de 11 para areia pura; ângulo de atrito
de 35° e coesão aparente de 17 para o
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compósito areia-fibra com teor de 0,5% de sisal; resistência para todas as tensões aplicadas. Para
ângulo de atrito de 37° e coesão aparente de 19 os teores de fibras avaliados, quanto maior o
para o compósito areia-fibra com teor de 0,75% teor e a carga aplicada, maior foi o acréscimo de
de sisal, conforme a Tabela 5. resistência mecânica.
A adição de fibra permite alcançar tensões
tangenciais maiores. Para o deslocamento
máximo atingido (40 mm) a adição de fibras
gerou um acréscimo de tensão cisalhante de 6 a
12 kPa para a tensão normal de 25 kPa, de 14 a
20 kPa para a tensão normal de 50 kPa e de 20 a
26 kPa para a tensão normal de 100 kPa. Com
mobilização de resistência maior para um
deslocamento cisalhante menor na adição de
0,75% quando comparado com as curvas para
adição de 0,5%.
As envoltórias de Mohr - Coulomb se
ajustaram bem aos resultados dos ensaios, com
Figura 9. Envoltórias de resistência. valores de coesão maiores com a adição de
fibras. Propiciando também maiores ângulos de
Tabela 5. Resumo dos ensaios de cisalhamento direto. atrito tangente da envoltória para o
Tensões φ’ (ᵒ) Coesão Aparente
Amostra
aplicadas (σ’₃) (kPa)
deslocamento máximo (40 mm), com valores
Areia Pura 25, 50 e 100 29 11 próximos para os dois teores considerados.
Areia - Sisal (0,5%) 25, 50 e 100 35 17 Entretanto, deve-se notar que as amostras
Areia - Sisal (0,75%) 25, 50 e 100 37 19
ensaiadas apresentaram baixa compacidade, o
que pode explicar a proximidade de valores de
ângulo de atrito, de apenas 2º.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aumento no ângulo de atrito e no
intercepto coesivo é efeito da adição de fibras
O presente trabalho apresentou a análise do
de sisal na matriz de areia gerando um efeito de
comportamento mecânico de uma areia
ancoragem no compósito areia fibra.
reforçada com fibra natural de sisal através de
Os resultados se mostraram satisfatórios para
ensaios de cisalhamento direto em verdadeira
a inclusão de fibras naturais de sisal como
grandeza. A partir dos ensaios de cisalhamento
reforço de solos, com potencial aplicação em
direto de médias dimensões executados em solo
aterros sobre solos moles, taludes e fundações
arenoso e misturas solofibra de sisal com 25
superficiais, dando um fim mais nobre a este
mm de comprimento, nos teores de 0, 0.5 e
material no âmbito técnico, atendendo também
0.75% e com disposição das fibras de forma
a aspectos econômicos, sociais e ambientais.
aleatória na massa de solo, foram estabelecidas
algumas conclusões relatadas a seguir:
A adição da fibra de sisal, como reforço de
AGRADECIMENTOS
solo, independente dos teores estudados,
resultou num aumento do ângulo de atrito e do Os autores agradecem a Coordenação de
intercepto coesivo do material, como resultado Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
foi observado também um aumento na (CAPES) pelo apoio a pesquisa da mestranda
resistência do material. em primeiro autor e ao Laboratório de
A adição de fibras de sisal com 25 mm de Geotecnia da Universidade de Brasília (UnB)
comprimento e no teor de 0.75% na matriz em Brasília-DF pelo apoio físico e técnico para
arenosa resultou nos maiores valores de realização das pesquisas.
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REFERÊNCIAS Santiago, G.A. (2011) Estudo do Comportamento


Mecânico de Compósitos SoloFibras Vegetais
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Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Ouro Preto. Escola de Minas.
219p. Sotomayor, J. M. G. (2014) Avaliação do comportamento
Costa, J.E.G. (2013) Estudo da degradação de geotêxteis carga-recalque de uma areia reforçada com fibras de
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Engenharia) – Escola de Engenharia. Universidade do grandeza. Dissertação de Mestrado, Departamento de
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Dittenber, D. B., Gangarao, H. V. S., (2012) Critical Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 102 p.
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Girardello, V. (2010) Ensaios de placa em areias não
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Dissertação de Mestrado, Curso de Engenharia de
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Engenharia de São Carlos da Universidade de São
Paulo, São Carlos, SP, 121p.
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Relatório de Pesquisa. Programa de Pós-Graduação
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Sánchez, N.P. (2018) Estudo de alguns aspectos que
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diferentes materiais. Tese de Doutorado.
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Sánchez, N.P., Araújo, G.L.S., Palmeira, E.M., (2016)
Estudo Multi-escala da Resistência ao Cisalhamento
da Interface entre Geotêxtil Não Tecido e Solo.
COBRAMSEG 2016. ABMS, Belo Horizonte.
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Análise do Grau de Compactação através de Ensaios de Cone de


Penetração Dinâmica (CPD) em Solo Laterítico de Cascavel/PR
Beatriz Anne Bordin Zen
Centro Universitário FAG, Cascavel, PR, Brasil, beatrizzen_1100@hotmail.com

Reinaldo Horst Rinaldi


Centro Universitátio FAG, Cascavel PR, Brasil, reinaldo@postosrinaldi.com.br

Maycon André de Almeida


Centro Universitário FAG, Cascavel PR, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

RESUMO: O controle de compactação de camadas de solo, apesar de ser um processo


relativamente simples, pode apresentar alterações devido a erros humanos ou falhas na
determinação de índices. Devido a isso, é de interesse da geotecnia a busca por métodos de
obtenção desse parâmetro, que sejam mais práticos e eficazes. Assim, o Cone de Penetração
Dinâmica (CPD) apresenta-se como uma boa alternativa para essa determinação. O presente estudo
busca correlacionar o grau de compactação do solo superficial do Campo Experimental de
Engenharia da FAG em Cascavel/PR, obtido através do ensaio de Proctor, com resultados de
penetração obtidos pelo Cone de Penetração Dinâmico (CPD). Foi possível estabelecer três
equações de correlação para diferentes níveis de energia empregados, demonstrando o potencial de
utilização do equipamento como instrumento de fácil e rápida aplicação, fornecendo dados
confiáveis e de fácil interpretação, podendo facilitar análises como o grau de compactação,
minimizando possíveis erros humanos.

PALAVRAS-CHAVE: Cone de Penetração Dinâmico (CPD); Ensaio Proctor; Compactação.

1 INTRODUÇÃO aplicação de alguma forma de energia (impacto,


vibração, compressão estática ou dinâmica).
O conhecimento das condições do solo em um Seu efeito confere ao solo um aumento de seu
determinado local é uma condição fundamental peso específico e resistência ao cisalhamento, e
para a elaboração de projetos de pavimentações, uma redução do índice de vazios,
fundações e obras de contenção seguras e permeabilidade e compressibilidade.
econômicas. No Brasil, estima-se que o custo Segundo Caputo (1987), um dos ensaios de
envolvido na realização de investigações compactação mais comumente utilizados é o de
geotécnicas varie normalmente de 0,2% a 0,5% Proctor, o qual é creditado ao engenheiro norte-
do custo total de uma obra (SCHNAID, 2000). americano Proctor que, em 1933, publicou suas
Além das investigações geotécnicas, é observações sobre compactação de aterros,
importante que se tenha outras ferramentas para mostrando que ao aplicar-se uma certa energia
analisar e ajudar na tomada de decisão sobre os de compactação (um certo número de passadas
tipos de fundações a serem adotados. Portanto, de um determinado equipamento no campo ou
desenvolver novas técnicas de monitoramento um certo número de golpes de um soquete sobre
das características geotécnicas e compactação o solo contido num molde), a massa específica
dos solos é de suma importância. seca resultante é função da umidade em que o
A compactação é um método de solo estiver.
melhoramento de solos executado por meio de Por outro lado, utilizado como um método
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"in situ" de avaliação da capacidade de suporte homogeneização e melhoria das propriedades


de solos, existe o Cone de Penetração Dinâmica de um solo, tais como: aumentar a resistência
(CPD) ou "Dynamic Cone Penetrometer" ao cisalhamento, reduzir os recalques e
(DCP). Este equipamento possibilita a aumentar a resistência a erosão. O Cone de
determinação da taxa de penetração em solos Penetração Dinâmica (CPD) é um equipamento
indeformados ou materiais compactados, sendo que fornece a taxa de penetração em solos
o procedimento de ensaio regido pela norma indeformados ou materiais compactados.
americana ASTM D-6951 (2009). Inicialmente desenvolvido na Austrália em
Tal equipamento surgiu com o objetivo de se 1956, foi na Africa do Sul que o CPD foi
desenvolver um método simples e versátil para intensamente utilizado como um método "in
o estudo sobre as propriedades mecânicas "in situ" de avaliação da capacidade de suporte de
situ" de solos do subleito. Dessa forma, solos. Desde então, tem sido utilizado em
apresenta vantagens em relação aos muitos países (AMINI, 2003).
procedimentos tradicionais realizados em O comprimento em milímetros que a
laboratório. ponteira cônica acoplada numa haste, que
Segundo Alves (2002), este ensaio apresenta penetra no solo devido a cravação de 10 golpes
a grande vantagem de investigar o subleito de do equipamento, é medido em uma régua
forma econômica, pois não requer grandes graduada. O resultado final é dado pela média
escavações ou perfurações, e em consequência de penetração para os 9 golpes finais. O
não interfere no tráfego dos veículos. Pode ser equipamento é apresentado na Figura 1.
caracterizado como um ensaio não-destrutivo.
A correlação de resultados entre esses
ensaios é desejável para se estimar os valores
entre ensaios de um mesmo material. Valores
provenientes dos mesmos são uma função do
método de realização do ensaio, do teor de
umidade e da densidade. Ao estimar valores de
resistência de um solo, sem considerar esses
fatores, é comum gerar suposições errôneas
(YODER, 1959 apud BERNUCCI, 2006).
Portanto, este artigo tem como objetivo
analisar o grau de compactação de solos através
do ensaio CPD, em um solo laterítico e
colapsível típico da região de Cascavel - PR.
Figura 1. Equipamento CPD (Benevides, 2012)

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3 MATERIAIS E MÉTODOS

Segundo Massad (2003), entende-se por Para o desenvolvimento do artigo, foram


compactação de um solo qualquer redução, realizados ensaios de Teor de Umidade, Proctor
mais ou menos rápida, do índice de vazios por e Cone de Penetração Dinâmica (CPD), todos
processos mecânicos. Essa redução ocorre em no laboratório de Mecânica dos Solos do Centro
face da expulsão ou compressão do ar dos Universitário Assis Gurgacz (FAG), em
vazios dos poros. Difere, portanto, do Cascavel/PR.
adensamento, que também é um processo de Foram utilizadas três cavas, existentes no
densificação, mas decorre de uma expulsão Campo Experimental de Engenharia do Centro
lenta da água dos vazios do solo. Acadêmico Assis Gurgacz (CEEF), para coletar
A compactação objetiva uma aproximadamente 30 kg de solo para a
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realização dos ensaios. peneira 4,75 mm.


No primeiro ensaio executado, utilizou-se 10
3.1 Coleta de solo e caracterização kg de material destorroado, partindo de um teor
de umidade de aproximadamente 20%. Para os
A caracterização do solo do CEEF foi realizada ensaios seguintes, adicionou-se 150 ml de água,
por Zen (2016). Segundo a autora, a de modo a incrementar a umidade do solo em
classificação do solo, conforme especificado na aproximadamente 5%.
ABNT (2016) e de acordo com a curva Foram realizados os ensaios utilizando o
granulométrica, é de uma argila silto arenosa. cilindro pequeno de Proctor para os 3 níveis de
Em relação ao sistema unificado (SUCS), é energia, porém alternando cilindro, quantidade
classificado como um solo argiloso muito de golpes e camadas, conforme descreve a
compressível (CH), ao passo que no sistema Norma.
rodoviário (TRB), foi identificado como A-7-6,
correspondendo a uma argila siltosa 3.3 Cone de Penetração Dinâmica (CPD)
medianamente plástica, classificada com
regular a mau para utilização como subleito. Enquanto realizado o ensaio de Proctor, que
Na Tabela 1, pode-se observar os valores tem como objetivo determinar a umidade ótima
médios dos principais índices físicos de compactação e o peso específico aparente
determinados para a primeira camada de solo seco máximo da amostra, foram realizados
identificada no CEEF. simultaneamente ensaios com o CPD, a fim de
determinar taxas de penetração e
Tabela 1. Índices físicos da primeira camada do CEEF consequentemente estabelecer relações entre o
CAMADA 1 grau de compactação e o ensaios de CPD para
VALORES MÉDIOS
1 a 9 metros
os três níveis de energia: Normal, Intermediária
W (%) 39
LL (%) 53 e Modificada.
LP (%) 38 O CPD utilizado para a realização da
IP (%) 15 pesquisa possui uma haste de 16 mm de
Argila (%) 70 diâmetro, tendo, em uma das
Silte (%) 25 extremidades, uma ponteira em forma de
Areia (%) 5
Peso Específico do Sólidos (KN/m³) 26,7 cone, com 20 mm de diâmetro e ângulo
Muito mole de 60º, conforme apresentado na Figura 2. A
Consistência
a Média ação dinâmica é provocada por um martelo
Peso específico natural (KN/m³) 16,7 com peso de 8 kg deslizando pela haste até
Índice de vazios (e) 1,22 se chocar com o batente de uma altura de queda
de 575 mm.
3.2 Ensaio de Proctor

Para ínicio do ensaio, foram utilizados cerca de


10 kg de material preparados de acordo com a
ABNT (2016), acomodados em uma bandeja e
destorroados com o auxílio de soquete com
ponta emborrachada, somente escarificando o
material contra a bandeja, sem efetuar
pancadas. Após destorroar o material, mesmo
tratando-se Figura 2. Equipamento CPD utilizado
de um solo argiloso e de granulometria
pequena, a preparação da amostra foi executada Para a realização do ensaio de CPD foi
de acordo com a ABNT (1996), passando pela elevado o equipamento utilizando 4 corpos de
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prova do laboratório de concreto, fazendo assim


com que o molde do corpo de prova do ensaio
de Proctor ficasse devidamente centralizado
com a ponteira metálica do equipamento, que
por sua vez também manteve-se estático para a
execução do ensaios, conforme apresentado na
Figura 3.

Figura 4. Curvas de Compactação para diversas energias

As curvas de compactação apresentam


resultados conforme esperado, com massa
específica seca máxima com o valor crescente
entre as energias de compactação, e o teor de
umidade ótimo com valor decrescente conforme
aumentava-se a energia de compactação.
É possível verificar que para o ensaio de
Proctor Normal a massa específica seca máxima
obtida foi de 1,37 g/cm³ para um teor de
umidade ótimo de 33%. Já para a energia
Figura 3. Ensaio de CPD sendo realizado em amostra. intermediária, a massa específica seca máxima
foi de 1,38 g/cm³ e seu teor de umidade ótimo
Este processo também foi repetido para os de 32%. Por fim, para a energia modificada
níveis de energia intermediário e modificado, obteve-se a massa específica seca máxima de
para todos os corpos de prova, a fim de realizar 1,44 g/cm³ e teor de umidade ótimo de 30%.
comparação da penetração no solo com a Com os ensaios de Proctor Normal,
máxima massa específica seca (γdmáx). Intermediário e Modificado, obteve-se a
máxima massa específica seca. Na sequência foi
possível determinar o Grau de Compactação
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES (GC) de todos os corpos de prova
confeccionados. O GC é dado pela relação entre
São apresentadas na Figura 4 as curvas de a massa específica seca determinada no ensaio e
compactação para os três níveis de energia a massa específica máxima determinada pela
(Normal, Intermediário e Modificado), curva de compactação.
utilizando solo superficial retirado do primeiro A Figura 5 apresenta o comportamento do γd
metro das cavas escavadas no CEEF. de acordo com o GC empregado nos corpos de
prova, para os três níveis de energia nos ensaios
de Proctor.
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Energia modificada
GC Penetração
γd (g/cm³) w (%)
(%) (mm)
1,39 18,29 95,98 3,78
1,44 24,27 99,49 3,22
1,48 30,11 102,02 3,67
1,35 37,67 92,85 9,67
1,43 31,26 98,70 3,78
1,46 40,21 100,84 3,22
1,42 43,95 97,62 3,67
1,33 46,66 91,39 9,67
Figura 5. Massa Específica Seca x Grau de Compactação
1,43 25,15 98,45 2,89
Na sequência, foi possível relacionar o 1,41 28,67 96,99 5,11
Grau de Compactação (%) para cada ensaio de γdmáx (g/cm³) wótimo (%)
1,44 30
Proctor realizado e sua relação com a
penetração média (mm/golpe) realizada pelo
Já na Figura 6, é possível verificar a
CPD, para os 9 últimos golpes do corpo de
penetração média obtida relacionada com a
prova, como apresenta a Tabela 2. O índice foi
massa específica seca obtida para cada corpo de
obtido medindo-se a distância entre a haste que
prova ensaiado, referente ao ensaio de Proctor
desce em direção ao CP e a base que recebe o
Normal.
golpe do martelo, ligados pela barra.

Tabela 2: Ensaio de Proctor x Ensaio CPD


Energia normal
GC Penetração
γd (g/cm³) w (%)
(%) (mm)
1,18 20,81 84,48 4,78
1,27 24,49 90,74 6,22
1,34 30,89 95,55 7,89
1,40 35,98 100,11 9,56
1,38 37,50 98,67 13,9
1,30 39,32 92,86 13,89 Figura 6. GC x Penetração Média (Proctor Normal)
γdmáx (g/cm³) wótimo (%)
1,37 33
Para o ensaio de Proctor Normal foi
Energia intermediária
determinada a Equação 1, que correlaciona o
GC Penetração Grau de Compactação (%) e a penetração média
γd (g/cm³) w (%)
(%) (mm)
obtida pelo CPD, em mm/golpes, apresentando
1,25 11,49 90,17 3,44
um coeficiente de determinação de R² de
1,28 17,42 92,29 4,00 0,8887.
1,36 23,33 97,62 5,11
1,42 34,52 102,48 9,33 GC = - 0,44.CPD² + 9,42.CPD – 49,18 (1)
1,33 39,45 95,73 7,22
1,37 40,21 98,64 5,11 A seguir foi estabelecida relação entre a
γdmáx (g/cm³) wótimo (%) penetração média determinada pelo CPD e a
1,38 32 massa específica obtida para os corpos de prova
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utilizando a energia intermediária de Proctor, coeficiente de determinação de R² de 0,7584.


conforme pode-se verificar na Figura 7.
GC = - 1,11.CPD + 102,85 (3)

Ressalta-se, no entanto, que o valor de


entrada do ensaio do CPD nas equações deve
ser o valor médio em mm/golpes, ou seja,
registra-se apenas a penetração total para os
últimos 9 golpes de 10 executados, desprezando
a penetração do primeiro golpe.
Verificou-se que os resultados aferidos em
laboratório podem ser considerados
satisfatórios, pois foi possível estabelecer
relações entre a penetração realizada pelo CPD
e o grau de compactação das amostras, de
Figura 7. GC x Penetração Média (Proctor Intermediário) maneira lógica e de fácil execução.
É válido ressaltar algumas vantagens do
Já para o ensaio de Proctor Intermediário foi CPD, como fácil manuseio e transporte,
determinada a Equação 2 de correlação do Grau podendo ser utilizado por apenas dois
de Compactação (%) e a penetração média operadores. Também não necessita grande
obtida pelo CPD, em mm/golpes, apresentando movimentação de terra, e possui baixo custo se
um coeficiente de determinação de R² de comparado a outros equipamentos para
0,6688. realização de ensaios "in situ".
Entretanto é válido ressaltar que mais
GC = 1,66.CPD + 86,71 (2) ensaios devem ser realizados para a conferência
dos resultados e validação das fórmulas obtidas.
E, finalmente, foi estabelecida a relação Para arranjos granulométricos diferentes
entre os resultados de CPD e a massa específica podem ocorrer discrepâncias de resultados, e o
seca de cada corpo de prova ensaiado utilizando uso das equações deve ser realizado com
a energia Modificada de Proctor (Figura 8). cautela no cotidiano prático, devido às
incertezas envolvidas entre os meios
experimentais e práticos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível, após análise de dados, identificar


o grau de compactação dos corpos de prova por
meio de correlações determinadas pela relação
entre o ensaio de Proctor e a penetração
realizada pelo cone de penetração dinâmica,
para os diferentes níveis de energia.
Figura 8. GC x Penetração Média (Proctor Modificado) Os resultados foram satisfatórios por
dispensarem a realização de ensaios de umidade
Para o ensaio de Proctor Modificado foi ou massa específica natural do solo, visto que é
determinada a Equação 3 de correlação do Grau possível obter o grau de compactação somente
de Compactação e a penetração média obtida sabendo qual é a energia de compactação
pelo CPD, em mm/golpes, apresentando um empregada. Outro ponto positivo é a facilidade
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de se utilizar o equipamento de CPD, ao formação básica de engenheiros. Rio de Janeiro:


contrário dos ensaios de campo para determinar Petrobras: Abeda.
Caputo, H. P. (1987). Mecânica dos Solos e suas
o grau de compactação. aplicações. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Conclui-se que os resultados aferidos em Científicos, v. 3.
laboratório, podem ser considerados Massad, F. (2003). Obras de terra: Curso básico de
satisfatórios, todavia o estudo foi realizado com Geotecnia. São Paulo: Oficina de Textos.
solo laterítico e superficial do CEEF e, Schnaid, F. (2000). Ensaios de Campo e suas aplicações
à Engenharia de Fundações. Oficina de Textos. São
portanto, é passível de erros e incertezas, Paulo-SP.
podendo apresentar valores diferentes caso seja Zen, B. A. B. (2016). Caracterização Geotécnica do
aplicado em solos que não apresentam a mesma Subsolo do Campo Experimental do Centro
composição química e granulométrica. Acadêmico da FAG em Cascavel/PR. Trabalho de
Além disso, por se tratar de um ensaio Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia
Civil) - Faculdade Assis Gurgacz, Cascavel/Pr.
experimental em laboratório, é recomendado
que o mesmo seja replicado em um aterro
experimental de forma a validar os resultados e
correlações obtidas e proporcionar maior
confiança do meio técnico na utilização das
expressões matemáticas.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.


NBR 7181 (2016). Análise Granulométrica. Rio de
Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 7182 (1986). Ensaio de Compactação. Rio de
Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 9895 (2016). Índice de suporte Califórnia (ISC)
- Método de ensaio. Rio de Janeiro.
Alves, A. B. C. (2002) Avaliação da Capacidade de
Suporte e Controle Tecnológico de Execução da
Camada Final de Terraplenagem Utilizando o
Penetrômetro Dinâmico de Cone. Dissertação de
Mestrado em Engenharia Civil – Universidade
Federal de Santa Catarina. Florianópolis.
Amini, F. (2003). Potential Applications of Dynamic and
Static Cone Penetrometers in Pavement Design and
Construction. Final Report. Department of Civil
Engineering Jackson state University in Cooperation
with Mississippi Department of Transportation and
the U.S. Department of Transportation Federal
Highway Administration. 2003. Disponível em:
<http://www.mdot.state.ms.us/research/pdf/DynConP
n.pdf>. Acesso em: 07 nov 2016.
Benevides, L. D. (2012). Avaliação do uso do DCP em
areias para controle da capacidade de carga em
fundações diretas e controle de compactação de
aterros. Dissertação de Mestrado em Engenharia
Civil – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Natal.
Bernucci, L. B. (2006). Pavimentação Asfáltica:
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Análise dos Efeitos do Aumento de Temperatura de Cura para


Amostras de Areia – Cinza Volante – Cal, em Relação a
Resistência e Durabilidade com Ciclos de Congelamento e
Degelo.
Vinícius Batista Godoy
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, vinigodoy@msn.com

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

Lennon Ferreira Tomasi


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
lennontomasi@hotmail.com

RESUMO: O estudo da aceleração das reações pozolânicas através do aumento da temperatura de


cura contribui para a efetiva aplicação prática da estabilização de solos. Desta forma menos resíduos
provenientes da indústria, como cinza volante, seriam descartados de forma irregular na natureza.
Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivo avaliar a influência da temperatura de cura (23°C e
40°C) para misturas de areia de Osório – cinza volante de carvão – cal dolomítica, em relação a
resistência e durabilidade, com ciclos de congelamento-degelo, de tais misturas. Foram analisados
também o impacto do teor de cal, peso específico aparente seco (γd), cloreto de sódio (NaCl) e
fibras de polipropileno em relação a um aumento de 17°C, com 7 dias de cura. Os ganhos de
resistência a compressão não confinada com o aumento da temperatura foram de 344,5% para os
corpos de prova sem fibra e sem sal, 460,8% para as misturas com sal, 276% para os espécimes com
fibras e 327,0% para os corpos de prova com fibras e sal. Para os espécimes curados a 40°C,
ocorreu um ganho de 23,2% na durabilidade (ciclos de congelamento-degelo) com adição de 0,5%
de sal, 17,4% com adição de fibras de polipropileno e 25,2% com a adição conjunta de sal e fibras.
O aumento da compactação resultou em ganhos de durabilidade de até 48,8% (γd = 14 kN/m³ para
γd = 16 kN/m³), e do aumento do teor de cal dolomítica de até 15,7 % (teor de 3% para 7%).

PALAVRAS-CHAVE: Durabilidade, Resistência, Temperatura, Estabilização.

1 INTRODUÇÃO de prova curados por horas a 48,9 °C e curados


por 30 dias a 21,1 °C. Arabi e Wild (1989)
Como as reações pozolânicas são reações encontraram resultados semelhantes utilizando
endotérmicas, a taxa de crescimento da solos tratados com cal e cinza volante. Consoli
resistência será maior quanto maior a et al. (2001) alegam que embora a resistência à
temperatura de cura. Assim, o aumento da compressão simples de misturas de solo-cinza
temperatura promove um acréscimo da volante-cal, curados a 22°C, seja satisfatória aos
velocidade de tais reações (SALDANHA, 90 dias de cura, sua aplicação fica
2014). comprometida, uma vez que este tempo é
Thompson (1966) observou que é possível considerado inviável para a maioria dos projetos
atingir mesmos valores de resistência em corpos de engenharia. Neste cenário, é possível
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perceber a viabilidade de se utilizar expansivos estabilizados com cinza volante e


temperaturas mais elevadas de cura, diminuindo cal, podem aumentar a resistência à compressão
o tempo necessário para se atingir a resistência simples em até 100%. Já Saldanha et al. (2016)
necessária, já que várias regiões tropicais e analisaram a eficácia do uso de cloreto de sódio
subtropicais apresentam temperaturas altas (NaCl) como catalisador de reações
durante parte do ano, como é o caso da região pozolânicas, aumentando a resistência das
sul do Brasil, onde as temperaturas variam de misturas de cinza volante de carvão e cal de
-15 °C no inverno, a 40 °C no verão (INPE carbureto.
2017). Este fato também indica a necessidade
de se estudar a durabilidade com ciclos de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
congelamento e degelo.
Por meio de ensaios de resistência à 2.1 Materiais
compressão simples e de tração na compressão
diametral, Silvani (2013), analisou a influência A curva granulométrica da areia de Osório é
da temperatura de cura (20, 27, 35 e 50°C, por apresentada na Figura 1, sendo este material do
28 dias) para misturas de areia de Osório-cinza mesmo lote do utilizado na pesquisa de Silvani
volante-cal. A pesquisadora concluiu que ambas (2013).
as resistências aumentam linearmente com o
aumento do teor de cal e exponencialmente com
a redução da porosidade.
É possível perceber que as pesquisas
realizadas, relacionadas a temperatura de cura,
focaram em análises de resistência. Dentro deste
contexto, a presente pesquisa busca a ampliação
do uso das técnicas de estabilização de solos
com resíduos industriais em obras geotécnicas
(como base e sub-base de pavimentos), através Figura 1. Curva Granulométrica da Areia de Osório
do estudo dos efeitos do aumento da (SILVANI, 2013)
temperatura de cura (23°C e 40°C, por 7 dias)
para misturas de Areia de Osório-cinza volante Tal material é classificado como areia fina
de carvão-cal dolomítica com adição de sal uniforme não plástica, com forma de partículas
(NaCl|), como catalisador de reações arredondadas, sem presença de matéria orgânica
pozolânicas, e com adição de fibras de (NBR 6502, 1995). Sendo o peso específico real
polipropileno, como material de reforço. dos grãos de 26,5 kN/m³. A análise
Visando a previsão da resistência à mineralógica mostrou que as partículas de areia
compressão simples (qu) de misturas são predominantemente quartzosas (99%). Os
compactadas com resíduos industriais e cal, grãos da areia puramente fina (S) possuem
Consoli et al. (2011) desenvolveram um diâmetro médio (D50) de 0,16 mm e diâmetro
procedimento de dosagem, onde é relacionado a efetivo (D10) de 0,09 mm, sendo os
resistência com o índice de porosidade/teor coeficientes de uniformidade e curvatura de 2,1
volumétrico de cal (η/Liv). Já Saldanha (2014), e 1, respectivamente. Os índices de vazios
analisando o desempenho de misturas de cinza mínimo e máximo são de 0,6 e 0,9. A cal
volante-cal de carbureto com temperaturas de utilizada nesta pesquisa é do tipo hidratada
cura de 23 e 40°C, obteve um expoente de dolomítica Ca(OH)2, comercialmente chamada
ajuste de 0,11 para o teor volumétrico de cal de “Primor Extra”. Os ensaios de massa
(η/Liv0,11). Kumar et al. (2007) comprovaram específica real da cal seguiram as
que a adição de 1,0 a 1,5% de fibras a solos recomendações da NBR NM 23 (ABNT, 2001),
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obtendo-se um valor de 2,49 g/cm³. A Tabela 1 comprimento, 0,023 mm de espessura e massa


apresenta as propriedades da cal, fornecidas específica real dos grãos de 0,09 g/cm³. As
pelo fabricante, e as exigências limites impostas fibras possuem resistência à tração na ruptura de
pela NBR 7175 (ABNT, 2003). 120 Mpa e alongamento de ruptura de 80%.
Tabela 1. Propriedades da cal hidratada dolomítica.
Limites 2.2 Métodos
Propriedades da NBR Análise
7175
Densidade 0,6 g/cm³ 0,5 g/cm³ 2.2.1 Moldagem e Cura
Perda ao Fogo - 23,3%
Resíduo Insolúvel - 4,7% Os teores de cal aplicados às misturas foram
CO2 (Anidrido Carbônico) 5% 2,2% obtidos pelo método ICL (Initial Consumption
Óxidos Totais 88% 94,8% of Lime), proposto por Rogers et al. (1997). Tal
Óxidos não Hidratados 15% 11%
método afirma que o teor mínimo de cal a ser
CaO - 44,8%
MgO - 27,9%
utilizado na mistura é o percentual no qual o pH
Umidade 1,5% 0,6% atinge um valor máximo e constante. Obteve-se
Resíduo na peneira 0,600 mm 0,5% 0,0% assim, 3% de cal dolomítica, logo, adotou-se
Resíduo na peneira 0,075 mm 15% 8,0% então os valores de 3, 5 e 7% para este trabalho.
Os pesos específicos aparentes secos (γd)
Já as propriedades da cinza volante de carvão utilizados foram baseados nas curvas de
(CFA) utilizada neste estudo são apresentadas compactação obtidas em ensaios de proctor
na Tabela 2. (SILVANI, 2013). Adotando-se os valores de
14, 15 e 16 kN/m³ em relação a uma umidade
Tabela 2. Propriedades Físicas da Cinza volante de
carvão (CFA). de 14%.
Propriedade CFA A porcentagem de CFA foi mantida
Índice de Plasticidade (%) Não
constante em 25% para todas as misturas
Plástico estudadas. Adotou-se teores de 0,5% de fibras
Massa Específica Real dos Grãos 2,10 de polipropileno e sal (NaCl), em relação ao
(g/cm³) peso seco da mistura, com base em experiências
Areia (0,06 mm < diâmetro < 0,2 12,0 prévias (Ibraim e Fourmont 2006, Saldanha,
mm) * (%)
2016, Festugato et al. 2017).
Silte (0,002 mm < diâmetro < 0,06 87,0
mm) * (%) A moldagem foi realizada estaticamente em
Argila (diâmetro < 0,002 mm) * (%) 1,0 três camadas iguais. Ao final do processo,
Diâmetro Médio, D50 (mm) 0,02 pequenas porções da mistura foram retiradas
Coeficiente de Uniformidade 5,0 para controle do teor de umidade.
Coeficiente de Curvatura 1,0 Posteriormente à moldagem, os corpos de prova
Classificação USCS ** ML (Silte) foram extraídos do molde e, com uso de balança
* Distribuição granulométrica baseada na Norma de precisão e paquímetro, obteve-se a massa e
Britânica BS 1377 (British Standards Institution, 1990). medidas (diâmetro e altura) com resolução de
** Classificação Unificada de solos – USCS [ASTM D
2487 (2006)].
0,01 g e 0,1 mm, respectivamente. Após, foi
feito o acondicionamento dos espécimes em
O sal adicionado às misturas é composto sacos plásticos para cura a 7 dias, dentro de uma
essencialmente de cloreto de sódio (NaCl) e câmara de controle de temperatura. Antes de
iodo, sendo o tamanho dos grãos igual ao cada ensaio ser realizado, os espécimes foram
tamanho dos grãos de areia de Osório. Com imersos em água durante 24 horas, visando a
massa específica real dos grãos, após processo redução da sucção (Consoli et al. 2011).
de moagem, de 2,72 g/cm³. Já as fibras de A nomenclatura dos corpos de prova é dada
polipropileno utilizadas, possuem 24 mm de através da Tabela 3.
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Tabela 3. Nomenclatura dos corpos de prova ensaiados. espécimes são escovados com uma força de
Características do Corpo de Prova 13,3 N, adotando-se para isso um número fixo
Nomenclatura
γd (kN/m³) Cal (%) NaCl (%) Fibra (%)
de 19 escovadas em cada ciclo.
γd 14/C5/S0/F0 14 5 0 0
Vale ressaltar que as temperaturas
γd 14/C5/S0/F0,5 14 5 0 0,5
γd 14/C5/S0,5/F0 14 5 0,5 0
indicadas na norma ASTM D 560 (2016), foram
γd 14/C5/S0,5/F0,5 14 5 0,5 0,5 adotadas nesta pesquisa visando uma futura
γd 15/C3/S0/F0 15 3 0 0 comparação com resultados obtidos em outras
γd 15/C3/S0/F0,5 15 3 0 0,5 pesquisas internacionais referentes a este tipo de
γd 15/C3/S0,5/F0 15 3 0,5 0 durabilidade. Como as temperaturas da região
γd 15/C3/S0,5/F0,5 15 3 0,5 0,5 sul do Brasil possuem grande variação de -15
γd 15/C5/S0/F0 15 5 0 0 °C no inverno a 40 °C no verão (INPE 2017), o
γd 15/C5/S0/F0,5 15 5 0 0,5
ideal seria realizar tal ensaio para cada situação
γd 15/C5/S0,5/F0 15 5 0,5 0
e local de implantação da obra geotécnica.
γd 15/C5/S0,5/F0,5 15 5 0,5 0,5
γd 15/C7/S0/F0 15 7 0 0
Simulando assim, de forma mais próxima da
γd 15/C7/S0/F0,5 15 7 0 0,5 realidade, a condição de campo.
γd 15/C7/S0,5/F0 15 7 0,5 0
γd 15/C7/S0,5/F0,5 15 7 0,5 0,5 3 RESULTADOS E ANÁLISES
γd 16/C5/S0/F0 16 5 0 0
γd 16/C5/S0/F0,5 16 5 0 0,5 3.1 Resistência à Compressão Não Confinada
γd 16/C5/S0,5/F0 16 5 0,5 0 (qu)
γd 16/C5/S0,5/F0,5 16 5 0,5 0,5
γd 16/C7/S0/F0 16 7 0 0
A Figura 2 compara os resultados de resistência
γd 16/C7/S0/F0,5 16 7 0 0,5
γd 16/C7/S0,5/F0 16 7 0,5 0
à compressão não confinada (qu) dos espécimes
γd 16/C7/S0,5/F0,5 16 7 0,5 0,5
em relação ao índice η/(Liv)0,11, com
temperaturas de cura de 23°C e 40°C, das
2.2.2 Ensaios de Compressão Simples (não- misturas de areia de Osório-CFA-cal dolomítica
confinada) (a) sem fibras e sem sal, (b) com sal, (c) com
fibra e (d) com fibra e com sal. Já a Figura 3
Os ensaios de compressão seguiram a norma compara todas as curvas anteriormente descritas
ASTM C 39 (2010), com corpos de prova forçando as equações a um mesmo expoente
cilíndricos de 50 mm de diâmetro e 100 mm de comum (-3,5), permitindo assim, a análise
altura. A velocidade de deformação destes numérica da influência de cada elemento da
ensaios foi de 1,14 mm por minuto. mistura e da alteração da temperatura de cura.

2.2.3 Ensaios de Durabilidade – Congelamento-


Degelo

Os ensaios de durabilidade foram realizados de


acordo com a ASTM D 560 (2016), com corpos
de prova cilíndricos de 100 mm de diâmetro e
127,5 mm de altura. Tal norma determina as
perdas de massa geradas durante 12 ciclos de
congelamento-degelo. Cada ciclo inicia-se com
o congelamento do corpo de prova a -23 °C por
24h. Em seguida, o espécime é colocado em
câmara úmida a 21+/-2 °C, com umidade
relativa de 100%, por 23h. Finalmente, os
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cada temperatura de cura. Para as misturas


curadas a 23°C, a adição de fibras de
polipropileno é mais eficaz que a adição de sal.
No entanto, os maiores ganhos de resistência
foram obtidos com a adição conjunta de fibras e
sal.
Já para as misturas curadas a 40°C, a adição
de fibras não conferiu grandes alterações de
resistência. Tal comportamento já foi registrado
anteriormente por Consoli et al. (2009) para
misturas de areia com cimento reforçadas com
fibra. Os autores perceberam que, após certo
grau de cimentação, a adição de fibras diminui a
resistência das misturas, criando “caminhos
internos” no corpo de prova e favorecendo a
formação de planos de ruptura. Logo, as
misturas com 0,5% de sal apresentaram maiores
ganhos de resistência.

Figura 2. qu X η/(Liv)0,11 para misturas de areia de Osório


-CFA-cal dolomítica (a) sem fibra e sem sal; (b) com sal;
(c) com fibra; (d) com sal e fibras, curadas a 23 e 40°C

Em geral, os espécimes curados a 40°C


Figura 3. qu X η/(Liv)0,11 para misturas de Areia de
apresentaram resistências maiores se comparado Osório-CFA-cal dolomítica com aditivos ou não, curadas
aos corpos de prova curados a 23°C, no entanto a 23°C e a 40°C, forçando os expoentes das curvas para
a mistura se comportou de forma diferente para um valor comum
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Para as misturas curadas a 23°C tem-se um


aumento de resistência à compressão simples de
35,6% com a adição de sal, 24,6% com adição
de fibras e 49,5% com adição conjunta de fibras
e sal. Já no caso das misturas curadas a 40°C
tem-se um aumento de resistência à compressão
simples de 71,0% com a adição de sal, 0,5%
com adição de fibras e 43,6% com adição
conjunta de fibras e sal.
Analisando o aumento da temperatura de
cura de 23°C para 40°C, os ganhos de
resistência à compressão não confinada foram
de 344,5% para os corpos de prova sem fibra e
sem sal, 460,8% para as misturas com sal,
276% para os espécimes com fibras e 327,0%
para os corpos de prova com fibras e sal.

3.2 Ensaios de Durabilidade – Congelamento-


Degelo

A Figura 4 expressa os resultados de perda de


massa acumulada (PMA) após 12 ciclos de
congelamento-degelo para corpos de prova
curados a 23°C (linhas em azul) e curados a
40°C (linhas em vermelho).

Figura 4. PMA, com cura a 23°C (azul) e cura a 40°C


(vermelho), para misturas (a) sem fibra e sem sal; (b) com
sal; (c) com fibra; (d) com sal e com fibra.
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Inicialmente é necessário ressaltar que todos corpo de prova γd15/C3/S0/F0 (40°C), com
os espécimes curados a 40°C resistiram aos 12 PMA = 43,9%, uma diminuição de PMA na
ciclos de durabilidade, logo serão utilizados os ordem de 15,7%. No entanto, vale ressaltar que
valores do 12° ciclo nas análises a seguir. A este aumento de durabilidade é proveniente de
adição de 0,5% de sal proporcionou um ganho um aumento de 4% no teor de cal.
de até 23,2% na durabilidade para o corpo de Logo, para as proporções dos materiais
prova γd14/C5/S0,5/F0 (40°C) - PMA = 68,4%, analisados, define-se a seguinte ordem de
quando comparado a mesma mistura sem sal eficácia em termos de maior durabilidade por
[γd14/C5/S0/F0 (40°C), PMA = 91,6%]. A congelamento e degelo, com cura de 40°C:
análise de todos os espécimes testados, Compactação > NaCl + Fibras de polipropileno
revelaram que a adição de 0,5% de NaCl é uma > Fibras de polipropileno ≅ NaCl > Cal.
maneira eficaz para se aumentar a durabilidade Em geral, o aumento da temperatura, de
(congelamento-degelo) das misturas estudadas. 23°C para 40°C durante o tempo de cura,
A adição de fibras proporcionou às misturas proporcionou elevados ganhos de durabilidade
γd14/C5/S0/F0,5 (40°C) um ganho de 17,4% de em relação às misturas estudadas. Uma prova
durabilidade, reduzindo a PMA de 91,6% para disso é que todos os corpos de prova curados a
74,2%. Já a adição conjunta de 0,5% de fibras 40°C sobreviveram aos 12 ciclos de
de polipropileno e 0,5% de sal apresentou o durabilidade, mas nem todos os espécimes
maior ganho deste tipo de durabilidade, para o curados a 23°C sobreviveram à mesma
espécime γd14/C5/S0,5/F0,5 (40°C), com uma quantidade de ciclos.
melhoria de 25,2%. Sendo que o corpo de prova A seguir é comparado os efeitos das duas
não se desintegrou até o 12° ciclo, 9 ciclos a temperaturas de cura aplicadas, tendo por base o
mais que a mistura equivalente sem aditivos. ciclo máximo alcançado dos espécimes curados
Tendo por base as análises de todos os a 23°C, uma vez que o ciclo máximo alcançado
corpos de prova testados, afirma-se que a por estes espécimes é menor do que os curados
inclusão de fibras + NaCl apresenta os melhores a 40°C. Exemplo: um corpo de prova curado a
resultados para durabilidade (ciclos de 23°C que se desintegrou após o 3° ciclo, será
congelamento-degelo) em relação a este tipo de comparado com o respectivo corpo de prova,
mistura. No entanto, não ficou claro qual dos curado a 40°C que sobreviveu aos 12 ciclos,
dois componentes, fibras de polipropileno ou sendo o valor a ser comparado referente ao
cloreto de sódio, proporciona o maior ganho de ganho de durabilidade no 3° ciclo e não no 12°
durabilidade. ciclo. Um resumo dessa comparação em relação
Tendo em vista o aumento da compactação à adição de sal é exposto na Tabela 4.
(γd), o maior ganho de durabilidade ocorreu Tabela 4. Comparação da durabilidade, dos espécimes
para os espécimes com 5% de cal, onde a PMA curados a 23°C e 40°C, com 0,5% de sal adicionado, no
referido ciclo máximo alcançado
foi de 42,8% para γd = 16 kN/m³, enquanto que, Ciclo
para γd = 14 kN/m³, a PMA foi de 91,6%, Nomenclatura do
23°C 40°C máx. a
representando um ganho de 48,8%. Além disso, Corpo de Prova
23°C
percebeu-se que tanto para altos graus de γd14/C5/S0,5/F0 +20,2 % +3,7 % 2°
compactação (γd de 14 para 16 kN/m³) quanto γd15/C3/S0,5/F0 +31,9 % +6,4 % 3°
para baixos graus (γd de 14 para 16 kN/m³), esta γd15/C5/S0,5/F0 +29,4 % +4,6 % 3°
forma de melhoramento apresentou melhores γd15/C7/S0,5/F0 +23,6 % +0,4 % 4°
γd16/C5/S0,5/F0 +30,4 % +10,6 % 8°
resultados que a adição de sal e fibras.
γd16/C7/S0,5/F0 +37,3 % +12,7 % 12°
Já em relação ao aumento do teor de cal, as
É notável que a adição de NaCl é muito mais
maiores mudanças de durabilidade foram
efetiva para os corpos de prova curados a 23°C,
percebidas para o espécime γd15/C7/S0/F0
quando submetidos a ciclos de congelamento-
(40°C), com PMA = 59,6%, em relação ao
degelo. Acredita-se que a menor eficiência da
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adição deste catalisador nos corpos de prova A Tabela 7 compara cada ganho de
curados a 40°C ocorre devido à estrutura dos durabilidade (congelamento-degelo) em relação
espécimes já estarem consolidadas, proveniente ao aumento do grau de compactação em relação
da aceleração pela temperatura das reações entre às misturas estudadas, sendo notável um maior
a cal dolomítica e a cinza volante de carvão. ganho de durabilidade em relação aos corpos de
Comparando os resultados obtidos para os prova curados a 23°C. Já o aumento do teor de
espécimes curados a 40°C com adição de fibras cal possui pequena influência no
(Tabela 5) fica ainda mais nítido que a adição comportamento de durabilidade (congelamento-
de fibras de polipropileno é muito mais efetiva degelo) das misturas de areia de Osório-CFA-
para os corpos de prova curados a 23°C. cal dolomítica, quando curadas a 40°C, se
Acredita-se que a mesma explicação da menor comparadas aos valores de 23°C, como pode ser
eficiência da adição de NaCl à mistura curada a observado na Tabela 8.
40°C pode ser aplicada ao caso da menor Tabela 7. Comparação dos efeitos do aumento da
eficiência da adição de fibras, quando compactação na durabilidade, com temperaturas de cura
de 23°C e 40°C, no referido ciclo máximo alcançado
comparado aos corpos de prova curados a 23°C. Ciclo
Nomenclatura do
Corpo de Prova 23°C 40°C máx. a
Tabela 5. Comparação da durabilidade, dos espécimes
23°C
curados a 23°C e 40°C, com 0,5% de fibras adicionado,
γd16/C5/S0/F0  +37,3 % +3,6 % 3°
no referido ciclo máximo alcançado
γd15/C5/S0/F0
Ciclo
Nomenclatura do γd16/C5/S0/F0  +55,2 % +6,9 % 2°
23°C 40°C máx. a
Corpo de Prova γd14/C5/S0/F0
23°C
γd15/C5/S0/F0 
γd14/C5/S0/F0,5 +29,4 % +1,5 % 2° +25,4 % +5,5 % 2°
γd14/C5/S0/F0
γd15/C3/S0/F0,5 +43,0 % +6,1 % 3°
γd16/C7/S0/F0  +22,2 % +2,1 % 8°
γd15/C5/S0/F0,5 +47,7 % +3,5 % 3°
γd15/C7/S0/F0
γd15/C7/S0/F0,5 +43,6 % +0,1 % 4°
γd16/C5/S0/F0,5 +53,2 % +10,7 % 8° Tabela 8. Comparação dos efeitos do aumento do teor de
γd16/C7/S0/F0,5 +42,2 % +12,6 % 12° cal na durabilidade, com temperaturas de cura de 23°C e
40°C, no referido ciclo máximo alcançado
Como mencionado anteriormente, é possível Ciclo
Nomenclatura do
perceber, tendo por base a Tabela 6, que a Corpo de Prova 23°C 40°C máx. a
adição conjunta de 0,5% de fibras e 0,5% de sal 23°C
proporciona maiores ganhos de durabilidade γd15/C7/S0/F0  +20,0 % +11,3 % 3°
γd15/C3/S0/F0
para os espécimes curados a 23°C. Sendo que a
γd15/C7/S0/F0  +10,7 % +3,6 % 3°
inclusão de fibras e sal possuem melhores γd15/C5/S0/F0
resultados de durabilidade em relação à adição γd15/C5/S0/F0  +9,3 % +7,7 % 3°
apenas de fibras ou só de sal, para 40°C. γd15/C3/S0/F0
γd16/C7/S0/F0  +22,2 % +2,2 % 8°
Tabela 6. Comparação da durabilidade, dos espécimes γd16/C5/S0/F0
curados a 23°C e 40°C, com 0,5% de sal e 0,5% de fibras
adicionados, no referido ciclo máximo alcançado A análise dos dados acima apresentados
Ciclo sugere que o grau de compactação possui maior
Nomenclatura do
23°C 40°C máx. a
Corpo de Prova influência na durabilidade (congelamento-
23°C
γd14/C5/S0,5/F0,5 +49,2 % +0 % 2° degelo) para as misturas curadas a 40°C do que
γd15/C3/S0,5/F0,5 +59,1 % +9,3 % 3° para as curadas a 23°C. Sendo possível definir a
γd15/C5/S0,5/F0,5 +56,6 % +3,5 % 3° seguinte ordem de eficácia em termos de maior
γd15/C7/S0,5/F0,5 +58,5 % +4,4 % 4° durabilidade com ciclos de congelamento-
γd16/C5/S0,5/F0,5 +61,6 % +15,7 % 8° degelo, com 23°C de cura: NaCl + Fibras de
γd16/C7/S0,5/F0,5 +50,0 % +20,4 % 12° polipropileno > Fibras de polipropileno >
Compactação > NaCl > Cal.
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A Figura 5 retrata a normalização da perda


de massa acumulada com o número de ciclos
(PMA/NC) para as distintas misturas estudadas
nesta pesquisa: (a) sem fibra e sem sal, (b) com
sal, (c) com fibra e (d) com fibra e com sal. Os
coeficientes de determinação (R²) das misturas
variaram de 0,77 a 0,95, demonstrando que o
índice η/(Liv)0,11 é uma ferramenta capaz de ser
utilizada na previsão do comportamento a longo
prazo (durabilidade por congelamento-degelo)
das misturas analisadas, com diferentes
temperaturas de cura. Analisando a Figura 6,
fica ainda mais nítido que os espécimes curados
a 23°C perdem mais massa ao longo dos ciclos,
de congelamento e degelo, do que os curadas a
40°C, sendo que não há grandes variações
destas perdas com a adição de fibras e/ou sal
(NaCl) aos espécimes curados a 40°C. Mas tais
aditivos possuem grandes efeitos de ganho de
durabilidade quando incluídos aos corpos de
prova curados a 23°C.

Figura 5. PMA dividida por 3, 6, 9 e 12 ciclos de


congelamento-degelo X η/(Liv)0,11 das mistura (a) sem
fibras e sal: (b) com fibras; (c) com sal; (d) com sal e
fibras, curadas a 23°C e 40°C

4 CONCLUSÕES

• A adição de fibras não conferiu grandes


alterações em qu, para os espécimes curados a
40°C.
• O aumento da temperatura de cura (de 23°C
para 40°C) se demonstrou a forma mais eficaz
de se melhor a resistência da Areia de Osório,
com um aumento de 460,8% para os corpos de
prova com sal.
• Também foi percebido um aumento de
durabilidade (congelamento-degelo) com o
aumento da temperatura de cura de até 25,2%
para os espécimes com adição conjunta de sal e
fibras.
• Pode-se definir uma ordem de eficácia em
termos de maior durabilidade por congelamento
e degelo, com cura a 23°C:
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NaCl + Fibras de polipropileno > Fibras de M.S.; Siacara, A.T.; Nierwinski, H.P.; Pereira, F.;
polipropileno > Compactação > NaCl > Cal Festugato, L. (2017). A general relationship to
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Consoli, N. C.; Prietto, P. D. M.; Carraro, J. A. H.;
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Heineck, K. S. (2001) Behavior of Compacted Soil-
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Consoli, N. C.; Vendruscolo, M. A.; Fonini, A.; Dalla
Rosa, F. (2009) Fiber Reinforcement Effects on Sand
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Consoli, N.C.; Dalla Rosa, A.; Saldanha, R.B. (2011).
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Análise Laboratorial de Misturas Asfálticas com Rejeito de


Ardósia Proveniente da Cidade de Papagaios, Minas Gerais.
Matheus Evangelista Gonçalves Bispo
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, matheusebispo@hotmail.com

Fernando Abecê
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, fernandoabece@gmail.com

Hebert da Consolação Alves


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, hebertalvesa@yahoo.com.br

Rodolfo Gonçalves
Instituto Federal de Minas Gerais, Congonhas, Brasil, rodolfo.goncalves@ifmg.edu.br

Nilton Aparecido de Souza


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, aparecidonilton@outlook.com

Samuel de Mendonça
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, samueldemendonca@gmail.com

Lucas Moreira Araújo


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, lucas_araujo.95@hotmail.com

Edgar Alfredo Sá
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, gagafixe87@gmail.com

Ronderson Queiroz Hilário


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, ronderson@etg.ufmg.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o desempenho mecânico de concretos
asfálticos usinados a quente (CAUQ) utilizando o rejeito ardósia e comparar o desempenho
mecânico do mesmo em relação aos agregados normalmente utilizados. A confecção dos corpos de
prova foi feita de acordo com a metodologia Marshall de dosagem das misturas asfálticas, conforme
especificado na norma DNER-ME 043/95, com distribuição granulométrica na Faixa C do DNIT e
utilizando como ligante o cimento asfáltico de petróleo tipo CAP 50/70. Foram realizados ensaios
para caracterização dos agregados, do ligante asfáltico e das misturas, conforme especificados na
norma DNIT ES 031/2006. A caracterização mecânica das misturas ocorreu por meio dos ensaios de
resistência à tração por compressão diametral (RT), módulo de resiliência (MR), determinação da
estabilidade e fluência Marshall. Os resultados indicam uma utilização favorável desse agregado em
revestimentos asfálticos.

PALAVRAS-CHAVE: Ardósia, mistura asfáltica, rejeito.


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1 INTRODUÇÃO da região e contribui para que o Brasil seja o


segundo maior produtor de ardósia do mundo.
O transporte rodoviário no Brasil é o principal
modal utilizado para a circulação de bens,
serviços e pessoas. Mesmo com propostas de se 2 OBJETIVO
investir em outros meios de locomoção, como
ferroviário e hidroviário, as rodovias ainda O presente trabalho teve como objetivo analisar
serão por muitas décadas a principal matriz de o desempenho mecânico de concretos asfálticos
transporte do país. usinados a quente (CAUQ) utilizando o rejeito
Em 2016, a Confederação Nacional de de ardósia como agregado alternativo e verificar
Transportes (CNT) realizou um levantamento a eficiência do mesmo em revestimentos
sobre a malha rodoviária brasileira. Nessa asfálticos em comparação aos agregados
pesquisa, constatou-se que 12% das rodovias normalmente utilizados. Foi utilizada a norma
são pavimentadas e, desse valor, apenas 43% DNER-ME 043/95, que especifica a
foram classificadas como boas ou ótimas. Nota- metodologia Marshall, com posterior
se que os investimentos na infraestrutura das caracterização mecânica dos agregados.
estradas encontram-se aquém das necessidades
do país, o que afeta o transporte de cargas,
serviços e pessoas. Outro aspecto a destacar são 3 MATERIAIS
os gastos elevados com manutenção das vias,
que pode ser considerado outra dificuldade 3.1 Ligante Asfáltico
enfrentada não só para manter a qualidade das
estradas, mas também para atender a demanda O Concreto Asfáltico de Petróleo (CAP)
desse modal de transporte. utilizado foi do tipo CAP 50/70. Este é
Devido ao contexto apresentado foi proveniente da refinaria de Gabriel Passos
desenvolvido este estudo, com a proposta de (REGAP), pertencente à Petrobras, localizada
utilizar materiais alternativos para compor o na cidade de Betim, Minas Gerais.
revestimento de rodovias. Serão realizadas
misturas asfálticas a quente com rejeito de 3.2 Agregados
ardósia, proveniente da cidade de Papagaios,
Minas Gerais. Os agregados dessa pesquisa foram rejeitos de
A extração de ardósia para ser empregada na ardósia provenientes da cidade de Papagaios
construção civil gera muitos rejeitos. Portanto, (Figura 1), localizada na região central do
há uma preocupação quanto ao meio-ambiente estado de Minas Gerais.
em relação à destinação desses resíduos que, na
grande maioria, são depositados a céu aberto de
maneira definitiva. O estudo desses rejeitos na
composição de misturas asfálticas a quente seria
uma alternativa para mitigar os danos
ambientais, pois além de reduzir os custos de
produção em relação às misturas convencionais
e apresentar desempenho mecânico semelhante,
proporcionaria um retorno financeiro às
empresas de pavimentação.
A escolha desse material para pavimentação
baseou-se na intensidade de sua extração, o que
Figura 1. Agregados utilizados na pesquisa.
interfere diretamente nas atividades econômicas
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Os materiais adquiridos foram submetidos a mistura de projeto se situasse entre os limites


ensaios de caracterização com a finalidade de definidos dessa faixa, conforme apresentado na
verificar a utilização dos mesmos como figura 2.
agregados em misturas asfálticas, segundo as
normas de especificação do DNIT.
Assim, as amostras de ardósia passaram
pelos seguintes ensaios: granulometria, abrasão
Los Angeles, adesividade, massa específica dos
agregados graúdos e miúdos, equivalente de
areia, absorção dos agregados graúdos, índice
de forma e perda ao choque no aparelho Treton.
Os resultados dos ensaios citados estão
representados na tabela 1. A mesma apresenta
os limites estabelecidos pelo DNIT ES 031 e
IPR/1998.

Tabela 1. Parâmetros de caracterização dos agregados Figura 2. Composição granulométrica das misturas
Parâmetro Resultado Limites
Densidade real Para a determinação do teor de ligante ótimo
2,74 -
agregado miúdo(g/cm³) de projeto foram moldados três corpos de prova
Densidade real para cada teor. As porcentagens de teor
2,75 -
agregado graúdo(g/cm³) utilizadas foram: 4,0%, 4,5%, 5,0%, 5,5%,
Densidade aparente
agregado graúdo(g/cm³)
2,71 - 6,0% e 6,5%.
Absorção O seguinte gráfico, representado na figura 3,
0,51 <2 apresenta a variação do volume de vazios (Vv)
agregado graúdo (%)
Equivalente de areia 25,21 > 55 e a relação betume/vazios (RBV) dos corpos de
Índice de forma prova. Ambos os parâmetros são expressos em
0,59 > 0,5
Graduação D função do teor de ligante. A linha azul é
Treton (%) 12 < 60
referente ao Vv, enquanto a de cor vermelha,
Adesividade Satisfatória -
representa a RBV.
Abrasão Graduação B 19,1 < 50
Los Graduação C 17,1 < 50
Angeles(%) Graduação C 17,4 < 50

Observa-se que o agregado apresentou


resultados satisfatórios e dentro dos limites
estabelecidos. O único parâmetro com um valor
abaixo do recomendado foi o de equivalente de
areia.

4 DOSAGEM DAS MISTURAS

Para a composição granulométrica das misturas Figura 3. Vv e RBV em função do teor de ligante
asfálticas adotou-se a faixa C de rolamento do
DNIT (DNER ME 313/97). Portanto, foram Assim, o teor de projeto para a mistura
estabelecidos os percentuais em massa dos asfáltica com rejeito de ardósia como agregado
agregados, de maneira tal que a curva da foi estimado em 4,8%.
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5 ENSAIOS MECÂNICOS 5.2 Ensaio de Módulo de Resiliência (MR)

Foram realizados ensaios de resistência à tração No ensaio de módulo de resiliência os


por compressão diametral (RT), módulo de procedimentos são executados de acordo com a
resiliência (MR), determinação da estabilidade e norma DNER-ME 133/94.
fluência Marshall, com a finalidade de verificar Novamente, três corpos de prova foram
o desempenho mecânico dos corpos de prova posicionados conforme a indica a figura 5. O
com o teor de projeto de 4,8%. módulo de resiliência é a relação entre a tensão
aplicada diametralmente e a deformação
5.1 Ensaio de Resistência a Tração por específica recuperável correspondente a essa
Compressão Diametral (RT) tensão total. Nesse procedimento, a temperatura
ambiente era de 25° C.
Este ensaio foi realizado de acordo com a
norma DNER-ME 138/94, em que três corpos
de prova foram submetidos à compressão
diametral, conforme ilustrado na figura 4, a fim
de se obter a sua resistência à tração.

Figura 5. Ensaio MR

Os resultados para esse ensaio estão contidos


na tabela 3:

Tabela 3. Módulo de Resiliência da mistura asfáltica


Teor de MR Média
Mistura
CAP (%) (MPa) MPa
4,8 18230
Figura 4. Ensaio RT Ardósia
4,8 15477 16591
4,8 16065
Os resultados estão expressos na tabela 2:

Tabela 2. Resistência à tração da mistura asfáltica


5.3 Ensaio de Estabilidade e Fluência
Marshall
Teor de RT Média
Mistura
CAP (%) (MPa) MPa
A estabilidade Marshall é a resistência do corpo
4,8 1,64
Ardósia de prova quando submetido a uma compressão
4,8 1,52 1,58
radial. Já a fluência Marshall é o resultado da
4,8 1,57 deformação total do mesmo corpo de prova
quando imposto a uma carga.
O ensaio foi executado corforme está
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ilustrado na figura 6: granulometria dentro da faixa C de


especificação do DNIT. A tabela 5 especifica os
limites do MR para concretos asfálticos pela
dosagem Marshall, a uma temperatura de 25° C.

Tabela 5. Aplicação do modelo simplificado para


previsão do MR para concretos asfálticos especificados
na faixa C do DNIT (adaptado de Marques, 2004).
Teor MR (MPa) Valores de MR
(%) previsto Mínimo Máximo
4,5 6265 5540 6991
5,0 5942 5217 6668

A tabela menciona os limites do MR para os


teores de projeto de 4,5% e 5,0%. Para o teor de
projeto de 4,8%, pode-se prever que a mistura
asfáltica com a ardósia como agregado possui o
valor do módulo de resiliência médio fora do
Figura 6. Ensaio de Estabilidade e Fluência Marshall intervalo especificado pelo modelo.
O resultado do MR igual a 16591 MPa
Os resultados desse experimento foram encontrado para o material indica uma elevada
obtidos segundo a norma DNER-ME 043/95 e rigidez da mistura asfáltica a 25° C.
estão expressos na tabela 4: No ensaio de estabilidade e fluência Marshall
a mistura asfáltica apresentou um resultado de
Tabela 4. Estabilidade e fluência Marshall estabilidade igual a 13533 N. Portanto, o
Teor Estabilidade Fluência material está dentro das recomendações da
Mistura
(%) (N) (mm) norma DNIT 031/2006-ES, que prevê o valor de
4,8 15778 7,5
5000 N como limite mínimo para estabilidade
Ardósia 4,8 11501
de revestimentos asfálticos.
5,0
Para analisar a viabilidade de um
4,8 13319 6,0
revestimento asfáltico com a ardósia como
Média 13533 6,2 agregado, a proposta é comparar o desempenho
mecânico do material referido com o de uma
mistura asfáltica convencional, em que o
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS gnaisse seja o agregado constituinte.
Sendo assim, são apresentados na tabela 6 os
Para o ensaio RT, a recomendação mínima do parâmetros da mistura comparativa de gnaisse
DNIT é uma resistência à tração de 0,65 MPa. (MCG). O teor de projeto para esse material foi
Observa-se que todos os três corpos de prova definido em 5,0%.
obtiveram um resultado satisfatório.
Assim, a mistura asfáltica com o teor ótimo Tabela 6. Parâmetros mecânicos MCG
de projeto de 4,8 % apresentou uma resistência Teor Estabili- MR RT Fluência
à tração média de 1,58 MPa, um resultado bem Mistura (Mpa) (Mpa)
(%) dade (N) (mm)
superior à recomendação para revestimentos
MCG 5,0 15276 6431 1,46 4,1
asfálticos.
No ensaio MR, Marques (2004) apresenta
um modelo simplificado para misturas asfálticas Comparando-se o desempenho mecânico das
dosadas com o CAP 50/70 e com a misturas asfálticas de ardósia e gnaisse observa-
se que os parâmetros MR e RT do primeiro
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material são superiores ao segundo. A 119-127. São Paulo. 2003. Disponível


estabilidade da mistura de ardósia encontra-se em:<http://www.revistageociencias.com.br/geociencia
s-arquivos/22_2/2.pdf >; Acesso em: 10 dezembro de
inferior em relação à de gnaisse. Porém, esse 2017
valor situa-se acima do mínimo recomendado, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
que justifica a elevada rigidez e resistência ES 313: Pavimentação – Concreto betuminoso. Rio de
mecânica do material. Ainda, pode-se afirmar Janeiro, 1997.
que o teor de projeto da ardósia foi inferior ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 035: Agregados – Determinação da Abrasão “Los
definido para o gnaisse, o que indica uma Angeles”. Rio de Janeiro, 1998.
economia de ligante na confecção dessa mistura Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
asfáltica e, por consequência, um menor custo ME 043: Misturas Betuminosas a Quente – Ensaio
na execução do pavimento. Marshall. Rio de Janeiro, 1995.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 054: Equivalente de areia. Rio de Janeiro, 1997.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
7 CONCLUSÃO ME 078: Agregado graúdo - Adesividade a ligante
betuminoso. Rio de Janeiro, 1994.
As misturas asfálticas com rejeito de ardósia Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 081: Agregados - Determinação da absorção e da
apresentaram um desempenho mecânico
densidade do agregado graúdo. Rio de Janeiro, 1998.
satisfatório, quando comparadas com as Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
misturas com agregados convencionais. ME 083: Análise granulométrica. Rio de Janeiro,
Portanto, conclui-se que os resultados 1998.
indicam uma utilização favorável desse Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 084: Agregado miúdo – Determinação da
agregado em revestimentos asfálticos.
densidade real. Rio de Janeiro, 1995.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 086: Agregado – Determinação do índice de
AGRADECIMENTOS forma. Rio de Janeiro, 1994.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 133: Misturas Betuminosas – Determinação do
Ao Laboratório de Ferrovias e Asfalto (LFA) da
módulo de resiliência. Rio de Janeiro, 1994.
Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
Preto pelo apoio recebido na execução dos ME 138: Misturas Betuminosas – Determinação da
ensaios que compuseram essa pesquisa. resistência à tração por compressão diametral. Rio de
Ao Laboratório de Tratamento de Minérios Janeiro, 1994.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
da Escola de Minas, Universidade Federal de ME 399: Agregado – Determinação de perda ao
Ouro Preto por ajudar a realizar a granulometria choque no aparelho Treton. Rio de Janeiro, 1999.
do pó-de-pedra. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Aos meus pais e minha irmã que sempre DNIT ME 031: Pavimentos Flexíveis – Concreto
deram apoio aos meus estudos. asfáltico – Especificação de serviço. Rio de Janeiro,
2006.
Ao meu Deus, que na sua simplicidade faz Kistemann & Chiodi– Plano de ação para
pequenas coisas se tornarem grandes. sustentabilidade do setor de rochas ornamentais-
Ardósia em Papagaios. 2014. p 50. Disponível em:
<http://www.feam.br/images/stories/2015/PRODUCA
REFERÊNCIAS O_SUSATENTAVEL/LEVANTAMENTOS_SETOR
IAIS/ARDOSIA/impl_plano_acao_ardosia%20-
%201-50.pdf >; Acesso em: 04 de dezembro de 2017
Bernucci, Liedi Bariani et al. Pavimentação Asfáltica-
Marques, G. L. O. Utilização do Módulo de Resiliência
Formação Básica para Engenheiros. Rio de Janeiro.
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3ª reimpressão. Petrobras. Abeda, 2008, p. 20-23
Efeito da Compactação por Impacto e Giratória. Tese
Chiodi Filho, Cid; Rodrigues, Eleno de Paula; Artur,
(Doutorado em Engenharia Civil), Universidade
Antonio Carlos – Ardósias de Minas Gerais, Brasil:
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
Características geológicas, petrográficas e químicas. p
Silva, Marcelo Robrigues Leão – Estudo sobre a
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viabilidade técnica e econômica da utilização de


resíduo industrial de ardósia em mistura asfáltica do
tipo pré misturado a frio. p 34-50. 2017- Rio de
Janeiro- 2014. Disponível em: <
http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_3_tri_2014/RM
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de 2017
Silva, Rodolfo Gonçalves Oliveira da.- Caracterização de
concreto asfáltico elaborado com rejeitos de minério
de ferro do Quadrilátero Ferrífero. 2017. 205 f. Tese
(Doutorado em Geotecnia) - Universidade Federal de
Ouro Preto, Ouro Preto, 2017. p. 133-161. Disponível
em: http://www.repositorio.ufop.br/handle/
123456789/7740 >; Acesso em: 05 de maio de 2018
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Análise Limite usando Programação Semidefinida e Cônica


de Segunda Ordem, com Aplicação em Túneis Rasos
Jhonatan Edwar García Rojas
Pontifícia Universidade Católica de Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, jhongr22@gmail.com

Euripedes do Amaral Vargas Junior


Pontifícia Universidade Católica de Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, vargas@puc-rio.br

Raquel Quadros Velloso


Pontifícia Universidade Católica de Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
raquelvelloso@puc-rio.br

RESUMO: Nesse trabalho é avaliada a solução numérica do colapso na frente de escavação em


túneis rasos através da teoria de análise limite numérico. Utiliza-se o teorema do limite inferior, a
partir da condição de equilíbrio para as condições plásticas, além de considerar o comportamento do
material rígido perfeitamente plástico. O teorema de limite inferior implica em maximizar o fator
multiplicador na carga atuante, portanto a análise limite se torna um problema de otimização. É
avaliada a solução numérica através do método dos elementos finitos em conjunto com as
metodologias de programação matemática cônica de segunda ordem e programação semidefinida,
para isso tem que se adaptar os critérios de ruptura de Drucker Prager e Mohr Coulomb
tridimensional à programação escolhida. Além disso se obteve o mecanismo de colapso através da
propriedade da dualidade do problema de otimização.

PALAVRAS-CHAVE: Túnel Raso, Análise Limite Numérica, Programação Cônica de Segundo


Ordem, Programação Semidefinida, Elementos Finitos.

1 INTRODUÇÃO Problemas de estabilidade em meios


Na escavação em um túnel raso em solos, como geológicos como: a determinação da capacidade
é o caso em áreas urbanas, o problema durante de carga em fundações, a estabilidade de taludes
sua construção é a estabilidade das paredes e da e a estabilidade de escavações subterrâneas são
face na frente de escavação. O foco principal calculados através de soluções analíticas ou
nesse trabalho é a análise da estabilidade da através de métodos numéricos. Dentre os
face na frente de escavação. métodos numéricos, a análise elastoplástica é
Existem diferentes trabalhos que abordam o frequentemente empregada e a mesma utiliza a
problema, desde modelos físicos (Chambon & redução dos parâmetros. Esse método apresenta
Corté, 1994; Sterpi et al., 1996; Kirsch, 2010), dificuldades numéricas quando o nível de
além de modelagem numérica tridimensional carregamento se aproxima a carga de colapso,
através de software de elementos finitos além de solicitarem grande esforço
comerciais (Mafra, 2011; Rocha, 2014; Zamora, computacional. Alternativamente, podem-se
2016,) e análise probabilística (Mollon et al. empregar métodos baseados nas teorias de
2009). Nesse trabalho se faz uma modelagem estado limite, o mais empregado na geotecnia é
numérica tridimensional baseada na análise o equilíbrio limite, e a NLA baseada nos
limite numérica (NLA). chamados teoremas dos limites superior e
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inferior da teoria da plasticidade. (Durand, Entretanto o significado de colapso segundo


2000). Drucker-Prager (1952), refere-se as condições
A instabilidade na frente de escavação para as quais o fluxo plástico ocorreria sob
depende do método de escavação, das condições cargas constantes, com a mudança de geometria
do maciço e das condições externas. As desconsiderada, mas as deformações também
condições internas do maciço são os parâmetros constituem uma variável do problema. Então
do solo e a presença de água enquanto que as isso torna-se uma hipótese simplificativa na
condições externas são o peso das edificações análise limite.
na superfície, a força do suporte atuante na
frente de escavação e as forças externas 2.2 Teorema do Limite Inferior
adicionadas ao peso próprio do túnel.
O colapso não ocorre se o elemento está em um
campo de tensões que satisfaz as equações de
2 ANÁLISE LIMITE equilíbrio e as condições de borde embaixo do
limite (f(ij) 0). (Drucker et al. 1952)
2.1 Hipóteses da Análise Limite Se um campo de tensões ij distribuído em
todo o corpo, satisfaz as condições de equilíbrio
As hipóteses da análise limite são as seguintes com as cargas no contorno e no domínio e não
(Chen, 2008): viola o critério de escoamento (f(ij)0), então
- O comportamento rígido perfeitamente o campo das tensões é estaticamente admissível
plástico do material ignora o endurecimento ou e a carga correspondente é um limite inferior da
amolecimento do material, então a superfície de carga de colapso. (Chen, 2008)
escoamento é fixa. Não depende do histórico de
carregamentos. Além disso, o critério de 2.2 Condição de Equilíbrio
escoamento coincide com o critério de ruptura. .
- Não existem deformações elásticas εije  0 , A condição de equilíbrio definida a partir do
então só existem deformações plásticas εijp . Está princípio do trabalho virtual é usada para o
problema de colapso, justificada pela última
demonstrado (Drucker et al. 1952) que quando hipótese da NLA. Nesta assume-se que as
atinge a carga de colapso as taxas de deformações geradas durante o colapso são
deformação são puramente plásticas, descreve- desprezíveis, então pode-se considerar que
se na equação (1), então no colapso poderia só todas as deformações virtuais são geradas pelo
considerar o comportamento rígido trabalho virtual das forças.
perfeitamente plástico. O princípio iguala a taxa de trabalho de um
deslocamento virtual realizado por forças
εijtotal  εijp (1) externas com a taxa de trabalho interno
associado com as deformações virtuais,
- A superfície de escoamento é convexa e as resultantes dos deslocamentos virtuais, também
taxas de deformação são deduzidas da função chamada de formulação fraca. É apresentada na
de escoamento através da lei de fluxo associada. equação (2) (Davis Selvadurai, 2002)
Qualquer incremento de tensões não ultrapassa
e é tangente à superfície de escoamento.  
 σ ε    u t   u b
p
- As mudanças de geometria do corpo são ij ij dV  i i dS i i dV  (2)
V S V 
consideradas insignificantes quando atinge o
colapso. Do ponto de vista da engenharia, o onde ui é velocidade nodal, ti é força atuante ao
colapso implica a mudança apreciável na
longo da superfície S, bi vetor das forças de
geometria da estrutura sob cargas constantes.
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corpo por unidade de volume V e λ fator de   


colapso.   σN BdV     ti N u dS   bi N u dV 
V S V 

 f ( )  0 (5)
2.3 Implementação Numérica

Para a discretização do problema utiliza-se Uma propriedade do problema primal (5) é


elementos finitos hexaédricos (Figura 1). que tem associado um problema dual, e cuja
solução desse último tem relação com a solução
do problema primal. Além disso, é possível que
conhecendo a solução de um dos problemas
possa se obter a solução do outro. Na
formulação dos teoremas de limite superior e
inferior aproveita-se essa propriedade, então
além das tensões e o fator de colapso pode-se
determinar as velocidades de deslocamento
nodal mas não se pode levar em conta as
unidades dela (Camargo et al., 2016). Nesse
trabalho se aproveitará essa propriedade para
determinar o mecanismo de colapso da
estrutura.

Figura 1. Elemento hexaédrico em coordenadas locais


eg, ng, cg. 3. PROGRAMAÇÃO CÔNICA

A equação (2) pode ser representada através Para resolver o problema de otimização (5)
da formulação dos elementos finitos levando-se deve-se empregar as metodologias de
em conta as seguintes relações: programação matemática, nesse trabalho,
programação cônica de segunda ordem (SOCP)
εi  ui B, ui  ui N u , e programação semidefinida (SDP).
(3)
σ  σN  , ti  ti N u , bi  bi N u
3.1 Adaptação dos Critério de Ruptura
onde B é a matriz da relação deformação-
deslocamento, Nu e a matriz de interpolação A restrição f(ij) 0 (critério de ruptura)
para os deslocamentos e Nσ são matriz de deve-se adaptar de acordo com o tipo de
interpolação para as tensões. programação matemática escolhida. O critério
Finalmente temos que: de Drucker-Prager tridimensional se adapta à
programação SOCP e a SDP, enquanto que o
  critério de Mohr-Coulomb 3D adapta-se apenas
 σN BdV     t N dS   b N dV 
V S
i u
V
i u
(4) a programação SDP.

3.1.1 Drucker-Prager a SOCP


Observa-se que as variáveis da equação (4)
são as tensões σ e o fator de colapso λ, então O critério de Drucker Prager (1952) é
usando o teorema de limite inferior, define-se o expressado em função dos invariantes de
problema de otimização: tensão:
maximizar (λ) f ( )   I1  J 2  k (6)
sujeito a:
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onde:  0 0 0 0 0 0
 1/ 2 0 1/ 2 0 0 0 

I1   11   22   33 (7)  3 / 6 2 3 / 6  3 / 6 0 0 0 (14)
L 
 0 0 0 1 0 0
J2 
1
6

 11   22    22   33    11   33 
2 2 2
 (8)
 0

0 0 0 1 0

 0 0 0 0 0 1 
  122   23
2
  132

Substituindo na equação (10) temos que:


Para o critério Drucker-Prager menos
resistente, os parametros α e k estão
J 2  σ T LT Lσ  Lσ (15)
expressados em função dos parâmetros de Mohr
Coulomb (c coesão e ϕ ângulo de atrito): para o primeiro invariante:
2sen  6c cos  I1  σ T b
 , k (9) (16)
3(3  sen  ) 3(3  sen  )
onde: b={1,1,1,0,0,0}T, então substituindo (15)
Na adaptação consegue-se expressar o e (16) em (6), temos que:
segundo invariante em função da matriz P e o
vetor σ (Makrodimopoulos A. ,2006; Bruno H.  σ T b  Lσ  k  0 (17)
et al., 2017):
A equação (17) pode-se representar de
J 2  σ PσT
(10) forma matricial mais compacta como segue:

onde: ρ  Qσ  q (18)

σ  {11 ,  22 ,  33 ,  21 ,  31 ,  32 }T (11) O vetor ρ={ρ1,ρ2,ρ3,ρ4,ρ5,ρ6}T pertence ao


espaço cônico quadrático K
 2 1 1 0 0 0       
2 2 2 2 2 , o vetor
 1 2 1 0 
1 2 3 4 5 6

 0 0 q={k,0,0,0,0,0}T e a matriz Q é:
1  1 1 2 0 0 0 (12)
P  
60 0 0 1 0 0     0 0 0
0 0 0 0 1 0  1/ 2 0 1/ 2 0 0 0 
  
0 0 0 0 0 1  3 / 6 2 3 / 6  3 / 6 0 0 0 (19)
Q 
 0 0 0 1 0 0
A matriz P pode-se expressar da seguinte  0 0 0 0 1 0
maneira:  
 0 0 0 0 0 1 

P  V T DV  V T D1/2 D1/2V  LT L (13) Obtendo σ:

Onde V é a matriz dos autovetores de P e D é


σ  Q 1 ρ  Q 1q (20)
a matriz diagonal dos autovalores de P.

Então a matriz L é: Finalmente, substituindo (20) em (5), temos


que o problema de otimização é:
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maximizar (λ) Uma das três soluções é:


sujeito a:
 1  
  Q ρN  BdV   Q qN  BdV     ti N u dS   bi N u dV 
1
t   3   3  s1  t , s1  0 (28)
V V S V 

 ρ  K
Similarmente na equação (26)
(21)
det( Z )  ( 1  k  at )( 2  k  at )
3.1.2 Mohr-Coulomb a SDP (29)
( 3  k  at )  0
O critério de Mohr-Coulomb é expressado Então uma das outras três soluções é:
em função das tensões principais (Krabbenhoft,
K. et al.,2007; Martin et al., 2008): (k  at )  1  1  s2  k  at, s2  0 (30)

1  a 3  k (22) Das equações (28) e (30), conclui-se que:

onde: 1  a 3  as1 s 2  k (31)

1  sen 2c cos  com as variáveis de folga (slake variable)


a , k (23)
1  sen 1  sen s1=s2=0 obtemos a equação (22).

onde as tensões principais são os autovalores do Através das desigualdades (27) e (29) pode-
tensor de tensões σij (σ1≥σ2 ≥σ3): se obter seis soluções, cada uma delas
representa um dos seis planos da envoltória
 11  12  13  tridimensional do critério de Mohr-Coulomb.
σij   21  22  23  (24) Então as variáveis semidefinidas do critério
 31  32  33  de Mohr Coulomb são:

t   11  21  31 
Define-se duas restrições semidefinidas X e 
X    21 t   22  32  (32)
Z:
  31  32 t   33 
X  σij  tδij 0 (25)
 k  at   11  21  31 
Z  σij  (k  at )δij 0 (26) 
Z    21 k  at   11  32  (33)

  31  32 k  at   11 
onde t é uma variável auxiliar. Para provar a
adaptação deve-se empregar propriedades as
Finalmente, o problema (5) fica expresso da
matrizes semidefinidas positivas. Então,
seguinte forma:
lembrando a propriedade dos autovalores: se
B=A+nI e os autovalores de B são λi então maximizar (λ)
λ1xλ2x...xλn=det(B) além se então sujeito a:
. Então, aplicando na equação (25),  
temos:  σN BdV     t N
V S
i u dS   bi N u dV 
V 
X 0 (34)
det( X )  (1  t )( 2  t )( 3  t )  0 (27) Z 0
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4. RESULTADOS
a)
O exemplo avaliado nesse trabalho é baseado
no modelo físico feito por Sterpi, D. et al.,
(1996). Na Figura 2 mostra-se a geometria e
malha de elementos hexaédricos.

b)

Figura 2. Geometría do tunel , profundidade variável C


e diâmetro D =1.145(metros). Malha de elementos c)
hexaédricos

As propriedades do solo homogêneo sem


presença de água são: peso específico de
14.2kN/m³, ângulo de atrito pico 32° e o ângulo
de atrito residual 24° e coesão 1kPa. A análise é
tridimensional mas só serão apresentados os
resultados gráficos no eixo de simetria do túnel.
Primeiramente, o problema de otimização
(21) e (34) é achar λ quando somente atua o
peso próprio através de SOCP (Figura 3) e SDP
(Figura 4).

Figura 3. Curvas iso velocidade para SOCP para relações


de a) C/D=0.5, b) C/D=1.0 c) C/D=1.5. Sem aplicação de
força externa.
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satisfazer a condição de equilíbrio. Então as


a) variáveis dos problemas (21) e (34) são as
tensões e a Fext, a última vai substituir a ti.
Foram feitas as duas programações para ângulo
de atrito de 32 graus e coesão 1kPa (Figura 5) e
para ângulo de atrito de 24 graus e coesão 1kPa
(Figura 6).

a)

b)

b)

c)

Figura 5. Curvas iso velocidade para a) SOCP e b) SDP,


para relação C/D=1.0. Com aplicação de força externa.

Figura 4. Curvas iso velocidade para SDP, para relações


de a) C/D=0.5, b) C/D=1,0 c) C/D=1.5. Sem aplicação de
força externa.

Em seguida, a determinação da força externa


superficial (Fext) atuante na frente de avanço
do túnel até λ atingir o valor de 1.0 para
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5. CONCLUSÕES
a)
Comparado os resultados do fator de colapso
em relação à profundidade do túnel para cada
tipo de programação, o fator de colapso com
SOCP tem um desvio padrão de 0.06% (Figura
3), enquanto que com a programação SDP tem
um desvio padrão de 0.66% (Figura 4).
Finalmente, conclui-se que o fator de colapso
não depende da profundidade do túnel e se
obtém um maior desvio com SDP do que com
SOCP.
Comparando em relação à profundidade,
observa-se que até a curva de iso velocidade a
b) zona de colapso visualmente de 1e-04 não
possui muita diferença, ou seja, a curva de iso
velocidade 1e-05 possui maior variação, a
mesma observação para SOCP e SDP. (Figura 3
e Figura 4).
Observa-se que a diferença dos resultados
com SOCP e SDP, não ocorre apenas pela
programação usada mas também pelos
diferentes critérios implementados.
Visualmente observa-se que os gráficos
apresentam o efeito chaminé que é descrito
pelos modelos físicos desenvolvidos por
Chambon, P., & Corté, J. (1994); Kirsch, A.
(2010). Em comparação com os modelos
Figura 6. Curvas iso velocidade para a) SOCP e b) SDP,
físicos, nos exemplos trabalhados, o efeito de
para relação C/D=1.0. Com aplicação de força externa.
chaminé concordaria apenas até a velocidade
A continuação se mostra na Tabela 1 com o 1e-04 nas duas programações.
resumo dos resultados numéricos com maior Na Tabela 1 percebe-se que o tempo de
detalhe. solução com SDP pode ser até 30 vezes o tempo
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de solução com SOCP. Isto ocorre, pois, o (Doutorado) – PUC Rio, Departamento de Engenharia
resultado depende do maior número de Civil, Rio de Janeiro. 170p.
Krabbenhoft, K., Lyamin, A. V., & Sloan, S. W. (2007).
iterações, de variáveis escalares, variáveis Three-dimensional Mohr-Coulomb limit analysis
semidefinidas e maior número de restrições. O using semidefinite programming. Communications in
processador usado é Intel Core i7-7700-CPU Numerical Methods in Engineering, 24(11), 1107-
3.60GHz. 1119.
No resultado da variação do ângulo de atrito Kirsch, A. (2010). Experimental investigation of the face
stability of shallow tunnels in sand. Acta
nota-se que para 32 graus (Figura 5) é provável Geotechnica,5(1), 43-62.
que a zona de colapso não atinja a superfície Mafra, G. (2011). Análise por elementos finitos de
para as duas programações. Entretanto, para 24 maciços escavados por túneis. Dissertação
graus (Figura 6) possui maiores velocidades na (Mestrado). Escola Politecnica da Universidade de
superfície, por isso é mais provável que a zona São Paulo, Departamento de Estruturas e da
Geotecnia, São Paulo. 102p
de colapso atinja a superfície para as duas Makrodimopoulos, A. (2006). Computational formulation
programações. of shakedown analysis as a conic quadratic
Era esperado que a diferença de forças optimization problem. Mechanics Research
externas aplicadas na frente de avanço fosse Communications, 33(1), 72-83.
Martin, C. M., & Makrodimopoulos, A. (2008). Finite-
menor para formulação com SDP e Mohr
Element Limit Analysis of Mohr–Coulomb Materials
Coulomb do que para a formulação com SOCP in 3D Using Semidefinite Programming. Journal of
e Drucker Prager (menos resistente ou de Engineering Mechanics, 134(4), 339-347.
extensão) (Tabela 1). Sterpi, D., Cividini, A., Sakurai, S., Nishitake, S.(1996):
Laboratory model tests and numerical analysis of
shallow tunnels. In: Barla, G. (ed.), Proc., Int. Symp.
Eurock ‘96 – ISRM, Torino, Vol 1. Balkema,
AGRADECIMENTOS Rotterdam, 689–696.
Rocha, M.O., (2014). Estudo de estabilidade da frente de
Os autores agradecem à CAPES pelo suporte escavação de túneis rasos em solo. Dissertação
a este trabalho. (mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais,
Escola de Engenharia, Minas Gerais.138p.
Zamora, Y.H. (2016). Comportamento da Frente de
Escavação de Túneis Rasos. Dissertação (Mestrado),
REFERÊNCIAS Universidade de Brasília, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Brasília.79 p.
Bruno H., Barros G., Martha L., Menezes I. (2017)
Formulação e solução de problemas de retorno à
superfície de escoamento via programação cônica.
CILAMCE, ABMEC, Florianópolis, SC, Brazil.
Camargo, J., Velloso, R. Q., & Vargas, E. A. (2016).
Numerical limit analysis of three-dimensional slope
stability problems in catchment areas. Acta
Geotechnica, 11(6), 1369-1383.
Chambon, P., & Corté, J. (1994). Shallow Tunnels in
Cohesionless Soil: Stability of Tunnel Face. Journal
of Geotechnical Engineering, 120(7), 1148-1165.
Chen, W. (2008). Limit analysis and soil plasticity. Fort
Lauderdale: J. Ross Publishing.
Davis, R. O., & Selvadurai, A. P. (2002). Plasticity and
geomechanics. Cambridge: Cambridge Univ. Press.
Drucker, D. C., & Prager, W. (1952). Soil mechanics and
plastic analysis or limit design. Quarterly of Applied
Mathematics, 10(2), 157-165.
Farfan, A. D (2000). Aplicação da análise limite a
problemas geotécnicos modelados como meios
contínuos convencionais e meios de cosserat. Tese
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Análise numérica de fundações estaqueadas compostas por estacas


de pequeno diâmetro
Jean Rodrigo Garcia
UFU, Uberlândia, Brasil, jean.garcia@ufu.br

Paulo José Rocha de Albuquerque


Unicamp, Campinas, Brasil, pjra@fec.unicamp.br

RESUMO: Este trabalho analisou numericamente o comportamento de duas fundações estaqueadas,


simuladas a partir de blocos compostos de uma estaca, com e sem contato com o terreno superficial
(bloco-terreno). A estaca modelada possui 5 m de comprimento e 0,25 m de diâmetro (D). O
sistema de fundação foi simulado por meio de radier estaqueado e por análise tridimensional (3D)
em elementos finitos com o software LCPC-Cesar. Na análise da distribuição das parcelas de
resistência entre atrito lateral e ponta para o grupo de estacas, verificou-se que a mobilização do
atrito se dá do topo para a ponta, sendo observado valores de 5% para a ponta e 95% por atrito
lateral. No caso do radier estaqueado, a presença do elemento superficial (radier) em contato com o
solo modifica a maneira como a resistência é mobilizada. Foram obtidos uma contribuição de 40 %
devido ao contato e de 60 % devido as estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Fundação Estaqueada, Análise Numérica, Estaca Escavada.

1 INTRODUÇÃO com estacas. Segundo Ottaviani (1975), o


elemento de fundação superficial (radier ou
A engenharia geotécnica tem estudado novas bloco) atua como um obstáculo à transmissão
formas de aproveitamento da capacidade de da carga por atrito e, portanto, aumenta a
carga e do controle do recalque, visando parcela de carga transferida à ponta da estaca.
otimizar o projeto convencional de fundações. Com isso, os recalques do grupo dependem da
Nesse sentido, fundações estaqueadas, passaram extensão e espessura da camada compressível
então a admitir a contribuição do contato do localizada abaixo da ponta da estaca, enquanto
bloco-solo, conceitualmente denominado radier que, para estacas isoladas, a influência dessa
estaqueado. Segundo Akinmusuru (1980), a camada não é significativa.
capacidade de carga do radier estaqueado não é Quanto ao comportamento carga vs recalque
apenas a soma algébrica das capacidades de uma fundação com a presença de um
individuais de cada elemento do conjunto, elemento superficial associado a uma estaca, o
porém, poderá ser maior, em face da interação primeiro trabalho teórico pode ser atribuído a
existente entre as partes; e em função de Poulos (1968) (Figura 1). O autor, considerou a
características próprias do conjunto ensaiado e interação estaca/bloco para uma estaca isolada
do tipo de solo e da contribuição do radier na sob um radier em contato com o solo,
capacidade de carga pode variar. O autor considerando o solo como um semiespaço
concluiu que a capacidade de carga de uma elástico e o radier em contato com o solo,
sapata estaqueada é superior à soma algébrica coroando as estacas como um elemento rígido.
da capacidade de carga da sapata isolada e do Denominando-se por “L” o comprimento da
grupo de estacas, ou seja, há uma interrelação estaca, “d” o diâmetro da estaca e “dc” o
entre a fundação superficial com a fundação diâmetro do radier circular com contato. O
profunda quando se utiliza o sistema de sapatas autor concluiu que, quanto menor o
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comprimento da estaca em relação ao seu processo 2011/17.959-3, e que resultou a tese


diâmetro (L/d), maior a influência do contato na de doutorado do primeiro autor.
redução de recalques (Figura 1). Também
observou que para estacas curtas (L/d < 10) a 1.1 Modelagem numérica
existência do contato não deve ser desprezada.
As dimensões do modelo numérico foram
atribuídas em função de testes realizados para
garantir que as condições de contorno
atribuídas nas extremidades dos problemas,
pudessem ser consideradas como indeslocáveis
ou que possuíssem deslocamentos muito baixos,
consequentemente, não exercessem influência
no resultado das análises (Garcia, 2015).
Segundo Brinkgreve et al (2002), os limites do
Figura 1. Efeito do contato em estaca isolada (modificado modelo devem ser definidos em distâncias
de Poulos, 1968). suficientes, ou seja, de forma que a influência
das deformações nos limites do contorno sobre
Abbas et al (2008) estudaram o efeito do a fundação sejam minimizadas. Os nós em
contato por intermédio de testes realizados em ambos os limites laterais do modelo são fixos
grupo de estacas, submetidos à carga axial contra o movimento horizontal (x = 0), porém
através de análise em 2D por elementos finitos. livres para se mover na direção vertical.
Nesse estudo o autor verificou que para o Enquanto isso, nós no limite inferior do modelo
sistema radier com estacas rígidas é são fixados contra ambos os movimentos
influenciado pela espessura do radier verticais e horizontais (x = y = 0), enquanto
estaqueado. Para estacas curtas a espessura do que o limite superior é livre para se mover em
radier implica um elemento de contato mais ambas as direções, conforme Figura 2.
flexível. As forças de cisalhamento são afetadas
pela localização das estacas no interior do
grupo, assim como o estado de carregamento e
a fixação da cabeça da estaca (engastamento).
O efeito de contato de um radier em um
grupo de estacas se aproximará do
comportamento de radier estaqueado quanto
maior for a resistência do solo abaixo do radier
(Balakumar e Anirudhan 2011).
Pode-se concluir que, mesmo para pequenos
grupos de estacas, o contato entre o radier que
Figura 2. Modelo Numérico (Brinkgreve, Swolfs e
coroa as estacas e o solo, tende a produzir um Engine 2002).
comportamento dúctil e de puncionamento na
ruptura, e obviamente, esse efeito é ainda mais 2 METODOLOGIA
evidente para os grandes radiers estaqueados.
Com esse comportamento, o foco do projeto 2.1 Características geológicas-geotécnicas
tende a mover-se de sua capacidade de suporte
ao recalque (Viggiani et al, 2012). Na análise numérica empregada, adotou-se os
Este artigo é fruto dos resultados obtidos do parâmetros do subsolo da região de Campinas,
projeto de pesquisa Fapesp, intitulado “Análise mais exatamente do Campo Experimental de
do comportamento de radiers estaqueados em Mecânica dos Solos e Fundações da Unicamp,
solo de diabásio da região de Campinas/SP”, cujo perfil é constituído por solo de Diabásio,
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apresentando uma camada de 9 m de espessura, das tensões aplicadas, obedecendo a um


constituída na sua maior parte por silte arenoso comportamento tensão vs deformação não
e areia siltosa de elevada porosidade. O nível de linear. A malha de elementos finitos foi
água não é encontrado até o impenetrável (9 m). composta por elementos de formato triangular
Os parâmetros do solo utilizados foram de interpolação quadrática, os quais foram
obtidos dos ensaios laboratoriais realizados por extrudados a cada metro em profundidade.
Gon (2011), com amostras deformadas e
indeformadas, através da abertura de um poço
de prospecção. Tais amostras foram coletadas a
cada metro de profundidade e permitiram a
realização de ensaios de caracterização e de
determinação das propriedades de resistência,
permeabilidade e compressibilidade do solo.
Foram realizados ensaios de limites de
Atterberg, ensaios de granulometria conjunta
(com e sem defloculante), ensaios de
adensamento para determinação das tensões de
pré-adensamento e parâmetros de Figura 3. Dimensão da malha de elementos finitos e
compressibilidade (Cv e Cc) e ensaios condições de contorno.
edométricos duplos e simples. Ou seja, foram
realizados ensaios com inundação da amostra As propriedades atribuídas às diferentes
desde o início dos carregamentos e inundação camadas de solo e rocha seguiram o critério de
em tensões pré-determinadas para verificação Mohr-Coulomb, ou seja, são inseridos os
do potencial de colapsibilidade em todas as valores de peso específico (), coesão (c),
profundidades. Os parâmetros de ângulo de atrito (), módulo de deformação (E)
permeabilidade foram determinados por meio e coeficiente de Poisson (). Para os materiais
do ensaio de percolação hidráulica, tanto na de comportamento frágil (Modelo Parabólico),
direção vertical quanto na horizontal. No local no caso o concreto, foram atribuídos valores de
também foram realizados ensaios SPT e CPT. resistência à compressão (Rc), tração (Rt), peso
específico, módulo de deformação e coeficiente
2.2 Análise numérica de Poisson. Para repretesentar o contato estaca-
solo e bloco-solo empregou-se o tipo Coulomb
A modelagem numérica realizada neste trabalho friciton. Utilizou-se o software CESAR v.5 da
foi feita a partir de ¼ do problema em questão Itech-soft nas análises numéricas aqui
devido à simetria ao longo do eixo da estaca e apresentadas.
do radier, resultando em um bloco retangular de Os parâmetros empregados nas análises
seção 25 m x 25 m e com profundidade em numéricas para o solo são apresentados na
função do comprimento total da estaca (Figura Figura 4. Tratam-se de parâmetros médios
3). adotados para fins de uma avaliação qualitativa,
Essas dimensões foram atribuídas em função e não com o objetivo de analisar um solo
de testes realizados para garantir que as específico. Na Tabela 1, apresentam-se os
condições de contorno conferidas nas parâmetros utilizados para representar o
extremidades dos problemas, pudessem ser concreto armado do radier e estacas.
consideradas como indeslocáveis ou que Na Figura 4 é possível observar as
possuíssem deslocamentos muito baixos e, propriedades geotécnicas médias das camadas
consequentemente, não poderiam exercer do subsolo local. Assim como, os valores
influência no resultado das análises. Utilizou-se obtidos nos ensaios de cone, resistência de
um modelo elasto-plástico que varia em função ponta (qc), atrito lateral (fs) e NSPT no ensaio
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SPT. resultou em uma curva com deslocamentos


menores em relação ao tipo radier estaqueado
(CC1).
As curvas carga vs recalque em ambos os
casos apresentaram concordância entre o 1º e 5º
estágios de carregamento, revelando a não
influência do efeito de contato sobre o
comportamento das fundações. Entretanto,
depois do 5º estágio, a curva carga vs recalque
do bloco sem contato (SC1) não apresentou
deslocamentos na mesma razão que aqueles
observados na curva do radier estaqueado CC1
(bloco com contato), ou seja, a ausência de
contato radier solo propiciou aumentar a
capacidade de carga da fundação, entre o 6º e o
9º estágios de carregamento, verificada pelos
menores deslocamentos em relação ao radier
estaqueado. Consequentemente, a “ruptura” do
bloco sem contato (SC1) é mais abrupta em
relação ao obtido pelo radier estaqueado
(Figura 5).
Figura 4. Parâmetros geológicos e geotécnicos médios do
campo experimental

Tabela 1. Parâmetros de resistência e deformabilidade do


concreto.
Material E  Rc Rt 
Concreto 25.000 25 25 2,5 0,2
: kN/m3; E: MPa; Rc: MPa; Rt: MPa.

O carregamento foi aplicado no topo do


sistema de fundação e posteriormente
determinou-se a carga no topo e na ponta da
Figura 5. Curvas carga vs recalque dos radiers
estaca, com a finalidade de avaliar o mecanismo estaqueados CC1 e SC1.
de distribuição de carga em profundidade,
assim como avaliar as parcelas de contribuição Como não há contato no caso do bloco sem
de cada elemento (estaca e radier) na contato (SC1), toda a capacidade de carga é
capacidade do radier estaqueado. proveniente do elemento de fundação profunda
em estaca, distribuida entre as parcelas de atrito
lateral e ponta (Figura 6). Verificou-se que a
3 RESULTADOS E ANÁLISES mobilização do atrito se dá do topo para a
ponta, não sendo observados valores
As análises numéricas foram realizadas significativos de ponta nos primeiros estágios.
consdierando as fundações estaqueadas como Até o 5º estágio registrou-se participação da
sendo, radier estaqueado (bloco em contato com resistência de ponta menor que 1%, chegando
o terreno ou CC1) e bloco estaqueado (sem ao 10º estágio com apenas 5% para a ponta e
contato ou SC1). O resultado da simulação 95% por atrito lateral. No caso do radier
numérica da fundação sem contato (SC1) estaqueado CC1, a presença do bloco em
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contato com o terreno alterou a forma como a apresentou deslocamentos menos acentuados
resistência foi mobilizada na estaca. A parcela em relação ao radier estaqueado CC1.
de ponta registrada foi de 1% logo no 1º estágio A situação apresentada no parágrafo anterior
de carregamento e aumentou para 4% (5º revela que em termos de capacidade de suporte
estágio), atingindo o valor máximo de 11% (10º tem-se equiparação entre o radier estaqueado
estágio) Figura 6. analisado numericamente (CC1) e o bloco de
Como a resistência do radier estaqueado estaca sem contato (SC1). No entanto, o fator
(bloco em contato com o terreno) é superior ao diferenciador entre a presença do contato bloco-
do bloco sem contato (SC1), por fatores terreno ou a sua ausência, está diretamente
relativos a rigidez e resistência da estaca em relacionado ao fato desse efeito (contato)
relação ao radier estaqueado (CC1), a propiciar a ocorrência de deslocamentos
participação por atrito lateral é maior no caso (recalques) mais acentuados; provavelmente
do bloco estaqueado SC1, ao passo que a relacionados ao comportamento que o elemento
resistência de ponta é mais expressiva para o de fundação superficial (bloco) impõe ao
radier estaqueado (CC1). Tal fato pode ser conjunto radier estaqueado (fundação
atribuído à diferença de mobilização da superficial + fundação profunda).
resistência da estaca ocorrer da ponta para o
topo, no caso do radier estaqueado (CC1), e do
topo para a ponta, no caso bloco de estaca sem
contato (SC1). Assim, como observado na
literatura, o comportamento de radier
estaqueado é marcado pela mobilização da
ponta para o topo da estaca, devido ao contato
do radier solo.

Figura 7. Fator de segurança e recalque entre os radiers


estaqueados CC1 x SC1.

De acordo com as análises apresentadas


anteriormente, realizou-se a normalização dos
recalques dos conjuntos CC1 e SC1,
comparando-se estes ao fator de segurança
(Figura 8) e a carga normalizada (Figura 9).
A redução do fator de segurança para bloco
(SC1) apresenta convergência assintótica
Figura 6. Distribuição de carga entre CC1 x SC1 . quando o fator de segurança chega próximo a
1,5 (Figura 8). Diferentemente do que ocorre
Em relação ao fator de segurança (FS), com a curva do radier (CC1), que inicia uma
houve uma pequena diferença em relação à tendência de convergência discreta quando o
capacidade de carga demonstrada pela CC1 é menor que 2,0. Dessa forma, verifica-se
concordância dos fatores de segurança obtidos que os deslocamentos são visivelmente mais
para cada radier, em praticamente todos os acentuados no caso do radier (CC1), em relação
estágios de carregamento (Figura 7). Entretanto, ao bloco (SC1). O radier CC1 iguala-se ao
ambos os radiers apresentaram FS < 1,0 para o comportamento do bloco SC1 somente quando
estágio de carregamento final, ou seja, nos dois o recalque normalizado (w/B) é igual a 7,5%.
casos (CC1 e SC1), apresentaram carga de O comportamento da carga e recalque
ruptura menor que a máxima, mesmo normalizados, ou seja, a carga de cada estágio
registrando-se que a curva do bloco SC1 divido pela carga última de ensaio, corrobora as
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análises efetuadas anteriormente, ou seja, o perda de resistência por atrito lateral, levando
bloco SC1 apresenta a tendência de suportar ao seu esgotamento e ocasionando uma
cargas mais elevadas (entre estágios) mantendo mobilização prematura da ponta nos primeiros
os deslocamentos abaixo de 5% (0,85 da carga estágios de carregamento.
normalizada) (Figura 9). A partir desse ponto,
os deslocamentos acentuam-se, porém 4 CONCLUSÕES
permanecem inferiores aos observados no
radier CC1. Diante das análises e discussões foi possível
elencar as seguintes conclusões:

- O uso de fundação trabalhando como radier


estaqueado em argila porosa, é factível desde
que sejam tomadas medidas que garantam o
desempenho da camada de solo superficial.
Nesse sentido, os efeitos de colapsibilidade e
tensão admissível efetiva do solo superficial
devem ser levados em consideração na
elaboração do projeto geotécnico.
- O emprego do radier estaqueado permite
Figura 8. Recalque médio normalizado com fator de otimizar técnica e economicamente o projeto
segurança global dos conjuntos CC1 x SC1.
geotécnico, independente da forma e magnitude
dos carregamentos, pois este tipo de fundação
admite como capacidade de carga, a
combinação das resistências provenientes das
estacas e do radier;
- Os resultados demonstraram que no caso do
funcionamento como bloco de estaca (isolado),
toda a capacidade de carga é proveniente do
elemento de fundação profunda em estaca.
- A distribuição das parcelas de resistência entre
atrito lateral e ponta para o grupo de estacas a
mobilização do atrito se dá do topo para a
Figura 9. Recalque médio normalizado e carga ponta, sendo observado valores de 5% para a
normalizada - CC1 x SC1. ponta e 95% por atrito lateral.
- A presença do elemento superficial (bloco) em
As análises numéricas mostraram-se contato com o terreno modifica a maneira como
adequadas para a obtenção das parcelas de a resistência é mobilizada, resultando neste caso
resistência e na avaliação do comportamento, em uma contribuição de 40 % devido ao contato
devido ao efeito do contato em radiers bloco-solo e de 60 % devido a estaca. As
estaqueados. análises numéricas de grupos de estacas,
O bloco estaqueado SC1 apresentou carga de comparadas aos radiers estaqueados,
ruptura de 192 kN, frente a 184 kN do radier demonstraram que a maior participação da
estaqueado CC1, ou seja, 4,3 % maior. Tal fato resistência de ponta é gerada em função da
pode ser atribuído ao efeito causado pelo existência do efeito de contato.
contato bloco-terreno, que pode ter alterado no - A presença do contato do elemento com o solo
equilíbrio do estado de tensões (σv' e σh') nos resultou em maiores deslocamentos
primeiros metros do fuste da estaca, próximo ao comparando com o sistema sem contato.
seu topo. Paralelamente, pode ter provocado a
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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP pelo apoio à


realização deste artigo por meio do projeto de
pesquisa intitulado “Análise do comportamento
de radiers estaqueado em solo de diabásio da
região de Campinas/SP”, processo
2011/17.959-3.

REFERÊNCIAS

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Análises Numéricas de Aterros Estaqueados Submetidos a


Carregamento Assimétrico
Lívia Mazzeu Grizendi
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, liviamazzeu@hotmail.com

Mario Riccio Vicente Filho


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@gmail.com

RESUMO: Solos moles, em sua maioria, apresentam baixa resistência ao cisalhamento e grande
compressibilidade, tornando-se susceptíveis a recalques e rupturas. Assim, quando solicitados,
apresentam necessidade de técnicas construtivas que viabilizem execuções de aterros sobre os
mesmos. Este trabalho analisa aterros apoiados em laje estaqueada. De modo geral as estacas
costumam ser dimensionadas considerando apenas esforços axiais. Entretanto, mediante a
carregamentos assimétricos acidentais, surgem momentos fletores e esforços cortantes adicionais,
que podem ocasionar rupturas. Estes esforços são analisados através da variação de parâmetros,
como altura do aterro, magnitude do carregamento assimétrico e tempo de adensamento, além da
comparação com a técnica com uso de geossintético. Os resultados são dispostos em termos de
momentos fletores e esforços cortantes nas estacas. Observou-se que todas as variações de
parâmetros promovem alterações dos valores dos esforços. As análises numéricas, diferentemente
de modelos analíticos, possibilitam a determinação dos esforços em todas as estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro, Laje Estaqueada, Solo Mole, Análise Numérica, Carregamento


Assimétrico, Esforços em Estacas.

1 INTRODUÇÃO

Ao se tratar da execução de obras de aterro estaqueado é uma confiável alternativa


engenharia, é recorrente a busca por áreas cujos para construir sobre solos moles. A técnica
solos apresentem características e propriedades pode reduzir ou até mesmo eliminar os
que lhes confiram vantagens e facilidades recalques, contribuir para o aumento da
construtivas, como alta resistência ao estabilidade do aterro e ainda promover
cisalhamento, baixa compressibilidade e ampla diminuição no tempo de execução dos aterros.
capacidade de suporte. Entretanto, com o Os aterros estruturados podem ser apoiados
crescimento de centros urbanos somado a sobre estacas de concreto ou sobre colunas de
maiores restrições legais em se tratando do diferentes materiais, como areia ou brita. A
domínio ambiental, essa busca torna-se difícil, transmissão do carregamento para os elementos
sendo até mesmo inviável em alguns casos, estruturados pode ser feito através de captéis,
implicando em construções sobre solos de geogrelhas ou lajes, executados imediatamente
menores capacidades, como os solos moles, sob o aterro. O presente estudo usa como
como é descrito por Mello et al. (2006). Desse modelo a laje de concreto suportada por estacas,
modo, são realizados estudos sobre técnicas e que apresenta geometria de caráter estrutural,
melhoramentos do solo buscando promover a que é uma uma variação do aterro estruturado.
viabilização destas obras. Entre as técnicas em- As forças axiais são as principais atuantes
pregadas encontram-se os aterros estaqueados. sobre as estacas, mas esforços horizontais
Almeida e Marques (2013) afirmam que o (Momentos de Flexão e Forças Cisalhantes)
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podem aumentar a partir da introdução de plataforma é um aterramento executado,


quaisquer carregamentos assimétricos, podendo geralmente, com solos granulares. A camada de
ocasionar falhas nos elementos estruturais. areia considerada no modelo hipotético conta
Alguns autores apresentam formulações com espessura de 0,4 m. A laje encontra-se
analíticas para o cálculo destas forças disposta imediatamente acima desta plataforma.
horizontais, como De Beer e Wallays (1969, O nível freático foi considerado coinscidente
1972) e Tschebotarioff (1962, 1970, 1973). com o topo do solo mole.
O estudo desenvolvido apresenta análise O programa PLAXIS 2D realiza suas funções
paramétrica numérica, sendo os cálculos em caráter bidimensonal. De modo a operar
numéricos efetuados por meio de elementos com simulações tridimensionais foi realizada
finitos utilizando do programa PLAXIS 2D uma tranformação com valores de equivalência
v.8.2. nas estacas, como será explicado no item 3.

2 GEOMETRIA DO ATERRO 3 PROPRIEDADE DOS MATERIAIS

O modelo hipotético estudado foi elaborado Na Tabela 1 estão dispostas as propriedades dos
buscando se aproximar da geometria de casos solos utilizados no modelo hipotético, assim
reais. O esquema é mostrado nas figuras 1 e 2 a como a modelagem constitutiva da análise
seguir. numérica. Como pode ser visto, para o solo
mole o modelo utilizado SSM (Soft Soil Model)
é responsável pela consolidação do solo ao
longo do tempo. Os demais solos tiveram como
modelo constitutivo o Mohr-coulomb.

Tabela 1. Propriedade dos Materiais.


Material/ Aterro Areia Solo Solo
Proprie- Residual Mole
dade

Figura 1. Estrutura completa do aterro. n 19 20 18 14


(kN/m³)

sat 21 22 20 15
Sx = 2,2 (kN/m³)
m
E (kPa) 30.000 20.000 25.000 -
Sy = 2,2 m
 0,3 0,3 0,3 -

cc - - - 1,329

Figura 2. Malha quadrada: espaçamentos entre as cs - - - 0,125


estacas.
e0 - - - 2,756
Na maioria dos casos é necessária uma
c' (kPa) 3 0 10 3
plataforma de trabalho sobreposta
imediatamente acima do solo mole. Essa ' () 30 35 28 25
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Modelo Mohr- Mohr- Mohr- SSM Na Tabela 2 estão dispostas as propriedades


Coulomb Coulomb Coulomb dos elementos estruturais (laje e capitéis). O
programa de análise utilizado trabalha na
Condição Drenado Drenado Drenado Não condição bidimensional (2D). Para retratar o
Drenado
modelo em condição tridimensional (3D) foi
kh 1×10-2 1 1×10-2 1×10-4 preciso realizar uma transformação através do
(m/day) cálculo de valores equivalentes para EA e EI,
em que E corresponde ao módulo de
kv 1×10-2 1 1×10-2 1,5×10-4 elasticidade do concreto, A corresponde a área
(m/day) da seção transversal dos elementos estruturais
Nota: n = peso unitário do solo; sat = peso unitário do (estacas) e I corresponde ao momento de inércia
solo saturado; E = módulo de Young;  = coeficiente de dos elementos estruturais. Estes valores
Poisson; cc = coeficiente de compressibilidade; cs = equivalentes são dados por EAeq = EA / S e EIeq
Coeficiente de inchaço; e0 = índice de vazios inicial; c'= = EI / S, onde S é o espaçamento entre os eixos
coesão efetiva; '= ângulo de fricção efetivo; kh = das estacas. De acordo com a Figura 2, o valor
permeabilidade horizontal; kv = permeabilidade vertical; de S é de 2,20 m. Assim, no programa a estaca
Modelo compreende ao padrão constitutivo aplicado pelo é representada por uma parede equivalente com
software ao solo, sendo SSM o padrão Soft Soil Model; valores reduzidos de EA e EI.
Condição implica ao estado de drenagem relativo a cada
um dos solos. Valores não atribuídos [-] não foram
necessários nas análises. Tabela 2. Propriedade dos Elementos Estrturais.
Material/ Estacas Laje
Os resultados são apresentados em termos de
momento fletor e forças de cisalhamento ao Propriedade
longo das estacas. Para a grande parte das E (GPa) 21 21
análises, os resultados estão relacionados à
condição próxima da consolidação final, isto é, EA (kN) 1,31×106 6,3×106
quando o excesso de pressão neutra é de 2,0
kPa. As análises que fogem a este padrão são EI (kNm²) 6,84×103 4,725×104
aquelas que tratam dos esforços nas estacas
durante tempos de consolidação diferentes; para EAeq (kN) 5,95×105 -
estas, o critério de parada foram tempos, em
EIeq (kNm²) 3,11×103 -
dias, determinados a partir do número de dias
gastos para consolidação total. Os outros  0,20 0,20
materiais do solo (aterro, areia e solo residual)
não estão sujeitos ao processo de consolidação e  (kN/m³) 25 25
foram modelados como material drenado.
Em se tratando de permeabilidade, todos os Modelo Linear-elástico Linear-
solos, com excessão do solo mole, foram elástico
considerados isotrópicos, ou seja, a Nota:  = peso unitário do concreto; E = módulo de
permeabilidade na direção vertical (kv) é igual a Young do concreto; I = momento de inércia dos
permeabilidade na direção horizontal (kh). Para elementos estruturais;  = coeficiente de Poisson de
a permeabilidade do solo mole, foram elementos estruturais.
considerados valores tipicamente utilizados de
kh = 1,5×kv. Os valores de cc (coeficiente de
compressibilidade), cs (coeficiente de 4 MODELOS NUMÉRICOS E ANÁLISES
inchamento) e e0 (taxa de vazios inicial) são
típicos de argilas encontradas na cidade do Rio Na figura 3 estão representados tanto o modelo
de Janeiro (Almeida et al., 2008). numérico de análise como a malha de elementos
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finitos. As estacas foram numeradas de 1 até 10, GRID 0 2,50 0 Consolidado


sendo a estaca 1 a mais distante do
carregamento assimétrico e a estaca 10 a mais GRID50 2,50 50 Consolidado
próxima deste. As análises efetuadas tiveram
variações dos seguintes parâmetros: magnitude T50 2,50 50 -
do carregamento assimétrico, altura do aterro, e Nota: Grau de consolidação não atribuído a T50: análise
tempo de adensamento. Além destas análises, conta com variações de graus de consolidação no tempo
foram realizadas comparações com um modelo para carga de 50 kPa. Análises GRID 0 e GRD50 contam
com elemento geossintético de rigidez igual 2000 kN/m.
hipotético que representa a técnica construtitiva
O elemento geossintético substitui a laje neste caso
de estacas, captéis e geossintético (geogrelha). (J=2000 kN/m).
Cada uma das análises forneceu resultados em
termos de valor máximo de momento fletor e
esforço cortante em cada uma das estacas. Elas 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
estão explicitadas na Tabela 3. A malha de
elementos finitos conta com 10763 nós e cada Nas figuras a seguir são apresentados os
elemento com 15 nós. resultados das análises vistos na Tabela 3. O
valor máximo em módulo dos esforços
(momento fletor e esforço cortante) em cada
uma das estacas, de uma extremidade a outra do
aterro, está contemplada nos gráficos.

5.1 Análise L0

Figura 3. Modelo numérico com representação da malha


de elementos finitos.

Tabela 3. Análises e parâmetros.


Altura
*Análise/ do Carregamento (a)
Grau de
Variação Aterro Assimétrico
Adensamento
(m) (kPa)
L0 2,50 0 Consolidado

L25 2,50 25 Consolidado

L50 2,50 50 Consolidado

L70 2,50 70 Consolidado

H1.5 1,50 0 Consolidado

H2.5 2,50 0 Consolidado


(b)
L0 UN 2,50 0 Não Consolid.
Figura 4. Análise L0 (carregamento assimétrico = 0; altura =
L50 UN 2,50 50 Não Consolid. 2,5m): 4.a) Momento Fletor; 4.b) Esforço Cortante.
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De acordo com os resultados mostrados na estão submetidas não se dão mais apenas pelo
figura 4.a e 4.b é possível observar que os carregamento do próprio aterro, mas também
esforços nas estacas crescem à medida que elas pelo valor da sobrecarga. É possível observar
se dispõem nas proximidades externas dos uma queda no módulo dos esforços quando o
aterros, havendo, entretanto, uma pequena carregamento assimétrico é introduzido ao
redução nos valores nas estacas imediatamente sistema de análise. Esse fato pode se justificar
mais externas, ou seja, a estaca 1 e a estaca 10. principalmente devido ao carregamento
Nota-se também, de acordo com os gráficos, assimétrico contrabalançar a carga imposta pelo
que as curvas apresentam um comportamento aterro. Na figura 6 é possível observar
aproximadamente simétrico, o que se deve ao graficamente a redução destes valores com a
fato de o carregamento acidental assimétrico comparação direta das curvas.
não ser atribuído nesta análise. Os esforços nas
estacas advêm apenas da carga imposta pelo
próprio aterro.

5.2 Análise L50

(a)

(a)

(b)

Figura 6. Análises L0 e L50 (altura= 2,5 metros):


6.a) Momento Fletor; 6.b) Esforço Cortante.

As figuras 7 e 8 mostram a distribuição de


(b)
deslocamentos horizontais para os respectivos casos
de carregamento assimétrico nulo e carregamento
Figura 5. Análise L50 (carregamento assimétrico=50 kPa;
altura= 2,5 metros):5.a) Momento Fletor; 5.b) Esforço
assimétrico de 50 kPa. É possível observar que os
Cortante. vetores de deslocamento horizontal na análise L0 se
dispõem em maior quantidade para a direção
A inclusão do carregamento assimétrico de positiva de x, indicando o movimento
50 kPa provoca alteração notória na simetria promovido pelo próprio aterro, enquanto na
das curvas, visto que os esforços cujas estacas análise L50 os vetores se dispõem de forma
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mais balanceada, justificando o movimento 70kPa, o valor dos esforços na estaca 10


inserido pela sobrecarga lateral. aumentam significativamente, superando o
valor da estaca 9, fato não observado em
nenhuma das outras análises. É possível
x concluir que para tal valor de sobrecarga, o
balanceamento proposto pela carga já não é
mais verificado. Ou seja, neste valor a
sobrecarga passa a promover esforços e
deslocamentos maiores do que aqueles
promovidos pelo aterro.

Figura 7. Vetores de deslocamento horizontal para


carregamento lateral nulo (Escala aumentada em 200
vezes).

(a)

Figura 8. Vetores de deslocamento horizontal para


carregamento lateral igual a 50 kPa (Escala aumentada
em 25 vezes).

5.3 Análises L0, L25, L50 e L70

Observando a figura 9 é possível afirmar que


nas estacas mais distantes da sobrecarga, ou
seja, estacas 1, 2 3 e 4, os valores de momento
fletor e esforço cortante mantém
aproximadamente um comportamento (b)
semelhante. Nas estacas encontradas ao centro,
os valores dos esforços são menores, para todos Figura 9. Análises L0, L25, L50 e L70: 9.a) Momento
os módulos de sobrecarga. Ocorre, entretanto, Fletor; 9.b) Esforço Cortante.
uma mudança significativa nas estacas mais
próximas da sobrecarga. Quando o Na figura 10 é possível observar que os
carregamento assimétrico corresponde aos vetores de força para o carregamento lateral de
valores de 25 kPa e 50 kPa, o módulos dos 70 kPa apresentam-se quase completamente
esforços apresenta diminuição quando voltados para a direção negativa de x.
comparados ao valor nulo de sobrecarga, devido
ao balanceamento promovido pelo valor do
carregamento assimétrico, anteriormente
justificado (figuras 7 e 8). Porém, quando o
carregamento assimétrico é elevado a carga de
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5.5 Análises L0 e L0 UN
x
As análises representadas na figura 12 referem-
se à comparação do comportamento dos
esforços nas estacas em duas situações: quando
se considera o adensamento do solo (L0) e
quando o adensamento não é considerado (L0
UN). Ambas as análises são feitas para valores
Figura10. Vetores de deslocamento horizontal para de sobrecarga lateral nula. Os esforços
carregamento assimétrico de 70 kPa.
apresentados quando o adensamento não é
considerado são muito pequenos,
5.4 Análises H1.5 e H25
principalmente quando comparados ao
comportamento imediatamente após a fase de
Na figura 11 estão dispostos os resultados
consolidação. Além disso, tanto em termos de
gráficos quando é feita a variação do parâmetro
momento fletor como de esforço cortante, os
altura. É de compreensão imediata que, quanto
módulos dos esforços se mantém
maior a altura do aterro para sobrecarga lateral
aproximadamente constante quando o
nula, maiores são os esforços ao longo das
adensamento não é considerado.
estacas. O comportamento se mantém
aproximadamente simétrico tanto para as curvas
de Momento Fletor como para as curvas de
Esforços Cortantes.

(a)

(a)

(b)

Figura 12. Análises L0 e L0 UN (carga = 0 kPa):


(b)
12.a) Momento Fletor; 12.b) Esforço Cortante.
Figura 11. Análises H1.5 e H2.5 (carga = 0 kPa): 5.6 Análises L50 e L50 UN
11.a) Momento Fletor; 11.b) Esforço Cortante.
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As figuras 13.a e 13.b correspondem a programa de análise fornece o tempo final de


comparações similares a anterior, diferindo-se, adensamento do solo em dias, e a partir dele,
porém, do modulo da sobrecarga lateral, que tempos intermediários (t0= 0 dia, imediatamente
conta agora com o valor de 50 kPa. Observa-se, após a construção, t1= 698 dias, t2 = 1395 dias,
para tais análises, que o comportamento se t3=2790 dias e t4 = 5880 dias, fim da
assemelha ao anterior, com a diferença de que consolidação) foram determinados de modo a se
os valores dos esforços nas estacas são maiores observar os esforços nas estacas. Os resultados
à medida que se aumenta a sobrecarga lateral. gráficos mostram que há um aumento
Os esforços nas estacas quando não é significativo dos esforços nas estacas desde a
considerado adensamento apresentam valores fase inicial, quando ainda não houve
aproximadamente constantes e aos valores consolidação, para todos os demais tempos. A
obtidos quando considerada a condição de variação de esforços observados entre os dias é
adensamento. mais acentuada nas estacas das extremidades e
os valores se mostram muito próximos para as
estacas centrais. A medida com que o
adensamento avança em dias, os valores dos
esforços nas estacas aumenta.

(a)

(a)

(b)
Figura 13. Análises L50 e L50 UN (carga = 50 kPa):
13.a) Momento Fletor; 13.b) Esforço Cortante.
(b)
5.7 Análise T50
Figura 14. Análise T50 (carga = 50 kPa):
14.a) Momento Fletor; 14.b) Esforço Cortante.
A próxima análise trata da variação do
parâmetro tempo no período de consolidação. O
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5.8 Análises L0 e GRID 0 5.9 Análises L50 e GRID 50

O gráfico conduzido pela figura 15 traz a A próxima análise refere-se ao comparativo


comparação entre os esforços nas estacas entre os mesmos casos hipotéticos, utilizando as
considerando duas técnicas construtivas técnicas mencionadas acima. Entretanto, é feita
diferentes para o mesmo aterro hipotético: o uso análise considerando o carregamento
de laje estaqueada (análise L0) e o uso de assimétrico referente a 50 kPa.
estacas, capitéis e geogrelha (análise L0 GRID).
Nas duas análises são considerados os mesmos
parâmetros para todos os tipos de solos, bem
como as mesmas características estruturais.
Ambas as curvas se mostram aproximadamente
simétricas para sobrecarga lateral nula;
entretanto diferenciam-se sobremaneira quando
considerados os valores dos esforços. A técnica
construtiva com uso de geossintético apresenta
valores de esforços significativamente menores
nas estacas mais extremas do aterro, quando
comparadas a técnica que se utiliza de laje. Para (a)
as estacas centrais, entretanto, estes valores já
não apresentam grandes discrepâncias.

(b)
(a)
Figura 16. Análises L50 e L50 GRID (carga = 50 kPa):
16.a) Momento Fletor; 16.b) Esforço Cortante.

Semelhante ao que ocorre nos demais casos,


quando uma sobrecarga é inserida ao sistema,
as curvas dos esforços perdem a simetria,
devido a presença de um novo carregamento.
Para valores de 50 kPa, os esforços obtidos nas
estacas também são menores para a técnica
construtiva que usa de estacas, capitéis e
geogrelha, assim como observado para a carga
nula. É possível observar uma diminuição desta
(b)
diferença para a análise que conta com o
Figura 15. Análises L0 e L0 GRID (carga = 0 kPa): 15.a) carregamento assimétrico. As estacas 3, 4 e 5
Momento Fletor; 15.b) Esforço Cortante. apresentam valores próximos para ambas às
técnicas estudadas. Além disso, nestas estacas
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se dão os menores valores de momento para Janeiro Soft Clays - Part 1., Soils & rocks, v. 31, p.
ambos os casos. 69-75.
Almeida, M.S.S, Marques, M. E.S. (2013) Aterro Sobre
Solos Moles: Projeto e Desempenhos, segunda
edição, Oficina de Textos, 256 p.
6 CONCLUSÃO De Beer, E.E., Wallays, M. (1972). Forces induced in
piles by unsymmetrical surcharges on the soil around
A partir da modelagem numérica, realizada em the piles, Proceedings, 5th European CSMFE,
Madrid, vol. 1, p. 325-332.
software de elementos finitos, foi possível a Ehrlich, M., (1993). Método de Dimensionamento de
determinação de Momentos Fletor e Esforços Lastros de Brita sobre Estacas com Capitéis, Solos e
Cortantes em estacas de um aterro hipotético Rochas, ABMS/ABGE, 16, (4), Dezembro, p. 229 –
apoiado em laje estaqueada. 234.
Alguns carregamentos assimétricos laterais Mello, L.G.R., Farias, M.M., Palmeira, (2006). Estudo
numérico e analítico de aterros estaqueados, XIII
foram impostos ao aterro, com magnitudes Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
variadas. Foram variados também a altura do Engenharia Geotécnica, COBRAMSEG, IV Simpósio
aterro e o tempo de consolidação; além disso, Brasileiro de Mecânica das Rochas, III Congresso
foi apresentado um comparativo com o modelo Luso Brasileiro de Geotecnia, Curitiba, 6 p.
construtivo que utiliza captéis e geossintético. Plaxis v.8.2, 2008, manual do usuário.
Russell, D., Pierpoint, N. (1997), An Assessment of
Os maiores esforços, de modo geral, ocorrem Design Methods for Piled Embankments, Ground
nas estacas que se encontram nos extremos do Engineering, November, 39 – 44.
aterro e diminuem a medida que estão dispostas Tschebotarioff, G.P. (1962). Retaining Structures,
mais para o centro do aterro. Chapter 5 in Foundation Engineering, edited by G.A.
A modelagem numérica foi capaz de Leonards, McGraw-Hill Book Co., pp. 493.
Tschebotarioff, G.P. (1970). Bridge abutments on piles
determinar esses esforços em todas as estacas e driven through plastic clay, Proceedings Conference:
não apenas na estaca externa, conforme Design and Instalation of Pile Foundation and
fornecido por soluções analíticas. Cellular Structures, Lehigh University, pp. 225-238.
Para a condição em que a carga assimétrica é Tschebotarioff, G.P. (1973). Foundations, Retaining and
zero, quanto maior a altura do aterro, mais Earth Structures, 2nd edition, McGraw-Hill
Kogakusha LTDA, Tokyo, Japan.
elevados são os esforços nas estacas.
Os esforços variam ao longo do tempo de
consolidação, sendo que, quanto maior o tempo
de adensamento, maiores os esforços. Os
esforços na fase imediatamente anterior ao
início do adensamento são consideravelmente
menores, existindo ou não carregamento lateral.
Os esforços para o modelo de laje,
comparados ao uso de geossintético, são
maiores.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a UFJF pela bolsa de


iniciação científica concedida.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, M.S.S., Futai, M.M., Lacerda, W.A.; Marques,


M.E.S. (2008). Laboratory Behaviour of Rio de
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Aplicabilidade de Solo Arenoso Compactado e Melhorado com


Cimento em Pavimentos Flexíveis  
José Wilson dos Santos Ferreira
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, wilson_s.ferreira@hotmail.com

Vitor Hugo Gomes


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, vitorh@live.co.uk

Victor Antonio Cancian


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, victorcancian@hotmail.com

Renan Felipe Braga Zanin


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, renan_zanin@hotmail.com

Alana Dias de Oliveira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, alanadioliva@hotmail.com

Flávia Gonçalves
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, flavia_goncalves.fg@hotmail.com

Carlos José Marques da Costa Branco


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, costabranco@uel.br

Raquel Souza Teixeira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, raquel@uel.br

RESUMO: O presente trabalho avaliou a aplicação de um solo arenoso compactado e melhorado


com cimento em pavimentos flexíveis. O solo, proveniente de Mandaguaçu – PR, foi compactado e
obtido o Índice de Suporte Califónia (ISC) nas energias normal e intermediária, para construção das
curvas de compactação e obtenção dos parâmetros de suporte e expansão. Frente aos resultados, foi
utilizada a técnica de melhoramento para emprego como base, com acréscimo de cimento CP-II-Z-
32 para as adições de 2 e 4 %, sendo curados por sete dias e rompidos na compressão simples
(RCS). Os resultados para o solo compactado na energia normal indicaram adequabilidade para uso
como subleito e camada de reforço, além de utilização como camada de sub-base na energia
intermediária, já o solo melhorado para 2 e 4 % não atingiu a resistência mínima normatizada, ainda
que o aumento de energia e de adição de cimento tenham promovido acréscimos de resistência. 

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, Melhoramento de Solo, Estabilização, Índice de Suporte


California, Expansão, Resistência à Compressão Simples.

1 INTRODUÇÃO DNIT (1981), está restrita ao cumprimento dos


critérios de suporte e expansão estabelecidos
A aplicabilidade de um solo em pavimentos pelo órgão para cada camada da estrutura, onde
flexíveis, segundo o método do Departamento a verificação do comportamento do solo in
Nacional de Infraestrutura de Transportes - natura é feita através dos ensaios de Índice de
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Suporte Califórnia (ISC) e expansão (DNIT,


2006). O solo utilizado no estudo, proveniente de
Nos casos em que o solo local não apresenta Mandaguaçu – PR, foi coletado a dois metros
as propriedades requeridas em projeto, além da de profundidade, em jazida localizada às
remoção e consequente substituição por outro margens da Rodovia PR-376, conforme Figura
solo, há a possibilidade de melhoramento do 1.
solo existente, por meio de métodos de Como material cimentante foi utilizado o
estabilização, comumente realizados através da cimento Portland tipo II com adição de
estabilização química com adição de cimento pozolana, apresentando resistência de 32 MPa
(GRANDE, 2003; NUNEZ, 1991). aos 28 dias (CP-II-Z-32), sendo feita a
O produto das reações físico-químicas do hidratação e homogeneização da mistura com
material cimentante presente entre os grãos, água destilada.
durante o processo de hidratação, resulta em
uma matriz envolvendo-os, formada por gel de
silicato bi e monocálcico e uma parcela de cal
livre (INGLES; METCALF, 1972).
Além de conferir melhor estabilidade
dimensional no produto final, proporciona
diminuição da permeabilidade, controle de
fissuração provocada por retração durante a
secagem, aumento da resistência mecânica,
resistência à erosão e abrasão superficial,
ocasionando aumento na durabilidade do
material (VARGAS, 1977; PEREIRA;
INGUNZA; SANTOR JUNIOR, 2014;
PUNDIR; PRAKASH, 2015).
A adição crescente de teores de cimento ao Figura 1. Local de coleta do solo.
solo faz com que o material resultante se
apresente mais rígido, de forma que as tensões 2.2 Métodos
sejam distribuidas mais uniformemente na
camada estabilizada, avaliada por meio da 2.2.1 Caracterização do Solo
Resistência à Compressão Simples (BALBO;
CINTRA, 1994; BALBO, 2007; SAXENA et Inicialmente foram realizados ensaios de
al., 2010). caracterização do solo, compreendidos pelos
Assim, este trabalho tem como objetivo ensaios de massa específica aparente (NBR
avaliar a aplicabilidade de um solo arenoso 10838/1988), massa real dos grãos (NBR
compactado e melhorado com cimento, nas 6458/2016), análise granulométrica por
energias normal e intermediária, em camadas de combinação de sedimentação e peneiramento
pavimento flexível, buscando fornecer (NBR 7181/1984), Limites de Liquidez (NBR
subsídios para o entedimento do 6459/1984) e de Plasticidade (NBR 7180/1984),
comportamento do material compactado e sendo o mesmo classificado pelos sistemas
melhorado ao ser empregado na pavimentação. TRB (Transportation Research Board) e SUCS
(Sistema Unificado de Classificação de Solos).
As amostras deformadas foram preparadas
segundo a NBR 6457/1986, a partir da qual foi
2 MATERIAIS E MÉTODOS determinado o teor de umidade higroscópica.

2.1 Materiais 2.2.2 ISC e Expansão


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umidade ótima, para 2 e 4 % de cimento, foram


Inicialmente foram construídas as curvas de moldados, em triplicata, corpos de prova em
compactação nas energias normal e cilindro de dimensões reduzidas, com volume
intermediária (NBR 7182/1986) em cilindros de aproximado de 206 cm³ (10,5 e 5,0 cm de altura
Proctor (12,7 e 10,0 cm de altura e diâmetro, e diâmetro, respectivamente). A quantidade de
respectivamente) para obtenção dos parâmetros golpes foi variável, de forma a atender os
de moldagem dos corpos-de-prova, relativos a limites impostos pelo controle de compactação,
massa específica seca máxima (ρdmáx) e onde o grau de compactação (GC) adotado foi
umidade ótima (ωót). de GC ≥ 95 % e variação de umidade (Δω) em
A avaliação da aplicabilidade do solo puro torno de 0,5 % da ωót.
em pavimento consistiu nos ensaios de Índice Após o período de cura de sete dias em
de Suporte California e Expansão (DNER-ME câmara úmida, à temperatura de 23 ± 2º e
49/1994), em que foram moldados corpos de umidade relativa do ar não inferior a 95 %, os
prova no cilindro de compactação com 17,78 corpos de prova foram rompidos (DNER-ME
cm de altura e 11,43 cm de diâmetro. Após as 202/1994).
leituras de expansão realizadas a cada 24 horas, O equipamento utilizado foi uma prensa de
durante período de imersão de quatro dias compressão triaxial, sem aplicação de tensão
(Figura 2), os corpos de prova foram levados a confinante. O carregamento foi aplicado à taxa
prensa, com sucessivo assentamento do pistão constante de 1,27 mm/min, segundo prescrição
de penetração com a velocidade de 1,27 do método do DNER-ME 201/1994.
mm/min. Dos resultados, foram construídos diagramas
de tensão versus deformação, por meio dos
quais foi obtido a máxima RCS suportada. É
exposto na Figura 3a o equipamento de
moldagem e Figura 3b o corpo-de-prova após
ensaio na prensa triaxial.

Figura 2. Ensaio de imersão em andamento.

2.2.3 Resistência à Compressão Simples

No caso do solo melhorado com cimento, ao


relizar o mesmo procedimento de construção
das curvas de compactação para os teores de 2 e
4 % de cimento em relação a massa seca de
solo, para as energias normal e intermediária,
foi observado semelhança com os parâmetros
de compactação do solo puro, ocasionando na
escolha dos mesmos parâmetros para as duas
energias.
A partir da massa específica seca máxima e
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Caracterização do Solo Valor


-3
Massa específica dos sólidos (g.cm ) 2,69
Massa específica aparente (g.cm-3) 1,70
Limite de Liquidez (%) 31
Limite de Plasticidade (%) 15
Índice de plasticidade (%) 16
-3
Massa específica seca máxima (g.cm ) 1,86
Umidade ótima (%) 13,8
Areia média (%) 33,9
Areia fina (%) 39,1
Silte (%) 4,7
Argila (%) 22,3
Classificação TRB A-2-6
Classificação SUCS SC

Os parâmetros do solo arenoso, obtidos das


curvas de compactação, nas energias normal e
intermediária (Figura 4) são apresentados na
Tabela 2.
O comportamento desses parâmetros de
moldagem frente à variação de energia
corresponde ao indicado pela literatura, uma
vez que o aumento de energia densifica o solo e
diminui o teor de umidade.

1,90
1,88
1,86
1,84
Figura 3. Solo melhorado com cimento: (a) Cilindro 1,82
ρd (g.cm-3)

pequeno de compactação; (b) Corpo de prova rompido. 1,80


1,78
1,76
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1,74
1,72
A partir da caracterização do solo, apresentada
1,70
na Tabela 1, observa-se que o solo é 8 10 12 14 16 18
ω (%)
predominantemente arenoso, classificado Energia Normal Energia Intermediária
granulometricamente como areia argilosa. Na
mesma tabela são apresentadas a classificação Figura 4. Curvas de compactação na energia normal e
do solo pelos sistemas TRB (Transportation intermediária.
Research Board) e SUCS (Sistema Unificado
de Classificação de Solos).

Tabela 1. Caracterização física e granulométrica.


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Tabela 2. Parâmetros de compactação energias de compactação estão abaixo de 1 %.


Energia Energia Em função disso, o solo de Mandaguaçu
Parâmetros
Normal Intermediária compactado na energia normal atende aos
ρd (g.cm-3) 1,86 1,89 requisitos do DNIT (2006) para ser empregado
ωót (%) 13,8 12,8
como subleito, reforço e sub-base, além de
camada de base ao ser compactado na energia
As curvas de pressão versus penetração intermediária.
originadas no ensaio de ISC para o solo
compactado são expostas na Figura 5. Tabela 4. Expansão do solo nas energias normal e
intermediária
50
Energia Normal Energia Intermediária
45
40 Hora Deformaçã Expansã Deformaçã Expansã
o (mm) o (%) o (mm) o (%)
Pressão (kgf.cm-2)

35
30
0 0,00 0,00 0,00 0,00
25
20
24 0,82 0,72 0,44 0,38
15 48 0,83 0,73 0,53 0,46
10 72 0,85 0,74 0,55 0,48
5
96 0,86 0,75 0,57 0,50
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Penetração (mm)
Energia Normal Energia Intermediária
As características físicas dos corpos de prova
de solo melhorado (2 e 4 % de cimento),
Figura 5. Curva pressão versus penetração do ISC para as referentes a massa específica seca (ρd), teor de
energias normal e intermediária. umidade (ω), porosidade (η), grau de
compactação (GC) e desvio de umidade (Δω)
A determinação do Índice de Suporte em torno da umidade ótima, usados nos ensaios
Califórnia, baseada nas pressões de resistência à compressão simples, estão
correspondentes às penetrações de 2,54 e 5,08 sumarizadas na Tabela 5.
milímetros, é apresentada na Tabela 3.
Tabela 5. Características físicas dos corpos de prova
Tabela 3. ISC para o solo compactado nas energias usados nos ensaios de compressão simples.
normal e intermediária. ρ (g.cm- ω η Δω GC
Ci.¹ (%) CP d 3
Penetração Pressão ISC ) (%) (%) (%) (%)
Energia
(mm) (kgf.cm-2) (%) Energia Normal
2,54 6,68 9,5 1 1,78 13,6 33,8 0,2 95,7
Normal
5,08 11,41 10,8
2 2 1,78 13,6 33,8 0,2 95,7
2,54 28,53 40,6
Intermediária 3 1,77 13,6 34,2 0,2 95,2
5,08 44,30 42,0
1 1,77 13,8 34,2 0,0 95,2
4 2 1,79 13,8 33,3 0,0 96,2
O ISC para o solo compactado na energia 3 1,79 13,8 33,3 0,0 96,2
normal foi de 11 %, enquanto que na energia Energia Intermediária
intermediária foi de 42 %. Baseado nesses 1 1,82 13,6 32,4 0,2 96,3
valores de suporte e nas especificações técnicas 2 2 1,80 13,6 32,9 0,2 95,2
do DNIT (1981) para as camadas de pavimento 3 1,80 13,6 32,9 0,2 95,2
flexível, o mesmo atende aos requisitos para ser 1 1,82 13,8 32,4 0,0 96,3
4 2 1,82 13,8 32,4 0,0 96,3
utilizado no subleito e nas camadas de reforço
3 1,81 13,8 32,9 0,0 95,8
de subleito para a energia normal, além de ¹Cimento
aplicabilidade como sub-base ao ser
compactado na energia intermediária. As curvas de tensão versus deformação
A respeito dos dados de expansão (Tabela determinadas no ensaio de RCS são
4), os valores máximos obtidos para as duas
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apresentadas na Figura 6, para a energia normal O coeficiente de variabilidade apresentado


(6a) e energia intermediária (6b). A partir por todas as amostras está abaixo de 15 %,
delas foram determinadas as máximas indicando baixa variabilidade e homogeneidade
resistências à compressão dos corpos de prova dos corpos de prova.
de 2 e 4 % de adição de cimento, conforme
exposto na Tabela 6, que traz também o
tratamento estatístico desses valores.
(a) (b)
8,0 8,0
7,0 7,0
6,0 6,0
Tensão (kgf.cm-2)

Tensão (kgf.cm-2)
5,0 5,0
4,0 4,0
3,0 3,0
2,0 2,0
1,0 1,0
0,0 0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6
Deformação (%) Deformação (%)
2% - CP1 2% - CP2 2% - CP3 4% - CP1 4% - CP2 4% - CP3
(c) (d)
8,0 8,0
7,0 7,0
6,0 6,0
Tensão (kgf.cm-2)

Tensão (kgf.cm-2)

5,0 5,0
4,0 4,0
3,0 3,0
2,0 2,0
1,0 1,0
0,0 0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6
Deformação (%) Deformação (%)
2% - CP1 2% - CP2 2% - CP3 4% - CP1 4% - CP2 4% - CP3

Figura 6. Curvas tensão versus deformação na energia normal: (a) 2% e (b) 4 % de adição; e energia intermediária nos
teores de (c) 2 % e (d) 4 % de cimento.

Tabela 6. RCS para energia normal e intermediária. Foi verificado que as resistências médias
Ci.¹ RCSmáx RCSmédia Def.² Desvio CV obtidas nas adições de 2 e 4 %, para as duas
CP
(%) (kgf.cm-2) (%) padrão (%)
energias de compactação, não atingiram a
Energia Normal
resistência mínima entre 15 e 21 kgf.cm-2
1 3,85 0,86
estabelecida pelo Departamento de Estradas de
2 2 4,37 4,2 1,00 0,27 6,5
3 4,24 1,33
Rodagem (DER/PR ES-P 11/05) e
1 5,26 1,10 Departamento Nacional de Infraestrutura de
4 2 4,73 4,9 1,14 0,32 6,6 Transportes (DNIT 143/2010).
3 4,68 1,24 Loch e Pejon (2016), ao avaliarem o efeito
Energia Intermediária da estabilização química na RCS de um solo
1 5,29 1,05 arenoso, classificado como uma areia mal
2 2 5,16 5,3 1,05 0,13 2,4 graduada com argila, obtiveram, para o teor de
3 5,41 1,14 3 % de cimento curado por 7 dias, resistência
1 6,71 1,05 média de 3 kgf.cm-2.
4 2 6,56 6,6 1,05 0,12 1,9 Constata-se que a técnica de melhoramento
3 6,47 1,14 de solo, compreendida por teores de cimento
¹Cimento; ²Deformação. entre 2 e 4 %, se apresenta ineficaz para
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utilização do solo em estudo como camada de O melhoramento do solo para as adições de 2


base de pavimento, sendo necessária a e 4 % de cimento, tanto para a energia normal
realização de estudos com percentuais mais quanto intermediária resultaram em resistências
elevados de cimento. inferiores ao mínimo admissível pelas
Ainda assim, constata-se que o aumento do normatizações, ainda que o aumento do teor de
teor de cimento, assim como o aumento da cimento e energia tenham promovido
energia, ocasionaram ganhos de resistência, incrementos de resistência à compressão
conforme resultados médios de RCS simples.
apresentados na Figura 7.
7,0

6,0 AGRADECIMENTOS
5,0
Os autores agradecem a Fundação Araucária e
RCS (kgf.cm-2)

4,0
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
3,0 Nível Superior (CAPES) pelo fomento de
2,0 bolsas aos estudantes de Pós-Graduação
1,0
envolvidos no trabalho.
0,0
2% 4%
RCS - EN (kgf.cm-2) 4,2 5,3
RCS - EI (kgf.cm-2) 4,9 6,6 REFERÊNCIAS

Figura 7. RCS média apresentada pelo solo melhorado ABNT (1984) NBR 6459 – Solo – Determinação do
para os teores de 2 e 4 % nas energias normal e Limite de Liquidez, Associação Brasileira de Normas
intermediária. Técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT (1984) NBR 7180 – Solo – Determinação do
Limite de Plasticidade, Associação Brasileira de
Essa tendência de acréscimos de resistência
Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
frente o aumento do percentual de cimento e ABNT (1984) NBR 7181 – Solo – Análise
energia foram relatadas por Consoli et al. Granulométrica: Método de Ensaio, Associação
(2007) ao utilizar uma areia fina uniforme Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
proveniente da cidade de Osório (RS) e Cancian ABNT (1986) NBR 6457 – Amostras de Solo –
Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
(2013), Cancian (2017), Cancian et al. (2017)
de Caracterização, Associação Brasileira de Normas
ao trabalharem com adições de 6, 7, 8, 9 e 10 % Técnicas, Rio de Janeiro.
de cimento empregando uma areia siltosa ABNT (1986) NBR 7182 – Solo – Ensaio de
localizada em Tuneiras do Oeste (PR). Compactação, Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT (1988) NBR 10838 – Solo – Determinação da
Massa Específica Aparente de Amostras
4 CONCLUSÕES Indeformadas, com Emprego da Balança
Hidrostática, Associação Brasileira de Normas
Diante dos resultados e discussão realizada, foi Técnicas, Rio de Janeiro.
observado que o solo em questão, ao ser ABNT (2016) NBR 6458 – Grãos de Solos que Passam
compactado na energia normal, apresenta na Peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa
Específica, Associação Brasileira de Normas
aplicabilidade para uso como material de Técnicas, Rio de Janeiro.
subleito e camada de reforço. Balbo, J. T. (2007) Pavimentação Asfáltica – Materiais,
Com o aumento da energia, o solo apresenta Projeto e Restauração, Oficina de Textos, São Paulo,
os requisitos de suporte e expansão requeridos 560 p.
para emprego em camada de sub-base, ficando Balbo, J. T.; Cintra, J. P. (1994) Fatigue Verification
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Aplicação de Redes Neurais Artificiais na Estimativa de


Propriedades Geotécnicas de Solos Argilosos
Amandio Gonçalves de Oliveira Filho
UFES, Viória-ES, Brasil, amgfilho12@yahoo.com.br

Kátia Vanessa Bicalho


UFES, Vitória-ES, Brasil, kvbicalho@gmail.com

Willian Hiroshi Hisatugu


UFES, São Mateus-ES, Brasil, wilian.hisatugu@ufes.br

Celso Romanel
PUC, Rio de Janeiro-RJ, Brasil, romanel@puc-rio.br

Lucas Broseghini Totola


UFES, Vitória-ES, Brasil, lucasbroseghini@gmail.com

RESUMO: Este trabalho discute a aplicação da técnica de redes neurais artificiais (RNA) para a
previsão de propriedades geotécnicas baseada em propriedades índices previamente conhecidas. A
multiplicidade de correlações publicadas para estimar o índice de compressão, CC, utilizado no
cálculo do recalque de adensamento de solos argilosos moles quando solicitados por carregamentos
externos, indica a necessidade de critérios de seleção e uso das mesmas. Neste estudo investiga-se
um banco de dados de 244 amostras de argilas moles de diferentes estados do litoral brasileiro,
incluindo um conjunto de 54 amostras de argilas marinhas da Grande Vitória-ES. Avalia-se a
previsão do CC através de correlações empíricas previamente publicadas na literatura e do uso de
RNA. O desempenho das previsões é avaliado através dos parâmetros estatísticos: coeficiente de
determinação (R²) e erro quadrado médio (MSE). Os resultados indicam que as RNA têm potencial
de aplicação como alternativa às correlações empíricas na previsão de CC.

PALAVRAS-CHAVE: Redes Neurais Artificiais, Geotecnia, Argilas, Índice de Compressão.

1 INTRODUÇÃO (Wn) e densidade específica dos grãos (GS). A


multiplicidade das correlações existentes indica
O conhecimento do índice de compressão (CC) a necessidade de critérios de avaliação para a
é necessário para o cálculo do recalque de escolha e emprego das correlações disponíveis,
adensamento de solos argilosos moles quando que na sua maioria são mais adequadas aos
solicitados por carregamentos externos. solos de mesma origem geológica das amostras
Diversas equações empíricas têm sido empregadas na modelagem.
publicadas na literatura geotécnica para estimar Alguns estudos sugerem diferentes
o valor de CC para diferentes solos finos em correlações para as argilas do litoral brasileiro:
função de propriedades índices do solo, como Castello e Polido (1986), Futai et al (2008),
limite de liquidez determinado pelo método de Silva (2013), Bicalho et al. (2014), Coutinho &
Casagrande (LLCUP), índice de plasticidade (IP), Bello (2014), Higashi (2016), Baroni e Almeida
índice de vazio inicial (e0), umidade natural (2017). Também são exemplos de correlações
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empíricas publicadas para estimar CC: Terzaghi simples ou múltiplas variáveis para prever CC a
e Peck (1967), Azzouz et al. (1976), Oh e Chai partir dos resultados das propriedades índices
(2006), Ozer et al. (2008), Kalantary e das argilas moles empregadas tais como, índice
Kordnaeij (2012) e McCabe et al. (2014). de plasticidade (IP), umidade natural (Wn),
A técnica de redes neurais artificiais (RNA) índice de vazio inicial (e0) e limite de liquidez
tem sido utilizada para a previsão de determinado pelo método de Casagrande
propriedades geotécnicas de solos baseada em (LLCUP).
propriedades índices previamente conhecidas Na conformação dos depósitos de argilas
desses solos. O trabalho de Rumelhart (1986) moles do litoral brasileiro se destaca a presença
sobre o algoritmo backpropagation é um marco de associações sedimentares nas regiões
no emprego das RNA em estudos de engenharia aplainadas, datadas do Terciário e Quaternário,
civil. No Brasil, os estudos de Diminsky (2000) formadas pela deposição de sedimentos,
representam importante pesquisa sobre o predominantemente, de origem flúvio-marinha
potencial de uso das redes neurais em geotecnia, sob influência da variação do nível do mar e do
com publicação de estudos com redes neurais clima, além de sedimentos flúvio-lagunar e de
artificiais na previsão da capacidade de carga, sedimentos coluvionares (MARTIN et al.,
além de modelagem do desempenho da tensão- 1997).
deformação do solo. Outros estudos sobre a Esta pesquisa ilustra o uso de RNA na
aplicação de redes neurais em engenharia civil estimativa do índice de compressão de argilas
podem ser encontrados em Goh (1995), que moles da Grande Vitória, ES, e de outros locais
empregou RNA em pesquisa de condutiviade do litoral brasileiro.
hidráulica em argilas. Najjar et al. (1996)
usaram RNA para controle de compactação do
solo, em que estimaram os valores da umidade 2 BASE DE DADOS
ótima e a correspondente densidade seca do
solo. Isik (2009) empregou RNA na previsão do 2.1 Análise das amostras de argilas moles
índice de expansão do solo (CS). Redes Neurais empregadas
Artificias foram usadas na estimativa de
recalques por Nawari et al. (1999), Nejad et al. Os resultados de ensaios de laboratório
(2009) e Benali e Bousid (2013). Pesquisa de oedométricos e as correspondentes propriedades
previsão do índice de compressão, CC, podem índices para 244 amostras de argilas moles de
ser encontrados em Kolay et al. (2008), Ozer et difirentes depósitos da Grande Vitória, ES, e de
al. (2008), Kalantary e Kordnaeij (2012) e outras cidades do litoral brasileiro são
Kurnaz et al. (2016). investigados nesta pesquisa. A base de dados
Neste estudo são avaliadas algumas equações investigada é composta por 54 amostras
empíricas previamente publicadas para estimar disponibilizadas pelo Laboratório de Geotecnia
CC de amostras de argilas moles a partir de da Universidade Federal do Espírito Santo
propriedades índices previamente conhecidas (UFES), 66 amostras de argilas de diferentes
desses solos. São investigados resultados de cidades do litoral brasileiro organizadas por
ensaios de adensamento de amostras de argilas Silva (2013), 8 resultados de argilas de Itaguaí-
moles de depósitos originários da Grande RJ publicados por Queiroz (2013), 109
Vitória (GV), no estado do Espírito Santo (ES). amostras de argila mole do litoral brasileiro
Também são analisadas amostros de argilas agrupadas por Baran (2014), e 7 resultados de
moles de depósitos do litoral de Santa Catarina ensaios oedométricos para argilas moles de
(SC), Pernambuco (PE), Rio de Janeiro (RJ), Macaé-RJ publicados por Póvoa (2016).
Rio Grande do Sul (RS) e São Paulo (SP). As As propriedades índices investigadas são:
correlações empíricas avaliadas empregam índice de plasticidade (IP), umidade natural
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(Wn), índice de vazio inicial (e0) e limite de superiores aos observados nas amostras da GV-
liquidez determinado pelo método de ES. Os valores mínimo e máximo do e0 (0,64 e
Casagrande (LLCUP). Um resumo da descrição 6,20, respectivamentte) coincidem com os
estatística dos dados experimentais analisados limites das amostras da GV-ES, entretanto a
da GV-ES e do litoral do Brasil é apresentado média é superior, 2,52. O CC das amostras do
nas Tabelas de 1 e 2. litoral brasileiro também diverge da média dos
valores da GV-ES, com valor máximo de 3,49 e
média de 1,35. A média dos valores do IP está
Tabela 1. Resumo da descrição estatística das 54
amostras de argilas da GV-ES investigadas
em 53,12%, entretanto, o valor mínimo é de
LLCUP IP Wn
4,00% e máximo de 166,00%, o que classifica
e0 CC as amostras majoritariamente como plásttica,
(%) (%) (%)
entretanto, são encontradas amostras de baixa e
Mínimo 32,80 12,60 0,64 19,23 0,10 média plasticidade.
Máximo 142,00 99,70 6,20 128,00 1,53 A avaliação estatística da influência das
Média 73,21 44,59 1,76 62,94 0,68 propriedades físicas das argilas na determinação
Desvio de CC para o grupo de amostras do litoral
25,32 18,78 0,88 20,39 0,37
Padrão brasileiro indica que Wn apresenta o maior
valor de coeficiente de correlação (R² = 0,747),
Tabela 2. Resumo da descrição estatística das 244 seguido por e0 (R² = 0,661), LLCUP (R² = 0,606)
amostras de argilas do litoral brasileiro investigadas e IP (R² = 0,532).
LLCUP IP Wn As Figuras de 1 a 4 mostram as correlações
e0 CC
(%) (%) (%) entre os índices físicos das amostras de argila
Mínimo 25,00 4,00 0,64 19,23 0,09 do litoral brasileiro e os correspondentes valores
Máximo 209,00 166,00 6,20 221,34 3,49
de índice de compressão dessas argilas.
Média 88,03 53,12 2,52 94,18 1,35
Desvio
39,91 31,76 1,02 39,32 0,79
Padrão

As argilas da GV-ES são normalmente de


alta compressibilidade com valores de CC entre
0,10 e 1,53, e valor médio igual a 0,68. O índice
de plasticidade médio é de 44,59%, com valores
entre 12,60% e 99,70%, o que indica argilas de
alta plasticidade. É observada uma grande
variação nos valores de e0, 0,64 a 6,20, com Figura 1. Correlação entre CC e Wn para solos argilosos
média de 1,76. O limite de liquidez médio é do litoral do Brasil
73,21%, com mínimo e máximo de 32,80% e
142,00%, respectivamente. A umidade natural
varia entre 19,23% e 128,00%, e média de
62,9%.
Em comparação às amostras da GV-ES, as
argilas do litoral brasileiro (incluindo as da
Grande Vitória, ES), apresentaram valores de
LLCUP médio igual a 88,03%, com valores
máximo de 209,00% e mínimo de 25%. A
umidade natural variou de 19,23% a 221,34%, e
média de 94,18%, ambos os limites são Figura 2. Correlação entre CC e e0 para solos argilosos do
litoral do Brasil
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correlação, entretanto, de uma forma geral, os


valores do erro quadrático médio (MSE) foram
maiores para o grupo de amostras dos solos
investigados, sendo o melhor resultado obtido
pela correlação de Castello e Polido (1986),
0,216, enquanto para a GV-ES a mesma
correlação foi de 0,076.

Tabela 3. Algumas correlações empíricas publicadas na


literatura para estimar CC usando Wn
Figura 3. Correlação entre CC e LLCUP para solos MSE MSE
argilosos do litoral do Brasil Referência Correlação
BRA GV-ES
Azzouz et al. CC = 0,0100Wn –
0,452 0,087
(1976) 0,05
Castello e 0,216 0,076
CC = 0,014Wn – 0,17
Polido (1986)
Futai et al.
CC = 0,013Wn 0,409 0,079
(2008)
CC = 0,00115Wn +
Silva (2013) 0,494 0,776
0,800
McCabe et al. CC = 0,014(Wn –
0,298 0,089
(2014) 22,7)
Bicalho et al. CC = 0,0128Wn –
0,248 0,074
(2014) 0,0951
Coutinho e CC = 0,0070Wn +
Figura 4. Correlação entre CC e IP para solos argilosos do 0,408 0,107
Bello (2014) 0,4010
litoral do Brasil.
CC = 0,0095Wn –
Higashi (2016) 0,552 0,109
0,0905
Baroni e
C = 0,011Wn 0,302 0,074
3 ESTIMATIVAS DE CC USANDO AS Almeida (2017) C
PROPRIEDADES ÍNDICES DAS
AMOSTRAS DE ARGILA INVESTIGADAS
COM DIFERENTES CORRELAÇÕES Os resultados estatísticos para as argilas do
EMPÍRICAS Rio de Janeiro apresentam R² = 0,814 e mínimo
MSE = 0,130, para a correlação de Castello e
Os resultados de previsão de CC das argilas Polido (1986); as argilas de São Paulo
estudadas empregando diferentes correlações apresentam R² = 0,740 e mínimo MSE = 0,059
previamente publicadas na literatura são para a correlação de Silva (2013), e valores
investigados nesta pesquisa. elevados de MSE para outras correlações, MSE
= 1,425 para a função de Higashi (2016); os
3.1 Estimativas de CC usando Wn. resultados estatísticos para as argilas de Santa
Catarina apresentam R² = 0,783 e mínimo MSE
A Tabela 3 apresenta um resumo estatístico dos = 0,087 para a correlação de Castello e Polido
resultados de CC previsto usando Wn para os (1986); o menor coeficiente de correlação
depósitos de argilas da GV-ES e do grupo de ocorreu para as argilas do Rio Grande do Sul
amostras brasileiras. Para as argilas da Grande (R² = 0,102); e as argilas de Pernambuco
Vitória, ES, o valor do coeficiente de investigadas apresentam R² = 0,805, e valores
determinação (R²) foi de 0,448, enquanto para de MSE = 1,449 para a correlação proposta por
os solos investigados do litoral brasileiro foi de Higashi (2016).
0,774, evidenciando melhor ajuste da curva de
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3.2 Estimativas de CC usando LLCUP. 3.3 Estimativas de CC usando e0.

Importante destacar que os valores de limite de Outra propriedade índice avaliada foi o índice
liquidez empregados nesta pesquisa foram de vazio inicial, cujo valor do coeficiente de
determinados pelo método de Casagrande, determinação foi o mais desfavorável para as
definido como LLCUP. As correlações estão argilas da Grande Vitória (R² = 0,31), o mesmo
apresentadas na Tabela 4. As argilas do Brasil ocorreu para os valores de MSE. Para as
apresentaram R² = 0,606, enquanto as da GV- amostras do litoral do Brasil foi obtido R² =
ES R² = 0,487. Assim como nas corrrelações 0,661 e mínimo MSE = 0,222. A Tabela 5
usando a umidade natural, os menores valores mostra um resumo das correlações investigadas
de MSE foram para as argilas da GV-ES. A e os resultados estatísticos para as argilas da
correlação de Azzouz et al. (1976) apresentou o GV-ES e do litoral brasileiro.
pior desempenho com MSE = 1,155.
Tabela 5. Algumas correlações empíricas publicadas na
Tabela 4. Algumas correlações empíricas publicadas na literatura para estimar CC usando e0
literatura para estimar CC usando LLCUP MSE MSE
Referência Correlação
MSE MSE BRA GV-ES
Referência Correlação Azzouz et al.
BRA GV-ES CC = 0,400e0 - 0,100 0,463 0,111
Terzaghi e Peck CC = 0,009(LLCUP - (1976)
0,732 0,083 Castello e
(1967) 10) CC = 0,228e0 + 0,22 0,689 0,091
Azzouz et al. CC = 0,006LLCUP – 1,155 0,171 Polido (1986)
(1976) 0,054 Bicalho et al. CC = 0,4961e0 –
0,277 0,140
Castello e Polido CC = 0,01(LLCUP - (2014) 0,1163
0,595 0,069 Higashi (2016) CC = 0,2096.e01,2783 0,716 0,163
(1986) 8)
Bicalho et al. CC = 0,011(LLCUP - Baroni e
0,501 0,070 C = 0,5284e0 0,222 0,209
(2014) 8,3) Almeida (2017) C
CC = 0,0237LLCUP
Higashi (2016) 0,355 0,270
- 0,7679
Baroni &
CC = 0,125LLCUP 0,322 0,126
As correlações para as amostars do Rio de
Almeida (2017) Janeiro apresentaram bons resultados, R² =
0,865 e mínimo MSE = 0,101; as amostras de
São Paulo apresentaram R² = 0,713, embora alto
Analisando os resultados por estado, as
valor de MSE = 1,745 para a correlação de
argilas do Rio de Janeiro apresentaram R² =
Castello e Polido (1986); as amostras de Santa
0,60 e mínimo MSE = 0,208, para a correlação
Catarina também apresentaram alta correlação,
de Baroni e Almeida (2017); São Paulo obteve
R² = 0,734, e máximo MSE = 0,387, para a
R² = 0,497 e mínimo MSE = 0,191 para a
correlação de Higashi (2016); o índice de vazio
correlação de Higashi (2016), entretanto
inicial ofereceu os melhores resultados de
apresentou valores elevados de MSE para outras
correlação para as amostras estudadas do Rio
correlações, MSE = 1,38, para a função de
Grande do Sul, R² = 0,412, e maior MSE =
Terzaghi e Peck (1967); Santa Catarina
0,259; as amostras de Pernambuco
apresentou R² = 0,367, e mínimo MSE = 0,378
apresentaram alto valor de correlação, R² =
para a correlação de Baroni e Almeida (2017); o
0,810, entretanto, os valores de MSE foram
menor coeficiente de correlação ocorreu para o
elevados, 1,995 para a correlação proposta por
Rio Grande do Sul (R² = 0,161); embora
Castello e Polido (1986).
Pernambuco apresentasse R² = 0,734, os valores
de MSE foram elevados, 2,532 para a
3.4 Estimativas de CC a partir de correlações
correlação de Terzaghi e Peck (1967).
com múltiplas propriedades índices
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Foram investigadas duas correlações com conjunto de conexões de entrada (Xj), pesos
múltiplas variáveis para estimar valores de CC sinápticos (Wkj), e bias (bk). Este último é um
do grupo de amostras estudadas. Enquanto as parâmetro de ponderação das conexões, que
argilas do litoral brasileiro apresentaram o pode aumentar ou diminuir o valor da
maior R² = 0,698, para a correlação de Azzouz combinação linear das entradas da função de
et al. (1976) as argilas da GV-ES apresentaram ativação de um neurônio. A Figura 5 apresenta
R² = 0,436 para a mesma correlação. A Tabela 6 o modelo simplificado de um neurônio
apresenta as correlações empregadas e um artificial, onde uk corresponde à combinação dos
resumo estatístico dos resultados obtidos para sinais de entrada; yk representa à saída do
as amostras de solos estudadas neste trabalho. neurônio e f(.) é a função de ativação.

Tabela 6. Algumas correlações empíricas publicadas na


literatura para estimar CC usando múltiplas variáveis
MSE MSE
Referência Correlação
BRA GV-ES
CC = 0,37(e0 +
Azzouz et al.
0,003LLCUP + 0,436 0,104
(1976)
0,0004Wn-0,34)
CC = 0.5393e0 –
Oh & Chai
0,0074IP + 0,255 0,219
(2006)
0,0049LLCUP – 0,1248

A correlação proposta por Azzouz et al.


(1976) apresentou o melhor resultado para as Figura 5. Modelo simplificado de um neurônio artificial
argilas investigadas do Rio de Janeiro, com R² = (adaptado de Haykin 2001).
0,890, e MSE = 0,213, a mesma correlação foi a
mais adequada para os solos de Santa Catarina, A função de ativação tem por objetivo
R² = 0,750 e MSE = 0,213; por outro lado, a limitar os sinais de entrada da rede em um
correlação de Baroni e Almeida (2017) foi a intervalo específico, normalmente situados de 0
mais adequada para as argilas estudadas de São a 1 e -1 e 1, de forma a gerar o neurônio de
Paulo (R² = 0,709 e MSE = 0,610), Rio Grande saída a partir dos valores de entrada da rede e
do Sul (R² = 0,560 e MSE = 0,074) e dos pesos ajsutados. As funções mais
Pernambuco (R² = 0,801 e MSE = 0,525). empregadas em pesquisas de geotecnia são log-
sigmoid, tan-sigmoid e linear.
4 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS (RNA) A arquitetura de uma RNA é a forma como
as redes organizam os seus neurônios, podendo
4.1 Fundamento das RNA ser em uma única camada escondida ou em
várias. Às camadas localizadas entre as camadas
As Redes Neurais Artificiais (RNA) são de entrada e de saída, dá-se o nome de
técnicas de Inteligência Artificial (IA) intermediária, ou oculta.
inspiradas na estrutura do cérebro humado, que Em geral é possível destacar três classes de
buscam simular o seu funcionamento em arquitetura de uma rede neural artificial: rede de
sistemas computacionais de maneira mais camada única do tipo feedforward – alimentada
simplificada. A principal habilidade de uma para frente; redes de múltiplas camadas
RNA está na sua capacidade de generalização e feedforward; e redes de recorrência.
aprendizagem a partir de treinamentos e erros. Normalmente uma RNA com uma única
O neurônio artificial é o elemento básico de camada escondida, operando uma função de
funcionamento de uma RNA, formado por um ativação sigmoidal é suficiente para prever o
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comportamento de um grande número de subgrupo da GV-ES R² = 0,916. O valor


fenômenos práticos. Flood & Kartan (1994) máximo de MSE foi obtido para as argilas do
apontam que um grande número de neurônios litoral brasileiro, 0,361, enquanto para as argilas
escondidos pode tornar as operações de uma da GV-ES foi de 0,192.
RNA mais lentas e passíveis de encontrar As Tabelas 7 e 8 apresentam um resumo dos
soluções erradas. resultados estatísticos do teste de generalização
para as argilas do litoral brasileiro e da GV-ES,
4.2 Redes Neurais investigadas respectivamente. Em geral, os resultados de R²
e MSE indicam alta correlação entre os valores
O treinameto das redes foi realizado no de CC previstos e o medidos em laboratório para
software Matlab2012, através da tolbox nftool, os dados do litoral brasileiro investigados.
que oferece a facilidade de operação dos Outro aspecto importante é a baixa variação dos
algoritmos em ambiente gráfico. As redes do resulatados quando se retirou uma propriedade
tipo multicamadas foram treinadas com o índice na modelagem da rede. Os testes com as
algoritmo levenberg-Marquardt (LM), uma argilas moles do litoral brasileiro indicam alta
otimização do algoritmo backpropagation. correlação para todas as redes selecionadas na
Todas as redes foram treinadas com uma Tabela 7, acompanhada de baixo valor de MSE.
única camada escondida, adotando o número de Entretanto, para as argilas marinhas do
neurônios escondidos como 2, 4, 6, 8, 10 e 20, subgrupo da Grande Vitória, ES, a retirada de
respectivamente. As redes foram treinadas em um parâmetro de entrada refletiu na qualidade
cinco ciclos, primeiro com as quatro variáveis dos resultados, como podem ser observados, os
de entrada (IP, Wn, e0 e LLCUP), em seguida parâmetros LLCUP e e0, quando retirados do
retirando uma das propriedades índices, treinamento resultou em valores menores de R²,
totalizado 30 redes treinadas. 0,745 e 0,603, respectivamente.
Na fase de treinamento foram empregadas
199 amostras (aproximadamente 80% do total
Tabela 7. Resultado dos testes de generalização das RNA
investigado), sendo divididas em 70% para para as argilas do litoral brasileiro
treinamento, 15% para validação e 15% para N°
RNA Generalização Brasil
teste. As amostras restantes (45) foram Neurônios
reservadas para o teste de validação cruzada R² MSE
(generalização). RNA_2_TODOS 4 0,890 0,078
RNA_8_Sem_LLCUP 4 0,870 0,097
O desempenho das redes treinadas foi
RNA_14_Sem_IP 4 0,870 0,113
avaliado através do coeficiente de determinação RNA_20_Sem_Wn 4 0,848 0,107
(R²) e do erro quadrado médio (MSE), RNA_25_Sem_e0 2 0,888 0,079
normalmente adotados em estudos de
desempenho (Onyejekwe et al. 2014). Em geral,
valores de R² próximos a 1 indicam melhor Tabela 8. Resultado dos testes de generalização das RNA
para as argilas do subgrupo da GV-ES
correlação entre duas variáveis, por outro lado, N°
MSE próximo a zero indica menores erros de RNA Generalização GV-ES
Neurônios
previsão do valor de CC em relação aos valores R² MSE
do labotatório. Como resultado das redes RNA_2_TODOS 4 0,812 0,030
treinadas, na fase de validação cruzada foi RNA_8_Sem_LLCUP 4 0,745 0,034
RNA_14_Sem_IP 4 0,835 0,043
obtido o mínimo valor de R² = 0,711 para as
RNA_20_Sem_Wn 4 0,873 0,064
argilas do litoral brasileiro investigadas e R² = RNA_25_Sem_e0 2 0,603 0,090
0,404 para o subgrupo das argilas da GV-ES.
As argilas do Brasil investigadas apresentaram
um valor máximo de R² = 0,890 e as argilas do
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O teste de generalização de previsão dos


valores de CC para as argilas do litoral brasileiro
e do sub-grupo da GV-ES também
apresentaram baixa variação em relação ao
número de neurônios na camada escondida, ou
seja, o aumento do número de neurônios não
resultou em melhor desempenho de previsão
das redes. A Figura 6 mostra que as redes
treinadas convergiram para valores semelhantes,
independente do número de neurônios na
camada oculta, sendo a rede RNA_2 composta Figura 6. Valores de CC previstos por RNA para as
de todas as variáveis de entrada e 2 neurônios argilas da GV-ES.
na camada escondida; a RNA_8 foi treinada
com 3 entradas, excluído o LLCUP; a RNA_14 4 CONCLUSÃO
foi treinada sem a variável IP, e com 4
neurônios ocultos; a RNA_20 foi treinada sem a Neste trabalho foram investigadas correlações
variável Wn, com 4 neurônios ocultos; e por empíricas previamente publicadas na literatura e
fim, a RNA_25 foi treinada sem o e0 e com 2 a técnica de redes neurais artificiais para estimar
neurônios na camada oculta. o valor do índice de compressão de um grupo
de amostras de argilas moles. Essas análises
foram realizadas com dados experimentais de
244 amostras de argilas moles do litoral
brasileiro de diferentes estados, incluindo o
litoral do Espírito Santo, com a análise de 54
amostras de argilas marinhas da Grande Vitória,
ES. Foram treinadas 30 redes, sendo adotada
uma única camada oculta, que variou em 2, 4, 8,
10 e 20 neurônios. O treinamento das redes se
processou no programa Matlab2012, toobox
nftool. As redes foram treinadas com o
Figura 6: Valores de CC previstos por RNA para as algoritmo Levenberg-Marquardt (LM) e a
argilas do litoral brasileiro função de ativação log-sigmoid na camada
oculta e a função linear na camada de saída.
A Figura 7 apresenta os resultados de Os resultados das redes treinadas indicam
previsão de CC com base na arquitetura que as RNA com uma única camada escondida
discutida no parágrafo anterior. As redes com 2 neurônios foram capazes de convergir
avaliadas tendereram a superestimar o valor de para boa previsão de CC. Os resultados dos
CC, entretanto, as redes RNA_8 e RNA_14 testes de generalização com as argilas do litoral
mostram maior convergência entre os valores brasileiro e também da GV-ES mostraram que
do índice compressão estimados e medidos no os valores de CC previstos apresentaram forte
teste oedométrico. correlação com CC medido em teste
oedométrico. Para ambos os testes, os valores
de MSE foram baixos.
Comparando os valores de CC previstos pelas
RNA e pelas correlações empiricas, as
estimativas das redes apresentaram maiores
valores de R² e menores MSE. De forma geral,
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as correlações empíricas testadas para prever CC Vitória, ES, Brasil. Comunicações Geológicas (2014)
das argilas da GV-ES obtiveram valores de R² 101, especial III, CNG/2º CoGePLiP. Rio Grande do
Sul, Porto Alegre.
menores que 0,488, inferiores às estimativas das Castello, R. R e Polido, U. F. (1986) Algumas
redes neurais artificiais. Importante destacar que características de adensamento das argilas marinhas
embora o parâmetro umidade natural tenha de Vitória, ES. VIII Congresso Brasileiro de
apresentado maior correlação com CC (Figura Mecânica dos Soles e Engenharia de Fundações. Porto
1), R² = 0,7465, o seu emprego nas correlações Alegre. pp. 149 – 159.
Coutinho, R Q. e Bello, M. I. M. C. V. (2014)
empíricas não resultou em melhores resultados Characterization of Suape soft clays, Brazil. Soils and
de previsão de CC. A mesma observação se Rocks, 37 (3), pp. 257-276.
estende à modelagem das RNA, onde a retirada Diminsky, A. S. (2000) Análise de problemas
desse parâmetro não resultou em piora geotécnicos através de redes neurais. Tese de
significativa no desempenho das redes, embora Doutorado em Engenharia Civil, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
seja observada redução no valor de R². A Janeiro, 2000.
variável LLCUP parace ser a mais sensível na Flood, I. & Kartam, N. (1994) Neural networks in civil
modelagem das redes para as amostras engineering I: Principles and understanding. Journal
estudadas em nível de Brasil, enquanto o e0 é o of Computing in Civil Engineering, 8(2), pp. 131-148.
Futai, M. M., Almeida, M. S. S., Lacerda, W. A. e
mais sensível para estimar CC das argilas da
Marques, M. E. S. (2008) - Laboratory behavior of
GV-ES. Rio de Janeiro soft clays . Index and compression
Importante destacar que as correlações properties– part 1. Soils and Rocks. 31 (2), pp. 69-75.
empíricas são melhores aplicadas aos sítios de Goh, A. T. C. (1995) Modeling soil correlations using
amostras de sua modelagem, por outro lado, as neural networks. Journal of Computing in Civil
Engineering, ASCE, 9(4), pp. 275-278.
redes neurais artificias se mostraram menos
Haykin, S. (2001). Neural Networks. A Comprehensive
influenciadas por essa regionalidade. Foundation. Second Edition, Pearson Education,
Os resultados preliminares obtidos mostram McMaster University, Hamilton, Ontario, Canada.
o potencial de aplicação das RNA na estimativa Higashi, R. A. R (2006). Metodologia de uso e ocupação
do índice de compressão de argilas moles do dos solos de cidades costeiras brasileiras através de
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Avaliação da Degradação de Fibras (Natural e Sintética) e sua


Influência no Comportamento Mecânico de um Solo Arenoso
Fernanda Pecemilis Dalla Bernardina
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
fernanda.dbernardina@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil
mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: Este estudo experimental relata o comportamento mecânico de um solo granular


reforçado degradado com adição de fibras de coco e de polipropileno, distribuídas aleatoriamente e
em forma de camadas. A fibra de coco possui boa propriedade mecânica, e sua utilização como
reforço de solo é uma alternativa sustentável, sendo que, muitas vezes, não possui uma disposição
final adequada. A fibra de polipropileno possui grande tenacidade e flexibilidade, boa resistência à
tração e ao ataque de várias substâncias químicas e características uniformes e bem definidas. Uma
série de ensaios de compressão triaxial isotropicamente drenado foi realizado para a avaliação da
degradação das fibras e seu comportamento mecânico em amostras a uma densidade relativa de
50% e teor de umidade de 10%, com um teor de fibras de 0,5% e 25mm de comprimento. Através
dos resultados obtidos, foi observado que a fibra que sofreu a maior degradação foi a natural, de
coco.

PALAVRAS-CHAVE: Fibra de Coco, Fibra de Polipropileno, Solos Reforçados, Degradação de


Fibras, Solo Granular

1 INTRODUÇÃO resistência, tenacidade, melhorar a resistência à


tração, melhorar a coesão, trabalhabilidade, etc.
A técnica de reforço do solo para melhorar as As fibras não impedem a formação de fissuras
propriedades mecânicas com a adição de fibras no compósito, mas aumentam a resistência à
é conhecida e empregada pela humanidade há tração pelo controle da propagação de fissuras
muito tempo, com a utilização de fibras (Taylor, 1994). Segundo Hannant (1994) as
vegetais. Foi desenvolvida há mais de três mil fibras mantêm as interfaces das fissuras juntas,
anos pelos Babilônicos e Chineses (Festugato, aumentando a ductilidade no estado pós-
2008). fissuração
A técnica de reforçar solo com fibra encontra- O melhoramento das propriedades mecânicas
se inserida na tecnologia dos materiais de solos reforçados com fibras depende das
compósitos. Material compósito é a combinação características das fibras (resistência à tração,
de dois ou mais materiais que possui módulo de elasticidade, comprimento, teor e
propriedades que não são encontradas rugosidade), do solo (granulometria das
isoladamente nos materiais que lhe deram partículas e forma, índice de vazios, grau de
origem. É constituído de duas fases: a matriz e cimentação, tamanho, etc.), da tensão de
o elemento de reforço, e é desenvolvido para confinamento e do modo de carregamento.
otimizar os pontos fortes de cada uma das fases As fibras vegetais, comparadas às fibras
(Budinski, 1996). sintéticas, são de baixo custo, de fácil
Em geral, o material de reforço é adicionado manuseamento e obtenção, não geram resíduos,
ao solo com o objetivo de melhorar a requerem menos energia no processo de
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produção, além de serem fontes renováveis.


Como vantagens, apresentam grandes variações
dimensionais, susceptibilidade de degradação e
grande variabilidade das propriedades físicas e
mecânicas.
As fibras sintéticas possuem boa
maleabilidade, excelente resistência química e
mecânica, propriedades mecânicas e dimensões
bem definidas. Em relação à fibra vegetal,
apresentam alto custo.
O presente trabalho busca apresentar o
comportamento do solo reforçado com fibras
naturais vegetais e fibras sintéticas. Além de
interpretar e comparar o efeito da degradação
Figura 1. Distribuição granulométrica da areia empregada
das fibras em condições de campo, a fim de nos ensaios.
recomendar as misturas que apresentarem os
melhores resultados.
Tabela 1. Índices físicos da areia empregada nos ensaios
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL Índices Físicos Valor
Densidade dos grãos (Gs) 2,65
O programa experimental consistiu na execução Diâmetro efetivo D10 0,22mm
de ensaios de compressão triaxial para a Diâmetro médio D50 0,58mm
determinação dos parâmetros de resistência que Coeficiente de uniformidade (Cu) 3,27
serviram como base para identificar e avaliar o Corficiente de Curvatura (Cc) 0,87
efeito da inclusão de fibras de coco e fibras de
Índice de vazios máximo (emax) 0,96
polipropileno dispersas aleatoriamente e em
camadas nas propriedades mecânicas de um Índice de vazios mínimo (emin) 0,71
solo granular e a degradação das fibras em um
determinado intervalo de tempo.
2.1.2 Fibra de Coco
2.1 Materiais e Métodos
As fibras de coco (Figura 2) utilizadas neste
2.1.1 Areia estudo são provenientes da Companhia
Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB)
Para facilitar a interpretação da degradação das em parceria com a Secretaria de Conservação e
fibras e do efeito que elas proporcionam ao Serviços Públicos (SECONSERVA),
solo, escolheu-se um material com responsáveis pela coleta, segregação, e entrega
comportamento mecânico bem definido. A areia à ECOFIBRA, que é responsável pelo
utilizada neste estudo é proveniente de uma beneficiamento da casca do coco verde.
jazida localizada no município de Itaboraí, no A fibra de coco é obtida da casca da fruta, que
estado do Rio de Janeiro. Os índices físicos do possui grande consumo no Brasil,
material (Tabela 1) e a curva granulométrica especialmente em áreas litorâneas. A utilização
(Figura 1) foram determinados no Laboratório dessa fibra como reforço de solo é uma
de Geotecnia e Meio Ambiente (LGMA) da alternativa sustentável.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Na Tabela 2 são apresentadas as principais
Janeiro (PUC-Rio). propriedades mecânicas da fibra de coco. Vale
ressaltar que, por se tratar de uma fibra natural,
não possui diâmetro constante.
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Propriedades Mecânicas  Valor 
Densidade relativa  0,92 
Módulo de elasticidade (GPa)  5 
Resistência à tração (MPa)  300 
Deformação axial na ruptura (%)  80 

2.1.4 Preparação das Amostras


Figura 2. Fibra de coco (Aguilar, 2015).
As amostras foram preparadas com uma
proporção de 0,5% de fibra em relação à massa
Tabela 2. Propriedades mecânicas da fibra de coco de solo. As fibras foram distribuídas
(Tomczak, 2010). aleatoriamente dispersas na matriz arenosa.
Propriedades Mecânicas Valor Foram utilizados os mesmos parâmetros de
Densidade relativa 1,15 moldagem das amostras de solo e solo-fibra
Módulo de elasticidade (GPa) 2,0-6,0 usados por Casagrande (2005), Girardello
Resistência à tração última (MPa) 37,53-250 (2010), Santiago (2011), Santos (2012),
Deformação axial na ruptura (%) 10,0-51,4
Sotomayor (2014), Louzada (2014), que,
também, trabalharam com solo arenoso, sendo o
teor de umidade de 10% e densidade relativa de
2.1.3 Fibra de Polipropileno 50%.
Os corpos de prova expostos a intempéries
As fibras de polipropileno (Figura 3) estão foram moldados em tubos bipartidos de PVC,
disponíveis no mercado em forma de pequenos com 11cm de altura e 4,7cm de diâmetro e um
geotêxtil aderido na sua base para que pudesse
filamentos. As fibras utilizadas neste estudo conter o solo reforçado com fibras a ser
foram produzidas pela Maccaferri do Brasil exposto. Dentro dos tubos bipartidos, as
Ltda. amostras foras compactadas manualmente em
cinco camadas, sendo que, cada camada da
amostra exposta ao tempo continha exatamente
a quantidade necessária de material para cada
camada do corpo de prova submetido ao ensaio
triaxial. O peso da mistura e a altura das
camadas foram controladas para a obtenção da
densidade desejada. Após moldados, os corpos
de prova foram expostos para serem submetidos
a ensaios com o objetivo de traçar as curvas que
Figura 3. Fibra de polipropileno (Casagrande, 2005). relacionem as variáveis de resistência à
compressão triaxial e tempo.
Por se tratar de uma fibra sintética, possui
características uniformes e bem definidas e
estão disponíveis em grande quantidade no
comércio. Na Tabela 3 constam as principais
características da fibra. As fibras cedidas pela
empresa possuem comprimento de 25mm.

Tabela 3. Propriedades mecânicas da fibra de


polipropileno (Maccaferri).
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foram compactadas manualmente, com o teor


de umidade de 10% e densidade relativa de
50%.

Figura 4. Preparação das amostras (Silveira, 2018).

Figura 6. Preparação das amostras expostas para o ensaio


triaxial (Silveira, 2018).

A Tabela 4 sumariza as abreviações adotadas


para cada tipo de amostra, com relação à fibra
utilizada e ao tempo de exposição.

Tabela 4. Abreviações para cada tipo de amostra.


Fibra Tempo de exposição Abreviação
- AP
Figura 5. Local escolhido para exposição das amostras - ACO00
(Silveira, 2018).
1 mês ACO01
No local escolhido para a exposição (Figura Coco 2 meses ACO02
5), o período de exposição foi de oito meses, 4 meses ACO04
sendo que foram realizados ensaios nos tempos 8 meses ACO08
1 mês, 2 meses, 4 meses e 8 meses para que seja - APP00
possível avaliar a degradação das fibras nos 1 mês APP01
intervalos de tempo mencionados. Polipropileno 2 meses APP02
As amostras foram submetidas a vários
4 meses APP04
agentes climáticos, como radiação solar,
variações climáticas causadas pela mudança de 8 meses APP08
estações, transição do dia para a noite,
precipitação.
Após cada tempo de exposição proposto, três 2.2 Ensaios triaxiais
tubos era retirados e amostras foram secas em
estufas de 60º. Para a realização dos ensaios Para a determinação dos parâmetros de
triaxiais, foram descartadas as camadas do topo resistência, foram realizados ensaios triaxiais
e da base (Figura6 6). Assim como nas consolidados isotropicamente drenados (CID)
amostras de areia pura e solo-fibra sem em amostras de solo arenoso e compósitos solo-
exposição, as três camadas restantes foram, fibra, no LGMA da PUC-Rio. Os parâmetros
separadamente, compactadas diretamente em foram determinados por meio da envoltória
um molde cilíndrico tripartido posicionado na composta por tensões normais de 50kPa,
prensa a ser realizado o ensaio. As camadas 100kPa e 150kPa.
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Para assegurar a saturação das amostras, foi fibras. Quanto maior o tempo em exposição,
utilizado o parâmetro B de Skemptom. A menor a resistência ao cisalhamento.
saturação foi realizada pelas técnicas de Nas tensões confinantes efetivas de 50kPa e
percolação e contrapressão. Para definir a 100kPa, observa-se que as fibras passam a
velocidade de cisalhamento, foi adotado o contribuir no acréscimo de resistência do
critério apresentado em Head (1986), sendo material logo no início do ensaio. Apenas no
0,030mm/min a velocidade de cisalhamento ensaio de 150kPa que a partir da deformação
utilizada em todas as amostras ensaiadas. axial de 2,0%, aproximadamente, que a
resistência do material reforçado passa a ser
maior, permanecendo assim até o final do
3 RESULTADOS E ANÁLISES ensaio, com de formação de 20%.
No gráfico tensão desviadora x deformação
As figuras a seguir mostram as curvas tensão vertical, todas as tensões obtidas nas amostras
desviadora e variação volumétrica vs de solo reforçado com fibra de polipropileno
deformação axial, com tensão efetiva de 50, 100 são maiores em relação às amostras reforçadas
e 150kPa, correspondentes ao ensaio do tipo com fibra de coco, sob as mesmas condições
CID nos solo arenoso e no solo arenoso (tensão confinante efetiva e tempo de
reforçado com fibras de coco e de polipropileno degradação).
degradadas. As fibras apresentam 25mm de Observa-se que a rigidez dos materiais
comprimento, teor de 0,5% com distribuição ensaiados aumenta com o aumento das tensões
aleatória. efetivas. Para uma mesma tensão efetiva, os
Para melhor visualização dos resultados, as compósitos de areia reforçados com fibra de
curvas foram separadas de acordo com a tensão coco e os compósitos reforçados com fibra de
confinante efetiva aplicada no ensaio. As polipropileno, independentemente do grau de
figuras 7 a 13 apresentam os resultados obtidos degradação, apresentam maior rigidez que a
nos ensaios triaxiais. areia sem reforço, indicando uma mudança na
A Figuras 7 e 8 apresentam as curvas tensão estrutura do material com a incorporação de
desviadora vs deformação axial e deformação fibras na matriz arenosa, exercendo influência
volumétrica vs deformação axial, na sua rigidez.
respectivamente, a uma tensão confinante
efetiva de 50kPa. As Figuras 9 e 10 apresentam,
respectivamente, a curva tensão desviadora vs
deformação axial e a curva deformação
volumétrica vs deformação axial a uma tensão
efetiva de 100kPa.
As curvas tensão desviadora vs deformação
axial e deformação volumétrica vs deformação
axial estão apresentadas, respectivamente, nas
Figuras 11 e 12
Com os dados obtidos nos ensaios, observa-se
que a resistência aumenta com o aumento da
tensão confinante efetiva. Nota-se também o
acréscimo da resistência ao cisalhamento em
função da adição de fibras em relação ao
material não reforçado, sendo que esse
acréscimo diminui com a degradação das fibras.
É possível observar a perda da resistência ao
cisalhamento em função do tempo nas duas
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Figura 7. Tensão desviadora x deformação axial a 50kPa.


Figura 9. Tensão desviadora x deformação axial a
100kPa.

Figura 8. Variação volumétrica x deformação axial a


50kPa.

Figura 10. Variação volumétrica x deformação axial a


100kPa.
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Nas curvas de variação volumétrica vs


deformação axial, observa-se uma tendência à
contração para todas as amostras, em todas as
tensões efetivas e tempos de degradação, com
exceção da amostra de areia com fibra de
polipropileno, exposta por 8 meses em
condições de campo (APP08), a 100kPa de
tensão efetiva.
A Figura 12 apresenta as envoltórias de
resistência obtidos nos ensaios triaxiais
realizados nas amostras de solo não reforçado, e
reforçado com fibras de coco e de polipropileno
sem degradação e com degradação. Os valores
do intercepto coesivo e do ângulo de atrito
estão apresentadas na Tabela 5.

Figura 11. Tensão desviadora x deformação axial a


150kPa.

Figura 13. Envoltória de tensões.

Tabela 5. Intercepto coesivo e ângulo de atrito.


Amostra ϕ' c' 
AP  31,89  0,00 
Figura 12. Variação volumétrica x deformação axial a ACO00  42,07  28,41 
150kPa. ACO01  40,97  25,07 
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ACO02  39,32  27,51  Para os intervalos de tempo estabelecidos para


ACO04  39,12  23,07  as amostras expostas em condições de campo,
ACO08  38,05  23,69  foi observado o efeito da degradação nos
APP00  37,29  89,85  compósitos solo-fibra. A resistência de todas as
fibras diminuiu com o aumento do tempo em
APP01  37,59  71,10 
exposição.
APP02  38,01  65,28  Com os dados apresentados neste estudo
APP04  38,27  55,29  experimental, pode-se concluir que a fibra
APP08  39,18  42,92  natural que sofreu uma degradação maior em
relação à fibra sintética, porém a resistência do
A adição de fibras provocou um aumento compósito degradado solo-fibra permanece
tanto no intercepto coesivo quanto no ângulo de maior se comparada ao solo puro. Diferente do
atrito. Pode-se observar que, nas amostras de esperado, a fibra sintética também sofreu
solo reforçadas com fibra de coco este aumento degradação.
foi reduzindo com o aumento do grau de
degradação das amostras. Mas mesmo sofrendo
degradação, estes parâmetros são maiores AGRADECIMENTOS
quando comparados aos da areia pura.
Nas amostras de solo reforçado com Ao Laboratório de Geotecnia e Meio Ambiente
polipropileno, observa-se um grande aumento da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
do intercepto coesivo, sendo que este decresce Janeiro pelo apoio físico e técnico para a
de acordo com o grau de degradação da realização dos ensaios para a pesquisa e à
amostra. Os ângulos de atrito obtidos nas Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
amostras degradadas e sem degradação foram Nível Superior (CAPES) pelo apoio à pesquisa.
maiores se comparados ao da areia pura, porém,
observa-se que com o aumento do grau de
degradação das amostras de solo reforçadas REFERÊNCIAS
com fibra de polipropileno, o ângulo de atrito
também aumenta. Isso indica uma maior Casagrande, M.D.T. (2005). Comportamento de solos
reforçados com fibras submetidos a grandes
interação entre a matriz e as fibras. deformações. Tese (doutorado) – Univerdidade
Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Engenharia.
Programa de pós-graduação em Engenharia Civil,
4 CONCLUSÕES PPGEC. Rio Grande do Sul.
Tamayo, J.R.A. (2015). Análise do comportamento
A partir dos ensaios de compressão triaxial mecânico de um solo arenoso reforçado com fibras de
convencional executados em solo arenoso e coco. Dissertação (mestrado) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Programa de
misturas solo-fibra sem degradação e solo-fibra pós-graduação em Engenharia Civil. Rio de Janeiro.
degradado, com 25mm de comprimento, teor de Vendruscolo, M.A. (2003). Estudo do comportamento de
0,5% e com distribuição aleatória, foram materiais compósitos fibrosos para a aplicação como
estabelecidas algumas conclusões: reforço de base em fundações superficiais. Tese
A adição de fibras, independentemente do (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Programa de pós-graduação em Engenharia Civil,
tempo de degradação, até o tempo estabelecido PPGEC. Rio Grande do Sul.
por este estudo experimental, provocou um Budinski, K.G. (1996). Engineering materials, properties
aumento no intercepto coesivo e no ângulo de and selection. 5ed. New Jersey: Prentice Hall
atrito do material e, consequentemente, na International, 653p.
resistência do material. Ghavami, K., Toledo Filho, R.D., Barbosa, N.P.(1999).
Behaviour of composite soil reinforced with natural
A adição de fibras provocou um aumento na fibres. Cement and Concrete Composities 21.
rigidez e tenacidade da areia. Girardello, V. (2010). Ensaios de placa de areias não
saturadas reforçada com fibras. Dissertação
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(mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do


Sul. Programa de pós-graduação em Engenharia Civil,
PPGEC. Rio Grande do Sul.
Illston, J.M. (1994). Construction materials; their nature
and behavior. 2ed. London: E & FN Spon, 518p.
Palacios, M.A.P. (2012). Comportamento de uma Areia
Reforçada com Fibras de Polipropileno Submetida a
Ensaios Triaxiais de Extensão. Dissertação (mestrado)
– Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro.
Sotomayor, J.M.G. (2014). Avaliação do comportamento
carga-recalque de uma areia reforçada com fibra de
coco submetida a ensaios de placa em verdadeira
grandeza. 135p. Dissertação (mestrado) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro.
Head, K.H. (1986). Manual of Soil Laboratory Testing:
Effective Stress Test. Wiley, 2nd ed., v.3, West
Sussex, Inglaterra, p.227.
Feuerharmel, M. R. (2000). Comportamento de Solos
Reforçados com Fibras de Polipropileno. Dissertação
(mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Programa de pós-graduação em Engenharia Civil,
PPGEC. Rio Grande do Sul.
Pinto, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. São
Paulo. Oficina de Textos, 2006, 3ed.
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Avaliação da erodibilidade de misturas SOLO – RCC para camada


de cobertura e proteção de taludes.
Ana Luiza Caovilla Kaiber1
Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop, Brasil, analuizacaovilla@gmail.com

Eduardo Rosendo Lucena 2


Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop, Brasil, eduardo.luc@outlook.com

Ana Elza Dalla Roza 3


Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop, Brasil, ana.roza@unemat.br

Raul Tadeu Lobato Ferreira 4


Universidade Federal do Mato Grosso, Sinop, Brasil, raullobato@ufmt.br

Flavio Alessandro Crispim 5


Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop, Brasil, flavio.crispim@unemat.br

Augusto Romanini 6
Universidade do Estado de Mato Grosso e Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas, Sinop, Brasil,
augusto.romanini@unemat.br

RESUMO: Este trabalho avaliou o efeito da erodibilidade de um solo da região de Sinop - MT para
aplicação em camadas de cobertura e proteção de taludes através do ensaio de Inderbitzen. Visando
reduzir a erodibilidade do solo, foi proposta a adição de RCC (Resíduo da Construção Civil) ao solo.
As amostras ensaiadas foram as de solo puro (M01), solo com adição de 25% de RCC (M02) e solo
com adição de 50% de RCC (M03). O estudo foi realizado com amostras compactadas no teor de
umidade ótimo (wot) e na Energia Proctor Normal. Parte das amostras não foram submetidas à
imersão e parte foram submetidas à imersão parcial e total, com o objetivo de simular três situações
distintas que podem ocorrer em campo. Foi construído o equipamento para a execução do ensaio de
Inderbitzen, que avalia em laboratório, através da perda de massa, a erosão causada pela água. O
aparelho foi confeccionado utilizando placas de acrílico de 0,5 cm de espessura, que foram cortadas
e coladas na montagem no equipamento. Foi possível verificar que, quando submetidas à imersão
parcial as amostras obtiveram uma melhor resposta a erosão. Foi possível verificar também que a
adição do resíduo acarretou no aumento da erodibilidade das amostras, caracterizando um
comportamento erodível principalmente na condição de imersão total. Portanto, a aplicação do RCC
para o solo ensaiado foi considerada inadequada.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Inderbitzen, Solo-RCC.

1 INTRODUÇÃO comportamento é a água. A ação da água pode


atuar tanto aumentando as poropressões, com a
A execução de corte e aterros acarreta, na elevação do lençol freático, quanto causando
maioria dos casos, o surgimento de taludes. erosões na camada superficial do aterro, devido
Esses taludes estão sujeitos a ações externas e à precipitação. Da camada de proteção, espera-
internas que afetam a sua estabilidade se que ela seja resistente às solicitações que são
(GEORIO, 2000). impostas pela ação da água no âmbito externo,
Um dos agentes que afetam em seu conhecida popularmente como erosão. Esta
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erosão pode tornar o aterro instável ou até pela ausência de coesão na resistência ao
mesmo levá-lo a ruptura (GERSCOVICH, cisalhamento destes solos. Solos de
2012). características argilosas e siltosas têm valores de
Esta camada superficial pode ser constituída pelo coesão maiores e, portanto, são mais resistentes
mesmo material que compõe o aterro/corte ou à erosão.
ser confeccionada. Esta camada pode ser natural A sucção, segundo Conciani (2008), é um valor
(vegetação) ou artificial (concreto ou de poro-pressão negativa decorrente da
geossintético). Outra alternativa é a utilização de insuficiência de água para saturar o solo. Em
estruturas mistas, que podem ser constituídas de outras palavras, é a energia que um elemento
materiais naturais e artificiais, como poroso exerce para absorver água do solo.
geossintético e grama, ou mistura de solo com Quanto maior a sucção de um solo, maior a sua
outros materiais (GEORIO, 2000). resistência ao cisalhamento. Apesar de mais
A criação de mistura de solo com outros resistentes, esses solos são os mais suscetíveis a
materiais tem se apresentado interessante, pois erosão, pois a entrada de água em sua estrutura
na maioria dos casos tem-se um material com faz com que ocorra uma perda de resistência de
qualidades que o solo natural não tinha. Esse forma abrupta.
processo de estabilização já foi estudado com No meio geotécnico a erodibilidade é avaliada
diversos aditivos em dois solos da região de por meio de métodos empíricos, como o método
Sinop – MT. Uma das misturas que se têm da USLE (Equação Universal de Perda de Solo)
mostrado interessante é a adição de Resíduos de e ensaios de laboratório, tais como ensaios de
Construção Civil (RCC) em solos visando alterar caracterização física (granulometria e índices de
as suas características. consistência), desagregação por imersão, pin
A mistura solo – resíduo de construção civil é hole e o de Inderbitizen.
interessante pois propõe a reutilização de um Existem diversos ensaios para se determinar a
material que ainda pode ter um valor agregado e erodibilidade de um solo. Todos eles visam
que é gerado constantemente. Analogamente a identificar características do solo e
esse processo, existe uma preocupação proporcionam informações para o entendimento
ambiental que se caracteriza pela grande destas características. Os resultados destes
quantidade de resíduo produzido, pela falta de ensaios, permitem propor soluções viáveis e de
um local adequado para a disposição do mesmo cunho sustentável para problemas que envolvem
e pelo grande volume que é ocupado na sua a erodibilidade do solo e os processos erosivos.
disposição. O ensaio de Inderbitzen, desenvolvido em 1961,
O processo erosivo é muito complexo, possuindo constitui-se de um aparelho simples que simula,
diversos fatores condicionantes. Conciani (2008) em laboratório, as condições em que a erosão
avaliou e dividiu esses fatores em: ocorre em campo e que avalia a erodibilidade
granulometria, limites de liquidez e plasticidade, através do escoamento superficial, inclinação e
sucção, forma da encosta, pedologia, teor de umidade da compactação da amostra.
permeabilidade, cobertura, ação antrópica e Esse aparelho foi inicialmente constituído de
compactação. Todos esses fatores influenciam uma rampa em que uma amostra de solo é
no processo erosivo de um solo, porém, do ponto colocada sob a mesma e, na parte superior, existe
de vista geotécnico, apenas alguns deles um reservatório que escoa a água por toda a
possuem maior relevância superfície da rampa.
A granulometria influi diretamente nos Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a
processos erosivos, sendo assim, uma das perda de massa de um solo puro típico da região
propriedades mais estudadas. Conciani (2008) e também de misturas com adição de RCC
afirma que solos como siltes e areias finas e com através de ensaios com o equipamento de
pouca quantidade de argila são os mais Inderbitzen.
suscetíveis a erosão. Isso se dá, basicamente,
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2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais
A
Os materiais utilizados foram um solo local e o
resíduo de construção civil, além do
E
equipamento de Inderbitizen.

2.1.1 Solo D
C
O solo utilizado neste trabalho é comumente F
conhecido como “amarelo”, e foi coletado em
um trecho de uma estrada vicinal do município B
de Sinop, MT, em um ponto situado a cerca de
500 metros do eixo da rodovia MT – 423, nas Figura 1. Aparelho de Inderbitzen. Itens: A:Suporte para
coordenadas geográficas 11°45'29.3"S mangueira de alimentação; B: Molde padrão; C: Base com
55°22'31.9"W. A coleta foi feita no segundo angulação ajustável; D: Rampa do aparelho; E: Placa de
semestre do ano de 2014, a uma profundidade regulagem de vazão e altura da lâmina de água; F: Suporte
entre 0,60 e 1,00 m. Após a coleta, o material foi para o molde. Fonte: Os autores, 2017.
levado ao Laboratório de Engenharia Civil da
O aparelho da Figura 1 foi confeccionado
UNEMAT. O solo foi seco ao ar, peneirado na
utilizando placas de acrílico de 0,5 cm de
peneira de 4,8 mm (nº 4) e armazenado em
espessura, cortadas e coladas para formar a
tambores metálicos.
rampa e o canal de escoamento. As paredes da
rampa tem altura de 5,0 cm, assim como a placa
2.1.2 Resíduo de Construção Civil
de regulagem de vazão e a altura da lâmina de
água. A rampa tem dimensões de 60,00 cm x
Os resíduos de construção civil foram coletados
20,00 cm. O centro da amostra está localizado a
em obras do município de Sinop. Os resíduos
36,50 cm do início do fluxo.
foram britados de forma mecânica, utilizando
O recorte para o encaixe da amostra possui
um britador disponibilizado por uma empresa
diâmetro externo de 11,00 cm, uma vez que o
local. A escolha da faixa granulométrica seguirá
molde possui diâmetro interno de 10,00 cm e
a utilizada por Alves e Benatti (2015), ou seja, a
altura de 5,00 cm.
fração areia, o intervalo utilizado é do passante
A vazão foi medida por uma estrutura auxliar
na peneira nº 10 (2,00 mm) até o retido na
com registro e rotâmetro, conforme a Figura 2.
peneira nº 200 (0,076 mm) conforme a ABNT
(1984c).

2.1.3 Equipamento de Inderbitzen

Para o ensaio de Inderbitzen, o aparelho utilizado


seguiu a proposta de IDE (2009), conforme a
Figura 1.
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Foram confeccionadas 27 amostras, para cada


mistura foram compactadas um total de 9
amostras que foram separadas em três casos:
caso A, caso B e caso C. As 3 amostras que não
foram submetidas a imersão correspondem ao
caso A, as 3 amostras que foram submetidas a
imersão parcial são analisadas no caso B e as
outras 3 que foram submetidas a imersão total,
são o caso C.
A imersão parcial ocorreu de maneira com que o
corpo de prova ficasse imerso até a metade da
sua altura pelo tempo de 15 minutos. No
processo de imersão total, a água cobriu
totalmente o corpo de prova, também pelo tempo
de 15 minutos.
O solo e as misturas foram moldados em um
molde padrão, conforme a Figura 3

Figura 2. Rotâmetro utilizado para controlar a vazão durante o


ensaio. Fonte:os autores,2017

2.2 Métodos

2.1.1 Preparação das amostras

Com o solo e o RCC foram confeccionadas 3


misturas, denominadas M01, M02 E M03. A
Mistura M01 é composta apenas de solo, a
Mistura M02 possui 75% Solo e 25% RCC e a
Mistura M03 é composta por 50% Solo e 50%
RCC. Todas as adições foram feitas em função Figura 3.Corpo de prova compactado. Fonte: Os autores, 2017.
da massa seca do solo.
Após este processo deu-se início aos ensaios de
As misturas M01, M02, M03 e o RCC,
erodibilidade, por meio dos ensaios de
respectivamente e, posteriormente, foram
Inderbitizen.
caracterizadas, através dos ensaios de
determinação do limite de liquidez (ABNT,
2.1.3 Ensaio de Inderbitzen
1984a), determinação do limite de plasticidade
Para o ensaio de Inderbitzen Normal, a amostra
(ABNT,1984b) e análise granulométrica
foi colocada próxima ao fundo. O fluxo de água
(ABNT, 1984c). Os parâmetros de compactação
foi ligado e a amostra ficou disposta de uma
utilizados foram obtidos por Alves e Benatti
maneira que a sua superfície permaneça no
(2015) utilizando a Energia Proctor Normal.
mesmo nível em que a rampa. A altura da lâmina
2.1.2 Ensaio de Inderbitzen de água foi obtida em função da vazão
estabelecida no momento do ensaio. Esta altura
Para estas misturas, além dos ensaios realizados também pode ser obtida por meio da Equação 1,
no item 2.1.1, foram conduzidos os Ensaios de onde h é altura da lâmina de água, Q é a vazão, v
Inderbitzen. As amostras foram compactadas no é a velocidade do fluxo e L a largura da rampa.
teor de umidade ótimo obtido através do ensaio Q
de compactação. h= (1)
v L
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Por se tratar da primeira avaliação, optou-se por relação a área da amostra e o tempo de fluxo,
realizar o ensaio utilizando a inclinação de 20º obtendo-se assim, gráficos expressos em perda
proposta por Freire (2001) e utilizada por acumulada de solo (g/cm²) por tempo (minutos).
Grando (2011). A inclinação da rampa pode ser Segundo Conciani (2008), o fator de
ajustada diretamente no equipamento. erodibilidade K é obtido pela equação 2:
A vazão escolhida foi fixada em 50 mL/s,
conforme proposto por Ide (2009) e corresponde Ms
K= (2)
a uma precipitação de 28 mm em 30 minutos no A tS
município de Bauru - SP, porém a escolha da
mesma vazão se justifica pelo fato de diversos Onde:
autores a utilizarem e ainda ser a vazão que K = Fator de erodibilidade;
proporciona o melhor desempenho do 𝑀𝑠 = Massa de solo seco perdido no ensaio (g);
equipamento. t = Tempo de ensaio (minutos);
O ensaio foi baseado no proposto por Campos A = Área da amostra (cm²);
(2014), onde cada amostra foi submetida um S = Tensão hidráulica cisalhante atuando na
fluxo de água por cerca de 30 minutos e o amostra (Pa).
material erodido foi coletado nos intervalos
decorridos de 1, 5, 10, 15 e 30 minutos, sem O cálculo da tensão hidráulica cisalhante (S) da
pausa durante as coletas. O material coletado foi amostra,calculada por meio da Equação 3:
armazenado em recipientes limpos e secos, onde
foram separados o solo da água em um conjunto S =  w  H  cos  (3)
de peneiras de malhas nº 50 (0,297 mm) nº 100
(0,150 mm), e nº 200 (0,074 mm) e Onde:
posteriormente secos em estufa e pesados. S = Tensão hidráulica cisalhante atuando na
Na Figura 4 é apresentado um ensaio em amostra;
andamento no equipamento. 𝛾𝑤 = Peso específico da água;
H = Altura da lâmina d’agua atuando sobre a
amostra;
α = Ângulo de inclinação da calha (em relação à
horizontal).

Segundo Bastos (1999), solos mais erodíveis


apresentam valores de K na condição de
umidade natural superiores a 0,1 g/cm²/min/Pa e
solos mais resistentes a erosão apresentam
valores inferiores a 0,001 g/cm²/min/Pa,
conforme ilustra a Tabela 1.
Tabela 1. Índices de erodibilidade segundo o parâmetro
K.

Índice de Erodibilidade Valores de K

Baixa Erodibilidade K<0,1

Média Erodibilidade 0,1<K<10


.
Figura 4. Ensaio de Inderbitizen em andamento. Fonte: Os
autores, 2017. Alta Erodibilidade K>10
Fonte: Adaptado de Bastos, 1999.
Com os resultados da etapa anterior, foi medida
a perda em peso de solo seco erodido com
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ensaio semelhantes. Neste caso, percebe-se que


3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS a perda de massa se acentua com o decorrer do
RESULTADOS ensaio.

Os valores obtidos através dos ensaios são 15


apresentados a seguir.
14

3.1 Ensaios Preliminares 13

12
Foram realizados também ensaios de
granulometria e de limites de consistência (LL e 11
LP) para o solo puro e para cada uma das

Perda de massa (g)


10
misturas. A caracterização geotécnica para as
três misturas analisadas é apresentado pela 9
Tabela 2.
8
Tabela 2. Caracterização geotécnica das misturas.
7
S+A (%)*
AM (%)
AG (%)
Mistura

AF (%)

LL (%)

LP (%)

IP (%)

5
13
M01 7 37 17 39 38 25 4

3
M02 10 39 21 30 30 20 9
2
M03 18 36 18 28 24 NP -
1
RCC 21 53 12 14 NL NP - 0
1 5 10 15 30
Nota: * Classificação segundo a ABNT (1995): areia grossa - AG M01 0,6384 1,0771 1,3758 1,5432 1,8742
(0,60 ≤ ϕ < 2,00 mm), areia média – AM (0,20 ≤ ϕ < 0,60 mm),
areia fina - AF (0,06 ≤ ϕ < 0,20 mm) e silte + argila - S+A (ϕ ≤ 0,074 M02 3,0108 3,9193 4,4756 5,0218 5,6643
mm). Limite de liquidez – LL, Limite de plasticidade – LP, Índice M03 3,1541 4,4639 5,0242 5,4213 6,3162
de plasticidade – IP. Não líquido – NL, Não plástico – NP. Fonte:
Os autores, 2017. Tempo (minutos)

3.2 Ensaio de Inderbitzen M01 M02 M03


Figura 5. Caso A - Sem Imersão. Fonte: os autores,2017
Os ensaios realizados no aparelho de
Inderbitzen, simulam em laboratório as Na Figura 6, observa-se que quando submetidas
condições de saturamento do solo após um a imersão parcial, caso B, a mistura M02 tem o
chuva, onde a água deixa de infiltrar e passa a melhor comportamento no primeiro minuto, em
correr como um escoamento laminar pela relação as as outras duas misturas. Este foi um
superfície do solo, caso retratado no caso A. dos casos em que ocorreu a menor perda de
Repetiu-se a mesma forma de análise quanto aos massa acumulada, frente as situações de sem
outros tipos de processos em que as mistura imersão e imersão total.
foram submetidas.
Observa-se na Figura 5 que o solo sem adição de
RCC (M01) tem o melhor comportamento na
situação sem imersão. Nesta situação a M02 e a
M03 apresentam perdas de massa por tempo de
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15 15

14 14

13 13

12 12

11 11
Perda de massa (g)

Perda de massa (g)


10 10

9 9

8 8

7 7

6 6

5 5

4 4

3 3

2 2

1 1

0 0
1 5 10 15 30 1 5 10 15 30
M01 1,1368 1,4997 1,6716 1,7764 2,4324 M01 4,7081 5,0155 5,2253 5,4695 6,0399
M02 0,5913 0,7172 0,8376 0,9417 1,2818 M02 2,7764 3,9123 4,6279 5,0909 6,4489
M03 1,0226 1,2270 1,3467 1,5440 2,0267 M03 7,7725 10,275511,001712,381914,5006
Tempo (minutos) Tempo (minutos)
M01 M02 M03 M01 M02 M03

Figura 6. Caso B - Imersão Parcial. Fonte: os autores,2018 Figura 7. Caso C - Imersão Total. Fonte: os autores,2018

Na situação de imersão total (Figura 7), assim Na Figura 8 é apresentada uma análise da perda
como no ensaio modificado ocorre uma perda de massa acumulada para as três misturas nas
acentuada no incio do ensaio para a mistura M03, três situações em que foram expostas. Ao se
caracterizando um comportamento irregular que analisar a perda de massa acumulada, percebe-se
se reduz no decorrer do ensaio, sendo este o caso que os casos em que se adicionou RCC, houve
mais critico observado. A situação da mistura um aumento da erodibilidade, nos casos de
M01 apresenta uma estabilidade, enquanto a imersão total e sem imersão. Para o caso de
mistura M02 apresenta a menor perda de massa imersão parcial, percebe-se ume perda inferior,
inicialmente, porém ocorre um crescimento de acredeita-se que isto é decorrete do caso de
perda de massa com o passar do tempo de maior influência da sucção no solo e misturas.
ensaio,ultrapassando a perda máxima observada
na mistura M01..
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15
100,000

14,50
14
M01 M02 M03 Alta
13 erodibilidade

12 10,000

11

K(g/cm² xmin xPa)


Média
erodibilidade
10
1,000
Perda de massa total (g)

7 0,100
6,45

6
6,32

6,04
5,66

5 Baixa
0,010 erodibilidade
4

3
1,28

0,001
2,43

2 M01 - Sem Imersão


2,03
1,87

M01 - Imersão Parcial


1 M01 - Imersão Total
M02 - Sem Imersão
0 M02 - Imersão Parcial
Caso A Caso B Caso C M02 - Imersão Total
M03 - Sem Imersão
M03 - Imersão Parcial
M03- Imersão Total
Figura 8. Análise geral dos três casos. Fonte: os autores,2018
Figura 9. Análise do coeficiente K. Fonte: Os autores, 2017.
Na Figura 9 pode ser observado através dos
resultados do coeficiente K, que representa o A Tabela 3 apresenta a análise dos valores
índice de erodibilidade do solo. Assim como no médios do coeficiente de erodibilidade. Percebe-
ensaio anterior, esse resultado indica que o RCC se que as misturas que utilizam RCC (M02 e
adicionado é lavado primeiro do que as M03) apresentam um comportamento pior do
partículas do solo. que a mistura sem a adição do RCC (M01), em
quase todos os caso.
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Tabela 3. Valores médios de K (g/cm² × min × Pa) conclusão de curso, Engenharia Civil. Universidade do
Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Sinop, 2015.

Erodibilidade

Erodibilidade

Erodibilidade
Mistura

Caso A

Caso B

Caso C
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (ABNT).

_______NBR 6459: Solo - determinação do limite de


liquidez. Rio de Janeiro, RJ, 1984a. 6 p.
M01 0.06 Baixa 0.07 Baixa 0.18 Média
______ NBR 7180: Solo - determinação do limite de
M02 0.17 Média 0.04 Baixa 0.19 Média plasticidade. Rio de Janeiro, RJ, 1984b. 3 p.

______ NBR 7181: Solo - análise granulométrica. Rio de


M03 0.19 Média 0.06 Baixa 0.43 Média
Janeiro, RJ, 1984c. 13 p.
Fonte: Os autores, 2017.
______ NBR 7182: Solo - ensaio de compactação. Rio de
Janeiro, RJ, 1986. 10 p.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS BASTOS, C. A. B. Estudo Geotécnico sobre a


erodibilidade de solos residuais não saturados. Tese
de Doutorado (Doutorado em Engenharia Civil) pela
Os resultados coletados nos ensaios Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio
indicam que a adição de RCC neste tipo de solo Grande do Sul. 303 p. 1999.
não melhora o comportamento do material no
que se refere à perda de massa frente à ação da CAMPOS, C. J. M de. Avaliação da Erodibilidade pelo
água. A adição de RCC com o intuito de reduzir método Indrbitzen em solo não saturado da região de
Bauru – SP. Dissertação de mestrado (mestrado em
a erodibilidade do solo também foi estudada por Engenharia Civil e Ambiental) pela Universidade
Dias (2014) em um solo diferente, e também não Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. 154 p. Bauru
se apresentou vantajosa. – SP. 2014.
Sendo assim, a adição de RCC para reduzir a
erodibilidade de camada de coberturas e CONCIANI, W. Processos Erosivos: conceitos e ações de
controle. Cuiabá: CEFET – MT, 2008.
proteção de taludes, não é viável. Uma vez que
mesmo que em algumas análises mostre-se que a DIAS, M. C. C. Viabilidade do uso de solo tropical e
perda de massa é reduzida e/ou estabilizada no resíduo de construção civil em sistemas de cobertura
decorrer do tempo, a perda de massa acumulada de aterro sanitário. 2014. 114 f. Dissertação (Mestrado
é muito maior do que sem adição, o que pode em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil) -
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2014.
acarretar aspectos negativos aos taludes (perda
de estabilidade) e também ao meio ambiente FREIRE, E. P. Ensaio Inderbitzen modificado: um novo
(aceleração do assoreamento de corpos hídricos). modelo para avaliação do grau de erodibilidade do
solo. Anais, VII Simpósio Nacional de Controle de
Erosão, Goiânia, 8 p. 2001.
AGRADECIMENTOS
GEORIO. Manual técnico de encostas. Fundação Instituto
de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro, RJ,
Os autores agradecem a UNEMAT, a FACET – Brasil. 2000
Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas e o
Curso de Engenharia Civil – Campus de Sinop, GEORSCOVICH, D. M. S. Estabilidade de Taludes. São
pelo suporte oferecido. Paulo, Oficina de Textos,166p, 2012.

GRANDO, A. Monitoramento e modelagem


REFERÊNCIAS hidrossedimentológica em uma microbacia
hidrográfica experimental. Dissertação de Mestrado
ALVES, W. G. O. BENATTI, J.C.B. Viabilidade técnica (Mestrado em Engenharia Civil). Universidade Federal
da utilização do RCC (Fração areia) como agente de Santa Catarina. 175p. Florianópolis, SC. 2011.
estabilizador para um solo de Sinop-MT. Trabalho de
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IDE, D, M. Investigação geotécnica e estudo de um


processo erosivo causado por ocupação urbana.
Dissertação de Mestrado (Mestrado em Geotecnia).
Universidade de São Paulo, São Carlos – SP,2009.

INDERBITZEN, A. P. L. An erosion test for soils.


Material Research. Standards, Philadelphia. P 553-
554. 1961.

KAIBER, A. L. C; ROMANINI, A. Avaliação da


erodibilidade de misturas SOLO – RCC para camada
de cobertura e proteção de taludes. Artigo de
conclusão de curso (Engenharia Civil). UNEMAT –
Universidade do estado de Mato Grosso. 10p. Sinop –
MT. 2017.
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Avaliação da Permeabilidade Anisotrópica de Solo Argiloso


Compactado da Região Metropolitana de Belém
Reginaldo César Lima Álvares Júnior
Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, regislima7@hotmail.com

Gabriel Raykson Matos Brasil de Araújo


Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, gabrielraykson@hotmail.com

Beatriz Ferreira Pantoja


Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, beatrizpantoja20@gmail.com

RESUMO: Os solos utilizados em diversas obras de terra não devem ter seus comportamentos
considerados totalmente homogêneos, pois na realidade, são meios anisotrópicos, suas características
variam conforme a direção a ser estudada. Uma dessas características é a permeabilidade, que é
afetada em função da deposição natural ou compactação do solo, sobretudo os argilosos, nos quais os
grãos lamelares orientam-se em uma direção preferencial, alterando a capacidade de conduzir fluxos
em diferentes eixos. Neste contexto, objetivou-se neste trabalho a avaliação da permeabilidade de um
solo argiloso compactado, através da comparação de valores de coeficientes de permeabilidade
horizontal e vertical. Buscando verificar se essa diferença de fluxo é grande o suficiente a ponto de
causar impactos relevantes na execução dessas obras. O estudo verifica fatores relevantes em seu
comportamento anisotrópico, como teor de umidade e energia de compactação, evidenciando a
necessidade de avaliar outros métodos de compactação em futuros estudos.

PALAVRAS-CHAVE: Anisotropia, Permeabilidade, Compactação, Argila.

1 INTRODUÇÃO umidade de compactação interfere diretamente


na organização das partículas e poros do solo.
A compactação do solo é um processo de ajuste Desta forma, a variação no teor de água na
artificial de suas propriedades e comportamento, compactação tem como consequência a
por meios mecânicos, que visa promover formação de diferentes arranjos estruturais, que
adaptações em suas características estruturais, induzem modificações nas propriedades
buscando satisfazer as necessidades de projetos, geomecânicas do maciço.
sobretudo obras de terra. Em termos práticos, a variação do teor de
Argilas compactadas tem sido utilizadas há umidade de compactação pode influenciar no
muito tempo em aterros e em barreiras para desempenho de obras de terra. Como exemplo,
represar e controlar o fluxo da água. A principal barragens possuem a necessidade de ter
motivação para este uso é dada por uma características apropriadas para resistir as
característica única, em relação a outros tipos de solicitações e garantir um fluxo ordenado de
solo, a baixa permeabilidade. água no seu interior.
Proctor (1933) apresentou uma análise sobre Diante dessas necessidades torna-se
o comportamento dos solos compactados em fundamental estabelecer um rígido controle na
laboratório, estudo no qual inferiu que a massa estabilidade e na permeabilidade do material a
específica seca é função direta da condição de ser utilizado.
umidade, na qual o solo é compactado. O controle da permeabilidade é um fator
Estudos posteriores verificaram que o teor de determinante para inibir a ocorrência de
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fenômenos, como a erosão e adensamento. Os plano de compactação (Santos, 2005).


fenômenos erosivos em barragens ocorrem de Do ponto de vista estrutural uma barragem
diversas formas, sendo eles externos ou internos, tem por objetivo impedir a passagem do material
sendo os internos mais preocupantes, dentre a ser contido, na maioria das vezes água ou
estes eventos o piping é o mais ocorrente. rejeitos, do talude de montante ao de jusante.
O piping é uma ocorrência erosiva Apesar da compactação promover redução
desencadeada por meio do carreamento de grãos dos macroporos, o método não é suficiente para
fino através de um material mais granular promover alteração dos microporos (Cruz;
internamente ao talude, gerando pequenos canais Ferreira, 1993), permitindo passagem de água
que não atendem aos esforços solicitantes. em um fluxo reduzido no interior do maciço.
Este fenômeno está intimamente ligado a O escoamento da água depende de diversos
condutividade hidráulica do solo compactado. fatores, sendo eles resumidos em uma variável, o
Logo, é verificado que para o uso em barragens coeficiente de permeabilidade. Tal parâmetro
é preferível a aplicação de materiais menos associado a anisotropia do solo são variáveis
permeáveis. Com a finalidade de evitar conhecidas no estudo de barragens, onde
problemas como deslizamento de encostas, e percebe-se que a velocidade de fluxo vertical é
instabilidade dos taludes da barragem. Sendo menor do que o horizontal.
visível a necessidade de aprofundamento no Como critério de projetos em barragens, pode
estudo da permeabilidade. ser necessário especificar zonas nas quais o
Segundo Boynton (1985) a condutividade material utilizado esteja com teores de umidade
hidráulica de uma argila compactada é diferentes da ótima (CRUZ, 1999).
dependente de diversos fatores, como a umidade Esta metodologia tem como objetivo tornar o
de compactação, método de compactação, solo adequado às necessidades de projeto,
gradiente hidráulico, eficiência da compactação, garantindo o suporte das especificações do
índice de vazios, tamanho dos torrões de argila, mesmo, relacionadas a resistência,
distribuição dos poros, viscosidade do liquido e condutividade hidráulica, deformabilidade e
outros. compressibilidade.
Uma das efeitos da distribuição de partículas Em seção típica de uma barragem brasileira,
e poros diz respeito a formação de estruturas não é possível identificar a relação da condição de
homogêneas, o que pode acarretar alguma umidade durante a compactação e ao longo da
influência da orientação de amostragem na vida útil da barragem.
obtenção das propriedades geomecânicas do solo
compactado (Santos, 2005).
A principal consequência desta alteração é
dada em solos finos, sobretudo argilas, visto que
sua formação, dada por argilominerais em forma
de placas, tende a orientar-se em um plano sub-
horizontal quando compactada. Tal fenômeno Figura 1. Seção típica de uma barragem brasileira,
adaptado de Cruz (1999).
gera propriedades diferentes em planos distintos,
caracterizando a anisotropia do solo. Em função
Cruz (1999) inferiu que tanto a montante
disso a análise da permeabilidade de uma argila
como a jusante, normalmente são compactadas
compactada deve ser melhor estudada em função
camadas de solo com teor de umidade próxima à
da sua aplicação.
ótima (região A), enquanto a compactação do
A orientação da amostragem em aterros
núcleo da barragem é realizada com maiores
anisotrópicos compactados pode comprometer a
teores de umidade (ramo úmido), objetivando a
previsão do desempenho das obras de terra ao
diminuição da permeabilidade nestas regiões.
longo da sua vida útil, visto que, na maioria dos
Outra possível análise da figura 1 é a
casos, a direção de amostragem é ortogonal ao
verificação do fluxo da água pela barragem que
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se mostra mais intenso na direção horizontal do


que na vertical, evidenciando a teoria
anisotrópica informada neste presente trabalho.
Não somente a permeabilidade do material é
afetada, mas o arranjo anisotrópico influencia os
parâmetros de resistência do solo, como
compressibilidade, cisalhamento e capacidade
de se deformar (Crispim, 2010).
Diante da importância dos fatos na aplicação
em barragens torna-se necessária a avaliação de
parâmetros que possam afetar o comportamento
geotécnico do maciço compactado. Dentre eles a
resistência ao cisalhamento, compressibilidade e
a condutividade hidráulica, e analisar a maneira Figura 2. Amostra de solo utilizada.
que a anisotropia intercorre nos mesmos.
Entretanto, o estudo em questão limita-se, Os ensaios executados para a caracterização
somente, a avaliação da condutividade hidráulica física da amostra de solo utilizada foram: limite
do solo. Para a observação deste parâmetro de liquidez (NBR 6459/84), limite de
foram realizados estudos de permeabilidade nas plasticidade (NBR 7180/84), granulometria por
direções ortogonais principais, horizontal e peneiramento e sedimentação (NBR 7181/84), e
vertical, em um solo argiloso, compactado em massa específica dos sólidos (NBR 6508/84).
diferentes teores de umidade e em diferentes A Figura 2 apresenta a curva granulométrica
energias de compactação. do solo, enquanto que a tabela 1 apresenta os
Deste modo, o principal objetivo deste parâmetros obtidos.
trabalho, é verificar o comportamento
diferenciado nas direções propostas, expor os
fatores mais influentes deste fenômeno e
verificar o grau de influência da anisotropia do
solo.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Solo estudado

O material analisado foi um solo argiloso de


coloração amarela, possivelmente rico em
óxidos de ferro, encontrado nos arredores da
região metropolitana de Belém. Este tipo de solo Figura 3. Curva granulométrica do solo estudado.
é muito comum na região sudeste do Pará,
entretanto, também pode ser encontrado na A partir da curva granulométrica, é possível
porção nordeste com facilidade. verificar a grande quantidade de argila presente
O critério adotado para a escolha do mesmo no material, sendo ela correspondente a 70% da
foi a quantidade de argila presente na amostra, massa total do solo. Mediante resultados,
para que os resultados apresentados pelo estudo constatou-se solo possui uma fração majoritária
fossem mais evidenciados. de argila, atendendo ao critério de escolha
estabelecido pelos autores.
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Tabela 1. Resultados caracterização do solo. 1,45


Solo LL LP IP s

Densidade seca(g/cm³)
(%) (%) (%) 1,4
(g/cm³))
Solo 74,8 44,8 30 2,651 1,35
Argiloso 1,3
1,25
Foi verificada também a classificação do solo 1,2
a partir da carta de plasticidade de Casagrande, 1,15
identificando o solo como um MH, silte de alta
1,1
plasticidade. 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42
Umidade (%)
Normal Intermediário Modificado

Figura 5. Curvas de compactação

As curvas de compactação obtidas com o


ensaio foram concordantes com os estudos de
Cernica (1995), no qual fora comprovado que a
compactação realizada com a energia
modificada produz uma densidade máxima
maior, porém com o teor de umidade ótimo
menor, quando comparada com a energia
Figura 4. Carta de plasticidade de Casagrande.
normal. Dessa forma, energia intermediária é
mantida em uma faixa localizada entre as duas
A apuração dos resultados apresentou
supracitadas.
divergências entre a sedimentação e a obtenção
da classificação pela carta de plasticidade. Essa
2.2.2 Moldagem dos corpos de prova
incoerência pode ser justificada pela baixa
atividade da argila presente na amostra
Após a determinação das curvas foram
trabalhada.
estabelecidos pontos de referência para a
moldagem dos corpos de prova para ensaios de
2.2 Métodos
permeabilidade.
Os pontos escolhidos foram os mesmos
2.2.1 Compactação
pontos de compactação utilizados para a
determinação das curvas, num total de 15 pontos.
O método adotado para a confecção dos corpos
Método que gerou a amostragem de 30 corpos de
de prova, para a análise de permeabilidade, foi o
prova.
ensaio de compactação, sem reuso de amostras.
O objetivo do presente estudo foi avaliar a
Sendo estes moldados nos níveis de energia
anisotropia na condutividade hidráulica do solo
normal, intermediário e modificado.
compactado, logo, houve a necessidade de
O ensaio foi realizado de acordo com a norma
realizar amostragens na direção vertical e
da ABNT (Associação Brasileira de Normas
horizontal.
Técnicas), a NBR – 6457 de 1986. As amostras
O cilindro de compactação possui dimensões
foram trabalhadas em um compactador
de 15cm de diâmetro por 11,5cm de altura
mecânico, na expectativa de diminuir o erro
enquanto que os corpos de prova foram
humano.
proporcionados para o melhor aproveitamento
de volume. Para atribuir maior confiabilidade na
amostragem, foram talhados dois corpos de
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prova a partir do mesmo ponto de compactação, Para que o ensaio de permeabilidade tivesse
conforme a figura 6 ilustra. melhores resultados foi necessário saturar os
corpos de prova. Os corpos de prova foram
submetidos a saturação por capilaridade, onde os
mesmos repousam sobre uma grade perfurada,
em um recipiente com água, de forma que a
mesma submergisse 2mm do corpo de prova por
24h. As dimensões do corpo de prova foram
mensuradas após a saturação para os cálculos do
coeficiente de permeabilidade.

2.2.3 Ensaio de permeabilidade

Os corpos de prova moldados e previamente


Figura 6. Esquema de talhagem dos corpos de prova saturados foram submetidos ao ensaio de
permeabilidade com carga variável (NBR
A moldagem de corpos de prova foi realizada 14545/86).
com o auxílio de um extrator mecânico, somado No ensaio com carga variável a carga total
a utilização de tornos e facas. Nos quais foram varia com o tempo. Neste caso a medição da
moldados cilindros com dimensões de permeabilidade é inferida a partir de medidas da
aproximadamente 5 cm de diâmetro e 7 cm de variação do nível de água no tubo de entrada com
altura. o tempo (Carvalho, 1997). Tal método é
Realizada a moldagem, com o auxílio de um recomendado para solos mais finos, onde a
pincel, os corpos de prova tiveram sua superfície medição exige sensibilidade e tempo maiores.
lateral revestida com uma camada de parafina e
tiveram suas extremidades cobertas com papel
filtro, a fim de tornar o manuseio mais prático
pelo operador e evitar o desgaste do material em
contato com o ambiente.
A camada de parafina utilizada foi
consideravelmente espessa devido a imprevistos
ocorridos com os primeiros corpos de prova, que
ao entrar em contato com a água, para saturação,
expandia o corpo de prova e fissurava a parafina,
sendo necessário a moldagem de um novo corpo
de prova.

Figura 7. Corpos de prova moldados.


Figura 8. Permeâmetro de carga variável.
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Para a determinação do coeficiente de 4,00E-06 15 25 35 45

Coef. de permeabilidade
permeabilidade, de cada corpo de prova, foi

horizontal (cm/s)
mensurado o tempo que a coluna d’água levava 4,00E-07
para diminuir 10 cm, num intervalo entre 100 cm
e 40 cm. As medidas de tempo e deslocamento
4,00E-08
de nível foram inseridas na equação (1)
determinada na respectiva norma do ensaio:
4,00E-09
𝑎.𝐿 ℎ𝑖 Umidade de compactação (%)
𝐾 = 2,3 𝐿𝑜𝑔 (1)
𝐴.𝑡 ℎ𝑓
Kh Normal Kh Intermediário Kh Modificado

Para a obtenção de valores mais realistas, os


autores optaram por utilizar uma média dos Figura 10. Resultados da permeabilidade horizontal (Kh).
valores encontrados a cada trecho em função do
seu respectivo tempo. Os resultados adquiridos foram compatíveis
com os estudos de Mitchell, Hooper e
Campanella (1965), que observaram que a
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES condutividade hidráulica é sensível às variações
de teor de umidade e aos esforços de
Os resultados obtidos após o ensaio de compactação.
permeabilidade permitiram a confecção de A principal característica observada com o
gráficos, os quais relacionam os coeficientes aumento da umidade foi a redução da
verticais e horizontais com o teor de umidade. permeabilidade em função do acréscimo na
Sendo eles evidenciados nas figuras 9 e 10. umidade de compactação, tanto na direção
vertical, quanto horizontal.
Esse comportamento era esperado pelos
autores, e visualizado por Delage et al. (1996),
4,00E-06 15 25 35 45 onde verificou-se que no ramo seco uma
Coef. de permeabilidade

frequência elevada de poros maiores, que


diminuíam conforme se aproximavam da
vertical (cm/s)

4,00E-07
umidade ótima, até praticamente se estabilizar
4,00E-08 no ramo seco. Teoria que fora comprovada na
prática dos resultados obtidos em laboratório.
4,00E-09
Outra análise cabível é em relação a variação
Umidade de compactação (%)
de energia, onde foi verificado que a alteração
mais significativa se encontrava na energia
Kv Normal Kv Intermediário Kv Modificado normal. Em outra mão, a energia modificada
sofreu uma leve variação na condutividade.
Figura 9. Resultados da permeabilidade vertical (Kv). Fenômeno que pode ser explicado
parcialmente por Farias et al. (2011), onde é
analisado que a embora o acréscimo de energia
na compactação diminua os macroporos, ela não
é eficiente para fechar microporos. Supondo
então, que ao aumentar a energia de
compactação a permeabilidade atinja um valor
limite, próximo a uma estabilização.
À primeira vista, os resultados provenientes
do ensaio de permeabilidade são muito
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semelhantes, haja vista que sua ordem de


grandeza é extremamente pequena, o que
dificulta a visualização de alterações. Entretanto
para sanar este problema utilizou-se o quociente
entre as duas grandezas, chamado de razão de
anisotropia, exibido na figura 11.

1,5

1,3
Kh/Kv

1,1

0,9
15 25 35 45
Umidade de compactação (%)
Kv/kh Normal Kv/Kh Intermediário Figura 12. Influência do tipo de compactação na estrutura
Kv/Kh Modificado dos solos compactados, adaptado de Maranha das neves,
(1971).

Figura 11. Razão de anisotropia (Kh/Kv). Em teoria, estruturas floculadas apresentam


baixa frequência de macroporos, enquanto que
Ao se analisar o coeficiente de anisotropia os estruturas dispersas remetem a desorganização
autores se depararam com resultados que não das partículas, gerando vazios passíveis de
foram previstos. Por se tratar de um material com percolação (Maranha das Neves, 1971).
mais de 70% de argila, esperava-se valores mais Essa teoria adaptou-se nos resultados obtidos
significativos na razão das permeabilidades. e como o propósito do trabalho não incluía
No entanto, é possível identificar uma alteração de métodos de compactação não é
variação entre os coeficientes de condutividade possível ter propriedade para afirmar neste
hidráulica, ainda que a mesma seja pouco trabalho.
expressiva.
A maior diferença entre as permeabilidades
ocorre na compactação com a energia 4 CONCLUSÕES
modificada, onde verifica-se um aumento de
aproximadamente 40% da capacidade de Na engenharia geotécnica é comum assumir que
conduzir fluidos na direção horizontal, em o fluxo paralelo à orientação das camadas
relação a vertical. compactadas é maior do que na vertical. Na
Enquanto que na compactação normal houve maioria das vezes, isto é justificado por possíveis
uma variação de quase 20% entre os eixos imperfeições na superfície entre camadas, ou por
analisados na percolação. Sendo este número orientação de partículas, provocadas por
pouco significativo para caracterizar um solo esforços aplicados durante a compactação
anisotrópico (Boynton e Daniel, 1985). (Boynton e Daniel, 1985; Kim, 1996).
Um dos fatores que pode ser crucial para a Entretanto, mediante os resultados colhidos
obtenção dos resultados supracitados está no presente trabalho, não foi observado uma
relacionado a técnica de compactação. Segundo forte característica anisotrópica na amostra
Hilf (1991), dependendo do método de estudada. Sendo possível a observação deste
compactação no solo, as deformações tornam a fenômeno somente com a elevação da energia de
estrutura mais ou menos orientada. Fenômeno compactação, onde foi observado uma influência
observado na figura 12. de 40% no valor adquirido.
Tal fato pode ser atribuído a diversos fatores,
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dentre eles, o tipo de argilomineral presente no optimum conditions. In: PANAMERICAN


solo, que pode promover a facilidade da CONFERENCE ON SOIL MECHANICS AND
GEOTECHNICAL ENGINEERING, 1999, Foz do
orientação dos mesmos, ou a dificuldade. Falhas Iguaçu. Proceedings… [S.l.:s.n.], 1999. v.1, p.379-385.
na execução dos ensaios e alterações Delage, P. et al. Microstructure of a compacted silt.
provenientes na análise dos resultados também Canadian Geotechinical Journal, v.33, p.150-158,
são passíveis de causar alterações. 1996.
Entretanto, o fator que aparenta ser Farias, W.M; Camapum de Carvalho, J.; Da Silva, G.F.;
Campos, I.C.O.; Santos Neto, P.M. Influência da
majoritário pode ser o método de compactação, compactação nos micro e mesoporos nanoestruturados
visto que a compactação por impacto é agressiva e na área superficial específica de um solo laterítico.
e pode não possibilitar um assentamento In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SOLOS NÃO
ordenado das partículas. Sendo sugerido para SATURADOS, 7., 2011, Pirenópolis. Anais… São
próximos estudos a análise de outros métodos de Paulo: ABMS, 2011. v.1, p.169-175.
Hilf, J.W. Compacted fill. FANG, H. (Ed.). Foundation
compactação, como o amassamento, estático e engineering handbook. 2nded. New York: Chapman &
para solos granulares vibratórios. Hall, 1991. Cap.8.
Outra sugestão é avaliar de forma mais direta Guimarães, R. C., Camapum de Carvalho, J., & Farias, M.
os impactos gerados pela variação de 40% na M. (1997). Contribuição ao estudo da utilização de
condutividade hidráulica no solo, em diferentes solos finos em pavimentação. I Simpósio Internacional
de Pavimentação de Rodovias de Baixo Volume de
eixos, em obras de terra, como barragens, bases Tráfego- I SIMBRATA, 1, 469-478.
de pavimentação e taludes de contenção. Kim, H. Anisotropic properties of compacted silty clay.
Verificando se essa tendência anisotrópica, (1996). Thesis (PhD.) - Ohio University, Ohio, 1996.
ainda que baixa, pode ser significativa nos Maranha das neves, E. The Influence of negative pore-
cálculos e nas considerações de projeto. water pressures on the strength characteristics of
compacted soils. Traduzido por F. Amuchoistegui;
D.G.Fredlund. Lisboa: LNEC, 1971. (Memória n° 386).
Mitchell, J. K., Hooper, D. R., & Campanella, R. G.
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Compactação e Ensaios de Caracterização. NBR 6457. dams. Engineering News-Record, III,
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1984, August 31, September 7, 21, and 28. 1933.
Solo – Determinação do Limite de Liquidez. NBR Santos, R. A. D. Comportamento anisotrópico de um solo
6459. laterítico compactado (Doctoral dissertation,
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1984, Universidade de São Paulo)
Solo – Determinação do Limite de Plasticidade. NBR
7180.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1984,
Solo – Análise Granulométrica. NBR 7181.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1986,
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Boynton, S. S., & Daniel, D. E. (1985). Hydraulic
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Cernica, J. N. (1995). Geotechnical engineering: soil
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Crispim, F.A. Influência de variáveis de compactação na
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Cruz, P.T.; Ferreira, R.C. Aterros compactados. In: Cintra,
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Cruz, P.T. Shear strength of compacted residual soils near
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Avaliação da permeabilidade de um horizonte residual jovem


pertencente às áreas de risco da Região do Grande ABC - São
Paulo - Brasil, através da aplicação da metodologia MCT
Paloma Capistrano Pinheiro
Universidade Federal do ABC, Santo André, Brasil, p.paloma@aluno.ufabc.edu.br

Cláudia F. Escobar Paiva


Universidade Federal do ABC, Santo André, Brasil, claudia.paiva@ufabc.edu.br

RESUMO: Esta pesquisa tem por finalidade contribuir para a avaliação experimental da
permeabilidade de um horizonte pedológico tropical pertencente às regiões de risco a deslizamentos
na Região do Grande ABC - São Paulo - Brasil. O estudo de permeabilidade de solos tropicais, além
de contribuir para dimensionamentos de projetos de engenharia, auxilia na compreensão de diversos
problemas urbano-ambientais relacionados ao uso e ocupação do solo. Dessa forma, ressalta-se a
importância da avaliação do comportamento geomecânico dos solos dessa região, sendo discutido,
neste trabalho, a condutividade hidráulica de um horizonte residual jovem. Para tanto, a amostra foi
submetida aos ensaios de caracterização geotécnica para as devidas classificações, aos ensaios de
Retenção de Água para estimativa da porosidade efetiva e microporosidade, e corpos de prova, nas
direções vertical e horizontal, com diferentes condições de umidade, aos ensaios de Permeabilidade
de parede rígida à carga variável, conforme Metodologia MCT – Miniatura, Compacta, Tropical
(NOGAMI & VILLIBOR, 1995). A amostra apresentou coeficiente de permeabilidade na ordem de
10-5 cm/s para as direções vertical e horizontal, sendo discutida a influência da anisotropia
estrutural, dupla estrutura e porcentagem textural do solo na percolação de água.

PALAVRAS-CHAVE: Permeabilidade, Metodologia MCT, Horizontes Pedológicos Tropicais,


Áreas de risco; Áreas contaminadas.

1 INTRODUÇÃO do teor de água volumétrico (Ɵ) e o gradiente


hidráulico (dh/ds, m/m) determinantes da
A condutividade hidráulica é a propriedade densidade de fluxo de água (q, m/s), sendo
que o solo apresenta de permitir o fluxo de água utilizada para casos com solos não saturados.
através de seus poros. Esta se difere em meios Em casos saturados, a umidade é máxima,
saturados e não saturados, sendo o coeficiente tornando o teor de água volumétrico constante,
de permeabilidade, comumente utilizado, e assim, tem-se a Equação 2.
determinado pelo estado saturado do solo, o que
o caracteriza como independente do tempo, ou (1)
seja, constante (NOGAMI & VILLIBOR,
2009). (2)
Para se determinar o coeficiente de
permeabilidade saturado, utiliza-se a Lei de
Darcy (Equação 2), a qual é um caso particular Dessa forma, o termo permeabilidade representa
da equação de Buckingham-Darcy (Equação 1) uma condição particular na curva de
(BUCKINGHAM, 1907). Esta última considera condutividade hidráulica quando o solo está
a condutividade hidráulica (k, m/s) em função saturado.
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Pelo uso de permeâmetros à carga constante ou de contaminação, gerando risco à saúde da


à carga variável é possível determinar o população, além da crescente expansão urbana
coeficiente de permeabilidade em laboratório. em áreas de difícil urbanização, que apresentam
Na metodologia MCT, o ensaio M4- suscetibilidade a processos geodinâmicos.
Permeabilidade à carga variável (NOGAMI &
VILLIBOR, 2009) é realizado fazendo-se uso
de corpos de prova com dimensões reduzidas, 2 ÁREA DE ESTUDO
com o intuito de otimizar as campanhas de
campo para coleta de amostras, uma vez que um Em área suscetível aos processos
menor volume de solo é necessário. geodinâmicos na Região do Grande ABC – SP
Para obter maior precisão nos resultados, – Brasil, foram coletadas amostras deformadas e
recomenda-se o uso de permeâmetros à carga indeformadas representativas de um horizonte
variável para solos com permeabilidades residual jovem.
consideradas baixas, inferiores a 10-3 cm/s O ponto de coleta da amostra, com coordenadas
(ABNT, 2000) ou ainda para valores mais UTM S 23.71432º e W 46.51263º, localiza-se
restritivos, inferiores a 10-4 cm/s, conforme no bairro Cata Preta, no município de Santo
salientado por Prevedello (1996). André (Figura 1), o qual está sobre o
O movimento de água no solo está relacionado embasamento cristalino, isto é, sobre as rochas
ao estado do solo, ao grau de saturação, a mais antigas do Estado de São Paulo,
estrutura e a anisotropia, além das destacando-se as rochas metamórficas como
características do fluído a percolar. Quanto ao filitos, xistos, quartzitos, gnaisses, entre outras
grau de saturação, a presença de bolhas de ar no (INSTITUTO DE PESQUISAS
líquido representam obstáculos ao fluxo, TECNOLÓGICAS, 2015).
reduzindo a permeabilidade. Já a anisotropia A amostra A (Figuras 2 e 3), coletada a meia
demarca a disposição relativa dos grãos, sendo encosta, caracteriza-se como um solo residual
que para fluxos verticais espera-se uma silte arenoso de micaxisto (pCmx). Os
movimentação do fluído no solo mais lenta do micaxistos são derivados de rochas
que para fluxos horizontais, principalmente em metamórficas com evidente foliação
solos sedimentares ou compactados, ocorrendo (xistosidade), compostos por basicamente
também em solos saprolíticos residuais com quartzo e micas (muscovita e biotita), com
baixa porcentagem de finos (COSTA FILHO E granulometria fina a media (UNIVERSIDADE
CAMPOS, 1991). FEDERAL DO ABC, 2016). Com macrofábrica
O estudo da permeabilidade se torna relevante heterogênea e irregular, nota-se que a amostra A
na Região do Grande ABC Paulista, em virtude apresenta planos de fraqueza estrutural, veios de
de um elevado número de antigas áreas quartzo pouco intemperizados, além de
industriais abandonadas com passivo ambiental coloração variegada.
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Figura 1. Localização da região amostral no município de Santo André do Estado de São Paulo - Brasil.

Figura 3. Detalhe da macrofábrica da amostra A, Santo


André/SP.

3 METODOLOGIA

Conforme a Classificação MCT (Miniatura,


Compactada, Tropical (UNIVERSIDADE
Figura 2. Coleta da amostra A, Santo André/SP. FEDERAL DO ABC, 2016), a amostra A
(horizonte de decomposição de micaxisto)
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pertencente ao grupo NS’ (não laterítico siltoso)


exibe comportamento geomecânico classificado
como erodível.
Nas Tabelas 1 e 2, consta a caracterização
geotécnica da amostra coletada (Amostra A)
segundo Universidade Federal do ABC (2016).

Tabela 1. Análise Granulométrica - Amostra A.


Fração %
Fração fina: Argila+Silte 57,50
Fina 41,08
Areia Média 1,39
Grossa 0,03
Pedregulho 0,00

Tabela 2. Limites de Consistência - Amostra A. Figura 5. Equipamento de permeabilidade de parede


w % rígida à carga variável – Metodologia MCT (Método
Limite de liquidez 36,36 M4).
Limite de plasticidade 26,66
Índice de plasticidade 9,69

Corpos de prova em miniatura foram talhados e


submetidos aos ensaios em diferentes condições
de umidade: seco ao ar, natural e saturado por
capilaridade (Figura 4). Os corpos de prova
foram submetidos ao ensaio de Permeabilidade
de parede rígida à carga variável (Figura 5)
conforme proposto pela Metodologia MCT –
Método M4 (NOGAMI & VILLIBOR, 2009).
Além disso, foi realizado o ensaio de Retenção
de Água - Funil de Placa Porosa ou Funil de
Haines (Figura 6) (KLUTE, 1986; LIBARDI,
2005; KIEHL, 1979), para determinação da
porosidade efetiva e microporosidade da
amostra.

Figura 6. Equipamento do ensaio de Retenção de Água -


Funil de Haines.

3.1 Cálculo do coeficiente de permeabilidade

No ensaio de permeabilidade à carga variável


Figura 4. Corpos de prova da amostra indeformada para
diferentes condições de umidade: seco ao ar, saturado e
de parede rígida, a água de um piezômetro flui
natural, respectivamente. através do solo e então é registrada a diferença
da carga inicial H1 em um momento t1 e a carga
H2 em t2.
O coeficiente de permeabilidade (k) pode ser
determinado partir da vazão (q) que percola
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através da amostra, em qualquer tempo (t), t=t2-t1 (min).


conforme a Equação 3:
Graficamente, as leituras Hi (nível do menisco
no tempo ti) são representadas nas ordenadas,
(3) em escala logarítma, e o tempo (t) nas abscissas,
em escala linear (NOGAMI & VILLIBOR,
Reorganizando a Equação 3 e integrando o lado 2009). Os valores deverão alinhar-se segundo
esquerdo com limites de tempo de 0 para t, e o uma reta, da qual se obtém o coeficiente angular
lado direito com limites de diferença de carga (α) (Equação 7).
de H1 e H2, resulta-se em:
(7)
(4)
Portanto, a Equação 6 para cálculo do
(5) coeficiente de permeabilidade fica:

Convertendo o logarítmo natural em logarítmo (8)


decimal, tem-se:

(6) 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os gráficos correspondentes ao ensaio de


Onde: Permeabilidade de parede rígida à carga
k: coeficiente de permeabilidade (cm/s); variável para condições de umidade distintas
a: altura do corpo de prova (cm); são apresentados nas Figuras 7, 8 e 9 para
Sb: seção interna média da bureta (cm²); corpos de prova com orientação horizontal
Sp: seção do corpo de prova (cm²); (CPH), e nas Figuras 10, 11 e 12 para corpos de
H1: nível do menisco no tempo t1 (mm); prova com orientação vertical (CPV).
H2: nível do menisco no tempo t2 (mm);

Figura 7. Curva de condutividade hidráulica horizontal Figura 10. Curva de condutividade hidráulica vertical da
da amostra A para o teor de umidade natural. amostra A para o teor de umidade natural.
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Figura 8. Curva de condutividade hidráulica horizontal Figura 11. Curva de condutividade hidráulica vertical da
da amostra A para o teor de umidade seco ao ar. amostra A para o teor de umidade seco ao ar.

Figura 9. Curva de condutividade hidráulica horizontal Figura 12. Curva de condutividade hidráulica vertical da
da amostra A para o teor de umidade saturado. amostra A para o teor de umidade saturado.

Pela leitura das curvas de condutividade estabelece-se em condições perenes, indicando


hidráulica da amostra (Figuras 7 a 9 - CPH e a linearidade na drenagem devido ao seu estado
Figuras 10 a 12 – CPV), nota-se dois tipos de em regime permanente pela saturação.
comportamento nas curvas de condutividade Assim sendo, os coeficientes de permeabilidade
hidráulica: resposta em regime transiente e para as direções horizontal e vertical foram
resposta em regime permanente. Nos primeiros calculados a partir do ramo saturado da curva
10 a 20 min de ensaio, considera-se que a curva log(Hi) x tempo do ensaio de permeabilidade de
corresponde ao regime transiente, no qual a parede rígida à carga variável, isto é, para um
permeabilidade varia conforme o teor de tempo t > 20 min, os quais estão indicados na
umidade do corpo de prova em estado não Tabela 3.
saturado. Com o passar do tempo, o sistema
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Tabela 3. Coeficientes de permeabilidade para as direções horizontal (kh) e vertical (kv) - Regime permanente.

Permeabilidade Horizontal Permeabilidade Vertical


Condição de Relação
kh khmédio kv kvmédio
Umidade ID ID kh/kv
(cm/s) (cm/s) (cm/s) (cm/s)
-5 -5
HnatA001 4,9 x 10 VnatA001 3,2 x 10
Natural -5
HnatA002 3,5 x 10 4,4 x 10 -5
VnatA002 5,1 x 10-5 4,7 x 10-5 0,9
-5 -5
HnatA003 4,9 x 10 VnatA003 6,0 x 10
-5
HsecA101 5,2 x 10 VsecA101 5,2 x 10-5
Seco
HsecA102 5,5 x 10-5 5,4 x 10-5 VsecA102 5,2 x 10-5 5,0 x 10-5 1,1
-5 -5
HsecA103 5,7 x 10 VsecA103 4,4 x 10
-5
HsatA201 4,1 x 10 VsatA201 2,7 x 10-5
Saturado
HsatA202 4,1 x 10-5 4,4 x 10-5 VsatA202 5,6 x 10-5 3,7 x 10-5 1,2
-5 -5
HsatA203 5,1 x 10 VsatA203 2,7 x 10
-5
Média 4,8 x 10 4,5 x 10-5 1,1
Desvio
padrão da 0,6 x 10-5 0,7 x 10-5 0,1
média

Entre as diferentes condições de umidade dos estruturais. A amostra A apresenta 57,50% de


corpos de prova da amostra A, não se observa finos (Tabela 1), indicando um estágio de
diferença significativa para os valores de k, intemperismo mais avançado (COSTA FILHO
apresentando o valor médio do coeficiente de E CAMPOS, 1991).
permeabilidade baixo desvio padrão, visto que o Todavia, a permeabilidade de solos residuais
coeficiente de permeabilidade independe do não pode ser descrita apenas pela granulometria,
tempo e da variação do teor de umidade, sendo como acontece no caso dos solos sedimentares,
obtido em estado saturado (ramo com tendência em vez disso, é governada também pela dupla
linear da curva de condutividade hidráulica). estrutura ou dupla porosidade do solo (CHIN &
Obteve-se o valor médio para permeabilidade SEW, 2001).
horizontal da amostra A de 4,8 x 10-5 cm/s, e A dupla porosidade é composta pela micro e
para permeabilidade vertical de 4,5 x 10-5 cm/s. macrofábrica. A microestrutura constitue micro-
Feições anisotrópicas são marcantes em solos reservatórios que fornecem água à rede de
residuais jovens, favorecem o fluxo na direção macro-poros, enquanto a macroestrutura de
da foliação e das fissuras com paredes pouco solos saprolíticos possui um arranjo de diversos
intemperizadas, tendo influência significativa, grãos e aglomerados de partículas ocasionando
principalmente, quando o solo é originado de vazios entre os grãos, manifestando traços como
rochas metamórficas contendo mica fraturas, juntas e estratificações, prevalecendo a
(BOSZCZOWSKI, 2008), características estas condição não saturada (IBAÑEZ, 2008). A
presentes na amostra A analisada. somatória dessas duas estruturas constitue a
Apesar da notável anisotropia da amostra A, a porosidade do solo.
permeabilidade na direção horizontal, ou seja, Os resultados do ensaio de Retenção de Água
na direção da xistosidade, é praticamente igual à seguem resumidos na Tabela 4, e os de Índices
permebilidade na direção vertical. Pode-se Físicos na Tabela 5. A amostra A apresenta
supor que esta compatibilidade de valores seja índice de vazios no valor de 1,12 e porosidade
em decorrência da porcentagem de finos total de 52,6%. Quanto à sua dupla estrutura,
predominante na amostra entre as orientações possui 5 vezes mais microporos do que
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macroporos, sendo 43,4% do seu volume total horizontal como na direção vertical, além do
composto por microporos e 8,9% por ensaio de Retenção de Água, conclui-se que:
macroporos (porosidade efetiva). - O equipamento de permeabilidade à carga
variável utilizando corpos de prova em
Tabela 4. Micro e macroporosidade – Amostra A. miniatura, conforme proposto pela Metodologia
Natural 1,68 MCT, mostrou-se satisfatório para a obtenção
Massa específica (g/cm³)
Seca 1,39 do coeficiente de permeabilidade (com baixo
Umidade valor de desvio padrão).
20,3 - A amostra de micaxisto, do município de
gravimétrica
Teor de umidade (%)
Umidade
28,4
Santo André, apresentou valor médio para os
volumétrica coeficientes de permeabilidade nas direções
Porosidade total (%) 52,3 horizontal e vertical de 4,8 x 10-5 cm/s e 4,5 x
10-5 cm/s, respectivamente.
Microporos (%) 43,4
- Apesar da anisotropia estrutural inerente à
Porosidade efetiva (%) 8,9 fábrica de solos saprolíticos residuais e planos
de xistosidade estarem presente na amostra, não
Tabela 5. Índices físicos – Amostra A. se obteve diferença significativa entre os
Massa específica
coeficientes de permeabilidade horizontal e
1,51 Índice de vazios 1,12 vertical.
natural (g/cm³)
- Acredita-se que a porcentagem de finos
Teor de umidade* (57,5%) e a dupla estrutura do solo, retratada
19,9 Porosidade (%) 52,6
(%)
pela baixa conectividade promovida pelos
Massa específica Grau de saturação macroporos, (8,9%), possuem maior influencia
1,26 23,2
seca (g/cm³) (%) na estimatima da permeabilidade da amostra
Massa específica Massa específica analisada, do que a anisotropia estrutural.
2,65 1 - Sugere-se que outros ensaios sejam realizados
dos sólidos (g/cm³) da água (g/cm³)
*Valores calculados para condição natural de umidade. para diferentes tipologias de solo e condições de
umidade, com o objetivo de avaliar o fluxo de
água em regime transiente.
A propensão à baixa permeabilidade é - Por fim, destaca-se a importância da avaliação
caracterizada, conforme Restrepo (2010), à da dinâmica da água no solo pela sua influência
microestrutura asssociada à porosidade total em problemas urbano-ambientais frequentes e
presente no solo. Dessa forma, pode-se atualmente de interesse à área da Geotecnia
presumir que a amostra A apresenta baixo valor Ambiental, como na ocorrência de riscos
de permeabilidade em decorrência da menor naturais e geotécnicos, nos projetos de
conexão entre os macroporos e pela água livre dimensionamento de aterros sanitários, no
ter menor volume de poros efetivamente entendimento do fluxo de contaminantes em
disponíveis para ocupar, ou seja, supõe que áreas com passivo ambiental de contaminação,
ocorre maior influencia da microporosidade na na prevenção e mitigação de inundações, entre
amostra analisada, em decréscimo da outros impactos no meio físico.
anisotropia.

AGRADECIMENTOS
5 CONCLUSÃO
Os autores agradecem ao Programa de
Pelos ensaios realizados para avaliação do Iniciação Científica da Universidade Federal do
coeficiente de permeabilidade tanto na direção ABC (PIC/UFABC) pelo financiamento da
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Avaliação da Resistência Mecânica como Parâmetro de Projeto de


Construção de Ponteira de Resistividade
Marco Aurélio Bizarri
UNESP, Bauru, Brasil, marcobizarri@hotmail.com

Caio Gorla Nogueira


UNESP, Bauru, Brasil, cgnogueira@feb.unesp.br

Anna Silvia Palcheco Peixoto


UNESP, Bauru, Brasil, anna@feb.unesp.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar a metodologia de projeto de uma ponteira
para leitura da resistividade elétrica do solo. A verificação da resistência mecânica da ponteira foi
realizada através de análises teóricas, visando a obtenção da força máxima que pode ser aplicada
nas etapas de cravação e retirada do equipamento. Para tanto, foram considerados os possíveis
modos de falha: ruptura à compressão do esqueleto de aço do equipamento; esmagamento por
tensão de compressão nos trechos de material isolante; cisalhamento na ligação das luvas; flexo-
compressão devido à inclinação. O projeto do equipamento foi testado mediante dois solos típicos,
um arenoso e o outro argiloso, se estimando tanto as forças necessárias para cravação da ponteira
em três profundidades diferentes, bem como as forças desenvolvidas na fase de retirada do
equipamento do solo. Dessa maneira, se avaliou a capacidade máxima da ponteira em cada caso.

PALAVRAS-CHAVE: Ponteira de Resistividade Elétrica, Resistência Mecânica, Cravação no


Solo.

1 INTRODUÇÃO inorgânicas, o que difundiu o equipamento em


investigações geoambientais.
O sensor de resistividade elétrica, como visto na A tecnologia do piezocone traz a
Figura 1, permite a obtenção da perfilagem da possibilidade de inserção do sensor de
resistividade elétrica do maciço e a resistividade elétrica (RCPTu), que permite a
possibilidade de estimativa de alguns medida do parâmetro em função da
parâmetros tais como porosidade, grau de profundidade, facilitando a avaliação das
saturação e índice de comportamento do solo. espessuras das camadas e seus diferente
comportamentos geotécnicos.
Assim, a técnica pode ser utilizada como um
complemento ao caminhamento elétrico
evidenciando anomalias no maciço que
necessitem de uma análise mais criteriosa,
direcionando ensaios de amostragem de água e
solo.
Figura 1. Piezocone comercial da FE Bauru. Porém, um fato importante a ser
mencionado, é que as sondas comerciais
Além disso, é possível localizar fornecem diretamente os valores da
preliminarmente a profundidade da intrusão de resistividade, não informando as variáveis de
água salgada em aquíferos de água doce, de entrada, tais como diferença de potencial e
plumas de contaminação, orgânicas ou
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corrente induzida. No entanto, o conhecimento contido nos poros; o formato dos grãos; a
desses valores pode auxiliar em um melhor porosidade; a disposição dos poros; teor de
entendimento da resistência elétrica em solos. umidade; grau de saturação; mineralogia; etc.
Portanto, este trabalho tem como objetivo Em solos arenosos, a corrente elétrica
apresentar a metodologia de projeto de uma caminha através dos fluidos condutores
ponteira para leitura da resistividade elétrica do contidos nos poros, tendo em vista que
solo, com controle e avaliação das variáveis de partículas de areia, ar e contaminantes de fase
entrada, e com dimensões similares ao não aquosa (NAPLs) podem ser considerados
piezocone de resistividade elétrica existente no isolantes, facilitando correlações entre os
laboratório da Faculdade de Engenharia – índices físicos e a resistividade
Bauru, UNESP, para que as perturbações (CAMPANELLA & WEEMEES 1990). Em
geradas no solo pela cravação de ambos os contrapartida, nos solos argilosos e orgânicos, a
equipamentos sejam semelhantes, condução elétrica ocorre também através da
possibilitando a comparação dos resultados. troca catiônica, que ocorre entre as superfícies
das partículas do solo, o que dificulta as
correlações (CHOO et al. 2016).
2 BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Precursor dos estudos da resistividade em
solos, Archie (1942) desenvolveu a eq. (3).
Damos o nome de resistência elétrica, à
dificuldade da passagem de uma corrente -
(3)
elétrica por um material, sob influência de um
campo elétrico, podendo ser expressa pela eq. Em que:
(1). FF: fator de formação que relaciona a
resistividade do solo saturado com a
(1) resistividade da solução salina;
n: porosidade do solo;
Em que: m: constante que depende do grau de
R: resistência elétrica; cimentação entre as partículas.
V: diferença de potencial elétrico;
i: corrente elétrica. Mais recentemente, através de ensaios
laboratoriais, Kelly et al. (2016) verificou que a
Mas diferente da resistência, a resistividade equação proposta por Archie (1942), também é
elétrica é uma propriedade intrínseca do válida para solos argilosos quando a
material, sendo a capacidade do material em se resistividade do fluido intersticial for baixa,
opor à passagem de corrente elétrica, dada pela tendo em vista que nesses casos, o fenômeno da
eq. (2). condução elétrica ocorre mais através dos
líquidos dos poros do que pela superfície das
partículas.
(2)
Com o avanço da tecnologia da leitura da
resistividade do solo, além de ser utilizada para
Em que: localização de água salina (FU et al. 2015;
: resistividade e étrica; CAMPANELLA 2008), de contaminações,
A: área da seção transversal; provenientes de aterros sanitários (KODA et al.
l: comprimento do material. 2017), minas abandonadas e postos de
combustível (CAMPANELLA 2008), e de
A resistividade elétrica do solo depende de fábricas de pesticidas (LIU et al. 2012), ela
vários fatores, dentre os quais se destacam: a também vem auxiliando na localização de
resistividade das partículas de solo e dos fluidos formações cársticas, onde pode aparecer
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crateras (KAUFMANN et al. 2012), bem como 3 METODOLOGIA


na localização de argilas sensitivas, que podem
causar deslizamentos de terra (DAHLIN et al. 3.1 Anteprojeto
2013; KALSCHEUER et al. 2013).
Para a obtenção e estudo da resistividade No anteprojeto do equipamento foram adotadas
elétrica do solo, foram desenvolvidas algumas dimensões similares ao piezocone de
sondas, como a MRP (mini sonda de resistividade elétrica disponível na Faculdade
resistividade), vista na Figura 2, que simula de Engenharia – Bauru, UNESP, para dar
uma sonda comercial, com dimensões continuidade às pesquisas desenvolvidas até o
reduzidas, com corpo de policarbonato e momento.
eletrodos em aço inoxidável, para determinar O dispositivo é composto por uma peça
parâmetros operacionais ótimos, como principal em aço inox, e poliamida (conhecida
frequência de excitação e tensão RMS (AHN et comercialmente também como nylon 6,6),
al. 2007). como mostrado na Figura 4.

Figura 2. Mini Sonda de Resistividade adaptado de Ahn


et al. (2007)

Também foram desenvolvidas duas


sondas de dimensões reduzidas, como visto na
Figura 3, com arranjo de Wenner, ambas
produzidas com os mesmo materiais, com corpo
de poliamida e eletrodos de uma liga de cobre e
zinco, mas com diâmetros diferentes, a fim de
se estudar a influência das dimensões do
equipamento na obtenção da resistividade
elétrica (PEIXOTO et al. 2010), e observou-se
que o dispositivo de diâmetro maior, obteve
leituras mais precisas, dado que a propagação
dos elétrons se dá em um campo maior
(PREGNOLATO et al. 2016).

Figura 4. Anteprojeto do Equipamento.

Os eletrodos são de aço inoxidável, uma vez


que é um material resistente à corrosão, à
Figura 3. Dispositivo de Resistividade adaptado de variação de temperatura e à abrasão. A
Pregnolato et al. (2011). poliamida será utilizada como material isolante,
impedindo que os eletrodos entrem em contato
com o corpo de inox, causando curto-circuito.
Foi escolhido o esquema de quatro eletrodos,
onde os dois extremos transmitem a corrente, e
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os dois centrais fazem a leitura da resistência força que o equipamento de cravação exerce
elétrica, para evitar o efeito da polarização. sobre a ponteira. Porém, como a cravação tem
A conexão do sistema de hastes com a velocidade praticamente constante, essa força
ponteira será efetuada através de uma luva que varia de acordo com a resistência de penetração
contará com um dispositivo de temperatura, do solo. Portanto, foi adotado o valor de 100
tendo em vista a influência desse fator na leitura kN, por ser a capacidade de cravação média dos
da resistividade elétrica do solo (JUNG et al. equipamentos.
2015). Essa peça também facilita a manutenção O peso específico do solo arenoso e argiloso,
e reposição de alguma parte, caso necessário. tiveram seus valores adotados de 200 e 180
Por fim, uma segunda luva, servirá para acoplar N/m³, respectivamente.
as hastes do equipamento de cravação, já
disponíveis no laboratório, que possuem rosca 3.2.2 Verificação à Compressão e Tração na
cônica. Seção Menos Resistente de Aço
Todo isolamento contra água, será feito por
meio de o-rings, entre todas as peças. A seção menos resistente, ou seja, de menor
área de aço inox, encontra-se na peça principal,
3.2 Fundamentação Teórica onde a seção é vazada e com fenda. O modo de
falha considerado foi o de compressão simples,
Durante a cravação da ponteira de resistividade em que a força máxima que pode ser aplicada
elétrica do solo são gerados esforços na seção é dada pela eq. (4):
solicitantes de compressão, tanto nas peças de
aço inox, bem como nas de poliamida, que (4)
podem danificar o equipamento, caso esse não
esteja bem dimensionado. Além dessas Em que:
solicitações normais, devido à pequenos desvios Fmáx: força máxima aplicada;
durante a cravação inclinando o equipamento, : tensão normal de escoamento do material;
se deve também levar em consideração os A: área da seção transversal.
efeitos da flexo-compressão.
No processo de retirada do equipamento do A força máxima a ser considerada no
solo pode ocorrer, tanto a ruptura à tração da instante da retirada do equipamento do solo
seção menos resistente de aço, quanto a ruptura pode ser considerada como igual à força
por cisalhamento nas ligações das luvas máxima de cravação (em módulo), uma vez que
metálicas. Essas verificações fazem-se essa força representa a última condição de
necessárias para evitar uma possível perda do equilíbrio do equipamento.
equipamento no furo da sondagem.
3.2.3 Verificação à Compressão da Poliamida
3.2.1 Valores Adotados para os Cálculos
No processo de cravação, na mesma seção
O aço inox 304 foi adotado para o transversal composta por aço e poliamida, parte
dimensionamento da ponteira, por apresentar da força é resistida pelo aço e parte pela
alta resistência à oxidação e à corrosão. poliamida. Para a obtenção dessas parcelas de
A tensão normal de escoamento e o módulo força em cada material foi adotada a hipótese de
de Young foram adotados, respectivamente, aderência perfeita entre as interfaces desses
como sendo 300 MPa e 200 GPa, para o aço, e materiais. Dessa forma, a eq. (6) foi escrita em
35 MPa e 3,1 GPa, para a poliamida, valores termos de compatibilidade de deslocamentos de
esses contidos em especificações dos materiais. ambos os conjuntos. A variação de
O cálculo da tensão de compressão na comprimento envolvida nesse cálculo é dada
poliamida e da flexo-compressão utilizou a pela eq. (5) para cada peça.
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Assim, com o par de equações (7) e (8), (10), admitiu-se distribuição uniforme das
calcula-se o valor das parcelas que são tensões cisalhantes em função da pequena área
transmitidas para cada elemento, e com a eq. de superfície lateral. O limite de tensão
(9), se encontra o valor da tensão atuante na considerado para o rompimento por
poliamida. cisalhamento foi dado pela eq. (11). A partir
dessas considerações, as eq. (12) e (13) foram
(5) utilizadas para a determinação do comprimento
da rosca de conexão entre as peças.
Em que:
Δ : variação do comprimento da peça; (10)
L: comprimento inicial da peça;
F: força aplicada; Em que:
E: módulo de Young. : tensão atuante de cisalhamento.

(6) e
e (11)
2
Em que:
: variação do comprimento da peça de aço; Em que:
: variação do comprimento da peça de e : tensão limite de cisalhamento.
poliamida.
e
(12)
2
(7)
Em que:
Em que: AL: área da superfície lateral.
FA: parcela de força atuante no aço;
LA: comprimento da peça de aço; (13)
e
EA: módulo de Young do aço;
AA: área da peça de aço; Em que:
FP: parcela de força atuante na poliamida; L: comprimento da rosca
LP: comprimento da peça de poliamida; r: raio da seção transversal do elemento.
EP: módulo de Young da poliamida;
AP: área da peça de poliamida. 3.2.5 Flexo-Compressão Devido à Inclinação

(8) De acordo com Schnaid & Odebrecht (2012), o


desvio máximo horizontal permitido durante a
(9) cravação é de 2 mm. Esse desvio deve ser
considerado no dimensionamento da peça pois
Em que: gera um momento fletor, dado pela eq. (14):
: tensão atuante na poliamida.
(14)
3.2.4 Verificação ao Cisalhamento na Ligação
das Luvas Em que:
M: momento fletor;
A ligação das luvas foi dimensionada para que : braço de alavanca.
durante a retirada do equipamento do solo não
ocorra o rompimento e consequente perda do
mesmo. Para a verificação do cisalhamento, eq.
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O equipamento de cravação fornece o desvio Aq: área de ponta;


em graus. Assim, para se obter o ângulo gerado fs: atrito lateral;
pelo desvio, se usa a eq. (15): As: área lateral.

tg (15) r fs s (18)

Em que: Em que:
: â gu o de desvio; Fr: força necessária para retirada;
Z: comprimento cravado sem nivelamento. z: profundidade;
n: peso específico natural do solo;

E a expressão da tensão normal devido a AΔ: diferença de área devido aos diferentes
flexão composta, é dada pela eq. (16): diâmetros da luva e do sensor de resistividade.

Para a adoção dos valores de resistência de


(16) ponta (q) e atrito lateral (fs), foram adotados os
maiores valores dentro de cada camada
Em que: avaliada.
: tensão normal atuante;
N: força de compressão atuante no material;
I: momento de inércia; 4 RESULTADOS
y: coordenada do ponto onde deseja-se
encontrar a tensão normal. 4.1 Verificação à Compressão e Tração na
Seção Menos Resistente de Aço
3.3 Aplicação em Solos Típicos
Os valores utilizados e obtidos nessa
A verificação da viabilidade de utilização do verificação podem ser observados na Tabela 1.
equipamento em solos típicos foi realizada
através da estimativa da força necessária para a Tabela 1. Força máxima na cravação e retirada.
sua cravação (Fc) e retirada (Fr), em um solo e (MPa) A (m²) Fmáx (kN)
arenoso e em um argiloso. 300 549×10 -6
164,7
Assim, para cravação do equipamento, foi
levada em consideração a parcela de área de Como o valor de 164,7 kN é maior que o
solo deslocada pelo equipamento, multiplicada valor adotado para a força que o equipamento
pela resistência de ponta, somado com a parcela de cravação exerce sobre a ponteira (100 kN), o
da área lateral, multiplicada pela resistência equipamento está bem dimensionado.
lateral, como visto na eq. (17).
E na estimativa para retirada do solo, foi 4.2 Verificação à Compressão da Poliamida
considerado que, pelo fato de sua estrutura já ter
sido amolgada, pode ocorrer o desmoronamento Os valores utilizados na verificação e a tensão
da parede lateral do furo, assim, foi adicionada atuante na poliamida são apresentados na
uma parcela devido ao peso do solo sobre a área Tabela 2.
do equipamento, como visto na eq. (18).
Tabela 2. Parcelas de força no aço e na poliamida
c fs s (17) EA (GPa) EP (GPa) AA (m²) AP (m²)
200 3,1 549×10-6 904×10-6
Em que: F (kN) FA (kN) FP (kN) P (MPa)
Fc: força necessária para cravação; 100 97,5 2,5 2,8
q: resistência de ponta;
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Logo, sendo a tensão resultante na poliamida às atuantes, se calculou o ângulo máximo de


( P), menor que a sua tensão de escoamento, desvio, para o momento máximo que pode atuar
não ocorrerá a sua ruptura durante a cravação. na poliamida (0,225 kNm) na iminência da
falha estrutural teórica do equipamento,
4.3 Verificação ao Cisalhamento na Ligação resultando em um valor de 0,13º. Esse valor de
das Luvas inclinação é considerado como limite permitido
para a cravação a cada metro para que os
Na Tabela 3 estão os valores utilizados nos materiais não falhem.
cálculos e o comprimento mínimo obtido.
4.5 Aplicação em Solos Típicos
Tabela 3. Comprimento mínimo da rosca
e (MPa) F (kN) r (m) L (m) A resistência de ponta (q) é igual à tensão
300 100 14×10 -3
7,6×10-3 correspondente à reação de cravação do
equipamento e o atrito lateral é igual à tensão
Pelo fato do valor calculado ser menor que o atuante devido à interação da área lateral do
tamanho da rosca das hastes, se optou por equipamento com o solo. Logo, foram
adotar o tamanho da rosca das hastes para as escolhidos dois perfis, um de Paranaguá e outro
demais roscas, sendo ele de 30 mm. de Caravelas, como vistos respectivamente nas
Figuras 5 e 6, para estimativa das forças de
4.4 Flexo-Compressão Devido à Inclinação cravação e retirada do equipamento do solo.

Levando em consideração que o equipamento é 4.5.1 Perfil de Paranaguá - PR


nivelado a cada troca de haste, sendo que cada
haste possui 1 m, se optou por desprezar o O perfil de Paranaguá (MIO & GIACHETI
efeito do confinamento do solo, o que está a 2007) possui três camadas distintas, uma
favor da segurança. Assim, os valores dessa primeira de 0 a 13 m, basicamente arenosa, a
verificação são apresentados na Tabela 4 e na segunda entre 13 e 23 m, de argila e a terceira
Tabela 5. arenosa entre 23 e 30 m.
Assim, nessas três camadas, foram
Tabela 4. Tensão total no aço. selecionados os maiores valores de resistência
Z (m) F (KN) de ponta (q) e atrito lateral (fs), como visto na
1 2,0×10 -3
100 Tabela 6, para estimar a força máxima atuante
N (kN) M (kNm) A (m²) correspondente em cada camada.
97,5 0,2 549×10-6
Tabela 6. Máximos valores de q e fs por camada.
I (m4) y (m) a
Camada (m) Prof. (m) q (MPa) Prof. (m) fs (kPa)
27632,2×10-12 14,4×10-3 281,8 0 - 13 12,1 31,3 11,5 199
13 - 23 22,3 2,7 23,0 79
Tabela 5. Tensão total na poliamida.
23 - 30 29,8 29,3 23,4 224
Z (m) F (KN)
-3
1 2,0×10 100 Os valores utilizados nos cálculos e os
N (kN) M (kNm) A (m²) resultados obtidos por camada são apresentados
2,5 0,2 904×10-6 nas Tabelas 7 e 8. Portanto, como tanto as
I (m4) y (m) a forças resultantes de cravação, bem como de
153812,4×10 -12
22×10 -3
31,4 retirada, são inferiores à força de aplicação do
equipamento de cravação (100 kN), o
Como as tensões de escoamento do aço (300 equipamento estaria apto para realizar ensaios
MPa) e da poliamida (35 MPa) foram inferiores em solos com características semelhantes.
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Figura 5. Sondagem em Paranaguá, adaptado Mio & Figura 6. Sondagem em Caravelas, adaptado Mio &
Giacheti (2007). Giacheti (2005).

Tabela 7. Valores utilizados nos cálculos. Tabela 9. Máximos valores de q e fs por camada.
Aq (m²) As (m²) AΔ (m²) n (kN/m³) Camada (m) Prof. (m) q (MPa) Prof. (m) fs (kPa)
1520×10-6 120400×10-6 503×10-6 200 2 - 17 10,9 24,0 11,1 127
17 - 30 27,0 2,5 17,1 66
Tabela 8. Forças resultantes por camada.
Prof. (m) Característica Fc (kN) Fr (kN) Tabela 10. Forças resultantes por camada.
0 - 13 Arenoso 71,5 25,3 Prof. (m) Característica Fc (kN) Fr (kN)
Argiloso 2 – 17 Arenoso 51,8 16,8
13 - 23 13,6 11,8
Arenoso 17 - 30 Argiloso 11,7 10,7
23 - 30 71,5 30,0

Como os valores das forças solicitantes


4.5.2 Perfil de Caravelas - BA calculadas foram inferiores aos de cravação, o
equipamento estaria apto para realizar ensaios
O perfil de Caravelas (MIO & GIACHETI em solos com características semelhantes.
2005) tal como o de Paranaguá não é
homogêneo, tendo uma camada arenosa entre 2
e 17 m e uma de argila entre 17 e 30 m. 5 CONCLUSÃO
Os valores de q e fs foram obtidos tal qual no
item anterior, sendo dispostos na Tabela 9. Este trabalho apresentou a metodologia de
As áreas utilizadas nos cálculos anteriores projeto de uma ponteira para leitura da
foram mantidas e só foi alterado o peso natural resistividade elétrica do solo, a partir da
do solo, de 200 para 180 kN/m³. Assim, os realização de verificações de resistência
resultados obtidos estão presentes na Tabela 10. estrutural dos elementos do equipamento.
A concepção inicial do anteprojeto preveniu
possíveis falhas, como: intrusão de água no
equipamento utilizando o-rings; efeito de
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mostraram-se materiais adequados para a 735–745.
utilização na construção do equipamento, tendo Dahlin, T., Löfroth, H., Schälin, D., & Suer, P. (2013).
em vista suas propriedades físicas e mecânicas. Mapping of quick clay using geoelectrical imaging
A análise das tensões solicitantes no and CPTU-resistivity. Near Surface Geophysics,
equipamento simuladas durante o processo de 11(6), 659–670.
Fu, T. fei, Yu, H. jun, Jia, Y. gang, Xu, X. yong, & Guo,
cravação e retirada em dois solos tipicamente L. (2015). Application of an In Situ Electrical
brasileiros indicou que o equipamento pode ser Resistivity Device to Monitor Water and Salt
utilizado em condições com características Transport in Shandong Coastal Saline Soil. Arabian
similares aos apresentados. Journal for Science and Engineering, 40(7), 1907–
Portanto, a metodologia de projeto para a 1915.
Jung, S. H., Yoon, H. K., & Lee, J. S. (2015). Effects of
construção de uma ponteira para leitura da temperature compensation on electrical resistivity
resistividade elétrica desenvolvida nesse during subsurface characterization. Acta Geotechnica,
trabalho mostrou-se eficaz. Assim, para a 10(2), 275–287.
continuidade da pesquisa, o próximo passo é a Kaufmann, O., Deceuster, J., & Quinif, Y. (2012). An
construção do equipamento. electrical resistivity imaging-based strategy to enable
site-scale planning over covered palaeokarst features
in the Tournaisis area (Belgium). Engineering
Geology, 133–134, 49–65.
AGRADECIMENTOS Kelly, R., Pineda, J. A., & Suwal, L. (2016). A
comparison of in-situ and laboratory resistivity
Os autores agradecem à Capes pela bolsa de measurements in soft clay. Geotechnical and
Geophysical Site Characterisation, 5.
mestrado concedida ao primeiro autor. Também Koda, ., Tkac yk, ., ech, ., & Osiński, . 2017 .
agradecem o apoio financeiro ao processo nº Application of Electrical Resistivity Data Sets for the
2007/06085-7 Fundação de Amparo à Pesquisa Evaluation of the Pollution Concentration Level
do Estado de São Paulo (FAPESP) através do within Landfill Subsoil. Applied Sciences, 7(3), 262.
qual foram obtidos os equipamentos para o Liu, S.; Cai, G.; Du, Y. Zou, H.; Fan, R.; Puppala, A.
(2012) Site Investigation of a Pesticide Contaminated
desenvolvimento dessa pesquisa. Factory Based on In-Situ Resistivity Piezocone Tests
In Southeastern China. In: The 4th International
Conference on Site Characterization, ISC'4.
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Geoenvironmental Chacacterization. CPT'10 - The


2nd International Symposium on Cone Penetration
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Avaliação da Resistência Mecânica de um Solo Arenoso com a


Inclusão de Fibras de Polietileno
Maitê Rocha Silveira
Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, Bauru, Brasil, maiterocha7@gmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Régis Marçal
Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, Bauru, Brasil, regis.ata@hotmail.com

Rafael Marçal
Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, Bauru, Brasil, rafael_g1@hotmail.com

Roger Augusto Rodrigues


Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, Bauru, Brasil, roger_ar@feb.unesp.br

Caio Gorla Nogueira


Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, Bauru, Brasil, cgnogueira@feb.unesp.br

RESUMO: Este trabalho avaliou a variação da resistência mecânica de um solo arenoso antes e
depois da inclusão de fibras de polietileno (PET) em diferentes tamanhos e percentagens. O solo
estudado é típico da região de Bauru (SP - Brasil), sendo classificado como areia média a fina
pouco argilosa marrom avermelhada. O comprimento das fibras usadas foi de 10, 15, 20 e 30 mm,
com largura de 1,5 mm e em percentagens de 1,0, 1,5, e 2% em relação à massa seca do solo.
Foram realizados ensaios de compactação (Proctor Normal), resistência não confinada e
cisalhamento direto, com e sem a inclusão de fibras. Os resultados mostraram que a maior
resistência uniaxial do solo foi obtida para a inclusão de fibras de 20 mm em uma percentagem de
1,5% em relação à massa seca do solo. Foi obtida uma resistência de 109,34 kPa, que se mostrou
92,7% maior que a resistência do solo sem a inclusão de fibras. Para este mesmo comprimento e
percentagem, os resultados dos ensaios de cisalhamento direto mostram um aumento de 67% do
parâmetro de coesão e uma diminuição de 4% do ângulo de atrito do solo. De forma geral, conclui-
se que a adição de fibras de polietileno ao solo aumenta significativamente sua resistência uniaxial,
assim como a resistência ao cisalhamento.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência uniaxial, Resistência ao cisalhamento, Fibras de polietileno.

1 INTRODUÇÃO de materiais poliméricos em obras de reforços e


diversas vantagens que surgem desses fatos
A aplicação de fibras poliméricas para reforço como economia, segurança, praticidade,
de solos está crescendo e ganhando espaço em menores volumes de solo, dentre outros
aplicações geotécnicas nas últimas décadas. (CASAGRANDE, 2005, TRINDADE et. al.,
Esse fato justifica-se por motivos diversos 2006; SIEIRA & SAYÃO, 2010).
como o advento do grande avanço das No contexto hodierno, em que a escassez de
indústrias químicas, consagração da utilização recursos naturais é uma preocupação cada vez
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mais freqüente, o solo-fibra mostrou-se uma percentuais pré-determinados 1,0; 1,5 e 2,0%,
excelente alternativa para melhoria da em relação à massa seca do solo.
capacidade resistente do solo em obras Para a avaliação da resistência não confinada
geotécnicas. Assim, diversos autores estudaram (Figura 1), os solos foram moldados na
o desempenho de diferentes solos com a adição umidade ótima do ensaio de Proctor, ou seja, foi
de fibras variadas, com diferentes utilizado um grau de compactação (GC) igual a
comprimentos e percentagens 100%.
O conhecimento do mecanismo de interação Os ensaios foram realizados com 3 corpos de
solo-fibra é fundamental para que se prova para cada comprimento e respectivo teor
compreenda o comportamento mecânico da de fibra. Com os valores médios de resistência
mistura. Diversos fatores influem neste não confinada, buscou-se o parâmetro ótimo de
mecanismo, a saber: a) em relação ao solo solo com teor de fibra. Para tanto, foi traçado
(granulometria, índice de vazios e grau de um gráfico com os valores médios de
cimentação) e b) em relação às fibras resistência não confinada versus valores dos
(comprimento, espessura, rugosidade, módulo teores de fibra em percentagem. Assim, foi
de elasticidade, capacidade de alongamento, possível obter qual o comprimento e teor de
entre outros fatores) (CASAGRANDE, 2005). fibra conduz ao maior valor de resistência não
Bueno (1996), por exemplo, afirma que uma confinada. Com esse parâmetro, foram
constatação que surge de estudos experimentais moldados os corpos de prova para os ensaios de
de laboratório é a de que a presença das fibras cisalhamento direto.
modifica o comportamento dos solos, gerando
um material mais dúctil, mais coesivo e
levemente mais compressível.
Nesse contexto, as fibras poliméricas tem
sido as mais utilizadas nas pesquisas nacionais e
internacionais. Os principais polímeros
utilizados são o polipropileno (PP), polietileno
(PE), poliéster (PET) e poliamida (PA). No
Brasil, a utilização mais frequente é da fibra de
PP. Poucas pesquisas tem utilizado o polietileno
nos estudos de reforço de solo. De acordo com
Cristelo et al. (2015), o polipropileno tem sido o
tipo mais usual com percentuais de fibra
variando de 0,05 a 3,0%. Dessa forma, esse
trabalho apresenta resultados de ensaios de Figura 1. Ensaio de resistência não confinada em
andamento.
compressão uniaxial e de cisalhamento em solo
arenoso com fibras de polietileno tereftalato
(PET).
3 RESULTADOS OBTIDOS E
ANÁLISES
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A Tabela 1 seguinte apresenta os valores
Para o desenvolvimento da pesquisa foi médios de tensão axial para cada comprimento
utilizado solo arenoso da região de Bauru (SP). e percentagem de fibra analisados.
As fibras utilizadas foram de polietileno Nota-se que a resistência não confinada varia
tereftalato (PET) com comprimentos de 10, 15, para todos os tamanhos e percentagens de fibras
20 e 30 mm e largura de 1,5 mm. Estas foram analisados. Em todos os casos ocorreu aumento
adicionadas aleatoriamente ao solo em da resistência uniaxial do solo devido à inclusão
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de fibras, independente do tipo, tamanho e


percentagens em que estas foram incluídas.

Tabela 1. Valores médios de Tensão axial para cada


comprimento e percentagem de fibra analisados.
Valores médios de Tensão Axial (kPa)
1,0% 1,5% 2,0%
10 mm 90,49 98,02 91,89
15 mm 95,98 100,72 95,32
20 mm 105,77 109,34 103,52
30 mm 99,73 102,1 99,54

Pode-se notar na Figura 2 que o parâmetro Figura 3. Envoltórias do solo com e sem adição de fibras.
ótimo solo- fibra para a inclusão de fibras tipo
Tabela 2. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do
PET foi obtido para a fibra de 20 mm, solo, encontrados para cada envoltória.
adicionada em quantidade de 1,5% em relação à Parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo
massa seca do solo, a qual apresentou o valor Coesão (kPa) Ângulo de atrito
médio de resistência de 109,34 kPa, Solo sem adição de
11,7 31,4
significando um aumento de 92,7% em relação fibras
Solo com adição de
à resistência do solo sem fibras, que foi de 19,5 30,3
fibras
56,75 kPa.

4 CONCLUSÕES

Nota-se que a resistência não confinada varia


para todos os tamanhos e percentagens de fibras
adicionadas. A inclusão de fibras resultou numa
tendência de comportamento do material, ou
seja, aumento até determinado valor com
consequente decréscimo independente do tipo,
tamanho e percentagens em que estas foram
Figura 2. Valores médios de Tensão axial para cada incluídas.
comprimento e percentagem de fibra analisados. A inclusão que melhor apresenta melhora na
resistência uniaxial do solo arenoso estudado é
Com o parâmetro ótimo solo-fibra a inclusão de fibras de 20 mm, incluídas em
encontrado (20 mm adicionados em quantidade 1,5% em relação à massa seca do solo, sendo
de 1,5% em relação à massa seca do solo), este o parâmetro ótimo solo-fibra encontrado.
foram realizados ensaios de cisalhamento direto Quanto à resistência ao cisalhamento, a
de modo a avaliar-se o comportamento do solo. adição de fibras no parâmetro ótimo encontrado
As envoltórias de resistência bem como os gerou um aumento significativo da coesão e
parâmetros obtidos estão ilustrados na Figura 2 pequena diminuição do ângulo de atrito.
e Tabela 2, respectivamente.
Assim, com a inclusão do parâmetro ótimo
solo-fibra, foi possível notar um aumento de AGRADECIMENTOS
67% do parâmetro de coesão e uma pequena
diminuição de 4% do ângulo de atrito. Esses À FAPESP pelo financiamento da pesquisa e ao
resultados corroboram resultados da literatura laboratório de Geotecnia da Faculdade de
como exposto por Bueno (1996), por exemplo Engenharia de Bauru (UNESP).
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Avaliação das variáveis mecânicas em solos de encostas naturais


de Blumenau, SC.
Lucas Emanuel Cardoso Alves
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, lucas_card.as@hotmail.com

Murilo da Silva Espíndola


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, murilo.espindola@ufsc.br

Vitor Santini Muller


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, vitor@mullergeo.com

Mateus Zanini Broetto


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, mateuszanini7@gmail.com

Wellington Sutil de Oliveira


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, sutil.wellington@gmail.com

RESUMO: Inserida na mesorregião do Vale do Itajaí, Santa Catarina, e local deste estudo, a cidade
de Blumenau possui características físicas, químicas, biológicas e antrópicas que contribuem na
ocorrência de movimentos de massa. Além disso, falhas no planejamento urbano acarretaram em
uma ocupação urbana desordenada, onde parte da população necessitou ser deslocada para àreas
próximas a encostas, locais de maior incidência de deslizamentos de terra, que podem estar
diretamente ligados à ocorrência de solos coluvionares. Entretanto, nas classificações de mapas
geotécnicos utilizados na cidade, estes colúvios são tratados como materiais de comportamento
semelhante, apesar de possuírem evoluções geológicas e pedogenéticas distintas. Assim, o trabalho
busca entender até que ponto a variação dos parâmetros geotécnicos desses colúvios está atrelado ao
seu litotipo. Foram coletadas amostras deformadas para os ensaios de caracterização do solo e
amostras indeformadas para os ensaios de cisalhamento direto.

PALAVRAS-CHAVE: Solos coluvionares, Solos residuais, Parâmetros geotécnicos, Depósitos de


encosta, Blumenau.

1 INTRODUÇÃO nas regiões mais baixas ou no próprio sopé das


encostas e formou os depósitos coluvionares.
Santa Catarina possui características climáticas, Do ponto de vista geológico, os depósitos
biológicas, geológicas e geomorfológicas que, coluvionares são denominados como “depósitos
em conjunto, contribuem diretamente para a de encostas”. Entretanto, no mapeamento
ocorrência de movimentos de massa. geotécnico utilizado no Município, que seguiu a
O local de estudo deste trabalho é o metodologia de Davison Dias (1995), esses
município de Blumenau, localizado na depósitos coluvionares foram denominados
mesorregião do Vale do Itajaí, Santa Catarina. “Cambissolos de depósito de encosta”. Embora
Como resultado dos fatores intempéricos da nem todos esses solos tenham sido formados a
área, houve o espessamento do solo residual, partir de rochas de mesma litologia nem sofrida
que, ao sofrer ação da gravidade, acumulou-se as mesmas evoluções geológicas e pedológicas.
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Portanto, os objetivos deste trabalho são: a) de pesquisa do qual faz parte. Esses projetos
analisar a variação dos parâmetros mecânicos têm como título “Elaboração de cartas de
de cada solo de acordo com sua litologia e b) aptidão à urbanização frente aos desastres
verificar se essa variação implica em uma nova naturais” da Universidade Federal de Santa
forma de classificação dos “Cambissolos de Catarina (UFSC) em conjunto com a Fundação
depósitos de encosta” na metodologia de de Ensino e Engenharia de Santa Catarina
Davison Dias. (FEESC).

2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 3 MATERIAIS E MÉTODOS

Blumenau é uma cidade localizada na Os procedimentos metodológicos do trabalho


mesorregião do Vale do Itajaí, Santa Catarina, envolveram amostragem nos pontos para
região sul do Brasil. Ocupa uma área de ensaios de caracterização geotécnica e
aproximadamente 519.837 km², onde 206.8 km² cisalhamento direto.
(39,8%) representam a área urbana e 313.0 km² O mapa geotécnico que serviu como base de
(60,2%) representam a área rural. identificação das unidades geotécnicas e seus
O município de Blumenau tem em seu respectivos substratos foi fornecido pelos
contexto geológico a presença de quatro projetos citados no Capítulo 2. A escala
importantes unidade geológicas do estado de utilizada foi de 1:10 000.
SC: o Complexo Granulítico de Santa Catarina,
o Complexo Metamórfico Brusque, a Bacia do 3.1 Ensaios Laboratoriais
Itajaí e os Depósitos Quaternários. Neste
trabalho serão apresentados solos residuais e Seguindo a norma NBR 9604/2016, foram
coluvionares de gnaisses máficos do Complexo coletadas amostras deformadas para os ensaios
Metamórfico Brusque, e arenitos finos/siltitos de caracterização do solo e amostras
Bacia do Itajaí. indeformadas para os ensaios de cisalhamento
direto.
Tabela 1. Coordenadas geográficas dos pontos de Os ensaios para determinação a
amostragem. caracterização geotécnica dos solos
Coordenadas Geográficas compreenderam a análise granulométrica (NBR
Ponto
Latitude Longitude 7181/2016) e massa específica real dos grãos
M117 26°45'33.65" 49° 3'14.05" (NBR 6508/1984).
M128 26°51'30.31" 49° 2'46.99" Os ensaios de cisalhamento direto foram
M133 26°51'50.14" 49°11'19.48" realizados em equipamento com deformação
M134 26°51'60.06" 49°11'18.51" controlada. Os moldes utilizados possuem
M126 26°59'36.25" 49° 4'18.78" 103,22 cm² e 20 mm de altura e a velocidade
M118 26°45'36.59" 49° 3'36.75" de cisalhamento foi de 0,307 mm/min, que
M129 26°51'28.32" 49° 2'50.22" permitiu ensaios com obtenção de resultados de
M123 26°57'4.36" 49° 4'44.40" forma rápida e confiável.
M124 26°57'6.46" 49° 4'46.92" Além disso foram utilizadas tensões normais
M125 26°59'50.48" 49° 4'12.60" de 33 kPa, 78 kPa e 128 kPa. Essas tensões
normais foram utilizadas tendo em vista a
Na Tabela 1 estão apresentadas as coordenadas profundidade de coleta.
geográficas dos pontos de amostragem. A
nomenclatura utilizada para os pontos desse
trabalho segue o padrão utilizado nos projetos
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4 RESULTADOS E ANÁLISES Na Tabela 4 foram compilados por Perazzolo


(2003) resultados encontrados em outros
Foram coletadas oito amostras de oito locais estudos para os mesmos litotipos deste trabalho.
diferentes, em camadas mais superficiais das
encostas, sem especificação de horizontes. Tabela 4. Compilação dos resultados de resistência ao
cisalhamento máximo em solos coluvionares e residuais
Destaca-se o fato de que, em algumas (Perazzolo, 2003).
unidades geotécnicas, o substrato possui mais c’
Referência Solo ϕ (º)
de uma litologia, como “Arenito fino/siltito”. (kPa)
Fonseca et Colúvios sobre rochas 26.5 a
Tabela 2. Descrição litológica dos solos estudados. 6a8
al. (2002) graníticas e gnáissicas 36.2
Ponto Solo Litotipo
Soares et Solo residual de 0a 26.4 a
M117 Coluvionar Gnaisse Máfico al. (2001) gnaisse 16.7 30.6
M128 Coluvionar Gnaisse Máfico
Solos coluvionares e
M133 Coluvionar Gnaisse Máfico Brugger et 0a
residuais de rochas 25 a 38
M134 Coluvionar Gnaisse Máfico al. (1993) 45
graníticas e gnáissicas
M126 Coluvionar Arenito fino/ siltito
M118 Residual Gnaisse Máfico 4.1 Índices Físicos
M129 Residual Gnaisse Máfico
M123 Residual Arenito fino/ siltito Nos solos coluvionares e residuais não houve
M124 Residual Arenito fino/ siltito tendências de valores parecidos em relação aos
M125 Residual Arenito fino/ siltito índices físicos relacionados à água (Tabela 5).
Isso já era esperado, já que fatores como
Devido à utilização da mesma metodologia vegetação, incidência solar, precipitação
para a realização de ensaios de cisalhamento pluviométrica ou amostragem em diferentes
direto foram compilados na Tabela 3 dados do profundidades interferem diretamente na
projeto “Elaboração de cartas de aptidão à quantidade de água no solo.
urbanização frente aos desastres naturais”.
Não foram especificados no banco de dados Tabela 5. Índices físicos relacionados à água.
do projeto que tipo de gnaisse, se máfico ou Ponto w (%) Sr (%) γnat
gnáissico, ou arenito, se fino, médio ou grosso, M117 38.89 69.39 1.51
foram coletados. M128 41.70 90.00 1.69
M133 32.05 76.54 1.67
Tabela 3. Compilação de resultados de resistência ao M134 37.61 81.31 1.66
cisalhamento em ensaios realizados pelo projeto para M126 23.94 66.90 1.78
solos residuais e coluvionares. M118 20.43 77.59 1.87
Tipo de Solo c' (kPa) ϕ (º) M129 37.06 76.84 1.55
Solo residual de gnaisse 0.5 a 12.4 29.2 a 37.8
M123 20.09 60.91 1.68
Solo residual de arenito 5 a 25.9 19.8 a 45.4 M124 29.88 94.72 1.88
Solo residual de siltito 20.6 35.3 M125 21.24 63.53 1.80
Cambissolo em depósito 5.2 a 12.5 27.7 a 41 Obs.: w = teor de umidade natural , Sr = grau de
de encosta saturação e γnat = massa específica natural (g/cm³).
Solo coluvionar de gnaisse 2.2 a 20.4 24.9 a 32.2
máfico Nos solos residuais, os valores para a massa
Obs.: c’ = coesão e ϕ = ângulo de atrito. específica dos sólidos apresentaram-se
Fonte: Projetos “Elaboração de cartas de aptidão à similares. Em relação à massa específica seca,
urbanização frente aos desastres naturais”.
índice de vazios e porosidade não foram
observadas tendências, tanto entre pontos com
litologias diferentes quanto litologias iguais.
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Ao analisar a diferença dos valores para os areia, 45.18%.


pontos com litologias diferentes, é necessário Quanto aos solos coluvionares, em todas as
frisar a influência dos diversos processos de frações granulométricas as maiores médias de
formação e intemperismo em cada solo. porcentagem foram obtidas em solos
Para os solos de mesma litologia é possível coluvionares de gnaisse máfico. Entretanto,
que, além dos processos de formação, a observa-se proximidade com os valores obtidos
profundidade de coleta tenha causado mudança para as frações de silte e areia em solos
direta nos valores. coluvionares de arenito fino/siltito.
Nos solos coluvionares, com exceção do
ponto M117, observa-se valores similares para Tabela 7. Granulometria dos solos estudados.
massa específica dos sólidos entre os colúvios % % % %
Ponto
Pedreg. Areia Silte Argila
(Tabela 6). Já para o massa específica seca,
M117 6.44 38.93 36.21 18.42
índice de vazios e porosidade não se observou
M128 0.82 29.93 53.80 15.45
tendências. O solo coluvionar de arenito fino e
M133 6.40 33.71 45.59 14.30
siltito apresentou valores significativamente
M134 1.02 21.73 46.58 30.67
menores para índice de vazios e porosidade, e
M126 1.09 31.73 19.46 47.72
maior para massa específica seca.
M118 1.44 63.17 28.85 6.54
M129 0.00 27.20 47.24 25.56
Tabela 6. Valores dos índices físicos dos solos estudados.
Solo/ M123 13.91 30.33 40.33 15.43
Ponto γs γd e n
Litologia M124 0.04 11.4 59.62 28.94
M117 c/GM 2.76 1.09 1.54 0.61 M125 0.00 35.65 36.22 28.13
M128 c/GM 2.71 1.20 1.26 0.56
M133 c/GM 2.70 1.27 1.13 0.53 4.3 Resistência ao cisalhamento dos solos
M134 c/GM 2.68 1.20 1.23 0.55 residuais
M126 c/AF/S 2.63 1.44 0.83 0.45
M118 r/GM 2.63 1.55 0.69 0.41 As figuras 1 e 2 apresentam as envoltórias de
M129 r/GM 2.69 1.17 1.30 0.57 resistência dos pontos analisados. Na Tabela 8
M123 r/AF/S 2.62 1.40 0.87 0.47 está apresentado o resumo dos parâmetros de
M124 r/AF/S 2.67 1.45 0.84 0.46 resistência para os solos estudados.
M125 r/AF/S 2.62 1.40 0.87 0.47
Obs.: γs = massa específica dos sólidos (g/cm³), γd = Tabela 8. Parâmetros de resistências dos solos residuais.
massa específica seca (g/cm³), e = índice de vazios e n = Ponto Litologia c’ (kPa) ϕ (º)
porosidade. c = solo coluvionar; r = solo residual; GM = M118 GM 13.8 33.6
gnaisse máfico; AF/S = Arenito Fino/Siltito
M129 GM 8.1 28.0
M123 AF/S 9.9 26.5
4.2 Análise granulométrica
M124 AF/S 11.8 32.0
M125 AF/S 15.8 22.7
Os solos residuais apresentação maiores médias
Obs.: GM = Gnaisse Máfico; AF/S = Arenito Fino/Siltito
de porcentagem para frações siltosas e arenosas,
enquanto os solos coluvionares apresentaram
Nos solos residuais de gnaisse máfico
maior média de argila (Tabela 7).
(Figura 1), os valores de coesão variaram de 8.1
Quando analisados de forma mais detalhada,
kPa (M129) a 13.8 kPa (M118). Quanto ao
observou-se que os solos residuais de arenito
ângulo de atrito, houve variação de 28.0º
fino/siltito aparesentaram maiores médias de
(M129) a 33.6º (M118).
fração de silte e argila, 45.39% e 24.16%,
respectivamente. Enquanto o solo residual de
gnaisse máfico apresentou maior quantidade de
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Figura 1. Envoltória de resistência ao cisalhamento dos Figura 2. Envoltória de resistência ao cisalhamento dos
solos residuais de gnaisse máfico. solos residuais de arenito fino/siltito.

Os comportamentos tensão versus Os solos residuais de arenito fino/siltito


deformação se apresentaram diferentes entre os apresentaram comportamentos tensão cisalhante
pontos M119 e M132. O ponto M119 não versus deformação sem picos de resistência
apresentou pico de resistência, enquanto o acentuados e a deformação volumétrica foi
ponto M132 picos de resistência mais compressiva.
acentuados para o primeiro e segundo estágio de
confinamento. Em ambos a deformação 4.4 Resistência ao cisalhamento dos solos
volumétrica foi compressiva. coluvionares
Mesmo com diferentes comportamentos
tensão versus deformação, em geral, os solos Nos materiais coluvionares (Figura 3), os
residuais de gnaisse máfico apresentaram valores de coesão variaram de 5.9 a 19.4 kN/m²,
parâmetros de resistência similares aos obtidos nos pontos M117 e M126,
encontrados pelo Projeto 79/13 e 80/13 e por respectivamente. Em relação ao ângulo de atrito
Muller (2015), Godoi (2014), Fonseca e interno dos solos coluvionares, os valores
Lacerda (2006) e Soares et al. (2001). variaram de 26º a 32º.

Tabela 10. Parâmetros de resistências dos solos


Tabela 9. Comparação entre os parâmetros de resistência
coluvionares.
deste trabalho com valores encontrados na bibliografia
Ponto Litologia c’ (kPa) ϕ (º)
para solos residuais de gnaisse.
Autor c' (kPa) ϕ (º) M117 GM 5.9 30.7
Projeto 79/13 e 80/13 0.5 a 12.4 29.2 a 37.8 M128 GM 13.8 26.4
Muller (2015) 2.4 a 11.7 30.4 a 33.4 M133 GM 6.0 32.0
Godoi (2014) 4.2 a 17.1 32.8 a 39.2 M134 GM 15.0 30.1
Fonseca e Lacerda (2006) 10.9 a 46.7 19.6 a 32.8 M126 AF/S 19.4 26.0
Soares et al. (2001)¹ 0 a 16.7 26.4 a 30.6 Obs.: GM = Gnaisse Máfico; AF/S = Arenito Fino/Siltito
Este trabalho 8.1 a 13.8 28.0 a 33.6
Nota: ¹ Valores retirados de Perazzolo (2003). No geral tanto os solos coluvionares de
gnaisse máfico quanto o solo de coluvionar de
Nos solos residuais de arenito fino/siltito arenito fino/siltito não apresentaram picos de
houve uma variação na coesão de 9.9 kPa resistência. A deformação volumétrica foi
(M123) a 15.8 kPa (M124), enquanto que o compressiva para todos os pontos.
ângulo de atrito variou de 22.7 (M125) a 32.0
(M124). As envoltórias de resistência dos
pontos foram apresentadas na Figura 2.
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observou-se que estes possuíam forte relação


com a quantidade de argila + silte (Figura 4).

5 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos em solos de diferentes


litologias evidenciam a variação nos parâmetros
geomecânicos e diferentes comportamentos
tensão versus deformação. É possível que tais
resultados sejam resultados da heterogeneidade
Figura 3. Envoltórias dos solos coluvionares. Em preto,
os solos coluvionares de gnaisse máfico; em vermelho, os e anisotropia dos horizontes em que foram
solo coluvionar de arenito fino e siltito. coletados as amostras, tanto deformadas quanto
indeformadas.
Estes resultados estão próximos ou dentro do Para os solos coluvionares de gnaisse
que foi obtido pelo projeto de “Elaboração de máfico, conclui-se que a coesão destes materiais
cartas de aptidão à urbanização frente aos tem forte relação com a fração de finos. Ao
desastres naturais” para os Cambissolos de comparar a coesão dos solos coluvionares de
depósitos de encosta (Cde) e solos coluvionares gnaisse máfico com o solo coluvionar de arenito
de gnaisse máfico. Assim como dentro do que fino e siltito não se observou tendências
foi obtido por Brugger et al. (1993) em similares.
depósitos de encosta sobre granito/gnaisse Assim como observado por Rodriguez
(Tabela 4). (2005), que propôs uma classificação qualitativa
para colúvios brasileiros através de análise dos
4.5 Relações entre os parâmetros de resistência seus comportamentos mecânicos, as análises e
de solos coluvionares e as frações conclusões podem servir de base para os solos
granulométricas analisados, porém, os comportamentos e
tendências podem não ocorrer ou serem
Através de gráficos de regressão linear simples diferentes em um universo maior de
foi possível observar que a relação entre a amostragem. Portanto, visto a heterogeneidade
coesão dos solos coluvionares e o teor de dos resultados, não há a necessidade de adição
umidade, a fração de argila e fração de argila + de novos parâmetros mecânicas a fim de
silte. encontrar tendências nos comportamentos dos
solos coluvionares.
Alguns pontos estão localizados sobre
unidades geotécnicas com um substrato com
mais de uma litologia, como o M123, M124,
M125 e M126. A comparação dos resultados
desses pontos com valores da bibliografia
apresentou uma necessidade de classificação
litológica mais exata, contendo somente uma
litologia, por parte da metodologia aplicada.
Assim, visto a heterogeneidade dos
parâmetros mecânicos dos solos residuais e
Figura 4. Gráfico de coesão versus fração argila + silte coluvionares, destaca-se a necessidade de
para os solos coluvionares de gnaisse máfico
classificar as unidades de “depositos de
encosta” a partir da sua litologia para a
Para os solos coluvionares de gnaisse máfico,
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metodologia de Davison Dias (1995). cisalhamento com aplicação em mapas geotécnicos.


Trabalho de Conclusão de Curso em Geologia,
Departamento de Geociência, Universidade Federal
de Santa Catarina, 105 p.
AGRADECIMENTOS Perazzolo, L (2003). Estudo geotécnico de dois taludes
da Formação Serra Geral, RS. Dissertação de
Os autores agradecem a todos os integrantes do Mestrado, Curso de Engenharia Civil, Universidade
Laboratório de Geotecnia Aplicada (LGA) da Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 150 p.
Silva, A.J.N da; Carvalho, F.G. (2007). Coesão e
UFSC pelo apoio dado nos ensaios e análises. resistência ao cisalhamento relacionadas a atributos
Além disso, agredecem o Ministério das físicos e químicos de um Latossolo Amarelo de
Cidades e Fundação de Ensino e Engenharia de tabuleiro costeiro. Revista Brasileira de Ciência do
Santa Catarina (FEESC) pelo projeto 79/13 Solo, Vol. 31, n. 5.
denominado “Elaboração de cartas de aptidão à Soares, J. M. D. et al (2001). Estudo da estabilidade de
encosta em área urbana no município de Santa Maria–
urbanização frente aos desastres naturais”. Este RS. In: 3ª Conferência Brasileira sobre Estabilidade
projeto possibilitou ajudar e desenvolver o de Encostas, COBRAE, p. 199-206.
estudo geotécnico no estado de Santa Catarina e
forneceu dados importantes para futuras ações
relacionadas à gestão de riscos e deslizamentos
de encostas.

REFERÊNCIAS

Braida, J.F et al. (2007). Coesão e atrito interno


associados aos teores de carbono orgânico e de água
de um solo franco arenoso. Ciência Rural, v. 37, n. 6.
Brugger, P. J.; Ehrlich, M.; Lacerda, W. A. (1993).
Movements, piezometric level and rainfall at two
natural soil slopes. 2a Conferência Brasileira sobre
Estabilidade de Encostas, COBRAE, ABMS, Rio de
Janeiro.
Davison Dias, R. (1995). Proposta de metodologia de
definição de carta geotécnica básica em regiões
tropicais e subtropicais. Revista do Instituto
Geológico, São Paulo, p.51-55.
Fonseca, A.P. et al. (2002). Resistência ao cisalhamento
de solos coluvionares de diferentes idades. XII
COBRAMSEG. p. 499-505.
Fonseca, A. P; Lacerda, W. A. Ensaios de Resistência de
Pico e Residual em Solos Tropicais de Gnaisse
(2006). 2o Simpósio Brasileiro de Jovens
Geotécnicos, ABMS, Friburgo.
Godoi, C. S. (2014) Caracterização geomecância de um
solo residual de gnaisse, Santo Amaro da Imperatriz,
Santa Catarina. Dissertação de Mestrado,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade
Federal de Santa Catarina, 212 p.
Mitchell, J. K. (1993). Fundamentals of Soil Behavior.
2nd ed, John Wiley & Sons, Inc, New York, NY,
USA, 437 p.
Müller, V. S. (2015) Avaliação da influência de um
protocolo para obtenção de dados de resistência ao
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Avaliação de Fluxo de Calor, Geração de Poro Pressão e


Adensamento Térmico em Solo Argiloso
João Alberto Machado Leite
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Brasil,
joao.albertoml@hotmail.com

Sérgio Tibana
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Brasil,
stibana@gmail.com

Fernando Saboya Albuquerque Jr.


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Brasil,
saboya@uenf.br

John S. McCartney
University of California San Diego
mccartney@ucsd.edu

Renanto de Abreu Fernandes


Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Brasil,
eng.renatofernandes@gmail.com

RESUMO: O adensamento térmico consiste na expulsão da água presente nos poros do solo como
consequência do excesso de poro pressão gerada quando o sistema é submetido a uma elevação de
temperatura. Esse fenômeno ocorre devido à maior dilatação sofrida pela água em relação aos grãos
do solo, o que acaba por desenvolver esse excesso de poro pressão. Diante de tal efeito, surge o
intuito de avaliar o impacto e a distribuição de um gradiente térmico no solo, visando verificar a
possibilidade do manejo desse fator para gerar um melhoramento térmico de argilas. Para as
primeiras avaliações de tal aplicação, o presente estudo objetivou visualizar e compreender a
dissipação do calor oriundo de uma fonte cilíndrica no interior de uma massa de lama de caulim
Speswhite. Para tanto, o meio em questão foi submetido a três diferentes gradientes de temperatura
(40, 50 e 60°C), acompanhando o desenvolvimento da temperatura e da poro pressão no sistema. Os
resultados obtidos permitiram perceber a ocorrência da convecção no meio poroso ensaiado. Foram
percebidas também relações lineares entre a temperatura máxima atingida num determinado ponto
do solo e a temperatura alvo configurada para a superfície da fonte de calor. A geração da poro
pressão também pôde ser avaliada, verificando a tendência de desenvolvimento e dissipação da
mesma durante o aquecimento do meio.

PALAVRAS-CHAVE: Transferência de Calor, Adensamento Térmico, Speswhite, Gradiente


Térmico.

1 INTRODUÇÃO como as estacas térmicas, o encapsulamento de


resíduos nucleares e cabos de alta voltagem
Diversas são as motivações para o estudo dos subterrâneos incentivaram investigações sobre a
efeitos térmicos em meios porosos. Aplicações relação da temperatura com o solo com
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diferentes propósitos (Cecerevak e Laloui, calor por meio da transferência de massa


2004). consequente de um gradiente de temperatura. A
Os resíduos nucleares e os cabos de alta convecção, por sua vez, é definida como a
tensão são fontes constantes de calor para o solo emissão de calor na forma de ondas
onde estão inseridos, sendo necessário entender eletromagnéticas (Duarte, 2004).
a resposta do meio poroso a essas fontes para No solo, além da transferência de calor por
que sejam utilizados de forma segura (Hueckel condução pelas partículas sólidas, pode haver
and Pellegrini, 1992). As estacas térmicas são migração de calor também através dos poros,
alternativas cada vez mais relevantes como sejam esses preenchidos por ar, água, ou
opções de fonte de energia limpa e renovável qualquer outro líquido. Nos poros com ar, a
para obras de diferentes portes (DiDonna et al, transmissão pode acontecer em decorrência do
2013). calor latente do vapor. Nos poros com presença
Outra questão que vem despertando o de água, o líquido aquecido pode ser
interesse científico e prático da relação transportado pelo efeito da convecção (Ferreira,
temperatura-solo se trata do adensamento 1993). O efeito da radiação nos solos é em geral
térmico, onde uma dissipação de poro pressão desconsiderado devido à pequena parcela de sua
semelhante à gerada pela aplicação de tensão no contribuição na transferência de calor (Duarte,
solo ocorre em função de uma aplicação de 2004).
calor ao mesmo. Tal comportamento ocorre Durante a presente investigação buscou-se
como consequência da maior dilatação sofrida visualizar a dissipação do calor e perceber a
pela água presente nos poros do solo em relação ocorrência dos fenômenos de transferência no
às partículas sólidas desse material, o que meio poroso formado pelo solo Speswhite. Para
resulta geração de um excesso de poro pressão. tanto, utilizou-se de um tubo de PVC cilíndrico
Esse processo foi verificado há algumas onde, no seu interior foi depositada a lama
décadas por Campanella e Mitchell (1968) e confeccionada em laboratório e, no centro
aprofundado posteriormente por diversos dessa, uma fonte de calor cilíndrica,
autores (Plum e Esrig, 1969; Demars e Charles, responsável pela aplicação do gradiente de
1981; Towhata et al, 1993). calor, que foi monitorado com o uso de
Apesar das respostas termomecânicas do termopares. Transdutores de poro pressão foram
solo serem investigadas desde a década de 50, instalados para o acompanhamento do
muito ainda há a ser compreendido sobre esse comportamento desse parâmetro ao longo dos
complexo comportamento do solo diante da ensaios.
variação de temperatura. Em face disso, como
parte de estudos prévios sobre o comportamento
do solo sob efeito térmico e sobre o processo do 2 MATERIAIS
adensamento térmico, surge o interesse de
avaliar como se dá a distribuição do calor em 2.1 Solo
um meio poroso conhecido, no caso, uma lama
formada pelo caulim branco Speswhite. A lama confeccionada foi formada pelo caulim
A transferência de calor ocorre de formas branco Speswhite. Nas Tabelas 1 e 2 são
distintas de acordo com o meio em que o exibidas as características desse caulim, onde na
gradiente de temperatura induz esse fenômeno. primeira estão exibidas as porcentagens das
As formas de transferência de calor em um suas frações granulométricas, e na segunda,
determinado meio abrangem a condução, a seus índices de Atterberg.
convecção e a radiação. A primeira consiste da
troca de energia em níveis moleculares como
consequência do aumento da energia cinética
das moléculas. A convecção é a transmissão de
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de um sistema de aquecimento, onde a


Tabela 1: Frações granulométricas do material. temperatura alvo pode ser configurada e, com o
Areia Silte Argila uso de um termopar na superfície do heater,
fina (%) (%) (%) determinar a aplicação ou cessão da passagem
0,4 36,9 62,7 de corrente.
Durante toda a duração do aquecimento e
resfriamento do meio, o acompanhamento e
Tabela 2: Índices de Atterberg do material. registro dos dados fornecidos pela
Índice (%)
instrumentação eram feitos por uma interface
Limite de liquidez 58,8 desenvolvida no LabView.
Limite de plasticidade 26,4

Índice de plasticidade 32,4 2.4 Cilindro de ensaio

O tubo de PVC utilizado para o ensaio permitia


a realização de ensaios de resposta rápida,
A umidade final do solo foi de 177,6%, instrumentação simplificada e com volume de
correspondente a duas vezes o limite de liquidez material reduzido. O tubo confeccionado
(LL), o que fornecia trabalhabilidade adequada apresentava profundidade útil de 36,7 cm e
para a manipulação da massa. Água destilada e diâmetro interno de 9,7 cm, com furos de
deaerada foi utilizada para a mistura. drenagem na parte superior e inferior.
Foram criados orifícios na parede do tubo
2.2 Instrumentos para a inserção horizontal da instrumentação
(TC e TTP), a qual foi acoplada a uma haste
A instrumentação abrange a fonte cilíndrica de rosqueada e essa inserida na massa de solo após
calor (heater), termopares e transdutores de a sedimentação da lama.
poro pressão. Inicialmente foram criados seis orifícios para
O heater é o elemento por meio do qual o a instrumentação, quatro para o inserção de TCs
aquecimento do meio foi realizado, aplicando e dois para a inserção de TTPs. As posições
ao sistema, por meio de resistência elétrica, a desses orifícios correspondiam, verticalmente, à
temperatura alvo desejada. O heater utilizado seção relativa ao centro do heater (região
foi o RAPID PAK 0301, com 18 cm de sujeita a maior influência do heater), enquanto,
comprimento e diâmetro de 1,3 cm. a distância horizontal ao heater era diferente
Os termopares (TC) têm a função de para cada elemento da instrumentação. Os
acompanhar o desenvolvimento da temperatura quatro TCs se apresentavam distante do heater
ao longo do tempo no interior da massa de solo, de 5, 10, 20 e 40 mm, que foram nomeados TC
a diferentes distâncias do heater. Um termopar X, TC 2X, TC 4X e TC 8X, respectivamente,
foi colocado na superfície para monitoramento enquanto as distâncias dos dois TTPs eram de 5
específico. e 40 mm da superfície do heater, esses com
Por fim, dois transdutores de poro pressão nomenclatura TTP X e TTP 8X.
(TTP) foram inseridos na massa de solo a fim Com essa distribuição foram feitos os três
de acompanhar o seu desenvolvimento ao longo ensaios iniciais, correspondentes à aplicação da
do ensaio. temperatura alvo no heater de 40, 50 e 60°C.
Posteriormente foram realizadas adaptações
no tubo, permitindo a inserção de 20
2.3 Aquisição de dados e sistema de termopares, divididos em cinco seções
aquecimento transversais (cinco diferentes profundidades no
tubo), além dos dois TTPs. Para cada seção, as
O aquecimento do heater foi realizado por meio
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distâncias horizontais dos TCs à superfície do 3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS


heater de 5, 10, 20 e 40 mm se repetiam. As
distâncias verticais entre as seções foram de 4 3.1 Preparação do solo
mm, com duas seções acima da seção central e
duas abaixo. Com essa configuração foi A preparação da lama de caulim Speswhite e foi
realizado um ensaio com temperatura alvo de realizada manualmente, misturando, em
40°C, onde foi possível perceber de forma mais diversas etapas, pequenas quantidades de água e
completa a distribuição da temperatura ao longo da Speswhite em um recipiente até que o
de todo o tubo. material se encontrasse homogêneo. Atingida a
As configurações inicial e final estão exibidas quantidade de material desejada para o
nas Figuras 1 e 2, respectivamente. preenchimento do tubo, a lama era, então,
inserida no interior do mesmo.
Antes do despejo da lama no tubo, uma
camada de areia coberta com papel filtro foi
adicionada ao fundo do tubo. Essa camada foi
de 1,7 cm, quantidade suficiente para que ocupe
altura superior ao ponto de drenagem inferior
do tubo, permitindo o fluxo de água nessa
extremidade.
A lama formada correspondia a uma camada
de 25 cm de altura, com volume de 1,85x10-³
m³. A massa foi deixada em repouso por no
mínimo 24h, permitindo a sedimentação e
acomodação do material.
Por fim, uma camada de água foi adicionada
sobre a lama até um ponto superior ao ponto de
drenagem superior do tubo, o que corresponde à
uma lamina de 5 cm de água. Ao fim dessa
etapa, os termopares e transdutores eram
inseridos lateralmente nas suas respectivas
Figura 1: Configuração incial do tubo de ensaio.
posições.
Estando a instrumentação posicionada, o
heater foi inserido na massa. A inserção foi
feita de forma mecânica, com auxílio de um
atuador, cravando o heater no centro da área
circular do tubo e até a profundidade em que
seu topo se localizasse imediatamente abaixo da
superfície da lama.

3.2 Etapas do ensaio

Foram realizados ensaios com duas


configurações diferentes de instrumentação:
uma com quatro termopares na parede do tubo e
uma segunda com vinte termopares divididos
em cinco seções transversais, como descrito
Figura 2: Configuração final do tubo de ensaio. anteriormente.
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Entretanto, para ambas as configurações o


procedimento foi o mesmo. Definia-se, no
sistema de aquecimento, a temperatura alvo
desejada a ser aplicada na superfície do heater,
e assim que o aquecimento era acionado, o
heater elevava rapidamente sua temperatura,
atingindo a temperatura programada e
iniciando, assim, o aquecimento de todo o
sistema.
O aquecimento era mantido até que a
temperatura de todo o sistema alcançasse o Figura 3: Curva Temperatura x Tempo.
equilíbrio, ou seja, até que todos os termopares
utilizados apresentassem uma temperatura
estável. Uma vez que esse estado era alcançado
e mantido por algumas horas, o sistema de
aquecimento era desativado, permitindo o
resfriamento do sistema até que, mais uma vez,
o sistema entrasse em equilíbrio, se
aproximando da temperatura ambiente.
Durante todo o processo do ensaio os dados
de temperatatura e desenvolvimento de poro
pressão eram acompanhados e registrados Figura 4: Curva Poro pressão x Tempo.
continuamente com auxílio do LabView.
Para a Configuração 01, com quatro Como esperado, os termopares
termopares, as temperaturas alvos utilizadas na indicaram o aumento da temperatura no seu
superfície do heater foram de 40, 50 e 60°C, ponto de medição em ordem sequencial, com o
enquanto para a Configuração 02, com 20 mais próximo ao heater (TCX) respondendo ao
termopares, foi estabelecida a temperatura de aquecimento em um tempo mais curto,
40°C na superfície do heater. enquanto o termopar mais distante (TC8X)
sendo o último a indicar um aumento de
temperatura.
4 RESULTADOS E ANÁLISES O termopar TCX apresentou resposta
imediata ao aumento da temperatura do heater,
4.1 Resultados da Configuração 01 mantendo ao longo de todo o ensaio,
temperatura muito próxima a esse. Da mesma
O desenvolvimento da temperatura e da poro forma, sua taxa de aquecimento foi maior, como
pressão com o tempo para os ensaios no tubo indicado pela inclinação da sua curva, sendo a
apresentam o padrão indicado como referência taxa de aquecimento menor para os termopares
nas Figuras 3 e 4, respectivamente, no caso das seguintes, até a menor, indicada pelo TC8X.
Figuras, para o ensaio com temperatura alvo de Devido à sua localização – próxima à parede
60°C. do tubo – o termopar TC8X sofreu pequenas
variações ao longo do ensaio, estando
nitidamente sensível às variações no ambiente.
A estabilização do sistema se dava após
pouco mais de 200 minutos do início do
aquecimento, momento onde o termopar TC4X
indicava variações insignificantes – esse
termopar permitia mais facilmente tal
visualização do que o TC8X devido a sua
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instabilidade consequente da sua proximidade à gradual até o fim do ensaio, demonstrando,


parede. também, um comportamento indicativo de
Na etapa final dos ensaios, ao aquecimento adensamento térmico.
ser cessado, num intervalo de tempo pequeno e Quanto à magnitude das leituras de poro
também sequencial (do mais próximo para o pressão, apesar de pequenas variações de um
mais distante do heater) os termopares ensaio para outro, os padrões apontaram para
indicavam a queda na sua temperatura, valores de poro pressão máximos maiores
apresentando temperaturas muito próximas quanto maiores as leituras de temperatura no
entre si – com exceção do TC8X – num ponto em questão. Portanto, o ensaio a 60°C
intervalo de tempo também muito curto. indicou maior valor de poro pressão na posição
Quanto aos transdutores de poro pressão, as 5 mm (TTPX) em relação ao ensaio a 50°C e
respostas das suas leituras acompanharam as esse em relação ao de 40°C, tendo ocorrido o
respostas dos seus respectivos termopares. No mesmo para os valores observados na posição
momento em que o termopar TCX indicava o 40 mm (TTP8X) para cada temperatura alvo
aumento da temperatura – imediatamente após configurada.
o início do aquecimento, o transdutor TTPX Foi realizada também para essa configuração
também indicava o aumento imediato do valor do tubo uma análise relacionando a temperatura
da poro pressão na distância de 5 mm do heater. máxima atingida em relação à temperatura alvo
Em seguida, após alcançar um primeiro pico de aplicada no heater para cada posição dos
leitura, a poro pressão nesse ponto indica uma termopares. Tal análise permitiu traçar o gráfico
queda súbita, até valor próximo do nulo. Nos exposto na Figura 5 abaixo.
instantes seguintes, a poro pressão volta a
indicar uma elevação de valores na sua leitura, 58 5 mm
Temperatura máxima (°C)

até alcançar uma pressão superior à registrada 53 10 mm


anteriormente no primeiro pico. Ao alcançar seu 20 mm
48
valor máximo, a poro pressão volta a apresentar 40 mm
uma queda, dessa vez mais suave e gradual, que 43
se mantém até o fim do aquecimento. 38
O primeiro aumento e a primeira queda, 33
ambos bruscos, indicam, possivelmente, uma
migração da água nesse ponto, devido à 28
45 3555 65
diminuição rápida de densidade da água nos Temperatura Target (°C)
poros nesse ponto. A segunda parte de Figura 5: Temperatura Máxima x Temperatura Alvo para
crescimento e queda das leituras da poro cada distância ao heater.
pressão, mais suaves, indicam um padrão de
desenvolvimento e dissipação de poro pressão O gráfico em questão demonstrou uma
que pode ser associado ao adensamento relação linear entre as temperaturas máximas
térmico. atingidas numa determinada distância ao heater
Um padrão diferente é observado nos em relação à temperatura alvo aplicada na
transdutores da posição TTP8X. Nesses, superfície do heater. Essa característica permite
simultaneamente ao desenvolvimento da um bom grau de previsibilidade para a
temperatura nesse ponto, que ocorre de forma temperatura máxima atingida num determinado
mais gradual, há um desenvolvimento das ponto de acordo com a distância à fonte de calor
pressões também de forma mais suave, como na e a temperatura nessa fonte para determinada
segunda parte do desenvolvimento em TTPX. condição do meio.
Assim como na segunda parte do padrão em
TTPX, após o valor máximo alcançado em
TTP8X a poro pressão indica uma queda
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4.2 Resultados da Configuração 02 Na Figura, fica claro pelo espectro de cores


que, maior a distância horizontal de
A Configuração 02 da instrumentação aplicada determinado ponto ao heater, maior a diferença
ao tubo, utilizando vinte termopares em cinco de temperatura em um determinado ponto
seções, permitiu uma análise mais global do verticalmente simétrico em relação ao centro do
efeito da temperatura nas condições do meio heater.
poroso ensaiado. Ao analisar a relação
“Temperatura Máxima Atingida x Distância ao
Heater” para cada seção de termopares (Figura
6), foi possível a percepção da ocorrência do
fenômeno de convecção no meio poroso
utilizado.
A convecção se mostrou mais visível na
distância 40 mm, indicada pelos termopares
TC8X. Na Figura 6 é possível perceber que,
nessa posição, a leitura máxima dos termopares
na Seção 2 é superior às leituras nas Seções 3 e
4. Essa diferença na posição 40 mm contraria a Figura 7: Representação da distribuição da temperatura
tendência indicada nos demais pontos, onde a no tubo ao final do aquecimento a 40°C.
diferença de temperatura máxima entre a Seção
2 e 3 se apresentam muito próximas nas
distâncias 5, 10 e 20 mm. 5 CONCLUSÕES
Comparando as Seções 2 e 4, por sua vez,
apesar de apresentarem a mesma distância em Os resultados obtidos dos ensaios no tubo
relação ao centro do heater, as temperaturas na permitiram perceber a ocorrência da convecção
Seção 2 – menor profundidade – são ao longo no meio poroso ensaiado, onde os termopares
de todo o meio nitidamente superior às posicionados numa mesma distância do heater,
temperaturas na Seção 4 – maior profundidade. porém, em profundidades diferentes no interior
O mesmo é verificado ao se comparar as Seções da massa de lama, indicaram valores de
1 e 5. temperaturas máximas maiores para os
termopares das seções mais superficiais em
40 relação aos seus equivalentes de seções mais
Seção 1
inferiores.
Temperatura máx. (°C)

Seção 2
Foram percebidas também relações lineares
35 Seção 3
entre a temperatura máxima atingida num
Seção 4
determinado ponto do solo e a temperatura alvo
30 Seção 5
configurada para a superfície do heater, sendo
maior a linearidade quanto mais próximo do
25 heater está o ponto.
0 1 2 3 4 5 Ficou evidente também o desenvolvimento da
Distância ao heater (cm) poro pressão como consequência do
Figura 6: Temperatura Máxima x Distância ao Heater. aquecimento do meio, onde, no momento em
que um determinado gradiente de temperatura
O comportamento discutido fica ainda mais atinge um ponto do meio, imediatamente há um
perceptível ao analisar a imagem final da desenvolvimento de poro pressão proporcional
representação tridimensional da distribuição da à esse gradiente. Essa poro pressão tende a
temperatura realizada no software DIAdem, dissipar de forma gradual, indicando a
apresentada na Figura 7. ocorrência do adensamento térmico do meio.
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AGRADECIMENTOS

Os autores demonstram agradecimento ao


suporte financeiro da PETROBRAS, CAPES e
CNPq.

REFERÊNCIAS

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Mech. and Found. Eng. Div. 94(SM3), 709–734.
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Duarte, A. P. L. (2004). Avaliação das Propriedades
Termo-Hidráulicas de Solos Requeridas na Aplicação
da Técnica de Dessorção Térmica. Tese de
Doutorado. PUC-Rio. Rio de Janeiro, RJ.
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de Potência Aterrados. Tese de Doutorado, Programa
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Avaliação de Métodos para Determinação de Índices de Vazios


Máximo e Mínimo de Materiais Granulares
Mateus Costa de Medeiros
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mateus.med@poli.ufrj.br

Gustavo Santos Domingos


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, gustavodom@coc.ufrj.br

Fernando Artur Brasil Danziger


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, danziger@coc.ufrj.br

Claudio Pereira Pinto


Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, Brasil,
claudio.pereirapinto@gmail.com

RESUMO: Na prática da engenharia de solos, a compacidade relativa (Dr) de materiais granulares é


o parâmetro utilizado para correlacionar as propriedades mecânicas desses materiais in situ com
resultados de ensaios de laboratório realizados sob condições bem controladas. Para tal, é necessária
a determinação dos limites extremos de compacidade, traduzidos nos índices de vazios máximo
(emáx) e mínimo (emín). A depender da metodologia empregada, os valores obtidos para esses índices
podem ser bastante diferentes, o que afeta o valor de Dr resultante e consequentemente as
interpretações de ensaios de campo e laboratório. Utilizando dois materiais distintos, areia de
Hokksund e esferas de vidro Drop-On IIC, foram realizados 180 ensaios laboratoriais, aplicando
alguns dos métodos existentes para a determinação de emáx e emín. Os procedimentos, resultados
obtidos, interpretação e avaliação dos métodos utilizados são aqui apresentados e discutidos.

PALAVRAS-CHAVE: Índice de Vazios, Material Granular, Caracterização dos Solos,


Compacidade Relativa.

1 INTRODUÇÃO de forma indireta, minimizando a problemática


de obter amostras indeformadas desses solos. A
A determinação de parâmetros de resistência e compacidade relativa é definida pela equação
compressibilidade de solos granulares, para fins em sequência (Pinto, 2006).
de projetos de engenharia, quase sempre se faz
através de ensaios de laboratório com amostras emáx − e
reconstituídas em vários índices de vazios de Dr = (1)
emáx − emín
campo, em face da dificuldade de obter
amostras indeformadas desses materiais.
Onde: Dr - compacidade relativa
A compacidade relativa Dr é o parâmetro
emáx - índice de vazios máximo
utilizado para correlacionar resultados de
emín - índice de vazios mínimo
ensaios de laboratório, sob condições de
e - índice de vazios de campo
contorno bem controladas, com ensaios de
campo (CPTU, DMT, SPT), obtendo os
O estudo aqui apresentado teve como
parâmetros de resistência e compressibilidade
objetivo a comparação e análise de alguns
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métodos para a determinação de emáx emín. Os 6502/1995), as esferas se encontram na faixa de


métodos foram analisados quanto à eficiência, areia média a areia grossa, sendo D50 = 6,5 mm.
consistência, repetibilidade e praticidade da O resultado da análise granulométrica é
execução no laboratório (Medeiros, 2018). apresentado na figura 1.
Segundo Blaker et al. (2015), não existe
padronização de métodos para determinação
dos índices limites. Diferentes laboratórios
utilizam métodos próprios, frequentemente
baseados em normas internacionais ou outras
referências acadêmicas. Atualmente, não existe
norma brasileira em vigência que padronize os
métodos para determinação dos índices de
vazios máximo e mínimo.
As normas ABNT MB-3324/1990 e MB-
3388/1991, embora tenham sido extintas em
2015, parecem ter sido inspiradas nas normas
ASTM D2452-16 e ASTM D4253-16,
respectivamente.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais Utilizados


Figura 1 – Curva Granulométrica das esferas Drop-On
2.1.1 Esferas de Vidro Drop-On IIC
IIC.

As esferas de vidro são produzidas para serem As partículas do material foram examinadas
utilizadas em misturas de tintas para pinturas de ao microscópio digital e fotos foram obtidas
sinalização horizontal de estradas e vias (uma delas apresentada na
urbanas. Por serem de vidro, têm a característica figura 2) para uma avaliação visual da forma das
de refletir a luz dos faróis, fazendo com que a esferas e classificação utilizando parâmetros
sinalização seja perceptível à noite e em definidos no trabalho de Cho et al. (2006),
condições de chuva ou nevoeiro. conforme apresentado na figura 3.
A norma NBR 16184/2013 preconiza os
requisitos e métodos de ensaios para a
finalidade de sinalização dessas esferas. No
presente trabalho, somente as características
geométricas de formato dos grãos e
granulometria têm importância, a fim de se ter
um material o mais próximo possível de esferas
perfeitas.
As esferas do tipo Drop-On IIC apresentam
uma curva granulométrica uniforme, com o
coeficiente de não uniformidade CNU = 1,4 e
coeficiente de curvatura CC = 1,03, o que indica
que os diâmetros equivalentes das partículas
não possuem muita variação. Segundo
classificação da ABNT (norma NBR Figura 2 – Foto de esferas Drop-On IIC sobre malha de
espaçamento 1 mm.
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específico seco e resistência ao cisalhamento


são mostradas na figura 4.
S=

R=

Figura 4 – Características típicas da areia de Hokksund


Figura 3 – Gráfico para determinação de esfericidade S e
(Parkin & Lunne, 1982).
arredondamento R de partículas de materiais granulares.
As linhas diagonais correspondem à constante de
regularidade de partículas ρ=(R+S)/2 (Cho et al., 2006). Também foram obtidas fotos com um
microscópio digital para a classificação. Uma
A partir das fotos obtidas, foram avaliadas a delas é apresentada na figura 5.
esfericidade e o arredondamento, ambos com
valores de 0,9. Classificou-se as esferas de
vidro como bem arredondadas.
Os ensaios de determinação da densidade
real dos grãos foram realizados no Laboratório
de Geotecnia Professor Jacques de Medina da
COPPE/UFRJ. O valor obtido e adotado para G
foi 2,50.

2.1.2 Areia de Hokksund

A areia de Hokksund é de origem flúvio-glacial,


oriunda da localidade de Hokksund, na
Noruega. O material é bem uniforme, com
Figura 5 – Foto da areia de Hokksund sobre malha de
CNU=1,9, granulometria média e 0% de espaçamento 1 mm.
material passante na peneira de abertura 0,075
mm,. Os grãos da areia de Hokksund têm forma A partir das fotos, avaliou-se a esfericidade
angular, com parcela substancial de minerais de com valor de 0,5 e a angularidade com valor de
baixa dureza, tal como a mica (Parkin & Lunne, 0,3, classificando-se a areia de Hokksund como
1982). angular a subangular.
Características como granulometria, Os ensaios de determinação da densidade
composição mineralógica, limites de peso real dos grãos foram realizados no Laboratório
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de Geotecnia Professor Jacques de Medina da O procedimento utilizado para a realização


COPPE/UFRJ. O valor obtido para G foi 2,70. do método de ensaio é descrito a seguir:
prepara-se o aparato da figura 6, com o molde
2.2 Métodos Utilizados centralizado em relação às peneiras. Coloca-se o
material desejado no funil, tampando-se a
2.2.1 Índice de Vazios Mínimo abertura com uma placa de papelão. Com o
funil cheio, remove-se a placa para que comece
2.2.1.1 Pluviação Sobre Peneiras a pluviação, passando pelo conjunto de peneiras
e preenchendo o molde.
O método de pluviação sobre peneiras, proposto Após a pluviação, faz-se o arrasamento do
por Miura & Toki (1982), baseia-se na hipótese molde, pesando-se o material em um recipiente
de que a pluviação do material granular sobre à parte, numa balança de resolução 0,01 gf. Para
uma sequência de peneiras, de abertura nominal a determinação do índice de vazios
decrescente, resulta em diferentes índices de correspondente, conhecido o volume do molde
vazios, ao variar-se a vazão da pluviação, pelo e o peso seco do material pluviado contido no
controle na abertura do funil reservatório, acima molde, faz-se uso da equação 2:
das peneiras (figura 6).
Para a execução do método, foram utilizados G  w
e= −1 (2)
funis de cartolina com aberturas de 10 mm a 90 d
mm de diâmetro do bocal, variando em
intervalos de 10 mm. Uma sequência de 7
Onde: G - densidade real dos grãos
peneiras foi empregada: a primeira, de cima
γw - peso específico da água
para baixo, com abertura de 4,75 mm, as três
γd - peso específico seco
seguintes com abertura de 9,50 mm e as três
últimas com abertura de 12,50 mm, conforme
2.2.1.2 Geolabs in-house Method
indicado no esquema da figura 6.
O segundo método utilizado para a obtenção do
índice de vazios mínimo foi uma adaptação do
“Geolabs in-house method”, que utiliza um
agitador de peneiras para vibrar a amostra,
promovendo o rearranjo das partículas e
minimizando o índice de vazios (Blaker et al.,
2015).
O procedimento se inicia pluviando o
material sobre o molde com um jogo de
peneiras adequado e um funil com 10 mm de
abertura, semelhante ao que foi descrito no item
2.2.1.1. Deve-se pluviar o material até se atingir
aproximadamente 1 cm de altura acima da base
do colarinho do molde. Após a pluviação deve-
se vibrar o molde com a sobrecarga de 13,8 kPa
no agitador de peneiras por 10 minutos. A
vibração é sempre gerada com a mesma
configuração do agitador de peneiras, obtida por
Figura 6 – Esquema mostrando a montagem para a tentativa para garantir a maior compacidade
realização da pluviação sobre peneiras. possível. Também é necessário um apoio
superior, rosqueado ao agitador de peneiras,
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para garantir que a sobrecarga fique sempre em em forma de espiral, da borda para o centro,
contato com o solo a ser vibrado. A figura 7 para formar camadas sem desníveis
mostra a configuração do equipamento durante significativos, bem como uniformes. O
o procedimento. movimento em espiral deve ser cuidadoso para
evitar a segregação das partículas.

Figura 7 – Configuração para o equipamento utilizado no Figura 8 – Funil utilizado para o método “A” e amostra
“Geolabs in-house method”. após a pluviação.

2.2.2 Índice de Vazios Máximo O método “B” da ASTM consiste na


deposição do material no molde pela extração
2.2.2.1 Métodos ASTM rápida de um tubo centralizado no molde
preenchido previamente com o material.
Foram utilizados os métodos “A”, “B” e “C” da O procedimento se inicia uniformizando a
ASTM para a determinação de índice de vazios amostra seca ao ar ou em estufa. Deve-se então
máximo. Os métodos são descritos na norma selecionar o tubo adequado para o tamanho do
D4254-16 (ASTM, 2016). molde a ser utilizado. O volume do tubo deve
O método “A” utiliza um funil ou uma pá de ser 1,25 a 1,30 vezes maior que o volume do
mão a uma altura de queda pequena (13 mm) molde e seu diâmetro interno deve ser 0,7 vezes
para pluviar o material no molde. No presente o diâmetro deste. Para a execução do método,
trabalho foi utilizado um funil para colocar o coloca-se o tubo centralizado dentro do molde e
solo da forma mais fofa possível dentro do preenche-se o tubo com solo. O tubo deve ser
molde. Durante a pluviação, deve-se manter preenchido até o topo com uma folga de 3 a 6
uma altura de queda de 13 mm ou a altura mm, devendo ser feito de forma a evitar a
mínima para garantir um fluxo contínuo de segregação das partículas. Finalmente, deve-se
partículas de solo, sem que o funil entre em puxar o tubo rapidamente, na direção vertical,
contato com o solo já depositado e mantendo o permitindo-se que o solo preencha o molde
funil o mais vertical possível. O funil deve ser completamente.
movido para cima em um movimento contínuo
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2.2.2.2 Pluviação Sobre Molde

Durante uma tentativa da obtenção de índices


de vazios máximos em materiais granulares, foi
proposto por Simões (2015) um método
alternativo, baseado em um procedimento
apresentado também por Kolbuszewski (1948),
que consiste na pluviação do solo sobre um
molde cilíndrico (cilindro de proctor),
utilizando um funil como recipiente durante o
procedimento. A proposta baseia-se na ideia de
que uma deposição rápida da areia não permite
que as partículas tenham tempo hábil para se
rearranjar, ficando assim, na sua condição mais
fofa.
O método adaptado é executado
preenchendo-se o funil com solo enquanto se
tampa a abertura com uma placa de papelão
rígido. Após o preenchimento do funil, retira-se
a placa de papelão rapidamente, permitindo-se
Figura 9 – Vista frontal do tubo e molde utilizados para a que a areia caia em queda livre sobre o molde.
execução do método “B”.
Após a deposição do material, este deve ser
arrasado para a obtenção do índice de vazios
O método “C” consiste na colocação de um
(Simões, 2015).
peso de 9,81 N (1 kgf) de material em uma
proveta graduada de 2000 ml, tampando-se a
boca da mesma, virando-a de cabeça para baixo
e depois voltando para a posição original. A
ideia do método seria que esse movimento não
permitiria o rearranjo das partículas,
depositando assim o material em sua condição
mais fofa. Esse método também é sugerido por
Kolbuszewski (1948) como sendo eficaz para
determinação de emáx.
Durante a primeira tentativa de execução do
método “C” da ASTM, foi utilizada a proveta
com volume de 2000 ml, recomendada pela
norma. Os resultados obtidos com a proveta de
2000 ml não foram acurados o suficiente para a
realização do ensaio, devido à formação de um
pequeno talude dentro do cilindro,
impossibilitando a medição do volume ocupado
pelo solo. Em uma segunda tentativa, foi
utilizada uma proveta com volume de 1000 ml.
Figura 10 – Aparato utilizado para o método de pluviação
Com essa proveta, foram obtidos resultados sobre molde.
similares, porém melhores. Foi feita então a
opção de se utilizar uma proveta de volume de
1000 ml para o ensaio.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES devido ao formato dos grãos, conforme análise


física apresentada adiante.
A tabela 1 mostra o resumo dos resultados Como os grãos das esferas IIC são mais
obtidos para emín e emáx para todos os ensaios. esféricos, as partículas não possuem grande
Nessa tabela são apresentadas as médias, desvio entrosamento e não conseguem se manter em
padrão e coeficiente de variação para cada uma condição muito fofa, fazendo com que seu
conjunto de 10 determinações por método índice de vazios máximo seja baixo,
avaliado, exceto para o método de pluviação comparativamente aos grãos angulares da areia
sobre peneiras, em que foram realizadas 5 de Hokksund. Esses resultados são coerentes
determinações por abertura de funil, totalizando com os obtidos em outros trabalhos, conforme
40 determinações. banco de dados apresentado por Cho et al
Em relação aos valores dos índices de vazios (2006). A tabela 2 mostra um resumo dos
máximo e mínimo, verifica-se que as esferas de valores de arredondamento, esfericidade e D50
vidro IIC apresentaram valores limites de para os materiais estudados, enquanto a figura
índices de vazios muito mais próximos entre si 11 mostra alguns resultados da literatura que se
do que os encontrados para a areia de ajustam qualitativamente à tendência observada
Hokksund. Este comportamento é similar ao (Cho et al., 2006), embora com maior
observado em outros estudos (Cho et al., 2006), afastamento da linha média.

Tabela 1 - Resumo dos resultados para os valores de emín e emáx.


Grandeza Desvio Coeficiente de
Método Material Média
Testada Padrão Variação
Pluviação Sobre Peneiras Esferas IIC 0,521 0,001 0,20%
(MIURA & TOKI, 1982) Hokksund Sand 0,542 0,004 0,65%
emín
Esferas IIC 0,514 0,002 0,38%
Geolabs In-house Method
Hokksund Sand 0,540 0,002 0,45%
Esferas IIC 0,685 0,003 0,47%
ASTM Método "A"
Hokksund Sand 0,866 0,004 0,50%
Esferas IIC 0,717 0,003 0,40%
ASTM Método "B"
Hokksund Sand 0,868 0,004 0,49%
emáx
Esferas IIC 0,729 0,008 1,16%
ASTM Método "C"
Hokksund Sand 0,861 0,005 0,53%
Pluviação Sobre Molde Esferas IIC 0,709 0,002 0,33%
(KOLBUSZEWSKI, 1948) Hokksund Sand 0,856 0,005 0,59%

Tabela 2 - Valores de arredondamento, esfericidade e D50 para os


materiais utilizados.
Material Arredondamento Esfericidade D50 (mm)
Esferas IIC 0,9 0,9 6,50
Areia de Hokksund 0,3 0,5 0,45
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pode-se selecionar o funil mais adequado para a


moldagem de uma amostra em índices de vazios
intermediário. As curvas obtidas para os dois
materiais são apresentadas nas figuras 12 e 13.

emín

Figura 12 – Gráfico obtido para as esferas Drop-On


IIC a partir do método de pluviação sobre peneiras.

emín

Figura 13 – Gráfico obtido para areia de Hokksund a


partir do método de pluviação sobre peneiras.

Esferas IIC Verifica-se que os valores obtidos para os


Areia de Hokksund índices de vazios limites são muito dependentes
Figura 11 – Gráfico de Cho et al. (2006) relacionando da forma dos grãos. Os resultados confirmam a
angularidade e esfericidade com emín e emáx, incluindo tendência de que materiais com partículas mais
os dados da presente pesquisa (pontos assinalados angulares possuem maior diferença entre seus
com setas). índices de vazios máximo e mínimo do que
materiais de grãos mais esféricos (figura 11),
O método de pluviação sobre peneiras possui
assim como maiores índices de vazios máximos
a vantagem de ter uma menor interferência do
e mínimos. Comparando-se os resultados
operador e a possibilidade de se obter uma
obtidos para os dois materiais ensaiados,
curva característica do material, além do valor
observa-se que:
para o índice de vazios mínimo (linhas de
tendência horizontal nas figuras 12 e 13). A
e máx, Hokksund e mín, Hokksund
curva é obtida plotando-se o índice de vazios 1 1
em função da abertura do funil. Com o gráfico e máx, Esferas IIC e mín, Esferas IIC
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Isso se deve ao fato de existir um maior ASTM obteve os melhores resultados. O


entrosamento entre as partículas dos materiais método poderia ser mais otimizado
angulares, o que permite a estabilização em uma introduzindo-se uma forma mecanizada para a
situação muito fofa, para o índice de vazios remoção do cilindro com o solo, de forma a
máximo, e um arranjo muito mais estável das reduzir a influência do operador.
partículas, para o índice de vazios mínimo, Como esperado, os índices encontrados
comparado aos grãos de forma esférica. diferem para os métodos avaliados, o que indica
Considerando as observações feitas em a necessidade de padronização dos métodos
relação aos métodos utilizados e as vantagens e para a determinação de índices de vazios limite
desvantagens de cada um, os autores entendem (emáx e emín), uma vez que parâmetros de
que os métodos de pluviação sobre peneiras projetos de engenharia são estimados com base
(Miura & Toki, 1982) para índice de vazios na compacidade relativa estimada indiretamente
mínimo e o método “B” da ASTM (ASTM, a partir de ensaios de campo em função desses
2016) para índice de vazios máximo, seriam os índices limite.
mais adequados dentre os avaliados neste
estudo experimental. A tabela 3 apresenta os AGRADECIMENTOS
valores sugeridos para emáx e emín dos materiais
estudados, com base nesses métodos. À professora Laura Motta e ao engenheiro
Marcos Fritzen, da COPPE/UFRJ, pela
Tabela 3 – Valores sugeridos de índices de vazios indicação das esferas IIC para emprego na
máximo e mínimo para os materiais estudados. presente pesquisa. À engenheira Dra.
Grandeza Testada Método Material Valor Sugerido
Pluviação Sobre Peneiras Esferas IIC 0,521 Prepredigna da Silva do DNIT/IPR pelo
emín
(MIURA & TOKI, 1982) Areia de Hokksund
Esferas IIC
0,542
0,717
fornecimento das esferas IIC.
emáx ASTM Método "B"
Areia de Hokksund 0,868 Aos técnicos Roberto Marinho e Edgard Bispo
pelo auxílio na execução dos ensaios de
4 CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS E laboratório.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
Salienta-se a vantagem do método de pluviação
sobre peneiras no que se refere à possibilidade ABNT, 1990. MB-3324: Solo – Determinação do índice
de moldar amostras com índices de vazios entre de vazios máximo de solos não coesivos, Rio de Janeiro:
ABNT.
o máximo e o mínimo, inclusive o índice de ABNT, 1991. MB-3388: Solo – Determinação do índice
vazios mínimo. O método também possui a de vazios mínimo de solos não coesivos, Rio de Janeiro:
vantagem de ter pouca influência do operador, o ABNT.
que proporciona resultados mais consistentes. ABNT, 1995. NBR 6502/1995: Rochas e solos.
O método adaptado do “Geolabs in-house Terminologia, Rio de Janeiro: ABNT.
ABNT, 2013. NBR 16184/2013: Sinalização horizontal
method” obteve valores menores de índices de viária - Esferas e microesferas de vidro - Requisitos e
vazios mínimo, porém, não muito menores a métodos de ensaio, Rio de Janeiro: ABNT.
ponto de apresentar grande vantagem na ASTM, 2016. D4253-16: Standard Test Methods for
utilização. A necessidade de controle de Maximum Index Density and Unit Weight of Soils using
a Vibratory Table.
frequência e amplitude da vibração, sendo uma
ASTM, 2016. D4254-16: Standard Test Methods for
etapa adicional ao método de pluviação sobre Minimum Index Density and Unit Weight of Soils and
peneiras com funil de abertura 10 mm, não Calculation of Relative Density.
agrega vantagens sob a ótica da simplicidade e Blaker, Ø. Lunne, T., Vestgården, T., Krogh, L.
da eficiência na execução. Thomsen, N.V., Powell, J.J.M, Wallace, C.F., 2015.
Method dependency for determining maximum and
Para os métodos de determinação de índice
minimum dry unit weights of sands. Frontiers in Offshore
de vazios máximo, nota-se que o método “B” da Geotechnics, Vol. III(Meyer), pp. 1159-1166.
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Cho, G.-C., Dodds, J. & Santamarina, J. C., 2006.


Particle Shape Effects on Packing Density, Stiffness, and
Strength: Natural and Crushed Sands. Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Maio,
pp. 591-602.
Kolbuszewski, J., 1948. An Experimental study of the
Maximum and Minimum Porosities of Sands. Em:
Proceedings of the second International Conference on
Soil Mechanics and Foundation Engineering. Rotterdam,
pp. 158-165.
Medeiros, M. C., 2018. Avaliação de métodos para
determinação de índices de vazios máximo e mínimo de
materiais granulares, Trabalho de conclusão de Curso,
Rio de Janeiro: Escola Politécnica, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 75 p.
Miura, S. & Toki, S., 1982. A sample preparation method
and its effect on static and cyclic deformation-strength
properties of sand. Soils and Foundations, 22(I), pp. 61-
77.
Parkin, A. K. & Lunne, T., 1982. Boundary Effects in the
Laboratory Calibration of a Cone Penetrometer for Sand.
Proceedings of the Second European Symposium on
Penetration Testing, pp. 761-768.
Pinto, C. S., 2006. Curso Básico de Mecânica dos Solos.
3 ed. São Paulo: Oficina de Textos, 354 p.
Simões, F. B., 2015. Caracterização da Areia da Praia de
Ipanema, Trabalho de conclusão de Curso, Rio de
Janeiro: Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 72 p.
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Avaliação de Perfis de Estacas Por Meio de Ensaios de


Integridade de Baixa Deformação
Felipe Mantovani
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil, felipemantovani@gmail.com

Paulo José Rocha de Albuquerque


Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil, pjra@fec.unicamp.br

Reynaldo Luiz De Rosa


Modulus Engenharia Ltda., Jundiai, SP, Brazil, reynaldo@modulusengenharia.com

RESUMO: Ensaios de integridade de estacas tem por objetivo a investigação das características da
seção transversal de uma estaca ao longo de sua profundidade. Isso se dá através da análise da
velocidade de propagação de uma onda de compressão e de baixa deformação ao longo do concreto.
Essa onda pode ser refletida para a cabeça da estaca após atingir o final da mesma ou devido a
alterações de impedância por variações de seção transversal, peso específico ou módulo de
elasticidade do material. Este trabalho teve o objetivo de avaliar os defeitos de quatro geometrias de
estacas, por meio do emprego de dois equipamentos: PIT (Pile Integrity Tester) e PET (Pile Echo
Tester), ambos baseados no Pulse Echo Method (Método Sônico). Os modelos de estacas
empregados foram em superfície (não enterradas) de forma a possibilitar a execução dos “defeitos”
e avaliá-los sem a interferência do solo. Os ensaios mostraram que os equipamentos (PIT e PET)
apresentaram resultados similares nas respostas dos defeitos previamente preparados nas estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de baixa deformação, Integridade, Estacas, Defeito

1. INTRODUÇÃO velocidade e ótimo custo-benefício para


aplicação em teste de estacas.
As falhas em fundações profundas podem ser
geotécnicas e/ou estruturais. A primeira,
detectada através de provas de carga e, para
estacas cravadas, através de monitoramento da
cravação. A segunda, pode ser constatada em
geral apenas por testes de integridade (Rausche
et al, 2017).
A avaliação da integridade das estacas de
concreto por meio de ondas de tensão de baixa
deformação (figura 1), permite obter uma visão
geral da qualidade da fundação com relação à Figura 1. Desenho esquemático do método sônico (Mikos
et al., 2016)
integridade, de forma rápida e com baixo custo
(Rausche et al., 1992).
No caso de estacas moldadas in loco, em que
De acordo com Amir (2008), o Método
o terreno e processo executivo estabelecem os
Sônico (Pulse Echo Method) é o mais frequente
contornos das estacas, o ensaio tem uma
no mundo entre os equipamentos para teste de
interpretação mais difícil, mas as vantagens do
integridade de estacas, proporcionando
processo ainda o colocam como a alternativa
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mais utilizada na prática. (Zaeyen e Lopes,


2006).
Várias ferramentas estão disponíveis para
ajudar nesse sentido como programas que
podem simular a resposta do teste a diferentes
formas de estacas e configurações do solo. Figura 2. Equipamentos PET (esquerda) e PIT (direita).
Esses programas permitem a comparação de Fonte: Piletest e Pile Dynamics Inc.
dados de campo reais com previsões baseadas
na geometria da estaca presumida ou prevista e 2. MATERIAIS E MÉTODOS
na descrição do solo (Beim, Costa e Ferreira
2006). Surge, porém, uma questão de quão O programa de testes, realizado no Campus
confiáveis são essas previsões. Experimental da Universidade Estadual de
A interpretação do ensaio está relacionada Campinas (Unicamp), no Estado de São Paulo,
com conceito de impedância, função da área da consistiu na instalação de um total de 4 estacas
seção, módulo de elasticidade, peso específico de 6 m de comprimento, posicionadas
do material e aceleração da gravidade. horizontalmente no solo para minimizar o efeito
Variações de impedância ao longo da estaca do atrito do solo.
provocam reflexões de onda que podem ser
lidas pelo sensor instalado na cabeça da estaca e 2.1 Estacas
interpretadas. Aumentos na impedância causam
queda na velocidade da partícula no ponto de As estacas foram moldadas in loco no Campo
leitura e reduções na impedância em Experimental sendo uma delas uniforme e sem
contrapartida, aumento na velocidade (PDI, reforço (Estaca 1), utilizada como referência.
2018). Devido a questões construtivas durante a
Milititsky et al. (2006) ressaltam a moldagem, esta estaca tem como comprimento
importância de boa qualificação e muita total 4,8 m, ao invés de 6 m como originalmente
experiência para a análise de ensaios de projetado.
integridade em estacas moldadas “in situ” pois As outras três estacas apresentam anomalias
variações na seção e/ou nas características do conforme figura 3 e descrição abaixo:
material da estaca podem comprometer os Estaca 1: sem defeito
elementos de fundação, considerados então Estaca 6: redução de diâmetro ao longo de 60
como “elementos com falha” ou “não cm de comprimento, iniciando a 1,7 m de uma
qualificados”. Nesses casos, a investigação pode das extremidades. A área da seção transversal
ser complementada por inspeção visual ou na redução foi 37,5 % menor do que no restante
ensaios de carregamento estático ou dinâmico da estaca;
para adequação dos elementos assim Estaca 7: aumento de seção, iniciando a 1,7
caracterizados. m de uma das extremidades. A área da seção
Nesse sentido, o artigo busca contribuir com transversal na região foi 60% maior do que no
a interpretação dos resultados de ensaios de restante da estaca;
integridade através de comparação dos dados Estaca 8: aumento de seção iniciando a 4 m
coletados por equipamentos PIT e PET com de uma das extremidades, retornando
dados reais relativos às anomalias previamente gradualmente ao tamanho normal na outra
conhecidas das estacas (figura 2). extremidade. A área da seção transversal no
início da ampliação foi 60% maior que a
nominal.
As estacas 6, 7 e 8 foram armadas por quatro
barras de aço longitudinais com 5 mm de
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diâmetro e 5,8 m de comprimento, além de análise dos dados anteriores está além do
estribos de 5 mm de diâmetro com dimensões escopo deste trabalho.
de 20 cm x 20 cm instalados com um
espaçamento de 20 cm. 3. RESULTADOS

As figuras 4 a 11 mostram os sinais obtidos


através do equipamento PIT e PET
respectivamente representados pelos itens a e b.
As estacas 1, 6, 7 e 8 foram testadas a partir da
extremidade esquerda, como mostrado na
Figura 1, e as estacas 1A, 6A, 7A a 8A foram
testadas a partir da extremidade direita.
cm/s Pile: E01 - 12: # 1 2 3 MA: 1.00
0.45
MD: 2.00
Figura 3. Croqui das 4 estacas testadas. LE:
WS:
4.80
3850
LO: 0.00
0.22 HI: 0.0
PV: 0
Como se pode observar, houve o cuidado de T1: 33

não se posicionar anomalias no meio da estaca a 0.00

fim de se evitar a sobreposição de reflexões -0.22


T1 Toe
Vel

secundárias da mudança da seção transversal 0 1 2 3 4m


F/Z

com a reflexão vinda da ponta.


Figura 4a. Estaca 1 – Resultado PIT
2.2 Ensaios de Integridade

O teste foi realizado com aplicação dos golpes


em cada extremidade da estaca através de um
martelo de 900 g.
Segundo Cunha e Costa (1998), o golpe de
martelo gera uma onda acústica que se propaga
a partir do ponto de impacto ao longo do fuste
Figura 4b. Estaca 1 – Resultado PET
até a ponta da estaca. Variações na forma e
qualidade do material produzem reflexões
observadas quando retornam ao topo da mesma 0.45
cm/s Pile: E01A - 12: # 50 51 52 MA: 1.00
MD: 2.00
provocando vibrações superficiais detectadas LE:
WS:
4.80
3850
LO: 0.00
pelo acelerômetro. 0.22 HI:
PV:
0.0
0

Os dados de aceleração são integrados para T1: 33

0.00
se obter a velocidade e os sinais de vários
golpes sobrepostos para se reduzir o ruído -0.22
T1 Toe
Vel

aleatório. 0 1 2 3 4m
F/Z

Os dados foram processados e gravados por


dois dispositivos, um fabricado pela Pile Figura 5a. Estaca 1A – Resultado PIT
Dynamics, Inc. (PDI), de Ohio, EUA, o outro
pela Piletest de Israel. São apresentados neste
trabalho os resultados obtidos através de ambos
os equipamentos.
Os dados foram coletados 3, 7, 14 e 28 dias
após a execução das estacas. Somente os
resultados em 28 dias serão apresentados. Uma Figura 5b. Estaca 1A – Resultado PET
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cm/s Pile: E06 - 12: # 24 25 26 MA: 1.00


0.38
MD: 1.20
LE: 6.00
WS: 3770
LO: 0.00
0.19 HI: 0.0
PV: 0
T1: 42

0.00

T1 Toe
Figura 8b. Estaca 7 – Resultado PET
-0.19 Vel
F/Z
0 1 2 3 4 5 6m

Figura 6a. Estaca 6 – Resultado PIT

Figura 6b. Estaca 6 – Resultado PET


Figura 9a. Estaca 7a – Resultado PIT
cm/s Pile: E06A - 16: # 27 28 29 30 MA: 1.00
0.30
MD: 1.20
LE: 6.00
WS: 3770
LO: 0.00
0.15 HI: 0.0
PV: 0
T1: 39

0.00

T1 Toe
-0.15 Vel
F/Z
Figura 9b. Estaca 7a – Resultado PET
0 1 2 3 4 5 6m

cm/s
Figura 7a. Estaca 6a – Resultado PIT 0.38
Pile: E08 - 16: # 10 11 12 13 MA:
MD:
1.00
1.20
LE: 6.00
WS: 3860
LO: 0.00
0.19 HI: 0.0
PV: 0
T1: 37

0.00

T1 Toe
-0.19 Vel
F/Z
0 1 2 3 4 5m

Figura 7a. Estaca 6a – Resultado PET


Figura 10a. Estaca 8 – Resultado PIT
cm/s Pile: E07 - 12: # 18 19 20 MA: 1.00
0.56
MD: 1.20
LE: 6.00
WS: 3780
LO: 0.00
0.28 HI: 0.0
PV: 0
T1: 39

0.00

T1 Toe
-0.28 Vel
F/Z
Figura 10b. Estaca 8 – Resultado PET
0 1 2 3 4 5m

Figura 8a. Estaca 7 – Resultado PIT


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velocidade de partícula apenas no momento de


cm/s
0.56
Pile: E08A - 12: # 38 39 40 MA:
MD:
1.00
1.20 aplicação do golpe e na chegada da onda
LE: 6.00
WS:
LO:
3860
0.00
refletida pela ponta da estaca.
0.28 HI:
PV:
T1:
0.0
0
37
Os resultados para a estaca 6 apontaram
0.00
corretamente redução na seção mais próxima à
lateral esquerda. O mesmo ocorreu para a estaca
T1 Toe
-0.28 Vel
F/Z
7 com sinais invertidos e aumento de seção
0 1 2 3 4 5m
próximo à lateral esquerda.
Os dados obtidos na estaca 8 mostram uma
Figura 11a. Estaca 8A – Resultado PIT inversão no sinal gradual e repentina para as
análises com golpe à esquerda e à direita
respectivamente. Isso ocorre devido a um
aumento brusco de área de seção e impedância
quando da direita e um aumento gradual de área
e impedância quando da esquerda.
A armadura de reforço não causou influência
Figura 11b. Estaca 8A – Resultado PET
perceptível na velocidade da onda. Uma
Os dados de comprimento estimado dos possível explicação é que, como a velocidade da
elementos e velocidade de propagação de onda onda é diretamente proporcional ao módulo
obtidos através dos equipamentos são elástico, e inversamente proporcional ao peso
apresentados nas tabelas 1 e 2. específico, uma mudança igual em ambos os
parâmetros não causaria uma mudança
Tabela 1 - Características e velocidades de onda obtidas apreciável na velocidade da onda.
para as estacas testadas (PIT)
Velocidade de 5. CONCLUSÕES
Estaca Comprimento (m) Armadura
onda (m/s)
1 4,8 Não 3850
6 6,0 Sim 3770 Quatro estacas de concreto pré-moldado
7 6,0 Sim 3780 horizontais foram submetidas a testes de
8 6,0 Sim 3860 integridade de baixa tensão em ambas as
extremidades. As estacas tiveram alterações
Tabela 2 - Características e velocidades de onda obtidas propositais na área da seção transversal e uma
para as estacas testadas (PET)
delas não apresentava armaduras de reforço.
Velocidade de
Estaca Comprimento (m) Armadura
onda (m/s) • Em geral, houve concordância satisfatória
1 4,8 Não 4000 entre os dados obtidos através dos
6 6,0 Sim 4000 equipamentos PIT e PET. Tendo em vista que
7 6,0 Sim 4000 ambos os equipamentos são baseados no
8 6,0 Sim 4000
método sônico;
• Para os casos analisados, os equipamentos
4. RESULTADOS E ANÁLISES foram capazes de indicar as anomalias
existentes nas estacas e seu posicionamentos;
A semelhança entre os dados de teste e reais foi • Não houve diferença significativa entre as
satisfatória. A faixa de variação da velocidade velocidades de propagação de onda
de propagação de onda no concreto para determinadas para estacas com ou sem reforço;
pequenas deformações também mostrou-se O Campo Experimental da Universidade
adequada e estreita, entre 3700 e 3860 m/s. Estadual de Campinas (UNICAMP) é um
Para a estaca 1, os dados obtidos pelo PIT e projeto em andamento e espera-se que os
PET foram muito similares, com aumento de resultados aqui descritos estimulem outros
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projetos de pesquisa, especialmente na área de


testes de integridade de pequena deformação.

REFERÊNCIAS

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of PEM tests on piles’’, 8th International Conference
on Application of Stress-Wave Theory to Piles,
Lisbon, Portugal., Vol. 1 pp. 671–675.
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de Integridade em Estacas Contendo Múltiplos Bulbos
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Cunha, R.P. e Costa, F.L. (1998). “Avaliação da
Integridade Física de Estacas Assentes na Argila
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de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
Brasília.
Milititsky, J.; Consoli, N.; Schnaid, F. (2006) –“Patologia
das Fundações: Ocorrência e Prevenção”. XIII
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica, Curitiba.
Mikos, A. P.; Roedel, L.; Caetano, M. C.; Kormann, A.
C. M.; Faro, V. P.; Sestrem, L. P.; Teixeira, S. H. C.
(2016). “Aplicabilidade de métodos não destrutivos
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grampeado”. XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica
dos Solos e Engenharia Geotécnica, Belo Horizonte.
PDI. (2018). Provas Dinâmicas e Instrumentação
Engenharia Ltda - PDI Engenharia. Disponível em
http://pdi.com.br/. Acessado em 09/05/2018
Pile Dynamics, Inc. (2018). Disponível em
https://www.pile.com/products/pit/. Acessado em
09/05/2018.
Piletest. (2018). Disponível em
http://www.piletest.com/show.asp?page=pet.
Acessado em 09/05/2018.
Rausche, F.; Alvarez, C.; Likins, G.E. “Dynamic Loading
Tests: A State of the Art of Prevention and Detection
of Deep Foundation Failures”, Proceedings of the 3rd
Bolivian International Conference on Deep
Foundations, Santa Cruz de La Sierra, Bolivia, 2017.
Rausche, F., Likins, G.E., Shen, R-K., “Pile Integrity
Testing and Analysis”, Proceedings of the 4th
International Conference on the Application of Stress-
Wave Theory to Piles, The Netherlands, 1992, pp.
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Zaeyen, V.D.B.; Lopes, F.R. (2006). “Uso de Ensaios de
Integridade para Controle de Qualidade de Estacas
Moldadas in loco na ETE Sarapuí”. XIII Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, Curitiba.
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Avaliação do Fator de Segurança de um Talude com Base na


Geração de Campos Aleatórios
Omar de Barros Silvestre Junior
Universidade do Porto, Porto, Portugal, omar.junior@fe.up.pt

António Milton Topa Gomes


Universidade do Porto, Porto, Portugal, atgomes@fe.up.pt

RESUMO: O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir a aplicação da teoria dos campos
aleatórios em problemas associados à variabilidade espacial das propriedades do solo, visando
acompanhar a evolução dos projetos geotécnicos baseados na fiabilidade. A título de demonstração,
é apresentado um exemplo de geração de campos aleatórios dos parâmetros de resistência de um solo
residual de granito do Porto para análise da estabilidade de um talude, comparando-se os fatores de
segurança, FS, e a probabilidade de rotura em função da variação da escala de flutuação. Demonstra-
se a importância desta variável, com impactos muito significativos nos FS obtidos.

PALAVRAS-CHAVE: variabilidade geotécnica, campos aleatórios, simulação, estabilidade de


encostas.

1 INTRODUÇÃO mencionados, e associados ao uso de


propriedades bem definidas para os materiais e
A modelação mecânica pode ser definida como para as ações (Sudret & Der Kiureghian, 2000).
a idealização matemática dos processos físicos, Atualmente, a variabilidade dos materiais
através de equações que governam o geotécnicos é, muitas vezes, considerada usando
comportamento do material. Isto inclui as Método dos Elementos Finitos Estocásticos
variáveis básicas (geometria, cargas e (SFEM – Stochastic Finite Element Method),
propriedades dos materiais), as variáveis de que permitem quantificar a resposta
resposta (deslocamentos, tensões, deformações), considerando o terreno como um processo
e as equações constitutivas que relacionam estes aleatório, gerado respeitando determinadas
dois tipos de variáveis. Durante muito tempo a regras. O uso deste processo não permite
investigação focou-se, essencialmente, na determinar a resposta diretamente, obrigando à
melhoria dos modelos estruturais e nas leis determinação das estatísticas de segunda ordem,
constitutivas, como processos de aplicação ao e assim definir a função densidade de
Método dos Elementos Finitos e à sua eficiência, probabilidade a partir das simulações.
em virtude das limitações resultantes da Na próxima seção far-se-á uma introdução
capacidade computacional. preliminar ao processo de geração de campos
No entanto, a melhoria da qualidade dos aleatórios, apresentando-se um exemplo e um
modelos constitutivos e o grande aumento da programa Matlab® que permitem a iniciação do
capacidade dos meios de cálculo não resolvem o tema. Entende-se que o assunto é muito
problema da incerteza associada à caracterização complexo e requer estudos mais avançados,
dos parâmetros. No caso particular da geotecnia, sendo, no entanto, um dos temas mais populares
as dificuldades associadas à variabilidade dentro da investigação da área de Risco e
espacial e intrínseca dos materiais, que não Fiabilidade em Geotecnia. Para se dar um
possuem qualquer controlo na maior parte dos exemplo, no recente congresso Geo-risk 2017,
casos, não são respondidas pelos aspetos atrás patrocinado pela American Society of Civil
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Engineers e que decorreu em Denver, nos autocorrelação da variável em análise, em duas


Estados Unidos, cerca de 20% dos trabalhos localizações separadas pela distância ∆x na
tinham uma relação com o uso de campos direção horizontal e ∆y na direção vertical. δ1 e
aleatórios. δ2 representam a maior escala de flutuação e a
menor escala de flutuação, respetivamente, que
devem ser paralelas aos eixos x e y.
2 VARIÁVEIS E MÉTODOS PARA A
GERAÇÃO DE CAMPOS ALEATÓRIOS
3 GERAÇÃO DE CAMPOS
Há muitas técnicas para a geração de campos ALEATÓRIOS EM GEOTECNIA, DE
aleatórios, sendo os seguintes os mais usados PARÂMETROS ANISOTRÓPICOS
(Fenton & Griffiths, 2007):
3.1 No Espaço Normal Padrão
• Métodos de Média móvel (MA – Moving
Average Methods); Nesta seção procura-se apresentar um exemplo
• Transformada de Fourier Discreta (DFT – simples de geração de campos aleatórios,
Discrete Fourier Transform); seguindo o procedimento apresentado por Zhu,
• Decomposição da Matriz de Covariância; et al. (2017). Trata-se apenas de um pequeno
• Transformada de Fourier rápida (FFT – Fast exemplo de aplicação, seguindo uma
Fourier Transform); metodologia para a geração de campos
• Método das Bandas (TBM – Turning Bands aleatórios. Como se percebe da seção anterior,
Method); muitos outros processos existem para a geração
• Subdivisão Média Local (LAS – Local destes campos, sendo a discussão das vantagens
Average Subdivision). e inconvenientes de cada uma das metodologias
um dos tópicos de discussão.
Um conjunto de variáveis aleatórias, em A título ilustrativo, procura-se gerar um
qualquer localização, é definido como um campo campo aleatório num espaço de 30 m × 30 m, tal
estocástico. A autocorrelação de dois resultados como se ilustra na Figura 1, discretizado em
depende da distância que separa as observações pontos afastados entre si de 1 m, quer na direção
e da tendência para estes dois resultados se vertical quer na direção horizontal.
correlacionarem no espaço.
Um campo aleatório anisotrópico pode ser hx
definido como tendo duas direções com escalas
1 2 3 4 5 30
de flutuação dependentes, uma maior e outra hy
menor. Quanto maior for a escala de flutuação 31 32 33 34 35 60
mais suaves serão as variações e, inversamente,
se a escala de flutuação for pequena, as variações 61 62 63 64 65 90
serão intensas e bruscas.
A maior parte dos campos de flutuação com 91 92 93 94 95 120

duas variáveis apresenta uma anisotropia com as


duas escalas de flutuação ortogonais, dando 121 122 123 124 125 150

origem a uma variação elíptica. Nestes casos, a


estrutura de correlação é dada pela Equação 1:
871 872 873 874 875 900

∆x2 ∆y2
ρs = exp (-2√ + ) (1)
δ21 δ22 Figura 1. Discretização de um campo aleatório com uma
malha de 30 × 30 pontos.
Em que ρs representa o coeficiente de
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A matriz de autocorrelação, Ma, é obtida um campo aleatório são então as seguintes:


através dos coeficientes de autocorrelação, ρs,
para dois quaisquer pontos. Estes coeficientes a. Obtenção da matriz de autocorrelação Ma,
são calculados admitindo que a escala de com 9×9 elementos, cujos valores para o
flutuação segue a função elíptica definida pela presente exemplo são os seguintes:
Equação 1.
Assim, tomando como referência a Figura 1, 1,00 0,51 0,26 0,14 0,12 0,09 0,02 0,02 0,01
1,00 0,51 0,12 0,14 0,12 0,02 0,02 0,02
a distância entre os pontos 1 e 2 é igual a hx, 1,00 0,09 0,12 0,14 0,01 0,02 0,02
sendo a correlação entre estes pontos calculada 1,00 0,51 0,26 0,14 0,12 0,09
tomando ∆x=hx e ∆y=0. O mesmo procedimento 1,00 0,51 0,12 0,14 0,12
é adotado para os pontos seguintes. Por exemplo, 1,00 0,09 0,12 0,14
1,00 0,51 0,26
o coeficiente de correlação entre os pontos 1 e 3 1,00 0,51
é calculado tomando ∆x=2hx e ∆y=0. Se se [ 1,00]
pretendesse calcular o coeficiente de correlação
entre os pontos 1 e 31 tomava-se ∆x=0 e ∆y=hy. Note-se que, propositadamente, se preencheu
E, finalmente, o coeficiente de correlação entre apenas a metade superior da matriz, pois esta é
os pontos 1 e 33 é calculado tomando ∆x=2hx e simétrica. Um outro aspeto interessante de
∆y=hy. observar prende-se com a influência da escala de
Desta forma, a primeira linha da matriz Ma flutuação. No exemplo considerou-se a escala de
possui os coeficientes de correlação entre o flutuação na direção horizontal três vezes
ponto 1 e todos os outros pontos, num total de superior à escala de flutuação na direção vertical,
30×30 colunas, equivalente, portanto, aos 900 o que torna, para a mesma distância entre pontos,
pontos em análise. A matriz Ma possui mais 899 os parâmetros mais correlacionados na direção
linhas, correspondentes aos restantes pontos. horizontal. Por exemplo comparando a
Para ilustrar o exemplo, vai-se gerar um correlação entre os pontos 1 e 2, e 1 e 4,
campo aleatório com apenas 3×3 pontos, tal exatamente à mesma distância, mas, no primeiro
como ilustrado na Figura 2. Neste exemplo já se caso, medida na horizontal e, no segundo, na
definem as distâncias hx e hy, que se consideram vertical, vê-se que os coeficientes de correlação
iguais a 1 m, tornando assim mais simples o são 0,51 e 0,14, respetivamente.
exemplo. Para o cálculo da matriz Ma é também
necessário o conhecimento das distâncias de b. Decompor a matriz de autocorrelação, Ma, no
correlação, tendo-se assumido a escala de produto de uma matriz triangular inferior e a
flutuação na direção horizontal, δ1, como a maior sua transposta, a chamada decomposição de
das escalas de flutuação, e igual a 3 m, e a escala Cholesky:
de flutuação na direção vertical como a menor
escala de flutuação, com o valor de 1 m. Ma = L . LT (2)

hx = 1 m Esta operação é, nos dias de hoje, bastante


expedita num ambiente tipo Matlab®, bastando
1 2 3
hy = 1 m neste caso invocar o comando “Chol(Ma)”,
4 5 6
resultando, para o exemplo agora em estudo, a
seguinte matriz L:
7 8 9

Figura 2. Discretização de um campo aleatório com uma


malha de 3 × 3 pontos.

A sequência de operações a realizar para se gerar


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1,00 0,51 0,26 0,14 0,12 0,09 0,02 0,02 0,01


0 1,00 0,51 0,12 0,14 0,12 0,02 0,02 0,02
0 0 1,00 0,09 0,12 0,14 0,01 0,02 0,02
0 0 0 1,00 0,51 0,26 0,14 0,12 0,09
0 0 0 0 1,00 0,51 0,12 0,14 0,12
0 0 0 0 0 1,00 0,09 0,12 0,14
0 0 0 0 0 0 1,00 0,51 0,26
0 0 0 0 0 0 0 1,00 0,51
[ 0 0 0 0 0 0 0 0 1,00]

c. Gerar um vetor, Z, de 9 valores (equivalente


ao número de pontos) seguindo uma
distribuição normal padronizada.
Naturalmente que a geração de variáveis
aleatórias produz um vetor distinto de cada Figura 3. Campo aleatório exemplo, para uma variável
vez que se produz nova geração de valores. normal padrão, para uma malha de 3 × 3 pontos.
Considere-se, a título de exemplo, que os
valores gerados foram os seguintes: 3.2 Variável Normal com Média e Desvio
Padrão Conhecidos
2,0108
0,0256 Gerado o campo aleatório no espaço normal
0,3083
−0,9382 padrão, a sua transformação para numa
𝑍 = 1,6742 distribuição normal, não padrão, ou até noutra
0,1250 distribuição, é relativamente simples. Para isso
0,5301
−0,9521
basta proceder-se à transformação linear da
[ 0,8540 ] variável X, com distribuição normal
padronizada, na variável pretendida, V, isto é:
d. Um campo aleatório anisotrópico, no espaço
normal padrão pode ser obtido multiplicando V = a + b∙X (4)
a matriz L pelo vetor Z:
O valor esperado e a variância da variável V
G=L.Z (3) são dados pelas equações 5 e 6, respetivamente:

O que, para o caso em estudo resulta no μV = a + b∙μX (5)


seguinte vetor de 9 elementos, correspondente
aos 9 pontos para os quais se pretende gerar o σ2V = b2 ∙σ2X (6)
campo aleatório:
2,196
Assim, a título ilustrativo, suponha que se
0,2584 pretende um campo aleatório do ângulo de atrito,
0,3501 ϕ, sendo que este parâmetro segue uma
−0,0344 distribuição normal, com ângulo de atrito médio,
𝐺 = 1,5087
0,1391 μϕ, de 30°, e um coeficiente de variação, CVϕ, de
0,2623 10%. Destes dados, pode-se então dizer:
−0,4447
[ 0,7300 ]
σ = CVϕ ×μϕ = 0,10×30 = 3° (7)
Este exemplo resulta no campo aleatório com
o aspeto da Figura 3. σ2 = 9° (8)

Como a distribuição da variável X é a


distribuição normal padrão, tal significa que a
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sua variância é 1 e a sua média é 0, pelo que, Como se vê por esta imagem, ela é totalmente
usando as equações 5 e 6, resultam os idêntica à Figura 4, sendo os valores da variável
coeficientes: a = 30 e b = 3. ϕ distintos, e seguindo uma distribuição normal
Gerou-se então um campo aleatório baseado com valor médio de 30° e desvio padrão de 3°.
numa variável com distribuição normal padrão,
com 50 × 50 pontos afastados de 1 m em ambas
as direções, e escala de flutuação segundo x igual 4 CASO DE ESTUDO: SIMULAÇÃO EM
a 10 m, e segundo y igual a 0,5 m. O resultado é UM SOLO RESIDUAL DO PORTO
o que se apresenta na Figura 4.
A variabilidade natural do solo tornou-se um
fator importante a ser considerada em projetos
geotécnicos, visando acompanhar a linha de
renovação imposta pelos Eurocódigos acerca das
metodologias probabilísticas de análise de
fiabilidade das estruturas.
Isto significa que as metodologias clássicas
de dimensionamento baseadas na determinação
do fator de segurança global tendem a ser
gradualmente substituídas por abordagens mais
representativas do comportamento do solo,
dentre as quais se destacam as semiprobalísticas
– por exemplo, o método dos coeficientes
Figura 4. Campo aleatório exemplo, com uma variável parciais – e as probabilísticas, que assentam na
normal padrão, para uma malha de 50 × 50 pontos.
teoria da fiabilidade (Pinheiro Branco et al.,
2014).
Da imagem anterior é claro que há uma maior
Entretanto, esta transição requer uma
correlação das propriedades na direção
caracterização ampla e exaustiva da
horizontal. A transformação deste campo numa
variabilidade dos parâmetros geotécnicos que
variável normal, não padrão, é imediata,
definem o comportamento dos maciços, o que
bastando para tal aplicar as equações 5 e 6,
impõe uma análise estatística dos dados obtidos.
resultando o campo aleatório ilustrado na Figura
A partir daí, sugerem-se alguns atributos
5.
importantes, como o coeficiente de variação e a
escala de flutuação, para quantificar as
incertezas associadas ao solo (Phoon &
Kulhawy, 1999).

4.1 Caracterização dos Parâmetros de


Resistência.

A aplicação da teoria dos campos aleatórios em


solos será abordada nesta seção como um caso
de estudo para um solo residual de granito na
região do Porto, Portugal. As variáveis utilizadas
na geração dos campos aleatórios representam os
Figura 5. Campo aleatório exemplo do ângulo de atrito, parâmetros de resistência ao corte direto do solo,
com uma média de 30° e um desvio padrão de 3°, para uma que são o ângulo de atrito efetivo, ϕ´, e a coesão
malha de 50 × 50 pontos. efetiva, c´.
Os valores representativos do solo
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mencionado, para efeito da simulação, são os de atrito ϕ´, e 50 matrizes para a coesão c´. O
apresentados na Tabela 1. peso volúmico, γ, do solo foi considerado
constante, por apresentar variações pouco
Tabela 1. Dados de entrada para geração da malha de significativas relativamente aos outros
campo aleatório parâmetros.
Parâmetros  c' ' As figuras 6 e 7 mostram o resultado de
(kN/m3) (kPa) ()
alguns campos aleatórios relativos ao ângulo de
Média 20 10 35
Coef. variação (%) - 20 9 atrito e à coesão, respetivamente, com escalas de
Desvio padrão - 2 3,15 flutuação horizontal, δh, e vertical, δv, iguais a 1
Escala flutuação δh (m) - 1, 2, 6, 10, 12, 60 m.
Escala flutuação δv (m) - 1,6
Distribuição teórica - normal normal
No pontos na direção horizontal 40
No pontos na direção vertical 40
Distância horizontal entre pontos, Δx (m) 0,5
Distância vertical entre pontos, Δy (m) 0,5
Obs: δh - na direção horizontal; δv - na direção vertical

Para a modelação da variabilidade dos


parâmetros geotécnicos do solo, é mais usual a
distribuição normal, principalmente na situação
de uma elevada quantidade de resultados
experimentais, cuja tendência de distribuição se
enquadra no teorema do limite central (Fenton &
Griffiths, 2008). Figura 6. Campo aleatório do ângulo de atrito efetivo, com
Contudo, pelo facto de a distribuição normal escalas de flutuação horizontal e vertical de 1 m.
admitir valores negativos, a modelação de alguns
parâmetros pode incorrer inconsistências com Um dos valores escolhidos para as escalas de
valores próximos de zero e aos quais está flutuação horizontal e vertical, igual a 1 m, está
associada uma grande dispersão. Em tal caso, próximo do que foi obtido no estudo de Pinheiro
sugere-se a utilização de uma distribuição Branco (2011). O baixo valor pode estar
lognormal, já que só admite valores não associado ao facto de a área de amostragem do
negativos e atribui um peso maior a valores mais solo ter sido reduzida.
baixos (Forrest & Orr, 2010).

4.2 Geração dos Campos Aleatórios

Neste trabalho, a escolha pela malha 40 x 40


pontos e a distância entre pontos adjacentes de
0,5 m tem o objetivo de produzir um campo
aleatório com dimensões 20 x 20 m para análise
do fator de segurança em um talude hipotético
contendo os parâmetros de resistência gerados
aleatoriamente. Os detalhes desta análise são
abordados na seção 4.3.
O processo de geração do campo aleatório foi
desenvolvido no ambiente do programa Matlab®. Figura 7. Campo aleatório da coesão efetiva, com escalas
Para cada dupla de escalas de flutuação (δh:δv) de flutuação horizontal e vertical de 1 m.
escolhida são geradas 50 matrizes para o ângulo
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A título comparativo, foram atribuídos novos A ideia de se atribuir às escalas δh:δv os


valores para a escala de flutuação, 10 m para a valores 10m:1m é uma referência a valores
horizontal e 1 m para a vertical, gerando os típicos encontrados na bibliografia que
campos aleatórios de ϕ´ e c´, como os caracterizam a variabilidade natural dos solos,
apresentados ilustrativamente nas figuras 8 e 9. como aqueles indicados na Tabela 2.

Tabela 2. Escalas de flutuação em solos sedimentares


(Phoon & Kulhawy, 1999; Pinheiro Branco, 2011)
Propriedade Tipo de Direção δ(m)
solo
Resistência Argilas Vertical 0,8 a 6,2
não drenada Horizontal 46 a 60
Resistência de Areais e Vertical 0,1 a 2,2
ponta (CPT) argilas Horizontal 3 a 80

4.3 Análise da Segurança de um Talude de


Solo Residual via Campo Aleatório

A possibilidade de aplicação da teoria dos


campos aleatórios na verificação da segurança de
Figura 8. Campo aleatório do ângulo de atrito efetivo, com
uma estrutura geotécnica, quando se dispõe de
escalas de flutuação horizontal de 10 m e vertical de 1 m.
distribuições estatísticas das variáveis básicas
Comparando os campos aleatórios do ângulo que definem a resistência e o efeito das ações,
de atrito, nas figuras 6 e 8, e os campos aleatórios permite tratar de modo mais racional as
da coesão, nas figuras 7 e 9, observam-se os incertezas em jogo, tendo em vista o objetivo de
parâmetros mais correlacionados na direção assegurar um nível de risco aceitável ou imposto
horizontal no caso em que a escala de flutuação àquela estrutura.
horizontal é dez vezes superior à escala de Baseado neste conceito, os parâmetros de
flutuação vertical. Isso significa que as resistência do solo podem ser exaustivamente
flutuações da resistência ao corte em torno do simulados para avaliar a segurança de um talude.
seu valor médio ocorrem de uma forma mais Pretende-se agora determinar o fator de
evidente na direção vertical, o que de facto segurança de um talude emerso de 6 m,
acontece no solo. assumindo que o material que o constitui é um
solo residual de granito, cujas características já
foram anunciadas.
Por hipótese, trata-se de um talude de
escavação inserido na classe de fiabilidade RC1
do Eurocódigo 0 (EC0, 2009) e que se encontra
pré-dimensionado, com inclinação de 57,5o.
Seguidamente, recorreu-se ao software Slide®
7.0 para determinação do fator de segurança
global (FS), pelo método Bishop Simplificado,
num cenário com 6 grupos de 50 campos
aleatórios cada, relativos aos parâmetros ângulo
de atrito efetivo, ϕ´, e coesão efetiva, c´. Os seis
grupos correspondem a seis combinações
Figura 9. Campo aleatório da coesão efetiva, com escalas diferentes das escalas de flutuação horizontal e
de flutuação horizontal de 10 m e vertical de 1 m vertical (δh:δv), a saber: H1V1 (1m:1m), H2V1
(2m:1m), H10V1 (10m:1m), H6V6 (6m:6m),
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H12V6 (12m:6m), H60V6 (60m:6m), escolhidas


de modo conveniente aos valores típicos A discretização dos parâmetros do solo
encontrados na bibliografia consultada. permite compor uma função discreta de
A quantidade de 50 campos aleatórios por resistência, na forma da Equação 9, em cada
grupo permite avaliar a sensibilidade que o FS ponto de coordenada XY no maciço do talude.
apresenta em relação aos valores que os
parâmetros do solo podem assumir. Importa τ = f (X1 ,Y1 ,X2 ,Y2 ,X3 ,Y3 ,...) (9)
observar que qualquer quantidade de campos
aleatórios pode ser estabelecida, tanto melhor Esta função permite que a resistência ao corte
quanto maior for, devendo-se levar em conta a definida, τ, ponto a ponto, pelos valores de
capacidade de cálculo computacional à coesão e atrito, seja interpolada para a
disposição. determinação do FS global. Neste trabalho,
Os dados na matriz de campo aleatório foram utilizou-se o método de interpolação Chugh
transportados para o talude projetado no modificado (Chugh, 1981).
ambiente Slide® 5.0, em que as coordenadas dos Um exemplo de cálculo do FS é indicado na
parâmetros na matriz coincidem com as Figura 12, onde o valor encontrado é de 1,320
coordenadas do talude, utilizando-se aqueles para um campo aleatório nas escalas δh:δv de
posicionados na área interna do talude, num total 60m:6m.
de 624 pontos, conforme esquematizado nas Safety Factor
0.000

figuras 10 e 11.
18

0.500

1.000

1.500

2.000
16

2.500

3.000

3.500
14

4.000

4.500
1.320
5.000
12

5.500

6.000+
10
8
6
4
2
0

-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

Figura 10. Representação esquemática do perfil


transversal de um talude com inclinação de 57,5o. Figura 12. Simulação do Fator de Segurança do talude
relativo às escalas de flutuação H60V6 (60m:6m).

O resumo dos resultados do FS está


representado na Figura 13, através de seus
valores médio, máximo e mínimo, de cada
combinação das escalas de flutuação. Portanto,
foram computadas 300 simulações de FS,
levados em conta os 6 grupos de 50 campos
aleatórios dos parâmetros agregados, ângulo de
atrito e coesão (resistência drenada).

Figura 11. Pormenor dos dados do campo aleatório


inseridos no talude para determinação do FS global.
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1,80
Mínimo Média Máximo referência de 50 anos.
1,60

1,40
Tabela 3. Probabilidade de rotura do talude definido pelos
FATOR DE SEGURANÇA - FS

1,20 campos aleatórios


1,00 δh:δv (m) Protura δh:δv (m) Protura
0,80 1:1 2,46x10-13 6:6 6,60x10-4
0,60 2:1 1,40x10-10 12:6 1,50x10-3
-9
0,40 10:1 5,98x10 60:6 5,22x10-4
0,20 Global 4,30x10-5
0,00
H1 V1 H2 V1 H10 V1 H6 V6 H12 V6 H60 V6
ESCALAS DE FLUTUAÇÃO H:V
FS H1V1 H2V1 H10V1 H6V6 H12V6 H60V6 5 CONCLUSÃO
Minimo 1,236 1,199 1,203 1,093 1,074 1,046
Média 1,310 1,330 1,332 1,349 1,328 1,338
Máximo 1,398 1,442 1,456 1,581 1,620 1,627 Estimativas realísticas da variabilidade dos
parâmetros geotécnicos do solo são cada vez
Figura 13. Resumo do fator de segurança global para um mais importantes para o desenvolvimento e a
talude com inclinação de 57,50. aplicação de projetos baseados na fiabilidade. A
variabilidade desses parâmetros deve sempre
O aumento da escala de flutuação dos
levar em conta as incertezas associadas ao
parâmetros induziu uma variação maior dos
próprio solo, aos erros de medição e à
valores de FS, de modo mais acentuado na escala
adequabilidade dos modelos de cálculo.
vertical de 6m. É conhecido que na propriedade
A ferramenta do campo aleatório pode ser um
dos campos aleatórios o uso de maiores escalas
importante descritor da variabilidade, por via do
de flutuação produz variáveis com maior
coeficiente de variação e da escala de flutuação
dispersão em sua distribuição teórica. E este
dos parâmetros de cálculo. Entretanto, sua
efeito é reproduzido na matriz aleatória dos
eficiência está condicionada à base de dados
parâmetros de resistência que constituem o
experimentais disponível que possa bem definir
talude.
o modelo de distribuição probabilística da
Importa relatar que na geração dos campos
propriedade do solo e assegurar sua
aleatórios da coesão efetiva, não houve valores
homogeneidade estatística de um local ao outro.
negativos; portanto, manteve-se a distribuição
O solo residual de granito do Porto
normal para a análise do talude.
caracterizado no presente trabalho apresenta
A distribuição normal imposta aos campos
uma variabilidade natural bastante marcada. A
aleatórios gerados, com média e desvio padrão
média e o coeficiente de variação estimados para
conhecidos (ver Tabela 1), produziu nos
as suas propriedades mecânicas encontram-se
resultados de FS também uma distribuição
em conformidade com os resultados produzidos
normal, com média global de 1,33 e desvio
nos campos aleatórios. A escala de flutuação
padrão de 8,4%.
descreve a variabilidade espacial do solo e é
A Tabela 3 expõe o resultado da
inversamente proporcional ao coeficiente de
probabilidade de rotura do talude definido em
variação.
função da densidade de probabilidade
O valor da escala de flutuação é determinante
acumulada de FS, quando este assume o valor
na compreensão do comportamento de massas de
igual a 1, com nível de confiança de 95%.
solo potencialmente instáveis. Ela é uma medida
Os valores apresentados na Tabela 3 são
de referência para definir se a superfície de corte
bastante razoáveis no âmbito da gestão da
é ou não suficientemente extensa para que haja a
fiabilidade estrutural das construções
redistribuição de tensões, e deste modo, a
preconizada pelo EC0, em que a probabilidade
resistência ao corte do maciço ser governada
de rotura pretendida varia, dependendo do tipo
pela sua resistência média.
de obra, entre 10-5 e 10-3, para um período de
As limitações dos modelos e métodos de
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cálculo para traduzir com fidelidade os Characterization of Geotechnical Variability.


fenômenos mecânicos que controlam o Canadian Geotechnical Journal, Vol. 33, p.
comportamento do solo também se aplicam aos 612-624.
campos aleatórios, devendo-se nestes buscar Pinheiro, L.B. (2011). Aplicação dos Conceitos
critérios de correlação cada vez maior entre os de Fiabilidade a Solos Residuais, Dissertação
parâmetros a serem modelados. de Mestrado, Faculdade de Engenharia da
A análise dos resultados do FS de um talude, Universidade do Porto, Portugal.
baseado em campos aleatórios com diferentes Pinheiro, L.B.; Topa Gomes, A.M; Silva
escalas de flutuação, demonstrou a Cardoso, A. (2014). Caracterização da
suscetibilidade do FS a este parâmetro e a Variabilidade Natural da Resistência ao Corte
necessidade de incorporar este conhecimento nas de um Solo Residual de Granito do Porto.
análises. Atas do 14º Congresso Nacional de
Geotecnica, Covilhã, Portugal, 12p.
Sudret, B. e Der Kiureghian, A. (2000).
AGRADECIMENTOS Stochastic Finite Elements and Reliability: a
State-of-the-art Report. Technical Report
Os autores agradecem ao Laboratório de UCB/SEMM-2000/08. University of
Geotecnia da Faculdade de Engenharia da California, Berkeley, 173p.
Universidade do Porto pela disponibilização dos Vanmarcke, E.H. (1983). Random Fields:
trabalhos experimentais do solo analisado. Analysis and Synthesis, MIT Press,
Cambridge, USA, 382p.
Zhu, H.; Zhang, L.M.; Xiao, T.; Li, X.Y. (2017).
REFERÊNCIAS Generation of Multivariate Cross-correlated
Geotechnical Random Fields. Computers and
Baecher, G. e Christian, J. (2003). Reliability Geotechnics. N. 86, p. 95-107.
and Statistics in Geotechnical Engineering,
John Wiley & Sons, Chichester, England,
605p.
Chugh, A.K. (1981). Pore Water Pressure in
Natural Slopes. International Journal for
Numerical and Analytical Methods in
Geomechanics, John Wiley & Sons Ltd, Vol.
5, p. 449-454.
Duncan, M. (2000). Factors of Safety and
Reliability in Geotechnical Engineering.
Journal of Geotechnical and Environmental
Engineering, ASCE, p. 65-78.
Fenton, G.A. e Griffiths, D.V. (2008). Risk
Assessment in Geotechnical Engineering,
John Wiley & Sons, Hoboken, USA, 461p.
Forrest, W.S. e Orr, T.L.L. (2010). Reliability of
Shallow Foundations Designed to Eurocodes.
Georisk, Vol. 4, No. 4, p. 186-207.
NP EN 1990:2009. Eurocódigo 0. Bases para o
Projeto de Estruturas.
NP EN 1997:1-2010. Eurocódigo 7. Projeto
Geotécnico – Regras Gerais.
Phoon, K.K. e Kulhawy, F. (1999).
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Avaliação do mecanismo de ruptura da encosta do Santo Antônio


Além do Carmo, Salvador, BA
Carolina Manhães Silva
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, cmanhaes1@gmail.com

Tacio Mauro Pereira de Campos


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, tacio@puc-rio.br

Luis Edmundo Prado de Campos


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, luisedmundocampos@gmail.com

RESUMO: Este trabalho apresenta o estudo da estabilidade do talude situado no Santo Antônio
Além do Carmo, Salvador/BA. Foram coletados blocos indeformados e amostras amolgadas,
realizando-e sua caracterização física, química e mineralógica. A curva característica de retenção de
água foi obtida pelos métodos do papel filtro e potenciômetro de ponto de orvalho. Para a
determinação da permeabilidade, usou-se o permeâmetro de Guelph, e o permeâmetro de parede
flexível. Os parâmetros de resistência foram obtidos através de ensaios de cisalhamento direto nas
condições inundada e seca, utilizados para a estimativa da envoltória de resistência não saturada de
acordo com a equação de Villar (2006). Foi realizada então uma retroanálise do deslizamento que
ocorreu em novembro de 2011, após uma forte chuva de quase 200mm em 48h. Percebeu-se que a
instabilidade do talude pode ser fortemente associada à ação humana, aqui representada pela
sobrecarga no talude e lançamento de águas servidas, além das fortes chuvas ocorridas em 2 dias
seguidos.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Residual, Sucção, Análise de estabilidade.

1 INTRODUÇÃO ao cisalhamento do solo através do aumento da


coesão aparente.
Em regiões de clima tropical, é comum se ver Nos períodos de chuva, a água infiltrada no
taludes de solos residuais, cujas características solo reduz a sucção. Em contrapartida, a
são herdadas da rocha-mãe e dependem do evaporação e evapotranspiração das plantas irão
clima, vegetação, topografia, ação antrópica e provocar um aumento da sucção, com esses
fatores geológico-geotécnicos, o que os processos se alternando constantemente. A zona
proporciona características singulares e certa não saturada do solo é uma interface dinâmica
heterogeneidade, estando estes sempre sujeitos do talude com o ambiente, e como resultado,
a mudanças em suas características, através dos seu fator de segurança é afetado dinamicamente
processos físico-químicos que ocorrem pelas mudanças climáticas (Rahardjo et al.,
continuamente. 2011).
Por conta das variações de umidade sofridas Outro fator a ser levado em consideração é a
em consequência do clima, estes solos ação antrópica, através da remoção da
geralmente se apresentam não saturados, vegetação, execução de cortes e aterros e o
surgindo então uma poropressão negativa, depósito de água e entulho, que tem como
chamada de sucção, que contribui na resistência principais efeitos as mudanças nas condições de
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infiltração e geometria do talude, aumento da Este bairro situa-se no Domínio da Escarpa


tensão solicitante e redução na resistência ao da Falha de Salvador, composta por rochas de
cisalhamento. granulito-gnaisse do embasamento cristalino,
As análises de estabilidade costumam ser altamente fraturadas, com pelo menos 5
realizadas considerando-se solo saturado (pior famílias de fraturas (PMS, 2004). É comum
situação possível). Porém, o maciço pode vir a encontrar-se matacões ou afloramentos de rocha
romper sem que esteja saturado, estando os mo- na região. O solo residual, de composição
vimentos de massa em solos residuais normal- areno-argilosa, argilo-siltosa ou argilo-arenosa
mente ligados à uma perda de sucção matricial (Correia et al., 2009), costuma ser encontrado
no solo. Assim, faz-se necessário o estudo da coberto por uma camada de colúvio e aterro nas
estabilidade destes taludes na condição não sa- proximidades das contruções executadas pela
turada. população local.
O objetivo deste trabalho foi, através de uma O local abriga ainda uma comunidade
retroanálise do escorregamento ocorrido em conhecida como Chácara de Santo Antônio,
2011, avaliar o provável mecanismo de ruptura principal prejudicada com o evento de 2011.
ocorrido e os parâmetros do solo, através da Sua ação no local pode ser vista através da
análise de infiltração do perfil, submetido às presença de entulho, tubulação danificada,
condições climáticas e ação antrópica, e cortes e aterros irregulares, retirada da
posterior análise de estabilidade nestas vegetação, além do lançamento de águas
condições. servidas diretamente no terreno.
Em relação à hidrologia, a área de estudo
2 ÁREA DE ESTUDO apresenta apenas alguns minadouros naturais e
pequenas fontes, que aparecem na interseção do
O talude estudado localiza-se no bairro do nível hidrostático com a escarpa da falha, não
Santo Antônio Além do Carmo, na cidade de tendo sido encontrado NA em nenhuma das
Salvador/BA, entre o Forte da Capoeira e a sondagens à percussão realizadas.
Ladeira do Pilar (figura 1). É um local ocupado A vegetação local é composta, em sua
desde o século XVI, quando a população na maioria, por gramíneas e arbustivas, sendo
cidade começou a tomar desordenadamente o também vistas algumas árvores frutíferas,
local. Desde então, há registros dos primeiros incluive bananeiras, que, por sua capacidade de
deslizamentos ocorridos na região e entornos. acumular água, contribuem com a criação de
um cenrário favorável à saturação do solo
(Correia et al., 2009; Reis et al., 2012).
A área de estudo está alocada em uma região
conhecida por apresentar alta declividade, o que
a torna susceptível à deslizamentos. Em visita
de campo após o deslizamento, puderam ser
observados indícios de movimentação do
talude, como rachaduras nas casas e no terreno
(Campos, 2011), cujo desenvolvimento ao
longo do tempo pode ser observado até os dias
atuais.
A cidade apresenta clima úmido a super
úmido, com temperaturas variando entre,
aproximadamente, 21 ºC e 31ºC durante o ano.
A umidade relativa média do ar é de 85%,
Figura 1. Área de estudo. estando sempre por esta faixa durante o ano. O
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período de chuvas típico ocorre anualmente talude, se espalhando até a rua. A Defesa Civil
entre os meses de abril a junho, sendo o verão o de Salvador (CODESAL) totalizou 103 casas
período mais seco, como demonstra a figura 2, condenadas e 2 desabadas após o ocorrido. Pela
que reúne dados dos últimos 20 anos de chuvas figura 4, nota-se que a superfície de ruptura
na cidade. tende a ser circular, rasa, tendo mobilizado
apenas o material superficial.

Local da
ruptura

Figura 2. Chuvas mensais médias dos últimos 20 anos na


cidade de Salvador, dados da Estação Ondina (INMET).
Figura 4. Vista do maior deslizamento (CODESAL,
2011).
2.1 Histórico do deslizamento de 2011
3 CAMPANHA EXPERIMENTAL
O evento ocorreu na madrugada entre os dias 8
e 9 de novembro de 2011, após chover quase
Foram coletados blocos indeformados e
200mm em dois dias, conforme mostra a figura
amostras amolgadas, em locais próximos ao
3. Esta intensidade de chuva não é esperada
deslizamento e mais distantes deste, afim de se
neste período, visto que esta ocorreu fora da
comparar os resultados. A tabela 1 apresenta as
época de chuvas na cidade.
características iniciais das amostras:

Tabela 1. Dados das amostras coletadas.

Data Cota Prof.


AM Coloração w (%)
coleta (m) (m)
1 8/3/17 39 0,5 Marrom 20,5
2 8/3/17 36,5 0,5 Avermelhada 21,0
3 9/3/17 40 0,5 Avermelhada 23,3
4 28/3/17 62 2,0 Marrom 22,1
Marrom cla-
5 29/3/17 60 4,0 24,9
ro/ amarelada
Figura 3. Chuvas diárias do mês de novembro de 2011
(INMET). A figura 5 ilustra o visual das amostras
coletadas, de onde é possível a identificação de
Foram vistos diversos deslizamentos ao suas colorações, e a figura 6 aponta a
longo da extensão do talude, sendo o principal o localização destas.
estudado neste trabalho. O material mobilizado
atingiu diversas edificações instaladas no pé do
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Figura 5. Visual das amostras coletadas. Figura 7. Curvas granulométricas das amostras.

Tabela 2. Limites de consistência e grau de atividade.


Amostra LL (%) LP (%) IP (%) A
AM 1 53 33 20 0,51
AM 2 57 31 26 0,65
AM 3 39 26 13 0,50
AM 4 52 33 19 0,44
AM 5 45 27 18 0,95

Tabela 3. Classificação SUCS.


Amostra Simbologia Descrição
AM 1, 2 e 4 MH Silte inorgânico
Figura 6. Localização das amostras coletadas.
AM 3 ML Silte pouco plástico
3.1 Caracterização AM 5 SM Areia siltosa

3.1.1 Caracterização física Tabela 4. Índices físicos.


Amostra Gs e n
Nesta etapa, foram realizados ensaios de (KN/m³) (KN/m³)
granulometria, limites de consistência e AM 1 2,69 16,74 14,82 0,78 0,44
densidade real dos grãos. As curvas AM 2 2,78 16,25 13,38 1,04 0,51
granulométricas, dispostas na figura 7, assim AM 3 2,70 15,44 13,50 0,97 0,49
como os limites de consitência (tabela 2),
AM 4 2,76 17,77 14,23 0,91 0,47
mostram um mesmo padrão para as amostras
1,2 e 4, outro para a 3 e um terceiro para a AM 5 2,78 15,54 11,59 1,36 0,58
amostra 5.
Com os resultados, o material foi classificado 3.1.2 Caracterização química
de acordo com o Sistema Unificado (SUCS)
entre os siltes e areias (tabela 3). Os índices Foram realizados ensaios de fluorescência de
físicos (tabela 4) foram obtidos, para anéis raio-x, cujos resultados estão dispostos na
cravados nos blocos indeformados, através dos tabela 5:
resultados dos ensaios de densidade real dos
grãos e suas respectivas umidades.
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Tabela 5. Composição química das amostras. de mercúrio, que permitiu conhecer se seu
Perda por comportamento era bimodal ou unimodal.
Amostra Si
calcinação
As amostras 1 a 3, apresentaram curvas
AM 1 2 36,5 39,5 11,5 9,8
bimodais, enquanto as amostras 4 e 5,
AM 2 2 36,4 38,1 10,7 11,3 unimodais.
AM 3 0,59 33,3 52,4 4,1 8,4 Para os ajustes, usou-se o programa SVFlux
AM 4 2 36,8 39,2 11,4 9,9 (SoilVision, 2017), no qual foram obtidos os
parâmetros das tabelas 6 e 7:
AM 5 1,4 39,6 39 5,9 13,2
Tabela 6. Parâmetros de ajuste pelo método de Fredlund e
Pelos teores de titânio, alumínio, sílica e Xing (1994).
ferro, os resultados mostram 3 origens para as Amostra a m n
amostras, seguindo os padrões da caracterização
física, já que as amostras 1,2 e 4 apresentam AM 1 9,52 0,5976 20,0 0,9364
valores próximos, diferentes das amostras 3 e 5. AM 2 13,48 1,7785 1,0540 0,9473
Pelos teores de ferro, entre 10,7 e 11,4, os AM 3 31,23 8,4670 2,2137 0.9949
solos 1, 2 e 4 aparentam ser ricos em minerais
AM 4 2499,99 0,6986 3,0741 0,9531
máficos, logo, estes provavelmente não foram
formados pela rocha local (que é rica em AM 5 2499,97 1,6535 1,1109 0,9555
minerais félsicos), devendo ser solos
coluvionares.
A perda por calcinação sugere que a AM 5 Tabela 7. Umidades volumétricas e sucções de entrada de
ar e residuais para os macro e microporos.
apresenta o maior teor de argilominerais, visto o
Macroporos Microporos
maior valor encontrado para esta, de 13,2. Amostra

3.1.3 Caracterização mineralógica AM 1 0,37 9,5 0,28 12,5 0,26 1450 0,089 15000
AM 2 0,47 2,4 0,36 60 0,32 1550 0,085 12500
Foram realizados de difração de raio-x (método AM 3 0,40 7,0 0,36 30 0,31 560 0,038 25000
do pó), tendo sido encontradas a presença de AM 4 - - - - 0,43 1450 0,087 10000
quartzo e argilominerais do grupo da caulinita.
AM 5 - - - - 0,45 530 0,038 16000
Como a amostra 5 apresentou grau de
atividade médio, foram realizados ensaios
adicionais, com as amostras preparadas pelo 3.2 Ensaios de permeabilidade
método da lâmina orientada, nas frações areia,
silte e argila separadamente, encontrando-se A permeabilidade saturada foi obtida por
alto teor de caulinita mal cristalizada na ensaios de campo (permeâmetro de Guelph) e
primeira, o que pode contribuir para a atividade laboratório (permeâmetro de parede flexível
média desta. com carga constante). Os coeficientes de
permeabilidade encontrados são compatíveis
3.1.4 Curva característica de retenção de água com os siltes e areias finas, conforme
apresentado nas tabelas 8 e 9.
As relações entre sucção e umidade volumétrica Percebe-se que as condutividades hidráulicas
das amostras foram obtidas através dos métodos de campos são maiores que as de laboratório, o
do papel filtro e potenciômetro de ponto de que pode ser justificado pelo fato dos ensaios de
orvalho, e ajustadas pelo método de Fredlund e laboratório não levarem em conta a
Xing (1994), que proporcionou o melhor ajuste, configuração do maciço, que pode conter
e com os resultados dos ensaios de porosimetria fissuras e raízes e/ou, por ser um maciço
heterogêneo, a condutividade hidráulica pode
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variar consideravelmente para cada ponto. 3.3.1 Estimativa da resistência não saturada

Tabela 8. Condutividades hidráulicas saturadas obtidas As resistências não saturadas foram obtidas pela
em campo (Adaptado de Cajado e Campos, 2017). estimativa de Vilar (2006), que propôs uma
k (cm/s) função hiperbólica que considera as situações
Prof. (m)
G1 AM 2 AM 3 AM 4 e 5 em que a sucção tende a zero (condição
0,6 2,52E-02 2,54E-03 8,80E-06 1,88E-02 submersa) e a infinito, quando c’ atinge seu
1,00 4,15E-04 1,42E-04 1,95E-03 1,87E-03 valor máximo (condição seca).
2,00 1,81E-05 3,19E-05 4,20E-04 4,72E-03
Tabela 11. Envoltórias não saturadas.
3,00 1,60E-04 - - 2,82E-04
4,00 1,40E-04 - - 8,15E-03
5,00 2,36E-04 - - 3,83E-03
6,00 1,09E-04 - - -

Tabela 9. Condutividades hidráulicas saturadas obtidas


em laboratório. As relações entre o parâmetro e a sucção
Amostra k (cm/s) estão plotadas na figura 8, partindo do seu valor
AM 1 7.47E-06 inicial, igual ao de , e reduzindo até um valor
AM 2 1.51E-04 constante na umidade residual, quando um
AM 3 3.89E-06 incremento na sucção mátrica deixa de
AM 4 6.45E-05 representar um aumento significante na
AM 5 4.58E-05
resistência ao cisalhamento do material.

3.3 Ensaios de resistência

Os parâmetros de resistência foras determinados


através de ensaios de cisalhamento direto, nas
condições submersa e seca (umidade residual).
Pelas envoltórias obtidas, notou-se que as
amostras 1, 2 e 4 são semelhantes em termos de
resistência, assim como as amostras 3 e 5. Os
parâmetros para as condições submersa e seca,
estão resumidos nas tabelas 10 e 11,
respectivamente: Figura 8. Variação de com a sucção mátrica.

Tabela 10. Parâmetros de resistência na condição


submersa. 4 ANÁLISES NUMÉRICAS
Amostra c' φ'
4.1 Perfil do terreno
AM 1, 2 e 4 0 23,60 0,9799
Na ausência de dados topográficos anteriores à
AM 3 e 5 0 24,01 0,9434 ruptura, a topografia foi recomposta pela
interpolação dos pontos das curvas de nível
Tabela 11 Parâmetros de resistência na condição seca. situados à esquerda e à direita do local do
Amostra c' φ' deslizamento.
AM 2 e 4 30,07 48,14 0,9797 O terreno foi dividido em camadas de acordo
AM 5 43,07 35,12 0,9761 com as sondagens à percussão de três
campanhas. O SPT variou entre 5 e 35,
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aumentando com a profundidade. O material de poropressões inicial, foi admitido que as


encontrado foi classificado como silte argiloso e umidades de coleta das amostras seriam as
silte arenoso com argila. Não foi encontrado mesmas para a mesma época do ano em que
nível d’água em nenhuma destas. ocorreu a ruptura (2011), no caso, para o início
A figura 9 ilustra o perfil obtido: do mês de março. Assim a análise foi executada
para março a 9 de novembro de 2011,
Colúvi o totalizando 254 dias.
Solo res i dua l ma duro Os parâmetros hidráulicos, obtidos através
Solo res i dua l jovem dos ensaios de campo e laboratório e as
poropressões iniciais, determinadas pelas curvas
características dos materiais e umidades de
coleta, estão apresentados na tabela 12:

Tabela 12. Parâmetros hidráulicos.


Camada AM
(KPa) (cm/s) (cm/s)
Colúvio 1 2 28,7 1500 1,55E-02 1,51E-04
Colúvio 2 4 32,1 2000 4,09E-03 6,45E-05
Figura 9. Topografia atual e anterior ao deslizamento SRM 5 29,5 1700 1,39E-03 4,58E-05
recomposta (linha tracejada).
SRJ - - 1400 1,00E-05

As amostras coletadas foram associadas às


Observou-se que, nos ensaios de laboratório e
camadas de acordo com os resultados dos
de campo, havia uma fina camada superficial
ensaios de caracterização. Assim, o colúvio foi
mais permeável no talude. Assim, o colúvio foi
atribuído para as amostras 2 e 4 (mais próximas
dividido em duas sub-camadas para a análise de
ao local), o solo residual maduro para a amostra
infiltração: a primeira com espessura de 0,80m
5 e, diante da impossibilidade da coleta de
e o restante até o contato com o solo residual
amostra do solo residual jovem, seus dados
maduro.
foram estimados.
Os dados estimados para o solo residual
jovem foram testados com outros valores, que
4.2 Análise de infiltração
não provocaram alterações nos resultados.
Foram consideradas duas condições de
Para a análise de infiltração, realizada no pro-
contorno, com e sem o lançamento de águas
grama Seep/w (Geostudio, 2018), o talude foi
servidas pela população. Quanto à
submetido às condições climáticas (chuva, eva-
permeabilidade, foram avaliados os cenários
potranspiração, temperatura e umidade relativa)
com os valores obtidos por ensaios de campo e
e ao lançamento de águas servidas no talude.
de laboratório. Os casos analisados estão
Foram usados os dados climáticos do INMET, e
resumidos na tabela 13:
adotou-se uma preciptação antrópica de
3,43mm/dia, de acordo com o encontrado por Tabela 13. Casos estudados.
Assunção (2005) para uma comunidade típica Caso Descrição
de Salvador. Seu valor foi acrescentado à 1 Permeabilidade laboratório, sem águas servidas
preciptação diária nos locais onde havia casas. 2 Permeabilidade laboratório, com águas servidas
3 Permeabilidade campo, sem águas servidas
4.2.1 Condições iniciais e parâmetros
4 Permeabilidade campo, com águas servidas
hidráulicos

Como não se tinham informações sobre o perfil O contato solo-rocha foi tratado como uma face
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livre para percolação de água, visto que se trata


de uma rocha altamente fraturada.

4.2.2 Resultados

Após as análises, foram encontrados os perfis


de poropressão ilustrados nas figuras 10 e 11,
nos quais cada linha representa uma diferença
de poropressão de 10 kPa e a linha azul o NA.
O contorno verde representa o impermeável
(calçada cimentada), o roxo as condições
climáticas e o vermelho as condições climáticas
+ águas servidas.
Figura 11. Perfil de poropressões final para o caso 4.
Nos casos em que foram aplicadas as
permeabilidades encontradas em laboratório,
houve uma elevação do nível d’água para cotas
acima da superfície de ruptura, o que não
correspondeu com o ocorrido em campo, uma
vez que não foi vista a presença de água no
local. Os casos 3 e 4 mostraram uma elevação
mais coerente do NA, tendo sido estes os
utilizados nas análises de estabilidade.
Pela evolução da poropressão com o tempo
da figura 12, Percebe-se que os altos valores de
sucção são dissipados no período típico de
chuvas. Após o dia 122 (30/06), a sucção fica
Figura 12. Poropressão x tempo para os pontos A e B
praticamente constante, até se anular no
segundo dia de chuva intensa. 4.3 Análise de estabilidade

As análises foram realizadas com auxílio do


programa Slope/w (Geostudio, 2017)
Com os perfis de poropressão resultantes das
análises de infiltração, verificou-se, pelas
análises de estabilidade, se a situação da ruptura
poderia ser representada em duas séries (tabela
14).

Tabela 14. Séries estudadas.


Série Descrição
1 Poropressões finais do caso 3
2 Poropressões finais do caso 4

Figura 10. Perfil de poropressões final para o caso 3.


A ação antrópica foi considerada através
de carregamentos uniformes verticais, que re-
presentaram as edificações no talude e a rua no
topo com valores de, respectivamente, 14
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KN/m² e 10 KN/m². As condições de contorno


estão apresentadas na figura 13.
.

Figura 14 – Fator de segurança para a série 1.

Figura 13. Condições de contorno para as análises de


estabilidade.

4.3.1 Parâmetros de resistência

Em termos de resistência, o colúvio foi tratado


como um material único, conforme observado
experimentalmente. O valor adotado para
corresponde à sucção média na provável
superfície de ruptura.
Devido à indisponibilidade de dados de
resistência do solo residual jovem, seus Figura 15. Fator de segurança para a série 2.
parâmetros foram adotados, também sem
alterações nos resultados, sendo a hipótese de A curva da figura 16 retrata a sensibilidade
que a ruptura não atingiu esta camada do FS a variações na sucção, observando-se os
considerada válida, já que o caso estudado formatos opostos das curvas de ambos em fun-
aponta uma superfície de ruptura rasa. ção do tempo. A queda brusca do FS no segun-
A tabela 14 exibe os parâmetros aplicados do dia de chuva de quase 100mm leva à conclu-
nas análises: são de que seria necessária a elevação do NA
(situação ocorrida neste último dia de análise)
Tabela 14. Parâmetros de resistência do perfil para que o talude perdesse sua estabilidade.
estudado.
Comparando a superfície de ruptura crítica
Camada (KPa) (°) (°)
encontrada com a cicatriz do deslizamento (fi-
Colúvio 0 23,60 18,64
gura 9), percebe-se que o evento tratou-se de
SRM 0 24,01 20,22 uma ruptura retrogressiva, na qual ocorre uma
SRJ 45 35 28 série de deslizamentos talude acima, iniciada
pelo escorregamento do material de menor cota.
4.3.2 Resultados Neste caso, foi encontrada uma sequência de
quatro deslizamentos, sendo o primeiro o da
Para a série 1, foi encontrado um fator de se- figura 15 e os três seguintes com FS de 1,010,
gurança de 1,182 (figura 14), que não representa 1,024 e 1,028, respectivamente, conforme a
uma ruptura. Já na série 2, encontrou-se um figura 17.
fator de segurança de 0,989 (figura 15), poden-
do então esta situação ser associada ao ocorrido.
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AGRADECIMENTOS

Ao CNPQ, pelo apoio financeiro durante a


realização desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

Assunção, D. M. S. (2005) Padrão quali-quantitativo do


descarte de águas Bom Viver em Salvador,
Dissertação de Mestrado, Mestrado em Engenharia
Ambiental Urbana, Universidade Federal da Bahia,
185 p.
Cajado, R. B.S.; Campos, L. E. P. (2017). Utilização do
Figura 16. Fator de segurança x tempo para os últimos 10
Permeâmetro Ghelph para estudo e determinação da
dias de análise.
condutividade hidráulica da Região da falha geológica
de Salvador. Conferência Brasileira sobre Estabilida-
de de Encosta, COBRAE, ABMS, Florianópolis, v.1,
7 p.
Campos, L. E. P. (2011). Parecer técnico preliminar:
Encosta Chácara do Santo Antônio. Universidade Fe-
deral da Bahia, Salvador, 10 p.
Correia, E. S. et al. (2009). Estudo ambiental em áreas de
falha geológica de Salvador: encostas da Lapinha e
Santo Antônio. SENAI, Salvador, 113 p.
Defesa Civil de Salvador – CODESAL. (2011). Plano de
Ação: encosta do Santo Antônio. Prefeitura Municipal
de Salvador, 15 p.
Figura 17. Fatores de segurança para os delizamentos Prefeitura Municipal de Salvador (2004). Plano Diretor
ocorridos em sequência. de Encostas. Secretaria Municipal do Saneamento e
Infraestrutura Urbana. Módulo II – Diagnóstico,
TOMO I/III, p. 10-173.
GeoStudio (2017). Stability modeling with GeoStudio.
5 CONCLUSÕES
Calgary, Alberta, Canada.
GeoStudio (2018). Heat and mass transfer modeling with
As análises mostram que o mecanismo de rup- GeoStudio 2018. Second Edition. Calgary, Alberta,
tura do talude foi, provavelmente, retrogressivo, Canada.
circular e de superfície rasa, ocorrido no contato INMET. Dados históricos. Disponível em:
<http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/
entre o solo residual maduro e o solo residual
bdmep>. Acesso em: 03 jun. 2018.
jovem. Este pode ser associado à elevação do Rahardjo, H., Satyanaga, A. e Leong, E. C. (2011).
nível d’água no terreno, provocada pela ação Unsaturated Soil Mechanics for Slope Stabilization.
conjunta da chuva e do lançamento de águas 5th Asia Pacific Conference in Unsaturated Soils.
servidas pela população local. Thailand, p. 103-117.
Reis, E. S; Martins, E. V. E; Campos, L. E. P e Barbosa,
A ação antrópica mostrou ter um papel fun-
A. C. (2012). Análise de deslizamentos na Falha de
damental na estabilidade do talude, já que a Salvador: o caso da comunidade Chácara de Santo
ruptura só foi reproduzida quando as águas ser- Antônio. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
vidas foram consideradas. Outro fator importan- Fredlund, M. D. (2017). SoilVision users
te foi a chuva intensa por 2 dias, visto que hou- manual. Version 5.3.07, SoilVision Systems Ltd.,
Saskatoon, Saskatchewan, Canada.
ve, em outros momentos, altos índices pluvio- Vilar, O. M. (2006). A simplified procedure to estimate
métricos em um dia isolado, que não foram ca- the shear strengh envelope of unsaturated soils. Cana-
pazes de provocar uma elevação do nível d’água dian Geotechnical Journal. Vol 43, p. 1088-1095.
que resultasse na situação de instabilidade.
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Avaliação Numérica de Modelos Reológicos de um Aterro Sobre


Solo Mole Reforçado com Geossintético
Jean Lucas dos Passos Belo
Escola de Engenharia de São Carlos – EESC-USP, São Carlos, Brasil, belo.jeanlucas@gmail.com

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos – EESC-USP, São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo realizar a comparação entre resultados de simulações
numéricas desempenhadas através de dois programas de modelagem: Plaxis e GeoStudio. O caso
analisado faz referência a um aterro reforçado com características geohidromecânicas disponíveis
no trabalho de Cardoso (2013). Nota-se que mesmo utilizando os mesmo parâmetros e modelos de
comportamento relativamente compatíveis entre os programas, obteve-se uma discrepância
significativa acerca dos resultados de deslocamentos verticais máximos. Entretanto, o excesso de
poropressão apresentou valores bastante semelhantes, assim como as estimativas do esforço
mobilizado no reforço, que atingiram valores muito próximos do coletado em monitoramento de
campo. Por fim, nota-se que a escolha do programa e dos modelos de comportamento do material
deve ser feita de acordo com o objetivo da análise, podendo levar a resultados bastante distintos.

PALAVRAS-CHAVE: Modelagem Numérica, Aterro Sobre Solo Mole, Modelo de


Comportamento, Geossintético.

1 INTRODUÇÃO consequente alteração do estado de tensões e


deformações do maciço, conforme teoria do
A execução e concepção de aterros sobre solos adensamento (TERZAGHI, 1943).
moles sempre foi e ainda é um desafio para a O desenvolvimento das deformações dos
Engenharia Geotécnica. Existem várias solos compressíveis é regido por diversos
propriedades relacionadas à estabilidade dessas fatores, tais como propriedades mecânicas e
estruturas, para as quais analisam-se as hidráulicas do solo, histórico de tensões do
condições de estabilidade de taludes, pressões maciço, carregamentos impostos, duração do
laterais, desenvolvimento dos excessos de processo construtivo, rigidez da estrutura de
poropressão e recalques elevados (totais e reforço, condições de fronteira hidráulica e,
diferenciais) que se processam lentamente ao principalmente, das propriedades: índice de
longo do tempo. vazios e permeabilidade (MITCHELL, 1976).
A complexidade deste tipo de estrutura Em decorrência dessas propriedades, deve-se
resulta das características do solo mole de atentar para a questão da segurança tanto
fundação (solo argiloso saturado), o qual durante quanto ao final do processo construtivo,
apresenta uma alta compressibilidade aliada a pois nestas fases (etapas construtivas de
uma baixa permeabilidade. Esta característica alteamento) o carregamento é tido como
não permite uma rápida movimentação da água máximo e a resistência do maciço de fundação
e, por conseguinte, mudanças do estado de como mínima, sendo que esta é crescente com o
tensões do solo se dão de maneira lenta, decorrer do tempo (processo de adensamento e
gerando excessos de poropressão. Estes dissipação de pressão neutra, acarretando em
excessos se dissipam bem lentamente com a acréscimo de tensão efetiva e,
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consequentemente, ganho de resistência). moles. Desde sua primeira aplicação (Clough &
Diversas técnicas construtivas foram Woodward, 1967) foi observado o quão
desenvolvidas com o objetivo de evitar ou poderoso é este método. Muitos pesquisadores
conviver com estes inconvenientes. Entre elas, têm empregado tal técnica para interpretar os
têm-se: a introdução de bermas de equilíbrio, comportamentos de campo de diversos tipos e
sobrecarga temporal, remoção/substituição total configurações de estruturas.
ou parcial do solo mole, reforço com Na modelagem de aterros sobre solos moles,
geossintéticos, utilização de drenos verticais o MEF é utilizado visando uma previsão mais
(geodrenos ou drenos de areia), reforço com realista da estabilidade e das deformações
colunas de brita, construção do aterro por fases, causadas pela construção e operação do aterro.
reforço com colunas rígidas, entre outras, O conhecimento das deformações é importante
podendo ou não serem combinadas. para verificar não apenas se a força no reforço,
A inserção de reforço geossintético na calculada nas análises de estabilidade, é
interface aterro-fundação é uma alternativa realmente mobilizada, como também avaliar a
econômica e tecnicamente atrativa, pois esta condição de trabalho do aterro. Adicionalmente,
permite a redução do espraiamento lateral do através do MEF é possível também avaliar tais
aterro e do deslocamento horizontal da estruturas com relação às suas dependências do
fundação, podendo também minimizar o tempo, onde permite-se simular diversas
consumo de material necessário para a situações e adversidades que possam ocorrer em
construção do aterro, aumentar a velocidade de um período predeterminado.
construção e reduzir os recalques diferenciais As modelagens e análises numéricas
(Terzaghi & Peck, 1967; Johnson, 1975; U.S. incorporam diferentes níveis de sofisticação
Navy, 1982; Holtz, 1989 e 1990). para os modelos de comportamento do solo,
Resumidamente, os aterros reforçados sobre como exemplo tem-se os modelos: elástico
solos moles são sistemas compostos por três hiperbólico, de Mohr-Coulomb, Cam-clay,
componentes: o solo mole de fundação, o modelo Cam-clay modificado e Visco-plástico.
material de reforço e o material do aterro Assim, esta pesquisa objetiva realizar uma
propriamente dito. O desempenho deste sistema comparação entre os resultados obtidos para um
é altamente depende das condições de trabalho mesmo modelo – referente a um aterro sobre
de cada um destes componentes, seja com solo mole reforçado com geossintético e que faz
relação as deformações, desenvolvimento de uso de drenos verticais – desenvolvido em
tensões, estabilidade, bem como da interação diferentes programas de modelagem (GeoStudio
entre eles e de outros fatores (BELO, 2018). e Plaxis), os quais utilizam diferentes modelos
A execução de aterros experimentais para descrever os comportamentos dos
instrumentados, com a finalidade de avaliar o materiais envolvidos, ou adaptações destes.
desempenho de alternativas construtivas e
configurações dos reforços, apresentam custos
elevados e, geralmente, são nada triviais. Como 2 METODOLOGIA
alternativa, tem-se a prática da elaboração de
modelos numéricos que simulam metodologias 2.1 Programas Utilizados
e configurações construtivas para a estrutura de
interesse, comumente, fazendo uso do Método 2.1.1 Plaxis
dos Elementos Finitos (MEF) (SILVA, 2008).
O MEF tem se mostrado uma poderosa O Plaxis é um programa desenvolvido pela
ferramenta na avaliação do comportamento de empresa de mesmo nome, PLAXIS BV. O
sistemas geotécnicos, assim como é o caso dos programa faz uso dos Métodos dos Elementos
aterros reforçados construídos sobre solos Finitos para realização de análises de
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deformação e estabilidade em obras monitoramentos de campo de um aterro


geotécnicas. Portanto, esta ferramenta permite a reforçado sobre uma camada de solo mole. A
modelagem e simulação numérica de uma autora teve como objetivo o monitoramento e
grande gama de situações, como: escavações, estimativa dos deslocamentos verticais,
aterros, fundações, túneis, mineração e excessos de poropressão e esforços solicitantes
reservatórios (PLAXIS BV, 2018). no reforço, decorridos ao longo do tempo.
Observa-se que este software é de amplo uso A construção do aterro divide-se em 4
internacional tanto para fins comerciais quanto etapas, sendo 3 de alteamento e 1 de remoção
acadêmicos, utilizado em várias publicações, (utilização de sobrecarga para aceleração dos
trabalhos de pesquisa e simulações deslocamentos e dissipação dos excessos de
desenvolvidas. Por isso, faz-se de grande poropressão, aumentando a estabilidade da
interesse a sua aplicação neste trabalho, onde estrutura).
busca-se comparar seus resultados com outro Para acelerar os deslocamentos e a
programa comumente utilizado no Brasil. dissipação dos excessos de poropressão, além
da sobrecarga, fez-se uso de drenos verticais
2.1.2 GeoStudio pré-fabricados de geossintéticos.
Para melhorar a condição de estabilidade da
O programa GeoStudio, um dos mais estrutura, fez-se uso de reforço geossintético
comumente utilizados no Brasil, foi (geotêxtil) na base do aterro. O geotêxtil
desenvolvido pela GEO-SLOPE International utilizado nesta obra, de maneira específica, foi
Ltd., sediada em Calgary, Alberta, Canadá. O considerado de elevada resistência.
programa é composto dos módulos: SLOPE/W,
SEEP/W, SIGMA/W, QUAKE/W, TEMP/W, 2.2.1 Geometria
CTRAN/W, AIR/W e VADOSE/W. Neste
trabalho faz-se uso do módulo SIGMA/W. A geometria utilizada nas modelagens teve
O SIGMA/W, permite modelar problemas de como base os dados apresentados no trabalho de
tensão-deformação, incluindo: deformações referência, obtendo a geometria apresentada
dentro ou debaixo de uma estrutura de solo (por através da Figura 1. As alturas de cada
exemplo: aterro), movimentos laterais em alteamento, assim como as etapas construtivas
escavações escoradas ou ancoradas, simulação assumidas para a estrutura e seus tempos de
de depósito de rejeitos, acréscimo ou redução de duração, são apresentadas na Tabela 1.
forças de estabilidade, deformações
permanentes, interações solo-estrutura, entre Tabela 1. Fases construtivas consideradas, durações e
outras situações (GEO-SLOPE, 2013). espessuras de alteamento.
Etapa Duração (dias) Tempo (dias) Δh (m)
2.2 Estudo de Caso Insitu 0 0 -
Instalação drenos 5 5 -
Para o desenvolvimento do proposto por este 1º Alteamento 30 35 3,50
estudo, buscou-se por um estudo de caso 1ª Consolidação 150 185 -
2º Alteamento 30 215 3,00
relacionado à estrutura de interesse, de modo
2ª Consolidação 145 360 -
que este apresentasse informações suficientes
3º Alteamento 30 390 2,50
para sua modelagem. Assim, optou-se pela
3ª Consolidação 150 540 -
utilização do trabalho desenvolvido pela
Rem. Sobrecarga 5 545 -1,85
Cardoso (2013). Neste trabalho, foram
Final 1000 1545 -
desempenhadas simulações numéricas e
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Figura 1. Geometria do aterro para modelagem.

Vale ressaltar que o modelo foi desenvolvido 2.2.2 Parâmetros


em Plane Strain, pois esta estrutura é
normalmente assumida como constante ao Conservadoramente, Cardoso (2013) verificou
longo do plano z (entrando/saindo da folha). ser mais eficaz assumir um grau de
Além de que, devido à inclinação do terreno, a consolidação (U) mínimo de 60%, para que só
geometria se tornou assimétrica (visualizar então fosse permitida a execução de uma
Figura 1), fazendo-se necessária a representação próxima camada de alteamento do aterro. Sendo
de toda a geometria da estrutura. Assim, não foi assim, utilizando a Equação 1 estimou-se os
possível elaborar o modelo considerando um ganhos de resistência não drenada da camada de
eixo de simetria, o que normalmente observa-se argila mole devido à construção faseada
nas modelagens deste tipo de estrutura (acréscimo de tensão vertical).
(problemas geralmente simétricos) e que
melhoraria o tempo de processamento, visto que (1)
dessa forma o modelo se reduziria para a
metade de sua geometria (reduzindo a malha).
Os drenos verticais foram considerados Onde:
conforme apresentado por Cardoso (2013), (2)
instalados de modo que formassem uma malha
triangular de drenos, espaçados de 1,30 m. Desta forma, os resultados de tais estimativas
Conforme instalados em campo, o modelo dos são apresentados através da Tabela 2.
drenos era Colbonddrain®CX1000 (5mm x Para modelar em Plane Strain e para
100mm), comercializado pela empresa representar o efeito smear (efeito do
Colbond. Adicionalmente, fez-se uso de uma amolgamento, que acarreta na diminuição da
camada de colchão drenante com espessura permeabilidade do solo ao redor do dreno,
média igual a 0,50 m, executada com areia de decorrente da sua cravação), respectivamente,
características idênticas às da que compõe o buscou-se fazer uma transformação do
corpo do aterro. problema 3D para 2D e alterou-se a
No que diz respeito ao reforço geossintético, permeabilidade do solo junto aos drenos. Para
foi aplicado um reforço tecido de poliéster, isso, foi utilizada a metodologia sugerida por
modelo Stabilenka, comercializado pela Indraratna et al. (2005), que recomenda a
empresa Huesker. O reforço foi considerado aplicação das equações que seguem.
atuando como um reforço passivo, ou seja,
sendo mobilizado a partir do desenvolvimento
das deformações do sistema. (3)
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Onde: hidráulico e do colchão drenante foram


kh – Permeabilidade horizontal modelados assumindo como modelo de
kp – Permeabilidade horizontal em Plane Strain comportamento o Hardening Soil, sendo que o
material do corpo do aterro e do aterro
– diâmetro da célula unitária para hidráulico apresentam os mesmos parâmetros
malha triangular espaçada de l de modelagem, conforme Tabela 4.
– diâmetro equivalente do Conforme assumido pelo trabalho de
dreno retangular de dimensões a x b referência (Cardoso, 2013), a camada de areia
Na sequência, assume-se que a de fundo (abaixo da camada de argila) foi
permeabilidade horizontal considerando o modelada utilizando o modelo de
smear é igual a um terço da permeabilidade comportamento Morh-Coulomb, com os valores
horizontal ( ). Logo, através da dos parâmetros apresentados na Tabela 4.
Equação 4, obtém-se a permeabilidade Já a argila, esta foi modelada considerando
horizontal em Plane Strain e com efeito smear. como modelo de comportamento o Soft Soil,
com os parâmetros também apresentados pela
Tabela 4. Lembra-se que para a modelagem em
(4) Plane Strain e também para a consideração do
efeito smear, foram utilizados os parâmetros de
permeabilidade apresentados na Tabela 3.
Onde: Por fim, o reforço geossintético (geotêxtil)
(5) foi modelado com o uso de um elemento
disponibilizado pelo próprio programa para esse
(6) tipo de reforço, o elemento Geogrid.
(7) Tabela 3. Parâmetros hidráulicos da argila no modelo.
Permeabilidade argila mole (m/dia)
Assim, obteve-se os valores apresentados na Kv Kh Ks Kp Ks,p
Tabela 3. 8.64E-05 8.64E-05 2.88E-05 2.30E-05 6.22E-06
Para modelagem através do programa Plaxis, v = vertical; h = horizontal; p = plane strain; s = smear
os materiais do corpo do aterro, do aterro

Tabela 2. Estimativas dos ganhos de resistência da argila mole devido à construção por etapas.
hetap
Etapa Δσ'v = γat*hetapa (kPa) U Δσ'v,l = U*Δσ'v (kPa) ΔSu (kPa) Su (kPa)
(m)
Inicial 0,0 0,00 0,0 0,00 0,00 5,00
1ª Consolidação 3,5 61,25 0,6 36,75 9,19 14,19
2ª Consolidação 3,0 52,50 0,6 31,50 7,88 22,06
3ª Consolidação 2,5 43,75 0,6 26,25 6,56 28,63

Tabela 4. Parâmetros hidráulicos da argila mole no modelo.


Parâmetros – Plaxis
Material γ Kv = K h φ ψ c' E E50 Eoed Eur
e0 OCR ν' λ κ
(kN/m³) (m/d) (ᵒ) (ᵒ) (kPa) (kN/m²)
Col. dren. 17,4 0,5 - 9E+00 33,8 3,8 0,0 100000 - - - 0,3 - -
Areia fundo 17,5 0,5 - 9E+00 33,8 3,8 0,0 100000 - - - 0,3 - -
Areia aterro 17,5 0,6 1 9E+00 33,8 3,8 1 - 18000 18000 52000 - - -
Argila mole 13,7 3,5 1 9E-05 30 0 5 - - - - - 0,1565 0,0344
Geotêxtil Modelo: 200x45 kN/m J5% 1700 kN/m
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Tabela 5. Parâmetros hidráulicos da argila mole no modelo.


Parâmetros - GeoStudio
Cate-
Materiais Modelo E-M γ c'/Su φ' Ψ Kx = Ky
goria ν OCR e0 λ κ
(MPa) (kN/m³) (kPa) (kPa) (º) (m/d)
Aterro 18 17,5 0,3 0,00 33,8 3,8 - - - - -
Elastic-
Col. dren. EDP 100 17,4 0,3 0,00 33,8 0,0 - - - - -
Plastic
Aterro hid. 18 17,5 0,3 0,00 33,8 3,8 - - - - -
Argila s-p (1) 5,00
Argila s-p (2) 14,19
6,22E-06
Argila s-p (3) 22,06
Argila s-p (4) Modif. 28,63
EPPC Cam- - 13,7 0,4 30,0 - 1,0 3,5 0,1565 0,0344
Argila p (1) clay 5,00
Argila p (2) 14,19
2,30E-05
Argila p (3) 22,06
Argila p (4) 28,63
Dreno 3 13,7 0,4 0,00 30,0 0,0 - - - - 3,00E-03
Elastic-
Areia fundo EDP 100 17,5 0,3 0,00 33,8 3,8 - - - - -
Plastic
Interface R-S 18 17,5 0,3 0,00 24,0 0,0 - - - - -
Geotêxtil SB 1,7 - - - - - - - - - -
s = smear; p = plane; EDP = Effective-Drained Parameters; EPPC = Effective Parameters with PWP Change; SB = Structural Beam; SWC =
Saturated Water Contain

É importante ressaltar que em toda nenhuma característica ou parâmetro para o


modelagem foi acionada a opção de atualização dreno, apenas o seu posicionamento no modelo.
da malha de elementos finitos e do nível de Logo, não se tem informações a respeito de
agua, uma vez que era esperado obter grandes como tal elemento está sendo considerado
deformações. dentro do modelo. Já no GeoStudio, não existe
Já a modelagem em GeoStudio foi realizada uma função especifica para este tipo de
utilizando as características apresentadas na elemento, sendo necessário este ser modelado
Tabela 5. Neste caso, buscou-se manter os como um novo material e inserido no modelo
valores e os modelos de comportamento que como um elemento de interface ou como uma
mais se aproximassem daqueles utilizados na “camada”.
modelagem via Plaxis, visto que tinha-se como Neste caso em particular, para modelagem
objetivo comparar os resultados obtidos por em GeoStudio, optou-se por modelar das duas
ambos programas. maneiras apresentadas. Contudo, aquela que
obteve melhores resultados (mais próximos dos
2.3 Limitações e Adoções valores de referência) foi a que considera os
drenos como “novas camadas” dentro do
No desenvolvimento dos modelos, pode-se modelo.
notar algumas limitações que os programas
ainda possuem, podendo ou não terem sido
aprimoradas em outras versões, mais recentes. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Assim, para as simulações dos modelos
desenvolvidos, assim como para obter um nível A Figura 2 apresenta as etapas construtivas e as
de satisfação aceitável destes, algumas adoções etapas de análise consideradas para o modelo.
tiveram que ser realizadas. Os resultados obtidos serão apresentados
Por exemplo, a consideração dos drenos através das subseções que seguem.
verticais, no Plaxis, não é possível a inserção de
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Figura 2. Etapas construtivas e de análise consideradas no modelo.

3.1 Deslocamentos Verticais obtido para este primeiro modelo, ocorre na


ordem de 0,8 metros. Este deslocamento
Conforme citado anteriormente, iniciou-se pela máximo é bastante inferior a aquele apresentado
modelagem em GeoStudio. Os resultados dos no trabalho de Cardoso (2013), onde os
deslocamentos verticais foram medidos no topo deslocamentos máximos alcançam valores
do aterro, mais especificadamente no centro do superiores a 1,8 metros.
seu topo (local onde observa-se maiores Logo, optou-se por remodelar a estrutura no
recalques). Plaxis, apresentando o resultado no mesmo
Sendo assim, construiu-se um gráfico para gráfico da Figura 3.
comparação dos resultados de deslocamentos Comparando os resultados obtidos através do
verticais obtidos por meio deste modelo em Plaxis, com os resultados apresentados pelo
GeoStudio, com os resultados apresentados pelo trabalho de referência, nota-se uma significativa
trabalho tomado como referência. Esta semelhança, tanto de comportamento quanto de
comparação pode ser vista através da Figura 3. valores obtidos, pois este também atinge
Nota-se então, que o maior deslocamento recalques máximos da ordem de 1,8 metros.

Figura 3. Comparação entre os deslocamentos obtidos no topo do aterro.


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3.2 Excesso de Poropressão também por comparar os esforços mobilizados


no material de reforço (próximo item).
Diferentemente dos resultados obtidos para os
deslocamentos verticais, os valores obtidos para 3.3 Esforço Mobilizado no Reforço
o desenvolvimento dos excessos de poropressão
muito se aproximaram dos valores tidos como Conforme citado, optou-se por analisar os
referência, tanto para o modelo construído em esforços mobilizados no reforço geossintético,
GeoStudio quanto para o modelo em Plaxis. de forma que este pudesse validar um dos
Esta semelhança pode ser observada através do modelos desenvolvidos nos programas.
gráfico da Figura 4. Inicialmente, analisando os resultados
Esta semelhança faz com que a análise obtidos através do modelo em GeoStudio e os
realizada em GeoStudio pudesse ser valores tidos como referência, observa-se uma
considerada adequada. No entanto, a grande discrepância entre eles, Figura 5. O
discrepância entre os resultados de modelo em GeoStudio atinge esforço axial
deslocamentos, comparados anteriormente, máximo mobilizado da ordem de 40 kN,
geraram uma grande dúvida a respeito do enquanto que a autora do trabalho de referência
modelo. Logo, a fim de sanar a dúvida sobre informa ter obtido um esforço axial máximo de
qual modelo estaria mais coerente, optou-se 12 kN.

Figura 4. Comparação entre os excessos de poropressão obtidos numericamente.

45
40
35
Esforço axial (kN)

30
25
20
15
10
5
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
t [dias]
Figura 5. Comparação entre as tensões axiais máximas modeladas.
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Por fim, observando os resultados obtidos de o trabalho de referência ter considerado


pela modelagem através do Plaxis (mesmo alguma redução no valor da rigidez do reforço
programa utilizado pelo trabalho de referência), apresentado, sem ter mencionado isso ao longo
nota-se que o esforço axial máximo obtido para de seu texto.
o reforço é praticamente o mesmo obtido pelo Uma vez que os esforços mobilizados neste
modelo em GeoStudio, da ordem de 40 kN, tipo de reforço são obtidos em função das
conforme Figura 5. deformações deste material, realmente
esperava-se um esforço axial maior do que
aquele apresentado no trabalho de referência.
4 CONCLUSÃO Tanto é que essa expectativa é confirmada
através do monitoramento de campo, onde a
Através das simulações, verifica-se a altíssima tensão medida no reforço geossintético (ponto
compressibilidade da camada de argila. de medida, não necessariamente a máxima)
Contudo, nota-se que mesmo utilizando os atingiu valores de 32 kN, condizente aos valores
mesmos parâmetros observa-se uma encontrados através dos modelos elaborados
discrepância elevada entre os resultados de neste estudo.
deslocamentos verticais obtidos por cada Por fim, nota-se que este estudo gera
programa. Uma explicação para essa diferença questionamentos a respeito dos modelos
pode ser dada pelas possíveis diferenças de desenvolvidos e dos programas utilizados, pois
consideração de modelos de comportamento estes apresentaram comportamentos e
entre os softwares, onde maiores deformações resultados tanto semelhantes em algumas
são obtidas através dos modelos aplicados pelo análises quanto diferentes em outras. Logo,
Plaxis. Sendo que nestes casos de grandes conclui-se a importância do conhecimento a
deformações, as distorções na geometria e os respeito dos programas utilizados, tanto com
seus efeitos são parcialmente corrigidos com a relação aos modelos de comportamento do
utilização da função de atualização da malha de material disponíveis para uso, suas
elementos finitos, função presente no programa considerações e metodologias de cálculo,
Plaxis e não no GeoStudio, o qual obteve quanto do que se pretende analisar no problema
deslocamentos significativamente menores. em questão. Por exemplo, neste caso de estudo,
Em seguida, chama-se atenção para o observa-se que o programa Plaxis permite obter
desenvolvimento dos excessos de poropressão, grandes deformações com atualização de malha,
o qual foi estimado e teve seus valores e o que não ocorre no GeoStudio. Sendo este o
comportamentos muito semelhantes para ambos caso de interesse de estudo, um programa torna-
modelos e programas. Fato que, se observado se mais interessante o uso do que outro. Já no
isoladamente, leva à validação de ambos que diz respeito às outras análises
modelos, mesmo estes apresentando (desenvolvimento dos excessos de poropressão
discrepâncias significativas, entre si, para outras e esforços mobilizados no reforço), tanto um
análises. quanto outro obtém estimativas bastante
No que diz respeito aos esforços mobilizados semelhantes.
no reforço, as estimativas realizadas pelos
programas também demonstraram muita
semelhança, obtendo praticamente o mesmo REFERÊNCIAS
valor esperado para o esforço axial máximo
mobilizado no geossintético. Contudo, o valor Belo, J.L.P. (2018). Análise de Confiabilidade de Aterros
máximo obtido pela autora, no trabalho de Sobre Solos Moles Reforçados com Geossintético
Considerando MEL e MEF, Dissertação de Mestrado,
referência, foi bem inferior ao obtido pelos Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de
modelos deste trabalho, o que levanta a hipótese São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos,
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Capacidade de Carga e Eficiência de Grupos de Duas e Quatro


Estacas Helicoidais sob Tração
Gracianne Maria Azevedo do Patrocínio
UFRN, Natal, Brasil, gracie@ufrn.edu.br

Yuri Daniel Jatobá Costa


UFRN, Natal, Brasil, ydjcosta@ct.ufrn.br

João Paulo da Silva Costa


UFRN, Natal, Brasil, joaopaulodsc@gmail.com

Pedro Henrique dos Santos Silva


UFRN, Natal, Brasil, eng.phsilva@outlook.com

RESUMO: Este artigo apresenta um estudo sobre modelagem numérica de grupos de estacas
helicoidais em areia, sujeitos a carregamento axial de tração. Utilizando o método dos elementos
finitos, o modelo foi calibrado com base em provas de carga realizadas em estudo prévio. Foram
conduzidas análises paramétricas em que o espaçamento entre os eixos foi variado entre 3 e 5
diâmetros das hélices das estacas, em grupos com duas e quatro estacas, com topo livre ou em bloco
de coroamento. Constatou-se que a interferência entre estacas reduz a capacidade de carga do
conjunto e, consequentemente, a eficiência de grupo. Assim, com o aumento do espaçamento, existe
menor superposição das zonas de influência de duas estacas adjacentes e maior mobilização da
capacidade de carga. Essa tendência foi consolidada quando as estacas são instaladas a uma distância
de centro a centro do seu eixo referente à cinco vezes o diâmetro da hélice, para os grupos com topo
livre e coroados. Todavia, o acréscimo de estacas ao grupo ocasiona uma redução na eficiência em
razão da maior superposição de tensões.

PALAVRAS-CHAVE: Modelagem Numérica, Grupos, Estacas Helicoidais, Tração, Areia.

1 INTRODUÇÃO profundidade de instalação e do espaçamento


entre hélices e estacas. Contudo, apesar da
Estacas helicoidais são elementos estruturais metodologia de projeto estar estabelecida
metálicos compostos por uma ou mais hélices internacionalmente, informações sobre o estudo
soldadas a uma haste central. Esse sistema de do comportamento de grupos de estacas
fundação apresenta vantagens em relação a helicoidais permanecem escassas na literatura
outros tipos de fundação, entre as quais: alta técnica.
produtividade na execução, possibilidade de Na prática, a mensuração da capacidade de
serem carregadas logo depois de instaladas e carga pode ser dada por meio do torque de
reutilizadas após aplicações temporárias. Em instalação ou, de modo mais acurado, pela
muitas circunstâncias, as cargas estruturais realização de provas de carga. Todavia, em
apresentam solicitações substanciais que levam especial, esse último ensaio agrega uma certa
as estacas helicoidais a trabalhar em grupos. complexidade dado seu custo e difícil logística
Sendo que a capacidade de carga de estacas associada à sua realização.
helicoidais isoladas ou em grupo depende de Dada a dificuldade de mensurar in loco a
vários fatores, como: tipo de solo, da capacidade de carga, bem como de estabelecer
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relações teóricas que permitam o seu cálculo Narasimha Rao e Prasad (1992). Assim, o solo
adequado, especialmente em se tratando de deslocado lateralmente transfere tensões ao
grupos de estacas helicoidais, insere-se o subjacente e o densifica. Em contrapartida, no
potencial da modelagem numérica, em razão de cilindro de solo atravessado pelas hélices ocorre
permitir encontrar soluções a problemas que cisalhamento torsional e vertical, além de
envolvem uma mecânica complexa, sobre a qual deslocamentos radiais e verticais (TSUHA et al.,
ainda não se tem soluções analíticas fechadas. 2012). Como consequência há uma alteração nas
Esta dificuldade é creditada, conforme Perko condições iniciais do solo: altera-se o estado de
(2009), às condições do solo circundante, tais tensões nas vizinhanças das hélices e reduz-se
como distribuição das camadas de solo, tensões parâmetros de resistência e de rigidez. Dado o
efetivas, razão de sobre adensamento, adesão na exposto, a instalação de grupos tende a ampliar
haste; assim como à geometria da ancoragem e estes efeitos, de modo que a eficiência de grupos
ao espaçamento entre estacas. Resultados de de estacas com baixa razão de espaçamento, S/D
pesquisas apontam que a eficiência de grupo cai (em que S representa a distância entre estacas),
à medida que o espaçamento entre estacas tende a ser inferior a 100%.
diminui, decorrente da redução de capacidade de Assim, os métodos de previsão de capacidade
carga e do aumento dos deslocamentos. de carga à tração até então formulados precisam
Diante do exposto, empreender uma análise ser revisados de modo a considerar os efeitos de
sobre o comportamento de grupos de estacas instalação (TSUHA et al., 2012). Os métodos
helicoidais, em depósitos de areia pura, que são teóricos mais conhecidos são o das capacidades
comuns em locais específicos da costa do individuais (ADAMS & KLYM, 1972) e o
nordeste brasileiro, configura-se como a método da ruptura cilíndrica (MITSCH &
importância da pesquisa. Dessa forma, neste CLEMENCE, 1985; DAS, 1990). A
artigo objetiva-se avaliar a capacidade de carga consideração da capacidade de carga teórica dos
a tração e eficiência de diversas configurações de grupos, reportada por Perko (2009), envolve
grupos de estacas helicoidais, por meio de procedimento semelhante ao do método da
simulações numéricas tridimensionais por ruptura cilíndrica. Contudo a parcela referente ao
elementos finitos. cisalhamento é definida por um bloco hipotético
de solo contido entre hélices das estacas.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A eficiência de grupo é um fator determinante
para avaliar a interação entre as estacas quanto à
O comportamento de estacas helicoidais é capacidade de carga. Uma eficiência positiva
complexo e regido por diversos fatores. Ghaly et resulta em η > 1; em contrapartida η < 1
al. (1991), ao empreender um estudo representa a capacidade de carga do grupo
experimental com modelos reduzidos de inferior à de cada estaca isoladamente (𝑄𝑢 ).
ancoragens com uma hélice em areia, mostraram Hanna et al. (1972) estudaram o
que o mecanismo de ruptura e a capacidade de comportamento de grupos de estacas helicoidais
carga variam conforme as características da embutidas em areia e mostraram que a eficiência
areia, diâmetro da ancoragem e profundidade do grupo é inferior à 100% para H/D ≤ 12 e S/D
relativa de instalação da hélice superior, H/D ≤ 4. Também concluíram que a distribuição da
(sendo H a profundidade até a hélice de topo e D carga entre as hélices é quase uniforme em baixo
o diâmetro da hélice superior). nível de carga e a hélice central é a menos
Outro fator que torna a interação solo-estaca solicitada ao se aproximar da carga de ruptura.
de difícil solução se deve à alteração das Das et al. (1976) relatam que a eficiência do
condições iniciais do solo durante a instalação grupo sob carga de tração aumenta com o
das estacas. Nesse processo ocorre um espaçamento das estacas, mas diminui com um
deslocamento lateral e para cima do solo em número crescente de estacas no grupo.
contato direto com as hélices, como cita Conclusão similar foi reportada por Ghaly &
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Hanna (1994), que realizaram investigações passo de 0,075 m. Maiores detalhes sobre os
experimentais sobre o desempenho de grupos de ensaios de campo podem ser obtidos em Costa
3, 4, 6 e 9 estacas em areia densa, média e fofa. (2017b).
Para cada uma das configurações de grupos,
analisou-se o efeito da profundidade de
instalação e o espaçamento entre as estacas sobre
a eficiência de grupos. Os autores constataram
que, para areias fofas e médias, a eficiência 𝜂
aumenta com o afastamento entre estacas e com Figura 2. Protótipo da estaca ensaiada e modelada
a profundidade de instalação. Este
comportamento é válido para uma mesma Os limites geométricos da modelagem
configuração de grupo, contudo o aumento do numérica no plano horizontal (x-z), paralelo ao
tamanho do grupo resulta em uma redução na terrapleno, conforme a Figura 3, foram
eficiência para a mesma relação H/D e S/D. configurados para no mínimo 60 ∙ 𝐷𝑒𝑖𝑥𝑜 (i. e.,
sessenta vezes o diâmetro da haste central da
3 MATERIAIS E MÉTODOS estaca) à fronteira mais próxima, de forma a
evitar o efeito de bordo, como relatam estudos
O estudo numérico da pesquisa foi realizado com similares (PHILIPS & VALSANGKAR, 1987;
o software Plaxis 3D Foundation, o qual é BOLTON et al.,1999; RAWAT & GUPTA,
baseado no Método dos Elementos Finitos 2017). Considerando a inserção de grupos com
(MEF). O programa esquematiza o sistema solo, espaçamento variável, foram delimitadas as
estaca, bloco, interface solo-estrutura, e os coordenadas: 𝑥𝑚𝑖𝑛 = -5m; 𝑥𝑚𝑎𝑥 = 5m; 𝑧𝑚𝑖𝑛 = -
associa às diversas leis de comportamento 5m e 𝑧𝑚𝑎𝑥 = 5m, de modo a garantir que as
necessárias para representar o problema. estacas do grupo com maior afastamento
Os resultados numéricos foram validados por apresentem uma distância de 60 ∙ 𝐷𝑒𝑖𝑥𝑜 . Na
um conjunto de provas de carga a tração profundidade, o modelo deve ter uma dimensão
realizados por Costa (2017b). O perfil de solo mínima de oito vezes o diâmetro da hélice de
representativo do terreno investigado é topo abaixo da ponta da estaca, conforme
apresentado na Figura 1, e foi obtido de verificado por Knappett et al. (2016). Para
sondagens à percussão realizadas nas atender às referências citadas configurou-se o
proximidades dos pontos de execução das provas domínio por um cubo de lado igual a 10 m.
de carga à tração conduzidas pelo citado autor.
Não foi observado o nível do lençol freático.

Figura 1. Perfil representativo do solo (Costa, 2017b)

A estaca helicoidal utilizada nas provas de Figura 3. Domínio da malha de elemento de finitos com a
carga (Figura 2) é composta de tubos metálicos inserção da estaca helicoidal no centro.
de aço com 0,073 m de diâmetro, e três hélices
de diâmetros externos de 0,25, 0,30 e 0,35 m e O comportamento do material da estaca foi
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definido como elástico-linear, em razão do baixo longo da profundidade (y), direção de maior
nível de tensões na estaca, durante os ensaios, significância, optou-se por uma malha de
não ter provocado o escoamento do aço. As refinamento médio, balanceando a acurácia dos
propriedades para a estaca estão listadas na resultados com o esforço computacional e tempo
Tabela 1. A conformação do protótipo da estaca para os cálculos requeridos na análise 3D.
é dada a partir da interação entre elementos de Então deu-se início à calibração propriamente
casca (wall) e de placa (floor). Para o eixo dita do modelo 3D. O ponto de partida em
utilizou-se a seção transversal “Circular tube”, a relação aos parâmetros do solo foram os
qual inseriu-se as propriedades de parede, adotados por Costa (2017b) na calibração do
enquanto para as hélices utilizou-se elementos de modelo no Plaxis 2D. O resultado obtido foi
placa, com espessura (e) definida comparado com a envoltória delimitada pelas
aproximadamente ao modo da estaca projetada. provas de carga realizadas pelo referido autor e
Embora as chapas da estaca ensaiada apresentem com a curva 2D. Os parâmetros do modelo 3D
formato helicoidal de passo controlado, elas foram ajustados dentro de limites razoáveis até
foram inseridas no modelo como sendo planas, que se chegou à uma aproximação satisfatória
em razão de restrição ao desenho no software. das curvas de campo (Figura 4).

Tabela 1. Conjunto de parâmetros para a modelagem da 200


estaca
Carregamento (kN)

Tipo de E 𝛾 160
e (m) 𝜐
elemento (GPa) (kN/m³)
Wall 0,0125 210 78 0,3 120
Floor 0,0125 210 78 0,3
80
Obs.: E = Módulo de Young; 𝛾 = Peso específico; 𝜐 =
Coeficiente de Poisson.
40

Para representar a areia, utilizou-se o modelo 0


constitutivo “Hardening Soil”, que se tem 0 10 20 30 40 50 60 70 80
mostrado satisfatório nas pesquisas realizadas, Deslocamento vertical (mm)
Legenda:
principalmente neste tipo de solo (OLIVEIRA, PCE_Teste A (COSTA, 2017b)
2014; ARAÚJO, 2017). O efeito da instalação da PCE_Teste B (COSTA, 2017b)
PCE_Teste C (COSTA, 2017b)
estaca no maciço, como observado por (COSTA, PCE_Teste D (COSTA, 2017b)
2017a; COSTA, 2017b), foi considerado através Plaxis 2D (COSTA, 2017b)
Plaxis 3D
de um cilindro de solo ao redor da estaca, ao qual
foi atribuído propriedades distintas das do solo Figura 4. Validação do modelo numérico 3D.
não deformado. Este cilindro foi configurado a
partir de um escalonamento de diâmetro O conjunto de dados finais para as duas zonas
decrescente e igual ao da hélice que efetivamente de solo, obtidas a partir do processo de
cisalha o solo, desde o nível zero do terrapleno validação, consta na Tabela 2.
até o plano de inserção da última hélice.
Após a definição da geometria, uma malha de Tabela 2. Parâmetros de resistência e deformabilidade das
zonas de solo
elementos finitos bidimensionais é
𝛾 E 𝜙 c' 𝜓
automaticamente gerada, sobre a qual é criada a Material 𝜐
(kN/m3) (MPa) (°) (kPa) (°)
malha tridimensional. A orientação e dimensões
Areia, Zona
dos elementos que integram a discretização da indeformada
16 45 0,35 35 5 5
malha influi na definição da superfície de Areia, Zona
ruptura. Assim, no plano x-z manteve-se a malha 15 18 0,25 32 3 0
deformada
como “muito grossa”, em razão de que se criou Obs.: 𝜙 = ângulo de atrito; 𝑐 ′ = coesão; 𝜓 = ângulo de
um refinamento ao redor da estaca. Porém ao dilatância. Demais parâmetros definidos anteriormente.
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Na interface solo-estrutura foi utilizado um Tabela 4. Sumário do programa de modelagens.


elemento de interface, de modo a evitar
H D
descontinuidades na distribuição de tensões e Grupos Notação H/D S (m) S/D
(m) (m)
deformações. O Plaxis possibilita determinar a
G2SD3 1,05 3
magnitude e natureza dessa interação através da
G2SD4 1,40 4

Topo livre
escolha de um valor adequado para o fator de
G2SD5 1,75 5
redução de resistência da interface (R inter ), que 2,57 0,35 7,3
foi definido em 0,54 para o contato entre solo G4SD3 1,05 3
arenoso e aço. Este valor foi definido com base G4SD4 1,40 4
em estudo realizado por Potyondy (1961). G4SD5 1,75 5
Para os grupos coroados adotou-se um bloco G2(B)SD3 1,05 3
de concreto com resistência característica à G2(B)SD4 1,40 4

Coroados
compressão (𝑓𝑐𝑘 ) de 30 MPa e com 50 cm de G2(B)SD5 1,75 5
altura (h). A modelagem desses grupos considera 2,57 0,35 7,3
G4(B)SD3 1,05 3
um embutimento do topo de cada estaca no G4(B)SD4 1,40 4
interior do bloco de 0,1 m. Valor esse escolhido G4(B)SD5 1,75 5
conforme a recomendação reportada por Perko
(2009), que menciona que deve existir no
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
mínimo a inserção de 76 mm (i. e., 3”). A Tabela
3 resume os parâmetros de entrada para os
4.1 Análise de deslocamentos verticais
blocos. O valor de R inter adotado para o concreto
seguiu recomendação de Potyondy (1961).
A Figura 5 e a Figura 6 de plumas de
Tabela 3. Parâmetros dos blocos de concreto deslocamentos verticais (𝑢𝑦 ) dentro da massa do
solo apresentam os contornos de interação entre
Tipo de h E 𝛾 estacas para as razões S/D dos grupos de duas
𝜐 R inter
elemento (m) (GPa) (kN/m³) estacas avaliados. Em consonância com
Volume 0,5 26,84¹ 25 0,2 0,76 resultados relatados por Livneh & El Naggar
¹ Módulo de elasticidade secante (𝐸𝑐𝑠 ) (2008), observou-se que a separação das zonas
de influência ocorre para S/D > 3. Assim,
Após validação do modelo, deram-se início às maiores espaçamentos resultam na tendência de
análises paramétricas dos grupos com 2 e 4 plena mobilização individual de capacidade de
estacas, com o topo livre (i. e., G2 e G4) e com a carga, em razão das estacas passarem a trabalhar
presença de bloco de coroamento (i. e., G2(B) e isoladamente. A mesma tendência foi observada
G4(B)), como sumariza a Tabela 4. Em cada para os grupos de quatro estacas.
grupo estudou-se o comportamento de grupos de Outrossim, em todas as configurações de
estacas com S/D de 3, 4 e 5, adotando-se sempre grupo, nas quais a profundidade de instalação é
o modelo utilizado na etapa de validação das de 2,57 m, correspondente a uma taxa de
simulações numéricas como referência. Todas as embutimento (H/D) de 7,3, a superfície de
análises paramétricas foram desenvolvidas sob ruptura não alcançou a superfície do terreno,
as mesmas condições de carregamento, materiais comportamento referido como condição de
constituintes, refinamento da malha gerada e âncora profunda na literatura (DAS, 1990;
interfaces. PERKO, 2009).
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Figura 5. Distribuição de deslocamentos verticais (𝑢𝑦 ), em mm, para G2

Figura 6. Distribuição de deslocamentos verticais (𝑢𝑦 ), em mm, para G2(B)

Em relação às diferenças notadas entre a 5 e a Figura 7, é possível perceber que as curvas


presença e ausência de bloco, foi possível referentes à S/D igual a 5 convergem para a
observar que com a inserção do elemento de curva referente a uma estaca isolada.
coroamento os deslocamentos verticais passam a
ser contidos pela fronteira do bloco (Figura 6).
200

4.2 Análise das curvas carga vs 160


Carga (kN)

deslocamento vertical
120

A Figura 7 mostra as curvas carga vs 80


10% D

deslocamento obtidas para as configurações de


40
grupo realizadas. As curvas apresentadas são
representativas de uma estaca do grupo. As 0
0 10 20 30 40 50
curvas obtidas para todas as estacas são iguais
Deslocamento vertical (mm)
em razão de haver simetria. Para a obtenção Legenda:
dessas curvas foi necessário definir um ponto Estaca isolada ICC - ES (2007)
“A” locado no centro de uma das estacas do G2 - S/D = 3 G4 - S/D = 3
grupo, de modo que os deslocamentos pudessem G2 - S/D = 4 G4 - S/D = 4
G2 - S/D = 5 G4 - S/D = 5
ser calculados no nó selecionado. A partir de
uma análise conjunta entre os contornos de Figura 7. Capacidade de carga vs deslocamento para uma
deslocamentos verticais apresentados na Figura estaca representativa da média dos grupos com topo livre.
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O comparativo entre as curvas carga vs carga de ruptura via curva carga vs


deslocamento da estaca isolada e da deslocamento, foi dada a partir de critérios de
representativa da média dos grupos com topo ruptura porque o formato das curvas não
livre permite observar que as curvas com duas apresentou ruptura nítida. Uma versão
estacas apresentam menor dispersão em relação modificada do método Davisson Offset Limit
às com quatro estacas. Isto indica que a inserção (DAVISSON, 1972) é recomendada pelo ICC-
de mais estacas para trabalhar em conjunto ES (2007) para determinar a capacidade de
ocasiona maior superposição de tensões no carga, a qual é definida como a interseção da
maciço de solo. Como consequência, a curva carga-deslocamento com a reta
resistência à tração diminui com o acréscimo de correspondente ao deslocamento líquido relativo
estacas ao grupo, para um mesmo deslocamento. à 10% do diâmetro médio das hélices. Este
Este resultado está em consonância com estudo critério, adaptado de Terzaghi (1942), foi
realizado por Ghaly & Hanna (1994). adotado no presente trabalho. As Figura 7 e 8
Com bloco (Figura 8) percebe-se para o apresentam uma reta vertical para o
deslocamento de 50 mm que as curvas crescem, deslocamento de 10% D. A intersecção das
denotando um aumento na carga, à medida do curvas com esta reta fornece a capacidade de
espaçamento entre estacas, à exceção de G2(B) carga em cada caso estudado (Tabela 5).
S/D = 5. Em especial, para esta configuração, o
decréscimo em relação a S/D igual a 4 foi Tabela 5. Resultados da capacidade de carga dos grupos
creditado ao fato de que a partir dessa relação o de acordo com o ICC - ES (2007)
bloco passou a se comportar como flexível. Grupo de 2 estacas Grupo de 4 estacas
𝐻 𝑆
𝑄𝑢𝑔 (𝑘𝑁)
𝐷 𝐷
1000 Topo livre Bloco Topo livre Bloco
3 301,1 388,9 537,7 747,5
800 7,3 4 312,4 450,9 612,4 810,9
Carga (kN)

5 319,1 436,9 649,2 826,9


600

400 A partir da curva de calibração da estaca


isolada, obteve-se Q u = 163 kN através do
10% D

200
critério da ICC-ES (2007). A capacidade de
0 carga para a estaca isolada, estimada pelo
0 10 20 30 40 50 método da ruptura cilíndrica, resultou em 167
Deslocamento vertical (mm)
Legenda: kN.
G2(B) S/D = 3 G4(B) S/D = 3
G2(B) S/D = 4 G4(B) S/D = 4 4.4 Análise de capacidade de carga e eficiência
G2(B) S/D = 5 G4(B) S/D = 5 dos grupos
Figura 8. Capacidade de carga vs deslocamento dos grupos
de estacas coroadas A Figura 9 apresenta o crescimento na
capacidade de carga (𝑄𝑢𝑔 ), via critério de
4.3 Determinação da capacidade de carga dos ruptura, à medida que se insere um bloco ao
grupos grupo, bem como mais estacas. Apresenta, ainda,
a eficiência de grupo para os casos em estudo. A
Uma fundação atinge sua capacidade ótima sua análise evidencia o aumento na capacidade
quando a carga por unidade de área não excede de carga com a inserção dos blocos de
um valor limite, que causaria a falha por coroamento, quando se comparam os pares G2 e
cisalhamento no solo. Este valor limite é G2(B), assim como G4 e G4(B). Essa tendência
denominado como capacidade de carga. Nesse é creditada à contribuição do elemento de
estudo a obtenção da capacidade de carga ou coroamento ao sistema global, a qual não é
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considerada em projetos de fundações. Destaca- Ademais, observa-se que a contribuição do


se que todos os valores de capacidade de carga bloco torna positiva a eficiência do grupo de
apresentados são representativos do grupo de estacas. Destaca-se que 𝜂 para grupos de duas
estaca em sua totalidade. estacas com o bloco de concreto passou a
Percebe-se, também, que a eficiência do decrescer para S/D > 4. Isto foi atribuído à
grupo tende a aumentar com o aumento do razão de que o bloco tornou-se menos rígido ao
espaçamento entre estacas, em razão de o efeito ter seu comprimento alongado e sua altura
de isolamento de cada estaca se estabelecer para mantida constante em 0,5 m. Com a análise da
relações S/D maiores. Pode-se notar também que eficiência dos grupos com topo livre,
a eficiência é geralmente inferior a 1 para os apresentadas na Figura 9, percebe-se que, para
grupos de estacas com topo livre, e isso pode ser H/D = 7,3 e S/D ≤ 4 (i. e., limite superior para
atribuído à maior interação entre as estacas deixar de existir trabalho de grupo), a eficiência
individuais dentro do grupo. Ao se aumentar o é inferior a 100%; comportamento esperado de
espaçamento, observa-se a existência de uma acordo com Hanna et al (1972).
razão limite além da qual o efeito é reduzido, no
presente estudo observada para S/D igual a 4. 4.5 Estimativas de capacidade de carga e
Deve-se ainda notar que o grupo G4 apresentou eficiência
eficiência ligeiramente superior à do respectivo
grupo G2 a partir de S/D > 4, em contradição às As estimativas teóricas da capacidade de carga
referências literárias que citam a redução da e da eficiência de grupo estão relacionadas na
eficiência à medida do incremento de estacas ao Figura 10, demonstrando o aumento na
grupo. Contudo, com a inserção do bloco capacidade resistente e, consequentemente, na
observou-se a tendência citada por Ghaly & eficiência, à medida que a distância entre as
Hanna (1994) de que a eficiência de grupo deve estacas aumenta. O cálculo da capacidade de
se reduzir quando se tem mais elementos carga teórica (Q∗ug ) e da eficiência de grupo foi
interagindo. Na prática, pode-se inferir que dado pelas Equação 1 e 2, respectivamente.
quanto maior o número de estacas trabalhando
em grupo, maior será a amplitude de
superposição do campo de tensões e maior o Q∗ug = qult ∙ m1 ∙ m2 + 2 ∙ τ ∙ s ∙ (n − 1) ∙
(1)
efeito de redução da rigidez do sistema devido à (m1 + m2 )
instalação das estacas.
Onde: qult representa a tensão atuante na
Capacidade de carga (𝑄𝑢𝑔)

1200 1,6 hélice superior; m1 e m2 são as dimensões


Eficiência de grupo ( 𝜂)

1000 1,4 paralelas ao terrapleno do bloco hipotético de


solo que é delimitado no plano pelas estacas mais
(kN/m²)

800 1,2
externas do grupo e na profundidade pela hélice
600 1
de topo e a de ponta; τ é a resistência ao
400 0,8 cisalhamento; s é o espaçamento entre cada
200 0,6 hélice da estaca do grupo; n representa o número
0 0,4 de estacas no bloco, demais parâmetros foram
3,00 4,00 5,00 definidos anteriormente.
Razão de espaçamento (S/D)
Legenda:
Q ug
G2 - Q_ug G2(B) - Q_ug η= (2)
G4 - Q_ug G4(B) - Q_ug ∑ Qu
G2 - η G2(B) - η
G4 - η G4(B) - η
Os parâmetros da Equação 2 foram definidos
Figura 9. Capacidade de carga e eficiência de grupo anteriormente.
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Comparativo entre Q ug* e Qug


Capacidade de carga (𝑄𝑢𝑔)

1200 1,6

Eficiência de grupo ( 𝜂)
Grupo de estacas
1000 1,4 1,6
1,5 Legenda:
800 1,2
(kN/m²)

Qug* / Qug
1,4
600 1,0 G2
1,3
400 0,8 1,2 G4
1,1
200 0,6
1,0
0 0,4 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5
3,00 4,00 5,00 Espaçamento entre estacas /
Razão de espaçamento (S/D) Diâmetro da maior hélice
Legenda:
(G2) - Q_ug (G4) - Q_ug Figura 11. Comparativo entre as capacidades de carga dos
(G2) - η (G4) - η grupos de estacas pelo método teórico e via MEF

Figura 10. Capacidade de carga e eficiência de grupo pelo 5 CONCLUSÕES


método teórico
As análises permitem concluir que, para evitar a
Todavia, esta estimativa pelo método teórico, interferência entre as zonas de influência de duas
do ponto de vista de trabalho das estacas estacas adjacentes e haver maior mobilização da
helicoidais, traduz-se em um resultado capacidade de carga, deve existir uma distância
incompatível para altas razões de espaçamento, de centro a centro do eixo das estacas de cinco
para as condições estudadas S/D = 4, em virtude vezes o diâmetro da hélice. À medida que a
de ocorrer a transição para o mecanismo de distância entre estacas aumenta, os elementos do
trabalho individual. Isto é, a contribuição da sistema passam a se comportar como estacas
parcela referente ao cisalhamento passa a ser isoladas. Isto ocorre independentemente de
dada pela formação do cilindro de solo entre haver o elemento de coroamento. Em
hélices e não como bloco hipotético de solo. contrapartida, o acréscimo de estacas ao grupo
Foi realizado um comparativo entre a direciona para uma maior superposição do
capacidade de carga teórica através do método campo de tensões de modo que a eficiência do
apresentado por Perko (2009) e via análise grupo tende a diminuir.
numérica, destacando-se que a previsão pelo Além disso, todas as análises de grupos
método teórico é superior aos resultados coroados resultaram em valores de eficiência
numéricos em até 50%. Plotou-se então o superiores a 100%. Assim, considerando-se que
gráfico apresentado na Figura 11, o qual na prática é feita a solidarização das estacas por
relaciona a razão entre as capacidades de carga blocos, tem-se que, para as condições estudadas,
com as relações de espaçamento entre estacas o menor espaçamento recomendado é referente a
estudadas. Apenas os grupos com topo livre são três vezes o diâmetro da maior hélice.
tratados em razão do método teórico não Por fim, constatou-se que a aplicação do
considerar a presença do bloco de coroamento. método teórico para o cálculo da capacidade de
Percebeu-se que os melhores ajustes entre carga dos grupos requer cautela, em razão de que
Q∗ug /Q ug se dão para S/D ≤ 3, para todas as existe uma maior divergência quanto maior
configurações de grupo analisadas. Isto confirma espaçamento entre estacas. Nesse contexto, é
que o campo de aplicação, para o qual foi indicado avaliar se as condições de projeto
formulada a expressão teórica apresentada por direcionam ao comportamento de grupo para
Perko (2009), é condicionado à S/D. De tal modo então ser procedido o cálculo teórico, caso não
que a aplicação do método para altos valores de haja outro recurso que melhor permita avaliar a
S/D (i. e., S/D > 3) podem conduzir ao capacidade de carga do sistema.
superdimensionamento da capacidade de carga.
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Características Deletérias dos Agregados Miúdos da Região


Metropolitana do Cariri Cearense
Ingride Macedo Alves1
Universidade Regional do Cariri, Juazeiro do Norte, Brasil, alves.ingride20@gmail.com

Antonio Nobre Rabelo2


Universidade Regional do Cariri, Juazeiro do Norte, Brasil, antonio.nobre@urca.br

Jefferson Heráclito Alves de Souza3


Universidade Regional do Cariri, Juazeiro do Norte, Brasil, heraclito.prof@gmail.com

Juliana Gomes Rabelo4


Universidade Federal de Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, jhurabelo@hotmail.com

RESUMO: Este estudo investiga as características deletérias de três amostras de agregados miúdos
entre os mais utilizados na Região Metropolitana do Cariri (RMC). Essas amostras foram coletadas
observando-se a NBR NM 27/2001 e submetidas aos ensaios de material pulverulento (NBR
7219/1987), teor de matéria orgânica (NBR NM 49/2001) e teor de torrões de argila (NBR
7218/1987). Os resultados apontam que todas as amostras apresentam matéria orgânica e teores de
material pulverulento que restringe seu uso para alguns tipos de concreto e filtros de barragens de
terra, drenos subterrâneos de rodovias, entre outras. Uma das três amostras estudadas mostra-se
imprópria para concretos e outras obras civis em função do elevado teor de torrões de argila. As três
amostras apresentam alguma característica prejudicial aos concretos e/ou algumas obras de terra,
fazendo-se necessário um melhor controle tecnológico desses materiais antes da sua utilização.

PALAVRAS-CHAVE: Torrões de argila, Agregado Miúdo, Pulverulento, Matéria Orgânica

1 INTRODUÇÃO mundo (DIAS et al., 2017). Para tal finalidade,


são utilizadas, areias de rio, como agregados
A população do Ceará dobrou nos últimos 40 miúdos nos concretos em geral. A qualidade dos
anos, saltando de 4.361.603 habitantes, em agregados miúdos contribui para a resistência à
1970, para 8.842.791, em 2014 (IBGE, 2010). A compressão, durabilidade, trabalhabilidade e
Região Metropolitana do Cariri (RMC), ao sul retração, ou ainda para o bom desempenho de
do estado do Ceará, detém a sua segunda maior outras obras de infraestrutura, sejam elas ou não
população, compõem-se de nove municípios, de natureza geotécnica (AZEVEDO, 2017).
sendo os principais: Barbalha, Crato e Juazeiro Diante do exposto e do desconhecimento das
do Norte, os quais concentram 76,45% da sua características deletérias das areias naturais
população. A aglutinação populacional e a utilizadas como agregados miúdos na confecção
concentração de atividades comerciais nessas de concretos e outros serviços na RMC, esse
três cidades acarretam preocupações trabalho teve como principal objetivo verificar
socioambientais e gera demanda de crescimento se esses materiais se enquadram nas
da sua infraestrutura urbana, diretamente especificações técnicas vigentes, com vistas à
vinculado ao alto consumo de concreto, visto garantia da qualidade das obras de engenharia
ser este material um dos mais consumidos no executadas na região.
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2 AGREGADOS MIÚDOS a) Naturais: São encontrados em forma


particulada na natureza, sem que haja a
2.1 Conceituação necessidade de processamento. As areias lavadas
respondem por 90% da produção nacional
Os agregados, de modo geral são fragmentos de (EFFTING, 2014).
rocha, popularmente denominados “pedras” ou b) Artificiais ou industrializados: São os que
“areias”, com tamanhos e propriedades precisam de um trabalho prévio, antes do seu
adequadas para utilização em quase todas as uso, para assumirem a forma e as dimensões
obras de infraestrutura civil (FARIAS E adequadas (BAUER, 2011). Incluem-se aqui os
PALMEIRA, 2010). Estes são produzidos a finos de britagem, os quais têm uso cada vez
partir de britagem de maciços rochosos ou da mais crescente, em virtude da exaustão das
exploração de ocorrências naturais e têm como reservas de areias naturais próximas aos grandes
principal aplicação a fabricação de concretos e centros consumidores.
argamassas, nas mais diversas utilidades em c) Agregados reciclados: são os obtidos de
engenharia de construção. rejeitos, subprodutos da produção industrial e
A norma NBR 7211 (ABNT, 2005), que fixa as mineral e resíduos de construção e demolição
características exigíveis na recepção e produção (SILVA, 2012). Segundo Vieira e Molin (2004)
de agregados para concreto, define areia ou mais de 90% dos resíduos de construção civil
agregado miúdo como areia de origem natural ou podem ser reutilizados na própria produção de
resultante da britagem de rochas estáveis ou a componentes para construção.
mistura de ambas, cujos grãos passam pela d) Agregados especiais: são aqueles cujas
peneira 4,8 mm e ficam retidos na peneira 0,15 propriedades conferem ao concreto ou
mm, em ensaio realizado de acordo com a NBR argamassa um desempenho que auxilie no
NM 248, (ABNT, 2003b). Entre essas atendimento de solicitações específicas em
características, estão a distribuição estruturas não usuais (SILVA, 2012).
granulométrica, durabilidade e teores de
substâncias nocivas, com destaque para o material
2.2.2. Quanto às dimensões das partículas
pulverulento, os torrões de argila e as impurezas
orgânicas.
Podem ser classificados como graúdos e miúdos
Os agregados miúdos têm as mais diversas
(AZEVEDO et al, 2017):
utilizações, estando presentes nas argamassas;
a) Graúdos: são materiais granulares
no concreto das pequenas às grandes estruturas;
provenientes de rochas, cujos grãos passam pela
fundações; obras de terra; misturas asfálticas;
peneira com abertura de malha de 75 mm e
apavimentos de concreto, camadas de
ficam retidos na peneira com abertura de malha
pavimentos rodoviários; assentamento de
de 4,75 mm (ABNT, 2005).
paralelepípedos e pisos intertravados; obras de
b) Miúdos: são grãos de origem natural ou
saneamento; reaterros, entre outros.
derivados de britagem que passam pela peneira
com abertura de malha de 4,75 mm e ficam
2.2 Classificação
retidos na peneira com abertura de malha de
0,15 mm (ABNT, 2005).
Os agregados classificam-se quanto à origem,
Para utilização em misturas asfálticas inclui-
dimensão dos grãos, massa específica e
se o filler ou material de enchimento à classe
composição mineralógica dos grãos.
dos agregados, onde pelo menos 65% das
partículas são menores do que 0,075 mm
2.2.1 Quanto à origem
(exemplo: cal hidratada e o cimento) Bernucci
(2007).
São classificados em naturais, artificiais,
reciclados e especiais.
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2.2.3 Quanto à massa unitária 2.3 Substâncias nocivas nos agregados miúdos

Segundo Effting (2014) para essa classificação São aquelas que podem afetar alguma
leva-se em consideração a relação entre a massa propriedade desejável nos concretos fabricados
de um determinado agregado e o volume com agregado que as contém. Essas substâncias
ocupado pelos seus grãos, incluindo-se os também podem ser denominadas de impurezas e
vazios. Nesse caso, os agregados podem ser: são classificadas em coloidais e não coloidais
leves, normais e densos/pesados. (BAUER, 2011). As coloidais compreendem as
a) Leves: têm massa unitária inferior a que têm grãos de diâmetro da ordem do
1.000 kg/m³, entre os quais estão a argila micrômetro (milésimo de milimetro) e podem
expandida, pedra-pomes, escória siderúrgica, ser retiradas por lavagem, enquanto as não
ardósia, lixo sintetizado e folhelhos. coloidais são misturas heterogêneas cujo
b) Normais: têm massa unitária de 1.000 kg/m³ diâmetro médio das partículas têm de um a
a 2.000 kg/m³. São exemplos destes as areias e 100 namômetros e não são elimináveis
cascalhos, os seixos rolados e a rocha britada. (BAUER, 2011). Esse autor ainda afirma que as
c) Densos ou pesados: têm massa unitária maior impurezas não coloidais que mais ocorrem nas
que 2000 kg/m³, tendo-se como exemplos a areias são as argilas em torrões e materiais
brita de barita, magnetita, hematita, limonita, friáveis, materiais pulverulentos e impurezas
agregados de aço, etc. orgânicas.
Effting (2014) relata que qualquer agregado
2.2.4 Quanto à composição mineralógica para uso em concreto, que seja submetido à
imersão em água, exposição prolongada à
Bernucci (2007) classifica os agregados quanto atmosfera úmida, ou contato com solo úmido,
à composição mineralógica das rochas que lhe não deve conter materiais que sejam
deram origem, conforme descrição abaixo: potencialmente reativos com os álcalis do
a) Ígneas: São as rochas que se formaram pelo cimento em quantidades suficientes para causar
resfriamento e consolidação do magma; expansão. Isto sucita para maiores cuidados
b) Sedimentares: Formada atraves da deposição com os concretos destinados a túneis,
e consolidação dos sedimentos. Sedimentos, são fundações, obras marítimas, muros de arrimo,
materiais originados do intemperismo de rochas obras subterrâneas ou de condução de rejeitos
preexistentes; e industriais e esgotos.
c) Metamórficas: Resultante da transformação Apesar de nocivas aos agregados miúdos,
de rochas preexistentes, sob influência da essas outras substâncias, não são objeto desse
pressão, temperatura e fluídos gasosos. estudo, uma vez que o mesmo se limita à
O conhecimento da natureza dos agregados investigação do material pulverulento, matéria
é de fundamental importância para a orgânica e argila em torrões e materiais friáveis.
definição do uso que este terá, sendo suas
propriedades físicas e químicas e suas 2.3.1 Material pulverulento
misturas ligantes, essenciais para a vida das
estruturas (obras) em que são usados São, por definição, partículas com dimensão
(FRAZÃO, 2002; VIEIRA e MOLIN, 2004). inferior a 0,075mm, inclusive os materiais
Frazão (2002) explica que as características solúveis em água, presentes nos agregados
físico-químicas e químicas (reação com os (ABNT, 2003a).
álcalis do cimento) dos agregados Segundo Nevile (2016) há dois tipos de
influenciam diretamente na qualidade final materiais finos que podem estar presentes no
dos concretos e argamassas. agregado: o silte e o pó de britagem, sendo o
material pulverulento, constituído de partículas
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de argila e silte. Recena (2015) explica que, 2.3.2 Matéria Orgânica


quando houver contaminação por materiais
muito finos como argila, a aderência da pasta ao Conforme Frazão (2002) a matéria orgânica é
grão do agregado fica prejudicada, constituída, basicamente, de ácidos húmicos,
comprometendo diretamente a resistência provenientes da decomposição de vegetais, que
mecânica do concreto. se apresentam como húmus ou lodo orgânico,
Segundo Farias e Palmeira (2010) materiais sendo comum a sua ocorrência, principalmente,
pulverulentos não plásticos devem ser evitados em agregados miúdos naturais. Esse autor
em quantidades excessivas, pois, devido à completa que essa indesejável substância
grande superfície específica, aumentam a contribui para o retardamento da pega e
demanda de água em concretos hidráulicos. endurecimento do concreto, provocando a
Para Frazão (2002) quando as partículas se redução da resistência inicial e, às vezes, até a
encontram na dimensão de silte, é menos sua resistência final.
prejudicial, pois não interferem na cristalização Segundo Freitas Jr (2013) a presença de
do produto do cimento, não afetam a aderência matéria orgânica nos agregados provoca a
e, às vezes, têm função benéfica ao corrigir a decomposição da pasta, eflorescências e
granulometria do agregado miúdo ou do manchamento no concreto. Souza, et al. (2017)
cimento. enumera outras sérias patologias no concreto,
Effting (2014) complementa que a grande como reações expansivas e fissuras por retração.
quantidade de material pulverulento no Para minimizar os efeitos da matéria orgânica
agregado miúdo aumenta a exigência de água nas obras, Recena (2015) recomenda: i) lavar a
para a obtenção da mesma consistência do areia com água e cal (neutralizar acidez), em
concreto, propiciando maiores alterações de pequenas camadas expostas ao sol, para que
volume, intensificando a retração e a redução da esta matéria seja oxidada; ii) adicionar cal em
sua resistência. Nesse contexto, Kim et al., até 5% sobre a massa de cimento e iii) adotar
(2014 apud Malaiskiene et al., 2017), cuidados especiais com a cura, como manter
constataram que quando o teor água/cimento úmido o concreto executado durante longo
passa de 0,45 para 0,60, a porosidade do tempo, para compensar o seu lento
concreto aumenta em 150%, contrariamente à endurecimento.
sua resistência, a qual é reduzida em 75,6%.
A NBR 7211 (ABNT, 2005) estabelece o 2.3.3 Argila em torrões e materiais friáveis
limite máximo aceitável de 3% de material
pulverulento nos concretos submetidos ao Conforme a NBR 7218 (ABNT, 1987a) argila
desgaste superficial e de 5,0% para os concretos em torrões e materiais friáveis são partículas
convencionais. Essa norma ressalva que se o presentes nos agregados, suscetíveis de serem
material fino que passa na peneira 75 μm, por desfeitas pela pressão entre os dedos polegar e
lavagem, conforme procedimento de ensaio indicador, podendo detectados por diferença de
estabelecido na NBR NM 46 (ABNT, 2003a), coloração. O excesso de torrões de argila,
for constituído totalmente de grãos gerados principalmente os de grandes dimensões,
durante a britagem de rocha, os limites quando não dissolvidos durante a mistura do
aceitáveis de material pulverulento, podem ser concreto, ocasionam pontos fracos em seu
acrescidos de 3% para 10%, para concretos interior e quando dissolvidos, envolvem os
submetidos a desgaste superficial, e de 5% para grãos resistentes dos agregados reduzindo a
12%, para concretos protegidos do desgaste aderência e, consequentemente, a sua resistência
superficial, desde que seja possível comprovar (RESENDE, 2009).
que os grãos constituintes não interferem nas Frazão (2002) complementa que os efeitos
propriedades do concreto. indesejáveis dos torrões de argila no concreto
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são o surgimento de buracos, a redução da água/cimento e retardar a evaporação da água


tensão de ruptura na compressão e a diminuição de hidratação da pasta (cura) do concreto para
da resistência ao intemperismo e ao desgaste. que este fique protegido contra o ataque físico-
A NBR 7211 (ABNT, 2005) estabelece o químico de substâncias agressivas no ambiente
limite máximo aceitável de 3% de argila nas em que a obra esteja inserida. Esses autores
areias, sob a forma de torrões, em relação à alertam que todos os projetos de engenharia
massa do agregado miúdo, segundo o método com elementos enterrados ou em contato com o
de ensaio NBR 7218 (ABNT,1987a). solo ou a água (ex.: fundações) devem ser
considerados os aspectos da sua permanência e
2.4 O uso de agregados miúdos com substâncias integridade em longo prazo.
nocivas em serviços de engenharia A presença de torrões de argila sob a forma
de torrões friáveis nos agregados miúdos,
A presença de substâncias nocivas nos segundo (Effting, 2014), além de comprometer
agregados pode comprometer a qualidade dos a resistência do concreto à compressão, também
serviços de construção civil e/ou de natureza prejudica a sua resistência resistência à abrasão
geotécnica com eles executados. e à sua aparência superficial.
A seguir descreve-se os requisitos básicos que b) Argamassas: Conforme Silva (2012), as
os agregados miúdos devem apresentar para areias finas geralmente são utilizadas em
serem utilizados em alguns serviços de serviço de acabamento de obras, normalmente
engenharia. para reboco, sendo ideal para assentamento de
a) Concretos: Segundo Meier (2011) os cerâmica e acabamentos interno e externo. As
agregados miúdos devem ser isentos e livre de areias, segundo Macedo et al. (2015) têm
impurezas, dada a possibilidade de causarem influência preponderante sobre a plasticidade da
patologias no concreto, tais como, desagregação argamassa, dada a sua característica de possuir
e corrosão da armadura, quando na presença de elevada área específica, o que provoca
umidade. alterações significativas no consumo de água, e
No Brasil, as características exigidas para consequentemente, no de cimento, o que a torna
recepção e produção de agregados miúdos são cara.
fixadas pela NBR 7211, da ABNT (2005), são a Os agregados para uso em revestimentos,
distribuição granulométrica, durabilidade e segundo Carasek (2017) representam cerca de
teores de substâncias nocivas, destacando-se, o 60 a 80% do consumo dos materiais da
material pulverulento, os torrões de argila e as argamassa pronta devendo ser isentas de torrões
impurezas orgânicas. de argila, ou o terem em teor inexpressivo, sob
A presença de finos em excesso num pena de causarem descolamentos pontuais,
agregado miúdo, segundo Bauer (2011) originarem vazios e desagregação do
aumenta sua superfície específica, elevando a revestimento. Também não devem conter
demanda de água e exigindo maior matéria orgânica, uma vez que esta inibe a pega
trabalhabilidade e fator água/cimento. O e o endurecimento da argamassa, provocando o
aumento na quantidade de cimento causa intumescimento (inchação) e a desagregação do
retração e permeabilidade do concreto. revestimento. Assim, as areias para
Metha e Monteiro (1994, apud Farias e revestimento não devem ser escolhidas em
Palmeira, 2010) afirmam que a taxa de função apenas do custo.
deterioração do concreto será tanto menor c) Filtros de barragens de terra: O projeto de
quanto menores forem seus índices de filtros de barragem de terra, segundo Stephens
permeabilidade e porosidade. Esses autores (2011) deve se basear tanto na glanulometria do
completam que para atender a essas condições solo do maciço da barragem, como na
fazem-se necessários reduzir o fator granulometria do material empregado para o
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filtro. O autor esclarece que essas areias devem g) Assentamento de blocos intertravados: A
ter graduação tal que impeça os mais finos do NBR 15953 (ABNT, 2011) estabelece que o
maciço de jusante e da fundação de serem material de assentamento para pavimento
carreados, provocando a erosão interna intertravado de concreto deve cumprir as
(pipping); terem capacidade suficiente para especificações da NBR 7211 (ABNT, 2005),
absorver e transportar todas as águas quanto à presença de torrões de argila, materiais
provenientes do dreno vertical e fundação; e friáveis e impurezas orgânicas. Essa norma
permeabilidade suficiente para que as águas da afirma que a porcentagem de material retida na
fundação percolem livremente, sem provocar peneira 75 µm depende da sua natureza
altas pressões de baixo para cima no aterro de mineralógica e recomenda que esta deve estar
jusante. Completa ainda que as areias para uso compreendida entre 90 e 100%. Tal
em filtros deve apresentar porcentagem máxima recomendação se justifica pelo fato do excesso
de 5%, em peso, passando na peneira #200, para de material retido nesta peneira poder acarretar
que o material não apresente coesão e evite a uma compactação excessiva da camada de
propagação de trincas de tração no interior do assentamento, o que resultaria em deformações
filtro. do pavimento.
d) Misturas asfálticas: Segundo Bauer (2011) a h) Outros usos: As areias ainda podem ser
areia, juntamente com o filler, entra na dosagem usadas para melhorar propriedades geotécnicas
do concreto betuminoso, para impedir o de solos de baixo suporte, para serviços de
amolecimento do concreto betuminosos dos aterro e reaterros, filtros de muros de arrimo,
pavimentos nos dias de intenso calor. Para etc.
confecção de misturas asfálticas para
revestimentos de pavimentos flexíveis, a
Especificação de Serviço 031 (DNIT, 2004), 3 MATERIAIS E MÉTODOS
requer que as areais tenham grãos resistentes e
livres de torrões de argila e de substâncias Foram coletadas três amostras de areias, cujas
nocivas. jazidas foram selecionadas entre as mais
e) Drenos Profundos: Quando utilizadas para utilizadas na construção civil nos três principais
material filtrante como enchimento para os municípios da RMC. As substâncias nocivas
drenos subterrâneos, executados nas camadas estudadas foram o material pulverulento, a
subjacentes de pavimentos de corte ou aterro, as matéria orgânica e os torrões de argila e
areias devem ter partículas limpas, resistentes e partículas friáveis, uma vez que suas presenças
duráveis e isentas de matéria orgânica, torrões nas areias estão entre as que mais influenciam
de argila ou outros materiais deletérios e na qualidade das obras geotécnicas, bem como
granulometria adequada, cujos grãos devem nas estruturas de concreto.
passar integralmente na peneira 9,5 mm e não Vale ressaltar que a coleta de areias foi
mais de 10% na peneira 0,15 mm, para impedir realizada em jazidas devidamente licenciadas
que as partículas finas fiquem retidas nos pelos órgãos ambientais competentes, com
interstícios do material drenante, o que causa a distância não superior a 30 km do centro
sua colmatação (DNIT, 2006). geométrico formado pelo polígono das áreas
f) Assentamento de paralelepípedos: a areia urbanas das cidades de Barbalha, Crato e
para o colchão de assentamento dos blocos deve Juazeiro do Norte.
ser constituída de particulas limpas, duras e O procedimento experimental foi dividido
duráveis, apresentar índice de plasticidade nulo, em duas etapas principais:
passar integralmente na peneira 4,8 mm e não a) Amostragem e preparação das amostras:
contar com mais de 15% de material passando Coletaram-se 40 kg de cada uma das amostras,
na peneira 0,0075 mm (DERT, 1994). as quais foram acondicionadas em baldes
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plásticos vedados, previamente secos e limpos, 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES:


para evitar a sua contaminação, observando-se a
NBR NM 26 (ABNT, 2001a). Os resultados obtidos apontam que todas as
Os pontos de coleta das amostras foram amostras estudadas apresentam algumas
localizados com o auxílio de um GPS de características prejudiciais para alguns serviços
navegação da marca Garmin, Etrex 12, Channel, de engenharia, conforme os teores
com precisão de 7,0 m. A tabela 1 mostra o individualmente descritos, a seguir.
local dos pontos de coleta, com nome dos
mananciais dos areais e seus respectivos 4.1. Torrões de argila e materiais friáveis
municípios.
Todas as amostras estudadas apresentaram
Tabela 1. Identificação das amostras. torrões de argila em sua composição, cujos
COORDENADAS teores são apresentados na Figura 1.
AMOSTRA LOCAL
Latitude Longitude
Rio
Amostra A Salamanca 0461192 9191238
(Barbalha)
Riacho
Amostra B Sovado 0453348 9208502
(Crato)
Riacho
Seco
Amostra C 0483314 9188154
(Missão
Velha)
Fonte: Alves (2017) adaptado. Figura 1. Teores de torrões de argila presentes nas
amostras estudadas. Fonte: Alves (2017).
Em seguida as amostras foram conduzidas ao
laboratório de materiais de construção do IFCE Observa-se na Figura 1, que a amostra A
(Instituto Federal de Educação do Ceará) de apresentou um teor de 8,0% em torrões de
Juazeiro do Norte, onde foram homogeneizadas argila, teor este bem superior ao dobro do limite
em betoneira, para representar fielmente as máximo aceitável pela NBR 7211 (ABNT,
características do agregado de cada jazida e 2005), que é de 3,0%. Esse destaque negativo
quarteadas em separador mecânico, conforme a invalida o uso da amostra para emprego em
NBR NM 27 (ABNT, 2001b), Método A. Após concretos, bem como para produção de
o quarteamento as amostras foram submetidas à argamassas, misturas asfálticas e drenos sub-
secagem em estufa, à temperatura de 105º ± superficiais de cortes de pavmentos rodoviários,
5ºC, por 24 horas. por exemplo.
b) Ensaios para determinação das características Acredita-se que o mais alto teor de torrões de
argila presente na amostra A, em relação às
deletérias das areias: Foram realizados os
amostras A e B, esteja associado à área de
ensaios de materiais pulverulento conforme a
inundação devido a retirada da vegetação no
NBR 7219 (ABNT, 1987b); matéria orgânica
médio e baixo curso do Rio Salamanca, cuja
através da NBR NM 49 (ABNT, 2001c) e argila
dinâmica fluvial foi alterada (BRITO, 2016).
em torrões e materiais friáveis utilizando a NBR
Contrariamente, as amostras B e C
7218 (ABNT, 1987a). Foram realizados dois
apresentaram teores de 1,75% e 1,95% de
experimentos, tomando-se o valor médio deles
torrões de argila, os quais estão bem aquém do
para cada amostra.
limite máximo tolerado pela NBR 7211
(ABNT, 2005), não inviabilizando seus usos
para concretos. Nenhuma das três amostras
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devem ser usadas para execução de drenos sub- Todas as amostras estudadas apresentaram
superficiais de pavimentos rodoviários, nem excesso de material pulverulento, conforme
para a produção de misturas para revestimentos teores apresentados no gráfico da Figura 3.
asfálticos, porém, podem ser utilizadas para
assentamento de paralepípedo e blocos
intertravados.

4.2. Matéria orgânica

Todas as amostras apresentam matéria orgânica,


como se vê nas Figuras 2(a,b).

Figura 3. Porcentagem da quantidade de material


pulverulento nas amostras estudadas.
Fonte: Alves (2017).

A NBR 7211 (ABNT, 2005) permite apenas


3% de material pulverulento em agregados
Figura 2. Tabela de cores da placa colorimétrica (a) miúdos para emprego em concretos submetidos
coloração da água de lavagem após a reação com o a desgaste superficial e 5% para concretos
ácido tânico (b). protegidos contra desgastes superficiais. Dessa
Fonte: Alves (2017) adaptado.
forma essas areias não deverão ser utilizadas
Como se vê nas Figuras 2(a) e 2(b) a para concretos que exijam altas resistências ou
coloração da água de lavagem de todas as que fiquem sujeitos a desgaste superficiais,
amostras apresentou-se mais clara que a como, pisos, revestimento de superfícies
coloração da solução padrão de ácido tânico da hidráulicas sujeitas a fluxo contínuo de água
tabela de cores da placa colorimétrica, o que corrente, etc..
indica que os teores de matéria orgânica das Como a NBR 7211 (ABNT, 2005) estabelece
amostras estão abaixo de 300 ppm, que é o o limite máximo de 5,0% de material
limite máximo tolerado pela NBR 7211 pulverulento em agregados miúdos para os
(ABNT, 2005) e que não haverá redução concretos convencionais, as amostras estudadas
significativa do desempenho do uso dessas podem ser indistintamente utilizadas para tal,
amostras para uso em concretos. Por outro lado, ressalvando-se que essa concessão contribui
essas amostras não devem ser usadas, na para a perda de resistência, intensificação da
condição “in natura”, para confecção de retração e acréscimo no custo de produção do
argamassas, nem para misturas asfálticas e concreto, face à necessidade do aumento do teor
drenos sub-superficiais de pavimentos viários. de cimento, que é o componente mais caro
As amostras não têm restrição para uso em desse produto. Já para execução de filtros
assentamento de blocos intertravados e verticais de barragens as amostras não são
paralelepípedos. recomendadas, uma vez que seus finos em
excesso podem reduzir a permeabilidade da
4.3. Material pulverulento camada e impedir a livre percolação da água,
gerando altas pressões de baixo para cima no
aterro de jusante.
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_______. (1987b). NBR 7219/1987: Agregados –


Determinação do teor de materiais pulverulentos.
Rio de Janeiro: ABNT.
________. (2011). NBR 15953/2011. Pavimento
intertravado com peças de concreto. Execução. Rio
5. CONCLUSÕES de Janeiro: ABNT.
________. (2001a). NBR NM 26/2001. Agregados -
Os estudos realizados mostraram que, apesar de Amostragem. Rio de Janeiro: ABNT.
________. (2001b). NBR NM 27/2001. Agregados –
largamente utilizadas na RMC, as três areias Redução da amostra de campo para ensaios de
estudadas, apresentam alguma característica laboratório. Rio de Janeiro: ABNT.
prejudicial indesejável para uso em alguns ________. (2003a). NBR NM 46/2003: Agregados –
seriviços engenharia, despertando-se para a Determinação do material fino que passa através da
necessidade de um melhor conhecimento das peneira 75 um, por lavagem. Rio de Janeiro: ABNT.
________. (2001c). NBR NM 49/2001. Agregado Míudo
suas propriedades, com vistas à obtenção de - determinação impurezas orgânicas. Rio de Janeiro:
serviços de boa qualidade, notadamente nas ABNT.
pequenas obras, onde não há controle _______. (2003b). NBR NM 248/2003: Agregados –
tecnológico de materiais. Determinação da composição granulométrica. Rio de
As areias estudadas têm restrição de uso para Janeiro: ABNT.
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Características dos Materiais de Pavimentação da Via040


(Brasília/DF a Juiz de Fora/MG)
José Geraldo de Souza Júnior
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, jose.junior@coc.ufrj.br

Mateus Lino Leite


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mateuslleite.93@gmail.com

Ana Mara Araújo Torres


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, anamara_araujo100@hotmail.com

Aline Ferreira Andalicio


Concessionária Via040, Nova Lima, Brasil, aline.andalicio@via040.invepar.com.br

RESUMO: O trecho de 936,8 km da rodovia federal BR-040 (DF, GO e MG), concedido a Via040,
interliga as regiões Sudeste e Centro Oeste do Brasil e se destaca pela relevância estratégica para
desenvolvimento da economia brasileira. Objetivando pesquisar as propriedades dos materiais dos
pavimentos, foram realizados ensaios de campo e laboratório em diferentes pontos da rodovia,
nomeados Unidades de Amostragem (UAs). No artigo foram analisadas as estruturas do pavimento
de seis UAs, localizadas em cinco compartimentos geomorfológicos distintos. Dentre os ensaios
realizados têm-se: densidade in situ (frasco de areia), umidade in situ (Speedy), caracterização física,
compactação, Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR) e triaxial de cargas repetidas (módulo de
resiliência). Os resultados dos ensaios revelaram diferenças significativas nas propriedades dos
materiais coletados nos compartimentos geomorfológicos adjacentes. Tal variação de propriedades
constituiu uma contribuição importante aos estudos de pavimentação, principalmente para a
compreensão dos comportamentos dos pavimentos.

PALAVRAS-CHAVE: materiais de pavimentação, ensaios de laboratório, módulo de resiliência.

1 INTRODUÇÃO material presente em sua estrurura.


A rodovia BR 040, trecho que interliga
De acordo com a norma ABNT NBR 7207/1982 Brasília (km 000+000/DF) a Juiz de Fora (km
o pavimento de uma rodovia é uma estrutura 771+000/MG), é constituída por pavimentos
projetada para suportar aos esforços horizontais flexíveis, que atualmente estão sob jurisdição da
e verticais provocados pela ação do tráfego com Concessionária Via 040.
a finalidade de tornar a pista de rolamento mais Devido a extensão da rodovia (936,8
segura e confortável para os usuários. quilômetros) , foi necessário definir pontos de
Segundo Neto (2011), a estrutura do coleta, sendo esses definidos através do método
pavimento flexível é constituída por camadas, das diferenças acumuladas da AASHTO (1993),
sendo, revestimento, base, sub-base, reforço do nomeados Unidades de amostragem (UAs). Essa
subleito (quando aplicável) e subleito. metodologia define os segmentos homogêneos
Para entender os mecanismos que governam com base na estrutura do pavimento e nos
o comportamento dos pavimentos é necessário critérios que representam as condições
conhecer as características intrísecas de cada funcionais e estruturais dos pavimentos.
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As UAs foram definidas aplicando-se o critério em geral, com alta suscetibilidade à erosão.
de hierarquização, seguindo a sequente Geração de colúvios e depósitos de tálus nas
ordenação: Unidade de Federação; Região baixas vertentes (Machado e Silva, 2010).
Climática; Geomorfologia; Tráfego; Deflexão Denominado Depressões e Chapadas São
Máxima (D0); Área Trincada; Afundamentos em Francisco/BH, a UA-04 está localizada neste CG
Trilha de Roda (ATR) e Irregularidade caracterizado por formas de relevo suavemente
Longitudinal (IRI). dissecadas, com extensas superfícies de
Dentre as UAs nomeadas pela metodologia gradientes extremamente suaves, com topos
supracitada tem-se : UA-01 (km 097+625/GO), planos e alongados e vertentes retilíneas nos
UA-02 (km 107+000/GO), UA-03 (km vales encaixados em forma de “U”. Formação de
052+065/MG), UA-04 (km 352+550/MG), UA- solos areno-argilosos e argilosos, espessos e de
05 (km 631+550/MG) e UA-06 (km cor vermelho-escura, em geral, com baixa a
708+650/MG). moderada suscetibilidade à erosão (Machado e
A partir dessa definição, foram realizados Silva, 2010).
ensaios para a caracterização física e mecânica No CG das Serras do Quadrilátero Ferrífero
dos materiais. encontra-se a UA-05, marcada por um forte
Através dos resultados obtidos, foi possível dissecamento e enorme variabilidade litológica,
avaliar com mais consistência as condições dos sobressai na área a influência do material de
pavimentos da rodovia, ampliando a origem sobre as características dos solos, em que
confiabilidade das informações dos trechos se destaca o conjunto de solos de constituição
levantados e, o entendimento a cerca dos ferrífera, distinguidos pelos teores de óxidos de
mecanismos que regem os pavimentos. ferro muito elevados e intensa cor vermelha
(Carvalho Filho, 2008). Os fundos de vales são
normalmente amplos e planos, sendo a camada
2 GEOMORFOLOGIA superior constituída de material de colúvio de
cor avermelhada e a inferior, com média de 2,5
As UAs caracterizadas no presente estudo estão m abaixo da primeira, por sedimentos fluviais. A
inseridas em 5 diferentes compartimentos denominação da região se refere aos grandes
geomorfológicos (CG). depósitos de minério de ferro, cuja área principal
As UAs 01 e 02 estão situadas no CG do de ocorrência é delimitada por serras que lhe
Planalto do Distrito Federal, este domínio ocorre conferem uma forma aproximada de quadrilátero
sob a forma de grandes superfícies planas, (Projeto RADAMBRASIL, 1983).
sustentadas por carapaças endurecidas, que são Por fim, a UA-06 encontra-se no CG do
recobertas por latossolo areno-argiloso, do nível Planalto dos Campos das Vertentes. Constituído
superior do horizonte laterítico. Este horizonte por uma paisagem característica do tipo “Mares
possui baixa erodibilidade natural e boa de Morros”, ocorrem escarpas acentuadas e vales
estabilidade em taludes de corte, mas possui alta estruturais geralmente profundos. Os processos
resistência ao corte e à penetração (Moraes, de erosão superam os de sedimentação. A
2014). cobertura coluvial, de tonalidade amarelo-
A UA-03 está contida no CG dos Patamares avermelhada, espessura variável, pode atingir
dos Rios São Francisco/Tocantins, que possui mais de 6m (Projeto RADAMBRASIL, 1983).
relevo de morros convexo-côncavos dissecados Há formação de solos espessos e bem drenados,
e topos arredondados ou aguçados. Também se em geral, com moderada suscetibilidade à
insere nessa unidade o relevo de morros de topo erosão. Geração de rampas de colúvios nas
tabular, característico das chapadas baixas vertentes (Machado e Silva, 2010).
intensamente dissecadas e desfeitas em conjunto
de morros de topo plano, formação de solos
pouco espessos em terrenos muito inclinados,
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3 ESTUDO DE CASO 4 METODOLOGIA

Nas 6 UAs já apresentadas, foram realizados 4.1 Caracterização Física


poços de inspeção com o intuito de caracterizar
os materiais de base, sub-base e subleito que Os ensaios de caracterização foram realizados de
compõem a estrutura do pavimento da BR-040, acordo com as normativas do Departamento
trecho que vai de Brasília/DF a Juiz de Fora/MG. Nacional de Estradas de Rodagem (DNER).
O laboratório de Pavimentação e solos da Via Nesse estudo, após a preparação das amostras
040 está dotado de instrumentação tradicional, (DNER – ME 041/94), foram executados os
mas também possui equipamento triaxial para ensaios de de granulometria por peneiramento
ensaios de cargas repetidas, possibilitando a (DNER – ME 080/94), limite de liquidez (DNER
realização de análises pelos métodos mais – ME 122/94) e limite de plasticidade (DNER –
modernos sugeridos pela ciência da área. ME 082/94).
Os materiais coletados da UA-01, foram
nomeados de amostra 1, da UA-02 como amostra 4.2 Classificação Highway Research Board
2 e assim sucessivamente até os materiais da (HRB)
UA-06 nomeados como amostra 6.
Os materiais de base foram coletados de todas A classificacação do HRB é um sistema de
as 6 UAs, já os de sub-base e subleito foram classificação de solos de aplicação rodoviária
coletadas apenas de 4 UAs. As UAs 2 e 3 não baseado nos limites de Attenberg e na
possuíam camada de sub-base em sua estrutura e granulometria. A Figura 1 apresenta as 7 classes
nas UAs 1 e 4 os poços de inspeção não e os 11 grupos em que os solos podem se alocar.
chegaram ao subleito. Além das relações diretas entre os parâmetros
Mediante os ensaios realizados nesses classificatórios é calculado o Índice de Grupo
diferentes materiais, foi possível determinar a (IG). Este possui valores entre 0 e 20.
granulometria, os limites de plasticidade e
liquidez, a curva de compactação, o Índice de 𝐼𝐺 = 0,2. 𝑎 + 0,005. 𝑎. 𝑐 + 0,01. 𝑏. 𝑑 (1)
Suporte Califórnia (ISC) ou California Bearing
Ratio (CBR) e o Módulo de Resiliência (MR),
sendo este último de suma importância para o
dimensionamento tanto de reforços, como de
pavimentos novos, por meio do novo método de
dimensionamento a ser implantado no país.

Figura 1 – Classificação HRB.


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4.3 Índice de Suporte Califórnia (ISC) Conforme explicam Medina e Motta (2015),
não sendo os solos e britas materiais elásticos
O ensaio de ISC é destinado, preferencialmente, lineares, não se aplicam as expressões da lei de
para a obtenção de parâmetros para o Hooke generalizada. Os módulos de resiliência
dimensionamento de pavimentos rodoviários. dos solos dependem do estado de tensões atuante
Este parâmetro é, até hoje, o mais utilizado na – as decorrentes do peso próprio mais as tensões
elaboração de projetos. causadas pelas cargas dos veículos. O que se
Por definição, ISC expressa a relação entre a procura determinar nos ensaios triaxiais é a
resistência à penetração de um cilindro relação experimental:
padronizado numa amostra do solo compactado
e a resistência do mesmo cilindro em uma pedra 𝑀𝑅 = 𝑓(𝜎3 , 𝜎𝑑 )
britada padronizada. O ensaio permite, também,
obter um índice de expansão do solo durante o As amostras foram moldadas em laboratório
período de saturação por imersão do corpo-de- com as mesmas características (peso específico,
prova umidade, etc.) do material in-situ. A partir dos
Para o presente estudo foram adotados os resultados dos ensaios realizados nas amostras
procedimentos concernentes à norma do das UAs foram avaliados os seguintes modelos
Departamento Nacional de Infraestrutura de matemáticos:
Transportes (DNIT) (DNIT – ME 172/2016).
• Modelo 1:
4.4 Módulo de Resiliência
𝑘
𝑀𝑅 = 𝑘1 𝜎𝑑 2
Os ensaios triaxiais de carga repetida realizados
nas amostras das camadas de pavimento das • Modelo 2:
unidades de amostragem seguiram as 𝑘
orientações da norma DNIT 134/2010 – ME. 𝑀𝑅 = 𝑘1 𝜎3 2
Essa normativa recomenda a aplicação de 18
• Modelo 3:
pares de tensões desvio e confinante, sendo
utilizados os últimos 5 ciclos para obtenção do 𝑀𝑅 = 𝑘1 𝜃 𝑘2
MR de cada sequência. Vale destacar, no
entanto, que nem sempre é possível realizar toda onde k1 e k2 são constantes experimentais, σd é a
essa sequência, pois o corpo-de-prova pode tensão desvio, σ3 é a tensão confinante e θ, no
romper antes disso. caso de compressão triaxial, é dado pela soma θ
O Módulo de resiliência (MR), em MPa, é o = σ1 + 2σ3 = σd + 3σ3.
módulo elástico obtido em ensaio triaxial de Conforme a classificação e aos critérios de
carga repetida cuja definição é dada pela enquadramento definidos por Medina e Preussler
expressão: (1980), a partir dos modelos de comportamento
tensão-deformação avaliados, juntamente com o
𝜎𝑑 valor do coeficiente de determinação R², que
𝑀𝑅 =
𝜀𝑟 varia de 0 a 1, adotou-se que quanto maior o
valor de R², mais explicativo é o modelo.
𝜎𝑑 = 𝜎1 − 𝜎3 = tensão desvio aplicada
repetidamente no eixo axial, MPa;
𝜎1 = tensão principal maior, MPa; 5 RESULTADOS
𝜎3 = tensão principal menor ou tensão de
confinamento, MPa; 5.1 Base
𝜀𝑟 = deformação específica axial resiliente
(recuperável), mm/mm; A avaliação da camada de base é apresentada em
dois tópicos denominados Análise I e Análise II,
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dividindo-se as amostras de acordo com as sondagem como cascalho laterítico, enquanto a


características dos materiais, o primeiro item amostra 5 foi definida como minério de ferro. De
exibe os dados das amostras 2 e 5 que possuem acordo com a norma do DNIT – ES 141/2010, o
maior concentração de materiais finos, e a material 2 não deveria ser usado como camada
segunda subdivisão apresenta os resultados das de base em pavimentos, pois a parcela passante
amostras 1,3,4 e 6 que têm textura mais granular. na peneira #200 é maior que 67% do que a
parcela passante na peneira #40.
5.1.1 Análise I A Tabela 2 apresenta os resultados dos
ensaios de limites e a classificação HRB.
As curvas granulométricas da camada de base
das amostras 2 e 5 são apresentadas na Tabela 2 - Resumo Limites – Base, amostras 2 e 5.
Amostra 2 5
Figura 2. LL
50,00 NL
(% )
Limites IP
18,81 NP
Físicos (% )
LP
31,19 NP
(% )
I.G. 8 0
H.R.B. A-7-5 A-2-4

A amostra 2 apresentou elevados valores de


Limite de Liquidez (LL) e Índice de Platicidade
(IP), sendo que tais valores ultrapassam os
limites estipulados em norma. Como
consequência dos parâmetros obtidos, a
classificação HRB da amostra 2 é de um solo
argiloso (A-7-5) pouco recomendável para
Figura 2 – Curvas Granulométricas, Base, amostras 2 e 5. utilização no pavimento.
Já a amostra 5 não apresenta plasticidade
É possível observar que ambas as curvas (NP), provavelmente, caracterizando que grande
apresentam uma pequena parcela da fração areia parte do material fino é arenoso e siltoso. Dessa
e, no caso da amostra 2, uma excessiva forma, a amostra 5 apresentou classificação
quantidade de materiais finos do tipo silte e/ou HRB de um solo areno-siltoso com IG nulo (A-
argila. 2-4) recomendável para utilização no pavimento.
O resumo da classificação granulométrica A Tabela 3, exibe os resultados encontrados
pode ser verificado na Tabela 1. para as amostras de ISC.

Tabela 1 – Resumo Granulometria, Base, amostras 2 e 5. Tabela 3 - Resumo ISC – Base, amostras 2 e 5.
Amostra 2 5 Amostra 2 5
Umidade
% passante

nº 10 67,80 54,51 17,45 8,21


Granul.

ótima (% )
nº 40 62,06 51,85 Dens. seca
2,010 2,740
I.S.C.

nº 200 54,49 23,76 máx (g/cm³)


I.S.C. (% ) 120,91 232,74
Material Cascalho Minério
(Sondagem) Laterítico de Ferro Expansão
0,00 0,00
(% )
Módulo de
542,90 252,34
Verifica-se que a amostra 2 foi classificada na Resiliência
Quanto (Mpa) de ISC, o material
aos valores da
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amostra 5 apresentou um ISC quase duas vezes definida como cascalho argiloso. Já as amostras
superior ao da amostra 2. E ambos se enquadram 4 e 6, foram classificadas como bica corrida e
nas especificações do DNIT (2006) como brita graduada, respectivamente. De acordo com
materiais para base, apresentando ISC ≥ 80% e a norma do DNIT – ES 141/2010, todos os
expansão ≤ 0,5%. materiais poderiam ser usados como camada de
base em pavimentos, pois a parcela passante na
5.1.2 Análise II peneira #200 é menor que 67% do que a parcela
passante na peneira #40.
As curvas granulométricas da camada de base A Tabela 5 apresenta os resultados dos
das amostras 1, 3, 4 e 5 são apresentadas na ensaios de limites e a classificação HRB.
Figura 3.
Tabela 5 – Resumo Limites, Base, amostras 1, 3, 4 e 6.
Amostra 1 3 4 6
LL
NL 27,90 23,50 NL
(% )
Limites IP
NP 12,47 8,20 NP
Físicos (% )
LP
NP 15,43 15,30 NP
(% )
I.G. 0 0 0 0
H.R.B. A-1-b A-1-b A-1-b A-1-a

As amostras 3 e 4 apresentaram valores de LL


e IP, maiores que os limites estipulados em
norma. Contudo, tais valores são próximos aos
parâmetros normativos. Como consequência dos
parâmetros obtidos, a classificação HRB da
amostras 3 e 4 é de um solo pedregulhoso com
IG nulo (A-1-b) e excelente utilização no
Figura 3– Curvas Granulométricas, Base, amostras 1, 3, 4
e 6. pavimento.
Já as amostras 1 e 6 não apresentam
É possível observar que as curvas apresentam plasticidade (NP), provavelmente, por possuir
uma grande parcela da fração pedregulho e uma pouco material fino. Dessa forma, a mostra 6
distribuição equilibrada de areia e materiais apresentou classificação HRB de um solo
finos. pedregulhoso com IG nulo (A-1-a), enquanto,
A Tabela 4, apresenta o resumo da devido à faixa granulométrica, a amostra 1 foi
classificação granulométrica dessas amostras. classificada como A-1-b. Apesar de pertencerem
a grupos diferentes, ambas são recomendáveis
Tabela 4 – Resumo Granulometria, Base, amostras 1, 3, 4 para utilização no pavimento.
e 6. Os dados de ISC das amostras 1,3,4 e 6 são
Amostra 1 3 4 6 apresentados na Tabela 6.
% passante

nº 10 41,14 41,29 36,68 48,08


Granul.

nº 40 31,37 25,66 25,53 27,28


Tabela 6 – Resumo ISC, Base, amostras 1, 3, 4 e 6.
Amostra 1 3 4 6
nº 200 8,72 17,24 15,60 11,01
Umidade
Cascalho 8,05 7,60 7,60 5,80
Material Cascalho Bica Brita ótima (% )
Arenoso Dens. seca
(Sondagem) Argiloso Corrida Graduada 2,144 2,170 2,086 2,321
I.S.C.

Vermelho máx (g/cm³)


I.S.C. (% ) 209,84 135,00 38,93 173,48
A amostra 1 foi classificada na sondagem Expansão
como cascalho arenoso, enquanto a amostra 3 foi 0,00 0,00 0,11 0,00
(% )
Módulo de
109,22 212,34 206,24 116,72
Resiliência (Mpa)
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Tem-se que, dos valores de ISC, o material da Verifica-se que a amostra 1 foi classificada na
amostra 1 apresentou o maior ISC, e a amostra 4 sondagem como cascalho siltoso, enquanto as
o menor. Todos os materiais atenderam as amostras 4 e 5 foram definidas como cascalho
especificações do DNIT (2006) como materiais arenoso. Já a amostra 6 foi classificada como
para base, exceto a amostra 4 que embora atenda cascalho argiloso.
à expansão ≤ 0,5%, não apresentou ISC ≥ 80%. A Tabela 88 apresenta os resultados dos
ensaios de limites e a classificação HRB.
5.2 Sub-base
Tabela 8 – Resumo Limites, Sub-base, amostras 1, 4, 5 e
As curvas granulométricas da camada de sub- 6.
Amostras 1 4 5 6
base das amostras 1, 4, 5 e 6 são apresentadas na
LL
Figura 4. NL 32,00 NL NL
(% )
Limites IP
NP 14,57 NP NP
Físicos (% )
LP
NP 17,43 NP NP
(% )
I.G. 0 0 0 0
H.R.B. A-2-4 A-2-6 A-2-4 A-2-4

A amostra 4 apresenta valores de LL e IP


elevados, sendo considerado medianamente
plástico (7%<IP<15%). Como consequência dos
parâmetros obtidos, a classificação HRB da
amostra 4 é de um solo areno-siltoso com IG
nulo (A-2-6) e boa utilização no pavimento.
Já as amostras 1, 5 e 6 não apresentam
plasticidade, provavelmente, caracterizando que
grande parte do material fino é arenoso e siltoso.
Figura 4– Curvas Granulométricas, Sub-Base, amostras 1, Dessa forma, as mostras 1, 5 e 6 apresentaram
4, 5 e 6. classificação HRB de areno-siltoso com IG nulo
(A-2-4) e excelente utilização no pavimento.
É possível observar que as curvas 4 e 6 Neste caso, a diferença entre os grupos
apresentam uma grande parcela da fração encontrados para os materiais do subleito é a
pedregulho, porém, a amostra 1 apresenta uma plasticidade do material 4.
pequena parcela da fração areia. Já a amostra 5 O ISC das amostras de sub-base são
apresenta uma curva bem gadruada. apontados na Tabela 9.
O resumo da granulometria de todas as
amostras de sub-base estão presentes na Tabela Tabela 9 – Resumo ISC, Sub-base, amostras 1, 4, 5 e 6.
7. Amostras 1 4 5 6
Umidade
8,00 10,40 7,80 9,20
Tabela 7 – Resumo Granulometria, Sub-base, amostras 1, ótima (% )
4, 5 e 6. Dens. seca
2,100 2,138 2,112 2,073
I.S.C.

máx (g/cm³)
Amostras 1 4 5 6
I.S.C. (% ) 43,51 40,58 16,95 49,19
% passante

nº 10 64,03 32,94 72,85 40,21


Granul.

Expansão
nº 40 59,37 23,85 42,68 27,10 0,19 0,07 0,08 0,03
(% )
nº 200 27,47 19,70 27,80 19,38 Módulo de
355,10 88,19 214,58
Resiliência (Mpa)
Material Cascalho Cascalho Cascalho Cascalho Conforme DNIT (2006), os materiais para
siltoso arenoso quartzo argiloso
(Sondagem) sub-base devem apresentar ISC ≥ 20%, e
rosa
expansão ≤ 1%. Nas amostras da Tabela 9,
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verifica-se que todos os materiais atenderam ao classificadas na sondagem como argilas,


parâmetro expansão. Já em relação ao ISC a enquanto as amostras 5 e 6 foram definidas,
amostra 5 não se enquadra nos requisitos de sub- respectivamente, como solo de escória e argila
base. silto-arenosa.
A Tabela 111 apresenta os resultados dos
5.3 Subleito ensaios de limites e a classificação HRB.

As curvas granulométricas da camada de Tabela 11 – Resumo Limites, Subleito, amostras 2, 3, 5 e


subleito das amostras 2, 3, 5 e 6 são apresentadas 6.
Amostras 2 3 5 6
na Figura 5
LL
41,00 44,30 36,12 46,50
(% )
Limites IP
12,18 20,09 11,17 22,10
Físicos (% )
LP
28,82 24,21 24,95 24,40
(% )
I.G. 9 13 0 8
H.R.B. A-7-5 A-7-5 A-1-b A-7-5

As amostras 3 e 6 apresentam valores de LL e


IP muito elevados, sendo consideradas altamente
plásticas (IP>15%). Como consequência dos
parâmetros obtidos, a classificação HRB dessa
amostra é de um solo argiloso (A-7-5) pouco
recomendável para utilização no pavimento.
Já as amostras 2 e 5 apresentaram valores de
LL e IP elevados, sendo consideradas
Figura 5 – Curvas Granulométricas, Subleito, amostras 2, medianamente plásticas (7%<IP<15%). Dessa
3, 5 e 6. forma, a amostra 2 apresentou classificação
HRB de um solo argiloso (A-7-5) pouco
É possível observar que as curvas 2 e 3 recomendável para utilização no pavimento,
apresentam uma grande parcela de finos, porém, enquanto a amostra 5 foi considerada um solo de
a amostra 5 apresenta uma grande fração de boa aplicação no pavimento (A-1-b).
pedregulhos e areia grossa. Já a amostra 6 O ISC das amostras de sub-base são
apresenta uma curva bem gadruada. apontados na Tabela 122.
O resumo da granulometria de todas as
amostras de sub-base estão presentes na 10. Tabela 12 – Resumo ISC, Subleito, amostras 2, 3, 5 e 6.

Tabela 10 – Resumo Granulometria, Subleito, amostras 2, Amostras 2 3 5 6


3, 5 e 6. Umidade
20,92 16,80 9,21 18,80
Amostras 2 3 5 6 ótima (% )
Dens. seca
% passante

nº 10 98,42 92,17 37,93 97,19 1,57 1,60 1,93 1,67


Granul.

I.S.C.

máx (g/cm³)
nº 40 96,75 91,45 25,94 83,28
I.S.C. (% ) 13,90 6,18 19,37 8,90
nº 200 83,90 90,80 17,01 52,15
Argila Expansão
Argila 0,00 0,00 0,00 0,00
Material Argila Solo Silto- (% )
siltosa
(Sondagem) Vermelha Escória arenosa
amarela
Vermelha Conforme DNIT (2006), os materiais para
subleito devem apresentar ISC ≥ 2%, e expansão
Verifica-se que a amostra 2 e 3 foram ≤ 2%. Nas amostras da Tabela 122, verifica-se
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que todos os materiais atenderam aos parâmetros A partir da compração entre a faixa de valores
de expansão e ISC. obtidas nos ensaios e a faixa de valores proposta
por Ferreira (2008), verifica-se que a maioria dos
5.4 Ensaios Triaxiais de Carga Repetida valores encontrados nas amostras estão com
valores de MR acima dessa faixa de valores
A partir da classificação proposta por Medina e típicos. Uma das possibilidades atribuídas a esse
Preussler (1980), considerando o modelo mais fato, deve-se ao tempo em que as camadas
adequado, dentre os três avaliados, o que encontram-se dispostas no pavimento, fazendo
apresentou o maior valor de R², tem-se, portanto, com que, mediante à solicitação do tráfego e as
que os materiais das camadas de base das condições do ambiente, a estrutura se enrijeça.
amostras 3, 4 e 5 e de sub-base das amostras 5 e Os valores de MR, muito abaixo da faixa de
6 seguiriam modelos de comportamento tensão- valores típicos, encontrados na base das
deformação nos quais o MR dependeria apenas amostras 1 e 6, sub-base da 5 e sub-leito da 6,
da tensão confinante (σ3). podem indicar que as camadas em análise não
Para as camadas de base das amostras 1, 2 e estão suportando as tensões conforme deveriam,
6, sub-base da amostra 4 e subleito das amostras um melhor estudo pode ser feito a partir de uma
3 e 5, mostraram-se uma melhor aproximação análise estrutural com medidas deflectométricas
com o modelo dependente apenas da tensão dessas estruturas in situ, o que contribuirá para
desvio (σd). Já para a camada de sub-base da uma melhor compreensão e se necessário
amostra 1 e subleito da amostra 6, apresentou um intervenção nessas estruturas.
maior valor de R² para o modelo no qual o MR No geral, as amostras 5 e 6 apresentaram
depende de θ, ou seja, de σd e σ3 consideráveis diferenças de MR entre suas
simultaneamente. camadas. Como as camadas do pavimento
A Tabela 13, apresenta a faixa de valores de trabalham em conjunto, é importante que haja
MR observada nos ensaios realizados além de compatibilidade de rigidez dos materiais,
uma compração com faixa de valores típicos evitando-se gradientes elevados de módulos de
para o tipo de material. Ferreira (2008) apresenta resiliência entre camadas.
faixas de valores típicos de MR de acordo com a
classificação H.R.B. do material.

Tabela 13 – Comparação da faixa de valores de MR obtidos nos ensaios.

Ensaios Triaxiais de Carga Repetida


Faixa de Valores
MR de Ensaio (Mpa) Classificação
Amostra Camada do MR (Ferreira,
H.R.B
Menor Maior 2008) - (Mpa)
BASE 88,121 132,857 A-1-b 244,8 - 275,8
1
SUB-BASE 260,583 300,895 A-2-4 193,7 - 258,6
BASE 363,634 980,544 A-7-5 57,3 - 125,4
2
SUBLEITO Não suportou condicionamento A-7-5 57,3 - 125,4
BASE 278,319 282,282 A-1-b 244,8 - 275,8
3
SUBLEITO 319,126 733,243 A-2-4 193,7 - 258,6
BASE 115,178 377,243 A-2-4 193,7 - 258,6
4
SUB-BASE 414,439 604,451 A-2-6 148,2 - 213,7
BASE 379,214 384,891 A-2-4 193,7 - 258,6
5 SUB-BASE 84,446 130,933 A-2-4 193,7 - 258,6
SUBLEITO 158,459 427,196 A-1-b 244,8 - 275,8
BASE 21,304 106,178 A-1-b 244,8 - 275,8
6 SUB-BASE 157,801 360,091 A-2-4 193,7 - 258,6
SUBLEITO 12,054 62,178 A-6 93,1 - 165,5
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6 CONCLUSÃO Janeiro, 1983. 780p.


Carvalho Filho, A. (2008) Solos e ambientes do
Quadrilátero Ferrífero (MG) e aptidão silvicultural
Com base nas informações obtidas com esta dos Tabuleiros Costeiros, Tese (Doutorado) –
pesquisa, foi possível conhecer e compreender Universidade Federal de Lavras, 245 p.
melhor os diferentes segmentos dos pavimentos DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
que compõem os 936,8 Km de extensão da (1994) ME 041 - Solos – Preparação de amostras para
rodovia BR-040 analisados. O conhecimento ensaios de caracterização. Rio de Janeiro.
DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
acerca de uma rodovia é imprescindível para a (1994) ME 080 - Solos – Análise granulométrica por
atuação da concessionária, dos órgãos peneiramento. Rio de Janeiro.
fiscalizadores e de pesquisadores e engenheiros DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
da área. (1994) ME 082 - Solos – determinação do limite de
A partir do estudo dos materiais, tráfego e das plasticidade. Rio de Janeiro.
DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
estruturas de pavimento é possível criar e gerir (1994) ME 122 - Solos – determinação do limite de
um sistema de gestão de dados, contendo liquidez. Rio de Janeiro.
informações do pavimento como condições DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
funcionais e estruturais, características e Transportes (2010) ME 134 - Solos – determinação do
propriedades dos materiais, tráfego, índices de Módulo de Resiliência. Rio de Janeiro.
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
geometria, etc. E, por tal importância, pesquisas Transportes (2010) ME 141 - Pavimentação – Base
e levantamentos com esse cunho devem ser estabilizada granulometricamente. Rio de Janeiro.
sempre efetuados e divulgados, contribuindo DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
para fins de análises, segmentações e base de Transportes (2016) ME 172 – Solos – determinação do
dados para pesquisas. Índice de Suporte Califórnia utilizando amostras não
trabalhadas. Rio de Janeiro.
Com o enfoque no princípio da mecânica dos Ferreira, J. G. H. M. (2008). Tratamento de Dados
pavimentos, é imprescindível realizar uma Geotécnicos Para Predição de Módulos de Resiliência
análise, posterior, das respostas estruturais de Solos e Britas Utilizando Ferramentas de Data
desses trechos, por meio da previsão das tensões Mining. Tese de DSc, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
e deformações provenientes do tráfego e do Machado, M. F. e Silva, S. F. (2010) Geodiversidade do
estado de Minas Gerais, Programa Geologia do Brasil.
clima que atuam na estrutura desses pavimentos, Levantamento da Geodiversidade. Belo Horizonte:
empregando os MR encontrados. CPRM, 131 p.
Medina, J.; Motta, L. M. G. (2015). Mecânica dos
Pavimentos. Editora Interciência, 3 ed., Rio de
AGRADECIMENTOS Janeiro/RJ, 619 p.
Medina, J.; Preusller, E. S. (1980). Características
resilientes de solos em estudos de pavimentos, Solos e
Agradecemos à Agência Nacional de Rochas, vol. 3 , no. 1.
Transportes Terrestres (ANTT) pelo Moraes, J. M. (2014) Geodiversidade do estado de Goiás
financiamento da pesquisa, por meio do projeto e do Distrito Federal, Programa Geologia do Brasil.
RDT (Recurso de Desenvolvimento Levantamento da Geodiversidade. Goiânia: CPRM,
131 p.
Tecnológico). A Concessionária Via 040 e a Neto, G.L.G. (2011) Estudo comparativo entre
ENGGEOTECH pelo apoio na pesquisa. pavimentação flexível e rígida. 80 pág. Trabalho de
Conclusão de curso (Graduação em Engenharia Civil)
- Universidade da amazônia – UNAMA. Belém.
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS (ABNT). Terminologia e Classificação de
Pavimentação – NBR 7207. Rio de Janeiro, 1982.
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretaria
Geral. Projeto RADAMBRASIL. Folhas SF. 23/24 Rio
de Janeiro/Vitória: geologia, geomorfologia,
pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de
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Caracterização de Resistência e Deformabilidade de um Solo da


Formação Barreiras na Condição Compactada
Ray de Araujo Sousa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, sousa.ray10@gmail.com

Osvaldo de Freitas Neto


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, osvaldocivil@ct.ufrn.br

Anderson Dantas de Morais


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, anderson_dantas94@hotmail.com

Amanda Celeste Moreira


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, amandacmo_@hotmail.com

Joyce Karyne de Medeiros


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, joycekarynem@gmail.com

RESUMO: O litoral do Nordeste, especificamente a região do Estado do Rio Grande do Norte


caracteriza-se pela presença de dunas e sedimentos da Formação Barreiras. Considerando a
importância da caracterização deste material, e visando suplementar estudos sobre o mesmo em sua
condição compactada, o objetivo geral deste trabalho foi executar a caracterização geotécnica de
um solo da Formação Barreiras a partir de ensaios com corpos de provas compactados e avaliar os
parâmetros de resistência e de deformabilidade. Foram realizados ensaios de caracterização física,
cisalhamento direto nas condições inundada e não inundada com tensões normais de 50; 100; 200 e
400 kPa, e de compressão edométrica com estágios de tensões de 12,5; 25; 50; 100; 200; 400 e 800
kPa, com inundação na tensão de 100 kPa. Como resultados foram observados que a saturação das
amostras leva a queda expressiva da coesão e uma leve variação do ângulo de atrito.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Compactado, Cisalhamento Direto, Formação Barreiras.

1. INTRODUÇÃO Formação Barreiras que, por sua vez, tem


características de um material de origem
O estudo do comportamento do solo se faz de sedimentar.
extrema importância para o planejamento e Segundo Fookes (1997), essa zona costeira
execução de obras, uma vez que análises apresenta em seu território formações
insuficientes ou inadequadas podem acarretar geológicas decorrentes do comportamento de
em sérios prejuízos. umidade sazonal de seu clima e ação erosiva
O litoral do Nordeste brasileiro, dos elementos, denominados solos residuais
especificamente a região do estado do Rio tropicais ou ainda, lateríticos.
Grande do Norte caracteriza-se pela presença de Tendo em vista o comportamento climático
dunas e falésias próprias da Formação da região, Fookes (1997) ressalta que é válido
Barreiras. Segundo Santos Jr., Coutinho e notar a dessecação profunda do perfil do solo
Severo (2015), a infraestrutura de uma parte que, por sua vez, implica na variação dos
considerável das cidades costeiras potiguares parâmetros de resistência, e deformabilidade,
está assentada sobre unidades geológicas da conforme a época do ano. Realizar um estudo
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do comportamento dos solos lateríticos nas edométrica, que mostraram o comportamento do


condições que o mesmo pode se encontrar material quando submetido à compressão
(saturado ou não-saturado) é de grande confinada, possibilitando uma análise das
relevância, uma vez que se nota uma escassez características de compressibilidade. A figura 2
de informações acerca do assunto. apresenta um fluxograma dos ensaios realizados.
Nesse sentido, o presente trabalho busca
analisar o comportamento de amostras
compactadas, provenientes da Formação
Barreiras, a partir de ensaios de cisalhamento
direto e compressão edométrica.

2. MATERIAS E MÉTODOS

2.1. Descrição do material estudado

O solo utilizado na pesquisa é proveniente da


cidade de Natal/RN. A área estudada se localiza
na zona Oeste da cidade, próxima ao leito do Rio Figura 2. Fluxograma de Ensaios.
Potengi. A Figura 1 apresenta imagem de satélite
com a localização da região dentro da cidade. 2.2.1. Ensaios de Caracterização
Foram coletadas amostras indeformadas em
dois pontos distintos. O material foi Os primeiros ensaios executados foram os de
transportado em sacos apropriados, ficando caracterização do solo, com o objetivo de obter
armazenado no laboratório de Mecânica dos informações sobre os tamanhos dos grãos e dos
Solos da UFRN, onde foram realizados os limites de consistência do material, podendo
ensaios da pesquisa. assim, classificá-lo de acordo com o Sistema
Unificado de Classificação dos Solos (SUCS).
A caracterização do material coletado é
relevante para a pesquisa, pois essas
informações poderão justificar comportamento
mecânico do material, obtido através dos
ensaios de resistência e deformação.
A análise Granulométrica Conjunta
proporcionou a determinação da distribuição
granulométrica das partículas por meio de dois
procedimentos básicos: peneiramento fino e
sedimentação. O peneiramento grosso não foi
Figura 1. Localização da área estudada.
necessário, já que o material não apresentava
2.2. Ensaios realizados pedregulho como fração. O ensaio foi realizado
conforme procedimentos constantes na norma
Inicialmente foram realizados ensaios de NBR 7181 (ABNT, 2018).
caracterização do material, incluindo a O ensaio de limite de liquidez (LL) foi
determinação da distribuição granulométrica e dos executado manualmente com o auxílio do
limites de consistência. A segunda parte do estudo aparelho de Casagrande, seguindo-se os
compreendeu o estudo das características de procedimentos da NBR 6459 (ABNT, 2016). O
resistência do material, com a realização de limite de plasticidade (LP) foi determinado por
ensaios de cisalhamento direto nas condições meio da moldagem de cilindro em placa de
inundada e não inundada. Na terceira parte do vidro fosco, de acordo com a NBR 7180
estudo realizaram-se ensaios de compressão
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(ABNT, 2016). carregamento correspondente a tensão de 100


kPa, a amostra foi inundada. Assim, os
2.2.2. Ensaios de Cisalhamento Direto primeiros estágios de carregamento (12,5 até
100 kPa) a amostra encontrava-se no teor de
Os ensaios de Cisalhamento Direto foram umidade ótimo. Após a aplicação da tensão de
realizados seguindo os parâmetros da norma 100 kPa, a amostra foi mantida inundada. Cada
americana D3080 (ASTM, 1998). Foram estágio de carga e o tempo de inundação foram
moldadas amostras no teor de umidade ótimo e definidos em função da estabilização das
massa específica seca máxima de acordo com as deformações. Em todos os estágios foi mantido
dimensões da caixa de cisalhamento utilizada, um tempo mínimo de 2 horas. Após a aplicação
com 59,81 mm de diâmetro e 31,52 mm de da tensão de 800 kPa, a amostra foi submetida a
altura. Após compactado, cada corpo-de-prova descarregamento com estágios nas tensões de
foi inserido na prensa de cisalhamento direto 400; 100 e 12,5 kPa. No decorrer dos ensaios
onde os relógios comparadores permitiram a foram medidas as deformações verticais
leitura dos deslocamentos horizontais e verticais (variação de altura do corpo de prova) por meio
e um anel dinamométrico permitiu a leitura da de relógio comparador com sensibilidade de
força aplicada ao material. 0,01 mm.
Além da condição de umidade de moldagem
(sem inundação), os ensaios foram realizados na 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
condição inundada visando minimizar os efeitos
da sucção matricial nos resultados. As amostras 3.1. Ensaios de Caracterização
foram submetidas a um carregamento normal
durante um período de pelo menos 2h para Em relação aos ensaios granulométricos
permitir o adensamento prévio ao cisalhamento. realizados, os dois ensaios apresentaram
Para os ensaios inundados, a caixa de resultados bastante semelhantes. A amostra 01
cisalhamento foi inundada com água destilada apresentou uma porcentagem de 65,1% areia,
de modo que as etapas de adensamento e 34,9% de finos, sendo 2,5% de silte e 32,4% de
saturação da amostra ocorressem argila. Já a amostra 02 apresentou uma
simultaneamente. A velocidade do ensaio porcentagem de 62,8% de areia, 37,2% de finos,
utilizada foi de 0,05 mm/min, de modo a sendo 7,1% de silte e 30,1% de argila. A Figura
permitir a dissipação de excesso de poro 3 apresenta as curvas granulométricas das
pressão que pudesse ocorrer durante o amostras 01 e 02.
cisalhamento.
Para ambas as condições de ensaios
utilizaram-se 04 níveis de carregamento. As
tensões normais adotadas foram de 50, 100, 200
e 400 kPa.

2.2.3 Ensaios de Compressão Edométrica

Os ensaios de compressão confinada foram


realizados em corpos de prova compactados em
anéis com diâmetro nominal de 50 mm e altura
Figura 3. Curvas granulométricas das amostras 01 e 02.
de 20 mm. A compactação foi realizada no teor
de umidade ótimo e massa específica seca A Tabela 1 mostra os resultados encontrados
máxima. Após a moldagem os corpos de prova para os limites de liquidez (LL) e limite de
foram submetidos a tensões verticais de 12,5; plasticidade (LP) das amostras 01 e 02.
25; 50; 100; 200; 400 e 800 kPa. No estágio de Obtiveram-se para os ensaios valores médios de
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LL e LP, respectivamente, 32% e 18%.


Consequentemente, o valor médio do Índice de
plasticidade é de 14%. Observando a tabela 1,
percebe-se que a amostra 01 apresenta uma
maior plasticidade, quando comparada a
amostra 02.
Tabela 1. Limites de Atterberg obtidos.
Ensaio LL (%) LP (%) IP (%)
1 37 17 20
2 27 19 8

Já que o solo é constituído em sua maior


parte por material granular, e os pontos obtidos
na carta de plasticidade se apresentam acima da Figura 5. Curva tensão cisalhante versus deslocamento
reta inclinada para ambas as amostras, elas horizontal das amostras 01 e 02, na condição não-
serão classificadas, portanto, como areias inundada, para os quatro níveis de tensão normal.
argilosas (SC). Entretanto, quando ensaiadas na condição
não-inundada, a amostra 01 é aquela que
3.2. Ensaios de Cisalhamento Direto apresenta maiores valores de tensão cisalhante
para todos os níveis de tensão normal. Para
A seguir são apresentados gráficos de tensão melhor entender essa variação de resistência nas
cisalhante versus deslocamento horizontal, amostras ensaiadas, foram plotadas envoltórias
comparando as duas amostras estudadas na de ruptura para cada amostra na condição
condição inundada (Figura 4) e na condição inundada e não-inundada (Figuras 6, 7, 8 e 9).
não-inundada (Figura 5).

Figura 6. Envoltória de resistência para a amostra 01 na


condição inundada.

Figura 4. Curva tensão cisalhante versus deslocamento


horizontal das amostras 01 e 02, na condição inundada,
para os quatro níveis de tensão normal.

A partir da Figura 4, é possível observar que


a amostra 02 apresentou valores maiores de
tensão cisalhante para todos os níveis de tensão Figura 7. Envoltória de resistência para a amostra 01 na
normal, quando ambas foram ensaiadas na condição não-inundada.
condição inundada.
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Já na condição inundada, notou-se que a


amostra 01 teve uma redução significativa dos
parâmetros de resistência e a amostra 02 teve
uma redução do intercepto de coesão de
aproximadamente 50% e manteve praticamente
constante o ângulo de atrito, fazendo com que a
amostra 02 se mostre mais resistente para esta
condição.
Figura 8. Envoltória de resistência para a amostra 02 na
condição inundada. 3.2. Ensaios de Compressão Edométrica

Os resultados da compressão edométrica estão


apresentados na Figura 10. Analisando a figura
10, observa-se que durante o carregamento
houve uma pequena variação dos índices de
vazios. A amostra 01 variou de 0,33 à 0,25 e a
amostra 02 variou de 0,36 à 0,32 quando as
tensões variaram de 12,5 a 800 kPa.. Essa
pequena variação deve-se a predominância
Figura 9. Envoltória de resistência para a amostra 02 na quantitativa da fração areia no solo e a energia
condição não-inundada. de compactação imposta ao corpo de prova
A partir das envoltórias de resistência nas antes do ensaio edométrico.
figuras acima, plotadas conforme dados obtidos Percebe-se que a inundação na tensão normal
nos ensaios de cisalhamento direto, é possível de 100 kPa não provocou nenhuma variação
obter parâmetros de resistência, tais como expressiva nos índices de vazios de ambas as
ângulo de atrito e intercepto de coesão. amostras. Entende-se então que na situação de
A amostra 01 apresentou um valor de ângulo compactação imposta e no nível de
de atrito de 34º, quando inundada, e 49º, carregamento em que foi feito a inundação, o
quando não-inundada. Quanto ao intercepto de solo não apresenta comportamento colapsivo.
coesão, percebeu-se que, ao inundar esta
amostra, houve uma queda de cerca de 10
vezes, de forma que foram obtidos os seguintes
valores: 104 kPa, na condição não-inundada, e
11 kPa, na condição inundada.
A amostra 02 apresentou o mesmo valor de
ângulo de atrito para ambas as condições, de
41°. E, como esperado, a mesma amostra
apresentou intercepto de coesão maior na
condição não-inundada se comparado a
condição inundada, obtendo-se valores de 21
kPa e 12 kPa, respectivamente.
Tendo em vista a determinação dos
parâmetros de resistência e retornando a análise Figura 10. Curvas índice de vazios versus tensão normal
das Figuras 4 e 5, a amostra 01 apresenta altos para amostra 01 e 02.
valores de ângulo de atrito (49º) e intercepto de
coesão (104 kPa) na condição não inundada, A amostra 01 apresentou coeficiente de
fazendo com que esta amostra se mostre mais compressão (Cc) e recompressão (Cr) de 0,052 e
resistente que a amostra 02 para esta condição. 0,014, respectivamente. A amostra 02
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apresentou coeficiente de compressão e vazios. Não se caracterizando, portanto, como


recompressão de 0,031 e 0,011, um solo colapsível.
respectivamente.
REFERÊNCIAS
4. CONCLUSÕES
ABNT (2018) NBR-7181. Solo - Análise
4.1. Quanto à Caracterização do Material Granulométrica. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, Brasil, 12p.
O solo em estudo apresentou granulometria
semelhante ao de outras regiões do litoral ABNT (1990) NBR-12007. Solo – Ensaio de
adensamento unidimensional. Método de Ensaio.
nordestino, com uma parcela de areia Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
predominante (acima de 50%) e com teor de Janeiro, Brasil, 13p.
argila acima de 10%. De acordo com os
resultados, segundo o SUCS, o material foi ABNT (2016). NBR-6459: Solo – Determinação do
classificado como uma areia argilosa (SC). Limite de Liquidez. Método de ensaio. Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, Brasil,
4.2. Quanto aos Parâmetros de Resistência 05p.

Os parâmetros de resistência para a condição ABNT (2016) NBR-7180. Solo – Determinação do limite
não inundada caracterizaram a amostra 01 como de plasticidade. Método de ensaio. Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, Brasil,
mais resistente, porém, na condição inundada, 03p.
esta amostra obteve uma redução significativa
dos parâmetros. American Society For Testing And Materials. D3080:
A amostra 02 teve uma redução do standard test method for direct shear test of soils
intercepto de coesão de aproximadamente 50% under consolidated drained conditions. Pensilvânia,
Estados Unidos: ASTM, 1998
e manteve praticamente constante o ângulo de
atrito, fazendo com que a amostra 02 se mostre Fookes, P. G.: Tropical Residual Soils. The Quarterly
mais resistente para esta condição, mas com Journal of Engineering Geology, Volume 23, p. 1–
comportamente semelhante ao observado na 101. 1997.
primeira amostra.
Santos Jr, O. F.; Coutinho, R. Q.; Severo, R. N.:
Essa variação expressiva dos parâmetros Propriedades geotécnicas dos sedimentos da
de resistência da amostra 01 pode ser relegada a Formação Barreiras no litoral do Rio Grande do Norte
influência da sucção desenvolvida no solo, uma – Brasil. Revista Geotecnia n° 134, p. 87-108, julho,
vez que foi observada sua dissipação com a 2015.
inundação da amostra. Essa mesma parcela de
Sousa, R. A. (2018). Resistência e compressibilidade de
sucção pode ser a razão para o valor exagerado solos da Formação Barreiras da região de Natal/RN.
observado no ângulo de atrito na amostra Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
indeformada, uma vez que se observa uma Graduação em Geotecnia, Departamento em
conformidade entre os valores de resistência Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
obtidos em ensaio pela envoltória (R² mínimo Grande do Norte, 112 p.
observado de 0,94), com grande resistência total
devido à parcela de coesão aparente, e com os
valores compatíveis com os observados por
Sousa (2018).

4.3. Quanto aos Parâmetros de


Compressibilidade

Para ambas as amostras, em nenhuma etapa,


houve variação significativa no índice de
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Caracterização do solo de vias da cidade de Angicos/RN


Antunes França Eduardo
UFERSA, Angicos, Brasil, antunesfilho1@hotmail.com

Juliana Estefanie da Silva Santos


UFERSA, Angicos, Brasil, juliana_estephany@hotmail.com

Jacimara Villar Forbeloni


UFERSA, Angicos, Brasil, jacimara@ufersa.edu.br

RESUMO: O trabalho consiste em apresentar a caracterização dos solos das vias Luís Torres e
Francisco Cunha Lobato localizadas na cidade de Angicos/RN com o objetivo de identificar as
causas dos danos que estão presentes nos pavimentos e poder sugerir melhorias. Para atingir esse
objetivo foram coletadas uma amostra de solo de cada via e em seguida foram realizados ensaios de
granulometria por peneiramento, limite de plasticidade (LP), limite de Liquidez (LL), ensaio de
compactação e o ensaio mais importante que é o de índice de suporte Califórnia (CBR). Os
resultados indicaram que as características do solo são os responsáveis pelas patologias nos
pavimentos e devido a isso é necessário realizar melhorias nesse solo para conseguir fazer a
correção no pavimento garantindo a segurança de quem trafega na via.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaios, caracterização do solo, patologia de pavimentos.

1 INTRODUÇÃO população que trafega diariamente sobre o local.


Os reparos nesses pavimentos são feitos
O solo faz parte de todas as obras civis, pois as constantemente, porém, com pouco tempo
edificações, estradas, túneis, pontes e entre depois desses reparos é possível observar as
outras são feitas em contato com o solo e como mesmas patologias. Devido a isso, foi vista a
esse solo recebe boa parte das cargas das necessidade de se estudar o solo da região.
edificações e por isso eles tem que ter O trabalho tem o objetivo de caracterizar o
resistência para suportar essas cargas. Para isso, solo das vias do bairro Alto do triângulo da
tem que ser feita investigações geológicas e cidade de Angicos/RN com o intuito de
geotécnicas do solo para conhecer as suas identificar as possíveis causas dos danos
características e com isso poder verificar se o encontrados nessas vias e sugerir melhorias.
solo tem ou não a capacidade de suportar as
cargas que nele vão atuar e com isso poder 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
viabilizar projetos econômicos e seguros para os
seus usuários. 2.1 Granulometria dos Solos
Algumas vias urbanas do bairro alto do
triângulo localizadas em Angicos/RN que são A ABNT NBR 7181/1984 descreve que análise
de pavimento de paralelepípedo apresentam granulométrica dos solos é um procedimento
alguns danos nesse pavimento, entre eles estão: realizado por peneiramento ou por combinação
o desprendimento de alguns paralelepípedos de sedimentação e peneiramento. Esse
que ficam soltos na via e em alguns pontos procedimento serve para caracterizar o solo
ocorre o afundamento do pavimento e as vias levando em consideração o diâmetro das
ficam desregulares e isso gera insegurança a partículas.
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De acordo com a ABNT NBR 7181/1984, o método para determinar a relação entre o teor de
resultado final do ensaio de granulometria deve umidade e a massa específica aparente seca de
ser apresentado graficamente, de maneira que a solos quando compactados.
abcissa do gráfico representa os diâmetros das
partículas, em escala logarítimica, e a ordenada 2.4 Índice de Suporte Califórnia
representa as porcentagens das partículas
menores do que os diâmetros considerados, em A ABNT NBR 9895/1987 prescreve o método
escala aritmética. para determinar o valor do índice de suporte
A partir desses resultados pode-se classificar Califórnia e da expansão de solos em
o solo. A ABNT NBR 6502/1995 classifica os laboratório, utilizando amostras deformadas,
solos da seguinte maneira: não reusadas, de material que passa na peneira
 Argilas: Frações menores do que de 19 mm, com o mínimo de 5 corpos-de-prova.
0,002mm; De acordo com Bernucci et. Al. (2006), o
 Siltes: Maior do que 0,002 e menor do valor do ISC é expresso em porcentagem, sendo
que 0,06 mm; definido como a relação entre a pressão
necessária para produzir uma penetração de um
 Areia fina: Maior do que 0,06 e menor
pistão num corpo-de-prova de solo ou material
do que 0,2 mm;
granular e a pressão necessária para produzir a
 Areia média: Maior do que 0,2 e menor mesma penetração no material padrão
do que 0,6 mm; referencial.
 Areia grossa: Maior do que 0,6 e menor Segundo Bernucci et. Al. (2006) os solos que
do que 2 mm; apresentam valores significativos de expansão
 Pedregulho: Maior do que 2 mm. sofrem deformações consideráveis ao serem
solicitados. Costuma-se estipular que o valor
máximo aceitável de expansão do subleito seja
2.2 Limites de Consistência de 2%, medida axialmente, no ensaio ISC; Para
materiais de reforço do subleito, estipula-se em
Os solos não devem ser caracterizados somente geral 1% como o valor máximo admissível de
pela sua granulometria, pois as frações finas expansão axial e 0,5% para bases e sub-bases.
interferem no comportamento dos solos. Sendo
assim, é necessário o conhecimento do limite de 3 MATERIAIS E MÉTODOS
plasticidade no qual o ensaio é normatizado
pela ABNT NBR 7180/1984 e o limite de Para a realização dos ensaios foram coletadas
liquidez dos solos normatizado pela norma duas amostras de solo. A amostra de solo 1 foi
ABNT NBR 6459/1984. Além disso, calcula-se coletada da rua Luís Torres do bairro alto da
o índice de plasticidade do solo que é resultante alegria da cidade de Angicos/RN e a amostra de
da subtração do limite de liquidez do limite de solo 2 foi coletada da via da rua Francisco
plasticidade. O índice de plasticidade permite a Cinha Lobato. A localização das amostras são
classificação do solo em: mostradas na Figura 1.
 Fracamente plástico: 1 < IP < 7
 Medianamente plástico: 7 < IP < 15
 Altamente plástico: IP > 15

2.3 Compactação
A ABNT NBR 7182/1984 mostra o ensaio de
compactação de maneira que prescreve o
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Figura 1. Localização das amostras de solo (Google


MAPS, 2018).

As amostras foram coletadas com o auxílio


de pá, picareta e enxada, em seguida foram
embaladas em sacos plásticos e manuseadas de
forma que não houvesse contaminação por Figura 3. Amostras de solo.
outros materiais e não tivesse interferência de
umidade. A coleta do solo foi feita a uma Antes de realizar os ensaios, as amostras
profundidade de 20 cm depois de retirado os passaram pelo processo de destorroamento que
paralelepípedos. As amostras de solo podem ser de acordo com a ABNT NBR 6457/1984 esse
observadas pela Figura 2 e Figura 3 mostradas a processo serve para desagregar as partículas
seguir. uma das outras.
Os ensaios foram realizados no laboratório
de mecânica dos solos da UFERSA – Mossoró e
do IFRN – Campus Mossoró.
Depois do destorroamento, foi realizado o
ensaio de granulometria do solo com o auxílio
de um conjunto de peneiras como consta a
norma da ABNT NBR 7181/1984.
Logo após foi realizado o ensaio de limite de
plasticidade de acordo com a ABT NBR
7180/1984 de maneira que o ensaio foi
realizado com a amostra de solo que passou
pela peneira n°40, e em seguida esse solo foi
colocado em uma cápsula de porcelana e foi
adicionado água até obter uma pasta
Figura 2. Identificação das amostras de solo. homogênea. Em seguida, foi retirada 10 gramas
dessa amostra para ficar moldando com a
pressão da palma da mão em uma placa de
vidro até moldar um cilindro com 3mm de
diâmetro e 100 mm de comprimento, depois
disso a amostra foi levada para estufa para
determinação do teor de umidade.
O ensaio do limite de liquidez seguiu o
recomendado pela ABNT NBR 6459/1984,
onde o ensaio foi realizado com o aparelho de
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Casagrande. As amostras de solo que foram pedregulhosa. Pode-se observar também que
ensaiadas também foram as frações que pela configuração do gráfico mostrado na
passaram pela peneira de n°40. Em seguida essa Figura 4, a amostra é bem graduada.
amostra foi colocada em uma cápsula de
porcelana e foi adicionando pequenas
quantidades de água até se obter uma pasta
homogênea. Depois disso, a mistura foi
colocada no aparelho de Casagrande,
modelando-a de forma que na parte central a
espessura seja de ordem de 10 mm, sem que
fiquem bolhas no interior da mistura. Com o
cinzel é feito uma divisão da massa de maneira
que fique uma ranhura na parte central. Feito
isso, começou a dar os golpes girando a Figura 4. Curva Granulométrica da amostra 1.
manivela a uma razão de duas voltas por
segundo. Quando a ranhura fechou ao longo de Para a amostra de solo 2 foi construída a
13 mm, anotou o número de golpes. Em curva granulométrica mostrada na Figura 5. Os
seguida, pequenas quantidades da amostra valores são bem próximos ao da amostra 1.
foram levadas para a estufa para obtenção do Sendo assim, o solo também é classificado
teor de umidade. como areia pedregulhosa bem graduada.
Além dos ensaios já mencionados foram
realizados ensaios de compactação conforme as
premissas da ABNT NBR 7182/1986. Esse
ensaio foi executado com energia proctor
intermediária, utilizando o cilindro e soquete do
tipo grande, aplicando 26 golpes por camada, no
total de cinco camadas.
O último ensaio realizado foi o de índice de
suporte Califórnia (CBR) que segue a ABNT
NBR 9895/1987. A amostra de solo ensaiada foi
compactada os pares de valores de umidade
Figura 5. Curva Granulométrica da amostra 2.
ótima e massa específica aparente seca máxima
determinados no ensaio de compactação.
Nos ensaios de limite de consistência para as
2 amostras de solo foram obtidos os dados
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
mostrados na Tabela 1.
No ensaio de granulometria da amostra de solo Tabela 1. Limites de consistência das amostras.
1 obteve-se a curva granulométrica que é Amostra LP (%) LL (%) IP (%)
mostrada na Figura 4. Através da curva
granulométrica pode-se observar que a fração de 1 20,5 26,3 5,8
solo mais presente na amostra é a areia já que 2 20,3 26,3 6
cerca de 55 % da amostra tem diâmetro de 0,05
mm a 2 mm que está dentre o limite da fração Através dos limites de plasticidade e de
de areia. A segunda fração mais frequente é a de liquidez do solo é possível calcular o índice de
pedregulho que corresponde a cerca de 40% do plasticidade que da amostra 1 deu 5,8 %. Dessa
diâmetro da amostra coletada. Dessa maneira, maneira, pode-se classificar o solo como
pode-se classificar o solo como areia fracamente plástico. Para a amostra 2 o índice
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de plasticidade foi 6 %, sendo assim o solo solo desse bairro foi aumentando e nessas ruas
também é considerado como fracamente foram se instalando grandes supermercados, e
plástico. com isso aumentou o fluxo de veículos por
No ensaio de compactação só foi realizado essas vias, inclusive de veículos pesados como
para a amostra de solo 1 já que os valores dos caminhões que trazem mercadorias para esses
outros ensaios estavam dando muito próximos. supermercados.
Esse ensaio foi realizado com energia proctor Tendo em vista que não foi considerado esse
intermediária obteve-se o resultado da curva de grande fluxo de veículos nessas vias e também
compactação mostrado na Figura 6. Através que o material de base utilizado não era
dessa curva de compactação foi possível adequado devido apresentar uma expansão no
concluir que a umidade ótima da amostra é 10% ensaio de CBR maior que 0,5% começaram a
e a massa específica seca correspondente a essa surgir manifestações patológicas nesses
umidade é de 2,24 g/cm³. pavimentos.
Uma das manifestações patológicas
apresentadas nessas vias foi o afundamento do
solo principalmente nos locais que tem contato
com os pneus dos caminhões, pois esse
afundamento se apresenta em forma de listas
mais baixas do que o resto do pavimento. Essa
manifestação pode ser observada na Figura 7 e
na Figura 8. A ocorrência dessa manifestação
patológica é ocasionada devido a expansão de
CBR do solo ser muito alta.
Figura 6. Curva de Compactação do solo.

A umidade ótima de 10% identificada na


curva de compactação foi utilizada para o
ensaio de Índice de Suporte Califórnia para a
amostra de solo 1 e a amostra de solo 2. Nesse
ensaio, para a amostra de solo 1 obteve-se um
valor de 10,19 % de CBR e 0,9 % de expansão.
Para a amostra de solo 2 obteve-se 19,5 % de
CBR e 0,6% de expansão. Dessa maneira, o
ensaio de ISC mostra que o solo estudado tanto
da amostra 1 quanto na 2 não é adequado para
uso de base e sub-base de pavimentos, pois
possuem uma expansão acima de 0,5 %.
O método construtivo do pavimento foi
utilizar esse solo como base do pavimento e
Figura 7. Afundamento do pavimento na Via da Rua Luis
acima dessa base foi colocado um colchão de Torres.
areia de 8 cm de espessura e em seguida
colocado os paralelepípedos. A justificativa
para esse método construtivo foi que o tráfego
dessas vias seria baixo, pois são vias urbanas de
um bairro que não possuia um alto fluxo de
veículos.
Depois de alguns anos, o uso e ocupação do
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Figura 8. Afundamento na Via da Rua Francisco Cunha


Lobato.

Outra manifestação presente nessas vias


foram o desplacamento dos paralelepípedos.
Essa manifestação é ocasionada pelo
afundamento do solo que ocasiona o Figura 10. Desplacamento do revestimento na Via da Rua
espalhamento do solo lateral a parte que está Luis Torres.
ocorrendo o afundamento e esse solo que se
espalha vai forçando os paralelepípedos até eles
entrarem em colisão e com isso ocorrer o 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
desplacamento. Essa manifestação patológica
pode ser observada nas Figuras 9 e 10 As amostras de solo ensaiadas das duas vias em
mostradas a seguir. estudo deram resultados bem próximos nos
ensaios realizados, sendo assim, é possível
identificar que não existe uma grande
heterogeinedade do solo na região.
As patologias presentes nas vias em estudo
são devido as características do solo, pois o
mesmo apresenta índices de expansão mais alto
do que o permitido para materiais de base e sub-
base de pavimentos. Sendo assim, pode-se
concluir que existiu o negligenciamento no
estudo do solo dessas vias, pois já que são vias
urbanas não tiveram a percepção da importância
desse estudo.
Mesmo sendo vias urbanas de uma cidade
pequena o tráfego na via é intenso, pois existem
supermercados localizados nessas ruas e devido
a isso passam muitos caminhões de descarga e
veículos dos clientes desses supermercados.
Figura 9. Desplacamento do revestimento na Via da Rua Devido a isso é vista a necessidade de fazer
Francisco Cunha Lobato.
reparos estruturais nessas vias, fazendo um
tratamento desse solo com cimento ou com cal e
fazer testes de CBR para verificar se os
parâmetros passaram a serem atendidos.
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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS – ABNT, NBR – 7181/1984: Solo-
Análise granulométrica, Rio de Janeiro, 13 p.
____. NBR 6502/1995: Rochas e solos. Rio de Janeiro,
18 p.
____. NBR 7180/1984: Solo - determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro, 3 p.
____. NBR 6459/1984: Solo - determinação do limite de
Liquidez. Rio de Janeiro, 6 p.
____. NBR 7182/1986: Solo – ensaio de compactação.
Rio de Janeiro, 10 p.
____. NBR 9895/1987: Solo – índice de suporte
califórnia. Rio de Janeiro, 14 p.
____. NBR 6457/1986: Amostras de solo – preparação
para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Rio de Janeiro, 9 p.
Bernucci, Liedi Bariani et al. (2006) Pavimentação
asfáltica: formação básica para engenheiros, Rio de
Janeiro : PETROBRAS: ABEDA, 504 p.
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Caracterização e Classificação de Solos da Área de Implantação


do Campus da UFSC Joinville/SC
Helena Paula Nierwinski
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joinville, Brasil, helnier@gmail.com

Sophia Scharf Dirksen


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joinville, Brasil, sophiascharf@hotmail.com

Simone Malutta
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joinville, Brasil, simone.malutta@ufsc.br

RESUMO: As instalações da Universidade Federal de Santa Catarina, campus de Joinville, serão


implantadas futuramente em área localizada na conhecida Curva do Arroz, às margens da BR 101,
KM 52, região sul do município de Joinville-SC. Desta forma, este trabalho teve por objetivo
realizar a caracterização básica de amostras de solo coletadas na área que compõe a bacia
hidrográfica do local. Foram selecionados sete pontos para coleta de material. Nestas amostras
foram realizados ensaios de granulometria com sedimentação, densidade real dos grãos, limites de
liquidez e plasticidade, difractometria de raio-X e permeabilidade em amostras indeformadas. Com
o resultados dos ensaios foi possível realizar a classificação das amostras por meio dos sistema de
calssificação unificado e rodoviário. Os resultados da difractometria de raio-x e dos ensaios de
permeabilidade colaboraram na identificação das propriedades dos solos da área. De um modo
geral, os solos apresentam caráter silto-argiloso com valores medianos a altos de plasticidade.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização geotécnica, classificação de solos, Curva do Arroz

1 INTRODUÇÃO partículas.
Para poder classificar os solos desta
Conhecer as características do solo é maneira, são necesários ensaios como os de
imprescindível para as obras da construção composição granulométrica e limites de
civil, pois é sobre o mesmo que se assentam as Atterberg. Existem vários tipos de
estruturas. A forma como o solo responde as classificações propostas pela literatura,
solicitações impostas define o seu entretanto, no presente trabalho serão utilizadas
comportamento. Nesse sentido, Fernandes as classificações Unificada e AASHTO, por
(2016) afirma que um dos objetivos da serem mais usuais no cotidiano da engenharia
Mecânica dos Solos é avaliar o comportamento (Das, 2007).
dos solos, mas para isso é preciso, inicialmente, As amostras de solo avaliadas nesta pesquisa
caracterizá-lo e classificá-lo de forma adequada. são provenientes da Curva do Arroz, que se
De acordo com Pinto (2006) existem localiza às margens da BR-101, km 52, região
diversas formas de classificar os solos, sul de Joinville, onde será implantado o futuro
podendo-se citar: pela sua origem, pela sua Campus da Universidade Federal de Santa
evolução, pela presença ou não de matéria Catarina (UFSC). A área total do terreno é de
orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento de aproximadamente 118ha, mas, apenas 73ha
vazios, etc. Embora os métodos de classificação serão utilizados para a implantação da
mais utilizados na engenharia geotécnica são os Universidade, já que, o restante da área possui
fundamentados no tipo e composição das limitações como linhas de alta tensão, contorno
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ferroviário e áreas verdes. O local foi doado resultados (Oliveira, 1998).


pelo Município de Joinville e pelo Estado de Os sistemas convencionais de classificação
Santa Catarina com intuito educacional, já que, se baseiam em ensaios de laboratório como
se caracteriza como utilidade pública e de análise granulométrica, limites de liquidez e
interesse social (Fossari, 2010). plasticidade e densidade real dos grãos. As
Tendo isso em conta, a partir dos resultados classificações mais utilizadas são o SUCS
obtidos da campanha de ensaios desta pesquisa (Sistema Unificado de Classificação de Solos)
será possível classificar e caracterizar formulado por Casagrande e a classificação
geotecnicamente a área, fornecendo as diretrizes HRB (Classificação do Highway Research
preliminares para futuras avaliações de Board), também conhecida como a classificação
comportamento do terreno local. AASHTO (Oliveira, 1998).
Com os resultados de todos estes ensaios é
possível obter parâmetros que identificam a
2 REFERENCIAL TEÓRICO natureza e as propriedades mecânicas do solo,
auxiliando corretamente o projeto e execução
2.1 Caracterização e classificação geotécnica das obras.

Nas obras de engenharia um dos maiores riscos 2.1.1 Classificação Unificada


de insucesso é devido à falta de estudo das
interações solo-estrutura. A caracterização e Classificação criada por Casagrande, em 1942,
classificação dos solos são necessárias para durante a Segunda Guerra Mundial, para
poder entender seu comportamento mecânico e utilização em solos de aeroportos. Nos dias
hidráulico. Nas obras de engenharia é muito atuais é uma das classificações mais usadas
importante entender as formas de ocorrência e podendo ser aplicadas em solos de aterros de
geometria das camadas de solo para poder então estradas, aeródromos e barragens de terra
classificá-los em mapas e seções (Oliveira, (Fernandes, 2016).
1998). De um modo geral, este sistema classifica os
Os solos são classificados através do solos segundo a American Society for Testing
agrupamento em relação às características and Materials (ASTM) em dois grandes grupos:
físicas, químicas, mineralógicas e morfológicas. os de graduação grosseira e os de graduação
O sistema de classificação é imprescindível para fina. Para ser considerado de graduação grossa
que, quando se referir a um solo, se tenha uma deve-se ter mais de 50 por cento de material
designação entendida por todos (Pinto, 2006). retido na peneira n° 200 (0,075 mm) e poderá
De acordo com o dicionário caracterizar é ser pedregulho ou areia. Os símbolos
destacar, distinguir particularidades. De acordo empregados na classificação dos solos são
com Oliveira (1998) a base da caracterização é provenientes da língua inglesa. Os de graduação
a descrição dos aspectos, ou características de grosseira como o pedregulho terão sufixo G
interesse à elucidação do caráter dos solos com (gravel), e a areia sufixo S (sand). Na
vistas àquelas classificações. graduação fina onde 50 por cento ou mais de
A sequência utilizada é: descrição – material passam na peneira n° 200 (0,075 mm)
caracterização – classificação. A descrição nada teremos silte, argila ou solo orgânico e terão
mais é do que á análise tátil-visual onde se sufixos correspondentes a M (silte), C (clay) e
observa características como cor, textura, O (organic) (Das, 2007).
plasticidade e estrutura dos solos. Para o Para os solos finos, é feita a avaliação por
desenvolvimento da prática de análise tátil meio da carta de plasticidade, que correlaciona
visual o procedimento deve ser executado com o limite de liquidez dos materiais com o índice
periodicidade para não se obter incoerência nos de plasticidade.
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2.1.2 Classificação da AASHTO velocidade de percolação está diretamente


ligada ao gradiente hidráulico (i). Em
Sistema proposto pela AASTHO, em 1929, nos laboratório o coeficiente de permeabilidade
Estados Unidos para fins rodoviários. O solo é pode ser definido através dos permeâmetros de
classificado em sete grupos, onde o primeiro carga variável e carga constante (Pinto, 2006).
passo é passar o material na peneira de n° 200 Existem solos mais permeáveis que os
(0,075 mm). Se até 35 por cento em peso do outros, isso ocorre pelo arranjo espacial dos
material passar na peneira é considerado de materiais do solo (estrutura), tamanho,
granulometria grosseira. Consequentemente, se distribuição, vazios, composição mineralógica,
mais de 35 por cento passar na peneira de n° grau de saturação bem como, as características
200 é considerado de granulometria fina. do fluido (Caputo, 1988).
Para classificação da parcela de solos finos, De acordo com Das (2007), a condutividade
esta metodologia também correlaciona valores hidráulica é mais alta em areias, pois o tamanho
de limites de liquidez e índices de plasticidade. dos vazios é maior e ocorre fluxo em todas as
direções. Nas argilas por serem partículas muito
2.2 Difractometria de Raio-X (DRX) pequenas a capacidade de infiltração diminui. A
Tabela 1 mostra os valores típicos de
A técnica de difração de raios-x (DRX) permite coeficientes de permeabilidade para diferentes
a análise das fases mineralógicas dos solos para tipos de solos.
todas as fases presentes na amostra e, identifica
os minerais (< 4 µm). Através de radiações Tabela 1. Valores típicos de coeficientes de
eletromagnéticas os minerais são identificados permeabilidade (adaptado de Pinto, 2006)
Solo k (m/s)
pela análise dos arranjos atômicos na rede Argila < 10-9
cristalina (Santos, 1975). Silte 10-6 a 10-9
Os minerais são identificados através de uma Areias argilosas 10-7
linha difratada que mede a distância interplanar Areias finas 10-5
basal para cada rede de planos cristalinos. Areias médias 10-4
O gráfico que representa a difração é Areias grossas 10-3
formado por vários difratogramas sobrepostos,
em algumas fases da amostra. Ele relaciona a
intensidade das linhas difratadas em relação à 3 METODOLOGIA DE PESQUISA
distância interplanar basal.
A difratometria por raios X é a melhor 3.1 Local de coleta das amostras
maneira de caracterizar os minerais, pois
possibilita a identificação das partículas na As amostras de solo caracterizadas neste estudo
ordem de nanômetros. foram coletadas em diversos pontos dentro da
bacia hidrográfica presente na área de
2.3 Permeabilidade de solos implantação do futuro campus da UFSC
Joinville. Foram coletadas sete amostras, em
O coeficiente de condutividade hidráulica ou seis pontos distintos, denominados de P1, P2,
coeficiente de permeabilidade (k) leva em P3, P4, P5 e P6. No ponto P1 foram coletadas
consideração tanto as propriedades físicas do duas amostras, sendo uma superficial e outra à
fluido como do solo e expressa numericamente cerca de dois metros de profundidade. Todas as
a facilidade de um solo se deixar infiltrar demais amostras foram coletadas
(Caputo, 1988). superficialmente.
O coeficiente de permeabilidade é Os pontos P1e P2 estão localizados
determinado através da Lei de Darcy onde, a exatamente sobre a área de terraplanagem onde
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serão construídos os prédios da universidade. Já


os demais pontos estão localizados em locais 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
adjacentes, de modo a caracterizar toda a bacia.
A Figura 1 ilustra a distribuição dos pontosem 4.1 Curvas Granulométricas
planta. Em destaque está a área de implantação
dos prédios da universidade. As Figuras apresentadas a seguir ilustram as
curvas granulométricas obtidas para as sete
amostras ensaiadas. Observa-se que no ponto 1
(profundidade 1 – superficial e profundidade 2 a
cerca de 2 m de profundidade), as amostras
apresentaram predominância de silte em sua
composição e, com pouca presença de argila.

Figura 1. Posicionamento dos pontos de coleta das


amostras

3.2 Ensaios

Os ensaios de caracterização básica foram


realizados no Laboratório de Mecânica dos Figura 3. Curva Granulométrica para o ponto P1,
Solos da UFSC, campus de Joinville. Já os profundidade 1 (superficial)
ensaios de DRX foram realizados em parceria
com o laboratório de Cerâmica (LACER) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS.
Na Figura 2 é ilustra a execução de alguns
ensaios de granulometria com sedimentação.

Figura 4. Curva Granulométrica para o ponto P1,


profundidade 2 (cerca de 2 m de profundidade)

Figura 2. Realização de ensaios de granulometria com A Figura 5 ilustra a curva granulométrica da


sedimentação amostra 2. Observa-se nesta amostra uma
predominância bem maior de argila. Já as
Figuras 6 e 7 ilustram as curvas granulométricas
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das amostras 3 e 4, bem mais siltosas. concentração de argila.

Figura 8. Curva granulométrica do ponto 5


Figura 5. Curva granulométrica do ponto 2

Figura 9. Curva granulométrica do ponto 6


Figura 6. Curva granulométrica do ponto 3
A Tabela 2 resume os resultados obtidos
através dos ensaios de granulometria, com as
porcentagens de cada material, com base no
diâmetros das partículas presentes na amostra.

Tabela 2. Resumo dos ensaios de granulometria


Amostra/ P1 P1
P2 P3 P4 P5 P6
% (1) (2)
Pedregulho
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
grosso (%)
Pedregulho
0,07 0,0 0,0 3,5 0,0 0,0 0,0
médio (%)
Pedregulho
0,03 0,54 0,06 5,96 0,0 0,0 0,0
fino (%)
Areia
Figura 7. Curva granulométrica do ponto 4 2,27 1,66 2,01 3,44 4,94 3,96 6,21
grossa (%)
Areia
5,44 3,3 8,43 4,6 9,56 9,54 18,29
média (%)
A curva granulométrica da amostra do ponto 5 Areia fina
15,4 11,0 12,0 10,0 15,0 25,0 25,0
é ilustrada através da Figura 8. Percebe-se que (%)
Silte (%) 55,41 68,35 26,1 47,34 58,65 50,61 14,10
também se trata de um material siltoso. Já a Argila (%) 21,39 15,15 51,4 25,16 11,85 10,89 36,40
curva granulométrica da amostra 6,
representada na Figura 9 apresenta maior
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A Tabela 3 resume os resultados dos ensaios de


Limite de Liquidez (LL), Limite de Plasticidade
(LP) e densidade real dos grãos (Gs):

Tabela 3. Resumo de parâmetros dos solos


Amostra LL LP Gs
P1 (1) 44 41 2,75
P1 (2) 42 38 2,82
P2 55 36 2,72
P3 48 39 2,82
P4 49 39 2,71
P5 44 28 2,65
P6 78 31 2,65
Figura 10. Resultado do ensaio DRX na amostra 4
Com os resultados dos ensaios de
caracterização foi possível realizar a
classificação das amostras por meio do sistema
unificado e pelo sistema da AASTHO. O
sistema de classificação unificado identificou as
amostras como siltes de alta plasticidade (MH)
e argilas de alta e baixa plasticidade (CL e CH).
Já a classificação dos solos pelo sistema
rodoviário identificou as amostras como A6 e
A7-6.
Os ensaios de permeabilidade, por meio dos
permeâmetros de carga constante forneceram Figura 11. Resultado do ensaio DRX na amostra 5
valores do coeficiente k entre 10-7 e 10-8 m/s,
valores estes, compatíveis com o tipo de
material caracterizado através dos ensaios de 5 CONCLUSÕES
granulometria e plasticidade.
Para verificar a composição mineralógica das Este estudo teve por objetivo caracterizar
amostras, foram realizados ensaios de amostras de solo coletadas na área da bacia
difractomeria de raio-x. Os resultados hidrográfica localizada junto às futuras
demonstraram exitência do argilomineral instalações da UFSC Joinville.
caulinita, quartzo e silicatos. De um modo geral foi possível definir um
Como exemplo, as Figuras 10 e 11 solo típico da região variando entre siltes e
apresentam os resultados dos ensaios de DRX argilas de mediana plasticidade. Foi possível a
realizados nas amostras 4 e 5, respectivamente. identificação de argilominerais de caulinita,
quartzo e silicatos como componentes da
mineralogia.
Os resultados dos ensaios de permeabilidade
realizados foram compatíveis com o tipo de
material caracterizado.
Este estudo inicial dos solos da região
fornece as diretrizes preliminares para futuras
avaliações de comportamento do terreno local e
elaboração de projetos seguros.
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REFERÊNCIAS

Caputo, Homero Pinto. (1988). Mecânica dos solos e


suas aplicações. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos.
Das, Braja M. (2007) Fundamentos de engenharia
geotécnica. São Paulo: Ligia Cosmo Cantarelli.
Fernandes, M. M. (2016). Mecânica dos Solos: Conceitos
e Princípios Fundamentais. Volume 1. Primeira
Edição. Oficina de Textos, São Paulo.
Fossari, T. D. (Coord). (2010) Levantamento
arqueológico interventivo na área de implantação do
Campus Universitário DA UFSC no município de
Joinville/SC.2010. 22 p. Projeto de
Pesquisa.Laboratório de Arqueologia, Laboratório de
Etnologia Indígena, Museu Universitário, Oswaldo
Rodrigues Cabral, Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis.
Pinto, C. S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos Solos.
Terceira edição, Oficina de Textos, São Paulo.
Oliveira, Antonio Manoel dos Santos; Brito, Sérgio
Nertan Alves de. (1998). Geologia de Engenharia.
Sâo Paulo: Oficina de Textos.
Santos, P. de S. (1975) Tecnologia de Argilas Aplicada
às Argilas Brasileiras. 802p.
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Caracterização Física de um Solo Residual com Aplicabilidade em


Projetos de Pavimentação no Município de Biguaçu – Santa
Catarina
Patricia Odozynski da Silva
IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
patricia.odozynski@gmail.com

Wellington Borba Broering


IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
wellbbroering@gmail.com

Fernanda Simoni Schuch


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fernandass@ifsc.edu.br

Fábio Krueger da Silva


IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fabio.krueger@ifsc.edu.br

RESUMO: A presente pesquisa analisa os resultados dos ensaios de caracterização física e classifica
o solo estudado, de acordo com o sistema de classificação TRB, em um solo residual de granito, da
região rural do município de Biguaçu, Santa Catarina. Os ensaios laboratoriais realizados no processo
de caracterização foram: determinação da massa específica, análise granulométrica, determinação dos
limites de liquidez e plasticidade, ensaio de compactação e determinação do teor de matéria orgânica.
Foi calculado o índice de plasticidade e índice de grupo do solo. De acordo com os resultados
encontrados, o solo se classifica como Grupo A-4 no sistema TRB. Conclui-se que o solo não se torna
eficiente para uso em camadas de pavimentação, porém, se fazem necessários outros ensaios de
resistência para melhor avaliação do comportamento do solo no uso rodoviário. Além disso, é
possível melhorar suas propriedades com o uso de estabilizações.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Física, Solo Residual de Granito, Pavimentação, Ensaios


Laboratoriais em Solos, Classificação TRB.

1 INTRODUÇÃO pavimento apresentam funções específicas e


definidas, sendo conhecidas como: sub-base,
Do ponto de vista da pavimentação, Pereira base e revestimento. Em um contexto geral, as
(2012) aponta que o solo pode ser descrito como camadas mais externas apresentam melhores
um material inconsolidado ou parcialmente propriedades mecânicas pelo fato de
consolidado, podendo ser inorgânico ou não, necessitarem suportar as maiores cargas (DNIT,
retirado sem uso de explosivos ou técnicas 2006).
especiais de extração. Na execução, essas camadas apresentam
O pavimento é uma superestrutura constituída necessidades específicas com relação ao tipo de
por uma combinação de camadas finitas, solo a ser empregado. Considerando uma seção
assentes sobre um terreno ou fundação chamada típica (subleito, sub-base, base e revestimento)
de subleito. Basicamente, as camadas de um cada componente presente exige determinadas
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propriedades do solo como resistência mecânica, conhecimento que no local está sendo executada
CBR (California Bearing Ratio), expansão, a implantação de uma obra de pavimentação de
propriedades físicas, entre outros. grande porte, sendo assim, utilizando o material
As propriedades físicas são identificadas a próprio da região para compor as camadas do
partir de ensaios laboratoriais, dentre estes: pavimento. A Figura 1 mostra o talude no estado
determinação de massa específica, determinação já exposto devido as obras anteriormente
dos limites de consistência do solo, análise mencionadas, o que permitiu uma análise tátil-
granulométrica, compactação e determinação do visual prévia do material.
teor de matéria orgânica. Todos os ensaios são
preconizados e preparados de acordo com as
Normas Técnicas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas.
O solo pode ser um material bastante
heterogêneo, por isso se faz necessário
classificá-lo de modo que seja possível formular
métodos de projetos de pavimentação de acordo
com algumas propriedades físicas (DNIT, 2006).
Sendo assim, o presente estudo busca avaliar as
propriedades físicas de um solo originado do
município de Biguaçu, Santa Catarina, em Figura 1. Representação fotográfica da região onde
função do material disponível em área de corte localiza-se o talude objetivo desta pesquisa, com indicação
para a construção futura de uma rodovia na do ponto da coleta da amostra, ao pé do talude de corte.
região. Além disso, visa classificar o solo de
acordo com o sistema TRB (Transportation Foram coletadas amostras de solo
Research Board), antigo HRB (Highway deformadas, ao pé do talude apresentado, sendo
Research Board), sendo um dos mais utilizados todo o material envolvido em sacos plásticos
para pavimentação. para posterior transporte ao Laboratório de
Materiais e Solos do IFSC – Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Santa
2 MATERIAL E LOCAL DE ESTUDO Catarina, onde ocorreu o acondicionamento do
material. Para o ensaio realizado no Laboratório
A pesquisa foi realizada em solos residuais de de Engenharia Civil da UNISUL – Universidade
granito originados da região rural do município do Sul de Santa Catarina, o material fora
de Biguaçu, em Santa Catarina. As coordenadas transportado posteriormente, no momento do
geográficas do ponto de estudo são 27º 28’ ensaio.
09.89’’ S e 48º 43’ 20.58’’ S, que pode ser
expressado também por -27.4694136 e -
48.7223827. O talude objeto desta pesquisa faz 3 METODOLOGIA
parte do Complexo Canguçu, sendo massas
rochosas com formas diferenciadas, 3.1 Densidade real dos grãos
preferencialmente alongadas na direção NE-SW
ou NNE-SSW. A região de estudo se encontra O ensaio de Densidade Real dos Grãos é regido
em uma área com eminência de solo Podzólico pela norma NBR 6508/1984, que prescreve o
Vermelho-Amarelo Álico, usualmente bem método de determinação da massa específica dos
drenados, com grandes quantidades de argila de grãos de solos que passam na peneira de 4,8mm,
atividade baixa e textura variada, presença ou por meio do picnômetro. A preparação do ensaio
não de cascalhos, calhaus e matacões. foi feita com base na norma NBR 6457/2016,
O talude foi escolhido em função do com secagem do material até a umidade
higroscópica. O ensaio foi realizado no
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Laboratório de Materiais e Solos do IFSC. Onde:


A quantidade de solo utilizada para a 𝛿 = massa específica dos grãos do solo, em
realização de cada ensaio foi cerca de 55g, g/cm³;
totalizando 5 repetições de ensaios. As amostras 𝑀1 = Massa do solo úmido, em g;
ficaram cerca de 24 horas imersas em água 𝑀2 = Massa do picnômetro + solo + água, em
destilada antes da execução do ensaio. Foram g;
utilizados dois picnômetros diferentes para 𝑀3 = Massa do picnômetro + água até a marca
realizar ensaios simultâneos. Os dados obtidos de referência, em g;
do ensaio são apresentados na Tabela 1. Além ℎ = umidade inicial da amostra, em %.
disso, retirou-se uma porção de solo para
determinação do teor de umidade higroscópica. 3.2 Análise granulométrica
A Figura 2 demonstra o picnômetro sob pressão
de vácuo. O ensaio de Granulometria é regido pela norma
NBR 7181/2016, a qual prescreve o método para
Tabela 1. Dados obtidos com o ensaio de Densidade real a análise granulométrica do solo realizada por
dos grãos - Picnômetro.
sedimentação e peneiramento. A preparação do
Picnômetro U (%) SU (g) PSA (g) PA (g)
ensaio foi feita com base na norma NBR
1 1,72 54,07 672,14 638,83
6457/2016. O ensaio foi realizado no
2 1,72 51,77 677,62 646,73
Laboratório de Engenharia Civil da UNISUL.
1 1,72 55,33 672,85 638,83
2 1,72 50,90 677,68 646,73
1 1,72 54,57 672,46 638,83
Legenda: U: Umidade; SU: Peso do Solo Úmido; PSA:
Peso do Picnômetro + Peso do Solo + Peso da Água; PA:
Peso do Picnômetro + Peso da Água.

Figura 3. Ensaio de sedimentação em ambiente controlado.


Figura 2. Picnômetro sob pressão de vácuo.
Por se tratar de um solo visualmente
Com os dados obtidos calcula-se a massa siltoso/argiloso, com dimensões de grãos
específica dos grãos do solo utilizando-se a visivelmente menores que 5,0 mm, utilizou-se
Equação 01: cerca de 1500g de solo para separação do
material grosso e fino na peneira de 2,0mm (#10)
𝑀1 𝑥100/(100+ℎ) e 80g de material seco ao ar passante da peneira
𝛿 = [𝑀 (01) 2,0mm para realização do ensaio de
1 𝑥100/(100+ℎ)]+𝑀3 −𝑀2
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sedimentação. Foi coletado material para seco em estufa e o peneiramento grosso com o
determinação da umidade higroscópica. O solo material seco em estufa retido na peneira de
destinado à sedimentação fora deixado imerso 2,0mm. Os dados obtidos do procedimento de
em defloculante por 24 horas. A Figura 3 retrata sedimentação e peneiramento são apresentados
o ensaio de sedimentação em execução. na Tabela 2 e Tabela 3, respectivamente.
Com os resultados obtidos, foram
Tabela 2. Dados obtidos com o ensaio de Sedimentação. determinados a porcentagem de material em
Tempo (s) Temperatura (ºC) D (g/cm³) suspensão na sedimentação e o diâmetro dos
45 29,9 1,0262 grãos e materiais passantes no peneiramento
60 29,9 1,0253 grosso e fino.
120 29,9 1,0241
240 29,9 1,0230 3.3 Limites de consistência
480 29,9 1,0210
960 29,8 1,0185 Os Limites de Liquidez e Plasticidade são
1800 29,8 1,0170 regidos pelas normas NBR 6459/2016 e NBR
7180/2016, respectivamente. As preparações dos
3600 29,6 1,0151
ensaios foram feitas com base na norma NBR
7200 29,4 1,0133
6457/2016, com secagem do material na estufa.
16380 30,0 1,0112 O ensaio foi realizado no Laboratório de Solos e
35100 26,5 1,0100 Materiais do IFSC.
74220 26,0 1,0096 O equipamento de Casagrande fora
84360 26,0 1,0089 previamente inspecionado e calibrado, onde
Legenda: D: Densidade. utilizou-se o cinzel de repartição para solos
argilosos. O ensaio para determinação do Limite
Tabela 3. Dados obtidos com o ensaio de Peneiramento
de Liquidez teve como amostra cerca de 200g de
Fino e Grosso.
P MR FFR FGR AR FFP FGP material, onde foi adicionado primeiramente
(mm) (g) (%) (%) (%) (%) (%) 25% de umidade, sendo esta determinada por
76,2 0,00 0,00 0,00 100,00 experiência dos autores da pesquisa. O material
50,8 0,00 0,00 0,00 100,00 foi homogeneizado por aproximadamente 15
minutos. Não sendo suficiente tal umidade para
38,1 0,00 0,00 0,00 100,00
determinar o primeiro ponto de 35 golpes, foi
25,4 0,00 0,00 0,00 100,00
descartado o resultado e adicionado mais água.
19,1 0,00 0,00 0,00 100,00
O ensaio resultou em 6 repetições (Tabela 4),
9,5 0,00 0,00 0,00 100,00 variando seus extremos entre 35 e 15 golpes. A
4,8 1,66 0,11 0,11 99,89 prévia do ensaio pode ser observada na Figura 4.
2,0 37,61 2,57 2,68 97,32 Com os dados obtidos é construído o gráfico
1,20 2,05 2,63 0,14 2,63 97,37 94,76 “Número de Golpes x Teores de Umidade”.
0,60 8,18 10,49 0,56 13,11 86,89 84,55
0,42 4,73 6,06 0,32 19,18 80,82 78,65 Tabela 4. Dados obtidos com o ensaio de Limite de
Liquidez.
0,30 5,37 6,88 0,37 26,06 73,94 71,95 Golpes PA (g) PS (g) U(%)
0,15 7,46 7,56 0,51 35,62 64,38 62,65 35 1,50 4,54 33,04
0,075 6,35 8,14 0,43 43,76 56,24 54,73 29 1,43 4,13 34,62
Legenda: P: Peneira; MR: Material Retido; FFR: Fração
Fina Retida; FGR: Fração Grossa Retida; AR: Acumulada 27 1,43 4,15 34,46
Retida; FFP: Fração Fina Passante; FGP: Fração Grossa 25 1,77 4,85 36,49
Passante. 20 1,55 3,99 38,85
15 2,78 7,12 39,04
Posteriormente foi executado o peneiramento Legenda: PA: Peso da Água; PS: Peso Solo Seco; U:
fino com o material utilizado na sedimentação Umidade.
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Figura 5. Ensaio de Limite de Plasticidade.


Figura 4. Execução do Ensaio de Limite de Liquidez.
Com os valores dos Limites de Liquidez e
O ensaio de Limite de Plasticidade também
Plasticidade foi feito cálculo do Índice de
teve 200g de peso de amostra e umidade inicial
Plasticidade através da subtração dos mesmos,
adicionada de 25%. Sendo a umidade
respectivamente, e o Índice de Grupo, a partir da
insuficiente para moldar o Molde Padrão,
Equação 2:
adicionou-se mais água com o devido cuidado,
pois se trata de um ensaio onde o operador possui
𝐼𝐺 = 0,2𝑎 + 0,005𝑎𝑐 + 0,01𝑏𝑑 (02)
muita influência no resultado. O ensaio teve 7
repetições (Tabela 5).
Onde:
Tabela 5. Dados obtidos com o ensaio de Limite de 𝐼𝐺 = índice de grupo, adimensional;
Plasticidade.
Molde PA (g) PS (g) U(%)
𝑎 = % de material que passa na peneira nº 200,
1 0,40 1,41 28,37
subtraído 35;
𝑏 = % de material que passa na peneira nº 200,
2 0,33 1,15 28,70
subtraído 15;
3 0,45 1,59 28,30 𝑐 = valor do Limite de Liquidez, subtraído 40;
4 0,39 1,36 28,68 𝑑 = valor do Índice de Plasticidade, subtraído
5 0,41 1,44 28,47 10.
6 0,42 1,53 27,45
7 0,40 1,32 30,30 3.4 Ensaio de compactação
Legenda: PA: Peso da Água; PS: Peso Solo Seco; U:
Umidade. O Ensaio de Compactação é regido pela norma
NBR 7182/2016 que prescreve o método para
Na Figura 5 é possível observar a finalização determinar a relação entre o teor de umidade e a
do ensaio, onde o solo moldado possui massa específica aparente seca de solos quando
visualmente a mesma espessura do Molde compactados. A preparação do ensaio foi feita
Padrão de ensaio (3 mm) e fragmentos em sua com base na norma NBR 6457/2016, com
parte central. secagem do material até a umidade higroscópica.
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O ensaio foi realizado no Laboratório de em um cadinho de porcelana (Figura 6) e


Materiais e Solos do IFSC. permaneceu por cerca de 12 horas na mufla com
A execução do ensaio ocorreu na energia temperatura aproximada de 440ºC. Após o
normal de compactação, utilizando-se o cilindro desligamento do aparelho e do resfriamento
Proctor pequeno e soquete pequeno, sendo o natural do material, a massa encontrada da
número de camadas igual a 3 com 26 golpes cada amostra foi de 122,39 g.
camada.
Finalizou-se o ensaio com 5 corpos de provas,
com os resultados apresentados na Tabela 6.

Tabela 6. Dados obtidos com o ensaio de Compactação.


U PC + SU PCa + PCa + Uf
PA (g)
(%) (g) SU (g) SS (g) (%)
18,00 642,06 4332,00 34,91 32,21 20,19
20,00 713,40 4372,00 42,31 38,19 21,39
22,00 784,74 4404,00 57,03 49,63 22,63
24,00 856,08 4381,00 56,75 48,76 24,64
26,00 927,42 4360,00 52,25 45,10 26,72
Legenda: U: Umidade; PA: Peso da Água; PC: Peso do Figura 6. Prévia do ensaio de Determinação de Matéria
Cilindro; SU: Solo Úmido; PCa: Peso da Cápsula; SS: Orgânica.
Peso do Solo Seco; Uf: Umidade Final.
Com a Equação 04 é possível encontrar o teor de
Com os dados obtidos é possível calcular a matéria orgânica que fora carbonizada no ensaio:
massa específica aparente seca através da
Equação 03: 𝐵
𝑀𝑂 = (1 − 𝐴 ) 𝑥100 (04)
100
𝛾𝑠 = 𝑃ℎ 𝑥 (03)
𝑉 (100+ℎ)
Onde:
𝑀𝑂 = Teor de matéria orgânica, em %;
Onde: 𝐴 = massa da amostra seca em estufa, em g;
𝛾𝑠 = massa específica aparente seca, em 𝐵 = massa da amostra queimada em mufla,
g/cm³; em g.
𝑃ℎ = peso úmido do solo compactado, em g;
𝑉 = volume útil do molde cilíndrico, em cm³;
ℎ = teor de umidade do solo compactado, em 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
%.
A massa específica real dos grãos foi calculada a
3.5 Teor de matéria orgânica partir da Equação 01, onde os resultados de cada
amostra são apresentados na Tabela 7:
O ensaio de determinação do teor de matéria
orgânica por queima a 440ºC é regido pela NBR Tabela 7. Resultados do ensaio de Densidade Real dos
13600/1996, que prescreve o método para Grãos – Picnômetro.
determinação do teor de matéria orgânica de Amostra Picnômetro δg (g/cm³)
solos através da queima em mufla, à temperatura 1 1 2,679
de 440ºC, sendo que o material é previamente 2 2 2,544
seco em estufa. O ensaio foi realizado no 3 1 2,670
Laboratório de Materiais e Solos do IFSC. 4 2 2,621
Para o ensaio foi utilizado uma amostra seca 5 1 2,680
em estufa com 128,66g. A amostra foi colocada Legenda: δg: Densidade Real dos Grãos.
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É possível observar que os valores no eixo das abcissas, em escala logarítmica, os


encontrados nas amostras 2 e 4 ficaram diâmetros das partículas (das quais são definidas
destoantes dos outros valores, sendo então pelo diâmetro de abertura das peneiras, no caso
descartados. Uma possível justificativa da do peneiramento, e por formulação de acordo
discrepância desses resultados pode ser agregada com a NBR 7181/2016, no caso da
ao picnômetro utilizado (número 2), que pode sedimentação) e no eixo das ordenadas, em
estar apresentando algum tipo de inconsistência. escala aritmética, as porcentagens das partículas
Após descartar os resultados das amostras 2 e menores do que os diâmetros considerados.
4, foi feito a média aritmética entre as outras três
amostras restantes, conforme a Equação 05 a 100%

seguir:
90%

𝛿𝑔1 +𝛿𝑔2 +𝛿𝑔3


𝛿𝑔 = (05) 80%
3
70%

A média alcançada da Densidade Real dos Porcentagem Passante (%) 60%

Grãos foi de 2,676 g/cm³, sendo que as 50%


densidades encontradas da amostra 1, 3 e 5 não
diferem mais do que 0,02 g/cm³, conforme a 40%

especificação da norma. 30%

Tabela 8. Densidade dos grãos e índice de vazios típicos 20%

para solos residuais brasileiros.


10%
Rocha de Densidade dos Índice de
Origem Grãos Vazios 0%
Gnaisse 2,60 – 2,80 0,3 – 1,1 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos ( mm )
Quartzito 2,65 – 2,75 0,5 – 0,9
Xisto 2,70 – 2,90 0,6 – 1,2 Figura 7. Curva granulométrica do solo.
Filito e Ardósia 2,75 – 2,90 0,9 – 1,3
Basalto 2,80 – 3,20 1,2 – 2,1
De acordo com o DNIT (2006) a forma da
Esta Pesquisa
curva pode ser considerada bem graduada, ou
2,676 0,82 seja, existe uma distribuição contínua de
(2018)
Fonte: Adaptado de SANDRONI (1985). diâmetros equivalentes em uma faixa de
tamanho de partículas, fazendo com que as
Sandroni (1985) indica valores típicos de partículas menores ocupem os vazios formados
densidade dos grãos e índice de vazios para solos pelas partículas maiores, resultando num
residuais brasileiros (Tabela 8), com a ressalva entrosamento entre estas.
de que tais valores são meramente informativos
visto que essas características são muito Tabela 9. Frações do Solo.
influenciáveis pelo grau de intemperismo. Sendo Fração Partícula (mm) FRS (%)
assim, podemos indicar de acordo com autor que Argila 0,000 – 0,002 15
o solo tem origem de uma rocha de Quartzito. Silte 0,002 – 0,060 36
Para a pavimentação, a massa específica é Areia Fina 0,060 – 0,200 15
muito utilizada para transformação de unidades Areia Média 0,200 – 0,600 19
gravimétricas em volumétricas e vice-versa, Areia Grossa 0,600 – 2,000 13
além de identificar o material (DNIT, 2006). Pedregulho 2,000 – 60,000 3
A análise granulométrica do solo foi feita a Legenda: FRS: Frações Distribuídas do Solo estudado.
partir dos dados das Tabelas 2 e 3 anteriormente
apresentadas. Construiu-se a Figura 7 que dispõe A norma NBR 6502/1995 define as frações do
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solo de acordo com o tamanho das partículas. A (1988) demonstra a classificação quanto à
Tabela 9 apresenta as frações distribuídas do plasticidade do solo de acordo com o IP, sendo o
solo estudado. solo estudado enquadrado como Fracamente
Nota-se uma fração predominantemente Plástico. O Índice de Grupo fora calculado de
maior de silte com frações basicamente acordo com a Equação 02, chegando-se em um
igualitárias de argila, areias fina, média e grossa, valor de IG igual a 4,00. Ambos os valores são
sendo o solo classificado como areia siltosa. utilizados para a classificação TRB.
A determinação do Limite de Liquidez foi O DNIT (2006) informa que, para materiais
feita a partir da Figura 8 que atende o número de de base de pavimentos, o Limite de Liquidez
golpes no eixo da abscissa, em escala deve ser menor que 25% e o Índice de
logarítmica, e a umidade relativa de cada Plasticidade menor que 6%.
amostra no eixo da ordenada, em escala linear. O ensaio de compactação informa a densidade
máxima do solo e a umidade correspondente.
41 Com o valor das umidades características
40 calculou-se a massa específica aparente seca
Teor de Umidade (%)

39 (Tabela 10). Com isso, foi gerada a curva de


38 y = -7,817ln(x) + 61,02 compactação final, conforme apresentado na
R² = 0,8925
37 Figura 9.
36
35 Tabela 10. Resultados finais do ensaio de Compactação
34 realizado na amostra Natural.
Dados do Cilindro Proctor Resultados do
33
10 Número de Golpes (Escala Logarítimica) 100 Utilizado Ensaio
Figura 8. Reta de Escoamento do ensaio de Limite de D A M. E. A. S.
P (g) V (cm³)
Liquidez. (cm) (cm) (g/cm³)
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,55
Com a equação da reta é possível encontrar o 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,58
valor do Teor de Umidade referente à 25 golpes. 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,59
Com isso, a umidade encontrada foi de 35,86%. 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,56
A norma indica que o Limite de Liquidez será o 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,51
valor de obtido na reta do teor de umidade Legenda: P: Peso; D: Diâmetro; A: Altura; V: Volume; M.
correspondente a 25 golpes, em porcentagem, E. A. S.: Massa Específica Aparente Seca.
aproximado para o número inteiro mais próximo.
Logo, o Limite de Liquidez é de 36%. Curva Ótima de Compactação
Massa específica aparente seca (g/cm³)
Para a determinação do Limite de Plasticidade
1,62
a norma exige que as umidades encontradas nas
Massa específica aparente seca (g/cm³)

1,6
amostras não difiram em 5% o valor da média.
1,58
Foi feito a média aritmética simples dos valores
1,56
de umidade e encontrou-se um valor de 28,61%.
1,54
Logo, o valor do Limite de Plasticidade é de
1,52
28,61% pois não houveram discrepâncias em
1,5
relação aos 5% impostos por norma.
1,48
Com os valores de Limite de Liquidez e
1,46
Plasticidade encontra-se o Índice de Plasticidade
1,44
do solo, utilizando a Equação 06: 19,00% 21,00% 23,00% 25,00% 27,00%
Umidade
𝐼𝑃 = 𝐿𝐿 − 𝐿𝑃 (06) Figura 9. Curva de Compactação Final da amostra de Solo
Natural.

Logo, o Índice de Plasticidade é de 7. Caputo A partir da Curva de Compactação,


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encontrou-se o valor de Umidade Ótima de método de classificação. Senço (2007) avalia o


22,45% para a máxima Massa Específica Grupo A-4 classificando-o como solos finos
Aparente Seca de 1,59 g/cm³. Senço (2007) siltosos de baixa plasticidade, tendo seu
explica que obter tais resultados é questão de comportamento sob o pavimento precário quanto
segurança e estabilidade, visto que para a a inchamento devido às chuvas. O mesmo autor
execução de camadas de um pavimento busca-se ainda apresenta uma equivalência mais provável
a maior quantidade de partículas sólidas por da classificação TRB com a USC (Unified Soil
unidade de volume, resultando, assim, no Classification), referenciando um solo Siltoso de
aumento da resistência desse solo e também da Baixa Compressibilidade (sigla ML).
impermeabilidade.
O ensaio de Teor de Matéria Orgânica
resultou em uma percentagem de 4,87% através 6 CONCLUSÕES
da Equação 04. Ressalta-se que o valor
encontrado pode ter sido influenciado pelos A análise granulométrica permitiu identificar
seguintes fatores: o talude estudado estava um solo bem graduado. Essa faixa
exposto por tempo indeterminado e pode ter granulométrica resulta em melhores condições
ocorrido o acúmulo de matéria orgânica na para compactação e resistência em si e, no caso
superfície deste, mesmo tendo sido descartado a de camadas para pavimentação, é importante
parte superficial no momento da coleta; retirada para a impermeabilização das mesmas.
de solo do horizonte B textual não plíntico, que O Índice de Plasticidade não atendeu às
resulta em um solo mais fertical e, com isso, orientações do DNIT (2006) com relação ao
presença de matéria orgânica em geral. limite máximo de 6%, além de que o Limite de
Para pavimentação é importante que o solo Liquidez excedeu o valor recomendado. Com
seja desprovido de material orgânico em sua isso, é necessário realizar outros ensaios
composição. O Manual de Pavimentação do específicos – como Equivalente de Areia, por
DNIT (2006) limita o teor máximo de matéria exemplo – para avaliar melhor se o solo é
orgânica em 2%, pois este fator interfere nos indicado para uso em pavimentação.
resultados desejados do comportamento dos A determinação da umidade ótima indica a
solos utilizados nas camadas de um pavimento, máxima densidade do solo para compactação
principalmente porque a prática de estabilização ideal ao uso em pavimentação, permitindo a
química é comum. máxima estabilidade das camadas do pavimento
Após todos os resultados anteriormente e atenuando os recalques devido ao tráfego.
citados e discutidos, faz-se a classificação do Junto a umidade ótima, deve-se realizar o ensaio
solo pelo método TRB, de acordo com o DNIT de CBR, que é um dos ensaios mais importantes
(2006). Resume-se os seguintes resultados para pavimentação, do qual permite avaliar
(Tabela 11): melhor o uso do solo para composição das
camadas rodoviárias.
Tabela 11. Resumo dos resultados obtidos para A matéria orgânica presente no solo pode
classificação TRB. afetar o comportamento das camadas do
Elemento Resultado
pavimento, principalmente se este for
Passante peneira Nº 10 97,32%
estabilizado quimicamente.
Passante peneira Nº 40 80,82% De acordo com Senço (2007), em se tratando
Passante peneira Nº 200 56,24% de um solo do Grupo A-4, segundo a
Limite de Liquidez 36% classificação TRB, as camadas do pavimento
Índice de Plasticidade 7,00 precisariam de grandes espessuras para atender
Índice de Grupo 4,00 às solicitações previstas de uma rodovia, e de
maneira geral, não recomendado para uso como
O solo estudado se encontra no Grupo A-4 do camadas de pavimentos. O autor indica que,
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sendo o Grupo A-1 considerado ótimo e Grupo


A-8 considerado imprestável como material para
pavimentação, o solo de estudo pode ser
expressivamente melhorado com a utilização de
estabilizações químicas, pois o seu uso no estado
natural não é o indicado.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016a), NBR 6457: Amostras de solo -
Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016b), NBR 6459: Solo – Determinação
do limite de liquidez, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (1995), NBR 6502: Rochas e solos, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (1984), NBR 6508: Grãos de solos que
passam na peneira de 4,8mm – Determinação da massa
específica, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016c), NBR 7180: Solo – Determinação
do limite de plasticidade, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016d), NBR 7181: Solo – Análise
granulométrica, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016e), NBR 7182: Solo – Ensaio de
compactação, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (1996), NBR 13600: Determinação do
teor de matéria orgânica por queima a 440ºC, Brasil.
CAPUTO, H. P. (1988), Mecânica dos solos e suas
aplicações: Fundamentos, 6. ed, Rio de Janeiro: Ltc,
Brasil.
DNIT (2006). Manual de pavimentação, Diretoria de
Planejamento e Pesquisa, Coordenação Geral de
Estudos e Pesquisa, Instituto de Pesquisas Rodoviárias,
3. ed., Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
PEREIRA, K. L. A. (2012). Estabilização de um Solo com
Cimento e Cinza de Lodo para Uso em Pavimentos,
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, RN, Brasil, 125 p.
SANDRONI, S.S. (1985), Sampling and Testing of
Residual Soils – A Review of International Practice,
ISSMFE, Hong Kong, China.
SENÇO, W. (1997). Manual de técnicas de pavimentação,
volume I, 1ª. Ed., Pini, São Paulo, SP, Brasil.
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Caracterização Física e Mecânica de Solos de Diferentes Pontos


do Município de Francisco Beltrão - Paraná

Suéllen Leticia Buzzacaro


FEFB - UNISEP, Francisco Beltrão, Brasil, suellenbuzzacaro@gmail.com

Tâmili Bastistella
FEFB - UNISEP, Francisco Beltrão, Brasil, tamili_batistella@hotmail.com.

Rodrigo Julio Demartini


FEFB - UNISEP, Francisco Beltrão, Brasil, rodrigo.juliodemartini@gmail.com.

Camila Regina Eberle


FEFB - UNISEP, Francisco Beltrão, Brasil, camilaeberle@hotmail.com.

RESUMO: O solo, por ser o material de suporte de diferentes construções, o mesmo deve receber
atenção especial. Nesse contexto, o presente trabalho foi elaborado com o intuito de iniciar uma base
de dados para o município de Francisco Beltrão - PR, com o objetivo de posteriormente facilitar a
escolha do método de fundação mais adequado para diferentes localidades, através de ensaios
laboratoriais para caracterização física e mecânica dos solos. Foram colhidas duas amostras de solos
em locais distintos de forma deformada e indeformada, e as mesmas foram submetidas a ensaios para
caracterização fisica de massas especificas, limites de consistência, analise granulométrica conjunta,
compactção pelo método de Proctor, e para caracterização mecânica foi realizado o ensaio de
cisalhamento direto. As amostras foram classificadas uma como argila siltosa, com valores de ângulo
de atrito de 33,34º e coesão de 3,90 kPa, e a outra classificada em silte argiloso, com ângulo de
atrito de 22,21º e a coesão 46,10 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, amostras, características físicas, resistência ao cisalhamento.

1 INTRODUÇÃO possibilitando que sejam efetuados cálculos


posteriores, a fim de se determinar, por
O solo é um recurso natural encontrado em exemplo, quais os métodos mais adequados de
abundância que possui inúmeras funcionalidades fundação a serem adotados, ou qual local teria
em diferentes áreas de estudo, tem sua origem características de permeabilidade adequadas à
na decomposição e desintegração de rochas construção de obras mais específicas, que
através das ações provenientes do intemperismo, possam desencadear contaminação, como um
e da decomposição de matérias orgânicas ao aterro sanitário ou cemitério.
longo do tempo. Os ensaios são de grande importância para a
Por ser fato que o solo serve como suporte, é engenharia, e é comum considerar que ensaios
necessário conhecer algumas das suas laboratoriais são menos usuais que ensaios de
características, tais como as características campo isso devido alguns fatores, dentre os
físicas - como composição granulométrica, quais destacam-se o custo, a obtenção de
limites de consistência e demais propriedades amostras de boa qualidade e o tempo necessário
físicas - e mecânicas - de resistência ao para a realização. Por sua vez também é
cisalhamento e compressibilidade - essencial em algumas obras estudos mais
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detalhados, e para isso torna-se indispensável o utilizado, verificando a aplicabilidade de cada


uso de ensaios laboratoriais. técnica e parâmetro, para isso tem-se o amparo
Com esse trabalho estimou-se as de alguns métodos utilizados para fazer
características de resistência através do ensaio determinação de tais características, esses
de cisalhamento direto, e índices físicos através métodos são conhecidos como ensaios de
da caracterização do solo de amostras de campo e ensaios laboratoriais (SCHNAID;
diferentes locais, coletadas em diferentes ODEBRECHT, 2012).
profundidades no Bairro Água Branca e No Brasil, há predominância na realização de
Comunidade de Cabeceira do Rio do Mato, com investigação geotécnica através de ensaios de
o intuito de caracterizar física e mecanicamente campo (QUARESMA et. al., 2016), porém em
solos coletados em diferentes pontos do caso de obras mais robustas e onerosas, que
município de Francisco Beltrão – Paraná, além exigem um planejamento mais refinado os
de determinar as características físicas e ensaios laboratoriais se fazem imprescindíveis.
mecânicas de amostras de solos coletados em
diferentes locais e profundidades, testar a 2.1.1 Ensaios de laboratório
resistência do solo ao cisalhamento e verificar a
variabilidade de resultados obtidos para os Dentre os ensaios laboratoriais para estudo de
diferentes tipos de solos investigados. características mecânicas destacam-se o ensaio
de adensamento, compressão triaxial e
cisalhamento direto, este último sendo o alvo
2 REVISÃO BILIOGRÁFICA deste trabalho.
Segundo Caputo (1988) e Das (2006), o
2.1 Investigações geotécnicas ensaio de cisalhamento direto é o mais antigo
procedimento, e baseia-se no critério de
No ramo da engenharia um grande risco que Coulomb. Este consiste em determinar, sob uma
está diretamente ligado aos problemas tensão normal, qual a tensão de cisalhamento
estruturais, principalmente em grandes obras, é capaz de provocar a ruptura de uma amostra de
o não conhecimento dos solos, ou seja, a falha solo, colocada dentro de uma caixa composta de
de investigações para fazer o levantamento de duas partes deslocáveis entre si.
suas propriedades e características de Algumas deficiências limitam a aplicabilidade
comportamento. Para que esses problemas não do ensaio de cisalhamento direto. Uma delas é o
ocorram é necessário determinar as possíveis fenômeno da ruptura progressiva, que se
interações terreno – fundação – estrutura manifesta principalmente nos solos de ruptura
(CAPUTO, 1988). do tipo frágil. A ruptura progressiva pode se dar
A falta de investigação das características do porque a deformação cisalhante, ao longo do
subsolo é a principal causa de problemas plano de ruptura, não é uniforme, ao iniciar o
relacionados às fundações, de forma geral o cisalhamento ocorre uma concentração de
conhecimento geotécnico e o controle de deformações, próximo às bordas da caixa de
execução são mais importantes que a precisão cisalhamento, que tendem a decrescer em
do modelo de cálculo e coeficiente de segurança direção ao centro da amostra (MACHADO,
adotados para satisfazer os requisitos 1997).
fundamentais dos projetos (MILITITSKY;
CONSOLI; SCHNAID, 2015). 2.2 Caracterização física do solo
Após reconhecer a importância de
caracterizar o subsolo e determinar essas Caracterizar fisicamente um solo significa
características, faz-se necessário delimitar a conhecer seu teor de umidade, massa específica,
abrangência do programa de investigação a ser distribuição granulométrica e limites de
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consistência. Limite de Contração (LC) – onde o solo


Caputo (1988) define teor de umidade como o encontra-se com saturação (Sr) de 100% –
percentual da razão entre o peso da água Limite de Plasticidade (LP) e Limite de Liquidez
contida em um volume de solo conhecido e o (LL), todos esses limites assim como os estados
peso da parte sólida desse mesmo volume de do solo podem ser vistos na Figura 1 (DAS,
solo. 2006; MACHADO, 1997; PINTO, 2000).
Há diversas maneiras de se determinar as
massas especificas do solo (DAS, 2006). Todas
as massas específicas são encontradas a partir da
razão entre massa e volume.
A granulometria de um solo é definida pela
medida das dimensões das partículas
constituintes do solo, sua análise é feita a partir
da determinação das dimensões das partículas
dos solos e das proporções que as mesmas se
apresentam na amostra. De acordo com as
dimensões das partículas e dentro dos limites
convencionais (CAPUTO,1988). Figura 1. Limites de consistência do solo x variação de
volume
No Brasil as frações que constituem o solo
amostrado recebem designações as quais podem
Segundo Craig, (2012) a partir dos Limites
ser conferidas na Tabela 1, definida pela
de Consistência pode-se ainda definir o Índice
Associação Brasileira de Normas Técnicas.
de Plasticidade (IP) que é determinado
Tabela 1. Frações de acordo com a escala granulométrica conforme a Equação (1).
brasileira.
Fração Diâmetro equivalente IP = LL - LP (1)
Matacão 1000,0 mm e 200,0 m
Pedra de mão 200,0 mm a 60,0 mm A partir de conhecido o índice de plasticidade
Pedregulho 60,0 mm a 2,0 mm do solo, pode-se classificá-lo de acordo com a
Areia grossa 2,0 mm a 0,6 mm
Areia média 0,6 mm a 0,2 mm
Tabela 2.
Areia fina 0,2 mm a 0,06 mm
Silte 0,06 mm a 0,002 mm Tabela 2. Classificação de solos segundo sua
Argila Inferior a 0,002 mm plasticidade.
Fonte: Adaptado da ABNT, (1995). Classificação dos solos Índice de Plasticidade
Fracamente plásticos 1 < IP < 7
Medianamente plásticos 7< IP < 15
Segundo Das, (2006) há dois métodos
Altamente plásticos IP> 15
comumente utilizados para a determinação do Fonte: Adaptado de Caputo, (1988).
tamanho e separação das partículas, o ensaio de
peneiramento e o ensaio de sedimentação. Os
dois trazem como resultado um gráfico que 2.2.1 Ensaio de compactação dos solos
representa a curva de distribuição
granulométrica. É conhecido por compactação mecânica o
Os limites de consistência do solo, por sua ensaio para determinação da umidade ótima e do
vez, somente são aplicáveis a solos argilosos. peso específico máximo de um solo, também
Atterberg dividiu o solo como passível de denominado ensaio de Proctor, devido a seu
apresentar quatro consistências: sólida, inventor, o engenheiro americano Ralph Proctor
semissólida, plástica e liquida. Após essa (CAPUTO,1988).
divisão, Atterberg definiu três limites, o de
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No Brasil este ensaio é padronizado pela na Figura 2.


NBR 7182 – solo – Ensaio de Compactação
(ABNT, 2016). Ainda segundo Caputo (1988),
Proctor percebeu que para uma energia de
compactação constante, ao se adicionar água no
solo, sua massa aparente aumentava até certo
ponto, chamado de umidade ótima. Ao
acrescentar teores de umidade acima do ótimo a
massa torna a reduzir, pois o excesso de água
absorve parte da energia de compactação e
redistribui ao sistema, afastando assim as
partículas sólidas.

2.3 Características mecânicas do solo

2.3.1 Resistência ao cisalhamento Figura 2. Representação da relação de ângulo de atrito e


coesão.
A resistência ao cisalhamento é definida pela
NBR 6502 – Rochas e Solos (ABNT, 1995, Em seguida é traçada a reta para relacionar
p16) como: “Máxima tensão de cisalhamento estes pontos. A distância entre o eixo das
que o solo pode suportar sem sofrer ruptura”. abscissas e o início da reta é a Coesão,
O cisalhamento ocorre devido ao representada pela letra C, e o ângulo formado
deslizamento entre corpos sólidos ou entre entre essa reta e uma nova reta paralela a
partículas do solo. Sendo que os principais abcissa é o correspondente ao ângulo de atrito
fenômenos que permitem menor ou maior (CAPUTO, 1988).
deslizamento são o atrito e a coesão (PINTO,
2000). 3 METODOLOGIA
Conforme Pinto, (2000) a resistência por
atrito entre as partículas depende do coeficiente 3.1 Local de realização
de atrito, e pode ser definida como a força
tangencial necessária para ocorrer o A realização do presente trabalho deu-se no
deslizamento de um plano, em outro município de Francisco Beltrão, sendo os
paralelamente a este. Esta força também é ensaios realizados no Campus da Faculdade
proporcional a força normal ao plano. O ângulo Educacional de Francisco Beltrão – União de
formado entre a força normal e a resultante das Ensino do Sudoeste do Paraná (UNISEP-
forças, tangencial e normal, é chamado de FEFB), assim como na Universidade
ângulo de atrito. Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato
A coesão consiste na parcela de resistência Branco (UTFPR-PB).
de um solo que existe independentemente de Os locais onde foram retiradas as amostras de
quaisquer tensões aplicadas e se mantém, ainda solo localizam-se um na área rural do município
que não necessariamente em longo prazo, se de Francisco Beltrão na Comunidade de
todas as tensões aplicadas ao solo forem Cabeceira do Rio do Mato identificado como
removidas (MACHADO, 1997). “RM” a uma profundidade de 1,60 m, e o outro
Para a determinação do ângulo de atrito e local localizado na zona urbana do município,
coesão é realizado o Ensaio de Cisalhamento no Bairro Água Branca identificado “AB” na
direto, com o conjunto de resultados obtidos é profundidade de 5,0 m.
marcado no gráfico estes pontos, como expresso
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3.2 Amostras 3.3.2 Limites de liquidez e plasticidade

As amostras foram obtidas através de cortes já Estes ensaios são utilizados para determinar a
existentes e recentes nos locais marcados, para consistência do solo, observando-se a variação
possibilitar maior rapidez na coleta de amostras, da umidade e, a partir deste, pode-se determinar
a quantidade de solo retirada foi de o comportamento do solo.
aproximadamente 25 kg de material em cada um O Limite de liquidez (LL) é padronizado pela
dos locais, além das amostras indeformadas. norma NBR 6459 – Solo – Determinação do
A preparação de todas as amostras para os Limite de Liquidez (ABNT, 2016), é realizado
ensaios a serem realizados tem como norma a através do método de Casagrande.
NBR 6457 – Amostras de solo – Preparação Já o Limite de Plasticidade é padronizado
para ensaios de compactação e ensaios de pela norma NBR 7180 – Solo – Determinação
caracterização (ABNT, 2016) e o Manual de do Limite de Plasticidade (ABNT, 2016), e
Métodos de Análise de Solo da EMBRAPA consiste em moldar uma amostra de formato
(1979). idêntico ao gabarito.

3.3 Caracterização física do solo 3.3.3 Massa específica

Para caracterização física foram realizados os Os ensaios de massa específica foram realizados
ensaios de análise granulométrica conjunta, seguindo os procedimentos do Manual da
limites de liquidez e plasticidade, massas EMBRAPA (1979), pelo fato de que os
especificas, e ensaio de compactação mecânica. equipamentos disponíveis na Instituição seguem
este Manual e não as Normas da ABNT.
3.3.1 Análise granulométrica conjunta Foram realizados os ensaios de massa
específica aparente e massa específica dos
Este ensaio tem por objetivo caracterizar os sólidos.
diferentes compostos presentes no solo, A massa específica dos sólidos segue o
separando-os por tamanho de partículas para Manual da Embrapa (1979) pelo método do
que, posteriormente, possa ser determinado o balão volumétrico.
tipo de solo predominante, e tendo conhecido A massa específica dos sólidos, em g/cm³ é
isso facilitar os demais parâmetros tais como a obtida conforme a Equação (2).
resistência ao cisalhamento do solo.
Este procedimento segue a descrição obtida Ms
ρs = (2)
na norma NBR 7181 – Solo – Análise 50 - Válcool
Granulométrica (ABNT, 2016).
O ensaio é composto por duas fases a 3.3.4 Compactação mecânica.
sedimentação e peneiramento.
O ensaio de sedimentação foi o primeiro O presente ensaio segue as normativas
procedimento, tendo como normativa a NBR brasileiras através da NBR 7182 – Solo – Ensaio
7181 – Solo – Análise Granulométrica (ABNT, de compactação (ABNT, 2016). Seguindo a
2016). metodologia proposta por Proctor, onde se
O ensaio de peneiramento fino foi o segundo moldam corpos de prova através de
procedimento do ensaio, tendo como normativa compactação das amostras, com energia de
a NBR 7181 – Solo – Análise Granulométrica compactação normal.
(ABNT, 2016). Deve-se moldar corpos de prova até que os
resultados do peso do cilindro cheguem ao
máximo e comecem a reduzir, ou seja, até o
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ponto de umidade ótima (Wot)

3.4 Caracterização Mecânica do Solo - Ensaio


de cisalhamento direto

O Ensaio de cisalhamento direto é regido por


norma Americana, não possuindo nenhuma
correspondente a ela no Brasil, a norma em
questão é a D 3080 – Standard Test Method for
Direct Shear Test of Soils Under Consolidated
Drained Conditions (ASTM , 2003). Dentre os
ensaios de caracterização da resistência dos
solos o ensaio de cisalhamento direto foi o que
se mostrou mais viável devido ao tempo hábil e Figura 4. Corpo de prova para ensaio de cisalhamento
facilidade de execução. direto.
Para a retirada da amostra do campo, foi
utilizada uma caixa metálica e efetuada a Na sequência faz-se a montagem do corpo de
cravação da mesma conforme Figura 3, para que prova na caixa de célula bipartida. Em seguida é
fosse obtida a amostra indeformada, mantendo colocada a caixa no local adequado do
suas características idênticas ao local. equipamento, definidas as informações
necessárias sobre a amostra a ser ensaiada, a
velocidade do deslocamento nos ensaios foi de 2
mm/min, e o curso total do deslocamento igual a
13 mm. Posteriormente é definida a carga a ser
aplicada, chamada de tensão normal, as cargas
utilizadas foram de 5, 7, 10 e 20 kg, para os dois
solos ensaiados.
Ao final do ensaio retira-se a caixa do
equipamento, e a aparência da amostra cisalhada
pode ser conferida na Figura 5.

Figura 3. Cravação da caixa metálica.

Em seguida foi utilizado parafina para


impermeabilizar a amostra, para que esta
pudesse ser transportada até o local de
realização sem perder umidade.
Para a realização do referido ensaio, seguiu- Figura 5. Aspecto da amostra após ter sofrido
se os Manuais do Equipamento e do Software. cisalhamento.
O ensaio de cisalhamento direto executado
foi sem adensamento, de forma rápida. Devido ao fato do equipamento ser
Inicialmente foi feita a montagem do corpo de totalmente automatizado, os resultados são
prova através do amostrador e rasado suas duas computados automaticamente, gerando
faces, conforme Figura 4. relatórios, gráficos e resultados ao final de cada
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procedimento, e ao final de todos os efetuados. A classificação é feita de acordo com a


predominância de materiais encontrados nos
4 RESULTADOS solos.

4.1 Análise Granulométrica Conjunta 4.2 Limites de consistência

Após a realização da análise granulométrica Após a realização dos ensaios de consistência do


conjunta, foi possível encontrar os valores que solo foi possível, através dos experimentos,
representam as frações que compõe o solo, obter resultados de Limite de Liquidez para as
realizar o tratamento dos dados, traçar a curva amostras coletadas.
granulométrica e, posteriormente, classificá-lo. A partir dos resultados foi possível traçar o
Para o solo coletado na Água Branca (AB) gráfico conforme visto na Figura 6 para a AB e
foram encontrados os seguintes percentuais de na Figura 7 para o RM, e encontrar o teor de
cada material, visualizados na Tabela 3. umidade para 25 golpes no aparelho de
Casagrande.
Tabela 3. Classificação do solo de acordo com as frações
constituintes – AB.
Composição final
Material %
Pedregulho : 0,00
Areia grossa : 2,90
Areia média : 7,00
Areia fina: 15,00
Silte : 40,00
Argila : 35,10

Pode-se concluir que o solo da Água Branca Figura 6. Gráfico de LL – AB.


é classificado como silte argiloso, e como é
possível ver apresenta teores muito próximos O fato dos solos apresentarem classificação
entre silte, argila e areia. diferentes, explica os valores distintos
Para o solo da localidade do Rio do Mato encontrados como resultados. Para o solo AB
(RM), segue na Tabela 4, as respectivas parcelas devido ao fato de apresentar teor de areia
de material constituinte. significativo, o valor de LL ficou em torno de
53,76 %, e pode ser visto identificado na Figura
Tabela 4. Classificação do solo de acordo com as frações
6 com a cor alaranjada.
constituintes – RM.
Composição final
Material %
Pedregulho : 0,00
Areia grossa : 2,70
Areia média : 3,30
Areia fina: 4,00
Silte : 27,60
Argila : 62,40

O solo do Rio do Mato classifica-se como


argila siltosa e, como visto, com teor de argila
bastante significativo. Figura 7. Gráfico de LL – RM.
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Para o solo do RM, por apresentar medianamente ou altamente plástico, como visto
predominância quase absoluta de argila, o valor na Tabela 2. A Equação (1) apresenta o valor do
encontrado de LL foi de 47,94 %, e pode ser IP. Para a AB tem-se IP = 2,18 e para o RM
visto identificado na Figura 7 também com a cor tem-se IP = 4,12. Com base nos resultados
alaranjada. encontrados, classifica-se ambos os solos como
Já como consequência dos ensaios de Limite fracamente plásticos, por apresentarem 1 < IP <
de Plasticidade realizados, na Água Branca o 7. Mesmo com as diferenças entre ambos os
valor correspondente ao LP, pode ser visto na solos os dois levam a mesma classificação de
Tabela 5. Apenas 3 dos 5 valores obtidos foram plasticidade, pois apresentaram índices de LL e
válidos, seguindo um limite de margem de erro LP muito próximos.
de 2% da média dos valores.
4.3 Massa específica dos sólidos
Tabela 5. Resultados de LP – AB.
LIMITE DE PLASICIDADE - ÁGUA BRANCA Para a determinação da Massa Especifica dos
Massa Massa Massa da Sólidos do Solo (ρs) foram utilizados 20g de
Nº W%
Úmida (g) Seca (g) Cápsula (g)
1 11,8 11,49 10,91 53,45
solo, tanto para a amostra AB, quanto para a
2 11,9 11,59 11,03 - amostra RM. O volume de álcool etílico gasto
3 12,29 12,02 11,57 - no solo AB foi de 42,2mL, enquanto que para
4 13,17 12,79 12,06 52,05 RM foi de 42,5mL. Por meio da Equação (3),
5 11,36 11,04 10,39 49,23 calculou-se ρs = 2,56g/cm³ para o solo AB e ρs =
Média 51,58
2,67g/cm³ para o solo RM.
Pode-se dizer que no RM a massa específica
Já nos ensaios provenientes da amostra do foi maior devido a argila, que tem dimensões
Rio do Mato, os valores encontrados podem ser menores que a areia, logo há uma concentração
vistos na Tabela 6: maior de partículas na mesma quantidade de
massa tomada.
Tabela 6. Resultados de LP – RM.
LIMITE DE PLASICIDADE - RIO DO MATO
Massa Massa Massa da 4.4 Compactação Mecânica
Nº W%
Úmida (g) Seca (g) Cápsula (g)
1 11,89 11,64 11,1 46,30 A compactação foi realizada com o intuito de
2 12,28 12,02 11,45 45,61 se obter dados de umidade ótima (wot) e a
3 11,74 11,49 10,89 41,67 máxima massa específica seca, que seriam
4 12,27 11,96 11,23 42,47
necessários para alimentar o software do ensaio
5 12,53 12,25 11,6 43,08
Média 43,82%
de cisalhamento direto.
Na compactação do solo coletado na Água
Portanto, após a realização do Branca foram moldados 9 corpos de prova, com
processamento de dados obteve-se a umidade incrementos de água deionizada iniciando em
necessária para se chegar ao LP igual a 51,58% 16%, com intervalo de 2%, até atingir 32% de
para a AB, esse valor se apresentou bastante umidade.
elevado devido a concentração da parcela de Na compactação do solo coletado no Rio do
areia no solo. E, de 43,82 % para o RM devido Mato foram moldados 5 corpos de prova, com
a predominância de argila, isso ocorre devido ao umidade variando de 24%, com intervalo de
fato da argila ser saturada com quantidade 3%, até esta atingir 36%.
inferior de água que a areia. Após os dados obtidos, foi traçada a curva de
A partir dos valores de LL e LP, pode-se compactação vista expressa na Figura 7 para a
determinar o índice de plasticidade do solo, o AB e Figura 8 para o RM.
qual classifica o solo em fracamente,
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chamado de gráfico de Tensão Cisalhante x


Tensão Normal, tais gráficos podem ser vistos
nas Figuras 9 para o Rio do Mato e 10 para a
Água Branca.

Figura 7. Curva de compactação mecânica – AB.

Figura 9. Gráfico de Tensão cisalhante x Tensão normal


– RM.
Através dessa envoltória linear é possível
conhecer o ângulo de atrito interno e a coesão
Figura 8. Curva de compactação mecânica – RM.
do solo.
O gráfico apresenta no eixo das abcissas os
valores correspondentes aos intervalos de
umidade apresentado pela amostra, e no eixo
das ordenadas a respectiva massa específica
máxima aparente dos pontos.
Cada ponto é correspondente a um CP e,
através da equação apresentada pela curva, foi
possível determinar os pontos de Wot, e ρd.
A massa específica aparente seca máxima Figura 10. Gráfico de Tensão cisalhante x Tensão
(ρdmáx) e o teor de umidade ótimo (wot) obtidos normal – AB.
para o solo AB são 1,60 g/cm³ e 33,45%,
respectivamente. Enquanto isso, para o solo O ângulo de atrito do solo da AB foi igual a
RM, são 1,85g/cm³ e 40,66%, respectivamente. 22,21º e a Coesão igual a 0,47 kgf/cm². O solo
do RM apresentou valores de ângulo de atrito
4.5 Cisalhamento Direto igual a 33,34º e Coesão de 0,04 kgf/cm².
Ambos os parâmetros – ângulo de atrito e
O ensaio de cisalhamento direto executado foi coesão – variam de acordo com o grau de
do tipo não drenado, ou seja, o corpo de prova compactação da amostra, o percentual de argila,
foi moldado com a umidade natural do solo no além do tamanho e forma dos grãos de areia que
local de coleta. Aferida a umidade de tais compõe o solo.
amostras, obteve-se o teor de umidade de 57%
para o solo da Água Branca, e 49% para o solo 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
do Rio do Mato, e também não adensado,
devido ao tempo hábil para a realização, e, Ao final deste trabalho foram determinadas as
portanto, classificado como ensaio rápido. características físicas e mecânicas das amostras
A partir do valor de ruptura de cada CP dos dois solos coletados em diferentes locais e
gerou-se um gráfico linear que nos apresenta a profundidades. A resistência do solo ao
envoltória de resistência do CP em análise cisalhamento também foi testada e encontrados
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valores satisfatórios para a mesma. ALMEIDA, P. C. G. Caracterização Física e


Tem-se um detalhe peculiar pois o referido Classificação dos Solos. Juiz de Fora, 2005, 145p.
ASTM – American Society for Testing and Material. D
ensaio é bastante prático e rápido, porém por ser
3080: Standard Test Method for Direct Shear Test of
não adensado e não drenado, só é valido para a Soils Under Consolidated Drained Conditions
determinação da resistência para o determinado Pensilvânia, 2003.
teor de umidade citado anteriormente, serve BONAFÉ, L. Estudo da resistência de um solo residual
apenas como parâmetro base, não fornecendo de basalto estabilizado e reforçado. 2004. 103f.
resultados completos, porém para o presente Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em
Engenharia Civil) - Universidade Regional do
trabalho que tinha como objetivo fazer uma Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí.
estimativa de resistência de solo, o ensaio se CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações.
mostrou bastante aceitável. 6.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos
Ao concluir, afirma-se que a variabilidade de Editora, 1988, 244p.
resultados obtidos para os diferentes tipos de CRAIG, R. F. Mecânica dos Solos. 7 ed. Rio de Janeiro:
solos investigados é nítida, desde a classificação Livros Técnicos e científicos Editora, 2012, 400p.
DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica.
granulométrica das amostras, até a resistência ao 7 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2006, 577p.
cisalhamento. Tal resultado reforça ainda mais a EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de
necessidade de estudos geotécnicos anteriores Solos. Manual de Métodos de Análise de Solo. Rio
ao início de construções, para que, a partir de de Janeiro, 1979. 212p.
conhecido o solo e suas propriedades, possa ser QUARESMA, A.R.; DÉCOURT, L.; QUARESMA
elencado o melhor e, talvez, o mais econômico FILHO, A.R.; ALMEIDA, M.S.S.; DANZIGER, F.
Investigações Geoténcias. In: HACHICH, W ;
método de fundação. FALCONI, F F ; SAES, J L . Fundações -
Teoria e Prática, 3º Edição, Editora PINI, São
AGRADECIMENTOS Paulo, 2016, pp.119-162.
MACHADO, S. L. MACHADO, M. F. Mecânica dos
A Deus por me proporcionar o dom da vida, aos Solos I: conceitos básicos. Salvador, 1997, 113p.
pais e colegas por todo apoio e incentivo, e a MACHADO, S. L. MACHADO, M. F. Mecânica dos
Solos II: conceitos básicos. Salvador, 1997, 166p.
Unisep pela oportunidade do desenvolvimento MARANGON, Marcio. Resistência ao cisalhamento
do trabalho. dos solos: Unidade 5 - Resistência ao Cisalhamento
dos Solos. Juiz de Fora, 2017. 42p. Notas de Aula.
REFERÊNCIAS MILITITSKI, J.; CONSOLI, N. C.; SHNAID, F.
Patologia das Fundações. 2 ed. São Paulo, Oficina
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS de Textos, 2015, 256p.
TÉCNICAS.NBR 12069 MB 3406: Solo – Ensaio de PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em
Penetração de Cone in situ. Rio de Janeiro, 1991. 16 Aulas. São Paulo: Oficina de Textos, 2000, 363p.
______.NBR 6502: Rochas e Solos. Rio de Janeiro, SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E. Ensaios de Campo e
1995. suas aplicações a Engenharia de Fundações. 2 ed.
______.NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para São Paulo, Oficina de Textos, 2012, 223p.
ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
Rio de Janeiro, 2016a.
______.NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de
Liquidez. Rio de Janeiro, 2016b.
______.NBR 7180: Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016d.
______.NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio
de Janeiro, 2016e.
______.NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação. Rio
de Janeiro, 2016f.
ALMEIDA, M. L. P. Tipos de pesquisa. In: Como
elaborar monografias. 4. ed. rev. e atual. Belém:
Cejup, 1996. cap. 4, p. 101-110.
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Caracterização física, mineralógica e mecânica do solo do Campo


experimental da UFRGS – Araquari, SC
Laura Vanessa Araque Lavalle
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, lauraaraquelavalle@gmail.com

Fernando Schnaid
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, fschnaid@gmail.com

RESUMO: Campos experimentais de fundações possibilitam avaliar o comportamento do solo sob


a ação de carregamentos. Para um bom entendimento desta interação é importante caracterizar o
perfil geotécnico, definindo a resistência mecânica e propriedades específicas (classificação, forma
e mineralogia dos grãos) ao longo da profundidade. O presente trabalho comtempla a interpretação
de ensaios de laboratório efetuados em amostras do perfil geotécnico do campo experimental da
UFRGS, com o objetivo de estudar o mecanismo de transferência de carga de estacas escavadas em
solos arenosos. A análise dos resultados obtidos pelos ensaios permitiu a identificação das
características do solo no local, a saber: perfil caracterizado pela presença de areia fina com lentes
de argila e silte, mineralogia constituída predominantemente por quartzo e forma angular dos grãos.
O ângulo de atrito da areia para o estado crítico é 33,0° e o ângulo de pico drenado é 33,4°, obtidos
através de ensaios triaxiais efetuados em diferentes profundidades.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização do solo, Ensaios de laboratório, Ensaios triaxiais drenados,


Campo Experimental UFRGS.

1 INTRODUÇÃO experimentais desenvolvidos no Brasil,


concentrados em seis estados, São Paulo, Rio de
O desenvolvimento industrial e o rápido Janeiro, Distrito federal, Paraná, Pernambuco e
crescimento das cidades gerou a necessidade de Rio Grande do Sul. Os perfis dos solos
se projetar edificações maiores em altura, peso estudados são compostos por argilas orgânicas,
e área construída, em locais onde, muitas vezes, solos não saturados, solos colapsáveis e
o solo é fraco e as fundações superficiais não expansivos. (Cavalcante, 2006).
representam a melhor alternativa. Somado a Deste modo, torna-se evidente a necessidade
que as opções de construção e instalação de em ampliar os estudos da interação das estacas
estacas representam uma solução para uma de concreto construídas em solos granulares,
grande variedade de tipo de carga e perfil do devido às incertezas tanto no procedimento de
solo. Com o avanço da tecnologia foi possível a instalação como no comportamento durante a
diminuição dos custos e, portanto representa vida útil destas estacas.
uma solução com alta aplicabilidade. Neste contexto, a Universidade Federal do
O desenvolvimento de ferramentas que Rio Grande do Sul (UFRGS) desenvolveu um
permitam avaliar o comportamento de sistemas campo experimental em um local com
de fundações profundas, em verdadeira condições especificas para efetuar ensaios de
grandeza sobre cargas de serviço, gera o campo e laboratório, com a finalidade de avaliar
interesse tanto do setor acadêmico como do o comportamento da interação entre o concreto
profissional. Devido à importância do estudo da de estacas e perfis arenosos.
interação do material da estaca com os grãos do As atividades no Campo Experimental da
solo destacam-se a criação de campos UFRGS realizadas contemplam campanhas de
investigação geotécnica (sondagens SPT, CPTu,
SDMT, provas de carga e ensaios de 2 CAMPO EXPERIMENTAL
laboratório), além do projeto e construção de
estacas escavadas. O campo experimental está localizado na
Nesta pesquisa teve-se como objetivo a cidade de Araquari-SC, na planície costeira
realização de ensaios de laboratório para a brasileira, a qual é composta por depósitos
correta caracterização do perfil geotécnico sedimentares constituídos por lentes arenosas
obtido através das sondagens. O programa ou argilosas de espessuras variáveis. (Branner,
experimental seguiu três etapas: caracterização 1904; Freitas, 1951; Bigarella, 1965; Suguio et
básica dos grãos, ensaios para a determinação al, 1985).
da mineralogia e estudo da microestrutura do A área (0.3 km2) utilizada bem como sua
solo e por fim, a avaliação do comportamento localização são apresentadas na Figura 1.
tensão-deformação por meio de ensaios
triaxiais.

Figura 1. Localização do campo experimental da UFRGS.


2.1 Geologia
(gnaisses, migmatitos, granulitos e xistos). As
A costa do estado de Santa Catarina é do tipo bacias de Santos e Pelotas estão localizadas
Atlântico, de granulometria arenosa, com na zona sul do estado, composta por rochas
presença marcante de afloramentos rochosos. sedemimentares e basálticas. (Horn Filho e
A planície costeira catarinense é constituída Diehl, 1996; Horn Filho 1997).
de duas unidades geológicas: o embasamento Segundo Horn (2003) a superfície do local
cristalino e as bacias de Pelotas e Santos. A escolhido para a implantação do Campo
província costeira está dividida em três Experimental é formada por sedimentação
setores: norte, central e sul. A cidade de causada por variações relativas do nível do
Araquari está localizada no norte e constituí- mar e deslocamentos de corpos de água de
se por granitos e rochas metamórficas grandes dimensões. Este tipo de formação
caracteriza-se comumente por faixas de A investigação geotécnica pré-existente a esta
terrenos compostos por sedimentos marinhos, pesquisa contemplava a realização de ensaios
continentais, fluvio-marinhos e lagunares da de campo, coleta de amostras ao longo da
idade quaternária. profundidade e provas de carga em estacas.
Em concordância ao exposto Os ensaios de campo constituíram-se pela
anteriormente, o mapa geológico criado pelo execução de sondagens tipo Standart
Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e Penetration Test (SPT), Piezocone (CPTu) e
apresentado na Figura 2, permite descrever a Dilatômetro (SDMT). Mediante a
estratigrafia local como Q2ma, ou seja, interpretação destes resultados foi possível se
“Depósitos de planície de Maré: Areais obter a classificação do solo, determinar
quartzosas e silto-argilosas, mal selecionadas, parâmetros de resistência e densidades
cores cinza a creme, ricas em matéria relativas de campo, módulos de deformação,
orgânica, retrabalhadas pela ação das marés história de tensões e o índice de pressão
acima do nível dos mangues atuais”. (CPRM, lateral. A interpretação destes dados foi
2014) realizada em pesquisas anteriores. (Brochero,
2014 e Nienov, 2016).
2.2 Investigação geotécnica

Figura 2. Mapa geológico de Santa Catarina – zona norte. (CPRM – Serviço geológico do Brasil)
ser obtidos através do site:
Os ensaios de campo foram realizados em http://www.ufrgs.br/araquari-ets/.
duas campanhas distintas, sendo a primeira
mais geral abrangendo cerca de 3.600m2 3 PROGRAMA EXPERIMENTAL,
(maiores detalhes em Bochero, 2014). Já na MATERIAIS E MÉTODOS.
segunda foram executados 7 ensaios de CPTu
e 3 ensaios do tipo SPT, localizados no eixo A campanha de ensaios de laboratório para
de cada estaca teste em uma área de 225m2. caracterização básica e os ensaios triaxiais
Durante a realização das sondagens, foram drenados a diferentes profundidades, foi
obtidas as amostras que foram ensaiadas na executada no Laboratório de Engenharia
presente pesquisa. Geotécnica e Geo-ambiental (LEGG) da
Além dos ensaios de campo, a investigação UFRGS. Com o propósito de determinar a
geotécnica do campo experimental engloba a mineralogia, forma e tamanho dos grãos,
realização de provas de carga em estacas. foram executados no Instituto de Geociências
Todos os resultados desta campanha podem da UFRGS ensaios de difração raios-X e na
Universidade de Passo Fundo (UPF) no
laboratório do programa de Pós-graduação em a investigação geotécnica. As profundidades
Engenharia Civil e Ambiental (PPGENG- das amostras estão entre 3,0m até 24,0m.
UPF) ensaios de Microscopia Eletrônica de
Varredura (MEV). Adicionalmente, no 3.2 Metodologias das investigações
Laboratório de Materiais Cerâmicos
(LACER) da UFRGS, foram realizados os 3.2.1 Microscopia eletrônica de varredura
ensaios de granulometria a laser. Na Tabela 1 (MEV)
é apresentado um resumo dos ensaios
realizados. O equipamento usado para efetuar as análises
do MEV foi o Silicon Drift Detector X-maxN
3.1 Materiais desenvolvido pela Universidade de Oxford,
tem a capacidade de detectar tamanhos na
Para a caracterização foi necessária extração faixa de 150mm2 até 20mm2. O uso do
de amostras a diferentes profundidades na software AZtec permite a realização do ensaio
área de localização das estacas construídas no MEV, usando a metodologia Espectroscopia
campo experimental. Os ensaios foram de raios-X por dispersão de energia (EDS),
realizados em 23 amostras, coletadas durante que proporciona a análise semi-quantitativa
da composição química da amostra.

Tabela 1. Ensaios de laboratório.


Número
Material Etapa Ensaio
realizado
Análise granulométrica
23
por peneiramento
Análise granulométrica a 23
laser
Caracterização dos
Limites de Atterberg 2
materiais
Massa específica real dos
8
Solo extraído do grãos
campo experimental Índice de vazios mínimo
23
e máximo
MEV 9
Análise físico-mineralógico
Difração raios-X 7
Comportamento tensão-
deformação, resistência ao Compressão triaxial CID 18
cisalhamento
para porções específicas dos grãos, com a
O ensaio consiste em inserir as amostras na finalidade de definir os elementos químicos
câmara de vácuo, depois foram submetidas a presentes nas amostras, a partir da
um feixe de elétrons emitidos por uma coluna comparação dos resultados obtidos com a
óptico-eletrônica, cuja interação e detecção difração de raios-X.
posterior é responsável pela geração de
imagens. Utilizaram-se imagens no modo 3.2.2 Difração de raios-X
elétrons retroespalhados, principalmente para
conhecer a forma dos grãos e para isso as O equipamento utilizado foi um difratômetro
imagens passaram por diferentes ampliações. SIEMENS – BRUKER- AXS D5000 com
Observou-se, através do detector de raios X- goniômetro 2θ do laboratório de Difração de
EDS, por mapeamento, a composição química Raios X do Instituto de Geociências da
UFRGS com o intuito de determinar a etapa era mantida uma tensão confinante
composição dos argilominerais presentes no efetiva de 20 kPa.
solo estudado. Os resultados obtidos foram Após a percolação, sob incremento de
interpretados através do programa DIFRAT contra-pressão foram aplicados 500 kPa no
plus 2001 EVA 7, com base de dados JCPDS topo do corpo de prova. Cada incremento de
(1989). pressão foi de 50 kPa tanto na confinante
A técnica da difratometria de raios X como na contrapressão, mantendo-se sempre
representa uma das principais ferramentas que uma tensão efetiva de 20 kPa. Devido à
permite a caracterização micro-estrutural de composição do solo ensaiado, este processo
materiais cristalinos, em especial para a tinha uma duração de aproximadamente 24
identificação e estudo de argilominerais. O horas.
princípio da técnica é baseado na dispersão de Além do sensor de efeito Hall para
raios X pelos cristais num processo onde são deformações axiais foi instalado um sensor
espalhados pelos elétrons dos átomos, sem diametral no corpo de prova para obter as
mudança de comprimento de onda. Desta deformações radiais e, portanto, as variações
forma, o fóton muda sua trajetória, mas volumétricas (internas). Com o medidor de
mantém a mesma fase e energia de fóton deformações volumétrico externo, foi possível
incidente (Kahn). a medição do volume de água extraído
A técnica de difração de raios X trata da durante o adensamento. Por conseguinte, foi
interpretação dos difratograma obtidos na possível determinar as deformações
difração de raios X pelas espécies cristalinas. volumétricas externas e internas durante as
A estrutura cristalina é que determina a fases do ensaio.
intensidade e a posição do feixe espalhado. O cisalhamento foi iniciado depois de
concluídas as etapas descritas anteriormente,
3.2.3 Ensaios triaxiais sob uma taxa de deslocamento axial constante
de 1mm/h (CID).
Foram realizados ensaios de compressão
triaxial isotrópica drenada (CID), de acordo 4 RESULTADOS
com a norma BS 1377, com a finalidade de se
estabelecer a resistência e o comportamento Na Tabela 2 apresenta-se o resumo dos
tensão-deformação e variação volumétrica das resultados obtidos durante a execução dos
amostras ensaiadas. Os corpos de prova ensaios de caracterização básica em
cilíndricos (5x10 cm) foram consolidados e laboratório e os parâmetros de resistência
cisalhados em compressão com drenagem definidos a partir da investigação geotécnica.
aberta e sob taxa de deformação controlada. Com os resultados obtidos o perfil foi
Este método permite a obtenção das tensões dividido em 5 camadas, foi possível realizar a
principais, deformação axial e variações descrição, classificação e a definição das
volumétricas. Assim, é possível estabelecer a porcentagens de solo para cada camada.
envoltória de resistência Mohr-Coulomb, e, Adicionalmente foram executados ensaios de
portanto, os parâmetros de resistência do solo. resistência que permitiram avaliar o
O procedimento do ensaio consistia comportamento tensão-deformação para
principalmente em duas etapas, na primeira camadas mesmas. Resumidamente o perfil é
era feita a saturação do corpo de prova e na composto por areias com lentes de silte e
segunda o carregamento axial até a ruptura do argila, confirmando a descrição geológica da
corpo de prova. A saturação foi realizada por região.
estágios, sendo que, o primeiro consistia na Os grãos apresentam um grau baixo de
percolação de um volume de água igual ao arredondamento em parte pelo tamanho dos
dobro de volume de vazios do corpo de prova grãos (areia fina) e seguramente pelos
sob uma pressão de 15 kPa na base e 0 kPa processos intensos de abrasão que podem
(pressão atmosférica) no topo. Durante esta conduzir à quebra das partículas formando
grãos angulosos. Nas fotografias é possível
observar a angulosidade dos grãos em todas lado, os produtos de abrasão prolongada,
as profundidades estudadas. (Figura 3) mostram diferenças marcantes entre os graus
De acordo com a forma dos grãos é de arredondamento das diferentes
possível conhecer quais foram os processos granulações, pois as partículas maiores são
de transporte e deposição dos grãos. O mais arredondadas que os grãos menores, o
arredondamento indica um bom índice de que se observa nas amostras analisadas.
maturidade de um sedimento. De uma A análise dos difratogramas de Raios-X
maneira geral, o grau de arredondamento, demonstrou que as amostras distribuídas com
aumenta com a duração do transporte e a profundidade, apresentam uma relativa
retrabalhamento (Barros, 2007). homogeneidade na composição da fração
Segundo Suguio (1973) existe certa argila e da fração areia, conforme demostrado
homogeneidade no grau de arredondamento pela Figura 4.
quando os sedimentos não são derivados de
sedimentos pré-existentes e onde o transporte
ocorre por uma curta distância. Por outro
Tabela 2. Resumo das propriedades do perfil de solo no campo experimental.

Distribuição tamanhos
dos grãos (%)

# Descrição qt Dr σv´
Prof (m) Nspt60 LL PL e Areia Silte Argila
camada do solo (MPa) (%) (kN/m²)

1 0,0 – 3,0 Areia fina 4,5 6 NL NP 42,13 0,78 24,82 89,45 9,38 1,17
3,0 – Areia 10,0 –
2 30 NL NP 75,82 0,61 123,06 78,73 18,4 2,87
10,0 argilosa fina 25,0
10,0 – Areia 2,5 –
3 7 NL NP 27,78 0,79 200,17 59,67 35,88 4,45
18,0 argilosa fina 3,8
18,0 – Argila baixa
4 3,5 5 28 18 22,15 0,95 244,02 16,5 73,84 9,66
21,0 plasticidade
21,0 – Areia meia a 8,0 –
5 9 NL NP 27,12 0,78 366,19 63,98 30,33 5,69
24,0 fina 10,0

Figura 3. Fotografias ensaio MEV para as profundidades 6,0m, 14,0m, 19,0m e 24,0m respetivamente.
Em qualquer dos casos, sendo estes argilo-
A fração areia apresenta ampla minerais não expansivos.
predominância de quartzo, com pequena
proporção de feldspato potássico, em todos os 4.1 Ensaios triaxiais
perfis e frações granulométricas analisadas. A
fração argila mostra ampla predominância de Com a análise dos resultados dos ensaios
ilita, sendo bem menos abundante a caolinita. triaxiais podem ser definidos os ângulos de
atrito para a condição de cisalhamento de pico
e no estado crítico. Na Tabela 4 são altos de tensão. Na profundidade 12,0m a
apresentados os resultados obtidos a partir da resistência atingiu valores perto aos 160 kPa.
interpretação dos ensaios. Nesta profundidade há uma alta presença de
finos que poderiam afetar o comportamento
Tabela 3. Resumo dos ensaios triaxiais. do corpo de prova, reduzindo a resistência do
contato entre partículas.
Parâmetros de Apesar das granulometrias definirem o
Densidade resistência solo encontrado como granular, em alguns
Profundidade
relativa
(m) ϕpico' corpos de prova houve presença de intercepto
(%) c' (kPa)
(°) coesivo, devido ao ajuste realizado para traçar
a envoltória de resistência. Esta ocorrência
3,0 40 33,7 0,0
pode ser observada no corpo de prova da
5,0 80 38,0 0,0 profundidade de 24,0m que apresentou um
9,0 60 34,0 3,0 intercepto coesivo de 16 kPa, sendo o maior
valor dos ensaios efetuados.
12,0 20 23,3 6,5
O corpo de prova que apresentou dilatação
15,4 40 32,8 2,4 durante o cisalhamento foi aquele moldado
24,0 30 33,1 16,1 com uma densidade relativa de 80%
mostrando uma expansão na curva de
Com a análise dos resultados dos ensaios deformação axial – deformação volumétrica.
triaxiais podem ser definidos os ângulos de Nos ensaios restantes os corpos tiveram um
atrito para a condição de cisalhamento de comportamento de compressão durante o
pico. Os ângulos de atrito de pico tendem a cisalhamento.
diminuir com o aumento da tensão de As tensões de confinamento utilizadas
confinamento, uma vez que o incremento na tiveram a intenção de simular as tensões de
tensão confinante limita a capacidade campo, portanto, se procurava simular as
dilatante do solo. A envoltória de ruptura que condições de sobrecarga, para as diferentes
permite definir o ângulo de atrito é profundidades que estão em contato com as
estabelecida por meio de três ensaios triaxiais estacas. Devido às tensões aplicadas pode se
em diferentes tensões de confinamento, sendo dizer que não houve quebra de grãos.
que para o presente trabalho foram usadas as Segundo Been (1991) para que ocorra um
tensões de 50, 100 e 150 kPa. fracionamento das partículas as tensões
Em termos de deformação axial foram aplicadas devem ser maiores a 1MPa.
alcançados valores em torno de 10%. Os Portanto, na presente pesquisa foi possível
picos maiores de resistência foram reutilizar o material para fazer os ensaios sem
apresentados na profundidade de 5,0m, sendo mudar as condições intrínsecas do solo
que neste nível o corpo de prova foi moldado estudado. (Lee e Farhoomand, 1967; Hardin,
com uma densidade relativa de 80%, portanto, 1987)
esperava-se que chegasse aos níveis mais
Figura 4. Difratograma para as amostras nas profundidades 3,2 e 10,0 m.

que as estruturas iniciais de areias densas e


Os corpos de prova foram moldados fofas cheguem ao mesmo estado de arranjo de
usando um procedimento definido para ser partículas, os corpos de provas devem ser
repetido durante todos os ensaios, assim, a cisalhados com tensões isotrópicas muito
metodologia adotada permitiu uma boa altas, assim conseguem atingir o estado de
repetitividade nos ensaios e a comparação dos variação volumétrica nula. Embora, havendo
resultados. quebra de partículas a original estrutura não
O corpo de prova de maior densidade desaparecera por completo. (Wood, 1990;
relativa forneceu o valor mais alto de ângulo Vesic e Clough, 1968)
de atrito. Este fato justifica-se pois, em
ensaios realizados sob mesmo nível de 5 CONCLUSÕES
tensões, a densidade relativa inicial terá
fundamental influência nos resultados. Para A partir da interpretação dos resultados dos
ensaios de laboratório realizados, foi possível Associação Brasileira de Normas Técnicas, São
definir as características dos grãos da areia do Paulo, 13p, 1984.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT).
campo experimental da UFRGS em Araquari- “Grãos do solo que passam na peneira de 4,8mm –
SC, a mineralogia das partículas é quartzo, a Determinação de massa especifica”. NBR 6508.
forma é angular, caracterizado por ser uma Associação Brasileira de Normas Técnicas, São
areia fina com lentes de argila e silte. Paulo, 18p, 1984.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT).
“Determinação do limite de liquidez”. NBR 6459.
Os espectros (MEV) e difratogramas de raios- Associação Brasileira de Normas Técnicas, São
X mostraram picos com sílica e alumínio, Paulo, 1984.
indicando a predominância do mineral Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT).
quartzo no solo local. Foram identificadas “Determinação do limite de plasticidade”. NBR
também pequenas proporções de feldspato 7180. Associação Brasileira de Normas Técnicas,
São Paulo, 1984.
potássico e elementos em menores Been, K.; Jefferies, G.; Hachey, J. (1991). “The critical
quantidades como oxigênio e carbono. Estes state of sands” Géotechnique 41, No. 3, 365-381.
ensaios confirmaram a formação geológica da BS-1377 (1990). “Methods of test for soils for civil
área (areias quartzosas). engineering purposes” General requirements and
sample preparation, British Standards Institution,
38.
As fotografias, obtidas por meio do ensaio Bigarella, J. (1965). “Subsídios para o estudo das
MEV, mostraram, também, que as partículas variações do nível oceânico no quaternário
de areia estavam cobertas por uma camada de brasileiro”. Curitiba, pp82-93.
finos. Com o auxílio da difração de raios-X, Bozzola, J. J.; Russel L. D. (1999). Electron
identificou-se esta fração como argila, microscopy: principles and techniques for
biologists. 2a ed. Sudbury: MA Jones and Barlett
mostrando uma ampla predominância de ilita, Branner, J. C. (1904). “The stone reefs of Brazil, their
e em menor quantidade a caolinita. Os dois geological and geographical relations”. Bulletin of
argilo-minerais possuem boa cristalinidade e Museum of Comparative Zoology, 44: geological
são classificados como não expansivos. series 7.
Brochero J. L. (2014). “Caracterização geotécnica do
campor experimental da UFRGS em areia” M.Sc.
Ainda a partir das fotografias do ensaio MEV, Dissertação – de Mestrado do Curso de Pós-
foi identificada a forma dos grãos como sendo Graduação em Engenharia Civil, UFRGS.
angular para todas as camadas de areia Calvante E. H. (2006). Campos experimentais
avaliadas. A possível explicação para este brasileiros. XIII Congresso Brasileiro de mecânica
fenômeno são os processos de sedimentação e dos solos e engenharia geotécnica – XIII
COBRANSEG.
deposição dos grãos. Coop, M. R.; Sorensen, K. K.; Bodas Freitas, T.;
GEORGOUTSOS, G. (2004). Particle breakage
O ângulo de atrito da areia para o estado during shearing of a carbonate sand. Géotechnique
crítico foi 33,04° e o ângulo de pico drenado 54, No. 3, 157-163.
foi 33,42°, obtidos através de ensaios triaxiais Freitas, R. O. (1951). “Ensaio sobre a tectônica
moderna do Brasil”. Boletim da faculdade de
efetuados em diferentes profundidades. Filosofia, Ciências e Letras, serie Geologia,
130:120p.
AGRADECIMENTOS Goldstein, J. I.; Newbury D. E. (2007). “Scanning
electron microscopy and X-ray microanalysis”.
Os autores agradecem à CAPES e à UFRGS New York. Plenum Press.
Hardin, B. O. (1987). “Crushing of soil particles”
pelo suporte financeiro. Ao Laboratório de Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
Engenharia Geotécnica e Geo-ambiental Engineering. Vol. 111, No. 10, October 1985.
(LEGG), laboratório de geociências, Horn Filho, N. O.; Diehl, F.L. & Amin Jr., A.H.
laboratório LACER da UFRGS e (1996). “Quaternary geology of the central-northern
Universidade de Passo Fundo. coastal plain of the Santa Catarina State, southern
Brazil”. In: International Geological Congress, 30,
Beijing, 1996. Abstracts... Beijing: IUGS, p. 202.
REFERÊNCIAS Horn Filho, N. O. (1997). “O Quaternário costeiro da
ilha de São Francisco do Sul e arredores, nordeste
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). do Estado de Santa Catarina - Aspectos geológicos,
“Análise Granulométrica de Solos”. NBR 7181.
evolutivos e ambientais”. Porto Alegre. 312p. Tese Suguio, K.; Martin, L.; Bittencourt, A. C. (1985).
de Doutorado em Geociências, Instituto de “Flutuações do nível relativo do mar durante o
Geociências, Universidade Federal do Rio Grande quaternário superior ao longo do litoral brasileiro e
do Sul. suas implicações na sedimentação costeira”. Revista
Horn Filho. N.O. (2003). “Setorização da Província brasileira de Geociências
Costeira de Santa Catarina em base aos aspectos VESIC, A. S., (1968). “A study of bearing capacity of
geológicos, geomorfológicos e geográficos”. deep foundations”. Final Report Project B 189,
Geosul, Florianópolis, v.18, n.35, p. 71-98. Georgia Institute of Technology, Engineering
Nienov, F. A. (2016). “Desempenho de estacas Experiment Station, Atlanta, 270 p.
escavadas de grande diâmetro em solo arenoso sob WOOD, D. (1990). “Soil behaviour and critical state
carregamento vertical”. Tese de Doutorado, soil mechanics”. Cambridge: Cambridge University
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Press.
Alegre.
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Caracterização Físico-Química e Mineralógica de Três Solos do


Estado do Paraná
Flávia Gonçalves
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, flavia_golcalves.fg@hotmail.com

Renan Felipe Braga Zanin


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, renan_zanin@hotmail.com

Lívia Fabrin Somera


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, liviafabrin.somera@hotmail.com

Alana Dias de Oliveira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, alanadioliva@hotmail.com

José Wilson Santos Ferreira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, wilson_s.ferreira@hotmail.com

Carlos José Marques da Costa Branco


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, costabranco@uel.br

Raquel Souza Teixeira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, raquel@uel.br

RESUMO: As caracterizações física, química e mineralógica de três solos diferentes do estado do


Paraná são apresentadas neste trabalho. Foram analisados os solos das regiões norte e noroeste do
estado, situados em três municípios: Londrina, Tuneiras do Oeste e Mandaguaçu. Amostras
deformadas e indeformadas dos solos foram coletadas para a realização das análises de
caracterização física: granulometria conjunta, limites de consistência (LL e LP) e massa específica
dos sólidos; caracterização química: pH, capacidade de troca catiônica (CTC), carbono, matéria
orgânica (MO) e fluorescência de Raio-X; e mineralogia: Análise Térmica Gravimétrica (ATG),
Análise Térmica Diferencial (ATD) e Difração de Raio-X (DRX). Concluiu-se que os três solos
possuem tais características distintas entre si, dependentes, sobretudo do estrato rochoso de cada
local estudado e os processos pedogenéticos de evolução do perfil de solo.

PALAVRAS-CHAVE: Substrato Rochoso, Processos Pedogenéticos; Mineralogia.

1 INTRODUÇÃO variações climáticas, topográficas e litológicas,


bem como aos processos de transporte,
O solo é um material complexo e heterogêneo, sedimentação e evolução pedogênica. Este
no entanto frequentemente utilizado na conjunto de fatores propicia a diferenciação da
engenharia devido ao seu baixo custo e fácil composição físico-química e mineralógica dos
obtenção e manuseio. solos, sendo esta de grande importância para o
A formação do solo está ligada à ação do estudo de seu comportamento para o emprego
intemperismo na rochas, o que faz com que sua na engenharia (ROCHA, 2005; KÄMPF e
distribuição regional esteja condicionada às CURI, 2012).
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Devido à diversidade dos solos e dos perfis


existentes, torna-se imprescendível o
conhecimento das características físico-
químicas e mineralógicas peculiares a cada
situação. As caracteristicas físico-químicas,
auxiliam em determinações de comportamento
hidráulico, compressivo e resistivo a fim de
utilizar o solo da forma mais efetiva, enquanto
que a mineralogia, ao fornecer os tipos de
minerais e elementos químicos encontrados em
sua composição, auxilia a melhor compreenção
de certos comportamentos e características, tais
como expansividade, colapsividade, cor e massa
específica dos grãos (MITCHELL e SOGA,
2005).
Neste contexto, o objetivo deste trabalho é
analisar a caracterização física, química e
mineralógica de três solos provenientes do
estado do Paraná, com o intuito de identificar e
avaliar suas propriedades.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Solos

Três diferentes solos do estado do Paraná


(Figura 1), região Sul do Brasil, foram
escolhidos para a avaliação de suas
características físicas, químicas e
Figura 2. Amostras deformadas e secas ao ar dos solos
mineralógicas, haja vista sua aparente estudados: em (A) - Londrina; em (B) - Tuneiras do
variabilidade. Amostras deformadas (Figura 2) Oeste; em (C) - Mandaguaçu.
e indeformadas foram coletadas nos municípios
de Londrina (2A), Tuneiras do Oeste (2B) e O solo de Londrina foi coletado no Campo
Mandaguaçu (2C), todos situados nas regiões Experimental de Engenharia Geotécnica
norte e noroeste do estado. (CEEG), da Universidade Estadual de Londrina
(UEL), com o auxílio de um trado manual, a
profundidade de 1-2 metros. Seu substrato
rochoso compreendido no Terceiro Planalto
Paranaense é o basalto originado dos derrames
(TEIXEIRA;PINESE, 2006b).
O solo de Tuneiras do Oeste foi retirado às
margens da Rodovia Federal BR-487/PR. Sabe-
se que esta jazida está situada em uma área de
transição geológica – entre arenitos e derrames
basálticos (GOLOVATI et al., 2013), o que
pode influenciar em suas características fisico-
químicas e mineralógicas.
Figura 1. Localização dos municípios de coleta de solo.
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O solo de Mandaguaçu foi extraído de um relação ao tempo é registrada em função da


talude no km 37 da rodovia PR-376. Possui temperatura ou tempo (DENARI, 2013), as
como embasamento rochoso a Formação Caiuá, amostras foram destorroadas e secas em uma
a qual é constituída, principalmente, por arenito estufa de 105 ºC por 24 horas. As amostras
finos e muito finos (FRANÇA JUNIOR et al., foram então levadas ao Laboratório de
2010). Espectroscopia da Universidade Estadual de
Londrina (UEL) onde aproximadamente 10 mg
2.2 Caracterização Física de cada material foi colocada em um cadinho de
platina no interior de um equipamento
Para a caracterização física dos solos foram Shimadzu modelo TGA-50. O equipamento foi
realizadas: 1) Análise granulométrica – operado em uma atmosfera de Nitrogênio, com
realizada por meio de peneiramento e fluxo de 50 mL/min, a uma taxa de
sedimentação (NBR 7181/1984); 2) Limites de aquecimento de 10 ºC/min.
consistência (liquidez e plasticidade) – feitos Já a difração de Raio-X, técnica que permite
com material passante em peneira #40 (0,46 identificar as posições atômicas e a composição
mm) (NBR 6459/1984 e NBR 7180/1984); e 3) química das amostras investigadas por meio da
Massa específica dos sólidos – realizada com o incidência de um feixe de Raio-X que, ao ser
material passante em peneira #10 (2 mm) (NBR difratado em diferentes direções, caracterizam
6508/1984). os componentes do material, foram realizadas
no Laboratório de Difração de Raios-X do
2.3 Caracterização Química LARX (Laboratório Multiusuário da Pró
Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação), também
A caracterização química (pH, capacidade de da UEL, em um difratômetro da marca
troca catiônica – CTC, carbono e matéria PANalytical, modelo X´Pert PRO MPD, com
orgânica – M.O.) foi realizada segundo Pavan et radiação CuKα, na técnica conhecida como θ-
al. (1991), no Laboratório de Solos do Instituto 2θ, para as amostras na forma de pó. A tensão e
Agronômico do Paraná (IAPAR) de Londrina. a corrente usadas foram, respectivamente, 40
Análises de fluorescência de Raio-X também kV e 30 mA. O intervalo de varredura 2θ
foram realizadas a fim de verificar relação da utilizado foi de 5 a 70 º, com passo angular de
proporção dos elementos constituintes para os 0,05 º. O tempo de contagem por ponto foi de
solos estudados. Estes ensaios foram feitos no 1,0 s. Para poder desprezar possíveis
Laboratório de Apoio à Pesquisa Agropecuária orientações preferenciais no processo de
(LAPA), da Universidade Estadual de Londrina preparação das amostras em pó, estas foram
(UEL), em equipamento da marca Shimadzu movimentadas ciclicamente durante o processo
Co, modelo EDX-720, sem a necessidade de de medida com período de 2 segundos.
destruição da amostra.

2.4 Caracterização Mineralógica 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A mineralogia dos solos estudados foi obtida As curvas granulométricas (Figura 3) mostram
por meio da aplicação das técnicas de Análise que o solo de Londrina foi o único a apresentar
Térmica Gravimétrica (ATG) e Análise como fração granulométrica principal a argila,
Térmica Diferencial (ATD), além da Difração sendo classificada como argila siltosa. O relevo
de Raio-X (DRX). Para a realização da ATG, ondulado suave e o clima subtropical propiciam
técnica analítica que acompanha a variação da que o intemperismo atue até grandes
massa da amostra em função da programação da profundidades, culminando em um perfil de
temperatura, e da ATD, arranjo matemático no solo bastante espesso na região. O basalto
qual a derivada da variação da massa em originado da rocha vulcânica básica deste
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substrato resulta, até uma profundidade média sendo de baixa atividade coloidal (AC < 0,23),
de 8m, em um solo laterítico, com alto teor de ou seja, suas propriedades mineralógicas e
argila (TEIXEIRA et al., 2006a), corroborando química-coloidais tem pouca influência nos
o observado por este estudo. processos de interação deste solo
Por meio da Tabela 1, composta pela (SKEMPTON, 1953).
características físico-químicas dos solos Quanto as características químicas deste solo
estudados, é observada a elevada massa há ainda a constatação de pH com caráter ácido.
específica dos sólidos (ρs = 3,03 g.cm-3) para o Além disso, o teor de carbono orgânico e o
de Londrina quando comparada às demais. O valor aludido da matéria orgânica estão em
resultado está em consonância com os valores consonância com valores esperados para
preditos por Teixeira et al. (2010), indicando amostras de solos coletadas na profundidade de
que a significativa presença de ferro (Tabela 2), dois metros ou mais (GONÇALVES, 2016;
constituinte denso, acaba por imprimir tal TEIXEIRA et al., 2013). A saturação por bases,
característica ao solo (PAIVA NETO et al., dada em percentual pela soma de bases (Ca²+,
1951). Mg²+ e K+) dividida pela capacidade de troca
Segundo o índice de plasticidade (IP), catiônica (CTC), é de, aproximadamente, 25 %,
calculado pela diferença entre o limite de o que indica que a carga negativa ocupada por
liquidez (LL) e o de plasticidade (LP), este solo estes íons em relação aos pontos de troca dos
é classificado como de plasticidade média cátions ácidos, H+ e Al³+, é pequena. Estas
(BURMISTER, 1949). observações ratificam que a argila deste tipo de
A partir do resultado obtido pela relação do solo é de baixa atividade coloidal, exposto
IP e o percentual da fração argila do solo de anteriormente.
Londrina foi possível classificar a argila como

Fração Granulométrica Londrina Tuneiras do Oeste Mandaguaçu

Argila (%) 55,5 21,0 13,5


Silte (%) 23,5 4,7 15,5
Areia (%) 21,0 74,3 71,0
Pedregulho (%) 0 0 0
Figura 3. Curvas granulométricas dos solos de Londrina, Tuneiras do Oeste e Mandaguaçu.
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Tabela 1. Caracterização físico-química dos solos de Londrina, Tuneiras do Oeste e Mandaguaçu.


Caracterização Física Caracterização Química
Amostra ρs LL LP IP Al H+Al Ca Mg K CTC C MO
-
pH
(g.cm ³) (%) (%) (%) (cmolc.kg-1) (g.dm ) (g.dm-3)
-3

Londrina 3,03 51 38 13 4,70 0,08 4,96 1,07 0,41 0,16 6,60 3,23 5,56
Tuneiras
2,89 20 13 7 4,00 0,83 3,42 0,80 0,53 0,07 4,82 1,36 2,34
do Oeste
Mandaguaçu 2,69 31 15 16 3,80 1,08 3,17 0,67 0,28 0,05 4,17 1,20 2,06
Nota: ρs = Massa específica dos sólidos; LL = Limite de liquidez; LP = Limite de plasticidade; IP = Índice de
plasticidade; C = Carbono; MO = Matéria orgânica.

Os solos de Tuneiras do Oeste e embasamento rochoso a Formação Caiuá, a qual


Mandaguaçu apresentaram como granulometria é constituída, principalmente, por arenito finos
principal a fração areia, o que implica em e muito finos, com cores que variam do
valores similares de massa específica dos vermelho-arroxeado a vermelho, tendo
sólidos, além de proximidade também à massa pequenos teores de matriz lamítica. Esta
específica conhecida do quartzo (2,69 g.cm-3), Formação é fortemente caracterizada pela
principal componente da areia (GUTIERREZ, presença de quartzo, variando entre 75 % a 90
NÓBREGA;VILAR, 2008). No entanto, o solo % do total da rocha (FRANÇA JUNIOR et al.,
de Tuneiras do Oeste foi classificado como 2010). A argila presente neste solo é
areia argilosa, enquanto que o de Mandaguaçu, classificada como de atividade coloidal normal
areia siltosa. (AC = 1,19), indicando que suas propriedades
O solo de Tuneiras do Oeste apresentou os mineralógicas e química-coloidais tem média
menores valores de limite de liquidez, limite de influência nos processos de interação deste solo
plasticidade e índice de plasticidade, sendo (SKEMPTON, 1953). Segundo Burmister
classificado como de baixa plasticidade (1949), a partir do valor de seu IP, este solo é
(BURMISTER, 1949). Segundo Skempton classificado como medianamente plástico.
(1953), sua argila é classificada como de baixa Dentre as características fisico-químicas
atividade coloidal (AC = 0,33), assim como o deste solo, foi observado pH ácido e valor de
solo de Londrina. Já atributos como pH, CTC, CTC condizente com Gonçalves (2016). Os
carbono (C) e matéria orgânica (MO) teores de carbono orgânico e matéria orgânica
apresentaram valores que estão entre os dos foram os menores dentre todos. Esta baixa
demais e o percentual de sua fração areia, ocorrência pode estar relacionada à localização
superior a todos. Estas ocorrências podem estar do ponto de coleta do solo – parte inferior de
relacionadas ao substrato rochoso e aos um talude, longe da camada superior onde
processos pedogenéticos. Como mencionado, o comumente há maior concentração de materiais
município de Tuneiras do Oeste está situado em orgânicos, ou por imprecisão do método de
uma área de transição geológica, entre os solos determinação do parâmetro, como já avaliado
oriundos da Formação Caiuá (arenito) e aqueles por Sato et al. (2014).
derivados de derrames basálticos (terra roxa). A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos
Com clima subtropical, apresentando invernos da fluorescência de Raio-X. De forma geral,
predominantemente secos e os verões chuvosos, observa-se que os elementos encontrados em
a região apresenta perfis de solo bastante maior quantidade em todas as amostras foram:
evoluídos, com características diversificadas silício (Si), alumínio (Al) e ferro (Fe). Para o
(GOLOVATI et al., 2013). solo de Londrina, destaca-se o percentual
O solo de Mandaguaçu pertence à região alcançado pelo ferro (55,2 %) refletindo a maior
Norte-Central Paranaense e possui como massa específica, bem como a maior
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porcentagem de argila. O silício é o elemento predominante a areia. Elementos que também


presente em maior quantidade nas amostras de estão presentes em todas as amostras são:
Tuneiras do Oeste e Mandaguaçu, visto que tais titânio (Ti), manganês (Mn) e zircônio (Zr).
amostras têm como granulometria

Tabela 2. Dados de fluorescência de Raio-X para os solos estudados


Elemento (%)
Amostra
Si Al Fe Ti Mn Zr K Ca Zn
Londrina 14,2 23,3 55,2 3,8 0,4 0,1 -- -- 0,03
Tuneiras do Oeste 48,7 27,7 19,5 3,2 0,1 0,2 0,3 0,1 --
Mandaguaçu 55,1 27,9 13,4 2,7 0,2 0,1 0,3 0,1 --

A Figura 4 apresenta os resultados gráficos termogravimétricas, foi calculada a


das Análises Térmicas Gravimétricas (ATG) porcentagem de ocorrência de cada mineral
dos três solos estudados. Para todas as identificado (caulinita e gibsita), as quais estão
amostras, foi observada a presença de um pico expostas na Tabela 3.
próximo à temperatura de 100 ºC, referente à Os difratogramas sobrepostos dos solos
saída de água adsorvida às partículas dos solos. estudados (Figura 5) e os resultados dos padrões
Observa-se também que todas as endotermas de encontrados no ensaios de difração de Raio-X
desidroxilação apresentaram picos no intervalo (Tabela 4), confirmam que os solos de
de 480 a 550 ºC o que, segundo Kämpf e Curi Londrina, Tuneiras do Oeste e Mandaguaçu
(2003), indica a perda de massa da caulinita. apresentaram a mesma composição
Nas amostras de Londrina ainda foi constatado mineralógica, porém em proporções diferentes,
um evento na faixa de 200 a 300 ºC, atribuído fato que causa significativa distinção entre as
pelos mesmos autores à perda de massa da características dos solos. A análise indica que
gibsita. Tais constatações corroboram o além da caulinita, cujo pico já havia aparecido
observado por Rocha et al. (1991), que afirma na análise termogravimétrica, o óxido de ferro
que o solo desta região possui, (hematita - Fe2O3) também está presente,
predominantemente, na sua composição constatação sobretudo devida à coloração com
mineralógica: caulinita, gibsita, vermiculita e tons avermelhado dos materiais (RESENDE,
óxidos de Fe – hematita e goethita. Para os 1976). Ressalta-se que a ATG, cujos resultados
solos de Tuneiras do Oeste e Mandaguaçu não foram mencionados anteriormente, não
foram observados nestas curvas outros picos contemplavam a ocorrência de hematita, devido
referentes a argilominerais além da caulinita. ao tipo de análise não permitir a identificação
Com a interpretação das curvas de tais óxidos.

Figura 4. Curvas de ATG e ATD para os solos estudados.


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Tabela 3. Perda em massa das amostras, obtidas pelo ensaio de ATG.


Amostra Massa total perdida (mg) Caulinita (%) Gibsita (%)
Londrina 1,20 41,90 7,49
Tuneiras do Oeste 0,29 16,44 --
Mandaguaçu 0,21 12,96 --

Figura 5. Difratogramas sobrepostos dos solos estudados.

Tabela 4. Padrões encontrados no ensaio de difração de Raio-X para os solos estudados.


Amostra Nome do composto Fórmula química
Quartzo SiO2
Londrina Óxido de Ferro Fe2O3
Caulinita Al2(Si2O5)(OH)4
Quartzo SiO2
Tuneiras do Oeste Óxido de Ferro Fe2O3
Caulinita Al2(Si2O5)(OH)4
Quartzo SiO2
Mandaguaçu Hematita Fe2O3
Caulinita Al2(Si2O5)(OH)4

4 CONCLUSÃO pois o principal elemento de suas composições


é o silício.
Segundo os resultados, os solos de Londrina, Os limites de liquidez e plasticidade foram
Tuneiras do Oeste e Mandaguaçu são maiores para o solo de Londrina, característica
classificados granulometricamente como argila esperada devido ao seu alto teor de argila. Em
siltosa, areia argilosa e areia siltosa, relação ao pH, os três solos apresentaram
respectivamente. caráter ácido.
O solo de Londrina possui massa específica Estes solos ainda podem ser classificados de
dos sólidos maior que as dos outros solos acordo com o valor do IP, sendo os solos de
devido a grande quantidade de ferro em sua Londrina e Mandaguaçu medianamente
composição. Já os solos de Tuneiras do Oeste e plásticos e o de Tuneiras do Oeste de baixa
Mandaguaçu apresentaram uma massa plasticidade.
específica dos sólidos próxima à do quartzo, As argilas que compõem os solos de
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Londrina e o de Tuneiras do Oeste possuem Research Board Meeting. National Research Council,
baixa atividade coloidal. Já o solo de Washington, D.C., vol. 29, p. 402-433.
Denari, G. B. (2013). Contribuições ao Ensino de Análise
Mandaguaçu apresenta a atividade coloidal Térmica. Dissertação de Mestrado, Mestrado em
normal. Química Analítica e Inorgânica, Universidade de São
O solo de Tuneiras do Oeste apresentou um Paulo, São Carlos.
valor de CTC intermediário aos valores dos França Junior, P. et al. (2010) Relato de campo sobre os
demais, haja vista que sua jazida está localizada aspectos físicos do terceiro planalto paranaense
(Maringá aos terraços do Rio Paraná). Boletim de
em uma área de transição geológica. Geografia, Vol. 28, pp. 185-195.
Observando os resultados das análises Golovati, D. et al. (2013) Análise do Conteúdo Fitólitico
termogravimétricas dos três solos, foi observada de um Latossolo em uma Reserva Florestal de
uma endoterma de desidroxilação no instervlo Tuneiras do Oeste – Paraná. In: PALEO PR/SC,
de 480 a 500 °C, indicando a perda de massa de Anais... vol. 1.
Gonçalves, F. (2016). Interação Temporal por Difusão de
caulinita. Apenas o solo de Londrina apresentou Lixiviado de Resíduos Sólidos Urbanos com Solo
esta característica no intervalo de 200 a 300 °C, Argiloso e solo Arenoso. Dissertação de Mestrado,
referente à perda de massa de gibsita. Mestrado em Engenharia de Edificações e
Mesmo os componentes dos três solos sendo Saneamento, Universidade Estadual de Londrina,
semelhantes, suas proporções são diferentes, o Londrina.
Gutierrez, N. H. M.; Nóbrega, M. T.; Vilar, O. M. (2008)
que confere características físico-químicas e Influence of Microstructure in the Colapse of a
mineralógicas distintas. Residual Clayey Tropical Soil. Bull Eng. Geol
Environ, v 68, p. 107-116.
Kämpf, N.; Curi, N. (2012) Formação e Evolução do
AGRADECIMENTOS Solo (Pedogênese). In: KER et al. Pedologia:
Fundamentos. Viçosa, Minas Gerais.
Mitchell, J. K.; Soga, K. (2005) Fundamentals of Soil
Os autores agradecem aos Laboratórios de Behavior, 3rd ed., John Wiley & Sons, INC.,
Geotecnia e Espectroscopia, ao LAPA e ao Hoboken, NJ, USA, 558 p.
LARX, todos da Universidade Estadual de Paiva Neto, J. E. De; et al. (1951) Observações Gerais
Londrina, e ao IAPAR, pela disponibilidade do sobre os Grandes Tipos de Solo do Estado de São
Paulo. Bragantia [online], vol. 11, n. 7-9, p. 227-253.
espaço e dos equipamentos. Agradecem Pavan, M. A. et al. (1991) D. C. Manual de Análise
também à Fundação Araucária e a Coordenação Química do Solo. Instituto Agronômico do Paraná,
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Londrina, Nov.
Superior (CAPES) pelo fomento de bolsas aos Resende, M. (1976). Mineralogy, Chemistry, Morphology
estudantes de Pós-Graduação envolvidos no and Geomorphology of some Soils of Central Plateau
of Brazil. Tese de Doutorado, Purdue University,
trabalho. West Lafayette.
Rocha, A. A. (2005) Controle de Qualidade de Solo. In:
Philipp J. R. A. (Ed). Saneamento, Saúde e Ambiente:
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Específica dos Grãos. Associação Brasileira de Sato, J. H. et al. (2014) Methods of Soil Organic Carbon
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Burmister. D. M. (1949) Principles and Techniques os Geochemistry, v. 25, p.1–15.
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Teixeira, R. S.; et al. Uso de Lodo ETA em Aterro


Sanitário. Lodo de Estações de Tratamento de água –
Gestão e Perspectivas Tecnológicas. 1 ed. Curitiba:
SANEPAR, 2013, vol. 1, p. 410-440.
Teixeira, R. S. et al. (2006a) Investigação preliminar da
área de disposição de resíduos sólidos do município
de Londrina-PR. In: XIII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotecnica,
Curitiba. Anais do XIII Congresso da ABMS. São
Paulo: Editora ABMS. v. 1. p. 1-10.
Teixeira, R. S.; Pinese, J. P. P. (2006b) Potencial de
Utilização do Estrato Superior do Solo Laterítico da
Cidade de Londrina, Estado do Paraná, como Material
de Apoio de Aterros Sanitários. Acta Sci. Technol.
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Caracterização Geológica-Geotécnica do Subsolo de Uma Obra de


um Edifício Localizado na Formação Barreiras da Cidade de João
Pessoa – Pb
Carlos Rolim Neto
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil, carlosrolim@yahoo.com

Roberto Quental Coutinho


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Amábelli Nunes dos Santos


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil, mabi_sn3@hotmail.com

RESUMO: O presente trabalho terá como objetivo fazer a caracterização geológica-geotécnica


através de ensaios de campo e laboratório do subsolo de uma obra de edificação multifamiliar
localizada no Bairro dos Estados, em João Pessoa-Pb. As investigações geotécnicas de campo
consistiram em sondagens à percussão (SPT), coletas de amostras deformadas (sacos) e amostras
indeformadas (blocos). Aproveitando as escavações do subsolo, poços dos elevadores e blocos de
coroamento, conseguiu-se amostras de profundidades até 7,20 m. Para as sondagens SPT, chegou-
se à 20 m de profundidade. Os ensaios de laboratório foram realizados no laboratório de geotecnia
da UFPE. Foram realizados ensaios de caracterização (granulometria, limites de consistência, e
densidade dos grãos), enquanto que dos blocos extraiu-se corpos de prova para realização dos
ensaios de cisalhamento direto convencional (com e sem inundação) e edométricos duplos.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização geológica-geotécnica, Formação Barreiras, Solos não


saturados.

1 INTRODUÇÃO

O município de João Pessoa está localizado na


porção centro sul do litoral do Estado da
Paraíba, fazendo limites com os municípios de
Cabedelo ao norte, Conde ao sul, Bayeux e
Santa Rita a oeste, e com o oceano Atlântico a
leste (Figura 1). Segundo o IBGE (2010)
encontra-se na mesorregião da Zona da Mata
Paraibana e microrregião de João Pessoa, tendo
área total de 211,475 km2. Figura 1. Localização do município de João Pessoa
(Fonte: Barbosa e Barbosa)
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Os compartimentos geomorfológicos que se estudo mais abrangente, com uma prova de


apresentam no município de João Pessoa são carga instrumentada, para obtenção de
basicamente: os Baixos Planaltos Costeiros e as parâmetros geológicos-geotécnicos para a
Planícies Fluviais e Marinhas. Os Baixos avaliação da transmissão da carga da estaca ao
Planaltos Costeiros são superfícies de idade solo.
terciárias, que acompanham todo o litoral do
Nordeste do Brasil, em extensão estimada de
8,42 milhões de hectares. Eles estão esculpidos
em grande parte sobre os sedimentos mal
consolidados da Formação Barreiras,
apresentando como características uma
topografia plana a suavemente ondulada,
material sedimentar e de baixa altitude, com
declividade média inferior a 10% (EMBRAPA
1994). As planícies são aquelas áreas Figura 2. Localização do Bairro dos Estados
imediatamente contíguas aos corpos d’água,
compostas por sedimentos mais finos 1.2 Importância do estudo
depositados pelos rios ou por ação do vento.
Segundo Barbosa (2010), trata-se de terrenos A investigação geotécnica envolve o
sedimentares formados nos terraços dos rios conhecimento da natureza e comportamento de
onde o relevo é plano e os solos muito férteis, todos os fatores relacionados a uma área e as
constituem os trechos terminais dos baixos condições ambientais que podem influenciar ou
vales dos rios que provêm do interior e que são ser influenciada pelo projeto. Portanto, a
talhados nas acumulações dos sedimentos da proposta básica de uma investigação geotécnica
Formação Barreiras. Elas são produzidas por adequada é fornecer informações primordiais
depósitos deixados pelos rios e pelo mar. para permitir a tomada de decisões durante as
Bezerra (2011) afirma que há evidências de fases de avaliação, projeto e construção
que existem deformações na Formação (Coutinho e Severo, 2009).
Barreiras, e que estas têm influenciado em sua Os parâmetros geológicos-geotécnicos
deposição e na de unidades quaternárias, encontrados para o solo referente a área de
afetando a morfologia atual das bacias da estudo, através da investigação de campo e
margem continental. Ou seja, as configurações campanha de ensaio de laboratório serão
do relevo atual no município de João importantes para conhecer de forma mais
Pessoa podem estar intimamente ligadas à ação detalhada sobre o perfil de solo e a sua
estrutural e não apenas climática e caracterização e parâmetros de resistência na
antropogénica. condição natural e inundada. Tais informações
serão importantes na análise da capacidade de
1.1 Área de Estudo carga do solo que receberá a fundação em
estacas escavadas de um edifício residencial.
A área de estudo desta pesquisa está localizada Estas informações, aliadas às tradicionais
na Formação Barreiras, no Bairro dos Estados sondagens SPT, fornecerão informações ao
na cidade de João Pessoa-PB. projetista de fundações, gerando um projeto
Foram realizados ensaios de campo e de seguro e econômico.
laboratório, visando a caracterização geotécnica
de um perfil representativo da Formação 2 METODOLOGIA DAS ATIVIDADES
Barreiras da região. DE CAMPO E LABORATÓRIO
A área é um canteiro de obras onde será
erguido um edifício residencial com 34 pisos. O reconhecimento geológico local foi a etapa
Esta campanha investigativa foi parte de um inicial da investigação de campo.
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A espessura da Formação Barreiras do Estado depósitos de granulometria variada com


da Paraíba é bastante variável, atingindo cascalhos e areias grossas a finas, de coloração
espessuras máximas entre 70 e 80 m (Leal e Sá, creme amarelado, com intercalações de
1998). A ausência de fósseis no Grupo microclastos de argila síltica, indicativo de
Barreiras impede uma datação precisa, de modo ambientes de sedimentação calmo, como por
que diversos autores divergem entre si. Em exemplo, de planície aluvial. A fácies de leques
geral, atribui-se um intervalo de sedimentação é constituída por conglomerados polimíticos de
entre o Paleógeno (Oligoceno) e o neógeno, coloração creme-avermelhada, com seixos e
chegando até o Pleistoceno (Salim et. al., 1975, grânulos subangulosos de quartzo e blocos de
Mabesoone et. al., 1972, Suguio et. al., 1986). argila retrabalhada, em corpos tabulares e
Para a caracterização geotécnica do solo, foram lenticulares de até um metro de espessura,
realizados ensaios de campo e laboratório. A intercalados com camada síltico-argilosa menos
investigação de campo foi composta de 04 espessa.
(quatro) furos de sondagem à percussão (SPT), Para Alheiros et. al. (1989), a deposição dos
retirada de 05 (cinco) amostras deformadas sedimentos da Formação Barreiras representa a
(sacos) e 03 (três) amostras indeformadas do evolução de um sistema fluvial desenvolvido
tipo bloco. Foram realizados ensaios de em fortes gradientes e sob clima
caracterização (granulometria, limites de predominantemente árido e sujeito a oscilações.
consistência, e densidade dos grãos), enquanto Arai (2005) questionou a origem continental
que dos blocos extraiu-se corpos de prova para da Formação Barreiras tradicionalmente
realização dos ensaios de cisalhamento direto apregoada e admite origem predominantemente
convencional (com e sem inundação) e marinha para a mesma. Através de estudos
edométricos duplos. palinológicos, Arai et. al. (1988) posicionam a
Todo o material coletado foi ensaiado no parte inferior dessa formação no Mioceno
laboratório de geotecnia da Universidade inferior a médio.
Federal de Pernambuco (UFPE).

2.2 Investigação geotécnica de campo


2.1 Caracterização geológica
Foram realizados 4 (quatro) furos de sondagem
A área desta pesquisa encontra-se inserida na de simples reconhecimento com medidas de
Formação Barreiras da cidade de João Pessoa, NSPT a cada metro. As sondagens seguiram a
Paraíba. Os sedimentos da Formação Barreiras norma NBR 6484/2001 (ABNT, 2001).
provêm basicamente dos produtos resultantes da
ação do intemperismo sobre o embasamento
cristalino, localizado mais para o interior do
continente que, no estado da Paraíba, seriam as
rochas cristalinas do Planalto da Borborema.
Gopinath et. al. (1993) em análises
sedimentológicas realizadas na Formação
Barreiras, no Estado da Paraíba, constataram
que as fontes dos sedimentos seriam granitos,
gnaisses e xistos, que são litologias
predominantes no Planalto da Borborema.
Segundo Alheiros et. al. (1989), a deposição
dos sedimentos da Formação Barreiras se deu
Figura 3. Locação dos furos de sondagem no terreno
através de sistemas fluviais entrelaçados
As amostras deformadas foram coletadas de
desenvolvidos sobre leques aluviais. A fácies de
metro a metro, em uma escavação de uma
sistemas fluviais entrelaçados apresenta
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fundação do próprio edifício, iniciando na cota


de – 2.30 m e finalizando na cota de – 7.50 m.
Tais amostras foram utilizadas para a realização
dos ensaios de caracterização. O material foi
coletado em sacos plásticos com
aproximadamente 5 kg de solo.

Figura 4. Profundidade de coleta das amostras

As amostras indeformadas consistiram de Figura 6. Retirada das amostras indeformadas (blocos)


blocos cúbicos com arestas de 30 cm. Foram
coletados nas profundidades -2.30m, -4.30m e -
7.50m. As profundidades de coleta foram
escolhidas da seguinte maneira:
1) A amostra 01 foi coletada logo abaixo da
cota do subsolo (-2.30m);
2) A amostra 02 foi coletada em uma cota
intermediária entre a primeira e a última (-
4.30m);
3) A amostra 03, a última, foi coletada na
maior profundidade escavada (-7.50m).
As amostras foram retiradas de acordo com a
NBR 9604/16 (ABNT, 2016).
As figuras 5 e 6 ilustram as profundidades de
retirada dos blocos:
Figura 7. Locação das amostras indeformadas (blocos)

Onde:

AM1 – Amostra 1
AM2 – Amostra 2
AM3 – Amostra 3

2.2 Campanha de laboratório

A composição granulométrica e os limites de


consistência foram realizados em todas as
amostras coletadas, de acordo com as normas
Figura 5. Profundidade de coleta das amostras
técnicas brasileiras (NBR 6457/16 – Preparação
de Amostras; NBR 7181/16 – Análise
Granulométrica; NBR 13602/96 – Avaliação de
dispersividade de solos argilosos pelo ensaio
sedimentométrico comparativo; NBR 6508/84 –
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Determinação do Limite de Liquidez; NBR


7180/88 – Determinação do Limite de
Plasticidade).
Os ensaios edométricos duplos foram
realizados de modo a avaliar a
compressibilidade do material. Foram utilizados
pares de amostras indeformadas, sendo uma
ensaiada na condição de umidade natural e
outra na condição inundada.
Os parâmetros de resistência ao cisalhamento
do solo foram obtidos em amostras
indeformadas, na condição de umidade natural
e na condição saturada, através do ensaio de
cisalhamento direto.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Atividades de campo

As sondagens de simples reconhecimento foram


muito semelhantes. Na figura 8, é apresentado o
furo SP 01. O ensaio apresentou um pico de
resistência entre 2,0 e 3,0 m, atingindo um Figura 8. Sondagem de simples reconhecimento
valor de NSPT igual a 50, depois reduzindo a um
NSPT igual a 4. Após 4,0 m de profundidade, os 3.2 Atividades de laboratório
valores do NSPT são crescentes, até o limite da
sondagem, que ocorreu em 21,15 m de Todas as amostras apresentaram textura grossa,
profundidade. de acordo com a composição granulométrica
No total, foram perfurados 83,53 m de apresentada na tabela 1. A fração areia foi igual
profundidade, assim distribuídos: a 64 % para o bloco 1, igual a 59% no bloco 2 e
Tabela 1. Profundidade dos furos de sondagem igual a 61% para o bloco 3.
Ensaio Profundidade (m) Tabela 2. Composição Granulométrica (NBR 6457/16,
SP 01 20,08 NBR 7181/16 e NBR 13602/96)
SP 02 21,15 Amostra Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3
SP 03 21,15 Profundidade 2,30 4,30 7,50
SP 04 21,15 (m)
Total 83,53 Pedregulho. 1 1 1
(%)
A classificação do solo é feita através de Areia Grossa 12 11 12
análise táctil visual das amostras coletadas. Sua (%)
identificação inicia-se pela granulometria, Areia Média 30 30 30
classificando-as em duas grandes divisões: solos (%)
grossos e solos finos. Em seguida realizam-se Areia Fina 22 18 19
testes de mobilidade da água intersticial, em (%)
que são avaliadas a consistência e desagregação Silte (%) 23 18 10
da pasta (solo mais água). Argila (%) 12 22 28
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A tabela 2 apresenta a classificação do solo de de resistência para os corpos de prova


acordo com o Sistema Universal de submetidos ao ensaio na condição de umidade
Classificação de Classificação dos Solos – natural. De forma análoga, os mesmos gráficos
SUCS – e os Limites de Atterberg. Observa-se para corpos de prova submetidos ao ensaio na
que todas as amostras possuem baixo Índice de condição inundado são apresentados na figura
Plasticidade. 10.
Tabela 3. Limite de Atterberg (NBR 6459/84 e NBR Já na figura 11, tem-se os mesmos gráficos para
7180/88) e classificação dos solos pelo SUCS o ensaio de cisalhamento direto residual.
Amostra Prof. LL LP IP Densid.
(m) (%) (%) (%) Real
(%)
Bloco 1 2,30 26,3 22,02 4,28 2,652
Bloco 2 4,30 28,0 22,91 5,09 2,642
Bloco 3 7,50 25,4 20,97 4,53 2,654
SUCS: SM-SC

As tabelas 3 a 5 apresentam os resultados dos


parâmetros de resistência ao cisalhamento
direto. Observa-se que a coesão do material
inundado é nula. Na tabela 6 estão sumarizadas
as tensões cisalhantes máximas e a tensão
normal correspondente a esse valor para os
ensaios de resistência ao cisalhamento.

Tabela 4. Parâmetros de resistência (bloco 1)


BLOCO 1
GEOLOGIA NATURAL INUNDADO
C f C f
(kPa) (°) (kPa) (°)
Formação 13 30 0 31
Barreiras
Figura 9. Curva tensão cisalhante x deformação
horizontal e envoltória de resistência – corpos de prova
na condição de umidade natural
Tabela 5. Tensões cisalhantes e tensões normais (bloco
b1)
Condição sin (kPa) tmáx (kPa) snr (kPa)
Natural 25 26,89 27,66
100 76,29 113,94
200 154,49 228,94
300 204,05 341,93
Inundado 25 16,96 28,95
100 66,93 110,28
200 135,95 229,32
300 213,16 341,67

Apresenta-se na figura 9 a curva de tensão


cisalhante x deformação horizontal e envoltória
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inundado. A tabela 5 apresenta alguns


resultados deste ensaio.

Figura 10. Curva tensão cisalhante x deformação


horizontal e envoltória de resistência – corpos de prova
na condição inundado

Figura 12. Índice de vazios x tensão vertical efetiva


(s’v) e curva de colapso – Am 1

Tabela 6. Ensaio edométrico duplo (Bloco Am1)


Índice/Parâmetro Natural Saturado
Índice de vazios 0,797 0,727
(e0)
Peso específico 1,688 1,755
úmido (kN/m3)
Grau de 47,48 52,10
saturação inicial
(%)
Figura 11. Curva tensão cisalhante x deformação Densidade dos 2,652 2,652
horizontal e envoltória de resistência – ensaio de grãos (g/cm3)
cisalhamento residual

A figura 12 apresenta o gráfico índice de 4 CONCLUSÃO


vazios x tensão efetiva vertical, bem como a
curva de colapso, obtidos no ensaio edométrico O solo da obra estudada caracteriza-se por ser
para o solo da amostra 1, com corpos de prova da Formação Barreiras, apresentando em sua
ensaiados na condição de umidade natural e maior parte, areia com grãos de quartzo
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prismáticos e esféricos, sub-angulosos a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.


angulosos. (2016d). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
Rio de Janeiro. Brasil. 12p.
De acordo com o Sistema Unificado de Alheiros, M.M.; Lima Filho, M.F.A.; Monteiro, F.A.J.;
Classificação dos Solos, o solo das amostras Oliveira Filho, J. S. (1998) Sistemas deposicionais
classifica-se como uma areia siltosa (SM-SC). na Formação Barreiras do Nordeste Oriental. In:
Para o ensaio de cisalhamento direto, Congresso Brasileiro de Geologia, 35, 1988, Belém
observa-se que a coesão do material inundado (PA). Anais. SBG, v.2: 735-760.
Alheiros, M. M.; Lima Filho, M. F. (1991) A Formação
se apresentou nula, devido ao efeito da sucção
Barreiras. Revisão geológica da Faixa Sedimentar
matricial. Costeira de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do
No ensaio edométrico, percebeu-se que as Norte. Estudos Geológicos (Série B Estudos e
amostras inundadas tiveram maiores Pesquisas). V. 10, p. 77-88
deformações (para a mesma tensão) que as Coutinho, R. Q.; Severo, R. N. F. Investigação
amostras na umidade natural. Geotécnica para Projeto de Estabilidade de
Encostas. In: V COBRAE. Anais, São Paulo-SP,
As sondagens de simples reconhecimento 55p. Edição em CD-ROM.
apresentaram valores de NSPT com um pico de Mabesoone, J. M. (Coord). (1991) Revisão geológica da
resistência entre 2,0 e 3,0 m, atingindo um faixa sedimentar costeira de Pernambuco, Paraíba e
valor de NSPT igual a 50, depois reduzindo a um parte do Rio Grande do Norte. Estudos Geológicos
NSPT igual a 4. Após 4,0 m de profundidade, os (Série B, Estudos e Pesquisas), v. 10, 252p.
Rosseti, D. F. (2006) Deformação Rúptil em Depósitos
valores do NSPT são crescentes, até o limite da da Formação Barreiras na Porção Leste da Bacia
sondagem, que ocorreu em 21,15 m de Potiguar. Revista do Instituto de Geociências – USP,
profundidade. Geol. USP Série. Científica, São Paulo, v. 6, n. 2, p.
Os resultados dos parâmetros geológicos- 51-59.
geotécnicos apresentados no presente trabalho
serão utilizados na análise da capacidade de
carga do conjunto solo-estaca, em prova de
carga instrumentada em profundidade, em fase
de desenvolvimento da dissertação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Programa de Pós


Graduação em Engenharia Civil da
Universidade Federal de Pernambuco, ao
Gegep, sob a coordenação do professor D. Sc.
Roberto Coutinho, sem os quais não seria
possível o desenvolvimento desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.


(2017). NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos na
peneira de abertura 4,8 mm – Determinação da massa
específica aparente seca e da absorção de água. Rio
de Janeiro. Brasil. 10p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016b). NBR 6459: Solo – Determinação do limite
de liquidez. Rio de Janeiro. Brasil. 5p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016c). NBR 7180: Solo – Determinação do limite
de plasticidade. Rio de Janeiro. Brasil. 3p.
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Caracterização Geológico-Geotécnica do Solo Residual


Proveniente de Gnaisses Migmatíticos do Complexo Embu, São
Paulo, SP
Mariane Borba de Lemos
Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, mariane.lemos@usp.br

Fernando A. M. Marinho
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, fmarinho@usp.br

RESUMO: O conhecimento das propriedades geotécnicas de um solo é fundamental para a previsão


do seu comportamento frente as diversas solicitações de obras. Grande parte dos estudos
encontrados na literatura sobre o comportamento dos solos do município de São Paulo são
referentes aos sedimentos pertencentes à Bacia de São Paulo. Com relação aos solos residuais
provenientes do embasamento cristalino, embora sejam encontrados alguns estudos, há uma
necessidade de um maior conhecimento do comportamento destes solos para fins de projeto de
engenharia. Neste cenário, o presente trabalho apresenta a caracterização geotécnica de um solo
residual proveniente da decomposição de um gnaisse migmatítico do embasamento cristalino da
Bacia de São Paulo, pertencente ao Complexo Embu. Neste trabalho são apresentados os resultados
dos ensaios de caracterização, os parâmetros de resistência e de deformabilidade deste solo, obtidos
a partir de ensaios triaxiais anisotropicamente adensados na condição não drenada, realizados em
corpos de prova obtidos de blocos indeformados

PALAVRAS-CHAVE: Solo Residual Migmatitico; Caracterização Geológica-Geotécnica; Ensaio


Triaxial Adensado Não Drenado;

1. INTRODUÇÃO solos residuais do munícipio de São Paulo ainda


são pouco estudados e caracterizados
O subsolo do município de São Paulo é Dentre os principais textos orientativos que
constituído por três compartimentos geológicos visam caracterizar os solos do munípio de São
principais: o embasamento cristalino Pré- Paulo encontram-se as seguintes publicações:
Cambriano; os sedimentos Paleógenos e “Solos da Cidade de São Paulo” (Negro Jr. et al,
Neógenos da Bacia de São Paulo; e as 1992) e “Solos das Regiões Metropolitanas de
coberturas sedimentares quaternárias. São Paulo e Curitiba” (Negro Jr. et al, 2012).
A ocupação do território paulista se iniciou Porém, a grande maioria dos dados pertencentes
sobre os terrenos sedimentares pertencentes à a estas publicações referem-se aos sedimentos
Bacia de São Paulo, onde se concentram o da Bacia de São Paulo. Os dados referentes aos
maior número de obras de infra-estrutura e solos residuais e coberturas quartenárias são
estudos do subsolo. Com o crescimento do poucos e muitas vezes são insuficientes para
centro urbano, iniciou-se a ocupação em uma concepção acurada de projetos civis,
terrenos constítuidos por solos residuais justificando a necessidade de divulgação destes
provenientes da decomposição de rochas do dados ao meio técnico. . É importante ressaltar
embasamento cristalino, localizados nas que o fato destes solos apresentarem uma
periferias do munícipio e em cidades vizinhas. significativa hetereogeneidade, não justifica a
Devido um menor número de obras de infra- dispensa de investigações em cada caso.
instrutura de grande porte nestas regiões, os Neste cenário, o objetivo deste trabalho é
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apresentar a caracterização geológico- O embasamento da Bacia de São Paulo é


geotécnica de um solo residual do munícipio de composto por rochas do Cinturão Ribeira, que
São Paulo, a partir de compilações de dados pertencem ao Sistema Orogênico da
encontrados na literatura e por meio dos Mantiqueira. Este sistema é proveniente da
resultados obtidos no presente estudo, que Orogenia Brasiliana, que originou o
envolve ensaios de caraterização e ensaios paleocontinente Gondwana durante o
triaxiais em amostras indeformadas. Neoproterozóico (Monteiro et al, 2012). No
município de São Paulo, o Cinturão Ribeira é
2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE constituído por rochas ígneas e metamórficas
ESTUDO pertencentes, majoritariamente, ao Complexo
Embu e aos Grupos São Roque , Serra de
O solo analisado nesta pesquisa foi coletado nas Itaberaba e corpos graníticos intrusivos.
proximidades do campo experimental de O Complexo Embu, onde aloja-se a área de
geotecnia da Escola Politécnica, situado no estudo, está localizado na porção centro-sul do
campus Butantã da Universidade de São Paulo, Município de São Paulo e é representado por
na zona oeste do município de São Paulo, uma faixa de afloramentos com direção NE-
Brasil. Trata-se de um solo residual proveniente SW. É constituído por xistos, filitos,
da decomposição de um gnaisse migmatítico migmatitos, gnaisses e, secundariamente, por
pertencente ao Complexo Embu. lentes de anfibolitos e rochas calciossilicaticas
(Monteiro et al. 2012).
3. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA
REGIONAL 4. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA
LOCAL
O município de São Paulo está localizado no
Platô Paulistano e é constituído por três O subsolo do campo experimental é constituído
compartimentos geológicos principais: por solo residual, proveniente da decomposição
embasamento cristalino Pré-Cambriano, de gnaisses migmatíticos, pertencentes ao
sedimentos Paleógenos e Neógenos da Bacia de Complexo Embu.
São Paulo e por coberturas aluvionares O solo analisado apresenta composição
Quaternárias, em ordem estratigráfica (ABEF, bastante heterogênea, como observado nos
1989). bloco indeformados ilustrado na Figura 1. É
A Bacia Sedimentar de São Paulo apresenta- constituído, em média, por silte arenoso com
se como uma faixa alongada entre os pedregulhos dispersos, de coloração marrom
municípios de Arujá e Embu-Guaçu, com área avermelhado e com estrutura foliada
próxima de 1000 km² (Gurgueira, 2013). Esta preservada. A foliação apresenta direção leste –
bacia está associada ao Rift Continental do oeste com mergulho subvertical (80 – 85°S).
Sudeste do Brasil, relacionada à tectônica Porém, em alguns locais ocorrem mudanças
distensiva Neógena e Paleógena, que foi bruscas de atitude. Estas mudanças são geradas,
responsável pela formação de diversas bacias provavelmente, por processos de fusão da
com direção NE-SW, paralelas a linha de costa rocha-mãe e possivelmente acentuadas por
brasileira, como a Bacia de Itaboraí, Bacia de movimentos de terra, após intemperismo.
Resende, Bacia de São Paulo, Bacia de Taubaté,
entre outras (Monteiro et al, 2012). De modo
geral, a Bacia de São Paulo é preenchida por
sedimentos fluviais e lacustres e é constituída
principalmente por argilitos, lamitos arenosos e
conglomerados.
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(a) (b)

Figura 1. Heterogeneidade do solo, visto em blocos


indeformados

O material é cortado por bolsões alongados,


de coloração branca, de dimensões variadas (10
cm a 1 m), constituídos por areia fina a média e
compostos, primordialmente, por caolinita e
grãos de quartzo. Estes bolsões ocorrem, em sua
maioria, concordantes com a foliação. Em
alguns locais ocorrem veios de quartzo, de
espessura entre 3 a 5 cm, associados a estes
bolsões.
Também foram observadas fraturas
irregulares, que ocorrem comumente,
preenchidas por material de coloração marrom Figura 2. Mapeamento de detalhe em poços de
escura, de elevada dureza. ABEF (1989) inspeção (adaptado de ABEF, 1989).
classificou este material como uma associação
de argilominerais com óxidos e hidróxidos e 5. MATERIAIS E MÉTODOS
ferro.
Em menor escala, ocorrem bolsões, em geral Foi efetuada a coleta de um bloco indeformado
de formato esférico, de dimensões entre 2 a 4 para a execução de ensaios ensaios especiais e
cm de diâmetro, constituídos por um material amostras deformadas para a realização de
siltico argiloso, de coloração marrom escura e ensaios de caracterização.
de elevada porosidade. O local de coleta de amostras consiste em
ABEF (1989) realizou mapeamento de um talude de aproximadamente 4 metros de
detalhe em dois poços de inspeção, de altura. O bloco indeformado foi retirado com
profundidade de 8,7 metros, no campo dimensões aproximadas de 25 cm em todos os
experimental da USP. A Figura 2 apresenta este lados, e foi protegido com papel alumínio e,
mapeamento, ilustrando as relações de contato posteriormente, foi parafinado em campo
das estruturas descritas. Como pode ser O bloco obtido apresentou-se extremamente
observado, as estruturas acima mencionadas heterôgeneo, sendo possível observar as
também ocorrem em profundidade. Dessa estruturas descritas no item 4.
forma, o solo é caracterizado por apresentar Para a caracterização do solo, foram
elevada heterôgeneidade estrutural e realizados os ensaios de granulometria,
composicional de maneira pervasiva. densidade dos grãos e limites de Atterberg. Para
tanto, as amostras foram homogeneizadas,
seguindo as especificações da norma NBR-
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6457/1984. O solo analisado apresenta


porcentagem de material retido na peneira 40
menor que 10% e os ensaios foram realizados
com secagem prévia. Os ensaios de
caracterização foram realizados seguindo as
seguintes normas:
- Granulometria: NBR-7181/1984
- Densidade dos grãos: NBR-6508/1984
- Limite de liquidez: NBR-6459/1984
- Limite de plasticidade: NBR-7180/1984
O ensaio de granulometria foi realizado com
uso de defloculante, na etapa de sedimentação.
Foram executados ensaios triaxiais Figura 3. Curva granulométrica
adensados anisotropicamente e cisalhados na
condição não drenada (CAU), com tensões de 6.2. Ensaios Especiais
adensamento de 50 kPa, 100 kPa, 200 kPa e 300
kPa, em corpos de prova moldados do bloco As características dos corpos de prova
obtido. Os corpos de prova foram talhados com utilizados na execução dos ensaios triaxiais do
aproximadamente 80 mm de altura e 38 mm de tipo CAU estão indicadas na Figura 4, onde
diâmetro. Cada corpo de prova (cp) foi também apresentam-se as imagens dos corpos
submetido a um processo inicial de aumento de de prova após a ruptura.
saturação por meio de aspersão de água. Após a
montagem do cp na camera triaxial procedeu-se
a saturação por contra-pressão, mantendo-se a
tensão efetiva em 10 kPa. Ensaios indicaram
que apenas a utilização da contra pressão não
permitia a saturação do cp, apresentando baixos
valores do parâmetro B. Todos os corpos de
prova foram adensados anisotropicamente, com
uma relação entre tensão confinante e tensão
axial efetivos igual a 0,7. A escolha deste valor
não possui nenhuma relação com a condição de
campo e objetivou apenas melhorar a
interpretação dos dados de deformabilidade.

6. RESULTADOS

6.1. Ensaios de Caracterização

A curva granulométrica do material estudado


está apresentada na Figura 3. A densidade
relativa dos grãos é 2,71. Os ensaios de Limites
de Atterberg determinaram que o solo possui
limite de liquidez de 54% e limite de
plasticidade de 42%. O solo foi classificado
como um silte de alta plasticidade pelo Sistema
Unificado de Classificação de Solos. Figura 4. Características dos corpos de prova
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envoltória de ruptura interpretada. Os


Na Figura 5 estão apresentadas as curvas parâmetros de resistência efetivos obtidos
tensão-deformação-poro pressão, para os foram: c’ = 60 kPa e φ’ = 20o.
ensaios realizados. Observa-se que todos Tendo em vista a formação do solo estudado,
apresentaram um pico de resistência, embora as diferenças no comportamento dos corpos de
este comportamento tenha sido mais prova nos ensaios triaxiais eram esperadas. Por
pronunciado nos ensaios com as confinantes de isso, os parâmetros de resistência obtidos
50 kPa e 300 kPa. A tendência geral foi de devem ser utilizados com cautela em projetos.
desenvolvimento de pressão de água positivo na
ruptura, com uma redução no pós-pico. 300

t (kPa)
CAU-50 kPa
As diferenças de comportamento entre os CAU-100 kPa
250
cp’s é possivelmente fruto da heterogeneidade CAU-200 kPa
CAU-300 kPa
do material. 200 Envoltória de ruptura

150
450
q = σ1-σ3 (kPa)

CAU - 50 kPa
400 CAU - 100 kPa 100
CAU - 200 kPa
350 CAU - 300 kPa
50
300 K = 0.7

250 0
0 100 200 300 400
200 s' (kPa)

150
Figura 6. Trajetórias de tensões
100

50 (a) Embora o procedimento de medição dos


0 deslocamentos durante o ensaio triaxial tenha
0 2 4 6 8 10 12
200 sido feito utilizando medição externa, que
Δu (kPa)

incorpora deformações do sistema, o


150
procedimento de adensamento anisotrópico
100 minimiza este problema. Aliado ao cuidado na
obtenção dos corpos de prova foi possível obter
50
deformações da ordem de 0.01%.
0 Na Figura 7a estão apresentados os valores
dos módulos de deformabilidade secante
-50
(b) relacionados às defomações durante o processo
-100 de cisalhamento no ensaios triaxiais. Observa-se
0 2 4 6 8 10 12
ε (%)
que para baixos níveis de deformação há uma
variação entre o comportamento dos módulos
Figura 5. Resultados dos ensaios triaxias CAU (a)
curvas tensão-deformação (b) variação da pressão em função da tensão confinante. Para as tensões
de água. confinantes de 50 kPa e 100 kPa os módulos
permanecem praticamente constantes até um
Em termos de trajetória de tensões, nível de deformação da ordem de 0.5 %. A
apresentadas na Figura 6, observa-se que os partir deste ponto há uma degradação do
cp’s com tensões confinantes de 50 kPa e 100 módulo. Já para as tensões confinantes de 200
kPa desenvolveram pouca pressão de água, kPa e 300 kPa, não se observa um patamar
sendo o cp ensaiado com 300 kPa aquele que inicial constante e o módulo continuamente se
apresentou maior geração de pressão de água. reduz com a deformação do corpo de prova. Na
Na Figura 6, a linha tracejada indica a Figura 7b é apresentado o módulo de
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deformabilidade normalizado pela tensão ABEF (1989) denominou estas porções do solo
efetiva média (p’). Observa-se que não há uma como caulim e migmatito, respectivamente.
tendência única com este tipo de normalização. O solo foi caracterizado como um silte
Este aspecto pode ser devido a aspectos arenoso por grande parte dos autores, porém foi
estruturais do solo e a sua variabiulidade. detectada uma grande variação na análise
granulométrica realizada pelos autores. O teor
120
de silte e argila foi muito variável entre as
E (MPa)

CAU - 50 kPa
100 CAU - 100 kPa análises dos autores, com variações de até 47%.
CAU - 200 kPa
80
CAU - 300 kPa
Os limites de plasticidade e liquidez também
60 apresentarem grandes variações. Tais diferenças
40
estão associadas ao grau de intemperismo das
amostras analisadas e a elevada
20
(a) heterogeneidade, típico deste tipo de solo.
0
0.01 0.1 1 10 Na Tabela 2 estão apresentados parâmetros
ε (%) de resistência encontrados na literatura. Embora
600
boa parte dos autores tenham realizados ensaios
E/p'

500
em amostras compactadas do solo residual,
400
estas informações permitem uma avaliação do
300 aspecto estrutural do material.
200 Em amostras indeformadas, o ângulo de
100 atrito efetivo variou entre 20° e 32° e a coesão
0
(b) efetiva apresentou uma elevada variabilidade,
0.01 0.1 1 10 entre 8,7 kPa e 116 kPa, indicando, mais uma
ε (%)
vez, a elevada heterogeneidade deste solo. O
Figura 7. Parâmetros de deformabilidade
ângulo de atrito do material indeformado variou
7. DISCUSSÃO de 23o a 32o. A coesão do material compactado
indicou valores muito inferiores ao material
As propriedades geotécnicas deste solo também indeformado com varibilidade entre 5 kPa e 27
foram estudadas por ABEF (1989), Stuermer kPa. Já o ângulo de atrito apresentou uma
(1998), Vieira (1999), Oliveira (2004), Guzmán variação entre 27o e 34o. A média do ângulo de
(2014) e Orlando (2015). Os resultados dos atrito do material compactado foi ligeiramente
ensaios de caracterização obtidos por estes superior ao do indeformado.
autores estão apresentados na Tabela 1, Com relação aos módulos de
juntamente com o resumo dos resultados deformabilidade é necessário se aprofundar os
obtidos no presente estudo. Stuermer (1989) e estudos sobre o efeito da variabilidade do
Vieira (1999) realizaram ensaios de material e de sua estrutura no processso de
caracterização em mais de uma amostra, nestes degardação do módulo. No entanto, os cuidados
casos estão apresentados os valores máximos, empreendidos na obtenção das amostras e na
mínimos e a média dos resultados obtidos por realização dos ensaios, permitem estimar o
estes autores. módulo de deformabilidade para um nível de
ABEF (1989) realizou um estudo detalhado deformação da ordem de 0.01%.
da área estudada, com realização de diversos Devido a elevada variabilidade dos dados
ensaios laboratoriais e in situ. Em uma das compilados, a adoção destes valores como
análises, foram realizados ensaios especiais e de parâmetros de projeto deve ser realizada com
caracterização comparando o comportamento de cautela, considerando a porção do solo de
duas porções distintas do solo: os bolsões interesse.
caoliníticos (leucossoma) e o paleossoma.
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Tabela 1. Revisão da literatura – ensaios de caracterização

Frações granulométricas Limites de Atterberg


rs
% areia % areia % areia % (g/cm³)
% argila % silte LL (%) LP (%) IP (%)
fina média grossa pedregulho
Migmatito
7 74 18 1 0 0 54 36 18 2.73
(paleossoma)
ABEF (1989) Bolsões
caoliniticos 18 50 22 8 2 0 38 50 12 2.63
(leucossoma)
máximo 53.6 18.4 28.2 5.7 4.4 0 49 31 20 2.75
Stuermer (1998) mínimo 48.3 14.7 21.5 3.2 3 0 48 28 18 2.73
média 50.8 16.06 25.36 4.22 3.76 0 48.4 29 19.4 2.74
máximo 37 39 37 6 4 1 57 34 29 2.769
Vieira (1999) mínimo 22 26 29 3 1 0 47 27 9 2.512
média 28 33 32 5 2 1 51 34 17 2.697
Oliveira (2004) 20 46 28 6 0 0 47 34 13 2.71

Guzmán (2013) 23 45 28 4 0 0 48 29 19 2.71

Orlando (2015) 13 63 16 6 1 1 51 41 10 2.735

Estudo atual 13 67 16 2 1 1 54 42 12 2.71

estruturas monótonas, e em geral, são cortadas


Tabela 2. Parâmetros de resistência da literatura. por estruturas intrusivas (leucossoma) e, muitas
Tipo de
vezes, aprensentam planos de foliação
Tipo de amostra c' (kPa) φ' (°)
ensaio deformados.
42.0 26
CD Indeformada 71.0 23
Os ensaios laboratoriais realizados, a
ABEF (1989)
93.0 23 compilação de dados da literatura e a avaliação
CU Indeformada 116.0 28 do material em campo, mostraram que a elevada
Indeformada - Migmatito 100.0 25
CD
Indeformada - caulim 34.8 23 heterogeneidade deste solo dificulta a
Vieira (1999) CAU Indeformada
8.7 23 interpretação do comportamento do material.
16.0 32
Compactada - umidade ótima 12.0 32 A obtenção de parâmetros de resistência é
Oliveira (2004)
CAU Compactada - ramo seco 5.0 34 ainda mais dificultada, devido a necessidade de
Compactada - ramo úmido 9.0 32
CAD Compacta - umidade ótima 12.0 30
interpolação de dados de amostras distintas. A
Compactada - umidade ótima 21.4 29 escolha do local de amostragem e sua
Guzmán (2013) CIU Compactada - ramo úmido 17.6 31
Compactada - ramo úmido 15.5 28
representatividade perante o maciço é
Compactada - umidade ótima 27.0 27 fundamental. Além disto, a própria moldagem
Orlando (2015) CIU Compactada - ramo seco 27.0 29 dos corpos de prova exige uma escolha
Compactada - ramo úmido 21.0 27
Estudo atual CAU Indeformada 60.0 20 cuidadosa para que se possa reduzir a
variabilidade sem comprometer a
8. CONCLUSÕES representatividade.
Devido esta dificuldade, uma alternativa é a
O solo estudado apresenta heterogenidade por execução de ensaios triaxiais multi-estágios
se tratar da alteração de uma rocha migmatítica. para a obtenção dos parâmetros de resistência e
As rochas migmatitícas são formadas pela fusão deformabilidade em solos residuais
parcial de uma rocha pré-existente. Os minerais heterogêneos. Este procedimento de ensaio
com menor ponto de fusão se fundem e o utiliza apenas um corpo de prova para definir a
líquido formado migra por zonas de fraqueza da envoltória. Este procedimento deve ser melhor
rocha, formando bolsões leucossomáticos. investigado tendo em vista as caracteríticas
Dessa forma, estas rochas não apresentam estruturais dos solos residuais.
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Paulo Regiões e Curitiba. ABMS. São


AGRADECIMENTOS Paulo. 506 p.
Oliveira, O. M. (2004) Estudo sobre a
Os autores agradecem à CAPES pelo apoio Resistência ao Cisalhamento de um Solo
financeiro, que viabilizou a realização desta Residual Compactado não Saturado. Tese de
pesquisa, ao técnico de laboratório Antônio doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Heitzmann, pelo auxílio em campo e ensaios Geotecnia, Escola Politécnica da
laboratoriais, e aos colegas Carla Palomino e Universidade de São Paulo, São Paulo, 330
Robert Mendoza pelo apoio inestimável em p.
várias etapas da presente pesquisa. Orlando, P.G. (2015) Avaliação Experimental
da Interação Solo Coesivo-Fita Polimérica
REFERÊNCIAS sob Condições de Teor de Umidade
Variáveis. 2015. Dissertação de mestrado,
ABEF – Associação Brasileira de Engenharia de Programa de Pós-graduação em Geotecnia,
Fundações e Serviços Geotécnicos (1989). Escola Politécnica da Universidade de São
ABEF Research on Foundation Engineering. Paulo, São Paulo, 213 p.
In: XII ICSMF. Stuermer, M. M. (1998) Estudo da Capacidade
ABNT – Associação Brasileira de Normas de Retenção de Água em um Solo Residual
Técnicas. (1984). NBR-6457: Amostras de Compactado. Dissertação de mestrado,
Solos: Preparação para Ensaios de Programa de Pós-graduação em Geotecnia,
Caracterização e Compactação, Rio de Escola Politécnica da Universidade de São
Janeiro, 1984a. 9 p. Paulo, São Paulo, 1998. 158 p.
Gurgueira, M. D. (2013). Correlação de Dados Vieira, A. M. (1999) Variação Sazonal da
Geológicos e Geotécnicos da Bacia de São Sucção em um Talude de Solo Residual de
Paulo. Dissertação de mestrado. Programa Gnaisse. Dissertação de mestrado, Programa
de Pós-graduação em Recursos Minerais e de Pós-graduação em Geotecnia, Escola
Hidrogeologia, Instituto de Geociências, Politécnica da Universidade de São Paulo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 76 p. São Paulo, 123 p..
Guzmán, G.G.C. (2014), Contribuição ao
Estudo do Comportamento Geotécnico de
um Solo Quasi-saturado. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-graduação em
Geotecnia, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 229
p.
Monteiro, M. D.; Gurgueira, M. D.; Rocha, H.
C. (2012) Geologia da Região Metropolitana
de São Paulo. In: ABMS (org). Twin Cities:
Solos das Regiões Metropolitanas de São
Paulo e Curitiba. 1 ed. São Paulo: ABMS. p.
15 – 43.
Negro Jr., A., Ferreira, A.A., Alonso, E.R, Luz,
P.A.C. (Eds) (1992) Solos da Cidade de São
Paulo. ABMS/ABEFSG, São Paulo, 376p.
Negro Jr., A., Namba, M., Dyminski, A.S.,
Sanches, V.L., Kormann, A.C.M. (Eds)
(2012) Solos das Metropolitanas de São
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Caracterização geotécnica de solos em uma topossequência típica


no município de Cruz das Almas – BA
Josué Gomes de Oliveira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, josueoliv18@gmail.com

Jennyfer Drielle Santos Pereira


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, jds_drielle@hotmail.com

Helena Santos Ribeiro


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil,
helena_sari.11@hotmail.com

Weiner Gustavo Silva Costa


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, weiner@ufrb.edu.br

Mário Sergio de Souza Almeida


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, mario.almeida@ufrb.edu.br

RESUMO: As características dos solos desempenham um papel fundamental para a análise de seu
comportamento quando são solicitados por esforços externos visto que as obras de engenharia estão
assentadas sobre eles. Com base nisso, este estudo foi realizado com o objetivo de caracterizar e
classificar geotecnicamente quatro tipos de solos coletados numa topossequência típica no
município de Cruz das Almas, Bahia. Para a classe predominante (Latossolo Amarelo) também se
estudou a variabilidade em profundidade em três profundidades no perfil de uma trincheira. Os
solos foram submetidos a ensaios de caracterização física, onde foi possível determinar massa
específica dos sólidos, avaliar os índices de consistência dos solos e classificar, segundo
metodologia da SUCS e AASHTO, os tipos de solos existentes verificando a existência de três
grupos principais de solo e que a argila tem uma atuação expressiva nelas.

PALAVRAS-CHAVE: caracterização geotécnica, caracterização física, solos.

1 INTRODUÇÃO o tempo por fatores naturais. A partir dos


estudos do cientista russo Dokuchaev, em 1898,
O conceito de solo por ser bastante amplo é se firmou a ideia de que as características de um
definido de acordo com a finalidade para o qual solo são em decorrência da atuação de fatores
será analisado. De uma forma geral, ele pode formadores do solo, podendo ser ativos,
ser classificado como um conjunto de corpos passivos ou controladores como material de
naturais, tridimensionais e dinâmicos origem, relevo, clima, tempo e organismos
constituídos por materiais minerais e orgânicos (MUGGLER; CARDOSO, 2005).
e que cobrem a superfície continental, sendo Já para a engenharia civil o solo pode ser
estes constituídos por fases sólidas, líquidas e definido como todo material da crosta terrestre
gasosas, originados através da desagregação da que não impõe grande resistência à escavação
rocha matriz (EMBRAPA, 2006). por meio de materiais usuais de terraplanagem
A Pedologia, que estuda a formação do solo, como pás, picaretas, escavadeiras e afins, sem a
o identifica como um material modificado com necessidade de explosivos para a sua
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desagregação e, que em contato prolongado Em virtude disso e, como em Valeriano e


com a água, perde totalmente sua resistência Prado (2001), entende-se que as propriedades
(VARGAS, 1981). dos solos variam entre pontos relativamente
Como as obras da engenharia civil estão próximos, muitas vezes de forma significativa e
assentadas sobre um terreno é de grande sem causa visual aparente, ou seja, as mudanças
importância conhecer o comportamento deste espaciais não ocorrem em locais definidos com
material básico para o desenvolvimento da limites abruptos. Segundo Araújo et al. (2018),
construção, quando analisado em diferentes o solo está sujeito à variação de suas
condições de solicitações para seu uso. Além propriedades físicas e químicas no espaço e no
disso, o solo também pode servir como área de tempo, resultante da complexa interação entre
empréstimo ou material de grande pedologia, topografia e clima.
aplicabilidade na construção civil (VARGAS, Em especial, a região do estado da Bahia
1981). conhecida como Recôncavo Baiano, dentre os
Os solos são originados através da diferentes materiais presentes está sempre
desintegração mecânica ou decomposição associada aos solos vérticos formados sobre
química sofrida pela rocha mãe através dos rochas sedimentares argilosas e em clima
agentes do intemperismo. Como a rocha pode tropical úmido, como em Ribeiro et al. (1990).
ser formada por diferentes minerais, cada solo Esse material, também conhecido como solo
possui características que lhes são conferidas de Massapê, se caracteriza por ter um
acordo com o seu comportamento perante o comportamento expansivo ao sofrer
intemperismo no local de formação. umedecimento associado a perda de resistência.
A decomposição física ocorre devido a ação Também sofrem grandes diminuições de
de agentes como temperatura, ventos e volume e ganhos de resitência quando secos
vegetação. Esta desagregação mecânica é (SIMÕES de OLIVEIRA et al., 2006). Em
responsável pela formação de solos com Geotecnia esse é um dos problemas encontrados
partículas mais grossas, como pedregulhos e e que afetam significativamente as obras civis.
areia, podendo formar partículas intermediárias, Neste contexto, a definição do nível de
como areia fina e silte. No intemperismo atividade da fração fina do solo (argila) torna-se
químico ocorre a transformação mineralógica e um parâmetro de grande importância nas
química da rocha formadora, onde o principal análises Geotécnicas. Almeida (2016) apresenta
agente modificador é a água. Os principais o Índice de Atividade de Skempton (IAs),
mecanismos de ação são a hidratação, oxidação, definido por Skempton (1953) como a razão
efeitos químicos da vegetação e a carbonatação. entre o índice de plasticidade (IP) e a fração
Neste processo de intemperismo, as argilas são argila do solo (Equação 1), o qual classifica o
os últimos produtos formados (CAPUTO, solo como inativo (IAs ≤ 0,75), normal (0,75 <
1988). IAs ≤ 1,25) e ativo (IAs > 1,25).
Do ponto de vista da origem de formação, os
solos podem ser classificados como IP
IAs= (1)
% Fração Argila
sedimentares e residuais, as quais possuem
características físicas e mecânicas distintas. Os
sedimentares são formados a partir da Nesse sentido, esta pesquisa tem como
acumulação de materiais minerais não principal objetivo realizar uma caracterização
consolidados que foram formados em outro física geotécnica de solos que ocorrem no
local, mas que foram transportados e Recôncavo Baiano, especificamente no
sedimentados. O processo de transporte se dá município de Cruz das Almas – BA. Essa região
pela ação de ventos, movimento da água e ação é de interesse por se encontrar muito pouco
da gravidade (FERNANDES, 2011). estudo dentro da Geotecnia.
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2 MATERIAIS E MÉTODOS a presença de Latossolo Amarelo, Argissolo


Amarelo e Planossolos Háplicos.
2.1 Área de Estudo

Para a presente pesquisa, os solos em análise


foram coletados no campus da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB),
localizada no município de Cruz das Almas -
BA, que está localizado na mesorregião
geográfica da região metropolitana de Salvador
e microrregião geográfica de Santo Antônio de
Jesus (IBGE, 2018), à 146 km da capital do
Estado. O município possui uma área de
139,117 km² (IBGE, 2005), apresenta
coordenadas geográficas 12° 40' 12" S 39° 06'
07" O, a uma altitude média de 225 m. As Figura 1 - Mapa da distribuição das formações pedológi-
temperaturas médias anuais são de 24,2º C, com ca dos solos de Cruz das Almas. (RODRIGUES et al.,
máxima de 29,9 ºC e mínima de 20,6 ºC. A 2009).
precipitação pluviométrica varia de 1000 a 1300
mm anuais, com média de 1206 mm (RIBEIRO 2.2 Solos
& WALTER, 1998).
O relevo de Cruz das Almas é formado por Seis amostras deformadas de solo foram
tabuleiros sedimentares em processo de coletadas de pontos com diferentes altitudes,
dissecação com a altitude variando entre 140 m cujas localizações podem ser obervadas na
e 270 m, onde a parte leste da cidade apresenta Figura 2 e Tabela 2, a seguir.
um maior desnível acelerando com isso seu
processo de desagregação. Estudos referentes
aos domínios pedológicos indicam a existência
de cinco classes de solos na cidade mostrada na
Figura 1 e na Tabela 1 apresentadas a seguir
(RODRIGUES et al,. 2009).

Tabela 1 - Classificação pedológica dos solos de Cruz das


Almas (RODRIGUES et al., 2009)
Área Área
Solos
(km²) (%)
LATOSSOLO AMARELO Distrocoeso 120,2 69,0
Típico
Figura 2 - Local de coleta das amostras (GOOGLE,
ARGILOSSOLO AMARELO Eutrófico 10,0 5,8
2018).
PLANOSSOLO HÁPLICO Distrófico 38,4 22,1
LUVISSOLO HÁPLICO Órtico 1,5 0,9
Sendo três delas retiradas de um mesmo
GLEISSOLO HÚMICO Eutrófico 3,9 2,2
ponto de coleta (ponto 4), onde visualmente
Área Total Mapeada 174,0 100,0 percebia-se a mudança no aspecto físico dos
solos com a profundidade conforme mostrados
A partir da análise do mapa da distribuição na Figura 3. Tais amostras foram levadas ao
pedológica de Cruz das Almas (Figura 1) é Laboratório de Solos e Fundações da UFRB,
possível observar que na direção leste do onde se deu início aos procedimentos
município, onde a UFRB está localizada, existe experimentais.
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Tabela 2 – Coordenadas dos pontos de coleta Os planossolos equivalem à localização do


Ponto Latitude Longitude material 3.0 no fundo do vale, em altitudes mais
1.0 12°39'43.12"S 39° 4'47.11"O
baixas. Ressalta-se que esse ponto de coleta se
2.0 12°39'41.98"S 39° 4'43.59"O
3.0 12°39'37.82"S 39° 4'39.02"O refere ao horizonte saprolítico no local. As
4 12°39'34.57"S 39° 5'45.59"O demais amostras foram coletadas no horizonte
residual.
As amostras foram coletadas, preparadas e
armazenadas no laboratório de Solos e
Fundações da UFRB para utilização na
pesquisa.
Foram coletados cerca de 4 kg de solo de
cada amostra representadas na Figura 3 para a
caracterização física desses solos.

2.3 Caracterização física dos solos

A caracterização física dos solos foi feita a fim


de classificar as amostras de acordo com as
especificações da SUCS e AASHTO. Os
ensaios foram realizados conforme mostrado na
Figura 4.

Figura 3 - Locais de extração das amostras.


Preparação do solo para
caraterização (ABNT,
Tanto o solo dito amostra 1.0 quantos as 2016a)
amostras 4.1, 4.2 e 4.3 são representativas do
grupo dos Latossolos, muito presente na região, Limite de
Análise Massa
principalmente nas regiões mais altas. Esta Granulométrica Liquidez (LL) Específica dos
últimas foram coletadas em três profundidades (ABNT, 2016b) (ABNT,1984a) Sólidos (ABNT,
(1,0 m, 1,5 m e 2 m) no perfil de uma trincheira. Limite de 1984b)
Segundo Rodrigues et al. (2009) as Plasticidade
(LP) (ABNT,
características deste solo são: bastante 1984c)
profundos, desenvolvidos sobre material
sedimentar e ocupando áreas de relevo plano e Figura 4 – Caracterização física dos solos.
suave ondulado dos tabuleiros.
A amostra 2.0 foi coletada numa região onde
predominam os Argissolos e Luvissolos nas 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
encostas mais íngremes do município, em
altitudes médias. Nessas áreas, a maior Após a caracterização dos materiais, a seguir
dissecação das formações sedimentares são apresentados os resultados e respectivas
possibilita uma exposição do complexo classificações. Um resumo das curvas
granulítico a maiores altitudes em relação ao granulométricas para as seis amostras pode ser
nível de base local (RODRIGUES et al., 2009). visto na Figura 5.
Segundo Rodrigues et al. (2009) os argissolos e De acordo com a ABNT (1995) a
os planossolos desenvolveram-se a partir de distribuição de tamanho dos grãos foram de
materiais de origem oriundos de rochas acordo com o contido na Tabela 3.
cristalinas do complexo charnockito-
granulítico.
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4.1, 4.2 e 4.3, medianamente plásticos


(CAPUTO, 1988).
Os baixos índices de atividades das argilas
dos solos dos pontos 1, 2 e 4 podem ser
correlacionados com a formação pedológicas
dos seus materiais constituintes bem como do
material que deu origem. A atuação mais
acentuada do intemperismo e processos de
lixiviação resultaram em argilas inativas. Para o
solo 3.0 seu IA aponta para argilas com
atividade normal o que vai de encontro com o
que Rodrigues et al. (2009) determinaram.
Figura 5 - Resumo das curvas granulométricas. De acordo com os dados apresentados na
Tabela 3 obtidos da granulometria e os dados da
Tabela 3 - Distribuição Granulométrica dos solos Tabela 4 da determinação dos estados de
Classificação Granulométrica da ABNT (%) consistência, é possível classificar os solos que
Dimensões Argila Silte Areia Pedregulho
acordo com suas características e desempenho.
Amostra 1.0 50 8 31 12
Amostra 2.0 62 18 19 1 Pela definição do sistema AASTHO as
Amostra 3.0 22 22 44 12 amostras 1.0, 2.0 e 3.0 se enquadram na
Amostra 4.1 34 10 55 1 categoria de solos finos A6, A7.5, A7.6,
Amostra 4.2 28 7 64 1 respectivamente. Ou seja, nas cotas mais baixas
Amostra 4.3 23 7 69 1 A-7-6 e A-7-5 e na cota mais alta da
topossequência como A-6. Solos nesta categoria
O solo 1.0 pode ser classificado como uma
tem um desempenho satisfatório a deficiente
argila-arenosa com pedregulho, o 2.0 uma
quanto à empregabilidade para fins rodoviários,
argila areno-siltosa, o 3.0 uma areia silto-
segundo o sistema AASHTO. Os materiais
argilosa com pedregulho, o 4.1 uma areia
coletados nas profundidades maiores no quarto
argilo-siltosa e os 4.2 e 4.3 areias argilosas.
ponto (4.1 e 4.2) são classificados como A-4
Apenas a distribuição granulométrica não é
enquanto que o mais raso é classificado como
suficiente para classificar os solos em suas
A-2-4. Para esses materias observa-se também
diversas aplicações de engenharia civil. Os
um aumento do teor de argila com a
limites de Atterberg são determinados
profundidade.
usualmente de forma a auxiliar na classificação.
Para a classificação segundo a SUCS o solo
Os resultados obtidos para esses índices de
da amostra 1.0 pertence ao grupo CL
consistência estão dispostos na Tabela 4.
caracterizados por ser uma argila inorgânica de
Tabela 4 – Índices de Consistência (IC) e de Atividade baixa compressibilidade e plasticidade. A
(IA) dos solos amostra 2.0 se enquadra no grupo CH sendo
LL (%) LP (%) IP (%) IA este argila inorgânica de alta compressibilidade
Amostra 1.0 45 26 16 0,32 e as amostras 3.0 e 4 pertencem a classe SC,
Amostra 2.0 54 30 24 0,39 uma areia argilosa.
Amostra 3.0 42 24 18 0,82 Na Tabela 5 estão dispostos os resultados
Amostra 4.1 30 22 8 0,24 das duas metodologias.
Amostra 4.2 25 16 10 0,36
Amostra 4.3 22 11 10 0,43

Através dos resultados observa-se que os


solos 1.0, 2.0 e 3.0 podem ser classificados
como altamente plásticos, enquanto as amostras
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Tabela 5- Classificações das amostras por meio da apresentar bom comportamento quando na
AASHTO e SUCS condição de subleito de estradas ou fundações.
Sistemas de classificação AASHTO SUCS
Do ponto de vista ambiental, o solo mais
Amostra 1.0 A-7-6 CL
argiloso (Solo 2.0) é passível de ser usado como
Amostra 2.0 A-7-5 CH
base na construção de aterros sanitários, por
Amostra 3.0 A-7-6 SC
exemplo, pois na condição compactada esse
Amostra 4.1 A-4 SC
material pode apresentar parâmetros de
Amostra 4.2 A-4 SC
A-2-4 SC
permeabilidade adequados.
Amostra 4.3

Os resultados obtidos para a massa


específica dos sólidos determinados em REFERÊNCIAS
laboratório são apresentados na Figura 6.
Almeida, M. S. de S. (2016) Estudo da resistência ao
cisalhamento de um solo não saturado quando
percolado por fluidos de diferentes constantes
dielétricas. 230 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Ciências, Energia e Ambientes, Universidade Federal
da Bahia, Salvador
Araújo, D. C. dos S., Montenegro, S. M. G. L.,
Montenegro, A. A. de A., Silva Junior, V. de P. E,;
Santos, S. M. dos. (2018). Spatial variability of soil
attributes in an experimental basin in the semi-arid
region of Pernambuco, Brazil. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, 22(1), 38-44.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
Figura 6- Resultados das massas específicas dos sólidos. (1995) NBR 6502: Rochas e Solos – Terminologia.
Rio de Janeiro, RJ, 18 p.
Os resultados mostram uma relação do ponto Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
(2016) NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
de coleta no relevo com o 𝜌𝑠 . O ponto de cota Rio de Janeiro, RJ, 2d, 9 p.
mais baixo de material proveniente do Caputo, H P. (1988) Mecânica dos solos e suas
complexo cristalino, horizonte saprolítico aplicações: Fundamentos. 6. ed. Rio de Janeiro: Ltc.
(amostra 3.0), apresenta maior valor. Enquanto 1 v.
os materiais de maior cota oriundo de material Embrapa (2006) Centro Nacional de Pesquisa de Solos
(Rio de Janeiro, RJ). Sistema Brasileiro de
sedimentar intemperizado apresenta menor Classificação de Solos. 2. ed. – Rio de Janeiro:
valor. EMBRAPA-SPI. 306 p.: il.
Fernandes, M de M. (2011) Mecânica dos
solos: Conceitos e Princípios Fundamentais. 2. ed.
4 CONCLUSÕES Porto: Feup. 1 v.
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propriedades analisadas, a área de estudo possui (2018). Divisão Territorial do Brasil e Limites
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A-4 e A-2-4 segundo a AASHTO. Por essas de geologia e pedologia. Viçosa: Ufv.
metodologias alguns materiais apresentam Ribeiro, L. P.; Volkoff, B.; Melfi, A. J. (1990) Evolução
frações significativas de argila podendo não mineralógica das argilas em solos vérticos do
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Recôncavo Baiano. Revista Brasileira de Ciência do


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CPAC. p. 89-166.
Rodrigues, M. Da G. F.; Nacif, P. G. S.; Costa, O. P. G.
V. (2009) Solos e suas relações com as paisagens
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Simões De Oliveira, A. G.; Jesus, A. C.; Miranda, S. B.
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Caracterização Geotécnica de um Resíduo Filtrado (Lama


Vermelha) estocado na forma de Aterro Densificado
Manoela Cristina do Amaral Neves
BVP Engenharia e Projetos Ltda, Belo Horizonte, Brasil &
Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, Brasil, manoela.neves@bvpengenharia.com.br

Eurípedes do Amaral Vargas Júnior


Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, Brasil, vargas@puc-rio.br

RESUMO: Tendo em vista a diminuição dos impactos ambientais e a necessidade em aproveitar ao


máximo as áreas disponíveis para disposição de resíduos, as mineradoras e indústrias de
beneficiamento de minério têm investido em técnicas inovadoras procurando a melhoria do
comportamento do resíduo gerado. Este estudo experimental relata o comportamento de um resíduo
da produção de alumina desaguado por Filtro Prensa e, também, seu comportamento geotécnico
quando estocado de forma densificada. Após a consolidação dos dados obtidos nos diversos ensaios
de laboratório (Caracterização, Compactação Proctor Normal, Triaxial CIU/UU/PN, Adensamento e
Permeabilidade) executados no aterro experimental com resíduo do Filtro Prensa, em diversas
variáveis de espessura, umidade e grau de compactação, observou-se através das análises de
estabilidade, que a metodologia utilizada para avaliação da compactação do resíduo da produção de
alumina (lama vermelha) apresentou-se eficaz para a determinação de diversos parâmetros do
resíduo, que são úteis para demais análises geotécnicas deste material.

PALAVRAS-CHAVE: Lama Vermelha, Filtro Prensa, Caracterização Geotécnica, Aterro


Experimental.

1 INTRODUÇÃO vermelha (red mud) é designado no meio


técnico como um subproduto industrial, ou seja,
Visando a diminuição dos impactos ambientais um resíduo da produção de alumina.
gerados pelo aumento da geração de resíduos No processo de produção de alumina, a
industriais causados pelo crescimento da matéria prima é a bauxita, a técnica mais
exploração e beneficiamento do minério, os utilizada no Brasil para disposição é a via
órgãos ambientais estão cada vez mais úmida, na qual o resíduo gerado é diluído em
exigentes em relação a liberação para água para as áreas de armazenamento com
autorização de áreas para o destino final de baixos teores de sólidos. Um impacto causado
resíduos gerados pela atividades minerais e por esse método no ambiente é que ele gera
industriais. Devido a esse motivo, cada vez volumes altos no seu processo resultando em
mais mineradoras e indústrias de depósitos de baixa densidade e baixa
beneficiamento de minério tem investido em capacidade de suporte, gerando sistemas mais
técnicas inovadoras procurando a melhor forma susceptíveis a problemas de segurança
de gerar esse resíduo de forma menos agressiva geotécnica e ambiental. Visando a alteração
ao meio ambiente. deste cenário, a tendência nos dias de hoje é a
Na indústria de alumina, não há estéril no disposição do resíduo com teores de sólidos
processo como ocorre na extração mineral, o mais altos, o que é possibilitado pela utilização
rejeito gerado que é conhecido como lama de técnicas como a disposição da lama
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espessada em pasta e a filtragem do resíduo. desenvolvidos pela autora desta dissertação em


Um método aplicado atualmente para a 2016 e tiveram por finalidade as seguintes
disposição do resíduo da produção de alumina informações:
(lama vermelha/red mud) é a disposição - Verificar o comportamento do resíduo filtrado
conhecida como empilhamento a seco ou “dry quando estocado na forma de aterro
stacking”, em que o resíduo é filtrado por filtros densificado;
tambor até um teor de sólidos (ou “porcentagem - Verificar a trabalhabilidade do resíduo
de sólidos”, termo utilizado na mineração) de filtrado, em condições meteorológicas distintas;
aproximadamente 60%, sendo transportado até - Definir em princípio as características de
o local de disposição por caminhões ou por espessura de camada e número de passadas
bombas de deslocamento positivo, requeridas para atendimento das condições de
descarregando o resíduo a partir de um ponto compactação preconizadas no projeto de
mais alto, formando uma pilha (Nery, 2013). conformação da cobertura para reabilitação de
Uma alternativa de filtragem é a utilização um depósito de rejeitos;
de filtros tipo prensa, cujo funcionamento - Avaliar a produtividade e adequabilidade dos
consiste no bombeamento sob alta pressão de equipamentos propostos para execução dos
soluções com resíduos por elementos filtrantes aterros;
permeáveis, que permitem apenas a passagem - Obtenção de amostras indeformadas de
da água, sendo a parte sólida retida nas placas resíduo compactado no campo para realização
filtrantes formando tortas compactas e com de ensaios geomecânicos de laboratório;
elevado teor de sólidos (de 75% a 85%) e grau - A análise dos resultados foi utilizada para
de saturação de aproximadamente 80%. (Nery, ajustes no processo executivo da disposição de
2013). resíduo proveniente de filtro prensa e definição
Embora as tortas apresentem uma alta de suas propriedades geomecânicas.
densidade quando elas saem das câmaras do
filtro prensa, elas se quebram em pedaços 2.1 Aterro Experimental
menores, formando uma pilha de material solto,
cuja densidade não é elevada. Sendo assim, para O projeto do aterro experimental considerou a
ter um ganho de volume na disposição, é sua construção sobre a superfície do resíduo de
necessário compactar o material, o que resulta um depósito de resíduos sólidos existente, em
em aumento da resistência, redução da uma área atualmente contemplada no estudo de
compressibilidade e diminuição da disposição inicial de resíduo de filtro prensa.
permeabilidade, possibilitando projetos de A área foi escolhida de forma a não interferir
pilhas de disposição com maiores alturas e na sequência e arranjo definidos no projeto
inclinações de taludes (Nery, 2013). executivo de disposição de resíduo de filtro
prensa, para que os serviços de execução do
aterro experimental não ocasionem paradas nas
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL frentes de serviço de disposição de resíduo
nesta área.
O programa experimental estabelecido nesta Na Figura 1 apresenta uma vista da área
pesquisa tem como principal objetivo analisar o aonde foram executadas as pistas do aterro
comportamento do resíduo proveniente do filtro experimental.
prensa em condição de aterro densificado. Para
isso, foram estudadas diversas espessuras de
camadas em diferentes números de passadas e
grau de compactação e umidade.
Os testes no aterro experimental foram
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Os ensaios realizados nas amostras deformadas


foram de caracterização e controle de
compactação (teor de umidade, peso específico
e grau de compactação) executada no
laboratório dentro da área teste. A quantidade
de ensaios executados nas amostras deformadas
coletadas dentro da área teste está apresentada
na Tabela 1. Na Figura 3 apresenta alguns
registros dos ensaios de caracterização e
Figura 1 – Vista geral da área de construção do aterro controle de compactação realizados no campo e
experimental.
laboratório dentro da área teste durante a fase de
execução do aterro experimental.
O Aterro Experimental foi construído em
pistas com camadas soltas de 0,30 m, 0,40 m e
0,50 m de espessura com o material disposto na Tabela 1 – Quantidade de ensaios realizados no
umidade característica do resíduo filtrado, e laboratório dentro da área teste
com acréscimos de 2%, 4% e 6% de umidade, e= e= e=
Descrição
com controle de compactação, de teor de 0.30m 0.40m 0.50m
umidade, de número de passadas, tipo de Caracterização completa 3 3 3
equipamentos, produtividades, dentre outros.
Compactação Proctor Normal 3 3 3
Os aterros foram executados de forma que
sua trabalhabilidade e comportamento durante a Grau de Compactação
20 32 32
(Método Hilf)
compactação fossem testados e aferidos e as
Peso específico total 100 160 160
condições de compactação obtidas em cada
camada executadas fossem determinadas. A Teor de umidade 100 160 160
compactação e densificação dos aterros foram
executadas apenas com trator de esteiras. As A retirada das amostras indeformadas em
camadas tiveram diferentes combinações de bloco para a execução dos ensaios de
números de passadas e umidade, para que fosse caracterização, compactação, permeabilidade e
avaliada a forma mais adequada de disposição resistência, ocorreu após a aplicação de todas as
final de resíduo filtrado. Área total do topo: passadas do trator de esteiras. Após execução da
30m x 30m = 900 m², taludes externos: 1V:2H última camada de cada espessura de todas as
e área de base: 38 m x 38 m = 1.444 m². pistas, foram retirados no total 12 (doze) blocos
As condições a serem testadas com a indeformados de 30cm x 30cm de dimensão.As
execução do aterro experimental estão amostras foram cuidadosamente retiradas e
simplificadas na Figura 2. imediatamente protegidas contra perda de
O resíduo foi transportado diretamente da umidade.
descarga do Filtro Prensa no galpão de
emergência por caminhões, utilizando os
acessos preparados para permitir a operação do
depósito de rejeitos. Após descarga no local dos
aterros, o resíduo era espalhado e densificado
por trator de esteiras, após correção de umidade
(quando cabível).

2.1 Ensaios Realizados


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Figura 3 – Detalhes da coleta e separação das amostras


deformadas do resíduo lançado pelos caminhões nas
pistas do aterro experimental para ensaios de
caracterização e controle de compactação.

A Figura 4 apresentam imagens da retirada


dos blocos indeformados. O armazenamento das
amostras foi realizado em local fresco e
protegido até o seu envio para o laboratório.

Figura 2 – Condições testadas na execução do aterro


experimental.
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3.1 Ensaios de Caracterização

O material analisado é bastante homogêneo, e


apresenta ocorrência predominante de material
silte argiloso com pouca areia fina, cor
vermelha. A Tabela 2 apresenta a comparação
dos resultados de caracterização obtidos nesta
pesquisa com os encontrados nos estudos do
Filtro Tambor realizados em 2015 (FT-2015) e
por Nery et al., (2013).

Tabela 2 – Resultado dos ensaios de caracterização


Gs W natural LL LP IP
(g/cm³) (%) (%) (%) (%)
Neves
3,0 27 32 20 12
2017
FT –
2,9 43 32 18 14
2015
Figura 4 – Coleta de blocos indeformados para ensaios Nery
2,8 34 39 30 9
especiais. 2013

As investigações de laboratório compreenderam 3.2 Ensaios de Compactação Proctor


a execução de ensaios de caracterização Normal
completa, compactação Proctor normal,
adensamento oedométrico com medida de Na Tabela 3 apresenta a comparação dos
permeabilidade, triaxiais CIU saturado, triaxiais resultados de compactação dos estudos de 2017,
UU não saturado, triaxiais PN e ensaios de 2015 e 2013, e na Figura 5 apresenta a
permeabilidade com carga variável. comparação de resultados dos ensaios de
compactação realizados em amostras
representativas do rejeito de minério e rejeito de
3 RESULTADOS DOS ENSAIOS alumina.

Para uma melhor interpretação dos resultados Tabela 3 – Resultado dos ensaios de compactação
obtidos dos ensaios executados para Ensaio Proctor Normal
caracterização da lama vermelha filtrada pelo Wot (%) dmáx (g/cm³)
filtro prensa, foram utilizados como referência e Neves 2017 26,5 1,6
comparação os resultados do aterro FT - 2015 27,3 1,3
experimental, realizado em 2015 (FT-2015),
Nery 2013 32 1,4
utilizando-se resíduo do Filtro Tambor
proveniente da mesma área do resíduo do filtro
prensa estudada neste trabalho. O material foi
escavado no próprio reservatório e transportado
para as áreas de secagem e tratamento até
atingir características próximas à do resíduo do
filtro prensa (umidade e teor de sólidos). A
outra referência adotada neste capítulo foi o
material pesquisado por Nery et al., (2013) .
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passadas e o tipo de maquinário para


compactação de cada camada.

Tabela 4 – Comparação dos ensaios de adensamento


realizado no resíduo de bauxita densificado.
Ensaio Adensamento
Cc Cr e0 Cv
Neves 0,12 – 0,04 – 0,82 – 4X 10-7 –
2017 0,28 0,11 1,24 7X 10-6
FT – 0,30 – 0,04 – 1,00 –
1X 10-6
2015 0,65 0,8 1,20
Nery 0,13 – 0,025 – 0,96 – 1X 10-9 –
2013 0,32 0,045 1,18 8X 10-10

3.4 Permeabilidade com Carga Variável

Na Tabela 5 e Figura 6 observam-se valores


médios de permeabilidade na ordem de 3 x 10-
8
m/s, muito próximo da média encontrada no
ensaio de adensamento com medida de
permeabilidade, apesar da diferença dos níveis
de tensões. Desta forma, a atribuição do valor k
igual 2x10-8 m/s é apropriada para ser adotada
para o material de estudo dessa pesquisa.

Figura 5 – Comparação da curva de compactação entre os Tabela 5 – Comparação dos ensaios de permeabilidade
rejeitos de minério e alumina. realizado no resíduo de bauxita densificado.
k (m/s)
3.3 Ensaios de Adensamento com medida de Neves 2017 3 X 10-8
Permeabilidade FT - 2015 2,5 X 10-7

Amostras bem compactadas apresentaram Cc de Nery 2013 2 X 10-9


0,12 a 0,19, enquanto que aquelas amostras com
baixa compactação apresentaram Cc na ordem
de 0,28. Os coeficientes de recompressão Cr
foram menos sensíveis, estes variaram de 0,04 a
0,11.
A partir dos ensaios de adensamento foram
observados coeficientes Cv variando de
3,81x10-7 a 6,73x10-6 m²/s, no trecho de
compressão virgem, tendo como valor médio
2,72x10-6 m²/s.
A diferença de valores encontrados nos
estudos comparados, apresentados na Tabela 4
pode estar relacionada com a qualidade de
compactação de cada pesquisa. As pesquisas Figura 6 - Resultado dos ensaios de permeabilidade
referenciadas adotaram diferentes metodologias
de compactação, diferenciando o número de
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3.5 Ensaios Triaxial CIU sat


Os conjuntos de valores na ruptura dos ensaios 3.6 Ensaios Triaxial UU unsat
CIU estão plotados no na Figura 7 e Tabela 6.
Observa-se independentemente das condições Na Figura os valores de ruptura em termos de
de compactação dos diversos ensaios, obtém-se tensão efetiva registrados nos ensaios estão
uma única envoltória efetiva de resistência, plotados juntamente com a trajetória de tensões
envolvendo todos os ensaios CIU realizados. efetivas dos ensaios CIU. Observa-se que, com
maior dispersão, os valores estão agrupados em
torno da mesma envoltória.

Figura 7 - Triaxial CIU – Campanha Filtro Prensa (2017)


– Envoltória de tensões efetivas.
Figura 9 - Envoltória Efetiva ensaios CIU versus dados
Tabela 6 – Parâmetros Efetivos de Resistência ao Efetivos de Ruptura ensaios UU
Cisalhamento – Blocos Isolados.
Blocos ’(°) c’(kPa) 3.7 Ensaios Triaxial PN
1 39,6 0
2 33,2 13,1 Analisando os resultados apresentados na
7 31,7 14,6 Figura 10, pode-se adotar o valor de u/1 igual
8 35,3 0 0,27 para o conjunto de ensaios, para o nível de
11 38,5 4,6 tensões de interesse, para as condições de
12 36,4 4,2 compactação dos blocos ensaiados, englobando
aproximadamente 85% dos resultados
Comparando os resultados de resistência observados.
obtidos nesta pesquisa com os encontrados em
2015 e 2013, temos as seguintes comparações
apresentadas na Figura 8. Em 2017 obtiveram-
se os seguintes parâmetros de resistência: ’ =
35° e c’ = 9,0 kPa

Figura 10 - Simulação do desenvolvimento das poro-


pressões durante construção do aterro: h/v =0,5 e h/v
= 0,6

Figura 8 - Triaxial CIU Campanhas 2015, 2017 e Nery


(2013) – Envoltória de tensões efetivas.
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4 ANÁLISES NUMÉRICAS VIA Diferentes valores do parâmetro Ru, para a


TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE condição de final de construção, para o resíduo
seco foram testados, mantendo-se os parâmetros
O depósito de resíduo sólido estudado tem dos outros materiais presentes na seção
previsão de esgotamento próximo, sendo assim constantes. A partir das análises dos fatores de
a deposição passará a ser particularmente em segurança (FS) obtidos, pode-se verificar que o
um novo depósito. Este item apresenta um valor do parâmetro Ru possui grande impacto
modelo numérico que adota a teoria do na resistência do material analisado, sendo que
equilíbrio limite como uma ferramenta para quanto maior o valor do Ru menor o fator de
avaliação do processo construtivo do novo segurança obtido.
depósito de resíduo sólido. O modelo proposto Para a verificação da influência do parâmetro
avalia a influência dos valores do parâmetro Ru Ru na seção do do novo depósito, foram
na resistência a ruptura da seção do novo simulados valores de 0,08; 0,10; 0,20; 0,30 e
depósito de resíduo sólido. Os parâmetros 0,40 para os parâmetros de resistência
geotécnicos adotados nas análises são: determinados nos estudos de: Neves 2017,
FT_2015 e Nery 2013.
 = 1,9 g/cm³ A Figura 11 mostra a seção típica do novo
’ = 35° depósito com a divisão dos materiais
c’ = 9,0 kPa considerados no modelo numérico, com a
Ru = 0,08 / 0,10 / 0,20 / 0,30 e 0,40 seguinte geometria: altura da pilha de
k = 2 x 10-8 m/s aproximadamente 64,00 m, com bermas de
E = 89 Mpa 5,0 m a cada 10 m de desnível na inclinação
1V:2H. A Tabela 7 apresenta o resumo dos
4.1 Metodologia de Análise valores do fator de segurança (FS) encontrados
nas análises para avaliação da influência dos
As análises de estabilidade de taludes objetivam valores do parâmetro Ru na resistência a ruptura
a determinação dos fatores de segurança da seção do novo depósito.
mínimos requeridos pela norma brasileira
referente à estabilidade de taludes e encostas, Tabela 7: Valores de Ruptura nas amostras indeformadas
ensaiadas.
levando-se em conta as características Ru
geotécnicas dos materiais e geometria da FS
estrutura. Para as referidas análises foi utilizado 0,08 0,10 0,20 0,30 0,40
o software Slide, versão 6.0, da empresa NEVES 1,79 1,76 1,57 1,35 1,14
canadense Rocscience. Para a modelagem da FT 1,53 1,49 1,30 1,12 0,93
resistência dos materiais, foi adotada a lei
NERY 1,46 1,44 1,33 1,21 1,07
constitutiva de Mohr-Coulomb. O método de
cálculo utilizado foi o GLE/Morgenstern-Price,
que considera qualquer forma da superfície de Em uma condição não drenada, a medida que a
ruptura e calcula o fator de segurança a partir do altura da seção for aumentando e,
equilíbrio de forças e momentos, levando-se em consequentemente, o carregamento do noco
consideração as propriedades de interface (força depósito, os valores da razão de poropressão
normal e de cisalhante) entre as fatias (Ru) diminuem, uma vez que o valor de Ru é
(desenvolvidas no processo de cálculo). inversamente proporcional ao valor da tensão
vertical aplicada (Ru = u/1). Nesse sentido,
4.1 Resultado das Análises optou-se por se seccionar o modelo em
horizontes de aproximadamente 10,00 m de
altura e atribuir a cada camada valores
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decrescentes de Ru a partir da base do modelo, do resíduo em campo com equipamento de


conforme apresentado na Figura 11 e resultados esteiras D6, pode-se observar a boa
na Tabela 8 e Figura 12 (apresentando a seção trabalhabilidade do material na compactação,
com os parâmetros encontrados nesta pesquisa bem como a obtenção de graus de compactação
para o rejeito neste estudo). (com relação a energia do Proctor Normal)
razoáveis, respeitados os limites de
trafegabilidade e atendimento às condições de
homogeneidade dos aterros.
Em todos os casos, há sempre um
crescimento de peso específico seco e grau de
compactação (GC) com o número de passadas.
O limite de trafegabilidade para espalhamento e
densificação das camadas é da ordem de 7%
Figura 11 – Seção adotada para análise numérica de final acima da ótima, para qualquer das espessuras
de construção
testadas. Entretanto, o limite de 6% pode ser
estabelecido como garantia. Para camada com
Tabela 8 – Fatores de segurança análise de final de
construção. 30 cm de espessura, atinge-se grau de
FS Parâmetros FS compactação adequado para umidades entre –
2017 2% e + 4%, para 6 ou mais de passadas. As
(c' =9 e ’= 35) 1,46 camadas 40 e 50 cm apresentaram dificuldades
(NEVES)
2015 de homogeneização da umidade,
(c' =2 e ’= 32) 1,31
(FT) particularmente para umidades mais elevadas.
NERY
(c' =40 e ’= 25) 1,23 Diferentes valores de GC são obtidos entre topo
(2013)
e base destas camadas, apesar de complicados
pelas perdas de umidades durante o
espalhamento.
O resíduo estudado foi caracterizado
geotecnicamente através de ensaios de
laboratório. Obteve-se o peso específico médio
dos grãos de 3,063 g/cm³ e o resíduo foi
classificado como silte de baixa plasticidade.
Os ensaios de compactação na energia Proctor
Normal realizados apresentaram como resultado
peso específico seco máximo de 1,400 g/cm³ e
Figura 12 – Campanha de 2017 com Ru entre 0,02e 0,3 – umidade ótima de 26,50%.
Análise de Construção  FS=1,46 Os valores de permeabilidade obtidos através
de ensaio de laboratório à carga variável, com a
5 CONCLUSÕES amostra saturada, foram da ordem de 3 x 10-8
m/s, sendo estes valores típicos de siltes e
A metodologia utilizada para avaliação da argilas.
compactação do resíduo da produção de Foram obtidos os parâmetros de
alumina (lama vermelha) desaguado por filtro compressibilidade do material, nas diferentes
prensa apresentou-se eficaz para a determinação condições de compactação estudadas, por meio
dos diversos parâmetros do resíduo, que são de ensaios de adensamento unidimensional. Dos
úteis para demais análises geotécnicas. ensaios UU unsat o grau de saturação de 15 de
Pelos resultados encontrados na realização 18 corpos-de-prova estão com saturação
dos aterros experimentais, com a compactação superior a 80%, e que destes 10 estão acima de
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85%, ou seja, maior parte deste material possui de áreas de deposição de resíduos pelo método a
bolhas oclusas. Sabendo disto, haverá um montante. 118p. Dissertação de Mestrado (Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Civil),
aumento na resistência com o aumento do Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
confinamento. Janeiro, 2008.
Pelos ensaios PN, pode-se adotar o valor de Neves, Manoela Cristina do Amaral. Caracterização
u/1 igual 0,27 para o conjunto de ensaios, para geotécnica e avaliação do comportamento de um
resíduo filtrado da produção de alumina (lama
o nível de tensões de interesse, para as
vermelha) estocado na forma de aterro densificado.
condições de compactação dos blocos Rio de Janeiro, 2017. 154p. Dissertação de Mestrado -
ensaiados, englobando aproximadamente 85% Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia
dos resultados observados. Ressalta-se que este Universidade Católica do Rio de Janeiro.
valor é apropriado para baixas tensões, pois a Nery, Kellen Dias. Caracterização geotécnica e avaliação
da compactação de um resíduo da produção de
medida que a tensão aumenta há redução dos
alumina (lama vermelha) desaguado por filtro prensa.
valores de u/1. - 2013. xv, 143 f., enc.: il.
Para os valores de Ru referente aos Silva, SUELI Aparecida da. Crítérios de projeto de
parâmetros de resistência estudados para este sistemas de disposição em pilhas de resíduos de
trabalho, verificou-se que após as análises de alumina desaguados por filtro prensa – Ouro Preto,
Julho 2016.
estabilidade foi possível concluir que a
disposição do material caracterizado nesta
pesquisa desaguado por filtro prensa
densificado em forma de aterro, após ser
disposto em camadas compactadas, se apresenta
estável (com fatores de segurança acima de 1,3)
com 66 m de altura e inclinação de 1V : 3H.
Porém, ressalta-se que a operação deve ser
feita de forma a não permitir que haja saturação
da pilha, para se ter o controle destas
poropressões, a pilha deverá ser devidamente
instrumentada.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que contribuiram para a


realização desse trabalho.

REFERÊNCIAS

Ávila, J. P. Disposal Methods for Fine Taillings,


Proceedings of the 19th International Symposium of
ICSOBA - International Committee for Study of
Bauxite, Alumina & Aluminium, Belém – PA, Brasil,
2012.
Guimarães, N. C. Filtragem de rejeitos de minério de
ferro visando a sua disposição em pilhas. 2011. 129 f.
Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia
Metalúrgica e de Minas – Tecnologia Mineral) –
Escola de Engenharia da UFMG, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.
Lima, J. Simulação numérica do processo de alteamento
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Caracterização Geotécnica do Solo de uma Encosta em Setor de


Risco Muito Alto da Formação Barreiras da cidade de João
Pessoa-PB
Jéssica Maria de Barros Bezerra
Mestranda em Geotecnia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil,
jessica_barrosb@outlook.com

Roberto Quental Coutinho


Professor Adjunto, D.Sc., Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, rqc@ufpe.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a caracterização geotécnica do solo de uma encosta da Formação
Barreiras localizada em setor de risco muito alto na Comunidade Santa Clara, no bairro Castelo
Branco, na cidade de João Pessoa-PB. Realizaram-se sondagem SPT e ensaios de caracterização
geotécnica em laboratório, com amostras deformadas e indeformadas. Identificou-se um perfil
heterogêneo, com solos argilosos e arenosos, e impenetrável na profundidade de 10,39 m (sem
atingir o nível de água). A permeabilidade é da ordem de 10-5 m/s na base da encosta e 10-7 m/s no
topo, o solo da base apresenta ângulo de atrito interno de 36°, coesão de 8,6 kPa no teor de umidade
natural e nula na condição inundada, enquanto que o solo do topo apresenta coesão de 22 kPa na
condição natural e 3,4 kPa na inundada, ângulo de atrito interno de 31° e menor potencial de
colapso (CP). Os resultados estão de acordo com a classificação e granulometria determinadas.

PALAVRAS-CHAVE: Formação Barreiras, Parâmetros Geotécnicos, Ensaios de Campo e


Laboratório.

1 INTRODUÇÃO de risco, norteando a elaboração de planos


preventivos e direcionando o investimento em
João Pessoa, capital do estado da Paraíba, é uma tecnologias específicas.
cidade litorânea do nordeste brasileiro com A encosta estudada situa-se na comunidade
extensão territorial aproximada de 200 km². Santa Clara, no bairro Castelo Branco, e foi
Segundo Barbosa (2015), 67% da área total da escolhida por estar, segundo Soares et al (2015),
cidade são recobertos por sedimentos em um setor de risco muito alto, e apresentar
inconsolidados da Formação Barreiras, movimentos de massa frequentes.
predominantes em áreas onde ocorrem Este estudo é parte integrante dos trabalhos
frequentes movimentos de massa. desenvolvidos em uma dissertação de mestrado
Conhecendo a distribuição e a do Programa de Pós-graduação em Engenharia
expressividade desta unidade geológica em João Civil da Universidade Federal de Pernambuco.
Pessoa, entende-se a necessidade de estudá-la,
uma vez que, segundo Bandeira et al. (2009), o
avanço do conhecimento geológico-geotécnico 2 ASPECTOS GERAIS DA ÁREA DE
dos solos das encostas é necessário ao ESTUDO
entendimento dos mecanismos e processos
atuantes nos movimentos de massa, e, Conforme classificação climática de Köppen, o
consequentemente, ao gerenciamento das áreas município de João Pessoa-PB encontra-se sob o
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domínio do clima Tropical Chuvoso, com (SPT) como ferramenta de investigação do


estação seca de verão (As’). O clima é quente e perfil geotécnico e da resistência à penetração
úmido, com chuvas concentradas entre março e do amostrador padrão (NSPT). O avanço da
agosto, e períodos secos entre setembro e prospecção foi feito com trado até 4 m de
dezembro, com grande homogeneidade sazonal profundidade e prosseguiu com circulação de
e espacial de temperatura, com médias anuais água até 10,39 m. A Figura 1 apresenta o perfil
de 23°C e máximas de 28°C. geotécnico obtido com base na sondagem SPT e
O bairro Castelo Branco está localizado na nos ensaios de laboratório.
bacia hidrográfica do Rio Paraíba, onde o
sistema de aquíferos é o Paraíba-Pernambuco, e
corresponde a um talude de corte de
constituição geomorfológica caracterizada pelos
sedimentos da Formação Barreiras, banhado
pelo Rio Jaguaribe, e vegetação do tipo rasteira,
com árvores de grande porte.
A comunidade Santa Clara é um dos 15
setores censitários do bairro Castelo Branco, na
cidade de João Pessoa, capital da Paraíba. Ela
ocupa uma área aproximada de 7,287 ha,
segundo dados da Coordenadoria Municipal de
Defesa Civil (COMDEC) em João Pessoa
(2013), apresentando ocupação espontânea e
desordenada, com aproximadamente 350
domicílios, e população média de 1.750
habitantes, conforme dados da COMDEC em
João Pessoa (2016). Dentre seus domicílios, 38
estão em áreas com alta suscetibilidade de
ocorrência de deslizamentos.
Um mapeamento de áreas de risco realizado
por Soares et al. (2015) nesta comunidade,
dividiu-a em 29 setores de risco. O mapeamento
foi realizado em conformidade com a
metodologia sugerida pelo Ministério das
Cidades, através de uma análise qualitativa e o
zoneamento de risco, e a encosta estudada Figura 1. Perfil Geotécnico na encosta da comunidade
apresentou risco muito alto. Santa Clara, no bairro do Castelo Branco.

A primeira camada (0,87 m de espessura) é


3 ENSAIOS DE CAMPO um aterro areno-argiloso, a segunda (1,86 m) é
uma areia silto-argilosa com pedregulho e
3.1 Sondagem à Percussão com SPT laterita, a terceira (1,18 m) é um silte argilo-
arenoso com laterita, a quarta (1,91 m) é uma
Foi realizada uma sondagem de simples argila silto-arenosa com laterita, a quinta (0,51
reconhecimento do solo no topo da encosta m) é uma areia silto-argilosa, a sexta (3,72 m) é
(S1), em 23 de setembro de 2016 (estação seca), uma areia siltosa com pedregulho, e a sétima
e esta utilizou o Standard Penetration Test (0,34 m) é uma argila silto-arenosa.
Ao longo da profundidade, o material
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apresentou-se heterogêneo (descrição tátil- resíduos de construção e lixo doméstico.


visual), variando entre areias, siltes e argilas.
Os valores de NSPT crescem lentamente de
forma aproximadamente linear até os 3,30 m de 4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO
profundidade (7 < NSPT < 9). A partir desta
profundidade, a resistência aumenta 4.1 Caracterização Física
rapidamente até os 5,30m, onde atinge o valor
de pico (NSPT = 28). Deste ponto até os 6,30 m Para caracterizar fisicamente o solo da encosta,
de profundidade, há uma queda brusca nos realizaram-se ensaios de granulometria com e
valores, chegando ao NSPT 11. A resistência sem defloculante e de limites de consistência.
volta a crescer até os 7,30 m (NSPT = 21), a A partir das amostras indeformadas, foram
partir de onde decresce sutilmente até 8,30 m obtidas as curvas granulométricas, com e sem o
(NSPT =18), crescendo novamente até os 10,39 uso de defloculante. Obtiveram-se os gráficos
m, onde encontra-se o impenetrável à percussão apresentados na Figura 2 e na Figura 3.
(66 golpes para uma penetração de 0,24 m). A Tabela 1 apresenta, em resumo, os
O nível d’água não está presente no perfil resultados obtidos nos ensaios de caracterização
apresentado, tornando-o um solo não saturado, física das amostras, bem como a classificação
situação que, segundo Coutinho e Severo destas com base no Sistema Unificado de
(2009), é comum nos perfis residuais e na Classificação de Solos (SUCS).
Formação Barreiras, onde os níveis de água As curvas granulométricas apresentaram, nas
costumam estar em grandes profundidades. duas amostras, grande variação dos percentuais
de argila, silte e areia fina entre os ensaios com
3.2 Retirada de Amostras e sem defloculante.
Os teores de argila nas amostras ensaiadas
Amostras deformadas e indeformadas foram sem defloculante foram praticamente nulos, e
retiradas na base da encosta em 21 de setembro aumentaram sensivelmente, juntamente com os
de 2016 (pluviosidade mensal de 60 mm) e no teores de silte, nos ensaios com defloculante,
topo em 30 de novembro de 2016 (mês mais causando queda significativa nos percentuais de
seco do ano, com pluviosidade de 38 mm). areia fina. Esta situação sugere que as frações
Foram escavados dois poços de investigação mais finas do solo se encontravam agregadas,
quadrados: um na base da encosta (1,50 m de necessitando da utilização do defloculante para
lado), e outro no topo (1,00 m de lado). a definição de sua granulometria.
Moldou-se um bloco cúbico de solo de aresta O índice de atividade de Skempton foi
0,30 m no poço da base da encosta (BL 1) e inferior a 0,75 nos solos, sendo, estes, inativos.
outro no topo da encosta (BL 2). As cotas de
topo das amostras indeformadas, medidas a
partir da superficie natural do terreno em cada
ponto de escavação, foram: 1,00m para BL 1 e
0,80 m para BL 2, como é possível observar na
Figura 4. Amostras deformadas foram coletadas
nas profundidades de coleta dos blocos.
Escavações de outros dois poços de
investigação foram iniciadas na encosta e
abandonadas, pois, após 0,60 m de escavação, o
solo natural ainda não havia sido alcançado – o
material retirado era, até então, constituído por
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4.2 Permeabilidade

As condutividades hidráulicas das amostras


foram determinadas com a utilização do
permeâmetro de parede flexível modelo tri-flex
II, através da obtenção o tempo T que um
volume de 5x10-6 m³ levava para percolar os
corpos de prova sob uma diferença de potencial
de 0,5 mH2O. Foram realizados dois ensaios
com corpos de prova cilíndricos moldados a
partir das amostras indeformadas BL 1 e BL 2.
A Tabela 2 resume os dados dos ensaios e
apresenta os coeficientes de permeabilidade
Figura 2. Curvas granulométricas determinadas sem saturada (k) obtidos. Os valores estão em
defloculante. acordo com a faixa de valores apresentada por
Coutinho e Severo (2009) para a Formação
Barreiras, que é da ordem de 10-5 a 10-7 m/s.

Tabela 2. Dados dos ensaios de permeabilidade e


resultados obtidos.
L T
Amostra D (m) k (m/s)
(m) (s)
BL Areia
0,12 0,098 9 1,77 x 10-5
1 Siltosa
Areia
BL
Silto- 0,15 0,098 599 2,55 x 10-7
2
argilosa

O coeficiente de permeabilidade obtido na


Figura 3. Curvas granulométricas determinadas com
defloculante.
base da encosta apresenta valor da ordem de 10-
5
m/s, enquanto que o encontrado para o topo
Tabela 1. Resultados da caracterização física de dois foi da ordem de 10-7 m/s. Esta diferença pode
horizontes da encosta estudada. ser atribuída à maior porcentagem de finos
Índices Amostra Indeformada de Origem presente neste último solo, que faz sua
Físicos BL 1 BL 2 permeabilidade ser diminuída, além da
g (kN/m³) 2,66 2,65
perceptível agregação dessas partículas,
nat (kN/m³) 1,75 1,68
0,59 0,84
apontada no item 4.1.
e
W (%) 4,3 16,8 Segundo a classificação de grau de
S (%) 19 53 permeabilidade proposta por Terzaghi e Peck
LL (%) NL 27 (1967), os solo da base da encosta é de média
IP (%) NP 5 permeabilidade, e o do topo é de baixa
(Fracamente permeabilidade.
Plástica)*
Classificação SW-SM SM-SC
(SUCS) (areia siltosa bem (areia silto- 4.3 Perfil da Encosta
graduada) argilosa)
IA 0 0,15 Baseando-se nos resultados da sondagem (S1)
*Classificação proposta por Jenkins (apud Caputo, 1987). realizada no topo da encosta (Figura 1), dos
ensaios de caracterização física, e das
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observações de campo, é proposta uma valores constantes de resistência fossem


aproximação ao perfil estratigráfico da encosta. atingidos). Os corpos de prova ensaiados, de
O solo da base foi classificado em areia seção transversal quadrada, 0,1016 m de lado e
siltosa e a porcentagem significativa da fração 0,039 m de altura, foram moldados a partir dos
pedregulho, observada nas curvas blocos indeformados BL1 e BL2. As tensões
granulométricas das Figura 2 e Figura 3, normais de consolidação aplicadas foram de 25,
induziu a uma associação entre ele e o solo 50, 100 e 200 kPa.
identificado na sexta camada do perfil de A Tabela 3 apresenta as condições iniciais
sondagem como uma areia siltosa com das amostras ensaiadas, bem como os
pedregulho. parâmetros de resistência obtidos. A Figura 5 e
a Figura 6 apresentam as envoltórias de
resistência de Morh-Coulomb obtidas.

Tabela 3. Condições iniciais dos corpos de prova


ensaiados e parâmetros de resistência.
ENSAIO CONVENCIONAL: UMIDADE
NATURAL
Amostra Condições Iniciais Parâmetros de
Resistência
c  (°)
W0 (%) e0 S0 (%)
(kPa)
BL 1 4,27 0,59 19,25 8,60 36
BL 2 16,83 0,84 53,00 22,00 31
ENSAIO CONVENCIONAL: INUNDADO
Amostra Condições Iniciais Parâmetros de
Resistência
Figura 4. Perfil estratigráfico aproximado da encosta c  (°)
W0 (%) e0 S0 (%)
da comunidade Santa Clara, em João Pessoa – PB. (kPa)
BL 1 4,36 0,60 19,25 0,00 36
Assumindo que o solo da base da encosta e o BL 2 17,22 0,84 54,25 3,40 31
da camada 6 do perfil pertencem a mesma ENSAIO COM REVERSÕES MÚLIPLAS
camada, traçou-se, a partir das curvas de nível Amostra Condições Iniciais Parâmetros de
da região, um perfil aproximado para a encosta, Resistência
c  (°)
conectando estes solos para formar a primeira W0 (%) e0 S0 (%)
(kPa)
camada e traçando, paralelas à esta, as outras BL 1 4,36 0,60 19,25 0,00 30
camadas de solo. Posteriormente, baseando-se BL 2 16,17 0,84 53,75 2,40 29
nas escavações realizadas (T1 e T2), estimou-se Onde: W0 = umidade inicial; e0 = índice de vazios inicial;
uma área com constituída por aterro, conforme S0 = saturação inicial; c = coesão; e ângulo de atrito
apresentado na Figura 4 que apresenta o perfil interno do solo.
geotécnico da encosta.
Observando as envoltórias de resistência,
4.4 Cisalhamento Direto percebe-se que, em ambas as amostras, para a
mesma tensão normal, as tensões cisalhantes
Os ensaios de cisalhamento direto realizados são maiores nas amostras ensaiadas na umidade
foram do tipo consolidado drenado (CD), das natural e menores naquelas ensaiadas com
seguintes formas: convencional (nas condições reversões múltiplas, estando, as amostras
inundadas – CDI – e nas umidades naturais – inundadas, em um patamar intermediário. Por se
CDN) e com reversões múltiplas (até que tratarem de amostras de solos não saturados, a
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diferença encontrada entre a condição de maiores as coesões apresentadas pelos solos.


umidade natural e inundada é resultante da Comparando os parâmetros de resistência
redução da resistência nos contatos inter nas condições de umidade natural e inundada
partículas, como previsto por Vilar e Ferreira com a residual, verifica-se diminuição dos
(2015), provocado pelo aumento da umidade ângulos de atrito interno dos dois solos e da
nas amostras, comumente por redução da coesão da areia silto-argilosa.
sucção. Da Figura 7 à Figura 14 observam-se os
comportamentos tensão-deformação e variação
de volumes observados nos ensaios das
amostras nas umidades natural e inundada.
Observando o comportamento tensão-
deformação dos solos, verificam-se
características de pico, ainda que pouco
evidentes, graficamente, nas tensões de 50 kPa e
100 kPa na amostra natural de BL 1 (areia
siltosa), e de 200 kPa na amostra inundada; e na
tensão de 25 kPa na amostra natural de BL 2
(areia silto-argilosa). Nestas situações são
observadas, em geral, diminuição e posterior
estabilização da resistência para todas as
tensões normais superiores às de pico. Para as
Figura 5. Envoltórias de resistência do BL 1. demais amostras, tensões e condições de
umidade, não são observados valores de pico e
as tensões cisalhantes são crescentes com o
deslocamento horizontal, tendendo a valores
constantes após certo nível de deslocamento.
Estes solos, segundo Lacerda (2004), tendem a
romper lentamente em movimentos de massa.
Sobre a variação de volume, verificam-se: na
amostra natural de BL 1 (areia siltosa) houve
compressão seguida por dilatação em todas as
tensões normais, com exceção da normal de 25
kPa, onde o volume só diminuiu; na amostra
inundada houve compressão nas tensões
normais de 200 kPa e 100 kPa, e compressão
seguida por dilatação para as tensões de 25 kPa
Figura 6. Envoltória de resistência do BL 2. e 50 kPa; na amostra natural de BL 2 (areia
silto-argilosa) o volume cresce para as tensões
A areia siltosa (BL 1) apresenta valores de normais de 50, 100 e 200 kPa, sofrendo
coesão inferiores aos da areia silto-argilosa (BL compressão e dilatação na tensão de 25 kPa; e,
2), tanto na condição de umidade natural, na amostra inundada, o volume só diminui.
quanto na inundada. Esta diferença é devida ao Os aumentos de volume observados são
alto teor de areia e baixo teor de argila na areia comuns em solos compactados e Pinto (2000)
siltosa quando comparados aos mesmos teores os explica pelo entrosamento entre as partículas
na areia silto-argilosa, pois, quanto maiores os que atuam como obstáculos na trajetória de
teores de argila e menores os teores de areia, outros grãos, que precisam se dilatar para
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vencê-los. Já as diminuições do volume são


atreladas a uma reacomodação das partículas
provocadas pelo processo de cisalhamento.
Comparando as tensões cisalhantes nas
condições de umidade natural e inundada dos
solos estudados, observam-se maiores tensões
cisalhantes nos solos naturais, e, portanto,
maiores resistências. Este resultado já era
esperado devido ao efeito da sucção atuante no
solo na umidade natural que, como observado Figura 9. Comportamento tensão-deformação em BL
em Alonso et al. (1987), aumenta a sua rigidez e 1 na condição de umidade inundada.
tensão de pré-adensamento.
Dentre as amostras de solo estudadas não foi
verificado comportamento de pós-pico, pois a
maior parte delas apresenta ruptura plástica,
com mobilização crescente de tensões
cisalhantes com os deslocamentos, tendendo a
atingir valores constantes após certo nível de
deslocamento, e naquelas nas quais se observou
comportamento de pico, as tensões não
chegaram a ficar estáveis.
Figura 10. Variação de volume em BL 1 inundado.

Figura 7. Comportamento tensão-deformação em BL


1 na condição de umidade natural. Figura 11. Comportamento tensão-deformação em BL
2 na condição de umidade natural.

Figura 8. Variação de volume em BL 1 natural.


Figura 12. Variação de volume em BL 2 natural.
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natural e inundada na areia siltosa pode ser


atribuída, mais uma vez, ao efeito da sucção,
que aumenta a tensão de escoamento para as
amostras na umidade natural. Nos ensaios
inundados há redução da sucção e,
consequentementem, deformações superiores às
observadas nos solos na umidade natural.

Tabela 4. Parâmetros de compressibilidade obtidos


dos ensaios edométricos duplos.
Figura 13. Comportamento tensão-deformação em BL
TENSÃO DE
2 na condição de umidade inundada. AMOSTRA Cc Cs
ESCOAMENTO
EDN 105 kPa 0,14 0,02
BL 1
EDI 7,2 kPa 0,13 0,02
EDN 66 kPa 0,41 0,02
BL 2
EDI 33 kPa 0,37 0,00
COLAPSIBILIDADE
BL 1 BL 2
Classe (*) VC CC
CP máximo 8,54% 3,47%
Tensão de Consolidação p/ CP máx 160 kPa 80 kPa
Figura 14. Variação de volume em BL 2 inundado.
*Critério de classificação de Reginatto e Ferrero (1973).
VC: verdadeiramente colapsível e CC: condicionado ao
4.5 Ensaios Edométricos Duplos colapso.

Foram realizados ensaios edométricos com


corpos de prova de 87,4 mm de diâmetro e 20
mm de altura, moldados a partir dos blocos
indeformados BL1 e BL2. Os solos foram
ensaiados na condição natural de umidade
(EDN) e na condição inundada (EDI).
Na Tabela 4 apresentam-se os parâmetros de
compressibilidade das amostras ensaiadas. A
Figura 15 e a Figura 16 apresentam as curvas
que relacionam a variação do índice de vazios Figura 15. Curvas de compressibilidade de BL 1.
com a tensão vertical de consolidação.
O solo da base da encosta apresentou trecho
virgem mal definido, enquanto que o do topo da
encosta o tem bem definido.
O comportamento do BL 2 (areia silto-
argilosa) pouco variou com a mudança da
condição de umidade, pois a amostra natural
apresentou grau de saturação muito próximo ao
da amostra inundada, diferentemente do que
aconteceu com BL 1 (areia siltosa). Esta
diferença de comportamento entre a condição
Figura 16. Curvas de compressibilidade de BL 2.
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A Figura 17 apresenta a variação do potencial primeira é um aterro areno-argiloso, a segunda é


de colapso CP (%) com a tensão vertical de uma areia silto-argilosa com pedregulho e
consolidação das amostras ensaiadas. O CP foi laterita, a terceira é um silte argilo-arenoso com
calculado a partir da Equação 1. laterita, a quarta é uma argila silto-arenosa com
laterita, a quinta é uma areia silto-argilosa, a
(1) sexta é uma areia siltosa com pedregulho, e a
sétima é uma argila silto-arenosa. Os valores de
NSPT, até os 3,30 m de profundidade estão entre
Sendo: 7 e 9, crescendo até os 5,30m, onde atinge o
valor de pico (NSPT = 28). Até os 6,30 m de
: deformação volumétrica específica na profundidade, o NSPT decresce até 11, ficando
condição natural de umidade; entre esse valor e 21 até os 8,30 m, crescendo
: deformação volumétrica específica na novamente até os 10,39 m, onde encontra-se o
condição inundada. impenetrável à percussão (66 golpes para uma
penetração de 0,24 m).
Verifica-se que o CP apresenta pico na areia O solo da base (equivalente à sexta camada
siltosa (BL 1), crescendo até a tensão de 160 do perfil geotécnico) e do topo da encosta
kPa, e decrescendo dela até a tensão de 1280 (segunda camada do perfil geotécnico) foram
kPa. Na areia silto-argilosa (BL 2) ele é bastante classificadas, segundo a SUCS em,
variável com o crescimento da tensão de respectivamente: SW-SM (areia siltosa bem
consolidação, apresentando trechos crescentes e graduada) e SM-SC (areia silto-argilosa), tendo
decrescentes. O comportamento esperado foi o sido observada agregação das frações mais finas
obtido para BL 1, pois, segundo Ferreira e Vilar em ambas amostras, sendo mais expressiva no
(2015), os potenciais de colapso tipicamente solo do topo da encosta (amostra BL 2).
crescem com o acréscimo da tensão vertical Nos ensaios de permeabilidade conduzidos
(v), atingindo valores máximos e, no permeâmetro modelo tri-flex II, obtiveram-
posteriormente, decrescem. se valores bem diferentes para os dois solos,
sendo a condutividade hidráulica do solo da
base da encosta (areia siltosa) igual a 1,77 x 10-5
m/s, valor cerca de cem vezes maior do que a
do solo do topo da encosta (areia silto-argilosa),
que é igual a 2,55 x 10-7 m/s, devido à maior
porcentagem de finos presente neste último
solo, como a própria classificação SUCS deste
solo sugere.
Nos ensaios de cisalhamento direto, devido
Figura 17. Variação do potencial de colapso nas
ao efeito da sucção, observam-se diferenças
amostras BL 1 e BL 2. entre as amostras ensaiadas nas condições
naturais e inundadas, como: maiores tensões de
escoamento nos solos naturais, menores
5 CONCLUSÕES deformações, maiores tensões cisalhantes e,
assim, maiores resistências ao cisalhamento.
O perfil geotécnico da encosta estudada, de A areia siltosa apresenta ângulo de atrito
10,39 m de profundidade, apresentou-se com interno de 36°, coesão de 8,6 kPa na condição
sete camadas de solo medianamente de umidade natural, e nula na condição
compactadas, sem presença de nível de água: a inundada, enquanto que a areia silto-argilosa
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apresenta coesão de 22 kPa na condição natural Conferência Brasileira sobre Estabilidade de


e 3,4 kPa na inundada, e ângulo de atrito interno Encostas, COBRAE, ABMS, São Paulo, v.1.
Disponível em: < https://www.abms.com.br/anais-
de 31°. cobrae>. Acesso em 30 de janeiro de 2017.
Nos ensaios edométricos observam-se Barbosa, T.S. (2015). Geomorfologia urbana e
curvas de compressibilidade semelhantes para mapeamento geomorfológico do município de João
as amostras da areia silto-argilosa ensaiadas nas Pessoa – PB, Brasil, Dissertação de Mestrado,
condições de umidade natural e inundada, isto Programa de Pós-graduação em Geografia,
Departamento de Geografia, Universidade Federal da
porque a amostra natural já apresentava grau de Paraíba, 115p.
saturação semelhante ao da amostra inundada. Caputo, H.P. (1987). Mecânica dos solos e suas
Quanto a colapsibilidade, o solo da base da aplicações. 6 ed., Livros técnicos e científicos, Rio de
encosta (BL 1), uma areia siltosa, é Janeiro, 219 p.
verdadeiramente colapsível, segundo o critério Coutinho, R.Q.; Severo, R.N.F. (2009). Investigação
geotécnica para projeto de estabilidade de encostas,
de classificação de Reginatto e Ferrero (1973), Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
enquanto que o solo do topo da encosta (BL 2), Encostas, COBRAE, ABMS, São Paulo, v.1.
uma areia silto-argilosa, é condicionado ao Disponível em: < https://www.abms.com.br/anais-
colapso. Os potenciais de colapso (CP) cobrae>. Acesso em 20 de dezembro de 2016.
calculados para as amostras, corroboram com a João Pessoa. Prefeitura municipal de João Pessoa.
Coordenadoria Municipal de Defesa Civil
classificação feita pelo critério de Reginatto e
(COMDEC) (2016). Áreas degradadas por ocupação
Ferrero (1973), tendo sido encontrados maiores irregular: encostas e margens de rios. João Pessoa, 2
potenciais de colapso no solo da base da encosta p.
(areia siltosa), cerca de duas a oito vezes João Pessoa. Prefeitura municipal de João Pessoa.
maiores do que os potenciais do solo do topo Coordenadoria Municipal de Defesa Civil
(COMDEC) (2013). Diagnóstico e caracterização da
(areia silto-argilosa).
comunidade Santa Clara: área de risco – Castelo
Todos resultados obtidos estavam em Branco II. João Pessoa: COMDEC, 3 p.
conformidade com o apresentado por Coutinho Lacerda, W.A. (2004). The behavior of colluvial slopes in
e Severo (2009) para a Formação Barreiras, e a tropical environment, International Symposium on
Landslides, 9., [...], Rio de Janeiro, v.2, p.1315-1342.
foram coerentes entre si.
Pinto, C.S. (2000). Curso básico de mecânica dos solos
em 16 aulas, Oficina dos textos, São Paulo, 247p.
Reginatto, A.R.; Ferrero, J.C. (1973). Collapse potential
AGRADECIMENTOS os soil and soil water chemistry, International
Conference on Soil Mechanics and Foundation
Engineering, 8., [...], Moscow, v. 2.2, pp. 177-183.
Ao grupo de pesquisa GEGEP pela parceria e Soares, F.L.; Medeiros, M.G.N.; Medeiros, V.N.;
assistência durante a pesquisa, à empresa Nóbrega Júnior; J.S. (2015). Mapeamento das áreas
Engeobase Engenharia de Fundações pela de risco da comunidade Santa Clara – João
realização da sondagem SPT apresentada, e aos Pessoa/PB, Congresso Brasileiro de Geologia de
funcionários do laboratório de solos e Engenharia e Ambiental, ABGE, São Paulo, v.1.
Disponível em <
instrumentação da UFPE pelo suporte. http://cbge2015.hospedagemdesites.ws>. Acesso em
03 de novembro de 2016.
Vilar, O.M.; Ferreira, S.R.M. (2015). Solos colapsíveis e
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G.F.N; Machado, S.L; Mascarenha, M.M.A; Silva
Alonso, E.E.; Gens, A. & Wight, D.W. (1987). Special Filho, F.C. (Orgs.). Solos não saturados no contexto
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ICSMFE, v. 3, Dublin, pp. 1087-1146.
Bandeira, A.P.; Coutinho, R.Q.; Alheiros, M.M. (2009).
Importância da caracterização geológico-geotécnica e
da chuva para gerenciamento de áreas de risco,
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Caracterização Geotécnica e Determinação de Parâmetros


Hidráulicos de Solos Naturais e Compactados do Aterro Sanitário
da Regional Seridó-Caicó a Ser Implantado no Estado do RN
Ricardo Nascimento Flores Severo
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal - RN,
ricardo.severo@ifrn.edu.br

Olavo Francisco dos Santos Júnior


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal - RN, olavo@ct.ufrn.br

Osvaldo de Freitas Neto


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal - RN, osvaldocivil@ct.ufrn.br

Karina Cordeiro de Arruda Dourado


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Recife - PE,
karina.dourado@reitoria.ifpe.edu.br

Danisete Pereira de Souza Neto


Universidade Federal de Pernambuco, Recife - PE, daniseteneto@gmail.com

RESUMO: Este trabalho é parte do diagnóstico do meio físico dos Estudos de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA) para a implantação do Aterro Sanitário da Regional Seridó-Caicó a ser construído no
município de Caicó – RN. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar e classificar os solos da
área onde será implantado o Aterro Sanitário (AS Seridó-Caicó) e investigar suas características
hidráulicas. Foram realizadas investigação de campo e laboratório. Em campo realizaram-se visitas
de reconhecimento, levantamento topográfico planialtimétrico, sondagens a trado e escavação de
poços do tipo trincheiras para identificar o perfil litológico do subsolo e coletar amostras para
realização de ensaios de laboratório. Os ensaios de laboratório foram de caracterização geotécnica,
ensaios de compactação e ensaios de permeabilidade com carga variável. Concluiu-se que a área do
AS Seridó-Caicó e sua área de influência direta apresenta em grande parte da área rochas cristalinas
aflorando a superfície. As rochas presentes na área são do tipo granitódes com Gnaisses e Granitos.
Nos locais onde se encontram os solos observa-se a presença de areias silto-argilosas e pedregulhos.
Os solos presentes na área sob ponto de vista Geotécnico são Solos Residuais de Gnaisse (SRG) que
apresentam em sua composição mineral biotita gnaisse, feldspato, mica e quartzo. Os solos
apresentam boa trabalhabilidade, baixa compressibilidade e pequena porcentagem de argila, o que
explica a falta de plasticidade na maioria das amostras. Nas amostras com maior presença de argila
foram realizados ensaios de permeabilidade e a partir dos resultados observou-se que a
permeabilidade é considerada muito baixa, da ordem de 10-8 m/s. Devido a permeabilidade muito
baixa do solo e ao substrato rochoso aflorando a não mais do que 1,30 metro de profundidade nos
locais de solo mais espesso concluiu-se que a taxa de absorção do solo é considerada baixa ou muito
baixa e que o local (Área de Influência Direta do AS Seridó-Caicó) é considerado adequado para
implantação de um empreendimento como um aterro sanitário sob o ponto de vista geotécnico.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação Geotécnica, Propriedades Hidráulicas, Aterro Sanitário (AS).


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1 INTRODUÇÃO Nesse sentido, é importante traçar critérios


para a escolha da área, os quais devem ser
Este trabalho é parte do diagnóstico do meio amplos, abrangendo tanto questões técnicas
físico dos Estudos de Impacto Ambiental como econômicas, sociais e políticas.
(EIA/RIMA) para a implantação do Aterro Os critérios técnicos são impostos pela norma
Sanitário da Regional Seridó-Caicó a ser NBR 10.157 e pela legislação federal, estadual e
construído no município de Caicó – RN. municipal. Esses condicionantes abordam desde
O objetivo principal do presente trabalho foi questões ambientais, como o limite de distância
caracterizar e classificar os solos da área onde de corpos hídricos e a profundidade do lençol
será implantado o Aterro Sanitário (AS Seridó- freático, até aspectos relativos ao uso e à
Caicó) e investigar suas características ocupação do solo, como o limite da distância de
hidráulicas. centros urbanos, a distância de aeroportos etc.
De acordo com a norma NBR 8.419: 1992 Os critérios econômicos dizem respeito aos
“aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos custos relacionados à aquisição do terreno, à
consiste na técnica de disposição de resíduos distância do centro atendido, à manutenção do
sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou sistema de drenagem e ao investimento em
riscos à saúde pública e à segurança, construção. Finalmente, os critérios políticos e
minimizando os impactos ambientais, método sociais abordam a aceitação da população à
este que utiliza princípios de engenharia para construção do aterro, o acesso à área através de
confinar os resíduos sólidos à menor área vias com baixa densidade e a distância dos
possível e reduzi-los ao menor volume núcleos urbanos de baixa renda (Elk, 2007).
permissível, cobrindo-os com uma camada de De acordo com FUNCERN (2016) a
terra na conclusão de cada jornada ou intervalos implantação do Aterro Sanitário de Caicó
menores se for necessários”. permitirá a disposição segura, em atendimento
De acordo com Elk (2007) a seleção da área às normas técnicas em vigor, dos resíduos
para a construção do aterro sanitário é uma fase sólidos urbanos e de construção e demolição
muito importante no processo de implantação. A gerados nos 25 municípios participantes do
escolha correta do local é um grande passo para Consórcio Público Regional. A concepção do
o sucesso do empreendimento, pois diminui aterro prevê a implantação de duas células, que
custos, evitando gastos desnecessários com serão construídas em três etapas verticalizadas,
infraestrutura, impedimentos legais e oposição para disposição desses resíduos com vida útil de
popular. 20 anos e 11 meses.
Em geral, faz-se primeiro uma pré-seleção de O Aterro Sanitário da Regional Seridó-
áreas disponíveis no município e, a partir de Caicó, está localizado em terreno na zona rural
então, realiza-se um levantamento dos dados do município de Caicó/RN (Figura 1), já
dos meios físico e biótico. É comum construir o próximo à divisa com o município de São José
aterro sanitário em uma área contígua ao antigo do Seridó/RN, na margem esquerda da RN-288,
lixão, desde que este não esteja situado em sentido São José, nas seguintes coordenadas
locais de risco ou restrição ambiental (Elk, projetadas em UTM (Datum WGS 1984 - Zona
2007). 24 S): 727798,93 m E/ 9285900,19 m S,
Em certos casos, a prefeitura tem interesse distando cerca de 17,4 quilômetros da cidade de
em utilizar determinadas áreas, seja porque são Caicó e 7,8 quilômetros da cidade de São José
áreas degradadas por atividades anteriores, seja do Seridó.
porque são áreas erodidas ou, até mesmo, que O terreno, abrange uma Área Total de 35,66
não se prestam a outras atividades (Elk, 2007). ha e perímetro de 2.597,40 metros.
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Figura 1. Disposição geral e Planta de Localização do Aterro Sanitário da Regional Seridó-Caicó (FUNCERN, 2016).

2 MATERIAIS E MÉTODOS investigação com equipamento mecanizado


(Retroescavadeira) nos locais indicados na
Foram realizadas investigação de campo e Tabela 1 com as devidas coordenadas GPS, que
laboratório. Em campo realizaram-se visitas de estão locados no mapa de localização da área do
reconhecimento, levantamento topográfico AS em escala 1:5.000 (Figura 2). Cada Poço e
planialtimétrico, sondagens a trado e escavação amostra recebeu um número de identificação.
de poços do tipo trincheiras para identificar o Os Poços de inspeção e investigação foram
perfil litológico do subsolo e coletar amostras escavados até a profundidade em que foi
para realização de ensaios de laboratório. encontrado o substrato rochoso. As Amostras de
Os ensaios de laboratório de caracterização solo foram coletadas por pás e picaretas a cada
geotécnica (análise granulométrica com e sem o meio metro de escavação a partir de 0,50 m de
uso de defloculante, limites de consistência e profundidade ou toda vez que houvesse indicio
densidade real dos grãos), ensaios de de mudança de camada de solo.
compactação e ensaios de permeabilidade com Cada uma das amostras de solo coletadas a
carga variável foram realizados com as amostras cada 0,50m apresentaram um peso mínimo
coletadas e de acordo com as normas brasileiras maior do que 8,0 kg e foram devidamente
vigentes. Estes ensaios foram realizados no ensacadas em sacos de nylon novos e
Laboratório de Mecânica dos Solos do Campus perfeitamente etiquetadas com o número do
Natal Central do IFRN em amostras amolgadas poço e profundidade em que foram retiradas
coletadas durante a escavação de poços do tipo essas amostras. A profundidade atingida pelo
trincheiras. poço de inspeção e investigação foi
Para a coleta de amostras de solo foram devidamente medida com trena e registrada com
executados 06 (seis) poços de inspeção e fotografia.
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O fundo dos poços escavados foi limpo para pelos litotipos das Formações Jucurutu, Equador
mostrar a presença do substrato rochoso que foi e Seridó (Grupo Seridó), com intrusões
analisado pelas equipes responsáveis pela graníticas e depósitos colúvio e luviais, estes
Geologia e pela Geotecnia. últimos encontrados na porção SE da área
proposta para implantação do aterro sanitário
Tabela 1. Locais de Coletadas das Amostras (Figura 3).
(Coordenadas UTM). A área de influência do empreendimento está
Solo e
inserida geomorfologicamente no Escudo
P 01 727.452 / 9.285.768 Cristalino, que se estende pela maior parte do
P 02 727.229 / 9.285.974 Rio Grande do Norte, onde predominam
P 03 727.033,025 / 9.286.163,273 elevados níveis de energia interveniente. As
P 04 727.696 / 9.285.834 unidades geomorfológicas (Figura 4) da área
P 05 727.491 / 9.286.056 estudada estão inseridas principalmente nos
P 06 727.301,456 / 9.286.248,082 domínios da Depressão Sertaneja e do Planalto
da Borborema (FUNCERN, 2016).
Nas áreas destinadas ao Aterro Sanitário
3 ASPECTOS GEOLÓGICOS E ocorre uma ampla faixa de mármores, de
GEOMORFOLÓGICOS DA ÁREA coloração predominantemente cinza,
ocasionalmente com fácies de coloração
Na região do Seridó ocorrem esbranquiçada, inclusive com área em fase de
predominantemente em subsuperfície formações lavra mineral (FUNCERN, 2016).
rochosas do Grupo Seridó, Complexo Caicó e Não foram detectadas fraturas nas rochas
da Formação Jucurutu. Essas formações são presentes na área do Aterro sanitário
constituídas predominantemente de rochas FUNCERN (2016).
metassedimentares variando de xistos a Os Depósitos Colúvio-eluviais ocorrem na
anfibolitos (Grupo Seridó), ortognaisses e porção NE da Área de Influência Direta (AID),
migmatitos (Complexo Caicó) e biotita ocupando uma pequena área na porção SE da
paragnaisse e xistos (Formação Jucurutu). área destinada à implantação do aterro sanitário.
Recobrindo essas rochas ocorre um manto Os Depósitos Colúvio-eluviais se encontram
espesso de solos com características areno silto- recobrindo parcialmente os litotipos do
argilosas e areno argilo-siltosas, impregnado Complexo Caicó e do Grupo Seridó, sendo
com pedregulhos. Em diversos locais os estratos constituídos por sedimentos arenosos e areno-
rochosos afloram. argilosos, de coloração avermelhada, por vezes
A Área de Influência Indireta do AS Seridó- constituindo depósitos conglomeráticos com
Caicó de acordo com FUNCERN (2016) está seixos de quartzo predominantes, localmente de
inserida geologicamente no extremo NE da natureza polimítica (cascalheiras) (FUNCERN,
Província da Borborema, englobando o conjunto 2016) (FUNCERN, 2016).
de unidades geológicas estabilizadas ao final da Os depósitos aluvionares estão restritos aos
orogênese brasiliana, ocorrendo rochas leitos das drenagens principais que cortam a
gnáissico-migmatíticas de idade área de estudo, sendo constituídos
Paleoproterozóica datadas de 2,2 - 2,1 bilhões principalmente por estratos arenosos,
de anos, constituintes do Complexo Caicó arenoargilosos e argiloarenosos, pouco espessos
(Embasamento Cristalino). e com granulometria dominantemente nas
Sobrepostos a este embasamento cristalino frações média à grossa (FUNCERN, 2016).
tem se uma sequência supracrustal constituída
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Figura 2. Mapa dos Locais de Coletas das Amostras de Solo (FUNCERN/2016).

Figura 3. Mapa Geológico das Áreas de Influência Direta do AS e da Jazida Execução Aterro (FUNCERN/2016).
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Figura 4. Mapa da Geomorfologia do Município de Caicó (FUNCERN/2016).

4 ASPECTOS PEDOLÓGICOS DA solos são do tipo Litólicos, Bruno não Cálcico


ÁREA DE ESTUDO e Latossolo vermelho Amarelo.

Com base nas visitas de campo e nas


informações disponíveis na documentação
acessada observa-se que as características da
área de influência direta (AS Regional Seridó-
Caicó) em grande parte dessa área apresentam
rochas cristalinas aflorando a superfície.
As rochas presentes na área são do tipo
granitódes com Gnaisses e Granitos. Nos
locais onde se encontram os solos observa-se a
presença de areias silto-argilosas e Figura 5. Foto da Área Mostrando Rochas Aflorantes.
pedregulhos. Este tipo de material apresenta
boa trabalhabilidade e baixa
compressibilidade. Observa-se nas Figuras 5 e
6 características da área.
De acordo com a CPRM (2015) os solos da
região do município de Caicó são do tipo
Bruno não Cálcico Vértico com fertilidade
natural alta, textura arenosa/argilosa
moderadamente drenado apresentando relevo
suave ondulado.
Figura 6. Foto da Área Mostrando Solo Arenoso com
De acordo com a Embrapa (2015) esses Presença de argila e Vegetação Característica.
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5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS


RESULTADOS DOS ENSAIOS

De acordo com Coutinho e Severo (2009)


existem várias técnicas disponíveis para se
atingir os objetivos de uma investigação
geotécnica de subsolo e nestas estão incluídos
ambos os ensaios, de campo e de laboratório.
Neste item apresenta-se o resultado dos ensaios.

5.1 Amostras Coletadas

As amostras, no total de quinze, com suas


respectivas quantidades de solo (Tabela 2)
devidamente etiquetadas (local e profundidade)
foram enviadas para o Laboratório de Mecânica
dos Solos do IFRN onde foram realizados os Figura 7. Amostra P 02 – 0,50 (Poço P 02, Prof. 0,50 m).
ensaios de caracterização, compactação e
permeabilidade.

Tabela 2. Massas das Amostras de Solos Coletadas (g).


Profundidade (m)
Poço
0,50 0,80 1,00 1,20 1,30
P 01 13.090 11.356 - - -
P 02 11.696 - 11.638 9.618 -
P 03 14.956 9.748 - - -
P 04 15.298 - 10.390 - -
P 05 13.280 - 11.240 - 9.020
P 06 9.262 - 8.452 - 8.964

As amostras foram denominadas conforme o


número do poço e a sua respectiva profundidade
em metros. Assim a amostras P 01 - 0,80,
corresponde a amostra do Poço P 01 coletada na
profundidade de 0,80 metros.
Na Figura 7 é mostrada a amostra P 02 -
0,50 (Poço P 02 amostra coletada na Figura 8. Amostra P 04 – 0,50 (Poço P 04, Prof. 0,50 m).
profundidade de 0,50 m) e na Figura 8 é
mostrada a amostra P 04 - 0,50 (Poço P 04 Os ensaios de compactação, obtenção do
amostra coletada na profundidade de 0,50 m), peso específico aparente seco e de
prontas no laboratório para serem ensaiadas. permeabilidade não foram executados em todas
Os Poços de inspeção e investigação foram as amostras. Estes ensaios de permeabilidade e
escavados até a profundidade em que foi de compactação foram realizados em amostras
encontrado o substrato rochoso. selecionadas representativas das camadas de
Os ensaios realizados com as quinze solo de cada um dos poços de inspeção e
amostras de solos estudadas estão apresentados investigação escavados.
nos subitens 5.2 e 5.3. As faixas de distribuição Os ensaios de Compactação foram realizados
granulométrica foram obtidas de acordo com a na Energia Proctor Normal para obtenção do
norma NBR 6502: Rochas e Solos. peso específico aparente seco máximo.
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Os Ensaios de Permeabilidade foram Tabela 4. Faixas Granulométricas dos Solos.


realizados em amostras moldadas no peso Amostra LL LP IP Gs SUCS
específico aparente seco máximo e na umidade P01-0,50 NL NP NP 2,64 SM
ótima encontrada nos ensaios de compactação. P01-0,80 NL NP NP 2,63 SM
Os solos em que foram realizados estes P02-0,50 35 18 17P 2,71 CL
ensaios estão presentes logo acima do substrato P02-1,00 NL NP NP 2,75 SM
rochoso e servirão de fundação para a P02-1,20 NL NP NP 2,74 SM
P03-0,50 NL NP NP 2,68 SM
construção do aterro. Estes solos não serão
P03-0,80 NL NP NP 2,69 SM
utilizados para impermeabilização e
P04-0,50 NL NP NP 2,61 SM
recobrimento do aterro, existindo uma jazida
P04-1,00 NL NP NP 2,63 SM
selecionada para tal fim.
P05-0,50 32 12 20 2,68 CL
A área selecionada para oferecer material de
P05-1,00 NL NP NP 2,70 SM
empréstimo (jazida) está localizada no Sitio P05-1,30 NL NP NP 2,73 SM
Barra do Rio no entorno da coordenada 727.229 P06-0,50 26 16 10 2,71 CL
mE/ 9.280.755 mS. A área de exploração da P06-1,00 NL NP NP 2,65 SM
jazida é de aproximadamente 87.935,43 m2. O P06-1,30 NL NP NP 2,66 SM
volume estimado do material, considerando a *Obs: LL – Limite de Liquidez, LP – Limite de
profundidade da sondagem de 5 metros e um Plasticidade, IP – Índice de Plasticidade, Gs – Densidade
expurgo de 10% é de 395.722,93 m3. Real dos Sólidos, SUCS – Sistema Unificado de
Classificação dos Solos.
5.2 Ensaios de Caracterização
5.3 Ensaios de Compactação e Ensaios de
A partir dos ensaios de caracterização obteve-se Permeabilidade
a distribuição granulométrica, os limites de
Atterberg, a densidade real dos sólidos e a Foram realizados ensaios de compactação e de
classificação dos solos pelo SUCS que estão permeabilidade em 7 (sete) amostras dos solos
apresentadas nas Tabelas 3 e 4. coletados. Estes ensaios foram realizados em
amostras selecionadas representativas das
Tabela 3. Faixas Granulométricas dos Solos. camadas de solo de cada um dos poços de
Amostra Ped. A.G A.M A.F Silte Arg. inspeção e investigação escavados. Os
% % % % % % resultados dos ensaios de compactação e de
P01-0,50 2 3 17 68 2 8 permeabilidade estão apresentados na Tabela 5.
P01-0,80 2 1 15 74 3 5
P02-0,50 1 1 8 70 6 14 Tabela 5. Ensaios de Compactação e Permeabilidade.
P02-1,00 1 1 23 61 8 6 Amostra % Wot Yd max K
P02-1,20 0 1 24 62 6 7 Passa % (kN/m³) (10-8 m/s)
P03-0,50 0 1 22 68 4 5 #200
P03-0,80 1 1 23 63 8 4 P01-0,80 46,64 11,0 18,70 1,30
P04-0,50 2 1 10 75 8 4 P02-0,50 56,13 12,0 18,60 1,00
P04-1,00 1 1 16 74 4 4
P02-1,00 35,72 13,0 18,80 1,60
P05-0,50 1 1 10 66 5 17
P05-1,00 0 1 17 71 5 6 P03-0,50 26,91 12,0 17,80 1,40
P05-1,30 0 1 17 72 5 5
P04-1,00 34,19 11,0 17,60 1,20
P06-0,50 0 1 1 82 5 11
P06-1,00 1 1 10 73 5 10 P05-0,50 61,53 11,0 19,20 1,45
P06-1,30 0 1 11 75 7 6 P06-0,50 53,59 14,0 18,80 3,59
*Obs: Ped. - Pedregulho, A.G - Areia Grossa, A.M -
Areia Média, A.F - Areia Fina, Silte e Arg. - Argila. *Obs: Wot - Umidade Ótima, Yd max - Peso Aparente Seco
Máximo, k - Permeabilidade em (10-8 m/s).
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5.4 Considerações a Respeito dos Ensaios Os solos apresentam boa trabalhabilidade,


de Caracterização, Compactação e baixa compressibilidade e pequena porcentagem
Permeabilidade dos solos de argila, o que explica a falta de plasticidade
na maioria das amostras.
De acordo com os ensaios realizados nas Nas amostras com maior presença de argila
amostras coletadas nos locais onde não existe foram realizados ensaios de permeabilidade e a
rocha aflorando à superfície, a camada de solo partir dos resultados observou-se que a
apresenta profundidade variando entre 0,50 m e permeabilidade é considerada muito baixa.
1,30 m, onde observa-se a presença Devido a permeabilidade muito baixa do
predominante de areias siltosas (SM) e argila de solo e ao substrato rochoso aflorando a não
baixa plasticidade (CL) com presença de rocha mais do que 1,30 metro de profundidade nos
decomposta em variadas granulometrias nas locais de solo mais espesso concluiu-se que a
camadas mais profundas. taxa de absorção do solo é considerada baixa ou
Os solos estudados apresentam boa muito baixa e que o local (Área de Influência
trabalhabilidade, baixa compressibilidade e Direta do AS Seridó-Caicó) é considerado
pequena porcentagem de argila, o que explica a adequado para implantação de um
falta de plasticidade na maioria das amostras. empreendimento como um aterro sanitário sob o
Entretanto, algumas amostras apresentaram ponto de vista geotécnico.
baixa plasticidade.
Nas amostras com maior presença de argila REFERÊNCIAS
foram realizados ensaios de permeabilidade e a
partir dos resultados observou-se que a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
permeabilidade é considerada muito baixa, da TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e Solos. Rio de
Janeiro. 1995
ordem de 10-6 cm/s ou 10-8 m/s conforme a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
unidade considerada. TÉCNICAS. NBR 8.419: Apresentação de projetos
de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio
de Janeiro. 1992.
6 CONCLUSÕES ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 10.157: Aterros de resíduos
perigosos - Critérios para projeto, construção e
Concluiu-se que a área do AS Seridó-Caicó e operação. Rio de Janeiro. 1987.
sua área de influência direta apresenta em Coutinho, Roberto Quental.; Severo, Ricardo Nascimento
Grande parte da área rochas cristalinas Flores. Conferência Investigação Geotécnica Para
aflorando a superfície. As rochas presentes na Projeto de Estabilidade de Encostas. 50 Conferência
Brasileira de Estabilidade de Encostas, COBRAE, São
área são do tipo granitódes com Gnaisses e Paulo. p. 55. 2009.
Granitos e ampla faixa de mármores. CPRM, 2015. Acessado em 25/09/2015.
Nos locais onde se encontram os solos http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/rgnorte/relatorios/C
observa-se a presença de areias silto-argilosas e AIC025.PDF
Embrapa, 2015. Acessado em 25/09/2015.
pedregulhos. São Solos Residuais de Gnaisse
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(SRG) que apresentam em sua composição Elk, Ana Ghislane Henriques Pereira van Redução de
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quartzo. Henriques Pereira van Elk. Coordenação de Karin
O solo residual maduro (horizonte B) é Segala – Rio de Janeiro: IBAM, 2007. 40 p. 21 cm.
(Mecanismo de desenvolvimento limpo aplicado a
composto por uma areia silto-argilosa com as
resíduos sólidos).
partículas de argila floculadas (agregadas). O FUNCERN, Estudo de Impacto Ambiental - EIA Aterro
solo residual jovem (horizonte C) é uma areia Sanitário da Regional Seridó - Caicó Tomo II.
siltosa com mica, com as características da Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento
rocha-mãe preservadas em parte. Tecnológico do Rio Grande do Norte. Natal. 2016.
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Caracterización Experimental del Comportamiento Elasto-plástico


con Daño Continuo de un Suelo Granular Mejorado con Fibras de
Polipropileno
Sebastián Gianninoto Arias
Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, sebas.gianninoto@hotmail.com

Daniela Noemí Bóveda Ovando


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, danie_boveda@hotmail.com

Rubén Alcides López


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, rlopez@ing.una.py

Eduardo José Bittar


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, ebittar@ing.una.py

Fulgencio Antonio Aquino


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, aaquino@ing.una.py

Ruben Alejandro Quiñónez Samaniego


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, rquinonez@ing.una.py

RESUMEN: La inclusión de fibras para el refuerzo de suelos tiene como objetivo mejorar el
desempeño de materiales susceptibles a problemas causados por el surgimiento de fisuras, que
conllevan a pérdidas de capacidad soporte del suelo. A su vez, las fibras funcionan como elementos
de tracción por medio de mecanismos de interacción en su interface, además mejoran la resistencia
mecánica del suelo a compresión, tracción, corte e incluso a flexión y actúan en el control de
propagación de fisuras. La mecánica del daño es el estudio, que, a través de variables mecánicas, de
los mecanismos involucrados en el deterioro de los materiales cuando son sometidos a cargas, nos
permiten describir el comportamiento en el proceso de agrietamiento de la masa. El programa
experimental de este estudio, primeramente, fue llevado a cabo la caracterización física del suelo
natural siguiendo las normativas correspondientes. Además, fue obtenida la caracterización
mecánica y física de las fibras de polipropileno. Por último, fueron realizados ensayos triaxiales
estáticos con ciclos de carga-descarga-recarga (CDR) del suelo natural y el suelo reforzado con
fibras, para varios niveles de deformación axial. Los resultados son presentados en curvas de
tensión-deformación para el suelo y suelo-fibra en estudio. Subsecuentemente, la obtención del
daño fue determinado a partir de los parámetros elásticos y mecánicos del suelo y suelo-fibra.

PALABRAS-CLAVE: Suelo arenoso, suelo-fibras, Carga-descarga-recarga, daño continuo

1 INTRODUCCIÓN mejorado mediante la inclusión de fibras al


suelo, ya que ésta tiene como objetivo mejorar
Los suelos granulares poseen en general elevada el desempeño de materiales susceptibles a tener
resistencia a esfuerzos de compresión y problemas causados por la aparición de fisuras,
cortante, pero baja resistencia a esfuerzos de lo que es un hecho común en suelos sometidos a
tracción; comportamiento que puede ser esfuerzos de tracción.
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La técnica de refuerzo de suelos es comportamiento de las muestras tanto en el


fundamentada en la tecnología de materiales ramo húmedo como en el seco de la curva de
compuestos, donde se busca crear un nuevo compactación y afirman que hasta 8% de limo
material con propiedades y características dentro de la masa no afecta el desempeño de la
específicas a través de la combinación de dos o mezcla.
más materiales conocidos que están constituidos Prácticamente todos los trabajos que
por una matriz y un elemento de refuerzo y son analizaron el comportamiento del suelo
desarrollados para optimizar los puntos fuertes reforzado en términos de resistencia post-picos
de cada una de estas dos fases (Feuerharmel, concluyeron que la adición de fibras reduce la
2000). caída de resistencia, e.g. Gray & Ohashi (1983);
La técnica se podría considerar antigua, sin Gray & Al-Refeai (1986); Stauffer & Holtz
embargo, no es hasta que en 1963 Henri Vidal (1995); Consoli, Ulbrich, & Prietto (1997);
lo patenta en Francia como el sistema de Tierra Consoli, Prietto, & Ulbrich (1999).
Armada, que el suelo reforzado se volvió una McGown et al. (1985), para arenas, relataron
técnica usada mundialmente. aumentos en el módulo de deformación, siendo
Los factores que afectan el comportamiento mayor cuanto mayor es la cantidad de fibras.
del compuesto suelo-fibras son muy complejos. Por el contrario, Ulbrich (1997) y Consoli,
Son innumerables las combinaciones de Prietto, & Ulbrich (1999) obtuvieron reducción
variables que alteran de forma significativa los del módulo con el aumento de fibras.
mecanismos de interacción. De esta forma, para La ventaja del refuerzo con fibras reside en
una cierta combinación de variables, el que no requiere una zona extendida de anclaje
resultado obtenido puede ser el deseado para para desarrollar toda su resistencia, no se
una cierta aplicación del compuesto, pero puede encuentra afectado por las condiciones
no ser para otra (Vendruscolo, 2003). Según climáticas, es económica y técnicamente viable
Feuerharmel (2000) el primer efecto provocado ya que dicho refuerzo puede realizarse con
por la inclusión de fibras al suelo puede ser equipos convencionales de construcción sin
detectado en la fase de compactación, formando riesgo a dañar el refuerzo (Li, 2005).
una estructura distinta a la del suelo sin fibras. Actualmente esta técnica viene despertando
En ese sentido, al mantenerse constante la un interés cada vez mayor en el medio
energía de compactación, la inclusión de fibras científico, prueba de esto se encuentran libros
provoca un aumento del índice de vacíos del recientes de Ingeniería de Materiales, donde los
suelo. Tal efecto puede ser mayor o menor, materiales compuestos fibrosos son abordados
dependiendo del tipo de fibra y de la fricción en capítulos específicos, y trabajos que abarcan
desarrollada entre el suelo y el refuerzo, no el tema de materiales reforzados con fibras
siendo afectado por el método de compactación. (Hannant, 1978; Budinski, 1989; Taylor, 1994;
Santoni et al. (2001) investigaron el efecto de Hollaway, 1990; Domone & Illston, 2010;
numerosas variables en el desempeño de Johnston, 2010).
muestras de arenas reforzadas con fibras Por otra parte, desde el punto de vista
aleatoriamente distribuidas. A través de ensayos científico, la Mecánica de daño continuo no es
de compresión simple, verificaron un muy antigua, esto no significa que los efectos de
significante aumento de resistencia no daño no estuviesen presentes en los materiales,
confinada en las muestras. En términos de pero su estudio de manera formal es
aumento de resistencia, es verificado una relativamente nuevo. Se puede asegurar que, de
longitud ideal de 51 mm para las fibras y un forma indirecta, el estudio y análisis de la
dosaje óptimo situado entre 0,6 y 1,0% en mecánica de daño se inicia con las
relación a la masa de suelo seco. Los autores investigaciones de la fatiga de materiales, ya
también verifican una mejoría en el que ambas están estrechamente vinculadas, pues
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ha sido comprobado que las cargas variables y de una cantera localizada en el barrio Viñas Cué
las deformaciones son las principales de la ciudad de Asunción-Parguay, la misma es
responsables de producir el daño y deterioro de extraída del Río Paraguay en una zona cercana
los diferentes materiales (Granda Marroquin, al puente Remanso Castillo. El material se
2016). caracteriza por ser una arena limpia, de
El término “Mecánica de daño continuo” y su granulometría uniforme (mal graduada), con
abreviación en inglés “CDM” fue contrastada y tamaño de partículas de arena que varían entre
usada por Janson & Hult (1977). Una definición medias a finas, con menos de 1% de pasante
presentada por dichos autores es la siguiente: tamiz #200. La curva granulométrica del
“La Mecánica del Daño Continuo es una rama material, Figura 2.1.1, fue determinada
de la mecánica aplicada responsable del estudio mediante tamizado (ASTM D 2487-17).
del deterioro del material, causado por la
aplicación de cargas y efectos ambientales,
previo a la formación de macrogrietas”.
Recientemente ha sido desarrollado un
modelo de material que describe el
comportamiento de suelos con fibras mediante
un modelo de Drucker-Prager modificado
(López, 2016). Este modelo ha sido
desarrollado e implementado en el Laboratorio
de Mecánica Computacional de la FIUNA,
obteniéndose los parámetros del modelo Figura 2.1.1. Curva granulométrica de la arena utilizada.
mediante ensayos realizados en el Laboratorio
de Ensaios Geotécnicos e Geoambientais de la 2.2 Fibras
Universidad Federal do Rio Grande do Sul. Este
modelo considera la distribución de daño en Las fibras utilizadas como refuerzo del material
forma anisotrópica, siendo realizada la granular son poliméricas de polipropileno
implementación para una versión simplificada FibroMac® 12. La Tabla 2.2.1. presenta las
debido a la necesidad de utilizar técnicas más principales características, definidas por el
complejas de caracterización del material. Es fabricante de las fibras utilizadas.
importante mencionar que este modelo está
Tabla 2.2.1. Propiedades físicas y mecánicas de las fibras,
basado en la hipótesis de la deformación Maccaferri América Latina (2017).
equivalente (entre una configuración con daño y Propiedades geométricas
una configuración efectiva), siendo realizada la
Diámetro 0,018 mm
implementación mediante un algoritmo Sección Circular
implícito que permite simular cargas estáticas, Longitud 12 mm
quasi-estáticas y dinámicas de baja velocidad,
Propiedades físicas
con cargas monótonas y cíclicas. Este modelo
0,91 g/cm3
tiene un potencial de representación de suelos Peso específico

locales entre los cuales se encuentra el tipo de Propiedades mecánicas

suelo analizado en este trabajo. Módulo de elasticidad 3 GPa

Resistencia última a tracción 300 MPa


2 MATERIALES Deformación en la ruptura 80%

2.1 Suelo 2.3. Agua


El suelo utilizado en esta investigación proviene Fue utilizada agua destilada para la preparación
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de las muestras y la realización de los ensayos, a real de los granos, límites de liquidez y
excepción de la carga de la cámara del equipo plasticidad, compactación y determinación de
triaxial, donde fue utilizada agua proveniente de humedad. Para la determinación de la humedad
la red pública de abastecimiento. óptima se utilizó la norma de compactación
ASTM D698-12. Los coeficientes de
3 METODOLOGIA uniformidad (Cu) y coeficiente de curvatura
(Cc), fueron calculados a través de las
Existen diversos métodos para medir el daño en definiciones presentadas por (LAMBE;
materiales entre los que se encuentran el WHITMAN, 1979) y la norma (ASTM D2487-
método directo e indirecto (destructivos y no 17). Otras propiedades físicas del suelo fueron
destructivos). En este trabajo, se utilizó como determinadas de acuerdo a las normas ASTM D
método de medición de daño el tipo destructivo, 854 y ASTM D 4254.
mediante la variación del módulo de elasticidad
ya que, según Lemaitre (1996) resulta muy 3.2. Preparación de los cuerpos de prueba de
aconsejable frente a casos de fractura frágil, ensayo triaxial.
dúctil, fluencia y fatiga de bajos ciclos. En ese
sentido, fueron ejecutados ensayos triaxiales, En la preparación de los cuerpos de prueba, para
capaz de realizar de manera automática ciclos los ensayos de compresión triaxial, se utilizó la
de Carga-Descarga-Recarga y que luego humedad 11,38 ± 0,5%. Peso específico
mediante un simple procesamiento de datos aparente seco utilizado para la compactación de
pueden ser obtenidos los parámetros elásticos, la arena reforzada fue de 16,71 kN/m3. La
necesarios para medir el daño de esta manera. preparación de los cuerpos de prueba para
Las variables dentro de la investigación ensayos triaxiales comprendió las siguientes
pueden ser divididas en dos grupos grandes: etapas: mezclado y compactación. Todos los
dependientes e independientes. Las materiales (suelo, fibras y agua) fueron pesados
independientes son todos los factores de los con una precisión de 0,01 g. (Figura 3.2.1). Las
ensayos a realizar que pueden causar algún cantidades de fibra y agua fueron determinadas
efecto sobre las dependientes. Las en relación a la masa de material granular seco.
independientes, a su vez, pueden ser
clasificadas en factores controlables y
constantes.
Factores controlables: Peso específico del
suelo-fibra: 16.71 kN/m3; Porcentaje de fibra:
0.25, 0.5 y 0.75%.
Factores constantes: Suelo arenoso; Tipo de
fibra; Temperatura de moldeo 21±2°C;
Porcentaje de humedad (): 11,38% de masa de
Figura 3.2.1. Pesaje de materiales para la confección de
agua divida la masa del material seco expresado suelo-fibra.
en porcentaje.
Las variables dependientes son las que Inmediatamente luego de la mezcla, la
resultan del experimento: Resistencia a la compactación de los cuerpos de prueba fue
compresión triaxial drenada; Daño. realizada en un molde tripartido con
dimensiones tales para la confección de
3.1. Caracterización de Materiales muestras de 50 mm de diámetro y 100 mm de
altura. Luego del proceso de preparación del
Para la caracterización del suelo se utilizaron cuerpo de prueba (Figura 3.2.2), finalmente fue
ensayos de granulometría, gravedad específica montada la cámara de presión y levantada sobre
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la prensa, previo ajuste de las piezas de sujeción 3.3. Ensayos de compresión triaxial.
del conjunto.
El equipo utilizado para la ejecución del ensayo
fue el Sistema Automatizado Triaxial
GDSTAS, como se muestra en la Figura 3.3.1.

Figura 3.2.2. Matriz suelo-fibra.

La confección del cuerpo de prueba, fue con


la ayuda de un molde tripartido, de manera a
sujetar la membrana, como se observa en la
Figura 3.2.3.

Figura 3.3.1. Equipo triaxial utilizado en laboratorio.

La norma utilizada para la ejecución de los


Figura 3.2.3. Montaje del molde tripartido para la ensayos triaxiales drenados fue la ASTM D
confección del cuerpo de prueba de Suelo-Fibra. 7181-11. La garantía de saturación de la
muestra fue monitoreada a través de la
La colocación del suelo-fibra fue realizada en medición del parámetro B según Skempton
cinco camadas, cada una de ellas compactadas (1954), previo al proceso de consolidación,
con pisón liso de diámetro igual a la mitad del donde éste debe mostrar valores iguales o
diámetro del molde tripartido. La medición de mayores a 0,95.
la altura del cuerpo de prueba y de tres Los ciclos de CDR se repitieron hasta llegar a
diámetros ubicados en 1/3,1/2 y 2/3 de la altura una deformación de 6% con respecto al punto
de los distintos cuerpos de prueba ensayados, de inflexión inicial, presentado en la Figura
con una precisión de 0,01 mm. (Figura 3.2.4). 3.3.2. Por último, en el ciclo final, se realizó
una recarga hasta llegar a una deformación total
de 15%.

Figura 3.2.4. Determinación de las dimensiones del


cuerpo de prueba.
Figura 3.3.2. Partes de la curva de CDR para un cuerpo
Los criterios adoptados para la aceptación de de prueba cualquiera.
los cuerpos de prueba fueron referidos a los
parámetros de compactación, tales como el peso
específico aparente seco y a humedad optima
con una tolerancia de ± 0,5%.
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de CDR y envolventes para 20 kPa.


4 RESULTADOS

4.1. Caracterización de suelos

Las propiedades físicas del suelo son


presentadas en la Tabla 4.1.1
Tabla 4.1.1. Índices físicos de la arena utilizada.
Arena Río Paraguay
Índices Físicos
Zona Remanso

Peso específico real de los granos 26,40 kN/m3

Peso específico aparente seco 16,71 kN/m3

Humedad óptima 11,38%

Absorción 0,40%

Coeficiente de uniformidad, Cu 2,65

Coeficiente de curvatura, Cc 1,09


Figura 4.2.2. Gráfico Tensión vs Deformación con ciclos
Diámetro efectivo, D10 0,14 mm de CDR y envolventes para 50 kPa.
Diámetro medio, D50 0,32 mm

Índice de vacíos mínimo, emin 0,488

Índice de vacíos máximo, emáx 0,871

Densidad relativa, Dr 75%

4.2. Ensayos de compresión triaxial.

En las Figuras 4.2.1 4.2.2 y 4.2.3, se presentan


los ensayos de compresión triaxial con
presiones de confinamiento de 20, 50 y 100
kPa, respectivamente. De forma comparativa en
cada figura se presentan las curvas obtenidas
para cuerpos de prueba sin refuerzo y con
refuerzo de 0,25; 0,50 y 0,75%.
Figura 4.2.3. Gráfico Tensión vs Deformación con ciclos
de CDR y envolventes para 100 kPa.

En la Tabla 4.2.1, se presentan los valores de


 ' para cada una de las mezclas, con y sin
refuerzo. Los valores fueron obtenidos mediante
la envoltoria de rotura t’ vs s’.
Para el caso de arena reforzada el valor de
deformación escogido para determinar la
envoltoria de ruptura fue de 7,5%, esto debido a
que el cuerpo de prueba no muestra un pico de
resistencia definido.

Figura 4.2.1. Gráfico Tensión vs Deformación con ciclos


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Tabla 4.2.1. Valores de  ' para las diferentes mezclas de de CDR para arena sin fibras y PC de 20 kPa.
arena-fibra.
En la Tabla 4.3.1 se muestran las diversas
variables obtenidas del análisis de los datos
registrados en el ensayo triaxial para arena sin
refuerzo y PC 20 kPa. Donde:
E: módulo de elasticidad;
ΔE: variación del módulo de elasticidad;
D: valor del daño obtenido en el ciclo.
El valor de Daño debido a la variación del
módulo elástico, según la bibliografía, debe
obtenerse mediante la siguiente ecuación:
D = 1 − Ei E0 Eq.(4.3)

Tabla 4.3.1. Variables determinadas en análisis


experimental para arena sin refuerzo y PC 20 kPa.
E [MPa] ΔE Daño

E0 9,176

E1 69,264 655% 0,0000

E2 61,524 -11% 0,1117

E3 57,782 -6% 0,1658

E4 58,396 1% 0,1569

E5 55,781 -4% 0,1947

4.3. Módulo de elasticidad (E) y daño (D). E6 50,839 -9% 0,2660

En la Figuras 4.3.1, se muestra la curva tensión-


deformación realizados en la arena sin refuerzo, Debido a que se utilizó un medidor de
compactada en la humedad óptima y la densidad deformación externo, la medición de la rigidez
máxima, sometidos a 6 ciclos sucesivos de inicial E0 pudo no ser tan precisa debido a
carga, descarga y recarga, dando la descarga errores de nivelación entre el top-cap y la celda
cada 1% de deformación axial, para una tensión de carga o la simple acomodación de partículas,
de confinamiento de 20 kPa. pero luego, en los ciclos CDR, ya en la primera
recarga puede decirse que la medición fue
precisa puesto que los errores mencionados
inicialmente se consideran subsanados debido a
que los cuerpos de prueba se encuentran en
tensión en ésta etapa. En ese sentido, E0 queda
reemplazado con E1 . En todos los casos, se
observa que el valor de E aumenta a medida que
aumenta la presión de confinamiento,
presentando un comportamiento similar para
cada una de las presiones. En la Tabla 4.3.2 se
muestra la relación existente entre el Modulo de
Elasticidad y las diferentes presiones de
Figura 4.3.1. Gráfico Tensión vs Deformación con ciclos confinamiento, considerando suelo-fibras.
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Tabla 4.3.2. Relación entre E a distintas presiones de


confinamiento.
Número de
ciclo
0 1 2,5 1,3

1 1 1,4 1,4

2 1 1,4 1,3

3 1 1,4 1,3

4 1 1,4 1,3 Figura 4.3.4. Evolución del daño para distintas presiones
5 1 1,4 1,3
de confinamiento. Arena con 0,50% de fibras como
refuerzo.
6 1 1,5 1,3

En las Figuras 4.3.2, 4.3.3, 4.3.4 y 4.3.5 se


presentan los valores de daño obtenidos para las
distintas presiones de confinamiento, con sus
respectivos porcentajes de refuerzo y suelo sin
refuerzo.

Figura 4.3.5. Evolución del daño para distintas presiones


de confinamiento. Arena con 0,75% de fibras como
refuerzo.

5 CONCLUSIONES

La metodología utilizada para la caracterización


de suelos resultó ser adecuada tanto para la
Figura 4.3.2. Evolución del daño para distintas presiones determinación de los parámetros tradicionales
de confinamiento. Arena sin refuerzo. del suelo, como para la obtención de la
variación del módulo de elasticidad que fueron
calculados para determinar la evolución del
daño en el material utilizado. Esta afirmación
está respaldada por el significado físico de los
resultados y los fenómenos observados en los
ensayos realizados.
El comportamiento de carga-descarga-recarga
relativo a los ciclos realizados es
predominantemente plástico en la descarga, con
Figura 4.3.3. Evolución del daño para distintas presiones grandes deformaciones irreversibles, con una
de confinamiento. Arena con 0,25% de fibras como pequeña parcela elástica.
refuerzo. En las muestras de suelo compactado se
constata que ante el aumento de la presión de
confinamiento se obtienen mayores resistencias
para todos los cuerpos de prueba, con o sin
refuerzo. El módulo de elasticidad crece con el
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aumento de las tensiones confinantes tanto para infraestructuras.


el suelo y para el suelo-fibra. Existe una
influencia de la presión de confinamiento en la REFERENCIAS
variación del módulo E independiente del
porcentaje de fibras, tal que la relación entre ASTM D2487. Standard classification of soils for
módulos de elasticidad E para distintas engineering purposes. ASTM International, West
presiones de confinamiento para los mismos Conshohocken, PA, 2017.
ciclos permanece constante. ASTM D4254-16. Standard Test Methods for Minimum
Para muestras sometidas a baja presión de Index Density and Unit Weight of Soils and Calculation
confinamiento (20 kPa), aumenta el valor del of Relative Density, ASTM International, West
daño con el aumento del porcentaje de fibras, Conshohocken, PA, 2016.
sin embargo, se puede observar que la adición
de fibras favorece al endurecimiento del ASTM D854. Standard Test Methods for Specific
material, necesitando este un mayor nivel de Gravity of Soil Solids by Water Pycnometer. ASTM
tensión para obtener el mismo valor de International, West Conshohocken, PA, 2014.
deformación. Para muestras sometidas a 50 kPa, ASTM D698-12. Standard Test Methods for Laboratory
el valor de daño permanece prácticamente Compaction Characteristics of Soil Using Standard
constante independientemente de la cantidad de Effort, ASTM International, PA, 2012.
fibras adicionada. Por último, para muestras
sometidas altas presiones de confinamiento ASTM D7181-11. Method for Consolidated Drained
(100 kPa), la adición de fibras disminuye en Triaxial Compression Test for Soils, ASTM International,
cierta manera el valor daño al final de los ciclos. West Conshohocken, PA, 2011.
En relación a la evolución del daño para BUDINSKI, K. G. Engineering Materials: Properties and
distintas presiones de confinamiento y Selection. Prentice Hall, 1989.
porcentajes de fibra, se puede decir que para la
baja presión de confinamiento (igual a 20 kPa), CONSOLI, N. C., PRIETTO, P. D. M., & ULBRICH, L.
las muestras con refuerzos presentan valores A. The behavior of a fiber-reinforced cemented soil.
mayores de daño que la arena sin refuerzo; para Ground Improvement, 3(1), 21–30, 1999.
la presión de confinamiento de 50 kPa, todas las CONSOLI, N. C., ULBRICH, L. A., & PRIETTO, P. D.
muestras presentan valores finales de daño M. Engineering behaviour of randomly distributed fiber-
aproximados; para la alta presión de reinforced cemented soil. In Symposium on Recent
confinamiento (igual a 100 kPa), la muestra con Developments in Soil and Pavement Mechanics, 1997.
refuerzo es menormente dañada que la arena sin
refuerzo. DOMONE, P., ILLSTON, J. Construction materials:
Por lo tanto, no se puede observar un patrón their nature and behaviour. CRC Press, 2010.
de comportamiento del daño exclusivamente en FEUERHARMEL, M. R. Comportamento de solos
base del porcentaje de fibras, sino que a la par reforçados com fibras de polipropileno, Programa de Pós-
depende de la presión de confinamiento. Esto se Graduação em Engenharia Civil da UFRGS, 2000.
debe, muy probablemente, a la interacción entre
la matriz del suelo y las fibras que experimentan GRANDA MARROQUIN, L. E. Determinación del daño
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Dissertação (Mestrado em Engenharia)--Programa de
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Classificação de Solos e Rochas da Região de Santa Maria e do


Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Segundo a Metodologia
MCT
Jéssica Anversa Venturini
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, jessicaanversa@hotmail.com

Lucas Eduardo Dornelles


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, lucaseduardodornelles@yahoo.com.br

Taiana Poerschke Damo


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, taiana.damo@gmail.com

Rinaldo José Barbosa Pinheiro


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

RESUMO: Este estudo teve como objetivo a identificação e classificação de amostras de solos e
rochas da região de Santa Maria e do noroeste do estado do Rio Grande do Sul através da
Metodologia MCT. Para todas as amostras estudadas foram realizados os ensaios de análise
química, ensaios básicos de caracterização física e mecânica e Ensaio de Mini-MCV e Perda de
Massa por Imersão. Além disso, todos os solos foram classificados pelo Método das Pastilhas,
sistema expedito de identificação geotécnica. A partir dos resultados obtidos, foi possível identificar
que seis dos solos estudados foram classificados com comportamento laterítico, enquanto que dez
possuem comportamento não-laterítico. Comparando-se a classificação obtida na MCT com o
Método das Pastilhas, foi possível identificar de forma geral uma concordância entre ambos os
sistemas. Assim, evidencia-se a importância da Metodologia MCT e do Método das Pastilhas na
identificação e classificação dos solos lateríticos, considerados materiais alternativos para
pavimentação.

PALAVRAS-CHAVE: Metodologia MCT, Solos Tropicais, Classificação MCT.

1 INTRODUÇÃO temperado.
No Brasil, há um predomínio de solos
Os dois sistemas de classificação geotécnica tropicais, que possuem peculiaridades no seu
mais difundidos na engenharia rodoviária são o comportamento. A utilização das classificações
Sistema Unificado de Classificação de Solos tradicionais em projetos rodoviários sobre solos
(SUCS) e o Highway Research Board (HRB). tropicais pode levar a resultados não
O primeiro classifica os solos para utilização condizentes com seu real desempenho.
como subleito rodoviário tendo como base os Nogami e Villibor (1981) identificaram a
ensaios de análise granulométrica por necessidade de uma classificação mais
peneiramento e Limites de Atterberg. O adequada às peculiaridades dos solos tropicais
segundo, por sua vez, possui como parâmetros brasileiros. Assim, os autores desenvolveram a
classificatórios a curva granulométrica, limite Metodologia MCT (Miniatura, Compactada,
de liquidez e índice de plasticidade dos solos. É Tropical). Baseada em ensaios em corpos de
importante ressaltar que ambas as metodologias prova em miniatura, a MCT permite avaliar
foram desenvolvidas em países de clima frio e diferentes propriedades dos solos tropicais
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como resistência, deformabilidade e típicos de solo de cada uma das seguintes


permeabilidade. unidades geotécnicas: Botucatu; Caturrita;
Em adição, a Metodologia MCT permite Rosário do Sul; Santa Maria/Alemoa e Santa
identificar o comportamento laterítico ou não Maria/Passo das Tropas, além dos solos da
laterítico dos solos tropicais. Solos de jazida Canabarro e do Distrito Industrial,
comportamento laterítico adquirem elevadas estudados por Santos (2016).
capacidades de suporte após compactação e Na região noroeste do Estado, as amostras
pequena perda de capacidade quando imersos foram coletadas em dois perfis distintos. Na
em água. cidade de Cruz Alta/RS em um talude de corte à
Uma década depois, Nogami e Villibor beira da BR-158, adjacente ao entroncamento
(1994) desenvolveram o Método das Pastilhas, com a RS-342 e em Ijuí/RS em um talude de
metodologia expedita para identificação dos corte, localizado à beira da RS-342. Tais locais
solos tropicais nos mesmos grupos da MCT. foram escolhidos de modo a obter amostras de
Este sistema é caracterizado pela moldagem de uma mesma região geográfica, porém de
pequenas pastilhas de solo em anéis de aço unidades de mapeamento diferentes. De acordo
inox. A partir de medidas dos valores de com o Mapa Geológico do Estado do Rio
contração e penetração dos solos, é possível Grande do Sul, desenvolvido pela Companhia
uma classificação mais rápida, barata e prática de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM,
dos solos. 2006), os dois pontos de coleta estão
Neste contexto, este trabalho teve como localizados sobre rochas do Grupo São Bento,
objetivo a identificação e classificação de Formação Serra Geral, Fáceis Gramado. A
dezesseis amostras de solos do estado do Rio Tabela 1 apresenta as coordenadas geográficas
Grande do Sul através da Metodologia MCT e e a nomenclatura adotada para cada material.
Método das Pastilhas. Visou-se também a
comparação entre estas duas classificações e as Tabela 1. Informações sobre os locais de coleta das
obtidas pelos sistemas tradicionais SUCS e amostras em estudo.
Local de Coordenadas do Ponto
HRB.
Coleta/Unidade
Amostra Longitude
Geotécnica - Latitude Sul
2 METODOLOGIA Jazida Oeste
BOT1 Santa Maria 29°40'12.2" 53°47'48.4"
2.1 Etapa de Escritório BOT2 (Botucatu) 29°38'36,6" 53°50'30,9"
CAT1 Santa Maria 29°41'58.0" 53°47'25.2"
Etapa inicial que compreendeu levantamento da (Caturrita)
CAT2 29°41'34.7" 53°47'04.9"
bibliografia existente acerca do tema do
trabalho em estudo. Estudo este realizado por SC1 Santa Maria 29°46'38.0'' 53°45'48.3''
meio de livros, dissertações, teses, artigos, (Rosário do Sul) 29°46'02.2" 54°00'37.6"
SC2
publicações em congressos relacionados à ALE1 Santa Maria 29°42'0.8" 53°47'28.1"
Metodologia MCT, abrangendo sua (Membro
Alemoa) 29°42'26.8" 53°52'17.1"
classificação, os ensaios de Mini-MCV e Perda ALE2
de Massa por Imersão. PT1 Santa Maria 29°44'41.5'' 53°47'43.1''
(Membro Passo
das Tropas) 29°42'58.9" 53°42'07.9"
2.2 Etapa de Campo PT2
Santa Maria
RS 29°40'4.34'' 53°58'09.41''
(Canabarro)
Nesta etapa, foram selecionados os locais de
coleta para posterior realização dos ensaios. As Santa Maria
TR (Distrito 29°40'53.75'' 53°52'29.58''
amostras coletadas na cidade de Santa Industrial)
Maria/RS foram escolhidas com base no mapa
CA-L 28°40’20’’ 53°35’36’’
geológico da região, sendo definidos dois perfis Cruz Alta
CA-S 28°40’20’’ 53°35’36’’
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IJ-L 28°26’14’’ 53°53’22’’ 2.3.4 Classificação MCT


Ijuí
IJ-S 28°26’14’’ 53°53’22’’
Para classificar os solos de acordo com a
2.3 Etapa de Laboratório Metodologia MCT, é necessária a realização de
dois ensaios classificatórios: Ensaio de Mini-
2.3.1 Caracterização Química MCV e Perda de Massa por Imersão.
O ensaio de Mini-MCV foi realizado de
A realização da análise química é de relevante acordo com a normativa DNER-CLA 259/96.
importância para conhecer as informações Para cada solo em estudo, são preparadas cinco
acerca da fração argila dos solos, o que é amostras com diferentes teores de umidade.
determinante no comportamento mecânico dos Para a compactação, são aplicadas energias
mesmos. crescentes, de modo a se obter um aumento
O conjunto de ensaios denominado Método sensível de densidade para os diferentes teores
Embrapa (Embrapa, 1997), foi realizado no de umidade.
Laboratório de Solos (LAS) do Centro de O equipamento utilizado no ensaio de Mini-
Ciências Rurais - CCR da Universidade Federal MCV está ilustrado na Figura 1. Para cada série
de Santa Maria, com o objetivo de identificar a de golpes, é feita uma leitura da altura do corpo
textura, o pH, a capacidade de troca catiônica de prova com o auxílio de um extensômetro. O
(CTC), a saturação de bases e alumínio e outros ensaio é finalizado quando a diferença de altura
cátions presentes nos materiais em estudo. do corpo de prova obtida após 4n golpes e a
Foram armazenados e devidamente obtida após n golpes for inferior a 2mm, se
identificados cerca de 50g de solo seco ao ar, houver intensa exsudação de água no topo e/ou
passantes na peneira de nº10 (2,0mm) de cada base do corpo de prova ou o se número de
amostra para análise, conforme orientação da golpes atingir o patamar de 256 golpes.
Embrapa (2006).

2.3.2 Caracterização Geotécnica

A caracterização dos materiais teve como base


os ensaios clássicos da Mecânica dos Solos:
análise granulométrica; limites de Atterberg e
peso específico real dos grãos.
As amostras foram classificadas segundo o
Sistema Unificado de Classificação dos Solos
(SUCS) e Highway Research Board (HRB).

2.3.3 Caracterização Mecânica

Nesta etapa foram realizados os ensaios de


Compactação Proctor em Energia Normal, com
o objetivo de obter a umidade ótima e a massa
específica máxima real aparente dos materiais Figura 1. Equipamento utilizado no ensaio de Mini-
em estudo. MCV.
Os ensaios de Índice de Suporte Califórnia
(ISC ou CBR) foram executados a fim de Os resultados obtidos no ensaio são plotados
estimar a resistência dos solos compactados e num gráfico de planilha eletrônica. A abscissa
em seguida, os ensaios de expansão. representa o número de golpes em escala
logarítmica e a ordenada a diferença de leitura
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obtida após 4n golpes e a obtida após n golpes Massa por Imersão permite a obtenção do
para cada sequência de golpes. Assim, é parâmetro Pi, relativo à porcentagem da massa
formada uma família de curvas de compactação. seca antes saliente do corpo de prova.
Juntas, estas são denominadas curvas de Com a realização dos dois ensaios
deformabilidade ou de Mini-MCV, pois classificatórios da MCT, é possível obter o
permitem a determinação do valor de Mini- parâmetro e’, calculado conforme a Equação 1.
MCV.
O coeficiente c’, utilizado na classificação 3 𝑃𝑖 20
MCT, é obtido a partir da curva de 𝑒 ′ = √100 + 𝑑′ (1)
deformabilidade correspondente ao valor que
mais se aproxima do Mini-MCV igual a 10. O 2.3.5 Método das Pastilhas
valor representa o coeficiente angular da parte
retilínea da curva de deformabilidade. Já o O ensaio do Método das Pastilhas foi realizado
coeficiente d’ é obtido a partir da inclinação da de acordo com o método proposto por Nogami
parte retilínea do ramo seco da curva de e Villibor (1994). Separa-se cerca de 100g de
compactação, correspondente a 10 golpes do material, umedecido com água destilada e
ensaio de Mini-MCV, em gráfico plotado que espatulado sobre uma placa de vidro
relaciona o Teor de Umidade (%) e a Massa esmerilhada. O ensaio pode ser iniciado quando
Específica Aparente Seca (g/cm³). a penetração de uma agulha padrão medida no
Após a realização do ensaio de Mini-MCV, penetrômetro for inferior a 1mm.
procede-se o ensaio de Perda de Massa por Para cada amostra de solo, foram moldadas
Imersão, preconizado pela normativa DNER- cinco pastilhas com 20mm de diâmetro e 5 mm
ME 256/98. Os corpos de prova compactados de espessura. Em seguida, as pastilhas são secas
são extraídos cerca de 10mm para fora do por 12 horas em estufa à temperatura constante
molde com o auxílio do extrator do de 60ºC. Após a secagem em estufa, as
equipamento de compactação. Os cinco corpos pastilhas são retiradas e é feita a medida dos
de prova são então dispostos em posição seus diâmetros com auxílio de um paquímetro.
horizontal no tanque de submersão, conforme a Para cada pastilha são feitas três medidas
Figura 2. diferentes de diâmetro, sendo que a variação
aceitável entre elas é de 0,2mm entre as leituras.
O valor de contração diametral (Ct) para cada
pastilha é definido pela média aritmética das
três medidas realizadas.
Em seguida, as pastilhas são submetidas à
reabsorção de água por um período de duas
horas. Após o período de reabsorção, as
medidas de penetração são feitas com o
aparelho chamado penetrômetro, procedimento
ilustrado na Figura 3.
Figura 2. Corpos de prova dispostos no tanque de
submersão.

Os moldes permaneceram nessa condição


por 20h. Ao longo do tempo de ensaio, o solo se
desprende do corpo de prova e cai dentro de
cápsulas metálicas dispostas no fundo do
tanque. Após a finalização do período de
submersão, as cápsulas são retiradas e lavadas à
estufa para secagem. O ensaio de Perda de
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CA-S 3,7 92,0 2,6 0,1 5,1


IJ-L 4,4 18,0 62,3 2,1 4,9
IJ-S 3,4 71,0 12,3 0,3 5,1

De posse do laudo obtido por meio dos


ensaios, foi possível observar que os materiais
com valores de troca catiônica entre 3
cmolc/dm³ e 15 cmolc/dm³ são típicos de
argilas de baixa atividade com pouca ou
nenhuma presença de matéria orgânica,
verificados em 13 amostras, indicando a
presença do argilomineral caulinita,
característico de solos não expansíveis. Os
baixos valores de porcentagem de matérias
orgânica (MO) encontrados comprovam esta
condição. Nas amostras BOT2, SC2 e ALE1, a
Figura 3. Medição da penetração das pastilhas.
capacidade de troca catiônica varia entre 20 e
40cmolc/dm³, indicando a presença do
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
argilomineral ilita.
Em relação à saturação por bases, os solos
Neste item são apresentados e discutidos os
das Formações Botucatu, Caturrita e as
resultados dos ensaios laboratoriais descritos na
amostras SC2, ALE1 e IJ-L possuem valores
metodologia apresentada anteriormente.
superiores a 50%, característica de solos
eutróficos ou férteis, diferente do restante dos
3.1 Caracterização Química
materiais, que apresentaram valores inferiores a
50%, caracterizando solos distróficos, ou seja,
O resumo dos resultados é apresentado obtidos
pouco ou muito pouco férteis e sem reserva de
na caracterização química é apresentado na
nutrientes para os vegetais.
Tabela 2.
Quanto à saturação por alumínio, as
Tabela 2. Resumo dos resultados da análise química.
amostras SC1, ALE2, PT2, TR, CA-L, CA-S e
Saturação
IJ-S apresentam números superiores a 50%,
sendo considerados solos álicos e possivelmente
Amostra CTC Al Bases MO Arg pH
tóxicos para plantas.
(cmolc/dm³) (%) Relativo ao pH, os solos SC2 e ALE1
BOT1 10,5 18,1 73,5 0,1 8,0 4,8 obtiveram valores acima de 7,1, indicando solos
BOT2 19,3 12,4 81,0 0,1 14,0 5,0 alcalinos, divergindo dos demais, que
CAT1 9,1 0,0 91,0 0,1 3,0 5,9 apresentaram variação de 4,6% a 6,9%,
CAT2 5,8 0,0 85,0 0,1 8,0 6,9 indicando solos ácidos.
SC1 4,8 66,7 11,4 0,1 48,0 5,0
SC2 23,6 5,9 88,9 0,1 27,0 7,5 3.2 Caracterização Geotécnica
ALE1 36,7 0,0 97,7 0,2 13,0 7,8
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes
ALE2 8,7 58,6 10,6 0,1 32,0 4,6
ao peso específico real dos grãos, limites de
PT1 6,6 40,9 36,4 0,1 24,0 4,8
liquidez, de plasticidade e o índice de
PT2 6,4 64,1 27,4 0,1 28,0 4,8 plasticidade de cada uma das amostras. Na
RS 4,3 34,9 37,0 0,2 ----- 5,0 Tabela 4 são apresentadas as frações
TR 4,6 54,3 21,7 0,2 ----- 4,9 granulométricas dos materiais e na Tabela 5 a
CA-L 2,6 58,0 18,9 0,9 4,8 classificação dos mesmos segundo o Sistema
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Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) e SC1 0 7 21 17 18 37


o Highway Research Board (HRB). SC2 0 0 7 19 42 32
ALE1 1 3 9 21 52 14
Tabela 3. Peso específico real dos grãos e limites de
Atterberg. ALE2 0 0 11 39 24 25
γs PT1 0 0 14 50 24 12
Amostra LL (%) LP (%) IP (%)
(g/cm³) PT2 0 7 42 15 17 19
BOT1 2,698 NL NP 0 RS 2 11 16 15 14 42
BOT2 2,695 31 19 12 TR 1 12 26 18 13 30
CAT1 2,670 NL NP 0 CA-L 0 2 13 14 18 53
CAT2 2,690 NL NP 0 CA-S 0 4 4 4 62 26
SC1 2,810 49 27 22 IJ-L 0 0 4 6 19 71
SC2 2,743 38 13 25 IJ-S 0 0 10 10 37 43
ALE1 2,725 29 18 11
ALE2 2,742 41 23 18
Tabela 5. Classificação dos solos de acordo com a SUCS
PT1 2,755 30 20 10 e HRB
PT2 2,703 24 20 4 Classificação Classificação
Amostra
RS 2,737 47 29 18 SUCS HRB
TR 2,720 39 20 19 BOT1 SM A2-4
CA-L 2,907 50 34 16 BOT2 SC A2-6
CA-S 2,986 74 45 29 CAT1 SM A2-4
IJ-L 2,887 46 30 16 CAT2 SM A2-4
IJ-S 3,094 79 60 19 SC1 CL A7-6
SC2 CL A6
Solos oriundos de uma mesma unidade ALE1 CL A6
geotécnica apresentaram pouca variação para os ALE2 CL A7-6
pesos específicos reais dos grãos. Valores estes PT1 SC A4
coerentes com a mineralogia de cada material. PT2 SM-SC A4
Quanto às características de plasticidade, os RS CL A7-6
solos da Formação Caturrita e a amostra BOT1 TR SC A6
são materiais não plásticos, condizendo com as CA-L CH A7-5
percentagens de argila encontradas na CA-S MH A7-5
granulometria. O solo PT2 apresentou baixa IJ-L CL A7-6
plasticidade, os solos BOT2, ALE1 e PT1 IJ-S CH A7-5
apresentaram média plasticidade e os demais
com índice de plasticidade variando entre 16% Com base na classificação SUCS, as
e 29%, foram caracterizados como materiais amostras SC, ALE, RS e IJ-L são identificadas
altamente plásticos. como argilas inorgânicas de baixa e média
plasticidade (CL). O sistema classificatório
Tabela 4. Análise granulométrica das amostras.
HRB enquadra as amostras SC1, ALE2, RS e
Frações Granulométricas (%) - Com
defloculante IJ-L no subgrupo A-7-6, que inclui materiais
Amostra com elevados índices de plasticidade em
Pedre- Areia Areia Areia
Silte Argila relação aos limites de liquidez, estando sujeitos
gulho Grossa Média Fina
BOT1 0 7 19 64 2 8 à elevadas mudanças de volume.
BOT2 0 0 15 67 4 14 As amostras SC2, ALE1 e TR estão inseridas
CAT1 0 0 34 56 10 0
no subgrupo A-6, onde o solo típico é argiloso e
plástico, sujeito a elevada mudança de volume
CAT2 0 29 49 13 9 0
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entre os estados seco e úmido, não apresentando Quanto aos quatro solos da região noroeste
bom comportamento como subleito rodoviário. do estado, apresentaram predomínio das frações
Conforme o sistema de classificação SUCS, finas silte e argila e foram considerados de
as amostras BOT2, PT1 e TR são areias fraco a pobre comportamento quando utilizados
argilosas (SC). De acordo com a classificação como subleitos rodoviários de acordo com a
HRB, a amostra BOT2 se enquadra no HRB. Além disso, foi possível perceber uma
subgrupo A-2-6, composta por areias com finos inconsistência entre as granulometrias e as
argilosos. Amostras PT1 e PT2 se enquadram classificações obtidas. Devido ao alto valor de
no subgrupo A-4, que agrupa solos siltosos não limite de liquidez, a amostra CA-S foi
plásticos ou moderadamente plásticos, porém classificada como solo argiloso pelo sistema
divergem na classificação SUCS, já que a PT2 HRB. Entretanto, este material possui
está compreendida no grupo SM-SC. predomínio de silte (61%). Isso reforça a
Segundo a SUCS, a amostra BOT1 e os solos limitação das classificações tradicionais quando
provenientes da Formação Caturrita foram aplicadas ao estudo de solos tropicais.
designados como areias siltosas (SM), havendo
concordância com a classificação TRB, que 3.3 Caracterização Mecânica
enquadra estes materiais no subgrupo A-2-4,
representado pelos solos granulares finos Na Tabela 6 são apresentados os principais
siltosos, sendo considerados materiais de bom parâmetros obtidos nos ensaios de compactação
comportamento para emprego como subleito e CBR (com imersão) para todos os solos desta
rodoviário. pesquisa.
Os solos CA-L e IJ-S são classificados como
CH de acordo com a SUCS, ou seja, argilas Tabela 6. Resumo dos parâmetros obtidos.
muito plásticas com areia. Conforme a HRB, os Massa
Massa
materiais são A-7-5, ou seja, solo argiloso. Por Específica Teor de
específica Expan-
Aparente Umidade CBR
fim, o solo CA-S foi classificado como MH Amostra
Seca Ótima
aparente
(%)
são
(silte elástico) na SUCS e como A-7-5 na HRB, seca (%)
Máxima (%)
(kg/m³)
um solo argiloso. (kg/m³)
Por meio da Tabela 4 é possível verificar o BOT1 1835 14,5 1816 26 0,78
predomínio de areia fina na composição das BOT2 1794 15,0 1771 8 0,41
amostras da Formação Botucatu, condizendo 1690 16,0 1658 6 0,00
CAT1
com os grupos em que foram enquadrados nas
CAT2 1866 13,4 1831 11 0,01
classificações tradicionais, divergindo na
SC1 1648 21,5 1618 10 0,20
quantidade de argila, o que conferiu maior
plasticidade ao solo BOT2. SC2 1655 18,6 1634 8 4,91
Os solos da Formação Caturrita ALE1 1748 19,0 1717 2 0,24
apresentaram diferenças nas percentagens de ALE2 1738 16,7 1705 3 2,62
areias, porém as classificações finais pelos dois PT1 1810 15,3 1776 9 0,51
métodos tradicionais foram as mesmas. Os PT2 1775 16,0 1771 5 0,06
solos da Formação Santa Maria/Passo das RS 1647 19,9 1625 16 0,18
Tropas apresentaram divergências nas TR 1787 15,1 1771 14 0,27
percentagens de areia fina e média, 1590 25,3 1610 13,2 0,15
CA-L
apresentando diferença na classificação SUCS,
CA-S 1395 35,6 1326 6,5 2,5
porém a mesma classificação segundo a
IJ-L 1488 29,8 1432 12,3 0,11
metodologia HRB. O solo TR apresentou um
IJ-S 1402 34,7 1387 5,2 2,21
predomínio da fração areia (em torno de 26%),
e o solo RS apresentou um predomínio de
partículas finas (silte+argila), na razão de 55%. Devido ao predomínio de partículas
argilosas, os solos CA-S, IJ-L E IJ-S
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apresentaram as menores massas específicas SC1 1,55 63,16 0,00 0,68 LG'
máximas e, consequentemente, as maiores SC2 1,94 5,71 360,00 1,92 NG'
umidades ótimas de compactação Proctor ALE1 1,33 32,00 190,00 1,36 NS'
Normal. ALE2 1,62 44,17 161,00 1,27 NG'
Quanto aos valores de CBR para a energia 1,16 33,18 234,00 1,43 NS'
PT1
Proctor normal, apenas o solo BOT1 apresentou
PT2 1,42 42,86 48,00 0,98 LA'
resultado satisfatório para emprego como base
RS 1,77 80,00 47,00 0,90 LG'
ou sub-base de pavimentos. As amostras BOT2,
CAT2, SC1, PT1, RS, TR, CA-L e IJ-L TR 2,06 115,40 15,00 0,69 LG'
apresentaram valores variando de 8% a 16%, CA-L 1,29 50,70 38,00 0,92 LA'
sendo considerados solos regulares para uso CA-S 1,16 18,00 262,00 1,55 NS'
como sub-base. Os solos CAT1, PT2, CA-S e IJ-L 2,06 66,47 44,00 0,9 LG'
IJ-S apresentaram valores bem semelhantes de IJ-S 1,94 42,86 160,00 1,27 NG'
CBR, sendo classificados como pobre a regular.
Já os solos da Formação Santa
Maria/Alemoa e a amostra SC2 apresentaram os
menores valores, ficando enquadrados na faixa
dos solos muito pobres para o emprego na
pavimentação.
Em relação à expansão, com exceção dos
solos ALE2, SC2, CA-S e IJ-S, as demais
amostras obtiveram resultados pouco
expressivos, inferiores a 1%, conforme
esperado, devido à presença dos argilominerais
caulinita (argilomineral não expansivo) e ilita Figura 4. Ábaco para classificação segundo a
em suas composições. Estando dentro dos Metodologia MCT.
limites apresentados no Manual de
Pavimentação do DNIT (2006) para solos Os solos da Formação Caturrita não
utilizados como camada de subleito (Expansão atingiram o patamar de compactação inicial no
≤ 2%). Mini-MCV, sendo classificados como NA
(Areia não laterítica), não aparecendo no
3.4 Classificação MCT gráfico da MCT.
Verificou-se que, das dezesseis amostras,
Os índices de classificação obtidos nos ensaios seis são classificadas como solos de
Mini-MCV e perda de massa por imersão, comportamento laterítico, sendo que, os solos
segundo a proposta de Nogami e Villibor PT2 e CA-L apresentam comportamento
(1981), são apresentados na Tabela 7. A Figura laterítico arenoso (LA’) e os solos SC1, RS, TR
4 mostra o ábaco da classificação MCT com a e IJ-L comportamento laterítico argiloso (LG’),
indicação da posição dos solos em estudo. estes possuindo granulometria típica de argilas
e argilas arenosas, alta capacidade de suporte,
Tabela 7. Índices e Classificação MCT das amostras em baixa perda de massa por imersão, baixa
estudo. expansão, média à alta contração, baixa
Índices Classificatórios Classificação permeabilidade e média à alta plasticidade.
Amostra
c' d' Pi (%) e' MCT De acordo com a Metodologia MCT, esses
BOT1 0,44 10,43 257,00 1,65 NA solos são considerados adequados para o uso
BOT2 1,07 34,00 182,00 1,34 NA' em pavimentação, seja como base, reforço de
---- ---- ---- ---- NA subleito, subleito, aterro compactado, proteção
CAT1
à erosão, como também para revestimento
CAT2 ---- ---- ---- ---- NA
primário. Isso contraria o enquadramento obtido
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pelas classificações tradicionais, que indica que PT2 0,87 1,28 1,47 LA'
aqueles materiais são inadequados pra RS 1,45 1,72 1,24 LG'
utilização em pavimentação, em parte pelo seu TR 1,44 1,72 1,71 LG'
baixo valor de CBR. É importante salientar que CA-L 1,21 1,56 0,23 LA'-LG'
o valor de CBR é um dos parâmetros levados 1,38 1,68 4,56 NS'-NG'
CA-S
em conta no método de dimensionamento de
IJ-L 2,16 2,07 0,31 LG'
pavimentos vigente no Brasil, considerado NA'/(NG'-
defasado por muitos pesquisadores. Essa 1,25 1,59 2,08
IJ-S NS')
contrariedade evidencia a importância dos
estudos para solos tropicais e da classificação
MCT.
O elevado índice classificatório e’, associado
ao índice c’, qualificam os demais solos como
materiais não lateríticos. Dentre eles, os solos
da Formação Caturrita e o solo BOT1 são
classificados como areias não lateríticas (NA), a
amostra de solo BOT2 é enquadrado como solo
não laterítico arenoso (NA’), as amostras PT1,
ALE1 e CA-S são classificadas como solos não
laterítico siltosos (NS’) e os solos SC2, ALE2 e Figura 5. Ábaco da classificação pelo Método das
IJ-S são considerados não lateríticos argilosos Pastilhas.
(NG’).
A classificação expedita foi realizada de
3.5 Método das Pastilhas acordo com o exposto por Nogami e Villibor
(1994), sendo necessária a determinação dos
A classificação expedita foi realizada de acordo parâmetros de contração e penetração.
com o exposto por Nogami e Villibor (1994), Comparando os resultados apresentados nas
sendo necessária a determinação dos parâmetros Tabelas 7 e 8, observa-se que os solos
de contração e penetração. A Tabela 8 apresenta classificados como NA pela classificação MCT
os valores obtidos nos ensaios e a Figura 5 são classificados como NA-NS’ pelo método
ilustra o ábaco da classificação deste método das pastilhas. Os solos BOT2 e PT1 são
com a distribuição das dezesseis amostras. enquadrados no mesmo grupo de solos
(NS’/NA’) e as amostras ALE1 e CA-S são
Tabela 8. Índices e classificação dos solos pelo Método classificadas como NS’-NG’. Os solos PT2,
das Pastilhas. SC2, ALE2, TR, RS e IJ-L apresentaram a
Índices classificatórios mesma classificação em ambos os métodos. Já
Amostra Contração Penetração Classificação
solo CA-S foi classificado como NS’-NG’ e o
Diametral c'
(mm) solo IJ-S foi considerado NA’/(NG’-NS’).
(mm)
BOT1 0,21 0,48 4,91 NA-NS' 3.6 Comparação com outros estudos
BOT2 0,67 1,07 4,14 NS'/NA'
CAT1 0,19 0,34 4,78 NA-NS' Norback (2015) avaliou a utilização de um
CAT2 0,20 0,47 4,45 NA-NS' solo argiloso da cidade de Ijuí em misturas de
SC1 1,46 1,73 0,57 LG' solo-brita, propondo sua utilização em
SC2 1,79 1,91 2,79 NG' pavimentação. O solo pesquisado pela autora
1,25 1,59 5,15 NS'-NG' está localizado na mesma unidade geotécnica
ALE1
1,49 1,75 2,37 NG'
dos solos IJ-L e IJ-S, tendo sido coletado cerca
ALE2
de 5km de distância do ponto de coleta destes
PT1 0,68 1,06 5,14 NS'/NA'
materiais e em profundidade semelhante ao solo
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IJ-L. Para o solo natural, a autora obteve um AGRADECIMENTOS


índice classificatório e’ igual a 0,78 e a
classificação LG’, a mesma obtida para o solo À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
IJ-L (e’ igual a 0,9). de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de
Emmert e Pereira (2016) realizaram a pesquisa concedida ao primeiro autor; e a
caracterização geotécnica e classificação de Universidade Federal de Santa Maria, através
solos da região norte de Goiás em um estudo de do Laboratório de Materiais de Construção
caso de estradas florestais. Os autores Civil (LMCC), pelo suporte na coleta de
estudaram um solo granular e outro solo fino amostras deformadas de solo e nos
com predomínio de areia fina. A partir do equipamentos para a realização dos ensaios
ensaio do Método das Pastilhas, o solo com geotécnicos.
predomínio de areia fina estudado foi
enquadrado como LA’. Neste estudo, solos com
predomínio desta fração como o BOT 1, BOT REFERÊNCIAS
2, CAT1, ALE2 e PT1 foram enquadrados
como solos não lateríticos, devido às Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR
peculiaridades da região onde foram coletados. 6502: Rochas e solos. Rio de Janeiro, 1995. 18p.
Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais - CPRM.
Isso evidencia que parâmetros como a Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Sul.
granulometria não são indicativos 2006. Disponível em: http://www.cprm.gov.br.
classificatório tão eficientes para avaliação do Acesso em 04 de julho de 2017.
comportamento dos materiais geotécnicos. Emmert, F.; Pereira, R.S. Caracterização Geotécnica e
Classificação de Solos para Estradas Florestais:
Estudo de Caso. Revista Ciência Florestal, Santa
Maria, v. 26, n. 2, p. 601-613. 2016. Santa Maria/RS
4 CONCLUSÕES Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo.
Conclui-se que, entre os sistemas utilizados Rio de Janeiro, RJ, 1997. 212p.
para classificar os solos em estudo, a ____. Sistema Brasileiro de classificação de solos. 2ª
Edição. Rio de Janeiro, RJ, 2006. 306p.
Metodologia MCT e o Método das Pastilhas são Nogami, J. S.; Villibor, D. F. Uma Nova Classificação
os mais eficientes e os que condizem mais com para Finalidades Rodoviárias. Simpósio Brasileiro de
a realidade dos solos tropicais, já que por meio Solos Tropicais em Eng. COPPE/ABMS, Rio de
destes métodos são investigadas as propriedades Janeiro, 1981.
mecânicas e hidráulicas dos mesmos. A Nogami, J. S.; Villibor, D. F. Identificação expedita dos
grupos da classificação MCT para solos tropicais. In:
utilização dos sistemas tradicionais SUCS e X Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
HRB conduz a uma classificação incoerente, Engenharia de Fundações. Anais... [S.l.:s.n.]. Foz do
classificando solos lateríticos, como Iguaçu, PR, 1994.
inadequados para uso em pavimentação. Norback, C. Estudo da Mistura Ideal de Solo Argiloso
Por fim, fica evidente a importância da Laterítico do Noroeste do Rio Grande do Sul e Areia
para Uso em Pavimentos Econômicos. Trabalho de
Metodologia MCT na identificação e Conclusão de Curso. Curso de Engenharia Civil,
classificação de materiais alternativos de Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
pavimentação como os solos lateríticos. Dessa Grande do Sul, Ijuí/RS, 2015. 83p.
forma, a construção de rodovias de baixo custo Santos, T.A. dos. Avaliação da resistência e
com utilização de solos de ocorrência local deformabilidade de solos empregados em subleitos
rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul.
pode propiciar desenvolvimento a áreas Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil,
necessitadas. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,
2016. 150p.
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CLASSIFICAÇÃO MCT COM RELAÇÃO AO


COMPORTAMENTO RESILIENTE E DEFORMAÇÃO
PERMANENTE EM SOLOS DO MATO GROSSO
Ana Elza Dalla Roza
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, ana.roza@unemat.br

Laura Maria Goretti da Motta


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, laura@coc.ufrj.br

RESUMO: Este estudo teve como objetivo analisar a classificação MCT dos solos em relação ao
comportamento mecânico para o uso em base de pavimentos urbanos. Foram coletados três solos,
para a realização dos ensaios de módulo de resiliência e deformação permanente, sendo dois solos
de textura fina e uma laterita, classificados como latossolos vermelho amarelo pela pedologia. Os
solos finos classificam-se como LG’ pela metodologia MCT e a parcela fina da laterita como NG’.
O módulo de resiliência dos solos estudados apresentaram valores médios elevados, na ordem de
300 a 492 MPa com tendência linear. As análises de deformação permanente indicaram um
comportamento do tipo A para as lateritas e AB para os solos de textura fina. O comportamento dos
solos frente ao dimensionamento mecanístico-empírico foi satisfatório, com valores de deformação
permanente baixos para as situações propostas.

PALAVRAS-CHAVE: Solos lateríticos, Laterita, Pavimentos, Classificação MCT, mecanístico -


empírico.

1 INTRODUÇÃO drenagem e do ponto de vista da engenharia são


estáveis. Neste contexto espera-se que os solos
Os solos encontrados em regiões tropicais com estas características sejam classificados
apresentam particularidades decorrentes das como solos de comportamento laterítico pela
condições ambientais destas regiões. Na classificação MCT e apresentem bom
perspectiva da engenharia civil, Nogami e comportamento mecânico nos ensaios de
Vilibor (1995) definiram solos tropicais como módulo de resiliência e deformação permanente
solos que surgem em regiões tropicais úmidas sendo satisfatórios para o uso em camadas
em virtude dos processos geológicos e dimensionadas por métodos mecanísticos -
pedológicos particulares desta condição emíricos de acordo com Medina e Motta (2015).
climática. Para prever o comportamento dos Para esta pesquisa foram coletadas 3 amostras
solos tropicais foi desenvolvida a classificação de solos, dois finos e um granular, na cidade de
MCT (Miniatura Compactado Tropical), que Sinop localizada ao norte do Estado de Mato
divide os solos em dois grandes grupos, de Grosso, com o objetivo de analisar a
comportamento Laterítico e Não Laterítico classificação MCT com relação aos ensaios de
através de ensaios baseados em deformação permanente, módulo de resiliência
comportamentos mecânicos e hídricos. Os solos e ao dimensionamento mecanístico-empírico de
encontrados no Estado do Mato Grosso pavimentos.
apresentam características de solos tropicais de
acordo com a pedologia, tendo como solos
predominantes os Latossolos que apresentam
horizonte B espesso, boas condições de
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2 REGIÃO DE ESTUDO os exigidos poelo DNIT, especialmente para


baixo volume de tráfego. Os solos de textura
O Norte do Estado de Mato Grosso é conhecido
fina, diferente das lateritas, não apresentam
nacionalmente pela produção de grãos, de
valores de ISC satisfatórios em relação ao
acordo com CONAB (2017) a safra 2016/2017
exigido pelo DNIT, sendo, por isto, excluídos
foi estimada em 61,9 milhões de toneladas de
das obras de pavimentação do município,
soja e milho.
aumentando o custo da pavimentação por exigir
Além da produção agrícola as cidades do
a busca de materiais com maior distância de
Norte do Estado destacam-se pelo crescimento e
transporte.
pela quantidade de novos loteamentos
Para a pedologia a ocorrência destes solos de
implantados anualmente.
textura fina em regiões tropicais em avançado
Apesar de apresentar crescimento acelerado,
estágio de intemperização, são classificados
as cidades apresentam tráfego urbano composto
como latossolos (EMBRAPA, 2013).
basicamente por carros de passeio, motocicletas
A predominância dos solos de textura fina e
e ônibus, este último com uma porcentagem de
a dificuldade na extração de lateritas, devido a
2% do volume total de veículos em hora de
questões ambientais, evidenciam a necessidade
pico, valor verificado para a cidade de Sinop.
de estudos voltados para solos finos da região
A baixa solicitação do tráfego faz com que a
centro-oeste principalmente para uso em área
maioria das cidades do Mato Grosso adote
urbana com baixo volume de tráfego.
tratamentos superficiais como revestimento para
as vias. A prefeitura de Sinop permite o uso 3 ENSAIOS GEOTÉCNICOS
desse tipo de revestimento desde que haja
garantia de qualidade durante o tempo previsto 3.1 Classificação MCT
em projeto. A classificação MCT (Miniatura Compactado
Apesar de haver regulamentação municipal Tropical) foi desenvolvida por Nogami e
quanto ao tipo de revestimento adotado as Villibor especialmente para prever o
camadas de base e sub-base seguem as comportamento dos solos tropicais.
normativas e especificações impostas pelo As metodologias ditas tradicionais utilizam a
DNIT, que são para rodovias, em geral com granulometria e os Limites de Liquidez e
grande número de veículos comerciais, e Plasticidade como base para a classificação,
portanto, tendo alguns critérios inadequados porém estes índices não retratam
aos volumes baixos de tráfego das áreas urbanas adequadamente o comportamento de solos
em cidades de pequeno e médio porte. Além tropicais, principalmente para o uso em base e
disto, o próprio DNIT está modificando os sub-base de pavimentos.
critérios de seleção de materiais para Este fato motivou Nogami e Villibor a
contemplar ensaios mais pertinentes como os de classificar os solos em dois grandes grupos, de
módulo de resiliência e deformação comportamento Laterítico e Não Laterítico, que
permanente, com valorização dos solos de são separados por ensaios próprios definidos
origem tropical adotando a classificação MCT pelos autores citados, que basicamente se
como um dos critérios. referem à análise de condições de compactação
Por esta razão, na região de estudo os solos em equipamento miniatura, com energia
oriundos de horizontes pedológicos endurecidos variável, e posteriormente o corpo de prova é
pelas partículas de ferro e alumínio submetido a imersão em água para observar a
imobilizadas e oxidadas, chamadas de lateritas, perda em massa por imersão (NOGAMI e
canga laterítica ou cascalho (ESPINDOLA e VILLIBOR, 1995).
DANIEL, 2008) são amplamente utilizados por Nesta classificação, denominada MCT, os
apresentarem textura granular e valores de ISC solos com comportamento Laterítico
(Índice de Suporte Califórnia) compatíveis com (representados pela letra L) subdividem-se em 3
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grupos as Areias Lateríticas Quartzosas (LA), chamada de deformação permanente (DP), e


Solos Arenosos Lateríticos (LA’) e Solos este tipo de deformação provoca aparecimento
Argilosos Lateríticos (LG’). Já os solos com de afundamentos de trilha de roda (ATR)
comportamento Não Laterítico (representados (MOTTA, 1991).
pela letra N) subdividem-se em 4 grupos, as
As deformações visualizadas em trilhas de
Areias, siltes e misturas de areias e siltes com
rodas são oriundas do somatório da parcela de
predominância de grão de quartzo e/ou mica,
deformação permanente de cada camada que
não laterítico (NA), misturas de areias
constitui o pavimento. Estudos feitos por
quartzosas com finos de comportamento não
Guimarães (2009) mostram que é possível a
laterítico (solos arenosos) (NA’), solo siltoso
modelagem da deformação permanente dos
não laterítico (NS’) e solo argiloso não laterítico
materiais a partir de ensaios realizados com
(NG’).
solos tropicais e outros materiais que
3.2 Módulo de Resiliência (MR) e constituem os pavimentos brasileiros, a
Deformação Permanente (DP). Equação 2 apresenta o modelo determinado por
Guimarães (2009).
Os materiais que compõem as camadas do
pavimento estão submetidos a carregamentos
(2)
cíclicos, e nestas condições, a deformação
elástica ou recuperável destes materiais é Sendo:
chamada de deformação resiliente. A repetição
p (%) deformação permanente;
da deformação resiliente foi associada, na
década de 1950, primeiramente por Francis 𝛹1, 𝛹2 , 𝛹3, 𝛹4 parâmetros de regressão;
Hveem, como a causa dos defeitos oriundos do 3 tensão confinante em MPa;
processo de fadiga dos materiais e que também d tensão desvio em MPa;
denominou de módulo de resiliência o módulo
de elasticidade obtido em ensaio com carga  tensão de referência, considerada com
repetida (MEDINA e MOTTA, 2015). pressão atmosférica de 0,1 MPa;

Os ensaios triaxiais de carga repetida são N número de ciclos de aplicação de carga.


realizados para determinar a expressão do MR Além do modelo apresentado, o material
em função da tensão confinante e da tensão também pode ser avaliado quanto ao shakedown
desvio, para as condições pré-estabelecidas de ou acomodamento, que se refere ao
densidade, saturação e umidade do material em comportamento de estabilização da deformação
estudo (MEDINA e MOTTA, 2015). permanente após determinado número de ciclos
O modelo de módulo de resiliência mais de aplicação de carga. O modelo proposto por
utilizado atualmente no país é conhecido como Dawson e Wellner (1999) para classificar o
modelo composto, apresentado na Equação 1. comportamento quanto ao acomodamento, com
a classificação de três comportamentos A, B, C,
(1) apresentados na Figura 1. Este mesmo critério
Sendo: foi usado por Guimarães (2009), que detectou
MR Módulo de Resiliência; outro tipo de comportamento que denominou de
AB para alguns solos, também apresentado na
3 tensão confinante;
Figura 1.
d tensão desviadora cíclica;
k1, k2 e k3 parâmetros experimentais.
Além das deformações elásticas, os materiais
apresentam deformação não recuperável,
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A laterita utilizada neste estudo foi coletada


em uma jazida no município de Sinop este
material é amplamente utilizado como base e
sub-base de pavimentos.
Após a coleta os solos foram embalados e
encaminhados até o laboratório de pavimentos
da COPPE/UFRJ para a realização dos ensaios
de MCT, Módulo de Resiliência e Deformação
Figura 1 – Tipos de comportamento da deformação Permanente.
permanente de solos. Fonte: Guimarães (2009).
3.2 Ensaios MCT, Módulo de Resiliência e
O comportamento desejável para materiais Deformação Permanente
de pavimentação é o comportamento A, que
As amostras de solo foram secas, destorroadas
indica que não haverá problemas com
(solos de textura fina), quarteadas e
afundamento e o comportamento AB que,
acondicionadas em sacos plásticos
apesar de manifestar significativas deformações
hermeticamente fechados.
permanentes iniciais, o material apresenta
A classificação dos solos de textura fina pelo
acomodamento plástico após determinado ciclos
método MCT foi realizada pelos ensaios de
de carga.
Mini – MCV, seguindo os procedimentos das
3 MATERIAIS E MÉTODOS normas Classificação dos solos compactados
segundo a metodologia MCT - DER - M -
3.1 Origem e coleta dos solos 196/89 e Solos compactados com equipamento
miniatura - Determinação da perda de massa por
Os solos desta pesquisa foram coletados no imersão - DNER - ME 256/94.
município de Sinop, sendo dois solos de textura Para a laterita o procedimento de
fina e um granular, que é conhecido classificação seguiu as mesmas normativas,
regionalmente como cascalho laterítico e neste porém realizando os ensaios apenas com a
artigo denominado laterita. fração passante na peneira de abertura 2,00 mm,
As amostras de solo com textura fina foram excluindo a parcela granular, somente para a
coletadas em locais de expansão da cidade, classificação MCT. Este procedimento tem sido
áreas de implantação de novos loteamentos. Os utilizado por alguns autores visando identificar
locais de coleta foram nos Loteamentos a característica da parcela fina do solo granular,
Belvedere (1) e Curitiba (2) e estão ilustrados mas pode ser questionável por fugir muito da
na Figura 2. proposição da MCT. Para os demais ensaios a
amostra de laterita granular foi considerada na
sua totalidade granulométrica.
Os ensaios de Módulo de Resiliência (MR) e
Deformação Permanente (DP) foram realizados
N com corpos de prova compactados na umidade
ótima da energia intermediária, obtida por
ensaios de compactação com corpos de prova de
10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, traçando-
se a curva com pelo menos cinco pontos de
3930m
umidade para cada material.
A determinação do MR seguiu a norma
Figura 2– Pontos de coleta dos dois solos textura fina
DNIT 134/2017. As amostras foram
homogeinizadas no teor de umidade ótimo,
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acondicionadas em dois sacos plásticos, Tabela 1 – Situações padrões para o dimensionamento.


depositados em câmara úmida por pelo menos N Faixa
Situação Tipo de Via Revestimento
de Projeto
12 horas. Posteriormente moldaram-se os 1 104 Local TSD e=2,5cm
corpos de prova compactando o solo em 10 Coletor
5
camadas, controladas por uma régua gabarito, 2 10 TSD e=2,5cm
Secundário
usando a energia equivalente a do Proctor 3 106
Coletor
TSD e=2,5cm
Intermediário. Primário
Após a compactação removeu-se o molde
tripartido e submeteu-se o corpo de prova ao Os parâmetros de dimensionamento
ensaio de MR, com carregamento cíclico na utilizados no software MeDiNa, de forma geral,
frequência de 1 Hz, nas tensões apresentadas na estão apresentados na Tabela 2. Como o maior
norma DNIT 134/2017. volume de tráfego testado é relativamente
Com os parâmetros do ensaio de MR pode-se baixo, o programa admite o uso de tratamento
realizar regressão para a determinação dos superficial para o revestimento. Neste caso o
parâmetros k1, k2, k3 do modelo composto critério de área trincada não se aplica e o
apresentado na Equação 1. módulo de resiliência adotado é 1000 MPa.
A avaliação da deformação permanente dos
solos realizou-se conforme normativa DNIT Tabela 2 – Critérios adotados no dimensionamento.
Parâmetro Critério adotado
xxx/2017-IE (ainda sem número). A moldagem 0,45 para solos finos e 0,35
Coeficiente de Poison
dos corpos de prova seguiu a descrição feita no para laterita
Condições de
ensaio de módulo de resiliência. Após a aderência das camadas
Não aderido
moldagem, os corpos de prova, colocados no Deformação Local: 20mm
equipamento triaxial, são submetidos ao permanente sob as Coletor Secundário: 20mm
rodas Coletor Primário: 13mm
condicionamento com a aplicação de 50 ciclos Local: 65%
de carga. A determinação da deformação Confiabilidade Coletor Secundário: 75%
Coletor Primário: 85%
permanente se dá pela aplicação de 150000
Fonte: MeDiNa, 2018.
ciclos de carregamento na frequência de 2 Hz
nos 9 pares de tensões apresentados na referida 4 ANÁLISES E DISCUSSÕES
normativa. De acordo com o mapa pedológico da
A deformação permanente específica é região de estudo os solos se classificam como
representada pelo modelo proposto por latossolos vermelho amarelo distrófico e
Guimarães (2009), e, por meio de regressão dos segundo Espíndola e Daniel (2008) são solos
resultados dos nove corpos de prova, obtém-se com bom comportamento para fins de
os parâmetros ψ1, ψ2, ψ3, ψ4 da Equação 2. engenharia. As características geotécnicas estão
A avaliação dos materiais quanto ao apresentadas na Tabela 3.
comportamento mecânico se deu pela simulação
de três estruturas de pavimentos com o auxílio Tabela 3. Características geotécnicas do solo.
do software MeDiNa versão 1.0.0, que é a Solo Pedregulho Areia S+A TRB d max wot
proposta de novo método de dimensionamento - (%) (%) (%) - (kN/m³) (%)
mecanístico-empírico do DNIT e se estabeleceu Curitiba 0 35,6 64,4 A-4 (IG 6) 15,79 22,5
para o dimensionamento três situações de Belvedere 0 30,8 69,2 A-6 (IG 9) 15,45 23,6
combinações de materiais, tráfego e critérios Laterita 71,2 20,9 7,9 A1 (IG 0) 19,30 10,2
conforme Tabelas 1 e 2.
As situações foram propostas visando a Pela classificação MCT os parâmetros do
utilização dos materiais para estruturas de ensaio podem ser observados na Tabela 4.
pavimentos em áreas urbanas da região. Alguns aspectos adicionais são indicados pelos
autores da classificação MCT. Entre os
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parâmetros do ensaio pode-se destacar que indicativos de solo laterítico, e o parâmetro PI


elevada perda de massa por imersão (PI), maior que 100, indica solo não laterítico, o que
Nogami e Villibor (1995) correspondem a um fez o valor de e’ elevar-se e posicionar o solo
comportamento não laterítico, sendo que em uma região de fronteira entre NG’ e LG’ no
PI<100% são esperados para solos lateríticos. gráfico MCT. Mas outros critérios ajudaram a
Valores de d’ maiores que 20 indicam solos definir como LG’.
evoluídos pedogeneticamente. Solos argilosos Para o solo Belvedere as indicações dos
lateríticos apresentam valores superiores a 20 parâmetros da MCT e as classificações não
enquanto os solos siltosos não lateríticos diferem entre si. Já para a parcela fina da
apresentam valores menores que 10. laterita apenas a classificação MCT difere da
O solo Belvedere apresentou comportamento característica dos parâmetros e da pedologia,
laterítico com classificação LG’, o solo Curitiba porém não se pode condenar a metodologia
está localizado sobre a fronteira NG’ e LG’ do MCT neste caso, pois a fração granular das
gráfico MCT, porém apresentam curvas de PI lateritas foi excluída da avaliação.
versus Mini MCV e umidade versus Mini MCV A parcela granular das lateritas apresenta a
decrescentes entre Mini MCV 10 e 15, maior concentração em óxidos de ferro e
indicando comportamento laterítico de acordo alumínio, sendo uma decorrência do processo
com Nogami e Villibor (1995), e assim foi de laterização do solo (ANAND e PAINE,
considerado nesta pesquisa, passando a 2002), com isso a parcela fina, que
classificação de LG’. correspondeu a somente 28,8% passante na
A parcela fina da laterita foi classificada peneira 2,00 mm na laterita estudada, não
como NG’, porém com PI menor que 100 e d’ representa o material como um todo,
maior que 20, dois critérios que são indicativos influenciando assim na classificação MCT do
de laterização. solo.
Na região dos solos argilosos, a linha que Avaliando o comportamento dos solos
separa o comportamento laterítico do não quanto ao módulo de resiliência tem-se valores
laterítico se situa na posição de e’= 1,15, valor satisfatórios para o módulo médio na ordem de
próximo ao e’ obtido para o solo Curitiba e para 300 para os solos finos e 492 MPa para a
a parcela fina da laterita. laterita. Os valores médios e os parâmetros do
modelo composto podem ser verificados na
Tabela 4 – Parâmetros classificação MCT. Tabela 6.
Solo c’ PI (%) d’ e’ Class.
Curitiba 2,20 130 68,8 1,17 LG’ Tabela 6 – Módulo de resiliência dos solos estudados.
Belvedere 2,31 95 75 1,07 LG’ MR
Laterita 2,02 98 26,7 1,20 NG’ Solo médio k1 k2 k3 R2
A Tabela 5 compara as características de MPa
cada parâmetro da classificação MCT com a Curitiba 300 238,60 0,201 -0,35 0,25
classificação pedológica e a classificação MCT. Belvedere 388 315,57 0,28 -0,44 0,50
Laterita 492 1453,63 0,51 -0,15 0,59
Tabela 5 – Comparação características de parâmetros. 1 – a variável k2 não é estatisticamente significante,
considerando um nível de significância de 5%.
Parâmetro Parâmetro Class.
Solo Pedologia
d’ PI MCT
Não
A partir dos valores médios de MR
Curitiba Latossolo Laterítico LG’ observa-se que a laterita apresenta melhor
Laterítico
Belvedere Latossolo Laterítico Laterítico LG’ comportamento quando comparada com os
Laterita Latossolo Laterítico Laterítico NG’ solos finos, porém não muito distante.
Considerando os valores de k1, nota-se que para
Verifica-se que para o solo Curitiba a baixas tensões, a laterita mostra-se muito menos
classificação pedológica e o parâmetro d’ são resiliente, devido à presença dos grãos maiores.
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Em estudos realizados por Marangon e


Motta (2006) com solos lateríticos da Zona da
Mata no Estado de Minas Gerais os valores de
k1 encontravam-se entre 57 e 139 MPa,
enquanto k2 situavam-se de 0,37 a -0,74,
apresentando valores maiores que 0,90 para R2
na regressão pelo modelo composto.
Comparando os valores obtidos pelos
estudos dos autores citados e os valores desta
pesquisa, observa-se que para o parâmetro k1 os
valores aqui obtidos são expressivamente
maiores, no caso da laterita chega a ser dez
vezes maior. Entretanto os valores obtidos para
o parâmetro k2 são relativamente menores e para
o solo Curitiba não chega a ser relevante na
análise estatística, indicando que para os solos
estudados na presente pesquisa, a tensão
confinante não é um fator que influencia
diretamente nos valores de MR.
Tal fato pode ser observado pela tendência
linear dos gráficos de log MR versus log Tensão
Confinante e log Tensão Desvio apresentados
na Figura 3.
Por se tratar de uma tendência de MR linear,
os valores de R² baixos, para o modelo
composto, podem ser relevados. Segundo Motta
e Medina (1988) o comportamento de MR que
resulta em um modelo elástico-linear é
observado em solos com porcentagem alta de
silte, argilas lateríticas e lateritas pedregulhosas. Figura 3 – Resultados de módulo de resiliência com as
Também segundo Nogami e Villibor tensões confinantes e desvio para os três solos desta
pesquisa
(1995), valores elevados e constantes de MR
As análises de MR devem ser
são encontrados em solos lateríticos e são
relacionadas com os resultados de deformação
frequentes em corpos de prova extraídos de
permanente acumulada para melhor avaliação
pavimentos.
dos materiais para uso em camadas de
A partir dos valores de MR observa-se que a
pavimento. Os solos finos apresentaram maiores
laterita é menos deformável quando comparada
valores totais de deformação permanente
com os solos finos, porém os solos finos
acumulada para os vários níveis de tensão em
apresentam MR adequados para serem usados
relação à laterita, o que era esperado devido à
em pavimentos para baixos volumes de tráfego.
granulometria mais graúda desta. No entanto,
Albernaz et al (2014) mostram resultados de
ainda assim os valores são baixos em todos os
observações de trechos de rodovia vicinal
casos.
construidos com solos finos lateríticos, com
Não há acréscimo considerável na
vários anos de observação, com muito sucesso,
deformação permanente acumulada após certo
e sem nenhum defeito estrutural, com módulos
número de aplicação de carga, característica
de ordem de grandeza similar aos obtidos para
recomendável para materiais de pavimentação.
os solos desta pesquisa.
Esta característica de acomodamento nem
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sempre é observada nos materiais usuais de


pavimentação, especialmente se selecionados
pelos critérios tradicionais. Outros autores
avaliaram a deformação permanente em
diversos tipos de solos, lateríticos e não
lateríticos, alguns desses resultados estão
apresentados na Tabela 7.

Tabela 7 – Deformação permanente em solos brasileiros


Intervalo
Class. do
DP analisado
solo e Estado Autor
acumulada σd – σ3
de coleta
(kPa)
NG’(RJ) 3,50 mm¹ 360-120
Norback
LG’(RJ) 3,00 mm 360-120
(2018)
NA’(RJ) 4,00 mm 360-120
Laterita (AC) 0,95 mm 105-315
Laterita (RO
0,90 mm 250-100
-S786)
LG’ (ES) 10,17mm 240-120
LG’ (SP) 3,35mm 360-120 Guimarães
NS’(RJ) 7,35 mm¹ 360-120 (2009)
NG’(AC) 1,00 mm² 105-105 Figura 4 – Estudo do shakedown nos dois solos finos
Cascalho deste estudo
1,40mm 360-120
(GO) As curvas mostram comportamentos
NA (MG) 2,27 mm¹ 360-120
semelhantes entre os dois solos de textura fina
1- Não apresenta tendência ao acomodamento.
2- Deformações de 11,4 mm na umidade de 2% estudados nesta pesquisa: acomodamento
acima da ótima. plástico para os pares de tensões menores e
deformações iniciais seguida de acomodamento
Observa-se da Tabela 7 e de vários outros plástico nos pares de tensões maiores.
autores que o comportamento dos solos com Porém, quando se analisam as curvas da
relação à deformação permanente está ligada à laterita, na Figura 5, verifica-se apenas
classificação de solos, sendo que alguns não acomodamento plástico em todos os níveis de
lateríticos (NL) podem apresentar deformações tensão do ensaio de deformação permanente.
menores que solos lateríticos, porém a maioria
NL apresenta acréscimo de deformação
permanente acumulada significativa até o
término do ensaio.
Estas avaliações da variação da deformação
permanente ao longo do carregamento é melhor
analisada pelo estudo do shakedown.
Para os dois solos de textura fina da presente
pesquisa, observa-se que as curvas são
predominantemente do tipo A e AB e para todas
as tensões analisadas há tendência ao
acomodamento, como exibe-se na Figura 4. Figura 5 – Pesquisa de ocorrência do acomodamento na
laterita

A análise do desempenho do material quanto


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ao acomodamento se correlaciona ao excelente comportamento da laterita para


paralelismo ao eixo vertical: quanto mais estruturas de pavimentos, o que já é
paralelas e mais próximas as curvas estiverem comprovado na prática atual de construção das
ao eixo vertical menor são os valores de vias da cidade. Portanto, usando os mesmos
deformação permanente acumulada e maior a critérios admite-se que os solos finos também
estabilização. poderão ser utilizados com sucesso em vias de
Após as análises gráficas determinou-se os baixo a médio volume de tráfego.
parâmetros ψ1, ψ2, ψ3, ψ4 do modelo proposto Os resultados obtidos no dimensionamento
por Guimarães (2009), indicados na Tabela 8. comparados com o comportamento previsto na
metodologia MCT estão apresentados na Tabela
Tabela 8 – Parâmetros de deformação permanente. 10 .
Solo ψ1 ψ2 ψ3 ψ4 R2
Curitiba 0,04 0,05¹ 2,78 0,06 0,95
Belvedere 0,18 0,00¹ 1,40 0,05 0,96 Tabela 10 – Análise classificação MCT e
Laterita 0,10 -0,03¹ 1,00 0,04 0,88 dimensionamento.
1 – variável ψ2 não é estatisticamente significante, Solo MCT Dimensionamento
considerando um nível de significância de 5%. Curitiba Recomendado Recomendado
Belvedere Recomendado Recomendado
Determinados os parâmetros dos modelos de Laterita Fração fina não rec. Recomendado
DP e MR utilizou-se do software MeDiNa 1.0.0
A classificação MCT previu adequadamente
para dimensionar as estruturas dos pavimentos,
o comportamento dos solos de textura fina
e os resultados estão expostos na Tabela 9.
frente ao uso em camadas de pavimentos.
Tabela 9 – Resultados dimensionamento pelo MeDiNa. Apesar da metodologia MCT prever o
Solo utilizado Espessura DP sob as rodas comportamento dos solos finos verifica-se que a
Situação
Subleito Base Base cm (mm) classificação da fração fina das lateritas difere
1 4,4 dos resultados dos ensaios de MR e DP e
Curitiba Curitiba 2 10 4,9
3 5,6
consequentemente difere do comportamento
1 1,9 frente ao dimensionamento. A exclusão de
Curitiba Laterita 2 10 2,2 grande parcela granular da laterita é um dos
3 2,4 fatores que impediu a previsão de
1 4,8 comportamento adequada da classificação
Belvedere Belvedere 2 10 5,4
3 6,0 MCT. Existem algumas proposições para a
1 2,7 classificação e identificação das lateritas como a
Belvedere Laterita 2 10 3,0 classificação G-MCT proposta por Villibor e
3 3,4 Alves (2017) e a identificação por lâminas
petrográficas proposta por Guimarães et al
Quando se utiliza camada de base (2015). Entretanto não há correlações entre
composta pelos solos finos tem-se uma essas proposições e o comportamento mecânico
deformação permanente aceitável para as vias destes materiais até o momento.
dimensionadas com apenas 10 centímetros de
espessura, indicando um comportamento 5 CONCLUSÕES
excelente quanto à deformação permanente, Neste estudo verificou - se que a classificação
desde que o subleito seja escarificado e também MCT estimou o comportamento dos solos finos
compactado em uma espessura de pelo menos de maneira adequada para os materiais aos quais
40 cm ou mais conforme o tráfego. se destina. A laterita, como esperado,
Nas situações onde a camada de base é apresentou resultados satisfatórios no
composta por laterita os valores de deformação dimensionamento mecanístico-empírico, além
permanente diminuem ainda mais, salientando o de comprovado bom desempenho em
pavimentos reais, e, assim, pode ser utilizada
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para comparar com o previsto para os solos Dawson A. R.; Wellner F. (1999) Plastic behavior of
finos. Ressalta-se a importância de estudos na granular materials. Final Report ARC Project 933,
University of Nottingham. Reference PRG 99014,
revisão e implantação de novos parâmetros no April 1999.
método MCT para englobar estes tipos de solos DNIT (2017) Pavimentação – Solos – Determinação do
ou outra proposição de identificação. módulo de resiliência – Método de ensaio, Publicação
Quanto ao comportamento resiliente nota-se IPR 134, Rio de Janeiro, Brasil, 18 p.
que os solos estudados apresentam valores EMBRAPA. (2013). Sistema Brasileiro de Classificação
de Solos, 3ª ed, Centro Nacional de Pesquisa de Solos,
médios elevados na ordem de 300 a 492 MPa e Rio de Janeiro, Brasil, p 353.
R² baixos para o modelo composto, inferindo Espindola, C. R. & Daniel, L.A. (2008). Laterita e solos
que predomine a tendência a módulos lateríticos no Brasil. BoletimTécnico da FATEC-SP-
constantes nos gráficos de log MR versus log BT/24, p. 21-24.
tensões confinante e desvio Guimarães, A. C. R., (2009), Um Método Mecanítico-
Empírico para a Previsão da Deformação
Outro ponto importante observado foi o Permanente em Solos Tropicais Constituintes de
comportamento dos materiais quanto ao Pavimentos. Tese de Doutorado, Programa de
acomodamento, as lateritas apresentando curvas Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro,
do tipo A e os solos finos do tipo AB. RJ. 352 p.
Guimarães, A. C. R.; Motta, L. M. G.; Figueiredo, Y. A.
Ressalta-se ainda que os solos finos, apesar
B.; Oliveira, J. C. S.. (2015) Um Procedimento Para
de descartados pelas metodologias tradicionais, Identificação de Solos Lateríticos Pedregulhosos
podem apresentar desempenho satisfatório e seu Visando Utilização em Camadas de Base e Sub-base
emprego pode diminuir muito o custo de de Pavimentos. Revista Pavimentação, ABPV, Rio de
pavimentos urbanos para ruas de baixo volume Janeiro, v. 36, p. 19-34.
Marangon, M. e Motta, L. M. G. (2006). Estudo da
de tráfego comercial. A laterita, amplamente
deformação permanente de alguns solos argilosos
utilizada com sucesso, confirma que os padrões lateríticos visando o uso em pavimentos de baixo
de seleção atuais propostos no novo método de volume de tráfego. In: II Simpósio brasileiro de
dimensionamento (MCT, MR e DP) permitem jovens geotécnicos, Nova Friburgo, RJ, Brasil.
selecionar adequadamente materiais antes não MeDiNa. (2018) [S.I] Version 1.0.0. IPR.
Medina, J.; Motta, L. M. G. (2015). Mecânica dos
aceitáveis pelos critérios tradicionais, e
Pavimentos. 3ª ed., Interciência, Rio de Janeiro,
apresentam resultados excelentes em camadas Brasil, 638 p.
de base de pavimentos. Motta, L. M. G. (1991). Método de dimensionamento de
pavimentos flexíveis; critério de confiabilidade e
AGRADECIMENTOS ensaios de cargas repetidas. Tese de Doutorado.
À Transterra Terraplenagem e Pavimentação COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro. 366 p.
Ltda pelo auxílio no transporte do solo até o Rio Motta, L. M. G.; Medina, J., (1988) Considerações sobre
de Janeiro. Ensaios de Carga Repetida de Solos e Materiais de
Pavimentação. Simpósio sobre Novos Conceitos em
Ensaios de Campo e Laboratório em Geotecnia.
REFERÊNCIAS COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro.
Albernaz, C. A. V.; Fritzen, M. A.; Motta, L. M. G.; Nogami, J. S; Villibor, D. F. (1995). Pavimentação de
Medrado, W. A (2014) Avaliação de trechos baixo custo com solos laterícos. São Paulo, Villibor,
experimentais de solo fino e tratamento superficial em 213 p.
Minas Gerais. 21º Encontro de Asfalto IBP, Rio de Norback, C. (2018), Caracterização do módulo de
Janeiro. resiliência e da deformação Permanente de três solos
Anand, R. R.; Paine, M. (2002) Regolith geology of the e misturas solo-brita. Dissertação de Mestrado,
Yilgarn Craton, Western Australia: Implications for Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio
exploration. Australian Journal of Earth Sciences, vol. de Janeiro, 161p.
49, issue 1, p. 3-162. Villibor D. F. e Alves D. M. L. (2017). Classificação de
CONAB, Companhia Nacional de Abastecimento. solos tropicais de granulação fina e grossa. Revista
(2018). Série histórica das safras. Disponível em: Pavimentação. ABPV, Rio de Janeiro, v. 46, p. 16-37.
<https://www.conab.gov.br/index.php/info-
agro/safras/serie-historica-das-safras > Acesso: 05 de
maio de 2018.
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Comparação do Ângulo de Atrito de um Rejeito de Minério de


Ferro, no Estado de Regime Permanente, Determinado a Partir de
Ensaios Triaxial, Ring Shear, e Cisalhamento Direto
Ignez Merly de Oliveira André
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, ignez.merly@poli.ufrj.br

Ana Cláudia de Mattos Telles


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, anac.telles@poli.ufrj.br

Leonardo De Bona Becker


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, leonardobecker@poli.ufrj.br

Maria Claudia Barbosa


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mclaudia@coc.ufrj.br

RESUMO: Ensaios de cisalhamento direto, com e sem reversão, foram realizados em um rejeito
arenoso de minério de ferro, de forma a se determinar o ângulo de atrito no estado de regime
permanente deste material e comparar com os resultados determinados a partir de ensaios triaxiais e
ring shear realizados por Telles (2017) e André et al. (2017), respectivamente. Os resultados
mostraram que os ensaios ring shear e cisalhamento direto, que possuem condições de contorno mais
semelhantes, apresentaram uma diferença de apenas 1 no valor do ângulo de atrito, tendo essa
diferença, no entanto crescido para 3 - 4 quando comparado com os resultados dos ensaios triaxiais.

PALAVRAS-CHAVE: rejeito, regime permanente, cisalhamento direto, ring shear, triaxial.

1 INTRODUÇÃO ângulo de atrito no estado de regime permanente


igual a 30°.
O comportamento quanto à liquefação estática Tendo em vista que o resultado dos ensaios
de um rejeito arenoso de minério de ferro foi triaxiais foi 4° superior ao resultado dos ensaios
estudado por Telles (2017) a partir da linha de de ring shear, contrariando a hipótese de que os
estado de regime permanente determinada por ensaios triaxiais poderiam resultar em menores
ensaios triaxiais. A autora utilizou em suas valores de ângulo de atrito, uma campanha de
análises os resultados de 26 ensaios triaxiais ensaios de cisalhamento direto foi realizada com
(CIU e CID) e obteve um ângulo de atrito no o mesmo material.
estado de regime permanente (’ss) igual a 34°. O efeito de um grande deslocamento pode ser
Posteriormente, André et al. (2017) buscaram simulado em um aparelho comum de
determinar o valor deste ângulo realizando cisalhamento direto a partir de um procedimento
ensaios de ring shear com o mesmo material. O denominado de “reversão”, que consiste em
ensaio de ring shear consiste no cisalhamento retornar a caixa bipartida para a sua posição
torsional de um corpo de prova em forma de inicial e reiniciar o cisalhamento (Head, 1982).
anel, o que permite medir a resistência ao A campanha de ensaios executada para esta
cisalhamento do solo após grandes pesquisa consistiu, assim, de 5 ensaios de
deslocamentos. Os corpos de prova ensaiados cisalhamento direto, sendo o primeiro deles
por André et al. (2017) foram cisalhados até um realizado com reversão.
deslocamento de 100 mm, e foi determinado um
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2 MATERIAL ESTUDADO 3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

O material utilizado nesta pesquisa foi o rejeito Os ensaios de cisalhamento direto foram
arenoso de minério de ferro que se encontrava realizados utilizando uma caixa bipartida de
depositado no reservatório do Dique 1 da dimensões 5 x 5 cm. Não foram utilizadas pedras
Barragem do Fundão, localizada no município porosas por se tratar de um material com
de Mariana, Minas Gerais, antes da sua ruptura permeabilidade elevada. A moldagem do corpo
em 2015. de prova foi realizada por pluviação do rejeito
A Figura 1 mostra como era a divisão dos dois seco no interior da caixa de cisalhamento, de
reservatórios da barragem. A amostragem do forma a obter um valor de índice de vazios entre
material foi realizada na região da praia do Dique 0,80 e 0,82. Em seguida o material foi deixado
1, em 2013. inundando por 30 minutos antes de iniciar o
adensamento. Os valores de tensões efetivas
verticais as quais os corpos de prova foram
submetidos foram os mesmos utilizados nos
ensaios de ring shear realizados por André et al.
Reservatório do (2017), isto é, 100, 200, 400 e 800kPa.
A fase de cisalhamento teve início somente
Reservatório do
após a estabilização das leituras do extensômetro
vertical, e a velocidade de cisalhamento adotada
foi igual a 0,065mm/min para todos os ensaios.
Todos os corpos de prova foram cisalhados
Figura 1. Imagem de satélite da Barragem do Fundão em até um deslocamento horizontal de 9 mm, com
2015, apresentando os reservatórios do Dique 1 e do Dique exceção do ensaio com reversão, que alcançou
2 (adaptado de Flórez, 2015). 18 mm de deslocamento.
A caracterização do rejeito foi realizada por
4 RESULTADOS E ANÁLISES
Flórez (2015), Telles (2017), e Silva (2017). Sua
curva granulométrica pode ser observada na
4.1 Resultados dos ensaios
Figura 2, e um resumo dos resultados obtidos é
apresentado na Tabela 1.
O ensaio de cisalhamento direto com reversão
100 foi o primeiro ensaio executado, a fim de se
90 avaliar a importância da realização das reversões
Porcentagem que passa

80 nos ensaios posteriores. O ensaio foi realizado


70
60
com tensão efetiva vertical de 100 kPa, e a curva
50 tensão-deslocamento resultante encontra-se
40 apresentada na Figura 3. Somente uma reversão
30 foi realizada, pois o primeiro e o segundo trechos
20
alcançaram o mesmo patamar de resistência.
10
0 Dessa forma conclui-se que, para o material
0,001 0,01 0,1 1 estudado, as reversões não contribuem para a
Diâmetro dos grãos (mm) obtenção da condição residual. Isto é
Figura 2. Curva granulométrica do rejeito estudado consequência do formato das partículas do
Tabela 1. Resumo dos resultados dos ensaios de
rejeito, que não apresentam característica
caracterização obtidos por Telles (2017) e Silva (2017) lamelar, conforme Lupini et al. (1981). Não
para o rejeito estudado. foram, portanto, realizadas reversões nos outros
Areia Silte D50
CNU Gs emín emáx ensaios.
(%) (%) (mm)
69 31 0,09 3,45 2,795 0,59 0,97
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0,7 700
y = 0,593x

Tensão cisalhante (kPa)


0,6 600
R² = 0,998
Tensão cisalhante

0,5 500
normalizada

0,4 400
0,3 300
0,2 200
0,1 100 Cisalhamento direto sem reversão
Cisalhamento direto com reversão
0 0
0 5 10 15 20 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Deslocamento horizontal (mm) Tensão normal efetiva (kPa)
Figura 3. Tensão-deslocamento do ensaio de 100kPa Figura 6. Envoltória para o estado de regime permanente
realizado com reversão. obtida a partir dos ensaios de cisalhamento direto.

Os resultados dos ensaios de cisalhamento


direto sem reversão encontram-se apresentados 4.2 Comparação com os ensaios ring shear e
nas Figuras 4 e 5. A envoltória determinada para triaxial
o estado de regime permanente encontra-se
apresentada na Figura 6. Observa-se que foi A Figura 7 apresenta uma comparação entre as
determinada para o rejeito uma relação envoltórias no estado de regime permanente do
/’=0,593, o que representa um ângulo de atrito rejeito de minério de ferro estudado,
de regime permanente igual a 31°. determinadas a partir dos ensaios triaxial (Telles,
2017), ring shear (André et al., 2017), e
0,7
Tensão cisalhante normalizada,

cisalhamento direto. Observa-se que o valor


0,6
encontrado a partir dos ensaios da presente
0,5 campanha não apresentou diferença significativa
0,4 com o valor encontrado a partir dos ensaios ring
/'v

0,3 shear. O ensaio triaxial, entretanto, apresentou


100kPa
0,2 200kPa
um valor de ângulo de atrito entre 3º e 4º superior
0,1 400kPa aos outros dois ensaios.
800kPa
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 700
Cisalhamento direto
600
Tensão cisalhante (kPa)

Deslocamento horizontal, dh (mm) 'ss = 31º


500 Triaxial
Figura 4. “Tensão cisalhante normalizada” versus (Telles, 2017)
“Deslocamento horizontal”. 400 'ss = 34º
300
0 Ring shear
Deslocamento vertical (mm)

-0,1
200 (André et al., 2017)
100 'ss = 30º
-0,2
-0,3 0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
-0,4
-0,5 100kPa Tensão normal efetiva (kPa)
200kPa
-0,6 400kPa Figura 7. Envoltórias de resistência dos ensaios de
800kPa cisalhamento direto obtido neste trabalho, de ring shear
-0,7
0 2 4 6 8 10 obtido por André et al. (2017) e do ensaio triaxial obtido
Deslocamento horizontal (mm) por Telles (2017).
Figura 5. “Deslocamento vertical” versus “Deslocamento
horizontal”
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Ressalta-se que, dos três ensaios analisados, apesar dos resultados encontrados por Motta
os ensaios de ring shear e cisalhamento direto (2008) se referirem aos valores de pico, este
são os que possuem condições de contorno mais resultado demonstra outro caso em que se
semelhantes, visto que o estado de tensões inicial encontrou diferenças ao analisar envoltórias de
de ambos parte da condição de repouso, um mesmo material determinadas em ensaios
enquanto que os triaxiais CID e CIU partem de com condições de contorno diferentes.
um estado de tensões hidrostático. E, além disso,
durante o cisalhamento, em ambos os ensaios há 5 CONCLUSÕES
a impossibilidade de deformação do corpo de
prova no sentido transversal à direção do Foram apresentados resultados de ensaios de
cisalhamento, assemelhando-se a uma condição compressão triaxial CIU e CID, ring shear e
de deformação plana, enquanto que no ensaio cisalhamento direto. Os parâmetros de
triaxial a deformação é livre em todas as resistência obtidos nestes ensaios foram
direções. comparados, percebendo-se que os ensaios
Uma comparação entre valores de ângulo de triaxiais resultaram em um ângulo de atrito 3° a
atrito no estado de regime permanente 4° superior aos outros dois.
determinados a partir de ensaios de ring shear e A presente pesquisa está em andamento com
triaxial foi feita também por Garga et al. (2002), a realização de mais ensaios em outras condições
em corpos de prova de areia. Os autores de contorno, e de estudos sobre a possibilidade
encontraram uma diferença de 3° para menos no de quebra de grãos.
ângulo de atrito determinado com ensaios de
ring shear. Segundo os autores, o ângulo de REFERÊNCIAS
atrito menor obtido pelo ensaio de ring shear
poderia ser atribuído às grandes deformações André, I. M. O. Telles, A. C. M. Becker, L. D. B. Barbosa,
alcançadas neste ensaio, de tal forma que nele M. C. (2017) Determinação de parâmetros de
resistência de rejeitos de minério de ferro. XII
seria certamente alcançado o estado de regime Conferencia Brasileira sobre Estabilidade de
permanente, o que poderia não acontecer no Encostas, COBRAE 2017, Florianópolis, Santa
ensaio triaxial, desde que tais níveis de Catarina, Brasil.
deformação seriam impraticáveis neste último Flórez, C. T. (2015) Estudo da alteração em laboratório
ensaio. de rejeitos de mineração de ferro para análise em
longo prazo. Tese de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de
Esta hipótese, contudo, apresenta duas Janeiro
contradições quando analisada para os resultados Garga, V. K., Sedano, J. I. (2002) Steady State Strength of
dos ensaios discutidos na presente pesquisa: (i) Sands in a Constant Volume Ring Shear Apparatus.
os ensaios de ring shear e cisalhamento direto Geotechnical Testing Journal, v. 25, n.4, p. 414 - 421.
aparentam que não é preciso um grande Head, K. H. (1982) Manual of soil laboratory testing, Vol
2, Pentech Press, London. 743p.
deslocamento para se atingir o estado de regime Lupini, J. F. Skinner, A. E. Vaughan, P. R. (1981) The
permanente neste material e; (ii) a variabilidade drained residual strength of cohesive soils,
dos resultados no estado de regime permanente Géotechnique, Volume 31 (2), p. 181-213
dos 26 ensaios triaxiais analisados por Telles Motta, H. P. G. (2008) Comportamento de um rejeito de
(2017) é muito baixa. transição em centrífuga geotécnica. Dissertação de
M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
Em rejeitos de minério de ferro, Motta (2008) Silva, C. G. C. (2017) Estudo da influência do teor de finos
realizou ensaios triaxiais (CIU e CID), e ensaios no comportamento de um rejeito de minério de ferro a
de cisalhamento direto em rejeito fino, e partir de ensaios edométricos. Trabalho de conclusão
determinou os parâmetros de resistência de pico de curso, Escola Politécnica/UFRJ, Rio de Janeiro.
para esse material. A autora encontrou ângulos Telles, A. C. M. (2017) Análise do comportamento de um
rejeito de minério de ferro no estado de regime
de atrito iguais a 42° e 41° a partir dos ensaios permanente. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio
CID e CIU, respectivamente, e 32° para os de Janeiro.
ensaios de cisalhamento direto. Ressalta-se que,
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Comparação dos Parâmetros de Resistência de um Solo Arenoso


Submetido a Ensaios de Cisalhamento Direto com Carregamentos
Monotônicos e Carregamentos Cíclicos.
Wagner da Silva Stein
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, wagner_stein@hotmail.com

Ana Carolina Ferreira


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, anacferreira.engcivil@gmail.com

Victor Henrique Silva Salmaso


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, victorsalmaso@yahoo.com.br

Lucas Deleon Ferreira


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, lucas@ufop.edu.br

Bruno de Oliveira Costa Couto


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, bruno.couto.amb@gmail.com

Eleonardo Lucas Pereira


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, eleonardo@ufop.edu.br

Romero Cesar Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br

RESUMO: A consideração de situações que envolvam solicitações cíclicas em estruturas é cada vez
mais frequente na prática da engenharia geotécnica. Desse modo, faz-se necessário o aperfeiçoamento
constante das análises desses projetos, fato, que justifica, a ascensão de estudos envolvendo análises
de modelos numéricos e ensaios de laboratório que se assemelham às condições de campo. Nesse
sentido, o presente trabalho apresenta resultados de ensaios de cisalhamento direto conduzidos com
carregamentos monotômicos, ensaio comumente realizado, e ensaios com carregamento cíclicos. Ao
final dos experimentos, constatou-se a validação do sistema de carregamento cíclico adaptado ao
equipamento de laboratório. Verificou-se uma significativa queda da resistência do solo quando
submetido ao processo de carregamento cíclico em comparação ao experimento realizado com
carregamento monotônico. Percebeu-se ainda, que o aumento da tensão normal proporcionava uma
redução maior nos parâmetros resistência analisados, mostrando assim que o efeito do carregamento
cíclico é afetado pelo nível de tensão aplicado.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Cisalhamento Direto de Grande Porte, Carregamento cíclico,


Parâmetros de resistência de solos.

1 INTRODUÇÃO importância para a realização de obras de


engenharia civil, e são realizados para garantir a
O estudo geotécnico dos solos é de suma segurança e longevidade das obras civis. Para
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isso, é necessário conhecer as solicitações que específicos, validar o mecanismo de aplicação de


atuam no solo e se ele resiste a essas solicitações carregamento cíclico do equipamento de
e quais serão as deformações induzidas por esse cisalhamento direto de grande porte. E avaliar o
carregamento. É de fundamental importância o efeito do carregamento cíclico nos parâmetros de
conhecimento da resistência ao cisalhamento do resistência, e no comportamento tensão versus
solo, a fim de garantir a sua estabilidade e evitar deformação de um solo arenoso.
ruptura. Para determinar tal resistência existem
diversos ensaios, sendo o ensaio de cisalhamento
direto um dos mais utilizados. 2 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA
Segundo Paria (2015), o ensaio de
cisalhamento é um ensaio de ângulo de atrito, em No solo a resistência entre as partículas,
que uma porção do solo é forçada a deslizar ao chamada de resistência ao cisalhamento do solo,
longo de outra pela ação de uma força de é dada por dois fatores: coesão e atrito. Como o
cisalhamento ou ruptura horizontal cada vez material utilizado neste trabalho foi uma areia, a
maior, enquanto uma carga constante é aplicada coesão é considerada nula. O atrito se dá por
perpendicularmente ao plano do movimento algumas características presentes no material,
relativo. tais como, índice de vazios e a granulometria.
Sabe-se que diversos fatores podem
influenciar na resistência ao cisalhamento do 2.1 Coesão
solo. No trabalho em questão foram realizados
ensaios de carregamento cíclico, no intuito de A coesão em solos sedimentares, em geral é
analisar o efeito de vibrações induzidas como muito pequena se comparada à resistência
um destes fatores. devido ao atrito entre grãos (PINTO, 2006). A
Além do carregamento cíclico, foram coesão pode ser diferenciada em coesão real e
avaliados os parâmetros de resistência em função coesão aparente.
da compacidade da areia (tendo sido avaliadas Segundo Silva e Cabeda (2015 apud
duas compacidades 50 e 90%) e de diferentes FREDLUND e RAHARDJO, 1993 ) a coesão
níveis de tensão normal aplicados (variando aparente, é uma parcela da resistência ao
entre 50 e 400 kPa). Essas variações foram cisalhamento de solos úmidos, não saturados,
determinadas para uma futura comparação entre resultante da tensão entre partículas devido a
os resultados obtidos e os apresentados por pressão capilar da água presente no interior do
Salmaso (2017). No intuito de avaliar a queda de solo. A coesão aparente é, na realidade, um
resistência promovida pela aplicação de fenômeno de atrito, onde a tensão normal que a
carregamento cíclico foi convencionado que a determina é conseqüente da pressão capilar.
vibração seria induzida quando a deformação A coesão real é resultado do efeito de agentes
horizontal chegasse a 5%, sendo tal deformação cimentantes diversos, bem como o resultado da
representativa da tensão cisalhante de pico atração entre partículas próximas por forças
obtida nos experimentos de Salmaso (2017). eletrostáticas (Mitchell e Soga, 2005 e Souza
Este trabalho tem como objetivo geral, avaliar Pinto, 2006).
os efeitos promovidos pela atuação de um É valido ressaltar que nos experimentos
carregamentoa axial cíclico durante um ensaio realizados foi utilizada areia seca em estufa, por
de cisalhamento direto realizado com um solo tanto nos cálculos não fora considerada a coesão
arenoso. Para tanto, serão comparados os aparente nem a coesão real. Logo o atrito foi o
resultados dos ensaios de cisalhamento direto responsável pela resistência do solo.
monotônicos, realizados por Salmaso (2017),
com os ensaios de cisalhamento direto cíclicos 2.2 Atrito
que serão apresentados no decorrer do presente
trabalho. Pode-se estabelecer como objetivos Quando uma força horizontal age em um corpo
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apoiado sobre uma superfície, ocorre uma


resistência ao movimento denominado de atrito. Assim como nos corpos da física clássica a
Existem dois tipos de atrito, o estático e o força de atrito também está presente no solo,
dinâmico. Quando um corpo não está em sendo o principal responsável pela resistência ao
movimento a força de atrito deve ser maior que cisalhamento. Nos materiais granulares (areias),
a força aplicada, nesse caso, é utilizada força de constituída de grãos isolados e independentes, o
atrito estático. Uma vez que o corpo já se atrito é um misto de escorregamento
encontra em movimento utiliza-se o atrito (deslizamento) e de rolamento, afetado
dinâmico fundamentalmente pela interação entre os grãos.
A força de atrito pode ser expressa pela Um dos fatores que mais contribuem para o
equação 1: aumento do atrito entre os grãos é a sua forma.
Quando o solo é formado de grãos uniformes
𝑇𝑚á𝑥 = 𝜇𝑁 (1) pode apresentar muitos espaços vazios estre os
grãos apresentando menor resistência, já solos
Onde µ é o coeficiente de atrito; N é a força com uma diversificação do tamanho dos grãos
aplicada e 𝑇𝑚á𝑥 é a força máxima que o atrito tendem a apresentar maior resistência ao
suporta antes de ser vencido e o corpo entrar em cisalhamento, pois os grãos menores tendem a
movimento. ocupar os espaços vazios.
Lambe (1969, apud SILVA 2012) especifica Segundo Pinto (2006) areias com grãos
duas formas de interpretar a correlação entre esféricos arredondados representados pela figura
forças normal e de atrito. A primeira é de acordo 2 (a), possuem ângulos de atrito menores do que
com a equação 1 . E a segunda emprega o as areias constituídas por grãos angulares,
conceito de ângulo de atrito. Tal conceito é conforme ilustra a figura 2 (b).
expresso através da equação 2.

𝑁 𝑡𝑔∅𝑢 = 𝑇 (2)

Uma vez que o ângulo de atrito (∅𝑢 ) é o


ângulo definido entre a força normal e a
resultante obtida da força de atrito máxima.
Sendo P, o peso do corpo apoiado sobre o plano Figura 2. Entrosamento de areias (Fonte, Pinto, 2006).
inclinado e N a força normal ao plano. Isso
mostra a proporcionalidade entre a resistência Pinto (2006) e Teles (2013), afirmam que
por atrito e a tensão normal ponderada pela dentre os fatores que mais influenciam na
tangente do ângulo de atrito. A situação limite da resistência da areia é a compacidade,
figura 1, mostra a resistência máxima por atrito granulometria e o formato dos grãos. A
e essa inclinação máxima, por analogia, influência desses fatores pode variar de solo para
representa o ângulo de atrito. solo, porém é possível estimar o ângulo de atrito
em função desses fatores pela tabela 1.

Tabela 1. Valores típicos de ângulos de atrito interno de


areias. (Fonte: Pinto, 2006)
Compacidade
Fofo a Compacto
Areia bem graduadas
de grãos angulares 37º a 47º
de grãos arredondados 30º a 40º
Areias mal graduadas
de grãos angulares 35º a 43º
Figura 1. Definição de ângulo de atrito. de grãos arredondados 28º a 35º
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Neste grau de compacidade, devido ao


2.2.1 Índice de Vazios entrosamento entre as partículas, o cisalhamento
ocorre com aumento de volume do corpo de
O solo é basicamente formado por componentes prova. Este comportamento é chamado de
sólidos (em geral, grãos), gás (em geral, ar) e dilatância. O gráfico (Variação de volume x
líquidos (em geral, água). O índice de vazios (e), Deformação) tende a mostrar expansão.
expresso pela equação 3, é uma grandeza
adimensional, e é definida pela razão entre o 2.4 Compacidade Areia Fofa x Compacta
volume de vazios (𝑉𝑣), ou seja, água mais o ar,
pelo volume de sólidos (𝑉𝑠). A compacidade está diretamente ligada ao índice
de vazios, podendo ser calculada pela equação 4,
e = Vv/Vs (3) onde o índice de vazios máximo (e máx) e o
índice de vazios mínimo (e mín), se
2.3 Resistência ao Cisalhamento da areia correlacionam respectivamente ao estado mais
fofo e o mais compacto do solo.
Uma amostra de areia quando é submetida ao
𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑛𝑎𝑡
cisalhamento direto, percebe-se que ela aumenta 𝐶𝑅 = (4)
𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑚𝑖𝑛
ou diminui de volume dependendo do seu grau
de compacidade. As areias fofas diminuem de
Quanto maior a compacidade relativa, mais
volume, enquanto as compactas aumentam. O
compacta estará a areia. A tabela 2 apresenta
limite dos dois estados, ou seja, onde não haverá
terminologia sugerida por Terzaghi e citada por
variação de volume, é chamado de índice de
Pinto (2006). Em função da compacidade
vazios crítico.
relativa um solo arenoso pode ser classificado
em ao menos três classes.
2.3.1 Areias Fofas e Compactas
Tabela 2. Classificação das areias segundo a compacidade.
Para areia fofa a tensão desviadora cresce de (Fonte: Pinto, 2006)
maneira lenta, se comparada com a variação Descrição da areia Compacidade Relativa
volumétrica. Sendo assim, a ruptura ocorre a Areia Fofa Cr < 0,33
deformações relativamente altas, da ordem de 6 Areia medianamente 033 ≤ Cr ≥ 0,66
compacta
a 8% (PINTO, 2006).
Areia Compacta Cr > 0,66
No gráfico tensão x deformação das areias
fofas, percebe-se que não há um pico de tensão
2.5 Cisalhamento Direto e Cisalhamento
definido. Logo, a tensão aumenta até atingir uma
Direto de Grande Porte
tensão que se mantém constante apesar da
deformação
O cisalhamento direto é utilizado para obtenção
A diminuição de volume acontece em corpos
de coordenadas de pontos da envoltória de
de prova onde o índice de vazios está acima do
resistência baseada no critério de ruptura de
índice de vazios crítico, ou seja, com a
Coulomb para obtenção dos parâmetros de
diminuição de volume, o gráfico (Variação de
resistência coesão (c) e ângulo de atrito (φ).
volume x Deformação) tende a mostrar apenas
O ensaio de cisalhamento direto é o método
compressão.
mais simples para a determinação da resistência
A areia compacta atinge um valor máximo de
ao cisalhamento de um solo. É um equipamento
tensão desviadora, chamada de tensão de pico,
simples e de fácil manuseio. Porém a
para menores valores de deformação
desvantagem da utilização desse ensaio, é que
volumétrica. Deformando-se o corpo de prova
ele não permite a determinação de parâmetros de
após a ruptura, a curva atinge um valor constante
deformabilidade do solo e o controle de
de tesão, denominada tensão residual.
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condições de drenagem é complexo, assim não é 350


possível obter os valores da pressão neutra.

Tensão de Cisalhamento (kPa)


300
O equipamento de cisalhamento de grande
250
porte funciona de maneira semelhante ao de
200
pequeno porte, a diferença está na dimensão
150
entre os dois. O aparelho de grande porte possui
100
uma caixa que permite a execução de ensaios
50
com corpos de prova com dimensões superiores
0
ao outro equipamento, com isso é possível um 0 100 200 300 400 500
estudo mais correto de solos que possuem grãos Tensão Normal (kPa)
maiores alocando melhor esses grãos no espaço
da caixa bipartida.
Figura 3. Envoltória de ruptura de Coulomb.
Uma das grandes dificuldades na execução de
ensaios no equipamento de grande porte, é a
montagem e o posicionamento do corpo de
3 METODOLOGIA
prova, devido as grandes dimensões da caixa
bipartida, e consequemente o difícil manuseio.
3.1 Caracterização
2.6 Envoltória de ruptura
Para o trabalho em questão, o solo utilizado foi
uma areia, e os ensaios foram realizados nos
Os critérios de ruptura são formulações que
laboratórios do Centro Tecnológico de
procuram refletir as condições em que ocorre a
Geotecnia Aplicada (CTGA), sendo ele parte
ruptura dos materiais. Existem critérios que
integrante do Núcleo de Pós-Graduação em
estabelecem a máxima tensão de compressão,
Geotecnia (NUGEO) da Universidade Federal
tração, cisalhamento ou as deformações
de Ouro Preto.
máximas. Para os solos, a análise do estado de
Vale ressaltar que todos os experimentos
tensões que provoca ruptura é o estado da
realizados foram conduzidos em parceria pelo
resistência ao cisalhamento dos solos (PINTO,
autor do presente trabalho e por Salmaso (2017),
2006).
no intuito de efetuar uma comparação entre os
Os critérios de ruptura que melhor
parâmetros de resistência obtidos por ensaios de
representam o comportamento dos solos são os
cisalhamento direto monotônicos e cíclicos,
de Coulomb e de Mohr-Coulomb (PINTO,
realizados em um solo arenoso. Dessa forma, em
2006). Contudo o critério adotado na
algumas partes do texto serão citados apenas os
interpretação dos ensaios de cisalhamento direto
resultados apresentados por Salmaso (2017).
é o critério de Coulomb. Trata-se de uma reta que
Além do carregamento cíclico, foram
se ajusta a pares de valores de tensão cisalhante
avaliados os parâmetros de resistência em função
mobilizada durante o ensaio e a tensão normal
da compacidade da areia (tendo sido avaliadas
aplicada na execução do experimento, conforme
duas compacidades 50 e 90%) e diferentes níveis
ilustra a figura 3.
de tensão normal aplicados (variando entre 50 e
A equação da reta, apresentada na equação 5,
400 kPa). No intuito de avaliar a queda de
representa a equação da resistência ao
resistência promovida pela aplicação de
cisalhamento do solo (τ) sendo essa em função
carregamento cíclico foi convencionado que a
da tensão normal aplicada no plano de
vibração seria induzida quando a deformação
cisalhamento (σ), dos parâmetros de resistência
horizontal chegasse a 5%, sendo tal deformação
ângulo de atrito (φ), e do intercepto coesivo (c).
representativa da tensão cisalhante de pico
obtida nos experimentos de Salmaso (2017), em
𝜏𝑓 = 𝑐 + 𝜎𝑓 tan 𝜑 (5)
todos os experimentos a frequência utilizada foi
igual a 0,5Hz.
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Os ensaios de caracterização do solo seguiram


normas vigentes e foram executados pelas
normas do laboratório de caracterização do
NUGEO (Núcleo de Geotecnia- UFOP). A
tabela 4 apresenta um resumo dos ensaios de
caracterização referente a areia em estudo.

Tabela 4. Caracterização do solo arenoso


Propriedade Unidade
Gs 2,64
w 5,74 % Figura 4. Equipamento de cisalhamento de grande porte.
emáx 0,92
emín 0,63 4 RESULTADOS
CC1 0,97
CNU2 2,18 Após a compilação dos resultados, gráficos
D10 0,22 mm foram desenvolvidos para o estudo do
comportamento do solo arenoso, conforme será
D30 0,32 mm
apresentado nos tópicos a seguir em função da
D60 0,48 mm
compacidade dos corpos de prova moldados. A
Distribuição Granulométrica (%) moldagem foi feita pelo método de pluviação.
Areia Areia Areia
Argila Silte
Fina Média Grossa
4.1 Ensaios realizados com compacidade de
0,2 5,0 4,3 74,3 16,2
50%

Para essa compacidade foram realizados 4


3.2 Execução dos Ensaios de Cisalhamento- ensaios, que se diferenciam pela tensão normal
Montagem dos Corpos de Prova aplicada em cada um deles. Os gráficos da figura
5, que apresentam as curvas tensão cisalhante
Os corpos de prova ensaios foram moldados com versus deslocamento horizontal.
as compacidades previamente estabelecidas
iguais a 50% e 90%. 350
A execução dos ensaios de cisalhamento 300
direto seguiu a norma internacional D3080
Tensão cisalhante (kPa)

250
(ASTM, 2011), devido a inexistência de normas
nacionais, além disso, os experimentos foram 200

conduzidos em um equipamento de 150


cisalhamento direto de grande porte apresentado
100
na figura 4.
No tópico a seguir serão apresentados os 50

resultados dos ensaios realizados e as análises 0


relacionadas à influência do carregamento 0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
cíclico durante a realização dos experimentos. 50 kPa 200 kPa 100 kPa 400 kPa
Figura 5. Gráficos tensão cisalhante versus deslocamento
horizontal – CR 50%

1 CC – Coeficiente de curvatura 2CNU – Coeficiente de não Uniformidade


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Verifica-se nos gráficos da figura 5 que após compactos e compressões em solos arenosos
aplicação do carregamento cíclico houve uma fofos.
queda significativa nos valores de tensão Outro fato que merece destaque é a tendência
cisalhante, e que quanto maior a tensão de de elevação da tensão cisalhante mobilizada após
confinamento aplicada, maior foi a variação a queda resultante da atuação do carregamento
desse parâmetro. Para exemplificar melhor essa cíclico nos ensaios conduzidos com tensão
perda, a figura 6 apresenta quatro curvas de normais iguais à 400 kPa. Esse comportamento
resistência ao cisalhamento, sendo as curvas de se justifica pela compacidade do corpo de prova
tensão 400kPa e 200kPa retiradas do trabalho de ensaiado. Por se tratar de uma areia com
Salmaso (2017) e representativas de um ensaio compacidade elevada, o processo de rearranjo
convencional (carregamento monotônico) e as dos grãos promove uma aproximação maior dos
curvas de 400kPa CC e 200kPa CC com a grãos fato que justifica a elevação da resistência
aplicação do carregamento cíclico. mobilizada.
Nesse sentido, percebe-se que o ensaio Pela comparação dos dois gráficos percebe-se
executado com uma tensão normal igual a 50 kPa uma falta de coerência nas curvas, sendo a
não sofreu variação de tensão cisalhante após a resistência mobilizada pelos ensaios com
atuação do carregamento cíclico. carregamento cíclico antes de 5% de deformação
Constata-se ainda que após a queda inicial da estão maiores do que os ensaios com o
tensão cisalhante, ela tende a se manter em um carregamento monotônico. Essa variação pode
valor aproximadamente constante. Contudo, ser devido a eventuais erros na montagem do
percebe-se uma suave elevação da resistência no corpo de prova e execução dos ensaios, como
ensaio realizado com tensão normal de 400 kPa. observado nos tópicos anteriores.
A partir dos resultados foram traçadas duas
350 envoltórias de ruptura sendo uma considerando
300 o momento antes da aplicação do carregamento
250
cíclico e outra logo após a aplicação desse
carregamento, e serão apresentadas na figura 7.
Tensão cisalhante (kPa)

200

150
350
100
TENSÃO CISALHANTE (KPA)

300
50 250
0 200
0 2 4 6 8
150
Deslocamento horizontal (mm)
100
400 kPa CC 400 kPa 200 kPa CC 200 kPa
50
Figura 6. Gráficos tensão cisalhante versus deslocamento
horizontal. Comparação ensaios cíclicos (cc) e 0
monotônicos. (CR 50%) 0 100 200 300 400 500
TENSÃO NORMAL (KPA)

Quando as curvas estão sobrepostas torna-se Antes do carregamento cíclico Após o carregamento cíclico

nítida a perda de resistência devido ao Figura 7. Envoltória de ruptura. Comparação os


carregamento cíclico. Pode-se afirmar que essa resultados antes do carregamento cíclico e após. (CR
queda nos valores de resistência se deve ao fato 50%)
de o carregamento cíclico acentuar o rearranjo
dos grãos que compõem o esqueleto sólido do O ângulo de atrito antes do carregamento
solo. O rearranjo dos grãos é um processo cíclico foi igual a 36º e após igual a 29º, com
comum durante o cisalhamento de solos, sendo isso, é possível afirmar que depois da vibração,
verificadas expansões em solos arenosos induzida pelo carregamento cíclico, a areia
perdeu parte da sua resistência. O ângulo de
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atrito encontrado por Salmaso (2017) foi igual a A partir dos gráficos, verifica-se uma
34º em ensaios realizados com carregamento aproximação considerável entre as curvas dos
monotônico, a discrepância entre os resultados ensaios realizados com tensão igual a 400 kPa,
se deve a possíveis variações na compacidade do fato que não se repete no ensaio realizado com
corpo de prova devido à montagem do tensão igual 200 kPa. Essa situação reflete a
equipamento. Contudo, os valores estão em dificuldade de execução de ensaios que
faixas muito próximas, fato que justifica a apresentem repetibilidade, com amostras
manutenção desses valores como referência. reconstituídas de solo, como foram os corpos de
prova moldados nos trabalhos analisados.
4.2 Ensaios realizados com compacidade de Pode-se perceber uma considerável alteração
90% na resistência residual após o carregamento
cíclico. Na curva com a tensão de 400 kPa com
Para essa compacidade também foram realizados carregamento cíclico, é perceptível que após a
4 ensaios com diferentes tensões normais, os aplicação do carregamento cíclico a resistência
resultados são apresentados na figura 8. sofre decaída até o final do ensaio. Ao final do
350 experimento, foi registrado um valor de
300 resistência mobilizada de aproximadamente 100
kPa.
250
Comparando os resultados obtidos nas
Tensão cisalhante (kPa)

200 diferentes tensões de confinamento, constata-se


150 que a atuação do carregamento cíclico em
ensaios com tensão iguais a 200 kPa, promoveu
100
a redução da resistência mobilizada até ser
50 alcançado um valor de resistência residual de
0 aproximadamente 50 kPa.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Deslocamento horizontal (mm)
350
50 kPa 200 kPa 100 kPa 400 kPa
Figura 8. Gráficos tensão cisalhante versus deslocamento 300
horizontal – CR 90%
250
Tensão cisalhante (kPa)

Depois do carregamento cíclico a ser 200

acionado percebe-se que a resistência cai até um 150


valor residual, novamente verifica-se que quanto 100
maior a tensão de confinamento, maior foi a
50
variação da tensão cisalhante. E percebe-se
novamente que o ensaio realizado com tensão 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
normal igual a 50 kPa não sofreu variação em Deslocamento horizontal (%)
virtude do carregamento cíclico. 400 kPa CC 400 kPa 200 kPa CC 200kPa
Para efeito de comparação, a figura 9 mostra Figura 9. Gráficos tensão cisalhante versus deslocamento
quatro curvas de resistência ao cisalhamento horizontal. Comparação ensaios cíclicos (cc) e
sendo as curvas de tensão 400kPa e 200kPa monotônicos. (CR 90%)
retiradas do trabalho de Salmaso (2017) e as
curvas de 400kPa CC e 200kPa CC com a A figura 10 apresenta as envoltórias de
aplicação do carregamento cíclico. As curvas rutpura considerando as resistências mobilizadas
com tensão de 100kPa e 50kPa não foram antes da atuação do carregamento cíclico e após
utilizadas pelo fato de não sofrerem alteração esse procedimento.
considerável por se tratar de carregamentos
menores numa área muito compactada.
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300 todas as séries de experimentos realizados, não


sendo registrada diferenças relacionadas à
TENSÃO CISALHANTE (KPA)

250
compacidade do corpo de prova utilizado.
200 Percebeu-se ainda, que o aumento da tensão
150
normal proporcionava uma redução maior nos
parâmetros resistência analisados, mostrando
100
assim que o efeito do carregamento cíclico é
50 afetado pelo nível de tensão aplicado. Nesse
0
sentido, os experimentos conduzidos com
0 100 200 300 400 500 tensões normais iguais a 50 e 100 kPa não
TENSÃO NORMAL (KPA) apresentaram variações significativas nas
Antes do carregamento cíclico Após o carregamento cíclico resistências mobilizadas devido a atuação de um
Figura 10. Envoltória de ruptura. Comparação os carregamento dinâmico.
resultados antes do carregamento cíclico e após. (CR
50%)
AGRADECIMENTOS
Os valores do ângulo de atrito antes do
carregamento cíclico e após foram iguais a 34º e Agradecemos à Universidade Federal de Ouro
24º, respectivamente. Para essa compacidade Preto e a CAPES por todo o apoio dispensado
Salmaso (2017) encontrou valores iguais a 34º. durante a realização desse trabalho.

5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
Na engenharia geotécnica diversas são as Caputo, H. P. Mecânica Dos Solos e Suas Aplicações. Rio
situações em que carregamentos cíclicos estão de Janeiro, LTC, 1988.
relacionados, tais como: rodovias, compactação Huat B. B. K.; Toll D. G.; Prasad A. Handbook of Tropical
Residual Soils Engineering. Londres, CRC Press,
de aterros em barragens de terra ou de rejeitos, 2012.
fundações de máquinas e fundações offshore, Mitchell, J.K, and Soga, K. Fundamentals of soil behavior,
projetos em áreas sujeitas a terremotos. Contudo, 3nd Ed, Wiley and Sons Inc, New York, 2005, 577 p.
estudos nacionais que associem esse tipo de Paria, C. J. B. Avaliação do efeito de escala no estudo da
carregamento em ensaios de laboratório ainda resistência ao cisalhamento de um estéril de minério
de ferro. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
são incipientes. Fato que justifica um dos Graduação em Geotecnia, Deciv/EM/UFOP, Ouro
objetivos do presente estudo, que é a Preto, MG, Brasil. 2015.
implementação de mecanismos que possibilitem Pinto, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos, 3ª ed.,
a atuação de cargas ciclicas em equipamentos de Oficina de Textos, São Paulo, 2006, 368 p.
laboratórios. Salmaso, V.H.S. Estudo dos parâmetros de resistência em
areia utilizando o equipamento de cisalhamento direto
A partir dos experimentos realizados, de grande porte; Trabalho de Conclusão de Curso-
verificou-se que a atuação do carregamento Ouro Preto: UFOP, 2017.
cíclico promoveu uma redução da tensão Silva, A. J. N; Cabeda, M. S. V. Influência de diferentes
cisalhante máxima obtida nos ensaios de sistemas de uso e manejo na coesão, resistência ao
cisalhamento direto monotônico. cisalhamento e óxidos de Fe, Si E Al em solos de
Tabuleiro Costeiro de Alagoas- Universidade Federal
Verificou-se que o ângulo de atrito obtido a do Rio Grande do Sul – UFRGS, 2005.
partir dos valores de resistência de pico para os Silva, P. B. A. Discussão e proposta de Ensaio de
experimentos conduzidos com carregamento Cisalhamento Direto de grande porte para obtenção
monotônico foram superiores em de parâmetros de resistência de rejeito grosso de
aproximadamente 10º em relação aos parâmetros carvão mineral. Trabalho de Conclusão de Curso – Rio
de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2012.
de resistência após a aplicação do carregamento Simões, F. B. Caracterização geotécnica da areia da
cíclico. Tal comportamento foi verificados em praia de Ipanema Trabalho de Conclusão de Curso –
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Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.


Teles, G. L. V. Estudo sobre os parâmetros de resistência
e deformabilidade da areia de Hokksund; Trabalho de
Conclusão de Curso – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola
Politécnica, 2013.
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Comparativo de Tensões Admissíveis Obtidas por Meio da


Aplicação de Parâmetros de Resistência com Base em Ensaios de
Cisalhamento Direto em Estado Inundado e Não Inundado, em
Amostras Indeformadas de Solos da Região do Xingu.
Marcos Coelho Milhomem
IFTO, Palmas, Brasil, marcosgeoeng@gmail.com

Solon Silva de Lima


IFTO, Palmas, Brasil, solonslima@gmail.com

Samuel Rodrigues da Costa Neto


IFTO, Palmas, Brasil, samuelpls@hotmail.com

Flavio da Silva Ornelas


IFTO, Palmas, Brasil, flavioornelas@ifto.edu.br

RESUMO: A região do Xingu, mais especificamente o sudoeste do estado do Pará, no traçado da


rodovia Transamazônica, na maior parte, tem sua formação geológica composta de Granodioritos,
Granitos, Quatzodioritos e Diabásios recobertos com camadas superficiais de solos laterizados,
correspondente a latossolos vermelhos, com predominância de frações argilosas de elevado índice
de plasticidade. Devido à necessidade de implantação de linhas de transmissão para promover a
dissipação da energia elétrica produzida pela usina de Belo Monte, foram realizadas diversas
campanhas de sondagens e coletas de amostras indeformadas para a realização de ensaios de
cisalhamento direto em estado inundado e não inundado para a determinação de ângulo de atrito e
coesão. Conclui-se que, na situação inundada, os parâmetros são inferiores à condição de não
inundado devido ao desenvolvimento de poropressão e provável quebra de elos cimentados.

PALAVRAS-CHAVE: Xingu, parâmetros, cisalhamento.

1 INTRODUÇÃO estruturas autoportantes e estaiadas necessitam


de fundações específicas dimensionadas sob
A região Xingu, sudoeste do estado do Pará, no medida com base nos carregamentos aplicados
que tange o traçado da rodovia Transamazônica, e nas características geotécnicas do solo local.
possui a predominância de solos residuais, os Nesse âmbito, foram realizadas diversas
quais se encontram laterizados. Essa região campanhas de sondagens, ensaios “n-situ” e
passa ultimamente por uma expansão no setor laboratório. Dentre os ensaios de laboratório,
de linhas de transmissão que viabilizam a executou-se cisalhamento direto em amostras
dissipação de energia elétrica gerada pela usina indeformadas coletadas na profundidade de
de Belo Monte. aproximadamente 2 m, tais ensaios realizados
Visto o grande porte das torres de linha de em estado inundado e não inundado objetivam
transmissão, uma vez pela sua potência e pela verificar a variação dos parâmetros de
necessidade de porte elevado a fim de resistência.
ultrapassar altura da vegetação local, as A utilização de parâmetros de resistência
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como ângulo de atrito e coesão para a 2.2 Geologia local


determinação de taxa de tensão admissível de
solos para fins de utilização em fundação direta Conforme RADAM (1974), o trecho da rodovia
é de larga utilização na engenharia geotécnica e transamazônica possui formações geológicas
de vital importância para um bom projeto de diversificadas, sendo que em alguns trechos é
fundação. possível a observação de folhelhos com
Os ensaios realizados em situações intercalação de arenitos, diabásios e granitos.
diferentes objetivaram verificar a variação dos Os solos, em sua maioria, são dos tipos argila
parâmetros de resistência mediante a saturação siltosa e argilas arenosas como indicado,
do solo, uma vez que a taxa de tensão apresentando se profundos e medianamente
admissível é proporcional a tais grandezas. profundos.

Tabela 1. Análise granulométrica


2 DESCRIÇÃO DA ÁREA ESTUDADA

2.1 Localização

A região estudada está localizada nas


proximidades da bacia do rio Xingu, sudoeste
do Pará, especificamente situada no traçado da
rodovia Transamazônica.
Na figura 1, é ilustrado um trecho de mapa
onde pode ser observado o traçado que liga os Na tabela 1, é possível observar a
municípios de Altamira a Marabá, trecho este composição de algumas amostras de solos
onde se realizou a coleta de blocos de amostras estudadas no manual RADAM. Na tabela são
indeformadas. apresentados os valores referentes à composição
granulométrica e o grau de floculação das
frações argilosas de amostras ensaiadas, sendo
que a porcentagem de argila total corresponde
àquela obtida com a utilização de dispersante no
ensaio de sedimentação. Já o teor de argila
natural é determinado por meio da
sedimentação sem o emprego de desfloculante.
Segundo a Embrapa (1997), o grau de
floculação indica a relação existente entre a
porcentagem de argila naturalmente dispersa e a
argila total.

(1)

Onde, GF é o grau de floculação, que varia


de 0 a 100%, sendo que quanto maior o grau,
mais estável é o agregado de solo, e quanto
Figura 1. Localização da região de estudo. menor menos estável; A o teor da argila total e
B o teor de argila natural, ambos em
porcentagem.
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3 SOLOS LATERÍTICOS executado em condição de tensão controlada ou


deformação controlada. Tal ensaio indica a
Segundo Caputo (2008), os solos lateríticos são utilização de duas pedras porosas que, quando
característicos de regiões tropicais de clima colocadas nos extremos da caixa, permite a
úmido com estações de estiagem e chuva bem drenagem do corpo de prova durante o período
definidas, onde ocorre um processo de de pré-adensamento.
lixiviação com remoção da sílica coloidal e Como explicado por Ortigão (2007), a
precipitação de óxidos de ferro alumina. principal desvantagem deste método de ensaio
Os solos lateríticos apresentam coloração consiste na deficiência de se controlar a
avermelhada, tal coloração ocorre devido à dissipação de poropressões geradas, uma vez
predominância de minerais cauliníticos e à que o equipamento não permite tal controle.
elevada concentração de óxidos e hidróxidos de A regulamentação do procedimento é dada
ferro e alumina. Quando observado “in-situ”, os pela norma americana ASTM D3080, que
solos lateríticos apresentam baixa capacidade de define os equipamentos, as dimensões, a
suporte, visto a sua elevada porosidade. Quando calibragem e a preparação das amostras a serem
submetido à compactação em obras de analisadas.
terraplanagem os solos apresentam elevadas Como explicado por Das (2014), o ensaio de
resistências, além da baixa expansão cisalhamento direto é realizado em uma
volumétrica, conforme Pinto (2006). determinada quantidade de corpos de prova em
variados estados de tensões normais, para os
4 ENSAIOS DE CISALHAMENTO quais são determinadas as tensões cisalhantes,
DIRETO. que por último permite a elaboração da
envoltória de resistência ao cisalhamento.
Como explica Ortigão (2007), o ensaio de Ainda conforme Das, (2007), o ensaio é
cisalhamento direto foi um dos primeiros realizado com os corpos de prova em estado
métodos de ensaios que permitiu o estudo da saturado, em que a caixa é preenchida com água
resistência ao cisalhamento do solo em um e se acondiciona a amostra. As variáveis da
único plano de ruptura. O ensaio consiste na modalidade de ensaio estão associadas à
introdução de uma amostra de solo em uma velocidade de ensaio, que norteia um possível
caixa bipartida, onde se aplica uma força estado drenado ou não.
normal N, e, em seguida, se realiza o
incremento de forças T, provocando o
deslocamento de uma caixa em relação a outra
até que se atinja a ruptura, conforme ilustrado
na figura 2.

Figura 3. Envoltória de resistência ao cisalhamento

Conforme Caputo (2008), após a realização


dos ensaios em uma determinada quantidade de
amostras são obtidos pares de tensões normais
Figura 2. Caixa de cisalhamento direto. (σ) e tensões cisalhantes (τ), as quais plotadas
em um sistema cartesiano, como ilustrado na
Segundo Caputo (2008), o ensaio pode ser figura 3, permite a determinação dos
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paramentos de ângulo de atrito (φ) e coesão (c). m, conforme ilustrado na figura 4.


Durante o processo de abertura dos poços para a
coleta das amostras indeformadas, foi realizado
4 DETERMINAÇÃO DE TENSÃO a apreciação tátil visual dos perfis de solo, onde
ADMISSÍVEL DO SOLO foram detectados horizontes laterizados com
cores avermelhadas, indicando a presença de
Em 1943, Terzaghi, modificou a teoria de óxidos de ferros, além da abundâncias de
Prandtl, que discriminava estudos sobre a fragmentos lateríticos ferruginosos.
penetração de materiais metálicos em materiais
mais plásticos, para a determinação da
capacidade de carga dos solos submetidos a
cargas transferidas por sapatas rasas. Após um
período de aprimoramento Terzaghi idealizou a
seguinte fórmula:

(2)

Onde Nc, Nq e Ny são termos referentes à


Figura 4. Coleta de amostras indeformada
coesão, à sobrecarga e ao peso específico do
solo, c´ a coesão, ɣ o peso específico do solo e
B a menor dimensão da sapata, segundo Das Na figura 5 é ilustrada a parafinagem do
(2014). bloco de amostra indeformado.
Em 1967, Terzaghi juntamente com Peck,
realizou a introdução do fator de forma S.

(3)

Em 1975, Vesic realiza uma contribuição


para a engenharia de fundações, aprimorando
assim o cálculo de capacidade de carga de
fundações diretas, conforme explica Cintra et.
al.(2011). Vesic, propôs duas alterações na
Figura 5. Parafinagem de amostras indeformada
equação de Tezaghi e Peck, utilizando a
equação de Caquot e Kerisel, para a A campanha de investigação resultou na
determinação de Nɣ, a segunda modificação coleta de 16 blocos de amostras indeformadas.
consistiu na utilização dos fatores S de De Beer Após a chegada das amostras em laboratório,
(1967). realizou-se a talhagem do material em caixa
bipartida com dimensão de aproximadamente 5
x 5 cm.
5 METODOLOGIA Realizou-se a talhagem de 6 corpos de prova
por bloco de indeformada, sendo 3 corpos de
5.1 Coleta de Amostras prova ensaiados em situação de inundado, ou
seja, caixa de condicionamento de amostra com
O estudo foi realizado com base nos resultados água e 3 ensaios na situação não inundada. É
de ensaios de amostras indeformadas com ilustrado na figura uma amostra em meio ao
aresta de 30 cm coletadas na profundidade de 2
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procedimento de talhagem.

Figura 6. Talhagem da amostra em caixa 5 x 5 cm Figura 8. Envoltória de Resistencia

5.2 Obtenção de Resultados 5.2 Determinação da Taxa de Tensão


Admissível
Os ensaios foram realizados com emprego de
equipamento servo controlado. As amostras De posse dos dados obtidos na realização dos
sofreram um estágio de pre-adensamento, para ensaios, empregou-se o método teórico de
o início do carregamento. Terzaghi adaptado por Vesic para a
Foram empregadas tensões normais de 50, determinação da taxa de tensão admissível,
100 e 150 kPa, as velocidade adotadas foram além disso empregaram-se os parâmetros
estimadas com base no estágio de pré- obtidos nas duas modalidade de ensaios, não
adensamento. inundado e inundado.
Visto a necessidade de utilização de um
protótipo de fundação, considerou-se uma
fundação com dimensões de projeção 1 x 1 m,
assente a 2 m de profundidade.

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com a realização dos ensaios, foram obtidos os


parâmetros dispostos na tabela 2, os quais são
pares de ângulo de atrito e coesão para ambos
os estados de ensaio.
Figura 7. Gráfico de tensão cisalhante As amostras são enumeradas pela sigla PI, a
qual se refere à abreviatura de poço de
Pode ser observado na figura 7 o gráfico de inspeção, seguido de um número qualquer,
tensão cisalhante versus deformação. Já na utilizado pela empresa executora das coletas.
figura 8 é ilustrada a envoltória de resistência A tabela 2 também apresenta os valores de
ao cisalhamento. peso específico “in-situ’ e a classificação
unificada dos solos SUCS.
A variação dos parâmetros ocorreu devido à
variação da tipologia de ensaio. Já na tabela 3,
foram observadas as tensões admissíveis
obtidas em kPa.
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Tabela 2. Resultados de ensaios No gráfico ilustrado na figura 9, é possível


observar a variação de tensão admissível, sendo
a série 1 correspondente ao ângulo de atrito e
coesão determinados pelo método não
inundado. Já a série 2, corresponde aos valores
obtidos com a aplicação dos parâmetros no
estado inundado.

Figura 9. Taxas de tensão admissível

Na tabela 10, podemos observar a variação


da taxa de tensão admissível em porcentagem.

Tabela 3. Taxas de tensão admissível

Figura 10. Variação de taxa de tensão admissível

Observou-se uma variação média harmônica


de 30,95 % entre os valores obtidos em ambos
os ensaios.

7 CONCLUSÃO

Com a realização do tratamento de dados, foi


possível observar que, na totalidade das 16
amostras, os ensaios de cisalhamento direto
quando realizados na modalidade não inundado,
apresentaram parâmetros de resistência
superiores ao método tradicional. Quanto à
coesão, não seguiu a variação observada no
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ângulo de atrito, onde o parâmetro não


inundado foi maior do que o inundado.
Pôde-se concluir que a variação média de
taxa de resistência admissível é de cerca de
30,95% para o conjunto de amostras ensaiadas.
A variação da taxa de tensão se dá
principalmente pela variação de poropressão e
pela quebra da ligação cimentante que une a
estrutura dos solos lateríticos.
É perceptível que a adoção da metodologia
de ensaio de cisalhamento direto em estado
inundado é de vital importância para a
conservação da segurança do projeto de
fundações de torres de transmissão, visto a
impossibilidade de impedir a saturação do solo
onde a sapata é assente.

REFERÊNCIAS

Pinto, Carlos S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos


Solos em 16 Aulas. São Paulo: Oficina de Textos, 3º
ed.
Caputo, Homero P. (2006). Mecânica dos Solos e Suas
Aplicações. Rio de Janeiro: LTC, 6 ed.
RADAM. (1974). Levantamento de Recursos Minerais.
Rio de Janeiro: DNPM.
EMBRAPA (1997). Manual de Métodos de Análise de
Solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 2 ed.
Ortigão, J.A.R. Introdução a Mecânica dos Solos dos
Estados Criticos. Rio de Janeiro:Terratek, 3 ed.
Das, Braja M. (2014). Fundamentos da Engenharia
Geotécnica. São Paulo: Cengage Learning.
Cintra, Jose C.; Aoki, Nelson; Albiero, Jose H. (2011).
Fundações Diretas Projetos Geotécnico. São Paulo:
Oficina de Textos.
VII Brazilian Symposium on Rock Mechanics – SBMR 2018
Rock Engineering on Urban Development
ISRM Specialized Conference 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
© CBMR/ABMS and ISRM, 2018

COMPARISON TEST OF PULLOUT RESISTANCE IN THREE


TYPES OF SOIL APPLYING COATING BY PUMP AND
MANUALLY PROJECTION – SBMR 2018
Marcus dos Reis
Coordinator and Professor of Universidade Paulista (Paulista University) – UNIP.
Technical Director of JSGlobal Construção Civil e Assessoria em Obras and CAPT – Centro de
Apoio a Pesquisa Tecnológicas, Sao Paulo, Brazil
marcusdosreis@jsglobal.net

Luiz Carlos Rusilo


Professor of Federal University of Alfenas, Poços de Caldas, Minas Gerais, Brazil.
luiz.rusilo@unifal-mg.edu.br

Almir Donizette Vicente Gouvea*


*Student of Polytechnic School of the University of São Paulo, São Paulo, Brazil.
almir.donizette@gmail.com

Eduardo César Sansone


Professor of Polytechnic School of the University of São Paulo, São Paulo, Brazil. esansone@usp.br

Abelino de Sousa Gonzalez


Civil Engineer of Valorize Engenharia e Construções, Master degree on Instituto de Pesquisas
Tecnologico do Estado de Sao Paulo – IPT, Sao Paulo, Brazil.
abihg2@gmail.com

SUMMARY: In order to do the test of soil pullout resistance, need to apply a tensile load using a
hydraulic jack in the steel bar, anchored to the ground making a displacement of the bolt. Based on
it, the in situ test performed in three locations, Sorocaba city, Sao Roque city and Sao Paulo city, for
different types of soil, considering two bolts with length 3 meters and 6 meters, respectively. In the
slope in Sorocaba, it was necessary to do the massif restoration with soil-cement. The covering
realized by concrete projection and applied of Portland cement by pump compressed air and
manually. In order to check the efficient of the test, samples of these soils analyzed on laboratory. In
the tests was performed six stages of charge application getting the maximum load applied as 9,9
ton force for in situ test and less for laboratory test. Based on the analysis, it notices that the results
obtained in the test are in accordance with the specifications set out in the project, considering a
margin of safety acceptable.

KEYWORDS: test soil pullout, in situ test, laboratory test, three types of soil locations, six stages,
concrete projection.

SBMR 2018
1 INTRODUCTION Paulo, in civil works in which the authors acted
to analyze the stability of the bolt according to
In order to do the test of soil pullout resistance, the type of soil.
need to apply a tensile load (static tensile) using
a hydraulic jack in the steel bar, anchored to the 3.2 Bolt installation process
ground making a displacement of the bolt.
Considering the applied load and the The coupling of the bolt executed in three
displacement of the bolt can build the grapher stages: Drilling, installation of the bolt and
“Displacement x Load” to obtain the maximum injection of the cement sheath.
axial tensile load on the bolt in the pullout - Drilling: the holes drilled with a 15-degree
resistance test. inclination using an electric drill of 3HP with a
The pullout resistance test can be performed helical drill producing a hole with a diameter of
with displacement control (constant velocity) or around 100mm and a length of 6m, it is
by force control, being the last is more important to notice that on this stage it was not
common. necessary to coat the hole because it has good
Through the test it is possible to determine stability.
the maximum pullout force, the residual force - Bolt installation: to do it uses as a bolt a
and the coefficient [k β], corresponding to the CA-50 steel bar previously prepared with
initial inclination of the "Displacement x Load" anticorrosive paint, with 20.0 mm in diameter
curve. and a length of 6 m. On each bolt put spacers
In order to perform the pullout resistance, the every 2 meters and a PVC tube with 20.0 mm
system assembly scheme should be follow: the diameter provided with "headlines" spaced 0.50
hydraulic jack axis and the bolt axis must be m, in order to perform the injection of the
aligned (using a reaction grid between the sheath.
hydraulic jack and the reaction plate), the strain This stage performed on two situations, first
gauges should be kept aligned to the bolt axis in a place where the covering realized by
and the test should be performed on staples with concrete projection and applied of Portland
an initial free section followed by an injected cement by pump compressed air, Figure 1, and
section. manually by collaborator with bricklayer's
spatula.
2 OBJECTIVE

The aim of this article is to do the pullout


resistance test in three places, Sorocaba, Sao
Roque and Sao Paulo city, for different types of
soil to analyze the covering realized by concrete
projection and the applied of Portland cement
by pump compressed air and manually by Figure 1. Bolt installation on the first situation and in the
collaborator with bricklayer's spatula. second situation, respectively

3 METHODOLOGY - Injection of the cement sheath: on each


hole, the cement grout with a water/cement
3.1 Place of test run factor of 0.60 applied through low-pressure
injection to guarantee project efficiency.
In order to analyze the discrepancy of the
pullout resistance test results considering the 3.3 Pullout executive process
variation of the soil opted up to realize the test
in three places: Sorocaba, Sao Roque and Sao The bolt pullout test consists of selecting the
equipment, assembling it and loading

SBMR 2018
application.
- Equipment: hydraulic jack with capacity for
60 tf, strain gauge with scale background of
0.01 mm, steel plate with center hole with
thickness of 22 mm and dimensions 80 x 50 cm,
calibrated hydraulic manometer with a
maximum capacity of 15000 Psi and 103.4
MPA and scale background 0.1 MPa, aluminum
tripod with sharp edges for ground fixation, iron
holder to support the magnetic base with fine Figure 3. Pullout resistance test.
adjustment and Mitutoyo Mark comparator Legend: A: applied the steel plate with a hole centered on
watch model 3062-S-19 with 0.01 - 50 mm the bolt, B: connected the hydraulic jack, C: put the hand
pump with the pressure gauge on it, D: applied the
precision; support tripod with iron support and the dial indicator.
- Equipment assembling: to do it applied the
steel plate with a hole centered on the bolt, - Loading application: on the tests was
connected the hydraulic jack, put the hand performed six stages of charge application on
pump with the pressure gauge on it, the support each one until no increase in displacement
tripod with iron support and the dial indicator, occurred anymore, getting the maximum load
Figure 2. applied as 9,9 ton force.
The test performed on two situations, first in
a place where the covering realized by concrete 3.4 Characterization of Materials Used
projection and applied of Portland cement by
pump compressed air, Figure 3, and manually After doing the auger manual drilling until 2m
by collaborator with bricklayer's spatula, Figure deep in each region, the samples collected sent
2. to the laboratory for characterization and
performance tests.
Each sample of it was air-dried, deroasted,
homogenized, quenched and later the fractions
defined for the performance of the tests.
The next step consisted in choose the soil
characterization method, based on soil origin,
pedological classification, texture, visual, tactile
classification and soil geotechnical parameters.
Among these methods, we use those that
Figure 2. Pullout resistance test consider soil geotechnical parameters
Legend: A: applied the steel plate with a hole centered on specifically the Highway Research Board
the bolt, B: connected the hydraulic jack, C: put the hand (H.R.B) or The American Association of State
pump with the pressure gauge on it, D: the support tripod Highway Officials (A.A.S.H.O.), the Unified
with iron support and the dial indicator.
Soil Classification System (SUCS), the MCT
Methodology for Rapid Classification of
Tropical Soils and considering the international
standard ASTM D698-12e2 performed the
proctor test at normal energy.

SBMR 2018
4. RESULTS Table 3. Equipment measurement with loading 7,2 tf.
Time Loading Disp. Disp. Disp.
(min) (tf) (mm) (mm) (mm)
The bolt assembling performed following
0 7,2 0 0 0
ABNT premises, the safety norms and obeying
the methodology proposed in the bolt 1 7,2 0,03 0,04 0,03
installation process, Figure 2. 2 7,2 0,04 0,04 0,03
Keeping the load constant, the displacements 3 7,2 0,04 0,05 0,04
read (Disp.) in the three locations at the 5 7,2 0,04 0,05 0,04
following intervals: 0, 1, 2, 3, 5, 7, 15 and 30 7 7,2 0,05 0,05 0,04
minutes. 15 7,2 0,05 0,06 0,05
Considering the intervals measurement’ time
30 7,2 0,06 0,06 0,05
the test performed for loading 2,7 tf, Table 1.
Considering the intervals measurement’ time
Table 1. Equipment measurement with loading 2,7 tf
Sorocab Sao Sao the test performed for loading 9,0 tf, Table 4.
a Paulo Roque
Time Loading Disp. Disp. Disp. Table 4. Equipment measurement with loading 9,0 tf.
(min) (tf) (mm) (mm) (mm) Sao Sao
Sorocaba
0 2,7 0 0 0 Paulo Roque
1 2,7 0,03 0,04 0,03 Time Loading Disp. Disp. Disp.
2 2,7 0,03 0,04 0,03 (min) (tf) (mm) (mm) (mm)
3 2,7 0,04 0,04 0,03 0 9,0 0 0 0
5 2,7 0,04 0,04 0,03 1 9,0 0,01 0,02 0,01
7 2,7 0,04 0,05 0,04 2 9,0 0,01 0,02 0,01
15 2,7 0,04 0,05 0,04 3 9,0 0,02 0,02 0,01
30 2,7 0,04 0,05 0,04
5 9,0 0,02 0,03 0,02
7 9,0 0,02 0,03 0,02
Considering the intervals measurement’ time
15 9,0 0,03 0,03 0,02
the test performed for loading 5,4 tf, Table 2.
30 9,0 0,03 0,04 0,03

Table 2. Equipment measurement with loading 5,4 tf


Sao Sao
Considering the intervals measurement’ time
Sorocaba Paulo Roque the test performed for loading 9,9 tf, Table 5.
Time Loading Disp. Disp. Disp.
(min) (tf) (mm) (mm) (mm) Table 5. Equipment measurement with loading 9,9 tf.
0 5,4 0 0 0 Sao Sao
Sorocaba Paulo Roque
1 5,4 0,03 0,04 0,03
Time Loading Disp. Disp. Disp.
2 5,4 0,03 0,04 0,03 (min) (tf) (mm) (mm) (mm)
3 5,4 0,03 0,04 0,03 0 9,9 0 0 0
5 5,4 0,04 0,05 0,03 1 9,9 0,03 0,04 0,03
7 5,4 0,04 0,05 0,03 2 9,9 0,04 0,04 0,03
15 5,4 0,05 0,06 0,04 3 9,9 0,04 0,05 0,04
5 9,9 0,04 0,05 0,04
30 5,4 0,05 0,06 0,04
7 9,9 0,05 0,05 0,04
15 9,9 0,05 0,06 0,05
Considering the intervals measurement’ time 30 9,9 0,06 0,06 0,05
the test performed for loading 7,2 tf, Table 3.
Considering the intervals measurement’ time
the test performed for loading 13,0 tf.
The soil characterization method, based on
soil origin, pedological classification, texture,

SBMR 2018
visual, tactile classification and soil 5 CONCLUSIONS
geotechnical parameters.
Among these methods, we use those that Analyzing the data obtained with the pullout
consider soil geotechnical parameters resistance test we can notice that the ease of
specifically the Highway Research Board carrying out the displacement during its
(H.R.B) or The American Association of State execution is relate to the characteristics of the
Highway Officials (A.A.S.H.O.), the Unified soil, since the more granulated and compacted
Soil Classification System (SUCS), the MCT the more difficult it is to perform the test.
Methodology for Rapid Classification of For all three place the characteristics is
Tropical Soils and considering the international similar so there is no big discrepancy among
standard ASTM D698-12e2 performed the them.
proctor test at normal energy, Table 6: The result obtained manually was as efficient
as doing the coating with concrete projection.
Table 6: MCT Methodology for Rapid Classification of Analyzing the results obtained in the test it
Tropical Soils. can notice it is in accordance with the
Sample Sorocab Sao Paulo Sao Roque
a
specifications established in the design, thus
Classification NA-NS' LG' NS' meeting the specifications with an acceptable
safety margin.

The test performed on two situations, first in


a place where the covering realized by concrete ACKNOWLEDGEMENTS
projection and applied of Portland cement by
pump compressed air and manually by The authors register here the thanks to the
collaborator with bricklayer’s spatula. laboratories of JS GLOBAL Civil Construction
The massif restoration must have occurred in Consultancy in Works, Paulista University -
Sorocaba city and the covering realized UNIP for collaborating/executing tests of this
manually applying of Portland research, in particular to a team that contributed
cement by collaborator with bricklayer’s a lot to the development of this research
spatula, Figure 4. Francisco Danilo Silvério Caracas, Dhiego de
Oliveira Melo and Marcos Tiharu Takeda.

REFERENCES

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Transportation Officials, Washington.
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Comportamento Geomecânico de Solos Compactados: Resultados


de Ensaios em um Solo Residual de Arenito Botucatu utilizado
como Solo Reforçado no RS
Cleber de Freitas Floriano
PUCRS, Porto Alegre, Brasil, cleber.floriano@pucrs.br

Eduardo Moreira Pfeifer


PUCRS, Porto Alegre, Brasil, eduardo.pfeifer@acad.pucrs.br

Victor Gallina Bertaso


PUCRS, Porto Alegre, Brasil, victorgbertaso@outlook.com

Alan Donassollo
Maccaferri, Porto Alegre, Brasil, alan.donassollo@maccaferri.com.br

RESUMO: O trabalho compila resultados de ensaios realizados no âmbito de projeto, bem como,
apresenta resultados de ensaios realizados ao final da execução de uma estrutura de contenção em
sistema Terramesh às margens da RS-122 no estado do Rio Grande do Sul. Os ensaios adicionais,
tiveram intenção acadêmica de aprofundar estudos referente ao comportamento geomecânico do
aterro executado. A campanha de ensaios engloba a caracterização do solo residual de arenito
Botucatu, compondo ensaio de granulometria, Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade, bem
como, ensaios mecânicos em laboratório como: compactação, ISC e Cisalhamento Direto (CD).

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento geomecânico, Solo residual de arenito, Compactação, Solo


reforçado.

1 INTRODUÇÃO mecânicas de um solo de jazida que foi estudado


previamente para compor o corpo estrutural de
As obras de contenção e os corpos de aterro um aterro de um muro em Sistema Terramesh
geralmente são viabilizados com o uso de jazidas localizado na RS-122 no município de São
locais. No entanto, os materiais de jazida para Sebastião do Caí/RS, que compôs uma estrutura
composição de reaterro ou aterro estrutural de de contenção motivada por rupturas de taludes
solo, em primeira análise, são vistos laterais a esta rodovia (Figura 1). O solo presente
simplesmente como se fossem materiais que irão na obra, bem como o solo utilizado como jazida
compor o corpo de uma plataforma viária (uma é proveniente de ambiente residual da Formação
massa de enchimento). No entanto, deveria ser Botucatu cujo perfil estratigráfico condiciona
necessário ir além desta abordagem encontrada intemperismo evolutivo intenso e fracionado em
na maioria das especificações de serviço, de horizontes A, B, C e Saprolítico (Figura 2), com
modo a identificar propriedades mecânicas pedogênese mais evoluída no horizonte B (solo
diretas, como exemplo, a resistência ao maduro vermelho laterizado, pouco espesso). O
cisalhamento do solo compactado, trabalho compila resultados de ensaios
possibilitando identificar se este tem potencial de realizados no âmbito de projeto, bem como,
uso direto, ou precisa ser melhorado, ou ainda apresenta resultados de ensaios realizados ao
inevitavelmente ser descartado. Neste contexto, final da execução da estrutura, que tiveram
o presente trabalho apresenta as características intenção acadêmica de aprofundar estudos
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referente ao comportamento mecânico do aterro


executado.
A campanha de ensaios engloba a
caracterização do material da jazida, compondo
ensaio de granulometria, Limite de Liquidez e
Limite de Plasticidade. Também, foram
realizados ensaios mecânicos em laboratório
como: compactação, ISC e Cisalhamento Direto
(CD). Ainda, foi coletado um bloco indeformado Figura 1. Obra em solo reforçado na RS-122.
do corpo do aterro compactado. Com tais
amostras, foram realizados três envoltórias de
CD. Duas destas envoltórias foram realizadas A
B
com corpos de prova (CPs) coincidente com a
superfície compactada e com direções paralelas C
e perpendiculares ao plano de compactação. A
S
terceira envoltória foi obtida a uma profundidade
de 30 cm da camada compactada.
De antemão, o aterro da obra foi viabilizado Figura 2. Jazida da obra demarcando os horizontes de
sem o uso de reforço com fibra, no entanto, solo.
paralelamente, foi realizado um estudo para
verificar a potencialidade da adição de fibras de
polipropileno àquele solo compactado. Estes 2 MATERIAS E MÉTODOS
resultados foram comprovados através de
ensaios ISC e CD e comparado com os 2.1 Amostragem
resultados obtidos para o solo sem adição de
fibra do mesmo material coletado. Bohrer et al. (2017) coletaram dois blocos
Enfim, o conjunto de estudos apresentados indeformados e realizaram ensaios de campo e
neste trabalho tem intuito de destacar a de laboratório a partir destas amostragens ainda
importância de identificar parâmetros de no âmbito do projeto executivo da contenção.
resistência mecânica (Ø’ e c’) dos reaterros e Complementarmente Antunes (2017) realizou
aterros estruturais. Também, sugere-se que as uma segunda campanha de ensaios laboratoriais
especificações de serviço para obras de também com amostragem indeformada, embora
infraestrutura incorporem a verificação de com intuito de analisar a permeabilidade e
resistência ao cisalhamento dos solos sucção.
compactados via ensaio CD, em especial para os No contexto do presente trabalho foi coletado
solos compactados que terão função estrutural, outro bloco indeformado com dimensões
semelhante ao que ocorre no controle da 30x30x30 cm, porém o local de coleta foi a
qualidade de uma peça de concreto através de superfície do aterro já compactado da obra
ensaios de RCS (parâmetro fck). O controle de executada, na última camada de compactação.
resistência é importante, pois tais parâmetros do As coletas buscaram seguir o que preconiza a
solo são aqueles que definem a estabilidade de NBR 9604/2016, com o bloco entalhado a partir
um corpo de aterro, bem como a magnitude de de ferramentas manuais até a profundidade de 50
empuxos ativos, que por conseguinte, definem a cm. Depois de esculpido, o bloco coletado para
robustez de uma estrutura de contenção. o presente trabalho, foi envolvido por parafina
líquida e armado com tecido de filó para
preservar as características físicas. Em seguida,
foi cuidadosamente colocado dentro de uma
caixa de madeira confeccionada, a fim de sobrar
2 cm entre bloco e caixa (Figura 3), sendo este
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espaço completado com serragem para absorver da umidade ótima do solo obtidos através do
possíveis impactos durante o transporte até o ensaio de compactação. O ISC foi realizado após
laboratório de mecânica dos solos da Pontifícia quatro dias de imersão na água, onde também foi
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. medida a expansão do material.
Primeiramente, foi medida a umidade de topo e Para a mistura solo-fibra, também foram
do fundo do bloco, onde obteve-se: 8,1% e 8,6%, realizados ensaios de compactação e ISC, a fim
respectivamente. de comparar os resultados com e sem a adição da
fibra.

2.4 Cisalhamento Direto

Para estes ensaios, um conjunto de nove corpos


de prova foram entalhados do bloco indeformado
e outros seis de dentro dos cilindros
compactados na energia normal de Proctor,
sendo três com a adição de fibra e três sem a
fibra, totalizando 15 Cps.
Cada CP foi cuidadosamente extrudido para a
caixa de cisalhamento do equipamento Controls
Figura 3. Coleta de amostra indeformada na última 7-T0206/AZ, a patir do anel biselado.
camada de compactação em campo. Para cada CP, o deslocamento horizontal de
até 10 mm foi aplicado em umas das partes da
Para a caracterização do solo do aterro caixa em relação à outra, com uma velocidade
executado, foi coletada e armazenada a sobra da constante de 0,041 mm/s (suficiente para
escavação para a coleta do bloco. dissipar a poro-pressão no cisalhamento)
medindo a força tangencial necessária a deslocar
2.2 Caracterização o plano de cisalhamento imposto ao corpo de
prova. As leituras foram obtidas através do anel
Foram utilizados os procedimentos da NBR dinamométrico calibrado. Também, foram
6457/2016 e a NBR 6458/2016 para o ensaio de medidos os deslocamentos horizontais e
determinação do peso específico real dos grãos, verticais durante a aplicação da carga. O ensaio
bem como a NBR 7181/2016 para realização e de cisalhamento direto seguiu os procedimentos
análise da curva granulométrica do solo. sugeridos pela norma inglesa BS-1377 (BSI,
Antunes (2017) e Boher et al. (2017) também 1990) e pela norma americana ASTM D 3080-9
mostram resultados de caracterização seguindo a (ASTM, 1990), além de Head (1982).
normatização vigente para o presente perfil de Dos nove corpos de prova provenientes do
solo. bloco indeformado do aterro compactado, seis
foram retirados paralelamente ao plano de
2.3 Compactação e ISC compactação (três no topo do bloco e três na base
do bloco). Outros três CPs foram retirados em
A NBR 7182/2016 foi tomada como direções perpendiculares ao plano de
referência para a realização do ensaio de compactação do solo junto aos primeiros 10 cm
compactação do material, onde foi utilizada do topo do bloco. A Figura 4 mostra o aspecto
energia normal do Proctor com o reuso de do bloco e a lapidação no entorno do anel
material a cada ponto da curva. biselado de 2 cm de altura e 5 cm de diâmetro
Os ensaios para a determinação do ISC foram aproximadamente.
realizado de acordo com a NBR 9895/2016. Os Antes dos cisalhamentos, as amostras foram
corpos de prova foram moldados com os valores inundadas dentro da caixa cisalhante e adensadas
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durante 3 horas até o início de cada ensaio. a adição da fibra.


Para todas as envoltórias objetivou-se três
tensões normais: 50 kPa, 100 kPa e 200 kPa.
3 RESULTADOS

3.1 Caracterização

Quanto a gralumetria, Bohrer et al. (2017)


realizaram ensaios com e sem uso de
defloculante, identifciando que este solo
apresenta uma grande quantidade de argila (37%
naquela amostra). No entanto, o ensaio realizado
sem defloculante, a quantidade de silte e areia
fina, especialmente, indicam presença de argilas
agrumadas (Figura 5). Os ensaios realizados no
Figura 4. Bloco indeformado com anel de CD sendo laboratório da PUCRS também identifcaram esta
esculpido. caracterítica, porém, indicaram percentual
menor de partículas finas (27,3%). Sendo assim
2.5 Fibra de Polipropileno o presente solo pode ser classificado como uma
areia argilo-siltosa.
As fibras FibroMac® que foram utilizadas como
elemento de reforço pra o solo estudado, são
fibras poliméricas de polipropileno de seção
circular com diâmetro de 18 μm, 12 mm de
comprimento, peso específico de 0,91 g/cm³,
temperatura de fusão de 160°C, módulo de
elasticidade de 3.000 MPa e resistência à tração
de 300 MPa, dados fornecidos no catálogo da
empresa Maccafferi do Brasil, que é a
fornecedora do produto. Essas fibras são
produzidas através do processo de extrusão. Figura 5. Curvas granulometricas do solo estudado
Para a determinação da porcentagem de fibra (BOHRER, 2017).
a ser utilizada, foram analisados diversos
trabalhos e a adição de 0,5% foi a mais Os limites de Atterberg das amostras ensaiadas
destacada. De acordo com Corte (2013), este teor estão apresentados na Tabela 1.
de inclusão de fibras é muito utilizado por
Tabela 1. Limites de Atterberg.
garantir adequada trabalhabilidade à mistura,
Propriedade/Parâmetro Sigla Valor Unid.
possibilitando a moldagem dos corpos de prova Limite de liquidez LL 30 %
e a homogeneidade dos mesmos. Também, por Limite de plasticidade LP 19 -
volta deste percentual ocorre a convergência de Limite de liquidez* LL 26 %
melhores resultados de resistência do material Limite de plasticidade* LP NP -
compósito considerando solos de granulometria * Dados de Bohrer et al. (2017).
similar ao testado neste contexto.
Sendo assim, foi escolhida a adição de 0,5% A massa específica real dos grãos tem
em relação ao peso seco de solo, com adição resultado médio de 2,66 g/cm³ com desvio médio
aleatória das fibras. Para a mistura solo-fibra, de mais ou menos 0,04.
foram realizados ensaios de compactação, ISC e
CD, a fim de comparar os resultados com e sem 3.2 Compactação, ISC e expansão
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Os estudos realizados para obtenção de índices obtido após imersão (ISC=3,2%) e o solo sem
do material na compactação foram todos obtidos levar a imersão (ISC=23,0%).
na energia normal de Proctor.
A massa específica aparente seca e a
umidade ótima do solo para os diversos ensaios
de Proctor realizados foi de 1,81 g/cm³ e 14,9%, ~5mm
respecitivamente. Os valores encontrados na
coleta de Bohrer et al. (2017) foi de 1,87 g/cm³ e
13,0%. Quadros (2017) também realizou ensaio
de Proctor numa amostra desta jazida e obteve os
seguintes resultados: 1,77 g/cm³ e 13,0%.
Os valores de ISC também foram obtidos
para amostras com e sem a adição de fibra. O
Figura 6. Comportamento mecânico no ISC.
valor do ISC obtido para a amostra após imersão
de quatro dias foi de 3,2% para o solo natural e
3.3 Resistências ao Cisalhamento do solo
de 10,8% para o solo com a adição de 0,5% de
natural
fibra. As expansões foram de 0,13% e 0,08%,
respectivamente.
Bohrer et al. (2017) a apartir de blocos
Percebe-se um grande incremento de
indeformados retirados da jazida em questão
resistência por parte da fibra sobre o solo puro
(horizonte B/C) realizaram ensaios de
(solo residual de arenito compactado),
Cisalhamento Direto no LACTEC da UFPR.
promovendo um acréscimo de 240% ao valor do
Duas envoltórias foram realizadas, uma com
ISC e uma redução de 38,5% na expansão do
ruptura dos CPs na umidade natural e outra com
material. Da Silva (2007) também encontrou
CPs inundados. A primeira resultou no limite
comportamento mecânico semelhante quando
superior dos parâmetros de resistência de pico de
analisou um solo predominantemente argiloso,
todos as condições ensaiadas para este solo
observando um aumento de 52,9% no ISC e
(ϕ'=37,8° e c'=35,7kPa). Quando inundado (grau
redução de 36,5% na expansão do solo na sua
de saturação médio 96%) obteve-se praticamente
mistura mais eficiente.
o limite inferior (ϕ'=28,9° e c'=0kPa) das
Através da análise da Figura 6 é possível
resistências de pico, apenas sendo superior a uma
identificar o comprimento médio de ancoragem
envoltória obtida a partir de corpos de prova
da fibra, em torno de 5 mm de penetração, isto é,
provenietes do fundo da camada de compactação
o ponto em que a fibra deixa de ter expressiva
do aterro executado.
participação na resistência do solo e rompe por
arrancamento. Esse ponto corresponde a
3.4 Resistências ao Cisalhamento do solo
aproximadamente metade do comprimento da
compactado em laboratório
fibra.
Quadros (2017) construiu uma curva de
Cabe salientar que todos os ensaios remoldados
ISC com as respectivas umidades de ensaio de
tiveram o procedimento padrão de serem
Proctor, neste caso, o autor obteve ISC de 23,0%
submetidos a inundação.
com umidade de 11,6%, porém as amostras não
Dos solos compactados em laboratório, os
foram rompidas depois da imersão de 4 dias, mas
ensaios de Cisalhamento Direto obtidos na
sim, logo após o ensaio, pois o autor teve o
campanha de Bohrer et al. (2017), tiveram
intiuto de correlacionar o ISC com ensaios DCP
parâmetros de resistência de pico (ϕ'=28,3° e
de campo. Embora pertencentente a uma outra
c'=6,0kPa) muito próximos da condição
amostragem, mas de solo correspondente, nota-
inundada daquela mesma amostragem
se uma grande sensibilidade à inundação do solo
indeformada, mas ainda superiores.
compactado, quando se compara o resutado
Os ensaios realizados no âmbito deste
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trabalho, foram aqueles obtidos a partir da volumétrica no cisalhamento para as tensões


remoldagem do material que constitui o aterro da normais de 100 e 200 kPa, com destaque para a
obra. Neste caso, realizou-se duas envoltórias: a amostra de 200 kPa, que sofreu quatro vezes
primeira com o solo puro (com, ϕ'=34,2° e mais contração que a amostra de 100 kPa.
c'=7,1kPa), obtido a partir do cilindro de Porém, a amostra de 50 kPa do solo-fibra
compactação na energia normal de Proctor; e a pronunciou-se com expansão no seu volume
segunda (ϕ'=36,6° e c'=36,3kPa), adicionado-se final, após breve contração nos primeiros
0,5% de fibra polimérica dispersa ao solo, milímetros de deslocamento.
compactado também na PN. Observando os gráficos de ambos os
Analisando os resultados, foi possível solos conhecidos, foi possível traçar a envoltória
identificar que a inserção de fibras no material de resistência dos solos. Essas envoltórias
não proporcionou uma resistência ao apresentaram ajustes lineares muito próximos da
cisalhamento de pico tão pronunciada como unidade, com R² ≈ 0,97.
ocorreu no solo puro. A resistência ao Nota-se um acentuado crescimento de
cisalhamento pós pico apresenta valores 414% no intercepto coesivo a partir da adição da
praticamente constantes preservando a fibra ao solo residual de arenito compactado,
resistência última mesmo com deslocamentos enquanto que o ângulo de atrito interno teve um
acima de 6 mm. Nota-se também que a fibra, acréscimo menos expressivo, de apenas 6%.
promove ganho de resistência à tração no solo, Diversos autores chegaram a respostas similares,
proporcionando um retardo no desenvolvimento convergindo sempre para ganhos de resistência
de resistência de pico sob tensões mais elevadas, nos solos com textura semelhante ao que está em
devido à queda nos valores de rigidez e módulo pauta.
cisalhante da composição (Figura 7). Feuerharmel (2000) obteve valores muito
parecidos em sua mistura mais eficiente, com um
aumento de 401,03% na coesão e 8,46% no
ângulo de atrito interno do solo. Trindade et al.
(2004) também encontraram um pequeno
aumento de 5,41% no ângulo de atrito, enquanto
que o aumento na coesão foi mais significativo,
73,21%. Porém, Bonafé (2004) e Da Silva
(2007) encontraram valores um pouco mais
elevados no acréscimo do ângulo de atrito das
misturas solo-fibra, 15,58% e 57,3 %
respectivamente, não obstante, ambos tiveram
uma pequena redução no valor da coesão das
misturas. É importante destacar que os
comprimentos das fibras utilizadas por estes
autores são diferentes das utilizadas neste
trabalho, tendo o comprimento de 24 mm nos
experimentos de Bonafé (2004) e 20 mm de Da
Figura 7. Medidas no CD com e sem fibra. Silva (2007). Outro ponto importante é que
existe variação de granulometria e tipologia de
Através dos gráficos de deslocamento material. Neste contexto, os solos ensaiados por
horizontal x deslocamento vertical, foi possível tais autores indicam terem maior percentual de
identificar que as três amostras ensaiadas sobre o argila do que o solo avaliado neste trabalho. O
solo puro sofreram compressão, ou seja, tiveram solo de Bonafé (2004) apresenta 85% de
redução no valor de seu volume final. Já para as partículas tamanho argila, enquanto que o
amostras do solo-fibra, houve contração material de Da Silva (2007) apresentou 69%.
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O fato é que a introdução da fibra no realizada. Salienta-se que houve muita


material compactado proporciona aumento dificuldade de manter a amostragem
efetivo de resistência ao cisalhamento, pois os indeformada, pois o bloco nesta posição
filamentos poliméricos detêm elevada encontrava-se mais úmido e friável.
resistência à tração, fazendo com que a ruptura A envoltória com R² igual a 0,9153, um
do compósito seja comandada pela capacidade ângulo de atrito de 26,7º e coesão de 0 kPa, foi
aderente entre estes filamentos e a matriz de solo. possível de ser obtida com apenas duas tensões,
A resposta mecânica está na redução de rigidez, 50 e 100 kPa, passando pela origem.
porém com ganho de resistência. Como a Observa-se equivalência de ângulo de
resistência ao cisalhamento permanece atrito das amostras cisalhadas paralela e
mobilizada pela coalescência entre fibra e matriz perpendicular ao plano de compactação de
de solo durante o desenvolvimento da superfície campo, enquanto que a envoltória do fundo
de cisalhamento, independente da tensão normal, demonstraram queda de resistência expressiva
não existe queda de resistência na ruptura ao cisalhamento.
(formação de pico) e sim na manutenção das As resistências de pico das amostras
tensões cisalhantes no plano induzido. cisalhadas perpendiculares ao plano de
Com os resultados obtidos através dos compactação foram sutilmente maiores que as
ensaios realizados com o solo reforçado com amostras paralelas, refletindo no resultado numa
fibra de polipropileno, é possível afirmar que a diferença de coesão de 5,1 kPa. É de se esperar
inserção de fibra promove ganho de resistência que exista um arranjo com alinhamento das
ao solo. Ainda, é importante destacar que as partículas (principalmente as argilosas quando a
resistências obtidas a partir de amostras compactação ocorre através de rolo liso) na
inundadas podem ser consideradas como direção do plano de compactação, que faz com
patamares inferiores. que ocorra um leve ganho de resistência à
ruptura. Enquanto que no plano de cisalhamento
3.5 Resistências ao Cisalhamento do aterro alinhado com o plano de compactação espera-se
executado que as partículas estejam acomodadas
paralelamente a direção do cisalhamento,
Através do bloco de amostra impactando em uma menor resistência. Embora,
indeformada coletado no corpo do aterro deve-se notar que a amostragem pequena para
executado, foram realizados ensaios de tais constatações físicas.
cisalhamento direto paralelos ao plano de
compactação para verificar os parâmetros de 3.6 Resumo dos Parâmetros e Interpretações
resistência da massa compactada. Neste caso, foi
obtida uma envoltória com R² igual a 0,9825, A Tabela 2 mostra um resumo de todos os
ângulo de atrito de 36,26º e coesão de 23,91 kPa. parâmetros de resistência obtidos para as
Os ensaios perpendiculares tendem a diversas situações de ensaios compilados e
retratar as condições de ocorrência de uma realizados no âmbito desta trabalho. Na Figura 9
ruptura rotacional em campo, sendo assim, apresenta-se as envoltórias de resistência,
espera-se aproximação da parametrização destacando os limites inferior (solo natural
necessária para o cálculo de estabilidade global. inundado) e superior (solo natural na umidade de
Neste caso, com uma envoltória de R² campo). Nota-se que com exceção de uma
igual a 0,9854, o ângulo de atrito foi de 36,19º e envoltória (amostra da base do bloco
a coesão de 28,97 kPa. indeformado do solo compactado em campo) as
Na intenção de verificar a diferença de demais, correspondem a resistências ao
resistência pelo efeito da compactação em cisalhamento inferiores a condição natural do
campo, entre o topo e o fundo da amostra material da jazida, até mesmo o solo melhorado
indeformada, uma terceira envoltória foi com fibra. Isso significa que este material
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apresenta intensa influência do efeito da sucção Parâmetros de


na resistência ao cisalhamento, como Condição de ensaio Horiz resistência
comprovado por Bohrer et al. (2017) e Antunes ϕ' (°) c' (kPa)
(2017), que através de ensaio de sucção mátrica
comprovaram que grau de saturação entre 70% e Residual (w natural)¹ B/C 37,8 35,7
80% são valores críticos com queda vertiginosa
de resistência ao cisalhamento, como pode ser Residual (inundado)¹ B/C 28,9 0,0
notado na Figura 8.
Compactado em
Laboratório PN¹
B/C 28,3 6,0

Retroanálise solo
saturado¹
A/B 30,0 14,0

Retroanálise solo natural¹ B 30,0 16,0

Compactado em campo
(horizotal)²
B/C 36,3 23,9

Compactado em campo
(vertical)²
B/C 36,2 29,0

Compactado em campo
(horizontal)³
B/C 26,6 0,0
Figura 8. Curva de retenção indicando a sucção mátrica
estimada para os ensaios de CD inundado (envoltória Compactado em
laboratório PN
B/C 34,2 7,1
mínima) e natural (envoltória máxima) de amostras
indeformadas. Adaptado de Bohrer et al. (2017). Com adição de 0,5% de
fibra PN
B/C 36,6 36,3
Por outro lado, este comportamento é ¹ Bohrer et al. (2017); ² CP do topo do bloco; ³ CP na base
particular do solo residual natural (justifica as do bloco indeformado da compactação de campo.
rupturas que motivaram a construção da
contenção). Porém, quando o solo é
desestruturado para ser posteriormente
compactado, espera-se que o efeito da sucção
seja atenuado. Entretanto, para este trabalho não
foram realizadas medidas de sucção no solo
compactado.
Como todas as amostras compactadas foram
inundadas antes do cisalhamento, ultrapassando
graus de saturação crítico do solo natural
(superior a 70%), as resistências ao cisalhamento
de solos bem compactados mostram um ganho Figura 9. Resistências de pico.
efetivo de resistência no ambiente externo, pois
devem ser comparadas com a envoltória de Tabela 3. Propriedades índices dos solos estudados.
resistência do solo natural na sua condição
Propriedade/Parâmetro Sigla Valor Unid.
inundada (patamar inferior). Massa específica dos grãos ρs 2,66±0,04 g/cm³
A Tabela 3 resume as propriedades índices Massa específica natural¹ ρn 1,90±0,05 g/cm³
obtidas para este solo, complementando os dados Massa específica ρn 2,05±0,05 g/cm³
obtidos por Bohrer et al. (2017), no que tangem compactado no PN
Massa específica aparente ρd 1,65±0,06 g/cm³
aos solos compactados e a hipótese de seca¹
melhoramento com adição de fibra polimérica. Massa específica aparente ρd 1,81±0,05 g/cm³
seca no PN
Tabela 2. Parâmetros de resistências.
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Massa específica aparente ρd 1,73 g/cm³ ensaios de cisalhamento direto sobre o solo, foi
seca-c/fibra PN
Índice de Suporte ISC 3,2 %
possível identificar aumento de 414% na coesão
Califórnia no PN do material e 6% no ângulo de atrito
Índice de Suporte ISC 10,3 % Foi também visto que a fibra
Califórnia no PN-c/fibra
Índice de Suporte ISC 23,0 %
proporcionou redução nas características de
Califórnia no PN (não umidade ótima e massa especifica aparente seca
imerso) máxima do material, onde a mistura obteve
Expansão PN - 0,13 %
Expansão PN-c/fibra
redução de 2,7% e 4,4%, respectivamente.
- 0,08 %
Teor de umidade natural¹ w 15,3±1,8 % Fazendo a análise do ISC, a inserção de fibra fez
Teor de umidade de campo w 8,35±0,35 % com que o valor do ISC aumentasse 240% e a
Teor de umidade ótima no w 13,6±1,1 % expansão sofresse uma redução considerável de
PN 38,5%.
Grau de saturação¹ S 63,6±6,0 %
Grau de saturação no PN S 86,71 %
Na amostragem do aterro compactado,
Grau de saturação no PN- S 73,5 % notou-se que houve uma diferença considerável
c/fibra de resistência ao cisalhamento entre o topo e a
Índice de vazios¹ e 0,65±0,06 - base do bloco amostrado, indicando que existe
Índice de vazios no PN e 0,49±0,04 - (naquela camada) variação de energia de
Índice de vazios-c/fibra no e 0,52 -
PN compactação.
Coeficiente de ksat 3,1x10-6 cm/s Houve uma pequena diferença (de 5,1
permeabilidade¹ kPa) no intercepto coesivo entre os ensaios
Coeficiente de Cv 0,066 cm²/s
adensamento no PN² realizados com planos diferentes de extração da
Índice de Compressão no Cc 0,10 - amostra em relação a direção de compactação.
PN² Sendo que os plano perpendicular apresenta este
¹ Bohrer et al. (2017); ²Ensaio de Adensamento.
pequeno ganho de resistência por conta da
direção de esmagamento das partículas que nesta
ocasião precisam ser distorcidas ou quebradas
4 CONCLUSÕES para causar deslocamento no cisalhamento.
Por fim, este trabalho destaca que os
No presente estudo, apresenta-se resultados de solos a serem utilizados como material
ensaios do solo residual do arenito Botucatu na compactado, devem apresentar resistência ao
sua condição natural e em diferentes condições cisalhamento adequada. Por isso, é
compactadas, mostrando que pode ocorrer imprescindível a realização de ensaio de
grande variação dos parâmetros de resistência, resistência para os reaterros e aterros estruturais,
uma vez que o solo natural tem forte em destaque, aqueles que compõem obras de
sensibilidade no comportamento geomecânico contenção. Os parâmetros de resistência dos
em função da sucção mátrica.
solos compactados são variáveis
Foi definida que a resistência ao
importantíssimas nos cálculos de empuxo,
cisalhamento na condição inundada natural é um capacidade de suporte, ancoragem, etc., e,
patamar inferior para os solos compactáveis. portanto, definem as dimensões de uma estrutura
Neste contexto, todos os solos compactados em de contenção.
laboratório na energia PN tiveram ganho de Também é imprescindível o controle de
resistência em relação a condição natural quando qualidade das obras com aterros compactados,
ultrapassado o grau de saturação de 70%. no que tange a verificação de resistência ao
Na compactação quando adicionado cisalhamento da massa representativa executada
0,5% de teor fibra em massa seca de solo, ou em execução. O que leva os autores a
observou-se um acréscimo expressivo de identificarem a necessidade de estabelecer
resistência e melhoria do comportamento controle tecnológico através de ensaios de
mecânico da massa. Avaliando os parâmetros de resistência nas especificações públicas. Assim
resistência ao cisalhamento, obtidos através dos
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como se verifica a resistência de um peça de Civil – Departamento de Engenharia Civil,


concreto armado, deveria ser verificado também Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 68p.
a resistência do corpo de um aterro através de Da Silva, C. C. (2007). Comportamento de solos siltosos
ensaios como o de Cisalhamento Direto, uma vez quando reforçados com fibras e melhorados com
que este material de construção (aterro), é parte aditivos químicos e orgânicos. Dissertação (Mestrado
fundamental da estrutura. em Engenharia) – Curso de Pós-Graduação em
Construção Civil, Setor de Tecnologia, Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 157p.
REFERÊNCIAS Feuerharmel, M. R. (2000). Comportamento de solos
reforçados com fibras de polipropileno. Dissertação
ABNT NBR 6457. (2016). Amostras de Solo – Preparação (Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-
para ensaios de compactação e ensaios de Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal
caracterização. Rio de Janeiro. 8p. do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 133p.
ABNT NBR 6458. (2016). Grãos de pedregulhos retidos Head, K. H. (1982). Manual of Laboratory Testing.
na peneira de abertura 4,8 mm – Determinação da Volume 3: Effective Stress Test, ELE Iternational
massa específica, da massa específica aparente e da Ltda. Pentech press, London.
absorção de água. Rio de Janeiro. 10p. Quadros, F. D. (2017) Uso do DCP para Controle de
ABNT NBR 6459. (2016). Solo – Determinação do Limite Compactação de Aterro em Muro de Contenção,
de Liquidez. Rio de Janeiro. 5p. Trabalho de Diplomação, Escola Politécnica,
ABNT NBR 7180. (2016). Solo – Determinação do Limite Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
de Plasticidade. Rio de Janeiro. 3p. Sul, 27 p.
ABNT NBR 7181. (2016). Solo – Análise Granulométrica. Trindade, T. P. et al. (2004). Latossolo vermelho-amarelo
Rio de Janeiro. 12p. reforçado com fibras de polipropileno de distribuição
ABNT NBR 7182. (2016). Solo – Ensaio de Compactação. aleatória: estudo em laboratório. REM: Revista Escola
Rio de Janeiro. 9p. de Minas, v. 57, n. 1, Ouro Preto, p. 53-58.
ABNT NBR 9604. (2016). Abertura de Poço e trincheira
de inspeção em solo com retirada de amostras
deformadas e indeformadas - Procedimento. Rio de
Janeiro. 9p.
ABNT NBR 9895. (2016). Solo – Índice de Suporte
Califórnia (ISC) – Método de Ensaio. Rio de Janeiro.
14p.
Antunes, A. (2017) Análise de um Talude Rompido em
Solo Residual de Arenito: RS122/São Sebastião do
Caí-RS, Trabalho de Diplomação, Departamento de
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, 64 p.
ASTM D3080/D3080M – 11 – (2011) Standard Test
Method for Direct Shear Test of Soils Under
Consolidated Drained Conditions.
Bohrer, L.; Antunes, M. A.; Azambuja, E. (2017).
Diagnóstico e Projeto de Contenção-Monumento para
Estabilização de um Talude de Corte em Solo Residual
de Arenito Arcoseano, Conferência Brasileira sobre
Estabilidade de Encosta, COBRAE, ABMS,
Florianópolis, ISSN: 2594-9217.
Bonafé, L. (2004). Estudo da resistência de um solo
residual de basalto estabilizado e reforçado. Trabalho
de Conclusão de Curso, Curso de Engenharia Civil –
Departamento de Tecnologia, Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí.
101p.
BS 1377-1:1990 (1990). Methods of test for Soils for civil
engineering purposes.
Corte, M. B. (2013). Misturas solo-cal-fibra:
comportamento mecânico à compressão e tração.
Trabalho de Conclusão de Curso, Curso de Engenharia
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Comportamento Geomecânico de um Compósito Solo-fibra


Aline Cátia da Silva
Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, acs1_pec@poli.br

Evandro José da Silva


Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, ej-silva1990@hotmail.com

Stela Fucale
Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, sfucale@yahoo.com.br

Silvio Romero de Melo Ferreira


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO: Com o desenvolvimento dos grandes centros urbanos, a busca por alternativas que
reutilizem os resíduos sólidos gerados, tais como os resíduos de pneus inservíveis, vem sendo
incentivada, uma vez que o seu descarte inadequado causa sérios impactos para a sociedade.
Diversas pesquisas tem sido realizadas como intuito de reutilizar os resíduos de pneus, por exemplo,
no melhoramento de solos que apresentam propriedades insatisfatórias. Diante disso, este artigo
visa analisar a influência da inserção de 20% de fibras de pneus nas propriedades geomecânicas de
um solo areno-argiloso. Para tal, foram realizados ensaios de caracterização e de cisalhamento
direto (não inundados e saturados). Os resultados mostram que a adição das fibras ao solo pouco
interfere na granulometria e na plasticidade, diminui a densidade real dos grãos, os índices de
compactação e aumenta a resistência ao cisalhamento. Assim, as fibras de pneus combinadas ao
solo se mostram interessantes para aplicações em obras geotécnicas.

PALAVRAS-CHAVE: Fibras de pneus, Reforço de solo, Cisalhamento direto.

1 INTRODUÇÃO como a degradação do meio ambiente,


insatisfação por parte da população e problemas
Devido aos problemas sócio-ambientais de saúde pública, uma vez que esses materiais
promovidos pela elevada quantidade de possuem uma lenta decomposição, ocupam
resíduos sólidos gerados pelo homem, conceitos extensas áreas no espaço urbano e tornam o
como reutilizar, reciclar e reduzir têm se local de deposição em atrativos de vetores de
destacado no contexto atual. doenças.
Relacionado a este tema estão os pneus, que Diante dos efeitos negativos provenientes do
apresentam uma vida útil limitada, se tornando descarte irregular dos pneus, a indústria de
rapidamente inservíveis. Segundo o SEST pneumáticos precisou adotar estratégias para a
SENAT – Serviço Social do Transporte/ coleta e destinação final adequada e segura dos
Serviço Nacional de Aprendizagem do pneus inservíveis, juntamente com ações de
Transporte (2017), pelo menos 450 mil conscientização, atendendo a Resolução nº 416
toneladas de pneus são descartados anualmente do CONAMA – Conselho Nacional do Meio
no Brasil. Esse valor tem se tornado cada dia Ambiente (BRASIL, 2009). Contudo, tais
mais preocupante, pois quando os pneumáticos atividades não são suficientes para destinar
são dispostos de maneira irregular corretamente o volume de pneus descartados.
proporcionam sérios impactos para a sociedade, Embora os pneus usados possam passar por
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um processo industrial de recuperação, fibras de pneus permitem que o solo desenvolva


prolongando a sua vida útil, nesse procedimento aspectos relacionados a densidade,
ainda são gerados resíduos que também não são compressibilidade, ductilidade, resistência,
descartados corretamente. permeabilidade, entre outros (EDINÇLILER;
De acordo com a Reciclanip (2017), os pneus BAYKAL; DENGILI, 2004; EDINÇLILER;
recolhidos possuem três principais destinos: i) AYHAN, 2010; FRANCO, 2012).
co-processamento, para uso em fornos de Assim, esta pesquisa experimental tem como
fábricas de cimento; ii) fabricação de artefatos objetivo analisar a influência da adição de fibras
de borracha; e iii) utilização na Engenharia de pneus inservíveis nas propriedades
Civil. geomecânicas de um solo, por meio de ensaios
Com relação ao uso na Engenharia Civil, de laborátório, de acordo com as normas da
uma das formas mais bem sucedidas para ABNT e ASTM – American Society for Testing
reciclar os pneus é quando são triturados, and Materials.
podendo ser misturados ao solo, com o intuito
de melhorar as suas propriedades físicas e
mecânicas, pois muitas vezes os solos não 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
apresentam características adequadas à
construção e não atendem às exigências para o O programa de investigação experimental
desenvolvimento de projetos. contempla a coleta e preparação dos materiais; a
Este tipo de aplicação também se justifica realização de ensaios de caracterização física e
por minimizar o consumo de matérias-primas compactação, tanto no solo e nas fibras de
não renováveis, reduzindo a exploração de pneus puros quanto no compósito formado, uma
novas jazidas, pois permite que os solos locais vez que ainda não há normatização específica
tenham suas características otimizadas e possam relacionada à caracterização dos pneumáticos; e
ser utilizados. a execução de ensaios de cisalhamento direto
Os pneumáticos se enquadram na classe II não inundados e na condição saturada.
(material não perigoso), conforme a NBR 10004
(ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE 2.1 Materiais
NORMAS TÉCNICAS, 2004), por não
possuírem características como, por exemplo, 2.1.1 Solo
reatividade, toxicidade e patogenicidade. Dessa
forma, esses materiais tem o seu potencial de O solo utlizado na pesquisa foi coletado em
reaproveitamento aumentado. uma encosta denominada Alto do Reservatório,
Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas localizada em Recife-PE. A área de coleta é
nos últimos anos visando obter novas soluções caracterizada por uma intensa ocupação
voltadas a destinação dos resíduos de pneus. antrópica, com destaque para os cortes e aterros
Dentre as opções estudadas, pode-se citar a sem intervenção técnica pertinente, irrigação do
aplicação desse material alternativo como solo com águas servidas e remoção da
elemento de reforço em solos (EDINÇLILER; vegetação primária, assim como pelos
AYHAN, 2010; FRANCO; 2012; RAMIRÉZ; movimentos de massa já ocorridos, agravando
CASAGRANDE, 2014; SELLAF et al., 2014; os problemas de erosão.
MACEDO; 2016; MORENO, 2016). Foram coletados em torno de 100 kg de solo
Os solos podem ter as suas propriedades deformado, recolhido próximo da superfície do
alteradas pela inclusão de fibras, todavia as terreno, com auxílio de ferramentas manuais (pá
características são influenciadas por diversos e enxada), acondicionados em sacos plásticos
fatores, que vão desde o comprimento e o teor, para preservar o material fino, etiquetados e
até a orientação das fibras dentro da matriz. As transportados até o Laboratório de Mecânica
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dos Solos (LMS), da Escola Politécnica da ensaio de compactação, para que se pudesse
Universidade de Pernambuco (POLI/UPE). realizar a moldagem dos corpos de prova.

2.1.2 Fibras de Pneus 2.1.2 Caracterização Física e Compactação

As fibras de pneus utilizadas, também O programa de caracterização laboratorial


chamadas de desbastes, Figura 1, são resíduos seguiu os procedimentos contidos nas seguintes
provenientes do processo de recauchutagem de normas: análise granulométrica – NBR 7181
pneus usados e possuem um formato de (ABNT, 2016e); densidade real dos grãos –
filamento, com comprimento médio de 9,4 mm. NBR 6508 (ABNT, 1984c); limite de liquidez –
Foram coletados, aproximadamente, 80 kg NBR 6459 (ABNT, 2016b); limite de
de fibras de pneus por Macedo (2016), em uma plasticidade – NBR 7180 (ABNT, 2016d); e
empresa renovadora de pneus, situada no compactação – NBR 7182 (ABNT, 2016f).
município de Jaboatão dos Guararapes-PE. O Os ensaios de limites de consistência e
material foi acondicionado em sacos plásticos, compactação não puderam ser realizados nas
transportado e armazenado no LMS-POLI/UPE. fibras separadamente por não existir interação
entre as partículas de pneus na presença de
água. Os ensaios de compactação foram do tipo
Proctor normal e com reuso de material.
As determinações do teor de umidade nas
amostras que envolve as fibras de pneus, tanto
misturadas ao solo quanto isoladas, foram feitas
à temperatura de 50 ºC, devido às limitações do
material pneumático ao ser submetido a
temperaturas mais elevadas.

2.1.3 Cisalhamento Direto

Figura 1. Fibras de pneus coletadas. Foram executados ensaios de cisalhamento


direto não inundados e saturados, com o
2.2 Métodos objetivo de analisar o comportamento dos
materiais investigados em diferentes umidades.
2.1.1 Preparação das amostras Todo o procedimento de ensaio foi conduzido
conforme a norma D 3080 (ASTM, 2004).
Previamente à execução dos ensaios, o solo e as Este tipo de ensaio não foi realizado para as
fibras foram preparados conforme a NBR 6457 fibras de pneus puras pela impossibilidade de
(ABNT, 2016a). Posteriormente, uma mistura preparação deste material nas condições ótimas
de solo com 20% de fibras de pneus foi do ensaio de Proctor normal.
elaborada, com a proporção medida em relação O equipamento utilizado para os ensaios
a massa de solo seca. possui uma capacidade de 500 kgf,
Para os ensaios de cisalhamento direto, o sensibilidade de 0,001 mm e uma caixa de
solo e as fibras foram passadas na peneira de n° cisalhamento com seção interna de 100 x 100
4 (abertura de 4,8 mm), de forma a limitar o mm, monitorada por sensores de leitura LVDT
tamanho dos grãos. Neste ensaio, a amostra de (Linear Variable Differential Transformer),
solo e o compósito formado foram preparados para medição dos deslocamentos horizontal e
no peso específico aparente seco máximo e na vertical e de forças horizontais.
umidade ótima de cada material, obtidos no A moldagem dos corpos de prova foi
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executada diretamente dentro da caixa de


cisalhamento, em duas camadas iguais de 20
mm, mediante compactação estática em uma
prensa hidráulica manual.
Devido as fibras de pneus serem volumosas,
foram encontradas dificuldades para a
moldagem dos corpos de prova dentro da caixa
de cisalhamento. Dessa forma, contou-se com o
auxílio de um molde metálico, Figura 2, para
que as amostras fossem moldadas e pudessem
ser transferidas para a caixa. As características
do molde podem ser consultadas
detalhadamente em Macedo (2016). Figura 3. Curvas granulométricas das amostras estudadas.

Tabela 1. Características físicas.


Parâmetros Solo Pneu Solo+20%Pneu
Pedregulho (%) 16 21 18
Areia (%) 45 79 44
Silte (%) 2 0 1
Argila (%) 37 0 37
Caixa Base Colarinho Topo Cc - 0,9 -
Cu - 2,2 -
ρ 2,66 1,12 1,98
Figura 2. Molde metálico. IP (%) 21 NP 20
IA 0,57 - 0,54
Os ensaios foram realizados sob as tensões Classific. SUCS SC SP SC
normais de 50, 100, 150 e 200 kPa e com uma Classific. TRB A-7-6 A-1-b A-7-6
velocidade de 0,083 mm/min. O tempo de Obs.: Cc – coeficiente de curvatura; Cu – coeficiente de
consolidação das amostras foi de 1 hora, sendo uniformidade; ρ – densidade real dos grãos; IP – índice
de plasticidade; IA – índice de atividade; NP – não
suficiente para estabilizar as deformações dos plástico; SC – areia argilosa; SP – areia mal graduada.
corpos de prova.
O solo, as fibras de pneus e o compósito
solo-fibra apresentam uma distribuição
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES granulométrica predominantemente granular,
constando ainda na composição do solo e do
3.1 Caracterização Física e Compactação compósito uma parcela considerável de
partículas finas (< 0,074 mm), que inexiste no
As curvas granulométricas das amostras são material pneumático puro. A distribuição
apresentadas na Figura 3. A escala empregada é granulométrica do solo com a inserção das
a da NBR 6502 (ABNT, 1995). Um resumo fibras de pneus não sofre alterações.
com as informações das características físicas Os coeficientes Cc e Cu do solo e do
das amostras estudadas é mostrado na Tabela 1, compósito não puderam ser mensurados, visto
sendo também indicados o enquadramento do que mais de 30% dos seus grãos é passante na
solo, das fibras de pneus e do compósito solo- peneira de menor abertura (# 0,001 mm). Já as
fibra nos sistemas de classificação SUCS – fibras de pneus denotam uma distribuição
Sistema Unificado de Classificação de Solos e uniforme por apresentar um Cu < 5.
TRB – Transportation Research Boarding. A densidade real dos grãos do solo é
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reduzida pela adição das fibras de pneus, (a)


variando de 2,66 para 1,98, sendo isso
justificado pelas fibras serem
característicamente mais leves, apresentando
um valor de densidade de 1,12.
As fibras de pneus apresentam um IP nulo e
a plasticidade do solo, que é alta (IP > 15%),
não é modificada pela inserção das fibras.
Os índices de atividade (IA) do solo e do
compósito são menores do que 0,75,
apresentando um comportamento inativo,
(b)


conforme Skempton (1953).
De acordo com o SUCS, o solo e o
compósito foram classificados como areias
argilosas (SC) e as fibras de pneus equiparam-se
a um solo do grupo SM (areia mal graduada).
Pelo TRB, a adição das fibras não melhorou as
características do solo para aplicação como
subleito de pavimentos, permanecendo na classe
A-7-6, cujo comportamento é sofrível a mau.
Os resultados obtidos a partir dos ensaios de
compactação estão na Tabela 2. Há uma (c)

diminuição do d máx e da wot do solo com a


incorporação das fibras de pneus. O decréscimo
do peso específico aparente seco máximo
decorre da resistência à compactação das fibras
de pneus, além destas apresentarem uma
densidade bem inferior a do solo. Pelas fibras se
apresentarem volumosas, a sua adição reduz a
porosidade do solo.

Tabela 2. Índices de compactação.


Parâmetros Solo Pneu Solo+20%Pneu (d)

d máx (kN/m )3
17,60 - 14,77
wot (%) 17,49 - 16,14
n (%) 34 - 25
Obs.: d máx – peso específico aparente seco máximo; wot
– umidade ótima; n – porosidade.

3.2 Cisalhamento direto

As curvas de tensão cisalhante versus


deslocamento horizontal (τ x dh) do solo e do
compósito solo-fibra, para cada tensão normal
Deslocamento Horizontal (mm) - dh
aplicada, são ilustradas na Figura 4, sendo
apresentadas as curvas tanto dos ensaios não Obs.: (Sat) – ensaio saturado.
inundados quanto dos satutados. Figura 4. Curvas τ x dh do solo e do compósito solo-fibra,
nas tensões de 50 (a), 100 (b), 150 (c) e 200 kPa (d).
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Vale destacar que quando as curvas τ x dh de resistência (tensões cisalhantes na ruptura)


não apresentam um pico bem definido, as dos materiais, para cada tensão normal imposta.
tensões cisalhantes de ruptura das amostras
podem ser obtidas no ponto a partir do qual as
curvas τ x dh indicam uma inclinação constante,
conforme definido por De Campos e Carrillo
(1995), Figura 5, sendo este o critério de ruptura
adotado neste estudo.

Ruptura

Ruptura Obs.: (Sat) – ensaio saturado.


Figura 6. Envoltórias de resistência ao cisalhamento.

Há transferência de esforços da matriz de


solo para as fibras de pneus, pois se observa um
aumento das tensões cisalhantes de ruptura do
Figura 5. Critério de ruptura definido por De Campos e compósito em comparação ao solo puro, tanto
Carrillo (1995). nos ensaios não inundados quanto nos
saturados, Figura 6. Contudo, os ensaios de
O desenvolvimento das curvas τ x dh do solo cisalhamento no compósito solo-fibra
é modificado quando da inserção das fibras de necessitam de tensões e deslocamentos maiores
pneus, visto o aumento de resistência ao longo para que a mobilização das fibras seja mais
do deslocamento horizontal, tanto nos ensaios acentuada. Este cenário indica que as fibras de
não inundados quanto nos saturados. pneus contribuem com a ductilidade do solo.
As curvas τ x dh do solo e do compósito Os parâmetros de resistência do solo e do
solo-fibra, Figura 4, apresentam um crescimento compósito solo-fibra são apresentados na
contínuo, sem a ocorrência de pico de Tabela 3.
resistência, caracterizando um comportamento
do tipo elasto-plástico com endurecimento. Tabela 3. Resultados dos ensaios de cisalhamento direto.
Contudo, para a tensão de 50 kPa, o solo Parâmetros Solo Pneu Solo+20%Pneu
demonstra uma estabilização no ensaio não c' (kPa) 10 - 12,4
inundado e um pico de resistência bem definido Não
inundado
' (°) 29 - 31,5
quando saturado, enquanto que o compósito R2 0,99 - 0,99
solo-fibra, na mesma tensão normal, indica um c' (kPa) 5,5 - 0
ganho de resistência até um deslocamento de 8 Saturado ' (°) 28 - 32,5
mm, com suave queda ao longo do R2 0,99 - 0,98
deslocamento horizontal até o fim do ensaio não Obs.: c' – coesão; ' – ângulo de atrito; R2 – coeficiente
inundado e uma estabilização no ensaio de determinação.
saturado.
As envoltórias de Morhr-Coulomb, A adição das fibras aumenta, de forma geral,
elaboradas a partir das curvas τ x dh, o ângulo de atrito e a coesão do solo, tanto na
encontram-se na Figura 6, sendo os pontos condição não inundada quanto na saturada,
plotados correspondentes aos valores máximos porém o acréscimo é pouco expressivo.
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Ao se comparar os resultados dos ensaios contribuições feitas pelo Técnico Fábio Ferreira
não inundados em relação aos ensaios na coleta e condução dos ensaios de laboratório.
saturados, observa-se que a coesão dos
materiais diminui, devido à redução da sucção
mátrica, enquanto que o ângulo de atrito REFERÊNCIAS
permanece em uma mesma faixa de valores,
Tabela 3. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Os coeficientes de determinação, Tabela 3, (2016a). Amostras de solo – preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização, NBR
indicam uma boa qualidade de ajuste das linhas 6457, Rio de Janeiro.
de tendência das amostras saturadas, pois os ______. (2016b). Solo – determinação do limite de
valores para as envoltórias Morh-Coulomb liquidez, NBR 6459, Rio de Janeiro.
situam-se próximos de 1 (um). ______. (1995). Rochas e Solos, NBR 6502, Rio de
Janeiro.
______. (2016c). Grãos de solos que passam na peneira
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS de 4,8 mm – determinação da massa específica, NBR
6508, Rio de Janeiro.
A inserção das fibras de pneus, praticamente, ______. (2016d). Solo – determinação do limite de
não altera a granulometria e a plasticidade do plasticidade, NBR 7180, Rio de Janeiro.
solo, permanecendo este com a sua classificação ______. (2016e). Solo – análise granulométrica, NBR
7181, Rio de Janeiro.
como areia argilosa de alta plasticidade. ______. (2016f). Solo – ensaio de compactação, NBR
A densidade real dos grãos do solo sofre uma 7182, Rio de Janeiro.
redução pela adição das fibras de pneus, ______. (2004). Resíduos sólidos – classificação, NBR
permitindo que o compósito solo-fibra seja 10004, Rio de Janeiro.
utilizado em aterros leves. ASTM – American Society for Testing and Materials.
(2004). Standard test method for direct shear test of
A porosidade, o peso específico aparente soils under consolidated drained conditions, D 3080,
seco máximo e a umidade ótima do solo West Conshohocken.
apresentam significativas reduções quando da Brasil. Ministério do Meio Ambiente. (2009). Resolução
inserção das fibras de pneus, em virtude do CONAMA 416, de 30 de setembro de 2009. Dispõe
sobre a prevenção à degradação ambiental causada
volume e da baixa densidade do material
por pneus e sua destinação ambientalmente adequada,
pneumático. e dá outras providências, Diário Oficial da União,
As fibras de pneus se mostraram eficientes Brasília.
no reforço do solo estudado, visto o acréscimo De Campos, T.M.P. e Carrillo, C.W. (1995). Direct shear
da sua resistência ao cisalhamento, constatado testing on an unsaturated soil from Rio de Janeiro,
Proceeding of the first International Conference on
por meio dos ensaios de laboratório.
Unsaturated Soils, UNSAT’95, Paris, France, vol. 1.
A condição saturada exerceu uma maior Edinçliler, A. e Ayhan, V. (2010). Influence of tire fiber
influência na coesão do solo e do compósito inclusions on shear strength of sand, Geosynthetics
solo-fibra do que no ângulo de atrito, pois este International, vol. 17, n. 4, p. 183-192.
parâmetro se manteve em uma mesma faixa de Edinçliler, A.; Baykal, G.; Dengili, K. (2004).
Determination of static and dynamic behavior of
valores dos obtidos nos ensaios não inundados e
recycled materials for highways, Resources,
aquele diminuiu. Conservation and Recycling, vol. 42, n. 3, p. 223-237.
Franco, K.L.B. (2012). Caracterização do
comportamento geotécnico de misturas de resíduos de
AGRADECIMENTOS pneus e solo laterítico, Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 120 p.
Os autores agradecem ao Programa de Macedo, M.C. (2016). Investigação sobre o
Fortalecimento Acadêmico da Universidade de comportamento geomecânico de misturas de solo com
Pernambuco (PFA/UPE) pelo apoio concedido resíduos de pneus e resíduos de construção e
por meio da bolsa de estudos e as importantes demolição, Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil, Escola
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Politécnica da Universidade de Pernambuco, 122 p.


Moreno, J.A.S. (2016). Avaliação da resistência de
material leve utilizando misturas de pedaços de pneus
com solo do distrito federal, Dissertação de
Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e
Abiental, Universidade de Brasília, 119 p.
Ramírez, G.D. e Casagrande, M.D.T. (2014). Estudo
experimental e numérico de um solo argiloso
reforçado com borracha moída de pneus inservíveis
para aplicações em obras geotécnicas, Anais do XVII
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica, COBRAMSEG, ABMS,
Goiânia.
Reciclanip. (2017). Principais destinações, Informações
Reciclanip. Disponível em: <www.reciclanip.org.br>.
Sellaf, H.; Trouzine, H.; Hamhami, M.; Asroun, A.
(2014). Geotechnical properties of rubber tires and
sediments mixtures, Engineering, Technology &
Applied Science Research, vol. 4, n. 2, p. 618-624.
SEST SENAT – Serviço Social do Transporte / Serviço
Nacional de Aprendizagem do Transporte. (2017).
Cerca de 450 mil toneladas de pneus são descartados
por ano no Brasil, Notícias SEST SENAT, 08 fev.
2017. Disponível em: <http://www.sestsenat.org.br/
imprensa/noticia/cerca-de-450-mil-toneladas-de-pneus
-sao-descartados-por-ano-no-brasil>.
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Validação Experimental de um Modelo Constitutivo Simples para


Solos Estruturados
Robinson Andrés Giraldo Zuluaga
Universidade Federal de Goiás, Aparecida de Goiânia, Brasil, zuluaga@ufg.br

Márcio Muniz de Farias


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, muniz@unb.br

Cristhian Camilo Mendoza Bolaños


Universidade Nacional da Colômbia - Sede Manizales, Colômbia, cmendozab@unal.edu.co

RESUMO: Um caminho unificado para a formulação de um modelo constitutivo simples e


unificado para solos é apresentado, com o qual podem ser considerados vários efeitos importantes,
como densidade, estrutura, taxa de deformação e temperatura. Tal arcabouço teórico está formulado
com base apenas na relação tensão efetiva versus índice de vazios, observada em ensaios de
compressão unidimensional. Por uma questão de simplicidade, e para facilitar o entendimento
teórico, este trabalho apresenta o modelo em condições unidimensionais, embora possa ser
estendido para condições tridimensionais. Neste trabalho é validada a formulação constitutiva para
diferentes condições de estruturação por meio de ensaios de compressão confinada unidimensional
de deformação controlada, usando misturas de microesferas de vidro aglomeradas com diferentes
porcentagens de cimento epóxi. São obtidas boas previsões do modelo quando são comparadas com
resultados experimentais para as diferentes condições de estruturação.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaios Compressão Unidimensional, Solos Estruturados, Modelos


Constitutivos, Subcarregamento.

1 INTRODUÇÃO eficiente na prática (Papamichos, 1999). A


última proposta é a mais aceita na prática, na
Uma grande variedade de leis constitutivas tem qual o engenheiro escolhe o modelo
sido desenvolvida para a avaliação do dependendo das necessidades do problema. Não
comportamento dos geomateriais sob diferentes obstante, nestes casos é muito comum optar por
condições de contorno e trajetórias de modelos mais simplistas que não representam
carregamento. Evidências experimentais as diversas caraterísticas do comportamento dos
levaram à formulação de vários modelos materiais envolvidos nas análises.
constitutivos diferentes, dependendo da Um caminho unificado para abordar este
abordagem adotada (hiperelasticidade, problema foi proposto por Nakai e Hinokio
elastoplasticidade, hipoplasticidade, entre (2004) no qual incorporam o efeito da
outros) e do enfoque do proponente do modelo. densidade e do confinamento no modelo
A construção dessas leis constitutivas é constitutivo sob condições generalizadas
impulsionada por duas tendências antagônicas: tridimensionais. Posteriormente, Nakai e seu
a tendência de uma lei unificadora que descreve grupo de trabalho do Instituto de Tecnologia de
o comportamento do material sob as condições Nagoya (NIT, Japão) desenvolveram um
mais gerais e outra que aborda a descrição de esquema teórico, a partir do qual é possível
comportamentos particulares de uma forma representar outras características importantes do
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comportamento do solo. Essas incluem o efeito


provocado na deformabilidade e na resistência Por outra lado, o efeito da cimentação gera
dos solos devido a fatores tais como densidade um aumento da rigidez, mesmo em estados nos
(pré-adensamento), estrutura (cimentação), taxa quais o índice de vazios do material estruturado
de deformação (fluência), temperatura e teor de (cimentado) é maior que o do mesmo material
água (sucção). Tal arcabouço teórico resume em estado normalmente adensado (ver Figura
anos de pesquisa e está formulado, de maneira 2). A cimentação também tem o efeito de
simples, com base apenas na relação tensão aumentar a resistência ao cisalhamento.
efetiva versus índice de vazios, observada em 32
(b)
ensaios de compressão unidimensional. Por
24

Índice de Vazios (e)


uma questão de simplicidade, e para facilitar o Sedimentada
entendimento teórico, este trabalho apresenta o 16
modelo em condições unidimensionais, embora Indeformada

possa ser facilmente estendido para condições 8


tridimensionais por meio da introdução do
conceito de tensor de tensões modificado tij 0
0,1
0,001 0,01 1 10
(Nakai et al, 2009). Tensão Vertical Efetiva σ(MPa)
As influências internas do material, tais Figura 2. Curvas de compressão unidimensional da
como densidade e estrutura (cimentação), Argila da cidade do Mexico (Leroueil e Vaughan, 1990).
tornam o material mais ou menos rígido,
obtendo assim comportamentos mecânicos O presente trabalho apresenta a validação do
diferentes dependendo das condições iniciais. modelo de cimentação proposto pelo NIT
Do ponto de vista da compressibilidade, seja no mediante ensaios de compressão confinada
ensaio unidimensional (oedométrico) ou no de unidimensional de deformação controlada,
compressão isotrópica, observam-se mudanças usando misturas de microesferas de vidro
na forma da curva e-lnσ. Para o caso do efeito aglomeradas com diferentes porcentagens de
da densidade é observado experimentalmente cimento epóxi. Diferentes condições iniciais de
que, para materiais pré-adensados (densos), a estruturação foram obtidas, conseguindo, assim,
transição entre o comportamento elástico e verificar a influência da estruturação no
elastoplástico ocorre de uma forma suave (ver comportamento deste material. Finalmente, as
Figura 1), ao contrário do que prevê o trecho bi- previsões do modelo são comparadas com
linear no gráfico e-lnσ, entre as curvas de resultados experimentais para as diferentes
compressão virgem e de descarregamento- condições de estruturação.
recarregamento, como assumido
convencionalmente no modelo Cam-Clay. 2 MODELO CONSTITUTIVO
1,0
(a) Este modelo é baseado em um novo esquema
teórico, a partir do qual é possível representar
Índice de Vazios (e)

0,8
importantes características comportamentais do
0,6 solo, fundamentando-se na teoria da
elastoplasticidade e uso (implícito) do conceito
0,4
Areia do Quiou
D50=0,70mm
da superfície de subcarregamento proposto por
0,2 Cu=4,50 Hashiguchi (1980) e modificado por Nakai e
Hinokio (2004). Os principais condicionantes
0,01 0,1 1 10 100 1000
Tensão Vertical Efetiva σ(MPa)
que este modelo pode considerar são os efeitos
da densidade inicial, estrutura e taxa de
Figura 1. Curvas de compressão unidimensional da areia
de Quiou (Mesri e Vardhanabhuti, 2009). deformação sobre a resposta mecânica do solo
(Nakai et al., 2008; Nakai et al., 2009a; Nakai
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et al., 2009b; Shahin et al., 2010; Kyokawa et sub-índice “N” indica que o ponto está sobre a
al., 2010; Kyokawa , 2010; Nakai et al, 2011a; reta normalmente adensada (NCL – Normally
Nakai et al, 2011b) Consolidated Line). A inclinação λ da reta de
Nakai et al. (2001b) mostram como compressão virgem (NCL) e a inclinação κ da
generalizar todos os aspectos concebidos sob reta de descarregamento-recarregamento
condições unidimensionais, para um estado denotam os índices de compressão e expansão,
tridimensional. Esta generalização é alcançada respectivamente. Para estas condições, a
mediante o uso do conceito do tensor formulação da variação do índice de vazios com
modificado tij (Nakai e Mihara, 1984) e das o acréscimo de tensões no espaço
hipóteses de decomposição aditiva do unidimensional, baseado na Figura 4, é dada
incremento de deformação plástica (Nakai e por:
Matsuoka, 1986), considerando a influência da

tensão principal intermediária e a trajetória de d ( −e ) = d (−e) p + d (−e)e = ( λ − κ ) + κ  (1)
σ
tensão nas características de resistência e
deformabilidade do solo, respectivamente. onde d(-e) é a deformação total em termos de
A Figura 3 apresenta a concepção do índice de vazios e, a qual está dividida em uma
modelo, ilustrando sua divisão em duas partes. parte elástica e em outra plástica, denotadas
A primeira com relação às influências internas pelos sobrescritos “e” e “p”, respectivamente.
(densidade e cimentação) que modificam a σ0 σ
ln σ
e
forma da curva de compressibilidade e a I
e0 = eN 0
segunda com relação aos efeitos externos (taxa
1
de deformação, temperatura e não saturação) (−∆e) p λ
que deslocam a linha de adensamento normal (−∆e)
1
(NCL). Como a finalidade deste artigo se e
k
(−∆e)
restringe à validação do efeito da estrutura, e = eN
P
apenas este aspecto será descrito. As deduções
dos demais efeitos podem ser encontradas nas Figura 4. Mudança de índice de vazios para uma argila
respectivas referências. normalmente adensada (Nakai et al, 2009).

Características Comportamentais Avaliadas


Neste modelo é introduzida uma nova
Formulado sob Condições Unidimensionais
variável interna de estado (ρ) que responde pela
Influências Internas CONCEITO DE
SUBCARREGAMENTO
Influências Externas influência da densidade inicial (ou do pré-
Mudança na forma da
curva de compressibilidade
“VARIÁVEIS DE ESTADO”
Deslocamento da linha de
adensamento normal (NCL)
adensamento) do solo. Esta variável representa
Densidade
ρ Efeito do Tempo
a diferença entre o índice de vazios (e) do solo
Temperatura
no estado atual pré-adensado e o índice de
Cimentação
ω ψ
Não Saturação vazios eN (ver Figura 5a), correspondente à
mesma tensão, caso o solo fosse normalmente
Figura 3. Marco conceitual para a modelagem
constitutiva de geomateriais do Instituto Tecnológico de
adensado (sobre a linha NCL). Plotado no
Nagoya (NIT). espaço de tensões p-q (Figura 5b), os estados de
tensão máxima e o atual seriam representados
Na Figura 4, mostra-se o modelo normalmente por duas superfícies, sendo o “tamanho” da
utilizado para descrever a relação entre índice mais externa (chamada de superfície normal)
de vazios (e) e tensões normais efetivas (σ), em responsável por registrar a tensão máxima (pN)
escala logarítmica natural. Nesta figura, ilustra- a que o solo já foi submetido, ou seja, a tensão
se a mudança no índice de vazios com o estado de pré-adensamento; enquanto que a superfície
de tensões variando do ponto inicial I interna, sobre a qual se situa o ponto
(eo,σo)=(eNo,σo) para o ponto final P representante do estado de tensões atuais (pS),
(e,σ)=(eN,σ), com e=eo+d(-e) e σ=σo+dσ. O representaria a superfície de subcarregamento.
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q σ0 σ Ln σ
Superfície
Subcarregamento
M
Superfície
e
Normal
eN0
ρ0
δ
I
e0
ps pN p
(a) eN
ρ
e ln ps ln p N e
ln p P

eN Figura 6. (a) Mudança da relação de vazios para um solo


1 κ ρ com o estado de tensões.
e
1
(b)
λ Aplicando a condição de consistência (df=0)
Figura 5. Superfície de Subcarregamento (a), Mudança à Equação (3), obtém-se a seguinte equação:
da relação de vazios para um solo (b). dσ
df = dF − {dH − d ρ} = (λ − k ) − {d (−e) p − d ρ} (4)
σ
A “distância” (δ=pN –pS) entre estas duas
curvas no espaço de tensões é uma medida do A variável interna ρ precisa de uma “lei de
grau de pré-adensamento. Isto é a essência do evolução” (ou endurecimento). Nakai [1] sugere
conceito de “sub-loading”, a qual aparece que a variação (dρ) seja proporcional à variação
apenas implicitamente nas formulações a seguir de índice de vazios plástico, d (−e) p , e também
por meio da variável ρ. Esta variável interna proporcional ao estado de densidade atual (ρ),
pode ser relacionada com a razão de pré- por meio de uma função G(ρ).
adensamento (OCR) ou com (δ), e um maior Matematicamente escreve-se:
valor de ρ se reflete em uma condição inicial
−G ( ρ ) .d (−e) p
dρ = (5)
mais densa (menor índice de vazios) em relação
a um material normalmente adensado, e, Substituindo a lei de evolução de ρ na
portanto, em um material com maior rigidez. Equação (4) e adicionando-se a componente
Na Figura 6, ilustra-se como ocorre a elástica, a mudança da relação de vazios para as
mudança do índice de vazios do estado inicial I condições pré-adensadas é dada por:
(eo, σo) para o ponto final P (e, σ), com
 λ−κ  dσ
e=eo+d(-e) e σ=σo+dσ em um solo pré- d ( −e ) 
= +κ  (6)
adensado [5]. Quando as tensões passam de σ0  1 + G( ρ )  σ
para σ, a mudança do índice de vazios plástico A função G(ρ) deve ser monotonicamente
(-∆e)p é obtida, com base na Figura 6, como: crescente e deve atender à condição de que
(−∆e) p = (−∆e) − (−∆e)e = {( e N0 − e N ) − ( ρ0 − ρ )} − (−∆e)e G(0)=0, de forma que a evolução de ρ cessa
σ σ (2) quando o solo se torna novamente normalmente
(−∆e) p = λ ln − ( ρ0 − ρ ) − k ln
σ0 σ0 adensado, isto é, quando o estado de tensão
atinge a linha NCL. Nakai et al. [1] sugerem
onde, (−∆e)e é a mudança do índice de vazios uma função simples do tipo linear, G(ρ)=a. ρ,
elástica. Desta equação, a função de sendo a o único parâmetro adicional do modelo.
plastificação (f) para o solo pode ser expressa Este parâmetro controla a taxa de perda de
da seguinte forma: rigidez do material à medida que ele se torna
f= F − { H + ( ρ0 − ρ )}= 0 (3) normalmente consolidado.
De forma similar ao exposto anteriormente,
onde F e H denotam os termos da variação da pode ser incluído o efeito da estrutura do solo,
tensão e do índice de vazios plástico, adota-se uma densidade imaginária (ω) que
respectivamente.
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represente a cimentação do solo, como pode ser progressivamente até zerar. Quando a curva do
visto na Figura 7. material cimentado estiver acima da curva do
σ0 σ Ln σ material desestruturado (ρ<0), como ilustrado
e na Figura 2, a varável ρ e a função G(ρ)
eN0 assumem valores negativos. Com o avanço do
ρ0 processo de desestruturação por quebra das
I cimentações, eventualmente a soma G(ρ)+Q(ω)
e0 ρ
eN
ω0 no denominador da Equação (7) se anula, o
e processo de evolução das variáveis internas
ω
P
cessa, e o material volta à condição
Figura 7. Mudança da relação de vazios para um solo normalmente consolidada, representativa de um
estruturado. material totalmente desestruturado.
O modelo apresenta apenas dois parâmetros
Nakai (livro) sugere a seguinte lei de adicionais (a e b) os quais controlam as taxas de
evolução para a variável interna de cimentação: evolução da densidade (ρ) e da cimentação (ω)
−Q (ω ) .d (−e) p
dϖ = (7) iniciais. Farias et al. (2016) mostram como
estes parâmetros podem ser calibrados a partir
onde Q(ω) é uma função de ω que descreve a de ensaios experimentais. Nesta secção mostra-
degradação desta variável com as deformações se uma breve análise paramétrica das novas
plásticas, similarmente ao suposto para ρ, na variáveis do modelo como é apresentado na
Equação (5). A cimentação afeta a evolução da Figura 8. As validações do modelo proposto
densidade e neste caso a lei de evolução da feitas até agora são quase sempre teóricas, mas
variável de densidade (ρ) é alterada para: elas coincidem com resultados de
− {G ( ρ ) + Q (ω )}.d (−e) p
dρ =
comportamentos dos solos encontrados na
(8)
literatura (Hashiguchi, 1980; Nakai e Hinokio,
Seguindo os mesmos passos, a formulação 2004; ). Na Figura. 9-a é mostrado o efeito da
matemática dos efeitos combinados é obtida, densidade inicial (ρο) do solo e na Figura 9-b o
chegando à seguinte equação: efeito da cimentação inicial (ωo). A transição
suave entre o comportamento elástico e
 λ−κ  dσ
=d ( −e )  + κ  (9) elastoplástico é bem simulada pelo modelo.
1 G ( ) Q ( )
 + ρ + ω  σ Percebe-se também o processo de
Para a lei de degradação da variável de desestruturação progressiva, partindo-se uma
cimentação (ω), Nakai (2012) também sugere curva estruturada e pré-adensada abaixo da
uma relação linear, Q(ω)= b.ω, onde um novo NCL, cruzando-se a NCL num trecho
parâmetro (b) é introduzido no modelo. As intermediário, e retornando suavemente a esta
funções G(ρ) e Q(ω) são apresentadas na Figura curva à medida que o processo de quebra de
cimentações se completa.
6. A variável ρ começa com um valor inicial
(ρo>0) positivo, o qual decresce G(ρ) Q(ω)

progressivamente até zerar, quando o material


não tem cimentação (ωo=0). Se o material tiver
b
uma cimentação inicial (ωo≠0), a variável ρ a
diminui, zera, fica negativa, volta a aumentar 1 1

até zerar novamente quando acaba o efeito do ρ

pré-adensamento. Ao contrário de G, a função ω


Q só assume valores positivos. A variável de Figura 8. Funções G(ρ) e Q(ω) para as leis de evolução
cimentação começa com um valor inicial das variáveis de estado ρ e ω.
positivo (ωo>0), o qual degrada
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0.80
(a) ρo= 0.05
vem pré-dosado, devendo-se inicialmente
efetuar a homogeneização dos componentes A e
Índice de Vazios (e)

0.75

0.70
ρo= 0.10
B, em separado. Posteriormente, é feita a
ρo= 0.15 mistura de ambos em sua totalidade, sendo
0.65 a = 100
b = 40
agitada manualmente durante 5 min, até obter
0.60
ωo = 0.15 uma cor uniforme. As principais características
0.55
1.0 5.0 10.0 Ln(σ(Pa))
das microesferas e do cimento epóxi são
apresentadas na Tabela 1.
0.80
(b)
Índice de Vazios (e)

0.75 ωo = 0.2 Tabela 1. Propriedades físicas das microesferas e da


0.70 ωo = 0.1 resina epoxi..
Microesferas Resina Epóxi
0.65 ωo = 0.0
a = 100 Porpriedades Valor Características Valor
0.60 b = 40 Índ.de Vazios Máx. emax 0,75 Relação de mistura (A:B)=2:1
ρo = 0.1 Índ. de Vazios Mín. emin 0,64 Vida útil da mistura 35 min
0.55
1.0 5.0 10.0 Ln(σ(Pa)) Gravidade Específica Gs 2,53 Massa específica 1,43g/cm3
Esfericidade (% min) 70 Cura inicial 5 horas
Figura 9. Analise paramétrica: (a) ρ0 e (b) ω0 [8]. Coef. de Unifor. (Cu) 1,60 Cura final 7 dias
Coef. de Curvatura (Cc) 0,95 Temp. de aplicação +10°C a 30°C
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL Diâmetro Médio (D50) 0,45 Resist. à compressão
60 MPa após
24h

O programa experimental deste artigo


consistiu na realização de quatro ensaios de A preparação dos corpos de prova consistiu
compressão unidimensional confinada para um na deposição de misturas de microesferas com
mesmo material cimentado, mudando as cimento epóxi, de acordo com a dosagem pré-
porcentagens de epóxi em relação à massa de estabelecida, em cilindros de 25 mm de
agregados (6%, 12%, 18% , 24%). Foi mantido diâmetro interno e 50 mm de altura (Figura 10-
o mesmo processo de compactação para todas c). A espessura da parede do cilindro era de 10
as misturas. Obteve-se a diminuição do índice mm, para impedir qualquer deformação lateral,
de vazios inicial com o aumento da quantidade garantindo as condições unidimensionais de
do agente cimentante, já que com o aumento do deformação. Entre a parede do cilindro e o
epóxi se tem um maior preenchimento dos material, foram colocadas duas camadas de
espaços vazios. vaselina e um filme plástico intercaladas entre
Nos ensaios, foram utilizadas microesferas si, para diminuir o efeito do atrito lateral, como
de vidro para simular o solo, visando ter um é detalhado na Figura 10-d.
melhor entendimento do modelo constitutivo, O processo de enchimento consistiu em
por tratar-se de um material “bem comportado”. colocar material até a metade do cilindro,
É importante ressaltar que o diâmetro das compactando-o mediante a imposição de uma
partículas é suficientemente pequeno para não sobrecarga (~190g) por um minuto, sem impor
introduzir efeitos de escala no ensaio de nenhum tipo de pressão adicional.
compressão unidimensional. Essas microesferas Posteriormente, adiciona-se mais material até a
são classificadas como areias finas de acordo preencher o cilindro e se executava o mesmo
com os padrões da ASTM. Na Figura 10-a-b processo de compactação. Por último, era
mostra-se uma fotografia das microesferas de colocado 1 cm de material excedente no
vidro utilizadas, com um aumento de 200 e 400 cilindro, compactando da mesma forma e
vezes, observando-se a sua uniformidade e culminando com o desbaste da superfície. Na
esfericidade. O tipo de resina epóxi empregada Figura 11 são mostrados os passos do processo
na confecção de corpos de prova cimentados é de enchimento (a,b,c,d), e uma imagem de um
composta por uma componente A (endurecedor) corpo de prova real de microesferas cimentadas
e por uma componente B (resina). Esse material (e).
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AH 200X AH 400X
índice de vazios inicial da amostra. Os
comportamentos observados no estudo
experimental coincidem com os registrados na
literatura (Leroueil e Vaughan, 1990; Burland,
(a) (b) 1990; Cuccovillo e Coop, 1999).
25mm 10mm
As linhas de adensamento normal (NCL) de
Plástico
cada um dos níveis de cimentação não
Vaselina
coincidem entre si, como é observado na Figura
13. Uma possível explicação é o fato de as
50mm partículas mudarem de forma quando ocorre a
quebra da cimentação, resultados em
Cilindro
comportamentos diferentes em relação às
(c) (d) partículas esféricas originais. Além disso, para
Figura 10. Detalhes do material e do molde cilíndrico: (a)
porcentagens altas de cimentante, gera-se outro
e (b) microesferas com ampliações de 200 e 400 vezes;
(c) Molde típico; (d) Sistema para a diminuição do atrito. material com predomínio da matriz cimentante
sobre as esferas de vidro.
Para a determinação da curva de Para a simulações (curvas contínuas) foram
compressibilidade foi utilizado o ensaio de usados os índices de compressão de cada uma
deformação controlada a taxa constante das curvas, porém os parâmetros de evolução da
(Constant Rate of Strain, CRS) sob condições variável ρ foram únicos para todos os materiais.
de deformação unidimensional. A escolha foi Estes parâmetros foram obtidos da curva com
deve-se às vantagens de rapidez e precisão menor teor de cimentante (6%) após da última
apresentadas pelo método [16]. A velocidade da recarga, tendo como hipótese a quebra total das
imposição do deslocamento nas amostras cimentações. Na Tabela 2 mostram-se as
ensaiadas foi de 1 mm/min, até se atingir uma condições iniciais e os parâmetros obtidos para
carga máxima de 40 kN, em função da a simulação dos ensaios executados nas
capacidade da célula de carga disponível. amostras de microesferas cimentadas com
(a)
epóxi.
(b)
(e) De uma forma geral, o modelo consegue
simular o comportamento de solos cimentados
satisfatoriamente, apesar de algumas
(c) (d) deficiências. Na Figura 13 são apresentadas
todas as curvas de compressão, as
experimentais e as simuladas, observando a
potencialidade do modelo. Este é formulado de
Figura 11. Processo de confecção dos corpos de prova. uma maneira simples para parâmetros constates
sob diversas condições, não obstante nas
3 RESULTADOS evidencias experimentais encontram-se
variações nos diferentes parâmetros. Estas
Os resultados experimentais dos ensaios de variações podem ser incluídas de uma forma
compressão unidimensional são mostrados na simples.
Figura 12. Observa-se que o comportamento é
do tipo estruturado, no qual o material adquire Tabela 2. Condições iniciais e parâmetros do modelo.
% Densidade Estrutura Índices
uma rigidez inicial maior podendo ultrapassar a σ0
(kPa)
e0
epóxi a b ω0 b λ k
linha NCL e voltando posteriormente para as 100 0,99 6 7,0 1,10 1,1 7,0 0,1260 0,0011
condições de um material desestruturado. Pode 100 1,0 12 7,0 1,10 2,1 7,0 0,1395 0,0046
100 0,86 18 7,0 1,10 1,9 8,5 0,1301 0,0014
ser observado que este fenômeno é controlado 100 0,76 24 7,0 1,10 1,0 10 0,1522 0,0014
tanto pelo nível de cimentação como pelo
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100 1000 10000 100000 100 1000 10000 100000


1,05 1,05
ω0 = 1,1
0,95 0,95
b=7 6% 12%
Índice de Vazios (e)

18%

Índice de Vazios (e)


0,85 0,85
24%
0,75 0,75
0,65 (a) 0,65
0,55 0,55
6% Epóxi (a)
0,45 0,45
Experimental
0,35 Simulado 0,35
0,25 0,25
Tensão (kPa) Tensão (kPa)
100 1000 10000 100000
100 1000 10000 100000 1,05
1,05 0,95
ω0 = 2,1 6% 12%
0,95 18%

Índice de Vazios (e)


b=7 0,85
Índice de Vazios (e)

0,85 24%
0,75
0,75 0,65
(b)
0,65 0,55
0,55 0,45 (b)
12% Epóxi
0,45 0,35
Experimental
0,35 Simulado 0,25
Tensão (kPa)
0,25
Tensão (kPa) Figura 13. One-dimensional compression curves: (a)
experimental; (b) simulated.
100 1000 10000 100000
1,05
ω0 = 1,9
Neste trabalho descreveu-se o marco teórico
0,95
b = 8,5 para um modelo unidimensional proposto pelo
Índice de Vazios (e)

0,85 grupo do Instituto de Tecnologia de Nagoya, o


0,75 qual possui uma formulação simples e versátil,
(c)
0,65 com uma precisão excelente para a simulação
0,55 de ensaios de compressão de solos estruturados.
18% Epóxi
0,45
Experimental O modelo apresenta apenas dois parâmetros
0,35 Simulado adicionais (a e b) os quais controlam as taxas de
0,25
Tensão (kPa)
evolução da densidade (ρo) e da cimentação
(ωo) iniciais. Esta abordagem permite a
100 1000 10000 100000 definição de um único conjunto de parâmetros
1,05
ω0 = 1,0
para o solo em qualquer condição de estrutura
0,95
b = 10 (densidade e cimentação) inicial.
Índice de Vazios (e)

0,85 A adoção da abordagem de plasticidade não


0,75 convencional, com o conceito de sub-
(d)
0,65 carregamento (subloading), permite uma
0,55 transição suave entre as condições de
24% Epóxi
0,45
Experimental carregamento, descarregamento e re-
0,35 Simulado carregamento, podendo inclusive ser estendida
0,25
Tensão (kPa)
a carregamentos cíclicos. Isto é garantido por
meio de uma evolução suave da variável de
Figura 12. Simulations of one-dimensional compression densidade (ρ) por meio de uma lei de
tests with different amounts epoxy cement: (a) 6%, (b) endurecimento simples.
12%, (c) 18% and (d) 24%. O modelo garante também uma passagem
suave de um solo com estrutura cimentada a um
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estado totalmente desestruturado. A curva do Mesri, G. & Vardhanabhuti, B. (2009). Compression of


material cimentado inicialmente pode passar Granular Materials. Canadian Geotechnical Journal.
46 (4), 369-392.
sobre a linha de compressão (NCL) do material Nakai, T. & Mihara, Y. (1984). A new mechanical
desestruturado, devido ao ganho de rigidez quantity for soils and its application to elastoplastic
introduzido pela cimentação inicial, e tende constitutive models. Soil and Foundations, 24(2):82-
assintoticamente a esta linha NCL à medida que 94.
a variável ω se degrada até atingir um valor Nakai T, Matsuoka H. (1986). A generalized elastoplastic
constitutive model for clay in three-dimensional
nulo. stresses. Soil and Foundation; 26, No. 3:81–98,.
Nakai T, Hinokio M. (2004). A simple elastoplastic
4 CONCLUSÕES model for normally and over consolidated soils with
unified material parameters. Soil and Foundation; 44,
As avaliações do modelo a partir dos No.2, 53–70.
Nakai, T, Zhang, F, Kyokawa, H, Kikumoto, M. &
experimentos com as microesferas cimentadas Shahin, H.M. (2008): Modeling the influence of
em diferentes condições de estruturação density and bonding on geomaterials, Proc. of 2nd
mostram resultados satisfatórios. Considera-se International Symposium on Geotechnics of Soft
que o modelo para o efeito da estruturação pode Soils, Keynote Paper, Glasgow, 65-76.
ser de grande utilidade na simulação de ensaios Nakai, T., Kyokawa, H., Kikumoto, M., Shahin, H.M. &
Zhang, F. (2009). One-dimensional and three-
de compressão confinada com tais dimensional descriptions of elastoplastic behavior in
características, podendo inclusive ser structured clays, Proc. of 4th International Workshop
facilmente estendido a condições triaxiais on New Frontiers in Computational Geotechnics,
tridimensionais. IWS-Pittsburgh, Zhang et al. (ed.), 3-12..
Nakai, T., Shahin, H., Kikumoto, M., Kyokawa, H.,
Zhang, F. and Farias, M.M. (2011a). A simple and
AGRADECIMENTOS unified one-dimensional model to describe various
Os autores agradecem ao laboratório de characteristics of soils. Soil and Foundation, 51(6),
Infraestruturas Infralab/UnB pelo apoio pp. 1129-1148.
logístico e à Fundação de Apoio à Pesquisa do Nakai, T., Shahin, H.M., Kikumoto, M., Kiokawa, H,
Distrito Federal (FAP-DF) pelo apoio Zhan, F. and Farias, M.M. (2011b). A simple and
unified three-dimensional model to describe various
financeiro desta pesquisa.
characteristics of soils. Soils and foundations
(Japanese Geotechnical Society) 51 (2011), 1149–
REFERÊNCIAS 1168.
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Burland, J. B. (1990). On the compressibility and shear Principles and Applications. CRC Press, 374 p.
strength of natural clays. Géotechnique 40:3, 329- Papamichos, E. (1999). Constitutive Laws for
378. Geomaterials. Oil Gas Science and Technology, 54
Cuccovillo, T. & Coop, M. R. (1999). On the mechanics (6) (1999), 759-771.
of structured sands. Géotechnique. 49 (6), 741-760. Shahin, H.M., Nakai, T., Kikumoto, M., Kyokawa, H. &
Farias, M.M., Zuluaga, R.A.G..and Nakai, T. (2016). A Miyahara, Y. (2010). Modeling of Time dependent
new hardening rule to model the effect of density on behavior of clay in one-dimensional consolidation.
soil behavior. DYNA 83(197), 58-67. Proc. Of the 4th Sino-Japan Geotechnical
Hashiguchi, K. (1980). Constitutive equation of Symposium, 54-61.
elastoplastic materials with elasto-plastic transition,
Jour. of Appli.Mech. ASME 102(2), 266-272.
Kyokawa, H. (2010). Elastoplastic constitutive model for
saturated and unsaturated soils considering the
deposited structure and anisotropy . Ph.D. thesis,
Department of Civil Engineering, Nagoya Institute of
Technology, Nagoya, Japan, 149p.
Leroueil, S. & Vaughan, P. R. (1990). The general and
congruent effects of structure on the behavior of
natural soils. Geotechnique, London, 40(3), 467–488.
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Contribuição para o Estudo de Solos Não Convencionais com


Fitas Metálicas e Poliméricas por meio de Simulação Numérica
Luiz Paulo Vieira de Araújo Júnior
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, São Carlos, Brasil, luizpaulovajr@gmail.com

Marcos Antônio Garcia Ferreira


Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, São Carlos, Brasil, dmag@ufscar.br

RESUMO: A técnica de terra armada apresenta vantagens que viabilizam seu emprego, além da
grande disponibilidade de solos de graduação fina e a necessidade de conservação das jazidas. O
objetivo deste trabalho foi analisar o comportamento de solos não convencionais com adição de
fitas poliméricas e fitas metálicas em um talude. Na metodologia foram utilizadas simulações
numéricas de um muro com 10 metros de altura, 7 metros de comprimento e com espaçamento
0,6m de inclusões. Para tanto, utilizou-se o programa Geostudio nas plataformas Slope/W e
Sigma/W, sendo que, na plataforma Slope, foram calculados os fatores de seguranças nas
superfícies de ruptura, a saber: interna, mista e global. Já na plataforma Sigma/W, foram simuladas
as tensões e deformações no maciço. Os resultados demonstraram que os valores dos solos não
convencionais apresentaram resultados satisfatórios considerando os seguintes fatores: segurança,
deslocamento de face, tensões nas inclusões e fundação.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Não Convencionais, Fita Metálica, Fita Polimérica, Simulação


Numérica.

1. INTRODUÇÃO Outro benefício que confere aos muros de


solo reforçado, motivo este para sua utilização
O método de construção em muros de solo em relação aos muros convencionais, é o fato de
reforçado é uma técnica construtiva que tem permitir uma maior tolerância a recalques de
ganhado espaço no ramo construtivo em relação fundação (GALLINUCCI, 2012). No entanto,
aos muros de contenção de concreto armado. mesmo com tantas vantagens, as estruturas
Segundo Maparagem (2011), a técnica construídas em concreto armado são tidas como
apresenta vantagens no que se refere a fatores prioritárias na realização da maioria das obras.
econômicos e ambientais, em especial, quando Na perspectiva de Plácido et al. (2012), uma
é empregado solo local. das razões que explica a aversão à utilização de
Dentre outras vantagens, pode-se citar muros reforçados com geossintéticos é o
facilidade, rapidez na execução e a não desconhecimento do verdadeiro comportamento
necessidade de mão de obra especializada, das estruturas, principalmente, quanto ao
fazendo com que o método construtivo possa deslocamento da face. Além disso, fatores como
ganhar mais espaço e aceitação. a determinação das superfícies de ruptura, dos
Patias (2005) reforça a ideia da aplicação de esforços nas inclusões e dos efeitos de fluência
muros de solo reforçado, afirmando que o são algumas das causas que aumentam a
método de construção apresenta benefícios para desconfiança no emprego de geossintéticos em
aterros íngremes e muros de contenção. Além obras geotécnicas.
do mais, a obra tem grande facilidade de A Figura 1 ilustra um maciço reforçado: a
adaptar-se em condições que possam ocorrer Zona 2, pelo fato da inclusão estar devidamente
danos à obra ou eventuais instabilidades. ancorada apresenta-se estável; já Zona 1
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apresenta-se instável. A função das inclusões Armada em países tropicais, como é o caso do
são unir a Zona 1 a Zona 2 na tentativa de Brasil, em muitas situações, existe a
promover maior resistência à tração do solo e necessidade de se deslocar até as mineradoras
garantir a estabilidade da estrutura. para a extração dos solos granulares, o que
torna a estrutura muito cara.
Patias (2005) reforça afirmando que solos
não convencionais de granulometria fina
apresentam-se em abundância no Brasil, além
disso, possuem parâmetros de coesão e ângulo
de atrito que justificam a sua utilização,
conferindo obras geotécnicas estáveis tornando-
as, principalmente, menos deformáveis.
Bueno et al. (2006), ainda reforçam a idéia
de que solos finos tropicais lateríticos mal
graduados e geralmente de granulometria fina
comportam-se como solos granulares,
motivando assim a sua utilização.
Figura 1: Zona 1 e Zona 2 da maciço de solo reforçado Os autores Maparagem (2011), Bueno et al.
em geossintéticos (BECKER, 2006). (2006) e Patias (2005) procuraram desmistificar
a utilização dos solos não convencionais,
De acordo com Patias (2005), alguns estudos defendendo seu emprego em muros de solos
de aterros reforçados construídos com solos não reforçados.
têm se mostrado eficazes, sendo que, as
pressões neutras geradas durante o período
construtivo são de pequena magnitude ou 2. METODOLOGIA
podem ser dissipadas logo ao final da
construção se as inclusões utilizadas forem Para a realização das simulações foram
permeáveis ao longo do plano, ou seja, se as utilizados o software Gestudio nas plataformas
inclusões apresentarem capacidade de fluxo no SLOPE/W e SIGMA/W, tomado como base
plano (transmissividade). Logo, a escolha da uma das primeiras obras a utilizar inclusões de
inclusão deve levar em conta esse parâmetro. geossintéticos para contenção de solos.
Os países do Hemisfério Norte recomendam Em seu trabalho, Patias (2005) descreveu
a utilização de solos granulares em muros de que esta obra encontra-se na rodovia SP – 213,
solo reforçado segundo Aashto (2002) e BS próximo à cidade de Campos do Jordão, como
8006 (1995) devido à alta capacidade de ilustrado na figura 2 a seguir:
drenagem, bem como a alta resistência ao
cisalhamento.
No estudo desenvolvido por Jones (1990),
defende que na construção de Muro em Solo
Reforçado deve-se utilizar o material granular e
bem graduado.
Entretanto, a grande dificuldade é que a
disponibilidade dos solos granulares não é tão
grande se compararmos com os solos argilosos.
Segundo Bueno et al. (2006), solos granulares
não estão disponíveis facilmente na vizinhança,
em países de clima tropical.
Mendonça et al. (2000) justifica que na
Figura 2: Estrutura de solo reforçado construída em 1984
prática de construção de Muros em Terra na SP-123 (PATIAS, 2005).
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A estrutura de contenção foi realizada com


10 m de altura, inclusões a cada 0,6 m de
espaçamento vertical e 7 m de comprimento das
inclusões. O paramento possui 500 m2 de
construção e foi construída para recompor um
talude 30 m de altura (PATIAS, 2005).
Na época, o muro de solos reforçados foi
executado em geossintético com o objetivo de
conter um deslizamento de terra daquela região.

2.1 Caracterização dos Solos e Parâmetros da


Face de Concreto
Figura 3: Curva granulométrica do Solo Não
Os parâmetros empregados para realização da Convencional (MAPARAGEM, 2011).
simulação numérica foram obtidos através da
literatura técnica por meio de ensaios Os parâmetros do solo de fundação foram
executados por Maparagem (2011), conforme encontrados na literatura técnica e
descreve a tabela 1, no qual: “F” representa o apresentavam características semelhantes a de
Solo utilizado na Fundação; “FC” representa a um solo da região de São Carlos, e a face de
Face de Concreto para fixar as inclusões; e concreto “FC” possui características que foram
“SNC” representa os dados do Solo Não apresentadas na Tabela 1 na qual possui blocos
Convencional. de dimensão de 0,2 m por 0,2 m.

Tabela 1. Parâmetros dos materiais utilizados 2.2 Propriedades das inclusões


(MAPARAGEM, 2011).
Solo υ E  c' ' Conforme Maparagem (2011) afirma, a
(kN/m3 (kPa) ()
introdução de inclusões promove ao maciço um
)
SNC 0,334 18.000 18,6 28 31,7
comportamento mecanicamente mais favorável,
FC - - 24 - 0,2 além disso, é uma técnica viável no fator
F 0,334 50.000 20 35 30 econômico e construtivo.
Ainda segundo Maparagem (2011), quando
O solo dito Não Convencional estudado por as inclusões são inseridas têm por finalidade
Maparagem (2011), é caracterizado como uma resistir à tração, tornando as zonas susceptíveis
areia argilosa extraído do campus II na USP - a deslocamentos em zonas resistentes e
EESC (Escola de Engenharia de São Carlos). estabilizadas.
Era composto por cerca de 62% de areia, 32% Patias (2005) afirma que, para que um aterro
argila e 6% de silte. A figura 3ilustra a curva seja efetivamente reforçado é necessário que os
granulométrica do solo não convencional: reforços tenham interação com o maciço,
promovendo assim a absorção de tensões e
deformações.
As fitas de tiras metálicas devem atender aos
critérios da ABNT NBR ISO 7480:2007 e da
ABNT NBR ISO 6892-1: 2013, que definem as
características quanto à tração. Já a
compactação das diversas camadas de solo deve
obedecer aos procedimentos recomendados pela
ABNT NBR ISO 7182:1988.
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Em estruturas de terra armada, as fitas Conforme descreve a ABNT NBR ISO


metálicas lineares podem ser nervuradas ou 10318:2013, os geossintéticos podem ser
lisas. As inclusões utilizadas como reforço naturais ou sintéticos, em sua grande maioria
foram fitas metálicas nervuradas que têm por são manufaturados e possuem aplicações
finalidade aumentar a interação solo/inclusão e variadas em estruturas geotécnicas, a saber:
proporcionar maior resistência à tração no solo. separação, drenagem, filtração, controle de
Para a realização das simulações foram erosão e reforço, entre outras aplicações.
utilizadas fitas metálicas conforme a figura 4: Para este trabalho foram utilizadas fitas de
poliéster de alta tenacidade com superfície
rugosa anteriormente ensaiadas por Maparagem
(2011), sendo a finalidade da superfície rugosa
promover a interação do solo com o
geossintético. As fitas poliméricas possuem
dimensões de 0,004 m de espessura e 0,05 m de
largura, os comprimentos são especificados
conforme necessidade.Afigura 5 mostra um
exemplo de fita de poliéster:

Figura 4: Fita metálica nervurada (MAPARAGEM,


2011).

Os parâmetros de módulo de rigidez e de


resistência à tração adotados estão apresentados
na tabela 2 a seguir:

Tabela 2. Parâmetros da fita metálica (MAPARAGEM,


2011).
Fita Metálica Módulo de Resistência à Figura 5: Fita de poliéster de alta tenacidade
Rigidez Tração (MAPARAGEM, 2011).
(kPa) (kN)
40 10.000 260,9
Os dados de resistência e módulo de rigidez
60 30.000 391,35
são apresentados na tabela 3 a seguir:
Os reforços utilizados possuem 4 mm de Tabela 3. Parâmetros da fita polimérica (MAPARAGEM,
espessura e 40 ou 60 mm de largura, conforme 2011).
ensaiado em laboratório por Maparagem Fita Módulo de Resistência à
(2011). Os comprimentos são definidos de Polimérica Rigidez Tração
(kPa) (kN)
acordo com a necessidade em projeto e, neste
W90 750 90
caso em específico, os comprimentos foram de W150 1250 150
7 m. W200 1667 200
Segundo Gallinuci (2012), os geossintéticos
são constituídos de polímeros sintéticos cuja 2.3 Simulações Numéricas com SLOPE/W
estrutura molecular se repete. Podem ser
constituídos de poliéster, polipropileno e Os métodos de dimensionamento de muros de
polietileno que são obtidos a partir de processos solo reforçado são baseados na verificação da
químicos de polimerização. estabilidade externa e interna. A aplicação do
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método de estabilidade externa é realizada por


meio de quatro verificações clássicas:
escorregamento, tombamento, capacidade de
carga e ruptura global.
Na análise por meio do software SLOPE/W
foram definidas três superfícies de ruptura:
interna, mista e global. Através dos fatores de
segurança em cada superfície de ruptura no solo
convencional e não convencional foi obtida a
situação mais desfavorável.
Nos muros reforçados foi aplicada uma
sobrecarga de 60 kPa que possuem 17 camadas
com espessuras de 0,6 m. O critério de análise
do muro consistiu em considerar 6 etapas Figura 7: Superfície de ruptura Mista em Solo Não
Convencional com fita polimérica.
construtivas, sendo as cinco primeiras etapas
com três camadas e a sexta etapa com duas
A Figura 8 exemplifica superfície de ruptura
camadas.
global. Nesse modo de ruptura, a superfície
Os parâmetros de solo de fundação foram
crítica ocorre fora da região das inclusões,
mantidos iguais para a análise dos solos não
ocorrendo a falha no solo de reaterro e/ou no
convencional com fita metálica e fita
solo de fundação.
polimérica. A Figura 6 ilustra a superfície de
ruptura interna obtida no software SLOPE/W:

Figura 8: Superfície de ruptura Global em Solo Não


Convencional com fita polimérica.
Figura 6: Superfície de ruptura Interna em Solo Não
Convencional com fita polimérica.
2.4 Simulações Numéricas com SIGMA/W
Na verificação de estabilidade interna, a Nesta análise foram realizadas verificações do
análise é realizada ao longo de cada camada de deslocamento e das tensões, utilizando o
inclusão. Foram analisadas a possibilidade de software SIGMA/W.
ruptura e arrancamento do reforço. A Figura 7 Os parâmetros dos materiais foram
demonstra um exemplo de superfície de ruptura adotados conforme Tabela 1. Nas faces verticais
mista: do maciço foram restringidos os movimentos
horizontais do muro e, na base do muro, foram
restritos todos os movimentos verticais e
horizontais.
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O procedimento de análise consistiu em mm e SNC – 60 mm. Sendo “ SNC” solo não


dividir em seis etapas construtivas o muro de convencional.
solo reforçado, sendo as cinco primeiras com
três camadas e a sexta etapa com duas camadas,
totalizando 17 camadas.
Na definição da malha de elementos finitos,
foi adotada de 1 m para a fundação e de 0,25 m
para os solos de contenção.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Resultados por meio do Slope/W – Fator


de Segurança

Os valores dos fatores de segurança para as três


diferentes configurações de muro de solo não Figura 9. Força axial em cada etapa.
convencional reforçado com diferentes fitas
poliméricas (WG 90, WG 150 e WG 200) estão Com os resultados é possível perceber maior
representados na tabela 4: força axial das fitas metálicas em relação às
fitas poliméricas.
Tabela 4. Fatores de Segurança para a fita Polimérica.
A Figura 10 mostra os deslocamentos na
Fator de Segurança W90 W150 W200
Interna 1,263 1,524 1,639
face:
Mista 1,338 1,556 1,710
Global 2,088 2,084 2,095

De maneira análoga, na tabela 5 são


apresentados os resultados para o solo não
convencional com fitas metálicas:

Tabela 5. Fatores de Segurança para a fita Metálica


nervurada.
Fator de Segurança 40 mm 60 mm
Interna 1,68 1,89
Mista 1,69 1,75
Global 1,46 1,57

Os valores mostram uma estabilidade Figura 10. Deslocamentos na face.


mínima requerida satisfatória dos muros com
solo não convencional, tanto para fita metálica Os resultados mostraram maiores
quanto para a polimérica. Assim, verifica-se deslocamentos para as fitas poliméricas, sendo
que a utilização de solos ditos não convencional as designações (WG – 90, WG – 150 e WG –
pode ser uma alternativa viável. 200) com os mesmos valores de 14,2 cm. E,
como esperado, as fitas metálicas obtiveram
3.2 Resultados por meio do Sigma/W deslocamentos menores que as poliméricas.
A Figura 11 mostra as tensões na
Os resultados a seguir (figura 9) mostram as fundação dos diferentes muros:
cargas dos cincos diferentes muros: SNC - WG
90, SNC – 150 WG, SNC – WG 200, SNC – 40
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AND TRANSPORTATION OFFICIAL– Stantand


specification of highway bridges 17th ed.
Washington, 2002, p 17.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR ISO 7182 - Solo - Ensaio de
Compactação. Rio de Janeiro, 1988, p 10.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR ISO 7480 - Aço destinado a
armaduras para estruturas de concreto armado. Rio
de Janeiro, 2007, p 3 - 8.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 10318 –
Geossintéticos – termos e definições. Rio de Janeiro –
RJ, 2013, p 8.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR ISO 6892 - Materiais metálicos —
Figura 11. Tensão na fundação. Ensaio de Tração. Parte 1: Método de ensaio à
temperatura ambiente. Rio de Janeiro, 2013, p 6.
Os resultados revelaram que as tensões na BECKER, L. B. Comportamento de Geogrelhas em muro
fundação para o solo não convencional são bem de Solo Reforçado e em ensaios de arrancamento. Rio
maiores com fitas poliméricas, sendo que, para de Janeiro – Brasil, 2006, p 15 – 35.
British Standard. Bs 8006 – Code of practice for
o solo não convencional com fitas metálicas, strengthened reinforced soils and others fills, 1995, p
são próximas de 1000 kPa. Já para os solos não 17.
convencionais com fitas poliméricas, passam de BUENO, B. S., Vilar,O. M. e Zomberg, J. G. Use of
7000 kPa. tropicals back fill os reinforced soils tructures in
Brazil, 8th. Conference Internacional on
Geosynthetics, Yocohama, 2006, p 22- 27.
GALLINUCCI, L. B. Dimensionamento e Estimativa de
4. CONCLUSÃO Custos para Estruturas de Solo Reforçado. Trabalho
de Conclusão de Curso, Universidade de São Paulo,
Na plataforma Slope/W foram calculados os 2012, p 32.
fatores de segurança, tendo como finalidade JONES, C. J. F. P. Construction Influences on the
performace of reinforced soils structures. In:
investigar as três superfícies de ruptura: Interna, Perfomace of reforced soils structures, 1990, p 15-
Mista e Global. 22.
Na plataforma Sigma/W foram simuladas MAPARAGEM, A. B. Avaliação da Interação Solo Fita
as tensões e deformações. Posteriormente, e Poliméricas para Solução em Terra Armada em
foram comparados os valores de fator de SolosNão Convencionais. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós Graduação em Geotecnia, Escola de
segurança demonstrando que os solos não Engenharia de São Carlos, Universidade de São
convencionais apresentam resultados Paulo, 2011, p 12 – 57.
satisfatórios considerando: o fator de segurança, MENDONÇA, M. B., Brugger, P. J., Pereira, G. I. M. e
o deslocamento de face, as tensões nas Montez, F. T. Recuperação de aterro rodoviário
inclusões e na fundação. através de solo reforçado e blocos intertravados. II
Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da
É importante ressaltar que os valores obtidos Região Sul - GEOSUL, Porto Alegre, 2000, p 16 - 21.
são de uma simulação numérica, considerando PATIAS, J. Avaliação de solos não convencionais em
assim uma situação hipotética. No entanto, estruturas de solo reforçado. Dissertação de
destaca-se que, para efeito qualitativo e de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Geotecnia,
comparação, os resultados obtidos são de Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo, 2005, p 23 -27.
grande valia. PLÁCIDO, R. R.; FUTAI M. M.; KAMIJI, T. S. M. M.
Avaliação do efeito da geometria interna no
comportamento de muros reforçados com
REFERÊNCIAS geossintéticos utilizando o método dos elementos
finitos, Cobramseg, 2012, p 3.
AMERICAN ASSOCIATION OF STATE HIGHWAY
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Correlação entre a Descrição Geotécnica de Testemunhos de


Sondagem e o Mapeamento Geotécnico in situ da Mina Ingá,
Crixás, Goiás
Andressa Santos Carvalho
UFOP, Ouro Preto, Brasil, andressa_sc93@hotmail.com

Thaísa Letícia Cardoso de Souza


AngloGold Ashanti, Crixás, Brasil, tlsouza@anglogoldashanti.com.br

Jairo Henrique da Silva


AngloGold Ashanti, Crixás, Brasil, jhsilva@anglogoldashanti.com.br

Gustavo Antônio Pereira Batista


AngloGold Ashanti, Crixás, Brasil, gabatista@anglogoldashanti.com.br

Gerson Rincon Ribeiro


AngloGold Ashanti, Crixás, Brasil, grribeiro@anglogoldashanti.com.br

RESUMO: Este trabalho foca na determinação de um fator de correlação entre os modelos


geotécnicos de médio e longo prazo da mina Ingá, uma das minas subterrâneas da Mineração Serra
Grande, unidade pertencente à mineradora sul-africana AngloGold Ashanti. Na mina Ingá, para
avaliar a qualidade do maciço rochoso são utilizadas classificações relevantes na área de mecânica
das rochas, como o Sistema Q (Tunelling Quality Index) de Barton (1974) e a Classificação RMR
(Rock Mass Rating) de Bieniawski (1973,1989). A avaliação da qualidade do maciço consiste na
descrição geotécnica de testemunhos de sondagem, realizada previamente à escavação e o
mapeamento geotécnico in situ, realizado após a abertura da galeria. As características geotécnicas
do maciço observadas anteriormente à escavação são diferentes daquelas observadas após a abertura
das galerias. Neste trabalho foi realizado um estudo de caso com a finalidade de obter um fator
percentual que correlacione os resultados de caracterização do maciço, comparando-se a qualidade
do maciço observada no mesmo local, antes da escavação (descrição de testemunhos) e depois da
abertura da galeria subterrânea (mapeamento in loco). Para tal, a metodologia utilizada segmenta o
trabalho em quatro fases de estudo: descrição geotécnica de testemunhos de sondagem, mapeamento
geotécnico da galeria, análise dos resultados e determinação do fator de correlação. Foi realizada a
descrição de três testemunhos de sondagem e o mapeamento geotécnico da galeria 689S. Nos locais
em que os testemunhos interceptam ou passam próximos à galeria os resultados das classificações
geomecânicas foram comparados e calculou-se que há uma degradação média do maciço da ordem
de 15%. Verificou-se que a escavação ocasiona em uma perda na qualidade do maciço, causando um
aumento na quantidade de quebras, o que confere um valor menor ao RQD e consequentemente às
classificações Q e RMR. Essa possível degradação do maciço pode estar relacionada à redistribuição
da tensão ao redor da escavação e à detonação por desmonte de rochas.

PALAVRAS-CHAVE: Modelo Geotécnico, Fator de Correlação, Degradação do Maciço,


Redistribuição da Tensão.
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1 INTRODUÇÃO Crixás, norte de Goiás, que fica a 340km da


capital Goiânia e a 350km de Brasília - DF. O
Antes de iniciar uma escavação subterrânea acesso a partir de Goiânia pode ser feito pelas
é fundamental avaliar a qualidade do maciço rodovias GO-080, BR-153, GO-336 e GO-154
rochoso para que seja feito um correto até a GO-347 em Crixás (Figura 1).
dimensionamento da galeria e para que sejam
aplicadas as devidas contenções.
Para caracterizar e classificar o maciço
rochoso são utilizados sistemas de classificação
de grande relevância na área de Mecânica de
Rochas, tais como as classificações de Barton
(1974) e Bieniawski (1973, 1989).
Uma das dificuldades na realização de
aberturas subterrâneas é que os modelos de
blocos não necessariamente refletem o real
comportamento das rochas, visto que o
resultado obtido através da classificação de
testemunhos de sondagem quase sempre é
diferente daquela obtida após a abertura da
galeria.
Alguns fatores podem comprometer a
qualidade do maciço rochoso após uma
escavação como a detonação por explosivos e a
ação do campo de tensões. Dessa forma, é
necessário que haja um fator de correlação, de
forma a determinar o comportamento do maciço
previamente à escavação. Figura 1. Acesso à cidade de Crixás
Na Mina Ingá, pertencente à AngloGold
Ashanti, unidade Serra Grande, localizada a 700 1.2 Contexto Geológico
metros de profundidade, cujo depósito é
composto de corpos de minério auríferos, é Os depósitos de ouro da Mineração Serra
realizada a caracterização geotécnica dos Grande estão inseridos em uma típica sequência
testemunhos de sondagem e das galerias metavulcanossedimentar designada Greenstone
subterrâneas. Belt de Crixás.
O objetivo deste trabalho é realizar uma O Greenstone Belt de Crixás está localizado
comparação entre os dados de classificação do em uma das treze províncias estruturais
maciço obtidos através da descrição geotécnica brasileiras, denominada Província Tocantins.
de testemunhos de sondagem e do mapeamento Esta província é uma unidade litotectônica
geotécnico in situ da galeria 689S da mina Ingá, neoproterozóica, localizada entre os crátons São
com o intuito de obter um fator percentual de Francisco e Amazônico (Almeida et. al. 1981).
correlação que represente a degradação do A principal unidade litodêmica desta
maciço rochoso após a escavação. província é a Faixa de Dobramentos Brasília,
que contém o Maciço de Goiás, bloco alóctone
1.1 Localização e Acesso composto de rochas arqueanas que formam
sequências do tipo greenstone belts e terrenos
A AngloGold Ashanti Mineração Serra granito-gnáissicos.
Grande localiza-se a 5km ao sul da cidade de Localizado entre os blocos Anta e Caiamar, o
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greenstone belt de Crixás é constituído das segunda deformação, D2, de comportamento


rochas do Grupo Crixás, definidas por Sabóia et. compressivo é responsável pela formação da
al. (1979) como Formação Córrego Alagadinho, foliação S1 e durante este evento ocorreu um
Formação Rio Vermelho e Formação Ribeirão episódio de hidrotermalismo, responsável pela
das Antas (Danni, 1988). inserção de ouro no sistema (Massucatto, 2004).
A Formação Córrego Alagadinho possui Massucatto (2004) afirma que no terceiro
aproximadamente 500 metros de espessura e é evento deformacional, D3, ocorreu um
constituída de uma intercalação de cavalgamento da Sequência Santa Terezinha
metakomatiítos e formação ferrífera (Jost & sobre o greenstone, levando a formação de
Oliveira, 1991). Jost et. al. (2010) afirmam que dobras recumbentes, o que permitiu uma
as rochas desta formação ocorrem como xistos remobilização do ouro, concentrando-o paralelo
com proporções variadas de serpentina, talco, ao eixo dessas dobras.
clorita, carbonato, actinolita, magnetita e Ainda de acordo com Massucatto (2004), o
cromita. último evento deformacional, D4, é relacionado
De acordo com Jost & Oliveira (1991), a a uma compressão responsável pela formação de
Formação Rio Vermelho é constituída de 350 uma clivagem de crenulação e não está
metros de basaltos intercalados com formações relacionado a nenhuma remobilização ou
ferríferas. As rochas dessa sequência mudança na geometria dos corpos de minério.
metamorfizaram em anfibólio xistos e anfibólio
carbonato xistos, apresentam coloração escura e
normalmente apresentam granulação muito fina 2 METODOLOGIA E APRESENTAÇÃO
(Jost et. al. 2010). DOS RESULTADOS
Já a Formação Ribeirão das Antas é
constituída de rochas metassedimentares e A metodologia do estudo é baseada nos
ocorre na porção norte do greenstone, com sistemas de classificação geotécnica de maciços
espessura mínima de 400m (Jost et. al. 2010). rochosos de Barton (Sistema Q) e Bieniawski
Esta formação possui um membro inferior (Classificação RMR), com a intenção de
caracterizado pela associação de filitos comparar os resultados conseguidos por meio
carbonosos com formação manganesífera, um destas classificações antes e após a execução da
membro intermediário de filitos carbonosos com escavação subterrânea.
lentes cabonáticas e um membro no topo de Para tal, a metodologia foi fragmentada em
metagrauvacas (Jost & Oliveira, 1991). quatro fases: (i) revisão bibliográfica, (ii)
O corpo de minério Ingá está inserido na descrição geotécnica de testemunhos de
Formação Ribeirão das Antas e é subdividido sondagem, (iii) mapeamento geotécnico da
em duas zonas mineralizadas. Na Zona Superior galeria subterrânea e (iv) análise dos resultados.
o minério encontra-se em forma de lentes de
sulfeto maciço alojadas em dolomito, já na Zona 2.1 Revisão Bibliográfica
Inferior, o minério ocorre associado a um veio
de quartzo espesso e descontínuo e ao xisto 2.1.1 A Classificação RMR
grafitoso adjacente, associado a sulfetos
(Castoldi, 2015). A Classificação RMR (Rock Mass Rating) é
O Greenstone Belt de Crixás é um terreno um sistema empírico desenvolvido por
polideformado, com quatro fases deformacionais Bieniawski (1973, 1989) baseado em seis
definidas por Magalhães (1991) e Queiroz parâmetros: resistência à compressão uniaxial,
(1995) como D1, D2, D3, D4. RQD (Rock Quality Designation), espaçamento
A primeira deformação, D1, foi de caráter entre as descontinuidades, condições das
distensivo e ocorreu durante a sua instalação. A descontinuidades, condições de água e
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orientação das descontinuidades. 2.1.2 O Sistema Q


A resistência das rochas pode ser medida
através de ensaios laboratoriais e também em O índice Q é utilizado para determinar a
campo utilizando o esclerômetro de Schdmit ou qualidade do maciço rochoso em aberturas
utilizando o martelo de geólogo, subterrâneas, onde altos valores indicam alta
correlacionando o que foi observado com uma estabilidade e valores baixos indicam uma baixa
faixa de resistência à compressão uniaxial. estabilidade. Os valores de Q variam entre 0 e
O RQD (Deere, 1989) corresponde a um 1000 e cada intervalo define uma classe de
índice utilizado para designar a qualidade do maciço.
maciço levando em consideração o padrão de O cálculo de Q é realizado de acordo com a
fraturas existentes na rocha a partir da Equação (3):
recuperação de testemunhos de sondagem. O
RQD é calculado a partir da razão da soma dos (3)
comprimentos das partes maiores que 10cm dos
testemunhos de sondagem pelo comprimento
total do testemunho. Onde:
Na ausência de testemunhos de sondagem é  RQD (Rock Quality Designation):
possível estimar o valor do RQD a partir da Índice de qualidade do maciço rochoso;
quantidade de descontinuidades por unidade de  Jn: Número de famílias de
volume, de acordo com a Equação (1) proposta descontinuidades;
por Palmstrom (1982, 2005):  Jr: Índice de rugosidade das
descontinuidades;
(1)  Ja: Índice de alteração das
descontinuidades;
(para Jv = 4 a 44. Se Jv <4 então RQD = 100)
 Jw: Fator de redução da resistência pela
Onde,
presença de água nas descontinuidades;
Jv é o contador volumétrico de juntas, dado pela
Equação (2):  SRF (Stress Reduction Factor): Índice
de influência do estado de tensões do
(2) maciço no entorno da escavação.
O valor de Q pode ser concebido como um
agrupamento de três preceitos: o quociente
Onde Si é o espaçamento médio entre cada RQD/Jn determina o tamanho dos blocos
família de descontinuidades i, em metros. formados pela união dos planos de
descontinuidades, a razão Jr/Ja representa a
Descontinuidade é o nome dado a qualquer resistência ao cisalhamento entre os blocos e o
feição que interrompe a continuidade da rocha e fator Jw/SRF simboliza a situação das tensões
podem ser juntas, planos de acamamento, após a escavação.
xistosidade, zonas de fraqueza e falhas. As Goel et. al. (1996) propuseram uma nova
propriedades das descontinuidades que equação de Q, desconsiderando o campo de
influenciam no comportamento do maciço são tensões. De acordo com os autores, o SRF deve
orientação, espaçamento, persistência, abertura, ser utilizado somente nos casos de construção
rugosidade, preenchimento, percolação, número de túneis e não se aplica a qualquer escavação
de famílas e tamanho dos blocos. subterrânea.
O cálculo do RMR é feito somando-se a nota Com a realização de modelos numéricos já se
dada a cada parâmetro e obtendo um resultado tem informações sobre o campo de tensões
que varia de 0 a 100. atuantes, o que torna irrelevante estimar o valor
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de SRF. Dessa forma, para que não se


estabeleça duas vezes o valor da tensão, deve-se
ignorar a razão Jw/SRF, obtendo assim o índice
de qualidade de rocha modificado Q’ ou N,
determinado pela Equação (4).

(4)

2.2 Descrição Geotécnica de Testemunhos de


Sondagem

A etapa de descrição geotécnica de


testemunhos de sondagem foi realizada no
galpão de testemunhos da Mineração Serra
Grande, onde foram descritos três testemunhos
de sondagem rotativa utilizando critérios tátil-
visuais. Para tal foram utilizadas trena e ponteira
Figura 2. Localização esquemática dos testemunhos de
de tungstênio.
sondagem em relação à galeria 689 Sul.
Antes de iniciar a descrição é definido um
intervalo geotécnico baseado em uma porção do Tabela 1. Dados obtidos através dos testemunhos de
testemunho com características que podem ser sondagem.
individualizadas através da análise visual, tais Testemunho IGA43 IGA46 IGA57
como contato litológico, grau de fraturamento,
Profundidade 197.9m a 191.5m a 178m a
tipo de descontinuidade predominante, de interesse 199.7m 230.3m 194.1 m
resistência da rocha, alteração e espaçamento
Orientação 30/9 31/22 62/16
entre as descontinuidades.
Os parâmetros observados para descrição Metagrau-
Litologia Xisto Xisto
vaca
do intervalo geotécnico são: litologia,
1
resistência, intemperismo, identificação de Quantidade
2 famílias, 1 família, família,
quebras pela amostragem, número de de famílias de
mais mais mais
descontinui-
descontinuidades, determinação das famílias de aleatórias aleatórias aleatória
dades
descontinuidades, determinação da rugosidade s
entre as paredes das descontinuidades, se há Lisa,
Rugosidade Lisa, planar Lisa, planar
planar
preenchimento, condições de alteração e
RQD (%) 93 90 92
presença de discing.
Foram descritos três testemunhos de
sondagem, sendo dois deles próximos à galeria
2.3 Mapeamento Geotécnico da Galeria
689S e um interceptando a galeria. A Figura 2
mostra a disposição dos testemunhos de
O mapeamento geotécnico in situ foi
sondagem em relação à galeria 689S, que possui
realizado na galeria 689 Sul da Mina Ingá, onde
azimute de 145º.
foi realizada a caracterização do maciço.
Os dados obtidos na descrição geotécnica
Foram mapeados 14 pontos, onde foram
de cada testemunho são resumidos na Tabela 1.
verificadas as principais descontinuidades e suas
Foi definida como profundidade de interesse
características, as medidas estruturais da
àquela que intercepta ou é mais próxima ao
foliação (Sn), do acamamento (S0), das demais
ponto levantado no mapeamento de janela.
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famílias de fraturas e fraturas aleatórias. O mapa preenchidas é dado o valor 2 (4ac) ao índice Ja,
de pontos levantados é exibido na Figura 3. enquanto nas fraturas não preenchidas, esse
índice é igual a 1 (4ab).
A partir dos dados coletados em campo,
calculou-se o RMR através da soma dos
parâmetros e o Q’ através da Equação 4. Os
valores de RQD, Q’ e RMR para cada ponto
mapeado são exibidos na Tabela 2.

Tabela 2. Resultado da classificação geotécnica para


cada janela mapeada.
RMR
Ponto RQD Q’
(%)
74 72.50 12.08 66.43
75 85.00 28.33 74.10
76 73.89 12.31 66.60
77 80.83 13.47 67.41
78 77.86 12.97 67.07
79 78.9 13.15 67.19
80 85.00 28.33 74.10
81 80.00 13.33 67.38
Figura 3. Pontos mapeados.
82 85.00 28.33 74.10
Foi analisada em cada ponto a litologia, qual 83 80.57 13.42 67.38
a principal descontinuidade responsável pelo 84 85.00 28.33 74.10
fraturamento do maciço, os dados estruturais 85 78.42 13.07 67.13
das descontinuidades, o espaçamento entre as 86 85.00 28.33 74.10
descontinuidades e os demais parâmetros para 87 100 50 79.21
realização das classificações Q e RMR.
Em geral, o espaçamento médio da foliação 2.4 Cálculo do Fator de Correlação
Sn foi considerado 0,1m. Para o restante das
famílias de fraturas mapeadas o espaçamento A determinação do Fator de Correlação (FC)
mínimo variou entre 0,1m e 0,7m e o entre a descrição geotécnica de testemunhos de
espaçamento máximo variou entre 0,1 e 0,9 m. sondagem e o mapeamento geotécnico in situ
Os valores de Jn obtidos variaram entre 3 (2c), consiste em comparar os valores obtidos para
no caso de uma família de descontinuidades Q’ e RMR em um mesmo ponto da galeria. A
mais fraturas aleatórias e 6 (2e), no caso de duas metodologia para cálculo do FC é semelhante à
famílias de descontinuidades mais fraturas utilizada por Padula (2016), na qual para cada
aleatórias. ponto mapeado é calculado de acordo com as
Na foliação (Sn) e no acamamento (S0) da equações 4 e 5.
litologia GXN foi observado que a rugosidade é
lisa e planar, conferindo valor 1 (3bf) ao índice
Jr. Já nas demais fraturas, os planos entre as (4)
descontinuidades são rugosos, irregulares e
planares, o que leva ao índice Jr de 1,5 (3be).
As descontinuidades Sn e S0 não apresentam
preenchimento, já algumas fraturas ocorrem (5)
preenchidas por carbonatos. Às fraturas
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As equações para o cálculo do FC baseiam-se


no pressuposto de que o Q’ e RMR são
frequentemente maiores para a descrição de
testemunhos de sondagem que para o
mapeamento da galeria. Este valor é
determinado em termos percentuais, sendo os
dados de entrada os valores de Q’ e RMR do
mesmo ponto nos testemunhos e na galeria
689S.

Figura 4. Comparação dos valores de Q’ obtidos nos


testemunhos e no mapeamento.
3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS
RESULTADOS

Foi determinado um fator de correlação


percentual (FC) para cada ponto mapeado, em
cada sistema de classificação (Q’, RMR e
RQD). A determinação do fator de correlação é
necessária para que possa ser previamente
calculada a degradação do maciço após a
escavação, devido ao desmonte de rochas e à
concentração das tensões no entorno da galeria.
Foi levantado em cada testemunho
descrito os pontos que interceptam ou são mais Figura 5. Comparação dos valores de RMR obtidos nos
próximos à galeria 689S. Nesses pontos, nos testemunhos e no mapeamento.
testemunhos de sondagem e no mapeamento, foi
realizada a caracterização e classificação Tabela 3. Fatores de Correlação obtidos na comparação
entre a descrição de testemunhos e o mapeamento in situ.
geotécnica conforme os sistemas Q’ e RMR.
Q' Q' RMR RMR FC FC
As Figuras 4 e 5, respectivamente, exibem Testemunho Test. Map. Test. Map. (Q') (RMR)
o gráfico de comparação entre os resultados de IGA43 15.6 13.5 72 67.4 16% 7%
Q’ e RMR obtidos no mapeamento geotécnico IGA46 15.1 13.0 70.3 67.1 16% 5%
de janela e na descrição de testemunhos. IGA57 15.3 13.3 68 67.4 15% 1%
Observa-se que estes valores são sempre
maiores para os testemunhos de sondagem, o Observa-se que foram obtidos resultados
que corrobora que há uma degradação do diferentes para os sistemas de classificação. Para
maciço após a abertura da galeria. o sistema Q’ calcula-se que houve uma
Com o intuito de comparar os resultados e degradação do maciço entre 15% e 16%,
avaliar o dano causado ao maciço pela enquanto para a classificação RMR essa
escavação, foi calculado o fator de correlação, degradação está entre 1% e 7%.
para cada sistema de classificação, de acordo Comparando-se os valores de RQD antes
com as equações 4 e 5. A Tabela 3 resume os e após a escavação da galeria tem-se os
valores de Q’ e RMR no mesmo ponto para o resultados exibidos na Tabela 4 e no gráfico da
mapeamento in situ e para o testemunho de Figura 6.
sondagem e mostra o resultado do cálculo dos
fatores de correlação.
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Tabela 4. Fatores de correlação obtidos através do RQD. ocasionam um acréscimo no número de quebras
RQD RQD no maciço, conferindo um valor menor ao RQD.
Testemunho Testemunho Mapeamento FC (RQD)
Através desta pesquisa também foi
IGA43 93 80.8 15%
IGA46 90 81.4 11%
possível constatar que o sistema de classificação
IGA57 92 80 15% RMR é limitado para o cálculo do fator de
correlação, sendo os valores obtidos através do
Sistema Q’ mais confiáveis. O número RMR é
obtido através de um somatório, enquanto o Q’
é definido por uma soma de razões, assim uma
pequena alteração em algum dos parâmetros
observados modifica pouco o RMR.
Sugere-se que as atividades de
mapeamento geomecânico, descrição geotécnica
de testemunhos e comparação entre os
resultados de classificação do maciço sejam
realizadas também em outras galerias da mina e
para outras litologias, de forma a obter uma
Figura 6. Comparação entre os valores de RQD obtidos maior quantidade de resultados, tornando
nos testemunhos e no mapeamento. possível obter um fator de correlação com
confiabilidade estatística superior à alcançada
neste trabalho.
4 CONCLUSÕES

A classificação e caracterização AGRADECIMENTOS


geotécnica de testemunhos de sondagem e o
mapeamento geotécnico realizado na galeria Agradeço à AngloGold Ashanti Mineração
689S da mina Ingá permitiram obter fatores de Serra Grande, pelo apoio e incentivo nesta
correlação que definem o grau de degradação pesquisa e durante o período de estágio, à toda
do maciço rochoso acarretado pela ação do Gerência de Geologia, equipe de Mecânica de
campo de tensões e pela detonação por Rocha: Gerson, Gustavo, Jairo e Thaísa e
desmonte de rocha. demais colegas de trabalho.
O trabalho permitiu confirmar a hipótese de
que o maciço rochoso sofre uma degradação
após a abertura da galeria subterrânea. REFERÊNCIAS
Utilizando um fator de correlação é possível
prever o comportamento do maciço, levando em Almeida F.F.M., Hasui Y., Neves B.B.B., Fuck R.A.
consideração que a rocha sofre uma perda de (1981). Brazilian structural provinces: an
introduction. Earth Sciences Rewiew, Vol. 17, p. 1-
sua qualidade na galeria, ao redor da escavação. 29.
Verifica-se que com a abertura da galeria Barton, N.; Lien, R.; Lunde, J. (1974) Engineering
o parâmetro que confere a diminuição da Classification of Rock Masses for The Design Of
qualidade do maciço é o RQD, visto que o Tunnel Support. Rock Mechanics, Vol. 6, p. 189-236.
número de famílias, a rugosidade e a alteração Bieniawski, Z.T. (1973) Engineering Classification of
das juntas quase não se modificam nos Jointed Rock Masses. Transactions of the South
African Institution of Civil Engineers, Vol.15, p. 35–
testemunhos de sondagem e no mapeamento in 344.
situ da galeria. Dessa forma, pode-se concluir Bieniawski, Z.T. (1989) The Geomechanics
que a detonação e/ou a redistribuição da tensão Classification In Rock Engineering Application.
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Correlação entre métodos de classificação de solos convencionais


e para solos tropicais
Augusto Costa Silva
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, augustocscivil@gmail.com

Marcela Leão Domiciano


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marcelaleaodomiciano@gmail.com

Márcia Maria dos Anjos Mascarenha


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marciamascarenha@gmail.com

Rita de Cássia Silva


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, silva.ritacassia@gmail.com

RESUMO: Para a classificação dos solos, na maioria dos casos, utilizam-se métodos convencionais
(Sistema Unificado e Sistema Rodoviário). No entanto, considerando que solos tropicais possuem
características peculiares, tais como presença de agregações devido ao intenso intemperismo, a
classificação deste tipo de solo ocorre por meio da metodologia MCT, e das classificações
expeditas: de Pastilhas e da Mancha por Azul de Metileno. Este trabalho tem como objetivo
verificar a correlação entre essas diversas classificações para solos da região metropolitana de
Goiânia. Para isso, compilaram-se os dados referentes a essas classificações, por meio de resultados
obtidos em pesquisas realizadas em solos da referida região. Ao todo, foram coletados 42 dados de
amostras classificadas pela metodologia MCT, e pelos métodos tradicionais, SUCS e TRB, sendo
que destas amostras, 23 possuíam classificações expeditas. Constatou-se que em 82,61% dos casos
houve concordância dos métodos expeditos com a classificação MCT, evidenciando-se, portanto, a
boa viabilidade desses métodos para classificação preliminar de solos da região metropolitana de
Goiânia.

PALAVRAS-CHAVE: Classificação dos solos, Métodos convencionais, Solos Tropicais,


Correlação.

1 INTRODUÇÃO cuja origem e constituição mineralógica é


diferente daquela apresentada para os solos de
Os sistemas de classificação de solos mais clima temperado (Nogami e Villibor, 1995).
utilizados são o Sistema Rodoviário e Sistema O Sistema Unificado de Classificação
Unificado de Classificação. Estas classificações (SUCS) é um método genérico de classificar
se fundamentam nos limites de consistência solos que foi desenvolvido por Casagrande em
(Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade - 1953 (DNIT, 2006). A classificação
LL e LP), nas especificações granulométricas Transportations Reserarch Board (TBR), assim
dos solos e foram desenvolvidas em países com como a SUCS, inicia a classificação pela
clima temperado. Assim sendo, elas nem constatação da porcentagem de material que
sempre apresentam resultados satisfatórios passa na peneira nº 200. Porém, são
quando utilizados em solos tropicais, considerados solos de granulação grosseira
especialmente os de comportamento laterítico, aqueles que têm menos de 35% passando nessa
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peneira, e não 50% como na classificação Para realização deste trabalho, foram coletados
unificada (PINTO, 2006). dados de pesquisas e estudos realizados no solo
Considerando a grande quantidade de solos da região de Goiânia, Goiás. Estes dados foram
lateríticos no Brasil, ou seja, materiais correlacionados, visando discutir seus pontos
originários de um processo de intenso principais e apontando a correspondência das
intemperismo e lixiviação, com propriedades classificações apresentadas em cada trabalho.
que são bastante influenciadas por sua Além de trabalhos e pesquisas, utilizou-se o
mineralogia, criou-se o sistema de classificação manual do DNIT (2006) para estabelecer inter-
conhecido como MCT (Miniatura Compactado relações entre diferentes métodos.
Tropical), com fins rodoviários, uma vez que os
sistemas convencionais não consideram as 2.1 PESQUISAS COM DADOS
agregações presentes neste tipo de solo, o que COMPILADOS
ocasiona uma grande variação nos limites de
consistência e textura (NOGAMI E VILLIBOR, Com a finalidade de observar a concordância ou
1996). não, entre as classificações covencionais e de
Dada a metodologia MCT, Nogami e solos tropicais, para solos, predominatemente,
Villibor (1994 e 1996) propuseram um da região metropolitana de Goiânia, buscou-se
procedimento expedito para atender às artigos e dissertações com resultados de
necessidades de identificação expeditas dos classficações de solos da região.
solos tropicais segundo os grupos da As classificações de solos em que foram
metodologia MCT. Conforme o manual de compilados os dados são as classificações
Diretriz para Identificação Expedita do Solo convencionais pela SUCS e TRB, a
Laterítico – “Método da Pastilha” (DERSA, classificação MCT e classificações por métodos
2006), o método é baseado na verificação da expeditos.
contração diametral em pastilhas que são Dentre as pesquisas que tiveram seus
moldadas em anéis de inox, secas, e submetidas resultados compilados neste trabalho, destacam-
à reabsorção de água. se Rufo (2009) e Metogo (2011) que estudaram
Visando ainda analisar a composição misturas de solos com fosfogesso, para isso os
mineralógica de solos tropicais, Fábria e Sória solos utilizados foram caracterizados, por meio
(1991) propuseram o ensaio de adsorção de azul da realização de ensaios para classificação pelos
de metileno, o qual permite avaliar a superfície sistemas SUCS, TRB e pela metodologia MCT.
específica total (SE) e a capacidade de troca Cardoso (2010) realizou ensaios
catiônica dos argilominerais presentes nos classificatórios dos sistemas convencionais e da
solos. Desta forma, quanto maior a superfície de metodologia MCT para solos tropicais. Ele
um argilomineral (interna e externa), maior a ensaiou 17 amostras com objetivos de cadastro
quantidade de azul de metileno adsorvida geotécnico na região metropolitana de Goiânia,
(FABBRI; SÓRIA, 1994). sendo ao final observado a predominância de
Considerando que no estado de Goiás, há solos argilosos lateríticos na região.
predominância de solos tropicais, este trabalho Azevedo (2013) estudou os parâmetros
objetiva verificar a correlação entre os obtidos por ensaios para solos tropicais. Ele
diferentes tipos de classificação de solos do compilou os resultados das classificações MCT,
estado de Goiás, com predominância na região SUCS e TRB de Silva (2010), Cardoso (2010) e
metropolitana de Goiânia. Metogo (2011), e ensaiou os correspondentes
solos por método das pastilhas e da mancha por
Azul de Metileno. Ao todo foram 14 amostras
2 METODOLOGIA analisadas que apresentaram boa correlação
entre as classificações para solos tropicais.
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Silva (2015) avaliou a aplicabilidade dos Tabela 1. Resultados compilados dos trabalhos.
métodos expeditos de Pastilhas e de Azul de Nº
Trabalho SUCS TRB MCT Expeditos
Amostras
Metileno pelo método da mancha na
RUFO
caracterização de solos tropicais para 1 1 1 1 0
(2009)
pavimentação na região metropolitana de
Goiânia. Para isso, foram ensaiadas e/ou CARDOSO
17 17 17 17 3
compilados dados de 9 amostras de solos da (2010)
região, em ensaios de pastilhas, mancha e MCT, METOGO
1 1 1 1 1
em que foi observada boa correlação nos (2011)
resultados dos métodos expeditos com a AZEVEDO
10 10 10 10 10
classificação MCT. (2013)
A Tabela 1 mostra o número de amostras SILVA
classificadas e de resultados de classificações 9 2 2 9 9
(2015)
compilados pelos diferentes trabalhos. A Figura
1 apresenta a localização das amostras cujos
resultados das classificações dos solos foram 3 RESULTADOS
compilados dos trabalhos de Rufo (2009),
Metogo (2011), Cardoso (2010), Silva (2015) e Correlacionou-se os resultados por diversos
Azevedo (2013), sendo que este último estudou métodos de classificação de solos, tais quais, as
solos de Cardoso (2010) e Silva (2010). classificações convencionais pela SUCS e TRB
Destaca-se que as amostras de Rufo (2009) e e a classificação MCT. Ainda, comparou-se os
uma de Silva (2015) não se encontram na região resultados de ensaios expeditos com a
metropolitana de Goiânia (Figura 1b), sendo classificação MCT.
apresentadas apenas na Figura 1a.
3.1 SUCS x TRB

As Figuras 2 e 3 apresentam tabelas de


correlação entre as classificações TRB e SUCS
e SUCS e TRB, extraídas do manual do DNIT
(2006). Essas dão indícios, por exemplo, das
classificações SUCS mais prováveis, possíveis
e as possíveis, mas improváveis de ocorrem em
um solo classificado pelo sistema TRB, e vice e
versa.
(a) Visualiação de todas amostras estudadas.

(b) Visualização das amostras da região metropolitana.


Figura 1. Mapa contendo a localização das amostras. Figura 2. Correlação entre classificações TRB e SUCS
(DNIT, 2006).
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relação TRB e SUCS, apresentou 3,23% de


chance de se obter valores improváveis,
enquanto que na relação entre SUCS e TRB,
esse valor é de 19,35%. Esses resultados
indicam que a relação entre TRB e SUCS
obteve melhor concordância para as amostras
avaliadas.

Tabela 2. Correlação entre SUCS e TRB.


TRB
SUCS Mais Possível, mas
Possível
provável improvável
SC 0 1 0
Figura 3. Correlação entre classificações SUCS e TRB ML 5 7 5
(DNIT, 2006). MH 2 0 1
CL 9 1 0
É de conhecimento que essas correlações Total 16 9 6
foram concebidas para solos de determinados Porcentagem (%) 51,61 29,03 19,35
tipos e regiões, dessa forma buscou-se verficar a
sua validade para os solos em estudo, da região
metropilitana de Goiânia. Tabela 3. Correlação entre TRB e SUCS.
SUCS
Seguindo a indicação das Figura 1 e Figura
TRB Mais Possível, mas
2, buscou-se correlacionar os sistemas SUCS e provável
Possível
improvável
TRB e o inverso, TRB e SUCS, para as A-4 3 0 0
amostras estudadas. Para isso, observou-se, por A-5 2 0 0
exemplo, a classificação TRB de determinada A-6 7 5 0
amostra, e verificou-se na tabela do DNIT
A-7-5 2 3 0
(2006), da Figura 1, a probabilidade de
A-7-6 2 6 1
ocorrência para a correspondente classificação
Total 16 14 1
SUCS desse solo, e vice e versa.
Porcentagem (%) 51,61 45,16 3,23
Dessa forma, foram construídas as Tabela 2 e
Tabela 3, com as probabilidades de ocorrência
esperada das classificações obtidas para os solos
avaliados, de acordo com as tabelas das Figuras 3.2 SUCS e TRB x MCT
1 e 2. Dessas tabelas observou-se boa
correlação entre as metodologias para solos Pela quantidade limitada de amostras com
argilosos (CL e A-6) e um maior distanciamento classificação diferente de LG’, apenas a amostra
para solos mais granulares, como observado por LG’ pode ser analisada para comparar os
Fortes (2002) para os solos de São Paulo. resultados de sistemas convencionais com a
Ao se observar as Tabelas 2 e 3, verifica-se MCT. Pela Tabela 4 da correlação da
que em ambas as relações, 51,61% das amostras classificação MCT com a SUCS, pode ser
avaliadas correspoderam as classificações mais observado a predominância de amostras siltosas
prováveis esperadas nas Figuras 1 e 2. e argilosas de baixa compressibilidade.
Na relação entre a classificação TRB e A Tabela 5 apresenta a correlação MCT e
SUCS, 45,16% das amostras corresponderam TRB, em que se observa que o solo LG’
possíveis classificações esperadas, enquanto predominantemente foi classificado pela TRB
que na relação SUCS e TRB, essa como solos finos, a saber: A-6, A-7-5 e A-7-6.
correspondência foi de 29,03%. E por fim, a Segundo Nogami e Vilibor (1995) os solos LG’
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são argilas e argilas arenosas, logo pode-se


considerar que houve uma boa correlação. Tabela 6. Correlação entre MCT e Método das Pastilhas.
Todavia, não se observou uma classificação Pastilhas
MCT
convencional que correlacione, isoladamente ou Compatível Incompatível
predominantemente em relação as demais, com LG' 14 1
a classificação MCT, assim, não se pode prever NA' 1 2
facilmente a classificação MCT pelos métodos NS' 4 0
convencionais. NG' 0 1
Total 19 4
Tabela 4. Correlação entre MCT e SUCS. Porcentagem (%) 82,61 17,39
SUCS
MCT
ML SC CL MH No método da mancha as amostras são
LG' 14 1 9 3 classificadas em pouco ativas - comportamento
NA' 0 0 1 0 esperado para solos lateríticos - ativas e muito
NS' 2 0 0 0 ativas, esperado para solos não lateríticos.
NG' 1 0 0 0 Dessa forma, avaliou-se a compatibilidade das
classificações, no que se refere a previsão de
comportamento laterítico, sendo obtido 82,61%
Tabela 5. Correlação entre MCT e TRB.
de compatibilidade para as amostras analisadas,
TRB
MCT conforme pode ser observado na Tabela 7.
A-4 A-5 A-6 A-7-5 A-7-6
LG' 2 0 12 6 7 Tabela 7. Correlação entre MCT e Método da Mancha.
NA' 0 0 0 0 1 Mancha
MCT
NS' 0 2 0 0 0 Compatível Incompatível
NG' 1 0 0 0 0 LG' 13 2
NA' 1 2
NS' 4 0
3.3 Métodos Expeditos x MCT NG' 1 0
Total 19 4
Visando a substituição da MCT por métodos Porcentagem (%) 82,61 17,39
expeditos em etapas preliminares de projeto,
fez-se a correlação da classificação MCT com
os ensaios de Pastilha e da Mancha. 4 CONCLUSÕES
No método das pastilhas, os solos que se
encontram em zonas intermediárias, apresentam Os solos lateríticos, característicos de regiões
classificações duplas, referentes a argilosidade, tropicais, apresentam peculiaridades de
o que pode gerar dúvidas quando comparadas a comportamento que devem ser consideradas nos
classificação MCT. Aqui, considerou-se que se sistemas de classificação. A utilização da
uma das classificações obtidas pelo método das metodologia MCT torna-se a mais apropriada
pastilhas corresponder a classficação MCT, há para classificação desses solos.
compatibilidade entre as classificações. A tentativa de se obter correlações entre as
Dessa forma, pode-se observar na Tabela 6 classificações convencionais com a MCT, seria
que houve 82,61% de compatibiliadade entre a importante para a previsão de comportamento
classificação pelo método das pastilhas com a destes solos, todavia os resultados mostram que
classificação MCT. não há uma fácil correlação entre as
metodologias para solos da região avaliada. Pela
análise dos solos avaliados, apesar de os
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resultados correlacionarem bem, a previsão do de Janeiro, 2006.


comportamento do solo tropical a partir das DERSA - Desenvolvimento Rodoviário S.A. do Estado
de São Paulo. Diretrizes para identificação expedita
metodologias convencionais é duvidosa, já que do solo laterítico – “Método da Pastilha.” São Paulo,
um solo tem probalilidades consideráveis de 2006.
possuir classificação diferente da que é mais Fabbri, G. T. P.; Sória, M H A. Caracterização da fração
esperada. fina de solos tropicais através da adsorção de azul de
Por meio da análise comparativa das metileno. Reunião Anual de Pavimentação, 28. Anais
Rio de Janeiro, ABPv. Rio de Janeiro - RJ, v.1 p.157-
classificações tradicionais entre si, observa-se 83. 1994.
melhor correlação da classificação TRB com a Fabbri, G.T.P. Caracterização da fração fina de solos
SUCS, do que da SUCS com a TRB, o que era tropicais através da adsorção de azul de metileno.
de se esperar já que a SUCS é mais genérica. Tese de doutorado da Escola de Engenharia de São
A utilização de métodos expeditos seria uma Carlos, USP. São Carlos-SP, 157p. 1994.
Fortes, R. M. Método expedito de identificação MCT de
alternativa para substituição da metodologia solos tropicais, para finalidades rodoviárias,
MCT em analises preliminares, devido sua utilizando-se anéis de PVC rígido. Dissertação de
facilidade, rapidez e menor custo. Pelos mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São
resultados obtidos, quanto ao caráter laterítico, Paulo, São Paulo, 210p. 1990.
Metogo, D. A. N. Construção e avaliação inicial de um
as classificações expeditas correlacionam-se
trecho de pavimento asfáltico executado com misturas
muito bem com a classificação MCT, cerca de de solo tropical, fosfogesso e cal. Dissertação de
83%, tanto pelo método das pastilhas quanto mestrado, Universidade Federal de Goiás, Escola de
pelo método da Mancha. Como os solos Engenharia Civil, Goiânia, 183p. 2010.
lateríticos, em relação aos não lateríticos, Nogami, J. S.; Villibor, D. F. Pavimentação de baixo
custo com solos lateríticos. São Paulo, 1995. 213p.
apresentam melhor desempenho em obras
Nogami, J.S.; Villibor, D.F. Importância e determinação
específicas, tal como em pavimentação, a do Grau de Laterização em Geologia de Engenharia.
utilização de metodologias expeditas é eficiente Anais do VIII Congresso da ABGE - Rio de Janeiro,
em uma etapa inicial de projeto de fins vol. 1, 345/358, ABMS, São Paulo, 1996.
específicos, podendo-se descartar os solos não Pinto, C. S. Curso básico de mecânica dos solos. Editora
Oficina de Textos, 3ª Edição. São Paulo, SP, 2006.
lateríticos.
Rufo, R. C. Estudo laboratorial de misturas de
fosfogesso, solo tropical e cal para finsde
pavimentação. 2009. 153 f. Dissertação de mestrado,
AGRADECIMENTOS Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia
Civil, Goiânia, 153p. 2009.
Silva, A. C. Avaliação da aplicação dos métodos
Os autores agradecem a Universidade Federal expeditos para caracterização dos solos tropicais
de Goiás pelo apoio para dsenvolvimento da com fins de pavimentação na região metropolitana de
pesquisa. Goiânia. Universidade federal de Goiás, Anais do XII
Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão - Conpeex,
20p. 2015.
Silva, R. C. Investigação de jazidas de solos tropicais
REFERÊNCIAS para uso em pavimentação na região metropolitana
de Goiânia - GO. Dissertação de mestrado,
Azevedo, S. C. Estudo dos parâmetros obtidos em Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia
solos tropicais visando aplicação em pavimentação. Civil, Goiânia, 177p. 2010.
Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia .
Civil, 2013.
Cardoso, R. A. Cadastro geotécnico dos solos finos
lateríticos para fins de pavimentação no município de
Goiânia – GO. Dissertação de mestrado, Universidade
Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil,
Goiânia, 2010.
DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes. Manual de pavimentação. 3ª Edição. Rio
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Correlação Entre os Ensaios de Cone (CPT) e Sondagem à


Percussão (SPT) para a Área Urbana de Balneário Camboriú - SC
Déborah Kenig Alexandre
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, Itajaí, Brasil, deborahkenig@gmail.com

Luis Fernando Pedroso Sales, MSc.


Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, Itajaí, Brasil, sales@univali.br

RESUMO: Neste trabalho apresenta-se nova metodologia para correlacionar os resultados de


resistência dos solos a partir das sondagens CPT e SPT realizadas no município de Balneário
Camboriú-SC. Buscou-se estabelecer os coeficientes de correlação entre resistência de ponta,
medida no ensaio CPT, com a resistência à cravação do amostrador, medida na sondagem SPT.
Foram coletados laudos de sondagem de terrenos de ruas e/ou avenidas do município, onde tinha-se
registro dos dois métodos de sondagem aplicados em um mesmo terreno. Os dados completos foram
agrupados para a faixa de compacidade e coesão de acordo com o tipo de solo e a profundidade
especificada nas sondagens. Com a existência de valores desuniformes, foi necessária a aplicação de
tratamento estatístico para sua correção. Corrigidos e correlacionados, os valores apresentaram
excelente resultado, validando o estudo e possibilitando sua aplicação para obtenção de informações
a respeito de determinado solo, mesmo que não exista um dos ensaios aplicados.

PALAVRAS-CHAVE: Correlação, CPT, Sondagens, SPT, Solo, Tratamento Estatístico.

1 INTRODUÇÃO não possui todo o conhecimento a respeito do


solo a qual está projetando, utilize os dados
Para o dimensionamento dos diferentes tipos de incorretos, o que pode ocasionar problemas
fundações, quer sejam superficiais ou futuros. Neste contexto, em 2016, foi
profundas, são utilizados métodos de previsão desenvolvida uma nova metodologia para
da capacidade de suporte que se baseiam nos correlacionar os resultados de resistência dos
resultados de sondagens de Ensaio de Cone solos a partir das sondagens CPT e SPT
(CPT) e Sondagem à Percussão (SPT). Este realizadas na área urbana do município de
dimensionamento está baseado no emprego de Balneário Camboriú-SC, tornando mais
correlações sobre os dados obtidos através das assertivo o processo de interpretação dos
investigações. Atualmente, são utilizadas resultados por projetistas da região. Além disso,
correlações registradas em bibliografias, as a metodologia proporciona medidas de
quais foram obtidas a partir de dados e métodos correlação que poupam tempo, já que os solos
estabelecidos por pesquisadores que levaram da área urbana do município foram relatados, e
em conta solos da região Sudeste do país, cada uma de suas características são
através de pesquisas realizadas há anos, quando correlacionadas e classificadas de maneira
o ensaio de cone ainda era pouco difundido no prática. Por se tratarem de dois métodos de
Brasil, e realizado com equipamento do tipo sondagem distintos, que possuem características
mecânico, e não elétrico, como são os atuais. de execução e obtenção de dados diferentes
Este cenário faz com que o projetista de regiões entre si, estes foram previamente analisados
que não foram executados os métodos para a separadamente, para então, serem inseridos em
obtenção de correlações, e, consequentemente, um mesmo contexto a partir de uma correlação.
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2 METODOLOGIA com sua equação e sua determinante de ajuste


de curva (R-quadrado).
2.1 Coleta de Dados e Classificação dos Nesta primeira análise de correlação entre os
Tipos de Solo valores de qc e NSPT, com equação de tendência
do tipo linear, o R-quadrado mostrou-se baixo.
Inicialmente foram coletados laudos de Isto ocorreu pela existência de valores
sondagem de terrenos, localizados em diferentes desuniformes, tanto para um ensaio quanto para
ruas e/ou avenidas de Balneário Camboriú-SC, o outro, criando uma variação expressiva em
que tinham registros de sondagens CPT e SPT. determinadas tipologias de solo.
Ao todo, foram analisados dezessete terrenos Para tanto, decidiu-se aplicar tratamento
distribuídos em quinze ruas e/ou avenidas estatístico nos dados extraídos das sondagens,
diferentes (duas das avenidas possuíam dois buscando eliminar os valores que se
terrenos analisados em cada uma) da área apresentavam fora de padrão para aquele solo,
urbana do município. Em cada terreno tinha-se, de acordo com a NBR 7250/1982.
em média, três furos de sondagem, dando uma
boa ideia do perfil estratigráfico do mesmo. 2.2 Tratamento Estatístico dos Dados
Todos os laudos de sondagem foram fornecidos
pela Solo Sondagem, empresa que atua em O uso de tratamento estatístico tem como
investigação de subsolo e execução de objetivo melhorar a apresentação dos dados
fundações na cidade e região. encontrados. Sendo assim, iniciou-se o
Após a coleta, os dados completos foram tratamento estatísticos com o Teste de
transferidos para uma planilha eletrônica, Wilcoxon, aplicado sobre os valores de qc para
elaborada no programa computacional todas as compacidades de areia e coesões de
Microsoft Excel, contemplando a resistência de argila.
ponta do ensaio CPT (qc) e o número de golpes Primeiramente, foram separadas as diferentes
para a cravação dos 30 cm finais do amostrador compacidades de areia e siltes arenosos.
da sondagem SPT (NSPT). Tais valores foram Iniciando pela areia e silte arenoso fofa (o), foi
agrupados de acordo com o tipo de solo e a coletado o conjunto qc e NSPT do solo, obtendo-
profundidade especificada nas sondagens. Isso se o valor da mediana de qc. Com a mediana
ocorreu para todos os terrenos, das quinze ruas calculada, aplica-se a ordem de Rank sobre os
e/ou avenidas estudadas. dados de qc. Esta ordem fez com que o menor
Desta maneira, foi obtido um banco de dados valor contido em qc receba a posição um, o
geral, que apresentava todos os valores de qc segundo menor a posição dois, e assim
(MPa) dos ensaios CPT, juntamente com os sucessivamente.
valores de NSPT (Número de golpes) das Fez-se a subtração do valor de qc menos a
sondagens SPT. O primeiro agrupamento dos mediana do conjunto dos valores de qc. Esta
valores entre qc e NSPT buscou respeitar os operação resultou em valores negativos e
critérios de compacidade para as areias e siltes positivos ao longo da tabela, já que alguns dos
arenosos, e coesão, para argilas e siltes valores unitários de qc eram menores que a
argilosos, conforme estabelecido pela NBR mediana do conjunto dos valores de qc. O sinal
7250/1982. negativo é transferido para a posição da ordem
Agrupados entre si, para faixa de de Rank de cada um dos dados, fazendo com
compacidade e coesão, foram elaborados que aqueles que possuam valores negativos
gráficos de correlação entre os valores de NSPT sejam localizados no topo da tabela, de forma
(no eixo x) e qc (no eixo y). A nuvem de pontos crescente.
permitiu a implantação de uma linha de Com os dados organizados, foi identificado o
tendência, neste caso, do tipo linear, juntamente número de amostras para a tipologia do solo e,
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em seguida, identificados os coeficientes w-, Para casos em que o número de amostras era
correspondente a soma de todos os valores maior que 25, repetia-se todo o processo citado
negativos de Rank, e w+, que contempla todos anteriormente. Após a obtenção de wmínimo,
os valores positivos de Rank em uma soma. estipulava-se o maior α para as amostras
Descartando o sinal de ambos os coeficientes, unilaterais, encontrava-se a média e a variância
foi identificado qual obtinha o menor valor, em relação ao número de amostras. Após isso,
então este era denominado wmínimo. foi calculado e obtido o valor de zcalculado. O
Com o número de amostras menor ou igual a valor de zcalculado, para o teste realizado, tornou-
25, foi identificado qual o valor de α de acordo se a “linha de corte”, ou seja, os valores abaixo
com a Tabela 1, desenvolvida por Montgomery deste eram eliminados da tabela, até que wmínimo
e Runger (2002, p. 671), utilizando os dados se tornasse maior que α. Situações em que, sem
para testes unilaterais (0.05). eliminação alguma, a condição de igualdade era
aceita, os dados eram mantidos como os
originais.
Tabela 1. Valores críticos para o Teste de Wilcoxon. Todo o processo citado foi aplicado para
α 0.10(1) 0.05(1) 0.02(1) 0.01(1) cada compacidade de areia e coesão de argila,
(2) (2) (2)
n 0.05 0.025 0.01 0.005(2)
resultando em novos valores para correlações
4
5 0 entre qc e NSPT.
6 2 0 Foram estabelecidos novos gráficos de
7 3 2 0 correlação entre qc e NSPT para cada categoria de
8 5 3 1 0 areia e argila. Nestes novos gráficos, pode-se
9 8 5 3 1
definir as melhores linhas de tendência, com as
10 10 8 5 3
11 13 10 7 5 respectivas equações e R-quadrados. A partir
12 17 13 9 7 destas equações, definiram-se os valores dos
13 21 17 12 9 coeficientes de correlação entre as duas
14 25 21 15 12 sondagens.
15 30 25 19 15
16 35 29 23 19
17 41 34 27 23
18 47 40 32 27 3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
19 53 46 37 32 RESULTADOS
20 60 52 43 37
21 67 58 49 42
22 75 65 55 48
3.1 Solos Arenosos ou Granulares
23 83 73 62 54
24 91 81 69 61 Como um estudo preliminar, e obtenção de
25 100 89 76 68 ponto de referência, criou-se um gráfico com
(1)
Testes bilaterais. 325 pontos (Figura 1) a partir dos dados obtidos
(2)
Testes unilaterais.
das sondagens, correlacionando o qc e NSPT.
Aplicada uma linha de tendência, do tipo linear,
pode-se observar que sua determinante de ajuste
Após isso, se caso o valor de wmínimo fosse de curva (R-quadrado) era relativamente baixa,
maior que α, iniciava-se o processo de como mostra a Equação 1.
eliminação das linhas da tabela, uma por uma,
até que α fosse maior que wmínimo. Para
situações em que α se mostrasse maior que
wmínimo sem a necessidade de nenhuma
eliminação de dados, os dados mantiveram-se
como os originais, e a hipótese de igualdade era
aceita.
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Figura 2. Aplicação do tratamento estatístico sobre os


dados de areias e siltes arenosos.

y = 0,228x + 9,200 ∴ R² = 0,373 (2)

Observa-se na Figura 2 que, mesmo após o


tratamento estatístico, alguns pontos ficaram
deslocados quando comparados à linha de
tendência aplicada. Isto aconteceu pelo fato de
que o tratamento estatístico não contempla em
sua função algum método que elimine
totalmente os dados fora de padrão de acordo
Figura 1. Gráfico geral dos dados sem tratamento com a NBR 7250/1982 e por se tratarem de
estatístico para areias e siltes arenosos.
subcategorias diferentes de um mesmo tipo de
solo (areias e siltes arenosos).
y = 0,252 x + 4,425 ∴ R² = 0,374 (1)
Com a aplicação do tratamento estatístico
nos dados, foi estabelecida a equação da
Por meio do gráfico, é possível observar a
correlação geral para os solos arenosos (areias e
heterogeneidade dos dados, existem variações
siltes arenosos), criando um intervalo de valores
em desacordo com a NBR 7250/1982, como no
e um valor absoluto de qc e o coeficiente de
caso do NSPT em torno de 2 golpes com um qc
correlação entre qc e NSPT, representado por
de, aproximadamente, 26,00 MPa. A variação
“k=qc/NSPT”.
brusca de algumas das sondagens é recorrente
O primeiro, retirado da mediana dos valores
do próprio ensaio, por se tratar de um material
de acordo com a profundidade, para as
bruto, sujeito a intempéries e ações da natureza,
diferentes compacidades de areias. O segundo,
este, naturalmente, apresenta variações em seu
retirado através da relação qc/NSPT, conforme
comportamento. Isso remete ao tratamento de
apresentado na Tabela 2 a seguir.
dados, onde é possível buscar a maior
homogeneidade possível para as diferentes
compacidades dos solos, descartando valores Tabela 2. Valores de qc e k para as diferentes
que causam oscilações nos resultados. compacidades de areias e siltes arenosos.
A Figura 2 mostra o gráfico para Areias e y = 0,2275x + 9,1999
Siltes Arenosos após o tratamento dos dados Compa NSP Interval qc Interval k
com o Teste de Wilcoxon e a Equação 2 cidade T o de qc median o de k medi
(MPa) a (qc/NSP ano
apresenta a equação da linha de tendência e sua (MPa) T) (qc/N
determinante de ajuste de curva (R-quadrado). SPT)
Fofa ≤ 4 < 10,11 9,77 2,53 a 4,06
(o) 9,53
Pouco 5 a 10,34 a 10,68 1,38 a 1,65
compac 8 11,02 2,07
ta (o)
Median 9 a 11,25 a 12,27 0,74 a 0,91
amente 18 13,29 1,25
compac
ta (o)
Compa 19 a 13,52 a 15,91 0,46 a 0,54
cta (o) 40 18,30 0,71
Muito > > 18,53 20,69 0,38 a 0,41
compac 40 0,45
ta (o)
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Determinaram-se faixas de valores de k para Diante destes resultados de correlação, foi


as diferentes compacidades das areias e siltes novamente aplicado o Teste de Wilcoxon para
arenosos, bem como um valor mediano. Dessa tratamento dos dados, buscando refina-los. Os
forma, pode-se aplicar os valores indicados na dados da correlação após o tratamento estão
Tabela 2 como forma de correlação entre as apresentados na Figura 4 e sua equação da linha
duas resistências do solo, medidas nas de tendência e a determinante de ajuste de curva
sondagens CPT e SPT. (R-quadrado) apresentadas na Equação 4.

3.2 Solos Argilosos ou Coesivos

Da mesma maneira como havia sido


desenvolvido o estudo para os solos granulares
(areias e siltes arenosos), seguem-se os estudos
para solos coesivos (argilas e siltes argilosos),
porém, com 153 pontos coletados através das
sondagens.
Na Figura 3 tem-se os dados de correlação
entre qc (MPa) e NSPT (Número de Golpes) sem
o tratamento estatístico, de onde foi encontrada
a Equação 3, apresentando a equação da linha
de tendência e sua determinante de ajuste de Figura 4. Aplicação do tratamento estatístico sobre os
dados de argilas e siltes argilosos.
curva (R-quadrado).
y = 0,231x + 1,096 ∴ R² = 0,536 (4)

Da mesma forma como ocorreu com o


gráfico das areias e siltes arenosos, alguns
pontos ainda se dispersam da linha de
tendência, podendo atribuir esta dispersão as
subcategorias diferentes de um mesmo tipo de
solo (argilas e siltes argilosos).
Após realizar o tratamento dos dados,
aplicou-se a equação da correlação geral de
Argilas e Siltes Argilosos, criando, novamente,
um intervalo de valores e um valor absoluto de
Figura 3. Gráfico geral dos dados sem tratamento qc e do coeficiente “k=qc/NSPT”. A Tabela 3
estatístico para argilas e siltes argilosos. apresenta o conjunto de dados do esquema
citado.
y = 0,234x + 0,815 ∴ R² = 0,561 (3)

Os dados de solos coesivos se mostraram um Tabela 3. Valores de qc e k para as diferentes coesões de


pouco melhores que os granulares, podendo argilas e siltes argilosos.
atribuir isso ao número menor de dados y = 0,2305x + 1,0956
encontrados para solos coesivos, contudo, estes Coesõe NSP Interval qc Interval k
s T o de qc median o de k medi
também possuem valores dispersos quando (MPa) a (qc/NSP ano
levados em consideração os dados fornecidos (MPa) T) (qc/N
pela NBR 7250/1982. SPT)
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Muito ≤2 < 1,56 1,44 0,78 a 1,05 resultados de qc calculados a partir da aplicação
mole 1,33 dos valores de k – mediano, k – mínimo e k – máximo.
Mole 3a 1,79 a 2,02 0,45 a 0,50
5 2,25 0,60
Média 6a 2,48 a 2,94 0,34 a 0,37
(o) 10 3,40 0,41
Rija (o) 11 a 3,63 a 4,55 0,29 a 0,30
19 5,48 0,33
Dura > > 5,71 10,32 0,25 a 0,26
(o) 19 0,29

Estes serão os valores utilizados para


correlacionar os ensaios CPT e SPT, quando se
tratarem de solos coesivos, ou seja, Argilas e
Siltes Argilosos. Os dados apresentam-se
distribuídos por intervalos e valores absolutos,
originados das medianas e de suas respectivas
tipologias.

3.3 Aplicação em Sondagem e Análise dos


Resultados

Como forma de aplicar os valores das


correlações encontradas na presente pesquisa,
compararam-se os resultados de uma sondagem
SPT com valores de NSPT calculados a partir de
sondagens CPT.
Primeiramente, foram transferidos todos os
seus dados para a planilha do Excel,
contemplando sua profundidade, número de
golpes (NSPT), resistência de ponta de cone (qc)
e tipologia do solo.
Em seguida, a planilha recebeu os valores
dos coeficientes k – mediano, k – mínimo e k –
máximo, todos eles apresentados anteriormente
para areias e siltes arenosos (Tabela 2) e argilas
e siltes argilosos (Tabela 3).
Aplicando a Equação 5, sugerida por Velloso
e Lopes (2004, p. 50), utilizando os novos
coeficientes k e o NSPT original da sondagem,
foi possível encontrar novos valores de
resistência de ponta do cone qc (MPa), para
cada profundidade.

qc = k . NSPT (5)
Figura 5. Relação da sondagem original com os novos
A Figura 5 mostra o perfil estratigráfico do coeficientes k para qc.
solo, contendo a sondagem original e os
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Em seguida, foram aplicados os novos É possível observar através das Figuras 5 e 6


coeficientes k sobre o valor qc extraído da que a área que apresentou maior dissipação foi a
sondagem CPT, encontrando assim um novo partir da cota 21,00 m, onde se inicia uma
NSPT. O comparativo entre os dados originais e grande camada de areia compacta. Isso pode ser
os dados encontrados a partir do estudo está explicado por dois fatores: profundidade do
apresentado na Figura 6. ensaio e tipologia do solo. A profundidade pode
ter influenciado pelo fato dos dados originais de
sondagem não terem recebido tratamento de
correção do qc, já que este processo é sempre
recomendado para sondagens consideradas
profundas. A tipologia do solo também pode ter
influenciado no resultado do perfil
estratigráfico, já que o equipamento passou a ter
maior resistência à penetração no solo, podendo
causar vibrações excessivas.
Em ambos os casos de aplicação, tanto para
encontrar qc, quanto para encontrar NSPT, a
utilização do k – máximo apresentou maior
semelhança em relação dos dados originais
obtidos em campo.
Portanto, conclui-se que, para esta
sondagem, caso o engenheiro não dispunha de
um dos métodos de sondagem, este deveria
utilizar o coeficiente k – máximo para obtenção
dos dados.
Os valores de k=qc/NSPT determinados no
presente trabalho estão próximos dos valores
recomendados por outros autores, conforme
apresentado na Tabela 4, e mostraram uma
excelente correlação, gerando perfil de NSPT
com profundidade próxima do obtido na
sondagem à percussão. Tal evidência valida a
aplicação do tratamento estatístico implantado e
as análises de tendências apresentadas.

Tabela 4. Valores de k=qc/NSPT determinado no presente


trabalho, em relação com referência bibliográfica.
Tipo de Solo Valores de k Valores de k
sugeridos sugeridos neste
por Danziger trabalho (2016)
e Velloso
(1986, 1995)
Areia (Areia 0,60 0,74
Medianamente
Compacta)
Areia Siltosa (Areia 0,53 0,71
Figura 6. Relação da sondagem original com os novos Compacta)
coeficientes k para NSPT.
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Silte (Areia 0,48 0,54 Nos gráficos de correlação entre qc (MPa) e


Compacta) NSPT (Número de Golpes), o modelo de linha de
Silte Arenoso 0,38 0,46
(Areia Compacta)
tendência que apresentou menor R-quadrado foi
Silte Argiloso 0,30 0,37 o Linear. A partir das equações apresentadas,
(Argila Média) pode-se determinar faixas de variação de
Argila (Argila Rija) 0,25 0,30 k=qc/NSPT para diferentes compacidades de
Areias e Siltes Arenosos e coesões de Argilas e
Siltes Argilosos para o solo estudado.
4 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES O emprego de correlações entre sondagens
FINAIS CPT e SPT deve ser entendido como uma forma
de ampliar as possibilidades de uso de equações
Independentemente do tipo de ensaio utilizado desenvolvidas por correlação com as sondagens.
para realizar a investigação do subsolo, ambos De forma alguma se espera substituir as
estarão sujeitos a erros e variações. Isto porque sondagens por correlações.
as sondagens CPT e SPT medem a resistência Entretanto, ao estabelecer os valores dos
do solo por meios diferentes. O processo de coeficientes de correlação k=qc/NSPT, para
ruptura do solo para a cravação cônica é diferentes compacidades de areias e coesões de
diferente daquela observada na cravação do argilas do solo estudado, amplia-se a
amostrador SPT. Mesmo que se tenham furos possibilidade de modelos matemáticos para
de sondagem em um mesmo terreno, as previsão do comportamento dos solos, em
variações naturais de espessuras e resistências função da determinação dos parâmetros
das camadas de solo, por si só, geram diferenças geotécnicos.
entre os valores medidos nas duas sondagens.
Por se tratarem dos dois tipos de
investigação geotécnica em solo mais utilizadas REFERÊNCIAS
na prática de engenharia, estabelecer correlação
entre os valores de resistência do solo, qc (MPa) Associação brasileira de normas técnicas. NBR 7250:
na sondagem CPT, e NSPT (Número de Golpes) Identificação e descrição de amostras de solos obtidas
na sondagem SPT, tem uma aplicação prática em sondagens de simples reconhecimento dos solos.
Rio de Janeiro, 1982.
enorme. A definição de valores dos parâmetros Associação brasileira de normas técnicas. NBR 6122:
geotécnicos dos diferentes tipos de solos usa, Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro,
por meio de correlações empíricas, valores 2010.
baseados em qc e/ou NSPT. Associação brasileira de normas técnicas. NBR 6484:
Solo - Sondagens de simples reconhecimento com
O uso do Teste de Wilcoxon como
SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
tratamento estatístico mostrou-se adequado para Caputo, H. P. Mecânica dos Solos: E suas aplicações. 6.
a redução da dispersão dos dados brutos entre qc ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.
e NSPT do solo estudado. Mesmo assim, alguns Cintra, J. C. A. et al. Fundações: Ensaios estáticos e
pontos ficaram deslocados quando comparados dinâmicos. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.
Décourt, Luciano; Albiero, José Henrique; Cintra, José
a linha de tendência aplicada. Isto acontece pelo
Carlos Ângelo. Análise e Projeto de Fundações
fato de que o tratamento estatístico não Profundas. In: Hachich, Waldemar et al (Org.).
contempla em sua função algum método que Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini,
elimine totalmente os dados fora de padrão de 1998.
acordo com a NBR 7250/1982, pelas diferentes Jarushi, F. et al. A New Correlation between SPT and
CPT for Various Soils. International Journal of
subcategorias de areias e siltes arenosos e
Geological and Environmental Engineering, 2015.
argilas e siltes argilosos apresentadas, e por se Montgomery, Douglas C.; Runger, George C.. Applied
tratarem de dois ensaios com princípios físicos Statistics and Probability for Engineers. 3. ed. New
diferentes. York: John Wiley & Sons, Inc., 2002.
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Correlação entre prova de carga estática cíclica e ensaio dinâmico


em estaca tubada metálica de 1,0m de diâmetro
Daniel Kina Murakami
Teknier Engenharia e Tecnologia, São Paulo, Brasil, daniel@teknier.com.br

Fabian Corgnier
Teknier Engenharia e Tecnologia, São Paulo, Brasil, fabian@teknier.com.br

André Filipe Pereira da Silva


Teknier Engenharia e Tecnologia, São Paulo, Brasil, andre@teknier.com.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma correlação entre prova de carga estática
(PCE) e ensaio de carregamento dinâmico (ECD) em uma estaca tubada metálica de ponta aberta de
1,0m de diâmetro para carga de trabalho de 370 tf. O ensaio de carregamento dinâmico com energia
crescente foi realizado no final da cravação e após 15 dias do final da cravação. As análises
CAPWAP foram realizadas segundo o procedimento proposto por Murakami (2015), que inclui
uma nova forma de avaliar a análise CAPWAP: conceito de “Match Quality de Recalques” (MQR).
Mostra-se neste caso de obra que o procedimento proposto permitiu determinar o valor do quake do
fuste da estaca (qs), melhorando a relação carga-recalque simulada pelo CAPWAP, obtendo melhor
“Match Quality” da curva “Wave Up” (MQWU), assim como melhor MQR. O trabalho apresenta
também uma aplicação da nova solução gráfica do “Match Quality de Recalques” (Murakami,
2018), onde se correlaciona para cada incremento de carga da PCE o recalque da PCE e seu
correspondente recalque da curva simulada do CAPWAP.

PALAVRAS-CHAVE: Prova de Carga Estática Cíclica, Ensaio de Carregamento Dinâmico, Estaca


Tubada Metálica, quake do fuste, “Match Quality de Recalques”, Cravação de Estacas “Offshore”

1 INTRODUÇÃO d´água de aproximadamente 18m, seguida de


intercalações entre camadas de argila siltosa
As fundações fazem parte da ampliação de uma muito mole à média e areia argilosa fofa à
obra portuária localizada em Itapoá, SC. Trata- compacta até aproximadamente 30m de
se de uma obra “offshore” onde as estacas profundidade. Subjacente a estas camadas as
tubadas metálicas de ponta aberta foram sondagens detectaram a presença de uma
cravadas com martelo vibratório até camada de argila arenosa dura até
aproximadamente 30m de profundidade. aproximadamente 39m de profundidade,
Posteriormente as estacas foram cravadas com seguida de uma camada de areia siltosa
martelo hidráulico de 14.000 kg até a nega, compacta à muito compacta até o limite do
atingindo comprimentos da ordem de 40m. ensaio de 56m de profundidade.
O projeto previa a execução de estacas de O ensaio de carregamento dinâmico com
1,0m de diâmetro e 9,5mm de espessura de energia crescente foi realizado no final da
parede. cravação e após 15 dias do final da cravação.
Na região da cravação das estacas as A prova de carga estática, realizada na
sondagens apresentaram espessura de lâmina mesma estaca onde foi realizado o ensaio
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dinâmico, foi feita em dois ciclos do tipo lenta.


O primeiro ciclo, em cinco estágios de
carregamento até 370tf, foi feito após 13 dias do
final da cravação e o segundo ciclo, em oito
estágios de carregamento até 592tf, após 14 dias
do final da cravação.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Diversos autores apresentaram correlações entre


prova de carga estática e ensaio de
carregamento dinâmico, podendo ser citados
Rausche et al (1972), Likins e Makredes (1982), Figura 1. Aplicação do Método de Davisson Modificado
(Murakami, 2015).
Fellenius et al (1989), Niyama e Aoki (1991),
Likins et al (1996), Likins et al (2004),
Murakami (2015) apresentou um novo
Murakami (2015), Murakami et al (2016), entre
procedimento para realização de análise
outros.
CAPWAP que é feito da seguinte forma:
Para uma boa correlação é fundamental que
inicialmente o CAPWAP é aplicado
os testes sejam bem executados e que atinjam a
normalmente buscando o “best match quality”,
ruptura segundo algum critério, como o de
determinando a carga total mobilizada.
Davisson, por exemplo, além de levar em conta
Concluida a análise o valor do quake do
o intervalo de tempo entre a execução da PCE e
fuste da estaca é ajustado de forma que o trecho
do ECD, face ao efeito “set up”.
inicial da curva da simulação de prova de carga
O Método de Davisson (1972) estabelece um
estática do CAPWAP se aproxime do trecho
limite de capacidade de carga definido como a
inicial da curva de uma prova de carga estática.
carga associada ao recalque correspondente à
As demais variáveis são ajustadas de forma a
compressão elástica da estaca como se fosse um
obter um novo “best match quality” da curva
pilar, somado ao valor de 4mm e o diâmetro da
“wave up”. Neste contexto surge o “Match
estaca (em mm) dividido por 120.
Quality de Recalques” (MQR):
Nos casos onde a curva carga-recalque não
atinge o Método de Davisson original,
Murakami (2015) propõe o uso do Método de
Davisson Modificado que consiste em traçar (1)
uma reta paralela à reta do Método original,
passando pelo recalque máximo da curva carga- O procedimento proposto por Murakami
recalque. Quando se dispõe de curvas de (2015) utiliza ainda duas condições de contorno
diferentes tipos de ensaios, deve-se tomar o quando o ECD é realizado com energia
menor valor dos recalques máximos, conforme crescente: 1) Proporcionalidade entre a
indicado na figura 1: resistência dinâmica total (atrito lateral médio e
ponta) e a velocidade máxima do topo da
estaca, para cada golpe aplicado com energia
crescente; 2) Relação elasto-plástica
aproximada entre a resistência e o quake da
ponta da estaca, para cada golpe aplicado
(manter o parâmetro R da Segunda Relação de
Cambefort).
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O “Match Quality” de Recalques foi 4 RESULTADOS


inicialmente concebido de forma a calcular o
“erro” entre a curva carga-recalque da PCE e do A figura 1 ilustra a comparação entre os
CAPWAP através de uma expressão resultados obtidos do 1º Ciclo da PCE aos 13
matemática (Murakami e Massad, 2014 e 2015; dias após o final da cravação, do 2º Ciclo da
Murakami, 2015), visando a determinação do PCE aos 14 dias após o final da cravação, do
quake do fuste da estaca e consequentemente ensaio dinâmico no final da cravação
obtendo o melhor ajuste da curva-carga- (CAPWAP FC) e na recravação aos 15 dias
recalque do CAPWAP. após o final da cravação (CAPWAP REC15).
Murakami (2018) introduziu uma nova
solução gráfica do “Match Quality” de Carga (tf)
Recalques, onde se correlaciona o recalque da 0
0 200 400 600 800 1000

PCE com o recalque do CAPWAP para cada CAPWAP FC


10
PCE 1º Ciclo
incremento de carga da PCE. O gráfico
20 PCE 2º Ciclo
resultante é uma curva do tipo:

Recalque (mm)
CAPWAP REC15
Y=αxX
30
(1)
40

50
Quanto mais próximos da unidade forem os
valores de α e do coeficiente de determinação
60

(R2) melhor será o “Match Quality” de


70

Figura 2. Comparação dos resultados da PCE cíclica,


Recalques. ECD no final da cravação e recravação aos 15 dias.

Para melhor comparação de resultados entre


3 METODOLOGIA a PCE e o ECD, face ao efeito “set up”, serão
apresentadas as curvas carga-recalque do ECD
Serão apresentados os resultados de PCE e ECD com energia crescente referente às análises
realizados na mesma estaca. As análises feitas na recravação aos 15 dias.
CAPWAP foram realizadas segundo o As análises CAPWAP na recravação foram
procedimento proposto por Murakami (2015), realizadas segundo o procedimento proposto
através da determinação do quake do fuste da por Murakami (2015), determinando o valor do
estaca (Murakami e Massad, 2014 e 2015). quake do fuste da estaca segundo Murakami e
Neste trabalho serão apresentados os Massad (2014, 2015), permitindo um melhor
resultados: comparação da curva carga-recalque ajuste do trecho inicial da curva carga-recalque
da PCE e do ECD; correlação de recalques entre do CAPWAP. Além disso, a análise obtida
a PCE e o CAPWAP através da nova solução através deste procedimento apresentou também
gráfica do “Match Quality” de Recalques bom ajuste entre a curva carga-recalque da PCE
(Murakami, 2018); a evolução do atrito lateral e e do CAPWAP até a máxima carga obtida no
da carga de ponta da estaca em função da ensaio nos dois ciclos de carga, permitindo
energia aplicada no ECD com energia crescente.
obter valores de α e R2 da nova solução gráfica
Será utilizado o Método de Davisson
do “Match Quality” de Recalques (Murakami,
Modificado (Murakami, 2015) para comparação
2018) próximos da unidade, conforme será
do ECD e PCE, uma vez que as curvas carga-
mostrado adiante.
recalque não atingiram o Método de Davisson
A estaca foi ensaiada utilizando as seguintes
Original.
alturas de queda (H): 20cm, 40cm, 60cm, 80cm,
100cm, 120cm. Foi utilizado mesmo martelo
hidráulico da cravação das estacas (14.000kg).
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A figura 3 indica a curva RMX vs DMX na Na figura 4 nota-se que a curva simulada do
recravação aos 15 dias, enquanto que a figura 4 CAPWAP referente ao golpe de maior energia
indicam as curvas simuladas carga-recalque do (H=120 cm) não atingiu o Método de Davisson
CAPWAP para cada golpe análisado com original. Desta forma os testes foram
energia crescente. A curva da PCE foi comparados segundo o Método de Davisson
extrapolada segundo Van der Veen (1953). Modificado (Murakami, 2015), obtendo 729tf
para a PCE e 788tf para o CAPWAP. A
Carga (tf)
variação de capacidade obtida do CAPWAP em
0
0 200 400 600 800 1000 relação à prova de carga estática foi de apenas
10
PCE 1º Ciclo +8,1%.
PCE 2º Ciclo
A figura 8 ilustra a evolução da força axial
20 CAPWAP REC15
em profundidade para cada golpe analisado
Recalque (mm)

RMX-DMX
30
através do CAPWAP. Nota-se que os 18m
40
iniciais referem-se à lâmina d´água. Portanto,
50
conforme esperado, nesta região o gráfico
60
apresenta-se como uma reta vertical, indicando
70
ausência de atrito lateral. A partir de
Figura 3. Comparação dos resultados da PCE cíclica, aproximadamente 25m, observa-se que a
ECD recravação aos 15 dias.
inclinação do gráfico de força axial em
profundidade vai aumentanto em função da
Carga (tf) altura de queda aplicada, indicando progressiva
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
0
PCE 1º Ciclo
mobilização do atrito lateral.
PCE 2º Ciclo
10 Van der Veen
CAPWAP H=20cm
CAPWAP H=40cm
20 Força axial na estaca (tf)
CAPWAP H=60cm
0 200 400 600 800 1000
Recalque (mm)

CAPWAP H=80cm
30 CAPWAP H=100cm 0
CAPWAP H=120cm H=120cm
40 Davisson Modificado 5
Davisson
H=100 cm
10 H=80 cm
Profundidade (m)

50
15 H=60cm

60 20 H=40cm
H=20cm
25
70
30
Figura 4. Curvas simuladas carga-recalque do 35
CAPWAP para cada golpe. 40
45

Através das figuras 2, 3 e 4 percebe-se que o Figura 8. Força axial em profundidade para cada
trecho inicial da curva simulada do CAPWAP golpe analisado.
apresentou boa proximidade com a curva da
prova de carga estática, permitindo a A figura 9 ilustra o comportamento da ponta
determinação do quake do fuste segundo da estaca. Percebe-se que os resultados obtidos
Murakami (2015), O valor do quake do fuste nas análises CAPWAP para cada golpe estão
(qs) que conduziu ao melhor ajuste da curva próximos do modelo elasto-plástico ideal,
simulada do CAPWAP com a PCE foi de 1,91 apresentando boa definição do parâmetro R de
mm. Cambefort.
Este valor de qs foi utilizado nas análises de
todos os golpes. A partir de uma determindada
profundidade o valor de qs dimunui
proporcionalmente com a carga, indicando que
o atrito lateral não se esgotou nesta região.
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80000
120cm 30,00
100cm CAPWAP H=40cm
70000

Recalque do CAPWAP (mm)


Resistência na Ponta (kPa)

25,00 Série2
60000
80cm
50000 60cm 20,00 Linear (CAPWAP H=40cm)
40cm y = 1,0158x
40000 R² = 0,9953
15,00
30000
R CAPWAP
20000 20cm 10,00
Modelo Ideal
10000 quake da ponta
5,00
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0,00
Deslocamento (mm) 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00
Recalque da PCE (mm)

Figura 9. Curvas simuladas carga-recalque do


Figura 11. Solução gráfica do MQR para o golpe de
CAPWAP para cada golpe.
altura de queda de 40cm.

As figuras 10 a 14 mostram a solução gráfica


30,00
do “Match Quality de Recalques” para cada CAPWAP H=60cm

Recalque do CAPWAP (mm)


curva simulada do CAPWAP com energia 25,00 Série2

crescente. Os valores de α variaram entre 0,969 20,00 Linear (CAPWAP H=60cm)


y = 0,9762x

e 1,016, enquanto que os valores de R2 variaram 15,00


R² = 0,9929

entre 0,990 e 0,995, apresentando-se próximos 10,00

da unidade. Os resultados obtidos da solução 5,00

gráfica do MQR indicaram excelente correlação 0,00


entre os recalques do CAPWAP e da prova de 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00
Recalque da PCE (mm)
carga estática em todos os golpes analisados.
Murakami (2018) mostrou que quanto mais o Figura 12. Solução gráfica do MQR para o golpe de
valor de qs se distancia do valor obtido através altura de queda de 60cm.
do procedimento proposto por Murakami
(2015), mais distante da unidade ficam os 30,00
CAPWAP H=80cm

valores de α e R2, piorando a correlação entre


Recalque do CAPWAP (mm)

25,00 Série2

os recalques da PCE e do CAPWAP. 20,00 Linear (CAPWAP H=80cm)


y = 0,9687x
R² = 0,9936
15,00
14,00
CAPWAP H=20cm 10,00
12,00
Recalque do CAPWAP (mm)

Série2 5,00
10,00
Linear (CAPWAP H=20cm) 0,00
8,00 y = 0,971x 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00
R² = 0,9902
6,00 Recalque da PCE (mm)

4,00 Figura 13. Solução gráfica do MQR para o golpe de


2,00 altura de queda de 80cm.
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00
Recalque da PCE (mm)

Figura 10. Solução gráfica do MQR para o golpe de


altura de queda de 20cm.
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30,00
de prova de carga estática do CAPWAP com o
CAPWAP H=100cm
resultado da prova de carga estática. Quanto
Recalque do CAPWAP (mm)

25,00 Série2
menor for o valor de MQR dado pela expressão
20,00 Linear (CAPWAP H=100cm)
y = 0,9939x
R² = 0,9938
matemática melhor é a solução do CAPWAP no
15,00
sentido físico (relação carga-recalque).
10,00
A curva simulada do CAPWAP referente ao
5,00 golpe de maior energia (H=120 cm) não atingiu
0,00 o Método de Davisson original. Desta forma os
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00
Recalque da PCE (mm)
testes foram comparados segundo o Método de
Davisson Modificado, obtendo 729tf para a
Figura 13. Solução gráfica do MQR para o golpe de
altura de queda de 100cm.
PCE e 788tf para o CAPWAP. A variação de
capacidade obtida do CAPWAP em relação à
prova de carga estática foi de apenas +8,1%.
30,00
CAPWAP H=120cm Foi apresentado neste caso de obra a
Recalque do CAPWAP (mm)

25,00 Série2 evolução da força axial em profundidade para


20,00 Linear (CAPWAP H=120cm)
y = 0,9665x cada golpe analisado através do CAPWAP.
R² = 0,9902
15,00 Nota-se que os 18m iniciais referem-se à lâmina
10,00 d´água. Portanto, conforme esperado, nesta
5,00
região o gráfico apresenta-se como uma reta
0,00
vertical, indicando ausência de atrito lateral. A
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 partir de aproximadamente 25m, observa-se que
Recalque da PCE (mm)
a inclinação do gráfico de força axial em
Figura 14. Solução gráfica do MQR para o golpe de profundidade vai aumentanto em função da
altura de queda de 120cm. altura de queda aplicada, indicando progressiva
mobilização do atrito lateral.
A realização de análise CAPWAP para cada
golpe aplicado com energia crescente mostrou
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS que, ao plotar o gráfico de carga da ponta da
estaca em função do quake da ponta
Durante décadas o ensaio dinâmico tem sido determinado pela análise CAPWAP, o
utilizado para a verificação de desempenho das comportamento da ponta da estaca é próximo
fundações, apresentando inúmeras vantagens do modelo elasto-plástico ideal
em relação à prova de carga estática, conforme Mostrou-se neste caso de obra uma aplicação
relatado por Rausche (1994). da nova solução gráfica do “Match Quality de
Este trabalho apresentou uma aplicação do Recalques”, onde para cada incremento de carga
procedimento proposto por Murakami (2015), da prova de carga estática se correlaciona o
baseado na determinação do quake do fuste da recalque da PCE com o correspondente recalque
estaca (Murakami e Massad, 2014 e 2015) da curva simulada do CAPWAP. A aplicação
através da comparação da inclinação inicial da do procedimento proposto por Murakami
curva da prova de carga estática com a curva (2015) conduziu a valores de α e R2 próximos
simulada do CAPWAP. O valor do quake do da unidade em todas as curvas do ensaio
fuste utilizado nas análises que conduziu a uma dinâmico com energia crescente, resultando em
melhor aproximação da inclinação da curva da uma boa correlação entre o ensaio de
PCE foi de 1,91mm. carregamento dinâmico e a prova de carga
Neste contexto surge o conceito de “Match estática, tanto em capacidade de carga como
Quality de Recalques” que permite medir o também em recalques.
“erro” do recalque apresentado pela simulação
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Correlations between Dynamic Penetrometer Light and Cone


Penetration Tests in Intermediate Soils: a Statistical Comparison
Claver Pinheiro;
CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal, clavergiovanni@gmail.com
Fausto Molina-Gómez;
CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal, fausto@fe.up.pt
Sara Rios;
CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal, sara.rios@fe.up.pt
António Viana da Fonseca;
CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal, viana@fe.up.pt
Tiago Miranda;
ISISE, Universidade do Minho, Portugal, tmiranda@civil.uminho.pt

ABSTRACT: This paper presents a statistical approach to evaluate the variation between current
correlation models of Dynamic Penetrometer Light (DPL) against Piezocone Penetration Test (CPT)
results. Work methodology included the execution of three DPL tests and three CPT at the left bank
of Ave River (Vila do Conde, Portugal) and the calculation of the cone resistance through DPL
correlations. Besides, addressed a comparison of the values obtained from such correlations and the
measured values by the CPTu device by the measures profiles technique. Statistical analyses allowed
identifying the level of parallelism, horizontality and coincidence between results in depth. From the
results, it was found that the existing correlations between DPL and CPT are not accurate for
intermediate soils and it is necessary to develop a new correlation for this type of materials.

KEY WORDS: cone resistance, in situ tests, repeated measures profiles, statistical analysis.

1 INTRODUCTION 2018). Hamid (2015) presented a brief overview


of the DPL and its historical development,
Soil identification on the field includes several correlations with soil parameters, and
testing techniques. One of the most popular of relationship with different instruments.
such techniques is cone penetration test (CPT). Lingwanda et al. (2015) compared, statically,
This test provides an in situ characterization of DPL test results with CPT to facilitate the
the soil almost continuously. Besides, the CPT transformation of DPL data and increase its
has a strong theoretical background, which applicability in Tanzania. Dos Santos & Bicalho
allows identifying physical and mechanical soil (2017) provides some insights about DPL-CPT
properties. correlations and the proposed new correlations
However, some countries do not use the CPT between such tests for the city of Vitoria (Brazil).
for all its construction projects. For this reason, The aim of this paper is to present a statistical
the literature presents models to correlate results comparison between the dynamic cone
between different field techniques. Such resistance (qd) obtained from the energy
correlations relate CPT values with standard transformation of the DPL results against the
penetration test (SPT), pressuremeter test (PMT) cone resistance (qc) measured through CPT
dilatometer test (DMT) and light weight device. Both types of tests were performed very
dynamic penetrometer test (DPL) (Ruge et al. close to each other the shipyard on the left bank
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of Ave River (Vila do Conde, Portugal). The 2.2 DPL test


statistical assessment addressed the analysis of
repeated measures profiles (RMP) and the linear DPL test is a field technique based on the same
regression assessment. Therefore, the document principle of the SPT test. Hence its test procedure
structure is the following. The first section involves the falling of a hammer from a specific
corresponds the materials and method of the height. However, unlike SPT device, DPL
work research, which includes a description of device has a cone instead of a sampler. The test
the study site, DPL test and RMP technique. The measures the effort required to drive the cone
second section presents the tests results and the through the soil and then obtain resistance values
statistical analysis. Finally, the third section that correspond to the soil mechanical properties.
shows the conclusions of this work. Besides, it allows visualizing the variation of
penetration resistance with depth. Figure 2
2 MATERIALS AND METHODS presents a schematic description of DPL
components.
2.1 Site description

The tests were performed in the left bank of Ave


River, near the city of Vila do Conde in north
Portugal, where the new shipyards of “Vila do
Conde” were installed. This area is very close to
the river mouth, which means that it suffers from
the tidal influence. The tides in this region of the
Atlantic coast are very wide frequently achieving
4 m of water height between the low and the high
tide. Such aspect had an important effect not only
for the tests execution but also in the water table
evaluation.
On another hand, this area was the deposition
place of dredged sediments from Ave River in
the past due to the current need of assuring river
navigability. Therefore, the soil formation of this
site was a product of the deposition of fluvial
sediment and so the selection of this area. Figure
1 displays the location of the points of
exploration.

Figure 1. Identification of the three test points (adapted


from Google Earth). Figure 2. DPL device (after Edil & Benson, 2005).
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The results of this test are represented by the Viana da Fonseca (1996) affirmed that in
number of blows to achieve 10 cm penetration homogeneous soils the value of K e = 1 and Dos
(N10). The main limitation of DPL is that in Santos & Bicalho (2017) indicated such values
higher depths, the initial energy is dissipated varies from 1.3 to 2.5 in sands.
along the tubing and the device does not
advance. For that reason, the maximum depth of 2.3 Repeated measures profiles
the test is 8 m and rarely reaches firm layer or
bedrock. Furthermore, the test could be rejected The repeated measures profiles (RMP) is a
if N10>100. statistical technique, which analyses the mean
Usually, DPL results are correlated to found variation of the values measured at the same
its equivalent values with other tests (as the CPT) level (Molina-Gómez, 2017). Furthermore, this
and allow obtaining a better identification of the technique allows estimating the variation of a
ground. Moreover, DPL results complement response variable subjected to different
CPT results and provide additional information treatments. Tabachnick & Fidell (2013) mention
about the mechanical behaviour of the soil at that the data set may come from a dependent
different depths (Martins & Miranda, 2003). The variable measured several times under the same
International Organization for Standardization, level; for example, data collected at the same
in its standard procedure ISO 22476-2 (2005), depth.
presents a model to transform the DPL results RMP technique focuses mainly on the
into dynamic cone resistance (qd). Such model is comparison of variances. Thereby, it evaluates if
presented in equation 1. The results depend only the mean vectors of the measured values are
on the energy of the hammer falling (specific equal (Friendly, 2010). To establish the above
energy) in each blow per unit area of the nozzle approach is necessary to evaluate three null
section. Equation 1 presents the Dutch formula, hypotheses (Davis, 2002). Those hypotheses are
where 𝑞𝑑 represents the resistance values in Pa; parallelism, flatness and coincidence. Harrar &
𝑚 is the mass of the hammer in kg; 𝑔 is the Kong (2016) affirm that such hypotheses seek to
acceleration of gravity in N / kg; ℎ is the fall respond the following questions: (i) whether
height of the mass (m); 𝐴 is the base area of the there is the interaction effect between the
cone in m2; 𝑒 corresponds to the mean measurements and within-subject factors (ii)
penetration; and 𝑚′ is the total mass of rod, whether there is a between-subject factor effect,
hammer and guide rods in kg. and (iii) whether there is a within-subject factor
𝑚2 𝑔ℎ𝑁10 effect. Figure 3 presents a graphical
𝑞𝑑 = ∙ (1) representation of the null hypothesis.
𝑚+𝑚′ 𝐴𝑒

Nowadays, it is common to correlate 𝑞𝑑 with


the 𝑞𝑐 , since the CPTu tests are not used in many
countries and the DPL tests are fast and
economic. Nevertheless, the models obtained to
correlate such results are not theoretically well-
founded because the procedures are conceptually (a) (b) (c)
different (the DPL is dynamic and the CPT is
static). The above indicates a different soil Figure 3. Null hypotheses representation (Molina-Gómez,
2017): (a) parallelism; (b) flatness; (c) coincidence.
behaviour during the execution of one or
another. Viana da Fonseca (1996) introduces a Molina-Gómez, Moreno Anselmi, &
model to correlate the qd values with the qc Arévalo-Daza (2016) recompiled the theoretical
values (equation 2). background of RMP and presented procedure to
analyse the data in RStudio by using the profileR
K e = q c ⁄q d (2) package (Bulut & Desjardins, 2017). In this
work such procedure was applied.
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3 RESULTS radius of concentric circles that define the


boundaries of soil types.
3.1 Field test
I𝑐 = [(3.47 − log 𝑄𝑡 )2 + (log 𝐹𝑟 + 0.22)2 ]0.5 (3)
Three different DPL and CPT tests at 4.5 m
depth were performed. The separation between Where Qt is the normalized cone penetration
both types of tests was of 2 m. Figure 4 presents resistance and Fr is the normalized friction ratio.
the DPL results. These results allowed obtaining
a previous identification of the soil and verifying Rios et al. (2018) explains what the boundary
that does not exist a layer, which could cause represented by Ic = 32 represents the lower
damages to the CPT device. Hence, the DPL boundary for most sand like ideal soil and is like
tests guaranteed a preliminary inspection of the SBTn zones 4 and 5 for normally consolidated
soil before of the CPT execution. soils. The boundary I (Ic = 22) represents the
upper boundary for most claylike ideal soils and
is like the original boundary between SBTn
zones 3 and 4 for normally consolidated soils.
The region represented by 22 < Ic < 32 is
defined as “transitional soil” to represent soils
that can have a behaviour somewhere between
that of either sandlike or claylike ideal soil. For
these soils, an expected partial drained behaviour
may be expected during a CPT test, and so these
soils are also called as intermediate soils. Figure
5 presents the SBTn results.

Figure 4. Number of blows for the 3 points

By other hand, CPT tests were interpreted


according to the unified approach proposed by
Robertson (2009). The calculation routine was
the proposed by Rios, da Fonseca, Cristelo, &
Pinheiro (2018) which involved the basic CPT
parameters (cone resistance, qc and sleeve
friction, fs). The Robertson chart is based on the
classification of normalized soil behaviour type
(SBTn) zones by means of the Ic parameter
(equation 3). Such parameter represents the (a)
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Figure 5 shows the presence of transitional


soils between 1.8 and 4.2 m depth at all points.
Intermediate materials are the silty soils and the
mixtures of sand and clay. The geotechnical
behaviour of sands and clays is already well
understood by different constitutive models.
However, intermediate soils have different
tendencies. The behaviour in this type of
materials can be transitional between sands and
clays or can exhibit unique behaviour, which
differs from both granular and fine soils. Hence,
the intermediate soils may exhibit,
simultaneously, properties of sand and clay. In
addition, the correlations between DPL and CPT
do not present an acceptable fitting for particular
kind of soil.
In addition, it was recuperated a soil sample
from point 2 at 4 m depth. This sample was taken
to the laboratory in order to obtain its physical
characteristics (Table 1) and grain size
distribution (Figure 6). Results validated that the
material at such depth is an intermediate soil, due
to according to the USCS is classified as Silty
(b)
Sand (SM).

Table 1. Geotechnical properties of the intermediate soil.


Geotechnical Property Value Unit
Specific gravity 2.66 -
Plastic limit NP %
Liquid limit NP %
D60 0.40 mm
D50 0.35 mm
D30 0.25 mm
D10 0.02 mm
Fines fraction (sieve Nº 200) 12.77 %
Uniformity coefficient 16.83 -
Curvature coefficient 7.41 -
0,074
0,105

0,180
0,250

0,841

2,000

4,760

ASTM Sieves series (mm)


100 0
90 10
80 20
70 30
60 40
% retained
% passed

50 50
40 60
30 70
20 80
10 90
0 100
0,001 0,01 0,1 1 10
Grain size (mm)

SILT SAND
CLAY GRAVEL
(c) FINE MEDIUM COARSE FINE MEDIUM COARSE

Figure 5. Soil classification based on SBTn: (a) point 1; Figure 6. Grain size distribution of the intermediate soil.
(b) point 2; (c) point 3.
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3.2 Statistical Analyses In Table 2 it was evidenced that the p-values


are less than the  value selected. Therefore, it
Figure 7 shows the profiles of the cone resistance exist statistical evidence to reject all null
(CR) between both field tests. Profiles data were hypotheses (Habiger, 2015; Wackerly,
obtained from the computation of equation 1 (qd) Mendenhall, & Scheaffer, 2008) and validate
and direct records of CPT (qc). Profiles displayed that the profiles in all tests points are parallel,
a good tendency of the correlation is fitted with flatness and coincident.
the real values along the depth in all points.

Table 2. Analysis of RMP results.


Point H0 p-value
Parallelism 7.03e-21
1 Flatness 2.02e-16
Coincidence 1.46e-24
Parallelism 4.05e-18
2 Flatness 8.99e-4
Coincidence 8.71e-28
Parallelism 1.55e-20
3 Flatness 2.12e-16
Coincidence 6.86e-27

Due to the null hypotheses were non-rejected


and the profiles of both tests are not transposed,
it was evaluated the correspondence between the
qd and qc values. Such evaluation was made
through the linear regression method with an
intercept equal to zero as suggest Dos Santos &
Bicalho (2017).
This analysis allowed the calculation of the Ke
value presented in equation 2. Figure 8 shows the
regression results. Results presented coefficients
of correlation lower than 0.60, which indicates
that the linear models do not represent,
(a) (b) (c) acceptably, the correlation DPL and CPT in all
Figure 7. RMP of cone resistances: (a) point 1; (b) point 2; points. Moreover, the parameters of the linear
(c) point 3. models showed that points 1 and 2 have Ke
values within the range presented by Dos Santos
Table 2 presents the analysis of RMP results by & Bicalho (2017). However, for point 3 such
the evaluation of the three null hypotheses of value is not included in the [1.3-2.5] range,
such statistical technique. It was established if conversely to points 1 and 2 since these points
the profiles of cone resistance are parallel, have fewer layers of silty sand and sandy silt.
flatness or coincident under a significance level Nevertheless, in point 3 small differences were
of 95% (=0.05) according to the values observed between qd and qc profiles as observed
obtained from profileR results. The value of  in Figure 7.
was selected according to established in the
experiments design literature by Kuehl (2000)
and Ramachandran & Tsokos (2009). The
analysis results were based on the p-value
criterion.
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summarizes the descriptive statistics and Figure


8 displays the box plots with these parameters.
Results did not indicate significant differences
between mean and median values. In addition,
six outliers (four in point 1, one in point 2 and
one in point 3) were observed. Such outliers are
in the zone of intermediate soils (at 2-4 m depth),
except the value at 0.1 m in point 1, which is
Ke=0 at the start of the tests. Box plots indicates
differences between Ke values obtained from
clean sand and intermediate soils.
Table 3. Descriptive statistics.
Point Descriptive Value
(a) Mean 1.97
1 Median 1.97
Standard deviation 1.05
Mean 0.96
2 Median 0.86
Standard deviation 0.69
Mean 0.87
3 Median 0.83
Standard deviation 0.50

(b)

Figure 9. Box plots of Ke results.

Due to the differences of Ke values obtained


in regression models, such value was calculated
again only for the transitional layers. Figure 9
shows the results of the new analysis. It was
(c) found different values of Ke, which indicated that
Figure 8. Linear regression results: (a) point 1; (b) point 2; the range presented by Dos Santos & Bicalho
(c) point 3. (2017) is not appropriate for transitional soils. In
addition, the coefficients of correlation were
On the other hand, it was assessed the lower than 0.20 and lower than in the first
descriptive statistics in order to identify the regression calculation. Correlation results
range of Ke values in this type of soil. Table 3 verified that there is no linear correspondence
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between qd and qc values for intermediate soils. 4 CONCLUSIONS


In this way, it confirmed that the linear model is
not accurate to correlate DPL with CPT in this This paper addressed a statistical comparison
type of material. between the results of two different field tests in
intermediate soils. In this study were analysed
correlations between DPL and CPT tests.
Practical and academic conclusions are the
following:

• It was identified an intermediate soil product


of fluvial sediments. Based on the soil
classification based on SBTn (Robertson,
2009), the soil presented dilative transitional
behaviour of silty sand to silty clay. Such
materials can have characteristics typical of
granular and fine grained soils at the same
time. In addition, the correlation analysis
revealed that correlation values between
both tests are not within the typical values
reported in the literature for granular
(a)
materials.
• A graphical statistical approach for the two
different types of field tests, DPL and CPT,
was implemented. The analysis of RMP
allowed estimating parallelism, flatness and
coincidence level between test records. It
was found the symmetry, stability and
coincidence of the profiles under a
confidence level of 95%. Therefore, the qd
and qc profiles in all points are parallels,
flatness and equally from a statistical point
of view. It was found that the DPL is a good
preliminary soil recognition method before
performing the CPTu, even though there are
differences between the execution of both
tests.
(b) • The records between DPL and CPT tests
were compared. Results showed that for
intermediate soils the correlation between qd
and qc is not described by linear models. In
the layers of clean sands, the Ke values are
acceptable, whereas in the transitional soil
layers the Ke values are more disperse than
the values for sands. In addition, the
coefficients of correlation were not suitable
to establish a correlation between qd and qc
results obtained from DPL and CPT tests.
Hence, it is necessary to propose new
alternative models to estimate the results of
such among tests, which involve the
particular characteristics of the intermediate
soils.

(c)
Figure 9. Linear regression results in intermediate soil
layers: (a) point 1; (b) point 2; (c) point 3.
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ISO, I. O. for S. ISO 22476-2:2005 - Geotechnical
investigation and testing - Field testing - Part 2:
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CPTu e SDMT na Investigação de um Perfil de Solo Arenoso


Roberto Aguiar dos Santos
UFMT, Cuiabá, Brasil e Unesp, Faculdade de Engenharia de Bauru, Bauru, Brasil, santosr@ufmt.br

Breno Padovezi Rocha


USP, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil, brenop@sc.usp.br

Nathália Marques da Silva


USP, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil, nathmdasilva.eng@usp.br

Heraldo Luiz Giacheti


Unesp, Faculdade de Engenharia de Bauru, Bauru, Brasil, h.giacheti@unesp.br

RESUMO: O Piezone (CPTu) e o Dilatômetro Plano Sísmico (SDMT) são duas técnicas modernas
de investigação do subsolo muito empregadas em projetos geotécnicos. O presente trabalho apresenta
e discute os resultados do uso simultâneo dessas técnicas de investigação para definição do perfil do
subsolo e para estimativa de parâmetros geotécnicos em um perfil de solo arenoso localizado na
região central da cidade de Bauru-SP. Os resultados obtidos também mostram que as correlações
entre ensaios CPTu e SDMT foram satisfatórias, mas que dependem do histórico de tensões e do tipo
de comportamento do solo (contrátil ou dilatante). Constatou-se também que apenas a partir da
determinação de Go por meio de ensaios sísmicos foi possível identificar o comportamento não
convencional do solo estudado. Por fim, conclui-se o trabalho mostrando que a combinação do CPTu
e do SDMT contribuiu para uma melhor caracterização do perfil da área investigada.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação do Subsolo, Ensaios de Campo, Ensaio de Penetração do Cone,


Ensaio de Dilatômetro Plano, Sísmica, Correlações.

1 INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta e discute a


caracterização geotécnica de um perfil de solo
Numa investigação do subsolo adequada é arenoso localizado em Bauru, no interior de São
necessário definir o perfil do subsolo, o que Paulo, a partir de resultados de ensaios CPTu e
inclui identificar a posição das camadas, SDMT e de coleta de amostras deformadas.
espessura, tipo de solo e a posição do nível
d’água. Além disso, também é necessário fazer a
estimativa dos parâmetros hidráulicos e 2 CPTu
mecânicos dos horizontes de interesse. Ensaios
de laboratório e de campo também podem ser O Ensaio de Penetração do Cone (CPT) vem
utilizados para essa finalidade. sendo utilizado para a definição do perfil do
O Piezocone (CPTu) e o Dilatômetro Sísmico subsolo, previsão da capacidade de carga de
(SDMT) são duas técnicas modernas para fundações e na avaliação preliminar de
investigação do subsolo, tanto para definição do parâmetros geotécnicos. O ensaio consiste na
perfil do subsolo como para definição de penetração quase estática de uma ponteira cônica
parâmetros de projeto. De maneira geral, o perfil com vértice de 60º e área de ponta de 10 cm², que
do subsolo é definido empregando-se ábacos de é acoplada a um conjunto de hastes cravada a
classificação de comportamento dos solos. uma velocidade constante de 20 mm/s. O ensaio
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permite o registro praticamente continuo e propôs uma atualização para a resistência do


independente de duas parcelas de resistência: cone normalizada (Qtn), empregando o gráfico
atrito lateral (fs) e resistência de ponta (qc). Além SBTn (Soil Behavior Type-normalized) com uma
disso, o equipamento pode ser acompanhado de normalização baseada no expoente de tensões, n.
um transdutor de pressão, que registra as poro- Tal análise procura caracterizar o solo quanto ao
pressões (u2) geradas durante a cravação da seu comportamento típico, e não quanto a suas
ponteira. Nesse caso o ensaio é denominado de características físicas, como a sua textura, por
piezocone (CPTu), cuja ponteira está exemplo. O expoente de tensões (n) que serve
representada na Figura 1. De Mio et al. (2004) para normalizar a resistência do cone, levando
descrevem o procedimento para registro das em consideração o nível de tensões de campo e
poro-pressões por meio da saturação do piezo- também o tipo de solo. Deste modo, Qtn, Fr, Bq e
elemento utilizando água ou glicerina ou por Ic podem ser facilmente calculados a partir das
meio de um filtro de cavidade preenchido com Equações 1, 2, 3 e 4.
graxa automotiva.
Q tn = [(qt -σvo )⁄pa ](pa ⁄σ'vo )n (1)
Fr = [fs ⁄(qt − σvo )]100% (2)
Bq = Δu⁄(qt − σvo ) (3)
Ic = [(3,47 − log Q tn )2 + (log Fr + 1,22)2 ]0,5 (4)
Ponta
Onde:
Luva Qtn = resistência de ponta normalizada
n = expoente de tensões
Pedra Porosa Fr = razão de atrito normalizada
vo = tensão vertical total
Figura 1. CPTu. ’vo = tensão vertical efetiva
uo = pressão de água intersticial em equilíbrio
uo = excesso de pressão de água intersticial (u2 – uo).
A interpretação dos registros de resistência de
ponta (qc) e atrito lateral (fs), possibilita a Zhang et al. (2002) sugeriram que o expoente
determinação da razão de atrito, Rf (onde, Rf = de tensões (n) pudesse ser definido usando o
qc/fs), utilizada para classificação dos solos. O índice SBTn (Ic) e que ele pudesse ser calculado
perfil do subsolo é definido com o emprego de utilizando Qtn. Sendo assim, e baseado em
ábacos de classificação, como a de Robertson et diversos trabalhos que incorporaram a Mecânica
al. (1986) e Robertson (1990). Esses ábacos são dos Solos no Estado Crítico na interpretação de
baseados no comportamento do solo, e não estão resultados de ensaios CPT, Robertson (2009)
diretamente relacionadas as suas características recomenda que o expoente de tensões seja
físicas (Robertson, 2015a). Os critérios de calculado a partir da Equação 5. Em um processo
classificação baseados nessas propriedades iterativo, o valor de Ic pode ser calculado com
físicas se correlacionam razoavelmente bem ao poucas iterações. Para facilitar esse processo,
comportamento do solo in-situ e aos resultados Santos et al. (2015) fizeram uma planilha
da classificação baseados nos registros do CPT eletrônica, que foi empregada nesse trabalho.
(Molle, 2005), desde que o solo seja pouco
evoluído e não cimentado (Robertson, 2015a; n = 0,381(Ic ) + 0,05(σ′vo ⁄pa ) − 0,15 (5)
Santos et al., 2015).
Robertson (1990) propõe o uso dos Onde: n  1,0.
parâmetros adimensionais do cone para
avaliação do comportamento do solo, tais como: A partir do valor de Ic é possível identificar o
Qt1, Fr, Bq e Ic. Mais tarde, Robertson (2009) tipo de comportamento do solo, conforme a
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Tabela 1 (Robertson, 2009). Cada região é Nesse ensaio são feitas leituras de pressão,
agrupada em cores diferentes para facilitar a após a cravação da lâmina a intervalos de 200
identificação do tipo de comportamento do solo mm de profundidade. A leitura A corresponde a
ao longo do perfil. pressão necessária para que ocorra o
Tabela 1. Tipo de comportamento do solo em função do deslocamento da membrana do disco sensível e
índice Ic a perda de contato da mesma com o equipamento
Zona Tipo de comportamento do Ic (pressão de descolamento). A leitura B é a
solo
pressão imposta para que a membrana desloque
1 Solo fino sensível N/A 1,10 mm.
2 Solos orgânicos >3,6
3 Argilas a argilas siltosas 2,95 – 3,6
Segundo Totani et al. (2001), a interpretação
4 Misturas siltosas 2,6 – 2,95 dos dados desse ensaio é feita calculando-se os
5 Misturas arenosas 2,05 – 2,6 parâmetros usuais do solo, que são: índice de
6 Areias a areias siltosas 1,31 – 2,05 material (ID), índice de tensão horizontal (KD) e
7 Areias com cascalho a areais <1,31 o módulo dilatométrico (ED). O ID é empregado
8 Areais muito compactas N/A
9 Solos finos muito duros N/A
com a finalidade de classificar o tipo de solo
Fonte: Robertson (1990), atualizado por Robertson. (ID = [p1-p0]/[p0-u0]), onde u0 é a pressão neutra
(2009). hidrostática. O KD é utilizado para o cálculo dos
demais parâmetros geotécnicos, através de
correlações (KD = (p1-p0)/(σv0’), onde σ’v0 é a
3 SDMT tensão vertical efetiva. Finalmente, o módulo
dilatométrico é determinado por meio da teoria
O Ensaio de Dilatômetro Plano (DMT), da elasticidade (ED = 34,7* (p0 – p1)).
introduzido pelo professor Silvano Marchetti na A partir dos valores de ID o solo pode ser
década de 1980, consiste na medida de duas classificado como: areia (ID>1,8), silte
pressões necessárias para expansão de uma (0,6<ID<1,8) ou argila (ID<0,6). Importante
membrana circular metálica na profundidade de lembrar que esse parâmetro reflete o
interesse. comportamento mecânico do solo, e não sua
O equipamento consiste de uma lâmina de aço classificação granulométrica (Marchetti, 1980).
inoxidável de 14 mm de espessura, 95 mm de Esse ensaio também pode incorporar
largura e 220 mm de comprimento, constituída geofones, e quando isso ocorre passa a ser
de uma membrana fina de aço, com 60 mm de denominado por dilatômetro sísmico (SDMT).
diâmetro (Figura 2). Ele consiste na combinação do dilatômetro plano
com uma ponteira sísmica posicionada atrás da
lâmina do DMT. Essa ponteira possui dois
geofones empregados para que se possa definir o
perfil de velocidade da onda cisalhante (Vs) e
consequentemente o módulo de cisalhamento
máximo (Go), quando se realiza o ensaio sísmico
pela técnica down-hole.
Membrana

4 ÁREA ESTUDADA

A área estudada está localizada no Parque


Lâmina Vitória Régia, às margens da Av. das Nações, no
município de Bauru-SP. Nesta praça existe um
lago que é abastecido pelo Ribeirão das Flores, o
Figura 2. DMT. qual tem nascente próxima a região.
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Em aproximadamente 15m de distância da 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES


margem deste lago, foi realizada uma campanha
de investigação composta por 3 ensaios CPTu, 3 5.1 CPTu e amostragem de solo
ensaios SDMT e 1 amostragem de solo por meio
de um trado helicoidal mecanizado. A A Figura 4 mostra os resultados dos ensaios
localização destes ensaios é apresentada na CPTu realizados até 8m de profundidade e o
Figura 3. Convém mencionar que não se tem perfil de distribuição granulométrica
resultados de ensaios SPT realizados próximos a determinado a partir de ensaios de granulometria
área estudada. conjunta em laboratório, realizados em amostras
deformadas coletadas por meio de um trado
helicoidal a 1, 2, 3, 4 e 5m de profundidade. O
nível d’água encontra-se a 2,2m de profundidade
e foi determinado com meio de leituras feitas
com um pio elétrico.

Figura 3. Localização da área de estudo.

A cidade de Bauru está localizada na parte Figura 4. Resultados de ensaios CPTu e de composição
central do Estado de São Paulo a uma distância granulométrica do perfil do subsolo.
de aproximadamente 300 km da capital.
Segundo Cavaguti (1981), esta área é coberta por Nas figuras 4a e 5b tem-se os perfis de qc e fs,
sedimentos do Grupo Bauru (Formação Marília onde é possível visualizar um pico a 1,5 m de
e Formação Adamantina). No Grupo Bauru profundidade, que pode estar associado a maior
existe a predominância da Formação Marília nos resistência do solo devido a sua condição não
interflúvios, enquanto a Formação Adamantina saturada. Após esta profundidade, ocorre uma
está presente nas regiões mais baixas do terreno redução dos valores de qc e fs. A partir de
(IPT, 1989). aproximadamente 2,2 m de profundidade os
valores de qc e fs tendem a apresentar um
aumento praticamente linear com a
profundidade. Convém mencionar que os valores
de qc e fs determinados nos ensaios CPTu-1 e
CPTu-2 são muito semelhantes entre si, fato que
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não ocorreu no ensaio CPTu-3. A maior drenada ou não drenada. Entretanto, Robertson
diferença foi observada na região do perfil (2012 e 2015a) e Santos et al. (2015) destacam
localizada entre 2,5 e 3,4m de profundidade. que a validade dessa classificação é limitada a
Essa região de baixa resistência não foi solos pouco evoluídos e não cimentados. Solos
identificada nos outros dois ensaios, como que não possuem tais características são
mostra a Figura 4. A partir de 6m de considerados não convencionais, conforme
profundidade o perfil apresenta uma maior destacam Leroueil e Hight (2003). Nesse caso as
variabilidade nos resultados de qc e fs. correlações tradicionais para estimativa de
A poro-pressão gerada durante a cravação da parâmetros devem ser avaliadas e empregadas
ponteira (u2) foi medida ao longo de todo ensaio. com critério.
Em um dos três ensaios a pedra porosa foi Assim, Robertson (2012) propôs um ábaco
saturada com glicerina enquanto nos outros dois simplificado que indica a presença de 4 regiões
empregou-se o filtro de cavidade preenchido de comportamento típico (Figura 5). Para
com graxa automotiva. Até praticamente 3 m de mostrar o comportamento típico do perfil de solo
profundidade registraram-se poro-pressões estudado, apenas os resultados do CPTu-2 foram
próximas de zero e a partir daí o excesso de poro plotados nesse ábaco. Nele é possível observar
pressão foi quase sempre negativo longo de todo que esse solo apresenta comportamento
o perfil abaixo dessa profundidade, conforme se predominantemente dilatante, com alternância
pode observar na Figura 4c. Os valores de Ic entre penetração drenada e penetração não
determinados ao longo do perfil podem ser drenada.
observados na Figura 4d. O solo é classificado
por variações entre a zona 4 e 5 em quase todo o
perfil, as quais correspondem a misturas siltosas
e misturas argilosas, respectivamente. Na Figura
4d mostra que o ensaio CPTu-3 identificou a
presença de um material de elevada
compressibilidade (Ic > 3,6) entre 2,5 e 3,4 m de
profundidade, ou seja, um solo orgânico (zona
2), presente apenas nesse ensaio.
Os resultados dos ensaios de granulometria
conjunta indicaram que o solo é arenoso, com um
perfil médio composto por 5% de argila, 10% de
silte e 85% de areia (Figura 4e). Assim, esse solo
é classificado texturalmente como uma areia
siltosa. Além disso, esse solo não apresenta
limite de liquidez e nem de plasticidade, devido
ao elevado teor de fração areia em sua
composição.
Os resultados dos ensaios de cone também
podem ser analisados para classificá-lo quanto Figura 5. Ábaco de classificação do solo baseado no
ao seu comportamento. Robertson (2012) comportamento e resultados do CPTu-02 (Adaptado de
sugeriu uma atualização dos ábacos de Robertson, 2012 e 2015a).
classificação dos solos, considerando que solos
granulares com parâmetros de estado () 5.2 SDMT
menores do que -0,05 e solos finos com razão de
sobre adensamento (RSA) maior do que 4 O resultado dos 3 SDMTs são apresentados na
possuem comportamento dilatante e também Figura 6. Na Figura 6a, tem-se os perfis de p0 e
definiu regiões em que a penetração do cone é p1, onde também é possível notar um aumento
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significativo desses índices a 1,5m de Os resultados de DMT também podem ser


profundidade. Observa-se também, nessa figura, interpretados empregados os fundamentos do
uma maior variabilidade do perfil a partir de 6 m SBT, já utilizados na interpretação de resultados
de profundidade. Assim, pode-se considerar que, dos ensaios CPT. Os solos de granulação fina
nesse aspecto, o comportamento identificado no com pouco ou nenhum efeito de microestrutura
DMT é similar aquele observado nos perfis de qc apresentam limite de comportamento contrátil e
determinados com o CPT. dilatante para valor de razão de sobre
A Figura 6b apresenta os resultados de ID ao adensamento da ordem de 4 (Robertson, 2012).
longo da profundidade, a partir do qual foi Este comportamento equivale a solos com valor
possível classificar praticamente todo o perfil do de KD ≈ 5 (Robertson, 2015a). Para solos
subsolo como uma areia. Esse resultado granulares, o limite que separa os solos de
praticamente coincide com a classificação comportamento contrátil e dilatante está entre
textural obtida a partir dos ensaios de 3<KD<5. Desse modo, Robertson (2015a)
laboratório, apresentada na Figura 4e. propõe um ábaco preliminar para avaliação do
tipo de comportamento do solo (SBT) a partir de
resultados de ensaios DMT. A Figura 7 mostra
este ábaco, onde estão plotados todos os
resultados dos ensaios DMT realizados.

Figura 6. Resultados dos ensaios SDMT realizados.

A Figura 6c,d apresentam a variação de KD e


ED ao longo do perfil. Nelas é possível observar
uma maior rigidez no solo acima de 2m e abaixo
de 6m de profundidade. Nessas profundidades, o Figura 7. Ábaco de classificação do solo baseado no
solo apresenta valores de KD> 4, o que significa comportamento do solo e resultados dos DMTs (Adaptado,
uma mudança no comportamento do solo, o qual de Robertson, 2015a).
será discutido mais adiante.
Os perfis de variação de Vs foram A partir dos resultados apresentados na
determinados a partir da média de no mínimo 3 Figura 7 é possível observar que praticamente
repetições (Figura 6f). Eles apresentam pouca todo o perfil de solo investigado apresenta
variação ao longo da profundidade, com um comportamento drenado, com variação entre
valor médio de 233 m/s. comportamento contrátil e comportamento
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dilatante. Considerando o ábaco apresentado na são apresentados por Robertson e Wride (1998).
Figura 7 e o perfil da Figura 6c, observa-se que Tsai et al. (2009) observaram, para os materiais
o solo apresenta comportamento dilatante para com ID < 1,2, que os solos com valores de Qtn,cs
valores de KD>4, o que ocorre nas profundidades < 16KD tem maior presença de microestrutura.
até 2m e a partir dos 6m de profundidade. Entretanto, convém destacar que as correlações
O comportamento dilatante até os 2m de para previsão de resistência de ponta a partir de
profundidade pode estar associado a condição KD e ED devem ser consideradas de forma
não saturada. Esse efeito também pode ter bastante aproximada (Marchetti, 2011).
provocado um aumento em ED, como mostra a A proposta apresentada por Tsai et al. (2009)
Figura 6d. foi aplicada ao solo que ocorre na área
investigada, combinando os resultados dos
ensaios SDMT e CPTu realizados. Nessa análise,
5.3 Identificação de solos não convencionais devido a proximidades dos ensaios, optou-se em
utilizar apenas os resultados dos ensaios CPTu1-
A maioria dos métodos de previsão do SDMT3 e CPTu2-SDMT2. Na Figura 8 tem-se
comportamento dos solos foram desenvolvidos tais resultados, acompanhado da linha que divide
baseados em resultados de ensaios em solos as duas regiões (aumento da cimentação) e da
sedimentares, e infelizmente, tais métodos são reta ajustada para os dados desse trabalho. Esse
inapropriados para solos residuais (Vaughan et gráfico indica que é possível observar que a
al., 1988). Na intepretação de resultados de microestrutura só estaria presente no solo para
ensaios de campo essa questão não é diferente, valores de KD>7, o que corresponderia a
uma vez que a maioria das correlações empíricas praticamente ao horizonte mais superficial do
utilizadas para interpretação destes resultados perfil. Assim, segundo essa abordagem, poder-
consideram a existência de um solo jovem e com se-ia considerar que o perfil de solo estudado tem
pouca cimentação (Robertson, 2015a). A pouca influência da microestrutura em seu
presença de cimentação pode interferir de comportamento. Além disso, pode-se observar
maneira significativa na interpretação dos grande dispersão entre os resultados dos ensaios,
ensaios e na estimativa de parâmetros o que dificulta estabelecer correlações aceitáveis
geotécnicos (Cruz et al., 2012). O compor- entre Qtn,cs e KD .
tamento de natureza coesivo-ficcional observado
nesses solos pode dificultar a interpretação dos
ensaios de campo e de laboratório segundo a
mecânica dos solos clássica (Cruz et al., 2012).
Tal fato motiva a procura de propostas para
identificar os solos de comportamento não
convencional a partir de resultados de ensaios de
campo
A comparação de resultados de ensaios DMT
e CPT permite observar que KD é mais sensível
ao efeito da microestrutura no comportamento
do solo do que Qtn (Robertson, 2015a).
Tsai et al. (2009) combinaram resultados de
ensaios CPT e DMT a fim de avaliar o potencial
de liquefação do solo de Taiwan. Eles afirmam
que é possível avaliar a presença de
microestrutura correlacionando a resistência de
ponta normalizada equivalente a uma areia limpa Figura 8. Relação entre Qtn,cs e KD (Adaptado de Tsai et al,
(Qtn,cs) e o KD. Os detalhes para o cálculo de Qtn,cs 2009)
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Uma técnica muito utilizada para identificar a Abordagem proposta por Cruz (2010) indica
presença de microestrutura no solo é a que o solo que ocorre na área estudada apresenta
propagação e ondas cisalhantes para alguma cimentação, típica de solos residuais,
determinação de Go, parâmetro empregado na assim como o solo localizado no campo
proposta de Schnaid et al. (2004). Robertson experimental da Unesp. Assim, destaca-se que o
(2012) sugere uso do SCPT para essa finalidade, comportamento não convencional desse solo não
enquanto Marchetti (2014) propõe uma técnica está associado apenas a condição não saturada,
semelhante, baseada no SDMT. mas também da cimentação presente no solo
Cruz (2010) propôs um ábaco para identificar mesmo abaixo do nível d´água, a qual está
a presença de solos com presença de associada ao processo de pedogênese
microestrutura a partir de resultados de ensaios experimentado pelo solo dessa região durante
SDMT (Figura 9). O autor mostrou que elevados seu processo de formação.
valores da relação Go/ED e Go/MDMT são Outro ponto que merece destaque é que a
indicativos da presença de solos cimentados. Ao técnica de propagação de ondas permitiu
utilizar esse ábaco, Rocha et al. (2015) identificar a presença de solos de
mostraram que o extenso perfil de solo não comportamento não convencional na área
saturado localizado campo experimental de estudada. A partir dessa identificação, pôde-se
Bauru (localizado a cerca de 2 km de distância afirmar que os ábacos de classificação e as
do Parque Vitória Régia) apresentam correlações clássicas para estimativa de
comportamento típicos de solos cimentados. Os parâmetros geotécnicos devem ser utilizados
resultados dos ensaios SDMT realizados na área com critério, devido ao comportamento não
estudada foram então plotados no ábaco convencional identificado.
proposto por Cruz (2010) e são apresentados na
Figura 9. Nela também estão apresentados os 5.4 Relação entre CPT e SDMT
resultados de Rocha et al. (2015) para o solo que
ocorre campo experimental da Unesp de Bauru. Por mais que os ensaios CPT e DMT sejam
utilizados para a investigação do subsolo, poucos
estudos procurando correlacionar os resultados
desses dois ensaios foram publicados
(Robertson, 2009a). Robertson (2009a) destaca
que essas correlações devem ser tratadas como
aproximadas, pois dependem do histórico de
tensões, do envelhecimento, da cimentação,
dentre outros fatores.
Poucos estudos avaliaram a aplicabilidade de
tais correlações em solos de comportamento não
convencional, como o que ocorre no local
investigado. Na Figura 10 apresenta uma relação
aproximada entre alguns índices e parâmetros
determinados em quatro dos seis ensaios
realizados.
No gráfico da Figura 10a, tem-se os perfis de
MDMT/qc. Nele são observadas duas tendências:
uma da ordem de 5 e outra da ordem de 20.
Segundo Marchetti et al. (2001) esses valores são
típicos de areias “normalmente adensadas” e
Figura 9. Resultados de ensaio SDMT do solo Vitória
Régia e do solo Unesp-Bauru plotados no gráfico Go/ED areias “sobreadensadas”, respectivamente. Tais
vs. ID (a) e Go/MDMT vs. KD (Adaptado de Cruz, 2010). resultados mostram que a estimativa da rigidez
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do solo a partir do CPT depende do comportamento pode-se recorrer as figuras 6 e 7.


conhecimento do histórico de tensões. No gráfico do perfil de KD da Figura 6, observa-
Robertson (2015b) sugeriu empregar a se que esse horizonte (entre 2 e 6m de
relação fs/’vo obtida do CPT, com o valor KD do profundidade) apresenta menores valores de KD
DMT. Entretanto, a relação entre essas duas (inferior a 4). O gráfico ID versus KD da Figura 7,
grandezas ainda é pouca discutida na literatura. indica que os valores de KD < 4, com ID > 1,8,
O menor uso do fs em correlações se deve ao fato são típicos de solos de comportamento contrátil.
que essa medida é pouco confiável (DeJong e Essa diferença de comportamento influencia as
Frost, 2001). Mesmo assim, decidiu-se por correlações entre CPT e DMT. Observa-se que
apresentar o perfil de KD/F (onde F é o atrito as tendências identificadas na Figura 10
normalizado, F = fs/’vo) na Figura 10b. Nela coincidem com o perfil de variação de KD.
observam-se valores típicos de KD/F da ordem de Assim, identificar o comportamento dilatante ou
2,5 e 6,0, o que indica que F pode fornecer contrátil do solo no gráfico ID versus KD
alguma informação sobre o histórico de tensões. possibilita melhor estabelecer as correlações
entre tais ensaios.

5 CONCLUSÕES

Este artigo apresenta e discute resultados de


ensaios CPTu e SDMT empregados para a
investigação de um perfil de solo arenoso, do
município de Bauru, interior de São Paulo. A
interpretação desses resultados mostra as
vantagens do emprego simultâneo dessas
técnicas para caracterização geotécnica do solo.
Observou-se que existem diferenças quanto
ao tipo de comportamento do solo identificada
por cada ensaio. O CPTu identificou todo o perfil
do subsolo como dilatante, enquanto o SDMT
identificou a ocorrência de solos dilatantes e
contráteis. Tal diferença pode estar associada,
entre outros fatores, ao comportamento não
convencional desse solo.
A identificação do comportamento não
Figura 10. Relação entre índices e parâmetros convencional deste material só foi possível por
determinados por SDMT e CPTu na área investigada. meio do ensaio sísmico. Esse resultado destaca a
importância da sísmica como uma ferramenta
O gráfico da Figura 10c apresenta perfis de adicional para a caracterização geotécnica dos
ED/(qt-v0) da ordem de 5 e 10. Robertson (2009) solos.
mostra que essa relação é igual a 5 para o solo Por fim, foi possível comparar os resultados
residual de Piemond. dos ensaios SDMT e CPTu, e identificar algumas
A interpretação dos gráficos da Figura 10 correlações entre os mesmos. Contudo, elas são
indica que o horizonte entre 2 e 6m de fortemente dependentes do histórico de tensões e
profundidade apresenta uma diferença nítida de do tipo de comportamento do solo (contrátil ou
comportamento dos demais horizontes desse dilatante).
perfil (até 2m de profundidade e a partir de 6m
de profundidade). Para procurar explicar tal AGRADECIMENTOS
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Os autores agradecem a FAPESP (Processos Robertson P.K. e Wride C.E. (1998). Evaluating cyclic
2010/50650-3 e 2015/16270-0), ao CNPq e a liquefaction potential using the cone penetration test.
Canadian Geotechnical Journal, Vol. 35, nº 3, p. 442-
CAPES, pelo apoio a essa pesquisa. 459.
Robertson, P.K. (1990). Soil classification using the cone
penetration test. Canadian Geotechnical Journal, Vol.
REFERÊNCIAS 27, p. 151-158.
Robertson, P.K. (2009) Interpretation of cone penetration
Cavaguti, N. (1981) Geologia, Estruturas e tests - a unified approach, Canadian Geotechnical
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Bauru-SP, Tese de Doutorado, USC, 169p. Robertson, P.K. (2009a). CPT-DMT Correlations. Journal
Cruz, N. (2010) Modelling Geomechanics of residual Soils of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
with DMT Test, Tese de Doutorado, Universidade do Vol. 135, nº 11, p. 1762-1771.
Porto. Robertson, P.K. (2012). Mitchell Lecture. Interpretation of
Cruz, N.; Rodrigues, C. e Viana da Fonseca, A. (2012). in-situ tests - some insight, 4th Int. Conf. on Site
Detecting the presence of cementation structures in Characterization ISC-4, Porto de Galinhas, Brazil,
soils, based in DMT interpreted charts, 4th Int. Conf. Vol. 1, p. 3-24.
on Site Characterization ISC-4, Vol. 2, p. 1723-1728. Robertson, P.K. (2015a). Soil behavior type using the
De Mio, G.; Mondelli, G. e Giacheti, H.L. (2004). Ensaios DMT. Proc. 3 rd Int. Flat Dilatometer Conf., Roma,
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Saturados, São Carlos, v.1. p.31-38. International Conference on the Flat Dilatometer,
DeJong, J.T. e Frost, J.D. (2001) Effect of CPT friction Roma, Itália, junho de 2015.
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Deformabilidade das Misturas Solo-Cal


Gissele Souza Rocha
Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil, gisselerocha@hotmail.com

Gustavo Diniz da Corte


Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, Brasil,
gustavodacorte@gmail.com

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Claudio Henrique de Carvalho Silva


Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil, silvac@ufv.br

Ecidinéia Pinto Soares de Mendonça


Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, Brasil, esoares@etg.ufmg.br

Dario Cardoso de Lima


Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil, declima@ufv.br

RESUMO: No presente artigo aborda-se a influência das deformações ocorridas nos ensaios de
compressão não confinada das misturas solo-cal. Foram realizados ensaios laboratoriais com o solo
residual maduro da Zona da Mata de Minas Gerais, de acordo com os seguintes procedimentos: (i)
ensaios de caracterização geotécnica e de compressão não confinada em corpos de prova do solo
confeccionados na energia Proctor Normal; e (ii) ensaios de compressão não confinada, em corpos
de prova de misturas solo-cal compactados na energia do Proctor Normal, nos teores de cal de 2, 4 e
6% em relação à massa de solo seco, nos períodos de cura de 3, 7, 28 e 90 dias. Obtiveram-se os
seguintes resultados: (i) verificou-se maiores deformações para elevados valores de tensão e; (ii) o
aumento da quantidade de cal, para um mesmo período de cura, provocou aumento da resistência de
pico e diminuição da deformação na qual o pico é atingido.

PALAVRAS-CHAVE: Deformabilidade, Estabilização química, Solo-cal, Resistência mecânica.

1 INTRODUÇÃO LIMA, 1981; CONSOLI, 2001).


As características das curvas de tensão-
Via de regra, utilizam-se misturas solo-cal deformação são essenciais para a análise do
quando não se dispõem de um material ou comportamento de uma estrutura de pavimento
combinação de materiais com as características ou de fundações superficiais assentes sobre uma
de resistência, deformabilidade e camada em solo-cal. Outra característica
permeabilidade adequadas ao projeto em relevante é a marcante fragilidade na ruptura
análise. A estabilização com cal é comumente com a formação de planos de ruptura. Tal
empregada na construção de estradas, sendo fragilidade aumenta com o acréscimo da
geralmente utilizado como base ou sub-base de quantidade de agente estabilizante e diminui
pavimentos (INGLES & METCALF, 1972; com o aumento da tensão efetiva média
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(SCHNAID et. al, 2001). Tabela 1. Caracterização geotécnica do solo


O efeito da cal nas características de Propriedades Valores Referências
deformabilidade de um solo fino reativo pode
ser notado através do aumento da tensão de Argila (%) 71 ABNT (2016a)
ruptura e diminuição da deformação na ruptura. Silte (%) 11 ABNT (2016a)
Thompson (1975) afirma que através da análise
Areia (%) 18 ABNT (2016a)
da curva tensão-deformação das misturas solo-
LL (%) 82 ABNT (2016b)
cal revela-se o seu comportamento frágil.
O aumento da rigidez inicial é o efeito mais LP (%) 44 ABNT (2016c)
evidente em solos cimentados, por esta razão, IP (%) 38
diversos autores se dedicam ao estudo do
ρs (g/cm³) 2,74 ABNT (1984d)
comportamento de pequenas deformações de
materiais geotécnicos. Entre eles, estão wot (%) 31,45 ABNT (2016e)
Tatsuoka et. al (1999), Schnaid et. al (2001) e γd max (kN/m³) 13,72 ABNT (2016e)
Consoli et. al (2010).
LL: Limite de liquidez; LP: Limite de plasticidade; IP:
A identificação da influência da tensão- Índice de plasticidade; ρs: massa específica dos grãos; wot:
deformação é importante no estudo das misturas teor de umidade ótimo; γd max: peso específico aparente
solo-cal utilizadas em obras geotécnicas. O seco máximo.
valor do módulo de deformabilidade pode servir
como indicador da vantagem em se utilizar a A cal hidratada utilizada apresenta, como
estabilização com cal em detrimento de outras principais características, cor branca com
soluções. Diante disto, este artigo visa textura extremamente fina, inodora,
caracterizar o efeito da deformabilidade das pulverulenta e reage, em especial, com a fração
misturas solo-cal em um solo residual maduro argila do solo em presença de água. É do tipo
da Zona da Mata de Minas Gerais através da CH-III (ABNT, 2003), fabricada pela Indústria
avaliação do teor de cal e período de cura. de Calcinação S.A. (ICAL) sob a designação de
Supercal e comercializada na cidade de Viçosa,
Minas Gerais, Brasil.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.2 Caracterização Geotécnica e Ensaio de
2.1 Solo e Estabilizante Químico Compressão não Confinada

O solo utilizado é um residual maduro de Adotaram-se as recomendações da Associação


gnaisse, pedologicamente classificado como Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), na
Latossolo Vermelho-Amarelo, apresenta caracterização geotécnica do solo, como
horizonte B latossólico de tonalidade especificado na Tabela 1, e na caracterização
avermelhada, aspecto poroso e granulometria mecânica, realizou-se o ensaio de compressão
argilo-areno-siltosa. A amostra deste solo foi não confinada (ABNT, 1992).
coletada no horizonte B de um talude de corte Os corpos de prova para a realização dos
localizado no Alto dos Barbados, Campus da ensaios de compressão não confinada foram
Universidade Federal de Viçosa (UFV), no moldados com relação altura/diâmetro de dois,
ponto de coordenadas geográficas de posição na energia de compactação do ensaio Proctor
20o 45’ 11,1” de latitude Sul e 42o 51’ 31,2” de Normal, trabalhando-se com compactação
longitude Oeste de Greenwich. As dinâmica. Utilizou-se a velocidade de 1,0
características geotécnicas deste solo são mm/min nos ensaios com cura tradicional,
apresentadas na Tabela 1. como também, nas amostras de solo ensaiadas
sem tratamento, ou seja, em seu estado natural
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sem a adição do estabilizante químico. Tabela 2. Deformação axial na ruptura e desvio padrão de
As misturas foram ensaiadas nos teores de cada ensaio.
cal de 2, 4 e 6%, de modo a atender aos Deformação axial na ruptura (εa rup) (%m)
requisitos de solo melhorado com cal e mistura Período de Cura Teor de Cal
solo-cal preconizados pelo DNIT (2006). (dias) 2% 4% 6%
As quantidades de cal utilizadas nas misturas
Média 2,190 2,120 2,410
foram calculadas em relação à massa seca do 3 Desvio
solo e as quantidades de água em relação à 0,109 0,141 0,156
Padrão
soma das massas de solo seco e cal. Para o Média 2,930 2,910 2,970
início dos ensaios de compactação e confecção 7 Desvio
0,396 0,365 0,405
dos corpos de prova, esperou-se o período de Padrão
uma hora após a homogeneização da mistura Média 2,050 1,990 2,100
solo-cal-água, a fim de promover a ocorrência 28 Desvio
0,018 0,024 0,022
das reações de troca catiônica entre o solo e a Padrão
cal. Os corpos de prova foram moldados na Média 2,650 2,570 2,050
90 Desvio
umidade ótima (wot) e massa específica aparente 0,160 0,113 0,105
Padrão
seca máxima (dmax) determinados no ensaio de Solo Desvio
compactação, com três repetições. Média 3,810 0,001
Natural Padrão
Em todos os ensaios, os corpos de prova
compactados foram inseridos em sacos plásticos A Figura 1 apresenta os resultados das
e selados, para cura posterior nos períodos de 3, curvas tensão-deformação para os ensaios de
7, 28 e 90 dias, na temperatura de 22,8 oC. compressão não confinada. Verificam-se
Ressalta-se que, todos os ensaios foram maiores deformações para elevados valores de
realizados com três repetições e, para a tensão. Via de regra, a evolução do parâmetro
confecção dos gráficos das curvas médias deformabilidade depende, essencialmente, do
tensão-deformação, utilizou-se o ajuste teor em cal e do tempo de cura. Observa-se que
polinomial. Cada teor de cal está relacionado a o solo natural (SN) apresenta curva de tensão-
um período de cura. Diante disto, foram obtidas deformação típica de solos finos, com
três curvas tensão-deformação (três repetições) comportamento dúctil e ruptura por deformação
e a partir destas calcularam-se as curvas de excessiva.
aproximação que foram utilizadas na confecção
SN 2% cal
dos gráficos. 400 1500 3 dias
7 dias
28 dias
Tensão (kPa)

Tensão (kPa)

300
1000 90 dias
200
500
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 100

0 0
0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4
 (%m)  (%m)
Na Tabela 2, têm-se as médias dos resultados a
4% cal
a
6% cal 3 dias
das deformações axiais obtidas através dos 2000 3 dias
7 dias
3000 7 dias
28 dias
ensaios de compressão não confinada realizados
Tensão (kPa)

Tensão (kPa)

1500 28 dias 90 dias


2000
90 dias
nos três corpos de prova ensaiados (três 1000
1000
repetições) do solo e misturas solo-cal, assim 500

como os respectivos desvios padrão para cada 0


0 1 2 3 4
0
0 1 2 3
 (%m)  (%m)
um dos períodos ensaiados. a a

Figura 1. Curvas tensão-deformação para os ensaios de


compressão não confinada.

Por outro lado, tem-se que o aumento da


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quantidade de cal, para um mesmo período de para os teores em cal, o que se traduz no
cura, provoca aumento da resistência de pico e aumento do módulo de deformabilidade; e
diminuição da deformação na qual o pico é (iii) o aumento da quantidade de cal, para
atingido. um mesmo período de cura, provocou
Analisando as relações tensão-deformação aumento da resistência de pico e diminuição
obtidas em ensaios de compressão não da deformação na qual o pico foi atingido.
confinada realizados em um solo residual
granítico, cuja ruptura é típica de um material
dúctil, e suas misturas solo-cal, Cristelo e Jalali AGRADECIMENTOS
(2002) concluíram que essa ductilidade tornou-
se inversamente proporcional ao período de Os autores agradecem a CAPES, pela concessão
cura e ao teor de cal utilizado. de bolsa de mestrado ao primeiro autor, e ao
No estudo realizado por Alcântara et al. CNPq, pelo apoio financeiro a esta pesquisa
(1997) foram obtidas curvas de tensão- através do Processo 305949/2014-4.
deformação a partir de ensaios triaxiais, não
consolidados não drenados, de um solo que
apresentava um comportamento essencialmente
dúctil, para diferentes tempos de cura. Os REFERÊNCIAS
autores verificaram que, com a adição de cal e
Alcântara, M. A. M., Lima, D. C., Bueno, B. S. & Costa,
com o aumento do período de cura da mistura, o
L. M. (1997). Estabilização de solos com cal em
solo sofreu mudanças nos seus parâmetros regiões tropicais: aplicação a solos de Ilha Solteira-
elásticos, caminhando para um comportamento SP, Brasil. Anais do 6º Congresso Nacional de
frágil relacionado ao desenvolvimento das Geotecnia, 211-220p.
reações pozolânicas. Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2016b).
NBR 6459: Solo - determinação do limite de liquidez.
Rio de Janeiro, RJ, 6p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984d).
4 CONCLUSÕES NBR 6508: Grãos de solos que passam na peneira de
4,8 mm - determinação da massa específica. Rio de
Considerando o comportamento do solo em Janeiro, RJ, 8 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2003). NBR
estudo e do estabilizante empregado, a análise 7175: Cal hidratada para argamassas - Requisitos. Rio
dos resultados do presente estudo levou às de Janeiro, RJ, 4p.
seguintes conclusões: Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2016c).
(i) nas curvas de tensão-deformação dos NBR 7180: Solo - determinação do limite de
ensaios de compressão não confinada, plasticidade. Rio de Janeiro, RJ, 3p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2016a).
verificou-se que ocorreram maiores NBR 7181: Solo - análise granulométrica. Rio de
deformações para elevados valores de Janeiro, RJ, 13p.
tensão, corroborando que a evolução da Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2016e).
deformabilidade depende, essencialmente, NBR 7182: Solo - ensaio de compactação. Rio de
do teor em cal e do período de cura. Sob Janeiro, RJ, 10 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1992). NBR
esse aspecto, observa-se a evolução da 12770: Solo coesivo– determinação da resistência à
capacidade cimentante da cal hidratada no compressão não confinada. Rio de Janeiro, RJ, 4p.
solo, através do pico da curva de resistência Consoli, N. C.; Prietto, P. D. M.; Carraro, J. A. H.;
à ruptura no ensaio de compressão não Heineck, K. S. (2001). Behavior of compacted soil-fly
confinada; ash-carbide lime mixtures. Journal of Geotechnical
and Geoenvironmental Engineering, New York:
(ii) verificou-se que o aumento da rigidez ASCE, v.127, n.9, p.774-782.
dos corpos de prova foi acompanhado do Consoli, N. C.; Cruz, R.C.; Floss, M.F.; Festugato, L.
aumento da resistência ao longo do tempo, (2010). Parameters controlling tensile and
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Deformabilidade de Três Diferentes Solos para Uso em


Pavimentação
Caroline Dias Amancio de Lima
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, engcarolinelima@gmail.com

Carine Norback
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, norback.carine@gmail.com

Laura Maria Goretti da Motta


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, laura@coc.ufrj.br

RESUMO: A deformação permanente é um dos defeitos estruturais que surgem durante a vida do
pavimento e a escolha do material é intimamente ligada ao seu surgimento e acúmulo, sendo os
solos tropicais lateríticos, identificados pela metodologia MCT (Miniatura Compactado Tropical),
um dos materiais que tem sido bastante utilizado em camadas de pavimento. Devido a essa grande
utilização de solos tropicais e diversidade brasileira, o objetivo principal do presente trabalho é o
estudo do comportamento de três solos de distinta classificação, incluindo um laterítico, coletados
na região do Estado do Rio de Janeiro, por meio de ensaios convencionais e mecânicos no
equipamento triaxial de cargas repetidas (deformação permanente e módulo de resiliência). Foram
obtidos parâmetros para o modelo de previsão de deformação permanente e concluiu-se que esses
solos podem ser utilizados para camadas de base e sub-base dependendo do tipo de tráfego que o
pavimento irá ser submetido.

PALAVRAS-CHAVE: deformação permanente, solos, módulo de resiliência, pavimentos.

1 INTRODUÇÃO importante com o crescimento da mecânica dos


pavimentos, havendo atualmente ensaios mais
O tráfego tem mudado ao longo dos anos assim apropriados que visam simular as condições que
como os veículos evoluíram e estão os materiais estariam submetidos em campo.
apresentando cada vez maior capacidade de Dentre os defeitos consequentes da má
carga e consequentemente solicitando mais o escolha dos materiais, não suportando o tráfego
pavimento que tem diminuído sua durabilidade. imposto, está o afundamento de trilha de roda
Além do tráfego, o pavimento é suscetível às (ATR) e sua presença excessiva pode levar à
intempéries e é uma estrutura que acumula diminuição da resistência à derrapagem dos
defeitos desde sua construção. pneus, com a ocorrência de hidroplanagem dos
Os danos estruturais dos pavimentos estão veículos. Além disso, os ATR podem gerar
ligados intimamente à capacidade de carga e aumento no consumo de combustíveis. De
intempéries como mencionadas, mas a modo geral afetam as condições de rolamento,
qualidade dos materiais que compõe o diminuindo o conforto, a economia e a
pavimento também é essencial. O conhecimento segurança que é propósito do pavimento.
do comportamento dos materiais que serão O ATR pode ser derivado da contribuição
aplicados nas rodovias, camadas abaixo do acumulativa de deformação permanente (DP) de
revestimento, tem se tornado cada vez mais uma ou mais camadas do pavimento e do
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subleito. No entanto, a avaliação da 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


contribuição de cada material geotécnico para o
ATR ainda é pouco explorado no país devido ao O equipamento triaxial de cargas repetidas é
fato de não ter sido o defeito mais expressivo utilizado para realização de dois ensaios, o
nas rodovias federais brasileiras. ensaio de deformação permanente e o ensaio de
Segundo WERKMEISTER et al. (2004), um módulo de resiliência (MR), e é caracterizado
pré-requisito para o sucesso da análise de um pela aplicação da tensão desvio imposta
pavimento é a caracterização comportamental verticalmente no topo da amostra, de forma
da deformação permanente dos materiais cíclica no sentido de compressão, e tensão
granulares constituintes das camadas de base e confinante constante durante todo o ensaio.
sub-base, tipicamente, entre outros aspectos. Dentre estes ensaios, o MR tem sido realizado
GUIMARÃES (2009) consolida a ideia de que com mais frequência ao longo dos anos e pode-
para se ter a garantia de que não haverá ruptura se citar trabalhos como de SANTOS (1998) que
plástica, é fundamental a busca de solos trabalhou com cerca de 15 solos granulares
granulares e finos em que as deformações lateríticos, e PREUSSLER (1978) que foi
permanentes apresentem o acomodamento considerado um dos estudos iniciais das
conhecido como shakedown. deformações elásticas de solos brasileiros.
Porém poucos ainda são os estudos Já SVENSON (1980) foi um dos estudos
brasileiros (GUIMARÃES, 2001, 2009; LIMA, pioneiros de deformação permanente de solos
2016; ZAGO, 2016; NORBACK, 2018) que no Brasil usando o equipamento triaxial de
envolvam as deformações permanentes de solos cargas repetidas para estudar quatro solos
e materiais granulares voltados a pavimentos argilosos de subleito, mas utilizou um modelo
rodoviários, sendo ainda pouco difundida a de deformação permanente vigente à época,
teoria do shakedown. conhecido como modelo de Monismith.
Vale salientar que o novo método de As teses de GUIMARÃES (2001, 2009)
dimensionamento, que está sendo proposto pelo apresentaram de forma detalhada o conceito do
Departamento Nacional de Infraestrutura de shakedown para deformações permanentes de
Transportes (DNIT) junto a outras instituições pavimentos e foram tomadas como base para
federais de ensino, irá incorporar a compreensão primeira norma de ensaio de deformação
à respeito das deformações permanentes dos permanente do país. O modelo de previsão de
materiais no pavimento. Para um correto deformação permanente proposto por
dimensionamento da estrutura do pavimento GUIMARÃES (2009) vem sendo utilizado para
asfáltico está previsto que será necessária a expressar os resultados dos ensaios de
caracterização da deformabilidade plástica e deformação permanente no novo método de
elástica de todos os materiais que compõem o dimensionamento de pavimentos asfálticos.
pavimento e o subleito, e estes ensaios deverão Trabalhos como de LIMA (2016) para
ser realizados no equipamento triaxial de cargas materiais granulares como brita, ZAGO (2016)
repetidas. para solos argilosos do Rio Grande do Sul e
Dentro desse contexto e frente ao fato que NORBACK (2018), que teve o objetivo de
temos diversificados tipos de materiais no estudar solo-brita, tem aumentado o
Brasil ainda a serem ensaiados no equipamento conhecimento de materiais brasileiros
triaxial de cargas repetidas, esta pesquisa busca disponíveis para aplicação em pavimentos,
avaliar o comportamento de três diferentes solos submetidos aos ensaios de MR e DP.
de distintas classificações segundo a
2.1 Deformação Permanente e a Teoria do
metodologia MCT e que são comumente
Shakedown
utilizados no estado do Rio de Janeiro.
A deformação permanente (deformação
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plástica) é a parcela da deformação total que após o período de pós-compactação; o Nível B,


corresponde aos deslocamentos que não conhecido como Plastic Creep, correspondente
retornam a posição original e que são a uma resposta intermediária entre os níveis A e
acumulados ao longo da vida do pavimento. C, onde a taxa de acréscimo de DP tende a se
(GUIMARÃES, 2009; LIMA, 2016) tornar constante e continua a acumular DP;
Para SVENSON (1980), o acúmulo de Nível C é a área conhecida como Incremental
deformações permanentes é causado por uma Collapse, na qual os incrementos de DP são
combinação de redução do volume e sucessivos por ciclo podendo atingir níveis de
deformação cisalhante, devido à repetição das ATR impróprios para uso do pavimento. O
cargas de tráfego e pode ser resultante da nível AB foi identificado em solos finos
contribuição da deformação permanente brasileiros e apresenta significativa deformação
acumulada proveniente de todas as camadas do seguida de acomodação. (GUIMARÃES, 2009;
pavimento e do subleito. LIMA e MOTTA, 2016)
Segundo BALBO (2007) apud NORBACK Ainda GUIMARÃES (2009) propôs o
(2018), a deformação permanente pode resultar modelo de previsão da deformação permanente,
na perda de qualidade do pavimento em relação apresentado na Equação 1, que foi desenvolvido
ao rolamento, ocorrendo comumente onde este para previsão das deformações permanentes.
apresenta baixa capacidade de resistência das
ψ2 ψ3
camadas inferiores. Incide onde há fluxo de σ  σ 
veículos mais pesados e faixas de tráfego ε p (%) = ψ1 . 3  . d  N ψ 4 (1)
estreitas ou canalizadas.  0   0 
De acordo com CERNI et al. (2012), a teoria
do Shakedown comporta a consideração da Onde,
existência de uma tensão crítica que separa o ε p (%) : deformação permanente específica (%);
nível estável de uma condição instável podendo ψ1 , ψ 2 , ψ3 , ψ 4 : parâmetros de regressão;
o pavimento ficar susceptível de aumentar
σ3: tensão confinante (MPa);
rapidamente a DP resultando em uma falha
σd: tensão desvio (MPa);
progressiva.
ρ0: tensão de referência (tensão atmosférica);
Para avaliação shakedown, os autores
N: número de ciclos de aplicação de carga.
WERKMEISTER et al. (2004) indicam três
tipos/níveis de comportamentos quanto à
2.2 Módulo de Resiliência
deformação permanente. Complementarmente,
GUIMARÃES (2009) identificou um quarto
O módulo de resiliência é um parâmetro que
nível. Para análise desses níveis em ensaio de
caracteriza o comportamento elástico dos
cargas repetidas utiliza-se a modelagem gráfica
materiais, como solos e britas, sob o
indicada por DAWSON e WELLNER (1999)
carregamento repetido em laboratório, ou pelas
como representada na Figura 1.
ações das cargas dos veículos repetidas sobre o
pavimento. Pode ser expresso como uma função
do estado de tensões aplicado durante o ensaio.
(NORBACK e MOTTA, 2017).
O MR é por definição a relação entre a
tensão desvio e a deformação específica
Figura 1. Níveis de resposta de deformação permanente resiliente expressa pela Equação 2. Mas tem
(LIMA e MOTTA, 2016, adaptado de Guimarães, 2009). sido pela Equação 3, conhecida como modelo
composto, que os resultados dos ensaios tem
O Nível A, nomeado Plastic Shakedown, é a sido analisados, pois tem apresentado melhor
resposta que se torna completamente resiliente enquadramento estatístico.
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MR =
d (2)
3.1 Métodos
r
Os ensaios de caracterizações convencionais
MR = k1. 3  . d  consistiram na classificação MCT por
k2 k3
(3)
NOGAMI e VILLIBOR (1995), difração de
raios-X que foi realizado com base na
Onde,
metodologia preconizada por Jackson (1969) e
MR: módulo de resiliência (MPa);
adotado no Laboratório de Geologia da UFRJ.
σ3: tensão confinante constante (MPa);
Os demais ensaios foram baseados nas
𝜎𝑑: tensão desvio aplicada repetidamente (MPa)
respectivas normas da Tabela 1.
𝜎𝑑 = (𝜎1-𝜎3);
 r : deformação axial resiliente específica; Tabela 1. Normas utilizadas para caracterizar os 3 solos.
k1, k2, k3: coeficientes da regressão. Ensaios/Propriedades Normas
Sedimentação – SE (%) NBR 7181/84
Segundo MEDINA (1997), a escolha pelo Curva de compactação – CC NBR 7182/16
termo resiliência para comportamento elástico Limite de liquidez – LL (%) NBR 6459/16
dos materiais foi devido às deformações Limite de plasticidade – LP (%) NBR 7180/16
recuperáveis (elásticas) nos pavimentos serem Expansão – EX (%) DNIT 160/12
muito superiores àquelas observadas em outros
tipos de estrutura para as quais se utiliza o
Os procedimentos para realização dos
módulo de Young.
ensaios mecânicos de DP e MR seguiram as
novas normas disponibilizadas pelo DNIT em
3 MATERIAIS E MÉTODOS
2018, respectivamente: DNIT 179/2018-IE
Pavimentação – Solos – Determinação da
3.1 Materiais
deformação permanente – Instrução de ensaio e
DNIT 134/2017-ME Pavimentação – Solos –
Nesta pesquisa são utilizados três solos (Figura
Determinação do módulo de resiliência –
2), onde, segundo a classificação MCT, dois são
Método de ensaio. Para cada um dos três
de comportamento não laterítico (NA’ e NG’) e
materiais foram realizadas triplicatas para
o outro denominado laterítico argiloso (LG’).
determinação do MR à frequência de 1 Hz e
Todos os solos são oriundos do estado do Rio
nove corpos de prova com estados de tensões
de Janeiro (RJ) próximos à cidade de Magé e
distintos, à 2 Hz, propostos pela norma para
comumente utilizados para pavimentos.
observação do acúmulo de DP. Todos os corpos
Inclusive estes materiais estão sendo utilizados
de prova tiveram dimensões 10x20 cm
na camada de base e reforço de subleito de uma
compactados na energia equivalente à de
duplicação de uma rodovia federal no RJ.
Proctor Intermediária em moldes tripartidos
assim como foram feitas as curvas de
compactação para definição da umidade ótima
(Hot) e massa específica aparente seca (MEAS).

4 RESULTADOS E ANÁLISES

4.1 Caracterização convencional

LG’ NA’ NG’ A Figura 3 indica a localização de cada solo


Figura 2. Imagem dos três solos utilizados nesta pesquisa. segundo a sua classificação baseado na
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metodologia MCT e as Tabelas 2 e 3 tem os Pela Tabela 3 é possível considerar todos os


resultados das caracterizações convencionais. solos utilizados como de caráter fino.
Nas Figuras 4 a 12 são apresentados os
difratogramas resultantes do ensaio de difração
por raios-X. Por meio de interpretações,
constatou-se que o solo LG’ apresenta em sua
composição Caulinita, Gibbsita e Goethita,
conferindo pouca expansão a essa amostra.
Verificou-se que o solo NG’ desta pesquisa
possui Caulinita e Ilita em sua composição
mineralógica, logo, esse material não deve ser
muito expansivo, e pouca atividade devido a
Ilita. Já o solo NA’ possui interestratificado Ilita
Figura 3. Classificação MCT para os solos desta pesquisa – Esmectita com predomínio de Ilita no
interestratificado e Caulinita, ou seja, essa
Tabela 2. Caracterização dos solos desta pesquisa. amostra pode ter um pouco de expansibilidade
Solo LL LP EX MEAS (g/cm³) Hot (%) devido à presença do interestratificado.
LG' 64 24 0,02 1,675 20,5
NA' - - 0,11 1,848 12,8
400

NG' 57 21 0,07 1,683 19,5


300
Counts

200

Tabela 3. Composição granulométrica dos solos.


100

Solo Pedregulho (%) Areia (%) Silte (%) Argila (%)


0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

LG' 1 34 17 48 Figura 4. Difratograma da amostra argila natural do solo


NA' 8 69 22 1 LG’ desta pesquisa.
NG' 7 40 24 29
100 120 140 160 180 200 220 240 260

Segundo a norma DNIT 139/2010, o limite


Counts

máximo no ensaio de expansibilidade (DNIT


80
60
40

160/2012) que o material pode apresentar para


20
0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

uma camada de sub-base é de 10%, ou seja, Figura 5. Difratogramam da amostra argila glicolada do
todos os solos atendem esse critério. O ensaio solo LG’ desta pesquisa.
DNIT 160/2012 é realizado no LNEC que é um
700
600

equipamento para medir a expansibilidade com


500
400

material seco, diferente do ensaio de expansão


Counts

300

da norma DNIT 049/1994 do California


200
100

Bearing Ratio (CBR) em que o solo é emerso


0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

em água e deve ter expansão ≤ 1%, o que Figura 6. Difratograma da amostra argila aquecida do
solo LG’ desta pesquisa
justifica a diferença nas considerações e limites
de aceitação do material. No entanto, pelas
600

especificações atuais, os solos LG’ e NG’ não


500
400

poderiam ser usados em camadas de pavimentos


Counts

300

pelos altos valores dos limites de consistência.


200

Vale salientar que os ensaios de caracterização


100

mecânica foram realizados com as Hot


0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

definidas pelas curvas de compactação para Figura 7. Difratograma da amostra argila natural do solo
NA’ desta pesquisa.
atingir as MEAS obtidas da Tabela 2.
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DP dos solos NA’ e NG’ podem ser encontradas


400

também em NORBACK e MOTTA (2017).


300

Observando o gráfico da Figura 13a para o


Counts

200

solo LG’, a deformação máxima encontrada foi


100

de 3,02 mm para o maior nível de tensão, sendo


0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

este valor considerado admissível, dado que a


2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

Figura 8. Difratograma da amostra argila glicolada do


solo NA’ desta pesquisa. contribuição percentual de deformação desse
material para uma camada de base, adotando
700

uma espessura de 20 centímetros, seria de 15%,


600

em relação a um ATR máximo do pavimento


500

12,5 mm.
Counts

400
300
200
100
0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

Figura 9. Difratograma da amostra argila aquecida do


solo NA’ desta pesquisa.
500
400
300
Counts

200
100
0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060
(a)
Figura 10. Difratograma da amostra argila natural do solo
NG’ desta pesquisa.
300
200
Counts

100
0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

Figura 11. Difratograma da amostra argila glicolada do


solo NG’ desta pesquisa.
(b)
500
400
300
Counts

200
100
0

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
2Theta (Coupled TwoTheta/Theta) WL=1,54060

Figura 12. Difratograma da amostra argila aquecida do


solo NG’ desta pesquisa.

4.2 Caracterização mecânica


(c)

Referente ao ensaio de deformação permanente


realizado no equipamento triaxial de carga Figura 13. Deformação permanente acumulada por
repetida, são apresentados na Figura 13 os número de aplicação de ciclos de carga no equipamento
gráficos resultantes após as amostras serem triaxial de cargas repetidas para os solos de classificação
submetidas à aplicação mínima de 150.000 (a) LG’, (b) NA’, e (c) NG’.
ciclos de carga. Destes três solos, as curvas de
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No que diz respeito à DP do solo NA’ indicando que quanto maior a tensão desvio,
(Figura 13b), este apresentou deformação maior maior a deformação permanente resultante. Em
que 4 mm com a aplicação do maior par de relação aos parâmetros encontrados para o
tensão confinante e desvio, valor considerado número de ciclos de carga, o Ψ4, todos os
elevado. Seus ensaios 1, 2, 3, 4 e 5 apresentam valores foram muito próximos, variando entre
um rápido aumento de deformação nos ciclos 0,05 e 0,06, exercendo influência semelhante
iniciais, e posteriormente, a tendência do para os materiais, e menor do que as tensões.
material é apresentar certo acomodamento das Dentre os três tipos de solos, o LG’ foi o
suas partículas. Já para os ensaios de 6 a 9 material que apresentou melhor comportamento
observa-se que com a aplicação dos ciclos de em relação às curvas de DP, visto que nos ciclos
carga, a amostra tende a continuar se iniciais apresentou um rápido acúmulo de
deformando, não tendendo a acomodar sua DP. deformação permanente e, com a aplicação de
A DP máxima acumulada em 150 mil ciclos ciclos de carga ao longo do tempo, essa taxa de
encontrada para NG’, como pode ser observada crescimento foi diminuindo, não chegando a ser
na Figura 13c, foi no ensaio 9 (σd=360 kPa e nula, mas apresentando acomodamento do
σ3= 120kPa), com valor maior que 3,5 mm que material ao longo dos ciclos para todos os pares
é considerado elevado, visto que se este de tensão.
material estivesse em uma camada do Observa-se pelas Figuras 13 que a razão de
pavimento com espessura de 20 centímetros, tensão 1 apresenta menores deformações, e
estando submetida às tensões aplicadas no conforme essa razão aumenta, no caso razão de
ensaio 9, a contribuição de deformação dessa tensão 2 e 3, nota-se valores de deformação
camada seria de quase 20% em relação a um maiores. Logo, o aumento da tensão desvio para
ATR de 12,5 cm, para N = 2x105, sem a mesma tensão confinante causa maior
tendência ao acomodamento. acúmulo de deformação permanente total da
Como observado na Figura 13c, os ensaios 1 amostra, proporcionalmente como já observado
e 2 tendem ao acomodamento das suas em outros trabalhos (GUIMARÃES, 2009;
partículas com a aplicação das cargas, e os LIMA, 2016; ZAGO, 2016).
demais ensaios, apresentam crescimento até o
fim dos 150.000 ciclos e no ensaio 9 (σd=360 Tabela 4. Parâmetros do modelo de GUIMARÃES
kPa e σ3= 120kPa) até com 200.000 ciclos de (2009) para os materiais desta pesquisa.
Solo Ψ1 Ψ2 Ψ3 Ψ4 R²
aplicação de cargas. Constatou-se para este par
NA’ 0,57 0,71 0,28 0,05 0,77
de tensões que mesmo aplicando 50.000 ciclos a
NG’ 0,39 0,84 0,54 0,06 0,81
mais nessa amostra não chegaria ao
LG’ 0,32 -0,09 1,21 0,05 0,96
acomodamento da deformação, prosseguindo o
acúmulo de DP.
Pela Tabela 4 observa-se que somente o
Na Tabela 4 estão os valores de Ψ1, Ψ2, Ψ3 e
material NA’ apresentou valor de R² inferior a
Ψ4 e também os valores de R² para cada os
0,8, mas o modelo ainda é representativo.
solos desta pesquisa. Os parâmetros do modelo
Foram feitas análises adicionais com erro
de GUIMARÃES (2009) foram obtidos após
quadrático que confirmou a eficiência estatística
regressão multipla realizada no programa
do modelo para estes materiais.
Statistica 8.0.
Para todos os ensaios foi realizado controle
Observa-se que os materiais que não
da umidade para que estivesse em torno da
apresentaram valores negativos para o
ótima obtida nas curvas de compactação, sendo
parâmetro de tensão confinante Ψ2 foram os
permitida uma variação de 0,5%.
solos NA’ e NG’ . Para o parâmetro referente à
tensão desvio Ψ3, todos os materiais e misturas Quanto ao estudo do shakedown, na Tabela 5
estão as classificações em níveis por ensaio de
estudadas apesentaram valores positivos,
DP de cada um dos três solos estudados nesta
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pesquisa, e nos gráficos da Figura 14 estão as que foram diferenciados com base em
curvas de taxa de acréscrimo de DP como o resultados de materiais granulares, ainda estão
modelo da Figura 1 utilizadas para classificar. sendo aprimorados em uma pesquisa de
Destes solos, o que mais apresentou nível A doutorado em andamento na COPPE/UFRJ para
foi o LG’, e o que mais apresentou nível do tipo que se possam englobar os diferentes tipos de
B foi o NG’. O LG’ e NA’ mostraram um solos brasileiros.
comportamento do qual tendia ao acréscimo de
DP e depois passou a acomodar, o que indica Tabela 5. Níveis dos ensaios no estudo de shakedown dos
um nível do tipo AB. Adicionalmente o NA’ três solos desta pesquisa.
manifestou comportamento difícil de identificar Ensaio σc (kPa) σd (kPa) LG' NA' NG'
visualmente, mas que se classificou como B. 1 40 A A A
2 40 80 A A A
3 120 A A B
4 80 A A B
5 80 160 A A/AB B
6 240 A A/AB B
7 120 A B/AB B
8 120 240 A B/AB B
9 360 A/AB B/AB B

Na Tabela 6 encontram-se os parâmetros do


(a)
modelo composto de MR e a média dos valores
de MR médio, mínimo e máximo referente aos
três corpos de prova ensaiados. O solo de
comportamento laterítico LG’ de 353 MPa, os
solos não-lateríticos NA’ e NG’ apresentaram
123 e 303 MPa, condizentes com os valores
para esses tipos de solos na literatura. Pode-se
concluir que o NA’ é o que apresentou menor
rigidez.
(b)
Tabela 6. Parâmetros do modelo composto de MR para os
três solos em análise desta pesquisa.
Solo k1 k2 k3 R2 MRmédio MRmin MRmáx
LG' 109,4 0,17 -0,68 0,9 353 124 476
NA' 51,8 0,36 -0,79 0,79 123 45 331
NG' 135,2 0,26 -0,65 0,85 303 110 390

4.3 Análise com materiais da literatura

A Tabela 7 apresenta o modelo de previsão de


(c)
deformação permanente de Guimarães para os
três solos deste artigo e para alguns solos da
Figura 14. Análise shakedown para os solos desta tese de GUIMARÃES (2009): Laterita de Porto
pesquisa: (a) LG’, (b) NA’, e (c) NG’. Velho, classificada como pedregulho, a Argila
de Ribeirão Preto e a Areia Argilosa do ES de
Vale salientar que critérios quanto aos níveis, classificação LG’, e o Solo Papucaia que é
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NS’/NA’ (solo não laterítico silte/arenoso). Deve-se considerar que quando a tensão
Adicionalmente há três solos de ZAGO (2016): confinante (parâmetro Ѱ2) resulta em valores
Areia Argilosa de classificação NA’/NG’ e negativo, indica uma menor influência nas
Argilas Arenosas classificadas como LG’. deformações permanentes, ocorrendo o inverso
Os coeficientes de correlação R² para todos para a tensão desvio (parâmetro Ѱ3), que exerce
os modelos calibrados da Tabela 7 variaram de maior influência no aumento das deformações
0,70 a 0,95, o que pode ser considerado como permanentes acumuladas, ou seja, quanto maior
comportamento satisfatório para todos os for a tensão desvio em relação a tensão
materiais. Dentre os R², o menor deles foi confinante, maiores serão as deformações
resultado de um dos solos desta pesquisa. Os permanentes resultantes.
erros quadráticos também confirmaram Ao que tudo indica, pelos parâmetros na
possibilidade do uso do modelo. Tabela 7, a tensão vertical (σd) tem sido a
Ainda observando a Tabela 7, é possível principal responsável pela deformação
apontar tendências com relação aos parâmetros permanente de solos.
de regressão: os Ψ2 da tensão confinante foram
em geral positivos e os parâmetros referentes à 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
tensão desvio, Ψ3, apresentaram valores
positivos assim como Ψ4. O parâmetro do Em vista dos resultados obtidos para os solos de
número de ciclo de carga, o Ψ4, distingui-se dos classificação NG’ e NA’, pode-se concluir que
outros pelo fato de todos os valores terem estes materiais apresentam elevada deformação
retratado exercer similar influência: muito permanente ao longo da aplicação dos ciclos de
próximos e baixos. carga. O NG’ na maioria dos ensaios não
apresentou acomodamento, e o NA’ em alguns
Tabela 7. Parâmetros do modelo de GUIMARÃES pares de tensão também não acomodou, não
(2009) de previsão de DP para sete materiais distintos. sendo recomendável a utilização desses
materiais em camadas de pavimento que terão
Material Ψ1 Ψ2 Ψ3 Ψ4 R²
solicitação de tensões da ordem de grandeza das
NA’ 0,57 0,71 0,28 0,05 0,77
NG’ 0,39 0,84 0,54 0,06 0,81
maiores simuladas nos ensaios.
LG’ 0,32 -0,09 1,21 0,05 0,96
Também se constatou que o solo do tipo LG’
foi o que apresentou menores deformações
Laterita de permanentes acumuladas até 150 mil ciclos e
Porto 0,18 0,47 0,33 0,04 0,80 melhor enquadramento quanto ao
Velho comportamento do material dentro do estudo
Argila
shakedown, mostrando que é um material que
Ribeirão 0,20 -0,24 1,34 0,03 0,98
Preto acomoda. O MR atingiu valores como de brita
Areia graduada simples. De modo geral, foi o melhor
Argilosa 0,45 0,09 1,57 0,05 0,90 material dos três e é possível afirmar, com
do ES relação a essas caracterizações, que é um solo
Solo
0,24 0,41 1,30 0,06 0,94 recomendado para pavimento e possível de
Papucaia
aplicação em qualquer uma das camadas: base,
CI - Areia sub-base, ou mesmo subleito. Confirma a ideia
0,59 -0,20 1,33 0,04 0,92 que os materiais lateríticos são bons para
Argilosa
TR - Argila
0,39 -0,86 1,52 0,08 0,92 pavimentos.
Arenosa Vale salientar que é importante executar
JC - Argila
Arenosa
0,87 0,01 1,21 0,04 0,90 ensaios de deformação permanente e módulo de
resiliência como realizados neste estudo, não só
as caracterizações e CBR (California Bearing
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Ratio), utilizado por muito tempo no Brasil, de Janeiro.


pois não expressam bem algumas propriedades Guimarães, A. C. R. (2009) Um Método Mecanístico-
Empírico para a previsão da Deformação
dos materiais quando estes são submetidos a Permanente em Solos Tropicais Constituintes de
cargas ciclicas de longa duranção. Além disso, o Pavimentos. Tese de Doutorado, Programa de
estudo do shakedown é uma forma eficiente no Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro,
auxílio de escolha de materiais para RJ.
pavimentos, como verificado nas conclusões Lima, C. D. A. (2016) Estudo da deformação permanente
de brita graduada. Tese de Mestrado, Programa de
anteriores, podendo auxiliar na previsão de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro,
como seria o desempenho dos materiais em RJ.
campo. Lima, C. D. A. e Motta, L. M. G. (2016) Study of
Por fim, a partir dos resultados obtidos no Permanent Deformation and Granulometric
equipamento triaxial de cargas repetidas, foi Distribution of Graded Crushed Stone Pavement
Material. Advances in Transportation Geotechnics III.
possível encontrar os parâmetros para o modelo Procedia Engineering, v. 143, p. 854-861.
de previsão de deformação permanente e sua Medina, J. de. (1997) Mecânica dos Pavimentos. Rio de
utilização apresentou ser pertinente, de forma Janeiro: Editora da Universidade Federal do Rio de
estatisticamente satisfatória. Adicionalmente, Janeiro.
Nogami, J. S. e Villibor, D. F. (1995) Pavimentação de
observando também os modelos já existentes na
baixo custo com solos lateríticos. São Paulo, 240p.
literatura, verificou-se que a tensão desvio Norback, C. (2018) Caracterização do módulo de
exerceu maior influência que a tensão resiliência e da deformação permanente de três solos
confinante nos solos. e misturas solo-brita. Tese de Mestrado, Programa de
Ademais, este estudo contribui para o Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro,
RJ.
aumento de banco de dados de solos com
Norback, C. e Motta, L. M. G. (2017) Deformabilidade
parâmetros do modelo de previsão de permanente e módulo de resiliência de dois solos e
deformação permanente que será necessário uma brita usados em um segmento de rodovia. XXI
para o novo método de dimensionamento ANPET - Congresso de pesquisa e ensino de
mecanístico-empírico de pavimentos asfálticos Transportes, Recife, Outubro/Novembro.
Preussler, E. S. (1978) Ensaios Triaxiais Dinâmicos de
do DNIT.
um Solo Arenoso. Dissertação de Mestrado, Programa
de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro,
AGRADECIMENTOS RJ.
Santos, J. D. G. (1998) Contribuição ao Estudo dos Solos
Ao laboratório de Geologia da UFRJ que Lateríticos Granulares como Camada de Pavimento.
Tese de Doutorado, Programa de Engenharia Civil da
possibilitou a realização dos ensaios de difração COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, RJ.
por raios-X. Svenson, M. (1980) Ensaios Triaxiais Dinâmicos de
Solos Argilosos. Tese de Mestrado, Programa de
REFERÊNCIAS Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro,
RJ.
Cerni, S., Cardone, F., Virgili, A., et al. (2012) Werkmeister, S., Dawson, A. R., Wellner, F. (2004)
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Building Materials, n 28, pp. 79–87. Zago, J. P. (2016) Estudo da Deformação Permanente de
Dawson A. R. e Wellner F. (1999) Plastic behavior of três solos típicos de subleitos rodoviários de Santa
granular materials. Final Report ARC Project 933, Maria-RS. Tese de Mestrado, Programa de Pós-
University of Nottingham. Reference PRG99014, Graduação em Engenharia Civil. Santa Maria, RS.
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Guimarães, A. C. R. (2001) Estudo de Deformação
Permanente em Solos e Teoria do Shakedown
Aplicada a Pavimentos Flexíveis. Tese de Mestrado,
Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio
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Desempenho de Misturas de Fresado de Asfalto - Cinza Volante –


Cal de Carbureto, Submetidas a Condições Climáticas Severas.
Vinícius Batista Godoy
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, vinigodoy@msn.com

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

Hugo Carlos Scheuermann Filho


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, hugocsf@gmail.com

Caroline M. De C. Rosenbach
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
carolmomoli@gmail.com

Antônio H. Carraro
Imperial College London, Londres, Reino Unido, antonio.carraro@imperial.ac.uk

Helena Batista Leon


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
helenableon@gmail.com

Mariana da Silva Carretta


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
marianacarretta@gmail.com

RESUMO: As análises de melhoramento de solos com uso de cinzas volantes e cal realizadas até o
momento se baseiam principalmente na resistência após certo período de cura, desconsiderando o
desempenho a longo prazo, a durabilidade. Esta pesquisa avalia o impacto do teor de cal de
carbureto e do peso específico seco (γd) em misturas de fresado de asfalto (RAP) – cinza volante de
carvão – cal de carbureto, com e sem adição de 0,5% de sal (NaCl) em relação ao desempenho
destas misturas submetidas a ciclos de molhagem-secagem (WD) e congelamento-degelo (FT). As
misturas consideraram três pesos específicos aparentes secos (17, 18 e 19 kN/m³), a umidade de 9%
e três porcentagens de cal de carbureto (3 %, 5% e 7%), sendo os espécimes curados por 7 dias a
23°C. A resistência a tração por compressão diametral (qt), a compressão não confinada (qu) e a
perda de massa acumulada (PMA) de ambos os tipos de durabilidade (WD e FT), foram avaliados
em função do índice porosidade / teor volumétrico de cal (η/Liv). Os resultados mostraram que os
ganhos mais significativos de durabilidade ocorreram para os ciclos de congelamento-degelo com
adição de sal (11,8%), com o aumento da energia de compactação (20,6%) e com o aumento do teor
de cal de carbureto (19,7%), sendo o ganho de durabilidade com ciclos de molhagem e secagem de:
0,83%, 1,15%, 0,37%, respectivamente. Através de ensaios de compressão triaxial drenados (γd =
17 kN/m³ e 7% de cal), observou-se um aumento de 3,4° no ângulo de atrito e 42,8 kPa no
intercepto coesivo com a adição de 0,5% de NaCl.

PALAVRAS-CHAVE: Fresado, Resistência, Durabilidade, NaCl.


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1 INTRODUÇÃO distintos sais (NaCl, MgO e KMnO4) em


misturas de CFA-cal como ativadores de
Na prática da engenharia civil é comum se reações pozolânicas.
deparar com casos onde o local escolhido para a Até então, as pesquisas envolvendo os
implantação de determinada obra não apresenta materiais geotécnicos mencionados acima
condições desejadas para realização de tal abordam o comportamento mecânico
empreendimento, principalmente do ponto de (resistência à compressão não confinada,
vista geotécnico. Ao longo das últimas décadas, módulo de resiliência e módulo dinâmico),
inúmeras metodologias de melhoramento de sendo que a durabilidade (desempenho a longo
solos vêm sendo estudas e aprimoradas visando prazo) recebeu atenção reduzida.
solucionar tal problema. Desta forma, avaliar a durabilidade deste
Dentro deste cenário, certas atividades material é fundamental antes de empregá-lo em
industriais produzem grandes quantidades de trabalhos geotécnicos reais, onde estas misturas
resíduos que são frequentemente descartadas estarão submetidas a intempéries da natureza,
sem o devido tratamento. Particularmente no como chuvas e secas (grande variação de
Brasil, são gerados anualmente 3.350.000 umidade) e congelamento e degelo (grande
toneladas de cinzas volantes de carvão (CFA) variação de temperatura). Este cenário é muito
como subproduto da produção de eletricidade comum na região sul do Brasil que possui clima
(ROHDE, 2006). subtropical e temperado, onde as estações são
Outro resíduo gerado em grandes bem definidas, com temperaturas variando de -
quantidades é o resíduo de pavimentos de 15 °C a 40 °C ao longo do ano (INPE, 2017).
asfalto recuperado (RAP), também denominado Este estudo centra-se na resistência e
de fresado. Uma das maneiras de corrigir durabilidade de misturas com RAP, cinza
defeitos nos pavimentos é através de sua volante de carvão mineral e cal, com e sem
restauração, onde o antigo pavimento de asfalto adição de sal (NaCl), sujeitas a condições
é cortado. Esta operação produz uma grande climáticas severas (ciclos de molhagem-
quantidade de resíduos (FHWA, 2011). Uma secagem e congelamento- degelo) sob cura de 7
alternativa viável para a reutilização destes dias a 23°C. Sendo uma das principais
resíduos é através de sua estabilização com contribuições desta pesquisa ao conhecimento a
materiais cimentantes e posterior aplicação ampliação da aplicabilidade do índice
como camadas de base e sub-base de novos porosidade/teor volumétrico de cal (η/Liv) em
pavimentos (PUPPALA et al. 2011). relação à resistência e durabilidade dos
Nesse sentido, Consoli et al. (2011) materiais estudados.
desenvolveram um procedimento de dosagem
para misturas com resíduos industriais
compactados, envolvendo o índice 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
porosidade/teor volumétrico de cal (η/Liv), que
mostrou ser um parâmetro adequado para prever 2.1 Materiais
a resistência à compressão não confinada (qu) de
misturas com cinza volante e cal. A distribuição dos tamanhos de grãos do RAP e
Poucos autores estudaram o efeito do sal na suas características gerais seguiram a ASTM D
estabilização do solo. Drake e Haliburton 6913 (2017), sendo apresentadas na Tabela 1 e
(1972) foram os primeiros a observar que a na Figura 1. Este agregado foi recuperado da
inclusão de sal provoca um efeito catalítico nas BR 290. O conteúdo de betume (SBS Modified
reações cimentícias, causando uma redução - PG 70-22S) encontrado no RAP foi de cerca
significativa no tempo de cura. Recentemente, de 5,0%, tendo sido determinado de acordo com
Saldanha et al. (2016) investigaram a adição de a ASTM C 593 (2011). A densidade do RAP,
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em relação ao agregado grosseiro, foi Tabela 1. Propriedades do RAP e da CFA


determinada de acordo com a NBR NM 53 Propriedades RAP CFA
(2009a) e, para o agregado fino, utilizou-se a Índice de Plasticidade Não
(%) Não Plástico Plástico
NBR NM 52 (2009b). A cinza volante (CFA)
Massa Específica Real 2,51 2,18
selecionada é do tipo F de acordo com a ASTM dos Grãos (kN/m³)
C618 (ASTM, 2008), sendo um resíduo da Cascalho (4,75 mm < 52,0 -
queima de carvão em usinas termoelétricas. Os diâmetro) (%)
resultados dos ensaios de caracterização da Areia Grosseira (2,00
CFA também são apresentados na Tabela 1. mm < diâmetro < 24,0 -
4,75mm) (%)
Como resultado da espectrometria de Areia Média (0,425 <
fluorescência de raios X (DRX) foi possível diâmetro < 2,00 mm) 19,0 0,1
identificar os principais componentes da CFA, (%)
dentre os quais se destacam SiO2 (64,8%), Areia Fina (0,075 mm <
Al2O3 (20,4%), Fe2O3 (4,8%) e CaO (3,1% ). diâmetro < 0,425 mm) 5,0 13,5
(%)
Silte (0,002 mm <
diâmetro < 0,075 mm) - 84,1
(%)
Argila < 0,002 mm) (%) - 2,3
Diâmetro Médio, D50 5,0 0,022
(mm)
GW ML (Siltes
(Pedregrulho e Areias
Classificação SUCS*
Bem Muito
Graduado) Finas)
*Sistema Unificado de Classificação de Solos
[ASTM D 2487 (2006)]

2.2 Métodos

2.2.1 Moldagem e Cura dos Corpos de prova

A nomenclatura dos corpos de prova foi


definida da seguinte forma: Peso específico
Figura 1. Curva Granulométrica do RAP e da cinza
aparente seco / % de Cal / % de Sal (sigla em
volante de carvão (CFA).
inglês do tipo de ensaio de durabilidade: WD-
A cal de carbureto é um subproduto da molhagem e secagem; FT – congelamento e
fabricação de gás acetileno no município de degelo). Conforme indicado na Tabela 2.
Esteio (Rio Grande do Sul). Análises químicas Os teores de cal aplicados às misturas foram
indicaram os seguintes componentes da cal de baseados no método ICL (Initial Consumption
carbureto: CaO (95,1%), MgO (1,5%) e CaCO3 of Lime), proposto por Rogers et al. (1997). Tal
(0,8%). método executa medições de pH da mistura
Água destilada foi empregada tanto para os com diferentes teores de cal. O teor mínimo de
ensaios de caracterização como para a cal a ser aplicado é o percentual no qual o pH
moldagem dos corpos de prova. atinge um valor máximo e constante. Obteve-se
assim os valores de 3, 5 e 7% nesta pesquisa. Os
pesos específicos (17, 18, e 19 kN/m³) e o teor
de umidade (9 %) foram baseados nas curvas de
compactação obtidas por ensaios de proctor
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normal. É importante citar que a porcentagem cura de 7 dias a 23°C. Antes de cada ensaio ser
de CFA foi mantida constante (25%) em todas realizado, os espécimes foram imersos em água
as misturas. A porcentagem de sal (0,5% de durante 24 horas, visando completa saturação,
NaCl) baseou-se nos estudos de Saldanha reduzindo a sucção (Consoli et al. 2011).
(2017). O tempo de cura para todas as amostras
foi de 7 dias a 23°C. 2.2.2 Ensaios de Compressão Simples (não-
confinada)
Tabela 2. Nomenclatura dos Corpos de Prova.
Características do Corpo de Prova Devido a granulometria do RAP, foram
Nomenclatura
γd (kN/m³) Cal (%) NaCl (%) utilizados corpos de prova de 10 cm de
γd 14/C5/S0 14 5 0 diâmetro e 20 cm de altura, de acordo com a
γd 14/C5/S0 14 5 0 norma ASTM C 39 (2010). A prensa automática
γd 14/C5/S0,5 14 5 0,5 utilizada possui capacidade máxima de 100 kN,
γd 14/C5/S0,5 14 5 0,5 com anel dinamométrico calibrado com
γd 15/C3/S0 15 3 0 capacidade de 10 kN, e resolução de 0,005 kN
γd 15/C3/S0 15 3 0 (0,5 kgf). A velocidade de deformação destes
γd 15/C3/S0,5 15 3 0,5
ensaios foi de 1,14 mm por minuto.
γd 15/C3/S0,5 15 3 0,5
γd 15/C5/S0 15 5 0
2.2.3 Ensaios de Tração na Compressão
γd 15/C5/S0 15 5 0
Diametral
γd 15/C5/S0,5 15 5 0,5
γd 15/C5/S0,5 15 5 0,5
Os ensaios de tração na compressão
γd 15/C7/S0 15 7 0
diametral seguiram a norma NBR NM 8 (1994).
γd 15/C7/S0 15 7 0
Os mesmos procedimentos, equipamentos e
γd 15/C7/S0,5 15 7 0,5
critérios de controle utilizados nos ensaios de
γd 15/C7/S0,5 15 7 0,5
compressão simples foram aplicados neste
γd 16/C5/S0 16 5 0
ensaio, alterando apenas a posição do corpo de
γd 16/C5/S0 16 5 0
γd 16/C5/S0,5 16 5 0,5
prova durante o ensaio e suas dimensões (6 cm
γd 16/C5/S0,5 16 5 0,5
de altura e 10 cm de diâmetro).
γd 16/C7/S0 16 7 0
γd 16/C7/S0 16 7 0
2.2.4 Ensaios de Durabilidade – Molhagem-
γd 16/C7/S0,5 16 7 0,5 Secagem (WD)
γd 16/C7/S0,5 16 7 0,5
Para este tipo de ensaio foram moldados corpos
de prova de 12,3 cm de altura e 10 cm de
A quantidade de RAP, cinza volante e cal
diâmetro. Os testes de durabilidade através de
constituem a massa seca total da mistura, sendo
ciclos de molhagem-secagem foram realizados
as quantidades de água e sal calculadas em
de acordo com a ASTM D 559 (2015), tal
relação à soma do material seco. Após a
norma determina a perda de massa após ciclos
pesagem dos materiais ocorreu a mistura até
de raspagens. Os procedimentos de teste
completa homogeneização e, em seguida, foi
determinam as perdas de massa produzidas por
adicionada a água destilada. Posteriormente
12 ciclos de molhagem e secagem. Cada ciclo
ocorreu a etapa de moldagem dos corpos de
possui duração de 48 horas, sendo 5 horas de
prova. Obtendo por fim, com uso de balança de
imersão em água (23°C ± 2°C), 42 horas de
precisão e paquímetro, a massa e medidas
secagem em estufa a 71°C ± 2°C e 1 hora de
(diâmetro e altura) com resolução de 0,01 g e
intervalo para escovagem e pesagem do corpo
0,1 mm, respectivamente. Em seguida, foi feito
de prova. Conforme a norma, adotou-se um
o acondicionamento em sacos plásticos para
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número fixo de 19 passadas de escova de aço na A Figura 2 exibe os resultados para a resistência
lateral do corpo de prova e 4 passadas em cada à compressão não confinada (qu) das misturas
face, com uma força de 13,3 N em cada com e sem adição de NaCl, em termos de
escovada. η/(Liv)0,11. A regressão quadrática resultou em
valores mais próximos de 1 (melhor ajuste) que
2.2.5 Ensaios de Durabilidade – a regressão linear. Tal análise indica que o
Congelamento-Degelo (FT) índice porosidade/teor volumétrico de cal
η/(Liv)0,11 é uma boa ferramenta na
A norma ASTM D 560 (2016) determina as determinação da resistência a compressão
perdas em massa produzidas após 12 ciclos de simples das misturas analisadas. Pode-se
congelamento e degelo. Sendo todo ciclo analisar também um aumento de 43,1% em
iniciado através do congelamento dos corpos de relação a resistência à compressão simples para
prova a uma temperatura inferior a -23°C. Após as misturas de RAP-CFA-cal de carbureto com
24 horas de congelamento, os corpos de prova adição de 0,5% de NaCl, curadas a 23°C.
foram descongelados em temperatura de 23°C ±
2°C, por 23 horas. Posteriormente, ocorriam as
escovagens da mesma forma descrita para
molhagem e secagem.

2.2.6 Ensaios Triaxiais

Os corpos de prova para este tipo de ensaio


possuem dimensões de 10 cm de diâmetro e 20
cm de altura. Todos os ensaios triaxiais são
consolidados isotropicamente drenados (CID).
Os procedimentos gerais adotados na
preparação e execução dos ensaios triaxiais
seguiram os princípios descritos por Bishop &
Henkel (1962) e Head (1980 a, b).
A saturação foi monitorada através do
parâmetro B de Skempton (1954), sendo Figura 2. qu x η/(Liv)0,11 para as misturas de RAP-CFA-cal
de carbureto com e sem sal, curadas a 23°C.
considerados 100% saturados os corpos de
prova com B ≥ 0,9, equivalente a solos muito
3.2 Tração na Compressão Diametral
cimentados (HEAD, 1998). Na etapa de
consolidação isotrópica adotou-se valores de
Através da Figura 3 é possível analisar os
tensão efetiva inicial de 20, 40 e 60 kPa, valores
resultados obtidos para a resistência à
típicos aplicados em base e sub-base de
compressão diametral das misturas de RAP-
pavimentos. No sétimo dia de cura ocorreu o
CFA-cal de carbureto, com e sem a adição de
cisalhamento de taxa de deformação constante
0,5% de NaCl, em termos de η/(Liv)0,11.
(0,06 mm/min). No cálculo da tensão desvio, a
Percebe-se um aumento de 17% da
correção de área foi aplicada, conforme La
resistência diametral (qt), com a adição de 0,5%
Rochelle et al. (1988).
de NaCl. Dividindo-se as equações de ambos os
tipos de resistência analisadas, obtêm-se uma
3 RESULTADOS
relação qt/qu de 0,17 e 0,14, valores próximos
aos encontrados por Pasche (2016) em misturas
3.1 Compressão Simples (não-confinada)
com RAP e cimento.
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Figura 3. qt x η/(Liv)0,11 para as misturas de RAP-CFA-cal


de carbureto com e sem sal, curadas a 23°C.

3.3 Durabilidade com ciclos de


Congelamento-Degelo (FT)
Figura 4. Perda de Massa Acumulada (PMA) X Ciclos de
congelamento-degelo (FT), para misturas de RAP-CFA-
A Figura 4 expressa os resultados de perda de cal de carbureto, com e sem sal.
massa acumulada (PMA) após 12 ciclos de
congelamento-degelo para as misturas de RAP- Através da análise de todas as misturas
CFA-cal de carbureto com ou sem adição de sal. testadas, pode-se afirmar a seguinte ordem de
Comparando o comportamento dos eficácia em termos de maiores ganhos de
espécimes sem sal com aqueles em que o sal é durabilidade (FT):
adicionado à mistura, pode-se observar que o
ganho mais significativo de durabilidade ocorre Compactação > % NaCl > % Cal de Carbureto
para o corpo de prova γd17/C5/S0,5 (FT), cuja
melhora é de 11,8%. Analisando-se as outras Tendo por base a Figura 5, que retrata a
misturas estudadas, percebeu-se que a adição de normalização da perda de massa acumulada
0,5% de NaCl é altamente efetiva para aumentar (PMA) pelo número de ciclos em relação ao
a durabilidade (FT) de misturas com peso índice porosidade/teor volumétrico de cal
específico de 18 kN/m³. [η/(Liv)0,11] pode-se afirmar que a PMA é
Um aumento relevante de 20,6% na controlada por η/(Liv)0,11 para todos os ciclos de
durabilidade (FT) causada pelo aumento da congelamento e degelo. Elevadas correlações
energia de compactação pode ser notado para a (com R² variando entre 0,89 e 0,90) podem ser
mistura de γd = 17 kN/m³ quando comparado ao percebidas para as misturas, sendo nítido o
espécime com γd = 19 kN/m³ (grande aumento aumento de durabilidade (FT) com adição de
no grau de compactação). Analisando-se o apenas 0,5% de NaCl. Além disso, pode-se
efeito do teor de cal de carbureto a mistura, inferir que a redução na PMA devido à adição
encontra-se um aumento de durabilidade (FT) de sal é mais pronunciada para valores mais
de 19,7% para γd17/C7/S0 (FT) em relação aos elevados de η/Liv, isto é, para misturas com
corpos de prova γd17/C3/S0 (FT), com o porosidades mais altas (menor compactação) e
aumento de 4% do teor de cal. menores teores de cal.
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Figura 6. Perda de Massa Acumulada (PMA) X Ciclos de


molhagem-secagem (WD), para misturas de RAP-CFA-
cal de carbureto, com e sem sal.

Figura 5. Perda de massa acumulada dividida pelo Já em relação ao aumento da compactação,


número de ciclos de durabilidade X η/(Liv)0,11 para 6, 9 e
percebeu-se uma melhoria de durabilidade
12 ciclos de misturas de RAP-CFA-cal de carbureto.
(WD) de 1,15% para a mistura de γd17/C5/S0
3.4 Durabilidade com ciclos de Molhagem- (WD) quando comparada ao espécime
Secagem (WD) γd19/C5/S0 (WD) - elevado aumento no grau
de compactação. Analisando-se o efeito do teor
A Figura 6 apresenta relações de perda de massa de cal de carbureto à mistura, encontra-se um
acumulada (PMA) em relação ao número de aumento de durabilidade (WD) de 1,42% para
ciclos de molhagem e secagem para as misturas γd17/C7/S0 (WD) em relação ao espécime
com RAP. γd17/C3/S0 (WD) - aumento de 4% do teor de
Comparando a Figura 4 com a Figura 6 é cal de carbureto.
perceptível que os espécimes submetidos a Tendo por base a Figura 7, que exibe a PMA
ciclos de molhagem-secagem têm ligações mais das misturas (a) sem adição de 0,5% de NaCl e
fortes e, portanto, menores perdas de massa do das misturas (b) com adição de sal versus o
que os corpos de prova submetidos a ciclos de índice porosidade / teor volumétrico de cal após
congelamento e degelo, sendo que a PMA é 3, 6, 9 e 12 ciclos de molhagem e secagem,
reduzida com o aumento do teor de cal de percebe-se que, também para este tipo de
carbureto e com o aumento do peso específico durabilidade, a relação η/(Liv)0,11 controla o
aparente seco (γd). comportamento a longo prazo (durabilidade)
Comparando os espécimes sem sal com das misturas analisadas. A análise dos dados
aqueles com sal, observa-se que o ganho mais apresentados sugere um comportamento
significativo de durabilidade ocorre para os diferente entre os ensaios de durabilidade, FT e
corpos de prova γd17/C5/S0 (WD), cuja WD, relativos à eficiência de cada componente
melhora é de 0,83%. Percebe-se nitidamente na mistura. Sendo que os principais motivos
que a adição de 0,5% de NaCl possui efeitos para essas diferenças se devem ao processo de
mais pronunciados nos ciclos de congelamento molhagem e variação de temperatura de cada
e degelo que nos ciclos de molhagem e ensaio.
secagem.
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3.5 Triaxial

Os ensaios de compressão triaxial realizados


foram cisalhados de forma drenada, sob
trajetórias de tensões convencionais e tensões
de confinamento de 20, 40 e 60 kPa, para
misturas com peso específico aparente seco (γd)
de 17 kN/m³ e 7% de cal de carbureto. Para
análise de tensão-deformação, das misturas com
e sem adição de 0,5% de NaCl (Figura 8)
utilizou-se a deformação total axial (εa) e o
invariante de tensão q (tensão desvio), sendo
definido pela Equação 1:
(1)
Onde, σ′a e σ′r são as tensões efetivas axial e
radial, respectivamente;

Figura 8. Comportamento tensão-deformação para as


Figura 7. Perda de massa acumulada (PMA) para 3, 6, 9 e
misturas (a) sem sal e (b) com sal.
12 ciclos X η/(Liv)0,11 de misturas de RAP-CFA-cal de
carbureto, (a) sem e (b) com 0,5% de NaCl, sujeitas a É possível perceber que, com o aumento da
condições de molhagem e secagem (WD). tensão confinante efetiva, aumenta-se a
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resistência das misturas, tanto para os 42,8 kPa, ou seja, a envoltória praticamente se
espécimes com e sem adição de NaCl. Sendo deslocou para cima, aumentando assim a
nítido o aumento do pico de resistência com a resistência da mistura através da aceleração das
adição de sal, como catalisador das reações reações pozolânicas com adição de um
pozolânicas. O comportamento inicial das catalisador (cloreto de sódio).
misturas se demonstrou rígido e aparentemente
linear até um ponto de plastificação bem Tabela 3 – Parâmetros de resistência das misturas de
definido, onde ocorreu aumento das RAP, com e sem adição de sal.
Parâmetros de Resistência
deformações plásticas até a ruptura frágil do
espécime, resultado similar ao de solos Ângulo de Intercepto
melhorados com agentes cimentantes Atrito (°) Coesivo (kPa)
0% Sal 52,7 20,5
(SCHNAID et al. 2001; CONSOLI et al. 2001).
A determinação da coesão e do ângulo de 0,5% Sal 56,1 63,3
atrito (parâmetros de resistência ao
cisalhamento) se deu através do ajuste das
3 CONCLUSÕES
envoltórias de resistência no espaço s’ x t,
definidas como:
• A adição de 0,5% de sal aumenta
consideravelmente qu (43,1%) e qt (17%), para
(2)
todo o intervalo de η/(Liv)0,11;
(3) • O ganho mais significativo de durabilidade
por congelamento-degelo (FT), com adição de
A Figura 9 apresenta uma comparação das
sal foi de 11,8%, com aumento da energia de
envoltórias obtidas (R²=0,99) e dos parâmetros
compactação (de γd = 17 kN/m³ para γd = 19
de resistência encontrados.
kN/m³) foi de 20,6% e com aumento do teor de
cal de carbureto (de 3% para 7%) foi de 19,7%;
• Ordem de eficácia em termos de maiores
ganhos de durabilidade (FT):
Compactação > NaCl > Cal de Carbureto;
• O ganho mais significativo de durabilidade
por molhagem-secagem (WD) com adição de
sal foi de 0,83%, com aumento da energia de
compactação (de γd = 17 kN/m³ para γd = 19
kN/m³) foi de 1,15% e com aumento do teor de
cal de carbureto (de 3% para 7%) foi de 0,37%;
• Para as misturas analisadas a durabilidade
(comportamento a longo prazo) é controlada por
η/(Liv)0,11;
• Através de ensaios de compressão triaxial
drenados, em espécimes γ17/C7/S0 e
Figura 9 –Comparação das envoltórias de ruptura e dos
γ17/C7/S0,5, obteve-se um aumento de 3,4° no
parâmetros de resistência das misturas com e sem adição
de 0,5% de NaCl. ângulo de atrito e 42,8 kPa no intercepto
coesivo, com a adição de 0,5% de NaCl;
A Tabela 3 apresenta os parâmetros de
resistência obtidos nos ensaios triaxiais. AGRADECIMENTOS
Observa-se um pequeno aumento de 3,4° no
ângulo de atrito com a adição de 0,5% de NaCl. Os autores desejam expressar sua profunda
Já o intercepto coesivo teve um aumento de gratidão a PRONEX FAPERGS/CNPq 12/2014
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e CNPq (INCT-REAGEO e Produtividade em Head, K. H. (1980a) Manual of Soil Laboratory Testing,


Pesquisa) por financiar este grupo de pesquisa. Vol 1, Soil Classification and Compaction Tests.
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Desenvolvimento de software para análise e dimensionamento de


drenos verticais 2D
Udo Henrique Cordeiro dos Santos
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, udopta@hotmail.coml

Cláudio Henrique de Carvalho Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, silvac@ufv.br

Leandro Moreno De Souza


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, leandromoreno@ufv.br

Uhanny Ahynnara Saldanha de Souza


Universidade do Estado de Minas Gerais, Divinópolis, Brasil, usaldanha.engcivil@gmail.com

RESUMO: A aceleração dos recalques de adensamento pode ser induzida por técnicas que
envolvem o pré-carregamento em associação com drenos verticais. O emprego de drenos verticais
tem a função de promover um caminho preferencial para o escoamento da água, promovendo o
escoamento radial (do solo até o dreno) e o vertical (através do dreno). O dimensionamento destes
drenos consiste em determinar qual o espaçamento dos drenos e qual o diâmetro a ser utilizado.
Objetiva-se desenvolver um software interativo conjugando as soluções matemáticas das equações
de adensamento 2D de forma a calcular porcentagem de adensamento com a possibilidade de variar
a relação entre os raios drenantes e os raios dos drenos. São considerados os estudos de Barron
(1948) e de Terzaghi (1967). A interface produzida contribui para facilitar projetos de engenharia
geotécnica.

PALAVRAS-CHAVE: Solos moles, adensamento radial, recalques.

1 INTRODUÇÃO drenagem vertical e radial caminhos para o


fluxo de água e acelerar o processo de
São classificados como solos moles aqueles que adensamento (HSU; TSAI, 2016).
possuem uma baixa resistência ao cisalhamento O pré-carregamento produz um excesso de
e uma elevada compressibilidade, gerando poropressão que é dissipada ao longo do tempo
problemas no projeto de obras rodoviárias e de pelo escoamento da água. Os drenos verticais
fundação (FORMIGHERI, 2003). têm a função de promover um caminho
A identificação de áreas com presença de preferencial e mais curto para o escoamento da
solos compressíveis exige soluções especiais água, facilitando o escoamento radial até os
que podem envolver obras de aterros para pré- drenos e na direção vertical através do dreno.
carregamento e aceleração dos recalques, Os drenos verticais são constituídos por
superdimensionamento da estrutura, ou até material drenante que pode ser areia, brita ou
mesmo a remoção desta camada compressível. geodrenos sintéticos. O dimensionamento de
A técnica do pré-carregamento é normalmente drenos de areia é feito por meio de ábacos em
utilizada em associação com drenos verticais função da % de adensamento radial (Ur) em
para acelerar o adensamento dos solos argilosos. função do fator tempo (Tr) para diferentes
A vantagem desta técnica é fornecer na valores da relação entre o raio do dreno e o raio
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de influência (n=R/r). O espaçamento dos real (t) envolve o conhecimento de propriedades


drenos de materiais geossintéticos é feito especificas para cada projeto, o coeficiente de
através da analogia com os drenos de areia, no adensamento radial cr e raio de influência R
qual a largura do dreno vertical determina o através da expressão:
diâmetro do dreno de areia equivalente.
Porém para o dimensionamento dos drenos cr t
verticais são utilizados ábacos com poucos Tr = (4)
4R 2
valores para a relação dos raios dos drenos e o
raio de influência (R/r), o que torna necessário Porém para a drenagem de uma camada de
uma interpolação gráfica e por consequência solo convém considerar o adensamento vertical
uma perda de precisão. Para facilitar o processo da camada, representado pelo fluxo da água
de dimensionamento foi desenvolvido um diretamente para a superfície. O fator tempo do
software para resolver numericamente a adensamento vertical (Tv) é expresso por:
equação do adensamento radial e obter de forma
direta. cvt
Tv = 2 (5)
Hd
2 TEORIA DO ADENSAMENTO 2D
Onde cv é o coeficiente de adensamento
Para a determinação do adensamento radial são vertical e Hd é a altura de drenagem da argila.
considerados os estudos de Barron (1948) onde O fator tempo do adensamento vertical
o adensamento de uma camada de argila é também pode ser expresso através da
tratado como a dissipação do excesso de porcentagem do adensamento vertical através de
poropressão gerado por um carregamento. Para duas equações empíricas que são selecionadas
a situação de um adensamento radial causado para valores de U < 60% e para os valores de U
por um dreno de areia de diâmetro r e raio de > 60 %, pelas expressões:
influência R, define-se a variável n como:
 Uv2
R Tv = (6)
n= (1) 4
r
Tv = 1,781 - 0,933log(1 - U) (7)
O valor do adensamento radial pode ser
então obtido pela expressão: O adensamento radial e o vertical resultam
na porcentagem de adensamento total (U) dada
 -8Tr 
  pela expressão:
 f n   (2)
U r = 1- e
U = 1 - (1 - U r )(1 - U v ) (8)
Onde Ur representa a porcentagem do
adensamento radial, enquanto Tr representa o
A resolução tradicional adotada para o
fator tempo e por sua vez f(n) trata-se de uma
dimensionamento dos espaçamentos a serem
função de n dada por:
usados nos drenos passa pela suposição de
valores para n (n=R/r), e a comparação dos
n2  3n 2  1 
f n  =   valores obtidos para TR calculados pela equação
 
ln(n) - (3)
n2 1  4 n 2
 4, e os valores obtidos para o n resultante,
obtido a partir dos ábacos como o ilustrado na
A correlação do fator tempo para o tempo Figura 1:
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Figura 1. Curvas de Ur x Tv para diferentes valores de n.

Em muitas situações de projeto, não são de drenagem e o diâmetro equivalente, por:


encontradas as curvas para os valores de n
resultantes nos ábacos disponíveis, sendo n2  3 1  1 
necessário tanto a interpolação dos valores e a = ln(n) - 4  2 1  2  (11)
n 1 
2
n  4n 
suposição da posição da curva.
Para os geodrenos que possuem um formato
O software desenvolvido em linguagem
retangular, com largura a e espessura b, são
visual e de fácil interação com o usuário foi
substituídos por um diâmetro equivalente (dw),
escrito de maneira a facilitar a entrada de dados,
Atkinson e Eldred (1981) propuseram que o
análise e visualização dos resultados na forma
diâmetro equivalente seja:
de tabelas e graficamente. Entre os recursos
disponíveis encontra-se a possibilidade de
(a  b)
dw = (9) trabalhar com gráficos a compilação de funções
2 o que justifica a sua seleção para o
desenvolvimento da rotina de análise do
Na solução clássica apontada por Hansbo, adensamento radial.
onde se assume que a drena do dreno é infinita A utilização de uma GUI (interface Gráfica
em comparação com a argila e que a lei de com o Usuário) tem o objetivo de coletar os
Darcy é válida, o tempo de adensamento t é dados para o projeto do usuário conforme o
expresso por: material utilizado e as condições, possibilitando
a alternância das variáveis solicitadas para cada
D2  1  condição.
t= ln   (10)
8c r  1 - Ur  Assim, combinando-se a Eq. 1 com a Eq. 2 e
Eq. 4 e, resolvendo para n, resulta f(n) na
Onde D é o diâmetro da área de drenagem do forma:
dreno e μ é função da relação n entre diâmetros
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- 8c r t
f(n) = 2 2 (12)
4n r ln(1 - U r )

Substituindo o valor de f(n) na Eq. 3 obtém-


se:

n2  3n 2  1  8c t
ln(n) -    2 2 r =0
n2 1 2
 4n  4n r ln(1 - U r ) (13)

Nesta equação, conhecendo-se os valores de


t, Ur e Cr, calcula-se n numericamente pelo
método numérico da Bisseção, com a tolerância
de 10-6. Da mesma forma, obtém-se a variação
de Ur em função de Tr para o valor de n
calculado anteriormente.
No dimensionamento dos geodrenos, o
processo é semelhante, alternando as variáveis
de entrada e utilizando a Eq. 10 combinada com
a Eqs. 1 e 11, onde novamente o n é a variável
resposta.

(nd w ) 2 n2   1 
 2 ln   ...
8c r  n  1 1 - U r 
 3 1  1 
ln(n) - 4  2 1  2  - t = 0
(14)
n  4n   Figura 2. Distribuição dos drenos nas malhas quadrada e
 triangular respectivamente.

Calculando-se o valor de n é pode-se


determinar o raio de influência do dreno (R) e 3 APRESENTAÇÃO DA INTERFACE
com esse parâmetro o espaçamento entre drenos
(s) para as opções de malhas a serem usadas Para a execução da rotina foi construído o
através das equações para a distribuição Drain-A que é composto por uma caixa de
triangular (sT) e retangular (sQ) dados pelas diálogo onde o usuário pode selecionar o tipo de
equações abaixo: material e qual o tipo de adensamento será
abordado para a entrada de dados.
R Para cada material e condição selecionada
sT = (15)
0,525 são apresentadas ao usuário as variáveis
necessárias e qual as unidades. No modulo de
R geodrenos, é apresentada uma lista com alguns
sQ = (16)
0,564 geodrenos utilizados e a opção de o usuário
entrar com as dimensões do dreno. A tela de
A distribuição das malhas pode ser vista na seleção de condições e a de entrada de dados é
Figura 2: apresentado na Figura 3:
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Como saída de dados é apresentado um ábaco


onde é possível inferir sobre o valor da
porcentagem de adensamento desejada e o fator
tempo para o mesmo com a curva precisa para
os dados inseridos e, o mais importante, os
espaçamentos a serem usados nas duas malhas.
A curva é vista na Figura 4:

Figura 3. Interface para entrada de dados.

Figura 4. Saída de dados.

O codigo fonte e o termo de licença do valores.


Drain-A estão disponiveis em:
https://drive.google.com/drive/folders/1m_Puin
4u0VEl7igUBC4RuxgPVatBhsb8?usp=sharing. AGRADECIMENTOS

Agradecimentos ao CNPq pelo auxílio


4 CONCLUSÃO financeiro à pesquisa e a MathWorks pela
Matlab Trial Resources.
Foi apresentada a interface para o
dimensionamento dos drenos verticais, o Drain-
A, os parâmetros de cálculo e plotagem gráficas REFERÊNCIAS
proporcionaram um sistema de auxílio a
projetos de dimensionamento de drenos
verticais com a possibilidade de interação com Atkinson, M. S.; Eldred, P. (1981). Consolidation of soil
o usuário e com maior precisão na obtenção de using vertical drains. Géotechnique, v.31, n. 1, 33-43.
Barron, R. A. (1948). Consolidation of Fine Grained
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Soils by Drain-wells. Trans. of ASCE, 113, 718–724.


Formigheri, Luis Eduardo. Comportamento de um Aterro
Sobre Argila Mole da Baixada Fluminense. 2003. 114
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia
Civil: Geotecnia, PUC-RIO, Rio de Janeiro, 2003.
Hansbo, S. (1979). "Consolidation of clay by band-
shaped pre- fabricted drains," Ground Eng., 12, No. 5,
pp. 16-25.
HSU, Tung-wen; TSAI, Tsung-han. (2016). Combined
Vertical and Radial Consolidation under Time-
Dependent Loading. International Journal Of
Geomechanics, [s.l.], v. 16, n. 3, p.1-11. American
Society of Civil Engineers (ASCE).
http://dx.doi.org/10.1061/(asce)gm.1943-
5622.0000600.
Terzaghi & Peck (1967). Soil Mechanics in Engineering
Practice – John Wiley & Sons, New York.

.
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Avaliação da Influência da Incorporação de Pó de Pedra


Proveniente da Britagem de Agregado Basáltico em Mistura de
Solo-Cimento para Uso de Revestimento Primário em Estradas
Vicinais
José Carlos Bressan Júnior
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, jose.cj@unoesc.edu.br

Fabiano Alexandre Nienov


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, fabiano.nienov@unoesc.edu.br

Lucas Quiocca Zampieri


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, lucas.zampieri@unoesc.edu.br

Gislaine Luvizão
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, gislaine.luvizao@unoesc.edu.br

Renata Chiarani
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, rechiarani@hotmail.com

RESUMO: Estradas vicinais não pavimentadas, embora simples, são responsáveis por escoar a
produção agropecuária e o proporcionar o acesso da população rural aos centros urbanos. Inúmeras
patologias que afetam essas vias estão relacionadas à baixa capacidade de suporte do solo local. A
estabilização química ou mecânica do solo torna-se uma solução economicamente viável para
minimizar os altos custos em obras rodoviárias ao buscar um novo material geotécnico que atenda
às necessidades dos projetos. O estudo apresenta a estabilização de um solo argiloso de formação
residual, através da substituição parcial de solo seco por pó de pedra basáltico em teores de 25%,
30% e 35% em sua massa seca e substituição parcial do solo por cimento Portland CPV-ARI nas
proporções de 10%, 12% e 14%, formando assim, nove traços diferentes de solo-cimento. Para
analisar a influência da substituição do solo por esses materiais, foram compactados 4 corpos de
prova para cada um dos nove traços formulados, a fim de verificar a resistência à compressão
simples (RCS) nas idades de 7, 14 e 28 dias de cura. Avaliando os resultados obtidos nos ensaios de
RCS das amostras compactadas, observou-se que a mistura que obteve o melhor desempenho em
relação à RCS foi o traço P35C14 (35% de pó de pedra e 14% de cimento), com valor de 9,55 MPa
aos 28 dias de cura. Avalia-se que a substituição parcial de solo por determinadas quantidades de pó
de pedra, melhorou o desempenho das misturas quanto a sua capacidade de RCS.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, Solo-Cimento, Pó de Pedra, Dosagem.

1 INTRODUÇÃO da população vivendo nas áreas rurais. Além de


escoarem a produção para os centros
Estradas vicinais não pavimentas são essenciais urbanizados, são essas vias que os indivíduos
aos municípios que possuem parte da economia utilizam diariamente para obter serviços
voltada ao setor agropecuário e grande parcela
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básicos, como educação, assistência médica e solo seco por pó de pedra de origem basáltica,
outros recursos governamentais. resíduo de menor custo no mercado.
O solo é um material de construção O trabalho tem como finalidade avaliar o
imprescindível para a elaboração de projetos e desempenho de misturas de solo-cimento
construção de obras rodoviárias, constituindo o quando testadas à compressão simples, visando
subleito e a base dos pavimentos. Para a substituição parcial na massa seca de solo por
desempenhar essa função com excelência, o pó de pedra basáltico e cimento Portland para a
solo necessita de uma boa condição de suporte, utilização como revestimento primário em
que pode variar significativamente dependendo estradas vicinais.
de sua composição. Muitas vezes, não
satisfazendo esse parâmetro de resistência, 2 SOLO-CIMENTO
demanda-se substituir o material, explorando tal
matéria-prima em novas jazidas, o que pode O método de estabilização de solos com
acarretar altos custos ou até inviabilizar a obra. cimento é o mais difundido, dessa forma, a
As vias vicinais são formadas em sua grande técnica é amplamente empregada na construção
maioria por um revestimento primário de rodovias, utilizando-se geralmente como
exclusivamente em solo. Dessa forma, são base ou sub-base de pavimentos (INGLES;
afetadas por diversas patologias que se METCALF, 1972).
espalham ao longo de seu comprimento, A técnica do solo-cimento, consoante
comprometendo o conforto e a segurança de Vendruscolo (1996), poderia ser comparado ao
seus usuários. Tais patologias são provocadas concreto. Todavia, no concreto a granulometria
por diversos fatores, como a exposição direta do dos agregados permite que o cimento envolva a
material às condições climáticas, a falta de superfície granular unindo suas partículas,
manutenção periódica, as excessivas cargas do possibilitando elevadas resistências. No solo-
tráfego, falta de dispositivos de drenagem cimento, devido à estrutura complexa, as
adequados e principalmente pela baixa partículas de cimento são envolvidas pelos finos
capacidade de suporte do solo (tipo de solo). do solo estabelecendo ligações de menor
Para melhorar as características de suporte e resistência.
adequá-las às solicitações dos projetos de obras De acordo com Felt (1995) as propriedades
rodoviárias, diferentes técnicas de estabilização físicas das misturas de solo-cimento são
são empregadas a fim de melhorar sua influenciadas pela quantidade adicionada de
resistência e reduzir o custo da obra. Uma água e cimento, a densidade da mistura
dessas opções é a adição de cimento Portland. compactada e o tempo em que o solo, cimento e
De acordo com Ingles e Metcalf (1972), água são homogeneizados antes da
realiza-se a estabilização mecânica do solo compactação.
quando não é possível obter-se um material Qualquer tipo de solo pode ser tratado com
geotécnico, ou uma mistura de materiais, capaz cimento, entretanto há melhor desempenho em
de sanar as características de resistência, solos arenosos, devido a facilidade de mistura e
deformabilidade, permeabilidade e durabilidade pelas resistências adquiridas. Em solos com
solicitadas. maiores teores de argila, há maior dificuldade
Múltiplas alternativas buscam incorporar de mistura e carecem de uma maior quantidade
diferentes materiais ao solo-cimento na de aditivos para que haja mudança significativa
premissa de minimizar os teores de cimento em suas propriedades de suporte (INGLES;
Portland necessários para a estabilização de METCALF, 1972).
solos argilosos, uma vez que, o aglomerante As propriedades finais do solo-cimento são
gera maior impacto econômico na mistura. Um influenciadas pelo tipo de solo utilizado no
dessas alternativas, é a substitiuição parcial de processo. As diferenças nas propriedades e nas
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reações do cimento são consequências da ocorre através dos produtos das reações
composição química variada do solo (FELT, primárias, enquanto em solos
1995). predominantemente argilosos, a reação
Zampieri (2015) ressalta que se tratando de cimentante advém das reações secundárias
um solo argiloso, verifica-se uma reação mais (VENDRUSCOLO, 1996).
lenta com o cimento. Esse fato explica-se em Herzog e Mitchell (1963) destacam, que o
razão da argila mole e da turfa possuírem ganho de resistência à compressão simples em
massas específicas naturais muito baixas e função do tempo de cura ocorre devido ao
vazios muitos grandes. Nesse caso, a maioria endurecimento do agente cimentante, da
dos vazios estão preenchidos com água e para a produção das reações primárias e secundárias
estabilização, deve-se substituir a água por um ocorrida entre os argilomateriais provenientes
agente cimentante, que é usualmente o cimento do solo e a cal liberada durante a hidratação do
Portland. cimento.
Quanto ao cimento utilizado para a Solos de alta plasticidade demandam maiores
estabilização, Ingles e Metcalf (1972) explanam proporções de cimento e equipamentos
que qualquer tipo de cimento pode ser usado na adequados para a mistura, completando as
estabilização do solo, no entanto o cimento reações entre o solo e cimento num prazo de 15
Portland comum é o mais utilizado. O uso de dias. O processo de cura também pode intervir
cimento de alta resistência inicial pode ser útil no ganho de resistência à compressão simples.
em solos orgânicos em função dos altos teores Em corpos de prova curados em imersão, o
de cálcio que pode compensar a presença de valor da resistência à compressão simples tende
matéria orgânica. a ser inferior (VENDRUSCOLO, 1996).

2.1 Estabilização de Solos 3 MATERIAIS E MÉTODOS

Na estabilização química de um solo, quando Para os ensaios em laboratório, coletou-se uma


adicionado algum tipo de agente cimentante, amostra de solo deformada proveniente do
ocorrem as reações de hidratação, responsáveis município de Joaçaba – SC. Realizaram-se os
pela formação de cristais de hidratação. ensaios quantitativos de caracterização, como a
Dependendo do tipo do agente cimentante composição granulométrica (NBR 7181:2016),
adicionado a mistura, essas reações ocorrem de limite de liquidez (NBR 6459:2016), limite de
formas diferentes, podendo ser mais lentas ou plasticidade (NBR 7180:2016) e peso específico
mais rápidas, com maior ou menor ganho de real dos grãos (DNER-ME 093/94).
resistência mecânica (ZAMPIERI, 2015). O solo foi classificado pelo sistema H.R.B
Ingles e Metcalf (1972) expõem que (Highway Research Board) e pelo método
geralmente a resistência aumenta de acordo com textural, os resultados desses ensaios e as
a quantidade de cimento presente na mistura, classificações podem ser observados na Tabela
todavia, esse ganho de resistência pode ser 1. A composição granulométrica do solo
alterado de acordo com o tipo de solo. apresenta-se no Figura 1.
O aumento da resistência à compressão de
uma mistura de solo-cimento ocorre em função Tabela 1. Caracterização e classificação do solo.
da alteração nas estruturas minerais que Limite de liquidez (%) 58
compõem o solo, resultado assim, em reações Limite de plasticidade (%) 54
de cimentação primárias e secundárias Índice de plasticidade (%) 4
(HERZOG; MITCHELL, 1963). Peso esp. real dos grãos (g/cm³) 2,88
Em solos muito granulares, com baixa ou Classificação pelo sistema H.R.B A7 -5
sem presença de argila, a reação cimentante Classificação textural Argila-Siltosa
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proporções estabelecidas, misturados e


homogeneizados. A compactação ocorreu
segundo o método “A”, realizando-se em três
camadas e aplicando-se 26 golpes em cada com
o soquete pequeno, correspondendo à energia
normal.
A partir dos valores dispostos na curva de
compactação, obtiveram-se os índices: peso
específico aparente seco máximo e umidade
ótima, que foram utilizados para dosar as
Figura 1. Composição granulométrica do solo. misturas e presumir as condições que os corpos
de prova deveriam dispor após compactados.
O método de dosagem considerou a Na moldagem dos corpos de prova, utilizou-
substituição parcial da massa de solo seco por se um molde cilíndrico com dimensões de 5 cm
cimento Portland CPV – ARI e pó de pedra. O diâmetro e 10 cm de altura. Para esse
cimento Portland CPV – ARI utilizado é procedimento o solo foi misturado com o agente
procedente da empresa Votoran e pó de pedra é cimentante e o pó de pedra em almofarizes e
proveniente da Pedreira Caldart LTDA, realizou-se a homogeneização, adicionando a
localizada no município de Herval D’ Oeste – quantidade de água necessária para atingir a
SC. Para os teores definidos, formularam-se 9 umidade ótima conforme o ensaio de
traços de mistura de solo-cimento para testá-los compactação.
a resistência à compressão simples (RCS) nas A compactação ocorreu em três camadas,
idades de 7, 14 e 28 dias de cura. Foram efetuando-se a escarificação para melhor
moldados 108 corpos de prova, sendo 4 corpos aderência, e pode se observar na Figura 2. Cada
de prova para cada um dos traços, nas camada recebeu a mesma quantidade de
proporções que podem ser observados na material e durante o processo de compactação
Tabela 2. houve o cuidado para que todas ficassem com a
mesma espessura. A quantidade de material
Tabela 2. Misturas de solo-cimento formuladas e suas para cada camada foi pesada e separada em um
respectivas porcentagens. pote plástico e tampado para que não houvesse
Identificação Quantidade Quantidade Quantidade grandes perdas de umidade.
da mistura de solo (%) de cimento de pó de
(%) pedra (%)
P25C10 65 10 25
P25C12 63 12 25
P25C14 61 14 25
P30C10 60 10 30
P30C12 58 12 30
P30C14 56 14 30
P35C10 55 10 35
P35C12 53 12 35
P35C14 51 14 35

Para determinar o peso específico aparente


seco máximo e a umidade ótima foi realizado o Figura 2. Molde utilizado para a e corpo de prova
ensaio de compactação das misturas de solo- compactado com a identificação das camadas
cimento, que seguiu as diretrizes da NBR 12023
(ABNT, 2012). No preparo das misturas, os Findo o processo de moldagem, os corpos de
materiais foram pesados de acordo as prova foram pesados e armazenados em sacos
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plásticos fechados, onde permaneceram sua pesquisa, o aumento na proporção de


confinados em cura até 24 horas antes do material granular na mistura, proporcionou
rompimento. Para finalizar o período de cura aumento do do peso específico aparente seco.
programado para cada uma das três idades (7,
14 e 28 dias), os CPs foram retirados dos sacos
plásticos e colocados em imersão na água até o
momento do rompimento.
Após a retirada dos corpos de prova da água,
determinou-se o peso na condição inundada e
realizou-se então o rompimento na prensa
hidráulica, a uma velocidade de 1,18 mm/s. Ao
fim do ensaio, cada traço apresentou quatro
valores de resistência à compressão simples, os
quais foram utilizados aqueles que não
diferiram ±10% em relação à média. O Figura 4. Peso específico aparente seco máximo (γd)
rompimento dos corpos de prova pode ser obtido no ensaio de Proctor.
visualizado na Figura 3.
Os valores de umidade ótima estão expressos
na Figura 5. O variação de valores ficou na
faixa de 20,8%, para o menor teor (P35C14) e
23,8% para o maior teor (P25C14).

Figura 3. Rompimento dos corpos de prova.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Figura 5. Umidade ótima obtida no ensaio de Proctor.

Ao analisar os valores de massa específica Após o processo de moldagem e


aparente seca máxima (γd máximo) de acordo compactação dos corpos de prova de solo-
com os teores de pó de pedra incorporados à cimento, foram aferidos dados de massa,
mistura, avalia-se que conforme é acrescentado diâmetro, altura e a umidade de compactação.
uma maior quantidade de pó de pedra Obteve-se assim um peso específico aparente
aumentou-se também o γd máximo, com seco de compactação (γd de compactação) para
exceção do traço P35C14 que ficou com índice cada corpo de prova. Para a análise desses
inferior em relação aos traços de menor dados, admitiu-se variação no grau de
porcentagem de resíduo. Os dados podem ser compactação de ±10 em relação à média.
visualizados no Figura 4. Observando o Figura 6, que apresenta os
O mesmo comportamento foi observado por traços com teor de 25% de pó de pedra percebe-
Grando et al. (2016), ao estabilizar uma areia se que o γd de compactação diferiu no máximo
média com cimento Portland e pó de pedra. Em 3,5% em relação ao γd máximo do ensaio de
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proctor. Os valores do γd de compactação para Analisou-se que não houve variações


as idades de 7, 14 e 28 dias de cura significativas entre o γd de compactação e o γd
mantiveram-se proporcionais em todos os máximo do ensaio de proctor, sendo a maior
traços, com ocasionais variações. divergência na ordem de 1,5 %. Considerando o
γd de compactação entre as idades de 7, 14 e 28
dias, percebe-se que houve uma proporção entre
as massas específicas aparente secas.
Os corpos de prova permaneceram por um
período de 24 horas imersos em água e pós a
sua retirada, aferiram-se suas massas na
condição inundada. Relacionando com valores
obtidos após a compactação, obteve-se valores
de absorção. Os dados estão representados na
Figura 9 e para a análise de dados utilizaram-se
Figura 6. γd do ensaio de proctor comparado ao γd de os valores que não diferiram em ±10% da
moldagem para os traços com 25% de pó de pedra. média.

Analisando o Figura 7, que diz respeito aos


traços com 30% de pó de pedra, verificou-se
que a maior variação entre o γd máximo e o γd
de compactação foi na faixa de 2%.

Figura 9. Absorção dos corpos de prova.

Para o ensaio de resistência à compressão


simples, foram testados 4 corpos de prova para
cada uma das 9 misturas de solo-cimento nas
Figura 7. Comparação entre o γd do ensaio de proctor e o idades de cura de 7, 14 e 28 dias, ou seja, 108
γd de moldagem para os traços com 30% de pó de pedra. corpos de prova. Os resultados da evolução das
RCS em função do tempo de cura estão
Os traços com teor de 35% de pó de pedra, apresentados na Figura 10.
dispostos no Figura 8.

Figura 8. Comparação entre o γd do ensaio de proctor e o Figura 10. Evolução da resistência à compressão simples
γd de moldagem para os traços com 35% de pó de pedra. ao longo do tempo de cura.
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Avaliando os resultados obtidos nos ensaios quando novamente aumentado para 35% a RCS
de RCS das amostras compactadas, observou-se ficou próxima ao primeiro teor. Quando
que a mistura que obteve o melhor desempenho avaliado o comportamento do teor de 14%,
em relação à resistência à compressão simples visualiza-se que as resistências caíram em
foi o traço P35C14, com valor de resistência à pequenas proporções enquanto foi aumentado a
compressão simples aos 28 dias de 9,55 MPa. O quantidade de pó de pedra.
mesmo traço apresentou valores de 6,93 MPa
aos 14 dias de cura e 5,40 MPa aos 7 dias de
cura.
Em relação ao tempo de cura, todos os traços
apresentaram ganho de resistência à compressão
simples conforme aumentou-se o período de
cura de 7 para 14 dias e de 14 para 28 dias. O
mesmo comportamento é constatado nos
trabalhos de Pissato e Soares (2006) e Grando et
al. (2016),
Com base nos dados obtidos no Figura 10, Figura 11. Avaliação da resistência à compressão simples
verifica-se que os todos os traços atendem às em função do acréscimo de pó de pedra na mistura na
exigências da norma DNIT 143/2010-ES: idade de 7 dias.
Pavimentação – Base de solo-cimento, para sua
aplicação como base de pavimentos, com todas Avaliando as RCS das misturas aos 14 dias,
as misturas adquirindo valores de 2,1 MPa aos 7 conforme pode ser observado no Figura 12,
dias de cura. percebe-se que as resistências começaram a se
Faganello (2006), desenvolveu duas misturas estabilizar comparados aos traços rompidos
diferentes de solo-cimento incorporados com com 7 dias de cura.
resíduos da britagem de rocha basáltica. O
resíduo em ambas as misturas possuíam
granulometrias diferentes, uma com dimensões
inferiores a 4,8 mm e outra com dimensões
inferiores a 6,3 mm. Os corpos de prova
rompidos aos 7 dias de cura, apresentaram
resistências superiores a 2,1 MPa, sendo
necessário teores de 9% e 7% de cimento,
respectivamente, para as misturas.
Para verificar o comportamento da mistura
de acordo com as quantidades substituídas de
pó de pedra (25%, 30% e 35%), analisaram-se Figura 12. Avaliação da resistência à compressão
as resistências à compressão simples das simples em função do acréscimo de pó de pedra na
misturas para cada um dos tempos de cura. mistura na idade de 14 dias.
Na Figura 11 estão organizados o
desempenho das misturas aos 7 dias de cura. O traço com porcentagem de 10% de
Nota-se que para o teor de cimento de 10%, à cimento, à medida que foi substituído solo por
medida que substituiu-se uma maior quantidade maiores proporções pó de pedra, houve
de pó de pedra, aumentou também a resistência aumento na sua RCS. Para o traço com 12% de
à compressão simples. O teor de 12%, quando cimento, no momento em que acrescida maior
ampliada a quantidade de pó de pedra de 25% quantidade de pó de pedra de 25% para 30%
para 30%, houve um pequeno decréscimo e apresentou um descréscimo, mudando
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significativamente quando alterado a quantidade avaliou-se o comportamento das misturas em


substituída para 35%. Para a proporção de 14% função da quantidade de cimento substituída
de cimento, à medida que ampliou-se a nos traços.
quantidade substituída de pó de pedra de 25% Na Figura 14 verificam-se os dados da
para 30% aumentou-se a resistência da mistura, primeira idade de cura, 7 dias.
mantendo-se constante quando o valor passa
para 35%.
Na Figura 13 observam-se as resistências
atingidas pelas misturas na maior idade de cura,
28 dias. Constata-se que substituição de solo
seco por pó de pedra em maiores teores, acabou
conferindo, para esta idade, uma maior
resistência à compressão simples a todas as
misturas.

Figura 14. Avaliação da resistência à compressão simples


em função do acréscimo de cimento na mistura na idade
de 7 dias.

Para o traço com 25% de pó de pedra a


resistência aumentou conforme a quantidade de
cimento foi acrescida à mistura. Para
quantidade de 30% de pó de pedra, verifica-se
que as resistências se elevaram à medida que se
agregou maior quantidade de cimento, no
Figura 13. Avaliação da resistência à compressão simples entanto os valores de resistência diminuíram em
em função do acréscimo de pó de pedra na mistura na
idade de 28 dias.
relação à quantidade de pó de pedra inicial, de
25%. De forma análoga ocorre quando se
Pissato e Soares (2006), desenvolveram uma analisa o teor de 35% de pó de pedra, há
correção granulométrica em solo com aumento de RCS até o teor de 12%.
predominância de argila, utilizando finos de Para a idade de 14 dias, como observa-se no
pedreira (pó de pedra) nas porcentagens de Figura 15, o teor de pó de pedra de 25%
50%, 60% e 70%, com teores de cimento em apresentou aumento na RCS quando substituído
5%, 8%, 10% e 12%. Para as três misturas com maior quantidade de cimento. O mesmo ocorreu
ensaiadas, os valores de resistência à para o teor de 30% de pó de pedra, onde
compressão simples apresentaram valores elevaram-se as resistências conforme
superiores a 2,1 MPa aos 7 dias de cura, a qual acrescentou-se maior quantidade de cimento e
foi necessário 5% de teor cimento para a os valores cresceram em relação ao primeiro
estabilização. Os resultados dos experimentos teor de pó de pedra, de 25%. Já para as misturas
apontaram que com maiores quantidades de com 35% de pó de pedra, avalia-se que as
finos agregados às misturas, menores serão as resistências aumentaram em relação aos demais
porcentagens de cimento necessária para a teores (25% e 30%) até a proporção de 12% de
estabilização. cimento, ou seja, quando aumentado esse teor
Com base dos dados obtidos no ensaio de de cimento para 14%, não houve ganho
resistência à compressão simples das misturas, significativo de RCS.
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parcial de solo seco por pó de pedra, propicia


que os teores de cimento possam ser reduzidos,
visando maior econômia, considerando que o
cimento Portland é o material de maior valor na
mistura.
Vários parâmetros-chave foram verificados e
considerados nesse estudo para que os
resultados de resistência à compressão simples
das misturas obtivessem resultados coerentes,
como a massa específica aparente seca de
Figura 15. Avaliação da resistência à compressão simples compactação, umidade ótima, o tempo de cura e
em função do acréscimo de cimento na mistura na idade a absorção.
de 14 dias. Em relação ao tempo de cura, conclui-se que
em tempos maiores de cura, obtêm-se valores
Na Figura 16 observam-se as resistências maiores de resistência à compressão simples,
alcançadas pelas misturas na maior idade de corroborando com Herzog e Mitchell (1963).
cura, 28 dias. Avaliando os resultados obtidos, observou-se
que a mistura que obteve o melhor desempenho
em relação à resistência à compressão simples
foi o traço P35C14 na idade de cura de 28 dias,
com valor de 9,55 MPa.
Constata-se que aos 28 dias de cura, a
substituição parcial de solo por pó de pedra
basáltico nas misturas de solo-cimento
contribuiu para o aumento da resistência à
compressão simples dos traços.
Com base nos valores obtidos pelo
Figura 16. Avaliação da resistência à compressão simples ensaio de resistência à compressão simples,
em função do acréscimo de cimento na mistura na idade também verifica-se que os todos os traços
de 28 dias. atendem às exigências da norma DNIT
143/2010-ES: Pavimentação – Base de solo-
O comportamento para essa idade de cura cimento, para sua aplicação como base de
ficou dentro dos padrões estimados para os pavimentos, alcançando os valores de 2,1 MPa
traços, considerando que para todos os teores de aos 7 dias de cura.
pó de pedra apresentaram aumento nos valores
de RCS à medida que aumentada a quantidade REFERÊNCIAS
de cimento substituída.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12023 –
5 CONCLUSÃO Solo-cimento – Ensaio de Compactação. Rio de
Janeiro, 1992.
_______. NBR 7181 – Solo – Análise granulométrica.
Observa-se que a estabilização do solo com
Rio de Janeiro, 2016.
substituição parcial de solo seco por cimento _______. NBR 6459 – Solo – Determinação do limite de
Portland e pó de pedra basáltico, melhora a liquidez. Rio de Janeiro, 2016.
capacidade de suporte de um solo argiloso em _______. NBR 7180 – Solo – Determinação do limite de
elevadas proporções. A melhora nas plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.
_______. NBR 12023 – Solo-cimento – Ensaio de
propriedades de resistência à compressão
compactação. Rio de Janeiro, 2012.
simples do solo-cimento com substituição
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DNER – Departamento Nacional de Estradas de


Rodagem. DNER - ME 093/94 – Solos –
Determinação da densidade real. 1994, 4p.
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes. DNIT 143/2010-ES: Pavimentação –
Base de solo-cimento. 2010, 10p.
FAGANELLO, A. M. P. Rejeitos de britagem de origem
basáltica: caracterização e utilização em solo-cimento
na região de Londrina – (PR). 2006, 160p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Edificações
e Saneamento) – Universidade Estadual de Londrina.
Londrina, 2006.
FELT, E. J. Factors Influencing Physical Properties of
Soil-cement Mixtures. Research and Development
Laboratories of the Portland Cement Association:
Bulletin D5. Authorized Reprint from Bulletin 108 of
the Higway Research Board. 1955, 138p.
GRANDO, L. et al. Determinação da influência da
incorporação do pó de pedra em mistura de solo-
cimento. In: Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica, 2016, Belo
Horizonte.
HERZOG, A e MITCHELL, J. K. Reactions
accompanying stabilization of clay with cement.
Higway Research Record, Washington, v.36, p. 146-
171. 1963.
INGLES, O. G.; METCALF, John B. Soil Stabilization –
Principles and Practice. Sidney: Butterworths, 374 p.
1972.
PISSATO, E; SOARES, L. Utilização de finos de
pedreira em misturas de solo-cimento: correção
granulométrica de um solo argiloso. Exacta, São
Paulo, v.1, p. 143-148, jan./jun. 2006.
VENDRUSCOLO, M. A. Análise numérica e
experimental do comportamento de fundações
superficiais assentes em solo melhorado. 1996, 224p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Curso
de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFRGS.
Porto Alegre, 1996.
ZAMPIERI, L. Q. Comportamento mecânico de um solo
mole orgânico cimentado com aglomerantes
variados. 2015, 117p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) – Curso de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da UFRGS. Porto Alegre, 2015.
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Determinação das equações de calibração dos valores de sucção


medidos com sensores de matriz granular
Gabriel Bellina Nunes
USP, São Paulo, Brasil, gabrielnunes@usp.br

Orlando Martini Oliveira


UFSC, Florianópolis-SC, Brasil, oliveiraorlando@hotmail.com

Rafael Augusto dos Reis Higashi


UFSC, Florianópolis-SC, Brasil, rrhigashi@gmail.com

Cândida Bernardi
UFSC, Florianópolis-SC, Brasil, candidabernardi@hotmail.com

Narayana Saniele Massocco


UFSC, Florianópolis-SC, Brasil, nsaniele@gmail.com

Vitor Santini Muller


UFSC, Florianópolis-SC, Brasil, vitor@mullergeo.com

Marcos Massao Futai


USP, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

RESUMO: Foi realizado um estudo com sensores de sucção de matriz granular do tipo WaterMark
visando encontrar correlações de correção de suas leituras. Para isso foram realizados alguns ensaios
de laboratório, em condições controladas, para o melhor entendimento de seu funcionamento. Foi
utilizado um solo residual de diabásio compactado nas condições da umidade ótima no interior de
dois cilindros Proctor, onde foram instalados 10 sensores de matriz granular (SMG) e dois
tensiômetros de campo. Foi verificado que os SMG apresentam uma dispersão nos valores de sucção
medidos após ser atingida a estabilização. Desta forma houve a necessidade de se obter, para cada
um dos SMG equações de calibração. Para a obtenção dos pontos do ajuste, foi executado o
umedecimento da amostra com posterior etapas de secagem do solo ao ar, onde os moldes foram
abertos e novamente fechados até estabilização das leituras medidas pelos sensores. Verificou-se que
os sensores SMG estudados apresentaram dispersão nos resultados, sendo que a calibração única
fornecida pelo fabricante não resultou em valores confiáveis de sucção. Cada sensor teve uma
tendência e nenhum deles pode ser usado sem correção.

PALAVRAS-CHAVE: Solos não saturados, Sensor de sucção, Equação de calibração.

1. INTRODUÇÃO formação de solos residuais que geralmente se


encontram na condição não saturada.
Em países tropicais como o Brasil, condições Considerar o fato de que o solo não precisa
climáticas associadas com eventos de chuvas e necessariamente estar saturado para a ocorrência
altas temperaturas são favoráveis para a
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de movimentos de massa é mais apopriado para deve ser verificada, se a calibração dos mesmos
pesquisas em solos de regiões tropicais. necessita de ajustes.
Quando a ruptura de um talude é provocada
pela chuva, o mecanismo de falha envolve a
infiltração de água que faz com que ocorra uma 2. MATERIAIS E MÉTODO
redução na sucção matricial dos solos
localizados na zona de aeração. A análise da 2.1 Monitoramento da sucção
estabilidade de taludes não saturados requer um
estudo extensivo e detalhado da infiltração de Antes da instalação dos equipamentos em
água, porque os deslizamentos em condições não campo, são necessárias algumas investigações
saturadas estão diretamente relacionadas com o em laboratório para calibrar os sensores. Foram
regime de chuva e sua infiltração no solo (YEH realizados ensaios para se verificar o melhor
ET AL., 2004). Normalmente, os solos residuais procedimento de instalação e de saturação e um
não saturados apresentam valores altos de sucção ajuste dos valores registrados pelos sensores de
matricial durante períodos secos, o que contribui sucção.
para o aumento de sua resistência. No entanto, Nesta pesquisa foram utilizados sensores de
durante períodos de chuva, quando há infiltração sucção de matriz granular fabricados pela
de água no perfil do solo, passa a ocorrer uma Irrometer Company, os quais por meio de sinais
redução no valor da sucção. Como resultado, a elétricos enviam as informações da variação da
resistência ao cisalhamento adicional fornecida sucção do solo até um datalogger.
pela sucção matricial pode ser reduzida o
suficiente para desencadear um deslizamento 2.1.1 Sensor de sucção de matriz granular
(FREDLUND E RAHARDJO, 1993). (SMG)
O trabalho de campo, focado no
monitoramento do perfil de sucção matricial com O SMG, apresentado na Figura 1, é um
a profundidade, é importante para uma análise equipamento formado por uma pedra porosa
detalhada da estabilidade da encosta do ponto de envolvida em uma proteção de aço inoxidável
vista da mecânica dos solos não saturados. Tal que abriga dois eletrodos ligados a dois fios
monitoramento pode ser feito através da elétricos (Figura 2).
instalação de sensores de sucção utilizando
medição direta ou indireta da sucção matricial do
solo. O sensor de matriz granular (SMG),
instrumento de medida indireta, apresenta um
tempo de resposta lento quando comparado com
um tensiômetro. No entanto, considera-se que
seu uso pode fornecer informações importantes
para estudos envolvendo o movimento da água
no solo (MENDES, 2008). O instrumento de
medição indireta parece ser mais adequado para
Figura 1. Sensor de sucção de matriz granular (SMG)
medir solos argilosos úmidos e pode não ser
adequado para medir solos com um grau de Conforme a umidade no local aumenta a
saturação menor que cerca de 40% (GUAN, condutividade elétrica entre esses eletrodos
1997). cresce e isso significa uma diminuição da sucção
Sensores do tipo resistência e capacitância do solo no local. A faixa de leitura do SMG é de
elétrica têm algumas vantagens tais como não 0 a 200 kPa com precisão de 1 a 2 %. Essas
necessitarem de manutenção periódica. informações são encaminhadas ao datalogger
Entretanto, em virtude de os sensores que, através de uma equação de calibração,
determinarem a sucção do solo de forma indireta,
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converte os dados de leitura dos eletrodos para


dados de sucção. Na ponta do tensiômetro existe uma pedra
porosa de alta entrada de ar que está conectada a
uma tubulação e um manômetro. A pedra porosa
deve estar saturada e o interior da tubulação
preenchido com água. Quando a pedra porosa
entra em contato com o solo, o mesmo tende a
puxar a água do interior do tensiômetro. A pedra
porosa não permite a entrada de ar e consequente
saída de água de forma que fica submetida a uma
pressão menor que a atmosférica que é registrada
Figura 2. Corte no SMG
no manômetro. Este valor de pressão
O datalogger, apresentado na Figura 3, deve corresponde à sucção matricial do solo.
ser instalado em um local abrigado das
intempéries. 2.2 Ensaios Experimentais

O solo residual foi compactado dentro de dois


cilindros metálicos grandes (usados para o
ensaio de compactação Proctor) sendo
compactado nas condições de umidade ótima
(w=30%) definida com a energia de
compactação normal. Dentro de cada molde
cilíndrico foram instalados cinco sensores de
sucção. A representação esquemática da Figura
5 ilustra o experimento com 3 sensores.

Figura 3. Datalogger

2.1.2 Tensiômetro de medida direta

O tensiômetro de campo de medida direta


(Figura 4) foi utilizado como comparativo para a
calibração dos sensores de sucção.

Figura 5. Representação esquemática da instalação dos


sensores no interior do solo compactado em um molde de
CBR.

Na Figura 6 estão apresentadas algumas das


etapas de instalação dos sensores de sucção no
interior do solo compactado. Nesta figura o
sensor de cabo vermelho coleta a temperatura do
Figura 4. Tensiômetro de campo solo.
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Figura 6. Preparação da amostra com os tensiômetros de


medida indireta.

Após a instalação dos sensores de sucção no


interior do solo compactado foi feita aspersão de
água, simulando uma chuva. O objetivo é ver
como variam os valores de sucção durante a
secagem do solo úmido. Para todos os níveis de
sucção pesquisados o sistema contendo solo e os
sensores de sucção foi fechado como o uso de
filme plástico. Figura 7. Localização da área de coleta de amostras de
No procedimento os SMG, que foram solo. Datum Horizontal: Sirgas 2000.
utilizados no campo, foram instalados no solo
compactado no interior do molde com o auxilio De acordo com o mapa geológico da ilha de
de um pequeno trado manual. Durante a Santa Catarina/SC, na exata localização do ponto
instalação foi utilizada uma lama feita com uma de coleta encontra-se um Dique de Diabásio. A
mistura do mesmo solo e água para melhorar a unidade geológica do entorno é o Granito Ilha e
continuidade hidráulica entre o solo e os SMG. a unidade geotécnica é Argissolo Vermelho-
Foi posteriormente permitinda a evaporação da Amarelo. A Figura 8 apresenta o ponto de coleta
água contida no solo aumentando-se indicado pela seta amarela.
gradativamente o valor da sucção matricial. Para
cada nível de sucção atingida o conjunto foi
hermeticamente fechado com filme plástico até
que ocorram a estabilização das leituras de
sucção dos sensores.

3. RESULTADOS E ANÁLISE

3.1 Caracterização do solo

Para verificação da equação de ajuste dos


valores e calibração dos sensores de sucção foi Figura 8. Mapa geológico do local de retirada de amostra
utilizado um solo localizado no bairro Itacorubi do solo residual de diabásio.
na cidade de Florianópolis/SC (Figura 7). A
região de coleta do solo utilizado neste estudo A Tabela 1 apresenta um resumo dos
apresenta coordenadas UTM 747274,00 E, resultados dos ensaios de análise granulométrica,
6946290,00 S. limites de Atterberg, massa específica dos grãos
e classificações.
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Tabela 1. Resumo dos ensaios de caracterização Figuras 11 e 12 estão os valores dos SMG 6 a 10.
Argila [%] 27,7 Nas Figuras 9 e 11 estão também as leituras de
Silte [%] 29,8 sucção fornecidas pelo tensiômetro de campo.
Análise Areia Fina [%] 16,3 É possível observar que o tensiômetro obteve
Granulométrica Areia Média [%] 20,0 valores diferente de zero a partir do final do
Areia Grossa [%] 3,9 primeiro dia de registros. Já os SMG 1 a 5
Pedregulho [%] 2,2 levaram uma semana para registrar a umidade
wl [%] 47 presente no solo. Isto está relacionado ao tempo
wp [%] 44
Limites de Atterberg necessário para estabilização da sucção entre a
Ip [%] 3
lama e o solo compactado. No momento da
IG 3
instalação dos SMG a lama começa a perder
Peso específico dos
s [kN/m³] 28,0 água para o solo compactado. Este processo
sólidos
MCT NA' - NG'
termina quando a lama atingir a mesma sucção
HRB/AASHTO A-5
do solo compactado, o que demanda um tempo
Classificações SUCS ML de aproximadamente uma semana. Após esse
Argila período de estabilização, os SMG apresentaram
Textural comportamento semelhante ao tensiômetro por
siltosa
wl – Limite de liquidez; wp – limite de plasticidade; Ip – mais uma semana. Posteriormente, o tensiômetro
Índice de plasticidade; MCT – Miniatura compactada começou e registrar valores superiores aos SMG.
tropical; NA’ – areia com finos não laterítica; NG’ – Solo A Figura 11 apresenta os valores registrados
argiloso não laterítico; SUCS – Sistema unificado de
classficação dos solos; ML – Silte inorgânico do baixa
pelos SMG 6 a 10 e pelo tensiômetro.
plasticidade. Para os SMG 6 a 10 o tempo de estabilização
foi semelhante aos primeiros sensores, cerca de
De acordo com a Tabela 1 o solo residual de uma semana. Os valores registrados foram mais
diabásio apresenta uma granulometria com dispersos quando comparado com os SMG 1 a 5.
predomínio de solos finos, sendo o silte a fração Pode-se constatar que para este conjunto, na
predominante. O valor do índice de plasticidade semana seguinte à estabilização, os SMG
é baixo classificando o solo como pouco ultrapassam os valores registrados pelo
plástico. Pela classficação MCT e SUCS o solo tensiômetro. Após cerca de 25 dias e 3 etapas de
estudado apresenta respecitvamente um secagem da amostra o tensiômetro começa a
comportamento não laterítico e de um silte de registrar sucções superiores aos SMG com
baixa plasticidade. exceção do SMG 6 que se distanciou
O ensaio de compactação indicou umidade significativamente do restante dos sensores.
ótima de 30%, correspondente a uma massa Como os sensores foram instalados em um
específica seca máxima de 14,2 kN/m³, na mesmo solo era de se esperar que, os valores de
energia normal. sucção medidos, no momento em que atingem a
estabilização, fossem os mesmos. No entanto,
3.2 Resultados do Modelo experimental este fato não foi constatado. Para cada valor de
sucção imposta ao corpo de prova, por
O ajuste de valores foi feito em dois cilindros sucessivas etapas de evaporação, os valores de
idênticos preenchidos com solo compactado. No sucção variam dentro de um determinado
primeiro cilindro foram utilizados os sensores intervalo, justificando os ajustes dos SMG feitos
numerados de 1 a 5 e no segundo foram no presente trabalho.
utilizados os sensores numerados de 6 a 10. As Na Figura 9 estão apresentados os resultados
Figuras 9 e 10 apresentam os valores de sucção da variação do SMG ao longo do período de 9 de
registrados pelos SMG 1 a 5, enquanto que nas maio a 14 de junho de 2017. É possível
identificar os períodos em que a amostra foi
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aberta para secagem. Após picos de sucção os Tabela 2. Médias de valores de sucção registradas
sensores tendem a estabilizar, como Média SMG 1 Média SMG 6 ao
Tempo ao 5 (kPa) 10 (kPa)
posteriormente aos dias 18, 24 e 27 de maio. Isso
acontece devido ao fechamento da amostra para 22/05/2017 08:15 15 16,4
estabilização dos SMG e tensiômetro. 25/05/2017 08:13 23,4 30,2
A Figura 10 apresenta os valores de sucção 01/06/2017 12:11 30,8 44
registrados pelos SMG e pelo tensiômetro em 5 06/06/2017 12:47 33,6 48
instantes diferentes do estudo. Foram 09/06/2017 08:50 39,4 58,2
selecionados momentos durante a estabilização e
após o fechamento das amostras contendo os
SMG e tensiômetro.
90
SMG 1
80
SMG 2
Leituras de Sucção [kPa]

70
SMG 3
60
SMG 4
50 SMG 5
40 Tensiômetro de campo
30
20
10
0
9/5 12/5 15/5 18/5 21/5 24/5 27/5 30/5 2/6 5/6 8/6 11/6 14/6
Dia e mês (2017)

Figura 9. Variação SMG 1 a 5 e tensiômetro.

22/05/2017 08:15
90,0
25/05/2017 08:13
Sucção [kPa]

80,0
70,0 01/06/2017 12:11

60,0 06/06/2017 12:47


50,0 09/06/2017 08:50
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Tensiômetro SMG 1 SMG 2 SMG 3 SMG 4 SMG 5

Figura 10. Relação entre os valores de sucção medidos pelos SMG 1 a 5 e o tensiômetro ao longo do tempo.

Observa-se na Figura 9 que a faixa de variação apresentou comportamento anômalo quando


da sucção medida pelos sensores passa a ser cada comparado com os outros 4 sensores. É possível
vez maior na medida em que aumenta o valor de afirmar, analisando a Tabela 2 e as colunas da
sucção do corpo de prova. Apenas o sensor 5 Figura 10, que foram registradas diferenças
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significativas nos valores de sucção medidos tensiômetro começa a diminuir os valores


pelos SMG dentro de uma mesma amostra. Na apresentados. Isso se deve ao fenômeno da
Figura 10 é possível constatar que o tensiômetro cavitação, que acontece, no tensiômetro, para
registrou sucções mais altas nos dias 01, 06 e 09 sucções acima de 90 kPa.
de junho. Quando atinge a sucção de 90 kPa o

100
90 SMG 6
SMG 7
80
Leituras de Sucção [kPa]

SMG 8
70
SMG 9
60
SMG 10
50 Tensiômetro de campo
40
30
20
10
0
9/5 12/5 15/5 18/5 21/5 24/5 27/5 30/5 2/6 5/6 8/6 11/6 14/6
Dia e mês (2017)

Figura 11. Variação SMG 6 a 10 e tensiômetro.

20/05/2017 13:18
26/05/2017 07:52
90,0
30/05/2017 08:45
80,0
Sucção [kPa]

06/06/2017 12:47
70,0
09/06/2017 10:02
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Tensiômetro SMG 6 SMG 7 SMG 8 SMG 9 SMG 10

Figura 12. Relação entre os valores de sucção medidos pelos SMG 6 a 10 e o tensiômetro ao longo do tempo.

Observa-se nas Figuras 11 e 12 que o SMG 6 encontrado para o sensor 5 nas Figuras 9 e 10.
apresenta pontos experimentais que ficaram De forma geral pode ser observado que as faixas
acima da faixa de valores registrada pelo de variação das leituras dos sensores ficam cada
tensiômetro, indicando que o mesmo mede vez maiores na medida em que aumenta o valor
sucções sempre maiores do que o valor médio da sucção do corpo de prova. Este fato
medido por todos os cinco sensores. Este provavelmente está relacionado ao início da
comportamento anômalo é semelhante ao que foi entrada de ar na estrutura do solo compactado
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que deve interferir na continuidade hidráulica


estabelecida com os SMG. Pode ser constatado, pelas linhas de tendência
Aos pontos experimentais foi aplicado um mostradas na Figura 13, que a calibração dos
ajuste linear que corresponde às respectivas sensores 1 ao 5 mostrou coerência com os
curvas de ajuste de valores dos SMG em relação valores registrados pelo tensiômetro para baixos
ao tensiômetro convencional, estando as mesmas valores de sucção. Porém, para valores acima de
apresentadas no próximo item, juntamente com 50 kPa as equações de calibração indicam que os
os respectivos coeficientes de correlação. tensiômetros de campo apresentam valores de
sucção maiores.
3.2.1 Equações de calibração A Figura 14 apresenta a faixa de variação dos
SMG 6 ao 10.
A calibração representa a correção dos valores
medidos pelos sensores de sucção baseado na 100
45°

Tensiômetros de Campo [kPa]


medida do tensiômetro de campo. A utilização
de um sistema mecânico e a independência de
80
resistividade elétrica para a leitura dos dados, faz
do tensiômetro de campo um equipameto mais
confiável e, portanto, pode ser utilizado para a 60
calibração dos sensores para cada tipo de solo
estudado.
As Figura 13 e 14 apresentam, no eixo das 40 SMG 6
abscissas, os valores registrados pelo SMG 7
tensiômetro e, no eixo das ordenadas, os valores SMG 8
20
dos SMG. As retas de 45 graus destas figuras SMG 9
servem como referência para análise dos SMG 10
resultados. Os valores de sucção medidos pelos 0
SMG que estão acima desta reta indicam que 0 20 40 60 80 100
valores maiores foram medidos pelo tensiômetro Leituras SMG [kPa]
de campo.
Figura 14. Calibração dos sensores 6 ao 10.
100
45°
Tensiômetros de Campo [kPa]

As equações de calibração para os sensores 8


e 9 se mostraram similares para valores até 60
80
kPa. Já a calibração dos sensores 6, 7 e 10
apresentaram dispersão, visto que os valores
60 acima de 30 kPa registrados pelos sensores de
sucção foram muito distintos dos valores de
leitura dos tensiômetros.
40 SMG 1 O SMG 6 apresentou variação abaixo da linha
SMG 2 de 45 graus sendo o único sensor a indicar
SMG 3 valores acima dos apresentados pelo
20
SMG 4 tensiômetro.
SMG 5 A Tabela 3 apresenta as equações de
0 calibração dos sensores e respectivos coeficiente
0 20 40 60 80 100 de correlação, utilizando o tensiômetro de campo
Leituras SMG[kPa] como referência.

Figura 13. Calibração dos sensores 1 ao 5.


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sistema de aquisição as constantes de cada


Tabela 3. Equações de calibração dos sensores. sensor ou realizar os devidos ajustes de valores
SMG Equação de calibração do R2
SMG
após a aquisição de dados.
1 y = 1,5357x 0,9536
2 y = 1,6098x 0,9509
3 y = 1,4491x 0,9508 AGRADECIMENTOS
4 y = 1,6388x 0,8567
5 y = 1,2021x 0,9360 Agradeço ao Centro Universitário de Estudos e
6 y = 0,7843x 0,9569
7 y = 1,472x 0,9091 Pesquisas sobre Desastres – CEPED UFSC, pela
8 y = 1,1259x 0,9301 aquisição dos sensores de sucção de medida
9 y = 1,2512x 0,9309 indireta, ao Laboratório de Mecânica dos solos -
10 y = 1,6083x 0,9182 UFSC e ao Laboratório de Geologia de
Engenharia - UFSC pelo apoio nesta pesquisa.

4 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS

Os ensaios para definição das equações de Fredlund, D. G., Rahardjo, H. (1993). Soil
calibração dos valores de sucção dos SMG Mechanics for Unsaturated Soils. John Wiley
permitiram um melhor entendimento do & Sons, INC, New York.
funcionamento e confiabilidade dos sensores Guan, Y., Fredlund, D.G. (1997). Use of the
utilizados em campo. Tensile Strength of water for the Direct
Os sensores SMG estudados apresentaram Measurement of High Soil Suction. Canadian
grande variabilidade nos resultados. A Geotechnical Journal, Vol. 34, pp. 604-614.
calibração única fornecida pelo fabricante não Mendes, R. M. Estudo das Propriedades
foi verificada por meio da calibração realizada de Geotécnicas de solos residuais não saturados
maneira que a variabilidade dos resultados de Ubatuba (SP). Tese de Doutorado - Escola
apresentou certa dispersão. Cada sensor teve Politécnica da Universidade de São Paulo.
uma tendência e nenhum deles pode ser usado São Paulo, p. 236. 2008.
sem correção. Yeh H. F., J. F. Chen, and C. H. Lee, (2004)
Recomenda-se a utilização do método de Application of a Water Budget Model to
ajuste dos dados quando não se dispõe de Evaluate Rainfall Recharge and Slope
tensiômetros de medida direta para conferência Stability, Journal of the Chinese Institute of
dos dados em campo. Sendo assim, como Environmental Engineering, 14 (4), 227-37.
estimativa da sucção, usa-se a média dos valores
encontrados pelos sensores.
O método com a calibração dos dados é
recomendado quando se dispõe de tensiômetro
que pode ser utilizado para inferir a leitura dos
sensores. A desvantagem é que os tensiômetros
habitualmente utilizados tem capacidade de
leituras reduzidas, até aproximadamente 90kPa.
Os SMG são vantajosos devido ao baixo custo
de aquisição, a facilidade de instalação, a
durabilidade das peças e por medir valores de
sucção muito superiores ao tensiômetro
convencional de medida direta. Porém, para a
utilização dos SMG é preciso realizar a
calibração de cada um deles e introduzir no
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Determinação dos Parâmetros Geotécnicos e Morfológicos de um


Latossolo da Cidade de Anápolis - GO
Gabriel de Sousa Meira
Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, gabrieldmeira@gmail.com

Antônio Lázaro Ferreira Santos


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, antoniolazaros@gmail.com

Natália Godoi de Oliveira


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, nataliagodoi6@gmail.com

Alexia Regine Costa Silva


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, alexiaregine2@gmail.com

Virlei Álvaro de Oliveira


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Goiânia, Brasil, virlei53@gmail.com

Rafael Veloso de Moura


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, rafaelv.go@gmail.com

RESUMO: O solo é um meio particulado formado por três principais componentes: sólidos, água e
ar. A gênese do solo depende basicamente das características oriundas do processo de intemperismo
do material rochoso, do qual se deu sua origem. Objetiva-se, com este trabalho buscou realizar a
caracterização pedogeotécnica de um perfil de Latossolo situado na área da Universidade Estadual
de Goiás (UEG), na cidade de Anápolis-GO. A metodologia para caracterização do solo consistiu,
em trabalhos realizados em campo e em laboratório, preconizados nos procedimentos conforme
normas EMBRAPA e ABNT. No aspecto morfológico, os resultados mostraram que o material em
estudo se trata de um Latossolo de coloração vermelho amarelada, plástico com presença pífia de
cascalho. Quanto ao aspecto geotécnico, os dados obtidos caracterizaram um solo com textura
predominantemente argilosa, com atributos plásticos e valores de densidade condizentes com os
propostos em literatura para materiais argilosos. Os dados permitem concluir que o estudo do perfil
de solo pode ser utilizado como indicador pedogeotécnico preliminar, dando subsídios para o
planejamento e implantação de atividades de uso e ocupação do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Latossolo, Pedogeotecnia, Morfologia.

1 INTRODUÇÃO plasticidade e composição mineralógica estão


diretamente interligados a rocha originária do
O solo é um meio particulado formado por três material intemperizado (LOPERA, 2016).
principais componentes: sólidos, água e ar. A O intemperismo é definido como um processo
gênese do solo depende basicamente das de desagregação da rocha originária de um solo
características oriundas do processo de (rocha sã), sendo esse provocado por ações
intemperismo do material rochoso de origem. naturais e antrópicas provenientes de ações
Propriedades como granulometria, porosidade, físicas, químicas e biológicas (SANTOS, 2015).
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Segundo Camapum de Carvalho et al. (2015), o Por possuir uma elevada abrangência no
processo de intemperização varia conforme as território brasileiro, esse tipo de solo denota
características geográficas presentes na região de variações ao longo de sua extensão podendo ser
formação dos solos, podendo-lhe conceder classificado como: Latossolo Vermelho muito
características peculiares referentes a sua argiloso ou argiloso, Latossolo Vermelho –
composição. Amarelo com textura argilosa ou média, dentre
Além do espaço geográfico, a profundidade outros. Por conta do grande número de variações
também é um fator importante no processo de é de suma importância fazer uso o de ferramentas
gênese do solo, podendo proporcionar que possibilitem sua correta discretização e
características físicas, químicas e mineralógicas classificação (SANTOS, H. G. et al, 2013).
distintas a medida em que é analisado a altura de Muitas ferramentas são utilizadas na
um perfil de solo. Essa distinção, permite dividi- engenharia e na agronomia para possibilitar a
lo em camadas denominadas horizontes. O caracterização e classificação dos solos no
conjunto de horizontes viabiliza caracterizar um Brasil. Dentre esses mecanismos, dar-se
perfil de solo, conferindo-lhe uma classificação, destaque ao uso da pedologia como agente
atualmente definida pelo Sistema Brasileiro de identificador. O emprego dessa ciência no
Classificação de Solos (IBGE, 2015). âmbito da engenharia, tem-se demonstrado
Caracterizar e classificar um solo do ponto de satisfatório em trabalhos analisados do ponto de
vista geotécnico, consiste em descrever as vista prático e econômico, no que diz respeito a
informações referentes as características físicas, classificação dos solos. Esse fato definiu
químicas e mineralógicas. Tais informações são diretrizes a serem tomadas em projetos, por meio
selecionadas e adquiridas com o uso de diversas de uma integração de dados (IBGE, 2015).
metodologias disponíveis na área tecnológica. Dentre as informações constantes nos
Quanto mais aprofundado o entendimento das levantamentos pedológicos passíveis de serem
incógnitas que regem um determinado correlacionadas diretamente, estão os dados
mecanismo de correlação, maior será a gama de gerais sobre o meio físico da região de interesse:
informações disponíveis para descrição final do relevo, clima, geologia e vegetação; os dados
solo em estudo (CAPUTO, 2015). mais específicos sobre as condições ambientais:
O Latossolo, quando comparado aos demais distribuição de áreas inundáveis, solos saturados
tipos de solos presentes em território brasileiro, e não saturados; características inerentes ao solo:
destaca-se por possuir a maior extensão aspectos mineralógicos, químicos e físicos; e,
geográfica de toda área nacional. No Cerrado, sob o ponto de vista mais aplicado, a ocorrência
sua abrangência estende-se, praticamente, por de solos expansivos, compressíveis e com maior
toda região com relevo característico variando de suscetibilidade à erosão (Santos, et. al., 2009).
plano a suave-ondulado, envolvendo chapadas Embora as informações obtidas do
ou vales. Além disso esse solo também ocupa levantamento de solos não substituam os ensaios
posições de topo até terço médio em encostas convencionais físicos, mecânicos e hidráulicos,
suave-onduladas (IBGE, 2015). típicos da geotécnica, entende-se que a sua
Os Latossolos, quanto ao aspecto visual, são utilização direta nas fases de avaliação
solos minerais, homogêneos, com pouca preliminar, desse tipo de metodologia, seja
diferenciação entre os horizontes, sendo então extremamente útil para definir a melhor
reconhecido com facilidade pela cor quase finalidade do material quanto ao planejamento
homogênea com o decorrer da profundidade. do uso e ocupação do solo (IBGE, 2015).
Quanto as características físicas, químicas e
mineralógicas, os Latossolos são profundos, bem
drenados e com baixa capacidade de troca de 2 OBJETIVO
cátions, com textura média ou mais fina (IAC,
2014). Fundamentado no melhor entendimento dos
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solos localizados na área do Câmpus Henrique que para a escolha do local de execução da
Santillo, o presente artigo, objetiva-se estudar o trincheira foi realizado o estudo preliminar e
comportamento pedogeotécnico das diversas topográfico do terreno buscando um terreno de
classes de solos, buscando subsidiar o da Universidade que fosse acessível e isento de
planejamento do uso do solo, potencial de interferência antrópica em sua composição de
fornecimento de material de construção (saibro, horizontes de solo.
argila, areia, etc), definição de traçado de obras A abertura da trincheira foi efetuada segundo
lineares e seleção de sítios para disposição final processo manual com a utilização de ferramentas
de resíduos e recuperação ambiental de locais básicas para o método de escavação (enxadão, pá
contaminados. redonda pequena, picareta, pá redonda grande e
pá reta). A trincheira apresenta 1,20 metros de
largura e 2,7 metros de comprimento com 1,20
3 METODOLOGIA metros de profundidade. Todo o procedimento
aqui descrito para abertura da trincheira
3.1 Área de Estudo fundamentou-se no processo executivo
estabelecido por IBGE (2015).
As amostras de solo utilizadas para os ensaios
laboratoriais foram coletadas a partir de uma 3.2 Procedimento de Ensaios
trincheira escavada à aproximadamente 800
metros a Leste da rodovia BR 153, dentro dos 3.2.1 Quantitativo de Terra Fina, Cascalho e
limites da Universidade Estadual de Goiás no Calhaus
Campus de Ciências Exatas e Tecnológicas
Henrique Santillo, na cidade de Anápolis – GO A determinação do quantitativo de materiais foi
(Figura 3.1). realizado conforme metodologia adotada pela
Embrapa (1997). Basicamente, as amostras
coletadas foram posicionadas para secagem à
umidade higroscópica e posteriormente levadas
para peneiramento. Nesta etapa foram utilizadas
peneiras de malhas de 20mm e 2mm, sendo que
com o material retido em ambas se determinou,
respectivamente, o quantitativo de calhaus e
cascalho. E, com o material passante pelas
malhas, se quantificou o total de terra fina.

3.2.2 Umidade Atual e Residual

A determinação das umidades atual e residual foi


realizada conforme metodologia adotada pela
Embrapa (1997). A primeira foi determinada
colocando uma amostra de aproximadamente 20
gramas de solo em um recipiente de alumínio. O
recipiente foi pesado e levado a estufa deixando-
o exposto a temperatura de 105ºC durante 24
Figura 3.1. Localização da amostra de solo coletada horas. Posteriormente a amostra foi retirada e
submetida novamente a pesagem. A umidade foi
Sendo o perfil presente nas coordenadas determinada através da relação entre o peso seco
geográficas 16º19’13,2’’ de latitude sul e e úmido da amostra. A segunda umidade foi
48º53’1,2’’ de longitude oeste. Vale ressaltar determinada segundo o mesmo procedimento,
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todavia fazendo uso de Erlenmeyers como Embrapa (1997) e seguiu o mesmo procedimento
recipientes. adotado para análise granulométrica,
diferenciando apenas no processo de
3.2.3 Densidade Aparente, de Partículas e peneiramento e na determinação da argila. No
Porosidade Total peneiramento a fração retida foi descartada por
não ser utilizada no processo executivo de ensaio
A determinação das densidades aparente e de e para obter a fração de argila dispersa foi
partículas foram realizadas conforme realizada a medição da densidade do material
metodologia adotada pela Embrapa (1997). Para com auxílio de um densímetro, e por meio da
a primeira foram coletadas amostras relação entre entre densidade e volume do
indeformadas de solo in situ com auxílio de um recipiente foi determinado a quantidade de argila
molde metálico. O material então foi pesado e a dispersa. E com a relação entre o quantitativo de
densidade foi obtida por meio da relação entre a argila e de argila dispersa em água foi
massa do conjunto e do volume do molde. Já determinado o grau de floculação da amostra de
para a outra densidade foi pesado 20g de solo e solo.
então colocado em estufa por um período de 24h.
A amostra foi retirada e colocada em balão 3.2.6 Limites de Consistência e Pegajosidade
volumétrico de 50mL, onde foi inserido álcool
etílico até atingir o volume total do balão. Com A determinação limites de consistência foi
o volume de álcool inserido no balão foi realizada conforme descrito pela ABNT NBR
determinada a segunda densidade. Por meio da 6459:2016 e ABNT NBR 7180:2016, e o limite
relação entre as duas densidades foi determinada de pegajosidade conforme Embrapa (1997). Para
a porosidade total do solo. o primeiro foi realizado, com auxílio do aparelho
de casa grande, os ensaios de limite de liquidez
3.2.4 Análise Granulométrica do solo e, com auxílio de uma placa esmerilhada,
os ensaios de limite de plasticidade. Com a
A determinação da análise granulométrica foi diferença entre os valores obtidos com os dois
realizada conforme metodologia adotada pela ensaios foi possível determinar o limite de
Embrapa (1997). Inicialmente, foi colocada uma consistência do solo. Já para o outro ensaio,
fração da amostra de solo submersa em determinou-se a umidade necessária para que a
defloculante (hidróxido de sódio) e deixada em amostra de solo aderisse a uma superfície
repouso por um período de 24h. Posteriormente metálica lisa.
a amostra foi levada para dispersão e então
lavada em uma peneira com abertura de 3.2.7 Peso Específico dos Grãos
0,053mm. A amostra lavada foi colocada em
uma proveta de 1000mL onde foi tomada a A determinação do peso específico dos grãos foi
temperatura de cada para determinação do tempo realizada conforme metodologia adotada pela
de sedimentação. Concluído o tempo, foi feita a ABNT NBR 6458:2016. Para esse ensaio, foi
coleta de 50ml da amostra para determinação do tomada uma fração da amostra para realização de
quantitativo de argila. A amostra retida na sua dispersão. Posteriormente a amostra foi
peneira, foi levada a estufa por um período de transferida para um balão volumétrico, onde foi
24h e então feito o peneiramento para retirado o ar presente no interior do solo. O
determinação do quantitativo de areia e silte. recipiente com a amostra foi pesado e então
determinado seu peso específico por meu da
3.2.5 Argila Dispersa e Grau de Floculação relação da massa de solo e seu volume ocupado
na vidraria.
A determinação da argila dispersa em água foi
realizada conforme metodologia adotada pela
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4 RESULTADO E DISCUSSÃO material em análise se trata de um Latossolo de


coloração vermelho-amarelo com ausência
Para análise do material, foi feita a identificação aparente de material pedregulhoso e rochoso.
visual dos horizontes presentes no perfil de solo, Quanto a vegetação, o perfil situa-se em local de
subdividindo-o em quatro regiões identificadas pastagem sem uso agrícola em relevo plano com
como: A (horizonte mineral, superficial com ausência de processos erosivos.
concentração de matéria orgânica – 0,0 a 20cm), Também foi realizado uma análise
BA (horizonte subsuperficial transicional com morfológica mais detalhada para cada horizonte
características do horizonte A e B – 20 a 50cm), presente no perfil, chegando nas seguintes
Bw1 (horizonte subsuperficial com intensa características: horizonte A: 0 - 20 cm:
alteração e pouca presença de argila – 50 a 90cm) Vermelho amarelo (5YR 5/6), pouco
e Bw2 (horizonte subsuperficial com intensa cascalhenta, macia, friável, lig. Plástica, lig.
alteração e concentração de argila maior que a Pegajosa; Horizonte BA: 20 - 50 cm: Vermelho
camada anterior 90 a 120+ cm). Observa-se na amarelado (5YR 5/8 úmida), pouco cascalhenta,
Figura 4.1, o perfil do latossolo estudado, com a dura, muito friável, muito plástica, ligeiramente
divisão dos horizontes. Pegajosa, Horizonte Bw1: 50 - 90 cm: Vermelho
amarelado, (5YR 5/8 úmida), dura, muito friável,
lig. Plástica, não pegajosa; e Bw2: 90 - 150+ cm:
(5YR 5/8, úmida), pouco cascalhenta,
ligeiramente dura, muito friável, lig. Plástica,
não pegajosa.
Outra importante característica compreende o
caráter plástico do material, todavia não
pegajoso, o que pode caracterizar uma forte
presença de silte e argila no material. Tais fatores
encontram-se em conformidade com a divisão de
horizontes ao longo do perfil, visto que as
características se diferem na medida em que se
aumenta a profundidade do perfil.

4.2 Caracterização Geotécnica

É observado nas tabelas 1, 2 e 3 os resultados


referentes aos ensaios físicos.

Figura 3.1. Localização da amostra de solo coletada

4.1 Análise Morfológica

Com base na caracterização morfológica do


perfil de solo estudado, foi possível inferir que o
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Tabela 1. Quantitativo de materiais e umidade

Densidade Análise Granulométrica Relação


Identificação
Partículas (g/cm³) Teor de Argila (%) Teor de Silte (%) Teor de Areia Fina (%) Teor de Areia Grossa (%) Silte/Argila
P1A 2.58 24 30 10 36 1.28
P 2.48 23 40 10 27 1.70
Tabela1AB2. Densidade de partículas e textura
P1bw1 2.55
Densidade 58 21 Análise Granulométrica
7 14 0.37
Relação
Identificação
P1bw2 2.53(g/cm³) Teor de 60
Partículas Argila (%) Teor de23 6 Fina (%) Teor de Areia
Silte (%) Teor de Areia 11 Grossa (%) 0.39
Silte/Argila
P
P1A
2A
2.58
2.53 24
41 30
28 10
9 36
21 1.28
0.69
P
P1AB 2.48
2.66 23
33 40
38 10
10 27
18 1.70
1.14
2BA
P1bw1 2.55 58 21 7 14 0.37
P2Bw1 2.63 40 33 10 18 0.82
Teor de Argila Dispersa Grau de Limite de Limite de Limite de Índice de Peso Específico
P1bw2
Identificação 2.53 60 23 6 11 0.39
P2Bw2 em2.66
Água (%) 29 (%)
Floculação 50
Pegajosidade (%) 9 (%) Liquidez (%) Plasticidade
Plasticidade 13 1.74
(%) dos Grãos (g/cm³)
P 2A
P1A
2.53
4.0
4183 28
33 25
9 29
21 4
0.69
2.88
P2BA
P1AB 4.12.66 82 33 38
27 2610 29 18 3 1.14
2.96
Tabela 3. Teor de argila dispersa e limites
P
P1bw1
2Bw1 2.63
4.2 4093 33
32 3110 34 de 18 3 0.82
2.92
Teor de Argila Dispersa Grau de Limite de Limite de Limite Índice de Peso Específico
Identificação
P1bw2
2Bw2 em2.66
3.9 (%)
Água 2993 (%)
Floculação 50
33
Pegajosidade (%) 9
31 (%) Liquidez
Plasticidade 13
33 (%) Plasticidade
2 1.74
2.91
(%) dos Grãos (g/cm³)
P1A
2A 4.1
4.0 90
83 42
33 3
25 14
29 11
4 2.92
2.88
P1AB
2BA 4.1 88
82 38
27 3
26 18
29 15
3 3.04
2.96
P2Bw1
1bw1 3.9
4.2 90
93 36
32 2
31 14
34 12
3 2.99
2.92
P1bw2
2Bw2 3.8
3.9 87
93 37
33 6
31 12
33 7
2 3.03
2.91
P2A 4.1 90 42 3 14 11 2.92
Com
P2BA base nos 4.1
dados da tabela
88 1 nota-se que
38 para a hipótese
3 de18Atterberg.15 3.04
paraP2Bw1
o solo em 3.9
estudo há predominância
90 36de Essa2 observação14 é mostrada
12 também 2.99
com os
componentes
P2Bw2 finos,
3.8 sendo que para
87 os horizontes
37 resultados
6 obtidos12com o índice
7 de plasticidade
3.03

P2BA, P2Bw1 e P2Bw2 tem-se teores próximos a do solo que, segundo a classificação de Jenkins,
100% do material. Esse fato pode indicar que o encontra-se como medianamente plástico.
perfil em estudo, está sob influência forte Mbagwu e Abeh (1998) discorrem sobre a
processo de intemperização. Santos (2013) importância em se analisar o estado de
caracteriza o Latossolo como um solo plasticidade de um material (limite de
constituído por minerais que apresenta um plasticidade, liquidez e índice de plasticidade).
elevado estádio de intemperização, Segundo os autores a correlação entre esses
corroborando com os resultados encontrados. índices tem grande aplicação em avaliações de
Na tabela 2, verifica-se uma predominância solos para uso em infraestrutura, tais como,
de argila nos horizontes em estudo, exceto para estradas e estruturas para armazenamento e
a camada P2Bw2, caracterizando o teor plástico do retenção de água.
material. Atterberg, citado por Renedo (1996) Vale ressaltar também que uma das
comprovou que, à medida em que aumenta o características mais importantes para a
conteúdo de argila do solo, aumentam também engenharia é a consistência do solo. Esse atributo
os valores do índice de plasticidade; desta forma, contribui na determinação do comportamento do
quanto maior é a relação da superfície total das solo, frente determinados estados de tensões e
partículas de argila em relação ao seu volume, deformações. Essa característica se repete
maior número de moléculas de água é capaz de também com o grau de consistência, em que esse
absorver e, por conseguinte, serão mais elevados exerce considerável influência sobre o regime de
os valores dos limites de Atterberg. Desta forma, água presente no solo, afetando a condutividade
os valores obtidos para os índices de hidráulica e permitindo fazer-se inferências
plasticidades das amostras estudadas corrobora sobre a curva de umidade.
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Ao se analisar os parâmetros de densidade de de Goiás e seu corpo de funcionários, que


partículas e massa específica dos grãos nota-se oportunizaram a realização dos ensaios e
uma constância nos resultados obtidos ao longo análises presentes neste artigo, bem como pelo
do perfil. Esse fato, reforça o caráter homogêneo auxílio financeiro fornecido pela Pró-Reitoria de
ao longo do perfil identificado incialmente com Graduação (UEG/ PrG).
a caracterização morfológica do perfil já atestado
por meio dos parâmetros geotécnicos ensaiados.
Ker (1993) ressalta a homogeneidade do 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Latossolo ao longo de sua profundidade,
destacando em seus estudos o aspecto visual e a ABNT NBR 6458. (2016). Grãos de Pedregulho Retidos
estabilidade do agregado na contribuição da na Peneira de Abertura 4,8 mm – Determinação da
Massa Específica, da Massa Específica aparente e da
uniformidade do solo. Absorção de Água. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 6 p.
ABNT NBR 6459. (2016). Solo – Determinação do Limite
de Liquidez. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 5 p.
5 CONCLUSÃO ABNT NBR 7180. (2016). Solo – Determinação do Limite
de Plasticidade. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 3 p.
Caputo, H. P. (2015). Mecânica dos Solos e Suas
Quanto ao aspecto visual e morfológico, os Aplicações, 7nd ed. vol. 1, LTC, Rio de Janeiro, RJ,
dados permitem concluir que o perfil do solo Brasil, 256 p.
estudado na área do Câmpus Henrique Santillo, Embrapa. (1997). Manual de Métodos de Análise de Solo,
Anápolis - GO, trata-se de um solo formado a 2nd ed., Embrapa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 212 p.
partir de um material rico em ferro IAC. (2014). Solos do Estado de São Paulo: Latossolo,
1nd ed., IAC, São Paulo, SP, Brasil, 3 p.
(caracterizando a cor avermelhada do solo), e IBGE. (2015). Manual Técnico de Pedologia, 3nd ed.,
possui contribuição de materiais externos IBGE, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 430 p.
(vegetação e materiais transportados) nos Ker, J. C. (2008). Latossolos do Brasil: Uma Revisão,
horizontes superficiais devido à presença de Geonomos, UFMG, 24 p.
matéria orgânica constatada na análise Lopeira, J. F. B. (2016). Influência da Microestrutura no
Comportamento Mecânico dos Solos Tropicais
morfológica (dos dois primeiros horizontes) e na Naturais e Compactados. Programa de Pós-Graduação
presença de cascalho significante (no primeiro em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e
horizonte) no perfil de solo. Ambiental da Universidade de Brasília, 395 p.
Com relação a análise pedogeotécnica, foi Mbagwu, J. S. C.; Abeh, O. G. (1998). Prediction of
possível correlacionar os horizontes A e B, do Engineering Properties of Tropical Soils Using
Intrinsic Pedological Parameters. vol.163, n.2., Soil
latossolo, visto as características semelhantes Science, 93-102 p.
obtidas tanto no aspecto morfológico quanto no Renedo, V. S. G. (1996). Dinámica y Mecánica de Suelos,
aspecto geotécnico obtido com análise de campo 3nd ed., Ediciones Agrotécnicas, Madri, España, 426
e em laboratório. Vale salientar que, o p.
desconhecimento da vocação natural dos solos, Santos, H. G. et al. (2013). Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos, 3nd ed., Embrapa, Brasília, DF,
bem como suas potencialidades e limitações, Brasil, 353 p.
pode muitas vezes inviabilizar as intervenções Santos, M. L. M. et al. (2009). Correlação Pedológico-
antrópicas realizadas. Desta forma, os dados Geotécnica do Município do Rio de Janeiro, Embrapa
referentes aos levantamentos pedológicos podem Solos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 42 p.
ser utilizados como indicadores geotécnicos Santos, R. A. D. (2015). Comportamento Anisitrópico de
um Solo Laterítico Compactado. Programa de Pós-
preliminares, não substituindo, porém, os Graduação em Geotecnia, Escola de Engenharia Civil
métodos de investigação geotécnica. de São Carlos na Universidade de São Paulo, 151 p.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Universidade Estadual


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Diretrizes de Projeto de Empilhamento de Rejeito de Minério de


Ferro Filtrado em Forma de ‘Torta’na Empresa Minerita Minérios
Itaúna Ltda.
Lúcio Cerceau
Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas (NUGEO)
Campus Universitário Morro do Cruzeiro, S/N, Ouro Preto, MG, Brasil
lucio.cerceau@minerita.com.br

Terezinha Espósito
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Belo Horizonte, Brasil
tjespositobarbosa@gmail.com

RESUMO: O objetivo desse trabalho é contribuir na obtenção de diretrizes de projeto de


empilhamento de rejeito de minério de ferro filtrado em forma de “torta”, tendo em vista a
observância dos parâmetros de resistência em função das variações do teor de umidade e do grau de
compactação. Para tal, foram realizados ensaios geotécnicos do rejeito de minério de ferro da
empresa Minerita em duas etapas. Na primeira, a amostra de rejeito foi filtrada em filtro prensa
piloto em forma de “torta” e os corpos de prova moldados em três graus de compactação. Na
segunda, as amostras deformadas e indeformadas foram extraídas de um aterro experimental,
construído em cinco fases, a saber, duas no ramo seco, uma na umidade ótima e duas no ramo
úmido da curva de compactação. Os parâmetros geotécnicos obtidos nos ensaios, apresentaram
variações decorrentes do grau de compactação e teor de umidade em ambas as etapas.

PALAVRAS-CHAVE: Compactação, Empilhamento, Filtrado, Minério, Rejeito, Umidade.

1 INTRODUÇÃO tornado uma preocupação constante para


empresas ligadas ao extrativismo mineral,
Com o crescimento populacional, tecnológico e praticamente em escala global, haja vista os
industrial do mundo, tem-se observado um acidentes ocorridos, principalmente nos últimos
crescimento de demanda por minerais, anos ligados a rupturas de barragens (bacias) e
tornando-se inevitável o aumento de produção diques utilizados para contenção desses
das minas em operação, concomitantemente ao materiais.
“startup” de novos empreendimentos Com base nesse cenário e aliado ao conjunto
minerários. de leis ambientais mais rígidas, as empresas têm
Aliado ao crescimento da demanda, ocorre buscado incessantemente técnicas alternativas
também o aumento de preço das de disposição dos rejeitos gerados em seus
“commodities”, que, por sua vez, tem processos, visando principalmente reduzir os
viabilizado a extração e o processamento de riscos e impactos ambientais, reduzir a área
minérios com teores marginais, ampliando ocupada, aumentar o percentual de água
sobremaneira a geração de rejeito que é recuperada e garantir maior segurança da
produzido paralelamente ao produto de estrutura construída. Inserido nesse contexto, as
interesse. técnicas de espessamento e filtragem dos
A geração de rejeito em grande escala tem se rejeitos têm sido amplamente testadas e
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implementadas nas plantas de processamento possibilitado pela utilização de técnicas como a


mineral, podendo essas serem consideradas disposição da lama espessada em pasta e pela
como uma operação unitária, sendo amplamente filtragem do resíduo.
utilizadas, principalmente em regiões
desertificadas e (ou) com altos índices de
sismicidade. 2 MATERIAL E MÉTODOS
Segundo Davies (2011) apud Silva (2016)
atualmente várias minas no mundo utilizam a 2.1 Amostras para Estudos de Caracterizaçao
técnica de filtragem de rejeitos, tornando-a Geotécnica
muito conhecida. O autor salienta que
atualmente o número de pilhas de rejeitos As amostras de rejeito utilizadas nos ensaios
filtrados dispostos em superfície supera o geotécnicos são provenientes da planta de
número de disposição de rejeitos em forma de concentração, das etapas de separação
pasta. A Figura 1, apresenta em escala global o magnética e gravimétrica. Após essas etapas é
número de plantas de rejeitos espessados. realizada a classificação do rejeito, que possui
90% de sua massa abaixo de 0,212mm e 10%
acima de 0,212mm. A fração abaixo de
0,212mm, atualmente é lançada em barragens,
sendo o foco desse estudo, compondo assim
todas as amostras utilizadas para caracterização
geotécnica. A fração acima de 0,212mm é
utilizada na fabricação de artefatos para
construção civil, a saber, blocos, pisos, bancos
para praças, coxos para gado etc.

2.2 Métodos

O rejeito em forma de polpa com 35% de


Figura 1. Tendências no uso de rejeitos desaguados na sólidos em massa foi filtrado em filtro prensa
mineração (Fonte: adaptado de Davies, 2011) piloto marcas Andritz e Matec, para avaliação
do desempenho do processo de filtragem,
Outro ponto importante é a quantidade de análises dos teores de umidade obtidos nas
água e/ou fluidos que é perdida nos vazios dos ‘tortas”, geração de dados para avaliação
resíduos depositados com baixos teores de técnica, econômica e dimensionamento de
sólidos em barragens, através do escoamento e planta industrial de filtragem. A geração de
evaporação, tornando-se crítico aos olhos dos dados foi dividida em duas etapas, dispostas nos
órgãos fiscalizadores, reguladores e da próximos subitens.
população. Dessa forma, a população,
juntamente com o apoio desses órgãos tem 2.2.1 Primeira Etapa da Geração de Dados:
exigido das empresas geradoras de resíduos que Amostras Deformadas com Teor de Ferro de
apresentem soluções alternativas para a sua 20,5%
disposição oferecendo menores impactos
ambientais e riscos à sociedade, (Davies, 2011) O rejeito oriundo da planta de concentração foi
apud (Nery, 2013). filtrado em filtro prensa piloto (Matec), gerando
Segundo Lima (2006) apud Nery (2013), “tortas” com teores variados de umidade. Após,
atualmente existe a tendência da disposição com foi selecionado uma amostra dessa “torta”, na
teores de sólidos mais altos, o que é condição deformada, para realização dos
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ensaios geotécnicos e de caracterização. Após atingir um teor de umidade aproximado


O molde dos corpos de prova ocorreu em três de 20,0%, a amostra de rejeito foi retirada do
condições de compactação, a saber, 85, 90 e sump com auxílio de escavadeira e espalhada
95%, com teor de umidade igual a 15%, ou seja, com apoio de uma patrol na área de testes,
abaixo da ótima em 1,6%. A Figura 2 apresenta visando reduzi-lo para valores próximos a 10%.
o modelo de filtro utlizado nessa etapa. A partir dessa etapa foram definidos os
parâmetros a serem aplicados na construção do
aterro experimental, utilizando-se ensaios de
compactação de campo e de laboratório, com
variações de energia e teor de umidade.
A construção do aterro experimental ocorreu
em cinco fases distintas, possibilitando extração
de amostras indeformadas (blocos) de
30x30x30cm por fase, a saber, dois blocos no
ramo seco, um na umidade ótima e dois no
ramo úmido da curva de compactação.
Concomitante à extração dessas amostras, em
seus entornos, foram coletadas amostras
deformadas.
Os ensaios geotécnicos foram realizados em
Figura 2. Filtro prensa piloto marca Matec corpos de prova talhados a partir das amostras
indeformadas e moldados a partir de amostras
2.2.2 Segunda Etapa da Geração de Dados: deformadas, utilizando os mesmos parâmetros
Amostras Deformadas e Indeformadas com (grau de compactação e teor de umidade) das
Teor de Ferro de 8,5% primeiras.

Em função de alterações nos processos de


concentração do minério, visando aumentar a
recuperação metálica, houve uma queda no teor
de ferro do rejeito de 20,5 para 8,5%. Para
possibilitar a coleta das amostras indeformadas
foi construído um aterro experimental com
rejeito lançado em sump, em função da baixa
produtividade do filtro prensa piloto e da grande
quantidade de massa de rejeito demandada para
essa etapa (em torno de 500,0t).
Durante o lançamento do rejeito no sump,
foram realizados testes de filtragem em filtro
prensa piloto (Andritz) para obtenção de Figura 3. Filtro prensa piloto marca Andritz
parâmetros de filtragem (Figura 3).
O sump foi construído ao lado da área de 2.2.3 Ensaios Geotécnicos e Análises
testes, com capacidade para armazenar 2.500,0 Realizadas
m³ de amostra de polpa de rejeito. O
lançamento da polpa de rejeito nesse sump Foram realizados ensaios triaxiais (CIU e
ocorreu de forma gradativa, possibilitando a CIUnat), adensamento edométrico
secagem por evaporação e a percolação pela unidimensional, permeabilidade à carga
fundação. variável, índice de suporte califórnia (ISC) em
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amostras deformadas e indeformadas. Tabela 4. Resultados dos ensaios de adensamento


Foram também realizadas análises edométrico unidimensional
Resultados 01 02 03
granulométricas por peneiramento e
GC [%] 85 90 95
sedimentação, limites de Atterberg, densidade w[%] 15 15 15
dos grãos (Gs), teor de umidade e análises σ’p (kPa)
130 249 248
químicas. (Pacheco Silva)
σ’p (kPa)
194 289 355
(Casagrande)
Cc 0,200 0,170 0,160
3 RESULTADOS
Colapso 0,73 0,52 0,48
CR = Cc/(1+ei) 0,117 0,105 0,105
3.1 Primeira Etapa
Onde:
A Figura 4 apresenta o resultado da análise
σ’p (Pacheco Silva) = Tensão normal efetiva de
granulométrica e as Tabelas 1 a 5
pré-adensamento determinada pelo método de
apresentam, respectivamente, os resultados
Pacheco Silva; σ’p (Casagrande) = Tensão
obtidos na análise química, densidade das
partículas sólidas (grãos), permeabilidade à normal efetiva de pré-adensamento determinada
pelo método de Casagrande; Cc = Índice de
carga variável, adensamento e triaxiais (CIU),
compressão; CR = Cc/(1+ei); σ’v = tensão
normal efetiva vertical.

Tabela 5. Resultados dos ensaios triaxiais (CIU)


Resultados 01 02 03
GC [%] 85 90 95
w[%] 15 15 15
ρdmax [g/cm³] 1,880 1,880 1,880
ρd CP [g/cm³] 1,598 1,692 1,786
 [º] 17 19 23
'[º] 33 34 35
c [kPa] 0 6 12
Figura 4. Análise granulométrica do rejeito c’ [kPa] 4 6 7

Tabela 1. Resultados da análise química do rejeito


Onde,
Fe SiO2 Mn P Al2O3 PPC Total
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) GC = grau de compactação;
20,5 64,43 0,077 0,051 2,93 2,89 99,70 w = teor de umidade;
ρdmax = massa específica seca máxima;
Tabela 2. Densidade das partículas sólidas (grãos) ρd CP = massa específica seca máxima do corpo
Amostras 1 2 3 Média de prova;
Gs 3,094 3,096 3,107 3,099  = ângulo de atrito em temos de tensões totais;
’= ângulo de atrito em termos de tensões
Tabela 3. Permeabilidade à carga variável efetivas;
Amostras GC (%) w (%) K20°C (cm/s) c = cessão em termos de tensões totais;
01 85 wót -1,6% 1,2 E-05 c’ = coesão em termos de tensões efetivas.
02 90 wót -1,6% 5,2 E-06
03 95 wót -1,6% 2,8 E-06 3.2 Segunda Etapa

A Figura 5 apresenta a distribuição


granulométrica das amostras indeformadas,
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onde pode-se observar uma grande similitude homogeneização, da compactação e


entre os resultados apresentados para as cinco umidificação, das condições climáticas
amostras. (umidade relativa do ar, ventos e sol intenso),
do processo de retirada da amostra indeformada
e das características intrínsecas do rejeito
(permeabilidade e porosidade).

Figura 5. Distribuição granulométrica das amostras


indeformadas

A Tabela 6 apresenta a relação entre o


número de passadas do rolo compatador CA 25
Figura 6. Permeabilidade versus grau de compactação
(pé-de-carneiro), grau de compactação e teores
de umidade. Já a Figura 6 apresenta o
comportamento da permeabilidade em função
do grau de compactação.
A massa específica seca máxima e o teor de
umidade ótima foram obtidos em ensaios de
compactação Proctor Normal, (Figura 7).

Tabela 6. Número de passadas do rolo compactador


versus grau de compactação
Identificação Parâmetros Nº passadas do
das amostras geotécnicos rolo compactador
CA 25 Figura 7. Ensaio de compactação Proctor Normal
GC w sem com
(%) (%) vibrar vibração Tabela 7. densidade dos grãos (Gs)
01 99,2 16,10 24 Amostras indeformadas Densidade dos grãos (Gs)
02 99,4 13,90 2 01 2,795
03 85,8 10,10 1 -
02 2,792
04 91,7 21,00 2
05 96,0 17,70 4 03 2,801
04 2,805
As Tabelas 7 e 8 apresentam, 05 2,797
respectivamente, os resultados das densidades
dos grãos (Gs) e índice de vazios obtidos nas Tabela 8. Índice de vazios das amostras indeformadas
amostras indeformadas. Identificação w (%) GC (%) e
A Figura 8 apresenta a curva de compactação 01 16,10 99,20 0,626
Proctor Normal, plotada junto às curvas geradas 02 13,90 89,40 0,808
pelos parâmetros aplicados à contrução do 03 10,10 85,80 0,896
04 21,00 91,70 0,752
aterro experimental e os obtidos nas amostras
05 17,70 96,00 0,674
indeformadas. Dessa forma é possivel observar
a existência de desvios entre os parâmetros Onde,
aplicados ao aterro e os obtidos nas amostras w = teor de umidade;
indeformadas. Esses desvios podem ter ocorrido GC = grau de compactação;
em função das imperfeições dos processos de e = índice de vazios.
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Tabela 9. CIUnat - Amostras indeformadas


c φ c' φ'
Identificação
(kPa) (°) (kPa) (°)
01 94,1 40,1 89,2 40,2
03 24,5 34,0 21,6 34,4
04 55,9 33,0 54,9 33,3

Tabela 10. CIUnat - Amostras deformadas


c φ c' φ'
Identificação (kPa) (°) (kPa) (°)
01 52,0 37,2 50,0 37,3
Figura 8. Parâmetros (grau de compactação e teor de 03 25,5 34,0 25,5 34,3
umidade) obtidos no campo e no laboratório 04 30,4 35,5 28,4 35,7

A Figura 9 apresenta o comportamento do


ângulo de repouso crítico no estado fofo versus Tabela 11. CIU - Amostras indeformadas
teor de umidade. c φ c' φ'
Identificação
(kPa) (°) (kPa) (°)
01 274,6 42,1 7,8 41,1
02 60,8 12,8 5,9 33,3
03 4,9 13,7 3,9 29,0
04 180,4 29,0 5,9 34,4
05 248,1 37,2 6,9 37,5

Tabela 12. CIU - Amostras deformadas


c φ c' φ'
Identificação
Figura 9. Ângulo de repouso crítico versus teor de (kPa) (°) (kPa) (°)
umidade, no estado fofo 01 307,9 33,0 5,9 35,7
02 72,6 15,3 6,9 33,5
A Figura 10 apresenta o resultado das 03 8,8 12,4 3,9 25,9
análises químicas das amostras indeformadas. 04 232,4 30,6 7,8 34,6
. 05 293,2 28,1 8,8 33,9

4 COMPARATIVO DOS RESULTADOS

As Figuras 11 a 15 apresentam comparativos


dos parâmetros, a saber, tensão de pré-
adensamento versus grau de compactação,
índice de compressão versus índice de vazios
natural em amostras deformadas e indeformadas
e peso específico natural e saturado, em
Figura 10. Análises químicas das amostras indeformadas
amostras deformadas e indeformadas.
As Tabelas 9 a 12 apresentam os resultados
obtidos nos ensaios triaxiais (CIUnat e CIU)
realizados em amostras indeformadas e
deformadas.
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Figura 11. Tensão de pré-adensamento versus grau de


compactação em amostras deformadas Figura 15. Peso específico natural e saturado das
amostras deformadas e indeformadas

As Figuras 16 a 19 apresentam comparativos


dos parâmetros coesão e ângulo de atrito (TTT-
TTE) obtidos em ensaios triaxiais CIU e
CIUnat, , respectivamente.

Figura 12. Tensão de pré-adensamento versus grau


compactação em amostras indeformadas

Figura 16. Coesão versus grau de compactação em


amostras deformadas e indeformadas (TTE)
Figura 13. Índice de compressão versus índice de vazios
em amostras indeformadas

Figura 14. Índice de compressão versus índice de vazios


em amostras deformadas
Figura 17. Coesão versus grau de compactação
compactação em amostras deformadas e indeformadas
(TTT)
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Figura 21. Ângulo de atrito TTT e TTE em ensaios CIU

Figura 18. Ângulo de atrito versus grau de compactação


compactação em amostras deformadas e indeformadas
(TTE)

Figura 22. Coesão TTT e TTE em ensaios CIUnat

Figura 19. Ângulo de atrito versus grau de compactação


compactação em amostras deformadas e indeformadas
(TTT)

As Figuras 20 a 23 apresentam os
comparativos para coesão e ângulo de atrito
(TTT e TTE), obtidos em ensaios CIU e CIUnat
para amostras deformadas e indeformadas. Figura 23. Ângulo de atrito TTT e TTE em ensaios
CIUnat

5 CONCLUSÃO

Os resultados apresentados nesse trabalho,


demonstraram que há interferências nos
parâmetros de resistência das amostras
deformadas e indeformadas de rejeito, tendo em
vista as variações impostas ao grau de
compactação e ao teor de umidade.
Figura 20. Coesão TTT e TTE em ensaios CIU As análises comparativas dos parâmetros
obtidos nos ensaios realizados em corpos de
prova moldados a partir de amostras
deformadas e talhados a partir das amostras
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indeformadas apresentaram similitude para http://www.infomine.com/publications/docs/Davies20


ensaios CIU e diferenças para os ensaios 11.
Espósito, T. J. (2000). Metodologia probabilística e
CIUnat. Dessa forma observa-se que houve observacional aplicada a barragens de rejeito
acurácia na aplicação dos parâmetros (grau de construída por aterro hidráulico. Tese de Doutorado,
compactação e teor de umidade) obtidos nas Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
amostras indeformadas à moldagem dos corpos Universidade de Brasília, Brasília, DF.
de prova oriundos de amostras deformadas, para Geomil Serviços de Mineração. (2018). Projeto da pilha
de rejeito filtrado em forma de "torta".
realização do ensaios CIU e pequenos desvios Geomil Serviços de Mineração. (2017). Relatório de
para ensaios CIUnat. planejamento de lavra e geologia da Jazida Lagoa das
Pode-se observar acréscimos nos parâmetros de Flores.
resistência em decorrência do aumento do grau Lima, M. K. (2006). Retroanálise da formação de um
de compactação, com a aproximação do teor de depósito de rejeitos finos de mineração construído
pelo método subaéreo.
umidade à ótima e vice-versa. Nery, K. (2013). Caracterização Geotécnica e
Esse artigo apresentou dados de uma Compactação de um Resíduo da Produção de Alumina
dissertação de mestrado, ainda em andamento, (Lama Vermelha) Desaguado por Filtro Prensa.
em desenvolvimento pelo primeiro autor. Com Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, MG. p. 112p.
os parâmetros geotécnicos gerados em cada fase
Benjesolo Engenharia e Geotecnia Ltda. (2017).
do aterro experimental estão sendo realizadas as Relatório dos ensaios geotécnicos realizados em
análises de estabilidade pelos métodos rejeito.
determinísticos e probabilísticos, para um Loctest Laboratório de Geotecnia. (2016). Relatório dos
modelo proposto de pilha de rejeito filtrado. As ensaios geotécnicos de realizados em rejeito.
Silva. (2016). Silva. S. A., Critérios de projeto de sistema
análises estão sendo realizadas com variação no
de disposição em pilhas de resíduos de alumina
nível de água, a saber, normal, elevado e crítico, desaguados por filtro prensa. Dissertação de mestrado,
com objetivo de determinar os fatores de Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG.
segurança e as probabilidades de ruptura para
análises em cenários estáticos e
peseudoestáticos. Os resultados dessas análises
contribuirão para a determinação de diretrizes
de projeto para empilhamento de rejeito de
minério de ferro filtrado em forma de “torta”, a
partir da observância dos parâmetros de
resistência em função das variações do teor de
umidade e do grau de compactação.
Como diretrizes preliminares pode-se dizer que
um programa completo de ensaios geotécnicos,
como o aqui apresentado, é essencial para a
avaliação do comportamento do rejeito, assim
como para a realização de estudos de
estabilidade, fundamental na elaboração de um
projeto geotécnico de empilhamentos de rejeito
de minério de ferro filtrado em forma de “torta”.

REFERÊNCIAS

Davies. (2011). Filtered dry stacked tailings – the


fundamentals. In Proceedings Tailings and Mine
Waste, Vancouver, BC, Canadá, disponível em
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Efecto de la temperatura de cura en suelos dispersivos


estabilizados con cal y reforzados con fibra de polipropileno en
términos de resistencia y durabilidad
Luis Duré
Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, luchofdg@gmail.com

Pamela Santos Bacchetto


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, pamsantto7@gmail.com

Oscar Almada Leguizamón


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, osalle93@gmail.com

Rubén López Santacruz


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, rlopez@ing.una.py

Eduardo José Bittar Marín


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, ebittar@ing.una.py

Rubén Alejandro Quiñónez Samaniego


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, rquinonez@ing.una.py

Fulgencio Antonio Aquino


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, aaquino@ing.una.py

RESUMEN: Este trabajo está enfocado en conocer el comportamiento mecánico de arcillas


dispersivas estabilizadas con cal y reforzadas fibras de polipropileno, en términos de resistencia y
durabilidad. Para llevar a cabo este objetivo, ensayos de resistencia a la compresión no confinada y
ensayos de durabilidad por mojado-secado y cepillado. La adición de fibras de polipropileno
demostró un leve aumento de la resistencia a compresión simple aumentando también la ductilidad
del geo-material. En términos de durabilidad la adición de estas fibras no mostró generar mejoras
significativas. El aumento de la temperatura de curado mejoro notablemente la resistencia del geo-
material mientras que no causo una mejora de la durabilidad. Finalmente se demostró que la
resistencia y durabilidad de estos suelos cementados están controlados por una relación vacíos/cal
ante las dos temperaturas de curado.

PALABRAS-CLAVE: suelos dispersivos, suelos reforzados con fibras, relación vacíos/cal.

1. INTRODUCCIÓN defloculación en presencia de agua, que tiende a


inducir mecanismos de erosión interna y
1.1. Suelos dispersivos conductos a través del cuerpo del suelo. Sherard
et al. (1976a) indican que las arcillas naturales
Los suelos dispersivos tienden a presentar una se dispersan en la presencia de agua pura, como
elevada susceptibilidad a la dispersión o en el caso del agua de lluvia.
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Según datos de USBR (1998), los proyectos 1.4. Fibra como refuerzo de suelos
especifican el uso de la cal para estabilización
mediante la adición de una cantidad mínima Para Taylor (2013), está consensuado que el
capaz de producir un suelo no dispersivo. mayor potencial de los materiales compuestos
Sherard et al. (1976b) realizaron decenas de fibrosos está en el estado post-fisuración, en
ensayos Pinhole en diferentes arcillas donde las fibras contribuyen de forma más
dispersivas modificadas con pequeñas efectiva en la resistencia del material,
cantidades de Ca (OH)2 (1% a 4% respecto al aumentando así su capacidad de absorción de
peso seco). En todos los casos, sin excepción, el energía.
suelo cambió para no dispersivo. Las fibras no impiden la formación de fisuras
en el compuesto, pero son capaces de aumentar
1.2. Suelos sulfatados la resistencia a tracción por el control de la
propagación de fisuras (Taylor, 2013). Según
La expansión inducida por sulfatos conocido Johnston (1994), Las fibras en una matriz
como sulfate induced heave es atribuida a la cimentada pueden en general tener dos efectos
presencia de sulfato en los suelos o en el agua importantes. Primero, tienden a reforzar el
de los suelos, ocurriendo cuando la cal o compuesto sobre todos los modos de carga que
cemento se utilizan como estabilizantes de estos inducen tensiones de tracción, esto es, tracción
suelos (HUNTER, 1988). Varias investigaciones indirecta, flexión, y cizallamiento, y,
han demostrado que el uso de estabilizadores a secundariamente, mejoran la ductilidad y la
base de calcio con suelos ricos en sulfato puede tenacidad de una matriz con características
conducir a un nuevo problema en lugar de frágiles. El funcionamiento de las fibras como
mitigarlo (BITTAR, 2017). elementos de refuerzo es entonces comandado
por las características de deformabilidad del
1.3. Cal como agente mejorador de suelos suelo y por la forma de distribución de estas
deformaciones, que dependen del tipo de
De acuerdo con Little (1995), dos fases ocurren solicitación al cual el material está siendo
en el proceso de estabilización de las mezclas de sometido.
suelo-cal. La primera involucra prácticamente
las reacciones inmediatas de intercambio de 2. MATERIALES
cationes y floculación, que se desarrollan poco
después de la adición de la cal al suelo y pueden 2.1. Suelo
ocurrir en minutos o días. La segunda involucra
las reacciones puzolánicas, que son responsables En la presente investigación el suelo utilizado
del aumento continuo de la resistencia mecánica fue un suelo arcillo-limoso originario de la
de las mezclas de suelo-cal pudiendo llevar región occidental (chaco) paraguaya. El local de
meses o hasta años para ser concluidas. préstamo de suelo se encuentra en la ciudad de
Recientes investigaciones relatan el uso de la Filadelfia.
relación volumen de vacíos/volumen de agente De esta forma, las propiedades del suelo se
cementante en la predicción del comportamiento resumen en la tabla 2.1 y tabla 2.2. Los ensayos
mecánico de suelos artificialmente cementados, químicos referentes a la cuantificación de sales
utilizando agentes como cal, cemento, cal- y sulfatos solubles siguieron las
cenizas, en diferentes tipos de suelos como recomendaciones de las normas (ASTM C1580,
arenas, suelos residuales, arcillas dispersivas y 2010) y (SMEWW, 1989). Como resultado se
sulfatadas (Foppa, 2005), (Consoli et al., 2009), obtuvo una cantidad de 1100 ppm de sulfatos
(Quiñónez Samaniego, 2015), (Bittar, 2017), solubles.
dicha relación fue utilizada en este trabajo.
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Tabla 2.1 Propiedades físicas del suelo Las propiedades se presentan en las Tablas 2.3 y
Propiedades Valores Norma 2.4.
Limite Liquido (LL) 27 ASTM D4318-10
Limite Plástico (LP) 15 ASTM D4318-10 Tabla 2.3 Características mecánicas de la fibra
Índice de Plasticidad Polipropileno mono
12 ASTM D4318-10 Materia prima
(IP) polímero
Peso Específico Real de 26,68 Peso específico 0.91 g/cm3
ASTM D854-14
los Granos (G) kN/m³
% Pasante Tamiz #200 80% ASTM D6913-10 Temperatura de fusión 160 0C
% Materia Orgánica 0.57% ASTM D2974-10 Resistencia a la tracción 300 Mpa (Nmm2)
pH 7.6 ASTM D4972-01
Módulo de Young 3 GPa
Dispersión (Pinhole) ND3 ASTM D4647-13
Área Muy buena resistencia a los ácidos, alcalinos y sales
Sherard et al.
Dispersión (SAR) Dispersiv (1976b)
a Tabla 2.4 Características físicas de la fibra
ASTM C1580-10/ Diámetro 18 µm
Sulfatos Solubles 1100 ppm SMEWW
Clasificación SUCS CL ASTM D2487-11 Sección Circular
Clasificación AASHTO A6 ASTM D3282-15 Largo 12mm

Tabla 2.2 Propiedades químicas del suelo Elongación 80%


Parámetros Valor
Na (Meq/L) 13,7 2.4. Agua
K (Meq/L) 5,9
Ca (Meq/L) 0,47 Agua destilada fue utilizada tanto para ensayos
Mg (Meq/L) 0,03 de caracterización como para el moldeo de los
TSD (Total de sales disueltas) 20,11 cuerpos de prueba.
PS = (Na/TSD) x100 68,13%
RAS o SAR (Razón de absorción) 14,09
3. METODOS
2.2. Cal 3.1. Preparación y Curado de los Cuerpos de
Prueba
La cal utilizada fue una cal hidratada calcítica,
producida en la ciudad Concepción - Paraguay.
Los moldeados de los cuerpos de prueba tanto
Los ensayos para la determinación de la masa
para los ensayos de resistencia a compresión
específica de la cal siguieron las
simple se realizaron en moldes cilíndricos
recomendaciones de la (ASTM D 854-10)
tripartitos de acero y de dimensiones internas de
obteniéndose el valor medio de 24,13 kN / m³.
50 mm de diámetro y 100 mm de altura. La
Las propiedades fisicoquímicas de la cal se
cantidad de cal y fibra necesaria para cada
presentan en la Tabla 2.2.
mezcla se calculó en relación con la masa del
Tabla 2.2 Propiedades químicas de la cal. suelo seco, la cantidad de agua (contenido de
humedad) en relación con la suma de las masas
CaO MgO SiO2 R2O3 de suelo seco y de agente cementante. Se
procedió a compactar estáticamente en tres
68,36% 0,61% 1,24% 1,92%
capas en el interior del molde de acero
2.3. Fibras de polipropileno tripartido, debidamente lubricado, de manera
que cada capa alcanzase las especificaciones del
La fibra de polipropileno utilizada fue la de peso específico aparente seco, tomando el
FibroMac© 12. cuidado de escarificar ligeramente los topes
acabados de la primera y de la segunda capa
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para aumentar la integración entre las capas Los cuerpos de prueba fueron moldados em
superpuestas. moldes con dimensiones de 54 mm de diámetro
Por fin los cuerpos de pruebas se almacenaban e 21 mm de altura de modo a clavar el anillo
para su curado a una temperatura de 20 ° ± 2 ° C muestreador de consolidación en el material
o 40 ° ± 2 ° C. compactado y este quede adecuadamente preso
en el mismo. Los cuerpos de prueba fueron
3.2. Ensayos de Resistencia a Compresión moldados con compactación estática.
Simple
4. RESULTADOS
El ensayo se realizó con una tasa de
deformación constante de 1,0 mm por minuto. 4.1. Efecto de la temperatura de curado en la
Los procedimientos descritos siguieron la norma resistencia a compresión simple.
(ASTM D5102, 1996). Para evitar el efecto de
la succión, los cuerpos de prueba se saturados En las Figuras 4.1, 4.2, 4.3, 4.4, 4.5 y 4.6 se
sumergiendo en agua al menos 24 horas antes de presentan las curvas de ajuste de la variación de
la realización del ensayo, el agua se mantenía a la resistencia a la compresión en función al
una temperatura de 20 ± 2 ° C. porcentaje de cal para 7 y 28 días de curado.
Cada curva, aisladamente, tiene la misma masa
3.3. Ensayos de Durabilidad por Mojado y específica aparente seca y todos los puntos
Secado poseen el mismo contenido de humedad (ω =
13%). Las muestras de suelo-cal se muestran a
Los ensayos de durabilidad fueron realizados diferentes temperaturas de curado.
basados en la norma ASTM D559, el cual
evalúa la durabilidad de probetas de suelo
cemento a través del porcentaje de pérdida de
masa de probetas luego del cepillado después de
12 ciclos de secado e mojado e con la
utilización de probetas cilíndricas de 101,6 ± 0,4
mm de diámetro e 116,43 ± 0,3 mm de altura,
moldados en compactación estática.
Primeramente, se procede a la inmersión de la
probeta por cinco horas para después ser secado
a estufa por 42 horas a una temperatura de 71 ±
3°C, e al final es realizado el cepillado en las Figura 4.1 Efecto de la temperatura de curado sobre la
fases laterales, en la base y en el tope de acuerdo resistencia a la compresión simple de una muestra de
suelo-cal con peso específico de 1,70 kN/m³ a los 7 días.
con la norma finalizando así un ciclo.

3.4. Ensayos de Expansión

Los ensayos de expansión fueron ejecutados


utilizando equipamientos de consolidación sin
aplicación de cargas siguiendo las
recomendaciones de la norma ASTM D4546,
con la modificación de no colocar presión
alguna en las muestras. El ensayo es conocido
como ensayo de expansión libre en una
dimensión (One-Dimensional Free Swell Test).
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Figura 4.2 Efecto de la temperatura de curado sobre la Figura 4.6 RCS de una muestra de suelo-cal con peso
resistencia a la compresión simple de una muestra de específico de 1,90 kN/m³ a los 28 días.
suelo-cal con peso específico de 1,80 kN/m³ a los 7 días.
4.2. Efecto de la adición de fibras sobre la
resistencia a compresión simple del geo-
material.

En las Figuras 4.7, 4.8, 4.9, 4.10, 4.11 y 4.12 se


presentan las curvas de ajuste de la variación de
la resistencia a la compresión en función al
porcentaje de cal para 7 y 28 días de curado.
Cada curva, aisladamente, tiene la misma masa
Figura 4.3 RCS de una muestra de suelo-cal con peso específica aparente seca y todos los puntos
específico de 1,90 kN/m³ a los 7 días. poseen el mismo contenido de humedad (ω=
13%). Las muestras de suelo-cal-fibras se
muestran a diferentes temperaturas de curado.

Figura 4.4 RCS de una muestra de suelo-cal con peso


específico de 1,70 kN/m³ a los 28 días.

Figura 4.7 Efecto de la adición de fibras sobre la


resistencia a la compresión simple de muestras de suelo-
cal y suelo-cal-fibras con peso específico de 1,70 kN/m³ a
los 7 días.

Figura 4.5 RCS de una muestra de suelo-cal con peso


específico de 1,80 kN/m³ a los 28 días.
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Figura 4.8 Efecto de la adición de fibras sobre la Figura 4.11 Efecto de la adición de fibras sobre la
resistencia a la compresión simple de muestras de suelo- resistencia a la compresión simple de muestras de suelo-
cal y suelo-cal-fibras con peso específico de 1,80 kN/m³ a cal y suelo-cal-fibras con peso específico de 1,80 kN/m³ a
los 7 días. los 28 días.

Figura 4.12 Efecto de la adición de fibras sobre la


resistencia a la compresión simple de muestras de suelo-
Figura 4.9 Efecto de la adición de fibras sobre la cal y suelo-cal-fibras con peso específico de 1,70 kN/m³ a
resistencia a la compresión simple de muestras de suelo- los 28 días.
cal y suelo-cal-fibras con peso específico de 1,90 kN/m³ a
los 7 días. 4.3. Efecto de la relación vacíos/cal sobre la
resistencia a compresión simple del geo-
material.

En las Figuras 4.13 y 4.14 se presentan las


curvas de ajuste de la variación de la resistencia
a la compresión simple en función de la relación
porosidad/contenido volumétrico de cal ajustado
por la potencia de 0,11, para 7 y 28 días de
curado, de los cuerpos de prueba de suelo-cal y
suelo-cal-fibras a 20˚C y 40˚C. Puede
observarse que esta relación es capaz de
Figura 4.10 Efecto de la adición de fibras sobre la
resistencia a la compresión simple de muestras de suelo- controlar el comportamiento del material en
cal y suelo-cal-fibras con peso específico de 1,70 kN/m³ a términos de la resistencia a compresión simple
los 28 días. con un buen ajuste.
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específica aparente seco, distinto contenido de


cal y distinta temperatura de curado, así también
todos los puntos poseen el mismo contenido de
humedad (ω = 13%).

Figura 4.15 Pérdida de masa acumulada en función del


Figura 4.13 Resistencia a la compresión simple en función número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%,
de la relación porosidad/cal para muestras de suelo-cal a 8%, 11%) del suelo-cal y diferentes temperaturas de
28 días de cura a las temperaturas estudiadas. curado a 7 días (17 kN/m³).

Figura 4.16 Pérdida de masa acumulada en función del


número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%,
8%, 11%) del suelo-cal y diferentes temperaturas de
curado a 7 días (18 kN/m³).

Figura 4.14 Resistencia a la compresión simple en función


de la relación porosidad/cal para muestras de suelo-cal-
fibras a 7 días de cura a las temperaturas estudiadas.

4.4. Efecto de la temperatura de curado en la


durabilidad del geo-material

En las Figuras 4.15, 4.16 y 4.17 se pueden


observar que la temperatura de curado no
influye de manera significativa en la durabilidad
Figura 4.17 Pérdida de masa acumulada en función del
del material. En cada una de las curvas
número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%,
presentadas al aumentar la temperatura de 8%, 11%) del suelo-cal y diferentes temperaturas de
curado la pérdida de masa o peso acumulado curado a 7 días (19 kN/m³).
(PMA), fue casi la misma y las diferencias
observadas no fueron mayores al 5%. Cada
curva, aisladamente, tiene una misma masa
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4.5. Efecto de la adición de fibras en la


durabilidad del geo-material.

En las Figuras 4.18, 4.19, 4.20, 4.21, 4.22 y 4.23


se pueden observar que las fibras de
polipropileno tienen poca influencia en la
durabilidad de los mismos. En cada una de las
curvas presentadas curadas a temperatura de 20º
a 7 días al aumentar la cantidad de fibra de
polipropileno la pérdida de masa total fue Figura 4.20 Pérdida de masa acumulada en función del
levemente mayor, en cambio en los cuerpos de número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%,
prueba con curado a temperatura de 40º a 7 días 8%, 11%) del suelo-cal y suelo-cal-fibras con 20°C y 7
se verifica que no presentó diferencia días de curado (19 kN/m³).
significativa con respecto a los cuerpos de
prueba sin fibra de polipropileno.

Figura 4.21 Pérdida de masa acumulada en función del


número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%,
Figura 4.18 Pérdida de masa acumulada en función del 8%, 11%) del suelo-cal y suelo-cal-fibras con 40°C y 7
número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%, días de curado (17 kN/m³).
8%, 11%) del suelo-cal y suelo-cal-fibras con 20°C y 7
días de curado (17 kN/m³).

Figura 4.22 Pérdida de masa acumulada en función del


número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%,
Figura 4.19 Pérdida de masa acumulada en función del 8%, 11%) del suelo-cal y suelo-cal-fibras con 40°C y 7
número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%, días de curado (18 kN/m³).
8%, 11%) del suelo-cal y suelo-cal-fibras con 20°C y 7
días de curado (18 kN/m³).
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Figura 4.23 Pérdida de masa acumulada en función del


número de ciclos para diferentes porcentajes de cal (5%,
8%, 11%) del suelo-cal y suelo-cal-fibras con 40°C y 7
días de curado (19 kN/m³).
Figura 4.25 Pérdida de masa acumulada en función de la
4.5. Efecto de la relación vacíos/cal en la relación porosidad/cal para muestras de suelo-cal con 7
días de cura a 40°C.
durabilidad del geo-material.
4.6. Respuesta de la variación volumétrica del
En las Figuras 4.24 y 4.25 se presentan las material.
curvas de ajuste de la variación de pérdida de
masa acumulada en función de la relación En la Tabla 4.1 puede observarse cierta
vacíos/cal del suelo-cal con 7 días de curado a expansión del suelo estabilizado el cual con la
20˚C y 40˚C respectivamente. Cada curva, adición del agente cementante disminuyo
aisladamente, representa un ciclo específico del notablemente.
ensayo de durabilidad, siendo estos los ciclos 3,
6, 9 y 12; abarcando la curva de ese ciclo todos Tabla 4.1 Resultados de expansión libre (%) a los 15 días
% fibra 0 0,4
los porcentajes de cal utilizados y todos los
pesos específicos estudiados. Puede observarse % cal 0 5 8 11 0 5 8 11

que esta relación es capaz de controlar el 1,9 3,22 0,73 0,26 0,26 - 0,33 0,13 0,69
γd
comportamiento del geomaterial en términos de (kN/ 1,8 2,45 0,73 0,51 0,73 - 0,51 0,18 0,89
la durabilidad. 3
m)
1,7 3,11 0,44 0,44 0,29 - 0,55 0,51 0,95

5. CONCLUSIONES

Para los cuerpos de prueba de suelo-cal se


apreciaron notables aumentos de la resistencia a
la compresión simple en tanto incrementaba la
temperatura de curado.
Los cuerpos de prueba con fibra de
polipropileno presentaron aumentos de la
resistencia a la compresión simple a mayor
temperatura, mientras que a 20°C el aumento no
fue notorio.
Figura 4.24 Pérdida de masa acumulada en función de la La adición de fibras de polipropileno a los
relación porosidad/cal para muestras de suelo-cal con 7 cuerpos de prueba no produce influencia que
días de cura a 20°C. pueda considerarse significativa en la
durabilidad de los mismos.
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La relación vacíos-agente cementante (2009). Parameters controlling tensile and compressive


demostró controlar el comportamiento del geo- strength of artificially cemented sand. Journal of
material en términos de resistencia y Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, 136(5),
durabilidad. Se encontraron relaciones únicas 759–763.
entre la resistencia, la durabilidad y la relación Foppa, D. (2005). Análise de variáveis-chave no controle
vacíos/agente cementante. Esta relación da resistência mecânica de solos artificialmente
demuestra ser muy efectiva como método de cimentados. UFRGS, Porto Alegre.
dosificación de suelos cementados
artificialmente. Hunter, D. (1988). Lime-induced heave in sulfate-bearing
No se observaron valores de expansión clay soils. Journal of Geotechnical Engineering, 114(2),
considerables al estabilizar el suelo con cal. 150–167.
Puede concluirse que la cantidad de sulfatos JOHNSTON, C. D. (1994). Fiber-reinforced cement and
(1.100 ppm) no es suficiente para generar concrete.
expansión por formación de etringita.
Little, D. N. (1995). Stabilization of pavement subgrades
AGRADECIMENTOS and base courses with lime.

Los autores expresan su gratitud con el QUIÑÓNEZ SAMANIEGO, R. A. Estabilização de um


CONACYT, por su aporte y contribución a la solo dispersivo com adição de cal - UFRGS, Porto Alegre,
Investigación, a la FIUNA por el uso de las Abril 2015.
infraestructuras. SHERARD, J. L.; DUNNIGAN, L. P.; DECKER, R. S.
Identification and nature of dispersive soils. Journal of the
REFERÊNCIAS Geotechnical Engineering Division, ASCE, Vol. 102, p.
pp. 287 – 301, April 1976a.
ASTM D4546. Standard test methods for one-dimensional
swell or collapse of soils. ASTM International, , n. April, SHERARD, J. L.; DUNNIGAN, L. P.; DECKER, R. S.;
p. 1–10, 2014. STEELE, E. F. Pinhole test for identifying dispersive
soils. Journal of the Geotechnical Engineering Division,
ASTM D559. Standard Test Methods for Wetting and
Vol. N 102, p. pp. 69–85, 1976b.
Drying Compacted Soil-Cement Mixtures. ASTM
International, West Conshohocken, PA, v. 4, n. C, p. 1–8, Taylor, G. D. (2013). Materials in construction: An
2011. introduction. Routledge.
ASTM D854. Standard Test Methods for Specific Gravity
of Soil Solids by Water Pycnometer. ASTM International,
West Conshohocken, PA, 2014.

ASTM D5102-09. Standard Test Method for Unconfined


Compressive Strength of Compacted Soil-Lime Mixtures,
ASTM International, West Conshohocken, PA, 2009.

ASTM C1580-15, Standard Test Method for Water-


Soluble Sulfate in Soil, ASTM International, West
Conshohocken, PA, 2015.

Bittar, E. (2017) ‘Estudo de campo e laboratorio do


comportamento mecânico de um solo sulfatado
estabilizado com cal’ UFRGS, Porto Alegre.

Consoli, N. C., Cruz, R. C., Floss, M. F., & Festugato, L.


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Efeito da compactação estática sobre as deformações por colapso


de um solo arenoso
Ma. Ana Patrícia Aranha de Castro
UNESP Bauru, Bauru, Brasil, eng.anadecastro@hotmail.com

Dr. Roger Augusto Rodrigues


UNESP Bauru, Bauru, Brasil, roger_ar@feb.unesp.br

RESUMO: A compactação dos solos é uma atividade fundamental nas obras geotécnicas e sua
correta execução é capaz de promover melhorias significativas no comportamento do solo. O
controle da compactação em campo representa a alternativa viável para melhoria de solos
colapsíveis. Nesse contexto, esta pesquisa trata de um estudo sobre a compactação como método de
melhoria de um solo colapsível arenoso proveniente da região de Bauru-SP. Ensaios de
caracterização, de compactação Proctor Normal e ensaios edométricos com inundação em uma
determinada tensão compõem o programa experimental dessa pesquisa. Constatou-se, com os
resultados obtidos, que as deformações por colapso diminuem com o aumento do grau de
compactação do solo, demonstrando o benefício da compactação na redução de problemas
resultantes da colapsibilidade dos solos.

PALAVRAS-CHAVE: Compactação, Colapso, Solo Colapsível, Ensaio Edométrico.

1 INTRODUÇÃO sua resistência, compressibilidade e


permeabilidade. A sucção, em particular a
O conhecimento do comportamento do solo é sucção matricial decorrente da interação
determinante em projetos geotécnicos e na sólidos-ar-água, influencia significativamente o
solução de problemas comuns na prática de comportamento do solo não saturado.
engenharia. Entretanto, é comum se observar Solos não saturados porosos tendem a
negligência na execução de obras geotécnicas, apresentar maior rigidez devido à sucção
em especial as que envolvem controle de matricial, que garante certa estabilidade do
compactação de campo. A falta de ensaios ponto de vista estrutural. Em contrapartida,
laboratoriais e de campo e o controle ineficiente quando esses solos são inundados, a tendência é
da compactação do solo pode levar a formação que eles se deformem com expressiva redução
de solos com elevada porosidade que, quando do índice de vazios. Quando essas deformações
submetidos às variações climáticas, chuvas ocorrem sem que haja acréscimo de carga, diz-
intensas e períodos de seca, sofrem significativa se que o solo é colapsível.
deformação. Os solos colapsíveis apresentam
Como destaque para o estudo, a ocorrência características comuns como elevada
de solos não saturados porosos em diversas porosidade, normalmente acima de 40%, e baixo
regiões do país faz a pesquisa se voltar para essa grau de saturação, geralmente abaixo de 60%
área da Geotecnia ainda pouco compreendida. (DUDLEY, 1970). O comportamento colapsível
Os solos não saturados possuem pressões pode ser identificado por meio de ensaios
negativas da água intersticial do solo, laboratoriais, como os ensaios edométricos
denominada sucção, cujo valor influi simples e duplos, que permitem a definição do
diretamente no estado de tensão e, portanto, na potencial de colapso para o solo.
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Esse trabalho, especificamente, trata do


estudo da colapsibilidade de um solo arenoso 3.2. Ensaios Edométricos
realizado por meio de ensaios edométricos
simples com amostras compactadas. Cada O ensaio edométrico com inundação para
ensaio foi realizado com solo não saturado até medida do colapso foi realizado com amostras
uma tensão previamente definida e, então, compactadas. Para se definir os pares (grau de
inundado para indução do colapso do solo. compactação - GC, umidade - w), utilizaram-se
Diferentes pares de grau de compactação e valores da curva de compactação do ensaio
umidade de moldagem foram ensaidos. Proctor Normal. Adotou-se, como referência, a
massa específica seca máxima e umidade ótima,
sendo, a partir daí, definidos dezesseis pares
2 SOLO ESTUDADO (portanto, dezesseis ensaios):
 Umidade de 4,5%: graus de compactação
A área estudada situa-se na Universidade de 77% (grau de compactação de campo), 80%,
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 85% e 90%;
UNESP, Campus de Bauru-SP, onde  Umidade de 6,5%: graus de compactação
predominam solos com elevada porosidade e de 77% (grau de compactação de campo), 80%,
baixo grau de saturação na porção superior do 85% e 90%;
perfil geotécnico.  Umidade de 8,5%: graus de compactação
Do ponto de vista geológico, a área ocupada de 77% (grau de compactação de campo), 80%,
pelo município pertence à Bacia Sedimentar do 85% e 90%;
Paraná, e está inserida no Planalto Arenítico-  Umidade de 10,6% (umidade ótima): graus
Basáltico do Estado de São Paulo, Planalto de compactação de 77% (grau de compactação
Ocidental, onde o quadro geológico regional é de campo), 80%, 85% e 90%.
dominado por rochas do Grupo Bauru A escolha desses pontos no ramo seco da
(Cretáceo Superior), recobrindo as rochas curva de compactação visa estudar o
vulcânicas da Formação Serra Geral que afloram comportamento do solo na situação em que
em direção ao vale do Rio Tietê (Ross & ocorrem as maiores deformações por colapso,
Moroz, 1997). Os solos superficiais são como já descrito por alguns autores (GENS et
compostos por areia fina pouco argilosa de al., 1995; CARNERO e MARINHO, 2014).
compacidade fofa a compacta, de coloração Vargas (1978) define como solo colapsível
predominante marrom avermelhado. aquele cujo potencial de colapso for superior a
2%. Portanto, como base da pesquisa, esse
referencial será adotado.
3 MATERIAIS E MÉTODOS Os valores de potenciais de colapso podem
ser obtidos por meio da equação 1:
3.1. Ensaios de Caracterização e Compactação
e H
PC   (1)
Os ensaios de caracterização foram realizados 1  ei H0
de acordo com as Normas Brasileiras,
consistindo em Ensaios de Análise Em que:
Granulométrica Conjunta (NBR 7181/88), PC: potencial de colapso;
Massa Específica dos Sólidos (NBR 6458/16) e e : variação do índice de vazios do solo;
Limites de Liquidez (NBR 6459/84) e
ei : índice de vazios inicial do solo;
Plasticidade (NBR 7180/88). Para o ensaio de
compactação, foi utilizada energia do ensaio de H : variação de altura do corpo de prova (m);
compactação Proctor Normal (NBR 7182/86). H 0 : altura inicial do corpo de prova (m).
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Pode destacar que a umidade inicial Análise Granulométrica Conjunta (NBR


influencia a magnitude do colapso dos solos, 7181/88), com e sem a utilização do
uma vez que quanto menos úmido, maior a defloculante hexametafosfato de sódio.
sucção, e por consequência maior a rigidez e
menor a deformabilidade do solo. Como a
sucção é elevada neste caso, a aplicação das
cargas até a tensão de 100 kPa implicará em
pequenas deformações no solo. Após a
inundação a deformação por colapso será
máxima, uma vez que as deformações por
umedecimento causarão uma variação de
volume do corpo de prova que o levará até à
linha de compressão virgem do solo saturado.
A tensão de interesse para a imposição da
inundação foi de 100 kPa, visto que esse valor
se aproxima dos carregamentos médios Figura 2. Curvas granulométricas obtidas em ensaios
com e sem o uso de defloculante.
aplicados nos solos de Bauru-SP até a
profundidade de fundações de 6 a 8 m
Na Figura 3 é apresentada a curva de
(profundidade aproximada das camadas de solos
compactação, obtida por meio do ensaio de
colapsíveis em que se apoiam fundações),
Proctor Normal com curvas de mesmo grau de
levando-se em consideração as tensões
saturação para os valores de 80%, 90% e 100%.
geostáticas e os acréscimos de tensões para
edificações padrões de um pavimento (mais 2.05
comuns). Sr = 80% S r = 90% Sr = 100%
2.00
Na Figura 1 é apresentada a montagem dos
experimentos e a câmara edométrica. 1.95
rd (g/cm³)

1.90

1.85

1.80

1.75
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
w (%)
Figura 3. Curva de compactação na energia Proctor
normal.

Na Tabela 1 são apresentadas as principais


características do solo a 1,0 m de profundidade,
Figura 1. Moldagem do corpo de prova e montagem no obtidas por meio dos ensaios acima descritos e
edômetro. pelos demais citados.
A classificação do solo pela SUCS, Sistema
Unificado de Classificação dos Solos, foi
4 RESULTADOS E ANÁLISES realizada utilizando-se os resultados obtidos por
meio da análise granulométrica e índices de
Na Figura 2 são apresentadas as curvas liquidez e plasticidade do solo.
granulométricas obtidas por meio de ensaios de
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Tabela 1. Características do solo de Bauru-SP.


Definição Símbolo Unidade Valor
Argila - (%) 14,0
Silte - (%) 5,8
Areia - (%) 80,2
Limite de liquidez wL (%) 15,5
Limite de
wP (%) NP
plasticidade
Massa específica seca
máxima (Proctor ρdmax (g/cm3 ) 1,950
Normal)
Umidade ótima
wopt (%) 10,6
(Proctor Normal)
Massa específica dos
ρs (g/cm3 ) 2,649
sólidos
Classificação SUCS SC (areia-argilosa)
* valores referentes à data da coleta do solo.
** SUCS: Sistema Unificado de Classificação dos Solos.
*** NP: não plástico.

Os resultados dos ensaios edométricos com


inundação demonstram que para qualquer valor
de umidade de compactação utilizada, quanto
maior o grau de compactação do solo menor
será sua variação volumétrica. Pode-se observar,
ainda, que quanto maior a umidade de
compactação, menor é a deformação por
colapso após a inundação.
Para o solo estudado, a compactação de 85%
já é suficiente para reduzir a colapsibilidade,
como apresentado na Tabela 2, com potencias
de colapso inferiores a 2%.

Tabela 2. Potenciais de colapso obtidos para cada ensaio.


wi = 10,6
wi = 4,5 % wi = 6,5 % wi = 8,5 %
%
GC PC GC PC GC PC GC PC
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
77 10,8 77 8,49 77 5,22 77 3,09
80 6,28 80 5,02 80 3,90 80 2,37
85 1,88 85 0,82 85 0,72 85 0,92
90 0,46 90 0,55 90 0,28 90 0,18

Para GC de 90% as curvas se comportam de


forma semelhante para todos os valores de
umidade inicial, tanto pela aplicação de cargas
quanto pela inundação dos corpos de prova.
Na Figura 4, são representadas curvas da
relação εv versus log() para os dezesseis pares Figura 4. Curva de compressão edométrica εv versus
(GC, w). log() para umidade de 4,5%, 6,5%, 8,5% e 10,6%.
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Tabela 4. Classificação de colapsibilidade por


A representação da Figura 4 visa analisar os Lutenegger e Saber (1988).
potenciais de colapso através da apresentação PC (%) GRAVIDADE DO PROBLEMA
das deformações volumétrica específicas, 2 Leve
facilitando a interpretação das deformações 6 Moderado
sofridas por colapso. Infere-se, portanto, que 10 Alto
quanto maior à deformação volumétrica Fonte: LUTENEGGER e SABER, 1988.
específica, maior o valor do potencial de colapso
e maiores são as deformações sofridas pelo O solo compactado com 85% de grau de
corpo de prova quando inundado. compactação para qualquer umidade inicial já
O gráfico apresentado na Figura 5 representa pode ser classificado como não colapsível, de
a relação entre o potencial de colapso e o grau acordo com o critério de Vargas (1978) que
de compactação. considera o solo como colapsível quando o
Nesse gráfico foram confeccionadas retas potencial de colapso for superior a 2%.
paralelas ao eixo das abcissas que indicam as Entretanto, para o GC de 90% as
classificações de Jennings e Knight (1975) e deformações por colapso são efetivamente
Lutenegger e Saber (1988) para a gravidade do desprezíveis. Isto significa que, em termos
colapso. práticos, a compactação em campo realizada
sem um controle rigoroso (no caso do GC de
90%) já é suficiente para praticamente reduzir
significativamente os efeitos do colapso do solo
estudado.

5 CONCLUSÃO

A areia pouco argilosa presente na região de


Bauru-SP é suscetível ao colapso do solo. Essa
afirmação pode ser constatada nos ensaios
edométricos com inundação para diversos graus
Figura 5. Curva GC versus PC para os quatro valores de de compactação de campo, cujos valores de
umidade definidos e com limites de classificação.
colapso foram expressivos.
Deformações por colapso em amostras pouco
Jennings e Knight (1975) definiram a compactadas apresentaram valores superiores às
classificação de colapsibilidade como amostras compactadas com maior rigor.
apresentado na Tabela 3, e Lutenegger e Saber Por fim, pode-se concluir que a melhoria do
(1988), como apresentado na Tabela 4. solo colapsível em uma região cujo solo possui
características semelhantes ao de Bauru-SP é
Tabela 3. Classificação de colapsibilidade por Jennings e
Knight (1975). possível por meio do controle de compactação
em campo, de forma que esse grau de
PC (%) GRAVIDADE DO PROBLEMA
compactação seja superior a 90%, o que levaria
0a1 Sem problema
as deformações por colapso a serem
1a5 Problema moderado
desprezadas.
5 a 10 Problemático
20 Problema muito grave
Fonte: JENNINGS e KNIGHT, 1975.
AGRADECIMENTOS

À Coodenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


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do Nível Superior - CAPES, pelo financiamento


da pesquisa.

REFERÊNCIAS

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Janeiro: ABNT, 6 p., 1984.
___.NBR 6458: Grãos de solo que passam na peneira 4,8
mm: determinação da massa específica. Rio de
Janeiro: ABNT, 10 p., 2016.
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plasticidade. Rio de Janeiro: ABNT, 3 p., 1984.
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Janeiro: ABNT, 13 p., 1984.
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Janeiro: ABNT, 10 p., 1986.
Carnero, G. G.; Marinho, F. A. M. Poro-water pressure
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Influência da salinidade nas propriedades físicas e limites de


consistência de amostras de solos artificiais
Diego de Freitas Fagundes
Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, Brasil, dffagundes@furg.br

Míriam Zanol Remde


Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, Brasil, mzremde@gmail.com

Patrícia Rodrigues Falcão


Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, Brasil, falcao.rodrigues.patricia@gmail.com

Francielle Rocha
Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, Brasil, rochafrancielle@outlook.com

RESUMO: O presente artigo visa contribuir para o melhor entendimento da influência da salinidade
nos limites de consistência e na distribuição granulométrica de amostras de solos artificiais a base
de caulim e bentonita. A análise das propriedades físicas de 6 amostras de solo artificiais foi
realizada. Os dois traços propostos (100% de caulim e a mistura de 85% de caulim e 15% de
bentonita), foram analisados com a adição de soluções de cloreto de sódio com concentrações de 10
g/l e 30 g/l. Os valores dos limites de liquidez foram avaliados através de ensaios utilizando o
aparelho de Casagrande e o cone de queda livre, propostos nas normas NBR 6459 (ABNT, 2016) e
BS 1377 (1990), respectivamente. Os resultados dos ensaios de sedimentação mostraram que a
salinidade não alterou a distribuição granulométrica das amostras estudadas. Porém, o Limite de
Liquidez e o Índice de Plasticidade tem uma redução proporcional ao aumento da salinidade e a
redução do teor de bentonita nas amostras.

PALAVRAS-CHAVE: solos artificiais, salinidade, plasticidade.

1 INTRODUÇÃO material influencia diversas propriedades do


mesmo, e.g., viscosidade, resistência não
Os avanços da indústria offshore nas últimas drenada, limites de consistência,
décadas geraram a necessidade da melhor permeabilidade, entre outros (NAEIMI e
compreensão dos mecanismos de interação JAHANFAR, 2011, LOCAT e DEMERS, 1988,
solo-estrutura que norteiam este tipo de HAJELA e BATHNAGAR, 1972).
projetos. Assim, diversos trabalhos se valem O presente artigo estuda a influência da
dos modelos físicos em escala reduzida para salinidade nas propriedades físicas de solos
desenvolvimento de seus estudos utilizando artificiais a base de misturas de caulim e
solos artificias para simular o comportamento bentonita. Os dois traços estudados são a base
de solos marinhos. Porém, muitas vezes o efeito de caulim, sendo um deles misturado com um
da salinidade presente nestes solos é teor de bentonita de 15%. Ambos os traços
desconsiderado na preparação dos modelos. foram preparados com soluções de cloreto de
A salinidade interfere principalmente nos sódio com concentrações de 0 g/l (referência)
solos argilosos, onde a alteração do ph do 10 g/l e 30 g/l. Por fim, estas amostras de solo
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artificial foram submetidas a ensaios de referentes à obtenção dos limites de Atterberg, a


caraterização e ensaios de limites de adição da solução salina foi feita diretamente na
consistência. mistura das porções secas de caulim e bentonita.
Vale ressaltar, que esta pesquisa terá Ao longo de cada ensaio, para cada uma das
continuidade com a realização do mesmo amostras, a variação de umidade foi feita
procedimento experimental para solos artificiais sempre de forma crescente pela adição de água
de composição diversificada a partir da destilada (amostras de referência) ou solução
incorporação de bentonita e areia em outros salina.
teores. Além disso, também será proposta
avaliação da influência da salinidade em
parâmetros como a resistência não drenada, Tabela 1. Identificação das amostras
parâmetros de compressibilidade, Caulim Bentonita Sal
permeabilidade, entre outros. T(0-0) 100% 0% -
T(0-0)S10 100% 0% 10 g/l
T(0-0)S30 100% 0% 30 g/l
T(15-0) 85% 15% -
2 MATERIAIS E MÉTODOS T(15-0)S10 85% 15% 10 g/l
T(15-0)S30 85% 15% 30 g/l
2.1 Descrição dos materiais
Para realização dos ensaios de sedimentação
Para realização dos ensaios de caracterização, e picnômetro, foram previamente preparadas
limites de Atterberg e cone de queda livre deste pastas contendo as porções de solo e
estudo, foi utilizado um conjunto de amostras concentrações salinas desejadas para cada
de solo artificial com diferentes concentrações amostra. A umidade de cada mistura foi feita
de sal e composição mineralógica. para valores de umidade próximos a duas vezes
Os solos artificiais foram produzidos o limite de liquidez da amostra de referência e
utilizando um caulim silto-argiloso do tipo posteriormente deixadas em repouso até a
“Caulim rosa MS” da marca Inducal e bentonita execução dos ensaios.
sódica natural “NA-35” fabricada por
Schumacher Insumos. 2.3 Ensaios de caracterização
A variação na concentração salina nas
amostras de solo foi feita com a adição de As quatro amostras de solo artificial com
soluções de água destilada e cloreto de presença de sal e duas amostras de referência
sódio/P.A. – A.C.S. (Para análise – American foram submetidas a ensaios de caracterização:
Chemical Society) da marca Synth. sedimentação e picnômetro. O ensaio do
picnômetro é utilizado para determinar o peso
2.2 Solo artificial específico real dos grãos e o seu procedimento é
descrito pela NBR 6457 (ABNT,2016). Por se
As misturas de solo artificial foram produzidas tratar de material fino, principalmente silte e
usando dois traços distintos, um de composição argila, a caracterização granulométrica foi
100% caulinita e outro com mistura de caulinita obtida apenas por sedimentação e peneiramento
e bentonita na proporção 85% e 15%, fino, sendo dispensado o peneiramento grosso.
respectivamente. Desta forma, foram avaliadas O ensaio de sedimentação é baseado no
seis amostras identificadas conforme indicado princípio da Lei de Stokes, assim, ao colocar-se
na Tabela 1. certa quantidade de solo em suspensão em água,
A preparação das amostras foi realizada de as partículas cairão com velocidades
maneira distinta para cada um dos ensaios de proporcionais ao quadrado de seus diâmetros. A
caracterização geotécnica. Para os ensaios NBR 7181 (ABNT, 2016), norma que descreve
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o ensaio de sedimentação, indica a necessidade diâmetro e 10 cm de comprimento sem fissurar


de utilização de defloculante - Hexametafosfato (Figura 2b).
de sódio – na preparação prévia da amostra a ser
ensaiada. Segundo a norma, a adição do (a) (b)

defloculante age na desagregação dos grãos


minerais aglutinados, garantindo que os valores
calculados usando a lei de Stokes sejam de fato
do diâmetro equivalente dos grãos. Assim,
seguindo as recomendações da norma, todas as
amostras (inclusive as preparadas com
diferentes concentrações de NaCl) foram
submetidas a ação prévia do defloculante para
os ensaios de sedimentação (Figura 1).
Figura 2. Equipamentos para utilizados para execução
limites de Atterberg (a) aparelho de Casagrande, LL e (b)
Vidro fosco e haste de referência LP.

O ensaio do cone de queda livre oferece


outra proposta para obtenção do Limite de
Liquidez do solo. Este ensaio não é sugerido
pela ABNT, porém é internacionalmente
conhecido, sendo inclusive recomendado pela
norma inglesa BS 1377 (1990).
Figura 1. Ensaio de sedimentação Para a realização do ensaio de cone de queda
livre, a amostra foi colocada em um molde no
2.4 Ensaios de limites de consistência formato de um tronco de cone com diâmetro
superior de 6,5 cm, diâmetro inferior de 7,2 cm
A influência da concentração de sal nos limites e 4 cm de altura O molde foi preenchido até o
de consistência dos solos artificiais produzidos topo procurando não deixar vazios e evitando a
com diferentes porções de caulim e bentonita formação de bolhas de ar no interior da amostra.
foi realizada através de ensaios propostos por Em cada amostra, em suas diferentes umidades,
normas nacionais e internacionais. a ponta do cone foi posicionada na superfície da
A obtenção de valores de Limite de amostra, o aparelho foi então travado e zerado e
Liquidez, LL, foi feita segundo o método do por fim, o cone foi liberado. O valor da
aparelho de Casagrande. Os procedimentos profundidade de penetração atingida pelo cone
deste ensaio são descritos pela NBR 6459 foi lido na escala do penetrômetro. Por
(ABNT, 2016). O método consiste em encontrar definição da norma britânica, o valor de
o teor de umidade no qual se fecha uma ranhura umidade correspondente a 20 mm de penetração
feita no solo disposto em uma concha metálica é considerado o Limite de Liquidez do solo. A
do equipamento, por meio da aplicação de 25 Figura 3 apresenta o equipamento utilizado para
golpes a velocidade constante, desta concha a realização do ensaio do cone de queda livre.
contra uma base fixa (Figura 2a). O ensaio do cone de queda livre foi
O Limite de Plasticidade, LP, foi obtido executado simultaneamente ao ensaio do
através do ensaio do “rolinho” descrito na NBR aparelho de Casagrande. Desta forma, para cada
7180 (ABNT, 2016). O valor de LP é dado pelo umidade utilizada no ensaio do aparelho de
teor mínimo de umidade no qual é possível Casagrande foi obtido um valor de penetração
moldar um cilindro de solo com 3 mm de correspondente no ensaio do cone de queda
livre.
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Figura 4. Curvas granulométricas dos traços T(0-0) e


Figura 3. Equipamentos para utilizados para execução do T(15-0).
ensaio do cone de queda livre

A variação nos teores de umidade, para os


três ensaios descritos, segundo as normas de
referência, deve ser feita com a adição de água
destilada. De forma a avaliar o efeito das
diferentes concentrações de sal, os ensaios de
limites neste estudo foram realizados variando a
umidade com água destilada, nas amostras de
referência, e com a solução salina (água
destilada e cloreto sódio) nas demais amostras.
Figura 5. Curvas granulométricas do traço T(0-0) e suas
variações com solução salina.
3 RESULTADOS

3.1 Influência da salinidade na distribuição


granulométrica do solo e no peso específico real
dos grãos

Para avaliação da distribuição granulométrica


dos dois traços de referência estudados (sem
sal) foram executados ensaios de sedimentação
e os resultados das curvas granulométricas são
apresentados na Figura 4. As curvas mostram
que a adição de 15% de bentonita resultou em
um pequeno aumento na fração mais fina do
Figura 6. Curvas granulométricas do traço T(15-0) e suas
solo. variações com solução salina.
A Figura 5 apresenta as curvas
granulométricas para o traço T(0-0) e suas O fato de as curvas granulométrica não
variações com solução salina. A adição de NaCl indicarem alteração com a adição de NaCl, não
não resultou em alteração nas curvas significa que reações entre o sal e os minerais
granulométricas. Mesmo comportamento foi do solo não estejam acontecendo. As possíveis
encontrado para o traço T(15-0) e suas mudanças podem estar sendo anuladas pelo uso
variações com solução salina (Figura 6).
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do Hexametafosfato de sódio como agente 3.2 Influência da salinidade nos limites de


defloculante. consistência do solo
De acordo com os dados da caracterização
geotécnica foi possível classificar o solo T(0-0) Foram propostos nesta pesquisa a avaliação do
como um silte-argiloso de mediana plasticidade, limite de liquidez das amostras através de duas
com classificação ML pelo Sistema Unificado e técnicas, método de Casagrande e Cone de
A-6(9) pelo sistema HRB-AASHTO. O solo queda livre. Os resultados da Tabela 3 mostram
T(15-0) é classificado como CH e A-7-6(20). que os valores de LL obtidos através do cone de
queda livre são sempre superiores aos obtidos
com o método de Casagrande. Outra observação
Tabela 2. Resumo da caraterização geotécnica das é que a diferença encontrada entre as duas
amostras técnicas é maior quanto menor o teor de
Argila Silte Areia %P s bentonita para os dois traços analisados neste
Amostra
(%) (%) (%) #200 (kN/m³) estudo.
T(0-0) 34 46 20 87 25,86
T(0-0)S10 38 43 19 89 25,75
T(0-0)S30 39 42 19 89 25,73 Tabela 3. Comparação do Limite de Liquidez por
diferentes técnicas
T(15-0) 39 42 19 93 25,60
LL (%) LL (%) Diferença
T(15-0)S10 40 42 18 87 25,80 Amostras
Casagrande Cone percentual
T(15-0)S30 43 40 17 89 25,40
T(0-0) 38 44 6
T(0-0)S10 36 42 6
O peso específico real dos grãos, s é um T(0-0)S30 35 43 8
parâmetro do material e que costuma ter pouca T(15-0) 62 1
63
variação entre os diferentes tipos de solo.
T(15-0)S10 56 58 2
Tabela 2 apresenta o valor de s encontrado
T(15-0)S30 51 53 2
através do ensaio do picnômetro para todas
amostras deste trabalho. O teor de bentonita de A Tabela 4 apresenta o resumo dos limites
15 %, que difere os dois traços estudados, não de Atterberg e dos parâmetros definidos através
influenciou de forma significativa nos valores destes limites de consistência para as seis
de s apresentados na Tabela 2. O valor médio amostras estudadas.
obtido para os traços com 100% de caulim e a
mistura de 85 % de caulim com 15% bentonita
apresentaram valores médios de s de 25,78 Tabela 4. Resumo dos limites de consistência
kN/m³ e 25,60 kN/m³, respectivamente. Amostras LP (%) LL (%) IP (%) Ia
Vale ressaltar que os valores dos índices
T(0-0) 26 38 12 0,14
físicos deste trabalho foram calculados com
T(0-0)S10 26 36 10 0,11
base em uma abordagem tradicional (PINTO,
T(0-0)S30 24 35 11 0,12
2000) considerando os solos como um meio
trifásico (grãos sólidos, água e ar). Entretanto, T(15-0) 24 62 38 0,41
alguns autores como NOORANY (1984) T(15-0)S10 25 56 31 0,36
sugerem que as equações para o cálculo dos T(15-0)S30 26 51 25 0,28
índices físicos em solos marinhos (salinos)
devem contemplar também a parcela de sal Os valores do Limite de Plasticidade não
considerando assim um meio com quatro fases. apresentaram variações significativas tanto para
o aumento do teor de bentonita quanto para o
aumento da concentração salina. O valor médio
para o LP das seis amostras estudadas foi de
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25%. Estes resultados são semelhantes aos salina em amostras com o teor de bentonita de
encontrados por BJERUM E ROSENQVIST 15% e variações pouco significativas nas
(1956) em experimentos com amostras da argila amostras com a predominância do caulim.
de Asrum sedimentadas artificialmente em
laboratório.
O Índice de Atividade Coloidal do solo T(0-
0) foi de 0,14 (Tabela 4). Valores de Ia < 0,75
representam um comportamento de solo inativo
e um indicativo de uma argila 1:1. A redução
pouco significativa (0,12 a 0,11) com o
aumento da concentração salina nas amostras
com 100% de caulim, T(0-0)S10 e T(0-0)S30,
evidencia o comportamento pouco ativo
condizente com a mineralogia de argila
dominante (caulinita). Figura 7. Correlação entre limite de liquidez e
Por outro lado, a adição de 15% de bentonita concentração de NaCl para os traços T(0-0) e T(15-0).
acarretou um aumentou do Ia para 0,41 na
amostra de referência T(15-0) (Tabela 4). Este
aumento da atividade coloidal é função do teor
de bentonita nas amostras, tendo em vista que a
bentonita é um argilo-mineral bastante ativo,
2:1. O aumento da concentração salina nas
amostras T(15-0)S10 e T(15-0)S30 acarretou
uma redução significativa no valor do Ia quando
comparadas com a amostra de referência T(15-
0), evidenciando a interação da bentonita com o
NaCl.
A Figura 7 apresenta a variação do Limite de
Liquidez em função do aumento da
Figura 8. Correlação entre índice de plasticidade e
concentração salina. Para as amostram com concentração de NaCl para os traços T(0-0) e T(15-0).
100% de caulim pouca ou nenhuma influência
da concentração salina foi observada nos A Figura 9 apresenta a variação do Índice de
valores de LL. Entretanto, uma redução de cerca Plasticidade em função do Limite de Liquidez.
18% no valor de LL foi observada para a As amostras compostas por 100% de caulim
amostra T(15-0)S30 quando comparada com a ficaram concentradas em uma mesma região
amostra de referência T(15-0). Este levemente abaixo da linha A, indicando um
comportamento evidencia a interação da fração comportamento siltoso do material e com pouca
da bentonita e o NaCl. influência da salinidade.
A Figura 8 apresenta a variação do Índice de Todas as amostras com um teor de 15% de
Plasticidade, IP, em função do aumento da bentonita ficaram acima da linha A. A amostra
concentração salina. Tendo em vista que o valor T(15-0) é o ponto mais a direita da linha B,
de IP é dado pela subtração do LL pelo LP e os indicando maior compressibilidade. O aumento
valores de LP foram praticamente constantes, o da concentração salina aproximou os pontos do
comportamento apresentado na Figura 8 foi traço T(15-0) da linha B. Este comportamento
semelhante ao da Figura 7. Assim, podemos pode ser tomado como um indicativo de que o
concluir que o Índice de plasticidade apresentou aumento da salinidade pode diminuir a
uma redução com o aumento da concentração compressibilidade do solo.
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sendo este aumento no Ia função direta da


adição da fração de bentonita nas misturas. A
Linha B concentração salina não influenciou no Ia das
Linha A amostras preparadas com 100% de caulim,
corroborando com o comportamento pouco
ativo condizente com a mineralogia de argila
dominante (caulinita).
O aumento da concentração salina nas
amostras T(15-0)S10 e T(15-0)S30, com 15%
de bentonita, acarretaram em uma redução
significativa no valor do Ia quando comparadas
com a amostra de referência T(15-0),
evidenciando a interação da bentonita com o
Figura 9. Gráfico de Plasticidade de Casagrande. NaCl.

4 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS
ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
O presente trabalho estudou a influência da (2016) Amostras de solo – Preparação para ensaios de
salinidade nos limites de consistência e na compactação e caracterização: NBR 6457. Rio de
distribuição granulométrica de amostras de Janeiro, 9p.
solos artificiais a base de caulim e mistura de ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
(2016) Solo – Determinação do limite de liquidez:
caulim com bentonita. NBR 6459. Rio de Janeiro, 5p.
Os resultados das curvas granulométricas ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
não se mostraram influenciados pela adição de (2016) Solo – Determinação do limite de plasticidade:
solução salina em ambos os traços estudados. O NBR 7180. Rio de Janeiro. 3p.
peso específico real dos grãos não apresentou ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
(2016) Solo – Análise granulométrica: NBR 7181.
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os métodos foi maior em comparação aos soils. Soil Science. U.S.A. V114(2), p.122- 130.
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sensitive clays. Canadian Geotechnical Journal.
Os valores do Limite de Plasticidade não Canadá, V 25, p. 799-806.
apresentaram variações significativas tanto para Naeini, S.A., Jahanfar, M.A. (2011) Effect of Salt
o aumento do teor de bentonita quanto para o Solution and Plasticity Index on undrain Shear
aumento da concentração salina. Por outro lado, Strength of Clays. World Acedemy os Science,
Engineering and Technology International Journal of
o Limite de Liquidez e o Índice de Plasticidade
Materials and Metallurgical Engineering. V. 5, N. 1.
tem uma redução proporcional ao aumento da Noorany, I. (1984) Phase Relations in Marine Soils.
salinidade e a redução do teor de bentonita nas Journal of Geotechnical Engineering. V110, n.4, p.
amostras. 539-543.
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em 16 aulas. São Paulo: Oficina de Textos, 247p.
T(0-0) foi de 0,14 e na amostra T(15-0) de 0,41,
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Efeito do aumento da energia de compactação na resistência à


compressão simples de um solo silto-arenoso da Formação
Geológica Guabirotuba.
Ronaldo Luis dos Santos Izzo
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, izzo@utfpr.edu.br

Eclesielter Batista Moreira


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
eclesielter_ebm@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Alexandre Cardoso
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, alexandrecardosomj@gmail.com

Érico Rafael da Silva


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, herico.rafael@gmail.com

Wagner Teixeira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, teixeira.wagner@hotmail.com

Igor Dalmagro
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, igordalmagro@gmail.com

RESUMO: A Formação Guabirotuba é uma formação geológica da Bacia Sedimentar de Curitiba, da


qual é a principal unidade estratigráfica. Esta Formação possui vários horizontes de solo, alcançando
uma profundidade de 60 a 80 metros. Muitos estudos geotécnicos já foram realizados sobre às
características fisico-mecânicas da camada avermelhada, assim, a pesquisa busca analisar o
comportamento mecânico (resistência à compressão simples – qu) do 4º horizonte de solo desta
Formação (solo amarelo). Destacam-se os seguintes resultados: para amostras indeformadas obteve-
se uma resistência à compressão simples (qu) de 104,5 kPa, em amostras compactadas na energia
normal obteve-se uma resistência à compressão simples (qu) de 190,3 kPa, em amostras compactadas
na energia intermediária, obteve-se uma resistência à compressão simples (qu) de 248,9 kPa em
amostras compactadas na energia modificada, obteve-se uma resistência à compressão simples (qu)
de 647 kPa. Com os resultados pode-se inferir que houve aumento de 82%, 138% e 519% de
resistência à compressão simples (qu) nas energias de compactação Proctor normal, intermediário e
modificado, respectivamente.

PALAVRAS-CHAVE: Formação Guabirotuba, Compactação Compressão simples.

1 INTRODUÇÃO acumuladas no Cenozóico (Melo et al., 2010),


dentre as quais a Formação Guabirotuba,
A Bacia de Curitiba é composta por formações composta por camadas de materiais com
sedimentares predominantemente argilosas espessuras variáveis, que foi designada em 1962
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por Bigarella & Salamuni e compreende uma ineficácia na obtenção da densidade mínima a
área de cerca de 3000 km² na região da Grande ser alcançada na compactação de um solo, não
Curitiba, Paraná. Em essência é formada por satisfaz os requisitos de rigidez assumidos no
sedimentos argilosos, argilo-siltosos ou silto- projeto, o que ocasionará uma deficiência na
argilosos, encontra-se também a presença de segurança e funcionalidade da porção
lentes de areias arcosianas com alto teor de compactada (Izquierdo, Querol e Vazquez,
feldspato, conglomerados e horizontes de 2010).
caliches (depósitos carbonáticos) (Salamuni, Izquierdo, Querol e Vazquez (2010)
1998). realizaram um estudo avaliando uma amostra de
O ensaio de compressão simples determina a solo confinada em um molde cilíndrico, sujeito à
resistência de compressão do solo coesivo em queda livre de um martelo padrão sob diferentes
termos de tensões totais, indicando o quanto de números de golpes. O teste resultou em
carga máxima será suportado até ruptura de um informações sobre a relação entre a densidade
material (ASTM D 2166, 2000). seca e o teor de água em diferentes condições de
Bordignon (2015) realizou um estudo com energias de compactação, sendo 4,5 vezes maior
um solo representativo da Formação no ensaio Proctor Modificado do que no Proctor
Guabirotuba, utilizando corpos de provas nas Normal.
dimensões de 50 mm de diâmetro e 100 mm de A compactação de solos in situ é diferente da
altura. A compactação dos corpos de prova foi compactação feita por Proctor utilizando solos
dividida em três camadas. O autor obteve uma homogeneizados com aplicação de energia
resistência a compressão simples de 140 kPa constante. No entanto, esse ensaio é um bom
para energia de compactação normal e de 243 indicador da sensibilidade dos solos à
kPa para energia de compactação intermediária. compactação em campo (Barzegar, Asoodar e
A tensão de compressão não confinada é uma Ansari, 2000).
medida típica usada na aplicação DSM (Deep Este trabalho tem como objetivo apresentar a
Soil Mixing) e é equivalente a duas vezes a influência da energia de compactação na
resistência de cisalhamento não drenada resistência ao cisalhamento de um solo da
(Timoney e Mccabe, 2017). Os mesmos autores Formação Geológica Guabirouba.
realizaram uma estabilização de um solo silte
argiloso orgânico, com LP = 28% e LL=75%, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
com cimento Portland e verificaram uma força
de compressão não confinada de 800 kPa e uma 2.1 Materiais
resistência ao cisalhamento não drenada de 15
kPa a uma tensão de moldagem de 4 kPa. 2.1.1 Solo
O teste de compactação de solos, também
conhecido por Proctor, é o procedimento mais O solo foi coletado no Município de São José dos
utilizado para se estudar e avaliar a redução do Pinhais/PR. O talude onde o solo foi coletado
volume de vazios em solos conforme uma está exposto na Figura 1.
variação de quantidade de água presente em seu
meio. Desse processo resultam as curvas de
compactação com a finalidade de se determinar
os valores de conteúdo crítico de água para a
compactação e a densidade máxima do maciço
terroso (Aragón et al., 2000).
Parâmetros de compactação são essenciais e
garantem o grau de rigidez e propriedades
mecânicas que são assumidas na garantia da
estabilidade estrutural e vida útil de projetos. A Figura 1 – Talude com solo à mostra
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O solo possui coloração amarela e está livre de


vegetação ou contaminantes. Foram coletadas as
amostras deformadas e indeformadas,
conduzidas conforme norma NBR 9604 (ABNT
, 2016).

2.1.2 Água

A água empregada tanto para os ensaios de


caracterização do solo, quanto de Proctor
Normal e de Indice de Suporte Califórnia – ISC
– foi destilada conforme as especificações das Figura 2 – Aparato de moldagem
normas, enquanto está livre de impurezas e evita
as reações não desejadas. A quantidade de solo para cada corpo de
prova corresponde ao peso específico a ser
2.2 Métodos alcançado conforme cada energia, umidade
ótima e peso específico aparente seco máximo,
2.2.1 Ensaios de Caracterização obtidos no ensaio de compactação. O solo
deformado então é compactado em duas
Para caracterizar o solo, os seguintes ensaios camadas e, posteriormente, retirado do molde
foram realizados: granulometria NBR 7181 com o auxílio de um extrator adaptado, pesando-
(ABNT, 2016); gravidade específica ME 94/94 a em sequência em uma balança de precisão de
(DNER, 1994); limites de Atterberg NBR 7180 0,01 g; tomando-se suas dimensões com o uso de
(ABNT, 1984). A curva granulométrica está um paquímetro. Logo após, eram envoltas com
apresentada na Figura 3.4 e as propriedades do plástico transparente para a conservação da
solo estão resumidamente na Tabela 1. umidade. Além disso, os corpos de prova tinham
que respeitar as seguintes condições para serem
2.2.2 Ensaios de Compactação consideradas no ensaio de compressão:

A obtenção da umidade ótima e do peso unitário - Dimensões dos corpos de prova: variações de
seco máximo foi conduzida conforme norma diâmetro em ±0,5 mm e altura em ±1 mm;
NBR 7182 (ABNT, 2016). Os resultados de - Massa específica aparente seca (γd): dentro de
compactação estão apresentados na Tabela 2. ±1% do valor alvo;
- Teor de umidade (ω): dentro de ±0,5% do valor
2.2.3 Ensaios de Resistência à compressão alvo.
simples
3 RESULTADOS
As características de resistência à compressão
foram obtidas por meio do ensaio de compressão 3.1 Ensaio de Caracterização
simples não confinado. O teste foi conduzido de
acordo com a norma D 2166 (ASTM, 2016) em 3.1.1 Solo
uma prensa eletromecânica e microprocessada
(EMIC), com uma velocidade de deformação A Figura 3 mostra a curva granulométrica do
constante de 1 mm / min. Foi construído um solo. A umidade higroscópica encontrada do
aparato de compactação especificamente para a solo in situ é próxima a 40%.
moldagem, conforme mostrado na Figura 2 com
dimensões de 50 mm de diâmetro por 100 mm
de altura.
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100 17,0
90 16,5
Porcentagem que Passa (%)

Peso Específico Seco (kN/m3)


80 16,0
70 15,5
60 15,0
14,5
50
14,0
40
13,5
30
13,0
20 12,5
10 12,0
0 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39
0,001 0,100 10,000 Teor de Umidade (%)
Diâmetro dos Grãos (mm) E. Normal E. Intermediária
E. Modificada S=100%
Figura 3. Curva granulométrica do solo
S=90% S=80%
Foi escolhido a terceira camada da formação
Guabirotuba, o qual é composto por 7% de argila Figura 4. Curvas de compactação do solo nas três
(< 0,002 mm), 58% de silte (0,002 a 0,075 mm) energias de compactação Proctor
e 35% de areia (0,074 a 4,2 mm).
A Tabela 1 apresenta as propriedades físicas A Tabela 2 apresenta a variação do peso
do solo estudado. específico seco máximo e a umidade ótima para
diferentes energias de compactação:
Tabela 1. Propriedades físicas do solo
Propriedades do solo Valor Tabela 2. Propriedades de compactação da argila
Gravidade específica 2,625 em diferentes energias de compactação.
Areia grossa 10,2 % Propriedades do solo Valor
Areia média 11,3 % Ensaio de compactação: EN EI EM
Areia fina 13,5% Umidade ótima (%) 26 20 14
Silte 58% Peso unitário seco máximo 13,72 15,43 16,7
Argila 7% (kN/m³)
Limite liquidez (%) 50,37
Limite de plasticidade (%) 35,96
Índice de plasticidade 14,41 O solo apresenta a linha ótima com peso
Classificação SUCS MH específico seco máximo de 13,72 KN/m³, 15,43
KN/m³ e 16,7 KN/m³, e umidades ótimas de
3.2 Ensaio de compactação 26%, 20% e 14%, nas energias Proctor Normal
(EN), Intermediária (EI) e Modificada (EM),
A Figura 4 mostra as curvas de compactação do respectivamente. Na Figura 5, está representada
solo estudado e de cada mistura usada, na energia a curva de aumento de peso específico máximo
normal. seco em função da energia de compactação.
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16,5
Peso Específico Seco Máximo (KN/m³)

16,0

15,5

15,0

14,5
Solo
14,0

Figura 6. Reultados de resistência à compressão simples


13,5 em função do peso específico seco
50 150 250 350
Energia (N.cm/cm³) Na relação compressão simples pela
porosidade (Figura 7), observa-se a significativa
Figura 5. Aumento de peso específico máximo seco em alteração da resistência à medida que a
função da energia de compactação. porosidade é alterada, com o uso das energias de
compactação. Tal diferença, cerca de 10%, é
Observa-se um aumento do peso específico causada pela alteração do volume e
seco máximo da energia normal para a energia consequentemente na redução do contato entre
intermediária de 12,1%. Entre a energia as partículas.
intermediária e a energia modificada, um
aumento de 8,4%. Na energia modificada em
relação à normal, um aumento de 21,5%. 780
Em função do aumento da energia de
Compressão simples (qu - kPa)

compactação, houve a diminuição dos vazios, 680 y = 6,1933x-4,466


que diminuíram 13% da energia normal para a R² = 0,8847
energia intermediária e 12% da energia 580
intermediária para a energia modificada.
480
3.3 Influência da porosidade na resistência à
compressão simples.
380
O comportamento do solo com relação a
compressão simples é apresentado a seguir, por 280
conseguinte, compara-se os resultados com
pesquisas relacionadas. 180
A variação da resistência a compressão
simples com diferentes energias de 80
compactação, observada na Figura 6, atinge um 25% 35% 45% 55%
aumento de 339,97% entre a energia normal e
Porosidade ղ (%)
modificada:

Figura 7. Reultados de resistência à compressão simples


em função da porosidade
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4 CONCLUSÕES 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio de Janeiro,


1984.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
Desta forma, a caracterização da formação 6459: Determinação do Limite de Liquidez. Rio de
geológica apresentada neste trabalho traz grande Janeiro, 1984.
contribuição para o entendimento de seu Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
comportamento geotécnico perante uma série de 6457: Amostras de solo - Preparação para ensaios de
parâmetros a serem avaliados em projetos de compactação e ensaios de caracterização. Rio de
Janeiro, 1986.
engenharia. Entre estes, podemos destacar Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
alguns de maior relevância para a região em que 7182: Solo – Ensaio de compactação. Rio de Janeiro,
a Formação Guabirotuba se faz presente: 2016.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
• O aumento da energia de compactação 7222: Argamassa e concreto: determinação de
resistência à tração por compressão diametral de
influência diretamento na resistência à corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 1994.
compressão simples, haja visa que há um maior Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
empacotamento dos grãos do solo e com a 7180: Solo–Determinação do limite de plasticidade.
redução do teor de umidade ótimo, o contato Rio de Janeiro, 1984.
grão a grão é maior; Aragón, A.; García, M.G.; Filgueira, R.R.; Pachepsky,
Ya.A. (2000). Maximum compactibility of Argentine
• Percebe-se que há uma tendência soils from the Proctor test; The relationship with
exponencial com coeficiente de determinação de organic carbon and water content. Soil & Tillage
0,85 para o aumento de energia de compactação Research, v. 56, p. 197-204.
e a resistência à compressão simples, sendo que Barzegar, A.R.; Asoodar, M.A.; Ansari, M. (2000).
esse coeficiente aumenta para 0,88 se Effectiveness of sugarcane residue incorporation at
different water contents and the Proctor compaction
considerarmos a porosidade do corpo de prova, loads in reducing soil compactibility. Soil & Tillage
logo se constitui em um bom indicativo de Research, v. 57, p. 167-172.
resistência à compressão simples; Bordignon, V. R. (2015). Efeitos da adição da cal
• O aumento da energia de compactação hidratada na estabilização de um solo sedimentar para
aumenta em até 21% o peso especifico seco pavimentação urbana na região de Curitiba.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
máximo deste solo. em Engenharia Civil, Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, 126 p.
AGRADECIMENTOS Departamento Nacional de Estrada de Rodagem (DNER).
DNER – ME – 093/94. Solos – Determinação da
Os autores querem agradecer o apoio do densidade real. 1994.
Melo, M. S.; Melo, T. F. S.; Chinelatto, A. S. A.;
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Chinelatto, A. L.; Fernandes, L. A.; Guimarães, G. B.
Civil (PPGEC) da Universidade Tecnológica (2010). Caracterização de Argilas da Depressão do
Federal do Paraná (Curitiba, Brasil). Também Piraí e da Bacia de Curitiba (PR). Revista Paranaense
querem agradecer à instituiçãos de fomento de de Geociências, v. 40, p. 138-150.
pesquisa brasileira, CAPES, pelo apoio Salamuni, E.; Stellfeld, M.C. (2001). Banco de Dados
Geológicos Georreferenciados da Bacia Sedimentar de
financiero. Curitiba (PR) como Base de Sistema de Informação
Geográfica (SIG). Boletim Paranaense de Geociências,
REFERÊNCIAS n. 49, p. 21-31, Editora da UFPR.
Timoney, M.J.; McCabe; Bryan A. (2017). Strength
American Society for Testing and Materials (ASTM). verification of stabilized soil–cement columns: a
ASTM D 2166 – 03. Standard Test Method for laboratory investigation of the push-in resistance test
Unconfined Compressive Strength of Cohesive Soil 1. (PIRT). Canadian Geotechnical Journal, v. 54, n. 6, p.
Int. West Conshohocken, Pa 2003;4. 789-805.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR Izquierdo, M.; Querol, X.; Vazquez, E. (2011). Procedural
9604: Abertura de poço e trincheira de inspeção em uncertainties of Proctor compaction tests applied on
solo, com retirada de amostras deformadas e MSWI bottom ash. Journal of Hazardous Materials, v.
ndeformadas — Procedimento. Rio de Janeiro, 2016. 186, p. 1639–1644.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
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Efeitos da Adição de NaCl e Fibras de Polipropileno em Misturas


de Areia - Cinza Volante - Cal, em Relação a Resistência e
Durabilidade.
Vinícius Batista Godoy
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, vinigodoy@msn.com

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

Lennon Ferreira Tomasi


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
lennontomasi@hotmail.com

Caroline M. De C. Rosenbach
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
carolmomoli@gmail.com

Thaís M. De Paula
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
thaismartinsdepaula@gmail.com

Anderson Peccin da Silva


University of Bristol, Bristol, Reino Unido, anderson.peccin@gmail.com

RESUMO: O uso de resíduos industriais, como cinzas volantes provenientes da queima de carvão,
em obras de terra, é de grande interesse para engenheiros geotécnicos, pois reduz o consumo de
recursos naturais. Dentro deste contexto, a adição de 0,5% de cloreto de sódio (NaCl) e 0,5% de
fibras de polipropileno a misturas de areia de Osório - Cinza volante - Cal dolomítica é avaliada
nesta pesquisa em termos de resistência à compressão não confinada e durabilidade à exposição a
ciclos de congelamento-degelo (FT) e ciclos de molhagem-secagem (WD). Foram definidos três
teores de cal dolomítica (3%, 5% e 7%) e pesos específicos secos (14, 15 e 16 kN/m³). Todos os
corpos de prova foram curados a 23°C, por 7 dias. A adição de NaCl se demonstrou mais efetiva no
aumento da resistência a compressão simples da mistura em comparação a adição de fibras
(aumento de resistência de até 35,6% com a adição de NaCl, 24,6% com adição de fibras e 49,5%
com adição conjunta de fibras e NaCl). Os resultados de durabilidade mostraram que as misturas
submetidas a ciclos de molhagem-secagem (WD) apresentaram melhor desempenho que quando
submetidas a ciclos de congelamento-degelo (FT). Sendo que a adição de fibras proporcionou um
maior ganho de durabilidade do que a inclusão de NaCl tanto para os ciclos de FT e WD.
Constatou-se a efetividade da aplicação do índice porosidade/teor volumétrico de cal na estimativa
da resistência a compressão confinada e do comportamento a longo prazo (durabilidade) das
misturas com ou sem adição de fibras de polipropileno e cloreto de sódio.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência, Durabilidade, NaCl, Fibras, Cinza, Cal.


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1 INTRODUÇÃO catalítico) com a adição de sal a um solo


calcário. Recentemente, Saldanha et al. (2016)
A utilização de grandes quantidades de recursos compararam os efeitos da adição de sais
naturais em obras de terra, como base e sub- distintos (NaCl, MgO e KMnO4) como
base de pavimentos e aterros, é prática comum catalisadores de reações pozolânicas em
internacionalmente. Além disso, vale ressaltar misturas de cal de carbureto e CFA. Verificou-
que várias atividades industriais produzem se que o cloreto de sódio (NaCl) é o mais eficaz
grandes quantidades de resíduos, que são no aumento da resistência das misturas acima
frequentemente descartados em aterros mencionadas.
sanitários e locais inadequados. Particularmente A avaliação através de ciclos de
no Brasil, estima-se que 3.350.000 toneladas de congelamento-degelo pode parecer inadequada
cinzas volantes de carvão (CFA) são geradas em um país predominantemente tropical como o
todos os anos a partir de usinas termelétricas Brasil, no entanto, no sul do Brasil, o clima é
(Saldanha et al. 2016), sendo incerta a subtropical, sendo as estações bem definidas,
porcentagem de CFA reutilizada. Tais fatores com temperaturas variando de -15 °C no
indicam a importância em realizar pesquisas inverno e 40 °C no verão (INPE 2017).
que possibilitem a utilização destes resíduos, O presente trabalho tem por objetivo
reduzindo assim o consumo de recursos naturais investigar os efeitos de cada componente da
e dando um destino adequado a estes materiais. mistura (% de cal, adição de fibras de
Sharma et al. (2008) destacam que a adição polipropileno e NaCl) e o grau de compactação
de cal em conjunto com cinzas volantes é (peso específico seco) em relação a perda de
usualmente empregada na estabilização de solos massa acumulada (PMA), com ciclos de
para alcançar uma resistência ideal de projeto, molhagem-secagem (WD) e congelamento-
como em bases de aterros rodoviários de alto degelo (FT), e em relação a resistência à
tráfego no sul do Brasil (ROHDE et al. 2006). compressão não confinada. Sendo sua principal
Nesse sentido, Consoli et al. (2011) contribuição para o conhecimento geotécnico a
desenvolveram um procedimento de dosagem ampliação da aplicabilidade do índice η/Liv
para misturas compactadas de resíduos como previsão da perda de massa acumulada
industriais estabilizados com cal, onde o índice (PMA) e resistência não-confinada das misturas
de porosidade/teor volumétrico de cal (η/Liv) analisadas.
mostrou-se um parâmetro adequado para prever
a resistência à compressão simples (qu) destas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
misturas.
A aplicação de fibras como reforço de solos 2.1 Materiais
também tem sido estudada para misturas com
cinzas volantes por muitos pesquisadores, como A caracterização da areia de Osório e da cinza
por exemplo, Kumar et al. (2007) observaram volante de carvão (CFA) utilizada neste estudo
que pequenas quantidades de fibras (1,0% a é apresentada na Tabela 1.
1,5%), adicionados a um solo expansivo A areia de Osório é classificada como areia
estabilizado com cinza volante e cal, podem fina uniforme e não plástica com formato
aumentar a resistência à compressão não arredondado de partículas predominantemente
confinada em até 100% e a resistência à tração quartzíticas (Consoli et al. 2017a). A cinza
em até 135%. volante estudada é do tipo F de acordo com a
Já em relação aos efeitos provenientes da ASTM C618-17A (ASTM 2017), sendo resíduo
inclusão de sal em misturas de estabilização, da queima de carvão de usinas termelétricas
Drake e Haliburton (1972) observaram a gaúchas. Ensaios de Difratometria de raio-X
redução no tempo de cura (reações de efeito (DRX) e espectroscopia de fluorescência de
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raios-X (FRX) mostraram que esta cinza é 2.2 Métodos


composta por minerais amorfos, sendo seus
principais componentes: SiO2 (64,8%), Al2O3 2.2.1 Moldagem e Cura dos Corpos de prova
(20,4%), Fe2O3 (4,8%), CaO (3,1%). Além
disso, a CFA é classificada como resíduo não Para os ensaios de resistência à compressão não
perigoso e não inerte (ABNT 2004). confinada, foram moldados corpos de prova
cilíndricos de 50 mm de diâmetro e 100 mm de
Tabela 1. Propriedades Físicas da Areia de Osório e cinza altura. Para os ensaios de durabilidade, foram
volante de carvão (CFA).
Propriedade Areia de CFA
utilizados corpos de prova cilíndricos de 100
Osório mm de diâmetro e 127,5 mm de altura. O peso
Índice de Plasticidade Não Plástico Não específico seco (d) utilizados foram baseados
(%) Plástico nas curvas de compactação obtidas por ensaios
Massa Específica Real 2,65 2,10 de proctor. Como exibido na Equação 1
dos Grãos (g/cm³)
Areia (0,06 mm < 100,0 12,0
(Consoli et al. 2011), a porosidade () é uma
diâmetro < 0,2 mm) * (%) função do peso específico seco (d) e do peso
Silte (0,002 mm < 0,0 87,0 específico dos sólidos (s) de todos os
diâmetro < 0,06 mm) * componentes adicionados a mistura.
(%)
Argila (diâmetro < 0,002 0,0 1,0
  
mm) * (%)   
d
Diâmetro Médio, D50 0,16 0,02 
CFA C FP Na  
(mm) 1       (1)
 100 100 100 100  
Índice de vazios mínimo 0,6 -   100  100 
Índice de vazios máximo 0,9 -   1 CFA C FP Na  
 100 100 100 100 100  
Coeficiente de 1,9 5,0
 s     
sCFA sC s FP s Na  
Uniformidade  A 
Coeficiente de Curvatura 1,2 1,0  
Classificação USCS ** SP (Areia Mal ML Onde:
graduada) (Silte) CFAporcentagem de cinza volante de carvão;
* Distribuição granulométrica baseada na Norma C = porcentagem de cal;
Britânica BS 1377 (British Standards Institution, 1990). FP = porcentagem de fibras de polipropileno;
** Classificação Unificada de solos – USCS [ASTM D Na = porcentagem de cloreto de sódio (NaCl);
2487 (2006)]. s A = peso específico dos sólidos de areia de Osório
(kN/m³);
A cal hidratada dolomítica [Ca(OH)2],
sCFA = peso específico dos sólidos de cinza volante de
utilizada como agente cimentante, possui massa
carvão (kN/m³);
específica real dos grãos de 2,49 g/cm³. O sal
(NaCl) adicionado às misturas possui mesmo
sC = peso específico dos sólidos de cal (kN/m³);
tamanho dos grãos da areia de Osório, com sFP = peso específico dos sólidos de fibra de
massa específica real dos grãos de 2,72 g/cm³. polipropileno (kN/m³);
Além disso, as fibras de polipropileno utilizadas s Na = peso específico dos sólidos de cloreto de sódio
em alguns corpos de prova como material de (kN/m³);
reforço, têm 24 mm de comprimento e
Após secagem em estufa, os materiais foram
resistência à tração na ruptura de 120 Mpa e
pesados de acordo com as proporções
alongamento de ruptura de 80%, com massa
calculadas para cada mistura e misturados até
específica real dos grãos de 0,91 g/cm³. Água
completa homogeneização. Em seguida,
destilada foi empregada tanto para testes de
adicionou-se água destilada até que se atingisse
caracterização como para a moldagem dos
uma umidade de 14% (teor ótimo de umidade
corpos de prova.
para a compactação padrão Proctor). A
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nomenclatura dos corpos de prova foi definida ASTM D 560 (2016). Após o período de cura
da seguinte forma: Peso específico seco / % de de 7 dias, os procedimentos de teste
Cal / % de Sal / % de Fibra (sigla em inglês do determinaram as perdas de massa geradas
tipo de ensaio de durabilidade: WD-molhagem durante 12 ciclos de congelamento e degelo,
e secagem; FT – congelamento e degelo). com escovagens entre estes ciclos. Cada ciclo
Exemplo: para uma mistura com peso começa com o congelamento do corpo de prova
específico seco de 15 kN/m³, 5% de cal, 0 % de a uma temperatura inferior a -23 °C por 24h.
sal e 0% de fibras, submetida a ciclos de Em seguida, o espécime era colocado em
congelamento e degelo, a nomenclatura do câmara úmida com temperatura de 21+/-2 °C e
espécime será: γd14/C5/S0/F0 (FT). umidade relativa de 100% por 23h. Finalmente,
É importante citar que a porcentagem de os espécimes são escovados com uma força de
CFA foi mantida constante (25%) em todas as aproximadamente 13,3 N. A norma ASTM D
misturas. Para as amostras com fibras ou sal, foi 560 (2016) recomenda que todas as áreas do
aplicado um teor de 0,5% em relação ao peso espécime sejam escovadas duas vezes,
seco da mistura, com base na experiência lateralmente seriam necessários de 18 a 20
internacional (por exemplo, Prakbar e Sridhar escovadas. Logo, adotou-se um número fixo de
2002, Ibraim e Fourmont 2006, Festugato et al. 19 escovadas em cada ciclo, independente se
2017). Os espécimes foram estaticamente eram escovadas mais de duas vezes cada área
compactados em 3 camadas em moldes do corpo de prova.
cilíndricos. Posteriormente, foram extraídos dos
moldes e seus pesos, diâmetros e alturas foram 2.2.4 Ensaios de Durabilidade – Molhagem-
medidos com precisão de 0,01 g e 0,1 mm, Secagem (WD)
respectivamente. Os corpos de prova foram
curados em sala úmida a 23º ± 2ºC e umidade Os ensaios de durabilidade (Molhagem-
relativa de pelo menos 95% (ASTM 2016). Secagem) foram realizados de acordo com a
ASTM D 559 (2015). Após o período de cura
2.2.2 Ensaios de Compressão Simples (não- de 7 dias, os procedimentos de teste
confinada) determinaram as perdas de massa produzidas
durante 12 ciclos de molhagem e secagem,
Os ensaios de compressão seguiram a norma seguidos de escovadas. Cada ciclo inicia-se
ASTM C 39 (2010). Antes do teste ser colocando os espécimes submersos em água por
realizado, os espécimes foram imersos em água 5 horas a 23+/-2 °C. Em seguida, os corpos de
durante 24 horas, visando completa saturação, prova são colocados em uma câmara de
reduzindo a sucção (Consoli et al. 2011). A temperatura controlada a 71+/-2 °C por um
temperatura da água foi controlada e mantida a período de 42 horas. Por último, os espécimes
21+/-2 °C. A prensa automática utilizada possui são escovados várias vezes - em média 22 a 24
capacidade máxima de 100 kN, com anel vezes - para cobrir toda a superfície da amostra
dinamométrico calibrado com capacidade de 10 duas vezes, usando uma força de
kN, e resolução de 0,005 kN (0,5 kgf). A aproximadamente 13,3 N. Sendo este
velocidade de deformação destes ensaios foi de procedimento repetido mais 11 vezes.
1,14 mm por minuto.
3 RESULTADOS E ANÁLISES
2.2.3 Ensaios de Durabilidade – Congelamento-
Degelo (FT) 3.1 Influência do Índice η/Liv na Resistência à
Compressão Não Confinada (qu)
Os ensaios de durabilidade (Congelamento-
Degelo) foram realizados de acordo com a
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O índice porosidade / teor volumétrico de cal


foi mostrado por Consoli et al. (2016) como um
meio de se normalizar a resistência dos solos
tratados com cal. Os autores mostraram que a
variação da resistência com a porosidade (η) é
inversamente proporcional ao teor volumétrico
de cal (1/Liv), sendo que esta variação não é a
mesma para η e Liv. Portanto, a aplicação de um
expoente como 0,11 (Consoli et al. 2014) para
Liv é necessário para que as taxas de η e 1/Liv
sejam compatíveis.
A Figura 1 exibe os resultados para a
resistência à compressão não confinada (qu) dos
espécimes em termos de η/(Liv)0,11. A Figura 1
(a) apresenta os resultados para a mistura de
controle, isto é, areia de Osório-CFA-cal
dolomítica sem fibras e sem sal. A Figura 1 (b)
retrata os resultados das misturas com sal,
enquanto a Figura 1 (c) mostra os resultados
para misturas com fibra. A Figura 1 (d), por
outro lado, apresenta os resultados para a
mistura reforçada com fibra e com sal.

Figura 1. qu x η/(Liv)0,11 para misturas de areia de Osório-


CFA-cal dolomítica (a) sem fibra e sem sal; (b) com sal;
(c) com fibra; (d) com sal e com fibra.

Em todos os casos, o índice ajustado


η/(Liv)0,11 se demonstrou útil na normalização
dos resultados de resistência (R² entre 0,80 e
0,89). Pode-se observar que tanto as fibras de
polipropileno quanto o sal são eficazes no
aumento da resistência à compressão não
confinada das misturas. No entanto, o ganho de
resistência devido às inclusões de fibras é mais
pronunciado para valores mais baixos de
η/(Liv)0,11. As fibras orientadas mobilizam
esforços de tração contribuindo para a
resistência ao cisalhamento total dos materiais.
Uma vez que essas misturas com valores mais
baixos de η/(Liv)0,11 apresentam maior
confinamento, a ancoragem entre fibras e grãos
de areia é mais efetivo, de tal forma que uma
maior resistência é adquirida (Diambra e Ibraim
2014).
O sal, por sua vez, proporcionou um
aumento de resistência em todo o intervalo de
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η/(Liv)0,11 (entre 32 e 43). Além disso, percebe-


se que a adição de fibras às misturas com sal
provocaram um aumento de resistência para
índices de η/(Liv)0,11 menores que 40, porém
ocorre uma ligeira diminuição de resistência
para índices superiores a 40.

3.2 Ensaios de Durabilidade

A Figura 2 expressa os resultados de perda de


massa acumulada (PMA) após 12 ciclos de
molhagem-secagem (linhas vermelhas) e ciclos
de congelamento-degelo (linhas azuis) para
misturas (a) sem fibra e sem sal, (b) com sal, (c)
com fibra e (d) com sal e com fibra.

Figura 2. PMA após ciclos de molhagem-secagem (em


vermelho) e ciclos de congelamento-degelo (em azul)
para misturas (a) sem fibra e sem sal, (b) com sal, (c) com
fibra e (d) com sal e com fibra

3.2.1 Análise da durabilidade com ciclos de


Congelamento-Degelo (FT)

Comparando o comportamento dos espécimes


sem sal [Figura 1 (a)] para aqueles com sal
[Figura 1 (b)], pode-se observar que o ganho
mais significativo na durabilidade ocorre para o
corpo de prova γd16/C7/S0,5/F0 (FT), cuja
perda de massa acumulada (PMA) após 12
ciclos é de 51,6%. Para a mesma mistura sem
sal [γd16/C7/S0,5/F0 (FT)], a PMA após 12
ciclos é de 88,9%, o que significa uma melhoria
de 37,3% na durabilidade após a adição de uma
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pequena quantidade de NaCl (0,5%). = 14 kN/m³ para γd = 15 kN/m³) as fibras de


A adição de fibras também proporcionou às polipropileno possuem melhores resultados de
misturas um ganho significativo de durabilidade.
durabilidade. Para o espécime γd16/C5/S0/F0,5 O efeito do aumento do teor de cal também
(FT), por exemplo, a PMA após 8 ciclos foi verificado. O maior aumento de durabilidade
reduziu de 94,4% para 41,2% com a adição de foi observado para o espécime γd16/C7/S0/F0
0,5% de fibras de polipropileno - uma diferença (FT), com PMA = 72,2% em relação ao corpo
de 53,2%. Além disso, o espécime de prova γd16/C5/S0/F0 (FT), com PMA =
γd16/C5/S0/F0,5 (FT) resistiu a 12 ciclos de 94,4%, uma diminuição de PMA na ordem de
exposição ao congelamento e degelo antes de se 22,2%. Além disso, o espécime com 7% de cal
desintegrar, enquanto o espécime com 0,5% de resistiu a 12 ciclos de exposição ao
fibra resistiu 12 ciclos e a respectiva mistura congelamento e degelo, enquanto o espécime
com 0,5% de sal apresentou um ganho de com 5% de cal desintegrou-se após 8 ciclos.
30,4%. O efeito benéfico na durabilidade Assim, analisando não só apenas os maiores
causada pelas inclusões de fibras pode ser ganhos de durabilidade indicados
explicado pelas propriedades expansivas bem anteriormente, mas também todos os resultados
conhecidas da água durante o processo de obtidos, pode-se afirmar a seguinte ordem de
congelamento, para temperaturas inferiores a 4 eficácia em termos de maior durabilidade por
°C. Quando submetido a -23 ° C durante ciclos congelamento e degelo:
de congelamento e degelo, a água interna dos
espécimes se expande e tenta quebrar as NaCl + Fibras de polipropileno > Fibras de
ligações de cal. Essas rupturas podem ser polipropileno > Compactação > NaCl > Cal
evitadas pela presença de fibras, o que pode
explicar o aumento da durabilidade observado. Um aspecto adicional a se considerar é que
Entre todos os tipos de adições à mistura não parece haver uma relação direta entre
analisada, a adição de 0,5% de fibra de resistência e durabilidade para as misturas
polipropileno e 0,5% de sal apresentou o maior estudadas. Os espécimes com 0,5% de sal e 0%
ganho de durabilidade. O espécime de fibras apresentaram melhor desempenho em
γd16/C5/S0,5/F0,5 (FT), por exemplo, termos de resistência, enquanto os espécimes
apresentou PMA igual a 94,4% após 8 com 0,5% de fibras e 0% de sal apresentam
exposições a ciclos de congelamento e degelo. melhor desempenho em termos de durabilidade.
Isto representa uma melhoria na durabilidade de
61,6% em relação à mesma mistura sem 3.2.2 Comparação entre ciclos de
inclusão de sal e fibra, e, além disso, os corpos Congelamento-Degelo (FT) em relação aos
de prova passaram a resistir 4 ciclos a mais. ciclos de Molhagem-Secagem (WD)
Quanto ao aumento da compactação (γd), um
ganho de durabilidade foi nitidamente Em condições de molhagem e secagem, as
percebido. Para os espécimes com 5% de cal a reações pozolânicas são aceleradas, durante a
PMA após 2 ciclos foi de 39,0% (γd = 16 secagem a uma temperatura de 71 °C, o que não
kN/m³) enquanto que, para γd = 14 kN/m³, a ocorre nas condições de congelamento e degelo,
PMA foi de 94,2% para o mesmo número de onde as reações pozolânicas são interrompidas
ciclos. É possível perceber que um alto aumento durante o congelamento, a uma temperatura
da energia de compactação (como de γd = 14 abaixo de -23 °C (Consoli et al., 2014a). Assim,
kN/m³ para γd = 16 kN/m³) pode apresentar os espécimes submetidos a ciclos de molhagem
maiores ganhos de durabilidade que a adição de e secagem têm ligações mais fortes e, portanto,
fibras de polipropileno, mas para aumentos menores perdas de massa do que ciclos de
sensíveis do grau de compactação (como de γd congelamento e degelo (Consoli et al. 2017b).
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Comparando o comportamento dos específico aparente seco era elevado de 14


espécimes sem sal, Figura 1 (a), para aqueles kN/m³ para 16 kN/m³, resultando em um ganho
com sal, Figura 1 (b), pode-se observar que o de 16,7% de durabilidade (WD). No entanto,
ganho mais significativo de durabilidade ocorre esse valor é alcançado com um alto aumento no
para o corpo de prova γd15/C3/S0.5/F0 (WD) grau de compactação.
nos ciclos de molhagem e secagem (PMA após O aumento do teor de cal possui grande
12 ciclos é de 54,3%). Já a PMA para a mesma influência no comportamento e durabilidade
mistura sem sal, γd15/C3/S0.5/F0 (WD), é de (WD) das misturas de areia de Osório-CFA-cal
66,6%, após 12 ciclos, o que significa uma dolomítica. O maior aumento de durabilidade,
melhoria de 12,3% na durabilidade. para molhagem e secagem, foi observado para o
O ciclo máximo alcançado pelo teste de espécime de 15 kN/m³ em relação ao corpo de
congelamento e degelo é menor do que o de prova com 3% de cal dolomítica (PMA =
molhagem e secagem (todos os corpos de prova 66,6%) em comparação ao espécime com 7% de
resistiram aos 12 ciclos de WD, mas nem todos cal dolomítica (PMA = 36,4%), resultando em
resistiram aos 12 ciclos de FT). É notável que o um ganho de 30,2%.
cloreto de sódio é muito mais efetivo na A análise dos dados acima apresentados e
durabilidade de congelamento e degelo (FT). das outras misturas analisadas sugerem um
A adição de fibras proporcionou às misturas comportamento diferente entre os testes de
um aumento de durabilidade em ambos os durabilidade relativos à eficiência de cada
testes. O maior efeito das fibras de componente na mistura. Como mencionado
polipropileno sobre a durabilidade para os anteriormente, os principais motivos para essas
ciclos de molhagem e secagem ocorreu no diferenças se devem ao processo de molhagem e
espécime γd15/C3/S0/F0,5 (WD), com um variação de temperatura de cada ensaio. Assim,
aumento de 13,2% após 12 ciclos. Vale a seguinte ordem de eficácia em termos de
ressaltar, que para a mesma mistura, sem adição maior durabilidade pode ser indicada para os
de fibra e com adição de sal, os ganhos de ensaios de molhagem e secagem:
durabilidade foram inferiores aos obtidos das
misturas sem sal e com fibra. Essas descobertas Cal > NaCl + Fibras de polipropileno >
sugerem que as inclusões de fibras são mais Compactação > Fibras de polipropileno > NaCl
eficazes para melhorar a durabilidade das
misturas de areia de Osório, se comparado à Para os ensaios de molhagem e secagem,
adição de apenas NaCl. também não foi percebido uma relação direta
Para as misturas com 0,5% de fibras de entre resistência e durabilidade para as misturas
polipropileno e 0,5% de sal submetidas a ciclos estudadas.
de molhagem e secagem, o espécime A Figura 3 retrata a normalização da perda
γd15/C3/S0,5/F0,5 (WD) apresentou PMA de massa acumulada (PMA) pelo número de
igual a 46,0% após 12 ciclos. Isso representa ciclos (3, 6, 9 e 12) em função do índice
uma melhoria na durabilidade de 20,6% em η/(Liv)0,11, para as distintas misturas estudadas
relação à mesma mistura sem inclusões de sais nesta pesquisa: (a) sem fibra e sem sal, (b) sem
ou de fibras de polipropileno. Isso sugere que a fibra e com sal, (c) com fibra e sem sal e (d)
inclusão de fibras + NaCl é uma maneira eficaz com fibra e com sal. Os coeficientes de
de melhorar a mistura se comparada à adição determinação (R²) das curvas variam de 0,6 a
destes elementos de forma separada. 0,93, indicando que o índice η/(Liv)0,11 é uma
O aumento de durabilidade por molhagem e ferramenta adequada na estimativa do
secagem mais pronunciado, ocorrido com o comportamento a longo prazo (durabilidade)
aumento da compactação (γd), ocorreu para a das misturas analisadas.
mistura com 5% de cal quando o peso
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Figura 3. PMA/número de ciclos de durabilidade versus


η/(Liv)0,11 para 3, 6, 9 e 12 ciclos, para as misturas (a) sem
fibras e sem NaCl: (b) com fibras; (c) com NaCl; (d) com
NaCl e fibras

4 CONCLUSÕES

Tanto as fibras de polipropileno quanto o sal


são eficazes no aumento da resistência a
compressão simples. Para as misturas estudadas
tem-se um aumento de resistência à compressão
simples de até 35,6% com a adição de sal,
24,6% com adição de fibras e 49,5% com
adição conjunta de fibras e sal.
A adição de 0,5% de sal resultou em ganhos
de durabilidade (ciclos de congelamento e
degelo) de até 37,3% e a adição de fibras
proporcionou ganhos de até 53,2%. A adição de
0,5% de fibra e sal apresentou o maior ganho de
durabilidade, de 61,6%. O aumento da
compactação resultou em ganhos de até 55,2%
(γd = 14 kN/m³ para γd = 16 kN/m³). Já o
aumento do teor de cal proporcionou melhora
na durabilidade (FT) de até 22,2% (teor de 3%
para 7%).
Ordem de eficácia em termos de maior
durabilidade por congelamento e degelo:
NaCl + Fibras de polipropileno > Fibras de
polipropileno > Compactação > NaCl > Cal.
A adição de 0,5% de sal resultou em ganhos
de durabilidade (ciclos de molhagem e
secagem) de até 12,3% e a adição de fibras
proporcionou ganhos de até 13,2%. A adição de
0,5% de fibra de polipropileno e 0,5% de sal
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apresentou ganho de durabilidade (WD) de stiffness of dispersive clay-lime blends. Journal of


20,6%. O aumento da compactação resultou em Materials in Civil Engineering, 28(11).
Consoli, N.C.; Marques, S.F.V.; Sampa, N.C.; Bortolotto,
ganhos de até 16,7% (γd = 14 kN/m³ para γd = M.S.; Siacara, A.T.; Nierwinski, H.P.; Pereira, F.;
16 kN/m³). Já o aumento do teor de cal Festugato, L. (2017a). A general relationship to
dolomítica proporcionou melhora na estimate strength of fibre-reinforced cemented fine-
durabilidade (WD) de até 30,2 % (teor de 3% grained soils. Geosynthetics International, 24(4), 435-
para 7%). 441.
Consoli, N.C.; Saldanha, R.B.; Mallmann, J.E.C.; de
Ordem de eficácia em termos de maior Paula, T.M., Hoch, B.Z. (2017b). Enhancement of
durabilidade por molhagem e secagem: strength of coal fly ash–carbide lime blends through
Cal > NaCl + Fibras de polipropileno > chemical and mechanical activation. Construction and
Compactação > Fibras de polipropileno > NaCl; Building Materials 157 (2017) 65–74.
Diambra, A.; Ibraim, E. (2014). Modelling of fibre-
cohesive soil mixtures. Acta Geotechnica, 9(6), 1029-
AGRADECIMENTOS 1043.
Drake, J. A.; Haliburton, T. A. (1972). Accelerated curing
Os autores desejam expressar sua profunda of salt-treated and lime-treated cohesive soils.
gratidão a PRONEX FAPERGS/CNPq 12/2014 Highway Research Record, 381, 10-19.
Festugato, L.; Menger, E.; Benezra, F.; Kipper, E.A.;
e CNPq (INCT-REAGEO e Produtividade em
Consoli, N.C. (2017). Fibre-reinforced cemented soils
Pesquisa) por financiar este grupo de pesquisa. compressive and tensile strength assessment as a
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Consoli, N.C., Quiñónez Samaniego, R.A., Kanazawa
Villalba, N.M. (2016). Durability, strength and
Emprego de um sistema autônomo de medição da resistividade
(condutividade) do solo - Sonda Geofísica.

Stilante Koch Manfrin


Universidade Federal do ABC, Santo André, Brasil, stilante.manfrin@ufabc.edu.br (*)

Marcelo Bender Perotoni


Universidade Federal do ABC, Santo André, Brasil, marcelo.perotoni@ufabc.edu.br (*)

Cláudia Francisca Escobar de Paiva


Universidade Federal do ABC, Santo André, Brasil, claudia.paiva@ufabc.edu.br (**)

RESUMO: O conhecimento das características do solo é imprescindível para profissionais de


diversas áreas, portanto, o projeto visa o emprego de um sistema autônomo e automatizado para a
medição da condutividade do solo a partir de uma sonda geotécnica. Considerando os métodos
indiretos de prospecção empregados em investigações preliminares para estudos e caracterização
de materiais de interesse para diversas áreas da engenharia: civil, ambiental, geológica entre outras,
destacam-se os métodos geofísicos por conseguirem obter resultados de forma rápida e com uma
boa relação custo-benefício. Deve-se notar que os métodos geofísicos constituem um conjunto de
ensaios de campo que não afetam e nem modificam as propriedades físicas do material ensaiado,
além de possibilitar levantamentos de grandes áreas em curto período de tempo. Neste trabalho,
foi desenvolvido e testado um sistema simples e de relativo baixo custo para a realização de
medidas de resistividade in situ. Medidas preliminares de campo e em laboratório mostraram que
a sonda e o circuito que a alimenta são equipamentos portáteis e robustos e que possuem potencial
para aplicaçao em areas contaminadas e/ou areas de risco, na detecçao de descontinuidades do
terreno e de areas de maior grau de saturaçao, possíveis de serem atingidas introduzindo-se a sonda
por percussao manual ou em pre-furos realizados com trado.

PALAVRAS-CHAVE: Métodos Geofísicos, Resistividade, Sonda Geotécnica.

1 INTRODUÇÃO para diversas áreas da engenharia civil,


engenharia ambiental, engenharia agronômica,
As principais ferramentas utilizadas para a engenharia geológica e engenharia de minas,
caracterização geológico-geotécnica do subsolo entre outras.
são o sensoriamento remoto, o mapeamento Ressalta-se ainda que, os métodos geofísicos
geológico, os ensaios geofísicos e as sondagens constituem um conjunto de ensaios de campo
mecânicas (métodos diretos). que não afetam e nem alteram as propriedades
Dentre as ferramentas de prospecção físicas do material ensaiado, além de apresentar,
disponíveis, destacam-se os métodos geofísicos, como já mencionado, uma boa relação
também denominados métodos indiretos de custo/benefício, possibilitando levantamentos de
investigação, por produzirem resultados rápidos grandes áreas em curto período de tempo.
e econômicos em investigações prévias para Basicamente, os métodos geofísicos fazem
estudos e caracterização de materiais de interesse uso das feições topográficas, das feições
(*) Professor - Engenharia de Informação- CECS-UFABC
(**) Professora - Engenharia Ambiental e Urbana- CECS-UFABC
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morfológicas e das propriedades físicas do elasticidade, condutividade, resistividade, entre


terreno para determinar, indiretamente, o outras características.
posicionamento, a distribuição e as Destaca-se que o sucesso de uma investigação
características físicas dos corpos geológicos, geofísica está intimamente atrelado à correta
como por exemplo, a detecção de singularidades escolha do método a ser empregado, garantindo
do terreno (presença de matacões, cavidades que este seja o mais sensível às possíveis
subterrâneas, etc.). variações das propriedades do solo que são de
Os principais métodos geofísicos utilizados interesse do projeto.
na Geologia de Engenharia são os métodos Segundo Robinson & Corun (1988) tanto a
geoelétricos, os métodos sísmicos e os métodos resistividade (ou condutividade) como a
potenciais. cargabilidade são propriedades elétricas
Atualmente, com o avanço dos sistemas de importantes, sendo que a medida da resistividade
aquisição de dados e programas computacionais fornece importantes informações sobre a
para tratamento das informações coletadas, constituição do subsolo e da água presente nos
notou-se uma evolução na aplicação dos interstícios dos materiais prospectados. Já a
métodos de investigação na solução de cargabilidade traduz a capacidade de um
problemas geológico-geotécnicos e material (elemento) armazenar uma voltagem
geoambientais. residual ao término de uma corrente elétrica. A
Considerando que, a contaminação do resistividade dos solos é função do valor da
subsolo é um dos maiores problemas ambientais resistividade em cada ponto, da geometria
da atualidade, assim como, a relevância dos elétrica do terreno, além da disposição dos
mapeamentos do subsolo para as diferentes eletrodos. Segundo Campanella & Weemees
aplicações e necessidades dos projetos de (1990) a resistividade em cada ponto do terreno
engenharia, esse trabalho tem por objetivo está condicionada à constituição mineralógica
contribuir para a avaliação das características das camadas do subsolo, ao grau de saturação do
geológico-geotécnicas do terreno por meio do terreno e à composição da fase líquida presente
emprego de prospecção geofísica através de nos interstícios do solo prospectado.
métodos da resistividade elétrica
(eletrorresistividade). 3 MÉTODOS GEOELÉTRICOS:
RESISTIVIDADE ELÉTRICA
2 MÉTODOS GEOFÍSICOS

Para Kearey et al. (2009), a investigação Atualmente, os métodos geoelétricos utilizam


geofísica do subsolo envolve realizar medidas na tanto campos da Terra como campos induzidos
superfície do terreno ou próximo a ela, medidas artificialmente. O método de potencial
estas que são influenciadas pela distribuição espontâneo possui aplicabilidade mais
interna das propriedades físicas das camadas do direcionada para a detecção de corpos rasos
subsolo. através da diferença de condutividade desses
Sabe-se que a Geofísica é uma ciência que corpos dentro de correntes naturais. Já o método
atrela fortemente a área de Física e Geologia, e de polarização induzida, através da detecção da
que procura encontrar na Física soluções para energia presente nas rochas, é utilizado na
questionamentos de base geológica. Estruturas localização de minérios pela indução de corrente
do solo ou suas anomalias são passíveis de serem elétrica que polariza a grande parte dos minerais
detectadas através do emprego de equipamentos formadores das rochas.
in situ medindo as variações de densidade,
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O método da resistividade elétrica geralmente E ainda, de acordo com Dafalla e Alfouzan


funciona a partir da indução de correntes (2012), salinidade, composição química dos
elétricas artificialmente geradas, e as diferenças fluidos e vazios podem também afetar a avaliação
de potencial resultantes são medidas na dos valores da resistividade elétrica. Conclui-se
superfície do terreno. Este processo fundamenta- que a resistividade elétrica é, muitas vezes,
se no princípio de que os diferentes materiais do específica de uma formação. Resumidamente,
subsolo (solos e rochas) possuem valores pode-se dizer que as rochas ígneas possuem maior
característicos de resistividade elétrica. resistividade elétrica, ao passo que as rochas
A condutividade elétrica de um material é sedimentares normalmente apresentam menor
definida pela capacidade do mesmo em conduzir resistividade, ou seja, maior condutividade
corrente elétrica. A Lei de Ohm afirma que, para elétrica.
um condutor mantido a temperatura constante, a Vale salientar que, nos materiais do substrato
razão entre a tensão entre dois pontos e a geológico, para que a condução elétrica seja
intensidade da corrente elétrica que o percorre é efetiva, os poros precisam estar interligados e com
constante. Essa constante é denominada de água em seu interior. No caso das argilas, os poros
resistência elétrica e pode ser representada pela não estão interligados (baixa permeabilidade),
equação 1. mas as mesmas costumam apresentar baixas
V resistividades, desde que contenham água, porém
R=
I isto se deve a fenômenos de troca iônica,
[1] conforme enfatizado por Gallas (2000) e Iezzi
Onde: (2008).
R = resistência elétrica;
V = tensão elétrica;
I = intensidade da corrente elétrica 3 MATERIAIS E MÉTODOS

Nos minerais formadores das rochas, que são Este trabalho foi desenvolvido por meio de
isolantes naturais, a condutividade elétrica investigações experimentais em laboratório e
ocorre de forma iônica através do caminhamento complementares in situ. A investigação
elétrico pela água existente nos poros do material experimental laboratorial deu apoio ao projeto e
(água intersticial), diferentemente dos materiais à escolha dos materiais para a construção do
metálicos e da grafite onde a condução da sistema geofísico proposto (sonda), além de
corrente ocorre, principalmente, por passagem viabilizar a realização de medidas com o sistema
de elétrons pelo material. Entretanto ressalta-se desenvolvido, comparando-se valores
que, em alguns casos como o das rochas padronizados de condutividade com os valores
cristalinas, com baixa a baixissíma porosidade medidos e calculados.
intergranular, o caminhamento elétrico ocorre ao
longo de fraturas e fissuras do corpo rochoso. 3.2.1 Projeto, Confecção e Montagem da Sonda
Elis et al. (2004) e Bolinelli Jr. et al. (2005), nos
resultados obtidos para a caracterização Considerando a proposta de um equipamento
geoambiental do subsolo através de medidas de robusto e de fácil transporte e cravação, a sonda
resistividade elétrica, enfatizam a forte foi projetada com componentes metálicos para a
influência da gênese, da textura, do tipo de condução do sinal elétrico e componentes
argilomineral presente na fração fina dos poliméricos que pudessem ter a função de
horizontes prospectados e do grau de saturação isolante elétrico. Portanto, no projeto da sonda,
no valor da resistividade do solo. houve a necessidade de considerar não só a
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realização dos ensaios e medidas no campo, mas Cabe destacar que foram confeccionados 3
também a natureza e condições dos terrenos a conjuntos de anéis metálicos (elétrodos) de
serem investigados. diferentes espessuras (he = 3 mm, 11 mm e 15
O projeto da sonda subdivide-se em duas mm) e 3 conjuntos de anéis espaçadores com as
grandes partes: o projeto mecânico seguintes dimensões: hi = 10 mm, 21 mm e 30
contemplando a arquitetura em si, formada pelo mm, possibilitando, desta forma, a montagem de
corpo, haste e elétrodos e o projeto elétrico 9 diferentes arranjos para a sonda proposta.
constituído por um circuito oscilador eletrônico
para geração de tensão alternada em 1 kHz. 3.2.2 - Projeto do circuito oscilador eletrônico
A figura 1 mostra o projeto da sonda
realizado em 3D e que serviu de base para a sua Paralelamente à confecção da estrutura da
fabricação. sonda, foi montado um circuito eletrônico com a
intenção de alimentar o sistema com corrente
alternada (Figura 3). O circuito é constituído
basicamente por um oscilador sinusoidal de 1
kHz que excita um conversor tensão-corrente,
baseado em um amplificador operacional com
alta capacidade de corrente. O sistema é capaz de
atingir, na sonda, 5 ampères, com uma saída
sinusoidal. A sonda, excitada por um sinal
sinusoidal (corrente alternada - CA), apresenta
algumas vantagens, principalmente a de evitar a
ocorrência de reações químicas que podem
Figura 1 - Projeto da sonda e imagem em prejudicar os materiais condutores da sonda
3D. através de oxidação e de deposição de metais nas
A Figura 2 mostra, como exemplo, um arranjo suas superfícies quando a sonda é excitada em
de elétrodos e espaçadores montado para uso da corrente contínua (CC).
sonda, já com os cabos instalados (soldados) nos
anéis de latão.

Figura 2 - Sonda pronta para uso.


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Figura 3 - Circuito eletrônico: detalhe do 20

SOLUÇÃO KCL (mS/cm)


oscilador e conversor tensão – corrente 18

CONDUTIVIDADE DA
16
y = 0,0168x - 0,0936
14 R² = 0,9995
3.3.3 - Ensaios e Calibração da Sonda 12
10
8
Para a obtenção da constante de calibração da 6
sonda, foram utilizadas soluções de cloreto de 4
potássio (KCl) com condutividades conhecidas 2
(Figura 4). A partir dos valores da corrente e da 0
0 500 1000 1500
tensão medidos, obteve-se uma curva que
relaciona a condutância (I/ΔV) com a I/∆V (mS)
condutividade (σ).
Figura 5 - Gráfico de calibração da sonda:
medida de I/V para diferentes valores em
soluções de KCl – (arranjo hi = 21 mm e he = 11
mm).

Os dados das constantes de calibração, de


acordo com as possíveis configurações da sonda,
encontram-se resumidos na Tabela 1.

Tabela 1 - Informações sobre a constante de


calibração
Isoladores "hi" Elétrodos "he" Constante
(mm) (mm) (K)
21 11 0,0168

Figura 4- Calibração da sonda para o arranjo: 4 ENSAIOS REALIZADOS EM


arranjo hi = 21 mm e he = 11 mm). LABORATÓRIO COM A SONDA
PROPOSTA
O gráfico da Figura 5 mostra a calibração para
um dos possíveis arranjos com a sonda Com o intuito de avaliar o comportamento da
geotécnica: distância dos elétrodos (he) de 11 sonda proposta, foram realizadas medidas com a
mm e espessura dos isoladores (hi) de 21 mm.
sonda proposta para os diferentes solos: Gnaisse
Granítico/Migmatito (a), Areia Pura (b) (Figura
6) e Micaxisto. Procurou-se avaliar também a
influência de diferentes teores de umidade nos
valores obtidos para cada arranjo montado.
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elétrica para os diferentes tipos de materiais


(Gnaisse Granítico/Migmatito, Areia Pura e
Micaxisto.) encontram-se dentro das faixas
preconizadas para materiais compatíveis na
literatura técnica (Dafalla & Alfouzan (2012),
Kearey et al. (2009), entre outros).
No caso da areia, a resistividade foi avaliada
para dois teores de umidade distintos, com o
objetivo de verificar a variação da resistividade
medida pelo emprego da sonda. Cabe ressaltar
que os resultados apresentados na Tabela 2
foram obtidos com o sistema proposto que utiliza
corrente alternada (1 kHz), já que medições com
(a) corrente contínua apresentaram variação ao
longo do tempo de medição, isto é, a partir do
acionamento da corrente, os valores da
intensidade da corrente e da tensão não
permaneceram estáveis devido a oxidação e
deposição de metais nas superfícies dos
elétrodos. A utilização de corrente alternada
eliminou este problema tornando as medições
estáveis.
Entretanto, as medidas apresentadas (Tabela
2) são resultantes de ensaios preliminares e que
devem apenas ser consideradas como valores
indicativos do funcionamento do sistema
proposto e que novas medidas em arranjos
compatíveis (tipologias de solos, estrutura e
densidades) e com condições de umidade e
salinidade controladas deverão ser realizadas
para validar o emprego da sonda em futuras
medições in situ.
Ressalta-se ainda que, independente do
sistema empregado para medir a resistividade
(b) dos solos, são necessários cuidados durante a
Figura 6 - Realização dos ensaios com a realização das medições, sejam elas in situ ou
sonda em (a) gnaisse granitíco/migmatito, (b) laboratoriais, destacando-se:
areia pura. - Uso de corrente elétrica alternada, evitando
a polarização nos eletrodos e possíveis alterações
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES na medida da resistividade;
- A adequada calibração do equipamento
A Tabela 2 apresenta um resumo dos valores (para cada uma das 9 combinações possíveis de
obtidos para a resistividade elétrica das amostras eletrodos e isoladores) e obtenção de seu
analisadas pelo uso da sonda proposta. Nota-se respectivo fator geométrico;
que os valores obtidos para a resistividade
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- O monitoramento da temperatura, tanto em


campo como em ensaios laboratoriais, já que o
aumento da temperatura tende a aumentar a
mobilidade dos íons no eletrólito e,
consequentemente, acarreta um decréscimo das
resistividades quantificadas;
- A tipologia do argilomineral: a fração argila
presente em alguns horizontes pedológicos deve
ser considerada na interpretação das medidas de
resistividade, devido aos efeitos da condução da
superfície dos argilominerais;
- A estrutura do solo: o tamanho, a
distribuição granulométrica e a orientação das
partículas minerais;
- O grau de saturação, o tipo e a quantidade de
eletrólito, possuem significativa influência na
avaliação da resistividade.

Tabela 2. Valores para a resistividade elétrica das amostras analisadas pelo uso da sonda geofísica.
Corrente Condutividade Teor de
Tensão (V) Resistividade (Ω.m)
(mA) (mS/cm) Umidade (%)
Balde 1 (Areia) 0,4550 0,1783 0,0066 1515 5,75
Balde 2 (Micaxisto) 0,2948 0,1363 0,0078 1282 19,11
Balde 3 (Gnaisse
0,5329 0,1973 0,0062 1613 11,94
Granítico/Migmatito)
Balde 4 (Areia *) 0,8545 0,2400 0,0047 2128 9,93

6 COMENTÁRIOS CONCLUSÕES como solos arenosos e areno-siltosos fofos. Já


em solos mais compactos ou consistentes, como
Neste trabalho foi desenvolvido e testado um solos argilosos rijos e areias compactas, a
sistema simples e de relativo baixo custo para a cravação e posterior remoção da sonda torna-se
realização de medidas de resistividade in situ. O difícil, sendo aconselhável a abertura de um pré-
objetivo da montagem da sonda geofísica é a sua furo com um mini-trado de diâmetro um pouco
aplicação em áreas contaminadas e/ou áreas de menor do que o diâmetro da sonda. A proposta
risco, na detecção de descontinuidades do atual de montagem do sistema de medição
terreno e de zonas saturadas, possíveis de serem geofísica permite a cravação da sonda
atingidas introduzindo-se a sonda por percussão superficialmente até a profundidade de 25 cm
manual ou em pré-furos realizados com trado. aproximadamente. Pretende-se, futuramente,
Medidas preliminares de campo mostraram que propor um sistema de hastes rosqueáveis para
a sonda e o circuito que a alimenta são que a sonda possa alcançar maiores
equipamentos portáteis e robustos. Destaca-se profundidades.
que existe a facilidade de cravação da sonda em Vale ressaltar a importância do uso de corrente
solos de menor compacidade ou consistência, alternada (sinais CA) para a alimentação da
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sonda, em virtude dos efeitos de oxidação e Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de


deposição de metais nos elétrodos da sonda. Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual
Acredita-se que tal ocorrência possa prejudicar, Paulista. 174 p.
a longo prazo, o desempenho dos elétrodos e, Iezzi, Patrícia Braga. Testes de aplicabilidade de sonda de
eletrorresistividade na avaliação de salinização
consequentemente, as leituras realizadas pelo secundária de solos. 2008. 124p. Dissertação
sistema. (Mestrado em Recursos Minerais e Hidrogeologia) –
Desta forma, pretende-se continuar a validar as Universidade de São Paulo, São Paulo.
possíveis aplicabilidades para a sonda proposta. Kearey, P.; BROOKS, M.; HILL, I. Geofísica de
Para tanto, novas medições laboratoriais e in situ exploração. 1ª ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2009,
438p.
devem ser realizadas, em especial em regiões Robinson, E. & Corun, C. (1998) Basic Exploration
contaminadas e/ou com a presença de planos de Geophysics. John Wiley & Sons, New York, 562p.
fraqueza, isto é, descontinuidades geológico-
geotécnicas em áreas de risco e em zonas de
maior grau de saturação.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) o apoio financeiro através do projeto
CNPq/VALE S.A. no. 05/2012.

REFERÊNCIAS

Bolinelli Jr., H.L.; Mondelli, G.; De Mio, G.; Peixoto,


A.S.P. & Giacheti, H.L. (2005) Piezocone de
resistividade na investigação do subsolo: execução,
interpretação e exemplos de aplicação. Proc. 11º
Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e
Ambiental, Florianópolis, CDROM.
Campanella R.G. & Weemees, I. (1990) Development and
use of na eletrical resistivity cone for ground water
contamination studies. Canadian Geotechinical
Journal., v 27, p. 557-567.
Dafalla, M. A.; Alfouzan, F. A. Influence of physical
parameters and soil chemical composition on electrical
resistivity: a guide for geotechnical soil profiles. Int. J.
Electrochem. Sci., v. 7, p. 3191-3204, 2012.
Elis, V.R.; Mondelli, G.;GIacheti, H.L.; Peixtoto, A.S.P.
& Hamada, J. (2004) The use of electrical resistivity
for detection of leacheate plumes in waste disposal
sites. Proc. 2nd International Conference on
Geotechnical Site Characterization (ISC’2), Porto, p.
467-474.
Gallas, J.D.F. 2000. Principais Métodos Geoelétricos e
suas aplicações em Prospecção Mineral,
Hidrogeológica, Geologia de Engenharia e Geologia
Ambiental. Rio Claro. Tese (Doutorado em
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Emprego do SDMT para a caracterização de um perfil de solo


tropical e para a estimativa de recalques de fundações rasas
Breno Padovezi Rocha
USP – Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil, brenop@sc.usp.br

Jeferson Brito Fernandes


Unesp – Faculdade de Engenharia de Bauru, Bauru, Brasil, jeferson.brito@unesp.br

Roberto Aguiar dos Santos


UFMT, Cuiabá, Brasil e Unesp, Faculdade de Engenharia de Bauru, Bauru, Brasil, santosr@ufmt.br

Heraldo Luiz Giacheti


Unesp – Faculdade de Engenharia de Bauru, Bauru, Brasil, h.giacheti@unesp.br

RESUMO: Este artigo discute o resultado de três ensaios SDMT realizados em um perfil de solo
tropical arenoso que ocorre no campo experimental da Unesp de Bauru. Determinaram-se os perfis
de ID, KD, ED, velocidade de onda cisalhante (Vs) e de parâmetros geotécnicos (MDMT, φ’, Ko, RSA).
Esses dados foram comparados com resultados de ensaios de laboratório e de campo previamente
realizados neste local. O módulo confinado (MDMT) e o módulo de cisalhamento máximo do solo
(Go) determinados no ensaio SDMT foram empregados para a previsão de recalques de fundações
rasas. As previsões foram comparadas com os resultados de ensaios de prova de carga em placa. O
SDMT mostrou que é um ensaio eficiente para a definição do perfil do subsolo, estimativa de
parâmetros e, em especial, para a previsão de recalques para a carga de trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação do Subsolo; Ensaios de Campo; SDMT, Solos Arenosos,


Estimativa de Recalques.

1 INTRODUÇÃO superficiais é uma das principais aplicações do


ensaio SDMT. A experiência disponível
A investigação do subsolo para projetos de (Lacasse e Lunne, 1986; Leonards e Frost, 1988;
engenharia deve definir o perfil do terreno Woodward e McIntosh, 1993; Skiles e
incluindo a posição do nível d’água e possibilitar Townsend, 1994; Failmezger e Bullock 2011)
uma avaliação preliminar do comportamento indica, em geral, boa concordância entre os
mecânico dos horizontes de interesse desse recalques medidos e os estimados a partir desse
perfil. ensaio.
O ensaio de Dilatômetro Sísmico (SDMT) Este artigo apresenta e discute o resultado de
vem sendo empregado pela comunidade três ensaios SDMT realizados em um perfil de
geotécnica como uma ferramenta que permite a solo arenoso do campo experimental da Unesp
investigação do subsolo, incluindo a definição de Bauru. Os parâmetros mecânicos estimados
do perfil de velocidade de propagação de onda por meio de correlações empíricas foram
cisalhante (Vs), e consequentemente, do módulo comparados com valores de referência
de cisalhamento máximo do solo (Go), baseado determinados por meio de ensaios de laboratório
na Teoria da Elasticidade. e de outros ensaios in situ. Além disso, a
A previsão de recalques de fundações comparação entre os recalques medidos em
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ensaios de placa e os estimados a partir do ensaio neutra hidrostática. O índice de tensão horizontal
SDMT também é apresentada e discutida. KD = (p1-p0)/(σ’vo), onde σ’vo é a tensão vertical
efetiva, fornece a base para várias correlações
para estimativa de parâmetros. O módulo
2 ENSAIO SDMT dilatométrico é calculado pela expressão ED =
34,7.(p1-p0), entretanto é menos utilizado,
O dilatômetro sísmico (SDMT) consiste na devido à falta de informação sobre o histórico de
combinação do dilatômetro de Marchetti (DMT) tensões (Marchetti et al., 2001).
com um módulo sísmico, o qual permite a
determinação da velocidade de propagação de
ondas sísmicas (Vp e Vs), e consequentemente o 3 EMPREGO DO ENSAIO SDMT
módulo de cisalhamento máximo do solo (Go)
por meio da técnica sísmica downhole e da 3.1 Comportamento não convencional
Teoria da Elasticidade (equação 1).
Solos tropicais são caracterizados pela
Go = ρ . Vs2 (1) ocorrência de agregados estáveis cimentados
devidos ao processo de laterização, bem como
onde ρ é a massa específica natural (kg/m³). pela condição não saturada. Deste modo, estes
solos não são adequadamente avaliados por meio
A Figura 1.a ilustra o módulo sísmico que de modelos e de correlações desenvolvidas pela
consiste em um elemento cilíndrico instalado Mecânica dos Solos Clássica. Logo, torna-se
acima da lâmina do DMT, equipado com dois necessário identificar o comportamento não
geofones espaçados 0,5 m um do outro. Na convencional destes materiais para o emprego de
Figura 1.b tem-se a representação esquemática modelos de interpretação de ensaios de campo
da realização do ensaio sísmico com o DMT e a (Schnaid et al., 2004; Robertson 2017).
Figura 1.c demonstra o equipamento para a Cruz (2010) elaborou ábacos para se
realização desse ensaio. identificar a presença de estruturas cimentantes
nos solos através de resultados de ensaios SDMT
realizados em diferentes locais, bem como em
laboratório, em uma grande câmara de
calibração (CemSoil Box). O autor plotou os
dados do SDMT nos gráficos Go/ED vs ID e
Go/MDMT vs KD para essa finalidade.

3.2 Recalque pelo DMT

A maneira corrente de estimativa do valor de


a) b) c)
recalque por meio do ensaio SDMT está baseada
Figura 1. a) Lâmina DMT e módulo sísmico; b) na determinação do Módulo Confinado (MDMT).
Representação esquemática do ensaio sísmico com o MDMT é calculado a partir do valor de ED,
DMT, c) Equipamento para realização do dilatômetro onde MDMT = Rm . ED. Rm é um fator de
sísmico (Marchetti et al 2008). correção, em função de ID e KD, necessário pois
ED é obtido com o solo na condição deformada
A partir do ensaio SDMT são calculados os
pela penetração da lamina, além da diferente
três parâmetros intermediários (ID, KD e ED) e o
direção do carregamento (horizontal, enquanto
valor do módulo de cisalhamento máximo do
MDMT é vertical). Além disso, ED não incorpora
solo por meio do emprego da equação 1. O índice
informações sobre o histórico de tensões, muito
do material ID = (p1-p0)/(p0-uo) é calculado para
importante no cálculo de recalques (Leonards e
identificar o tipo de solo, onde uo é a pressão
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Frost 1988; Massarsch 1994). meio do MDMT, pela teoria da elasticidade


O cálculo de recalques por meio do ensaio (equação 3);
SDMT emprega a abordagem elástico-linear
(unidirecional), sendo os incrementos de tensão =
ν
. (3)
ν)
(∆σ) calculados pela teoria da elasticidade (

(Boussinesq) e o módulo de deformabilidade


determinado pelo ensaio SDMT. 3. Baseado nas informações disponíveis,
Marchetti (1997) recomenda o cálculo do adotar um valor de deformação cisalhante
recalque de fundações superficiais através da (γDMT);
equação (2): 4. Empregar o modelo numérico usado para a
construção da curva de degradação do
 ∆σ v 
módulo (equação 4).
S DMT = ∑  .∆ z
 (2)
 M DMT 
= (4)
( )
O incremento de tensão vertical e o módulo
confinado determinado pelo ensaio SDMT De acordo com Amoroso et al (2014), γDMT é
(MDMT) são realizados a cada intervalo de ensaio aproximadamente 0,1% para areias, entre 0,5 a
(tipicamente 0,20 m). 1,0% para siltes e argilas e superior a 2% em
O cálculo dos recalques pode ser realizado argilas moles. Segundo os autores, este
empregando o programa de computador DMT procedimento pode fornecer uma primeira
Settlements, disponível para download em estimativa da curva de degradação de Go do solo.
www.marchetti-dmt.it/software-download/.
Monaco et al. (2006) observaram uma boa
correlação entre recalques estimados pelo 4 SOLO ESTUDADO
SDMT e medidos por meio de monitoramento
em campo, com um valor médio dessa relação O campo experimental da Unesp está localizado
igual a aproximadamente 1,3. na cidade de Bauru (SP), onde vem sendo
realizado várias pesquisas para melhor
3.3 Recalque pelo SDMT compreensão do comportamento de solos
tropicais não saturados, típico daquele que
O módulo de Cisalhamento (Go) é um parâmetro ocorre em várias regiões do Brasil. Ensaios SPT
geotécnico importante, sendo determinado por (sondagens de simples reconhecimento), DMT
meio de ensaios de campo ou laboratório. (Dilatômetro de Marchetti), PMT (Pressiômetro
A estimativa do recalque através de métodos de Menárd), cone elétrico (CPT) e sísmicos
que incorporam a curva de degradação de Go (crosshole e downhole) já foram realizados nessa
pode ser empregada em projeto de fundações, área. Amostras indeformadas também foram
desde que este módulo seja degradado a um nível coletadas através de poços de inspeção para
de deformação compatível com o nível de realização de ensaios em laboratório para
deformações do caso analisado (Atkinson 2000, caracterização e determinação de parâmetros
Fahey e Carter, 1993; Lee et al., 2004). geotécnicos.
Amoroso et al (2014) apresenta um O perfil de solo que ocorre neste campo
procedimento para a estimativa da curva de experimental consiste em uma areia fina pouco
degradação da rigidez do solo através de argilosa, porosa, não saturada, de
resultados de ensaios SDMT. Este procedimento comportamento laterítico, classificado como
consiste nas seguintes etapas: solo LA’ na MCT, até 13 m de profundidade
1. Determinar G0 a partir de Vs na (Nogami e Villibor, 1981) e SM pela SUCS
profundidade investigada; (ASTM 2003).
2. Calcular GDMT na mesma profundidade; por
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5 MATERIAIS E MÉTODOS Figura 4 apresenta os parâmetros geotécnicos


(MDMT, φ’, Ko e RSA), calculados empregando
5.1 Ensaios SDMT as correlações empíricas, bem como o perfil de
módulo de cisalhamento máximo, determinado
Foram realizados três ensaios SDMT no Campo pelo ensaio SDMT. Os valores de Go foram
Experimental da Unesp de Bauru até a comparados com valores determinados em
profundidade de 20 m. Os perfis de variação com laboratório empregando a técnica de bender
a profundidade de ID, KD e ED são apresentados elements a 1.0, 3.0 e 5.0 m de profundidade.
na Figura 2. A classificação do tipo de solo foi
realizada empregando o ábaco proposto por 5.2 Prova de Carga em Placa
Marchetti e Crapps (1981) (Figura 3).
A estimativa de recalques imediatos em
po e p1 (kPa) ID KD ED (MPa) Vs (m/s)
0
0 1250 2500 0.1 1 10 0 5 10 15 20 0 15 30 45 60 0 150 300 450 600 fundações superficiais, bem como o cálculo da
capacidade de carga, pode ser feita por meio de
2
provas de carga em placa (NBR 6489/1984).
4
Esse ensaio consiste na instalação de uma placa
6 metálica de 0,80 m de diâmetro, na cota de
projeto da base da fundação superficial (sapata),
Profundidade (m)

10
e aplicação de carga, em estágios, com medida
simultânea de recalques.
Resultados de ensaios de prova de carga em
12

14
placa realizados por Agnelli (1997) (Figura 5)
16 foram utilizados para avaliação dos recalques
p1
18 SDMT 1 calculados pelo ensaio SDMT.
Argila

Areia
Silte

20
po
SDMT 2
SDMT 3 Para o cálculo do recalque por meio do ensaio
SDMT adotou-se as recomendações de Terzaghi
Figura 2. Resultados dos ensaios SDMT realizados na área e Peck (1967) como o critério para definição das
estudada. tensões admissível. Estes autores recomendam
que para estruturas comuns (edifícios comerciais
e residenciais) apoiadas em solo arenoso, o
recalque total para sapatas não deve ultrapassar
25 mm. Assim, este valor será nesse trabalho
como sendo o recalque total admissível (ρa).
A Tabela 1 apresenta os valores de tensão
aplicada nas placas, para o valor de recalque
admissível adotado (25 mm).

Tabela 1. Tensões definidas para os recalques admissíveis


obtidos nas provas de carga (adaptado de Agnelli 1997).
SDMT 1 Tensão
SDMT 2
SDMT 3 Prof. (m) ρmed (mm) admissível
(kPa)
1 25 100
2 25 130
3 25 225
4 25 270

Figura 3. Classificação do solo através dos ensaios SDMT


realizados (adaptado de Marchetti e Crapps 1981).
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φ (º) Ko RSA MDMT (MPa) Go (MPa)


25 30 35 40 45 50 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 10 20 30 40 50 60 0 100 200 300 400 500
0

6
Profundidade (m)

10

12

14

16

18

a) b) c) d) e)
20
Marchetti 1997 Marchetti 1980 Monaco et al 2004b Marchetti 1980 SDMT 1
Cis. Dir Baldi et al 1986 Ens. Edométrico Ens. Edométrico SDMT 2
Triaxial PMT SDMT 3
Bender elements

Figura 4. Parâmetros geotécnicos estimados pelos ensaios SDMT e parâmetros de referência medidos em laboratório.

proposto por Marchetti e Crapps (1981). A partir


da Figura 2 e Figura 3, verifica-se que o perfil do
subsolo da área investigada é classificado como
um silte arenoso. Esta classificação não está de
acordo com a granulometria desse solo (areia
fina pouco argilosa). Conforme discutido por
Marchetti et al. (2001), o índice ID fornece uma
classificação razoável do perfil do subsolo para
solos “normais” e ele é um parâmetro que reflete
o comportamento mecânico do solo, como um
índice de rigidez, e não a composição
granulométrica do solo.

Figura 5. Provas de carga sobre placa realizados no campo 6.2 Comportamento não convencional
experimental de Unesp de Bauru (Agnelli, 1997).
A Figura 6 apresenta os resultados dos ensaios
SDMT realizados, que foram plotados nos
6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS gráficos Go/ED vs ID (Figura 6.a) e Go/MDMT vs
KD (Figura 6.b), sugeridos por Cruz (2010). Três
6.1 Classificação linhas e uma equação também são apresentadas,
permitindo definir os limites entre os solos
A classificação do solo por meio do ensaio residuais (cimentados) e os solos sedimentares
SDMT emprega o Índice do Material (ID) e o (não cimentados).
Módulo Dilatométrico (ED) por meio do ábaco
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condição natural, até a profundidade de 19 m.


1000
Go/ED = 7,0 ID-1,1 a)

100
Solo Residual
(Estruturas Cimentantes)
Determinou-se um valor médio de φ’ igual 32,8º,
o qual variou de 30,1º para 1 m de profundidade
a 34,4º, para 19 m de profundidade. A correlação
Go/ED

10

proposta por Marchetti (1997) foi utilizada na


1 Solo Sedimentar estimava de φ’ por meio do ensaio SDMT. Os
valores de φ’ determinados por meio dos perfis
(Material não cimentado)
SDMT 1
SDMT 2

0.1
0.1
SDMT 3

1
médios de ID, KD e ED apresentam boa
Índice de Material, ID concordância com os valores de referência
(cisalhamento direto e triaxial) abaixo de 2 m de
50
b)
Go/MDMT = 6,5 KD-0,691
20
profundidade. Isto não ocorreu acima de 2 m de
profundidade. Tal fato pode estar relacionado ao
10

5
G o/MDMT

efeito da sucção do solo, que elevou os valores


2

1
Solo Residual
(Estruturas Cimentantes)
de p0 e p1, que refletem na determinação de
0.5
parâmetros mecânicos pelo SDMT. Este
0.2
SDMT 1
SDMT 2
Solo Sedimentar
(Material não cimentado)
comportamento vem sendo estudado por Rocha
0.1
1
SDMT 3

10 100
(2018) através de ensaios SDMT e CPTu.
Índice de Tensão Horizontal, KD O ensaio SDMT também pode ser utilizado
para a estimativa do coeficiente de empuxo no
Figura 6. Resultados dos ensaios SDMT plotados nos repouso do solo (Ko). Estes valores foram
ábacos propostos por Cruz (2010).
comparados com aqueles determinados por meio
de um ensaio de pressiômetro de Menárd (PMT).
Em ambos os gráficos se observa que os
A Figura 4.b apresenta os valores de Ko
resultados dos ensaios SDMT encontram-se
empregando as correlações de Marchetti (1980)
sempre acima da linha que separa o material
e de Baldi et al (1986), bem como os valores de
cimentado do não cimentado. Isto indica que a
Ko interpretados dos resultados dos ensaios
estrutura cimentada do solo tropical arenoso
PMT. Para 0,5 m de profundidade, o valor de Ko
estudado, produz valores de Go/ED e de Go/MDMT
determinado pelo ensaio PMT foi de 3,5. A 1,5
sistematicamente superiores aos determinados
m de profundidade Ko foi de 1,3, e este assumiu
em solos sedimentares. Deste modo, as
valor praticamente constante igual a 0,8 até 8 m
metodologias clássicas de interpretação de
de profundidade. Abaixo de 8 m de profundidade
ensaios de campo (por exemplo, CPT e SDMT),
Ko foi igual a 0,5. Assim, considera-se que houve
devem ser empregadas com cautela, e ajustes
boa concordância entre os valores determinados
locais são necessários para uma caracterização
pelo SDMT e pelo PMT.
do solo adequada (Schnaid et al., 2004;
Valores de Razão de sobre adensamento
Robertson 2017).
(RSA) e de Módulo Confinado (Meod)
determinados por meio de ensaios edométricos
6.3 Parâmetros de Projeto
em amostras indeformadas (Saab 2016) foram
utilizados como referência para comparação com
Valores de ângulo de atrito (φ’) determinados
os valores estimados por meio dos ensaios
por meio de ensaios de cisalhamento direto
SDMT. Monaco et al (2014) apresentam duas
(Giacheti et al. 2006) e por meio de ensaios
correlações para a cálculo de RSA em areias.
triaxiais em amostras saturadas (Fagundes e
Essas equações são baseadas, respectivamente,
Rodrigues, 2015) foram utilizados como
na relação MDMT/qc e em KD. Por isso, um perfil
referência na comparação com os valores
típico de resistência de ponta (qc) foi
determinados por meio dos ensaios SDMT
determinado por meio de três ensaios CPT
(Figura 4.a).
previamente realizados nesse local.
Os ensaios de cisalhamento direto foram
Para 1,0 m de profundidade, o valor da RSA
realizados em amostras indeformadas, em
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determinado pelo ensaio edométrico foi de 2,0 e dmt.it/software/index.htm), bem como as


um valor aproximadamente constante igual a 1,0 relações entre o recalque calculado (ρSDMT) e o
até 5 m de profundidade. Verifica-se também por recalque medido (ρmed).
meio da A Tabela 2 mostra que a estimativa do
Figura 4.c uma boa concordância entre os valores recalque pelo ensaio SDMT foi satisfatória,
de RSA estimados pelo SDMT com aqueles exceção apenas para a sapata apoiada a 1 m de
medidos pelos ensaios edométricos. profundidade (R = 0,4), uma vez que só ela está
Na fora da faixa de variação indicado por Monaco et
Figura 4.d são apresentados os valores de MDMT al. (2006). Na Figura 7 é apresentado os valores
estimados (SDMT) e os medidos (Meod) por meio de recalque estimados pelos ensaios SDMT para
dos ensaios edométricos. Para 1,0 m de a área estudada, em conjunto com os valores de
profundidade, o valor de Meod foi de 6,5 MPa. recalques medidos e estimados compilados por
Para 5,0 m de profundidade esse parâmetro Monaco et al (2006).
apresentou um valor de 8,0 MPa. De maneira
similar ao observado para a RSA, os valores de Tabela 2. Recalques calculados com base nos ensaios
MDMT apresentam boa concordância com os SDMT e comparação com os medidos (25 mm) nas prova
medidos pelos ensaios edométricos ( de cargas.
Prof. (m) ρSDMT (mm) ρSDMT/ρmed
Figura 4.c).
1 10,0 0,40
Valores de módulo de cisalhamento máximo 2 19,2 0,77
do solo (Go) determinados pelos ensaios SDMT 3 26,0 1,04
foram comparados com valores de Go 4 23,5 0,94
determinados em laboratório, em amostras
indeformadas, por meio da técnica bender A boa estimativa de recalques a partir dos
elements ( resultados de ensaios SDMT se deve a
Figura 4.e). Para a amostra coletada a 1,5 m de concordância entre os valores de módulo
profundidade, uma tensão confinante de 25 kPa confinado estimados (SDMT) com aqueles
foi aplicada, o que resultou em um valor de Go medidos em laboratório, como discutido por
igual a 52,8 MPa. Para a amostra a 3,0 m de Lacasse e Lunne (1986), Pelnik et al. (1999) e
profundidade, uma tensão confinante de 50 kPa Monaco et al., (2006).
foi aplicada, proporcionando um valor de Go de
80,9 MPa. Para a amostra coletada a 5,0 m de
profundidade, uma tensão confinante de 100 kPa
foi aplicada, proporcionando um valor de Go
igual a 121,0 MPa. Os valores de Go medidos
pelos ensaios SDMT apresentam boa
concordância com os obtidos em laboratório.

6.4 Estimativa de recalque – Abordagem


tradicional

Marchetti et al (2001) recomenda o emprego de


uma correlação empírica para a determinação de
MDMT baseada em ID, KD e ED para a previsão de
recalques em fundações superficiais.
A Tabela 2 apresenta os valores de recalque
calculados por meio dos resultados dos ensaios Figura 7. Recalques medidos e estimados por meio dos
SDMT utilizando o programa de cálculo de resultados dos ensaios SDMT (adaptado de Monaco et al.,
recalques do DMT (www.marchetti- 2006).
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6.5 Estimativa de recalque – Emprego de Go mais elevados. Este comportamento se deve a


degradação acentuada de Go em níveis de
Com o intuito de se avaliar o emprego do módulo deformação compatíveis com a carga de trabalho
de cisalhamento máximo do solo (Go) na das fundações. Deste modo, considera-se que o
estimativa de recalque, uma curva de degradação método tradicional que emprega o módulo de
do módulo (γ vs G/Go) foi estimada para 2,0 m trabalho determinado a partir dos resultados dos
de profundidade (Figura 8), pelo método ensaios SDMT é mais apropriado para a
proposto por Amoroso et al., 2014. Para a estimativa de recalques para esse solo do que
definição dessa curva de degradação os valores aquele que emprega Go e a curva de degradação.
apresentados na Tabela 3 foram considerados.

7 CONCLUSÕES

O SDMT foi eficiente para a definição do perfil


do subsolo, estimativa de parâmetros de projeto
e para a previsão de recalques por meio do
emprego da abordagem tradicional, mesmo para
esse solo que foi classificado como um material
não convencional. Os resultados dos ensaios
sísmicos do SDMT permitiram identificar que o
solo estudado possui alguma cimentação. Já, a
utilização do Go e da curva de degradação não
Figura 8. Curva de degradação (γ vs G/Go) estimada para possibilitaria boa estimativa dos recalques para o
2,0 m de profundidade pelo modelo de Amoroso et al. solo investigado.
(2014).

Os valores de Go e MDMT foram determinados


AGRADECIMENTOS
considerando a média desses valores que se
encontram dentro de um bulbo de tensões de 2B.
Os autores agradecem a FAPESP (Processos No.
A deformação cisalhante foi assumida igual a 0,3
2010/50650-3 e 2015/16270-0), ao CNPq e a
%, levando em consideração os intervalos
CAPES, pelo apoio ao desenvolvimento dessa
propostos por Amoroso et al., (2014). Adotou-se
pesquisa.
o coeficiente de Poisson (ν) igual a 0,2.

Tabela 3. Parâmetros de ajuste considerados para emprego


do modelo proposto por Amoroso et al., 2014. REFERÊNCIAS
Prof. Go MDMT γDMT
GDMT/Go ABNT/NBR – 6489 (1984). Prova de carga direta sobre
(m) (MPa) (MPa) (%)
2 70 8 0,043 0,30 terreno de fundação. 2 p.
Agnelli, N. (1997) Comportamento de um Solo Colapsível
Inundado com Líquidos de Diferentes Composições
O módulo de deformabilidade (E) foi Químicas, Tese de Doutorado, Programa de Pós-
estimado por meio da curva de degradação de G Graduação em Geotecnia, Departamento de Geotecnia,
pela equação da teoria da elasticidade (equação Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de
5). São Carlos, 205 p.
Amoroso, S., Monaco, P., Lehane, B. M., e Marchetti, D.
(2014). Examination of the potential of the seismic
= 2(1 + ν) (5) dilatometer (SDMT) to estimate in situ stiffness decay
curves in various soil types. Soils and Rocks, 37(3),
O módulo estimado foi da ordem de 1 MPa, 177-194.
bem mais baixo do que o medido pelo ensaio ASTM. 2003. Standard Practice for Classification of Soils
for Engineering Purposes (Unified Soil Classification
SDMT e, portanto, acarretando recalques muito
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System) – D2487-00. In Annual Book of ASTM Soil Properties, Indonesia, 41 pp.


Standards, Vol. 04.08. West Conshohocken: American Marchetti, S., Monaco, P., Totani, G., and Marchetti, D.
Society for Testing Materials. (2008). In Situ Tests by Seismic Dilatometer (SDMT).
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design. Géotechnique, 50(5), 487-508. Engineering: pp. 292-311.
Baldi, G., Bellotti, R., Ghionna, V., Jamiolkowski, M., Massarsch, K. R. (1994). Settlement Analysis of
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Investigations, TC 16 Report. Proc. IN SITU 2001, Vol. 1, 132-142.
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Shallow Foundation Settlement Prediction Using the


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Terzaghi, K. e Peck, R. B. (1967) Soil Mechanics in
Engineering Practice. New York: John Wiley and
Sons, 685p.
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Ensaios de Carregamento de Clusters de Estacas em


Centrífuga Geotécnica
Priscila de Almeida Cardoso Santiago
UENF/IFF, Campos dos Goytacazes, Brasil, pcardoso_enge@hotmail.com

Fernando Saboya Albuquerque Jr.


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, fsaboyajr02@gmail.com

Sérgio Tibana
UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, stibana@gmail.com

Rodrigo Martins Reis


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, reis@uenf.br

RESUMO: Com a descoberta de novos campos no Brasil e no mundo, a exploração offshore de óleo
e gás tem buscado perfurações em lâminas d´água cada vez mais profundas. Os sistemas offshore
são compostos por unidades marítimas, que são fixadas no leito marinho por um sistema de
ancoragens e em sua extremidade são utilizadas âncoras ou estacas (Basack, 2007). Com o avanço
da exploração, o desenvolvimento tecnológico na área de ancoragem das unidades marítimas vem
crescendo, principalmente por ser um mecanismo de posicionamento das unidades no campo de
exploração que estão sujeitas a carregamentos dinâmicos de ondas, correntezas, ventos entre outros.
A proposta deste trabalho foi realizar investigações experimentais em centrífuga geotécnica, com o
objetivo de identificar e quantificar os efeitos de interação em clusters de duas estacas instaladas em
areia fofa, submetidas ao carregamento vertical, horizontal e inclinado a 45°. Neste estudo busca-se
avaliar a resistência global do sistema de ancoragem, as resistências individuais de cada ponto fixo,
a distribuição de forças e os possíveis modos de ruptura.

PALAVRAS-CHAVE: Estacas, Clusters, Centrìfuga Geotécnica, Ancoragem

1 INTRODUÇÃO altíssimos de reparação. Muitos estudos


mostram que o dano devido à cravação
Com o avaço da exploração para lâminas contribui no cálculo da vida da estaca. Contudo,
d´água cada vez mais profundas, o as normas regulamentadoras de projetos
desenvolvimento tecnológico na área de offshore não dão a devida importância na
ancoragem das unidades marítimas vem escolha dos parâmetros adequados para
crescendo, principalmente por ser um dimensionamento das estacas.
mecanismo de posicionamento das unidades no O sistema de ancoragem utilizado em
campo de exploração que estão sujeitos a unidades flutuantes pode ser formado por
carregamentos dinâmicos de ondas, correntezas amarras, cabos de aço, cabos sintéticos
e vento. (poliéster) ou uma combinação desses. Na
A fundação de estruturas de grande porte extrerminade das ancoragens são utilizadas
como jaquetas, exige uma maior atenção no âncoras ou estacas. Dentro desse contexto, a
dimensionamento das estacas, pois qualquer estaca torpedo é um tipo de fundação que foi
problema de instalação ou dano gerado, pode desenvolvida pela Petrobras e vem sendo
gerar problemas estruturais com custos amplamente utilizada em ancoragens da
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unidades offshore.
Trabalhos experimentais em grupos de Os modelos físicos foram confeccionados
estacas sujeitos a carregamentos oblíquos são utilizando uma areia industrial normatizada do
relativamente limitados. Alguns modelos IPT (N50) como material que representará o
teóricos existentes são semi-empíricos, leito marinho, simulando as condições de
baseados em ensaios a 1g como os testes campo durante a cravação da estaca e seu
experimentais de Yoshimi (1964), Broms carregamento. Foi utilizado um total de 106,893
(1965), Das, et. al. (1976), Chattopadhyay e kg de areia em cada ensaio, considerando que
Pise (1986), Ismael (1989), e Jamnejad e Hesar houve reutilização do material após o final de
(1995). cada ensaio.
Este trabalho faz parte do projeto firmado A areia industrial utilizada foi seca ao ar e
entre a Petrobras e a Universidade Estadual do ficou acondicionada em latões para apresentar-
Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), se limpa. De granulometria uniforme, esta areia
através de ensaios em gravidade modificada apresenta um ângulo de atrito no estado crítico
utilizando modelos reduzidos no Laboratório de de 33°, conforme ensaio de cisalhamento
Engenharia Civil (LECIV-Centrífuga). Este realizado por Santiago (2008). Na Tabela 1 são
projeto, compreende um planejamento inicial de apresentadas as características físicas do solo. O
experimentos de modelagem centrífuga de modelo foi montado em uma caixa teste, que foi
grupos de estacas e visa o desenvolvimento e preenchida com areia no estado fofo com
aperfeiçoamento de tecnologias para sistemas densidade relativa (Dr) de 35% através do
de ancoragem em unidades off-shore com método de pluviação.
estacas torpedo..
Em virtude da necessidade de cargas de
permanência cada vez mais altas exigindo-se Tabela 1. Características Físicas da Areia N50
fundações muito robustas, a proposta deste Diâmetro efetivo D (mm) 0,27
10
trabalho foi realizar investigações 0,3923
experimentais em centrífuga geotécnica, com o Diâmetro médio D50 (mm)
objetivo de identificar e quantificar os efeitos de Índice de Vazios Mínimo emín 0,72
interação em clusters de estacas instaladas em 1,06
areia fofa submetidas ao carregamento vertical, Índice de Vazios Máximo emax
horizontal e oblíquo. Com isso, objetiva-se Coeficente de Curvatura Cc 1,0
utilizar elementos mais leves de ancoragens
Coeficiente de Uniformidade Cu 1,52
trabalhando em grupos (clusters).
Peso Específico dos Grãos 2,67

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada uma bateria de doze ensaios em A caixa teste (Figura 1) para ensaiar modelos
gravidade modificada a 24G, na Centrífuga físicos é confeccionada em aço tendo como
Geotécnica do Laboratório de Engenharia Civil dimensões, 465 mm de diâmetro interno e
da UENF. Trabalhou-se em modelos reduzidos 480mm de altura interna. As paredes internas
utilizando tubos de alumínio para simular foram forradas com folha de acetato, a fim de
estacas torpedo, sem aletas, seguindo a Teoria reduzir o atrito dos materiais depositados no
da Similitude. Nesse item apresentam-se os interior da caixa com as suas paredes.
materiais, a preparação da amostra e os As estacas foram confeccionadas em tubos
equipamentos utilizados nos ensaios. de alumínio, com diâmetro de 28,57mm e
comprimento de 285,7mm. Em cada estaca, foi
acoplada em seu topo uma peça de latão com
2.1 Descrição dos Materiais uma rótula central (Figura 2), de onde sai um
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cabo de aço. Esta rótula tem como obejtivo permitiu a transferência de pressão na cabeça
evitar transferência de carga lateral que não seja das estacas de forma controlada. A verticalidade
aquela aplicada exclusivamente pelo atuador. O durante a cravação foi garantida pelo
cabo de aço utilizado no ensaio do cluster de posicionamento das estacas em peças vazadas e
duas estacas é único para ambas. O cabo é medição do nivelamento a cada 5 cm de
fixado por uma peça (Figura 2) e atravessa a cravação (Figura 5).
rótula da estaca 1, passa pelo elo e segue até a
peça de fixação da estaca 3 (Figura 3). Do elo
sai um cabo de aço que se conecta a célula de
carga através de uma haste de aço rosqueada
(Figura 4) e a mesma está conectada ao atuador
hidráulico responsável pelo carregamento
durante o vôo da centrífuga.

Figura 2 Peça acoplada na cabeça da estaca com rótula e


cabo de aço

Figura1. Caixa teste

S 40°
Foram realizados 12 ensaios de
carregamento, sendo um grupo de 4 ensaios
horizontais (ϴ=0°), 4 ensaios verticais (ϴ =90°) Elo
e 4 ensaios inclinados (ϴ=45°). Para cada Cabo de
inclinação (ϴ) de carregamento, executou-se 1 aço
ensaio com uma estaca isolada e 3 ensaios com
o cluster de duas estacas variando a distância Figura 3 Configuração do cabo de aço nas estacas
(S) entre elas (S= 3D, 2D e 1,5D). passando pelo elo
Os cabos de aço utilizados nos ensaios de
carregamento das estacas são os mesmos
utilizados em marcha de bicicleta. Os cabos
foram ensaiados na prensa do laboratório e sua
carga máxima de tração atingiu 1400N.
Para aquisição da carga durante os ensaios
de carregamento, utilizou-se uma célula de
carga acoplada ao atuador hidráulico. A célula
de carga modelo ELH-TC590) utilizada nos
ensaios, tem capacidade de 1000lb e seus dados
são enviados pelo PXI até a sala de controle
durante o ensaio. Na Figura 4 é apresentado um
esquema da montagem de um ensaio e os Figura 4 Esquema ilustrativo da montagem de um ensaio
instrumentos de aquisição utilizados.
de carregamento horizontal
As estacas foram cravadas simultaneamente
no solo através de um macaco hidráulico, que
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A aquisição de dados advindos da Na Figura 7 é apresentada uma vista superior


instrumentação dos ensaios foi feita em tempo da montagem completa de um ensaio de cluster
real através de conexões sem fio (wireless) e de duas estacas, com carregamento horizontal.
enviadas para um computador, onde está Nessa imagem é possível observar a roldana
instalado um programa de gerenciamento da utilizada para manter o alinhamento do cabo de
plataforma LabVIEW. aço, os transdutores de deslocamento fixados
nas cabeças das estacas, o atuador hidráulico
responsável pelo carregamento da estaca e a
célula de carga. Todos os ensaios tiveram esta
mesma configuração e metodologia de
montagem. A diferença entre eles ficou na
quantidade de estacas, distância (S) entre as
estacas e ângulo (ϴ) de carregamento.

Célula de Carga

Atuador

Figura 5 Cravação do cluster

Para o monitoramento dos ensaios, foram


utilizados um total de seis transdutores de
Roldana
deslocamentos. Nos ensaios de carregamento
Elo
horizontais e verticais utilizou-se quatro Transdutores
transdutores potenciométricos, sendo um em
cada cabeça da estaca e dois ligados ao atuador Figura 7 Montagem completa de um ensaio de
hidráulico. Nos ensaios inclinados a 45°, foram carregamemento horizontal de cluster de duas estacas
utilizados um potenciométrico e um LVDT em
cada cabeça da estaca e dois potenciométricos
ligados ao atuador hidráulico. Na Figura 6 é 3 RESULTADOS E DISCUSSÂO
apresentada a montagem do ensaio inclinado
com os transdutores instalados. 3.1 Diagramas de carregamento x deslocamento

Nas Figuras 8 a 11, típicos diagramas de


carregamento x deslocamento para uma estaca
isolada e três clusters são apresentados. Os
resultados referentes ao cluster apresentados
nesse item, são referentes a uma estaca do
grupo.
Nos ensaios inclinados a 45°, são
apresentados os diagramas da componente
vertical e da componente horizontal
Transdutores separadamente.
Em todos os ensaios, os deslocamentos
apresentados foram limitados em cerca de 30%
do diâmetro da estaca.
Figura 6 Montagem do ensaio inclinado
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Nos ensaios realizados na horizontal (ϴ=0°), apresentam o mesmo carregamento e


as cargas máximas encontradas chegam a deslocamento ao final dos ensaios, mostrando
aproximadamente quatro vesez a carga máxima que a carga foi distribuída uniformimente entre
dos ensaios com ϴ=90° e duas vezes dos elas e que o sistema de elo funcionou
ensaios de ϴ=45°, para a estaca isolada. Para os perfeitamente.
clusters, essa relação foi um pouco menor, Na apresentação dos ensaios com ϴ=90°,
cerca de três vezes para o ensaio vertical e uma observa-se que o espaçamento entre as estacas
vez e meia para os ensaios inclinados. do cluster não teve influência significativa,
visto que as cargas foram muito próximas, entre
260 e 280N. Esse resultado demonstra que
1200 quanto mais verticalizado é o carregamento,
menor a influência dos espaçamentos entre as
1000 estacas do cluster.
Carga, PL (N)

800
700
600
isolada 600
Carga Horizontal (N)
400 2D 500
3D
200 400
1,5D isolada-45°
0 300
2D-45°
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 200 3D-45°
Deslocamento Horizontal (mm)
100 1,5D-45°

0
Figura 8 Carregamento Horizontal versus deslocamento 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
horizontal (estaca isolada e clusters)
Deslocamento Horizontal (mm)

350 Figura 10 Carregamento Inclinado a 45°, componente


horizontal versus deslocamento horizontal (estaca isolada
300
e clusters)
250
Carga, Pu (N)

200
isolada 700
150
3D 600
Carga Vertical (N)

100
2D 500
50 1,5D 400
0 2D-45°
300
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 3D-45°
200
Deslocamento Vertical (mm) 1,5D-45°
100
isolada-45°
Figura 9 Carregamento Vertical versus deslocamento 0
vertical (estaca isolada e clusters) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Vertical (mm)
Nos ensaios com ϴ=0° e ϴ=45°, o cluster
com espaçamento de 2D obteve melhor Figura 11 Carregamento Inclinado a 45°, componente
resistência em relação aos outros (Figura 12). Vertical versus deslocamento vertical (estaca isolada e
Em todos os ensaios de clusters, as duas estacas clusters)
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Utilizando a equação 1 com os dados do


1 ensaio experimental, construiu-se um gráfico ϴ
versus Pϴ. Com o objetivo de comparar os
0,95
Resistência Normalizada

resultados experimentais com essa análise semi-


0,9 empírica, acrescentamos nesse gráfico (Figura
(σgrupo/σisolada)

Horizontal
0,85 13) os resultados dos ensaios realizados neste
45°
estudo.
0,8 Tanto para os valores experimentais como
0,75 para a equação, é observado que Pϴ é mais
dependente da componente horizontal PL do que
0,7
da componente vertical Pu. A proposta
0,65 apresentada por Das et al. (1976) não se ajusta
1 1,5 2 2,5 3 3,5 bem a valores oblíquos, mostrando pouca
Espaçamento (S) interação entre os valores de carga inclinada e
os valores de referência PL e Pu
Figura 12 Eficiêcia dos ensaios horizontal e inclinado em
relação aos espaçamentos no cluster

3.2 Análise dos Resultados

Métodos simplificados para estimar a


resistência oblíqua final (Pϴ) em função da
resistência vertical (Pu) e resistência lateral
final, (PL), para estacas isoladas foi proposto
por Poulos e Davis (1980). Os resultados
experimentais em estacas isoladas por
Meyerhof (1973), Chattopadhyay e Pise
(1986c) indicam que a resistência obliqua final
Figura 13 Comparação dos resultados experimentais com
é uma função contínua de ϴ. A partir das os resultados estimados usando a proposta de Das, et al.
investigações experimentais atuais, descobriu- (1976)
se que a resistência oblíqua final de um grupo
de estacas, é uma função de ϴ e depende de seu
carregamento axial e capacidade lateral. Das, et 4 CONCLUSÕES
al. (1976), sugeriu uma equação para calcular a
capacidade de carga oblíqua, em função do Neste estudo quatro tipos de curvas de
ângulo ϴ de carregamento de uma estaca deslocamento são observados para cluster de
isolada e das componentes verticais e estacas sob tração oblíqua. Essas curvas são
horizontais (Pu e PL): carga vertical versus deslocamento vertical,
carga horizontal versus. deslocamento
horizontal, componente de carga vertical versus
(1)
deslocamento vertical e componente de carga
horizontal versus. deslocamento horizontal. Em
onde, Pϴ é a capaciadade de carga com a geral, as curvas de carga versus. deslocamento
inclinação do ângulo ϴ. Pu é a capaciadade de não são lineares.
carga ao carregamento vertical e PL é a A resistência final de um cluster de estacas
capaciadade de carga ao carregamento sob tração oblíqua é uma função contínua da
horizontal da estaca. inclinação do carregamento. Demosntrou-se que
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quanto mais próximo da vertical estiver o 12: 300-301.


ângulo de inclinção do carregamento oblíquo, Meyerhof, G. G. (1973a) Uplift resistance of inclined
anchors and piles, Proceedings 8th International
menor é a interferância do cluster e suas Conference on Soil Mechanics and Foundation
variações de espaçamento entre as estacas. Engineering, Moscow, Vol. 21, pp. 167–173.
Tanto nos resultados experimentais quanto na Meyerhof, G. G. (1973b) The uplift capacity of
análise analítica sugerida por Das, et al. (1976), foundations under oblique loads, Canadian
é possível observar esse efeito. Geotechnical Journal, Ottawa, 10, 64–70.
Meyerhof, G. G. and Ranjan, G. (1973) The bearing
Com os resultados apresentados neste capacity of rigid piles under inclined loads in sand,
trabalho, pode-se afirmar que a eficiência do III: pile groups, Canadian Geotechnical Journal,
cluster é influenciada para ângulos até 45° (em Ottawa, 10, 428–438.
relação ao eixo horizontal) aproximadamente. A Poulos, and Davis. 1980. Pile foundation analysis and
partir dessa inclinação a carga última é reduzida design. New York: John Wiley & Sons.
Santiago, P,A,C. (2010). Estudo Experimental do
drasticamente e esses valores não sofrem Arrancamento de Dutos Enterrados Ancorados com
influência do espaçamento entre as estacas. Geogrelhas Utilizando Centrífuga Geotécnica.
Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos
AGRADECIMENTOS Goytacazes, RJ..
Yoshimi, Y. 1964. Piles in cohesionless soil subject to
oblique pull. Journal of the Soil Mechanics and
Os autores agradecem o apoio recebido pela Foundations Division, ASCE 90: 11-24.
PETROBRAS, UENF e IFF para realização
dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS

Basack, S. Experimental Investigation of Pile Group


under Lateral Cyclic Load in Layered Soil. Dept. of
Applied Mechanics, Bengal Engineering and Science
University Howrah-711103 India (2007).
Broms 1965. Discussion of Piles in cohesionless soil
subject to oblique pull by Y. Yoshimi. Journal of the
Soil Mechanics and Foundations Division, ASCE 91:
199-205.
Chattopadhyay, B. C. and Pise, P. J. 1986. Ultimate
resistance of vertical piles to oblique pulling load.
Structural Engineering & Construction: Advances &
Practice in East Asia & The Pacific, Proceedings of
The First East Asian Conference on Structural
Engineering & Construction, Bangkok, Thailand.1:
1632-1641.
Das, B. M. Seeley, G. R., and Raghu, D. 1976. Uplift
capacity of model piles under oblique loads. Journal
of the Geotechnical Engineering Division, ASCE.
102: 1009-1013.
Ismael, Nabil F. 1989. Field tests on bored piles subject
to axial and oblique pull. Journal of Geotechnical
Engineering 115: 1588-1598.
Jamnejad, G. H., and Hesar, M. H. 1995. Stability of pile
anchors in the offshore environment. Trans IMarE
107: 119– Leshukov, M. R. 1975. Effect of oblique
extracting forces on single piles. Soil Mechanics and
Foundation Engineering Journal (English translation
of Osnovaniya, Fundamenty iMekhanika Gruntov).
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Ensaios Dilatométricos em Aterro Compactado da Barragem do


Ribeirão João Leite
Rafael Louza Goulart
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, rafaellglouza@gmail.com

Renato Resende Angelim


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, tecnoeng@gmail.com

Maurício Martines Sales


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, sales.mauricio@gmail.com

Renato Pinto da Cunha


Universidade de Brasília, Brasília, D.F., Brasil, rpcunha.unb@gmail.com

RESUMO: O DMT (DilatoMeter Test) é um ensaio de campo utilizado para a determinação de


índices baseados na resistência do solo à expansão de uma fina membrana localizada em uma das
faces da lâmina dilatométrica, a qual é inserida no solo por cravação quasi-estática, sem a
necessidade de furos prévios. Utilizaram-se neste estudo os resultados de ensaios dilatométricos
realizados a jusante e a montante e em cotas diferentes da ombreira esquerda do aterro compactado
da Barragem do Ribeirão Jõao Leite, localizada no município de Teresópolis de Goiás-GO.
Determinados os resultados, procedeu-se a comparação entre os índices dilatométricos (ED, KD e ID)
das duas campanhas e procurou-se entender o seu comportamento, conforme variação da
profundidade no perfil. Os perfis de KD e ID apresentaram comportamentos semelhantes e com baixa
discrepância, com maiores valores próximos à superfície e menores com o aumento da
profundidade. Já ED não apresentou um comportamento específico. Para todos os índices observou-
se redução da dispersão entre o resultado das diversas sondagens com o aumento da profundidade.

PALAVRAS-CHAVE: DMT, aterro compactado, ensaios in situ.

1 INTRODUÇÃO suficientes para garantir a estabilidade estrutural


do aterro (Queiroz et al., 2012; ANGELIM et
A execução de aterros compactados tem seu al., 2016).
controle tecnológico baseado na determinação O crescente desenvolvimento da engenharia
do grau de compactação (GC) e do teor de geotécnica nas últimas décadas é impulsionado
umidade. Assim, assume-se que a execução de pela evolução tecnológica dos ensaios de
um aterro bem controlado garante a obtenção campo, promovendo maior precisão e rapidez
dos parâmetros geotécnicos estabelecidos em na execução e na obtenção de resultados
projeto, como a deformabilidade, resistência e (MARQUES et al., 2014). É neste contexto que
permeabilidade do solo compactado os ensaios de campo se configuram como uma
(ANGELIM et al., 2016). Entretanto, o controle iniciativa eficiente para complementação dos
de compactação é realizado apenas durante a ensaios de laboratório e ao controle de
execução dos aterros, sendo que os dados compactação, podendo atuar também no
obtidos nem sempre refletem o real reestabelecimento dos parâmetros geotécnicos
comportamento do solo e podem não ser de projeto de obras antigas, como as barragens
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construídas no século passado para geração de de compressão quasi-estática, sendo


energia, muitas das quais não foram testadas em recomendado pela ASTM D 6635-01 uma
relação às atuais normas de segurança velocidade de cravação entre 1 e 3 cm/s.
(ANGELIM et al., 2016). A cada avanço de 20 cm, interrompe-se a
Em particular, o DilatoMeter Test (DMT) cravação e inicia-se o processo de expansão da
pode estabelecer, via equações de caráter membrana, obtendo-se assim as pressões A e B,
semiempírico, parâmetros geotécnicos tais que representam as pressões necessárias para o
como: coeficiente de empuxo em repouso (K0), deslocamento do centro da membrana em
módulo de elasticidade do solo (E), razão de 0,05 mm e 1,1 mm, respectivamente. Uma
sobreadensamento (OCR) resistência ao terceira leitura (pressão C) pode ser realizada,
cisalhamento não drenada de argilas (Su) e correspondendo à despressurização necessária
ângulo de atrito interno de areias (Ф’) para que a membrana retorne à posição de
(SCHNAID, 2000). deslocamento 0,05 mm. A pressão C é relevante
Entretanto o uso do DMT no Brasil é apenas para medições abaixo do nível d’água
incipiente, sendo limitado pela pouca (BRIAUD e MIRAN, 1992; MARCHETTI,
experiência de publicação sobre ensaios 2014). O procedimento do ensaio é apresentado
dilatométricos, assim como pela falta de esquematicamente pela Figura 1.
respaldo normativo. Neste contexto, o presente
trabalho tem como objetivo contribuir para
aumento do banco de dados de resultados de
ensaios dilatométricos para solos tropicais
finos, possibilitando a adaptação das
correlações para solos brasileiros.
Foram comparados resultados de ensaios
DMT realizados em duas áreas diferentes e com
cotas e em períodos diferentes, durante a
construção do aterro da Barragem do Ribeirão
João Leite, localizada no município de
Teresópolis de Goiás-GO, à aproximadamente
6 km da capital, Goiânia-GO, tratam-se dos
resultados obtidos por Queiroz (2008) e
Queiroz (2012) com parte dos resultados
Figura 1. Etapas do ensaio DMT: 1-etapa inicial,
inéditos dos ensaios DMT da campanha de membrana com deslocamento negativo; 2-leitura A;
realizada por Angelim (2011), cujos resultados 3-leitura B; 4-leitura C. (MARCHETTI, 1980 apud
são apresentados no item 4 deste artigo. SILVA, 2008)

Realizadas as leituras A e B, procede-se a


2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA correção destas para as pressões P0 e P1
apresentadas nas Equações 1 e 2, a partir das
2.1 DMT quais são obtidos os índices dilatométricos:
módulo dilatométrico (ED), índice de tensão
O ensaio DMT é normalizado pela norma horizontal (KD) e índice do material (ID), por
americana ASTM D 6635-01 (ASTM, 2001) e meio das Equações 3 a 5 (Marchetti e Crapps,
consiste na cravação da lâmina dilatométrica 1981; Marchetti et al. 2001).
verticalmente no interior do solo, sem a
necessidade de execução de furos prévios. P0 = 1,05 (A − Zm + ΔA) − 0,05 (B − Zm − ΔB) (1)
Normalmente a cravação é realizada por meio
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problemas com a aparelhagem do ensaio. A


P1 = B − Zm − ΔB (2) sondagem DMT 2 foi executada com dilatação
da membrana perpendicular ao sentido de
As correções são necessárias já que as compactação da barragem, já o DMT 4 e
leituras A e B não levam em consideração a DMT 5 foram orientados paralelamente ao eixo
influência da rigidez da membrana, que atua de compactação da barragem. Os ensaios foram
contra o esforço de expansão. realizados durante a construção do aterro da
ombreira esquerda de montante entre as cotas
E D = 34,7 (P1 − P0 ) (3) 710,80 e 708,00 m (Figura 2). Os ensaios foram
orientados a partir do Flat Dilatometer Manual,
de Marchetti e Crapps (1981).
P0 − u 0 Os resultados destes ensaios foram
KD = (4) publicados por Queiroz (2008) e por Queiroz et
σ'v0
al. (2012). As pressões obtidas P0 e P1
(Equações 1 e 2) estão apresentadas na Figura 3.
P1 − P0 (5) Os índices dilatométricos obtidos via
ID = Equações 3 a 5, podem ser visualizados na
P0 − u 0 Figura 4.
De acordo com Queiroz (2008), os valores
em que: das pressões P0 e P1 são altos, o que foi
justificado, dado a natureza do solo estudado,
P0 = pressão corrigida correspondente ao cuja compactação promove o aumento da
deslocamento de 0,05 mm da membrana; resistência. Os resultados das sondagens DMT 2
P1 = pressão corrigida correspondente ao e DMT 4 são semelhantes, tendendo a crescer
deslocamento de 1,10 mm da membrana; com a profundidade, para ambas as pressões P0
A = pressão necessária para um deslocamento e P1, sendo o mesmo comportamento verificado
da membrana em relação à lâmina de aço de para o módulo dilatométrico (ED). Tal
0,05 mm; comportamento foi atribuído ao aumento da
B = pressão necessária para deslocamento radial tensão confinante do solo com a profundidade.
da membrana de 1,10 mm; A sondagem DMT 5, entretanto, apresentou
ΔA = pressão de gás relativa à leitura A, em valores menores e não acompanhou a tendência
calibração ao ar livre (correção de rigidez da apresentada pelas outras.
membrana); O índice de tensão horizontal (KD)
∆B = pressão de gás relativa à leitura B, em apresentou maior dispersão para as
calibração ao ar (correção de rigidez da profundidades iniciais, mas os valores tendem a
membrana); se aproximar a partir de 1 metro de
Zm = valor inicial registrado pelo manômetro profundidade. Segundo Queiroz (2008) os
antes da primeira medição. resultados obtidos foram extremamente
elevados, resultando em valores altos de K0
2.2 Estudos na Barragem do Ribeirão João obtidos via DMT, se comparado aos valores de
Leite laboratório.
Com os resultados de ID Queiroz (2008)
Em sua campanha de ensaios de campo, no estima a classificação do solo estudado em uma
âmbito de sua pesquisa, Queiroz (2008) realizou faixa que varia entre uma areia siltosa a um silte
cinco sondagens DMT no aterro da Barragem arenoso. Esta estimativa aproximou-se melhor
do Ribeirão João Leite em profundidades de até dos resultados de granulometria sem
1,6 m, sendo dois destes descartados por defloculante, que classificam o solo como um
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silte arenoso, para as profundidades ensaiadas


com o DMT.

Figura 2. Locação da posição das sondagens DMT em relação ao eixo da barragem da campanha de Queiroz (2008).

Figura 3. Resultados de P0 e P1 (Queiroz, 2008)


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Conforme Angelim (2011) e Angelim et al. realizados sem defloculante, por sua vez,
(2016) o solo utilizado para a compactação da indicam 0% de teor de argila, sendo que para
ombreira esquerda de jusante da Barragem do estas condições o solo pode ser classificado
João Leite pode ser classificado, segundo como uma areia siltosa. As curvas
análise granulométrica, como uma argila granulométricas com e sem defloculante estão
arenosa, considerando o ensaio realizado com apresentadas na Figura 5.
agente dispersor (defloculante). Os ensaios

Figura 4. Índices dilatométricos (Queiroz 2008).

Figura 5. Curva granulométrica do solo com e sem defloculante (Angelim, 2011)


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3 METODOLOGIA onde 3 são apresentadas neste trabalho cuja


locação está representada na Figura 6.
Os ensaios DMT foram realizados por Angelim Suas execuções dos ensaios seguiram as
(2011), em sua campanha de ensaios de campo recomendações do manual Flat Dilatometer
no âmbito de sua pesquisa, no aterro da Manual, de Marchetti e Crapps (1981). As
Barragem do Ribeirão João Leite. As sondagens sondagens foram realizadas em três pontos,
foram executadas durante a construção do aterro cada um deles com dilatação da membrana
compactado da ombreira esquerda de jusante da paralela ao eixo da barragem. Nas Figuras 7 e 8
Barragem do Ribeirão João Leite, num platô são apresentadas a unidade de controle e a
entre as cotas 747,00 e 736,00 m. lâmina dilatométrica utilizada para realização
Foram realizadas 6 sondagens dilatométricas, dos ensaios, respectivamente.

Figura 6. Locação da posição das sondagens DMT em relação ao eixo da barragem (Angelim, 2011)
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Figura 7. Unidade de controle Figura 9. Máquina de cravação.

A cravação das hastes e da lâmina Antes do início de cada ensaio eram


dilatométrica deu-se por meio de uma máquina realizadas as leituras de ∆A e ∆B para a
de cravação (Figura 9), ancorada ao solo através correção das pressões A e B, conforme
de estacas de ancoragem fabricadas em Equações 1 e 2. Ao final do ensaio estas leituras
concreto. Controlou-se a velocidade de eram novamente realizadas. Adotou-se a média
cravação, mantendo-a igual a 2 cm/s, de forma a entre as leituras antes e depois do ensaio como
garantir uma cravação quasi-estática da lâmina valores de ∆A e ∆B. A leitura de
no solo, no sentido de evitar surgimento de despressurização (leitura C) não foi realizada,
poro-pressão no solo. visto que o ensaio foi realizado em
profundidades acima do nível d’água.
Posteriormente, para cada um dos três
ensaios DMT realizados, foram elaborados
perfis relacionando os índices dilatométricos
(ED, KD e ID), obtidos via equações 3, 4 e 5,
respectivamente, e a profundidade de ensaio.
Os perfis dos índices dilatométricos gerados
a partir dos resultados da campanha de Angelim
(2011) e os obtidos por Queiroz (2008) e
Queiroz et al. (2012) foram unidos em um
mesmo gráfico, permitindo a comparação dos
resultados, cuja a análise é apresentada no item
4 deste artigo. Ressalta-se o caráter inédito da
publicação dos resultados dos ensaios DMT
Figura 8. Lâmina dilatométrica
realizados por Angelim (2011) publicados neste
artigo.
As leituras das pressões A e B foram
realizadas a cada 20 cm até a profundidade de
8 m. Como este intervalo entre ensaios 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
corresponde aproximadamente à espessura das
camadas compactadas, procurou-se realizar as Na Figura 10 estão apresentados os índices
leituras com o centro da membrana no meio de dilatométricos, obtidos via sondagens
cada camada. dilatométricas realizadas por Angelim (2011)
(DMT1, DMT2 e DMT3) e por Queiroz (2008)
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(DMT4 e DMT5). Apesar dos ensaios de um padrão aparente de variação com a


Angelim (2011) contemplarem uma profundidade (ex.: DMT 2). Apesar disto, tanto
profundidade de até 8 m, por motivo de nas sondagens de Queiroz (2008) quanto nas de
comparação, serão abordados apenas os Angelim (2011), a partir da profundidade de
resultados dos ensaios obtidos até a 1,4 m os valores de ED tendem a aproximar-se.
profundidade de 1,6 m. Entretanto para as profundidades rasas
Em relação aos índices KD e ID, nota-se um consideradas não se pode assegurar a
comportamento similar, já que ambos os índices afirmativa.
apresentam um valor inicial mais alto e com Na Tabela 1 estão apresentadas as médias, os
maior dispersão. Contudo, com o aumento da desvios padrões e os coeficientes de variação
profundidade, principalmente a partir de 1 m, os para as sondagens analisadas. Percebe-se que as
valores aproximam-se e tendem a reduzir seu sondagens realizadas por Queiroz (2008) e
valor, reduzindo também sua dispersão. Angelim (2011) são semelhantes em relação à
Apesar dos ensaios terem sido realizados em média dos valores dos índices dilatométricos, e
diferentes cotas, os resultados de Queiroz também apresentam coeficientes de variação
(2008) assemelham-se aos obtidos na campanha (CV) próximos, o que advém da semelhança
de Angelim (2011), com ambos apresentando o entre os solos utilizados na compactação da
mesmo comportamento, descrito no parágrafo ombreira esquerda a montante e a jusante da
anterior. Assim, a classificação do solo dada por barragem, que, segundo dados de ambos os
Queiroz (2008), baseada nos valores de ID, autores, possuem composição granulométrica
permanece válida, ficando mais próxima da bastante similar e provindos de mesma jazida.
classificação granulométrica obtida por meio de
ensaio de sedimentação sem uso de agente Tabela 1. Parâmetros do ensaio DMT, expressos pelas
médias, desvios e coeficientes de variação.
dispersor. Segundo Marchetti (2001) o valor de
ID é um parâmetro que reflete o comportamento Angelim (2011) Queiroz (2008)
Índices
mecânico do solo, o que justifica a sua
dilatométricos DMT1 DMT2 DMT3 DMT4 DMT5
similaridade com os resultados dos ensaios sem
defloculante. Média* 30,85 29,10 26,96 28,43 21,36
Apesar da redução dos valores de KD com a
ED
profundidade, estes ainda são bastante altos. É Desvio 8,00 8,45 7,68 5,92 6,95
provável que a os valores de KD tendam a
diminuir ainda mais com o aumento da CV(%) 25,95 29,05 28,49 20,84 32,53
profundidade do ensaio, e, aplicando-se
equações para correção dos valores, tendam a Média 27,26 23,64 24,61 42,43 23,14
aproximar-se dos valores de K0 obtidos em KD
Desvio 11,86 12,27 6,87 21,08 11,65
laboratório. Pode-se atribuir esse
comportamento ao solo compactado pelo efeito CV(%) 43,51 51,88 27,90 49,68 50,36
do pré-adensamento.
O módulo dilatométrico (ED), por sua vez, Média 1,97 2,08 1,92 1,64 2,29
não apresenta um padrão de comportamento tão
ID
homogêneo quanto o dos outros índices Desvio 0,60 0,75 0,31 0,46 0,82
dilatométricos. Enquanto em algumas
sondagens ED tende a aumentar com a CV(%) 30,47 36,04 15,89 27,77 35,96
profundidade (ex.: DMT 3), em outras, este (*) unidade em MPa
valor permanece sem grandes variações
(ex.: DMT 4) ou com variações bruscas, sem
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Figura 10. Índices dilatométricos de Queiroz (2008) e Angelim (2011).

AGRADECIMENTOS
5 - CONCLUSÕES
À Eletrobras Furnas pelo apoio tecnológico à
Percebeu-se que as sondagens realizadas por pesquisa e a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Queiroz (2008) e Angelim (2011) obtiveram Estado de Goiás (FAPEG) por apoiar na
resultados semelhantes até a profundidade de divulgação deste trabalho.
1,6 m, apresentando média dos valores dos
índices dilatométricos bem próximos,
justificado na semelhança dos solos utilizados REFERÊNCIAS
na compactação da ombreira esquerda a
montante e a jusante da barragem, que, segundo American Society for Testing and Materials – ASTM D
dados de ambos os autores, possuem 6635 – 01(2001): Standard Test Method for
Performing the Flat Plate Dilatometer, 15p.
composição granulométrica bastante similar e Angelim, R. R (2011). Desempenho de Ensaios
provindos de mesma jazida. Pressiométricos em Aterros Compactados de
O módulo dilatométrico (ED), por sua vez, Barragens de Terra na Estimativa de Parâmetros
não apresenta um padrão de comportamento tão Geotécnicos, Tese de doutorado em Engenharia Civil
homogêneo quanto o dos outros índices – Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, 291 p.
dilatométricos. Entretanto, apresentou Angelim, R. R.; Cunha, R.P.; Sales, M. M (2016).
coeficiente de variação entre 20 e 32%, que em Determining the Elastic Deformation Modulus from a
se tratando de solos é bem razoável. Compacted Earth Embankment Via Laboratory and
Ménard Pressuremeter Tests, Soils and Rocks, São
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Paulo, Vol. 39, n. 3, p. 285-300.


Briaud, J.; Miran, J (1992). The Flat Dilatometer Test,
U.S. Department of Transportation, Federal Highway
Administration, Washington, DC, USA, Publication
Nº FHWA-SA-91-044.
Marchetti, S (2014). The Seismic Dilatometer For In Situ
Soil Investigations. Proceedings of Indian
Geotechnical Conference. Kakinada, India, 2014.
Marchetti, S.; Monaco, P.; Totani, G.; Calabrese, M
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TC16, Proceedings from the Second International
Flat Dilatometer Conference, Ground Property
Characterization from In-situ Testing, 48p.
Marchetti, S; Crapps, D. K (1981). Flat Dilatometer
Manual. International Report of GPE Inc.,
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Marques, M. O.; Rezende, L. R.; Gitirana Jr., G. F. N
(2014). Análise comparativa entre resultados do
Dynamic Cone Penetrometer (DCP) e do
Penetrometre Autonome Numerique Dynamique
Assisté par Ordinatur (PANDA) em trechos de
pavimentos experimentais, XVII Congresso Brasileiro
de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
Goiânia.
Queiroz, A. C. G (2008). Uso do DMT na Avaliação de
Maciços Compactados, Dissertação de mestrado em
Engenharia Civil – Universidade de Brasília (UnB),
Brasília, 96 p.
Queiroz, A. C. G.; Carvalho, J. C.; Guimarães, R. C
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Paulo, Vol. 35, n. 3, p. 161-167.
Schnaid, F (2000). Ensaios de Campo e suas Aplicações
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Oficina de Textos, 189p.
Silva, F. K (2008). Ensaios Dilatométricos – DMT em
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CPT E SPT, Dissertação de Mestrado em Engenharia
Civil – Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 250 p.
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Ensaios Reológicos em Rejeito de Minério de Ferro para


Determinação da Tensão de Escoamento
Luísa Mazzini Baby
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, luisa.mazzinibaby@gmail.com

Patrício José Moreira Pires


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, patricio.pires@gmail.com

Neemias Almeida Dias


Universidade de Vila Velha, Vila Velha, Brasil, neemias.dias@uvv.br

RESUMO: O volume de rejeito proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro é


elevado e precisa ser disposto adequadamente. O maior inimigo para a segurança das barragens de
rejeito é a água, uma vez que é responsável por processos de erosão, como piping, e por provocar
instabilidade no talude. Como drenar toda a água existente é na maioria das vezes inviável, deve-se
estudar os componentes da barragem visando entender seu comportamento como fluido. Dessa
forma, os parâmetros reológicos, como a tensão de escoamento do material, têm grande relevância.
O objetivo do trabalho foi relacionar a tensão de escoamento encontrada por reômetro rotacional
com a resistência não drenada determinada pelo ensaio de palheta de laboratório para o rejeito da
barragem do Fundão. Realizou-se três ensaios reológicos para determinar a tensão de escoamento e
conseguiu-se alcançar uma correlação com a resistência não drenada para um intervalo de umidades.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem de Rejeito, Tensão de Escoamento, Reômetro.

1 INTRODUÇÃO bombeamento, porém, é necessário que seja


adicionada grande quantidade de água, fator que
Assim como todo material resultante de se torna um problema para a estabilidade da
processos industriais, os rejeitos devem ser barragem futuramente.
dispostos de forma adequada. Usualmente a É de extrema importância conhecer as
barragem de rejeito, estrutura com alto dano características de escoamento do fluido presente
potencial associado e que requer elevada cautela nos reservatórios das barragens de rejeito, uma
na construção e na manutenção, é a alternativa vez que existe a possibilidade do colapso. O
de disposição utilizada. Há dois anos, a ruptura estudo das propriedades reológicas,
da barragem do Fundão sensibilizou o Brasil relacionadas ao escoamento do fluido, então, se
quanto aos riscos inerentes a qualquer torna de grande valia para determinar por
construção para a qual não se destina a devida exemplo os mapas de risco e o plano de
atenção. Diversos fatores levaram à propagação emergência que ditará a mobilização da
de quase 32Mm3 de rejeito que impactaram população à jusante da barragem.
todo o caminho percorrido até o deságue no Rio
Doce.
No que tange à disposição dos rejeitos, deve- 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
se ressaltar que um método altamente utilizado
é o bombeamento do material em forma de lama A maneira como os rejeitos de minério de ferro
para as barragens. Para que haja o são bombeados influencia na análise do seu
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comportamento como fluido. No caso da tempo apresentam um aumento (fluidos


barragem do Fundão, além de o material ter sido reopéticos) ou uma diminuição (fluidos
bombeado na forma de polpa, ou seja, com tixotrópicos) da viscosidade aparente em função
grande quantidade de água, o rejeito de minério da taxa ou tensão de cisalhamento e do tempo
de ferro ainda é material composto por em que estão submetidos ao esforço (Dias,
suspensões de sólidos. Isso significa que, 2017).
quando as partículas finas decantam, e por Em fluidos pertencentes a esse grupo, ocorre
ventura ocorre o colapso da barragem, o uma modificação ou uma reorientação da
material pode ser considerado um fluido estrutura com o tempo, ou seja, o tempo de
viscoso, de maneira mais específica, um fluido ensaio é um parâmetro decisivo para os
viscoplástico, passível de ser caracterizado por resultados. Por exemplo, um material pode
suas propriedades reológicas. apresentar escoamento para uma determinada
Na reologia, estudo das propriedades de tensão alta em um ensaio rápido, porém, escoar
deformação e de escoamento da matéria quando também para uma tensão menor após um
a mesma está submetida a esforços (Machado et intervalo de tempo maior devido a essa
al, 2017), existem dois macro grupos que mudança na estrutura.
classificam os fluidos, Fluidos Newtonianos e
Fluidos Não Newtonianos. Dentro do grupo dos
Fluidos Não Newtonianos existem diversas 3 METODOLOGIA
outras denominações que levam em conta por
exemplo o comportamento da viscosidade do As amostras ensaiadas foram retiradas de dois
material ou rearranjos na estrutura com o passar pontos denominados P1 e P2 à jusante da
do tempo. barragem do Fundão. O primeiro se encontrava
Os fluidos viscoelastoplásticos e os no distrito de Bento Rodrigues e o segundo
dependentes do tempo são de extrema mais distante da barragem, entre os municípios
importância para entender o comportamento do de Mariana e Barra Longa.
rejeito de minério de ferro. Os primeiros Fixou-se quatro concentrações volumétricas
tiveram seu modelo proposto por Kraynik, que a serem ensaiadas partindo-se de umidades pré
diferencia três tensões de escoamento no determinadas para ambos os pontos. Abaixo
material: a tensão elástica, a tensão estática e a tem-se as concentrações volumétricas
tensão limite dinâmica (Bonnecaze et al, 1992), trabalhadas para os dois pontos e a aparência
como observado a seguir. das amostras do ponto P1 para cada
concentração.

Tabela 1. Concentrações volumétricas ensaiadas


Umidade Concentrações
w (%) volumétricas
Cv (%)
P1 P2
33,85 46,71 48,87
31,25 48,71 50,87
28,85 50,71 52,87
26,62 52,71 54,87

Figura 1. Tensões limites de Kraynik.

Por outro lado, os fluidos dependentes do


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das amostras, fenômeno expressivo em


suspensões de sólidos.
Os ensaios de fluxo foram realizados
determinando-se um intervalo de taxa ou de
tensão, a depender da varredura a ser realizada.
As denominadas varredura de taxa e varredura
Figura 2. Aspecto das amostras do ponto P1 de tensão retornavam, respectivamente, um
valor de tensão de pico e um valor de tensão
Para a realização dos ensaios no reômetro, o imediatamente anterior a deformações elevadas,
rejeito era seco em estufa a 105°C e passado na ambos correspondentes à tensão de escoamento
peneira com abertura de 150µm. No instante de do material.
cada ensaio, a massa de água destilada
correspondente à concentração volumétrica 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
desejada era pesada e a amostra era obtida com
a adição da massa de rejeito seco (100g) e sua 4.1 Caracterização
homogeneização.
O reômetro utilizado foi do modelo Inicialmente procedeu-se com a granulometria
AR2000ex do tipo rotacional de tensão completa do material e com a classificação do
controlada. O controle da temperatura dos rejeito quanto ao Sistema Unificado de
ensaios, 25°C, era garantido por banho térmico Classificação de Solos (SUCS). Abaixo tem-se
com circulação de água. As geometrias inferior os resultados.
e superior utilizadas foram, respectivamente,
um cilindro Peltier estacionário e uma palheta Tabela 2. Composição granulométrica de cada ponto
coaxial (vane), e o gap escolhido para os Dimensão dos grãos (%)
ensaios foi de 4mm, como segue. Ponto
Argila Silte Areia Pedregulho

P1 8,42 53,48 35,18 2,92

P2 2,97 12,83 82,46 1,74

Tabela 3. Classificação quanto ao SUCS


Ponto Classificação (SUCS)
P1 ML Silte arenoso
P2 SP Areia mal graduada

Tabela 4. Limites de liquidez e de plasticidade e peso


específico das amostras

Ponto LL(%) LP(%) ρ (g/cm³)


Figura 3. Configuração das geometrias utilizadas
P1 NL NP 3,37
Decidiu-se realizar ensaios de fluxo para P2 NL NP 3,09
determinação da tensão de escoamento do
rejeito de minério de ferro, todos com duração
4.2 Ensaios de Fluxo
máxima de 600 segundos. Esse intervalo de
tempo foi determinado com base em tentativas
As varreduras de taxa e de tensão foram
visando minimizar a influência da sedimentação
realizadas para cada uma das concentrações
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volumétricas de cada ponto a fim de se


determinar a tensão de escoamento do material.
Abaixo tem-se os gráficos dos ensaios de
fluxo para as concentrações de cada ponto.

Figura 8. Ensaios de fluxo Cv = 48,87% (P2)

Figura 4. Ensaios de fluxo Cv = 46,71% (P1)

Figura 9. Ensaios de fluxo Cv = 50,87% (P2)

Figura 5. Ensaios de fluxo Cv = 48,71% (P1)

Figura 10. Ensaios de fluxo Cv = 52,87% (P2)

Figura 6. Ensaios de fluxo Cv = 50,71% (P1)

Figura 11. Ensaios de fluxo Cv = 54,87% (P2)

A seguir tem-se um quadro resumo com os


valores de tensão de escoamento encontrados
em cada ensaio.
Figura 7. Ensaios de fluxo Cv = 52,71% (P1)
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Tabela 5. Quadro resumo: tensões de escoamento para


todos os ensaios
Ponto P1
Cv Varredura de Varredura de
(%) Taxa (Pa) Tensão (Pa)
46,71 20 19
48,71 29 33
50,71 57 60
52,71 105 95
Ponto P2
48,87 12 10
50,87 14 16
Figura 13. Tensão x Deformação (P2)
52,87 29 20
54,87 69 70 Com os gráficos acima torna-se clara a
semelhança entre o comportamento do rejeito e
4.4 Tensão x Deformação o comportamento viscoelastoplástico descrito
por Kraynik (Figura 1). Dessa forma, tem-se as
Com os resultados dos ensaios de fluxo, foi tensões limites estática e dinâmica
possível graficá-los como Tensão x representadas para o rejeito de minério de ferro
Deformação. da barragem do Fundão.

4.5 Relação com a resistência não drenada

A resistência não drenada do material em


análise foi determinada por meio do ensaio de
palheta de laboratório (Vane Test) para as
umidades ensaiadas no reômetro. Foi possível
então ajustar e sobrepor ambas as curvas,
umidade x tensão de escoamento e umidade x
resistência não drenada, para o intervalo de
umidades entre 28,85% e 33,85% do ponto P1,
como segue.

Figura 12. Tensão x Deformação (P1)


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varredura é a falta de precisão da


homogeneização das amostras. Não somente
isso, mas também a alta sensibilidade do
reômetro aliada a fatores externos, como
tremores na mesa de apoio ou ventos
provenientes de aparelhos de climatização, pode
ter sido responsável por alterações nos ensaios,
apesar da atenção destinada a essas condições.
O comportamento como fluido do rejeito de
minério de ferro foi bem caracterizado por meio
dos ensaios. Comprovou-se o comportamento
complexo de fluido viscoelastoplástico descrito
por Kraynik.
Figura 14. Correlação com a resistência não drenada (P1) Por fim, obteve-se também uma correlação
para ambos os pontos entre a resistência não
Para o ponto P2, entretanto, o intervalo de drenada determinada por ensaio de laboratório e
umidade em que se conseguiu sobrepor os os resultados de tensão de escoamento
gráficos foi mais reduzido. Tem-se uma determinados por ensaios no reômetro.
correlação entre os resultados do reômetro e a
resistência não drenada encontrada com o Vane
Test apenas entre a umidades de 26,62% e REFERÊNCIAS
28,85%. A seguir tem-se o gráfico para o ponto
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
P2. 6457: Amostras de solo. Preparação para ensaio de
compactação e ensaios de caracterização – Método de
ensaio. Rio de Janeiro, 1986.
______. NBR 7181: Análise granulométrica de solos. Rio
de Janeiro, 1984.
______. NBR 6508: Grãos de solos que passam na
peneira de 4,8 mm – Determinação da massa
específica. Rio de Janeiro, 1984.
______. NBR 13028: Mineração – Elaboração e
apresentação de projeto de barragens para disposição
de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de
água. Rio de Janeiro, 2006.
Bonnecaze, R.T. e Brady, J.F. (1992). Yield stresses in
electrorheological fluids, Journal of Rheology, Vol.
36, n.1, p. 73-115.
Dias, N.A. (2017) Determinação de Propriedades
Reológicas de Rejeito de Mineração por meio de
Reômetro Rotacional, Dissertação de Mestrado,
Figura 15. Correlação com a resistência não drenada (P2) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade
Federal do Espírito Santo, 84 p.
Galindo, M.V. (2013) Desenvolvimento de uma
5 CONCLUSÕES metodologia para determinação da viscosidade de
solos, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
As tensões de escoamento obtidas pelos ensaios Graduação em Engenharia Civil, Pontifícia
de fluxo para ambos os pontos apresentaram Universidade Católica do Rio de Janeiro, 122 p.
IBRAM – INSTITUTO BRASILEIRO DE
valores muito próximos. Acredita-se que um MINERAÇÃO. Produção Mineral Brasileira (PMB) –
fator relevante que possa ter influenciado nos Série Histórica. Disponível em: <http://www.ibram.
desvios entre os resultados obtidos para cada
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org.br/sites/1300/1382/00006386.pdf>. Acesso em:


20 abr. 2018.
Machado, N.C.; Dias, N.A.; Saliba, A.P.; Santos, B.B.
(2017). A importância da reologia de minério de
ferro – material típico de alteamento de barragens
por montante, Seminário de Gestão de Riscos e
Segurança de Barragens de Rejeitos, SGBR, Belo
Horizonte. Anais... Belo Horizonte: CBDB, 2017. 1
pendrive.
Tarcha, B.A. (2014) Desafios na medição da tensão
limite de escoamento de óleos parafínicos,
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade
Federal do Espírito Santo, 83 p.
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Erodibilidade do Solo: Correlações entre a Metodologia MCT e


suas Propriedades Físico/químicas
Elisa Zago Porto
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, elisazporto@gmail.com

Leila Posser Fernandes


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, leilapfernandes@hotmail.com

Rinaldo Pinheiro
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

Andrea Nummer
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, a.nummer@gmail.com

RESUMO: A erosão é um processo natural e suas consequências podem causar danos para
sociedade e ao meio ambiente. Erodibilidade é uma característica do solo intimamente relacionada
com seu poder de erosão. Na metodologia MCT as propriedades que permitem prever o
comportamento dos solos diante da erosão são: a infiltrabilidade e a erodibilidade específica. O
presente trabalho avaliou a relação entre determinadas propriedades dos solos com os resultados de
erodibilidade pela metodologia MCT, tendo como objetivo auxiliar na previsão do comportamento
dos solos frente ao processo erosivo. As variáveis utilizadas neste estudo foram: densidade,
percentual de finos, percentagem de areia, CTC (Capacidade de Troca Catiônica), perda de massa
por imersão e infiltrabilidade. Dentre os resultados analisados observou-se que quanto maior a perda
de massa por imersão, maior o percentual de areia, e, quanto maior o percentual de finos, menor a
perda por imersão e menor o coeficiente de sorção do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Metodologia MCT.

1 INTRODUÇÃO Para Bigarella et al (2003) a erodibilidade é


uma propriedade do solo que depende do
Segundo Maciel Filho e Nummer (2011), é tamanho das partículas, da propriedade dos
necessário distinguir os termos erodibilidade do agregados, da coesão e da capacidade de
solo e erosão do solo. A erosão depende da infiltração do solo.
declividade do terreno, características da chuva A erodibilidade varia com a textura do solo,
e cobertura e manejo do solo, sendo assim, um a estabilidade dos agregados, a capacidade de
fenômeno físico. Em contrapartida, a infultração, a composição química e orgânica do
erodibilidade está associada à natureza do solo, material além de fatores relacionados à
justificando o fato de que alguns solos sofrem resistência dos constituintes ao destacamento
erosão mais facilmente do que outros, mesmo (MORGAN 1995), e vem sendo analisada e
quando o declive, a chuva, a cobertura e o medida por meio de diferentes metodologias,
manejo são os mesmos. dentre elas a metodologia MCT (Miniatura,
Verifica-se, portanto, que a erodibilidade do Compactado, Tropical), proposta por Nogami e
solo é apenas um dos fatores que influenciam a Villibor (1979), que separa os solos em
erosão. erodíveis e não erodíveis.
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2 ÁREA DE ESUDO 3.2 Análise Comparativa dos Ensaios de


Caracterização com os Ensaios de Erodibilidade
Como estudo de caso foram escolhidas quatro da Metodologia MCT
áreas distintas para comparação, caracterização
e análise: a) região metropolitana de Porto Com os resultados dos ensaios, foi feita uma
Alegre/RS (RMPA) tendo como locais e perfis análise comparativa entre os ensaios de
escolhidos o Loteamento Algarve (ALG), a caracterização e os de erodibilidade da
Área de Empréstimo na RS239 (RS239), o metodologia MCT, baseados nos artigos de
Loteamento Parque do Trabalhador (PT) e o Silveira (2002) e Pejon e Silveira (2007). Para
Morro do Osso / Cidade de Deus (CD), apresentar as comparações foram construídos
extraídos de Bastos (1999); b) voçoroca Buraco gráficos. As propriedades do solo e os ensaios
Fundo localizada na comunidade de Alto das utilizados para a comparação foram: densidade,
Palmeiras em Santa Maria/RS (BF), com suas percentagem de areia, percentual de finos (silte
análises extraídas de Fernandes J. (2011); c) + argila), CTC, ensaio de perda de massa por
voçoroca localizada no trecho central da RS377 imersão e ensaio de infiltrabilidade.
(SFA), entre as cidades de Manoel Viana e São Para a realização da metodologia MCT,
Francisco de Assis extraídos de Basso (2013); Silveira (2002) realizou os ensaios de
d) uma jazida de material de empréstimo, infiltrabilidade com as amostras secas por
localizada dentro do Campo de Instrução de aproximadamente 72hs, e após este ensaio, as
Santa Maria (CISM) em Santa Maria e amostras saturadas foram utilizadas para os
extraídos de Pozer (2015). ensaios de perda de massa por imersão. Como a
realização dos ensaios de Bastos (1999),
Fernandes J. (2011), Basso (2013) e L.
3 METODOLOGIA Fernandes L. (2015) não seguiram essa ordem,
para a analise deste trabalho, foram utilizados
Para caracterização geotécnica dos solos foram os resultados do coeficiente de sorção (S) das
realizados os ensaios clássicos: análise amostras secas ao ar, e os resultados de perda de
granulométrica, limites de Atterberg, densidade massa por imersão (pi) das amostras pré-
dos grãos e ensaios de caracterização química. umidecidas.
Os ensaios para a avaliação indireta da
erodibilidade foram baseados no critério de
erodibilidade da metodologia MCT (NOGAMI 4 RESULTADOS
e VILLIBOR, 1979).
A Tabela 1 apresenta a granulometria, os limites
3.1 Metodologia MCT Modificada de Atterberg e a classificação geotécnica pelo
SUCS. Os solos que apresentaram maiores
A metodologia MCT é fundamentada em dois limites de liquidez foram aqueles com maiores
parâmetros: o coeficiente de sorção (s), obtido frações argila como o PTB 57% de argila) e
no ensaio de infiltrabilidade, e a perda de massa 44% de limite de liquidez, e o BF Rocha
por imersão modificado (pi), obtido no ensaio Alterada (51% de argila) e 64% de limite de
de erodibilidade específica. Através da divisão liquidez.
do parâmetro “pi” por “s”, é possível a Podemos observar que o solo de SFA possui
classificação dos solos em relação ao grau de fração argila inferior a 12%. Isso resulta em
erodibilidade, sendo considerados por Nogami e solos não plásticos, o que foi confirmado
Villibor (1979), solos erodíveis quando esta através do ensaio de limites de Atterbeg.
relação for superior ao valor 52.
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Tabela 1. Granulometria, limites de Atterberg e Classificação SUCS.


AG = areia grossa; AM = areia média; AF = areia fina; wl = limite de liquidez; wp = limite de plasticidade;
NP = não plástico. Fonte: Bastos(1999); Fernandes J. (2011); Basso (2013); Fernandes L. (2015).
Lim.
Granulometria (escala ABNT)
Atterberg Classif.
SOLO Origem
AG AM AF Silte Argila wl wp SUCS
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
ALG B 1 16 29 12 42 41 31 ML Granito -
ALG C 12 41 23 17 7 39 34 SM Gnaíssico
RS239
- - 68 9 23 23 16 SM-SC Arenito
BC
SM-SC Botucatú
RS239 C - - 74 10 16 20 14
PT B - 3 35 5 57 44 31 ML Arenito
PT C - 8 62 18 12 19 14 SM-SC Botucatú
CD B 23 16 13 10 38 53 31 SM
Granito
CD C 25 28 17 19 11 38 31 SM
BF AB 30 17 15 18 20 36 26 MH
BF R. Alt. 2 2 17 28 51 64 35 MH
Arenito
BF
0 13 54 16 17 34 19 SC
Arenito
SFA A 2 47 38 2 12 NP NP SM
SFA B 3 49 36 6 6 NP NP SM Arenito de
SFA C 2 73 20 1 4 NP NP SP origem
SFA 2C 0 56 41 1 2 NP NP SP fluvial
SFA 1A 1 39 58 2 0 NP NP SP
CISM A 12 32 24 14 18 22 11 SC
CISM B 10 25 27 13 25 23 13 SC Argissolo
CISM C 9 15 33 12 31 38 18 CL

A Tabela 2 apresenta os valores médios para Tabela 2. Índices Físicos.


SOLO s (kN/m³) e
o peso específico real dos grãos (s) e índice de
vazios (e). Os resultados dos ensaios mostram ALG B 26,8 0,99
ALG C 26,6 0,97
que o peso específico real dos grãos (sólidos)
RS239 BC 26,6 0,69
variam de 26,2 a 28,5 kN/m³, porém, a grande RS239 C 26,4 0,66
maioria fica entre 26,3 e 26,6, fator PT B 28,5 1,1
característico de solos predominantemente PT C 26,5 0,74
arenosos próximos ao peso específico do CD B 26,2 0,86
quartzo que é 26,5 kN/m³. CD C 26,3 1
BF AB 26,3 0,2
A Tabela 3 apresenta os resultados do BF R. 27,7 1,07
coeficiente de sorção (s) e da perda por imersão Alterada
(pi). Para os ensaios realizados, foram adotadas BF Arenito 26,6 0,72
três condições de umidade inicial: umidade SFA A 26,6 0,73
natural, pré-umedecida e seca ao ar. Em geral os SFA B 26,5 0,9
SFA C 26,8 0,72
resultados dos ensaios com as amostras seca ao SFA 2C 26,8 0,64
ar, apresentaram um coeficiente pi e um SFA 1ª 26,4 0,58
coeficiente s maior do que as amostras pré- CISM A 25,7 0,65
umedecidas e com umidade natural. CISM B 26,3 0,79
CISM C 27,5 0,98
Fonte: Bastos (199); Fernandes J. (2011); Basso (2013);
Fernandes L. (2015).
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Tabela 3. Valores do coeficiente de sorção (s) e perda de massa por imersão (pi) para diferentes condições de umidade
das amostras.
umidade natural seca ao ar pré-umedecida
(wnat) (sa) (pu)
SOLO
S pi S Pi S pi
pi/s pi/s pi/s
(cm/min1/2) (%) (cm/min1/2) (%) (cm/min1/2) (%)
ALG B 0,054 0,8 15 0,18 1,5 8 0,006 0,3 50
ALG C 0,305 78,4 257 0,637 77 121 0,135 70,2 520
RS239 BC 0,037 6 162 2,557 81,9 32 0,002 0,5 250
RS239 C 0,149 11,2 75 0,267 40,1 150 0,004 0,9 225
PT B 0,288 0,4 1 0,399 11,6 29 0,106 0,1 1
PT C 0,386 39,9 103 0,274 85,2 311 0,351 50 142
CD B 0,173 1,6 9 0,311 38,4 123 0,127 1,6 13
CD C 0,269 40,7 0,46 71,7 156 0,084 4,4 52
BF AB 0,248 0,7 3 0,265 2,8 9 0,004 0,9 382
BF R.
0,166 3,8 24 0,454 26 61 0,003 3 983
Alterada
BF Arenito 0,058 47 0 0,04 55,1 1398 0,001 31,7 36533
SFA A 0,367 0,2 0,6 0,499 0,3 0,7 0,054 1,3 24
SFA B 0,789 22,4 22 0,734 37,6 51 0,053 57,1 1089
SFA C 0,989 77,9 78 1,114 74,8 67 0,042 77 1834
SFA 2C 0,969 79 79 0,677 70,9 105 0,033 73,7 2212
SFA 1ª 0,673 85,1 85 0,802 82,6 103 0,021 59,4 2830
CISM A 0,17 2,57 15,2 0,29 0,47 1,62 0.007 2,07 296
CISM B 0,28 20,2 73,2 0,47 48,7 103,62 0,006 28,6 4765
CISM C 0,37 1,77 4,78 0,49 72,3 147,49 0,005 28,8 5772
Fonte: Bastos(1999); Fernandes J. (2011), Basso (2013); Fernandes L. (2015).

A Metodologia MCT apresentou uma boa limite de 40 para classificar os solos como
relação e correspondência entre os resultados erodíveis. De acordo com os resultados obtidos,
dos ensaios e o comportamento dos os solos não apresentaram diferença na
solos/rochas nos locais estudados, comprovando classificação de Pejon (1992) ou de Nogami e
sua aplicabilidade a estes materiais. Villibor (1979), conforme apresentado na
Tabela 4. Os solos ditos não erodíveis
4.1 Análise comparativa dos ensaios apresentaram na relação pi/s valores menores
que 10. E aqueles solos classificados como
As variáveis utilizadas para comparação estão erodíveis apresentaram pi/s maior que 70.
apresentadas na Tabela 4. Os solos de BF
apresentam valores altos de CTC, indicando 4.2 Relação entre as variáveis
uma maior quantidade de de argilo-minerais, ou
mais ativos. Os solos de SFA são aqueles que Foram elaborados os gráficos de relação de cada
apresentam valores menores de percentual de uma das variáveis analisadas com os resultados
finos e altos valores de percentagem de areia. do MCT para infiltrabilidade e perda de massa
Isso acarreta em uma alta erodibilidade, com por imersão.
exceção do horizonte A que devido a presença
de raízes e matéria orgânica, foi classificado Densidade dos grãos. Os valores de densidade
como não erodível. dos grãos variaram muito pouco, dificultando a
Nogami e Villibor (1979) classificaram os análise. Esta não se mostrou uma boa variável,
solos como erodíveis quando a relação pi/s era nem relacionada com a infiltrabilidade, nem
superior a 52. Já Pejon (1992), utilizou o valor com a perda de massa por imersão.
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Tabela 4. Valores utilizados para análise comparativa e resultados pela metodologia MCT

Densid. Perc. de Perc. de CTC Infiltrabilidade pi


SOLO pi/s Erodibilidade
(g/cm3) areia (%) finos (%) (cmolc/dm3) (cm/min1/2) (%)
ALG B 2,68 46 54 5,67 0,18 0,3 1,667 Não erodível
ALGC 2,66 76 24 2,69 0,637 70,2 110,204 Erodível
RS239 BC 2,66 68 32 3,24 2,557 0,5 0,196 Não erodível
RS239 C 2,64 74 26 2,39 0,267 0,9 3,371 Não erodível
PT B 2,85 38 62 8,98 0,399 0,1 0,251 Não erodível
PT C 2,65 70 30 2,34 0,274 50 182,482 Erodível
CD B 2,62 52 48 3,1 0,311 1,6 5,145 Não erodível
CD C 2,63 70 30 6,88 0,46 4,4 9,565 Não erodível
BF AB 2,63 62 38 10,2 0,265 0,9 3,396 Não erodível
BF R. Alter. 2,77 21 79 25,1 0,454 3 6,608 Não erodível
BF Arenito 2,66 67 33 10,6 0,04 31,7 792,5 Erodível
SFA A 2,66 87 14 2,6 0,499 1,3 2,605 Não erodível
SFA B 2,65 88 12 3,2 0,734 57,1 77,793 Erodível
SFA C 2,68 95 5 1,4 1,114 77 69,120 Erodível
SFA 2C 2,68 97 3 0,9 0,677 73,7 108,863 Erodível
SFA 1ª 2,64 98 2 0,6 0,802 59,4 74,065 Erodível
CISM A 2,57 68 32 3,6 0,29 2,07 7,138 Não Erodível
CISM B 2,63 62 38 4,0 0,47 28,59 60,830 Erodível
CISM C 2,75 57 43 3,2 0,49 28,86 58,898 Erodível
Fonte

Percentagem de Areia. A percentagem de areia


se mostrou uma boa variável para comparação.
Podemos observar uma tendência, na Figura 1,
de solos erodíveis apresentarem valores maiores
de perda de massa por imersão para valores
maiores de percentagem de areia. Na Figura 2,
para os solos classificados como erodíveis,
verifica-se uma certa tendência de aumento da
infiltrabilidade com a fração areia. Porém, ao
analisar-se os dados dos solos erodíveis e não
erodíveis nessas figuras não se percebe uma
tendência.
Figura 2. Percentagem de areia x Infiltrabilidade.

Capacidade de Troca Catiônica (CTC). Na


Figura 3, observa-se que os solos classificados
como erodíveis apresentam uma tendência de
diminuição da perda de massa por imersão com
o aumento da CTC. Já para os solos
classificados como não erodíveis, mesmo a
CTC variando entre 3 e 25 cmolc/dm3, a perda
por imersão (pi < 10%) não foi influenciada.
Ao analisar os dois grupos em conjunto
(erodível e não erodível) não se verificou uma
Figura 1. Percentagem de areia x perda de massa por relação entre estas variáveis.
imersão.
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Figura 5. Percentual de Finos x perda de massa por


imersão.
Figura 3. CTC x perda de massa por imersão

Na Figura 4, aparentemente a infiltrabilidade E na Figura 6, onde temos a relação com a


apresenta uma tendência de redução com o infiltrabilidade, o percentual de finos mostrou
aumento da CTC para os dois grupos de solos, que para ambos os grupos de solos, há uma
sendo que para os solos erodíveis esta tendência tendência de redução da infiltrabilidade com o
é mais acentuada. aumento do teor de finos.

Figura 6. Percentual de Finos x Infiltrabilidade


Figura 4. CTC x Infiltrabilidade
O percentual de areia se mostrou uma boa
Percentual de finos. O percentual de finos variável para as relações. Todos os solos que
analisado em conjunto com a perda de massa foram classificados como erodíveis, tiveram pi
por imersão, na Figura 5, apresentou uma > 50 e apresentaram percentual de areia superior
tendência das amostras de solos erodíveis com a 50%. Mas não podemos afirmar que todo o
um percentual de finos maior terem uma perda solo que possui percentual de areia superior a
por imersão menor. Já para os solos não 50% poderá ser erodível. Um valor que destoou
erodíveis, a porcentagem de finos variou de dessa análise foi a amostra de SFA, horizonte
15% a 40%, e não influenciou na perda por A, que apesar de possuir 87% de areia, teve um
imersão (pi<10%). pi = 1,3%, o que acabou classificando o solo
como não erodível. Uma explicação para esse
comportamento é a presença de raízes e matéria
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orgânica, o que acaba tornando o solo bem mais a percentagem de areia foi com a qual melhor se
resistente à erosão. relacionou, apontando uma tendência de valores
Os solos da RS 239 BC e C e o solo de BF mais altos de percentagem de areia quando há
AB apresentaram 68%, 74% e 62% de areia valores maiores de pi.
respectivamente e pi 0,5%, 0,9% e 0,9%. Este
comportamento levou a classifica-los como
solos não erodíveis. No caso das amostras da 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
RS 239, o solo se mostrou não erodível
provavelmente devido à cimentação que ele Os estudos da erodibilidade dos solos e do
possui, herdada do arenito. Já no caso de BF, a potencial de risco à erosão exigem o
não erodibilidade se deve ao fato do solo conhecimento detalhado das características do
possuir presença de matéria orgânica, raízes e solo, das suas propriedades físicas e químicas.
óxido de ferro, que tendem a estabilizar os Com base em alguns autores como Nogami e
agregados. Villibor (1979), Pejon e Silveira (2007) e
A capacidade de troca catiônica também Bastos (1999), observamos alguns ensaios
não apresentou bons resultados. Em geral, solos realizados para se prever o comportamento do
erodíveis apresentaram valores de CTC baixo, solo e classificá-lo como erodível ou não. Afim
justamente por possuírem pouco argilominerais de facilitar esta previsão, correlacionou-se os
em sua composição. O único solo que índices físicos e químicos dos solos com os
apresentou erodibilidade e um alto teor de CTC resultados obtidos pela metodologia MCT, por
foi o solo de Arenito de Buraco Fundo. meio de análises estatísticas vizando possíveis
Em quase todas as relações a tendências para prever o comportamento do
infiltrabilidade não se mostrou uma boa solo frente à erodibilidade, a partir de uma
variável, não ajudando a classificar os materiais metodologia simples e rápida.
em erodíveis ou não. Os solos que apresentaram Foram analisadas amostras de origens
maiores coeficientes de sorção da RS 239 BC e diferentes e as seguintes propriedades foram
de SFA C, com s = 2,557 cm/minl/2 e s = 1,114 relacionadas: densidade dos grãos, percentagem
cm/minl/2 respectivamente, foram classificados de areia, CTC, percentual de finos, perda de
de maneira diferente, sendo o da Região massa por imersão e infiltrabilidade. Foi
Metropolitana de Porto Alegre classificado possível observar algumas tendências no
como não erodível. E quando analisadas em comportamento dos solos.
conjunto com as outras variáveis, a Foi observado que quando o percentual de
infiltrabilidade não teve boa relação com a finos do solo era maior, o coeficiente da perda
percentagem de finos e a CTC. de massa por imersão e o coeficiente de sorção
Os dois solos que apresentaram os menores apresentavam valores menores. A relação que
valores de infiltrabilidade com s = 0,04 cm/min mais se destacou foi o coeficiente da perda de
l/2
para BF Arenito e s = 0,18 cm/minl/2 para massa por imersão com o percentual de areia.
ALG B, também foram classificados de maneira Esta análise nos indicou que quanto maior a
diferentes, erodível e não erodível perda de massa de um solo, maior é seu
respectivamente. percentual de areia.
O coeficiente pi, que mostra a perda de Descobrir se um solo é erodível ou não é
massa por imersão, ajudou a separar todas determinante não só para a engenharia, mas
variáveis – os solos classificados como não também para agricultura e o meio ambiente.
erodíveis apresentaram valores inferiores a 5%,
enquanto os que foram classificados como REFERÊNCIAS
erodíveis tiveram pi maiores que 28.
Quando analisado junto com as outras variáveis, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
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Estabilização de um solo areno-siltoso com matéria orgânica


usando cal e cimento
Aziz Tebechrani Neto
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, aziztneto@gmail.com

Marcelo Heidemann
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, marcelo.heidemann@ufsc.br

Helena Paula Nierwinski


Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, helena.paula@ufsc.br

RESUMO: Este artigo apresenta um estudo sobre a estabilização físico-química através da mistura
de cimento e cal em um solo sedimentar areno-siltoso. Além da presença da matéria orgânica em
sua composição, este solo apresenta baixa capacidade de suporte em condições naturais, sendo
pouco adequado no ponto de vista geotécnico. Com base nisso, foram moldados corpos de prova
com teores volumétricos de cimento e cal entre 3% e 13% e com o solo em sua umidade ótima.
Depois, estes foram rompidos em compressão simples aos 7, 14 e 28 dias de cura. Os resultados
mostram ganhos de resistência lineares, porém muito abaixo dos verificados por outros autores em
estudos semelhantes. Além disso, foi verificado que as resistências decaíram a partir dos sete dias
para a cal e a partir dos 14 dias para o cimento, sendo a formação de compostos expansivos, devido
a presença de carbonato de cálcio no solo, uma possível explicação para que isso tenha ocorrido.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solos, Matéria Orgânica, Resistência à Compressão


Simples, Cal, Cimento.

1 INTRODUÇÃO Portland e a cal hidratada, por serem facilmente


encontrados e apresentarem, de um modo geral,
A estabilização química de um solo é necessária bons resultados com baixos teores.
quando o solo em seu estado natural não é A principal diferença entre o cimento e a cal
capaz de garantir uma capacidade de suporte hidratada é que o cimento passa por uma reação
adequada ou quando há custos elevados para se primária de hidratação (SALES, 1998), sendo
obter bons resultados. Esses custos elevados característico sua ocorrência em solos
podem ocorrer, por exemplo, devido ao granulares. Enquanto que a cal ao reagir
transporte de um novo material mais adequado desencadeia um processo de troca catiônica,
para a base de um pavimento, ou quando são que, consequentemente, reage melhor com solos
necessárias estacas profundas para atender um argilosos (BENETTI, 2015).
projeto de baixo orçamento que contém um solo A presença de matéria orgânica prejudica o
com baixa capacidade de suporte. (CONSOLI et ganho de resistência do solo. Rico e Castillo
al. 2007). (1977) mostram que, para uma argila siltosa
Desta forma, esta técnica tem sido muito com 12% de cal, a resistência diminui quanto
empregada e estudada na geotecnia e consiste maior for o teor de matéria orgânica. A presença
em adicionar um aglomerante no solo natural de sulfatos formam compostos expansivos e
para elevar sua resistência. Dois dos também prejudicam o ganho de resistência do
aglomerante mais utilizados são o cimento solo, como mostra Bhattacharja et al. (2003).
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O objetivo deste estudo é, portanto, avaliar CBR), geralmente apresenta valores


quanto ao aumento de resistência, a eficiência significativos de capacidade de carga. Esse
de misturas de cal e cimento para a resultado de CBR foi encontrado após testes em
estabilização de um solo areno-siltoso com amostras compactadas sob densidade seca
matéria orgânica que ocorre em grandes áreas máxima e umidade ótima estabelecida em testes
planas, criadas por processos sedimentares normais de proctor. Quando compactado sob
dinâmicos do mar, na costa sul do Brasil. energia de Proctor normal e modificada (de
acordo com os procedimentos da ASTM D698 e
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL D1557), a umidade ótima é de 17,6% e 16,5%
para uma densidade seca de 1,58gf/cm³ e
O programa experimental foi dividido em duas 1,70gf/cm³, respectivamente. O teste de proctor
partes. Na primeira foram caracterizadas as modificado em misturas de solo e 8% (em
propriedades geotécnicas dos materiais e na volume) de cal mostrou umidade ótima de
segunda foram realizados ensaios de resistência aproximadamente 17,0% para uma densidade
à compressão simples. Testes de pH também seca de 1,63gf/cm³ e para 8% de misturas
foram realizados a fim de determinar a acidez cimento-solo a umidade ótima é de 14,8% com
das misturas pelo método de Eades e Grim densidade seca de 1,71gf/cm³.
(1966).

2.1 Materiais

O solo estudado foi retirado manualmente a 80


centímetros da superfície de um terreno
localizado na região de Araquari, em Santa
Catarina. Tendo em vista que é essa a camada
que se planeja estabilizar.
As propriedades físicas do solo estudado são
apresentadas em Neckel (2017). Este solo é
classificado como não plástico e G é igual a
2,582 g / cm³. Este valor de G indica a presença Figura 1. Composição granulométrica do solo estudado.
de matéria orgânica na composição do solo. Em
termos de textura, o solo é caracterizado como Cimento Portland composto por pozolana
solo arenoso e sua curva granulométrica é (CP II-Z-32) e cal hidratada tipo I (CH-I) são os
mostrada na Figura 1. agentes estabilizadores utilizados nesta
Apesar de sua natureza arenosa, a cor do solo pesquisa. Este tipo de cimento difere dos
é escura, especialmente quando molhada. É demais porque sua composição inclui material
também uma indicação de que há matéria pozolânico (entre 6% e 14% em massa) com
orgânica em sua composição. Alguns pedaços clínquer e sulfato de cálcio. A densidade de
de raízes também podem ser encontrados no partículas da CP II-Z-32 foi definida (de acordo
solo, principalmente quando amostrados perto com o fabricante) como 3,150 g/cm³. A cal tipo
da superfície, e as partes visíveis a olho nu I é a cal mais pura encontrada no mercado e sua
foram removidas antes dos testes. densidade de partículas foi definida como 2,586
O interesse em estudar a estabilização deste g/cm³ de acordo com o fabricante.
material deve-se aos valores nulos de CBR
medidos nas fases iniciais desta pesquisa, 2.2 Moldagem e Cura dos Corpos-de-prova
mesmo considerando sua natureza arenosa.
Areia, se confinada (como ocorre nos testes Neste estudo foram realizados ensaios de
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compressão simples em corpos-de-prova cilindro de PVC em três camadas de mesma


compactados de solo-cimento e solo-cal. O solo altura, sendo o topo de cada camada um pouco
utilizado na modelagem das amostras foi seco escarificado para um melhor contato entre eles.
em forno a 60ºC por um período de 24 horas. O tempo necessário para misturar e compactar
Para a moldagem dos corpos de prova foram foi sempre inferior a 30 minutos.
utilizados moldes cilíndricos bipartidos de PVC A compactação foi realizada de modo
com 10 cm de altura e 4,8 cm de diâmetro estático, em uma prensa hidráulico, para cada
interno. uma das camadas, até atingir a porosidade
Para a dosagem, procurou-se manter desejada. Os corpos-de-prova eram
constante a porosidade dos corpos-de-prova imediatamente desmoldados e o peso e a altura
para todos os teores de cal e cimento testados. fianl eram verificadas. Corpos-de-prova que
Assim, não será levado em consideração nesta apresentaram variações de altura e diâmetro de
pesquisa os efeitos decorrentes da mudança da até ± 0,1 cm e variações de peso de até ± 1% do
estrutura que são ocasionadas quando se altera peso total esperado foram considerados
as mudanças da densidade do material. O valor aceitáveis.
da porosidade foi fixado em 0,5, o que significa Posteriormente, os corpos-de-prova foram
que 50% do volume total é ocupado por sólidos acondicionados em caixas seladas com umidade
(solo e cal ou cimento) e 50% por vazios (água suficiente para hidratação, até atingirem os
e ar). O teor de umidade desses corpos-de-prova tempos de cura de 7, 14 e 28 dias. A
também foi fixado, para ser igual à umidade temperatura da caixa não foi totalmente
ótima obtida no ensaio de Proctor normal para o controlada, mas foram respeitadas as tolerâncias
solo natural. Dessa forma, com estas variáveis que atendem a NBR 5739 (2007). Depois de
fixadas, será possível comparar e avaliar os atingir o tempo de cura especificado, os corpos-
efeitos obtidos entre corpos-de-prova com cal e de-prova foram submetidos ao ensaio de
cimento para uma mesma densidade e uma compressão simples.
mesma umidade inicial.
A pesquisa não foi condicionada por 2.3 Ensaio de Compressão Simples
prescrições de compactação de solos (Proctor)
visto que em areias há pouca variação da Ensaios de compressão simples foram usados
umidade ótima, e o ganho de densidade é antes para verificar os ganhos de resistência à
causado por vibração, quando a umidade tem compressão que os agentes estabilizantes
menor efeito, que por compactação dinâmica forneceram ao solo. A ruptura ocorre apenas
(efetuada no ensaio proctor). devido à aplicação da tensão axial na amostra,
Foram moldados três corpos-de-prova para porque não há tensão de confinamento. Ensaios
cada agente estabilizante (3%, 5%, 7%, 9%, de compressão simples foram realizados de
11% e 13%, em volume), tempo de cura (7, 14 e acordo com proposições da ASTM C39. Esse
28 dias) e cada agente estabilizante (cal e teste foi utilizado porque é, como sugere Prietto
cimento), resultando em 108 corpos-de-prova. (1996), o mais difundido na literatura e por ser
Depois de definir a quantidade em peso de o mais simples.
cada componente eles foram misturados (solo e Para o ensaio de compressão simples,
agente estabilizante foram adicionados utilizou-se anel dinamométrico construído em
primeiro, depois água) até que a nylon com capacidade para 400 N (300 kPa) e
homogeneização fosse alcançada. Após a precisão de 0,6 N (0,45 kPa). Os corpos-de-
mistura, o material foi separado em três partes prova foram submetidos a deformações axiais
iguais e armazenado em três recipientes de até 10%. Antes do teste, os corpos-de-prova
cobertos para evitar perda de umidade antes da foram novamente pesados para determinar a
compactação. O material foi depositado no umidade após a cura. Ambas as amostras de cal
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e cimento mostram a mesma aparência quando Para a determinação do pH, foi utilizado um
molhadas e não podem ser visualmente indicador universal de pH, capaz de medir
distinguidas. valores entre 1 e 14.

2.4 Determinação do pH 2.5 Análises Químicas

Eades e Grim (1966) desenvolveram um A caracterização da composição química do


método para determinação do pH das misturas solo estudado foi realizada por meio de
de solo, cal e água (não sendo aplicável ao difratometria de raios X e fluorescência de raios
cimento), que consiste em realizar a mistura de X, utilizando amostras naturais do solo
20 gramas de solo seco e 150 ml de água, aos estudado. Ambas as análises foram realizadas
quais são adicionadas quantidades de cal no Laboratório de Cerâmica (LACER), da
variando entre 2% e 6% em incrementos de 1%. Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Após uma hora, o pH destas misturas é medido Brasil.
e a quantidade mínima de cal que fornece uma
leitura de pH de 12,4 é considerada adequada 3 RESULTADOS
para a estabilização do solo (é permitida uma
quantidade adicional de cal caso o pH 3.1 Determinação do pH
necessário não seja alcançado) pois com esse
pH a mistura garante a quantidade de cálcio O pH encontrado para o solo natural (pH = 5)
disponível no sistema. Os autores comentam indica que as reações de hidratação não serão
que mesmo a mistura tendo alcançado o pH bem sucedidas neste solo. Robbins e Mueller
desejado, é necessário um teste de resistência (1960) apud Nuñez (1991) argumentam que
para confirmar o acréscimo de resistência solos arenosos com pH abaixo de 5,3
adequado. Para esta pesquisa, foram realizados normalmente não reagem com o cimento,
três ensaios para a medição do pH. Sendo eles: embora o pH não seja indicativo de baixa
reatividade de areia para a estabilização do
 20 gramas de solo seco + 150 ml de água cimento.
destilada; Medidas de pH indicam valores próximos a 9
 20 gramas de solo seco + 150 ml de água para misturas de solo com 13% de cal ou com
destilada + 13% de cal; 13% de cimento. De acordo com o método de
 20 gramas de solo seco + 150 ml de água Eades e Grim (1966), não seria possível
destilada + 13% de cimento. estabilizar este solo com esse teor de cal, ou
menos, já que o valor do pH é inferior a 12,4.
Duas observações devem ser feitas. A Isso será verificado também por resultados de
primeira é que mesmo não sendo aplicável ao ensaios de compressão simples mostrados
cimento, o teste foi realizado apenas para o posteriormente.
conhecimento do pH que esta mistura atingirá.
A segunda observação é que foram adotados 3.2 Análises de Difração de Raios X e
valores maiores de teores de cal e cimento do Fluorescência
que o estipulado inicialmente por Eades e Grim
(1966) que considera adotar teores entre 2% a As análises de difração de raios X e
6%. O motivo foi de estimar o pH dos teores de fluorescência mostram que este solo é composto
cal e cimento máximos utilizados no ensaio de principalmente por quartzo (SiO2),
resistência à compressão simples (13%), uma correspondendo a 70 a 75% da composição do
vez que as resistências obtidas neste ensaio não solo, o que é consonante com a natureza deste
foram satisfatórias para esse teor. solo. A matéria orgânica corresponde a 18% de
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sua composição e endossa a cor escura e baixo para o cimento como para a cal, mas a
valor de G para este solo. Calcita (CaCO3) estabilização usando o cimento resulta em um
também ocorre neste material e representa cerca comportamento geotécnico um pouco melhor.
de 10%. Poucos vestígios de sal (NaCl) também No entanto, pode-se observar que houve perdas
foram encontrados, o que é normal, já que esta em termos de resistência à compressão não
área está localizada perto do mar. confinada após sete dias de cura, no caso de
misturas solo-cal, e 14 dias para misturas solo-
3.3 Relação dos Teores de Agente Estabilizante cimento. Aconteceu para todos os teores de cal
e cimento, como mostrado nas Figuras 4 e 5.
A Figura 2 mostra os valores médios de Assim, para o solo tratado com cal, as
resistência à compressão simples (qu) obtidos maiores resistências ocorreram aos sete dias,
para misturas solo-cal após diferentes tempos de diminuindo com o tempo até o 28º dia de cura.
cura. Observou-se que a resistência à Para misturas solo-cimento, a perda de
compressão simples aumentou linearmente com resistência ocorreu após os 14 dias de cura,
o aumento do teor de cal. O mesmo é observado sendo os valores de qu para 28 dias são menores
no solo-cimento, segundo os dados da Figura 3. do que aqueles medidos após 7 dias de cura.

Figura 2. Relação entre o teor de cal e qu. Figura 4. Relação entre qu, teor de cal e tempo de cura.

Figura 3. Relação entre o teor de cimento e qu. Figura 5. Relação entre qu, teor de cimento e tempo de
cura.
Para um tempo único de cura, os ganhos de
resistência seguem uma tendência linear, tanto A perda de resistência com o tempo de cura
nas misturas solo-cal também foi relatada por
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Lovato (2004). Nesse caso, este autor sugere corpos-de-prova com 7 dias de cura mantiveram
que a presença de compostos expansivos (por um maior teor de umidade (entre 22% e 23%).
exemplo, etringita e taumasita) podem ter Aos 14 dias a umidade diminuiu (entre 20% e
contribuído para a diminuição da resistência. 21%) e após 28 dias de cura voltou a cair (entre
No caso de amostras de solo de cimento, as 19% e 20%).
reações de hidratação resultaram em ganhos de
resistência de até 14 dias de cura, seguidas pela
formação de compostos expansivos formados a
partir de sulfatos no solo.
A dissociação do CaCO3 em CO32- é
responsável pela transformação da etringita em
taumasita, compostos expansivos que
prejudicam os ganhos de resistência, da mesma
forma que os sulfatos (BHATTACHARJA et
al., 2003). No caso de Lovato (2004), esses
compostos foram justificados como
possivelmente responsáveis pela queda na
resistência ao longo do tempo de cura. Contudo,
não foram verificadas mudanças nas dimensões Figura 6. Relação da umidade com a Resistência à
do corpo-de-prova (precisão de 0,1 cm). Compressão Simples para amostras moldadas com cal.
Apesar dos ganhos de resistência decorrentes
da adição de cal e, principalmente, do cimento,
os valores de qu medidos devem ser
considerados baixos se comparados com outros
trabalhos encontrados na literatura, como
Consoli et al. (2007), Nunez (1991), Foppa
(2005) e Cruz (2008). Isso provavelmente
ocorre devido à presença de matéria orgânica
que prejudica a reação de cal e cimento com o
solo.

3.4 Relação da umidade dos corpos-de-prova


Figura 7. Relação da umidade com a Resistência à
De acordo com a Figura 6, as amostras de cal Compressão Simples para amostras moldadas com
com sete dias de cura (para as quais foram cimento.
obtidas as maiores resistências) tiveram o
menor aumento de umidade durante a cura Não houve, contudo, relação entre a
enquanto armazenadas. Esses corpos-de-prova resistência à compressão simples e a umidade
atingiram umidade média de 19% a 21% (a adquirida. A matéria orgânica pode ter
umidade inicial foi de 17,6%). Houve um contribuído para isso, pois, conforme sugere
aumento de umidade para 14 dias de cura e foi Teixeira (2014), retém parte da água que seria
mantido aos 28 dias, onde os corpos-de-prova utilizada para hidratação.
atingiram valores de umidade entre 23% e 25%.
Os corpos-de-prova de solo-cimento 3.4 Relação Vazios/Cimento e Vazios/Cal
exibiram comportamento oposto aos tratados
com cal em relação aos ganhos de umidade A Figura 8 e a Figura 9 mostram a relação
durante a cura, como mostrado na Figura 7. Os vazios/cimento expressa em termos de
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porosidade (η) e teor volumétrico de cal e de 45. Isso porque a porosidade foi mantida
cimento (Civ), respectivamente, em comparação constante, fazendo com que o termo η/(Civ)0,28
com a resistência à compressão não confinada varie apenas devido ao teor volumétrico do
(qu). As equações que governam cada curva são cimento. A Figura 10 compara os resultados
apresentadas nos próprios gráficos. Essa desta pesquisa com os obtidos por Consoli et al.
maneira de expor os resultados é semelhante à (2007), onde qu é mostrado em escala
utilizada por Consoli et al. (2007). logarítmica, devido à grande diferença entre as
resistências obtida em ambas as pesquisas.
Consoli et al. (2007) obtiveram uma curva
mais acentuada que esta pesquisa, mostrando
que o solo utilizado pelos autores (areia
argilosa) apresenta maiores ganhos de
resistência, diminuindo a porosidade ou
aumentando o teor volumétrico do agente
estabilizante. É importante ressaltar que no
estudo de Consoli et al. (2007), o cimento
utilizado foi o CP V-ARI, que permite maiores
ganhos iniciais de resistência.
Figura 8. Relação entre qu e η/Civ para solo-cal,
considerando um expoente de ajuste de 0,28.

Figura 10. Comparação entre a curva obtida por Consoli


Figura 9. Relação entre qu e η/Civ para solo-cimento, et al. (2007) e a obtida nesta pesquisa por sete dias de
considerando um expoente de ajuste de 0,28. cura em misturas com cimento.

O mesmo expoente do denominador 4 CONCLUSÕES


utilizado por estes autores (0,28) foi aqui
aplicado para fins de comparação. As curvas 4.1 Influência da Quantidade de Agente
obtidas não são tão acentuadas quanto as Estabilizante
relatadas por Consoli et al. (2007), como mostra
a Figura 10. A razão é que eles trabalharam com Verificou-se que a quantidade de agente
porosidades diferentes, possibilitando cobrir o estabilizante melhorou as propriedades de
termo η/(Civ)0,28 para valores entre 16 e 42 resistência do solo à medida que aumentava seu
(quanto menor o valor de η/(Civ)0,28 mais teor de cal e cimento. Entretanto, as resistências
acentuada é a curva). medidas são baixas se comparadas a outros
Nesta pesquisa, no entanto, esse termo não trabalhos da literatura, onde é comum encontrar,
foi tão abrangente, atingindo valores entre 30 e para os mesmos teores, resistências que
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excedem 1 MPa. Neste trabalho a maior contribuindo para a liberação de íons OH na


resistência foi de 51,75 kPa para uma mistura mistura. A presença de matéria orgânica pode
de 13% de cimento e solo, após 14 dias de cura. ser responsável pela acidez da solução.
Fatores como a presença de matéria orgânica e a O pH para soluções compostas por 13% de
presença de calcita (CaCO3) justificam esses cal e cimento é próximo de 9, o que mostra que
baixos ganhos de resistência. as adições contribuíram para a liberação de íons
Este solo, mesmo tratado, não poderia ser OH na solução, característica das reações cal e
usado como camadas estruturais de pavimentos, cimento. No entanto, esses valores de pH não
uma vez que a Norma Brasileira NBR 12253 são suficientes para a estabilização do solo de
(1992) define se deve atingir uma resistência acordo com o método de Eades e Grim (1966),
mínima de 2,1 MPa após 7 dias de cura. que sugere que um pH mínimo de 12,4 deve ser
atingido para as reações de cal.
4.2 Influência do Tempo de Cura
4.5 Considerações Finais
Ambas as misturas solo-cal e solo-cimento
sofreram queda de resistência ao longo do O solo, mesmo com adições de cal e cimento,
tempo. Quedas foram observadas em misturas não pode ser estabilizado e não pode alcançar
de solo-cal pelos sete dias de cura e em misturas altas resistências. A verificação para teores
de solo-cimento pelos 14 dias de cura. maiores é válida, mas é, provavelmente,
Provavelmente, isso ocorreu devido à presença economicamente inviável em propostas
de carbonato de cálcio (CaCO3), que reagiu com práticas. A substituição do solo atual por um
a fração de siltes do solo e gerou compostos com maior capacidade de suporte pode ser
expansivos nos corpos-de-prova que podem provavelmente a melhor solução para este caso.
prejudicar o ganho de resistência por danificar a
estrutura do solo gerada pela cimentação. REFERÊNCIAS

4.3 Relação Vazios/Cimento e Vazios/Cal Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992).


NBR 12253: Solo-cimento – Dosagem para
emprego como camada de pavimento. 4 p.
É possível determinar de forma razoável a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2007).
relação entre a resistência, a porosidade e o teor NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de
de agente estabilizante pelo menos no intervalo corpos-de-prova cilíndricos. 8 p.
estudado aqui, como proposto por Consoli et al. ASTM International (2017). ASTM C39 Standard test
(2007). Por outro lado, observa-se que, tanto method for compressive strength of cylindrical
concrete specimens. 8 p.
para as misturas de cimento como de cal, não ASTM International (2006). ASTM D2166: Standard
são alcançadas altas resistências. Porosidade test method for unconfined compressive strength
muito baixa ou um teor muito alto de cal ou of cohesive soil. 6 p.
cimento seriam necessários para alcançar altas ASTM International (2015). ASTM D698: Standard
resistências, mas isso pode tornar test methods for laboratory compaction
characteristics of soil using standard effort
economicamente inviável em propostas (12,000 ft-lbf/ft³ (600 kN-m/m³)). 13 p.
práticas. ASTM International (2015). ASTM D1557: Standard
test methods for laboratory compaction
4.4 Determinação do pH characteristics of soil using standard effort
(56,000 ft-lbf/ft³ (2,700 kN-m/m³)). 14 p.
Benetti, M. (2015). Comportamento hidráulico e
Utilizando o método desenvolvido por Eades e mecânico de um solo residual tratado com cal.
Grim (1966) observou-se que o solo em seu Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
estado natural apresentou um pH em torno de 5, Escola de Engenharia, Programa de Pós-
o que caracteriza um solo ácido, não Graduação em Engenharia Civil. 110 p.
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Bhattacharja, S., Bhatty, J.I., Todres, H.A. (2003). Teixeira, B.S. (2014). Resistência de solos moles
Stabilization of clay soils by Portland cement or orgânicos artificialmente cimentados.
lime – A critical review of literature. Portland Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Cement Association, PCA R&D Serial No. 2066. Escola de Engenharia, Programa de Pós-
60 p. Graduação em Engenharia Civil. 186 p.
Consoli, N.C., Foppa D., Festugato, L., Heineck, K.S.
(2007). Key parameters for strength control of
artificially cemented soil. American Society of
Civil Engineers, ASCE Journal of Geotechnical
and Geoenvironmental Engineering 133(2) 197-
205.
Cruz, R.C. (2008). Influência de parâmetros
fundamentais na rigidez, resistência e dilatância
de uma areia artificialmente cimentada.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Escola de Engenharia, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil. 216 p.
Eades, J.L., Grim, R.E. (1966). A quick test to
determine requirements for lime stabilization.
Highway Research Record. 139 p.
Foppa, D. (2005). Análise de variáveis-chave no
controle da resistência mecânica de solos
artificialmente cimentados. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Escola de Engenharia,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
143 p.
Lovato, R.S. (2004). Estudo do comportamento
mecânico de um solo laterítico estabilizado com
cal, aplicado à pavimentação. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Escola de
Engenharia, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil. 144 p.
Neckel, G. (2017). Dimensionamento e análise
numérica de estruturas de pavimento asfáltico
aeroportuário. Universidade Federal de Santa
Catarina, Programa de Pós-graduação em
Engenharia e Ciências Mecânicas. 387 p.
Nunez, W.P. (1991). Estabilização físico-química de
um solo residual de arenito Botucatu, visando seu
emprego na pavimentação. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Escola de Engenharia,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
150 p.
Prietto, P.D.M. (1996). Estudo do comportamento
mecânico de um solo artificialmente cimentado.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Escola de Engenharia, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil. 150 p. (in
Portuguese)
Rico, A., Castillo, H. (1977). La Ingeniería de suelos
em las vias terrestres: carreteras, terrocarriles y
aeropistas. Limusa, Mexico, 643 p.
Sales, L.F.P. (1998). Estudo do comportamento de
fundações superficiais assentes em solos tratados.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Escola de Engenharia, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil. 129 p.
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Estabilização de um solo silte arenoso da Formação Guabirotuba


com cal para uso em pavimentação
Wagner Teixeira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, wagnerteixeira@alunos.utfpr.edu.br

Eclesielter Moreira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

Vanessa Correa de Andrade


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, vanessaandrade@alunos.utfpr.edu.br

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

RESUMO: Estabilização de solo através da adição de cal melhora numerosas características físico e
químicas, entre todos os aspectos, propriedades mecânicas são as mais notáveis. Este artigo investiga
o tratamento da adição de cal em um solo argilo arenoso. Busca quantificar e validar a influência das
adições de cal sobre a resistência de um solo proveniente da Formação Geológica de Guabirotuba.
As misturas definidas através do método do pH foram: 3%, 5%, 7% e 9% de cal. O método responde
que em 9% cessa as reações solo-cal. Ensaios de densidade real dos grãos, limites de Atterberg e
compactação para solo puro e misturas foram realizados. Resultados de compactação mostram que o
peso específico seco máximo diminui com a maior proporção de cal e o teor de umidade diminui até
5% e aumenta com 7% e 9%. Resultados mostram que resistência à compressão e à tração por
compressão diametral aumentam com a quantidade de cal, diminuem porosidade e aumentam com o
tempo de cura. Por fim, apresenta-se que a porosidade é um bom parâmetro para avaliar a resistência
à compressão não confinada e resistência à tração por compressão diametral.

PALAVRAS-CHAVE: Mistura Solo-cal, Estabilização de Solos, Tempo de Cura, Resistência de


Solos.

1 INTRODUÇÃO Produção Mineral (DNPM, 2014) o Brasil está


na quinta posição de produção de cal mundial,
A sustentabilidade na engenharia é um aspecto com uma produção de 8,4 milhões de toneladas
complexo e em constante debate. O assunto é de cal no ano de 2013, a cal virgem
pauta de discussões em âmbito de congressos, representando 76% e a cal hidradatada, 24% da
simpósios, bem como inúmeras publicações de produção nacional.
relevância. Nenhum outro setor consome São vários os fatores que influenciam o
tamanha matéria-prima de fontes tão diversas comportamento mecânico de um solo tratado,
como a engenharia civil. Nesse âmbito, o são eles: quantidade de cal, porosidade, tempo de
profissional tem a difícil tarefa de propor ações cura e teor de umidade. Com as variáveis
que conduzam à redução de impactos definidas e estudadas, metodologias de dosagem
ambientais, sem comprometer a competividade podem ser criadas e adaptadas. Há varios estudos
econômica. que comprovam sua eficácia (NUNEZ, 1991;
Conforme o Departamento Nacional de JOHANN, 2013; JUNIOR, 2007; JUNIOR,
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2011; LOVATO, 2004; AZEVEDO, 2010). limite. O método define que o menor teor de cal
O objetivo deste trabalho é investigar o que atingir o valor de pH igual a 12,4 é o
tratamento da adição de cal em um solo silte necessário para estabilizar o solo.
arenoso. Busca quantificar e validar a influência Foram colocados 20 gramas de material, solo
das adições de cal sobre a resistência de um solo puro passante na peneira de nº 40 mais cal dentro
proveniente da Formação Geológica de de copos plásticos de 250 ml, nas proporções
Guabirotuba. 0%, 0,5%, 1%, 1,5%, 2%, 3%, 4%, 5%, 7%, 9%,
11% de cal. Em seguida adicionaram-se 100 ml
água destilada. Agitaram-se as misturas por 30
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL segundos a cada 10 minutos. Após 1 hora
realizaram-se as medições de pH, os resultados
2.1 Coleta do solo, resíduos e cal estão na Figura 2.

A coleta do solo (coloração amarela) foi


realizada na data de 6 de junho de 2017, na
avenida Rui Barbosa número 14800, no
município de São José dos Pinhais (Figura 1).

Figura 2. Valores de pH para diferentes misturas.

2.3 Caracterização do solo


Figura 1. Talude exposto da coleta de solo, faixa amarela.

A análise granulométrica foi realizada conforme


A cal é do tipo CH3 hidratada, foi adquirida
NBR 7181/2016. Para a porção de finos realizou-
em lojas de materiais de construção, sendo
se sedimentação com o uso de defloculante de
armazenadas em recipientes de vidro
hexa-metafosfato de sódio e, em paralelo, uma
adequadamente vedados para evitar sua
análise granulométrica a laser, a fim de
hidratação prematura em função da umidade do
confirmar resultados. Para a análise
ar. A cal é proveniente de Almirante Tamandaré,
granulométrica a laser, fez-se uso do
região metropolitana de Curitiba. Esta é a maior
equipamento Microtrac modelo S3500 (Figura
região produtora e beneficiadora de calcário da
3).
região, justificando sua escolha.

2.2 Dosagem das misturas

Para a dosagem da mistura solo-cal utilizou-se o


método proposto por Eades e Grim (1966),
também chamado de método de pH. O método
analisa o pH do solo mais a cal suspensos em
água, indicando a quantidade de cal necessária
para alcançar o maior benefício da mistura. A
dosagem é chamada de ponto fixo de cal, quanto
mais cal adicionada, mais reações pozolânicas Figura 3. Curva granulométrica.
ocorrem, estabilizando a mistura até um ponto
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O limites de Atterberg foram realizados


conforme NBR 6459/1984 e NBR 7180/1984 A umidade ótima obtida aumentou conforme
(Tabela 1). o aumento da quantidade de cal. O peso
A densidade real dos grãos foi obtida específico seco máximo diminuiu com o
conforme procedimento descrito na NBR aumento de cal. Quando a cal é adicionada ao
6458/2017, através de bomba e câmara à vácuo solo, as partículas se tornam floculadas, devido à
(Tabela 1). substituição dos íons Na+ da argila por íons
A fim de se determinar os pesos específicos Ca++. Devido à floculação, a quantidade de
secos máximos (γdmáx) e as umidades ótimas (w), vazios e o tamanho dos vazios no solo aumenta.
foram realizados ensaios de proctor na energia A floculação é forte o suficiente para resistir aos
normal para o solo puro e suas misturas (Figuras esforços de compactação com um índice de
4 e 5). Seguiu-se os processos normatizados na vazios mais alto, reduzindo, portanto, o γmáx do
NBR 7182 (ABNT, 2016). As misturas solo. Quanto maior o número de vazios, mais
realizadas foram de solo mais 3%, 5%, 7% e 9% água será necessária para preenchê-los, o que
de cal. Não houve alteração de pH entre 9% e resulta em um teor de umidade maior, e uma
11% de cal, não justificando realizar misturas curva de compactação mais achatada
maiores que 9% de cal. (SIVAPULLAIAH, et al., 1998).

Tabela 1. Caracterização do solo. 2.4 Moldagem dos corpos de prova


Propriedades do solo Resultado
Densidade real dos grãos 2,625
A partir dos parâmetros obtidos nos ensaios de
Limites de consistência:
Limite liquidez (%) 50,37 compactação, foram moldados corpos de prova
Limite de plasticidade (%) 35,96 de diâmetro igual a 5,00 +- 0,05 cm e altura igual
Índice de plasticidade 14,41 a 10,00 +- 0,05 cm, em moldes de aço inox.
Classificação SUCS MH Realizou-se de modo estático, com apenas uma
Ensaio de compactação:
camada, em uma prensa hidráulica manual.
Umidade ótima (%) 26
Peso esp. seco máximo (kN/m³) 13,72 A mistura foi feita na ordem solo e cal
primeiramente, obtendo homogeneidade, para
então adicionar e homogeneizar a água na
mistura. A quantidade de cal a ser adicionada era
calculada para que no final a mistura tenha a
devida porcentagem de cal, ou seja, adicionada
sobre a massa total. A quantidade de água a ser
adicionada era calculada sobre a massa total
seca, incluindo a cal.
Procurou-se obter o teor de umidade mais
próximo do ótimo (+- 0,5%) e um peso
Figura 4. Curva compactação do solo puro. específico aparente seco não diferindo mais que
1% do obtido na curva de compactação. Em
seguida embalados com papel filme,
identificados e armazenados em câmara úmida
para o processo de cura por 30 dias.

2.5 Ensaio de compressão simples não


confinado

A resistência à compressão simples (RCS) do


solo e das misturas foram determinados
Figura 5. Curvas de compactação das misturas solo-cal.
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conforme os métodos propostos na NBR 12770 deformação (N);


(ABNT, 1992), do tipo não adensado, não D = diâmetro do corpo de prova (cm);
drenado e com a pressão de confinamento igual H = altura do corpo de prova (cm).
a zero (σ3=0). Os ensaios foram realizados em
triplicada, obtendo sempre a umidade logo após
o ensaio, a fim de conferência com a umidade 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
ótima respectiva. Admitiu-se os valores de
tensão de ruptura de +- 10% da média, se um dos 3.1 Resistência à compressão simples não
valores se diferiu da faixa, utilizou-se a média confinada
dos outros dois. O ensaio ocorreu no modo de
deformação controlada, com a prensa A resistência à compressão simples não
configurada em uma velocidade de 1,27 confinada (qu) obteve um gráfico em função da
mm/min. Foi utilizada uma prensa universal cura de 30 dias, observado na Figura 6.
EMIC modelo DL 30.000 N, com célula de carga
TRD-29 calibrada.
O resultado de resistência à compressão não
confinada (qu) foi calculado com a seguinte
equação:

P
qu = (1)
A

Onde:

qu = resistência à compressão (N/cm²)


P = carga de ruptura máxima na curva tensão- Figura 6. Resistência à compressão simples por
porcentagem de cal.
deformação (N);
A = área transversal do corpo de pova (cm2);
Observa-se que o conteúdo de cal tem uma
considerável influência na resistência à
2.6 Ensaio de tração por compressão diametral
compressão. Os resultados da Figura 6 podem
não confinado
ser representados por uma equação potencial,
sendo y igual à qu e x igual à porcentagem de cal.
A resistência à compressão diametral (RCD) do
Observa-se que a taxa de aumento de resistência
solo e das misturas foram determinados
diminui consideravelmente a partir de 5% de cal,
conforme os processos propostos na NBR 7222
relaciona-se com o pH, onde a partir de 5%, não
(ABNT, 2016). Para este ensaio foi utilizado o
houve considerável mudança no valor de pH,
mesmo equipamento do ensaio de resistência à
indicando que as reações estavam próximas de
compressão simples, porém com as amostras
cessar.
rompidas na horizontal. A velocidade da prensa
para este ensaio foi de 1 mm/min.
3.2 Resistência à tração por compressão
A resistência à tração por compressão
diametral não confinada
diametral foi calculada com a seguinte equação:
2xF A resistência à tração por compressão não
qt = (2) confinada (qt) obteve um gráfico em função da
πxDxH
cura de 30 dias, observado na Figura 7.
Onde:

qt = resistência à tração (N/cm²)


F = carga de ruptura máxima na curva tensão-
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na resistência à compressão simples

A quantidade de cal em função da porosidade


obteve uma função polinomial, observada na
Figura 9.

Figura 7. Resistência à tração por compressão diametral


por porcentagem de cal.

Observa-se que o conteúdo de cal também


tem uma considerável influência na resistência à
tração. Os resultados da Figura 7 podem ser
representados por uma equação potencial, sendo
Figura 9. Variação qu com porosidade.
y igual à qt e x igual à porcentagem de cal.
Observa-se que a taxa de aumento de resistência
A porosidade das amostras foram calculadas
diminui consideravelmente a partir de 7% de cal,
a partir da compactação das diferentes misturas.
relaciona-se com o pH, onde a partir de 7%, não
Conforme aumentava a quantidade de cal, o peso
houve considerável mudança no valor de pH,
específico seco máximo diminuia. Portanto,
indicando que as reações estavam próximas de
tendo em mãos o volume das amostras e a
cessar.
densidade real dos grãos, obtia-se o valor da
porosidade.
3.3 Razão qt/qu
Entretanto, a porosidade diminuia com o
aumento de cal, resultando em valores de
A relação da resistência à compressão por
resistência elevados. O que se pode obter dos
compressão diametral por compressão simples é
resultados é que, as amostras ficam mais
apresentada na Figura 8.
resistentes e porosas.

3.5 Efeitos da quantidade de cal e porosidade


na resistência à tração por compressão diametral

A quantidade de cal em função da porosidade


obteve uma função polinomial, observada na
Figura 10.

Figura 8. Razão qt por qu.

Como os dois ensaios tiveram um


crescimento potencial, a relação qt/qu resultou
em um crescimento linear, onde o y da equação
é igual a qt e x igual a qu.
Figura 10. Variação qt com porosidade.
3.4 Efeitos da quantidade de cal e porosidade
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Para o caso de tração por compressão REFERÊNCIAS


diametral, observou-se o mesmo que para os
casos de compressão simples. A porosidade ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
diminuia com o aumento de cal, resultando em TÉCNICAS. NBR 6458: Solo – Grãos de pedregulho
retidos na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação
valores de resistência elevados. O que se pode da massa específica, da massa específica aparente e da
obter dos resultados é que, também, as amostras absorção de água. Rio de Janeiro, 2017.
ficam mais resistentes e porosas. ______. NBR 6459: Solo – Determinação do limite de
liquidez: método de ensaio. Rio de Janeiro, 1984.
______. NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
plasticidade: método de ensaio. Rio de Janeiro, 1984.
4 CONCLUSÕES ______. NBR 7181: Solo – Análise granulométrica:
método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016.
O objetivo do trabalho era medir a influência da ______. NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação:
cal hidratada em ensaios de resistência à método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016.
compressão simples e resistência à tração por ______. NBR 7222: Determinação da resistência à tração
por compressão diametral de corpos de prova
compressão diametral, em um solo silte arenoso cilíndricos. Rio de Janeiro, 2016.
da formação geológica de Guabirotuba. ______. NBR 12770: Solo coesivo – Determinação da
Como visto nos resultados, qu e qt são resistência à compressão não confinada: método de
dependentes da quantidade de cal, não houveram ensaio. Rio de Janeiro, 1992.
variações de porosidade para a mesma AZEVÊDO, André L. C. Estabilização de solos com
adição de cal. Um estudo a respeito da reversibilidade
quantidade de cal, para assim definir a das reações que acontecem no solo após a adição de
dependência ou não da resistência com a cal. 2010. 178 fls. Dissertação (Programa de Pós-
porosidade. Graduação em Engenharia Civil) – Universidade
Os valores de qu e qt aumentam Federal de Ouro Preto – UFOP, Ouro Preto, 2010.
significativamente com o tempo de cura de 30 DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral.
2014. Sumário Mineral 2014. Acesso em:
dias e com as diferentes proporções de cal <http://www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/cal-
adicionadas. sumario-mineral-2014> Acesso em: 10/04/2018.
A partir de 7% de cal, o aumento da EADES, J. L.; GRIM, R. E. A Quick Test to Determine
resistência é significativamente menor, atribui- Lime Requirements For Lime Stabili-zation. Highway
se à relação com o ensaio de pH, onde a partir Research Record. n. 139, p. 61-72. 1966. Washington,
DC.
de 5% de cal, cessam as reações. JOHANN, Amanda, D. R. Metodologias para a previsão
A relação qu/qt mostrou-se linearmente do comportamento mecânico e para a análise da
crescente. variação da porosidade de um solo siltoso tratado com
Os resultados de resistência variam conforme cal em diferentes tempos de cura. 2013. 271 f. Tese
a quantidade de cal nas amostras, encaixando-se (Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS,
numa curva polinomal, podendo ser usadas Porto Alegre, 2013.
como parâmetros para projetos de rodovias, por JUNIOR, Luizmar, S. L. Parâmetros de controle da
exemplo. A camada que deseja-se alcançar uma resistência mecânica de solos tratados com cal,
resistência satisfatória, estabilizada com cal, cimento e rocha basáltica pulverizada. 2007. 148 f.
pode ser manipulada conforme a energia de Dissertação (Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio
compactação, dentro de uma mínima quantidade Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, 2007.
de cal, satisfazendo tempo e custos. JUNIOR, Luizmar, S. L. Metodologia de previsão do
comportamento mecânico de solos tratados com cal.
AGRADECIMENTOS 2011. 226 f. Tese (Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, 2011.
Os autores expressam os agradecimentos à LOVATO, Rodrigo S. Estudo do Comportamento
Universidade Tecnológica Federal do Paraná e Mecânico de um Solo Laterítico Estabilizado com
ao suporte financeiro da CAPES. Cal, aplicado à Pavimentação. 2004. 164 f.
Dissertação (Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio
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Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, 2004.


NUNEZ, Washington, P. Estabilização físico-química de
um solo residual de arenito Botucatu, visando seu
emprego na pavimentação. 1991. 171 f. Dissertação
(Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS,
Porto Alegre, 1991.
SIVAPULLAIAH, Puvvadi. V.; PRASHANTH, J. P.;
SRIDHARAN, A. Delay in compaction and
importance of the lime fixation point on the strength
and compaction characteristics of soil. Ground
Improvement, n.2, p.27-32. 1998.
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Estimativa do Ângulo de Atrito e Coesão Através de Índices de


Resistência Obtidos pela Sondagem SPT em Solo Laterítico e
Colapsível Característico da Cidade de Cascavel no Estado do
Paraná.
Maycon André de Almeida
Centro Academico Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br.

Rafael Magrini Marques de Oliveira


Centro Academico Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, rafaelmagrini.eng@gmail.com.

RESUMO: A resistência do solo ao cisalhamento é uma importante propriedade dinâmica do solo,


pois interfere diretamente na capacidade do solo em suportar uma ruptura ou deslizamento. O
presente artigo teve como objetivo analisar a relação entre os parâmetros de ângulo de atrito interno
e intercepto de coesão, obtidos por meio de ensaios triaxiais em amostras indeformadas, e os
determinados através de correlações empíricas utilizando dados de sondagem a percussão SPT. Para
a realização da pesquisa, foram extraídas amostras indeformadas a cada metro, até a profundidade
de 14 metros, e realizados ensaios de compressão triaxial. Dentre as correlações analisadas, as que
se mostraram mais seguras para a utilização foram as de Teixeira (1996), para a definição do ângulo
de atrito, e as de Berberian (2015) e Alonso (2010), para a definição do intercepto de coesão,
principalmente quando considerada a eficiência americana de 60% (N60) nas últimas duas. Além
disso, foi possível determinar correlações para o solo local utilizando os dados obtidos, que se
apresentaram estatisticamente confiáveis.

Palavras-chave: Ensaio SPT. Ensaio Triaxial. Resistência ao cisalhamento.

1 INTRODUÇÃO podem não apresentar parâmetros do solo


condizentes com a realidade, devido a sua
A resistência do solo ao cisalhamento é uma heterogeneidade, o que leva diversos autores a
importante propriedade dinâmica do solo, pois realizar pesquisas a fim de validar as
interfere diretamente na capacidade do solo em correlações já existentes, além de propor novas,
suportar um carregamento ou descarregamento conforme o o presente estudo (PINTO, 2006).
sem perder estabilidade. A partir disto, se faz Dentre diversos parâmetros de importância
necessário caracterizar adequadamente as suas do solo, os relacionados ao cisalhamento de
propriedades geotécnicas, de maneira a embasar solos destacam-se devido a sua importância
os projetos de engenharia objetivando uma geotécnic, na análise de estabilidade de taludes,
maior economia e segurança. dimensionamento de contenções e muros de
Na geotecnia é comum a utilização de dados arrimo, entre outros. Tais parâmetros podem ser
oriundos do ensaio de sondagem SPT no obtidos através de ensaios de cisalhamento
dimensionamento de fundações e determinação direto ou triaxiais, além de poderem ser
de parâmetros do solo, através de correlações, estimados através de dados de sondagem SPT
principalmente devido ao baixo custo conforme as correlações propostas por Godoy
envolvido, a facilidade de execução e o elevado (1983), de Mello (1971), Teixeira (1996),
número de informações fornecidas. Contudo, é Teixeira e Godoy (1996) e Alonso (2010).
de conhecimento técnico que tais correlações O ensaio de compressão triaxial é um dos
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métodos mais confiáveis para a determinação unificado (SUCS), é classificado como um solo
dos parâmetros de resistência do solo: argiloso muito compressível (CH), ao passo no
intercepto de coesão e ângulo de atrito, pelo sistema rodoviário (T.R.B), foi identificado
fato de ser um ensaio complexo e realizado em como A-7-6, correspondendo a uma argila
ambiente controlado de laboratório. siltosa medianamente plástica, classificada
Para o desenvolvimento deste artigo, foram como regular a mau para utilização como
conduzidos ensaios triaxiais adensados do tipo subleito.
não drenados (CU), até o 14º metro de Zen (2016) realizou três ensaios de
profundidade, em amostras de solo sondagem a percussão do tipo Standard
indeformadas do Campo Experimental de Penetration Test (SPT) no CEEF, a fim de
Engenharia do Centro Universitário Assis verificar o índice de resistência à penetração do
Gurgacz (CEEF), localizado na cidade de amostrador padrão (N) no solo ao longo da
Cascavel/PR. O objetivo principal foi profundidade. Na Tabela 1 é apresentado o
determinar os reais parâmetros de resistência do perfil geotécnico médio obtido, o qual
solo e compará-los aos estimados pelo ensaio representa o subsolo do CEEF. Os índices N
SPT, estabelecendo, se possível, uma correlação foram determinados através da correção do
para determinação mais eficaz dos mesmos no valor da penetração do amostrador para uma
solo da região. penetração de 30 cm, justificando os valores
fracionados. O lençol freático, no intervalo de
execução dos 3 furos, foi encontrado entre as
2 MATERIAIS E MÉTODOS profundidades de 12 e 15 metros.
Tabela 1. SPT realizado no CEEF
2.1 Caracterização geotécnica do solo local
Cota Nspt
Descrição do Subsolo
(m) Médio
A pesquisa foi conduzida no município de 1 1,7
Cascavel, região oeste do estado do Paraná, que 2 1,7
possui as seguintes coordenadas geográficas: 3 2,5
Latitude 24°56'52.5"S e Longitude 4 2,8 Argila Siltosa Marron
5 4,1 Avermelhada Muito Mole a
53°30'41.1"W, com uma atitude 781 metros em 6 7,8 Média
relação ao nível do mar. 7 6,4
O solo da cidade de Cascavel é classificado 8 5,6
quanto a sua origem como um solo residual 9 10,0
proveniente da decomposição de rochas 10 11,9 Argila Siltosa Marron
11 12,6 Avermelhada Rija
eruptivas (basalto), e possui comportamento
12 16,6 Argila Siltosa Marron
laterítico (EMBRAPA, 1984). 13 27,0 Avermelhada Rija a Dura
Segundo Melfi (1997), os solos lateríticos 14 31,3 Percolações Brancas
são os solos típicos da evolução em climas 15 Limite da sondagem
quentes e úmidos e invernos secos, encontrados Fonte: Zen (2016)
principalmente nas regiões tropicais.
A caracterização do solo do Campo Observando a evolução do NSPT com a
Experimental de Engenharia do Centro profundidade, e, concomitantemente, utilizando
Universitário Assis Gurgacz (CEEF) foi a classificação quanto à consistência da ABNT
realizada por Zen (2016). Segundo a autora, a (2001), pode-se sugerir que, no geral, o subsolo
classificação do solo, conforme especificado na do CEEF é constituído por duas camadas de
ABNT (2016a) e de acordo com a curva solo distintas, até a profundidade amostrada. A
granulométrica, apresenta cerca de 90% de primeira sendo composta por argila siltosa,
particulas finas, sendo classificado como uma porosa, marrom avermelhada, de consistência
argila silto arenosa. Em relação ao sistema muito mole à média, até a profundidade de 9 m
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e, finalmente, em profundidades superiores a


9m, uma argila silto arenosa, residual, de
coloração marrom claro e consistência rija a
dura, podendo apresentar nas cotas próximas ao
lençol freatico pigmentação esbranquiçada na
estrutura do solo, provavelmente devido à
presença de minerais na água.
Como resultado dos ensaios de
caracterização, Zen (2016) apresentou a média
dos principais indices fisicos das camadas do
Figura 1. Retirada de amostra indeformada do molde
CEEF na Tabela 2. metálico com macaco hidráulico de laboratório.
Tabela 4. Resumo das camadas de solo do CEEF
CAMADA 1 CAMADA 2
Os ensaios foram realizados no laboratório
VALORES MÉDIOS de Mecânica dos Solos II do Centro
1 a 9 metros 10 a 15 metros
w (%) 34 53 Universitário da FAG, em Cascavel/PR. Para
LL (%) 53 59 cada cota foram extraídos 6 corpos de prova, a
LP (%) 38 42 fim de obter uma envoltória de resistência mais
IP (%) 15 17
consistente.
γd (kN/m³) 12 12
γs (kN/m³) 27 27
γsat (kN/m³) 17 16 2.2 Ensaios triaxiais em laboratório
Sr (%) 55 60
Argila (%) 70 56 Todos os ensaios tiveram uma duração média
Silte (%) 25 35 de 6 horas, sendo este período necessário para
Areia (%) 5 9 adensar e romper por cisalhamento os corpos de
Muito mole
Consistência Rija a dura prova. Para realizar os ensaios foi utilizada uma
a média
Índice de vazios (e) 1,22 1,55 prensa triaxial eletrônica interligada ao software
Fonte: Zen (2016) Triaxial Pavitest® estático I-1077, conforme
Figura 2.
2.2 Extração de Amostras Indeformadas

Foi aberto um poço de inspeção até a cota -15


metros, onde foi encontrado o nível de água do
solo. A perfuração do poço foi realizada com a
ajuda de perfuratriz hidráulica, e um poceiro
realizou a retirada das amostras indeformadas
de solo, conforme a ABNT (2016b).
As amostras foram extraídas metro a metro,
utilizando um molde metálico de parede fina e
formato cilíndrico com diâmetro interno de 5
cm e altura de 12 cm, biselado em uma das
extremidades para cravação no solo. O molde
era removido cuidadosamente do solo após a Figura 2. Equipamento triaxial utilizado na pesquisa.
coleta, e a amostra era extraída com ajuda de
um extrator de amostras (Figura 1). Em cada Dentro da câmara de ensaio triaxial, a
corpo de prova foi removido 1 cm de cada lado primeira etapa do ensaio foi realizar o
do comprimento total, atendendo a relação adensamento aplicando uma pequena pressão
altura-diâmetro compreendido entre 2,0 a 2,5, hidrostática no corpo de prova e verificando as
de acordo com a ABNT (1992). variações volumétricas (Figura 3). Em seguida,
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foi estabelecida a tensão confinante (σ3) de energia de cravação e do nível de tensões.


ensaio e, com o fechamento da válvula de Como referência, nos Estados Unidos e na
drenagem da câmara triaxial, aplicada uma Europa, o sistema é mecanizado e a energia
tensão axial (σ1) a uma velocidade de 0,064 liberada é de aproximadamente 60%. Para o
mm/min, até que ocorresse uma deformação de Brasil a média é em torno de 72%, segundo
10% da altura do corpo de prova. A velocidade Décourt (1989).
de ruptura adotada se justifica pelo fato de que Para a determinação do ângulo de atrito
carregamentos rápidos podem gerar excesso de utilizando dados da sondagem SPT, foram
poro pressões positivas, reduzindo a resistência utilizadas as correlações apresentadas por
ao cisalhamento (GERSGOVISCH, 2016). Godoy (1983), de Mello (1971) e Teixeira
(1996), conforme Tabela 3.

Tabela 3. Equações para cálculo do ângulo de atrito.


Autor Correlação - ϕ°
Godoy (1983)
de Mello (1971)

Teixeira (1996)

Cabe ressaltar que a densidade relativa (Dr)


presente na correlação de De Mello (1971) é
determinada através da tensão vertical em
Figura 3. Corpo de prova na câmara de ensaio repouso da cota do solo considerada.
Berberian (2015) afirma que a experiência
O procedimento foi repetido para as demais tem mostrado que em argilas lateríticas
amostras, obtendo assim distintas variações de tropicais não saturadas, tanto os valores de
tensão desviadora (σ1 - σ3) para cada ensaio. De coesão nas condições totais como efetivas se
posse dos resultados, foram plotados os círculos aproximam muito. É de conhecimento técnico
de Mohr determinando assim a envoltória de que a coesão desse tipo de argila é fortemente
resistência de Mohr-Coulomb, e em seguida dependente da sucção e consequentemente da
foram determinados os valores do intercepto de curva de umidade característica do solo.
coesão (c) e do ângulo de atrito interno (ϕ), em Para estimativa da coesão foram utilizados
função das tensões totais (situação não os métodos de Teixeira & Godoy (1996),
drenada). Berberian (2015) e Alonso (2010). Para a
estimativa do valor de coesão não drenada de
2.2 Estimativa dos Parâmetros de Resistência argilas saturadas Teixeira & Godoy (1996)
através dos resultados da sondagem SPT sugerem a Equação 1, em kPa.

Segundo Schnaid (2000), conhecidas as (1)


limitações envolvidas no ensaio, é possível, por
meio da interveniência de fatores que Berbearian (2015) sugere a utilização da
influenciam os resultados e não estão Equação 2 para a determinação da coesão, em
relacionados às características do solo, avaliar kPa.
criticamente as metodologias empregadas na
aplicação de valores de NSPT em problemas
geotécnicos. Para tanto, as abordagens (2)
modernas recomendam a correção do valor
medido de NSPT levando-se em conta o efeito da
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Também é possível obter a coesão através da a profundidade 9 metros, pelo software Pavitest
Tabela 4, desenvolvida especificamente para do equipamento triaxial.
argilas por Alonso (2010).

Tabela 4. Coesão das argilas (Alonso, 2010)


N (golpes) Consistência Coesão (kPa)
<2 Muito mole < 10
2–4 Mole 10 – 25
5–8 Média 25 – 50
9 – 15 Rija 50 – 100
15 – 30 Muito Rija 100 – 200
> 30 Dura > 200

As equações apresentadas devem ser


preferencialmente utilizadas considerando o
índice N corrigido pela eficiência do ensaio
SPT, ou seja, aplicando uma minoração devido
a eficiência média brasileira ou aferida do
equipamento do qual os dados foram extraidos. Figura 4. Envoltória de Mohr-Coulomb de 3 ensaios da
Considerando isso, os índices N deste artigo cota de 9m.
foram corrigidos de acordo com os resultados
de 3 provas de carga sobre amostrador padrão Foram descartados os círculos de Mohr que
conduzidas por Dallacosta e Almeida (2017), apresentaram resultados discrepantes quando
com o mesmo equipamento e equipe. Os comparados aos demais, metro a metro. Para
resultados obtidos pelos autores podem ser cada cota analisada, foram obtidos o intercepto
observados na Tabela 5. coesivo (kPa) e o ângulo de atrito interno (ϕ),
conforme Tabela 6.
Tabela 5. Resultados de Dallacosta e Almeida (2017)
Furo NSPT DA COTA η (eficiência) Tabela 6. Parâmetros de resistência ao cisalhamento, ao
1 5 36% longo da profundidade, para o subsolo do CEEF.
2 4 30% Cota Intercepto Ângulo
3 3 67% coesivo de atrito
Média 44% 1m 2 kPa 14,2°
2m 2 kPa 15,5°
Tendo em vista o caráter exploratório desta 3m 13 kPa 17,4°
pesquisa, o valor de eficiencia (η) utilizado 4m 12 kPa 16,4°
sobre os índices N foi o médio de 44%, apesar 5m 22 kPa 14,1°
da dispersão entre os 3 ensaios encontrada pelos 6m 56 kPa 13,4°
autores. 7m 17 kPa 19,2°
8m 12 kPa 26,6°
9m 31 kPa 26,2°
10 m 49 kPa 24,8°
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 11 m 24 kPa 30,4°
12 m 27 kPa 22,5°
Por meio do ensaio de compressão triaxial foi 13 m 64 kPa 19,7°
possível determinar as envoltórias de resistência 14 m 32 kPa 26,4°
e, consequentemente, definir o intercepto de
coesão e o ângulo de atrito das amostras Nota-se um comportamento linear, com uma
ensaiadas. leve tendência de crescimento ao longo da
Na Figura 4 é apresentado, como exemplo, a profundidade.
envoltória de Mohr Coulomb determinada para As variações significantes ao longo da
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profundidade se justificam por diversas


possibilidades. Possíveis dispersões já eram
previstas devido à possíveis perturbações na
coleta das amostras que podem ocasionar
pequenas compactações ou deformações no
corpo de prova. Estas alterações na estrutura
não podem ser visualizadas, mas apresentam
influência direta nos resultados.

3.2 Correlações com sondagem SPT

Por meio dos dados obtidos através das 3


sondagens SPT realizadas no subsolo do CEEF
foi elaborada a Figura 5, que apresenta o N já Figura 6. Ângulo de atrito determinado ao longo da
corrigido com a eficiência média registrada por profundidade para o solo do CEEF, pelos três métodos
Dallacosta e Almeida (2017) de 44%, ao longo utilizados.
da profundidade.
Entre os métodos, o de Teixeira (1996) e o
Godoy (1983) foram os que apresentaram
maiores aproximações com relação aos obtidos
através do ensaio triaxial. Já o método de Mello
(1971) foi o que apresentou a maior dispersão
de resultados, principalmente pelo fato de ter
seu uso recomendado para solos arenosos.
Analisando a influência da eficiência do
ensaio SPT nas correlações apresentadas acima,
constatou-se que houve uma aproximação maior
com os dados obtidos através de ensaios
triaxiais, comprovando a importância de se
considerar esse fator.
Das (2007) e Santana (2016) apresentam
mais correlações para determinação do ângulo
de atrito interno a partir de índices de
resistência N, como Dunhan (1954), Ohsaki et
Figura 5. Valores de N e N44 ao longo da profundidade
para os ensaios SPT realizados no CEEF.
al. (1959) e Peck et al. (1974), recomendadas
para solos granulares, porém ao serem aplicadas
Considerando os dados apresentados, verificou-se que as mesmas apresentaram
aplicou-se as correlações para determinação do valores próximos aos determinados por Godoy
ângulo de atrito interno do solo, desenvolvidas (1983), e devido à grande dispersão, não foram
por De Mello (1971), Godoy (1983) e Teixeira analisadas no trabalho.
(1996), utilizando o NSPT médio com eficiência Para a determinação dos valores do
corrigida em 44%, e são apresentados os intercepto coesivo foram utilizadas as
resultados na Figura 6. correlações de Alonso (1983), Berberian (2015)
e Teixeira & Godoy (1996), em função do
índice de resistência à penetração do
amostrador padrão N44, conforme Figura 7.
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3.3 Relação entre parâmetros de resistência


e NSPT ao longo da profundidade

Considerando que a eficiência do equipamento


de sondagem SPT influenciou positivamente na
aproximação da estimativa dos parâmetros de
resistência, através dos métodos indiretos,
optou-se em realizar todas as análises
posteriores utilizando os índices de resistência
(N) corrigidos para a eficiência determinada por
Dallacosta e Almeida (2017), de 44%.
É apresentada na Figura 8 a relação entre o
ângulo de atrito, estimado pelas correlações e
pelo triaxial, e os índices N44 obtidos em
Figura 7. Valores de intercepto de coesão determinados campo.
ao longo da profundidade para o solo do CEEF, pelos
três métodos utilizados.

Para o método de Alonso (2010), por


segurança, adotou-se como coesão o menor
valor do intervalo para cada intervalo de NSPT.
Verificou-se que os métodos de Alonso
(2010) e Berberian (2015) apresentaram
comportamento semelhante e próximo aos
obtidos pelos ensaios triaxiais, indicando
crescimento da coesão ao longo da
profundidade. Já o método de Teixeira e Godoy
(1996) apresentou dispersão com relação aos
demais métodos e com relação aos resultados
dos ensaios triaxiais. Figura 8. Relação entre N44 e os ângulos de atrito
determinados por correlações e pelo ensaio triaxial,
A minoração do índice de resistência para a considerando toda a amostragem.
energia de 44%, registrada no equipamento SPT
através de provas de carga no amostrador Nota-se a dispersão dos resultados obtidos
padrão, gerou uma grande aproximação entre as pelos ensaios triaxiais, que apresentaram pela
correlações e os resultados obtidos pelo ensaio regressão linear um coeficiente de determinação
triaxial, principalmente devido ao fato das (R²) de 0,52, indicando uma relação moderada
correlações envolvendo o intercepto coesivo entre as variáveis, conforme informado por
terem relação direta com o aumento no NSPT. Quinino et al. (2012).
O método de Alonso (2010) se mostrou Realizando análise estatística da relação
interessante para aplicação em argilas lateriticas entre as variáveis através do teste de p-valor,
como a de Cascavel/PR, desde que seja foi obtido o valor de 0,046. O valor-p é definido
atribuido o valor mínimo do intervalo definido como a probabilidade de se observar um valor
na Tabela 4. da estatística de teste maior ou igual ao
encontrado, e valores inferiores a 0,05,
conforme Ferreira e Patino (2015), indicam que
quando não há alguma diferença, um valor tão
extremo para a estatística de teste é esperado
em menos de 5% das vezes. Considerando o
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exposto, pode-se concluir que o modelo


apresentado, para o intervalo de valores
correlacionado, pode ser interessante para
determinar o ângulo de atrito com certa
aproximação.
Considerando o exposto, foi verificado que
os dados obtidos pelos ensaios triaxiais em
profundidades superiores a 11 metros foram os
responsáveis pela baixa relação entre as
variáveis analisadas. Restringindo a
amostragem até uma profundidade de apenas 11
metros, o teste do p-valor já apresentou valor
inferior a 0,003, além de aumentar o coeficiente
Figura 10. Relação entre N44 e o intercepto de coesão,
de determinação para 0,67, o que já representa determinados por correlações e pelo ensaio triaxial,
uma relação forte entre as variáveis, como pode ao longo da profundidade do subsolo do CEEF.
ser visto na Figura 9.
Verifica-se um coeficiente de determinação
de 0,72, indicando uma relação forte entre as
variáveis. Realizando o teste de p-valor foi
verificado um valor de 0,002, representando
também uma forte relação entre as variáveis e
validando o modelo proposto pela Equação 4,
aplicavel para N44 variando entre 0 e 15.

c = 5,94.N441,07 (4)

Para o intercepto coesivo, em especifico,


constatou-se que as correlações diretas com o
índice de resistência (N44) tiveram melhor
Figura 9. Relação entre N44 e os ângulos de atrito comportamento para toda a faixa de
determinados por correlações e pelo ensaio triaxial, profundidades, e não até o 11° metro, como
considerando dados até 11 metros.
ocorreu com o ângulo de atrito.
A Equação 3 representa a relação direta entre
o índice de resistência NSPT, corrigido para a
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
eficiência média de 44%, e o ângulo de atrito
interno do solo obtido em campo, com
O principal objetivo deste artigo foi caracterizar
confiabilidade para NSPT variando entre 1 e 6.
o solo local, através da determinação dos
ϕ = 3,18.N44 + 12,81 (3) parâmetros de resistência ao cisalhamento
(essenciais para a realização de
Já na Figura 10, são apresentados os valores dimensionamentos e verificações de segurança
do intercepto de coesão obtidos pelos ensaios em obras geotécnicas), através da realização de
triaxiais e pelas correlações, considerando o ensaios de compressão triaxial adensado
índice de resistência do solo (N44). rápidos, além de comparar os resultados com
correlações empíricas utilizando o índice de
resistência a penetração do amostrador padrão
da sondagem SPT, corrigidos para a eficiência
medida no equipamento de sondagem SPT de
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44% (N44), constatado por Dallacosta e Janeiro.


Almeida (2017). ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 7181 (2016a). Análise Granulométrica. Rio de
Ao analisar os parâmetros de resistência (c e Janeiro.
ϕ) obtidos pelos métodos empíricos, foi ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
verificado que os valores determinados NBR 9604 (2016b). Abertura de poço e trincheira de
apresentaram resultados superiores aos inspeção em solo, com retirada de amostras
determinados pelo ensaio de compressão deformadas e indeformadas. Rio de Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
triaxial, aumentando ainda mais essa dispersão NBR 9604 (1992). Solo coesivo - Determinação da
conforme o aumento da profundidade. resistência à compressão não confinada - Método de
Dentre as correlações analisadas, as que se ensaio. Rio de Janeiro.
mostraram mais seguras para a utilização foram Dallacosta, L. e Almeida, M. A. (2017) Determinação da
as de Teixeira (1996), para a definição do eficiência do Ensaio SPT através de Prova de Carga
Estática sobre Amostrador Padrão. Simpósio da
ângulo de atrito e para a definição do intercepto Prática da Engenharia Geotécnica na Região Centro-
de coesão, e as correlações propostas por Oeste (Geocentro). Goiânia.
Berberian (2015) e Alonso (2010), Das, B. M. (2007). Fundamentos de Engenharia
principalmente quando se utiliza o limite Geotécnica, 6 ed., Thomson Learning, São Paulo, SP,
inferior do intercepto coesivo proposta por Brasil, 562 p.
Ferreira, J. C. e Patino, C. M. (2015). O que realmente
Alonso.
significa o valor-p?. Educação Continuada:
Foram determinadas também ao longo da Metodologia Cientifica. Jormal Brasileiro
profundidade, a partir dos índices de resistência Pneumologia. p. 485.
SPT e dos resultados dos ensaios triaxiais Gerscovich, D. M. S. (2016). Estabilidade de Taludes. 2.
conduzidos com amostras indeformadas, ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Oficina de Textos.
Melfi, A. J. (1997). Lateritas e Processos de Laterização
equações que relacionam as duas variáveis e
(Aula Inaugural de 655 1994). São Carlos: Escola de
apresentaram teste p-valor inferiores a 0,05, Engenharia de São Carlos. USP.
indicando forte relação entre as variáveis e bom Pinto, C. S. (2006). Curso básico de mecânica dos solos.
coeficiente de determinação. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos.
Desta forma, pode-se concluir que a Quinino, R. C.; Edna, A. R. e Bessegato, L. F. (2012).
sondagem SPT é uma ótima ferramenta para a Using the coefficient of determination R2 to test the
significance of multiple linear regression. Teaching
determinação dos parâmetros de resistência ao Statistics. 84-88 p.
cisalhamento do solo residual e laterítico de Schnaid, F. (2000). Ensaios de campo e suas aplicações
Cascavel/PR, uma vez que foi possível à Engenharia de Fundações. Oficina de Textos, São
determinar correlações válidas para estimar o Paulo, SP, Brasil, 189 p.
intercepto de coesão e o ângulo de atrito interno Zen, B. A. B. (2016). Caracterização Geotécnica do
Subsolo do Campo Experimental do Centro
do solo. Ressalta-se, no entanto, que tais Acadêmico da FAG em Cascavel/PR. Trabalho de
correlações devem servir como ferramenta Conclusão de Curso. Centro Universitário da
complementar de análise para auxiliar no pré- Fundação Assis Gurgacz.
dimensionamento, e não para substituir a
realização de ensaios de maior precisão, tais
como o ensaio de cisalhamento direto ou
triaxiais, os quais poderão conduzir a
dimensionamentos mais seguros e confiáveis.

REFERENCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.


NBR 6484 (2001). Solo - Sondagens de simples
reconhecimentos com SPT - Método de ensaio. Rio de
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Estimativa do parâmetro de pressão neutra B̅ de Skempton em


solos compactados de decomposição de rocha da Região
Metropolitana de São Paulo
Beatriz Herter Pozzebon
Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil, biaherter@hotmail.com

Maurício Hiromi Yamaji


Planservi Engenharia Ltda., São Paulo-SP, Brasil, mauricio.yamaji@planservi.com.br

Faiçal Massad
Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil, faical.massad@poli.usp.br

RESUMO:
Este trabalho apresenta estimativas do parâmetro B̅ de Skempton dos solos utilizados para a
construção de aterros compactados no Rodoanel Norte, em São Paulo. Os solos são siltosos,
originários de filitos, granitos, ultramilonitos e metabásicas. São apresentados resultados de ensaios
de caracterização física, junto com os parâmetros de compactação, e valores de B̅, obtidos a partir
de ensaios triaxiais PN, em amostras compactadas com desvios de umidade em relação à ótima
variando entre 0% até 5% e grau de compactação em torno de 95%. Nesses ensaios a tensão
principal maior variou entre 0 e 1.200 kPa, a fim de simular as tensões verticais aplicadas pelos
aterros da obra. O trabalho mostra que, para tensões até 200 kPa, os valores de B̅ foram negativos,
fato atribuído aos baixos graus de saturação dos corpos de prova. Para tensões da ordem de
1.000kPa, o B̅ pode variar de 2% a 21%. Os menores valores (2 a 4%) referem-se à amostra de
metabásica e os maiores (8 a 21%) às amostras de ultramilonito e granito. Comparações são feitas
com dados da literatura.

PALAVRAS-CHAVE: Parâmetro B̅, pressão neutra, compactação, solos residuais, aterros.

1. INTRODUÇÃO necessárias investigações geológico-geotécnicas


e ensaios para caracterizar e obter os parâmetros
Para a construção de obras rodoviárias são geotécnicos dos solos disponíveis.
necessários serviços de terraplenagem, para se Nos lotes 14 e 15 do Trecho Norte do
conseguir obter um traçado que atenda aos Rodoanel Mario Covas, da cidade de São Paulo,
requisitos técnicos da classe rodoviária foram projetados diversos aterros compactados,
projetada. com alturas que chegam até 30 metros. A fim
No caso dos aterros compactados, sempre se de estimar valores de pressões neutras, para os
busca obter os materiais a serem utilizados, no cálculos de estabilidade, foram realizados
próprio local da obra, preferencialmente nos ensaios triaxiais do tipo PN em amostras
trechos de cortes, através de uma compensação compactadas com desvios de umidade em
volumétrica, reduzindo a demanda por áreas de relação à ótima variando entre 0% até 4% e
jazidas de empréstimo e de depósitos de mesmo 5%, mantendo-se o grau de
materiais excedentes (bota-foras). Assim, a fim compactação em torno de 95%.
de garantir fatores de segurança adequados, no Esse trabalho objetiva apresentar os
que diz respeito aos taludes e plataformas de resultados obtidos para o parâmetro de pressão
aterros, durante a etapa construtiva e, neutra B̅ de Skempton de solos residuais da
principalmente, na operação da rodovia, são Região Metropolitana de São Paulo, com
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diferentes origens litológicas, a saber, filitos,


granitos, ultramilonitos e metabásicas,
comparando-os com dados da literatura técnica.
Esses solos foram objeto de pesquisa mais
ampla de Pozzebon (2017), incluindo
características de resistência e de
deformabilidade, com resultados parcialmente
apresentados por Pozzebon et al. (2016).

2. DESCRIÇÃO GEOLÓGICA-
GEOTÉCNICA

A região do trecho do Rodoanel em estudo é Figura 1 - Amostra nº 7 (Granito milonitizado).


formada basicamente por solos de
decomposição de rocha do Pré-Cambriano da
região Metropolitana da Cidade de São Paulo.
Os ensaios foram realizados em solos
resultantes da decomposição de rochas de
filitos, granitos pouco milonitizados,
ultramilonitos e metabásicas. As Figura 1 a
Figura 3 apresentam fotos de algumas amostras
desses solos.
Foram realizados ensaios de difratometria
RX, com os ultramilonitos e com os granitos
pouco milonitizados, que mostraram a presença
predominante do mineral muscovita, Figura 2 - Amostra nº 5 (Metabásica).
aproximadamente 60%, seguido do quartzo, da
ordem de 20%, e da caulinita.

3. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO

Foram realizados séries de conjuntos de ensaios


de caracterização constituídos por limites de
Atterberg, distribuição granulométrica,
densidade real dos grãos e umidade natural.
Foram também executados ensaios de Proctor
Normal para a obtenção dos parâmetros de
compactação, ou seja, a umidade ótima e a Figura 3 – Afloramento de Filito.
densidade seca máxima. As Tabela 1 e 2
apresentam os resultados obtidos para os solos Na carta de plasticidade de Casagrande
das litologias estudadas. (Figura 4) as Amostras 1, 2, 3, 4 e 6 encontram-
Observa-se a predominância da fração de se sobre a linha A, ou próximas dela, ou seja,
silte em todas as amostras, com teores de 64% a estão entre o limite de serem classificadas como
82%, seguida pela fração de argila, com teores argilas inorgânicas de baixa plasticidade (CL) e
de 2% a 17%. O limite de liquidez variou de siltes inorgânicos de baixa plasticidade (ML). Já
35% a 55% e o de plasticidade de 10% a 22%. os solos 5 e 7, com LL>50%, são siltes
A umidade ótima média oscilou entre 18% e inorgânicos de alta plasticidade (MH).
23% e, a densidade seca máxima, entre 13,7 e
16,7 kN/m³.
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Tabela 1 – Análise granulométrica das amostras. ∆𝑢 (1)


Granulometria (%) B̅ =
∆𝜎𝑣
Litologia Areia
Argila Silte
Fina Média Grossa sendo:
1. Filito/
12 64 22 2 0 Δσv: a variação de tensão vertical total em um
Metabásica
ponto; e
2. Filito 6 82 10 1 1
Δu: a variação de pressão neutra, obtida no
3. Filito 6 82 10 1 1 ensaio ou medida no campo.
4. Ultramilonito 33 49 18 0 0 Para avaliação das pressões neutras,
5. Metabásica 28 52 18 1 1 costuma-se utilizar resultados de ensaios
6. Ultramilonito 10 77 12 1 0 triaxiais do tipo PN com medida de pressão
7. Granito pouco neutra, os quais consistem em solicitar um
17 62 10 10 1
milonitizado corpo de prova por acréscimos de tensões,
confinante e axial, de tal forma que a relação
Tabela 2 – Limites de Atterberg, densidade dos grãos, entre elas é mantida constante. Com isso
umidade ótima e densidade aparente seca máxima.
Limites de procura-se simular as tensões a que um aterro é
Atterberg %
Densidade Densidade submetido durante o seu alteamento.
hótima
Ensaio Litologia dos grãos seca máx.
(%)
LL LP IP (kN/m³) (kN/m³)
4.2. Condições de realização dos Ensaios
1
Filito/
- 37 21 16 27,7 15,0
Triaxiais PN
Metabásica

2 Filito 18,1 38 25 13 28,0 16,7 Os ensaios foram realizados variando a tensão


3 Filito 18,8 35 25 10 27,8 16,7 principal maior (σ1) entre 0 e 1.200 kPa,
4 Ultramilonito 18,9 45 28 17 28,5 15,4 visando simular as condições de alteamento dos
5 Metabásica 22,0 55 33 22 29,6 14,4 aterros da obra em estudo, e mantendo uma
6 Ultramilonito 23,2 38 28 11 28,0 15,6
Granito pouco
razão k entre as tensões principais σ1 e σ3 igual
7
milonitizado
23,2 52 38 14 27,4 13,7 a 0,5, isto é, k=σ3/σ1=0,5. Segundo Cruz (2004),
análises numéricas realizadas mostram que no
alteamento de uma barragem hipotética de
argila até a metade da altura do núcleo, os
valores de σ3/σ1 se mantém entre 0,50 e 0,60.
Corpos de prova das diversas litologias foram
moldados com desvios de umidade em relação à
ótima (Δh) variando entre 0% e 5%; o grau de
compactação (GC) foi mantido em torno de
95%.
Figura 4 - Classificação das amostras na Carta de Ainda segundo Cruz (2004), solos
Plasticidade de Casagrande.
compactados com umidades próximas à ótima e
à densidade seca máxima podem conter ar sob a
4. PARÂMETRO B̅: RESULTADOS E
forma contínua ou oclusa, fato que pode afetar o
ANÁLISES
desenvolvimento de pressão da água, quando
4.1. O parâmetro B̅ de Skempton submetidos a tensões de cisalhamento. O rápido
aumento da pressão da água, quando o solo é
Na fase de construção de um aterro compactado pouco acima da umidade ótima,
compactado, assim como os parâmetros de pode representar uma mudança de ar livre para
resistência, o parâmetro de pressão neutra B̅ de ar ocluso. Essas observações têm justificado um
Skempton, dado pela Expressão 1, tem grande estudo do parâmetro B̅ em função dos desvios
importância na sua estabilidade: de umidade em relação à ótima.
4.3. Resultados obtidos
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sendo aproximadamente 21% para desvios de


A Tabela 3 e a Figura 5 mostram variações umidade de +5%, enquanto o menor valor foi
de B̅ obtidos para σ1=1.000 kPa, em função do de cerca de 2% para o solo de metabásica, na
desvio de umidade em relação à ótima (Δh), umidade ótima. Ver também a Tabela 3.
para os solos das diversas litologias. A tensão
σ1=1.000 kPa corresponde a aterros de 50 m de
altura.

Tabela 3 - Parâmetro de pressão neutra B̅ em função de


Δh para σ1 = 1.000kPa.
Δh (%)
Amostra Litologia
0 2 4 5
Filito/
1 4,6% 5,1% 5,3%
Metabásica
2 Filito 4,1% 7,2% 10,3% 14,2%
4 Ultramilonito 3,7% 4,3% 6,2%
5 Metabásica 2,2% 2,5% 3,7% Figura 6 - Comparação entre valores de B̅ de solos do
Rodoanel com dados de Cruz (2004) para solos
6 Ultramilonito 7,3% 14,1% 21,2%
gnáissicos.
Granito pouco
7 8,0% 12,0% 14,6% 19,5%
milonitizado
As Figura 7 e 8 permitem comparar valores
de B̅ das Amostras 1 e 2, respectivamente, com
valores retirados de Cruz (1967), envolvendo
três solos de filito: Juqueri Cinza, Juqueri A e
Filito E, cujas características são semelhantes,
em termos de percentual de argila e de
plasticidade (ver a Figura 4 e a Tabela 4). Para a
Amostra 1 (filito/metabásica, Figura 7), a
semelhança em relação aos valores de Cruz é
notável, com pouca variação em relação aos
desvios de umidade Δh. Para a Amostra 2
Figura 5 - Parâmetro de pressão neutra, B̅, em função do
desvio de umidade em relação à ótima (Δh) para
(filito, Figura 8), os valores de B̅ na umidade
σ1=1.000 kPa. ótima também praticamente coincidem com os
valores obtidos por Cruz, o mesmo não
4.4. Análise dos resultados e comparações com ocorrendo para desvios de umidade 2% a 5%
dados da literatura técnica acima da ótima.

A Figura 6 mostra a comparação dos parâmetros Tabela 4 – Parâmetros dos solos residuais da bibliografia.
B̅ obtidos com valores extraídos de Cruz % Limites de Atterberg Densidade
γs,max hótima
Litologia Argila dos grãos
(2004). Tal comparação é válida para solos < 2μ LL LP IP (kN/m³)
(kN/m³) (%)
(%) (%) (%)
gnáissicos, provavelmente associados ao valor Gnaisse -
de tensão principal máxima (σ1) igual a 1000 Ponte Nova
(Cruz, 1967)
16 50 32 18 27,8 16,4 18,8

kPa e com teores de argila variando numa faixa Filito - Juqueri


A 5 44 30 14 27,6 16,1 21,7
de valores mais ampla que a dos solos (Cruz, 1967)
Filito - Juqueri
estudados. Observa-se, inicialmente, que os C 5 41 29 12 27,8 16,7 19,1
parâmetros B̅ obtidos para os solos do Rodoanel (Cruz, 1967)
Filito E. O.
Norte apresentam, em geral, valores bem (Cruz, 1967)
4 44 22 22 28,1 16,3 17,9

inferiores aos dos solos gnáissicos. O valor


máximo corresponde ao solo de ultramilonito,
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levemente superiores: situando-se entre 10% e


20%.

Figura 7 – Comparação entre valores de B̅ da Amostra 1


com dados de Cruz (1967) para solos de filito.
Figura 8 – Comparação entre valores de B̅ da Amostra 2
com dados de Cruz (1967) para solos de filito.
As Figura 9 e Figura 10 permitem comparar
os valores de B̅ obtidos para as Amostras 1 e 2,
respectivamente, com valores retirados de Cruz
(1967) para solo de gnaisse de um aterro
experimental na barragem de Ponte Nova, com
características semelhantes em termos de teor
de argila e plasticidade (ver a Figura 4 e a
Tabela 4). Observa-se que os valores de B̅ da
Amostra 1 (Figura 9) são muito próximos aos
do solo gnáissico e, os da Amostra 2 (Figura
10), são levemente superiores. Enquanto os
valores de B̅ da bibliografia são, em sua Figura 9 – Comparação entre valores de B̅ da Amostra 1
maioria, inferiores a 10%, os valores de B̅ com dados de Cruz (1967) para solo de gnaisse.
obtidos a partir de ensaios com a Amostra 2 são
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Para as Amostras 4 a 7, a comparação será feita diversos desvios de umidade, provavelmente


com dados de Cruz (2004), relativos a ensaios face a diferenças nos teores de argila e na
feitos numa gama variada de solos quanto às plasticidade.

Figura 11 - Comparação entre valores de B̅ da Amostra 4


com dados de Cruz (2004).

Figura 10 – Comparação entre valores de B̅ da Amostra 2


com dados de Cruz (1967) para solo de gnaisse.

suas litologias. Este autor identificou 6 tipos de


comportamentos no que se refere à variação de
B̅ com a pressão axial, enumerados de IA, II a
VI.
Figura 12 - Comparação entre valores de B̅ da Amostra 5
As Figura 11 a 143 mostram valores do com os retirados do livro de Cruz (2004).
parâmetro de pressão neutra, B̅, obtidos para as
Amostras 4, 5 e 6, respectivamente,
confrontados com dados de Cruz (2004) para
solos com comportamento do tipo II. Observa-
se que os parâmetros B̅ dos solos do Rodoanel
estão relativamente próximos aos valores da
bibliografia, para corpos de prova moldados
com umidades de compactação acima da
umidade ótima. Além disso, observa-se que, Figura 13 - Comparação entre valores de B̅ da Amostra 6
para tensões axiais baixas, da ordem de 0 a 200 com os retirados do livro de Cruz (2004).
kPa, os valores de B̅ obtidos são negativos, fato
atribuído aos baixos graus de saturação dos
corpos de prova, que variaram de 56 a 84% para
Δh=0 a até 5%. Pacheco Silva (1972) explica
este fato utilizando uma analogia com o
comportamento de tubos capilares equivalentes:
quando o solo é comprimido, os capilares
diminuem de tamanho, aumentando a pressão
de sucção. O ar presente nos vazios está na
pressão atmosférica, pois para solos com baixo
grau de saturação, os poros preenchidos por ar Figura 14 - Comparação entre valores de B̅ da Amostra 7
são intercomunicantes. com dados de Cruz (2004).
Na Figura 14 os valores de B̅ da Amostra 7
(granito pouco milonitizado) foram lançados 5. CONCLUSÕES
junto com dados de Cruz (2004) para solos com
comportamento do tipo IA. Como é possível O presente trabalho permitiu chegar às
observar, os valores de B̅ são diferentes para os seguintes conclusões sobre o parâmetro de
pressão neutra (B̅) dos ensaios triaxiais PN em
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solos do Rodoanel Norte de São Paulo: Grandes Barragens, 8, tema 3, v. 2, p. 8, São Paulo,
a) com baixos valores de carregamentos, até 1972. Publicação IPT n. 982, 1972.
POZZEBON, B. H.; YAMAJI, M.H. E MASSAD, F.
aproximadamente 200 kPa, os valores de B̅ são (2016). Estimativa dos parâmetros de resistência e
negativos, fato que pode ser atribuído aos deformabilidade de solos compactados de
relativamente baixos graus de saturação dos decomposição de rocha da região Metropolitana de
corpos de prova, variando de 56 a 84% para São Paulo. In: XVIII Congresso Brasileiro de
Δh=0 a até 5%; Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, 2016,
Belo Horizonte.
b) para tensões elevadas (σ1 = 1.000kPa), o B̅ http://www.cobramseg2016.com.br/index.php/anais/
variou de 2% a 21%. Os maiores valores (8 a código CB-03-0001
21%) referem-se às Amostras 6 (ultramilonitos) POZZEBON, B. H (2017). Parâmetros de solos residuais
e 7 (granito pouco milonitizado) e os menores compactados da Região Metropolitana de São Paulo
(2 a 4%), à Amostra 5 (metabásica); – Comparação com dados de outras localidades no
Brasil. 2017. Dissertação de Mestrado (Engenharia
c) os valores de B̅ da Amostra 1 (filito) Civil) - Escola Politécnica da USP.
revelaram-se inferiores ou muito próximos aos
filitos de Cruz (1967). A exceção ficou por
conta da Amostra 2, também de filito, com
valores iguais (na hótima) ou superiores (para
Δh=2%, 4% e 5%);
d) para as Amostras 4, 5 e 6 (ultramilonitos e
metabásica), os valores de B̅ para umidades
acima da ótima situaram-se relativamente
próximos aos solos do tipo II de Cruz (2004); e
f) finalmente, para a Amostra 7 (granito pouco
milonitizado), os valores de B̅ foram diferentes
para os diversos desvios de umidade aos dos
solos do tipo IA de Cruz (2004)¸ provavelmente
face às diferenças nos teores de argila e na
plasticidade.

AGRADECIMENTOS

À DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S/A),


detentora dos dados analisados, na pessoa de
seu Presidente, Laurence Casagrande Lourenço,
pela autorização para a utilização e publicação
dos resultados da pesquisa; e à Planservi
Engenharia e à Escola Politécnica da USP pelo
apoio dado ao seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

CRUZ, P. T. da, Propriedades de engenharia de solos


residuais compactados da Região Centro-Sul do
Brasil. THEMAG/DLP/ EPUSP, 1967, 191 p.
CRUZ, P. T. 100 Barragens Brasileiras: Casos
históricos, materiais de construção, projeto. 2004, 2ª
edição, 648 p.
PACHECO SILVA, F. Poro-pressões e recalques em
Barragens de terra. In: Seminário Nacional de
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Estudio del comportamiento mecánico y económico de suelos


dispersivos de la Región del Bajo Chaco – Paraguay, con adición
de cal hidratada.
Christian Krauch
Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, cm_krauch@hotmail.com

José Gómez
Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, jo_ma_gm@hotmail.com

Rubén Alcides López


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, rlopez@ing.una.py

Eduardo José Bittar


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, ebittar@ing.una.py

Ruben Alejandro Quiñónez Samaniego


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, rquinonez@ing.una.py

Fulgencio Antonio Aquino


Universidad Nacional de Asunción, San Lorenzo, Paraguay, aaquino@ing.una.py

RESUMEN: El fenómeno estudiado es la dispersión, causante de graves problemas en el desarrollo


de la infraestructura de la región. Los parámetros de estudio del experimento fueron el porcentaje de
cal hidratada, el peso específico de la mezcla de suelo-cal, el tiempo de curado de los especímenes y
la temperatura de curado. Los resultados obtenidos muestran que la cal hidratada promueve el
aumento de resistencia a compresión simple para los pesos específicos secos estudiados,
comprendiendo una faja de estudio de adición de cal hidratada del 5% al 11%. Se verifica que, para
todas las mezclas con mayor temperatura de curado (20ºC a 40ºC) aumentaron la resistencia a
compresión simple y la durabilidad de las mezclas. Por último, desde el prisma económico, se
recomienda utilizar para la estabilización, el mayor peso específico seco posible del suelo y a partir
de allí analizar el porcentaje de cal hidratada necesario para asegurar la durabilidad del suelo-cal.

PALABRAS-CLAVE: Suelos dispersivos, suelo-cal, estabilización de suelos, durabilidad, relación


vacíos/cal.

1 INTRODUCCIÓN La principal caracteristica de los suelos


dispersivos es su contenido más elevado de
El comportamiento de las arcillas dispersivas cationes de sodio (Na) en las sales disueltas en
fue observado hace más de 100 años, sin el agua de poro de los mismos. Los suelos
embargo, su naturaleza básica fue relativamente dispersivos poseen un mecanismo de erosión
bien comprendida por investigadores muy característico, en el cual la retro-erosión
geotécnicos e ingenieros agrónomos, como está asociada a un intercambio de cationes de
Richards (1954) y Volk (1937), hace más de 70 sodio en presencia del agua, lo que genera un
años. desprendimiento progresivo de las partículas
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coloidales de arcilla de abajo hacia arriba, Los resultados de la caracterización de las


generando las tubificaciones que terminan en propiedades físicas y químicas del suelo son
concavidades y erosiones profundas en las presentados en las Tablas 2.1.1. y 2.1.2.
masas de suelo. De esta forma, la erosión en las respectivamente.
arcillas dispersivas aparecen bajo pequeños Tabla 2.1.1. Propiedades físicas del suelo.
gradientes hidraulicos, llevando a problemas de Propiedad Valor
estabilidad (Sherard et al. 1976). Límite líquido 44,30%
La estabilización de este tipo de suelos es Límite plástico 15,91%
obtenida, sustituyendo los cationes de sodio por
Índice plástico 28,39%
cationes más estables, utilizándose
Peso específico de los granos (kN/m3) 26,29
principalmente cationes de calcio, obtenidos
con la aplicación de cal o yeso a los suelos %Pasante tamiz N200 93,10%
dispersivos; confiriendo así estabilidad al suelo %Materia orgánica 0,24%
y eliminando el problema de dispersión. Dispersibilidad Pinhole ND4
En el Paraguay aún no se han adoptado Clasificación AASHTO A-7-(6)
algunas medidas necesarias para enfrentar el Tabla 2.1.2. Propiedades químicas del suelo.
problema de los suelos dispersivos existentes en Parámetros Valor
la Región del Chaco Paraguayo. En ese sentido, Na (meq/L) 17,66
la expansión de la infraestructura en general de K (mEq/L) 1,03
la Región del Chaco Paraguayo es estratégica Ca (mEq/L) 0,38
para el estado paraguayo por lo que es vital la Mg (mEq/L) 0,21
elaboración de proyectos capaces de ser TSD (Total de sales disueltas) 19,27
implantados de forma económica, siendo la PS = (Na/TSD)X100 91,64%
opción predominante para este fin el uso de pH 9
suelos disponibles en la zona.
2.2 Cal hidratada
2 MATERIALES
La cal utilizada durante el trabajo fue una cal
2.1 Suelo hidratada calcítica, comercialmente llamada
“Concretcal” producida en la ciudad de
La zona de estudio se encuentra ubicada en al Concepción - Paraguay. Los ensayos para la
Departamento de Presidente Hayes (Chaco determinación de la masa específica real de los
Paraguayo). Quiñonez Samaniego (2015) granos de la cal siguen las recomendaciones de
determinó la existencia de suelos con la ASTM D854 obteniéndose un valor medio de
comportamiento dispersivo en los alrededores 24,13 kN/m3.
del municipio de Villa Hayes (Figura 2.1.1).
2.3. Agua

El agua utilizada para el moldeo de los cuerpos


de prueba fue agua destilada.

3 METODOLOGIA

Factores controlables: Peso específico del


suelo-cal: 17, 18 y 19 kN/m3; Porcentaje de cal:
5, 8, y 11%; Tiempo de curado: 7 y 28 días;
Figura 2.1.1. Extracción del Suelo y almacenamiento para Temperatura de curado: 20±2°C y 40±2°C.
su posterior análisis en laboratorio. Factores constantes: Tipo de suelo: arcilla
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dispersiva; Tipo de agente cementante: Cal Para ensayos de compresión simple se


hidratada; Temperatura de moldeo 21±2°C; utilizaron tiempos de curado de 7 y 28 días,
Porcentaje de humedad (): 13% de masa de mientras que para ensayos de durabilidad se
agua divida la masa del material seco expresado utilizó un período de 7 días.
en porcentaje. Para los ensayos se tomaron las siguientes
Las variables de respuesta son las que resultan tolerancias:
del experimento: Dispersibilidad; Resistencia a Peso específico aparente seco: ±1,0% del
la compresión simple; Pérdida de masa valor.
acumulada (PMA). Porcentaje de humedad: valor especificado
±0,5%. Para el valor determinado de 13% fue
3.1. Moldeo y curado de los especimenes tomada la franja entre 12,5% y 13,5%.
Dimensiones: diámetro 50 ± 0,5 mm y altura
El moldeo de los cuerpos de prueba para los 100 ± 1 mm.
ensayos de resistencia a compresión simple fue Para establecer un peso específico aparente
realizado en un molde cilíndrico partido en tres seco de un espécimen dado, se dá través de la
partes, con dimensiones suficientes para la masa seca de suelo-cal dividido por el volumen
confección de las muestras con 50 mm de total del espécimen. La porosidad (η) se define
diámetro y 100 mm de altura. Para la como la relación de vacíos (en volumen) sobre
elaboración de los cuerpos de prueba para el volumen total de la muestra (V). Como se
ensayos de durabilidad se utilizó el molde muestra en Eq. (3.1) (Consoli et al. 2011), la
estandarizado del Ensayo Proctor. La cantidad porosidad (η) es una función del peso unitario
de cal necesaria para cada mezcla fue calculada seco (γd), la cal hidratada (L) y el contenido del
en relación a la masa del suelo seco utilizada, a suelo (S). Cada material (suelo y de cal) tiene
cantidad de agua (porcentaje de humedad) en un peso de sólidos (GsS y GsL), que también
relación a la suma de las masas de suelo seco y debe considerarse para calcular la porosidad.
de agente cementante. La compactación fue      
     
realizada estáticamente en tres camadas en los    dV  GsS +  d
 V
 GsL 
moldes respectivos para los ensayos de  L    L  
 1+ 100    1+ 100  
 =100−100     (3.1.1)
compresión simple y durabilidad. Para el curado V
a 20±2°C fue utilizada una sala con temperatura Para el ensayo de Pinhole, el moldeo fue
y humedad controladas con la ayuda de un realizado en un molde cilíndrico de acero con
equipo de aire acondicionado. Para el curado a dimensiones suficientes para la confección de
40±2°C fue elaborada una cámara de curado al las muestras con 33 mm de diámetro y 38 mm
vapor. En la Figura 3.1.1. se puede observar el de altura. La compactación se realizó en 5
procedimiento de compactación estática, pesaje, camadas de manera manual, tomando el
y almacenamiento de los cuerpos de prueba para cuidado de escarificar levemente la parte
el curado a 40ºC. superior terminada entre camadas para aumentar
la integración. Concluído el proceso de moldeo,
el cuerpo de prueba fue pesado con el molde,
conociendo el peso del mismo.

3.2. Caracterización de Suelos

Se realizaron ensayos de granulometría,


gravedad específica real de los granos, límites
de liquidez y plasticidad, compactación y
Figura 3.1.1. Procedimientos de Moldeo y determinación de humedad. Para ensayos de
almacenamiento de las mezclas de suelo-cal.
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compactación se utilizaron las normas ASTM Norma ASTM D559. Para cada combinación de
D698 Y D1557. Para el análisis de las sales peso específico, porcentaje de cal y temperatura
disueltas en el agua de poros del suelo se utilizo de curado fue realizado un par de probetas
la Norma ASTM C1580. Los ensayos de siendo sometida una al ensayo con cepillado y
contenido de materia orgánica, siguieron la su par al ensayo sin cepillado. Al final del
norma ASTM D2974. tiempo de curado del cuerpo de prueba inician
los ciclos del ensayo. Cada ciclo de 48 horas de
3.3. Cantidad mínima de cal duración consta de las siguientes partes: 5 horas
de inmersión en agua, 42 horas de secado en
El porcentaje mínimo de cal para este trabajo se estufa a 71±3°C y una hora de intervalo para el
consideró de 5%, establecido a través de las cepillado y pesaje a fin de anotar la pérdida de
conclusiones de Consoli et al. (2016). masa. Para el cepillado se utiliza un cepillo
metálico, aplicando 18 a 20 pasadas
3.3. Ensayos de Pinhole verticalmente en el área lateral y 4 pasadas en
cada base. La fuerza de aplicación debe ser
Para los ensayos de Pinhole se siguieron las aproximadamente 13,3 N.
instrucciones de la norma ASTM D4647. En
esta metodología, la susceptibilidad a la 3.6. Análisis económico de las mezclas suelo
dispersión es evaluada mediante la clasificación cal.
de los suelos en 6 categorías, yendo desde los
no dispersivos o ND1 a los altamente Se propone la comparación de costos de las
dispersivos o D1. distintas mezclas de suelo-cal estudiadas. Para
ello se realizó el análisis de costos a través del
3.4. Ensayos de Resistencia a compresión método de los costos unitarios. En cuanto a los
simple costos horarios de los equipos utilizados, fueron
datos de una empresa local, presentados en la
La resistencia se analizó en cuanto al porcentaje Tabla 3.6.1.
de cal utilizado, el tiempo y la temperatura de
curado de tres pesos específicos diferentes para Tabla 3.6.1. Costos horarios de equipos para elaboración
la mezcla suelo-cal manteniendo constantes de suelo-cal.
todas las otras variables para todos los cuerpos Equipos Modelo HP Precio
U$s/hora
de prueba. Para los ensayos fue utilizada una
Volquete para VOLKWAGEN 220 31,50
prensa automática a velocidad de aplicación de transporte de suelos 16220
carga 10 mm/min en conjunto con un aro de Excavadora CAT 336 DL 268 96,46
capacidad de 1tf y otro de 3,5 tf. Fueron Flete para transporte SCANIA P 112 320 45,95
de Cal
seguidos los procesos establecidos en la norma
Motoniveladora CAT 140H 185 63,97
ASTM D5102. Los especimenes se sumergieron Esparcidor de Cal STOLTZ 115 35,20
bajo agua al menos 24 horas antes del ensayo, Recicladora CAT RM 350 430 118,04
con el fin de aproximar a la condición de Camión Regador de VOLKWAGEN 220 36,14
agua 16220 - 18000
saturación. Como criterio de aceptación, se Lts
definió que entre las resistencias individuales de Tractor con Rastras JOHN DEERE 150 34,85
tres cuerpos de prueba no debería exceder al 7505 - 4x4
±10% de la resistencia media del conjunto. Compactador pata CAT 815 100 39,81
de cabra
Compactador DYNAPAC 118 34,36
3.5. Ensayos de durabilidad por mojado y rodillo liso CC-421
secado. Bomba de agua JOHN DEERE- 70 14,16
Diesel
Para la ejecución del ensayo fue utilizada la
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Se consideraron seis procesos para el análisis de de cal. Cabe destacar que para 2% de cal el
costos: producción de cal, transporte de cal, suelo ya mejoró notablemente su
extracción de suelo, transporte de suelo, mezcla, comportamiento (Figura 4.2.1).
homogeneización y compactación. Para
transportes internos se utilizaron distancias
promedio de 1,5 km y un transporte teórico de
12 m3 por viaje; y para externos se utilizó la
distancia de 125 km.

4 RESULTADOS

4.1. Caracterización de suelos

El suelo arcilloso al ser combinado con un


estabilizante a base de calcio, modifica sus Figura 4.2.1. Cuerpos de prueba Pinhole test (de
izquierda a derecha: 0% cal, 1% cal, 2% cal, 3% cal, 5%
propiedades físicas, en donde las principales cal.
características son la reducción de sus
propiedades plásticas y el aumento del tamaño 4.3. Ensayos de Resistencia a compresión
de sus granos, como se presenta en la Tabla simple.
4.1.1.
Tabla 4.1.1. Índice plástico y clasificación del suelo y del En la Figura 4.3.1. son presentados los valores
suelo-cal con diferentes porcentajes de cal. de la variación de la resistencia a la compresión
Muestra IP Clasificación simple en función a la cantidad de cal para 7 y
Suelo sin adición 28,40% A-7-(6) 28 días con 20°C y 40°C de curado
Suelo + 5% Cal 9,45% A-4
respectivamente. Cada valor de resistencia,
Suelo + 8% Cal NP A-2-4
poseen el mismo porcentaje de humedad. (ω =
Suelo + 11% Cal NP A-2-4
13%). En esta Figura se puede observar la
4.2. Ensayos Pinhole influencia del tiempo de curado.

En la Tabla 4.2.1 se presentan los resultados del


ensayo del Pinhole.

Tabla 4.2.1.: Resultados del ensayo de Pinhole en cuerpos


de prueba con adición gradual de cal.
Peso específico 17 17 17 17 17
(kN/M3)
Porcentaje de cal 0 1 2 3 5
(%)
Carga Hidráulica 50 50 a 50 a 50 a 50 a
(mm) 180 1020 1020 1020 Figura 4.3.1. Gráfico comparativo de Resistencias
Diámetro del 2 1,5 1 1 1 Promedio según su Tiempo de Curado.
agujero (mm)
Clasificación ND4 ND3 ND2 ND1 ND1 A partir de los valores de las resistencias
promedio de los cuerpos de prueba, fue posible
El cuerpo de prueba inicial sin adición de cal una comparación de los mismos a fin de
resultó ser un suelo de características determinar la razón de aumento de la resistencia
dispersivas (ND4). Con la adición de 1% de cal de los cuerpos de prueba influenciada por el
fue mejorando la respuesta de la mezcla al tiempo de curado. La razón de aumento de
ensayo, llegando a ser “No dispersivo” con 3% resistencia a la compresión simple para el
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tiempo de cura de 28 días en función a los 7 Tabla 4.3.2. Razón de resistencia a la compresión simple
días de cura es presentada en la Tabla 4.3.1. para una temperatura de curado de 40°C en función a la
temperatura de 20°C.
Tabla 4.3.1. Razón de aumento de resistencia a la Tipo de CP Tasa de crecimiento 40°C/20°C
compresión simple para el tiempo de cura de 28 días en
17-5%-7días 2,94
función a los 7 días de cura.
18-5%-7días 2,40
Tipo de CP Tasa de crecimiento 28 días/7días
19-5%-7días 2,34
17-5%-40°C 1,35
17-5%-28días 2,52
18-5%-40°C 1,54
18-5%-28días 2,55
19-5%-40°C 1,55
19-5%-28días 2,20
17-5%-20°C 1,58
17-8%-7días 2,70
18-5%-20°C 1,45
18-8%-7días 2,69
19-5%-20°C 1,65
19-8%-7días 2,46
17-11%-40°C 1,69
17-11%-7días 2,56
18-11%-40°C 1,56
18-11%-7días 2,69
19-11%-40°C 1,67
19-11%-7días 2,53
17-11%-20°C 1,52
17-11%-28días 2,85
18-11%-20°C 1,54
19-11%-20°C 1,61 18-11%-28días 2,73
19-11%-28días 2,62
Promedio 1,56
Promedio 2,58
En la Figura 4.3.2. son presentados los valores
Los resultados reflejan el impacto de utilizar
de la variación de la resistencia a la compresión
temperaturas de curado mayores alcanzado la
simple en función a la temperatura de curado de
resistencia a la compresión simple para un
los cuerpos de prueba. Cada valor de
mismo tiempo de curado. Los cuerpos de
resistencia, poseen el mismo porcentaje de
prueba sometidos a una temperatura de curado
humedad. (ω = 13%). En esta Figura se puede
de 40°C experimentaron un aumento en su
observar la influencia de la temperatura de
resistencia de 2 a 3 veces con respecto a sus
curado.
pares sometidos a una temperatura de curado de
20°C. Siendo el aumento promedio de 2,58
veces en la resistencia de los cuerpos de prueba
sometidos a una temperatura de curado de 40°C
con respecto sus pares sometidos a una
temperatura de curado de 20°C.

4.3.1. Relación vacios/cal.

La relación de vacíos/cal se compara con la


Figura 4.3.2. Gráfico comparativo de Resistencias relación vacíos/cemento utilizada por Larnach
Promedio según su Temperatura de Curado. (1960) que relaciona la porosidad y el
A partir de los valores de las resistencias porcentaje volumétrico de cal a través de la
promedio, fue posible una comparación de los siguiente ecuación 4.3.1:
Vv Vv VTotal 
mismos a fin de determinar la razón de aumento = = (4.3.1)
de la resistencia de los cuerpos de prueba VL VL VTotal Liv
influenciada por el tiempo de curado. La razón En las Figuras son presentadas las curvas de
de aumento de la resistencia a la compresión ajuste de la variación de la resistencia a la
simple para la temperatura de cura de 40°C en compresión simple en función de la relación
función a la temperatura de 20°C es presentada vacíos/cal del suelo-cal para 7 y 28 días de
en la Tabla 4.3.2. curado respectivamente. Cada curva,
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independientemente, posee la misma cantidad simple en función a la relación vacíos/cal. 7 días de


de cal y todos los puntos poseen el mismo curado a 20°C.
porcentaje de humedad (ω = 13%).

Figura 4.3.5. Variación de la resistencia a la compresión


simple en función a la relación vacíos/cal. 28 días de
Figura 4.3.3. Variación de la resistencia a la compresión curado a 20°C.
simple en función a la relación vacíos/cal. (7 días de
curado a 20°C). Para la normalización de resistencias a
compresión simple, fueron obtenidas de cada
curva de resistencia (Figura 4.3.6), una
resistencia para una dosificación escogida, es
decir, qu para →  L0,16 
iv  = 25 . Cada resultado

es normalizado según las resistencias obtenidas


de su respectiva curva de compresión simple.
Finalmente se consigue una curva única,
utilizando la relación
Figura 4.3.3. Variación de la resistencia a la compresión qu qu para →  Liv  = 25
0,16
y la relación
simple en función a la relación vacíos/cal. (7 días de
curado a 40°C).  L0,16 
iv  , presentada en la Figura 4.3.7.

Una manera de compatibilizar las tasas de


variación es aplicando una potencia sobre una
de las variables (Consoli et al. 2016). En las
Figuras 4.3.4 y 4.3.5., son presentadas las
curvas de ajuste de variación de la resistencia a
la compresión simple en función a la relación
porosidad/porcentaje volumétrico de cal
ajustado por la potencia 0,16, para los cuerpos
de prueba de 7 y 28 días de curado
respectivamente. Cada curva,
independientemente, posee el mismo porcentaje
de humedad (ω = 13%).
Figura 4.3.6. Curvas de ajuste de la resistencia a la
compresión simple en función a la relación η/Liv0,16
para 7 y 28 días de curado a 20°C y 40°C.

Figura 4.3.4. Variación de la resistencia a la compresión


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mezcla de suelo-cal al 11%.

A través de las figuras presentadas, la


aceleración de los procesos químicos al utilizar
una mayor temperatura de curado, posibilita
mejorar la unión de los granos y disminuir la
pérdida de masa de los cuerpos de prueba. Los
cuerpos de prueba elaborados con mayores
pesos específicos presentan menores pérdidas
de masa.
Figura 4.3.7. Normalización de la variación de la
resistencia a la compresión simple obtenida en laboratorio 4.4.1. Relación vacios/cal.
con la relación vacíos/cal η/Liv0,16 para tiempos de
curado de 7 y 28 días con temperaturas de curado 20°C y Para ambos casos, 20°C y 40°C, Figuras 4.4.3 y
40°C. 4.4.4 respectivamente, se observa la tendencia
de verticalización de las curvas con el
4.4. Ensayos de durabilidad por mojado y
desarrollo de los ciclos. Esto se debe a que los
secado.
cuerpos de prueba con mayores relaciones de
vacíos/cal (menores pesos específicos y
En las Figuras 4.4.1 y 4.4.2, son presentadas las
menores porcentajes de cal) presentaron
curvas de pérdida de masa acumulada en
mayores pérdidas de masa durante el desarrollo
función a la temperatura de curado de los
del ensayo. Se evidencia así la influencia de la
cuerpos de prueba. Cada curva,
relación vacíos/cal en la durabilidad de las
independientemente, posee el mismo porcentaje
mezclas, teniendo un impacto positivo al
de cal y todos los puntos poseen el mismo
disminuir esta relación.
porcentaje de humedad (ω = 13%).

Figura 4.4.3. Pérdida de masa acumulada a los ciclos 1, 3,


6, 9 y 12 en función a la relación  Liv  para una
0,16
Figura 4.4.1. Pérdida de masa acumula por ciclo para una
mezcla de suelo-cal al 5%.
temperatura de curado de 20°C.

Figura 4.4.4. Pérdida de masa acumulada a los ciclos 1, 3,


Figura 4.4.2. Pérdida de masa acumula por ciclo para una
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6, 9 y 12 en función a la relación  Liv  para una Se observa que para menores relaciones de
0,16

temperatura de curado de 40°C.  L0,16 


iv  el costo de las mezclas aumenta de

forma lenta manteniendo el peso específico y da


4.5. Análisis Económicos de las mezclas suelo- grandes saltos al variar el porcentaje de cal
cal. utilizado.
En la Figura 4.5.1, son presentadas las curvas de 5 CONCLUSIONES
variación de costo en función a la resistencia
requerida. Cada curva, independientemente, A partir de la adición de cal en 5%, el indice de
posee el mismo porcentaje de cal y peso plasticidad baja de 28% para 9.5%, tornandolo
específico, y todos los puntos poseen el mismo un suelo con plasticidad apta para aplicaciones
porcentaje de humedad (ω = 13%). en usos de pavimentación.
Desde el punto de vista de la dispersión, la
adición de cal en un suelo dispersivo
(clasificación según el ensayo citado: ND4
moderadamente dispersivo) vuelve al suelo a
una clasificación no dispersiva (ND1) al
adicionar 3% de cal en cuerpos de prueba sin
curado.
Referente al comportamiento mecánico, la cal
promovió aumentos de resistencia para los tres
pesos específicos aparentes secos del suelo
estudiado. Además, se observó que el aumento
Figura 4.5.1. Variación del costo en función a la
resistencia del suelo-cal para distintos porcentajes de cal del tiempo de curado provoca un aumento de la
y pesos específicos. resistencia a la compresión simple de las
mezclas estudiadas. Se verificó que la
En la Figura 4.5.2, son presentadas las curvas resistencia a la compresión simple aumentó
de variación de costo en función a la relación considerablemente con la reducción de la
definida de vacíos/cal ajustada a un exponente porosidad de la mezcla compactada para los 3
0,16. Cada curva, independientemente, posee el porcentajes de cal. Los cuerpos de prueba
mismo porcentaje de cal y peso específico, y sometidos a curado con mayor temperatura,
todos los puntos poseen el mismo porcentaje de siendo 40°C la de esta investigación, obtuvieron
humedad ( = 13%). resistencias que duplicaron y hasta triplicaron la
resistencia de su par sometido a curado con
temperatura ambiente (20°C). Esto se explica
gracias a que la temperatura actúa como un
catalizador, acelerando las reacciones
puzolánicas y mejorando así la unión entre los
granos.
Con relación a la durabilidad de las mezclas,
el aumento de porcentaje de cal para las
mezclas de suelo-cal permite reducir la pérdida
de masa acumulada de forma significativa. Se
Figura 4.5.2. Variación del costo en función la determinó que el uso de pesos específicos bajos
relación  Liv  para distintos porcentajes de cal y
0,16
resultantes de compactación estándar resulta en
pesos específicos. un comportamiento pobre en caso de utilizar
bajos porcentajes de cal para su estabilización,
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independientemente de la temperatura de curado Compaction Characteristics of Soil Using Modified


a la que tenga que ser sometido el cuerpo de Effort, ASTM International, West Conshohocken, PA,
prueba. Al aumentar el peso específico del 2012.
cuerpo de prueba, se disminuye la pérdida de ASTM D4647, Standard Test Methods for Identification
masa acumulada. Se define que en el 100% de and Classification of Dispersive Clay Soils by the Pinhole
los pares de cuerpos de prueba estudiados, los Test, ASTM International, PA, 2013.
sometidos a temperatura de curado de 40°C
presentaron una mayor durabilidad durante el ASTM D854. Standard Test Methods for Specific
desarrollo del ensayo en comparación a los Gravity of Soil Solids by Water Pycnometer. ASTM
sometidos a 20°C. International, West Conshohocken, PA, 2014.
En referencia al comportamiento mecánico de ASTM D2974-14, Standard Test Methods for Moisture,
las mezclas suelo-cal, la relación vacios/cal Ash, and Organic Matter of Peat and Other Organic Soils,
 L0,16 
iv  , resultó ser un parametro para el ASTM International, West Conshohocken, PA, 2014.
control de resistencia y durabilidad de las ASTM C1580-15, Standard Test Method for Water-
mezclas estudiadas. Finalmente, se concluye Soluble Sulfate in Soil, ASTM International, West
que que para la estabilización de un suelo Conshohocken, PA, 2015.
arcilloso y dispersivo, éste presenta una mayor
economía con el uso del mayor peso específico CONSOLI, N. C., DALLA ROSA, A., CORTE, M. B.,
posible del suelo y a partir de allí analizar el LOPES, L. S., JR, AND CONSOLI, B. S. “Porosity-
porcentaje de cal necesario para asegurar la cement ratio controlling strength of artificially cemented
durabilidad del suelo cal. clays.” J. Mater. Civ. Eng., 2011.

CONSOLI, N. C., QUIÑÓNEZ SAMANIEGO, R. A.


AGRADECIMENTOS
AND VILLALBA, N. M. K. Durability, strength, and
stiffness of dispersive clay–lime blends. Journal of
Los autores expresan su gratitud con el
Materials in Civil Engineering, 2016.
CONACYT, por su aporte y contribución a la
Investigación, a la FIUNA por el uso de las QUIÑÓNEZ SAMANIEGO, R. A. Estabilização de um
infraestructuras. solo dispersivo com adição de cal - UFRGS, Porto
Alegre, Abril 2015.
REFERENCIAS
RICHARDS, L. A. Diagnosis and Improvemet of Saline
ASTM D2487. Standard classification of soils for and Alkali Soils. Soil and Water Conservation Research
engineering purposes. ASTM International, West Branch, Agriculture Handbook, No. 60. 160 p.,1954.
Conshohocken, PA, 2017.
SHERARD, J. L.; DUNNIGAN, L. P.; DECKER, R. S.
ASTM D5102-09. Standard Test Method for Unconfined Identification and nature of dispersive soils. Journal of the
Compressive Strength of Compacted Soil-Lime Mixtures, Geotechnical Engineering Division, ASCE, Vol. 102, p.
ASTM International, West Conshohocken, PA, 2009. pp. 287 – 301, April 1976.

ASTM D559. Standard Test Methods for Wetting and VOLK, G. M., Method of Determination of the Degree of
Drying Compacted Soil-Cement Mixtures. ASTM Dispersion of the Clay Fraction of Soils, Proceedings,
International, West Conshohocken, PA, v. 4, n. C, p. 1–8, Soil Science Society of America, vol. 2, p. 561, 1937.
2011.

ASTM D698-12. Standard Test Methods for Laboratory


Compaction Characteristics of Soil Using Standard
Effort, ASTM International, PA, 2012.

ASTM D1557-12, Standard Test Methods for Laboratory


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Estudo Comparativo de Métodos de Previsão de Capacidade de


Carga Axial e Prova de Carga Estática em Estacas Hélice
Contínua Executadas em Goiânia-GO
Hugo Rodrigo de Oliveira
Instituto Brasileiro de Educação Continuada, Goiânia, Brasil, hugorodrigo93@hotmail.com

Marcos Fábio Porto de Aguiar


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
marcosporto@ifce.edu.br

Giullia Carolina de Melo Mendes


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
giucmendes@gmail.com

Francisco Heber Lacerda de Oliveira


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, heber@det.ufc.br

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo principal comparar os resultados de previsão de
capacidade de carga pelos métodos de Aoki-Velloso (1975), Décourt-Quaresma (1978) e Antunes e
Cabral (1996) e os resultados de provas de carga estáticas realizadas em duas estacas do tipo hélice
contínua, executadas na cidade de Goiânia-GO. O método de Aoki-Velloso (1975) foi o que mais se
distanciou do valor da carga de ruptura encontrada, obtendo resultados superiores em 140% e
177%, para as estacas. O método Décourt-Quaresma (1978) apresentou resultados superiores em
cerca de 65% e 74%. Já o método que atingiu resultados mais próximos ao apresentado pela prova
de carga foi o de Antunes e Cabral (1996), alcançando valores superiores a prova de carga em cerca
de 36% e 49%. As estimativas determinadas demonstram que as cargas de ruptura reais
apresentaram resultados inferiores aos previstos nos métodos semi-empíricos. Dessa forma,
conclui-se que, provavelmente, as estacas não foram executadas de maneira apropriada, o que
acabou gerando tamanha diferença entre os valores previstos e os apresentados em campo.

PALAVRAS-CHAVE: Métodos Semi-empíricos, Fundações Profundas, Prova de Carga Estática,


Estaca Hélice Contínua.

1 INTRODUÇÃO variáveis, todas inerentes a sua localização.


Quando trata-se de previsão de capacidade
No Brasil, grande parte dos projetos de de carga, as incertezas são muitas, fazendo com
fundações profundas, que objetivam a previsão que muitos pesquisadores estudassem métodos
de capacidade de carga das estacas, são semi-empíricos para determiná-los. Dentre
baseados principalmente em sondagens do tipo várias propostas estudadas, estão os métodos de
SPT, de onde são obtidos dados como tipo de Aoki-Velloso (1975), Décourt-Quaresma
solo, índice de resistência à penetração (NSPT) e (1978) e Antunes e Cabral (1996), que são
posição do lençol freático (ABNT, 2001). A amplamente difundidos no Brasil.
principal fonte de dúvidas quanto a capacidade O presente trabalho tem por objetivo
de carga são as características do solo, pois suas comparar previsões de capacidade de carga
propriedades de resistência, compressibilidade e pelos métodos citados com os resultados de
permeabilidade são função de diversas provas de carga estáticas realizadas em duas
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estacas do tipo hélice contínua executadas em fuste, e L é a altura da camada por tipo de solo.
Goiânia-GO.
2.3 Antunes e Cabral (1996)

2 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS DE Baseados nos dados de nove provas de carga


PREVISÃO DE CAPACIDADE DE CARGA estáticas realizadas em estacas do tipo hélice
EM ESTACAS contínua, Antunes e Cabral (1996), propuseram
uma expressão de previsão de capacidade de
2.1 Aoki-Velloso (1975) carga específica para estacas hélice contínua,
como segue:
O método de Aoki-Velloso (1975) foi
desenvolvido a partir de estudo comparativo de Qu =U . ( N .1 ).L   2 .N . AP (3)
resultados de capacidade de carga em estacas e
os respectivos dados de CPT. Posteriormente,
Em que Qu é a carga última da estaca, 1 e
foi adaptado para correlações com o SPT,
resultando na seguinte expressão: 2 são fatores que dependem do tipo de solo, AP
é a área da seção, N é o índice de resistência à
kN p penetração, U é a perímetro e L é a
U
.1  .k.N L .L 
n
R= .A p  (1) profundidade da camada de solo.
F1 F2

Em que R é a capacidade de carga da estaca, 3 PROVA DE CARGA ESTÁTICA


k um coeficiente dependente do tipo de solo, NP
o valor do NSPT na cota de apoio da ponta, F1 e O ensaio de carregamento estático, segundo
F2 são fatores de correção, AP a área da ponta, Andrade (2009), tem por objetivo observar,
U é o perímetro, α o coeficiente dependente do para aplicações de cargas crescentes, o
tipo de solo, e NL valor do NSPT médio referente comportamento da fundação, até o limite de
ao ΔL, que é a altura da camada, por tipo de carga ou ruptura geotécnica completa do
solo. sistema estaca-solo. Para Velloso e Lopes
(2010), as provas de carga estáticas também
2.2 Décourt-Quaresma (1978) definem a carga de serviço nos casos em que
não se consegue realizar uma previsão do
Segundo Velloso e Lopes (2010), o método de comportamento. Segundo os mesmos autores,
Décourt-Quaresma (1978) foi proposto com como há formas de prever a carga de um
base na análise de resultados de sondagens à determinado tipo de estaca num determinado
percussão (SPT) e, visando aperfeiçoamento no terreno, esses ensaios são executados
que tange à resistência lateral, foi proposto um principalmente para verificação de
ajuste conforme expressão a seguir: comportamento previsto em projeto.
A ABNT (2006) recomenda, para esse
N  tipo de ensaio, a aplicação de carga estática em
R =  .C.N p . A p   .10. L  1.U .L (2) estágios crescentes, com acréscimos iguais onde
 3 
em cada estágio, a carga é mantida até a
estabilização dos recalques ou por um intervalo
Em que R é a capacidade de carga, α e β são mínimo de 30 minutos. A estabilização dos
coeficientes dependentes do tipo de estaca, C o recalques acontece quando a diferença entre as
coeficiente característico do solo, NP valor do leituras no instante t e t/2 resultar em até 5% do
NSPT na cota de apoio da ponta e o deslocamento ocorrido no estágio anterior.
imediatamente anterior e posterior, AP é a área
da ponta, NL o valor do NSPT, U o perímetro do
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4 ESTACA HÉLICE CONTÍNUA contínua monitorada (HCM) de 18,00 m e 19,00


m de profundidades, no Setor Bueno, conforme
A ABNT (2010) descreve a hélice contínua Figura 1, localizado na região sul da cidade de
como sendo uma estaca moldada in loco, Goiânia-GO.
composta por três etapas de execução:
perfuração, concretagem e inserção da
armadura.

4.1 Perfuração

Conforme especificado pela ABNT (2010), a


etapa de perfuração da estaca hélice contínua
consiste na introdução do trado através da
rotação da hélice contínua até a profundidade
estabelecida em projeto, sem a retirada do solo
escavado. Hachich et al. (1996) dizem que a
haste de perfuração é constituída de uma hélice
espiral contendo garras capazes de escavar o
solo em sua extremidade inferior.

4.2 Concretagem

No momento em que se atinge, na etapa de Figura 1. Localização geográfica do Setor Bueno, na


perfuração, a profundidade estabelecida em cidade de Goiânia-GO.
projeto, inicia-se o processo de injeção de
concreto sob alta pressão através da haste As sondagens, denominadas SPT-01 e SPT-
central do trado com a retirada do trado 02, apresentaram nível d’água de 1,05m e
contínuo simultaneamente (NETO, 2002). 1,10m de profundidade, e subsolo em silte
arenoso com índice de resistência à penetração
4.3 Inserção da Armadura (NSPT) variando de 7 a 50 golpes, conforme
apresentado nas Figuras 2 e 3, respectivamente.
Após as etapas de perfuração e concretagem, a
armadura é inserida manualmente por operários 5
Índice de Resistência à Penetração (NSPT)
15 25 35 45 50
(VELLOSO e LOPES, 2010). Vale salientar 0

que o tempo entre o término na concretagem e 2

início da inserção da armadura deve ser o 4


menor possível, pois o sucesso dessa etapa está
diretamente relacionada a esse fato (LÁZARO, 6
Profundidade (m)

2004). 8

10
5 RESULTADOS
12

Tendo como objetivo comparar as previsões de 14

capacidade de carga por meio dos métodos 16


citados nesse trabalho com os resultados
obtidos nas provas de carga estáticas, foram 18

realizados dois furos de sondagens SPT, bem 19

como executadas duas estacas do tipo hélice Figura 2. Variação do NSPT ao longo do furo SPT-01,
nível d’água à 1,05m.
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Na Tabela 3, é apresentado as previsões de


Índice de Resistência à Penetração (NSPT)
5 15 25 35 45 50
capacidade de carga totais pelos métodos
0 anteriormente descritos.
2
Tabela 3. Previsão das capacidades de carga totais pelos
4 métodos semi-empíricos.
Método Utilizado Capacidade de Carga (tf)
6
Estaca A Estaca B
Profundidade (m)

8 Aoki-Velloso (1975) 686,99 848,47


Décourt-Quaresma (1978) 470,87 533,85
10 Antunes e Cabral (1996) 387,83 456,32
12

Posteriormente, foram executadas duas


14
estacas do tipo hélice contínua com
16 profundidades de 19,00 metros e 18,00 metros,
18
e diâmetros de 0,60 metros e 0,70 metros,
respectivamente. Ambas foram submetidas à
19
provas de carga estática, resultando nas curvas
Figura 3. Variação do NSPT ao longo do furo SPT-02, “carga versus recalque” apresentados nas
nível d’água à 1,10m. Figuras 4 e 5, bem como os resultados de carga
de extrapolação, apresentados na Tabela 4.
A partir dos dados apresentados, pôde-se Além disso, a Tabela 5 apresenta as cargas
realizar a previsão da capacidade de carga de máximas de ensaio e os recalques
ponta e do fuste da estaca A, partindo dos correspondentes.
resultados de SPT-01 e estaca B partindo dos
resultados de SPT-02, pelos métodos de Aoki- Carga Aplicada (tf)
Velloso (1975), Décourt-Quaresma (1978) e 0 50 100 150 200 250 300 350 400
Antunes e Cabral (1996), apresentados na 0,00

Tabela 1 e 2, respectivamente. -10,00


Recalque (mm)

Tabela 1. Previsão das capacidades de carga de ponta e -20,00


lateral pelos métodos semi-empíricos para a estaca A,
partindo dos resultados de SPT-01. -30,00
Método Utilizado Capacidade de Carga (tf)
SPT-01 -40,00
Carga de Carga
Figura 4. Gráfico da curva “carga versus deslocamento”
Ponta Lateral
para a estaca A.
Aoki-Velloso (1975) 388,78 298,21
Décourt-Quaresma (1978) 106,03 364,84
Carga Aplicada (tf)
Antunes e Cabral (1996) 141,37 246,46 0 50 100 150 200 250 300 350 400
0,00

Tabela 2. Previsão das capacidades de carga de ponta e


-10,00
lateral pelos métodos semi-empíricos para a estaca B,
Recalque (mm)

partindo dos resultados de SPT-02.


-20,00
Método Utilizado Capacidade de Carga (tf)
SPT-02
-30,00
Carga de Carga
Ponta Lateral
-40,00
Aoki-Velloso (1975) 529,16 319,31
Décourt-Quaresma (1978) 141,43 392,42 Figura 5. Gráfico da curva “carga versus deslocamento”
Antunes e Cabral (1996) 192,43 263,89 para a estaca B.
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Tabela 4. Carga de extrapolação pela critério da ABNT As Tabelas 6 e 7, apresentam as diferenças


(2010) das estacas A e B, resultante das provas de carga percentuais entre o resultado de cada método e
estáticas.
Estaca de Realização da Carga de extrapolação (tf)
da prova de carga estática, para as estacas A e
Prova de Carga B, respectivamente:
Estaca A 285
Estaca B 306 Tabela 6. Diferença percentual entre a carga última
indicada pela prova de carga e as previsões pelos
Tabela 5. Cargas máximas de ensaio e recalques métodos semi-empíricos para a estaca A.
correspondentes para as provas de carga realizadas. Método Diferença Percentual (%)
Estaca de Carregamento Recalque (mm) Aoki-Velloso (1975) +141,05
Realização da máximo (tf) Décourt-Quaresma (1978) +65,22
Prova de Carga Antunes e Cabral (1996) +36,08

Estaca A 128 2,92 Tabela 7. Diferença percentual entre a carga última


indicada pela prova de carga e as previsões pelos
Estaca B 288 8,73 métodos semi-empíricos para a estaca B.
Método Diferença Percentual (%)
4.1 Análise dos Resultados Aoki-Velloso (1975) +177,28
Décourt-Quaresma (1978) +74,46
Antunes e Cabral (1996) +49,12
Apresenta-se, a seguir, nas Figuras 6 e 7, os
resultados de previsões de capacidade de carga
4.1.1 Estaca A
e provas de carga, das estacas A e B,
respectivamente.
Ao se comparar os valores previstos pelos
métodos semiempíricos de estimativa de
capacidade de carga com os valores
provenientes da extrapolação da curva “carga
versus deslocamento”, pelo critério da ABNT
(2010), sendo esse, o que obteve o resultado
mais conservador, pôde-se concluir que todos
os métodos semiempíricos apresentaram valores
superiores aos obtidos na prova de carga. O
método de Aoki-Velloso (1975) foi o que mais
se distanciou do valor da carga de ruptura
Figura 6. Gráfico dos valores de capacidade de carga encontrada, obtendo resultado superior a 140%.
pelos métodos semi-empíricos e da prova de carga para a
estaca A.
O método Decourt-Quaresma (1978)
apresentou resultado superior em cerca de 65%.
O método que atingiu resultado mais próximo
ao apresentado pela prova de carga foi o de
Antunes e Cabral (1996) alcançando valor
superior a prova de carga em cerca de 36%.
Na Tabela 8 são apresentadas as diferenças
percentuais entre os métodos de Aoki-Velloso
(1975) e Décourt-Quaresma (1978) com o
método de Antunes e Cabral (1996).

Figura 7. Gráfico dos valores de capacidade de carga


pelos métodos semi-empíricos e da prova de carga para a
estaca B.
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Tabela 8. Diferença percentual entre o método de 5 CONCLUSÕES


Antunes e Cabral (1996) e as previsões de capacidade de
carga por Aoki-Velloso (1975) e Décourt-Quaresma
(1978), para a estaca A.
De acordo com os dados apresentados nesse
Método Diferença Percentual (%) trabalho, notou-se que todos os métodos semi-
Aoki-Velloso (1975) +77,14 empíricos apresentaram previsões superiores ao
Décourt-Quaresma (1978) +21,41 determinado em campo. O método que
apresentou maior disparidade quando
Comparando-se as previsões de capacidade de comparado aos resultados de prova de carga foi
carga, pôde-se perceber que a variação o de Aoki-Velloso (1975) e o que apresentou
apresentou-se, consideravelmente maior para o menor disparidade foi o de Antunes e Cabral
método de Aoki-Velloso (1975) do que pelo (1996), sendo esse o único, entre os três
método de Décourt-Quaresma (1978). métodos apresentados, que foi desenvolvido
Pode-se notar, pelo apresentado na Tabela 1, exclusivamente para estacas hélice contínua.
que o fator que contribuiu diretamente para essa O fato das estacas não alcançarem a carga de
diferença foi o valor elevado da carga de ponta ruptura prevista nos cálculos semiempíricos
encontrada pelo método Aoki-Velloso (1975). levantam a hipótese de que as estacas não foram
executadas de maneira apropriada, o que acabou
4.1.2 Estaca B gerando tamanha diferença entre os valores
previstos e os apresentados em campo, uma vez
Assim como na estaca A, na estaca B foi que o desempenho das estacas hélice é
utilizada a carga de ruptura obtida pela severamente influenciado pelo processo
extrapolação da curva “carga versus executivo.
deslocamento”, pelo critério da ABNT (2010). Além disso, as diferenças apresentadas pelos
Todos os métodos semiempíricos apresentaram métodos entre si, reforçam a premissa de que a
valores de carga de ruptura total superiores ao precisão de cada método está diretamente ligada
indicado pela prova de carga estática. O método à experiência local e tipo de fundação para qual
de Aoki-Velloso (1975) obteve carga de ruptura ele foi inicialmente proposto. Recomenda-se
superior em 177% à obtida na prova de carga, já que mais estudos sejam realizados com outros
os métodos de Decourt-Quaresma (1978) e métodos semi-empíricos difundidos na
Antunes e Cabral (1996) apresentaram valores literatura, afim de avaliar as disparidades de
superiores em 74% e 49%, respectivamente. previsões entre os mesmos. Ademais, vale
Na Tabela 9 são apresentadas as diferenças salientar a importância do cuidado na execução
percentuais entre os métodos de Aoki-Velloso de estacas, afim de evitar as anomalias durante
(1975) e Décourt-Quaresma (1978) com o o processo.
método de Antunes e Cabral (1996).
AGRADECIMENTOS
Tabela 9. Diferença percentual entre o método de
Antunes e Cabral (1996) e as previsões de capacidade de Agradece-se ao Conselho Nacional de
carga por Aoki-Velloso (1975) e Décourt-Quaresma
(1978), para a estaca B.
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Método Diferença Percentual (%) (CNPq) pela bolsa do autor3.
Aoki-Velloso (1975) +85,94
Décourt-Quaresma (1978) +16,99 REFERÊNCIAS

Nesse caso, assim como na estaca A, pôde-se Andrade, G. M. (2009). Fundação em estaca hélice
perceber uma variação mais elevada do método contínua: Estudo de caso em obra de viaduto no
munícipio de Feira de Santana – BA. Monografia
Aoki-Velloso (1975), podendo ser explicada (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade
pelo elevado valor da carga de ponta encontrada Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana.
por esse método. Antunes, W.R e Cabral, D.A. (1996). Capacidade de
carga em estacas hélice contínua. 3º Seminário de
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Engenharia de Fundações e Geotecnia. São Paulo, 2:


105 - 109.
Aoki, N. e Velloso, D. A. (1975) An approximate method
to estimate the bearing capacity of piles. Proceedings
of Panamerican CSMFE. Buenos Aires, ARG. v. 1, p.
367 – 376.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
NBR 12131. (2006). Estacas – Prova de carga
estática: método de ensaio. Rio de Janeiro, RJ.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT).
NBR 6122. (2010). Projeto e execução de fundações.
Rio de Janeiro, RJ.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT).
NBR 6484. (2001). Sondagens de simples
reconhecimento com SPT. Rio de Janeiro, RJ.
Décourt, L., Quaresma, R. (1978) Capacidade de carga de
estacas a partir de valores de SPT. In: Anais do
CBMSEF. Rio de Janeiro, RJ. v. 1, p. 45 – 53.
Hachich, W., Falconi, F.F,. Saes, J.L., Frota, R.G.Q.,
Carvalho, C.S. & Niyama, S. (1996). Fundações
Teórica e Pratica. 1 edição, Ed. PINI, São Paulo, SP.
Lázaro, A. A., Wolle, C. M. (2004). Estacas Hélice
contínua: correlações entre a monitoração e
características do solo. In: Seminário de Engenharia
de Fundações Especiais e Geotecnia. São Paulo:
ABMS.
Neto, J. A. A. (2002). Análise do Desempenho de Estacas
Hélice Contínua e Ômega – Aspectos Executivos.
Dissertação de Mestrado. EPUSP, São Paulo, SP.
Velloso, D. A.; Lopes, F. R. (2010). Fundações: Volume
2 – Fundações Profundas. São Paulo: Editora Oficina
de Textos.
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Estudo da Estabilização de um Solo de Baixa Resistência da


Região de Concórdia-SC com Adição de Cimento
Helen Aline Jacinto
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, hlen.aline@yahoo.com

MSc. Lucas Quiocca Zampieri


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, lucas.zampieri@unoesc.edu.br

Dr. Fabiano Alexandre Nienov


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, fabiano.nienov@unoesc.edu.br

MSc. Gislaine Luvizão


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, gislaine.luvizao@unoesc.edu.br

RESUMO: O uso de técnicas tradicionais para obras de engenharia vem se mostrando


economicamente e ambientalmente inviáveis. Tal problema pode ser solucionado com o
melhoramento de solo, na qual consiste em estabilizar um solo por meio de adição de agentes
aglomerantes. Essa técnica vem sendo muito empregada na área de engenharia civil, porém ainda
não foram desenvolvidos métodos de dosagem eficazes. Dessa forma, essa pesquisa tem por
finalidade adicionar cimento para a estabilização de um solo da região de Concórdia-SC, bem como
avaliar os efeitos da relação entre porosidade e o teor volumétrico de cimento para resistência à
compressão simples das misturas. Tendo isso em vista, foram realizados ensaios de caracterização
desse solo, de modo a classificá-lo e obter suas propriedades. Também foram moldados corpos de
prova com diferentes teores, sendo eles de 1%, 3%, 5%, 7% com cura de 7,14 e 28 dias, e teores de
10%, 15% e 20% com cura de 7 dias. Como resultado obteve-se que quanto maior a adição de
cimento maior será a resistência obtida, e o oposto acontece com a porosidade, sendo que quanto
maior a relação de porosidade e teor volumétrico de cimento, menor será a resistência à compressão
simples. Além disso, foi possível comprovar através do método do pH que maiores adições de
cimento geram valores de pH próximos a 12,4, cujo valor é ideal para a estabilização de um solo.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solo. Solo-cimento. Porosidade/Teor volumétrico de


cimento.

1 INTRODUÇÃO através de agentes cimentantes como o cimento


e cal. A técnica de melhoramento de solos com
As técnicas usualmente utilizadas pela cimento tem sido um sucesso em obras de
engenharia geotécnica para a execução de pavimentação.
aterros, bases e sub-bases muitas vezes são De acordo com Fonini (2012), a
inviáveis devido à elevados custos, utilização de cimento na estabilização das
principalmente quando a jazida é distante da propriedades do solo é uma alternativa
obra. Consequentemente, essa técnica além de difundida na geotecnia. A aplicação dessa
elevar os custos da obra acarreta também nos técnica vem sendo empregada com sucesso em
danos ambientais. construções de bases para pavimentos.
Contudo, a técnica de melhorar as Quando o cimento é adicionado ao solo
propriedades do solo se apresenta como uma o termo passa a ser solo-cimento e as
possível solução. Esse melhoramento pode ser propriedades do solo se modificam. Tendo isso
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em vista é necessário avaliar fatores que


influenciam no ganho de resistência, dentre eles 2.1 Estabilização Com Cimento
pode-se citar a quantidade de cimento
adicionada, o teor de umidade, a densidade de De acordo com Senço (2001), o emprego solo-
compactação, o tempo de cura e a porosidade. cimento no Brasil iniciou-se na década de 40
Para o entendimento do comportamento devido a ampliação da malha rodoviária. A
de solo-cimento é necessário realizar estudos primeira obra de solo-cimento foi feita no
por meio de ensaios de laboratório, permitindo acesso ao aeroporto de Bauru com um trecho de
que através desses ensaios obtenha-se 500 m. A partir desse momento, o solo-cimento
parâmetros e análises. passou a ser empregado como base e sub-base.
Dessa forma, a presente pesquisa tem Conforme a NBR 12253 (ABNT, 1992),
por finalidade contribuir nos estudos de solos solo-cimento é um produto endurecido
finos com adição de cimento e analisar os resultante da cura de uma mistura compactada
fatores descritos, a fim de aumentar a de solo, cimento e água, em proporções
resistência à compressão simples. estabelecidas por dosagem.
Além disso, esse estudo proporcionará O uso do solo-cimento é empregado
identificar a dosagem de cimento adequada para quando não se dispõe de um material com as
a estabilização de um solo com baixa características necessárias ou adequadas ao
resistência de forma a melhorar as suas projeto. Das técnicas de estabilização de solos
propriedades mecânicas. O solo em estudo se mais utilizadas encontra-se a estabilização com
encontra na cidade de Concórdia-SC, cimento (INGLES E METCALF, 1972).
proveniente de uma obra de pavimentação. Segundo Silva (2007), os principais
Sendo assim, o trabalho tem por objetivos da utilização do cimento são as
justificativa avaliar se a adição de cimento melhorias das características mecânicas e uma
resultará no ganho de resistência e no suporte maior estabilidade relativa à variação do teor
adequado para as cargas geradas pelo tráfego. em água e cimento em proporções
determinadas.
2 ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS O procedimento de combinar solo com
cimento é muito parecido ao concreto, sendo a
Segundo Salles (1998), entende-se por principal diferença no agregado, onde no
estabilização de solos a utilização de processos concreto o agregado possui uma granulometria
físicos e/ou químicos visando melhorar as maior e as partículas de cimento envolvendo-o
propriedades mecânicas do solo. Através de e dando resistência ao concreto. No solo-
algum procedimento busca-se aumentar a cimento, as partículas de cimento são
resistência do solo tratado e a diminuição da sua envolvidas pelos grãos de solos finos resultando
compressibilidade e permeabilidade. em ligações menos resistentes
De acordo com Vendrusculo (1996), (VENDRUSCOLO, 1996).
existem três métodos de estabilização de solo, Pereira (2012), acrescenta que a adição
sendo eles, estabilização mecânica, do cimento em um solo é uma técnica bastante
estabilização física e a estabilização química. A difundida e usada em obras de engenharia. A
escolha do método deve levar em conta análises estabilização de pavimentos ocorre, geralmente,
econômicas, a fim de escolher o método mais nas camadas de base, sub-base e subleito.
adequado. De acordo com Salles (1998), a adição
Pereira (2012), corrobora que a de cimento no solo provoca certas alterações às
estabilização química mais utilizada é o solo- propriedades físicas desse material.
cimento, no qual o cimento proporciona um As alterações físicas nas propriedades do solo
ganho de resistência, agindo com as reações dependem de diversos fatores, podendo ser:
pozolânicas e sílica ativa presente no solo. granulometria, teor de umidade, pH, quantidade
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da adição do agente cimentante, condições de


compactação, tempo de cura, porosidade,
vazios/cimento, entre outros (FOPPA, 2005).
Conforme Ingles e Metcalf (1972), a
adição de pequenas quantidades de cimento,
podendo ser de 2%, modificará as propriedades
do solo, enquanto maiores quantidades de
adição de cimento mudarão radicalmente as
propriedades do solo.
Segundo Herzog e Mitchell (1963), o
aumento da resistência à compressão simples
com o tempo de cura se deve ao endurecimento
dos produtos cimentantes primários e à
produção de materiais cimentantes secundárias,
liberadas durante a hidratação do cimento.
Foppa (2005), em sua pesquisa, afirma
que independentemente da quantidade de Figura 1: Local de estudo
cimento adicionada, a redução da porosidade do
material promoveu ganhos de resistência à Em virtude de classificar a amostra de
compressão simples. Foppa (2005), acrescenta solo elaborou-se um resumo dos parâmetros
que essa redução na porosidade influencia no necessários. O Gráfico 1 apresenta a curva
aumento da resistência devido a existência de granulométrica a partir dos ensaios de
um maior número de contatos entre as peneiramento e sedimentação. A Tabela 1
partículas e maior intretravamento das mesmas. apresenta a determinação dos limites de
Em materiais finos, como solos Attenberg da amostra em estudo.
argilosos, a relação entre a resistência do
material e o coeficiente η/Civ afetam a
resistência do material de formas diferentes, ou
seja, o aumento do teor de aglomerante aumenta
a resistência enquanto o aumento da porosidade
diminui a resistência (SILVANI, 2017).

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Esse programa experimental baseia-se na


realização dos ensaios de compressão simples
sobre as adições de cimento pré-estabelecidos. Gráfico 1: Curva Granulométrica do Solo
Nessa etapa busca-se analisar o comportamento
do solo quando modificado quimicamente. LL (%) 69
O solo é proveniente de uma obra de LP (%) 49
pavimentação localizada na BR-153, mais IP (%) 20
precisamente no município de Concórdia-SC. A IC 1,04
Figura 1 demonstra o trecho da obra. Tabela 1: Resumo dos limites de Attenberg

Para a classificação no método H.R.B, a


qual leva em conta os limites de Attenberg
necessários para o cálculo do índice de grupo
(IG), conforme Equação 5. O solo é classificado
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como A-7-5, sendo que mais de 35% do verificar a pior condição, conforme Fotografia
material é passante na #200 e possui o IP ≤ LL- 2.
30.
Quanto a classificação SUCS o solo é
classificado como MH, por sua graduação
possuir mais de 50% passante na #200 e o valor
de LL> 50%.
O cimento utilizado para estabilização foi
Cimento Portland CP II Z-32 da empresa
Votoran.
Para a moldagem dos corpos de prova
propostos ao rompimento à compressão
simples, utilizou-se um molde cilíndrico de 5
cm de diâmetro e 10 cm de altura. Os corpos de
prova foram moldados na prensa manual do Fotografia 2: Corpos de prova em submersão
Laboratório de Materiais e Solos – Campus de
Joaçaba. Foram rompidos os corpos de prova com
A determinação da quantidade de 7, 14 e 28 dias de cura para verificação da
material utilizado para cada corpo de prova resistência a compressão simples. O
(solo + cimento + água), foi fundamentado em rompimento foi realizado na prensa hidráulica
dois valores fixados pelo ensaio do Proctor, do Laboratório de Materiais e Solos – Campus
sendo eles a massa específica aparente seca (γd) de Joaçaba, conforme Fotografia 3.
e a umidade ótima. A quantidade de água foi
adicionada com base na massa de sólidos (solo
+ cimento), de forma que se obtivesse a
umidade ótima desejada.
Os corpos de prova, após moldados,
foram colocados em um saco plástico e
vedados, a fim de reter a umidade do mesmo e
não permitir variações de umidade, conforme
Fotografia 1.

Fotografia 3: Rompimento do corpo de prova

A fim de estabelecer o teor ótimo de


cimento a ser adicionado ao solo foi adotado o
método estudado por Eades & Grim (1966), no
qual consiste em adicionar cal ao solo e realizar
medidas do pH. O teor ótimo estabelecido será
Fotografia 1: Corpos de prova confinados aquele que apresentar um pH ≥ 12,4.
Para estabelecer uma relação entre
Todos os corpos de prova foram volume de vazios e volume de cimento utilizou-
colocados em submersão por água no mínimo se da Equação 1, aplicado por Lanarch (1960) e
24 horas antes do rompimento, a fim de Foppa (2005):
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Observa-se que mesmo com valores de


resistência baixos, a resistência dos corpos de
(1) prova aumentaram quando se aumentou o teor
de cimento.
Devido aos resultados de resistência
Onde: apresentados se encontrarem abaixo do
= Porosidade; esperado, decidiu-se moldar corpos de prova
Civ = Teor volumétrico de cimento; com teores de 10%, 15% e 20% rompidos a 7
Vv = Volume de vazios; dias, pretendendo-se encontrar o melhor teor de
Vcim = Volume de cimento. cimento para a estabilização desse solo.
Sendo assim, obteve-se valores de
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS resistência maiores em função da adição de uma
RESULTADOS quantidade maior de cimento. No Gráfico 3 está
apresentado a resistência obtida para os teores
Para o ensaio de compressão simples foram de 10%, 15% e 20% rompidos a 7 dias.
testados 36 corpos de prova, sendo 9 para cada
teor em estudo, dos quais 3 foram rompidos a 7
dias, 3 rompidos a 14 dias e 3 rompidos a 28
dias.
Contudo, os CP’s de 1% e 3% não obtiveram
cimentação para os tempos de cura
estabelecidos, se desmanchando quando
colocados em submersão. Esse comportamento
pode ser explicado devido ao solo não possuir a
quantidade suficiente de sílica e alumina para
ocorrer as reações e consequentemente a
cimentação, uma vez que o cimento necessita Gráfico 3: Resistência obtida para os corpos de prova de
10%, 15% e 20%
desses componentes para ganhar resistência.
Entretanto, os corpos de prova com 5% e Em relação ao gráfico elaborado,
7% de adição obtiveram cimentação para os observa-se que para o teor de 10% a resistência
tempos de cura de 7, 14 e 28 dias. O Gráfico 2 aumentou significativamente em relação ao teor
apresenta a resistência em MPa obtida para de 7%, uma vez que o teor de 7% apresenta
cada teor de cimento juntamente com o tempo valores médios de 0,2 MPa e o teor de 10%
de cura. apresenta valores de 1,2 MPa.
Comparando o teor de 10% com o teor
de 15%, o valor da resistência dobrou,
corroborando com o descrito por Nunez (1991),
cujo o aumento da resistência é ganho pela
adição de maiores quantidades de cimento.
Além disso, o teor de 15% atingiu
valores de resistência em média de 2,1 MPa em
7 dias, critérios de aceitação especificados pela
NBR 12253 (ABNT, 1992).
No Gráfico 4 está apresentada as curvas
de variação da resistência à compressão simples
Gráfico 2: Resistência obtida para os corpos de prova de em função da porosidade do solo-cimento
5% e 7% compactado para os corpos de prova com 7 dias
de tempo de cura.
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A equação que representa o aumento da


resistência à compressão simples está
apresentada na Equação 2.

(2)

Através do coeficiente de ajuste


fornecido pela equação 2, é possível obter uma
resistência requerida, uma vez que por meio do
gráfico plotado pela relação vazios/aglomerante
gerou-se uma curva exponencial através de um
Gráfico 4: Variação da RCS em relação a porosidade solo já melhorado, assim como citado por
Foppa (2005) e Dalla Rosa (2009).
Verifica-se que a porosidade exerce Em relação ao gráfico 5, observa-se que
influência sobre a resistência à compressão quanto maior a resistência obtida menor será a
simples das misturas. Independentemente da relação η/Civ. Dessa forma, os resultados
quantidade de cimento utilizado, uma pequena obtidos vão ao encontro das descrições de
redução na porosidade promoveu ganhos Silvani (2017), onde o coeficiente η/Civ afeta a
significativos de resistência, indo ao encontro resistência, sendo que o aumento do agente
dos estudos de Foppa (2005) e Lopes Junior cimentante aumentou a resistência do material e
(2011). o aumento da porosidade diminui a resistência.
Com o intuito de estabelecer uma Com o objetivo de responder qual o teor
relação entre porosidade e teor volumétrico de ideal de cimento à ser adicionado ao solo
cimento, aplicou-se a Equação 1. A aplicação estudado, elaborou-se um método de cálculo
da fórmula foi realizada apenas para os corpos para atingir uma resistência de 2,1 MPa aos 7
de prova com teores de 5%, 7%, 10%, 15% e dias. Utilizando-se da Figura 4, para uma
20% rompidos a 7 dias, com o objetivo de resistência à compressão simples de 2,1 MPa,
comparar os resultados obtidos. Para os corpos tem-se uma relação de η/Civ igual a 8,9. Tendo
de prova com teor de 1% e 3%, não foi possível isso em vista, fixou-se um valor para a
comparar os resultados, uma vez que os corpos porosidade de 50%. Dessa forma, através da
de prova se desintegraram em saturação. equação 1, foi possível encontrar o teor ideal de
No Gráfico 5 está apresentado a relação cimento para esse solo. O teor ideal de cimento
entre resistência e η/Civ para os corpos de encontrado foi de 12,6%.
prova com teores de 5%, 7%, 10%, 15% e 20% Sendo assim, levando em consideração
rompidos a 7 dias. os resultados obtidos para esse solo, adicionado
12,6% de cimento em relação a massa de solo
será possível chegar a uma resistência de 2,1
MPa aos 7 dias, corroborando com as
prescrições da NBR 12253 (ABNT, 1992).
A fim de estabelecer uma resposta a
resistência à compressão simples, realizou-se o
ensaio do pH-metro, sendo possível estabelecer
uma relação entre os teores de cimento adotado
e os valores de pH, conforme o Gráfico 6.

Gráfico 5: Relação entre RCS e η/Civ


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de visualizar que o teor ideal de cimento está


entre 10% e 15%, corroborando com o método
de cálculo, uma vez que chegou ao teor de
12,6%.

5 CONCLUSÃO

A partir da análise e discussão dos resultados, e


a avaliação da influência de fatores
considerados (teor de cimento, porosidade,
Gráfico 6: Valores de pH para cada teor de cimento
porosidade/teor volumétrico de cimento, e pH)
sobre a resistência à compressão simples do
De acordo com Eades e Grim (1966), o
material estudado, fundou-se as seguintes
teor ótimo de cal a ser adicionado ao solo é
conclusões.
estabelecido quando o valor de pH for maior ou
Apesar da adição de pequenas
igual a 12,4. O autor define esse fator para
quantidades de cimento, como para os teores de
adições de cal ao solo, sobretudo podemos
1% e 3%, não permitir a cimentação, para
analisar que o cimento se comportou da mesma
teores de 5% e 7% houve a cimentação e gerou
forma.
resistências com valores baixos. Já para as
Por meio do gráfico 6 é possível
adições de 10%, 15% e 20% geraram valores de
distinguir que a partir do teor de 10%, o pH se
resistência à compressão simples maiores e
tornou constante, em torno de 12. Dessa forma
satisfatórios.
é possível afirmar que o teor ótimo de cimento
De acordo com o ensaio do pH, a
a ser adicionado no solo está entre os teores de
quantidade ideal de cimento a ser adicionada ao
10% a 15%.
solo resultou entre os teores de 10% a 15%
Para uma melhor visualização, no
devido à proximidade do valor do pH à 12,4 e
Gráfico 7 está demonstrado a correlação entre a
ao aumento da resistência à compressão simples
resistência, o teor de cimento e o valor do pH.
com tempo de cura de 7 dias.
Dessa forma, apresentou-se um método
de cálculo para resistência à compressão
simples com o objetivo de atingir 2,1 MPa de
resistência aos 7 dias, onde foi possível obter-se
o teor ideal de cimento para o solo estudado,
sendo ele de 12,6% de cimento. Sendo assim
pode-se comparar aos parâmetros preconizados
pela NBR 12253 (ABNT, 1992). Vale ressaltar
que o método de cálculo utilizado é possível
aplicar somente para o solo estudado e com o
cimento CP II Z-32.
Gráfico 7: Relação entre RCS, pH e teor de cimento
Além disso, é importante destacar que a
tendência da resistência à compressão simples é
Nota-se que existe uma correlação entre
de aumentar com um tempo de cura maior,
o teor de cimento, o valor do pH da mistura e o
dando mais tempo para a hidratação do
ganho de resistência. Dessa forma, comprova-se
cimento.
que quando o valor do pH aumenta, há um
Em relação a porosidade, foi possível
ganho de resistência.
perceber que o aumento da porosidade no
No gráfico 7 está apresentado por uma
material se traduz em uma resistência menor, se
linha tracejada a resistência de 2,1 MPa, a fim
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mostrando o inverso para a redução da Lopes Junior, Luizmar da Silva. Metodologia de Previsão
porosidade. do Comportamento Mecânico de Solos Tratados com
Cal. 2011. Tese (Doutorado em Engenharia) –
No que tange a porosidade/teor Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil,
volumétrico de cimento observou-se que quanto UFRGS, Porto Alegre.
maior a resistência à compressão simples
obtida, menor é a relação entre vazios/cimento, Mitchell, J. K., Herzog, A. Reactions Accompanying
demonstrando que a porosidade possui efeitos Stabilization of Clay with Cement. Transportation
Research Board, Washington, DC, Vol. 36, p. 146-
negativos no resultado de resistência. Dessa 171. 1963.
forma, a relação entre porosidade e teor
volumétrico de cimento mostrou-se a melhor Núñez, Washington Peres. Estabilização físico-química
maneira de obter uma correlação que permita a de um solo de arenito botucatu, visando seu emprego
obtenção de resistências requeridas por meio da na pavimentação. 1991. 150 p.. Dissertação
(Mestrado em Engenharia). Universidade Federal do
plotagem do gráfico, onde gera uma curva Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1991.
exponencial para um solo estabilizado.
Pereira. Kiev Luiz de Araújo. Estabilização de um Solo
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Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós Graduação
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de pavimento. Rio de Janeiro, 1992. Sales, L. F. P. Estudo do Comportamento de Fundações
Superficiais Assentes em Solos Tratados. Dissertação
Dalla Rosa, Amanda. Estudo dos parâmetros-chave no (Mestrado em Engenharia) Universidade Federal do
controle da resistência de misturas solo-cinza-cal. Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.
2009, 200 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Senço, W. (2001). Manual de Técnicas de Pavimentação.
Alegre, 2009. v.2. 1ed. São Paulo: PINI. pp. 70-131.

Eades, J. L.; Grim, R. E. A Quicktest to Determine Lime Silva, Cláudia Claumann da. Comportamento de solos
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Micromecânica. 2012, 210 p. Tese (Doutorado em Célula Cúbica: Isotropia a Pequenas Deformações e
Engenharia) – Programa de Pós Graduação em na Ruptura. 2017. 219 p. Tese (Doutorado em
Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre. Engenharia) – Programa de Pós Graduação em
Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre.
Foppa, Diego. Análise de variáveis-chave no controle da
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cimentados. 2005, 144 p. Dissertação (Mestrado em de materiais compósitos fibrosos para a aplicação
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Estudo da Estabilização do Rejeito de Manganês de Licínio de


Almeida-Ba com Uso da Cal
Deivid Sousa Lima
Faculdade de Tecnologia e Ciências-FTC, Vitória da Conquista, Brasil, de.idlima@hotmail.com

Felipe Bezerra Lima


Faculdade de Tecnologia e Ciências-FTC, Vitória da Conquista, Brasil, felipe.bzerra@yahoo.com.br

Hélio Marcos Fernandes Viana


Faculdade de Tecnologia e Ciências-FTC, Vitória da Conquista, Brasil, hmfviana@bol.com.br

João Paulo Freire Rocha


Faculdade de Tecnologia e Ciências-FTC, Vitória da Conquista, Brasil, sucesso@live.com

Rubem Xerxes Trindade Rodrigues


Faculdade de Tecnologia e Ciências-FTC, Vitória da Conquista, Brasil, rubemxr@hotmail.com

RESUMO: O presente artigo estuda o desempenho de uma mistura solo-cal, tal mistura foi elaborada
com cal e rejeito de manganês de Licínio de Almeida-Ba (caracterizado como um solo siltoso). Isto
com o propósito de atender os requisitos do DNIT para compor base de pavimentos rodoviários. A
cal incorporada ao rejeito foi uma cal hidratada CH III nos teores de 2%, 4% e 6% em peso de rejeito
de manganês. Além do mais, foram realizados ensaios laboratoriais com a mistura para determinação
dos parâmetros geotécnicos rodoviários. Também foi realizado o ensaio de compactação tipo proctor
na energia intermediária do rejeito sem adição da cal e com adição da cal hidratada nos teores de 2%,
4% e 6%. Ainda, verificou-se a eficiência de cada mistura a partir dos valores dos CBRs, para a energia
de Proctor intermediária. Destaca-se que os corpos-de-prova da mistura cal-rejeito de manganês
foram submetidos a dois tipos dis- tintos de cura: a cura imersa (15 dias) e a cura mista (4 dias imerso
e 7 dias à sombra). Finalmente, constatou-se que a mistura de cal-rejeito de manganês com teor de cal
de 2%, em peso, e cura imersa apresentou um CBR de 81,9%, o que evidencia sua utilidade para base
e sub-base de pavimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito, Cal Hidratada, Estabilização, Solo-Cal, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO década posterior, a empresa instalou-se na


região explorando a jazida de manganês,
Localizado a 744 quilômetros da principal minério da região.
capital baiana, Licínio de Almeida é um Em 1982, com a crise do petróleo, o
município situado na Região Sudoeste do município foi afetado diretamente em sua
Estado da Bahia, onde de acordo o último exploração do minério. Com a estagnação do
censo do IBGE (Instituto Brasileiro de setor, a empresa passou pelo processo de
Geografia e Estatística) o município contava privatização, com o qual surgiram
com 12.311 habitantes. Nos anos 50, uma em- consequências insatisfatórias na economia,
presa de mineração desenvolveu estudos na devido ao enxugamento no quadro de
região, e constatou a presença de manganês. Na colaboradores.
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O manganês é um minério primordial desejáveis para execução de determinadas


para a produção de aço, onde o mesmo é obras de engenharia (SOUSA, 2013).
aplicado na melhoria das propriedades de Segundo Rosa, Ferreira e Guimarães
forjamento, resistência, rigidez e resistência ao (2006) existem vários materiais que podem ser
desgaste, além de ser um importante utilizados para estabilização química dos solos,
componente de várias ligas metálicas. além do uso da cal também são empregados o
Subsequentemente, a consumação dessas ligas cimento e a emulsão asfáltica. Para Pires (2004),
ocorrerá em quase todos os tipos de aços e o solo-cimento é uma mistura íntima e bem
fundidos de ferro na indústria siderúrgica proporcionada de solo com aglomerante
(MME, 2009). A repartição siderúrgica retém hidráulico artificial denominado Cimento
85% do minério de manganês, sendo a Portland, de modo que exista uma estabilização
utilização de forma natural, transformada ou do solo pelo cimento, fazendo com que haja um
até mesmo a partir de ligas de bases do melhoramento as propriedades da mistura. De
manganês, como um dos elementos na acordo Machado (1978), o Brasil obteve a sua
fabricação de pilhas é utilizado 10%, e os 5% primeira experiência com a utilização de
restantes é beneficiados na indús- tria química pavimentos estabilizados com solo-cimento no
(MME, 2009). ano de 1942, onde foram executados dois
Para Naime e Spilk (2012), devido o trechos experimentais, o Aeroporto de Petrolina
grande impacto ambiental ocasionado pela e a estrada Caxambu-Areais.
atividade de mineração causando alteração Para Azevêdo (2010), os estudos sobre a
intensa no território a ser explorado e em estabilização de solos com utilização da cal vêm
territórios vizinhos, onde são gerados rejeitos crescendo ao longo dos anos no Brasil,
dos minérios explorados. Isto pode difundir um possuindo até mesmo obras de caráter
grave problema quando se enxerga o âmbito experimental empregando a mistura solo-cal,
ambiental. Esses impactos podem ser realizadas entres os anos de 1970 e 2000, sendo
atenuados com a utilização dos rejeitos do algumas delas a duplicação da rodovia BR- 040,
minério de manganês. Para isso, é preciso apli- trecho Belo Horizonte-MG – Sete Lagoas-MG e
cação de técnicas de execução fácil e baixo também a estabilização de solo-cal ao subleito
custo econômico. da rodovia BR-381 entre Nepomuceno-MG e
No setor da construção civil, a Três Corações- MG.
utilização do rejeito de manganês vem sendo A estabilização de solos com o emprego
estudado na indústria cerâmica. A adição de da cal resulta em melhorias significativas na
10% do rejeito de manganês à massa cerâmica textura e estrutura do solo, minimizando a
é possível alcançar aumentos de até 130% na plasticidade e gerando uma elevação na
resistência à flexão da cerâmica vermelha resistência mecânica o que não é somente
(CASTRO, 2011). possível como provável (CRISTELO, 2001).
De acordo com Cristelo (2001), em Para realização desta pesquisa, todos os
determinadas regiões, o solo local não atende corpos-de-prova foram submetidos ao ensaio de
os requisitos básicos para execução de compactação tipo Proctor na energia
pavimentos rodoviários, em virtude disso, é Intermediária, para análise em caráter qualitativo
preciso à modificação das propriedades do solo o rejeito de manganês enquadrado no grupo A-4
existente de modo a criar um material capaz de de acordo a TRB (Transportation Research
atender às necessidades da tarefa planejada. Board), foi misturado com a cal nas
A estabilização de solos é um porcentagens de 2%, 4% e 6% em peso do
tratamento aplicado ao solo, para alterar rejeito, e foi verificada a atuação da cal em
características do solo natural que são in- relação à CBR da mistura. Foram utilizados dois
processos distintos de cura: a cura imersa
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(quinze dias) e a cura mista, onde os corpos-de- óxido de cálcio ou óxido de cálcio em presença
prova ficaram quatro dias submersos e sete dias natural com o óxido de magnésio, hidratados ou
em penumbra (à sombra). não.
A amostra do rejeito coletada em Licínio
2 MATERIAIS E MÉTODOS de Almeida-Ba foi analisada pelos laboratórios
de geotecnia da Empresa Municipal de
Para realização dos ensaios geotécnicos foi Urbanização de Vitória da Conquista e pelo
retirado em um dos locais de descarte de uma Laboratório de Geotecnia de Universidade
empresa de exploração local, situada em Licínio Federal de Viçosa- UFV, onde a mesma foi
de Almeida-BA, uma amostra do rejeito de classificada como um solo A-4 (HRB, atual
manganês. A Figura 1 mostra a imagem do local TRB), solos siltosos, com pequena quantidade de
do descarte cujas coordenadas geográficas são: material grosso e pequena quantidade de argila.
latitude 14º40’43.1’S e longitude 42º30’53.8’W. Segundo a classificação MCT (Miniatura
Percebe-se, na Figura 1, que o local de descarte Compactada Tropical) o rejeito foi denominado
do rejeito de manganês é próximo a cidade. de NA’ (solo não laterítico arenoso).
O rejeito de minério de manganês, não
apresentou Limite de Liquidez (LL) nem Limite
de Plasticidade (LP), portanto não existiu Índice
de Plasticidade (IP). Segundo a classificação
USCS (Unifield Soil Classification System) o
rejeito é apresentado como SM (sandmo): areias
siltosas.
A curva Granulométrica do Rejeito de
Minério de Manganês é apresentada na Figura 2.
Além do mais, conforme parecer técnico do
Laboratório de Geotecnia da UFV e
fundamentado na NBR 6508/84 Grãos de solos
Figura 1. Localização da amostra do rejeito do minério de que passam na peneira 4,8 mm – determinação
manganês. Fonte: Google Earth (2016). da massa específica, o valor obtido pelo rejeito
para o peso específico dos sólidos foi Ɣs = 3,331
Foi realizada a coleta de 150 kg de amostra g/cm³.
do rejeito do minério de manganês conforme a
norma ABNT NBR 9604/86 – Abertura de Poço
e Trincheira de Inspeção em Solo com Retirada
de Amostras Deformadas e Indeformadas, as
amostras foram levadas ao laboratório da
Empresa Municipal de Urbanização de Vitória
da Conquista (EMURC), a qual foi submetida às
preparações segundo a norma NBR 6457/86 –
Amostras de solo: Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização, para
que fossem executados os ensaios.
Na execução dos ensaios laboratoriais
Figura 2. Curva Granulométrica do Rejeito de Minério de
utilizou-se a Cal Hidratada Itaú CH III como Manganês. Fonte: Laboratório de Geotecnia da
material estabilizante do solo ensaiado, sendo Universidade Federal de Viçosa-MG (2015).
produzida pela empresa Votorantim Cimentos
Ltda. A Figura 3 mostra, o resultado do ensaio
Segundo a NBR 11172 – Terminologia, cal de compactação de Proctor na energia
é um aglomerante cujo constituinte principal é
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intermediária. Foi também realizado o ensaio relação ao peso dos materiais e os teores de cal
CBR na energia intermediária, tais ensaios foram empregados na mistura foram de 2%, 4% e 6%.
feitos com a amostra do rejeito de manganês na Assim sendo, foram realizados ensaios de
EMURC (Empresa Municipal de Urbanização compactação na energia intermediária de Proctor
de Vitória da Conquista). para as misturas cal-rejeito de manganês para os
Verificou-se que o rejeito de minério de teores de 2%, 4% e 6%.
manganês possui um teor de umidade ótima Além do mais, foram moldados 3 (três)
(wot) com cerca de 26,8% e um peso específico corpos-de-prova nos teores 2%, 4% e 6% de cal,
seco máximo de 1,720 g/cm³. Quanto aos ensaios na mistura cal-rejeito, os quais foram submetidos
CBR máximo de 64%, a qual é um valor elevado, a cura imersa (quinze dias) e depois rompidos
mas insuficiente para fazer base de pavimento para determinação dos CBR(s) da mistura. Além
rodoviário. Destaca-se que o CBR máximo foi disso, foram moldados mais 3 (três) corpos-de-
obtido para um teor de umidade ótima de 26,8%. prova nos teores 2%,4% e 6%, na mistura cal-re-
jeito, os quais foram submetidos a cura mista de
4 (quatro) dias submersos e 7 (sete) dias à
sombra e depois rompidos para determinação
dos CBR(s) da mistura. A Tabela 1 apresenta de
forma resumida os principais resultados obtidos
dos ensaios de compactação na energia inter-
mediária de Proctor, tanto para o rejeito sem
mistura quanto para o rejeito com misturas nos
teores de 2%, 4% e 6% de cal, tais resultados
obtidos dos corpos-de-prova utilizados para os
ensaios com cura imersa e cura mista.

Tabela 1. Resultados dos ensaios de compactação na


Figura 3. Ensaio CBR tipo Proctor na Energia energia intermediária de Proctor (para cura imersa de 15
Intermediária – sem adição da cal hidratada. Fonte: dias e cura mista). Fonte: Laboratório da EMURC (2016).
Laboratório da EMURC (2015).
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE
A análise minerologica do rejeito de
RESULTADOS
manganês foi realizada a partir do ensaio de
difração de raios X, com o difratômetro de raios
Tem-se a apresentação e a discussão dos
X do IFSC (Instituto de Física de São Carlos).
principais aspectos relacionados ao estudo da
Onde, foi detectado no rejeito de manganês, os
mistura cal-rejeito de manganês tanto para cura
seguintes minerais: Gismodina, Muscovita,
imersa (15 dias) dos corpos-de-prova quanto
Caulinita e Quartzo.
para a cura mista (4 dias imerso e 7 dias à
Após, a realização dos estudos com o rejeito
sombra) dos corpos-de-prova.
de manganês sem qualquer mistura, deu-se início
A Figura 4 apresenta (para cura imersa de 15
ao estudo das misturas de cal com o rejeito de
dias e cura mista) que o peso específico seco
manganês. As misturas foram realizadas em
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máximo na energia intermediária de Proctor da 6%. Além disso, nota-se que a variação do teor
mistura cal-rejeito de manganês, para os teores de umidade ótimo do rejeito com o teor de cal é
de 0%, 2%, 4% e 6% em peso, varia com o teor uma parábola cúbica, cuja equação é apresentada
de cal conforme uma parábola do segundo grau. na Figura 5.
Além do mais, pode-se verificar que o má-
ximo peso específico ocorre para o teor de cal de
0%, onde se obteve um valor de 1,720 g/cm³ para 30,0
29,5
o peso específico seco máximo da energia 29,0
28,5
intermediária de Proctor, e a partir deste teor 28,0
27,5
tem-se que o aumento do teor de cal faz diminuir 27,0
26,5
o peso específico seco máximo da mistura cal- 26,0
25,5 Wot = -0,05(TL)3 + 0,7(TL)2 - 1,9(TL) + 26,8
rejeito. Ademais, a relação entre o teor de cal e o 25,0
24,5
peso específico seco máximo da energia 24,0
intermediária de Proctor foi excelente, pois o 0 5 10
valor do coeficiente de determinação (R²) da Teor de cal, TL, (%)
relação foi igual a 1.
Figura 5. Teores de umidade ótimos para Proctor na
energia intermediária com cura imersa (15 dias) e cura
mista (4 dias imerso e 7 dias à sombra). Fonte: Laboratório
da EMURC (2016).

1,700 A essência deste trabalho é a avaliação da


variação do CBR com teores crescentes de cal,
1,650 para a mistura cal-rejeito de manganês,
considerando-se a energia intermediária de
1,600 Proctor e dois tipos de cura: a cura imersa (15
dias) e a cura mista (4 dias imerso e 7 dias à
 = -0,00(TL) - 0,01(TL) + 1,72 sombra).
1,550 R² = 1,00
A Figura 6 apresenta a variação do CBR da
10
mistura cal-rejeito de manganês, na energia
Teor de cal, TL, (%) intermediária de Proctor, para os teores de cal de
0%, 2%, 4% e 6% em peso na mistura e para uma
Figura 4. Peso específico seco máximo para Proctor na cura imersa de 15 dias dos corpos-de-prova em
energia intermediária com cura imersa (15 dias) e cura água. Diante do exposto, na Figura 6, tem-se que
mista (4 dias imerso e 7 dias à sombra). Fonte: Laboratório
o CBR da mistura cresce com o teor de cal até o
da EMURC (2016).
valor máximo de 81,9%, e doravante, o valor do
A Figura 5 apresenta a variação do teor de CBR diminui mesmo com o aumento do teor de
umidade ótimo da mistura cal-rejeito de cal na mistura. Assim sendo, fica claro que não é
manganês (na energia intermediá- ria de Proctor), interessante a realização de misturas de cal-
para os teores de cal de 0%, 2%, 4% e 6%, rejeito de manganês para teores de cal maiores
considerando-se os corpos-de-prova utilizados que 2%. Ainda, a variação do CBR com o teor de
para a cura imersa e para a cura mista. Verifica- cal para este tipo de mistura se aplica por meio
se, na Figura 5, que o teor de umidade ótimo de uma parábola cúbica.
mínimo ocorre para o teor de 2% de cal na
mistura e corresponde a 25,4%. Ainda, para
teores de umidade maiores que 2% o teor de
umidade ótimo da mistura cal-rejeito, na energia
intermediária de Proctor sobe até o valor máximo
de 29,8%, que corresponde a um teor de cal de
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manganês foi mais significativo do que o efeito


Cura imersa (15 dias) da reação da cal com o CO2 do ar. Além disso,
sabe-se que a cal hidráulica também endurece
sob a água, embora pela quantidade de Ca(OH2),
hidróxido de cálcio, que possui sofra também
ação do CO2 (dióxido de carbono) presente no ar.
A diferença dos dias de cura imersa (15
CBR = 0,4979(TL)3 - 6,175(TL)2 + dias) para os dias cura mista (11 dias), foram 4
19,308(TL) + 64
R² = 1 dias. Talvez esta pouca quantidade de dias, que
parece insignificante, pode não ser. Assim sendo,
5 em um trabalho futuro recomenda-se que a cura
Teor de cal TL, (%)
mista seja 4 dias submersos e 11 dias à sombra
Figura 6. CBR da mistura cal-rejeito de manganês para
para ser compatível, em número de dias, com os
Proctor na energia intermediária com cura imersa (15 15 dias da cura imersa.
dias). Fonte: Laboratório da EMURC (2016). Finalmente, a Tabela 2 mostra a variação
da expansão dos corpos-de-prova no ensaio
A Figura 7 apresenta, para os corpos-de- CBR, na energia intermediária de Proctor, para a
prova compactados na energia intermediária e mistura cal-rejeito de manganês, considerando-
submetidos à cura mista (4 dias imersos e 7 dias se a cura mista e a cura imersa e a imersão
à sombra), a variação do CBR da mistura cal- normal de 4 dias do CBR (ensaio).
rejeito de manganês para os teores de cal de 0%,
2%, 4% e 6% em peso da mistura. Percebe-se
Teor de cal Expansão
que o valor máximo de CBR (71%) é obtido para CBR (%) Cura
o teor de cal de 2%, doravante, os valores do (%) (%)
CBR(s) diminuem, significativamente, até o 0 0,10 64,00 4 dias imerso
valor mínimo de 43,1%, conforme uma pa- 2 0,00 71,00 Mista (4 dias imerso e 7 dias à sombra)
rábola cúbica, cuja equação é apresentada na 4 0,00 60,10 Mista (4 dias imerso e 7 dias à sombra)
Figura 7. 6 0,00 43,10 Mista (4 dias imerso e 7 dias à sombra)
0 0,10 64,00 4 dias imerso
Cura mista (4 dias imerso e 7 dias à
2 0,00 81,90 Imersa (15 dias)
sombra) 4 0,00 74,30 Imersa (15 dias)
6 0,00 65,10 Imersa (15 dias)
90 CBR = 0,2458(TL)3 - 3,7125(TL)2 +
9,9417(TL) + 64
80 R² = 1 Tabela 2. Resultados da variação da expansão dos corpos-
70 de-prova no ensaio CBR na energia intermediária de
60 Proctor para a cura mista ( 4 dias imerso e 7 dias à sombra)
e a cura imersa (15 dias). Fonte: Laboratório da EMURC
50 (2016).
40
4 CONCLUSÃO
Teor de cal, TL, (%)
Explorar o potencial de um solo é de
Figura 7. CBR da mistura cal-rejeito de manganês para
Proctor na energia intermediária com cura mista ( 4 dias
fundamental importância para a engenharia. O
imerso e 7 dias à sombra). Fonte: Laboratório da EMURC solo estudado, foi o rejeito do minério de
(2016). manganês, retirado do município de Licínio de
Almeida-Ba, adicionando ao rejeito a cal
Parece claro com este trabalho, que o hidratada. As principais conclusões com este
efeito da água na mistura cal-rejeito de trabalho são as seguintes:
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REFERÊNCIAS
a) A estabilização do rejeito submetido à
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
cura imersa de 15 (quinze) dias com adição da 6457. Amostras de solo – preparação para ensaios de
cal hidratada no teor de 2% atende aos compactação e de caracterização. Rio de Janeiro.
requisitos exigidos pelo DNIT (Departa- 2016.
mento Nacional de Infraestrutura e Trans- NBR 6508. Grãos do solo que passam na peneira 4,8mm
portes) quanto ao CBR tipo Proctor na energia - determinação da massa especifica. Rio de Janeiro.
1984.
intermediária, podendo ser utilizado como NBR 7181. Solo - análise granulométrica. Rio de Janeiro,
base de pavimentação rodoviária, por 1984.
apresentar resistência suficiente conforme a NBR 7182. Solo -ensaio de compactação. Rio de Janeiro.
norma do DNIT 143/2010. 1986.
b) A reutilização do rejeito estabilizado com NBR 9604. Abertura de Poço e Trincheira de Inspeção em
Solo com Retirada de Amostras Deformadas e In-
a cal hidratada trará benefícios para as obras deformadas. Rio de Janeiro, 1986.
geotécnicas rodoviárias da região, além da NBR 11172/1990. Aglomerantes de origem mineral –
diminuição dos riscos ambientais provocado Terminologia. Rio de Janeiro, 1990.
pelo descarte inapropriado do rejeito no AZEVÊDO, A.L.C. Estabilização de solos com adição de
município de Licínio de Almeida- Ba. cal – um estudo a res- peito da reversibilidade das
reações que acontecem após a adição de cal. 2010. 114
c) O fato de a resistência máxima alcançada f.
no CBR da mistura cal-rejeito, com 2% de cal, Dissertação (Mestrado em Geotecnia) – Universidade
ter sido igual a 81,9%, e para porcentagens Federal de Ouro Preto – UFOP, Ouro Preto, 2010.
maiores de cal a mistura ter apresentado um Castro, C. G. Estudo do aproveitamento de rejeitos do
decréscimo no valor do CBR, é um forte beneficiamento do manganês pela indústria cerâmica.
2011.
indício de que a cal não é um bom CRISTELO, N.M.C. Estabilização de solos residuais
estabilizante para ser aplicado no rejeito de graníticos através da adição de cal. Dissertação
manganês; Assim sendo, recomenda-se (Mestrado em Engenharia Civil) – Escola de
avaliar outros tipos de estabilizantes para o Engenharia da Universidade do Minho. 2001.
rejeito de manganês, tais como: cimento DEPARTAMENTO NACIONAL DE ES- TRADAS E
RODAGEM. DNER-ME 049/94. Solos - determinação
Portland, RBI, britas, etc. do índice de suporte Califórnia utilizando amostras
d) Aparentemente o efeito da água na não trabalhadas. Rio de Janeiro, 1994.
mistura cal-rejeito de manganês parece ser DNER Manual de pavimentação. 2. Ed. Rio de Janeiro.
mais significativo do que o efeito do CO2 1996.
(dióxido de carbono) do ar no que se refere ao DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-
ESTRUTURA E TRANSPORTES - DNIT
CBR, pois a cura imersa de 15 dias forneceu 143/2010 - ES: Pavimentação - Base de solo-cimento -
maiores valores de CBR para os mesmos Especificação de serviço. Rio de Janeiro. 2010a.
teores de cal do que a cura mista (4 dias INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA- FIA E
imerso e 7 dias à sombra). ESTATÍSTICA – IBGE. Cidades. Disponível em:
e) Do ponto de vista tecnológico, é interes- http://cida-des.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&co-
dmun=291940&search=bahia|licinio-de-al-meida.
sante repetir o trabalho para uma cura mista Acesso em: 30 de agosto de 2016.
de 4 dias imerso e 11 dias seco à sombra, para MACHADO, C.F.D. Estabilização de solo típico regional
ser compatível aos 15 dias da cura imersa visando sua utilização como base de pavimentos. Porto
deste trabalho. Alegre, 1978. Dissertação (Mestrado em Engenha- ria)
– CPGEC/UFRGS.
MME, Ministério de Minas e Energia. Pro- duto 11:
Minério de manganês, Consultor. Luiz Felipe
Quaresma. Projeto de Assistência Técnica ao Setor de
Energia. Relatório Técnico 19, Perfil da mineração de
manganês. Ago. 2009. Disponível em:
http://www.mme.gov.br/sgm/galerias/arqui-
vos/plano_duo_decenal/a_mineracao_brasileira/P11_
RT19_Perfil_da_mine- raxo_de_manganxs.pdf.
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Acesso em: 30 de agosto de 2016.


NAIME, R.H.; SPILKI, F.R. Preservação ambiental e o
caso especial do manejo de resíduos de laboratório:
conceitos gerais e aplicados. Universidade FEE-
VALE, Rio Grande do Sul, 2012. ROSA, J. B.;
FERREIRA, C. J.; GUIMARÃES, R. C. Estabilização
de solos com cal para uso em pavimentação. UEG.
Goiás, p. 6. 2006.
SOUSA, A.T. de. Estudo de parâmetros de dois tipos de
solos característicos do Distrito Federal estabilizados
com cal. 2013. 70 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Engenharia Civil) – Centro
Universitário de Brasília - UniCEUB, Brasília, 2013.
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ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TEOR DE UMIDADE NA


CORRELAÇÃO DO ÍNDICE DE PENETRAÇÃO ESTÁTICO,
DINÂMICO E CBR SEM IMERSÃO
João H. Freitas (1)
Universidade Estadual de Maringá, Maringá Brasil, joaohenriquedefreitas@gmail.com
Jeselay H. Reis (2)
Dr. Professor Universidade Estadual de Maringá. Maringá Brasil, jeselay@hotmail.com
Antonio. Belincanta (3)
Dr. Professor Universidade Estadual de Maringá. Maringá Brasil, abelincanta@uem.br

RESUMO: No campo da investigação geotécnica o Penetrômetro de Cone Dinâmico (DCP) e o


Penetrométrico de Cone Estático (ECP) vêm se firmando como um método alternativo para avaliar
a capacidade de suporte de subleito de rodovias. Por meio do índice de penetração (S) do DCP ou
da tensão de ruptura (qc) do ECP é possível verificar a resistência do solo. Nesse contexto o
trabalho trata da utilização do DCP e ECP para o controle da resistência de camadas compactadas
de solo. As correlações obtidas: índice de suporte california (CBR) em função do índice de
penetração (S) e índice de suporte california (CBR) em função da tensão de ruptura (qc), resultou
em coeficientes de determinação R²=0,73 e R²=0,9 respectivamente. A partir das análises dos
resultados pode-se concluir se que o (S) e a (qc) são fortemente influenciados pelo teor de umidade,
além de serem capazes de descrever a resistência em que o solo se encontra.

PALAVRAS-CHAVE: Penetrômetro de Cone Dinâmico. Penetrométrico de Cone Estático. Teor de


umidade. Índice de suporte califórnia (CBR).

1. INTRODUÇÃO mostram-se algumas vezes inviáveis devido a


necessidade de pessoas capacitadas,
Toda obra de engenharia está relacionada laboratórios próximos a obra, equipamentos de
com o solo onde ela estará situada, pode-se fácil transporte, etc. Tais fatores implicam em
assim dizer que o conhecimento sobre o solo é custo e tempo alto, fazendo com que algumas
de fundamental importância para uma previsão obras sejam executadas sem o monitoramento
adequada do comportamento do mesmo. Por adequado (REIS; MICHELAN e
esse motivo a caracterização física e mecânica é BELINCANTA, 2004).
essencial para uma melhor análise das Pode-se destacar que um dos parâmetros de
transmissões de esforços da estrutura. relevância para os projetos de pavimentação é
Quando trata-se de obra de pavimentação, é índice de suporte califórnia (CBR), aliado ao
fundamental o conhecimento dos materiais que grau de compactação da camada.
compõe as camadas do pavimento. Entre os Um projeto adequado de pavimento é aquele
materiais destaca-se o solo, que mesmo não que combina os materiais e as espessuras de
sendo usado na camada de rolamento, será o cada camada pertencente ao pavimento,
suporte da estrutura do pavimento. conforme a rigidez de cada uma delas,
O processo de construção rodoviária deve proporcionando uma resposta estrutural do
compatibilizar-se com um constante conjunto condizente com as solicitações de
monitoramento e coletas de amostras. tráfego, (BERNUCCI et al, 2006).
Entretanto os métodos de coleta de amostras Segundo Belincanta e Reis, (2004), alguns
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ensaios em campo envolvem equipamentos de podem ser utilizados rapidamente para avaliar a
difícil transporte e instalações, fazendo com que variabilidade das condições do solo, permitindo
o levantamento de dados em campo torne-se inclusive a identificação de diferentes camadas.
oneroso e restrito para certas obras. O CBR é O penetrômetro de cone estático (ECP)
ensaio que detém tempo e custo para ser também é constituído por uma ponteira cônica,
realizado, decorrente disso a coleta de dados em que é cravada no solo, por meio de uma carga
campo se dá em um espaçamento muito grande, estática aplicada na parte superior da
refletindo assim uma falta de informações sobre composição de hastes, de forma mecânica ou
o solo a ser construído. manual, medindo ao longo da profundidade a
A investigação por meio do penetrômetro de tensão de ruptura.
cone estático (ECP) se caracteriza pela O Penetrômetro de cone estático utilizado na
determinação da tensão de ruptura (qc), valor Universidade Estadual de Maringá é constituído
que corresponde à tensão necessária para a de uma haste de penetração com 50 cm de
penetração da ponteira cônica na superfície comprimento e 15,8 mm de diâmetro, tendo em
analisada. Para o penetrômetro de cone sua extremidade uma ponteira cônica de 20 mm
dinâmico (DCP), o valor investigado é o índice de diâmetro e ângulo de ataque de 600, e por
de penetração (S), que corresponde a penetração fim também de um sistema de aplicação e de
por golpe do martelo. medição de carga. O penetrômetro de cone
Segundo Belincanta e Reis, (2004), os estático é cravado pela aplicação manual ou
parâmetros de índice de penetração (S) e de mecânica de carga estática, sendo esta carga
tensão de ruptura (qc), apesar de sua geralmente medida por meio de anel
dependência com o peso específico aparente dinamométrico.
seco do solo, são fortemente afetados pelo teor O Penetrômetro de cone dinâmico utilizado
de umidade presente no solo. Assim sendo, este na Universidade Estadual de Maringá é
trabalho apresenta uma análise da variação do constituído de um conjunto de hastes metálicas
índice de penetração (S) e da tensão de ruptura de aço de 15,8 mm, de cravação e de guia, uma
(qc) com os índices físicos do solo: teor de cabeça de bater e um martelo. O conjunto de
umidade (w) e peso especifico aparente seco hastes de cravação de 15,8mm de diâmetro
(γd), além da correlação com o CBR sem possui em sua extremidade uma ponteira cônica
imersão. de aço com 20 mm de diâmetro e ângulo de
ataque de 60º. O conjunto penetra no solo sob
2. CARACTERÍSTICAS DOS ação da queda livre de uma martelo de 80 N, de
PENETRÔMETROS ESTÁTICO E 50 mm de diâmetro, direcionado por uma haste
DINÂMICO, UTILIZADOS guia de 15,8 mm de diâmetro, operado com
altura de queda de 553 mm.
Para Stolf (1991) os Penetrômetros são A partir dos dados obtidos em campo traça-
instrumentos que permitem realizar ensaios de se a curva do DCP, sendo nas ordenadas as
penetração no solo em seu estado natural ou profundidades de cravação em (cm) e nas
compactado, com objetivo da avaliação da abscissas o número de golpes para alcançar a
resistência. profundidade de cravação. Neste caso a
O DCP (Penetrômetro de Cone Dinâmico) é inclinação da curva se relacionaria com o índice
constituído de uma ponteira cônica, cravada no de penetração (S) em cm/golpe.
solo através do impacto de um martelo em Segundo Alves (2002) por meio da curva do
queda livre, com energia padronizada. É um DCP, pode-se verificar a homogeneidade de
dispositivo leve, que pode ser compactação no decorrer da profundidade da
convenientemente utilizado para a investigação camada analisada, ou a distinção das camadas
de aterro compactado ou não, inclusive em de solo.
locais de difícil acesso. Os resultados do DCP Quanto às vantagens dos penetrômetros de
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cone dinâmico e estático, observa-se que são


ferramentas extremamente versáteis, simples na
Harison (1986 e1987), na Austrália
conceituação e na operação. São relativamente
desenvolveu uma série de correlações com base
rápidos na obtenção de resultados e
em ensaios laboratoriais, realizados com solos
efetivamente econômicos, quando comparados
argilosos, arenosos bem graduados e
aos demais ensaios convencionalmente usados
pedregulhosos. A seguir tem-se as equações
(EDIL; BENSON, 2004). Não é necessária uma
obtidas:
frequência constante de aplicação de golpes ou
de força. A execução do ensaio é relativamente
simples (BELINCANTA; REIS; MICHELAN,
2010). É um equipamento portátil, de fácil
manuseio e transporte.
Pode-se destacar como desvantagem da
utilização dos penetrômetros de cone dinâmico
e estático: a elevada variação dos resultados no
caso de materiais granulares. O uso do DCP
para materiais granulares grosseiros é Os coeficientes de determinação e tipo
contestável e questionável (FILHO, 2004). A de solo está descrito em função da equação.
correlação entre índice de penetração e a tensão Equação 3, R²=0,97, solo argiloso. Eq. 4,
de ruptura é empírica. O DCP não é um ensaio R²=0,92, solo arenoso. Eq. 5, R²=0,96, solo
que fornece as propriedades diretamente, e sim pedregulhoso. Eq. 6, R²=0,98, todos tipos de
um ensaio que fornece índices a serem solo.
relacionados com os parâmetros do solo através Webster et al (1992), nos Estados
de correlações (BELINCANTA; REIS; Unidos desenvolveram as correlações utilizadas
MICHELAN, 2010). pelo US Army Corps of Engineers (USACE) e
posteriormente adotada como referência pela
3. CORRELAÇÕES ENTRE CBR E CDP ASTM International. O estudo desenvolveu-se
baseado na análise in situ de diferentes tipos de
Kleyn (1975), na África do Sul obteve solo, não foram apresentado os números de
uma relação fundamentada em experimentos em pares ensaiados e o coeficiente de determinação
laboratório, realizados com 2000 pares de R².A seguir tem-se as equações obtidas:
(DCP; CBR), a equação obtida é atualmente
utilizada por Saskatchewan Highways and
Transportantion. Detalhes do ensaio e o
coeficientes de determinação (R²), não foram
apresentados. A seguir tem-se a equação:
O tipo de solo está descrito em função
da equação. Eq. 7, Solos de Classificação CL
com CBR <10. Eq. 8, Solos de Classificação
O Transport Research Laboratory- TRL
CH. Eq. 9, outros tipos de solo Solos.
(1986), da Inglaterra desenvolveu sua própria
correlação. Os procedimentos de ensaio, 4. RELAÇÃO DO ÍNDICE DE
características geotécnicas dos materiais, PENETRAÇÃO (S) COM O TEOR DE
número de ensaio e o coeficiente de UMIDADE E PESO ESPECÍFICO
determinação R², não foram apresentados. A APARENTE SECO
equação 7.7 apresenta a correlação utilizada por
TRL: Em experimentos realizados
anteriormente com solo compactado pode-se
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observar que há uma relação biunívoca do


índice de penetração com o teor de umidade e
peso especifico aparente seco do solo ou grau
de compactação, sendo do tipo das equações 1 e
2 (BELINCANTA; REIS, 2004)

 w wot 
 d max c  2
wot 

S  c1 e
d (1)

 w  wot 
c1 c2  
GC  e 
wot
(2)
Figura 1: Relação do índice de penetração em função
S do teor de umidade.

Onde o S é o índice de penetração em Segundo Belincanta; Lukiantchuki; Reis


(cm/golpe); γd é o peso especifico aparente seco (2016), o uso do DCP no controle da
do solo; w é o teor de umidade presente no solo; compactação no campo é de um grande
wot. e γdmax. são respectivamente o teor de potencial. Desta forma, o controle pode ser
umidade ótima e peso específico aparente seco realizado in situ medindo-se o índice de
máximo, obtidos em ensaios de compactação de penetração (S) e o teor de umidade do solo
laboratório, c1 e c2 são as constantes de ajustes e compactado. Uma vez que eles estão
GC grau de compactação em porcentagem. diretamente relacionados com o grau de
Pode-se observar pela equação acima compactação da camada.
que o índice de penetração (S) depende
fortemente dos índices físicos do solo. Na 5. MATERIAS E MÉTODOS
equação 1 observa-se que o índice de
penetração é inversamente proporcional ao peso O solo estudado foi coletado na cidade
especifico aparente seco do solo (γd), porém, no de Mandaguaçu, localizada na Região Noroeste
que se refere ao teor de umidade, verifica-se do Estado do Paraná. A amostra coletada para a
que a relação é do tipo exponencial, sendo esta realização dos experimentos em laboratório foi
última observação ilustrada na Figura 1, retirada de uma camada superficial de solo
proveniente de dados obtidos com solo evoluído. A quantidade de material coletado foi
compactado em laboratório e no campo estimada, considerando os ensaios de
(BELINCANTA; LUKIANTCHUKI; REIS, compactação e ensaios de penetração de cone
2016). estático e dinâmico. Após a coleta do solo,
realizou-se a preparação do mesmo por meio do
destorroamento e peneiramento na peneira de
malha de 2 mm (peneira n°10). Após a
homogeneização do solo, o mesmo foi
acondicionado em barris de plástico,
devidamente identificado e estocado no
Laboratório de solos do Departamento de
Engenharia Civil (DEC).
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5.1. Solo Estudado pequenos.


Os corpos de prova compactados para os
O solo estudado provém da camada ensaios penetrométricos foram moldados no
superficial de solo evoluído, originário do cilindro grande de compactação, sem espaçador,
Arenito Caiuá. Apresenta-se com a textura de disponibilizando desta maneira uma maior
areno-argilosa e está englobado na classe do profundidade de penetração, mantendo-se a
Latossolo Vermelho distrófico (antigo energia normal de compactação.
Latossolo Vermelho-escuro). Para um melhor estudo do comportamento
Existem diversos sistemas de do solo frente ao CBR sem imersão, sendo dois
classificação de solos, o método utilizado para o acima e dois abaixo da umidade ótima. Diante
presente trabalho baseia-se, na análise disso moldou-se 3 corpo de prova para cada γd
granulométrica e na HRB/AASHTO (Highway e umidade, totalizando 15 corpos de prova para
Research Board). Pelos dados contidos na o reconhecimento do solo.
Tabela 1, este solo é do tipo areia argilosa, A-2- Para um melhor estudo do comportamento
6. do solo frente ao índice de penetração (S),
foram moldados três séries de quatro corpos de
Tabela 1. Características do solo prova, compactados nos teores de umidade
Local da retirada Mandaguaçu relacionados à ótima (wot): sendo dois acima e
Areia 66,03 dois abaixo da umidade ótima, totalizando 12
Argila 28,91 corpos de prova.
Silte 5,46 Para os ensaios com penetrômetro de cone
estático, foram moldados duas series de cinco
LL (%) 30
corpo de prova de prova, compactados nos
LP (%) 17 teores de umidade relacionados à ótima (wot),
IP (%) 13 sendo dois acima e três abaixo da umidade
IG 0,6 ótima, totalizando dez corpos de prova.
HRB A-2-6
NBR 6508/95 Areia argilosa 6. RESULTADOS E ANALISE

Em termos de compactação na energia Os resultados obtidos nesse trabalho são


normal, este solo se apresenta um teor ótimo de apresentados na forma de tabelas e gráficos,
umidade de 12,6 % e um peso especifico com a devida análise.
aparente seco máximo de 18,9 (kN/m³).
6.1. Resultado do Ensaio de CBR Sem
5.2. Ensaios Realizados e Procedimentos Imersão

Com o solo coletado foram realizados em A Tabela 2 apresenta os valores médios


laboratório ensaios visando a caracterização e a calculados de índice de suporte Califórnia
compactação, utilizando para isto as normas (CBR) sem imersão, dos cinco corpos de prova
vigentes da Associação Brasileira de Normas para os valores de penetração padrão, que
Técnicas (ABNT), entre elas as NBR correspondem aos valores de +1%, +2% acima
6457(1986), NBR 6508(1984), NBR da umidade ótima e -1%,-2% abaixo da
7181(1984) e NBR 7182(1984), umidade ótima.
respectivamente indicadas nas referências
9,10,11 e 12.
No ensaio de compactação os corpos de
prova foram moldados na energia normal (600
kN.m/m³), com o uso do cilindro e soquete
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Tabela 2. Valores médios de CBR


Pressão Kgf/cm² 6.3. Índice De Penetração (S) e (γd) Em
CP-W Penet. Calculado Padrão CBR Função do Teor de Umidade (W)
(%) (mm) (Kgf/cm²) (%) (%)
2,54 22,59 70 32,27
Observa-se na Figura 3 a combinação de
10,9 dois gráficos independentes: obtidos pela média
5,08 32,27 105 30,73
de três valores de índice de penetração (S) em
2,54 21,46 70 30,66
11,9 função do teor de umidade (w) e peso
5,08 31,55 105 30,05 específico aparente seco (γd) em função do teor
2,54 20,29 70 28,99 de umidade (w), para o solo compactado na
12,9
5,08 30,19 105 28,75 energia normal. Para cada valor de umidade, o
2,54 4,81 70 6,87 solo se apresenta com um índice de penetração
13,9
5,08 9,14 105 8,70 distinto, sendo crescente com o valor da
2,54 2,36 70 3,37 umidade.
14,9
5,08 4,36 105 4,15
(S x w) Compact.(γd x w)
7 1,88
Para cada valor de umidade, o solo apresenta 6 1,86
uma capacidade de suporte diferente, valores 5 1,84
S (cm/golpe)

γd (g.f/cm³)
próximo da umidade ótima localizado no ramo 4 1,82
seco apresenta-se um CBR (sem imersão) 3 1,80
elevado. Conforme a Figura 2 1,78
1 1,76
6.2. Tensão de Ruptura (qc) e (γd) em
0 1,74
Função do Teor de Umidade (W) 10,00 12,00 14,00
Umidade (%)
Observa-se na Figura 2 a combinação de Figura 3. Curvas de índice de penetração (S) e (γd) em
dois gráficos independentes: obtidos pela média função da umidade de compactação (w).
dos pares de tensão de ruptura (qc) em função
do teor de umidade (w) e peso específico 6.4. Índice de Penetração (S) em Função do
aparente seco (γd) em função do teor de Teor de Umidade (W)
umidade (w), para o solo compactado na
energia normal. Para cada valor de umidade, o Na figura 4 apresenta-se a linha de tendência
solo se apresenta com uma tensão de ruptura ajustada do tipo exponencial, relacionando o
distinta, sendo decrescente com o valor da índice de penetração (S), em cm/golpe, com o
umidade. teor de umidade (w), em porcentagem, para solo
(qc x w) Compact.(γd x w) compactado na energia normal. Nota-se que o
100 1,95
índice de penetração é crescente com o teor de
80 1,90 umidade, de forma exponencial, colaborando
qc (kgf/cm²)

γd (g.f/cm³)

60 com o observado na pesquisa [8].


1,85
40
20 1,80

0 1,75
10,00 11,00 12,00 13,00 14,00
Umidade (%)
Figura 2. Curvas de tensão de ruptura (qc) e (γd) em
função da umidade de compactação (w).
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profundidade que o cone penetra e o número de


8 golpes necessários, é possível definir o valor do
S = 0,0062e0,4661w
CBR médio da camada penetrada. A seguir
R² = 0,9444
S (cm/golpe)

6 tem-se a correlação encontrada.


4 40
35

CBR (Kgf/cm²)
2 30 CBR = 54,907(S)-1,49
25 R² = 0,733
0 20
10 12 14 16 15
w (%) 10
Figura 4. Índice de penetração em função do teor de 5
umidade, para o solo compactado na energia normal. 0
0 2 4 6 8
S (cm/golpe)
Figura 6. Curva de correlação entre CBR e S.
6.5. Correlação Entre o Índice de 7. CONCLUSÕES
Penetração (S) e Tensão de Ruptura (qc)
Com o Índice de Suporte Califórnia Nesta seção serão apresentadas as principais
(CBR) conclusões desta pesquisa. Vale ressaltar que as
conclusões apresentadas estão associadas ao
No Brasil o método de dimensionamento tipo de solo estudado, coletado na cidade de
adotado está relacionado na estimativa da Mandaguaçu-Pr, localizada na Região Noroeste
capacidade de suporte das camadas inferiores do Estado do Paraná, sendo este solo um A-2-6,
do pavimento, representado pelo índice de areia argilosa, solo evoluído proveniente do
suporte Califórnia (CBR). Diante dessa Arenito Caiuá.
realidade o presente trabalho busca oferecer A partir das análises dos resultados pode-se
correlações (S)×(CBR) e (qc)×(CBR). verificar que o índice de penetração (S) e a
Na Figura 5 tem-se a correlação obtida entre tensão de ruptura (qc) são fortemente
índice de suporte califórnia (CBR) por tensão influenciados pelo teor de umidade de
de ruptura (qc). Através do gráfico S×CBR, compactação. Pode-se verificar que os
conhecida a tensão de ruptura é possível definir parâmetros obtidos por meio dos penetrômetros
o valor de CBR médio da camada penetrada. A são capazes de descrever a condição de
seguir tem-se a correlação encontrada. resistência em que o solo compactado na
energia normal se encontra. Verifica-se que a
40 relação da curva índice de penetração em
35 CBR = 21,554ln(qc) - 64,25 função do teor de umidade, ajustada do tipo
30 R² = 0,9017 exponencial, apresenta-se com coeficiente de
CBR (%)

25
20 determinação R²=0,9444, considerado um bom
15 ajuste para os propósitos de engenharia.
10 A partir das análises dos resultados pode-se
5 verificar que o índice de penetração (S) e a
0
tensão de ruptura (qc) apresenta correlação com
0 20 40 60 80 100
o índice de suporte Califórnia, uma vez que
qc (kgf/cm²) seus coeficientes de determinação foram
Figura 5. Curva de correlação entre CBR e qc.
respectivamente R²=0,90 e R²=0,73 considerado
um bom ajuste para os propósitos de
Na Figura 6 tem-se a correlação obtida entre engenharia.
índice de suporte califórnia por índice de Conclui se que os penetrômetros possuem
penetração (S). Através do gráfico, conhecida a
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grande potencial na identificação do suporte de controle tecnológico de execução da camada final de


camadas superficiais de solo do tipo A-2-6. terraplanagem utilizando o penetrômetro dinâmico de
cone. GEOSUL 2002.
Porem há necessidade de maior números de
ensaios implicando em melhores curvas de Edil, T. B.; Benson, C. H. Investigation of soil stiffness
calibração em função do CBR. Conclui se que gauge and dynamic cone penetrometer for earthwork
os penetrômetros são afetados pela presença de property evaluation. Wisconsin: University of
agua. Wisconsin-Madson, 2004.

Belincanta, A.; Reis, J.; Michelan, P. P.; Estudo de


AGRADECIMENTOS correlação entre ensaios penetro métricos estáticos e
dinâmicos. In: engenharia geotécnica para
Primeiramente a Deus por tudo que vem me desenvolvimento, inovação e sustentabilidade.
proporcionando. Agradeço aos meus pais e Maringá: 2010 UEM.
amigos pelo apoio. Agradeço aos técnicos e Filho, H. B. M. Aplicação do cone de penetração
professores da UEM, principalmente aos dinâmica (CPD) como alternativa para fundações
professores Jeselay Hemetério dos Reis e rasas. 2007. 128f. Dissertação (Mestrado em
Antonio Belicanta, pelo apoio na pesquisa. Por Engenharia civil- área Geotecnia) – Universidade
fim agradece a Universidade Estadual de Federal de Campina Grande, Campina Grande, PA-
Brasil. 2004.
Maringá-UEM pelos recursos para a realização
do trabalho. Belincanta, A.; Reis, J.: Avaliação do uso de
penetrômetro dinâmico de cone para controle de
REFERÊNCIAS execução das fundações de pavimentos rodoviários.
Maringá: UEM, 2004.
KLEYN, E.G. The Use of Dynamic Cone Penetrometer. Belincanta, A.; J.Lukiantchuki, A.; Reis, J. H. C. Control
Transvaal Road Departament, Africa do Sul, Report of soil compaction in pavement layers: A new
L2/74, 1975, 50p. approach using the dynamic cone penetrometer
(DCP).State University of Maringa, Department of
Civil Engineering. International Conference on
TRANSPORT AND ROAD RESEARCH Geotechnical and Geophysical site Characterisation,
LABORATORY-TRRL.Correlation Between DCP 2016, Gold Coast, 5th ISC, 2016, Australia.
and CBR. Overseas Unit. Road Unit No. 8.
Crowthorne, Berkshire, United Kingdom 1986

HARISON, J.A.Correlation Between California Bearing


Ratio and Dynamic Cone Penetrometer Strenght
Measurement of Soil. Proc. Instn. Civ. Engs. Part
2,93, Technical Note No. 463, 1987.

HARISON, J. A. Correlation of CBR and Dynamic Cone


Penetrometer Strenght Measurement of Soil.
Australian Road Research, Technical Norte No. 2,
1986, Salvador, p.140-149

WEBSTER, S.L.; GRAU,R.H; WILLIAMS, R.P.


Description and Application of Dual Mass Dynamic
Cone Penetrometer. Report, No. GL-92-3.
Departmant of the Army, Washington DC, 1992.
p.19.

Stolf, R (1991): Teoria e teste experimental de fórmulas


de transformação dos dados de penetrômetro de
impacto em resistência do solo. Revista Brasileira de
Ciência do Solo, Campinas, v.15, n.2.

Alves, A. B. C; M.Sc; Triches, G. Metodologia de


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Estudo da Permeabilidade e Coesão em Argamassas Mistas


Contendo Saibro
Wellington Amorim Rêgo
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, regamorim@gmail.com

Romilde Almeida de Oliveira


Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, romildealmeida@gmail.com

Vanderley Moacyr John


Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, vanderley.john@poli.usp.br

Silvio Romero de Melo Ferreira


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO: Com as análises laboratoriais foi possível avaliar a melhor característica dos saibros e as
aplicações em argamassas para a construção civil e a melhor identificação dos argilo-minerais que
contribuem para o desempenho. Para caracterização do saibro foram efetuados ensaios de
granulometria com sedimentação, consistência, determinação da massa específica dos grãos do solo
e limite de contração. Na fase que compreende este trabalho foi realizado o ensaio de caracterização
química da argila que entra na composição do saibro, a caracterização da cinética de hidratação da
pasta, de permeabilidade e a caracterização micro estrutural através de MEV (Microscopia
Eletrônica de Varredura) com a finalidade de explicar a pega do cimento e também o ensaio de
ultrassom e compressão diametral das argamassas no estado endurecido. A composição mineralógica
com a qual é formada o saibro tem influência no processo de cura da argamassa.

PALAVRAS-CHAVE: saibro, argamassa, caracterização, reometria, squeeze-flow, MEV.

1 INTRODUÇÃO hidratação do carbono, enxofre e hidrogênio. As


propriedades da argamassa foram estudadas
A argamassa é utilizada nas edificações para empregando o saibro para dois tipos de traços
revestimento das alvenarias e estruturas e 1:1:7 e 1:3:5.
podem ser compostas de cimento, saibro, areia, Os ensaios realizados destas misturas foram
água e/ou adições, onde a permeabilidade tem o efetuados no estado fresco de massa específica,
papel de absorver a umidade do meio ambiente e de espalhamento e de reometria (Squeeze-Flow)
a sua coesao é muito importante devido a para abordagem mais completa quanto a
ancoragem ao substrato. Em pesquisa com 24 trabalhabilidade do ponto de vista reológico da
jazidas foram analisadas 62 amostras de saibro argamassa.
localizado na Região Metropolitana do Recife O saibro nas argamassas na RMR não existe
(RMR). Nas nove dessas jazidas tem bom uma padronização física, química e mecânica
potencial para melhor desempenho da quanto à aplicação dos saibros nas argamassas,
argamassa. O processo dos argilos-minerais do pois o seu uso é feito de maneira empírica sem
saibro sao reativos a pasta de cimento onde nenhum conhecimento técnico (RÊGO, 2008).
provoca perda de resistencia, permeabilidade e O objetivo dessa pesquisa foi analisar o melhor
coesão devido alterações de cinética de tipo de saibro localizado na RMR com melhores
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características de resistência, permeabilidade e


coesão. A metodologia utilizada se baseou nas
normas técnicas brasileiras ABNT, NM
52/2009; NBR 6508/84; NBR 13278/2005;
NBR 13276/2016; NBR 13280/2015; NBR
9778/2005 e NBR 8802/2013.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Programas de Investigação


Figura 1. Exploração dos Saibros
O programa de investigação geotécnica através
das coletas de amostras deformadas 2.1.2 Unidades Geológicas e as Classes
caracterizaram os ensaios físicos, análise Pedológicas
granulométrica por sedimentação, granulometria
por difração de raio laser, densidade real dos A identificação das unidades geológicas e das
grãos pela ABNT, NM 52/2009 e pelo classes pedológicas foi realizada utilizando o
picnômetro de gás hélio, consistência, difração Mapa Geológico do Estado de Pernambuco
de Raios-X e termogravimetria, caracterização (ASSIS, 2001), desenvolvido para uso em
química pelo método do EMBRAPA. SIG’s, na escala de 1:500.000 e o levantamento
O cimento foi determinada as massas de reconhecimento de Baixa e Média
específica real, específica aparente, pasta de Intensidade dos Solos do Estado de
consistência normal e resistência à compressão Pernambuco, inserido no Zoneamento
aos 28 dias. Agroecológico de Pernambuco (ZAPE)
Na argamassa no estado anidro (cimento + publicado pela EMBRAPA (2011) em escala de
saibro + areia) e fresco foi realizada a densidade 1:100.000.
de massa e no estado fresco o índice de No levantamento cada unidade de
consistência. A argamassa no estado endurecido mapeamento é formada por um único solo
a massa especifica e tração indireta, absorção de componente ou pela associação de até quatro
água, índice de vazios e velocidade de solos componentes, sendo estes compostos por
propagação da onda ultrassônica. uma ou mais unidades taxonômicas. As unidades
Ainda no estado endurecido foi realizado o de mapeamento são representadas por uma sigla
ensaio de permeabilidade da argamassa através que a correlaciona com sua descrição na legenda
do permeâmetro e a caracterização mineralógica geral. A classe de solo do local de coleta das
e microestrutural. amostras foram identificadas com as
informações do GPS.
2.1.1 Coleta das Amostras dos Materiais
2.1.3 Caracterização Física dos Saibros
As 62 amostras de saibro da Região Utilizados
Metropolitana do Recife foram selecionadas
nove jazidas de solos naturais, sendo 01 (uma) Para a caracterização, comparação e análise das
da área norte, 03 (três) da área centro e 05 propriedades dos materiais foram realizados em
(cinco) da área sul exploradas comercialmente e laboratório a análise granulométrica por
usadas como saibro em argamassas sedimentação e o método da granulometria por
representativas de toda Região Metropolitana difração a laser, Figura 2, densidade real dos
do Recife (RMR) já exploradas para uso em grãos, os limites de Atteberg, as unidades
argamassas, Figura1. geológicas e as classes pedológicas.
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cuba metálica de capacidade para 4 kg, foram


colocados os materiais da mistura anidra
cimento: saibro: areia e em seguida a água
previamente determinada pelo processo da
reologia utilizando-se de um reômetro
rotacional, Figura 4, adicionada com uma vazão
constante até atingir um torque de 2,2 ± 0,2 Nm
e a mistura realizada no reômetro fixando o
torque constante equivalente a 500 rpm.
Figura 2. Aparelho analisador de partículas por difração
a laser “granulômetro” (USP, 2010)

2.1.3.1 Densidade Real dos Grãos

Para a obtenção da densidade real dos grãos foi


utilizado o procedimento descrito na ABNT
NBR 6508/84 e o picnômetro de gás Hélio,
modelo Multipicnômetro Quantcharme - MVP
5DC, Figura 3. Ela é um indicador de
rendimento da argamassa.

Figura 4. Reômetro para argamassas, destacando seus


componentes. 1) torre superior; 2) dispositivo rotacional;
3) base de reação e console; 4) elevador; 5) recipiente de
ensaio; 6) Geometria de mistura e ensaio composta por
haletas radiais montadas em espiral.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização da Argamassa no Estado


Figura 3. Equipamento Picnômetro Gás Hélio (USP,
Fresco e Endurecido
2010).

A caracterização das argamassas com Saibro foi


2.2 Caracterizações da Cinética de Hidratação
utilizada baseada nas normas brasileiras
da Pasta
existentes de argamassas e concreto. Na
argamassa com Saibro no estado fresco ABNT,
A determinação das diferenças na cinética de
NBR 13278/2005, preparo da mistura e
hidratação foi através de calorimetria isotérmica
determinação do índice de consistência ABNT,
de condução.
NBR 13276/2016, a massa específica e do teor
O equipamento foi um calorímetro
de ar incorporado ABNT, NBR 13278/2005.
isotérmico da marca TA Instruments, modelo
No estado endurecido a massa específica da
TAM Air. 5.
amostra NBR 13280/2015, índice de vazios e
Os ensaios foram realizados em pasta e em
velocidade de propagação da onda ultrassonica,
misturas de cimento / solo nas proporções de
NBR 9778/2005 e NBR 8802/2013.
1:1 e 1:3, usando CP II F-32, por um período de
72 horas.
A técnica tradicional foi utilizada com uma
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3.2 Granulometria e Calor de Hidratação As Figuras 5, 6 e 7 apresentam os


resultados da granulometria do material
Na Tabela 1, 2 e 3 são apresentados os valores conforme as jazidas das regiões que foram
(máximos, mínimos) da caracterização física das coletados os materiais.
9 (nove) amostras de Saibros em 8 (oito) jazidas
analisados da RMR por área da cidade. Nas
áreas Norte, Centro e Sul percebem-se índices
elevados de areia e argila nas jazidas.

Tabela 1. Valores mínimos e máximos da caracterização


física dos Saibros da RMR
Norte Centro Sul
mín
Caracterização
mín máx mín
máx máx
Pedr 1-1 0-6 1-6 Figura 5. Granulometria do Saibro da Área Norte
Areia 85 – 85 9 - 81 39- 77
Granulotria(%)
Silte 2–2 5 - 13 8 - 31
Argila 12 – 12 13 - 78 4 - 44
39,08
WL 40 – 40 31 - 49
- 49
17,2 - 9,4 - 7,7 -
IP
17,2 15,3 15,3
Consistência 25,6 - 21,34 - 30,5 -
LC
25,6 45,7 37,5
13,26
31,31 - 21,34 -
C -
31,31 45,7
29,97

Tabela 2. Valores mínimos e máximos da caracterização


física dos Saibros da RMR Figura 6. Granulometria do Saibro da Área Centro
Norte Centro Sul
Caracterização mín mín mín
máx máx máx
Ia 1,72 - 1,72 0,22 - 0,85 0,37 - 1,28
Classificação CH; CL; ML;
ML
unificada SM(2) SC(2); SM

Tabela 3. Valores mínimos e máximos da caracterização


física dos Saibros da RMR
Norte Centro Sul
Caracterização mín mín mín
máx máx máx
A-2-4(2);
A-2-4; A-
Classificação A-2-7; A-
A-2-7 2-6; Figura 7. Granulometria do Saibro da Área Sul
TRB 4;
A-7-6
A-7-6
Nº de Observa-se na região norte, Figura 5, a
1 3 5
amostras existência de uma maior proporção de materiais
Nº de jazidas 1 3 4 com porcentagem de argila menor que 30 % e
areia maior que 20 %.
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Na área Centro o material (Saibro) é 3 CONCLUSÕES


argiloso, isto é, apresenta plasticidade. A
J11A1 e J13A3 têm em média 10 % de argila, O uso dos saibros nas argamassa tem sido
logo apresenta boa trabalhabilidade na reduzido devido as frequêntes manifetações
argamassa, porém a J12A1 tem elevado teor de patológicas no estado endurecido e pela
argila, onde não é de maneira usado para o variabilidade de suas propriedades de acordo
preparo de argamassa no assentamento e com a sua composição. Observou-se também
revestimento, pois apresenta dificuldades na que a Jazida 8 Amostra 1 (J8A1), Figura 8, tem
trabalhabilidade implicando na sensação da alto índice de gipsita que pelo próprio
quantidade de água ser pouca no preparo. intemperismo já se encontrava desagregada ao
Ocasionando em acrescentar mais água o que saibro. As demais jazidas apresentaram
provoca perda de resistência na argamassa resultados bastante satisfatório quanto a
quando no estado endurecido. resistência, permeabilidade e coesão em
argamassas.
3.2 Calor de Hidratação
REFERÊNCIAS
As curvas do fluxo de calor das amostras da
RMR apresentaram maior intensidade com ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
relação à referência em todo o período de TÉCNICAS. NBR NM 52 (2009) Agregado miúdo –
Determinação de massa específica e massa específica
ensaio, Figura 8. aparente. Rio de Janeiro.
Os resultados apresentados foram ______. NBR 6508 (1984): Massa específica de grãos de
realizados da seguinte maneira: dividindo o solos que passam na peneira de 4,8mm. Rio de
valor obtido pelo equipamento pela massa de Janeiro.
cimento. Os dados obtidos são poucos maiores ______. NBR 8802 (2013): Concreto endurecido –
aos da amostra de referencia, além da massa de Determinação da velocidade de propagação de onda
ultra-sônica. Rio de Janeiro.
cimento, existem mais partículas sólidas na ______. NBR 9778 (2009): Argamassa e concreto
pasta, que influem na alteração da cinética de endurecidos – Determinação da absorção de água,
hidratação ocasionada pelo efeito de nucleação índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro,
de formação do C-S-H na suspensão reativa. Versão corrigida 2
______. NBR 13276 (2016): Argamassa para
assentamento de paredes e tetos – determinação do
índice. Rio de Janeiro.
______. NBR 13278 (2005): Argamassa para
assentamento e revestimento de paredes e tetos –
Determinação da densidade de massa e do teor de ar
incorporado. Rio de Janeiro.
______. NBR 13280 (2005): Argamassa para
assentamento e revestimento de paredes e tetos –
Determinação da densidade de massa aparente no
estado endurecido. Rio de Janeiro.
ASSIS, Hortencia M. B. de. Atividades Impactantes
sobre o meio ambiente da Regiao Metropolitana do
Recife. Coordenação e organização de Hortencia M B
de Assis; Pedro Augusto dos S Pfaltzgraff. Recife:
Figura 8. Fluxo de Calor em 72 horas de Hidratação CPRM, 2001, 81 p. il. ( Série Degradação Ambiental,
2).
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA-EMBRAPA (2011). Manual de
métodos de análise de solo. 2. ed. 1ª impressão.
Revista. Rio de Janeiro: Centro Nacional de
Pesquisas de Solos, 230p.
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RÊGO, W. A. (2008). Caracterização física dos saibros


da Região Metropolitana do Recife utilizados em
argamassas. Dissertação de Mestrado. Universidade
Católica de Pernambuco.
SILVA, Rosiany P.; BARROS, Mercia M. S. B.;
PILEGGI, Rafael G.; JOHN, Vanderley M. Avaliação
do comportamento da argamassa no estado fresco
através dos métodos de mesa de consistência,
dropping Ball e squeeze flow. In VI SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS
ARGAMASSAS, 2005, Florianópolis. Disponível
em:
<http://www.prppg.ufpr.br/ppgcc/sites/www.prppg.uf
pr.br.ppgcc/files/temp/artigo_5_-
_comparativo_metodos_-_reologia.pdf>. Acesso em
29 jul.2013.
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Estudo da Utilização do Penetrômetro Dinâmico de Cone no


Controle de Compactação de Solo Evoluído do Noroeste do Paraná
Tiago João Pizoli
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, tiagopizoli@hotmail.com

Jeselay Hemetério dos Reis


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, jeselay@hotmail.com

Antônio Belincanta
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, abelincanta@hotmail.com

RESUMO: O Penetrômetro Dinâmico de Cone (Dynamic Cone Penetrometer - DCP) vem sendo
estudado e utilizado como uma alternativa ou complemento para o controle tradicional de
compactação de solo. Neste contexto e com referência a um solo arenoso típico da Região Noroeste
do Paraná, este trabalho tem como objetivo apresentar, analisar e discutir correlações entre o Índice
de Penetração do DCP, a massa específica aparente seca e o teor de umidade, na condição de solo
compactado. Para isto, o Índice de Penetração (Ip) foi obtido por meio da cravação do DCP em
corpos-de-prova compactados em laboratório em diferentes condições de umidade e massa específica
aparente seca. Como resultado, verificou-se que o Ip é fortemente influenciado pelo teor de umidade
de compactação. Com a utilização do Software TableCurve 3D, foram estabelecidas equações
matemáticas, inclusive com coeficientes de determinação (R²) elevados, na ordem de 0,98,
associando a massa específica aparente seca do solo com o teor de umidade e o Índice de Penetração.
Os resultados obtidos corroboram o emprego do DCP na determinação da massa específica aparente
seca do solo compactado e, consequentemente, no controle de compactação de campo.

PALAVRAS-CHAVE: Controle de Compactação, Penetrômetro Dinâmico de Cone, Solo Laterítico,


DCP

1 INTRODUÇÃO e a de campo, onde são realizadas determinações


de massa específica aparente seca do solo
A compactação do solo está presente em compactado e do teor de umidade, permitindo
praticamente todas as obras geotécnicas. Por com isto a determinação de grau de compactação
meio da redução de vazios, esse processo e desvio do teor de umidade ótima (Belincanta e
contribui nas melhorias mecânicas e hidráulicas Gutierrez, 2010).
do solo como, por exemplo, aumento da A massa específica do solo de campo é obtida
resistência ao cisalhamento, redução da por meio do ensaio de frasco de areia ou do
compressibilidade e redução da permeabilidade. cilindro de cravação, enquanto que para a
O controle da compactação é importante para obtenção do teor de umidade de campo é
que o desempenho do solo compactado previsto utilizado o fogareiro ou o umidímetro do tipo
em projeto seja atendido. No Brasil, o método de “Speedy”. No entanto, este método tradicional
controle de compactação tradicionalmente de controle de compactação vem sendo
utilizado pode ser dividido em duas fases: a de considerado dispendioso em termo de tempo e
laboratório, onde são feitos ensaios de recursos, dificultando inclusive as tomadas de
compactação (determinação da massa específica decisão em tempo adequado ao fluxo de trabalho
aparente seca máxima e teor de umidade ótimo) de campo (Belincanta e Reis, 2008).
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O Penetrômetro Dinâmico de Cone (Dynamic decomposição de arenito (Arenito Caiuá).


Cone Penetrometer - DCP), normatizado pela O solo desta região se apresenta com
ASTM D6951 (2003) e a ASTM D7380 (2015), espessura avantajada de até 30 m ou mais,
vem se apresentando como uma possível constituído de duas camadas bem distintas: uma
alternativa a esse método tradicional de controle superficial, com solo evoluido, laterizado, com
de compactação. Sua principal vantagem está na espessura de até 18 m e a outra, logo abaixo e
sua facilidade e simplicidade operacional de sobreposta à rocha, com solo de alteração. O solo
ensaio, o que proporciona a coleta de um número superficial apresenta-se com textura areno-
maior de dados e, consequentemente, permite argilosa e engloba-se na classe do Latossolo
uma melhor avaliação do solo compactado, além Vermelho Férrico (Belincanta e Costa Branco,
de seu baixo custo. Seu uso nos trabalhos de 2003; Belincanta et al., 2016).
infraestrutura de pavimentação vem se firmando, O solo utilizado neste trabalho, coletado na
inclusive em alguns casos, no controle de camada superficial, foi seco até a umidade
execução de base e sub-base de pavimentos higrosocópica no Laboratório de Mecânica dos
(Gabr et al., 2000; Salgado e Yoon, 2003). Solos da Universidade Estadual de Maringá
A Região Noroeste do Paraná tem demandado (UEM), destorroado por meio da peneira de
continuamente a implantação de obras de malha de 2 mm (nº 10) e acondicionado em
construção civil voltadas à infraestrutura pública barris de plástico devidamente identificados.
e privada. Esta região se apresenta com solos
provenientes de rochas basálticas ou do Arenito 2.2 Penetrômetro Dinâmico de Cone (DCP)
Caiuá, sendo a camada superficial constituída de
solo evoluído, do tipo latossolo férrico, argilo- O Penetrômetro utilizado nesta pesquisa,
siltoso e areno-argiloso. ilustrado na Figura 1, foi construído na
Nas obras geotécnicas é de uso corrente a Universidade Estadual de Maringá.
utilização de solo do local como material de Constituindo-se de um conjunto de hastes
construção, como é o caso das obras de rodovias, metálicas de cravação e de guia, uma cabeça de
ferrovias e terraplanagens em geral, entre outras, bater, um martelo e uma ponteira cônica. A haste
sendo este geralmente utilizado na forma de solo de cravação tem 250 mm de comprimento e 12,5
compactado em camadas sucessivas, inclusive mm de diâmetro e possui em sua extremidade
com um controle tecnológico adequado a fim de uma ponteira constituída de um cone de 60º com
se garantir o desempenho do solo previsto em diâmetro de 16 mm. A ponteira penetra no solo
projeto. devido a ação da queda livre de um martelo de
Neste contexto este trabalho tem como 4,6 kg direcionado pela haste guia, de 16 mm de
objetivo apresentar, analisar e discutir diâmetro, operado com uma altura de queda de
correlações entre o Índice de Penetração do DCP 575 mm.
(Ip), a massa específica aparente seca (ρd ) e o Todas as dimensões do penetrômetro estão
teor de umidade (w), para o solo areno-argiloso em acordo com a ASTM D6951(2003), exceto a
evoluído típico da Região Noroeste do Paraná, haste de cravação e a ponteira que foram
na condição de solo compactado. reduzidas em seu diâmetro de 16 mm para 12,5
mm e de 20 mm para 16 mm, respectivamente.
2 MATERIAIS E MÉTODOS Esta redução das dimensões teve como intuito
minimizar os efeitos de escala e do confinamento
2.1 Solo Estudado do solo, provenientes da presença do cilindro de
compactação.
O solo utilizado nos experimentos de laboratório
desta pesquisa provém da cidade de 2.3 Ensaios de Caracterização do Solo
Mandaguaçu, localizada na Região Noroeste do
Paraná, sendo este solo oriundo da Visando a caracterização do solo utilizado
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foram determinados em laboratório, a massa aproximadamente 0,05 g/cm³ em torno da curva


específica dos sólidos utilizando-se o método de compactação da energia normal e umidade
proposto pela norma brasileira NBR 6508/84, a variando de 9% a 15%, na forma incremental de
granulometria com peneiramento e 1%. Ou seja, com o mínimo de 3 pontos de massa
sedimentação, utilizando-se o método proposto específica aparente seca para cada teor de
pela norma brasileira NBR 7181/16 e os limites umidade de compactação escolhido.
de consistência, utilizando-se as normas NBR Para a obtenção dos pontos para o ensaio com
6459/17 e NBR 7180/16. o DCP, o solo também foi pré-umedecido na
umidade desejada, um dia antes da compactação,
sendo o mesmo compactado em 6 camadas, com
espessura e massa controladas.
Optou-se por utilizar o cilindro pequeno
(cilindro Proctor) de 100 mm de diâmetro e
altura de 127 mm com um colarinho adicional de
50 mm, permitindo com isso a obtenção de um
corpo-de-prova compactado de 150 mm de
altura. A altura de 150 mm, necessária para a
obtenção de uma maior profundidade de
cravação do penetrômetro, foi possível pela
utilização de um sistema de arrasamento do
corpo-de-prova diferenciado, com a utilização de
um raspador (Figura 2).

Figura 1. Penetrômetro utilizado nos ensaios.

2.4 Ensaios de Compactação e de Penetração


do DCP

A energia de compactação adotada para esse


estudo foi a normal (6 kgf.cm/cm³). Em uma Figura 2. Cilindro utilizado com colarinho e raspador.
primeira etapa foram realizados os ensaios de
compactação do solo nesta energia conforme a Na confecção dos corpos-de-prova o soquete
NBR 7182/86, utilizando o cilindro de de compactação usado tem seção de base de
compactação pequeno, com pré-umedecimento mesmo diâmetro interno do cilindro de
do solo e sem reuso. compactação, acionado por um peso de 4,6 kgf
Após o ensaio de compactação e com a com uma altura de queda de 300 mm (Figura 3a).
respectiva curva de compactação, foi definido Na sequência, os corpos-de-prova
uma faixa de trabalho na qual foram escolhidos compactados foram submetidos à cravação do
pontos de massa específica aparente seca e penetrômetro no centro do cilindro de
umidade para serem usados nos ensaios de compactação, inclusive com a utilização de um
penetração do DCP. A faixa escolhida foi de suporte para se manter o posicionamento e a
massa específica aparente seca variando de verticalidade da ponteira (Figura 3b).
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aparente seca dos corpos-de-prova


confeccionados, com o teor de umidade de
compactação e com o índice de penetração do
DCP. A análise contempla os ramos seco e
úmido da curva de compactação em conjunto e
também o ramo seco na forma individualizada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Ensaios de Laboratório

O solo utilizado nesta pequisa, conforme a


Tabela 1, a classificação adotada pela AASHTO
(HRB) e a norma ASTM D3282 (2015), é um
solo do tipo A-2-6, com índice de grupo IG=1,
sendo portanto considerado de excelente a boa
qualidade para uso em subleito de rodovias.
Figura 3. Soquete de compactação e cravação do
penetrômetro. Tabela 1. Caracterização e Classificação do Solo.
Parâmetro Unidade Valor
Ao penetrar a ponteira do DCP, acionado pelo ρs g/cm³ 2,72
martelo de 4,6 kgf com altura de queda de 575 Areia % 66
Silte % 6
mm, foram registrados os valores de penetração Argila % 28
em milímetro até uma profundidade máxima de < #0,075 mm % 34
120 mm. Os índices de penetração foram obtidos LL % 30
utilizando-se a Equação 1 proposta por LP % 17
Mohammadi (2008), sendo descartado o IP % 13
IG - 1
primeiro valor registrado. HRB D3282-15 - A-2-6
NBR 6508/84 - Areia argilosa
P -P
Ip= Gi+1 -Gi (1)
i+1 i
Este solo no que se refere à compactação na
Onde Ip é o índice de penetração (mm/golpe); energia normal, conforme a Figura 4, apresenta-
P é a penetração em i ou i+1 golpes; e G é o se com o teor de umidade ótima (wot) de 12,7%
número de golpes em i ou i+1. e a massa específica aparente seca máxima
O índice médio de penetração de cada corpo- (ρdmáx) de 1,92 g/cm³.
de-prova foi obtido pela Equação 2 que é a média 2,1

aritmética de todos os índices parciais, onde n é


Massa Específica Aparente Seca (g/cm³)

2,0
o número total de golpes.
1,9

∑n2 Ip
Ipmédio = (2)
n-1 1,8

2.5 Regressões matemáticas 1,7

1,6 Curva de Compactação


As análises dos dados experimentais de Sr=100%
Sr=90%
laboratório deste trabalho foram realizadas por 1,5
8 10 12 14 16
meio de regressões tridimensionais, obtidas com Teor de Umidade (%)

o uso do software TableCurve 3D. As regressões


apresentadadas associam a massa específica Figura 4. Curva de compactação (energia normal).
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Os dados, obtidos em laboratório nos ensaios Como pode ser notado na Tabela 2 e nas
de compactação e cravação do DCP e que foram Figuras 4 e 5, foi possível se compactar todos os
utilizados nas confecções dos gráficos, estão corpos-de-prova com massa específica abaixo da
apresentados na Tabela 2. curva de compactação da energia normal, no
caso adotada como referência. No entanto, as
Tabela 2. Dados obtidos nos ensaios de .compactação e compactações dos corpos-de-prova com massa
penetração do DCP
Massa específica
específica acima da curva de compactação,
Índice de
Umidade aparente seca Penetração
foram possíveis somente Pontos
Pontos para
obtidos
obtidos aqueles
próximos
próximos daacurva
curvade situados
decompactação
compactação
w (%) Pontos
PontosPontos
Pontos obtidos
obtidos
obtidos abaixo
obtidos abaixo
próximos
próximos daada
da curva
curva
curva
curva de
dede
de compactação
compactação
compactação
compactação
ρd (g/cm³) Ip (mm/golpe) no ramo seco. NosPontos
teores
Pontos
Pontosobtidos
Pontos obtidos
Pontos
Pontos
Pontos
de
obtidos umidade
próximos
próximos
acima
obtidos
obtidos
obtidos
obtidos
da
dada
acima
abaixo
abaixo
próximos da dacurva
da curva
da
curva
curva
de
dede
curva
curva
curva
de de
de
de
de 14% e
compactação
compactação
compactação
compactação
compactação
compactação
compactação
Pontos
Pontosobtidos
obtidosabaixo
abaixodadacurva
curva. dede
compactação.
8,87 1,585 6,97 15% não foi possível alcançar
Pontos
Pontos
Pontos
Pontos
obtidos
obtidos
obtidos
Pontosobtidos
abaixo
obtidosacima
a massa
acima
acima
da da curva
da
curva
acimadadacurva
curva
de específica
compactação
de compactação
compactação
curvade compactação
Pontos obtidos acima da curva de compactação
8,98 1,636 5,92 desejada com valores de 0,05 g/cm³ superiores
Pontos obtidos próximos a curva de compactação
8,94 1,691 4,60 aos da curva de compactação
Pontos
Pontos
Pontos da
obtidos
obtidos
energia
obtidos abaixoada
próximos
próximos a curvacurva
normal.
curvadede compactação
compactação
de compactação
10,20 1,647 9,58 Pontos
Pontos obtidos
obtidos acima
abaixo da da curva
curva de de compactação
compactação
A seguir é apresentado Pontos
Pontos
na
obtidos
Pontos
Figura
abaixo
obtidos
obtidos acimaacima
da curva
6
da curva o gráfico
de compactação
da curva de compactação
de compactação
10,21 1,698 8,07 do índice de penetração em função do teor
10,30 1,744 6,91
10,24 1,793 5,68 umidade dos corpos-de-prova compactados.
11,10 1,749 9,64 60
11,03 1,799 7,96 Pontos obtidos
Energia próximos a curva de compactação
Normal
11,03 1,834 7,33 Pontos
0,5 obtidos
abaixo abaixo da curva de compactação
da Normal
Pontos
0,5 obtidos
acima daacima da curva de compactação
normal
Índice de Penetração (mm/golpe)

11,01 1,889 6,17 50

11,85 1,852 10,50


11,85 1,900 9,36 40
11,86 1,949 8,58
12,96 1,873 16,50
30
12,91 1,903 15,67
12,90 1,952 16,25
14,14 1,829 29,33 20

14,05 1,875 29,33


14,05 1,881 32,17 10
14,93 1,795 46,00
14,99 1,829 48,50
0
14,97 1,841 53,00 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Teor de Umidade (%)
Na Figura 5, apresentam-se os resultados da
compactação dos corpos-de-prova utilizados na Figura 6. Índice de Penetração em função do teor de
cravação do penetrômetro: a massa específica umidade de compactação.
aparente seca em função do teor de umidade de
compactação. Tomando como base os dados contidos na
Tabela 2 e na Figura 6, nota-se que o índice de
2,0
penetração é altamente influenciado pelo
aumento do teor de umidade, inclusive como já
Massa Específica Aparente Seca (gf/cm³)

1,9
notificado em outros artigos técnicos (Freitas et
al., 2017; Belincanta et al., 2016). Além disso, há
1,8
uma relação entre a massa específica aparente
1,7
seca e o índice de penetração até a umidade
ótima, isto é, mantido o teor de umidade de
1,6 compactação, quanto maior a massa específica
Pontos obtidos próximos da curva de compactação
Pontos obtidos abaixo da curva de compactação
Pontos obtidos acima da curva de compactação
aparente seca, menor é o índice de penetração.
1,5 No entanto, para as umidades acima da ótima
8 9 10 11 12 13 14 15 16
Teor de Umidade (%) notou-se que o índice de penetração se apresenta
numa forma de função crescente com a massa
Figura 5. Massa específica aparente seca em função do teor específica aparente seca, sendo que esta
de umidade de compactação.
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tendência deve ser cofirmada, devido à Tabela 3. Valores das constantes de ajuste da Equação 3.
utilização de índices de penetração de valores Constante Valor
elevados e de baixo número de golpes do a -462,9511
b -27,485835
martelo, necessários para a penetração padrão de c 361,00569
até 120 mm. d -1797,6305
Após o teor de umidade ótimo, e 3124,552
especificamente na umidade de 13% o valor do f 204,33553
índice de penetração manteve-se constante g -35,598685
h 3,0704731
independente do valor da massa específica i -0,13096117
aparente seca dos três corpos-de-prova j 0,0022083023
ensaiados, desta maneira dificultando a
estimativa da massa específica aparente seca. A Equação 3, de elevado coeficente de
determinação, neste caso de R²=0,978, pode ser
3.2 Correlações Obtidas utilizada para a determinação da massa
específica aparente seca, conhecendo-se o teor
Com os dados obtidos em laboratório ajustou-se de umidade e o índice de penetração.
uma superfície no software TableCurve 3D Na figura 8, apresentam-se os erros absolutos
(Figura 7), sendo a mesma representada por uma calculados em função da superfície ajustada
equação matemática (Equação 3) de elevado (Equação 3), nota-se nisto que de modo geral o
coeficiente de determinação (R²), relacionando a erro absoluto na estimativa da massa específica
massa específica aparente seca com o índice de aparente seca é na ordem de ± 0,015 g/cm³, o
penetração e o teor de umidade de compactação que corresponde no caso de ρdmáx = 1,92 g/cm³ a
de 9 a 15 %.
um erro absoluto de ± 0,8% no grau de
b c d e compactação, excetuando-se para a umidade em
ρd =a+ + + + +f*w+g*w2 +h*w3 +i*w4 +j*w5 (3)
Ip Ip2 Ip3 Ip4 torno de 13% onde o erro absoluto é da ordem de
±0,04 g/cm³, o que corresponde a um erro
Onde: absoluto de ± 2,1% no grau de compactação.

ρd = massa específica aparente seca em g/cm³; 0.05 0.05


w = teor de umidade em %, de 9 a 15%; 0.04 0.04
Ip = índice de penetração médio em mm/golpe; 0.03 0.03
Erro Absoluto (g/cm³)

Erro Absoluto (g/cm³)


a,b,c,d,e,f,g,h,i,j = constantes de ajuste, cujos 0.02 0.02
valores estão apresentados na Tabela 3. 0.01 0.01
z=a+b/x+c/x^2+d/x^3+e/x^4+fy+gy^2+hy^3+iy^4+jy^5
0 0
-0.01 -0.01
-0.02 -0.02
-0.03 -0.03
Massa Específica Aparente Seca (g/cm³)

2
1.95
1.9 2 -0.04 -0.04
1.85 1.95
10

11

12

13

14

15
9

1.8 1.9
1.75 1.85
1.7 1.8
1.65 1.75 Teor de Umidade (%)
1.6 1.7
1.55 1.65
1.6
1.55
Figura 8. Erros absolutos em relação à superfície ajustada
ìnd 10
ice
de 20 14 com referência a todos os dados
Pe 13
ne 30 12
tra
çã 11 )
o( 40 (%
m
m
/go 50 9
10
Um
ida
de A seguir também foi estabelecida uma
lpe rde
) 60 8 Teo correlação envolvendo os valores obtidos nos
corpos-de-prova compactados no ramo seco da
Figura 7. Superfície ajustada a todos os dados do estudo. curva de compactação da energia normal, isto é,
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na faixa de teor de umidade de 9% a 12%. 0.015 0.015


A superfície ajustada, apresentada na Figura
0.01 0.01
9 e representada pela Equação 4, é uma equação

Erro Absoluto (g/cm³)

Erro Absoluto (g/cm³)


mais simples do que a Equação 3, apesar de ser 0.005 0.005
de um coeficiente de determinação mais elevado,
no caso de R²=0,996. No entanto existem 0 0

superfícies de ajuste com equações matemáticas


-0.005 -0.005
mais complexas, com coeficiente de
determinação mais elevadas, próximos de R²=1, -0.01 -0.01

10

11

12
9

9.5

10.5

11.5
não adotadas neste trabalho.
Teor de Umidade (%)

Figura 10. Erros absolutos em relação a superfície ajustada


1.95 Massa Específica Aparente Seca (g/cm³)
aos dados com umidade entre 9 a 12%
1.9
1.85 1.95
1.8 1.9 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1.75 1.85
1.7 1.8 Neste trabalho foram apresentados resultados de
1.65 1.75
experimentos de laboratório realizados com um
1.6 1.7
1.55 1.65 penetrômetro dinâmico de cone construido na
Índ
ice 5 1.6 Universidade Estadual de Maringá. Com os
de 6
Pe
ne 7
11
1.55 dados oriundos desses experimentos foram
tra 8 11 .5
çã
o( 9 10
10
.5
obtidos correlações, inclusive com coeficientes
mm 9.5
10
/go
lpe 11 8.5
9
(%)
de determinação (R²) com valores iguais ou
) idade
e Um acima de 0,978, envolvedo o índice de
Teor d
penetração do DCP (Ip), a umidade de
Figura 9. Superfície ajustada aos dados na faixa de compactação (w) e a massa específica aparente
umidade de 9 a 12% seca (ρd ). Os resultados indicam que existe uma
aproximação razoável entre os valores de massa
1
= 0,53608201+0,071432962*Ip0,5 - 0,00013766358*w3 (4) específica aparente seca estimada e a medida em
ρd
laboratório. No entanto, deve-se ressaltar que
Onde: esses resultados são restritos ao solo areno-
argiloso e evoluído do Noroeste do Paraná, bem
ρd = massa específica aparente seca em g/cm³; como às condições de compactação aqui
w = teor de umidade em %, de 9 a 12%; utilizadas.
IP = índice de penetração médio em mm/golpe; Nos experimentos, notou-se ainda que o valor
do índice de penetração diminuiu com o aumento
Na Figura 10, apresentam-se os erros da massa específica aparente seca, ou seja,
absolutos calculados em relação a esta superfície quanto mais compactado o solo, menor é o índice
ajustada (Equação 4), notando-se que de um de penetração, sendo altamente influenciado
modo geral o erro absoluto na estimativa da pelo teor de umidade de compactação. Percebeu-
massa específica aparente seca é na ordem de se também que a influência da massa específica
±0,01 g/cm³, o que corresponde no caso do aparente seca no Ip é mais pronunciada no ramo
seco da curva de compactação, o que refletiu na
ρdmáx=1,92 g/cm³ a um erro absoluto de 0,5% no obtenção de melhores correlaçoes nesta faixa de
grau de compactação.
umidade.
Para os corpos-de-prova compactados em
umidades acima da umidade ótima de
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compactação da energia normal, o número de ASTM D6951-03. (2003). Standard Test Method for use
golpes para a cravação da ponteira do DCP em of the Dynamic Cone Penetrometer in Shallow
Pavement Applications. American Society of Testing
até 120 mm de solo foi pequeno, em torno de 4 Materials International, West Conshohocken, PA.
golpes. Com o descarte do primeiro valor de ASTM D7380-15. (2015) Standard Test Method for Soil
penetração, o índice de penetração foi calculado Compaction Determination at Shallow Depths Using
com poucas medidas de penetração, desta forma 5-lb (2.3 kg) Dynamic Cone Penetrometer, ASTM
acredita-se que, após a umidade ótima, mais International, West Conshohocken, PA.
ASTM D3282-15. (2015). Standard Practice for
ensaios devem ser realizados para que os valores Classification of Soils and Soil-Aggregate Mixtures for
de índice de penetração médio sejam Highway Construction Purposes, ASTM International,
representativos. Especificamente próximo ao West Conshohocken, PA.
teor de umidade de 13% o valor do índice de Belincanta, A; Costa Branco, C. J. M. (2003). Resultados
penetração manteve-se praticamente constante de Investigações Geotécnicas no Norte e Noroeste do
Paraná. I Encontro Geotécnico do Terceiro Planalto
para os corpos-de-prova com massas específicas Paranaense. Maringá. PR
aparente seca distintas, indicando a não- Belincanta, A.; Gutierrez, N.H.M. (2010) Compactação de
sensibilidade do DCP na determinação da massa Solos, Eduem, Maringá-PR, Coleção Fundamentum,
específica aparente seca nesta umidade. V.65, 76p.
Além disso, como sugestão a trabalhos Belincanta, A.; Reis, J.H.C. (2008). Avaliação do uso de
Penetrômetro Dinâmico de Cone para Controle de
futuros, o uso de um martelo com peso menor ao Execução das Fundações de Pavimentos Rodoviários.
utilizado nessa pesquisa ou mesmo com altura de IV Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia, Coimbra-
queda menor é de interesse para obtenção de Portugal. Anais do IV Congresso Luso-Brasileiro de
índices de penetração mais consistentes, no Geotecnia.
ramo úmido na curva de compactação. Também Belincanta, A.; Lukiantchuki, J. A.; Reis, J. H. C. (2016).
Control of soil compaction in pavement layers: A new
é de suma importância que análises sejam feitas approach using the dynamic cone penetrometer (DCP).
em solos compactados em diferentes energias International. Conference on Geotechnical and
como a energia intermédiária e a modificada, Geophysical site Characterisation, Gold Coast, 5th
inclusive contemplando outros tipos de solos. ISC, Australia.
Por fim, o uso do penetrômetro dinâmico de Freitas, J. H.; Reis, J. H.; Belincanta, A. (2017). Estudo da
influência do teor de umidade na verificação do índice
cone se apresenta com potencial no controle de penetração estático e dinâmico. In: 2º Simpósio
tradicional de compactação, em termos Paranaense de Patologia das Construções, Curitiba. p.
alternativos ou complementar, cuja 512-522.
confiabilidade deverá ser determinada em Gabr, M. A., Hopkins, K., Coonse, J., Hearne, T. (2000).
trabalhos de campo. DCP criteria for performance evaluation of pavement
layers. Journal of performance of constructed
facilities, Vol 14, n. 4, p. 141-148.
REFERÊNCIAS Mohammadi, S. D., Nikoudel, M. R., Rahimi, H., &
Khamehchiyan, M. (2008). Application of the
ABNT NBR 6508/84. (1984). Grãos de solos que passam Dynamic Cone Penetrometer (DCP) for determination
na peneira de 4,8 mm - Determinação da massa of the engineering parameters of sandy
especifica. Associação Brasileira de Normas Técnicas- soils. Engineering Geology, Vol 101, p. 195-203.
ABNT, São Paulo, Brasil. Salgado, R.; Yoon, S. (2003). Dynamic Cone Penetration
ABNT NBR 7181/16. (2016). Solo: Análise Test (DCPT) for Subgrade Assessment. Joint
granulométrica. Associação Brasileira de Normas Transportation Research Program, Indiana Department
Técnicas-ABNT, Rio de Janeiro, Brasil. of Transportation and Purdue University, West
ABNT NBR 6459/17. (2017). Solo: Determinação do Lafayette, Indiana.109p.
Limite de Liquidez. Associação Brasileira de Normas
Técnicas-ABNT. São Paulo, Brasil.
ABNT NBR 7180/16. (2016) Solo: Determinação do
Limite de Plasticidade. Associação Brasileira de
Normas Técnicas-ABNT. São Paulo, Brasil.
ABNT NBR 7182/86. (1986). Solo: ensaio de
compactação. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
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Estudo da Viabilidade da Prospecção do Subsolo com


Penetrômetro Dinâmico Leve (DPL) para Projetos de Fundações
de Edificações de Pequeno Porte
Waldemar Sacramento Neto
Instituto Brasileiro de Educação Continuada, São Paulo, Brasil, waldemar@deltamais.com.br

Marcos Fábio Porto de Aguiar


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
marcosporto@ifce.edu.br

Lucas Menezes Marques


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
lucasmarques034@gmail.com

Sávio Feitosa Veríssimo


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
savio.fv@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho visa realizar uma comparação de cálculos de capacidade de carga de
estacas realizados a partir dos resultados de sondagens DPL e sondagens SPT, executadas em pares
no mesmo terreno situado na cidade de Taubaté-SP, através de métodos de cálculo semi-empíricos.
Para tanto, estudou-se uma estaca hélice contínua de 250 mm de diâmetro, e comprimento útil de 5
m a 8 m, realizando-se os cálculos de capacidade de carga à compressão de 4 tf, 6 tf, 8 tf e 10 tf,
pelo método de Nilsson (2003) a partir dos resultados das sondagens DPL, e por métodos semi-
empíricos consagrados nacionalmente a partir dos resultados das sondagens SPT. Realizou-se
também, o cálculo por métodos tradicionais para SPT através da correlação obtida entre os ensaios
DPL e SPT, relacionando o N10 do DPL com o N30 do SPT. Os resultados mostraram que o método
de Nilsson (2003) resultou nas maiores capacidades de carga por atrito lateral, sendo que a
capacidade de carga de ponta pelo mesmo método aproxima-se de zero. Adotou-se como fator de
segurança global 2,0, tendo o método de Nilsson (2003) se aproximado dos demais métodos, que
tem uma capacidade de carga por atrito lateral menor e por ponta maior. Assim, concluiu-se que os
comprimentos necessários para uma mesma capacidade de carga prevista pelo método de Nilsson
(2003), a partir dos resultados das sondagens DPL, foram equivalentes aos comprimentos previstos
pelos demais métodos tradicionais para SPT.

PALAVRAS-CHAVE: Penetrômetro Dinâmico Leve, Sondagem à Percussão, Prospecção do


Subsolo.

1 INTRODUÇÃO ângulo de atrito e coesão. Porém, outros


equipamentos de investigação vem sendo
A engenharia geotécnica no Brasil tem grande introduzidos nas últimas décadas, visando,
prática na obtenção dos parâmetros de projeto a dentre outros fatores, ampliar o uso de
partir do ensaio de SPT, o qual gera resultados diferentes tecnologias em diferentes condições
que são correlacionados com diversos de subsolo.
parâmetros do solo, como capacidade de carga, Dessa forma, o Penetrômetro Dinâmico Leve
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(DPL – Dynamic Probe Light) se mostra como


alternativa de fácil execução devido ser um 2.2 Resistência de Ponta qd
equipamento simples e de baixo custo, podendo
se somar à sondagem de simples Nilsson (2008) propôs a seguinte equação a
reconhecimento (SPT) ou ainda substituí-la. partir da fórmula dinâmica clássica de Hiley
As sondagens DPL têm sido testadas e para obtenção da força gerada na ponta do cone
estudadas pelo meio acadêmico e profissional quando da cravação do martelo de 10 kg:
desde 2001, e têm mostrado resultados
satisfatórios quando comparadas a métodos (m 1  g  h) ( m 1  e²  m 2 ) (1)
Pf = k  a  
tradicionais de prospecção, gerando parâmetros (s pl  s el / 2 ) (m 1  m 2 )
tecnicamente adequados para dimensionamento
de fundações. Como as sondagens DPL têm um Em que Pf é a força na ponta; k é o fator de
alcance de até 12 m de profundidade, entende- correção para corrigir o desvio de energia; a é o
se que tem boa aplicação para as fundações de fator de correção hidráulica; m1 é o peso do
edificações de pequeno porte. Por se tratar de martelo; m2 é o peso das hastes, coxim e cone;
um método de sondagem mais econômico do g é a aceleração da gravidade; h é a altura de
que o SPT, sondagem mais utilizadas no Brasil, queda do martelo; spl é o deslocamento plástico
vislumbra-se que as sondagens DPL surjam do solo; sel é o deslocamento elástico do
como uma alternativa mais viável técnica e equipamento e do solo; e é o coeficiente de
economicamente para o estudo e projeto das impacto.
fundações dos empreendimentos de pequeno Dividindo-se a força na ponta do cone pela
porte. área da seção transversal do cone Ac, e
subtraindo-se de tal fração o atrito lateral fs,
2 SONDAGEM DPL tem-se a resistência na ponta do cone qd,
conforme equação abaixo:
2.1 Utilização do DPL
Pf (2)
qd =  fs
O DPL modificado é um equipamento de fácil Ac
operação e utilização. É montado em partes
menores de 1m, sendo que nenhuma das partes 2.3 Atrito Lateral fs
pesa mais do que 10 kg. Para ser transportado, o
equipamento é embalado em duas caixas, sendo No DPL modificado, a área de contato do cone
uma de 40 litros e outra de 130 litros, pesando com o solo é de aproximadamente 60cm². O
82 kg no total. Para operação são necessários no atrito lateral fs é obtido pela equação:
máximo 3 operadores.
As caraterísticas geométricas e o peso do M res
fs = (3)
material são especificados pela norma alemã Ax L
DIN 4094 (NILSSON, 2004).Os parâmetros
diretos obtidos através do ensaio DPL são o Em que Mres é o momento residual medido
N10 (golpes necessários para cravação da no ensaio de torque; A é a área de contato do
ponteira em 10 cm de solo, definido pela norma cone com o solo e L é o braço de alavanca do
ISSMGE, o Mmáx (momento máximode momento.
torque, obtido imediatamente antes que a
ligação ponteira-solo rompa-se pelo giro) e o 3 CORRELAÇÕES DPL COM SPT
Mres (momento medido após o rompimento da
ligação ponteira-solo). A partir destes Também chamado de cone dinâmico leve, o
parâmetros, calcula-se a resistência de ponta qd DPL é utilizado em larga escala na Europa para
e o atrito lateral fs.
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correlações com a capacidade de carga das kN U


. 1  .k.N . L  (5)
p n
R = .A 
fundações (SCHULZE, 2013). F1
p
F2
L

É válido destacar que em alguns casos pode-


se ter restrições práticas ao uso do SPT. Em Em que R é a carga de ruptura; α é a razão
obras extensas, como linhas de transmissão, de atrito; K é o coeficiente que depende do tipo
existe uma dificuldade de deslocamento de de solo; Np é o índice de resistência à
equipes e equipamentos (ÁVILA E penetração na cota de apoio da ponta da estaca;
CONCIANI, 2006). NL é o índice médio de resistência à penetração
Em solos de baixa resistência, o SPT não na camada de solo de espessura ΔL;
tem boa sensibilidade para avaliar o solo; já o F1 e F2 são os fatores de correção, ajustados
DPL, pelo fato de ser medido em trechos de a partir de 63 provas de carga realizadas em
10cm e continuamente, se torna bastante várias regiões do Brasil; P é o perímetro da
sensível à pequenas variações de rigidez do seção transversal da estaca; ΔL é o
solo. Os ensaios SPT e DPL diferem-se bastante comprimento de um segmento de estaca.
em energia aplicada. A caída do martelo do
DPL emite 50J, enquanto SPT descarrega 480J 4.3 Método Pedro P. C. Velloso (1981)
por golpe. O barrilete-amostrador do SPT tem
diâmetro externo de 50,8mm. A ponteira do A avaliação da capacidade de carga de uma
DPL, padronizado pela norma internacional estaca (Pu), com comprimento L, pode ser feita
ISSMFE tem diâmetro 35,7mm. com base na seguinte equação:

4 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS DE Pu = Psu  Pbu (7)


DETERMINAÇÃO DE CAPACIDADE DE
CARGA AXIAL EM ESTACAS Psu = u       li  fui  (8)

4.1 Método de Nilsson (2003b), para


ensaios DPL P bu = A b      q u (9)

O método baseia-se na seguinte equação: Em que Psu é a capacidade de suporte do


solo por atrito lateral ao longo do fuste da
z estaca; Pbu é a capacidade de surporte do solo
(q  A p )  (  f  dA s )
pf sob a base (ponta) da estaca; u é o perímetro da
P = 0 (4)
FS seção transversal do fuste da estaca; Ab é a área
da seção transversal da estaca; α é o fator que
Em que P é a carga de ruptura (kN); FS é o depende da forma de execução da estaca; λ é o
Fator de segurança; fs é a resistência lateral do fator de carregamento; β é o fator de dimensão
ensaio DPL (kPa); qpf é a resistência de ponta da base da estaca; fui é o atrito ou aderência,
da estaca (kPa); f é a resistência lateral da lateral média em cada camada de solo; qu é a
estaca (kPa); Ap é a área da seção transversal da pressão de ruptura do solo sob a ponta da
estaca (m²); dAs é a área lateral da estaca por estaca.
comprimento dz (m²).
4.4 Método de Antunes e Cabral (1996)
4.2 Método de Aoki-Velloso (1975)
Esse método sugere que a capacidade de carga
O método de Aoki e Velloso foi desenvolvido de estacas hélice-contínua seja estimada com a
inicialmente para ser correlacionado com seguinte equação:
ensaios de penetração estática (CPT). Podendo
ser reescrita, para SPT, da seguinte forma: Qu = U (N.  1 .)L   2 N b A p (10)
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de 4tf, 6 tf, 8 tf e 10tf, pelo método de Nilsson


Em que Qu é a carga de ruptura; U é o (2003) a partir dos resultados das sondagens
perímetro da seção transversal do fuste da DPL, e por métodos semi-empíricos
estaca; Ap é a área da seção transversal da consagrados nacionalmente a partir dos
estaca; β1 e β2 são os fatores que dependem do resultados das sondagens SPT.
tipo de solo; Nb é o índice de resistência à Realizou-se também, o cálculo por métodos
penetração na cota de apoio da ponta da estaca. tradicionais para SPT como Aoki-Velloso
N é o índice médio de resistência à penetração (1975), Velloso (1981), Antunes e Cabral
na camada de solo de espessura ΔL. (1996) e Gotlieb e Penna (2000) através da
correlação obtida entre os ensaios DPL e SPT,
4.5 Método Gotlieb-Penna (2000) relacionando o N10 do DPL com o N30 do
SPT, obtendo assim uma comparação da média
O método de Gotlieb et al. (2000), foi dos comprimentos previstos pelo método de
desenvolvido estimando a tensão admissível a Nilsson (2003) para os três furos do DPL com a
ser aplicada na estaca do tipo hélice contínua. média dos comprimentos para cada método que
Esta tensão admissível é dada pela seguinte considera o NSPT como parâmetro de entrada.
expressão:
5.1 Localização das sondagens
 SPT 
 t = (SPTMédioda Ponta .60)    (11) As sondagens foram realizadas em um terreno
 0,125.D 
do município de Taubaté, interior de São Paulo,
na região conhecida como Vale do Paraíba,
Onde: t: tensão admissível a ser onde foi construído um prédio residencial de 4
aplicada no topo da estaca (em kN/m2); andares. Foram realizados 3 pares de ensaios
SPTmédio da ponta: média dos valores de SPT-DPL, conforme representado na figura 1.
NSPT obtidos no trecho compreendido por 8
diâmetros da ponta da estaca para cima, e 3
diâmetros da ponta da estaca para baixo; ΣSPT:
somatório dos NSPT compreendidos ao longo
do comprimento da estaca (para NSPT
superiores a 50, deverá ser adotado 50 golpes);
D: diâmetro da seção transversal do fuste.
Dessa forma, o resultado da capacidade de
carga será dado por:

 SPT  Figura 1. Planta de locação dos furos (medidas em


R = A P .(SPTMédio da Ponta .60)    (12) metros).
 0,125 .D 
6 RESULTADOS
Onde: AP: área da seção transversal do fuste da
estaca. Após a realização dos três pares de ensaios
SPT-DPL, foi possível obter as tabelas 1,2 e 3
5 METODOLOGIA com o resumo dos SPT(N30) e DPL(N10) para
cada par de ensaio. Os valores em negrito foram
Para a realização da pesquisa inicialmente extrapolados, sempre limitando-se o número de
proposta, estudou-se uma estaca do tipo hélice golpes do último metro ensaiado, de modo a
contínua de 250 mm de diâmetro, e permitir a comparação dos cálculos das estacas
comprimento útil de 5 m a 8 m, realizando-se os até 8m de profundidade.
cálculos de capacidade de carga à compressão
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Tabela1. Ensaios SP-01 e DP-01, referentes ao 1º par de Figura 2. Correlação Geral SPT e DPL.
ensaios.
PROFUN.
TIPO DE SOLO
SPT DPL A correlação obtida foi :
(m) (N30) (N10)
1 ARGILA ARENOSA 1 2 N30 = 0,65xN10 (11)
2 ARGILA 1 3
N10=1,50xN30 (12)
3 ARGILA 8 9
4 ARGILA SILTOSA 10 14
5 ARGILA SILTOSA 11 32 6.1 Avaliação da capacidade de carga a
6 ARGILA SILTOSA 17 50 partir dos métodos semiempíricos
7 ARGILA SILTOSA 50 50
8 ARGILA SILTOSA 50 50 Com os resultados obtidos nas sondagens,
utilizaram-se o método de Nilsson (2003),
Tabela 2. Ensaios SP-02 E DP-02, referentes ao 2º par de
ensaios.
Aoki-Velloso (1975), Décourt & Quaresma
PROFUN. TIPO DE SOLO SPT DPL (1978), Velloso (1981), Antunes e Cabral
(m) (N30) (N10) (1996) e Gotlieb e Penna (2000) para obtenção
1 ARGILA ARENOSA 1 19 de resultados de avaliação da capacidade de
2 ARGILA 1 7 carga. Destaca-se que o método de Nilsson é
3 ARGILA 5 2 válido apenas para o DPL.
4 ARGILA SILTOSA 9 8 Dessa forma, foi possível originar as Tabelas
5 ARGILA SILTOSA 12 25 4 a 27 que mostram os comprimentos úteis
6 ARGILA SILTOSA 27 35 (Comp. Útil) necessários para as capacidades de
7 ARGILA SILTOSA 43 50
carga à compressão de 4tf ,6tf, 8tf e 10tf para
8 ARGILA SILTOSA 50 50
cada método de cálculo, DPL e SPT realizados,
Tabela 3. Ensaios SP-03 e DP-03, referentes ao 3º par de
além da resistência lateral acumulada (∑RL)
ensaios. resistência de ponta (Rp) e carga admissível
PROFUN. TIPO DE SOLO SPT DPL total (Fadm), com fator de segurança (FS) igual
(m) (N30) (N10) a dois.
1 ARGILA ARENOSA 1 6
2 ARGILA 1 3 Tabela 4. Carga de 4tf – SP1
3 ARGILA 5 5 Comp. ∑RL - Rp - Fadm
Método
4 ARGILA SILTOSA 11 12 Útil - m tf tf (FS = 2) -tf
5 ARGILA SILTOSA 13 20 Nilsson - - - -
Aoki-
6 ARGILA SILTOSA 32 35
Velloso - 5 3,4 5,9 4,7
7 ARGILA SILTOSA 50 59 f (N10)
8 ARGILA SILTOSA 50 59 Pedro P.
C.
4 4,2 4,0 4,1
Dessa forma, é possível obter uma Velloso -
f (N10)
correlação geral, conforme figura 2.
Antunes
e Cabral - 3 2,8 5,9 4,3
f (N10)
Gotlieb e
Penna - f 5 4,9 3,4 4,1
(N10)
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Tabela 5. Carga de 6tf – SP1


Fadm Tabela 8. Carga de 4tf – DP1
Comp. ∑RL - Rp
Método (FS = 2) - Comp. Rp - Fadm
Útil - m tf - tf Método ∑RL - tf
tf Útil - m tf (FS = 2) -tf
Nilsson - - - - Nilsson 4 12,3 0,3 6,3
Aoki- Aoki-
Velloso 6 5,3 9,2 7,3 Velloso - 5 2,9 6,5 4,7
- f (N10) f (N10)
Pedro P. Pedro P.
C. C.
5 8,4 5,6 7,0 5 7,1 4,9 6,0
Velloso Velloso -
- f (N10) f (N10)
Antunes Antunes
e Cabral 4 5,5 7,4 6,4 e Cabral 4 4,7 4,4 4,6
- f (N10) - f (N10)
Gotlieb Gotlieb e
e Penna 6 7,5 6,6 7 Penna - f 6 7,2 3,8 5,5
- f (N10) (N10)

Tabela 6. Carga de 8tf – SP1 Tabela 9. Carga de 6tf – DP1


Comp. ∑RL - Rp Fadm Comp. ∑RL - Rp Fadm
Método Método
Útil - m tf - tf (FS = 2) -tf Útil - m tf - tf (FS = 2) -tf
Nilsson - - - - Nilsson 4 12,3 0,3 6,3
Aoki- Aoki-
21,
Velloso - 7 8,3 14,9 Velloso - 6 5 9,2 7,1
6
f (N10) f (N10)
Pedro P. Pedro P.
C. C.
6 13,0 7,6 10,4 5 7,1 4,9 6,0
Velloso - Velloso -
f (N10) f (N10)
Antunes Antunes e
e Cabral 5 8,9 8,1 8,3 Cabral - f 5 8,0 8,8 8,4
- f (N10) (N10)
Gotlieb e Gotlieb e
Penna - f 7 15,4 9,6 12,5 Penna - f 7 9,9 4,6 7,3
(N10) (N10)
Tabela 7. Carga de 10tf – SP1 Tabela 10. Carga de 8tf – DP1
Comp. Rp - Fadm Comp. Rp - Fadm
Método ∑RL - tf Método ∑RL - tf
Útil - m tf (FS = 2) -tf Útil - m tf (FS = 2) -tf
Nilsson - - - - Nilsson 5 24,1 0,7 12,4
Aoki- Aoki-
Velloso 7 8,3 21,6 14,9 Velloso - 7 7,9 9,2 8,6
- f (N10) f (N10)
Pedro P. Pedro P.
C. C.
6 13,0 7,6 10,4 6 12,2 7,2 9,7
Velloso Velloso -
- f (N10) f (N10)
Antunes Antunes
e Cabral 6 13,2 12,6 12,9 e Cabral - 5 8,0 8,8 8,4
- f (N10) f (N10)
Gotlieb Gotlieb e
e Penna 7 15,4 9,6 12,5 Penna - f 8 12,6 5,0 8,8
- f (N10) (N10)
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Tabela 11. Carga de 10tf – DP1 Tabela 14. Carga de 8tf – SP2
Comp. Rp - Fadm Comp. ∑RL Fadm
Método ∑RL - tf Método Rp - tf
Útil - m tf (FS = 2) -tf Útil - m - tf (FS = 2) -tf
Nilsson 5 24,1 0,7 12,4 Nilsson - - - -
Aoki- Aoki-
Velloso - 8 10,9 9,2 10,0 Velloso 6 4,8 14,6 9,7
f (N10) - f (N10)
Pedro P. Pedro P.
C. C.
7 19,3 8,7 14,1 7 14,3 10,4 12,4
Velloso - Velloso
f (N10) - f (N10)
Antunes Antunes
12,
e Cabral 6 12,6 12,6 e Cabral 5 7,7 8,8 8,3
5
- f (N10) - f (N10)
Gotlieb e Gotlieb
Penna - f 9 15,2 5,0 10,1 e Penna 7 15,4 9,7 12,6
(N10) - f (N10)

Tabela 12. Carga de 4tf – SP2 Tabela 15. Carga de 10tf – SP2
Comp. ∑RL - Rp Fadm Comp. ∑RL Rp - Fadm
Método Método
Útil - m tf - tf (FS = 2) -tf Útil - m - tf tf (FS = 2) -tf
Nilsson - - - - Nilsson - - - -
Aoki- Aoki-
Velloso - f 5 2,8 6,5 4,6 Velloso - f 7 9,5 21,6 15,5
(N10) (N10)
Pedro P. C. Pedro P.
Velloso - f 5 5,5 4,0 4,8 C. Velloso 7 14,3 10,4 12,4
(N10) - f (N10)
Antunes e Antunes e
Cabral - f 4 4,4 6,6 5,5 Cabral - f 6 15,1 19,6 17,4
(N10) (N10)
Gotlieb e Gotlieb e
Penna - f 5 4,4 3,9 4,2 Penna - f 7 15,4 9,7 12,6
(N10) (N10)

Tabela 13. Carga de 6tf – SP2 Tabela 16. Carga de 4tf – DP2
Comp. Rp - Fadm Comp. ∑RL Rp - Fadm
Método ∑RL - tf Método
Útil - m tf (FS = 2) -tf Útil - m - tf tf (FS = 2) -tf
Nilsson - - - - Nilsson 2 11,3 0,2 5,8
Aoki- Aoki-
Velloso - 6 4,8 14,6 9,7 Velloso - f 4 4,3 4,3 4,3
f (N10) (N10)
Pedro P. Pedro P.
C. C. Velloso 2 5,9 3,9 4,9
6 9,3 5,4 7,4
Velloso - - f (N10)
f (N10) Antunes e
Antunes Cabral - f 3 6,9 2,95 4,9
e Cabral 5 7,7 8,8 8,3 (N10)
- f (N10) Gotlieb e
Gotlieb e Penna - f 5 3,8 7,9 5,9
Penna - f 6 8,6 6,7 7,7 (N10)
(N10)
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Tabela 17. Carga de 6tf – DP2 Tabela 20. Carga de 4tf – SP3
Comp. ∑R Rp - Fadm Comp. ∑RL - Rp Fadm
Método Método
Útil - m L - tf tf (FS = 2) -tf Útil - m tf - tf (FS = 2) -tf
12, Nilsson - - - -
Nilsson 3 0,1 6,5
9 Aoki-
Aoki- Velloso - 5 3,1 7,0 5,1
Velloso - f 5 5,7 9,2 7,4 f (N10)
(N10) Pedro P.
Pedro P. C. C.
5 7,6 5,8 6,7
Velloso - f 3 8,8 4,0 6,4 Velloso -
(N10) f (N10)
Antunes e Antunes e
Cabral - f 4 9,0 5,9 7,5 Cabral - f 4 5,0 8,1 6,6
(N10) (N10)
Gotlieb e Gotlieb e
Penna - f 6 5,9 11,5 8,7 Penna - f 5 4,5 4,9 4,7
(N10) (N10)

Tabela 18. Carga de 8tf – DP2 Tabela 21. Carga de 6tf – SP3
Comp. ∑RL Rp - Fadm Comp. ∑R Rp - Fadm
Método Método
Útil - m - tf tf (FS = 2) -tf Útil - m L - tf tf (FS = 2) -tf
Nilsson 4 16,4 0,2 8,3 Nilsson - - - -
Aoki- Aoki-
17,
Velloso - 6 8,6 12,4 10,5 Velloso - 6 5,4 11,4
3
f (N10) f (N10)
Pedro P. Pedro P.
C. C.
5 13,9 6,4 10 5 7,6 5,8 6,7
Velloso - Velloso -
f (N10) f (N10)
Antunes Antunes
e Cabral 5 13,8 12,5 13,15 e Cabral 4 5,0 8,1 6,6
- f (N10) - f (N10)
Gotlieb e Gotlieb e
Penna - f 6 5,9 11,5 8,7 Penna - f 6 7,8 9,9 8,9
(N10) (N10)

Tabela 19. Carga de 10tf – DP2 Tabela 22. Carga de 8tf – SP3
Comp. ∑RL Fadm Comp. ∑RL Rp - Fadm
Método Rp - tf Método
Útil - m - tf (FS = 2) -tf Útil - m - tf tf (FS = 2) -tf
Nilsson 5 23,9 0,6 12,3 Nilsson - - - -
Aoki- Aoki-
Velloso - f 6 8,6 12,4 10,5 Velloso - 6 5,4 17,3 11,4
(N10) f (N10)
Pedro P. Pedro P.
C. Velloso 5 13,9 6,4 10 C.
6 13,0 12,2 12,7
- f (N10) Velloso -
Antunes e f (N10)
Cabral - f 5 13,8 12,5 13,15 Antunes
(N10) e Cabral 5 8,5 9,6 9,1
Gotlieb e - f (N10)
Penna - f 7 7,7 16,5 12,1 Gotlieb e
(N10) Penna - f 6 7,8 9,9 8,9
(N10)
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Tabela 23. Carga de 10tf – SP3 Tabela 26. Carga de 8tf – DP3
Comp. ∑RL Rp - Fadm Comp. ∑RL - Rp Fadm
Método Método
Útil - m - tf tf (FS = 2) -tf Útil - m tf - tf (FS = 2) -tf
Nilsson - - - - Nilsson 6 23,7 0,7 12,2
Aoki- Aoki-
16,
Velloso 6 5,4 17,3 11,4 Velloso - f 6 6,4 11,3
2
- f (N10) (N10)
Pedro P. Pedro P.
12,
C. C. Velloso 6 15,6 13,9
6 13,0 12,2 12,7 1
Velloso - f (N10)
- f (N10) Antunes e
12,
Antunes Cabral - f 5 10,2 11,4
5
e Cabral 6 17,3 19,6 18,5 (N10)
- f (N10) Gotlieb e
10,
Gotlieb Penna - f 6 8,0 9,3
5
e Penna 7 10,7 17,7 14,2 (N10)
- f (N10)

Tabela 24. Carga de 4tf – DP3 Tabela 27. Carga de 10tf – DP3
Comp. ∑RL Rp Fadm Comp.
Método ∑RL Fadm
Útil - m - tf - tf (FS = 2) -tf Método Útil - Rp - tf
- tf (FS = 2) -tf
Nilsson 4 10,4 0,3 5,4 m
Aoki- Nilsson 6 23,7 0,7 12,2
Velloso - f 5 3,5 9,2 6,3 Aoki-
(N10) Velloso - f 6 6,4 16,2 11,3
Pedro P. (N10)
C. Velloso 5 8,4 6,7 7,6 Pedro P.
- f (N10) C. Velloso 6 15,6 12,1 13,9
Antunes e - f (N10)
Cabral - f 4 5,5 7,4 6,5 Antunes e
(N10) Cabral - f 5 10,2 12,5 11,4
Gotlieb e (N10)
Penna - f 5 4,5 5,8 5,2 Gotlieb e
(N10) Penna - f 7 11,0 18,5 14,8
(N10)
Tabela 25. Carga de 6tf – DP3
Comp. Útil ∑R Rp - Fadm 7 CONCLUSÃO
Método
-m L - tf tf (FS = 2) -tf
Nilsson 5 14,3 0,5 7,4
Aoki- Por conseguinte, oberva-se que os resultados
Velloso mostraram que o método de Nilsson (2003)
5 3,5 9,2 6,3
-f resultou nas maiores capacidades de carga por
(N10) atrito lateral, sendo que a capacidade de carga
Pedro P. de ponta pelo mesmo método aproxima-se de
C.
Velloso 5 8,4 6,7 7,6 zero. Considerando-se o fator de segurança
-f global de 2,0, o método de Nilsson (2003) se
(N10) aproxima dos demais métodos, que tem uma
Antunes capacidade de carga por atrito lateral menor e
e Cabral por ponta maior, verificou-se através de provas
4 5,5 7,4 6,5
-f
(N10) de carga instrumentadas, que estacas escavadas
Gotlieb de pequeno diâmetro funcionam como estacas
e Penna
6 8,0 10,5 9,3
de atrito, entretanto a resistência de ponta só é
-f mobilizada depois de grandes recalques.
(N10) Nesse sentido, o método de Nilsson é o que
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mais se aproxima desta realidade. Os demais Especiais.


métodos, mesmo considerando um fator de Matos, Y.M.C. (2015). Verificação da Aplicação de
Sondagens com o Penetrômetro Dinâmico Leve
redução para a resistência de ponta da estaca, (DPL) em Projetos de Fundações para Pequenas
ainda contam com uma parcela significativa de Edificações. 76 f. Monografia (Graduação em
ponta. Assim, concluiu-se que os comprimentos Bacharelado em Engenharia Civil). Universidade de
necessários para uma mesma capacidade de Fortaleza, Fortaleza.
carga prevista pelo método de Nilsson (2003), a Nilsson, T. (2003b) Dimensionamento de estacas através
ensaios de DPL. Texto técnico, Indaiatuba/SP.
partir dos resultados das sondagens DPL, foram Nilsson, T. (2004). Comparações entre DPL NILSSON e
equivalentes aos comprimentos previstos pelos SPT. IV Simpósio de Prática de Engenharia
demais métodos tradicionais para SPT. Geotécnica da Região Sul, Março, Curitiba/PR.
Dessa forma, as sondagens DPL podem ser Schulze, T. (2013). Análise da capacidade de carga de
uma alternativa técnica e economicamente estaca escavada instrumentada de pequeno diâmetro
por meio de métodos semi-empíricos. Dissertação de
viável para projetos de fundações. Tendo em mestrado. Universidade Estadual de Campinas,
vista a limitação de profundidade de 12m das Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
sondagens DPL por conta da energia de Urbanismo. Campinas/SP.
cravação, entende-se que as obras de pequeno Torres-Ribeiro, M.; Borghi, L. (2007). O uso de
porte, as quais geralmente contam com menos microfácies sedimentares na caracterização de
potenciais rochas selantes e geradoras de um sistema
recursos financeiros, poderiam adotar o uso de lacustre paleogênico na Bacia de Taubaté. 4o
campanhas de sondagens DPL para o projeto PDPETRO. Campinas/SP.
geotécnico das fundações. Velloso, P. P. C. (1981). Fundações: aspestos
geotécnicos. 3. ed. Rio de Janeiro: PUC-RJ v. 3. p.
AGRADECIMENTOS 467-469.

Agradece-se ao Instituto Federal de Educação,


Ciência e Tecnologia, campus Fortaleza, pela
bolsa do autor³.

REFERÊNCIAS

Antunes, W.R e Cabral, D.A. (1996). Capacidade de


carga em estacas hélice contínua. 3º Seminário de
Engenharia de Fundações e Geotecnia. São Paulo, 2:
105 - 109.
Aoki, N. e Velloso, D. A. (1975) An approximate method
to estimate the bearing capacity of piles. Proceedings
of Panamerican CSMFE. Buenos Aires, ARG. v. 1, p.
367 – 376.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (2010). NBR
6122 - Projeto e execução de fundações. Rio de
Janeiro: [s.n.].
Ávila, S.P; Conciani, W. (2006). Previsão de capacidade
de carga de solos através de correlação de dados
obtidos com o cone dinâmico (DPL). Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, Anais, Curitiba/PR, 2006.
Décourt, L., Quaresma, R. (1978) Capacidade de carga de
estacas a partir de valores de SPT. In: Anais do
CBMSEF. Rio de Janeiro, RJ. v. 1, p. 45 – 53.
Gotlieb, M.; Penna, A. S.; Rodrigues, L. H. B.; Romano,
R. (2000). Um método simples para avaliação da
tensão admissível no topo de estacas tipo hélice-
contínua. IV Seminário de Engenharia de Fundações
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Estudo das características físicas, químicas e estruturais de


um perfil de intemperismo no município de Cunha - SP.
Êmila Flávia da Silva Oliveira
Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Lorena -SP, Brasil, emila_flavia@hotmail.com

Mariana Ferreira Benessiuti Motta


Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Lorena -SP, Brasil, marianabenessiuti@yahoo.com.br

George de Paula Bernardes (aposentado)


UNESP /FEG. Guaratinguetá-SP, Brasil, gpb@feg.unesp.br

RESUMO: O intemperismo consiste no conjunto de alterações que ocorrem nas rochas, sendo o
enorme agente no processo de formação dos solos. Segundo Antunes et al. (2015), os solos vistos
hoje nas paisagens terrestres são resultados de processos geodinâmicos que atuaram e ainda atuam
sobre ele. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo estudar as propriedades físicas,
químicas e estrutural de um perfil de intemperismo localizado no município de Cunha - SP. O grau
de intemperismo foi avaliado através de vários índices com base em análises químicas, de difração
de raios-X onde se analisam os minerais encontrados, utilizando o método de Perda ao Fogo (PF)
onde a massa que se perde no processo de PF representa a quantidade de argilominerais e
hidróxidos, produtos esses do intemperismo. Além disso, por meio de sua estrutura, o ensaio de
Porosimetria de Intrusão ao Mercúrio foi usado para obter a distribuição de poros. A partir dos
resultados, os solos foram classificados como uma areia siltosa, sendo que duas profundidades não
apresentarem plasticidade. Verificou-se uma densidade dos grãos decrescente ao longo da
profundidade e uma perda ao fogo significativa para as camadas superficiais. A distribuição dos
poros no solo superficial apresentou microporos em sua maior quantidade.

PALAVRAS-CHAVE: Perfil de intemperismo, Colúvio, Solo residual Jovem, Cunha-SP.

1 INTRODUÇÃO conjuntas, chamadas intempéries, as quais agem


sobre a rocha que se transforma em solo
O estudo e análise dos solos e seu (Conciani et al., 2015). Estes processos são
comportamento, tem grande importância desde divididos entre químicos, físicos e biológicos
a implantação de uma obra, quanto para a (Filho, 2008). Neste contexto, o presente
resolução de problemas futuros. Antunes et al. trabalho teve por objetivo caracterizar o grau de
(2015) afirmam que entender os processos que intemperismo de um perfil de solo residual no
deram origem ao solo trabalhado é relevante em município de Cunha-SP, através de ensaios de
vários estudos geotécnicos, principalmente laboratório. Dentre eles, foram realizados o
quando se trata de estabilidade de taludes e ensaio de granulometria, o ensaio para
movimentos de massa. O intemperismo trata-se determinação da densidade dos grãos, Limites
de um processo natural, onde os solos são de Liquidez e Plasticidade, ensaio de Perda ao
formados a partir do processo de decomposição Fogo, Porosimetria de Intrusão ao Mercúrio e
das rochas de origem, chamadas de rochas mãe. Difração de raios-X.
O clima, tipo de rocha, declividade e cobertura
vegetal, além de outros fatores, criam condições
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2 ÁREA DE ESTUDO 3 PROCEDIMENTOS DOS ENSAIOS

A região de estudo, município de Cunha – SP, Inicialmente foram coletadas sete amostras
trata-se de ambiente serrano de clima deformadas para análise da granulometria
classificado como do tipo Clima Oceânico, juntamente com o ensaio de densidade dos
chamado também de temperado marítimo ou grãos, que determina características das
mesmo subtropical. De acordo com o Mapa partículas do solo. Ainda, nas amostras
Geomorfológico do Estado de São Paulo (IPT, deformadas, foram realizados os ensaios de
1981b apud CPRM, 2017), a área está inserida Limites de Atterberg do solo, que descrevem a
no Planalto Atlântico, e transpõe as zonas relação da água com o solo (liquidez e
Planalto do Paraitinga e Planalto da Bocaina plasticidade), além do ensaio de Perda ao Fogo
entre os contextos geotécnicos da Serra do Mar e difração de raios-X. As alturas no talude as
e da Serra da Bocaina, no alto Vale do Paraíba, quais as amostras foram retiradas são
estado de São Paulo. apresentadas na figura 2. Em relação às
Segundo um estudo realizado pelo CPRM amostras indeformadas, foram retiradas três
(Serviço Geológico do Brasil), o substrato de amostras para o Ensaio de Porosimetria de
Cunha é composto principalmente por rochas Intrusão ao Mercúrio, utilizado para obtenção
ígneas e metamórficas da província de parâmetros como o tamanho e distribuição
Mantiqueira, onde em sua maior parte há a dos poros nas amostras.
presença de xistos, gnaisses e quartzitos. Seu
relevo é caracterizado por morros baixos e altos
e relevo serrano. A área urbana localiza-se em
sua maior parte sobre um relevo susceptível a
movimentações de massa, onde são encontradas
rochas com grande heterogeneidade geotécnica
de forma lateral e vertical. No caso de sofrerem
escavações de formas mais profundas, estes
materiais podem potencializar o risco de
processos erosivos e escorregamentos tornando
Figura 2. Altura de coleta das amostras.
essencial que o município tenha o controle do
crescimento urbano além de presente
Para a caracterização dos solos de Cunha-SP,
fiscalizações e estudos sobre os solos
a granulometria seguiu NBR 7181 (1984). O
encontrados na região (CPRM, 2017).
ensaio para determinação da densidade real dos
O local de estudo é um talude que apresenta
grãos foi realizado através da NBR 6508
perfil de intemperismo vertical, com uma altura
(1984). Também foram analisados os limites de
de aproximadamente quinze metros, conforme
liquidez (LL) e plasticidade (LP), segundo
figura 1.
normas NBR 6459 (1984) e NBR 7180 (1984),
respectivamente.
A técnica de injeção de mercúrio é uma
ferramenta importante no estudo da
microestrutura do solo, usada para se
caracterizar diversos aspectos dos materiais
porosos. Ele fornece a distribuição dos
diferentes tamanhos dos poros e suas
porcentagens em relação ao volume de vazios
Figura 1. Local da retirada das amostras, solo homogêneo do solo.
no topo, com linha de quartzo abaixo do mesmo.
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Deste modo, o estudo envolveu as amostras amostras foram passadas na peneira #200, com
indeformadas, retiradas no talude em três abertura de 0,075mm, procedimento para
diferentes alturas, a superficial, a 5,3m e a 9,0 separar as frações de argila e silte. Em seguida
m. Estas profundidades foram escolhidas por as amostras foram para secagem em estufa por
representarem nitidamente diferentes processos 24 horas, a uma temperatura de 110ºC. Para
de intemperização ao longo do perfil. O ensaio cada uma das 6 amostras retiradas, foram
tem como base o fato de que o mercúrio se separadas 4,0 gramas em cadinhos de porcelana.
comporta com um fluido não molhante, em Após este período na Mufla, os cadinhos com
relação ao restante das substâncias. Sendo solo foram novamente pesados, e a partir daí a
assim, ele não penetra em pequenos furos ou perda ao fogo é calculada pela expressão 1.
fissuras de forma espontânea, a não ser que se
aplique pressão sobre ele. A amostra é
confinada em um recipiente dotado de um PF = x 100% (1)
capilar, com vácuo agindo sobre a mesa e esta
sendo preenchida por mercúrio. Ao se aumentar Onde: PF é o índice de perda ao fogo; Mi a
a pressão sobre o líquido, ele entrará nos poros massa de solo antes da perda ao fogo; Mf é a
da amostra reduzindo assim seu nível capilar massa de solo após a perda ao fogo.
(Oliveira, 2006). De acordo com a redução do
nível de mercúrio, uma curva é obtida a partir Por fim, para o ensaio de difração de raios-X
do nível de mercúrio no capilar em conjunto foram usadas amostras obtidas nas mesmas
com a pressão aplicada. A segunda curva é alturas dos ensaios de porosimetria, a fim de
obtida informando o volume de poros do avaliar os principais minerais presentes no solo.
material em que o mercúrio penetrou a uma Os difratogramas foram determinados a partir
determinada pressão. Na figura 3, observa-se a do equipamento Empyrean da marca
amostra com sua estrutura preservada sendo PANalytical, operacionados por uma tensão de
submetida à pressão. 40kV, uma corrente de 30mA, num intervalo de
leitura entre 15 e 90°, com o passo angular a
0,01° e com contagens realizadas de 30
segundos por ponto. Todas as análises foram
feitas a temperatura ambiente.

4 RESULTADOS OBTIDOS

O solo encontrado no local trata-se de um solo


Figura 3. Amostra em baixa pressão. residual jovem, onde superficialmente é
encontrado solo coluvionar, além de uma linha
O ensaio de perda ao fogo consiste na de quartzo presente abaixo do mesmo.
determinação do grau de intemperismo a partir
da relação entre as massas de uma amostra 4.1 Composição Granulométrica
deformada, antes de depois de sua queima,
realizada em uma Mufla a uma temperatura de Os resultados dos ensaios de granulometria
600ºC, por três horas. Para o ensaio, as amostras (tabela 1) indicam que os solos estudados são
deformadas foram coletadas ao longo perfil e predominantemente arenosos, com uma maior
armazenadas em sacos plásticos e em seguida porcentagem da fração fina no solo superficial.
colocadas em condições de temperatura
ambiente durante 24 horas. Após a secagem, as
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Tabela 1. Composição Granulométrica dos solos. 4.4 Índice de Perda ao fogo


Profundi- Pedregulho Areia (%) Finos
dade (m) (%) Grossa Média Fina (%) A figura 5 apresenta a distribuição do Índice de
0 2 5 31 39 23 Perda ao Fogo ao longo da altura do talude.
3,2 0 4 33 55 8
5,3 2 1 17 71 9
9 1 3 27 54 15
10,5 1 2 32 54 11
13,5 0 2 43 55 9

De acordo a NBR 6502 (1995), solos


analisados são classificados como areia siltosa.
O solo superficial apresenta características de
um solo em estado mais intemperizado, por
possuir uma maior quantidade da fração
argílica.

4.2 Limites de Atteberg


Figura 5. Índices de Perda ao Fogo.
Das seis profundidades estudadas no perfil,
Pode ser verificado que o índice de perda ao
pode-se verificar que os solos a 3,2 metros e a
fogo é decrescente em relação à profundidade.
5,3 metros, não foram possíveis realizar o
Nas camadas a 3,2 metros e a 5,3 metros, nota-
ensaio de limite de plasticidade, caracterizando
se uma pequena descontinuidade na tendência
assim um solo não plástico. Isso possivelmente
observada. Este fato provavelmente deve-se a
deve-se ao pequeno teor de argila presente na
ocorrência de uma maior presença de areia neste
camada, como foi observada na granulometria.
intervalo, como foi verificado no ensaio de
Além disso, é observado que conforme a
granulometria. A massa que se perde no
profundidade aumenta, o índice de plasticidade
processo de perda ao fogo é decorrente da
diminui. Dessa forma, pode-se ressaltar que
quantidade de argilominerais e hidróxidos de
quanto mais plástico um solo, maior é o teor de
ferro e de alumínio, onde estes são produtos do
argila, que possivelmente apresentará um
intemperismo. A partir disto tem-se a conclusão
horizonte mais intemperizado.
que quanto maior este índice, mais evoluído é o
intemperismo.
4.3 Densidade relativa dos grãos
4.4 Porosimetria de Mercúrio
No ensaio de densidade foi observado que há
uma possível presença de quartzo e de óxidos Para a distribuição em micro, meso e
de Ferro, relacionando os valores encontrados, macroporos foi usada a classificação conforme
onde há também uma variação do parâmetro a NBR 6502 (1995), onde se têm a seguinte
com a profundidade, como segue a tabela 2. distribuição: Microporos: φ<0,2µm,
Mesoporos: 0,2µm< φ <6µm e Macroporos:
Tabela 2. Densidade ao longo da profundidade.
Profundida- φ>6µm. Na figura 6, apresenta a distribuição
0 3,2 5,3 9 10,5 13,5 dos diâmetros dos poros nas três profundidades
de (m)
Densidade analisadas.
relativa dos 2,677 2,663 2,670 2,740 2,697 2,775
grãos
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Tabela 3. Distribuição dos poros ao longo da


profundidade.
Solo Micropo Mesoporos Macro Porosi
(m) ros (%) (%) poros dade
(%)
φ<0,2 0,2µm<φ< φ>6 Total
µm 6 µm µm (%)
0 47,75 11,08 41,17 44,18
5,3 24,85 43,21 31,94 42,95
9 20,51 57,59 21,29 45,41

Figura 6. Distribuição dos diâmetros dos poros. O solo mais profundo, a 9,0 metros,
apresentando um comportamento monomodal,
Verifica-se nitidamente que a porosidade nos em mesoporos, trata-se de um solo ainda
solos varia bastante conforme a profundidade. influenciado pela rocha mãe, com uma
Na camada a 9,0 metros de profundidade, a distribuição de poros homogênea. Na zona de
curva apresenta um comportamento 5,3 metros onde não há um desempenho
monomodal, com predominância de mesoporos definido, é provável que seja uma zona de
presentes. A curva a 5,3 metros apresenta uma grande alteração da estrutura deste solo, onde a
curva de transição, onde não apresenta um partir de uma profundidade, com uma condição
comportamento bem definido. Já na superfície, homogênea, começa a se alterar para uma
a curva apresenta um comportamento bimodal, condição heterogênea com diferentes tamanhos
com poros nas regiões de micro e macroporos, de poros, caracterizando um perfil
com um valor maior do primeiro. intemperizado.
A figura 7 apresenta a distribuição do
volume injetado de mercúrio, confirmando o 4.5 Difração de raios-X
comportamento descrito na figura 6.
Quanto ao ensaio de Difração de raios-X, foi
possível uma análise dos minerais presentes no
solo, a partir da amplitude de presença de cada
um nos difratogramas (visualização dos picos
registrados no ensaio). Os resultados
encontrados mostram a alta presença de
Caulinita no início do perfil e sua diminuição ao
longo talude, confirmando a característica de
um perfil intemperizado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 7. Distribuição acumulativa dos poros.

De acordo com os resultados obtidos, é O presente trabalho avaliou um perfil de


possível uma análise do perfil de alteração. Na alteração de um talude na região de Cunha-SP,
tabela 3 verifica-se a diminuição dos por meio de ensaios de caracterização química,
microporos e o aumento de macroporos em física e estrutural. Pelos resultados foi possível
relação à profundidade, apresentando assim um concluir que o perfil analisado apresenta
perfil intemperizado. características físicas, químicas e
microestruturais diretamente ligadas ao nível de
intemperização uniforme.
Analisando o perfil como um todo, nota-se a
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partir dos resultados, que nas profundidades de 759p. São Paulo: Associação Brasileira de Mecânica
3,2 metros e especialmente a 5,3 metros, foram dos Solos e Engenharia Geotécnica, 2015.
CPRM – Serviço Geológico Do Brasil. Relatório de Ação
observadas descontinuidades nas características Emergencial para Delimitação de Áreas em Alto e
em relação às demais profundidades. Na Muito Alto Risco a Enchentes, Inundações e
granulometria há uma descontinuidade na Movimentos de Massa, Cunha – SP, Maio, 2017.
fração de finos presentes, onde nestes pontos os Filho, J. A. G.; Solos da formação geológica ao uso da
solos não apresentaram plasticidade, e também engenharia. 2º Ed.Recife: Ed. Universitária da
UFPE.2008.
há uma descontinuidade no índice de perda ao Oliveira, E. P. Caracterização bio-fisíco-químico-
fogo. Além disso, observa-se uma curva mineralógica e micromorfológica de um perfil de
intermediária em relação às demais, na alteração de granito-gnaisse de Curitiba, PR. 2006.
distribuição dos diâmetros dos poros. Todas 197 f. Dissertação (mestrado) – Pontifícia
estas relações estabelecidas provavelmente Universidade Católica do Rio de Janeiro.
devem-se a uma heterogeneidade da rocha-mãe,
por se tratar de um intervalo com resultados
com uma maior diferença de características em
relação ao processo de alteração do perfil.

AGRADECIMENTOS

Ao Geraldo Frigo, pelos ensaios de


porosimetria de mercúrio realizados na
Universidade de São Paulo – Campus São
Carlos, SP.
Ao Professor Bruno Vidal, pelos ensaios de
difração de raios-X, realizados na Universidade
de São Paulo – Campus Lorena, SP.

REFERÊNCIAS

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas.


NBR-7181. Solo – Análise granulométrica. Rio de
Janeiro (1984). 13p.
ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR-6508. Solo – Determinação de massa específica.
Rio de Janeiro (1984). 8p.
ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
6459. Solo – Determinação do limite de Liquidez. Rio
de Janeiro (1984). 6p.
ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
7180. Solo – Determinação do limite de plasticidade.
Rio de Janeiro (1984). 3p.
ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
6502 – Rochas e solos. Rio de Janeiro (1995). 18p.
Antunes, F. S.; et al. Subsídio Para Estudos de Geologia
de Engenharia, Anuário do Instituto de Geociências -
vol. 38,nº1. 2015 p. 180-198, 2015.
Conciani, W. et al. Origem e Formação dos Solos, perfil
de intemperismo. In: CAMAPUM de Carvalho, J. et
al. Solos não saturados no contexto geotécnico. 2015.
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Estudo de campo e laboratório do comportamento mecânico de


um solo sulfatado estabilizado com cal
Eduardo José Bittar Marín
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, eduardo.bittar@ufrgs.br

Rubén Alejandro Quiñónez Samaniego


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, alejandro.quinonez@ufrgs.br

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

RESUMO: Este trabalho pretende encontrar, se as previsões da relação vazios/cal na resistência à


compressão simples são efetivas para dimensionar misturas de solos sulfatados estabilizados com
cal construídas em campo. Para lograr esse objetivo, executou-se um programa experimental de
ensaios de laboratório, e a construção de trechos experimentais de solo-cal. Os ensaios de
laboratório ajudaram ao conhecimento do comportamento de solos sulfatados estabilizados com cal,
e demostraram que a relação vazios/cal controla a resistência à compressão simples desses solos
estabilizados, evidenciando uma relação com os resultados das resistências de campo, encontrando-
se que as resistências de campo e laboratório são controladas por essa relação e que podem ser
previstas pela mesma.

PALAVRAS-CHAVE: melhoramento de solos, solos sulfatados, solos dispersivos, etringita, cinza


volante.

1 INTRODUÇÃO de solo-cal podendo levar meses ou até anos


para serem concluídas.
A adição de cal em um solo desencadeia Recentes pesquisas relatam o uso da relação
reações químicas entre os constituintes volume de vazios/volume de agente cimentante
mineralógicos do solo e a cal. Estas reações, são na previsão do comportamento mecânico de
responsáveis pela alteração de algumas solos artificialmente cimentados com cimento
características físicas como granulometria, ou cal, de modo a citar algumas pesquisas
plasticidade, compactação e resistência temos: Foppa (2005), Lopes Junior (2007),
imediata, o que se reflete diretamente na sua Consoli et al. (2009), Lopes Junior (2011),
trabalhabilidade. Consoli et al. (2010), Quiñonez (2015). Lopes
Deste modo segundo Little (1995), duas fases Junior (2007) estudou a relação vazios/cal
ocorrem no processo de estabilização das tratando uma areia-siltosa com resíduo de
misturas de solo-cal. A primeira envolve britagem e as proporções de 3%, 5%, 7%, 9% e
praticamente as reações imediatas de troca 11% de cal em relação ao peso de solo seco.
catiônica e floculação, que se desenvolvem logo Para cada porcentagem de cal foi feita uma
após a adição da cal ao solo e podem ocorrer em série de ensaios de resistência à compressão
minutos ou dias. A segunda envolve as reações simples, moldadas a diferentes teores de
pozolânicas, que são responsáveis pelo aumento umidade e pesos específicos aparentes secos,
contínuo da resistência mecânica das misturas ambos determinados a partir das curvas de
compactação do ensaio Proctor das misturas. Na
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Figura 1.1., pode-se observar os resultados dos solo argilo-siltoso, originário da região
ensaios de resistência à compressão simples das ocidental (chaco) do Paraguai, na Cidade de
amostras tratadas com cal em 28 e 90 dias de Filadelfia. A curva granulométrica do solo é
cura. Avalia-se um bom ajuste dos resultados à apresentada na Figura 2.1.
relação vazios/cal, forçados por um fator
exponencial 0,06.

Figura 2.1. Granulometria laser.

Figura 1.1. Relação vazios/cal ajustado versus resistência Os resultados da caracterização das
a compressão simples para amostras com 28 e 90 dias de propriedades físicas e químicas do solo são
cura (LOPES JUNIOR, 2007). apresentados na Tabela 2.1.
Porém, várias pesquisas têm demostrado que a Tabela 2.1. Propriedades do solo
utilização de estabilizadores a base de cálcio Propriedades Valores Norma
como a cal ou o cimento Portland com solos
Limite de Liquidez (LL) 33 ASTM D4318
ricos em sulfatos pode levar a um novo
problema em vez de mitiga-lo. (MITCHELL, Limite de Plasticidade
17 ASTM D4318
(LP)
1986; HUNTER, 1988; MITCHELL; Índice de Plasticidade
DERMATAS, 1992; PETRY; LITTLE, 1992; 16 ASTM D4318
(IP)
KOTA et al., 1996a; ROLLINGS et al., 1999; Massa Específica Real
PUPPALA et al., 2010). Segundo Dermatas 26,91 kN/m³ ASTM D854
dos Grãos (G)
(1995), a evidência do efeito prejudicial da
presença de íons de sulfato na resistência dos % Passante Peneira #200 92% ASTM D6913
solos estabilizados com cimento ou cal foi dada
Superfície específica do
por, Mehra et al. (1955), e Sherwood (1958, passante #200
26,17 m²/g Método BET
1962). Essas pesquisas mostraram que houve
% Matéria Orgânica 1.24% ASTM D2974
uma perda da resistência acompanhada pela
desintegração do material quando o solo pH 9.24 ASTM D4972
estabilizado com cimento foi imerso em Dispersão (Pinhole) D2 ASTM D4647
soluções contendo íons de sulfato ou quando o
solo sulfatado estabilizado com cimento foi Área Sherard et al.
Dispersão (SAR)
Dispersiva (1976)
imerso na água.
ASTM
Sulfatos Solúveis 14.299 ppm C1580-10 /
2 MATERIAIS SMEWW
Capacidade de Troca
12 cmol/kg
Catiônica (CTC)
2.1 Solo
Classificação SUCS CL ASTM D2487

Na presente pesquisa o solo utilizado foi um Classificação AASHTO A6 ASTM D3282


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2.2 Cal

A cal utilizada foi cal hidratada calcítica


produzida no Paraguai. A massa específica
obtida seguindo as recomendações da (ASTM
D854, 2014) foi de 24,13 kN/m³ e as
propriedades químicas foram fornecidas pelo
fabricante. (Tabela 2.2).

Tabela 2.2. Propriedades químicas da cal.


Figura 3.1. Resultados dos ensaios Proctor estândar para
CaO MgO SiO2 R2O3 4%, 6% e 8% de cal.

68,36% 0,61% 1,24% 1,92%


3.2 Conformação do Trecho Experimental

2.3 Água
Prévia a construção do trecho experimental, foi
construído um trecho teste de solo-cal, com
A água utilizada na construção do trecho comprimento de 10 m, largura de 3 m e
experimental foi água de precipitação coletada espessura de 0,20 m para avaliar o
através de uma lagoa artificial, e para comportamento do material em relação à
moldagem dos corpos-de-prova foi utilizada energia de compactação fornecida pelo
água destilada. equipamento rolo pé de carneiro. Procedeu-se à
medição do peso específico seco pelo método
3 METODOS do cone de arena antes da compactação. É
importante ressaltar, que as passagens dos
3.1 Ensaios Prévios de Laboratório em Obra maquinários deram uma compactação inicial
após adição de água para atingir 15% de
umidade, dando como resultado o valor de
O teor mínimo de cal utilizado neste trabalho 1.320 Kg/m³. Uma vez conhecido o peso
(4%) foi determinado através do Método de específico seco estimou-se a quantidade de cal
dosagem para solo-cal estabelecido pelo ensaio em 6% sob um peso específico seco final de
de Lime Fixation Point (HILT; DAVIDSON, 1.800 Kg/m³, utilizou-se 486 kg de cal, para
1960), e o método do ICL (Initial Consumption uma espessura de 0,20 metros.
of Lime) – proposto por Rogers et al. (1997).
As quantidades de 6% e 8%, foram escolhidas
considerando a experiência internacional com
solos estabilizados com cal (CHEN, 2012;
CONSOLI; DA SILVA LOPES; HEINECK,
2009; PUPPALA et al., 2001b, 2006).
Conhecida a granulometria do solo e os teores
de cal, foram executados ensaios de
compactação Proctor Estândar (Figura 3.1).
Desta forma, foram selecionados a umidade e os
pesos específicos para construção dos trechos
experimentais.
Figura 3.2. Compactação para avaliação da energia
fornecida pelo compactador
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Com cada passada do compactador se obteve atingir. As dimensões de cada um dos 3 trechos
um peso específico seco do solo e a sua experimentais foram de 3 m de largura, 30 m de
umidade através de um densímetro não nuclear comprimento e 0,15 m de espessura depois de
da marca TransTech SDG 200 procedendo sob a compactar. Na Figura 3.4 se observa um
norma (ASTM D7830, 2015), e após a esquema dos trechos experimentais, onde nos
finalização da compactação realizaram-se os primeiros 10 m o teor de cal foi de 4%, nos 10
ensaios de cone de areia (ASTM D1556, 2011) m seguintes foi de 6%, e nos últimos 10 m foi
para a verificação e calibração dos valores do de 8% considerando um desperdício do 10% da
densímetro não nuclear. Os resultados dos pesos quantidade de cal utilizada (perdas por causa do
específicos para cada passada do compactador, vento, manipulação, aderença nos pneus, etc.).
podem-se observar na Figura 3.3.
Pode-se notar que o compactador não fornece
energia suficiente para atingir o valor de
compactação esperado, obtendo-se um valor
final de 1.686 kg/m³ em 16 passadas medido
mediante o cone de areia. Figura 3.4. Esquema dos 9 trechos experimentais.

A quantidade de água foi calculada com o


peso específico aparente seco a atingir em cada
trecho experimental. O controle da umidade foi
realizado antes da compactação mediante a
utilização do densímetro não nuclear além dos
métodos tradicionais de campo (Figura 3.5)

Figura 3.3. Peso específico do trecho vs. Número de


passadas do rolo compactador no trecho teste

O maquinário utilizado foi um compactador Figura 3.5. Controle da umidade.


pé de carneiro da marca Dynapac modelo CA25
com peso operacional de 9.500 Kg frequência A compactação dos trechos foi realizada após
de 33 Hz. 14hs da mistura, esse tempo é chamado de
Com o gráfico dos pesos específicos versus o Mellowing. Finalmente na Figura 3.6 podem-se
número de passadas foram escolhidos os pesos observar os trechos experimentais construídos.
específicos de cada trecho experimental.
O primeiro trecho, com peso específico seco
de 1.450 kg/m³ (4 passadas), o segundo trecho,
com peso específico seco de 1.550 kg/m³ (6
passadas) e o terceiro trecho com peso
específico seco de 1.680 kg/m³ (16 passadas),
calculando-se as quantidades de cal e as
espessuras correspondentes a cada peso
específico aparente seco. A quantidade de cal
foi calculada por volume, mediante o teor de cal
em relação ao peso específico aparente seco a
Figura 3.6. Trechos experimentais.
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3.3 Ensaios de Deflectometria em Campo com interior dos moldes de aço. Por fim os corpos de
Deflectômetro de Impacto Leve (LWD) provas eram armazenados e curados a uma
temperatura de 21° ±2°C.
Os ensaios de deflectometria foram executados
com o objetivo de visualizar se existe 3.6 Ensaios de Resistência à Compressão
homogeneidade nos trechos de solo-cal, e Simples
avaliar a resposta da estrutura durante diferentes
períodos de cura. Os ensaios foram realizados Os procedimentos descritos seguiram a norma
utilizando um equipamento Prima 100 (Carl (ASTM D5102, 1996). A prensa utilizada para
Bro), placa de 30 cm de diâmetro com uma os ensaios tem uma capacidade de 50 kN, com
massa de queda de 10 kg, e sensores de um anel de capacidade de 10 kN e resolução de
deslocamento (Geofones) a 0, 30 e 60 cm para 0,005 kN. Para evitar o efeito da sucção os
estimações das respostas das camadas corpos-de-prova eram colocados em imersão em
individualmente. A metodologia para as água pelo menos 24 horas antes da realização
medições de deflexão com o deflectômetro de do ensaio, a água era mantida a uma
impacto leve seguiram a norma (ASTM E2583, temperatura de 21 ± 2 °C.
2007) e as recomendações do manual do As variáveis foram selecionadas conforme aos
fabricante. Fizeram-se medições de 3 pontos em utilizados no trecho experimental:
cada trecho nos 1, 3, 4, 14 e 28 dias após a
compactação. • Peso específico aparente seco: 14,5 kN/m³,
15,5 kN/m³ e 16,8 kN/m³
3.4 Extração de Testemunhos em Campo para • Teor de Cal: 4%, 6% e 8 %
Ensaios de Resistência a Compressão
• Umidade: 15 %
Simples
• Mellowing: 14 hs
• Tempos de cura de 7, 28, 60 e 90 dias
Aos 182 dias após a compactação em campo,
com ajuda de uma picareta e uma furadeira de
impacto procedeu-se à marcação e escavação de As amostras foram identificadas, apresentando
blocos do material, um bloco para cada trecho. uma respectiva codificação, de peso específico
Os blocos foram transportados até o aparente seco, porcentagem de cal, tempo de
laboratório e as extrações das amostras foram cura e número de corpo-de-prova. Como por
executadas sobre os blocos com um exemplo, a amostra CP1-14,5-6C-15W-14M-
equipamento perfuratriz elétrico rotativo. Os 7D corresponde à seguinte formatação:
testemunhos foram colocados em imersão
durante 24hs e finalmente rompidos a CP1: Corpo de prova número 1
compressão simples. 14,5: Peso específico aparente seco
6C: 6% de teor de cal
15W: 15% de teor de umidade
3.5 Moldagem e Cura dos Corpos-de-Prova
14M: 14 hs de mellowing
em Laboratório.
7D: 7 dias de cura

A moldagem dos corpos-de-prova para os


4 RESULTADOS
ensaios de resistência a compressão simples foi
realizada em moldes cilíndricos tripartidos de
aço e de dimensões internas de 50 mm de 4.1 Densidade in Situ
diâmetro e 100 mm de altura. Se procedeu a
compactar estaticamente em três camadas no
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Resultados do controle do peso específico (16,80 kN/m³). A diferença na quantidade de cal


aparente seco e da umidade no final da não demostrou efeito visível sobre as medições
construção dos trechos experimentais são de deflexões.
apresentados na Figura 4.1.

Figura 4.2. Resultado das deflexões no geofone a 0 cm


Figura 4.1. Peso específico seco em campo vs. Número (Sensor 1) para diferentes tempos de cura.
de passadas do rolo compactador no trecho de 1.680
Kg/m³. Enquanto ao decréscimo das deflexões com o
tempo de cura, observa-se no trecho 1 um
Os controles finais do peso específico e da decréscimo aproximadamente de 600 µm no dia
umidade em cada trecho experimental foram 1 e 180 µm no dia 28 (aprox. 70%) e no trecho
realizados através do método do cone de areia 2, 200 µm no dia 1 e 20 µm no dia 28 (aprox.
(ASTM D1556, 2011) obtendo-se os valores da 90%), notando-se um incremento da rigidez
Tabela 2.3. durante o tempo de cura da camada estabilizada
com cal.
Tabela 2.3. Valores do peso específico aparente seco e
Na Figura 4.3, exibem-se as respostas semi-
umidade para cada trecho experimental.
Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3
sinusoidais do ponto 1 desde o dia 1 até o dia 28
P1 (4%) 1454 1685 1536 com magnitudes de deflexão máxima
P2 (6%) 1451 1677 1552 característica e os tempos da deflexão máxima.
P3 (8%) 1439 1678 1566 Na parte superior do gráfico se encontram as
Densidade 1448 1680 1551 cargas aplicadas em kNx10 e na parte inferior
P1 (4%) 14,68% 14,75% 14,38% as medições dos sensores S1 e S3 em função do
P2 (6%) 14,50% 14,43% 14,33% tempo de aquisição do equipamento.
P3 (8%) 15,18% 15,12% 15,23%
Umidade 14,8% 14,8% 14,6%

4.2 Deflectometria em Campo com


Deflectômetro de Impacto Leve (LWD)

Na Figura 4.2 pode-se observar o efeito do


tempo de cura nas medições do sensor 1 (a 0
cm). Essas medições representam as deflexões
sofridas pela estrutura completa (solo de Figura 4.3. Resultado das medições no ponto 1 do trecho
1. F: carga recebida; S: sensor (1 a 0 cm, 2 a 30cm e 3 a
fundação e pavimento de solo-cal). O trecho 1 60 cm); D: dia (1, 2, 3, 4, 14, 28 dias).
mostra as maiores deflexões, devido que foi
construído com o menor peso específico (14,50 Os resultados confirmam também o
kN/m³) a diferença do trecho 2 que foi decréscimo das deflexões com o tempo de cura
construído com o máximo peso específico e que as deflexões medidas pelo sensor 1 a 60
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cm do centro da placa não são influenciadas


pela camada estabilizada, porém são
representativas ao subleito do pavimento.

4.3 Resistência à Compressão Simples.

Ensaios de resistência à compressão foram


realizadas tanto em laboratório como nas
amostras retiradas do campo. Pode-se observar
nas Figuras 4.4, 4.5 e 4.6, que a quantidade de
cal exerce pouca influência sobre a resistência à Figura 4.6. Variação da resistência à compressão simples
em relação ao tempo de cura do Solo-Cal (16,8kN/m³).
compressão simples do material. Pontos das resistências obtidas dos testemunhos in situ vs.
curva de predição.

Observa-se também que para os menores


pesos específicos, as resistências mostram
menores aumentos em função tanto do teor de
cal como do tempo de cura, enquanto que a
maiores pesos específicos esses aumentos
pedem-se observar mais pronunciados.
Enquanto aos resultados obtidos dos
testemunhos retirados em campo pode-se notar
uma boa concordância destes pontos com as
Figura 4.4. Variação da resistência à compressão simples
em relação ao tempo de cura do Solo-Cal (14,5kN/m³). curvas obtidas dos resultados de laboratório
Pontos das resistências obtidas dos testemunhos in situ vs. utilizando-as como curvas de predição. Note-se
curva de predição. que as resistências obtidas em campo se
mostraram levemente maiores que as estimadas,
especialmente nas amostras de maior peso
específico. Essas maiores resistências
observadas nas amostras de campo poderiam se
dever principalmente à maior temperatura à que
foi submetido o trecho experimental,
posteriormente poderiam afetar também a
porcentagem de majoração da quantidade de cal
utilizada para estimar o desperdício do material,
um maior tempo de mistura e outros fatores que
não podem ser controlados na construção do
Figura 4.5. Variação da resistência à compressão simples trecho experimental.
em relação ao tempo de cura do Solo-Cal (15,5kN/m³). Na Figura 4.7 se apresentam as curvas de
Pontos das resistências obtidas dos testemunhos in situ vs. ajuste da variação da resistência à compressão
curva de predição.
simples em função da relação vazios/cal do
solo-cal ajustado pela potência 0,12. Podem-se
observar resultados dos testemunhos obtidos in
situ após 182 dias da conformação e
compactação do trecho experimental e
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resultados dos corpos de prova moldados em 25), mas poderia ter sido utilizado outro valor
laboratório. que esteja dentro dos limites mínimos e
máximos do conjunto de valores apresentados
nas curvas. A seguir, foram avaliadas as
resistências para (η/Liv0,12 = 25) nas equações
que correspondem para cada tempo de cura,
obtendo-se (qu para [η/Liv0,12 = 25]).
Como os tempos de cura são diferentes,
normaliza-se todas resistências à compressão
simples pelo correspondente (qu para [η/Liv0,12 =
25]) de sua respectiva curva de resistência à
compressão simples em função do (η/Liv0,12 =
25. Com esses dados obtidos da relação da
resistência à compressão simples (qu/qu para
[η/Liv0,12 = 25]) em função à relação vazios/cal
Figura 4.7. Resistência à compressão simples de (η/Liv0,12), apresenta-se a Figura 4.8.
laboratório para 7, 28, 60 e 90 dias e resistência à
compressão simples in situ para 182 dias vs. (η/Liv0,12)-3,12.

Nota-se que todas as curvas se correspondem


ao melhor ajuste de forma potencial, com um
formato qu = A(η/Liv0,12)-β.
As curvas de resistências à compressão simples
obtidas em laboratório e campo
respectivamente, em função à relação vazios/cal
para os distintos tempos de cura, são ajustados a
um formato de curva potencial igual a qu =
A(η/Liv0,12)3,12. Observa-se que estas curvas se
ajustam de forma potencial, na maioria com um
R2 satisfatório (R2 ≥ 0,92).
Para uma metodologia de normalização, em Figura 4.8. Normalização da variação da resistência à
Consoli et al. (2013; 2016) apresentaram um compressão simples obtidas em laboratório e campo com
fator multiplicador para todas as equações, a relação vazios/cal (η/Liv0,12), para os tempos de cura
de laboratório de 7, 28, 60 dias e o tempo de 182 dias de
sendo que, para sua aplicação é importante cura em campo.
garantir que todas as curvas devem possuir o
mesmo formato (por exemplo: formato
potencial) e o eixo das abcissas ser igual a 5 CONCLUSÕES
(η/Aivβ). Portanto, em relação à resistência a
compressão simples, o propósito foi obter uma Os ensaios de deflectometria com deflectômetro
curva única, com um ajuste satisfatório, que de impacto leve (LWD) mostraram que os
tenha por objetivo englobar todos os resultados trechos experimentais apresentaram boa
da resistência à compressão simples obtida em homogeneidade da estrutura, coerência dos
ensaios de laboratório como nos testemunhos valores das deflexões com os valores dos Pesos
obtidos do trecho experimental em função da específicos atingidos, e aumento da rigidez com
relação vazios/cal (η/Liv0,12) para os tempos de o tempo como é esperado.
cura estudados de 7, 28, 60, 90 e 182 dias. Na A partir dos ensaios de resistência a
metodologia, escolhe-se uma relação (η/Liv0,12 = compressão simples realizados em testemunhos
extraídos dos trechos experimentais, e em
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corpos de prova de solo-cal moldados em Deflections with a Light Weight Deflectometer. 2007.
laboratório o aumento do teor de cal de 4% a CHEN, F. H. Foundations on expansive soils. Elsevier,
2012.
8% não demostra grandes acréscimos de CONSOLI, N. C.; CRUZ, R. C.; FLOSS, M. F.;
resistência. É importante mencionar que os FESTUGATO, L. Parameters Controlling Tensile and
trechos experimentais foram expostos a Compressive Strength of Artificially Cemented Sand.
temperaturas mais elevadas das controladas no Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
laboratório. Engineering, v. 136, n. 5, p. 759–763, 2010.
CONSOLI, N. C.; SILVA LOPES, L. DA; HEINECK, K.
Enquanto à relação vazios-cal demostrou-se S. Key Parameters for the Strength Control of Lime
que essa relação controla o comportamento Stabilized Soils. Journal of Materials in Civil
enquanto à resistência a compressão simples. Engineering, v. 21, n. 5, p. 210–216, 2009.
Foram encontradas relações únicas entre a
resistência à compressão simples de campo e CONSOLI, N. C.; VIANA DA FONSECA, A.; CRUZ, R.
C.; HEINECK, K. S. Fundamental Parameters for the
laboratório, e a relação vazios/cal: (η/Liv0,12)-3,12. Stiffness and Strength Control of Artificially
Mesmo usando composições e tempos de cura Cemented Sand. Journal of Geotechnical and
diferentes, o expoente de ajuste 0,12 é único, Geoenvironmental Engineering, v. 135, n. 9, p. 1347–
evidenciando que este fator está ligado 1353, 2009. American Society of Civil Engineers.
DERMATAS, D. Ettringite-Induced Swelling in Soils:
primeiramente ao tipo de agente cimentante
State-of-the-Art. Applied Mechanics Reviews, v. 48, n.
utilizado e em segundo lugar à matriz de solo. 10, p. 659–673, 1995.
Verificou-se que existe uma normalização das FOPPA, D. Análise de Variáveis-chave no Controle da
resistências à compressão simples, obtendo-se Resistência Mecânica de Solos Artificialmente
uma curva única, com um ajuste satisfatório, Cimentados, 2005. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
que engloba todos os resultados da resistência à
HUNTER, D. Lime-induced heave in sulfate-bearing clay
compressão simples das amostras moldadas em soils. Journal of geotechnical engineering, 1988.
laboratório (aos 7, 28, 60 e 90 dias) como das LITTLE, D. N. Stabilization of pavement subgrades and
extraídas dos trechos experimentais (182 dias) base courses with lime. 1995.
mediante o fator (η/Liv0,12)-3,12. LOPES JR., L. DA S. Metodologia De Previsão Do
Comportamento Mecânico De Solos Tratados Com
Cal, 2011. Universidade Federal do Rio Grande do
AGRADECIMENTOS Sul.
LOPES JUNIOR, L. DA S. Parâmetros de Controle da
O autor gostaria de expressar a sua gratidão Resistência Mecânica de Solos Tratados com Cal,
Cimento e Rocha Basáltica Pulverizada., 2007.
com a CAPES pelo suporte financeiro e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
UFRGS pelo uso das infraestruturas e o apoio MEHRA, S.; CHADDA, L.; KAPUR, R. R. .; MEHRA,
do pessoal da instituição. S. R., . CHADDA L.R. Role of detrimental salts in
soil stabilization with and without cement: 1. Effect of
sodium sulphate. Indian Concrete Journal, v. 29, n. 9,
REFERÊNCIAS p. 336–337, 1955.
MITCHELL, J. K.; DERMATAS, D. Clay soil heave
ASTM D1556. Standard Test Method for Density and caused by lime-sulfate reactions. 1992.
Unit Weight of Soil in Place by Sand-Cone. ASTM PETRY, T. M.; LITTLE, D. N. Update on Sulfate-
International, West Conshohocken, PA, p. 8–14, Induced Heave in Treated Clays: Problematic Sulfate
2011. Levels. Transportation Research Record, v. 1362, p.
ASTM D7830. Standard Test Method for In-Place 51, 1992.
Density (Unit Weight) and Water Content of Soil PUPPALA, A. J.; KADAM, R.; MADHYANNAPU, R.
Using an Electromagnetic Soil Density Gauge. STM S.; HOYOS, L. R. Small-strain shear moduli of
International, West Conshohocken, PA, p. 1–17, chemically stabilized sulfate-bearing cohesive soils.
2015. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
ASTM D854. Standard Test Methods for Specific Engineering, v. 132, n. 3, p. 322–336, 2006.
Gravity of Soil Solids by Water Pycnometer. ASTM PUPPALA, A. J.; TALLURI, N.; GAILY, A.;
International, West Conshohocken, PA, 2014. CHITTOORI, C. S. Heaving Mechanisms in High
ASTM E2583. Standard Test Method for Measuring Sulfate Soils Mécanismes de soulèvement dans les
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sols à contenu élevé en sulfates. International


Coference on Soil Mechanics and Geotechnical
Engineering, p. 3125–3128, 2001.
SAMANIEGO, R. AL. Q. Estabilização de um solo
dispersivo com adição de cal, 2015. Universidade
federal do Rio Grande do Sul.
SHERWOOD, P. T. Effect of sulfates on cement-
stabilized clay. Highway Research Board Bulletin, , n.
198, 1958.
SHERWOOD, P. T. Effect of sulfates on cement- and
lime-stabilized soils. Highway Research Board
Bulletin, , n. 353, p. 98–107, 1962.
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Estudo de Utilização de Camada de Poliestireno Expandido - EPS


como Preenchimento entre Camas de Solo em Aterros
Andrei Bacelar Cezar
UniCEUB, Brasília, Brasil, andreibacelar@gmail.com

Jairo Furtado Nogueira


UniCEUB, Brasília, Brasil, jairo.nogueira@ceub.edu.br

Sonny Albert Amorim da Silva


UniCEUB, Brasília, Brasil, sonnyalbertamorim@gmail.com

RESUMO: Avaliação do comportamento do Poliestireno Expandido - EPS ao ser utilizado como


preenchimento leve de aterro em solos. Simulou-se em laboratório o comportamento da composição
de solo, ao incorporar dois tipos de camadas de EPS. O material utilizado foi areia siltosa. Os ensaios
realizados foram divididos em duas partes: ensaios de caracterização e a classificação MCT. Obteve-
se a massa específica de ambos os tipos de EPS utilizados, para que se pudesse classificá-los de
acordo com a ASTM. A segunda parte da pesquisa foi composta pelos ensaios de compactação,
expansão e penetração. Verificou-se que a adição de EPS diminuiu consideravelmente o peso
específico, não apresentando efeito significativo na expansão e reduzindo a resistência à penetração
dos corpos de prova. Os resultados obtidos são aceitos nos parâmetros de segurança impostos pela
norma do DNIT 108/2009 para corpo de aterro.
PALAVRAS-CHAVE: EPS, Isopor, Poliestireno expandido, Aterro leve, Solo mole.

1 INTRODUÇÃO projetos envolvendo a construção de aterros, o


uso do EPS ainda é uma tecnologia pouco
Mais conhecido como Isopor, o poliestireno explorada. Apesar disso, projetos envolvendo a
expandido (EPS), é uma resina do grupo dos construção de aterros sobre solos moles, como
termoplásticos que é submetida a altas rodovias, barragens de terra e ferrovias,
temperaturas para ser moldada e transformada. tornaram-se comuns no Brasil nas últimas
Devido ao seu processo de produção, o EPS décadas, devido ao crescimento econômico e
possui propriedades importantes, como baixa social (MORAES, 2002).
densidade, relativa boa resistência à compressão Pelos motivos acima expostos, decidiu-se nessa
e impermeabilidade (HOVARTH,1995). pesquisa, realizar um estudo sobre a utilização de
Na Europa e, em especial, nos Estados Unidos o EPS como preenchimento leve de aterros.
uso do EPS já é bastante comum em uma grande
quantidade de aplicações (HOVARTH, 1999). 2 OBJETIVOS
Segundo Negussey (1997), essas aplicações
incluem utilizações como: 2.1 Objetivo Geral
• estabilização de taludes;
• estrutura de retenção; A pesquisa visa simular, em laboratório, o
• proteção contra congelamento em fundações comportamento de camadas de EPS quando
rasas; utilizadas para substituir camadas de solo de
• isolamento térmico e acústico de pavimentos, aterro em rodovias. Dessa forma, busca-se
e; verificar se o conjunto EPS/solo atinge os
• preenchimento leve de aterros. parâmetros mínimos exigidos pela norma da
No Brasil, entretanto, no que diz respeito a Associação Brasileira de Normas Técnicas
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(ABNT) NBR 7182/86 – Solo – Ensaio de


Compactação. Além disso, será analisado o
impacto da utilização de EPS na densidade do
corpo de prova.

2.2 Objetivos Específicos

I. O principal objetivo deste trabalho é


verificar se os corpos de prova constituídos de
uma camada de EPS e quatro camadas de solo
atingem uma resistência satisfatória;
II. Observar os demais parâmetros exigidos Figura 1. Localização do local de retirada da amostra
por norma, como a expansão dos corpos de deformada de solo (Google Earth).
prova;
III. Analisar os parâmetros obtidos nos Foram coletados 200kg de amostra deformada de
experimentos de forma que permitam solo conforme a norma ABNT NBR 9604/86 –
visualizar com clareza o impacto da utilização Abertura de Poço e Trincheira de Inspeção em
de EPS no peso específico e na resistência dos Solo com Retirada de Amostras Deformadas e
corpos de prova. Indeformadas. A amostra foi levada ao
IV. Analisar se o método de utilização de EPS laboratório de geotecnia, situado no bloco 11 do
como preenchimento leve para aterros traz UniCEUB, campus Asa Norte, onde foi
benefícios em conformidade com as normas preparada de acordo com a norma ABNT NBR
vigentes dos órgãos gestores. 6457/86 – Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de
3 MATERIAIS E METODOLOGIA DE caracterização. Os ensaios de caracterização do
TRABALHO solo foram realizados nesse mesmo laboratório,
enquanto os ensaios de compactação foram
Definição e classificação de todos os materiais executados no campus de Taguatinga do
utilizados nessa pesquisa e apresentar a UniCEUB.
metodologia usada nos ensaios. Os resultados
3.2 Caracterização do EPS
obtidos são apresentados no capítulo 4.
Para a realização dessa pesquisa, utilizou-se dois
3.1 Localização da retirada de amostra do solo
tipos de EPS, obtidos na papelaria ABC da
708/709, na Asa Norte. Ambos podem ser
A amostra deformada de solo utilizada nos
classificados a partir de sua massa específica, de
ensaios foi retirada no dia 23/08/2016,
acordo com a norma americana da American
aproximadamente às 14 horas, da Jazida do
Society for Testing and Materials (ASTM)
DER/DF localizada na DF-435, km 01, próxima
C578/16. A Tabela 1 apresenta os parâmetros
ao entroncamento com a DF-445 –
estipulados pela norma para a classificação do
Ceilândia/DF. A Figura 1 é uma imagem retirada
EPS segundo sua densidade.
do Google Earth mostrando o local da Jazida,
cujas coordenadas geográficas são: latitude Tabela 1. Valores de massa específica para classificação
15º70’48” Sul e longitude 48º16’77” Oeste. Este de EPS (ASTM C578/16).
solo foi escolhido por ser comumente utilizado Classificação Tipo I Tipo XIV
em aterros nas obras em Brasília-DF. Densidade
0,90 2,40
mínima
(1,0 nonimal) (2,5 nominal)
(libra/pés³)
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O EPS com menor massa específica utilizado Após os ensaios de caracterização do solo
nessa pesquisa possui 14,74kg/m³, ou 0,92 realizou-se um experimento para definir a massa
libras/pés³, o que, de acordo com a Tabela 1 específica dos dois tipos de EPS utilizados, e
fornecida pela ASTM C578/16, o classifica assim classificá-los de acordo com as normas
como de Tipo I. Já o EPS com maior massa ASTM C578/16 e ASTM D6817/15. No
específica possui 44,02kg/m³, ou 2,75 procedimento usado, separou-se três cilindros de
libras/pés³, sendo classificado como de Tipo cada tipo de EPS. Foram medidas três alturas e
XIV. Outra norma comumente utilizada para a três diâmetros de cada cilindro e obteve-se a
classificação do EPS é a ASTM D6817/15. Essa média desses valores. A Figura 2 mostra o
norma também usa a massa específica para momento de medição do diâmetro de um dos
classificação. A Tabela 2 apresenta a massa cilindros de EPS.
especifica dos EPS utilizados.

Tabela 2. Valores de massa específica para classificação


do EPS (ASTM D6817/15).
Tipo EPS 15 EPS 39
Densidade mínima
0,90 2,4
(libra/pés³)

Observando-se os valores fornecidos pela


ASTM D6817/15, classificamos o EPS de menor
massa específica como de tipo EPS15, enquanto
o EPS de maior massa específica é classificado Figura 2. Medição do diâmetro do EPS.
como de tipo EPS39. Segundo as normas ASTM
A Figura 3 mostra o momento da medição da
C578/16 e ASTM D6817/15, ambos os tipos de
altura de um dos cilindros de EPS tipo XIV.
EPS podem ser utilizados com a finalidade de
preenchimento de aterro, de acordo com os
objetivos dessa pesquisa.

3.3 Metodologia de Ensaios

Após a retirada das amostras deformadas da


Jazida do DER/DF, essas foram levadas para o
laboratório de geotecnia, situado no bloco 11 do
UniCEUB, no campus da Asa Norte. Foram
coletados 200kg de solo, uma vez que seriam
necessárias 5 amostras de 30kg cada para os Figura 3. Medição da altura do EPS tipo XIV.
ensaios de compactação. O primeiro passo a ser
realizado foi a preparação por secagem prévia. Com o diâmetro médio e altura média de cada
Posteriormente a amostra de solo foi cilindro, calculou-se o volume. Em seguida, os
cuidadosamente destorroada. Após a preparação cilindros foram pesados e obteve-se a massa
das amostras, passou-se à realização dos ensaios específica. A balança utilizada possuía precisão
de caracterização do solo conforme de 0,001g. A Figura 4 mostra o momento da
procedimentos apresentados na norma NBR medição do peso de um dos cilindros.
6457/86), seguindo-se a recomendação quanto a
observação visual das dimensões dos grãos
maiores, foram retirados 4kg para amostragem.

Massa específica do EPS


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• Solo associado ao EPS tipo I com energia


Intermediária (26 golpes por camada);
• Solo associado ao EPS tipo XIV com
energia Normal (12 golpes por camada);
• Solo associado ao EPS tipo XIV com
energia Intermediária (26 golpes por camada).
A decisão pela utilização da energia
Figura 4. Pesagem dos cilindros de EPS. Intermediária em dois dos ensaios foi tomada
com o objetivo de se verificar se os corpos de
Com as médias dos resultados obtidos, verificou- prova atingem os requisitos da norma do DNIT
se a classificação dos dois tipos de EPS de 108/2009 para a utilização na camada final do
acordo com as ASTM citadas. A Tabela 3 mostra aterro, a qual é compactada com energia
os valores obtidos com as medições. Intermediária. Com o objetivo de melhor simular
em laboratório o comportamento do solo
Tabela 3. Massa específica do EPS.
Isopor
associado ao EPS em aterros, os corpos de prova
Dinâmetro (cm) 15,39 15,36 15,42 que continham EPS foram confeccionados da
Altura (cm) 1,53 1,54 1,52 seguinte forma:
Volume (cm³) 285,38 284,36 283,86
Peso (g) 4,21 4,20 4,19
• Colocava-se a primeira camada de solo e
Densidade (kg/m³) 14,75 14,77 14,76 aplicava-se os golpes
Densidade média (kg/m³) 14,76 • Adicionava-se a segunda camada de solo e
Densidade média aplicava-se os golpes
0,92
(li/pés³) • A terceira camada de solo era substituída
Isopor rigido pelo EPS
Dinâmetro (cm) 15,38 15,38 15,40
Altura (cm) 0,60 0,61 0,60
• Adicionava-se a quarta camada de solo e
Volume (cm³) 111,47 113,33 111,26 aplicava-se os golpes
Peso (g) 4,93 4,95 4,93 • Finalizava-se com a colocação da quinta
Densidade (kg/m³) 44,23 43,68 44,31 camada de solo e aplicação dos golpes.
Densidade média (kg/m³) 44,07
Densidade média Para a utilização do EPS nos ensaios, ele foi
2,75 cortado em cilindros com diâmetro igual ao do
(li/pés³)
corpo de prova, de modo que preenchesse toda a
Compactação seção transversal do molde.A Figura 5 é de um
corpo de prova após ser desmoldado e ilustra a
Com o objetivo de se comparar o forma como os corpos de prova com EPS foram
comportamento do solo quando associado ao confeccionados.
EPS, o ensaio de compactação foi realizado
cinco vezes, cada uma com características
diferentes. Na primeira vez utilizou-se apenas o
solo, com o objetivo de se criar parâmetros de
comparação para os demais ensaios. A energia
utilizada foi a Normal (12 golpes por camada),
por ser a energia recomendada pela NBR
7182/86 para aterros. Os outros quatro ensaios
foram realizados conforme ilustrado a seguir:
• Solo associado ao EPS tipo I com energia Figura 5. Corpo de prova desmoldado.
Normal (12 golpes por camada);
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Os cilindros de EPS tipo I adquiridos para a A Figura 7 mostra a curva de compactação


pesquisa possuíam aproximadamente 1,5 cm de obtida no ensaio com solo natural e energia
altura e foram colados de dois em dois, enquanto normal. A umidade ótima encontrada foi de
os cilindros de EPS tipo XIV possuíam 15,58%, com peso específico seco máximo de
aproximadamente 0,6 cm de altura e foram 17,31 KN/m³.
colados de cinco em cinco, conforme ilustra a
Figura 6.

Figura 6. Cilindros de EPS tipo I e EPS tipo XIV colados.


Figura 7. Compactação do solo com energia normal.

O objetivo colagem, feita com cola de isopor


A Figura 8 representa a curva de compactação
para evitar a movimentação entre os cilindros,
obtida no ensaio com energia normal e realizado
foi de que as camadas de EPS ficassem com uma
com solo natural e o EPS tipo I. A umidade ótima
altura igual à altura de uma camada de solo, de
e o peso específico seco máximo encontrados
aproximadamente 3 cm. Após a realização de
foram 16,32% e 13,60 KN/m³, respectivamente.
cada compactação, os corpos de prova foram
pesados para posterior aferição do impacto do
EPS na massa específica dos corpos de prova.

Expansão

Nesse ensaio, os corpos de prova foram


totalmente imersos em água, em uma piscina
localizada no laboratório, por um período de
quatro dias, valor mínimo exigido pela NBR
9895/87. As leituras no extensômetro foram Figura 8. Compactação do solo e EPS tipo I com energia
realizadas de 24 em 24 horas. normal.
A Figura 9 ilustra a curva de compactação
Penetração encontrada no ensaio de solo com EPS tipo XIV
e energia normal. Encontrou-se umidade ótima
O ensaio de penetração foi realizado de acordo de aproximadamente 16,10%, com peso
com a norma NBR 9895/87 - Solo - Índice de específico seco máximo de 13,90 KN/m³.
Suporte Califórnia, com os corpos de prova
obtidos nos ensaios de compressão e expansão.
O objetivo desse ensaio foi encontrar o valor do
Índice de Suporte Califórnia (I.S.C.) dos corpos
de prova, e verificar o impacto do uso do EPS
nos valores encontrados.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS


RESULTADOS

4.1 Compactação Figura 9. Compactação do solo e EPS tipo XIV com


energia normal.
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Na Figura 10 estão representadas as três curvas A Figura 12 ilustra a curva de compactação


de compactação mostradas anteriormente, para obtida no ensaio com EPS tipo XIV e energia
que se possa verificar o efeito da utilização dos intermediária. Encontrou-se umidade ótima e
EPS. peso específico seco máximo de
aproximadamente 15,20% e 14,60 KN/m³,
aproximadamente.

Figura 10. Comparação dos resultados obtidos com


energia normal.
Figura 12. Compactação do solo e EPS tipo XIV com
Observa-se que a umidade ótima encontrada nos energia intermediária.
três ensaios apresentou pouca variação, pois o
solo utilizado não passou por nenhum tipo de A Figura 13, a seguir, mostra as duas curvas de
alteração em sua composição. Por outro lado, compactação dos corpos de solo e EPS
conforme o esperado, todos os corpos de prova realizadas com energia intermediária, além da
que contêm EPS apresentaram um peso curva de compactação do solo natural realizada
específico expressivamente menor. A diferença com energia normal, adicionada ao gráfico como
de peso específico entre os ensaios com EPS tipo parâmetro de comparação.
I e EPS tipo XIV não é visível no gráfico da
Figura 10. Isso acontece porque a diferença de
peso entre as duas amostras de EPS é desprezível
se comparada ao peso do corpo de prova como
um todo. Conforme descrito na pesquisa, corpos
de prova com os dois tipos de EPS também
foram compactados com energia intermediária.
A Figura 11 mostra a curva de compactação da
amostra com o EPS tipo I com essa energia. A
umidade ótima encontrada foi de
aproximadamente 15,90%, com peso específico Figura 13. Comparação dos resultados obtidos com
energia normal e intermediária.
seco máximo de 14,90 KN/m³.
Verifica-se que, novamente, a presença do EPS
não gera uma mudança considerável na umidade
ótima. Por outro lado, apesar de terem sido
compactados com uma energia maior, os corpos
de prova que continham EPS apresentaram peso
específico menor que a amostra com solo
natural, especialmente na umidade ótima. A
Figura 14 é uma comparação das curvas de
compactação obtidas com o mesmo tipo de EPS
Figura 11. Compactação do solo e EPS tipo I com energia (o de tipo XIV) e com energias diferentes
intermediária. (normal e intermediária).
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4.2 Penetração

Todos os corpos de prova obtidos nos ensaios de


compactação passaram pelo ensaio de
penetração. A Figura 16 mostra o gráfico Pressão
x Penetração dos 5 corpos de prova que
continham apenas solo, cada um com umidade
diferente.
Figura 14. Comparação de solo e EPS tipo XIV com
energia normal e intermediária.

Observa-se que, com a energia intermediária, o


peso específico seco máximo do corpo de prova
apresenta um aumento de aproximadamente 6%.
Além disso, a umidade ótima diminui em
aproximadamente 0,9%, movendo ligeiramente
a curva de compactação com energia
intermediária para cima e para a esquerda. Esse Figura 16. Ensaio de Penetração do solo com energia
normal.
comportamento se repetiu ao comparamos os
ensaios dos corpos de prova com EPS tipo I. A
A Figura 16 mostra que a umidade que teve
Figura 15 seguir, é apresentado um gráfico que
melhor desempenho foi a de 15,58%. De acordo
demonstra o peso específico, em g/cm3, dos
com a norma ANBT NBR 9895/87 - Solo -
corpos de prova com umidade ótima das curvas
Índice de Suporte Califórnia, o Índice de Suporte
de compactação.
Califórnia (I.S.C.) do solo deve ser calculado
com base no melhor entre os resultados obtidos
nas penetrações de 2,54 mm e 5,08 mm do
pistão. Dessa forma o I.S.C. encontrado para o
solo utilizado na pesquisa foi de 19,35%. A
Figura 17 mostra o gráfico Pressão x Penetração
dos corpos de prova que possuíam o EPS tipo I e
que foram compactados com energia normal.

Figura 15. Peso específico dos corpos de prova.

A Figura 15 demonstra que a utilização de


apenas uma camada de EPS já proporciona uma
importante diminuição no peso específico dos
corpos de prova na umidade ótima. Observa-se
uma redução de aproximadamente 21% ao se
comparar os corpos compactados com energia Figura 17. Ensaio de Penetração do solo e EPS tipo I com
normal. Em relação às amostras produzidas com energia normal.
energia intermediária, o peso específico foi
aproximadamente 15% menor em relação ao A umidade com melhor desempenho foi de
corpo de prova de solo natural obtido com 16,32%. O I.S.C. com o EPS tipo I teve uma
energia normal. diminuição para 4,05%. A Figura 18 mostra o
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resultado do ensaio de penetração para o corpo


de prova com o EPS tipo XIV e com energia
normal.

Figura 20. Ensaio de Penetração do solo e EPS tipo XIV


com energia intermediária.

A umidade com melhor desempenho foi a de


Figura 18. Ensaio de Penetração do solo e EPS tipo XIV 15,52%, assim, em todos os ensaios realizados
com energia normal.
nessa pesquisa, a umidade ótima do solo esteve
por volta dos 16%. Diferente do ocorrido nos
A umidade com melhor desempenho novamente
ensaios com energia normal, os ensaios com
foi a do ponto central da curva de compactação,
energia intermediária apresentaram uma
com 16,56%. O I.S.C. encontrado foi de 4,34%,
diferença considerável entre os resultados com
o que mostra que, nos ensaios realizados com
os dois EPS estudados. O EPS tipo XIV atingiu
energia normal, o fato de se usar o EPS tipo XIV
um I.S.C. de 9,27%, o que representa um
nos corpos de prova ocasionou pouca melhora
aumento de aproximadamente 62% em relação
em relação ao EPS tipo I. A Figura 19 apresenta
ao I.S.C. do EPS tipo I. AFigura 21, a seguir,
a curva Pressão x Penetração dos ensaios
apresenta um gráfico I.S.C. x Umidade dos
realizados com energia intermediária e EPS tipo
corpos de prova compactados com energia
I.
normal.

Figura 19. Ensaio de Penetração do solo e EPS tipo I com


energia intermediária.

Figura 21. Índice de Suporte Califórnia (Energia Normal).


A umidade com melhor desempenho foi a de
17,27%. Conforme esperado, a compactação
A Figura 21 mostra que, com exceção dos pontos
com energia intermediária no lugar da energia
de menor e maior umidade, o I.S.C. dos corpos
normal ocasionou um aumento no I.S.C., cujo
de prova com EPS teve uma redução
valor encontrado no ensaio foi de 5,72%. A
significativa. Na Figura 22 é mostrado o gráfico
Figura 20 apresenta os resultados do ensaio de
do Índice de Suporte Califórnia dos corpos de
penetração com energia intermediária e EPS tipo
prova compactados com energia intermediária.
XIV.
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a ser utilizado no corpo do aterro (que deve ser


compactado com energia normal) deve ser igual
ou maior que 2%. Todas as amostras ensaiadas
atendem a esse parâmetro. Assim, conclui-se
que, de acordo com essa exigência, o EPS tipo
XIV pode ser usado nessa camada, uma vez que
atingiu o I.S.C. de 9,27% quando compactado
com energia intermediária.

Figura 22. Índice Suporte Califórnia (Energia 5 CONCLUSÕES


Intermediária).
Os ensaios de compactação mostraram que a
Em relação aos resultados obtidos com energia substituição de uma das camadas de solo por
intermediária, observa-se que nas umidades EPS tem um impacto significativo no peso
extremas os valores são parecidos, porém, específico dos corpos de prova. As amostras
próximo à umidade ótima existe uma diferença compactadas com energia normal tiveram uma
significativa entre o I.S.C. dos dois tipos de EPS diminuição de aproximadamente 21% em seu
utilizados. A Figura 23 a seguir apresenta um peso específico, e, comparando os copos de
gráfico que demonstra o I.S.C. obtido para as prova com a presença de EPS compactados com
umidades ótimas apenas nos ensaios em que foi energia intermediária com um corpo de prova
utilizado EPS, para que se possa visualizar composto apenas de solo, também houve
melhor os resultados. redução do peso específico, próxima de 15%.
O estudo também mostrou que a presença de
EPS não gera influência significativa na
expansão dos corpos de prova. Nenhuma
amostra apresentou contração e o corpo de prova
com a maior expansão em todo o estudo teve o
valor de 0,11%. A norma 108/2009 do DNIT
determina que o material utilizado no corpo de
aterro não ultrapasse 4% de expansão, enquanto
o material utilizado na camada final não deve
Figura 23. I.S.C. das amostras com EPS. ultrapassar 2%. Assim, as amostras ensaiadas
estiveram em concordância com as exigências de
A Figura 23 mostra que os corpos de prova segurança em relação à expansão. Os resultados
compactados com energia normal apresentaram dos ensaios de penetração mostraram que a
resultados parecidos, independentemente do tipo presença de EPS no interior dos corpos de prova
de EPS utilizado. A amostra obtida com energia gera uma perda significativa na resistência à
intermediária e EPS tipo I teve um pequeno penetração das amostras. Essa perda se deveu ao
aumento em sua resistência em relação aos fato de, durante o ensaio de compactação, a
ensaios com energia normal. A comparação camada de EPS ter funcionado como uma
entre os dois ensaios com a energia “mola”, desestabilizando o solo das camadas
intermediária, no entanto, mostra que o EPS tipo sobrepostas a ela. Ainda assim, os resultados
XIV teve um crescimento no I.S.C. de mais de obtidos estiveram dentro das exigências da
60% em relação ao EPS tipo I. Apesar de ter norma 108/2009 do DNIT para o corpo do aterro.
havido diminuição na resistência à penetração Além disso, essa norma determina que o material
nos corpos de prova ao se adicionar uma camada utilizado na camada final possua I.S.C. mínimo
de EPS, os resultados esperados foram atingidos. de 6%. A amostra de solo com EPS tipo XIV e
Segundo a norma do DNIT 108/2009 – Aterros batida com energia intermediária atingiu I.S.C.
– Especificação de Serviço, o I.S.C. do material
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de 9,72% mostrando que esse material também Pavimentação. 3ª. ed. Rio de Janeiro: DNIT, 2006.
pode ser utilizado na camada final. Conclui-se ______. NORMA DNIT 108/2009 – Aterros –
Especificação de Serviço. Rio de Janeiro. 2009a.
que o EPS é uma boa alternativa para ser usado ______. NORMA DNIT 138/2010 – ES: Pavimentos
com o objetivo de reduzir o peso do aterro. Os flexíveis – Reforço do subleito - Especificação de
resultados mostraram uma diminuição na massa serviço. Rio de Janeiro. 2010b.
específica dos corpos de prova e estiveram ______. NORMA DNIT 143/2010 - ES: Pavimentação -
dentro dos parâmetros de segurança do DNIT e Base de solo-cimento - Especificação de serviço. Rio
de Janeiro. 2010a.
da ABNT. No entanto, ressalta-se que se deve HORVATH, J.S. (1995). “Geofoam Geosynthetic” (Isopor
analisar as exigências e especificidades de cada Geosintético), Horvath Engineering, P.C., Scarsdale,
projeto, além de outros fatores, como o N.Y.,
comportamento do material sob o aterro, na hora HORVATH, J.S., (1999) Lessons Learned from Failures
de se definir a solução que será utilizada no Involving Geofoam in Roads and Embankments.
(Lições Aprendidas de Falhas Envolvendo Isopor em
projeto a ser executado. Rodovias e Aterros). Manhattan College School of
Engineering Civil Engineering Department
REFERÊNCIAS MORAES, Christiane Marinho de. Aterros Reforçados
Sobre Solos Moles – Análise Numérica e Analítica.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 2002. 32f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-
TÉCNICAS. NBR 5734. Peneiras para Ensaio. Rio de Graduação em Engenharia Civil) – Universidade
Janeiro. 1989. Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, 2002.
______. NBR 6457. Amostra de solos - Preparação para NEGUSSEY, D. (1997). Properties and Applications of
ensaio de caracterização e compactação. Rio de Geofoam, (Propriedades e Aplicações do Isopor),
Janeiro. 1986. Society of the Plastics Industry, Inc. (This reference
______. NBR 6459. Solo - determinação do limite de was provided by Thermal Foams during the field
liquidez. Rio de Janeiro. 1984. visit.).
______. NBR 6502. Rochas e solos – Terminologia. Rio
de Janeiro. 1995.
______. NBR 6508. Grãos de Solos que Passaram na
Peneira de 4,8 mm - Determinação da Massa
Específica. Rio de Janeiro. 1984.
______. NBR 7180. Solo - Determinação do limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro. 1984.
______. NBR 7181. Solos - Análise Granulométrica. Rio
de Janeiro. 1984.
______. NBR 7182. Solos - Ensaio de Compactação. Rio
de Janeiro. 1986.
______. NBR 9604. Abertura em poços e trincheiras de
inspeção em solo para retirar amostra deformada e
indeformada. Rio de Janeiro. 1986.
______. NBR 9895. Índice Suporte Califórnia - CBR. Rio
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ASTM, A. C578-16 “Standard Specification for Rigid,
Cellular Polystyrene Thermal Insulation”, ASTM
International, West Conshohocken, PA, 2016, DOI:
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ASTM, A. D6817-15 “Standard Specification for Rigid
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especificação para células rígidas de poliestireno
expandido), ASTM Internacional, West
Conshohocken, PA, 2003, DOI: 10.1520/C0033-03.
DNER – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-ME 122. Solos
– Determinação do limite de liquidez – método de
referência e método expedito. Rio de Janeiro. 1994.
DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. Manual de
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Estudo do Comportamento de Misturas de Solo-Cimento Plástico


Utilizando Solo Argiloso para uso em Fundações de Obras de
Pequenas Cargas

Willian Ricardo Boesing


Inttegrare Engenharia Ltda, Joaçaba, Brasil, willianboesing@hotmail.com

Fabiano Alexandre Nienov


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, fabiano.nienov@unoesc.edu.br

Lucas Quiocca Zampieri


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, lucas.zampieri@unoesc.edu.br

Gislaine Luvizão
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, gislaine.luvizao@unoesc.edu.br

Guilherme Rauschkolb
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, guilhermerausch@hotmail.com

RESUMO: O artigo apresenta um estudo em solo-cimento plástico composto de solo argiloso


proveniente de formação residual e cimento Portland CPV-ARI. A mistura de solo-cimento do
presente trabalho tem como finalidade estudar o comportamento de compósitos de solo-cimento
para aplicação em fundações submetidas a pequenas cargas. Para a moldagem dos corpos de prova
foram definidos quatro traços variando o teor de cimento (8%, 10%, 12% e 14%). A quantidade de
água padrão foi definida em 65% sobre o total de solo seco, buscando dessa maneira uma
consistência padrão próxima a de uma argamassa de emboço. Os corpos de prova foram
submetidos ao ensaio de compressão simples nas idades de 7, 14 e 28 dias, obtendo-se resultados
que comprovaram a melhoria na estabilidade da mistura quando é adicionado cimento. Com relação
à retração e à consistência das misturas, também houve modificações com o incremento de cimento.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-Cimento Plástico, Fundação, Dosagem.

1 INTRODUÇÃO O solo-cimento é um material que pode ser


caracterizado como sustentável devido à
Nos últimos anos, o conceito de quantidade incalculável de solo disponível e por
desenvolvimento sustentável ganhou destaque substituir materiais que demandam técnicas
em todas as atividades produtivas. A busca por produtivas mais elaboradas e, por consequência,
novos produtos e processos que aliem economia mais poluidoras.
aos interesses ambientais é uma realidade em De acordo com Associação Brasileira de
qualquer profissão. Sendo o ramo da construção Cimento Portland (ABCP, ET-35, 2004), solo-
civil um dos maiores consumidores de cimento é o produto endurecido resultante da
materiais, é importante que os estudos mistura íntima de solo, cimento e água, em
relacionados ao aprimoramento das técnicas já proporções estabelecidas através de dosagem
consagradas sejam fortalecidos. racional, executada de acordo com as normas
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aplicáveis ao solo em estudo. Quando seguidas onde as características do solo superficial são
as especificações, o resultado é um produto representativas do tipo de solo que recobre mais
resistente e durável, efeitos das reações de de 50% da área do estado de São Paulo
hidratação do cimento. (SEGANTINI, 2000).
As misturas ideais de solo, cimento Portland Segantini (2000) concluiu que o uso do SCP
e água, em suas devidas proporções, conferem em estacas moldadas in loco apresenta-se
ao material determinadas características de tecnicamente viável, entretanto o seu custo por
desempenho semelhantes aos materiais kN é superior ao das estacas de concreto. O
utilizados tradicionalmente em algumas autor salienta que, considerando-se a pouca
vertentes da Engenharia Civil, seja na área de experiência acumulada sobre o assunto, são
fundações, seja na área de estradas, entre outras. necessários minuciosos ensaios laboratoriais no
Para chegar em dosagem correta devem-se material SCP para utilização em determinada
estudar as variáveis que resultam em obra, além de considerar imprescindível a
propriedades específicas para cada caso, tais execução de provas de carga em estacas
como quantidade de cimento, quantidade de executadas no local da obra.
água e, principalmente, o tipo de solo Alguns autores já estudaram a possibilidade
disponível no local de aplicação. de uso de solo-cimento como material
No presente estudo foi avaliado o componente de estacas escavadas e afirmam
comportamento de misturas de solo-cimento que o solo-cimento é um material de grande
plástico (SCP), com fins de utilização em potencialidade para ser aplicado em fundações
fundações de obras onde não há necessidade de para obras de pequeno porte (OKAMOTO;
grande desempenho estrutural. Foi empregando TAKANO; NAGAOKA, 1988; SILVA, 1994;
solo de composição argilosa da cidade de SEGANTINI; CARVALHO, 1996;
Joaçaba – SC, variando o teor de cimento SEGANTINI, 2000). Foi afirmado que o uso de
utilizado. Obtiveram-se, além da resistência à solo-cimento como substituto de concreto pode
compressão simples dos corpos de prova, a reduzir o custo com materiais e mão de obra na
retração do material, bem com a variação dos execução de estacas escavadas na ordem de
limites de consistência para cada mistura. 30% (SEGANTINI, 2000; CARVALHO;
Joçaba está localizado no meio oeste do CORTOPASSI; CORTOPASSI JUNIOR,
estado de Santa Catariana formação geológica 1990).
da Serra Geral. A formação da Serra Geral é
proveniente da sucessão de derrames basálticos, 3 MATERIAIS E MÉTODOS
sendo responsáveis pela formação das rochas
vulcânicas que cobrem quase 50% da superfície O solo utilizado no estudo em questão foi
do Estado de Santa Catarina. coletado no estado deformado, mediante
escavação com ferramenta manual em um corte
2 USO DO SOLO CIMENTO EM de talude. O cimento utilizado nos ensaios foi o
FUNDAÇÕES CPV ARI da marca Itambé, escolhido pela
característica de apresentar altos ganhos de
O estudo do solo-cimento plástico (SCP) ainda resistência nas primeiras idades. Essa
é muito restrito e existem poucas pesquisas na característica possibilita a realização dos
área de fundações. As principais pesquisas ensaios de compressão simples aos 7 dias com
encontradas no Brasil foram desenvolvidas por uma menor amplitude entre os resultados.
Segantini, que em suas teses de mestrado e
doutorado estudou a aplicação do solo-cimento 3.1 Caracterização do Solo
plástico em estacas moldadas in loco, utilizando
solo arenoso da região de Ilha Solteira - SP, Foram realizados os ensaios de granulometria -
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por peneiramento e sedimentação, limites de água/solo seco de 0,68. Escolheu-se variar


consistência – especificamente limites de somente 3% para não causar diferenças
liquidez e plasticidade, e também densidade real significativas na consistência da mistura,
dos grãos. simulando assim uma variação que pode ocorrer
Para os limites de consistência foram obtidos em misturas realizadas em obras.
os seguintes valores: Limite de Liquidez de
61% e Limite de Plasticidade de 52%. O peso 3.3 Moldagem, Cura e Rompimento dos Corpos
específico real dos grãos de 2,82 g/cm³. de Prova

3.2 Dosagem Experimental Para a moldagem dos corpos de prova com a


mistura de solo-cimento plástico optou-se por
Para o estudo das misturas de solo-cimento utilizar os moldes de 5 x 10 cm (diâmetro x
plástico foram determinados 4 teores de altura). Após a homogeneização da mistura, a
cimento, sendo eles 8%, 10%, 12% e 14%, os mesma foi colocada dentro dos moldes e os
quais foram definidos seguindo as indicações da moldes preenchidos sobre a mesa vibratória
Norma Geral de Dosagem, presente no manual para proporcionar o adensamento da mistura.
ET-35 da ABCP. Correlacionando com uma aplicação prática,
O teor de umidade da mistura também foi a própria mistura durante o lançamento
padronizado, haja vista que se buscavam proporcionaria o seu adensamento, sendo
consistências parecidas para todas as misturas. necessária a utilização de um vibrador de
Essa consistência ideal seria semelhante à de imersão do tipo agulha apenas para a camada
uma argamassa de emboço e, a mesma seria mais superficial. É importante citar que a
obtida com uma umidade próxima ao limite de mistura se comporta da mesma forma como
liquidez do solo. ocorre com o concreto usual, uma vez que a
Como neste primeiro momento não era consistência é muito semelhante.
objetivo utilizar teores de umidade Assim que os moldes foram cheios com a
diferenciados para cada teor de cimento, foram mistura, foi colocado sobre todos eles um
realizadas algumas dosagens em pequena escala pedaço de papel filme de PVC transparente para
para definição da quantidade padrão de água a evitar que a água da mistura fosse perdida para
ser utilizada. Esse processo se deu de forma o ambiente. Em caso de evaporação dessa água,
empírica, após análise táctil-visual, definindo-se as reações de hidratação do cimento não
uma relação água/solo de 0,65, ou seja, umidade ocorreriam de maneira completa na superfície
de 65% sobre a massa de solo seco. Sabe-se da superior do corpo de prova, podendo causar
necessidade de considerar uma umidade ainda a retração dos mesmos.
específica para cada teor, entretanto o critério Após o período inicial de 36 horas necessário
adotado não representou grandes oscilações de para a desforma segura dos corpos de prova, os
consistência para os diversos teores de cimento mesmos foram devidamente identificados e
utilizados. O oposto ocorreu quando se testou colocados dentro de sacos plásticos individuais
uma quantidade padrão de água sobre o total de e fechados de maneira a evitar a perda de água
cimento e também sobre o total de sólidos (solo durante o processo.
+ aglomerante), onde a consistência passou de Seguindo as recomendações da norma
fluida (para os teores mais altos de cimento) a DNER-ME 201 (1994), os corpos de prova,
relativamente seca (para teores mais baixos). após o seu período de cura e, imediatamente
Para estudar a influência da quantidade de antes do seu rompimento, foram mantidos
água na mistura foi realizada somente uma imersos em água por um período de 4 horas.
moldagem, utilizando o traço de 12%, variando Os rompimentos dos corpos de prova para a
a umidade para 3% a mais, ou seja, relação determinação da sua resistência à compressão
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simples foram realizados em uma prensa da durabilidade.


marca EMIC com capacidade de carga de 300 Quanto maior a fração argilosa de um solo,
kN. maior será a tendência a retração. O tipo de
argila também tem influência, ou seja, a
3.4 Determinação da Retração das Misturas montmorilonita contribui mais para a retração
que outras argilas.
O ensaio de retração, também chamado de teste
da caixa, o qual é um teste de caráter empírico
(ABCP, 2004), foi realizado em todas as
misturas de solo-cimento plástico, bem como
para o solo sem adição. O traço utilizado seguiu
o mesmo padrão dos traços determinados para a
moldagem dos corpos de prova para ensaio de
resistência à compressão simples, inclusive com
a mesma relação água/solo.
As misturas de solo, cimento e água, em suas
devidas proporções, foram colocadas dentro de
caixas de madeira com dimensões internas de
8,0 cm de largura, 60,0 cm de comprimento e
3,5 cm de altura, tomando o cuidado para que
não ficasse nenhum espaço vazio no seu
interior. Após a moldagem as caixas
permaneceram protegidas do sol e da chuva por Figura 1 - Caixas com as misturas SCP após os 7 dias da
um período de 7 dias, quando então, fez-se a moldagem.
leitura da retração, no sentido do comprimento
da caixa, somando as medidas dos dois lados. Na Figura 2 são apresentados os valores
Para efeito comparativo das variações que o obtidos durante a verificação da retração das
solo sofre com adição de cimento, foram misturas.
realizados os ensaios de limite de plasticidade e Observa-se que o solo natural apresentou
limite de liquidez para todos os teores de retração menor que 2 cm, porém apresentou
aglomerante utilizados nos traços (8%, 10%, fissuras. As amostras com adição de cimento
12% e 14%). apresentaram redução na retração, reduzindo a
mesma em no mínimo 75%, não havendo sinais
4 RESULTADOS E DISCUÇÃO de fissuração na amostra.

Na Figura 1 apresenta-se o resultado do teste


da caixa para verificação da retração das
misturas aos 7 dias. Da esquerda para a direita
têm-se respectivamente as misturas de 10%,
12%, 14%, 8% e 0% de mistura de cimento
Portland.
Uma mistura de solo-cimento é o produto
resultante da mistura homogênea, compactada e
curada de solo, cimento e água em proporções
adequadas. É um material com boa resistência a
compressão, bom índice de impermeabilidade, Figura 2 - Retração por Teor de Cimento adicionado na
mistura de SCP.
baixo índice de retração volumétrica e boa
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Em relação ao teor de umidade das amostras limites para os diversos teores utilizados. Desta
utilizadas no teste da retração, refere-se ao peso forma, os valores ficaram na faixa de 65 e 66%
total de sólidos, foram verificados os valores no para o LL e 47 e 48% para o LP, alterando o
momento da moldagem, bem como após os 7 índice de plasticidade do solo de 9% para 18%.
dias. Os resultados estão apresentados na Figura
3.

Figura 4 – Limite de liquidez e plasticidade das misturas.


Figura 3 - Umidade de moldagem por umidade aos 7 dias
sob exposição ao ar. Na Figura 5, apresenta-se a evolução da
resistência por compressão simples das
Durante a moldagem o teor de umidade foi misturas. Através dos resultados obtidos para o
maior para as misturas que continham menor teor de 8% observa-se que não houve aumento
quantidade de cimento. A mistura que da resistência à compressão ao longo do tempo
apresentou maior teor de umidade foi o solo chegando em 0,4 MPa. Com relação ao teor de
natural e a de menor umidade de moldagem foi 10%, além da resistência ser maior que o traço
da mistura com 14% de cimento. com 8% de cimento, houve uma evolução ao
Aos 7 dias, o maior teor de umidade foi longo do período de cura. Aumento esse de
verificado na mistura de 14% de cimento, e o 78% à resistência aos 28 dias quando
menor foi a do solo natural. A caixa com o solo comparado ao resultado de 7 dias, chegando aos
natural perdeu 37% de umidade e a caixa com a 28 dias em 1,6 Mpa.
mistura contendo 14% de cimento perdeu
apenas 18% de umidade, havendo uma
tendência de decréscimo da perda de umidade
conforme o aumento do teor de cimento.
Desta forma, observa-se que a variação da
umidade nas amostras foi inversamente
proporcional à quantidade de cimento, ou seja,
quanto mais cimento, menor a variação da
umidade ao longo dos 7 dias.
Na Figura 4, apresenta-se os valores de
limite de liquidez (LL) e plasticidade (LP) das
Figura 5 - Panorama geral da evolução da resistência para
misturas realizadas, sendo comparadas com o os diversos teores de cimento.
solo no estado natural. Para o solo natural,
obteve-se LL e LP de 61% e 52% Para o teor de 12% de cimento, nesta
respectivamente. Já para as misturas de solo- pesquisa, pode-se observar que os resultados
cimento, registrou-se aumento do limite de foram semelhantes aos obtidos com 10%.
liquidez e redução do limite de plasticidade em Houve um crescimento de resistência ao longo
comparação ao solo natural, porém do tempo, porém os valores iniciais não
apresentando resultados constantes nos dois majoraram com o acréscimo de 2% de cimento
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na mistura. Sendo que para os 28 dias houve Com relação à retração das misturas, pode-se
acréscimo de 67% de resistência comparado aos concluir que a adição de cimento em qualquer
7 dias. A resistência aos 28 dias foi de 1,5 MPa. um dos teores estudados foi extremamente
O melhor resultado foi observado com o benéfica. As misturas com adição controlaram a
traço de 14% de cimento, aos 28 dias houve fissuração e reduziram em 75% o valor final da
acréscimo de 70% da resistência, atingindo 3,4 retração, quando comparado ao solo sem
MPa. adição.
Com relação ao teor comparativo de 12% de A partir dos resultados obtidos durante a
cimento e 3% a mais de água, não houve execução dos ensaios, acredita-se na
diferenças de resistência quando confrontado ao possibilidade da utilização de solo-cimento de
teor de 12% com umidade padrão, os valores composição argilosa do local estudado para
permaneceram idênticos ao traço de 12% com o fundações de obras solicitas em pequenas
teor de mistura. cargas. Deve-se aprimorar e realizar mais
ensaios, buscando dessa maneira a dosagem de
5 CONCLUSÕES uma mistura técnica e economicamente viável.
A região estudada tem como base econômica
Após a apresentação dos resultados deste pequenas propriedades, tendo como fonte de
trabalho, pode-se concluir que as misturas renda a suinocultura e avicultura, podendo ser
realizadas de solo-cimento plástico utilizado, usado essa técnica nas fundações dessas
são possíveis para aplicação em fundações edificações.
submetidas a pequenas cargas, principalmente
em obras rurais. REFERÊNCIAS
Naturalmente visualizou-se uma melhora da
estabilidade nos corpos de prova com o Associação Brasileira de Cimento Portland. ET-35:
Dosagem das misturas de solo-cimento. Normas de
aumento do teor de cimento. A resistência à dosagem e métodos de ensaio. São Paulo: ABCP,
compressão simples apresentou o menor valor 2004.
para o teor de 8% de cimento, sem evolução ao Carvalho, J.; Cortopassi, R. S.; E Cortopassi Jr, R. S.
longo das idades. Houve um aumento (1990). Análise do comportamento do solo-cimento
considerável para o teor de 10%, ocorrendo plástico para uso em fundações. Salvador, BA. In:
Congresso Brasileiro de Mecânica Dos Solos E
evolução durante o período de cura. Estes Engenharia de Fundações, 9, ABMS, V.2, P.403-408.
resultados foram igualmente obtidos para o teor Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
de 12%. Já o teor de 14% apresentou resultados DNER-ME 201: Solo-cimento: compressão axial de
superiores aos outros traços. corpos de prova cilíndricos. Brasília, 1994.
Ainda com relação aos resultados do Okamoto, T.; Takano, K. E Nagaoka, H. (1988). A new
pile foundation composed of soil cement and steel
comportamento mecânico, verificou-se uma pipe. Balkema, Rotterdam, Deep Foundation on
tendência dos corpos de prova apresentarem aos Bored and Auger Piles, Vam Impe, p.371-376.
7 dias, em média, 60% da resistência final Segantini, A.A.S.; Carvalho D. (1996). Provas de carga
obtido aos 28 dias, e 75% no período de 14 em estacas moldadas “in loco” com solo-cimento
plástico no solo colapsível de Ilha Solteira. São
dias.
Paulo, SP. In: Seminário de Fundações Especiais E
A consistência da mistura também foi Geotecnia, 3, ABMS/ABEF, V.2, p.111-122
alterada com a adição de cimento no solo, Segantini, Antonio Anderson Da Silva. Utilização de
porém não variou consideravelmente de acordo Solo-Cimento Plástico em Estacas Escavadas com
com os teores utilizados. Com o simples fato de Trado Mecânico em Ilha Solteira – SP. Tese de
Doutorado, Universidade Estadual de Campinas.
adicionar cimento ocorreu um aumento no
Campinas, 2000.
limite de liquidez e uma redução no limite de Silva, M.T. (1994). Interação solo-estrutura de fundação
plasticidade, consequentemente melhorando a em estacas de solo-cimento e concreto. Brasília, DF.
plasticidade da mistura. Dissertação de Mestrado, FT, UnB.
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Estudo do Comportamento de Solos Tropicais de Santa Maria/RS


Através dos Ensaios de Mini-CBR, Expansão e Contração
Taiana Poerschke Damo
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, taiana.damo@gmail.com

Lucas Eduardo Dornelles


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
lucaseduardodornelles@yahoo.com.br

Rinaldo José Barbosa Pinheiro


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de doze amostras de solos tropicais
de Santa Maria/RS através dos ensaios de Mini-CBR, Expansão e Contração, complementares da
Metodologia MCT. Os corpos de prova foram compactados nas energias normal, intermediária e
modificada, sendo ensaiados com e sem a sobrecarga padrão na imersão durante 24 horas e sem
imersão. A determinação dos índices de suporte Mini-CBR foi realizada pelo Método de correlações
e pelo Método de cargas padrão. A expansão foi verificada durante a imersão dos corpos de prova.
Após o rompimento dos mesmos, foi verificada a contração, por um período de 24 horas. Foram
encontrados graus de expansão bem distintos nos solos estudados. Os valores de contração foram
semelhantes nos ensaios com e sem sobrecarga padrão. Os valores de Mini-CBR obtidos pelo Método
de cargas padrão foram mais altos do que os do Método de correlações. Pôde-se concluir que somente
três dos solos em estudo foram enquadrados com comportamento satisfatório para utilização em
camadas de bases de pavimentos. Além disso, foi possível identificar uma discordância entre os
sistemas tradicionais de classificação SUCS e HRB em relação à Metodologia MCT.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Tropicais, Metodologia MCT, Mini-CBR, Expansão, Contração.

1 INTRODUÇÃO transporte e ao alto custo de exploração.


A utilização de materiais de ocorrência local
Na engenharia rodoviária, assim como em outras ou regional possibilita a construção de
áreas da Engenharia Civil, busca-se o pavimentos de baixo custo ou econômicos. Tais
desenvolvimento de projetos visando rodovias materiais são geralmente encontrados próximos
que atendam os mínimos requisitos técnicos, ou às margens de rodovias já implantadas mas
contemplando ao mesmo tempo soluções não pavimentadas.
econômicas e sustentáveis. Johnston (2010) relata alguns exemplos de
De modo a facilitar a integração entre as materiais alternativos já utilizados em obras
regiões de produção agrícola aos pontos de rodoviárias no estado do Rio Grande do Sul. São
exportação, são necessárias rodovias eles o basalto alterado, plintossolos, lateritas e
pavimentadas e em boas condições de uso. Ao solos arenosos finos lateríticos. A utilização
mesmo tempo, a utilização de agregados destes materiais em camadas de pavimentos
convencionais, como brita graduada simples e pode promover integração e crescimento
rocha sã, em bases e sub-bases de pavimentos se econômico com menor impacto ao meio
torna inviável em algumas regiões do Rio ambiente.
Grande do Sul, devido às grandes distâncias de No Brasil, tem-se um predomínio de solos
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tropicais. Tais solos possuem peculiaridades no dos materiais geotécnicos.


seu comportamento. Assim, a utilização das Neste contexto, este trabalho tem como
classificações tradicionais de solos em projetos objetivo geral avaliar o comportamento de solos
de pavimentos assentes sobre solos tropicais tropicais de diferentes unidades de mapeamento
pode levar a resultados não condizentes com seu geotécnico da cidade de Santa Maria, localizada
real desempenho em campo. na região central do estado do Rio Grande do
Ao identificar a necessidade de uma Sul. Tal avaliação é realizada a partir de três
classificação voltada aos solos tropicais ensaios complementares da Metodologia MCT
brasileiros, Nogami e Villibor (1981) (Ensaio de Mini-CBR, Expansão e Contração).
desenvolveram a Metodologia MCT (Miniatura, Dessa forma, visa-se propor a aplicação destes
Compactada, Tropical). Baseada em ensaios materiais em camadas de pavimentos
com corpos de prova em miniatura compactados econômicos ou execução de aterros.
em diferentes teores de umidade, este sistema
permite avaliar diferentes propriedades de solos 2 METODOLOGIA
tropicais como resistência, deformabilidade e
permeabilidade. A metodologia deste trabalho foi dividida em
Além disso, a metodologia permite identificar duas etapas básicas: (a) etapa de campo: escolha
e avaliar o comportamento laterítico ou não das áreas de coleta dos solos para o estudo e
laterítico dos solos. Solos de comportamento retirada de amostras deformadas de cada perfil
laterítico são caracterizados por apresentarem para realização dos ensaios de laboratório e (b)
boa capacidade de suporte e pequena perda dessa etapa de laboratório: realização dos ensaios
capacidade quando imersos em água. Desta básicos de caracterização física dos solos, assim
forma, possuem potencial de aplicação em como dos ensaios classificatórios da MCT
camadas de base ou sub-base de pavimentos. (Mini-MCV e Perda de Massa por Imersão) e dos
Santos (2016) destaca que, na execução de ensaios complementares de Mini-CBR,
uma rodovia, deve-se considerar o fato de o Expansão e Contração.
pavimento ser uma estrutura estratificada, onde
cada camada possui características diferentes. 2.1 Etapa de Campo
Tais camadas estão sujeitas a cargas
provenientes do tráfego de veículos. Os esforços Para este estudo, os pontos de coleta foram
são distribuídos horizontal e verticalmente, até escolhidos com base no mapa geotécnico da
atingirem o subleito. Uma vez que recebe uma região de Santa Maria. Foram definidos dois
parcela das tensões, o subleito deve apresentar perfis típicos de solo de cada uma das seguintes
características portantes compatíveis com às unidades geotécnicas: Botucatu, Caturrita,
solicitações recebidas. Assim, o conhecimento Rosário do Sul, Santa Maria/Alemoa e Santa
do comportamento do subleito, especialmente Maria/Passo das Tropas, além dos solos das
em relação à resistência e deformabilidade, tem jazidas Canabarro e Distrito Industrial,
vital importância para o dimensionamento dos estudados por Santos (2016).
pavimentos. A Tabela 1 apresenta as unidades geotécnicas
Conforme Georgetti (2014), é frequente nas e a nomenclatura utilizada para cada material
obras geotécnicas a necessidade de se restringir estudado. Já a Figura 1 mostra a localização dos
as deformações que ocorrem no maciço do solo pontos de coleta em Santa Maria/RS.
para um bom funcionamento das estruturas sobre
ele apoiadas. Tabela 1. Nomenclatura utilizada no estudo.
Unidade Geotécnica/Jazida Sigla
Norback (2018) ressalta que as deteriorações
BOT1
estruturais nos pavimentos estão ligadas à sua Botucatu
BOT2
capacidade de carga, sendo que elas podem ser
CAT1
evitadas ou adiadas com uma seleção adequada Caturrita
CAT2
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SC1 contração, permeabilidade, expansão,


Rosário do Sul
SC2 coeficiente de penetração de água, coesão,
Santa Maria (Membro Alemoa)
ALE1 capacidade de suporte e família de curvas de
ALE2 compactação. Eles permitem reproduzir as
Santa Maria (Membro Passo das PT1 condições reais de camadas de solos tropicais
Tropas) PT2 compactados, possibilitando o dimensionamento
Canabarro RS de pavimentos e a escolha dos materiais
Distrito Industrial TR geotécnicos.
Todos os ensaios complementares da
Metodologia MCT estão descritos de forma
detalhada no Anexo 2 do livro Pavimentos
Econômicos, escrito por Villibor e Nogami
(2009).

2.2.3 Mini-CBR, Expansão e Contração

Neste trabalho, foram realizados os ensaios


complementares de Mini-CBR, Expansão e
Figura 1. Localização dos pontos de coleta dos solos. Contração. O procedimento de ensaio é similar
ao adotado para o ISC tradicional, tendo sido
Após a limpeza superficial dos perfis, as proposto para as energias normal e
amostras deformadas foram retiradas com intermediária.
auxílio de pás, acondicionadas em sacos Conforme Souza (2007), o ensaio de Mini-
plásticos e posteriormente levadas ao CBR com imersão e com sobrecarga é realizado
Laboratório de Materiais de Construção Civil da para avaliar o comportamento de solos de
UFSM. subleito rodoviário ou solos para execução de
aterros. Já o ensaio sem imersão e sem
2.2 Etapa de Laboratório sobrecarga é feito para estudar a capacidade de
suporte de solos para bases, uma vez que bases
2.2.1 Ensaios de Caracterização de pavimentos econômicos não recebem
camadas espessas de revestimentos.
A caracterização física dos solos estudados foi Neste estudo, os corpos de prova foram
realizada através dos ensaios de análise compactados na umidade ótima nas energias
granulométrica, limites de Atterberg e peso normal, intermediária e modificada. Para cada
específico dos grãos. energia foram moldados quatro corpos de prova,
ensaiados com e sem a sobrecarga padrão de
2.2.2 Metodologia MCT 490g na imersão durante 24 horas e sem imersão.
A Figura 2 mostra a prensa utilizada para o
A Metodologia MCT classifica os solos de rompimento dos corpos de prova.
acordo com seu comportamento laterítico (L) ou
não-laterítico (N) a partir de dois índices, o c’ e
e’. Estes parâmetros são obtidos a partir dos
ensaios de Mini-MCV e Perda de Massa por
Imersão.

2.2.2 Ensaios Complementares da MCT

Os ensaios complementares da MCT permitem


avaliar diversas propriedades dos solos como
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parâmetro de avaliação tecnológica dos solos


tropicais pela Metodologia MCT, denominado
índice RIS. Este índice permite uma
quantificação indireta da diferença de
comportamento do Mini-CBR e é calculado
conforme a Equação 5. Alguns autores utilizam
a porcentagem de perda de suporte por imersão
(PSI), determinada de acordo com a Equação 6.

𝑚𝑖𝑛𝑖𝐶𝐵𝑅𝑖
𝑅𝐼𝑆 = 𝑚𝑖𝑛𝑖𝐶𝐵𝑅𝑠𝑖 ∙ 100 (%) (5)

𝑚𝑖𝑛𝑖𝐶𝐵𝑅𝑠𝑖−𝑚𝑖𝑛𝑖𝐶𝐵𝑅𝑖
𝑃𝑆𝐼 = ∙ 100 (%) (6)
𝑚𝑖𝑛𝑖𝐶𝐵𝑅𝑠𝑖

Onde: miniCBRi = mini-CBR imerso;


miniCBRsi = miniCBR sem imersão;
Figura 2. Prensa utilizada no ensaio de Mini-CBR.
Nogami e Villibor (2001) indicam como
Após o rompimento dos corpos de prova, recomendáveis na energia intermediária valores
foram geradas as curvas Carga-Penetração, que de RIS iguais ou superiores a 40% e PSI
permitem a determinação dos índices de suporte inferiores a 50%. Isso significa que a perda de
Mini-CBR pelo Método de correlações e pelo suporte após a imersão não deve ser maior do que
Método de cargas-padrão. O método das a metade do seu suporte sem imersão. Assim,
correlações utiliza as Equações 1 e 2, onde C1 e quanto menor o valor do parâmetro PSI, melhor
C2 são respectivamente as cargas em Kgf a amostra.
correspondentes aos valores de penetração de O valor da expansão dos solos foi verificado
2,00 e 2,50mm, obtidas a partir das curvas durante o período de imersão dos corpos de
Carga-Penetração. Adota-se o maior valor de prova moldados no ensaio de Mini-CBR, para as
Mini-CBR obtido. três energias de compactação, com e sem
sobrecarga. Este valor é obtido a partir da
log(𝑀𝑖𝑛𝑖𝐶𝐵𝑅) = −0,254 + 0,896 ∙ 𝑙𝑜𝑔𝐶1 (1) Equação 7, onde o ∆ℎ representa a diferença da
altura final e h a altura inicial. As Figuras 3 e 4
log(𝑀𝑖𝑛𝑖𝐶𝐵𝑅) = −0,356 + 0,937 ∙ 𝑙𝑜𝑔𝐶2 (2) ilustram os corpos de prova durante o
procedimento do ensaio de Expansão.
O método das cargas padrão compara os
valores de carga C1 e C2, correspondentes as ∆ℎ
𝐸= ∙ 100(%) (7)

penetrações de 0,84 e 1,7mm, utilizando as
Equações 3 e 4.
De acordo com Villibor e Nogami (2009) o
procedimento das cargas padrão é o mais correto,
porém exige uma maior precisão das leituras de
carga iniciais na penetração do pistão.
𝐶1
𝑀𝑖𝑛𝑖 − 𝐶𝐵𝑅 = 100 𝑥 72,60 𝑥 2 (3)

𝐶2
𝑀𝑖𝑛𝑖 − 𝐶𝐵𝑅 = 100 𝑥 108,90 𝑥 2 (4) Figura 3. Ensaio de Expansão.

Os autores citados acima utilizam um


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3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS


RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados e discutidos os


resultados dos ensaios de laboratório descritos na
metodologia do trabalho.

3.1 Ensaios de Caracterização

Figura 4. Ensaio de Expansão. Para caracterização física dos solos estudados,


foram realizados os ensaios de Análise
O ensaio de Contração foi realizado nos Granulométrica (com e sem o uso de
corpos de prova moldados no ensaio de Mini- defloculante), Limites de Atterberg e Peso
CBR sem imersão, para as três energias de Específico Real dos Grãos. As Tabelas 2, 3 e 4
compactação. Após o rompimento dos corpos de apresentam os resultados obtidos nestes ensaios
prova na prensa do Mini-CBR, retira-se o solo do e as classificações SUCS e HRB para os solos
molde com o auxílio do extrator, posicionando-o em estudo.
para a leitura da contração por um período de 24
Tabela 2. Resultados dos ensaios de Peso Específico Real
horas. A Figura 5 ilustra a realização do ensaio. dos Grãos e Limites de Atterberg
Massa Limites de Atterberg (%)
Solo específica
(g/cm³) LL LP IP
BOT1 2,698 NL NP 0
BOT2 2,695 31 19 12
CAT1 2,670 NL NP 0
CAT2 2,690 NL NP 0
SC1 2,810 49 27 22
SC2 2,743 38 13 25
ALE1 2,725 29 18 11
ALE2 2,742 41 23 18
PT1 2,755 30 20 10
PT2 2,703 24 20 4
RS 2,737 47 29 18
Figura 5. Ensaio de Contração.
TR 2,720 39 20 19
O valor da contração é obtido através da
Equação 8, onde Li e Lf são respectivamente as
leituras inicial e final do corpo de prova e L0 é o Tabela 3. Resultados dos ensaios de Análise
Granulométrica.
comprimento inicial do mesmo. Granulometria (%)
Com defloculante/Sem defloculante
𝐿𝑖
𝐶𝑡 = 𝐿𝑓 − 𝐿0 𝑥 100(%) (8) Solo Areia
Areia Areia
Arg. Silte gross Pedr.
fina média
a
De acordo com Nogami e Villibor (2001), são BOT
8/0 2/8 64/66 19/19 7/7 0/0
recomendados valores de E inferiores a 0,3% e 1
Ct entre 0,1 e 0,5%. BOT
14/0 4/11 67/72 15/17 0/0 0/0
2
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CAT
0/0 10/21 56/42 34/36 0/1 0/0 baixa e média plasticidade. Já no sistema HRB,
1 as amostras SC1, ALE2 e RS são classificadas
CAT
2
0/0 9/9 13/16 49/48 29/27 0/0 no subgrupo A-7-6, materiais com elevados
SC1 37/0 18/55 17/17 22/22 7/6 0/0 índices de plasticidade em relação aos limites de
32/1 liquidez e sujeitos a mudanças de volume. As
SC2 42/54 19/28 7/8 0/0 0/0
0 amostras SC2 e ALE1 foram designadas no
ALE subgrupo A-6, classe típica de solos argilosos e
14/0 52/21 21/31 9/27 3/19 1/2
1 plásticos, sujeitos à elevadas mudanças de
ALE
25/4 24/38 39/45 11/13 0/0 0/0 volume entre os estados seco e úmido. Assim,
2
PT1 12/0 24/26 50/49 14/24 0/1 0/0 estes solos não apresentariam um bom
PT2 19/7 17/17 15/25 41/40 7/11 0/0 comportamento como subleito.
RS
41/1
14/32 15/21 16/20 11/15 2/2
No sistema de classificação SUCS, as
0 amostras BOT2, PT1 e TR são areias argilosas
30/1 (SC). Na HRB, a amostra BOT2 foi enquadrada
TR 13/27 18/16 26/29 12/15 1/1
2
no subgrupo A-2-6 (areias com finos argilosos)
Tabela 4. Classificação dos solos estudados.
e o solo TR no subgrupo A-6, o que indica
Classificação material com péssimo comportamento como
Solo camada de subleito. A amostra PT1 foi
SUCS HRB
BOT1 SM A2-4 classificada como A-4, subgrupo que agrupa
BOT2 SC A2-6 solos siltosos não plásticos ou moderadamente
CAT1 SM A2-4 plásticos. Esta é a mesma classificação da
CAT2 SM A2-4 amostra PT2, que divergiu apenas na
SC1 CL A7-6 classificação SUCS, sendo compreendida no
SC2 CL A6 grupo SM-SC.
ALE1 CL A6
Por fim, as amostras BOT1, CAT1 e CAT2
ALE2 CL A7-6
foram classificadas como areias siltosas (SM)
pela SUCS. Para estes solos, há uma
PT1 SC A4
concordância com a classificação obtida na
PT2 SM-SC A4
HRB, que os enquadra no subgrupo A-2-4.
RS CL A7-6
Materiais deste subgrupo são solos granulares
TR SC A6
finos siltosos, caracterizados por um bom
comportamento quando empregados em
Os valores encontrados para o peso específico subleitos rodoviários.
real dos grãos de solos provenientes de uma No ensaio de Análise Granulométrica, foi
mesma unidade geotécnica foram consistentes possível observar uma diferença entre as curvas
com a mineralogia de cada material. Além disso, granulométricas obtidas com e sem o uso do
os valores apresentaram pequena variabilidade. agente defloculante, em especial nos solos SC e
A partir dos resultados do ensaio de Limites ALE. Tal diferença é característica de solos
de Atterberg, foi possível identificar a baixa tropicais. Mesmo assim, a utilização do
plasticidade do solo PT2 e a média plasticidade hexametafosfato não interferiu na classificação
dos solos BOT2, ALE1 e PT2. Os solos CAT1, final dos materiais estudados.
CAT2 e BOT1 são solos não plásticos, o que
condiz com a fração de argila encontrada nestes 3.2 Classificação MCT
materiais. Os demais foram enquadrados como
materiais altamente plásticos, com o valor de A Metodologia MCT foi utilizada para
índice de plasticidade variando entre 18 e 25%. identificar o comportamento laterítico (L) ou não
Pela classificação geotécnica SUCS, as laterítico (N) dos solos estudados. Os índices
amostras SC1, SC2, ALE1, ALE2 e RS são classificatórios obtidos nos ensaios de Mini-
enquadradas no grupo CL, argilas inorgânicas de
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MCV e Perda de Massa por Imersão estão os solos SC1, RS e TR como LG’
apresentados na Tabela 5, enquanto que o ábaco (comportamento laterítico argiloso). Materiais
classificatório da MCT está ilustrado na Figura como estes são caracterizados por altas
6. É importante salientar que os solos CAT1 e capacidades de suporte, baixa perda de massa
CAT2 não atingiram o patamar de compactação por imersão, baixa expansão, contração média a
inicial no Mini-MCV e foram classificados como alta e baixa permeabilidade. Isso faz com que os
areias não-lateríticas. Por isso, estas duas solos de comportamento laterítico sejam
amostras não aparecem no ábaco da MCT. considerados adequados para uso em
pavimentação, seja como base, reforço de
Tabela 5. Índices classificatórios e Classificação MCT. subleito, subleito, aterro compactado e
Índices Classificatórios Classificação revestimento primário.
Solo
c’ d’ Pi(%) e’ MCT O elevado índice e’, associado ao parâmetro
1,6 c’, classifica os demais solos como materiais de
BOT1 0,44 10,43 257,00 NA comportamento não-laterítico. Os solos CAT1,
5
BOT2 1,07 34,00 182,00
1,3
NA’
CAT2 e BOT1 foram enquadrados como areias
4 não lateríticas (NA), enquanto que a amostra
CAT1 - - - - NA BOT2 foi agrupada como solo não laterítico
CAT2 - - - - NA arenoso (NA’). As amostras PT1 e ALE1 foram
0,6 classificadas como solos não-lateríticos siltosos
SC1 1,55 63,16 0,00 LG’
8
(NS’) e os solos SC2 e ALE2 como não-
1,9
SC2 1,94 5,71 360,00 NG’ lateríticos argilosos (NG’).
2
1,3 A partir da análise dos resultados, foi possível
ALE1 1,33 32,00 190,00 NS’
6 identificar a diferença de comportamento
1,2 laterítico ou não laterítico em solos de uma
ALE2 1,62 44,17 161,00 NG’
7 mesma unidade geotécnica. Além disso, foi
1,4
PT1 1,16 33,18 234,00 NS’ possível identificar uma discordância entre os
3
0,9 sistemas tradicionais de classificação SUCS e
PT2 1,42 42,86 48,00 LA’
8 HRB em relação à Metodologia MCT. Solos
0,9 considerados inadequados para uso em subleitos
RS 1,77 80,00 47,00 LG’
0 rodoviários de acordo com aqueles sistemas,
115,4 0,6
TR 2,06 15,00 LG’ como as amostras RS e TR, possuem
0 9
comportamento laterítico. Quando compactados
adequadamente, estes materiais apresentam um
ótimo comportamento como subleito, podendo
ser utilizados em outras camadas.

3.3 Ensaios complementares da MCT- Mini-


CBR, Expansão e Contração

Dentre os ensaios complementares da


Metodologia existentes, este estudo contemplou
Figura 6. Ábaco classificatório da MCT. os ensaios de Mini-CBR, Expansão e Contração.
A partir dos resultados obtidos, foi possível
A partir dos resultados, é possível identificar avaliar algumas propriedades e parâmetros dos
que quatro das doze amostras são classificadas solos em estudo, visando o emprego destes
como solos de comportamento laterítico. O solo materiais em obras rodoviárias. A Tabela 6
PT2 foi enquadrado como LA’, solo de
comportamento laterítico arenoso, enquanto que
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ilustra os valores numéricos das propriedades Apenas os solos ALE1 e PT1, ambos
recomendados por Villibor e Nogami (2009). classificados como NS’ na MCT, não
apresentaram expansão de acordo com os valores
Tabela 6. Valores propostos por Nogami e Villibor (2009). da Tabela 6, que indica um valor elevado de
Propriedade Valor
expansão para estes solos. Neste estudo, os
Muito elevado > 30
Suporte Mini-CBR valores obtidos são considerados de média
Elevado 12 a 30
(%) com sobrecarga expansão.
Médio 4 a 12
padrão Os valores obtidos para a contração foram
Baixo <4
semelhantes nos ensaios com e sem a sobrecarga
Perda de suporte Elevado > 70
Mini-CBR por Médio 40 a 70
padrão. Isso era esperado, uma vez que a
imersão (%) Baixo < 40 sobrecarga é somente utilizada durante o
Elevado >3 rompimento dos corpos de prova no ensaio de
Expansão (%) Médio 0,5 a 3 Mini-CBR. Os solos PT2, RS e TR apresentaram
Baixo < 0,5 índices de contração medianos, assim como os
Elevado >3 solos das Formações Rosário do Sul e Santa
Contração (%) Médio 0,5 a 3 Maria/Alemoa. Tais valores são típicos de
Baixo < 0,5 materiais com alto percentual de argila. Para a
contração, todos os valores encontrados foram
Os ensaios de Mini-CBR foram realizados condizentes com a Tabela 6.
com e sem imersão de 24 horas e com e sem a Conforme era esperado, os valores de Mini-
sobrecarga padrão de 490g. Considerando que o CBR para os corpos de prova rompidos sem
ensaio foi proposto para as energias normal e imersão foram maiores do que os submetidos a
intermediária de compactação, a discussão dos imersão. Os valores obtidos no Método de
resultados será baseada nessas energias. Devido cargas-padrão foram maiores do que os obtidos
ao elevado número de parâmetros obtidos com pelo Método de correlações, em concordância
os ensaios, os resultados estão apresentados em com vários autores.
tabela no Apêndice 1. Os coeficientes RSI e PSI são parâmetros de
Analisando os resultados, é possível avaliação tecnológica dos solos tropicais pela
identificar uma tendência de maior expansão do Metodologia MCT. A partir da análise dos
solo quando este se encontra sem sobrecarga valores obtidos para os coeficientes, foi possível
durante a expansão. O solo SC2 apresentou identificar que, para os solos SC2, ALE2 e TR,
valores considerados elevados de expansão para com o aumento de energia de compactação há
a energia normal de compactação (4,41% e um decréscimo no coeficiente de suporte de
6,79%). Já os valores obtidos para as amostras carga. De maneira inversa, ocorre um acréscimo
ALE2 e PT1 são considerados médios. na perda de suporte por imersão.
Para os solos ALE1, PT1 e RS identificou-se Na compactação em energia normal, solos
uma divergência nos valores de expansão que apresentam um valor de RIS superior à 30%
obtidos nos ensaios com e sem a carga padrão. são considerados solos com suporte de carga
Estes valores são considerados como baixa e muito elevado. Assim, as amostras BOT2, SC1,
média capacidade de expansão. PT2 e RS são enquadradas neste grupo,
Nos solos da Formação Caturrita (CAT1 e apresentando médios e baixos valores de PSI.
CAT2) os valores de expansão obtidos foram Para esta energia, a amostra SC1 apresentou o
quase nulos. Isso ocorreu devido à presença maior valor de RIS (91%) e consequentemente o
considerável de areia e a ausência de argila na menor valor de PSI (9%). Já o menor valor de
composição desses materiais. Desta forma, os suporte foi encontrado para o solo PT1 (28%).
solos CAT1 e CAT2 são considerados solos com Estes resultados estão condizentes com os
baixa expansão, assim como aqueles com valor valores apresentados na Tabela 6.
de expansão inferior a 0,5%.
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Nogami e Villibor (2001) indicam que, para Florianópolis/SC.


emprego em camadas de bases de pavimentos, os Norback, C. (2018). Caracterização do Módulo de
Resiliência e da Deformação Permanente de Três
valores dos coeficientes devem ser de RIS Solos e Misturas Solo-brita. Dissertação de Mestrado.
superior a 40% e PSI inferior a 50% para a Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil.
energia intermediária de compactação. Assim, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
dentre os solos estudados somente as amostras Janeiro/RJ.
CAT2, SC1 e RS obtiveram resultados Santos, T.A. dos (2016). Avaliação da Resistência e
Deformabilidade de Solos Empregados em Subleitos
satisfatórios. Rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa
4 CONCLUSÕES Maria, 150p.
Souza, R.A.; (2007). Estudo Comparativo dos Ensaios de
CBR e Mini-CBR para Solos de Uberlândia/MG,
A partir da apresentação e análise dos Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de
resultados, fica evidente a importância da Uberlândia. Uberlândia/MG.
utilização da Metodologia MCT na identificação Villibor, D.F.; Nogami, J.S. (2009). Pavimentos
e classificação de materiais geotécnicos para Econômicos: tecnologia do uso dos solos lateríticos,
pavimentação. Além de permitir a identificação Arte & Ciência, São Paulo/SP.
de solos de comportamento laterítico, este
sistema permite estudar diferentes propriedades
dos solos, avaliando o potencial de utilização dos
materiais em diferentes camadas de pavimentos.
Em adição, destaca-se a importância da
realização dos ensaios complementares da
Metodologia MCT, como Mini-CBR, Expansão
e Contração, de modo a se obter características
mais detalhadas acerca do comportamento de
solos tropicais utilizados em pavimentação.

REFERÊNCIAS

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER


(1996). Norma DNER-CLA 259/96: Classificação de
solos tropicais para finalidades rodoviárias utilizando
corpos de prova compactados em equipamento
miniatura, Rio de Janeiro/RJ.
Georgetti, G.B. (2014). Deformabilidade e resistência de
um solo laterítico não saturado. Tese de Doutorado.
Programa de Pós Graduação em Geotecnia.
Universidade de São Paulo. São Carlos/SP.
Johnston, M.G. (2010). Desempenho de Pavimentos com
Materiais Alternativos do Estado do Rio Grande do
Sul. Tese de Doutorado. Programa de Pós Graduação
em Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre/RS.
Nogami, J.S.; Villibor, D.F. (1981). Uma Nova
Classificação para Finalidades Rodoviárias, Simpósio
Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia.
COPPE/ABMS, Rio de Janeiro/RJ.
Nogami, J.S.; Villibor, D.F. (2001). Interpretação da
forma das curvas de deformação da Metodologia
MCT, Reunião Anual de Pavimentação. ABPv,
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Apêndice 1. Resultados dos Ensaios de Mini-CBR, Contração e Expansão


Imersão com Sobrecarga (E+P) Imersão sem Sobrecarga (E) Sem Imersão com Sobrecarga (S+P) Sem Imersão sem Sobrecarga (S) RIS (%) PSI (%)
Massa
Massa Massa
Energia de Massa específic
Solo Corre- Cargas específica Corre- Cargas Corre- Cargas específica Corre- Cargas Contra
Compactação específica Expansão Expansão a Contração
lações Padrão aparente lações Padrão lações Padrão aparente lações Padrão ção
aparente (%) (%) aparente (%)
(%) (%) seca (%) (%) (%) (%) seca (%) (%) (%)
seca (kg/m³) seca
(kg/m³) (kg/m³)
(kg/m³)
Normal 1814,80 9 8 0,04 1810 10 9 0,08 1819 24 25 0,14 1816 21 27 0,08 39 61
BOT1 Intermediária 1859,80 18 21 0,05 1848 10 11 0,10 1854 39 60 0,18 1845 35 50 0,18 18 82
Modificada 1894,80 35 38 0,02 1894 14 14 0,02 1910 57 72 0,14 1898 41 47 0,14 20 80
Normal 1797,90 15 15 0,20 1779 14 13 0,18 1778 20 22 0,00 1817 16 16 0,12 63 37
BOT2 Intermediária 1851,00 26 30 0,15 1866 23 25 0,26 1852 45 55 0,16 1890 43 49 0,12 45 55
Modificada 1913,20 34 46 0,28 1904 43 52 0,28 1910 61 83 0,22 1927 58 72 0,18 63 37
Normal 1667,30 9 9 0,00 1651 4 4 0,14 163 9 9 0,00 1609 6 7 0,16 49 51
CAT1 Intermediária 1714,50 7 7 0,06 1712 4 4 0,08 1715 13 12 0,10 1712 6 5 0,22 34 66
Modificada 1761,50 22 29 0,04 1753 8 7 0,04 1763 43 49 0,28 1761 16 14 0,26 15 85
Normal 1857,90 16 19 0,00 1855 10 11 0,00 1859 13 12 0,08 1861 7 6 0,16 86 14
CAT2 Intermediária 1929,70 32 47 0,00 1917 19 23 0,06 1914 22 26 0,18 1916 26 29 0,04 86 14
Modificada 2005,50 18 15 0,02 2019 12 13 0,00 2017 50 58 0,00 2032 36 46 0,04 23 77
Normal 1613,10 6 6 0,47 1641 6 6 0,45 1644 7 6 2,72 1645 12 13 1,45 91 9
SC1 Intermediária 1754,70 17 18 0,24 1746 15 16 0,38 1751 24 26 1,36 1771 29 41 2,20 62 38
Modificada 1847,80 33 51 0,49 1850 25 42 0,56 1844 94 137 1,04 1847 62 79 1,07 31 69
Normal 1763,50 3 3 4,41 1763 2 3 6,79 1760 7 8 2,07 1764 8 10 2,22 36 64
SC2 Intermediária 1909,20 4 4 4,14 1892 3 4 4,49 1911 19 26 1,11 1893 18 23 1,11 15 85
Modificada 1950,90 3 4 5,20 1952 2 3 6,00 1952 25 34 1,51 1953 14 20 1,16 8 92
Normal 1704,40 5 5 0,20 1709 3 3 0,58 1743 5 5 3,39 1731 7 7 2,59 61 39
ALE1 Intermediária 1860,30 11 11 0,77 1857 8 9 1,57 1851 17 17 1,68 1860 21 22 1,92 49 51
Modificada 1904,00 13 14 1,29 1889 7 6 2,98 1884 23 24 1,97 1896 30 39 1,84 27 73
Normal 1722,60 7 7 1,89 1693 7 7 1,60 1705 17 22 1,04 1726 18 22 1,07 34 66
ALE2 Intermediária 1848,20 13 12 2,88 1881 4 4 2,42 1873 33 44 1,05 1850 45 61 0,60 10 90
Modificada 1921,30 10 7 3,93 1902 4 4 6,20 1933 43 50 0,77 1934 54 64 0,51 8 92
Normal 1792,50 10 10 0,91 1801 6 5 1,46 1788 18 20 0,56 1802 13 14 0,94 28 72
PT1 Intermediária 1916,20 19 21 1,59 1933 11 11 3,36 1933 33 34 0,49 1920 23 24 0,36 33 67
Modificada 2012,30 27 28 0,99 2011 21 22 2,40 2014 78 120 0,32 2009 74 100 0,23 18 82
Normal 1864,50 10 10 0,10 1862 7 7 0,63 1857 14 14 0,65 1863 13 13 0,67 48 52
PT2 Intermediária 1970,60 47 65 0,20 1967 23 33 0,38 1988 58 72 0,46 1988 50 59 0,57 46 54
Modificada 2038,80 59 90 0,19 2035 36 61 0,60 2040 73 90 0,40 2038 94 120 0,34 67 33
Normal 1708,70 16 17 0,12 1707 17 17 0,02 1680 16 24 1,10 1683 15 22 0,59 70 30
RS Intermediária 1818,50 19 29 0,12 1831 19 29 0,20 1829 23 34 0,60 1820 31 41 0,00 57 43
Modificada 1890,50 28 48 0,64 1886 24 43 0,89 1873 78 85 0,00 1885 79 87 0,00 51 49
Normal 1750,20 6 7 0,47 1767 7 8 0,88 1754 8 10 1,92 1750 9 10 3,56 77 23
TR Intermediária 1929,70 23 30 0,51 1930 12 12 0,74 1930 32 46 1,08 1928 42 59 0,77 26 74
Modificada 2017,80 23 34 1,70 2017 14 16 2,21 2003 117 176 0,53 2003 117 176 0,53 9 91
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Estudo do Comportamento Mecânico do Material de Depósito


Eólico em Fortaleza Considerando Resultados de Ensaios de
Laboratório e de Campo
Laura Terezinha da Silva Maia
Instituto Brasileiro de Educação Continuada, Fortaleza, Brasil, lauratsmaia@hotmail.com

Marcos Fábio Porto de Aguiar


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
marcosporto@ifce.edu.br

Giullia Carolina de Melo Mendes


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
giucmendes@gmail.com

Francisco Heber Lacerda de Oliveira


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, heber@det.ufc.br

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar o comportamento mecânico de solo
arenoso de depósito eólico localizado no bairro de Lourdes, em Fortaleza-CE, por meio de ensaios
de caracterização, compactação, Índice de Suporte Califórnia (ISC), ensaios à percussão tipo SPT e
penetrômetro dinâmico de cone (DPL). A partir dos dados de ensaio de laboratório e campo, pôde-
se analisar as correlações entre ISC e NSPT pelos métodos de Livneh e Ishai (1987) e Livneh e Ishai
(1988). Já para as correlações entre NSPT e N10, analisou-se os métodos de DIN (2003), Sanchez et
al. (2010) e Matos (2015). Pôde-se constatar que, dentre os métodos de correlação de ISC e NSPT, o
que mais de aproximou do resultado de ensaio foi Livneh e Ishai (1988), já para as correlações de
NSPT e N10, o que mais se aproximou foi o método de Matos (2015). O trabalho mostra-se útil como
referência de projeto e acompanhamento de obras em locais que comprovem materiais semelhantes,
principalmente devido a correlações possíveis entre os parâmetros estudados.

PALAVRAS-CHAVE: Depósitos Eólicos, Caracterização de Solo, Índice de Suporte Califórnia


(ISC), Penetrômetro Dinâmico de Cone (DPL), Standard Penetration Test (SPT).

1 INTRODUÇÃO Nesse contexto, o presenta artigo tem por


objetivo analisar o comportamento mecânico de
Devido a crescente demanda na construção solos arenosos presentes em um depósito eólico
civil, e a realização de obras em regiões do bairro De Lourdes, na cidade de Fortaleza-
litorâneas, têm-se a necessidade de conhecer o CE. Para tal, foram realizados ensaios de
comportamento mecânico de solos arenosos, caracterização do solo, índice de suporte
comumente presente nesses locais, com o Califórnia (ISC), sondagem SPT e ensaio
objetivo de facilitar a interpretação de penêtrometro dinâmico leve (DPL).
resultados de ensaios geotécnicos para
utilização nos diversos projetos de engenharia.
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2 ÍNDICE DE SUPORTE CALIFÓRNIA Penetrômetro Dinâmico Leve, é definido por


Passos (2005) como uma ensaio que é
O California Bearing Ratio (CBR) ou Índice executado por um equipamento manual de
de Suporte Califórnia (ISC) foi criado pelo pequeno porte, projetado para auxílio de
Departamento de Estradas de Rodagem da sondagens in situ que é, essencialmente,
Califórnia, e consiste na determinação da utilizado em solos não coesivos.
relação entre a pressão necessária para produzir Conforme especificado em DIN (1991), o
uma penetração de um pistão num corpo de ensaio DPL consiste em registrar a quantidade
prova de solo, e a pressão necessária para de golpes aplicados para cravar uma ponteira
produzir a mesma penetração em uma mistura em forma de cone por meio da queda livre de
padrão de brita estabilizada um martelo com massa de 10 kgf caindo de uma
granulometricamente, com o resultado expresso altura de 50 cm. As informações obtidas por
em porcentagem. Os procedimentos de ensaio esse ensaio são: o nível d’água e o índice de
seguem ABNT (2016), sendo divididos em três resistência à penetração (N10) que é definido
etapas: compactação do corpo de prova, como o número de golpes necessário para
obtenção da curva de expansão e a medida da penetrar o cone a cada 10 cm. Conforme
resistência à penetração. explicado por Nilsson (2004), com a retirada
das hastes, é possível identificar, com clareza, a
posição do nível d’água, uma vez que não é
3 STANDARD PENETRATION TEST (SPT) utilizado água durante a realização do ensaio.

O ensaio à percussão ou Standard Penetration


Test (SPT) é, segundo Cintra et al. (2013), o 5 CORRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS
ensaio mais empregado em projetos de DO ENSAIO ISC E SONDAGEM SPT
fundações do Brasil, e muitas vezes, o único a
ser realizado. O referido ensaio segue ABNT Com o intuito de correlacionar resultados de
(2001) e composto por três etapas: perfuração, ISC e SPT os autores Livneh e Ishai (1987) e
amostragem e ensaio penetrométrico. Consiste (1988) propuseram expressões tais como
na cravação de um amostrador padronizado, por apresentadas a seguir.
meio de golpes de um martelo de 65 kgf, caindo
de uma altura de 75 cm. À cada metro, são 5.1 Livneh e Ishai (1987)
coletados a quantidade de golpes necessários
para cravar os últimos 30 cm, denominado Os autores Livneh e Ishai (1987) propuseram
índice de resistência a penetração (NSPT ou N30). uma correlação entre os valores de ISC e NSPT
São determinados, através desse ensaio, a para subleitos em zonas áridas, apresentada na
posição do nível d’água, os tipos de solo por Equação 1.
camada e os índices de resistência à penetração
(NSPT), a cada metro. logISC = -4,16+5,65.  log SPT 
0,25
(1)

Onde SPT é a relação entre profundidade de


4 PENETRÔMETRO DINÂMICO LEVE
penetração, em milímetros (300 mm) e o
(DPL)
número de golpes necessários à penetração
(NSPT). Logo, a correlação é dada pela Equação
O ensaio Dynamic Probing Light (DPL), ou
2.
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Onde N10 é o índice de resistência à penetração


0,25
  300  do ensaio DPL.
logISC = -4,16+5,65. log   (2)
  N SPT   6.2 Sanchez et al. (2010)

5.2 Livneh e Ishai (1988) Os autores Sanchez et al. (2010)


correlacionaram, para solos arenosos, três
Os mesmos autores, com um maior número de expressões com recomendações diferentes,
dados, propuseram uma nova correlação entre apresentadas nas Equações 6, 7 e 8.
ISC x SPT, apresentada na Equação 3.
logISC = -5,13+6,55.  log SPT 
0,26
(3) N SPT  0,5933.N10 ' 0,3755 (6)

Onde SPT é a relação entre profundidade de Em que N10’ é a média entre todos os valores de
penetração, em milímetros (300 mm) e o N10 obtidos, a cada metro.
número de golpes necessários à penetração
(NSPT). Logo, a correlação é dada pela Equação N SPT  0, 6062.N10 '' 0,3644 (7)
4.
Onde N10” é a média de três valores de N10,
0,26
  300  com 20cm, 30cm e 40cm mais profundos a
logISC = -5,13+6,55. log   (4) partir do nível de início da percussão, em cada
  N SPT   metro inteiro, para serem obtidos valores nas
mesmas profundidades consideradas pelo
ensaio à percussão (SPT).
6 CORRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS
DO DPL E SPT N SPT  0,1972.N10 ''' 1, 6854 (8)

Devido à grande quantidade de métodos


Sendo N10”’ a soma dos valores de N10 obtidos
difundidos no Brasil para dimensionamento de
na penetração dos últimos 30 cm da haste, a
fundações que utilizam os resultados de SPT,
cada metro.
alguns autores propuseram correlações entre os
parâmetros do ensaio DPL e SPT, tais como
6.3 Matos (2015)
DIN (2003), Sanchez et al. (2010) e Matos
(2015).
O autor Matos (2015) propôs uma correlação,
para solos siltosos, conforme Equação 9.
6.1 DIN (2003)
N SPT  0, 6.N10 * 7, 6 (9)
A norma alemã DIN (2003) sugere algumas
correlações, sendo apresentada, na Equação 5,
para solos granulares acima do nível d’água Em que N10*, é a média de três valores de N10,
com N10 variando de 3 a 50. com 20cm, 30cm e 40cm mais profundos em
cada metro inteiro (exemplo: 1,20m, 1,30m e
N SPT  1, 4.N10 (5) 1,40m; 2,20m, 2,30m e 2,40m e assim
sucessivamente) para serem obtidos valores nas
mesmas profundidades consideradas pelo
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ensaio à percussão (SPT).


Além disso, foi realizado ensaio de
7 RESULTADOS compactação com as cinco amostras, na energia
normal Proctor, seguindo as recomendações da
O presente estudo foi desenvolvido com solos ABNT (1986), cujo resultados são apresentados
de depósito eólico localizado no bairro de na Figura 2 e Tabela 2, respectivamente.
Lourdes, Fortaleza-CE, e consistiu na realização
de ensaios de laboratório, nesse caso
caracterização, compactação e Índice de
Suporte Califórnia, e também ensaios de
campo, como sondagens SPT e DPL. No
terreno natural, foram realizados três furos de
sondagem SPT e três sondagens DPL. Já no
aterro, sobre o depósito eólico, foram realizados
cinco furos de sondagem SPT e ensaios de
compactação e Índice de Suporte Califórnia. A
Figura 2. Curvas de compactação das amostras A1 a A5.
partir do ensaio de granulometria, realizado em
cinco amostras do material do aterro,
classificou-se como SP (areia mal graduada)
Tabela 2. Apresentação dos parâmetros do ensaio de
pelo Sistema Unificado de Classificação dos compactação Proctor.
Solos (SUCS). A curva granulométrica e as Amostra Peso específico Umidade ótima (%)
composições, em percentual, do material aparente seco (g/cm³)
estudado são apresentadas na Figura 1 e na A1 1,61 13,3
Tabela 1, respectivamente. A2 1,63 14,7
A3 1,64 13,3
A4 1,59 14,9
A5 1,58 15,5
Verifica-se, a partir dos resultados obtidos, que
a umidade ótima dos solos, variou entre 13,3%
e 15,5%, e que o peso específico aparente seco
indicou uma variação de 1,58 a 1,64 g/cm3,
apresentando assim, desvios padrão de 0,99 e
0,02, respectivamente. Observa-se ainda que o
peso específico aparente seco médio para as
Figura 1. Curvas granulométricas das amostras de areia. amostras de areia é de 1,61 g/cm³ e a média da
umidade ótima é de 14,34%.
Além disso, realizou-se também o ensaio de
Tabela 1. Composição granulométrica do material.
Índice de Suporte Califórnia, segundo as
Amostra Pedregulho Areia Areia Média Areia Fina Silte e
(%) Grossa (%) (%) Argila recomendações da ABNT (2016), obtendo
(%) (%) assim, as capacidades de suporte e expansão das
A1 0 0 34,19 63,96 1,85
A2 0 0 28,7 68,16 3,15
amostras, conforme Figura 3 e Tabela 3,
A3 0 0 10,9 87,85 1,25 respectivamente.
A4 0 0 23,18 75,34 1,48
A5 0 0 19,25 79 1,75
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Figura 4. Variação dos NSPT de acordo com a


profundidade, para as sondagens SPT-01 a SPT-05.
Figura 3. Curvas pressão corrigida x deslocamento para
as amostras A1 a A5.
Já para o terreno natural, são apresentadas, na
Tabela 5, as coordenadas geográficas das
Tabela 3. Resultados do ensaio de Índice de Suporte
sondagens SPT e DPL realizadas.
Califórnia (ISC).
Amostra ISC (%) Expansão (%)
A1 7,6 0 Tabela 5. Coordenadas dos pontos de sondagem SPT e
A2 17 0 DPL em terreno natural
DATUM SIRGAS 2000
A3 10,6 0
A4 9,1 0 Sondagem Latitude (m) Longitude (m)
A5 5,7 0 SPT-01 9.585.719 559.858
SPT-02 9.585.734 559.843
SPT-03 9.585.790 559.862
Na Tabela 4 são apresentadas as coordenadas DPL-01 9.585.728 559.841
geográficas das cinco sondagens SPT realizadas DPL-02 9.585.786 559.861
no aterro sobre depósito eólico. DPL-03 9.585.721 559.854

De acordo com as sondagens SPT realizadas,


Tabela 4. Coordenadas das sondagens SPT realizadas no constatou-se, assim como nas sondagens de
aterro. aterro, que o solo é constituindo de areia fina e
DATUM SIRGAS 2000 areia fina e média pouco siltosa, com variação
Sondagem Latitude (m) Longitude (m) de NSPT de acordo com a Figura 5.
SPT-01 9.585.783 559.746
SPT-02 9.585.786 559.737
SPT-03 9.585.789 559.729
SPT-04 9.585.769 559.732
SPT-05 9.585.766 559.741

De acordo com as sondagens SPT, constatou-se,


no aterro, a presença de areia fina em camadas
de 1,10m a 1,30m e areia fina e média pouco
siltosa, até a profundidade de aproximadamente
16,00m. A Figura 4 apresenta a variação de Figura 5. Variação de NSPT para as sondagens executadas
índice de resistência à penetração dessas em terreno natural.
sondagens.
Já a variação de N10 apresentada pelas
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sondagens DPL são apresentadas na Figura 6.


Percebeu-se que, a correlação pelo
método de Livneh e Ishai (1988) aproximou-se
mais da média de ISC obtido em laboratório.
Acredita-se que, esse fato é devido ao método
ter passado por um processo de ajuste, no qual
resultou em correlações mais apuradas.
Quanto aos resultados de SPT e DPL do
terreno natural, optou-se por realizar as
correlações, a cada metro, do NSPT com a média
de N10 para os 20cm, 30cm e 40cm abaixo de
cada metro inteiro, considerando a
Figura 6. Variação de N10 de acordo com a profundidade, profundidade atingida pelo ensaio SPT. Nas
para as sondagens DPL-01 a DPL-03.
Tabelas 8 a 10, são apresentadas as estimativas
de NSPT com os métodos DIN (2003), Sanchez
7.1 Análise dos Resultados et al. (2010), Matos (2015). No caso de Sanchez
et al. (2010) optou-se estimar pela Equação 7,
Com o objetivo de realizar as correlações que considera os parâmetros de N10 de forma
propostas nesse trabalho, optou-se por realizar a similar aos demais.
média dos resultados de ISC. Quanto às
sondagens SPT referentes ao aterro, optou-se Tabela 8. Valores de NSPT e N10 dos ensaios e NSPT
por utilizar as médias de NSPT, a cada estimados pelos métodos propostos, para SPT-01 e DPL-
profundidade. Os parâmetros utilizados são 03.
apresentados na Tabela 6. N10 NSPT estimado (golpes)
Profundi- médio NSPT
DIN Sanchez Matos
dade (m) (golpes) (golpes)
Tabela 6. Valores de ISC e NSPT adotados nas análises do (2003) et al. (2015)
(2010)
aterro.
1 45 5 63 27 19
Parâmetro Resultado Adotado
2 18 29 25 11 3
Profundidade 1m 2m 3m
ISC (%) 10 10 10
Tabela 9. Valores de NSPT e N10 dos ensaios e NSPT
NSPT (golpes) 17 20 23 estimados pelos métodos propostos, para SPT-02 e DPL-
01.
N10 NSPT estimado (golpes)
Com isso, pôde-se obter os resultados de ISC Profundi- médio NSPT
DIN Sanchez Matos
pela correlações propostas, conforme dade (m) (golpes) (golpes)
(2003) et al. (2015)
apresentado na Tabela 7. (2010)
1 24 7 33 14 6
2 18 15 25 11 3
Tabela 7. Valores de ISC obtidos pelas correlações 3 134 34 187 81 72
propostas. 4 9 11 12 5 -3
Profundidade ISC (%) 5 14 8 19 8 0
(m) Ensaio Livneh e Ishai Livneh e
ISC (1987) Ishai (1988)
1 10 15 11
2 10 18 13
3 10 21 17
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Tabela 10. Valores de NSPT e N10 dos ensaios e NSPT


estimados pelos métodos propostos, para SPT-03 e DPL-
02.
N10 NSPT estimado (golpes)
Profun- médio NSPT DIN Sanchez Matos
didade (golpes) (golpes) (2003) et al. (2015)
(m) (2010)
1 42 12 58 25 17
2 78 29 109 47 39
3 105 35 147 64 55
4 149 41 208 90 81
Figura 9. Comportamento gráfico do NSPT para DPL-02,
5 181 42 253 110 101 de acordo com cada método.

As Figuras 7 a 9 apresentam os gráficos de Percebeu-se que, para as correlações utilizando


variação de NSPT pelos métodos propostos e no os valores de N10 do ensaio DPL-03, para a
próprio ensaio. profundidade de 1m, o método de Matos (2015)
aproximou-se mais, já DIN (2003) foi o que
apresentou resultado mais discrepante.
Enquanto que, para a profundidade de 2m, o
método de Matos (2015) afastou-se mais e DIN
(2003) apresentou resultados mais próximos.
Já para DPL-01, para a profundidade de 2m e
5m, o método que mais se aproximou foi de
Sanchez et al. (2010), e para a profundidade de
4m, a aproximação foi maior para DIN (2003).
Para DPL-02, o método que mais se aproximou,
para todas as profundidades analisadas foi de
Figura 7. Comportamento gráfico do NSPT para DPL-03, Matos (2015).
de acordo com cada método.

8 CONCLUSÃO

Nesse artigo, pôde-se analisar correlações entre


ISC e NSPT, bem como NSPT e N10. Ambos os
parâmetros são importantes na execução de
projetos, seja de aterros ou de fundações. Sabe-
se que é muito comum a realização de
sondagens SPT, nesse sentido, buscar por
correlações entre o parâmetro NSPT e outros,
constitui-se uma relevante contribuição para
elaboração de projetos e acompanhamento de
Figura 8. Comportamento gráfico do NSPT para DPL-01,
obras geotécnicas. Com base nos dados aqui
de acordo com cada método.
apresentados e em sua análise, percebeu-se uma
maior aproximação, nesse caso de estudo, dos
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valores de ensaios e das correlações (DPL) em Projetos de Fundações para Pequenas


apresentadas por Livneh e Ishai (1988), para Edificações. 2015. 76 f. Monografia (Bacharelado em
Engenharia Civil). Universidade de Fortaleza,
ISC x NSPT, e também o método de Matos Fortaleza.
(2015) para NSPT x N10. Nilsson, T. O. (2004). Penetrômetro portátil DPL
Dessa forma, alerta-se para a importância de NILSSON. SEFE V/BIC II, São Paulo.
estudos de correlações locais, que visem Passos, P. G. O. (2005) Melhoramento de solos arenosos
aproximar ainda mais as correlações, bem como com estacas de areia e brita. 141 f. Tese (Doutorado) -
Curso de Geotecnia, Departamento de Engenharia
possibilitar, de forma segura e econômica, suas Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília.
utilizações em projetos. Sanchez, P. F. et al. (2010). Estudo da Viabilidade do
Uso do Penetrômetro Dinâmico Leve (DPL) para
Projetos de Fundações de Linhas de Transmissão em
AGRADECIMENTOS Solos do Estado do Paraná. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E
ENGENHARIA GEOTÉCNICA, Gramado.
Agradece-se ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pela bolsa do autor3.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1986). NBR


7182: Solo - Ensaio de compactação. Rio de Janeiro:
ABNT.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2001). NBR
6484: Sondagens de simples reconhecimento com
SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR
9895: Solo - Índice de suporte Califórnia (ISC) -
Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT.
Cintra, J. C. A.; Aoki, N.; Tsuha, C.H.C.; Giacheti, H.L.
(2013). Fundações: Ensaios estáticos e dinâmicos.
São Paulo: Oficina de Textos.
Deutsches Institut Für Normung. (1991). DIN 4094:
Erkundung und Untersuchung dês Baugrunds. Berlin:
Beuth.
Deutsches Institut Für Normung. (2003). DIN 1054:
Sicherheitsnachweise im Erd- und Grundbau. Berlin:
Beuth.
Livneh, M. e Ishai, I. (1987). The relationship between
SPT and in situ CBR values for subgrades and
pavements in Arid Zones, proc. 8th Asian Conference
on Soil Mechanics and Foundation Engineering,
Kyoto.
Livneh, M. e Ishai, I. (1988). The relationship between in
situ CBR test and various penetration tests, Proc. 1st
Int. Symp. On Penetration Testing, ISOPT-1,
Orlando.
Matos, Y.M.C. (2015). Verificação da Aplicação de
Sondagens com o Penetrômetro Dinâmico Leve
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Estudo do comportamento mecânico e numérico de grupo de


microestacas autoperfurantes em solo poroso do Distrito Federal
Cristhian C. Mendoza
Universidad Nacional de Colombia Sede Manizales, Manizales, Colômbia, cmendozab@unal.edu.co

Renato Pinto da Cunha


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br

Max Barbosa
Solotrat Centro-Oeste, Brasília, Brasil, max@solotrat.com.br

RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo do comportamento mecânico de grupos de estacas e


Radier Estaqueados com microestacas autoperfurantes (Alluvial Anker ou SS Anchor) na argila
porosa do Distrito Federal (DF). Como passo inicial, estudou-se o comportamento mecânico da argila
porosa do DF por meio de ensaios triaxiais. Das situações expostas, testou-se modelos constitutivos
que levam em conta a estrutura típica do solo de Brasília e implementou-se um destes modelos num
programa de elementos finitos (FEM). Por outro lado, avaliou-se o comportamento mecânico de
grupos de estacas e radier estaqueados por meio de provas de carga estáticas no campo experimental
da empresa Solotrat em Brasília. Com os dados obtidos, realizaram-se simulações FEM para
descrever o comportamento de grupos de estacas e radier estaqueados na argila do Distrito Federal.
Adicionalmente, avaliou-se a influência da variabilidade dos parâmetros geotécnicos na capacidade
de carga. Como resultados, obtiveram-se a resistência última de grupos de estacas com e sem suporte
do radier e a contribuição de carga gerada pelo radier. Ademais, observou-se como os resultados
trocar com o efeito da variabilidade dos parâmetros geotécnicos.

PALAVRAS-CHAVE: Microestaca, prova de carga, modelos constitutivos, variabilidade geotécnica.

1 INTRODUÇÃO Do mencionado, percebe-se a necessidade de


entender o comportamento de fundações
Brasília está localizada na região central do profundas no solo de Brasília, em específico as
Brasil, em um depósito de solo tropical argiloso novas fundações usadas na cidade como por
residual altamente intemperizado. Este solo tem exemplo as microestacas autoperfurantes,
uma forte presença de alumínio e ferro por também chamadas de Alluvial Anker ou SS
processos de lixiviação nas camadas superiores, Anchor. Este tipo de solução começou
levando, como resultado, a um solo com grãos recentemente a ser muito utilizada na cidade de
do tamanho de areia, alta porosidade, elevado Brasília, por sua velocidade e economia
índice de vazios alto (da ordem até 2,0), (Barbosa, 2009), no entanto o assunto tem sido
permeabilidade também bastante alta (10-3 a 10- pouco estudado até o presente momento. Outra
4
cm/s) e uma estrutura cimentada altamente razão para o presente trabalho foi que geralmente
instável, que ao alterar o estado de tensões tem na fase de desenho dos diferentes tipos de estacas
uma forte variação de volume (colapso). Apesar usam-se metodologias ou equações obtidas para
do exposto, a maioria das estruturas geotécnicas solo que não tem as condições especiais que
construídas em Brasília estão assentes neste apresenta o solo poroso de Brasília. Ademais,
horizonte de solo, que pode se estender até 30 m esta metodologias não tem em conta a
de profundidade (Camapum, 1993). características variáveis dos solos tropicais.
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Como resultados do presente trabalho obtêm- fundação no solo poroso. A única referencia é a
se comparações numéricas e experimentais das estaca tipo Ischebeck a qual tem um processo de
provas de carga em diferentes grupos de construção semelhante e já padronizado na
microestacas autoperfurantes na argila porosa. norma DIN-14199 (2005).
Destas comparações mostram-se as percentagens
de carga das estacas em grupo e as percentagens
de contribuição do radier e das estacas em
sistemas compostos. Ademais observou-se a
influência da variabilidade dos parâmetros
geotécnicos na capacidade de carga dos
diferentes tipos de configurações de estacas
testadas. Disto foi obtido a percentagem mínima
e máxima do aporte do radier ao sistema radier
estaqueado.

2 MICROESTACAS
AUTOPERFURANTES

A microestaca autoperfurante é usualmente


composta por um tubo de aço de sete centímetros Figura 1. Fotos do processo construtivo da microestaca
de diâmetro e comprimento 50 cm superior à autoperfurante.
cota de arrasamento, sendo que esse valor
excedente serve para auxiliar nas operações de 3 ENSAIOS DE CAMPO E
injeção e para suportar o bloco. Na extremidade CARACTERISTICAS DO CAMPO
inferior do tubo é soldada uma ponteira de 13 EXPERIMENTAL
cm, correspondente ao diâmetro nominal da
estaca, com passagem para fluido (Figura 1). Para esta pesquisa foi construído um campo
Com auxílio de uma perfuratriz a estaca é experimental localizado nas instalações da
instalada no solo, sob altíssima rotação, com empresa Solotrat Engenharia Geotécnica Centro-
injeção simultânea da calda de cimento, que Oeste. O Campo Experimental está situado na
também funciona como elemento refrigerador da periferia de Brasília, Guará (pertencente ao
ferramenta de corte e de retirada do resíduo de Distrito Federal, região Centro Oeste do Brasil).
perfuração. Outra forma de executar esta etapa é O endereço do campo, de acordo com a
utilizando água como fluido refrigerante e de nomenclatura vigente no Setor, é SIA SMAS,
limpeza para depois da perfuração injetar-se a Conjunto A1, Lote 06, Guará-DF (Figura 2).
calda de cimento (Figura 1). Depois de Como característica especial do local encontra-
executadas as estacas, um bloco de concreto se a argila porosa típica do Distrito Federal.
armado é instalado em seu topo. A Figura 1
apresenta as etapas construtivas.
Como vantagens desta estaca, tem-se que a
própria haste de perfuração compõe a armação
da estaca, o qual leva a uma rápida construção
com um tempo em condições ótimas de 15
minutos (para uma estaca de 8 m de
comprimento e diâmetro de 13 cm).
Por outra parte, no momento da realização
desta pesquisa não existem pesquisas científicas Figura 2. Localização do campo experimental.
que demostrem o desempenho deste tipo de
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3.1 Ensaios de Campo • 5-8 m: Silte arenoso de cor marrom,


consistência média, aderência
Para a caracterização do solo no campo ligeiramente pegajosa e ligeiramente
experimental foram feitas seis perfurações plástica (argila porosa).
espaçadas 2,40 m, com profundidades variando • 8-9 m: Silte arenoso de cor branca e
de 8 a 15 m. A localização dos ensaios é consistência dura, não plástico e não
apresentada na Figura 3. pegajoso (camada de transição).
• 9-14 m: Argila siltosa de consistência
média, ligeiramente plástica e cor
marrom escuro (Saprolito de pizarra).
• Dos 14,5 m até o final da perfuração:
Silte arenoso de cor amarela e
consistência rija, aderência ligeiramente
pegajosa e ligeiramente plástico
(Saprolito de pizarra).

Figura 3. Localização dos grupos de estacas e sondagens


para obtenção de amostras no campo experimental.

Fez-se cinco ensaios SPT, com o ensaio SPT-


T. Dos resultados dos ensaios e por meio
correlações foram obtidos parâmetros
aproximados de densidade relativa Dr, ângulo de
atrito φ, módulo de elasticidade E, como é
apresentado na Figura 4.
Realizou-se uma perfuração até 8 metros por
meio do ensaio de dilatômetro de Marchetti
(DMT), segundo a norma ASTM (2007). A
partir do ensaio estimou-se o coeficiente de
empuxo no repouso K0, a razão de pré-
adensamento OCR, o ângulo de atrito φ, e o
módulo de elasticidade E. Algum destes
parâmetros encontram-se representados na
Figura 4. Figura 4. Comparação entre as estimativas mencionadas a
Finalmente, dos ensaios realizados obtêm-se partir dos ensaios SPT, DMT e ensaios triaxiais.
as seguintes camadas de solo:
3.2 Ensaios de Laboratório
• 0-5 m: Argila siltosa de cor vermelha
com consistência mole, aderência Para o estudo do comportamento mecânico do
pegajosa e presença de plasticidade solo do campo experimental foram coletadas
(argila porosa de Brasília). O lençol duas amostras em bloco de dimensões 30 cm x
freático está a 4,5 m de profundidade. 30 cm x 30 cm, à 3 m de profundidade,
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localizadas ao redor do campo experimental


(trincheira na Figura 3). Destas amostras são
feitos ensaios de caracterização do material
(apresentados na Tabela 1) e ensaios de
comportamento mecânico, especificamente
ensaios de cisalhamento e compressões triaxiais,
apresentados na seção 4. Dos ensaios de
comportamento mecânico, obtém-se os
parâmetros para os modelos constitutivos (a)
testados no presente trabalho.

Tabela 1. Caracterização das amostras obtidas.


Prof. w wL wP IP γ
m % % % (kN/m3) (kN/m3)
0-5 32,4 42 30 12 14,8
Prof. γs γd Areia Silte Argila
m (kN/m3) (kN/m3) % % %
0-5 26,69 11,39 16,4 11,3 72,3

3.3 Provas de carga


(b)
Para a validação do comportamento das
microestacas autoperfurantes, foram realizados
sete sistemas de fundação, estes sistemas têm Figura 5. Análise dos resultados das provas de carga: a.
estacas de 13 cm de diâmetro nominal e oito Radier Estaquado; b. grupo convencional de estacas
metros de profundidade. Para o sistema de
reação foram construídas estacas de 17 cm de 4 MODELOS CONSTITUTIVOS
diâmetro com comprimento de 12 m.
As provas realizadas nestes sistemas foram de Os primeiros modelos constitutivos usados para
acordo com a norma Brasileira ABNT-12131 solos foram abstraídos da teoria da plasticidade
(2006) (carregamento lento), com os seguintes aplicada aos metais (Helwany, 2007). O
aspetos: entre a instalação das estacas e a prova comportamento dos metais difere em grande
de carga deve ter um prazo mínimo de dez dias; medida do comportamento dos solos, o que
incrementos iguais de carga não superiores a levou a diversas hipóteses não realistas em
20% da carga de trabalho da estaca; carga projetos geotécnicos. Para simular melhor o
estabilizada por no mínimo 30 min, com leituras comportamento do solo, foram criadas extensões
de recalque a 2, 4, 8, 15 e 30 min; e repetição do dos modelos de metais e criados outros novos
processo com intervalos de 30 minutos até que modelos (elastoplástico, hipoplásticos,
as leituras de recalque ficassem estáveis, o viscohipoplásticos etc.). Alem disto nos últimos
termino do estagio foi estabelecido, quando a anos, os modelos constitutivos têm sido
diferença entre o recalque do tempo t e t/2 foi estendidos para introduzir os efeitos da estrutura
inferior a 5%; a carga total da prova foi maior a do solo e melhorar a previsão do comportamento
duas vezes a carga de trabalho de sistema. de solos naturais. Algumas das propostas são
Seguindo os itens anteriores foram realizadas Vatsala et al. (2001), Liu & Carter (2006), Masín
as provas de carga com Radier estaqueado e, (2006), Fuentes (2010) e Yan & Li (2011) entre
posteriormente, escavou-se embaixo do radier muitas outras.
para realização de uma prova de carga no grupo Neste trabalho implementou-se três modelos
de estacas, os resultados são apresentados na constitutivos mediante o uso de UMATs (sub-
Figura 5. rotina do programa Abaqus para o
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comportamento do material). Isto foi realizado do solo no estado atual pré-adensado e o índice
para observar a capacidade dos modelos para de vazios eN que correspondente ao índice de que
simular o solo estudado e obter parâmetros correspondente ao índice de vazios na mesma
aproximado do solo. tensão no caso de o solo ser normalmente
O primeiro modelo testado foi proposto por adensado (sobre a linha NCL). O outro conceito
Liu e Carter em 2003, para simular solos importante, incluído no modelo é a inclusão da
naturais. O modelo é uma alteração do Cam Clay cimentação do solo. Isto é feito por meio da
modificado (CCM) desenvolvido para solos evolução de uma nova variável ω, que se
reconstituídos. Este modelo foi modificado com assemelha a uma densidade adicional à
a introdução da estrutura (cimentação) na lei de densidade ρ. Esta variável é introduzida através
compressão isotrópica por meio da adição de da função Q(w) = bω, e apresenta uma maior
uma parte à lei de compressão do CCM. Isto foi contribuição quando a densidade ρ é menor que
realizado pela decomposição do índice de vazios zero, ou seja, a densidade assume valores
do solo natural (e) em duas partes. A primeira negativos, os quais fazem que com a linha de
parte é o índice de vazios pela estrutura (∆e) (esta compressão do material passe acima da linha de
vai evolucionando até desaparecer) e a segunda adensamento normal.
é o índice de vazios reconstituído e* do modelo Como resultado desta pesquisa foi simulado o
original. Outra mudança foi uma lei de fluxo comportamento mecânico do solo estudado. Isso
não-associada. A qual se inclui o índice de vazios foi feito através da simulação de ensaios de
pela estrutura ∆e e ωs que é um novo parâmetro laboratório elementares com diferentes modelos
do modelo. implementado. A seguir estão apresentados os
O segundo modelo foi a proposta realizada resultados das simulações feitas.
por Masîn (2006) para solos finos com uma
extensão para estrutura. A modificação realizada (a)
no modelo é feita mediante a incorporação da
degradação da estrutura através da proposta feita
por Baudet & Stallebrass (2004). A proposta
consiste na incorporação de um tamanho maior
da superfície de estado limite (SBS), pela
alteração da tensão equivalente de Hvorslev por
um escalar s. Para esta modificação adicionam-
se três novos parâmetros (s, k e A), onde s é o
fator de estrutura ou sensibilidade. O fator k é um (b)
parâmetro que controla a degradação da
estrutura. O fator A que controla a importância
das deformações de cisalhamento, com valores
entre 0 e 0,5 (Masîn, 2006).
O terceiro como é proposto por Pedroso
(2006) que uma modificação do CCM e o nome
é Subload Cam Clay (SLCC). O principal
conceito aqui introduzido é uma segunda (c)
superfície de plastificação, que leva a uma
transição do comportamento elástico a elasto-
plástico de forma gradual (subcarregamento),
como proposto por Hashiguchi 1980 pela
introdução de uma variável ρ que representa o
pré-adensamento do solo. Esta variável Figura 6. Comparação de simulações dos ensaios triaxiais
representa a diferença entre o índice de vazios e e de compressão com os modelos constitutivos
implementados.
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5 SIMULAÇÕES EM FEM Os materiais usados nos modelos foram


cinco. O primeiro foi um material elástico linear
Apresenta-se a metodologia utilizada para a utilizado para a estaca, com um módulo de
realização dos modelos de elementos finitos, elasticidade. Os outros quatro materiais são as
simulando os grupos de estacas das provas de camadas do solo dos modelos de elementos
carga realizadas no campo experimental, com e finitos, as quais são obtidas da Seções 2 e 3. A
sem suporte da radier. primeira camada é modelada com um modelo
A parametrização dos modelos foi realizada Hipoplástico com estrutura, apresentado na
em função do comprimento e do diâmetro da seção 4. As outras três camadas de solo são
estaca, colocando-se uma profundidade modeladas com o modelo Mohr Coulomb. A
adicional igual à metade do comprimento da determinação dos parâmetros foi realizada por
estaca (8 m) e uma largura do modelo igual a 30 meio de retro análises desde os valores da Figura
vezes o diâmetro da estaca (17 cm), conforme as 4. Na Figura 8 apresenta-se um exemplo das
recomendações feita por Helwany (2007). simulações realizadas para as provas de carga
Com a geometria anterior, gera-se uma malha realizadas no campo experimental.
de elementos tridimensionais, a qual em função
da parte do modelo, têm as seguintes
características: o solo seco foi simulado com
elementos C3D8; a estaca, com elementos
C3D8R; e o solo saturado, com elementos
C3D8P. A descrição, dimensões e distribuição
dos elementos encontram-se descritos na Figura
7.
Para os modelos, usaram-se cinco tipos de
condições de contorno: a primeira corresponde
ás restrições laterais do modelo, onde se
limitaram os movimentos nas direções 1, 2 e Figura 8. Comparação das simulações e as provas de carga
para o sistema de duas estacas.
permitiu-se o movimento na direção 3. A
segunda condição é a base do modelo na qual é
Com o objeto de entender o comportamento
restrito o movimento nas três direções 1, 2 e 3. A
das microestacas autoperfurantes e seu
condição 3 é de pressão de poros igual a zero, a
comportamento em radier estaqueados no solo
uma profundidade de 4,50 m, onde o solo é
do DF, usou-se o método de Monte Carlo. Este
saturado. A quarta interação é do solo seco e
método foi adotado para considerar a
saturado com uma interação de tipo tangencial.
variabilidade das propriedades geomecânicas do
Por último, colocou-se uma condição de atrito
solo e influência na capacidade de carga dos
entre o solo e a estaca, a qual depende do ângulo
radier estaqueados no DF. A metodologia para o
de atrito do solo, por meio de uma lei de atrito do
uso do método e os passos utilizados para as
tipo Mohr Coulomb.
simulações encontram-se a seguir.
O primeiro foi discretizou-se o domínio dos
modelos FEM em quatro camadas.
Posteriormente, em cada estrato foi designado
um modelo elastoplástico Mohr Coulomb e
geraram-se 5000 números aleatórios para cada
parâmetro (ângulo de atrito, coesão, módulo de
elasticidade, coeficiente de Poisson) do modelo.
Os dados necessários para gerar as distribuições
Figura 7. Condições de contorno, malha e tipo de
elementos dos modelos FEM.
são a média e o desvio padrão, os quais foram
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obtidos a partir dos resultados dos ensaios de Tabela 2. Fatores de eficiência obtidos das simulações
campo e de dados da literatura. numéricas para grupos de estacas
Sistema Carga Ge
Posteriormente, realizar 5000 rodadas dos última
η*
(%)
(-)
modelos FEM e obtêm-se as curvas carga [kN]
recalque. A partir da curva obter a carga última 1Estaca 419 - -
para cada simulação. Isto é comparado com a 2 Estacas 850 1.01 91
carga última obtida da prova de carga real. Com 3 Estacas 1100 0.88 97
isto, realizam-se os tratamentos estatísticos para 4 Estacas 1800 1.07 88
a obtenção da curva probabilidade. Na Figura 9 5 Estacas 1900 0.90 90
apresenta-se um exemplo das simulações com 6 Estacas 2520 1.00 93
parâmetros aleatórios realizadas e a comparação
com la proba de carga realizada para uma estaca Um fator de eficiência médio de 0,97, ou seja,
no campo experimental. aproximadamente um, foi obtido indicando que
com a disposição geométrica dada dos sistemas
(distância pilha a estaca), houve quase zero
efeitos prejudiciais dados pela superposição de
bulbos individuais de estresse e deslocamento.
Isso também significa que "falha do grupo de
estacas" aconteceu em vez de "falha de bloco"
(levando em conta a nomenclatura dada por
Mandolini et al., 2005), confirmando assim o
comportamento "pseudo-independente" de cada
uma das estacas do grupo. Além disso, obteve-se
uma eficiência média do grupo de 92%,
Figura 9. Comparação das curvas obtidas nas simulações e
a curva obtida na prova de carga. indicando que sob deslocamentos semelhantes,
uma estaca dentro do grupo tinha uma carga
6 RESULTADOS ligeiramente menor que a equivalente de uma
estaca única similar. Aponta para uma interação
Os principais resultados das análises numéricas pequena, mas existente, entre as estacas do
em termos de comparação direta e avaliação grupo.
individual dos distintos sistemas grupos de As porcentagens de carga de cada elemento
estacas (PG) e radier estaqueados (PR) são dados do sistema de radier estaqueado foram obtidas
a seguir. desde as simulações numéricas. Estas
porcentagens foram derivadas para a carga de
6.1 Simulações com o efeito da estrutura do trabalho (carga de ruptura/2.0), conforme
solo apresentado respectivamente na Figura 10.
O fator de eficiência (η*) foi calculado uma
relação entre a capacidade final do grupo em
relação à capacidade final de uma única pilha
similar àquelas do grupo. A eficiência do grupo
(Ge), por outro lado, foi calculada como a relação
da carga média (estaca) no grupo dividida pela
carga de uma estaca única (similar) no mesmo
deslocamento vertical do grupo. Ambas as
equações são válidas somente para os sistemas
de grupo de estacas. Assim, a Tabela 3 apresenta
Figura 10. Percentagem de cargas das estacas e do radier
apenas os resultados das simulações numéricas. nos radier estaqueados estudados.
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6.1 Simulações com o efeito da variabilidade


Como resultado obtém-se que quanto maior o dos parâmetros geotécnicos
número de estacas no sistema, menor é a quota
de carga (percentual) tomada por cada estaca Um problema apresentado nas simulações
individualmente. Além disso, em termos da realizadas com a variabilidade dos parâmetros é
carga absorvida pelo radier e pelo próprio grupo o tempo de simulação, por esta razão somente
(soma da contribuição de cada estaca), também foram realizadas estas simulações em quatro
se vê claramente que quanto maior o número de sistemas de fundação. A seguir são apresentados
estacas, maior será também a importância do os principais resultados.
radier para a capacidade total do sistema (com Os parâmetros que mais influenciam a
exceção do sistema de 6 estacas). contribuição percentual do radier no
Uma comparação direta entre os sistemas PG comportamento do sistema é o módulo de
e PR produz uma medição quantitativa do elasticidade e ângulo de atrito do primeiro
desempenho do radier para o comportamento estrato simulado. Em outras palavras, o material
geral do sistema. Assim, um resultado “prático” sob o bloco é o fator chave. Isso é observado em
obtido de análises numéricas anteriores seria o todos os sistemas simulados e é ilustrado na
valor médio da contribuição do radier para Figura 11 para um sistema de duas estacas. Sabe-
cargas finais ou de trabalho dos sistemas. Em se que materiais com um módulo de elasticidade
ambos os casos, e para todos os sistemas, uma elevado aumentam a contribuição do radier no
carga média do radier de 12% foi calculada com sistema. Esta é uma questão importante quando
tais análises. Talvez esse desempenho esteja é necessário um material de substituição sob o
relacionado às características superficiais radier. Pesquisas de Ayala (2013) e Cintra e Aoki
(pobres) da argila “porosa” de Brasília. De fato, (2009) mostram a baixa contribuição do radier
Janda et al. (2009) já observaram um em sistemas de estacas testados nos solos moles.
comportamento similar das análises numéricas Os outros parâmetros (ϕ, E, µ e c) na primeira
de sistemas de estaca e radier estaqueados com camada e nas outras camadas, não mostraram
CFA (helicoidal contínuo) fundados no campo uma tendência definida.
Experimental da UnB. Neste caso particular, o
radier tinha a capacidade de aumentar a
capacidade de carga em apenas 15% para os
sistemas simulados.
Outra forma de verificar esse desempenho é
dada pelo coeficiente de capacidade de carga que
representa a relação da capacidade de carga do
radier estaqueado e a capacidade de carga do
grupo de estacas. As informações utilizadas para
esta análise estão na Tabela 3.

Tabela 3. Coeficientes experimentais de capacidade de


carga usando dados de sistemas PG e PR
Carga última ζ PR Figura 11. Contribuição do radier sobre a variabilidade de
Sistema [kN] parâmetros para análises de um sistema de duas estacas.
(-)
PPR PPG
2 Estacas 1000 650 1.53 A contribuição máxima do radier é de 18%
3 Estacas 1200 1100 1.09 para o sistema de uma estaca, 17% para o sistema
4 Estacas 2000 1780 1.12 de duas estacas, 16% para o sistema de três
5Estacas 2190 1950 1.12 estacas e 15% para o sistema de quatro estacas.
6 Estacas 2700 2520 1.07 A contribuição mínima do radier varia de 3 a
1,5% da carga total para todos os sistemas. Isto é
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importante porque a maioria das metodologias


de cálculo para radier estaqueados apresenta um As curvas lognormal de densidade e
fator de interação entre o grupo de estacas e o histogramas da carga última são apresentados
radier (Cooke 1986; Sanctis e Mandolini 2006). Figura 14, enquanto as curvas cumulativas de
A probabilidade acumulada da contribuição do probabilidade e as cargas são dadas na Figura 14.
radier para todos os sistemas PR simulados é Pode ser visto que a probabilidade da carga
apresentada na Figura 12. última destes sistemas segue uma distribuição
lognormal baseada em um teste Kolmogorov-
Smirnov com nível de significância de 5%.
Também pode ser visto um aumento das médias
e os desvios padrão com o aumento das estacas.
No entanto, o valor do coeficiente de variação é
razoavelmente constante, permanecendo em um
intervalo que varia apenas de 12 a 14%. Uma
justificativa do aumento dos desvios padrão
como o número aumento das estacas é fornecido
pelos critérios adotados (explicação
Figura 12. Distribuições de probabilidade cumulativa dos
sistemas testados. anteriormente) para a carga final do sistema. Este
critério adota uma linha de declive que, em
Os resultados da carga última para cada essência, depende da rigidez das estacas. Como
sistema são obtidos pela norma brasileira a dispersão aumenta com o assentamento, os
ABNT-6122 (ABNT 2010), como foi aumentos da inclinação inevitavelmente levam a
apresentado na Figura 9. Este procedimento foi aumentos no desvio padrão (Figura 9).
seguido para cada sistema, subsequentemente, a
carga última (PULT) de cada simulação foi
plotada, e todos os resultados foram comparados
com a carga última (Figura 13). A carga de
trabalho pode ser definida como a carga última
obtida a partir da prova carga no campo
experimental dividido por dois. Então da Figura
13, pode-se observar que a variabilidade da carga
última (simulações) obtida com a variabilidade
dos parâmetros geotécnicos são cobertas pelo (a)
fator de segurança (2.0).

(b)

Figura 14. a. Distribuição de densidade da carga última


para todos os radier estaqueados; b. Distribuição de
Figura 13. Exemplo para uma estaca da comparação da frequência acumulada da carga última para os radier
carga última obtida das simulações e a carga última obtida estaqueados.
das provas de carga.
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5 CONCLUSÕES fundações em argila mole. Tech. rep., Solotrat


Engenharia Geotécnica Ltda., Brasilia, Brazil.
Baudet, B., & Stallebrass, S. (2004). A constitutive model
O aumento da carga última, do radier estaqueado for structured clays. Geotechnique, Vol. 54, p. 269–
com o suporte de placa, apresentou um valor 278.
médio igual a 12 %, calculado segundo a norma Camapum de Carvalho, J., Mortari, D., & Silva, J. (1993).
ABNT-6122 (2010). O cálculo foi realizado Avaliação da colapsividade de um solo poroso em
baseando-se na média das porcentagens da consequência de um aterro. 27a Reunião Anual de
Pavimentação, Vol. 1, p.165–180.
contribuição da placa, em todas as provas de Cintra, J. C. A., and Aoki, N. (2009). Projeto de fundações
carga executadas. Ademais, quando é levada em em solos colapsíveis. Serviço Gráfico da EESC-USP,
conta o efeito da variabilidade dos parâmetros São Carlos, Brasil.
geotécnicos a contribuição máxima do radier Cooke, R.W. (1986). Piled raft foundations on stiff clays—
para a carga última do sistema completo é de A contribution to design philosophy. Géotechnique,
36(2), p. 169–203.
18% e a contribuição mínima é 2%. Isso é DIN-14199 (2005). Execution of special geotechnical
importante saber porque a maioria das works - micropiles; german version, instituto alemão
metodologias de cálculo para sistemas de radier para normatização.
estaqueado tem um fator de interação Fuentes, W., Mendoza, C., & Lizcano, A. (2010).
determinístico entre o grupo de estacas e radier Evaluation of an extended viscohypoplastic model for
structured soils. XV Congresso Brasileiro de Mecânica
que não leva em conta o efeito da variabilidade dos Solos e Engenharia Geotécnica, [DC-Room].
de solo. Janda, T., Cunha, R. P., Kuklík, P., & Anjos, G. M. (2009).
Uma opção para aumentar a contribuição de Three-dimensional finite element analysis and back-
carga do radier ao sistema é reduzir a analysis of CFA standard pile groups and piled rafts
variabilidade dos parâmetros do solo em baixo founded on tropical soil. Soils and Rocks, Vol. 32(1),
p. 3–18.
do radier. Isso pode ser feito substituindo o Hashiguchi, K. (1980). Constitutive equation of
material sob o radier com solo compactado elastoplastic materials with elasto-plastic transition,
homogêneo selecionado, que deve Jour. Of Appli. Mech. ASME Col. 102(2), p. 266-272.
preferencialmente ter um alto módulo de Helwany, S. (2007). Applied soil mechanics: With
elasticidade. ABAQUS applications, 1st Ed., Wiley, Hoboken, NJ.
Mandolini, A., Russo, G., & Viggiani, C. (2005). Pile
foundations: Experimental investigations, analysis and
AGRADECIMENTOS design. XVI International Conference on Soil
Reconhece-se os apoios financeiros e técnicos da Mechanics and Geotechnical Engineering, Vol. 1, p.
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Manizales), da empresa Solotrat Engenharia Masîn, D. (2006). Hypoplastic models for fine-grained
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Geotécnica e do Conselho Nacional de University, Prague, Czech Republic.
Desenvolvimento Científico e Tecnológico Liu, M. D., & Carter, J. P. (2006). A structured cam clay
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método de ensaio, associação brasileira de normas of piled rafts on soft clay soils.” J. Geotech.
técnicas. Geoenviron, Vol. 321, p. 600–1610.
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Barbosa, M. (2009). Alluvial anker como alternativa para
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Estudo do solo-cimento com incorporação de resíduo de


construção e demolição – RCD
Jennef Carlos Tavares
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Pau dos Ferros, Brasil, jenneftavares@gmail.com
José Daniel Jales Silva
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Pau dos Ferros, Brasil, josedanieljales@gmail.com
Larissa Martins de Oliveira
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, Brasil, larissamartins@hotmail.com
Karine Bianca de Freitas
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Pau dos Ferros, Brasil, kabf_@hotmail.com
Daniel de Oliveira Santos
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Pau dos Ferros, Brasil, danielosantos31@gmail.com

RESUMO: A presente pesquisa tem como objetivo analisar o comportamento dos resíduos de
construção e demolição (RCD) na composição solo-cimento, discutindo suas propriedades e
características para ser aplicado na construção civil. Este trabalho desenvolveu-se por meio de
pesquisa bibliográfica acerca do RCD e através dos ensaios realizados em laboratório, de
granulometria, compactação e de resistência à compressão, para analisar o comportamento às
dosagens de 0%, 20% e 30% de RCD no solo-cimento. Como resutado, observou-se que sua
incorporação proporciona ao solo-cimento o aumento na resistência à compressão das amostras,
sendo que na dosagem de 30% de RCD, a resistência apresentou valor médio de 2,164 MPa,
evidenciando uma elevação em torno de 54,39% quando comparado à amostra com 0% de
incorporação. Esta resistência à compressão satisfaz a NBR 8492/2012, que exije valor mínimo de
2,0 MPa. Logo, o RCD proporciona melhor desempenho mecânico aos elementos oriundos da
composição solo-cimento.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Resistência mecânica, Impactos ambientais.

1 INTRODUÇÃO quantidade de entulhos, além de apresentar alto


percentual de consumo de recursos naturais.
O desenvolvimento e crescimento da Dessa forma, surge a necessidade da busca
construção civil nas últimas décadas estão de técnicas e materiais sustentáveis para
causando preocupação quando se trata de amenizar os impactos ambientais advindos das
impacto ambiental e possível escassez dos atividades relacionadas a esse mercado. Vários
recursos naturais. Neste setor são consumidos pesquisadores apresentam resultados favoráveis
diariamente inúmeros materiais não renováveis relacionados à reutilização destes materiais,
– areia, cal, água potável; para substituir essas onde o aproveitamento pode ser realizado em
fontes, além do entulho e rejeitos de materiais grande parte no setor da construção.
usados, buscam-se constantemente tecnologias Segundo a resolução do Conselho Nacional
em pró de reaproveitar esses materiais do Meio Ambiente – CONAMA – n°. 307, de
(MOTTA et al., 2014). 05 de julho de 2002, os Resíduos de Construção
Rosário e Torrescasana (2011) afirmam que e Demolição (RCD) são oriundos de
o reaproveitamento de resíduos e a redução no construções, reformas, reparos e demolições de
desperdício de materiais são de extrema obras de construção civil, e rejeitos provindos
importância nesse setor, pois este gera grande da preparação e da escavação de terrenos.
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Rosário e Torrescasana (2011) afirmam que 2 METODOLOGIA


alguns tipos de resíduos gerados na construção
civil, como o concreto e argamassa, quando Para a concretização deste trabalho realizou-se
triturados podem chegar a uma granulometria inicialmente uma pesquisa bibliográfica no que
semelhante a uma areia grossa. De acordo com se refere à composição solo-cimento, aos
Silva (2016), esses materiais podem ser impactos ambientais ocasionados pelo mau
adicionados na composição solo-cimento para gerenciamento do RCD e as técnicas
confecção de tijolos prensados, melhorando sustentáveis no que tange seu reuso e
significativamente algumas características reciclagem como agregado.
destes. Para a análise do comportamento da
O processo de produção de tijolo solo- composição do solo-cimento com adição de
cimento baseia-se em uma mistura de solo, RCD, foram recolhidas amostras de solo e de
cimento e água, compactada e curada à sombra, RCD, definindo as dosagens em 0%, 20% e
o que difere dos tijolos maciços que necessitam 30% de RCD em relação à massa do solo, e
ser queimados. Logo essa produção propicia fixando o teor de cimento em 8%. Essas
redução de custos, do consumo de água, da dosagens foram escolhidas partindo dos
energia, além de ser um material ecológico por resultados obtidos por Segantini e Wada (2011).
ocasionar diminuição da poluição (MOTTA et Em seu estudo, o teor de cimento foi 4%, com
al., 2014). adição de no mínimo 20% de RCD, obtendo-se
Segundo a Associação Brasileira para melhores resultados na medida em que se
Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e aumenta a quantidade de RCD na mistura, até
Demolição - ABRECON (2015), o Brasil 100% em relação à massa do solo.
produz anualmente 84 milhões de metros O fluxograma da Figura 1 ilustra de modo
cúbicos de resíduos de construção, sendo que sucinto a metodologia da pesquisa estabelecida
entre os anos 2014 e 2015 foram reciclados para a realização deste trabalho.
pelas usinas 17 milhões, o que corresponde
apenas a 20% dos resíduos gerado, o restante SOLO

seguiu para aterros sanitários ou teve outra


RCD
destinação.
Contudo, em virtude da escassez de recursos
naturais, da preocupação com a preservação do Solo-cimento
0% RCD
meio ambiente e da necessidade de destinar
corretamente os resíduos gerados na construção Solo-cimento
20% RCD
civil, justifica-se o aproveitamento do RCD na
composição solo-cimento como material Solo-cimento
30% RCD
alternativo, uma técnica sustentável e
satisfatória para obtenção dos objetivos Solo-cimento
desejados. 0% RCD

Este trabalho teve por objetivo estudar a Solo-cimento


20% RCD
influência do RCD na composição solo-cimento
para confecção de corpos-de-prova, discutindo Solo-cimento
as principais propriedades e características 30% RCD

necessárias para seu uso e aplicação na


construção civil. Figura 1. Fluxograma da metodologia da pesquisa.

Tendo em vista a realização desta análise, a


metodologia de trabalho de pesquisa consistiu-
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se de ensaios realizados em laboratório. A foi realizada a cura úmida das amostras durante
princípio os materiais constituintes da mistura, 7 dias, segundo a NBR 12024/2012.
foram preparados para os ensaios de acordo Posteriormente, realizou-se, com base na
com os parâmetros estabelecidos na NBR NBR 12025/2012, o ensaio de compressão
6457/2016. simples para corpos-de-prova cilindricos de
De acordo com a ABCP (2002) para a solo-cimento, a fim de obter a resistência
estabilização dos solos pode ser utilizado caracteristica das amostras.
qualquer tipo cimento, porém o cimento Os dados obtidos foram analisados
Portland comum (CP II) tem sido o mais conforme a NBR 8492/2012, que estabelece a
utilizado, por apresentar propriedades resistencia mínina a compressão para tijolos
satisfatórias. Sendo assim, usou-se o CP II Z- maciços de solo-cimento, para uso em alvenaria
32, por ser bastante utilizado e comercializado de vedação e de acordo com a norma do DNER-
na região em que foi realizado o estudo, sendo ME 201/94, para analisar a possibilidade de
facilmente encontrado no mercado. utilizar a mistura como base de pavimentação.
Na caracterização do solo e do RCD,
efetuou-se a análise granulométrica por 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
peneiramento, a fim de obter a distribuição
granulométrica destes, e, em seguida, apresentar 3.1 Análise Granulométrica do Solo e RCD
suas características fisicas, como o módulo de
finura, dimensão máxima característica e as Baseado nos ensaios granulométricos,
classificações do solo e do RCD, de acordo com realizados conforme a NBR NM 248/2003, com
os diâmetros dos grãos determinados. o solo utilizado na mistura para a confecção dos
Para a obtenção da umidade ótima das corpos-de-prova de solo-cimento, chegou-se aos
composições em análise, desenvolveu-se em resultados apresentados na Figura 3.
laboratório, o ensaio de compactação para solo-
cimento, em concordância com a NBR
12023/2012, de modo que, utilizou-se o cilindro
pequeno para compactação, possuindo o
diâmetro de 10 cm e através de energia de
compactação normal. A Figura 2 ilustra
exemplos dos CP’s produzidos.

Figura 3. Curva granulométrica do solo.

O agregado é classificado como miúdo


quando os grãos passam na peneira de malha
4,75 mm e ficam retidos na de 0,075 mm (NBR
7211, 2009). Através do gráfico da Figura 3 é
possível observar que 100% das amostras do
Figura 2. Corpos-de-prova produzidos. solo em estudo passam na peneira de malha
4,75 mm, logo, este se classifica como agregado
Após as determinações das umidades ótima miúdo. Para o solo em análise, o módulo de
das misturas, foram moldados 2 corpos-de- finura apresenta-se com valor de 2,67.
prova em laboratório, para as respectivas Conforme a NBR 7211/2009, o intervalo do
dosagens de RCD no solo-cimento. Em seguida, módulo de finura da zona ótima é entre os
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valores de 2,20 a 2,90, sendo assim, o solo em energia normal.


estudo apresenta-se como utilizável para a Na curva de compactação, o valor da
fabricação de concretos, indicado também para umidade ótima corresponde ao valor da massa
argamassas de revestimento, em especial, para específica aparente seca máxima, valores estes,
camadas de emboço. obtidos a partir da linha de tendência. A
A Figura 4 apresenta os resultados obtidos na aquisição da umidade ótima propicia melhores
análise granulométrica para o RCD. condições de trabalhabilidade e máxima
compactação do material, proporcionando assim
maiores valores de densidade, durabilidade e
resistência estável.
Fundamentado no ensaio de compactação
obteve-se a curva de compactação, apresentada
na Figura 5, para o solo-cimento com dosagem
de 0% de RCD. Também está ilustrado a curva
de regressão para os pontos plotados e a curva
de saturação. Percebe-se que através do
aumento da umidade na mistura, a massa
específica aparente seca se eleva até um ponto
máximo, e a começar desse ponto tende a
Figura 4. Curva granulométrica do RCD. diminuir com o acréscimo da umidade. Essa
variação da massa específica, de acordo com
Observa-se na Figura 4, que toda a amostra Sousa Pinto (2006), corresponde à eliminação
de RCD é passante na peneira de malha 4,75 de ar dos poros. Com a baixa umidade, o atrito
mm, classificando-se assim como agregado entre os graõs impede uma redução significativa
miúdo. do índice de vazios. O aumento desse teor,
Para o RCD, o módulo de finura obtido foi promove a lubrificação das partículas, além
igual a 3,69 e a dimensão máxima característica disso a perda dos benefícios da capilaridade
foi correspondente a 4,75 mm. De acordo com a passam a facilitar a saída do ar através dos
NBR 7211/2009, o intervalo do módulo de canalículos intercomunicados. A partir da
finura da zona utilizável superior é entre os umidade ótima, o ar começa a ficar ocluso em
valores de 2,90 a 3,50, sendo assim, o RCD bolhas e a água presente absorve parte dos
ficou um pouco fora desta zona. esforços, reduzindo assim a eficiência do
Portanto, após a análise granulométrica, foi processo.
possível identificar que o solo e o RCD,
apresentam diâmetros máximos característicos
iguais a 4,75 mm. E relação ao módulo de
finura, o valor obtido para o solo é inferior ao
do RCD.

3.1 Ensaio de Compactação

Com a realização do ensaio de compactação,


através das prescrições estabelecidas na NBR
12023/2012, determinou-se a relação entre o
teor de umidade e a massa específica aparente
seca, de misturas de solo-cimento sem e com Figura 5. Curva de Compactação para o solo-cimento com
incorporação de RCD, quando compactadas na 0% de RCD.
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Figura 7: Curva de Compactação para o solo-cimento


Com isso, para a dosagem de 0% de RCD a com 30% de RCD.
massa específica máxima corresponde a 1,91
g/cm³, apresentando umidade ótima igual a No gráfico de compactação obtido após o
7,2%. ensaio (Figura 7), observa-se que de acordo
Para o solo-cimento com dosagem de 20% com o aumento da umidade na mistura, a massa
de RCD, foi obtida a curva de compactação específica aparente seca se eleva até um ponto
como é ilustrado na Figura 6. máximo correspondente a 1,88 g/cm³, sendo
nesse ponto a umidade ótima, com um valor de
17,4%. A partir deste valor, o acréscimo da
umidade tende a reduzir o valor da massa
específica aparente seca.
Portanto, após a realização dos ensaios de
compactação para as três dosagens de RCD,
notou-se Que o aumento do teor de substituição
na composição solo-cimento, é inversamente
proporcional a massa específica aparente
máxima e diretamente proporcional ao teor de
umidade ótima.
Sousa Pinto (2006) afirma que se é esperado
uma redução do parâmetro de massa especifica
Figura 6. Curva de Compactação para o solo-cimento aparente seca máxima e um incremento
com 20% de RCD.
umidade ótima para materiais mais finos, estes
Verifica-se ainda que que com o aumento da necessitam de uma maior quantidade de água
umidade na mistura, a massa específica aparente para lubrificar as partículas em decorrência de
seca se eleva até um ponto máximo, sua maior superfície específicas totais. Algo
correspondente a 1,89 g/cm³, e apresenta semelhante ocorre com o resíduo em estudo,
umidade ótima igual a 9,5%. Ao iniciar desse uma vez que devido sua característica também
ponto, a massa específica aparente seca decai conduzem a uma maior umidade ótima.
com o acréscimo da umidade.
Com a dosagem de 30% de RCD na mistura 3.2 Ensaio de Compressão Simples
de solo-cimento, foi obtida a curva de
compactação, disposta na Figura 7. Com a realização do ensaio de compressão
simples de corpos-de-prova cilíndricos,
conforme o procedimento descrito na NBR
12025/2012, foi possível determinar as
resistências das amostras, após os sete dias de
cura, com as porcentagens de RCD
estabelecidas.
Desta forma, obtiveram-se os valores da
carga de ruptura dos corpos-de-prova,
específicados na Tabela 1.

Tabela 1. Tensão de ruptura dos corpos-de-prova.


CARGA DE RUPTURA (kN)
0% RCD 20% RCD 30% RCD
Amostra 1 5,52 10,85 16,15
Amostra 2 9,88 16,72 17,82
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resistência superior a 2,0 MPa, aos sete dias de


Os valores individuais de resistência à cura, a dosagem de 30% de RCD na mistura,
compressão, expressos em MPa, foram obtidos apresenta-se como uma alternativa para
dividindo-se a carga de ruptura (em kN), melhorar as condições do solo em estudo,
observada durante o ensaio, pela área da seção dando-lhe as características necessárias para
transversal dos corpos-de-prova, os quais aplicá-lo na fabricação de tijolos de solo-
tinham diâmentro de 10 cm, obtendo-se os cimento.
valores indicados na Tabela 2. Para base de pavimentação (DNER-ME
201/94), a mistura de solo-cimento deve
Tabela 2. Resistência característica à compressão das apresentar valor mínimo de resistência de 2,1
amostras. MPa aos 7 (sete) dias de cura. Logo, a mistura
RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA À
COMPRESSÃO (MPa)
de solo-cimento com dosagem de 30% de RCD,
0% RCD 20% RCD 30% RCD apresenta condições satisfatórias para ser
Amostra 1 0,716 1,382 2,057 aplicado como base de pavimentação.
Amostra 2 1,259 2,12 2,27 Outra vantagem do uso do RCD como parte
substituinte do solo, é que essa substituição
Fazendo a média aritmética das resistências configura-se numa técnica sustentável, pois nela
das amostras, obtem-se os valores médios de aproveita-se o material reciclado. Além disso, o
resistências, expressos na Tabela 3, para as reaproveitamento desse material propicia menor
diferentes dosagens de RCD. extração de solo nas jazidas, de modo que os
recursos naturais são bem preservados.
Tabela 3. Resistência média à compressão das amostras.
Resistência média à compressão (MPa)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
0% RCD 20% RCD 30% RCD
0,987 1,756 2,164
A possível escassez de recursos naturais aliado
Para o solo com 0% de RCD, obteve-se uma ao desenvolvimento e crescimento da
resistência média de 0,987 MPa, para a de 20% construção civil nas últimas décadas, traz sérias
de RCD o valor da resistência elevou-se cerca preocupações quando se trata de impactos
de 43,79% apresentando-se com 1,756 MPa. ambientais. Nesse sentido, o conhecimento de
Para a dosagem de 30% de RCD a resistência técnicas sustentáveis, como a aplicação do RCD
aumentou 54,39% em relação ao solo sem na composição solo-cimento surge como uma
incorporação de RCD, que corresponde a 2,164 alternativa para a minimização da poluição e de
MPa. despejos desses resíduos em locais
Logo, observa-se que quanto maior a inapropriados, além de propiciar menor
quantidade de RCD presente na mistura, maior extração de solo nas jazidas.
é a resposta em termos de resistência à Utilizando a NBR NM 248/2003 foram
compressão. obtidas as curvas granulométricas do solo e do
A análise dos resultados obtidos identificou RCD, verificando que estes apresentam
uma tendência ao atendimento das exigências características de um solo arenoso, ambos com
da NBR 8492/2012, para a dosagem de 30% de diâmetro máximo de 4,75 mm e módulos de
RCD. A norma afirma que a resistência à finura corresponde a 2,67 para o solo e 3,60
compressão para tijolos maciços de solo- para o RCD.
cimento não deve ser inferior a 2,0 MPa aos Comparando as curvas de compactação das
sete dias de cura para valores médios e 1,7 MPa três amostras estudadas, pode-se observar que a
para valores individuais. incorporação do RCD na composição do solo-
Sendo assim, considerando-se que para as cimento, é inversamente proporcional a massa
alvenarias de vedação são ideais tijolos com específica aparente máxima e diretamente
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proporcional ao teor de umidade ótima. compressão simples de corpos de prova cilíndricos –


Outro fator que se destaca com o aumento do Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2012.
ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland. Guia
RCD, é o aumento da resistência à compressão Básico de Utilização do Cimento Portland. 7.ed. São
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A análise dos resultados obtidos identificou Associação Brasileira Para Reciclagem De Resíduos Da
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da NBR 8492/2012, para a dosagem de 30% de Panorama Das Usinas De Reciclagem De Rcd No
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cimento não deve ser inferior a 2,0 MPa aos Conselho Nacional Do Meio Ambiente - CONAMA.
sete dias de cura para valores médios e 1,7 MPa Resolução nº. 307. Ministério do Meio Ambiente,
para valores individuais. 2002.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem -
A dosagem de 30% de RCD na mistura, DNER-ME 201: Solo-cimento – Compressão axial de
apresenta-se como uma alternativa para corpos-de-prova cilíndricos – Método de ensaio. Rio
melhorar as condições do solo em estudo, de Janeiro: IPR. 1994.
dando-lhe as características necessárias para MOTTA, J. C. S. S. et al. Tijolo De Solo-Cimento:
Análise Das Características Físicas E Viabilidade
aplicá-lo na fabricação de tijolos de solo-
Econômica De Técnicas Construtivas Sustentáveis. E-
cimento, bem como condições satisfatórias para xacta, [s.l.], v. 7, n. 1, p.13-26, 31 maio 2014. Revista
ser aplicado como base de pavimentação. Exacta.http://dx.doi.org/10.18674/exacta.v7i1.1038.
Desta forma, a incorporação de RCD Rosário, T. Do; Torrescasana, C. E. N. Tijolos De Solo-
proporciona melhor desempenho a elementos Cimento Produzidos Com Resíduos De Concreto.
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oriundos da composição solo-cimento. Além
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solo configura-se numa técnica sustentável, pois de concreto>. Acesso em: 01 jul. 2017.
sua reutilização propicia redução na extração de SEGANTINI, A. A da S.; WADA, P. H. Estudo de
solo nas jazidas, de modo que os recursos dosagem de tijolos de solo-cimento com adição de
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naturais serão menos explorados.
Scientiarum. Technology, [s.l.], v. 33, n. 2, p.179-183,
Portanto, essa temática é bastante pertinente, 20 abr. 2011. Universidade Estadual de Maringa.
visto que proporciona benefícios para a http://dx.doi.org/10.4025/actascitechnol.v33i2.9377.
sociedade. SILVA, L. A. S; LAFAYETTE, K. P. V. Avaliação das
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Janeiro: ABNT, 2012.
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Evidências do Fenômeno de quartzilização nos perfis de solos do


Distrito Federal
Silvana Costa Ferreira Senaha
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, silfrds@yahoo.com.br

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Renato Cabral Guimarães


Furnas, Goiânia, Brasil, renatocg@furnas.com.br

Sabrina Marques Rodrigues


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, sabrinamarques02@hotmail.com

Wisley Moreira Farias


Universidade Estadual de Minas Gerais, Frutal, Minas Gerais, Brasil, wisley.farias@uemg.br

Renato Batista de Oliveira


Furnas, Goiânia, Brasil, renatoba@furnas.com.br

RESUMO: Estudos envolvendo a gênese da sílica neoformada são abordados sob diferentes
aspectos, destacando-se duas grandes áreas onde seu conteúdo nos solos pode impactar diretamente:
na agricultura e na geotecnia. A gênese do quartzo nos solos é geralmente associada ao
intemperismo da rocha de origem, no entanto, este estudo visa apresentar, fundamentada em uma
revisão bibliográfica ampla, a hipótese da quartzilização pela neoformação deste a partir da
transformação de argilominerais por processos de alitização. Estas transformações de
argilominerais, partindo de argilas 2:1, em seguida argilas 1:1 até transformarem óxi-hidróxidos de
alumínio liberam o silício e originam cristais de quartzo neoformados. A análise dessa hipótese
levará em conta pesquisas realizadas em outros países, estados brasileiros e estudos recentes em
perfis de solos do Distrito Federal.

PALAVRAS-CHAVE: Sílica, Intemperismo, Solos Tropicais, Alitização.

1 INTRODUÇÃO intemperismo atuante nos solos do Distrito


Federal.
O contexto da hipótese da quartzilização nos O interesse neste estudo advém de questões
perfis de solos advém de indícios quanto aos relacionadas à agricultura, a geotecnia e
processos químicos atuantes durante os eventos também na questão ambiental, quando aborda a
intempéricos e de condições climáticas possibilidade de desertificação dos solos por
favoráveis. Estes processos representam meio da formação do quartzo em excesso.
transformações minerais em função do
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Na agricultura, o quartzo dificulta a retenção As condições de favorecimento da


de água, carece de nutrientes e favorece os quartzilização é provida pelas condições
processos erosivos. Nas plantas o silício (Si) é climáticas favorecedoras, representadas por
absorvido na forma do ácido monossilício períodos de seca e chuva e da ocorrência de
oriundo da decomposição de resíduos vegetais, perfis de solos bem drenados (alta precipitação
da liberação de silício na formação dos óxidos e pluviométrica e boa drenagem). A teoria é
hidróxidos de ferro e alumínio, da dissolução de reforçada pela análise de resultados de trabalhos
minerais cristalinos e amorfos, da adição de que relacionam e identificam assembléias
fertilizantes silicatados e da água de irrigação. minerais que evidenciam o intemperismo
Dessa forma, contribui para disponibilidade de químico acentuado dos solos, representado
Cálcio e Magnésio por competição com os pelos processos de alitização e portanto, na
demais íons na solução do solo. Assim, o Si ocorrência de liberação do Si e de neoformações
quando não cristalizado atua diretamente nos minerais.
processos bioquímicos das plantas produzindo
benefícios ou malefícios à sua formação.
Já no âmbito geotécnico, a quartzilização dos 2 SOLOS DO DISTRITO FEDERAL
solos gera alterações no comportamento
hidromecânico dos maciços, pois o silício 2.1 Perfis de Intemperismo nos Solos
liberado na cadeia evolutiva na condição amorfa Tropicais do Distrito Federal
pode ser lixiviado ou atuar como agente
cimentante conferindo redução/eliminação da A descrição dos perfis de intemperismo do
colapsividade de solos específicos como os Distrito Federal é apresentada no trabalho de
loess; na condição cristalizada ocorre uma Cardoso (2002) o qual resultou em uma
melhoria nas condições de drenabilidade, proposta de descrição para solos tropicais que
reduzindo a retenção de água e diminuindo, inclui a presença de horizonte ferruginoso (solo
dessa forma, a disponibilidade hídrica e laterítico). Tais observações estão embasadas
aumentando o ângulo de atrito do solo como em adaptações de outros trabalhos como o de
por exemplo nos neossolos quartzarênicos. Pastore (1995), o do Sistema Brasileiro de
A desertificação é entendida como um Solos (Embrapa, 1999) e o de Martins (2000). A
processo conjunto entre as condições do solo e partir dessas associações e das observações de
do clima e sua interação com as atividades perfis de solos do cerrado, Cardoso (2002)
antrópicas. Assim muitos autores apresentam estabeleceu uma proposta coerente para
este tema como um processo de savanização, descrever os perfis de intemperismo na região
onde ocorre a substituição de florestas tropicais com uma abordagem voltada à geologia de
e subtropicais por savanas. Uma possível engenharia e à geotecnia.
ocorrência desse processo poderia estar ligada a A classificação é agrupada em sete (7)
transformação de argilominerais em sílica horizontes pedológicos os quais contemplam
neoformada que, juntamente com minerais de doze (12) subhorizontes que compreendem as
quartzo advindos da decomposição dos minerais características mineralógicas, químicas e
primários, viriam a constituir solos mais geotécnicas dos perfis de intemperismo. A
arenosos. Com um possível agravamento das primeira subdivisão corresponde aos
condições climáticas, aumentando-se os subhorizontes O, A e B, baseadas na
períodos de seca, poderia haver uma condição Classificação Morfo-Genética de Dokuchaev
favorável ao processo de desertificação natural (1883) apud Cardoso (2002) e na classificação
e/ou climática. de Martins (2000) correspondendo à categoria
de “Solum”. Logo abaixo são descritas
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subcategorias que correspondem ao horizonte oriundos da decomposição da rocha in situ.


ferruginoso: cascalho laterítico, couraça Cabe aqui um parêntese, pois segundo a
ferruginosa, carapaça e zona mosqueada. Para a hipótese apresentada e aqui discutida, em lugar
geotecnia, a subdivisão do horizonte do silício ser lixiviado como normalmente é
ferruginoso possui grande importância: ela preconizado, ele entraria em processo de
representa uma diversidade de comportamentos cristalização do quartzo.
mecânicos, diferenças estruturais e de teores de
óxi-hidróxidos de ferro e alumínio. Abaixo
dessa sequência de sub-horizontes apresentam- 3 PROCESSOS ATUANTES
se aqueles que possuem características da rocha
de origem e suas diferenças quanto ao 3.1 Processos químicos
comportamento mecânico (diferenciações de
saprólitos à rocha alterada e rocha sã Os solos tropicais sofrem degradação química
propriamente dita). acelerada devido às altas temperaturas e a
umidade. Estas variações promovem mudanças
2.2 Solos Tropicais na dinâmica superficial, do ponto de vista
químico, provocando alterações nos solos
Os solos tropicais, segundo Camapum de provenientes de reações de oxidação-redução,
Carvalho et al. (2012) ocorrem em regiões hidratação-desidratação, dissolução-
tropicais e são expostos a períodos de secas e precipitação, carbonatação-descarbonatação,
chuvas e, a significativas variações de hidrólise e queluviação.
temperatura. São divididos em solos lateríticos Dentre os tipos de alteração citados, o mais
e saprolíticos com uma zona de transição entre comum é a hidrólise ocorrendo em zonas
eles e apresentam características físico-químicas climáticas intertropicais e subtropicais. A
inerentes a seus processos de formação, hidrólise é subdividida em hidrólise total e
geralmente conferindo ao solo porosidade que hidrólise parcial:
varia com o grau de intemperização sofrido. Hidrólise total – caracterizada pelo processo
Outra particularidade importante diz respeito à de alitização. Toda a sílica e as bases são
distribuição dos poros sendo que nos solos mais eliminadas, e o que não é eliminado, ou seja,
intemperizados geralmente se tem uma Al(OH)3 se acumula geralmente na forma de
distribuição de poros bimodal que se gibbsita;
concentram em microporos no interior dos Hidrólise parcial – caracterizada pelo
agregados e macroporos entre eles. Já nos solos processo de sialitização é subdividida em
menos intemperizados os poros tendem a monossilitização e Bissialitização.
presentarem ditribuição uniforme ou bem
graduada integrando o solo como um todo. 3.2 Índices Intempéricos Ki e Kr
Estes são subdivididos em solos lateríticos,
solos altamente intemperizados, e solos Os índices intempéricos Ki e Kr, segundo
saprolíticos, solos pouco intemperizados. Os FARIAS (2012), são utilizados para classificar
primeiros são formados por processos os solos quanto a evolução do intemperismo
pedogenéticos geralmente em faixas de pH segundo suas razões moleculares de óxidos de
entre 4,5 a 7,0 sendo marcados por uma forte Si, Fe e Al:
lixiviação de bases, precipitados alumínio e
ferro férrico na forma de oxi-hodróxidos e Si na (1)
forma Si(OH)4 que enriquecem os horizontes de
solos inferiores. Os solos saprolíticos são
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 Transformação –transformação de
(2) filossilicatos – mudança de uma fase
cristalina para outra (ambas sólidas) –
Segundo Moniz (1972) estes índices ex.: ilita se transformando em biotita;
fornecem parâmetros para classificação dos  Neoformação – reações em fase líquida
solos em lateríticos ou não e como parâmetro de – soluções iônicas, co-precipitações ou
avaliação do grau de intemperismo dos solos: precipitações de geles (Fieldes &
Kr ≤ 1,33 para Laterita; 1,33 ≤ Kr ≤ 2,00; Kr ≥ Swindale, 1954, apud Millot, 1964).
2,00 para Solos não Lateríticos; Solos
Sialíticos: Ki ≥ 2,20 e Kr ≥ 0,75; Solos
Fersialíticos: Ki ≥ 2,20 e Kr ≤ 0,75; Solos 5 CONTEXTO DA QUARTZILIZAÇÃO
Alíticos: Ki ≤ 2,2 e Kr ≥ 0,75; Solos
5.1 Hipótese da Quartzilização
Ferralíticos: Ki ≤ 2,20 e Kr ≤ 0,75.
Além disso, esses índices podem fornecer A hipótese da quartzilização por neoformação
indícios para definir solos cauliníticos, oxídicos pode ser explicada a partir da transformação de
e gibbsíticos: Cauliníticos: Ki e Kr > 0,75; argilominerais em processo de alitização. Estas
Cauliníticos-oxídicos: Ki > 0,75 e Kr ≥ 0,75; transformações partem de argilominerais do
Oxídicos: Ki ≤ 0,75; Gibbsíticos: Ki ≤ 0,75 e Kr tipo 2:1 (por exemplo grupo das esmectitas e
≤ 0,75. das ilitas) para argilominerais do tipo 1:1 (grupo
da caulinita) até se transformarem em óxi-
3.3 Estabilidade Geoquímica dos Silicatos hidróxidos de alumínio e ferro e minerais
paracristalinos, liberando o silício para dar
A estabilidade geoquímica dos silicatos, no origem aos cristais de quartzo neoformados.
caso, dos minerais de argila está Esta verificação estabelecida principalmente
intrinsecamente relacionada com o por Millot (1961, 1964), evidenciou a gênese da
intemperismo. O processo se inicia com a quartzilização, em função de processos de
substituição do silício da estrutura do quartzilização/silicificação a partir de estudos
argilomineral pelo alumínio, resultando em uma de ocorrências observadas principalmente na
perda de resistência em função da meteorização, África. Como se tratam de reações químicas
gerando neoformações. Assim como descrito entre os minerais e a solução, o pH terá grande
por Macedo (1961), a estabilidade dos silicatos importância nesses processos – este influência
é maior para as estruturas mais complexas: na concentração de sílica amorfa e quartzo na
Tetraedros independentes cadeias simples solução. Assim a solubilidade da sílica em água
cadeias duplas Folhas. estabelece um importante papel no processo de
neoformação: ela irá controlar a solubilidade a
partir de leis de polimerização e
4 MECANISMO DE FORMAÇÃO DAS despolimerização.
ARGILAS O crescimento cristalino pode estar
associado à fenômenos relacionados à
O mecanismo de formação das argilas, óxidos e solubilidade de sílica e presença de quartzo na
hidróxidos de ferro e alumínio ocorre em solução e o crescimento de cristais de
função de três processos: variedades de quartzo (calcedônia e opala).
Diversos autores como Washburn e Navias
 Herança – argilas de origem detrítica, (1922, 1924), Sosman (1927), Correns e
provenientes da rocha de origem; Nagelschimdt (1933), Midgley (1951) e Folk e
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Weaver (1952), apud Millot (1961) estudaram transformação dos minerais neoformados e a
as ocorrências de opala e calcedônia, quartzilização se dará, portanto, segundo a
descrevendo-os respectivamente como sílica e transformação evolutiva a seguir:
água, em arranjo desordenado e como fibras Argilominerais 2:1 (Grupos das
alternadas de quartzo e camadas finas de opala. Montmorilonitas e Ilitas) Argilominerais 1:1
(Caulinita) Gibbsita+ Hematita + Goethita +
5.2 Crescimento Cristalino Quartzo Neoformado (Quartzilização) + Geles
amorfos de sílica, alumínio e ferro. Esta
Assim, para a gênese da sílica neoformada, sequência também sugere o aumento do grau de
pode-se citar três hipóteses de crescimento intemperismo.
cristalino:

 Quartzilização – fenômeno observado na 6 EVIDÊNCIAS EM OUTRAS REGIÕES


Sahara superior - ocorrências de
soluções subsaturadas em sílica amorfa Uma das evidências do processo de
e supersaturadas em quartzo, iniciando- quartzilização em solos de outras origens e
se o crescimento por meio de “gérmens regiões é abordado por Elsass, F. et al. (2000),
de cristalização” – o processo pode que analisa horizontes plínticos oriundos de
acarretar na formação de quartzito solos vulcânicos do México. Estes solos são
sedimentar em longo prazo. encontrados em Sumidero, nas proximidades de
 Silicificação em calcedônia – este Xalapa, estado de Veracruz, e são compostos
conceito parte da ocorrência de soluções por solos vulcânicos endurecidos. Estes,
com conteúdo moderado de sílica (40, interpretados como solos tropicais de uma
60 e 80 ppm a 25ºC) (Bonifas, 1958; região com precipitações anuais em torno de
Dapples, 1959 – apud Millot (1964)); 1400 mm. São solos intensamente dissecados e
além disso, estas possuem íons externos. intemperizados que apresentam um horizonte
Dessa forma, o quartzo se encontrará plintico em profundidades bastante superficiais
disposto em longos espirais que contém (entre 2m e 4m).
zonas desordenadas onde a água e os As evidências observadas pelo autor são
íons externos entrarão na rede cristalina, oriundas de microscopia analitica e eletrônica
gerando uma variedade de calcedônias. que mostram as transformações entre os
 Silicificação em opala (sílica amorfa minerais de argila (haloisita e caulinita), opala e
hidratada) - formação da opala por meio cristobalita na porção argilácea do horizonte
da geração de rede de cristobalita de plíntico.
baixa temperatura, imperfeita, onde O autor aponta a existência de dois processos
atuam íons externos e água; pode ocorrer de transformação de minerais de sílica, oriundos
o aparecimento de opalas por meio da da transição entre argilas constituintes da
silicificação de argilas – camadas plintita em opala e, a transição de opala em
silicosas de folhas de argila organizando cristobalita. A sílica seria lixiviada a mais
estas ocorrências minerais. baixas velocidade e o aumento de sua
Para as hipóteses acima salienta-se a concentração em solução do solo em função da
presença de um sistema de águas puras e desaceleração da drenagem, seria compatível
silicosas nas quais, caso estas encontrem-se já com a precipitação de opala resultando em um
mineralizadas, o crescimento cristalino tornar- processo de silicificação a condições de pH
se-á dificultado. Assim, a evolução da levemente ácido.
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Na transição argila-opala, as altas razões quartzarênicos e espodossolos em perfis de


Si/Al indicariam uma evolução para a fase solo.
sílica. Tal transição é observada em função de Verificou-se que as ocorrências desses solos
ocorrências de pellets de sílica envoltos em arenosos advinham de duas origens: sedimentos
camadas de argila (padrão difratométrico da borda de vales e da transformação de solos
aproximado de 50nm – Opala-C). Partículas mais argilosos com progressiva perda de argila
compostas por opalas apresentaram em suas por elevada saturação hídrica. Foram realizados
bordas, estruturas bandadas típicas de argilas. ensaios de granulometria que evidenciaram a
Análises de microdifração nestas bordas ocorrência de uma diferença granulométrica no
indicaram halos de difusão que indicaria um sentido vertical: Latossolo → Saprólito –
distúrbio estrutural total do mineral de sílica. ocorrendo uma perda de argila de forma
A transição opala-cristobalita compreende acentuada em direção à planície adjacente à
uma transição contínua entre sílica amorfa colina. Na planície e colinas a granulometria da
(opala-A) e a sílica cristalizada; O aspecto areia é mais fina em superfície e vai
dessas partículas se assemelha a de uma aumentando em profundidade – aumento do
composição de várias lamelas estreitas e diâmetro médio – evidencia a ocorrência de
empilhadas, com formas pseudo-hexagonais intemperismo químico na fragmentação do
com dimensões entre 200 a 300nm. Tal quartzo em direção ao topo do perfil
transformação ocorre em função da alteração de evidenciando um topo mais intemperizado.
minerais de haloisita e caulinita não poderem se O pH dos solos observados correspondem às
transformar diretamente em cristobalita, faixas 4,4 a 5,2 para a colina e 3,7 a 4,9 para a
constituindo-se assim uma fase necessária planície hidromórfica, evidenciando a formação
durante este processo desses solos em pH ácido a levemente ácido. A
Foram observados, frequentemente neste mineralogia desses solos mostra que a maioria
estudo, pellets de opala-C na matriz argilosa, das amostras apresenta a gibbsita como mineral
que suportaria a hipótese de um processo de preponderante, seguida de caulinita
silicificação em andamento. Já a cristobalita de principalmente no perfil P1, aspecto esse
origem secundária apontaria para uma também observado por Rodrigues (2017) para
cristalização avançada da fase opala. Estes um perfil de solo do Distrito Federal (Figura 2).
pellets de opala-C com formas pseudo- Valores baixos de Ki compreendem uma
hexagonais sugerem uma pseudomorfose de perda intensa de silício, indicando um processo
minerais de argila 1:1, sendo compreendida de hidrólise total/alitização. Nos perfis
como uma morfologia comum entre estes. analisados por Mafra et al. (2002) observou-se,
Observou-se que na zona de transição entre na colina, que ocorrem variações laterais nos
argila, opala e cristobalita, as relações Si/Al são solos devido ao hidromorfismo, evidenciado
sempre maiores que 1 – estes aumentam de pela mudança na cor do saprólito (vermelho
forma progressiva em direção aos valores de Si para amarelado e depois acinzentado) na borda
puro nas fases de sílica. Já o desenvolvimento da mesma – tal mudança ocorre pela dissolução
destas fases sugerem uma perda progressiva de de óxidos de Fe – a hematita é
Al nas estruturas dos argilominerais. preferencialmente atacada em relação à goethita
No Brasil, o estudo de Mafra et al. (2002), (Jeanroy et al., 1994, apud Mafra, 2002).
analisando os solos da região do alto rio Negro, Um fato que evidenciaria a transformação
na Amazônia brasileira observou evidências de dos latossolos nas areias da planície
solos arenosos hidromórficos, neossolos hidromórfica são os contornos que se encontram
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fortemente recortados na região de contato entre sua elevada resistência as intempéries, no


a colina-planície isolados pelo material arenoso. entanto, uma análise em função de resultados de
Outro fato que evidencia esta transformação difratometria de raios-x apontam para uma
se refere ao abandono da ideia de que todo o liberação de sílica em função do intemperismo
espodossolo teria se formado a partir da erosão da caulinita sendo transformada em gibbsita. De
do vale – observou-se uma possível superfície acordo com a Figura 1 pode-se observar um
erosional constantemente protegida da erosão comportamento semelhante entre os teores de
superficial por meio do crescimento de plantas e gibbsita e quartzo em profundidade; mesmo ao
serrapilheira que protegem a mesma da erosão. se retirar os teores de quartzo das profundidades
Feições de erosão hídrica não foram onde a gibbsita inexiste (quartzo tanto de
encontradas assim como sinais macro e origem residual ou da transformação de
micromorfológicos que indicassem o transporte argilominerais) esta relação apresenta-se de
ou a deposição de argilas. Os processos de forma coerente, corroborando a possibilidade de
ferrólise e acidólise seriam responsáveis pela quartzilização nos perfis de solos mais
transição entre latossolo para neossolo superficiais.
quartzarênico. Portanto, o processo
preponderante na transformação do latossolo
parte da erosão geoquímica ou dissolução de
argilas presentes nesses solos, favorecendo uma
desestabilização estrutural em função da perda
de óxidos de ferro – evidenciados pela
formação de depressões fechadas, com
diferenciações pedológicas verticais e laterais.
As argilas encontram-se empobrecidas
lateralmente em direção à porção inferior das
vertentes devido aos processos de acidólise.
Figura 1. Relação entre o percentual de minerais de
quartzo e gibbsita. Fonte: Rodrigues (2017).
7 QUARTZILIZAÇÃO NOS SOLOS DO
DISTRITO FEDERAL A Figura 2 demonstra, além da diminuíção
da ação do intemperismo de acordo com a
A evidência do processo de quartzilização nos profundidade em direção ao saprólito, uma boa
solos do Distrito Federal advém da relação quanto ao comportamento dos minerais
favorabilidade desses processos em função dos de quartzo e gibbsita, indicando sua associação
aspectos climáticos e geomorfógicos. A região e aumentando a possibilidade da ocorrência de
possui períodos cíclicos entre secas e chuvas, quartzilização nos solos analisados.
além de apresentar vastas áreas de regiões de
platôs que permitem uma boa drenagem desses
solos. Além desses aspectos verificou-se que,
segundo Cardoso (2002) o processo de
alitização predomina nos solos da região.
O trabalho de Rodrigues (2017), que
analisou um perfil de solo do Distrito Federal,
evidenciou que a presença de quartzo primário é
frequente nos perfis de intemperismo devido a
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Federal de Goiás) e a UEMG (Universidade


Estadual de Minas Gerais) pela colaboração.

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escavadas. Brasília: UnB. 183 fl. Dissertação
Os autores agradecem o suporte financeiro (Mestrado em Geotecnia), Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia da Universidade de
fornecido pelo CNPq (Conselho Nacional de Brasília, Brasília, DF. G.DM – 090A/0.
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) ao LUSTOSA, J. P. G. (2004). Caracterização morfológica,
laboratório de Furnas, à UFG (Universidade micromorfológica e mineralógica de três
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Impact of the soil saturation on the determination of the hydraulic


conductivity by means of infiltration in rectangular ditches: a
numerical study
Vanessa A. Godoy
Hidroestatística, Geotecnia & Gestão, Brazil, godoyalmeida@gmail.com

Gian Franco Napa-García


Instituto Tecnológico Vale, Ouro Preto, Brazil, gian.garcia@itv.org

ABSTRACT: Infiltration in rectangular ditches is a simple, fast and cheap method to estimate
hydraulic conductivity in large scale, reducing problems related to the scale effect on it. However,
the necessity to the soil saturation before the test increasing its time and cost. The aim of this paper
is to investigate numerically the influence of the previous saturation in the hydraulic conductivity
values. A numerical study is performed using FEFLOW by simulating the infiltration in a rectangular
ditch based on the modified inversed auger-hole infiltration method (Porchet’s method), for different
degrees of saturation previously the test. Results show that the use of the typical formulation in
unsaturated initial condition yields in erroneous hydraulic conductivity values. However, accurate
hydraulic conductivity values are obtained if the infiltration rates are used instead of the water levels.
The absence of the previous saturation can make the test easier and cheaper and stimulate its use.

KEYWORDS: Scale Effect, Field Test, FEFLOW, Infiltration Rate

1 INTRODUCTION discrepancies between measurement and


numerical scales. Infiltration in rectangular
The determination of the hydraulic conductivity ditches is a simple and cheap method to
(K) is a common task in the geotechnical determine K in large scale and although its
engineering daily practice. However, it is well simplicity it is rarely used. According to our field
known that there is a discrepancy between field experience, one of the main difficulties in
scale (centimeter and meter) and numerical scale conduct this test lies in the necessity of the soil
(meter or kilometer), where commonly the saturation before the test, increasing its time and
values obtained at the field are used to conduct cost.
predictions (Sánchez-Vila et al., 1996). That This study was performed with the purpose of
discrepancy is relevant since due to the evaluating numerically the impact of the
heterogeneity K tends to increase with support previous saturation of the soil on the values of
(sample volume), that is, there is a scale effect on the K determined by means of infiltration in
K (Deng et al., 2013; Gómez-Hernández, Fu, & rectangular ditches. Synthetic problems of
Fernandez-Garcia, 2006; Yang, Liu, & Tang, infiltration in rectangular ditches were
2017; Zhou, Gómez-Hernández, Hendricks numerically solved using FEFLOW 7.1 by
Franssen, & Li, 2011). simulating the modified inversed auger-hole
The scale effect can be considered by means infiltration method (Porchet’s method), for
of the use of some upscaling method or by different degrees of saturation of the soil before
determining K in scales similar to the scales of the test, and the K values obtained for these
the numerical model discretization(Godoy et al., saturation conditions as well as the infiltration
2018). rate were compared.
Large field experiments can be used to reduce
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2 INFILTRATION IN DITCHES where yj is the water level at time tj and ym is the


water level at time tm.
2.1 Mathematical Formulation If we consider B = ab/2(a+b), then

Inversed auger-hole method (Porchet’s method) ym +B


proposed by Stibinger (2014) was used to K tm -tj = - Bln , (6)
conduct simulations of the infiltration in j +B
rectangular ditches. According to this method,
for the soil initially saturated before the test, we the expression of the evolution of water level
used rectangular infiltration ditch with width a with time is
[L] and length b [L]. The total infiltration flow
[L3T- 1] can be measured by the variation in time
y0 B
of the volume of water in the ditch. If the water y * ‐B, 
Kt * (7) 
level is y, the volume of water in the ditch is exp
given by B

V = a b y , (1) where y* and y0 are the water level at time t* and


t0 = 0, respectively.
K can be deduced from the fitting of Eq. (7)
and, the infiltration flow is
to the observed variation of the water level in
time.
dy
Q=(ab) . (2) Figure 1 illustrates the mathematical
dt representation of the infiltration in rectangular
ditches for the condition where the soil is
The total area through which flow occurs is
completely saturated before the test.
the sum of the bottom area (ab) plus the area on
the sides (2ah+2bh). Darcy’s law states that total
flow is Q=- K i A, where i is the hydraulic
gradient (equal to one in our case), and A is the
flowing area, therefore, total infiltration (TI) is

TI= - ab+2 a+b y K,  (3) 

where the negative sign indicates that the z-axis


is positive upwards, but water flow is
downwards. From the combination of the Eq. (2)
and (3)

dy
(ab) =- ab+2 a+b y K,  (4)
dt
Figure 1. Mathematical representation of the infiltration
    in rectangular ditches (Stibinger, 2014).
which, after integration, yields

ab 2.1.1 Infiltration rate


ab ym +
2(a+b)
K tm -tj = - ln ,  (5)
2 a+b ab Recalling Eq. (7), the infiltrated water level
yj +
2(a+b) corresponds to the complement of the water level
at the ditch B-y*. The infiltration rate can be
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estimated as the derivative of the infiltrated Homogeneous volumetric water content was
water level in time yielding considered as initial condition of the soil varying
from 0.1 to 0.9 at constant 0.1 steps for each
dy ∗ y B K simulation. The initially saturated case was
.  (8)  modeled using the analytic closed-form
dt K t ∗
B exp equations of infiltration presented above.
B

It worth noting that this infiltration rate


corresponds to the assumption of the initially
saturated medium.

3 NUMERICAL EXPERIMENTATION

3.1 Finite Element Model

A two-dimensional finite element model was


implemented using pre-conditioned conjugate-
gradient method via FEFLOW 7.1 to represent
the infiltration phenomenon in a rectangular
ditch. The model corresponds to a vertical
transversal section of a very long ditch ( ≫ ).
The model consisted of a 3 x 3 m square domain Figure 2. FEFLOW model of infiltration in a ditch for the
representing symmetry condition at the left side initial soil saturation equal to 0.3.
of the model. The ditch dimensions were 0.5 m
depth and 1.0 m width (0.5 m in the model due The location of the water level was
to symmetry). Regular 0.1 m square elements interpolated from the pressure history of the
were used to discretize the domain. Figure 2 control nodes located at the ditch vertical axis.
shows the FEFLOW model of infiltration in a The main idea of performing this type of
ditch for the initial soil saturation equal to 0.3. simulations is to produce synthetic records
Given that the purpose of this model is to which will be analyzed as if they were
simulate to process of infiltration, reference “experimental” results and try to estimate the
values were taken from literature. The saturated saturated hydraulic conductivity of the soil.
hydraulic conductivity of soil was considered
1 m/d and water retention curve WRC and
unsaturated hydraulic conductivity were 4 RESULTS AND DISCUSSION
modeled using the van Genuchten equation (van
Genuchten, 1980) with a residual saturation of Simulations were successful to represent the
0.0025, exponent n = 1.964 and α = 4.1 m−1 infiltration phenomenon catching naturally some
(Doetsch, Linde, & Binley, 2010). important characteristics also observed in field
The complex variable infiltration boundary test. For example, the evolution of the wetting
condition was simulated by considering that the front seems to be delayed by the “difficulty” of
ditch section was filled with a saturated large- wetting the unsaturated soil. Figure 3 and Figure
porosity medium with a constant total-head 4 present the pore pressures of a numerical
initial condition. A relatively large constant model for unsaturated initial condition
hydraulic conductivity of 50 m/d and a sharp (initial saturation = 0.1 and 0.5, respectively) and
WRC (at zero pressure) with fit parameters it shows a lateral dispersion of the flow due to
7.0 m-1 and 4.0 were considered. the cited apparent difficulty in advancing. It was
observed that when the initial water content was
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smaller the wetting front lasted more to evolve. hydraulic conductivity but the results were not
This implies in larger pressure gradients and satisfactory because the goodness of fitting was
hence larger infiltration rates. poor. This low quality of fitting is originated
because the synthetic data is not well reproduced
by the analytic model due to conceptual
differences.

0.1 0.2 0.3


0.4 0.5 0.6
0.7 0.8 0.9
Saturated
0.6

water level at ditch, y [m]


0.5
0.4
0.3
0.2
Figure 3. Wetting front example from a numerical
simulation with initial saturation = 0.1. 0.1
0
0
0.04 0.06 0.08 0.1 0.02
time, t [days]
Figure 5. Temporal records of the water level at dich for
all the initial water contents.

Another feature observed in Figure 5 is that


despite water levels were different, the
infiltration rates of the unsaturated curves,
mainly for larger times, tend to resemble that of
the analytic solution. This characteristic might
be originated by the increase of distance of the
wetting front from the bottom of the ditch
decreasing the pressure gradient and hence the
infiltration rate. Thus, the natural next step was
Figure 4. Wetting front example from a numerical to analyze the infiltration rates. The infiltration
simulation with initial saturation = 0.5.
rates were estimated using central finite
Figure 5 presents the evolution of the water level differences of the water level records for the
at the ditch for the different initial water unsaturated cases and using the equation of the
contents. It can be observed from the curves that infiltration rate estimated above.
they decrease faster when the initial water Figure 6 presents the infiltration rates
content is smaller. This is an effect of the higher estimated from numerical models and analytic
infiltration rates of the drier soils. However, the formulation. It can be observed that all curves
levels recorded are far from those of the analytic tend to stabilize for large times next to the end of
solution corresponding to the initial saturated the infiltration process. This tendency to stability
soil. The unsaturated curves tend to the analytic was used to try to estimate the saturated
solution when the initial water contents increase. hydraulic conductivity by fitting the analytic
Model fitting was performed to “estimate” the model (Eq. 8) to the experimental results such as
done in practice. Two analytic bounds (upper
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and lower) were plotted to see the variability in condition affects greatly the water level record
the conductivity hydraulic estimation. It can be and hence the estimation of K, when following
observed that all the experimental rates lie the the typical formulation, yields erroneous values.
interval corresponding to the hydraulic However, the same experimental data can be
conductivities ranging from 1 to 1.5 m/d. The used to estimate accurate values of K if the
bounds plotted in Figure 5 correspond to 1 and infiltration rates are used instead of the water
1.5 m/d for the lower and upper bound levels, such as shown in this paper. These results
respectively. This interval can be considered are very encouraging since the absence of the
small especially when speaking of hydraulic previous saturation can make the test easier and
conductivities where variations of one or two cheaper and stimulate its use. As a future work,
orders of magnitude are usual. we propose the verification of the results in a real
problem in the field.
8
0.1 0.2
7 0.3 0.4 REFERENCES
Infiltration rate [m/day]

0.5 0.6
6
0.7 0.8
5 0.9 K lower Deng, H., Dai, Z., Wolfsberg, A. V., Ye, M., Stauffer, P.
K upper H., Lu, Z., & Kwicklis, E. (2013). Upscaling
4 retardation factor in hierarchical porous media with
3 multimodal reactive mineral facies. Chemosphere,
n91Vol.3, p. 248–257.
2 Doetsch, J., Linde, N., & Binley, A. (2010). Structural
1 joint inversion of time-lapse crosshole ERT and GPR
traveltime data. Geophysical Research Letters, n.37
0 Vol. 24.
0.04 0
0.060.02 0.08 0.1 Godoy, V. A., Valentin Zuquette, L., & Gómez-
time, t [days] Hernández, J. J. (2018). Stochastic analysis of three-
Figure 6. Infiltration rate with time for all initial water dimensional hydraulic conductivity upscaling in a
contents and estimated bounds. heterogeneous tropical soil. Computers and
Geotechnics, n. 100, p. 174–187.
These results suggest that the infiltration in https://doi.org/10.1016/j.compgeo.2018.03.004
Gómez-Hernández, J. J., Fu, J., & Fernandez-Garcia, D.
rectangular ditches can be used to estimate the (2006). Upscaling retardation factors in 2-D porous
saturated hydraulic conductivity even when the media. In M. F. P. Bierkens, J. C. Gehrels, & K. Kovar
previous initial saturation is not guaranteed. In (Eds.), Calibration and reliability in groundwater
this case, the analysis method has to be focused modelling: from uncertainty to decision making :
on the fitting the last portion of the infiltration proceedings of the ModelCARE 2005 conference held
in The Hague, the Netherlands, 6-9 June, 2005 (pp.
rate plot instead of the fitting of the available 130–136). IAHS Publication.
water level at the ditch as usually practiced. Sánchez-Vila, X., Carrera, J., & Girardi, J. P. (1996). Scale
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Vol. (1–2), p.1–22. https://doi.org/10.1016/S0022-
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The infiltration test in rectangular ditches is a Applications of Selected Basic Methods. (M. Neruda,
simple, fast and accurate method to estimate the Ed.). Jan Evangelista Purkyně University Faculty of
saturated hydraulic conductivity in the field. The the Environment.
formal method presented by Stibinger (2014) van Genuchten, M. T. (1980). A Closed-form Equation for
Predicting the Hydraulic Conductivity of Unsaturated
suggested the previous saturation of the soil to Soils1. Soil Science Society of America Journal, n. 44
permit the estimation of K. Vol. 5, p. 892.
This paper explored the influence of the https://doi.org/10.2136/sssaj1980.0361599500440005
previous saturation in the quality of the results. 0002x
It was found that, in fact, the unsaturated initial Yang, T., Liu, H. Y., & Tang, C. A. (2017). Scale effect in
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macroscopic permeability of jointed rock mass using a


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https://doi.org/10.1016/j.enggeo.2017.07.009
Zhou, H., Gómez-Hernández, J. J., Hendricks Franssen,
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https://doi.org/10.1016/j.advwatres.2011.04.014
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Implantação e Caracterização Geotécnica do Campo Experimental


de Engenharia do Centro Universitário Assis Gurgacz em
Cascavel/Pr.
Beatriz Anne Bordin Zen
Centro Universitário Assis Gurgacz - FAG, Cascavel, Brasil, beatrizzen_1100@hotmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário Assis Gurgacz - FAG, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org,br

RESUMO: O solo é fundamental na construção civil e, para que seja corretamente utilizado, deve-
se ter o conhecimento de suas propriedades, já que se trata de um material hetereogêneo vastamente
aplicável. O presente artigo tem como objetivo caracterizar geotécnicamente o subsolo do Campo
Experimental de Engenharia do Centro Universitário Assis Gurgacz - FAG (CEEF), através de
ensaios de campo e de laboratório. A metodologia adotada consistiu na realização de ensaios de
sondagem SPT em campo, e na coleta de amostras deformadas de solo para posterior realização de
ensaios de caracterização em laboratório. Com os resultados obtidos foi possível verificar que o
subsolo é composto por duas camadas, com pequenas variações entre os índices físicos ao longo da
profundidade, sendo composto basicamente por argila siltosa de caracteristica laterítica e
colapsível.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Geotécnica; Classificação Solos; Ensaios de Laboratório e


de Campo;

1 INTRODUÇÃO dimensionamento incorreto da fundação.


Cascavel é um município brasileiro
O solo é um dos materiais mais antigos e localizado na região Oeste do estado do Paraná,
complexos utilizados pelo homem na no terceiro Planalto ou Planalto de Guarapuava,
construção civil. Possui uma vasta aplicação na com altitude media de 800 metros. Atualmente
área e, por isso, é de fundamental importância é o quinto município mais populoso do estado,
que se tenha conhecimento sobre suas com aproximadamente 12.778 habitantes
propriedades físico-mecânicas, a fim de que se (IBGE, 2015), e conta com uma área de
tenha um bom desempenho (QUARESMA et 2.100,831 km², fazendo parte de três bacias
al., 1998). hidrográficas (Iguaçu, Piquiri e Paraná).
Para que seja elaborado um projeto de Segundo Mineropar (2005), a região de
fundação é imprescindível conhecer o solo de Cascavel pertence a Formação Serra Geral, com
forma adequada, identificando e classificando presença de rochas efusivas básicas toleíticas, o
as camadas que o compõem, com o objetivo de que inclui basaltos maçicos e amigdalóides,
prever qual será seu comportamento perante a com textura afanitica, cinzentos a pretos e
ação das cargas às quais será exposto raramente andesíticos.
(QUARESMA et al., 1998). Caso a importância O solo de Cascavel é formado a partir do
do estudo sobre o solo seja relegada, o intemperismo do basalto. Sua coloração escura
profissional da área de engenharia deve estar se dá devido à presença de óxido de ferro,
ciente dos riscos e problemas que podem apresentando solos espessos com boa
ocorrer na edificação em função do capacidade de retenção de água, aeração e baixa
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permeabilidade. A cidade possui um solo Para a caracterização geotécnica do solo,


residual, laterítico e colapsível. Ao norte é foram conduzidos ensaios de campo (3 furos de
ondulado, constituído por colinas amplas e sondagem a percussão do tipo SPT) e no
baixas declividades e onde o relevo apresenta- laboratório de mecânica dos solos da
se acidentado. instituição, utilizando amostras deformadas
Como fruto destas condições, os processos coletadas metro a metro em um poço de
de intemperismo atuam até grandes inspeção com 1,0 m de diametro, até a
profundidades, originando camadas de solo profundidade de 15 metros. No local também
bastante espessas que apresentam, muitas vezes, foram executadas valas (CX1, CX2 e CX3) para
comportamentos problemáticos para a a execução de provas de carga em placa (Vieira
engenharia geotécnica. et al., 2017). O croqui da posição dos elementos
O intuito deste artigo foi apresentar e no CEEF pode ser observado na Figura 2.
contribuir com a geotecnia local através do
desenvolvimento de um banco de dados com
resultados de pesquisas envolvendo o solo da
região, além de compartilhar dados e
experiências com outros campos experimentais
do país.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Local do estudo e Campo Experimental

O artigo aborda estudos sobre as propriedades


geotécnicas do subsolo do Campo Experimental
de Engenharia do Centro Universitário Assis Figura 2. Investigações geotécnicas realizadas no CEEF
Gurgacz (CEEF), localizado em Cascavel, na
região Oeste do estado do Paraná, conforme 2.2 Ensaios realizados
apresenta a Figura 1. O CEEF possui uma área
de cerca de 100 m² (cem metros quadrados) e 2.2.1 Ensaios de Caracterização
funciona como campo de experimentos
Para a realização da caracterização do subsolo,
geotécnicos.
foram executados ensaios de granulometria
conjunta, massa específica dos grãos, teor de
umidade e índices de consistência das amostras
deformadas coletadas de metro em metro. Além
disso, foram determinados os índices físicos e a
classificação das camadas do solo local.
Os ensaios de granulometria conjunta, que
abrange os ensaios de sedimentação e
peneiramento, foram realizados conforme
determina a ABNT (2016), sendo deixadas 50%
das amostras ensaiadas mergulhadas e em
repouso preliminarmente por 12 horas em
solução defloculante (Hexametafosfato de
Figura 1. Localização do município de Cascavel/PR sódio), a fim de avaliar a propriedade laterítica
do solo devido a separação das floculações
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existentes no solo. Em seguida foi realizada a superficial, nos 3 niveis de energia (Normal,
dispersão das particulas, o ensaio de Intermediário e Modificado), afim de
sedimentação e finalmente o ensaio de determinar o ponto ótimo de compactação do
peneiramento, conforme procedimentos da solo da cidade de Cascavel/PR.
norma. Para moldar os corpos de prova, utilizou-se
Os ensaios realizados para determinação dos 10 kg de material destorroado, partindo de um
índices de consistência, foram: Limite de teor de umidade de aproximadamente 20%.
Liquidez (ABNT, 1984) e Limite de Para os ensaios seguintes, adicionou-se cerca de
Plasticidade (ABNT, 1984). O limite de 150 ml de água, de modo a incrementar a
liquidez (wL), é definido como o teor de umidade do solo em aproximadamente 5%,
umidade necessário para fechar uma ranhura como recomenda a ABNT (1986). Após
realizada no solo sobre a concha do aparelho de moldagem dos corpos de prova, de acordo com
Casagrande, em até 15 mm de extensão através as combinações possíveis entre soquete e
de 25 golpes. O ensaio foi repetido diversas cilindro para cada energia, as amostras foram
vezes de forma a se obter no mínimo de três a pesadas e tiveram seu teor de umidade
quatro pontos com teores de umidade determinado através da coleta de material de 3
diferentes, para cada amostra. pontos diferentes de seu interior.
O limite de plasticidade (wP) é definido
como o menor teor de umidade com o qual é 2.2.3 Ensaio Indice Suporte Califórnia (ISC)
possível moldar um cilíndro com 3 mm de
diâmetro, rolando o solo sobre uma placa de O Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR -
vidro esmerilhada até que se chegue à California Bearing Ratio) é a relação, em
condições quebradiças. Para esse ensaio optou- porcentagem, entre a pressão exercida por um
se por realizar no mínimo 5 ensaios diferentes pistão de diâmetro padronizado necessária à
para cada amostra, de modo a se obter um penetração no solo até determinado ponto (0,1”
resultado confiável. e 0,2”) e a pressão necessária para que o mesmo
Com os resultados dos ensaios de wL e wP, pistão penetre a mesma quantidade em solo-
foi possível classificar o solo quanto a padrão de brita graduada. Através do ensaio de
plasticidade (IP), atividade das argilas, ISC é possível determinar qual será a expansão
consistência e também quanto aos sistemas de um solo sob um pavimento quando o mesmo
Unificado (SUCS) e Rodoviário (T.R.B), estiver saturado e dimensionar adequadamente
tomando como base a escala da ABNT (1995), um pavimento sobre esse subleito.
que considera as dimensões dos grãos em mm, Foram empregadas as recomendações da
como apresentado na Tabela 1. norma ABNT (2016), que especifica o
procedimento laboratorial para determinar o
Tabela 1. Escala granulométrica da ABNT (1995) índice de suporte Califórnia e a expansão de
Fração Faixa solos, utilizando amostras deformadas, não
Argila < 0,002 mm recusadas, de material passante na peneira de 19
Silte entre 0,002 e 0,06 mm mm.
Areia Fina entre 0,06 e 0,2 mm Após a compactação, os corpos de prova
Areia Média entre 0,2 e 0,6 mm foram submetidos à imersão em água durante
Areia Grossa entre 0,6 e 0,2 mm
96 hrs e posteriormente rompidos, como
Pedregulho > 2,0 mm
previsto na referida norma.
2.2.2 Ensaios de Proctor
2.2.4 Ensaios Triaxiais
Foram realizados também ensaios de
Molina e Gandin (2015) determinaram para os
compactação (Proctor), com amostras de solo
5 primeiros metros do CEEF o valor do ângulo
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de atrito e do intercepto de coesão através de Tabela 2. Principais Índices Físicos do CEEF


ensaios triaxiais adensado rapidos, utilizando γn γd γsat
Prof. e
(kN/m³) (kN/m³) (kN/m³)
amostras indeformadas coletadas em campo.
1m 16,2 12,6 18,2 1,3
O ângulo de atrito interno de um solo é o 2m 16,1 12,6 18,2 1,3
atrito físico entre suas partículas, que é 3m 15,9 12,7 18,3 1,2
proveniente do entrosamento entre elas. No 4m 16,4 13,1 18,5 1,0
solo, como não existe uma superfície nítida de 5m 16,3 13,1 18,3 1,1
contato entre as partículas, há uma infinita 6m 17,7 12,6 17,8 1,1
7m 16,8 11,5 17,2 1,3
quantidade de contatos pontuais. 8m 17,7 12,6 17,9 1,1
Já a coesão é caracterizada pela atração 9m 17,0 12,0 17,4 1,2
química entre as partículas e pode ser dividida 10m 17,4 11,8 17,4 1,3
em 2 tipos: a verdadeira e a aparente. A 11m 15,6 10,3 16,4 1,6
primeira é fruto de uma parcela da resistência 12m 15,3 9,8 16,3 1,8
13m 16,8 10,8 16,8 1,5
ao cisalhamento de solos úmidos, não 14m 16,6 10,7 16,7 1,5
saturados, devido a tensão entre partículas 15m 15,2 8,3 15,2 2,3
resultante da tensão capilar da água. Já a coesão
aparente é um fenômeno de atrito visível em Na Figura 3 são apresentados os pesos
areias e que ocorre com a saturação dos solos. especificos determinados ao longo da
profundidade, incluindo o peso especifico
submerso (γsub).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Granulometria

Determinados em laboratório o peso específico


natural do solo, peso específico dos grãos e o
teor de umidade, foi possível determinar os
principais índices físicos ao longo da
profundidade.
O peso especifico dos grãos (γs) apresentou
um valor médio ao longo da profundidade de
26,8 kN/m³. Tal valor é considerado
relativamente alto, devido à presença do agente
cimentante óxido de ferro, fruto dos processos Figura 3. Pesos específicos ao longo da profundidade
de intempéricos da rocha basalto. O peso
especifico natural (γn), o peso especifico seco 3.2 Granulometria Conjunta
(γd), peso especifico saturado (γsat) e o índice de
vazios do solo são apresentados na Tabela 2. Devido às evidências de laterização do solo da
É possível verificar que a partir do 5 m as cidade de Cascavel, foram obtidas, neste
amostras encontram-se com grau de saturação trabalho, curvas granulométricas para o solo ao
alto, motivo explicado pela proximidade com o longo da profundidade, com (C.D) e sem (S.D)
nível d’água do campo experimental, que foi o uso do defloculante, objetivando avaliar a
encontrado a uma profundidade de 12 m. diferenciação da textura, conforme pode ser
visto na Figura 4.
Considerando a pouca variabilidade dos
resultados, optou-se em apresentar as curvas do
1º, 5º, 10º e 15º metros nas duas situações.
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100%

90%

80%

70%

A 60%
S
S
A 50%
P
E
U
Q 40%
%
30%

20%

10%

0%
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000
0,002 0,06 2,0
ARGILA SILTE AREIA PED REGULHO
DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS (mm)
1º metro C.D. 5º metro C.D. 10º metro C.D. 15º metro C.D.
1º metro S.D. 5º metro S.D. 10º metro S.D. 15º metro S.D.

Figura 4. Curvas granulométricas determinadas para solo do CEEF com ou sem a influência de defloculante

O ensaio de granulometria realizado foi do Tabela 3 - Porcentagens de materiais sem defloculante.


tipo granulometria conjunta, constituído de Argila Silte Areia
Solo
(%) (%) (%)
sedimentação e peneiramento fino, não sendo
Sem defloculante
necessário o peneiramento grosso, pois o solo 1m 1,88 68,65 29,47
estudado passa em sua totalidade na peneira 5m 17,92 62,28 19,80
#10 (abertura 2,0 mm). Para cada profundidade 10m 1,01 81,56 17,43
investigada, apanhou-se 70 g de solo preparado, 15m 29,62 58,73 11,65
colocando-o em água destilada acrescida de 125 Com defloculante
ml de defloculante (hexametafosfato de sódio + 1m 71,86 25,47 2,67
5m 74,98 22,33 2,70
carbonato de sódio) e, por fim, deixando-o em 10m 65,34 29,14 5,52
repouso por 24 hrs. Em seguida foram 15m 50,22 39,26 10,52
executados ensaios de sedimentação e
peneiramento fino, segundo metodologia Para a condição real do solo, ou seja, com o
proposta pela ABNT (1984). uso de defloculante (C.D), não foi possível
Analisando as curvas granulométricas, determinar os parâmetros de diâmetro efetivo
verificou-se que ocorreu a dispersão das (De), coeficiente de não uniformidade (CNU) e
partículas, indicando que no solo analisado há estimar o coeficiente de permeabilidade (k),
floculação das mesmas devido à presença de pois a porcentagem de ocorrência de partículas
óxido de ferro, como ocorre em grande parte de argila e silte é alta, em torno de 97%. Isso
dos solos brasileiros (lateríticos), com grande indica um solo muito fino, e naturalmente mal
porcentagem de finos (argilas e siltes) e alta graduado, devido ao excesso de finos e ausência
porosidade. Pode-se observar também a grande de material granular, prejudicando assim o
porcentagem de argila e siltes presente no solo contato entre os grãos e consequentemente sua
(Tabela 3), sendo classificado o solo, de acordo resistência.
com a curva granulométrica com a utilização de Mesmo sendo mal graduado e com aplicação
defloculante, como uma argila siltosa. considerada de má à regular, para uso em
pavimentação, esse solo apresenta uma boa
coesão e estabilidade quando submetido a
escavações por apresentar boa coesão, ser um
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solo laterítico e por ter a presença de minerais característica muito comum de solos lateríticos
com propriedades cimentícias. e que acaba o restringindo ao uso de fundações
Desta avaliação verifica-se que o perfil rasas.
estudado apresenta condições favoráveis para a
ocorrência do fenômeno do colapso que são: 3.4 Classificação do Solo
baixa massa específica natural, baixo teor de
umidade e porosidade elevada. Vieira et al. Com os resultados da granulometria
(2017) comprovou o comportamento colapsível, conjunta, limites de liquidez e plasticidade e
através de provas de carga em placa, da camada índice de plasticidade, foi possível classificar o
de solo superficial do CEEF. solo pelo Sistema Rodoviário - Transportation
Research Board (T.R.B.), antigo Highway
3.3 Índices de Consistência Research Board (H.R.B), e pelo Sistema
Unificado de Solos (S.U.C.S.).
Os resultados obtidos para os índices de De acordo com o Sistema Unificado de
consistências (Limite de Liquidez - wL, Limite Classificação dos Solos (SUCS), o solo é
de Plasticidade - wP e Índice de Plasticidade - classificado como CH (solos argilosos muito
IP), são apresentados na Figura 5. compressíveis). Já pelo Sistema de
Classificação Rodoviário (T.R.B.), o solo foi
classificado como A-7-6, que são solos com
aplicação de regular a má para pavimentação
por terem porcentagens altas de finos. É
classificado quanto a plasticidade como
mediamente plástica com pouco ou nenhum
material grosso, o que inclui material com
elevado índice de plasticidade em relação ao
limite de liquidez, estando sujeito a elevadas
variações volumétricas.

3.5 Investigações geotécnicas

Foram realizados três ensaios de sondagem a


percussão do tipo Standard Penetration Test
Figura 5. Indices de consistência do solo do CEEF ao (SPT) no CEEF, a fim de verificar a resistência
longo da profundidade do solo ao longo da profundidade, até
atenderem os critérios de paralisação
O comportamento ao longo da profundidade referenciadas na ABNT (2001). Como
é semelhante e bem uniforme. No entanto, no 9º resultado, é apresentada a Figura 6, que indica o
metro pode ter ocorrido uma variação no solo, o comportamento do indice de resistência N, para
que ocasionou uma leve alteração no resultado. os 3 ensaios realizados.
A classificação do solo quanto a plasticidade é Quanto aos valores dos índices de resistência
definida como Solo de Média Plasticidade. O obtidos pelo ensaio de sondagem a percussão
limite de liquidez apresentou valores médios de SPT, pode-se observar que no 12º e 13º metro,
55%, já o limite de plasticidade de 40% e apesar do surgimento do nivel de água, o solo
finalmente o Índice de Plasticidade (IP) apresenta valores de Nspt superiores a 30,
apresentou um valor de 16%. sendo interessante para apoio de fundações em
O alto valor de wL indica que o presente solo estacas escavadas ou hélice contínua, sendo já
é altamente compressível, e que quando sob muito utilizadas na região em obras de pequeno,
carregamento pode sofrer adensamento, médio e grande porte.
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Tabela 4. Resumo das camadas de solo do CEEF


CAMADA 1 CAMADA 2
VALORES MÉDIOS
1 a 9 metros 10 a 15 metros
w (%) 34 53
LL (%) 53 59
LP (%) 38 42
IP (%) 15 17
γd (KN/m³) 12 12
γs (KN/m³) 27 27
γsat (kN/m³) 17 16
Sr (%) 55 60
Argila (%) 70 56
Silte (%) 25 35
Areia (%) 5 9
Muito mole
Consistência Rija a dura
a média
Índice de vazios (e) 1,22 1,55
Figura 6. Índices de resistência a penetração do
amostrador no solo do CEEF, ao longo da profundidade,
para 3 furos realizados Deve-se levar em consideração que os
valores apresentados dos índices de resistência
Observando a evolução do NSPT com a (N), não levam em consideração a eficiência do
profundidade, e, concomitantemente, utilizando equipamento e da execução do serviço, e que
a classificação quanto à consistência da ABNT conforme recomendam Cintra et al. (2013) e
(2001), pode-se sugerir que, no geral, o subsolo Dallacosta e Almeida (2017), a mesma deve ser
do CEEF é constituído por duas camadas de considerada no dimensionamento de fundações.
solo distintas, até a profundidade amostrada. A A não observância desse item pode conduzir ao
primeira sendo composta por argila siltosa, desenvolvimento de projetos contra a
porosa, marrom avermalhada, de consistência segurança.
muito mole à média, até, aproximadamente, a
profundidade de 9 m e, finalmente, em 3.6 Ensaios de Compactação (Proctor)
profundidades superiores a 9 m e menores de
18m, uma argila silto arenosa, residual, de As amostras de solo coletadas do primeiro
coloração marrom claro, de consistência rija a metro do CEEF foram também submetidas a
dura. ensaios de compactação (Proctor), para cada
Como resultado dos ensaios, pode-se energia: Normal, Intermediária e Modificada.
apresentar a Tabela 4, que resume as camadas Com os pares de valores de teor de umidade
de solo do CEEF e seus valores médios de (w) e peso específico seco (γd), determinados
indices fisicos e caracteristicas. para cada energia de compactação, elaborou-se
Na análise visual-táctil, houve a a Figura 7, a fim de determinar o ponto ótimo
identificação de pigmentação esbranquiçada na de compactação e, consequentemente, as
estrutura do solo a partir do 12º metro, umidades ótimas (wót) e os valores de peso
provavelmente devido a presença de minerais específico seco máximo (γdmáx) para cada
na água, que tem seu nível variando nessas energia.
profundidades. O solo encontrado após o 12º
metro tem característica de apresentar
instabilidade quando submetido a grandes
escavações, como por exemplo, na execução de
tubulões, podendo sofrer desplacamento e risco
de desmoronamento durante sua execução.
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materiais utilizados em cada camada dos


pavimentos.
Considerando os valores de ISC obtidos,
estes também atendem ao exposto em DNIT
(2006), que especifica que materiais de subleito
devem possuir ISC superior a 2%.

3.8 Ensaios triaxiais

Por meio de ensaios triaxiais realizados em


laboratório por Molina e Gandin (2015), com
amostras indeformadas coletadas ao longo de 5
Figura 7. Curvas de compactação para os 3 niveis de metros de profundidade, os autores
energia de Proctor, do solo superficial do CEEF determinaram as envoltórias de resistência e,
consequentemente, o ângulo de atrito e o
Na Tabela 5 são apresentados, intercepto de coesão.
resumidamente, os valores de teor de umidade Os ensaios triaxiais realizados foram do tipo
(wótimo) e peso especifico seco (γd) obtidos pelas adensado-drenados, pois em termos de tensão
curvas de compactação, referentes ao ponto efetiva permitem determinar a envoltória de
ótimo de compactação nos 3 níveis de energia. resistência do solo.
Molina e Gandin (2015) optaram por aplicar
Tabela 5. Valores do ponto ótimo de compactação
obtidos para as 3 energias de compactação
a tensão axial nos corpos de prova a uma
Energia γdmáx (kN/m³) wótimo (%) velocidade de 0,064 mm/min, gerando um
Normal 14,0 40,0 tempo de carregamento de 5 a 6 horas, pois
Intermediária 13,9 32,5 segundo Bjerrum (1954) apud Gerscovich
Modificado 14,5 26,0 (2017), a geração de poro pressão torna-se
independente do tempo de ruptura após 05
3.7 Indice Suporte Califórnia (ISC) horas.
Após a realização dos ensaios com um
Após a moldagem, imersão e ensaio de minimo de 3 corpos de prova por metro e
penetração dos 3 corpos de prova, foram variando as tensões confinantes (σ3) entre eles,
determinados os valores de expansão e ISC, foi possível determinar as envoltórias de Mohr-
conforme apresentado na Tabela 6. Coulomb e determinar os valores do intercepto
de coesão e do ângulo de atrito, em função das
Tabela 6. Valores do ponto ótimo de compactação tensões totais, apresentados na Tabela 7.
obtidos para as 3 energias de compactação
Amostras  1   2  3  Tabela 7. Parâmetros de resistência ao cisalhamento
Expansão (%):  0,18  0,17  0,20  Prof. Intercepto coesão Ângulo de atrito
CBR (%)  13,7  14,3  14,2  (m) (kN/m²) ()
1 2,0 14,2
Verificou-se uma expansão menor que 2% 2 2,0 15,5
para todos as amostras, o que atende ao limite 3 12,8 17,4
4 11,8 16,4
imposto para materiais do subleito, que devem 5 11,8 20,2
apresentar uma expansão, medida no ensaio Média 8,04 16,7
ISC, menor ou igual a 2% de acordo com as Fonte: Molina e Gandin (2015)
especificações do manual de pavimentação
do DNIT (2006). Este manual estabelece Os valores do intercepto de coesão das
limites que devem ser atendidos pelos amostras apresentaram valores baixos e
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próximos aos citados por Alonso (2010) para para que não ocorram processos de
solos argilosos. Já os ângulos de atrito adensamento na mesma.
apresentaram pouca dispersão entre eles e Foram verificados valores de ângulo de
valores baixos, como era de se esperar, devido atrito entre os grãos variando de 14,2 a 20,4
ao baixo atrito existente entre particulas de graus, e por serem considerados baixos, acabam
argilas não saturadas, variando de 14,2 a 20,4 por prejudicar o dimensionamento de estruturas
graus. de contenção e arrimos, gerando estruturas mais
Em geral, para a elaboração de projetos robustas a fim de resistir aos esforços oriundos
geotécnicos, se utiliza os parâmetros de do solo. O intercepto coesivo obtido também foi
resistência do solo em função das tensões totais, baixo, variando de 2 a 12 kPa.
pois essa última apresenta valores mais
conservadores e mais seguros para projetos,
visto a incerteza das condições de drenagem e REFERÊNCIAS
saturação do solo em campo apos a realização
da obra. Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
6459 (1984). Determinação do Limite de Liquidez.
Rio de Janeiro.
Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
4 CONCLUSÕES 6484 (2001). Sondagens De Simples Reconhecimento
Com Spt - Método De Ensaio. Rio de Janeiro.
A classificação do solo estudado quanto a sua Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
curva granulométrica foi de Argila Silto 6502 (1995). Rochas e solos. Rio de Janeiro.
Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
Arenosa; pelo Sistema Unificado, obteve-se 7180 (1984). Determinação de Limite de
uma classificação de CH que são solos Plasticidade. Rio de Janeiro.
argilosos muito compressíveis; no Sistema Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
Rodoviário foi classificado como A-7-6, que 7181 (2016). Análise Granulométrica. Rio de Janeiro.
são argilas siltosas medianamente plásticas. Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
7182 (1986). Ensaio de Compactação. Rio de
A partir dos ensaios de sondagem a Janeiro.
percussão do tipo SPT, realizados em campo, Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
foi possível identificar 2 camadas de solo 9895 (2016). Índice de suporte Califórnia (ISC) -
argilo-siltoso e o comportamento crescente da Método de ensaio. Rio de Janeiro.
resistência do solo ao longo da profundidade, Alonso, Urbano Rodrigues. (2010) Exercícios de
Fundações. 2 ed. São Paulo: Blucher.
típico de um solo residual.
Cintra, J. C. A., Aoki, N., Tsuha, C. H. C, Giacheti, H. L.
A camada superficial de solo da cidade de (2013). Fundações: ensaios estáticos e dinâmicos.
Cascavel é composta por uma argila madura, São Carlos: Oficina dos Textos.
porosa, laterizada, colapsível, cujos minerais Dallacosta, L. e Almeida, M. A. (2017) Determinação da
principais são a caulinita e óxidos de ferro, de Eficiência do Ensaio SPT através de Prova de Carga
Estática sobre Amostrador Padrão. Geocentro.
estrutura microagregada típica dos solos
Goiânia.
tropicais. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
Foram determinadas também, para essa - DNIT (2006). Manual de Pavimentação. 3 ed, Rio
camada, suas propriedades quanto a de Janeiro, 274 p.
compactação, índice suporte califórnia e Gerscovich, D. (2017). Estabilidade de Taludes. São
parametros de resistência do solo, esse último Carlos: Oficina dos Textos. 2 ed.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE
realizado por Molina e Gandin (2015), através (2015). Disponivel em:
de ensaios triaxiais com amostras indeformadas. ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_de_Populacao/Estim
Foi possível verificar que o solo apresenta baixa ativas_2015/estimativa_TCU_2015_20170614.pdf.
capacidade de suporte para pavimentação, Acesso em 28 de abril de 2018.
necessitando de uma base espessa e resistente Minerais do Paraná - Mineropar (2005). Mapa geológico
de Cascavel. Disponivel em:
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<http://www.mineropar.pr.gov.br/arquivos/File/2_Ger
al/Geologia/PDF_Mapas_Geo_250000/Cascavel.PDF
>. Acesso em 28 de abril de 2018.
Molina M. D.; Gandin R. M. (2015). Determinação dos
parâmetros de resistência ao cisalhamento através de
ensaio de compressão triaxial rápido (cu) do subsolo
da FAG em Cascavel/PR. Monografia de conclusão
do curso de Engenharia Civil. Centro Universitário
Assis Gurgacz, Cascavel/PR.
Quaresma, A.R.; Décourt, L.; Quaresma Filho, A.R.;
Almeida, M.S.S.; Danziger, F. (1998). Investigações
geotécnicas. In: Hachich, W.; Falconi, F.F.; Saes,
J.L.; Frota, R.G.Q.; Carvalho, C.S.; Niyama, S.
(Org.). Fundações: teoria e prática. 2. ed. São Paulo:
PINI.
Vieira, M. K.; Radoll, J.; Almeida, M. A. (2017) Análise
da Aplicação de Fundações Rasas a partir de
Resultados de Provas de Carga em Solo de Cascavel-
PR. Geocentro. Goiânia.
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Implementação e Avaliação de um Modelo Constitutivo para a


Representação do Comportamento Mecânico de Solos Arenosos
Reforçados com Fibras
Franz Kevin Calvay Pinedo
Pontificia Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, kevin.calvay@aluno.puc-rio.br

Raquel Quadros Velloso


Pontificia Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, raquelvelloso@puc-rio.br

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasilia, Brasilia, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: O objetivo deste trabalho consiste em modelar o comportamento mecânico de areias


reforçadas com fibras e estudar como a inclusão das fibras, ao formar um material composto areia-
fibra, melhora as características de resistência, além de modificar outras propriedades características
da areia sem reforço. Em estudos realizados anteriormente, os autores concluem que a matriz de
areia e as fibras obedecem suas próprias leis constitutivas, porém ao serem misturadas e
homogeneizados seus comportamentos e contribuições são superpostos a obedecem ao modelo
constitutivo do compósito. Este foi implementado no programa computacional Matlab® e foi
avaliado com diferentes propriedades que influenciam ao compósito, demonstrando-se a influência
das propriedades da fibra, já que quanto maior é o teor da fibra, maior é a resistência do compósito,
porém, esta resistência também depende da interação dos grãos do solo com a fibra e das
propriedades mecânicas da fibra. Foram avaliadas 3 tipos de fibras com diferentes propriedades e em
2 tipos de fibras pode-se observar que a contribuição da fibra na resistência chega até um valor
máximo, a partir do qual a resistência do compósito se torna constante. Nesse ponto acontece o
escorregamento da fibra ou “pull-out” da matriz do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Modelo constitutivo, areia reforçada com fibra, fibra, areia.

1 INTRODUÇÃO anos tem sido estudada a contribuição das fibras


na resistência do solo.
Os requerimentos para a engenheira geotécnica O comportamento do solos ao ser misturado
tem crescido muito devido à continua demanda com reforços artificiais tem sido estudado por
no último século. As estruturas maiores podem muitos pesquisadores tais como Michalowski et
ser apoiadas em lugares em que as al., (1996), (2002) e (2006); Consoli et al.,
características de resistência não são suficientes (2005); Diambra et al., (2007), (2010), (2013) e
para suportar a mesma, por isso se torna (2015), que fez uma importante contribuição;
necessário que essas características sejam Ibraim et al., (2012); Da Silva, (2017).
melhoradas. Muitas técnicas tem sido Para entender adequadamente o
desenvolvidas ao passar dos anos para melhorar comportamento do compósito torna-se
as características de resistência dos solos, tais importante conhecer o desenvolvimento das
como vibro-compactação para melhorar o tensões durante o processo de carregamento ou
ângulo de atrito, solos reforçados com descarregamento; este trabalho abrange dois
geossintéticos, entre outros; porém nos últimos tópicos essencialmente: o primeiro é o modelo
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constitutivo do solo (comportamento elasto- Tabela 1. Resumo da Notação para tensões e


plástico) e o segundo é o modelo constitutivo da deformações
fibra (comportamento elástico) que vai utilizar o Compósito
modelo constitutivo proposto por Diambra et al. Totais  = p, qT
(2013). Com essa finalidade serão desenvolvidas Efetivas  * = p*, q *T
teorias como elasticidade, plasticidade,
distribuição das fibras, entre outros. Por fim, é Deformações 
 =  p , q T
apresentado os resultados da modelagem do Matriz do Solo
Totais -
comportamento do solo com fibra.
Efetivas  ' = p' , q'T

Deformações 
 m =  mp ,  mq T
2 MODELO CONSTITUTIVO Fibra (meia)
Totais -
 f = pf , qf 
T
Segundo Diambra et al. (2010) e outros Efetivas
pesquisadores, os materiais que formam o
Deformações 
 f =  fp ,  fq T
compósito obedecem sua propria lei
constitutiva, assim o solo como a fibra podem
ser estudados de forma separada mas ao serem 2.1 Modelo Cam-Clay Modificado
misturados os comportamentos são superpostos,
em outras palavras cada material do compósito O modelo Cam-Clay Modificado é um modelo
contribui no cálculo das tensões. elasto-plástico, isotrópico com endurecimento.
Com a finalidade de calcular os incrementos Para o caso de compressão triaxial considera-se
de tensões que acontecem no compósito é a tensão principal intermediária igual à tensão
necessário induzir incrementos de deformações, principal menor (σ2 igual com σ3).
pode-se realizar também o cálculo impondo
tensões para calcular deformações, porém esse
trabalho desenvolve o modelo constitutivo
impondo deformações para calcular tensões,
podendo ser utilizado em futuras pesquisas em
algum programa computacional de elemento
finitos.
O modelo constitutivo no qual este trabalho
está focado, utiliza o espaço de tensões “p” e
“q” com a finalidade de conhecer que tensões
vão ser desenvolvidos pelo solo, fibra e
compósito. As notações das tensões (totais e
efetivas) e deformações serão apresentados na
Tabela 1. Vale dizer, que no caso da fibra se
especifica uma tensão total média de todo o
conjunto.
Posteriormente, detalha-se os modelos Figura 1. Condições triaxiais axissimetricas
constitutivos da areia, da fibra e as regras de
mistura do compósito, respectivamente. O cálculo de “p” e “q”, tensão média e
desviadora, respectivamente, são calculados de
acordo com as tensões principais como segue:
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1 2.1.2 Deformações
p = ( 1   2   3 ) (1)
3
( 1   2 ) 2  ( 1   3 ) 2  ( 2   3 ) 2 1/2
1 As deformações são definidas por uma parte
q= (2) elástica e outra plástica de acordo com:
2

d ij = d ij  d ij
e p
No caso axissimétrico as equações (1) e (2) (9)
ficam da seguinte forma:
As deformações elásticas são calculadas
1 diretamente através da lei de Hooke, enquanto
p = ( 1  2 3 ) (3)
3 que as deformações plásticas são calculadas com
a lei de fluxo que é definida como:
q = 1   3 (4)
df
d ij = d
p
(10)
Esta notação permite constatar qual aspecto d ij
do comportamento do solo está sendo afetado,
pelo tensão normal (p) ou tensão cisalhante (q). Onde d é um escalar positivo determinado
As deformações volumétricas e cisalhantes são pela lei de consistência e a derivada da função
como se apresentam nas equações (5) e (6), de escoamento que fornece a direção das
respectivamente. deformações plásticas. Estas equações são dadas
por:
 p =  1   2   3   1  2 3 (5)
df df dp df dq
=  (11)
2
 q = ( 1 -  3 ) (6) d ij dp d ij dq d ij
3
df e
2.1.1 Função de Escoamento Dijkl d kl
d ij
d = (12)
df e df df dpc df
No modelo Cam-Clay Modificado considera-se Dijkl 
fluxo associado visto que a função de d ij d kl dpc d pp dp
escoamento é a mesma que a função de
potencial plástico. A função de escoamento do A única incógnita é a derivada de pc com
modelo é definida como: relação à deformação volumétrica plástica que
pode ser obtida pela lei do endurecimento:
f  f ( p, q, p0 )  q 2  M 2 p( p  p0 )  0 (7)
dpc  1  e0 
Onde p0 é definida como a tensão de pre- = pc   (13)
d p    
p

adensamento (parâmetro de endurecimento) que


depende das deformações volumétricas plásticas
do solo e o parâmetro M é a inclinação da Em que e0 é o indice de vazios inicial,  é a
envoltória de ruptura (linha de estado crítico). inclinação da reta de descarregamento e  é a
Este está relacionado com o ângulo de atrito inclinação da reta virgem.
efetivo de acordo com: Para cálculo das deformações elásticas são
necessários os valores dos módulos de variação
6sen ' volumétrica e o módulo de cisalhamento que
M= (Compressão triaxial) (8)
3 - sen '
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serão dependentes do valor de “p” e o valor do 


d af = E f d a sen 4  d r sen 2 cos 2   (16)
módulo de poisson ( v ).

1 e d af = E f
d sen  cos   d
a
2 2
r cos4   (17)
K= p (14) 2

A orientação inicial das fibras segundo
3 K  1  2v 
G=   (15) Diambra et al. (2007) e Ibraim et al. (2012) é
2  1 v  definida pela equação:

Os parâmetros necessários para o 


 ( ) = A  B cosn   (18)
desenvolvimento do modelo Cam-Clay
Modificado são M, e0 , v ,  e  .
Onde A , B e n são dados da
Os parâmetros do solo que serão utilizados
são apresentados na Tabela 2. distribuição das fibras no compósito e dependem
da técnica utilizada para a preparação da
Tabela 2. Parâmetros da Areia amostra.
Parâmetro Descrição Valor Considera-se que as fibras tem sua orientação
 Inclinação da reta virgem 0.031 na direção que detalha a equação (18), estas
Inclinação da linha elástica de
seguem uma função de probabilidade (é
 0.0025 necessário o cálculo em coordenadas esféricas)
carregamento/descarregamento
 Módulo de Poisson 0.1 que por definição devem ser igual a um de
e0 Índice de vazios inicial 0.991 acordo com:
’ Ângulo de atrito 35°
  /2
Gs Gravidade Específica 2.65
   cosdd  1
0  /2
(19)

2.2 Modelo Constitutivo das Fibras


Onde  é a elevação medida desde a
O modelo constitutivo para a contribuição da horizontal e  é o azimute medido no plano
fibra no compósito foi apresentado por Diambra horizontal desde o eixo x.
et al. (2013). Um resumo das considerações que Existe mais uma consideração que deve ser
foram desenvolvidas para avaliar o utilizada que é a interação dos grãos do solo
comportamento da fibra se apresentam a seguir. com a fibra. Segundo Diambra (2010) a equação
(20) define essa interação, podendo esse valor
2.2.1 Modelamento da Matriz de Rigidez da variar de 0 até 1.
Fibra
  p'  
As deformacões do conjunto das fibras dentro f b = K e 1  exp    (20)
  100  
do solo seguem as deformações do compósito,
mas a magnitude da deformação em uma fibra
depende da sua orientação. O comportamento Além disso, deve-se considerar que a fibra só
da fibra é elástico e em considerações triaxiais contribui no compósito quando tiver tensões de
segue a seguinte relação dos incrementos de tração, do contrário sua contribuição é zero.
tensões axiais e radiais com as deformações Uma vez feita todas as relações anteriores,
respectivas e incluindo o módulo de elasticidade simplificando e unificando a relação de todos
esses parâmetros é possível resumir as equações
da fibra E f .
(16), (17), (18), (19) e (20) em uma relação
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matricial geral para avaliar a relação das 2.2.2 Pull-out da Fibra


deformações radiais e axiais com as tensões
respectivas de acordo com: O arrancamento da fibra ou pull-out é um
mecanismo muito importante para
confinamentos menores que um confinamento
crítico, porém para confinamentos muito
maiores é bem mais provável que as fibras se
(21) rompam. O arrancamento vai acontecer quando
é superada a tensão limite de escorregamento
Onde l1 é 0 e l 2 é igual a 0 no caso de (pull-out)  Lf , dada pela equação (25), e
compressão triaxial, enquanto que para um consequentemente a contribuição da fibra no
ensaio de extensão l1 é 0 e l 2 é igual a  / 2 . compósito seja zero.
Onde 0 é definido como a linha de incremento
zero:  Lf 
pf lf
a sf  p * tan  sf  (25)
2a f
d r
0  arctan  (22)
d a Onde l f p f e a f , são o comprimento da
fibra, perímetro e área da seção transversal da
Com a notação p e q, a equação (21) pode fibra, respectivamente. Os coeficientes asf e  sf
ser reescrita como: são os componentes de adesão e de atrito entre
a fibra e os grãos de solo.
p f    M 11 M 12  d p 
   Ef   f b  d  (23)
 q f  v f  M 21 M 22 
 
q 2.3 Modelo do Compósito
 
 M f 
Os axiomas que definem o comportamento do
compósito obedecem uma regra de mistura, e
Onde: segundo Diambra (2010) são:
 Cada componente obedece sua própria lei

M 11  9 N 11  N 12  2 N 21  2 N 22 
1 constitutiva.
  Cada componente está distribuído
 1 N 12  homogeneamente no compósito.
M 12  3  N 11  2  2 N 21  N 22   A contribuição de cada componente para o
 
 (24) comportamento do compósito é escalado de
M  1  N  N  N  N  acordo a sua concentração volumétrica.
 21 3 11 12 21 22

  As deformações na matriz do solo são as


M  1 2 N  N  2 N  N  mesmas que acontecem nas fibras e
 22 2 11 12 21 22
consequentemente no compósito.

N ij são os componentes da matriz da Para avaliar a contribuição da inclusão da


fibra no solo deve-se analisar a Figura 2, na qual
equação (21) e v f é o volume específico da
a principal característica é que é inserido um
fibra que será explicado no item 2.3. A partir da volume de vazios da fibra que faz parte do
equação (23) pode-se definir a matriz de rigidez volume total da amostra.
da fibra  M f  . O parâmetro que influencia diretamente no
solo é a quantidade de fibra que contém o
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compósito e é definida como a relação entre o fibras de diferentes propriedades e com


peso da fibra e o peso do solo seco da matriz do diferentes conteúdos de fibra tais como 0% (sem
solo. reforço), 0.3%, 0.45%, 0.6% e 0.9%.
Os valores dos parâmetros considerados
Wf nesse trabalho consideram como referência
wf  (26)
Ws valores próximos aos valores utilizados por
Diambra et al. (2013), e são apresentados na
Tabela 3.

Tabela 3. Parâmetros das Fibras


Parâmetro Fibra 1 Fibra 2 Fibra 3 Unid
Ef 900 2600 3000 MPa
Ke 0.45 0.34 0.08 -
vf 3.27 5.0 2.40 -
asf /  sf - 68 kPa/0° 4 kPa/10° -
Figura 2. : Fases do diagrama (a) amostra sem reforço,
(b) amostra reforçada sem divisão dos volumes de vazios lf 35 20 40 mm
e (c) amostra reforçada com partição do volume de df 0.1 0.030 0.2 mm
vazios (Diambra et al. 2013)
Gf 0.91 0.91 0.91 -
É importante definir os volumes específicos
( v ) e as concentrações volumétricas (  ) dos Para distribuição inicial das fibras 1 e 2
componentes. considera-se A =0, B =0.324 e n =5; para a
fibra 3 A =0, B =0.467 e n =12.
Vvf  Vf Vvf  Vf
vf = f =
Vf Vf
(27) 3 ESQUEMA EXPLÍCITO PARA A
V  Vs V V
v m = vs  m = vs s MODELAGEM
Vs Vs
Para o cálculo das tensões foi utilizado o um
Segundo Diambra et al. (2013) e de acordo esquema explícito. As tensões são calculadas de
com as regras de mistura, a relação constitutiva acordo com a lei de Hooke. Considera-se como
do compósito ficaria definida como: primeiro passo que as deformações são elásticas
e calcula-se as tensões do passo posterior:
dp * d p 
dq *  M m   f M f  d    f  f   'd p (28) d ij = Dijkl
e
d kl (29)
   q

Finalmente, se conclui que os parâmetros  ijn 1 =  ijn  d ij (30)


necessários da fibra para conseguir modelar o
comportamento são Ef (módulo de
Com o nível de tensões calculado deve-se
elasticidade), vf (volume específico), Ke avaliar a função de escoamento, a equação (29)
(parâmetro da função de escorregamento), é verdadeira se satisfazer a seguinte condição:
asf /  sf (parâmetros para o cálculo de  Lf ) e as
df
características geométricas da fibra. f  0 ou f  0 e d ij  0 (31)
Nesse trabalho serão modelados o d ij
comportamento de um solo misturado com
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Se o estado de tensões calculado na equação


(30) não satisfaz as condições da equação (31)
então o material plastificou, desta forma é
preciso atualizar o incremento de tensões. Este
incremento de tensões será definido utilizando
as equações (9) e (29):

d ijc = Dijkl
e

 

d kl  d klp (32)
d kl
e

Onde as deformações plásticas são calculadas


de acordo com a lei de fluxo associada definida
pela equação (10), (11) e (12). A equação (32)
fornece o valor corrigido do incremento de
tensão.
Figura 3. Comparação das curvas tensão x deformação
Uma vez obtido esse valor pode-se atualizar obtidas do modelamento triaxial em Matlab® e Plaxis
o valor da tensão na equação (30) como segue: 2D®.

 ijn1 =  ijn  d ijc (33) Uma vez verificado o comportamento do


solo, foi feita a modelagem do solo sem reforço
Uma vez atualizado o valor do estado de (propriedades na Tabela 2) e misturado com as
tensão, pode-se voltar à equação (29) fibras tipo 1, 2 e 3 para diferentes conteúdos de
considerando-se um incremento de deformação fibra (0.3%, 0.45%, 0.6% e 0.9%). As curvas
igual ou de similar magnitude à anterior, e tensão x deformação são apresentadas nas
repetir esse processo até atingir a linha do Figuras 4, 5 e 6, respectivamente. Em todos os
estado crítico. casos a pressão de confinamento foi de 100 kPa.
Um consideração muito importante do
método é que as deformações utilizadas devem
ser suficientemente pequenas, da ordem de 10-5, FIBRA TIPO 1
para que os incrementos de tensões não sejam
muito altos o que resultaria em erros nos
cálculos.

4 RESULTADOS

Para verificar que a implementação do modelo


Cam-Clay Modificado seja adequada, foi
modelado um corpo de prova de solo no Plaxis
2D® e simulado um ensaio triaxial de
compressão drenado. Na Figura 3 é apresentada
a curva tensão x deformação implementada no Figura 4. Curvas tensão x deformação obtidas do
Matlab® e a modelagem feita no programa modelamento feito em Matlab para conteúdos de 0.3, 0.6
Plaxis 2D®. e 0.9%. (Fibra tipo 1)
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esperado, que proporcionalmente ao aumento


FIBRA TIPO 2
do conteúdo de fibra no compósito, há aumento
da resistência do solo, entretanto na prática isso
ocorre até um ponto máximo de mistura o qual
não foi avaliado nesse trabalho.
Os módulos de elasticidade têm uma relação
direta com a resistência do solo; porém, a
interação dos grãos com as fibras afeta de
maneira relevante a resistência do compósito.
Segundo a conclusão anterior, o solo
misturado com a fibra tipo 3 tem o módulo de
elasticidade maior, 3000 MPa, mas a interação
dos grãos do solo com a fibra é muito pequena,
pelo qual a resistência obtida para um mesmo
nível de deformação é menor que no caso do
Figura 5. Curvas tensão x deformação obtidas do
modelamento feito em Matlab para conteúdos de 0.3,
solo misturado com a Fibra tipo 1 e 2.
0.45 e 0.6%. (Fibra tipo 2) No caso da Fibra 2, esta não possui o maior
módulo de elasticidade, tampouco o maior fator
de interação dos grãos com a fibra; porém, o
FIBRA TIPO 3
compósito possui a maior resistência, já que a
combinação de ambos fatores contribuem torna
esse compósito mais resistente em comparaçaõ
com os outros.
Pode-se observar nas Figuras 4, 5 e 6, que
para baixos níveis de deformação a
constribuição da resistência é quase zero, em
contraste para níveis maiores de deformação a
contribuição da fibra torna-se cada vez maior.
No caso das Fibras 2 e 3 a contribuição da
resitencia devido às fibras atinge um valor onde
elas começam com o “pull-out” ou
escorregamento, pelo que a resistência se torna
constante até um nivel de deformação de 30%.
Figura 6. Curvas tensão x deformação obtidas do
Esse trabalho implementou o cálculo de
modelamento feito em Matlab para conteúdos de 0.3, 0.6
e 0.9%. (Fibra tipo 3) tensões a partir de deformações já que têm
como objetivo futuro a implementação desse
modelo em um programa de elementos finitos.
4 CONCLUSÕES

A modelagem do ensaio triaxial drenado feita AGRADECIMENTOS


no Plaxis 2D® utilizou as mesmas considerações
na implementação do Matlab®. Foram impostas Os autores agradecem à CAPES pelo
deformações para o cálculo de tensões, suporte a este trabalho.
resultando em valores muito próximos, pelos
quais o modelo implementado foi verificado.
Através dos resultados das curvas tensão x
deformação apresentados, pode-se observar o
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REFERÊNCIAS
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Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
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Da Silva, A. P. (2017). Constitutive modelling of fibre-
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Engenharia, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brazil.
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geomechanics. Cambridge: Cambridge Univ. Press.
Davis, R. O., & Selvadurai, A. P. (2002). Plasticity and
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Desai, C. S., & Siriwardane, H. J. (1984). Constitutive
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Experiments and Modelling. PhD Thesis (Doctor of
Philosophy) – Faculty of Engineering, Department of
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Diambra, A., Ibraim, E., Muir Wood, D. and Russell, A.
(2010). Fibre reinforced sands: Experiments and
modelling. Geotextiles and Geomembranes, 28(3),
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Diambra, A., Ibraim, E., Russell, A. and Muir Wood, D.
(2013). Fibre reinforced sands: from experiments to
modelling and beyond. International Journal for
Numerical and Analytical Methods in Geomechanics,
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Diambra, A. and Ibraim, E. (2015). Fibre-reinforced
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Michalowski, R. and Čermák, J. (2003). Triaxial
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Michalowski, R. and Zhao, A. (1996). Failure of Fiber-
Reinforced Granular Soils. Journal of Geotechnical
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IMPLEMENTAÇÃO EM ELEMENTOS FINITOS DE UM


MODELO CONSTITUTIVO PARA COMPORTAMENTO
MECÂNICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS.
José Domingos de Souza Neto
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, jdneto.civil@gmail.com

Dr. Sandro Lemos Machado


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, sandrolemosmachado@gmail.com

Dr. Paulo Gustavo Cavalcante Lins


UFBA, EP, DCTM, Rua Aristides Novís, 2, Federação, Salvador, Bahia, plins@ufba.br

RESUMO: O presente trabalho apresenta a implementação de um modelo constitutivo desenvolvido


para reprodução do comportamento mecânico dos resíduos sólidos urbanos (RSU) em um código de
elementos finitos, o CRISP. O modelo simula o comportamento do RSU como sendo um material
compósito formado por material fibroso e pasta. Suas leis constitutivas descrevem as fibras,
compostas basicamente por materiais plásticos e têxteis, como de comportamento elastoplástico-
perfeito e a pasta, que envolve os componentes remanescentes do RSU, como de comportamento
elastoplástico com endurecimento, baseado na Teoria da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos,
apresentando boa capacidade de reprodução do comportamento mecânico imediato do RSU, como
as suas curvas tensão/deformação com concavidade para cima. Para entrada a visualização dos
dados foi utilizado o pré e pós processador GiD®. Após a implementação, foram realizados testes
de validação, comparando os resultados obtidos com o CRISP com os resultados obtidos em uma
planilha com o modelo implementado. Para o desenvolvimento do trabalho proposto, foram
necessárias modificações e adaptações em diferentes sub-rotinas do programa base, o CRISP. O
desempenho do par de aplicativos CRISP/GiD® foi considerado como bom, já que resultados
idênticos foram obtidos entre o código numérico e a planilha.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos sólidos urbanos, Resistência mecânica, Modelo Constitutivo,


Modelagem Numérica.

1 INTRODUÇÃO RSU e suas propriedades de engenharia é o de


SOWERS (1973).
O estudo dos resíduos sólidos urbanos (RSU) ZEIDABADI et al. (2016) afirmam que
vem sendo foco de atenção crescente no cenário rupturas do maciço em aterros têm sido
mundial contemporâneo, tanto pelo número relatados resultando em morte de pessoas e
crescente que estes resíduos são gerados, devido altos impactos ambientais (BLIGHT, 2008;
à expansão urbana, quanto pela necessidade de KOERNER & SOONG, 2000). Tais relatos
otimizar a sua disposição. mostram conhecimento inadequado do
Por ser o principal material de construção dos comportamento mecânico do RSU, assim como
aterros, os resíduos sólidos urbanos vêm sendo a falta de modelos apropriados para a simulação
estudados e analisados desde a década de 70. e análise desta estrutura.
Um dos trabalhos pioneiros que classificam os É importante frisar ainda que o projeto e a
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construção de aterros sanitários no Brasil têm A deformação está relacionada a fibra e a pasta.
sido caracterizados pela adoção de critérios e de A deformação volumétrica do material fibroso
parâmetros de projetos baseados na experiência pode ser desprezada. Em outras palavras, a
de países de primeiro mundo sem que haja uma deformação volumétrica do RSU é adotada
confirmação ou validação para as condições de como sendo decorrente apenas da pasta.
nosso país. Os nossos resíduos têm composição, Todas as variações do índice de vazios do RSU
em termos de matéria orgânica e umidade, ocorrem na pasta.
bastante diferente dos daqueles países e a O incremento da tensão desviatória na fibra,
simples adoção de “parâmetros geotécnicos 𝑑𝑞𝑓 , é dado por:
importados” pode apresentar problemas
(CARVALHO, 1999). 𝑒
𝑑𝑞𝑓 = 3𝐺𝑓 . 𝑑𝜀𝑠𝑓 (1)
As dificuldades no estudo e modelagem dos
RSU estão associadas à heterogeneidade do Sendo,
material, que além disso possui componentes
que se degradam com o tempo. Técnicas 𝐺𝑓 o módulo cisalhante da fibra;
numéricas para o estudo do comportamento 𝑒
𝑑𝜀𝑠𝑓 o incremento de deformação elástica
mecânico do RSU vêm sendo utilizadas. Dentre
cisalhante da fibra.
elas, o método dos elementos finitos tem
apresentado resultados satisfatórios, devido a
Um parâmetro importante no modelo é a função
sua vasta aplicação no âmbito da geotecnia.
de mobilização das fibras, 𝑓𝑚 . Ela rege o
Machado et al. (2002) apresentam um modelo
comportamento do material garantindo um
constitutivo para a reprodução do
aumento de rigidez no conjunto à medida que
comportamento mecânico imediato dos RSU.
ocorre o acréscimo de tensão aplicada, e é dado
As principais características e hipóteses do
por:
modelo constitutivo proposto para simular o
comportamento mecânico dos RSU são: 2 𝑞
Todo o comportamento do RSU é regido pela 𝑓𝑚 = 𝜋 𝑡𝑎𝑛−1 *(𝑝) ²+ (2)
composição de materiais fibrosos (compostos
basicamente de materiais plásticos e têxteis), e A figura 1, a seguir, apresenta o comportamento
uma pasta, composta de qualquer outro material típico da função 𝑓𝑚 , obtido como uma função
não fibroso (madeira, compostos orgânicos, da tensão de cisalhamento do RSU. Observe,
borracha, vidro, água, líquidos em fase de que a medida que ocorre o aumento da tensão
decomposição, etc.), assim o modelo é aplicada a função tende para 1.
essencialmente duplo, com cada fase possuindo
seu modelo constitutivo particular.
O comportamento da pasta do RSU é previsto
dentro do modelo de estado crítico, CAM-
CLAY MODIFICADO, com a uma lei de fluxo
não associada.
O material fibroso se comporta conforme um
material elástico/perfeitamente plástico, tendo
como critério de plastificação o critério de Von
Mises (máxima tensão desviadora).
A tensão desviadora, q, que o RSU é submetido Figura 1: Relação da função de mobilização e
é parcialmente suportada pelas fibras e pela deformação axial – Fonte: Machado et al. (2002).
pasta. Já a tensão octaédrica média, p, é a
mesma para a fibra e a pasta. Para o modelo, a deformação elástica cisalhante
das fibras, através desta função, pode ser
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𝑝
reescrita como uma função da deformação 𝑑𝜀𝑣𝑝
𝑒 𝑝 =
elástica cisalhante da pasta, 𝑑𝜀𝑠𝑝 , dada por: 𝑑𝜀𝑠𝑝
1
1
(1+𝑛) 𝑀[𝑝𝑛 (𝑝0 − 𝑝)](1+𝑛)−1 [𝑝𝑛−1 𝑛(𝑝0 − 𝑝) −
𝑒 𝑒 −1
𝑑𝜀𝑠𝑓 = 𝑓𝑚 . 𝑑𝜀𝑠𝑝 (3) 𝜋 𝑝𝛽
𝑝𝑛 ]. ,1 + 𝑠𝑖𝑛 *2𝜓𝛽 (𝑝 )+ 2𝑛- (7)
0

O incremento nos valores de q na pasta, 𝑑𝑞𝑝 ,


são obtidos através de: A equação 8 é utilizada para o cálculo do 𝑑𝑞 do
RSU como um todo, enquanto que a equação 9
𝑒
𝑑𝑞𝑝 = 3𝐺𝑝 . 𝑑𝜀𝑠𝑝 (4) relaciona os incrementos de deformação
volumétrica do RSU e da pasta. 𝑉𝑝 é a razão
Sendo, entre o volume da pasta e o volume total e 𝑉𝑓 é
análogo a 𝑉𝑝 , considerando agora o volume da
𝐺𝑝 o módulo cisalhante da pasta; fibra. A equação 10 é utilizada para o cálculo da
𝑒
𝑑𝜀𝑠𝑝 o incremento de deformação elástica deformação cisalhanete do RSU.
cisalhante da pasta.
𝑑𝑞 = 𝑑𝑞𝑝 . 𝑉𝑝 + 𝑑𝑞𝑓 𝑉𝑓 (8)
A superfície de plastificação é dada pela
1+𝑒𝑝
equação 5 enquanto que a lei de encruamento e 𝑑𝜀𝑣 = 𝑉𝑒 (1+𝑉 .𝑒 ) 𝑑𝜀𝑣𝑝 (9)
a lei de fluxo são dadas pelas equações 6 e 7.: 𝑒 𝑝

1 1 Sendo,
𝑓𝑝 = 𝑞𝑝 − 𝑀[𝑝𝑛 (𝑝0 − 𝑝)](1+𝑛) 𝑛(1+𝑛) = 0 (5)
𝑒𝑝 o índice de vazios da pasta;
Sendo, 𝑉𝑒 a relação de índice de vazios do RSU e do
índice de vazios da pasta.
𝑞𝑝 a tensão desviadora na pasta;
𝑀 a inclinação da CSL; 𝑑𝜀𝑠 = 𝑑𝜀𝑠𝑝 . 𝑉𝑝 + 𝑑𝜀𝑠𝑓 . 𝑉𝑓 (10)
𝑝 a tensão octaédrica;
𝑝0 a tensão que define a posição da superfície Assim, o presente trabalho visa a suprir uma
de plastificação; parte da necessidade de simular o
𝑛 = 2 onde para 𝑛 = 1 a função retorna para a comportamento mecânico dos resíduos sólidos
equação original do CAM-CLAY urbanos em campo, através de implementação
MODIFICADO. numérica de um modelo baseado em elementos
finitos, tomando como base o modelo
𝑝 𝑑𝑝0
𝑑𝜀𝑣𝑝 = (𝜆 − 𝜅) (6) constitutivo proposto por Machado et al.
𝑝0
(2002).
Sendo,
2 METODOLOGIA
𝜆e 𝜅 parâmetros do material.
Para implementação do modelo proposto por
Machado et al. (2002) foi escolhido o código
numérico do CRISP.
O algoritmo CRISP é descrito em Britto e Gunn
(1987). É um aplicativo de código aberto que
além da simulação com o Cam-Clay e Cam-
Clay Modificado, também realiza simulações
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para materiais elásticos anisotrópicos e elásticos fluxo não associada ao modelo do Cam-Clay
com variação de profundidade. Modificado do CRISP. Num primeiro momento,
No CRISP para realizar a análise de elementos foram desenvolvidos os termos analíticos da
finitos não-lineares, através de modelos pasta do modelo sendo estes então
elastoplásticos para o comportamento dos solos, implementado nas subrotinas do código original
é fundamental determinar a matriz de rigidez do CRISP.
elastoplástica, Dep, a qual relaciona o As novas subrotinas foram testadas na
incremento de deformação com um incremento simulação de um ensaio triaxial e os resultados
de tensão: obtidos foram comparados aos obtidos pelo
modelo implementado em uma planilha de
𝛥𝜎 = 𝐷ep .𝛥𝜀 (11) cálculo. Para modelagem do ensaio triaxial foi
adotada uma amostra de 10x20 cm, uma malha
A partir da função da superfície de plastificação com 54 nós e 80 elementos finitos tipo LST
f(σ, h) = 0 e do potencial plástico g(σ, h) = 0, (Linear Strain Triangle), sendo duas
Zienkiewicz (1977) apresenta uma forma de simulações: uma com tensão confinante e de pré
obter a matriz Dep, a partir de f(σ, h) e g(σ, h),
dada pela seguinte expressão: adensamento de 100 kPa, e outra na mesma
condição com 200 kPa. Para ambas, Foi adotada
uma trajetória de tensões convencional, 1:3,
ep = *1 − +. (12) trajetória mais comum para os ensaios triaxias.

Para melhor comparação com os resultados
obtidos em planilha, foram utilizados 200
Onde, devido ao fato da lei de fluxo ser passos, divididos em 10 blocos de incremento
associada: de tensão desviadora. O tipo de ensaio
modelado foi CD (drenado), a análise do tipo
𝑓 𝑔
= = (13) axissimétrica e os parâmetros do material
conforme Tabela 1 a seguir. Tais parâmetros
foram obtidos através de ensaios triaxiais
𝑓 consolidados drenados e não-drenados.
= (14)
𝑕
Tabela 1 Parâmetros de entrada para simulação do ensaio
triaxial. Fonte: Machado et al. (2002).
Sendo H o módulo plástico, que relaciona o   𝑒 M 
encruamento com os incrementos de
0.02 0.151 2.630 0.73 0.36
deformações plásticas. A expressão (13) só é
possível a igualdade devido a associação da lei
de fluxo, pois em caso diferente, as derivadas Sendo 𝑒 o índice de vazios do material
das funções de superfície de plastificação e
potencial plástico, serão diferentes, logo para o A figura 2, a seguir, apresenta a malha do
caso da pasta a expressão (13) não é válida. problema simulado.
O símbolo DE é utilizado para enfatizar que são
apenas os termos elásticos da matriz D.
O termo “matriz D” passou a ser utilizado
comumente em elementos finitos seguindo a
notação Zienkiewicz (1977).
Como pré e pós processador foi escolhido o
GiD®, bastante utilizado no meio geotécnico no
processamento gráfico dos resultados e na
entrada das condições iniciais do problema.
O presente trabalho apresenta a implementação
da nova superfície de plastificação e da lei de
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Figura 3: Plano qxp para tensão confinante de 100 kPa e


Figura 2: Malha simulada 10cm x 20 cm. Fonte: Autor. trajetória de tensões 1:3. Fonte: Autor.

Onde pode-se notar elementos triangulares com A figura 4 apresenta os resultados para
tamanho constante, totalizando 80 elementos. simulação das curvas tensão desviadora versus
Sendo que o nó 6, em destaque, foi o nó deformação axial para a tensão confinante de
utilizado para obtenção dos valores de 100 kPa. Nota-se que, os resultados obtidos
deslocamentos no arquivo de saída. numericamente foram praticamente
Foram plotados resultados das curvas de tensão- coincidentes com a solução analítica,
deformação, em termos de q x εa, deformação ressaltando o fato de que a partir da deformação
volumétrica vs deformação axial, em termos de axial de aproximadamente 20,00%, os
εv x εa, e o plano p’ x q para trajetória de resultados numéricos apresentam uma pequena
tensões, assim como seus respectivos valores de divergência, assumindo valores de tensão
Po. desviadora ligeiramente superiores para cada
deformação respectiva.
3 RESULTADOS E ANÁLISES

Conforme descrito na metodologia, duas


simulações foram realizadas no CRISP
adaptado.
Na figura 3 é representado o plano qxp, para a
tensão confinante de 100 kPa. A curva em
pontos representa a superfície de escoamento,
baseada na expressão (5), a reta contínua
representa a linha estados críticos do material,
CSL, assim como a reta tracejada representa a
trajetória de tensões. Nota-se que, com base na
teoria da Mecânica dos Solos dos Estados
Críticos, se a linha da trajetória de tensões, Figura 4: Curva tensão desviadora vs deformação axial
para tensão confinante de 100 kPa. Fonte: Autor.
tracejada, tocasse a CSL, o material atingiria a
ruptura, logo foi realizada a simulação para
A figura 5 apresenta os resultados para a
valores muito próximos desta iminência de
simulação das curvas de deformação
ruptura.
volumétrica versus deformação axial para a
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tensão confinante de 100 kPa. O mesmo efeito


discutido anteriormente ocorre para estas
simulações, a solução numérica apresentou
valores ligeiramente maiores que a solução
analítica a partir de uma deformação axial de
20,00% aproximadamente.

Figura 7: Curva tensão desviadora vs deformação axial


para tensão confinante de 200 kPa. Fonte: Autor.

Figura 5: Curva deformação volumétrica vs deformação


axial para tensão confinante de 100 kPa. Fonte: Autor.

As figuras 6, 7 e 8 mostram os resultados


obtidos para a simulação com uma tensão
confinante de 200 kPa. De forma análoga ao
simulado para tensões confinantes de 100 kPa,
mostradas anteriormente, a trajetória de tensões
foi simulada chegando próximo da CSL, e os Figura 8: Curva deformação volumétrica vs deformação
resultados para tensão desviadora e deformação axial para tensão confinante de 200 kPa. Fonte: Autor.
volumétrica, apresentaram valores ligeiramente
superiores, quando comparados aos resultados As figuras 9 e 10, a seguir, fazem parte do pós
analíticos, a partir de uma deformação axial de processamento realizado no GiD®. A figura 9
20,00% aproximadamente. apresenta uma homogeneidade na distribuição
das tensões principais em todos os elementos da
malha, já a figura 10, apresenta o campo de
deslocamentos com os vetores na direção para
baixo e para direita.

Figura 6: Plano qxp para tensão confinante de 200 kPa e


trajetória de tensões 1:3. Fonte: Autor.
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muito alta, acima de 50,00% se dá devido ao


fato de que, para o modelo a Lei de Fluxo é não
associada, conforme expressão (7), logo os
incrementos de deformação cisalhante são
acentuados.
Para os resultados de pós-processamento, as
tensões principais ainda apresentaram seu
estado homogêneo, devido ao fato de que a
simulação realizada não atingiu a CSL, caso
isto ocorresse, os resultados numéricos
apresentariam divergência e inconsistência, uma
vez que o programa não simula a ruptura, por
está baseado na mecânica do contínuo. No
campo de deslocamentos, o vetores indicam a
Figura 9: Distribuição das tensões principais para as formação da banda de cisalhamento típica dos
simulações de 100 e 200 kPa. Fonte: Autor. materiais que entram no regime de escoamento
durante o ensaio triaxial CD.
Portanto, enquanto implementação parcial do
modelo, ou seja, desprezando o efeito da fibra,
os resultados numéricos foram satisfatórios.

AGRADECIMENTOS

Ao laboratório de Geotecnia Ambiental da


Universidade Federal da Bahia.
Ao Departamento de Geomecânica
Computacional da Universidade Federal da
Bahia.

REFERÊNCIAS

BRITTO, A.M. and GUNN, M.J. (1987) Critical State


Figura 10:Campo de deslocamentos para as simulações Soil Mechanics via Finite Elements. John Wiley &
de 100 e 200 kPa. Fonte: Autor. Sons, New York.
BLIGHT, G. (2008) Slope failures in municipal solid
waste dumps and landfills: a review. Waste
Management & Research 26 (5):448-463
4 CONCLUSÕES
doi:10.1177/0734242x07087975.
CARVALHO, Miriam de Fátima (1999) Comportamento
Fazendo uma avaliação dos resultados mecânico de resíduos sólidos urbanos. Tese
discutidos no capítulo anterior, podemos (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos,
concluir que os resultados obtidos USP. 300 p.
KOERNER, R.M. & SOONG T.Y. (2000) Leachate in
numericamente, após adaptação do algoritimo
landfills: the stability issues. Geotextiles and
CRISP, foram satisfatórios. A pequena variação Geomembranes. 18 p (5):293-309.
para as curvas a partir de uma deformação axial MACHADO, S.L.; CARVALHO, M.F. & VILAR, O.M.
de 20,00% se deu, devido ao fato de que, neste (2002) Constitutive model for municipal solid waste.
ponto, o material começa a atingir seu estado Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
Engineering, Vol. 128, No. 11, p.940-951.
crítico, o que implica em deformações
SOWERS, G. F. (1973). Settlement of Waste Disposal
cisalhantes acentuadas. A deformação axial Fills. In: Eighth International Conference on Soil
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Mechanics and Foundation Engineering’s, v.2, parte


2, Moscow- URSS, 1973; p.207-210.
ZEIDABADI, M. A.; Shariatmadari, N. &
KARIMPOUR-FARD, M.(2016) Validation of
hyperbolic model by the results of triaxial and direct
shear tests of municipal solid waste. Artigo submetido
e aceito ao Geotechnical and Geological Engineering
aguardando publicação. Manuscrito número GEGE-
D-15-00295R2.
ZIENKIEWICZ, O. C. (1977). The Finite Element
Method. Third Ed. McGraw-Hill, Inc, 787 p.
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Influência da Compactação nos Parâmetros de Adensamento de


um Solo Argiloso
Renan Felipe Braga Zanin
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, renan_zanin@hotmail.com

Alana Dias de Oliveira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, alanadioliva@hotmail.com

José Wilson Santos Ferreira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, wilson_s.ferreira@hotmail.com

Flávia Gonçalves
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, flavia_golcalves.fg@hotmail.com

Carlos José Marques da Costa Branco


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, costabranco@uel.br

Raquel Souza Teixeira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, raquel@uel.br

RESUMO: Este estudo analisa os parâmetros de compressibilidade do solo superficial laterítico do


Campo Experimental de Engenharia Geotécnica (CEEG) da Universidade Estadual de Londrina
(UEL) em sua estrutura natural e compactada, nas condições inundada e não inundada. As amostras
indeformadas foram coletadas em bloco a profundidade de 2 m, enquanto que as amostras
deformadas foram compactadas na energia Normal de Proctor em laboratório. No total foram
ensaiados 10 corpos de provas: 4 indeformados inundados, 4 indeformados não inundados, 1
compactado inundado e um outro compactado não inundado. Os índices físicos apresentaram baixas
variações, indicando homogeneidade entre os corpos de prova, para cada condição. Acerca dos
resultados das diferentes condições de inundação, o solo inundado apresentou menores valores de
tensão de pré-adensamento e maiores deformações, independentemente da compactação. O solo
indeformado apresentou maiores deformações em relação aos compactados, fato que comprova o
melhoramento do comportamento de compressibilidade do solo pela compactação.

PALAVRAS-CHAVE: Parâmetros de compressibilidade, Estrutura natural e compactada, Ensaio


inundado e não inundado, Deformações.

1 INTRODUÇÃO danos à estrutura e desconforto ao usuário


(RODRIGUES et al., 2014).
A compressibilidade do solo é definida como Segundo Velloso e Lopes (2010), a análise
a mudança de volume quando submetido a da deformabilidade do solo é um quesito
cargas externas. Esta mudança física, essencial para a realização dos projetos de
denominada de recalque por compressibilidade, fundações de uma obra, pois esta característica
pode causar diversos prejuízos às edificações varia de acordo com o tipo e as condições em
construídas sobre o solo, principalmente se os que o solo se encontra, podendo apresentar uma
recalques forem diferenciais, podendo trazer deformação rápida ou lenta após a aplicação de
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cargas ao longo do tempo. Parte dessa seca máxima, obtidos pela curva de
deformabilidade pode ser devida à compactação usando Energia Normal de
compressibilidade do solo. Proctor, se encontram na Tabela 1
O estudo do comportamento de (GONÇALVES et al., 2017).
compressibilidade do solo é realizado em
laboratório através do Ensaio de Compressão
Edométrica ou Ensaio de Adensamento, sendo Tabela 1. Caracerização física e parâmetros de
compactação do solo de Londrina
avaliado por meio dos parâmetros de
Massa específica dos sólidos (g.cm-³) 3,03
adensamento obtidos: tensão de pré-
Limite de Liquidez - LL (%) 52
adensamento, coeficiente de adensamento,
índice de compressibilidade, coeficiente de Limite de Plasticidade - LP (%) 38
compressibilidade, e coeficiente de variação Argila (%) 55,50

Granulométricas
volumétrica (σ’a , Cv , Cc, av e mv). Silte (%) 23,50

Frações
Visto que o solo pode ser encontrado na Areia Fina (%) 20,73
natureza saturado ou não saturado, a análise Areia Média (%) 0,27
destes parâmetros de adensamento sob ambas as Classificação Argila siltosa
situações é de suma importância (TAKEDA, Umidade ótima – wótima (%) 32,4
2006). Além disso, o melhoramento do solo por Massa específica seca máxima – ρd máx
1,43
meio da compactação altera este (g.cm-3)
comportamento de compressibilidade,
garantindo menores deformações (CRISPIM,
2010). 2.2 Ensaio de Adensamento
Dito isto, este trabalho tem como objetivo
avaliar o comportamento de compressibilidade Ao todo, foram realizados 10 ensaios de
do solo de Londrina/PR, em sua estrutura adensamento, sendo eles: cinco na condição
natural e compactada, por meio de ensaios de inundada (quatro na estrutura natural e um na
adensamento realizados nas condições inundada estrutra compactada) e cinco na condição não
e não inundada. inundada (quatro na estrutura natural e um na
estrutra compactada).
Os corpos de prova compactados foram
2 MATERIAIS E MÉTODOS moldados a partir de amostras compactadas na
Energia Normal de Proctor, realizadas em um
2.1 Solo cilindro de dimensões padronizadas de 12,7 cm
de altura e 10,0 cm de diâmetro. Foram
As amostras deformadas e indeformadas do aplicados 26 golpes com um soquete padrão, de
solo de Londrina foram coletadas no Campo 2,5 kg e altura de queda de 30 cm, em três
Experimental de Engenharia Geotécnica camadas de aproximadamente 4 cm cada. Entre
(CEEG) do campus da Universidade Estadual uma camada e outra, escarificou-se o solo já
de Londrina (UEL). As deformadas foram compactado para melhor aderência, segundo a
retiradas da camada superficial e preparadas NBR 7182/1986.
segundo a NBR 6457/1986, enquanto que as Para todas as amostras e corpos de prova
indeformadas de um poço de aproximadamente compactados foi feito um controle de
2 metros de profundidade. Para estas últimas, compactação, admitindo apenas os que tivessem
foram coletados blocos de 30 x 30 x 30 cm, um desvio de ±0,2 % da umidade ótima e um
parafinados e armazenados na câmara úmida do grau de compactação mínimo de 95 %.
Laboratório de Geotecnia da UEL. Corpos de prova circulares de 8 cm de
Este solo é classificado como uma argila diâmetro de 3,2 cm de altura foram moldados
siltosa e suas características físicas, bem como com o auxílio de um anel metálico, para ambas
os valores de umidade ótima e massa específica estruturas do solo. A massa e a umidade destes
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corpos de prova foram aferidas e, com o volume Os carregamentos dos ensaios inundados
conhecido, foram obtidos os índices físicos. foram iniciados depois de 24 horas do
Após a moldagem, iniciou-se a montagem da preenchimento da câmara por água, para
câmara de adensamento na seguinte ordem: garantir o máximo possível de saturação do
pedra porosa, papel filtro, corpo de prova, papel corpo de prova.
filtro, pedra porosa e cabeçote (Figura 1). A Carregamentos de 10, 20, 40, 80, 160, 320,
câmara foi posicionada na prensa juntamente 640 e 1280 kPa foram realizados, de acordo
com o extensômetro, utilizado para as leituras com o método MB 3336/1990. Em cada estágio
de deformação (Figura 2). de carregamento foram feitas leituras de
deformação nos intervalos de 8, 15 e 30
segundos, 1, 2, 4, 8, 15 e 30 minutos, 1, 2, 4, 8 e
24 horas.
Ao final do último carregamento, foram
feitos os estágios de descarregamento com a
retirada das seguintes tensões, sequencialmente:
640, 320, 160 e 150 kPa. Para esta etapa, as
leituras de deformação foram feitas nos mesmos
intervalos de tempo descritos anteriormente,
porém finalizadas em duas horas, uma vez que,
após este período, as deformações foram
desprezíveis.
Com os dados obtidos nos ensaios, as curvas
de adensamento foram construídas e os
parâmetros de deformabilidade obtidos por
meio de métodos gráficos, referente ao método
de Pacheco e Silva, para se encontrar a tensão
de pré-adensamento, e o de Taylor, para se
encontrar o coeficiente de adensamento. O
coeficiente de adensamento foi obtido para o
Figura 1. Montagem da câmara de adensamento carregamento mais próximo da tensão de pré-
adensamento.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os índices físicos de todos os corpos de prova


nas duas condições estruturais e de ensaio são
apresentados na Tabela 2. Como só foram
realizados dois ensaios na estrutura
compactada, um em cada condição de
inundação, para estes dados não foi feita a
análise estatística.
O coeficiente de variação para todos os
índices físicos dos corpos de prova na estrutura
Figura 2. Prensa de adensamento: (a) braço de alavanca; natural ficou abaixo de 15 %, valor de baixa
(b) extensômetro; (c) câmara de adensamento; (d) dispersão (PIMENTEL GOMES, 1990). Dito
pendural para cargas isto, pode-se considerar que todos os corpos de
prova são homogêneos.
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As curvas de adensamento normalizadas ensaios para cada condição de estrutura do solo


para os ensaios feitos na condição não inundada a fim de se facilitar a análise conjunta de todos
e inundada, são expostas nas Figuras 3 e 4, os resultados.
respectivamente. Foram feitas as médias dos

Tabela 2. Índices físicos dos corpos de prova dos ensaios de adensamento

Condição do Estrutura do Corpo


Corpo de Prova w (%) e Sr (%) ρ (g/cm³)
Ensaio de Prova

CP01-N¹ 42,7 2,15 60,2 1,37


CP02-N¹ 46,0 2,22 62,7 1,37
CP03-N¹ 45,7 2,11 65,5 1,42
Não Inundado

Natural CP04-N¹ 47,5 2,18 66,1 1,41


Média 45,5 2,17 63,6 1,39
Desvio Padrão 2,0 0,05 2,7 0,03
CV (%) 4,4 2,15 4,3 1,89
Compactada CP05-C² 33,5 1,16 87,5 1,87
CP06-N¹ 51,0 2,03 76,2 1,51
CP07-N¹ 48,7 1,98 74,7 1,51
CP08-N¹ 48,0 1,93 75,4 1,53
Inundado

Natural CP09-N¹ 44,4 1,97 68,2 1,47


Média 48,0 1,98 73,6 1,51
Desvio Padrão 2,7 0,04 3,7 0,03
CV (%) 5,7 2,08 5,0 1,67
Compactada CP10-C² 33,4 1,20 84,5 1,84
Nota: w = Teor de umidade; e = Índice de vazios; Sr = Grau de saturação; ρ = Massa específica; CV = Coeficiente de
variação; ¹N = Corpo de Prova Natural; ²C = Corpo de Prova Compactado.

Os corpos de provas ensaiados na estrutura independentemente de sua estrutura. Este


natural (CPs 01, 02, 03, 04, 06, 07, 08 e 09) comportamento corresponde ao observado pela
apresentaram maiores deformações em relação literatura, já que o solo, ao entrar em contato
aos ensaiados na estrutura compactada (CPs 05 com a água, tem sua estrutura afetada e a
e 10), tanto na condição não inundada, quando coesão entre os grãos sofre decréscimos.
na inundada. Isso se deve ao fato de que a Por meio dos métodos gráficos, obteve-se os
compactação diminui o volume de vazios da valores dos parâmetros de adensamento dos
estrutura do solo, e assim, reduz a variação corpos de provas (Tabela 3). Para a tensão de
volumétrica do corpo de prova. pré-adensamento, optou-se pelo método de
Em relação ao diferente comportamento do Pacheco e Silva. Já para o coeficiente de
solo sob condições de inundação distintas, os adensamento para o estágio de carregamento
corpos de provas ensaiados na condição mais próximo da tensão de pré-adensamento, o
inundada apontaram maiores deformações, método de Taylor foi o utilizado.
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Figura 3. Curvas de adensamento dos corpos de prova ensaiados na condição não inundada
Nota: ¹N = Corpo de Prova Natural; ²C = Corpo de Prova Compactado.

Figura 4. Curvas de adensamento dos corpos de prova ensaiados na condição inundada


Nota: ¹N = Corpo de Prova Natural; ²C = Corpo de Prova Compactado.
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Tabela 3. Parâmetros de adensamento dos corpos de prova ensaiados


Condição Estrutura do
Corpo de Prova σa (kPa) Cv (cm²/s) Cc av (kPa-1) mv (kPa-1)
do Ensaio Corpo de Prova
CP01-N¹ 58,0 2,10E-02 0,76 7,00E-04 2,17E-04
CP02-N¹ 61,0 1,73E-02 0,72 6,00E-04 1,93E-04
Não Inundado

CP03-N¹ 48,0 1,55E-02 0,76 6,00E-04 1,89E-04


Natural CP04-N¹ 47,0 2,21E-02 0,77 6,00E-04 1,98E-04
Média 53,5 1,90E-02 0,75 6,25E-04 1,99E-04
Desvio Padrão 7,1 0,00 0,02 5,00E-05 1,24E-05
CV (%) 13,2 16,31 2,95 8,00 6,22
Compactada CP05-C² 160,0 1,58E-01 0,16 1,20E-04 5,60E-05
CP06-N¹ 42,0 1,40E-02 0,67 2,00E-04 6,60E-05
CP07-N¹ 54,0 1,45E-02 0,66 2,00E-04 6,72E-05
CP08-N¹ 46,0 1,87E-02 0,65 3,00E-04 1,02E-04
Inundado

Natural CP09-N¹ 45,0 1,97E-02 0,63 2,00E-04 6,72E-05


Média 46,8 1,67E-02 0,65 2,25E-04 7,56E-05
Desvio Padrão 5,1 0,00 0,02 5,00E-05 1,76E-05
CV (%) 11,0 17,30 2,62 22,22 23,29
Compactada CP10-C² 115,0 1,92E-01 0,21 1,60E-04 7,30E-05
Nota: σa = Tensão de pré-adensamento; Cv = coeficiente de adensamento; Cc = Índice de compressão; av = Coeficiente
de compressibilidade; mv = Coeficiente de deformação volumétrica; CV = Coeficiente de variação; ¹N = Corpo de
Prova Natural; ²C = Corpo de Prova Compactado.

Em média, a tensão de pré-adensamento se sofreram variações significativas nas diferentes


mostrou maior na condição não inundada, tanto condições de ensaio.
para o solo natural, quanto para o compactado,
o que já era esperado, considerando que a 4 CONCLUSÃO
condição inundada representa a mais crítica
para o solo, evidenciando que a inundação Analisando os índices físicos, foi observado um
transforma o solo original em um solo de coeficiente de variabilidade abaixo de 15 %,
comportamento bastante diferenciado. sendo estes corpos de prova considerados
Em relação ao coeficiente de adensamento homogêneos.
(Cv), era esperado que o solo compactado Em relação às diferentes estruturas, o solo
apresentasse valores mais baixos que o natural compactado apresentou maiores valores de
para uma mesma tensão aplicada, visto que sua tensão de pré-adensamento, visto que sua
estrutura possui menor volume de vazios e, estrutura é mais estável em consequência do
consequentemente, menor permeabilidade processo de compactação feito em laboratório.
(OZELIM et al., 2014). Porém os corpos de No tocante às deformações do solo nos
prova compactados obtiveram maior Cv. Um ensaios inundados, essas apresentaram
dos fatores que influenciaram nesta ocorrência magnitudes mais elevadas, visto que a resposta
foi que o Cv foi calculado para as tensões às tensões aplicadas, tanto na estrutura natural,
próximas às de pré-adensamento (σa). O solo quanto na compactada, é pior quando a
compactado apresentou elevados valores de σa saturação é maior.
(160 e 115 kPa), o que deve ter compensado a Os parâmetros de adensamento indicaram a
baixa permeabilidade, e assim, o solo deformou significativa diferença entre as estruturas
com maior velocidade que o solo indeformado. analisadas. Os corpos de prova compactados
Os demais parâmetros de adensamento não apresentaram maior tensão de pré-adensamento,
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enquanto os indeformados mostraram maiores Pimentel Gomes, F. (1990) Curso de Estatística


valores de índice de compressão, coeficiente de Experimental. 12.ed. Piracicaba: Nobel, 467p.
Rodrigues, N. L. et al. (2014) Comparação de Ensaios de
compressibilidade e coeficiente de deformação Adensamento Realizados em Equipamento de
volumétrica, já que estes corpos de prova Cisalhamento Simples (DSS) e em Prensa de
tiveram maiores deformações. Adensamento, XVII Congresso Brasileiro de
Desses resultados foi constatado que o Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
processo de compactação resulta em um melhor (COBRAMSEG), Goiânia, Anais do XVIII
COBRAMSEG.
comportamento do solo em relação à Velloso, D. A; Lopes, F. R. (2010) Fundações: critérios
deformabilidade, minimizando os efeitos de de projeto, investigação do subsolo, fundações
recalques, permitindo acréscimos na aplicação superficiais, fundações profundas I. São Paulo:
de tensões de cerca de 200 % e 145 % para as Oficina de Textos.
condições não inundada e inundada, Takeda, M. C. (2006) A Influência da Variação da
Umidade Pós-Compactação no Comportamento
respectivamente, sem que a compressão Mecânico de Solos de Rodovias do Interior Paulista.
primária se manifeste. Tese de Doutorado, Doutorado em Engenharia Civil,
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo, São Carlos.
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Laboratório de


Geotecnia da Universidade Estadual de
Londrina, a Fundação Araucária e a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) pelo fomento de
bolsas aos estudantes de Pós-Graduação
envolvidos no trabalho.

REFERÊNCIAS

ABNT MB 3336 (1990). Ensaio de Adensamento


Unidimensional. Rio de Janeiro.
ABNT NBR 6457 (1986). Amostras de Solo –
Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
de Caracterização. Rio de Janeiro.
ABNT NBR 7182 (1986). Solo – Ensaio de
Compactação. Rio de Janeiro.
Crispim, F. A. (2010) Influência de Variáveis de
Compactação na Estrutura dos Solos: Caracterização
Geotécnica, Química, Mineralógica e
Microestrutural. Tese de Doutorado, Doutorado em
Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa.
Gonçalves, F. et al. (2017) Incremento de lodo de ETA
em barreiras impermeabilizantes de aterro sanitário.
Revista DAE, ed. 205, p. 5-14. doi:
10.4322/dae.2016.018.
Ozelim, L. C. S. M. et al. (2014) A Aplicação de Novos
Paradigmas para o Entendimento do Fenômeno de
Adensamento em Solos Estruturados e Colapsíveis,
XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG), Goiânia,
Anais do XVIII COBRAMSEG.
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Influência da Posição da Amostra sobre a Resistência ao


Cisalhamento de um Solo Residual Compactado
Paulo César Baptiston
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, pbaptiston@gmail.com

Paulo Sérgio de Almeida Barbosa


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, pbarbosa@ufv.br

Géssica Soares Pereira


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, gessica.soares@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Natália de Faria Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, natalia.f.faria@ufv.br

RESUMO: O presente trabalho analisou a eventual variabilidade da resistência ao cisalhamento de


corpos de prova de solo compactado ao longo de sua altura ou espessura. Para o desenvolvimento
da pesquisa, utilizou-se um solo residual maduro pedologicamente classificado como Latossolo
Vermelho-Amarelo, de expressiva ocorrência no estado de Minas Gerais. Foram realizados ensaios
de caracterização geotécnica no solo e de compactação na energia do Proctor Normal para a
produção de amostras compactadas na umidade ótima. Destas amostras compactadas, foram
moldados novos corpos de prova extraídos de três alturas diferentes (Topo, Meio e Base), para a
realização de ensaios de cisalhamento direto. Para as particularidades da pesquisa, os resultados
obtidos mostraram que os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo se diferenciaram
quando a amostragem para o ensaio de cisalhamento direto foi realizada em uma posição específica
ou altura doscorpos de prova de solo previamente compactados, o que não ocorreu quando essa
amostragem foi realizada considerando-se as diferentes posições desses corpos de prova.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Residual Maduro, Variabilidade da Resistência, Ensaio de


Compactação, Resistência ao Cisalhamento do Solo.

1 INTRODUÇÃO e em barragens.
Ao analisar o solo como um material de
A busca por novas tecnologias na área da construção, os estudos de suas propriedades
engenharia tem ocasionado inúmeros estudos mecânicas e hidráulicas são geralmente
sobre o comportamento dos mais variados realizados em amostras reconstituídas,
materiais, tais como concreto, madeira, plástico, utilizando-se uma das técnicas de compactação
metais, solos, dentre outros. Abordando mais disponíveis. De acordo com Trindade et al.
especificamente o solo, sua utilização é de suma (2008), a compactação dos solos pode ser
importância nas mais variadas obras de entendida como uma ação mecânica a partir da
engenharia geotécnica, como, por exemplo,na qual o solo é submetido a uma redução rápida
construção de camadas estruturais de de seus vazios com uma umidade constante,
pavimentos rodoviários, em obras de contenção objetivando uma transformação das
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propriedades do solo natural. de prova são retirados de amostras compactadas


Uma das formas de preparo das amostras é a para os ensaios de resistência ao cisalhamento,
compactação de corpos de prova em camadas, pois se imagina que tais amostras são
de modo a se garantir a eficiência da homogêneas.
compactação com a profundidade. Contudo, ao No entanto, a posição que o corpo de prova
se compactar um solo em diversas camadas, ocupa na amostra compactada, aparentemente,
pressupõe-se que as camadas mais profundas, deveria ser levada em conta, pois a
ou seja, as primeiras camadas a serem homogeneidade da amostra pode ser
compactadas, recebem uma maior energia, pois, comprometida pelo processo de compactação e,
durante tal processo, parte da energia de com isso, influenciar os parâmetros de
compactação de uma camada sobrejacente resistência ao cisalhamento do solo resultantes
também atinge as mais profundas. do ensaio de laboratório.
Crispim (2007) relata que, quando um Neste sentido, o estudo realizado no presente
mesmo solo é compactado utilizando um trabalho visou verificar o quanto a posição
mesmo procedimento, porém com emprego de relativa das amostras dentro do corpo de prova,
diferentes níveis de energia de compactação, compactado em diferentes camadas, interfere na
verificam-se diferenças entre as respectivas homogeneidade das amostras e como o efeito
umidade ótima e massa específica seca máxima dessa posição pode influenciar a resistência ao
obtidas. Dessa maneira, espera-se que esses cisalhamento de um solo residual compactado.
diferentes níveis de energia que atinge cada Salienta-se que, na literatura técnico-científica
camada possam provocar modificações distintas pesquisada, não foi constatada nenhuma
nas características físicas (índice de vazios, pesquisa que evidenciasse essa preocupação.
peso específico, etc.), mecânicas (resistência ao
cisalhamento, compressibilidade) e hidráulicas
(condutividade hidráulica) para cada uma das 2 MATERIAIS E MÉTODOS
camadas do solo compactado.
SegundoTrindade et al. (2008), a resistência 2.1 Caracterização do Solo
ao cisalhamento, a deformabilidade e a
permeabilidade são, geralmente, dependentes O solo analisado é proveniente da Zona da Mata
do índice de vazios do solo, sendo comum Norte de Minas Gerais. Trata-se de um solo
associar-se à sua redução o aumento na residual maduro de gnaisse, classificado
resistência ao cisalhamento e reduções na pedologicamente como Latossolo Vermelho-
deformabilidade e permeabilidade dos solos. Amarelo (LVA). Na Tabela 1, apresentam-se os
Portanto, uma dúvida que persiste é o quanto as resultados da caracterização geotécnica do solo
alterações nas propriedades do solo, causadas segundo asnormas NBR 6459 (ABNT, 1984),
nas diferentes camadas de compactação, são NBR 7180 (ABNT, 1984), NBR 6508 (ABNT,
significativas para o estudo do comportamento 1984) e NBR 7181 (ABNT, 1984).Na Tabela 2,
de engenharia do solo e, conseqüentemente, estão representados os parâmetros ótimos de
para a definição de parâmetros de projetos compactação para o solo, obtidos do ensaio de
geotécnicos. compactação na energia do Proctor Normal.
Considerando o grande campo de aplicação
de ensaios de compactação e de cisalhamento Tabela 1. Resultados da caracterização geotécnica do solo
direto em projetos geotécnicos, principalmente pesquisado.
Limites de
no que tange à obtenção dos parâmetros de Atterberg γs Granulometria
resistência ao cisalhamento de um solo, a
LL LP IP Areia Silte Argila
importância do presente estudo reside no fato de (%) (%) (%)
(kN/m³)
(%) (%) (%)
que não há, geralmente, uma grande 82 46 36 27,3 23 10 67
preocupação quanto à posição em que os corpos
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Tabela 2. Parâmetros ótimos de compactação do solo normais adotadas foram de 50, 100 e 200 kPa,
pesquisado, na energia do Proctor Normal. sendo que, para cada tensão normal, foram
Wot (%) γd (kN/m³) realizadas três repetições. Os ensaios de ruptura
por cisalhamento foram realizados sobre corpos
31,4 13,5
de prova saturados previamente adensados.
Após a aplicação da força vertical
2.2 Equipamentos utilizados
correspondente à tensão normal, era esperada a
constância das leituras de deformação vertical
2.2.1 Ensaio de Compactação
para que se iniciasse a fase de ruptura, que foi
conduzida com uma velocidade de
O ensaio de compactação do solo foi realizado
0,15mm/min., a qual foi assumida por não
de acordo com a NBR 7182 (ABNT, 1986),
corresponder a uma variável da pesquisa e cuja
utilizando-se cilindro e soquete pequenos e
magnitude foi considerada suficientemente
empregando-se a energia do Proctor Normal.
baixa para permitir a dissipação da pressão
neutra na fase de ruptura do ensaio de
2.2.2 Ensaio de Cisalhamento Direto
cisalhamento direto.
O ensaio de cisalhamento direto foi executado
de acordo com as diretrizes da ASTM D 3080
3 RESULTADOS E ANÁLISES
(ASTM, 2004), em corpos de provas com
moldes de aproximadamente 5cm de lado.
3.1 Qualidade das amostras preparadas
2.3 Métodos
A qualidade das amostras pode ser avaliada
por meio das Figuras 1 a 3 e da Tabela 3, as
As amostras do Latossolo Vermelho-Amarelo
quais são representativas, respectivamente, dos
foram preparadas segundo os parâmetros ótimos
teores de umidade, do índice de vazios e do
de compactação. Uma vez compactados, os
grau de saturação iniciais de todos os corpos de
corpos de prova foram divididos em três
prova preparados para os ensaios de
camadas de compactação, sendo denominadas
cisalhamento direto. A Tabela3, em particular,
de T (Topo), M (Meio) e B (Base). De cada
apresenta os valores máximo, mínimo e médio
uma das partes, foram moldados corpos de
desses índices, além dos correspondentes
prova, para os ensaios de cisalhamento direto.
valores de desvio padrão e de coeficiente de
No decorrer da moldagem, eram retiradas
variação.
três amostras do solo para determinação do teor
de umidade. Além disso, durante o processo de
32,5
preparação das amostras, foram determinados
Teor de umidade da amostra (%)

os valores do peso específico natural, peso 32


específico aparente seco, índice de vazios e o 31,5
grau de saturação.
31
Na preparação das amostras, teve-se o
cuidado de indicar a interface das camadas de 30,5
compactação, com o objetivo de garantir que os 30
corpos de prova para os ensaios de
29,5
cisalhamento direto não fossem moldados
nestas interfaces, que poderiam ser planos 29
preferenciais de ruptura. 0 10 20 30 40

Para cada corpo de prova compactado, as Número da amostra de ensaio


Figura 1. Variação do teor de umidade inicial das
camadas Topo, Meio e Base foram ensaiadas amostras de ensaio preparadas.
com uma mesma tensão normal. As tensões
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1,2 Engenharia Geotécnica, os respectivos


coeficientes de variação, que retratam a
Índice de vazios da amostra

1,1 dispersão em termos relativos, excluindo a


influência da ordem de grandeza da variável,
são efetivamente baixos (inferiores a 5%).
1
Assim, a baixa dispersão dos valores desses
índices é indicativa da elevada homogeneidade
0,9
desses dados e, consequentemente, das amostras
dos quais eles resultaram.
0,8 Assim, sob a perspectiva geotécnica, todos
0 10 20 30 40 os corpos de prova preparados para a realização
Número da amostra de ensaio
dos ensaios de cisalhamento direto podem ser
Figura 2. Variação do índice de vazios inicial das
amostras de ensaio preparadas. considerados como homogêneos, não
suscitando, em tese, nenhuma suspeição de sua
100
capacidade de representar o solo compactado a
ser ensaiado, independentemente da posição de
Grau de saturação da amostra (%)

95
amostragem desses corpos de prova a partir
90 desse solo.
É importante ressaltar que essa
85 homogeneidade estatística provavelmente será
incrementada quando da exposição desses
80
corpos de prova à saturação por inundação,
75 etapa anterior à de ruptura no ensaio de
cisalhamento direto e que promove a
70 eliminação da componente de sucção matricial
0 10 20 30 40 do solo, característica de materiais não
Número da amostra de ensaio saturados, portanto com grau de saturação
Figura 3. Variação do grau de saturação inicial das inferior à unidade. Esse aspecto é
amostrasde ensaio preparadas.
particularmente relevante, a fim de que as
Tabela 3. Dados gerais de índices físicos dos corpos de comparações a serem realizadas quanto às
prova preparados para os ensaios de cisalhamento direto. respostas mecânicas dos materiais ensaiados
Índice físico segundo as três posições consideradas na
Magnitudes Teor de Índice de Grau de pesquisa repousem exclusivamente sobre as
umidade (%) vazios saturação (%) eventuais diferenças entre suas estruturas
Máximo 32,1 1,1 94,7 internas saturadas, sem interveniência da
Mínimo 29,4 0,9 78,5 sucção.
Médio 30,9 1,0 85,9
Desvio
3.2 Envoltórias de resistência ao cisalhamento
0,7 0,0 4,3
padrão
Coeficiente Na Figura 4 e na Tabela 4, encontram-se,
de variação 2,3 4,8 5,0 respectivamente, as envoltórias de resistência
(%) ao cisalhamento derivadas dos ensaios de
cisalhamento direto realizados sobre as
Para cada um dos três tipos de índice físico amostras inundadas e os parâmetros de
avaliados (teor de umidade, índice de vazios e resistência associados a essas envoltórias. Para
grau de saturação), verifica-se que, a despeito cada uma das posíções investigadas, a qualidade
da variabilidade de suas magnitudes, a qual é da envoltória de resistência ao cisalhamento é
intrínseca à própria variabilidade do material evidenciada pelos elevados valores do
geológico pesquisado e, portanto, comum à coeficiente de determinação (R2), atestando,
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para essas três condições de amostragem, a representado pelo conjunto de todos os corpos
capacidade do modelo linear adotado em de prova, independente de sua posição de
representar satisfatoriamente os dados amostragem.
experimentais.
180
160

Tensão cisalhante (kPa)


180
140
Tensão cisalhante (kPa)

160
140 120
Base
120 Meio 100
Todos os
100 Topo 80 dados
80 Base 60 Todos os
Meio 40 dados
60
Topo 20
40
20 0
0 0 50 100 150 200 250
Tensão normal (kPa)
0 50 100 150 200 250
Tensão normal (kPa)
Figura 5. Envoltória de resistência ao cisalhamento de
Figura 4. Envoltórias de resistência ao cisalhamento dos todos os corpos de prova ensaiados, independente da
corpos de prova ensaiados, para cada uma das posições posição considerada.
consideradas na pesquisa (Topo, Meio e Base).
A Tabela 5 apresenta os parâmetros de
Tabela 4. Parâmetros de resistência referentes às
respectivas envoltórias de resistência ao cisalhamento resistência do solo compactado derivados da
para os corpos de prova ensaiados, segundo as posições envoltória de resistência ao cisalhamento
de amostragem consideradas na pesquisa. apresentada na Figura 5.
Posição φ (°) c (kPa) R²
Topo 30 13 0,989 Tabela 5. Parâmetros de resistência referentes à
envoltória de resisência ao cisalhamento para os corpos
Meio 35 2 0,980
de prova ensaiados, independentemente da posição de
Base 32 9 0,988 amostragem.
Posição φ (°) c (kPa) R²
Destaca-se, porém, que a aparente Todas 33 8 0,977
superposição, identificada na Figura 4, das
envoltórias de resistência ao cisalhamento para
as três posições de amostragem dos corpos de 4 CONCLUSÕES
prova é desmentida pelos respectivos
parâmetros de resistência ao cisalhamento Com base nos resultados dos ensaios de
(ângulo de atrito φ e coesão c) apresentados na cisalhamento direto obtidos com o solo LVA
Tabela 4. Particularmente para as posições (Latossolo Vermelho-Amarelo) compactado,
Topo e Meio, a diferença absoluta dos ângulos pode-se concluir que a posição relativa do corpo
de atrito é de 5º, o que geotecnicamente pode de prova (Topo, Meio e Base) extraído de uma
ser considerado como uma diferença não amostra previamente compactada desse material
desprezível. afetou, de forma não desprezível, a envoltória
Para a envoltória de resistência ao de resistência ao cisalhamento do solo.
cisalhamento obtida a partir de todos os dados Para as particularidades da pesquisa,
experimentais gerados, independentemente da constatou-se diferença nas respectivas
posição de amostragem (Figura 5), constata-se envoltórias de resistência ao cisalhamento do
que seu coeficiente de determinação é solo compactado estudado segundo cada uma
igualmente elevado, tal como identificado para dessas posições. A despeito dessa constatação,
as envoltórias obtidas para cada posição de notou-se que a referida envoltória, quando
amostragem, reforçando a tese de obtida pelo tratamento de todos os dados de
homogeneidade estatística do universo amostral resistência ao cisalhamento gerados na
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pesquisa, independentemente da posição da Compactação na Estrutura dos Solos. Dissertação.


amostragem, apresentou dispersão não Universidade Federal de Viçosa - MG, 98p.
DA TRINDADE, T. P.; DE CARVALHO, C. A. B.;
significativa, evidenciando a habilidade desses
LIMA, D. C.; BARBOSA, P. S. A.; SILVA, C. H. C.
dados em representar qualitativa e e MACHADO, C. C.(2008) Compactação dos Solos –
quantitativamente o comportamento resistente Fundamentos Teóricos e Práticos. Universidade
do material ensaiado. Federal de Viçosa – MG, Editora UFV. 95p.
Assim, para fins de engenharia geotécnica,
uma possível conclusão prática é de que a
amostragem por posição específica deve ser
evitada, devendo ser privilegiada a amostragem
em diferentes posições do material de origem a
ser estudado.
Pesquisas adicionais devem, obviamente, ser
realizadas com o propósito de incrementar o
banco de dados relacionados a esse objeto de
pesquisa, fornecendo subsídios adicionais às
conclusões preliminares desse trabalho.

AGRADECIMENTOS

Ao Departamento de Engenharia Civil (DEC)


da Universidade Federal de Viçosa, pela
infraestrutura e materiais disponibilizados para
a realização desta pesquisa, e à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG), pelo apoio ao trabalho.

REFERÊNCIAS

American Society for Testing and Materials, ASTM D


3080: Standard Test Method for Direct Shear Test of
Soils Under Consolidated Drained Conditions.
Philadelphia, 2004.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6508:
Grãos de Solos que passam na peneira de 4,8mm –
Determinação da Massa específica. Rio de Janeiro,
1984. 08p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6459:
Solo – Determinação do Limite de Liquidez. Rio de
Janeiro, 1984. 06p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7180:
Solo – Determinação do Limite de Plasticidade. Rio
de Janeiro, 1984. 03p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181:
Solo – Análise Granulométrica - Procedimento. Rio
de Janeiro, 1984. 13p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182:
Ensaio de Compactação - Procedimento. Rio de
Janeiro, 1986. 10p.
CRISPIM, F. A. (2007) Compactação de Solos:
Influência de Métodos e de Parâmetros de
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Influência do ensaio de Módulo resiliente na resistência à


compressão simples de misturas com diferentes teores de resíduos
de construção civil em um solo argiloso da Formação Geológica
Guabirotuba.
Eclesielter Batista Moreira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
eclesielter_ebm@hotmail.com

Jair Arrieta Baldovino


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, yaderbal@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Juliana Lundgren Rose


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, julrose@gmail.com

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, izzo@utfpr.edu.br

RESUMO: A presente pesquisa objetiva investigar os efeitos do ensaio de Módulo resiliente na


compressão simples quando é incorporado a um solo argiloso da Formação Geológica Guabirotuba
em quatro misturas diferentes de RCD. Esta pesquisa foi composta de ensaios laboratoriais, onde
realizou-se os ensaios de compressão simples em corpos de prova na energia de compactação Proctor
normal, em seguida foram ensaiados corpos de prova com os mesmos teores e dimensões em uma
célula triaxial para obtenção do Módulo resiliente e após o ensaio os mesmos corpos de prova foram
submetidos à compressão simples. Percebe-se que houve um aumento de resistência à compressão
simples (qu) após o ensaio de Módulo Resiliente (MR). Com os resultados dos incrementos de
resistência não-confinada (qu) do solo e das misturas 1, 2, 3 e 4 nas energias de compactação Proctor
Normal, esse incremento de resistência chega a ser de 117%.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-RCD, Módulo resiliente, Resistencia à compressão simples.

1 INTRODUÇÃO pavimentos (Leite et al., 2011; Lucena et al.,


2014; MOTTA, 2005; Rahardjo et al., 2011),
O emprego de RCD como material alternativo na sendo, de longe, a maior aplicação de agregados
construção civil não é uma técnica recente, e há reciclados em trabalhos geotécnicos no mundo
diversos estudos elaborados com o intuito de se (Cardoso et al., 2016).
aproveitar o RCD como agregado reciclado O aproveitamento de materiais alternativos em
(Cardoso et al., 2016; Gómez, 2011; Kumar qualquer campo de atividade requer cuidados
Yadav et al., 2017; Lucena et al., 2014; Prabakar técnico-ambientais. Isto posto, a realização de
et al., 2004). O maior percentual de ensaios tecnológicos de avaliação das
reaproveitamento de RCD na construção civil é propriedades mecânicas dos materiais de
por meio de sua utilização na construção de engenharia deve procurar simular as condições
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reais de solicitação no campo, em razão do uma obra próximo à cidade de Curitiba, no


pavimento sofrer fadiga ao longo do tempo em município de Fazenda Rio Grande (PR), em um
função de vários fatores, tais como das cargas local de construção de casas populares com
transientes dos veículos, das condições localização geográfica 25°41'03.9"S e
climáticas, morfológicas, geológicas e 49°18'32.5"W. Foi escolhido a terceira camada
pedológicas da região, da forma que surgem as da formação Guabirotuba, o qual é composto por
trincas e fissuras, bem como do afundamento da 35,5% de argila (< 0,002 mm), 39,5% de silte
trilha de roda. O ensaio de resistencia à (0,002 a 0,075 mm) e 25% de areia fina (0,074 a
compressão simples surgiu para determinar a 0,42 mm).
resistência à compressão de um material em
função da tensão e a deformação que esse 2.1.2 RCD
material sofre em função de uma tensão aplicada.
Há, também, o ensaio de cargas dinâmicas, O resíduo de construção civil utilizado foi
Módulo Resiliente (MR), que simula o coletado na usina de reciclagem da cidade de
comportamento resiliente de um corpo de prova Almirante Tamandaré, Região metropolitana de
sob os efeitos de cargas dinâmicas, que é similar Curitiba. O tipo de resíduo escolhido é misto, ou
ao ensaio de resistencia à compressão simples. seja, composto por resíduos cinzas (concreto,
No entanto, ao invés de determinar a resistência argamassas, etc.), vermelhos (cerâmicos) e
de um material através de uma carga de ruptura brancos (cal, gesso, etc.). Foram escolhidas duas
sem tensão confinante, o corpo de prova é granulometrias de RCD: areia (material ≤
submetido a uma sequência de pares de tensão de 4,8mm) e pedrisco (material ≤ 19,1mm); sendo
modo que há tanto um tempo de repouso, fração realizada a granulometria do RCD.
de segundo, quanto a aplicação de cargas, que
vão de zero a um máximo, e uma tensão 2.1.3 Água
confinante (amplitude da tensão), ou seja, a
tensão desvio e o tempo de pulso são A água empregada tanto para os ensaios de
dependentes da velocidade do veículo e da caracterização do solo, quanto de Proctor
profundidade em que se calcula as tensões Normal e de moldagem dos corpos de provas foi
(DNIT-EM 134, 2010). destilada conforme as especificações das
Dentro dessa perspectiva, o objetivo desta normas, enquanto está livre de impurezas e evita
pesquisa foi obter o comportamento da as reações não desejadas.
resistência à compressão simples de um solo
argiloso misturado com RCD após a aplicação de 2.2 Métodos
uma carga dinâmica. Para tal, foram realizados
ensaios de Módulo resiliente e resistencia à 2.2.1 Dosagem das misturas
compressão simples em corpos de prova com 90
dias de cura. Optou-se pelo tempo de cura de 90 Foi realizado uma estabilização granulométrica
dias, pois após este tempo boa parte das reações para determinar o teor ótimo da mistura do solo
químicas entre o solo e o RCD já ocorreram com RCD e tendo em consideração diferentes
(Jiménez, 2013). pesquisas sobre reforço de solos com RCD,
definiu-se para o presente estudo 4 teores de
2 MATERIAIS E MÉTODOS RCD. Para facilitar o estudo adotou-se as
nomenclaturas: Solo, M1, M2, M3 e M4; de
2.1 Materiais acordo com a Tabela 1.

2.1.1 Solo

O solo utilizado para o estudo foi coletado em


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temperatura média de 25°C. Além disso, os


Tabela 1. Dosagem dos Insumos. corpos de prova tinham que respeitar as
Porcentagem de cada Insumo seguintes condições para serem consideradas no
Mistura
Solo Areia Pedrisco ensaio de compressão simples e MR:
Solo 100% 0% 0%
M1 60% 30% 10% - Dimensões dos corpos de prova: variações de
diâmetro em ±0,5 mm e altura em ±1 mm;
M2 60% 20% 20%
- Massa específica aparente seca (γd): dentro de
M3 50% 30% 20% ±1% do valor alvo;
M4 40% 30% 30% - Teor de umidade (ω): dentro de ±0,5% do valor
alvo.
2.2.2 Ensaios de Compactação
Os procedimentos dos ensaios de compressão
Foram realizados ensaios de compactação do simples seguiram a norma americana ASTM D
solo nas três energias (normal, intermediaria e 5102 (ASTM, 1996) e os de Módulo resiliente
modificada) de compactação segundo a norma normas ME 134 (DNIT, 2010) e conforme o
NBR 7182 (ABNT, 2016). Manual de Pavimentação do DNIT (2006), onde
os corpos de provas são submetidos à um
2.2.3 Ensaios de Resistência à compressão condicionamento inicial composto por três ciclo
simples e Módulo Resiliente de 500 repetições para 3 tensões. A finalidade
desse condicionamento inicial é eliminar as
Para os ensaios de RCS e MR foram moldados grandes deformações permanentes que ocorrem
corpos de prova de 100 mm de altura e 50 mm nas primeiras aplicações de cargas e reduzir o
de diâmetro. O solo foi secado totalmente em efeito da história de tensões no valor do módulo
estufa a 100±5°C e logo colocado em porções de resiliência. Na sequência do ensaio, após a
uniformemente distribuídas para serem aplicação das tensões de confinamento, são
misturadas com os diferentes teores de RCD. aplicados 18 pares de tensões.
Coloca-se a quantidade de RCD seco com
referência ao peso seco da amostra do solo. Por 3 RESULTADOS
seguinte, realiza-se a mistura de maneira que a
mistura final se torna a mais homogênea 3.1 Ensaio de Caracterização
possível. Uma porcentagem de peso de água foi
adicionada na amostra de solo com RCD e 3.1.1 Solo
misturada novamente para atingir a umidade
ótima. Durante a moldagem dos corpos de prova, A Figura 1 mostra a curva granulométrica do
eram compactadas estaticamente duas camadas solo. A umidade higroscópica encontrada do
em um molde de aço inox com diâmetro interno solo in situ é próxima a 40%.
de 50 mm e altura de 100 mm, para atingir o peso
específico seco aparente de moldagem. Depois
de ser compactado o corpo de prova é retirada do
molde com a ajuda de um extrator hidráulico,
pesando-a em sequência em uma balança de
precisão de 0,01 g; tomando-se suas dimensões
com o uso de um paquímetro. Logo após, eram
envoltas com plástico transparente para a
conservação da umidade. Por último, levam-se
os corpos de prova até a câmara úmida para
processo de cura durante 30 dias, com Figura 1. Curva granulométrica do solo
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A Tabela 2 apresenta as propriedades físicas do Tabela 3. Propriedade do RCC. Fonte: USIPAR, 2003.
Pedrisco Areia
solo estudado. Propriedade Valores Propriedade Valores
Sulfatos < 1% Sulfatos < 1%
Tabela 2. Propriedades físicas do solo Teor de fragmentos à base de > 90% Teor de combinantes > 3%
Valores cimento e rocha
Propriedades Físicas Cloretos < 1% Cloretos < 1%
Médios
Materiais não minerais < 2% Materiais não minerais < 2%
Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³ Absorção de água < 8% Absorção de água < 13 %
Areia média 7,5 % Torrões de argila < 2% Torrões de argila < 2%
Areia fina 25,9% Teor máximo de material < 10% Teor máximo de material < 13%
passante na malha 75μm passante na malha 75μm
Silte 57,6%
9% Densidade natural Kg/m3 1.384 Densidade natural 1.323
Argila
Kg/m3
Limite de liquidez, LL 53,1%
Índice de plasticidade, IP 21,3%
3.1 Ensaio de compactação
3.1.2 RCD A Figura 3 mostra as curvas de compactação do
solo estudado e de cada mistura usada, na energia
O resíduo de construção civil utilizado foi normal.
coletado na usina de reciclagem da cidade de
Almirante Tamandaré, Região metropolitana de 17
Curitiba. O tipo de resíduo escolhido é misto, ou
seja, composto por resíduos cinzas (concreto,
argamassas, etc.), vermelhos (cerâmicos) e
Peso Específico Seco (kN/m3)

brancos (cal, gesso, etc.). Foram escolhidas duas 16


granulometrias de RCC: areia (material ≤
4,8mm) e pedrisco (material ≤ 19,1mm); sendo
realizada a granulometria do RCC, representada
na Figura 2. 15

100
Solo
90
Areia (RCD)
80 14
Pedrisco (RCD)
70
Passante (%)

60

50
13 Ajuste Solo
40 Ajuste Mistura 1
Ajuste Mistura 2
30 Ajuste Mistura 3
20 Ajuste Mistura 4
Saturação 100%
10
12
10 20 30 40
0 Teor de Umidade (%)
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm)
Figura 3. Curvas de compactação do solo e misturas solo-
RCD
Figura 2. Curva Granulométrica do RCC
A Tabela 4 apresenta a variação do peso
A Tabela 3, mostra algumas propriedades do específico seco máximo e a umidade ótima para
RCC coletado: diferentes misturas de RCD:
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Tabela 4. Propriedades de compactação da argila 600

Módulo Resiliente (MPa)


com diferentes misturas.
Peso especifico Umidade 500
Mistura seco máximo, ótima, 400
γdmáx (kN/m3) Wot (%)
M0 1,358 32,5 300
M1 1,521 25,2 200
M2 1,512 24,0
100
M3 1,581 21,3
M4 1,613 20,2 0
0 1 2 3 4
Misturas
3.1 Influência do teor de RCD na resistência à
compressão simples. Figura 5. Valores de MR no nível de tensão mais elevado
do teste (σd = 0,412 MPa e σ3 = 0,137 MPa) das misturas
A Figura 4 mostra os resultados de RCS das nas três energias de compactação.
amostras depois de 30 dias de cura com as 4
misturas de solo-RCD. Observa-se que com o Observa-se que à medida que aumenta o teor de
aumento do teor de RCD há um aumento de RCD, aumenta-se o MR do material. Chegando a
RCS. valores cinco vezes maior em relação ao solo
sem RCD. Pode-se dizer que o aumento do teor
900 de RCD melhora as características resilientes do
800 RCS solo.
700
600
3.2 Influência do ensaio de Módulo Resiliente
RCS (kPa)

na Resistencia à compressão simples.


500
400 Após o ensaio de MR os corpos de prova foram
300 submetidos ao ensaio de RCS. A Figura 6
200 apresenta a RCS do solo e das misturas na
100 energia de compactação proctor normal antes e
0 após o ensaio de MR.
0 1 2 3 4
Misturas
1600
RCS
Figura 4. Reultados de resistência à compressão simples 1400 RCS após MR
1200
3.2 Influência do teor de RCD no MR.
RCS (kPa)

1000
800
O valor do módulo resiliente de cada amostra
apresentada na Figura 5 é o último par de tensões 600
do ensaio triaxial dinâmico, que representa o 400
nível de tensão mais elevado: σd = 0,412 MPa e 200
σ3 = 0,137 Mpa. Estes níveis de tensões 0
correspondem, aproximadamente, às condições 2 0 3 1 4
em que os materiais são submetidos no topo da Misturas
camada de base logo abaixo de um revestimento Figura 6. Reultados de resistência à compressão simples
fino, entre 3 a 4 cm, sob um eixo padrão antes e após o ensaio de Módulo de Resiliência
(Marangon, 2004)
Percebe-se que houve um aumento da RCS de
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todas as energias após o MR. A porcentagem de REFERÊNCIAS


incremento de resistência vai diminuindo a
medida em que se aumenta a energia de Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT).
compactação, pois há um processo de NBR 7182 - Solo - Ensaio de Compactação.
Assossiação Bras Normas Técnicas 2016.
compactação durante o ensaio de resiliência, e American Society for Testing and Materials (ASTM).
esse é maior quanto menor for a energia de ASTM D 2166 – 03. Standard Test Method for
compactação usada para moldar os corpos de Unconfined Compressive Strength of Cohesive Soil 1.
prova. Int. West Conshohocken, Pa 2003;4.
Os aumentos de RCS das misturas 0, 1, 2, 3 e 4 Cardoso, R.; Silva, R. V.; De Brito, J.; Dhir, R. Use of
recycled aggregates from construction and demolition
podem ser observados na Table 5 waste in geotechnical applications: A literature review.
Waste Management. vol. 49, p. 131 – 145, 2016.
Tabela 5. Incremento de resistência à compressão Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
simples. DNIT – ME – 134/10. Pavimentação – Solos –
Misturas RCS após MR Determinação do Módulo de Resiliência – Método de
M0 107% Ensaio. 2010
M1 64% Gómez AM. (2011). Estudo experimental de um resíduo
M2 68% de construção e demolição (RCD) para utilização em
M3 117% pavimentação. Dissertação de Mestrado, Prograa de
M4 84% Pós-graduação em Geotecnia, Universidade de
Brasília., 123 p.
4 CONCLUSÕES Pacheco-Torgal, F.; Tam, V.; Labrincha, J.; Ding, Y.;
Brito, J. (2013). Handbook of recycled concrete and
demolition waste. Elsevier, 645 p.
A partir dos resultados e dados apresentados Kumar Yadav A, Gaurav K, Kishor R, Suman SK. (2017).
neste trabalho é possível fazer algumas Stabilization of alluvial soil for subgrade using rice
considerações: husk ash, sugarcane bagasse ash and cow dung ash for
rural roads. Int J Pavement Res Technol. v. 10, p. 254–
261.
• O uso de RCD em solos finos melhoram a Leite FDC, Motta RDS, Vasconcelos KL, Bernucci L.
resistência à compressão simples, nos teores (2011). Laboratory evaluation of recycled construction
estudados, pois o acréscimo de RCD às misturas and demolition waste for pavements. Construction and
aumentam o esqueleto sólido e diminuem a Building Materials. v. 25, p. 2972-2979.
umidade ótima de compactação, proporcionando Lucena LC de FL, Juca JFT, Soares JB, Marinho Filho
PGT. (2014). Use of wastewater sludge for base and
assim um aumento na RCS; subbase of road pavements. Transportation Research
• O uso de RCD em solos finos, nos teores Part D. v. 33, p. 210-219.
estudados, melhoram os resultados de módulo de Marangon, M. (2004). Proposição de estruturas típicas de
resiliência das misturas; pavimentos para região de Minas Gerais utilizando
• O ensaio de MR aumenta a RCS, na energia solos lateríticos locais a partir da pedologia,
classificação MCT e resiliência. Dissertação de
de compactação e teores estudados, pois provoca Mestrado, Programa de Pós-graduação de Engenharia,
uma densificação do corpo de prova durante o Universidade Federal do Rio de Janeiro, 448 p.
ensaio. MOTTA, R.D.S. (2005). Estudo laboratorial de agregado
reciclado de resíduo sólido da construção civil para
AGRADECIMENTOS aplicação em pavimentação de baixo volume de
tráfego. Dissertação de Mestrado, Politécnica da
Universidade de São Paulo, Universidade de São
Os autores querem agradecer o apoio do Paulo, 134 p.
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Prabakar, J; Dendorkar, N; Morchhale, R.K. (2004).
Civil (PPGEC) da Universidade Tecnológica Influence of fly ash on strength behavior of typical
Federal do Paraná (Curitiba, Brasil). Também soils. Construction and Building Materials. v. 18, p.
263-267.
querem agradecer à instituiçãos de fomento de Rahardjo, H; Vilayvong, K; Leong, E.C. (2011). Water
pesquisa brasileira, CAPES, pelo apoio characteristic curves of recycled materials.
financiero. Geotechnical Testing Journal. v. 34, p. 89-96.
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Influência Do Fator De Escala Sobre As Propriedades De


Deformação Por Adensamento De Solos Residuais Da Região Do
Alto Paraopeba
Sarah Santana Menezes
Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco - MG, Brasil, sm.sarah@outlook.com

Juliana de Paula Rezende


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, jupaulaprod@gmail.com

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Natália de Faria Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, natalia.f.faria@ufv.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a influência do fator de escala sobre as propriedades de


deformação por adensamento de solos residuais. O estudo do recalque se fez por meio de uma
prensa oedométrica, simulando carregamentos verticais sofridos pelo solo saturado em diferentes
dimensões de corpos de prova. As grandezas físicas mensuráveis obtidas através desse experimento
foram analisadas atendendo às hipóteses de Terzaghi (1943) e utilizando os métodos de Casagrande
(1936) e Pacheco Silva (1970) para cálculo da tensão de pré-adensamento, seguida da obtenção do
coeficiente de adensamento para cada etapa de carregamento do ensaio. Foi constatada uma
variação nos índices característicos da rigidez por adensamento dos solos, realçando a influência das
dimensões dos corpos de prova ensaiados nessas propriedades. Para esses solos, a determinação do
coeficiente de adensamento pelo método de Casagrande e Fadum (1940) mostrou-se incompatível
com as características do método, enfatizando as particularidades dos solos estudados relativamente
aos métodos convencionais.

PALAVRAS-CHAVE: Fator de escala, Deformação por adensamento, Hipóteses de Terzaghi.

1 INTRODUÇÃO exemplo), faz-se necessário realizar o cálculo


destas deformações sob a ação das cargas
1.1 Identificação do objeto de pesquisa aplicadas. A magnitude destas deformações
deve ser avaliada e comparada com aquelas
Um dos mais relevantes aspectos em projetos e admissíveis para o bom funcionamento da
obras associados à Engenharia Civil Geotécnica construção projetada, ao longo da sua vida útil
corresponde à determinação das deformações do (GERSCOVICH et al., 2010).
solo devido a carregamentos verticais aplicados Quando se executa uma obra de engenharia,
na superfície do terreno ou em camadas impõe-se ao solo uma variação no seu estado de
próximas à superfície. No caso de projetos de tensões que acarreta deformações no mesmo, as
edificações assentadas sobre fundações quais dependem não só da carga aplicada, mas
superficiais, tais como sapatas e radiers, ou de principalmente da compressibilidade do solo.
aterros construídos diretamente sobre os Considerando-se que o solo é um sistema
terrenos (barragens e aterros rodoviários, por trifásico, composto de partículas sólidas, além
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de ar e água nos seus vazios, as deformações (fluido intersticial) e subsequente transferência


que nele ocorrem sob carregamento podem estar da pressão do fluido para a estrutura sólida do
associadas à deformação dos grãos individuais, solo, devido a cargas externas aplicadas ou ao
à compressão da água presente nos vazios peso próprio das camadas sobrejacentes. O
(admitindo-se o solo completamente saturado) e recalque por adensamento é a principal causa de
à variação do volume de vazios, devido ao trincas e rachaduras em edificações,
deslocamento relativo entre partículas (DAS, principalmente quando ocorre o recalque
2011). diferencial, ou seja, quando uma parte da obra
Considerando-se essas fontes potenciais de rebaixa mais que outra, gerando esforços
deformação, do ponto de vista da Engenharia estruturais não previstos, podendo ocasionar a
Civil, a magnitude dos carregamentos aplicados ruína da obra (ORTIGÃO, 1993).
às camadas de solo não é, em geral, suficiente Em laboratório, o estudo do recalque de
para promover deformações das partículas solos por adensamento se faz,
sólidas. A água, por sua vez, é considerada um convencionalmente, por meio de uma prensa de
material incompressível. Assim sendo, as carregamento denominada prensa oedométrica.
deformações no solo ocorrem basicamente pela Por meio desta, simulam-se os possíveis
variação de volume dos vazios. Somente para carregamentos verticais sofridos pelo solo
casos em que os níveis de tensão são muito saturado, dos quais resultam grandezas físicas
elevados, a deformação total do solo pode ser mensuráveis, capazes de retratar as deformações
acrescida pela variação de volume dos grãos verticais sofridas ao longo do tempo de
sólidos (MITCHELL, 1976). carregamento de acordo com a magnitude do
Ao projetar uma estrutura sobre solos mesmo. Analisando-se as particularidades desse
compressíveis ou deformáveis, é fundamental ensaio, dúvidas podem ser suscitadas quanto à
prever as deformações e sua evolução com o influência das dimensões do corpo-de-prova
tempo, com o objetivo de avaliar a sua (amostra de solo indeformada) sobre as
repercussão sobre a estrutura e decidir com propriedades de deformação por adensamento
exatidão o tipo de fundação a ser empregado. do solo ensaiado. Essas propriedades dependem
As condições de fundação, muitas vezes, são de uma estimativa aceitável dos recalques por
desfavoráveis, necessitando do emprego de meio das equações oriundas da Teoria do
soluções de custo mais elevado, tais como, por Adensamento de Terzaghi (1925).
exemplo, as fundações profundas. Após o Adicionalmente a esse aspecto dimensional
reconhecimento do subsolo, a fim de estimar (fator de escala), as particularidades dos solos
essas deformações (recalques), o engenheiro de países tropicais, como o Brasil, cujo
civil deve determinar a distribuição das tensões histórico de formação geológica é
no solo, bem como suas propriedades de essencialmente distinto daquele correspondente
deformação através de ensaios de laboratório aos solos de países temperados para os quais a
capazes de reproduzir as condições que geram Teoria do Adensamento de Terzaghi foi
as deformações ou recalques de campo concebida, podem amplificar a eventual
(MARTINS, 2011). diferença de resposta física dos solos quando
Recalque ou assentamento é o termo adensados em laboratório sob diferentes
utilizado em Engenharia Civil para designar o dimensões.
fenômeno no qual uma obra sofre um As formações geológicas típicas dos
rebaixamento devido ao adensamento do solo municípios da região do Alto Paraopeba, estado
sob sua fundação. Por adensamento, entende-se de Minas Gerais, caracterizam-se pela presença
como sendo o processo lento e gradual de de grandes extensões de solos residuais
redução do índice de vazios de um solo por resultantes do intemperismo de formações
expulsão da água que preenche os seus vazios rochosas de origem predominantemente
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gnáissica. Sobre esses solos, assentam-se as compressibilidade (Cc, Cr, Cs) (GERSCOVICH
fundações das inúmeras obras civis projetadas e et al., 2010).
executadas na região. No que concerne aos Dentre os fatores que influenciam a
recalques por adensamento, parâmetro compressibilidade dos solos, ressaltam-se o tipo
fundamental ao êxito de projetos de fundações, de solo (coesivo ou granular), a estrutura dos
as particularidades geotécnicas desses solos solos (fofa, densa, floculada, dispersa), o nível
tropicais impõem a obrigatoriedade de um de tensões atuante, o grau de saturação do solo e
estudo preciso das variáveis que podem intervir o seu histórico de tensões.
na estimativa desses recalques, os quais são
quantificados a partir das propriedades de 2.2 Recalques
deformação por adensamento dos solos
ensaiados em prensas oedométricas. Quando um solo saturado é submetido a um
Dentre essas variáveis, o fator de escala, o carregamento, parte da carga é transmitida para
qual traduz as dimensões das amostras de solo o seu arcabouço sólido e parte é resistida pela
ensaiadas, pode constituir eventual fonte de água que preenche os seus vazios (DAS, 2011).
variação nos resultados de ensaios de O recalque primário ocorre durante o processo
adensamento, podendo induzir a erros na de transferência de esforços entre a água e o
estimativa da magnitude dos recalques sofridos arcabouço sólido, associado à expulsão da água
por fundações apoiadas sobre tais solos. Esse dos vazios do solo. Nesta fase, as tensões
cenário justifica, portanto, o desenvolvimento absorvidas pela água vão sendo transmitidas
de um programa de pesquisa destinado a avaliar para o arcabouço sólido, causando uma variação
a influência do fator de escala sobre as no valor inicial das tensões efetivas. O recalque
propriedades de deformação por adensamento equivale à variação de altura da camada de solo,
de solos residuais da região do Alto Paraopeba. a qual pode ser representada pela variação da
altura de vazios do solo (PINTO, 2000).

2 COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS 2.3 Teoria do Adensamento de Terzaghi

2.1 Considerações iniciais O estudo teórico do adensamento permite obter


uma avaliação da dissipação das sobrepressões
Em Engenharia Civil Geotécnica, define-se hidrostáticas (e, consequentemente, da variação
como compressibilidade de um solo a relação de volume), ao longo do tempo, a que um
entre a magnitude das deformações por ele elemento de solo estará sujeito, dentro de uma
sofridas (∆ε) e a variação no seu estado de camada compressível. Tal estudo foi feito
tensões efetivas (∆σv´), da qual resultaram tais inicialmente por Terzaghi, para o caso de
deformações. No caso de solos, estas compressão unidirecional. A partir dos
deformações podem ser estabelecidas através de princípios da Hidráulica, Terzaghi elaborou a
variações volumétricas ou em termos de sua teoria, tendo, entretanto, que fazer algumas
variações no seu índice de vazios (∆e). simplificações para o modelo de solo utilizado.
Dependendo da forma adotada, a As hipóteses básicas de Terzaghi são
compressibilidade fica definida a partir de (TERZAGHI E PECK, 1948):
diferentes parâmetros, dos quais se destacam o • Solo homogêneo e completamente
coeficiente de adensamento (Cv), o módulo saturado;
oedométrico ou confinado (D), o coeficiente de • Partículas sólidas e água intersticial
variação volumétrica (mv), o coeficiente de incompressíveis;
compressibilidade (av) e os índices de • Adensamento unidirecional;
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• Escoamento de água unidirecional e 3 MATERIAIS E MÉTODOS


validez da lei de Darcy;
• Determinadas características, que na 3.1 Materiais
realidade variam com a pressão,
assumidas como constantes; Este programa de pesquisa contemplou o
• Extensão a toda massa de solo das emprego de solos residuais coletados em perfis
teorias que se aplicam aos elementos geológicos distintos, situados no município de
infinitesimais; Ouro Branco-MG, região do Alto Paraopeba.
• Relação linear entre a variação do índice Estes solos são característicos das formações
de vazios e a das tensões aplicadas. geológicas dos demais municípios da referida
A hipótese condicionante de toda a teoria do região (Figura 1).
escoamento unidirecional de água prescreve a
relação linear entre índice de vazios e variação
de tensões. Assumir essa hipótese significa
admitir que toda variação volumétrica se deve à
expulsão de água dos vazios, o que não sucede
em muitos casos no campo, uma vez que
ocorrem, juntamente com o adensamento
primário, deformações (elásticas, por exemplo),
sob tensões constantes, crescentes com o tempo
(adensamento secundário ou creep). As demais
hipóteses podem facilmente ser reproduzidas
em laboratório ou se aproximam bem da (a)
realidade (GERSCOVICH et al., 2010).

2.4 Ensaio de Adensamento

O ensaio de adensamento (compressão


confinada ou compressão oedométrica) foi
desenvolvido por Terzaghi para o estudo das
características de compressibilidade e da taxa de
compressão do solo com o tempo, em condições
de deformação radial nula. O aparelho utilizado
é denominado oedômetro. Este ensaio consiste
na compressão de uma amostra de solo através
(b)
da aplicação de valores crescentes de tensão Figura 1. Locais de coleta dos solos empregados na
vertical. São efetuadas leituras dos pesquisa: (a) solo residual de gnaisse jovem (Solo rosa);
deslocamentos verticais do topo da amostra e do (b) solo residual de gnaisse maduro (Solo vermelho).
tempo decorrido durante cada carregamento. A
condição de fluxo e deformação unidimensional 3.2 Métodos
é reproduzida através deste ensaio de
laboratório pelo fato da amostra ser impedida de A fase experimental do programa de pesquisa
se deformar horizontalmente e a drenagem ser foi realizada nas instalações do Laboratório de
imposta no topo e na base (MARANGON, Geotecnia e Estradas do curso de Engenharia
2013). Civil da Universidade Federal de São João del
Rei – Campus Alto Paraopeba. Essa fase
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consistiu, essencialmente, das seguintes etapas, foram previamente saturadas com água antes da
regidas por suas normas correspondentes: primeira etapa de carregamento.
• Coleta e armazenamento de amostras
deformadas e indeformadas de solos
[NBR 9604/86 – Abertura de poço e 4 RESULTADOS E ANÁLISES
trincheira de inspeção em solo, com
retirada de amostras deformadas e 4.1 Caracterização geotécnica
indeformadas (ABNT, 1986a)];
• Preparação dos solos para os ensaios Os resultados dos ensaios de caracterização
[NBR 6457/86 – Amostra de solo – geotécnica dos solos estudados são
Preparação para ensaios de compactação apresentados a seguir, os quais correspondem à
e caracterização (ABNT, 1986b)]; granulometria (Figuras 2 e 3; Tabela 1), à massa
• Caracterização granulométrica dos solos específica dos sólidos e aos limites de
[NBR 7181/82 - Análise granulométrica consistência (Tabela 1). Esses dados permitiram
de solos (ABNT, 1982)]; enquadrar os respectivos solos em classes
• Determinação da massa específica dos específicas dos sistemas de classificação USCS
sólidos dos solos [NBR 6508/80 - (Unified Soil Classification System) e TRB
Determinação da massa específica dos (Transportation Research Board).
grãos do solo (ABNT, 1980)];
• Determinação dos limites de
consistência dos solos [NBR 6459/84 –
Solo – Determinação do Limite de
Liquidez (ABNT, 1984a); NBR 7180/84
- Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade (ABNT, 1984b)];
• Realização de ensaios de adensamento
dos solos [NBR 12007 – Solo - Ensaio
de adensamento unidimensional (ABNT,
1990)].
Especificamente para os ensaios de Figura 2. Curva granulométrica do solo residual de
adensamento de amostras indeformadas dos gnaisse jovem (AF: Areia Fina; AM: Areia Média; AG:
Areia Grossa).
solos previstos no âmbito dessa pesquisa, foram
realizados carregamentos verticais de 50 kPa,
100 kPa, 200 kPa, 400 kPa e 1600 kPa,
seguidos de descarregamentos sucessivos para
os níveis de tensão vertical de 400 kPa e 200
kPa.
As amostras indeformadas de solo
apresentarão, no início dos ensaios, altura
constante H= 2,54cm, variando-se as áreas de
seção transversal das mesmas segundo os
valores de A1= 22,31cm2, A2= 41,05cm2, A3=
Figura 3. Curva granulométrica do solo residual de
59,95cm2 e A4= 80,12cm2, com o propósito de
gnaisse maduro (AF: Areia Fina; AM: Areia Média; AG:
avaliar o efeito de escala das amostras sobre as Areia Grossa).
propriedades de deformação por adensamento.
Todas as amostras indeformadas dos solos
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Tabela 1. Dados dos ensaios de caracterização geotécnica


dos solos empregados na pesquisa.
Solo Solo
Propriedade física residual residual
jovem maduro
Massa específica dos sólidos
(g/cm3) 2,91 2,92

Limite de Liquidez [LL] (%) 35 59


Limite de Plasticidade [LP] (%) 31 38
Índice de Plasticidade [IP] (%) 04 21
Fração pedregulho
[2mm < φ < 60mm ] (%) 1 1
Figura 4. Curvas de adensamento unidimensional do solo
Fração areia
69 34 residual jovem para diferentes dimensões dos corpos de
[0,06mm < φ < 2mm ] (%) prova ensaiados.
Fração silte
22 61
[0,002mm < φ < 0,06mm ] (%)
Fração argila
8 4
[φ < 0,002mm ] (%)
φ: Diâmetro das partículas; IP=LL-LP

Os resultados obtidos permitem concluir


que o solo residual jovem apresenta,
granulometricamente, uma textura areno-silto-
argilosa e consistência de caráter ligeiramente
plástico. Pelo sistema TRB de classificação dos
solos (AASHTO, 1973), trata-se de um solo A-
7-6, e pelo sistema USCS de classificação dos
solos (ASTM, 1983), trata-se de um solo CH.
Em contrapartida, o solo residual maduro Figura 5. Curvas de adensamento unidimensional do solo
apresenta, por sua vez, textura silto-areno- residual maduro para diferentes dimensões dos corpos de
argilosa e plasticidade média, sendo classificado prova ensaiados.
como A-7-5, pelo sistema TRB, e como solo
MH, pelo sistema USCS. As representações gráficas das curvas de
adensamento dos materiais estudados nessa
4.2 Ensaios de adensamento unidimensional pesquisa permitem constatar a influência da
dimensão do corpo de prova ensaiado sobre a
4.2.1 Curvas de adensamento dos solos curva correspondente. A não superposição
dessas curvas, para ambos os solos, indica a
As curvas de adensamento dos solos estudados, interferência do fator de escala nos resultados
para cada um dos diâmetros dos corpos de desse ensaio. Essa constatação gráfica pode ser
prova considerados nessa pesquisa, são confirmada, a princípio, pela comparação entre
apresentadas nas Figuras 4 e 5. Nos gráficos os valores de tensão de pré-adensamento
representativos dessas curvas, A1, A2, A3 e A4 derivados dessas curvas, para um mesmo solo,
correspondem a cada uma das áreas de seção apresentados na Tabela 2. Nessa pesquisa, tal
transversal das amostras dos solos estudados e parâmetro foi obtido com base em dois métodos
que foram previstas na metodologia do trabalho. distintos: Casagrande (1936) e Pacheco Silva
(1970).
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Tabela 2. Tensão de pré-adensamento dos solos


estudados, para as dimensões ensaiadas, segundo os
métodos de Casagrande (1936) e de Pacheco Silva
(1970).
Solo residual jovem
Método Tensão de pré-adensamento
A1 A2 A3 A4
Casagrande 300 kPa 260 kPa 320 kPa 230 kPa
Pacheco Silva 200 kPa 190 kPa 300 kPa 170 kPa
Solo residual maduro
Método Tensão de pré-adensamento (a)
A1 A2 A3 A4
Casagrande 200 kPa 170 kPa 180 kPa 150 kPa
Pacheco Silva 140 kPa 140 kPa 140 kPa 100 kPa

Os resultados demonstram que apenas no


caso que envolve a determinação da tensão de
pré-adensamento pelo método de Pacheco Silva
para o solo residual maduro é que não houve
diferenças significativas desse parâmetro para
as diferentes dimensões das amostras ensaiadas.
Para os demais casos, as variações são (b)
significativas. Figura 6. Exemplos de curvas de variação da altura do
Também foram determinados, para cada corpo de prova em função do tempo de carregamento: (a)
curva em função da raiz quadrada do tempo; (b) curva em
etapa de carregamento dos ensaios de função do logaritmo do tempo.
adensamento realizados, os coeficientes de
adensamento dos solos estudados pelos métodos Tabela 3. Coeficientes de adensamento (Cv) dos solos
do logaritmo do tempo (CASAGRANDE E estudados, para cada etapa de carregamento dos ensaios
FADUM, 1940) e da raiz quadrada do tempo de adensamento.
Solo residual jovem
(TAYLOR, 1942). A Figura 6 apresenta, para Etapa de Coeficiente de adensamento
cada um desses métodos, as curvas de variação carregamento A1 A2 A3 A4
da altura de um dos corpos de prova ensaiados,
50 kPa 0,401 0,213 0,382 0,226
as quais servem de padrão para as curvas
similares de todas as etapas de carregamento 100 kPa 0,235 0,136 0,165 0,146
contempladas na pesquisa. Dessas curvas, 200 kPa 0,215 0,187 0,231 0,200
verifica-se, particularmente, uma 400 kPa 0,142 0,123 0,339 0,289
incompatibilidade entre as curvas do tipo
1600 kPa 0,119 0,232 0,088 0,059
logaritmo do tempo e o método do logaritmo do
tempo, impossibilitando a determinação do Solo residual maduro
Etapa de Coeficiente de adensamento
coeficiente Cv por esse método. carregamento A1 A2 A3 A4
Para o método de Taylor (1942), os
resultados são apresentados na Tabela 3. Os 50 kPa 0,176 0,155 0,163 0,160
resultados demonstram, para ambos os solos e 100 kPa 0,124 0,151 0,152 0,215
para a mesma etapa de carregamento, variações 200 kPa 0,364 0,208 0,325 0,130
significativas do parâmetro Cv decorrentes da
alteração das dimensões da amostra ensaiada. 400 kPa 0,151 0,134 0,096 0,107
1600 kPa 0,127 0,064 0,078 0,061
Unidade do coeficiente de adensamento: cm²/s
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Para os parâmetros Cc (índice de estudados relativamente aos métodos


compressão), Cr (índice de recompressão ou de convencionais. Este trabalho contribuiu para a
expansão) e av (coeficiente de formação de um banco de dados geotécnicos
compressibilidade), a influência do fator de regional, sendo, contudo, necessários estudos
escala é apresentada na Tabela 4. Os resultados adicionais com outros solos representativos da
confirmam a variabilidade imposta a esses região para enriquecer tal banco de dados.
parâmetros pela mudança nas dimensões dos
corpos de prova submetidos ao ensaio de
adensamento. AGRADECIMENTOS

Tabela 4. Variação dos parâmetros Cc, Cr e av em função Os autores gostariam de agradecer à UFSJ e ao
da dimensão do corpo de prova ensaiado para os dois CNPq, pela concessão da bolsa de iniciação
solos estudados na pesquisa.
Solo residual jovem
científica ao primeiro autor, e à Fapemig
Parâmetro (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
A1 A2 A3 A4
Cc 0,129 0,418 0,674 0,441 Minas Gerais), pelo apoio ao trabalho.
Cr 0,060 0,032 0,005 0,005
av (kPa-1) 3,9.10-5 1,6.10-5 9,5.10-7 2,2.10-4
Solo residual maduro REFERÊNCIAS
Parâmetro
A1 A2 A3 A4
Cc 0,450 0,351 0,468 0,443
AASHTO - AMERICAN ASSOCIATION OF STATE
Cr 0,042 0,005 0,048 0,006
HIGHWAY AND TRANSPORTATION
av (kPa-1) 1,1.10-5 1,8.10-4 2,7.10-5 4,3.10-4
OFFICIALS. M145: Classification of Soils and Soil-
Aggregate Mixtures for Highway Construction
Purposes. USA, 1973.
5 CONCLUSÃO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS - ABNT. NBR 6508/80: Determinação
da massa específica dos grãos do solo, Rio de
Para os solos estudados no programa Janeiro, 1980.
experimental de pesquisa desse trabalho, foi ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
constatada, de uma forma geral, uma variação TÉCNICAS – ABNT. NBR 7181/82: Análise
nos índices característicos da rigidez por granulométrica de solos, Rio de Janeiro, 1982.
adensamento dos solos, realçando a influência ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS – ABNT. NBR 6459/84: Solo –
das dimensões dos corpos de prova ensaiados Determinação do Limite de Liquidez, Rio de Janeiro,
(fator de escala) nessas propriedades. 1984a.
Parâmetros derivados das curvas de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
adensamento desses solos, tais como tensão de TÉCNICAS – ABNT. NBR 7180/84: Solo –
pré-adensamento, índice de compressão, índice Determinação do Limite de Plasticidade, Rio de
Janeiro, 1984b.
de recompressão e coeficiente de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
compressibilidade, mostraram-se TÉCNICAS – ABNT. NBR 9604/86: Abertura de
particularmente sensíveis às variações poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada
dimensionais dos corpos de prova ensaiados, de amostras deformadas e indeformadas, Rio de
Janeiro, 1986a.
podendo induzir a erros na estimativa da
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
magnitude dos recalques sofridos por fundações TÉCNICAS – ABNT. NBR 6457/86: Amostra de solo
apoiadas sobre tais solos. – Preparação para ensaios de compactação e
Para esses mesmos solos, a determinação do caracterização, Rio de Janeiro, 1986b.
coeficiente de adensamento pelo método de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS – ABNT. NBR 12007: Solo - Ensaio de
Casagrande e Fadum (1940) mostrou-se
adensamento unidimensional, Rio de Janeiro, 1990.
incompatível com as características do método, AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
realçando as particularidades dos solos MATERIALS – ASTM. D 2487: Standard Practice
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(Unified Soil Classification System). Philadelphia,
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Casagrande, A. (1936). Determination of the
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Proceedings, 1st International Conference on Soil
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Das, B.M. (2011). Fundamentos de Engenharia
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Ed. John Wiley & Sons, New York, 422p, 1976.
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Técnicos e Científicos Editora Ltda. 374p, 1993.
Pacheco Silva, F. (1970). Uma Nova Construção Gráfica
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Adensamento de uma Amostra de Solo. In: Congresso
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Souza Pinto, C. (2000). Curso Básico de Mecânica
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Pinto, C. S. (2000). Curso Básico de Mecânica dos Solos,
em 16 Aulas. 1 ed. São Paulo: Oficina de Textos. 247
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Taylor, D. W. (1942). Research on consolidation of
clays, Serial N. 82, Department of Civil and Sanitary
Enginnering, MIT, Cambridge, Mass.
Terzaghi, K.; Peck, R.B. (1948). Soil Mechanics in
Engineering Practice, McGraw Hill, New York, NY,
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Influência do Índice Porosidade/Teor Volumétrico de Cal na


Resistência e na Rigidez de um Solo Residual Tratado com Cal
Mozara Benetti
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, mozara.benetti@hotmail.com

Lidiane da Silva Ibeiro


Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, Brasil, lidianeibeiro@gmail.com

Karla Salvagni Heineck


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, karla@ppgec.ufrgs.br

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

RESUMO:
O desenvolvimento de novos materiais geotécnicos requer a compreensão dos mecanismos
envolvidos através da técnica de melhoramento de solos. Este estudo tem por objetivo quantificar a
influência da quantidade de cal e do peso específico aparente seco sobre a resistência à compressão
simples, à tração por compressão diametral e rigidez inicial de um solo residual tratado com cal,
verificando a adequação do uso da relação vazios/cal na estimativa das propriedades de desempenho.
Para isso, foram realizados ensaios de resistência à compressão simples e de tração por compressão
diametral e de rigidez inicial para corpos de prova com 5%, 7% e 9% de cal, com peso específico
aparente seco de 16,0kN/m³, 17,2kN/m³ e 18,5 kN/m³. Os resultados mostraram um ganho de
resistência e rigidez com o aumento do teor de cal e dos pesos específicos aparentes secos nas
amostras estudadas. O expoente de ajuste de 0,12 no volume de agente cimentante gerou melhores
coeficientes de determinação nos resultados. A partir dos resultados dos ensaios e da análise
estatística realizada, conclui-se que o peso específico aparente seco é o fator que mais influencia nas
características de qualidade investigadas.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-Cal, Resistência à Compressão, Rigidez Inicial, Relação Vazios/Cal.

1 INTRODUÇÃO ocupação de terrenos que não seriam


inicialmente recomendados devido às fracas
A partir da revolução industrial tem-se assistido características geotécnicas (baixa resistência e
a um crescimento exponencial da tecnologia, alta deformação).
juntamente com o da população humana. Com Para a ocupação dessas zonas de fracas
um acesso mais fácil a bens industrializados e qualidades geotécnicas, existiam essencialmente
em uma procura por melhores condições de vida duas soluções, adaptar a estrutura ao solo,
e econômicas, as populações começaram a se através de diferentes tipos de fundações, ou
deslocar para os centros urbanos, abandonado o então adaptar o solo para as novas necessidades.
campo, alterando completamente a maneira de Com o desenvolvimento das tecnologias na
viver destas. Este crescimento populacional tem- construção, novas técnicas foram encontradas
se verificado até aos dias de hoje, conduzindo a para o melhoramento ou reforços dos solos,
problemas urbanísticos, com o início da possibilitando assim a ocupação dessas áreas.
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Atualmente são várias as técnicas existentes, quantificar a influência da quantidade de cal e da


podendo-se agrupar em técnicas de porosidade sobre a resistência à compressão
melhoramento, também designadas de simples e de tração por compressão diametral e
estabilização, que se caracterizam pela alteração de rigidez inicial (G0) de um solo residual
das propriedades intrínsecas do solo; ou técnicas tratado com cal, verificando a adequação do uso
de reforço, em que a introdução de um elemento da relação vazios/cal na estimativa das
estrutural torna possível um maciço suportar propriedades de desempenho.
maiores solicitações às quais não estaria
habilitado a resistir.
A escolha da técnica a utilizar depende de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
vários fatores, procurando-se otimizar o
compromisso técnico-econômico face aos 2.1 Materiais
requisitos do projeto e à natureza dos solos
envolvidos. Ultimamente o fator ambiental tem O Solo Residual de Arenito Botucatu (SRAB)
ganho cada vez maior proporção como um dos pode ser classificado como uma areia argilosa
fatores decisórios na escolha da técnica a (SC), de acordo com a ASTM D 2487 (ASTM
utilizar. Assim, a utilização dos materiais 2006).
existentes no local de obra, independente da sua O resíduo de britagem (RBR), utilizado como
qualidade e adequabilidade ao projeto, tem-se aditivo no solo-cal, é a fração fina (pulverizado)
tornado um dos requisitos. Esta condição tem proveniente do processo britagem da rocha
levado ao surgimento da técnica de basáltica. O RBR pode ser classificado como um
melhoramento (ou estabilização) química de um silte arenoso (ML) – não plástico de acordo com
solo, que se caracteriza pela mistura in situ do o Sistema Unificado de Classificação.
solo local com materiais ligantes (por ex.: o Como agente cimentante foi utilizado cal
cimento, cal, entre outros). No entanto, os hidratada dolomítica, com massa específica de
agentes estabilizadores devem fornecer 2,49 g/cm³.
qualidades requeridas, além de fornecer A Figura 1 apresenta as curvas de
condições de compatibilidade com o material distribuição granulométrica do solo residual de
(solo) e ter um baixo custo. Atualmente existem arenito Botucatu, do resíduo de britagem e do
várias técnicas de estabilizações que são solo com 25% de resíduo.
empregadas em vários materiais, mas com
sucesso variável. Nenhum material preenche
todos os requisitos e a maioria são deficientes na
última condição que é o custo (Sowers, 1980).
Assim, o desenvolvimento de novos materiais
geotécnicos, tem sido tema de pesquisas
recentes em todo o mundo, com especial ênfase
no PPGEC/UFRGS (e.g.: Thompson,1966;
Ingles e Metcalf, 1972; USACE, 1994; Consoli
et al 2001; 2009 e 2016). Tais pesquisas têm
enfatizado o comportamento mecânico de
misturas solo-cal, através de ensaios de
laboratório (ensaios à compressão simples, entre
outros ensaios), buscando a compreensão dos Figura 1: distribuição granulométrica dos materiais.
mecanismos envolvidos nesta técnica de
melhoramento de solos. As propriedades fisicas do SRAB e do RBR
Nesse sentido, este estudo tem por objetivo encontram-se descritas na Tabela 1.
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Tabela 1. Propriedades fisicas do SRAB e RBR. 2.2 Métodos


Propriedades SRAB RBR
Peso específico real dos grãos 26,4 33,3 2.2.1 Moldagem e Cura dos Corpos de Prova
(kN/m³)
Limite de Liquidez 23% 28%
Limite de Plasticidade 13% 20% A moldagem dos corpos de provas para os
Índice de Plasticidade 10% 8% ensaios foi realizada em um molde cilíndrico
Areia Média (0,2 <ϕ< 0,6mm) 16,2% 1,9% com dimensões suficientes para confecção de
Areia Fina (0,06 <ϕ< 0,2mm) 45,4% 38,4% amostras com 50 mm de diâmetro e 100 mm de
Silte (0, 002 <ϕ < 0,06 mm) 33,4% 57,5%
altura. A confecção dos corpos de prova foi
Argila (ϕ <0,002 mm) 5,00% 2,2%
Diâmetro efetivo (D10) 0, 0032 0,0066 realizada através de procedimentos de pesagem,
(mm) mistura, compactação, desmoldagem,
Coeficiente de uniformidade (Cu) 50 9 acondicionamento, armazenagem e cura.
A quantidade de resíduo e cal necessária para
Para a escolha dos finos a serem utilizados como a mistura foi calculada em relação à massa de
aditivo no solo-cal e determinação do teor de solo seco utilizada e a quantidade de água (teor
resíduo em 25%, foi levada em consideração a de umidade) em relação à soma das massas de
existência de trabalhos prévios (TRB, 1976; solo seco, resíduo e cal. A quantidade total de
CARRARO, 1997, LOPES JUNIOR, 2007; misturas permitia a moldagem de um corpo de
LOPES JUNIOR, 2011). prova e uma sobra para a determinação do teor
Nas misturas de solo-cal com 25% de resíduo de umidade.
de britagem foram moldados corpos de prova A amostra era então compactada
com 5%, 7% e 9% de cal para cada um dos três estaticamente em três camadas. Concluído o
pesos específicos aparentes secos definidos processo de moldagem, o corpo de prova era
(16,0 kN/m³, 17,2 kN/m³ e 18,5kN/m³), com um extraído do molde, e a sua massa e medidas
teor de umidade de 14%. anotadas com resolução de 0,01g e 0,1mm
Os teores de cal de 5%, 7% e 9% foram respectivamente e acondicionando em um saco
definidos a partir do método de ICL (Initial plástico adequadamente identificado e vedado
Consumption of Lime) e da experiência para evitar variações significativas do teor de
brasileira e internacional com solo-cal. umidade.
A Figura 2 apresenta a variação do pH do Os corpos de prova assim obtidos eram
solo residual de arenito Botucatu em relação à armazenados e curados por um período de 28
quantidade de cal. Verifica-se que é necessário dias.
um teor mínimo de 3% de cal para cessar a Foram considerados aptos para ensaios os
variação do pH e chegar à valores constantes corpos de prova que atenderam as seguintes
(pH≈12,6). tolerâncias: Peso específico aparente seco (d):
grau de compactação de 98% a 102%; Teor de
umidade (w): valor especificado ± 0,5 pontos
percentuais; Dimensões: diâmetro 50 ± 0,5 mm
e altura 100 ± 1 mm.

2.2.2 Ensaios de Resistência à Compressão


Simples e Resistência à Tração por Compressão
Diametral

Figura 2: pH SRAB x teor de cal (LOPES JUNIOR, Para os ensaios de compressão simples e de
2011).
tração por compressão diametral foi utilizada
uma prensa automática com capacidade máxima
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de 100 kN, além de anel dinamométrico transdutor emissor, por sua vez é posicionado
calibrados com capacidade de 10 kN e resolução sobre o corpo de prova. Primeiramente, foram
de 0,005 kN. A velocidade de deformação realizadas as leituras das ondas primárias (ondas
destes ensaios foi de 1,14 milímetros por “P” de compressão) e posteriormente das ondas
minuto. secundárias (ondas “S” de cisalhamento). Os
Para a realização dos ensaios de resistência à transdutores de ondas “P” e “S” são observados
compressão simples seguiu-se os procedimentos na Figura 3. Os transdutores utilizados eram de
estipulados pela norma NBR 12025 (ABNT, 54 kHz para as ondas “P” e 250 kHz para as
1990) e para os ensaios de resistência à tração ondas “S”.
por compressão diametral seguiu-se a NBR A passagem das ondas pelo corpo de prova
7222 (ABNT, 1994). foi analisada no dominio de tempo “Time
Os corpos de prova após serem curados eram Domain”, que se traduz na identificação do
submersos em uma recipiente com água por um tempo da primeira chegada de onda emitida de
período de 24 horas, visando aproximar a um extremo ao outro do corpo de prova. A
condição de saturação. onda, emitida pela unidade do Pundit Lab Plus
Como critério de aceitação para o ensaio, (através de um comando no software) era
estipulou-se que as resistências individuais de transmitida para o transdutor emissor de onda
cada conjunto de corpos de prova não deveriam “P” ou “S” que a propagava no corpo de prova.
se afastar mais de 10% da resistência média Posteriormente, o transdutor receptor de onda
desse conjunto. ondas “P” ou “S” a captava e levava a
informação a unidade do Pundit Lab Plus, que a
2.2.3 Ensaios de Medidas de Rigidez Inicial conduzia ao software para aquisição de dados.
Neste software é possivel obter o tempo de
Para a determinação do parâmetro (G0) foi atraso da onda (s).
utilizado um equipamento ultrassônico A Figura 4 ilustra exemplos das ondas “P” e
denominado PunditLab Plus, da marca Proceq, “S” no software Pundit Lab Plus. Foram
o qual é um ensaio de laboratório muito simples, utilizadas ondas do tipo senoidal.
no entanto a interpretação dos mesmo pode se
tornar um pouco mais difícil (Amaral et al.,
2011).
O equipamento PunditLab Plus é composto
de uma unidade de emissão e recepção de
ondas, um conjunto de transdutores de ondas
(“S” e “P”), cabos, gel acoplante, e um software
de aquisição de dados (Figura 3). Figura 4: Medição das ondas “P” e “S” no equipamento
ultrassônico Pundit Lab Plus.

Para obter o múdulo cisalhante a pequenas


deformações (G0) utilizou-se as respostas da
ondas secundárias “S”. As leituras das ondas
“P” axiliaram na interpretação das leituras das
ondas “S”, forncendo mais precisão aos
Figura 3: Componentes do equipamento Pundit Lab
resultados.
Plus. O tempo entre a transmissão e a recepção da
onda é o tempo de viagem da mesma, com o
O ensaio consiste em posicionar o corpo de qual pode-se calcular a velocidade da onda
prova sobre o transdutor receptor de ondas. O
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cisalhante vs , e por sua vez, o módulo cisalhante


elástico, através da equação.
2
L
G 0 = vs2     (1)
 ts 

Onde:
 = Peso específico do solo;
L = distância entre os transdutores;
ts = tempo de viagem da onda.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Figura 7: variação da rigidez inicial em relação à


quantidade de cal.
3.1. Efeito do Teor de Cal
Verifica-se que a taxa de aumento da
Valores dos resultados das resistências nos resistência à compressão simples, representada
ensaios de compressão simples (qu), de tração pela inclinação das retas de ajuste, praticamente
por compressão diametral (qt) e de rigidez inicial permanece a mesma com o aumento do peso
relacionadas com a quantidade de cal são especifico aparente seco. Núñez (1991)
apresentados nas Figuras 5, 6 e 7. verificou que, para misturas de arenito Botucatu
e cal, o aumento na porcentagem de (3% a 9%)
de cal não influenciou consideravelmente a
resistência à compressão simples de amostras
curadas por 28 dias. Entretanto, para um tempo
de cura maior, 90 dias, o autor observou que o
teor de cal é fator decisivo nos ganhos de
resistência.
A resistência à tração por compressão
diametral aumenta com a adição de cal, mesmo
em pequenas quantidades. O aumento da
resistência com a adição de cal é um aspecto
Figura 5: variação da resistência à compressão simples reportado por grande parte dos trabalhos
em relação à quantidade de cal. consultados (INGLES E METCALF, 1972;
NÚÑEZ, 1994; DALLA ROSA, 2009, LOPES
JUNIOR, 2007 e 2011, SILVANI, 2013).

3. 2 Efeito da Porosidade

A relação das resistências à compressão simples,


de tração por compressão diametral e rigidez
inicial quando relacionadas com a porosidade da
mistura são apresentadas nas Figuras 8, 9 e 10.

Figura 6: variação da resistência à tração por compressão


diametral em relação à quantidade de cal.
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solo-cal atribui o efeito do ganho de resistência


com a redução na porosidade, em termos de
resistência à compressão simples, à existência de
um maior número de contatos entre as partículas
existentes, tornando a cimentação mais efetiva.
Além desse aspecto, a maior capacidade de
distribuição de tensões no interior da amostra,
bem como a maior capacidade de mobilização
de atrito nas porosidades mais baixas também
contribuem para o ganho de resistência à tração
Figura8: variação da resistência à compressão simples do material.
em função da porosidade.
3. 3 Efeito da Relaçao Porosidade/Teor
Volumétrico de Cal

Conforme Foppa (2005) a relação porosidade


(η) por teor volumétrico proporciona a
determinação do comportamento de materiais
compactados cimentados. Entretanto, o mesmo
confere a necessidade de um ajuste na variável
teor volumétrico de cal (Liv). Este método de
dosagem foi utilizado por diferentes autores
Figura 9: variação da resistência à tração por compresão (FOPPA, 2005), (DALLA ROSA, 2009) e
diametral em função da porosidade. (SILVANI, 2013). Para a presente pesquisa foi
utilizado o valor de 0,12 como expoente de
correção.
As Figuras 11, 12 e 13 apresentam a variação
da resistência à compressão simples, tração por
compressão diametral e rigidez inicial em função
da relação vazios/cal ajustado.

Figura 10: variação da rigidez inicial em função da


porosidade.

Verifica-se que de maneira contrária à


quantidade de cal, a porosidade da mistura
compactada exerce uma forte influência sobre a
resistência à compressão e sobre o módulo
cisalhante do compósito SRAB-25%RBR-CAL.
Independente da quantidade de cal utilizado, a Figura 11: resistência à compressão simples versus
relação vazios/cal ajustado do SRAB-25%RBR-CAL.
redução na porosidade do material promove
ganhos consideráveis de resistência e no
módulo.
Lopes Junior (2011) estudando amostras de
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Tabela 3: Análise de variânça para a variável de resposta


resistência à tração por compressão diametral.
Teste
GDL SQ MQ PROB
FONTE F
8 1988,62 248,578 92,48 0,000
A 2 622,97 311,485 115,89 0,000
B 2 1206,9 603,243 224,43 0,000
A*B 4 159,17 39,791 14,80 0,000
Erro 18 48,38 2,688
Total 26 2037

Figura 12: resistência à tração por compressão diametral Tabela 4: Análise de variânça para a variável de resposta
versus relação vazios/cal ajustado do SRAB-25%RBR- rigidez inicial.
CAL. Teste
GDL SQ MQ PROB
FONTE F
8 279687 34961 123,16 0.000
A 2 15110 7555 26,61 0.000
B 2 220652 110326 388,64 0.000
A*B 4 43925 10981 38,68 0.000
Erro 18 5110 284
Total 26 62807479

A partir da análise das Tabelas 2, 3 e 4 pode


verificar que para as três variáveis de resposta
(resistência à compressão simples, resistência à
Figura 13: variação da rigidez inicial versus relação
tração por compressão diametral e rigidez
vazios/cal ajustado do SRAB-25%RBR-CAL. inicial) os dois fatores controláveis - teor de cal
(A) e peso especifico seco - (B) foram
3.4 Análise de Variância significativos, assim como sua interação AB
também tiveram efeito significativo, a um nível
A Tabela 2, 3 e 4 apresenta a análise de variânça de significância de 5%, tendo referência o valor-
realizada no software Minitab para cada uma p<0,05.
das variáveis de resposta analizada. Buscou-se otimizar as três variáveis de
resposta simultaneamente, utilizando o software
Tabela 2: Análise de variânça para a variável de resposta Minitab. Para as três variáveis de resposta,
resistência à compressão simples. quanto maior-melhor, deve-se combinar os
FONTE GDL SQ MQ Teste F PROB níveis mais altos dos fatores controláveis a3
8 403733 50467 41,72 0.000 (9%) e b3 (18,5KN/m³). A otimização
A 2 10189 5095 4,21 0,032 multivariada se apresenta na Figura 14.
B 2 374133 187067 154,63 0,000
A*B 4 19411 4853 4,01 0,017
Erro 18 21775 1210
Total 26 425508
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REFERÊNCIAS

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cimentante gerou melhores coeficientes de Ingles, O.G., Metcalf, J.B. (1972). Soil stabilization:
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estatística realizada no software Minitab, para as Foppa, D. (2005). Análise de Variáveis-chave no
três variáveis de resposta pode-se perceber que o Controle da Resistência Mecânica de Solos
peso específico aparente seco é o fator que mais Artificialmente Cimentados. Dissertação (Mestrado
em Engenharia) - Universidade Federal do Rio
influencia nas características de qualidade
Grande do Sul, Porto Alegre. 143p.
investigadas. Lopes Junior, L. S. (2007). Parâmetros de Controle da
Resistência Mecânica de Solos Tratados com Cal,
Cimento e Rocha Basáltica Pulverizada. Dissertação
AGRADECIMENTOS de Mestrado em Engenharia, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
Lopes Junior, L. S. (2011). Metodologia de previsão do
Os autores agradecem as instituições que
comportamento mecânico de solos tratados com cal.
financiaram a pesquisa (CNPq e Capes) e todas as Tese de Doutorado em Engenharia, Universidade
pessoas que se envolveram e contribuíram para o Federal do Rio Grande do Sul.
desenvolvimento da mesma. Núñez, W. P. (1991). Estabilização Físico-química de
um Solo Residual de Arenito Botucatu, Visando seu
Emprego na Pavimentação. Dissertação (Mestrado
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em Engenharia) - Universidade Federal do Rio


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Influência do Teor de Umidade de Compactação no


Comportamento de Diferentes Solos Empregados em Aterros para
Pavimento
José Wilson dos Santos Ferreira
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, wilson_s.ferreira@hotmail.com

Renan Felipe Braga Zanin


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, renan_zanin@hotmail.com

Alana Dias de Oliveira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, alanadioliva@hotmail.com

Flávia Gonçalves
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, flavia_goncalves.fg@hotmail.com

Carlos José Marques da Costa Branco


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, costabranco@uel.br

Raquel Souza Teixeira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, raquel@uel.br

RESUMO: O presente trabalho avaliou o comportamento de dois solos de granulometrias principais


diferentes, argiloso e arenoso, compactados na umidade ótima, no ramo seco e no ramo úmido, para
emprego em aterros para pavimento. O estudo se desenvolveu segundo os ensaios de Índice de
Suporte Califórnia (ISC), expansão e de Resistência à Compressão Simples (RCS), em corpos de
prova moldados na energia normal de Proctor, variando-se a umidade em torno de 3% abaixo e
acima do teor de umidade ótima, para cada tipo de solo. A variação da umidade interferiu nos
valores de suporte, resultando em maiores ISC para os solos compactados na umidade ótima,
seguidos dos compactados no ramo seco e no ramo úmido, enquanto que a maior expansão diferiu
entre o ramo seco e úmido para os diferentes solos. Em termos de RCS médios, a tendência foi de
maior resistência no ramo seco, para os dois tipos de solo.

PALAVRAS-CHAVE: Aterros, Pavimento, Solos Não Saturados, Índice de Suporte Califórnia,


Expansão, Resistência à Compressão Simples.

1 INTRODUÇÃO Ainda assim, em regiões de clima semiárido


ou tropical, como o Brasil, em virtude das
Grande parte das obras geotécnicas são características climáticas, encontram-se solos
dimensionadas com base na mecânica dos solos no estado não saturado, compostos por um
clássica, pautada pelo estudo do solo saturado, sistema trifásico, formado por sólidos, água e
tendo em vista que essa condição se apresenta ar.
como a mais desfavorável para o Se tratando de solos compactados, como
comportamento resistivo do solo. aterros compactados para emprego em
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pavimentos, ainda que a camada seja construída aterros de pavimento, buscando contribuir para
na condição ótima, variações climáticas podem o entendimento do comportamento desses dois
afetar o comportamento resistivo do maciço, solos frente as mudanças no teor de umidade a
tanto durante a fase de construção, quanto ao que estão sujeitos em campo.
longo da vida útil do pavimento (Takeda, 2006;
Toll, 2015; Silva et al., 2016).
Baseado no método vigente de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
dimensiomento de pavimentos flexíveis,
proposto pelo Departamento Nacional de 2.1 Materiais
Infraestrutura de Transportes - DNIT (1981), as
características dos materiais empregados nas O solo argiloso, proveniente do Campo
camadas são avaliadas segundo os critérios de Experimental de Engenharia Geotécnica
suporte e expansão apresentadas, além de (CEEG) da Universidade Estadual de Londrina
ensaios de RCS, complementarmente. – Londrina (PR), foi coletado próximo ao poço
A maior vantagem apresentada pelo ensaio nº 9 usando trado helicoidal, a uma
de ISC é a simplicidade de aplicação, sendo profundidade de aproximadamente dois metros
uma das características mais aceitas para se (Figura 1a).
avaliar o comportamento do solo empregado em De um corte em talude localizado no km 37
pavimento. A desvantagem está associada ao da rodovia PR-376, o solo arenoso foi extraído
empirismo desse método, devido ao projeto de na cidade de Mandaguaçu – PR (Figura 1b).
dimensionamento estar baseado em correlações
(Souza junior, 2005).
Ao estudar o efeito da variação de umidade
no comportamento do solo, Edil e Motan (1979)
identificaram, para uma argila de baixa
plasticidade, compactada abaixo da umidade
ótima, maior suscetibilidade à mudança de
umidade em camada de subleito, em
comparação com amostras compactadas na
umidade ótima e ramo úmido.
Bastos, Holanda e Barroso (2013), ao
compararem a influência da variação da
umidade de compactação e de pós-compactação
no dimensionamento de pavimentos flexíveis,
observaram que variações de umidade em torno
de 2 % em relação à umidade ótima,
normalmente aceitos por norma, provocaram
variações significativas na estrutura, onde os
materiais com umidade abaixo de 2 % da ótima
resultaram em estruturas mais esbeltas.
Em vista da alteração do comportamento Figura 1. Local de coleta dos solos: (a) argiloso; (b)
resistivo frente às variações climáticas e arenoso.
hidrológicas a que os solos estão expostos, o
presente estudo tem como objetivo avaliar o Ambas as amostras deformadas dos solos
comportamento de dois solos, argiloso e foram identificadas e armazenadas em sacos
arenoso, compactados na umidade ótima, no plásticos a fim de evitar contaminação durante o
ramo seco e no ramo úmido, para emprego em transporte para o laboratório de Geotecnia da
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1,95
universidade, onde as amostras foram
preparadas (NBR 6457/1986) para posteriores
ensaios. 1,90

A caracterização física foi realizada por

ρd (g.cm-3)
Gonçalves et al. (2017) para ambos os solos e 1,85

são apresentadas na Tabela 1. Consta também a


classificação desses solos pelos sistemas TRB 1,80

(Transportation Research Board) e SUCS


(Sistema Unificado de Classificação de Solos). 1,75

Tabela 1 – Caracterização física dos solos (Adaptado de 1,70


Gonçalves et al., 2017). 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37
ω (%)
Solo Solo Solo Arenoso Solo Argiloso
Caracterização Física do Solo
Argiloso Arenoso
Massa específica dos sólidos
3,03 2,69 Figura 2. Curva de compactação dos solos argiloso e
(g.cm-3)
arenoso.
Massa específica aparente (g.cm-3) 1,40 1,70
Limite de Liquidez (%) 52 31 Tabela 2. Parâmetros de Moldagem dos corpos de prova
Limite de Plasticidade (%) 38 15 compactados.
Índice de plasticidade (%) 14 16 Ramo Umidade Ramo
Parâmetros
Areia média (%) 0,3 36,0 Seco Ótima Úmido
Areia fina (%) 20,7 41,0 Solo Argiloso
Silte (%) 23,5 10,0 ρd (g.cm-3) 1,40 1,44 1,42
Argila (%) 55,5 13,0 ω (%) 29,4 32,0 33,6
Classificação TRB A-7-5 A-2-6 Solo Arenoso
Classificação SUCS CH SC ρd (g.cm-3) 1,80 1,86 1,80
ω (%) 11,0 14,0 16,0
2.2 Métodos
2.2.2 Expansão e Índice de Suporte Califórnia
2.2.1 Parâmetros de Moldagem
Foram moldados dois corpos de prova para cada
A partir da compactação na energia Normal de solo, nas umidades correspondentes aos ramos
Proctor, realizada em um cilindro de dimensões seco e úmido, dado que os resultados referentes
padronizadas, aplicando 26 golpes com um a umidade ótima foram estudados por Beraldo,
soquete de 2,5 kg a altura de queda de 30 cm, Teixeira e Rodriguez (2011) e Tahira e Teixeira
distribuídas uniformemente ao longo de três (2013).
camadas (NBR 7182/1986), foram construídas A energia utilizada na moldagem foi a
as curvas de compactação, apresentadas na Normal, aplicando 12 golpes através de soquete
Figura 2. A partir delas, definiu-se a massa caindo a uma altura de 45,7 cm, distribuídos
específica seca máxima (ρdmáx) e o teor de uniformemente sobre as superfícies das cinco
umidade ótima (ωót) para cada tipo de solo. camadas, em cilindro grande de Proctor (altura
Com esses dados, foram determinados e diâmetro de 17,78 e 11,43 cm,
pontos de moldagem compreendidos nos ramos respectivamente).
seco e úmido das curvas, para verificar a O controle de compactação adotado foi de
influência da variação da umidade no grau de compactação (GC) acima de 95 % e
comportamento resistivo dos solos em estudo. variação do teor de umidade em relação ao teor
Os parâmetros de moldagem são expostos na pré-definido em ± 1,0 %.
Tabela 2. Posteriormente à compactação, os corpos de
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prova foram levados para tanque de imersão, com grau de compactação (GC) superior a 95 %
onde permaneceram durante 4 dias, conforme e variação do teor de umidade em torno de 0,5
DNER-ME 049/1994. A expansão do solo foi % da umidade especificada (Figura 4b), à
medida a cada 24 horas, por meio de velocidade constanste de carregamento de 0,45
extensômetro acoplado ao corpo de prova mm/min (NBR 12770/1992).
(Figura 3).

Figura 3. Ensaio de expansão em andamento.

O Índice de Suporte Califórnia foi


determinado através da aplicação de uma carga
de aproximadamente 4,5 kgf a velocidade de
1,27 mm/min, mobilizada por um pistão de
penetração. Da curva de pressão versus
penetração resultante do ensaio, foram
utilizadas as penetrações correspodentes a 2,54
e 5,08 milímetros para calcular o índice (NBR
9895/1987).

2.2.3 Resistência à Compressão Simples

Para avaliar a resistência à compressão


simples foram moldados nove corpos de prova Figura 4. Ensaio de RCS: (a) Cilindro pequeno de
para cada tipo de solo, sendo realizados ensaios compactação dos corpos de prova; (b) Ensaio para
ruptura por compressão simples dos corpos de prova.
em triplicata para cada umidade de moldagem
apresentada na Tabela 2.
A compactação dos corpos de prova foi
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
realizada em cilindro pequeno (Figura 4a), com
dimensões de 10,5 cm de altura e 5,0 cm de
3.1 Expansão e Índice de Suporte à Califórnia
diâmetro, aplicando uma quantidade de golpes
variável, de forma a se obter a massa específica
Na Tabela 3 são apresentados os índices físicos
seca e teor e umidade estabelecidos no
dos corpos de prova utilizados na primeira etapa
planejamento experimental. Foram ensaiados à
de ensaio. São eles massa específica seca (ρd),
ruptura por compressão simples corpos de prova
teor de umidade (ω), porosidade (η), grau de
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saturação (Sr), variação de teor de umidade solo arenoso em estudo de mistura solo-lodo
(Δω) e grau de compactação (GC). para a pavimentação, obtiveram expansão de
0,48 % na umidade ótima.
Tabela 3.Índices físicos dos corpos de prova empregados Ao verificar os valores de expansão obtidos
nos ensaios de ISC e expansão. por esses autores com os resultados
Índices Ramo Umidade Ramo
apresentados nas Tabelas 4 e 5, nota-se que a
Físicos Seco Ótima Úmido
menor expansão ocorre no ponto de umidade
Solo Argiloso
ρd (g.cm-3) 1,41 1,45 1,39
ótima, em virtude de ser o ponto em que o solo
ω (%) 29,3 33,0 34,2
compactado apresenta a maior densidade.
η (%) 53,1 51,7 53,7 As maiores expansões ocorreram no ramo
Sr (%) 77,9 92,6 88,6 úmido, para o solo argiloso, e no ramo seco,
Δω (%) -0,1 1,0 0,6 para o solo arenoso. Esse comportamento é
GC (%) 100,7 100,7 97,9 explicado por meio dos índices físicos dos
Solo Arenoso corpos de prova (Tabela 3), visto que foram
ρd (g.cm-3) 1,77 1,85 1,79 esses os pontos de maior porosidade, com
ω (%) 10,6 13,1 16,2 consequente absorção de maior quantidade de
η (%) 34,2 31,0 33,3 água durante o período de imersão.
Sr (%) 55,0 77,6 86,8 Na Figura 5 são apresentadas as curvas de
Δω (%) -0,4 -0,9 0,2 pressão versus penetração obtidas do ensaio de
GC (%) 98,3 99,5 99,4
Índice de Supote Califórnia (ISC), para os solos
argiloso (Figura 5a) e arenoso (Figura 5b), no
Nas Tabelas 4 e 5 são expostos os valores de
ramo seco e úmido.
expansão para o solo argiloso e arenoso, no
ramo seco e úmido. (a) 12

10
Pressão (kgf.cm-2)

Tabela 4. Expansão solo argiloso no ramo seco e úmido. 8

Ramo Seco Ramo Úmido 6


Hora Def.¹ Expansão Def.¹ Expansão 4
(mm) (%) (mm) (%) 2
0 0,00 0,00 0,00 0,00 0
24 0,19 0,17 0,82 0,72 0 1 2 3 4 5 6
Penetração (mm)
7 8 9 10

48 0,21 0,18 0,82 0,72 (b)


Ramo Seco Ramo Úmido
8
72 0,21 0,18 0,82 0,72
7
96 0,22 0,19 0,82 0,72
Pressão (kgf.cm-2)

6
¹Deformação 5
4

Tabela 5. Expansão solo arenoso no ramo seco e úmido. 3


2
Ramo Seco Ramo Úmido 1
Hora Def.¹ Expansão Def.¹ Expansão 0
(mm) (%) (mm) (%) 0 1 2 3 4 5 6
Penetração (mm)
7 8 9 10

Ramo Seco Ramo Úmido


0 0,00 0,00 0,00 0,00
24 1,59 1,39 1,60 1,40
48 1,65 1,44 1,10 0,96 Figura 5. Curva pressão versus penetração: (a) solo
72 1,68 1,47 1,10 0,96 argiloso; (b) solo arenoso.
96 1,70 1,49 1,05 0,92
¹Deformação A partir das pressões referentes às
penetrações normatizadas de 2,54 e 5,08
Beraldo, Teixeira e Rodriguez (2011), milímetros, foram determinados os ISC dos
trabalhando na umidade ótima com o solo solos de estudo, conforme Tabela 6.
argiloso obtiveram expansão de 0,15 %, assim
como Tahira e Teixeira (2013), ao empregar o
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variações de energia de compactação e de teor


Tabela 6. ISC dos solos argiloso e arenoso para as duas de umidade no comportamento mecânico do
condições de moldagem.
solo, observou que os maiores valores de ISC
Penetração Pressão
Moldagem ISC (%) resultaram nos corpos de prova moldados 1 e 2
(mm) (kgf.cm-2)
Solo Argiloso % abaixo da umidade ótima, para os três níveis
2,54 3,76 5,3 de energia empregados.
Ramo seco Além disso, a autora alerta para a
5,08 7,14 6,8
2,54 1,88 2,7 necessidade indispensável de controle rigoroso
Ramo Úmido na umidade de compactação de campo, uma vez
5,08 3,38 3,2
Solo Arenoso que teores de umidade superiores à ótima
2,54 2,48 3,5 ocasionaram decréscimos de resistência de
Ramo seco
5,08 4,66 4,4 81%, compatível com as diminuições de 83 % e
2,54 2,25 3,2 67 % obtidas para os solos argiloso e arenoso.
Ramo Úmido
5,08 3,76 3,6
3.2 Resistência à Compressão Simples
Os dois solos apresentaram maiores valores
de suporte ao serem moldados no ramo seco da Os índices físicos, como massa específica
curva de compactação, tendência essa em seca (ρd), teor de umidade (ω), porosidade (η),
conformidade com a literatura. grau de saturação (Sr), variação de teor de
Beraldo, Teixeira e Rodriguez (2011) e umidade (Δω) e grau de compactação (GC) dos
Tahira e Teixeira (2013) obtiveram ISC na corpos de prova utilizados na avaliação da
umidade ótima para o solo de Londrina e resistência à compressão simples são expostos
Mandaguaçu de 18,6 % e 10,9 %, na Tabela 7.
respectivamente.
Silva (2015), ao analisar a influência de

Tabela 7. Índices físicos dos corpos de prova empregados no ensaio de RCS.


Índices Físicos Ramo Seco Umidade Ótima Ramo Úmido
Solo Argiloso
Identificação CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6 CP7 CP8 CP9
ρd (g.cm-3) 1,44 1,44 1,40 1,45 1,44 1,44 1,44 1,44 1,42
ω (%) 29,6 29,9 30,1 32,0 31,6 31,0 33,5 33,6 33,4
η (%) 51,9 52,0 53,3 51,7 51,9 51,9 51,9 51,9 52,6
Sr (%) 82,3 83,0 79,0 89,6 87,8 86,0 93,0 93,2 90,2
Δω (%) 0,2 0,5 0,7 -0,1 -0,4 -1,0 -0,1 -0,1 -0,2
GC (%) 102,6 103,0 100,0 100,4 100,1 99,8 101,5 101,6 99,8
Solo Arenoso
Identificação CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6 CP7 CP8 CP9
ρd (g.cm-3) 1,72 1,74 1,80 1,81 1,82 1,81 1,79 1,79 1,80
ω (%) 11,5 10,6 11,5 13,5 13,5 13,8 16,5 16,5 16,1
η (%) 35,9 35,4 33,0 32,7 32,2 32,9 33,6 33,4 32,9
Sr (%) 55,1 51,9 62,9 74,7 76,5 75,4 87,9 88,2 88,5
Δω (%) 0,5 -0,4 0,5 -0,5 -0,5 -0,3 0,5 0,5 0,1
GC (%) 95,7 96,6 100,2 97,3 98,0 97,0 99,3 99,5 99,8
argiloso (Figura 6a) e arenoso (Figura 6b).
As curvas de tensão versus deformação
obtidas no ensaio são mostradas na Figura 6, Com base nas curvas foram determinadas as
para as três condições de moldagem dos solos máximas resistências à compressão dos corpos
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de prova, sumarizadas nas Tabelas 8 e 9.


(a)
6,0

5,0

4,0
Tensão (kgf.cm-2)

3,0

2,0

1,0

0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (%)
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6 CP7 CP8 CP9
(b)
6,0

5,0

4,0
Tensão (kgf.cm-2)

3,0

2,0

1,0

0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (%)
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6 CP7 CP8 CP9

Figura 6. Curvas de tensão versus deformação obtida no ensaio de RCS para os solos: (a) argilosos; (b) arenosos

Tabela 8. RCS do solo argiloso. Tabela 9. RCS solo arenoso.


Corpo de RCSmáx RCSmédia Def.¹ Desvio CV² Corpo de RCSmáx RCSmédia Def.¹ Desvio CV²
prova (kgf.cm-2) (%) padrão (%) prova (kgf.cm-2) (%) padrão (%)
1 3,76 1,52 1 3,75 0,95
Ramo Ramo
2 4,89 3,9 1,62 0,95 24,5 2 4,06 4,1 1,33 0,40 9,8
Seco Seco
3 3,00 1,52 3 4,55 1,05
1 3,41 2,19 1 3,16 1,48
Umidade Umidade
2 2,99 3,3 1,62 0,29 8,6 2 3,34 3,4 1,90 0,26 7,7
Ótima Ótima
3 3,53 2,00 3 3,67 1,81
1 2,61 4,29 1 3,11 3,33
Ramo Ramo
2 2,08 2,3 3,33 0,28 12,1 2 2,63 2,7 2,86 0,41 15,2
Úmido Úmido
3 2,20 3,62 3 2,30 2,86
¹Deformação; ²Coeficiente de variabilidade ¹Deformação; ²Coeficiente de variabilidade
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Baseado no estudo estatístico dos dados AGRADECIMENTOS


expostos nas Tabelas 8 e 9, foi constatado
coeficiente de variabilidade abaixo de 15 % Os autores agradecem a Fundação Araucária e
para a maioria dos valores, indicando que as Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
amostras são homogêneas entre si. Nível Superior (CAPES) pelo fomento de
Diante dos resultados de RCS obtidos para bolsas aos estudantes de Pós-Graduação
os dois solos, foram observadas maiores envolvidos no trabalho.
resistências para os corpos de prova moldados
no ramo seco, seguidas por aquelas dos solos
moldados na umidade ótima e ramo úmido, REFERÊNCIAS
indicando que incrementos de umidade no solo
durante a compactação do aterro provocariam ABNT (1986) NBR 6457 – Amostras de Solo –
decréscimos de resistência. Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
de Caracterização, Associação Brasileira de Normas
Silva (2015) observou o mesmo Técnicas, Rio de Janeiro.
comportamento descrito no presente estudo, ABNT (1986) NBR 7182 - Solo – Ensaio de
justificando a maior RCS ser alcançada nos Compactação. Associação Brasileira de Normas
corpos de prova moldados no ramo seco, em Técnicas, Rio de Janeiro.
razão da ação da sucção, influenciando ABNT (1987) NBR 9895 – Solo – Índice de Suporte
Califórnia, Associação Brasileira de Normas
principalmente em teores de umidade inferiores Técnicas, Rio de Janeiro.
a ótima. ABNT (1992) NBR 12770 – Solo Coesivo –
Determinação da Resistência à Compressão Não
Confinada, Associação Brasileira de Normas
4 CONCLUSÕES Técnicas, Rio de Janeiro.
Bastos, J. B. S.; Holanda, A. S.; Barroso, S. H. A. (2013)
Comparação da Influência da Variação da Umidade
Baseado nos resultados e discussão, foi de Compactação e de Pós-Compactação nas Análises
observado que a variação do teor de umidade e no Dimensionamento de Pavimentos Flexíveis,
altera o comportamento resistivo dos solos XXVII Congresso de Pesquisa e Ensino em
Transportes (ANPET), Belém, Anais do XXVII
argilosos e arenosos.
ANPET, p. 1-12.
O ISC se mostrou mais elevado para os Beraldo, F. M.; Teixeira, R. S.; Rodriguez, T. T. (2011)
corpos de prova moldados na umidade ótima, Caracterização Física, Capacidade de Compactação e
enquanto que os compactados no ramo úmido Permeabilidade do lodo de ETA. XX Encontro Anual
foram responsáveis pelos menores valores de de Iniciação Científica (EAIC), Ponta Grossa, Anais
do XX EAIC, v. 1.
suporte.
DNER (1994) ME 049 – Solos – Determinação do Índice
As medidas de expansão indicaram que, de Suporte Califórnia Utilizando Amostras Não
além da umidade de moldagem, a massa Trabalhadas, Departamento Nacional de Estradas de
específica do solo e a porosidade são fatores Rodagem, Rio de Janeiro.
que influenciam no resultado desse parâmetro, DNIT (1981) Método de Projeto de Pavimentos
Flexíveis. Departamento Nacional de Infraestrutura de
haja vista que o solo argiloso, moldado no ramo
Transportes, Rio de Janeiro.
seco, apresentou menores valores de expansão, Edil, T. B.; Motan, S. E. (1979) Soil-Water Potential and
quando verificado com o ramo úmido. Resilient Behavior of Subgrade Soils, Transportation
Por fim, a resistência à compressão simples Research Record, n. 705.
dos dois solos seguiu a mesma tendência, Gonçalves, F.; Souza, C. H. U.; Tahira, F. S.; Fernandes,
F.; Teixeira, R. S. (2017) Incremento de Lodo de ETA
apresentando-se mais elevada no ramo seco, de em Barreiras Impermeabilizantes de Aterro Sanitário,
maneira que o aumento do teor de umidade Revista DAE, n. 205.
provocou decréscimos de resistência. Silva, A. M. (2015) Estudo de Parâmetros de
Compactação Proctor no Comportamento Mecânico
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do Solo, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-


Graduação em Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade Federal de Campina Grande, 183 p.
Silva, A. M.; Lucena, L. C.; Lucena, A. E.; Carvalho, J.
C.; Marinho, P. G. (2016) Estudo de Parâmetros de
Compactação de Solo para Uso em Pavimentos
Rodoviários, Revista Transportes, v. 24, n. 4, p. 95-
103.
Souza Junior, J. D. (2005) O Efeito da Energia de
Compactação em Propriedades dos Solos Utilizados
na Pavimentação do Estado do Ceará, Dissertação de
Mestrado, Programa de Mestrado em Engenharia de
Transportes, Universidade Federal do Ceará, 211 p.
Tahira, F. S.; Teixeira, R. S. (2013) Estudo da Mistura
Solo-Lodo para Pavimentação. III Encontro Anual de
Iniciação Tecnológica e Inovação (EAITI), Foz do
Iguaçu, Anais do III EAITI, v. 1, p. 1-1.
Takeda, M. C. (2006) A Influência da Variação da
Umidade Pós-Compactação no Comportamento
Mecânico de Solos de Rodovias do Interior Paulista,
Tese de Doutorado em Engenharia Civil – Área de
Transportes, Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, 276 p.
Toll, D. G. (2015) California Bearing Ratio Tests on a
Lateritic Gravel from Kenya, Transportation
Geotechnics, v. 5, p. 59-67.
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Influência do Teor de Umidade de Compactação nos Parâmetros


de Adensamento de um Solo Arenoso
Renan Felipe Braga Zanin
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, renan_zanin@hotmail.com

Daniele Satie Koga


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil

Alana Dias de Oliveira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, alanadioliva@hotmail.com

José Wilson Santos Ferreira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, wilson_s.ferreira@hotmail.com

Flávia Gonçalves
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, flavia_goncalves.fg@hotmail.com

Carlos José Marques da Costa Branco


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, costabranco@uel.br

Raquel Souza Teixeira


Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, raquel@uel.br

RESUMO: Esse trabalho teve como objetivo avaliar os parâmetros de adensamento do solo arenoso
da cidade Mandaguaçu/PR, coletado no pé de um talude localizado às margens da rodovia PR-376,
no km 37. Foram realizados ensaios de adensamento em amostras compactadas acima, abaixo e na
umidade ótima, nas condições inundada e não inundada. Os estágios de carregamentos foram de 25
kPa a 1.240 kPa, com duração de 24 horas cada. As curvas obtidas em todos os ensaios não
mostraram um trecho de recompressão bem definido, dificultando a obtenção da tensão de pré-
adensamento. Em relação às diferentes condições de umidade, verificou-se que os corpos de prova
ensaiados acima da umidade ótima apresentaram as maiores deformações. As amostras compactadas
abaixo e na umidade ótima tiveram um comportamento semelhante. Dos resultados das amostras
inundadas e não inundadas, notou-se que as primeiras sofreram maiores deformações, sendo esta a
pior condição para o solo em questão.

PALAVRAS-CHAVE: Parâmetros de adensamento, Solo compactado, Ensaio inundado e não


inundado, Deformações.

1 INTRODUÇÃO conta dos recalques (Rodrigues et al., 2014;


Ozelim et al., 2014; Bicalho et al., 2016). Estes
A avaliação da compressibilidade dos solos é de podem causar inúmeros problemas às
suma importância, sendo definida como a edificações, principalmente os recalques
mudança de volume de um corpo quando são diferenciais, visto que podem causar danos
aplicadas cargas externas, principalmente por significativos, ocasionar desconforto ao usuário
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ou, até mesmo, riscos a própria estrutura. município de Mandaguaçu-PR, em um talude às


Dessa forma, o ensaio de adensamento ou margens da PR-376, no Km 37. Este solo tem
ensaio de compressão edométrica é o meio pelo como substrato rochoso a Formação Caiuá,
qual se torna possível obter os parâmetros de onde há predominância de arenito (FRANÇA
compressibilidade de um solo. JUNIOR et al., 2010).
A ordem de grandeza dos recalques por Este solo é classificado como uma areia
adensamento pode ser estimada de acordo com argilosa, constituído granulometricamente por
a distribuição das pressões produzidas em cada 41 % de areia fina, 36 % de areia média, 10 %
ponto do terreno e também com as propriedades de silte e 13 % de argila. A massa específica dos
dos solos. sólidos, o limite de liquidez e o limite de
A compactação do solo visa melhorar a sua plasticidade deste solo em 2,69 g/cm³, 31 % e
capacidade de resistência, reduzir volumes de 15 %, respectivamente. O coeficiente de
vazios, compressibilidade e permeabilidade permeabilidade, para a compactação realizada
(CRISPIM, 2010). na umidade ótima, é de 3,5E-09 m.s-1
Em campo, a compactação do solo nem (GONÇALVES et al., 2017).
sempre atinge a umidade ótima prevista, a qual A curva de compactação deste solo, para a
indica a melhor eficiência do processo. Assim, energia Normal de Proctor, encontra-se na
torna-se importante variar o teor de umidade, Figura 1. A partir dela, os valores de umidade
em pontos compreendidos pelo ramo seco e ótima, 14 %, e massa específica seca máxima,
ramo úmido, para verificar o comportamento do 1,86 g/cm³, foram obtidos (GONÇALVES et
solo frente essa mudança (TAKEDA, 2006). al., 2017). Assim, para este trabalho, foram
Em solos arenosos, os recalques devido aos escolhidas uma umidade abaixo (11 %) e uma
carregamentos externos são principalmente acima (16 %) da ótima, obtendo massas
imediatos, calculados a partir da Teoria da epecíficas secas de 1,80 g/cm³ para ambas.
Elasticidade. Porém quando estes solos
apresentam uma parcela significativa de finos,
há a ocorrência de adensamento mais
pronunciada. Outro fator que influencia na
compressibilidade é a estrutura do solo. Quando
compactado, seu baixo coeficiente de
permeabilidade diminui a velocidade das
deformações, caracterizando o adensamento.
Desta forma, o presente trabalho tem como
objetivo avaliar os parâmetros de adensamento
do solo arenoso da cidade de Mandaguaçu-PR,
frente as variações de teor de umidade de Figura 1. Curva de compactação do solo de Mandaguaçu
compactação, situadas no ramo seco, ramo
úmido e umidade ótima, assim como das 2.2 Ensaio de Compactação
condições de ensaios, inundado e não inundado.
Para o processo de compactação e posterior
moldagem dos corpos de prova para os ensaios
2 MATERIAIS E MÉTODOS de adensamento, o solo foi preparado de acordo
com a NBR 6457/1986. Após o ajuste da
2.1 Solo umidade para o valor pretendido (11, 14 ou 16
%), deu-se início à compactação, segundo a
As amostras deformadas do solo arenoso NBR 7182/1986.
utilizado neste trabalho foram coletadas no Um cilindro de dimensões padronizadas de
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12,7 cm de altura e 10,0 cm de diâmetro (Figura e cabeçote (Figura 3). A câmara foi posicionada
2) foi utilizado. Com o auxílio de um soquete na prensa e o extensômetro, utilizado para as
padrão, de 2,5 kg e altura de queda de 30 cm, leituras de deformação, foi ajustado (Figura 4).
foram aplicados 26 golpes em três camadas.
Entre uma camada finalizada e outra, foi
realizada a escarificação do solo, para melhor
aderência.
Todos os corpos de prova compactados
apresentaram grau de compactação (GC) ≥ 95
% e desvio de teor de umidade em torno de ±
0,5 %.

Figura 2. Cilindro de compactação

2.3 Ensaio de Adensamento


Figura 3. Passo-a-passo da montagem da câmara de
No total, foram realizados 12 ensaios de adensamento
adensamento, sendo eles: seis na condição
inundada (dois compactados na umidade ótima,
dois acima e dois abaixo desta umidade) e seis
na condição não inundada (dois compactados na
umidade ótima, dois acima e dois abaixo desta
umidade).
A partir dos cilindros compactados, foram
moldados corpos de prova circulares de 8 cm de
diâmetro de 3,2 cm de altura com o auxílio de
um anel metálico. A massa e a umidade destes
corpos de prova foram aferidas e, com o volume
conhecido, foi feito o mesmo controle de
compactação descrito no item anterior, além de
se obter os índices físicos.
A montagem da câmara de adensamento
Figura 4. Prensa de adensamento: (a) braço de alavanca;
ocorreu na seguinte ordem: pedra porosa, papel (b) extensômetro; (c) câmara de adensamento; (d)
filtro, corpo de prova, papel filtro, pedra porosa pendural para cargas
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Para os ensaios inundados foi adicionado construída, por meio da qual foram obtidos
água na câmara de adensamento e aguardou-se todos os parâmetros de adensamento. Para
24 horas para o início dos carregamentos para determinação da tensão de pré-adensamento e
que o corpo de prova alcançasse o máximo de coeficiente de adensamento foram empregadas
saturação (Figura 5a). Já nos ensaios não as metodologias gráficas de Pacheco e Silva e
inundados, após a moldagem, o corpo de prova Taylor, respectivamente.
foi envolto com plástico filme, junto com o O coeficiente de adensamento foi obtido para
anel, para que não houvesse grandes perdas de 3 estágios de carregamento: próximo à tensão
umidade ao longo do ensaio (Figura 5b). de pré-adensamento, no último carregamento e
um intermediário entre os anteriores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os índices físicos de todos os corpos de prova,


nas duas condições de ensaio e nas três
condições de compactação, são apresentados na
Tabela 1.
Todos os valores de coeficientes de variação
(a) (b) ficaram abaixo de 15 %, considerado de baixa
dispersão (PIMENTEL GOMES, 1990).
Figura 5. Ensaio de adensamento: (a) inundado; (b) não
As curvas de adensamento normalizadas para
inundado
os ensaios feitos na condição inundada e não
inundada, são expostas nas Figuras 6 e 7,
Carregamentos de 5, 10, 20, 40, 80, 160,
respectivamente. Foram feitas as médias dos
320, 640 e 1280 kPa foram realizados, de
ensaios para cada condição de compactação dos
acordo com o método MB 3336/1990. Em cada
corpos de prova a fim de se facilitar a análise
estágio de carregamento foram feitas leituras de
conjunta de todos os resultados.
deformação nos intervalos de 8, 15 e 30
Os corpos de provas compactados acima da
segundos, 1, 2, 4, 8, 15 e 30 minutos, 1, 2, 4, 8 e
umidade ótima apresentaram maiores
24 horas.
deformações em virtude do solo adquirir massa
Ao final do último carregamento, foi dado
específica seca e quantidade de água nos vazios
início aos estágios de descarregamento com a
menores, resultando em maiores índices de
retirada das seguintes tensões, de forma
vazioz. Já quanto aos corpos de prova
sequencial: 640, 320, 160 e 150 kPa. Para esta
inundados, as deformações por adensamento
etapa, as leituras de deformação foram feitas
foram mais pronunciadas devido à presença da
nos mesmos intervalos de tempo dos
água no interior da câmara.
carregamentos, porém finalizadas no período de
Já os ensaios realizados com o solo
duas horas, visto que, após este tempo, as
compactado na umidade ótima e abaixo dessa
deformações são desprezíveis.
apresentaram resultados bem semelhantes em
Com base em todos estes dados, a curva
relação à deformação.
tensão vertical versus índice de vazios foi
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Tabela 1. Índices físicos dos corpos de prova dos ensaios de adensamento


Condição do Condição do Corpo
Corpo de Prova w (%) e Sr (%) ρ (g/cm³)
Ensaio de Prova
CP-01 13,0 0,48 73,2 2,06
CP-03 13,0 0,41 85,9 2,16
Compactado na
Média 13,0 0,45 79,6 2,11
Umidade Ótima
Desvio Padrão 0,0 0,05 9,0 0,07
CV (%) 0,0 11,1 11,3 3,4
CP-06 10,4 0,48 57,7 2,00
Inundado

CP-07 10,4 0,49 56,5 1,99


Compactado abaixo
Média 10,4 0,49 57,1 2,00
da Umidade Ótima
Desvio Padrão 0,0 0,01 0,9 0,01
CV (%) 0,0 1,5 1,5 0,4
CP-10 15,2 0,51 80,4 2,05
CP-11 14,7 0,42 93,3 2,17
Compactado acima da
Média 15,0 0,47 86,9 2,11
Umidade Ótima
Desvio Padrão 0,4 0,06 9,1 0,08
CV (%) 2,4 13,7 10,5 4,0
CP-04 13,0 0,40 87,3 2,17
CP-05 13,9 0,49 76,2 2,06
Compactado na
Média 13,5 0,45 81,8 2,12
Umidade Ótima
Desvio Padrão 0,6 0,06 7,9 0,08
CV (%) 4,7 14,3 9,6 3,7
CP-08 10,9 0,48 61,4 2,02
Não Inundado

CP-09 10,7 0,45 64,1 2,05


Compactado abaixo
Média 10,8 0,47 62,8 2,04
da Umidade Ótima
Desvio Padrão 0,1 0,02 1,9 0,02
CV (%) 1,3 4,6 3,0 1,0
CP-12 15,6 0,58 72,8 1,97
CP-13 15,0 0,48 83,9 2,09
Compactado acima da
Média 15,3 0,53 78,4 2,03
Umidade Ótima
Desvio Padrão 0,4 0,07 7,9 0,08
CV (%) 2,8 13,3 10,0 4,2
Nota: w = Teor de umidade; e = Índice de vazios; Sr = Grau de saturação; ρ = Massa específica; CV = Coeficiente de
variação.

Por meio dos métodos gráficos foram determinação do coeficiente de adensamento.


obtidos os valores dos parâmetros de Para o coeficiente de adensamento, foi feita a
adensamento dos corpos de provas (Tabela 2). média dos resultados obtidos nos três estágios
A tensão de pré-adensamento foi definida de carregamento escolhidos anteriormente, para
usando o método de Pacheco e Silva, ao passo sintetizar os resultados e facilitar a análise.
que o o método de Taylor foi o utilizado na
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Figura 6. Curvas de adensamento dos corpos de prova ensaiados na condição inundada

Figura 7. Curvas de adensamento dos corpos de prova ensaiados na condiçã não inundada
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Tabela 2. Parâmetros de adensamento dos corpos de prova ensaiados


Condição Condição do
Corpo de Prova σa (kPa) Cv (cm²/s) Cc av (kPa-1) mv (kPa-1)
do Ensaio Corpo de Prova
CP-01 21,6 5,50E-02 4,20E-02 -4,00E-05 -2,70E-05
CP-03 44,7 5,50E-02 5,00E-02 -4,00E-05 -2,80E-05
Compactado na
Média 33,2 5,50E-02 4,60E-02 -4,00E-05 -2,75E-05
Umidade Ótima
Desvio Padrão 16,3 0,00 5,66E-03 0,00 7,07E-07
CV (%) 49,3 0,0 12,3 0,0 2,6
CP-06 24,3 5,50E-02 5,20E-02 -4,00E-05 -2,70E-05
Inundado

Compactado CP-07 28,7 5,50E-02 5,00E-02 -4,00E-05 -2,70E-05


abaixo da Média 26,5 5,50E-02 5,10E-02 -4,00E-05 -2,70E-05
Umidade Ótima Desvio Padrão 3,1 0,00 1,41E-03 0,00 0,00
CV (%) 11,7 0,0 2,8 0,0 0,0
CP-10 48,8 5,60E-02 1,10E-01 -1,00E-04 -6,60E-05
Compactado CP-11 16,5 5,60E-02 8,30E-02 -7,00E-05 -4,90E-05
acima da Média 32,7 5,60E-02 9,65E-02 -8,50E-05 -5,75E-05
Umidade Ótima Desvio Padrão 22,8 0,00 1,91E-02 0,00 1,20E-05
CV (%) 70,0 0,0 19,8 25,0 20,9
CP-04 55,9 5,50E-02 3,40E-02 -3,00E-05 -2,10E-05
CP-05 51,5 5,50E-02 4,00E-02 -3,00E-05 -2,00E-05
Compactado na
Média 53,7 5,50E-02 3,70E-02 -3,00E-05 -2,05E-05
Umidade Ótima
Desvio Padrão 3,1 0,00 4,24E-03 0,00 7,07E-07
CV (%) 5,8 0,0 11,5 0,0 3,4
Não Inundado

CP-08 172,6 5,60E-02 5,10E-02 -4,00E-05 -2,70E-05


Compactado CP-09 137,7 5,60E-02 4,30E-02 -3,00E-05 -2,10E-05
abaixo da Média 155,2 5,60E-02 4,70E-02 -3,50E-05 -2,40E-05
Umidade Ótima Desvio Padrão 24,7 0,00 5,66E-03 0,00 4,24E-06
CV (%) 15,9 0,0 12,0 20,2 17,7
CP-12 66,7 5,50E-02 1,10E-01 -9,00E-05 -5,70E-05
Compactado CP-13 93,8 5,50E-02 8,20E-02 -8,00E-05 -5,40E-05
acima da Média 80,3 5,50E-02 9,60E-02 -8,50E-05 -5,55E-05
Umidade Ótima Desvio Padrão 19,2 0,00 1,98E-02 0,00 2,12E-06
CV (%) 23,9 0,0 20,6 8,3 3,8
Nota: σa = Tensão de pré-adensamento; Cv = coeficiente de adensamento; Cc = Índice de compressão; av = Coeficiente
de compressibilidade; mv = Coeficiente de deformação volumétrica; CV = Coeficiente de variação.

As curvas de adensamento, em todas as bastante diferenciado .


condições não apresentaram um trecho de Os demais parâmetros de adensamento não
recompressão bem definido. Isto justifica os sofreram variações significativas nas diferentes
baixos valores de tensão de pré-adensamento condições de ensaio.
obtidas para este solo, mesmo após
compactação.
Em geral, a tensão de pré-adensamento se 4 CONCLUSÃO
mostrou maior na condição não inundada, o que
é corroborado pela literatura, considerando que As frações granulométricas e o coeficiente de
a condição inundada representa a mais crítica permeabilidade encontrados por Gonçalves et
para o solo, evidenciando que a inundação al. (2017) corroboram o fato de que solos
transforma-o em um solo com comportamento arenosos quando apresentam finos em sua
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composição ou são compactados indicam a REFERÊNCIAS


ocorrência de adensamento.
Observando os índices físicos dos corpos de ABNT MB 3336 (1990). Ensaio de Adensamento
prova, foi obtido um coeficiente de Unidimensional. Rio de Janeiro.
ABNT NBR 6457 (1986). Amostras de Solo –
variabilidade abaixo de 15 %, sendo estes Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
corpos de prova considerados homogêneos entre si. de Caracterização. Rio de Janeiro.
Das curvas de adensamento geradas através ABNT NBR 7182 (1986). Solo – Ensaio de
dos ensaios, foi verificado que o trecho de Compactação. Rio de Janeiro.
recompressão não ficou bem definido, Bicalho, K. V. et al. (2016) Estudo da Compressibilidade
Unidimensional de Diferentes Argilas Moles
dificultando a obtenção da tensão de pré- Brasileiras, XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica
adensamento e minimizando o valor deste dos Solos e Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG),
parâmetro, mesmo após a compactação. Belo Horizonte, Anais do XVIII COBRAMSEG.
Em relação às diferentes umidades de Crispim, F. A. (2010) Influência de Variáveis de
compactação, os corpos de prova compactados Compactação na Estrutura dos Solos: Caracterização
Geotécnica, Química, Mineralógica e
acima da umidade ótima foram os que Microestrutural. Tese de Doutorado, Doutorado em
apresentaram as maiores deformações. Já acerca Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa,
das diferentes condições de ensaio de Viçosa.
adensamento, os corpos de provas ensaiados na França Junior, P.; Petsch, C.; Dalla Villa, M.E.C.;
Manieri, D.D. (2010) Relato de campo sobre os
condição inundada sofreram as maiores
aspectos físicos do terceiro planalto paranaense
deformações. (Maringá aos terraços do Rio Paraná). Boletim de
A tensão de pré-adensamento foi maior para Geografia, Vol. 28, pp. 185-195.
o corpo de prova submetido ao ensaio não Gonçalves, F. et al. (2017) Incremento de lodo de ETA
inundado e compactado abaixo da umidade em barreiras impermeabilizantes de aterro sanitário.
Revista DAE, ed. 205, p. 5-14. doi:
ótima, apresentando um valor médio de 155,2
10.4322/dae.2016.018.
kPa. Já os menores valores foram encontrados Ozelim, L. C. S. M. et al. (2014) A Aplicação de Novos
no corpo de prova ensaiado na condição Paradigmas para o Entendimento do Fenômeno de
inundada e compactado abaixo da umidade Adensamento em Solos Estruturados e Colapsíveis,
ótima, com valor médio de 26,5 kPa. Os demais XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG), Goiânia,
parâmetros de adensamento mostraram pequena
Anais do XVIII COBRAMSEG.
ou nenhuma variação, mesmo com as diferentes Pimentel Gomes, F. (1990) Curso de Estatística
condições de ensaios de adensamento e Experimental. 12.ed. Piracicaba: Nobel, 467p.
umidades de compactação. Rodrigues, N. L. et al. (2014) Comparação de Ensaios de
Os resultados apresentados confirmam que o Adensamento Realizados em Equipamento de
Cisalhamento Simples (DSS) e em Prensa de
solo compactado na umidade ótima apresenta o
Adensamento, XVII Congresso Brasileiro de
melhor comportamento em relação à Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
deformabilidade. (COBRAMSEG), Goiânia, Anais do XVIII
COBRAMSEG.
Takeda, M. C. (2006) A Influência da Variação da
Umidade Pós-Compactação no Comportamento
AGRADECIMENTOS Mecânico de Solos de Rodovias do Interior Paulista.
Tese de Doutorado, Doutorado em Engenharia Civil,
Os autores agradecem ao Laboratório de Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
Geotecnia da Universidade Estadual de São Paulo, São Carlos.
Londrina, a Fundação Araucária e a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) pelo fomento de
bolsas aos estudantes de Pós-Graduação
envolvidos no trabalho.
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Interpretação de Ensaios de Piezocone em Solos Intermediários


Compactados
Fernando Crisóstomo Mellia
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, fernando_mellia@hotmail.com

Roberto Quental Coutinho


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

RESUMO: Este trabalho apresenta parte de um estudo geotécnico de um aterro localizado no


município brasileiro de Itapissuma, Estado de Pernambuco (PE), composto de solos intermediários
compactados provenientes da unidade geológica Formação Barreiras. Os ensaios realizados
objetivaram a determinação adequada de perfis estratigráficos e parâmetros constitutivos do solo.
Para isso, tornou-se necessária a análise das condições de drenagem em solos intermediários, visto
que estes ao serem carregados por ensaios de piezocone a velocidade padrão de 20 mm/s podem
apresentar condição parcialmente drenada. Nesse contexto, serão apresentados e discutidos os
resultados da avaliação das condições de drenagem, utilizando o parâmetro de velocidade
normalizada (V), admitindo-se a proposta de Dienstmann et al. (2017), que indica a ocorrência de
drenagem parcial para o intervalo V entre 0,01 a 10. Concluiu-se que o solo estudado ao ser
carregado por ensaios de piezocone à velocidade padrão de 20 mm/s apresentou comportamento
não drenado.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Intermediários, Piezocone Penetration Test (CPTu), Condições de


Drenagem dos Solos.

1 INTRODUÇÃO Materiais contendo misturas de areia, silte e


argila (solos intermediários), amplamente
Os ensaios de CPTu (piezocone penetration encontrados em depósitos naturais, podem
test) são amplamente utilizados na engenharia apresentar condição parcialmente drenada. Essa
geotécnica para determinação de perfis situação requer cautela devido à falta de
estratigráficos e parâmetros constitutivos de metodologia teórica para a interpretação de
solos. A realização destes ensaios em sua dados resultantes do ensaio.
velocidade padrão de 20 mm/s, tendem a Dessa forma, é de fundamental importância
apresentar comportamento drenado para solos a avaliação das condições de drenagem durante
com características arenosas e tendem a a realização do ensaio de piezocone, pois
demonstrar um comportamento não drenado em apenas em condições drenadas ou não drenadas
solos argilosos. é possível ser realizada a correta interpretação
Metodologias e correlações para esses tipos dos resultados dos ensaios.
de solos já se encontram na literatura de forma
sólida e consagrada. Entretanto as condições
geológicas, geotécnicas e geomorfológicas dos 2 REVISÃO DA LITERATURA
solos encontrados na natureza são muito
variáveis, motivo pelo qual nem sempre é Para a avaliação das condições de drenagem
viável a utilização de correlações sem uma diversos autores como Finnie & Randolph
devida avaliação preliminar. (1994), Randolph & Hope (2004), Kim et al.
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(2006), Schnaid (2009), entre outros, utilizaram


o parâmetro de velocidade normalizada (V),
expresso na equação (1), para identificar as
condições de drenagem em ensaios de
piezocone, correlacionando a velocidade de
cravação (v), o diâmetro da sonda (d) e o
coeficiente de adensamento vertical (Cv),
inicialmente obtido a partir de ensaios
oedométricos em laboratório.

(1)
Figura 1. Coeficientes de adensamento (m²/s) por Leroueil
& Hight (2003) e resultados das argilas de Suape por
Posteriormente, Dejong et al. (2012), Coutinho & Bello (2014).
considerando que durante a cavação do
piezocone a dissipação de poro-pressão ocorre Dienstmann et al. (2017) avaliaram os
principalmente na direção radial, recomendam efeitos da velocidade de penetração do
usar o coeficiente de adensamento horizontal piezocone em rejeitos de ouro transitórios. Os
(Ch) para determinar o parâmetro de velocidade resultados foram interpretados em um gráfico,
normalizada (equação 2). apresentado na Figura 2, que correlaciona a
velocidade normalizada (V) à resistência
normalizada de piezocone (Q). Neste modelo,
(2)
as velocidades normalizadas que identificam a
condição de drenagem parcial se encontraram
Para a determinação do coeficiente de na faixa de 0,01 a 10,0. Está proposta também
adensamento horizontal, diversos autores como, fornece uma modelagem satisfatória para o
Lunne et al. (1997), Randolph & Hope (2004) e comportamento de argilas.
Dejong et al. (2012) recomendam os ensaios de
dissipação de poro-pressão durante os ensaios
de CPTu.
Leroueil & Hight (2003) avaliaram o
coeficiente de adensamento em argilas do
Canadá através de vários métodos, verificando-
se que os valores dos coeficientes de
adensamento obtidos pelos ensaios
oedométricos em laboratório na condição
normalmente adensada são tipicamente duas
ordens de grandeza menores que os valores dos
coeficientes de adensamento determinados
pelos ensaios de piezocone, conforme
apresentado na Figura 1. Figura 2. Efeitos da velocidade de cravação no espaço de
Posteriormente, Coutinho & Bello (2014) Q versus V (Dienstmann et al., 2017).
avaliaram os coeficientes de adensamento das
argilas de Suape / PE e verificaram que os
intervalos obtidos estão dentro dos limites 3 PROGRAMA EXPERIMENTAL
indicados por Leroueil & Hight (2003).
Para a identificação dos pontos de transição O Aterro em estudo situa-se no município de
de drenagem durante a cravação do ensaio de Itapissuma/PE, composto por solos
intermediários compactados, provenientes da
piezocone, existem diversas propostas na
unidade geológica “Formação Barreiras”. Trata-
literatura. se de um aterro com altura máxima de
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aproximadamente 27,5 metros, podendo ter três por meio de correlações através de dados
ou quatro patamares e inclinação de 1:1,5 obtidos em ensaios oedométricos.
(V:H).
O programa de investigação para 3.2 Amostragem
caracterização geotécnica do local incluiu
ensaios de campo, tais como, perfis SPT, As amostras indeformadas tipo bloco foram
piezocone – CPTu, permeâmetro Guelph, coleta extraídas com o mínimo de perturbação
de amostras deformadas e indeformadas; e possível, procurando manter sua estrutura e
ensaios laboratoriais, especificamente, ensaios condições de umidade e compacidade natural.
de granulometria, limites de consistência, No total foram extraídos 11 blocos de
massa específica dos sólidos, compactação, amostras indeformadas, representativas de
ensaios oedométricos e ensaios de compressão material da Formação Barreiras. No entanto,
triaxial drenados (Coutinho 2015). Neste artigo, para comparação de resultados entre os ensaios
serão abordados os ensaios de piezocone, os realizados em laboratório e os ensaios CPTu
ensaios oedométricos utilizados para avaliar as realizados em campo, foram selecionados
condições de drenagem da área em estudo, apenas seis blocos, adotando o critério de
assim como, os ensaios do permeâmetro aproximação com os ensaios de piezocone. Os
Guelph, as sondagens SPT e os ensaios blocos 6 e 7 correspondem aos ensaios CPTu-
realizados em laboratório para caracterização 01, CPTu-01A e CPTu-01B, os blocos 4 e 5
do material representativo do corpo do aterro. estão associados ao ensaio CPTu-02 e os blocos
10 e 11 correspondentes aos ensaios CPTu-03 e
3.1 Ensaios de Piezocone CPTu-03A.
Durante a extração dos blocos também
Foram realizadas duas campanhas de ensaios de foram coletadas amostras de solo ensacado para
piezocone. A primeira campanha de ensaios foi os ensaios de caracterização e compactação.
realizada no mês de setembro de 2015,
contemplando a execução de 3 perfurações à
3.3 Caracterização do Material
velocidade padrão de 20 mm/s (CPTu-01,
CPTu-02, CPTu-03). A segunda campanha de
ensaios foi realizada no mês de dezembro de O material representativo dos blocos extraídos
2015, contemplando a execução de 3 do aterro é geralmente classificado em areias
perfurações fora da velocidade padrão para argilosas (SC) e argilas arenosas de baixa
possível tentativa de análise das condições de compressibilidade (CL). Essa classificação foi
drenagem do aterro. Foram realizados dois obtida com base na composição granulométrica
furos à velocidade de 10 mm/s (CPTu-01A e distinta do material encontrado próximo a cada
CPTu-03A) e um furo à velocidade de 30 mm/s bloco, bem como na considerável faixa de
(CPTu-01B). Essas foram a menor e maior valores de limite de liquidez (LL) e índice de
velocidade suportada pelo equipamento de plasticidade (IP), como pode ser observado na
cravação. Tabela 1, que apresenta exemplos de resultados
Durante a execução do ensaio CPTu-03A,
encontrados durante os testes de caracterização.
foram realizados dois ensaios de dissipação de
poro-pressão para avaliar as condições de Por serem misturas de solo (solos
drenagem. No entanto, esses ensaios não intermediários), podem ter uma condição de
puderam ser analisados devido à ausência de drenagem parcial durante a penetração do
elemento poroso e fluido de saturação ensaio de piezocone à velocidade padrão. A
adequados para a condição não saturada do avaliação das condições de drenagem,
solo, o que impossibilitou a obtenção de Ch apresentadas e discutidas na sequência, é de
(piezocone) diretamente. Assim, foram fundamental importância para a adequada
utilizados estudos alternativos (Leroueil & estimativa dos parâmetros constitutivos do solo.
Hight, 2003 e Coutinho & Bello, 2014), nos
quais a estimação de Ch (piezocone) é realizada
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Tabela 1 - Composição granulométrica, limite de consistência, densidade real e classificação do solo

Massa
Areia Areia Areia
Pedreg. Silte Argila específica LL LP
Amostra Grossa Média Fina SUCS
(%) (%) (%) dos sólidos (%) (%)
(%) (%) (%)
(g/cm3)
Bloco 4 1,0 15,0 23,0 13,0 14,0 34,0 2,659 32,0 19,1 CL
Bloco 5 1,0 6,0 28,0 16,0 13,0 36,0 2,667 41,3 22,6 SC
Bloco 6 1,0 14,0 24,0 25,0 8,0 28,0 2,659 22,6 18,3 SC
Bloco 7 1,0 7,0 22,0 18,0 12,0 40,0 2,659 34,6 21,0 CL
Bloco 10 2,0 8,0 20,0 20,0 10,0 40,0 2,659 30,5 20,1 CL
Bloco 11 1,0 7,0 22,0 17,0 21,0 32,0 2,638 37,0 18,8 CL

4 INTERPRETAÇÃO E AVALIAÇÃO argilas, segundo Jamiolkowski et al. (1985),


DAS CONDIÇÕES DE DRENAGEM para argilas homogêneas, sem macroestrutura
definida, essa razão varia entre 1,0 a 1,5; para
argilas com macroestrutura definida, presença
Os ensaios oedométricos realizados em
de descontinuidades e lentes permeáveis, varia
laboratório sob condições inundada e de
entre 2,0 a 4,0 e para depósitos com ocorrência
umidade natural permitiram a determinação do
de várias camadas de material permeável, varia
coeficiente de adensamento vertical Cv (oed).
entre 3,0 a 15.
O procedimento utilizado para determinação
do Cv (oed) na condição normalmente Neste estudo, foi utilizado o valor de 1,25
adensada, Cvoed (N.A.), consistiu na realização para a razão de permeabilidade em argilas, que
de uma média entre os dois valores de Cv (oed) corresponde ao valor médio do intervalo para
correspondentes às tensões superiores à tensão argilas homogêneas, sem macroestrutura
de pré-adensamento (’vm), para garantir que o definida.
resultado, referente a cada bloco indeformado, Em seguida foram obtidos valores de Chfield
se encontrasse na condição normalmente (N.A.) por meio de correlação, sendo os valores
adensada. de Chfield (N.A.) tipicamente uma ordem de
Posteriormente foram selecionados os grandeza maiores que os valores de Choed (N.A.)
valores de Cvoed (N.A.) representativos do par de (Figura 1).
blocos indeformados mais próximos a cada Por fim, foi possível estimar Ch (piezocone)
ensaio CPTu e feito uma média entre eles para através da equação 4 (Jamiolkowski et al.,
que cada ensaio de piezocone tivesse um valor 1985).
de Cvoed (N.A.) correspondente.
Com base nos valores de Cvoed (N.A.) (4)
correspondente a cada ensaio de piezocone, foi
possível, estimar os valores de Choed (N.A.)
através da equação 3 (Jamiolkowski et al., Para a estimativa do Ch (piezocone) foram
1985). utilizados valores reais dos índices de
compressão e descompressão dos ensaios
(3) oedométricos, empregando-se o coeficiente
CR/RR (médio), para cada dois blocos
indeformados associados aos ensaios de
Onde: Kh/Kv é a razão de permeabilidade em piezocone.
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4.1 Determinação das Velocidades Neste trabalho, os resultados do ensaio


Normalizadas CPTu-01 à velocidade padrão serão
apresentados e discutidos.
Os dados reportados nas Tabelas 2 e 3 foram
usados para determinar o parâmetro de
velocidade normalizada. 5 RESULTADOS E ANÁLISES DO
A Tabela 2 mostra as velocidades ENSAIO CPTU-01
normalizadas calculadas para a primeira
campanha (CPTu-01, CPTu-02, CPTu-03) à Para o ensaio CPTu-01, à velocidade padrão de
velocidade padrão. 20 mm/s, são apresentados na Figura 3 os
A Tabela 3 mostra as velocidades valores de resistência da ponta (qc), atrito
normalizadas calculadas para a segunda lateral (fs), poro-pressão (u2) e o índice de
campanha (CPTu-01A, CPTu-01B, CPTu-03A) classificação do material (ISBT), proposto por
fora da velocidade padrão. Robertson (2010). Os perfis de SPT, em geral,
Considerando o que foi sugerido por apresentaram valores de NSPT ≤ 10.
Dienstmann et al. (2017) que drenagem parcial A variação frequente, incluindo valores
ocorre no intervalo V entre 0,01 a 10. baixos e altos de resistência de ponta, pode ser
Verificou-se que o solo estudado, quando explicada tanto pelo limitado controle de
carregado nas diferentes velocidades de compactação quanto pela heterogeneidade do
cravação (10 mm/s a 30 mm/s), apresentou material proveniente da Formação Barreiras. De
comportamento não drenado, tanto para as acordo com os estudos de Coutinho (2015),
condições de umidade natural, quanto para as verificou-se a existência de variabilidade na
condições inundada. Os ensaios na velocidade composição granulométrica, bem como nos
de 10 mm/s apresentaram-se mais próximos da valores de máxima densidade seca e umidade
condição parcialmente drenada. ótima das amostras obtidas e durante o controle.

Tabela 2 – Valores das velocidades normalizadas para os ensaios da primeira campanha

Velocidade de Diâmetro da Ch (piezocone) (m2/s) Velocidade Normalizada


Ensaios V
cravação sonda Cond. Cond. U. Cond. Cond. U.
CPTu
v (m/s) d (m) Inundada Natural Inundada Natural
CPTu-01 2,02E-06 2,33E-06 3,54E+02 3,07E+02
CPTu-02 0,02 0,0357 2,72E-06 3,27E-06 2,62E+02 2,18E+02
CPTu-03 3,12E-06 2,86E-06 2,29E+02 2,50E+02

Tabela 3 – Valores das velocidades normalizadas para os ensaios da segunda campanha

Velocidade de Diâmetro da Ch (piezocone) (m2/s) Velocidade Normalizada


Ensaios V
cravação sonda Cond. Cond. U. Cond. Cond. U.
CPTu
v (m/s) d (m) Inundada Natural Inundada Natural
CPTu-01A 0,01 2,02E-06 2,33E-06 1,77E+02 1,53E+02
CPTu-01B 0,03 0,0357 2,02E-06 2,33E-06 5,31E+02 4,60E+02
CPTu-03A 0,01 3,12E-06 2,86E-06 1,14E+02 1,25E+02
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Com base na classificação do material por O programa de ensaios do permeâmetro Guelph


meio do SBT, foi possível obter um perfil de contemplou sete verticais distribuídas na área
comportamento do solo estudado, assim, de estudo, atingindo a profundidade de quatro
verificou-se que o perfil pode ser classificado, metros, devido às limitações do equipamento. A
principalmente como argila a silte argiloso cada metro da vertical executada foi realizado
(zonas 3 e 4), similarmente aos resultados de um ensaio para obtenção do coeficiente de
laboratório; em menor extensão como areia permeabilidade saturada (Kfs), o potencial
siltosa a silte arenoso (zona 5); e uma pequena mátrico (ɸm) do solo e o teor de umidade inicial
fração em areia limpa a areia siltosa (zona 6). e final.
Por meio do ensaio CPTu-01 também foi Neste trabalho, as comparações apresentadas
possível estimar a resistência ao cisalhamento e discutidas levaram em consideração o critério
não drenada (Su), utilizando as equações (5) e de aproximação entre os ensaios realizados.
(6) propostas por Lunne et al. (1997) e Assim sendo, o ensaio CPTu-01 não pôde
Robertson (2012), respectivamente. ser contemplado, pois não houve realização do
ensaio “Guelph” nas proximidades do mesmo.
Dessa forma, seram apresentados e
discutidos os resultados da vertical 1 (G1), a
(5) qual terá seus valores comparados com os
resultados do ensaio CPTu-02.
Na Tabela 4 são apresentados os resultados
obtidos através do ensaio “Guelph” e na Figura
(6) 5 os resultados de permeabilidade estimados
durante o ensaio CPTu-02.
Foi possível verificar através dos resultados
Onde: o valor de qt é a resistência de ponta do permeâmetro “Guelph” que os valores de
corrigida, vo é a tensão vertical total, Nkt é o permeabilidade para o material ensaiado
fator de capacidade de carga e Fr é a razão de ficaram em torno de 10-8 m/s, valores
atrito normalizada. significativamente baixos de permeabilidade,
A Figura 4 mostra a estimativa de Su e as reafirmando a ideia de que o solo apresenta
medidas de Nkt ao longo da vertical ensaiada. comportamento não drenado, uma vez que essa
Para a estimativa de Su, os picos do gráfico característica é típica de solos com baixo índice
devem ser desconsiderados, a fim de evitar a de vazios e elevado teor de finos em sua
superestimativa deste parâmetro. granulometria.
Neste caso, considera-se razoável adotar Enquanto que os resultados extraídos de
valores em torno de 150 kPa como uma estimativas pelo ensaio de piezocone
estimativa ajustada de Su para o ensaio apresentaram um intervalo de valores de
realizado. permeabilidade muito maior e
As medidas de Nkt variaram consequentemente menos preciso do que os
consideravelmente ao longo do perfil, resultados apresentados por medição direta,
apresentando um valor médio na ordem de 15. através do permeâmetro “Guelph”.
A partir do ensaio CPTu-02, verificou-se
várias faixas de permeabilidade, com valores
6 RESULTADOS E ANÁLISES DO que alternaram entre 8,52 x 10-4 m/s a 2,63 x
PARÂMETRO DE PERMEABILIDADE 10-8 m/s da superfície aos 2 m de profundidade
MEDIDOS ATRAVÉS DO PERMEÂMETRO (região 1); dos 2 m aos 7 m (região 2), os
GUELPH E ESTIMADOS A PARTIR DO valores variaram na faixa de 6,66 x 10-6 m/s a
PIEZOCONE 1,47 x 10-9 m/s; dos 7 m aos 23,70 m (região 3),
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Figura 3. Medidas do ensaio CPTu-01 e SBT.

Figura 4. Gráfico típico Su e perfil Nkt do ensaio CPTu-01.


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Figura 5. Gráficos de permeabilidade do ensaio CPTu-02

Tabela 4 - Valores da permeabilidade (Kfs), potencial mátrico de fluxo do solo (ɸm), umidade inicial e final
G1 - Vertical 1 - Aterro
Profundidade (m) Kfs (m/s) x 10-8 m (m2/s) x 10-11 winicial wfinal
1 4,25 5,90 14,08 27,01
2 2,61 3,63 19,11 30,10
3 1,70 2,36 14,02 22,77
4 1,73 2,41 12,12 26,01
Fonte: (COUTINHO, 2015)
os valores alternaram entre 1,02 x 10-6 m/s a Constatou-se através da comparação entre a
2,21 x 10-10 m/s; dos 23,70 m aos 24,50 m estimativa do ensaio CPTu-02 e as medições
(região 4), os valores variaram na faixa de 7,19 realizadas através do ensaio G1, que o material
x 10-7 m/s a 6,57 x 10-9 m/s; dos 24,50 m aos 26 ensaiado apresentou valores de permeabilidade
m (região 5), os valores alternaram entre 2,17 x relativamente baixos cuja classificação, de
10-8 m/s a 3,32 x 10-10 m/s; por fim, dos 26 m acordo com Pinto (2006), está atrelada a
até o final da vertical ensaiada (região 6), os materiais siltosos, que possuem permeabilidade
valores alternaram entre 4,23 x 10-6 m/s a 2,09 entre 10-6 a 10-9 m/s.
x 10-9 m/s.
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No entanto, durante a realização dos ensaios 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS


de piezocone, foi identificada a predominância
do material em apresentar um comportamento A partir da avaliação das condições de
geotécnico correspondente a solos com drenagem, concluiu-se que os solos quando
características argilosas, evidenciando assim, carregados por ensaios de piezocone à
sua tendência em apresentar um velocidades de cravação de 20 mm/s e 30 mm/s
comportamento não drenado. apresentaram comportamento não drenado, o
que possibilitou a adequada interpretação dos
dados medidos nos ensaios para a estimativa de
7 RESULTADOS E ANÁLISES DOS parâmetros constitutivos do solo na condição
VALORES DE RESISTÊNCIA OBTIDOS não drenada. Os ensaios à velocidade de 10
ATRAVÉS DO ENSAIO DE PIEZOCONE E mm/s apesar de também apresentarem
PELAS SONDAGENS DE SIMPLES comportamento não drenado devem ser
RECONHECIMENTO COM MEDIDA DE evitados por se encontrarem mais próximos a
NSPT condição parcialmente drenada.
A comparação entre a classificação do
Para a comparação dos valores de resistência (qt material por meio dos diferentes tipos de
versus NSPT), foram utilizados, por critério de ensaios levou a conclusão de que se tratava de
aproximação, o ensaio CPTu-01 correspondente um solo com características intermediárias,
à sondagem SP-01, o ensaio CPTu-02 associado entretanto, a identificação do material com base
à sondagem SP-11 e o CPTu-03 correspondente no comportamento do solo, por meio dos
à sondagem SP-05. ensaios de piezocone, demonstrou que o aterro
Os resultados da comparação entre os é composto, em sua maioria, de solos que
valores de resistência dos ensaios CPTu-02 e variam entre argila a silte argiloso. Estes
SP-11 são apresentados na Figura 6, sendo resultados evidenciam a tendência do solo em
possível verificar que as medidas de resistência apresentar um comportamento não drenado.
ao longo do perfil do aterro, obtidas a partir dos Os valores estimados de Su, para o material
ensaios de piezocone e das sondagens SPT, estudado, apresentaram um valor médio em
foram significativamente baixas, apresentando torno de 150 kPa, com Nkt apresentando um
valores médios de resistência de ponta (qt) na valor médio na ordem de 15.
ordem de 3,0 MPa e vários trechos com valores A partir da comparação entre a estimativa de
de NSPT menores que 10. Em relação ao contato permeabilidade através do ensaio de piezocone
(base do aterro), em geral as medidas de e a permeabilidade medida através do ensaio de
resistência apresentaram-se inicialmente baixas campo do permeâmetro “Guelph”, verificou-se
com valores médios de qt na ordem de 3,5 MPa valores de permeabilidade relativamente
e NSPT em torno de 14, e posteriormente as baixos, que estão situados nos limites
medidas de resistência aumentaram, correspondentes a materiais siltosos (10-6 a 10-9
apresentando valores médios de qt na ordem de m/s). No entanto, os solos ensaiados
5,0 MPa e NSPT em torno de 42. Deve ser apresentaram, em sua maioria, comportamento
registrado que os ensaios de piezocone foram geotécnico correspondente a materiais com
realizados posteriormente aos dos SPT. Este características argilosas.
comportamento dos ensaios é coerente com as A partir da comparação entre as medidas de
medidas da instrumentação que registraram que resistência através do ensaio de piezocone e das
o contato mostrava ser uma potencial superfície sondagens SPT, foi possível registrar que o
de ruptura. contato entre o aterro e o terreno natural
mostrava ser uma potencial superfície de
ruptura.
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Figura 6. Comparação dos valores de resistência entre os ensaios CPTu-02 e SP-11

AGRADECIMETOS laboratory testing of soils. XIICSMFE, San


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Kim, K.; Prezzi, M.; Salgado, R. 2006. Interpretation of
Os autores agradecem à Capes pelo suporte Cone Penetration tests in Cohesive Soils. Report
financeiro, à empresa do Grupo Petrópolis pelo FHWA/IN/JTRP-2006/22. Joint Transportation
financiamento dos ensaios e a Damasco Penna Research Program, Indiana Department of
Transportation and Purdue University, West Lafayette,
Engenharia Geotécnica pelo apoio técnico e Indiana, 182 p.
operacional. Leroueil, S. & Hight, D.W. 2003. Characterization of
soils for engineering. Characterization and
engineering properties of natural soils. T.S.Tan;
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Jamiolkowsky M., Ladd, C.C., Germaine, J.T. &
Lancellotta, R. 1985. New developments of field and
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Investigação dos Subleitos da Cidade de Morada Nova-Ceará

Erbene Rabelo Alves


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Morada Nova, Brasil,
erbene_civil@outlook.com

Juceline Batista dos Santos Bastos


IFCE, Fortaleza, Brasil, jucelinebatista@hotmail.com

RESUMO: Esta pesquisa analisa os subleitos da Avenida Prefeito Raimundo José Rabelo (não
pavimentada) em Morada Nova, Ceará, motivada pela escassez de investigações de solos em
pequenas cidades e pela busca por materiais para a elaboração de projetos que vise o
desenvolvimento e a melhoria da malha viária. Para tanto, foram realizados ensaios geotécnicos em
três solos de subleitos, tais como: Granulometria, Limites de Consistência, Compactação, Índice de
Suporte Califórnia (ISC), além de investigações mecanicistas por meio do Módulo de Resiliência
(MR) e da Deformação Permanente (DP). Os ensaios geotécnicos apontaram similaridade entre as
amostras 1 e 2 e discrepância quanto à amostra 3. Os ensaios mecânicos indicaram baixas DPs para
as amostras 1 e 2 e ruptura precoce da amostra 3, assim como possibilidade de obtenção das
rigidezes apenas para as amostras 1 e 2, pois a amostra 3 não passou na fase de condicionamento.

PALAVRAS-CHAVE: Vias não pavimentadas, Investigações Geotécnicas de Subleitos, Módulo de


Resiliência, Deformação Permanente

1 INTRODUÇÃO desenvolvimento econômico aos locais mais


distantes, visto que se comparado aos principais
As vias não pavimentadas exercem papel meios de transportes, no Brasil, o meio de
fundamental no desenvolvimento econômico, transporte mais utilizado na atualidade é o
ambiental e social das cidades. É por meio rodoviário. No entanto, deve-se ressaltar que
destas que a população rural tem acesso as apesar do crescimento nos últimos anos, a
rodovias pavimentadas, ao centro das cidades, malha rodoviária brasileira ainda é
aos empregos e aos equipamentos públicos. significativamente inferior as rodovias não
Além disso, essas vias apresentam papel pavimentadas.
decisivo no escoamento de produtos e de Assim, a investigação geotécnica dos solos é
mercadorias. Um sistema de transportes importante para o sucesso da implantação da
produtivo e de qualidade contribui para o pavimentação de estradas. O conhecimento da
avanço na qualidade de vida da população e na via, por meio de estudos geotécnicos, na qual
sustentabilidade do país. Dessa forma, tais vias será executado um projeto viário é
devem oferecer boas condições de imprescindível, uma vez que o solo desempenha
trafegabilidade. o papel de suporte da via.
O Brasil possui grande extensão territorial, Além disso, sabe-se que a pavimentação é
exigindo um sistema de interligação entre um serviço de investimento inicial significativo,
localidades, cidades, estados e regiões. As vias sendo comum em pequenas cidades, como
de transportes existentes no país contribuem Morada Nova no Ceará, que um número
para aproximar as pessoas, e levar o considerável das vias não seja pavimentado.
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Porém, sabe-se também que a pavimentação de No que tange ao processo de construção e


vias pode proporcionar melhores condições de manutenção das vias pavimentadas, sabe-se que
rolamento, diminuir o tempo de viagem, dar as cargas aplicadas ao pavimento geram
acesso aos municípios e povoados, proporcionar tensões, por esta razão, as camadas que estão
o desenvolvimento local, e consequentemente acima do subleito devem ser dimensionadas de
melhorar a qualidade de deslocamento das forma a evitar deformações que venham
pessoas. comprometer a estrutura do pavimento bem
Nesse sentido, o estado do Ceará tem sido como garantir o desempenho satisfatório da via
alvo de investimentos do programa de Logística por um período de tempo estimado.
e Estradas, denominado Ceará de Ponta a Ponta. Conforme aponta Oliveira (2015), por se
O programa visa a pavimentação, restauração de tratar da fundação da via, o subleito tende a
vias e duplicação de estradas para garantir uma absorver e distribuir os esforços advindos do
malha viária extensa e em boas condições de tráfego, se ele não resistir, pode romper,
trafegabilidade. Portanto, os estudos a cerca dos ocasionando defeitos como a ruína da via,
solos das principais vias não pavimentadas de recalques excessivos e adensamentos no
Morada Nova-CE possuem relevância decorrer de sua seção. Entende-se, portanto, a
significativa. Dessa forma, o presente estudo importância do conhecimento prévio das
tem por objetivo investigar o subleito da características dos materiais que compõem o
Avenida Prefeito José Raimundo Rabelo, uma subleito e das suas propriedades mecânicas, de
das principais vias de Morada Nova no Ceará, forma que, este venha atender aos requisitos
que ainda não se encontra pavimentada. mínimos para trafegabilidade da via.
Scherer (2016) aponta que o comportamento
resiliente do subleito se configura como uma
2 REVISÃO DE LITERATURA das características mais importantes na previsão
do desempenho do pavimento, visto que esta
2.1 A Importância do Subleito
característica está relacionada a capacidade do
Subleito é a nomenclatura dada ao terreno de solo receber cargas sem sofrer danos
fundação que recebe o pavimento. No que tange permanentes. Analisando em laboratório
ao pavimento asfáltico ou flexível, este recebe diferentes tipos de solos por meio de estudos
camadas posteriores, como as camadas de mecânicos e de caracterização, e considerando
reforço do subleito, sub-base, base e três tipos de estruturas de pavimentos
revestimento asfáltico. Em se tratando de rodoviários, a autora conclui que quando as
estradas não pavimentadas a via é representada camadas acima do subleito são mais rígidas e
unicamente pelo subleito. A Figura 1 ilustra a apresenta uma estrutura mais robusta, o
distribuição das camadas no pavimento do tipo pavimento asfáltico impõe menor influência ao
asfáltico. subleito, pelo fato da estrutura acima deste
suportar os impactos das tensões atuantes na
estrutura. A partir deste estudo, compreende-se
que uma estrutura de pavimento menos robusta
pode gerar maiores impactos e deixar o subleito
mais suscetível a danos causados pelas cargas
advindas do tráfego.
Ribeiro (2016) aponta que a caracterização
dos solos para a pavimentação consiste em
conhecer as propriedades índices, a estrutura
dos solos e a resistência mecânica quando
Figura 1. Estrutura do pavimento asfáltico (CNT, 2017)
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submetidos a um carregamento estático ou (DP), permitem a previsão do comportamento


dinâmico. do material e consequentemente a possibilidade
Assim, os estudos de investigação dos solos de previsão do comportamento do pavimento,
visam proporcionar informações acerca dos culminando em intervenções em maiores
solos e das condições da paisagem em algum intervalos de tempo. Visto que, tais ensaios
trecho de interesse, e fornecer dados que simulam esforços que os materiais podem sofrer
poderão servir de base nas decisões sobre a sobre condições reais de trabalho. Além disso,
melhor alternativa de pavimentação da via. como o pavimento sofre constantes aplicações
de cargas, necessita de uma análise constante
2.2 Avaliações para Previsão do das deformações plásticas.
Comportamento dos Subleitos Dentre os ensaios citados, a avaliação da
deformação permanente nos solos ainda é pouco
Durante o seu tempo de vida, um pavimento explorada, sendo a maior parte dessas
pode ser submetido a diversas ações mecânicas avaliações e publicações limitadas às camadas
do tráfego. A forma como os materiais que o de misturas asfálticas. A falta de trabalhos
compõem respondem a tais solicitações relacionados, o avanço lento nas pesquisas e a
depende das suas propriedades mecânicas, ou ideia de que os solos não necessitam de um
seja, da sua capacidade de resistir ou transferir controle rigoroso da deformação permenente
esforços sob a ação de agentes externos. durante a construção de estradas são fatores que
Assim, os solos das vias não pavimentadas têm contribuído para a frequente existência de
ficam suscetíveis de forma direta a ações defeitos nas vias, comprometendo a estrutura e,
externas do tráfego e do clima, aliado a escassez consequente, sua funcionalidade.
de tratamentos ou manutenções por parte do No entanto, sabe-se que não apenas as
poder público. A Figura 2 mostra como se camadas de misturas asfalticas, mas as
encontra a via investigada, sendo observados deformações no subleito e nas camadas
buracos, afundamentos de trilha de roda, posteriores a este contribuem para as
problemas de drenagem, encanações rasas deformações observadas na superfície do
(adutora). pavimento.
Marangon e Motta (2006) alertam que o
conhecimento sobre a deformação permanente
pode fornecer informações importantes acerca
da qualidade dos materiais disponíveis, visando
o seu dimensionamento de forma coerente, visto
que a espessura do pavimento leva em
consideração a deformação elástica e plástica do
material utilizado.
Guimarães (2009) estudou um modelo
mecanístico-empírico quanto à deformação
permanente em solos tropicais constituintes de
pavimentos. Nesses materiais foram verificados
os principais fatores que podem contribuir para
a DP e para o acomodamento (também
Figura 2. Defeitos na Avenida Prefeito José Raimundo
conhecido como Shakedown) nas vias, bem
Rabelo como foi analisada a taxa de variação da
deformação resiliente ao longo dos ensaios
Os ensaios mecânicos, como Módulo de triaxiais de cargas repetidas. Esse modelo
Resiliência (MR) e Deformação Permanente permite a previsão da deformação permanente a
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partir do estado de tensões e do número de pavimentadas. Outro fato importante é que as


aplicações de cargas. vias não pavimentadas emitem particulados, em
O estudo citado aponta para avanços no períodos secos, mediante o tráfego.
cenário de conhecimentos sobre a DP em solos, Entretanto, nem sempre a melhor solução
considerando que a escolha do solo de forma para a melhoria das RBVTs trata-se de
mais adequada é parte fundamental em qualquer pavimentação asfáltica. Para Sant’ana (2009), é
obra de pavimentação ou melhoria de estradas. necessário buscar alternativas de valor
No entanto, deve-se observar que conforme compatível e que preserve as condições de
Villibor et al. (2009), os solos tropicais trafegabilidade e segurança, bem como diminua
possuem diversas propriedades peculiares e de as intervenções de conservação da via,
comportamento decorrentes de suas condiçoes minimize os impactos ambientais advindos da
ambientais proprias e suas particularidades exploração de material para pavimentação, ou
influenciam o comportamento quanto à mesmo na geração da poeira.
deformação permanente. Assim, acredita-se que Dessa forma, Silva (2007) aponta a
mais avaliações, que contribuam para importância do conhecimento acerca das
construção de um banco de dados dessas características dos solos de uma via que
informações, de solos de diversas regiões são precisam ser levadas em consideração mesmo
imprescindíveis. quando não se tem a ambição de realizar a
pavimentação na via, até como forma de
2.3 Contribuições ao Melhoramento das Vias gerência. Deve-se buscar a melhoria da
Não Pavimentadas qualidade desta, conservando as boas condições
de sua trafegabilidade e promovendo maior
As rodovias no Brasil ocupam a função de conforto aos usuários, bem como o
principal alternativa para o transporte de cargas desenvolvimento econômico e social para as
e pessoas, favorecendo o desenvolvimento regiões por elas utilizadas. Assim, percebe-se a
socioeconômico nacional e a integração de todo necessidade do conhecimento a cerca
o sistema de transporte no país. De acordo com características do subleito das estradas em
o relatório do CNT (2017), as rodovias diferentes contextos e objetivos.
nacionais representam um total de 1.735.621 Conforme Silva et al. (2011a), as estradas de
km. Desse valor, 212.866 km possuem terra (vicinais) funcionam como vias capilares
pavimentação, ou seja, um índice de 12,3%. Ao de acesso de bens de consumo, de forma a
passo que 1.365.426 km não se encontram ainda compelir boas condições estruturais próximas
pavimentadas que equivale a um percentual de das vias que atendem às demandas de tráfego
78,7%. Esses dados permitem inferir que grande das vias pavimentadas. Em outro estudo sobre
parte da economia brasileira encontra-se condições de serventia de estradas não
vinculada as vias de terra. Muitas dessas pavimentadas, Silva et al. (2011b) esclarecem
permitem o acesso do produtor ao ponto de que a forma descabida de manutenção das
escoamento e a distribuição de mercadorias, estradas não pavimentadas e seu abandono por
funcionado como vias que possuem Baixo um vasto período de tempo favorece o
Volume de Tráfego (RBVTs). aparecimento de uma superfície de difícil
Sant’ana (2009) retrata que essas vias não trafegabilidade, inibindo a circulação de pessoas
contam com revestimento, e quando contam, e mercadorias, e ocasionando muitas vezes,
limitam-se ao revestimento primário, danos ambientais.
dificultando o aumento do tráfego e o Tendo em vista os diversos defeitos das vias
desenvolvimento na região. Não obstante, o não pavimentadas e o alto custo também na
revestimento exige a aplicação de mais material manutenção destas, Nunes (2003) estudou um
de jazida em menor intervalo do que as vias método que pode ser facilmente manuseado e
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requer baixo custo de operação para a previsão


de defeitos em estradas de terra, tendo como
base o uso de Rede Neural Artificial (RNA)
aplicado ao município de Aquiraz, Ceará. No
estudo, o recurso utilizado é parte constituinte
da inteligência artificial e, portanto, é baseado
na programação. As RNAs têm o diferencial de
armazenar os dados que são introduzidos no
programa e utilizá-los em análises posteriores, o
que lhes concede a característica de
aprendizagem. Além disso, também são capazes
de lidar com situações não conhecidas,
generalizando esses dados e apresentando uma
solução mediante experiências anteriores. Ao Figura 3. Ilustração da Avenida Prefeito Raimundo José
serem aplicadas no estudo citado, foi verificado Rabelo obtida pelo Google Earth
que o método apresentou eficiência na previsão
dos defeitos, bem como no grau de severidade Para a realização dos ensaios desta pesquisa
destes, possuindo a habilidade de ordená-los e foram coletadas 3 amostras deformadas do
auxiliando na tomada de decisões para evitá-los. subleito no decorrer da via, que possui
Entretanto, é preciso ressaltar que este estudo aproximadamente 2,7 km de extensão, sendo
também dependeu dos resultados de que os 20 cm de profundidade iniciais
caracterização dos solos das vias, previamente escavados foram descartados, para a redução do
feitas em laboratório para a alimentação de impacto da parcela orgânica existente no topo
dados do programa. do local de coleta. Em seguida, esses materiais
Percebe-se que como os solos apresentam foram preparados conforme DNER (041, 1994).
certa diversidade de comportamento, é Os ensaios de caracterização geotécnica
importante, mediante as suas características, foram realizados no laboratório de solos do
classificá-los, prevendo o seu comportamento, IFCE e compreendem: Limites de Liquidez
para se obter análises mais realistas da (LL) e Plasticidade (LP), Densidade Real e
problemática. Análise Granulométrica dos solos (Tabela 1),
sendo classificados segundo as metodologias
SUCS e AASHTO. Foram realizados também
3 METODOLOGIA os ensaios mecânicos de compactação, CBR,
Módulo de Resiliência e Deformação
O objeto de pesquisa foi a via Prefeito Permanente (Figura 4).
Raimundo José Rabelo, em Morada Nova no
Ceará, que se caracteriza como uma das mais Tabela 1. Ensaios e normas para a caracterização
importantes vias sem pavimentação desse geotécnica dos solos
município. A mesma permite o acesso a Ensaio Norma
Granulometria por Peneiramento 080 (1994)
equipamentos públicos como o Departamento Densidade Real 093 (1994)
Nacional de Trânsito (DETRAN), Instituto Limite de Liquidez 122 (1994)
Federal de Educação Ciência e Tecnologia Limite de Plasticidade 082 (1994)
(IFCE), Escola Municipal de Educação Infantil,
dentre outros. Além disso, essa via permite o O estudo de ensaios mecânicos dos solos
acesso a diversos bairros, comunidades rurais e constituiu a segunda fase deste artigo, em que
às CEs-138 e 265. A Figura 3 localiza a via foram realizados os ensaios de compactação
(destacada na cor vermelha) de Morada Nova. (DNIT 164, 2013), CBR (DNER 049, 1994),
MR (DNIT 134, 2010) e DP. Para tanto, foi
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utilizada a energia normal na moldagem dos e que a amostra 2 é rica em areias em geral. A
corpos de prova. No que tange ao ensaio de DP, amostra 3, por sua vez, possui abundância de
considerou-se o parâmetro de parada de 8 mil argila e silte. A partir de tais dados, é possível
ciclos (adaptação da norma européia BS EN perceber que a via estudada apresenta
13286-7, 2004). Após a finalização do ensaio de diversidade granulométrica. A Tabela 2 resume
MR, foi realizado o ensaio de deformação essas informações, além de apresentar os limites
permanente do solo, utilizando os mesmos de Atterberg.
corpos de prova. É importante ressaltar que no
Brasil ainda não há norma para investigação da
deformação permanente em solos.

Figura 5. Curvas granulométricas dos subleitos

Tabela 2. Granulometria e dos Limites de Atterberg


Classificação Amostra Amostra Amostra
Figura 4. Programa experimental 01 (%) 02 (%) 03 (%)
Pedregulhos 42,04 11,17 9,12
Na modelagem do MR com o estado de Areia Grossa 7,80 8,43 5,77
tensão foram avaliados além dos resultados Areia media 20,45 27,31 10,49
médios, os desempenhos de três modelos, Areia fina 18,03 36,83 14,25
levando em consideração o efeito da tensão Siltes e Argila 11,68 15,66 60,37
LL (%) 22,3 - 36,7
confinante – σ3 (Equação 1), da tensão desvio –
LP (%) 19,1 - 14,4
σd (Equação 2), das tensões confinante e desvio IP (%) 3,2 - 22,3
simultaneamente (Equação 3). Onde: k1, k2 e k3 -
Parâmetros de regressão. Os resultados de LL e LP corroboram com os
resultados de granulometria. O baixo índice de
(1) plasticidade (3,2%) reafirma a baixa quantidade
de argila presente na amostra 1. Por outro lado,
(2) a amostra 2 apresentou IP zero, sendo este solo
(3) considerado como não plástico. A amostra 03
apresentou IP mais elevado (22,3%),
característico de solos argilosos. Portanto, os
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS solos que compõem as amostras 1 e 2 são
classificados como materiais granulares, ambos
Quanto aos ensaios de caracterização estão no grupo A-2-4, constituídos por
geotécnica, foi possível analisar que as amostras pedregulho ou areias siltosas ou argilosas e são
de solo 1 e 2, embora com suas particularidades, considerados solos bons ou excelentes em
classificam-se como solos com características relação ao comportamento como subleito,
granulométricas semelhantes (Figura 5). Por conforme a classificação AASHTO. De acordo
meio desta, compreende-se que a amostra 1 com o Sistema Unificado de Classificação de
apresenta predominância de pedregulhos e areia Solos (SUCS), a amostra 1 possui dupla função
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de plasticidade e granulometria, o que


corresponde a maior incidência de pedregulhos
e areias. Já a amostra 2 é SM, ou seja,
arenosiltosa.
A amostra 3 é classificada no grupo A-6
(AASHTO), constituído de solos argilosos e seu
comportamento como subleito como material
fraco a pobre. Para SUCS essa amostra se
encontra no grupo CL, ou seja, é composta de
um solo argiloso de baixa compressibilidade.
Quanto as densidades, as amostras 1 e 2
apresentaram 2,603 e 2,604, respectivamente. Figura 6. Resultados de ISC e Expansão Axial
Mais uma vez percebe-se a proximidade nos
resultados de tais amostras. Já a amostra 3 Em relação aos resultados de MR, a amostra
apresentou uma densidade de 2,615. 1 foi melhor representada pelo MRmédio de 247
Para os resultados de compactação, conforme MPa, em que as análises a partir das Equações
esperado, a amostra 1 apresentou um peso 1, 2 e 3 resultaram em baixa correlação (com
específico seco máximo elevado (2,150 g/cm³) e coeficiente de determinação R2 inferior a 0,5).
umidade ótima baixa (6,4%), característica de Na amostra 02 obteve-se um MRmédio de 178
solos ricos em areias com pedregulhos bem MPa. No entanto, esta amostra foi mais bem
graduados e pouco argilosos. Na amostra 2 representada pela Equação 1 (Figura 7), que
obteve-se 1,940 g/cm³ de peso específico seco leva em consideração a variação do MR com a
máximo e umidade ótima de 8,6%. A amostra 3 tensão confinante, com um R2 próximo a 1, o
apresentou peso específico seco máximo de que já era esperado, sendo esse modelo mais
1,855 g/cm³ e umidade ótima mais alta de utilizado para solos granulares. Quanto à
12,8%, conforme já esperado, por se tratar de amostra 03, não foi possível a obtenção da
uma amostra abundante em argila. rigidez, pois nesse ensaio, a amostra não passou
Quanto aos ensaios mecânicos, os CBR são na fase de condicionamento, uma vez que ela se
apresentados na Figura 6, em que a amostra 01 deformou excessivamente nessa etapa.
apresentou CBR de 26% e 1,0% de expansão.
Essa amostra apresenta comportamento que
permite sua utilização até como reforço de
subleito, já que segundo Bernucci et al. (2010),
materiais com até 1,0% de expansão axial é
admissível para esse tipo de serviço. A amostra
02 apresentou CBR mais elevado (41%) e
menor expansão (0,1%). Esses resultados
possibilitam a utilização desse solo em camadas
mais nobres de pavimentos de RBVTs, tais
como sub-base e base. A amostra 03 apresentou
CBR de 2% e expansão de 13%, características
essas, de solos siltosos, em que há elevada
variação no seu volume, que pode produzir Figura 7. MR× σ3 da amostra 2
efeitos prejudiciais em obras. Esse dado é
confirmado pelo IP elevado, favorecendo o Por meio da Figura 8 pode-se compreender
risco de movimentação do solo e a incapacidade que houve deformação axial de 3% e 0,5% nas
desse material de suportar cargas. amostras 1 e 2 respectivamente, referentes aos 8
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mil ciclos de ensaio. A amostra 1 apresenta um amostra 3. Os ensaios mecânicos indicaram


IP baixo, se configurando, portanto, como um baixas DPs para as amostras 1 e 2 e ruptura
material pouco plástico, e como apresentou precoce da amostra 3, assim como possibilidade
característica menos expansiva no ensaio de de obtenção das rigidezes apenas para as
CBR, era esperado uma baixa deformabilidade amostras 1 e 2, tendo em vista que a amostra 3
desse solo. Já a amostra 02, é constituída por não passou na etapa de condicionamento.
um solo não plástico, com expansão quase nula, Conforme as classificações AASHTO e
apresentando também DP baixa. SUCS, as amostras 1 e 2 possuem
A amostra 03 apresentou deformação características geotécnicas semelhantes. No
permanente elevada nos primeiros 3 mil ciclos, entanto, segundo a SUCS, a amostra 1 possui
quase 6%. Esse fato já era esperado tendo em dupla função de plasticidade e granulometria,
vista os resultados geotécnicos apresentados comportando-se, portanto, como um solo bem
anteriormente. Como se trata de um solo graduado e de comportamento plástico a
basicamente constituído em sua maior parte por depender das solicitações. Já a amostra 2 possui
argila e silte, ele tende a apresentar menor abundância em areias siltosas, segundo a
capacidade de suporte e se deformar de forma classificação citada.
mais rápida. Além disso, essa amostra Dessa forma, por meio dos ensaios de
apresentou um IP elevado, o que o classifica caracterização geotécnica, verifica-se que tais
como solo plástico, ou seja, quando é colocado solos possuem características consideráveis para
sobre determinada tensão ele pode adquirir as suas utilizações como materiais de subleito.
forma irreversível. Além disso, os solos que compõem as amostras
1 e 2 também podem ser utilizados como sub-
base. Torna-se importante ressaltar que o
material da amostra 3 deve receber atenção
especial, visto que diante dos resultados
obtidos, é composto por solo de difícil
trabalhabilidade, limitada capacidade de
distribuição de esforços advindos das cargas,
em função da abundância em argila e silte.
Diante de tal fato, devem-se analisar
preliminarmente as cargas a qual este solo como
subleito irá ser submetido, bem como análise da
necessidade de melhoramento ou tratamento
Figura 8. Deformação Permanente dos subleitos desse solo.
Por meio dos ensaios mecânicos foi analisado
que os solos 1 e 2 também são menos
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS expansivos em contato com a água e que
possuem maiores resistências e menores
O presente artigo apresentou a análise dos deformabilidades frente a esforços. Entretanto,
subleitos de uma das principais vias não amostra 3 é composta por um solo de alta
pavimentadas de Morada Nova no Ceará. Por expansividade em contato com a água, o que
meio deste artigo foi possível verificar leva a necessidade do controle do volume para a
variedade considerável de tipos de solos, com sua trabalhabilidade, também apresenta menor
trechos ricos em areias, argilas e quantidade capacidade de suporte de cargas, e
significante de pedregulhos. Isso resultou em consequentemente maiores deformabilidades.
ensaios geotécnicos que apontaram similaridade Por fim, como a via analisada permite o
entre as amostras 1 e 2 e discrepância quanto à acesso a diversos segmentos públicos do
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município de Morada Nova, esta pesquisa de Doutorado. COPPE. Universidade Federal do Rio
apresenta características que podem ser úteis à de Janeiro.
Marangon, M. E.; Motta, L. M. G. (2006). Estudo da
análise dos melhores tipos de tratamentos a deformação permanente de alguns solos argilosos
serem realizados, bem como o melhor lateríticos visando o uso em pavimentos de baixo
conhecimento de parâmetros geotécnicos e volume de tráfego. In: II Simpósio Brasileiro de
mecânicos dos subleitos, podendo contribuir Jovens Geotécnicos. Nova Friburgo/RJ: ABMS;
com a tomada de decisão do uso do UERJ.
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empírico para a previsão da deformação permanente M.; Neto, A. Z. (2009). Pavimentos de Baixo Custo
em solos tropicais constituintes de pavimentos. Tese para vias urbanas. 2ª ed. São Paulo: Arte e Ciência.
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Investigação Experimental de Campo e de Laboratório sobre a


Condutividade Hidráulica de um Solo Residual de Arenito
Botucatu
Anays Mertz Antunes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil, anaysmertz@gmail.com

Lucas Siscate Bohrer


Azambuja Engenharia e Geotecnia, Brasil, lucas@azambuja.com.br

Luiz Antônio Bressani


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil, bressani@ufrgs.br

RESUMO: O trabalho apresenta uma investigação experimental sobre a condutividade hidráulica de


um talude em solo residual de arenito Botucatu. Foram realizados ensaios de condutividade hidráulica
de campo e de laboratório. Em campo, realizou-se o ensaio de permeâmetro de carga variável em
diferentes regiões do talude, e se observou uma maior condutividade hidráulica nos horizontes mais
superficiais do solo. O ensaio de laboratório foi realizado em duas amostras indeformadas com um
permeâmetro de parede flexível. Mediu-se a condutividade hidráulica para diferentes tensões efetivas.
Verificou-se a condutividade hidráulica paralela e perpendicular às estratificações originais da rocha
mãe. Observou-se que, para fluxos paralelos às estratigrafias, houve pouca variação da condutividade
com o aumento da tensão efetiva, enquanto para fluxos perpendiculares, houve um perceptível
decréscimo na condutividade para maiores tensões efetivas. Os resultados encontrados, tanto em
laboratório quanto em campo, demonstram que o solo tem uma alta condutividade hidráulica (em
torno de 4,3 x10-6 m/s).

PALAVRAS-CHAVE: Condutividade Hidráulica, Permeâmetros de Carga Variável, Ensaios de


Laboratório, Ensaios de Campo, Solo Residual de Arenito

1 INTRODUÇÃO desenvolver análises de estabilidade do talude


considerando o aprofundamento da frente de
O presente trabalho se propõe a contribuir à saturação no mesmo.
literatura com resultados obtidos em Para obter a condutividade hidráulica do solo,
investigação experimental de campo e de foram realizados ensaios de campo e de
laboratório sobre a condutividade hidráulica de laboratório. Em campo, foram executados
um solo residual de arenito Botucatu. permeâmetros de carga variável, enquanto no
O interesse nessa informação se justifica para laboratório os ensaios foram desenvolvidos em
a realização de análises de fluxo de água permeâmetro de parede flexível.
subsuperficial.
O solo estudado compõe um talude rodoviário
localizado na cidade de São Sebastião do Caí, 2 METODOLOGIA DE PESQUISA
Rio Grande do Sul, que rompeu após chuvas
prolongadas. Esse caso foi relatado por Bohrer et 2.1 Ensaio de laboratório
al. (2017). Sabe-se, então, que a condição de não
saturação do talude era a responsável pela Os ensaios de laboratório foram
estabilidade do mesmo. De posse dos parâmetros desenvolvidos em um permeâmetro de parede
hidráulicos do solo, é possível, por exemplo, flexível. O corpo de prova, obtido de bloco de
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amostra indeformada do campo, foi envolvido da coluna de mercúrio (Figura 1).


por uma membrana impermeável, inserida em Quando se abrem as válvulas que conectam o
uma célula triaxial e saturado. Ao topo e à base sistema com mercúrio à amostra, acontece um
da amostra foram acopladas mangueiras que deslocamento da coluna de mercúrio devido à
permitem um fluxo de água dentro do corpo de diferença de pressão causada pela sua maior
prova. As mangueiras se conectam ao sistema densidade. Esse deslocamento cria um gradiente
hidráulico responsável pela aplicação de pressão de pressão e um fluxo de água na amostra. A taxa
interna. com que a coluna de mercúrio se desloca é
Foi aplicada uma pressão confinante externa medida, e a partir dessa informação é possível se
à amostra e uma contrapressão interna. Variou- deduzir diretamente a condutividade hidráulica
se a tensão efetiva no solo ao reduzir a do solo (BJERRUM; HUDER, 1957).
contrapressão, mantendo constante a pressão
confinante.
A condutividade hidráulica é determinada
aplicando-se um gradiente de pressão hidráulica
no interior da amostra. No ensaio em questão,
esse gradiente é criado (e medido) por uma
coluna de mercúrio inserida em um tubo flexível,
posicionada entre as extremidades da amostra no
sistema hidráulico do ensaio. A taxa com que a
coluna de mercúrio se desloca indica o fluxo de
água dentro da amostra. Assim, indiretamente se
mediu a velocidade da água que percolou pela
amostra para diferentes tensões efetivas
aplicadas.
O ensaio foi feito em dois corpos de prova,
extraídos de direções diferentes do bloco de
amostra indeformado, a fim de verificar a
condutividade hidráulica paralela e
perpendicular às estratificações herdadas da Figura 1. Representação esquemática do equipamento para
rocha mãe. ensaio de condutividade hidráulica. (Fonte: adaptado de
A seguir se detalham o aparato utilizado, a BJERRUM; HUDER, 1957)
coleta da amostra e os procedimentos
desenvolvidos para realização do ensaio. 2.1.2 Amostra

2.1.1 Equipamento Um bloco de amostra indeformada foi extraído


de campo. A profundidade da qual foi retirada
O aparato utilizado para o ensaio de compara-se à profundidade investigada em
condutividade hidráulica consiste em um tubo alguns dos ensaios de campo, pois a amostra foi
plástico, flexível e transparente, com área interna extraída do talude de corte para execução da
de 0,0367cm², cujas extremidades estão obra, no nível do acesso temporário da mesma.
conectadas às extremidades da amostra por meio Desse bloco foram moldados dois corpos de
de válvulas. O tubo é saturado com água, com prova cilíndricos de aproximadamente 5cm de
exceção de um trecho preenchido com uma altura e 5 cm de diâmetro. O primeiro corpo de
coluna de mercúrio de aproximadamente 5 cm. prova, denominado CP1, foi moldado de forma
Está acoplado a um mural e suportado por que ocorra fluxo vertical em relação à sua
roldanas que permitem a alteração da sua condição de campo. O segundo, CP2, foi
configuração, e consequentemente, da posição moldado de maneira a permitir um fluxo
horizontal. Os dois corpos de prova foram
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ensaiados seguindo a mesma metodologia, transdutor de pressão.


descrita a seguir. Primeiramente é necessário garantir a
saturação da amostra, pois busca-se a
2.1.3 Preparação do ensaio condutividade hidráulica saturada do solo,
seguindo o procedimento típico de ensaios
O corpo de prova foi posicionado sobre o triaxiais.
pedestal do aparelho, acrescentando uma pedra Realiza-se primeiramente a fase de
porosa na interface entre pedestal e amostra. percolação, percolando pela amostra um volume
Uma membrana impermeável envolveu o corpo de água equivalente a 3 vezes o volume da
de prova e então outra pedra porosa e o cabeçote amostra.
do equipamento foram posicionados sobre a Em seguida, busca-se dissolver todas as
amostra. O-Rings de borracha foram adotados bolhas de ar remanescentes com aumentos
para garantir a estanqueidade da membrana, gradativos de pressão confinante e contrapressão
impedindo a entrada do fluido confinante na (pressão de água interna), mantendo constante a
amostra. Do pedestal e do cabeçote saem diferença entre ambas para que a mesma tensão
mangueiras que se conectam ao sistema efetiva permaneça constante. Define-se que a
hidráulico responsável pela aplicação da saturação foi satisfatória quando o parâmetro B
poropressão no interior da amostra. (equação 1), for superior a 0,95.
∆𝑢 (1)
Célula 𝐵=
triaxial com ∆𝜎3
amostra
pronta Onde:
∆𝑢 = Variação medida na poropressão;
∆𝜎3= Variação na aplicação de pressão
confinante, sem que a drenagem seja permitida.
Uma vez estabelecidas as condições de
saturação, deu-se início aos ensaios de
condutividade hidráulica.

2.1.4 Procedimento de ensaio

Foram realizados ensaios com diferentes valores


de tensão efetiva, os quais estão indicados na
tabela a seguir:

Tabela 1. Valores de tensão efetiva utilizados para cada


ensaio.
σ’ (kPa)
Fluxo vertical Fluxo horizontal
(CP1) (CP2)
Bladders
25 25
Figura 2. Configuração do ensaio de laboratório. 40 40
A pressão confinante é exercida pela água que 80 80
envolve o corpo de prova. Tanto a pressão de 100 100
água interna quanto a externa são aplicadas por 140 200
compressores de ar conectados a bladders, que 200 300
transmitem as pressões para a água. Os 300
400
compressores de ar são controlados por registros
e a pressão aplicada é verificada por um Para cada tensão efetiva, mediu-se o tempo
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que a coluna de mercúrio levou para percorrer temperatura pode ser obtida com a equação de
uma distância pré-determinada na mangueira Helmholtz:
graduada em seis repetições. Para passar para a
próxima tensão efetiva de ensaio, manteve-se a 0,0178
𝜂= (4)
pressão confinante constante e reduziu-se a 1 + 0,038 ∗ 𝑇 + 0,0002 ∗ 𝑇²
contrapressão. Aguardou-se um intervalo de 20
minutos antes de dar continuidade com as Onde:
medições. 𝜂 = viscosidade da água;
A condutividade hidráulica do solo, 𝑘ℎ , é 𝑇 = temperatura [°C].
calculada a partir da Equação (2), obtida a partir
de modificações da Lei de Darcy. O ensaio com cada tensão efetiva foi repetido
6 vezes e a condutividade hidráulica equivalente
𝑎 ∗ 𝐻 ∗ ∆𝑙 (2) a 20°C (𝑘20 ) foi a média dos resultados obtidos
𝑘 =
𝐴 ∗ (𝛾𝐻𝑔 − 𝛾𝑤 ) ∗ 𝑡 ∗ ∆ℎ para cada repetição.
Onde:
𝑘 = condutividade hidráulica [cm/s]; 2.2 Ensaio de condutividade hidráulica in situ
𝑎 = área do tubo flexível [cm²];
𝐻 = altura da amostra [cm]; O ensaio realizado de condutividade hidráulica
∆𝑙 = deslocamento da coluna de mercúrio in situ é conhecido como permeâmetro de carga
[cm]; variável. Para a presente pesquisa, foram
𝐴 = Área da amostra [cm²]; executados 6 permeâmetros, divididos em pares.
𝛾𝐻𝑔 = Peso específico do mercúrio [gf/cm³]; Dois deles foram posicionados na crista do
𝛾𝑤 = Peso específico da água [gf/cm³]; talude, avaliando uma camada mais superficial
do solo, que sofreu maior intemperização. Os
𝑡 = tempo [s];
outros 4 foram feitos no acesso escavado para a
∆ℎ = altura da coluna de mercúrio [cm].
realização da obra, investigando um solo de
O valor encontrado em (2) é relacionado à
camada mais profunda e consequentemente
temperatura da água no ensaio, pois quanto
menos intemperizada.
maior a temperatura, menor a viscosidade da
Na figura a seguir está representada a
água. Uma viscosidade mais baixa da água
estratigrafia do solo e a posição de cada
permite que essa escoe mais facilmente através
permeâmetro.
dos poros do solo.
Para que seja possível realizar comparação
entre ensaios, é necessário normalizar esses
valores, transformando-os em seus equivalentes
para uma temperatura padrão de 20°C, utilizando
a seguinte relação:
𝜂𝑇 (3)
𝑘20 = 𝑘𝑇 ∗
𝜂20
Onde:
𝑘20 = condutividade hidráulica normalizada
para 20°C;
𝑘𝑇 = condutividade hidráulica na temperatura
do ensaio;
𝜂𝑇 = viscosidade da água na temperatura do
ensaio;
Figura 3. Representação esquemática da estratigrafia do
𝜂20 = viscosidade da água a 20°C.
talude analisado e da posição dos permeâmetros no
A viscosidade da água em função da mesmo.
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2.2.1 Execução Para verificar a carga hidráulica que age no


sistema, confeccionou-se um equipamento
O ensaio executado para esta pesquisa consistiu medidor de nível de água composto por um tubo
em uma perfuração vertical no solo, de diâmetro de PVC com os mesmos 26 mm de diâmetro,
de aproximadamente 12 cm e profundidade em acoplado ao qual encontra-se uma bureta
torno de 180cm. Na perfuração inseriu-se um graduada de vidro. Nessa bureta foram feitas
tubo de PVC de 26mm de diâmetro, em cuja previamente marcas de controle, espaçadas de
ponta existem ranhuras que permitem o fluxo de 30cm. A Figura 5 representa esquematicamente
água. O fundo do furo foi preenchido com areia o sistema instalado, envolvendo o equipamento
de filtro de forma que a água que entre no tubo, medidor de nível de água com a bureta graduada
possa infiltrar através da areia. O comprimento e o permeâmetro.
dessa camada drenante variou dentro de cada par O ensaio envolve adicionar água ao
de permeâmetro, de forma que para um dos permeâmetro de forma que se observe um
instrumentos tivesse 25cm de comprimento e aumento no nível de água dentro da bureta no
para o outro, 40cm. medidor, que representa a carga hidráulica
Acima da areia, um selo de bentonita foi atuante no sistema. Esse nível deve ultrapassar a
executado para evitar que a água inserida no marca superior da bureta. Assim que isso
sistema busque caminhos preferenciais dentro do acontece, cessa-se a inserção de água e aguarda-
material de preenchimento da parte superior da se que o menisco formado pela água dentro da
perfuração. Após a execução do selo de bureta ultrapasse a marca superior. Nesse
bentonita, aguardou-se um mínimo de 48h antes instante, aciona-se o cronômetro, que somente
da realização dos ensaios para permitir a será parado quando o nível d’água atingir a
hidratação do material. O permeâmetro está marca inferior da bureta. Esse tempo é anotado
esquematizado na figura a seguir. em planilha adequada de campo e o ensaio é feito
novamente. Repete-se o procedimento diversas
vezes. O critério de parada arbitrado nesse
trabalho foi de 20 repetições.

Figura 5. Croqui do sistema de permeâmetro com medidor


de nível de água.

2.2.1 Cálculo da condutividade hidráulica


Figura 4. Croqui do permeâmetro.
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Os resultados do ensaio com os permeâmetros A Figura 6 apresenta um gráfico comparativo


são dados em valores de tempo necessários para com os resultados obtidos em ambos os ensaios,
que o nível de água indicado no piezômetro plotados em escala logarítmica. Para níveis
reduza de H1 para H2. Esse intervalo de tempo, baixos de tensão efetiva, não se nota anisotropia
Δt, é utilizado na formulação proposta por na condutividade hidráulica deste solo. Para
Hvorslev (1951) para se obter a condutividade tensões maiores, no entanto, aparece um efeito
hidráulica horizontal. Essa formulação considera anisotrópico.
o caso de um dispositivo do tipo ponteira (well
point) em solo uniforme, para um ensaio de carga Tabela 2. Condutividade hidráulica a 20°C observada nos
ensaios.
variável e está descrita a seguir. Condutividade hidráulica observada

(5) k h20k (m/s)


𝑚𝐿 √ 𝑚𝐿 2 σ’ (kPa)
𝑑²ln [ + 1+( ) ] Fluxo vertical Fluxo horizontal
𝐷 𝐷 𝐻1
𝑘ℎ = ln ( ) (CP1) (CP2)
8𝐿 (𝑡2 − 𝑡1 ) 𝐻2 25 4,31E-06 4,80E-06
Onde: 40 4,33E-06 3,69E-06
𝑘ℎ = coeficiente de condutividade hidráulica 80 2,80E-06 3,08E-06
horizontal [cm/s]; 100 2,20E-06 2,68E-06
140 1,23E-06 -
𝑑 = diâmetro do revestimento [cm];
200 7,50E-07 2,23E-06
L = comprimento do filtro [cm]; 300 1,64E-07 1,35E-06
D = diâmetro do filtro [cm]; 400 3,82E-08 -
𝐻1 = carga piezométrica (t=𝑡1 ) [cm];
𝐻2 = carga piezométrica (t=𝑡2 ) [cm]; 1,00E-03
𝑡 = tempo [s];
𝑚 = razão de transformação (√𝑘ℎ /𝑘𝑣 ).
A razão de transformação 𝑚, apresentada em 1,00E-04
k20 (cm/s)

(5) relaciona a condutividade hidráulica vertical


e a condutividade hidráulica horizontal, ou seja,
a equação considera a anisotropia da
1,00E-05
condutividade hidráulica do solo. Considerou-se,
no entanto, a hipótese de que o solo superficial
não apresenta forte anisotropia no parâmetro de
condutividade hidráulica, e dessa forma adotou- 1,00E-06
se o valor de m=1. Essa hipótese será verificada 0 100 200 300 400 500
adiante, com os resultados obtidos nos ensaios de σ’ (kPa)
Fluxo vertical Fluxo horizontal
laboratório e é válida para tensões efetivas
inferiores a 100kPa. Figura 6. Gráfico comparativo. entre resultados de ensaio
de condutividade hidráulica em laboratório com fluxo
horizontal e com fluxo vertical
3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS
3.2 Ensaio de condutividade hidráulica in situ
3.1. Ensaios de condutividade hidráulica em
laboratório Dos seis permeâmetros instalados, foi possível
obter informações confiáveis de três. O
Os resultados obtidos com os ensaios de permeâmetro identificado como PE06,
condutividade hidráulica de laboratório, posicionado na parte superior do talude não
desenvolvidos a partir da metodologia descrita apresentou resultados mensuráveis. A vazão de
anteriormente estão expostos na tabela e no saída do sistema, ou seja, a vazão drenada pela
gráfico a seguir. ponteira, foi superior à vazão de entrada. Isso
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sugere que a condutividade hidráulica do solo et al, 2017) em São Sebastião do Caí ao
naquele ponto é demasiadamente alta. O que investigarem solos residuais de arenito Botucatu:
pode ter causado esse efeito nessa região é o fato respectivamente 2,8x10-6m/s e 1,8x10-6m/s. Já a
de que o horizonte de solo ensaiado é mais investigação de Pinheiro (2002) em Santa Cruz
poroso e tem maior condutividade hidráulica, para outro solo residual do mesma origem
principalmente por se tratar de região de contato resultou em uma condutividade hidráulica de
entre uma zona mais intemperizada com menor ordem de grandeza, entre 3x10-7 e 9x10-7
presença de solo orgânico e uma outra zona de m/s, o que está próximo do valor apontado pelo
menor grau de alteração. Ademais, em campo permeâmetro PE 04 deste trabalho (k=6,1x10-7
verificou-se que o solo é bastante erodível, m/s).
sofrendo com o fenômeno de piping. Também a
área em que esse permeâmetro foi posicionado
tem grande concentração de vegetação arbórea,
1,00E-05
além de estar próxima a residência posicionada
na crista do talude. É possível que algum 4,31E-06
caminho preferencial se formou ao longo do
tempo na região estudada, o que condicionou o Kh [m/s]
fluxo proveniente desse permeâmetro.
1,00E-06
Dois dos permeâmetros instalados no acesso
da obra sofreram fugas d’água, extravasando por
cima do furo, através do solo de reaterro, por
prováveis problemas de instalação e foram
desconsiderados.
1,00E-07
Os três ensaios restantes foram divididos em 0 10 20
duas classificações, de acordo com o grau de
N° da repetição
intemperismo do solo que investigaram. Os
permeâmetros PE01 e PE04, instalados no PE01 PE04 laboratório PE05
acesso à obra, estão associados a um menor grau
de intemperismo do solo, enquanto o Figura 7. Gráfico com resultados dos ensaios de
condutividade hidráulica in situ e com valor médio obtido
permeâmetro PE05 se refere à condutividade em laboratório
hidráulica do solo mais superficial e
consequentemente mais intemperizado.
Conforme foi verificado em laboratório e 4 CONCLUSÕES
exposto no item 3.1, não há forte anisotropia no
parâmetro de condutividade hidráulica do solo Os ensaios de campo e em laboratório
sob baixas tensões efetivas. É, portanto, válido apresentaram boa coerência entre si e com a
considerar que a condutividade hidráulica literatura consultada. Os resultados indicam uma
horizontal e vertical são iguais, e que o valor de alta condutividade hidráulica do solo, o que
m na Equação (5) pode ser adotado como 1,0. permite o rápido aprofundamento da frente de
Dessa forma, calculou-se o valor de 𝑘ℎ para saturação no interior do talude durante uma
cada uma das repetições do ensaio. Os resultados chuva prolongada, reduzindo sua resistência e
estão expressos no gráfico da Figura 7. facilitando rupturas.
Os valores de condutividade hidráulica Em campo, o permeâmetro de solo mais
encontrados em laboratório (em média 4,6x10-6 intemperizado apresentou condutividade
-6
m/s) e dos permeâmetros PE05 e PE01 (em hidráulica de 8,6x10 m/s enquanto os
média 8,5x10-6m/s) ficaram próximos dos permeâmetro de solo menos intemperizado
resultados encontrados por Pinheiro et al (2017) apresentaram valores médios de ordens de
em Santa Maria e Bortoli (1999, apud Pinheiro grandeza diferentes: 8,4x10-6m/s para o PE01 e
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6,1x10-7m/s para o PE04. observar esses fenômenos devido ao tamanho da


No laboratório, para baixas tensões efetivas, amostra.
encontrou-se valores similares para a Ambos os ensaios têm sua validade e seus
condutividade hidráulica no ensaio de fluxo pontos positivos e negativos de forma
horizontal e no de fluxo vertical: complementar. Conclui-se que uma investigação
respectivamente 4,8x10 m/s e 4,3x10-6 m/s.
-6
que abranja os dois métodos, ensaios em
Sendo esses valores tão próximos, é possível laboratório e de campo, é recomendável para
afirmar que, para tensões efetivas inferiores a entendimento destes aspectos.
100 kPa, há isotropia na condutividade
hidráulica. Quando a tensão efetiva aumenta, no AGRADECIMENTOS
entanto, surge uma anisotropia nesse parâmetro.
Verificou-se em laboratório que há maior Esta pesquisa fez parte de trabalho de conclusão
variação de condutividade hidráulica em função de curso em Engenharia Civil, e sua realização
do incremento de tensão efetiva quando o fluxo só foi possível devido à disponibilidade do
é vertical do que quando é horizontal. Laboratório de Geotecnologia da UFRGS
Possivelmente, esse fenômeno se deve à (Lageotec) para os ensaios de laboratório e à
influência das estratificações da rocha original. contribuição da Azambuja Engenharia e
No fluxo horizontal, os caminhos preferenciais Geotecnia com os materiais e mão de obra
da água ocorrem ao longo das camadas mais necessários para a investigação de campo.
arenosas de sedimentação e, portanto, não
sofrem grande influência da pressão. Já no fluxo REFERÊNCIAS
vertical, que atravessa as estratificações do
maciço, é provável que a porosidade da fração Bjerrum, L.; Huder, J. (1957) Measurement of the
fina do solo seja alterada com o aumento de Permeability of Compacted Clays. Proceedings of the
Fourth International Conference on Soil Mechanics.
tensão efetiva e consequentemente causem Londres. p. 6-8.
queda na condutividade hidráulica do solo. Bohrer, L. S.; Antunes, A. M.; Azambuja, E. (2017).
Tendo em vista todas as limitações intrínsecas Diagnóstico e Projeto de Contenção-Monumento para
a ensaios de campo decorrentes da grande Estabilização de um Talude de Corte em Solo Residual
quantidade de variáveis envolvidas, foram de Arenito Arcoseano, Conferência Brasileira Sobre
Estabilidade De Encostas, COBRAE, ABMS,
adotados esses resultados, ainda que com Florianópolis.
cautela. As diferenças, é claro, se dão devido à Bortoli, C. R. (1999) Estudo numérico-experimental da
diferença de escala dos ensaios. Enquanto no condutividade hidráulica saturada/não saturada de
ensaio de laboratório se tem um grande controle um solo estruturado. Dissertação de Mestrado,
sobre as variáveis envolvidas, também se está Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
lidando com uma amostra diminuta, que Alegre, 121 p.
representa somente o comportamento daquela Hvorslev, M. J. (1951) Time lag in the observation of
parcela de solo. Um ensaio em maior escala, ground-water levels and pressures. Waterways
como o são os ensaios de campo, permite obter Experiment Station, Corps of Engineers, U. S. Army,
resultados que possuem uma boa Vicksburg, n. 36
Pinheiro, R.J.B. (2000) Estudo de Alguns Casos de
correspondência com a realidade, ainda que não Instabilidade da Encosta da Serra Geral no Estado do
se tenha controle sobre todas as variáveis. A Rio Grande do Sul, Tese de Doutorado, Programa de
influência de fatores externos, como por Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade
exemplo descontinuidades, caminhos Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 318 p.
preferenciais de drenagem, a presença de raízes Pinheiro, R.J.B., Nummer, A.B. e Rauber, A.C. (2017)
Determinação da Condutividade Hidráulica das
ou de outros fatores, pode afetar os resultados Principais Unidades Geológico-Geotécnicas de Santa
dos ensaios. Ainda assim, esses fatores são os Maria – RS, Geociências, UNESP, São Paulo, Vol. 36,
que de fato existem em campo e é relevante n. 2, p. 347 – 363.
considerá-los. Em laboratório não seria possível Ramgrab, G.E., et al (2004). Folha SH.22-Porto Alegre.
Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo, Sistema de
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Informações Geográficas. Programa Geologia do


Brasil. CPRM, Brasília. Disponível em:
<http://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/bitstream/handle/doc/
5001/SH22_PORTO_ALEGRE.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 11 junho 2017.
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MAPEAMENTO DO PARAMETRO DO COEFICIENTE DO


EMPUXO NO REPOUSO (Ko) EM MACIÇOS TERROSOS,
COM O USO DA CELULA Ko
João Carlos Baptista Jorge da Silva
UFBa/UEFS/JCJ Consultoria e Projetos, Salvador, Brasil, jcarlos3787@gmail.com

RESUMO: Neste trabalho é apresentada a Célula Ko (registrada no INPI sob o número


011080000363) utilizado na determinação do coeficinte de empuxo no repouso em solos de forma
rápida e segura. Através deste ensaio é efetuado um mapeamento deste importante parâmetro para
os projetos de escavações na cidade de Salvador (Ba) e associado às propriedades do solo de
obtenção mais usuais, tais como parâmetros do ângulo de atrito efetivo, índice de plasticidade e
índice de vazios. Os valores de Ko observados em Salvador estiveram no intervalo entre 0,40 e
0,65, tendendo para um valor médio de 0,50. A associação com valores do indice de vazios
produziram os melhores resultados.

PALAVRAS-CHAVE: Coeficiente de empuxo no repouso, escavações, túneis.

1 INTRODUÇÃO de geotecnia, normalmente, são utilizados


ensaios triaxiais sobre amostras indeformadas,
Para determinação das tensões iniciais que devem ser adensadas às tensões efetivas
instaladas no maciço, torna-se fundamental a existentes in situ. No entanto, este tipo de
determinação do parâmetro denominado de ensaio é dispendioso e apresenta uma serie de
coeficiente de empuxo no repouso. O problemas operacionais, o que dificulta sua
coeficiente de empuxo (K) consiste na relação realização.
entre as tensões efetivas principais menor (σ3’) Este trabalho propõe a utilização da Célula
e maior (σ1’), verificada no interior da massa de Ko (registrada no INPI sob o número
solo ou rocha. Freqüentemente existe o 011080000363) para determinação deste
interesse em conhecer um caso particular em importante parâmetro em solos de forma rápida
que não aconteçam deformações laterais no e segura.
elemento no interior das massas de solos ou A conformação topográfica da cidade de
rochosas, uma vez que todas as deformações já Salvador, constituída por vales e morros, induz
tenham ocorrido no tempo geológico de a necessidade de integração entre as diversas
formação do maciço. Nesta situação específica, vias arteriais localizadas ao longo das áreas de
o coeficiente toma a designação de “coeficiente vales. Para tal, a utilização de túneis para os
de empuxo no repouso”, ou, simplesmente, Ko. transportes rodoviário e metroviário tem sido
O coeficiente de empuxo no repouso (Ko) é incrementada. A cidade que por mais de 40
um dos principais parâmetros necessários para anos possuía apenas 3 túneis, sendo 2
aplicação de métodos numéricos aos problemas rodoviários e 1 ferroviário, no período de 15
de escavação, tanto em solos, como em rochas, anos, viu a construção de mais 3 túneis
sendo também essencial para a definição rodoviários e 2 metroviários e a eminência de
laboratorial dos modelos reológicos utilizados construção de mais 2 túneis rodoviários, já
para tentar explicar o comportamento de licitados.
escavações. Para sua obtenção em laboratórios Desta forma o mapeamento do valor de Ko
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ao longo da cidade de Salvador e sua correlação nos espaços vertical e horizontal, no âmbito dos
com outros parâmetros do solo de obtenção grandes conjuntos geológicos representados em
mais usual, tais como o ângulo de atrito efetivo, uma carta de solos, conforme mostrado na
o índice de vazios e o índice de plasticidade, é Figura 1.
de fundamental importância no auxilio de
futuros projetos de escavações.

2 ASPECTOS GEOLOGICOS
GEOTECNICOS DA CIDADE DE
SALVADOR

O município de Salvador possui


aproximadamente 310 km2, dos quais 10% se
encontram representados pelo conjunto de ilhas
na Baía de Todos os Santos. Os demais 90%
representam a parte continental da cidade, cujo
relevo acidentado e os aspectos geológicos são
bastante particulares e únicos no Brasil.
O grande divisor da cidade está determinado
pela Falha Geológica de Salvador, a partir da
qual, ao longo de períodos geológicos, foi
esculpida uma escarpa que dividiu a cidade nas Figura 1 – Carta Geológica – Geotécnica (modificado –
partes alta e baixa. Do ponto de vista geológico, Barbosa, 2007)
esta falha desativada e cicatrizada a cerca de
119 milhões de anos, separa dois Conforme observado na Figura 1, a região
compartimentos ou blocos litoestruturais com metropolitana de Salvador apresenta três
propriedades geológicas muito distintas, grandes unidades geológicas básicas com
articulados por uma descontinuidade, cujo traço características próprias. A primeira é constituída
horizontal se orienta segundo a direção 035º- pela Rocha Granuliticas do Arqueano-
215º e mergulha para o quadrante NW. paleoproterozoico (Complexo Cristalino),
Devido a esta complexidade da geologia da ocupa as áreas sul e leste da cidade, denominada
cidade, desde a década de 70 do século XX, de Alto Salvador. A segunda, a formação
várias tentativas de elaboração de mapas Barreiras ao centro e norte da cidade,
geológico-geotécnicos foram efetuadas, a constituída de sedimentos Terciários, e a
exemplo de Menezes et al. (1978), Silva (1994) terceira a oeste, ocupando o subúrbio
e Barbosa & Dominguez (1996). Todos estes ferroviário, denominado de Grupo Ilhas,
autores dividiram geologicamente a cidade de constituída basicamente de folhelhos.
Salvador em três macro-grupos geológicos:
rochas cristalinas de idade pré-cambriana,
sedimentos cretáceos e terciários, e depósitos 3 A CÉLULA Ko
quaternários de idade atual e subatual.
Barbosa et al. (2007), baseados no trabalho A célula Ko foi desenvolvida pelos Profs. João
desenvolvido para a Petrobras, optaram por Carlos B. J. da Silva e Luis Edmundo P. de
representar a variação do comportamento dos Campos no Laboratório de Geotecnia da Escola
parâmetros geológico-geotécnicos fundamentais Politécnica da Universidade Federal da Bahia
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(Silva et al., 2008), e registrada no INPI sob o


número 011080000363.
O desenvolvimento deste equipamento teve
como finalidade a realização de ensaios de
adensamento vertical com confinamento lateral
de água que, por ser incompressível, não
permite a deformação nesta direção, mantendo a
condição Ko. A leitura da pressão horizontal é
realizada por transdutores que medem a pressão
no interior da câmara.
As Figuras 2 a 5 apresentam a célula Ko com
seus principais componentes e detalhes de
montagem. Foram testadas várias relações entre Figura 2 – Célula Ko – Corte esquemático
a altura e o diâmetro do corpo de prova, tendo
como ideal a L/D=1,0. Uma dos condicionantes
para obtenção dessa relação foi a certeza de que
o corpo de prova estivesse totalmente em
contato com a membrana na sua parte mais
central, eliminando o efeito da fixação da
membrana nos extremos superior e inferior da
célula.
As etapas na execução do ensaio são:
• Colocação do corpo de prova no interior
da câmara;
• Preenchimento da câmara com água com
Figura 3– Célula Ko – Vistas lateral e superior
a retirada de bolhas;
• Colocação da célula na prensa;
• Fixação de medidores de carregamento e
deformação vertical e pressão radial;
Aplicação de uma pressão mínima de 5
kPa, para garantir o contato completo da
membrana com o corpo de prova;
• Aplicação do carregamento axial em
estágios e, após equalização das tensões,
execução de leituras da pressão
horizontal e deslocamento vertical;
• Realização de descarregamento.
Figura 4 – Célula Ko – Componentes
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(1965) e Abdelhamid & Krizek (1976), em


equipamentos de laboratório, sob condição de
deformação confinada.
A curva de carregamento que representa a
relação tensão axial e tensão radial apresentou
dois trechos. O primeiro trecho adquiriu uma
forma hiperbólica e, o segundo, uma reta
ascendente. A mudança da forma da função se
deve ao retorno às tensões originais no corpo de
prova, após as alterações no estado de tensão
decorrentes da amostragem. Identificando o
ponto de mudança de curvatura é possível a
Figura 5 – Célula Ko – aplicação do carregamento
obtenção da pressão de sobre adensamento.
O segundo trecho da curva relativo ao
4. RESULTADOS OBTIDOS carregamento, após o restabelecimento do
estado de tensões originais, é representado pela
A Figura 6 revela um exemplo de resultado reta ascendente, cuja inclinação é o valor de Ko.
típico obtido com a célula Ko. Os resultados apresentados por Silva (2010)
e Silva & Assis (2008) foram bastante
animadores e mostraram uma boa similaridade
1 10 100 1000
0
de comportamento com os resultados obtidos
com a célula Ko e ensaios de campo com o
-1
DMT e o CPT. No entanto, foi ensaiado apenas
Deformação (mm)

-2 um local, desta forma a representatividade dos


-3 resultados não pôde ser generalizada para a
-4
cidade de Salvador.
-5

-6 5 ENSAIOS REALIZADOS
tensão axial (KN/m2)

300
Para realização deste trabalho foram
250
selecionados 16 pontos situados na cidade de
Salvador, de forma a caracterizar os diferentes
tensão radial (KPa)

200
carregamento

150
reta Ko sítios de solos residuais existentes.
descarregamento
Linear (reta Ko)
A Figura 7 mostra a localização dos pontos
100
analisados.
50 Nos pontos selecionados foram obtidos
0
blocos indeformados para realização de ensaios
0 200 400 600
de cisalhamento, ensaios de caracterização e
tensão axial (KPa)
ensaios Ko (Tabela 1).
Figura 6 – Ensaio típico realizado com a célula Ko (a)
comportamento tensão-deslocamento axial; (b) relação
entre tensões radial e axial.

Pode-se observar na Figura 6 que, as curvas


apresentaram feições muito próximas aos
ensaios observados por Brooker & Ireland
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Tabela 2 – Blocos indeformados


Bloco Ângulo de
Material IP e
Ident. Atrito - φ’ (º)
185 Argila siltosa 33 0,93 56
186 Silte argiloso 22 1,23 34
187 Silte argiloso 23 1,06 26
194 Areia argiloso 12 0,57 34
195 Areia argilosa 11 0,58 44
196 Silte argiloso 16 0,78 28
197 Areia siltosa - 0,80 19
225 Argila siltosa 41 1,25 31
Figura 7 – Localização dos blocos indeformados
226 Argila arenosa 19 0,77 28
227 Areia siltosa 7 0,89 36
Tabela 1 – Blocos indeformados
Prof. Formação ɤg 244 Silte arenoso 14 1,52 28
Ident. (m) Local geológica (kN/m3) 245 Silte arenoso 20 0,79 33
185 4 Pituaçu granulito 27,3
246 Argila arenosa 15 1,03 40
186 15 Patamares granulito 27,0
187 4 Bairro da paz granulito 26,7 247 Areia argilosa 7 0,87 25
194 15 Valeria Barreiras 26,3 186/08 Silte argiloso 27 1,12 26
195 6 Faz. Coutos Barreiras 26,7 189/08 Argila siltosa 23 1,05 25
Ilhas - 26,3
196 6 Paripe folhelho
Ilhas - 26,5 Os blocos 185 e 196 não foram possíveis a
197 12 São Tomé folhelho moldagem de amostras para execução do ensaio
225 3 Cajazeiras VIII Granulito 27,1 devido à quantidade de concreções existentes.
226 7 Cajazeiras VII Barreiras 26,7 A Tabela 3 permite observar que:
Jardim Nova Barreiras 26,8
227 6 Esperança
• Os índices de correlação para a reta que
244 6 Bom Juá granulito 26,9 representa o valor de Ko esteve sempre
245 4 Pirajá granulito 26,9 acima do valor de 0,99, o que representa
246 10 Alto do Cabrito Barreiras 26,7 uma excelente relação linear entre a
247 4 Novo Horizonte Barreiras 26,4 tensão axial e a tensão radial.
186/08 12 Lapa granulito 27,1 • O valor da constante D, conforme
189/08 6 Lapa granulito 27,1 proposto por Tsytovich em 1976, citado
em Ferreira (1982), apresentou-se
Foram realizados ensaios de caracterização sempre negativo, indicação, segundo o
completa e ensaios de cisalhamento nos blocos, autor, de um solo com concentração de
cujos resultados para o indice de vazios, indice finos;
de plasticidade e ângulo de atrito efetivo estão • A razão de sobre adensamento (OCR)
apresentados na Tabela 2. Devido às esteve abaixo do valor de 2,0, indicando
dificuldades de amostragem, em quatro dos um solo normalmente a levemente sobre
blocos (185, 195, 196 e 246) não foi possível a adensado.
realização de cisalhamento triaxial, sendo • Os valores de Ko estiveram dentro do
executado ensaio de cisalhamento direto. intervalo de 0,40 a 0,65.
Na Tabela 3 está demonstrado o resumo dos
resultados obtidos com a célula Ko.
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Tabela 3 – Resultados obtidos com a célula Ko acompanhada pelo aumento da tensão


Amost Tensão OCR Ko Índice de Valor de horizontal. Como demonstrado por Sousa &
sobre- correlação D Marques (2001), para este valor de Ko, deve
Adensa- da reta (kN/m2) ocorrer uma elevação da percentagem da
mento Ko (R2) Tsytovich resistência ao cisalhamento mobilizada no
kN/m2) (1976)
185 - - - - -
estado do repouso. Desta forma, na lateral de
186 112 1,0 0,42 0,9903 -111,91 túneis deve ocorrer um incremento substancial
187 115 1,6 0,42 0,9682 -11,29 das deformações plásticas, como conseqüência,
194 110 1,0 0,46 0,9989 -103,76 será maior a tendência para as zonas de ruptura
195 113 1,1 0,65 0,9990 -189,41 atingir a superfície sem que se verifique o
196 - - - - -
197 105 1,0 0,42 0,9872 -16,72
esgotamento da capacidade resistente do
225 116 2,0 0,54 0,9989 -161,72 material localizado no teto do túnel.
226 108 1,0 0,46 0,9980 -127,68 Os estudos de Wong & Kaiser (1986) alem
227 111 1,1 0,54 0,9972 -102,06 de corroborar com Sousa & Marques (2001),
244 107 1,1 0,61 0,9945 -78,01 acrescentaram que para valores de Ko da
245 106 1,6 0,48 0,9974 -25,39
246 125 1,0 0,42 0,9928 -73,67
ordem dos encontrados na cidade de Salvador
247 105 1,3 0,44 0,9943 -56,87 demonstram que as zonas de plastificação,
186/8 255 1,2 0,48 0,9997 -89,82 além de se iniciarem mais cedo, evoluem em
189/8 275 2,0 0,40 0,9984 -43,04 direção à superfície em vez de envolverem o
túnel, daí resultando aumentos dos
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS deslocamentos nas proximidades do eixo de
simetria e, conseqüentemente, maiores
6.1 Valores de Ko gradientes máximos das respectivas curvas.
Em adição, tais valores de Ko não permitem
O Ko nos diversos tipos de solos residuais da um amortecimento dos deslocamentos verticais,
cidade de Salvador apresentaram valores entre de tal forma, que a relação entre o deslocamento
0,40 e 0,65. Tendendo a um valor médio vertical à superfície e a mesma medida no
próximo a 0,50. Este valor é semelhante ao coroamento é menor, no caso de túneis rasos.
relatado por Sousa (2002) para solos residuais Concluindo, em face dos baixos valores de
da região do Maia, Portugal. No entanto, Ko na cidade de Salvador, a escavação de túneis
considerando a significativa percentagem do rasos deve ser efetuada com muito critério e
componente granular, o valor é muito inferior acompanhada de perto por sistemas de
aos valores típicos para solos com mesma instrumentação e monitoramento.
granulometria.
Em se tratando de túneis com grande 6.2 Correlações com outros parâmetros do solo
profundidade, o baixo valor de Ko não deve
intervir significativamente no comportamento As fórmulas empíricas normalmente associam o
da escavação, uma vez que as curvas de reação valor de Ko aos parâmetros corriqueiros do
no maciço e no suporte são aproximadamente solo, a exemplo do ângulo de atrito, do índice
iguais para todos os pontos da periferia. de vazios e do índice de plasticidade.
No entanto, em túneis com baixa cobertura,
origina uma significativa menor concentração 6.2.1 Coeficiente de atrito Efetivo
das tensões circunferenciais no teto e no piso do
túnel, e um aumento nas suas laterais. Assim, Uma vez que os valores de OCR estiveram
no teto e na soleira, e, sobretudo, nos pontos abaixo de 2,0, ou seja, entre normalmente e
mais próximos da abertura, a diminuição da levemente sobre adensada, é possível agrupá-los
tensão vertical originada pela escavação não é em um único gráfico, onde é associado o valor
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de Ko como o ângulo de atrito efetivo do solo.


Na Figura 8 é efetuada a relação entre os
parâmetros ɸ’ e Ko.

Figura 9 – Relação entre os parâmetros IP e Ko

A Equação 2 mostra a relação entre os


Figura 8 – Relação entre os parâmetros ɸ’ e Ko parâmetros IP e Ko.

Na Figura 8 observa-se uma linha de Ko=0,57–0,0057.IP (2)


tendência cuja relação é apresentada na Equação
1. Mais uma vez é observada uma tendência
contraria as diversas formulações apresentadas
Ko=0,29+0,37.sen(ɸ’) (1) na bibliografia a exemplo de Alpán (1967),
Massarch (1979), Flavigny (1979) e Brooker &
A relação entre os parâmetros ɸ’ e Ko Ireland (1965). Todos os autores restringiram
observada na Figura 8 mostra uma tendência seus resultados às argilas normalmente
inversa às diversas formulações apresentadas na adensadas.
bibliografia (Jaky, 1944; Brooker & Ireland,
1965; Heldron, 1963 e Wierbicki (citado em 6.2.3 Índice de Vazios
Rymsza, 1979)), assim como Silva (2010) para
solos intemperizados do granulito na região do Na Figura 10 é efetuada a relação entre o indice
Emboque Lapa do Metro de Salvador, ou seja, a de vazios e o Ko.
elevação do valor de Ko com o aumento do
ângulo de atrito efetivo.
Ressalta-se que Jaky (1944) e Heldron
(1963) restringiram suas formulações para
areias, enquanto dos demais utilizaram argilas
normalmente adensadas.

6.2.2 Índice de Plasticidade

Na Figura 9 é apresentada a relação entre os


parâmetros IP e Ko.
Figura 10 – Relação entre o indice de vazios (e) e o Ko
Foi observada uma grande dispersão na
relação índice de plasticidade (IP) e o parâmetro
Ko (Figura 9). Essa observação confirma a A Equação 3 mostra a relação entre o indice
limitação do significado do IP, quando se trata de vazios (e) e o Ko.
de solo intemperizado.
Ko=0,11.e+0,29 (3)
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A Equação 3 encontrada é muito próxima a para Ko. Ou em outras palavras, o estado de


proposição de Fedorov & Malyshev (citado em tensões in situ e as características geomecânicas
Rymska, 1979). O que comprova que a são dependentes dos fenômenos geoquímicos
representatividade do índice de vazios para que caracterizam o processo de intemperismo.
determinação de Ko é maior que os parâmetros Desta forma, os valores relacionados com essas
ø’ e IP, que são mais influenciados pelos duas grandezas serão mais determinados pela
fenômenos geoquímicos resultantes do processo fábrica e estrutura do que pela história de
de intemperização (Bjerrum em 1967, citado em tensões.
Ferreira, 1982). No entanto deve ser ressaltada, em Salvador,
a presença de solos com pelo menos três
6.2.4 Analise dos Resultados formações e gêneses diversas. Silva (2010)
mostrou que considerando apenas solos
O comportamento do parâmetro Ko e sua residuais do granulito, a relação entre o ângulo
relação com outros parâmetros usualmente de atrito efetivo e Ko, obtido na célula Ko em
empregadas na mecânica dos solos, a exemplo laboratório, foi muito próximo da proposição de
do ângulo de atrito efetivo e índice de Jaky (1944). Porem o intuito deste trabalho foi a
plasticidade, não são muito bem conhecidos. A generalização destes resultados para todos os
principal razão é a grande dependência deste solos residuais da cidade de Salvador. Não foi
parâmetro com o complexo micro estrutural do possível isolar solos com as três gêneses
solo (a fábrica), as tensões preexistentes, a presentes em Salvador em face da pouca
poro-pressão e a história de tensões. quantidade de amostras.
No caso de solos argilosos a dificuldade de Assim como mostrado em Silva (2010), a
entendimento do comportamento do parâmetro relação com o IP, em se tratando de solos
Ko é bem maior. De acordo com Abdelhamid e intemperizados, não se mostra apropriada em
Krizek (1976), no caso de solos argilosos, os função da dificuldade de representatividade
arranjos dos grãos (fabrica) e a natureza e desde parâmetro para o tipo de solo em questão.
extensão das forças eletroquímicas entre No entanto a relação de Ko com o ângulo de
partículas influenciam substancialmente nos atrito efetivo se mostrou bem razoável,
valores de Ko. recomendando sua utilização nos projetos de
Ao que parece que as mesmas forças engenharia para a região da cidade de Salvador.
eletroquímicas que condicionam os valores de Mas de todos os parâmetros, o que melhor
Ko, de alguma forma também condicionam os representou o comportamento do parâmetro Ko
valores de IP. No entanto não existe nenhuma foi o índice de vazios. É de consenso na
conclusão a respeito desta afirmação. bibliografia que o índice de vazios melhor
Quando se trata de solos residuais, as representa o comportamento de solos residuais.
dificuldades são elevadas devido a
heterogeneidade do solo, resultado do processo 7. CONCLUSÕES
de intemperismo e da própria heterogeneidade
da rocha mãe. Estes fatores conduzem a uma Para a elaboração de um projeto de obras
anisotrópica típica de estratos menos subterrâneas, a correta determinação do
desenvolvidos (solos mais jovens). coeficiente de empuxo no repouso (Ko), é
Durante o processo de intemperização, a essencial para a aplicação de métodos
cimentação das partículas é eliminada e essas numéricos aos problemas de escavação. É do
passam a se comportar individualmente. A conhecimento geral que a obtenção de Ko não é
lixiviação propicia uma contração do material uma tarefa fácil. Se por um lado ensaios de
que passa a se comportar próximo a condição campo podem perturbar as tensões originais do
ativa, o que explicaria os baixos valores obtidos solo pela inserção de algum instrumento de
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medição no terreno natural, por outro lado, a Em face dos baixos valores de Ko na cidade
amostragem, no caso de ensaios de laboratório, de Salvador, a escavação de túneis rasos deve
pode alterar além do estado das tensões efetivas, ser efetuada com muito critério e acompanhada
os valores de sucção e a própria fabrica do solo. de perto por sistemas de instrumentação e
Aqui foi proposto um equipamento monitoramento.
laboratorial visando à obtenção de valores de O parâmetro Ko quando relacionado ao
Ko a partir de amostras indeformadas, de forma índice de plasticidade (IP), assim como
simples, rapida e com resultados confiáveis. A mensionado em Silva (2010), mostrou uma
célula Ko foi desenvolvida e patenteada no grande dispersão de valores. O IP, em se
Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica tratando de solos intemperizados, não se mostra
da Universidade Federal da Bahia. O apropriado em função da dificuldade de
desenvolvimento do equipamento teve como representatividade desde parâmetro para o tipo
finalidade a realização de ensaios de de solo em questão.
adensamento vertical com confinamento lateral No entanto a relação de Ko com o ângulo de
de água, que, por ser incompressível, não atrito efetivo se mostrou bem razoável, embora
permite a deformação nessa direção, mantendo apresente tendência contraria ao apresentado
a condição Ko. A leitura da pressão horizontal é por diversos autores da bibliografia em areias e
realizada por transdutores que medem a pressão argilas normalmente adensadas.
no interior da câmara. A Célula Ko possui a Mas de todos os parâmetros, o que melhor
grande vantagem na facilidade de leitura e representou o comportamento do parâmetro Ko
velocidade do ensaio. foi o índice de vazios. O que comprova que o
Por meio da célula Ko foi obtida a relação índice de vazios melhor representa o
entre este parâmetro e parâmetros usualmente comportamento de solos residuais com relação
empregados tais como: ângulo de atrito efetivo ao Ko que os demais parâmetros usualmente
(ɸ’), índice de plasticidade (IP) e índice de empregados, a exemplo dos ø’ e IP.
vazios (e) para os solos residuais que No entanto deve ser ressaltada a presença de
representam as três principais gêneses dos solos solos com pelo menos três formações e gêneses
que ocorrem na região da cidade de Salvador. diversas. Porem o intuito deste trabalho foi a
O primeiro problema encontrado no processo generalização destes resultados para todos os
de amostragem de solos residuais de Salvador solos residuais da cidade de Salvador.
deve-se a heterogeneidade das amostras e, em Ressalta-se que, todas as formulações e
alguns casos, a impossibilidade de confecção de relações apresentadas na bibliografia, apenas
corpos de provas representativos devido diferenciam ensaios em areias e ensaios em
principalmente a presença de concreções argilas. Não existem comprovações de como a
(Formação Ilhas) e a pequena coesividade gênese do solo interfere no comportamento de
(Formação Barreiras). Ko. Devido pequeno numero de amostras, não
O Ko nos diversos tipos de solos residuais foi possível isolar solos das três gêneses
apresentaram valores entre 0,40 e 0,65. presentes em Salvador. Para os próximos
Tendendo a um valor médio próximo a 0,50. No trabalhos recomenda-se isolar solos com as três
seu limite inferior os valores de Ko se gêneses presentes em Salvador.
assemelham aos mesmos obtidos na condição
ativa. A lixiviação propicia uma contração do
material que passa a se comportar próximo a REFERÊNCIAS
condição ativa, o que explicaria os baixos
valores obtidos para Ko. Estes resultados são Abdelhamid, M.S. e Krizek, R.J. (1976). At-rest lateral
corroborados por diversos autores na earth pressure of a consolidating clay. Journal of the
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Mechanical Behavior of Bentonite Reinforced with Crushed


Polyethylene Terephthalate (PET)

Nathalia dos Santos Lopes Louzada, M.Sc., Civil Engineering


PUC-Rio, Rio de Janeiro-RJ, Brazil, nathaliallouzada@gmail.com

José Adriano Cardoso Malko, M.Sc., Doctoral Candidate


PUC-Rio, Rio de Janeiro-RJ, Brazil, adrmalko@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande, D.Sc., Full Professor


UnB, Brasília-DF, Brazil, mdtcasagrande@unb.br

ABSTRACT: Every year millions of PET (Polyethylene Terephthalate) bottles are misplaced and
they are not being recycled. In order to reduce the disposal of this polymer in nature, this study aims
to evaluate the mechanical behavior of a bentonite mixed with PET flakes. The potential use of this
waste material in geotechnical applications may ultimately reduce the problem of wrong disposal,
and this material can improve the strength and deformation characteristics of the soil. This paper
presents an experimental study to evaluate the mechanical behavior of bentonite mixtures with
different contents of PET flakes by direct shear tests, in order to obtain the strength parameters of
the Bentonite-PET mixtures. The bentonite used was mixed with 0.3 and 0.5% of PET flakes by dry
weight. Direct shear tests at normal stresses of 50, 70 and 100 kPa were done on the bentonite and
mixtures. The results show that the strength parameters are influenced by the addition of the PET
flakes, thus improving characteristics such as friction angle and cohesion intercept of the mixtures.
These mixtures may be used in landfills layers and other geotechnical works. Therefore, this paper
proposes to contribute to a better understanding and interpretation of the behavior of bentonite
reinforced with PET waste.

KEYWORDS: Soil Reinforcement, PET, Direct Shear Test, Shear Strength, Bentonite.

1 INTRODUCTION Container Resources NAPCOR). Total PET


used in the production of U.S. bottles in 2013
The Polyethylene Terephthalate, or simply PET, was also higher at 5,764 million pounds, despite
is a thermoplastic polymer, from the family of sales declines in some beverage market sectors.
the polyester. Because of the excellent Currently, the polymers are a significant part
relationship between mechanical and thermal in the composition of solid municipal waste
properties and production cost, PET is the most (SUW). According to Romão et al. (2009), in
produced thermoplastics in the world, reaching 2005 the PET were about 20 % (percentage by
world production of around 2,4 x 1010 kg in the weight) of SUW collected in Brazil. The
end of nineties (Romão et al. 2009). production of PET is 9 % of the total polymer
In the United States, the report notes that production in Brazil; however, the PET fraction
slightly less than 1,798 million pounds of PET of SUW that corresponds to the polymers is on
bottles were collected for recycling by domestic average of 20 %.This is because the
sources in 2013 (National Association for PET polypropylene (PP) and polyvinyl chloride
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(PVC) are used in the manufacture of long-life reinforced with polypropylene fibers and
products, whereas PET is used in short life performed a series of tests to evaluate the
products such as packages. influence of their inclusion in the mechanical
The final disposal of the PET bottles behavior of the soils they tested. Gray and
represent a difficult problem to deal with, Ohashi, 1983; Gray and Al-Refeai, 1986; Mc
because it is a product that needs larger spaces Gown et al., 1988; Maher and Ho, 1994;
to be storage and also it takes almost half a Ulbrich, 1997; Specht, 2002; Santoni et al.,
century to decompose. In Brazil the 2001; Casagrande, 2001 and 2005;
consumption of PET bottles are raising yearly Vendruscolo, 2003; Casagrande, 2007 studied
and in 2016, with the Olympic Games in the the influence of fiber inclusion in soils, in order
city of Rio de Janeiro, the consumption is to a better comprehension of this material
estimated to be around 840 kilo tons, but just behavior. Vizcarra et al. (2013), Quispe et al.
half of this quantity is expected to be recycled (2014) studied the behavior of a colluvial clayey
(ABIPET). Thus, finding out an alternative use soil stabilized with ashes from municipal solid
for this residue is one of the main concerns of waste (MSW). More recently, Casagrande et al.,
the modern society. 2006 studied the behavior of a polypropylene
Soil reinforcement is defined as a technique fiber-reinforced bentonite and founded that
to improve the geotechnical characteristics of randomly distributed fibers increased the peak
the soil (Ling et al, 2003). Reinforcement shear strength of the bentonite.
consists of inserting certain material in another, Materials such as PET plastic bottles are
in order to increase its properties. Currently abundantly produced, and after their use, are
environmental and economic issues have generally disposed of in landfills. One potential
motivated interest in the development of beneficial reuse is to employ PET as soil
alternative materials that can satisfy reinforcement, however this material was never
geotechnical design specifications. A natural been used in geotechnical works. In order to
soil may be widely available on a construction give another alternative to the PET residue, it is
site, but occasionally its characteristics are such extremely important that the mechanical
that it does not meet the engineering behavior of the mixture be studied, as well as
requirements for a specific project. In such a the physic, environmental and chemical
case, soil improvement techniques that use characteristics. The knowledge of the
physical and/or chemical process in order to reinforcement mechanism will assist on a better
improve its mechanical properties may become understanding of the mechanical behavior of
an attractive alternative, from the technical, mixture bentonite-PET.
environmental and economic points of views. This work is intended to contribute to a
Soil improvement can be done using myriad better understand in the bentonite-PET mixture.
materials. For example, Zornberg et al. (2004) To this end, two contents of PET flakes were
examined the use of tire shreds as reinforcement mixture with a bentonite. Physical
with the goal of evaluating the optimum dosage characterization and mechanical behavior tests
and aspect ratio of tire shreds within granular were performed in the pure bentonite and
fills. Ramírez et al. (2014) performed triaxial mixtures, establishing parameters that might
test on mixtures of clayey soil/tire rubber and help to understand the influence of this material
sandy soil/tire rubber with different content of on the bentonite. To the Authors’ knowledge,
tire rubber. Casagrande et al. (2005) analyzed there has been no studies concerning the use of
the isotropic compression behavior of a sandy PET flakes and in a bentonite. The
soil reinforced with polypropylene fibers. documentation proposed herein is important if
Consoli et al. (2007), Casagrande et al. (2007) utilization of PET in geotechnical works is to be
and Casagrande et al. (2009) tested sand fostered.
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2 EXPERIMENTAL PROGRAM bentonite and bentonite-PET mixtures, the


material compaction was made directly into the
Different direct shear tests were carried out, at direct shear test (inside the shear box) manually.
normal stresses of 50, 70 and 100 kPa. Different
mixtures were used in order to define the
strength envelopes of the bentonite, reinforced
and non-reinforced with PET flakes.
The sodic bentonite used in this studied
(Figure 1) was commercially purchased in Rio
de Janeiro and according to the ABNT NBR
6502 (1995), this bentonite can be classified as
clay. The results of physics index and particle
size distribution are presented in the results
section.

Figure 2. PET bottles.

Figure 1. Bentonite sample.

The PET flakes came from the crushing


process made in the crusher machine; the hole
crushing process can be divided in two steps:
•1st step: the PET bottles were cleaned and Figure 3. Crusher machine used in the research.
the top, bottom parts and the label were
removed (Figure 2).
•2nd step: The PET pass through a high
speed crusher machine, which crushes the
material using five very sharp blades. The PET
bottles are introduced on the top of the machine
(Figure 3), the blades cut them until they pass
through the sieve, and finally the crushed
material is collected in a box.
This crushing process is repeated for each
sieve and until the material achieve the desired
size, for this study the PET size used was with 1
mm (Figure 4).
For the preparation of specimens of pure Figure 4. PET flakes with 1mm size.
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The bentonite was mixture with two different according to the load applied vertically. This
contents of PET flakes, 3 and 5% by the dry velocity is calculated through the data that
weight of the soil. The bentonite samples were comes from the initial phase of the test called
prepared with 170% of humidity, which the consolidation phase, where the specimen is
correspond a void ratio of 4.93. To make sure submitted to vertical stress and it is measured
that the material had the right properties, it was the variation of the specimen height with the
calculated the right amount of dry material that time, until this height stabilize. Through the
should be placed into the shear box. With the graphic of vertical displacement versus square
aid of a metallic template, it was possible to root of time (t), is obtained the value of t100,
adjust the proper height of the material inside that corresponds to 100% of consolidation, and
the equipment. Table 1 summarizes the the velocity to be used in the shear phase is
materials used and the abbreviations adopted for calculated. The consolidation time was
them. estimated in 24 hours.
In the shearing phase, the failure of the
Table 1. Abbreviations used for the soil and mixtures. specimen occur along the division plane of the
Material Soil (%) Fine Crushed Abbreviation box. The horizontal displacement of the upper
/Mixture PET (%)
half of the box was measured by a horizontal
Bentonite 100 0 B100
Mixture 1 97 3 B97F03 LVDT (Linear Variable Differential
Mixture 2 95 5 B95F05 Transformer), which works as a sensor to
measure the linear displacement. The variation
The direct shear tests were carried out with of the specimen height, in other words, the
the bentonite and the mixtures, with the aim to variation of the volume of the specimen
determinate the shear strength parameters of the throughout the test are obtained by the vertical
soil (cohesion – c’ and friction angle – ϕ’). LVDT readings. The load ring measures the
These tests were performed following the horizontal force applied on the specimen. The
methods described by the standard ASTM D tests were carried out in similar specimen, for
3080 (2004). the bentonite and the mixtures at three different
To perform this test, the specimen was normal stresses (50, 70 and 100kPa).
placed inside the metallic shear box. The box is
divided horizontally in two and the normal
force is applied on the top of the specimen in 3 RESULTS AND ANALYSIS
the shear box. The shear force is applied by
moving one half of the box relative to the other The value of Gs for the Bentonite was obtained
in order to cause failure. The upper and lower through the arithmetic average of four
boxes are separated in 1.0 mm before initiates determinations, and the maximum variation was
the shear test, so it is possible to have the 1.1%. The value of Gs found was 2.90.
relative displacement between them. Above and The particle size curve of the bentonite was
below the specimen are placed plates with reached through the sedimentation test, it is
grooves, which provide friction to the soil presented in the Figure 5.
preventing it to slide when a horizontal force is Through the results achieved in the
applied. Filter papers and porous stones are laboratory for the bentonite, it was found a
placed thus the water can be freely drained. Liquid Limit of 368.4% and a Plastic Limit of
The shear test was performed with strain 53.7%, resulting in a Plastic Index (IP = LL –
control, where a constant rate of shear PL) equal to 314.7%. Calheiros et al. (2014)
displacement is applied to the upper half of the also studied this bentonite and finding similar
box by an engine, which operates with cogs limits as the ones found in this research.
with a velocity that is determinate by a factor,
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The curves of deviator stress and vertical


displacement versus axial displacement are
presented on Figure 6 and Figure 7, which
correspond to the direct shear tests performed in
the bentonite and in the mixtures with 3 and 5%
of PET flakes at confining stress of 50, 70 and
100kPa.

Figure 5. Bentonite particle size analysis.

Figure 7. Curves of shear strength and vertical


displacement versus axial displacement for the bentonite
and the mixture B95F05 in the direct shear test.

The Figure 8, Figure 9 and Figure 10 show


Figure 6. Curves of shear strength and vertical the strength envelopes and in Table 2 the Mohr-
displacement versus axial displacement for the bentonite Coulomb strength parameters for peak and
and the mixture B97F03 in the direct shear test.
residual strength of the bentonite and mixtures
are summarized.
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strength, in all mixtures, however, the friction


angles are smaller. This phenomenon can be
explained because the interaction between the
particles of bentonite and PET flakes are higher
than the interaction of the particle of the pure
bentonite, so the cohesion increases. In contrast,
the friction angle reduces because the difference
among the peak strength remains smaller than
the difference found in the pure bentonite.
Figure 8. Bentonite – Shear strength parameters and the In the case of the residual strength for the
strength envelope. mixture B97F03, the cohesion decreases,
whereas with the mixture B95F05 it has a better
improvement. For both mixtures the friction
angle increase with the addition of the PET
flakes. This phenomenon also highlights that
PET flakes change the mechanical behavior of
the material in relation with the peak and
residual strength.
The mixture B95F05 caused the major
improvement in the strength parameter, where,
for peak strength the cohesion became five
Figure 9. Mixture C97F03 – Shear strength parameters times higher than the pure soil and for the
and the strength envelope. residual strength the friction angle raised 70%
while the cohesion raised 79%, compared with
the pure bentonite.
The values of vertical displacement versus
horizontal displacement of the mixture B97F03,
were higher than the values found for the pure
bentonite. For the mixture B95F05 the insertion
of PET flakes caused a swelling in the specimen
just at a vertical stress of 100kPa.
The results founded for the bentonite, where
the PET residue raised the peak, post-peak and
residual strength, can be compared with the
Figure 10. Mixture C95F05 – Shear strength parameters ones reached by Casagrande et al (2006 and
and the strength envelope.
2007), since the fibers had the same behavior of
Table 2. Results of shear strength parameters for the
the PET flakes.
bentonite and the mixtures.
Peak Strength Residual Strength
Material/Mixture Cohesion
Friction
Cohesion
Friction 4 CONCLUSIONS
Angle Angle
(kPa) (kPa)
(°) (°) An experimental program was carried out in
B100 2,5 4,0 4,4 0,7
B97F03 5,0 2,5 3,8 1,0 order to investigate the influence of PET flakes-
B95F05 12,7 0,5 7,9 1,3 reinforcement on a bentonite. In order to
achieve this objective, direct shear tests were
It can be observed an improvement in the conducted on the bentonite and on the mixtures.
cohesion intercept related with the peak The conclusions can be summarized as follows:
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•Based on the peak strength for the direct REFERENCES


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•The addition of the PET residue has a direct
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•The PET addition also has an environmental
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impact, where a new purpose is given to this and Environmental Engineering, v.133, p.1466-1469.
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•The use of PET in geotechnical works such
133, p. 1635-1636.
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Método para Análise da Variabilidade em Ensaios de Piezocone:


Aplicação a Resíduos de Mineração
Letícia Perini
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, leticia.perini@hotmail.com

Gracieli Dienstmann
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, g.dienstmann@gmail.com

RESUMO: A estimativa de parâmetros geotécnicos para resíduos de mineração através do ensaio de


piezocone deve ser cautelosa, dada a alta variabilidade desses materiais e possibilidade de drenagem
parcial durante a realização do ensaio padronizado. Este estudo buscou trazer alternativas para
diminuir a interferência da heterogeneidade do material sobre a avaliação dos efeitos da velocidade
nos resultados de ensaios de piezocone. Neste contexto, ensaios realizados sob diferentes velocidades
de cravação em rejeitos de mineração de ouro foram analisados utilizando-se do coeficiente de
variação e das curvas de frequência acumulada como ferramentas para a identificação de camadas
homogêneas do material. Após a aplicação do método, o efeito da velocidade foi avaliado no espaço
velocidade normalizada de ensaio (V) versus grau de drenagem (U). Nas curvas de drenagem obtidas,
foi possível observar a transição de comportamento não drenado para parcialmente drenado com
considerável diminuição da dispersão de dados.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeitos de Mineração, Ensaio de Piezocone, Drenagem Parcial,


Estratigrafia, Variabilidade.

1 INTRODUÇÃO Além da dificuldade de interpretação imposta


pelo efeito da drenagem parcial, os resíduos
O ensaio de piezocone tem sido bastante possuem alta variabilidade estratigráfica, visto
utilizado para análise de campo em resíduos de que são materiais essencialmente heterogêneos,
mineração. Porém, materiais como siltes, argilas o que aumenta ainda mais a complexidade das
arenosas e resíduos de mineração costumam análises. Por consequência, para melhorar a
apresentar drenagem parcial durante a execução interpretação de resultados de ensaios de
padronizada do ensaio, o que dificulta a piezocone em resíduos e aumentar a segurança
interpretação dos resultados, visto que as na avaliação das condições de drenagem, faz-se
correlações existentes podem levar a uma necessária a utilização de análises estatísticas da
avaliação errônea dos parâmetros geotécnicos variabilidade dos parâmetros geotécnicos.
(BEDIN, 2006). Posto que, tanto a variabilidade natural do
Diversos autores têm estudado o material, como a variação da velocidade
comportamento de drenagem desses materiais influenciam no ensaio, define-se a problemática
(e.g. Randolph e Hope (2004), Bedin (2006), deste estudo: separar esses dois efeitos. Neste
Jaeger et al (2010), Oliveira et al (2011), Klahold sentido, o presente trabalho tem como objetivo
(2013), Sosnoski (2016), entre outros). A ideia introduzir uma metodologia quantitativa para
consiste em executar ensaios utilizando interpretação da estratigrafia do terreno, visando
diferentes velocidades de penetração para separar os efeitos da heterogeneidade do material
identificar qual a velocidade necessária do daqueles advindos da variação da velocidade de
ensaio que leva à um comportamento totalmente ensaio (drenagem parcial).
drenado ou não-drenado.
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2 CONDIÇÕES DE DRENAGEM NO Δu
ENSAIO DE PIEZOCONE U= (2)
Δu max
A avaliação das condições de drenagem em
materiais com permeabilidade intermediária Onde Δu é variação de poropressão em um
entre areias e argilas é necessária para evitar que determinado instante e Δumax é máxima variação
os parâmetros geotécnicos sejam de poropressão, geralmente medidas na face do
superestimados, principalmente a resistência ao equipamento;
cisalhamento não drenada (Su) (SCHNAID et
al., 2010). q t - q t und
De acordo com Dienstmann (2015), a U= (3)
q tdr - q t und
definição das condições de drenagem durante a
execução de ensaios de campo pode conferir
confiabilidade na obtenção dos parâmetros de Onde qt é a resistência real mobilizada do
projeto, porém em materiais não convencionais piezocone em um dado instante, qtund é a
ainda não existem definições precisas e métodos resistência real mobilizada do piezocone não
de abordagem consagrados para avaliação do drenada, e qtdr é a resistência real mobilizada do
comportamento de drenagem. piezocone drenada.
A avaliação dos parâmetros que controlam o Nas representações acima, o parâmetro U
fluxo em materiais de comportamento transitório varia de 0 a 1, sendo 0 a condição não drenada e
vem sendo estudada por meio de ensaios 1 a condição drenada. A poropressão também
executados em diferentes velocidades. Os pode ser representada normalizada pela tensão
resultados costumam ser apresentados num efetiva (Δu/σ’v0). Neste caso, a condição drenada
espaço que relaciona a velocidade normalizada é igual a 0 e o valor máximo para a condição de
(V) à poropressão normalizada (U), comportamento não drenado depende das
reproduzindo a chamada curva de drenagem características do material.
característica do material. O objetivo da curva de Schnaid (2005), através de dados
drenagem é estabelecer os limites para que os experimentais, propôs uma equação cossenoide
ensaios sejam realizados de maneira totalmente hiperbólica (Equação 4) para traçar a tendência
drenada ou não drenada, possibilitando a da curva de drenagem.
interpretação dos resultados (KLAHOLD,
2013). 1
U = a + (1- a) (4)
O parâmetro adimensional (V), apresentado cosh (bVc )
na Equação 1, leva em consideração a velocidade
de penetração do cone no ensaio (v), o diâmetro onde U indica o grau de drenagem e a, b e c são
da sonda (d) e o coeficiente de adensamento coeficientes de adequação da curva. O parâmetro
vertical do solo (cv). a representa a relação entre a resistência ao
cisalhamento não drenada e drenada, enquanto
v.d que b e c controlam a taxa de mudança de
V= (1)
cv condições drenadas para não drenadas
(SCHNAID et al., 2010).
O parâmetro U, que representa o excesso de Resultados em resíduo de ouro descritos em
poropressão gerado durante a cravação, pode ser Bedin (2010) e Klahold (2013) foram
obtido, segundo Dienstmann (2015), pelas reinterpretados por Dienstmann et al. (2016) e a
seguintes relações: Randolph e Hope (2004), Equação 4 foi adaptada para representar a
Silva et al (2005), entre outros (Equação 2); tendência de Δu/σ’v0 x V e Q x V, conforme as
Schnaid et al (2004) (Equação 3). Equações (5) e (6). O resultado obtido é
apresentado na Figura 1 e os coeficientes de
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ajuste adotados são apresentados na Tabela 1. O exemplo mostra que a curva possibilita a
Devido à dispersão dos pontos, os autores identificação das condições de drenagem,
apresentam duas curvas para caracterizar o revelando um intervalo no qual há ocorrência de
comportamento de drenagem e de resistência: drenagem parcial (0,01 < V < 10). Através da
um limite inferior e um limite superior. curva de drenagem, os limites de comportamento
drenado e comportamento não drenado podem
 1  ser definidos, possibilitando assim a obtenção de
Q=Qmin +  a+(1-a) c 
(Qmax -Qmin ) (5) parâmetros geotécnicos e evitando que ensaios
 cosh(bV ) 
futuros sejam executados em velocidades nas
quais ocorra drenagem parcial. A Figura 1 indica
Δu Δu max  1  que um comportamento não-drenado será obtido
= -  a + (1- a) c 
σ'v0 σ'v0  cosh (bV )  para os resíduos de ouro quando os ensaios
 Δu Δu min  forem realizados a velocidades normalizadas
×  max -  (6) maiores que 10.
 σ'v0 σ'v0 

3 MATERIAIS
Tabela 1. Coeficientes de ajuste para resíduos de ouro
(DIENSTMANN et al., 2016).
3.1 Ensaios Utilizados para Análise
Solo a b c
Limite Inferior 0,025 4 0,7
Limite Superior 0,025 1 0,7 Para a interpretação dos ensaios de campo, foram
utilizados dados de um programa experimental
de investigação realizado por Klahold em 2012,
sendo o local estudado um depósito de rejeitos
de mineração de ouro no Município de Barrocas,
BA.
O material também foi objeto de estudos de
Bedin (2006) e Sosnoski (2016). A ilha 01 de
investigação de Klahold (2013), conforme
denominada pela autora, foi escolhida para
aplicação da metodologia desenvolvida por este
estudo.
Klahold (2013) realizou primeiramente o
ensaio com velocidade de penetração padrão até
a profundidade de 12 metros. Após identificar a
camada de material mais homogêneo,
compreendida dos 3 aos 5 metros de
profundidade, foram realizados ensaios variando
a velocidade entre 0,3 mm/s e 57 mm/s com o
objetivo de avaliar a ocorrência de drenagem
parcial durante a penetração do cone e estudar os
efeitos da velocidade nos ensaios.

3.2 Efeito da Velocidade nos Ensaios

Os perfis de qc (resistência de ponta), fs (atrito


Figura 1. Curvas Δu/σ’v0 x V e Qt x U para resíduos
de ouro (DIENSTMANN et al., 2016). lateral) e u2 (poropressão) à profundidade de 3,2
a 5,0 metros, obtidos nos ensaios executados
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com diferentes velocidades, referentes ao o mais homogêneo possível. Nesta condição, a


material estudado, são plotados na Figura 2. De curva de drenagem do material é mais
maneira geral é possível observar a influência da representativa e resultados do ensaio podem ser
velocidade de penetração nos resultados. interpretados com maior segurança.
Para o ensaio executado na velocidade rápida O depósito de resíduos estudado, entretanto,
(57mm/s), os valores medidos de qc, fs e u2 trata-se de um material muito heterogêneo e com
ficaram próximos aos do ensaio executado com perfil geotécnico altamente variável. Tal
velocidade padrão (20mm/s), o que indica que variabilidade, comum em rejeitos de mineração,
ambos os ensaios têm comportamento em resulta em elevada dispersão de dados na curva
relação a drenagem semelhante (possivelmente caracteristica de drenagem (V x U) e evidencia a
não-drenado). Já as leituras do ensaio mais lento, necessidade de análises quantitativas dos
mostraram valores de qc e fs mais elevados e ensaios.
valores de poropressão u2 menores, o que O método desenvolvido para diminuição da
evidencia que o processo de dissipação é variabilidade, apresentado na sequência, se
permitido quando a cravação do cone é mais baseia na ideia de que, se camadas menores -
lenta. porém mais homogêneas - do material forem
analisadas, entende-se que o efeito da velocidade
pode ser determinado com maior precisão.
Portanto, foram estudados critérios para
identificar camadas de solo mais homogêneas,
nas quais o efeito da velocidade de penetração
aparece com maior clareza. O método proposto,
com sua respectiva aplicação ao ensaio de
piezocone estudado, é apresentado a seguir.

4.1 Análise Qualitativa Inicial

A análise qualitativa inicial, refere-se à


identificação comparativa simples de
semelhanças e diferenças ao longo do perfil. Se
o material das diferentes sondagens for
homogêneo, os perfis de qc, fs e u2 para cada uma
das velocidades apresentarão curvas
semelhantes, apenas deslocadas no eixo
Figura 2. Perfil de qc, fs e u2 em diferentes velocidades. horizontal.
Neste contexto, foram analisadas as
distribuições de qc, fs e u2 ao longo da
4 MÉTODO PARA INTERPRETAÇÃO profundidade (Figura 2). Nas camadas de 3,20 à
DA VARIABILIDADE ESTRATIGRÁFICA 3,80 metros e 4,74 à 5,00 metros o ensaio lento
apresentou um comportamento diferente dos
Visto que os resíduos de mineração de ouro são ensaios padrão e rápido. Isso pode ser observado
materiais que, em geral, apresentam perfil nos primeiros centímetros do gráfico de fs, que se
geotécnico muito variável, busca-se um método apresentou crescente no ensaio lento e
capaz de eliminar heterogeneidades do material relativamente constante nos demais.
e sua interferência nas análises dos ensaios. Além disso, a partir de 4,74m de
Para uma relação mais clara entre a profundidade, percebe-se que há um aumento na
velocidade de penetração e as poropressões variabilidade dos resultados de qc e u2. A partir
geradas, idealiza-se que o material estudado seja desta profundidade a curva do ensaio lento chega
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a interceptar as curvas do ensaio padrão e ensaio fs


Fr = (10)
rápido. Tais diferenças sugerem que nestas (q t - σ v0 )
profundidades os materiais encontrados em cada
ensaio não possuem as mesmas características O perfil de Ic para a camada de 3,20 à 5,00
geotécnicas. metros é apresentado na Figura 3. Os valores de
Optou-se, então, por eliminar tais camadas Ic são obtidos a partir do ensaio com velocidade
que visualmente indicam maior heterogeneidade padrão (20mm/s).
e prosseguiu-se a avaliação dos perfis definidos A análise do índice de classificação Ic para a
pelo intervalo de 3,80 a 4,74 metros de camada que está sendo analisada – de 3,80 à 4,74
profundidade. metros – apresentou todos os pontos de leitura
com valores de Ic dentro da faixa de
4.2 Índice De Classificação classificação de argilas, reforçando assim a
homogeneidade da camada escolhida.
O índice de classificação do material (Ic),
proposto por Jefferies e Been (2006) (Equação
7), foi analisado para identificar materiais com
diferentes granulometrias, visando:
• Confirmar a homogeneidade da camada
de solo – quando todos os pontos apresentam Ic
que se enquadram na mesma classificação de
solo;
• Verificar a necessidade de subdividir a
camada – quando a camada analisada apresentar
valores de Ic de mais de uma classificação de
solo.
As faixas de classificação são consideradas de
acordo com o apresentado na Tabela 3, adaptada
de Schnaid e Odebrecht (2012).

Tabela 3. Classificação de solos pelo Ic (Jefferies e Been, Figura 3. Índice de classificação Ic do material.
2006).
Índice Ic Classificação do solo
Ic > 2,76 Argilas 4.3 Avaliação da Distribuição e Dispersão dos
2,76 > Ic > 2,40 Misturas de siltes Dados: Curvas de Frequência Acumulada e
2,40 > Ic > 1,80 Misturas de areias Coeficiente de Variação
1,80 > Ic > 1,25 Areias
Ic < 1,25 Areias com pedregulhos
Por fim, medidas estatísticas foram utilizadas
para avaliar a homogeneidade dos dados. O
coeficiente de variação qc, fs e u2 é usado para
 
Ic = 3 − log ( Qt ) . (1 − Bq ) + 1,5 + 1,3.log( Fr )
2 2
(7) medir a dispersão dos dados. Ele é útil, pois trata-
se de uma medida relativa de dispersão, já que é
Em que: adimensional. Quanto menor o coeficiente,
menor a dispersão em torno da média. Definiu-
q t - σ v0 se um coeficiente de variação máximo de 30%
Q t= (8) para limitar a dispersão de dados da camada de
σ v0 - u 0
interesse. Foram observados os coeficientes de
variação de qc, fs e u2 em todas as velocidades em
u2 - u0 que o ensaio foi executado e foram selecionados
Bq = (9)
q t - σ v0 apenas os intervalos amostrais nos quais nenhum
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coeficiente de variação ultrapassa 30%. Tabela 4. Coeficientes de variação entre 3,80 e 4,74m de
A curva de frequência acumulada serve para profundidade
vel. padrão vel. rápida vel. lenta
localizar a distribuição de frequências sobre o
qc (kPa 15% 21% 19%
eixo de variação do parâmetro geotécnico. fs (kPa) 18% 40% 13%
Fazendo-se comparações entre as curvas de u2 (kPa) 17% 20% 68%
sondagens adjacentes executadas sob diferentes
velocidades de cravação, podem ser A solução foi analisar as curvas de frequência
identificados os materiais mais homogêneos acumulada e os coeficientes de variação para
através das semelhanças entre as curvas. intervalos menores dentro deste espaço, até
As curvas de frequência acumulada do encontrar camadas que satisfizessem os critérios
intervalo estudado, de 3,80 à 4,74 m, exibidas na de homogeneidade de dados adotados.
Figura 4, apontaram uma distribuição dos dados A dificuldade em encontrar intervalos com
relativamente semelhantes no caso de fs e de Δu coeficiente de variação máximo de 30%, levou à
(u2-u0). As curvas de frequência acumulada de análise de pequenas camadas. Uma espessura
qc, apresentaram maior disparidade, sendo a mínima para as mesmas foi fixada em 14 cm para
curva do ensaio lento mais suave que as demais, garantir um tamanho amostral mínimo e evitar
revelando que a diferença entre as medidas que a análise se tornasse pontual. Uma
mínimas e máximas desta velocidade é maior profundidade mínima de 14 cm representa uma
que nos ensaios padrão e rápido. espessura de camada de aproximadamente
quatro (4) vezes o diâmetro do cone,
considerando um cone de 10cm2. Ainda, para 14
cm de espessura o número de pontos de leitura
dos ensaios padrão e rápidos é de 8 (1 leitura a
cada 2 cm). Para o ensaio lento o intervalo de
leituras é menor (24 leituras por centímetro), o
que resulta em 336 leituras para a espessura de
14cm.
Dentro das exigências descritas foram
encontradas duas camadas que apresentaram boa
homogeneidade: a primeira entre 3,94 e 4,10 m e
outra entre 4,36 e 4,50 m de profundidade.
No intervalo de 3,94 a 4,10 m, o coeficiente
de variação máximo encontrado foi de 23%,
relativo aos valores de fs com o ensaio rápido.
Figura 4. Curvas de frequência acumulada entre 3,80 e Para o intervalo de 4,36 a 4,50 m, as
4,74 m de profundidade.
poropressões do ensaio lento apresentaram o
maior coeficiente de variação: 27%. Em geral, as
Sequencialmente, a dispersão dos dados foi
camadas apresentaram coeficientes de variação
avaliada quantitativamente através do
pequenos, indicando baixa dispersão de dados,
coeficiente de variação, o qual demonstrou uma
conforme pode ser observado na Tabela 5 e na
maior heterogeneidade de dados para o intervalo
Tabela 6.
de 3,80 a 4,74 m. Conforme observado na
Tabela 4, o ensaio rápido apresentou valores de Tabela 5. Coeficientes de variação entre 3,94 e 4,10m de
fs com coeficiente de variação de 40%, e o ensaio profundidade
lento, valores de Δu com coeficiente de variação vel. padrão vel. rápida vel. lenta
de 68%, muito acima do limite para a camada ser qc (kPa 6% 7% 12%
aprovada no critério de coeficiente de variação fs (kPa) 19% 23% 3%
u2 (kPa) 4% 3% 20%
(coeficiente máximo adotado 30%).
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Tabela 6. Coeficientes de variação entre 4,36 e 4,50m de 5 VALIDAÇÃO DO MÉTODO


profundidade
vel. padrão vel. rápida vel. lenta
Após a aplicação do método qualitativo,
qc (kPa 3% 3% 9%
fs (kPa) 7% 4% 4% procedeu-se com a análise do comportamento de
u2 (kPa) 5% 4% 27% drenagem do material. Neste sentido, foram
plotadas a resistência de ponta normalizada (Q)
A adequada representatividade dos intervalos e a poropressão gerada normalizada (Δu/σ’v) em
também pode ser visualizada através da análise função do fator de velocidade adimensional V.
das curvas de frequência acumulada Na obtenção de V, optou-se por utilizar os
apresentadas nas Figura 5 e Figura 6. Observa-se coeficientes de adensamento horizontal ch
que as curvas da velocidade padrão e velocidade medidos no piezocone, por se tratar de uma
rápida aparecem praticamente sobrepostas. A medida direta.
inclinação das curvas é parecida, mostrando que Os resultados para o intervalo completo, de
a distribuição de frequência nos diferentes 3,20 a 5,00 metros de profundidade, podem ser
ensaios é semelhante, validando assim a escolha observados na Figura 7 e Figura 8.
das camadas sob os critérios de homogeneidade As Equações (5) e (6) utilizadas por
definidos pela metodologia. Dienstmann et al. (2016) com base na função
cossenóide hiperbólica apresentada por Schnaid
(2005) foram utilizadas para representar o
comportamento dos pontos no espaço. Os
coeficientes de ajuste adotados foram: a = 0,01,
b = 1,36 e c = 0,83. Os coeficientes de ajuste
adotados foram definidos visando diminuir o
coeficiente de determinação R² .

Figura 5. Curvas de frequência acumulada entre 3,94 e


4,10 m de profundidade.

Figura 7. Efeito do fator de velocidade sobre o excesso de


poropressão normalizada.

Figura 6. Curvas de frequência acumulada entre 4,36 e


4,50 m de profundidade.

Figura 8. Efeito do fator de velocidade sobre a resistência


normalizada.
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A curva de drenagem mostra o aumento da As curvas de drenagem da nova amostra


resistência e redução do excesso de poropressão apresentaram dispersão de dados visivelmente
com a diminuição da velocidade normalizada, menor que as curvas anteriores. A diferença
porém a dispersão de dados é grande. O entre a qualidade das curvas fica nítida ao se
coeficiente de determinação (R²) foi calculado observar o coeficiente de determinação das
para verificar o quão explicativa a curva é em mesmas, R² = 0,89 para a curva do excesso de
relação a amostra, obtendo-se o valor de R² = poropressão normalizada e R² = 0,71 para a
0,58 para a curva do excesso de poropressão curva da resistência normalizada.
normalizada e R² = 0,34 para a curva da Em ambos os casos – com e sem a aplicação
resistência normalizada. da metodologia - os resultados indicam que a
Por fim, nas Figuras 9 e Figura 10, as mesmas transição de não drenado para parcialmente
curvas foram plotadas agora utilizando a amostra drenado ocorre em torno de V (velocidade
obtida com aplicação da metodologia, definida normalizada) igual a 20, para a qual o excesso de
pelos dados do ensaio no intervalo de 3,94 a 4,10 poropressão normalizada está em torno de 1,8 e
metros de profundidade e 4,36 a 4,50 metros de a resistência normalizada, 3,2. Logo, as curvas
profundidade, conforme exposto no item 5. Os de drenagem construídas após aplicação da
coeficientes de ajuste da equação cossenóide metodologia se mostraram úteis para confirmar a
utilizados foram: a = 0,01, b = 1,38 e c = 0,50. interpretação do ensaio, aumentando
Os coeficientes foram determinados através de consideravelmente a confiabilidade graças a
iteração para atingir um valor de R² (coeficiente diminuição da dispersão de dados.
de determinação) das curvas o mais próximo Sendo assim, a aplicação da metodologia
possível de 1. torna a curva de drenagem para o resíduo de ouro
mais representativa, conferindo maior qualidade
na avaliação das condições de drenagem. Neste
contexto, as curvas das Figuras 9 e 10 podem ser
utilizadas como guias práticos na realização de
ensaios em campo, garantindo que os ensaios
sejam executados em condições não-drenadas
quando V normalizado > 20. Somente nesta
condição é que parâmetros geotécnicos não-
drenados podem ser utilizados em projeto.
Na Figura 11 apresentam-se os valores de
resistência não-drenada normalizada (Su/σ’v)
plotados em função da velocidade normalizada
Figura 9. Efeito do fator de velocidade sobre o excesso de (V). Os valores de Su foram obtidos dos perfis
poropressão normalizada após aplicação da metodologia.
considerando um Nkt=13 (KLAHOLD, 2013).
Da Figura 11 observa-se que quando V
normalizado > 20, tem-se os valores de
resistência representativos de projeto: Su/σ’v =
0,23, se aproximando do valor característico de
materiais normalmente adensadas (SCHNAID E
ODEBRECHT, 2012).
Ainda da Figura 11 pode-se avaliar um ganho
de resistência da ordem de 2,8 vezes quando o
ensaio é realizado na menor velocidade. Se
parâmetros não-drenados fossem obtidos nesta
velocidade, adotá-los em projeto com condições
Figura 10. Efeito do fator de velocidade sobre a resistência não-drenadas seria contrário à segurança.
normalizada após aplicação da metodologia.
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REFERÊNCIAS

Bedin, J. Interpretação De Ensaios De Piezocone Em


Resíduos De Bauxita. 150 p. Dissertação - Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto
Alegre, 2006.
Bedin, J. Estudo Do Comportamento Geomecânico De
Resíduos De Mineração. Tese de doutorado -
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
UFRGS, Porto Alegre, 2010.
Dienstmann, G. Análise De Ensaios De Campo Em Fluxo
Transitório. 2015. Tese de doutorado – Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto
Alegre, 2015.
Figura 11. Curva de resistência não drenada normalizada Dienstmann, G; Schnaid, F. ; Maghous, S. Cylindrical
pela velocidade normalizada. Cavity Expansion Analysis Applied To The
Interpretation Of Variable Rate Cone Penetration In
Tailings. In: 5th International Conference on
5 CONCLUSÕES Geotechnical and Geophysical Site Characterization,
Queensland, 2016.
Jaeger, R.A.; Dejong, J. T.; Boulanger, R.W.; Low, H.E.;
O método desenvolvido permite a identificação Randolph, M.F. Variable penetration rate CPT in an
de camadas mais homogêneas do material e a intermediate soil. Proc., 2nd Int. Symp. On Cone
diminuição da variabilidade, o que tornou a Penetration Testing, Omnipress, Madison, WI, 2010.
curva de drenagem para o resíduo de ouro mais Jefferies, M.; Been, K. Soil liquefaction: A critical state
approach . 1ª ed, 580 p. Oxon: Taylor & Francis, 2006.
representativa. Por consequência, também se Klahold, P.A. Interpretação De Ensaios De Campo Em
diminuiu o nível de incerteza na identificação do Solos Com Permeabilidade Intermediária. Dissertação
valor de V (velocidade normalizada) que marca – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
a transição de não drenado para parcialmente UFRGS, Porto Alegre, 2013.
drenado. Oliveira, J.M.S., Almeida, M.S.S, Motta, H.P.G. and
Almeida, M.C.F. Influence of Penetration Rate on
Destaca-se que a aplicação apresentada no Penetrometer Resistance. Journal of Geotechnical and
presente trabalho auxilia no entendimento e Geoenvironmental Engineering, Vol. 137, No. 7, pp.
interpretação das condições de drenagem em 695-703, 2011.
resíduos de mineração, dando uma maior Randolph, M.F. and Hope, S.N. Effect of cone velocity on
confiabilidade as curvas obtidas. Neste sentido, cone resistance and excess pore pressure. In: Proc.
Engineering practice and performance of soft deposits,
as curvas de drenagem apresentadas podem ser Osaka, pp. 147-152, 2004.
entendidas como guias para a execução de Schnaid, F. Geo-Characterization And Properties Of
ensaios em campo, fornecendo bases para que os Natural Soils By In Situ Tests. Proceedings of the
ensaios sejam executados na condição não- International Conference on Soil Mechanics and
drenada ou perfeitamente drenada. Somente Geotechnical Engineering, Osaka, Vol. 1, 3–47, 2005.
Schnaid, F.; Bedin, J.; Costa Filho, L. M. Drainage
nestas condições é que parâmetros geotécnicos Characterization Of Tailings From In Situ Test. Proc.,
podem ser estimados e utilizados em projeto com 2nd Int. Symp. On Cone Penetration Testing,
segurança. Omnipress, Madison, WI, 2010.
Schnaid, F.; Odebrecht, E. Ensaios De Campo E Suas
Aplicações À Engenharia De Fundações. 2ª edição.
224 p. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
AGRADECIMENTOS Sosnoski, J. Interpretação De Ensaios De CPTU E DMT
Em Solos Com Permeabilidade Intermediária.
Ao programa de Pós-Graduação em Dissertação – Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da UFSC, PPGEC. Ao órgão Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2016.
de fomento (CAPES). À Priscilla Klahold por
disponibilizar material para este estudo.
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Mistura Asfáltica com Utilização de Agregados Alternativos


Edgar Alfredo Sá
UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, gagafixe87@gmail.com

Fernando Abece
UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, fernandoabece@gmail.com

Rodolfo Gonçalves Oliveira da Silva


IFMG, Ouro Branco - MG, Brasil, rodolfo.goncalves@ifmg.edu.br

Hebert da Consolação Alves


UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, hebertalvesa@yahoo.com.br

Ronderson Queiroz Hilário


UFMG, Belo Horizonte - MG, Brasil, ronderson@etg.ufmg.br

Marcelo Mário Gonçalves Júnior


UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, marcelomgj2010@hotmail.com

Nilton Aparecido de Souza


UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, aparecidonilton@outlook.com

Matheus Evangelista Gonçalves Bispo


UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, matheusebispo@hotmail.com

Sabrine Julia Alves Rodrigues


UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, sabrinejarodrigues@gmail.com

Miguel Arcanjo Gomes


UFOP, Ouro Preto - MG, Brasil, arcanjogomes@em.ufop.br

RESUMO: A preocupação com o meio ambiente aumentou nos últimos anos devido à degradação e
poluição que prejudica a qualidade de vida dos seres vivos, com isso, precisamos buscar
alternativas para o uso dos materiais que são conhecidos como rejeitos. Um exemplo disso, são os
rejeitos de mineração que são depositados em barragens. O processo de extração e beneficiamento
de minérios gera uma quantidade significativa de resíduos (rejeitos), que provocam sérios
problemas ambientais quando não se dá a destinação adequada para os mesmos. Para tentar reduzir
esse grande problema que afeta o nosso meio, estudos começaram a serem feitos com a finalidade
de utilizá-los na construção civil, em especial o uso em pavimentos. Com o crescente
desenvolvimento das pesquisas relacionadas a pavimentação rodoviária pela busca de metodologias
que visam proporcionar ao pavimento uma melhor resistência e durabilidade associado a um menor
custo utilizando materiais alternativos que possuem propriedades semelhantes ou até melhores que
os materiais usualmente utilizados possibilitando também uma redução no custo da rodovia. Com o
desafio proposto pela reciclagem, o reuso e a economia, vem sendo de suma importância
socioeconômica para o desenvolvimento sustentável, neste contexto a engenharia rodoviária vem
aperfeiçoando e inovando com tecnologias e formas de gerenciamentos que reduzam os custos,
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garantindo assim a melhor configuração para a implantação e manutenção, e com isso acarretar em
um aumento nos investimentos em obras de infraestrutura rodoviária. Neste presente trabalho foram
utilizados agregados convencionais (gnaisse) e alternativos (rejeito de minério de ferro e rejeito de
pedra sabão) para a dosagem das misturas asfálticas usando a metodologia Marshall e enquadrando-
a na faixa C do DNIT. O estudo tem por finalidade caracterizar e avaliar o comportamento
mecânico de misturas asfálticas do tipo CAUQ (Concreto Asfáltico Usinado a Quente), utilizando a
dosagem do método Marshall empregando materiais alternativos como agregados. Baseando-se nos
resultados dos ensaios de caracterização mecânica dos agregados e dos corpos de prova obtidos no
laboratório, será possível garantir que os materiais alternativos utilizados na pesquisa podem serem
utilizados como revestimentos em pavimentos asfálticos. Todos os ensaios foram realizados no
laboratório de ferrovias e asfalto do Departamento da Engenharia Civil da UFOP.

PALAVRAS-CHAVE: rejeito de minério de ferro, rejeito de pedra sabão, pavimentação rodoviária,


mistura asfáltica.

1 INTRODUÇÃO pesquisadores para que possam trazer a


melhoria e redução dos custos nas estruturas
A preocupação com o meio ambiente tem rodoviárias, e por sua vez evitar a disposição
ganhado cada vez mais espaço nas últimas final ambientalmente inadequado destes
décadas devido à degradação e poluição materiais. Como foi disseminado o desafio para
constante que prejudica e afeta a qualidade de a reciclagem e reuso dos resíduos para que
vida dos seres vivos. Esta preocupação fez com possa ter um retorno economicamente viável,
que os órgãos governamentais e não esse processo vem sendo de suma importância
governamentais (ONG’s) unissem e com isso, socioeconômica para o desenvolvimento
começaram a criar políticas de reciclagem e sustentável em todos os lugares, por isso, os
reuso dos resíduos em geral. Esta política nos engenheiros rodoviários vem aperfeiçoando
faz perceber que a qualidade da vida está com tecnologias e gerências inovadoras que
diretamente relacionada com meio ambiente reciclam e reutilizam os resíduos da mineração
limpo. O processo de poluição começa com a para o uso nos pavimentos, de modo a diminuir
extração e beneficiamento de minérios que os custos das obras e por cima dando segurança
geram enormes quantidade de resíduos aos usuários.
(rejeitos), que depositados inadequadamente
causam problemas sérios ao meio ambiente. 1.1 Objetivos
Para diminuir esse grande problema que afeta o
nosso meio, os pesquisadores começaram a Este trabalho tem por finalidade caracterizar e
realizar estudos diversos que visam o avaliar o comportamento mecânico de misturas
aproveitamento desse material, dando-lhe um asfálticas do tipo CAUQ (Concreto Asfáltico
destino final ambientalmente adequado, um dos Usinado a Quente), analisando suas
exemplos a seguir é o uso dos mesmos nos propriedades e similaridades, utilizando a
pavimentos. dosagem do método Marshall empregando
Com aumento e interesse nas pesquisas para materiais alternativos como agregados tais,
desenvolvimento dos pavimentos rodoviários como: resíduo de minério de ferro do
mais resistentes e eficientes, com menor custo quadrilátero ferrífero de Minas Gerais e resíduo
utilizando materiais alternativos que possuam de pedra sabão oriundo da região de Ouro Preto
propriedades idênticas, próximas ou até – Minas Gerais.
melhores dos agregados naturais comumente
utilizados, abriu-se um enorme desafio aos 1.2 Justificativa
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bem dimensionado visa a prover segurança ao


Caracterizar e analisar o desempenho mecânico tráfego nas rodovias, deve suportar os efeitos
de revestimentos asfálticos, utilizando resíduos das mudanças de clima, permitindo o
de pedra sabão e de minério de ferro como deslocamento suave, não causar desgaste
agregados alternativos, substituindo excessivo dos pneus e nível alto de ruídos, ter
parcialmente os agregados minerais estrutura forte, resistir ao fluxo de veículos,
convencionais comumente utilizados em permitir o escoamento da água na sua
misturas asfálticas, de modo a diminuir o superfície, possuir sistemas de drenagem
impacto ambiental e custo do mesmo, eficientes para dar vazão à água da chuva e ter
melhorando assim as condições do pavimento boa resistência a derrapagens. Se atender os
quanto ao aumento de resistência mecânica, requisitos acima citado, a estrutura do
aderência e a diminuição do ruído, aproveitando pavimento pode ser considerada muito bem
características essenciais que cada resíduo dimensionado, que é algo muito importante
apresenta. para um projetista.
Segundo SOARES et al. (2000), os critérios
1.3 Revisão Bibliográfica convencionais volumétricos não garantem que o
teor “ótimo” corresponda necessariamente ao
O levantamento feito e publicado pela melhor teor para todos os aspectos do
Confederação Nacional do Transporte (CNT), comportamento de uma mistura asfáltica dentro
em outubro de 2017, mostrou que o Brasil dos novos conhecimentos da mecânica dos
possui 1.735.606 km de rodovias, mas apenas pavimentos, que devem nortear a dosagem com
12,31% encontra-se pavimentada. A qualidade a obtenção das características mecânicas da
das rodovias pavimentadas que foram mistura em estudo. Reforça-se também a
levantadas e classificadas como boas ou se necessidade de explorar melhor a granulometria
encontram em ótimos estados é de dos agregados disponíveis, além de se dosar
aproximadamente 40,84% dos 213.676 km cada mistura em função do CAP disponível e da
pavimentadas. estrutura na qual será empregada.
De acordo com Bernucci et al. (2008); Segundo CNT (2016) apud Silva (2017), a
Campanha (2011), apud Silva (2017), nas falta de políticas públicas direcionadas a um
últimas décadas, o Brasil observou-se uma investimento mais acentuado em infraestrutura
crescente insatisfação no setor produtivo devido de transportes tem elevado os custos logísticos,
ao baixo investimento de recursos financeiros limitando o desenvolvimento da economia
destinados a infraestrutura rodoviária no país, brasileira e restringindo a competitividade dos
que não satisfaz a real demanda do referido produtos nacionais no mercado. A má qualidade
setor. Considerando que o modal de transporte das rodovias, aliada à ausência de serviços de
de carga mais utilizada no Brasil é a rodoviária, manutenção, implica em maiores gastos com a
e salientando ainda que as obras de restauração dos pavimentos, requerendo
pavimentação deste contingente geram soluções técnicas mais onerosas para a reversão
expressivas e intoleráveis cifras aos cofres desse cenário. Concomitantemente aumenta a
públicos. Mesmo que os bens produzidos no probabilidade de ocorrência de acidentes,
país possam ser competitivos na fase de gerando custos elevados para os usuários.
produção, os mesmos perdem competitividade Principalmente com a elevação do custo de
no quesito infraestrutura de transportes, devido manutenção dos veículos, além do consumo de
a uma matriz modal deficiente, onde as estradas combustível, lubrificantes, pneus e freios.
se encontram em estado tal que não são capazes De acordo com Silva (2017), mediante o
de atender as necessidades de transporte de contexto apresentado pela CNT em 2016,
cargas nacionais. justifica um necessário e urgente investimento
De acordo com CNT (2017), um pavimento em materiais de baixo custo que otimizem a
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vida útil da malha rodoviária e propiciem a asfáltico utilizado foi um CAP 50/70. Optou-se
redução dos custos para o Estado. Nesse também por este tipo de cimento asfáltico por
sentido, o presente trabalho teve por objetivo ser o mais utilizado nas rodovias de tráfego
propor soluções técnicas para execução de pesado inseridas na região do Quadrilátero
pavimentos alternativos, com a utilização Ferrífero e no Brasil.
parcial de resíduos de minério de ferro em
misturas asfálticas. Elucida-se, que a 2.1.1 Parâmetros Granulométricos
substituição parcial do agregado convencional
por resíduos de mineração visa promover a Todas as misturas foram preparadas de modo
redução do custo do revestimento asfáltico, de que enquadrassem na Faixa C do DNIT, como
forma a estimular o investimento em construção especificada pela norma DNIT ES 031/2006,
de rodovias pavimentadas e propiciar melhor sendo classificado como Concreto Asfáltico
condições de trafegabilidade. E é importante Usinado a Quente (CAUQ). Para se obter
destacar ainda que a aplicação do resíduo de melhor controle da distribuição granulométrica
minério de ferro como agregado alternativo dos corpos de prova, o agregado natural, os
contribui para a mitigação dos danos resíduos de minério de ferro e de pedra sabão
ambientais, reduzindo a extração e o consumo foram peneirados e estocados separadamente,
de agregados convencionais e diminuição da em recipientes plásticos, identificados para cada
geração de resíduos a serem dispostos em uma das peneiras especificadas pela Faixa C
estruturas de contenção. (peneiras de 3/4‖, 1/2‖, 3/8‖, n° 10, n° 40, n° 80,
Segundo Silva (2017), várias metodologias n° 200 e material passante na peneira n° 200).
foram desenvolvidas para a determinação em
laboratório do módulo de resiliência de misturas 2.1.2 Preparação dos Corpos de Prova
asfálticas. Atualmente, o ensaio mais popular
para a determinação do módulo de resiliência é Para a preparação de corpos de prova foi
o de tração indireta por compressão diametral, seguido o adaptado de Silva (2017), onde foi
devido a sua simplicidade técnica e por utilizar possível definir as temperaturas de aquecimento
corpos de prova cilíndricos. do ligante, do agregado, das misturas e de
compactação. Para as misturas, a temperatura
adotada para agregado foi 163 ± 2 °C, o ligante
2 METODOLOGIA 150 ± 2 °C e a compactação com 140 ± 2 °C.
Para se obter os valores estipulados pelo
2.1 Materiais e Métodos projeto, o controle da temperatura do ligante e
dos agregados foram efetuados com a utilização
O resíduo de pedra-sabão de coloração cinza é dos termômetros a laser e de haste.
oriundo da região de Mata dos Palmitos, no
distrito de Santa Rita, município de Ouro Preto 2.1.3 Moldagem dos Corpos de Prova de
- MG, e resíduo de minério de ferro de Pavimento Asfáltico
coloração marrom é oriundo do município de
Conceição do Mato Dentro - MG, que foram No presente trabalho foram produzidas misturas
classificados como pó de pedra e o agregado asfálticas contendo resíduos de mineração
convencional de gnaisse de coloração cinza foi (Resíduos de Pedra sabão e de Minério de
adquirido no distrito de Amarantina, município Ferro), de forma que seus parâmetros e
de Ouro Preto - MG, foi classificado como especificações enquadrassem de acordo com a
agregado graúdo e miúdo. Optou-se pela norma DNIT 031/2006, que estabelece os
utilização deste agregado pelo fato de o mesmo requisitos concernentes aos materiais utilizados
ser utilizado corriqueiramente em obras de em revestimentos asfálticos. Foi empregada a
pavimentação rodoviária no país. O ligante metodologia Marshall para a confecção dos
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corpos de prova. As caracterizações mecânicas solicitantes dos veículos. Com a finalidade de


das misturas foram avaliadas por meio dos atender as demandas das normas instituídas
ensaios de estabilidade e fluência Marshall, pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e
resistência à tração por compressão diametral Transporte (DNIT), foram realizados uma série
(RT) e módulo de resiliência (MR). de ensaios com os agregados, para averiguar
O desempenho mecânico das misturas sua adequação no uso em pavimentos. Os
alternativas foi comparado com os resultados ensaios realizados para a caracterização dos
obtidos de misturas convencionais, que utilizam agregados e a metodologia utilizada foram:
agregados amplamente utilizados em
pavimentação, tais como granito, gnaisse e  Granulometria (NBR 7181/84);
basalto. Os corpos de prova foram moldados em  Forma das partículas (DNER ME 086/94);
um compactador de tipo Marshall, com as  Ensaio de partículas planas e alongadas
dosagens de 6 tipos de teores de ligantes (CAP) (ASTM D 4791);
variando de 4,5% à 6,5% incluindo o teor do  Abrasão Los-Angeles (DNER-ME 035/98);
projeto (TP) para cada tipo de resíduo usado.  Treton (DNER-ME 399/99);
Os corpos de provas tinham aproximadamente  Ensaio de sanidade (DNER-ME 089/1994);
4,9% de vazios, com o diâmetro de 10 cm e  Adesividade ao ligante asfáltico (DNER-
altura de 6,35 cm aproximadamente. ME 078/94);
 Densidade real, aparente e absorção do
2.2 Classificação agregado graúdo (DNER-ME 081/98);
 Densidade real do agregado miúdo (DNER-
O resíduo de pedra sabão adquirido foi ME 084/95);
classificado em dois tipos de fração: os resíduos  Densidade real do filer (DNER-ME
finos gerados pelo material retirados com discos 085/94);
de serra ou laminas de corte de blocos para  Equivalente de areia (DNER-ME 054/97).
obter a peça desejada no ato da confecção de
panelas de pedras e outros utensílios desejados; As pesquisas foram desenvolvidas com a
e os resíduos grossos são provenientes das utilização dos resíduos de pedra sabão e de
rebarbas ou aparas geradas durante a corte das minério de ferro como agregados alternativos
peças com discos de serra. Para os resíduos de na produção do CAUQ. O agregado
minério de ferro foi classificado como a fração convencional utilizado na pesquisa foi coletado
fina devido ao tipo de material coletado. Os no distrito de Amarantina, pertencente ao
agregados convencionais de gnaisse foram município de Ouro Preto. O resíduo de minério
classificados como: graúdo, miúdo e fino. de ferro foi coletado no município de
Conceição do Mato Dentro, e o resíduo de
2.3 Caracterização dos Agregados pedra sabão foi coletado na região de Mata dos
Palmitos, no distrito de Santa Rita, município
Agregados são um dos materiais mais utilizados de Ouro Preto – MG.
da construção a nível mundial. Na
pavimentação rodoviária é possível constatar 2.4 Moldagem de Corpos de Prova de Concreto
seu emprego no concreto asfáltico usinado a Asfáltico Usinado a Quente – CAUQ
quente (CAUQ), como elemento estrutural
majoritário no revestimento. Comumente As moldagens dos corpos de prova foram feitas
utiliza-se ligante asfáltico, agregados graúdos, de acordo com o método Marshall, conforme a
miúdos e fíler para compor o CAUQ, que é um norma DNER-ME 043/95 (Misturas
dos elementos estruturais do pavimento Betuminosas a Quente – Ensaio Marshall).
flexível. Tais elementos devem ser devidamente Todas as misturas foram feitas manualmente,
dimensionados para resistir aos esforços numa panela sobre um fogão a gás (Figura 2.1),
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estes processos foram executados Figura 2.2 – Mistura asfáltica pronta para ser coloca na
cuidadosamente e determinados estufa por um período de duas horas
detalhadamente no projeto de pesquisa, com o
volume necessário e suas devidas 3 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DAS
especificações. Para a determinação da MISTURAS
moldagem dos corpos de provas de CAUQ pela
metodologia Marshall, foram utilizados os Os ensaios mecânicos auxiliam os projetistas de
moldes cilíndricos de aproximadamente 10 cm rodovias a avaliar, mesmo que de forma indireta
de diâmetros e 8 cm de altura. As misturas ou aproximada, o comportamento das misturas
(Figura 2.2) eram feitas e colocadas na estufa asfálticas quando em condições de campo. A
por um período de duas, com o objetivo de realização destes ensaios consiste em submeter
simular o efeito de envelhecimento do ligante as misturas asfálticas em condições que
asfáltico a curto prazo na rodovia. Em seguida, simulam os esforços que elas vão sofrer nas
a mistura é colocada no molde cilíndrico e condições reais de uso, chegando a limites
aplicam-se 75 golpes em cada face do corpo de extremos ou não de solicitação. As
prova (CP). Após a compactação do corpo de propriedades mecânicas definem o
prova, o mesmo é colocado em cima de uma comportamento de um material quando sujeito a
bancada para resfriar até atingir a temperatura esforços mecânicos, e com a análise de tensões
ambiente. A extração do corpo de prova é feita e deformação poderemos conhecer as
com a utilização do extrator hidráulico de características mecânicas do objeto. Para a
amostras. Caso os corpos de prova estivessem realização dos ensaios mecânicos (Módulo de
dentro das especificações de projeto (altura e Resiliência e Resistência à Tração), os corpos
diâmetro adequados), o CP’s eram liberados de prova foram mantidos em um compartimento
para realização dos ensaios mecânicos. com a temperatura controlada de
aproximadamente 25°C, por um período
mínimo de 4 horas, até chegar a temperatura
desejada para o ensaio e para a realização do
ensaio mecânico (Estabilidade e Fluência
Marshall), os corpos de prova foram mantidos
em um compartimento de “banho maria” com a
temperatura controlada de aproximadamente
60°C, por um período mínimo de 3 horas, até
chegar a temperatura desejada para o ensaio.
Para a realização dos ensaios foram previstos a
moldagem de 150 corpos de prova por tentativa
e erro, com o objetivo de avaliar a influência do
Figura 2.1 – Confecção manual das misturas asfálticas teor de ligante asfáltico e dos tipos de agregado
no desempenho mecânico das misturas. Foram
especificados seis tipos de teores de ligantes
diferentes incluindo o teor de projeto (TP) para
cada resíduo utilizado no experimento, variando
de 4,5% à 6,5%. A Figura 3.1 mostra
parcialmente uma certa quantidade dos CP’s.
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dá através de frisos metálicos de 12,7 mm de


largura com curvatura apropriada ao corpo de
prova cilíndrico. A norma não considera a
influência destes frisos no cálculo da RT, a
expressão usada pela DNER, assume-se
comportamento unicamente elástico durante o
ensaio e a ruptura do corpo de prova ao longo
Figura 3.1 – Os CP’s moldados para a realização dos do diâmetro solicitado sendo devida apenas às
ensaios de caracterização mecânicas tensões de tração gerados. O friso é solicitado
diametralmente por cargas uniformemente
3.1 Módulo de Resiliência concentradas de compressão diametral, que em
seguida gera uma tensão de tração uniforme por
O ensaio para determinação do módulo de unidade de espessura perpendicularmente ao
resiliência (MR) em misturas asfálticas foi diâmetro solicitado, como mostrado na Figura
padronizado no Brasil pela DNER-ME 133/94 3.3. O cálculo da RT para as misturas asfálticas
(DNER, 1994). Este ensaio é realizado admite que o corpo de prova rompe devido à
aplicando-se cargas repetidamente no plano tensão de tração uniforme gerada ao longo do
diametral vertical de um corpo de prova de diâmetro solicitado que se iguala à tensão
forma cilíndrico regular, conforme mostrado na máxima admissível do material, o CP
Figura 3.2. A carga gera uma tensão de tração permanece em regime elástico durante os
transversalmente ao plano de aplicação. Mede- primeiros segundos do ensaio até a ruptura, que
se então o deslocamento diametral recuperável por sua vez fica em regime plástica.
na direção horizontal correspondente à tensão
gerada, e a capacidade de suportar grandes
cargas dentro da zona elástica, a uma
temperatura média de 25°C. Os corpos de prova
cilíndricos são de aproximadamente 10 cm de
diâmetro e 6,35 cm de altura (Figura 3.2)
moldados no compactador Marshall.

Figura 3.3 – Ensaio de resistência à tração por


compressão diametral sendo realizado no Laboratório de
Ferrovias e Asfalto

3.3 Estabilidade e Fluência Marshal

De acordo com Silva (2017), a Estabilidade


Figura 3.2 – Detalhe do corpo de prova durante a
Marshall é definida como a resistência máxima
realização do ensaio de módulo de resiliência (MR)
a compressão radial, apresentada pelo corpo de
prova, quando moldado e ensaiado de acordo
3.2 Resistência à Tração com a metodologia citada abaixo. A indicação
desta força máxima normalmente é dada em
O ensaio de resistência à compressão diametral Newton (N). O valor da fluência Marshall é
em misturas asfálticas com a sigla (RT) foi obtido simultaneamente ao da estabilidade. Este
padronizado no Brasil segundo a metodologia parâmetro é definido como sendo a deformação
DNIT ME 136/2010, a aplicação das forças se total apresentada pelo corpo de prova, desde a
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aplicação da carga inicial nula até a aplicação experimentos, foi constatado que os maiores
da carga máxima, expressa em décimos de valores de densidade aparente das misturas
milímetros. Os procedimentos adotados para a foram encontrados para um teor de ligante igual
realização deste ensaio foram baseados na a 6,0%, exceto para a mistura RPS, cujo valor
norma DNER ME 043/95. A Figura 3.4 abaixo da densidade aparente máxima se refere à
mostra como é feito o ensaio. mistura com 5,5% de teor de ligante.

4.2 Determinação e Avaliação dos Teores de


Projeto

De acordo com os parâmetros volumétricos, foi


possível determinar o teor de ligante de projeto
para cada mistura. A mistura RMF apresentou-
se TP igual a 6,0%, enquanto que a mistura
RPS obteve TP igual a 6,5 % e
consequentemente a mistura MCG apresentou
TP igual a 5,0%. Os valores médios dos
Figura 3.4 – Ensaio de estabilidade e fluência Marshall parâmetros volumétricos das misturas asfálticas
sendo realizado no Laboratório de Ferrovias e Asfalto dosadas com seus respectivos teores de projeto,
estão apresentados de acordo com a Tabela 4.1
abaixo.
4 RESULTADOS
Tabela 4.1 – Resultado dos parâmetros volumétricos das
No decorrer desta etapa teve vários testes das misturas asfálticas no teor de projeto
misturas granulométricas, combinando assim a Teor
VA
granulometria de cada componente (brita 0, pó de Vv VCB RBV
Mistura DMT Da M
Projeto (%) (%) (%)
de pedra e resíduo de minério de ferro e de (%)
(%)
pedra sabão) de modo a se obter a RMF 6,0 2,5 2,44 4,12 14,51 18,63 77,90
granulometria que enquadrasse na faixa C do
DNIT. A curva granulométrica constituída, em RPS 6,5 2,5 2,39 5,12 15,43 20,55 75,08
cada peneira, foi obtida pelo somatório dos MCG 5,0 2,5 2,38 3,50 11,79 15,46 76,29
produtos das percentagens passantes em cada
peneira pelas percentagens de contribuição de
cada material, na mistura. Esta metodologia foi De acordo com os valores obtidos nos
adotada com intuito de determinar uma parâmetros volumétricos das misturas asfáltica
combinação definitiva dos agregados bem para os teores de projetos encontrados, foi
elaborada para que as misturas alternativas possível realizar uma avaliação comparativa
possuam as características bem próximas das entre a mistura padrão (MCG) e as misturas
convencionais. Para cada uma das misturas alternativas (RMF e RPS), indicando a
contendo tanto resíduo de minério de ferro substituição parcial do agregado gnáissico por
quanto resíduo de pedra sabão, a composição resíduos de minério de ferro e de pedra sabão
granulométrica foi elaborada de forma a aumentando o consumo de ligante asfáltico um
aproveitar o máximo de resíduo em sua pouco, ou seja, ouve só uma pequena alteração
composição. da quantidade do ligante para a substituição
parcial do agregado convencional na mistura
4.1 Resultados dos Parâmetros Volumétricos (MCG) para misturas alternativas usando-se
resíduos (RMF e RPS). Em todos resíduos
Com base nos resultados obtidos dos usados (RMF e RPS) houve aumento do ligante
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nos TP comparando-o com agregado MCG 6431 3121


convencional (MCG).
Tabela 5.3 – Resultados médios da estabilidade (E) e
fluência (F) Marshall
5 CONCLUSÃO Estabilidade Fluência
Mistura
(N) (0,1mm)
De acordo com todos os resultados de RMF 12813 6
caracterização e o desempenho mecânico das RPS 10040 7
misturas alternativas, elaboradas com resíduos MCG 15276 4,1
de minério de ferro e de pedra sabão, foram
comparados com os resultados obtidos para a
mistura convencional. Todas as misturas foram Com base nos resultados obtidos dos
elaboradas com o mesmo tipo de ligante, experimentos, foi possível verificar que a
mesmo procedimento de compactação dos substituição parcial do agregado convencional
corpos de prova. As variáveis a serem pelos resíduos de minério de ferro e de pedra
analisadas são referentes principalmente ao tipo sabão aumentaram significativamente os
de agregado utilizado e o teor de ligante, que valores de DMT e de densidade aparente das
apresentam algumas variações um pouco misturas asfálticas. Este acréscimo é devido aos
elevado entre si, mas dentro dos limites da faixa elevados valores de densidade real dos resíduos
C especificados pelo DNIT. Devido a uma de minério de ferro, pelo fato de possuírem em
meticulosa investigação sobre as misturas sua composição o elemento ferro. A alteração
asfálticas densas, segundo GOUVEIA (2006) no teor de ligante não gerou variação expressiva
apud, Silva (2017), foi possível afirmar que, ao nos valores de módulo de resiliência das
tentar relacionar as propriedades dos agregados misturas. Foi possível verificar que a variação
com o desempenho das misturas asfálticas não é de temperatura é um fator muito relevante e que
uma tarefa tão fácil, tendo em vista que uma atua de forma acentuada no valor do módulo de
única propriedade desse material pode resiliência, uma vez que altera a viscosidade do
influenciar propriedades fundamentais das ligante asfáltico. As inclusões dos resíduos de
misturas, culminando em alterações complexas mineração não provocaram variações
do todo. As Tabelas 5.1, 5.2 e 5.3 apresentam significativas na rigidez, se comparadas com a
valores de RT, MR e Estabilidade e Fluência mistura convencional. Estes resíduos por sua
Marshall para teores de projetos vez apresentaram maiores valores do modulo de
respectivamnete. resiliência. Para o ensaio de RT as misturas
com resíduos de mineração apresentaram
Tabela 5.1 – Valores médios de RT das misturas no teor resistência à tração superior que a de mistura
de projeto
convencional. Verificou-se que o aumento do
Misturas RT (MPa)
teor de CAP 50/70 levou a uma pequena
RMF 1,45 diminuição na resistência à tração para todas as
RPS 1,21 misturas (tanto convencional e quanto aos com
resíduos). O maior valor de RT obtido nas
MCG 1,46 misturas foi de RMF, referente ao teor de 5,0%
de ligante asfáltico.
Figura 5.2 – Comparação dos resultados de MR para as Todos corpos de prova analisados nesta
misturas no teor de projeto
pesquisa apresentaram desempenho mecânico
MISTURA MR (MPa)
satisfatório, podendo afirmar que os
S 25°C 30°C
revestimentos alternativos contendo resíduos de
RMF 6867 5759 minério de ferro e de pedra sabão tiveram bom
RPS 8910 5660 comportamento quando submetidos aos
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mesmos aos ensaios mecânicos em comparação Determinação da Massa Específica Real. Rio de
aos agregados convencionais. Vale ressaltar Janeiro, 1994.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
também que se os materiais granulares dos ME 086: Agregado – Determinação do índice de
agregados convencionais utilizados na obra Forma. Rio de Janeiro, 1994.
tiveram características de rigidez semelhantes Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
aos adotados nesta pesquisa, os resultados ME 089: Agregados – Avaliação da Durabilidade
obtidos sugerem que o pavimento proposto pela pelo Emprego de Soluções de Sulfato de Sódio ou de
Magnésio. Rio de Janeiro, 1994.
empresa poderia ser executado, adotando os Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
revestimentos alternativos (RMF e RPS), o que ME 133: Misturas Betuminosas - Determinação do
ocasionaria a uma economia de material módulo de resiliência. Rio de Janeiro, 1994.
granular convencional e redução nos custos de Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
implantação do pavimento, porque resultados ME 399: Agregados – Determinação da Perda ao
Choque no Aparelho Treton. Rio de Janeiro, 1999.
predizem um bom desempenho mecânico das Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
estruturas alternativas. DNIT ES 031: Pavimentos flexíveis – Concreto
asfáltico – Especificação de serviço. Rio de Janeiro,
2006.
AGRADECIMENTOS Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
DNIT ME 135: Pavimentação asfáltica - Misturas
asfálticas - Determinação do módulo de resiliência –
Agradeço à todos os intengrantes do Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2010.
LFA/UFOP (professores, tecnicos e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
bolsistas/voluntários) pelo apoio incondicional, DNIT ME 136: Pavimentação asfáltica - Misturas
para a realização deste projeto. asfálticas - Determinação da
resistência à tração por compressão diametral –
Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2010.
Norma Brasileira. NBR 7181: Agregados – Análise
REFERÊNCIAS Granulométrica. Rio de Janeiro, 1984.
Silva, R. G. O. Caracterização de concreto asfáltico
American Society For Testing And Materials. Astm D elaborado com rejeitos de minério de ferro do
4791. Standard Test Methods For Flat Particles, Quadrilátero Ferrífero. Ouro Preto, 2017.
Elongated Particles, Or Flat And Elongated Particles SOARES, J.B. Curso em Tecnologia dos Pavimentos.
In Coarse Aggregate. Philadelphia, 1995. Lubnor/Petrobras, Fortaleza- CE, 2000.
Confederação Nacional Do Transporte. Pesquisa Cnt De
Rodovias 2017: Relatório Gerencial. Brasília, 2017.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 035: Agregados – Determinação da Abrasão Los
Angeles. Rio de Janeiro, 1998.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 043: Misturas Betuminosas a Quente - Ensaio
Marshall. Rio de Janeiro, 1995.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 054: Equivalente de Areia. Rio de Janeiro, 1997.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 078: Agregado Graúdo – Adesividade a Ligante
Betuminoso. Rio de Janeiro, 1994.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 081: Agregados – Determinação da Absorção e
da Densidade de Agregado Graúdo. Rio de Janeiro,
1998.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 084: Agregado Miúdo – Determinação de
Densidade Real. Rio De Janeiro, 1995.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER
ME 085: Material Finamente Pulverizado –
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Modelagem física centrífuga da simulação de tráfego em uma


camada de RCD.
Juliana Azoia Lukiantchuki
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, jazoia@yahoo.com.br

José Renato Moreira da Silva de Oliveira


Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, jrmso70@gmail.com

Juliana Pessin
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), São Carlos, Brasil, pessinjuliana@gmail.com

Márcio de Souza Soares de Almeida


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, marciossal@gmail.com

Marcio Henrique Sena


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, eng.marciosena@gmail.com

RESUMO: O presente artigo apresenta os resultados de ensaios convencionais de laboratório


realizados na Universidade Estadual de Maringá (UEM), bem como ensaios de modelagem física
conduzidos na centrífuga geotécnica de braço do Laboratório de Geotecnia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo principal dos ensaios foi avaliar a redistribuição de tensões
que ocorre em uma camada de base feita integralmente de resíduos de construção e demolição
(RCD). A idéia principal foi promover a passagem cíclica de uma roda com carga equivalente a um
eixo padrão rodoviário sob a camada de RCD. Para a aplicação dos carregamentos escolhidos no
eixo, foi adotado em sistema de carga controlada desenvolvido na UFRJ. Para a leitura das tensões
totais na camada, foi utilizada uma mini-célula de tensão total posicionada no fundo da camada logo
abaixo da posição central do eixo rodante. Como forma de variar a distância entre a superfície e a
célula de carga, foram adotadas duas espessuras diferentes de camada de RCD, correspondentes, em
escala de protótipo, a 0,75 m e 1,50 m. Como resultado foram obtidas as curvas de distribuição de
pressão no sentido longitudinal e também em profundidade. Essas tensões foram comparadas com
metodologias analíticas clássicas existentes na literatura, mostrando grande similaridade.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo de Construção e Demolição, Modelagem Centrífuga,


Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO RCD em aterros sanitários aumentou a


necessidade pela busca de reciclagem e
Nas últimas décadas os resíduos de construção e alternativas para o emprego desses resíduos.
demolição (RCD) tem sido gerado em grandes No que se refere à pavimentação, o uso deste
quantidades nas médias e grandes cidades em material, em quantidade significativa, pode
todo mundo. Assim, visando o progresso da resultar na economia de materais naturais e na
questão da sustentabilidade a utilização desses economia de energia (Gidely and Sack,
resíduos vem sendo amplamente incentivada 1984). Alguns pesquisadores destacam que tais
(Dhir et al., 2004). Além disso a escassez de resíduos quando utilizados geram poeira,
recursos naturais e o custo da disposição dos susceptibilidade a erosão e contaminação,
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podendo em alguns casos apresentar severos 2.1 Resíduo de Construção e Demolição


riscos ( Gidely and Sack, 1984). Entretanto, (RCD)
avaliando as vantagens e desvantagens do
emprego de tais resíduos, observa-se que as O resíduo de construção e demolição (RCD) foi
questões ambientais promovem mais motivação coletado na Usina de Reciclagem Mauá,
do que obstáculos para a utilização dos RCD. localizada na cidade de Maringá, Paraná, Brasil
Considerando a importância deste assunto, (Figura 1). Os resíduos coletado são
muitos pesquisadores têm investigado o provenientes de concretos, argamassa e
comportamentos dos RCD para aplicações solo. Tais resíduos são devidamente triturados
geotécnicas ( Santos et al., 2013; Leite et al., na Usina de Reciclagem e portanto apresentam
2011; Herrador et al., 2012; Arulrajah et al., grãos dentro da faixa granulométrica
2013; Mohammadinia et al., 2015) usualmente encontrada em solos.
especialmente voltadas para pavimentos. O
emprego dos RCD como agregado graúdo em
base de pavimentos tem sido fortemente
recomendado devido a sua alta resistência e o
comportamento não-expansivo. Leite et al.
(2011) conduziram um estudo para avaliar a
adequabilidade do RCD para aplicação em
pavimentos. Os resultados indicaram que o
processo de compactação causa a quebra parcial
dos grãos dos RCD. Esse processo promove a
melhor densificação da amostra e
consequentemente contribui com a capacidade
de carga, módulo de resiliência e a resistência à
deformação permanente. Herrador et al. (2012), Figura 1. Usina de Rciclagem Mauá (Maringá, Paraná,
avaliaram a performance dos RCD, em camadas Brasil).
de base e/ou subbase, através de ensaios de
campo. A avaliação foi realizada em uma seção Nesta pesquisa foram coletados dois tipos de
de uma rodovia submetida as condições de resíduos, denominados de RCD1 e RCD2. Os
tráfego real. As medidas de campo indicaram resíduos foram caracterizados de acordo com as
que o comportamento do agregado reciclado é normas da ABNT propostas para a
significativamente melhor do que o do agregado caracterização dos solos. A análise
natural. granulométrica indicou que os dois materais
O principal objetivo deste trabalho é avaliar apresentam comportamento granulométrico
o comportamento da camada de RCD submetida bastante similar. O RCD1 apresentou que as
a carregamentos cíclicos através da frações argila, silte e areia são 4%, 14% e 82%,
movimentação de um sistema de eixo respectivamente. Para o RCD2 os resultados
projetado. Os ensaios foram conduzidos através indicaram que as frações de argila, silte e areia
da construção de um modelo físico submetido a são 2%, 8% e 90%, respectivamente. Os valores
uma aceleração inercial. Para isso, a tensão total de massa específica dos sólidos foram
na base da camada assim como a deformação 2,79 g/cm3 para o RCD1 e 2,83 g/cm3 para o
permanente foram medidas e os resultados RCD2.
foram comparados com os resultados dos A Figura 2 apresenta as curvas de
ensaios convencionais de laboratório. compactação dos resíduos analisados e a Tabela
1 apresenta os parâmetros de compactação para
2 MATERIAIS E MÉTODOS cada um dos resíduos analisados.
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acréscimos de tensão vertical total no fundo da


camada. A cada ensaio eram variadas as
magnitudes das cargas verticais aplicadas, assim
como as espessuras das camadas de RCD.

Figura 2. Curvas de compactação dos resíduos.

Tabela 1. Parâmetros de compactação.


Parâmetro RCD1 RCD2
dmax (kN/m3) 15,88 14,58 Figura 3. Mini centrífuga de braço (UFRJ-COPPE).

wop. (%) 19,50 20,60


Os ensaios foram realizados com uma
aceleração inercial (N) de
2.2 Modelagem física 30 g. Proporcionalmente, em escala, as
dimensões do eixo de ensaio foram de 35 mm
A mini centrífuga geotécnica de braço da de diâmetro e 8 mm de espessura, em
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) contrapartida às medidas do protótipo de eixo
é um equipamento capaz de trabalhar sob alta rodoviário simples de 1,05 m de diâmetro e
aceleração, até cerca de 300 vezes a aceleração 0,24 m de espessura, ou seja, o modelo físico
inercial, submetendo modelos geotécnicos de possui uma redução de escala proporcional à
pequena escala a condições reais de acordo com aceleração aplicada na centrífuga, 30
regras dimensionais definidas. A centrífuga de vezes. Esse fator de escala de 30 foi escolhido
braço que pode atingir velocidade angular de até como adequado para simular o problema, uma
638 rpm, possui dimensão de 1,60 metros de vez que o tamanho da roda do modelo, as
diâmetro e uma caixa, na qual são espessuras das camadas de RCD e as
confeccionados os modelos físicos, com magnitudes das cargas aplicadas tornaram-se
dimensões de 0,10 m de largura, 0,30 m de convenientes e dentro das capacidades técnicas
comprimento e 0,18 m de altura (Figura 3). dos equipamentos.
A ideia principal dos ensaios realizados foi As cargas aplicadas variaram entre 12 N e
submeter modelos de camadas de RCD a 35 N, que correspondem às forças de protótipo
carregamentos cíclicos constantes aplicados de 10,8 kN e 31,5 kN, respectivamente. A
verticalmente por meio de repetidos distância do trajeto da roda foi definida de
movimentos horizontais de uma roda, fazendo maneira a corresponder, aproximadamente, a
movimentos para frente e para trás a partir de duas vezes o seu diâmetro, cerca de
um determinado ponto central, no qual situava- 70 mm. Portanto, ao fim de cada ensaio, o
se, na parte inferior da caixa uma célula de deslocamento horizontal total da roda
carga de tensão total que registrava os compreendeu 25 ciclos completos, realizados
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por um atuador bidirecional, sendo que em cada 35 mm/30 = 1,2 mm, ou seja, como o material
ciclo ocorriam duas passadas sobre a célula de utilizado é a fração passante na peneira de
carga de tensão total, a uma velocidade de abertura 0,42 mm considera-se que não existe
1mm/s. nenhum problema associado ao efeito de escala.
Para o preparo das camadas de RCD, devido
a limitações práticas de reproduzir no modelo
físico a mesma energia usada no ensaio de
compactação, o controle de compactação das
camadas foi realizado buscando manter o grau
de compactação igual ou superior a 95%. O
grau de compactação foi controlado através dos
parâmetros da curva de compactação do RCD,
obtidos em laboratório por meio da curva de
compactação. Dessa forma, buscou-se
reproduzir as mesmas condições do ensaio de
compactação no ensaio centrífugo.
A Tabela 2 refere-se ao programa de ensaios
realizados na centrífuga, com espessuras de Figura 4. Caixa centrífuga para a montagem do modelo
camadas de 25 mm e 50 mm, entre amostras físico.
RCD1 e RCD2, e valores de cargas verticais
aplicadas variando entre 12 N e 35 N.

Tabela 2. Programa de ensaios centrífugos realizados na


UFRJ.
Espessura de Carga
Ensaio Amostra
camada aplicada
1 RCD1 25 mm 25 N
2 RCD1 25 mm 12 N Figura 5. Sistema de eixo projetado.
3 RCD1 50 mm 26 N
3 RESULTADOS
4 RCD2 50 mm 28 N
5 RCD2 25 mm 12 N 3.1 Ensaios de resistência
6 RCD1 50 mm 12 N
7 RCD2 50 mm 35 N A resistência à compressão simples (RCS) das
amostras de resíduos foi avaliada através dos
A Figura 4 apresenta a caixa centrifuga para ensaios de compressão uniaxial realizados em
a montagem do modelo físico, considerando a três corpos de prova para cada um dos resíduos
roda projetada, para a simulação do tráfego, e o (RCD1, e RCD2). Os corpos de prova
posicionamento da célula de tensão total. A apresentaram grau de compactação não inferior
Figura 5 apresenta o sistema de eixo projetado. a 95%. A RCS, para cada amostra, foi
Ovesen (1979) mostrou que dimensões representada pelo valor médio. A Figura 6
estruturais da ordem de 30 vezes o tamanho das apresenta as curvas de tensão versus
partículas de solo envolvidas na análise são deformação para as duas amostras. Os
suficientes para evitar problemas de efeito de resultados indicaram que o RCD1 apresentou
escala. Considerando o diâmetro do eixo como resistência média de 55 kPa enquanto que o
dimensão estrutural padrão, tem-se que os grãos RCD2 apresentou 21 kPa.
do RCD devem ter dimensões menores do que
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3.2 Ensaio de deformação permanente

Foram realizados dois ensaios de deformação


permanente na amostra RCD1 utilizando uma
prensa triaxial cíclica. A tensão confinante
utilizada foi de 120 kPa e as tensões
desviatórias foram de 120 kPa e
360 kPa. Foram aplicados 17500 golpes, com
taxa de aquisição de 2 Hz, ocasionando
deformação específica máxima de 0,72% para a
tensão de 120 kPa e 3,09% para a tensão de
360 kPa. A Figura 8 apresenta os resultados
para os primeiros 1000 golpes aplicados.

Figura 6. Resistência à compressão simples.


Figura 8. Deformação permamente específica para a
amostra RCD1.
A resistência ao cisalhamento foi avaliada
através dos ensaios de cisalhamento direto, 3.3 Ensaios centrífugos
utilizando-se 25, 50, 100, 200 e 400 kPa de
tensão normal. A Figura 7 apresenta a A variação da tensão total () na base da
comparação da envoltória de resistência para as camada de RCD foi dividida pela tensão
amostras de RCD. Os resultados indicaram que vertical aplicada (F) para adimensionalizar os
não existe diferenças significativas entre o resultados. A tensão vertical aplicada foi
ângulo de atrito ( 42,3º e 43,6º) e o intercepto calculada dividindo a força aplicada (F) pela
coesivo (39,5 and 45,5 kPa). área média de contato entre a roda e a camada
de resíduo, conforme apresentado na Equação 1,
proposta por Puttock e Thwaite (1969) e
Equação 2 (A= 60 mm2):

(1)

(2)

onde: ; f é a altura e C é o
Figura 7. Envoltória de resistência. comprimento da circunferência do cilindro que
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encontra-se em contato com a base; F é a força próximos entre sí, para as duas espessuras
vertical; L e D são a largura e o diâmetro da analisadas.
roda, respecivamente;  é o coeficiente de A Figura 9 também mostra que a parcela de
Poisson e E é o módulo de elasticidade. tensão que atinge a base da camada, quando se
O módulo de elasticidade adotado para a utilizou a espessura de 25 mm, no momento que
roda de acrílico foi 3,217 MPa. Em relação aos a roda encontra-se acima da célula de tensão
resíduos, através de uma solução aproximada, total, foi cerca de 3,4% para o primeiro ciclo e
adotou-se o módulo secante igual a 6 MPa e 5,5% para o último ciclo. Este aumento na
17 MPa para o RCD1 e RCD2, tensão adimensionalizada é esperado e
respectivamente. Os valores foram estimados de provavelmente associado com a compactação
acordo com o comportamento mecânico de cada devido ao contínuo movimento da roda.
um dos materiais e considerando as diferentes O mesmo comportamento ocorreu para a
proporções dos materiais constituintes. O camada de 50 mm, com valores de parcela de
coeficiente de Poisson adotado para a roda de tensão de 0,7% para o primeiro ciclo e 1,0% no
acrílico foi 0,42 e para os resíduos foi 0,35. As último ciclo. O decréscimo nos valores de
forças aplicadas durante os ensaios, conforme tensão adimensionalizada é esperado com o
apresentado na Tabela 2, foram de 12 N a 35 N, aumento da espessura da camada. Utilizou-se
correspondendo 217 kPa a 626 kPa, duas linhas de tendência logaritmicas, para as
respectivamente. camadas de 25 mm e 50 mm, para generalizar o
A tensão adimensionalizada corresponde a comportamento apresentado pelos dados
parcela da tensão aplicada pela roda, na experimentais.
superfície da camada, que efetivamente é A variação de tensão total na base da camada
transferida para a base da camada. A Figura 9 de resíduo () foi dividida pelo valor máximo
apresenta a a variação da tensão da variação da tensão total (vmáx) para
adimensionalizada (/F), em porcentagem, normalizar os valores de tensão. A Figura 10
para as camadas com espessura de 25 mm e apresenta a variação dos valores normalizados,
50 mm. nas proximidades do ponto onde a força foi
aplicada, para a camada de 25 mm incluindo
todos os ciclos de carregamento. A distância
horizontal do ponto onde a carga foi aplicada
() também foi normalizada pelo diâmetro da
roda (D). Os resultados indicam que não
existem diferenças significativas entre os
resíduos analisados e nem entre as cargas
aplicadas.

Figura 9. Variação da relação /F com os ciclos de


carregamento para as camadas com espessura de 25 mm e
50 mm e com diferentes valores de força aplicada na
superfície.

Considerando os valores de força aplicados,


12 N e 35 N, e o tipo de resíduo, observa-se que Figura 10. Distribuição de tensões normalizadas nas
os valores adimensionalizados foram muito proximidades do ponto de aplicação da carga para
camadas de 25 mm.
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comparados com a solução proposta por Ahlvin


A Figura 11 apresenta a variação dos valores e Ulery (1962) para obter a tensão vertical
normalizados, nas proximidades do ponto onde abaixo de uma área circular uniformemente
a força foi aplicada, para a camada de 50 mm carregada. Este solução é baseada na integração
incluindo todos os ciclos de carregamento. Os da solução de Boussinesq, que caracteriza-se
resultados também indicam que não ocorreram como uma solução clássica de carregamento
diferenças significativas entre os resíduos pontual. Os resultados indicam que os valores
analisados e nem entre os carregamentos encontradas quando se empregou a solução
aplicados. elástica são cerca de 2,5 vezes maior do que os
valores medidos.

Figura 11. Distribuição de tensões normalizadas nas


proximidades do ponto de aplicação da carga para
camadas de 50 mm.

Os pontos experimentais foram ajustados


através da solução analítica utilizando θ = 35° e
θ = 43° como ângulo de espraiamento de carga
em ambas as direções da superfície de contato
inicial entre o solo e a roda (Equação 3). O
primeiro ângulo corresponde ao melhor ajuste Figura 12. Variação da v/F com a profundidade para o
encontrado em relação aos dados experimentais primeiro ciclo.
e o segundo ângulo é o valor médio do ângulo
de atrito interno obtido do ensaio de 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
cisalhamento direto.
Este trabalho apresentou resultados de
(3) modelagem física centrífuga da simulação de
tráfego em uma camada de base e/ou subbase
onde: e utilizando resíduos de construção e demolição.
são as dimensões média da área carregada em Em relação a variação da tensão total na
uma profundidade específica (z) na escala do camada de RCD, os resultados experimentais
protótipo e  é o ângulo de espalhamento de comparados com a solução analítica
tensão em relação a vertical. Quando z = 0, simplificada, utilizando ângulo de espraiamento
a =a0 e b = b0, correspondendo as dimensões de de 35°, indicaram grande proximidade entre os
contato entre a roda e o solo. A Figura 12 valores. Entretanto, o valor adotado é menor do
mostra que os valores medidos são muito que o valor médio de 43° do ângulo de atrito
próximos da solução análitica quando θ = 35° e interno obtido através do ensaio de
ligeiramente superior quando θ = 43°. Os cisalhamento direto. A mesma análise, realizada
resultados experimentais também foram com este valor, indicou que os valores de tensão
são ligeiramente superiores aos valores
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medidos. Paper No. 25, Commonwealth Scientific and


Em relação a solução de Boussinesq baseada Industrial Research Organization, Australia.
Santos, E. C. G., Palmeira, E. M., Bathurst, R. J. (2013).
na solução elástica proposta por Ahlvin e Ulery Behavior of a geogrid reinforced wall built with
(1962) para um carregamento circular recycled construction and demolition waste backfill
uniformemente distribuído, os valores on a collapsible foundation. Geotextiles and
calculados foram cerca de 2 vezes superiores Geomembranes, 39, 9-19.
aos valores obtidos através dos ensaios
experimentais.

REFERÊNCIAS

Ahlvin, R. G.,Ulerv, H. H. (1962). Tabulated values for


determining the complete pattern of stresses, strains
and deflections beneath a uniform circular load on a
homogeneous half space. in Highway Research
Bulletin 342, Transportation Research Board,
National Research Council, Washington, D.C., 1-13.
Arulrajah, A., Piratheepan, J., Disfani, M. M., Bo, M. W.
(2013). Geotechnical and geoenvironmental properties
of recycled construction and demolition materials in
pavement subbase applications. Journal of Materials
in Civil Engineering, ASCE, 25 (8), 1077-1088.
Dhir, R. K.; Paine, K. A.; Dyer, T. D. (2004) Recycling
and reconstitution of construction and demolition
waste. PROCEEDINGS OF THE INTERNATIONAL
CONFERENCE ORGANISED BY THE
CONCRETE AND MASONARY RESEARCH
GROUP, Kingston University, London.
Gidley, J. S., Sack, W. A. (1984). Environmental aspects
of waste utilization in construction. Journal of
Environmental Engineering, ASCE, 110 (6).
Herrador, R., Pérez, P., Garach, L., Ordóñez, J. (2012)
Use of Recycled Construction and Demolition Waste
Aggregate for Road Course Surfacing. J. Transp.
Eng., ASCE, 138 (2), 182-190.
Leite, F. C., Motta, R. S., Vasconcelos, K. L., Bernucci,
L. (2011). Laboratory evaluation of recycled
construction and demolition waste for pavements.
Construction and Building Materials, 25, 2972-2979,
doi: 10.1016/j.conbuildmat.2010.11.105.
Mohammadinia, A., Arulrajah, A., Sanjayan, J., Disfani,
M. M., Bo, M. W., Darmawan, S. (2015). Laboratory
evaluation of the use of cement-treated construction
and demolition materials in pavement base and
subbase applications. Journal of Materials in Civil
Engineering., ASCE, 27 (6), doi:
10.1061/(ASCE)MT.1943-5533.0001148.
Ovesen, N. K. (1979) Contribution to discussion on the
use of physical models in desig, PROC. 7TH
EUROPEAN CONFERENCE ON SOIL
MECHANICS AND FOUNDATION
ENGINEERING, Brighton, 4, 319-323.
Puttock M. J. and Thwaite E. G. (1969) Elastic
compression of spheres and cylinders at point and line
contact. National Standards Laboratory Technical
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Modelagem física centrífuga de dutos submetidos a movimentos


de massa
José Renato M. S. Oliveira
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, jrmso70@gmail.com

Khader I. Rammah
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, khader.rammah@gmail.com

Pablo C. Trejo
Universidad Nacional de Ingeniería, Lima, Peru, ptrejon@uni.edu.pe

Márcio S. S. Almeida
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, marciossal@gmail.com

Maria C. F. Almeida
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mariacascao@poli.ufrj.br

RESUMO: O presente artigo apresenta os resultados de ensaios de modelagem física conduzidos


em centrífuga geotécnica com o objetivo de avaliar a influência de movimentos de massa no
comportamento de dutos enterrados em argila marinha. O movimento de massa foi gerado através
de uma placa vertical, previamente introduzida na argila que, ao se movimentar lateralmente,
empurra o solo contra o duto. A placa em questão foi instrumentada em sua base de modo que a
força exercida pelo atuador pudesse ser medida. Dois modelos de dutos instrumentados com
extensômetros foram utilizados: um duto preso às paredes laterais da caixa de ensaios por meio de
duas juntas rotatórias e outro duto solto das paredes laterais, mas suspenso por uma haste. Os
resultados encontrados sugerem que as forças transmitidas ao duto decrescem com o aumento do
seu grau de liberdade.

PALAVRAS-CHAVE: Modelagem física, centrífuga geotécnica, dutos enterrados, movimento de


massa, argila marinha.

1 INTRODUÇÃO nos dutos por esses movimentos de massa são


essenciais para o projeto dessas estruturas com
Dutos de petróleo e gás onshore e offshore são níveis de segurança adequados.
enterrados com o objetivo de prover Esse trabalho apresenta os resultados de
estabilidade, isolamento térmico e proteção ensaios de modelagem física realizados na
mecânica em relação ao ambiente marinho. Em centrífuga gotécnica de tambor do Laboratório
muitos casos, esses dutos podem ser submetidos de Geotecnia da Universidade Federal do Rio
a carregamentos externos provocados por de Janeiro, com o objetivo de investigar a
masssas de solo em movimento. Essas cargas influência de movimentos de massa no
podem provocar importantes deformações e comportamento de dutos enterrados em argila
eventualmente levar à ruptura. Esse é o caso de marinha. Para tanto, a influência dos
muitos dutos que atravessam áreas marinhas nas movimentos de massa foi avaliada através de
regiões sul e sudeste do Brasil. Portanto, ensaios com diferentes razões de enterramento
estimativas confiáveis das tensões induzidas (H/D), onde H é a espessura de solo acima da
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geratriz inferior do duto e D é o seu diâmetro. cisalhante G = 4,3 MPa.


Os modelos de dutos utilizados permitiram a A mini-centrífuga geotécnica de tambor do
leitura das tensões e deformações desenvolvidas Laboratório de Geotecnia da Universidade
tanto durante o adensamento da camada Federal do Rio de Janeiro tem diâmetro de 1,0
argilosa na qual o duto estava inserido, quanto m com capacidade máxima de 90 g.ton. Possui
ao longo dos movimentos de massa. Uma 16 canais de aquisição de dados e dois
comparação entre os resultados obtidos e atuadores: um linear e outro angular que
previsões analíticas foi realizada com o objetivo permitem deslocamentos em profundidade e ao
de entender o comportamento de dutos longo da caixa de amotras, que por sua vez tem
enterrados submetidos a movimentos de massa largura de 260 mm, altura de 210 mm e
e melhor avaliar as tensões desenvolvidas ao profundidade de 180 mm. Distanciômetros a
longo da linha de duto, fator esse considerado laser foram utilizados para medida dos
chave no desenvolvimento de projetos. recalques da camada de argila e transdutores de
Problemas associados à interação solo-duto poro-pressão para monitoramento da pressão
em argilas tem sido estudados por diversos neutra durante os ensaios.
autores (Bruton et al. 2008, Dingle et al. 2008, A metodologia adotada para construção da
White & Cheuk 2008). Alguns desses estudos camada de argila foi a de grumos (Chuek et al.
geraram diretrizes para balizar condições de 2007, Rammah et al. 2014). Nessa técnica,
projetos de dutos mais seguros e eficientes preenche-se o interior da caixa de amostras com
(ASCE 2005). O`Rourke (2005) descreve uma pedaços de argila extraídos da amostra original
série de ensaios em modelos de larga escala com uma colher de chá. Durante a
com o objetivo de avaliar tensões e centrifugação, os macrovazios colapsam
deformações advindas de condições de formando uma camada homogênea que em
carregamento associadas a terremotos, seguida é adensada.
escorregamentos de terra ou escavações. Sahdi
et al. (2014) investigou as forças de impacto de 3 CONCEITO DO ENSAIO
deslizamentos submarinos em dutos através de
ensaios centrífugos, onde a resistência ao O objetivo principal deste trabalho é avaliar as
movimento lateral de um duto em uma massa forças desenvolvidas em um duto enterrado
de solo foi medida para diferentes graus de durante o processo de movimentação de uma
adensamento e velocidades. massa de solo. Espera-se que o solo seja
submetido a um carregamento flexo-
2 MATERIAIS E MÉTODOS compressivo induzido pelas forças associadas
ao movimento do solo contra o duto. A Figura 1
O solo utilizado no presente estudo foi a argila apresenta um diagrama esquemático do
marinha do Campo de Exploração de Petróleo problema.
de Roncador, localizado na Bacia de Campos - Um modelo de duto foi projetado para
Brasil, e obtido através de amostradores tipo simular a estrutura real em termos da rigidez
Kullemberg. O limite de liquidez (wL) e o índice flexural, responsável pelo comportamento
de plasticidade (Ip) para o solo em questão tensão-deformação.
foram de 82% e 59%, respectivamente. Já os Normalmente, o carregamento provocado
valores obtidos para densidade real do grão, pelo deslocamento da massa de solo ocorre
peso específico aparente e coeficiente de apenas em um trecho da linha de duto, uma vez
adensamento foram de Gs = 2,61,  = 15,8 que somente uma porção do solo entra
kN/m3 e cv = 1,5 x 10-8 m2/s. Ensaios triaxiais efetivamente em movimento. As dimensões
em amostras indeformadas conduziram a associadas ao problema, tais como: diâmetro,
valores de ângulo de atrito interno ’= 24,8º , espessura de parede e comprimento do duto são
módulo de Young Eu = 12,9 MPa e módulo calculadas conforme descrito abaixo. Os
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calculos apresentados a seguir tem o único afastados do que os pontos de momento nulo
objetivo de encontrar as dimensões de modelo (juntas rotativas), separados por uma distância
para o duto que melhor representem as reais L’ e L, respectivamente.
dimensões de protótipo

Figura 2. Esquema estrutural adotado para o problema.

3.1 Modelo de duto 3D

O modelo de duto descrito na presente seção foi


denominado tridimensional (3D) por simular
nessas condições um trecho em protótipo.
Figura 1. Diagrama esquemático de um duto submetido a Dessa forma, um comprimento de duto foi
um movimento de massa. instalado dentro da caixa da centrífuga usando
duas juntas rotativas como pontos de fixação,
A força atuando no duto, considerando-se o conforme mostra a Figura 3.
regime elástico, é definida como:

Fpr = K pr   pr (1)

Onde Fpr, pr e Kpr são a força, o


deslocamento e a rigidez do duto. Os subscritos
pr e ml se referem a protótipo e modelo,
respectivamente. Aplicando-se os fatores de
escala para conversão de modelo para protótipo
tem-se:

Fml = K ml   ml (2)

Então, a relação entre a rigidez de protótipo


e de modelo terá que respeitar a relação a Figura 3. Duto 3D montado dentro da caixa de amostras.
seguir, onde N é o fator de escala.
Para o cálculo das dimensões do modelo de
K pr = N  K ml (3) duto foi adotado o caso de uma viga
simplesmente apoiada submetida a um
carregamento uniformemente distribuído.
A Figura 2 descreve o sistema estrutural Nessas condições, a rigidez pode ser expressa
adotado para o modelo de duto, considerando- pela equação:
se o comprimento de influência de L, que é a
distância entre dois pontos de momentos nulos 48  E  I
(juntas rotativas), cruzando a massa de solo em K pr  (4)
L3
movimento. Observa-se que os dois pontos
extremos de rotação nula (engastes) estão mais
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Onde E é o módulo de Young, I é o valores de extensometria, foi possível estimar


momento de inérca à flexão e L é o um carregamento distribuído no duto através da
comprimento do duto. A Tabela 1 resume os constante de calibração.
parâmetros de protótipo e de modelo.
3.2 Modelo de duto 2D
Tabela 1. Parâmetros do duto em protótipo e modelo.
Solo Protótipo Modelo O modelo de duto denominado bidimensional
Material Aço Alumínio (2D) representa, na realidade, a seção
Módulo de Young (E) 2,00x108 kPa 0,65x108 kPa
Comprimento (L) 9,0 m 180 mm transversal de uma linha de dutos. Assim sendo,
Diâmetro externo (D) 0,457 m 9,0 mm trata-se de um trecho de duto de mesmo
Espessura de parede (t) 12,7 mm 1,0 mm comprimento útil do duto 3D, porém suspenso
por uma haste central em vez de preso às
Adontando-se na Equação (3) os parâmetros laterais da caixa de amostras. Sua
apresentados na Tabela 1 tem-se: instrumentação foi posicionada na haste de
suporte para que, através do momento
K pr 5760 produzido pelos esforços atuantes no duto,
  50 (5) fossem medidas as forças horizontais. Um
K ml 115
célula de carga também posicionada na haste de
suporte fez as medidas das forças verticais. O
Cabe salientar que o modelo em tela simula a objetivo principal desse segundo arranjo foi
porção da linha de duto com comprimento L comparar os resultados dos dois modelos que
entre os dois pontos de momento nulo. O diferem essencialmente no grau de liberdade e
modelo estrutural de viga bi-apoiada submetida portanto nos deslocamentos associados aos
a carregamento uniformemente distribuído esforços produzidos pela massa de solo. A
adotado acima foi considerado o mais simples e Figura 4 apresenta uma vista interna da caixa de
representativo do problema real, embora esta amostras com o duto 2D instalado.
seja apenas uma simplificação.
Para obter a deformação máxima no duto e, 3.3 Placa geradora de movimento de massa
portanto, seu momento fletor máximo, uma
ponte de Wheatstone foi instalada na porção Uma placa móvel foi desenvolvida com o
central do duto com 4 extensômetros colados ao objetivo de gerar de maneira controlada o
corpo da peça defasados de 90º entre si. Essa movimento da massa do solo contra o duto.
configuração permitiu a leitura de esforços Para tanto, uma chapa de alumínio de 6 mm de
tanto na direção vertical quanto na horizontal. espessura com o mesmo comprimento dos dutos
Também cabe salientar a necessidade da foi atrelada aos atuadores da centrífuga de
estimativa do espectro de tensões esperadas e forma que ela pudesse ser cravada no solo até
portanto dos valores correspondentes de uma profundidade pré-estabelecida e
deformação aos quais o duto estaria submetido posteriormente movimentada lateralmente
na centrífuga de modo a selecionar os criando o deslocamento de uma massa de solo
extensômetros mais adequados. contra o duto posicionado à sua frente,
A calibração do duto foi feita aplicando-se conforme mostra a Figura 5.
um carregamento uniformemente distribuído ao
longo do seu comprimento, sendo o processo
repetido quatro vezes rotacionando-se o duto
em 90º entre cada medição. Dessa forma, uma
relação biunívoca entre as deformações nos
extensômetros e a carga distribuída aplicada foi
estabelecida. Assim, com base na leitura dos
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 Instalação do duto na caixa de amostras;


 Instalação dos transdutores de poro-
pressão para monitoramento da
dissipação da pressão neutra durante o
adensamento;
 Colocação dos grumos de argila na caixa
de amostras;
 Adensamento da camada de argila a 50g
por um período de 18 horas com
monitoramente de recalques e pressão
neutra. Esse período foi previamente
estabelecido como suficiente para
dissipação das poro-pressões;
Figura 4. Duto 2D montado dentro da caixa de amostras.  Instalação da placa móvel e cravação no
solo na profundidade pré-estabelecida;
 Início da movimentação da placa e
aquisição de dados;
 Realização de ensaio penetrométrico T-
bar para determinação do perfil de
resistência não-drenada (su);
 Parada da centrífuga e retirada de
testemunho de solo com mini-shelby
para determinação do pefil de umidade.
Um total de 14 ensaios foram realizados
incluindo todos as fases reportadas acima. A
Tabela 2 resume a programação de ensaios
onde os 7 primeiros correspondem ao duto 3D e
os 7 últimos ao duto 2D. A razão de
enterramento (H/D) variou de 100% a 244%,
Figura 5. Seção transversal esquemática dos ensaios. tendo os ensaios de enterramento 111% e
200%, para o duto 3D, e o de 100%, para o duto
Para que a força necessária pra gerar o 2D, sido duplicados para investigação da
movimento de massa fosse medida, um repetibilidade. Para determinação do perfil de
conjunto de extensômetros foi posicionado na resistência não-drenada um penetrômetro T-bar
haste de suporte da placa de forma a medir os de 5 mm de diâmetro foi utilizado nos 14
esforços. A posição de início de movimento da ensaios após o movimento de massa para enviar
placa foi fixada em 6D= 54 mm, onde D é o interferência com os resultados principais,
diâmetro dos dutos, e a posição final de 2D = embora ele tenha sido executado em uma
18 mm. Adicionalmente, a profundidade de porção intacta da amostra.
cravação da placa no solo foi fixada em uma
profundidade constante c abaixo da geratriz 5 RESULTADOS DOS ENSAIOS
inferior do duto.
5.1 Curvas força x deslocamento
4 PROGRAMAÇÃO DOS ENSAIOS
As curvas força x deslocamento em escala de
A preparação dos ensaios centrífugos seguiu a protótipo, tanto da placa móvel utilizada para
seguinte sequência: gerar o movimento de massa, quanto dos dutos
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instrumentados 3D e 2D, estão traçadas na


Figura 6 e Figura 7, respectivamente. Nessas Tabela 2. Programação de ensaios centrífugos.
curvas, o deslocamento da placa foi Ensaio H/D (%) Ensaio H/D (%)
normalizado pelo diâmetro do duto. As forças 3D-1 200 2D-1 200
3D-2 111 2D-2 111
desenvolvidas na placa são compostas 3D-3 177 2D-3 144
principalmente por uma parcela associada ao 3D-4 167 2D-4 211
empuxo passivo. Outra parcela devida ao atrito 3D-5 200 2D-5 100
lateral foi considerada desprezível face à 3D-6 111 2D-6 100
pequena espessura da placa. 3D-7 244 2D-7 139

Figura 6. Força na placa (a) e no duto (b) versus deslocamento normalizado da placa para os ensaios com duto 3D.

Figura 7. Força na placa (a) e no duto (b) versus deslocamento normalizado da placa para os ensaios com duto 2D.
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O gráfico de força na placa versus pelo solo.


deslocamento normalizado apresenta um
comportamento aproximadamente bi-linear: um 5.2 Força na placa x Força no duto
trecho inicial mais íngreme, associado à
mobilização da resistência não drenada ao A Figura 8 apresenta a força normalizada na
longo da superfície de ruptura, seguido por um placa contra a força normalizada nos dutos 3D e
segundo trecho mais suave, onde a massa de 2D. Bissetrizes foram traçadas como referência
solo é mantida continuamente em movimento. de valores iguais para as duas forças. Para
A força resultante no duto mostrou um normalização das forças ( F ) foi adotada a
comportamento de aumento praticamente linear, Equação (6).
indicando que provavelmente não atingiu uma
mobilização completa da resistência do solo. F
No entanto, este não era o objetivo do presente F (6)
su  D  L
trabalho, que visou a comparação das forças na
placa que gerou o movimento de massa, e as
conseqüentes forças no duto que foi solicitado

Figura 7. Força normalizada na placa versus força resultante no duto para os casos 3D (a) e 2D (b).

A força na placa pode ser interpretada como Onde sw é a máxima resistência não-drenada
o empuxo passivo gerado durante a sua mobilizada na interface duto-solo, adotada
movimentação. Dessa forma, juntamente com como 0,5su, Lp é o comprimento e h a
as forças normalizadas, a solução clássica de profundidade de enterramento da placa.
Rankine de limite superior para a componente A força normalizada no duto pode ser
normal da força passiva em uma estrutura de interpretada como o fator de capacidade de
arrimo para condições não-drenadas também foi carga de uma fundação de seção transversal
traçada como comparação teórica para o duto circular, conforme proposto por Barbosa-Cruz e
3D. Randolph (2005) e Oliveira et al. (2010). Dessa
forma, juntamente com as forças normalizadas,
1 / 2h 2  2 su h(1  s w / 2 su ) a Equação (8) proposta por Oliveira et al.
N' (7) (2010) também foi traçada como referência
su L p
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teórica. pipe. In: A.L. Alliance (Editor), American Society of


Civil Engineers, pp. 76.
Bruton, D.A.S., White, D.J. and Carr, M. (2008) Pipe-
N b  0,0053( H D ) 6  0,1102( H D ) 5  0,9079( H D ) 4  soil interaction during lateral buckling and pipeline
 3,7002( H D ) 3  7,2509( H D ) 2  3,9168( H D )  walking - The SAFEBUCK JIP. In: Proceedings of
 5,3519 (8) Offshore Technology Conference, pp. 1-20, Houston,
Texas, May 2008.
Cheuk, C.Y.; Take, A.W.; Bolton, M.D.; Oliveira,
No caso do duto 3D, a Equação (7) se J.R.M.S. (2007). Soil restraint on buckling oil and gas
posiciona abaixo dos pontos obtidos nos pipelines in lumpy clay fill. Engineering Structures, v.
ensaios, porém acima da linha bissetriz. No 29, p. 973-982. DOI:10.1016/j.engstruct.2006.06.027
caso dos dutos 2D, a Equação (8) também está Dingle, H.R.C., White, D.J. and Gaudin, C. (2008)
Mechanisms of Pipe Embedment and Lateral
abaixo dos pontos obtidos nos ensaios, porém Breakout on Soft Clay. Canadian Geotechnical
abaixo da linha bissetriz. Essa divergência na Journal, v. 45, pp. 636–652.
comparação com a Equação (8) pode estar Oliveira, J.R.M.S., Almeida, M.S.S., Almeida, M.C.F.,
associada com o fato dessa equação considerar and Borges, R.G. (2010). Physical Modeling of
uma condição ativa, enquanto ambos os casos Lateral Clay-Pipe Interaction. J. Geotech.
Geoenviron. Eng., 136(7), 950–956. DOI
se aproximam mais de uma condição passiva, 10.1061/(ASCE)GT.1943-5606.0000311
portanto com valores significativamente O'rourke, T.D. et al. (2005) Soil-Structure interaction
maiores. under extreme loading conditions. In: T.A.M.
University (Editor), The Thirteenth Spencer J.
6 CONCLUSÕES Buchanan Lecture. November 2005, USA, pp. 9-35.
Rammah, K.I, Oliveira, J.R.M.S, Almeida, M. C. F,
Almeida, M. S. S. & Borges, R. G. (2014). Centrifuge
O fato dos pontos ensaiados se encontrarem modelling of a buried pipeline below an embankment.
acima da linha bissetriz significa que as forças International Journal of Physical Modelling in
transmitidas ao duto são menores que as forças Geotechnics (IJPMG), 14(4), 116–127.
geradas na placa. Na realidade, a força no duto http://dx.doi.org/10.1680/ijpmg.14.0
Sahdi, F., Gaudin, C., White D.J., Boylan N., Randolph,
foi em média 55% da força lida na placa para o M.F. (2014). Centrifuge modelling of active slide-
duto 3D e 27% para o duto 2D. Esses valores pipeline loading in soft clay. Géotecnique, 64 (1), 16-
indicam que apenas uma parte do movimento de 27.http://dx.doi.org/10.1680/geot.12.P.191
massa realmente é absorvido para o duto. White, D.J. and Cheuk, C.Y. (2008) Modelling the Soil
Outra importante conclusão é que o duto Resistance on Seabed Pipelines During Large Cycles
of Lateral Movement. Marine Structures, v. 21, n. 1,
com maior restrição de movimento (duto 3D) pp. 59–79.
absorveu quase 2 vezes mais forças do que o
duto 2D, que possuia maior flexibilidade de
movimentação.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer ao


CENPES/PETROBRAS pelo suporte e apoio à
presente pesquisa.

REFERÊNCIAS

ASCE (2005) Guidelines for the design of buried steel


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Modelagem Física em Escala Reduzida de Radiers Estaqueados


com a Presença de Estacas Defeituosas
Ary Franck Baia Cordeiro
Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, ary@dinamiza.eng.br

Renato Pinto da Cunha


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br

Maurício Martines Sales


Universidade Federal de Goiás, Goiânia-Go, sales.mauricio@gmail.com

RESUMO: Para o presente trabalho são apresentados 5 provas de carga em escala reduzida com o
intuito de se avaliar o comportamento qualitativo de radiers estaqueados com a presença de estacas
danificadas (estacas mais curtas) para o grupo de 9 estacas em câmera de calibração metálica para se
obter a variação do da capacidade de carga, dos fatores de segurança (FS) e dos fatores de distribuição
de carga com a profundidade (𝛼𝑝𝑟). Alguns resultados paramétricos e adimensionais para os sistemas
estudados são apresentados, onde se nota que quanto mais externa é a posição da estaca danificada
no grupo maior é a influência deste dano no fator de segurança na condição de trabalho de grupos
intactos e também do fator de distribuição de carga (em um dado nível de recalque). O trabalho
contribui de forma significativa para o entendimento e a previsão qualitativa, adimensional, de
sistemas de fundação profunda quando estes tem uma estaca fisicamente afetada.

PALAVRAS-CHAVE: Modelo Reduzido, Estacas defeituosas, Patologia das Fundações.

1 INTRODUÇÃO vários problemas para o empreendimento e para


a sociedade como superestimar o dano e
Apesar dos avanços nas ferramentas numéricas, eventuais comportamentos pós-defeito
que influenciam diretamente na forma de se (distribuição de cargas, deslocamentos etc), o
calcular as fundações em radier estaqueado, que pode onerar o reforço ou subestimá-lo, sem
ainda não foram encontradas todas as respostas dúvida levando a um eventual risco na segurança
quando é apresentado um sistema em desacordo das pessoas.
com o projeto original, que podem advir de Este trabalho visa comparar o comportamento
condições geológicas inesperadas ou das de sistemas de fundação com as estacas íntegras
propriedades dos materiais envolvidos. e o sistema com uma estaca danificada, onde o
Diferentes comprimentos de estacas, alteração defeito ocorre no início do carregamento do
na geometria e das propriedades de materiais de bloco (caso de estaca com problema pré-
baixa qualidade são as formas mais frequentes de existente). A variação da eficiência do
estacas defeituosas. Não existe na prática atual comportamento carga-recalque será avaliada em
um procedimento que avalie a relação entre a função da posição da estaca danificada com a
magnitute, o estágio de carregamento (ou utilização da modelagem física a fim de abordar
solicitação da fundação) e o tipo de solução a se variáveis qualitativas ou adimensionais não
adotar e nem como este sistema se comportará identificadas quando analisadas exclusivamente
com ou sem a devida intervenção. A ausência nos modelos matemáticos.
destas informações, aliada à falta de estudos
técnicos mais aprofundados, podem acarretar
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2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Segundo Mandolini (2007), um projeto “ideal”


de fundação deve satisfazer as verificações de
Estado Limite Último, com coeficiente global
e/ou parcial de segurança, e ao estado limite de
serviço sob diversas solicitações.
Se um radier estaqueado é sujeito a uma carga Figura 1 – Sistemas de fundação (Adaptado de Bezerra,
estrutural vertical total QPR, de acordo com sua 2003).
rigidez, o radier distribui sua carga para solo por
meio das pressões de contato, com uma força
resultante QR, bem como para as n estacas de um 3 ESTACAS DEFEITUOSAS
grupo estaqueado, com uma força resultante
QPG. A Eq. [1] apresenta a formulação para a Os diferentes tipos de problemas e imperfeições
capacidade de carga do radier estaqueado sob em estacas resultam em comportamentos
carregamento vertical. inesperados quando considerado um problema
individual ou combinado entre as estacas de um
𝑛
radier estaqueado. Vários autores já relataram
𝑄𝑃𝑅 = 𝑄𝑅 + 𝑄𝑃𝐺 = 𝑄𝑅 + ∑ 𝑄𝑝𝑖𝑙𝑒,𝑖 (1) que as imperfeições podem ter impacto sobre o
𝑖=1 desempenho de uma fundação profunda podendo
surgir a partir de uma série de fatores, incluindo
Em que: os aspectos naturais e de construção, a
QPR: Capacidade de carga do radier estaqueado; investigação inadequada do solo, a
QR: Capacidade de carga do radier (bloco); inadequabilidade da prova de carga e eventuais
QPG: Capacidade de carga do grupo de estacas; carregamentos não previstos durante a operação
Qpile,i: Capacidade de carga da estaca isolada; em vida útil (Poulos, 1997; Cordeiro, 2007;
n: número de estacas. Cunha et al., 2010; Cunha et al., 2012; Freitas
Definidos os esforços das estacas do grupo Neto, 2013; Cunha et al., 2016;
estaqueado e da carga total recebida pelo radier Albuquerque et al., 2017;). O objetivo deste
estaqueado, pode-se então introduzir o artigo é o de alertar para tais aspectos,
coeficiente αPR definido através da Eq. [2]. divulgando resultados experimentais em
𝑛 condições controladas – embora limitadas. Os
∑𝑖=1 𝑄𝑝𝑖𝑙𝑒,𝑖 itens a seguir decorrem das análises ora
𝛼𝑃𝑅 = (2)
𝑄𝑃𝑅 efetuadas nesta direção.

Este coeficiente descreve a distribuição de


carga entre as estacas e o radier (Fig.1) Somente 4 MODELAGEM EXPERIMENTAL
a placa atuando no sistema, fundação superficial,
representa um coeficiente igual a zero (αPR = 0). Os ensaios foram realizados em uma escala
Para um grupo de estacas em que o radier não geométrica de modelo de 1/30 baseado nas
mantem contato com o solo, o coeficiente αPR é dimensões das fundações do trabalho de
igual a um (αPR = 1). Os coeficientes de Freitas Neto (2013) como protótipo. Deve-se
distribuição das fundações em radier estaqueado notar que os modelos selecionados para o
apresentam valores entre zero e um (0 < αPR < 1), presente trabalho não se destinavam a simular o
ou seja, toda fundação estaqueada age como um comportamento de um protótipo real de
radier estaqueado, exceto naqueles casos em que fundação específico em um local específico. O
não há contato entre o radier e o solo, por modelo físico apresentado nesta pesquisa tem
exemplo, estruturas offshore. como principal objetivo a obtenção de valores
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qualitativos do comportamento das fundações de granulometria de média a fina com D50 = 0,22.
apresentadas, de modo a contribuir para a As densidades médias obtidas por camada
compreensão do comportamento de tais após os ensaios, foram de 75,8% com desvio
fundações nas condições pré-estabelecidas. padrão médio de 2,8%, para as duas (02)
O sistema de ensaio desenvolvido neste camadas superiores, as quais possuem 20 cm de
estudo consiste numa placa metálica para reação, altura cada, e densidade média de 96,8% com
um cilindro hidráulico para aplicação de carga e desvio padrão médio de 1,2% para a camada
um tanque cilíndrico metálico de paredes rígidas mais inferior, que possui 10 cm de altura.
com 1150 mm de diâmetro interno e 600 mm de Maiores detalhes quanto a preparação do solo
altura para armazenamento do solo. A visão consultar Cordeiro (2017).
esquemática da montagem experimental é Para simular as estacas foram utilizados tubos
apresentada em maiores detalhes a seguir de alumínio com aproximadamente L = 215mm
(Fig.2). de comprimento, diâmetro interno de DINT =
9,24 mm, diâmetro externo com DEXT =
14,71mm e diâmetro da base DBASE = 16,0 mm
(tampa). A Tab.1 apresenta sumariamente os
parâmetros físicos e geométricos das estacas
íntegras.

Tabela 1. Geometria e propriedades mecânicas da estaca


íntegra.
Propriedades do Modelo Símbolo Estaca Íntegra
Comprimento Est. Íntegra LI 21,5x10-2 m
Diâmetro Externo DE 1,471 x10-2 m
Diâmetro Interno DI 0,924 x10-2 m
Módulo Elasticidade EP (MN/m²) 6,43x104 MPa
Figura 2 – Modelo esquemático do sistema de prova de Profundidade Relativa H/L 2,1
carga em modelo reduzido, 1g.

Para que as estacas fossem fixadas às placas


Para a preparação do solo, foi realizado o foram fabricadas roscas nas extremidades, no
lançamento por meio de baldes a uma altura de topo, para esse fim, e na base para bloquear a
50 cm, em média. Para a primeira camada de passagem de material para o interior da estaca
lançamento, a mais inferior, foram adicionados durante a cravação. Estas estacas foram
165 kg de areia resultando em uma espessura envolvidas de cola epóxi Araldite®, e em
final de 10 cm, às camadas seguintes possuíam seguida foram mergulhadas na mesma areia
cada uma 20 cm de altura com massa de 250 kg. utilizada nos ensaios para aumentar o atrito entre
Para o processo de compactação foi utilizada a estaca e solo. As placas utilizadas para a
uma placa de aço de massa de 40 kg e 60 cm de simulação do radier são maciças de alumínio
diâmetro sob três níveis de tensão: 10 kPa, (Fig. 3).
20 kPa e 30 kPa em quatro pontos distintos do
tanque de ensaio.
A areia utilizada foi ensaiada
granulometricamente por peneiramento e o
material foi caracterizado quanto ao seu
tamanho. Pela curva do ensaio determinou-se o
coeficiente de curvatura (CC = 1,08) e
uniformidade (CU = D60/D10) onde pode-se
confirmar de se tratar de um material uniforme
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Figura 3 – Estacas ensaiadas e tamanhos das placas


utilizadas.

Para o caso do grupo de 9 estacas foi utilizado


uma placa de alumínio quadrada de 105 x Figura 5 – Localização das estacas danificadas e
105 mm e 12,7 mm de altura. Além deste caso instrumentadas.
também foram estudados outros casos com 4 e
16 estacas e em maiores níveis de dano, caso Os ensaios foram realizados seguindo uma
extremo com 0%L da estaca. Maiores detalhes sequência de execução de tal forma que cada
são apresentados em Cordeiro (2017). ciclo tenha sido executado nas mesmas
condições de solo.
4.1 Método de instalação
4.3 Programa de ensaios e procedimentos
Após o final do lançamento e compactação da executivos
terceira camada de areia as fundações
estaqueadas foram prensadas e niveladas com o Os radiers estaqueados de nove (09) estacas
auxílio de um cilíndrico hidráulico de foram ensaiados com a variação do comprimento
carregamento. A Fig. 4 apresenta o método de de uma (01) estaca, em 50%L, denominada de
instalação das estacas em modelo reduzido. estaca curta (EC) em três (03) posições distintas
na placa: canto, borda e centro. A Tab. 2
apresenta as características dos casos analisados.

Tabela 2 – Casos analisados.


Característica Descrição
Tamanho do 9 Estacas
Grupo:
Posição do Dano: Íntegro (Sem dano), Canto, Borda
Figura 4 – Método de instalação das estacas.
e Centro
Nível de Dano: 50%L
4.2 Configuração dos Ensaios e
procedimentos
Os espaçamentos entre as estacas (S) e as
Para o radier estaqueado de 9 estacas que áreas efetivas (Ag/A) nos grupos ensaiados são
apresenta uma placa com 105 mm de lado (9P) e apresentados a seguir, onde D é o diâmetro da
apresenta 9 posições de estacas, onde as estacas estaca:
E1, E3, E7 e E9 representam a posição de canto. • Os casos de 9 estacas, o espaçamento
As estacas E2, E4, E6 e E8 a posição de borda e médio é de S=2,6D e Ag/A = 0,68;
as estacas E5 a posição de centro. Para o Os radiers analisados e as suas respectivas
exemplo mostrado, utilizou-se a estaca de nomenclaturas utilizadas são apresentadas a
número 6 (E6), que se apresenta na posição seguir (Fig.6).
central do grupo, com um comprimento 50%
menor que a estaca íntegra (50%L), denominada
de estaca curta (EC) (Fig. 5).
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centro
na presença de estacas danificadas (FS), foram
9P0E 9PIN
mantidas as Cargas Limite de Serviço (QLS-IN) e
borda utilizadas as novas Cargas Convencionadas para
canto os grupos com estacas defeituosas (QC-DANO),
Eq. [4].

𝑄𝐶−𝐷𝐴𝑁𝑂
𝐹𝑆 =
𝑄𝐿𝑆−𝐼𝑁𝑇𝐴𝐶𝑇𝑂 (4)

Em geral são discutidos os resultados


Figura 6 – Configurações analisadas. relacionados ao “novo” comportamento do
sistema quando possui estacas com dano. Assim
os resultados foram analisados quanto à
5 RESULTADOS E ANÁLISES resistência e segurança e quanto a rigidez e
deslocamentos. A seguir (Fig. 7) apresenta um
Os ensaios forneceram informações a exemplo esquemático da curva carga-recalque
respespeito da capacidade de carga, com a identificação das variáveis apresentadas
comportamento carga-recalque com a presença anteriormente.
de estacas danificadas, determinação dos
“novos” fatores de segurança (FS) com a
presença de estacas danificadas e dos fator de
distribuição de carga com a profundidade (αPR).
Para este trabalho adotou-se como critério para a
determinação da carga de ruptura
convencionada, proposta de Décourt (1993),
Décourt (1993/1995) e Décourt (1995), as quais
indicam que a carga de ruptura convencionada
para estacas de deslocamento e estacas
escavadas, deve ser equivalente ao recalque
correspondente a 10% do seu diâmetro nominal.
Neste trabalho como as estacas têm 1,47cm de
diâmetro, a carga de ruptura convencionada será Figura 7 - Gráfico Esquemático com identificação das
aquela equivalente ao recalque de 1,47mm. variáveis utilizadas.
As fundações em radier estaqueado que
apresentam todas as estacas íntegras foram 5.1 Resistência e Segurança
utilizadas como referência para a determinação
da carga máxima aplicada para em seguida se Neste item são apresentadas as curvas carga-
estimar a Carga Limite de Serviço (Q LS) das recalque (Fig.8) que auxiliam a determinação da
estacas intactas, referente a um “Fator de carga convencionada pelo recalque admitido de
Segurança” (FS) igual a dois (2,0), para fins de 10% do diâmetro da estaca. A partir daí, são
padronização e de acordo com a NBR calculados os fatores de segurança (Fig. 9) de
6122/2010, Eq. [3]. cada sistema (com base nos critérios de carga
limite convencionados), ou seja, a relação entre
𝑄𝐶 a carga convencionada do grupo em análise com
𝑄𝐿𝑆 = (3)
𝐹𝑆 dano pela carga de limite (50% carga limite
convencionada) do grupo intacto. A partir destes
Para a determinação dos Fatores de Segurança critérios estabelecidos foram obtidos os valores
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de carga de ruptura convencionados com Figura 9 – Variação do Fator de Segurança em função da


recalque de cada caso e os respectivos fatores de presença de uma estaca curta em posições distintas.
*IN: Grupo Intacto; 9E: Estaca Canto Curta; 6E: Estaca Borda Curta; 5E:
segurança (Tab. 3). Estaca Centro Curta.

Carga versus Recalque O comportamento do fator de distribuição de


carga em função do nível do incremento de
recalque para os casos estudados é apresentado
(Fig.10). Vale ressaltar que para a determinação
das cargas absorvidas pelas estacas foram
w = 1,47 (10%d)
determinadas as diferenças entre as cargas totais
aplicadas aos radiers estaqueados e as cargas
aplicadas aos radiers isolados. Com isso, as
placas com maiores números de estacas
apresentam maiores capacidades de carga, o que
Figura 8 - Comportamento carga recalque para o faz com que estes radiers tenham maior
radier sobre 9 estacas. participação no conjunto, mesmo sabendo que
para a avaliação do percentual de carga entre os
Os valores das cargas convencionadas obtidas elementos seja também influenciado pela rigidez
dessas curvas estão apresentados resumidamente das estacas, do radier, tamanho do radier, etc.
a seguir (Tab. 3). Desta forma, neste gráfico nota-se a tendência
dos grupos menores se aproximarem da unidade,
Tabela 3 - Valores de carga referentes ao critério de
recalque equivalente a 10% do diâmetro da estaca, 9PEC. obtendo assim, um comportamento mais
próximo de grupos estaqueados, onde o bloco
QC- Perda de FS (QC-
QC QL wC wL não está em contato com o solo e possui função
Caso DANO) / capacidade de DANO/QL-
(N) (N) (mm) (mm)
QC-IN Carga IN) apenas de transferência de carga. Já para os
Caso 21:
923,0 461,5 1,47 0,24 1,00 0% 2,00 grupos maiores percebe-se maior variação do
9PIN
Caso 23: fator de distribuição nos recalques iniciais, onde
817,0 408,5 1,47 0,41 0,89 11% 1,77
9P9EC as estacas absorvem a maior parte do
Caso 25:
9P6EC
840,9 420,4 1,47 0,35 0,91 9% 1,82 carregamento e paulatinamente as cargas são
Caso 27:
855,2 427,6 1,47 0,27 0,93 7% 1,85 transferidas para o radier a partir dos recalques
9P5EC
*9PIN: Grupo Intacto; 9P9EC: Estaca Canto Curta; 9P6EC: Estaca
da ordem de 0,5mm (3,4%DE), onde percebe-se
Borda Curta; 9P5EC: Estaca Centro Curta. a alteração da rigidez do sistema.
A Fig. 10 representa a variação do fator de
A Fig. 9 apresenta a variação do fator de distribuição de carga com o recalque do radier
segurança em função do incremento de carga estaqueado de 9 estacas com a presença de
para as três posições de dano. estacas danificas em 3 posições distintas, canto,
borda e centro.
Fator de Segurança versus Incremento de Carga
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Fator de Distribuição versus Posição do Dano das obras, além do já convencional controle na
etapa de projeto, pois, desta forma pode-se
antever a uma possibilidade de defeito nas
estacas. Pois, com recalques da ordem de 2,5%
do diâmetro nominal da estaca (2,5%DE), dentre
os casos estudados, além das estacas ainda
estarem sendo mobilizadas, o sistema de
fundações apresenta altos fatores de segurança,
podendo então ser realizada alguma interferência
para garantir a segurança do empreendimento e
das pessoas.
Figura 10 – Variação do 𝛼𝑝𝑟 com o recalque para o grupo
Além disso, sugere-se que para o
de 9 estacas com a presença de uma estaca curta em dimensionamento de fundações sejam realizadas
posições distintas. com base (além da capacidade de carga) nos
recalques em diferentes níveis de carregamento
ou mesmo das rigidezes, o que pode auxiliar no
6 CONSIDERAÇÕES GERAIS controle de alguma anomalia que ocorra nas
fundações.
De maneira geral pode-se observar que quanto Avaliou-se a magnitude e a posição de danos
maior o número de estacas do grupo, e estruturais de encurtamento de estacas, ou seja,
consequentemente, menor o número “relativo” danos que já se encontravam nos grupos desde
de estacas danificadas no grupo, o “novo” os carregamentos iniciais. Porém, o que se
comportamento do sistema tende a se aproximar sugere acima de tudo, é que em cada nova
do comportamento do grupo intacto em termos configuração dentro de um mesmo grupo sejam
de capacidade de carga. Para efeitos avaliadas por estágios de carregamento, não
comparativos foram utilizados os mesmos apenas para as cargas últimas e de trabalho,
critérios máximos de recalques (10%DE) com auxiliando desta forma a realização de
seus carregamentos correspondentes. Em retroanálises e, baseado nos recalques ou
Cordeiro (2017) o autor compara os resultados rigidezes, prever sua nova capacidade de carga e
qualitativos com um caso apresentado por propor assim um melhor momento e local para a
Freitas Neto (2013) e observa uma tendência de intervenção.
comportamento, mesmo para os baixos níveis de O ensaio em modelo 1g em areia se
tensão nos ensaios em escala reduzida. Não apresentou como uma boa alternativa para
pretende-se fazer uma extrapolação destes investigar o comportamento de fundações em
resultados, porém, estes servem para um auxiliar grupos de estacas com a presença de estacas
na compreensão do comportamento de radiers defeituosas.
estaqueados na presença de estacas defeituosas.

AGRADECIMENTOS
7 CONCLUSÕES
CNPq
Este trabalho buscou analisar qualitativamente o CAPES
comportamento de radier estaqueado com e sem UFPa/UnB/UFG
presença de estacas danificadas em escala Dinamiza Consultoria e Engenharia Ltda
reduzida com níveis de tensão 1g. Roads Consultoria e Engenharia Ltda
Conclui-se, mediante os resultados obtidos
experimentalmente em escala reduzida 1g, que é
de fundamental importância o controle do
comportamento carga-recalque desde o início
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REFERÊNCIAS

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Lacerda-Doutor no Saber e na Arte de Viver. Livro
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Modelagem Numérica de Estrutura de Contenção de Solo


Reforçado no Software Crisp92-C
Luisa Muniz Santos Sampaio
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, luisaa.sampaio@gmail.com

Amandio Gonçalves de Oliveira Filho


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, amgfilho12@yahoo.com.br

Elaine Cristina Furieri Schmitz


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, efurieri@yahoo.com.br

Bruno Teixeira Dantas


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, dantas.bd@gmail.com

RESUMO:
O objetivo do presente trabalho é apresentar a modelagem e análise de uma ECSR através do
Método dos Elementos Finitos no programa CRISP92-C e os resultados gerados por ele. O trabalho
visa analisar a influência da coesão e ângulo de atrito de solos arenoso e rigidez do reforço em uma
ECSR hipotética, além de obter os valores de trações máximas e o local onde esta ocorre no
reforço, além de inferir a deformação que o solo sofrerá, permitindo visualizar o comportamento
das tensões no solo, deformação da massa e tração ao longo de todos os níveis do reforço.
Analisando os resultados pode-se constatar que as trações em todos os níveis aumentam com a diminuição da
coesão e do ângulo de atrito do solo reforçado. Quando analisado a influencia da rigidez do reforço na
estabilidade da ECSR, conclui-se que com o aumento da rigidez as trações no reforço são maiores.

PALAVRAS-CHAVE: ECSR, Crisp92-C, Elementos finitos, Modelagem Computacional.

1 INTRODUÇÃO de acordo com ITURII (1996) é um programa


de elementos finitos para modelagem de
O melhoramento da estabilidade dos solos problemas geotécnicos estáticos, sob condições
através da utilização de elementos de armação de carga e descarga, será utilizado neste
para conter ou reforçar uma massa de solo presente trabalho. Neste programa é possível
recebe o nome de estrutura de contenção de analisar vários modelos de solos, reforço, tipo
solos reforçados (ECSR). As propriedades do de elemento para cada porção analisada da
solo, tipo do reforço usado, propriedades do ECSR como, aterro, fundação, reforço, face,
reforço, altura e declividade do talude de solo, etc. Além disso, além de obter os valores de
entre outros fatores, influenciam nos esforços trações máximas no reforço, o programa
atuantes na estrutura de contenção. A determina o local do reforço onde ela ocorre e a
modelagem de uma ECSR é uma forma eficaz deformação que o solo está sofrendo,
de determinar das propriedades ideais destes permitindo visualizar o comportamento das
elementos, a fim de obter os valores de tração tensões no solo, da deformação da massa e da
máxima sofrida pelo reforço. tração ao longo de todos os níveis do reforço.
A modelagem computacional de ECSR Com isso, tem-se que o objetivo do
ocorrerá através do programa CRISP92-C, que presente trabalho é apresentar a modelagem e
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análise de uma ECSR no programa CRISP92-C A proposta para a geometria da ECSR foi
e os resultados gerados por ele. Além disso, obtido através da pesquisa de dissertação de
será feita uma análise dos resultados com a mestrado de Almeida (2014). Na pesquisa da
variação dos parâmetros do solo, e reforço e autora, na malha de elementos finitos é
suas influências nas forças atuantes na utilizado o elemento discretizador do tipo
estrutura. quadrilátero (com 9 pontos de integração).
Assim foi possivel a distribuição dos elementos
ao longo de toda a estrutura e da região
2 METODOLOGIA reforçada, onde foi feita uma maior
discretização (Figuras 2, e 3).
2.1 Geometria e discretização da ECSR

A malha de elementos finitos da pesquisa de


Almeida (2014) foi discretizada basicamente
em elementos de face, elementos de reforço e
dois tipos de elementos de solo. Assim como
nos trabalhos de Dantas (2004) e Loiola (2001),
Almeida (2014) não utilizou elementos de
interface na malha. Sob condições de trabalho,
admite-se os deslocamentos e o estado de
tensões da massa serem compatíveis com a
Figura 1. Geometria do caso base proposto.
hipótese de aderência perfeita entre os
diferentes elementos. Dentre as malhas
utilizadas por Almeida (2014) em sua pesquisa,
a escolhida como caso base a ser comparada foi
a representada na figura 2.
Para facilitar a inserção dos dados no
programa CRISP92-C foi feita a discretização
de uma estrutura hipotética de solo reforçado
com inclinação de 90° e altura de 5m. O maciço
foi discretizado em região reforçada, região não
reforçada, região de fundação e de face, tendo a
região reforçada englobada o solo do aterro e os Figura 2. Distribuição dos elementos da ECSR.
reforços (Figura 1). Na Figura 1 também está
indicado na região do aterro reforçado os seus
eixos coordenados, segundo os quais os
resultados estão organizados, sendo: H - altura
da estrutura, L - largura do reforço, x - distancia
horizontal a partir da face interna, y - distância
vertical a partir da base.
O elemento discretizador empregado na
região reforçada é o quadrilátero. Em todos os
modelos propostos utilizou-se uma relação fixa Figura 3. Discretização dos elementos do aterro
entre o comprimento dos reforços (L) e a altura reforçado.
da estrutura (H), L/H=0,8. Foram utilizados dez
níveis de reforços, resultando na relação entre o 2.2 Definições dos parametros do caso base
espaçamento vertical dos reforços (Sv) e a e suas modificações
altura da estrutura em Sv/H=0,1.
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No modelo proposto no trabalho foram


considerados dois tipos de solo, um empregado Sendo:
apenas na região de fundação e outro nas Si: índice de rigidez relativa solo-reforço;
regiões reforçada e não reforçada. O modelo Ea: rigidez à tração do reforço;
constitutivo do solo é baseado na formulação K: módulo tangente inicial da curva de tensão x
hiperbólica de Duncan et al. (1980), deformação do modelo hiperbólico;
implementado no programa CRISP92-C por n: módulo expoente da curva de tensão x
Iturri (1996), tendo os parâmetros dos solos, deformação do modelo hiperbólico;
além de face e reforço apresentados na tabela 1 Kb: constantes do módulo volumétrico;
a seguir. Os parâmetros geotécnicos utilizados Rf: relação de ruptura;
baseiam-se nos trabalhos de Dantas (2004), Kur: constante do módulo de descarregamento
Loiola (2001) e Dantas (1998) e representam e recarregamento;
solos arenosos. O solo de fundação consiste em ᶲ: ângulo de atrito interno efetivo do solo;
uma areia fina a média, medianamente Δᶲ: taxa de redução de ᶲ;
compacta, com pedregulhos e classifica-se c': intercepto de coesão do critério de
como areia mal graduada a bem graduada (SP- resistência de Mohr-Coulomb;
SW). Este solo foi utilizado pois é adequado ϒ: peso específico do solo.
para a condição de fundação competente para
estruturas do porte das que foram analisadas, Todos os modelos analisados
conforme os resultados das análises de Adib numericamente nas simulações propostas nesse
(1988). Os parâmetros adotados para o aterro trabalho utilizaram os dados descritos acima, se
também são típicos de um solo arenoso. Estes diferenciado apenas quanto aos valores de
valores foram estimados baseados nas análises coesão (0 kPa [caso base], 5 kPa e 15 kPa),
de Ehrlich e Mitchell (1994) e na tabela ângulo de atrito do solo (25°, 30° [caso base] e
fornecida em Duncan et al. (1980). A variação 35°) e o indice de rigidez do solo-reforço (1
da coesão do solo de aterro de 5kPa e 15 kPa [caso base] e 0,01) (Tabela 2).
busca representar diferentes situações quanto à
presença de finos. Tabela 2. Variações paramétricas utilizadas nas análises
O reforço foi modelado com elementos Coesão (kPa) ' (°) Si
de barra de deformação linear, que são capazes
de transmitir esforço axial, com coeficiente de 0 25 Si:0,01
5 30 Si:1
Poisson nulo e rigidez axial variando de acordo
15 35
com o tipo de reforço.

Tabela 1. Dados referentes ao caso base. 2.3 Inserção dos dados no CRISP92-C
Geometria Reforço Face
H: 5m Si: 0,01 Si: 0,01 Nas análises computacionais das estruturas de
L: 4m Ea: 243,18kN Ea: 24,318 kN solo reforçado do trabalho de Almeida (2014)
Sv: 0,5m Tipo: geotêxtil foi considerado o processo construtivo
incremental. Esse processo consiste no simples
Solo do aterro Solo da fundação
lançamento dos elementos da região reforçada e
K: 300 K: 600
Kur: 450 Kb: 450
daqueles da região não reforçada na malha em
n: 0,5 n: 0,25 etapas sucessivas até ser atingida a geometria
Rf: 0,8 Rf: 0,7 final da estrutura. Cada ciclo da construção foi
Kb: 100 c': 0 (kPa) detalhado com um bloco incremental no
c': 0 (kPa) ': 36° programa de elementos finitos CRISP92-SC,
': 30° Δ': 1 englobando a execução de uma camada de solo
Δ': 0 : 20,4 (kN/m³)
: 19,6 (kN/m³)
reforçado e de uma camada de aterro do
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terrapleno da estrutura na região não reforçada, seus eixos coordenados, segundo os quais os
ambas no mesmo patamar e com espessura resultados estão organizados, sendo: H - altura
igual ao espaçamento vertical entre reforços da estrutura, L - largura do reforço, x - distancia
(Sv), e do trecho de face correspondente. Em horizontal a partir da face interna, y - distância
cada bloco incremental, o programa processou vertical a partir da base.
o lançamento simultâneo dos elementos de face, 3.1 Trações
de reforço e de solo das regiões reforçada e não
reforçada, pertencentes à camada em questão. 3.1.1 Análise para variação da coesão do solo
Partindo disso, após a definição dos do aterro reforçado
dados de geometria, juntamente com os
parâmetros dos reforços, face e solos utilizados
no aterro reforçado, aterro não reforçado e solo
de fundação do caso base (Tabela 1), foi
realizado a entrada de dados no programa.
Utilizando estas informações, foi criada a malha
do problema no Excel, com as informações dos
tipos de elementos, os números de vértices e
Gráfico 1. Trações no topo do aterro reforçado
coordenadas dos nós.
considerando variação da coesão do solo.
Após esta etapa foi possivel inserir os
dados no programa CRISP92-C, e assim
visualizar a malha da ECSR. Posteriormente a
entrada de dados iniciais é realizada a entrada
de dados para o cálculo das tensões in situ,
anisotropias, efeitos da compactação, além de
inserir e modificar os dados de parâmetros do
solo, reforço, zona reforçada, dos elementos do
reforço e face da ECSR no programa. Com Gráfico 2. Trações no meio do aterro reforçado
isso, foram criados e incorporados no considerando variação da coesão do solo.
CRISP92-C os arquivos que representam os
deslocamentos, trações no reforço e tensões
efetivas, e a partir destes dados foram gerados
os arquivos que foram usados para interpretação
no Excel dos resultados finais obtidos.

3 RESULTADOS
Gráfico 3. Trações na base do aterro reforçado
As trações e tensões foram obtidas para todos considerando variação da coesão do solo.
os 10 níveis do reforço, considerando o 1° nível
a base e o 10° nível o topo do aterro. Porém,
para simplificar serão exibidos e analisados
apenas os resultados para três níveis do reforço
(topo, centro e base do aterro reforçado).
Nos gráficos serão representadas as
trações (T), trações máximas (Tmáx) e tensões
horizontais no aterro reforçado, de acordo com
as variações dos parametros de solo e reforço.
Na Figura 4 está esquematizada a ECSR com os
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Gráfico 5. Trações no topo do aterro reforçado


considerando variação do ângulo de atrito do solo.
Gráfico 4. Trações máximas ao longo do aterro reforçado
considerando variação da coesão do solo.

Comparando os resultados obtidos para as


trações no reforço considerando o solo do aterro
da ECSR com coesão igual a 5, 15 e 0 kPa
(caso base) exibidos nos gráficos 1, 2, 3 e 4
acima, observa-se que as trações em todos os
níveis aumentam com a diminuição da coesão Gráfico 6. Trações no meio do aterro reforçado
do solo reforçado. Além disso, a variação da considerando variação do ângulo de atrito do solo.
coesão do solo possui maior relevância na base
do aterro e/ou próximo á face. Nota-se no
gráfico 3 que na região da base e mais distante
da face do aterro a tração não varia com a
variação da coesão. Além disso, como
observado no gráfico 4, à medida que aumenta a
coesão as trações máximas são registradas mais
distantes da face.
Estes resultados estão de acordo com o
Gráfico 7. Trações na base do aterro reforçado
esperado, pois, solos mais coesivos se
considerando variação do ângulo de atrito do solo.
deformam menos, solicitando menos do reforço
e assim causando menos tração no mesmo.

3.1.2 Análise para variação do ângulo de


atrito do solo do aterro reforçado

Abaixo serão exibidos gráficos 5, 6 e 7 com a


tração nos níveis 10, 5 e 1 da área reforçada
para o solo do aterro com ângulo de atrito igual
a 25°, 30° e 35°. Em seguida será apresentado
Gráfico 8. Trações máximas ao longo do aterro reforçado
gráfico 8 com os valores de tração máxima para
considerando variação do ângulo de atrito do solo.
cada nível de reforço e a posição no reforço
onde se registrou estas trações. Comparando os resultados obtidos para
as trações no reforço considerando o solo do
aterro da ECSR com ângulo de atrito igual a
35°, 25° e 30° (caso base), pode se concluir que
as trações em todos os níveis aumentam com a
diminuição do ângulo de atrito do solo. A
variação dos ângulos de atrito no solo possui
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maior influencia nas regiões próximas á face e


do meio á base do aterro. Assim como
observado com a coesão, na região da base e
mais distante da face do aterro a tração não
varia com a variação do ângulo de atrito. Os
valores de tração ao longo de toda a ECSR
variam de 0 a 18 kN aproximadamente, sendo o
maior valor registrado para o solo com ângulo Gráfico 11. Trações na base do aterro reforçado
considerando variação na resistência do reforço.
de atrito de 25°, próximo á face e na base do
aterro.
Este comportamento é explicado devido
o fato de que solos com ângulos de atrito maior
contribuem para a estabilidade do aterro e
exigem menos dos reforços.

3.1.3 Análises da variação da resistencia do


reforço

A análise comparativa entre reforços com o


índice de resistencia (Si) variando de 0,1 e 0,01
Gráfico 12. Trações máximas ao longo do aterro
também foi feita. Abaixo serão exibidos os reforçado considerando variação na resistência do
gráficos 9, 10, 11 e 12 que registram esta reforço.
variação em relação ás trações atuantes nos
níveis do reforço. Notou-se que com o aumento da rigidez do
reforço houve um aumento das trações em todos
os níveis do reforço, sendo que na base do
aterro este aumento é aproximadamente o
dobro. Este fato se deve, pois, com a redução da
rigidez do reforço ocorre uma redução da
solicitação de tração máxima, pois com a
redução da rigidez do reforço, o mesmo tende a
Gráfico 9. Trações no topo do aterro reforçado
resistir menos à deformação, logo, o esforço de
considerando variação na resistência do reforço. tração é menor que na estrutura com o reforço
mais rígido.

3.2 Deslocamentos dos nós na região


reforçada

Abaixo serão mostrados modelos de


deformação na ECSR considerando as
variações dos parametros analisados. Os
Gráfico 10. Trações no meio do aterro reforçado deslocamentos em x e y foram multiplicados
considerando variação na resistência do reforço. por cinco, esse fator de escala foi utilizado para
facilitar a visualização da estrutura deformada.
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Gráfico 13. Deslocamento da ECSR para o caso base. Gráfico 15. Deslocamento da ECSR para coesão do solo
igual a 15 kPa.

Gráfico 14. Deslocamento da ECSR para coesão do solo


de 5 kPa. Gráfico 16. Deslocamento da ECSR para o ângulo de
atrito do solo de 25°.
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A modelagem computacional de uma


ECSR se mostra eficaz ao variar os parâmetros
do solo do aterro e do reforço resultando em
correlações compatíveis de trações e
deslocamentos sofridas por ela. Analisando os
resultados pode-se constatar que as trações em
todos os níveis aumentam com a diminuição da
coesão e do ângulo de atrito do solo reforçado.
Isto se deve, pois, com a diminuição destas
propriedades o solo se torna mais deformável,
causando uma solicitação maior no reforço para
manter a estabilidade da ECSR. Estas
deformações são mais sensíveis na região da
base e próximo à face do aterro. Quando
analisado a influencia da rigidez do reforço na
Gráfico 17. Deslocamento da ECSR para ângulo de atrito estabilidade da ECSR, conclui-se que com o
do solo de 35°. aumento da rigidez as trações no reforço são
maiores.

AGRADECIMENTOS

Aos amigos que ajudaram na obtenção


dos resultados deste trabalho, e ao professor
Bruno Dantas pelo suporte, paciência e
conhecimento compartilhando, tendo assim, nos
auxiliado a chegar ao resultado final.

REFERÊNCIAS
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de Pós-graduação em Engenharia – COPPE,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 212 p.
Loiola, F.L.P. (2001) Estudo da influência da face, no
comportamento de muros de solo reforçado. Tese de
Mestrado, Programa de Pós-graduação em
Engenharia – COPPE, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 102p.
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Modelagem numérica de provas de carga em radier estaqueado


executado em solo arenoso do nordeste brasileiro
Jeandson Willck Nogueira de Macedo
UFRN, Natal, Brasil, jeandson_ufrn@hotmail.com

Osvaldo Freitas Neto


UFRN, Natal, Brasil, osvaldocivil@ct.ufrn.br

Wilson Cartaxo Soares


Concresolo & Copesolo, João Pessoa, Brasil, soares.wilson@gmail.com

Roberto Quental Coutinho


UFPE, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Renato Pinto da Cunha


UnB, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br

RESUMO: A presente pesquisa analisa, numericamente, um banco de dados experimentais obtidos


por Soares (2011), que simulou através de provas de carga estática o carregamento de fundações,
construídas em escala real, nas concepções de radiers estaqueados, grupo de estacas e radier isolado,
localizadas em região de solo arenoso, na faixa litorânea de João Pessoa - PB. Para isso, foram
realizadas modelagens através do Software Plaxis 3D Foundation versão 1.1, objetivando-se avaliar
a ferramenta numérica para fins de futuras análises de radiers estaqueados em solos típicos da região.
Os resultados indicaram considerável aproximação na previsão de cargas-deslocamento obtidas nas
modelagens numéricas em comparação aos resultados experimentais e, ainda, que a consideração do
contato radier-solo propicia o compartilhamento da capacidade de carga, com o elemento superficial
(radier) transmitindo ao solo, pelo menos, 41,17% do carregamento total.

PALAVRAS-CHAVE: Radier estaqueado, modelagem numérica, método dos elementos finitos.

1 INTRODUÇÃO convencional abordagem não prevê a


combinação destes dois tipos de fundação, sendo
Com o desenvolvimento das cidades e a interação solo bloco desconsiderada e o
consequente adensamento urbano, tem-se elemento superficial apenas objeto de
observado uma demanda cada vez maior por distribuição de cargas para o elemento vertical.
fundações que sejam capazes de absorver e A utilização do Radier Estaqueado permite ao
transferir cargas cada vez mais elevadas, de projetista associar o sistema solo, bloco, e
modo que uma solução que tem se mostrado estacas para obter vantagens técnicas e
eficiente tem sido as fundações mistas, as quais econômicas sobre o modelo convencional,
pode-se destacar as fundações do tipo radiers especialmente em solos arenosos, que
Estaqueados. comumente apresentam propriedades desejáveis
Nos Projetos Geotécnicos, especificamente para o emprego desta metodologia.
no dimensionamento de fundações, Segundo Poulos (1991), a técnica de radier
tradicionalmente, são adotadas soluções em estaqueado apresenta resultados significativos,
fundações rasas (superficiais) ou profundas. A sobretudo quando empregada sobre argilas
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médias e rijas, além de solos arenosos Dentre as análises mais rigorosas, destaca-se
relativamente compactos, com elevados NSPT já como uma das ferramentas mais eficazes, o
nas primeiras camadas de solo. método dos elementos finitos tridimensionais
Novak et al. (2005) afirma que a grande (MEF). Segundo Novak et al. (2005), o M.E.F
dificuldade no cálculo das fundações em radier corresponde ao mais adequado método para
estaqueados provém da não consideração das análises de radier estaqueado, tendo em vista a
diversas interações existentes entre os diversos dificuldade dos métodos simplificados no
elementos componentes do sistema. equacionamento das complexas interações entre
Contudo, com o desenvolvimento dos os componentes do sistema de fundação.
modelos numéricos computacionais, o método Quanto às metodologias simplificadas,
dos elementos finitos mostra-se como uma podem-se destacar os métodos baseados na
ferramenta de grande valia na análise do teoria da elasticidade, como a formulação
comportamento deste tipo de fundação, “PDR”, que é uma combinação dos métodos de
especialmente pela praticidade oferecida pelos Poulos e Davis (1980) e Randolph (1994).
diversos softwares disponíveis no mercado.
No desenvolvimento desta pesquisa, optou-se 2.1 Método Poulos, Davis e Randolph (PDR)
pelo uso do programa Plaxis 3D Foundation
versão 1.1, e por meio deste foram realizadas Poulos e Davis (1980) apresentaram um modelo
modelagens numéricas de provas de carga tri-linear para descrever o comportamento do
estática executadas por Soares (2011), em radier estaqueado quanto às previsões de carga-
fundações nas concepções de radier estaqueados, recalque, sendo este baseado na consideração da
sobre uma, duas e quatro estacas; grupo de mobilização total das estacas que integram o
estacas, com uma, duas e quatro estacas; e radier radier estaqueado. Enquanto Randolph (1994)
isolado, localizadas em região de solo arenoso, sugeriu estimar a rigidez do radier estaqueado
na faixa litorânea de João Pessoa – PB. Os por meio da expressão:
parâmetros geotécnicos utilizados nas
simulações numéricas, conforme prática comum K PG  (1 - 2  RP ) K R
no Brasil, foram estimados através de K PR = (1)
1   RP
2
( K R / K PG )
correlações empíricas a partir de valores de NSPT.
O objetivo deste trabalho consiste em
confrontar a previsão das curvas carga-recalque Onde:
e as análises de transferência de carga obtidas KPR = rigidez do radier estaqueado;
através do software Plaxis 3D aos resultados KPG = rigidez do grupo de estacas;
experimentais alcançados por Soares (2011), KR = rigidez do radier isolado;
com o propósito de validação dos modelos αRP = coeficiente de interação radier-estaca.
numéricos para análises futuras, de forma a
possibilitar uma melhor compreensão do E, o percentual de carga absorvida e
comportamento das fundações estaqueadas em transmitida ao solo pelo radier (X) é dado por:
solos típicos da região.
PR K R (1 -  RP )
X = (2)
2 METODOS DE ANÁLISES DE RADIER PT K PG  K R (1  2 RP )
ESTAQUEADOS
2.2 Métodos dos elementos finitos (MEF)
Existe um vasto número de métodos para análise
e dimensionamento de fundações em radier O Método dos elementos finitos corresponde a
estaqueado, como os métodos simplificados, as uma das ferramentas numéricas mais utilizadas
metodologias computacionais aproximadas e os nas análises de estruturas de fundações, podendo
métodos computacionais rigorosos. está prontamente disponível para processamento
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em computadores pessoais, através de diversos NSPT


softwares geotécnicos. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
A possibilidade de adequação das condições 0
de contorno ao modelo real e a oportunidade de
5
se definir os modelos construtivos peculiares a

Profundidade (m)
cada um dos materiais, permite ao software, 10
simular, com certa precisão, o comportamento de
15
diversos tipos de fundação, especialmente os
sistemas mais complexos, como as fundações em 20
radier estaqueado. Média SP3 e SP4
A ferramenta finita empregada nesta pesquisa 25
Média SP1 e SP2
foi o software Plaxis 3D Foundation, na sua 30
versão 1.1. Este programa foi desenvolvido na
Holanda, pela Universidade Tecnológica de Figura 1. Valores médios dos NSPT para quatro sondagens
Delft e representa uma das plataformas finitas (SP1, SP2, SP3 e SP4).
mais consolidadas no mercado quanto à análise
computacional de problemas geotécnicos. As concepções de radier estaqueados foram
diferenciadas as fundações de grupo de estacas,
exclusivamente, pela consideração do contato do
3 METODOLOGIA radier com o solo. Soares (2011) concluiu que a
consideração do contato bloco-solo proporciona,
3.1 Estudo experimental de Soares (2011) não só ganhos com o aumento da capacidade de
carga, como também a redução significativa dos
Soares (2011) realizou sete provas de carga recalques nas fundações estaqueadas, conclusão
estática em fundações projetadas em escala real, que condiz com os estudos apresentados por
considerando-se três sistemas distintos de Poulos (2001) e De Sanctis et al. (2002).
fundação, sendo executado um total de quatorze
estacas do tipo Hollow Auger, medindo cada 3.2 Parâmetros geotécnicos
uma, 0,3 m de diâmetro e 4,5 m de comprimento,
além de um bloco pré-moldado rígido com 1,55 Os parâmetros geotécnicos utilizados nesta
m x 1,55 m x 0,85 m. pesquisa foram determinados por intermédio de
As fundações ensaiadas foram: correlações empíricas com o NSPT médio das
 Um radier isolado; quatro sondagens disponibilizadas por Soares
 Três radiers estaqueados, com uma, duas e (2011), conforme figura 1.
quatro estacas; Com o objetivo de garantir uma maior
 Três grupos de estacas, com uma, duas e fidelidade nos resultados diante das limitações
quatro estacas. do ensaio Standard Penetration Test (SPT),
Os ensaios foram realizados na faixa costeira especialmente, no que diz respeito às limitações
da cidade de João Pessoa-PB, uma região relacionas ao efeito da energia de cravação e a
características pela presença de solos arenosos definição das tensões efetivas, estes valores
com alto índice de resistência a penetração foram corrigidos considerando-se as concepções
(NSPT), já nas primeiras camadas de solo, modernas de projeto.
conforme pode-se verificar nos perfis de solo A correção do efeito da energia de cravação
disponibilizados pelo autor (Figura 1). foi realizada considerando-se o padrão
americano e europeu (N60) através da relação
direta entre a energia empregada e a energia de
referência (Equação 3).
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N SPT energia aplicada 3.3 Parâmetros do concreto armado


N 60 = (3)
0,60 Para os elementos estruturais, estacas e bloco,
foram adotados os parâmetros mecânicos do
Segundo Décourt et. al., 1989 (citado por concreto disponibilizados no trabalho de Soares
Décourt et. al., 1998), a eficiência do SPT (2011), respectivamente 21,5 GPa, para o
Brasileiro equivale a aproximadamente 72%, por modulo de elasticidade (Ec), e 25 kN/m³,
isso, o autor recomenda a correção dos valores correspondente ao peso específico do concreto
de N60 devido ao efeito do nível de tensões armado (γc).
conforme as seguintes equações:
3.4 Modelagem numérica computacional
  ' oct'1
N1 = N 60 .   (4) Na modelagem numérica no Plaxis 3D, de início,
  ' oct 
foram especificadas as propriedades geométricas
das fundações estudadas e os parâmetros
Onde:
geotécnicos apresentados nos itens 3.2, para cada
 σ´oct’1 = Tensão octaédrica para uma areia
uma das camadas de solo. Em seguida,
normalmente adensada sobre pressão vertical
escolheram-se os modelos construtivos dos
efetiva (σ´vo) de 100 kPa;
materiais, adotando-se para o solo, o modelo
 σ´oct = Tensão octaédrica ao nível onde o
elástico-plástico de Mohr-Coulomb, e para o
SPT está sendo executado;
concreto armado, o modelo linear-elástico, por
 N1 = N60 corrigido.
estes modelos representarem com boa fidelidade
as propriedades mecânicas de cada um dos
Após a correção dos valores do índice de
materiais supracitados.
resistência a penetração (NSPT) procedeu-se as
As estacas e os blocos dos grupos de estacas
correlações para obtenção dos parâmetros de
e radiers estaqueados foram simulados como
solo para emprego no software Plaxis 3D (tabela
elementos volumétricos por meio do comando
1).
“pile”, considerando-se seções nos formatos
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos circulares, para as estacas, e retangulares, no
' caso dos blocos ou radiers.
Camada NSPT γ E
ʋ () Ψ As condições de contorno ou limites da
(m) médio (kN/m³) (MPa)
modelagem foram definidas de forma a
0–3 10 17 0,3 58,37 36 0 minimizar, ao máximo, as interferências destes
3–6 27 18 0,4 112,41 43 8 limites nos resultados obtidos na simulação.
6 – 10 12 17 0,3 37,91 32 0 Segundo Freitas Neto (2011), as incoerências
10 – 12 6 17 0,3 17,45 26 0 dos resultados numéricos, muitas vezes, podem
12 – 14 16 17 0,3 41,06 32 3
ser creditadas ao modelo constitutivo utilizado
para modelar o solo, às condições de contorno
O coeficiente de atrito do solo (ϕ) e módulo adotadas, ao nível de refinamento da malha de
de deformabilidade do solo (E) foram estimados elementos finitos e ao uso dos elementos de
por meio das correlações de Teixeira e Godoy interface entre as estacas e o solo.
(1996). Com relação à estimativa do coeficiente Nesta pesquisa, foram adotados os limites
de Poisson (υ) e o peso especifico do solo (ɣ) equivalentes a seis vezes a largura do radier (B)
considerou-se as relações diretas de Godoy para o plano horizontal, em ambas as direções, e
(1972). Para o ângulo de dilatância (ψ) foi uma profundidade da malha tridimensional
adotado a expressão de Bolton (1986), enquanto equivalente a três vezes o comprimento da estaca
a coesão do solo (c) foi considerada nula. (L), conforme ilustrado na figura 2.b. A
configuração adotada satisfaz os limites
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mínimos sugeridos por Sosa 2010 (apud Pezo dos radier estaqueados através de uma análise
2013), para os três tipos de fundações analisados indireta entre a tensão média atuante no topo da
nesta pesquisa. Ressalta-se que nas regiões onde estaca e a respectiva área da seção deste
se tenha as maiores tensões, a malha foi refinada, elemento.
de forma a garantir o equilíbrio da análise. Portanto, a carga transmitida ao solo pelo
(Figura 2.a). radier pode ser estimada, facilmente, pela
diferença entre o total da carga aplicada e o
somatório das cargas que chegam ao topo das
estacas. Sendo assim, a dinâmica de transmissão
de cargas foi analisada, indiretamente, meio da
expressão abaixo:
3L
Qip =  vi . Ap (5)

Onde:
a)
b) 6B Qip = carga atuante no topo da estaca i;
B
Figura 2. Malha bidimensional (a) e tridimensional (b) do  vi = tensão vertical média atuante no topo da
radier estaqueado com duas estacas. estaca i, obtida na saída gráfico do programa
Plaxis 3D Foundation;
O programa Plaxis 3D foudation versão 1.1 Ap = área da seção transversal da estaca.
utiliza o critério de Coulomb na distinção entre
os comportamentos elásticos e plásticos, Desse modo, carga Q P suportada pelo grupo de
especialmente nas regiões de mudança abrupta n estacas pode ser obtida por:
de condições de contorno entre solo e o elemento
estrutural, onde os recalques tendem a serem n
maiores. O manual da ferramenta sugere a Q P =  Qip (6)
adoção de um coeficiente de interface (RINTER) i1

na ordem de 2/3 para solos o qual não se tenha


seus valores pré-determinados. Sendo este valor, Logo, a carga transmitida do radier para o solo
o utilizado nas sete modelagens deste trabalho. de fundação Q R pode ser estimada:

3.5 Distribuição de cargas no radier QR = QT - QP (7)


estaqueado

A versão do programa utilizado para modelagens Onde:


dos radier estaqueados nesta pesquisa, Qt é a resultante do carregamento total aplicado
diferentemente de outros softwares mais na fundação pela superestrutura.
modernos, não dispõe de nenhuma ferramenta As tensões verticais médias foram estimadas
específica para avaliação numérica de fundações com auxílio do output do programa Plaxis 3D
em radier estaqueados, principalmente na análise Foundation. Para isso, foram analisadas as
quantitativa das cargas absorvidas e transferidas seções das estacas, individualmente, na mesma
pelos elementos estruturais. cota de assentamento do bloco do radier
Diante destas limitações foram avaliadas estaqueado (-0,5 m), no estágio correspondente
alternativas para melhor representar o ao carregamento máximo de cada fundação
quantitativo de carga repassada ao solo pelas estaqueada.
estacas e pelo elemento superficial. Pezo (2013)
contabilizou a carga atuante no topo das estacas
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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Carga (kN)


0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Processado os resultados, as curvas carga- 0

Deslocamento (mm)
recalque obtidas nas sete modelagens realizadas -3
no programa Plaxis 3D foram comparadas aos
-6
resultados das provas de cargas realizadas por
Soares (2011). Em seguida, realizou-se uma -9
nova avaliação comparativa entre os resultados -12
numéricos e experimentais, desta vez entre os EXP.R1
-15 NUM.R1. R=0,67
percentuais de cargas transmitidos ao solo por
cada um dos elementos estruturais que compõe -18
os radier estaqueados.
Figura 4. Curva carga-deslocamento do radier com uma
estaca.
4.1 Deslocamento e rigidez
Nas análises dos radier estaqueados de duas e
Na figura 3, observa-se boa aproximação entre quatro estacas, respectivamente figuras 5 e 6,
as previsões de carga-recalque dos modelos percebeu-se considerável semelhança entre as
numéricos e experimental do radier isolado nos previsões de carga-recalque obtidas com o Plaxis
primeiros estágios de carregamento. Contudo, 3D em comparação aos resultados experimentais
para carregamentos mais elevados verifica-se na maior parte do carregamento.
que a curva numérica (NUM.B) assume
comportamento, significativamente, menos Carga (kN)
rígido quando comparada a curva experimental. 0 500 1000 1500 2000 2500
0
Carga (kN)
Deslocamento (mm)

0 250 500 750 1000 1250 -10


0
-20
Deslocamento (mm)

-5
-30
-10
-40 NUM.R2 R=0,67
-15
EXP.R2
-20 -50

-25
NUMB EXPB Figura 5. Curva carga-deslocamento do radier com duas
-30 estacas.

Figura 3. Curva carga-deslocamento do radier isolado. Carga (kN)


0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
Para o radier estaqueado com uma estaca, 0
Deslocamento (mm)

conforme observa-se na figura 4, o modelo


-15
numérico (NUM.R1) apresentou rigidez um
pouco superior ao experimental (EXP.R1) em
-30
grande parte do carregamento, assumindo
comportamento bastante semelhante a curva
-45
experimental a partir dos 1000 kN, quando as NUM.R4 R=0,67
duas curvas convergem para o recalque máximo EXP.R4
-60
obtido na prova de carga.
Figura 6. Curva carga-deslocamento do radier com quatro
estacas.
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Conforme se observa na figura 7, o modelo Carga (kN)


computacional simulou o comportamento do 0 500 1000 1500 2000 2500
grupo com uma estaca de forma adequada 0

Deslocamento (mm)
apenas para pequenos níveis de deslocamento e -10
carregamentos. Após a metade do carregamento -20
percebe-se que a curva resultante da modelagem -30
numérica (NUM.G1) passa a apresentar rigidez -40
muito superior a curva experimental e as curvas -50
distanciam-se para recalques consideravelmente NUM.G4 R=0,67
-60
distintos. EXP.G4
-70

Carga (kN)
Figura 9. Curva carga-deslocamento do grupo com quatro
0 100 200 300 400 500 600
estacas.
0
Deslocamento (mm)

-20 4.2 Mecanismo de transmissão de cargas no


-40
radier estaqueado

-60 Os percentuais de cargas transmitidos ao solo


-80 NUM.G1 R=0,67 pelo elemento superficial foram quantificados
EXP.G1 por meio de uma análise indireta, conforme item
-100 3.5, considerando as tensões médias nas seções
das estacas, imediatamente, após a cota de
Figura 7. Curva carga-deslocamento do grupo com uma assentamento do bloco.
estaca.

Nas modelagens do grupo de duas e quatro


estacas, as previsões de tensões e deformações
estimadas apresentaram boa conformidade
durante a maior parte dos estágios de
carregamento quando comparadas aos resultados
das P.C.E. Para os últimos estágios de
carregamento, mais uma vez, as curvas
resultantes da modelagem numérica tenderam a
apresentar rigidez sensivelmente superior,
conforme observado nas figuras 8 e 9.

Carga (kN)
0 250 500 750 1000 1250
0
Deslocameneto (mm)

-10

-20

-30
NUM.G2 R=0,67
-40
EXP.G2
Figura 10. Tensões verticais no radier com quatro estacas
-50 (output Plaxis 3D Foudation).

Figura 8. Curva carga-deslocamento do grupo com duas


estacas
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Na figura 10 tem-se uma ilustração Foi perceptível certa discrepância na


disponibilizada no output do programa Plaxis 3D avaliação de transmissão de carga por meio das
Foundation com as tensões verticais atuantes no modelagens numéricas em comparação aos
radier com quatro estacas. resultados experimentais. A análise indireta
Para o radier estaqueado com uma estaca, os proposta neste trabalho indicou menor
resultados da modelagem indicaram que, contribuição do radier na transmissão de cargas
aproximadamente, 26,51% do carregamento ao solo, divergindo em torno de 20% para os
total é transmitido ao solo pela estaca. Portanto, radiers de duas e quatro estacas, e 10% para o
nesta analise aproximada foi estimado que o radier composto por uma estaca.
radier é responsável pela transmissão de 73,49% Os resultados das análises numéricas, quanto
do total solicitado. Enquanto para as demais à transmissão de cargas, foram considerados
fundações estaqueadas analisadas foi estimado relevantes, sobretudo pela metodologia
que o elemento superficial é responsável pela aproximada adotada, além das próprias
transmissão de 57,45 % e 40,80 % do limitações da versão do programa.
carregamento total, respectivamente para os
radiers com duas e quatro estacas (tabelas 2 e 3).
5. CONCLUSÕES
Tabela 2. Distribuição de cargas modelagem numérica x
Soares (2011) no ultimo estágio de carregamento. Diante do apresentado, conclui-se que as
Cargas nas Carga no previsões de carga-recalque das fundações
Radier estacas radier Carga
total
modeladas no programa Plaxis 3D Foundation,
(nº de
estacas) Num Exp Num Exp (kN) em comparação aos resultados experimentais,
(kN) (kN) (kN) (kN) podem ser consideradas satisfatórias, de modo
que para valores próximos à carga de trabalho o
Uma 318 240 882 960 1200 modelo computacional apresentou-se
Duas 1017 670 1374 1722 2239 compatível com os resultados experimentais.
Quatro 1894 1561 1325 1658 3220 A análise da transferência de carga no
carregamento dos radiers estaqueados indica que
Tabela 3. Percentuais de cargas modelagem numérica x o elemento superficial (radier) contribui
Soares (2011) no ultimo estágio de carregamento.
significativamente neste processo, transferindo
Cargas nas Carga no para o solo pelo menos 41,17% de todo o
Radier estacas radier Carga
(nº de total carregamento, caso do radier com quatro estacas.
estacas) Num Exp Num Exp (%) Embora os resultados numéricos tenham
(%) (%) (%) (%) divergido de 10 a 20% quando comparado aos
experimentais, os valores foram considerados
Uma 26,50 20,00 73,50 80,00 100
significativos, sobretudo pela utilização de um
Duas 42,55 28,01 56,26 71,99 100 método indireto para estimativa destes
Quatro 58,83 48,50 41,17 51,50 100 quantitativos.

Observou-se nas modelagens computacionais


que a consideração do contato bloco-solo AGRADECIMENTOS
contribui substancialmente, com pelo menos
41,17% da transmissão de toda carga aplicada ao A minha mãe, Maria das Graças Nogueira, e a
sistema de fundação para as três fundações minha companheira, Anna Liliane, pelo apoio no
analisadas (Tabela 3). Essa elevada contribuição desenvolvimento desta pesquisa, ao Professor
do radier pode ser creditada aos altos índices de Dr. Osvaldo de Freitas Neto, pela confiança e
resistência a penetração (NSPT) nas primeiras disponibilidade, e aos amigos do curso de
camadas de solo, que apresenta já no primeiro Engenharia Civil da Universidade Federal do
metro de camada NSPT equivalente a 12. Rio Grande do Norte (UFRN).
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Freitas Neto, O. (2013) Avaliação Experimental e
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Committee TC18 on Piled Foundations. Chairman:
Prof. Dr. Ir W.F. Van Impe. International Society of
Soil Mechanics and Geotechnical Engineering.
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Delhi, v. 5, p. 61-82.
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Pernambuco, 302 p.
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Execução de Fundações Rasas. In: Hachich, W. et al.
Fundações: teoria e prática. São Paulo: Pine, Cap. 7,
p.227- 264.
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Modelagem numérica do processo de cravação de estacas


metálicas tubulares de ponta aberta com a utilização de elementos
de interface
Jaqueline Rodrigues Ferreira
Furnas e Universidade Federal de Goiás (UFG), Aparecida de Goiânia, Brasil,
jaqueline.rodriguesferrira@gmail.com

Carlos Alberto Lauro Vargas


Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, carloslauro@hotmail.com

Maurício Martines Sales


Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, sales.mauricio@gmail.com

RESUMO: Durante a execução das estacas de ponta aberta pode ocorrer à formação de um tampão
de solo, impedindo parcialmente ou totalmente a entrada de solo no interior desta e fazendo com
que esta atinga capacidade de carga proxima à estaca de ponta fechada, proporcionalmente ao grau
de tamponamento. Assim, este trabalho tem por objetivo simular, numericamente, o processo de
cravação das estacas de ponta aberta em areias e realizar uma análise paramétrica, onde são
variáveis a geometria da estaca e as propriedades do solo, com objetivo de verificar a influência
destes fatores no grau de tamponamento das estacas. Os resultados dos cenários modelados foram
condizentes com as pesquisas de outros autores, ou seja, observa-se que pequenos diâmetros
favorecem a formação do tampão de solo, assim como grandes profundidades de penetração; já para
as propriedades do solo, nota-se que o grau de tamponemanto é proporcional ao módulo de
elasticidade do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Modelagem Numérica, Estacas de Ponta-Aberta, Tampão de Solo, Areia.

1 INTRODUÇÃO ensaios em escala reduzida e sendo necessária a


compreensão do fenomeno do tamponamento
A crescente utilização de estacas de ponta em modelos de estaca real, diversos autores
aberta como elemento de fundação de estruturas simularam a execução de estacas de ponta
urbanas e off-shore faz do tamponamento uma aberta em programas de elementos finitos
importante questão para os projetos de (HENKE; GRABE, 2008; KO; JEONG; LEE,
fundações. Este tamponamento pode ser 2016; ZHOU et al., 2016).
influenciado pela geometria (LEE; SALGADO; Assim, este trabalho foi desenvolvido com o
PAIK, 2003; KO; JEONG, 2015; KUMARA; objetivo de prever o comprimento do tampão de
KIKUCHI; KURASHINA, 2016; PAIK et al., solo em estacas de ponta aberta, com a
2003; PAIKOWSKI; WHITMAN, 1990) e utilização de uma ferramenta numérica. Os
processo de cravação das estacas (FATTAH; resultados obtidos foram, após sua validação,
AL-SOUDANI; OMAR, 2016) e pelo estado do utilizados para estudo dos fatores determinantes
solo (JEONG et al., 2015; PAIK; LEE, 1993; na formação deste tampão, tais como, diâmetro
PAIK; SALGADO, 2003). interno e espessura da parede das estacas e
Considerando que grande maioria dos módulo de elasticidade do solo.
estudos desenvolvidos nesta área baseia-se em
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(a) (b) (c)

Figura 1. Condições de tamponamento: (a) não tamponada; (b) parcialmente tamponada; (c) completamente tamponada
– modificada pela autora (KO; JEONG, 2015).

2 EFEITOS DO TAMPONAMENTO JEONG, 2015; PAIK; LEE, 1993).


Este tamponamento pode ser quantificado
Quando da cravação de uma estaca de ponta pelo PLR (Plug Lenght Ratio), que é a relação
aberta, um tampão de solo pode se formar no entre o comprimento do tampão de solo e a
interior desta, impedindo ou diminuindo a profundidade de cravação da estaca (Equação
entrada de solo na estaca, de modo que, a 1), e pelo IFR (Incremental Filling Ratio),
capacidade de carga destas é parcialmente definido como o incremento no comprimento
controlada por seu tamponamento (KO; do tampão de solo correspondente a um
JEONG, 2015; LEE; SALGADO; PAIK, 2003; incremento unitário na profundidade de
PAIK; LEE, 1993; PAIKOWSKI; WHITMAN, cravação da estaca (Equação 2). Em ambos, um
1990; YU; YANG, 2012). valor unitário representam estacas não
Este tamponamento pode ocorrer de três tamponadas, enquanto que estacas
maneiras diferentes. Primeiramente, no início completamente tamponadas são indicadas por
da cravação, o comprimento de solo no interior IFR nulo. Quaisquer valores de IFR diferentes
da estaca é equivalente ao comprimento cravado de zero e um são representativos de estacas
(Figura 1 (a)) e a estaca está na condição não parcialmente tamponadas.
tamponada. À medida que a cravação avança, o
comprimento do tampão de solo passa a ser L
PLR = (1)
inferior ao comprimento cravado e a estaca D
passa a ser parcialmente tamponada (Figura 1
(b)). Em dado momento, a cravação continuará L
a avançar, mas o comprimento do tampão de IFR =  100 % (2)
D
solo se manterá constante; a estaca, então, será
completamente tamponada (Figura 1 (c)) (KO; onde ΔD é o incremento de penetração da
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estaca, ΔL o incremento de comprimento do


tampão de solo, D o comprimento cravado da
estaca e L o comprimento do tampão de solo.

3 SIMULAÇÃO NUMÉRICA

3.1 Malha

A cravação de estacas metálicas tubulares de


ponta aberta foi simulada em um programa de
diferenças finitas, FLAC (Fast Lagrangian
Analysis of Continua), com uma malha
axissimétrica de 4640 elementos, discretizada
com elementos de dimensões reduzidas ao redor
da estaca (Figura 2 (a)). Sendo as dimensões do
domínio dez vezes o raio da estaca e duas vezes
seu comprimento, conforme sugestão de Ko, (a)
Jeong e Lee (2016) (Figura 2 (b)).
A estaca foi modelada como um corpo rígido
com densidade de 76,98 kN/m³, módulo de
elasticidade de 200 GPa e coeficiente de
Poisson de 0,3. Para facilitar o processo de
cravação, modelou-se uma estaca metálica
tubular com ponta com inclinação de 60°,
semelhante ao cone do ensaio CPT. Já o solo foi
modelado como material elástico, com
parâmetros definidos na Tabela 1.

3.2 Interfaces

Para viabilizar a cravação das estacas foi


necessária a utilização de elementos de
interface, cujas propriedades são correlatas às
propriedades do solo simulado. Assim, ensaios
realizados por outros autores foram simulados
numericamente com o objetivo de estabelecer
relações entre os módulos normal (kn) e
cisalhante (ks) da interface com o módulo
cisalhente do solo (G).

3.2.1 Dados de calibração e validação

Lehane e Gavin (2001) desenvolveram seus (b)


ensaios em uma câmara de calibração com 2,3
m de altura e 1,6 m de diâmetro. Nesta, foram Figura 2. Malha axissimétrica de elementos de diferenças
finitas
cravadas estacas de parede dupla de 114 e
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Tabela 1. Dados para análise paramétrica.


Parâmetro Caso Di (mm) t (mm) L (m)  (kN/m³)  () Esolo (MPa)
Diâmetro interno I1 100 6 10,0 15,0 35,0 20,0
I2 200 6 10,0 15,0 35,0 20,0
I3 300 6 10,0 15,0 35,0 20,0
I4 400 6 10,0 15,0 35,0 20,0
I5 500 6 10,0 15,0 35,0 20,0
Espessura da P1 200 4 10,0 15,0 35,0 20,0
parede P2 200 6 10,0 15,0 35,0 20,0
P3 200 8 10,0 15,0 35,0 20,0
P4 200 10 10,0 15,0 35,0 20,0
P5 200 12 10,0 15,0 35,0 20,0
Módulo de E1 200 6 10,0 15,0 35,0 15,0
elasticidade E2 200 6 10,0 15,0 35,0 25,0
E3 200 6 10,0 15,0 35,0 35,0
E4 200 6 10,0 15,0 35,0 45,0
E5 200 6 10,0 15,0 35,0 55,0
Di – diâmetro interno da estaca  – peso específico do solo
t – espessura da parede da estaca  – ângulo de atrito do solo
L – comprimento cravado da estaca Esolo – módulo de elasticidade do solo

(a) (b)

Figura 3. Comprimento do tampão de solo normalizado (Lp/Di) versus prufundidade de penetração normalizada (L/Di):
(a) S1-OP-40-9; (b) S1-OP-114-12.

40mm de diâmetro externo, denominadas S1- 3.2.2 Retroanálise e validação


OP-114-12 e S1-OP-40-9, respectivamente; a
uma velocidade de 1 mm/s. A areia utilizada Para obter parâmetros que correlacionem às
para preenchimento da câmara apresentou propriedades da interface e do solo os
densidade mínima e máxima de 14,22 e 16,97 resultados do ensaio S1-OP-40-9 foram
kN/m³, nesta ordem; ângulo de atrito de 31°, utilizados.
módulo de elasticidade de 46 MPa e coeficiente Inicialmente, as proposições de Wu et al.
de Poisson de 0,2 (GAVIN, 1998). Além disso, (2015) foram seguidas – kn e ks igual à cem e
Lehane e Gavin (2001) encontraram um ângulo uma vezes o módulo cisalhante do solo, nesta
de atrito entre as paredes da estaca e a areia de ordem – e, apartir destas, novas tentativas foram
18°. realizadas, até a obtenção dos resultados
apresentados na Figura 3 (a) – kn igual à
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(a) (b) (c) (d)

Figura 4. Formação do tampão de solo para a estaca S1-OP-114-12, após: (a) 1000 passos; (b) 2000 passos; (c) 3000
passos; (d) 3500 passos.

quinhentas vezes e ks igual à uma vez o módulo OP-114-12, durante sua cravação.
cisalhante do solo.
Estes coeficientes foram validados com a
modelagem do ensaio S1-OP-114-12, 4 ANÁLISES PARAMÉTRICAS
apresentado na Figura 3 (b). Vale ressaltar que,
na simulação numérica, ambas as estacas foram 4.1 Diâmetro interno da estaca
cravadas a uma velocidade cinco vezes menor
que a de execução. Além disso, não existem A Figura 5 (a) mostra as relações entre o PLR e
processos viscosos envolvidos na modelagem, o diâmetro interno das estacas para a simulação
pois a areia simulada é bastante permeável e da cravação de estacas com parede de 6 mm de
está livre de água. A Figura 4 apresenta a espessura em areia com densidade de 15,0
formação do tampão de solo para a estaca S1- kN/m³, ângulo de atrito de 35,0º e módulo de
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elasticidade de 20,0 MPa (Tabela 1). Nota-se


que, a medida que o diâmetro aumenta, o
comprimento do tampão de solo no interior das
estacas também aumenta, ou seja, o PLR é
diretamente proporcional ao diâmetro interno
das estacas. Os valores obtidos do PLR
variaram entre 0,22 e 0,37.
Com estes resultados, constata-se que estacas
de maiores diâmetros apresentam um menor
tamponamento quando comparadas com estacas
de pequeno diâmetro (FATTAH; AL-
SOUDANI; OMAR, 2016; KO; JEONG, 2015;
KUMARA; KIKUCHI; KURASHINA, 2016;
PAIK et al., 2003). (a)

4.2 Espessura da parede da estaca

A influência da espessura da parede das estacas


foi avaliada em um intervalo de 4 a 12 mm, em
estacas com 200 mm de diâmetro interno
cravadas em areia com densidade de 15,0
kN/m³, ângulo de atrito de 35,0º e módulo de
elasticidade de 20,0 MPa (Tabela 1). A Figura 5
(b) exibe as relações entre o PLR e a parede das
estacas. Observa-se que aumentos na espessura
da parede geram menores comprimentos do
tampão de solo, de modo que a relação entre
estes é inversamente proporcional. Os valores (b)
encontrados para o PLR variaram entre 0,20 e
0,30.
Assim, os resultados obtidos estão de acordo
com os resultados de Lehane e Gavin (2001) e
Kumara et al. (2016) – quanto maior a
espessura da parede das estacas, mais próximo
de zero serão o PLR e o IFR destas, fazendo
com que seu comportamento se aproxime do
comportamento de estacas de ponta fechada.

4.3 Módulo de elasticidade do solo

A Figura 5 (c) mostra as relações entre o PLR e


(c)
o módulo de elasticidade do solo para a
cravação de estacas com diâmetro interno e Figura 5. Relações entre PLR e (a) diâmetro e (b)
espessura da parede de 200 e 6 mm, nesta espessura da parede das estacas e (c) módulo de
ordem, em areia com densidade de 15,0 kN/m³ elasticidade do solo.
e ângulo de atrito de 35,0 (Tabela 1). Verifica-
se que ambos estão em uma relação inversamente proporcional, ou seja, à medida
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que o módulo aumenta, o comprimento do espessura da parede das estacas e ao


tampão de solo no interior das estacas diminui. módulo de elasticidade do solo, ou seja,
Contudo, observa-se que a influência do estacas de parede grossa comportam-se
módulo de elasticidade é bastante inferior a dos como estacas tamponadas, assim como
parâmetros de geometria da estaca estacas cravadas em solos com altos
anteriormente avaliados. Este resultado também módulos de elasticidade.
foi obtido por outros autores (JEONG et al.,
2015; KO; JEONG, 2015; PAIK et al, 2003),
que compararam o tamponamento com os AGRADECIMENTOS
ensaios CPT (Cone Penetration Test) e SPT
(Standart Penetration Test), cujos resultados Os autores agradecem ao Programa de Pós-
podem ser relacionados ao módulo de Graduação em Estruturas, Geotecnia e
elasticidade do solo. Construção Civil da Universidade Federal de
Goiás pela disponibilização do FLAC.

5 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
O principal objetivo deste trabalho era simular
numericamente a cravação por prensagem de Fattah, M.; Y.; Al-Soudani, e W. H.; Omar, M. (2016).
estacas tubulares de ponta aberta para avaliar os Estimation of bearing capacity of open-ended model
piles in sand, Arabian Journal of Geosciences, Vol. 9,
fatores que interferem no tamponamento destas. p.1-14.
Os resultados foram obtidos com a utilização de Gavin, K. G. (1998) Experimental investigations of open
elementos de interface empregados no and closed-ended piles in sand, Tese de Doutorado,
desenvolvimento de uma análise paramétrica Department of Civil, Structural & Environmental
dos fatores de influência. Assim, obtem-se as Engineering, University of Dublin, Dublin, 334 p.
Henke, S. e Grabe, J. (2008). Numerical investigation of
seguintes conclusões do presente trabalho: soil plugging inside open-ended piles with respect to
1. O método das diferenças finitas é capaz the installation method, Acta Geotechnica, Vol. 3,
de simular o processo de cravação de p.215-223.
estacas de ponta aberta, bem como a Jeong, S. et al. (2015). Bearing capacity analysis of open-
formação do tampão de solo no interior. ended piles considering the degree of soil plugging,
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destas. Sua aplicação foi validada atrás de Ko, J. e Jong, S. (2015). Plugging effect of open-ended
comparação entre os resultados do modelo piles in sandy soil, Canadian Geotechnical Journal,
e resultados de ensaios em câmara de Vol. 52, p.535-547.
calibração. Ko, J.; Jeong, S. e Lee, J. K. (2016). Large deformation
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2. Os módulos normal e cisalhente dos
plugging, Computers and Geotechnics, Vol. 71, p.82-
elementos de interface são correlatos ao 97.
módulho cisalhante do solo – kn igual a Kumara, J. J. et al. (2016). Understanding inner friction
quinhentas vezes e ks igual a uma vez o mechanism of open-ended piles - an experimental
módulo cisalhante do solo, conforme study, Japanese Geotechnical Society Special
Publication, Vol. 2, p.1333-1338.
retroanálise.
Kumara, J. J.; Kikuchi, Y. e Kurashina, T. (2016). Effects
3. O PLR é diretamente proporcional ao of the lateral stress on the inner frictional resistance of
diâmetro interno das estacas, significando pipe piles driven into sand, International Journal of
que estacas de grandes diâmetro Geo-engineering, Vol. 7, p.1-14.
comportam-se como estacas não Lee, J.; Salgado, R. e Paik, K. (2003). Estimation of Load
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tamponadas e estacas de pequeno
Penetration Test Results, Journal of Geotechnical and
diâmetro como tamponadas. Geoenvironmental Engineering, Vol. 129, p.391-403.
4. O PLR é inversamente proporcional à Lehane, B. M. e Gavin, K. G. (2001). Base Resistance of
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Jacked Pipe Piles in Sand, Journal of Geotechnical


and Geoenvironmental Engineering, Vol. 127, p.473-
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Capacity of Open-Ended Piles in Sand, Journal of
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Modelagem numérica para estimativa de deslocamentos e esforços


devidos a sobrecargas assimétricas – encontro da ponte sobre o rio
Luís Alves na duplicação da BR-470
Miryan Yumi Sakamoto
Prosul Projetos LTDA, Florianópolis, Brasil, miryan.yumi@gmail.com

Marciano Maccarini
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, maccarini.m@ufsc.br

Gracieli Dienstmann
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, g.dienstmann@gmail.com

Rafael Fabiano Cordeiro


Prosul Projetos LTDA, Florianópolis, Brasil, rafaelfc@prosul.com

Pedro Ivo Oliveira de Almeida


ENGIE Geração Solar Distribuída, Florianópolis, Brasil, pedro.oliveira@engie.com.br

RESUMO: Os aterros de encontro a pontes ou viadutos, além das análises convencionais, exigem
preocupação quanto à determinação da magnitude e distribuição dos deslocamentos horizontais e
dos esforços transferidos aos elementos de fundação, devido à ocorrência do efeito Tschebotarioff.
Esse é um fenômeno que merece atenção no Brasil, especialmente em Santa Catarina, onde a
ocorrência de depósitos de solos moles é comum nas regiões costeiras urbanizadas. Dessa forma, a
área de estudos adotada na pesquisa encontra-se no município de Ilhota, no aterro de encontro à
ponte sobre o rio Luís Alves, na obra de duplicação da BR-470. O aterro em questão encontra-se
afastado cerca de 12 m do último bloco de fundação da ponte, cujas estacas foram cravadas antes do
início do serviço de terraplenagem e, portanto, ficaram sujeitas à movimentação do subsolo
decorrente da sobrecarga do aterro. Para a modelagem computacional, foi realizado o estudo dos
parâmetros e propriedades do subsolo a serem inseridos no modelo, por meio da interpretação de
ensaios SPT, CPTu, adensamento e palheta. A composição do perfil estratigráfico devidamente
caracterizado permitiu a simulação do comportamento do subsolo quando submetido à sobrecarga
do aterro. Para tal, gerou-se um modelo bidimensional em Elementos Finitos, com a adoção de uma
seção representativa para as estacas da ponte. Essa modelagem auxilia na interpretação do
comportamento dos elementos de fundação localizados próximos à base do talude do aterro.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Moles, Sobrecargas assimétricas, Método de Elementos Finitos,


Efeito Tschebotarioff.

1 INTRODUÇÃO compressibilidade do subsolo. Em especial, os


aterros de encontro a pontes ou viadutos, além
Os projetos de aterros sobre solos moles das análises convencionais exigem preocupação
implicam um estudo cuidadoso para a solução quanto à determinação da magnitude e
dos problemas geotécnicos envolvendo a baixa distribuição dos deslocamentos horizontais e
resistência ao cisalhamento e a elevada dos esforços transferidos aos elementos de
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fundação. flexão das estacas.


Dessa forma, o Método de Elementos Finitos
apresenta-se como uma ferramenta importante
para estimativa das deformações horizontais e 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE
dos recalques. Para a modelagem ESTUDOS
computacional, é importante que se faça o
estudo dos parâmetros e propriedades do A área de estudo localiza-se em Santa Catarina,
subsolo a serem inseridos no modelo, para que no município de Ilhota, sendo um trecho da obra
se garanta a qualidade e confiabilidade dos de duplicação da rodovia BR-470, próximo ao
resultados. rio Luís Alves, como identificado na Figura 1.

2 SOBRECARGAS ASSIMÉTRICAS

A construção de um aterro sobre uma camada


adensável provoca deslocamentos na massa de
solo, o que faz com que os elementos de
fundação localizados dentro desse campo de
deslocamentos sofram um carregamento lateral
(DNER, 1998).
Velloso e Lopes (2010) expõem que as
sobrecargas atuantes situadas de forma
assimétrica em relação a estacas induzem
tensões e deformações na massa de solo, tanto
na horizontal, quanto na vertical. As estacas, por
sua vez, constituem uma restrição à deformação
do solo e consequentemente ficam sujeitas aos
esforços dessa restrição. Figura 1. Localização da área de estudos. (Fonte:
Esse fenômeno é conhecido como efeito Sakamoto, 2018).
Tschebotarioff, por ter sido descrito
detalhadamente pela primeira vez por esse O aterro da duplicação já foi iniciado, tendo
pesquisador, em 1962. Apesar de várias sido executado ao longo da via, com exceção do
metodologias de interpretação desse fenômeno trecho de encontro à ponte, a cerca de 12m de
terem sido desenvolvidas após as pesquisas de seu último bloco de fundação. A problemática
Tschebotarioff, a maioria dos métodos faz uso principal refere-se ao fato de que os elementos
de simplificações, dentro das limitações das de fundação foram cravados antes da execução
épocas em que foram elaborados e, por essa do aterro. Ao início da realização da pesquisa, a
razão, o DNER (1998) não recomenda que configuração da obra de duplicação pode ser
sejam utilizados para aterros rodoviários. A descrita com os croquis apresentados nas
forma mais rigorosa indicada pelo DNER Figuras 2, 3 e 4.
(1998) é a realização de uma análise numérica
de tensões e deformações do aterro sobre o solo
mole, com o Método dos Elementos ou
Diferenças Finitas, por exemplo. Dessa forma, é
possível identificar o campo de deslocamentos
provocados pela construção do aterro, obtendo
assim as tensões laterais a serem absorvidas por
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cerca de 9º e comprimento de 33m, distribuídas


em duas fileiras, conforme as representações da
Figura 5.

Figura 2. Vista superior do trecho de duplicação, com a


representação do aterro executado parcialmente. (Fonte:
Sakamoto, 2018).

Figura 5. Representação em planta da distribuição das


estacas no bloco final da ponte. (Fonte: Sakamoto, 2018).

Assim, objetiva-se verificar a influência que


o aterro já executado até o momento provocou
nas estruturas de fundação, tanto em termos de
deslocamentos quanto de esforços. Os
resultados da modelagem poderão servir de
Figura 3. Representação esquemática do encontro à ponte auxílio nas decisões e diretrizes de projeto para
quando do início da pesquisa . (Fonte: Sakamoto, 2018). o aterro de complementação.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Com base no levantamento dos dados de ensaios


e das informações disponíveis acerca da área de
estudo, possibilitou-se a compreensão da
problemática e definição dos parâmetros
geotécnicos do subsolo a serem inseridos no
software.

4.1 Identificação do subsolo


Figura 4. Configuração do encontro à ponte quando do
início da pesquisa. (Fonte: Sakamoto, 2018). Para identificação do subsolo foram utilizados
ensaios SPT, 01 ensaio CPTu, 02 Vane Test, 02
Conforme informado pela empresa triaxiais do tipo não consolidado não drenado
executora, as estacas utilizadas na fundação da (UU) e 02 ensaios de adensamento oedométrico.
ponte são metálicas de perfil W 200×59. No As correlações aplicadas para obtenção dos
total foram cravadas 18 estacas no bloco de parâmetros são as propostas por Robertson
fundação do km18+605, com inclinação de (2010), Kulhawy e Mayne (1990), Lunne e
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Robertson (1997) e Robertson e Cabal (2014).

4.2 Modelos considerados na interpretação


por elementos finitos

Para interpretação das deformações em uma


massa de solo, um dos métodos atualmente
empregados é Método de Elementos Finitos
(MEF). Trata-se de uma técnica computacional
utilizada na solução de equações matemáticas,
em que se considera estruturas como meios
contínuos, desconsiderando sua estrutura
molecular. Com essa consideração os materiais
podem então ser interpretados pelas leis da Figura 7. Malha de elementos finitos considerada pelo
mecânica dos sólidos segundo critérios elasto- programa.
plásticos (ELY, 2008).
A inclusão da geometria no programa é feita Na pesquisa em questão, as interpretações
por meio de pontos com coordenadas e linhas, requeridas ao programa foram em termos de
formando polígonos que contém informações Análise de consolidação, para a qual simula-se a
características (Figura 6). Esses polígonos dissipação do excesso de poropressões em
recebem ainda subdivisões, compondo a malha função do tempo.
de elementos a serem interpretados pelo Os modelos construtivos empregados foram
programa (Figura 7). escolhidos de acordo com o comportamento
esperado de cada material. Os principais
modelos empregados estão descritos a seguir:
 Modelo linear elástico: bastante
difundido na mecânica dos
materiais. Baseia-se sobretudo na
lei de Hooke, a qual considera a
existência de uma relação elástica
linear e isotrópica entre a tensão
aplicada e a deformação. Esse
modelo pode ser aplicado para
materiais interpretados de forma
linear elástica, como por exemplo
o concreto armado e o aço, quando
em níveis baixos de tensão.
 Modelo Mohr Coulomb: um
modelo elastoplástico perfeito, ou
Figura 6. Inserção de uma geometria no programa. seja, abrange o comportamento
elástico e também considera a
plastificação do material. Esse
modelo é comumente utilizado
para a interpretação do
cisalhamento de solos e rochas.
 Modelo Soft Soil: uma adaptação
do modelo Cam-Clay, assume uma
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relação logarítmica entre a tensão e A consideração de estacas como placas


a deformação do material e possui sólidas faz com que não seja admitido o
a característica de modelar o escoamento lateral do solo à estaca. Por essa
comportamento para solos moles razão, é necessário corrigir a geometria e os
(PLAXIS, 2017). Esse modelo parâmetros inseridos no programa para que os
considera a consolidação do solo e esforços e os deslocamentos resultantes sejam
seu consequente ganho de próximos à situação real de um modelo
resistência. A rigidez do solo tridimensional.
também é modelada como Diversas abordagens são feitas na literatura
dependente da tensão, ou seja, há o para a solução desse problema, sendo as mais
endurecimento conforme a pressão comuns as que propõem o uso de uma rigidez
é aumentada. O comportamento do equivalente para simular o efeito de grupo das
solo mole é simulado em termos estacas contidas fora do plano de análise. O
de carregamento e ideal para que sejam válidas essas considerações
descarregamento, com base em é que a distribuição das estacas seja regular e os
variações volumétricas de deslocamentos principais não ocorram fora do
expansão ou compressão. plano considerado no modelo.
Para avaliação global da área de estudos, Para a presente pesquisa, utilizaram-se as
representou-se tanto o aterro já executado, equações:
quanto os elementos de fundação.
Inicialmente, considerou-se somente o nestacas
( E  A )eq  E  A  (1)
terreno natural com as estacas cravadas, sendo Lbloco
adicionadas as camadas de aterro conforme os n
intervalos de tempo de alteamento. ( E  I )eq  E  I  estacas (2)
Lbloco
4.3 Equivalência 3D para 2D para os n
weq  w  estacas (3)
elementos de fundação Lbloco
Onde:
O principal problema em se adotar um modelo E= módulo de elasticidade da estaca
bidimensional para um grupo de estacas é a A= área da seção transversal de uma estaca
transição de três para duas dimensões, ou seja, isolada
expressar um modelo tridimensional em um só I= momento de inércia de uma estaca isolada no
plano. Para fazer isso, as estacas fora do plano eixo perpendicular ao plano de estudo
são simplificadas como elementos de “parede”, w= peso de um elemento de fundação
chamados de estacas de deformação plana. nestacas= número de estacas alinhadas no eixo
Trata-se de elementos identificados como Plate perpendicular ao plano de estudo
(placa) no software utilizado, que atravessam o Lbloco= comprimento do bloco de coroamento
solo, como na Figura 8. das estacas na direção perpendicular ao plano de
estudo

4.4 Definição dos parâmetros geotécnicos

A interpretação dos ensaios CPTu, SPT,


adensamento, triaxial e palheta permitiu a
obtenção dos parâmetros geotécnicos e a
Figura 8. Representação esquemática para consideração
definição das camadas distintas do subsolo, as
2D de um modelo 3D (adaptado de Manassero et al.,
2013). quais podem ser identificadas na Figura 9.
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Tabela 1 – continuação. Parâmetros geotécnicos do


subsolo (adaptado de Sakamoto, 2018).
Parâmetro Camada
Solo Areia com
mais
mole pedregulho
resistente
Mohr Mohr
Modelo Soft Soil
Coulomb Coulomb
γNat
16,3 17 18
[kN/m³]
γSat
16,3 17 18
[kN/m³]
kx [m/s] 2,07∙10 -9
3,26∙10 -9
9,44∙10-6
ky [m/s] 1,03∙10 -9
1,63∙10 -9
4,72∙10-6
kx [m/dia] 1,78∙10 -4
2,82∙10 -4
0,816
ky [m/dia] 8,92∙10-4 1,41∙10-4 0,408
E [kPa] -- 30.000 80.000
ν 0,48 0,35 0,35
c [kPa] 5 2 2
Figura 9. Identificação das camadas do subsolo adotadas ϕ [º] 25 35 50
na pesquisa. CC 0,471 -- --
CS 0,03 -- --
e0 1,415 -- --
A interpretação pelo método de elementos
OCR 1,12 -- --
finitos pode ser feita por meio da inserção das
camadas no programa, com seus respectivos
Quanto aos elementos de fundação,
parâmetros e métodos, descritos na Tabela 1.
aplicaram-se as equações (1), (2) e (3) nos
parâmetros fornecidos no catálogo do fabricante
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos do subsolo (adaptado
de Sakamoto, 2018). para perfis W 200×59. Os resultados das
Parâmetro Aterro/ Solo muito equações podem ser observados na Tabela 2 e
areia mole foram empregados na modelagem a fim de
Modelo Mohr Coulomb Soft Soil simular o efeito de grupo, conforme descrito
γNat [kN/m³] 17,0 15,7 anteriormente.
γSat [kN/m³] 17,0 15,7
kx [m/s] 1∙10-5 2,58∙10-9
ky [m/s] 1∙10-5 1,29∙10-9 Tabela 2. Dados da interpretação do efeito de grupo das
kx [m/dia] 0,864 2,23-4 estacas
ky [m/dia] 0,864 1,12∙10-4 Parâmetro Estacas do lado Estacas do
E [kPa] 20.000 -- esquerdo lado direito
ν 0,3 0,48 EA [kN/m] 1,64∙106 8,18∙105
c [kPa] 15 5 EI [kNm²/m] 13.225 6.612
ϕ [º] 30 25 w [kN/m²] 4,9 2,5
CC -- 0,471
CS -- 0,03
e0 -- 1,415 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
OCR -- 1,2
As deformações resultantes da modelagem
numérica, considerando desde a época em que
se iniciou o alteamento do aterro até o momento
atual (outubro de 2017), estão representadas na
Figura 10 (aumentado 5X).
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A deformação para o par de estacas


considerado na modelagem, resulta no perfil
exposto na Figura 12.

Figura 10. Resultado da modelagem numérica em 2D.


(Fonte: Sakamoto, 2018).

Nota-se que, além do recalque, ocorreram


deformações horizontais, principalmente na
região próxima à base do aterro e estendendo-se
até os elementos de fundações.
Analisando separadamente os deslocamentos
horizontais e verticais, tem-se o valor máximo
de 45cm na direção horizontal, sendo
representado na Figura 11.

Figura 12. Perfil de deformações horizontais para os


grupos de estacas considerados.

O comportamento registrado pela modelagem


indica o engastamento na base da estaca, devido
ao embutimento na camada mais resistente. No
topo, o modelo resultou num comportamento
próximo ao livre, como esperado. Para ambos os
grupos de estacas avaliados, o deslocamento
medido foi na mesma ordem de grandeza. As
estacas da direita apresenta um deslocamento
levemente maior.
Inicialmente, acreditava-se que o grupo de
estacas da direita teria maior influência da
movimentação do aterro, visto que, pelo
esquema exposto na Figura 5, há menos estacas
nesse alinhamento do que no lado esquerdo.
Assim, quando aplicadas as equações (1), (2) e
(3), o grupo de estacas do lado esquerdo
Figura 11. Deslocamentos horizontais pela modelagem
numérica [m] (máximo deslocamento horizontal=0,45m). resultou em maior rigidez. No entanto, o
(Fonte: Sakamoto, 2018). resultado obtido indicou deslocamentos
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similares. atuantes no grupo de estacas por meio da


Uma avaliação de verificação foi realizada, modelagem numérica. Os resultados para os
modelando-se sob as mesmas condições um esforços axiais, cisalhantes e momentos totais
perfil contendo apenas um grupo de estacas. O estão expostos nas Figuras 14, 15 e 16.
resultado para os deslocamentos horizontais é
apresentado na Figura 13.

Figura 11. Força axial nas linhas de estacas consideradas.


Figura 13. Análise das deformações horizontais do solo,
considerando apenas uma linha de estacas [m]
(deformação máxima=0,44m). (Fonte: Sakamoto, 2018).

Esse resultado indicou o mesmo


comportamento que o cenário anterior, com
duas linhas de estacas. Afere-se, portanto, que
as estacas não se comportaram como elementos
com rigidez alta o suficiente para impor uma
restrição à movimentação do solo.
Principalmente pelo fato de que o bloco de
coroamento não havia sido ainda construído
quando o aterro foi executado, as estacas
puderam se movimentar livremente na parte
superior, acompanhando o movimento do
subsolo. Assim, não se acredita que o
deslocamento horizontal do solo tenha sido
muito maior do que o estimado pelo programa.
Dessa forma, considerou-se válida a
verificação de forma preliminar para os esforços
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Pelos resultados observados, os elementos de


fundação claramente sofreram a influência da
sobrecarga do aterro, ainda que este esteja a
alguns metros de distância.
Apessar disso, o deslocamento médio
encontrado na modelagem corresponde a menos
de 2% do comprimento total das estacas. Dessa
forma, para obtenção do fator de segurança real
das estacas, após a construção dos aterros,
verificações mais precisas devem ser realizadas
pelo projetista estrutural da ponte. Com
simulação numérica, adotando um modelo
estrutural com a superposição dos esforços das
cargas de serviço e das solicitações devido às
deformações do solo.
Ainda, uma opção para melhor avaliação do
modelo, a fim de verificar cada estaca
individualmente, seria considerar a
possibilidade de movimentação das estacas de
forma independente ao solo. Este
comportamento infelizmente não é possível
Figura 12. Força cisalhante das linhas de estacas prever na modelagem 2D, no qual o solo não
consideradas. flui lateralmente às estacas.

6 CONCLUSÕES

A modelagem numérica apresentou-se como


uma ferramenta importante para a previsão do
comportamento do solo. Sobretudo para
avaliação das estruturas de fundação, cuja
interpretação torna-se bastante complexa em
termos de resoluções matemáticas
convencionais quando submetidas a sobrecargas
assimétricas.
Com a avaliação realizada, aferiu-se que,
mesmo para estacas localizadas a dez metros da
base do aterro, ainda há influências da ação da
sobrecarga gerando movimentação no subsolo.
Apesar de a modelagem ter sido realizada em
duas dimensões, a simulação de uma seção
constante permitiu estimar não apenas a
magnitude do deslocamento máximo nas
estacas, mas também a distribuição dos
deslocamentos e esforços ao longo do perfil
desses elementos.
Figura 13. Momento fletor das linhas de estacas
consideradas. Assim, o emprego de simulações numéricas
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mostra-se importante em aterros sobre solos Universidade Federal de Santa Catarina, 200p.
moles para que se analise previamente os efeitos Velloso, D. A.; Lopes, F. R. (2010). Fundações: critérios
de projeto, investigação do subsolo, fundações
de sua contrução em encontros a obras de arte superficiais, fundações profundas, 1ª ed, São Paulo:
especiais. Dessa forma, caso a sequência Oficina de Textos.
executiva priorize a execução da fundação antes
de finalizada a consolidação do solo, é possível
dimensionar os elementos de fundação para as
solicitações necessárias.

AGRADECIMENTOS

Empresa Prosul Projetos LTDA pelo material


cedido na realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS

DNER. Departamento Nacional de Estradas de


Rodagem/Instituto de Pesquisas Rodoviárias. (1998).
Projeto de aterros sobre solos moles para obras
viárias. Norma Rodoviária DNER-PRO 381/98. Rio
de Janeiro.
Ely. D. M. (2008). Esforços devidos a sobrecargas
assimétricas no encontro norte da ponte sobre o rio
Paulo Lopes – Duplicação da BR-101. Monografia
(Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade
Federal de Santa Catarina, 76p.
Kulhawy, F.; Mayne, P. W. (1990). Manual on
Estimating Soil Properties for Foundations Design.
Ithaca. New York, Cornell University.
Lunne, T.; Robertson, P. K.; POWELL, J. J. M. Cone
Penetration Testing in Geotechnical Practice. Blackie
Academic & Professional, p. 352.
Manassero, M.; Dominijanni, A.; Foti, S.; Musso, G.
Coupled phenomena in environmental Geotechnics.
Taylor & Francis Group, London: 2013.
Plaxis. (2017). Plaxis – Material Models Manual.
Disponível em: <https://www.plaxis.com/?
plaxis_download=2D-1-Tutorial.pdf>. Acesso em
dezembro de 2017.
Robertson, P. K. (2010). Estimating In-Situ Soil
Permeability From CPT and CPTu. 2nd International
Symposium on Cone Penetration Testing. Huntington
Beach, California. p.8.
Robertson, P. K.; Cabal, K. L. (2014). Guide to cone
penetration testing for geotechnical engineering.
California: Gregg Drilling & Testing, 6ª ed.
Sakamoto, M. Y. (2018). Solução geotécnica com
utilização de EPS em aterros sobre solo mole: Estudo
de caso na complementação do aterro de encontro à
ponte sobre o rio Luís Alves – duplicação BR-280.
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso)
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Moldagem e Ensaios Triaxiais em Areias Fofas


Arthur Amaral Corrêa
PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, arthur.aamaral@gmail.com

Arthur Santos Coelho


PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, arthursantoscoelho@hotmail.com

Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão


PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, sayao@puc-rio.com

Sandro Salvador Sandroni


PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, ssandroni@yahoo.com

RESUMO: Sob condições de saturação, falta de drenagem e carregamento estático crescente,


materiais arenosos podem entrar em liquefação e devido ao mecanismo de gatilho envolvido
(carregamento estático) chama-se essa liquefação de liquefação estática. Com o objetivo de avaliar
alguns métodos de moldagem de amostras fofas, este artigo apresenta detalhadamente o
procedimento de moldagem utilizado pelo primeiro e segundo autores, bem como alguns resultados
de ensaios triaxiais consolidados isotropicamente e não drenado (CIU) feitos em amostras de areia
sob deformação controlada. Os resultados mostraram que, para observar a liquefação estática em
solos arenosos através de ensaios triaxiais de deformação controlada, o melhor método de
moldagem de corpos de prova em estado fofo é o método de deposição úmida. Constatou-se que no
corpo de prova moldado por deposição úmida a “liquefação verdadeira” foi claramente observada,
no entanto, outras amostras moldadas por métodos diversos, apresentaram comportamento dilatante
durante a maior parte do cisalhamento.

PALAVRAS-CHAVE: Liquefação, Ensaio Triaxial, Areia Fofa.

1 INTRODUÇÃO A liquefação estática de materiais arenosos


pode ser simulada através de ensaios triaxiais de
Materiais arenosos são largamente usados em deformação controlada ou tensão controlada,
obras de terra como barragens, aterros e etc. contudo é necessário utilizar amostras bem
Sob condições de saturação, falta de drenagem e fabricadas em estado fofo. Jefferies e Been
carregamento estático crescente, esses materiais (2016) relatam que existe bastante confusão na
podem entrar em liquefação e devido ao interpretação de ensaios triaxiais executados
mecanismo de gatilho envolvido (carregamento para avaliar a resistência à liquefação de solos
estático), chama-se essa liquefação de arenosos. Segundo esses autores, muitos dos
liquefação estática. A liquefação de areias ou resultados de ensaios triaxias que vem sendo
argilas altamente sensíveis pode ser definida interpretados como liquefação, na verdade,
como a perda súbita de resistência ao apresentam o que eles chamaram de “quase
cisalhamento (Jefferies e Been, 2016). Castro liquefação”, quando a amostra quase chega ao
(1969), mostra que essa perda de resistência ao estado permanente, mas na realidade ela se
cisalhamento ocorre de forma muito rápida, aproximou do estado permanente e não o
com períodos de tempo de apenas 15 segundos atingiu. Sabe-se que, boa parte do conjunto de
em média. fatores que explica esse comportamento se deve
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ao processo de moldagem da amostra. Em outra metodologia de deposição considera a


ensaios triaxiais, a fabricação da amostra de utilização de solo úmido.
areia fofa é ponto fundamental para a obtenção
da “liquefação estática verdadeira”. Amostras
mal fabricadas podem apresentar resultados
próximos ao estado permanente, confundindo a
interpretação e conduzindo as avaliações de
resistência à liquefação para conclusões erradas.
Com o objetivo de avaliar alguns métodos de
moldagem de amostras fofas, este artigo
apresenta detalhadamente o procedimento de
moldagem utilizado pelo primeiro e segundo
autores, que consiste em deposição úmida com
umidade em torno de 5%, bem como alguns
resultados de ensaios triaxiais tipo CIU feitos
em amostras fofas sob deformação controlada.

2 MÉTODOS DE MOLDAGEM PARA


OBTENÇÃO DE AMOSTRAS FOFAS
Figura 1. Sedmentação em água. (Jefferies e Been, 2016)
Devido a grande dificuldade de obtenção de
amostras indeformadas de areias, utiliza-se Para a moldagem dos corpos de prova
corpos de prova reconstituídos em laboratório, coloca-se a pedra porosa, a membrana e os anéis
onde as técnicas de moldagem permitem cobrir de borracha (o-rings) na base do equipamento.
a faixa de densidade relativa que esses materiais Depois é utilizado um molde tripartido e então
possuem no campo. As principais técnicas aplica-se vácuo para que ocorra a aderência da
usadas atualmente estão descritas abaixo. membrana ao molde e esta fique com as
mesmas medidas deste.
2.1 Sedimentação em Água É liberada entrada de água por um dos furos
presentes na base do equipamento. O funil é
Consiste na pluviação de solo no molde com posicionado com proximidade da lâmina
uma pequena lâmina de água destilada com d’água, sem que o nível do solo colocado no
auxílio de um funil. Durante todo o processo a molde ultrapasse a lâmina d’água.
lâmina d’água deve se encontrar com espessura É colocado solo seco até o topo da amostra,
superior a do solo colocada no molde. que é finalizado com cabeçote (top cap) e anéis
Quando o solo entra em contato com a água, de borracha.
o mesmo tende a perder força e se acomodar
dentro do molde utilizado. Tal método não é 2.2 Pluviação Seca
aconselhado para solos com grandes parcelas de
finos, por conta de efeitos de segregação. Consiste na pluviação de areia seca através de
Monkul (2010) afirma que existem duas um funil que controla a velocidade de
metodologias para confecção de corpos de deposição. O índice de vazios de uma amostra
prova utilizando tal método. A primeira, preparada por esse método é extremamente
consiste em depositar solo seco com auxílio de influenciado por três fatores: altura de queda,
um funil distando poucos centímetros da lâmina velocidade de deposição e concentração da
de água, ilustrado na Figura 1. Enquanto a deposição. Grandes alturas de queda resultam
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em maiores energias de deposição, papel filtro, a pedra porosa, o cabeçote (top cap)
consequentemente obtêm-se amostras mais e os anéis de borracha.
densas. Para contornar a concentração de
deposição, Miura e Toki (1982) recomendam a 2.3 Deposição Úmida
utilização de uma série peneiras a fim de
dispersar o fluxo concentrado que sai do funil. Esta metodologia é apontada por Jefferies e
A Figura 2 apresenta um esquema de pluviação Been (2016) como sendo a técnica em que se
no ar. consegue alcançar uma vasta gama de
densidades relativas, inclusive para corpos de
prova mais fofos.
A metodologia consiste em aplicar umidade
inicial de 5% na amostra, para que o corpo de
prova não desabe quando submetido a altos
índices de vazios, graças a coesão aparente.
A metodologia recomenda que o corpo de
prova seja moldado em seis camadas iguais. As
camadas devem ser cuidadosamente medidas,
garantindo que elas estejam na densidade
desejada.
O topo das camadas deve ser
cuidadosamente escarificado para que elas
possam aderir umas as outras. O procedimento
está sintetizado a seguir:
1- Pesa-se a areia seca em estufa;
2- Adiciona-se água deaerada até a
umidade de 5%;
Figura 2. Pluviação no ar. (Jefferies e Been, 2016)
3- Divide-se o material homogeneizado em
cápsulas;
Corpos de prova de areias bem graduadas
4- Coloca-se o elemento poroso com papel
não devem ser moldados por essa técnica pois
filtro e a membrana na base da câmara
pode haver segregação (Raton, 1993).
triaxial, fixando a membrana com “o-
A pluviação seca possui várias similaridades
rings”;
com a sedimentação em água, como por
5- Coloca-se o molde tripartido, fechando-
exemplo, a utilização dos mesmos materiais
o com auxílio de braçadeira;
(funil, molde, o material seco, bomba, etc.).
6- Dobra-se a extremidade superior da
Contudo, a grande diferença entre as
membrana para fora do molde e aplica-
metodologias é que não há presença de lâmina
se sucção entre a membrana e parede do
d’água durante a moldagem do corpo de prova.
molde (cerca de 30 kPa);
O procedimento de moldagem consiste em
7- Coloca-se o material, com auxílio de
inserir um funil até o fundo do molde, apoiado
uma colher dobrada capaz de entrar no
em cima da pedra porosa e do filtro que ficam
molde tri-partido, em camadas de no
na base da amostra. O funil é preenchido por
máximo 15 mm, compactando-se
solo seco, e levantado lentamente, espalhando o
levemente até completar o molde;
material por todo o diâmetro do molde,
8- Coloca-se a pedra porosa com papel
seguindo uma trajetória em espiral. A altura de
filtro, o cabeçote, e desdobra-se a
queda do solo deve ser a menor possível. O
membrana fixando-a com anéis de
funil com material deve ser lentamente levado
borracha ao cabeçote. Estas operações
até o topo do molde para que seja colocado o
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devem ser executadas com cuidado para


mitigar as alterações das características Passa-se o solo úmido em uma peneira com a
geométricas do corpo de prova. finalidade de desagregá-lo, e então 5 porções
9- Retira-se o molde, executa-se medidas são retiradas da mistura, 4 com a mesma massa
de diâmetro (base, meio e topo) e altura para confecção do corpo de prova em 4
com o paquímetro; camadas, e mais uma para a determinação da
10- Pesa-se a sobra de material nas cápsulas. umidade real no corpo de prova.
O peso do corpo de prova será o peso As camadas são fixadas em 20 mm, e para
inicial nas cápsulas menos o peso final; que tais medições sejam respeitadas, marcas são
11- Com o peso e o volume obtém-se o peso realizadas no compactador como garantia da
específico aparente (γt), conhecendo-se espessura. As camadas possuem uma rotina de
a densidade relativa dos sólidos (Gs), confecção em cinco passos: (I) primeiramente, o
pode-se calcular o índice de vazios do material úmido equivalente a uma camada é
corpo de prova. Com os índices de vazios colocado no interior do molde; (II) após,
máximo e mínimo, pode-se calcular pequenos golpes são dados na camada com um
também a densidade relativa do corpo de lápis, a fim de se evitar que apenas a área em
prova. contato com o compactador seja compactada,
Outro procedimento considera também a trazendo assim homogeneidade da densidade
utilização de solo úmido. Contudo, o corpo de para toda a espessura da camada; (III) utiliza-se
prova é confeccionado em um molde e depois compactador para que a amostra atinja a
transferido para a prensa triaxial. espessura desejada; (IV) Retira-se o
A metodologia em questão é utilizada em compactador; (V) por fim, o topo da camada é
Pereira (2005). O molde, ilustrado na Figura 3, escarificado para fins de aderência, buscando a
é acompanhado de um compactador, que se homogeneidade de toda a amostra.
encaixa perfeitamente em um tubo cilíndrico Após a realização da rotina de confecção, a
rosqueável em uma base de ferro. O topo do parte cilíndrica do corpo de prova é
cilindro possui outra rosca onde se sobrepõe um desrosqueada do restante do molde; lentamente,
último anel de ferro, que auxilia principalmente para não causar dano na amostra, e também com
na confecção da última camada da amostra. o cilindro na horizontal, para que o corpo de
prova não corra o risco de cair do cilindro. As
duas metades do cilindro devem ser separadas
aplicando movimentos relativos, uma banda a
outra, para cima e para baixo.
Depois da retirada completa do molde, a
amostra passa por uma etapa crítica, que é a
inserção da membrana no sistema. A membrana
é colocada em um molde cilíndrico de alumínio
com uma abertura para fixar uma mangueira,
onde é aplicada a sucção. O molde possui
largura ligeiramente maior que o corpo de
prova, portanto a aplicação exige demasiada
cautela para que o corpo de prova não venha a
desabar. A Figura 4 representa o corpo de prova
antes da inserção da membrana, e a Figura 5
após.
Figura 3. Molde de confecção de amostras de areia.
(Corrêa, 2018)
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efetivas de um ensaio tipo CIU que não atingiu


o estado crítico, mas chegou perto. O aumento
de poropressão é justificado pela característica
contrativa da areia fofa durante parte do
cisalhamento e sua queda posterior justifica-se
pela tendência dilatante adquirida após grandes
deformações. A resistência ao cisalhamento
aumenta nos instantes iniciais e cai logo depois
devido a alta variação positiva de poropressão.
Após o fim do patamar de poropressão, a
resistência apresenta recuperação. (Yamamuro e
Lade, 1997).
Ishihara (1990) denominou esse
comportamento de estado quase permanente,
Jefferies e Been (2016) chamaram de liquefação
Figura 4. Corpo de prova após ser retirado do Molde. limitada e Yamamuro e Lade (1997) chamaram
(Corrêa, 2018)
de liquefação temporária.
Esse comportamento normalmente está
associado a baixa qualidade da amostra, ou seja,
a amostra na verdade não estava fofa, mas semi
fofa, apresentando eventuais distorções
geométricas ou densidade relativa inconstante
ao longo da altura. A fabricação de amostras de
alta qualidade é o ponto chave para a obtenção
de bons resultados em areias fofas.

Figura 5. Corpo de prova após inserção de membrana,


anéis de borracha e cabeçote. (Corrêa, 2018)

3 OBSERVAÇÃO DA LIQUEFAÇÃO EM
ENSAIOS TRIAXIAIS

Jefferies e Been (2016) alertam que existe


bastante confusão na interpretação de resultados
de ensaios triaxiais quando se avalia liquefação.
Estes autores dizem que resultados de quase
liquefação ou liquefação limitada são
frequentemente classificados como liquefação.
A Figura 6 apresenta o comportamento
tensão deformação e a trajetória de tensões
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Figura 6. Comportamento tensão deformação e trajetória


de tensões efetivas com recuperação de resistência.
(Jefferies e Been, 2016)

A liquefação verdadeira ou simplesmente


liquefação é obtida com corpos de prova bem
fabricados no estado fofo. Para conseguir
corpos de prova de boa qualidade é necessário
utilizar o método de fabricação que seja mais
conveniente para o moldador.
A Figura 7 mostra o resultado de um ensaio
triaxial tipo CIU executado em amostra fofa,
onde se observou a liquefação verdadeira.
Nota-se grande aumento de poropressão
seguido por um patamar, devido a característica
contrativa da amostra durante todo o
cisalhamento. A curva de tensão desviadora Figura 7. Comportamento tensão deformação e
apresenta seu pico com deformações muito trajetória de tensões sem recuperação de resistência.
pequenas, em torno de 0,25%. (Jefferies e Been, 2016)
Ao contrário do que ocorre na liquefação
limitada, a trajetória de tensões efetivas, nesse
caso, não evidencia qualquer recuperação da 4 RESULTADOS DE ENSAIOS
resistência. TRIAXIAIS PARA DIFERENTES TIPOS DE
MOLDAGEM

Com a finalidade de comparar a efetividade dos


procedimentos de moldagem de areias fofas
atualmente usados, os autores executaram
ensaios triaxiais tipo CIU com deformação
controlada em amostras de areias fabricadas por
três métodos diferentes, são eles: sedimentação
em água, pluviação seca e deposição úmida. As
condições de ensaio foram próximas em alguns
casos, variando-se apenas o método de
fabricação das amostras. É necessário destacar
que no corpo de prova moldado por pluviação
seca, não se fez uso de peneiras para dispersão
do fluxo de areia, sendo seguida apenas as
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recomendações de Jefferies e Been (2016). 100,0

0,0
Utilizou-se duas areias, uma extraída da praia
-100,0
do Leblon, localizada no Rio de Janeiro-RJ e

Δu (kPa)
-200,0
outra extraída de um aterro hidráulico -300,0
localizado em Camboinhas, Niterói-RJ. A areia -400,0
do Leblon é média e grossa, extremamente -500,0
0,0% 3,0% 6,0% 9,0% 12,0% 15,0%
uniforme e, segundo o critério de Ishihara ϵ
(1980) apresenta elevado potencial de
900
liquefação. A areia de Camboinhas é média e
800
fina, razoavelmente uniforme e segundo o 700
critério de Ishihara (1980) também apresenta 600
elevado potencial de liquefação. 500

q (kPa)
A Figura 8 mostra os resultados obtidos com 400
300
duas amostras de areia natural da praia do
200
Leblon. A amostra 1 foi moldada com o método
100
de sedimentação em água e a menor densidade 0
relativa conseguida foi de 56%. A amostra 2 foi 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
p' (kPa)
moldada por pluviação seca e a densidade
relativa mínima conseguida foi de 64%. As duas Figura 8. Comportamento tensão deformação e
amostras foram rompidas com tensão efetiva de trajetória de tensões para as amostras 1 e 2 da areia do
50kPa. Leblon-RJ/Brasil. (Corrêa, 2018)
Os resultados evidenciam um
comportamento característico de solo dilatante, A Figura 9 apresenta o resultado de um
ou seja, com variação de poropreção negativa. ensaio triaxial tipo CIU, com deformação
Os métodos de moldagem usados nestes dois controlada, feito nas areias de Camboinhas e do
ensaios não se mostram efetivos quanto a Leblon. O método de moldagem usado foi o de
obtenção de corpos de prova no estado fofo, na deposição úmida. Neste caso, o corpo de prova
melhor das condições esses métodos de pôde ser fabricado com densidade relativa de
moldagem resultaram em amostras 15%, no caso de Camboinhas, e 20%, no caso
razoavelmente compactas. do Leblon e foi rompido com tensão efetiva de
50kPa.
O resultado, mostrado na Figura 9, evidencia
a qualidade do corpo de prova fabricado. A
1800,0 variação positiva de poropressão mostra o
1600,0 comportamento contrátil das amostras
1400,0
ensaiadas.
1200,0
(σ1-σ3) (kPa)

1000,0
Percebe-se o grande aumento de poropressão
800,0 AM1- SEDIMENTAÇÃO EM ÁGUA (Dr=64% seguido por um patamar, devido a característica
e σc=50kPa)
600,0
AM 2- PLUVIAÇÃO SECA (Dr=56% e
contrativa da amostra durante todo o
400,0 σc=50kPa) cisalhamento.
200,0
0,0
A curva de tensão desviadora em função da
0% 3% 6% 9% 12% 15% deformação, apresenta um pico com
ϵ
deformações da ordem de 1% e, logo após, cai
para valores próximos de zero.
A trajetória de tensões efetivas evidencia a
perda de resistência acentuada, deixando claro
que houve liquefação verdadeira no caso da
areia de Camboinhas.
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A Tabela 1 compara algumas densidades


relativas obtidas com os três métodos de
moldagem abordados neste trabalho e evidencia
a maior facilidade de obtenção de amostras
fofas usando o método de deposição úmida.

Tabela 1. Comparativo entre as densidades relativas


produzidas por cada método. (Coelho; Corrêa, 2018)

Local Moldagem Dr e

Leblon Depo. seca 73% 0,61


Leblon Depo. seca 64% 0,63
Leblon Sediment. em água 56% 0,65
Leblon Sediment. em água 71% 0,61
Leblon Depo. Úmida c/ 15% 0,75
molde
Leblon Depo. Úmida c/ 20% 0,74
molde
Camboinhas Depo. Úmida s/ 16% 0,73
molde
Camboinhas Depo. Úmida s/ 15% 0,73
molde

Figura 9. Comportamento tensão deformação e


trajetória de tensões para a areia de Cambinhas-RJ/Brasil
e Leblon-RJ/Brasil. (Coelho, 2018)

5 CONCLUSÕES

O objetivo deste trabalho foi o de comparar


alguns métodos de moldagem usados para a
obtenção de corpos de prova no estado fofo,
uma vez que essa condição é necessária para o
estudo da liquefação estática em areias.
Quatro corpos de prova moldados por três
métodos conhecidos foram rompidos com
tensão efetiva de 50 kPa. Os resultados
mostraram que:

a- No caso específico estudado, os métodos


de pluviação seca e sedimentação em
água não geram corpos de prova com
densidades relativas muito baixas. Nos
casos apresentados, os corpos de prova
apresentaram comportamento dilatante
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devido a densidade relativa alta. on static liquefaction potential of sand. Tese de


doutorado, Oregon State University, Corvallis, USA,
159p.
b- Ao se considerar confecção de corpos de Pereira, E. L. (2005). Estudo do potencial de liquefação
prova mais densos, o método de de rejeitos de minério de ferro sob carregamento
sedimentação em água apresenta estático. 185 f. Dissertação de Mestrado, UFOP, Ouro
vantagens em relação aos demais, por Preto, Brasil.
atingir altos níveis de saturação de Ratton, R. B. (1993). Ensaios Triaxiais em Areia
Saturada. Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, Rio de
maneira mais rápida. Além disso, os Janeiro, Brasil.
corpos de prova moldados por tal Yamamuro, J. A., Lade, Poul V. (1997). Static
método apresentam boa qualidade Liquefaction of Very Loose Sands. Canadian
geométrica e não ficam sinuosos após Geotechnical Journal. 34: 905-917p.
retirada do molde.

c- O método de deposição úmida gerou


corpos de prova com densidade relativa
muito baixa (15%), mostrando-se mais
eficiente que os outros dois métodos
abordados. A boa qualidade do corpo de
prova gerado foi evidenciada pela
observação da liquefação verdadeira
durante o cisalhamento.

REFERÊNCIAS

Castro, G. (1969). Liquefaction of Sands. Tese de


Doutorado, Harvard University, Cambridge,
Massachusetts, USA, 231p.
Corrêa, A. A. (2018). Determinação do Potencial de
Liquefação do Leblon. Dissertação de Mestrado em
desenvolvimento, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
Coelho, A. S. (2018). Avaliação Experimental do
Potencial de Liquefação Estática das Areias de
Mariana e Camboinhas. Dissertação de Mestrado em
desenvolvimento, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
Ishihara, K. (1990). “Evaluation of Liquefaction Potential
and Consequent Deformations in Sand Fills”, Proc.,
Seismic Workshop on Port of Los Angeles.
California, EUA.
Ishihara, K., Troncoso, J., Kawase & Takahshimi, Y.
(1980). Ciclic Strength Characteristics of Tailings
Materials. Soil and Foundations, Japonese Society of
Soils Mechanics and Foundations Engineering.
Jefferies, M. G; Been, K. (2016). Soil Liquefaction - A
Critical State Approach. Taylor & Francis, London &
New York.
Miura S. & Toki S. (1982). A sample preparation method
and its effect on static and cyclic deformation –
strength properties of sand. Soil and Foundations,
Japonese Society of Soils Mechanics and Foundations
Engineering.
Monkul M. M. (2010). Influence of silt size and content
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Montagem do Aparelho de Inderbitzen com dimensões reduzidas


para avaliação da erodibilidade de solos residuais jovens
pertencentes às áreas de risco do Grande ABC-SP.
Bruna Chyoshi
Universidade Federal do ABC, Santo André, Brasil, bruna.chyoshi@ufabc.edu.br

Cláudia Francisca Escobar de Paiva


Universidade Federal do ABC, Santo André, Brasil, claudia.paiva@ufabc.edu.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo a montagem do Aparelho de Inderbitzen em escala
reduzida, para avaliar a erodibilidade de micaxisto e granito coletados em áreas de risco aos processos
geodinâmicos na Região do Grande ABC-SP. A montagem foi fundamentada na proposta original de
Inderbitzen (1961) e adaptações posteriores do meio técnico-científico, buscando maior versatilidade,
otimização de espaço e de volume de amostra. Os testes de avaliação do rotâmetro e do desempenho
do equipamento apresentaram resultados satisfatórios de calibração e validação. Pelos ensaios
realizados com o emprego do aparelho, ambas amostras ensaiadas foram classificadas como solos de
média erodibilidade, portanto, os resultados obtidos condizem com as classificações realizadas para
ambas amostras segundo a metodologia MCT e a classificação SUCS. Acredita-se, portanto, que o
Aparelho de Inderbitzen em escala reduzida se mostrou uma interessante ferramenta para avaliar da
erodibilidade dos solos tropicais.

PALAVRAS-CHAVE: Aparelho de Inderbitzen, Erosão Laminar, Erosão Hídrica, Erodibilidade.

1 INTRODUÇÃO virtude da significativa perda de solo gerada em


episódios intensos de precipitação. A vegetação
Um dos principais problemas que impactam o intercede na proteção do solo e na capacidade de
meio ambiente é a erosão hídrica, que responde retenção de água. As propriedades físicas,
pelo desprendimento e transporte do solo químicas, biológicas e mineralógicas do solo
resultante do impacto das gotas das chuvas e do influenciam no processo erosivo, uma vez que
escoamento superficial. No impacto de gota suas características asseguram maior ou menor
(efeito de salpicamento), a gota de chuva resistência à erosão hídrica. A influência da
mobiliza e pode mover as partículas do solo a topografia na erosão é ponderada por dois
pequenas distâncias ao se chocar com a sua princípios: declividade e comprimento da
superfície. Quando a intensidade da chuva encosta. Logo, quanto mais elevada a
excede a capacidade de infiltração do solo, tem- declividade e maior a extensão da encosta, maior
se o escoamento superficial. Trata-se de uma será a concentração e velocidade de escoamento
lâmina de fluxo difuso que escoa sobre o solo em da água, favorecendo, portanto, a ação erosiva.
direção às cotas mais baixas do relevo, Por último, a forma pela qual o solo está sendo
removendo de forma progressiva e uniforme a ocupado espacialmente pelo homem, ou seja, o
superfície do terreno (Bastos, 1999). uso do solo, também interfere no processo
Os fatores que influenciam a erosão hídrica erosivo.
são: a chuva, a cobertura vegetal, o solo, a Entre as formas de erosão hídrica, a erosão
topografia e o uso e manejo do solo, de maneira laminar retrata o desgaste e arraste brando e
que o clima é o elemento preponderante. A homogêneo do solo por uma vertente, sem o
chuva é um dos principais fatores atuantes, em aparecimento de canais definidos pela
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concentração do escoamento. Embora seja e São Bernardo do Campo, Região do Grande


considerada o perfil de erosão mais moderado, ABC, Estado de São Paulo”.
pode ocasionar o assoreamento de corpos d’água Segundo as autoras, realizou-se in situ os
pela significativa quantidade de sedimentos procedimentos de identificação visual e táctil nas
conduzidos e acumulados e, até mesmo, amostras de micaxisto (A-01) e granito (A-02),
instabilidades de massa em áreas de risco nas sendo repetidos e verificados em laboratório
regiões urbanas, além da degradação de solos (Tabela 1). Para a caracterização e classificação
agricultáveis. A importância do conhecimento geotécnica das amostras, as mesmas foram
das características físicas do solo que interferem preparadas de acordo com a NBR-6457/16
na sua maior ou menor suscetibilidade à erosão (Preparação de Amostras de Solo para Ensaios
hídrica, tal como a erodibilidade, está de Caracterização) e ensaiadas em conformidade
intimamente atrelada à identificação e avaliação com as normas NBR-7181/16 (Análise
das causas de degradação dos solos do mundo. Granulométrica dos Solos por Peneiramento e
A erodibilidade se refere à propriedade do Sedimentação), NBR-6459/16 (Limite de
solo que determina a suscetibilidade dos terrenos Liquidez de Solos) e NBR-7180/16 (Limite de
à erosão, ou seja, a menor ou maior facilidade Plasticidade de Solos), conforme Tabela 2.
dos solos erodirem, sendo fixados os demais
parâmetros, como por exemplo, a erosividade da Tabela 1. Características das amostras ensaiadas.
chuva, condições topográficas etc. (DAEE/IPT, Amostra A-01 A-02
1989). Para analisar a erodibilidade do solo, um Designação Silte arenoso de Areia argilo
micaxisto siltosa de
dos métodos mais eficientes é o ensaio composição de
idealizado por Inderbitzen em 1961. Neste granito
ensaio, a erodibilidade é medida através da Local Parque Ideal - Jardim São Jorge
determinação da taxa de erosão em função de SBC - SP - SBC - SP
condições variáveis de escoamento superficial, Origem Geológica Micaxistos e/ou Granitos
Metarenito, equigranulares,
inclinação e teor de umidade do solo. Os
inclui também médios e grossos,
resultados podem ser extraídos em quantidade de xitos miloníticos bastante alterados
perda de solo por tempo ou velocidade da erosão em zonas de
por tempo. cisalhamento
O presente trabalho tem como objetivo o Horizonte C C
desenvolvimento e emprego do aparelho de Granulometria nº4 100 99,80
(%passando) nº10 98,82 98,04
Inderbitzen em escala reduzida, para avaliar a
nº40 89,26 78,03
erodibilidade de amostras, com características
nº200 21,77 32,47
erodíveis, localizadas nas áreas de risco da Classificação MCT NS - Não NG’ - Não
Região do Grande ABC-SP. Laterítico Siltoso Laterítico
Argiloso
Fonte: Souza e Paiva (2015).
2 ÁREA DE ESTUDO
Tabela 2. Caracterização geotécnica das amostras.
A+S Areia (%) P LL LP IP Wnat
Os solos estudados neste trabalho pertencem ao (%) F M G (%) (%) (%) (%)
município de São Bernardo do Campo, no A-01 21,8 67,5 9,6 1,2 0,0 32,4 29,8 2,6 12,8
Estado de São Paulo. O comportamento A-02 32,5 45,6 21,0 1,8 0,2 32,1 25,2 6,9 15,0
geotécnico destes solos foi analisado por Souza Legenda: A + S = Argila + Silte; F = Areia fina; M = Areia
e Paiva (2015) no Projeto “Cartas geotécnicas de média; G = Areia grossa; P = Pedregulho; LL = Limite de
aptidão à urbanização: Instrumentos de liquidez; LP = Limite de plasticidade; IP = Índice de
plasticidade; Wnat = Teor de umidade natural.
planejamento para prevenção de desastres Fonte: Souza e Paiva (2015).
naturais nos Municípios de Rio Grande da Serra
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Sequencialmente, Souza e Paiva (2015) baixa plasticidade) com previsão de


classificaram as amostras segundo a comportamento mais erodível quando
metodologia MCT (Miniatura, Compactada, comparado à amostra A-02 pertencente ao grupo
Tropical), bem como as classificações SUCS SM (areia siltosa) (Souza e Paiva, 2015).
(Sistema Unificado de Classificação de Solos) e
HRB (Highway Research Board) (Tabela 3).
3 MATERIAL DE MÉTODOS
Tabela 3. Classificação geotécnica das amostras.
Classificação geotécnica
3.1 Montagem do Aparelho de Inderbitzen
Amostra Convencionais Não convencionais
SUCS HRB MCT MCT-M
A-01 ML A-2-4 NS’ NS’ O projeto do aparelho de Inderbitzen foi
A-02 SM A-2-4 NG’ NS’G’ fundamentado na proposta original de
Fonte: Souza e Paiva (2015). Inderbitzen (1961) e nas demais adaptações e
sugestões posteriores do meio técnico-científico
A caracterização e classificação dos (Tabela 4), sendo desenvolvido com o intuito de
horizontes permitiram, por conseguinte, a trazer maior versatilidade para o operador, no
previsão do comportamento geomecânico das que se refere aos ajustes de inclinação de rampa
amostras coletadas. Em relação à avaliação da e controle de vazão. Além disso, foi estabelecido
erodibilidade, constatou-se os solos classificados uma redução no porte do equipamento, com o
como NS’ da metodologia MCT possuem um objetivo de otimizar a coleta de amostras, espaço
elevado grau de erodibilidade, principalmente disponível para locação do equipamento no
para a amostra A-01 que se apresentou uma laboratório e o tempo de talhagem dos corpos,
perda de massa por imersão modificada (PI’) da além da maior facilidade na montagem e ajustes
ordem de 515% comparado ao valor de 60%de dos copos de prova na rampa do equipamento em
perda por imersão para a amostra A-02. A escala reduzida, portanto, maior facilidade e
classificação das amostras, de acordo com a agilidade na reprodução dos ensaios. Na Tabela
SUCS, confirma a hierarquia sugerida 4 encontra-se também, de forma resumida, as
anteriormente pela metodologia MCT, ou seja, a características do equipamento utilizado nesse
amostra A-01 pertencente ao grupo ML (silte de trabalho e as variáveis adotadas.
Tabela 4. Quadro-resumo de alguns trabalhos utilizando o aparelho de Inderbitzen e suas características.
Referência Local de retirada Dimensões da Dimensões dos Condição das Variáveis Tempo do
das amostras rampa corpos de prova amostras adotadas ensaio
Bastos Região 25,0 x 60,0 Ø = 9,76 cm; Secas ao ar, 6,0 e 6,0 L/min; 20 min
(1999) Metropolitana de cm h = 5,00 cm. natural e pré- 10º, 26º, 45º e
Porto Alegre (RS) umidecidas 54º.
Fácio (1991) Distrito Federal 3 de 33,3 x Ø = cm; Pré-umidecidas 50 mL/s; 10º. 20 min
130,0 cm h = cm.

Lemos et al. Bacia do Rio 34,0 x 78,0 Ø = 10,00 cm; Natural 10,91 e 12,93 10 min
(2007) Bucha (PR) cm h = 5,00 cm. mL/s; 16º.

O equipamento (Figura 1) foi dimensionado 2 cm de altura para impedir o transbordamento


com rampa de largura 20 cm confeccionada em da água de escoamento superficial.
placa de zinco e com comprimento de 50 cm, Os anéis amostradores e de suporte para
sendo que os 8 cm inferiores possuem fixação das amostras na rampa do equipamento
estreitamento para a largura final de 8 cm, possuem diâmetro interno de 4,7 cm e altura de
direcionando a água às peneiras que receberão os aproximadamente 3,5 cm, sendo confeccionados
sedimentos transportados. As bordas laterais têm a partir de um tubo de PVC biselados. O
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posicionamento do amostrador na superfície da


rampa foi baseado no modelo de Ferreira (1981),
cujo comprimento superior da rampa em relação
ao corpo de prova possuía 31,5 cm. Adotou-se
este valor, a fim de garantir que o fluxo se
estabilize, uma vez que os resultados foram
satisfatórios, considerando dimensões projetadas
Figura 2. Suporte do corpo de prova.
para este equipamento. Para tal, sua instalação se
dá por meio de uma base circular, revestida
Para a articulação da rampa (Figura 3),
interiormente por dois anéis de borracha, com
utilizou-se um par de barras de alumínio, fixadas
um parafuso capaz de pressionar o corpo de
à lateral da base do equipamento, com um
prova, prendendo-o à rampa do equipamento. A
suporte central horizontal para apoio da rampa,
base inferior do anel de fixação é coberta com o
que permite variações na sua inclinação de
fundo do cap, impedindo o vazamento de água e
aproximadamente 5° a 35°.
partículas sólidas (Figura 2).

Figura 3. Articulação da rampa.

Em relação ao fluxo de água, tem-se que o


controle da vazão é feito através de um
rotâmetro, modelo IFM-022 com medição de 1,0
a 7,0 LPM (litros por minuto), conectado ao
encanamento, permitindo a leitura instantânea da
vazão de água. Desta maneira, torna-se possível
variar o fluxo de acordo com o ensaio, não
havendo, portanto, a necessidade de um
reservatório. Em vista disto, a saída de água foi
desenvolvida conforme o modelo proposto por
Lemos et al (2007), através de uma tubulação
perfurada, a fim de garantir a uniformidade do
fluxo.

3.2 Ensaios de calibração do aparelho de


Inderbitzen

3.2.1 Teste de avaliação do instrumento de


medição de vazão
Figura 1. Aparelho de Inderbitzen proposto.
O teste de calibração do rotâmetro foi realizado
por meio da determinação do tempo para um
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volume fixo de 1 L de água, com variações de Segundo os resultados apresentados por Fácio
vazão iguais a 1,0; 2,0; 3,0; 4,0; 5,0; 6,0 e 7,0 (1991) e pelo Instituto de Pesquisas Rodoviárias
L/min. Para cada vazão regulada no rotâmetro, (1979), as perdas de solo são mais significativas
fez-se três medições do tempo de enchimento do nos primeiros cinco minutos. Por esta razão,
becker, através de um cronômetro. Com estas adotou-se o tempo total de ensaio de trinta
medições, calculou-se a média e, por minutos, com avaliação das perdas de solo a cada
conseguinte, a vazão por meio da equação 1: cinco minutos (5, 10, 15, 20, 25 e 30 min). Os
corpos de prova foram, então, fixados na rampa
𝑉 de modo que a superfície de cada corpo fosse
𝑄= (1)
∆𝑡 coincidente à superfície da rampa e os ensaios
foram iniciados após a estabilização do fluxo de
Onde: Q é a vazão d’água, V o volume do água superficial.
recipiente e ∆t a variação do tempo. As perdas de solo foram captadas por meio
das peneiras de malhas #10, #40 e #200 (Figura
3.2.2 Teste de avaliação do desempenho do 4), em concordância com o ensaio operado por
equipamento Bastos (1999), com ressalva para a peneira de
malha #4 não utilizada em virtude da
Os fluxos de escoamento foram avaliados a fim granulometria das amostras não apresentar
de observar a ocorrência de uma lâmina d’água quantidades de partículas com diâmetro
uniforme por toda superfície da rampa. Sendo equivalente. A fração fina das amostras, isto é,
assim, considerou-se as inclinações de 10°, 20°e que passam na peneira de malha #200 foram
30°. E, para cada inclinação da rampa, definiu-se estimadas de acordo com a relação abaixo:
vazões iguais a 1,0; 2,0; 3,0; 4,0; 5,0; 6,0 e 7,0
L/min, controladas pelo rotâmetro. MPerdasFinos = MTotal – (MPerdasAreia + MRetida) (2)

3.3 Ensaios de validação do aparelho de Onde: MPerdasFinos é massa das perdas de solos
Inderbitzen com amostras de micaxisto e granito finos (silte e argilas); MTotal é massa de solo total
do corpo de prova antes do ensaio de
O ensaio de Inderbitzen para avaliação da Inderbitzen; MPerdasAreia é massa das perdas de
erodibilidade foi realizado com as amostras areias (finas, médias e grossas); MRetida é massa
indeformadas de solos residuais (horizontes C) de solo retida no corpo de prova após o ensaio de
de decomposição de micaxisto e granito de São Inderbitzen.
Bernardo do Campo - SP. Assim, foram talhados
20 corpos de prova de micaxisto e 20 corpos de
prova de granito, com devido cuidado na
manipulação para a manutenção da estrutura e
umidade de campo.
De acordo com os testes de calibração,
determinaram-se duas vazões hidráulicas de Figura 4. Peneiras #10, #40 e #200, respectivamente, com
as perdas de solo registradas durante os ensaios.
trabalho: 6 L/min, por ser a vazão máxima
adequada para a realização do ensaio com fluxo Para a obtenção da altura da lâmina d’água (h)
uniforme e 4 L/min, por ser a vazão média em de escoamento superficial, em cada ensaio
fluxo uniforme medida pelo rotâmetro. As realizado, partiu-se da seguinte estimativa:
inclinações de rampa escolhidas para o ensaio
foram iguais a 10° e 30°, por serem os ângulos h = Q/v.L (3)
extremos avaliados no teste de calibração do
equipamento e que reproduzem alguns cortes
realizados nos horizontes C de micaxisto e
granito.
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Onde: Q é a vazão do fluxo (cm³/s); v é a condizentes com as suas demarcações. Nas


velocidade do escoamento (cm/s) e L é a largura repetições realizadas com as menores vazões
da rampa (cm). estipuladas pelo rotâmetro, obtiveram-se vazões
Pelo valor da altura da lâmina d’água, é calculadas mais próximas com o desejado, visto
possível obter a tensão cisalhante hidráulica (h), que, quanto maior a duração do teste, maior a
definida por: facilidade em parar o cronômetro no momento
exato do preenchimento total do becker.
h = γ.h.d (4) Ainda assim, nota-se que as diferenças entre
os valores estipulados e os valores calculados de
Onde: γ é o peso específico da água, h é altura vazão são menores que a incerteza relativa à
da lâmina d’água e d é a declividade da rampa. metade da menor divisão do instrumento, isto é,
A tensão cisalhante hidráulica crítica, hcrit, 0,250 L/min. Portanto, acredita-se que o
representa o máximo valor de h para a erosão rotâmetro pode ser utilizado no controle da
nula, enquanto a taxa de erodibilidade K, reflete vazão durante a realização dos ensaios com o
o gradiente da perda de solo referente às tensões equipamento de Inderbitzen.
hidráulicas aplicadas, isto é, o coeficiente
Tabela 5. Teste de avaliação do rotâmetro.
angular da reta h x Perda de solo.
Deste modo, realizou-se um total de 40 Vazão no Tempo médio Vazão calculada
rotâmetro (L/min) (mm:ss,0) (L/min)
ensaios, sendo 20 ensaios para cada amostra
1,0 01:00,2 0,997
(micaxisto e granito) com: 5 ensaios para a 2,0 00:29,6 2,027
inclinação de 30° e vazão de 6 L/min; 5 ensaios 3,0 00:20,5 2,927
para a inclinação de 30° e vazão de 4 L/min; 5 4,0 00:14,6 4,110
ensaios para a inclinação de 10° e vazão de 6 5,0 00:11,7 5,128
L/min e; 5 ensaios para a inclinação de 10° e 6,0 00:09,6 6,250
7,0 00:08,3 7,229
vazão de 4 L/min. A Figura 5 ilustra, como
exemplo, o andamento de um dos ensaios
realizados e mostra um corpo de prova ao 4.2 Teste de avaliação do desempenho do
término do ensaio. equipamento

A avaliação do desempenho do equipamento


seguiu atribuições de efeito satisfatório ou não
satisfatório. Desta maneira, entende-se que o
escoamento laminar satisfatório apresentou
fluxo de água uniforme em toda superfície da
rampa, sem a presença de linhas preferenciais.
Por outro lado, o escoamento laminar declarado
Figura 5. Foto do andamento do ensaio e detalhe da não satisfatório não atingiu os parâmetros de
amostra pós-ensaio.
uniformidade de fluxo requisitados no teste.
Deste modo, os fluxos d’água iguais a 2,0;
3,0; 4,0; 5,0 e 6,0 mostraram-se com escoamento
4 RESULTADOS
distribuído uniformemente e mantendo-se de
forma constante para todas as inclinações
4.1 Teste de avaliação do controle da vazão
impostas na rampa do equipamento. No entanto,
rotâmetro
os fluxos d’água correspondentes as vazões de
7,0 L/min e a 1,0 L/min não se mostraram com
O teste de avaliação do rotâmetro verificou a sua
condições satisfatórias de escoamento
eficiência, uma vez que este foi adquirido com a
uniformemente distribuídos para a realização
calibração de fábrica. Os valores de tempo
dos ensaios.
obtidos (Tabela 5) da calibração foram
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4.3 Ensaio de Inderbitzen com amostras de A partir dos valores de velocidade do


micaxisto e granito escoamento do fluxo na rampa (v), determinou-
se a altura da lâmina d’água (h) e,
Na Tabela 6 estão apresentados resumidamente consequentemente, a tensão cisalhante
os valores aproximados dos índices físicos das hidráulica, conforme a Tabela 7.
amostras ensaiadas (micaxisto e granito).
Tabela 7. Velocidade, altura da lâmina d'água e tensão
Tabela 6. Índices físicos. cisalhante hidráulica para as condições de fluxo dos
Solo γ d e n w S ensaios (Q = vazão e i = inclinação da rampa).
Micaxisto 18,6 16,5 0,61 37,8 11,1 46,8 Q 4 L/min 6 L/min
Granito 19,9 17,5 0,51 33,9 10,8 54,6 i 10° 30° 10° 30°
Legenda: γ = Peso específico aparente natural (kN/m3); γd v (cm/s) 40,0 52,6 86,2 108,7
= Peso específico aparente seco (kN/m3); γs = Peso h (cm) 0,083 0,095 0,039 0,046
específico real dos grãos (kN/m3) = 26,5 kN/m3; e = Índice
de vazios; n = Porosidade (%); w = Teor de umidade h (Pa) 1,47 1,68 2,23 2,66
natural (%); S = Grau de saturação (%).
Com base nestes dados, pode-se determinar a
4.3.1 Perdas de solo com o tempo de ensaios para perda de sólidos para cada amostra versus tensão
as amostras de micaxisto e granito. cisalhante hidráulica, como observado nas
Figuras 8 e 9.
A Figura 6 mostra as perdas de solo para a Diante das equações da reta de tensão
amostra de micaxisto nas quatro condições cisalhante hidráulica x perda de solo, pode-se
estabelecidas (item 3.3). De maneira geral, pode- determinar a taxa de erodibilidade do solo e a
se perceber que o aumento das perdas de solo tensão cisalhante hidráulica crítica, apresentadas
ocorreu para as maiores vazões e inclinações de na Tabela 8.
rampa, apresentando maiores perdas de frações As perdas de solo foram maiores de acordo
de areia fina. Destacam-se também que as com o aumento da tensão cisalhante hidráulica.
condições de vazão igual a 6 L/min apresentaram A tensão cisalhante hidráulica crítica demonstra
perdas de solo mais discrepantes nos primeiros 5 que, embora o micaxisto tenha maiores perdas de
minutos, comparadas as perdas nas condições de solo, este possui o valor máximo para a erosão
vazão igual a 4 L/min. nula maior que o granito, indicando uma
A Figura 7 demonstra as perdas de solo para resistência mais elevada à deflagração do
as amostras de granito para as quatro situações processo erosivo. Também foi possível observar
de ensaio descritas no item 3.3. Observam-se relações de perda de solos com a granulometria
perdas de solo maiores e com valores e o teor de umidade. Primeiramente, o micaxisto,
aproximados para as frações de areias finas e solo com maior porcentagem de areia fina,
médias em comparação às areias grossas. mostrou-se mais erodível do que o granito, com
Verificam-se, como no caso do micaxisto, que as menor percentual, o que está de acordo com a
perdas de solo aumentaram de acordo com o maior erodibilidade dessa fração granulométrica.
aumento da vazão e da inclinação de rampa. Segundo Bastos (1999), o ensaio de Inderbitzen
Além disso, percebe-se que, embora as perdas de sugere valores de K entre 0,001 e 0,1
solo tenham sido mais significativas nos g/cm2/min/Pa para solos avaliados com mediana
primeiros 5 minutos, ao longo do processo ainda erodibilidade. Desta forma, é possível constatar
há quantias consideráveis de massa de sólidos que os solos estudados, decomposição de
carreadas. micaxisto e granito de São Bernardo do Campo-
SP, situam-se nesta faixa, com fatores K iguais a
4.3.2 Perdas de solo versus tensão cisalhante 0,067 e 0,018 g/cm2/min/Pa, respectivamente.
hidráulica e análise da erodibilidade
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Figura 6. Perdas de solo das amostras de micaxisto durante o ensaio de (a) 4 L/min e 10º, (b) 4 L/min e 30º, (c) 6 L/min
e 10º e (d) 6 L/min e 30º.

Figura 7. Perdas de solo das amostras de granito durante o ensaio de (a) 4 L/min e 10º, (b) 4 L/min e 30º, (c) 6 L/min e
10º e (d) 6 L/min e 30º.
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Figura 8. Micaxisto: Perda de solo x Tensão cisalhante Figura 9. Granito: Perda de solo x Tensão cisalhante
hidráulica. hidráulica.

Tabela 8. Perda de solo para diferentes condições de fluxo e parâmetros hcrit e K.


Q 4 L/min 6 L/min hcrit K
Solo
i 10° 30° 10° 30° (Pa) (g/cm2/min/Pa)
Micaxisto Perda de 0,013 0,044 0,018 0,094 1,370 0,067
solo
Granito 0,010 0,024 0,010 0,029 0,994 0,018
(g/cm2/min)

Em comparação com o trabalho realizado por fração também favorece ainda mais a erosão
Souza e Paiva (2015), a avaliação direta da (Bastos, 1999). Assim, confirma-se que as altas
erodibilidade por meio ensaio de Inderbitzen frações de silte e areias finas contidas na amostra
demonstrou a mesma hierarquia apresentada de Micaxisto, designada, pelos procedimentos de
pelas classificações MCT e SUCS entre o solo identificação visual e táctil e pela análise
de micaxisto e o de granito, sendo o primeiro granulométrica, como silte arenoso micáceo
mais erodível que o segundo. contendo aproximadamente 22% de silte e
Com intenção de ressaltar tal resultado, as 67,50% de areia fina na sua constituição
taxas de erodibilidade do micaxisto e do granito, granulométrica e, no caso do solo de
no ensaio de Inderbitzen, foram de 0,067 e 0,018 decomposição de Granito, identificado como
g/cm2/min/Pa, respectivamente. Enquanto o uma areia argilo siltosa com 32,47% de finos
ensaio de perda de massa por imersão (siltes e argilas) e 45,56% de areia finas na sua
modificado da metodologia MCT, apresentou composição textural, contribuem para o aumento
índices de perda de massa (Pi’) iguais a 515% e da erodibilidade desses solos residuais jovens.
60% para o micaxisto e granito,
respectivamente, indicando que o micaxisto
possui um grau de erodibilidade bastante 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
superior ao do granito (Souza e Paiva, 2015). O
ensaio de Inderbitzen demonstrou que, assim A tendência erodível para as ambas amostras
como visto por Souza e Paiva (2015), a parcela ensaiadas, apresentadas tanto pelo emprego do
de areia do micaxisto (78,23%) proporciona uma equipamento de Inderbitzen como pelas
maior tendência à erodibilidade do solo em classificações geotécnicas MCT e SUCS (Souza
relação ao granito, que contém uma quantidade e Paiva, 2015) parece validar o emprego do
de areia inferior (67,33%). Aparelho de Inderbitzen em escala reduzida, o
Por último, segundo Wischmeier e que pode ser também observado pelo
Mannering (1969), solos ricos em silte e/ou areia comportamento erodível desses horizontes em
muito fina (0,05 a 0,10 mm), com baixo teor de levantamentos de campo (Souza e Paiva, 2015).
argila e matéria orgânica, são mais erodíveis. Em Acredita-se que o Aparelho de Inderbitzen,
especial, os siltes são partículas pouco coesivas proposto para este trabalho com dimensões
que, quando dispersas, são facilmente reduzidas, seja uma ferramenta laboratorial
transportadas pelo fluxo superficial, a presença adequada para avaliação direta da erodibilidade
de leves e lamelares partículas de mica nesta dos solos tropicais, em virtude não apenas da
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possibilidade de reprodução de várias situações Wischmeier, W. H.; Mannering, J. V. Relation of soil


in situ (como variação da inclinação de rampa e properties to its erodibility. Soil Science Society
Proceedings, v.33, p.131-137, 1969.
da vazão do escoamento superficial) como,
também, pelo uso de amostras indeformadas
representativas de horizontes pedológicos em
tamanho reduzido, o que otimiza as campanhas
de campo para coleta de amostras, o espaço para
armazenamento das amostras em laboratório e os
trabalhos de talhagem de corpos de prova.
Por fim, vale destacar que novos ensaios
devem ser realizados com o equipamento de
Inderbitzen aqui descrito, tanto com materiais
distintos, como para diferentes condições de
inclinação de rampa e fluxo d’água, com o
objetivo de verificar a aplicabilidade do
equipamento proposto em escala reduzida e sua
validação para futuras pesquisas.

REFERÊNCIAS

Bastos, C. A. B. Estudo geotécnico sobre a erodibilidade de


solos residuais não saturados. 1999. 278p. Tese
(Doutorado em Engenharia). Universidade Federal do
Rio Grande do sul. Porto Alegre, 1999.
Fácio, J. A. Proposição de uma Metodologia de Estudo da
Erodibilidade dos Solos do Distrito Federal. 1991. 120p.
Dissertação (Mestrado em Geotecnia). UnB, Brasília,
DF, 1991.
Ferreira, C.S.M. Erosão: Investigações de campo e de
laboratório desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisas
Rodoviárias. In: Simpósio Nacional de Controle de
Erosão, 2. São Paulo: ABGE, 1981.
Inderbitzen, A. L. An erosion test for soils. Materials
Research & Standards. Philadelphia, v.1, n.7, p. 553-
554, 1961.
IPR. Estudo da erosão superficial. Rio de Janeiro, RJ:
Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR), 1979, 270p.
Lemos, C. F.; Silveira, C. T.; Milani, J. R.; Oka-Fiori, C.;
Fiori, A. P. Avaliação da erosão entre sulcos em solos
de diferentes classes de uso na bacia do rio da bucha
(PR), através do aparelho de Inderbitzen. 2007. In:
Revista Eletrônica Geografar. UFPR, Curutiba, 2007.
DAEE/IPT. Controle de erosão: bases conceituais e
técnicas; diretrizes para o planejamento urbano e
regional; orientações para o controle de boçorocas
urbanas. São Paulo: DAEE/IPT, 1989.
Souza, A. D. O.; Paiva, C. F. E. Previsão do comportamento
geomecânico de horizontes residuais pertencentes às
áreas com potencial para expansão urbana no Município
de São Bernardo do Campo - SP. In: 15º Congresso
Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental.
Bento Gonçalves, RS, 2015.
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O Emprego do Equipamento Triaxial Geocomp em Ensaios


Triaxiais sob Baixas Tensões Confinantes
George Lício Vieira Teles,
Escola Politécnica e COPPE, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, george.teles@poli.ufrj.br;

Graziella Maria Faquim Jannuzzi,


Eng. Civil-Macaé, UFRJ, Macaé, Brasil, jannuzzi@coc.ufrj.br;

Fernando Artur Brasil Danziger


COPPE e Escola Politécnica, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, danziger@coc.ufrj.br

Ian Schumann Marques Martins


COPPE, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, ian@coc.ufrj.br

RESUMO: Um complicador na execução de ensaios triaxiais em argila mole se dá quando o ensaio


é realizado sob baixas tensões, pois neste caso a resistência do solo pode ser tão baixa que sua ordem
de grandeza seja a mesma dos efeitos secundários inerentes ao ensaio. Neste trabalho são estudados
tais efeitos como peso do topcap e pistão, atrito pistão-câmara e resistência da membrana através de
ensaios triaxiais realizados com a argila mole de Sarapuí II segundo a metodologia NGI (Instituto
Norueguês de Geotecnia). A desconsideração do peso próprio de solo, topcap e pistão pode levar a
execução do ensaio com uma tensão quase 40% maior que a desejada. Nos ensaios realizados, o atrito
entre o pistão e a câmara tem magnitude entre 6 e 10% do valor da tensão desviadora no pico de
resistência. Já a resistência da membrana chega a valores entre 2 e 4% da tensão desviadora no pico
de resistência e, para grandes deformações, esses valores sobem para 30 a 34%. Diante destas
constatações, conclui-se que de nenhuma maneira estes efeitos podem ser negligenciados ao se
realizar ensaios triaxiais sob baixas tensões confinantes, pois ao ignorá-los, erros significativos
estarão sendo inseridos no ensaio, comprometendo diretamente os resultados obtidos.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio Triaxial, Argila Mole, Resistência Não Drenada, Efeitos Secundários.

1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAIS E MÉTODOS

Um ensaio de laboratório largamente empregado Neste item são apresentados os materiais e


nos projetos de engenharia é o ensaio triaxial. métodos que tornaram possível o
Quando realizado em argila mole e sob baixas desenvolvimento deste trabalho. Trata-se
tensões confinantes, uma série de efeitos basicamente do material ensaiado, do
inerentes ao próprio equipamento passa a ter equipamento utilizado e da metodologia
grande relevância nas medições realizadas empregada na realização dos ensaios.
durante o ensaio. A verificação de tais efeitos
ganha então ainda mais importância, pois, como 2.1 O Campo Experimental
será discutido a seguir, sua inadequada
consideração pode comprometer a Para a realização dos ensaios triaxiais, foi
confiabilidade dos resultados obtidos. utilizado o solo do campo experimental de
Sarapuí II. Inicialmente, foi estabelecido o
campo experimental de Sarapuí, em meados dos
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anos 70, pelo IPR-DNER. Pesquisas foram orgânica com espessura aproximada de 8m,
desenvolvidas numa integração entre IPR- sobrejacente a uma camada de argila siltosa. Esta
DNER, COPPE/UFRJ e PUC-Rio (e. g., Lacerda argila foi largamente estudada em trabalhos
et al. 1977). Porém, devido a questões conduzidos por Jannuzzi (2009, 2013) e
principalmente de segurança, a utilização do Jannuzzi et al. (2015). Algumas características
campo experimental de Sarapuí tornou-se da argila mole de Sarapuí II são apresentadas
inviável. Com o apoio da Marinha do Brasil, resumidamente na Figura 1 a seguir.
estabeleceu-se o campo experimental de Sarapuí No presente trabalho, foram realizados 3
II na área da Estação Rádio da Marinha no Rio ensaios triaxiais de compressão: um adensado
de Janeiro (e. g., Guimarães, 2013) anisotropicamente (CAUCL-1) e dois adensados
Este novo campo também está situado na de modo K0 (CK0UCL-2 e CK0UCL-3). Estes
margem esquerda do rio Sarapuí, a cerca de ensaios foram feitos com amostras indeformadas
1,5 km do primeiro campo experimental. extraídas do referido campo experimental à
Diversas pesquisas foram realizadas pela profundidade de 3m. Para esta profundidade, vê-
COPPE/UFRJ e Cenpes/Petrobras no campo de se, pela Figura 1, que γ = 13 kN/m³. Jannuzzi
Sarapuí II. Dentre estas pesquisas, destacam-se (2013) obteve, através de correlações
estudos relacionados a fundações (e.g., Danziger estabelecidas pelo ensaio de dilatômetro, para
et al. 2013, Guimarães, 2013) e testes com o este depósito de argila mole, o coeficiente de
piezocone-torpedo (e. g., Porto et al. 2010). empuxo no repouso de K0 = 0,6.
O campo de Sarapuí II, na região ensaiada,
apresenta um depósito de argila muito mole e

Atividade
Profundidade (m)

Figura 1. Limites de liquidez (wt) e plasticidade (wp), umidade natural (wn), densidade real dos grãos (G), peso
específico (γn), índice de vazios (e0) e atividade versus profundidade (adaptado de Jannuzzi, 2013; Jannuzzi et. al.,
2015).
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Assim sendo, o ensaio CAUCL-1 foi e uma célula de carga externa em forma de S,
adensado para as tensões σ’v = 9 kPa e cuja capacidade de carga é 500 lbf (227 kgf).
σ’h = 5,4 kPa. Já os ensaios Ck0UCL-2 e
CK0UCL-3 foram densados para σ’v=9kPa e σ’h
foi controlado pelo equipamento (automatizado)
durante o ensaio de modo a não permitir
deformação lateral do corpo de prova (CP).

2.2 O Equipamento Utilizado

Os ensaios triaxiais do presente trabalho foram


realizados com equipamento automatizado da
marca Geocomp. A máquina é composta por
uma prensa (LoadTrac), duas bombas de fluxo Figura 3. Funcionamento interno do FlowTrac (Geocomp,
(FlowTrac), uma célula triaxial (Triaxial Cell), 2013b).
um computador e alguns acessórios. A Figura 2
mostra o equipamento. A célula triaxial possui quatro válvulas, sendo
que duas são ligadas à base do CP (bottom-cap)
e duas ao topo (topcap). O bottom-cap e o topcap
podem ser conectados fazendo-se um by pass
entre as válvulas da base e do topo (ver Figura
4). Este procedimento pode ser feito para
garantir a saturação das pedras porosas inferior e
superior através da percolação de água deaerada.

Figura 2. Equipamento Geocomp (Geocomp, 2013a).

Cada unidade FlowTrac possui um


reservatório cilíndrico dotado de um êmbolo que
desliza na direção axial do reservatório para
aplicar pressão, a qual é lida por um transdutor
de pressão e enviada a um computador interno
que identifica se o equipamento deve encher ou
esvaziar o cilindro para aplicar a pressão
configurada pelo operador. A Figura 3 ilustra Figura 4. By pass na cálula triaxial.
este funcionamento esquematicamente.
As bombas FlowTrac possuem ainda 2.3 A Metodologia Empregada
transdutores de volume, os quais monitoram a
variação de volume do corpo de prova (CP) Os ensaios foram realizados seguindo-se a
durante o ensaio. metodologia utilizada no NGI (Instituto
A prensa LoadTrac possui um LVDT vertical, Norueguês de Geotecnia), segundo Berre (1982
com o qual se verifica a variação de altura do CP, e 2017).
Os ensaios foram feitos com membranas de
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látex usualmente empregadas nos ensaios


triaxiais. Estas membranas têm boas 3 DIFICULDADES EM ENSAIOS SOB
propriedades mecânicas e raramente apresentam BAIXAS TENSÕES CONFINANTES
problemas de vazamento. Entretanto, absorvem
água e, por esta razão, em cada ensaio a Se qualquer ensaio com amostra indeformada já
membrana foi submersa em água por pelo menos exige cautela do executor, estes cuidados devem
16 horas antes de serem colocadas no corpo de ser ainda maiores caso esta amostra indeformada
prova. seja uma argila muito mole.
As pedras porosas foram previamente Para a determinação da resistência das argilas
saturadas em água salina com teor de sal igual ao muito moles submetidas a baixas tensões
da amostra ensaiada (no caso da argila de confinantes, além da condição supracitada, há
Sarapuí II a 3m de profundidade, este teor é de ainda o agravante dos efeitos inerentes ao
15gf/l – Jannuzzi, 2013). próprio ensaio poderem ser da mesma ordem de
Os ensaios foram realizados com corpos de grandeza da resistência medida. Assim sendo,
prova cilíndricos de diâmetro 35,5 mm e altura estes efeitos precisam ser devidamente
de 71 mm (hcp = 2d) obtidos por desbastamento estudados para não comprometer a
da amostra com fio metálico e torno. confiabilidade dos resultados obtidos.
Além dos papéis filtro circulares no topo e na Como efeitos inerentes ao equipamento,
base do CP, foi também empregado papel filtro referem-se às consequências impostas pelos
lateral em forma de tiras espiraladas com procedimentos de ensaio que, apesar de
declividade 1:1,4 (V:H). Com este indesejadas, ocorrem devido a necessidade de
procedimento, a distribuição da poro-pressão no tais procedimentos para possibilitar a realização
CP é equalizada mais rapidamente (Berre, 1982). do ensaio. Trata-se, portanto, de efeitos que não
Posicionado o CP na célula triaxial, a válvula estão diretamente relacionados à resistência do
ligada à base do CP foi aberta para verificar a solo e, justamente por isso, devem ser
sucção no solo devido à amostragem não determinados para não serem contabilizados
drenada. Após essa medição, a câmara foi como resistência.
enchida com água deaerada. Uma fonte de água A seguir serão abordados com mais detalhes
salina deaerada foi conectada ao bottom-cap e, três efeitos: os pesos próprios do solo, do topcap
abrindo esta drenagem e a do topo, fez-se um e do pistão sobre o corpo de prova; o atrito entre
fluxo lento para evitar perturbação no estado de o pistão e a tampa da célula triaxial, e a
tensões do CP. Um pequeno tubo foi conectado resistência da membrana de látex.
às válvulas de topo e base, de modo que, como
os poros da pedra e os orifícios no bottom-cap e 3.1 Peso Próprio, do Topcap e Pistão
no topcap são muito maiores que os vazios do
CP, o caminho preferencial do fluxo será como Ao tomar o centro do corpo de prova como
indicado na Figura 4, saturando as pedras referência para todas as medições, é necessário
porosas e pouco ou nada influenciando o estado considerar o peso próprio da metade superior do
de tensões inicial do CP. solo (Wcp) atuando sobre seu centro. Além disso,
Após a saturação, o CP deve então ser o peso do topcap (Wtc) e pistão (Wpis) já são
adensado para as tensões de campo, as quais são carregamentos aplicados ao CP. Por outro lado,
calculadas sabendo-se a profundidade (z) da o empuxo de água atuante no topcap e no pistão
amostra que gerou o CP, com o peso específico aliviam as cargas de peso aplicadas ao CP.
do solo (γ) e coeficiente de empuxo no repouso O topcap está totalmente submerso, de modo
(K0). Estes parâmetros foram determinados por que basta determinar seu peso específico
Jannuzzi (2013). Em seguida, o CP foi cisalhado submerso para então calcular o peso (Wtc,sub)
até a ruptura a fim de determinar sua resistência. efetivamente suportado pelo CP. Isso foi feito
verificando-se o peso e volume do topcap e
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tomando-se γw=9,81 kN/m³. No caso do pistão, entrar na célula triaxial, aplicando assim a força
Wpis foi determinado diretamente com uma desviadora (D). Há, portanto, um movimento
balança e foi verificado ainda o empuxo (Edesl) relativo entre a superfície lateral do pistão e a
exercido pelo volume de água deslocada tampa da célula triaxial, mobilizando assim o
determinado por imersões do pistão em uma atrito (A) nesta interface. A Figura 5 a seguir
proveta graduada. ilustra este raciocínio.
Já Wcp foi calculado através do peso
específico do solo, γ, e dimensões do corpo de
prova, conforme a equação 1:

𝑊 = (𝛾 − 𝛾 ) ∙ 𝐴 ∙ (1)

Sendo A0 a área transversal do corpo de


prova, admitido cilíndrico, e hcp a altura do corpo
de prova.
O efeito do peso (P) do pistão, topcap e
metade superior do corpo de prova foi calculado
pela equação 2.

𝑃=𝑊 , +𝑊 −𝐸 +𝑊 (2) Figura 5. Esquema da aplicação de tensão confinante.

Assim, para uma tensão vertical desejada para Na Figura 5 estão indicadas as forças atuantes
o ensaio (σv,des), é necessário descontar o efeito no pistão durante o ensaio: reação medida pela
de P no corpo de prova ao se configurar a tensão célula de carga (R), atrito pistão-célula (A), peso
vertical de ensaio (σv,set). Dessa forma, tem-se do pistão (Wpis), resultante do empuxo
que: hidrostático (C) e a força desviadora (D). Nas
leituras de força fornecidas pela célula de carga
𝜎 , =𝜎 , − (3) (R) intrinsecamente existe uma parcela de atrito,
a qual não está relacionada à resistência do solo.
Para ensaios sob altas tensões confinantes, a Novamente alerta-se ao fato de que este efeito
tendência é que a parcela P/A0 seja muito menor pode ser significativo nos ensaios sob baixas
que as demais, de modo que σv,set ≈ σv,des, ou seja, tensões confinantes.
o efeito do peso é reduzido. A medição do atrito, A, foi feita enchendo-se
Já nos ensaios sob baixas tensões confinantes, a célula com água deaerada, aplicando-se tensão
σv,des pode ter a mesma ordem de grandeza de confinante e movendo-se a prensa para cima. A
P/A0. Neste caso, o peso do pistão, topcap e Figura 6 ilustra esta medição sendo feita.
metade do corpo de prova pode ser significativo O valor de A foi calculado ao longo do
para o cálculo de σv,set. deslocamento da prensa, o qual deve ser feito
com uma velocidade compatível com a que será
3.2 Atrito Pistão-Célula utilizada no ensaio.
O valor de R foi obtido diretamente pela
Para aplicação da tensão desviadora, o prato da leitura da célula de carga, Wpis obtido em uma
prensa sobe enquanto o pórtico que contém a balança e C obtido pelo produto da tensão
célula de carga é fixo. A célula triaxial, apoiada confinante atuante pela área transversal do pistão
no LoadTrac, sobe junto com o prato; já o pistão, (C = σc∙apis, sendo apis = 1,32 x 10-4 m²).
restringido pela célula de carga, permanece
imóvel. Como consequência, o pistão começa a
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Figura 6. Medição do atrito. Figura 7. Determinação do módulo de elasticidade e


coeficiente de Poisson da membrana.

3.3 Resistência da Membrana


Kuerbis e Vaid (1990) lançaram mão da teoria
das cascas para estudar as tensões e deformações
No ensaio triaxial, a membrana enclausura o
na membrana. Segundo os referidos autores, a
corpo de prova, evitando que a água da célula
espessura (t) da membrana durante os
entre em contato com o CP. Porém, como a
procedimentos ilustrados na Figura 7 pode ser
membrana está aderida ao corpo de prova,
calculada pela equação 4:
conforme as deformações vão ocorrendo no
ensaio, parte da resistência é absorvida pela
𝑡 𝜐(1 + 𝜐)
membrana. Mais uma vez, um efeito externo à 𝑡= 2+ (𝜀 +𝜀 ) (4)
resistência do solo deve ser considerado, 2 (1 − 𝜐 )
principalmente quando se pretende executar o
ensaio sob baixa tensão confinante. Na equação 4, εMa é a deformação axial e εMv
Para calcular a influência da membrana, é a deformação volumétrica da membrana (εMv =
optou-se pelas correções propostas por Kuerbis e εMa(1-2υ)). Com a espessura atualizada a cada
Vaid (1990), as quais consideram aspectos como carregamento, a área transversal da membrana
tensões e deformações induzidas pela membrana pode ser determinada para o calculo da tensão
durante a moldagem do CP, variação da aplicada.
espessura da membrana e deformações Com as deformações ocorridas durante o
ocorrentes não apenas na fase de cisalhamento, ensaio, tensões axiais (σMa) e radiais (σMr) são
mas também na saturação e adensamento. induzidas na membrana. Ainda segundo a teoria
Inicialmente, com uma régua, pesos e alguns das cascas, essas tensões podem ser
acessórios, são feitas medições e cálculos para determinadas pelas equações 5 e 6.
determinar a espessura (t0) e diâmetro (D0) Como as tensões σMa e σMr são referentes à
iniciais da membrana não esticada, bem como o membrana, estas devem ser descontadas da
módulo de elasticidade (Emem) e coeficiente de tensão desviadora (σd) e da tensão confinante
Poisson (υ) da membrana. Isso permite a (σc) aplicadas ao CP, conforme as equações 7 e
determinação das deformações axiais e radiais 8:
devido à colocação da membrana no CP. A
Figura 7 a seguir mostra este procedimento
sendo realizado.
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𝜎 , =𝜎 −𝜎 (7) Em relação às medições do atrito pistão-


célula (A), foram feitas medições com diferentes
𝜎 , =𝜎 −𝜎 (8) tensões confinantes. A faixa de valores obtidos
está indicada pela área verde no gráfico da
Figura 8.
4 RESULTADOS Antes de cada ensaio, foram determinados
Emem e υ para a membrana a ser utilizada no
Para consideração do valor de P, foi ensaio. Os resultados obtidos estão resumidos na
necessário determinar as parcelas Wtc,sub, Wpis, Tabela 1.
Wcp e Edesl, como descrito no item 3.1. A balança
indicou que Wpis=2,68N. Com as imersões deste Tabela 1. Emem e υ em cada ensaio.
Ensaio Emem υ
pistão na proveta, foi obtido Edesl=0,13N. Foi (kPa)
determinado ainda que Wtc,sub=0,73N. Já o CAUCL-1 695 0,47
cálculo de Wcp foi feito com o valor de Ck0UCL-2 691 0,51
γ = 13 kN/m³, obtido por Jannuzzi (2013) para a Ck0UCL-3 740 0,43
profundidade de 3m, a mesma das amostras
utilizadas nos ensaios. O diâmetro e altura Comparando o valor de P/A0 com a tensão
iniciais do CP são, respectivamente, 35,5mm e vertical desejada para os ensaios, σv,des = 9kPa,
71mm , de modo que, na equação 1, tem-se constata-se que esta representa 38% da tensão
A0=9,9cm² e hcp = 71mm. Assim, obteve-se vertical aplicada.
Wcp = 0,11N. Com a equação 2, conclui-se, Os ensaios mostraram que, para o pico de
portanto, que P = 3,38 N. Assim, tem-se que resistência, o atrito representa, em média, 6 a
P/A0 vale 3,42kPa. 10% da tensão desviadora.

𝜐 1+𝜐
2+ 𝜀 +𝜀
1−𝜐2 𝑀𝑣 𝑀𝑎
𝜎 = ( )
[𝜀 (2 − 𝜐) + 𝜀 𝜐] ∙ 2+𝜀𝑀𝑎−𝜀𝑀𝑣
(5)

𝜐 1+𝜐
2+ 𝜀 +𝜀
1−𝜐2 𝑀𝑣 𝑀𝑎
𝜎 =( [𝜀 (2𝜐 − 1) + 𝜀 ]∙ (6)
) 2+𝜀𝑀𝑎 −𝜀𝑀𝑣

Figura 8. Atrito vs tensão confinante.


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Também foi constatado que a resistência axial pouco, podendo atingir 3% de σc.
da membrana (σMa), para o pico de resistência, As Figuras 9 a 11 comparam os gráficos σd vs
corresponde a valores entre 2 e 4% da tensão εa dos ensaios com e sem as devidas correções.
desviadora. Já para grandes deformações, esse A curva em azul (“Corrigido”) corresponde ao
valor pode atingir de 30 a 34% do σd medido. Em ensaio com todas as correções necessárias. Já a
relação à resistência radial da membrana (σMr), curva em vermelho (“A=0”) despreza o atrito
para o pico de resistência observaram-se valores pistão-célula mas considera a resistência da
negativos da ordem de 1 a 2% de σc. Isso membrana. A curva em verde (“Mem=0”)
significa que, além da pressão hidrostática, a negligencia a resistência da membrana mas
membrana também pode aumentar a tensão considera o atrito. Por fim, a curva em laranja
confinante aplicada. Para grandes deformações, (“A=Mem=0”) desconsidera ambas as
esses valores ou não se alteram, ou sobem um correções.

Figura 9. Tensão desviadora vs deformação axial (CAUCL-1).

Figura 10. Tensão desviadora vs deformação axial (CK0UCL-2).


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Figura 11. Tensão desviadora vs deformação axial (CK0UCL-3).

5 CONCLUSÕES equipamento que permita o uso de célula de


carga interna. Assim, a interface pistão-célula
Os três ensaios triaxiais realizados mostram que não teria nenhuma influência nas leituras de
os efeitos inerentes ao equipamento, quando não força. Entretanto, o equipamento Geocomp não
considerados, podem conduzir a erros dispõe de tal dispositivo.
consideráveis nos resultados dos ensaios sob
baixa tensão confinante. Essa conclusão se
evidencia ao observar que, com as correções, a AGRADECIMENTOS
tensão desviadora máxima varia entre 16,1 e
18,5 kPa; já sem essas correções, esses valores Em primeiro lugar, agradecemos aos
atingem de 17,9 a 21,0 kPa, o que representa um engenheiros Toralv Berre e Vitor Aguiar pelas
erro médio de 11% contra a segurança. enriquecedoras discussões fundamentais para o
Constata-se ainda que, até o pico de desenvolvimento deste trabalho. Registre-se
resistência, o efeito mais significativo é o do ainda um agradecimento especial à toda equipe
atrito pistão-célula. Já para grandes deformações técnica do Laboratório de Ensaios de Campo e
axiais, o efeito da resistência da membrana passa Instrumentação Márcio Miranda Soares, um dos
a ter maior relevância. laboratórios de geotecnia da COPPE, sem os
Foi observado que a mobilização do atrito não quais a construção deste artigo seria muito mais
é constante, mas, após atingir determinado valor, difícil. Agradecemos também a todos os
oscila entre limites de maior e menor magnitude professores, mestrandos, doutorandos e todos os
ao longo do deslocamento. colegas que de alguma forma contribuíram para
Também se verificou que a omissão do peso a elaboração deste trabalho.
próprio do corpo de prova, topcap e pistão pode
levar o operador a realizar o ensaio com tensão
vertical consideravelmente diferente da REFERÊNCIAS
desejada. O peso do pistão (Wpis) é o mais
significativo neste efeito, destacando-se que este Berre, T. (1982). Triaxial Testing at the Norwegian
peso representa cerca de 80% da força P. Geotechnical Institute, Geotechnical Testing Journal.
Berre, T. (2017). Comunicação pessoal.
Uma sugestão para resolver o problema do Danziger, F. A. B., Freitas, A. C., Santana, C. M.,
atrito seria realizar o ensaio com um
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Jannuzzi, G. M. F., Guimarães, G. V. M. e Alves, A. F.


B. (2013). Relatório final de atividades – Provas de
carga horizontal, vertical e inclinada da estaca-torpedo
modelo – Realização das provas de carga, apresentação
e análise dos resultados. Relatório técnico PEC-11444-
rt5, abril.
Geocomp Corporation (2013a). Triaxial software – User’s
manual, Acton, p.14.
Geocomp Corporation (2013b). FlowTrac-II – User’s
manual, Acton, p. 8.
Guimarães, G. V. M. (2015). Comportamento de Estaca-
Torpedo Modelo Instrumentada em Prova de Carga
Horizontal em Argila Mole, Tese D.Sc.,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
Jannuzzi, G. M. F. (2009). Caracterização do Depósito de
Solo Mole de Sarapuí II através de Ensaios de Campo,
Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de
Janeiro.
Jannuzzi, G. M. F. (2013). Inovadoras, modernas e
tradicionais metodologias para a caracterização
geológico-geotécnica da argila mole de Sarapuí II,
Tese D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
Jannuzzi,G. M. F., Danziger, F. A. B., Martins, I. S. M.
(2015). Geological-geotechnical characterisation of
Sarapuí II clay, Engineering Geology, v. 190, p. 77-86.
Kuerbis, R. H., Vaid, Y. P. (1990). Corrections for
Membrane Strenght in the Triaxial Test, Geotechnical
Testing Journal, GTJODJ, Vol. 13, No 4, p.361-369.
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O ensaio DPL na avaliação do terreno arenoso de assentamento de


fundações superficiais de obra de armazéns no Distrito Industrial
de Rio Grande/RS
Cezar Augusto Burkert Bastos
Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
cezarbastos@furg.br

Antonio Marcos de Lima Alves


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
antonioalves@furg.br

RESUMO: Com o objetivo de estabelecer um “controle de qualidade” do terreno de apoio às


sapatas de armazéns graneleiros no Distrito Industrial do Porto de Rio Grande/RS, foram realizados
ensaios de Penetrômetro Dinâmico Leve (DPL) no centro geométrico da base de cada sapata. A
partir de comparações entre resultados de SPT (Standard Penetration Test) - NSPT com resultados de
ensaios DPL – N10, baseados em pontos onde os dois ensaios foram realizados com proximidade,
foi obtida uma correlação entre os parâmetros. A correlação encontrada, com validade para o sítio
da obra em questão, permitiu estabelecer um valor mínimo de NSPT equivalente até 3 m abaixo da
cota de assentamento das sapatas de forma que atendesse as premissas do projeto das fundações. O
artigo discute a correlação NSPT x N10 obtida e o potencial do emprego do ensaio DPL no controle
de qualidade na fase executiva de fundações superficiais.

PALAVRAS-CHAVE: Penetrômetro Dinâmico Leve - DPL, Fundações Diretas, Rio Grande/RS,


Correlação Empírica, SPT.

1 INTRODUÇÃO procedimentos/equipamentos: DPL (Dynamic


Probing Light) - é o ensaio de penetração
A Sociedade Internacional de Mecânica dos dinâmica leve, representando os ensaios de cone
Solos e Engenharia de Fundações (ISSMFE) cravados com menor energia. Segundo a
publicou em 1989 o “Report of the ISSMFE publicação, as investigações com o
Technical Committee on Penetration Testing of equipamento devem atingir profundidades
Soils - TC 16 with Reference Test Procedures: máximas entre 8 e 10 m; DPM (Dynamic
CPT - SPT - DP – WST” (ISSMFE, 1989), que Probing Medium) - é um ensaio executado
trata dos ensaios de penetração nos solos. O usando uma massa de queda média, e para
apêndice C desta publicação aborda os profundidades menores que 25 m; DPH
procedimentos para execução de ensaios de (Dynamic Probing Heavy) - usa uma massa de
penetração dinâmica contínua (Dynamic queda média a pesada; DPSH (Dynamic
Probing - DP). O objetivo deste tipo de ensaio, Probing Superheavy) - representa a maior
também chamado de auscultação dinâmica, é energia e tem aproximadamente as dimensões
medir o esforço requerido para cravar um cone do Standard Penetration Test (SPT), podendo-se
conduzido por segmentos de hastes roscáveis atingir profundidades maiores que 25 m. Um
através do solo e, a partir deste, inferir resumo das características dos equipamentos é
propriedades mecânicas do solo. apresentado na Tabela 1.
Na referida publicação são citados quatro
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Tabela 1. Especificações para equipamentos de referência histórica ao DPL (Figura 2).


penetração dinâmica DP (modificado de ISSMFE, 1989). Entretanto, até hoje o ensaio desperta interesse
ESPECIFICAÇÃO DPL DPM DPH DPSH
pela sua simplicidade e repetibilidade, associada
Massa do martelo M 10 30 50 63,5
(kg) à portabilidade do equipamento. Como exemplo
Altura de queda H 0,5 0,5 0,5 0,75 evolutivo tem-se o acréscimo da medida do
(m) torque (Nilsson, 2004) e o estudo de medidas de
Massa do capacete 6 18 18 30 energia (Figueiredo, 2016).
(kg)
Comprimento das 1 1-2 1-2 1-2
hastes (m)
Massa das hastes 3 6 6 8
(kg/m)
Ângulo do cone (0) 90º 90º 90º 90º
Área do cone (cm2) 10 10 15 20
Diâmetro do cone 36 36 43,7 51
(mm)
Comprimento
10 10 10 20
cravado na contagem
dos golpes (cm)
Trabalho específico
50 150 167 23
por golpe (kJ/m2)

Os ensaios de auscultação dinâmica são


usados principalmente em areias, mas são
também empregados para detectar camadas
moles, bem como localizar camadas mais
resistentes em terrenos de fundações (p.ex.
Castello et al., 2001). Figura 1. Equipamento para ensaios DPL do Laboratório
No estudo foco deste artigo é utilizado o de Geotecnia e Concreto da FURG.
DPL na avaliação do terreno de assentamento
de fundações diretas por sapatas. Conforme
Tabela 1, o equipamento utilizado consiste de
um martelo, capacete de cravação, hastes e
ponteira, com as seguintes características:
massa do martelo de 10 kg; altura de queda do
martelo de 0,5 m; massa do capacete de 6 kg;
hastes de 1 m de comprimento com massa de
3 kg/m; cone de ângulo de vértice de 90º e área
Figura 2. Equipamento DPL (segundo norma
de 10 cm2 e trabalho específico por golpe de
DIN4094/64 – referido também como sonda Kunzel).
50 kJ/m2. O penetrômetro é cravado no subsolo
de forma contínua e numa velocidade de 15 a Com o objetivo de estabelecer um “controle
30 golpes por minuto. Todas as interrupções de qualidade” do terreno arenoso de apoio às
devem ser registradas, assim como quaisquer sapatas de dois armazéns graneleiros em
desvios em relação à vertical. É computado o construção no Distrito Industrial adjacente ao
número de golpes a cada 10 cm de penetração – Porto de Rio Grande/RS, foram realizados
N10. O equipamento do Laboratório de ensaios de DPL no terreno ao centro geométrico
Geotecnia e Concreto da FURG, empregado de cada sapata. A partir de comparações entre
neste estudo, é ilustrado na Figura 1. resultados do SPT (Standard Penetration Test) -
A norma alemã DIN 4094 de 1964 é NSPT com resultados de ensaios DPL – N10,
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baseados em pontos onde foram realizados amostras das sondagens SPT também acusaram
proximamente os dois ensaios, foi obtida uma essa ocorrência (Figura 6).
correlação empírica entre N10 e NSPT. A
correlação encontrada, com validade para o sítio
da obra em questão, permitiu estabelecer um
valor mínimo de NSPT equivalente até cerca de
3 m abaixo da cota de assentamento das sapatas,
de forma que atendesse as premissas do projeto
de fundações.
O artigo também discute a correlação NSPT x
N10 obtida para o terreno arenoso em questão e
o potencial do emprego do DPL no controle de
qualidade na fase executiva de fundações
superficiais.

2 OBRA EM ESTUDO

A investigação geotécnica em foco destina-se


ao projeto e construção de dois armazéns para
estocagem de grãos para empresa aduaneira
situada no Distrito Industrial de Rio Grande/RS
(área contruída de 54x150m cada armazém). O
projeto prevê a execução de 136 sapatas (68 por
armazém). Foi prevista a realização de
sondagens SPT na seguinte monta: 75 furos
com 6 m de profundidade, 15 furos com 20 m Figura 3. Planta de locação de fundações e sondagens.
de profundidade e 6 furos com 50 m de
profundidade (Figura 3).
O perfil de terreno retratado em uma das
sondagens menos profundas é exemplificado na
Figura 4. Tem-se registrada a presença de solo
arenoso fino pouco argiloso com resistência a
penetração crescente com a profundidade. O
nível d’água registrado nas sondagens variou de
0,2 a 3,3 m, com valor médio de 1,1 m. O perfil
é condizente com a formação geológica de Figura 4. Perfil de sondagem SPT típico no terreno
cordões litorâneos holocênicos presentes na
região do Superporto e Distrito Industrial de
Rio Grande (Godolphin, 1976).
Complementou a investigação a realização
de sondagens a trado mecanizado para
verificação do solo no local na posição de cada
sapata. Na ocasião foi detectada a presença de
uma areia mais escura que suscitou a
necessidade de ampliar a investigação na fase Figura 5. Presença de areia mais escura verificada em
executiva das fundações (Figuras 5). Algumas sondagem a trado.
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executivos, a compactação não teve a eficácia


esperada (Figura 7b).

Figura 6. Presença de areia escura em amostra de


sondagem SPT (SP50 – 1m).

O teor de materia orgânica deste material


escuro, determinado pela técnica de queima a
440oC, foi de 1,9%, não tão grande como
esperado. O fato reforçou suspeita de que, na
verdade, ocorram porções isoladas de areia
misturada a cinzas residuárias da queima de
madeira ou casca de arroz por caldeiras em
indústrias adjacentes.
Pela presença deste material anômalo à
natureza geológica de área e, sobretudo, pelo
fato das sondagens não coincidirem com a
posição das sapatas, apesar de executadas em
(a) (b)
apreciável número, foi imposto pelo projetista a
Figura 7. Exemplos de ensaios DPL conduzidos no
necessidade da comprovação de um NSPT terreno natural e após compactação do solo: (a) com
mínimo até uma profundidade de 3 m, a contar notável aumento da resistência a penetração até 2m;
da base das sapatas. O ensaio DPL foi proposto (b) sem eficácia no aumento da resistência a penetração.
para este controle, em vista de ser mais
econômico, de mais rápida execução e maior
repetibilidade. Caso o solo não apresentasse a 4 CORRELAÇÕES ENTRE N10 E NSPT
resistência à penetração mínima ao longo desta
profundidade, era preconizada a escavação do Na busca de um NSPT equivalente aos valores de
solo e sua compactação em camadas. N10 obtidos com os ensaios DPL, investiu-se em
estabelecer uma correlação empírica própria ao
sítio investigado. O emprego de um parâmetro
3 CAMPANHA DE ENSAIOS DPL de controle diverso ao gerado pelos ensaios
realizados, embora questionável, obedeceu a
Contabilizando somente o armazém 1, foram uma premissa de projeto e sua contestação fugiu
realizados 121 ensaios DPL, posicionados nos da alçada dos proponentes deste artigo.
centros geométricos das bases das sapatas e em Na literatura técnica são registrados estudos
profundidades máximas que variaram de 2,6 a de correlações entre NSPT e N10. Cabe destacar
3,3 m. que estas correlações, em geral, são propostas
Em algumas das sapatas foram realizados especificamente para os solos envolvidos, visto
ensaios na condição natural e após compactação que é de consenso que o tipo de solo influencia
do solo, quando esta se tornou necessária. O nestas relações. Nilsson (2004) expressa
aumento na resistência a penetração com a convicção de que não se devem fazer
compactação ficou evidente na maioria dos correlações gerais entre SPT e DPL. Por outro
casos (Figura 7a). Entretanto, em algumas lado, ISSMFE (1989) recomenda o uso da
situações minoritárias, por problemas resistência de ponta (qd) para normalizar o uso
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de diferentes penetrômetros, ao invés de Já Alves Filho (2010) encontrou o valor 2,05


relacionar diretamente os valores dos números para a relação N10/NSPT de solos argilosos
de golpes, mas esta recomendação é na maioria presentes em dois sítios em Minas Gerais.
das vezes ignorada (Santos, 2017). Sanchez et al. (2010) obtiveram correlações
Com dados de Martins e Miranda (2003), a partir de dados de 17 ensaios SPT e DPL em
correlacionando resultados de DPL, DPH e diferentes formações geológicas, localizadas
SPT, para solos graníticos de Portugal, chega-se nos municípios paranaenses de Curitiba,
a relação expressa na Equação 1. Cascavel, Guaíra, São José dos Pinhais e
Figueira. Considerando a média de três valores
N10 = 4,78 x NSPT (1) de N10 em cada profundidade do ensaio SPT, a
relação obtida é indicada na Equação 3.
Nilsson (2004) obteve diversas correlações
entre N10 e NSPT, correspondente a alguns locais NSPT = 0,6062 x N10 – 0,3644 (3)
com solos da Formação Guabirotuba, em
Curitiba e São José dos Pinhais, e solos porosos Rodriguez e Albuquerque (2011) comparam
de Campinas, Londrina e Brasília (Tabela 2). resultados de DPL e SPT-T realizados no
Campo Experimental de Mecânica dos Solos e
Tabela 2. Correlações N10 x NSPT obtidas por Nilsson Fundações da FEC/Unicamp. Foram
(2004) (modificado de Rodriguez e Albuquerque, 2011). identificadas duas diferentes camadas de solo e
Local Geologia / Correlação
Tipo de Solo N10 x NSPT
correlações também distintas foram
Form. Guabirotuba estabelecidas para a camada de argila siltosa
CIC – / argila orgânica N10 = 6 x NSPT coluvionar (1 a 6 m) e para a camada de silte
Curitiba arenosa e silte argilo-arenoso (7 a 11 m) (Equações 4 e 5,
argiloso respectivamente).
UFPR – Form. Guabirotuba
N10 = 3,4 x NSPT
Curitiba / argila siltosa
Embasamento N10 = 1,03 x NSPT + 1,77 (4)
C. Res .
migmatito / argila N10 = 6 x NSPT
Curitiba
silto-arenosa N10 = 0,34 x NSPT + 6,37 (5)
São José dos Form. Guabirotuba N10 = 7,5 x NSPT –
Pinhais / argila siltosa 30 No exterior cabe citar os trabalhos de
Argila silto-arenosa
Ibrahim e Nyaro (2011) (apud Lingwanda et al.,
UNICAMP 2015) e Lingwanda et al. (2015), que indicam
e silte argilo- N10 = 2,5 x NSPT
Campinas
arenoso uma relação 1,0 e 1,03 para a relação N10/NSPT,
Datapoli Argila siltosa N10 = 0,54 x NSPT respectivamente para areias argilosas de Gana e
Londrina porosa + 4,5 Tanzânia, respectivamente.
UEL – Argila siltosa Por fim, cabe referir as correlações com
N10 = 1 x NSPT
Londrina porosa origem na norma DIN 4064 (1991). Segundo
UnB – Hafström e Skogsberg (1994), para a norma
Argila porosa N10 = 1 x NSPT
Brasília
germânica distintas correlações são válidas para
diferentes materiais e condições de saturação
Azevedo e Guimarães (2009), comparando dos terrenos. A Tabela 3 sumariza as indicações
resultados de DPL e SPT realizados ao longo de dos autores.
uma linha de transmissão no norte do Brasil,
propõem a relação apresentada na Equação 2.

NSPT = 1,02 x N10 – 2,11 (2)


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Tabela 3. Correlações presentes na DIN 4094 (citadas por número total de dados relacionados. Após
Hafström e Skogsberg, 1994). tratamento estatístico, no qual se eliminou
Tipo de solo Correlações
valores espúrios, a correlação estabelecida
Argila NSPT = 0,6 x N10
Areia limpa N10(DPH) = 0,34 x N10 levou em conta 63 pares de dados N10 e NSPT
acima do nível NSPT = 1,4 x N10(DPH) coletados.
d’água logo: NSPT = 0,476 x N10 Valores de NSPT maiores que 50 foram
para 3 < N10 < 50 considerados por extrapolação para penetração
Areia limpa NSPTacimaNA = 1,1 x NSPTabaixoNA + 5
de 30 cm, a partir do número de golpes para
abaixo do nível N10acimaNA = 2 x N10abaixoNA
d’água logo: penetrações parciais do amostrador padrão.
NSPTabaixoNA = 0,865 N10abaixoNA – 4,545 A Figura 8 ilustra a correlação obtida. O
para 3 < N10 < 50 valor NSPT/N10 encontrado foi de 1,289, com
coeficiente de determinação de 0,819.
Observa-se na breve revisão apresentada uma
variabilidade acentuada nas relações 120
110
estabelecidas entre os dois parâmetros de 100
R² = 0,8194
resistência à penetração. A influência do tipo de 90
80
solo e das diferenças entre equipamentos e 70
procedimentos empregados (apesar das
N10

60
50
referências normativas existentes) são 40
justificativas plausíveis. 30
20
Linear (correlação obtida: NSPT/N10 = 1,289)
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
5 RELAÇÃO NSPT x N10 ESTABELECIDA NSPT
PARA O SÍTIO DA OBRA Figura 8. Relação NSPT/N10 estabelecida para o sítio da
obra
Na busca de uma relação entre valores de N10
dos ensaios DPL realizados na campanha pelo
Laboratório de Geotecnia e Concreto da FURG 6 ENSAIOS DPL NO “CONTROLE” DO
(item 3) e de NSPT obtidos pela campanha de TERRENO DE APOIO ÀS SAPATAS
sondagens pretérita (item 2), foram comparados
valores de cada ensaio com maior proximidade Com subsídio da campanha de ensaios DPL
na área da obra e em uma mesma profundidade. realizada e da correlação entre NSPT x N10
Destaca-se que se atentou aos registros de cota obtida, foi possível avaliar junto a base de cada
inicial das sondagens SPT e ensaios DPL. sapata se o valor mínimo NSPT = 10 até a
Foram comparados valores médios dos três profundidade de 3 metros, estabelecido pelo
dados de N10 no mesmo intervalo de projetista, era atingido. Caso esta resistência à
profundidade dos 30 cm finais de cravação do penetração não fosse alcançada, era indicada a
amostrador da sondagem SPT relacionada. escavação, reposição e compactação do solo em
Cabe destacar que para cada perfil de SPT e camadas, e um novo ensaio DPL era prescrito
DPL comparados, tinham-se, no máximo, três para verificar a efetividade do procedimento.
valores N10 x NSPT relacionados, em virtude da Exemplificando a aplicação dos ensaios
profundidade dos ensaios DPL realizados DPL, a Figura 9a ilustra uma situação onde o
(máximo 3,3 m), na qual se tinham registros de critério não foi atendido pelo terreno natural e o
no máximo três ensaios SPT. Entretanto, procedimento de escavação, reposição e
fortaleceu a correlação estabelecida o grande compactação do solo foi necessário. Entre 1,2 e
número de sondagens SPT e ensaios DPL 2,1 m o solo apresentou valores de NSPT
envolvidos no estudo e, por consequencia, o equivalente inferiores a 10. Com a compactação
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do solo (Figura 9b) o perfil de NSPT equivalente AGRADECIMENTOS


se alterou significativamente. O terreno de
apoio nesta última condição foi liberado para Os autores agradecem à equipe técnica do
execução da sapata. Laboratório de Geotecnia e Concreto da FURG,
liderada pelo técnico Celço Mendonça,
responsável pela realização dos ensaios DPL.

REFERENCIAS

Alves Filho, C.E.S. Correlações para obtenção de


parâmetros geotécnicos de argilas compressíveis com
utilização do penetrômetro dinâmico leve.
Dissertação de Mestrado em Geotecnia. Escola de
Minas, UFOP, Ouro Preto/MG, 2010, 127p.
Azevedo, C.P.B.; Guimarães, M.G.D. Proposição de uma
equação de correlação entre resultados de sondagens
tipo DPL e valores NSPT. XIII Encontro Regional
Ibero-Americano do Cigrés, Anais... Puerto Iguazú,
2009.
Castello, R.R.; Polido, U.F.; Bicalho, K.V.; Ribeiro,
R.C.H. Recalques observados de sapatas em solos
(a) (b) terciários de São Paulo. Solos e Rochas, São
Figura 9. Perfis de N10 e NSPT equivalente na situação do Paulo/SP: ABMS, 2001, v.24, n.2. p.143-153.
(a) terreno natural e (b) após escavação, reposição e DIN 4094 (1991), Erkundung und Untersuchung des
compactação do solo em camadas Baugrunds, Beuth - Alemanha, 1991.
Hafström, P.; Skogsberg, J. Liquefation during the
Limón-Telire Earthquake, 22 april 1991.
Stockholm/SW:Division on Soil and Rock Mechanics,
7 CONCLUSÕES Royal Institute of Technology. Report n.94/7.
ISSMFE – International Society of Soil Mechanics and
O estudo conduzido destaca o potencial Foundation Engineering. International Reference Test
apresentado pelo ensaio DPL no “controle de Procedures for Dynamic Probing (DP). Report of the
ISSMFE Technical Committee on Penetration Testing
qualidade” de terrenos de apoio a fundações of Soils – TC 16 with Reference Test Procedures.
diretas. A economia, praticidade e Swedish Geotechnical Society, 1989.
repetibilidade do ensaio permitiu uma avaliação Figueiredo, L.C. Medida de energia do DPL com
individualizada de cada elemento de fundação instrumentação dinâmica. Tese de Doutorado em
no caso de obra ilustrado, atingindo plenamente Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, UnB, Brasília/DF, 2016, 215p.
os objetivos propostos. Godolphim, M. Geologia do Holoceno costeiro do
Como o parâmetro de controle estabelecido município de Rio Grande, Dissertação de Mestrado,
pelo projetista era o NSPT, foi necessário IG/UFRGS, Porto Alegre/RS, 1976, 146p.
estabelecer uma correlação NSPT x N10 válida Lingwanda, M.I.; Larsson, S.; Nyaro, D.L. Correlations
para o sítio da obra em questão. A correlação of SPT, CPT and DPL Data for Sandy Soil in
Tanzania. Geotechnical Geology Engineering.
obtida mostrou-se estatisticamente significativa Switzerland:Springer International Publishing, 2015,
dada a qualidade e quantidade amostral. vol.33. p.1221–1233
Reforça-se a posição de outros autores de que Martins, J.B.; Miranda, T.F.S. Ensaios de penetração nos
correlações gerais entre NSPT e N10 são solos graníticos da região norte de Portugal. Algumas
inapropriadas. A revisão apresentada neste correlações. Engenharia Civil, Minho/PT:
Universidade do Minho, 2003, n.17. p.5-18
trabalho aponta para o fato. Nilsson, T.U. Comparações entre DPL NILSSON e SPT.
IV Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica da
Região Sul. Anais... ABMS:Curitiba/PR. p. 61-68.
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Rodriguez, T.G.; Albuquerque, P.J.R. Verificação da


adequabilidade de correlações entre os ensaios SPT-T
e DPL para um solo coluvionar da região de
Campinas/SP. 13º Congresso Brasileiro de Geologia
de Engenharia e Ambiental. Anais... ABGE:São
Paulo/SP, 2011.
Sanchez, P.F.; Boszczowski, R.B.; Lacerda, L.A.; Loyola,
R.D. Estudo da viabilidade do uso do Penetrômetro
Dinâmico Leve (DPL) para projetos de fundações de
linhas de transmissão em solos do estado do Paraná.
XV Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica. Anais... ABMS:Gramado/RS,
2010.
Santos, M.D. Correlações entre sondagem de simples
reconhecimento e resultados de ensaios de campo
(SPT, CPT, DP) para diferentes subsolos arenosos.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, UFES, Vitória/ES,
2017, 175p.
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Os Primeiros Ensaios de DSS (Direct Simple Shear) na Argila


Mole de Sarapuí II

Graziella Maria Faquim Jannuzzi


UFRJ, Engenharia, Macaé, Brasil, jannuzzi@coc.ufrj.br

Fernando Artur Brasil Danziger


UFRJ, COPPE e Escola Politécnica, Rio de Janeiro, Brasil, danziger@coc.ufrj.br

Ian Schumann Marques Martins


UFRJ, COPPE e Escola Politécnica, Rio de Janeiro, Brasil, ian@coc.ufrj.br

RESUMO: Ensaios de cisalhamento simples (direct simple shear, DSS), realizados na argila muito
mole de Sarapuí II, são descritos e analisados. Os procedimentos de ensaio, inclusive o processo de
moldagem dos corpos de prova, são detalhados. Uma vez que esse tipo de ensaio, embora
largamente empregado em vários países europeus, tenha ainda emprego restrito no Brasil, aspectos
históricos e conceituais do ensaio são enfatizados.

PALAVRAS-CHAVE: DSS (Direct Simple Shear), argila mole, velocidade de distorção angular,
deformação cisalhante máxima.

1 INTRODUÇÃO se espera um estado de cisalhamento simples.


Esta condição pode existir, por exemplo, em
O ensaio de cisalhamento simples (direct simple análises de aterros sobre solos moles, fundações
shear – DSS) ainda não representa uma prática offshore e problemas de estabilidade de taludes.
usual no Brasil e, de modo especial no caso da No ensaio de cisalhamento simples, as
argila mole de Sarapuí, ainda não havia sido condições de deformação cisalhante simples são
realizado. impostas ao corpo de prova após o
Uma descrição detalhada do DSS foi adensamento.
realizada no trabalho clássico de Bjerrum e
Landva (1966). Uma amostra cilíndrica, com
diâmetro de 8 cm e altura de 1 cm, é envolvida 2 HISTÓRICO
por uma membrana de borracha reforçada, que,
quando confinada, permite deformações O primeiro equipamento de DSS foi
verticais e deslocamentos horizontais, sem desenvolvido por Kjellman (1951). Este
mudança no diâmetro. O ensaio é adensado e equipamento foi produzido para possibilitar
cisalhado a volume constante. deformações uniformes, desenvolvido como um
Segundo Vucetic e Lacasse (1982), o DSS aprimoramento do ensaio de cisalhamento
tornou-se relevante por causa do maior direto. O equipamento foi modificado por
conhecimento da importância da anisotropia no Bjerrum e Landva (1966) de modo que amostras
comportamento tensão-deformação nos indeformadas pudessem ser ensaiadas.
problemas geotécnicos e da simplicidade do Verificou-se que as resistências medidas em
ensaio DSS com relação aos ensaios triaxiais. ensaios DSS forneciam melhor concordância
O ensaio DSS pode reproduzir com a resistência determinada através do ensaio
aproximadamente as condições de campo onde de palheta e com a retro-análise de algumas
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rupturas do que a resistência medida em ensaios drenados e ensaios drenados-não drenados é


triaxiais de compressão. Este fato gerou muito livre.
interesse no ensaio DSS, que se tornou um
ensaio padrão no laboratório do Instituto
Norueguês de Geotecnia (NGI).

2.1 O equipamento do SGI (Kjellman, 1951)

De acordo com Kjellman (1951), os ensaios de


rotina no Royal Swedish Geotechnical Institute
(SGI) usavam um equipamento de cisalhamento
direto, construído em 1936, que se diferenciava
em vários aspectos dos equipamentos
empregados em outros países. Vale ressaltar que
nesta ocasião Kjellman não tinha se dado conta
que se tratava de um ensaio diferente, (a)
imaginava que estava realizando um ensaio de
cisalhamento direto melhorado.
A Figura 1a mostra um corpo de prova, com
20 mm de altura e 60 mm de diâmetro, que é
colocado entre duas placas com ranhuras. O
corpo de prova é confinado lateralmente por
uma membrana de borracha e externamente por
um conjunto de anéis de alumínio.
O carregamento vertical é aplicado por meio
de pesos de chumbo no topo do pistão. A força
horizontal é produzida por pesos suspensos de
um cabo associado a uma roldana, conforme
mostrado na Figura 1b. O adensamento vertical
é medido por meio de um extensômetro e o
deslocamento horizontal, da placa superior, por
(b)
outro. Figura 1 - Equipamento do SGI: a) parte central; b) vista
O equipamento do SGI tem as vantagens geral (Kjellmann, 1951).
listadas abaixo, quando comparado com outros
equipamentos de cisalhamento direto. 4) No equipamento SGI a deformação do
1) No equipamento SGI, graças à completa corpo de prova (Figura 2a) é aproximadamente
vedação do corpo de prova, qualquer solo pode igual em todos os pontos, e consiste numa
ser testado com teor de umidade constante. mudança do ângulo correspondente ao
2) Com o equipamento do SGI, novamente cisalhamento simples na teoria da elasticidade.
graças à completa vedação do corpo de prova, o O módulo cisalhante G pode, portanto, ser
ensaio pode ser feito com qualquer velocidade computado do resultado dos ensaios. Em outros
desejada. Assim a influência deste fator na equipamentos (Figura 2b), a deformação varia
resistência ao cisalhamento pode ser estudada e de ponto para ponto. Nas partes dianteira e
uma apropriada velocidade pode ser escolhida. traseira do corpo de prova (referida à direção da
3) No equipamento SGI o adensamento força cisalhante) ruptura localizada ocorre
vertical do corpo de prova durante ensaios imediatamente no começo do ensaio, enquanto
no resto do corpo de prova ocorre a “mudança
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do ângulo”. Desta maneira, naqueles um equipamento aplicar de fato a condição de


equipamentos a ruptura é progressiva. cisalhamento simples. Apresenta um novo
equipamento, que seria capaz de aplicar
deformações cisalhantes uniformes a um corpo
de prova.
O equipamento de Roscoe (1953) utiliza
corpos de prova de seção quadrada, de 6 cm de
Figura 2 - Deformação do corpo de prova: a) no
equipamento do SGI; b) em outros equipamentos lado e 2 cm de altura, e dispõe de um sistema
(Kjelmann, 1951). com placas laterais, que giram durante o
processo de cisalhamento (ver Figura 3).
5) No equipamento SGI a área da superfície
potencial de ruptura permanece constante,
enquanto que em outros equipamentos decresce
durante o ensaio.
6) No equipamento SGI a distribuição das
tensões no corpo de prova não é perfeita. É,
entretanto, razoavelmente boa e certamente
melhor do que em outros equipamentos em que
as condições de tensão são muito irregulares na
frente e atrás do corpo de prova.
A desvantagem do equipamento do SGI é Figura 3 –Seções verticais do equipamento de Roscoe
que a inserção (montagem) do corpo de prova é (1953).
bastante mais complicada do que outros
2.3 O equipamento do NGI (Bjerrum e
equipamentos de rotina.
Landva, 1966)
Conforme se pode observar da comparação
acima, Kjelmann (1951) entendia seu Em 1961 o Instituto Norueguês de Geotecnia
equipamento como um equipamento de (NGI) começou um estudo detalhado das
cisalhamento melhor do que os usuais (de propriedades fundamentais tensão-deformação-
cisalhamento direto) e não o considerava um resistência de argilas normalmente adensadas de
equipamento distinto, como hoje é aceito. elevada sensibilidade. O estudo foi iniciado por
resultados obtidos de investigações do
2.2 O equipamento de Cambridge (Roscoe, deslizamento ocorrido em Furre (Hutchinson,
1953) 1961). A proposta deste estudo foi obter melhor
entendimento dos fatores que influenciam a
Assim como Kjelmann (1951), Roscoe (1953) resistência ao cisalhamento de campo para este
inicia seu artigo relacionando as desvantagens tipo de argila e desenvolver métodos que
do ensaio de cisalhamento direto. Menciona permitissem avaliar a estabilidade de taludes
ainda as vantagens do ensaio em relação aos naturais. O DSS foi construído em 1961 tendo
ensaios triaxiais, justificando assim a melhoria sido inspirado de modo a se obter a resistência
do ensaio de cisalhamento direto. ao cisalhamento medida em uma grande caixa
Roscoe (1953) cita o trabalho de Kjelmann de cisalhamento executada em Furre
(1951) como a mais bem sucedida tentativa de (Hutchinson and Rolfsen, 1962). Os resultados
modificação do ensaio de cisalhamento direto obtidos foram consideravelmente melhores,
de modo a aplicar uma condição de com base nos valores obtidos de retro-análises
cisalhamento simples. Menciona limitações do do escorregamento, do que os valores
equipamento de Kelmann (1951), e faz uma observados em ensaios triaxiais convencionais.
interessante observação quanto à capacidade de
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2.3.1 Equipamento e procedimento de ensaio enrolamentos helicoidais de arame tendo um


diâmetro de 0,15 mm e 25 voltas por cm. O
Conforme mencionado, o DSS foi desenvolvido equipamento é desta maneira um
com intuito de simular em laboratório as desenvolvimento da idéia de Kjellmann (1951),
condições de deformação de campo onde um que utiliza amostra cilíndrica confinada no
grande bloco de solo se move essencialmente na interior de membrana de borracha reforçada por
horizontal, como resultado das deformações anéis metálicos exteriores.
cisalhantes em uma fina camada de argila O corpo de prova é colocado na placa de
delimitada por areia, tal como no caso de Furre. fundo do quadro de carregamento. O top cap é
O requisito essencial era que o corpo de prova fixado na parte superior que se move, a qual
de solo deveria ser uniformemente deformado guia o top cap e impede que sofra inclinação. O
em cisalhamento simples e em condições de carregamento vertical é transferido do top cap
deformação plana. Quanto ao corpo de prova, o para o corpo de prova através de rolamentos de
principal requisito do equipamento era portanto rolo. A força horizontal é aplicada no top cap
montar corpos de prova indeformados de argilas por um motor e uma caixa de engrenagem com
de alta sensibilidade (quick-clays) na membrana velocidade variável. De modo a permitir um
confinante, a qual permitiria mudanças na controle contínuo da força vertical aplicada no
espessura do corpo de prova mas que não corpo de prova, a haste de carregamento do
ocorresse mudança no diâmetro, o que braço pode ser conectada a um mecanismo de
permitiria ao corpo de prova se deformar em carregamento controlado, sendo o carregamento
cisalhamento simples. Este requisito foi vertical aplicado medido com uma célula de
preenchido confinando-se um corpo de prova, carga (Figura 4).
de diâmetro de 8 cm e altura de 1 cm, numa
membrana de borracha reforçada com

1 - Amostra; 2 - Membrana reforçada; 3- Roldanas para aplicação de pesos; 4- Medidor de força vertical; 5- Tampão
bola; 6- Medidores de deslocamento vertical; 7- Caixa deslizante; 8- Medidor de deslocamento horizontal; 9-
Rolamento; 10- Medidor de força horizontal; 11- Caixa de engrenagens; 12- Servo motor permutável; 13- Braço de
alavanca; 14- Pesos; 15- 16 Mecanismo de fixação e ajuste usado para ensaios a volume constante.

Figura 4 – Princípios gerais do ensaio, equipamento de DSS, projeto de 1965 (Bjerrum e Landva, 1966).
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Conforme mencionado o equipamento foi na amostra. O ensaio realizado a volume


construído para realizar ensaios drenados e a constante é equivalente a um ensaio não
volume constante em corpos de prova drenado e a variação na tensão vertical aplicada
deformados em condições de cisalhamento no corpo de prova é equivalente à variação da
simples e deformação plana. Tendo o corpo de poro-pressão que teria ocorrido no corpo de
prova confinado por uma membrana de prova se tivesse sido evitada a drenagem, para
borracha reforçada, e utilizando corpos de prova uma condição de uma tensão vertical constante
relativamente delgados, obtêm-se deformações aplicada. Este caso foi demonstrado num único
uniformes no corpo de prova, pelo menos ensaio verdadeiramente não drenado em que a
dentro da faixa de deformação de interesse. Em poro-pressão foi medida na base do corpo de
contraste com o ensaio triaxial, que é baseado prova.
no controle das tensões principais, o novo Em decorrência deste fato, segundo Bjerrum
equipamento controla as condições de e Landva (1966) a variação da tensão normal
deformação enquanto a direção e a magnitude requerida para manter o volume constante na
das tensões principais não são conhecidas. amostra passa a ser chamada por conveniência
Durante a fase de adensamento dos ensaios a variação da poro-pressão, e denotada por ∆u. De
tensão principal maior é igual à tensão vertical forma similar a resistência ao cisalhamento a
de adensamento (p) e a tensão horizontal é igual volume constante passa a ser chamada
a K0p, sendo K0 o coeficiente de empuxo no resistência ao cisalhamento não drenada.
repouso. O aumento da tensão cisalhante no
plano horizontal ocasiona rotação parcial das 2.4 Análise conceitual do princípio do
tensões principais e uma mudança de suas ensaio DSS
magnitudes. Devido ao fato que as condições de
tensão são desconhecidas, a interpretação dos O professor Ian Schumann Marques Martins,
resultados dos ensaios é limitada a uma em Jannuzzi (2013), verificou que a
consideração das tensões cisalhantes e normais demonstração da parte conceitual do ensaio
no plano horizontal. O corpo de prova é suposto advém do princípio das tensões efetivas.
romper quando a tensão cisalhante no plano De fato, a segunda parte do princípio das
horizontal apresenta um pico, tensões efetivas menciona (Martins, 1992) que
independentemente se no estágio anterior do toda vez que houver variação volumétrica ou
ensaio a tensão cisalhante em outro plano tenha distorção haverá mudança no estado de tensões
alcançado a resistência de pico. Em outras efetivas. Logo, se não houve variação
palavras, os resultados dos ensaios são volumétrica e a distorção é a mesma no ensaio
interpretados como um ensaio modelo não drenado e no ensaio a volume constante, o
ilustrando as condições de cisalhamento numa estado de tensões efetivas nos dois corpos de
estreita zona separando dois corpos rígidos que prova é o mesmo.
se movem um contra o outro. Sendo assim, se o ensaio é NÃO DRENADO
Devido às dificuldades na prevenção da (Figura 5), tem-se:
drenagem no ensaio de cisalhamento direto, A variação de volume ∆V=0.
ensaios não drenados foram realizados como A altura H e o diâmetro D do corpo de prova
ensaios a volume constante (Taylor, 1953, não variam.
Bjerrum, 1954). Durante a fase cisalhante no A tensão vertical σv = constante.
ensaio drenado a volume constante a velocidade
da deformação aplicada foi selecionada tal que a
poro-pressão no corpo de prova fosse nula
durante o ensaio; a altura do corpo de prova foi
mantida constante por variação da carga vertical
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σv = constante σ’vo = σvo (3)

e depois do adensamento tem-se:

σ’v = σvo(-/+) ∆σ (4)

Como os dois corpos de prova são iguais e a


distorção (γ) é a mesma, de acordo com a parte
Figura 5 – Esquema do ensaio não drenado.
segunda do princípio das tensões efetivas, a
No fim do adensamento, a tensão vertical tensão vertical efetiva (σ’v) obtida no ensaio não
efetiva σ’vo é igual à tensão vertical total σvo, ou drenado é igual a σ’v obtida no ensaio drenado a
seja: volume constante.
Assim,
σ'vo = σvo (1)

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