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HIPOCALCEMIA CLÍNICA E SUBCLÍNICA

EM BOVINOS DE LEITE: REVISÃO DE LITERATURA

Daiany Portela Jardim1, Luciana Giraldi Fiovarante1,


Daniele Furian Araldi2

Palavras-chave: Homeostase do cálcio. Lactação. Colostro. Dieta.

1 INTRODUÇÃO
A hipocalcemia, também denominada de paresia puerperal hipocalcêmica, doença da vaca
caída ou ainda doença da febre do leite, é uma enfermidade que causa grandes impactos
econômicos para os produtores de leite, muito por não apresentar sinais clínicos na maioria dos
casos. É um distúrbio metabólico que se destaca no final da gestação e início da lactação e
poderá estar associado a outras doenças, devido aos baixos níveis de cálcio circulante, como a
mastite, metrite, deslocamento de abomaso e timpanismo, de acordo com Mattos (2019).
Os problemas metabólicos geralmente estão relacionados a nutrição e a genética de
bovinos de leite e são os problemas que acometem vacas de alta produtividade quando não
tiveram manejo nutricional adequado no pré parto. O momento da lactação é o mais importante
para as vacas, devido à formação do colostro e a alta produção do leite, sendo neste período que
ocorrem as doenças e desordens metabólicas, como a hipocalcemia (JACQUES, 2011). Uma
vaca no nono mês de gestação, pesando em média 550kg, necessita consumir em torno de 31
gramas de cálcio para sua manutenção e gestação. Logo após o parto, essa mesma vaca, além das
31 gramas, passa a necessitar 3 gramas a mais de cálcio para cada litro de leite produzido, com
3,5% de gordura (MAPA, 2000). Esse trabalho tem como objetivo fazer uma revisão de literatura
e apontar as principais características da hipocalcemia clínica e subclínica em vacas de leite
(BERCHIELLI, 2011).

2 MATERIAL E MÉTODOS
Realizado a leitura e interpretação de artigos e trabalhos científicos a fim de correlacionar
ambos, com o objetivo de realizar uma pesquisa com base na temática Hipocalcemia em bovinos

1 Discente do curso de Medicina Veterinária, da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil.
2
Pesquisadora do Grupo Lepan, Docente da Universidade de Cruz Alta- Unicruz. E-mail: Daraldi@unicruz.edu.br

1
de leite. Este trabalho foi desenvolvido a partir de estudos sobre o desenvolvimento da
hipocalcemia em vacas leiteiras.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A hipocalcemia se caracteriza como uma doença metabólica, que ocorre por deficiência
de cálcio, geralmente, em bovinos de leite no período pós-parto. De fato, em virtude desta
característica natural do corpo de concentrar mais Ca para o parto, colostro e lactação, pode-se
dizer que toda vaca apresentará certo nível de hipocalcemia, sendo que há animais que
conseguirão controlar a homeostasia do Ca, e outros que podem apresentar a doença de forma
clínica ou subclínica (FRANÇA, 2013). Na hipocalcemia clínica, a doença apresenta sinais
clínicos como, por exemplo, o animal em decúbito, com disfunção neuromuscular com paralisia
flácida, colapso circulatório, depressão e morte, caso não seja tratado. Já a doença subclínica não
apresenta sinais clínicos e só poderá ser diagnosticada através de exames laboratoriais, gerando
maior impacto econômico ao produtor. Na forma clínica, o animal apresenta um nível de cálcio
menor que 5,5mg/dl, e na forma subclínica, os valores de cálcio situam-se abaixo de 8,5 mg/dl
(FABRIS et al., 2021). Apesar de silenciosa, a hipocalcemia subclínica pode ser notada pela
observação de doenças associadas a deficiência do cálcio, em que a vaca não conseguirá fazer a
contração muscular para fechar o esfíncter mamário, propiciando a entrada de bactérias e o
desenvolvimento de mastite ou, ainda, não terá forças para expelir a placenta, levando a
infecções uterinas, como a metrite.
A concentração de cálcio no soro ou plasma sanguíneo, de uma vaca adulta, é mantida ao
redor de 8,5 a 12mg/dl e é extremamente importante que essa concentração se mantenha estável
para que os processos de comunicação celular ocorram de forma ordenada. Apesar de
intimamente relacionados, mais importante do que a concentração de Ca total é a concentração
de Ca++, já que esta é a forma biologicamente ativa do cálcio. O Ca++ é mantido a
concentrações de 4,5 a 5,5 mg/dl de soro, sendo esses valores 10.000 vezes maiores que os
valores intracelulares de cálcio.
A homeostasia do Ca está relacionada a atividade do PTH (paratormônio), o qual é
secretado pelas glândulas paratireoides e tem como função estimular a absorção do cálcio no
intestino, ossos e evitar a perda do mesmo pelos rins. Desta forma, quando há uma redução de Ca
no sangue, o PTH é ativado para aumentar a mobilização do mineral nas 3 vias relatadas acima.
No entanto, a necessidade é muito maior do que o organismo consegue fornecer (MATOS,

2
2019). Para exemplificar, para uma vaca que requisitou uma grande concentração de cálcio para
produzir 10kg de colostro na primeira ordenha após o parto, será preciso uma quantia de 7 a 10
vezes mais de todo o Ca presente no sangue da mesma, para repor o que foi secretado no colostro
(BERCHIELLI, 2011). Ou seja, é um processo natural do corpo.
Por isso, em vacas primíparas entende-se que todas apresentarão certo nível de
hipocalcemia subclínica. Já em vacas de duas ou mais lactações, a doença poderá se manifestar
de forma clínica, pois o animal com idade mais avançada possui menos osteoblastos ativos no
tecido ósseo e com isso menos receptores para o PTH. Portanto a capacidade de reabsorver o Ca
dos ossos fica reduzida. Esses animais, ainda, produzem mais colostro que as primíparas,
elevando mais a remoção de Ca do sangue (BERCHIELLI, 2011).
Desta forma, a dieta indicada para o pré e pós-parto é a dieta aniônica, com cargas mais
negativas, que induzem a uma leve acidose metabólica, diminuindo o risco de hipocalcemia
clínica. Geralmente, a dieta de ruminantes concentra mais cátions, em virtude do K+ (potássio)
proveniente de forragens, sendo um pouco mais alcalina, pois eleva levemente o PH. No entanto,
na condição dos bovinos de leite, é importante adaptar esta alimentação aumentando sua carga de
íons negativos, com uma dieta suplementada por sais acidogênicos, cuja fonte de ânions pode ser
a base de cloreto de cálcio, cloreto de amônia, sulfato de magnésio, sulfato de cálcio, entre
outros. Ainda, é necessário reduzir os níveis de potássio nesta alimentação e controlar o PH
urinário dos animais, que não pode chegar a 7,0, com risco de uma acidificação inadequada,
podendo causar danos aos bezerros que podem nascer natimortos ou morrerem no período
perinatal (STORCK, 2013).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Hipocalcemia em bovinos leiteiros pode se manifestar da forma subclínica e clínica,
sendo a primeira a que causa maiores prejuízos ao produtor. Pode ser prevenida através de
intervenções no pré parto como trabalhar com dietas aniônicas, com o uso de sais acidogênicos
para melhorar a capacidade de absorção óssea do cálcio. Todavia, fazer uso de tecnologias para
acompanhar a situação do rebanho é muito importante para prevenir doenças e controlar a
quantidade de alimentos ofertados na dieta dos animais, sendo também relevante acompanhar o
peso corporal das vacas e novilhas através de relatórios detalhados, assim evitará a ocorrência de
diversas doenças. Os prejuízos para o produtor na hipocalcemia podem a chegar a
R$1.200,00/vaca, por isso é indicado também o uso de tecnologia através de aparelhos para

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monitorar os animais, antecipando assim a prevenção de quadros graves das doenças (DIA
RURAL, 2020).

REFERÊNCIAS

BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal:


FUNEP, 2006. 2. ed. 2011.

BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO –Normas e Padrões de


Nutrição e Alimentação Animal; revisão 2000. Brasília: MA/SARC/DFPA, 2000.

CAVALIERI, F. L. B.; SANTOS, G. T. Balanço catiônico-aniônico em vacas leiteiras no pré-


parto. v. 25, n. 3, p. 2010, 2001. Acesso em: http://www.nupel.uem.br/balanco. Data:
25/08/2021

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em: https://www.google.com.br/amp/s/controle.diarural.com.br/tecnologia-reduz-perdas-
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CORBELLINI, C. N. et al. Etiopatogenia e controle da hipocalcemia e hipomagnesemia em


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1998. Acesso em: https://www.ufrgs.br. Data: 17/08/2021

FABRIS, Luan Henrique; MARCHIORO, Júlia; RAMELLA, Keli Daiane Cristina Libardi.
Aspectos epidemiológicos, clínicos, patológicos, diagnóstico, profilaxia e tratamento da
hipocalcemia em bovinos: Revisão. PUBVET, v. 15, p. 162, 2020. Acesso em:
https://www.pubvet.com.br. Data: 31/08/2021

FRANÇA, R. da C. Hipocalcemia subclínica na vaca leiteira. 2013. Tese de Doutorado.


Universidade de Lisboa. Faculdade de Medicina Veterinária. Acesso em:
https://www.repository.utl.pt. Data: 17/08/2021

JACQUES, F, E. S. Hipocalcemia Puerperal em vacas de Leite. 2011. Acesso em:


https://www.lume.ufrgs.br. Data: 20/08/2021

MATOS, E. L. S. De. Hipocalcemia em vacas leiteiras. 2019. Acesso em:


http://www.repositoriodigital.ufrb.edu.br. Data: 20/08/2021

STORCK, D. J. Utilização de dietas aniônicas como prevenção de hipocalcemia em vacas de


leite. 2013. Acesso em: https://www.lume.ufrgs.br. Data: 25/08/2021

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