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Resenha: Documentários "O Veneno está na mesa I e II"

Nos documentários “O veneno está na mesa I” e “O veneno está na mesa II”, o uso de
agrotóxicos no país e os impactos que isso causa aos indivíduos, à terra e ao ambiente como
um todo, além das alternativas a esse uso são expostas de modo a levantar diversos
questionamentos.
Um dos questionamentos é sobre o uso inadequado destes produtos químicos. São
mostrados diversos alimentos que sob análise, tiveram resultados acima do tolerado com
relação a presença de agrotóxicos, como por exemplo: tomate, alface, couve, morango, uva,
pimentão, etc. E são inúmeras as razões que podem levar a esse excesso, sendo uma delas o
período de carência não respeitado. Este período é o número de dias que deve ser considerado
entre a última aplicação do agrotóxico e a colheita e não o respeitando, os resíduos dos
vegetais colhidos ficariam acima do limite máximo permitido.
Os resultados negativos nas análises dos alimentos indicam que mesmo com
indicações nas embalagens, ainda ocorrem muitas falhas, seja na aplicação ou até mesmo na
quantidade e o tipo de agrotóxico usado. Não são raras as vezes em que ocorrem apreensões
destes produtos irregulares no país. Tudo isso mostra que existem inúmeras complicações
com relação aos agrotóxicos. E apesar desses problemas e de uma fiscalização que já é
inadequada e não consegue supervisionar tudo, o país segue liberando mais produtos. No
período em que os documentários foram gravados já eram aprovados muitos agrotóxicos e
nos últimos dois anos isso só piorou, onde quase mil novos produtos foram liberados.
Para evitar o consumo desse excesso de agrotóxicos pode-se até cogitar não consumir
mais frutas e hortaliças, mas além de não ser recomendado - o ideal seria optar pelos
orgânicos - não resolveria o problema. Os rastros desses produtos estão não só nos alimentos
frescos, mas também nos processados e ultraprocessados que utilizam muitas vezes como
matéria prima produtos como farinha de trigo, milho, arroz, que também vieram da terra e
podem ter rastros. Além disso, através das pulverizações, especialmente as aéreas, há
contaminação de solos, águas e localidades próximas afetando a todos.
A contaminação chega a tal ponto que há pessoas que trabalham diretamente com os
vegetais ou que fazem o preparo do produto para uso nas plantações que estão tendo
intoxicações, sejam agudas ou crônicas. Um dos documentários inclusive mostra o caso de
um homem que trabalhava no preparo dos agrotóxicos e logo morreu por complicações no
fígado. E não só as pessoas que estão envolvidas diretamente são afetadas, mas através dos
locais atingidos indiretamente, já foram encontrados rastros até mesmo na placenta e no leite
materno de mulheres brasileiras, indicando que desde os primeiros anos de vida as pessoas já
podem ser pouco a pouco afetadas.
Por afetar a saúde das pessoas cada vez mais, os gastos com atendimentos,
internações, medicamentos e outros serviços de saúde acabam aumentando. Isso nos leva a
questionar se de fato o uso de agrotóxicos nas plantações geram tantos lucros ao país. Os
agrotóxicos podem até ser pagos pelos agricultores, mas quem custeia os tratamentos da
população que cada vez fica mais doente em função do uso desses produtos é o governo
através dos impostos recebidos. De certa forma todos acabam tendo que arcar com as
consequências do uso de agrotóxicos, seja com a própria saúde prejudicada ou pagando
indiretamente pelos cuidados do outro.
Em contrapartida a esse cenário desanimador, temos a agroecologia. A utilização de
sementes crioulas em detrimento das sementes híbridas ou transgênicas, os biofertilizantes
em vez de fertilizantes de origem industrial, as plantações que contribuem para um solo
saudável em vez de empobrecê-lo, tudo isso contribui para alimentos mais seguros, meio
ambiente mais equilibrado e diverso e consequentemente, pessoas com maiores chances de
uma vida mais saudável. Tudo está interligado e para alcançar o equilíbrio, a agroecologia é a
resistência necessária.

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