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RELATÓRIO das ELEIÇÕES 2022

O que podemos esperar do futuro próximo

Por
Sasha van Lammeren

Nesta véspera de primeiro turno das eleições gerais de 2022, algumas reflexões devem
ser feitas, assim como algumas correlações que nos permitam considerar os possíveis
resultados. Não se trata de futurologia, mas de probabilidade. E aqui é importante
estarmos preparados para qualquer um dos cenários seguintes.

Para tanto, lembremos de alguns fatos. Chegamos ao primeiro turno exatamente como
descrevi em Dezembro de 2021 (PDF publicado no Grupo Liberalismo Clássico): Luís
Inácio Lula da Silva é o favorito para ser eleito Presidente da República em 2022, algo
que confirmou-se mês após mês, apesar das vozes em contrário.

NENHUMA terceira via (como tanto se falava alguns meses atrás) despontou como
possibilidade. O eleitor brasileiro estava (e está) decidido desde a primeira ordem: seria
entre Lula e Bolsonaro e ponto. Demais candidatos ou foram saindo da disputa (Moro,
Mandetta, Doria etc.) ou foram minguando (com alguma ressalva para Simone Tebet,
que fora da polarização, pode ser a maior vencedora deste pleito).

Dito isso, o cenário que se avizinha é bastante evidente. Com chances reais de ser eleito
no primeiro turno, Lula poderá impor a Bolsonaro uma das maiores derrotas políticas
da história da República. Nenhum presidente em exercício chegou a uma campanha de
reeleição no estado em que Bolsonaro se encontra, podendo perder com 10 pontos
percentuais para o líder. Isso significa alta rejeição, visto que o antipetismo é ainda uma
força considerável da política brasileira e, mesmo assim, parece não ter grande efeito.

No entanto, é importante fazer algumas ressalvas. Jair Bolsonaro não está fraco.
Aventou-se inclusive a hipótese de seu crescimento encostar na cifra de Lula neste
primeiro turno, algo que não aconteceu. Mesmo assim, ele cresceu. O pacote de
bondades e o uso extensivo da máquina pública surtiu resultados, ainda que a rejeição
a Bolsonaro seja maior do que a sua capacidade de transmutar votos. Em Abril deste
ano, Bolsonaro figurava entre os 28% das intenções de voto, e agora, está entre os 38%.

Isso diz que precisamos ser realistas. O fato de ter poucas chances de ser reeleito não
significa imediatamente que ele está politicamente morto. Ele possui, pelo menos, o
apoio de 40% dos eleitores brasileiros. É possível que no dia da eleição ele ganhe alguma
percentagem extra que as pesquisas não estão indicando devido ao voto tímido. E aqui
vale alguma reflexão. No dia 02 de Outubro, veremos se o voto tímido ou o voto útil
foi maior. E isso me leva as minhas previsões. Podemos ter o seguinte:
1º. Lula ser de fato eleito no primeiro turno, com 52-55% dos votos válidos e Bolsonaro
ficar em segundo com 38-35%.

2º. Lula ficar com 48% dos votos válidos contra 42% de Bolsonaro, indo para o segundo
turno com uma diferença de apenas 6%.

Qualquer um destes cenários é inteiramente plausível, independente de torcida. Todas


as pesquisas tem sido constantes em apresentar estes números e se aplicarmos o ajuste
de erro, com os votos tímidos e válidos, a percentagem ficará nesta grandeza acima
referida. Se o resultado for muito diferente, então muita coisa terá de ser revista, pois
não se tratará de um erro de análise, mas de um erro drástico dos próprios dados e da
realidade política em torno do pleito. Dito isso, podemos considerar aqui algumas
consequências políticas para ambos os cenários.

Consequência do Cenário 01
LULA ELEITO NO PRIMEIRO TURNO

Se Lula for de fato eleito com 52-55% dos votos válidos, significa que Bolsonaro deixará
a presidência em 01 de Janeiro de 2023 e que temos um novo mandatário no Poder
Executivo. Aqui vai depender de como Bolsonaro reconhecerá sua derrota (ou se
reconhecerá de todo), e como ele instigará seus apoiadores a responder a este
resultado. Neste cenário, temos dois possíveis caminhos.

a). Bolsonaro questiona e contesta o resultado das eleições, colocando o país em


suspenso;

Aqui, aventaríamos a hipótese de que seus 38% de eleitores, junto as Forças Armadas e
as PMs se insurgiriam contra o STF e TSE, questionando a legitimidade da eleição e
realizando uma apuração paralela, cujo resultado seria diametralmente diferente do
oficial. Os EUA já avisou que irá reconhecer o resultado do TSE, mas não sabemos como
China e Rússia reagiriam (ou se reagiriam de todo). Também não podemos prever se
haverá qualquer tipo de sanção contra o Brasil no caso de uma disputa em suspenso,
visto que depende igualmente da razoabilidade argumentativa e legal para a própria
disputa.

Fato é que neste cenário, o dólar subiria exponencialmente, investidores sairiam do


Brasil e uma espiral recessiva começaria logo no dia seguinte. Um país sem comando é
um país sem política económica, e, portanto, sem futuro. É sem dúvida um dantesco
cenário, que só poderia ser resolvido se o TSE e a ala democrática conseguir se impor
completamente sobre o golpismo bolsonarista. Será preciso povo nas ruas, será preciso
apoio de potências estrangeiras, será preciso a garantia de sanções e de fuga de capitais,
para as elites se unirem na aceitação do resultado eleitoral. Creio que isso pode vir a
acontecer, mas não podemos prever mais além disso, pois uma vez dada a largada para
o golpismo, os seus resultados são completamente imprevisíveis.
b). Bolsonaro reconhece a derrota, dizendo ainda que houve fraude, mas nada além
disso.

Se Bolsonaro reconhecer que perdeu, ainda que ele utilize o discurso de fraude, pode
ser que ele não faça absolutamente nada e comece a negociar uma anistia para ele e
sua família junto ao Congresso. Seu maior receio é o de ser preso e, uma vez fora do
cargo, perderá também a imunidade, o que o coloca passível de ser julgado como um
cidadão comum. A depender de como isso é gerido pelo governo de transição e pelo
Congresso, é possível que ele apenas saia de cena rico e popular entre os seus,
procurando alternativas políticas que catapultem a si e seus filhos no futuro.

Consequências do Cenário 02
ELEIÇÃO VAI PARA SEGUNDO TURNO

No caso de a disputa ir para o segundo turno com uma diferença de 6% entre Lula e
Bolsonaro, temos uma clara hipótese de jogo aberto. E neste jogo aberto, as duas únicas
consequências seriam a vitória de Lula ou a de Bolsonaro, sem qualquer terceira
alternativa qualquer. Portanto:

a). No caso da vitória de Lula no segundo turno;

As consequências A e B do cenário 01 se aplicam.

b). No caso de vitória de Bolsonaro no segundo turno.

Se Jair Bolsonaro conseguir virar o jogo até 31 de Outubro de 2022 num eventual
segundo turno, isso significará que teremos quatro anos de um governo potencialmente
autoritário e que irá possuir os poderes legais para colonizar o STF com novos ministros,
manter o Congresso Nacional sobre a sua égide através de acordos espúrios, e uma
escalada da derrocada da democracia no Brasil.

Embora a oposição, neste caso, se torne uma força muito coesa e forte em torno da
liderança de Lula (o eventual derrotado), ainda assim é difícil prever como será a relação
de Lula com os governadores eleitos sob sua aliança e os congressistas de sua base. O
melhor que se pode esperar de uma oposição lulista a um segundo mandato de
Bolsonaro, seria uma maior efervescência por um impeachment do presidente, o que
coloca em risco a posse do general golpista Braga Netto, o atual novo Vice-Presidente.

Neste cenário consequencial, pode-se esperar um Bolsonaro mais alinhado com a Rússia
de Putin, com a Turquia de Erdogan, com a Hungria de Orbán e assim por diante. Caso,
em 2024, Donald Trump consiga uma vitória nos EUA, voltaremos a ter a dobradinha
Trump-Bolsonaro reforçando a nova direita, trazendo horizontes ainda mais dramáticos
para o futuro da democracia liberal no contexto de conflito geopolítico entre o bloco
Ocidental (EUA-Europa) e Oriental (Rússia-China). Daqui para frente, é imprevisível o
que pode acontecer e seria irresponsabilidade minha aventar qualquer hipótese.
CONCLUSÃO

É, de fato, a eleição mais importante da República, com consequências geracionais. O


melhor cenário para a Democracia seria o cenário 01-B. Neste sentido, se considerarmos
que temos dois cenários com três hipóteses gerais, pode-se afirmar que cada um deles
possui 33% de chances de acontecer.

Cenário 01 (vitória de Lula no primeiro turno)


- Hipótese A – contestada por Bolsonaro [33% de chances]
- Hipótese B – não contestada por Bolsonaro [33% de chances]

Cenário 02 (segundo turno)


- Se vitória de Lula (repete-se A e B do cenário 01)
- Hipótese C – vitória de Jair Bolsonaro [33% de chances]

Dia 02 de Outubro, saberemos qual destes cenários mais se aproxima da realidade. Mas
ai está, não temos abertura para uma hipótese D, E ou F. Pois aqui seria necessário uma
variável que altere completamente as que temos no presente momento. E se “cateris
paribus” (se tudo se mantiver constante), os resultados são bastante evidentes.

OBSERVAÇÃO ADICIONAL:

Sobre Ciro Gomes, Simone Tebet, Felipe D’Ávila, Soraya Thronicke e Padre Kelmon,
pouco podemos dizer. Destes, apenas Ciro e Simone se destacam, com a hipótese
bastante alta de Ciro Gomes terminar abaixo de Simone no resultado do primeiro turno.
Felipe, Soraya e Padre Kelmon não devem chegar nem a 2% juntos.

Quanto ao número de abstenções, brancos e nulos, aventa-se a hipótese de ser um


pouco menor do que em 2018 e 2014, embora também é possível manter-se no mesmo
nível (entre os 20%, mais ou menos).

ALEA JACTA EST

Sasha van Lammeren


30 de Setembro de 2022
Porto – Portugal

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