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TOO HOT TO

HANDLE
ROMANCING THE CLARKSONS 01

TESSA BAILEY
ROMANCING THE
CLARKSONS
LANÇAMENTO
EM BREVE
Quando o resgate parece um monte
de problemas...

A viagem foi definitivamente uma ideia


ruim.
Depois de queimar sua carreira culinária, Rita
Clarkson está encalhada em Só-Deus-Sabe-Onde, Novo
México, com um carro quebrado e seus três irmãos
temperamentais que não via há anos.
Quando o resgate aparece — mais de um metro e
oitenta de sexo quente e encantador em uma moto —
Rita tem certeza que foi da frigideira direto para o
fogo.

Jasper Ellis tem uma reputação de bad


boy nessa cidade e odeia isso.
Mas no momento em que vê Rita, se sente fortemente
tentado.
Há algo real entre eles. Algo cru. E Jasper tem apenas
alguns dias para mostrar a Rita que ele não é para
apenas uma noite...
Ele é para sempre.
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Se não gostou, leia o livro no idioma original!

EQUIPE
PEGASUS LANÇAMENTOS
AGRADECIMENTOS
Too hot to handle é uma história de amor entre Rita e Jasper, uma
história de amor entre quatro irmãos e também entre uma mãe e seus
filhos. Há uma crença comum de que precisamos nos amar antes de
podermos amar o outro. A família muitas vezes pode nos intimidar,
empurrar e nos questionar para reconhecer o nosso verdadeiro eu no
espelho, gostando ou não do que vê. Mas às vezes, tudo o que
precisamos é ver nosso reflexo e perceber que somos dignos.

Espero que você pegue uma carona com os irmãos Clarkson


enquanto eles se movem através do mapa em direção à Nova York, se
apaixonando, mudando vidas e resolvendo suas histórias que serão
compartilhadas conosco ao longo do caminho.

Para minha avó, Violet, pelas histórias que você contava à nossa
família ao longo dos anos, obrigada. Espero que eu tenha deixado e que
continue deixando Belmont, Aaron, Peggy e Rita orgulhosos, como eles
eram com seus irmãos. Desculpe não poder usar o nome Violet. Não
acho que Poppy gostaria de ver esse nome em um livro de beijos.

Para meu marido e filhos Patrick e Mackenzie, por ser minha base
para tudo, a minha felicidade, os amores da minha vida, obrigada por
celebrarem meus triunfos e me confortarem nas derrotas. Lamento que
às vezes vocês falem comigo e eu esteja voando.

À minha editora, Madeleine Colavita na Forever Romance, por


querer essa série e acreditar nesse conceito bastante complicado de
escrever quatro histórias de amor completas sobre o curso de uma

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viagem por uma estrada, obrigada. Eu mal posso esperar o restante
dessa jornada com você e os Clarkson.

Para minha agente, Laura Bradford, obrigada por não apenas me


ajudar a tornar esse conceito mais coeso, mas por ajudar a encontrar
uma excelente casa para os Clarkson. Eu ainda estou atendendo os
telefonemas.

Para Eagleat Aquila Editing, obrigada por ler a versão beta desse
livro e por dar excelentes notas, como sempre. Sua visão significa muito
para mim.

Para Rebecca Stauber, minha professora de jornalismo, obrigada


por me dizer que tinha algum talento, mas não o suficiente para me
acomodar. Isso foi uma ótima lição e ainda uso ela.

Para Jillian Stein por ser sempre a pessoa que diz: “Sim! Amo essa
ideia! Você deve escrever isso!”. Obrigada a todos que vieram a mim
para me incentivar por alguma razão, isso é sempre construtivo e
nunca é forçado. Vocês são verdadeiramente diferentes e eu os valorizo
muito como amigos.

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PRÓLOGO
Miriam Clarkson, 1º de janeiro.

Caso esteja lendo isso, pare. A menos que algo de ruim tenha
acontecido, em outro caso que se dane. Obviamente, não estou, mais aí
para te impedir.

Espero que eu não faça um grande show na hora de morrer. Que


não haja últimas confissões ou desejos melancólicos de ver o nascer do
sol. Se eu sucumbir aos clichês e matar as vibrações de todos,
desculpem-me. Se eu não fizer? Bem, bom para mim. Mas estou
sucumbindo agora, nesse livro, porque tomei muito Bourbon.

Oh, vamos lá. Pelo menos finja estar escandalizada.

Então, aqui vai. Eu amo meus filhos. Amo e não tenho que dizer a
eles isso todos os dias para que saibam disso. Isso é confortável. Mas
olhando para trás, a aprendizagem é mais como 40/40, quando você
está prestes a entender que apenas se fixou nos problemas minúsculos
e ignorou os gigantescos. Eu nunca fiz jantares de família, o que é muito
irônico quando você pensa sobre isso. Sou — ou era — uma gênia
culinária, afinal de contas.

As pessoas fazem pedidos quando estão morrendo e seus entes


queridos realizam. É assim que funciona, certo? Bem, não quero colocar
esse peso sobre meus filhos. Mas não tenho escrúpulos com meu caderno
barato que comprei na Rite Aid. Então, aqui está. Meu. Moribundo.
Desejo.

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Por favor, seja paciente e tente se lembrar de que muitas vezes
tenho — ou tinha — um plano.

Quando tinha dezoito anos, passei um ano na cidade de Nova York.


No Ano Novo em 1984, pulei nas águas geladas do Atlântico com a Coney
Island Polar Bear Club. Eu era uma hóspede de um convidado, como
jovens de dezoito anos tentando ganhar Nova York muitas vezes estão.
Agora aqui é onde merdas começam em Corny. Peço desculpas à minha
filha Rita, que dos meus quatro filhos, provavelmente vai encontrar isso
e ler isso primeiro. Estão vendo? Prestei atenção às vezes.

Como estava dizendo.

Quando eu caminhava de volta para aquela praia de Coney Island,


toda molhada e alegre, podia ver meu futuro. Não era perfeito, mas
vislumbrei ele. Olhou-me de volta. Podia ver onde estava indo. Como
poderia chegar lá. Quem estaria ao meu lado.

Minha vida mudou naquele dia. Se eu tivesse um desejo, seria para


meus quatro filhos: Belmont, Rita, Aaron e Peggy, que saltassem nesse
mesmo oceano, na mesma praia, no dia de Ano Novo. Juntos. Sabendo
que estou ali com eles. E não Rita, não estou brincando. Como se atreve
a questionar uma mulher morta.

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CAPÍTULO UM
O telhado! O telhado! O telhado está... literalmente em chamas.

Rita Clarkson estava do outro lado da rua do Wayfare, — o


restaurante três estrelas Michelin 1 , onde sua mãe se tornou uma
sensação culinária — vendo o telhado estalar e se transformar em uma
pilha de fumaça.

Alguns cidadãos bem-intencionados envolveram um cobertor


sobre os ombros dela em algum momento, o que lhe parecia estranho.
Quem precisava se aquecer tão perto de um incêndio estrutural? O
batedor de ovos ainda em sua mão direita, impediu ela de puxar o
cobertor para mais perto, mas não podia se obrigar a eliminar o
utensílio. Era tudo o que restava do Wayfare, das quatro paredes que
testemunharam seus triunfos profissionais.

Ou falhas. Houve mais falhas do que acertos.

O serviço de jantar de hoje à noite era ambicioso. Após a ausência


de três semanas no restaurante, depois de participar de um reality
show televisivo de culinária chamado No Calor da Mordida, — ela foi
eliminada — Rita estava determinada a arrasar logo na sua primeira
noite. Uma tentativa de compensar? Certo. Quando você se inflama de

1 Impresso com o máximo de segredo e com tiragem desconhecida o guia Michelin é o mais respeitado do
mundo e premia os melhores restaurantes os classificando com estrelas (de 1 a 3) e que representam o sonho
ou o pesadelo de qualquer chef. Ganhar uma estrela do guia significa a ascensão do restaurante e de seus chefs
ao passo que perder uma delas pode levar até a uma tragédia como a do chef Bernard Loiseau que se suicidou
desesperado com o rumor de que seu estabelecimento perderia a classificação de “três estrelas”.

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forma espetacular na frente de uma audiência televisiva nacional por
causa de um suflê de queijo, porra, a redenção é uma obrigação.

Ela ainda podia ver sua própria expressão arrebatadora refletindo


de volta no aço inoxidável quando cuidadosamente abaixou a porta do
forno, as luzes das câmeras de televisão quentes que faziam seu
pescoço transpirar, o microfone pendurado acima. Esse era o tipo de
suflê que um chef sonhava ou admirava nas páginas da revista Bon
Appétit. Inchado, tentador. Sexo comestível. Com apenas três
concorrentes ainda em prova, ela garantiu seu lugar na final. Semana
de “desafios eletrizantes e rápidos” e lições com chefs neuróticos que
dormiam com facas e tudo que valia a pena, apenas para ser a
proprietária desse suflê. Uma verdadeira façanha de força culinária.

Até que então, um concorrente bastardo esbarrou em seu forno,


fazendo com que o centro de seu divino suflê caísse em ruínas.

O que veio depois conseguiu novecentos e quarenta e oito mil


visualizações no YouTube. A última vez que verificou pelo menos.

Então sim. Com o orgulho em frangalhos, Rita compensou um


pouco com o cardápio dessa noite. Duo de cordeiro, acompanhado de
purê de batatas, queijo de cabra. Confit de pato em uma cama de risoto
de vegetais. Pargo Crudo Vermelho com tiras de chorizo picante. Nada
existia no cardápio anterior criado pela chef francesa e sua mentora
Miriam Clarkson.

Será que o fogo foi a maneira de sua mãe dizer: Boa tentativa,
criança? Não, isso nunca seria o estilo de Miriam. Se os clientes
tivessem enviado a comida de volta para a cozinha da Miriam com

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queixas, ela teria dado doses de Bourbon para a equipe, encerrado o
serviço e declarado: Porra... não se pode ganhar todos os dias.

Pela primeira vez desde que o fogo começou, Rita sentiu a pressão
de lágrimas nos olhos. Vinte e oito anos de idade e já um fracasso
colossal. Não era apta para competir em um reality show. Não era apta
para continuar o legado de sua mãe. Não era adequada para nada.

No bolso de trás de Rita, estava o caderno de Miriam queimado e


ainda quente, como um carvão incandescente. Como se dissesse: E o
que exatamente você fará por mim?

Um bombeiro com a mangueira na mão passou e enviou um olhar


atormentado a Rita, mas simpático. Assim percebeu que uma lágrima
escapou e estava descendo, levantou a mão para afastar ela, salpicando
ovo em seu rosto.

— Oh, vamos lá.

A negação, fadiga e humilhação a encurralaram, começando na


região do ombro e se espalhando por seu pulso. Tendo certeza de que
ninguém poderia ouvir o soluço estrangulado, ela se afastou e jogou o
batedor longe, observando ele saltar ao longo das pedras que levavam
à entrada do Wayfare.

Não mais.

Rita sentiu Belmont antes de ver. Foi sempre assim com seu irmão
mais velho. Pelo o que sabia, ele estava de pé nas sombras, observando
as chamas pelas últimas horas, mas não tinha vontade de anunciar
sua presença. Tudo sobre seus termos, seu tempo, seu ritmo. Deus, ela

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invejava isso. Invejava a vida solitária que ele construiu para si mesmo,
o lucrativo negócio de salvamento marítimo que lhe permitia aceitar
apenas trabalhos que o interessava, passando o resto de seu tempo se
escondendo em seu barco.

Quando Belmont se esgueirou ao lado dela, Rita não olhou para


cima. Sua expressão nunca mudou e não seria agora. Mas ela não
podia suportar ver seu auto desgosto refletido nos olhos firmes dele.

— Eles não vão salvá-lo. — Veio a resposta de Belmont. Seu irmão


mais velho nunca deixou de afirmar o óbvio.

— Eu sei.

Ele se aproximou, roçando seus ombros. Acidental? Talvez.


Belmont não era exatamente grandioso em mostrar afeto. Nenhum dos
Clarkson eram, mas pelo menos os dois tinham um entendimento
silencioso.

— Queria salvar, se pudesse?

Eles ficaram em silêncio por um minuto inteiro.

— Essa é uma pergunta de um milhão de dólares.

— Eu não tenho tanto dinheiro.

A declaração inexpressiva surpreendeu e Rita riu. Foi bom por


dois minutos e oito segundos antes que seu peito começasse a se
encher de chumbo, as pernas começassem a oscilar. A risada se
transformou em grandes respirações.

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— Oh, puta merda, Cristo, Belmont. Queimei o restaurante da
mamãe.

— Sim. — Outro roçar em seu ombro a firmou, apenas um pouco.


— O que ela não sabe não vai machucá-la.

Exasperada, Rita empurrou-o, mas ele não se moveu.

— E eles me chamam de mórbida.

O suspiro de Belmont conseguiu abafar as sirenes e gritos do


pessoal da emergência.

— Ela pode estar morta. Mas seu senso de humor não.

Rita mais uma vez pensou em colocar a mão no bolso de seu jeans.

— Você está certo. Ela estaria assando marshmallows lá.


Iniciando uma nova tendência de cupcakes quentes.

— Você poderia começar sozinha.

Não, eu não posso, pensou Rita, olhando para as chamas


lambendo o lugar. Ela já teve o suficiente por uma noite.

~*~

Rita e Belmont estavam sentados em silêncio na calçada, olhando


para o restaurante dizimado, quando um lustroso Mercedes Branco

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com a placa VOTE4AC passou ao longo da calçada, arrancando um
suspiro de ambos.

Rita passou a mão pelos cabelos tingidos de preto e endireitou a


coluna cansada. Se preparando. Pedindo reforço.

Enquanto isso, Belmont em seu modus operandi vinha atrás,


tomando as rédeas da situação e em seguida, abordando com cautela
seu irmão mais novo, Aaron. Esse gostava de fazer uma entrada
triunfal até na maneira como saia do lado do motorista. Como um ator
da Broadway entrando em uma cena dramática, consciente de que os
olhos iriam balançar na direção dele. Seu terno cinza não tinha um
único amassado, seus sapatos pretos eram polidos e lustrosos. Seu
sorriso de ouro fez uma sensação na mídia, mas pela primeira vez
estava longe de ser visto quando se aproximou de Rita e Belmont.

Aaron colocou as mãos nos bolsos da calça.

— Porra. É verdade?

— Sim. — Rita disse, engolindo em seco.

Seu irmão político fez uma varredura na cena terrível, o cérebro


trabalhando horas extras por trás dos olhos castanhos dourados
herdados por todos os Clarkson. Exceto Belmont, cujos olhos eram de
um azul profundo, por ter pai diferente. Um fato que Rita se esquecia
na maior parte do tempo, uma vez que Belmont era uma presença
irremovível desde o dia em que ela nasceu. Aaron veio mais tarde. O
segundo a vir.

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— Você está bem? — Aaron perguntou de repente, um brilho
suspeito em seu olhar. — Deve ter ficado lá um tempo aspirando a
fumaça. Há fuligem ao redor de seus olhos.

— Hilário, idiota. — Sua pesada maquiagem preta e aparência


geral de “cai fora” eram uma constante fonte de diversão para seu irmão
mais jovem. — Você tem um jeito engraçado de demonstrar
preocupação.

— Obrigado. Com o que preciso lidar? — Aaron ajustou o


colarinho branco engomado de sua camisa. — Queria fazer uma
declaração ou alguma coisa?

Rita permitiu que sua coluna relaxasse.

— Estive um pouco ocupada apenas sentada aqui.

— Certo. — Aaron fingiu surpresa em encontrar Belmont na


calçada com eles. — Jesus. Pensei que fosse uma estátua.

— Há.

— Você cheira como o oceano.

— Você cheira como o sangue dos contribuintes. — Belmont


retrucou.

— Bem. — Rita finalmente encontrou presença de espírito


suficiente para arrancar o avental sobre sua cabeça e o lançar na rua.
— Acho que acabei de me lembrar do porquê de não ter usado isso
desde que mamãe morreu.

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Na verdade, mesmo antes da tarde chuvosa, o tempo que
passaram juntos como uma família parecia obrigatório. Organizado por
sua mãe e ela fugia às pressas, era quase cômico.

— Oh. Meu. Deus.

O som da voz de sua irmã mais nova, Peggy, fez todos os três
xingarem baixinho. Deixe a reunião de família começar oficialmente. Não
que eles não amavam a irmãzinha. E de muitas maneiras, Peggy, uma
personal shopper2 para a elite de San Diego, ainda era um bebê, mesmo
com vinte e cinco anos. Seus grandes óculos de fundo de garrafa e
aparência bagunçada garantiam que ela fugiu às pressas. Incluindo se
esquecer de pagar o taxista, se o homem com aparência irritado
seguindo ela com um recibo na mão fosse qualquer indicação.

— Como isso aconteceu? — Peggy soluçou, brincando com a série


de anéis de noivado pendurados em seu pescoço, enquanto Belmont
pagava o taxista. — Eu comi aqui há duas semanas. Tudo parecia bem.

Rita lutou contra a compulsão de se deitar na calçada em posição


fetal. Oh Deus. Sua mãe lhe deixou um restaurante premiado e ela o
queimou. No primeiro dia de “Rita está de volta”.

Aaron estava ocupado em seu celular, o brilho da tela iluminando


seu cabelo loiro escuro perfeitamente bagunçado.

2 Especialista na área de compras que ajuda os clientes a escolherem com sabedoria os produtos ideais para
cada ocasião, estilo de vida e orçamento.

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— Olhe pelo lado positivo Rita. Agora você pode perseguir seu
sonho de ser um “Hot Topic3”.

Rita mal teve forças para lhe virar o rosto.

— Idiota.

Quando Peggy se aproximou, Rita não conseguia olhar em seus


olhos. Se concentrou nos pés de sua irmã mais nova que estavam
espreitando fora de sandálias prata de tiras.

— Ei. Estou contente que você esteja bem.

A garganta de Rita ficou apertada.

— Obrigada, Peggy.

— Sinto muito sobre o restaurante também. Eu sei o quanto você


amava ele. Quanto mamãe amava.

A irmã mais nova balançou a cabeça e lançou um olhar discreto


sob o ombro, virando para trás com um charmoso meio-sorriso. Sorriso
responsável por 4 propostas de casamento pelos últimos 3 anos.

— Mamãe provavelmente iria querer que eu falasse com esses


bombeiros, afinal de contas. Estou certa?

Rita gemeu para o céu. Conheça a porra dos Clarkson.

3 Trocadilho que na tradução literal significa: Tema quente. É um termo usado nas redes sociais para dizer que
aquela noticia ou assunto está bombando, sendo muito falado. Também rolou um trocadilho com o “hot” e o
fato de ter incendiado o restaurante.

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CAPÍTULO DOIS
Incapaz de suportar por mais tempo a culpa que irradiava de seus
irmãos, Rita ficou de pé e caminhou para o que restava do Wayfare.
Hesitou por um milésimo de segundo quando chegou à fita amarela,
mas encolheu os ombros e se abaixou. Suas botas de couro DocMartens
esmagaram os escombros carbonizados, que esfriaram durante a noite,
enquanto os irmãos estavam sentados do outro lado da rua,
observando a fumaça dissipar.

Mesmo com tudo demolido, ela sabia exatamente quais salas


estava atravessando, qual mesa pertencia a que lugar. Rita passou os
dedos ao lado de um pedaço queimado de madeira e viu o ferro forjado
escrito “Bonjour!” que Miriam trouxe de Paris, em uma de suas muitas
viagens.

Rita se virou ao som de passos. Seus irmãos andavam pelos restos


do restaurante com diferentes graus de cautela. Aaron seguiu atrás de
Peggy, lhe dando um puxão rápido nas costelas, em seguida, fingindo
não ter feito quando ela olhou.

Até aonde Rita e Belmont entendiam, os mais novos Aaron e


Peggy, faziam a festa quando estavam juntos. Não eram
necessariamente próximos, mas gostavam um do outro e
desenvolveram uma maneira de demonstrar sem entrar no temido
território emocional, fazendo parecer fácil.

Como isso dever ser?

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A boca normalmente sorridente de Aaron se transformou em uma
linha sombria.

— É seguro dizer que a reconstrução está fora de cogitação.

Belmont falou o mesmo para Rita, chutando de lado um pouco de


madeira lascada para pegar a placa de Bonjour!

— Apenas me diga o que você quer. E direi se é possível fazer.

— Certo. — Rita disse calmamente. — Isso é o que você faz, salvar


as coisas.

— Hmph.

— Lembram quando consegui o emprego trabalhando para o


senador Boggs? Mamãe fez um coquetel e convidou três das minhas ex-
namoradas que rapidamente se envolveram em uma confusão. —
Aaron se abaixou e puxou uma imagem que estava presa de Miriam de
pé no interior da França debaixo de um caixote carbonizado. — Ela riu
enquanto eu corria para fora da porta.

— Nós estávamos todos rindo. — Rita o corrigiu, se movendo em


direção aos restos da antiga cozinha de classe mundial do Wayfare.

— Obrigado. — A resposta de Aaron foi mais seca do que a poeira


quando colocou a fotografia de volta. Ignorando. — Ela me ligou mais
tarde naquela noite e disse: “Aí está a sua primeira lição na política,
filho. Todo mundo que você fodeu vai aparecer na mesma festa, mais
cedo ou mais tarde”. Estava certa.

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Rita parou ao lado de uma gama de fornos de aço inoxidável,
chutando-os com a ponta da bota. Por quase não ter contato com seus
irmãos no último ano, se abrir com eles demandava um pouco de
esforço.

Mas algo sobre a sensação de funeral do restaurante incendiado


apagou aquele ano sem contato por um momento, trazendo eles de
volta a um momento de conversa que vinha mais facilmente. Embora
ainda estivessem desconfortáveis uns com os outros, pelo menos
estavam acostumados a isso. E uma vez que outra pessoa organizou
um tempo deles juntos, — ou seja, Miriam — eles foram salvos de terem
feito um esforço, porque Deus não permite isso, certo?

— Eu, hum, fiz o meu primeiro ossobuco nesse grandão. — Disse


ela, apontando para o forno. — Ele ficou como couro de sapatos.
Mamãe comeu a coisa toda, mastigando cada pedaço enquanto os
funcionários olhavam. E então disse: “Graças a Deus que ela errou
porque se chegasse ao ponto certo do Ossobuco na primeira vez, eu
teria que deixar o cargo de chef de cozinha e gosto demais de ser a
cadela principal”. Então tomou uma dose de Bourbon e acertou os
especiais daquela noite. — Enquanto eu fiquei lá como uma adolescente
nua no primeiro dia de escola.

Nunca mais.

— Ooh. Minha vez agora. — Se apoiando em Aaron para equilibrar,


Peggy foi em direção a uma geladeira de aço que capotou e girou em
uma pirueta. — Depois que acabei meu noivado com Harry, eu não
queria deixar meu apartamento... não queria trabalhar. Nada. Mas
mamãe me pegou e trouxe para Wayfare. — Ela fez outro movimento

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de bailarina que deixou Aaron tendo que correr para segurá-la para
que não caísse. — Sentou-me no salão, na mesa de centro em frente a
todo mundo e me deu uma frigideira cheia de torta de cereja com uma
vela acesa presa no centro e disse: “Aqui. Essa é a festa da tristeza”.
Voltei a trabalhar no dia seguinte.

Um vento passou pelas ruínas do Wayfare, girando ao redor das


cinzas nas botas de Rita. Apesar da distância entre eles, ter seus
irmãos e irmã ali estava fornecendo um conforto imenso. Porém, esse
conforto se tornou espinhos com a próxima pergunta de Aaron.

— O que você fará Rita?

O diário de sua mãe virou pedra em seu bolso de trás, virando


uma âncora puxando tudo para baixo. Os Clarkson não eram uma
família unida. Na verdade, eles nem eram próximos, razão pela qual
Rita ainda não contou sobre o livro que Miriam deixou para encontrar.

Cada um com seus próprios problemas — cada um tinha muito


para se gabar — e superavam isso sozinhos. Enquanto Miriam
ocasionalmente passava por essas paredes para fazer um ponto, ela
estava confortável com seus filhos sendo entidades solitárias. Ilhas
disfuncionais que ocasionalmente passavam no meio da noite.

A doença dela abalou a todos, porque os irmãos Clarkson


realmente amavam sua mãe, mas nunca conversaram sobre isso.
Nunca superaram como uma unidade. No que dizia respeito a Rita, —
e suspeitava que não estava sozinha — isso era adequado para ela.

Mas com o diário vinha a responsabilidade. Seus irmãos mereciam


saber sobre o último desejo de Miriam. Um desejo que Rita estava agora

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determinada a cumprir. Talvez ela estivesse se agarrando a qualquer
desculpa para sair da Califórnia e deixar seus inúmeros desastres para
trás, mas a promessa de um novo começo soava melhor do que
manteiga derretida. Sem mais cozinhar. Sem mais falhar. Poderia
finalmente entrar nessa fantasia secreta de voltar para a escola para
mais nada além de trabalhar em uma cozinha. Se o diário de Miriam
lhe dava a desculpa que precisava, iria agradecer a sua mãe e levá-la.
Com ou sem seus irmãos a reboque.

— Estou indo para Nova York. Como ela queria. Vocês estão
convidados, mas eu não vou culpá-los por dizer não.

Rita retirou o diário marrom de sua mãe de sua calça jeans e


entregou para Belmont.

— Bel, eu posso pegar emprestado o Suburban? Bem, por tempo


indeterminado?

Rita esperou o aceno forçado distante de seu irmão mais velho


antes de virar e o deixar com o diário. Sentou em seu carro, fingindo
organizar uma pilha de CDs, observando como sua família se revezava
passando ao redor dos pensamentos escritos de Miriam, lendo a
primeira entrada que marcou.

Embora não pudesse ouvi-los, Rita podia sentir a vibe de


incredulidade de Aaron, as nervosas perguntas de Peggy e a silenciosa
gravidade tangível de Belmont, o desconhecimento que os outros dois
observavam e esperavam, torcendo para que eles se expressassem
verbalmente.

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Levou apenas dez minutos para se aproximarem do carro, olhando
como algum tipo de intervenção móvel. Aaron bateu na janela até que
Rita desceu o vidro.

— Olha, isso simplesmente não acontecerá. O próximo ano é um


ano eleitoral e o período de campanha é crítico. Eu não tenho tempo
para voar para Nova York e mergulhar no oceano porra!

Peggy mordeu os lábios.

— Promoveram-me agora na loja. Estou para chegar como gerente


até o Natal, que é a nossa temporada mais movimentada. Eles precisam
de mim, com certeza.

Belmont ficou quieto.

Rita não se surpreendeu com suas reações. Se perguntasse dois


dias atrás, se uma viagem para Nova York estava na agenda, ela
poderia ter suspirado sobre essa fantasia absurda e sem noção e teria
zombado.

Porém, olhando os restos carbonizados de sua carreira, uma


nuvem de culpa ao redor de seus ombros, ela não podia se lembrar de
uma época em que partir não fazia parte do plano. Se fosse viável
começar a dirigir naquela manhã, faria isso sem perder um segundo.
Rita prendeu seus cabelos no topo da cabeça e os deixou cair, digerindo
a declaração de Aaron primeiro.

— Você sabe que eu não gosto de aviões. Vou de carro.

Aaron levantou uma sobrancelha.

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— Você realmente fará isso? Essa missão estranhamente
específica para pegar hipotermia.

— Parece que sim. — Respondeu Rita, ligando o ar condicionado


do carro.

Seu escrutínio estava deixando ela quente e o clima elevado de


San Diego no final de novembro a permitia disfarçar o nervosismo. O
coração batia rápido em seu peito, sua decisão se consolidando. O
orgulho não iria deixá-la mudar de ideia agora que ela disse em voz alta
na frente de seus irmãos e irmã.

Rita escondeu seu interior abalado quando Aaron e Peggy


partiram em direção ao Mercedes do caçula, murmurando um com o
outro, a irmã mais nova provocando com um empurrão ocasional.
Belmont ficou parado no meio da rua, de cabeça baixa, mas claramente
a meio caminho de se salvar. Tudo bem. Rita estava sem eles por um
longo tempo. Certamente não precisava deles ou de suas neuroses
estupendas agora. Adicionaria o clã Clarkson disfuncional à lista de
coisas que ficaria feliz em deixar para trás quando pegasse a estrada.

Feito.

Iniciando o motor do carro, Rita estava a um segundo de jogar o


carro em marcha ré quando viu Aaron, Peggy e Belmont voltando, com
diferentes graus de irritação gravados em seus rostos. Sem virar a
cabeça, abaixou a janela do lado do motorista e esperou.

— Tudo bem, olha. — Aaron passou a mão na frente da sua camisa


ainda intocada. — O principal candidato nomeado para a presidência
Glen Pendleton vai cair nas primárias de Iowa em dezembro. O Senador

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Boggs já me recomendou como assessor de campanha. Apenas preciso
fazer contato. Se nós pudéssemos pausar nossa pequena viagem o
suficiente para encontrar-me com ele e garantir a posição que eu
quero... — Ele apertou a ponta de seu nariz. — Não posso acreditar que
estou prestes a dizer isso, mas eu irei.

— Eu tenho uma condição também. — Peggy entrou na conversa,


incapaz de se impedir de saltar. — Nós paramos na Universidade de
Cincinnati entre Iowa e Nova York. Há um velho amigo que tenho que
visitar.

Rita estreitou os olhos para o rubor de Peggy. Tanto quanto Rita


sabia, Peggy mantinha contato com seu pelotão do elogio, da
Universidade de Cincinnati, mas por que esse rosto vermelho?

— Estou pedindo para adiar apenas por um dia. — Acrescentou


Peggy. — Talvez dois, dependendo de como as coisas... caminhem.

Nada com sua família poda ser curto e seco, podia? Ela empurrou
o queixo para Belmont.

— E você? Algum pedido especial?

O olhar de Belmont estava em seus sapatos, mas ele inclinou a


cabeça para baixo na direção de Peggy.

— Eu preciso... poderia precisar...

— Sage. — Peggy falou, surpreendendo Rita. — Você quer convidar


Sage?

27
Belmont não respondeu, permanecendo estranho, mas Peggy foi a
única a assentir.

— Vou perguntar se ela pode ter uma folga, garotão.

Sage, a que planejou os casamentos de Peggy? Por que Belmont


precisava da melhor amiga de sua irmã para o passeio? Rita trocou um
olhar perplexo com Aaron, mas nenhum deles comentou. Insistir
nunca funcionou com Belmont. Ele apenas iria se calar mais.

Eles realmente estavam considerando ir? Havia uma chama de


gratidão, talvez até emoção dentro do peito de Rita, mas ela apagou
isso.

— Olha, se vocês estão fazendo isso porque sentem pena de mim


e da minha pilha de coisas queimadas, não preciso da pena de vocês.

— Será que isso soa como nós? — Perguntou Aaron.

— Nenhum pouco. — Admitiu Rita, as mãos torcendo o volante de


couro. — Muito bem. Eu preciso de uma semana para lidar com a
companhia de seguros e amarrar as pontas soltas. A menos que Peggy
tenha outro casamento agendado. Não sei de um motivo para não
podermos ir na terça-feira, primeiro de dezembro.

Aaron fez uma rápida verificação do seu telefone e suspirou.

— Certo.

Peggy bateu palmas uma vez.

— Vou levar lanches.

28
Os três irmãos de Rita a deixaram se sentindo como se a terra
mudasse sob seus pés. Em questão de doze horas, tudo mudou. Tudo.

O que mais ela poderia ter esperado após cometer incêndio


criminoso?

29
CAPÍTULO TRÊS
A correia da ventoinha do Suburban arrebentou duas horas
depois de atravessarem a fronteira do Arizona no Novo México.

Olhando para trás no dia da partida, a calamidade era inevitável.


Depois de passar dois dias em reuniões com a companhia de seguro e
pedindo favores para conseguir empregos de reposição para os
funcionários do Wayfare, Rita apareceu meio dormindo em seu pijama,
vendo a cara de exasperação de Aaron e uma oferta de Peggy para
roupas emprestadas.

Cada um deles ainda cautelosos sobre toda a viagem e o que ela


simbolizava. Os irmãos permaneceram em relativo silêncio durante
toda a primeira noite e na manhã seguinte, com Belmont sendo uma
presença constante ao volante. Apesar das previsões negativas de Rita
— brigas e gritos de guerra de espingarda — deixar San Diego foi
quase... sem problemas.

Ela deveria imaginar que a Lei de Murphy entraria em vigor mais


cedo ou mais tarde. Afinal, o desastre sempre seguia os Clarkson.

Quando Rita tinha dezesseis anos, Miriam levou os três para


acampar. Para sua família, camping era traduzido em utilizar um
trailer emprestado e estacionar ao lado de Carlsbad Beach4, a meros
metros de lojas de conveniência e uma estrada movimentada. Não
exatamente desafiando as duras condições da natureza. Embora, após
uma noite, eles poderiam ter enganado a equipe de sala de emergência

4 Carlsbad é uma cidade localizada no estado americano da Califórnia no Condado de San Diego.

30
no Tri-City Medical Center em pensar que acabaram de passar uma
semana no pântano.

Peggy saiu furtivamente com o filho de seus vizinhos campistas


para nadar em águas restritas levando uma picada de medusa. Ao ouvir
os gritos angustiados de sua irmã, Aaron correu em direção à praia e
carregava uma Peggy em uma toalha de volta para o trailer, pisando
em um buraco de Golfe no caminho e torcendo o tornozelo.

Essa foram as primeiras e últimas férias com a família Clarkson,


mas os infortúnios não tinham começado ou terminado ali. Belmont
caiu em um poço em uma viagem de campo da escola na terceira série
e ficou desaparecido por quatro dias. Mais tarde, descobriram que ele
gritou até ficar rouco no primeiro dia, deixando-o incapaz de chamar o
grupo de busca que passava. No quarto dia, quando os bombeiros
conseguiram livrá-lo do obscuro poço de dez metros de profundidade e
bem, a atenção da mídia foi intensa, com câmeras e flashes saindo e
coisas sendo arremessadas para o jovem, imundo e faminto Belmont.
No momento, Rita era muito jovem para processar porque o irmão tinha
se voltado para si depois disso, mas as imagens de televisão que
encontrou na internet quando adulta explicava muito.

Os infortúnios pessoais ocorreram com menos notoriedade ou


despesas médicas, mas bem memorizadas em sua psique. Tais como
um colega fazendo photoshop da cabeça dela no corpo de uma estrela
pornô e postado online. Olá, expulsão.

Mal sabia Rita que sua reivindicação para a fama também viria,
mais uma vez pela internet uma década depois. E pela primeira vez, a
ironia não a divertia.

31
Agora, aos sons inconfundíveis de problemas no motor do carro,
Rita subiu no banco de trás e empurrou o cabelo escuro de seu rosto.

— O que aconteceu?

Belmont guiou o Suburban para o acostamento e se sentou


perfeitamente imóvel, pálido e apertando o volante rachado. Peggy
sentou lentamente de onde estava dormindo. Enviou a Rita um olhar
perturbado por cima do ombro, em seguida, voltou sua atenção para
Belmont.

A preocupação de Rita por seu irmão mais velho acendeu o seu


alarme. Desde que Peggy chegou sem sua amiga, Sage Alexander,
Belmont estava mais estranho que o habitual. Rita foi capaz de ouvir
apenas uma fração da história de Peggy antes de ser trancada no carro
e a conversa privada se tornou impossível de escutar.

Sage foi a planejadora do casamento de Peggy por todas as quatro


tentativas de casamento que falharam e elas se tornaram amigas
íntimas. Melhores amigas. Como Belmont representaria o pai ausente,
que levaria Peggy pelo corredor, aparentemente ambos desenvolveram
algum tipo de ligação. Porque sua reação quando Peggy pediu
desculpas e disse que Sage não poderia fazer a viagem foi nada menos
do que extraordinária.

Rita não estava sendo insensível em usar essa descrição. Belmont


raramente mostrava uma reação a alguma coisa, menos ainda a
mulheres sozinhas, a quem ele mal dava uma hora do dia. Mas algo
sobre estar sem Sage transformou ele em gelo.

32
Aaron acordou no banco do passageiro, puxando os fones dos
ouvidos.

— Há algo de errado? — Ele olhou para fora do para-brisas bem a


tempo de ver uma onda de fumaça sob o capô. — Ah, pelo amor de
Deus! Diga que você tem triplo A.

— Não. — Belmont disse com sua voz soando enferrujada. — Eu


tenho uma caixa de ferramentas na parte de trás, mas isso não ajudará
se precisamos de uma nova peça.

— Vamos chamar um guincho. — Rita já estava à procura de sua


bolsa. — Alguém sabe onde estamos?

— Esperamos que seja perto de uma ponte para que possa me


jogar dela. — Aaron respondeu rapidamente antes de abrir a porta e
sair. Todos viram quando ele arregaçou as mangas com a boca se
movendo para formar o que obviamente eram palavrões.

Quando Aaron abriu o capô, Belmont balançou a cabeça.

— Ele não tem ideia do que procurar, mas vou lhe dar um minuto
para tentar.

Peggy colocou um chiclete na boca.

— Ele não foi expulso dessa aula na escola?

— Não, isso foi em Ética. — Disse Rita. Ela levantou seu telefone,
tentando mapear sua localização, mas foi frustrada pela falta de sinal.

Belmont suspirou quando Aaron começou a andar, segurando o


celular no ar da mesma forma que Rita estava fazendo. Abriu a porta e
33
foi se juntar a seu irmão fora do carro, seguido um momento mais tarde
por Peggy e Rita.

Quando o sol bateu em Rita, ela se encolheu de volta para a


sombra do Suburban. Luz do sol não era sua coisa favorita. Realmente,
estar no sol ia contra toda sua filosofia de vida. Interior era bom.
Natureza era ruim. Viagens para o mercado dos fazendeiros para
cozinhar ingredientes era a extensão típica de suas excursões, mesmo
assim corria através do processo como se ela tivesse uma alergia ao sol.
Essas viagens para comprar legumes e verduras foram aumentando ao
longo do tempo. Experimentando uma onda de flutuação com o
pensamento, Rita olhou o capô levantado no motor de vapor, onde
Belmont estava ocupado abanando a fumaça para inspecionar os
danos.

— Qual é o veredito?

— Não é bom. — Em um gesto familiar, Belmont esfregou seu


polegar ao longo do vinco em seu queixo. — Havia uma cidade cerca de
três milhas para trás. Pequena. Mas provavelmente tem uma oficina.
Eu vou lá.

Aaron se aproximou deles.

— Lembre-me novamente por que você não gosta de aviões Rita?

— Por causa das falhas. Não jogue a culpa em mim.

— Eu não vou. — Seu irmão mais jovem levantou as duas mãos.


— Não vou salientar que poderíamos estar em Nova York em menos de
seis horas.

34
— Você está agindo assim porque esse vídeo estúpido se tornou
viral, hein? — Disse Rita, chutando o pneu dianteiro esquerdo do
Suburban e jurou que o ouviu gemer. — Então, o que... todos nós
devemos ter que viver como monges tibetanos, porque você decidiu se
tornar um político?

— Você foi atrás de alguém com uma faca na televisão nacional.


— Aaron finalmente perdeu sua paciência, passando as mãos
frustradas por seu cabelo loiro escuro estiloso. — Você tem alguma
ideia de quanta merda eu tive que aturar a mais no trabalho?

— Oh, pare. Você come merda para viver. É o seu trabalho. — Rita
caminhou pra longe e voltou. — E o suflê de queijo estava perfeito. Você
não tem nenhuma ideia.

Peggy chegou perto do grupo.

— Aaron, não faça isso.

Ignorando sua irmã, Aaron endireitou a manga.

— O suflê parecia decente, mas certamente não o ataque com a


faca.

— Decente? — Rita forçou a palavra a sair pela garganta que se


sentia em carne viva por uma tempestade de areia.

A luz do sol ofuscante deixou sua visão em branco, seus irmãos


piscando dentro e fora da vista. A ansiedade aumentou desde sua
partida, agora esse problema e nesse calor, com a provocação, tudo
explodiu de suas terminações nervosas e ela se lançou sobre Aaron.

35
Belmont a pegou no último minuto, lançando-a por cima do ombro com
pouco esforço e pisando em direção à parte de trás do Suburban.

— Você está deixando ele te atingir. — Belmont disse, colocando


ela para baixo e empurrando-a para uma posição sentada no para-
choques. — Não faça isso.

— O que estávamos pensando? — Ela deixou cair a cabeça para


trás contra a porta traseira. — Nós nunca vamos chegar à Nova York
sem que um homicídio seja cometido.

— Eu ouvi isso. — Aaron falou da frente do carro. — Devemos


verificar sua bagagem para ver se tem facas?

— Aaron. — Peggy lamentou. — Não é legal.

Rita se lançou fora do para-choques, apenas para ser segurada


por Belmont, mais uma vez, que soltou um suspiro cansado.

Isso foi quando a moto parou.

~*~

Bom Deus. Provavelmente deveria ter apenas continuado.

Mas foi ensinado melhores maneiras a Jasper Ellis do que deixar


as pessoas encalhadas na beira da estrada. Então diminuiu a
velocidade de sua Harley, estacionando na frente da autoestrada a

36
duas faixas do grupo heterogêneo, o que era o seguro a se fazer. Ele
podia estar inclinado a deixar quatro moradores óbvios da cidade aos
seu respectivo destino, mas também valorizava sua pele. A mulher de
cabelos escuros e carrancuda no para-choques, aparentemente contra
sua vontade, olhou para ele. Em seus trinta e três anos, aprendeu a
evitar provocar uma fêmea quando seus olhos diziam: pode vir. A
menos que eles estivessem na cama. Em seguida, todas as apostas
estavam fora.

Jasper tirou o capacete e colocou sobre o guidão esquerdo da


moto.

— Vocês precisam de ajuda?

As duas pessoas que estavam no fundo do Suburban trocaram


um olhar, como se ele tivesse acabado de falar em um idioma diferente.
Eram moradores da cidade, com certeza eram. O homem estava vestido
para um sermão de domingo, apesar de ser uma manhã de dia útil. A
mulher em seu ombro vestia short jeans rasgado e um top colorido. Ela
sabia como se vestir. Jasper tinha muita experiência com seu tipo e
podia admirar a pele exibida sem sentir aquela centelha da atração que
usava para entrar em sua calça. Agora, Jasper do passado já teria
conseguido o número dela.

Ao invés disso, seu olhar foi atraído a ela, que parecia o diabo
cuspindo fogo de cabelos pretos na sombra do carro. Ele mal conseguia
distinguir suas feições, mas a suspeita que irradiava dela deu a Jasper
o estranho impulso de mostrar que podia confiar nele.

37
Uma reação estranha, com certeza, uma vez que ela estava com
os braços de alguém em sua cintura fina como se a contendo de atacar
e Jasper não podia deixar de rir da animação suspensa da cena. No
que porra ele tropeçou aqui?

Finalmente, o homem vestido para um sermão de domingo falou,


a brancura dos seus dentes visíveis do outro lado da rodovia.

— Sim, na verdade. É a nossa correia da ventoinha. Precisamos


chamar um guincho e não há nenhum sinal de celular.

— Sinal de celular? — Jasper perguntou com um olhar perplexo,


apenas para brincar com ele. As pessoas da cidade estavam muito
encrencadas. — Aqui não tem.

Jasper jurou que o cara ficou pálido como o algodão.

— Existe uma oficina perto?

— Claro. — Ele apontou o polegar sobre o ombro. — Na direção de


onde eu vim. Posso levar um de vocês para retornar com o caminhão
do guincho. — Ele franziu a testa com a tristeza inesperada de seu
peito. — E quanto a você? Quer uma carona?

A boca dela se abriu em um sorriso diabólico e ela zombou.

— Eu, na verdade, prefiro ficar e voltar no carro com meu irmão.


E isso não é pouca coisa.

Ele gostava de sua voz. Meio arranhada, como se ela estivesse


segurando um grito muito tempo. Que tipo de coisas ele perdeu?

— Qual é o seu irmão?


38
Ela passou os dedos pelo cabelo escuro, deixando-o obliquamente
em lugares opostos, mesmo rebelde ainda era bonito.

— Por quê?

Pela primeira vez, Jasper não tinha uma resposta pronta.

— Você é a única vestida para uma moto, exceto o cara grande e


eu duvido que ele se encaixe. — A risada dele soou amplificada na
tranquila e empoeirada estrada. — Desculpe, eu estava apenas
imaginando ele nas minhas costas, com os braços ao redor da minha
cintura. Vá em frente e pense sobre isso. É uma grande imagem.

A Menina Festa riu, mas Jasper não conseguia tirar os olhos da


outra, querendo ver toda ela. O que estava olhando, linda? Se importa
de me dizer o que vê?

Um empurrão de desconforto levou Jasper a voltar para sua moto.

— Escutem, estou atrasado para um compromisso. Se me atrasar,


será uma droga. — Ele enfiou seu capacete sobre a cabeça. — Vou
precisar de uma resposta muito rápido.

A Diaba, como decidiu chamá-la, entrou na luz solar com um


estremecimento, dizendo a Jasper que ela não era o tipo que gostava
de ficar ao ar livre, uma opinião que apenas aumentou quando ele viu
sua roupa. A camisa preta equipada tinha pequenas aberturas nas
mangas onde seus polegares picaram para fora. Seus jeans e botas
estavam gastos e confortáveis buracos decoravam ambos. Se Jasper
fosse forçado a admitir, diria que ela era provavelmente o tipo que
dormia nos fins de semana. O tipo que gostava de tempestades. E uma

39
vez, teria especulado como ela estaria entre os lençóis sem vestir nada,
mas manteve essa parte guardada.

Então ela veio um passo mais perto e ele parou de especular sobre
suas atividades extracurriculares ou preferências meteorológicas. Ela
era um espetáculo debaixo de toda aquela maquiagem. Grandes olhos,
beicinho desafiador. E, em seguida, sua mente escorregou entre os
lençóis antes que ele determinadamente puxasse essas imagens de
volta. Mas não antes de um pensamento grosseiro escapar: ela gostava
de um homem que sabe como ser um pouco bad boy na cama.

— Quem é seu compromisso?

Jasper inclinou a cabeça.

— Por quê? — Ele perguntou com um sorriso, empurrando para


trás sua resposta de um momento antes.

A Diaba apertou os lábios, como se inclinada a elogiá-lo por


prestar atenção.

— Se seu compromisso for um barbeiro, ao contrário de um culto,


eu poderia estar interessada nesse passeio.

Atrás dela, ele balançou a cabeça.

— Não.

Ela enviou ao grandalhão que parecia o Hulk, o que Jasper


assumiu ser um olhar reconfortante antes de bloquear aqueles olhos
castanhos dourados nele mais uma vez.

— Então?
40
— Se precisa saber. Vou me encontrar com uma mulher.

Foi a imaginação de Jasper ou ela pareceu decepcionada?

— Bem. Nós não gostaríamos de te atrasar. Se você pudesse


apenas nos dar o nome da oficina.

— Agora, espere um segundo. — Jasper retirou seu celular fora


do bolso do casaco e começou a discar, pressionando o botão para
colocar a ligação no viva-voz. O homem vestido para um sermão de
domingo estreitou os olhos para ele.

O quarteto observava com curiosidade como a ligação era


estabelecida e uma voz de mulher flutuava através do celular.

— Jasper Ellis. O almoço está na mesa e você está longe de ser


visto.

Ele arqueou uma sobrancelha para ela.

— Eu chegarei um pouco tarde hoje, Rosemary. — Cobrindo o


telefone com uma mão, ele se inclinou um toque e sussurrou. — Essa
é a minha avó. — Antes de endireitar novamente e retornar sua
conversa. — Estou brincando de bom samaritano com alguns
moradores da cidade que estão perdidos.

Uma explosão de estática.

— Você pode muito bem trazê-los. Eu fiz o suficiente de


sanduíches para alimentar um exército.

— Agora, isso é um pensamento agradável, não é? Mas não acho


que todos eles caibam na minha moto.
41
— Eu odeio essa coisa.

— Eu sei que odeia. Estarei aí assim que puder.

Jasper desligou antes que sua avó pudesse perguntar se entre os


moradores da cidade havia uma garota legal. Ele ainda estava tentando
descobrir isso por si mesmo, embora ainda não tivesse ideia de por que
isso importava.

Essa manhã, quando acordou, encontrar uma mulher era a coisa


mais distante de sua mente. Porém, agora se encontrou medindo a
proximidade dela para o Hulk e tentando discernir sua relação.

— Bem. Então, fui considerado adequado? — Jasper perguntou


ao grupo como um todo. — Eu posso recitar os nomes dos presidentes,
do primeiro até o quadragésimo quarto, se isso ajuda, mas eu não
tenho o hábito de irritar a matriarca da família. Ela é mais valente do
que parece.

O grandão e ela trocaram um olhar.

— Nós sabemos o nome dele agora. — Disse Hulk.

Ela com muita pressa mexeu em seu cabelo novamente,


embaralhando tudo mais.

— Talvez seja assim como as pessoas agem por aqui, onde


estamos?

— Hurley, Novo México. Perto de Silver City. — Jasper forneceu


sua resposta quando o cara do Sermão de Domingo caminhou até sua
moto e pegou o número da placa.

42
— Tenho alguns homens muito poderosos listados em meus
contatos. Se sinta livre para irritar minha irmã, mas traga de volta viva.

A Diaba deu a ele um bom sorriso quando seu irmão voltou para
o Suburban. Jasper prestava bastante atenção no sexo oposto e ela não
era abertamente sexual, como a maioria tende a ser. Era astuta e
deixava guardados os pensamentos que corriam por trás de seus olhos.
Ele gostava disso. Um pouco demais para se afastar. Então, ficou
aliviado quando ela cedeu.

— Será um passeio rápido.

Ela caminhou na direção dele, coxas flexionando em sua calça


jeans e Jasper engoliu um rosnado. Algo dizia que esse passeio seria
qualquer coisa, menos rápido, mas ele empurrou o pensamento de lado
e se distraiu tirando seu capacete e entregando para ela. E porra se
não teve dificuldade em ficar quieto sob sua avaliação.

Como se ela quisesse ver o passado e tudo o que fosse visível. Ele
não conseguia se lembrar da última vez que foi dissecado por uma
mulher e isso era bem-vindo.

Maldição, ela cheirava a floresta e especiarias de cozinha. Tentou


não ser óbvio quando cheirou seu cabelo. A reação a essa mulher era
muito estranha, para dizer o mínimo. Mas não tinha escolha, deveria
levá-la para onde queria, já que ela estava prestes a montar sua moto.

Ele aproveitou o momento, chocando-a com seu gesto de passar


seu capacete, mas ela recuperou rápido e lhe deu um olhar
especulativo. Resmungando sob sua respiração, jogou uma perna
sobre sua moto e segurou a barra atrás dela.

43
— Você pode não me reconhecer, mas sou famosa pelo que posso
fazer com uma faca.

Jasper também subiu na moto com um movimento suave,


gemendo interiormente quando as coxas dela agarraram sua cintura.
O fôlego dele sumiu?

— Odeio desapontá-la, mas essa não é a primeira vez que uma


mulher me ameaça com uma faca.

— Sim, mas seria a última. — Sua risada foi perdida no rugido da


ignição da moto, o Suburban cada vez menor em seu espelho retrovisor.

44
CAPÍTULO QUATRO
Havia uma razão para que Rita gravitasse em direção à cozinha.
Receitas. Elas eram precisas. Tinham instruções. Você quer
acrescentar as texturas e sabores corretos ou não. Não havia nenhuma
área cinza na culinária. Estava tudo ali na frente dela, escrito em uma
página brilhante. Mesmo que não pudesse foder com as instruções
passo a passo.

Errado.

Tornou-se evidente enquanto trabalhava com Miriam que


definitivamente tinha um dom. E ela aparentemente ficou na linha do
sarcasmo ao invés da linha do jeitinho no dia que Deus distribuiu os
talentos. Encontrou receitas à prova de falhas e se prendeu a elas,
aperfeiçoando-as na privacidade do seu apartamento de apenas um
quarto, rezando para que algo novo não fosse jogado para ela no dia
seguinte. Coisas novas eram um medo constante, dia após dia.

Então junte isso a um reality show televisionado nacionalmente,


certo?

Talvez se jogar aos tubarões fosse a forma de luto de Rita. Uma


tentativa de se sentir perto de sua mãe novamente. Ou a forma de
conseguir força suficiente, uma vez que seria forçada a abandonar o
trabalho ao qual nunca se adequou.

Seja qual fosse a razão, Rita se jogou no show sabendo que não
podia negar que era a filha de Miriam Clarkson, ao mesmo tempo que
sabia o quanto as coisas mudariam depois daquilo. As coisas

45
finalmente iriam mudar. Conseguiria ser algum talento latente em
animação ou ela se cortaria na altura dos joelhos e tudo teria
finalmente acabado.

No mínimo, aprendeu uma coisa ou duas sobre as pessoas em seu


trabalho com comida: o que eles escolhiam no cardápio, mais
frequentemente do que não, os classificavam. Se moraram no
estrangeiro, eram aventureiros, extravagantes ou baratos.

Jasper Ellis era um gancho de bife de quinhentos gramas ao lado


de batatas e alho amassados. Fácil. Ele não requeria muito esforço ou
imaginação. Tinha muito a ver com a maneira como usava calça jeans.
Como se pegasse a primeira calça que encontrou no chão naquela
manhã e a colocou ao redor dos quadris de cowboy. E a filha da puta,
olha só para isso! Se encaixava como um sonho. Ela poderia até mesmo
imaginá-lo na frente do espelho enquanto jogava água em seu cabelo e
caramba, seus ricos cabelos castanhos com um toque ruivo!

Apetitoso, mas sem esforço. Um gancho para bifes.

Estranhamente, não conseguia se desfazer da lembrança pela


forma como ele se concentrou nela, olhando para longe apenas quando
abordado por alguém. Esse bom e velho garoto deu a Peggy um olhar
rápido, deixando Rita hesitar entre classificar Jasper como um pedaço
de bife e ou um gancho para bifes5.

Uma parte cínica dela fez o passeio apenas para ver o quão rápido
ele se tornaria previsível. Típico. Porque enquanto poderia jurar que

5
Sistema usado pela mocinha para classificar os tipos de homem...

46
havia uma faísca de interesse em seus olhos azuis da cor do céu,
homens como Jasper eram o oposto de seu tipo.

Não que tivesse necessariamente um tipo, uma vez que tendia a


achar o namoro um ritual repelente. Em seu mundo, uma leve conversa
era como uma tortura chinesa, de modo que seus encontros
esporádicos eram geralmente com homens que estiveram dentro de seu
mundo por um tempo, como companheiros chefs ou empregados do
mercado que vendiam seus ingredientes. Mesmo assim, os encontros
eram curtos.

Então sim. Se um serviço online de encontros combinasse Rita


com um cara como Jasper Ellis, ela iria considerar processá-los por
propaganda enganosa. Para ser franca, o andar dele falava de sexo.
Como uma espécie de versão mais jovem, mais realista, duas vezes
mais como o magnético ator Matthew McConaughey.

Rita ficou um pouco surpresa por não ter uma multidão de


mulheres correndo atrás da moto quando eles voltaram para a Harley.
Nenhuma dessas mulheres seria uma excêntrica antissocial, sem uma
pitada de cor em seu guarda roupa. Muito provavelmente, elas não o
ameaçaram violentamente com uma faca, tampouco.

Entre as coxas, os quadris dele se deslocaram apenas uma fração


e ela quase riu da maneira como seu corpo reagiu. O calor percorreu
seu estômago na hora e Rita lutou contra o desejo insano de esfregar
os mamilos contra a parte de trás de sua jaqueta de couro aquecida
pelo sol.

47
Honestamente, o homem provavelmente tinha problemas apenas
por andar pela rua sem ser abordado. Ela não foi abordada nenhuma
vez.

Bem, definitivamente nunca antes.

Eles estavam quase na cidade quando Jasper desacelerou a moto


para parar no sinal vermelho, sentindo o ronronar do motor abaixo
deles. Seus olhos se encontraram no espelho retrovisor circular.

— Você está pensando muito.

Rita escondeu sua surpresa num encolher de ombros.

— Estava me perguntando por que há um semáforo aqui quando


não posso ver outro carro em milhas.

Ele lançou um olhar em ambas as direções, como se o pensamento


nunca lhe ocorreu.

— Você acha que deveria passar o farol vermelho? — Ele acelerou


o motor da moto. — Pense nisso. Você e eu seriamos fugitivos da lei.
Bonnie e Clyde6 do Novo México. É uma grande decisão.

Esse homem era ridículo.

— Clyde era impotente.

6 Filme norte-americano dos anos 60 em que a protagonista Bonnie Parker se apaixona por um ex-presidiário,
Clyde Barrow e decide acompanha-lo. Juntos, iniciam uma carreira de crimes roubando carros e assaltando
bancos até serem perseguidos pela polícia por todo o país.

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— Ele era? — Jasper virou a parte superior do corpo, parecendo
genuinamente perplexo. — Como é que ele mantinha uma mulher tão
bela ao redor sem todas as suas ferramentas de trabalho?

— Eu não sei. Carisma? — Rita olhou com impaciência para a luz


ainda vermelha. Somente ela poderia abordar o assunto de disfunção
erétil em cinco minutos de reunião com McConaughey. — Estamos
quase lá?

— Outro quilômetro e meio ou algo assim. — Seus quadris se


viraram no assento, entrando em suas coxas um pouco mais, deixando
Rita muito consciente da intimidade de sua posição.

— Gostaria de saber seu nome antes de chegarmos lá.

Rita ordenou a si mesma parar de comparar a cor de seus olhos


com o céu.

— Por que você quer saber?

— Para que eu possa apresentá-la corretamente a Stan, nosso


mecânico. — Explicou com uma voz paciente. — Gostaria de dizer: Stan
essa é Fulana de tal, ao invés de: Stan, essa é uma mulher sem nome
que peguei por aí. Ele não tem o mesmo senso de humor que eu.

Rita lamentou novamente esse passeio. Jasper Ellis se


transformava em tudo menos previsível ou típico e ela não gostava de
ter suas teorias refutadas. Era como colocar noz moscada na gemada,
em seguida, experimentar um pouco e descobrir que usou pimenta em
pó no lugar. Por que esse homem que podia piscar para ter qualquer
mulher também tinha personalidade?

49
— Rita.

— Rita. — Ele repetiu, embora com seu sotaque, soou mais como
Ray-da. — Gostei. Rima com chita.

O sinal ficou verde e eles começaram a se mover antes que ela


pudesse responder. Havia dois lados conflitantes nela. Um queria que
esse maldito passeio fosse rápido, para que pudesse dispensar Jasper
e parar de se preocupar com a sua recusa em ser categorizado. E o
outro lado lamentava extremamente que o passeio estivesse chegando
ao fim. O cheiro de sua jaqueta de couro desgastada junto com o aroma
de diesel era agradável. Mais do que agradável. A correia do capacete
debaixo de seu queixo era suave, como os dedos quentes que os
apertaram em seu maxilar. Rita não fazia esportes ao ar livre, mas estar
na parte de trás de uma moto não a encheu de terror como esperava.
Quando considerou que poderia ter algo a ver com a energia constante
do homem segurando o guidão, ela balançou a cabeça para limpar o
pensamento.

Hurley 7 passava por eles, pequena, mas eficiente. Uma loja de


informática, um restaurante, uma padaria. Arbustos verdes, arbustos
cheios, que davam à cidade uma sensação bem cuidada, os moradores
tinham claramente orgulho da aparência da comunidade. A vibração
da cidade de duas pistas empoeirada estava distante. Quando Rita
chegou, sentiu como se tivesse sido transportada para um universo
alternativo. Havia duas lojas de conveniência em ambos os lados da
rua principal, que eram nomeadas como Main Street, ambas com

7 É uma cidade localizada no estado americano de Novo México, no Condado de Grant.

50
placas de oferta, os preços eram razoáveis se comparados a San Diego
e ela quase caiu da moto.

Várias pessoas acenaram para Jasper enquanto passavam pela


cidade, deixando Rita se encolhendo no assento para evitar o
escrutínio. Será que algum deles viu sua desgraça na internet? Não,
pela primeira vez imaginou como hilariante seria olhar na traseira de
uma moto e ver uma louca certificada. Eles provavelmente pensariam
que perdeu uma aposta ou algo assim.

Rita sentiu Jasper olhando para ela do retrovisor e abaixou a


cabeça, grata que o barulho do motor impedisse a conversa.
Finalmente, na periferia da cidade, eles entraram em uma oficina. Um
homem que lia um jornal se levantou para encontrá-los quando
estacionavam.

— Você não deveria estar almoçando com Rosemary?

Jasper estendeu a mão para ajudar Rita a sair da moto,


suspirando quando ela desceu sem sua ajuda.

— Na verdade Stan, sim e eu sei que vou sofrer por me atrasar.


Mas tenho uma boa razão. — Ele apontou para ela. — Essa aqui é
minha amiga, Rita. O restante do grupo está preso na estrada 60 a
poucas milhas a leste. Você se importaria de lhes ajudar?

— Com certeza. — Disse Stan, puxando um boné de beisebol do


bolso de trás. O homem mais velho parecia animado por ter algo em
sua agenda. — Prazer em conhecê-la, Rita. Eu os trarei em um instante.

51
Rita caminhou em direção à sombra proporcionada pela oficina,
acompanhada por Jasper um momento depois. Eles observaram Stan
levar o guincho para a Main Street em silêncio e então ficaram
sozinhos. Sem o barulho do motor da moto, o silêncio deixou Rita
nervosa. Como poderia manter uma conversa agora?

— Obrigada pela carona. Não precisa esperar por mim.

Rita poderia dizer que ele estava esperando que dissesse isso.

— Eu não seria um cavalheiro se fizesse isso.

— Mas sua avó está esperando por você.

Jasper se inclinou contra o edifício de concreto, cruzando um


tornozelo sobre o outro.

— Admito que estou me sentindo muito culpado por isso. Estou


com fome, também. Mas já pensei nos prós e contras da situação
cuidadosamente, Rita. Acho que mais alguns minutos conversando
com você valem a culpa e possível morte por fome.

— Quem... é você, mesmo?

52
CAPÍTULO CINCO
Jasper manteve o sorriso no lugar, embora essa pergunta fosse
muito íntima. Se Rita soubesse, não teria se perguntado tantas vezes a
mesma coisa. Ele apreciou sua confusão na verdade. Pelo menos ela
não tinha escrito isso no rosto para que todos pudessem ver.

Não havia nenhuma regra dizendo que ela tinha que dizer isso a
ele. E Rita, poderia dizer que Jasper era uma alma decente tanto
quanto era conversador? Ele não tinha nenhuma ideia pré-concebida
sobre ela. E não conseguia se lembrar da última vez que isso aconteceu.
Talvez pudesse descobrir alguma coisa sobre Rita, antes que ela
descobrisse o pior sobre ele. Senhor, a possibilidade o fazia se sentir
mais leve como nunca em anos.

Ela estava escondendo alguma coisa, talvez muitas coisas debaixo


de sua tentativa de parecer uma mulher má, que não deixaria sair de
jeito nenhum. Não era possível tirar o olho dela quando parecia tão
arisca e indefesa. Era atraente, realmente ver ela se esforçar para agir
indiferente a ele quando claramente não era. Estava desafiando-o a
desistir e ir embora. Alguns anos atrás, faria isso. Iria embora e
encontraria a próxima conquista fácil.

Mas Rita não sabia disso. O que significava que Jasper estava no
controle das impressões nesse caso. Um desconforto dentro dele não
lhe permitiria deixar passar essa oportunidade. Apenas para provar
que conseguia gerenciar uma coisa dessas.

— Agora, veja. Prefiro falar de você.

53
Ele apoiou o ombro direito na parede, se recusando a ficar
intimidado quando seu olhar foi em direção a sua boca, o que deixou
tudo difícil. Seria tão fácil chegar até ela e passar um polegar sobre o
osso ilíaco e aumentar a consciência entre eles. Essa dança sutil de
deixar uma mulher saber que ele iria cuidar dela na cama.

Graças ao abraçar de suas coxas durante o passeio de moto na


cidade, sua respiração tocando seu pescoço, sua ereção ainda sentia a
pressão da fivela de seu cinto. Velhos hábitos eram difíceis de
abandonar. Embora, ele teve mais do que um bom momento.
Provavelmente. Ainda estava trabalhando na possibilidade de ter um
momento agradável com Rita.

— De onde vocês estão vindo?

Ele podia ver ela debater a quantidade de informação a divulgar.

— Viemos de San Diego.

— Hmm. Eu teria imaginado uma cidade maior. Los Angeles,


talvez.

— Por quê?

— Sua desconfiança instintiva de alguém oferecendo ajuda


poderia ter me avisado. — Jasper esfregou a barba em seu queixo e
estremeceu, percebendo que se esqueceu de fazer a barba em dois dias
e isso provavelmente era um dos motivos para ela não confiar muito
nele. — Eu poderia muito bem ter oferecido uma granada de mão a
vocês.

54
Aqueles lábios cheios dela se contraíram e ele desviou seu olhar
antes que cedesse a sua vontade de fazer outra coisa. Deus, ela era
bonita. Se não achasse que arrancaria sua cabeça, pediria para ver
como era sem a maquiagem pesada.

Sua voz ficou um pouco baixa, sem sua permissão.

— Ambos os homens são seus irmãos?

Rita inspirou lentamente e a distância entre eles pareceu


diminuir.

— Sim. E minha irmã estava lá, também. — Ela puxou sua


camisa, fechando as mãos em punhos. — Se um deles fosse meu
namorado, duvido que me deixaria vir sozinha com você.

— Não se tivessem um pouco de senso comum. — Ele se encostou


à parede, tentando não ser óbvio ao alívio que Hulk não era um
namorado. — O que você faz em San Diego?

Sua expressão ficou um pouco distante.

— Nada mais. Eu meio que... queimei meu negócio, por assim


dizer. Nós estamos dirigindo para Nova York e ficarei por lá. Voltar para
a escola de design gráfico. Nunca é tarde demais, certo? — Parecendo
que disse demais, ela tocava seu cabelo em movimentos espasmódicos.
— Não sei por que disse isso. Nem sequer disse isso para mim mesma
ainda.

Jasper se inclinou, seu aroma de cozinhar especiarias provocando


seu nariz.

55
— Você tem o hábito de conversar sozinha?

Isso lhe rendeu um olhar.

— Você sabe o que eu quero dizer.

— Acho que sim. — Jasper estimou que o guincho estivesse perto


do Suburban, então era melhor trabalhar um pouco mais rápido. Em
direção a algo que pensava ser possível, a menos que trocasse seu nome
e se mudasse para a Suíça. — Qual é sua ideia para um bom encontro
Rita? Parece ser um tipo de café, mas não gostaria de assumir nada.

Sua cabeça poderia ter caído para trás com base no olhar que ela
lhe deu.

— Encontro? Por quê?

— Uma pergunta de cada vez. Estou trabalhando com o estômago


vazio.

Ela voltou sua atenção para a estrada, como se talvez estivesse


pensando em ir andando pela rua próxima.

— Eu não namoro. É um passatempo bárbaro criado por mães e


narcisistas. Será que dá para você acabar com esse interrogatório?

— Você é mais uma mulher de filme e sushi, não é? — Seu


grunhido estrangulado o fez querer rir alto, mas ele não achava que ela
apreciaria isso. — Você ficará na cidade por um tempo até seu
Suburban ser reparado. E odeio ser o portador de más notícias, mas
Stan não é tão rápido com uma chave quanto ele é com um guincho.
Você ficará aqui até a noite.

56
Maldito Deus, essa boca parecia doce. Se manter onde estava era
muito mais difícil do que previu.

— Estou te pedindo apenas para jantar comigo, minhas intenções


são claras.

— Lindo, não é? — Ela recuou um passo e ele fez um esforço para


não seguir ela. — Você quase me pegou.

— Você irá? — Quando ela apenas balançou a cabeça impaciente,


Jasper empurrou. — Me deixe te levar para comer algo, Rita.

Ela abriu a boca para responder, mas fechou, considerando por


longos momentos.

— Existe um bar na cidade ou algo assim? Então, talvez isso não


irá parecer tão... — Ela acenou com a mão ao redor. — Encontro.

Porra. Ele podia jurar que quase lhe ganhou no sushi.

— Sim, há um bar. — Seu suspiro interior foi tão alto que ecoou
em seus ouvidos. — Embora o Liquor Hole seja mais como um boteco.

— Bebida alcoólica. Buraco. — Levou pouco tempo para pegar o


duplo sentido. — Como pequeno8...

— Mmm.

Ele não iria dizer a ela que tinha vinte e um anos — e meio —
quando deu nome ao lugar. Sim, o fundo fiduciário deixado por seu avô

8 O duplo sentido ocorre no original, pois “Liquor” significa bebidas alcoólicas em geral, além de ser somente
a bebida “licor”, enquanto “hole” vem no sentido de “buraco” ou “lugar pequeno ou desagradável”. Ela entende
que se refere a um lugar pequeno para beber.

57
no vigésimo primeiro aniversário de Jasper foi usado para comprar um
lugar com piso de madeira revestido de serradura e um letreiro de neon.
Não para a faculdade, como o velho pretendia. E assim começou a sua
década de libertinagem quando o comprou há dois anos apenas para
perceber que ninguém em sua vida o levava a sério. Ele era o “bom
momento” de todas, mas nunca confiável ou permanente para uma
única alma. Então começou a mudar, começando com seu sustento.

— Esse é o nome do bar. Vou abrir um restaurante separado em


quatro dias, quando voltar.

Rita ficou espantada.

— Você é o dono?

— Culpado. — Ele soltou um suspiro que levantou o cabelo de seu


rosto. — Realmente, realmente culpado.

— Eu posso ver isso. — Ela murmurou secamente, observando


ele. — Por que não quer me levar lá?

Jasper viu as chances com Rita desaparecendo diante dos olhos.

— O que você fazia em San Diego?

Uma pequena hesitação.

— Eu trabalhava em um restaurante.

— Um restaurante. — Na sugestão, seu estômago roncou, fazendo


com que os olhos de Jasper brilhassem quase perdendo sua linha de
pensamento. — Certo, Rita. Você me levaria em um primeiro encontro
no lugar que trabalhou? Deixar-me conhecer os garçons e cozinheiros?
58
Seus olhos pararam de sorrir.

— De jeito nenhum.

— Por quê?

Ela moveu os ombros.

— Porque eles me viram no meu pior momento.

— Bingo. O mesmo vale para mim e para o bar. — Essa informação


pode ter sido muito reveladora, porque seu comportamento voltou a ser
educado, como se pudesse considerar a última escolha. Jasper não
podia permitir isso. Não quando finalmente se deparou com alguém
que parecia disposto a conhecê-lo. Que conversava com ele sem uma
cama envolvida.

Basta um pouco de flerte para garantir que vou ver ela de novo.
Apenas o suficiente para se certificar de que poderia pegar onde ele
parou, como uma ardósia limpa. Acreditando que fosse a decisão certa,
passou um braço ao redor da cintura de Rita e puxou ela contra ele,
quase abafando um gemido. Senhor. Ela podia estar enterrada sob
roupas escuras e disformes, mas isso não escondia as curvas que
estavam em todos os lugares certos. Seu olhar estava colado em sua
garganta, então abaixou a cabeça até que ficaram nariz com nariz e viu
a onda de pensamento por trás de seus olhos. Ele estava a ponto de
perder fôlego.

— Pode me dar uma pista do que está acontecendo dentro de sua


cabeça.

— Se e somente se precisarmos passar a noite...

59
— Vocês irão.

— ...então eu poderia te ver no bar. — Ela colocou uma mão entre


eles separando seus corpos. — Prefiro ver alguém no seu pior do que
no seu melhor. Poupa tempo.

Jasper ouviu o guincho parando no estacionamento e na oficina.


Ele nem mesmo estava remotamente confiante de que sua primeira
tentativa de conversa educada com uma mulher disponível foi bem-
sucedida. Então levou ela para trás até que estivessem escondidos
atrás de um telefone público enferrujado. Ela foi para longe do seu
toque, então teve o cuidado de respeitar isso. Abaixou a boca a um
centímetro acima dela e disse baixo.

— Não fiquei perto tempo suficiente de você, Rita. Se não aparecer


hoje à noite, não se surpreenda caso eu vá te procurar. — Ele colocou
as palmas das mãos contra o edifício quente, acima da cabeça dela, a
observou abaixar o olhar para seu estômago. De volta para o rosto dele.
— E se tiver que te procurar, serei duas vezes mais determinado a
conseguir esse beijo.

Levantou a cabeça.

— Que beijo?

Jasper abaixou sua boca até que seus lábios roçassem. Ele ouviu
a respiração dela acelerar, observou-a molhar os lábios.

— O que eu quero te dar agora. — Ele se permitiu ficar perto mais


alguns segundos e em seguida, com o esforço de dez bois, deu um passo
atrás. — Hoje à noite, linda.

60
Seguindo para a moto, Jasper viu o olhar de surpresa de Rita.

61
CAPÍTULO SEIS
Ignorar seus irmãos e suas grandes personalidades não era fácil,
mas Rita praticou por um bom tempo. Cresceu adepta a respostas de
uma só palavra e evasivas. Não lhe ocorreu, até recentemente, que seus
métodos escoaram para outros aspectos de sua vida, mas que não era
nem aqui nem lá.

Ali não era Nova York, era o Novo México e eles tiveram que se
hospedar — como Jasper havia previsto — no Hurley Arms, um hotel
escondido no centro da cidade. Stan, o mecânico, garantiu que a parte
essencial seria entregue até o dia seguinte, assim a queixa foi mínima,
pelo menos para eles.

Belmont e Aaron pegaram um quarto, ela e Peggy outro. Então,


quando os dois irmãos seguiram ela e Peggy em seu espaço obsoleto e
arejado, Rita se virou com um olhar sombrio, preparada para o pior.
Aparentemente, não escapou da inquisição que começou na oficina.

— Deixe ver se eu entendi direito. — Claro que Aaron começou o


interrogatório, com um grande sorriso debochado no rosto. — Você não
entra em um avião, mas basicamente subiu na parte traseira da moto
de um estranho.

Rita jogou a mochila sobre a cama mais próxima.

— Eu não vou conversar sobre isso.

— Sabe, eu meio que fui pego nisso e fiquei muito interessado. —


Aaron desabotoou cuidadosamente as mangas de sua camisa, rolando

62
elas até os cotovelos. — Felizmente, posso falar o suficiente por nós
dois. Provavelmente por todos os quatro presentes, se necessário.

— Oh, me deixe de fora, Aaron. — Peggy saltou sobre a cama que


Rita não escolheu, em uma posição de pernas cruzadas. Ela abaixou a
voz para um sussurro, dando um olhar conspiratório para Rita. —
Aquele homem era quente e mau. Duvido que muitas mulheres
deixassem passar a chance de montar.

As expressões de Belmont e Aaron expressaram repugnância.

— Seus irmãos estão literalmente aqui, nesse quarto, Peggy.

— Quis dizer montar para um passeio na moto. Principalmente. —


Peggy se jogou para trás na cama com um revirar de olhos
monumental. — De qualquer maneira, tenho vinte e cinco anos de
idade. Fui comprometida com quatro pênis diferentes. Insinuações
podem ser lançadas à vontade.

Aaron parecia querer discutir, mas visivelmente ignorou o desejo


e se voltou para Rita.

— Longe de mim te dar um momento duro.

Peggy riu bufando.

— Ele disse momento duro. Logo após eu...

— Por favor, pare. — Aaron levantou as mãos. — Apenas acho


surpreendente que algum cara durão sósia do Dukes of Hazzard9 seria,

9 Personagem da série The Dukes of Hazzard (Os Gatões no Brasil), exibida originalmente de 1979 a 1984 nos
EUA.

63
seja, o tipo de Rita. — Ele tirou a poeira da antiga cômoda de madeira,
sentou e cruzou os braços. — Ele não é nada como Gerard.

Rita tirou as botas e as chutou na direção de Aaron.

— Não traga Gerard para essa conversa.

— Eu definitivamente trouxe.

— Foi por isso que você concordou em vir junto? Para me irritar
até que eu seja levada em uma camisa de força?

Rita começou a mexer nos itens de sua mochila sem ideia do que
estava procurando. Apenas precisava de uma distração da bola de fogo
girando loucamente em seu ventre, a forma como vinha se sentindo,
sem parar, desde que ele disse que estaria duas vezes mais
determinado a conseguir aquele beijo. Percebeu que estava olhando
fixamente para um frasco de xampu e empurrou-o de volta na mochila.
Deus, ela precisava de uma distração. Ou poderia realmente considerar
se aventurar em um lugar chamado Liquor Hole em busca do cara legal
da cidade, que provavelmente já tinha esquecido seu nome.

— Certo, fale sobre Gerard.

Peggy sentou.

— Ele comeu meu hamster.

— Isso é boato e você sabe disso. — Peggy olhou fixamente para


Rita, forçando ela a desenterrar a ladainha que recitou em defesa de
seu namorado da oitava série. Ela teve apenas um outro namorado na

64
escola, um cara da banda e cheio de acne. — Ele não teve motivo ou
oportunidade para comer seu hamster, Peggy.

— Ele tinha motivo. — Aaron entrou na conversa. — Você


terminou com ele, porque não era vampiresco suficiente. Essa foi a sua
fase Crepúsculo, lembra?

— Eu te odeio.

— Eu gostava do Fluffy. — Belmont disse, chamando a atenção de


todos. — Ele era uma boa companhia.

Peggy começou a chorar.

Aaron disse.

— Essa é a minha deixa para sair.

Belmont seguiu ele para fora da porta, um momento depois,


lançando para trás um olhar com horror para sua irmã mais nova
chorando. Um olhar que Rita entendia bem, porque também nunca
lidou bem com a montanha russa emocional de Peggy. Ela mesma não
chorou em anos. Mesmo no enterro de Miriam, esteve dormente demais
para fazer qualquer coisa além de olhar para frente.

Cada um reagiu de forma diferente naquele dia. Peggy soluçou.


Belmont viu todo o processo da fileira de trás, enquanto Aaron atuava
como porta-voz, apertando as mãos e aceitando condolências. Houve
um ressentimento tangível de um para outro no momento em que
acabou, se eram suas próprias maneiras de luto ou desaprovação dos
métodos um do outro nunca ficou claro. Ela apenas se lembrava deles
indo embora sem dizer adeus.

65
Firmando seus ombros com a perspectiva de confortar sua irmã
mais nova, Rita se virou...

E encontrou Peggy sorrindo.

— Livrei-me deles para você, não foi?

Rita não conseguiu esconder sua surpresa.

— Uau. Finalmente aproveitou seus poderes para o bem. Ou talvez


fosse para o mal. — Ela se levantou e começou a andar, suas meias
grudando no áspero tapete marrom. — Belmont parecia traumatizado.

— Ele sempre se parece assim.

— Verdade. — Era uma brincadeira, mas a declaração de Peggy


puxou o assunto abruptamente.

— Ele está bem? Essa coisa com Sage... o que é essa coisa com
Sage?

— Complicado. Isso é o que é. — Peggy girou seu cabelo ao redor


do dedo. — Eu prefiro falar sobre você.

Essa era a segunda vez que alguém dizia essas mesmas palavras
para ela em menos de uma hora. O que era um pouco desconcertante
desde que podia contar em uma mão as vezes em sua vida que alguém
manifestou o desejo de falar sobre ela.

— Se isso é sobre Jasper...

66
— Oh é sim. — Os dentes de Peggy se afundaram em seu lábio
inferior. — Se chegássemos alguns minutos mais tarde, ele não teria
saído de lá.

— Você realmente quis dizer o que disse sobre as insinuações. —


Rita percebeu que estava se movendo e parou. — Não há nada para
falar. Você sabe com que tipo de cara eu flerto. Era a única disponível.
Isso foi tudo.

Peggy não entendeu.

— Rita, não que você não seja quente em seu próprio corpo, mas
ele nem sequer me olhou. E esse short fez com que eu ganhasse a mais
recente proposta de casamento.

— Sim, sobre isso...

— Eh. Boa tentativa. Vamos voltar ao cara da moto.

Rita se olhou de esguelha no espelho. Nada fora do comum. Para


ela, de qualquer maneira. Não mudou seu estilo em mais de uma
década, delineador pesado, franja espessa terminando nas
sobrancelhas. Caso olhasse de perto, podia ver a boa aparência dos
Clarkson em seus traços, mas seus irmãos a ofuscavam em cada
categoria. Se ela vestisse o short de Peggy, pareceria uma galinha
pálida. O jeans preto desbotado, atualmente cobrindo sua bunda
magra era seu favorito, porque uma vez usou a calça durante dois dias,
na esperança de conseguir bilhetes para o Megadeth. Havia um
pequeno furo no bolso que se desgastou durante a décima primeira
hora com uma caneta esferográfica.

67
Ela atraía os comedores de hamster do mundo. Não os homens
charmosos de olhos azuis, do tipo que almoçava com a avó. Ele era um
daqueles homens que gostava de suas mulheres satisfeitas? Ficou
surpresa por ter atraído a atenção e se ele fosse um ser solitário que só
queria mais uma conquista? Rita ficou surpresa ao sentir a mágoa
sobre essa possibilidade. Como se atrevia a feri-la depois de vinte
minutos juntos?

Irritada consigo mesma por estar se perguntando o que Jasper


pensou de sua aparência, Rita desviou seu olhar do espelho.

— Ele é dono de um bar chamado Liquor Hole. — Quando aquela


notícia fez sua irmã rir, Rita balançou a cabeça. — Olha, o carro estará
pronto pela manhã. Vamos apenas pedir uma merda de pizza e assistir
Golden Girls10 em seu laptop.

Os olhos de Peggy se arregalaram a menção do único passatempo


que elas tinham em comum quando eram crianças. Algo que
descobriram quando ambas tiveram catapora e ficaram em quarentena
no mesmo quarto. No começo se irritou com a proximidade forçada,
mas em algum lugar e o terceiro episódio, ficaram viciadas.

— Você ainda assiste?

— Rose estava na liderança por um tempo, mas Dorothy voltou a


ser minha favorita.

10 The Golden Girls (Supergatas) foi uma sitcom muito popular nos EUA, exibida de 1985 a 1992 e que teve
como protagonistas as atrizes Betty White, Beatrice Arthur, Rue McClanahan e Estelle Getty.

68
— Ainda prefiro a garota Blanche. — A excitação de Peggy foi
drenada e ela gemeu. — Não. Nós vamos ter muito tempo para assistir
Golden Girls na viagem. Hoje à noite, vamos para o Liquor Hole.

Rita soltou uma gargalhada.

— Você bebeu. Isso não vai acontecer.

— Com certeza vai. — Peggy se apoiou em um cotovelo. — Serei


sua segurança por tempo suficiente para ter certeza que Jasper não é
um cretino, então vou te deixar para sua recompensa de estrada.

— Recompensa de estrada?

— Relações de estrada. — Peggy explicou com paciência


exagerada. — Sabe, entre Aaron e eu, essa não será a última relação
perpetuada por um Clarkson antes de chegarmos a Nova York. Você
deve estar orgulhosa de ser a primeira.

— Perdoe-me por não estar animada.

Rita puxou sua blusa de manga longa. A vontade de perguntar se


Peggy tinha algo para emprestar era forte, mas firmemente resistiu.
Sair para uma cerveja e possivelmente um passeio com um homem era
uma coisa, vestir-se fora da zona de conforto era outra completamente
diferente. Ela sequer se permitiria uma chance com a recompensa de
estrada. Tirar a roupa e ficar suada com um estranho era algo que
outras pessoas faziam. Não que julgasse aqueles que saiam à procura
de encontros de uma noite, mas nunca entendeu o sexo casual. Ficar
nua era tão vulnerável como nada que Rita poderia encontrar em seu
livro, nada sobre isso era casual. Infelizmente, tanto quanto queria

69
recusar a oferta de Peggy sobre o apoio, ainda podia sentir a respiração
de Jasper contra sua boca, o contorno de sua ereção onde roçou sua
barriga. Na hora, disse a si mesma que era a fivela do cinto, mas não.
Por alguma razão, ele a desejava. Alguma parte dela inexplorada queria
ver o desejo de perto apenas mais uma vez. Sentir a força gravitacional
que sentiu do lado de fora da oficina gordurosa, experimentar a terra
se inclinando de uma forma que a faria tropeçar cegamente na direção
de Jasper.

Era tudo muito rápido. Muito arriscado para sua autoestima se


algo desse errado. Deixou San Diego por uma razão. Esse era seu novo
recomeço. Seria bobagem começar oficialmente, se colocando em uma
situação em que uma conexão aleatória podia ocorrer, não que
estivesse se permitindo ter esperança, mas talvez o simples ato de ir e
estar disponível era suficiente por agora.

Rita franziu os lábios para Peggy.

— Uma bebida.

70
CAPÍTULO SETE
Hoje tinha de ser uma daquelas noite, não é?

A cada poucas semanas, os frequentadores do Liquor Hole ficavam


fora de linha mais do que o habitual. Alguém bebia uísque e saía do
seu limite de costume, dançava mais sugestivamente do que dançaria
se sua mãe estivesse olhando. Não havia como explicar ou prever
quando uma dessas noites das bruxas iria rolar. Jasper sequer olhou
o calendário ou tentou ver se as ocasiões coincidiam com o ciclo da lua.

Avaliou quem estava no bar para ver se tinha alguns dos rapazes
lá. Um que vinha regularmente com seus amigos e que seguiam o
exemplo dele de briga. Um ciclo feio que normalmente continuava até
que tanto socos fossem lançados ou sessões de tortura no bar ficassem
fora de controle, forçando o garçom a pulverizar os casais com água da
pistola de refrigerante.

Não era apenas sua fortuna que estava em jogo se houvesse uma
lua cheia iminente essa noite, mas finalmente sentiu interesse por uma
mulher e esperava ela entrar a qualquer momento. Droga, isso era um
exagero. Não esperava nada. Essa tensão totalmente estranha em seu
peito era esperança, pura e simples. Esperava que ela passasse pela
entrada. Caso contrário, teria que bater nas portas dos quartos do hotel
procurando e isso seria estranho, especialmente se encontrasse os
irmãos de Rita primeiro. Para não mencionar que sair e deixar o Liquor
Hole nas mãos de seus dois bartenders, um de quem ele suspeitava
que estava a uma tragada de um coma, seria imprudente.

71
Se os deuses estivessem sorrindo para ele, Rita iria aparecer.
Então o deixaria levá-la para comer um sushi. Jasper tinha um palpite
de que essa eventualidade era tão provável quanto uma tempestade de
neve em junho, mas a única arma em seu arsenal era o otimismo, então
iria usar.

Não que fosse fácil quando as noites das bruxas tendiam a deixar
a população feminina de Hurley um pouco mais solta. Até dois anos
atrás, quando seu apelo pessoal soava como um incêndio de quatro
alarmes, ele seria o homem para recorrer em Hurley para uma boa
aposta. Agora que se recusava? Bem, recebia de volta a atenção e era
como uma espécie de desafio para algumas de suas mais amorosas
conquistas do passado. Em noites como essas, preferia se trancar no
minúsculo escritório e sair apenas para reabastecer as cervejas ou
resolver as disputas.

Caso ela realmente aparecesse, as mulheres locais que estavam


tentando persuadi-lo a sair do escritório e de seu celibato auto imposto,
iriam ver seu interesse por Rita como um desafio para tentar mais.

O ditado “você colhe o que planta”, nunca foi mais verdadeiro do


que essa noite.

Se Rita aparecesse. O que era um poderoso e grande se.

Porra, essa necessidade profunda de ter Rita, parecia como algo


diferente do que a máquina de orgasmo de Hurley inútil que ele era.
Talvez devesse ter apenas beijado ela naquela tarde. Hesitação nunca
foi parte de sua composição genética, mas seus grandes e cautelosos
olhos castanhos dourados fizeram algum jogo para deixá-lo excitado.

72
Pelo menos se ele deixasse sua boca cair outro centímetro essa tarde
saberia qual o gosto da boca dela. Talvez assim não tivesse uma coceira
incessante entre as omoplatas de querer saber se ela realmente poderia
deixar a cidade sem descobrir.

A realidade era que ela iria sair da cidade. Provavelmente amanhã.


Isso não fazia nada para diminuir o nervosismo em seus ossos. A
inquietação o fez querer vê-la antes que seu Suburban desaparecesse
no pôr-do-sol. Jasper passou a mão pelo cabelo.

— Nate, pegue uma cerveja.

— Sim, chefe.

Nate passou a Budweiser fora do gelo, estalou o topo e colocou


para baixo do balcão, na mão de Jasper.

— Sente o ar aqui, Nate? Está sentido que irá chegar algo, não é?

— Eu não sinto nada.

Jasper fez um som de desgosto e olhou para sua cerveja gelada.

— Sim, acho que não.

Querendo saber se poderia encontrar um ponto de vantagem


escondido para observar a entrada de Rita, viu que era improvável,
então Jasper se virou e observou o bar. Eleanor Nesbit já estava
fazendo sua dança. Aquela em que erguia os braços, fechava os olhos
e movia os quadris em algum cavalo de alças imaginário. Coisas como
ritmo ou batida não importavam para Eleanor, ela não parava de fazer
esse movimento infame. Enquanto isso, sua amiga Gina girava

73
constantemente. Bastava experimentar um novo movimento a cada
quatro segundos ou assim, não se comprometendo a um único. Elas
faziam um bom par.

— Ei, Jasper Ellis. — Gina disse seu nome como a maioria das
pessoas diziam torta de cereja. — Você está pensando em se juntar a
nós. Posso ver isso.

Eleanor deu uma piscadela, voltando para a mesma dança. Jasper


tinha que admirar sua lealdade com a técnica, mas esse era o máximo
de admiração que conseguia reunir. Ambas eram mulheres atraentes,
perto de sua idade e ele não sentia nada, apenas um oco quando
falavam daquela maneira doce exagerada. Bebendo um gole de sua
cerveja, Jasper virou para a pista de dança...

Bem a tempo de ver Rita entrando no bar. Ela trouxe uma brisa
fresca, uma energia relaxante que o excitou. Sua irmã estava junto e
Jasper agradeceu por isso. Hurley era segura o suficiente, mas ele não
gostava da ideia dela caminhando para o Liquor Hole sozinha e no
escuro.

Rita parecia a mesma dessa tarde, não trocou de roupa graças a


Deus. No entanto, se livrou de toda a maquiagem e Jasper gostava de
seu rosto assim. Do jeito que pensava em manhãs de sábado, quando
a única mancha em seus lábios seriam as de morangos frescos. Suas
roupas podiam ser simples, mas se ajustavam o suficiente para que ele
pudesse ver a curva de seu traseiro.

Isso era exatamente como Rita era. Uma provocação. Uma que
dizia: nem tente isso, filho da puta. Mas, ao mesmo tempo, sua camisa

74
de mangas longas com os punhos abertos, fazia com que pensasse
neles deitados no chão da sala enquanto a chuva molhava o telhado. A
camisa iria mover seu cabelo para cima quando a tirasse sobre a
cabeça, mas eles não se importariam por ser sábado.

Que porra tinha nessa cerveja?

Jasper reuniu seus pensamentos brutos e foi na direção de Rita,


se lembrando no último minuto de sorrir. Estranho, já que sorrir não
era natural para ele. Intenso era uma descrição que ninguém na cidade
associava a ele, mas Rita parecia persuadi-lo à sua superfície. Quanto
mais perto ficava dele, mais ansiosa parecia. Como se fosse fugir com
a simples ideia de conversarem. Dar aquele beijo que prometeu ao invés
de um olá estava fora de questão, porque algo lhe dizia que não iria
parar e estava determinado a manter as coisas lentas e constantes. Boa
coisa que lento e constante parecia ser o que Rita também precisava.

— E aqui estava eu duvidando de você. — Jasper fez contato visual


com Nate e apontou para as mulheres. — Uma bebida por conta da
casa Nate. Elas estão esperando uma correia da ventoinha essa noite,
que Deus tenha sua alma.

Ele lhes entregou as bebidas. Um Martini de maçã para a irmã.


Rita pediu sua cerveja IPA11. Linda, perspicaz e com bom gosto para
cerveja. Senhor tenha piedade.

11 Também conhecidas como India Pale Ale, são cervejas de alto amargor e geralmente de alto teor alcoólico.
Cervejas carregadas de lúpulo, e por isso bem amargas, mas que conseguem se conservar por muito mais tempo
do que cervejas com menos lúpulo. É uma cerveja que varia na intensidade de amargor e percentual de álcool
de acordo com o sub-tipo: American IPA, English IPA, Imperial IPA e a nova Black IPA.

75
Jasper se inclinou contra o bar ao lado de uma Rita tensa, mas
chegou a apertar a mão da irmã.

— Acho que não nos conhecemos direito hoje. Sou Jasper.

— Peggy. — Seu sorriso era quente e um pouco tonto, seu olhar


se lançava entre ele e Rita. Isso significava que Rita falou dele? Não
teve chance de perguntar a Peggy antes que ela pulasse do banco. —
Você tem uma jukebox nesse lugar?

— Claro que tenho. Por favor, evite Van Halen. — Ele percebeu a
pista de dança se encher, os casais se aproximarem um do outro. —
Tende a excitá-los.

— Certo.

Assim ficou sozinho com Rita. Talvez os céus estivessem


finalmente sorrindo para ele.

Agora, tinha que fazer ela olhar para ele. Parecia mais interessada
na condensação do copo que Nate colocou no balcão. Antes que
pudesse ficar encantado com os movimentos do seu dedo indicador,
Jasper disse.

— Você falou com sua irmã sobre mim?

Um lampejo de seus olhos fez o seu ventre se apertar.

— Foi inevitável.

— Como assim?

Rita tomou um gole de cerveja, ele pensou que ela iria se virar.

76
— Aquilo perto do telefone público não foi bem escondido. Eles te
vi...

— Eles nos viram.

— Bem. Mas você...

— Iniciou o beijo. É isso que você ia dizer? — Jasper se inclinou


mais perto, incapaz de manter o sorriso do rosto. — Essa é a desculpa
mais velha no livro, mas vou deixar você usá-la. Sabe por quê?

— Por quê?

— Porque eu quero terminar ele, também. — Apenas o beijo. Você


consegue gerenciar uma interação saudável, homem. — E você parece
uma abelha indo para o mel.

Ela se virou até que suas pernas apontaram para ele. Era um sinal
intermitente que dizia que o progresso poderia muito bem ter subido
em sua cabeça.

— Eu sou a abelha nesse cenário?

— Você certamente é. — Lentamente, ele bateu o polegar sobre


seu joelho. — E acho que você pica quando é provocada.

Rita soltou uma risada trêmula.

— Uau. Você é muito bom nisso. Pratica no espelho?

Ele já estava a meio caminho de ficar irritado consigo mesmo


antes de sua pergunta, mas isso o levou em segurança para casa.
Precisou de exatamente dez segundos para cair de volta nos velhos

77
padrões e hábitos. Um comportamento que ele pensou ter enterrado,
mas aparentemente, sua atração colossal por Rita fez tudo voltar.
Jasper virou para o lado, se apoiando com um cotovelo no bar.

— Porra, podemos começar a conversa onde ela acabou? Você não


tem que voltar ao passado ou qualquer coisa. Mas finja que eu não
perguntei se conversou com Peggy sobre mim.

Quando ela repetiu sua resposta anterior, sem uma única


hesitação, o seu desejo de beijá-la disparou para a lua.

— Foi inevitável.

— Desculpe que eu tenha te colocado nessa posição, senhora.

Um canto de sua boca se levantou em um sorriso.

— Não, você não lamenta.

— Não, acho que não.

Rita riu. Se a vida tivesse um botão de rebobinar, ele teria


apertado uma e outra vez, do jeito que fez com as cenas de amor
quando era criança assistindo episódios gravados de General Hospital12
de sua avó. Até que foi pego e condenado a uma semana lavando
pratos. Rita ria com os olhos. Eles ganhavam brilho enquanto seus
ombros tremiam, mas o som da risada foi o que se arrastou ao longo
de sua pele, como se passando os dedos sobre ele, o deixando
consciente. Era baixo e íntimo, como uma corda de graves em um clube

12 General Hospital (abreviada como GH) é uma soap opera estadunidense exibida originalmente, creditado
como a mais duradoura série dramática pelo Guinness World Records, estando em atividade pela ABC desde
1963.

78
de jazz enfumaçado. Ele queria que o som voltasse assim que
desapareceu. Queria ouvi-lo vibrar contra seu ventre. Vá com calma,
cara.

— Desculpe. — Ele deixou sua cerveja no bar. — Onde vocês


quatro estavam indo nessa grande, enferrujada Suburban antes que
Hurley os fisgasse?

Ela olhou pensativa para suas botas horríveis fazendo-as balançar


para trás e para frente, batendo os degraus de madeira às vezes.

— Precisamos chegar a Coney Island até o dia de Ano Novo. Assim,


podemos saltar no Oceano Atlântico.

— Por quê? — Ele se sentou no banco ao lado dela, a bebida


esquecida no bar. — Isso estava bem no topo da lista de coisas que eu
não esperava.

— Oh, conheço o sentimento. — Houve um momento de silêncio.


— Foi o último desejo de nossa mãe.

— Sinto muito.

Ela assentiu com a cabeça, colocando o cabelo para trás em um


movimento rápido, como se estivesse desconfortável tendo a atenção de
alguém. Ele nunca teve motivos para usar essa palavra absurda antes,
mas era a única maneira que poderia descrever sua falta de confiança.
Apesar do nome inadequado, o Liquor Hole era o trabalho de sua vida
e no momento, não era nada mais do que um lugar inapropriado para
Rita. E Deus, ele estava olhando para as mãos como um leitor de
palmas agressivo.

79
— A maioria das mães querem evitar que seus filhos se
transformem em esculturas de gelo flutuantes. Qual foi a razão?

— Boa pergunta. — Uma onda de tristeza piscou em seus olhos e


Jasper desejou que deixasse o assunto. Isso era o que acontecia
quando evitava falar sobre sexo. Foi direto para seus pais falecidos. E
ainda assim não estava arrependido. Nem um pouco. Ele queria saber
tudo. — Acho que... ela quis isso como uma espécie de experiência de
ligação simbólica. Mas não sei. Estamos um pouco afastados.

— Tenho a sensação de que interrompi uma quase briga corpo a


corpo essa tarde.

— Aaron chamou meu suflê de decente. — Uma mecha de cabelo


escuro caiu em seus lábios quando ela balançou a cabeça. Custou todo
seu controle não colocar ela de volta no lugar, mas ela ficou na frente
dele de qualquer maneira. — Parece bobo agora.

— Nah. — Jasper não podia deixar de se inclinar para ter um


cheiro de especiarias de cozinha. — Ele estava vestido como um
pregador em um dia de semana.

Mais uma daquelas tranquilas risadas.

— Acho que há uma linha tênue entre um político e um pregador.

— Político? — Jasper estremeceu, em seguida, recordou a ameaça


que o irmão de Rita fez a ele na estrada. — Ainda assim, não posso
evitar, mas gosto dele por te querer segura, mesmo com um estranho.
Ele não pode ser tão ruim já que se preocupa com você.

80
— Preocupado pode ser um exagero. — Disse Rita. Quando seu
olhar castanho dourado foi para a boca dele, Jasper percebeu que
mudou para seu perfil pessoal, sem qualquer pensamento consciente.
Um de seus joelhos roçava seu jeans cobrindo o quadril e Deus o
ajudasse, se o bar estivesse vazio teria se colocado entre as coxas dela
antes que pudesse chamar Jesus. Para alguém que não sentia mais do
que uma apreciação pelo sexo oposto em anos, sua libido estava
tentando aparecer com força total essa noite.

— O que você está pensando?

Minta. Ele tinha que mentir. Quero deitar você e te foder nesse
lugar, mas estou tentando ser um cavalheiro, isso não era um
pensamento aceitável. Era muito agressivo quando ela parecia
assustada apenas com sua proximidade. Mas estava indo embora,
deixando a cidade e a opção devagar não estava funcionando para
Jasper quando não sabia nada sobre ela. Então, diria a verdade
deixando de fora a realidade suja em sua calça.

— Estava pensando que teria sido muito ruim se seu carro tivesse
quebrado uma cidade acima. — Sua voz estava rouca, então ele limpou.
— Mais do que ruim. Estou encontrando dificuldade para pensar, se
você quer saber a verdade.

Por longos momentos, ele não pode ouvir um único som no lugar.
Sem música, sem gelo sendo triturado ou gargalhadas. Estava lá na
perplexidade de sua expressão. Esperava que ela falasse uma besteira
ou fizesse uma piada, mas não fez. Chocou ele com isso.

— Acho que vou querer aquele beijo agora.

81
CAPÍTULO OITO
Santo cannoli com avelã.

Rita botou a mão na boca para impedir que essas palavras


escapassem, mas escaparam. Saíram e foram imortalizadas enquanto
se encolhia no banco querendo desaparecer por toda a eternidade,
sempre falava e em momentos inoportunos. Será que as mulheres
normais falavam coisas como acho que vou querer aquele beijo agora?
Resposta: não, não falavam. Elas faziam outra coisa. Certo? Flertavam
e seduziam o homem até que ele fizesse o primeiro movimento, certo?

Apesar de que Jasper se aproximaria de qualquer maneira. Na


verdade, mais perto era um eufemismo. Seus quadris estavam
avançando entre suas coxas no banco, sua atenção tão focada em sua
boca que ela prendeu a respiração de modo a não romper sua
concentração. Parecia estar lutando com seus hormônios, tanto quanto
ela estava, mas qual o sentido disso? Eles tinham mais ou menos a
mesma idade, o que significava que não era seu primeiro rodeio, mesmo
que na verdade, se sentia dando um passeio de touro pela primeira vez.

Seria um passeio mais áspero do que um touro.

Ele poderia muito bem ter dito o que prometeu em voz alta, porque
o rodeava como uma aura. Homens como Jasper deveriam ser
reservados para memes sexys da internet, mas ali estava ele. Seu
próprio gif privado em movimento, apesar de que não reiniciou depois

82
de três segundos13. Não, ele continuou se aproximando, como se não
pudesse evitar beijá-la uma vez que começasse. Como se pudesse fazer
uma tonelada a mais do que apenas beijar com aquela boca.

Mas ele parou. Parou a apenas um fôlego, olhos azuis se


levantaram para o dela.

— Você está linda sentada aí, Rita. E posso te ver se contorcer


nesse banco. Deus sabe que posso. — Seu rosnado baixo era de
frustração. — Mas você se importaria se fossemos a algum lugar para
conversarmos um pouco? Antes de darmos aquele beijo?

A confusão e caos ondularam sua corrente sanguínea. Ele pediu


para conversar? Não devia sentir como se tivesse sido mergulhada em
óleo quente, mas não havia dúvida do movimento em seu estômago.
Ouviu falar de intuição feminina onde os homens estavam em causa,
mas nunca experimentou. Jasper definitivamente queria fazer mais do
que conversar, mas parecia estar se segurando. Por quê?

Atrás deles, um coro de vozes chamou o nome de Jasper e ele se


encolheu. Recuou e impediu Rita de se virar. Seu olhar não se desviou
dela, aumentando a gravidade em seu lugar.

Algo semelhante à decepção apareceu em sua expressão quando


ela hesitou sobre sua oferta para conversar e sua ansiedade apareceu
logo diante de seus olhos.

13 Ela se refere ao movimento dos Gifs animados, que duram em média três segundos e começam a se repetir
o movimento.

83
— Venha comigo, Rita. Eu quero estar com você onde ninguém
esteja olhando.

A ponta de sua língua fez contato com seu lábio inferior e seu
cérebro quase parou. Se seu gemido ecoando fosse qualquer indicação,
estava tão afetado quanto ela. Mas isso era impossível, não era? Era
ela quem ele estava beijando. Rita Clarkson. O fracasso da família, sua
carreira resumida em um vídeo de trinta segundos no YouTube.
Nenhuma perspectiva romântica para se vangloriar.

— E para onde vamos? — Ela respirou.

— Apenas para o meu escritório. — Obviamente, interpretou a


pergunta para um verdadeiro “sim, sim vamos”, pois, a grande mão dele
calejada fechando ao redor da dela. — Prometo te manter lá tempo
suficiente para que todos possam supor que estou me aproveitando. —
Sua piscadela era sexo bruto com um senso de humor. — Farei o meu
melhor para te trazer de volta do jeito que você está.

Um pouco entorpecida, Rita permitiu que Jasper a puxasse para


fora de seu assento. Ela teve a presença de espírito para fazer contato
visual com Peggy, que lhe deu um entusiasmado polegar para cima em
meio à multidão de homens que se reuniam ao redor dela.

Então a atenção de Rita foi para a pista de dança. E a rara


confiança sexual que estava experimentando graças a Jasper caiu com
uma vingança. Ali estavam mulheres sensuais e mulheres de minissaia
que sussurravam umas para as outras enquanto observavam Jasper
puxá-la no meio da multidão. Foi um flashback da escola. Da escola de
culinária. Da vida cotidiana. Ela não pertencia a esse homem

84
carismático e nem a esse lugar. Deus. E se ele estivesse apenas
entediado com o sabor local e queria algum sabor novo?

Seus pés cravaram no chão polvilhado de serra, mas quando


Jasper virou com preocupação óbvia em seu rosto, as palavras se
recusaram a sair. Ela não poderia admitir em voz alta que se sentia
como um peixe fora d'água. Que não entendia que porra ele queria ou
esperava dela. Isso iria deixá-la duas vezes mais patética do que já se
sentia.

As mãos quentes de Jasper apertaram seu rosto, inclinando-o


para cima. Sus mãos, arrastaram ela para fora do abismo rochoso que
caiu.

— Querido Deus. Eu nunca tive que perguntar a alguém o que


eles estão pensando tantas vezes em um dia.

— Por que você está tão interessado?

A questão apenas explodiu dela, mas Jasper nem sequer piscou.

— Se não conhecer seus pensamentos, como posso ficar neles?

Ela estava sendo atraída de volta para seu feitiço. Mas mesmo que
sua consciência não estivesse totalmente envolvida nesse feitiço, não
conseguiria se afastar ou prestar atenção aos sinais de alerta na
estrada da destruição.

— Você estar lá, — ela murmurou — não significa que eu não


queira te expulsar.

85
— Posso ser teimoso quando tenho um objetivo a atingir. Apenas
precisa esperar e ver. — Ele respondeu, completamente implacável. —
Você virá ao meu escritório para que possamos nos conhecer? Ou quer
ser levada?

Carregue-me.

— Nem sequer tente.

Seu sorriso de resposta provavelmente derrubou todas as


calcinhas da cidade de Hurley até a Califórnia.

— Vou perguntar de novo mais tarde, quando seus joelhos


estiverem fracos.

Ela olhou para suas mãos unidas, notando seu aperto forte pela
primeira vez, provavelmente porque estava pronta para fazer um ponto.
Seus dedos estavam brancos, a espera inquebrável tão em desacordo
com sua atitude casual.

— Vamos ver se você pode deixá-los fracos.

— Aqui está a chance que eu esperava. — Jasper murmurou,


virando mais uma vez para passarem pela multidão.

Eles deram apenas cinco passos quando duas mulheres de


minissaia que dançavam entraram em seu caminho. Era como aquele
momento no final de um concerto, quando as luzes se acendiam e a
atmosfera se quebrava. Um segundo você está em um lugar escuro e
mágico com as notas musicais que pintam o ar e no próximo? Você está
em um quarto suado com estranhos que derramam cerveja em seus

86
sapatos. Jasper visivelmente se irritou com a chegada das mulheres. E
essa reação revirou o estômago de Rita.

— Jas-per. Aonde você vai?

— Nos dê licença, por favor, Gina. — Ele respondeu, com voz


cansada. — Vou apenas mostrar a Rita à nova adição que é o
restaurante na parte de trás.

— Ah certo, a adição. — A Minissaia Número Dois acotovelou sua


amiga. — Sabe, você pode tentar limpar esse lugar, mas ele sempre
estará sujo. Assim como você, não é mesmo?

— Mmmhmm. Pode nos encontrar quando terminar sua pequena


“turnê”. — Disse a Minissaia Número Um colocando aspas no ar ao
redor da palavra turnê. — Você ainda tem energia suficiente para
muitas de nós, se não me falha a memória.

Eles começaram a se mover rápido novamente, mas os pés de Rita


se transformaram em sacos de areia. Ela queria puxar a mão do aperto
de Jasper, mas não queria ser deixada de pé como uma perdedora no
meio do bar, para que elas praticamente corressem atrás dele. Os
poucos goles de cerveja que tomou eram como esferas rolando em seu
estômago, rolando e batendo juntas. Estava acostumada a ser tratada
como se fosse invisível, mas não na frente de um homem com quem
estava fazendo uma triste tentativa de flertar. Essas mulheres não
tinham sequer poupado um olhar a ela e era assim que se sentia. Rita
apenas queria voltar para o hotel, rastejar debaixo das cobertas e ter
uma morte lenta.

— Deixe-me ir.

87
— Não posso.

— Você pode. — Vendo o que assumiu ser a entrada do escritório


na frente, ela tentou se soltar e falhou. Eles estavam dentro do
escritório com a porta fechada, um momento depois. Com o volume da
música abafada, sua respiração pesada ecoava pela sala. Ela esperou
ele ligar uma luz, mas não ligou, apenas ficou em frente dela, seu perfil
frustrado iluminado pela lâmpada de rua do lado de fora da janela. —
Eu preciso voltar para...

— Por que veio aqui hoje à noite?

Ela levantou as mãos.

— Você pediu.

Ele parou de andar, a irritação evidente na sua linguagem


corporal.

— Rita, te conheço a menos de um dia e sei que você não faz coisas
porque alguém pede.

Certo, tudo bem. Então o que ele quer ouvir? Ela veio porque ele
a fascinava? Por que se sentia atraída contra sua vontade? Ela preferia
morrer a ter que admitir isso depois de terem encontrado Minissaia Um
e Minissaia Dois no bar.

— Minha irmã me fez vir.

— Errada de novo.

Rita apertou os dentes. Uma rebelião acontecia dentro dela,


aumentando e aumentando em intensidade. Ele queria a verdade, não
88
era? O que importava? Ela já foi humilhada e amanhã de manhã eles
iriam deixar essa cidade de merda e nunca olhar para trás. Revelar sua
motivação secreta poderia ser embaraçoso, mas sobreviveu à coisa pior.
Notoriedade na internet. Seu restaurante queimando. A vida em geral.

Na verdade, e se ela fosse um passo adiante com essa linha de


raciocínio? Esse homem a queria? Era apenas desejo por algo novo ou
interesse genuíno. O que tinha a perder? Pelo menos iria se sentir bem.
Pelo menos sentiria algo diferente do fracasso e auto piedade que era
destinado a ela ultimamente.

Rita respirou.

— Vim aqui para você me foder.

89
CAPÍTULO NOVE
Ali estava ele.

Para ser justo, — aliás, o que porra significava ser justo? —


quando ele perguntou a Rita por que veio, implorou por essa resposta.
Ela veio por sexo. É claro que viria por sexo. O que ele achava que a
atraiu aqui? Sua personalidade dinâmica? Sua, oh tão impressionante,
carreira? Talvez devesse abandonar seu novo plano para ser um ser
humano decente e apenas colocar um anúncio no jornal de domingo.

Venha para Liquor Hole a dez centavos na terça-feira à noite. Não


perca a chance de sexo sem sentido com o proprietário.

Mas poderia ser uma oportunidade para Rita ver mais. Ele
prometeu a si mesmo que iria parar em beijos. Apenas o suficiente para
cumprir a promessa feita anteriormente fora da oficina. Apenas o
suficiente para que todos seus outros pensamentos não fossem qual
gosto ela teria... que jeito ela gostava... oh DEUS, como seria ter sua
boca? Então seu passado apareceu e o mordeu na bunda mais uma
vez, as suspeitas que ela claramente já tinha sobre ele se confirmaram
no espaço de trinta segundos.

Ok, tudo bem.

Tudo bem.

Se fosse esse o caminho que o destino queria jogar, iria jogar. O


senso comum poderia estar vadiando na parte de trás de sua cabeça,
lhe dizendo que a sua próxima jogada seria um erro, mas estava muito

90
irritado para ouvir a advertência. E sim, estava envergonhado.
Provavelmente ainda mais do que irritado. Foi humilhado por um longo
tempo e agora, bloquear isso parecia uma ideia muito boa.

Vim aqui para você me foder.

Não importava que Rita parecesse desesperada para que o mundo


a engolisse inteira agora, as chamas floresciam em suas bochechas. As
palavras foram ditas, as intenções eram claras.

— Jasper, eu não deveria ter....

— Foi por isso que você veio, não é? — Falar sujo com uma mulher
era como andar de bicicleta. Jasper esfregou a mão no queixo mal
barbeado e deu a Rita um deliberado aceno de cabeça, observando suas
coxas flexíveis sob seu traseiro. Seu pau gostou da visão, endurecendo
em sua cueca. Certo, linda. Vou me encaixar entre elas com força
suficiente para mostrar quem está na liderança. — Você é o tipo de
mulher que fode contra a parede, não é?

— Todas as mulheres são desse tipo. — Ela sussurrou, então


olhou surpresa consigo mesma por ter falado isso. — Eu-eu acho.

Maldita seja ela por fazer ele querer rir quando precisava quebrar
alguma coisa.

— Você me deixou curioso. Por que acha isso?

Jasper apoiou uma mão acima da cabeça dela, traçando o cós de


sua calça jeans preta com a outra, através de seu umbigo. Mais
devagar. Mais baixo.

91
— Hm... — Seu abdômen se contraiu sob o toque dele e
estremeceu. — Não há nenhum lugar para ir?

— Certo. Você não tem nenhum lugar. Para ir. — Ele abriu o botão
da calça dela. — Talvez toda mulher goste contra a parede. Mas nem
todo homem pode mantê-la ali tempo suficiente para chamar isso de
foda. É a única maneira que um homem termina com uma mulher, no
meu livro. — Ele mordeu o lábio inferior. — É por isso que está aqui,
não é? Você precisa de uma boa foda sacana e decidiu que seria eu a
fazer o trabalho.

Ela abriu a boca para responder, mas ele eliminou qualquer que
fosse sua resposta empurrando a mão no jeans dela e colocando em
sua boceta.

Jasper gemeu acima da cabeça dela. Porra, sim. Ela seria


apertada. Rita quase entrou em colapso, um soluço doloroso escapou
de sua garganta, levantando uma dor no peito. Ali não havia nenhuma
pretensão em suas bonitas feições. Apenas dor. Necessidade.
Necessidade deslumbrante, de tirar o fôlego. Ele saiu de sua ira e voltou
para o presente. Quase, de qualquer maneira.

— Quanto tempo faz?

Quando ela hesitou, ele percebeu que fez a pergunta.

— Eu... não vou responder a isso. Não é da sua conta.

Deveria ter deixado para lá, mas havia uma necessidade de


conhecer essa mulher que não seria satisfeita, apesar de seu interesse

92
ser em nada além de como ele poderia transar. Então teria informações
da melhor maneira que sabia.

Pressionando a boca aberta sobre a orelha dela, ele provocou a


beirada de sua roupa interior com os nós dos dedos, deixando ela
escorregar apenas um toque.

— Você sabe que se não disser quanto tempo faz, mais vou
começar a trabalhar entre essas pernas.

— Por que você quer saber? Assim pode rir de mim como aquelas
mulheres fizeram? Então pode me descrever como uma despesa de
caridade em seus impostos? — Sua respiração soprou contra seus
lábios. — Vai se fuder. Não me importo com o que você pensa.

Tudo dentro de Jasper ficou parado. Negação, surpresa, raiva.


Todos eles ultrapassando o controle.

— Nossa, Rita. Ei. Espere um maldito segundo aí...

Ela o beijou. Foi um movimento inesperado que tirou todo


pensamento de sua mente, exceto as curvas suaves dos lábios nos dele.
O sabor sutil de batom labial ChapStick. Uma batida cada vez mais
forte quando ela abriu a boca para convidar sua língua para dentro.
Havia uma razão para que ele parasse e esclarecesse algumas coisas,
um terrível mal-entendido estava acontecendo, mas não podia imaginar
uma maneira de parar. Não quando ela caiu sobre ele, quando sua boca
tinha a chave para a felicidade eterna. Pela primeira vez em sua vida,
esqueceu que tinha a mão entre as pernas de uma mulher porque sua
boca tomou a dele. Sua respiração, seu cheiro, a maneira como ela
suspirava. Se pudesse marcá-la em sua memória, faria alegremente.

93
Ela desceu os dedos acariciando o antebraço dele para cobrir a
mão que tocava sua boceta para lembra-lo do contato íntimo. Oh e ele
se lembrou como uma vingança maldita. Colocou pressão sobre a mão,
gemendo em sua boca com a linguagem universal para mais, continue.
Com suas línguas se tocando, os lábios frenéticos, ele não tinha
escolha. Puxou a calcinha e enfiou seu dedo médio entre suas dobras
molhadas, enquanto afastava sua boca para que pudesse amaldiçoar.

— Deus. Quero chupar essa pequena boceta por vários dias.

Rita gemeu, as pernas apertaram a mão dele.

— Oh, você não pode dizer coisas assim. Ou isso... acabará muito
rápido.

Sua reação honesta enviou uma deliciosa pulsação para a base de


seu pau, fazendo ele crescer até o ponto de agonia. Tão duro que sentiu
o pré-sêmen na ponta. Preservativo. Onde estavam os preservativos?
Estavam até mesmo na validade? Tinha que gozar dentro dela e sentir
o prazer que seus corpos estavam pedindo. Não. Havia uma razão pela
qual não podia gozar dentro de Rita, mas precisava de mais tempo para
se lembrar do por que. Por quê? Sua mente questionou enquanto suas
bocas se devoravam.

— Você gostaria de ouvir o que eu quero?

— Não. — Os olhos dela estavam fechados enquanto tocava o


clitóris dela. — Sim.

Seu pulso estava acelerado, os dedos trabalhando nela em


círculos, fazendo ele se sentir leve e solto. Sentia-se como um homem

94
moribundo que receberia um passe livre para o céu se pudesse aliviar
a pressão que sentia dentro de Rita. Seu corpo estava quente e
apertado, sua necessidade óbvia de uma maneira que refletia a dela.

— Quero cuidar desse pequeno feixe de nervos entre suas pernas,


de forma tão especial que ele pulsará quando eu entrar em uma sala.
Quero que se lembre tanto da minha língua que você terá que
desculpar-se quando me vir chegando, porque precisará de atenção.

Os olhos de Rita se abriram naquele instante em estado de choque


ou com a esperança de incentivar uma explicação mais detalhada,
vidrados e em tons dourados, trazendo-o de volta para a Terra. Ele
recuperou um pouco da realidade bem a tempo de ela dizer.

— Eu não vou ficar tempo suficiente para que isso aconteça.

— Verdade, não é? Você não vai.

A feiura diante dele começou a se arrastar através da rachadura


em seus muros, mesmo que quisesse pisar sobre ela para mantê-la
dentro.

Jasper beijou ela, atraindo profundamente seu bálsamo curativo,


mas que de alguma forma apenas piorava, assim como o líquido
revestindo seus dedos fazia. Tão delicioso, tão inchado. Mas não estaria
aqui amanhã. Porra, ela não queria estar. Todo mundo pensava nele
como a porra de uma parada de caminhões, mas queria muito mais
dessa mulher e estava morrendo de vontade em tentar convence-la do
contrário. Uma tentativa, um fracasso.

95
— Você veio aqui essa noite para a sua vez com o vagabundo da
cidade. — Disse ele contra sua boca, aço em seu tom. — Isso é tudo o
que é. O bom Jasper, ao seu serviço. Para satisfazer sua necessidade.

Seu olhar apagou mais rápido do que uma tempestade de verão,


abrindo para a luz do sol se romper. Uma forte compreensão surgiu em
seus olhos, temperado com negação. Alarmante, inclusive. Ele falou
demais.

— Não. — Ela balançou a cabeça. — Isso não é verdade. — Antes


que ele pudesse processar seu pedido de desculpas ou sua expressão
devastada, ela tirou sua mão entre as pernas dela e fechou a calça com
dedos trêmulos. — Desculpe se deixei você pensar isso.

Então ele se lembrou. Lembrou por que não deveria ter permitido
ser puxado para baixo por seu beijo. Por que você quer saber? Assim,
pode rir de mim? Sua garganta secou com a lembrança de como ela
disse isso. Ah, Jesus. Como era possível que ambos tivessem uma ideia
errada quando sua intenção era finalmente se comportar bem com uma
mulher? Eles estavam lutando diferentes versões do mesmo demônio?

Quando ela passou as mãos pelo cabelo escuro, ele reagiu à


miséria que sentiu.

— Espere um momento, linda Rita. — Porra, estava praticamente


sibilando com a necessidade de mais do seu gosto. Mais de sua pele
sob suas mãos. Mais, apenas mais. — Levamos as coisas rápido demais
e isso é minha culpa. — Desesperado pelo contato, ele segurou seus
quadris, posicionando ela de volta contra a parede. — Ficaremos aqui
um minuto enquanto meu cérebro se lembra de como funcionar...

96
— Não, eu tenho que ir.

Ela abaixou as mãos deles de seu rosto e avançou para a porta,


mas ele a fechou. Seu rosto abatido o parou. O que estou fazendo? Ele
nunca afligiu uma mulher antes, nunca sentiu como se o chão pudesse
abrir caso não tirasse um sorriso dela, a fizesse sentir-se feliz. Então
caiu de novo no que conhecia, mesmo que suspeitasse que estivesse se
condenando no processo.

— Rita. Mais dois golpes no seu clitóris doce e a teria tremendo


em minha mão. Se sair daqui sofrendo por minha causa, eu poderia
morrer. — Ele passou a mão sobre sua boceta e esfregou. — Não tire
isso de mim, bonita. Precisa de mim. — E eu preciso de você, porra.

Quando a porta se fechou um momento depois atrás de Rita, ele


bateu a cabeça contra ela. Apenas alguns segundos lamentando-se
passaram antes que ele fosse atrás dela. Mas ela tinha ido. Sem chance
disso acontecer. De jeito nenhum. Esqueceu-se de como tratar uma
mulher nos últimos dois anos? Mesmo enquanto sua mente fazia a
pergunta, sabia que a resposta era discutível. Rita não era apenas
outra mulher. Uma realidade que sentia na medula, não importava
quão breve quanto o conhecimento era. E ela estava indo embora. Antes
que pudesse corrigir essa merda. Deus, ele nunca quis rir dela, preferia
fazer canoagem em um vulcão em erupção. Tinha que ter certeza que
soubesse disso. Assim que deixasse claro que essa noite foi sobre suas
próprias merdas, iria formular seu próximo movimento.

Ignorando as vozes que chamavam por ele no bar, Jasper se virou


nos calcanhares e caminhou de volta para seu escritório para fazer um
telefonema.

97
CAPÍTULO DEZ
Rita podia ouvir Peggy bufando atrás dela, lutando para se
manter, mas seus pés não colaboravam. A seu pedido, elas tinham a
intenção de entrar no quarto de hotel o mais rapidamente possível. Oh
Deus, o rosto dela com certeza estava manchado de vermelho brilhante.
Mortificada. Ela estava completamente mortificada.

Honestamente, onde a autoestima estava? Além de duas


estranhas ridicularizarem ela, Jasper incitou, obrigando ela a admitir
que estava em uma seca e depois, teve a coragem de lançar sua auto
aversão na cara. Ele faria algo assim com uma garota normal,
socialmente bem ajustada? Não. Não tinha sequer se incomodado com
o charme uma vez que sua mão estava dentro da calça dela e pediu por
sexo. Então, acabou em um lugar conveniente para derramar seus
problemas.

Uma das principais razões pela qual não tinha encontros era o
medo da rejeição, medo de que alguém de quem realmente gostasse
visse o pior dela. Ou pior, o melhor dela — considerando a falta disso.
Da forma como seus instrutores na escola de culinária fizeram quando
as habilidades da filha da famosa Miriam Clarkson provaram ser
medíocres, ao invés de extraordinárias. Ela evitou as redes sociais na
internet enquanto competia no reality show, mas seus colegas
competidores não hesitaram em passar a essência. Não estava à altura
do nome. E essa noite, não apenas mostrou a Jasper suas
inseguranças, mas de alguma forma conseguiu apontar isso sem
nenhum esforço consciente.

98
Não olhe agora, mas aí vem Rita, a detentora da mediocridade e
protetora da destruição. Evite contato visual.

Poderia muito bem começar a listar seus erros, porque um homem


não estava nas cartas. Droga, nem sequer tinha amigos, a menos que
contasse a equipe da cozinha que trabalhou. Pelo menos eles saíam
com ela após o trabalho e tomavam uma tequila ou duas. Como
retribuiu? Incendiando seu local de trabalho.

Realmente, todos deveriam apenas manter distância.

— Vamos lá Rita. — Peggy disse com sua voz ainda longe. — Ele
não pode ter sido tão ruim assim.

Rita bufou.

— Acho que a minha definição de ruim é pior do que a sua.

— Bem. — Um momento passou. — Eu nunca namorei um


comedor de hamster, mas tive meu quinhão de encontros ruins.
Encontros horríveis na verdade. Encontros no sótão da mamãe.

— Não foi um encontro. Foi mais como, uma sessão de beijos mais
confusa do mundo e não vou falar sobre isso, porque então mantenho
fresco.

— Mas isso é divertido. — Peggy colocou uma mão entre elas,


finalmente parando. — Olhe para nós. Falando sobre meninos e outras
coisas. Estamos no início do estágio Thelma e Louise14 no momento.

14 Filme dos anos 90 em que 2 mulheres entediadas resolvem fazer pequena viagem para fugir da rotina
entrando em várias confusões.

99
— Engraçado você mencionar isso, porque estou pensando em me
jogar da porra de um Grand Canyon.

Quando Peggy fez um barulho simpático Rita quis interpretá-lo


como genuíno, mas como poderia? Peggy não podia andar três metros
e cinco centímetros sem que alguém lhe oferecesse uma casa com cerca
branca e cinco filhos. Disfunções interpessoais não eram seu território.
Rita comprou cada metro quadrado de sua casa.

— Acho que gostou dele ou não estaria tão irritada.

— Certo.

O nariz de Peggy se enrugou como um coelho adorável.

— Acho que não importa, vamos sair dessa cidade pela manhã de
qualquer maneira. Mas tinha grandes esperanças com Jasper. — Rita
esperava que sua irmã parasse a conversa depois da declaração,
sentindo um aperto no estômago, mas não foi o que aconteceu. — Oh
bem. Uma coisa é certa, você não pode vencer todos eles. Meu último
ano na universidade...

Rita gemeu para o céu da noite.

— Peggy, você não pode estar falando sério. Nossas experiências


não são sequer remotamente semelhantes.

Quando uma expressão ferida apareceu no rosto de Peggy, Rita


começou a pedir desculpas por sua explosão, mas Peggy levantou uma
mão.

100
— Não, está tudo bem. Você está certa... nossas experiências não
são semelhantes. — Elas chegaram na brilhosa placa do hotel e Rita
viu um cansaço atípico no olhar de Peggy. — Por exemplo, duvido que
já se apaixonou por alguém por tanto tempo que não possa deixar
outros homens, na verdade, quatro bons homens honestos, realmente
lhe darem uma vida feliz. Porque ser ruim para eles é melhor do que se
contentar com qualquer outra pessoa.

— Peggy. — Rita não conseguia engolir. — Não fazia ideia... não...

De uma só vez, sua irmã se iluminou, mas seu discurso não foi
esquecido.

— Está bem. Eu apenas estou soprando vapor. — Ela apontou o


polegar por cima do ombro. — Vou para o quarto.

Rita começou a caminhar em direção ao corredor que levava para


o quarto.

— Eu vou com você.

— Na verdade... — Peggy começou dando uma inclinação da


cabeça sutil em direção ao estacionamento. — Acho que Bel pode
precisar de ajuda. E ele aprecia minhas tentativas de conforto tanto
quanto você. Então... manda ver.

Rita olhou por cima do ombro para encontrar Belmont sentado na


calçada do estacionamento, imóvel como uma estátua. A visão tirou ela
de sua festa de piedade, mas não a distraiu da culpa que estava
sentindo sobre Peggy.

101
— Espere. — Ela falou para a irmã, que já estava indo em direção
ao quarto. Peggy parou ao ouvir o som da voz de Rita. — Obrigada por
tentar me fazer sentir melhor. Funcionou. Mesmo você apenas
incomodando para sentir-me menos como uma porcaria.

Peggy andou movendo seus quadris como em uma dança.

— É um começo.

— Vejo você lá dentro. — Disse Rita, apesar de Peggy estar longe


demais para ouvi-la.

Querendo saber quando sua irmã desenvolveu um lado diferente


e complexo, Rita se juntou a Belmont na calçada. Ele não a reconheceu
imediatamente quando ela sentou, o que não foi uma surpresa. Seu
irmão mais velho falava através do silêncio. O que a preocupava eram
as linhas de tensão ao redor dos olhos, a maneira como olhava para
nada em particular. Sabendo que precisava ser a pessoa a romper o
silêncio, Rita aproveitou o momento para observar ao redor.

Hurley era um poderoso contraste com San Diego. Mesmo no


inverno, o ar estava seco e sem som, uma vez que era filtrado através
dos carros no estacionamento do hotel. Enquanto a cidade de San
Diego era certamente grande o suficiente para se precisar ir de carro a
todos os lugares, o Novo México era um deserto real. Ele se esticava e
esticava para que o vento não esbarrasse em nada. Rita não sabia se
estava simplesmente fora do seu ambiente habitual, o que tornava mais
fácil ouvir seus próprios pensamentos, assim respirou fundo, apesar
da mortificação dessa noite. Sentia-se mais à vontade sem o trabalho

102
que pairava sobre sua cabeça. Sem a pressão para manter a reputação
do restaurante.

— Aaron ronca.

Anunciou Belmont monossilábico, tirando uma risada dela.

— É por isso que você está aqui?

Ele encolheu os ombros enormes.

Rita dobrava e desdobrava a barra de sua camisa.

— Acho que Peggy pode ter um coração partido e nós nunca


percebemos isso.

A expressão de seu irmão era feroz, mas não fez nenhum


comentário.

— Quer dizer, eu não sei por que saberia isso. Nós nunca nos
vemos para descobrir essas coisas. Nós apenas nos vemos ou nos
relacionamos durante uma discussão ou pela Internet. — Disse ela. —
Gosto de saber que Aaron ronca.

Belmont grunhiu, mas ela sabia que isso significava: Por quê?

— Isso significa que ele é falho. Pensarei nisso na próxima vez que
ele chamar meu suflê de decente. — Ela pegou em seus cadarços. —
Apenas roncos agitando a janela.

— Era um bom suflê. — Isso fez ela levantar a cabeça.

— Você assistiu?

103
Outro grunhido. O prazer correu em círculos ao redor do meu
peito.

— Eu provavelmente não deveria estar feliz por você ter


testemunhado o meu quase ataque com a faca. — Ela disse esfregando
os dedos em suas botas. — Mas é bom saber... que alguém estava
torcendo por mim.

Faróis iluminaram o estacionamento e a atitude fácil de Belmont


desapareceu. Suas mãos se apertaram em punhos, o corpo tenso como
se estivesse preparando-se para uma luta. Antes que ela pudesse
perceber, Rita esticou o braço e colocou a mão no ombro de seu irmão
e ele sacudiu como se o tivesse queimado, afastando seu toque.

— Sinto muito. — Ela deixou escapar. O alarme substituindo o


orgulho que sentiu alguns segundos antes. O tempo passou muito
lentamente enquanto o carro parava em um estacionamento no local
cerca de quarenta metros de distância e um senhor mais velho saia,
andando em direção ao hotel, com um saco de fast-food na dobra do
braço. Parecia muito importante que não se movessem ou fossem
notados, então o alívio tomou conta de Rita quando uma das portas do
hotel se abriu e fechou atrás deles.

Belmont não relaxou imediatamente, aconteceu em graus. Suas


mãos flexionadas caíram no joelho, onde descansaram. Seu peito subiu
quando ele respirou fundo e expirou.

— Não se desculpe.

— Certo.

104
— Não estou aqui porque Aaron ronca. As paredes pareciam muito
perto. — Parecia irritado consigo mesmo por ter revelado isso. Rita
podia ver que eles começavam a se calar novamente e correu para
inserir um assunto.

— É por isso que você vive no barco? Sem paredes...

Belmont se levantou abruptamente.

— Se não estiver aqui quando você acordar, estarei na oficina.

Rita se levantou, bem, embora muito mais lentamente.

— Certo.

Nenhum deles se moveu.

— Vá para dentro. Ficarei sentada aqui por mais um tempo.

Seu irmão balançou a cabeça negativamente e apontou para o


hotel.

— Você vai para dentro primeiro.

O protecionismo era ao mesmo tempo irritante e bom.


Normalmente, todos os instintos fraternos de macho eram reservados
para Peggy e tanto quanto ela se sentia estranha em receber isso, não
era tão ruim.

Rita tinha certeza de que seu revirar de olhos não foi muito
convincente quando passou por ele indo em direção ao hotel. Seus
espíritos calmos novamente, no entanto, quando se virou para dar boa
noite para Belmont viu que o olhar distante tinha voltado.

105
A viagem foi um erro? Seu irmão mais velho estava obviamente
sofrendo algum tipo de ansiedade por estar em um ambiente
desconhecido. Ela empurrou Peggy longe, talvez ainda mais do que
antes, quando sua irmã apenas tentou ajudar. E agora que o pior de
sua vergonha esfriou, lembrou-se da forma como a voz de Jasper vibrou
com a emoção quando ele se chamou de: o vagabundo da cidade. Não
falou como algo masculino ou algum tipo de piada. Incomodava-o. Ao
invés de ser lembrada com carinho, seria a garota que parou em Hurley
tempo suficiente para cutucar seus demônios.

A protetora da destruição ataca novamente.

Um suspiro a deixou. Ela não podia fazer nada sobre Jasper agora.
Eles estavam indo embora de manhã.

Rita ignorou o desconforto no peito e se virou para encontrar


Belmont inclinado contra a parede do hotel, os braços cruzados como
se mantendo guarda. Talvez não pudesse fazer nada sobre como
reparar a distância entre ela e Jasper, mas poderia tentar fazer o
restante dessa viagem pela estrada melhor para Belmont.

Quando abriu a porta, Rita encontrou Peggy aplicando o creme de


noite no rosto. Limpou a garganta.

— Então... sobre Sage...

106
CAPÍTULO ONZE
— O que quer dizer com “é a peça errada”?

Rita resistiu à vontade de assobiar baixinho pelo tom de Aaron.


Ela nunca o ouviu expor tanta raiva controlada antes. Normalmente,
ele apenas saia em um discurso bem articulado ou deixava de lado
como se não se importasse. Agora? Nessa parte do país, acreditava que
isso seria chamado de se libertar.

Eles estavam do lado de fora da oficina de Stan com a bagagem, o


sol da manhã claro e brilhante batendo em suas cabeças. O Suburban
ainda estava guardado com segurança dentro da oficina, como um
esconderijo de um dragão tímido de seus proprietários. Stan apareceu
para receber a raiva de Aaron, bebendo uma pequena caixa de suco
Tropicana, enquanto seu irmão se irritava.

— Não podemos ficar presos aqui outro dia. Como é que isso
aconteceu mesmo? — Aaron visivelmente parou de falar, conseguindo
uma versão de vinte dólares de seu sorriso de milhões de dólares. —
Não que Hurley não seja boa, mas estamos em um cronograma
apertado.

Peggy se jogou no saco de lona de Belmont.

— Tecnicamente, um dia não irá nos matar. Você não precisa estar
em Iowa por mais uma semana.

— Sim, mas eu usei esse tempo para estabelecer bases. Não sou
o único disputando a posição de assessor.

107
— Então, está perdendo um dia. — Rita o interrompeu, tentando
realmente não pensar em como ficar outro dia em Hurley elevava
seriamente as chances de correr para determinado proprietário de bar
que ela esperava nunca mais ver. A vibração em seu estômago
definitivamente era ansiedade, não excitação. Ou alívio. Nada além
disso. — Nós vamos descobrir uma maneira de compensar o tempo
perdido.

Aaron massageou o centro de sua testa.

— O que acontece quando outra peça quebrar ou...

Belmont interrompeu seu irmão com um olhar que dizia: Por favor,
não tente falar sobre carros.

— Há alguém que poderia nos levar a uma concessionária de


carros usados mais próxima? — Aaron perguntou a Stan. — No
momento em que chegar a Nova York poderia muito bem ser mais caro
para reparar o Suburban do que a maldita coisa vale a pena.

— Não vou deixar ele. — Disse Belmont.

Peggy ficou de pé, puxando para baixo sua saia jeans.

— O Suburban foi da mamãe, Aaron. Lembra quando nós


costumávamos andar com ela para eventos de camping, mantendo
nossas brigas no banco de trás?

A lembrança daqueles primeiros dias antes que Miriam Clarkson


ficasse famosa, fez Aaron se recuperar.

108
— Quando escreveu aquele diário, tenho certeza que isso não era
o que ela tinha em mente.

— Como você sabe? — Perguntou Rita, sem realmente pensar. —


Nenhum de nós sabe o que estava pensando, porque não perguntamos.

Todos os olhos se voltaram para ela, todas as feições com cautela.


Rompeu a regra Clarkson, trazendo um assunto desconfortável, o que
provavelmente levaria a respostas, sentimentos indesejáveis e soltarem
um yuck de nojo. Bem, ao longo dos últimos dois dias, falou mais com
seus irmãos do que conversou em um ano. Cada momento que passava
a fazia se perguntar qual era o objetivo de Miriam. Talvez não tivesse
nada a ver com mergulhar em uma porra de um oceano. Mas ela foi o
mais longe que podia com seus irmãos por agora, estava ali mesmo, em
suas posturas, a rapidez com que eles estavam prestes a fecharem-se.

Stan se moveu, abaixando a caixa de suco de laranja.

— Eles disseram que poderia enviar a peça correta até amanhã à


tarde no mais tardar. Começarei a trabalhar nela imediatamente.

— Obrigado. — Aaron falou pegando sua mochila e indo de volta


à direção que eles vieram.

Foi seguido por Belmont e Peggy, que poderia muito bem ter ido
para escapar do Tsunami que ela era. Rita. Estranho como passou toda
sua vida sem falar e agora não conseguia manter a boca fechada.

Olhou para fora em toda a extensão aberta de terra atrás da


oficina, quase desejando ser uma fumante, assim poderia ter uma
desculpa para ficar por ali. Então, muitos de seus funcionários da

109
cozinha tiveram pausas para fumar ao longo dos anos, mas ela sempre
se absteve, com medo disso afetar o seu paladar. Por que estou
pensando nisso?

Provavelmente porque ela tinha um dia inteiro para passar agora


e Jasper Ellis estava a uma curta distância. Ficou acordada muito
tempo na noite passada repetindo seu encontro. Mais e mais, até que
finalmente, mesmo no escuro, decidiu raspar as pernas, desde que
pernas lisas contra lençóis frescos sempre a faziam dormir melhor.
Nenhum sucesso, no entanto. Eu vim aqui para você me foder.
Encolheu-se apenas ao pensar nessas palavras saindo de sua boca,
pela forma como ele reagiu a isso. Como se sentiria se um homem
dissesse a mesma coisa para ela?

Resposta: nada bem.

Se desculpar ia contra o manual dos introvertidos, mas precisava


fazer as pazes pelo que disse na noite passada. Fazer as pazes, apenas
isso. Como arrancar um Band-Aid.

Agora que eles ficariam em Hurley mais um dia, ela não tinha
nenhuma desculpa. Cheia de determinação, Rita afastou o olhar da
terra poeirenta e se virou para dar de cara com Jasper.

— Ei. — O sorriso dele estava tenso em ambas as extremidades,


os olhos percorrendo seu rosto como se estivesse tentando capturar
algo indescritível. — Você ainda está aqui.

Levou algumas respirações para Rita se orientar. Porque ali estava


ele. Sólido e com cheiro de sabonete. Grande. Capaz. Com a aparência
um pouco áspera, cabelo bagunçado ao redor de suas orelhas. Os

110
estilistas de Hollywood provavelmente trabalhavam durante horas para
atingir esse visual e o dele vinha naturalmente. Um homem que
acordou, se esticou e flexionou o bíceps sobre sua cabeça, esfregou a
mão pelo seu cabelo e sorriu antes de se levantar para beber café nu
em sua cozinha. Afinal, por que passar um momento desnecessário
vestido? E por falar em roupas, o calor saindo de sua camisa de flanela
dentro da calça rivalizava com o sol. Ela apostaria qualquer coisa que
se cheirasse a curvatura do tecido ao redor de seu ombro se lembraria
do aconchegar de um pijama que acabou de sair da secadora.

— Uh... sim. Ainda aqui. — Pare de mover seus pés como uma
estudante do ensino médio. — A peça que chegou está errada e minha
família estava armando um motim.

— Uau. — As sobrancelhas se levantaram. — A peça errada, né?

— Sim. — Ela colocou as duas mãos em seus bolsos traseiros. —


Isso está começando a parecer como a Ilha de Gilligan15.

Especialmente porque seus irmãos não estavam à vista,


obviamente retornaram ao hotel e a deixaram para ser capturada por
um dos nativos.

Jasper pareceu desinflar com alívio, provavelmente porque ela fez


uma piada ao invés de correr para o Além do Azul Selvagem16.

15 É uma série de comédia de 1964 até 1967. O programa contava as aventuras de sete náufragos em uma ilha
tropical desconhecida e aparentemente inabitada, as dificuldades para sobreviverem e suas tentativas de
voltarem à civilização
16 Um filme de Werner Herzog – um documentário que narra a situação hipotética: uma espaçonave na órbita
da Terra é impedida de retornar ao planeta. Por algum motivo a superfície se tornou inabitável.

111
— Qual personagem você é?

Um sorriso puxou de seus lábios.

— Provavelmente Gilligan, uma vez que ele é o único a sempre


estragar as coisas. — Ela já não podia olhar para ele. — Sinto muito
sobre a última noi....

— Não. Não, não, não. — As pontas de suas botas encontraram as


dela. Rita mal conseguiu conter um suspiro pela repentina
proximidade, o calor excessivo sumiu. — Se você pedir desculpas eu
vou a pé até o deserto e cavarei um buraco para mim.

Ela parecia desagradavelmente sem fôlego quando disse.

— Isso é muito dramático.

— Estou me sentindo mais do que um pouco dramático sobre


você.

Aqueles olhos azuis eram piscinas cristalinas, mas muito se


passava por trás deles. Tanto que ela não conseguia ler ou
compreender.

— E você é Mary Ann, com certeza. Ela sempre foi a minha


favorita.

— Acho que eu deveria agradecer por não dizer a senhora Howell.


— Ele estava muito perto, ela sentia tanto seu magnetismo, por isso
precisou se afastar alguns centímetros. — Será que o seu status local
o torna um dos caras assustadores com lanças?

112
— Nah, bonita. Não sou nenhum pouco assustador. — Ele mordeu
o lábio e chegou mais perto, ignorando a distância que colocou entre
eles, apesar de Rita sentir a mesma coleira em volta do pescoço como
na noite passada. — Mesmo que tenha pensado em tirá-la de sua cama
na noite passada para me desculpar.

— Se desculpar? — Deus, seu estômago revirou. — É como os


jovens chamam hoje em dia?

Sua risada puxou ela para baixo, como areia movediça, mas ele
ficou sério quase imediatamente.

— Fui um verdadeiro idiota, Rita. Me dê o dia para fazer as pazes


com você.

Era a pior ideia da história ou a melhor. Após conhecê-lo por um


dia, ela estava determinada a não passar mais nenhuma quantidade
de tempo com ele e tirá-lo de sua cabeça. Criar mais dessas imagens
mentais e transforma-las em cenas, não era inteligente. No entanto, o
senso comum nada fez para mudar o fato de que passar o dia ao lado
dele soava incrível.

Mesmo após o fracasso da noite passada, ela não podia negar que
Jasper a fez se sentir importante. Não tão estranha. Por que ele
pensaria diferente essa manhã? Seu aparente interesse fazia Rita se
sentir realmente bem.

Ela queria saber mais sobre o homem que hesitava entre suprema
confiança e auto aversão. Queria saber como isso era possível. E com
loucura o suficiente, pensou que talvez houvesse uma chance de poder
se relacionar com ele, esse encantador e sexual homem. Não havia

113
como negar que Jasper começou uma fogueira de atração abaixo do
seu umbigo e que o calor era novo. Imaginou-o entrando pela escuridão
de seu quarto de hotel para tirá-la da cama, pensava nele colocando
uma mão sobre sua boca e inclinando o corpo pesado sobre o dela,
abafando seus gemidos quando lhe dava uma prévia do que estava por
vir. Sentiu o algodão de sua calcinha contra sua pele e sentiu o calor
se espalhando entre suas coxas. Seu pescoço estava vermelho
brilhante, ela podia sentir isso. Sabia que o tom era visível. Nunca ficou
excitada em público antes e ele não fez nada além de ficar ali de pé.

— Tomarei isso como um sim. — Jasper disse com a voz rouca. —


Sendo assim, quero te levar para almoçar na casa da minha avó, no
entanto, acho que deveria salvar a melhor parte do meu pedido de
desculpas para mais tarde.

Sua percepção sobre sua condição deixou Rita ainda mais curiosa.
Quando ficou tão sem vergonha? Ela viu a evidência na última noite de
como as mulheres se jogaram para ele. Aparentemente, não era
diferente de qualquer uma delas. Rita, a perseguidora.

— Não acho que isso seja necessário.

Jasper piscou para ela, em seguida, indicou sua moto com um


empurrão de seu queixo.

— Nós vamos descobrir mais tarde, não é?

Rita gaguejou um pouco, consciente de que seria atropelada, mas


também confusa com a emoção indesejada de ficar na garupa da moto.
Atrás de Jasper. Sentindo ele entre as coxas. Mas isso significava

114
conhecer alguém novo, mais oportunidade para um passo em falso em
traquejo social. Mais problemas.

— Eu... de jeito nenhum. Não vou almoçar com sua avó.

Ele apenas sorriu e curvou um dedo.

115
CAPÍTULO DOZE
Tudo certo. A fase um foi alcançada. Ela estava na moto.

Jasper não estava orgulhoso de incitar uma Rita visivelmente


cautelosa para conseguir exatamente isso. Pintando um retrato de uma
vovozinha definhando para ter, só assim, companhia em três lugares
arranjados? A realidade não poderia estar mais longe da verdade, mas
foi com um telefonema que ele começou jogando sinuca ontem à noite
e uma vez que a bola branca começou a rolar, ela bateu contra as
laterais e deixou as outras bolas em novas posições. A natureza era
uma fera, não era?

Ele não iria se atrasar e desperdiçar o dia extra que tinha com
Rita. Tempo extra era o tema de hoje e era melhor começar a descobrir
alguns detalhes. Por que tinha a sensação de que estava fugindo de
alguma coisa? E por que estava determinado a ser um obstáculo que
ela não poderia passar? Alguém que a levasse a sério. Mais importante
ainda e se o impossível acontecesse e Rita o achasse digno de mais do
que um rolo no feno? O amanhã traria sua partida. Era uma coisa uma
mulher desfrutar de uma conversa de verdade com ele e outra
completamente diferente... o que?

Jasper não sabia o que estava mexendo loucamente dentro de seu


abdômen quando se tratava de Rita, mas se o universo tinha qualquer
consideração por sua sanidade, ele teria uma resposta no próximo pôr
do sol. Era melhor que sim. Ou teria que criar um novo tipo de
obstáculo. Do tipo que impediria a peça correta do Suburban de entrar
em Hurley.

116
— Como você sabia que estaria na oficina? — Rita perguntou em
seu ouvido.

Jasper manteve os olhos na estrada.

— Hurley é um lugar pequeno. Quatro estranhos caminhando pela


estrada principal como uma capa de álbum dos Beatles tende a criar
uma conversa.

Ela ficou em silêncio um tempo.

— Então... alguém te chamou?

— Você vai fazer-me admitir ser intrometido, não é? — Ele fez uma
curva e Rita se inclinou junto a ele como instruiu antes de sair da
oficina. — Os homens gostam de serem descritos com palavras como
misteriosos ou diabólicos. Se puder trocar intrometido, por um desses,
eu apreciaria.

Seu hum criou uma vibração ao longo da espinha.

— Você é ambas as coisas, também. É por isso que estou


perguntando.

— Bem, bem. Odiaria interromper.

Ele a sentiu rir em sua nuca.

— Obrigada pela permissão. Eu acho. — Seus dedos flexionaram


contra seu estômago. — Conte sobre seu restaurante. Tem um nome?

— Ainda não. — Ele se esquivou, mesmo que se sentisse bem,


simplesmente ter alguém perguntando. Nenhuma pessoa perguntou

117
isso desde que começou a construí-lo. — Como você sabe, não sou
muito bom em nomear lugares. Tenho esperança que o local possa se
autonomear.

Sua risada enviou um prazer direto para seu estômago, como areia
passando através de uma peneira.

— Qual é o seu plano de jogo para hoje?

— Tenho a sensação de que meu plano não atenderá as suas


normas. — Ele disse. — Principalmente desde que você é o plano de
jogo.

— Meus padrões... mudaram nos últimos tempos.

— Bem. Mude-os um pouco mais, porque estou planejando o


cardápio e abrir as portas. — Ele passou a língua ao longo da linha
superior dos dentes. — Não soa muito sexy, não é?

— Você parece sexy?

— Eu sempre pareço sexy.

Porra, ele gostava de ouvir a risada dela. Era gutural, de quem


acabou de sair de um resfriado, mas ainda recuperou a voz. E ao
mesmo tempo continha um toque de surpresa. Ela ficou surpresa por
estar rindo.

— Bom, meu plano na última noite era mostrar o restaurante. Se


você não tivesse abalado as minhas intenções com aquele beijo eu teria
feito isso.

118
As coxas ao redor de seus quadris flexionaram, forçando Jasper a
acalmar sua ereção dentro da calça. Fique calmo amigo. Nós vamos para
a casa da vovó. Volte para dentro.

— Isso é uma pena. — Rita murmurou.

— Eu definitivamente não diria isso. — Jasper acelerou o motor


quando um amigo passou em um caminhão indo na direção oposta. —
Pena que não posso perder novamente o fôlego com seu beijo Rita.

Seu estômago estremeceu na parte baixa das costas.

— Apenas... me fale sobre o restaurante.

— Pare de tentar conduzir a conversa para o sexo, sim? — Ela


cutucou suas costelas com um dedo e ele sorriu. — Prefiro te mostrar.
Hoje à noite, talvez.

Ela não respondeu, até que ele parou na frente da casa de sua
avó.

— Talvez.

Como era seu costume, Rosemary Ellis fez sua aparição antes que
ele pudesse desligar a moto, correndo para a varanda com braços
abertos, tentando dar ao mundo inteiro um abraço.

— Oh, você conseguiu. Você trouxe uma mulher. — Sua avó se


inclinou para frente, batendo as mãos sobre os joelhos com uma grande
alegria.

Jasper desceu da moto e ajudou Rita a fazer o mesmo, tirando o


capacete da cabeça dela quando não fez nenhum movimento para fazer
119
isso sozinha. Ele meio que gostava de fazer isso. Nunca prestou muita
atenção ao cabelo de uma mulher antes, mas quando a ajudou com o
capacete, se encontrou tendo cuidado, para que os pequenos fios não
fossem puxados no processo. O que ela faria se ele passasse a mão
neles? Provavelmente retiraria a mão dele, impaciente para fazer outra
coisa.

Rita não notou sua atenção porque estava paralisada pela


pequena bola de energia na varanda da casa. Rosemary, em seu vestido
colorido quase parecia um cão pequeno, pois estava correndo no lugar,
com as mãos para cima. Sua avó tinha o hábito de falar sobre tudo o
que via.

— A moto está estacionada. Há uma mulher. Jeans preto. Está


bem, está bem. É o neto de quem, você me pergunta? Bem, é o meu.
Certo, então.

— Ela se acalma depois de alguns minutos. — Jasper murmurou


apenas para Rita ouvir. Depois mais alto. — Agora, não vá pegar os
álbuns de fotos de infância, Rosemary. — Ele deu um aperto no quadril
de Rita para impulsioná-la para a escada. — A menos que sejam
aqueles onde estou nu. Mesmo criança, eu tinha uma bunda grande.

Rosemary ficou calada, embora suas bochechas ficassem rosa


brilhante.

— Pare com esse tipo de conversa agora. Isso não será aceito na
minha mesa de almoço. — Ela ziguezagueava em direção a Rita,
acariciando seus ombros como se estivesse tentando apagar as
chamas. — Cabelo de Capacete.

120
Oh, rapaz.

— Rosemary, essa é Rita. Rita, Rosemary.

Sua avó apertou a mão oferecida de Rita tão rapidamente que era
uma maravilha não a arrancar.

— Prazer em conhecê-la. Vamos entrar.

Jasper apontou para as duas mulheres irem à frente para dentro


de casa e Rosemary reconheceu o movimento com um suspiro.

— Um cavalheiro. — Ela balbuciou.

Bem, ele amava sua avó. Tanto quanto lhe dizia respeito, o lema
da cidade deveria ser “Hurley: Local de nascimento de Rosemary Ellis”.
Mas como um homem, Jasper podia olhar para trás e ver, enquanto
crescia que ela tinha uma compensação excessiva a sua falta de pais e
de interesse, indo no sentido oposto extremo, elogiando o mínimo dos
esforços. Ele a amava muito também. Porém, muitas vezes perguntou
se as palavras de incentivo de Rosemary eram autênticas ou se seus
pais tiveram uma ideia correta sobre ele.

Não foi o suficiente para ficar por perto.

Com um gesto educado, Jasper acenou com a cabeça em direção


à entrada.

— Vovô se juntará a nós hoje?

Era uma das raras vezes que Rosemary parava de se mover,


sempre que Jasper perguntava sobre seu avô, que nunca se preocupara
em deixar a sala quando Jasper fazia uma visita, enquanto eles
121
continuavam na cozinha e copa. Ocasionalmente, em seu aniversário
ou no Natal o velho fazia uma careta, mas mesmo isso era uma
novidade. Almoço de segunda seria empurrá-lo ao limite.

Jasper não culpava seu avô por ter um tempo difícil em olhar para
seu único neto, um homem que acabou com o suado dinheiro em uma
pilha. Não, ele não culpava seu avô pela hostilidade, mas queria mudar
isso para caralho. Talvez não teria a aprovação, porque seria muito
para pedir depois de doze anos, mas algo parecido com o perdão valeria
a pena o tempo que colocou no restaurante.

Assim que eles entraram na casa, Rosemary caminhava para


frente e para trás entre a cozinha e a copa com bandejas cobertas e
várias coisas. Rita cometeu o erro de entrar em seu caminho e a mulher
mais velha quase a derrubou.

— Hum. — Rita começou, as costas pressionadas contra a parede.


— Há algo com que possa ajudá-la?

— Bem, sim. Há um peru no forno, precisa ser decorado. — Sua


avó fez uma pausa longa, o suficiente para lidar com Rita. — Sei que
hoje em dia as mulheres não sabem nem cortar um nabo. Você sabe se
cuidar na cozinha?

— Acho que sim. — Rita pareceu se esforçar para responder. —


Caso contrário a escola de culinária foi um grande desperdício de
dinheiro.

Jasper parou ao se dirigir para a cozinha.

122
— Escola de culinária. — Imaginou Rita em um avental e um
chapéu, mas não poderia ter certeza. Não na primeira vez. Não até que
ele pensou em sua mão segurando uma colher, levantando a colher à
boca. Sorrindo para si mesma sobre o que ela provou. Ok, sim. Podia
ver isso. Gostava também. — Quando você disse que trabalhou em um
restaurante...

— Achou que eu quis dizer como garçonete? — Ela se pressionou


tanto contra a parede que Jasper se perguntou se estava tentando
ajustar-se contra a madeira. — Você me conhece a dias e mal pode
dizer isso com um rosto sério.

— Estou sorrindo porque estou te imaginado provando a sopa.

Seus lábios se apertaram.

— Por que está rindo disso?

— Por que não riria?

— Bem, agora. — O olhar interessado que Rosemary lançava entre


eles era como se estivessem participando de uma partida de tênis de
mesa. — Isso é um sim para decorar o peru?

— Sim. — Rita deixou escapar, como se tivesse, também se


esquecido de que não estavam sozinhos. — Claro.

Ela ignorou Jasper encaminhando-se para a cozinha, ele a seguiu.


Se um diretor de cinema tivesse gritado “Ação querido! Vá atrás dela!”
o que foi provavelmente o que pareceu quando ele andou atrás de Rita,
observando-a em casa. Parecia pertencer a uma cozinha. Ele estava
perto da porta e via como ela fazia um balanço do lugar e começava a

123
andar. Abrindo uma gaveta, Rita encontrou a faca elétrica na primeira
tentativa. Era um pouco louco que ele tivesse o desejo de vê-la se
movimentando ao redor de sua cozinha como agora?

Decidindo que seria melhor ser útil, Jasper pegou um pegador de


panela e tirou o peru do forno, empurrando a porta com o pé e o
colocando no balcão.

— Não se esqueça de tirar o pino.

— Eu não sou um monstro. — Rita ligou a faca elétrica na tomada


mais próxima. — Sua avó costuma fazer o jantar de Ação de Graças
como um almoço casual?

— Ela é a razão de eu precisar de academia.

A risada de Rita foi cortada ao meio pelo barulho da lâmina.


Jasper observava fascinado enquanto ela segurava-a sobre o peru, a
forma como um cirurgião segura um bisturi. Focada. Confiante. E
então tudo foi embora. O fluxo fácil de uma mulher fazendo o que
amava caiu como um balão de água no chão. Com a faca zumbindo em
sua mão, ela olhava para o peru, mas Jasper poderia dizer que não
estava realmente o vendo.

— Rita?

Sua resposta foi um grande soluço engolido e ele sentiu isso vindo
de seu peito. Jasper estendeu a mão e agarrou a faca em uma fração
de segundo antes que ela a deixasse cair.

124
CAPÍTULO TREZE
Sua mão vibrava com o som familiar da faca elétrica. E então
parou. Mas tirar o instrumento da mão de Rita não fez nada para
impedir as placas tectônicas de se deslocar debaixo de sua pele. Metade
de sua consciência ainda estava na cozinha com Jasper que falava
baixo demais para ser ouvido sobre o terremoto dentro dela, mas a
outra metade estava de volta ao Wayfare. Não na noite do incêndio.
Muito antes disso. Uma noite em que Miriam ficou até tarde na
esperança de aperfeiçoar a técnica do suflê de Rita.

~*~

— Espere os ingredientes se misturarem... deixe os ovos casar com


o leite. — Miriam piscou para Rita. — Eles acabaram de se conhecer.
Você não pode esperar que se juntem sem um pouco de persuasão.

Rita esfregou os olhos turvos, vendo em dobro quando ela os abriu.

— Está tudo bem se apenas admitir que talvez nunca seja boa em
uma coisa? — Seu tom era tão plano e enfadonho quanto suas últimas
cinco tentativas de um suflê. — Ouço isso o tempo todo. Lá fora. Fora da
cozinha. As pessoas dizem que não posso andar de salto. Que não sei
desenhar uma merda. Mas eles estão muito bem com isso. Talvez eu
apenas possa ficar bem bebendo alguma coisa.

125
— Rita. — Miriam disse o nome dela do jeito quente de uma lareira.
Se congratulando, brilhando. — Se uma coisa não dá certo você não tem
escolha a não ser continuar tentando.

— Se estivesse menos exausta teria visto a falha na minha


analogia.

Miriam lhe entregou uma grande concha de prata.

— Tente seis.

~*~

— Meu suflê ainda borbulha. — Disse Rita, curvando os dedos no


balcão.

— O que, linda?

Rita quase bateu no teto quando a voz rouca de Jasper a tirou de


seu devaneio, chegando muito perto de jogar o peru no chão. Quanto
tempo ficou ali sem dizer uma palavra? E por que Jasper estava
segurando a faca de cozinha? Mais importante, por que ela preferia
passar pela lista e ir ao mercado de peixe na segunda-feira do que pegar
a faca de volta? Um peso foi empurrando para baixo sobre o peito,
tornando difícil respirar. Suas mãos tremiam até que Jasper deixou de
lado a faca elétrica e agarrou elas.

126
Jasper olhou para suas mãos um momento, como se não tivesse
certeza de como proceder, em seguida, colocou-as cuidadosamente em
seus ombros largos e firmes. Observando para avaliar sua reação, ele
começou a balançar, lado a lado. Quase como se estivessem dançando.
Isso era ridículo, ainda estava entorpecida pelo pânico. Mas pânico de
que? Abrir um peru? Realizou a tarefa mil vezes em sua vida.

— Eu não sei o que aconteceu.

Ele apertou um polegar para baixo em suas costas, movendo-o em


um círculo e a tensão restante rodou pelo ralo.

— Você não tem que descobrir isso agora.

— Acho que eu poderia ter parado. Mais cedo ou mais tarde.

O tom atordoado da voz de Rita fez um som como se ela estivesse


falando dentro de um chuveiro fechado. Pode ter sido o azul dos olhos
de Jasper, a falta de juízo dela ou a súbita falta de tensão depois de
sua recapitulação. Talvez até mesmo a dança. Ela não sabia. Mas as
palavras saíram de seus lábios, baixas e sem permissão.

— Acho que eu não posso mais cozinhar. — Ou tentar ser como


ela. — Acho que nunca poderei, de qualquer maneira.

Seus lábios se moveram contra sua testa.

— Agora, essas parecem grandes decisões a se tomar em um


almoço casual.

A risada veio acima de seu peito e se soltou.

127
— Você provavelmente gostaria que fosse um pouco menos
intrometida agora. Isso vai te ensinar.

— Jovens. Dançando na minha cozinha. — As mãos dele saíram


de Rita. Oh Deus, realmente se esqueceu de que estavam na casa da
avó de Jasper. Essas pessoas eram estranhos para ela. Amanhã seriam
uma lembrança e ainda assim acabou de ter o caralho de um ataque
de pânico em sua feliz cozinha. Eles falariam dela durante anos para
parentes e vizinhos. Você está certo é claro. Nós nunca deveríamos ter
entregado aquela faca para ela. Poderia ter sido muito pior. Uma
tragédia, com certeza. Por favor, passe o sal.

Rita empurrou Jasper que parecia estranhamente relutante em


deixá-la ir quando deveria estar literalmente chamando o hospício
local. Ela levou a mão à testa, procurando uma maneira de se fazer
parecer normal.

— Eu, hum...

Jasper pegou a faca de volta, descendo-a para o peru, que estava


provavelmente frio agora.

— O que posso dizer Rosemary? Eu devo ser algum tipo de


chauvinista em segredo. — Ele deu um sorriso exagerado. — Vi está
pequena dama tentando cortar a carne e os meus antepassados não
ficariam bem com isso.

Obviamente a avó de Jasper estava acostumada com a tentativa


de humor de seu neto, porque ela disse.

128
— Oh, cara. — Enquanto passava por Rita e o atingindo nas costas
com um pano de prato. — Seja bom, então. Tenho planos para a tarde.

— Sim, sim. — Ele piscou para Rita, sua técnica perfeita quando
movimentou a faca. É claro que sua técnica era perfeita. — Conte-me
sobre seus planos, Rosemary. Se você irá se encontrar com o Sr. Wells,
pela terceira vez essa semana, que conta como sério no meu livro, vou
ter que lhe fazer uma visita.

Rosemary cutucou o braço de Rita e lançou um olhar fulminante


para o céu. Como se dissesse: você pode acreditar nesse homem? E não,
Rita não podia. Homens normalmente a achavam estranha ou confusa.
Às vezes, realmente tinha sorte e encontrava um homem que se
excitava com mulheres estranhas, mas nenhum deles se importou o
suficiente para dançar com ela em um ataque de pânico iminente ou
em acalmá-la sem perder uma batida. Por que ele estava gastando
tanta energia com ela, que estava ali por apenas um tempo? E por que
se sentia compelida a aproveitar a situação com Jasper também?

Percebendo que estava ali de pé por muito tempo sem falar e


olhando com muita atenção à maneira como o tríceps de Jasper se
flexionava quando ele cortava o peru, aquele que ganhou em uma
academia, Rita abriu um armário em busca de um prato para servir,
querendo lhe dar um lugar para colocar as fatias da ave. Sentaram à
mesa de jantar, cinco minutos depois, passando ao redor do tipo de
comida que geralmente eram reservadas para uma vez por ano. Ainda
se sentindo um pouco nervosa após a lembrança que teve na cozinha,
Rita conseguiu comer apenas um pouco do purê de batatas, molho de
cranberry e o peru recheado. Enquanto isso, Jasper colocava o

129
suficiente para alimentar uma equipe de pedreiros famintos, antes de
repetir.

— Então, Srta. Rita. — Rosemary agitou um dos rolinhos do jantar


sobre a mesa como se fosse um celular e ela estava à procura de
recepção. — Não sei o quanto Jasper falou sobre mim, mas assumo que
muito. Ele mencionou o meu grupo de alto nível?

Rita engoliu a Sprite que estava tomado.

— Não, isso pode ser a única coisa que ele não mencionou. —
Olhando de lado, piscou para Jasper.

— Bem. Nós nos encontramos uma vez por semana para algumas
atividades. — Jogou o rolo de volta na cesta. — E acontece que essa é
a minha semana para escolher o que nós faremos.

— Oh. — Ela trocou um olhar com Jasper, que fez uma pausa. —
Pensou já em alguma coisa?

— Quando isso acontece, alguma coisa cai no meu colo. —


Rosemary se inclinou. — Não seria um sucesso se você desse uma aula
de culinária? Será um grande momento. De onde você é exatamente?

— San Diego. — Rita falou.

— San Diego! — Rosemary pensou sobre esse fato por um tempo.


— Seria apenas alguns de nós. Poderíamos fazer na nova cozinha do
restaurante de Jasper. Talvez pela manhã antes do bar abrir e toda a
tropa chegar.

130
Jasper estava obviamente emocionado com a descrição de seus
clientes.

— Não seria apenas alguns, Rosemary. Há pelo menos trinta deles.

— Vinte e cinco. — Ela murmurou. — O que você diz Rita? Será


que esse sábado ou sexta, é muito trabalho?

— Sinto muito, não ficarei aqui por muito tempo. — Por alguma
razão, Rita sentiu a necessidade de evitar olhar para Jasper. — Minha
família e eu deixaremos a cidade assim que o nosso Suburban for
reparado.

Por que Rosemary olhava cética? Ela olhava. Uma sobrancelha


branca se levantou junto com o canto da boca. E por uma fração de
segundo, a leviandade que exibiu uma vez caiu.

— Claro que vai.

131
CAPÍTULO QUATORZE
Jasper parou sua moto no estacionamento do hotel, desejando
que o lugar fosse mais de 16 km de distância apenas para que Rita
pudesse se agarrar a ele um pouco mais. Ela estava calma desde que
deixaram a casa de Rosemary. Então novamente, supôs que estivesse
tranquilo também. Quando se encontraram pela manhã o tempo
parecia uma coisa relativa, ao passo que agora era finito.

Bem. Ele apenas tinha que se organizar para ter mais tempo, né?

Infelizmente, quanto mais tempo passava com Rita, mais ele


queria fodê-la até um estado de incoerência. Sua capacidade de se
segurar era significativa e estava cansado, essa atração parecia querer
recuperar o tempo perdido, dirigindo-se agora para Rita em alta
potência e como holofotes. Deus, queria montá-la. Queria que ela o
montasse, queria seus joelhos debaixo de seus braços. Intuição
masculina afiada de muitas horas passadas sendo mal, disse para
Jasper se mover bem. Melhor do que bem. Explosivamente. Porque sua
atração por Rita não se limitava a necessidade física. Ao redor dela,
seus defeitos e qualidades decentes brotavam em sua pele, tudo
pairando sobre a superfície, querendo tocá-la.

A maneira como o fez se sentir na cozinha, quando ela o olhou


com aqueles olhos dourados? Nunca experimentou esse tipo de
protecionismo antes. Claro, teve sua cota de responsabilidade como
único neto, fazendo muito por aqueles que fizeram por ele. Mas esse
acúmulo de vapor em seu peito enquanto balançava para frente e para

132
trás com Rita, não deixaria a pressão escoar. Queria acelerar e ver o
quanto mais poderia segurar. Mas o acelerador era controlado por Rita.

Jasper travou um debate pesado consigo mesmo na estrada,


confiante de que, se tomasse o desvio para sua casa, poderia acabar na
cama com Rita. A nova cama que comprou depois de queimar a antiga
durante uma farra de uísque em seu quintal. Ninguém esteve nessa
nova cama a não ser ele, mas podia ver Rita lá. O que não podia ver?
Rita sair pela porta da frente depois, classificando-o como uma
aventura gratificante seguindo para algo melhor.

Então foi para a direita após o desvio e continuou em direção ao


hotel. Agora, com a tarde chegando ao fim, Jasper se sentia um
pouquinho ansioso. Certo, mais de um pouquinho. Em uma vida
diferente, ele poderia ter fodido Rita em seu escritório na noite anterior
e lhe enviado um aceno amigável essa manhã caminhando para fora
da cidade. Ele não teria tempo para aproveitar seu senso de humor ou
mesmo ver a mulher vulnerável na cozinha de sua avó. E porra, isso
não seria terrível?

Sem qualquer comunicação real entre seu cérebro e seu corpo,


Jasper desligou a moto e passou a entrada do hotel, circulando para o
lado, onde os carros não estavam estacionados. Nenhuma das portas
dos quartos individuais estavam localizadas nesse lado do hotel, dando
a Jasper a privacidade que precisava.

— Meu quarto está na direção oposta. — Rita falou acima de seu


ombro direito.

133
— Tudo bem. — Jasper parou, desligou a ignição e ajudou Rita a
descer. Estava em uma situação de vida ou morte. Passou a manhã
com ela e isso inspirava um desejo de passar mais tempo em sua
companhia? Ou menos? Ele avaliou e saberia em um minuto. — Então,
eu a verei essa noite?

Sua cabeça escura se levantou, os dedos trabalharam sob o queixo


para soltar o capacete. Não era a primeira vez hoje, que ele queria
limpar a maquiagem de seus olhos, talvez contar os seus cílios até se
satisfazer.

— O que?

— Para o nosso encontro. — Ele piscou para ela. — Você não


esqueceu, não é?

Rita estreitou seu olhar.

— Não posso dizer quando você está brincando e isso é muito


chato. — Ela colocou o capacete no guidão de sua moto. — Mas eu sei
que nunca concordei com um encontro.

Ele reconheceu isso com um aceno de cabeça. Um passo à frente.

— Bem, estava ansioso por sua aceitação e esperava que sentisse


um pouco de simpatia por um homem desesperado.

— Aceitação? Isso é muito arrogante. — Ela traiu o que disse com


as bochechas rosadas, um olhar rápido, mas dizendo. — Pode haver
uma pequena chance... eu poderia ser persuadida.

134
Jasper disfarçou seu gemido com uma tosse em seu punho. Porra.
O celibato o estava transformando em um verdadeiro idiota. Tudo
aconteceu em câmera lenta enquanto Rita passava a mão pelo cabelo
dela, apertando o tecido de sua camiseta. Os mamilos se destacando
na frente. Se mamilos pudessem falar, Rita estaria dizendo: Que pena
e que triste, quem perde é você.

— Você tinha que flertar comigo... ou olhar assim, hein? — E


cacete, ele disse isso em voz alta. Sentiu Rita ficar rígida, como um
revestimento quente de luxúria escorrendo para baixo em suas
entranhas. — Droga, Rita. Eu estou tentando aqui.

Seus lábios se separaram em um sopro de ar.

— Tentando fazer o que?

Ninguém jamais se importou o suficiente para ouvi-lo, uma vez


que as molas da cama paravam de ranger, então colocar em palavras
os pensamentos que tinha tão completamente misturados não era fácil.

— Se você pudesse apenas concordar em ir a um encontro comigo


essa noite, sem fazer-me beijá-la, eu certamente apreciaria isso.

— Mas isso parece muito mais divertido.

— Diversão para você. — Quando ela se encolheu, o peso


escorregadio no estômago de Jasper se transformou em ácido. Deu dois
passos rápidos para ficar no espaço pessoal de Rita, inclinando o
queixo dela para cima, mesmo que ela estivesse tentando olhar para
tudo, menos para ele. — Espere. Apenas espere. Isso saiu errado. Olhe

135
para mim, linda. Para mim, suando nesse estacionamento, tentando
levá-la para comer alguma coisa. Acha que não quero te beijar?

— Eu...é uma pergunta retórica? — A maneira como ele estava


segurando seu queixo e acariciava os lábios, fazendo uma pergunta e
soando como uma sonata?

— Jesus, você é bonita. — Ele soltou seu queixo e passou um


polegar no canto de sua boca, antes de arrastá-lo ao longo de seu lábio
superior, sentindo a maciez. Como ela conseguia ser assim? — Aqui
está a coisa. Jurei não sair mais com mulheres. Mas então você chegou
na cidade com essa boca, os olhos e a forma como eles veem tudo... e
porra sim, quero te beijar. Quero fazer todo tipo de coisas com você.

Sua respiração saiu espaçada contra o polegar, enquanto ele o


passava para trás e para frente. Quando ele a pressionou contra a
moto? Estava mesmo no controle de suas ações perto dessa mulher?
Ele precisava estar. Era necessário dessa vez. Umas linhas de
expressão se formaram entre as sobrancelhas de Rita, então moveu seu
polegar para cima em direção a elas para suavizá-las.

— Você acabou de dizer que jurou não sair mais com mulheres?

— Eu disse.

— Então por que está tentando me levar para comer a droga de


um sushi?

A boca de Jasper perdeu a batalha para um sorriso, mas a


seriedade desceu quase imediatamente. Importante. Isso é importante.

136
— Porque quero te ver essa noite. Não quero pensar em não te ver.
Preciso colocar uma mesa entre nós para que eu possa descobrir o que
está acontecendo em sua cabeça. Sem essa mesa, eu vou...

— O que?

Levantou ela para o assento da moto, como se suas mãos


estivessem sendo controladas por um controle remoto na posse de
outra pessoa.

— Por favor, não me pergunte isso. — Ele rosnou. — Quase


arruinei tudo na noite passada.

Rita estava olhando para sua boca.

— Quem disse que o sexo precisa estragar alguma coisa?

— Eu acho que... — Jasper se colocou entre suas coxas e puxou-


a para perto, engolindo em seco quando um tremor pareceu passar por
ambos. Porra. Ela estava tentando respirar? — Acho que se fosse um
homem diferente, seria um assunto para debate. Mas sou esse homem.
E sei que não irá querer nada comigo depois. Assim terei servido ao
meu propósito.

Talvez tivesse falado demais. Ou talvez disse apenas o suficiente.


Porque Rita cruzou as mãos em sua camisa e puxou, puxou até que ele
ficou preso tão firmemente entre suas pernas, que poderia se esfregar
nela e levá-la ao orgasmo com a ereção por trás do tecido da calça,
apenas levantando para cima e para baixo na ponta dos pés.

— Você disse algo assim na noite passada. — Ela olhou para cima
de sua boca ofegante. — Eu realmente não gostei.

137
Ela realmente o ouviu ontem à noite. Ouviu as palavras dele sem
achar que eram besteiras vindo de um mentiroso, a maneira que todos
tendiam a considerar qualquer coisa que saia de sua boca. Não essa
mulher. Ainda não, de qualquer forma. E manter a atenção dessa
mulher por um dia era um milagre no livro de Jasper.

— Tentarei parar de dizer coisas que você não gosta, mas não
posso garantir nada.

— Se dissesse coisas que gosto o tempo todo, — Rita suspirou. —


Eu não acreditaria.

A mão de Jasper levantou e enterrou em seu cabelo, como se


tivesse sido impelida pelas palavras de Rita. Um estranho não teria
nenhuma ideia do que estavam falando. E ele amava isso. Nunca teve
isso com uma única outra pessoa, por qualquer espaço de tempo.

— Acredite nisso, Rita. Acho que você é linda como o pecado e


preciso de sua boca na minha.

Rita assentiu, molhando seus lábios no processo.

— Quero acreditar nisso. Você pode ter que me ajudar.

— Obrigado Cristo.

Suas bocas se inclinaram e de alguma forma, — algum jeito — o


encontro dos lábios, línguas e dentes foi ainda mais potente do que na
noite anterior. Seu joelho bateu na moto e doeu quase como se sua
perna tivesse uma fivela batendo em cima, mas desapareceu sob o
prazer. Desapareceu como vapor. O afago e quente abandono de Rita.
Ambos estavam respirando pelo nariz, de modo a não separar a boca e

138
porra eles estavam envolvidos, o que não deveria ser tão totalmente
sexy e voraz. Mas certo para caralho que era. Estavam atacando um ao
outro com a procura de línguas e lábios abertos, jogando para ver quem
iria ceder primeiro.

Quando as mãos dela escorregaram sob a camisa e foram para a


fivela do cinto, colocando pressão no pau de Jasper, ele amaldiçoou em
sua boca, prendendo o punho em seu cabelo como um bárbaro maldito.
E ela gostou também. Por que outra razão estaria puxando o cinto,
encorajando-o a se mover contra sua boceta? Longe demais. Isso estava
indo longe demais. Mais longe e eles acabariam em algum lugar nus.

Ela iria deixar o encontro sem nenhuma dúvida de sua


experiência, porque porcaria, Jasper sabia quais os botões pressionar,
quando mudar de ritmo, quando ser forte ou se afastar. Sabia tudo.
Mas Rita não iria olhar para ele da mesma forma depois. Veria o
vagabundo local, como todo mundo.

Ela iria embora. E ele teria falhado em sua tentativa de ser algo
mais para alguém. Jasper afastou a boca, liberando uma exalação
rouca em seu pescoço.

— Você me tem pronto para arrebentar meu jeans, linda. Eu era


mais suave do que isso na escola.

— Isso é um pensamento assustador. — Ela respirava ofegante,


os punhos ainda segurando sua camisa. — Essa foi a outra metade do
seu pedido de desculpas pela noite passada? Bem, porque eu tenho a
dizer, foi muito eficaz.

139
— Correndo o risco de soar arrogante Rita, eu nem sequer movi
meus quadris ainda. Você mal conseguiu uma prévia de quão bom
posso ser com...desculpas.

— Não me deixe em suspense. — Ela sussurrou com os olhos


castanhos dourados ficando tão grandes como pratos de salada.

Não faça isso. Você terá uma ereção por uma década.

— Se concordar em sair comigo essa noite, te deixarei molhada e


esfregarei contra você para aliviar a sua dor e a minha.

A cabeça de Rita caiu para trás com um gemido.

— Está bem. Sim.

O prazer percorreu suas veias como ouro líquido. Drogando,


puxando e impelindo ele. Com um braço ao redor dos quadris de Rita,
puxou ela para frente até a borda do assento da moto. Com os dentes
apertados contra seu pescoço macio a imaginava nua em sua cama
king-size, imaginou o primeiro impulso em seu corpo apertado, após
cerca de uma hora de preliminares, mais ou menos.

— Realmente sinto muito... sobre a noite passada. — Ele levantou


a cabeça e deixou a boca a um mero centímetro da dela. Senhor, não
beije ela enquanto a segura nessa posição. Você vai rasgar sua calça
jeans bem aqui nesse estacionamento. Já gemendo, Jasper se moveu
entre suas pernas, prendendo a bunda dela contra a moto, agoniado
pelo contorno de sua boceta onde esfregava sua calça jeans. — Sinto
muito. Você quer a outra metade do meu pedido de desculpas? — Mais

140
cinco bombeadas ásperas fizeram a moto ranger debaixo de Rita. Cric,
cric, cric. — Eu sinto muito.

Quando sua cabeça foi para um lado, colocou a boca sobre a pele
sensível de seu pescoço e chupou. Isso mesmo, deixarei uma marca. Da
maneira que eu puder.

— Mais uma vez. — Ela gemeu. — Apenas um pouco mais. Estou


tão...

— Pare. Não me diga. — Jasper arrastou sua testa contra o ombro


dela, incrédulo por não acabar com ela. Essa mulher que parecia ter
seu pau em um aperto.

Movimento arriscado, homem. Você acha que é bom o suficiente


para ganhar a recompensa?

— Eu não sei. — Jasper disse em voz alta, dando um último inalar


ao cheiro dela antes de se afastar e ficando de costas para se acalmar.
O que não aconteceria se ficasse olhando para ela.

— Você não sabe o que? — Perguntou Rita, parecendo atordoada.

Quando ouviu as botas encontrar o chão, ele a enfrentou.

— Nada, linda. — Sua voz estava rouca. — Venho te buscar as


sete, tudo bem?

— Sim. Vou esperar aqui.

Os dois riram, mas as notas eram mais dor do que humor.

141
— Vá para dentro. Preciso ver a porta se fechar atrás de você para
minha paz de espírito.

Rita piscou algumas vezes antes de abaixar a cabeça. Por que sua
preocupação parecia surpreendê-la? Ela foi para frente alguns passos,
depois parou, lhe dando um olhar autoconsciente sobre seu ombro.

— Aceito suas desculpas.

— Agora isso é alguma coisa.

Ela olhou para o estacionamento.

— Eu não gosto muito de sushi.

Seu peito estava leve.

— Italiano, então.

Quando ela balançou a cabeça e caminhou em direção à entrada


da frente, deixando ele para trás, algumas palavras sem sentido
deixaram sua boca sem aviso.

— Rita, como você se sente sobre ir jantar nesse momento?

Ela continuou andando, mas seus ombros estavam tremendo.

— Vejo você às sete.

142
CAPÍTULO QUINZE
Rita ainda estava olhando para a porta fechada do quarto de hotel
quando o tumulto começou do lado de fora. Comoção poderia ter sido
uma palavra muito forte, mas desde que ela esteve sentada em silêncio
por uma quantidade desconhecida de tempo, tentando entender como
um morador do deserto se enfiou debaixo de sua pele em questão de
vinte e quatro horas, qualquer perturbação dessa força se qualificava
como uma comoção.

Realmente, deveria ligar para cancelar o encontro. Se o seu


orgulho lhe permitisse voltar atrás em um acordo, mesmo feito no calor
do momento, poderia fazer exatamente isso. O que estava impedindo
ela de cancelar? Por que estava perdendo seu tempo? Engraçado, se
perguntava as mesmas coisas antes dos encontros que teve em San
Diego. Aqueles homens nunca significaram nada para ela ou vice-versa.
Eles estavam à procura de uma pessoa como Peggy. Ou alguma outra
garota legal que torcia por uma equipe específica e gostasse de ser
convidada para uma noite de pôquer. Jasper não poderia ser muito
diferente daqueles homens que ela tão facilmente ignorou, poderia?

Então, por que ligar e desmarcar o encontro com Jasper parecia


um sacrilégio?

Você não irá querer nada comigo depois. Terei servido ao meu
propósito. Ela ainda podia ouvir a convicção em sua voz, a dor. E não
desconstruir a receita que era Jasper e encontrar o ingrediente
adicionado incorretamente era algo sobre o qual tinha conhecimento.
Embora, ao contrário do ato de analisar uma receita, Jasper não a fazia

143
se sentir ansiosa. Como se estivesse à beira de fracassar. Era
exatamente o oposto na verdade. Ao redor dele ela não conseguia
escapar do otimismo. O que fazia Rita pensar se tentar minimizar
coisas boas sempre foi o seu padrão.

Uma porta de carro bateu seguido por um grito. Rita teria


reconhecido o grito de Peggy em um estádio cheio de gritos, então ela
se levantou e olhou para a janela para investigar. Do outro lado do vidro
nebuloso, Peggy estava com os braços ao redor de uma pequena garota.
Ou uma mulher? Era difícil dizer, por que a destinatária do abraço era
muito pequena. Ela apenas atingia o queixo de Peggy, mas quando as
duas se separaram e Rita deu uma boa olhada no rosto da recém-
chegada, sua identidade ficou de alguma forma óbvia.

Sage Alexander.

Claro. Ela esteve tão envolvida por certo proprietário de bar que
esqueceu o plano formado com Peggy na última noite para trazer Sage
a Hurley. Depois de concordar que o comportamento de Belmont era
cada vez mais preocupante, Peggy ligou para sua melhor amiga e
planejadora de casamentos, explicando a situação sem muitos
detalhes. Ela sabia o que eu estava dizendo sem ter que soletrar, Peggy
disse depois de desligar o telefone. Ainda era um mistério nesse
momento que tipo de relacionamento Sage tinha com Belmont, mas
Peggy parecia confiante de que a chegada da planejadora de
casamentos seria boa para ele.

Rita ficaria dentro do quarto assistindo a cena se desenrolar pela


janela se Peggy não a visse e a chamasse para fora. Maldição. Enfiou
os pés nas botas pretas que descartou e foi para fora, mãos nos bolsos,

144
pairando de lado enquanto as duas mulheres recapitulavam cada
passo minúsculo que deram desde a última vez que se falaram.
Embora, para ser justa, a conversa foi mais com Peggy falando sem
parar enquanto Sage ouvia com um sorriso indulgente, seu afeto por
Peggy era claro.

— Enfim. — Peggy soltou um fôlego antes de estender a mão e


colocar ao redor do bíceps de Rita, puxando ela para frente. —Eu não
posso acreditar que você não conhece minha irmã. Sage, essa é Rita.
Rita, Sage.

Sage estendeu uma mão profissional.

— Prazer em conhecê-la, Rita. Nós não chegamos a atingir o jantar


de ensaio como eu programei.

— Ah sim. Meu primeiro compromisso. — Peggy inclinou a cabeça


como se procurasse sabores em um vinho fino. — Esse foi por um triz.

Rita apertou a mão de Sage.

— Oi. — Ela disse, fingindo não sentir o tremor na mão da outra


mulher. — Obrigada por vir.

— Eu queria vir.

Sage pegou sua mala e a colocou de volta para baixo. Ajeitou os


óculos redondos e claros. Seus nervos eram óbvios, mas estava
claramente tentando fazer um rosto amigável. Peggy se lançou em uma
descrição dos encantos de Hurley, listando opções de jantar e de

145
entretenimento como o concierge17 de um hotel cinco estrelas, dando a
Rita a oportunidade de observar Sage. Ela parecia estar em seus vinte
e poucos anos, embora com as sardas salpicando seu nariz e bochechas
poderia se passar por caloura de faculdade, se necessário. Seu leve
vestido azul era conservador para dizer o mínimo. O decote era todo
coberto abaixo de sua clavícula e se estendia bem além dos joelhos,
como uma espécie de retrocesso para os anos cinquenta. Quando Rita
ouviu as palavras organizadora de casamentos, sua mente conjurou
uma mulher com maçãs do rosto acentuadas e saltos altos que
poderiam dobrar como uma arma. Sage não poderia ser uma assassina
em seu pior dia se Rita a estava julgando corretamente.

O discurso de Peggy foi cortado quando uma das portas do quarto


de hotel se abriu atrás de Sage. Ambas as irmãs se viraram para
encontrar Belmont parado na porta de seu quarto. Sage, no entanto,
não parecia confortável. Ela ficou completamente imóvel passando as
mãos trêmulas na frente de seu vestido, para alisar rugas inexistentes.
Depois disso, Rita não conseguiu fechar sua boca ao olhar para seu
irmão. Belmont era intenso, mas nunca o viu assim antes. Quase como
se tivesse a capacidade de congelar o tempo e eles fossem todos pegos
no silêncio até que decidisse que a atividade poderia continuar. Mesmo
Peggy, cujas mãos normalmente vibravam mais que asas de beija-flor,
apenas olhava para Belmont. Enquanto Belmont observava Sage.

As irmãs debateram se diziam ou não a Belmont sobre a chegada


iminente de Sage, mas graças a Deus elas não o fizeram. Se Rita não
tivesse visto a reação dele, antes que a máscara estoica voltasse ao

17 Significa porteiro em francês, mas como é um hotel cinco estrelas, o nome foi mantido.

146
lugar, ela poderia nunca ter descoberto que o mundo de Belmont era
composto por Sage Alexander. É chamado de viagem no tempo da
mente. Um homem que voltava e conhecia sua esposa tudo novamente,
mantendo as lembranças de sua vida original juntos.

Passou pela porta depois de uns bons dois minutos, criando um


amplo espaço ao redor das três mulheres, os olhos nunca deixando
Sage. A planejadora de casamentos parecia ganhar coragem a cada
segundo que ele dava um passo, o queixo indo até um entalhe aqui e
ali. Mas seus dedos. Eles se preocupavam com uma das pregas em seu
vestido até que Rita começou a se preocupar que poderia pegar fogo.

Sage ainda não se virou quando rompeu o silêncio.

— Olá, Belmont.

Um som áspero deixou sua boca.

— Pensei que não pudesse vir.

O vento passou assoviando na pausa que se seguiu.

— Dezembro não é muito popular para casamentos. Eu mudei


algumas coisas na minha agenda.

— Por quê?

— Por que dezembro não é popular para casamentos?

Rita viu os lábios de Sage se contraírem após colocar a questão e


agradeceu a Deus por a mulher ter senso de humor. Eles não
precisavam de mais um mal-humorado na família. Honestamente,
estavam em uma cidade estranha, fora de um hotel noventa por cento
147
vago, vendo seu irmão espreitar ao redor de alguém que sequer se
preocupou em olhar para ele ainda. E de alguma forma tudo parecia
seguir um curso de merda.

— Por que você mudou sua agenda? — Belmont perguntou com


um toque de impaciência em seu tom, o que fez os dedos de Sage voltar
a sua tentativa de iniciar um incêndio.

Peggy começou girando seu cabelo, também o que não escapou


da afiada atenção de Belmont e se tornou óbvio para Rita que seu irmão
estava tentando verificar o que estava acontecendo. Se elas pediram a
Sage para vir por causa da maneira que ele agiu. O que elas fizeram, é
claro. Mas fizeram um acordo tácito de que ele não gostaria de receber
essa informação.

Quando Rita começou a se desesperar para preencher o silêncio,


todo o corpo de Sage se levantou com uma inspiração profunda e ela
se virou. Belmont foi um passo para trás. E o tempo pareceu congelar
novamente. Que porra?

— Precisava de um período de férias. — Sage murmurou,


levantando o queixo, em seguida, abaixando. — Isso é permitido?

Com os olhos fixos na pequena planejadora de casamentos, o


deserto atrás dele e o flexionar contínuo de seu maxilar, correndo,
correndo, Rita pensou que seu irmão parecia um cartaz velho de um
filme de Clint Eastwood.

— Fez algo no cabelo? — Ele perguntou a Sage em uma voz grave.

— Eu fiz franja.

148
— Franja. — Belmont repetiu, como se fosse uma palavra
estranha, estrangeira. — Eu não sei se gosto disso.

Peggy engasgou.

— Bel...

— Mais um pouco e vai esconder seus olhos. — Ele continuou


ignorando a irmã. Ignorando tudo, focado só em Sage. — Pode ser a
qualquer momento e dia que eles estariam escondidos de mim.

Sage balançou a cabeça.

— Não, eu não vou deixar eles escondidos.

Belmont fez seu melhor para olhar Sage na calçada, mas ele
pareceu perceber isso e olhou para trás em direção ao estacionamento.

— Você já fez o check-in e verificou se ainda tem vaga?

— Não. — Sem olhar fez um gesto em direção ao prédio.

— Esse lado é mais bem iluminado do que o outro.

— Ok.

— Diga na recepção para colocá-la desse lado.

Depois de falar e esperar para se certificar de que Sage ouviu,


Belmont pareceu perdido. Ele começou a recuar em direção à porta do
quarto do hotel que deixou aberta, mas inverteu sua direção de repente,
sem informar sua intenção. Ele circulou Sage devagar, observando seu
cabelo, seu pescoço, sua roupa. E ela o deixou, de alguma forma

149
mantendo a pose. Até que ele roçou seus ombros juntos e os olhos se
fecharam. Apenas por um segundo, antes de entrar pela porta.

Nenhuma delas disse nada até que Belmont voltou para seu
quarto de hotel com a porta fechada. Nesse momento Peggy bateu
palmas, rompendo o feitiço da câmera lenta.

— Então... — Ela segurou o braço de Sage. — Viu um filme no


voo?

150
CAPÍTULO DEZESSEIS
Trinta e três anos de idade e esse é meu primeiro encontro.

Isso fazia dele uma espécie de virgem, não é?

Até mesmo Jasper teve que rir dessa comparação. Parou sua
caminhonete em um dos inúmeros espaços vazios em Hurley e passou
a mão pelo cabelo, não estava surpreso por estar nervoso. Passaria
tempo na companhia de uma mulher inteligente. Uma mulher
interessante. E não conseguia se lembrar da última vez que
ultrapassou a barreira da conversa trivial com alguém do sexo oposto.
Daqui vinte minutos, ele poderia muito bem estar perguntando a Rita
sua cor favorita, mas tinha muita esperança que não precisasse disso.

No caminho para pegar Rita, parou no Liquor Hole para perguntar


a Nate sobre o que as mulheres gostavam de conversar. Após o
bartender rir por pedir conselhos a ele sobre mulheres, respondeu com
poucas palavras: delas mesmas. Se isso fosse verdade, Rita falaria
sobre si mesma adequadamente para Jasper. Ele simplesmente não
achava que fosse verdade. Na verdade, achava que ela provavelmente
iria devolver suas perguntas diretamente para ele, a mulher era
teimosa. A mulher era teimosa e linda.

Sua conversa fiada foi tão decepcionante no passado, que foi um


fator decisivo para considerar Jasper bom em apenas uma coisa: uma
rapidinha. Porra, até onde sabia, Rita queria isso também. Embora ela
não fosse do tipo que sofre por um homem que nem mesmo goste,
mesmo que ele fosse uma boa transa. Tinha que confiar em seu
instinto.
151
Certo, quanto mais tempo ficava sentado em seu carro, olhando
para porta do quarto de hotel de Rita no espelho retrovisor, seu cérebro
invocava os maiores cenários de bosta. Hora de sair.

Jasper saiu do carro e atravessou o estacionamento passando a


mão na frente da calça jeans para garantir que tudo estivesse no lugar
certo. Não era a primeira vez que fazia isso desde que deixou sua casa.
Ele demorou mais tempo no banho, porque senhor, precisou se
masturbar.

Rita nem sequer estava na sua frente e o sangue em suas veias


pulsava mais rápido. As batidas do seu coração praticamente abafavam
o tráfego que passava por trás dele na estrada.

— Cara, você está completamente apaixonado. — Murmurou


baixinho.

Esse sentimento se tornou o eufemismo do ano, quando Rita


respondeu a sua única batida. Sim, estava fodido além de todo o
reconhecimento. A primeira coisa que o atingiu foi o cheiro de banho
tomado. Não apenas qualquer banho. O banho de uma mulher. Os
aromas de pêssegos, peras e sabonete de aveia flutuaram pela porta
fisgaram ele.

Mas quando Jasper olhou para seus lábios excitantes? Tudo


parou.

— Você cheira assim também sob essas roupas?

— O que?

152
Rita respirou a palavra, causando uma pequena convulsão em seu
corpo. A saia jeans vermelha apertada que usava evidenciava seus
quadris, mergulhando baixo o suficiente para que Jasper pudesse
distinguir o recuo do seu umbigo abaixo da blusa preta.

— Por favor, me diga que você não está sozinha aí. Diga que há
um irmão ou irmã assistindo uma reprise de Cheers algum lugar.

Ela balançou a cabeça e a luz da rua iluminou tudo o que usou


para disfarçar sua boca. Definitivamente sem brilho labial dessa vez.

— Não, minha irmã está ajudando sua amiga a se instalar.

Jasper apoiou uma mão na porta e se inclinou para Rita, olhando


para o corpo dela e parando estritamente entre suas pernas.

— Pare de esfregar as coxas. — Ele disse.

Os seios começaram a subir e descer num movimento hipnótico,


uns meros centímetros do seu peito.

— Eu não estou. Apenas não estou acostumada a vestir saias.

— E não estou acostumado a te ver usar saias, de qualquer forma.

— Você não está acostumado a me ver vestir nada. — Ela fechou


os olhos. — Você sabe o que quero dizer com...

— Eu sei que estou pensando em você nua agora.

Jasper forçou Rita a entrar no quarto, fazendo uma careta sobre


a guerra travada entre o que estava em seu peito e o inchaço abaixo do
cinto. Alguém teria pressionado sua configuração padrão do botão no

153
outro lado do estacionamento? Ou ele estava tão excitado por essa
mulher que não podia ver direito? Não sabia. Porra, então precisava se
afastar. Mas era difícil quando mais ninguém estava lá e ela estava
voltando para a cama como se quisesse ser fodida por ele o mais rápido
possível.

Ela estava com tesão. Esse era o principal problema aqui. Embora,
se Jasper perguntasse à defesa em um tribunal, um júri iria condená-
lo, com certeza. Porque uma mulher realmente excitada era um dos
tesouros da vida. Agora Rita excitada? Era a nona maravilha do mundo.
Sua força gravitacional o arrastou para frente até que as panturrilhas
dela estavam contra o colchão e suas mãos escorregaram até as laterais
das coxas firmes. Então, sim, esse era um problema. Porque ia contra
a natureza de Jasper permitir que Rita permanecesse em tal estado.
Deixar ela no estacionamento após a sua sessão calcinha molhada
quase o matou, mas iriam fazer isso caso ela ficasse olhando assim.

— Quero te levar até meu carro, ligar o motor e ir embora. —


Jasper abaixou a cabeça para saborear a curva de seu pescoço. — Você
não deveria abrir a porta pedindo por isso, linda. Eu não posso te foder
antes do encontro começar de fato.

As mãos dela enroscaram no cabelo dele, acompanhando


enquanto ele lambia da garganta a orelha.

— Respeitaria isso também, se eu pensasse que faz sentido. — Ela


quase ofegou.

— Faz sentido. Você verá.

154
A frustração atingiu ele. Todos seus instintos gritavam para dar a
Rita o que ela precisava ou o que eles precisavam, mas seu peito ficou
oco quando imaginou o que viria depois. O que sempre vinha depois.

— Onde está sua mochila?

A cabeça de Rita se levantou.

— Hã?

Dando a seu pescoço um beijo final, de boca aberta, Jasper se


abaixou e puxou uma mochila de debaixo da cama. De alguma forma
ele adivinhou a localização de sua bagagem corretamente, mas onde
ela iria colocar se não fosse ali.

— Você está procurando meu...

— Sim.

Sua mão se fechou ao redor de algo menor do que ele esperava,


mas a forma não deixava nenhuma dúvida sobre sua identidade.

— Achei que tivesse um.

Quando Jasper se endireitou, Rita balbuciou, olhando para o


objeto embalado na palma da mão.

— Você não pode simplesmente... pegar meu vibrador.

Jasper testou o peso do vibrador.

— Isso é mesmo considerado um vibrador? Na minha experiência,


eles têm forma de um pau.

155
— É uma... uma borboleta...massageadora.

Durante a explicação de Rita, ele viu com espanto enquanto uma


coloração vermelha se espalhava em suas bochechas.

— Oh, linda. Você atende sua porta no quarto vazio do hotel em


uma saia minúscula e agora está ruborizando para mim? Se eu já não
estivesse pensando em te masturbar esse rubor teria selado seu
destino.

Ela dividiu um cauteloso, mas curioso, olhar entre ele e o vibrador.

— Por quê?

Jasper se aproximou até que seus corpos ficaram colados,


puxando Rita contra ele para que pudesse chupar o lábio inferior em
sua boca. Mas assim que se abriu para sua língua, a empurrou para
trás, para a cama. Ela se apoiou nos cotovelos, a surpresa evidente em
suas feições bonitas. Sério? Surpresa? Era quase como se nunca esteve
com um homem desesperado por...

E caralho. Acontece que Jasper não gostava de pensar em Rita


com mais ninguém. Na verdade, ele gostava tão pouco da ideia que
virou Rita sobre seu estômago com mais agressividade do que
pretendia. Um pedido de desculpas poderia ter vindo, se ela não tivesse
gemido contra o edredom. Se essa saia vermelha voasse alto durante a
virada ele veria a pequena tanga preta.

— Porra, você é quente, um pequeno pedaço quente.

A visão de Jasper duplicou antes de engrenar novamente. Ele


colocou o dedo por baixo da tira, correndo para cima e para baixo,

156
através da umidade de sua boceta. Então puxou o fio dental para trás
alguns centímetros e bateu contra sua carne quente, saboreando seu
grito abafado, antes de se lançar sobre seu corpo, pressionando-a para
baixo, contra o colchão. Por causa da diferença de tamanho, foi
cuidadoso para não machucar ela, apenas o suficiente para que não
fosse capaz de escapar do prazer que ele pretendia infligir.

— O que você está... oh!

Os dentes de Jasper se fecharam ao redor do lóbulo da orelha de


Rita acabando com a pergunta e a fazendo mover os quadris contra ele.

— Se levantar essa bunda para cima novamente, vou pensar que


significa que me quer longe. E não acho que você queira.

Sem olhar, Jasper ligou o interruptor ao lado do vibrador, obtendo


uma sensação pela forma como ele estremeceu na palma da mão,
gemendo quando ele imaginou Rita o usando em si mesma. Não está
noite, no entanto. Esse orgasmo ele iria dar a ela.

Jasper empurrou as pernas dela abertas, sentindo sua bunda se


abrir contra ele, imaginando o fio dental que não escondia nada. Cristo.
Sua boca seguiu para o cabelo de Rita, seu nome se libertando com um
gemido. Ele aliviou a pressão de seu corpo tempo suficiente para
escorregar o vibrador sob seus quadris, empurrando para baixo até que
tocou a união de suas coxas. Direto no clitóris. E então Jasper deixou
cair o peso de seus quadris para baixo, prendendo Rita entre ele e o
massageador. Pressionando, pressionando.

— Oh meu Deus. — Ela gritou, arranhando o edredom. — Eu não


posso... você não pode. É muito. Normalmente, não...

157
— O que? — Na verdade machucou falar porque ele estava
exercendo tanta vontade para manter seus quadris imóveis, evitando
empurrar para o vale de seu traseiro. Porra, ele podia sentir cada
centímetro de seu pau através de seu jeans. A imagem de sua calcinha
preta entre sua bunda brilhava em sua mente. — Você normalmente
não o que?

— Faço tão forte. Ou... muito. — Ela soltou a última palavra com
um gemido do seu nome. — Jasper.

— Isso é uma ofensa. — Ele falou em seu ouvido. — Empurre-o


para baixo. Se foda contra ele. Vou ajudá-la a chegar onde precisa ir,
linda. Você atendeu a porta implorando por algo assim. Então é isso
que darei. Para você e essa doce boceta negligenciada. Agora foda seu
vibrador.

Por uma fração de segundo, a preocupação ultrapassou o desejo


de Jasper. Será que foi longe demais? Será que a emboscou desde que
entrou no quarto? Foi capaz de manter a suas necessidades longe até
que Rita apareceu. Rita, Rita. Deus, nunca ninguém o fez se sentir tão
bem, cheirava tão bem, soava tão bem. Parecia certo. Viver sem sexo
ainda não foi difícil até que ele a viu presa na estrada. Agora não
parecia ter nenhum jeito de conter o fluxo de falta de sexo. A pressão
maldita era tão grande que ela não podia evitar colocar marcas em todo
o edredom.

— Tudo para você. — Ele falou contra sua nuca. — Tudo para
você.

158
Quando sentiu o quadril de Rita investir, ambos disseram
maldições abafadas no quarto escuro, onde o único outro som que
competia com eles era o ar-condicionado barulhento.

— Vamos, Rita. Mova-se. Você não tem escolha, tem? Não comigo
te segurando, mantendo seu clitóris contra esse vibrador. — Ele
escorregou os joelhos para trás, aplicando um toque mais de seu peso
para baixo na bunda dela. Ela apertou os punhos no edredom com um
grito. — Nenhum lugar para ir. Não há forma de escapar. Não até que
você esfregue sua boceta contra minha mão e goze como você disse. —
Ele sussurrou em seu ouvido. — Vá em frente, linda. Não vou contar a
ninguém.

Se foi modéstia que enrijeceu suas costas ou o medo de muita


intensidade, isso fez Jasper aumentar a pressão contra Rita. E porra,
ela se pressionou contra ele. Nunca sentiu uma mulher se movendo
como Rita, tão fluido, como a água correndo sobre pedras lisas. Os
movimentos começaram em seus ombros e rolaram para baixo, por
suas costas e sobre os quadris, nem parou quando atingiu as coxas.
Ah não. Se moveram também, empurrando para além e para trás junto
com o uso de seus joelhos. A parte inferior do corpo de Jasper a
enjaulava contra o colchão, mas ela poderia prendê-lo também, porque
ele não ia a lugar nenhum. Não podia.

— Jesus, o jeito que você move seu traseiro... — Jasper disse entre
dentes. — Você pode muito bem estar me dando um trabalho de mão
agora Rita, com essas bochechas brancas bonitas se movendo para
cima e para baixo em ambos os lados do meu pau.

— Oh... oh meu Deus. Eu... por favor.

159
Não houve nenhuma ajuda depois disso, porque Rita pareceu ser
incentivada por suas palavras sujas e começou a se mover mais rápido,
simulando sexo quando ela se movia sobre o vibrador. Até que seus
quadris começaram a bombear em desespero óbvio e os gemidos
começaram a sair, Jasper conseguiu permanecer parado,
simplesmente fornecendo a pressão. Agora, porém, seus quadris
começaram a se mover em conjunto, suas respirações saindo em
explosões violentas.

— Nós estamos juntos agora, não estamos, linda? Mexa para


baixo, você parece se sentir tão bem. — Jasper usou sua boca ofegante
para empurrar o cabelo para o lado, lhe dando acesso para lamber seu
pescoço para cima e para baixo, os quadris nunca parando seus
impulsos. — Em quem você pensará cada vez que usar essa coisa?
Toda vez que estiver sozinha em sua cama, luzes apagadas, a calcinha
para baixo.

— Jasper. — Ela gritou.

— Saberei cada vez que você usar... — Ele disse descaradamente


contra seu pescoço. — Saberei o que você está fazendo, saberei qual
velocidade. E saberei que você está pensando em mim bombeando isso
contra sua bunda.

Deus, a mão que ele segurava entre as pernas dela ficou


escorregadia. Porra, seria tão fácil, mas tão fácil, para ele desabotoar a
calça e entrar nela por trás. Era a definição de pronta. Implorando pelas
estocadas de seu pau. Ele poderia ter se quebrado e seguido também,
se não sentisse Rita se segurando. Apenas um pouco. Se ela estava
lutando contra ele ou o prazer, não sabia. Mas com certeza não estava

160
funcionando para ele. Queria tudo dela. Queria dominar e satisfazê-la
o suficiente para que precisasse dele novamente. E essa não era a raiz
de tudo isso?

Jasper moveu a mão entre suas pernas em um padrão circular,


apertado, se certificando de manter as vibrações em seu clitóris. Ela
estremeceu forte sob ele dizendo seu nome como uma repreensão. Suas
pernas se contorciam inquietas ao seu lado. Quase consegui. Vamos lá,
vamos lá. Jasper pegou um punhado de cabelo de Rita, levando sua
cabeça para trás até que eles se olhassem. Havia uma ligação elétrica
lá. Algo inexplicável fez Jasper soltar o cabelo de Rita e colocar a mão
ao redor sua garganta, exultante com o gemido que tomou forma contra
a palma da mão.

— Está tudo bem, Rita. — Quanto mais pressão ele aplicava, mais
ela começava a tremer e gemer. — Eu gosto de foder um pouco áspero
e muito sujo, também. — No momento exato em que apertou a garganta
de Rita, sem piedade, esfregando a parte inferior do corpo contra o
massageador sem qualquer chance de escapar e fechando os olhos, ela
gritou. — Quero que você fale meu nome quando gozar. Deixe-me ouvir.

— J-Jasper.

Senhor, quando ela chegou ao clímax debaixo dele foi como um


coice. As costas arqueadas, pernas chutando para fora, braços
estendidos na cama. Havia uma necessidade em Jasper de dar a Rita
essa âncora quando a parte mais brutal de seu orgasmo passou e ele
virou ela. Colou suas bocas em um beijo que ajudou a estabilizar não
somente Rita, mas Jasper também. Porque, porra, ele nunca esteve
mais ligado a outro ser humano antes, lendo ela, sentindo seu prazer.

161
Enquanto não encontrou sua própria libertação e sim, havia um filho
da puta de um caso de bolas azuis acontecendo, se sentiu bem apenas
por Rita chegar lá.

Seus dedos entrelaçaram os cabelos dela enquanto se beijavam,


bocas se movendo em um ritmo sensual, línguas facilitando dentro e
para fora. Seus batimentos cardíacos eram audíveis em toda parte.
Entre eles, em seus ouvidos. O boom, boom, boom, boom tornou
impossível para Jasper ignorar o latejar em sua calça. Se não parasse
de beijá-la em breve, eles não deixariam o quarto de hotel está noite.

Com muita relutância, afastou-se e a ausência de sua boca


causou o primeiro frisson de dúvida desde que Rita abriu a porta.

— Você ainda quer ir jantar comigo, certo?

Rita se sentou lentamente e ele fez o mesmo, ambos ainda


respirando forte.

— Sim. Sim, claro que sim, mas...

Seu coração caiu no chão, provavelmente até mesmo para o porão.

— Mas o que?

Seu olhar lânguido parou sobre a protuberância da calça jeans.

— Você não precisa de mim?

Assim que o alívio de Jasper apareceu em seu rosto, a compulsão


para tranquilizar Rita tomou seu lugar. Quando ela disse: Você não
precisa de mim, ele sabia muito bem que ela quis dizer sexualmente e

162
não havia como negar que precisava. Muito. Mas quando respondeu?
Cacete, Jasper não achava que quis dizer isso da mesma maneira.

— Sim, linda. Eu preciso de você. — Quando Rita ficou imóvel,


Jasper forçou um sorriso. Foi demais, imbecil. Retire o que disse. —
Preciso que você se vista, porque estou morrendo de fome.

Jasper saiu da cama e foi esperar na porta, fingindo não perceber


Rita olhando para ele com o rosto muito corado, talvez até mesmo um
toque decepcionado por não aceitar a oferta. A decepção torcia uma
faca em seu intestino, mas era melhor do que a outra alternativa. Subir
de volta na cama e lhe entregar a única coisa em que ele já foi bom,
antes de descobrir que talvez fosse bom para algo mais.

163
CAPÍTULO DEZESSETE
Não havia muitas coisas que podiam deixar Rita em um loop.
Trabalhar, especificamente nas cozinhas de restaurantes, a submeteu
a todos os tipos de dramas, argumentos, caprichos humanos, um
cliente até a pediu para cuspir na sua sopa. Estar na escola de culinária
sozinha, com sua sabotagem e oportunismo, foi uma pequena versão
do mundo de aço em que ela vivia. Adicionar as câmeras de televisão
como em In the Heat of the Bite18, teve seu comportamento amplificado.

Mas Rita compreendia a mecânica desse mundo. Seja o melhor ou


seja rebaixado. Seja original ou seja criticado pelos críticos. Seja, seja,
seja. Embora, em última análise, cresceu sob essa pressão, viveu sob
um semi conforto por um longo tempo. Ela estava familiarizada. Como
foi em sua solidão auto imposta.

Como estava familiarizada agora. Com essa noite. Esse lindo


homem servindo vinho para ela do outro lado da mesa. Por quê? O que
queria dela? Não era sexo. Isso ficou muito claro. Na verdade, seu
orgulho feminino estava com algumas rachaduras. E ela nem sequer
sabia que possuía um orgulho feminino. Jasper provavelmente tinha
um estoque de mulheres à sua disposição, se borrifava com elas como
perfume. Enquanto isso, ela estava sentada na cama com sua grande
boca aberta. Apenas a lembrança dele indo em direção a porta fez Rita
grudar no chão como uma planta.

18 Segundo a pesquisa, ela está se referindo ao 2º livro da série Gentlemen Vampyres de de Lydia Dare. Está
rolando aqui uma leve divulgação de quem sabe o livro de uma amiga ou de quem ela é fã.

164
Jasper era experiente. O que não era nenhum exagero. Quando
seus encontros conseguiam entrar na fase do “poderíamos muito bem
dormir juntos”, — o que era o caso agora — era um sutiã desarrumado
para cá e um tentar evitar contato visual para lá. Mas Jasper
demonstrava um tipo de confiança sexual que Rita nunca sentiu
pessoalmente. Nunca. Será que algum dia conseguiria superar a
masturbação que eles fizeram naquele quarto de hotel?! Enquanto ele
mantinha a atitude fácil, fazendo parecer que acabou de chegar da aula
de ioga.

De verdade? Ela não podia nem cruzar as pernas sem morder o


lábio para evitar que soltasse um gemido. Tudo estava sensível após
esse tratamento vigoroso. Será que ainda estava apta para sair em
público?

Jasper estendeu a mão sobre a mesa e apertou seu braço,


enviando uma onda de arrepios por todo seu corpo.

— Vou te pedir uma bebida, Rita. Parece que precisa de uma.

— Obrigada. — Ela nem estava argumentando ou fingindo que


vodca não soava como elixir do céu. — Então, hum. Então... esse lugar
parece divertido.

Quando Jasper levantou uma sobrancelha, Rita queria enfiar-se


debaixo da mesa. Talvez se essa toalha de mesa fosse maior.

— Divertido. — Ela podia ouvir o barulho de sua barba enquanto


ele acariciava o queixo, olhando ao redor do restaurante. — Certo. Acho
que você poderia dizer isso.

165
Ela estendeu a mão para o seu cardápio e abriu, sem ver nada,
mas grata por ter as mãos ocupadas.

— Sinto muito, eu apenas não sei o que falar depois... disso. Você
deveria ir dormir depois de algo assim...certo?

Sua diversão floresceu.

— Essa é sua experiência?

— Eu tive experiências ruins.

Ele inclinou seu cardápio para baixo, provavelmente para que


pudesse realmente olhar para ela.

— Parecia que você estava se divertindo. Estou errado sobre isso?

— Você não pode até mesmo perguntar isso com uma cara séria.
Isso é o quanto sabe que não está errado.

Ao invés de parecer satisfeito com a resposta dela, um toque de


preocupação cobriu sobre seu rosto.

— E o que é que está te incomodando agora?

— Podemos mudar de assunto?

Alguma coisa do passado.

— Sim. — Ele pareceu pensar por um momento, uma linha se


formando entre os olhos. — Mas apenas porque não quero ouvir sobre
como você geralmente começa um encontro. Ou termina um encontro.
Ou qualquer coisa, mesmo que remotamente, sobre o assunto.

166
Um calor se espalhou pelo ventre de Rita.

— Ok, então.

— Ok, então. — Com um encolher de ombros, Jasper pegou seu


próprio cardápio. — Eu tenho que dizer, estou um pouco nervoso por
levar uma chef para comer. Você é obrigada a invadir a cozinha, se não
gostar da comida?

— Sim, é parte do juramento que fazemos. — Ela respondeu com


uma cara séria, mas não conseguiu segurá-la. — Qual é a melhor coisa
no cardápio? Não estou com humor para invadir a cozinha essa noite.

— Frango à milanesa.

— Feito.

Rita tinha que admitir que o restaurante tinha uma boa


atmosfera. Tocava música ambiente calma. Iluminação fraca, velas
aglomeradas, colocadas estrategicamente ao redor da área de estar. As
mesas estavam espaçadas, ao contrário de San Diego, onde os clientes
ficavam geralmente amontoados devido aos altos aluguéis e espaço
limitado. O volume de negócios sempre era fundamental na Wayfare.
Mas não aqui, aparentemente. Os garçons pareciam tão relaxados
quanto os clientes, alguns deles até mesmo tomavam goles de vinho
tinto na estação de garçom. Miriam apreciaria a configuração casual,
embora nunca permitisse que eles consumissem álcool até que o prato
final fosse entregue.

A lembrança de sua mãe e do restaurante que ela amou


desmanchou o sorriso de Rita, mas tentou se recuperar quando Jasper

167
estendeu a mão sobre a mesa e correu seu polegar para baixo do lado
da sua bochecha.

— Eu adoraria saber o que você está pensando.

Ela olhou para ele sem dizer nada, porque falar sobre sua mãe
parecia eminentemente errado, então à verdade caiu para fora de sua
boca.

— Minha mãe. Ela construiu um restaurante muito diferente. O


administrei por um tempo. — Suas mãos estavam ansiosas por algo
para fazer de novo, então ela traçou a base de sua taça de vinho. —
Wayfare.

Jasper disse o nome silenciosamente para si mesmo.

— Gosto desse nome. Por que você não está administrando agora?

— Está queimado.

— Porra. — Sua reação foi divertida. — Sinto muito, Rita. Quando?

A pressão começou a aumentar em seu peito, com a lembrança


das chamas dançando e subindo até as paredes.

— Semana passada.

Por alguns segundos Jasper não mostrou nenhuma reação a essa


notícia. Estava claro que ficou chocado com quão recente o incidente
ocorreu, mas algo caótico estava aparecendo atrás de seus olhos azuis,
fazendo com que o músculo de sua bochecha pulsasse. Rita não tinha
certeza se queria saber o que era. Ou talvez quisesse saber todos os
detalhes.
168
— Você estava trabalhando quando isso aconteceu? — Quando
ela balançou a cabeça lentamente confirmando, ele amaldiçoou, caindo
para trás em sua cadeira. — Estou me sentindo mal sobre isso, linda.

Uma luz apareceu em seus olhos.

— Não se sinta mal. Estou bem.

Jasper a olhou como se decidisse se acreditava nela, sua


expressão era séria.

— É por isso que você não quer cozinhar mais?

— Quem disse que eu... — Então se lembrou do flashback na


cozinha de Rosemary. O jeito que congelou, incapaz de executar até
mesmo uma tarefa mais simples. Até agora, ela não se lembrava de
dizer essas palavras para Jasper, que não queria cozinhar mais. Mas
sabia que quis dizer isso. Sabia que não queria ser inferior à
extraordinária Miriam.

— Ei. — Jasper passou uma mão impaciente pelo cabelo,


parecendo irritado consigo mesmo. — Eu não quero me intrometer
assim. Apenas me perguntava por que alguém talentosa o suficiente
para se formar em uma escola de culinária e administrar um
restaurante... não gostaria de fazer o que mais ama.

Ela sentiu a garganta começar a secar, então tomou um gole de


água. Ela queria deixar tudo sair. Talentosa, ha! Questionável na
melhor das hipóteses. Eu nem sei se um dia amei isso. Mas se conteve,
com medo de deixar os segredos saírem e de alguma forma, em algum
lugar, sua mãe iria ouvi-los e chorar. O jeito que ela deve ter chorado

169
interiormente todos aqueles anos em que Rita não conseguiu subir à
altura da ocasião.

— E você, Jasper? O que ama?

O debate entre deixá-la mudar de assunto e pressionar por mais


apareceu no rosto bonito, iluminado pela luz da vela que piscava. Mas
então, a pergunta pareceu penetrar nele.

— Eu amo pessoas. Família. — Ele pegou sua cerveja. — Mas não


tenho certeza se amo qualquer coisa. Nada duradouro como você teve.
— Uma batida de coração passou enquanto ele observava Rita. — Você
ama Wayfare mesmo depois que ele se foi. Está na maneira como diz
isso.

Ela realmente tentou descrever esse homem como alguém sem


mérito, como um novo McConaughey? Iria considerar a possibilidade
dele poder ler seus pensamentos, se os seus pensamentos fossem
claros o suficiente para serem legíveis.

— Você tem que amar alguma coisa. E o bar?

Sua risada foi curta.

— Talvez por um tempo. Ou talvez fosse apenas um lugar para


meus amigos irem. É difícil lembrar o que passava pela minha mente
com vinte e um. — Esfregou uma mão pelo maxilar. — Com certeza não
percebi a piada que estava fazendo com o trabalho de uma vida do meu
avô. Ele provavelmente pensou que eu iria fazer algo significativo com
o dinheiro que me deu. Acontece que estava errado.

170
Rita entendeu que ele estava se referindo a uma herança de algum
tipo. Uma herança que usou para comprar o Liquor Hole.

— Sim, mas você está fazendo algo sobre isso agora, não é?
Abrindo o restaurante?

— Sim. — Ele confirmou com a cabeça, se deslocando em sua


cadeira. — Sim. Espero que não seja tarde demais.

— Não é. — Disse Rita, surpresa com sua própria veemência. Ela


realmente tinha que se conter para não chegar do outro lado da mesa
e...e o que? Agarrar seu rosto, cabelo ou algo assim? Não ficou claro,
mas era fundamental que o convencesse de que ele teria sucesso. O
restaurante seria um sucesso, se simplesmente concentrasse toda sua
energia nele.

Mas isso não iria fazer dela uma hipócrita no final? Mesmo antes
de seu serviço de jantar catastrófico na primeira noite de volta do reality
show, esteve procurando ameaçar o sucesso do restaurante até a
morte. Sucesso que sua mãe assegurou. Por que ela tentava convencer
Jasper que o resultado seria diferente?

— Se você está fazendo isso por culpa ou... talvez queira dormir
melhor à noite sabendo que seu avô aprova... não vai funcionar. — As
palavras subiram a sua garganta e saíram, apesar de tentativa de
afogá-las com vinho. — Abra o restaurante porque quer, não porque
acha que fará alguém feliz.

Jasper girou sua garrafa de cerveja, aqueles olhos azuis exigentes


fixos em Rita.

171
— Parece que você está falando por experiência própria.

— Estou. — Por que estava lhe dizendo isso? Deus, ele poderia
pensar que ela era duas vezes mais deplorável, sabendo quantas
vantagens teve, mas ainda assim falhou. — Minha mãe era Miriam
Clarkson.

E, sim, até mesmo um proprietário de um bar do Novo México


reconheceu o nome.

— Aquela que o Food Channel passou anos atrás? Qual era o


programa? — Ele estalou os dedos. — “Prato principal de Miriam”.

— Parece que a reconheceu. — Rita disse e seus lábios se


levantaram involuntariamente. — Ela abriu o Wayfare quando ele saiu
do ar. Nós ainda éramos em sua maioria adolescentes.

— Rosemary amava esse show. — Seu olhar se desviou para o lado


como se tentando lembrar alguma coisa. — Ela gravou o jantar especial
de Natal sobre o meu VHS de Os Goonies. Uma das maiores tragédias
da minha juventude.

— Isso é realmente horrível. Sinto-me indiretamente responsável.

— Deve sentir-se assim. Você me deve uma nova cópia em nome


de sua mãe.

Eles estavam rindo quando a garçonete se aproximou para anotar


seus pedidos e voltar a encher a taça de vinho de Rita. Jasper não quis
outra cerveja porque estava dirigindo, então pediu um copo de leite.
Aparentemente, o slogan era verdade. Leite faz bem para o corpo. Muito

172
bem, na verdade, ela pensou, lembrando a maneira como seu abdômen
flexionou contra suas costas na cama do hotel.

— Porque está sorrindo? — Jasper perguntou quando a garçonete


se retirou. — Parece verdadeiramente secreto.

Deus, era como se ele já soubesse. Pena que ela não iria confirmar
quaisquer teorias possíveis.

— Realmente nada. É apenas... geralmente, quando digo às


pessoas sobre a minha mãe, eles fazem um milhão de perguntas. Ela
cozinhava incríveis jantares todas as noites da semana? Já os levou ao
McDonald’s? — Esperou. — Você não vai me perguntar nada disso, eu
acho.

— A não ser que isso vá me dizer algo sobre você.

Ohhh. E a multidão vai à loucura. Bem, tecnicamente, ela iria


enlouquecer. Não porque fosse uma otária por palavras doces. Mas
porque suas palavras eram genuínas. Ele parecia genuíno.

— Não vão. — Ela murmurou.

— Então deixe-me perguntar algo diferente. — Quase podia ver as


rodas girando na cabeça dele, soltando grandes baforadas de vapor.
Tanto esforço, apenas para ela. — Você diz que eu deveria abrir o
restaurante por mim, não porque acho que meu avô vá se orgulhar. —
Ele fez uma pausa por algum tempo. — A quem você queria agradar
cozinhando?

— Prefiro falar sobre McDonald’s. — Rita disse rapidamente,


tentando alcançar sua taça de vinho, grata por estar perto.

173
Ela não estava completamente cega ao caso que parecia ser
superficial. Sua mãe definiu um padrão muito alto. Sua filha não pode
alcançar esse referido padrão. Tudo muito certo quando explicado
dessa forma, mas não deixava espaço para as cinzas, para as áreas
irregulares. Eram muitas áreas cinzentas. E ela certamente não estava
acostumada a ter seus problemas apresentados em uma bandeja de
prata, o que resultou em sua voz acida quando disse. — Eu não sabia
que esse encontro seria tão terapêutico.

A cabeça de Jasper caiu para frente, brevemente, em seguida, a


levantou.

— Caralho, Rita. Eu não sei qual o meu problema. É como se


estivesse tentando transformar quinze encontros em um, porque você
pode deixar a cidade a qualquer minuto. — Ele passou uma mão
frustrada em seu cabelo já bagunçado. — Mas não é realmente isso.
Apenas quero saber algo sobre você que ninguém mais saiba. E se isso
não é assustador para um primeiro encontro, não sei o que é. Nós nem
sequer comemos o frango ainda.

A multidão que estava selvagem antes gritou alto o suficiente


agora para desmoronar todo o maldito estádio. Quando foi a última vez
que alguém foi tão honesto com ela? Ele parecia tão revoltado consigo
mesmo, quando deveria ser o oposto.

— Quando eu tinha oito anos queria ser uma detetive. — Ela deu
uma pequena risada para o teto, incapaz de acreditar no absurdo que

174
estava compartilhando com ele. — Usei óculos de sol por um mês e me
chamei de Gumshoe19.

— Qual é a parte que você nunca disse a ninguém?

— Gumshoe ainda é minha senha de e-mail. — Molhou os lábios


e ficou com o rosto em chamas. — Acho que tenho que mudar ela agora.

— Não, não vou bisbilhotar. — Um lento sorriso se espalhou pelo


seu rosto.

— Obrigada.

Quando começou a se mover? Rita colocou as palmas das mãos


sobre a mesa para se conter. Deus, o jeito que ele estava olhando para
ela. Como se acabasse de ganhar algum prêmio fabuloso e estava sobre
sua cabeça. Era louco o suficiente para Rita pensar que estaria olhando
para ele da mesma maneira. E o que significava isso.

— Tudo bem. Quando estou nervosa gosto de ouvir as pessoas


listarem os especiais do dia. Às vezes simplesmente faço isso eu mesma
com menus antigos.

A cabeça de Jasper virou imediatamente, obviamente procurando


algo para ler, mas Rita o impediu com a mão em seu antebraço. Quando
ele olhou para o toque hesitante dela, Rita resistiu ao impulso de puxar
a mão de volta.

19 É um filme policial dos anos 70, com um tom de paródia e muitas referências à cultura popular americana
como citações de filmes, discos e livros, a narrativa explorava também momentos de tensão e violência.

175
— Se você sabe o novo cardápio do restaurante de cor...talvez
pudesse me dizer?

Seu olhar procurou o dela.

— Posso. Eu mesmo faço.

Rita sentiu como se estivesse de pé na borda de uma placa de


mergulho, preparando-se para saltar.

— Bem. Acho, eu... quero saber algo sobre você, também.

Ele se abaixou e colocou seus lábios sobre os nós dos dedos dela,
amortecendo-os com um beijo lento, de boca aberta e isso pareceu bom
no fundo de seu estômago.

— Você gostaria de ver?

— Oh, sim. — Ela respirou.

O ar quente soprou para fora em sua mão quando ele riu.

— Eu quis dizer o restaurante, linda. Quero mostrar o meu


restaurante. Essa noite.

— Esses eram alguns sinais mistos que você estava enviando.

Sem aviso, a cadeira de Rita foi arrastada para mais perto pela
mão de Jasper que estava escondida debaixo da mesa, trazendo ela
contra ele. Com seu comentário ainda pairando no ar, colocou sua boca
na dela, murmurando para os clientes não ouvirem.

176
— Isso é direto o suficiente? — Perguntou com sua voz caindo
cerca de dez oitavas.

Rita assentiu, batendo seus narizes juntos. Algo girou em seu


peito como seda, pegajosa, mas suave. Levou um momento para
decifrar a sensação. Alívio. Eles ainda tinham mais. Toda vez que ela
via Jasper era potencialmente a última vez. Mas tinham a noite toda
agora. Ela deveria ficar animada. Então, por que essa noite, de repente
parecia bem menos do que o necessário?

177
CAPÍTULO DEZOITO
Com exceção de alguns membros da equipe de cozinha e garçons
que foram contratados há algumas semanas, Jasper ainda não
mostrou o restaurante para ninguém. Ele passou meses construindo o
anexo, alisando e impermeabilizando as paredes, lixando e
envernizando os pisos. Inclusive, muito esporadicamente, teve ajuda
de empreiteiros locais de maneira que quase se transformou num
santuário particular.

Selado por uma espessa placa de plástico, Jasper manteve o local


isolado dos olhares curiosos dos clientes do bar com o oferecimento de
cerveja pela metade do preço. Coisa aliás, que mesmo ele, um homem
sem experiência no ramo de alimentos e afins, sabia que serviria como
uma grande distração. Era quase como se tivesse tentando diminuir as
expectativas de todos em relação ao seu projeto, então, se no final,
algum deles ficasse um tanto quanto impressionado, ele se
consideraria mais do que vitorioso.

E agora, ele estaria apostando todas suas fichas ao mostrá-lo para


Rita. Antes mesmo de descobrir que era filha de Miriam Clarkson, —
droga, foi treinada pela mulher — esteve em dúvida sobre mostrar a ela
seu modesto espaço com apenas quinze mesas. Mas durante o jantar,
ela expos partes de si mesma, então não parecia justo deixar de
compartilhar algo sobre si também. Na verdade, a ansiedade que já
retorcia suas entranhas se intensificava à medida em que seguiam para
a parte de trás do Liquor Hole. Provavelmente, porque falou e fez alguma
besteira, mais de uma vez, ao longo da noite. Diga-se de passagem,
após essa noite, poderia até continuar desconhecendo várias das

178
normas que regem os encontros, mas a número 1 ele certamente
assimilou, podendo até declamá-la: Jamais procure descobrir as
inseguranças, culpas e receios de uma mulher antes da refeição chegar.
Pura falta de educação.

Não que essa regra se aplicasse a alguém além da própria Rita.


Jasper não tinha explicação para a forma obstinada com a qual a
sondou. Bastou apenas que sentasse a sua frente, toda agitada, lábios
ainda inchados de seus beijos, para que ele, de repente, desejasse
ardentemente ser seu mais íntimo confidente. Sim, queria saber tudo
sobre ela. No caminho de volta, isso não mudou... aliás, estava óbvio
que seu mais novo objetivo na vida tampouco mudaria com o nascer
do sol. Refletiu ele durante o trajeto.

Evitando alertar qualquer pessoa no bar, Jasper cuidadosamente


fechou a porta do motorista quando desceu do carro, e se dirigiu para
o lado de Rita, agradecido por ela ter esperado sua ajuda. Bem quando
ela se virou para sair, ele conseguiu um vislumbre da calcinha sob
aquela sua saia vermelha justa. E Deus, mal conteve a vontade de
apertá-la contra a porta. Claro, sabia que suas bolas ficariam doloridas
com essa coisa de tesão incubado, mas agora mesmo, sentia uma dor
homicida do caralho, como se as filhas da puta fossem assassinas em
busca de vingança. Certamente não ajudava o fato de Rita estar toda
livre, leve e solta, se sentindo definitivamente relaxada por causa do
efeito do vinho que bebeu durante o jantar.

Puta merda, alguém me ajuda.

Mas, ao invés de atacar sua boca como seu cérebro estava


instigando, ele a segurou pela mão e a guiou para a entrada na parte

179
de trás. Em seguida, segurou o umbral de tela antes que colidisse com
a madeira lascada do batente e tirou suas chaves, sorrindo ao observá-
la esfregar animadamente as mãos.

— Você está entusiasmada!

— Sim. Sim. — Disse ela tentando espiar pela porta de vidro. —


Ninguém nunca comeu aqui. Ainda não foi servida nenhuma refeição
aqui. Nem ruim, nem excelente, nem mediana. Sem comentários,
críticas ou censuras exacerbadas.

Jasper virou a chave e abriu a porta. Mas, no momento em que


ela se antecipava para entrar, ele lhe agarrou pelo pulso e a refreou.

— Espere um pouco. Já que estamos prestes a fazer uma


importante revelação, vamos fazer direito. Feche os olhos.

E assim ela fez, cantarolando baixinho, enquanto ele a conduzia


do pequeno hall de entrada em direção ao espaço reservado para as
mesas. Segurar Rita pela cintura, atraindo-a contra si enquanto
aspirava a fragrância de seu pescoço pareceu mais natural do que
respirar.

— Ok, aqui está! — Disse Jasper acendendo as luzes.

Ele não colocou os lábios contra o pulso dela propositalmente,


mas porra, como conseguir resistir à necessidade de sentir aquela
pulsação a mil por hora enquanto ela observava o lugar? Impossível!
Podia ser um dos melhores momentos de toda sua vida. Afinal, ter
alguém surpreso com o trabalho que executou entre essas quatro
paredes que, a propósito, também foram construídas por ele, seria além

180
de agradável, mas sem dúvida, ter uma prova irrefutável de que ele
efetivamente conseguiu realizar algo excelente... bem, isso sim seria
absolutamente inestimável. Rita ser a pessoa a fazer isso, apenas
tornava tudo mais doce.

Quando Jasper decidiu construir o anexo, foi capaz apenas de


pensar em formas e cores. Não teve qualquer intuição sobre como o
lugar deveria se parecer. Por isso mesmo acabou pensando em Hurley,
se espantando com o tanto que sua população era ímpar e o quanto às
vezes os moradores eram particularmente malucos e isso forneceu um
padrão que deu perfeitamente certo.

Ele tentou então retratar esse aspecto singular da cidade usando


uma mescla de móveis antigos incompatíveis entre si, iluminação
diversificada e nas áreas mais privativas, mesas retráteis de tamanhos
e formatos diferentes. Talvez, se tivesse que descrevê-lo, o salão seria
considerado uma miscelânea de estilos, um verdadeiro caos que, no
final, ficou absolutamente harmonioso. E embora não planejou nada,
cada uma das mesas terminou com uma característica temática única.
Saber agora que ele não era o único que conseguia observar isso era
um alívio do caralho.

— Jasper. — Murmurou Rita, saindo de seus braços a fim de


correr os dedos sobre o encosto de uma das cadeiras. — Por que você
me deixou pensar... disse-me que iria apenas abrir uma porta e ver o
que acontecia?

— Não foi bem uma mentira. Daqui dois dias iremos inaugurar. —
Ele comentou encostado na parede de braços cruzados — E então, a
cidade que vai decidir.

181
— Como sempre é o caso para todo e qualquer restaurante. — Ela
acrescentou, examinando o lustre feito de chifre falso de veado —
Quanto tempo você gastou para arrumar todas essas coisas?

O fator tempo nunca lhe preocupou porque seu prédio sempre


esteve assim, vago e vazio. No entanto, como desejava que ela
continuasse admirando tudo ao redor e se mantivesse interessada na
conversa, ele bem que poderia habituar-se a isso. Refletiu sobre tudo e
respondeu:

— Incluindo o tempo para a construção, acho que foram


aproximadamente dezoito meses. Eu costumava dirigir até Santa Fé20
durante a semana e trazer as peças que gostava, também participar de
leilões. — Então, com um aceno indicando a parte de trás, ele a
informou. — A cozinha é nessa direção se estiver interessada.

Embora apenas pudesse observá-la de perfil, foi impossível não


perceber a vívida curiosidade nos olhos dela, ainda que a postura fosse
um tanto quanto tensa.

— Sim. Estou interessada... em um minuto. — De repente, o som


alto de gargalhadas, proveniente do bar, atravessou a parede e se
espalhou pelo ambiente íntimo do restaurante fazendo com que Rita
contraísse os lábios. — Bastante inteligente ter entradas separadas.
Você vai servir refeições no Liquor Hole também?

— Não. Apenas aqui.

Ela concordou e prosseguiu com sua minuciosa análise.

20 É a capital do estado americano do Novo México e sede do Condado de Santa Fé.

182
— Simplesmente não posso acreditar que isso tudo está aqui
intacto e imaculado como um tesouro enterrado.

Uma forte emoção atingiu o peito de Jasper, fazendo-o anunciar.

— É isso! Esse é o nome.

— Qual?

— Buried Treasure. — Ele explicou e repetiu baixinho mais


algumas vezes, afastando-se da parede. — Você sabe, todas essas
bugigangas e antiguidades... o lixo de um homem...

—... é o tesouro de outro homem. Uau! Encaixa perfeitamente. —


Ela completou, encarando-o.

Permaneceram assim, olhos nos olhos, imóveis e em silêncio por


um tempo bastante prolongado, até que ela, saindo do estupor, desceu
o olhar e comentou.

— Você é quem deveria escolher o nome. Esse é seu lugar.

Sim. Mas talvez, ele estivesse esperando que Rita entrasse por
aquelas portas, fizesse comentários e transformasse a coisa toda em
algo real, concreto e viável. Apenas assim tudo deixaria de ser um mero
projeto para se tornar efetivamente em algo possível. Talvez isso, —
esse momento — não fosse para ser apenas dele, afinal não tinha
adiado as coisas mais de uma vez?

Porque no fundo, ele sentia que faltava algo ou alguém. Mas sabia
que Rita não estava preparada para ouvir isso agora. Aparentemente,
eles haviam se aproximado o bastante para que ela confiasse alguns

183
detalhes íntimos sobre sua vida, mas não tanto ao ponto de poder
inclui-lo nesses planos.

Após afastar o olhar, Rita se dirigiu para a cozinha acompanhada


por Jasper que, minutos depois, a encontrou experimentando botões e
mais botões das muitas parafernálias de aço inoxidável que ocupavam
o espaço. Em seguida, ela passeou o olhar ao longo dos diversos
utensílios pendurados acima da estação de trabalho, acenando em
sinal de aprovação.

— Quem vai cozinhar aqui?

— O único cara dessa cidade com uma experiência decente. — Ele


respondeu, indo se juntar a ela perto dos fogões, mas mal tinha se
aproximado e ela já seguia em direção às áreas de armazenamento,
despensas e continuou seguindo. — Ele trabalhou em um hotel em
Gallup 21 e se aposentou há alguns anos, vai me dar uma força na
gerência enquanto treina algum dos caras da região para,
eventualmente, assumir.

Rita assentiu e então estava se deslocando novamente. Desde que


Jasper acendeu as luzes no restaurante, parecia que estavam numa
espécie de dança que, para sua infelicidade, a colocava fora de alcance.
Porque não era sobre ele. Algo sobre o restaurante parecia ter deixado
ela assim, distante.

21 Cidade no Condado de McKinley no estado do Novo México.

184
Ansioso por presenciar a reação dela a cada pequena coisa,
esbarrou nela assim que saiu do frigorífico, notando que sua expressão
era uma mescla de comedida excitação e apreensão.

— Você não errou em absolutamente nada. — Murmurou — Tudo


está onde deveria estar: funcional, prático e sensato. Há espaço para
se movimentar, para respirar. Muita ventilação. Quem vier trabalhar
nessa cozinha terá muita sorte.

— Fico feliz em ouvir isso.

Balançando a cabeça, Rita gracejou melancólica.

— Jasper, como não pode ver que esse lugar é extraordinário?

Aproximando-se de Rita, aliviado que ela não se afastou,


perguntou.

— Ei, por que estou sentindo certa tristeza em você em relação a


isso?

— Por que eu iria ficar triste? — Exclamou, desviando os olhos —


Não sei. Talvez isso aconteça sempre que estou numa cozinha.

Ah, linda.

— Fale-me sobre isso.

— Prefiro não falar. — Ambos sabiam que a expressão serena dela


era apenas fachada. — Estou bem.

Ele estendeu a mão e passou nos cabelos dela, puxando-a contra


si, anulando toda e qualquer distância entre eles.

185
— Que tal eu beijar esse “estou bem” até ele sair de você?

Respirando fundo, ela murmurou.

— Ok. Eu posso dar conta disso.

Era um risco, sem dúvida. Beijar Rita assim no escuro, quando


estavam isolados e longe de interrupções. Seus lábios ainda nem
haviam alcançado os dela e ele já conseguia provar o gosto de vinho
naquela boca deliciosa. Mulher. Rita. Era nítida a emoção que fluía pela
garganta dela, quando roçou-lhe a boca, tanto quanto era evidente a
impaciência daquelas mãozinhas torcendo o cós do seu jeans, como se
tão leve contato pudesse fazê-la adentrar por ali. Isso apenas deixava
tudo quase doloroso. Beijá-la devagar, era quase impossível se refrear.

Ele apertou seus lábios nos dela, abrindo-os apenas o suficiente


para descansar sua língua sobre o lábio inferior dela. E mesmo assim,
a sentiu estremecer com se tivesse sido atingida por um raio.

E então, subitamente, ela estava chupando sua língua por entre


os lábios, uma leve chupadinha, depois outra e então, realmente o
beijou para valer. O gemido que lhe escapou foi tão alto e poderoso que
ele imaginou se alguém não ouviu do lado de fora, isso porque a música
do bar estava além de ensurdecedora.

Porra, seu pau! Sua porra de pau se lançou para a vida, louco de
tesão. O fodido estirou como se fosse uma âncora sendo içada dentro
de sua calça. Claro que Rita deve ter sentido, pois logo estava gemendo
junto a sua boca enquanto as mãos o tocavam, cada vez mais
insistentes, para dentro de sua calça. Esse não era um daqueles beijos
hesitantes com os quais ele foi contemplado anteriormente. Não! Ele

186
conseguia senti-la tentando se distrair e afastar os fantasmas que
aquela visita a sua cozinha trouxe à vida.

— Rita, linda... vamos parar e tomar um fôlego...

— Por favor. — Ela balbuciou, com os olhos castanhos dourados


focados em sua boca como se essa fosse a última refeição. — Você não
precisa que eu te ajude nessa parte?

— Sim. — Ele falou com voz rouca. — E é por isso que estou
tentando ir com calma.

— Ah... mas que porra é essa? Eu não aguento mais seus enigmas.
Olha, não sou experiente para jogar... qualquer que seja o jogo. — Ela
disse perturbada e se afastando dele, caminhou em direção à saída,
arrumando os cabelos.

Irritado, ele socou o metal da prateleira. Porra! Tudo o que ele


queria era ceder... desejava arrastá-la de volta para o salão e dar origem
a sua primeira lembrança para o resto da vida. Uma que nenhum dos
dois jamais conseguiria esquecer. Se tão somente ela não o tivesse
rejeitado após terem se beijado ou se ele não estivesse tão concentrado
em realmente conhecê-la essa noite... talvez esse tivesse sido o tempo
deles. O tempo certo deles e para eles...

Acontece que isso também significaria vendê-los por muito, muito


pouco. Eu posso conseguir mais. Vou criar mais tempo de alguma forma,
de algum jeito. Farei o que for preciso, não importava o que.

— Espere. Vou te levar de volta.

187
Ela sumiu cozinha afora, o som das botas ecoando pelo chão da
área do restaurante rumo à entrada, de onde se fez escutar.

— Não precisa.

Droga. Ele pensou, percebendo o tom ressentido contido naquelas


palavras.

— Rita. — Chamou ela, correndo atrás. Felizmente, ele a alcançou


pouco antes que abrisse a porta e a trouxe para junto de si. — Não vá
embora assim, Rita. Prefiro que enfie uma estaca no meu peito do que
permitir que você parta com uma confusão desse tipo nessa sua
cabecinha.

A risada que ela deu estava totalmente desprovida de humor.

— E o que isso importa para você? O que quer de mim?

Tudo. Essa conexão harmoniosa que percebia junto dela não era
mais apenas uma sensação a ser testada. Era algo maior. Podia sentir.

— Tempo. Eu preciso de mais tempo com você, Rita.

— Não existe tempo. Jamais haverá tempo! — Ela respondeu,


tentando se afastar sem sucesso porque ele a segurava firmemente.
Após alguns minutos, parou e respirando fundo, disse. — Porra, eu sei
que é uma coisa puramente machista... mas quer saber, é uma droga,
isso é o que é! Como é que uma mulher pode ser deixada assim cheia
de tesão? Que tipo de jogo é esse? Você está brincando comigo?

188
— Não! — Ele se lamentou sob o ombro dela, sentido suas
entranhas se retraírem — Claro que não, linda. Eu não faria isso. Será
que não consegue perceber o tanto quero estar dentro de você?

— Isso apenas me confunde mais.

— Ok... — Talvez para tornar possível que eles tivessem mais


tempo, faze-la inclusive desejar passar mais tempo com ele, precisaria
dar o primeiro passo, dar seu salto de fé. Será que conseguiria fazer
isso sem empurrá-la ainda mais longe? Será que não se converteria
numa piada para ela também? — Pode me ouvir por alguns minutos?

Seu tom de voz deve ter sido um tanto quanto preocupante, já que
ela gradualmente relaxou, conforme se virava de frente para ele. Então,
dando indicação de que o ouviria, Rita se esquivou e sentou em uma
das cadeiras. Num segundo ele já memorizava qual delas.

Demorou alguns instantes para que ele reunisse coerentemente


todos os detalhes em sua cabeça. Ele jamais contou o incidente a
ninguém. E agora, mesmo ciente de que era tempo de compartilhar com
alguém, ainda assim, sentia o amargor corroer suas entranhas. Enfim,
respirando fundo, começou.

— Certa noite, há alguns anos atrás, eu estava absurdamente


chapado. Não que isso fosse novidade para mim, afinal provavelmente
passava mais tempo bêbado do que sóbrio... —Pausando, ele fitou a
parede entre o restaurante e o bar, antes de prosseguir. — Enfim,
naquela noite acabei dormindo no escritório. Na manhã seguinte, ao
acordar, saí para o bar a fim de tomar um copo de água. Acontece que
o salão foi reservado para um evento qualquer e então, por todo o lado

189
se espalhavam essas mulheres que ouviam Norah Jones22 e devoravam
esses sanduíches de metro. Naquela época, eu não agendava ou fazia
reservas para isso. Apenas deixava as coisas rolarem, o lugar meio que
caminhava sozinho... tenho para mim que muito provavelmente um dos
atendentes apenas resolveu por si só alugar o bar para uma festa.

Quando ele a olhou para se certificar de que ainda o ouvia,


percebeu que ela fazia com muito interesse.

— Era um chá de cozinha que virou uma despedida de solteira. E


elas estavam... bem, elas estavam comentando sobre mim. — Disse ele,
limpando a garganta. — Estavam me avaliando e atribuindo notas. Se
divertindo com o fato de eu estar sempre disponível para uma
rapidinha, mas bem, e aqui eu faço uma das citações literais: “é óbvio
que sendo dono de um buraco de merda como esse bar não se pode
esperar algo muito melhor do que isso”.

— Jasper...

— A noiva, então, rindo muito, perguntou se eu seria um


entretenimento a ser remunerado...

Pensando bem, relatar agora a tal história nem mais o machucava


porque, no fundo, o que ele ainda guardava na memória eram a frieza
contida nos comentários e a verdade nua e crua descoberta. Realmente
nunca esteve em um relacionamento sério com nenhuma das mulheres
com quem ficou. Mas a revelação de que todo mundo pensava nele
apenas como um garanhão, alguém apenas para o sexo divertido e
casual, acabou por obrigá-lo a olhar para trás. E então, teve que se

22 Pianista, compositora e cantora americana de jazz, blues e folk.

190
conscientizar dos seus muitos encontros confusos e vazios, após os
quais, sempre acordava sozinho. Ou ainda, das muitas experiências e
tentativas que sempre acabavam antes mesmo de começarem. Das
trepadas rápidas sempre acompanhadas do famoso “Depressa, antes
que alguém nos encontre”. Ou “mais rápido, eu tenho um compromisso”.

— Depois disso parei de ficar bêbado. Retrocedi e me resguardei


um pouco. — Jasper concluiu, passando a mão pelo rosto. — Meus
clientes, caramba, meus próprios funcionários não podiam ter uma
conversa séria comigo. Eu era o cara fanfarrão e divertido, o bom
vivant. E certamente, não havia como eles me respeitarem. — Ele a
fitou por um momento, se lembrando das minissaias na pista de dança.
— Você pode constatar isso ontem à noite. E olha que houve uma
grande melhora.

Rita se levantou, alisou a saia e se aproximando dele, parou,


parecendo escolher com cautela o que dizer. E porra, ela ficava
deslumbrante assim sob a meia luz, no meio do seu restaurante,
cercada por todos aqueles objetos em tom de madeira! Se ele não fosse
um homem com um mínimo de sensatez e equilíbrio, já a teria prensado
sobre uma das estações, proibindo-a de escapar.

— Todo mundo faz coisas das quais se arrepende. Acredite em


mim, eu sei muito sobre isso. Um dia você deveria fazer uma pesquisa
sobre mim no Google. — Ela suspirou. — Essas mulheres, hoje, devem
se arrepender por não ter te conhecido melhor. E sim, será respeitado
por ter criado um lugar como esse. Tenho certeza que será. — Um
sorriso triste aflorou em seu rosto, ao acrescentar. — Você já tinha o
meu antes mesmo de abrir a porta.

191
Ao invés de se sentir realizado por ter conquistado a admiração
dela, um buraco negro se formou em seu interior e foi se ampliando e
ampliando.

— Por que eu ouço um mas em tudo isso?

— Porque estamos em um impasse, Jasper. Vou embora amanhã.


— Ela explicou, dando um passo para trás, que quase o fez cambalear
— Até entendo que precise que uma mulher lhe ofereça mais agora...

— Está errada. Errada, Rita. Preciso apenas de você.

— Não posso oferecer o que não posso dar. — Ela exclamou,


olhando para a porta. — Essa viagem é importante para mim e para
minha família. Acho que talvez haja alguma coisa para nós no final da
jornada. Minha mãe nunca fez nada sem uma razão e é por isso que
estamos respeitando seu último desejo. Tempo é algo que não posso
lhe oferecer. Há... a escola e a necessidade de eu encontrar um novo
emprego. Um trabalho que não envolva uma cozinha. E estou fugindo
de um restaurante enquanto você está abrindo um. — Ela piscou como
se, de repente, tudo entrasse em foco. — Então acho que, talvez...

— Não diga isso. — Jasper pediu.

— Isso é um adeus.

E assim sendo, com um sorriso triste, ela se virou pronta para


sair. Contudo, ao ouvir um baque acompanhado de uma gritaria,
advindo do bar adjacente, Rita enrijeceu.

192
Jasper não pode reconhecer as vozes, mas Rita aparentemente
sim, porque, sem demora, ela começou a correr em direção ao Liquor
Hole. Com Jasper imediatamente atrás dela.

193
CAPÍTULO DEZENOVE
O coração de Rita bateu forte em seu peito como um tênis dentro
de uma máquina de lavar. Era a voz raivosa de Belmont que ela ouviu,
seguida pela de Aaron. Cristo, em uma briga. Se a frustração sexual
reprimida, seguida por um balanço robusto de pesar e tristeza, cortesia
de Jasper Ellis, não a matasse, o choque de ver seus irmãos brigando
no Liquor Hole poderia.

De pé na entrada por alguns minutos e algumas batidas


ofegantes, Rita não conseguia se mover. Desde que Belmont
desapareceu durante quatro dias aos dez anos, a relação de Belmont e
Aaron foi afetada. Belmont se fechou, especialmente em relação ao seu
irmão mais novo, a quem ele foi uma vez mais próximo. Mas eles nunca
discutiram ativamente como adultos, além dos furtos sarcásticos
ocasionais de um para o outro. Eram um par na família Clarkson. O
comportamento que eles estavam exibindo agora era completamente
fora do comum, mas após uma verificação rápida do bar, Rita tinha
uma teoria quanto ao que poderia ter sido a causa.

Peggy e Sage estavam na parte de trás da multidão extasiada que


formava um semicírculo ao redor da pista de dança. Sage torcia suas
mãos, enquanto Peggy a consolava com pancadinhas distraídas no
ombro, olhando ainda mais chocada do que Rita se sentia.

“The Devil Went Down to Georgia” estava tocando, tornando a luta


algo parecido como saído de um filme de televisão a cabo de merda.
Rita estremeceu quando Aaron acertou um gancho de direita, jogando
a cabeça de Belmont para o lado. Porra. Ela não sabia que Aaron era

194
capaz de dar um golpe como esse. Que cacete seu irmão mais velho
fazia para permanecer de pé? Belmont parecia quase feliz quando o
sangue jorrou em seu lábio inferior.

Jasper colocou a mão na cintura de Rita, plantando um beijo em


seu pescoço.

— Garotos serão sempre garotos, hein?

— Não, isso não é nada como eles. Eu acho. — Sua garganta ficou
apertada. — Não tenho certeza se conheço qualquer um deles tão bem
como deveria. Eu sei que não conheço.

A mão de Jasper acariciou o lado de seu rosto.

— Eu cuidarei disso.

— Não, sou responsável por eles.

— Se acha que deixaria você ficar entre dois homens com punhos
voadores, linda, está louca.

Antes que ela pudesse responder, Jasper passou pela multidão,


todos coletivamente decepcionados que o patrão chegou para colocar
fim a diversão. Será que Jasper notou essa reação? Será que ele não
via a prova de que já era respeitado?

— Tudo bem, senhores. Esse lugar é bagunçado o suficiente sem


vocês o bagunçando ainda mais. Não quebrem meu bar.

Belmont e Aaron continuaram seu concurso de encarar à morte


como se não tivessem ouvido Jasper. Era óbvio que os irmãos não
tinham colocado a agressão fora de seus sistemas e pouco antes de
195
Jasper seguir até eles, Belmont girou sobre Aaron, conectando com o
queixo para uma sinfonia de quebra osso. Um objeto branco voou pelo
ar, a multidão se separou para lhe dar um lugar para aterrissar. O
objeto rolou até os pés de Rita. Um dente. Não apenas qualquer dente,
embora. Um dente de Aaron.

— Seu filho da puta. — Aaron se lançou para Belmont, mas Jasper


e o bartender conseguiram separar.

Rita pegou o dente, que antes compunha o conjunto sorriso de


ouro de Aaron, o sorriso crescente da estrela política. Ela finalmente
conseguiu mover seus pés, juntando-se a Peggy e Sage do outro lado
do bar e ainda segurando o dente.

— O que aconteceu? — Ela gritou, porque tinham acabado de


entrar no solo do violino maldito de “The Devil Went Down to Georgia”.

— É minha culpa. — Disse Sage. — Eu não deveria ter vindo.

Peggy balançou a cabeça, os cachos saltando.

— Não, não é sua culpa. E você deveria estar aqui. Tanto quanto
qualquer um de nós. — Ela suspirou quando Rita fez um movimento
impaciente para que continuasse. — Aaron colocou o braço em volta
dos ombros de Sage e Bel não gostou.

Rita esperou por sua irmã para continuar, mas foi recebida
apenas com o silêncio.

— É isso aí? É por isso que eles estão lutando?

196
— Pequenas coisas para outras pessoas são apenas... maiores
para Belmont. — Disse Sage, acertando Rita com graves olhos
castanhos esverdeados antes que olhasse de volta para Belmont. — Eu
vou falar com ele.

— Eu não acho que seja uma boa...

O aviso de Rita ficou suspenso no ar quando Sage cruzou a pista


de dança, se plantando bem na frente de Belmont. Do ponto de vista
de Rita, Sage parecia um cordeiro enfrentando um gigante. Os grandes
ombros de Belmont ainda subiam e desciam, seu maxilar estava tenso,
o sangue aparecendo em sua face direita. Mas ele não prestava atenção
em Aaron, que estava lentamente conversando com Jasper.

Sobre o ombro de Aaron, Rita trocou olhares com Jasper em


confronto e ela jurou que eles estavam se comunicando sem palavras.
No mínimo, a mensagem de Jasper veio alta e clara.

Não se atreva a deixar esse bar.

Ao lado de Rita, Peggy assobiou por entre os dentes.

— Muita testosterona flutuando nesse lugar. Vamos pedir um


cosmopolitan, antes que comece a crescer cabelo em nossos peitos.

Rita balançou a cabeça.

— Não posso. Estou segurando o dente ensanguentado de Aaron.

— Não posso discutir com essa desculpa. — Peggy observou o


objeto em questão. — Bruto. Eu vou beber seu cosmo por você.

197
— Você é uma santa. — Rita murmurou, indo em direção a Jasper
e Aaron.

No caminho, ela não pode deixar de observar Belmont e Sage. Eles


não estavam falando um com o outro, mas Belmont parecia estar se
aproximando, pouco a pouco, forçando Sage a levantar a cabeça para
trás. E então ele fez algo que Rita não esperava. Deixou cair o queixo
sobre a cabeça de Sage e quase a abraçou. Seus braços permaneceram
em linha reta em seus lados, mas ambos os conjuntos de seus lábios
entreabertos, arrastando em oxigênio. Era um momento tão íntimo que
Rita teve que desviar o olhar.

Ela se esgueirou ao lado de Aaron.

— Eu sou a guardiã do dente perdido.

Aaron arrancou o dente da palma da mão de Rita, sua risada sem


qualquer forma de humor.

— De jeito nenhum eu posso aparecer em Iowa faltando um dente.


Isso é fodido.

— Sim. É.

Desde que ela mal falou com seu irmão mais novo desde a sua
briga na estrada, principalmente devido à irritação de si mesma por
deixar ele afetar ela, exibir qualquer tipo de simpatia parecia
antinatural. Oh, a quem estava enganando? Isso teria sido antinatural
sob quaisquer circunstâncias. Eles podiam muito bem serem primos
distantes.

198
— Aposto que você amou isso, não é? — Perguntou Aaron,
cutucando o espaço vago em sua boca. — Seu irmão idiota finalmente
está conseguindo o que estava destinado para ele, certo?

Sabendo que Jasper podia ouvir cada palavra, Rita falou em um


tom abafado.

— Você incitou Bel.

— Certo. — Aaron retirou o sangue que começava a sair de seu


nariz. — Sim, eu o incitei. Então, o que, Rita? Pelo menos tive uma
reação dele. Isso é mais do que ele falou para mim em vinte anos.

Um nó apertou o estômago de Rita. Se lembrou da mudança


radical no relacionamento de seus irmãos quando Belmont chegou em
casa após o incidente. Lembrou de Aaron tentando retomar suas
palhaçadas habituais e se fechando, assim como todos eles fizeram.
Talvez, similar ao funeral, eles lidaram separadamente, não tomando o
tempo para compreender os métodos de cada um.

— Eu não percebi que isso estava te incomodando.

— Que meu irmão não conversa comigo? — Ele usou a barra de


sua camisa para limpar o suor da testa. — Sim. Não posso imaginar
por que iria me incomodar por isso.

Vendo Aaron através de uma nova perspectiva, apesar de seu


sempre útil sarcasmo, Rita franziu a testa.

— Aaron, eu...

199
— Jasper. — Aaron disse, cortando ela. — Preciso de um dentista.
Conhece alguém que possa trabalhar rápido? Preciso dele para ontem.

— Agora isso será um problema. — Jasper falou pausadamente.

Pela primeira vez, Rita percebeu que Jasper estava olhando para
ela com preocupação.

— Por quê? — Ela perguntou. — Tem que haver alguém no local.

— Oh, há sim. — Jasper acenou para alguém sobre o ombro de


Rita. — Mas ele está meio bêbado no bar.

— Porra. — Aaron abaixou a cabeça nas mãos. — Eu nunca


deveria ter saído da Califórnia.

A culpa seria aparentemente o quarto laço em sua montanha


russa emocional essa noite. Ela foi a única a pressionar a ideia da
viagem pela estrada e todo mundo estava pagando o preço por sua
decisão impulsiva. Seu relacionamento com Aaron era controverso na
melhor das hipóteses, mas perder a oportunidade em Iowa seria ruim
para sua carreira. Era sua responsabilidade corrigir a situação, mesmo
se a palavra responsabilidade fizesse suas guelras ficarem verdes.

— Hum, ok. Jasper, precisamos guardar esse dente em um copo


de leite. Acho que o mantém... fresco, para que possa ser...reinstalado.

Ela ficou grata quando Jasper acenou com a cabeça, sem dar seu
pesar sobre a sua falta de linguagem dental.

— E então nós precisamos deixar o dentista sóbrio.

Jasper olhou para o relógio.


200
— Pode levar até amanhã. — Seu rosto fez uma careta como se ele
estivesse tentando subjugar um sorriso. — E depois há a cirurgia, a
recuperação...

Aaron se moveu.

— Onde você está querendo chegar?

— Sei o que ele está tentando dizer. — Rita não podia ignorar as
asas batendo no peito, especialmente quando a boca de Jasper
finalmente se abriu em um sorriso. — Temos que ficar mais um dia em
Hurley.

201
CAPÍTULO VINTE
Ora, ora... se ele não era um filho da puta de sorte.

Se isso não era um sinal, Jasper não saberia dizer como seria um.
Rita estivera prestes a lhe dar um beijo de adeus e então, a divina
providência apareceu como um fodido super-herói. Portanto,
atualizando sua lista de pessoas favoritas, Aaron e Belmont passaram
a ocupar o terceiro e quarto lugares, atrás apenas de Rita e Rosemary.
E mais, se durante o retorno ao hotel Hurley Arms, eles não estivessem
enroscado-se como duas cascavéis, ainda que Jasper caminhasse entre
eles, certamente, ele os teria reunido para um caloroso abraço grupal
e que se fodessem as aparências afeminadas...

Ele nem sequer se irritou com o fato de Rita ficar insistindo que
os Clarkson não precisavam de escolta, porque, no fim, conseguiu mais
algum tempo junto a ela. Bem, na verdade, alguém ou algo lhe
conseguiu isso. Não que, no momento, ele se importasse com os
detalhes. Mas de jeito algum permitiria que três mulheres sozinhas
lidassem com um eventual segundo round entre os dois irmãos. Ele,
muito menos, deixaria de aproveitar a chance de estar mais tempo com
Rita. O que foi mesmo que ela perguntou na cozinha? “Você não me
deseja?” E porra, se isso não entrou debaixo de sua pele tal qual o
esquilo do Caddyshack23.

23 Comédia sobre golfe com Bill Murray e Chevy Chase lançada em 1980. O personagem de Murray combatia
um esquilo aloprado que vivia fazendo buracos por toda a área do campo. No Brasil, o título do filme é Clube
dos Pilantras.

202
Os dois iriam esclarecer essa coisa de querer o mais rápido
possível, supondo é claro, que conseguisse ficar a sós com ela por
alguns instantes. Se bem que, a julgar pelo ar de cumplicidade de
Peggy, talvez ele já tivesse uma aliada.

Ao chegarem ao hotel, Belmont seguiu direto para o


estacionamento e Aaron, após observá-lo por alguns momentos, se
dirigiu para o quarto, batendo a porta com um estrondo.

Peggy então, enganchou um braço no de Sage e a guiou através


da ala dos quartos em direção ao final do corredor, comentando.

— Vamos, amiguinha... vamos fazer uma festa do pijama no seu


quarto.

— E-espera... — Rita gritou. — Vamos fazer no nosso quarto!

— Não posso ouvi-la... o que? Sua voz está sumindo... — A irmã


disse, imitando com a mão o chiando da rádio imaginária fora do ar. —
Tente mais tarde.

— Inacreditável. — Rita murmurou e marchando para o próprio


quarto, colocou a chave na fechadura. — Estou voltando a imaginar
que sou adotada.

Rita entrou resmungando e Jasper mal conseguiu avançar atrás


antes que ela fechasse a porta.

— Sabe aquela fantasia maravilhosa na qual uma estrela do rock


e uma supermodelo, num belo dia, aparecem para reivindicá-la como
sua filha perdida há muito tempo?

203
Ele sorriu e acendendo a luz, examinou o quarto enquanto
acrescentava.

— Eu tive esse sonho também. O casal Mick Jagger & Jerry Hall24
eram o meu favorito.

Ele sequer notou que deixou escapar uma informação pessoal,


tamanha era a atenção que estava dando aos pertences dela: chinelos
no canto e enormes fones de ouvido contra ruído sobre o criado-mudo
e...

Não obstante, se obrigou a repensar seu comentário anterior ao


se deparar com a expressão cautelosamente curiosa dela.

— Acabo de perceber que eu nunca perguntei sobre seus pais...


foram seus avós que te criaram?

— Sim. — Respondeu ele, aproximando um vidro de loção junto


ao nariz para cheirar. Aroma de floresta no inverno. — Meus pais eram
realmente muito jovens quando eu nasci e por um tempo, eles até
tentaram fazer as coisas funcionarem, mas não rolou e então, seguiram
caminhos diferentes. — Relatou, pensando que embora essa mágoa
ainda existisse dentro dele, há muito que não sentia qualquer dor.
Inclusive, já nem se lembrava mais se ele retratava os pais dessa forma
simpática: dois adolescentes atrelados por uma circunstância adversa
e forçados à vida conjunta até que não pudessem mais, porque
realmente era essa a verdade ou se apenas a adotou como uma
realidade de tanto difundir essa ideia. Pensar e falar sobre os pais era

24 O vocalista do Rolling Stones e a top model se casaram em 1990 e se divorciaram em 1999, quando está
descobriu que o cantor teve um caso com a brasileira Luciana Gimenez, que deu à luz a Lucas.

204
como uma espécie de calo, que se formou ao longo dos anos e estava
esquecido, até que alguém pisava nele e começava a doer. — Minha
mãe está bem e vive no Texas. Meu pai? Não sei...

Jasper observou os olhos de Rita enquanto aparentava absorver


suas palavras. Mas em seguida, balançando a cabeça, ela disse.

— Nós também não falamos com nosso pai. Lawrence. Engraçado


que o chamamos assim desde que éramos crianças... — Ela pausou,
esfregando as palmas das mãos sobre as coxas, antes de continuar. —
Ele se separou de Miriam depois que Peggy nasceu e a partir daí,
costumava aparecer a cada duas semanas para nos levar a um
restaurante chamado... — Ela franziu a testa, refletindo. — Pizza Place.
Sim, é isso. Então dava a cada um de nós cinco dólares para jogarmos
fliperama e após gastarmos tudo nos levava de volta para casa. Um dia
ele simplesmente parou de vir. Nenhum de nós jamais questionou o
porquê, nem falou sobre ele.

— Por que razão acha que vocês nunca tocaram no assunto?

Ela se sentou na cama e encolheu os ombros.

— Provavelmente porque teríamos que avaliar o que e como nos


sentíamos.

Ele fez um enorme esforço para não reagir exageradamente aquela


afirmação, que caiu em seu estômago como uma bomba e o fez refletir
sobre seu desejo de conhecer os sentimentos dela em relação a ele e
que isso não seria somente um sonho inatingível. No entanto, ao invés
de se manifestar em voz alta, caminhou pelo quarto e notando alguns
documentos com emblema em vermelho sob os fones de ouvido,

205
perguntou se podia olhá-los. A resposta fria dela não foi suficiente para
impedir que sua curiosidade o impelisse a pegá-los.

— Baruch College Comunicação Gráfica25.

— Apenas até eu me decidir por algo mais específico. — Ela o


espreitou rapidamente por sobre os ombros, antes de prosseguir. —
Portanto Jasper, como pode ver não é porque temos mais um dia que...

Essa foi a deixa para que ele se movesse e deixando a carta de


aceitação escolar onde estava, ficou na frente dela.

— Sim, eu ouvi. Você está indo embora. Mas preciso consertar


uma coisa agora! — Disse ele e agarrando-a pelos cabelos, enrolou um
punhado ao redor do pulso até que seus olhos estivessem no mesmo
nível de seu pau, exatamente na posição que ele precisaria dela em um
minuto. Mas naquele momento obrigou-se a fazê-la erguer a cabeça
para que pudesse encará-lo e disse. — Você não precisa de mim de
volta? Realmente me perguntou isso, Rita?

Entre os dentes apertados, ela sussurrou:

— Difícil dizer....

— Sério? Você quer uma resposta direta, Rita? Quer? — Ele a


desafiou, abrindo a calça com uma mão enquanto a outra a mantinha
presa pelos cabelos.

Concordou devagar com a cabeça por causa do aperto que ele


segurava seus cachos, muito embora, o rubor que lhe tingia as

25 Famosa Universidade em Nova Iorque fundada em 1919.

206
bochechas, bem como o entreabrir dos lábios já o informaram da
resposta antes mesmo que ela se expressasse.

Constrangedoramente, seu pau se ergueu quase que todo duro e


inchado, prontamente ele puxou para fora do jeans. Um gemido
atormentado lhe escapou fazendo com que ela, imediatamente se
endireitasse na cama e cravasse os olhos no membro dolorido que saia
de sua cueca. E porra, se a reação estarrecida dela não fez brilhar um
pouco mais de sêmen na cabeça de seu pau...

— Ainda é difícil dizer se quero te foder, Rita?

— Não. — Ela exalou.

— Não, não é. — Jasper completou asperamente. — É evidente,


eu quero te despir e foder. Quero tanto te foder e tão forte que você
estará completamente arruinada, gemendo no meio de uma confusão
de lençóis suados. Vou te comer de um jeito que vai perder o rumo,
sem ser capaz de uma segunda rodada e levará mais de uma semana
para se recuperar. Consegue perceber isso?

— Sim.

— Ótimo, linda. Parece que estamos em sintonia, falando a mesma


linguagem.

Certamente ele iria morrer ao enfiar o pau duro como uma pedra
dentro da calça. Contudo, ainda que murmurando e gemendo, realizou
tal façanha. Enquanto isso, uma Rita imóvel à beira da cama o
observava absolutamente boquiaberta, fato esse que igualmente o
indignou e encantou.

207
Essa noite, eles aprenderam um sobre o outro, embora ele tivesse
a impressão de que todos seus progressos houvessem sido ofuscados
por sua atitude audaciosa. Então, era melhor firmar rápido um
encontro antes que ela tivesse tempo para se perguntar por que porra
o deixou entrar em seu quarto.

Com uma careta, Jasper se agachou e lhe deu um beijo na boca


para, em seguida, intimá-la.

— Te verei amanhã, Rita. Se é você que vai me encontrar onde eu


estiver ou se virei até aqui, é você quem decide, linda. — Outro beijo...
mais lento, mais úmido, um daqueles que o fazia refletir se ela
desabotoaria sua calça e beijaria seu pau dessa mesma maneira caso
ele permanecesse parado diante dela. Essa é a sua deixa para cair fora.
— Terá que ser bem cedo, independentemente, se sou eu quem vem ou
se você quem irá. — Reiterou ele, apertando sua visível ereção. — Em
ambos os casos, ainda terei essa necessidade indecente e suja de gozar
por sua causa.

Ele a deixou oscilando sobre a cama, torcendo para não estar


brincando demais com sua sorte.

208
CAPÍTULO VINTE E UM
— Então, você é organizadora de casamentos, hein... isso deve ser
gratificante.

Rita tomou um bom gole de café fervendo, sem se preocupar com


o ardor que lhe queimou a língua. Talvez isso fosse o suficiente para
impedi-la de ficar tentando puxar conversar com Sage usando assuntos
tão enfadonhos. Não que a mulher dos olhos de Belmont aparentasse
estar se incomodando muito, enquanto faziam o trajeto de volta para o
hotel por aquela estrada mais do que poeirenta.

Madrugadoras e cheias de energia, ambas haviam se encontrado


ao saírem de seus respectivos quartos em busca dos efeitos da
verdadeira cafeína, enjoadas que estavam do líquido sujo e
descafeinado servido pelo hotel. Claro que seu irmão, como se tivesse
uma espécie de Bat Radar grudado em Sage, apareceu de lugar
nenhum, se juntando a elas. Em silêncio, os olhos cravados na garota,
ele se aventurou por aquela via que parecia nunca ter fim, também em
busca do estimulante milagroso.

Nenhuma delas proferiu qualquer comentário sobre a presença


dele. Apenas trocaram um discreto sorriso de mútuo entendimento ou
talvez, incompreensão, pois sabiam que nunca chegariam a decifrá-lo
realmente. O que lhes parecia absolutamente normal.

Após algum tempo, Sage murmurou com um sorriso.

— Gratificante é uma maneira perfeita de descrever! — O sol


nascente, ao fundo, parecia formar uma auréola sobre a cabeça dela e

209
Rita, cujos músculos e nervos se encontravam para lá de doloridos
depois de tão árdua caminhada, imediatamente relaxou. O sorriso e a
imagem angelicais da garota pareciam ter o poder de afugentar
tormentos e angústia, pensou ao escutar uma sonhadora Sage
prosseguir. — Quando o casal entra numa limusine ou carruagem, com
todo mundo celebrando. Ah, isso faz você acreditar em contos de fadas,
sabe?

— Uh... Claro! — Respondeu Rita, provocando uma risada


cristalina por parte de Sage.

Rita não soube o que a impeliu a espreitar Belmont por sobre o


ombro, porém, assim que fez, ele estancou e demorou um tempo antes
de retomar o trajeto.

— Você já teve algum pedido com uma temática estranha? Sei lá,
algo bizarro como alguém que quisesse um casamento ao estilo
RoboCop26 ou gatos espaciais que usam laser?

— Ainda não. — Disse Sage, após bebericar seu café. — Mas eu já


realizei dezessete casamentos baseados no filme Star Wars, três da
Cinderela e um tendo como tema a Família Sol-Lá-Si-Dó27. — Disse,
explicando o último mencionado. — Eram duas pessoas divorciadas
com três filhos cada uma, que haviam se conhecido e queriam casar.
Foi bastante divertido. A dama de honra estava vestida tal qual Alice.

26 Filme de ficção científica de 1987, que conta a história de um policial brutalmente assassinado por um
grupo de criminosos e, posteriormente, revivido como um ciborg.
27 Sitcom americana exibida de 1969 a 1974 que girava em torno de uma grande família com seis filhos.

210
— Não pode ser... será que também jogaram bolas de futebol sobre
os noivos ao invés de grãos de arroz? — Rita gracejou, colocando a mão
livre no bolso.

— Ohh, meu nariz... — Brincou Sage, falando com um som


anasalado igual Marcia Brady 28 . Mas de repente, toda constrangida
olhou para trás e vislumbrando Belmont rapidamente, comentou. —
Eu deveria ter pensado nisso naquela época.

— Não se preocupe, sempre tem a próxima vez. — Rita suspirou.

Passados alguns instantes, Sage afirmou.

— Não haverá uma próxima vez.

— Certo. Acho provavelmente não mesmo...

Avistando o motel mais adiante, Rita apertou os olhos e


concentrou sua atenção para entender porque parecia que havia uma
pessoa andando de um lado a outro, bem de frente à porta de seu
quarto... bem porque tinha mesmo e conforme iam se aproximando,
pela camisa de flanela, ela teve um palpite sobre qual era a identidade
do trotador. Jasper? Elas saíram em busca do café antes que o relógio
batesse oito horas. E agora não poderia ser mais do que quinze para as
nove. Terá que ser bem cedo, independentemente, se sou eu quem vem
ou se você quem irá.

Aparentemente ele não estava brincando. E ironicamente,


também segurava dois copos descartáveis de café. Obviamente, um era

28 Alice é a governanta e Marcia uma das 3 filhas da divorciada Carol Martin que se casou com o viúvo Mike
Brady, pai de 3 meninos.

211
para ela. Se ela tivesse esperado um pouquinho mais não teria andado
tanto. Porra, às vezes, a vida era tão injusta!

Por alguns instantes foi possível para Rita observar o rosto dele,
sem que a visse se aproximar. Parecia irritado. Muito irritado. Parte da
camisa estava fora da calça, os cabelos desalinhados e o corpo para lá
de rígido. Isso fez com que ela acelerasse seus passos rumo ao hotel,
sendo acompanhada pelo som da voz de Sage.

— Rita? — Sage balbuciou, endireitando os ombros assim que


Belmont avançou às suas costas. — Bom. Nem sempre os contos de
fada se tratam de carruagens e afins. Às vezes, eles não têm nada
disso...

Sem palavras e toda sem-graça, Rita apenas gesticulou e seguiu


em frente, aflita, sentindo vontade de correr pela — literalmente —
primeira vez em sua vida. Ela alcançou o estacionamento bem a tempo
de vê-lo arremessar com raiva os cafés na lata de lixo. Isso foi quando
ele a viu.

— Rita?

— Eu... — Desacelerar não diminuiu o ritmo de sua pulsação, já


que era causada muito mais pela expressão angustiada de Jasper do
que a longa caminhada. — Ei... é melhor você ter uma boa desculpa
para ter desperdiçado um dos recursos mais preciosos da Terra.

— Eu pensei que você tivesse partido. Ido embora... — Exalou ele,


apoiando um dos punhos na parede enquanto alisava o rosto com a
outra mão. — Ninguém atendeu a porta e eu... eu... sequer tenho a
porra do número do seu celular. E...é uma droga isso, sabe?

212
Rita sentiu como se suas emoções fossem paredes invisíveis
prestes a esmagá-la. Uma delas lhe enchia de calor e dava a
reconfortante impressão de pertencer, de ser bem-vinda. Aqui estava
um homem que sentiu sua falta. E não é que ela realmente deixaria
uma pequenina marca nesse enorme e vasto lugar? Ainda que fosse
dentro de uma pessoa. Em um homem. Mas, que homem, hein? Tão
grande, tão seguro de si mesmo. Não havia como se esquivar daquela
sua aura de poder e força, porque isso era inegável, ainda que fosse
interessante observá-lo agora assim todo abalado. Pensava ela
enquanto as solas de suas botas cozinhavam sobre o concreto fervente.

A outra parede a lhe pressionar os sentidos se referia à sua recusa


veemente em aceitar aquele medo assustador dele. Um estado deveras
miserável, aliás. Mas percebê-lo assim, afetou seu coração de forma tão
dolorosa que ela instintivamente, se lançou à frente a fim de abraçá-lo,
apesar de seus braços não parecerem ter recebido a mesma ordem.
Contudo, esse fato não a impediu de apertar seu rosto contra o peito
quente dele, nem de ter sua boca próxima daqueles músculos
tensionados.

— Eu só fui tomar café.

— Porra, mulher. Eu... eu já estava te trazendo o café.

— Eu não sabia.

— Certo. Mas você me deu um susto que reduziu o meu tempo de


vida em muito, o mínimo que pode fazer é me acompanhar aonde eu
for, sem resmungar. — Ele disse, envolvendo ela nos braços para
aproximá-la.

213
Imediatamente, uma excitação deliciosamente selvagem ocupou
todo seu ser. Certamente que se arrependeu de uma série de coisas em
sua vida, porém ela se recusava a perder a chance de aproveitar o
pouco tempo que tinha com esse homem. Nesse lugar.

— Vamos.

~*~

Jasper percebeu que ele deveria ser um fenômeno da ciência


moderna, pois seu coração havia se mudado definitivamente para a
garganta. Nervoso, sua pulsação trovejava enquanto seguia em direção
ao passeio. Onde era mesmo que pretendia leva-la? Ah, ok. Na região
plana das montanhas. Certo.

A uns oito quilômetros de Hurley, bem nas proximidades da


cidade, existia uma área montanhosa plana, circundada pelo deserto.
No final dos anos oitenta, quando parte de sua morfologia natural
sofreu erosão, um político local promoveu sua recuperação, bem assim
como a construção de uma estrada de acesso às pequenas cidades do
Novo México, na esperança de atrair turistas. Atualmente, a maioria
dos frequentadores eram adolescentes que vinham fazer sexo. O que, a
propósito, era a razão pela qual ele decidiu levá-la ali, segredo esse que,
obviamente, desceria ao túmulo com ele.

214
Se lembrou do lugar logo pela manhã, ao ouvir o atendente da
cafeteria flertar e convidar a namoradinha para lá. No passado, quando
estava no ensino médio, esse era o local onde levava as meninas para
uma rapidinha, igual aos outros rapazes. Na verdade, ele jamais
precisou criar uma atmosfera romântica para conquistar qualquer
garota. Mas agora? Embora houvesse se esforçado ao máximo, ele não
conseguiu pensar em nenhum lugar especial ou atraente para estar
com Rita, a não ser esse. Infelizmente, era o único que conhecia.

E a partir de agora, ele não se refrearia mais. Principalmente,


quando estivessem de volta ao hotel.

Querido Deus, literalmente enlouqueceu ao imaginar que ela foi


embora. Imediatamente decidiu ir atrás dela. Estava bem decidido.
Porque naquela hora, todas as vezes em que se conteve para não
treparem como loucos passou em sua mente, gritando que ele perdeu
sua chance. Ela precisava dele, confiava nele para tocá-la, beijá-la,
foder seu corpo e ele simplesmente se negou? Que espécie de filho da
puta louco ele era? Essa sua pretensão de ser um homem decente aos
olhos de Rita parecia estúpida e insignificante se comparada à força
sísmica que o arremessava de encontro a ela. Por que deixar passar a
oportunidade de tê-la de todas as formas que puder?

Ninguém como Rita jamais passaria por esse lugar novamente e o


presenteou com seu tempo. Ela não se arrependeria por isso. Ele não
a deixaria se arrepender.

Quando sua caminhonete alcançou o topo da plataforma


montanhosa, ele estacionou sem desligar o carro a fim de manter o ar-
condicionado funcionando.

215
— Eu não te farei sair, ficaremos aqui dentro, linda.

Ao dar vazão às necessidades de seu próprio corpo, ele finalmente


relaxou, embora sua voz tenha soado infinitamente mais áspera
quando colocou o braço sobre os ombros dela.

— Podemos ficar aqui e apenas observar...

Ora, ora. Visivelmente, sua conversa mansa e fácil retrocedeu aos


tempos do ensino médio, tal qual suas ideias sobre locais para
encontros, eis que a possibilidade de transar com Rita estava fazendo
com que sua língua engrossasse, dificultando a fala. Igualzinho a seu
pau. O maldito garoto se esticou tanto que poderia tocar a buzina do
carro, tão duro e inchado que estava.

Respirando lentamente, ela se inclinou para frente no assento e


olhou através do para-brisa, exclamando.

— Isso é incrível. A que altura nós estamos?

— Se não me falha a memória, cerca de 60 mil metros... — O jeito


como ela se curvou sobre o painel da frente lhe deu uma excelente visão
da calcinha colorida que ela usava. — Rita.

Ela saiu da caminhonete. Surpreso, se manteve no lugar por


alguns instantes, observando-a caminhar até o para-choque dianteiro,
antes de ir atrás de Rita. O vento bagunçava os cabelos dela, mas
felizmente, como o sol naquela manhã estava encoberto por nuvens,
havia alguma sombra os circundando.

— Acho que eu preciso... sair do carro com mais frequência...

216
Sua garganta, essa mesma que precisaria ser estudada pelos
cientistas quando ele caísse duro pela eventual partida dela, estava
doendo para questionar. Realmente queria perguntar sobre sua
declaração anterior a fim de entender seu significado, avaliar os
inúmeros ângulos. Mas ele a levou ali com uma missão. Sem dúvida, a
necessidade angustiante das sensações com que foi bombardeado no
quarto de hotel não desapareceu.

Impedindo-a de continuar a admirar o cenário, ele assentiu


quando ela, corretamente, interpretou o desejo ansioso expresso em
seu olhar.

— Uau... você... — Ela balbuciou — Oi.

Sem mais, passou o dedo pela cintura da calça e então, lenta e


voluptuosamente, puxou-a contra ele, mantendo-a cativa de seu olhar
enquanto a guiava em direção à caçamba da caminhonete. O jeito como
ela tropeçou, o tom de voz ao xingar, o franzir da testa, tudo nela o
atingiu no peito tal qual uma bola rápida e lhe tirou o fôlego. Ela
poderia ter ido embora e ele teria perdido essa chance. Chega! Sem
mais esperar.

— Jasper...

Destravando a caçamba, Jasper soltou a porta com um estrondo


e aproveitando o entreabrir surpreso dos lábios de Rita, ele a beijou.
Porra, quanto tempo fazia desde que suas bocas estiveram unidas?
Impossível ter sido apenas ontem à noite. Afogou-se nela, lutou por ar,
em seguida, entrelaçou as mãos nos cabelos dela e segurando-a
firmemente, sentou-a em seu colo enquanto se arrastava sobre a

217
traseira rebaixada. De pernas abertas, ela se posicionou sobre ele, os
joelhos batendo sobre o metal ao lado de seus quadris.

Eles se moldaram. Seus corpos se fundiram como fumaça e


Jasper, segurando-a pela bunda, forçou-a contra seu pau dolorido,
incitando-a a rebolar, remexer, se esfregar... logo ela estava gemendo e
lançava a cabeça para trás, fitando o céu.

— A traseira de uma caminhonete não é o ideal, Rita. — Ele


murmurou. — Eu sei disso. Mas não me importa aonde você queira me
montar linda, vou te satisfazer. Isso é que farei. — E dizendo isso,
colocou uma de suas mãos entre eles e começou a abrir seu cinto,
travando os dentes por conta da compressão dilacerante de sua
braguilha. — Preciso fazer isso por você. Não faz ideia... não imagina o
quanto eu preciso...

Rita tinha os olhos estreitados e o rosto rosado pelo arranhar de


sua barba. Ela parecia não conseguir parar de beijá-lo por tempo
suficiente para tirar a calça e quanto mais demorava, mais a pulsação
dele avançava a um ritmo crítico.

Xingando com os dentes cerrados, soltou o zíper de sua calça e foi


para o dela, praticamente rasgando o tecido ao puxá-lo para baixo. Ele
mal percebeu os roucos comandos que emitia.

— Te quero sem calça. Preciso ter você nua da cintura para baixo,
porque preciso de você sentada no meu pau. — Murmurava ele por
sobre o fino tecido da blusa dela, entre um morder ou um beliscar. Sua
boca se fechou ao redor daqueles deliciosos seios e chupou-os com
vontade, força e os mordiscou. — Que meleca eu estava pensando ao

218
nos fazer esperar? Sinto muito, Rita. Muito mesmo. Porra, me
desculpe...

— Pare! — Ela gemeu junto ao seu pescoço e se impulsionou para


frente, agarrou-lhe os pulsos tentando refreá-lo. — Jasper, não! Isso
não é tudo o que você faz. Nós... vamos... espere um segundo.

Seu cérebro estava tendo dificuldades em assimilar o que ela dizia,


porque cada gota de seu sangue se encontrava visitando outros lugares
de seu corpo.

— Tenho preservativos. Três deles.

— Bom. Isso é ótimo, mas... — Ruborizada, ela o parabenizou ao


se endireitar. Qualquer que fosse a expressão que viu no rosto dele,
imediatamente, a fez sucumbir ofegante para o lado e exclamar. —
Jasper, eu vim passear de carro essa manhã para estar com você. Estou
aqui agora, com a bunda de fora, para estar em sua companhia. Eu
gosto de você. Pode me entender? Eu gosto de você! — Ela lhe deu um
beijo na boca, depois outro. Aquelas mãos macias passando entre seus
cabelos como a água no oceano. — Com certeza, em breve, nós
voltaremos a ficar assim como estamos agora. Contudo, nesse
momento, que tal... — Incapaz de esconder a frustração sexual que a
envolvia, Rita respirou fundo e estremeceu antes de sair do colo dele.
— O que você acha se conversássemos um pouco?

Jasper virou o rosto antes que ela percebesse como aquela


pergunta colocada daquela forma hesitante tão única e característica
dela, o afetou. Tanto que agora mesmo, ele estava se esforçando ao
máximo para dar fim ao nó que se formava em sua garganta. Será que

219
alguém tinha conhecimento da existência de algum homem na história
que já se excitou ao ser rejeitado sexualmente? Não. Então pense nele.
Sem dúvida, sua força de vontade estava sendo brutalmente testada.
Se ela não tivesse dito não, ele a teria de pernas tão abertas e sua boca
seria usada com tal habilidade que permaneceria mais do que disposta.
Mas, seria um maldito mentiroso se dissesse que estar deitado sob
aquela imensidão azul, conversando com ela, ciente de que ela desejava
dialogar com ele ao invés de estar com qualquer outra pessoa, não o
deixava com mais tesão ainda.

Quando Rita se deitou, colocando as mãos debaixo da cabeça, ele


a imitou. Mas, em seguida, ela o encarou e todas as células do seu
corpo devem ter partido para uma corrida frenética.

— Então, Sr. Jasper Ellis... — Ao percebê-la assim,


suficientemente relaxada a ponto de conseguir flertar com ele, sem
hesitar ou revirar os olhos, foi obrigado a trazê-la mais perto dele. —
Qual é o seu...

Soltando uma de suas mãos, ele afastou uma mecha de cabelo


que se prendeu entre os lábios dela e sem olhá-la nos olhos, declarou
abruptamente.

— Rita, a partir de hoje, esse céu está arruinado para mim. — Ele
disse bruscamente. — É medíocre se você não estiver diante dele.
Pensando bem, acho que será sempre assim de agora em diante. Se
não estiver aqui, não haverá qualquer cor ou brilho. — E então, afastou
sua mão e a apoiou sob a própria cabeça, deixando seus pés para fora,
pendurados na caçamba, igual ela. — Agora, o que você ia me
perguntar?

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Pasma, ela pareceu refletir antes de continuar, o que para ele foi
uma boa coisa.

— Bom. Sr. Jasper. Qual é a sua música favorita? — Perguntou


ela com a respiração irregular. — Pensei em começarmos devagar...

Sorrindo ele respondeu.

— Great Balls of Fire do Jerry Lee Lewis.

Rita então, caiu na risada fazendo desaparecer qualquer indício


de preocupação.

— Essa é uma das boas.

— Verdade. — Ele disse, deixando a mão descansar sobre a


traseira do veículo para, em seguida, sentir o lento entrelaçar daqueles
dedos suaves nos seus.

Tenho que causar uma boa impressão nessa mulher.

Tenho que tentar e lhe dar uma razão para ficar.

Talvez... eu ainda tenha uma chance de conseguir isso.

— Sua vez, Rita. — Ele murmurou.

No entanto, em sua cabeça, depois que ela o salvou de cair no


abismo que ele mesmo criou, via a verdade claramente: agora é a minha
vez...

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CAPÍTULO VINTE E DOIS
Era autodestrutivo para Rita se encontrar caminhando ao longo
da avenida principal de Hurley naquela tarde em direção ao Liquor
Hole? Absolutamente. Ela deveria estar na sala de espera com Peggy
lendo revistas, enquanto Aaron passava por seu procedimento
odontológico. Ou talvez um melhor uso de seu tempo fosse tentar
conversar com Belmont sobre sua paixão óbvia por Sage. Essas eram
as pessoas com as quais iria dividir o espaço do Suburban pelos
próximos dois mil quilômetros. E mesmo assim, ali estava ela.
Provavelmente, parecendo o coiote perseguindo o papa-léguas, seus
olhos focados no estabelecimento a frente.

Com os Clarkson deixando a cidade no dia seguinte, — de verdade


dessa vez — ela e Jasper estavam no final de seu relacionamento,
deixando pouquíssimo espaço para explorar as borboletas implacáveis
em seu estômago quando pensava nele. Mas depois do que ele falou a
Rita quando voltaram ao hotel Hurley — de que o bar precisava da
atenção dele — ela não conseguiria ficar parada como se tivesse um
peso nos ombros.

Praticamente uma primeira vez para ela.

Essa manhã, após sua tentativa de apressá-los para o que


certamente seria o tipo de sexo que destruía os cérebros, — mesmo que
fosse ao ar livre — ela continuou repetindo a história que Jasper disse
ontem à noite sobre o que ele ouviu em seu próprio estabelecimento há
dois anos. A noiva perguntou se poderia ser um entretenimento pago. Se
uma coisa ficou clara enquanto andava até o Liquor Hole foi que não

222
poderia deixar Jasper com essa impressão de si mesmo. Talvez ela
tivesse feito um ponto essa manhã na montanha, mas não parecia o
suficiente. Nenhuma quantidade de tempo parecia o suficiente.

Então, ela estava preparando-o para a próxima garota?

Caralho. Isso picava como uma vespa em esteroides. Seu passo


era hesitante na calçada poeirenta e um transeunte lhe deu um sorriso.
Oh, ela gostava da ideia de Jasper sair do celibato por uma garota local
que não se parecesse com a garota do vídeo do YouTube que verificou
essa manhã.

— Não há nada a ser feito. — Ela murmurou justo quando chegou


ao estacionamento do Liquor Hole.

Rita se surpreendeu ao ver tantos carros no estacionamento, uma


vez que o bar não estava aberto. Será que os clientes da noite anterior
foram levados para casa por um motorista designado?

No final da linha avistou a caminhonete de Jasper e segurou o


folego um instante. Deus, até mesmo pequenas lembranças como a
maneira que sua mão dirigia ou a maneira como ele a ajudou a sair do
carro como se ela fosse frágil, essas lembranças levavam seu pulso a
um ritmo louco. A verdade era que ela não precisa de um motivo para
estar ali naquele momento. Seus pés a levaram lá porque sabia que em
um pequeno espaço de tempo estariam separados.

Rita levou um total de três minutos e várias maldições irritadas


para colocar uma expressão casual em seu rosto antes de testar a porta
de entrada da frente, mesmo que suspeitasse que tivesse que bater.
Quando abriu sem nenhum problema franziu os lábios e entrou. A

223
visão que saudou Rita a mandou um passo para trás sacudindo a porta
de madeira em suas dobradiças.

Atrás do bar e se derramando na pista de dança, pelo menos trinta


mulheres de idade olharam para ela, lábios ao redor de brilhantes
sorrisos acolhedores. Na frente de cada uma delas, no bar ou no balcão
da cozinha, não haviam fogões ou fornos, mas uma variedade de
ingredientes, tigelas e utensílios de cozinha. Era como se Rita tivesse
entrado numa dimensão completamente diferente do bar que ela esteve
na noite passada vendo seus irmãos se espancarem.

Rita viu a avó de Jasper, Rosemary, quando ela passou pelo grupo
de mulheres de cabelos brancos.

— Rita!

Suas botas pareciam ter cimento.

— Oi. O que...

Rosemary se aproximou e abraçou Rita bem apertado.

— Eu fiquei tão animada quando Jasper me disse que ficaria mais


um dia. Por isso tive uma ideia e mudei nossa reunião para sexta-feira
ao invés de sábado. Estamos ansiosas para que nos ensine uma receita
profissional, vou te dizer o que. — Ela olhou Rita de cima abaixo. —
Short preto e camisa verde. Onde é que está o patife do meu neto?

— Estava prestes a perguntar a mesma coisa. — Disse Rita,


parafusos apertando em ambos os lados do pescoço.

224
Até a explicação de Rosemary, ela esqueceu completamente a
conversa durante o almoço sobre dar uma demonstração na cozinha.
Por que ela se lembraria de algo tão irreal quando eles deveriam estar
de volta na estrada nesse momento? Isso nunca foi realmente uma
possibilidade em sua mente.

— Jasper planejou isso.

Não era uma pergunta, mas todas as trinta mulheres balançaram


suas cabeças com entusiasmo fazendo Rita se sentir um pouco tonta.
E naquele exato momento Jasper saiu da cozinha, balançando as
chaves do carro, provavelmente, no caminho para ir buscá-la no hotel.

Apesar de terem se visto a poucas horas, a visão de seu corpo a


deixou excitada. Quando seu olhar pousou em Rita, ela viu o propósito
ali, sabia que passou as últimas horas trabalhando duro para deixar
tudo pronto, mas nada poderia eclipsar a súbita ansiedade.

Ele passou por ela como um trem, liberando fumaça preta em


todas as regiões do seu interior, os cobrindo de fuligem. Jasper estava
na frente dela antes que piscasse.

— Ei, linda. — Ele disse para seus ouvidos apenas, enquanto


Rosemary andava ao redor com toda a sutileza de um palhaço de circo.
— As roupas mudaram, não é? Porra, mas esse short abraça bem seus
quadris. Se eu não tivesse tantos olhos de falcão em mim, iria rodá-la
para ver o que eles fazem com seu traseiro.

Por que ele estava falando com ela assim? Não poderia dizer que
ela estava se debatendo se corria ou pulava pela janela?

225
— Jasper... o que você fez? Não deveria ter feito isso. Eu não
estou... — Suas mãos começaram a arder, a sensação viajando até seus
antebraços. — Não estou pronta para isso.

Uma sombra passou sobre seus olhos quando eles a reavaliaram,


uma viagem lenta pelo de seu rosto.

— Claro que você está Rita. — Sua voz ainda mais baixa. — Você
estava na cozinha na noite passada e sobreviveu. Eu pensei...

— Você pensou errado. — Oh, Deus, parecia que alguém tinha


mãos ao redor de seu pescoço. — Sinto muito, mas estava errado. Não
deveria ter feito isso. Vou decepcionar elas de uma forma ou de outra.

— Não. Não, você não irá. — Ele segurou seu rosto e chegou perto
dela. E porra, ele a acalmou um pouco. Não o suficiente para fazer o
terror ir embora, mas o suficiente para que ela pudesse se concentrar
em seus olhos azuis. — Esse é apenas um obstáculo que você precisa
saltar. Deixe-me ajudá-la a fazer isso.

— Eu não pedi sua ajuda.

— Não, não pediu. Não acho que iria pedir a ajuda de alguém até
mesmo se estivesse em chamas. — O corpo de Rita ficou tenso com a
escolha de palavras e Jasper abaixou a cabeça com uma maldição. —
Jesus, eu estou tão suave quanto um buraco.

— Tudo bem aí? — Rosemary chamou e enviou o coração de Rita


para uma rodada de palpitações trovejantes.

Jasper virou a cabeça levemente.

226
— Vamos esperar apenas um minuto. — Quando ele se virou para
abordar Rita, sua expressão era de determinação. — Não pedi sua
ajuda nomeando meu restaurante ou dando a minha cozinha o seu selo
de aprovação. Não pedi essa manhã, também. Mas estou grato por isso.
Talvez queira apenas devolver o favor.

Sua cabeça estava completamente cheia de argumentos. Sadios e


imaturos, ecoando mais alto. Não preciso dessas pessoas. Não preciso
disso. Basta girar e sair. Mas então ela viu o livro de receitas na estação
de trabalho de Rosemary. “Cookbook, o Prato principal de Miriam
Clarkson”, para ser exata. E não havia nenhuma dúvida, estava em
uma sala cheia de pessoas que sabiam que Miriam era sua mãe. Isso
antes mesmo que ela pegasse uma colher, não viveria até o legado.

— Você disse a Rosemary?

— Não, ela descobriu por conta própria. — Jasper suspirou. —


Todo dia acordo desejando nunca ter lhe ensinado a usar a internet.

Se Rita saísse do Liquor Hole agora, não estaria apenas


decepcionando as mulheres, estaria deixando sua mãe para baixo.
Mais uma vez. Elas iriam balançar a cabeça da forma como viu tantos
críticos e clientes lamentando sua incapacidade de fazer algo bom.

Porra.

Sem escolha. Ela não tinha nenhuma escolha. O ressentimento


por ter sido jogada de volta no caldeirão tão cedo fazia sua garganta
parecer uma lixa. Encolheu os ombros e Jasper a levou para a única
estação disponível, observando os ingredientes.

227
— Vejo que faremos rabanada hoje.

Ela pegou um ovo e sua mão começou a tremer violentamente.


Uma vala se abria no centro de seu peito, aprofundando quando o
silêncio se estendeu com todo mundo olhando. A procura de defeitos,
dos quais ela não sabia, pois havia tantos. O ovo caiu de sua mão e
apenas pode olhar. Não realmente ver o ovo, mas todos os pratos que
falharam e o fogo. Sempre o fogo agora.

Jasper andou atrás de Rita para recolher o ovo quebrado com um


pano limpo. Ela não se virou para ver onde ele descartou a bagunça,
mas suas mãos estavam de volta alguns segundos depois, colocados
sobre as costas dela e pegando um novo ovo. Suas mãos estavam mais
firmes dessa vez, graças ao calor do toque sólido de Jasper e sua
presença reconfortante em suas costas. Mas o ressentimento não
desapareceu, fazendo a aceitação de sua ajuda mais relutante do que
qualquer outra coisa.

Ela quebrou o ovo, liberando a gema em uma tigela quando Jasper


respirou contra o topo de sua cabeça. Então, Rita finalmente encontrou
a coragem de falar após o segundo ovo estar quebrado na bacia.

— Você se importaria de trazer noz-moscada e açúcar da cozinha?


— Ela perguntou a Jasper, almejando algum espaço para respirar antes
de abordar as senhoras. — Nós vamos começar a mistura aqui, então
vou levá-las para a cozinha em grupos para cada uma colocar sua
rabanada na grelha.

Isso fez o público vibrar, suas colheres batendo ao longo do


interior de bacias de metal, ovos rachados juntamente com piadas

228
entre amigos. Seguindo para a cozinha, Jasper se virou e olhou para
Rita, mas ela rapidamente desviou o olhar.

Após o tempo que passaram juntos, como ele poderia não perceber
que ser impulsionada de volta para o fogo só faria o oposto do
progresso? E quem disse que queria fazer qualquer progresso na
cozinha? Ela estava preparada para seguir em frente, feliz em nunca
mais pegar um utensílio de cozinha de novo, até ser surpreendida por
essa festa surpresa e presunçosa. Obra de Jasper.

Deus, os cheiros e os sons dos alimentos ao serem preparados


estavam jogando ela de volta para a cozinha de Wayfare. As chamas
rasgando as paredes, comendo qualquer evidência de sua carreira
patética. Sua fama na televisão. A voz tranquila e paciente de Miriam
ecoava do passado. Era a fumaça enchendo seu nariz ou apenas uma
alucinação? Respirações profundas. Iria passar por isso. Ela iria.

Dor era uma coisa feia, porém não iria parar de vir em sua mente
procurando algo para ter que suportar. Para deixa-la para baixo. Rita
manteve a dor escondida por tanto tempo que isso cresceu demais para
controlar. Uma voz estava lhe dizendo para se acalmar antes de tomar
decisões precipitadas, mas foram abafadas pelo reconhecimento
incessante da amarga decepção.

229
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Você fodeu tudo agora.

Ao deixar Rita essa manhã, Jasper sabia que precisava fazer algo
grande. Ele nunca celebrou o tipo de beleza que Rita demonstrou na
montanha. Deixando de lado suas próprias inseguranças para
remendar a de outra pessoa. A dele. E faria isso também, se a nova
confiança que experimentou fosse algum indicio. Talvez Jasper
pudesse colocar em um dedo o que sabia sobre a mente de uma mulher,
mas um homem dava um passo até a maldita placa e deixava uma
marca quando necessário. Disso ele estava certo.

E Rita definitivamente precisava.

Infelizmente desde que entrou, Rita se recusou a olhar para ele.


Ela parecia instável. De forma que fez Jasper achar que poderia ter
causado sérios danos tentando empurrar a cozinha para Rita. Seu
objetivo era fazer ela se lembrar por que adorava trabalhar na cozinha.
A queria em sua cozinha para fazer a diferença, com sua presença ao
lado dele. Rita fez ele sentir que valia alguma coisa e foi obrigado a usar
esse dom que ela concedeu.

Sim, havia uma parte de Jasper que o deixou acreditar no


impossível. Que poderia fazer Rita pensar duas vezes sobre voltar para
a estrada. Mas a distância nos olhos dela disse a Jasper que era um
tolo. Isso também o fez querer levá-la para casa, subirem na banheira
e apenas ouvir rock.

230
Mas se ela pudesse se ver através dos olhos dele naquele
momento, se movendo entre os grupos, dando instruções úteis e
sorrindo pacientemente, embora tenha levado esforço óbvio para que
fosse positiva e otimista. Era boa, realmente muito boa. Suas mãos
eram ágeis, os movimentos do pulso ao levantar as mãos eram tão
naturais. Se não achasse que iria ganhar um olho roxo diria isso a ela.
Linda, posso ve-la se mover nessa cozinha por cerca de cem anos e
nunca me cansar.

E droga, ele realmente quis dizer isso.

Quando a demonstração terminou, logo após cozinhar e comerem


as rabanadas, levou cerca de duas horas e meia para a noite enfim
começar, cerca de uma hora desde a chegada do grupo. Conversas
animadas saiam entre cada mordida, provavelmente fazendo durar o
dobro do tempo necessário, mas Rita não se apressou, disse obrigada
quando as mulheres ficaram para trás para ajudar a limpar, pendurar
os utensílios e panelas de volta em seus lugares legítimos.

Apesar de se preocupar que Rita pudesse ir embora depois que a


última senhora saísse, Jasper forçou-se para não abordar ela, sabendo
que podia ser tarde demais para ter paciência, mas tentando de
qualquer maneira. Por isso esperou em seu escritório ansiosamente
como um homem aguardando uma sentença. Mas quando Rita entrou
na porta de seu escritório, colando os olhos sedutores nele pela
primeira vez em horas, a sentença de Jasper ficou clara. E apesar da
negação de seu cérebro no momento certo, seu pulso começou a vibrar
como se respondesse a fome masculina.

— Rita, por favor, sente para que possamos conversar.

231
Ela entrou em seu escritório, liberando o bolo em sua garganta
que se formou antes de entrar na cozinha.

Ele viu o cabelo preto brilhante caindo sobre os ombros e se


enrolando nas extremidades. Cachos que seguravam seus dedos.
Jasper esperava que ela sentasse na cadeira na frente de sua mesa,
mas continuou se aproximando, indo direito para o espaço entre as
pernas estendidas, apoiando as duas mãos em seus ombros tensos e
inclinando para falar a um fôlego de sua boca.

— Eu estou farta de conversar.

Jasper sabia exatamente o que Rita estava fazendo. Sedução como


uma forma de vingança. Ele tirou dela uma camada protetora essa
tarde e merda, merecia isso. Merecia ter sua própria fraqueza
amplificada. Mas Rita não estava tremendo mais. Pelo menos não da
maneira apavorada. Sua postura estava de volta e odiava a ideia de ela
ir para longe dele.

No topo de tudo isso, no topo de tudo no mundo de merda, ele


queria transar com Rita. Queria transar com ela na beira da estrada no
sol quente, essas botas pretas de combate marcando sua bunda.
Resistir à força da atração estava destruindo sua cabeça, seu corpo.
Seu pau estava mais pesado do que uma bigorna em seu jeans,
morrendo de vontade de ser solto. Morrendo de vontade de estragar o
pequeno vibrador de merda dela para sempre. Para mostrar como se
sentiria com ele. Com vontade de conversar, para corrigir seu erro,
ainda um ciclo através de sua mente, mas que era diluído cada vez que
seu pau ficava mais grosso.

232
Os lábios de Rita ainda estavam pairando perto dos seus.

— Deus, quero você, Rita. Mas não porque é louca e quer me


ensinar uma lição. — Não será a primeira vez. — Escute um min...

— Não há mais desculpas. — Ela sussurrou, lambendo seus lábios


e fritando seu cérebro. Suas mãos escorregaram de seus ombros,
abrindo o botão da calça jeans. Seu profundo gemido o fez arregalar os
olhos uma fração, fazendo Jasper querer agarrar seus ombros e tremer.

— O que, Rita? Porra. Você não percebe o quanto eu quero isso?


— Sem tirar o olhar confuso de cima dele, ela abaixou o zíper, o som
irregular fazendo seu estômago revirar, seus quadris empurrando para
frente involuntariamente. — Se não significasse nada para mim, eu a
teria sob meu pau. Na primeira noite. Porque Deus sabe o quanto estou
atraído por você. Não posso nem ver, pensar ou agir direito. — Respire
homem. — Mas você quer provar algo. E apenas quero demonstrar algo
para você.

— Pare com isso, Jasper. Apenas pare. — Se olhasse,


provavelmente veria a parede que ela construiu ao redor de si mesma.
— Tenho respeitado seus limites... entendo eles. Mas você não me deu
a mesma cortesia. Então vamos chegar onde estávamos indo.

Caralho. Nada chegaria através do aço blindado que ela usava.


Especialmente ele, desde que foi o único a forçá-la a uma situação
dolorosa. Trouxe essa magnética e irresistível Rita para baixo em sua
cabeça.

Pior ainda, ele não queria dizer não. Sua força de vontade tinha
tantos furos que era transparente. Ela era muito linda, um pouco triste

233
e sim, necessitada. Mas não mais necessitada do que estava. Queria
uma distração de qualquer dor que se escondia em seu interior. E havia
um senso de responsabilidade nele, um que nunca experimentou
antes, para aumentar seu esquecimento cada vez que ela exigia.

Com uma barreira de uma milha de largura entre eles, ele


precisava tentar coloca-los em pé de igualdade, porque iria se ressentir
de qualquer coisa que acontecesse quando estivessem finalmente pele
com pele.

— Sei que você está com raiva de mim por essa tarde. Eu mereço.
Então grite comigo.

Mesmo quando forçou as palavras, os polegares fizeram círculos


na parte interna das coxas dela, logo abaixo do jeans, tocando sua
boceta. Hipócrita.

Aparentemente Rita pensava assim também e ele não a culpava.


Seu cérebro não tinha controle sobre seu corpo ao redor dela. Ansiava
por qualquer forma de conexão, assim como a autopreservação tentou
aplicar os freios defeituosos.

— Estou cansada de seus sinais mistos. — Ela sussurrou, caindo


de joelhos com um baque surdo e Jasper viu as cortinas descerem,
sinalizando o fim do show. — Então, vou te dar uma boa lição.

Puxou o pau de Jasper de sua calça jeans, as mãos dele voaram


para os braços da cadeira e cerrou seus dentes com tanta força que
poderia quebrar. Seu controle diminuiu e se esticou quando Rita
passou a língua da base até a ponta, o prazer — e sim, talvez um pouco
de medo — apareceu em sua expressão. Ela fechou o punho ao redor

234
de sua carne grossa e engoliu ele uma vez, duas vezes, fazendo Jasper
se contorcer na cadeira como um homem sendo torturado para dar
informações.

— Oh, Cristo. Estou com dor aqui. Muita dor. Não brinque
comigo.

Seus olhos estavam fixos na língua cor de rosa feminina que


brincava com a cabeça de seu pau, depois lambia mais profundamente,
inclinando a cabeça para um lado, depois o outro.

— Jogar é uma forma de tortura, não é?

O apoio de braço da cadeira rangeu sob as mãos de Jasper. Sua


autopreservação estava desaparecendo como se nunca estivesse lá. O
que viria depois que ambos aliviassem a luxúria? Essa eventualidade
estava sendo rapidamente ofuscada pela garantia de um momento sujo
e impertinente, mas quente. A necessidade de estar dentro dela.
Precisando de sua boca, precisando entrar na boceta que masturbou
na noite anterior. Ela estava esperando por ele, pedindo por ele. Seria
sua. Mas não até que afirmasse isso.

Oh porra, essa última parte o incomodou. Rita ainda seria dele?

Se movendo sem pensar, as mãos de Jasper mergulharam no


cabelo de Rita.

— Pare de brincar. — Ele rosnou, a liberdade expandindo a cada


molécula em seu corpo. — Gruna na parte traseira de sua garganta e
me engula para que eu possa sentir isso.

235
A boca de Rita cobriu seu pau, mas ela paralisou com suas
palavras, a surpresa colorindo suas bochechas.

— Cansada de sinais mistos, não é mesmo? — Ele massageou o


couro cabeludo dela em círculos ásperos, até que suas pálpebras
caíram e pequenos suspiros sopraram além de seus lábios. — Preciso
de você com fome de pau. Preciso que me deixe alimentar sua boceta.

A surpresa deu lugar à luxúria bem diante de seus olhos, porém,


como uma nuvem que passa sobre o sol. E ela obedeceu às ordens. Sua
Rita. Porra, sempre obedeceu. O hum rouco na parte de trás de sua
garganta foi o som mais doce que ele já ouviu, mas a sucção de sua
boca? Uma porra de uma revelação. Jasper saltou, cravando os pés no
chão de madeira, os dedos começaram a doer por estarem presos tão
firmemente em seu cabelo. Se houvesse uma dose de maldade por ter
Rita de joelhos em seu local de trabalho, o que apenas servia para
endurecê-lo ainda mais nesse momento, se foi. Ela usava sua boca nele
para torturá-lo.

— Mantenha as mãos ocupadas. — Jasper quase gritou. —


Engula-me. Não suporto a porra da dor mais. — Os músculos da coxa
tremiam, se esforçando, soltando, apertando, a agonia apenas
aumentou quando Rita apertou sua base e acariciou em movimentos
rápidos, para cima e para baixo. — Eu queria essa boca. Queria entrar
dentro e sentir sua língua e é melhor, muito melhor do que pensei. Se
quer meu pai, mostre para mim, me deixe sentir... porra, Rita.

A parte inferior das costas de Jasper estava começando a se


contorcer, chegando ao ponto de não retorno. Uma decisão precisava
ser tomada em breve ou ele iria gozar na sua garganta ronronando. Rita

236
não mostrava sinais de desaceleração, com os cabelos enrolados caindo
em suas coxas quando ela abaixou a boca de novo, de novo e de novo.

— Pare Rita. Pare e fale comigo. — Ele apertou o cabelo de Rita


em seus punhos e afastou-a, gemendo maldições com a perda.

E Jesus, sua expressão aturdida de luxúria, esses lábios


inchados, entreabertos, ele quase a empurrou de volta para terminar o
trabalho com a boca, mas resistiu saindo, quase tendo um ataque no
processo.

— É melhor subir aqui agora se quiser foder. Mais um minuto aí


e vou implorar para você colocar a boca em mim novamente.

Com as palavras de Jasper no ar, Rita levantou, com ambas as


mãos no zíper de seu short. A realidade iminente deixou Rita frenética,
puxou a camisa verde sobre a cabeça, o sutiã para baixo, em seguida,
correu as mãos para baixo para tirou o short.

— Deus, Rita. Seus seios. — Ele se inclinou para chupar um seio


que chamava sua atenção, se afastando para passar a língua contra
ela. — Se quiser alguma coisa enquanto estiver lhe dando meu pau,
quero ouvir. Entendeu? Quer que eu chupe seus seios, dê um tapa ou
qualquer coisa, você fala. — Ele apertou seus seios, segurando os
mamilos para que pudesse passar a língua de um para o outro. — Vou
enlouquecer quando estiver fundo entre essas pernas, mas não me
deixe esquecer seus seios.

Ele deveria ser mais gentil na primeira vez, mas as correntes de


desejo abaixo de seu cinto não pensavam assim. Elas estavam se
movendo em ondas, pulsando através de seu peito, através do órgão

237
batendo que parecia digitar o nome de Rita em código Morse. Não, não
havia nada de bom sobre o mergulho de um penhasco com apenas uma
pequena chance de sobrevivência, mas a queda, Jesus, a queda iria
explodir sua mente, não iria?

Jasper empurrou a calcinha de Rita por suas pernas, sua boca


percorrendo seu estômago, atacando seus quadris, inalando e
inalando. Memorizando cada gemido, cada raspar de seus dentes que
a fazia contorcer o corpo. Ele sentia sua surpresa a cada vez que
encontrava uma nova zona erógena 29 . No fundo do seu umbigo, no
vinco entre suas coxas e boceta. E ele sentiu um desejo enorme de
sentir seu sabor que estava o deixando tonto. Porra, como ela reagiria
quando o pau dele estivesse finalmente escorregando para dentro e
para fora? Será que ela esperava que fosse tão bom? Ou será que seus
lábios se abririam de espanto, como estavam fazendo agora? De novo e
de novo. Porque porra, se continuasse com esse choque inocente
quando eles chegassem ao evento principal, ele teria que fechar os
olhos para evitar que gozasse antes dela.

— Eu tenho uma sensação de que... — Jasper puxou a calcinha


de Rita até o meio da coxa antes de arrastar seus dedos até o interior
de sua perna direita, em direção a ela —... não estamos do jeito que
deveríamos estar, linda. Nós vamos mudar isso.

— Como? — Ela respirou, soando ansiosa.

Jasper se levantou, aproximando seus rostos para que ele pudesse


ver os olhos de Rita. Em seguida, empurrou o dedo médio em sua

29 São determinadas partes do corpo onde o toque pode causar excitação sexual.

238
boceta úmida, gemendo com a maneira como ela flexionava ao redor
dele, a forma como seu olhar ficava vidrado.

— Você deixa eu me preocupar sobre como vou reagir. Apenas


precisa se preocupar em tomar meu pau nessa pequena e apertada
boceta. O que acha disso?

Se ele não estivesse tão focado nas reações e nos olhos de Rita,
poderia ter perdido a batalha. O fato de não terem uma cama não era
algo que ele tinha que pensar. Mas como estavam sobre essa base
instável, talvez devesse ter pensado melhor. Antes que pudesse beijá-
la de volta, Rita escapou de sua boca, respirando forte. Ela balançou
os quadris, retirando a calcinha pelas pernas e indo para o chão, antes
de virar-se, mostrando seu traseiro virado para cima e plantando as
duas mãos sobre a mesa.

— Eu quero você assim. — Ela falou sobre o ombro.

— É claro.

Essas correntes que viajavam pelo peito de Jasper aumentaram


de velocidade, ficando semelhante a dor. Ao longo dos últimos dois dias,
ele imaginou Rita em uma infinidade de posições, mas ela sempre
estava de frente para ele. Suas bocas sempre estavam juntas enquanto
eles estavam enrolados nos lençóis de sua cama. Era assim que ela
planejava matá-lo, então.

Mantendo isso impessoal.

Infelizmente, estar consciente de seu plano não diminuiu em nada


a rigidez de seu membro ou deixou ele menos sedento por ela. Não

239
quando estava arqueada apenas o suficiente para lhe dar o acesso
perfeito a essa doce boceta rosa, sentindo sua excitação ainda em seu
dedo médio. Sua carne já estava distendida ao máximo, se preparando
para bater contra seu traseiro, apenas algumas vezes, antes de afundar
nela até suas bolas.

Senhor, ela estava se contorcendo para ele, também. Queria-o


forte e sujo, queria satisfazer essa necessidade. Inclusive poderia ter
uma parte doente de Jasper que desejava que Rita sofresse um pouco
ao se manter em seu ritmo, mas gostaria que ela optasse por fazer amor
com ele em sua cama, ao invés de sobre sua mesa e tomá-lo enquanto
suas bolas batiam nela na frente da gaveta.

Todos esses pensamentos passaram em questão de segundos,


mas foi tempo suficiente para Rita virar a cabeça e lhe enviar uma
autoconsciente e bem ofegante palavra.

— Jaspe...

Ele abriu a gaveta ao lado de sua mesa, empurrando papéis de


lado até que encontrou um preservativo, rolando-o para a raiz do seu
pau em segundos.

— Continue dizendo meu nome assim enquanto afasta as pernas,


linda. — Ele colocou a palma da mão nas costas de Rita, empurrando
seu rosto em cima da mesa. — Agora vou falar o que eu quero. Você vai
abrir as pernas sensuais e mostrar onde vou ter o privilégio de colocar
esse pau faminto. E vou dizer para separar as pernas mais um pouco.

Rita começou a tremer, com a respiração ofegante debaixo de sua


mão, mas ela seguiu suas instruções, os pés ficando mais separados

240
sobre o chão de madeira. A própria respiração de Jasper ficou errática,
o suor molhando sua testa. Ele tirou a blusa, ressentido por uma fração
de segundo quando a camisa bloqueou Rita de sua vista.

— Vou colocar primeiro meu dedo. Quero ter certeza que está
molhada para mim. — Jasper murmurou em uma maldição afiada. —
Você está muito molhada, não é? E isso é muito bom, porque a próxima
coisa que sentirá é a minha porra. A única coisa que precisa sentir. —
Ele colocou seu pau contra a parte inferior das bochechas da bunda
dela. — Segure a borda da mesa.

As mãos de Rita foram para a borda da mesa um segundo antes


de Jasper empurrar seu pau quente dentro dela, centímetro a
centímetro, guiando sua cintura com uma mão. Seus corpos estavam
colidindo com o grito abafado de Rita no escritório. Ele foi forçado a
voltar atrás e bater para frente para esticá-la por esses centímetros
finais, levantando os pés de Rita com a força dele.

— Oh... porra! — Ela gritou. — Meu Deus. Oh meu... porra!

— Meu nome não é difícil de lembrar, Rita. Use-o.

— Jasper. Jasper. Não se mova... ok, mova-se.

Como se um apocalipse pudesse convencê-lo a sair agora. Ela


estava tão apertada que ele podia sentir a sensação na garganta.
Errado. Estava errado. Não havia nada decadente e sujo sobre isso. O
ato e suas palavras podiam criar uma história, mas sua cabeça e alma
ouviam outra.

241
Jasper se inclinou e deu um beijo no centro da espinha de Rita,
arrastando sua boca até o pescoço para uma mordida de amor áspera.
E então não havia nada, apenas suor. Colocou os braços sob os ombros
de Rita, os curvando ao redor dela para se alavancar. Para impedi-la
de se mover, escapando de seus quadris batendo. A mesa gemeu,
protestando contra o acasalamento animalesco ocorrendo em sua
superfície, mas Jasper registrou o som com um vago reconhecimento,
porque havia apenas Rita e seu perfeito, dócil e bem-vindo corpo.

— Caralho, gostaria que me visse bombeando em você por trás.


Amaria vê-la na ponta dos pés, me tendo dentro de você.

Ele soltou um dos ombros de Rita para segurar seu cabelo.

— Estou gotejando de suor em suas costas linda. Vendo-me entrar


entre as bochechas lindas de sua bunda. O que você acha disso?

— Eu gosto disso. — Ela disse, pressionando sua bunda contra


seu abdômen ainda mais. — Mais. Quero mais.

Jasper virou a cabeça para o lado, passando seus dentes sobre o


ombro exposto, até a coluna de seu pescoço.

— Como estão seus seios? Eles precisam de mim? Eu podia te


virar e chupá-los por um tempo.

— Não. — Ela gritou. — Não... por favor. Não pare.

— Quem falou em parar?

Seus movimentos se tornaram selvagens, implacáveis, o som de


suas bolas batendo na carne molhada, pegando o ritmo.

242
— Pensei em jogar uma dessas pernas por cima, te girar ao redor
do pau que você está gostando tanto. — Seus dentes agarraram sua
orelha e puxou. — Você é flexível? Eu sei qual tipo de corpo tenho
debaixo de mim. Sei o que pode tomar, por isso não questione.

Suas mãos torceram os fios de seu cabelo até que ela concordou.

— Ok. Eu não vou.

As pálpebras de Jasper caíram, seus músculos das costas


apertados. Rita tinha a boceta mais molhada e apertada do mundo,
ouvir o barulho que fazia o levou longe demais. Era apenas uma
questão de minutos antes dele gozar no preservativo e sim estava
morrendo de vontade de se perder no melhor orgasmo que já
experimentou na vida. Um impulso que nunca sentiu. Demorou um
esforço real para conter-se.

— Rita, Rita, Rita. Você está me estrangulando.

Ele soltou os cabelos dela para colocar um de seus joelhos sobre


a mesa, encontrando um ângulo que iria levá-la ao limite. Então usou
a mesma mão para agarrar sua garganta, apenas com a simples
sugestão de misericórdia. — Esqueça o ar, Rita. Você precisa apenas
de mim para respirar.

Ela se estilhaçou ao seu redor, gritando para a superfície da mesa,


sua boceta apertando seu pau. Transformando-o em um homem
selvagem, seus quadris empurrando para frente sem um único
comando de seu cérebro. Ele não soltou sua garganta, sabendo
instintivamente que seu orgasmo chegaria a outro nível se mantivesse
a pressão. Pressão. Forte. Ziguezagueando para cima e para baixo em

243
sua coluna, enchendo suas bolas até que estava falando palavras
ininteligíveis acima do seu corpo que sacudia violentamente.

— Ahhh, Cristo, linda. Mantenha a bunda levantada para mim,


me deixe gozar.

Ele caiu em cima dela, escorregando em sua transpiração mútua,


seus quadris se movendo como se não fizesse mais parte do seu corpo.
Bombeando. Em padrões diferentes, como se ele nunca tivesse estado
dentro de uma mulher antes. Como se soubesse o prazer de dirigir seu
pau e não conseguisse parar de ceder.

— Fique na ponta dos pés e abra mais as pernas. Mais. O


suficiente para questionar sua moral mais tarde, quando se olhar no
espelho. — Um grunhido involuntário saiu dele. — Você vai tomar tudo.
Você e sua linda boceta.

Com a visão turva, ele observou quando os nós dos dedos ficaram
brancos na borda da mesa e sentiu ela elevar o ventre, perdendo a
noção da realidade. A sala estava toda em preto ao redor dele ou pode
ter perdido a consciência, seu corpo drenando a tensão e o prazer em
seu ventre, até desaparecer lentamente num nevoeiro.

Não foram os dois anos de celibato que deixaram sua reação tão
feroz, consumindo completamente ele. Rita. Foi Rita. Era tão óbvio na
maneira como o coração tentou rasgar o peito dele, a maneira como a
queria como um homem ganancioso, cobiçando, como se tivesse
agarrado em um bote salva-vidas em uma tempestade.

— Rita, oh Deus. Rita.

244
Eles descansaram sobre a mesa, cada centímetro de seus corpos
moldados em um arco para acomodar bem a posição. Jasper enterrou
o rosto na curva do pescoço dela, pensando que nunca iria respirar
normalmente outra vez. Comer, dormir ou falar normalmente. Nunca
mais. Uma urgência intensa ainda existia dentro dele, apesar do estado
totalmente satisfeito do seu corpo. Tinha algo a ver com a respiração
entrecortada, seu peso pressionando ela. Estava confortável? Ele foi
muito áspero? O que aconteceria agora? Provavelmente precisava de
alguma coisa dele e ele não tinha experiência em fazer uma mulher se
sentir cuidada após o sexo. Geralmente apenas cuidavam de si, mas
não podia permitir que esse fosse o caso com Rita. Deus, ele estava
desesperado com a chance de cuidar dela.

Jasper abriu a boca para falar, mas parou quando notou que seus
dedos ainda estavam brancos onde agarrava a mesa. O que o levou a
perceber uma quantidade enorme de coisas. A tensão voltou para o
corpo debaixo dele, a respiração abrandou e eventualmente, parou
completamente. A distância apareceu entre eles, dois lados de terra
fértil rachando com a força de um terremoto. Era como assistir ao seu
próprio pesadelo aparecendo em uma tela de cinema.

— Rita. — Ele tentou, com a voz rouca. — Diga qual o problema.

Seus dedos se esticaram, flexionaram, as palmas das mãos


achatadas correram de volta para sua cintura, seu corpo.

— Qual pode ser o problema? — O som dela limpando a garganta


era gentil, contido. — Isso foi... nossa. O melhor que eu já tive.

Teve a sensação de levar um soco no estômago.

245
— Bom saber.

— Sim. — Rita se ergueu, forçando Jasper a se levantar, sair dela,


aliviando o calor do seu corpo e assim pode observá-la com cuidado.

Ela era uma maldita visão, liberado de sua sessão rigorosa, o


brilho do suor deixando-a molhada. Mas tudo que Jasper podia ver era
a forma como sua mão se levantou, colocando uma mecha de cabelo
atrás da orelha. O educado e impessoal jeito como ela sorriu em sua
direção. E ele poderia ter apenas pisado em território desconhecido e
feito algo errado. A vergonha, a raiva, a negação de sempre estar
disponível se acumulou, começando na ponta dos dedos, abrangendo
todo seu ser, em questão de segundos. De zero a cem.

O melhor que ela já teve. Nada sobre ele como um homem. Apenas
sua habilidade. Pior, Rita pode ter iniciado a brincadeira impessoal,
mas ao invés de corrigir o desequilíbrio entre eles, ele a seguiu
completamente e provou que era uma boa transa sem amarras, como
todos sabiam que era. Talvez eles estivessem certos o tempo todo.

— Vai. — Ele conseguiu dizer, empurrando a única sílaba através


dos lábios rígidos, colocando seu pau dentro de seu jeans com
movimentos bruscos.

Rita fez uma pausa no ato de abotoar seu short.

— O que?

— Vai embora.

A autopreservação era uma coisa poderosa. Mais poderosa do que


a voz gritando com ele para segurá-la, para não deixar ela ir embora.

246
Porque isso era exatamente o que Rita estava se preparando para fazer.
Fodê-lo e correr. Assim como o restante delas, apesar de que dessa vez
não iria permanecer de pé tão facilmente. Ele não podia, não aguentaria
vê-la sair de qualquer maneira. Isso iria matá-lo. Então iria fazer o
oposto. Talvez fosse a diferença entre dobrar e ficar na posição vertical.

— Pode ir. Você teve o que queria. Desculpe se te fiz esperar alguns
dias. — Certificando-se de olhar nos seus olhos para que ela pudesse
ver como o destruiu, Jasper caminhou até a porta e abriu. — Saia.

Rita encolheu-se como se tivesse levado um tapa, mas Jasper de


alguma forma ainda notou a falta de surpresa sobre sua reação quando
ela se apressou a colocar o sutiã, puxando a camisa sobre a cabeça.
Quando o braço passou pela gola e se viu forçada a tentar de novo, um
soluço saiu de sua boca, os dedos prenderam em sua pressa para
arrumar a camisa. Sem pensar, Jasper lançou-se em direção a Rita
com um passo de gigante, estendendo a mão para ajudá-la, mas já
estava passando por ele.

— Eu não... isso não sou eu. Ou... ou você. — Disse Rita da porta,
se virando levemente, o punho pressionado na boca. — Algum dia
alguém ficará depois. Prometo.

Jasper jurou que podia ouvir cada passo que ela deu do bar até o
hotel. Contou eles como se fossem os segundos restantes de um jogo
em que sua vida estava. E quando a campainha tocou, ele perdeu.

247
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Rita estava bem familiarizada com as esferas da vergonha. E ela
não considerou caminhar pelas ruas com as roupas amassadas depois
de estar com um homem. Não, isso era diferente, descer na rua
principal empoeirada de Hurley era a epítome da vergonha.
Transeuntes desaceleravam seus carros, alguns até abaixavam a janela
para perguntar se precisava de ajuda, ao que conseguiu dar apenas um
aceno de cabeça negativo. A cada passo, seus pés escorregavam para
cima e para trás sobre as solas de suas botas, quase como se tivesse
diminuído com a auto aversão avassaladora. Mais à frente viu o carro
na oficina e foi até ali que ela se dirigiu desesperada para o Suburban
torcendo para ele estar pronto para que eles pudessem sair de Hurley.

Estou envergonhada.

O comando rouco de Jasper para sair se repetia mais e mais


enquanto andava na calçada. Deus. O que ela fez? Talvez se a
demonstração na cozinha não tivesse durado tanto tempo, caso tivesse
encontrado uma maneira de impedir as lembranças, teria comportado-
se melhor. Mas o simples ato de cozinhar novamente foi um lembrete
muito grande de tudo o que deixou para trás. Tudo era muito grande,
muito invasivo e eventualmente, a necessidade de cortar os laços com
toda a espera de Jasper estava incluso na situação. Como ele se atrevia
a entendê-la quando ela não entendia? Ninguém entendia. Com esse
sentimento, usou a única arma que tinha contra ele. Sexo e deixa-lo.
Tratar sua atenção no escritório como qualquer outro despersonalizado
e sem compromisso encontro.

248
O sexo com Jasper foi a coisa mais distante de despersonalizado.
Não foi? Mais como algo alterando sua vida. Ele falou que era um
grande jogador e acabou que se tornou ainda melhor. Jasper Ellis era
o Deus do sexo. E ele era muito, muito mais do que essa porra. Era
tudo além do sexo. Compreensivo, divertido, cuidadoso, um homem
perspicaz que apenas tentou abrir caminho até ela.

Bem, ela o salvou da eventual decepção, não salvou?

Rita não poderia fazer ninguém feliz. Não, Miriam não conseguiu
dar seu talento, apesar de Rita ser a escolhida para seguir seus passos.
Nem os irmãos que não tinham alguma razão para conectar-se ou se
comunicar com seu pós-funeral. Nem sua equipe, seus clientes, os
juízes ou concorrentes no reality show. Ninguém. E não seria diferente
com Jasper, exceto que ela não teria seu apartamento de um quarto
para se esconder. Estava em um lugar estranho com pessoas
desconhecidas. Não havia saída além do fracasso.

Rita chegou a um impasse quando uma ideia ocorreu como uma


explosão de raios. Em algum lugar no mais remoto de sua mente, ela
deve ter considerado a possibilidade de ficar em Hurley. Caso contrário,
como podia negar essa perspectiva agora?

Servindo para torturá-la ainda mais, o som da respiração pesada


de Jasper invadiu sua cabeça, ecoando e bonito. A maneira como ele a
abraçou, como uma relíquia cobiçada. Ela viu um flash de luz, uma
pequena chance de corrigir seu erro antes que a traição a pegasse. Eu
posso corrigir isso, pensou. O que aconteceria se ficasse e tentasse fazer
Jasper feliz? Mas esse mesmo flash de luz permitiu que Jasper visse
através dela primeiro.

249
Quando ele disse a ela para sair, Rita quase ficou orgulhosa dele.
Não era nada menos do que merecia. Trabalhou durante toda a manhã
para fazer algo de bom para ela e o recompensou tratando-o como lixo.

Rita olhou para cima para ver que estava em frente a oficina. As
portas de metal enferrujado estavam fechadas, nenhuma atividade no
outro lado das janelas de acrílico. No meio do dia? Ela saltou com um
grito quando Aaron veio caminhando na esquina do edifício, um gelo
pressionado no queixo inchado.

— Nós estamos fodidos.

Ok, sua cabeça estava destruída para ter uma interação humana,
mas a fala de seu irmão perfeito, definitivamente merecia uns poucos
minutos de tempo.

— O que quer dizer? — Ela apertou dois dedos na testa,


esfregando em um círculo. — Você não deveria estar se recuperando de
uma cirurgia odontológica?

Sua resposta foi de improviso.

— Eu dormi por uma hora.

— Provavelmente roncou o tempo todo.

Ele desviou o olhar estreito da oficina fechada.

— Desculpe?

— Você não roncava quando era criança. Mas ronca agora. — Ela
puxou o elástico do pulso, prendendo o cabelo para trás em um rabo
de cavalo. — Ninguém nunca te disse?
250
Talvez devesse ter tirado um momento para ficar com Aaron antes
de agora. Ela sempre pensava nele como uma máquina fria, mas os
pensamentos ondulados apareceram sob a superfície, como um
submarino viajando em água parada. Era fascinante de perto.
Normalmente, olhando diretamente para alguém, especialmente Aaron,
isso faria sua pele ficar muito sensível, mas estava muito além desse
ponto essa tarde e seus receptores de estranheza habituais estavam na
oficina, ao lado do Suburban.

— Não, nunca me falaram isso. — Seu irmão disse, finalmente. —


As mulheres não costumam ficar para passar a noite, graças a Deus.

— Sim. — Uau. Nenhum deles era normal. — Sim, graças a Deus.


Eu acho.

Aaron finalmente falou.

— O que aconteceu para você estar com essa cara de cachorro


ferido? — Ele ajustou o gelo. — Está mais triste do que de costume.

— Ah, é? — Ela chutou uma pedra em seu sapato, um pouco


surpresa por sua exibição de atletismo. — Bem... você está sendo mais
um punk de merda do que o habitual.

Seu irmão a surpreendeu ao dar um pequeno sorriso, mas um


estremecimento seguiu direto em seu queixo.

— Algo a ver com Jasper, não é? — Sua atenção se voltou para a


oficina. — Jesus. Eu nem quero saber.

Claro que o instinto fraternal enraizado para irritar o irmão dela a


todo custo fez Rita contar toda história.

251
— Bem, vou te contar, de qualquer maneira. — Ela acabou
dizendo. — Ele é, porra... maravilhoso. E arruinei tudo tendo sexo com
ele.

— Você deve estar fazendo algo errado. — Aaron falou, sem se


preocupar em olhar para ela.

— Estou fazendo tudo errado. — Ela gritou. — Tudo.

Quando Aaron retirou o gelo de seu maxilar e se encostou contra


o prédio, Rita ficou boquiaberta.

— O que você espera que aconteça, Rita? Que talvez se estabeleça


nessa bacia de poeira de cidade e tenha bebês vestindo flanela? — Sua
risada foi baixa. — Se é isso que quer, sinto pena de você.

— Não sinta. — Ela resmungou.

Era uma coisa visível, Aaron deixando claro sua opção. Ele pegou
o gelo, limpou na manga e botou de novo contra seu maxilar.

— Descubra o que você quer e encontre uma maneira de alcançar.


Ninguém pode fazer isso por você. Chorar não ajuda e está fazendo essa
porcaria preta em seus olhos escorrer.

Oh cara. Ela odiava Aaron naquele momento por lhe dizer a


verdade, sendo tão desnecessariamente duro, mesmo que isso fosse
exatamente o que ela queria após a cena da qual acabou de fugir.

— Eu quero um novo começo.

252
Aaron assentiu com um ar de entendimento surgindo em sua
expressão, antes que ele escondesse, chutando a porta da oficina,
sacudindo-a em suas dobradiças.

— Bem-vinda ao clube.

~*~

Rita estava deitada de lado, de frente para a parede de seu quarto


de hotel. Atrás dela, Sage e Peggy estavam esparramadas com pipoca e
com um edredom verde assistindo o episódio de The Golden Girls, onde
Rose perde sua memória. O edredom áspero estava encharcado sob sua
bochecha molhada, mas não podia se mover para ir buscar uma toalha
ou até mesmo se mexer alguns centímetros para fugir do local úmido.

— Sou pior do que espuma de lagoa. — Rita disse em voz alta,


assustando a si mesma. Atrás dela The Golden Girls foi pausado, mas
ela ainda podia ver as sombras piscando na parede, lhe dizendo que o
som foi cortado.

— O que você disse? — Peggy falou. — Não podia te ouvir sobre o


som dessa série que continua a ser relevante.

Houve o som inconfundível de Peggy e Sage trocando uma batida


de mãos. Novas lágrimas brotaram nos olhos de Rita, então ela se virou
e olhou para o teto, desejando que elas diminuíssem. Por que não podia
ter escolhido uma confidente como Sage ao invés de Aaron? Sua

253
angústia fora da oficina apenas a atormentava com mais perguntas.
Disse a ele que um novo começo era o que queria. Quis dizer isso,
também. Apenas quando tentou se imaginar assistindo aulas em Nova
York, a imagem clara que tinha ao deixar San Diego ficou obscura e
indefinida. Como uma Polaroid manchada.

— Você vai ver as temporadas de The Golden Girls antes de chegar


a meio caminho de todo o país.

Ao lado de Rita, Sage ajeitou os óculos.

— Nós discutimos isso. E estamos pensando em mudar para The


Facts of Life30 sem parar.

Peggy foi para o final de sua cama.

— Rita, você está chorando?

— Não. — Bastava ter sua condição abordada em voz alta para se


tornar insuportável. Essa era a verdadeira situação. Ela estava
chorando por ter perdido um homem. — Talvez.

Os anéis pendurados ao redor do pescoço de Peggy chocalharam


um contra o outro, mas ela levou um momento para falar, como se
estivesse tentando descobrir uma maneira de abordar Rita sem ter a
cabeça cortada. Senhor, ela era uma péssima irmã, não era?

Finalmente Peggy falou.

30 “Vivendo e Aprendendo” no Brasil, teve 9 temporadas com 209 episódios produzidos entre 1979 e 1988.
A série fala sobre a governanta, Sra. Edna Garret, (Charlotte Rae) do colégio Eastland.

254
— Posso te dar conselhos como uma das Golden Girls. A que você
escolher. Você quer Blanche, Rose, Dorothy ou Sophia?

— Porque você não pode falar comigo como você mesma?

— Você quer que eu fale?

Rita cobriu o rosto com as duas mãos.

— Eu prefiro a Blanche.

Peggy limpou a garganta, rindo quando Sage começou a filmar


com seu telefone.

— Rita Clarkson, haverá tempo para chorar, mas não quando


ainda há tempo para resolver isso. — Sua imitação de Blanche era
quase perfeita. — Supere o cara do bar e lhe dê uma lembrança
duradoura. Certifique-se de configurar a câmera no seu melhor ângulo.

— Já dei uma lembrança duradoura e foi apenas uma droga. —


Disse Rita para o teto. — Mas foi bom Blanche, de qualquer maneira.

— Obrigada.

Uma batida na porta fez todas às três mulheres se sentarem nas


camas. Quando ninguém respondeu, Sage se levantou e andou para o
outro lado da sala, verificando através do olho mágico.

— É Aaron. — Ela abriu a porta para revelar o irmão mais novo


de Rita, a metade de sua boca ainda inchada, mas menos o lado com
gelo.

255
— Antes que você pergunte, me sinto como uma bosta. — Aaron
resmungou, pisando no quarto e caindo sem cerimônia sobre a
cômoda. Ele e Rita trocaram um olhar avaliador, como se para
determinar onde estavam após a sua conversa anterior, mas rompeu o
contato visual sem demora. — Passei na oficina. Eles estão trabalhando
no Suburban agora, por isso vamos sair daqui de manhã.

O estômago de Rita pareceu estar cheio de gelo.

— Oh. São ótimas notícias.

Aaron lhe deu um olhar seco, colocando-os de volta em terreno


familiar.

— É, sim. Não pule de alegria.

Normalmente, Rita iria perguntar a Aaron se ele queria perder


outro dente, mas a realidade de deixar Hurley em questão de horas
congelou a ameaça em algum lugar de seu peito. Não era apenas ir
embora, era deixar a cidade enquanto Jasper provavelmente a odiava.
Talvez até mesmo se odiasse por entregar-se a ela naquela tarde.

Rita experimentou uma súbita explosão de inquietação. Se ela


permanecesse em uma posição propensa até que deixasse a cidade, ela
poderia repetir isso na memória de manhã e outra vez até o que? O
resultado mudasse? Essa era a própria definição de insanidade. Ela
ficou de pé e começou a andar.

— Eu preciso sair daqui. Existe algum lugar onde podemos ir?


Como um cinema?

— Ou um museu? — Sage interrompeu.

256
Essa sugestão foi recebida por um silêncio prolongado dos irmãos
Clarkson. A organizadora de casamentos ficou de pé prontamente para
limpar os óculos com a barra de seu vestido.

— Pela primeira vez, estou com Rita. — Disse Aaron, testando sua
bochecha inchada com os dedos cuidadosos. — Esse hotel está
começando a parecer como uma cela acolchoada.

— Ooh! — Peggy pulou para fora da cama e se lançou para a bolsa,


que estava pendurada na parte de trás da única cadeira do quarto. —
Nate me deu uma dica, uma expedição noturna no deserto. Você faz
uma fogueira e o guia conta histórias de fantasmas...

Sage levantou um dedo.

— Na verdade, isso não foi exatamente do jeito que Nate


descreveu.

— Quem é Nate? — Perguntou Rita.

— O barman no Liquor Hole. — Sua irmã respondeu, seu tom


gotejando com impaciência. — Não há nada a fazer nessa cidade, exceto
esta porcaria de cara, então ficamos bem familiarizados.

— Sim, bem funcionou. — Rita disse de volta. — Seu rosto não


parece uma merda.

— Pessoal. — Peggy ficou entre eles, acenando com o folheto. —


Vamos. Nada poderia ser pior do que se sentar em volta de brigas.

257
Outra batida na porta. O coração de Rita estupidamente acelerou,
pensando que poderia ser Jasper. Deve ter demonstrado de alguma
forma, porque os outros observaram ela com interesse.

— É provavelmente Bel. — Ela disse, dando alguns passos em


direção à porta. Depois de uma olhada superficial através da porta, o
coração de Rita se afundou, mas ela conseguiu tirar essa expressão do
rosto na hora de deixar Belmont entrar na sala. — Ei.

Belmont lhe deu um aceno rápido quando entrou na fria


escuridão. Seu olhar imediatamente se concentrou em Sage, que puxou
a barra de seu vestido para baixo com seu rosto em chamas.

— Comida? — Perguntou Belmont.

Rita percebeu que os irmãos se recusaram a olhar um para o


outro, mas, surpreendentemente, Aaron respondeu.

— Eu poderia comer.

Peggy girou, segurando o folheto como se fosse Simba do Rei Leão.

— Cachorro quente e s'mores31 estão incluídas no preço. Vamos


lá, pessoal. A aventura nos espera.

Com um suspiro, Aaron arrancou o folheto das mãos de sua irmã.

— Sai do estacionamento da igreja em trinta minutos. — Ele riu


baixinho. — Mas não faço ideia aonde é a igreja. Apenas o hotel.

31 É tipicamente consumida em volta da fogueira em acampamentos. É marshmallows assado, na fogueira


mesmo e uma camada de chocolate entre duas bolachas crocantes.

258
— Não é muito longe. — Sage murmurou. — Você pode ver a torre
do parque de estacionamento.

— Uma fogueira. — Cruzando os braços, Belmont franziu a testa


para Sage. — Você quer fazer isso?

Sage olhou Peggy balançando a cabeça freneticamente e sorriu.

— Sim.

— Acho que isso resolve tudo. — Aaron se levantou da cama,


dando a Rita um olhar avaliador. — Vamos iniciar um incêndio.

259
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Jasper não esteve assim em dois anos, mas era extremamente
necessário seguir à risca. Não se moveu da cadeira do escritório depois
de desmaiar nela algum tempo depois que Rita o deixou. Não. Ela não
o deixou. Depois que foi expulsa. Por ele.

Lá fora, no bar, garrafas de uísque e cerveja tilintavam juntas,


provavelmente Nate enchendo as caixas de gelo, trocando a bebida
velha, na preparação para a multidão da noite de sexta-feira. Seria tão
fácil virar uma dessas garrafas, de preferência uma contendo ouro
líquido e passar a noite esquecendo o que aconteceu com Rita, mas
seria o caminho de um covarde.

Então iria se sentar lá e lembrar cada segundo brutalmente


perfeito. Deixar o toque e a sensação boa de estar dentro de Rita, se
afundar mais e mais. Ou pior ainda, o modo como recuou quando ele
explodiu. O que ela esperava? Ele mendigar e implorar para ficar, como
um idiota sem força de vontade? Tanto quanto queria, se conteve. E
não era irônico que a força de vontade que foi cimentada sobre a mesa
essa manhã era a mesma que o forçou a se afastar de Rita essa tarde?

Sim. Com certeza era. Simplesmente não conseguia se livrar do


medo de nunca mais ver Rita para descobrir o que significava. Ou se
ela tivesse dado a ele confiança suficiente para descobrir, talvez
simplesmente não quisesse saber, porque era um grande chute nos
dentes.

Jasper esfregou as mãos pelo rosto, em seguida, lutou para olhar


para a mesa. Vendo Rita ali apertando seu corpo enquanto ele colocava
260
uma mão ao redor de seu pescoço. Confiante. Tão confiante quanto um
homem que esteve no processo de evisceração. Ou tudo isso tinha
apenas ficado fora de controle? Passou tempo suficiente com Rita para
saber que ela certamente estava fora do personagem, então deve ter
subestimado o loop em que foi jogada com a demonstração culinária.

O homem que Jasper era quando Rita chegou à cidade, — o


homem que esperava provar algo a si mesmo, passando um tempo de
verdade com uma mulher — com sua reação impulsiva, demonstrava
que o que aconteceu com Rita foi um fracasso. A prova de que era uma
boa transa, nada mais, nada menos. Mas algo deve ter mudado ao
longo da linha, porque o novo Jasper matava essa crença com um taco
de beisebol em chamas de fúria. Foda-se isso. Ele não era o
entretenimento da cidade mais. Rita não o rompeu essa tarde...

... e se ela realmente o quisesse? Teria ficado se ele não lhe


dissesse para sair?

A dor arruinou seu estômago, revirando-o. Não. Não, ele não


poderia fazer isso consigo mesmo. Agonizar sobre uma mulher cujas
ações foram tão claras no início. Acabar. Ela queria acabar, talvez ele
tenha errado ou simplesmente precisasse disso para avançar a um
lugar diferente, longe de Hurley e não sabia como cortar os laços.

Jasper levantou da mesa, com uma agitação viva em seu sangue,


desejando pela centésima vez que apenas tivesse batido a porta essa
tarde e fosse atrás de Rita. Droga, um bom argumento à moda antiga
poderia ser exatamente o que precisava.

Continue. Você conseguiu o que procurava. Saia.

261
Encontrar ela era uma má ideia. Observando-a sair com seu
temperamento no máximo foi quase um assassinato, mas uma calma
seria muito pior. Se ele pudesse a ver indo embora...

Você deveria me ver no Google em algum momento.

— Notebook. — Jasper murmurou, girando em círculo, tentando


se lembrar onde colocou a maldita coisa. Ele usava um papel e caneta
para fins de registro. Sempre foi assim. Seu computador de casa
raramente era ligado também, mas o do escritório mal foi usado desde
que o tirou da caixa. Por favor, faça com que funcione.

Jasper deixou de lado uma pilha de papeis no pequeno armário


de arquivo, encontrando o notebook prata sorrindo, ainda ligado ao fio
do carregador.

— Poupe isso. Eu não estou no clima. — Ele pegou o dispositivo,


abrindo-o sobre a mesa e o ligando. Com energia, usou as pontas dos
dedos, sabendo que poderia ver Rita em breve. Até mesmo uma versão
digital sua seria bem-vinda. Qualquer coisa para substituir o choque
de ser expulsa de seu escritório, sua boca ainda molhada de seu beijo.
Por favor. Estou morrendo.

Ele tinha o Google aberto em segundos, o nome de Rita digitado


em um segundo. A primeira coisa a aparecer foi um vídeo intitulado
“Ataque a faca de Rita Clarkson” e puta merda, um monte de gente viu
o vídeo. Suas sobrancelhas se levantaram enquanto lia a descrição,
principalmente porque uma pessoa geralmente mencionava quando ele
ou ela esteve na televisão, mas aparentemente, Rita decidiu deixar de
fora essa informação vital, embora o título dava uma noção do porquê

262
disso. A ideia de tantas pessoas colocando os olhos em Rita fez a nuca
de Jasper coçar, então seu dedo pairou sobre o mouse a um mero fôlego
antes de ver o vídeo.

Ele derreteu na cadeira quando Rita apareceu na tela em uma


roupa branca de chef olhando para um forno com esperança hesitante
em seus olhos, enquanto alguém gritava nos fundos “dois minutos!”
Pessoas passavam correndo, pessoas no fundo, caos completo em volta.
Um microfone mergulhou no quadro, apenas um toque, mas perto o
suficiente para o rosto de Rita sair do transe no qual parecia estar
presa.

Jasper puxou o notebook mais perto, como se ele pudesse entrar


e acalmar Rita. Tentando se acalmar, Rita foi pega em um tsunami. O
que ela estava pensando, concordando com essa tortura? Cozinhar era
uma habilidade com a qual Rita foi abençoada, reconhecesse ou não.
Mas isso? Foi projetado para ser a coisa mais distante da mulher que
conhecia. Precisava respirar e eles não estavam deixando. Ela não
tinha espaço para pensar.

Um minuto! Alguém gritou.

Jasper se inclinou para frente na cadeira. As mãos de Rita


estavam tremendo quando abriu o forno e tirou o suflê. Um perfeito.
Qualquer leigo seria capaz de ver isso. Ela teria ganhado essa rodada
da competição? Senhor, era tão bonita, cabelo preso, os lábios elevados
em um pequeno visor de prazer, talvez até surpresa...

Alguém com uma roupa de chef colidiu com seu prato.

Jasper ficou de pé, os punhos batendo na mesa.

263
— Oh, vai se fuder. Como isso?

Seu coração doeu quando os ombros de Rita caíram, junto com o


prato e ele queria apenas gritar para caralho. Fechar o notebook. Mas
o vídeo não terminou ainda, então Jasper se forçou a ver como Rita
calmamente colocou o prato na mesa, pegou uma faca de cozinha, se
virou e correu em direção ao bastardo concorrente. Ele esperava ver a
raiva ou descrença no rosto de Rita, mas não viu.

Viu apenas dor.

A mesma dor que viu em seu rosto essa tarde quando ele a
mandou embora. Um padrão ficou evidente, tão evidente que poderia
pegar e sacudi-lo no ar. A demonstração culinária que organizou foi um
lembrete de que Rita era vista como um fracasso. E então ela jogou em
Jasper a sua própria versão de um ataque de faca, tentando desviar a
dor. Ao invés de se esquivar como deveria ter feito, ele levou um tempo
e esfaqueou os dois onde doía.

Jasper não se incomodou em fechar o notebook. Não conseguia


levantar o braço para fazer muito mais do que pegar as chaves e correr
em direção à porta. Tinha que ver ela. Não podia deixá-la assim.

— Chefe. — Nate chamou. — Onde você está indo?

Ele teve que limpar a garganta para falar.

— Indo para o hotel.

— Espero que não esteja indo atrás de Rita. — Nate respondeu,


organizando as garrafas de cerveja. — Ela foi a um passeio.

264
Jasper agarrava seu bartender pelo colarinho da camisa antes que
percebesse.

— Não... porra, não me diga que ela deixou a cidade, enquanto eu


estava sentado lá atrás.

— Nada disso. — O jovem levantou as mãos, o choque irradiando


de sua forma rígida. — Ela apenas saiu para o deserto, é tudo.
Tentando sentir o milagre da confiança.

— Cristo.

265
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Excursão ao deserto, minha bunda.

Rita sabia. Entre os quatro irmãos, Peggy era a melhor mentirosa.


O que era irônico, considerando que Aaron era o político. Mesmo
sabendo que sua irmã poderia falsificar a verdade com o melhor deles,
Rita não tinha sequer piscado para a descrição de Peggy do seu passeio
noturno. Cachorros quentes e uma fogueira soou infalível. Agora, no
entanto, amontoados na parte de trás de dois jipes, batendo ao longo
das dunas provavelmente em direção a morte deles estava claro que
s'mores não estava na agenda.

A suposição de Rita poderia ter algo a ver com os sinais pintados,


em arco-íris coloridos decorando as portas de ambos os jipes:
EXERCÍCIOS DE CONFIANÇA DA GLEN: OBTENHA A VERDADE?

— Em que porra você nos meteu? — Rita gritou para Peggy,


lutando para ser ouvida sobre o barulho do vento através da janela
aberta do jipe.

Do lado oposto de Peggy, Aaron estava sentado com os olhos


fechados, braços cruzados, olhando como se estivesse tentando afastar
a ira. Sage e Belmont estavam no segundo jipe, provavelmente tentando
encarar um ao outro até a morte, uma situação que ainda não foi
explicada para satisfação de Rita. Caralho, para todos.

Peggy estendeu a mão e acariciou a perna de Rita.

— Será bom para nós.

266
O escárnio de Rita foi perdido no vento.

— Até que ponto eles precisam nos levar?

— A ideia é se retirar das armadilhas da vida cotidiana. — O


próprio Glen falou do assento do motorista, assim que eles alcançaram
uma duna gigante, deixando o estômago de Rita pairando no ar. — Para
tirar a roupa e sua camada mais básica, chegar à verdade, com a ajuda
de seus entes queridos.

— Entes queridos? Isso é algo. — Disse Aaron. Ao ouvir as


palavras de seu irmão, Peggy se jogou no assento, torcendo um cacho
ao redor de seu dedo, provocando um suspiro de Aaron e alguns
olhares desconfortáveis na direção de sua irmã mais nova. Depois de
um minuto lutando visivelmente consigo mesmo, ele colocou um braço
ao redor do ombro de Peggy. — Chorona.

O humor escorreu do rosto de Peggy.

— Cala a boca.

Fingindo que não estava vendo uma exibição rara de afeto entre
irmãos, Rita olhou para a escura e infinita areia, se perguntando se
comprou a ideia da curta excursão no deserto. Talvez a irmã estivesse
certa e qualquer forma de interação forçada fosse boa para eles.

Ou eles acabariam morrendo no deserto, seus corpos identificados


por bicadas de urubus, para nunca mais serem vistos ou ouvidos de
novo. O que Jasper estaria fazendo agora? Será que achava que ela já
foi embora?

267
Os pensamentos indesejados bombardearam Rita assim que os
jipes estacionaram ao lado de um círculo de cimento carbonizado
cercado por três toras de tamanho igual.

— Pelo menos você estava dizendo a verdade sobre a fogueira. —


Rita murmurou.

Dez minutos depois, eles estavam sentados ao redor de um fogo


crepitante que açoitava de um lado para outro com o vento. Rita
compartilhou um banco com os dois guias, Glen e Milap, Sage e
Belmont tomaram um para si, Peggy e Aaron se sentaram no outro.
Eles estavam a meio caminho de seus cachorros quentes, quando Glen
levantou e circulou o grupo algumas vezes, punhos cruzados na parte
baixa das costas.

— Hoje à noite será uma jornada difícil, mas gratificante. Sinto


uma grande quantidade de energia negativa entre esse grupo.

— Sim. Eu posso ver sua licença?

— Aaron. — Peggy disse, empurrando o ombro de seu irmão antes


de voltar sua atenção para Glen. — Isso é uma observação muito
astuta. Por favor, continue.

Glen inclinou a cabeça.

— Eu gostaria de começar com...

O som de um motor deixou todos em alerta. Na verdade, apavorou


Rita. Ela não conseguia ver absolutamente nada fora do círculo
iluminado, então um barulho pesado vindo em sua direção com um
ocupante desconhecido era indesejável no melhor dos casos.

268
— Vocês estão esperando outra pessoa?

— Nós estamos sempre preparados para o inesperado. — Glen


falou, mas Rita pegou o olhar nervoso que ele enviou ao outro guia.

Aaron se levantou.

— Certo. Realmente vou precisar desse alvará de funcionamento.

Todo mundo estava em um estado de animação suspensa até que


o motor do veículo desconhecido foi cortado e uma voz familiar rompeu
o silêncio.

— Rita.

Era Jasper. Ela não podia vê-lo na escuridão, mas era Jasper. Ele
estava lá. O sangue correu pelo seu corpo, aquecendo ela depois de
estar congelada durante todo o dia.

— Rita?

— Sim? — Ela falou.

— Bem, não lute por romance. — Aaron comentou.

Rita ignorou seu irmão, procurando inutilmente na escuridão por


Jasper. Quando ele entrou no círculo de luz um segundo mais tarde e
parou poucos metros de distância, um cobertor invisível de alívio e
conforto caiu sobre seus ombros. Deus, ele estava lindo em jeans
desbotado e camisa de flanela levemente amarrotada, o cabelo uma
bagunça total. Ainda não tinha feito à barba, lhe dando uma aparência
robusta e Rita fez de tudo para evitar saltar sobre ele, segurando-o, se

269
desculpando, mas a gravidade potencial do que ela fez anteriormente a
manteve enraizada no local.

Jasper não afastou a atenção extasiada de Rita, mesmo enquanto


se dirigia a Glen.

— Vocês devem encerrar essa atuação. Vou levar eles de volta para
o hotel agora.

— Quem te disse que estávamos aqui? — Glen falou lamentando.


— Nate de novo, não foi?

— Sabia. — Disse Aaron andando, enquanto Peggy o cutucava nas


costelas. — Nunca deixe um hippie te levar para o deserto.

— Por que você veio? — Rita sussurrou, ouvindo o tom sonhador


em sua voz. — Apenas para nos proteger?

Jasper se aproximou obviamente preparado para dar uma


resposta.

— Rita...

— Faremos esse maldito exercício de confiança, estão me ouvindo?


— Peggy escolheu aquele momento para uma birra completa, forçando
Rita a olhar para longe dele. — Nós estamos aqui e está acontecendo.
E não vou embora até que esteja terminado e todo mundo pare de agir
como grandes idiotas.

Sage se moveu em direção a Peggy, colocando a mão em seu


ombro, o que pareceu relaxar Peggy consideravelmente. Rita lembrou a

270
forma como a organizadora de casamentos acalmou Belmont na noite
anterior, após a briga de bar. Sage era algum tipo de sacerdotisa vodu?

— Nós já estamos aqui. — Disse Sage enviando a Belmont um


olhar tímido. — Podemos muito bem lhes dar um tempo, certo?

Todos olharam para Belmont, que assentiu uma vez e que parecia
ter a palavra final sobre o assunto. Glen ficou aliviado quando todos
voltaram a se sentar, mesmo um Aaron tranquilamente indignado. O
que deixou Rita e Jasper de pé, de frente para o outro. Os seus próprios
olhos estavam devorando a visão de Jasper da maneira como ele
parecia estar devorando a visão dela? Ela podia sentir a maneira
atormentada que a olhava até a ponta dos dedos.

— Podemos conversar quando isso acabar? — Perguntou Jasper.

Depois de Rita tentar não quebrar o pescoço balançando a cabeça,


ambos se sentaram no banco de tora, Jasper tomando o lugar
desocupado de Glen.

— Nós vamos começar com cada um de nós confessando algo que


tem estado em nossas mentes. Sem julgamentos. Sem comentar até
que a pessoa tenha concluído. Apenas absorver a honestidade. — Glen
olhou para o grupo. — Alguém gostaria primeiro? — Como esperado,
ninguém disse nada. — Não? Tudo bem, vou começar.

Aaron mudou de posição no banco.

— Isso deve ser interessante.

Glen levantou as mãos.

271
— Meu alvará de funcionamento está vencido.

— Bem, essa não é a confissão da década? Você nunca teve um


alvará. — Jasper corrigiu com seu maxilar flexionado. — Alguém pode
acelerar para que possamos voltar para a cidade. Eles sairão da cidade
assim que o sol nascer.

A Rita não foi dada a chance de reagir à declaração


categoricamente entregue de Jasper, porque Peggy ficou de pé de forma
dramática, puxando os olhos de todos.

— Eu matei o meu próprio hamster na quinta série. Não foi


Gerard.

— Quem é Gerard? — Jasper queria saber.

— O estranho ex-namorado de Rita. — Os dedos de Peggy


emaranharam em seus cachos, torcendo-os com violência. — Foi um
acidente. Eu sentei sobre ele e em seguida, escondi a evidência.

— A evidência é branda. — Aaron esclareceu, de pé, quando Peggy


sentou novamente. — Bem, nós resolvemos o caso morto do hamster.
Parece que devemos terminar com uma nota alta.

Havia apenas uma voz que poderia acabar com a briga que se
seguiu e cortar as vozes discutindo como uma faca na manteiga.

— Eu estive procurando pelo meu pai. — Belmont afirmou.

Foi isso. Ele não deu mais detalhes. Mas a revelação teve o efeito
de uma tempestade gelada os capturando em campo aberto sem abrigo.
Os irmãos trocaram olhares assustados, buscando claramente em seus

272
cérebros emocionalmente atrofiados uma resposta adequada e
chegando ao vazio.

Observaram em um estado de animação suspensa quando Sage


passou sua mão em todo o banco, roçando apenas seu dedo mindinho
contra Belmont, enviando um tremor através de seu corpo.

— Às vezes, quando planejo um casamento para um casal


verdadeiramente terrível, eu... secretamente tenho esperança de que o
casamento não dê certo. — Sage falou em um sussurro, como se ela
tivesse acabado de se aliviar de uma confissão de assassinato.

Belmont sorriu. Realmente sorriu. O que lembrou a Rita do


segredo que ele soltou. Tentando encontrar seu verdadeiro pai? Ele
nunca sequer mencionou que tinha interesse. E como egoísta e cegos
que eram, assumiam que seu parentesco diferente não era um
problema. Ansiedade se construiu no peito de Rita até que sentiu como
se tivesse correndo dez quilômetros. Sua garganta começou a arder
com a necessidade de falar, mas o que ela diria?

De repente, Aaron se levantou e deu alguns passos para fora do


círculo iluminado, antes de retornar.

— Será que todos realmente acham que eu poderia ficar um mês


fora do trabalho para vir nessa viagem ridícula? Vocês apenas...
acreditam em mim sem questionar. — Ele passou a mão sobre sua
boca. — Fui demitido. Cerca de uma semana antes do restaurante ser
incendiado, o senador Boggs me demitiu de sua equipe. — Um segundo
se passou enquanto a bomba afundava no meio do grupo. — Fodi ele.

273
Fiz algo que não deveria ter feito. Iowa não é sobre ficar à frente, é sobre
conseguir um emprego. Em qualquer lugar. Ou esse é o fim para mim.

Peggy colocou o rosto em seu colo e começou a soluçar. Grandes


soluços agitando o ombro que fez Aaron revirar os olhos antes que
sentasse de volta no banco e empurrasse sua irmã contra si.

— Vai ficar tudo bem. — Aaron murmurou, como se estivesse


tentando convencer a si mesmo mais do que a Peggy. — Não serei um
fracasso.

— Você não é. — Peggy insistiu, em lágrimas examinando os que


não confessaram. — Quem é o próximo?

Rita desviou o olhar, indo diretamente para o fogo cintilante.


Levou muita coragem para os quatro deles serem honesto. Ela não
podia seguir o exemplo, poderia? Não. Ela apenas não soltaria o escudo.
Sua confissão era muito pior. Eles iriam condená-la. Droga, ela já se
condenou e o julgamento foi bem merecido. Eles foram nessa viagem
por causa de um amor mútuo por sua mãe e a traição seria uma flecha,
os perfurando nesse raro estado de exposição.

Quando Jasper colocou a mão sobre a dela, Rita percebeu que ela
estava segurando a respiração. Mas agora o oxigênio entrou correndo,
como se estivesse sendo alimentado através de sua conexão física.
Lágrimas pressionaram por trás de seus olhos, como o frio final, sem
corte com um martelo. E ela apenas explodiu.

— Eu queimei o Wayfare.

274
CAPÍTULO VINTE E SETE
Perseguir Rita até o deserto foi um grande erro. Um erro
monumental. Ele deveria ter deixado as coisas como estavam. Jasper
viu os olhos dela brilharem com lágrimas não derramadas enquanto
Rita ouvia seus irmãos. Ouviu a nota de alívio que ela sentiu quando
ele apareceu. Seu plano para fazer as pazes pelo ocorrido parecia tolo
agora. Duas pessoas não se queimavam como eles fizeram e
simplesmente se refrescavam depois. Não. A queimadura estava lá
entre eles mais brilhante e mais voraz do que nunca.

Jasper pensou em tudo isso antes dela confessar que queimou o


restaurante da mãe. Então, talvez fosse louco como todos diziam,
porque se apaixonou por Rita quando disse essas palavras, as
liberando para a noite como pequenos raios elétricos. Ela segurando a
mão dele, o vento soprando seu cabelo ao redor de seu rosto era a visão
mais incrível que ele já viu. Talvez porque finalmente chegou ao fundo
dela e finalmente lhe entendeu. Oh, sim. Eu vejo de onde a dor vem. Eu
quero que seja minha dor também. Quero que você me dê à metade, para
que possamos suportá-la juntos.

— Poderia ter salvo ele. — Rita estava ofegante, o que levou Jasper
a apertar sua mão. — Tinha o extintor na mão. — Ela olhou à distância,
como se lembrasse. — Foi em um canto da cozinha... alguém esqueceu
uma das bocas do fogão acesa e a chama pegou em um avental
gorduroso sobre a mesa. Eu acho... acho? Apenas precisava acionar o
extintor. Mas não acionei. Apenas peguei um uísque e saí. E deixei o
restaurante da mamãe queimar.

275
Seu medo causou uma mudança em Jasper. Fazendo ele querer
levantar um escudo gigante para mantê-la oculta, enquanto defendia
suas ações. E iria defendê-la. Sem dúvida. Não tinha nenhuma questão
sobre Rita. Apenas o amor se expandindo e fortalecendo as paredes ao
redor deles.

Jasper se moveu na diagonal sobre o banco, olhando ela nos


olhos. Passou um braço ao redor de seus ombros e a puxou para mais
perto e deu um beijo em seu cabelo.

— Tudo ficará bem agora. — Ele murmurou. — Bravo, linda Rita.

Ela virou o rosto para Jasper, soluçando contra o lado de seu


rosto.

— Se eu fosse valente, apagaria o fogo. Não estaria com medo de


aparecer no dia seguinte para o trabalho que deixei virar cinzas.

A voz de Aaron cortou o silêncio, fazendo Rita recuar.

— Por que você estava com medo de ir para o trabalho?

Rita se afastou e soltou um suspiro para o céu.

— Você não sabe como era. Sendo a que escolheu. A esperada


para aprender o talento com que ela nasceu. Não podia viver com isso.
Cada dia era tentar, falhar, tentar, falhar. Depois do programa de
televisão, isso chegou a um ponto em que não posso lidar com a falha
mais uma vez. Não posso.

276
Jasper cuidava de Rita, enquanto revelava sua luta para
sobreviver. Ela não podia ver quão digna era de seu orgulho?
Simplesmente por ser o tipo de pessoa que tentava tanto?

— Sinto muito pelo que fiz. Sinto muito mesmo.

Belmont se moveu. Ele se levantou, circulou o fogo para ficar atrás


de Rita colocando a mão em seu ombro. Ela ficou imóvel, aqueles
grandes olhos castanhos dourados arregalados. Será que esperava que
eles a condenassem agora que contou tudo? Rita foi duas vezes mais
valente do que Jasper lhe deu crédito.

Um por um, os Clarkson e a mulher menor na qual ele não


reparou e que tinha a atenção de Belmont se agruparam ao redor de
Jasper e Rita. Todos, menos Aaron, que observava a cena de longe da
fogueira.

— Eu não sabia. — Peggy sussurrou, dando a Rita um beijo na


bochecha. — Mamãe parecia tão impressionada com você. Ficava até
com ciúmes.

Rita riu lágrimas no pescoço de Jasper.

— Não, você não estava.

— Claro que estava. — Peggy encolheu os ombros delicados, mas


estava lutando contra um sorriso. — Por pelo menos um minuto.

Com base na forma que Rita se encolhida contra seu corpo,


escondendo seu rosto da luz, Jasper entendeu que ela não estava
confortável com as demonstrações de afeto, embora seu alívio e choque
fossem coisas palpáveis. Emoções que ele podia sentir apenas olhando-

277
a. Cristo, queria levá-la para casa. Queria recompensá-la pela coragem
que demonstrou, queria pedir desculpas até que seu rosto ficasse azul
pela forma como ele exagerou naquela tarde. Mas ficou claro que os
irmãos estavam esperando Aaron se juntar a eles. Belmont, por sua
vez, parecia prestes a iniciar uma segunda fogueira com o brilho
nivelado na direção de seu irmão.

Finalmente, Aaron encontrou seus pés, se juntando a sua família


para bagunçar o cabelo de Rita.

— Está tudo bem. Foi um bom suflê, Rita. — Ele ajustou o


colarinho da camisa. — Você não tinha que queimar a porra do
restaurante apenas para me fazer admitir isso.

Rita balançou com risadas que foram seguidas quase


imediatamente por Peggy e Sage, o burburinho de Belmont
arredondando o som. Quando as risadas cessaram, Rita levantou o
rosto para Jasper que podia ler a expressão dela: Porra, isso apenas
aconteceu... mas por favor, me tire daqui. Puro e simples. Se ela não
gostava de seus métodos? Agora iria descobrir.

— Não fiz a minha confissão ainda. — Jasper disse, puxando


vários pares de olhos para si mesmo. Ele limpou a garganta e se
preparou para a precipitação. — O Suburban estava pronto desde
quarta-feira. Vocês poderiam ter ido embora dois dias atrás.

A boca de Rita caiu.

— Espere. O que?

278
A boa natureza de Aaron foi embora em um flash. Ele lançou uma
sequência de maldições que fizeram Sage cobrir os ouvidos e Peggy rir.
E Jasper não iria jurar em um tribunal, mas parece ter ouvido Belmont
rosnar.

— Eu não podia deixar Rita ir tão rápido. Vocês entendem? — Em


um movimento perfeitamente natural, Jasper puxou uma Rita ainda
em choque para seu colo. — Não sinto muito por subornar o mecânico.
— Ele murmurou contra o rosto dela, sem se importando se o restante
do grupo ainda estava ouvindo ou não. — Claro que não, não me
arrependo. Mas Deus, posso pedir desculpas, mas não consigo ver você
ir embora.

— Jasper... — Rita começou, mas ele a cortou.

— Eu só vou pedir um favor de vocês Clarkson, se não se


importam. — Ele empurrou o cabelo de Rita para trás da orelha,
memorizando a textura contra as pontas de seus dedos. — Ouvindo
toda a história de Rita e a conversa sobre Miriam sei que a viagem para
Nova York é importante. Rita quer aprender um novo ofício e não há
lugar melhor para fazer isso. — Deus, ele ainda estava pendurado.
Ainda empurrando para mais. Talvez não fosse capaz de desistir. —
Preciso de apenas mais um dia. Preciso de Rita quando eu abrir o
Buried Treasure amanhã à noite.

Como esperado, Aaron foi o primeiro a protestar.

— Você tem coragem. Vou te dar isso. — Ele começou a se virar,


mas seu olhar ficou preso em Rita. Tudo o que ele viu na expressão de

279
sua irmã o fez fazer uma dupla tomada de suspiro para o céu do
deserto. — Ah, merda! Um dia a mais, certo?

Peggy pulou batendo palmas.

— Todos nós podemos ajudar. Se os Clarkson sabem de uma


coisa, é sobre restaurantes.

— Ela está certa. — Rita falou. Um sorriso brincando em volta da


boca. — Todos nós tivemos empregos de verão no Wayfare, mesmo
antes de eu ir para a escola de culinária. Eles serão uma grande ajuda
se antes não te irritarem até a morte.

— Eu concordo.

Porra, Jasper estava tão feliz que o olhar assombrado nos olhos
dela o fez pensar em ir à igreja domingo para agradecer. Embora, não
havia nada sagrado sobre o que queria de Rita essa noite. Não era uma
coisa única. Ele se inclinou para sussurrar em seu ouvido.

— Vamos dormir na minha cama, Rita.

Ela estava balançando a cabeça antes dele terminar de falar.


Todos se levantaram para sair, parecendo levemente chocados, cada
um de sua própria maneira, quando a voz de Glen trouxe-os de volta.

— Sinos do inferno. O exercício funcionou. — Ele gritou alto o


suficiente para o fogo oscilar. — Vocês podem deixar suas
recomendações, certo?

280
CAPÍTULO VINTE E OITO
Era a primeira vez que Jasper mostrava sua casa para uma
mulher. Rosemary viu apenas quando ele comprou a propriedade. Mas
ter Rita andando pelas velhas tábuas, seus olhos vagando sobre seu
sofá, vendo sua caixa de pão e a sua parede com mapas era algo
completamente diferente. A voz dela fazia sua sala de estar ficar mais
suave de alguma forma. Fazia as luzes brilharem como lanternas. Fez
o seu mobiliário parecer mais convidativo. Oh mãe de Deus, ele amava
ter ela ali.

Ela aceitou compartilhar uma taça de vinho com ele na cozinha e


algo começou a cantar no fundo de sua mente. Um som reconfortante
com uma nota subjacente de aço que insistiu que servir vinho a Rita
em sua cozinha era uma atividade destinada a virar rotina. Pare! Pare
de pensar assim. Você tem Rita aqui agora. Não perca tempo desejando
o impossível ou sendo ganancioso. Basta saborear o momento.

— Não posso acreditar que eles não gritaram ou... Deus, nem
sequer pareciam zangados. — Rita falou sobre a borda da taça, se
referindo a seus irmãos. Ela sorriu para si mesma um momento, em
seguida pareceu agitar-se. — Quanto é que você pagou ao mecânico
para mentir sobre o Suburban?

— Bem. — Sorrindo, Jasper se preparou na ilha da cozinha. — Ele


tinha uma dívida no Liquor Hole. Vamos apenas dizer que nós
acertamos isso.

— Muito esperto. — Seus olhos brilhavam. — Se Belmont não


tivesse arrebentado o dente de Aaron, você o subornaria de novo?
281
— Claro que sim. Sem hesitação.

Ela riu e Jasper se alegrou quando o som ecoou para baixo nas
paredes de sua casa, a preenchendo com vida.

— Obrigada. — As palavras de sua própria boca pareciam assustá-


la, talvez no espírito da noite até agora, mas ela continuou. — Por
subornar alguém para manter-me na cidade. Por me querer por perto.

Jasper se levantou e andou em volta da ilha da cozinha até que


estava em seu lugar favorito: colado em Rita. Passou os dedos pelos
cabelos dela e a puxou em sua direção.

Promessas faziam pequenos buracos em seu ventre, escavando


componentes vitais que o impulsionavam a dizer algo, deixando todo o
tempo que viveu antes dela para trás. Permitindo que palavras fossem
ditas no silêncio depois de tantas palavras ditas naquela noite. Quando
estava com os pés descalços em sua cozinha, ela parecia uma
caricatura de um anjo. Gostaria de fazer um novo suborno todos os dias
para o resto de sua vida se descobrisse que ficar aqui a tornaria feliz.

Ele não podia dizer essas palavras em voz alta para que ela não
recuasse com a pressão. Mas poderia com certeza mostrar a Rita como
se sentia. Como o fazia sentir.

— Você me agradecendo por te querer por perto é como... água


agradecendo um homem por tomar um gole... no dia mais quente do
ano. — Quando Jasper uniu suas bocas, ela ficou um pouco sem fôlego,
fazendo a cabeça zumbir. — Sinto muito sobre essa tarde, Rita. Eu
fiquei preso em um maldito nó.

282
— Não. Não. — Sem olhar, ela colocou a taça de vinho para baixo
na ilha atrás dele, antes de cruzar seus pulsos atrás do seu pescoço,
se elevando nas pontas dos pés. — Não posso acreditar que ainda não
me desculpei. Talvez eu esperasse que você tivesse esquecido.

— Esquecido? — Jasper reverteu suas posições no espaço de um


segundo, empurrando seu traseiro contra a ilha. Usando o cabelo ao
redor de seus dedos para puxar a cabeça dela para trás. Ele se permitiu
olhá-la, porque sim, ela gostava disso. Gostava quando a parte
dominante dele saia para brincar.

— Acha que vou esquecer a maneira como você levantou sua


bunda e apertou os músculos da sua boceta? — Ele rosnou
profundamente em sua garganta. — Um homem não esquece ao gozar
com tanta força que nem lembra seu próprio nome. Um homem não se
esquece de uma mulher como você que fica ofegante ao ver seu pau.

— Eu faço isso? — Ela sussurrou. — Não responda. Sei que sim.

Jasper esperou Rita rasgar a camisa ou escalar seus quadris.


Alguma coisa. A expressão dela falava de todos os tipos de intenções
sujas. Então, quando ela saiu de baixo de seu corpo onde a pressionava
e andou em direção à parte traseira da casa, Jasper viu suas próprias
feições intrigadas refletidas de volta na porta de vidro.

— Rita?

Ela abriu a porta de correr de vidro que levava para a parte de


fora.

283
— Não há luar suficiente para me mostrar do lado de fora. — Por
que ela parecia perturbada de repente? — Mostre-me seu lugar favorito
no quintal.

Ele a seguiu, mas precisava de alguns momentos para começar a


respirar outra vez antes de mostrar para ela o lugar. Em comparação
com a lua branca gigante, Rita parecia tão pequena, o oposto da reação
de seu coração, que soava como o baixo de um sistema de som
industrial batendo contra as paredes de seu peito.

Ela colocou uma mão sobre o balanço que estava pendurado na


árvore desde que ele comprou o lugar. Nunca usou. Nunca sequer
considerou realmente usá-lo. Mas não tinha dúvida que o balanço
nunca mais teria a mesma aparência agora que ela tocou.

Distraído pela tensão nos ombros, Jasper se juntou a Rita no


balanço, dando um beijo em seu ombro nu.

— Por que você fugiu de mim assim? — Sua boca viajou até a
orelha dela. — Senhor, estou louco por você. E me afasta quando
preciso que esteja mais perto, isso é cruel.

— É isso mesmo. — Rita estremeceu. — Não quero que pense que


vim aqui apenas para me levar para a cama. Não depois de hoje.

Senhor do céu, ele seria um fenômeno médico pela manhã, o


primeiro homem a morrer com o coração partido.

— Rita, eu sei...

— Não, não sabe. — Ela bateu o pé. — Não sabe o quanto eu gosto
de passar tempo com você. Qualquer um gostaria. — Seus dedos

284
torceram a barra de seu short. — Talvez não seja intencional, mas ao
manter minha família na cidade nesses dois dias... pode ter começado
algo que nunca saberá plenamente. Você fez tanto. Algum dia, alguém...

Jasper acabou com o espaço entre eles, segurando o queixo dela


com as duas mãos.

— Não diga isso. Se falar sobre outra pessoa aparecer não será
bonito, Rita. — Já era o suficiente. Ele apreciava Rita querer lhe
assegurar que sexo não era seu único motivo para voltar para casa com
ele essa noite, mas já sabia disso.

Soube ali mesmo em seus olhos sobre a mesa naquela manhã.


Então novamente, quando ele entrou no brilho da fogueira. Graças a
Deus. Graças a Deus foi ao deserto à noite, ao invés de lamber suas
feridas, olhando para o relógio ao lado de uma garrafa meio vazia de
uísque, esperando por ela sair da cidade.

— Se fiz algo para você e sua família, fico feliz. Mas eu tenho uma
noite com você e não pretendo desperdiçá-la. Passei dois anos sem sexo
Rita e mal registrei a falta quase todos os dias.

Ele desabotoou o short dela, empurrando-o para baixo de seus


quadris, deixando cair no chão.

— Mas um dia inteiro sem estar dentro de você? Parece que passei
a porra de um milênio sem gozar.

285
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Rita iria se desonrar a qualquer momento e ofegar como um
cachorro da raça Golden Retriever. Grande, eroticamente focado e
perigoso à luz do luar... ela nunca viu nada e nem ninguém mais quente
do que o homem que a tocava. A palma da mão calosa de Jasper
acariciava para trás e para frente entre suas pernas, percorrendo um
caminho na seda de sua calcinha. Deus, ela poderia gozar apenas com
o atrito, mas quando ele enganchou um dedo no tecido e continuou o
movimento começando de sua boceta até a parte debaixo da bunda
dela, Rita parou de respirar completamente, seu corpo sacudiu com o
contato pele a pele.

— Menina sensível. Devo te deixar do mesmo jeito que estava de


tarde? — Seus dedos brincavam com o clitóris em círculos. — Fui
áspero, não fui, linda? Vou fazer isso para você. — O gemido que saiu
de sua boca soprou um arrepio na espinha dela. — E então vou te foder
de novo.

— Sim.

Assim que o apelo deixou sua boca, a calcinha dela foi arrancada
caindo na madeira do balanço com um tapa.

— Abra suas coxas para mim, linda. Preciso dar uma olhada na
boceta das minhas fantasias.

Ele esperou até que Rita obedecesse, a antecipação o deixou sem


fôlego no movimento provocante antes que ele abrisse sua calça jeans

286
e puxasse seu pau duro, segurando a centímetros de seu centro
exposto. Os dentes estavam serrados, o suor pontilhando sua testa.

— Isso é o que vai acontecer pela conversa dessa noite. A conversa


será a minha língua contra o seu clitóris até você gritar meu nome.
Minha cabeceira batendo na parede será a nossa conversa intima. E
esse corpo lindo montando no meu pau será nossa oração noturna.
Você está comigo Rita?

Sim. Rita quase gritou em rendição. Porque quem no mundo falava


assim? Tão magnífico e sujo, não poderia corresponder ao tipo de
domínio sensual. Poderia? A forma como corria o polegar sobre a
cabeça da sua ereção e lambia os lábios, a forma como ele a elogiou
naquela tarde, forçou Rita a considerar que era mais do que um jogo
para a habilidade letal de Jasper. Talvez ela fosse o contraponto perfeito
para isso.

— O que estiver pensando, linda, vá para o final do balanço e se


vire... — Ele caiu de joelhos na frente de suas pernas abertas, passando
as palmas das mãos ao longo de suas coxas. — Seus pensamentos
estão te deixando toda molhada e brilhante. Devo ficar com ciúmes?

— Não. — Rita sussurrou, se segurando no balanço por equilíbrio,


porque sim, Jasper estava definitivamente soprando ar quente ao longo
de sua carne umedecida. Oh Cristo, quem sabia que isso poderia ser
tão bom? Era como se ele a traçasse com um único dedo. — Estou
pensando em como fala comigo. Desejando poder dizer as mesmas
coisas. — Ela sussurrou.

287
Jasper sorriu contra o interior do seu joelho antes de arrastar a
língua mais para cima, para o núcleo em que seus olhos estavam tão
intensamente focados.

— Ah linda, você é bem-vinda a dizer o que vem a sua cabeça, mas


acho que haverá consequências.

Tão perto. Ele está tão perto. Só ir um pouco mais longe.

— Que tipo de consequências?

Rita se agarrou às cordas quando Jasper ajeitou as pernas dela


nos ombros dele, agarrando sua bunda e puxando-a para a beirada do
balanço.

— Por que não descobrimos? — Fixando os olhos azuis nela,


Jasper deu uma longa e rígida lambida, começando um barulho elétrico
entre seus ouvidos. — Vamos ouvir o que você tem a dizer, enquanto
trabalho... — Deu outra lambida devastadora. — Nessa deliciosa boceta
que você está exibindo para mim.

A concentração não era uma opção viável com as mãos de Jasper


apertando e soltando os globos de sua bunda, com a língua
determinada a causar estragos em todos seus sentidos, com cada
terminação nervosa sua. As cordas rangeram em suas mãos, seus
calcanhares com os músculos flexionados nas costas dele.

— Oh, por favor. Oh... você pode...?

— Posso o que? — Jasper parou e rosnou. — Peça, porra. Estou


de joelhos, te dando o que quiser, linda. Isso significa que minha boca
está ao seu serviço.

288
Rita lutou para inalar.

— Apenas... amo seus dedos e...

— Ahh, Jesus. — Ele deu um beijo em seu clitóris. — Isso te


lembra de antes, não é? Quer ser preenchida, pobre garota.

— Sim. — Rita suspirou mais alto. — Sim. — Jasper ergueu o dedo


médio dentro dela, passando a língua contra seu clitóris formigando, a
atenção sobre ela o tempo todo.

Seus olhos estavam vidrados, seus sons de prazer masculino


ondulando sobre sua carne. Gostava tanto quanto fazia parecer?
Porque uau. Uau. Rosnou contra a delicada entrada de seu corpo?
Jasper estava tão desesperado por ela quanto Rita estava por ele, o que
garantia a ela uma confiança de tirar o fôlego que nunca experimentou
antes. Derrubou suas barreiras e suas palavras seriam sua ruína.

— Estava tão grande na minha boca hoje de manhã. Eu queria


que continuasse... queria provar você.

A confissão de Rita terminou em um grito quando Jasper inclinou


seu dedo dentro dela, atacando um ponto que sempre jurou não ser
um local mítico.

— Consequências, Rita. — Jasper respirou contra ela, as maçãs


do rosto mais proeminentes, mostrando seu desejo louco. Trazido por
suas palavras? Sim...

— Quando v-você me perguntou se queria que você tocasse meus


seios...

289
Sua língua entrou dentro dela, fazendo a trilha terminar com um
gemido, mas Jasper deu um tapa na parte externa da sua coxa com
um beijo, colocando ela de volta no caminho certo, mesmo enquanto
deixava sua língua dentro e fora com uma eficiência que a deixava
tonta.

— Eu queria perguntar se você faria... — Ele chupou seu clitóris,


sugando forte, forçando o resto de sua confissão sair em uma exalação
apressada. — Se colocaria-se entre eles. Meus seios.

O exalar gutural de Jasper, juntamente com a força da sua boca


em sua carne mais sensibilizada, empurrou Rita para um ponto sem
volta. Suas coxas que estavam sobre os ombros de Jasper balançaram,
totalmente fora de seu controle. Sua língua foi acompanhada pelos
dedos hábeis, que combinaram forças para explorar o ponto G de Rita,
enquanto ele simplesmente se banqueteava com ela. A língua de Jasper
lambia ao redor das bases dos dedos e sobre o clitóris, nunca parando,
nem recuando. Fazendo uma refeição dela.

Quando Rita pensou que não poderia aguentar outro único


segundo da tortura perfeita, Jasper se levantou, envolvendo um braço
ao redor dos quadris dela.

Os lábios foram à loucura um contra o outro, línguas se debatendo


dentro da boca de Rita em seguida na de Jasper. Quando ele finalmente
se afastou e os permitiu tomar ar, tirou a camisa de Rita, mas ao ver a
fome de sexo nos olhos dela, Jasper ficou sem fôlego novamente.

— Você queria que eu fodesse seus seios, não é mesmo? — Ele


percorreu a mão por seu cabelo antes de abrir a boca na dela para um

290
beijo tão carnal que suas coxas se abriram sem um comando de seu
cérebro. — Passar meu pau para cima e para baixo em seu suor. Bem
na frente do seu rosto lindo. Porra. Sabe o quão excitado isso me
deixaria? Ver você observando meus impulsos de perto? — Como se
imaginando a cena, Jasper inclinou e chupou a ponta de seu seio
direito, as bochechas esvaziando. — Isso terminaria comigo gozando
em seus mamilos.

Rita soltou uma das cordas para apertar a bunda de Jasper,


puxando-o mais perto, o calor de seu corpo e seu toque, agora uma
necessidade.

— Eu adoraria isso.

Não havia como um dia se preparar para Jasper entrando em seu


corpo. Um momento, eles estavam se beijando como as duas pessoas
mais sexualmente carregadas no planeta, ele colocando a camisinha...
e depois ahhh ela estava cheia com sua excitação.

— Consequências. — Ele rosnou em seu ouvido, entrando com


mais firmeza, enrolando os dedos de Rita com a sensação. — Cristo,
linda. Você não começou lento com a conversa suja, não é? Dizendo
que queria que eu gozasse na sua boca sexy. Falando novos lugares
que gostaria de me sentir.

— Eu quero sentir você bem onde está. — Ela disse. — Oh meu


Deus! É tão grosso! Posso senti-lo batendo.

— Rita. — Jasper encostou suas testas, uma ação frustrada, que


terminou neles escorregando para outro beijo erótico. — Pare de falar
agora. Estou tentando saborear você, não estourar seus miolos.

291
— Faça isso. — Ela gemeu, apoiando as pernas dobradas mais
altas nos quadris dele, usando-as como alavanca para levantar o
balanço. — Preciso de você. Forte como antes.

— Forte como antes, sim. Mas dessa vez você vai me olhar nos
olhos enquanto eu estiver te tocando. Entende?

Jasper apertou as costas dela no balanço, segurando-a com sua


parte inferior do corpo, esmagando-a na madeira até que Rita gemeu.

— E em algum ponto dessa noite, vou fazer amor com você. O tipo
de sexo que leva uma hora para ser feito, lento e calmo. O tipo onde
nós envolvemos nossos dedos, então os entrelaçamos ao redor da
cabeceira da cama. E irei sussurrar coisas em seu ouvido, coisas que
eu não posso dizer na luz do dia. Prometa.

— Prometo. — Rita respondeu e suas coxas já estavam começando


a tremer pela forma como ele pressionou para baixo em sua carne
sensível.

Porém, havia mais agora. Seu coração estava no jogo, apertando,


levantando e torcendo as belas palavras que saiam da boca de Jasper.
Embora, não pudesse lhe permitir afundar muito. Não poderia se
debruçar sobre ele ou eles seriam feridos e ela não queria machuca-los
essa noite. Essa noite e algumas horas de amanhã era tudo o que
tinham. Isso significava que precisava de uma distração da realidade
que tinha apenas uma noite completa para passar com esse homem.

— P-por favor, Jasper. Mova-se dentro de mim.

292
A tensão dentro dele explodiu e o mundo começou a girar
novamente. Jasper enterrou o rosto no pescoço dela com um gemido,
seus quadris começando um ritmo lento de bater e voltar o balanço em
que Rita estava, antes de deixar o assento de madeira e levá-la de volta
para baixo em sua ereção. Um arco de vai e vem que resultou em Rita
saltando no colo de Jasper com o som de carne batendo, balançando
para trás, em seguida, voltando para frente novamente no ar.

— Jesus. Jesus, Rita. Por que você tem que ser um ajuste tão
doce?

Seu bombeamento desviou do padrão que ele definiu, iniciando


um novo, impulsos erráticos que eram tão desiguais como a respiração
que aquecia o pescoço dela. E cada uma dessas estocadas sacudia Rita
no balanço, o ritmo batendo ela de volta para baixo, estremecendo-a.
— Não posso... não consigo bombear tão forte quanto você precisa. —
Jasper gemeu. — Preciso que aperte e mantenha.

Rita abriu a boca para dizer que ele poderia fazer o que achasse
melhor, embora em termos menos articulados, quando a puxou do
balanço ela não conseguia ver onde a levou. Isso porque a boca dele a
distraía, movendo-se como uma promessa suja, rosnados baixos que
emanavam da garganta dele, se chocando com seus gemidos fora de
controle.

Eles se abaixaram depois de um momento e as costas de Rita


encontraram a grama macia que viu ao sair da casa. Depois disso, nada
existiu para ela, mas o próprio homem como um touro entre suas
pernas. O céu se transformou em um redemoinho obscuro acima dos
ombros dele que avançavam e recuavam.

293
Pegando os joelhos de Rita, ele abriu mais as pernas dela na
medida em que iam para baixo na grama, seu corpo agitando como um
oceano de ressaca. Repicando e quebrando, caindo, antes de voltar
duas vezes mais forte.

— Isso é o que você queria. Isso é o que gosta. — Seus pulsos


estavam presos acima de sua cabeça, forçando ela a arquear quando
soltou um grito com seu nome. — Não pode fugir do quão bom eu vou
te foder, Rita. Você poderia ir a qualquer lugar e nunca sentir isso
novamente. Preciso que reconheça isso. Deus sabe que estou
reconhecendo o inverso.

— Sim. — Seus braços esticados, os dedos flexionando debaixo do


aperto intransigente dele. — Eu sei, eu sei, eu sei. Não pare. É tão bom.
Dói. Parece bom.

— Sei tudo isso, linda. — Ele rosnou com a cabeça inclinada para
trás para que ela pudesse ver o suor escorrendo do seu rosto. — Eu sei
tudo sobre a dor. Sei tudo sobre o bem. Você me dá os dois, também.
— Os músculos de seu pescoço e ombros se apertaram. — Esta boceta
é boa demais. Cada centímetro apertado. Cada parte doce dela.

O clímax de Rita quase acabou com suas cordas vocais. Eles


ficaram presos, permitindo que apenas um grito estrangulado
emergisse quando ela arqueou do chão no que teria sido uma completa
torção de suas costas se o peso de Jasper não estivesse esmagando-a,
forçando ela a navegar reto ao orgasmo, experimentando a posse de
seu corpo inteiro. Suas pernas estavam nos ombros dele, os quadris
nunca cessando seus impulsos, gemidos masculinos vibrando no seu
ombro, sua garganta.

294
— Oh caralho, caralho, vou gozar agora. Forte. — Jasper ficou
rígido, seus músculos do braço apertando sob as pernas levantadas de
Rita, dentes abertos na escuridão.

Jasper gozando foi o acontecimento mais notável que Rita


testemunhou em toda vida. Ele ofegou com a intensidade, tentou
repetir o nome dela uma e outra vez, mas a palavra que saía soava
como se estivesse em carne viva. Cada músculo dele se destacava sob
a pele bronzeada, brilhando de suor. E seus olhos, Deus, seus olhos,
eram âncoras gêmeas mantendo Rita no chão enquanto observava esse
homem incrível receber seu prazer. Deixando-o naufragar no seu corpo.
A visão era tão incrível e excitante que ele apenas precisou tocar o
clitóris de Rita para ela gozar novamente.

Quando Rita recuperou a consciência, seus braços estavam moles


como se tivesse desmaiado. Jasper ainda se movia sobre ela,
esfregando seus corpos lisos juntos, murmurando coisas em seu cabelo
que variavam de sujo para adorável.

— Tão linda deitada aí com essa carne rosada a mostra. Eu


poderia te fazer gozar novamente apenas olhando para essa boceta
deliciosa. Tocaria ela para mim, Rita? Sim, você faria. Iria descansar
seu rosto na grama e me deixar foder essa boceta.

Whoosh. Lá se foi o pouco fôlego que ela conseguiu pegar.

— Acho que você ainda me vence no departamento de conversa


suja. — Ela conseguiu dizer através de seus lábios ressecados, seguido
de um suspiro. — Será sempre uma honra.

295
Em cima de Rita, o grande corpo de Jasper sacudiu com a risada
e ela parou no momento, porque nada pareceu melhor em sua vida. Rir
para alguém que sabia como fazê-la rir de volta.

— Vou te dar emprestado a minha medalha de ouro, contanto que


eu possa ficar aqui mais alguns minutos.

Ele estendeu a mão e usou o punho para sair do corpo dela com
um gemido gutural, removendo o preservativo e o colocando de lado.
Em seguida, concedeu a Rita outro esfregar de seus corpos, suas coxas
musculosas e cobertas de pelos fazendo-a se sentir ainda mais tonta.

— Aqui. Eu posso sentir tudo de você agora.

Rita correu os arcos dos pés para cima e para baixo em suas
panturrilhas, massageando as costas dele com os polegares.

— Você está pensando em fazer isso até que esteja pronto para ir
de novo? Deve levar um minuto ou mais. — Seus dentes brilharam em
um sorriso, mas desapareceu logo. — Nunca fiz isso depois dessa parte.
Eu nunca quis.

As mãos de Rita se acalmaram em suas costas antes de retomar


a exploração de seus músculos.

— Eu nunca fiz isso, também.

— Bom. Então você não pode dizer se estou fazendo errado.

Quando os lábios dele passearam até a garganta de Rita, ela


ofegou com as alfinetadas viajando por sua espinha.

— Se o que você está fazendo é errado...


296
Ele levantou a cabeça quando ela não continuou.

— Você não quer fazer direito?

— Sim, desculpe. Eu viajei.

O corpo de Jasper vibrou sobre ela novamente e Rita não pensou,


simplesmente jogou os braços para fora, mais uma vez e fez um anjo
de neve. Mas na grama. Com uma máquina sexual pressionando ela
na terra. E riu.

297
CAPÍTULO TRINTA
Jasper inclinou para trás contra o balcão da cozinha, ouvindo os
sons de Rita tomando banho. Usando seu sabonete, sua água, suas
toalhas. Se não achasse que ela precisava de um segundo sozinha,
perguntaria se podia assistir. Porém, se isso acontecesse eles ficariam
no andar de cima o resto da noite e não estava pronto para apagar a
luz ainda. Haveria tempo de sobra para dormir quando ela saísse.

Estou apaixonado por você, Rita. Será que ela o ouviria do chuveiro
se gritasse em plenos pulmões? Com o tipo de chuveiro que tinha?
Porra, imediatamente. Ao invés disso, provavelmente era melhor
manter as palavras soando em sua cabeça. Que raio de destino cruel
estava em jogo aqui? Ele encontra a mulher de sua vida do lado da
estrada que ficou tempo suficiente para tomar sua alma e então, seria
levada embora.

Não, isso não era inteiramente verdade, era? Partiria por sua
própria vontade. Antes de trazer Rita para sua casa, ele estava
determinado a ser altruísta. Determinado a entender que ela precisava
caminhar ao longo da estrada por escolha própria. Sim, ainda estava
lúcido o suficiente para acreditar nisso. Em sua mente. O órgão que
dava a vida em seu peito, no entanto, teve outra conclusão. Se Rita
tinha a intenção de ir, porra, iria tornar tão difícil quanto possível para
ela. Será que não tinha esse direito? Quando um homem ama uma
mulher ele não luta com unhas e dentes para continuar com ela?

Cristo, sim. Sim. Ela cruzou o limiar da sua casa e agora tudo
seria colocado a seus pés como uma oferta, se gostasse ou não. Ele não

298
podia viver com a forte perspectiva de nunca a ter novamente. Acordar
dentro de dois dias, sem a possibilidade de encontrar Rita ao lado dele,
no térreo ou no quintal? Jasper iria lutar contra o destino para não ter
que viver esse pesadelo.

Aliás, era bem possível que ele poderia ser digno do sonho. O
sonho de ter Rita. Ela foi aquela que o convenceu de que sua presença
significava algo. Não importava. Estava aqui agora, não estava? Em sua
casa, com ele, feliz. Mesmo que fosse algo físico, mesmo que tivesse a
deixado com raiva. Ela ainda estava aqui. Mas não por muito tempo.
Não posso deixar isso acontecer.

Ouvindo Rita sair do banheiro, Jasper colocou a mão no armário


e pegou uma caneca de café. Ele tinha menos de vinte e quatro horas
para convencer uma mulher que conheceu nos últimos três dias a
cancelar todos os planos futuros e ficar em Hurley. Com ele. Um
homem que nunca esteve em um segundo encontro. Nem mesmo com
Rita. Então, precisava de toda a ajuda que pudesse conseguir.

Rita entrou na cozinha vestindo uma de suas camisas de flanela.


A caneca de café que ele segurava congelou no ar. As mangas estavam
dobradas acima das mãos, a barra em algum lugar abaixo dos joelhos.
Jesus. Como alguém poderia lhe pedir para suportar a visão de ver ela
indo embora depois que usou suas roupas?

— Encontrou tudo que precisava? — Droga, soou como se ele


tivesse comido um porco espinho.

Ela assentiu com a cabeça, girando o cabelo molhado em um


coque no alto da cabeça, o mantendo lá com um elástico.

299
— Você tem muitas camisas de flanela.

Jasper serviu uma xícara de café, esperando que a tarefa fosse


reduzir sua pulsação para que ele pudesse se concentrar.

— Terei que escolher um tipo diferente agora. Você parece uma


visão bem melhor nela do que eu.

— Essa camisa e jeans estão parecendo muito bem. Posso querer


ficar com isso.

O tom rouco de sua voz e os olhos castanhos dourados o


verificando fizeram a boca de Jasper salivar. Entre outras coisas. Ele
deu uma rápida olhada a sua camisa cinza desgastada antes de
entregar o café para Rita. — Continue olhando para mim assim, linda
e você verá o que estará por baixo muito rápido.

Suas bochechas ficaram cor de rosa, os olhos brilhando.

— Você quer dizer isso, não é? Estou te deixando com tesão.

Jasper observou ela sobre a borda de sua xícara de café enquanto


bebia, em seguida, colocou a caneca para baixo na ilha de mármore
com um sonoro crack.

— Venha aqui.

Rita com calma passou ao redor da ilha para ficar na frente de


Jasper que apreciou o som de seus pés descalços no chão, a maneira
como ela brincava com ele sem as reservas visíveis de antes. Encostou-
se à ilha e arqueou uma sobrancelha.

— Posso ajudar?
300
Ela é bonita acima de tudo. Deus me ajude. Jasper emoldurou seu
rosto com as mãos, cuidando para não deixar seus corpos fazerem
contato. O plano era passar pelo menos alguma parte da noite não a
fodendo e Jasper estava determinado a fazer isso.

— Se me deixar com mais tesão ou mais quente, Rita, irá queimar


até minhas malditas sobrancelhas. Eu teria que desenhá-las com uma
caneta ou algo assim. Nem mesmo Rosemary gostaria de ser vista
comigo em público.

Sua risada quente causou uma dor no peito.

— Não, eu não iria culpá-la.

— Então, apenas mantenha os olhos acima do meu pescoço até


que eu diga o contrário. — Ele pressionou seu polegar contra o lábio
inferior cheio. — Não sei quem te levou a acreditar que você era sexy,
mas gostaria de ter uma conversa com ele.

— Uma conversa?

— Eu gostaria de quebrar seu nariz. — Ele assentiu. — Duas vezes


seria bom.

— Melhor. — Ela balançou a cabeça, os dedos brincando com os


botões da camisa de flanela. — Não foi uma única pessoa. Portanto,
muito do meu tempo foi gasto na cozinha, tudo fora de lá parecia
estranho. Antinatural. Eu apenas... — Uma careta apareceu entre as
sobrancelhas. — Apenas não acho que houve qualquer ponto em
tentar. Eu eventualmente não iria faze-los partir?

301
— Não. — Rita pulou, então ele segurou seus braços para
estabilizá-la. — Não, você não iria. Mas sou um homem egoísta, por
isso estou feliz que não namorou com alguém inteligente o suficiente
para fazer um esforço. Eles tentariam te segurar a todo custo. —
Percebendo que estava revelando demais, Jasper limpou a garganta. —
E então eu teria que quebrar mais narizes.

Um momento pesado passou quando ela o observou, os lábios se


espalhando em um sorriso.

— Eu quero cozinhar alguma coisa.

— Agora mesmo?

— Sim. — Ela parecia surpresa, seu olhar percorrendo a cozinha.


— Agora.

Oh, Deus, sem chance de conseguir que sua pulsação se


acalmasse agora. Algo que ele fez a deixou com essa súbita vontade de
enfrentar seu medo? Porra, rezava para que fosse o caso. Rezava muito.

— Não tenho muito aqui, mas... — Ele deu um beijo na testa de


Rita e virou para abrir a geladeira. — Ovos, leite, manteiga, queijo...
acho que Rosemary recheou minha despensa com algumas especiarias.

— Um suflê de queijo. — Rita murmurou, abrindo os armários


para remover tigelas, utensílios da gaveta. — Pelo menos, você tem tudo
para fazer meu prato favorito.

— Parece como um bom momento esperando para acontecer.

Ela pegou a caixa de ovos que ele lhe entregou.

302
— A parte de comer será o bom momento. — Havia uma leve
hesitação em seus movimentos agora. — Se eu não estragar tudo.

Jasper ainda era novo em consolar uma mulher. Ninguém, na


verdade, uma vez que o único membro da família estava sempre
positiva e feliz. As duas vezes que tentou alcançar a cabeça de Rita e
reparar as coisas, ele fodeu tudo. Então, estava apostando que abraçá-
la para ser corajosa não era o caminho mais sólido de ação. Apesar de
tocá-la ter um apelo incrível. Ainda assim, precisava fazer melhor dessa
vez.

— Você pode estragar tudo. — Jasper começou e esfregou a nuca,


porque suas palavras soaram todas erradas. Resista ao abraço de urso.
— Posso estragar amanhã na abertura do restaurante, também. Pode
ser um desastre total. Todos na cidade, querem que eu volte a ser o
Jasper de quem eles podem rir. Não acho que querem que tenha
sucesso. Até você dar um nome ao lugar, não tinha certeza que abriria
as portas. — Ele não podia avaliar os pensamentos dela, mas ficou com
os próprios. — Você deu-me isso... me ajudou. Vai ajudar amanhã,
então deixe te ajudar com o suflê. Dessa forma, se ele sair uma merda
a culpa será de nós dois.

Ok, isso pareceu ridículo, mas o que ele queria dizer era: confie
em mim, aceite minha ajuda, me deixe ser sua outra metade. Por favor.
Apenas disse isso de uma maneira que não iria aterrorizar ela.

Rita apertou os lábios.

— Isso significa que se a abertura não for um sucesso, você irá


colocar metade da culpa sobre meus ombros?

303
— Parece justo?

— Estou dentro de uma maneira ou outra. — Lutando contra um


sorriso ela abriu a caixa de ovos. — Vamos começar a festa.

Jasper ficou atrás de Rita colocando as mãos sobre a dela e


percebeu a face corajosa que ela demonstrava porque estava tremendo.
A veia protetora dele apareceu, endurecendo e se transformando em
uma ponte que silenciosamente pediu a ela para passar por cima. O ar
ao redor deles parecia denso, como se estivesse antecipando alguma
coisa.

— Quando eu disse para me deixar ajudar, quis dizer isso. Quero


sentir onde suas mãos vão. — Disse Jasper, beijando o topo de sua
cabeça e cheirando o xampu. — Quero que me fale sobre isso. Se for
culpado da potencial morte desse suflê, minha culpa precisa ser
autêntica.

Seus ombros abaixaram lentamente enquanto ela respirava


profundamente.

— Sei que é bobagem. São apenas muitos ingredientes jogados em


uma tigela. Certo?

— É assim que você se sente sobre isso?

— Não. — Ela sussurrou. — Não, é mais importante do que isso.


Uma pitada a mais de farinha ou páprica poderia estragar tudo. E
depois há um jeito de mexer. O ritmo e a direção. É a paciência. Como
você os coloca na panela. Estou sempre apenas supondo, entretanto.
Nunca vem natural como para ela.

304
— Sua mãe. — Jasper apertou o rosto contra a lateral do pescoço
de Rita, tentando aquecer sua pele fria. — Algumas pessoas precisam
trabalhar pelas coisas, certo? Algumas pessoas precisam abrir um bar
com nome estranho antes de juntar sua vida.

O leve som de apreciação dela fez seus olhos se fecharem, mas


logo abriram quando ela se moveu e suas mãos foram para a caixa para
pegar um ovo e quebrá-lo na tigela. Mas parou seu progresso
repentinamente.

— Espera... me esqueci de pré-aquecer o forno.

Jasper ficou em volta dela por trás, indo para o forno, cada uma
das mãos se elevaram para ajustar a temperatura, Rita começou a
gargalhar. E em algum momento voltando para a estação de trabalho
ela parou de tremer.

— Você está levando isso muito a sério.

— Mulher, eu não vou errar com os suflês.

— Oh, eu... quase esfaqueei alguém por causa de um suflê uma


vez. — Jasper observou o reflexo dela na janela da cozinha e viu a
expressão dela ir de bem-humorada para surpresa. — Essa é a primeira
vez que sorrio sobre isso.

Jasper viu quando ela quebrou outro ovo dentro da tigela, depois,
batendo os ovos com um garfo grande.

— Como se sente?

— Bem. — Ela murmurou.

305
Transferindo sua atenção para a panela grande que colocou no
fogão, derretendo uma quantidade generosa de manteiga, adicionando
a farinha quando a mistura começou a espumar. Eles se moveram para
uma posição lado a lado, seus quadris se tocando quando Jasper
seguia as instruções tranquilas, mas eficientes de Rita.

— Você pode ralar o queijo? — Ela observou ele executar a tarefa


um segundo antes de guiá-lo de uma forma mais fácil com sua própria
mão. — Não. — Ela respirou e olhou para sua boca antes de se afastar.

Jasper tentou não olhar para ela, mas Jesus, era difícil. Estava
realmente se transformando ali mesmo em sua cozinha. Quanto mais
eles entravam no processo, mais ela brilhava, mais suave suas ações
se tornavam, até que era uma pequena fada voando ao redor do espaço
em algum ballet complicado que Jasper apenas poderia se maravilhar
mais. Onde essa mulher brilhante se escondeu a vida toda?

Fique comigo, fique comigo, fique comigo.

Ele notou Rita abanando o rosto, obviamente com calor de


trabalhar perto do fogão.

— Você quer mudar para algo mais leve? — Perguntou Jasper, não
se surpreendeu nem um pouco por encontrar sua voz soando como se
fosse escavar sorvete de tão dura que estava. — Outra camisa ou...

— Não, acho que... — A atenção de Rita foi para o contorno de sua


ereção e esse olhar passageiro o fez inchar ainda mais.

Mas ela deixou Jasper perto de gozar em seu jeans quando deu o
próximo passo. Com dedos ágeis empurrou cada botão da camisa de

306
flanela por meio de seu respectivo buraco antes de deixar cair para o
chão, deixando-a com apenas uma calcinha de bolinhas roxa e branca.

— Acho que vou trabalhar bem assim.

E então voltou a adicionar sal à tigela. Nem percebia que estava


excitando ele.

— Porra, linda. Apenas... porra.

Ele passou as mãos em seu cabelo e puxou, apenas para sentir


dor em algum lugar além de sua virilha. Sentindo uma força
gravitacional em direção a Rita, se moveu ou realmente tropeçou para
a fantástica vista sobre seu pequeno corpo liso, os globos suaves de seu
traseiro.

— Quanto tempo até colocarmos o suflê no forno?

— Não muito tempo. — Disse ela despreocupadamente.

Jasper lambeu os lábios.

— Vai precisar se apressar.

Rita se virou, dando a Jasper um lugar na primeira fila para ver


seus mamilos cheios. Quando a mão dela vagou sobre seu pau, Jasper
amaldiçoou em voz baixa e amaldiçoou novamente quando Rita sorriu.

— Você está quente também, Jasper. — Ela começou a apertar


sua carne. Áspero e rítmico. Mas seu olhar estava colado ao peito
coberto. — Poderia ser convencida a me apressar se você ficasse um
pouco mais confortável.

307
Jasper arrancou sua camiseta antes de Rita terminar de fazer o
pedido não tão sutil.

— Olhe para sua satisfação, Rita.

Ela tirou a mão de seu pau e ele rosnou em reprovação,


estendendo a mão para puxar um punhado de cabelos escuros.

— Você é muito corajosa me provocando assim. Especialmente


quando sentiu o que tem em sua mão.

Seus mamilos ficaram visivelmente duros com as palavras de


Jasper, os olhos de Rita ficaram quentes e profundos quando ela
acrescentou.

— Acho que você me deixa corajosa.

Cristo. Suas mãos estavam suando, seu pau tocando a coxa


dentro da calça jeans. Mas seu coração, agora é quem exigia sua
atenção mais do que qualquer coisa. Deixo ela corajosa? Aleluia,
finalmente fiz algo certo. Naquele momento, ele sabia que uma vida
inteira de más decisões era digna do novo brilho no olhar de Rita, que
olhava para baixo de seu estômago, mirando a fivela do cinto.

— A partir de agora Rita, para cada minuto que demorar a colocar


essa coisa no forno, vou dar um tapa a sua bunda incrível. Entendeu?

— Sim.

Ela respirou fundo, girou depois de um segundo e passou a


adicionar a massa em uma forma. Deu a Jasper a oportunidade para
apreciar a flexão das coxas nuas, os contornos de seu traseiro alegre.

308
Jasper tinha certeza que a calcinha não iria deixar essa casa porque
ela causou um ataque e o deixaria excitado pelos próximos quarenta
anos. O tempo que ele teve para verificar sua mulher também deu
tempo para ficar impaciente, infelizmente.

Se apertando contra Rita, ele pressionou seu pau nela, a mão


direita escorregando para tocar sua boceta.

— Você não está indo devagar de propósito, não é Rita?

Um gemido feminino e um movimento dos joelhos foram sua


resposta.

— Termine logo. — Ele murmurou em seu cabelo. — Então eu


posso te foder.

— Oh meu Deus, oh meu Deus.

Ela disse, seus movimentos muito menos graciosos agora que ele
estava balançando seu pau contra sua parte inferior, gemendo com a
necessidade de foder. Seus quadris colidindo contra o balcão com o
movimento de seu corpo. Quando decidiu que um minuto se passou,
deu um passo para o lado e começou a dar tapas na bunda dela, o
barulho ecoando pelas paredes de sua cozinha. Preso pelo perfil de
Rita, Jasper observou ela passar por tantas reações ao mesmo tempo
que poderia nomear todas e concordar sobre a indignação satisfeita.

— O tempo está passando, linda. — Ele falou apertando seu pau


na parte inferior dela, mais uma vez, ficando para trás e parando seu
ritmo. Apertou sua boceta de uma forma que podia ser uma distração

309
para ela, mas o deixava inquieto. Rosnou em sua nuca. — Você é a
porra de um pedaço quente.

— Eu não consigo pensar assim.

— Não pense, então. — Ele olhou por cima do ombro para


encontrá-la segurando a tigela sobre a forma, ficando pronta para
derramar. Quase lá. — Apenas faça.

Depois de apenas uma leve hesitação, Rita derrubou a massa


lentamente na forma como fitas caindo de mãos firmes. Não hesitou,
mesmo quando a palma da mão dele bateu na bunda dela mais duas
vezes. Sabendo que o momento era mais importante do que sua
necessidade desenfreada, Jasper se afastou de Rita, lhe permitindo
colocar a forma no forno e cuidadosamente fechar a porta.

O sorriso radiante de Rita quando o encarou novamente, quase o


derrubou.

— Venha aqui. — Disse ele, ao invés de deixar a gravidade o levar.

O comando surgiu apesar de sua garganta estar estrangulada, em


seguida Rita correu os três passos que os separavam. Ela saltou em
seus braços, pernas ao redor de seus quadris como um sonho molhado.
Era impossível segurar agora. Jasper devorou a boca de Rita, línguas
se enrolando, felicidade o percorrendo sobre a avidez dos dedos dela
em seu cabelo.

— Você fez isso. — Ele murmurou, se afastando apenas o


suficiente para dar o elogio que ela merecia. — Você fez isso, Rit...

310
Aparentemente, ela queria apenas elogios de variedade física, o
que estava bem para Jasper. Ele inverteu suas posições, forçando o
corpo de Rita contra a geladeira, dando a ela impulsos libidinosos
através de seu jeans. A cabeça dela caiu para trás contra a superfície
dura, lhe dando acesso ao seu pescoço no processo.

— Eu sei quando a minha mulher precisa de uma boa foda. —


Jasper puxou de lado a calcinha de Rita, em seguida, começou a
descompactar seu jeans. — Sei tudo sobre isso, não sei?

— Foi o fato de eu cozinhar nua que deixou você assim com tesão?

Jasper cortou seu sarcasmo com uma mordida em sua orelha.

— Sabia que era uma espertinha quando te vi ao lado da estrada.

Sua risada era pura alegria, livre.

— Um homem mais inteligente continuaria dirigindo.

— Não. — Ele disse. Em seguida, mais suave. — Não. Se estivesse


presa na estrada todos os dias, a partir de agora até a eternidade, eu
iria parar a cada momento. Gostaria de repetir os últimos dias uma e
outra vez, tentando mudar o resultado.

— O resultado?

— Sim. — Talvez fosse o olhar dela, a sensação iminente de


finalidade, mas a honestidade se derramou como a massa do suflê,
torcendo e espalhando-se. — Se houvesse algo que eu poderia ter feito
de forma diferente ao longo do caminho. Algo que faça com que seja
impossível para você deixar a cidade. Faria isso mais e mais até acertar.

311
E o flash de simpatia genuína nos olhos dela não era bem-vindo.
Não era bem-vindo a um homem que estava preste a ter seu coração
arrastado como latas na parte de trás de uma limusine alugada. Isso o
irritou. Seu senso comum enviou um memorando para seu orgulho
masculino que foi firmemente rejeitado.

— Jaspe...

— Vamos usar essa boca para beijar, ao invés de dizer coisas que
não significam nada. — Disse ele, recuperando um preservativo do
bolso e rasgando a embalagem com os dentes.

Ele provou a trepidação no beijo de Rita quando seus lábios se


tocaram novamente, mas lambeu sua língua até que ela se derreteu.
Se transformou em sons sussurrados e quadris se contorcendo. Jasper
usou seu corpo para apertar o dela contra a geladeira e alcançou entre
eles para rolar o preservativo.

— Parte dois, Rita.

Ele se empurrou para casa, para dentro dela, já a meio caminho


de um clímax por ouvir a ingestão de ar chocada de Rita.

— Oh.

— Sim. — Ele chupou os lábios inferiores e superiores, raspando


os dentes sobre a curva do pescoço dela, mais forte do que o necessário.
— É uma sensação boa, de verdade, depois que você provocou meu
pau, não é?

Não havia raiva em sua voz, punição em seus movimentos


agressivos, mas nada poderia reduzir isso. Rita não queria isso

312
também. Era fácil dizer pela forma como ela absorveu o primeiro
impulso com quase um grito de alívio, coxas apertando ao redor de seus
quadris. Talvez até quisesse ser punida em algum nível por deixá-lo.
Jasper odiava a ideia, mas seu corpo não apagava a lógica de sua
mente. Ele queria Rita de uma forma real.

— Deus, Rita. Posso sentir o laço de sua calcinha se esfregando


no meu pau.

Ele lhe deu um minuto de investida sem parar, apenas parando


quando sua boceta apertava, um sinal indicador que ela estava perto.
Rita gemeu e cravou as unhas em seus ombros quando fez uma pausa,
mas ela se estabeleceu quando ele começou uma colisão lenta e
esfregando.

— Sim, linda. Porra, é muito mais doce quando você leva um


homem até o ponto onde ele quer se masturbar em sua própria cozinha,
não é? — Ele abaixou a testa em seu ombro e gemeu. — Eu não vou
terminar aqui. Você vai deixar o seu cheiro em minha cama, entendeu?

— Sim. — Ela gemeu ao redor de Jasper enquanto ele avançava


em direção às escadas, com ela empalada em seu pau.

Havia um espelho no topo da escada e algo sobre a maneira como


ele podia ver os pés dela pendurados vibrarem cada vez que dava um
passo para frente o deixou com um tesão além das palavras. Quase
quente o suficiente para cair no degrau mais alto e a foder, foder, foder,
até que estivessem ambos tremendo e gritando.

— Por favor, depressa. — Disse ela perto de sua orelha. — Estou


morrendo. Eu não posso fazer isso.

313
— Você vai. — Jasper disse, os dentes apertados.

Assim que passaram pela porta do quarto, Rita se deitou de costas


na cama, Jasper cobrindo o máximo que podia de seu corpo. Braços
sob seus ombros, estômagos juntos. Não era capaz de chegar perto o
suficiente. Com uma poderosa necessidade de sentir o movimento do
orgasmo dela, Jasper prendeu suas bocas e começou a penetrar Rita,
uma e outra vez, gemendo sobre a sensação de seus pés enterrados na
parte inferior de suas costas, cravando seus próprios calcanhares na
cama para que ele pudesse fodê-la tão forte quanto era humanamente
possível.

— Vamos, Rita. Goze. Goze na minha cama. Bagunce meus lençóis


como se tivesse dormido sobre eles.

Porra, a raiva em sua voz não tinha lugar entre eles. Não havia
espaço para nada entre eles. Nada. Mas ele não podia controlá-la, não
podia impedir que transbordasse. Lágrimas rolavam pela têmpora dela,
lágrimas de arrependimento ou excitação, mas o corpo lhe pedia para
seguir. Implorou a seu corpo para usar o dela. As unhas aranharam a
pele de seu traseiro enquanto ele bombeava em sua boceta que o
apertava e Jasper a beijou no meio da tempestade, guiando-a em
segurança para o outro lado, lhe pedindo para fazer o mesmo.

— Rita. Meu Deus, Rita. — Ele colocou sua testa suada no pescoço
dela e se embalou em sua perfeição uma última vez, deixando ir com
um rugido abafado.

314
Isso deveria ser suficiente para livrá-lo da chuva, mas todos os
mesmos obstáculos permaneciam no outro lado, incitando Jasper a
colocar seu corpo perto e esperava que eles desaparecessem.

— Eu acho... acho que nós faremos amor na próxima tentativa,


hein?

Sua tentativa de humor não aliviou a tensão nos ombros de Rita,


nem nos dele. Mas não o deixou. Ela não o deixou. Permitiu que Jasper
a colocasse na segurança de seu corpo, caindo no sono logo após.
Jasper foi o único que ficou acordado para ouvir o temporizador do
forno na parte de baixo.

Feito.

315
CAPÍTULO TRINTA E UM
Rita estava esgotada. Tudo parecia esgotado. Seu estômago
abrigava um exército de nervos tão agitado que havia marca de pegadas
por todos os lados. Mas se considerasse as últimas vinte e quatro
horas, com suas revelações, assim como as de seus irmãos e ainda,
considerasse a atividade sexual alucinante que teve durante toda noite,
bem, ela não deveria estar estressada. Deveria se sentir alegre e
relaxada, senão absolutamente eufórica. Afinal, perdeu a contagem do
número de orgasmos que teve perto do oitavo, então acontece que o
homem com quem passou a noite, aquele mesmo que a ajudou a fazer
o suflê, não parecia em nada com o tenso e silencioso homem que a
deixou na frente do hotel a caminho do Liquor Hole.

Obviamente, Peggy a recebeu toda animada como se fosse uma


colega de faculdade recém-chegada da farra noturna. No rosto exibia
um olhar especulativo e arrogante, um sorriso todo espertinho. Se bem
que essa era mesmo a expressão habitual dela. Mas o que quer que ela
tenha visualizado em seu rosto, na hora afugentou parte daquele
entusiasmo porque, em seguida, ela disse.

— Sage está tentando ler e aparentemente, estou atrapalhando.


Então, vou checar Aaron para ver se seu dente está melhor. Que tal se
você for comigo?

Até ontem, Rita teria evitado o irmão como a peste negra, mas
agora as coisas estavam diferentes. Não apenas admitiram que eram
uns fodidos fracassados, mas também, pela primeira vez na vida, se
enfrentaram cara a cara, expondo igualmente suas s. Para falar a

316
verdade, ela já não sentia mais vontade de se esquivar de nada, não
mais.

— Claro. — Deixando a bolsa na cama, saiu com a irmã e


perguntou. — Por que precisa ver o dente de Aaron? Por acaso, ele não
consegue fazer isso sozinho?

Peggy então, penteou os cachos com os dedos e respondeu.

— Ele se recusa a tomar analgésicos, coisa de mulherzinha


segundo ele, então tenho esmagado eles e escondido em sua comida.
Como uma boa irmã. — Em seguida, enquanto trancava a porta do
quarto, ela franziu o nariz e comentou. — A propósito, você não está se
comportando como uma mulher que passou a noite toda sendo
gloriosamente bombardeada até a exaustão...

— De onde você tira essas coisas, Peggy?

Ela tentou se safar da questão ficando às costas da irmã durante


o trajeto. Não iria se quer comentar qualquer coisa que fosse sobre o
clima bizarro entre ela e Jasper na noite anterior. Melhor deixar a
conversa cair no esquecimento e... mas como poderia?

Na primeira noite delas em Hurley, Peggy fez inúmeras tentativas


de se aproximar e manter uma conversa, ainda que Rita tivesse
ignorado totalmente. Então o que poderia doer? Quão difícil seria fazer
esse pequeno esforço e se abrir? Afinal, não foi a irmã que ajudou todos
a lidarem com seus fantasmas com aquele exercício de confiança?

— Diga-me, como geralmente parece uma mulher bombardeada


exaustivamente durante a noite?

317
— Hmm... — Peggy, descaradamente, tentou esconder a risada,
porém, quando seus lábios se renderam à luta, um pálido e irritante
vermelho apareceu em seu rosto. — Geralmente, resta ainda certa
euforia...

— Euforia, né? — Murmurou Rita e tamborilou o indicador contra


os lábios, acrescentando. — Bem, sabe... acho que lá pelo final, o
bombardeio fez a coisa toda explodir e eu avistei uma bola de fogo...

— Porra, isso não é justo. — As palavras jorraram da boca da irmã


com um gracejo — Eu apenas vislumbrei uma explosão desse tipo na
cama uma vez...

— Bem, é uma espécie de perversão sexual perigosa, porque, a


explosão pode se tornar destruidora e devastar tudo ao redor. No fundo,
nem todo mundo quer ir tão longe...

Porra. Quem imaginaria que ela se sentiria assim tão incrível ao


fazer sua irmã rir? Pensou ao observar Peggy cair na risada, se
dobrando sobre a própria cintura. Aquele som musical a fez lembrar da
irmã aos nove anos, enrolada numa toalha, à beira da piscina pública.
A risada era exatamente a mesma.

Mas sabe, talvez eu tenha deixado o rapaz um pouco mais


deprimido do que quando chegamos à cidade. Rita desejou expor esse
pensamento em voz alta para verificar se a irmã reagiria com o mesmo
horror que ela mesma. No entanto, como tal manifestação poderia
eventualmente, transformar possibilidades em realidades, apenas se
calou e continuou permitindo que aquelas palavras ricocheteassem
dentro de sua cabeça. Porque no fundo, estava ciente de que deveria

318
ter se afastado dele assim que soube como sentia-se horrível quando
as mulheres o deixavam. Exceto que fui egoísta, agora vou viver com o
terrível fato de que minha partida o tornaria inacessível para outras.
Provavelmente para sempre.

De repente, Peggy comentou;

— Estou pensando em ficar em Nova York, quando formos. Passar


algum tempo me candidatando para cargos em grandes lojas de
departamento. Que personal shopper não gostaria de trabalhar numa
Sacks, ou Bloomingdale’s ou Barneys32, não é verdade?

O fato de Peggy estar divagando indicava que estava nervosa.


Aliás, ainda que a novidade fosse uma surpresa, seu nervosismo
acentuado, obviamente, não podia ser apenas decorrente disso...

— Uau! Ok, ok... isso sim, seria uma grande mudança. Quando
foi que você...

— Estava pensando que poderíamos fazer isso juntas. Você sabe...


duas irmãs se dando bem na cidade grande...tipo Laverne & Shirley33
apenas com cabelos muito melhores e vizinhos super gostosos. — Disse
ela, dando socos no ar como um pugilista.

32 As três são cadeias de lojas de departamento, de artigos de luxo e grifes. Todas localizadas em áreas nobres
de Nova York.
33 Popular série de televisão estadunidense de comédia, transmitida pela ABC de 1976 até 1983. As
protagonistas eram Laverne De Fazio e Shirley Feeney, que dividiam um quarto e, no começo do programa,
trabalhavam numa cervejaria de Milwaukee.

319
Rita ficou momentaneamente sem fala, tamanho foi o susto que
tomou. Agora mais do que nunca estava convencida de que sua mãe
teve um motivo velado ao expressar seu último desejo.

Quando Miriam adoeceu, os quatro gradativamente afastaram-se


e embora ela praticasse o lema de não se meter nos assuntos dos filhos,
não passou despercebido que eles deixaram de aparecer no Wayfare
para o tradicional brunch34 de férias. Fazia menos de uma semana que
estavam fora de San Diego e seus irmãos já não lhe pareciam completos
estranhos. Claro, ainda eram complicados enigmas que ela mal
começou a decifrar. E se Miriam os forçou a essa situação, fez por uma
razão.

Então, por que ainda hesitava? Uma imagem de como seria o


apartamento delas atravessou sua mente. Uma metade cor de rosa,
uma miscelânea de babados e frufrus. A outra escura e eclética, a
espalhafatosa música pop teria que ser disfarçada por ela com o som
do Black Sabbath. Seria um pesadelo! Também uma oportunidade
única de se aproximar da irmã que mal conhecia, descobrir porque
Peggy, uma mulher com que qualquer homem gostaria de se casar, se
mantinha apaixonada por alguém que, aparentemente não a queria de
volta.

A demora de Rita em responder fez com que a irmã se retraísse e


aquietasse, desviando o olhar para o estacionamento até que
murmurou.

— Acho que é um não.

34 Refeição matinal reforçada, uma junção de café da manhã e almoço.

320
— Não é um não! — Rita se apressou em dizer. — Você teve mais
tempo para pensar sobre isso do que eu. Bem, três dias inteirinhos...

— Bem, eis aí uma maneira delicada e florida de me dizer que sou


impulsiva.

Diante do quarto de Aaron e Belmont, Rita fez a irmã se virar com


um puxão antes que ela batesse na porta e disse.

— É uma grande ideia, Peggy. Apenas me deixe pensar... —


Depois, limpando a garganta, acrescentou. — Apenas estou... estou
tendo dificuldades em lidar com o que houve na noite passada. Assim
que retornarmos à estrada, as coisas serão diferentes.

Fitando ela com uma sabedoria que Rita jamais viu antes, Peggy
comentou.

— Você realmente acredita nisso, não é?

Nesse instante, a porta atrás de Peggy se abriu e Aaron apareceu.


Depois da noite anterior, não apenas o inchaço em sua bochecha
diminuiu, mas ao que parece também um tanto de seu ego. Dando um
rápido aceno a Rita, ele despenteou o cabelo de Peggy e perguntou.

— Qual o motivo dessa gritaria de vocês?

— Nada. — Peggy balbuciou. — Apenas sobre retomar a viagem.

Ele então se afastou, lhes indicando a entrada, desabafou.

— Sim. Acho que todos estão pensando sobre isso.

321
Ao cruzar o batente, Rita refletiu que era a primeira vez no quarto
dos irmãos, enquanto Peggy provavelmente já foi inúmeras vezes. O
espaço estava bem limpo, mas, a cama de Belmont se encontrava tão
imaculadamente arrumada que nem parecia que ele dormiu ali. A linha
divisória entre eles era invisível, porém, estava ali pendurada e
perceptível tal como trepadeiras selvagens. Apenas mais um lembrete
do quão pouco ela sabia sobre seus irmãos. O quanto se distanciou da
família. O que será que aconteceu entre eles para evitarem conversar
por tanto tempo?

— Você tem alguma carta sob a manga para usar em Iowa, além
de mostrar essa sua carinha charmosa? — Rita perguntou ao se sentar
no canto da cama de Belmont.

Sorrindo de modo afetado, Aaron abriu uma garrafa de água e


gracejou.

— No passado, isso funcionou razoavelmente bem para mim. —


Pausou ele e tomando mais um gole, acrescentou. — Mas imagino que
agora não mais, não depois de San Diego.

Se jogando ao lado da irmã, Peggy o questionou.

— Você vai nos contar o que aconteceu?

— Não. Apesar de que descobrirão assim que chegarmos a Iowa.


Na política, a cagada que você faz acaba sempre te acompanhando. —
Declarou ele, balançando os mocassins, antes de prosseguir. — Ficarei
mais do que feliz em ter vocês duas lá... retomar meu lugar no grupo e
voltar ao jogo não será fácil.

322
Rita até sentiu o olhar da irmã sobre ela, contudo não se virou.
Antes firmou mais a atenção no irmão, na tensão tão incomum que lhe
enrijecia os ombros e o maxilar.

— Você tem certeza de que é com esse grupo que deseja estar,
Aaron?

— Claro que sim! — Exclamou ele com um olhar cortante — Eu


não me encaixo em qualquer outro.

— Talvez nós não sejamos do tipo de nos adaptar, — Rita


balbuciou pensativa. — Quem sabe seja uma coisa boa.

Então lembrou da maneira como se sentiu confortável e ligada à


cozinha de Jasper, da sensação acolhedora que a preencheu ao entrar
no Buried Treasure. Recordou os instantes em que esteve nas
montanhas, admirando o deserto. Deitada sobre a grama no quintal de
Jasper.

Desde que cruzou o condado de Hurley, se deparou tantas vezes


com esse estranho sentimento de harmonia e conciliação que era quase
desagradável. Em contrapartida, também na mesma proporção
experimentou uma aconchegante sensação de estar afundando numa
banheira de água. Entretanto, não dava para acreditar que isso fosse
puramente consequência dos três dias na cidade. Seria uma tolice, não
é? Uma loucura! Desistir de tudo por uma aventura? Principalmente,
ciente de que havia uma enorme possibilidade de decepcionar Jasper.
Não. Não mesmo. Essa viagem. Sim. Essa viagem com os irmãos, a
promessa que fez a sua mãe. Sim, era isso que precisava fazer. Ela
devia isso a Miriam. Devia isso a eles. Devia isso a si mesma.

323
Se era assim, então por que seu corpo, incluindo seu coração,
pesava como chumbo diante da perspectiva de entrar no Suburban?

324
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
Em geral, Jasper deixava que Nate cuidasse das coisas no bar,
mas agora descascar limões e trocar as fitas da caixa registradora
ajudavam a manter sua mente ocupada. Ainda que o silêncio fosse
como agulhas sob sua pele.

Em menos de uma hora, os Clarkson, incluindo Rita, chegariam


para ajudar ele e o chef de cozinha, no primeiro jantar do Buried
Treasure. O cardápio de especialidades estava sobre o balcão diante
dele e mais se assemelhava a uma oração fúnebre.

Tudo levava a crer que deixar Rita essa manhã no hotel foi o fim.
O clima de separação iminente entre eles ficou tão sufocante dentro da
cabine da caminhonete, que ele nem se surpreendeu ao vê-la sair, lhe
dando um sorriso triste sobre os ombros. A agonia que o atingiu foi tão
intensa e profunda que ficou incapacitado de se manifestar. Não foi
capaz de chamá-la a fim de se despedir adequadamente ou qualquer
que fosse uma boa forma de dizer adeus, usada por duas pessoas, após
se entregarem à luxúria carnal por quase dez horas consecutivas.

Ela murmurou seu nome durante o sono. Após retirar o primoroso


suflê do forno, ele retornou para o quarto e entrou para junto dela na
cama. A chuva então, começou a bater no telhado e sentiu-se feliz como
jamais antes, não que fosse sábio fazer na situação deles, contudo, não
conseguia se frear. Ele se manteve acordado, observando o reflexo das
gotas de chuva nas costas dela, se recusando a acreditar, a princípio,
que sussurrava seu nome. Mas ela fez. Fez exatamente por três vezes,
todas de formas diferentes. Vivaz, doce, ávida. A última vez o instigou

325
tanto que a virou, escorregou por entre as coxas dela e a despertou
usando sua boca faminta. Ele ainda podia sentir o gosto.
Provavelmente o sentiria pelo resto da vida, no final de cada dia, sempre
saberia qual era o gosto dela sem precisar senti-lo todos os dias, ainda
que ansiasse tanto a sorte de poder sentir.

Quando a porta da frente do Liquor Hole se abriu, enchendo de luz


o ambiente escuro do bar, Jasper estreitou os olhos. A perspectiva de
encontrar Rita antes do esperado fez sua pulsação acelerar. Entretanto,
assim que a porta foi fechada, ele notou que era Belmont. Interessante.

Acenando, Jasper se levantou e foi para trás do bar a fim de lhe


arrumar um apoio de copo.

— Quer uma bebida? — O irmão mais velho de Rita se sentou,


fazendo a cadeira ranger e recusou a bebida. — Ok.

O silêncio se estendeu até que Jasper perguntou.

— Você chegou agora por uma razão específica?

— Sim.

Tornou-se evidente que Belmont iria demorar um bom tempo


antes de revelar a razão pela qual chegou mais cedo, por isso Jasper
começou a colocar cervejas para gelar, retirou garrafas vazias e colocou
café para fazer. Tudo bem obedecer às suas próprias regras contra o
álcool, nada tinha contra se manter sem beber, mas ele não tinha
regras sobre se manter cafeinado. Porra. Esperava que Belmont
estivesse ali para falar sobre Rita. Seria ótimo conversar sobre ela com
alguém. Além disso, o interesse dele na relação da irmã, talvez

326
significasse que tudo não foi apenas algum tipo de complicado
devaneio.

Limpando a garganta, Belmont perguntou.

— Você tem intenções?

Levantando o olhar, Jasper, ansioso para ouvir as palavras serem


ditas em voz alta e assim, tornar mais reais os últimos três dias,
respondeu.

— Intenções para que?

— Minha irmã.

Agarrando um pano qualquer, ele começou a limpar e declarou.

— Sim. Mas deve ter notado que ela tem suas próprias ideias.

Ele jurou que devem ter se passado mais uns cinco minutos antes
que Belmont finalmente falasse.

— Você poderia tentar fazê-la mudar de ideia para que coincidisse


com a sua.

Com uma risada seca e ofendida, Jasper falou:

— Obrigado pelo conselho. — E lançou o pano sobre o balcão,


acrescentando. — Sabe, estou bem perdido aqui. Não sei como poderia
ter deixado mais claro para ela como me sinto. Bem, eu deveria ser
egoísta e lutar, mas parece que estou tentando correr contra um
relógio, no fim, apenas posso competir com meus três dias...

327
— Tudo isso é verdade?

— Qual parte?

Alisando a dobra do queixo, Belmont esclareceu.

— Que você deixou claro como se sente sobre ela?

Jasper estava prestes a dizer “claro que sim, caralho” quando


percebeu a verdade. Não. Ele não deixou claro. Ainda não. De qualquer
forma, um homem não expunha as partes mais íntimas de si mesmo
como fez com ela, se não a quisesse para sempre, não é? Mostrou-lhe
seu restaurante, apresentou Rosemary, a manteve em sua cama. Fez
todas essas coisas que gritavam: Aceite todas as minhas coisas. Por
favor, aceite. Não foi isso o que ele fez? Pensou ao se esquivar.

— Eu deixei claro.

— Como foi? — Belmont perguntou em seguida. — Na hora que


você disse a ela?

Se tivesse piscado, Jasper teria perdido o modo quase


imperceptível com que ele se mexeu todo nervoso, os enormes ombros
totalmente enrijecidos. Como se tivesse vindo não apenas para
aconselhar, mas antes para ser aconselhado...

— Por que está perguntando isso? — Jasper o interrogou, se


apoiando próximo a ele no balcão — Talvez, algo a ver com a quinta
passageira?

— Ela não é assunto seu. — Respondeu com os olhos frios.

328
— Não, acho que não é... — Adiantou Jasper, escondendo sua
diversão. — É bastante óbvio que ela é preocupação sua apenas.

Belmont fechou as mãos e o silêncio reinou absoluto no salão,


fazendo Jasper se censurar por não ter tido a presença de espírito de
ligar o som.

— O amor é um negócio bem egoísta, verdade?

— Não sei, — Belmont murmurou. — E se for exatamente o


contrário?

Imediatamente, a garganta de Jasper se fechou.

— O que você quer dizer?

De repente, o irmão mais velho de Rita pareceu bastante irritado


com a conversa.

— Se você ama alguém, deixe-o livre para partir. Parece que isso
não saiu de moda apenas porque ficou ultrapassada.

— Não, suspeito que não. — Jasper comentou. — Então o que um


homem deve fazer? Lutar por sua felicidade ou ser feliz observando ela
à distância?

Um músculo tremeu no rosto de Belmont.

— E se a resposta for se conscientizar de que não há resposta?

Jasper preparou duas bebidas e empurrando uma delas pelo


balcão polido, disse.

329
— Bom, acho que isso significa que devemos tomar algo.

Conforme Jasper derramava a bebida, Belmont mantinha os olhos


azuis fixos no líquido.

— Quando Rita era jovem, ainda uma menina, não gostava de


assistir filmes. Mesmo quando chovia e não havia mais nada para fazer.
Ela apenas se escondia em algum lugar enquanto nós assistíamos
Esqueceram de mim, Gremlins ou A história sem fim.

Por algum tempo, Belmont rolou a bebida entre as palmas das


mãos, sem perceber que Jasper prendia a respiração, ansioso para ter
qualquer informação que fosse sobre Rita para mais tarde pensar e
repensar um milhão de vezes.

— Finalmente um dia, Miriam perguntou o porquê dela se recusar


a assistir aos filmes e ela, então respondeu: assim que você o assiste,
sabe como ele termina e eu sempre quero que tenha mais, que ele vá um
pouco mais longe.

Nesse momento, mais do que tudo, Jasper desejou poder


retroceder àquela manhã e manter Rita na cama por mais uma hora. E
então, enterrar seu rosto no pescoço dela e lhe pedir para falar. Falar
sobre qualquer maldita coisa porque tudo o que ele queria era ouvi-la.

— Ela tinha um ponto.

Belmont levou o copo à boca e então, parou. Subitamente o


abaixou sobre o bar quase com arrependimento.

— Há cerca de um ano atrás, encontrei ela no meio da noite,


assistindo a todos eles, um atrás do outro. Chorando copiosamente

330
sobre o travesseiro. — Completou ele, afastando o copo para longe. —
Minha irmã faz as coisas em seu próprio tempo... você precisa deixa-la
livre, deixar ela partir.

— Não disponho de um ano. — Jasper jogou fora sua bebida antes


de agradecer. — Obrigado por me dizer, de qualquer forma.

Nenhum deles se moveu quando a porta se abriu e apareceram os


três Clarkson, além da tal companheira de viagem que, aliás, procurava
de todo modo disfarçar sua conexão com o irmão mais velho de Rita.
Quanto a ela, foi a última a entrar e Jasper mal conseguiu controlar o
ímpeto de correr até ela para apertá-la contra si. Seus olhos se
encontraram assim que a porta foi fechada. A garganta de Rita
trabalhou duro para pronunciar.

— Todo mundo pronto para abrir esse restaurante?

331
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
Jasper se movimentou pelo salão do Buried Treasure alisando as
cadeiras, olhando-as de diferentes ângulos. Queria estar na cozinha
com Rita, mas ela estava revisando os preparativos e falando sobre o
cardápio com o chef. O chef que trabalharia ali quando os Clarkson
fossem embora essa noite. Sua voz rouca subiu pelas paredes e caiu,
se fazendo em casa, deixando sua marca. Apenas um minuto se passou
no relógio interno de contagem regressiva de Jasper antes que fosse até
a cozinha e levasse aquela mulher para fora por cima do ombro.

Belmont observou ele da entrada da frente, de maneira que ainda


pudesse passar por uma coluna de mármore em um museu, mas
Jasper podia ouvir o irmão mais velho de Rita alto e claro. Infelizmente,
o mesmo homem confundiu ele no bar com o que Jasper supostamente
pensou que era para ser uma conversa animada. Conversa animada
sua bunda. Acabou que não tinha um homem ao redor que soubesse
sobre as mulheres. Então Jasper interpretou o olhar escuro de Belmont
como se dissesse: anda logo e faça sua escolha. Seja egoísta ou deixe a
mulher que você ama ir... e me deixe saber como isso funciona.

Isso era loucura, não era? Ser egoísta quando sua felicidade
estava em jogo?

— Estou pensando. — Jasper murmurou para Belmont, pegando


um copo de água e bebendo. — A propósito, você é o segurança essa
noite. Não o terapeuta da casa.

Belmont cruzou os braços e se encostou na moldura da porta.


Jasper pensou que poderia ter visto o cara abrir um sorriso, mas
332
quando Sage — finalmente descobriu seu nome — entrou no salão para
colocar os talheres, Belmont voltou a ser uma estátua. Jasper bufou e
olhou para o relógio pela centésima vez em menos de uma hora. O
restaurante abriria às cinco horas e eles chegaram às quatro. O
estacionamento já estava cheio, os clientes espreitando pelas janelas,
conversando animadamente entre si e em grupos. As crianças estavam
nos carros, adolescentes jogavam bolas de futebol.

Fiéis à sua palavra, os Clarkson colocaram as mesas em várias


posições prontas para treinar a equipe de garçons do restaurante do
jeito que foram ensinados quando eram crianças no mundo de refeições
excelentes.

Belmont agiria como um segurança, mantendo fora qualquer um


que bebesse um pouco demais ao lado no Liquor Hole. Aaron e Jasper
administravam o dinheiro, Sage e Peggy estavam treinando a hostess e
os garçons, enquanto Rita trabalhava na cozinha. Jasper estava muito
contente de tê-los lá, embora enchessem o pequeno espaço com sua
grande presença de uma forma que iria fazê-lo parecer vazio quando
saíssem.

Jasper engoliu em seco quando a voz de Rita chegou a ele da


cozinha. A suave risada aumentando, o que o lembrava da noite
anterior, a maneira como ela pintou sua casa com brilho. A lembrança
fresca em sua cabeça, Jasper cruzou o salão para a cozinha, bem ciente
de que parecia um homem em uma missão. Maldição, ele era. Era óbvio
que Rita estava à deriva também, porque quando Jasper entrou na
cozinha, ela deixou cair a caneta, se abaixou para pegá-la e bateu a
cabeça na geladeira na altura da cintura.

333
Quando se levantou de novo, esfregando o local dolorido, Jasper
já estava ao seu lado, assumindo a tarefa para ela.

— Ah, linda. Você está bem?

— Estou bem.

— Está realmente bem? — Sua preocupação deve tê-la atingido,


porque a compreensão passou entre eles, tão real quanto qualquer
coisa que soubesse.

Ela balançou a cabeça lentamente.

— Tudo, até mesmo a cozinha parece um pouco mais fácil depois


da noite passada.

— Bom. — A pressão empurrou contra sua jugular, mas ele estava


muito consciente do chef perto, então aliviou o humor.
Temporariamente. — Posso falar com você por alguns minutos antes
de entrar em coma?

Um sorriso suavizou sua boca.

— Engraçado.

Assim a tensão silenciosa da manhã desapareceu, deixando-os à


procura dos olhos um do outro para o que vinha a seguir. A mão que
ele usou para acariciar a cabeça de Rita caiu para segurar seu rosto.

— Fale-me sobre os pratos especiais.

Um rosa destacou suas maçãs do rosto, obviamente o prazer ao


falar sobre os especiais do cardápio a acalmava. Deixava ela menos

334
ansiosa. Exceto que Jasper tinha certeza que iria beneficiá-los tanto
agora, considerando que estava prestes a colocar tudo na linha. Fez
um gesto para Rita segui-lo ao escritório, fechando a porta atrás deles.
Se recostou contra ela, observando como um homem faminto quando
Rita sentou na beirada de sua mesa, um pedaço de papel comprimido
entre os dedos.

— Ok. — Ela colocou alguns fios de cabelo escuro que saiam atrás
da orelha. — Olhei para o cardápio que seu chef planejava usar e ofereci
algumas sugestões. Espero que esteja tudo bem.

— Não use esse tom profissional comigo, Rita Clarkson.

Seu rubor se aprofundou.

— Eu não quero. — Ela usou o papel para se abanar. — Você


estava tão diferente hoje de manhã. Não tinha certeza que ainda deveria
vir.

Senhor, ela poderia muito bem ter disparado uma rodada de balas
em seu estômago. Interpretou mal o seu silêncio antes?

— Não posso nem imaginar que não estivesse aqui. — Ele avançou
em sua direção. — Leia os especiais.

Ela trocou olhares entre seu corpo se aproximando e o cardápio,


como se não soubesse se deveria prosseguir.

— Hum. — Sua voz hesitou. — Havia alguns grandes itens. Acabei


de adicionar um pouco de tempero, acho que você poderia dizer. O bife
já está no cardápio principal, mas eu pensei como um especial poderia
incrementá-lo com queijo azul. Servido com espinafre e...

335
Jasper descansou as mãos em ambos os lados de seus quadris,
traçando a curva de seu pescoço com os lábios ávidos.

— Continue.

— Continuar...? — Sua cabeça caiu para a direita e Jasper


pressionou, arranhando a pele sensível com os dentes. — ... falando?

— Sim, continue falando. — Ele respirou, pontuando suas


palavras com uma mordida macia.

Demorou alguns minutos para Rita continuar, seus seios


inchando sob sua blusa branca.

— Almôndegas fritas com kobe... servido com maionese picante


ou imersas em molho teriyaki.

— Você está me deixando com fome, linda.

— Talvez eu deva parar.

— Não.

— Oh Deus. Ok. — Ele já sentia a respiração dela na pele. — O


chef tinha um coquetel de camarão no cardápio de especiais, mas acho
que deve estar na lista de aperitivos regulares. Mas, colocamos carne
de búfalo no cardápio especial. Ohhhh, o que você está fazendo agora?

Jasper sorriu contra seu pescoço.

— Apenas soltando seu sutiã por um tempo. — A pressão fez os


dois gemessem um pouco. — Está tudo bem para você? — Ela assentiu
com a cabeça sem hesitação, dando a Jasper luz verde para colocar as

336
mãos à frente e espalmar os dois seios mais doces que já viu. — Mais
alguma coisa que queira me dizer sobre o menu, Rita?

Deus, suas respirações ofegantes eram sexys.

— Fiz uma pequena pesquisa e descobri um mercado de peixe não


muito longe daqui. Eles estão dispostos a entregar, mas fui de carro e
peguei apenas algumas ostras Bluepoint.

— O que? — Sacos de cimento foram empilhados em cima dos


ombros de Jasper. — Você foi a algum lugar?

Os olhos castanhos dourados, ainda com um pouco de luxúria se


desviou dele.

— Apenas algumas cidades a mais. — Ela murmurou — O


Suburban está pronto agora.

A sala se inclinou ao redor de Jasper.

— Eu sabia. Eu sabia. — Porra, ele não tinha controle sobre sua


boca ou seu pulso. O último acelerou tão rápido que sua cabeça parecia
poder flutuar. Se reagiu dessa maneira por Rita sair e voltar, como iria
lidar quando nunca mais voltasse, caralho? Nada bom. Realmente
muito ruim. Catastrófico. — Fique, Rita.

Ela olhou fixamente para sua boca, como se as palavras


estivessem pintadas lá.

— O que?

— Fique em Hurley, Rita. Não me deixe. — Suas mãos foram para


baixo de seus seios para envolver a cintura, movendo seu corpo sobre
337
a mesa. — Sente aqui todos os dias e leia o cardápio de especialidades
para mim. O Buried Treasure se tornou metade seu quando você entrou
e nós dois sabíamos disso.

— Jasper. — Ela sussurrou, soando sem fôlego. — Eu não...

— Por favor, não haja como se estivesse surpresa. Não serei capaz
de suportar isso. — Sua boca tocou a dela, beijando, beijando, como
um homem pronunciando uma oração fervorosamente. — Não pode
ficar surpresa quando os últimos dias me deram vida. Fique triste, feliz
ou louca. Mas não posso lidar com surpresa, como se talvez você nem
sequer por um segundo me considerasse.

— Eu considerei você. — Ela soluçou. — Claro que sim. Apenas


pare de falar assim por um segundo e pare de roubar a minha
respiração quando estou tentando pensar.

— Não. — Ele encostou a testa na dela. — Não quero que pense.


Quero que fique perdida e quero ser o homem a roubar seus
pensamentos. Pelo dia todo, todos os dias. Para sempre. Fique comigo.

— Eu quero dizer que sim. — Rita disse com os olhos fechados. —


É uma loucura depois de apenas três dias deixar tudo de lado e
começar uma nova vida. Ainda quero dizer que sim. Mas em algum
lugar no passado, perdi minha família e estou apenas começando a
recuperá-los. Eles... acho que eles precisam de mim. Acho que nós
precisamos um do outro. Não sei se posso apenas dizer adeus quando
estamos nessa estrada que eu nunca esperava.

Jasper achou ela tão dolorosamente linda naquele momento com


a honestidade empurrando em todas as direções e lágrimas caindo

338
pelas bochechas. Como algo tão bonito poderia rasgar sua alma e
pisoteá-la, mesmo que não fosse de propósito?

— Perdi-me na cozinha. — Ela balançou a cabeça. — E se me


perder aqui, também?

— Eu não iria deixar.

— Jaspe...

— Você não tem que trabalhar na cozinha. — Ele se apressou em


dizer, mesmo sendo difícil. — Você não tem que trabalhar aqui.

Rita apenas olhava triste com suas palavras.

— Então eu estaria negando esse lugar. Esse lugar que você já


adora, quer saiba disso ou não. — Ela olhou para baixo. — Como posso
colocar eles nessa jornada e abandona-los? Como posso queimar o
trabalho da vida da minha mãe e ignorar seu desejo final? Eu seria
uma pessoa terrível. Não seria a pessoa que você quer.

— Diga. — Ele enrolou os cabelos nos dois punhos e falou contra


sua testa. — Diga. Sabe como me sinto sobre você. Diga as palavras.

Rita balançou a cabeça, os lábios apertados.

— Deixe-me pensar. Dê-me um segundo.

— Não. — Jasper disse, tirando a blusa branca sobre sua cabeça.


Em um pequeno espaço de tempo, eles correram os olhos um sobre o
outro. Confusão, dor, olhos mostrando corações doendo. E então Rita
saiu da mesa, empurrando Jasper de volta para a cadeira sem braços
do escritório de frente para a mesa. Enquanto Rita fez um rápido
339
trabalho tirando sua calça e calcinha rapidamente, Jasper desabotoou
a calça jeans, puxando seu pau.

— Venha, então. Você não vai dizer as palavras, não vai escrever.
Use o corpo que me deixa louco e mostre o que já sabemos.

A mágoa nublou sua expressão, mas sua necessidade era muito


espessa no ar, a atração muito forte e ambos tinham que sentir isso.
Rita sentou no colo de Jasper, pegando sua mão e pressionando ela
sobre a boca. Conteve o grito que saiu de seus lábios enquanto se
afundava em seu pau já pronto.

— Oh meu Deus. — Vieram às palavras abafadas, marcando a


palma da mão. — Jasper. Oh, Deus.

Talvez alguém devesse ter coberto sua boca também, porque


porra, quase amaldiçoou alto. Quantas vezes eles abusaram do corpo
um do outro na noite passada e ainda assim ele parecia ter sido um
monge durante dez anos, da forma como seu pau se comportava.

— Se isso será um adeus, Rita é melhor você fazer valer a pena.


— Ele deu em seu traseiro um tapa. — Mas se lembre, estarei
desesperado por você no segundo seguinte que terminar. Passarei toda
a minha vida dessa forma. Desesperado e morrendo por Rita. Na minha
cama, na minha casa, montando meu pau. Tudo isso. Toda você.

— Pare, por favor, pare. — Rita gemeu, envolvendo os braços em


sua cabeça, dando um acesso perfeito a seus seios, que ele chupou de
pura necessidade. Seus quadris eram uma coisa mágica, se movendo,
sabendo quando ele precisava controlar seu iminente orgasmo,

340
sabendo que queria alguns saltos fortes. — É tão bom. — Ela respirou,
já começando a tremer, seus dentes batendo.

A boca de Jasper se moveu sobre cada centímetro da pele de Rita,


degustando, tentando memorizar a sensação de vida pulsando sob sua
carne, colocando seu perfume na lembrança e o fechando lá.

— É tão bom porque eu te amo, Rita. — Jasper confessou através


dos lábios rígidos. — É bom porque você me ama também. E leve o
tempo que levar. Quando é certo, é certo. Estamos acima do tempo.

O rosto dela caiu em seu pescoço com um soluço, mas ela não
respondeu.

A impotência causada pelo silêncio de Rita forçou Jasper a


recuperar o poder e auto respeito de alguma outra forma. Ficou de pé,
levando ela com ele. Quando suas costas atingiram a parede, Jasper se
manteve bombeando, tentando se imprimir em seu corpo, por dentro e
por fora. Dar um pouco mais de sua alma com todos os movimentos
ásperos.

— Lembre de como foi bom. Se lembre de quem sempre daria isso


a você, mesmo que signifique desistir de seu último suspiro. Você me
ouviu?

— Sim. — Ela apertou-o, a boca doce aberta em uma versão


silenciosa de seu nome, sua boceta apertando-o, tão forte, tão ansiosa,
não havia escolha senão tomar seu próprio clímax, gemendo em seu
ombro uma vez que ele foi drenado. Eles ficaram assim por um período
indeterminado de tempo, Jasper tentando que repetisse as três
palavras que a deixaria voar livre de seu coração. Mas quando as

341
pernas escorregaram dos lados de seu corpo e as costas se
endireitaram, ela ainda não tinha dito.

342
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
Rita caminhou tremendo de volta para a cozinha. Nada comparado
com o tremor por trás de suas costelas. O bater em sua cabeça. Jasper
a colocou contra a porta e ela não deu o que ele precisava em troca. Ou
deu, mas de uma maneira diferente. Parecia uma traição, não
importava de que ângulo olhasse.

Jasper amava ela. Queria que ficasse em Hurley e compartilhasse


sua vida. O seu sustento. A receita de sua própria vida não tinha um
ingrediente como ele, quando ela deixou San Diego. Agora estava
atolada nesse estado de incerteza, presa entre o cardápio que escolheu
e um novo que a chamava para algo estranho e selvagem em seu
interior. Mas a última vez que experimentou o desconhecido e estranho,
ficou tão mal que queimou um restaurante.

Ficar em Hurley significaria se afastar da família que ela começou


a ganhar de volta, uma missão que estabeleceu para si mesma,
começar de novo em um lugar estranho.

Como uma chef. Ela caiu em um ritmo familiar imediatamente


após entrar no Buried Treasure, inspecionando a cozinha, a elaboração
de planos. Simplesmente melhorar os especiais do cardápio a mandou
de volta para o padrão de exploração que fugiu em San Diego. Agora
ela tinha a chance de começar de novo em Nova York, livre das falhas
que cortejou por ser uma chef, mas a cozinha parecia determinada a
puxá-la para dentro. Porque ela adorava, amava o homem que lhe deu
esse frescor? Ou porque não sabia nada ainda?

343
Rita entrou na cozinha para encontrar Aaron e Peggy jogando um
limão para trás. O chef claramente estava irritado, mas não conseguiu
mostrar porque estava rindo de Peggy. Sage dançou até a cozinha atrás
de Rita, pegando o limão no ar e dando aos dois irmãos um olhar severo
antes de fazer um jogo de três vias de captura.

— Acabei de organizar os livros. — Disse Aaron para Rita sem


olhar para ela. — Seu namorado sabe o que está fazendo. Diminuí o
trabalho. Diminuí custos. Ele não precisa de mim, então estou aqui
para oferecer a minha experiência culinária.

— Você não pode fritar um ovo. — Rita apontou.

Aaron rolou o fruto verde ao longo de seus ombros, fazendo Peggy


e Sage rirem.

— Estava pensando em ser provador oficial.

Um minuto antes Rita jurava que nunca poderia voltar a sorrir,


mas todos na mesma cozinha lembrou a Rita de dias em que Miriam
cozinhava e eles todos se reuniam ao redor do fogão, tentando roubar
provinhas. E algo balançou dentro de seu peito. O único que faltava era
Bel...

— Sou o único que trabalha aqui? — Seu irmão mais velho


resmungou atrás dela.

Aaron jogou um tomate em Sage, mas ela não segurou, porque


seu olhar se fixou em Belmont. A fruta bateu no chão.

Rita decidiu ter pena de Sage.

344
— Ei, qual a música que a mamãe costumava cantar quando
experimentava um novo cardápio? Não me lembro...

— Raspberry Beret. — Disse Aaron. — Do Prince.

— Isso mesmo. — Peggy pulou sobre um freezer, ignorando o chef,


que tentou espantá-la. — Mas ela mudava as palavras para “Raspberry
Sorbet35”.

Todos sabiam que os Clarkson não sabiam cantar, então todos


levantaram as sobrancelhas um para o outro, à espera de alguém
começar. Rita foi para a despensa e começou a puxar os ingredientes,
se perguntando se era uma lunática por colocar a sua dignidade na
linha. Mas uma distração quando ela pensou em Jasper era necessária,
por isso respirou fundo e começou a cantar.

Peggy se juntou na metade do primeiro verso, com a voz um pouco


mais alta do que Rita. O barítono de Aaron era baixo e quase inaudível,
mas se ouvia. E quando Sage entrou na rima, Rita pensou que Belmont
podia se jogar aos pés da garota, mas ninguém esperava que seu irmão
mais velho cantasse. E ele não cantou.

Ingredientes foram cortados, molhos misturados, a carne


preparada ao redor da grande estação de corte branco, cada um dos
Clarkson — e Sage — focados em seu trabalho. O canto, eventualmente
desapareceu, deixando o som de facas cortando e vozes murmurando
quando eles comparavam notas e falavam sobre as ideias para deixar
Jasper com um cardápio excelente.

35 A música se refere a uma moça que usava uma boina cor de framboesa, e a mãe mudava a palavra para
sorvete de framboesa.

345
Quanto mais o tempo passava, mais Rita começava a
experimentar uma sensação sem fôlego. Um sentido iminente de perda.
Movimentos que normalmente eram naturais estavam artificiais. Cenas
com Jasper passavam em sua mente como a luz do sol através da
janela. Ela sendo pega na estrada em sua moto. Dançando na cozinha
de Rosemary. Beijando no estacionamento do hotel. Vendo o Buried
Treasure, pela primeira vez, vendo tudo o que ele trabalhou para
construir, sem a ajuda de ninguém. Deitados lado a lado na carroceria
da caminhonete, observando as nuvens mudar, falando sobre qualquer
coisa que passavam pela cabeça. Enquanto ela e os irmãos estavam se
curando de uma cicatriz profunda, outra estava se formando, se
tornando permanente.

E quando se virou para ver Jasper olhando para ela da porta, onde
ela estava se encolhendo com seus irmãos rindo, essa cicatriz
aprofundou-se e jorrou sangue fresco. Porque sem dizer uma palavra,
naquele momento, deu-lhe sua resposta.

~*~

O salão do Buried Treasure estava cheio. Com uma fila na porta.


Vários clientes já fizeram reservas para a noite seguinte. Sage começou
a usar o Instagram, embora só Deus soubesse como ela iria manter isso
atualizado quando tivesse que cuidar de seus próprios negócios e
imagens estavam sendo postadas constantemente. Fotografias de

346
refeições. Comida que Jasper podia olhar e ver o toque de Rita. Ver as
mudanças sutis que ela fez para lhe dar o toque certo. Mesmo sem ver
os pratos que enviou para fora da cozinha, ele saberia que eles tinham
pequenas peculiaridades, assim como o Buried Treasure.

Um nítido parmesão na forma de um coração preso no centro do


purê de batatas. Pauzinhos de açúcar endurecido agrupados para se
assemelhar à lenha. Ela enviou pequenos pedaços de seu coração sobre
a placa e cada vez que um passava, outro pedaço de seu próprio se
desprendia.

A conversa com Belmont naquela tarde entrou em foco gritante


quando entrou na cozinha. Quando ele ficou ali, vendo os olhares e as
tentativas de conversa de Rita com Aaron, percebendo a maneira como
olhava Peggy cuidadosamente, como se morrendo de vontade de entrar
na cabeça da irmã mais nova e reorganizar as coisas. Vendo a forma
como todos especialmente Sage, paravam um segundo sempre que
Belmont falava, olhando para ele como se pudesse ser a última vez que
se comunicava livremente. Então, muitas complexidades. Tanta coisa
em jogo. E tudo estava acontecendo diante de seus olhos.

Jasper tinha um pensamento distinto, dirigido diretamente para


si mesmo: que filho da puta egoísta que você acabou sendo.

Ele ficou no salão movimentado, testemunhando a magia exercida


pelos Clarkson e ainda queria quebrar essa corrente. Pegar sua
preciosa conexão com Rita e levá-la para longe da cozinha. Um lugar
do qual acabou de ser libertada. E daí que ele estaria ali, bem ao lado
dela. Um amigo. Um amante. Sim, talvez se tivesse realmente muita
sorte, ela iria usar seu anel um dia. Então o que, quando seu caso de

347
amor de três dias não pudesse competir com a família que ela estava
lutando para juntar? Com a nova vida distante do restaurante que tão
desesperadamente queria.

Ele amava Rita. Então tinha que deixá-la ir.

O serviço de jantar estava acabando, gradualmente os clientes


saiam pela porta da frente com sorrisos de surpresa em sua direção.
Acenando, dizendo que estariam de volta amanhã. Quase todas as
mesas no lugar estavam vazias, salvo aquela escondida no canto.
Jasper respirou fundo quando Rosemary saiu do lugar com a mão
escondida na dobra do braço de seu avô. Um martelar começou em
seus ouvidos, a garganta parecia apertada quando seu avô se
aproximou, os olhos que Jasper compartilhava observaram o salão com
algo semelhante a aprovação. Mas isso não podia estar certo.

Finalmente, o olhar do homem mais velho pousou sobre ele.

—Jasper. — Disse ele, estendendo a mão para apertar a de seu


neto. — Muito bom.

Por muito tempo esse momento foi o que Jasper sonhou. A


aprovação do homem que ele deixou para trás. Agora que esse
momento chegou, houve um alívio definitivo. Um peso tirado de suas
costas. Houve apreciação também, por ter ganhado de volta o respeito
que perdeu. Mas quando procurou aquele mesmo alívio para a
felicidade, isso lhe escapava. Soube então que sempre seria assim.

— Obrigado. — Jasper disse a seu avô, se inclinando para beijar


o rosto de Rosemary. — Por tudo.

348
Depois de ver as pessoas que tinham se levantado sair pela porta,
Jasper virou para encontrar Rita observando-o da estação de garçons,
um quadril apoiado contra o balcão. A tristeza se escondia em seus
olhos, mas havia orgulho lá também. Dele. Do restaurante. O avental
que usava estava coberto de manchas de molho, uma pitada em seu
rosto, deixando-o nervoso. Sem pensar, ele foi até Rita, usou seu
polegar para limpar o molho.

— Parabéns. — Ela sussurrou, observando o movimento de sua


mão. — Não tivemos nada devolvido para a cozinha, exceto elogios.
Sage disse que as mesas estão reservadas para as próximas três
semanas. — Estendeu a mão como se quisesse coloca-la em seu braço,
mas deixou cair, a língua molhando os lábios no que parecia ser um
gesto nervoso. — Estou tão feliz que você criou esse lugar. Será um
marco na cidade e é devido ao seu trabalho duro.

Senhor, Jasper queria sacudi-la. Suas palavras eram genuínas,


mas eles não estavam chegando a lugar nenhum. Elas eram
indesejáveis quando o adeus estava tão perto no horizonte.

— Obrigado. Por tudo que sua família fez essa noite. — A bala de
canhão se materializou em seu estômago, arrastando-o para baixo. Ele
não queria ninguém ali para testemunhar quando batesse no fundo.
Especialmente ela. — Mas acabou Rita. Preciso que vá. Eu não posso
olhar para você mais sem me transformar em um idiota.

Rita fechou os olhos e abriu para revelar piscinas gêmeas de


lágrimas.

349
— Sinto muito. — Suas mãos tremiam quando ela tirou o avental
sujo e colocou-o na estação de garçons. — Eu nunca esperei você. Ou
eles. Ou nada disso. — Ela abaixou seus olhos. — Deixar a cidade a
noite parece ruim, não é? Mas não acho que serei capaz de resistir a
mais um dia se esperarmos até o sol nascer.

Era como lançar uma linda criatura majestosa de volta na


natureza. Apenas que era uma mulher que ele acreditava ter nascido
para ser sua segunda metade. E ela não seria. Quanto mais tempo ela
ficasse lá, mais feridos eles ficariam. Então ele se inclinou para perto,
com cuidado para não deixar seus corpos fazerem contato e beijou sua
testa.

— Ei. Talvez eu vá acordar amanhã e encontrá-la na beira da


estrada novamente. Minha própria versão do Dia da Marmota36. Talvez
eu tenha uma segunda chance de fazer tudo de novo.

Sua respiração soprou contra seu pescoço.

— Adeus Jasper.

O último som que se lembrava de ter ouvido foi a porta batendo,


sinalizando que ela se foi. Foi quando o trovão começou a rolar em seus
ouvidos, silenciando o mundo ao seu redor quando bateu no
restaurante.

36 Groundhog Day, é uma festa tradicional nos Estados Unidos e no Canadá, que se celebra no dia 2 de
Fevereiro. Segundo a tradição, as pessoas devem observar uma toca de uma marmota: se o animal sair da toca
por estar nublado, isso significa que o inverno terminará mais cedo; se, pelo contrário, o sol estiver a brilhar e
o animal se assustar com a sua sombra e voltar para a toca, então o inverno durará mais seis semanas.

350
Ele puxou a cadeira que Rita se sentou na primeira noite que
apresentou a ela o Buried Treasure. A noite que Rita nomeou o lugar.
Sentou, cobriu o rosto com os braços sobre a mesa. E não se mexeu.

351
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
Levou apenas vinte minutos para que todos guardassem seus
pertences que estavam no hotel e subissem no Suburban. Algo sobre
isso parecia errado para Rita. Certamente vinte minutos eram
insuficientes para apagar qualquer evidência de sua estadia em Hurley.

Não era?

Num impulso, ela deixou uma camisa em um dos armários no


quarto de hotel, fechando a porta sobre ela enquanto um pequeno
sentimento de perda invadia seu estômago. Agora todos eles estavam
em silêncio no estacionamento da Hurley Arms à espera de Belmont
que desapareceu sem dizer a ninguém onde foi. Embora esse fosse um
comportamento típico de seu irmão mais velho, ninguém comentou,
ainda que Sage parecesse ansiosa, com a cabeça em um giro enquanto
esperava seu retorno. Aaron digitava e-mails em seu celular,
cantarolando Raspberry Beret enquanto Peggy tilintava os anéis de
noivado ao redor de seu pescoço.

Tudo tão normal. Porra. Por que todos estavam agindo de maneira
tão normal? O ar estava sendo desviado dos pulmões de Rita, ela sentia
um comichão na pele, o interior do carro cada vez menor. Com uma
maldição, abriu a porta de trás, permitindo que o vento quente do
deserto entrasse no Suburban. Ele entrou sob as mangas de sua
camisa, subiu por seu pescoço e segurou, segurou tão apertado. Como
se Jasper tivesse tomado a forma de vento invisível, tomado a decisão
de alcançá-la uma última vez. Seu rosto, suas palavras, a falha

352
evidente em ambos arranhou sua consciência. Não, não é um fracasso.
Você me ganhou. Eu apenas tenho que ir de qualquer maneira.

As razões estavam todas ao seu redor, ocupando os assentos, se


juntando a ela nessa viagem louca, mas algo além de Jasper estava
faltando. Percebendo o que era, Rita colocou a mão na bolsa de lona
desleixada e removeu o diário de Miriam, lançando a uma entrada para
frente, colocando-o no colo e empurrando dois punhados de cabelo
para trás sobre os ombros quando ela começou a ler.

Minha família não é emotiva. Meus filhos foram feitos para...

Belmont abriu a porta do lado do motorista, arrancou o Suburban


sem dizer uma palavra a respeito de onde esteve. Enquanto eles
lançavam um suspiro coletivo de alívio, Belmont inverteu o Suburban
de seu local de estacionamento, o sentimento explodiu como um
terremoto sob os pés de Rita. A mudança sísmica. Quando eles saíram
para a estrada principal, a corda que foi amarrada ao redor de seu peito
sem permissão começou a puxar e puxar. Como se estivesse ligada ao
hotel e quanto mais longe eles dirigiram, mais ele ameaçava cortá-la
pela metade. A vontade de se virar para vislumbrar o Liquor Hole, —
não, o Buried Treasure — era grande e implacável, mas alguma voz
irracional dizia que tudo iria virar pó se seguisse adiante, como Sodoma
e Gomorra. Ou talvez fosse apenas ela? Iria virar pó e flutuar para
longe, como um pequeno cisco que não poderia suportar todos os
sentimentos.

Jasper. Jasper. O que ele estava fazendo? Será que já tinha saído
do Buried Treasure? Será que iria para casa se sentar no balanço onde
fizeram amor? Ou talvez tomar uma xícara de café, enquanto estivesse

353
encostado na ilha da cozinha, casualmente olhando os números
daquela noite? Bastou muito pouco da concentração para que a
imaginasse na ilha ao lado dele, vestindo sua camisa de flanela,
roubando um gole de café.

Oh, Cristo. Doeu. A dor espetou através de seu peito, lágrimas


pressionando suas pálpebras. Se lembrando da distração em seu colo,
Rita abaixou a cabeça para começar a ler mais uma vez, tentando com
todas as forças não olhar para fora da janela e ver a oficina passar. O
lugar no qual Jasper apareceu na segunda manhã em sua moto,
esperando que ela concordasse com um almoço com Rosemary.
Fingindo surpresa sobre a falta de peça do Suburban quando ele muito
bem foi a porra do motivo. Deus. Deus, foi tão sorrateiro apenas para
ter mais um dia com uma mulher? Jasper foi. Seu Jasper.

Limpando a umidade em suas bochechas, Rita focou na página


aberta batendo na brisa fornecida pela janela aberta. Concentrada na
concisa caligrafia de sua mãe, tentando encontrar consolo.

Meus filhos foram feitos para tomarem caminhos diferentes. Eles


saíram cedo e se cruzam raramente, mas quando se cruzam, eles fazem
uma bela música. Mesmo que nem sempre ouçam ela. Espero que eles
saibam que eu ouço. Batidas e notas ruins igualmente. Algumas famílias
se reúnem todos os anos para eventos programados e eu admiro isso.
Realmente admiro. Mas a espontaneidade só acontece para atender aos
Clarkson. Esses momentos raros quando os caminhos dos meus filhos
tomam desvios inesperados e se chocam entre si, procedentes de
diferentes distâncias sem perceber. Recusando-se a acreditar que eles
podem ser influenciados por alguém com tão pouco em comum, mas isso
acontecer mesmo assim.
354
Sejam corajosos! Eu gostaria de ter dito isso mais vezes sem lançar
minha própria bravura em seus rostos. Sejam corajosos, falhem em
conjunto e desmoronem. Está tudo bem. Não há problema em divergirem,
sabendo que em algum momento no futuro, vocês vão colidir novamente.
Enquanto esses momentos raros forem lembrados, seus significados
serão mantidos.

Escutem. Estou soando como uma mãe. Aqui está mais um conselho
de mãe, bom... crianças parem com as insignificâncias ou eu farei um
giro ao redor desse carro agora mesmo...

— Pare. — Rita resmungou. — Vire o carro.

Ela olhou para cima a partir do diário para descobrir que o


Suburban já foi parado no lado da estrada, os seus ocupantes olhando
para ela de todos os cantos. Lágrimas escorriam em suas mãos,
molhando as páginas do diário de Miriam até Aaron puxá-lo e guardá-
lo em sua pasta. Belmont observava constantemente no espelho
retrovisor e Peggy encolhia os ombros estranhamente, mas
entusiasmada, dando pancadinhas no banco traseiro.

E com aqueles olhos sábios nela, ela pode de repente ver. Ver
todas as coisas que não enxergou por tanto tempo. Estar na cozinha
mais cedo, foi divertido. Talvez pela primeira vez em uma cozinha.
Porque os pratos foram preparados por ela. Para Jasper. Ninguém
mais. Ela finalmente descobriu como cozinhar sem medo. E foi em
parte devido ao homem que estava deixando para trás. O homem que
passou dias a libertando da prisão, talvez, mesmo sem estar consciente
da diferença que ele fez, momento a momento.

355
Ela poderia ficar? Ficar e amar um homem sem o terror de
desapontá-lo? Desapontar a si mesma? Sim. Sim. Na noite passada,
uma semente foi plantada na cozinha de Jasper. A semente do prazer,
amor. Cozinhar a fez se sentir como antes. Antes que se perdesse na
tentativa de ser alguém diferente de Rita. Ela provou essa noite que não
foi a cozinha que a quebrou. Ela se quebrou. Mas porra, também
consertou o dano. Com Jasper. Oh Deus, Jasper. A única maneira que
podia decepcioná-lo seria ir embora.

— Sinto muito. — Ela falou para Belmont porque era mais fácil e
ele nunca teve a capacidade de julgá-la diretamente. — Sinto muito...
eu sei que isso foi ideia minha. Mas acho que posso ter encontrado um
lar com aquele homem. O único ao qual estou destinada. — Rita se
inclinou, colocando o rosto entre os joelhos. — Oh, Deus, eu sinto que
estou morrendo. Odeio isso.

O silêncio reinou por longos momentos antes de Aaron o romper.

— Foi ideia da nossa mãe, Rita. É por isso que estamos aqui. —
Ele se mexeu, olhando pela janela. — Você não tem que assumir a
responsabilidade por isso. Teríamos encontrado o caminho de alguma
forma, certo? — Ele estendeu a mão e cutucou seu ombro. — E se você
encontrar um lar, tudo o que vier dessa viagem, valeu a pena. Acho que
talvez haja mais para nós quatro na estrada, mas a estrada termina
aqui para você. Você e seus bebês vestindo flanela.

Com uma risada aguada, Rita soltou o cinto de segurança e se


lançou sobre o banco, jogando os braços em volta do pescoço de Aaron.

— Sinto muito termos sido tão idiotas um para o outro.

356
— Eu também. — Ele deu um beijo em sua testa. — Embora
mantenha que estava certo na maioria das vezes.

Um som irregular deixou Rita quando ela se afastou, voltando-se


para Peggy.

— Deus, Peggy. Sobre o apartamento...

— Não se preocupe com isso. — Os cílios de Peggy estavam cheios


de umidade, bonita, apesar de seu nariz vermelho e expressão
angustiada. As mãos dela tremularam por um momento e no que
parecia ser um esforço para segurá-las, ela apontou para o banco do
passageiro da frente. — Terei que convencer Sage a morar comigo.

Um rosnado baixo do assento do motorista levantou a sobrancelha


de todos, mas Rita levou o foco ao seu irmão mais velho saindo do
Suburban. Depois de um momento procurando por sua mala na parte
traseira e não encontrando ela, o ombro de Belmont roçou o dela,
deixando ela confusa.

— Onde está minha mala?

Ele olhou de volta para Hurley.

— Deixei na cozinha no Buried Treasure.

A garganta de Rita se fechou tão forte que ela precisou a circular


com as duas mãos.

— E se eu não tivesse descoberto?

O suspiro de seu irmão juntou forças com o vento do deserto para


irritar o cabelo dela.
357
— Então nós teríamos que voltar. Ou Jasper teria trazido a você.
E talvez então você teria percebido.

— Obrigada. — Rita respirou certa de que não poderia suportar o


peso de tanto sentimento. Amar a família, perder Jasper. Alguém tinha
que ceder. A pressão foi empurrando ela pelas entranhas, expandindo
a cada segundo. Num impulso, ela estendeu a mão e colocou a mão na
bochecha de Belmont.

— Você é um grande homem, Belmont. Um grande homem.

Rita deixou cair a mão e deu um passo para trás, encontrando os


irmãos se reunindo ao redor dela. Sage, também. Lá estavam eles, no
lado da estrada tranquila, envoltos em luar. E de alguma forma era o
pior momento de sua vida, enquanto era também o mais importante. O
melhor. Cercado por seu passado enquanto o futuro estava alguns
quilômetros de distância, um farol brilhando suavemente. Rita abraçou
Peggy forte, ainda desejando que chegasse ao fundo do sofrimento de
sua irmã, mas sabendo que Peggy tinha a força interior para enfrentá-
lo. Algo que ela não tinha certeza antes da viagem começar.

Rita abraçou Sage, sussurrando em seu ouvido.

— Tome conta do meu irmão. — E então ela deu um passo atrás,


longe do grupo. Voltando para Hurley. — Estarei na praia no Dia de
Ano Novo. De uma forma ou de outra estarei lá. Isso é uma promessa.

Sage apontou para o Suburban, ainda parecendo um pouco


afobada com a demonstração de afeto de Rita.

— Você não quer que a gente a leve de volta à cidade?

358
— Não. — Rita começou a andar para trás, dando uma última
olhada em sua família. — Eu tenho que fazer isso sozinha.

— Rita, você faltou na aula de ginásticas três vezes. — Aaron falou.


— Não pode correr por um merda.

Sua risada ecoou no meio da noite quando ela se virou e correu.

Em direção a Jasper. Em direção a sua vida.

~*~

Jasper nunca soube o que o fez parar do lado de fora do Buried


Treasure a meio caminho de seu carro. Talvez estivesse ouvindo o som
do Suburban saindo da cidade. Talvez não quisesse ir para casa, uma
casa vazia.

Seja qual fosse a razão, Jasper fez uma pausa próxima ao


estacionamento, chaves na mão, quando achou que ouviu alguma
coisa. Quando nada se apresentou, somente o silêncio e o sussurro da
areia que vinha do deserto até o asfalto e circulando seus pés, deu mais
alguns passos em direção a caminhonete.

Aqueles poucos passos lhe deram uma visão da estrada principal.


Tendo crescido em Hurley conhecia cada curva e rua da cidade. Assim,
quando algo à distância parecia estar ficando maior, se movendo sob a
iluminação pública e desaparecendo antes de reaparecer novamente, a

359
curiosidade forçou-o a ir em direção a ela, a necessidade de ter uma
visão melhor, uma bomba errática começando no peito. Seus dedos
soltos, as chaves caíram no chão, mas ver a figura que se aproximava
parecia impossível, então ele continuou andando. Caminhando para
baixo no centro da estrada principal, como uma espécie de sonambulo
maníaco. A areia rangia sob suas botas, cada vez menos tempo que se
passava entre os sons. Ele estava correndo agora? Sim, sim, estava
correndo.

Rita. Era Rita. Seu coração a reconheceu voltando para o


estacionamento, mas seus olhos se recusavam a aceitar o presente.
Realmente pensou que a mulher não poderia ficar mais bonita para ele,
mas olhando para ela correndo em sua direção na escuridão
parcialmente iluminada, cabelo voando, o rosto com um sorriso, sim,
ele mudou de ideia. Ela poderia ficar mais bonita. Tão bonita que
tropeçou na estrada e caiu de joelhos, abrindo os braços apenas a
tempo de Rita mergulhar neles levando os dois para trás.

— Eu também te amo. Eu também te amo. — As palavras saiam


em seu pescoço enquanto ele olhava para o céu, um homem
agradecendo a Deus por sua sorte. — Eu quero ficar aqui com você.
Não quero ir embora. — Os soluços entraram em seu coração como
espadas afiadas. — Desculpe-me, eu até tentei.

— Tudo bem, linda. Está tudo bem. — Jasper a acariciou


apertando as mãos para baixo no cabelo de Rita, assegurando-se que
não era uma alucinação.

360
Com o objetivo de sentá-la e colocá-la em seu colo, Jasper tentou
se mover, mas encontrou suas pernas paralisadas, agarrando-se à
estrada como plástico derretido.

— Não, não está tudo bem, na verdade. Você quase me matou. Eu


ainda não estou recuperado.

Ela alisou as mãos para cima e para baixo em seu peito, como se
estivesse tentando aquecer seu coração no salto de partida. —
Continue dizendo coisas assim. Eu mereço.

Seu sangue fluiu e esquentou em protesto. Jasper se moveu para


uma posição sentada, lançando um suspiro pesado quando Rita
envolveu seus membros ao redor dele e se agarrou.

— Não. Eu não quero que você se sinta culpada. Não quero que
você sinta nada além de felicidade por ter voltado para mim. Nem agora,
nem nunca.

Seus lábios se moveram sobre seu queixo, suas bochechas,


deixando beijos. — Eu realmente nunca o deixei. Meu coração ficou
aqui o tempo todo.

— Deve ter se cruzado com o meu. Ele deixou a cidade junto com
você. — Ele juntou seus lábios aos dela, gemendo com a perfeição que
pensou nunca sentir novamente. Sua Rita. — Você voltou. Vai... ficar?

— Sim.

Não fique alegre tão rápido. Agarre-se, homem. Certifique-se que


esta é a melhor coisa para Rita antes de deixar o alívio assumir
completamente.

361
— Sua família...

— Minha família. — Ela pareceu perdida em pensamentos por um


momento. — Eles sabem que eu preciso estar aqui. E sei que tudo que
eles precisam está em outro lugar. Não o sei onde ainda. — Sua
respiração doce era uma coisa de sonhos batendo em seu rosto. — Eles
vão encontrá-lo. Da mesma forma que encontrei você. Esperemos que
não vá levá-los para longe para perceber que não pode viver sem ele.

Uma represa estourou dentro de Jasper, finalmente, permitindo


alívio correr e preencher todas as rachaduras que sua saída causou.

— Eu não farei suposições Rita, mas você irá morar comigo. —


Outra rodada feroz de beijos. — Tudo bem, estou fazendo suposições.
Preciso de você na minha casa. Preciso do seu toque em tudo que tinha
antes, as coisas que vamos possuir juntos depois de hoje. Preciso do
seu toque em mim também. Preciso de tantas coisas e todas elas
começam e terminam com você.

Deus, ele adorava a maneira como suas palavras visivelmente a


afetavam, faziam seus olhos ficarem suaves. Amou saber que a dor
constante por trás deles valeu a pena cada segundo.

— Depois de pensar que poderia nunca mais vê-lo novamente,


nunca tive mais certeza de que não posso passar um dia sem você. —
Rita disse. —Leve-me para casa.

Jasper se levantou, levando Rita com ele. — Vou levá-la para


nossa casa. — Ele beijou-a na rua silenciosa sob a luz da lâmpada. —
Eu vou ler-lhe os menus especiais até adormecer. — Outro beijo. —
Vou te dizer que te amo entre cada palavra.

362
— Eu também te amo. — Ela sussurrou. — Mencionei isso?

Ele pegou-a em seus braços, dirigindo-se para o Tesouro


Enterrado. — Você mencionou? — Com um nó na garganta. — Estou
sentindo um pouco de amnésia chegando. Talvez seja necessário ouvir
de novo...

Ela falou contra seu pescoço todo o caminho de casa.

Sua casa.

363
EPÍLOGO
Aaron olhou pela janela gigante de trás do Suburban até que Rita
se tornou uma partícula cada vez menor sob os postes de Hurley. Porra.
Realmente não pensou essas coisas sobre sua irmã. Isso fez ele se
perguntar quem mais subestimou ou deu um desconto recentemente.
Quando acidentalmente fez contato visual com Belmont no espelho
retrovisor, fingiu grande interesse no conteúdo de sua pasta. Embora
sim, ele realmente não estivesse fingindo, certo? Leu a primeira página
do diário de Miriam, o que os levou a esse passeio hediondo através do
inferno, mas não foi além disso. Principalmente devido ao diário estar
sempre em posse de Rita...

Mentiroso. Deixe de ser um mentiroso.

Ninguém queria saber que os pensamentos finais de seus pais na


terra confirmavam que ele foi tão óbvio o tempo todo. Aaron era o único
na família que talvez tivesse nascido sem um coração.

Sua mãe nunca foi capaz de esconder o desconforto com a


capacidade de Aaron de mentir e persuadir para ganhar a todo o custo.
A facilidade com que trocava de uma garota para a próxima, causava
vergonha. O que Miriam diria se soubesse por que ele foi demitido de
seu emprego com o senador?

Sua falta de surpresa seria lendária.

É por isso que ele não abriria o diário. Hoje não. Nem em vinte
anos. Ser um grande mentiroso lhe dava a capacidade de amortecer a
realidade, de como ele era sem alma contra o pano de fundo de seus

364
irmãos. Peggy era o coração sangrando que teve que dizer sim a quatro
propostas de casamento porque não conseguia dizer não para não
machucar os sentimentos de alguém. As águas calmas de Belmont
corriam em profundidade suficiente para manter tudo e todos sob
controle. Mesmo que não fosse sempre assim entre Aaron e seu irmão.
Eles ainda eram amigos. Ou talvez imaginou a coisa toda, com certeza
parecia isso agora.

Aaron sentiu o desconforto de sua garganta. Ao mesmo tempo,


pensou que Rita e ele eram mais parecidos dentre os Clarkson. Apenas
que ele nunca experimentou o tipo de emoção que a levou a correr
alguns quilômetros em direção a alguém. Caralho, nunca foi além de
um segundo encontro. Então, aqui estava ele sentando, uma irmã a
menos e ainda um imbecil. Que porra estava pensando, destruindo a
campanha em Iowa? Poderia muito bem ser crucificado.

Ou poderia se reerguer de novo. Não. Ele iria.

O Suburban passou pela placa azul e branca escrita “VOCÊ ESTÁ


SAINDO DE HURLEY” e Belmont tocou a buzina duas vezes. Aaron
engoliu o sorriso que sentiu tentando se formar quando pensou em Rita
comprando um par de botas de cowboy e começou a voltar sua atenção
para os documentos de pesquisa de internet em sua pasta. Mas um
flash branco ao lado da estrada chamou sua atenção. Um cachorro?

— Espere. — Aaron apontou a parte de trás do banco de Belmont.


— Aperte os freios.

Belmont grunhiu, levantando o olhar de tempestade para o


retrovisor de novo, mas finalmente parou o Suburban gemendo com a

365
parada repentina. Aaron se sentiu ridículo no minuto em que pisou no
cascalho, o silêncio absoluto do deserto como um vazio ao redor dele.

Peggy e Sage estavam observando com curiosidade pela janela e o


brilho de The Golden Girls no laptop iluminava seus rostos. O escrutínio
de Belmont queimou um buraco em suas costas. O que? Todo mundo
age como louco nessa família, mas ele anda mais um pouco para dar
um olhar mais atento a um cão e de repente era o candidato para uma
camisa de força?

Aaron colocou dois dedos na boca e assobiou.

— Vamos. Não me deixe aqui de pé como um idiota. — Peggy e


Sage vieram cada uma de um lado de Aaron após um minuto
observando ele, ao invés de observar a escuridão da noite diante deles.
Quando Aaron estava pronto para desistir, uma mancha branca de pelo
trotou para a luz fornecida pelos faróis do Suburban. — Levou tempo
o suficiente. — Aaron disse, sem saber o que fazer agora que confirmou
o que seus olhos tinham visto.

Peggy quase engoliu metade do deserto com seu suspiro.

— Filhote de cachorro, filhote de cachorro, filhote de cachorro!

Sage deu uma risada trêmula, cobrindo a boca com as duas mãos.

— Não é um filhote. — Disse Aaron, se agachando. — Ele é velho.

O cão parou o trote abruptamente, como se sentisse insultado


deixando ambas as garotas em um ataque de riso, que foi cortado assim
que a bota de Belmont batia atrás deles.

366
Aaron ignorou seu irmão mais velho e assobiou novamente. Por
quê? Ele não tinha ideia. Eles nunca tiveram animais de estimação.
Nem tinha certeza se gostava de cães. Mas deixar algum pobre vira-
lata no deserto escuro parecia uma coisa de merda para se fazer.

— Vamos lá, meu velho. — Aaron bateu uma vez, seus lábios se
contraindo quando o cão apenas inclinou a cabeça.

Como se dissesse: Você está falando comigo? Bom Deus, isso era
estúpido. Agachado na beira da estrada entre as cidades, tentando
atrair um animal de rua. Talvez Aaron estivesse apenas aborrecido por
seu cérebro ter passado tanto tempo sem um desafio. Talvez precisasse
de uma distração do diário que inesperadamente caiu em seu colo. Seja
qual fosse a razão, ele queria que o cão entrasse no maldito Suburban.

— Poderia ser um cão perdido. — Belmont disse. — Alguém pode


querer de volta.

— Posso ver daqui que ele não tem coleira. — Aaron se voltou.

Peggy cantarolou em sua garganta.

— Você pode ver daqui que é um cachorro? Poderia ser uma


cadela. Um pequeno bebê cadela.

— É um cachorro. E ele é velho. — Aaron levantou, passando uma


mão impaciente pelo cabelo e caminhando em direção ao cão, trazendo-
o para a borda da luz.

Sua intenção era agachar e brincar com o cachorro o suficiente


para torná-lo afável, em seguida, levá-lo de volta para o Suburban. Mas

367
quanto mais Aaron chegava perto do animal, mais ele se encolhia, o
que lhe fez parar.

— Ei. — Aaron murmurou, verificando por cima do ombro para se


certificar de que nenhum dos outros pudessem ouvi-lo. — Está tudo
bem. Nós somos... pessoas pacíficas. Pelo menos com os animais, de
qualquer maneira. Não tanto uns com os outros.

Certo. Então, estava conversando com um cachorro agora. Mas


estava louco ou os olhos castanhos do cachorro ficaram calmos, com
total compreensão? Sim, ele até colocou a pata na direção de Aaron,
causando uma perturbação leve em algum lugar no intestino de Aaron.

— Hã. Bem, minha irmã apenas resolveu voltar e há um lugar


vazio. Há comida... — O cachorro levantou as orelhas. — Ahh, agora eu
estou falando seu idioma, certo? Nós temos literalmente sacos de
comida de restaurante no carro. É como se soubéssemos...

Aaron parou quando o cachorro passou por ele, se dirigindo para


o Suburban. Depois de três tentativas sem sucesso, a raia de pele
branca desapareceu no banco de trás, deixando os quatro passageiros
olhando fixamente um para o outro. Peggy foi a primeira a reagir,
enchendo os nós dos dedos contra os lábios para abafar um grito,
enquanto Belmont observava Sage para ver sua reação, dando a Aaron,
o impulso irresistível de revirar os olhos. A tensão sexual entre os dois
era suficiente para transformar a missa de domingo em uma orgia.

— Como você vai chamá-lo? — Sage perguntou, abordando Aaron,


mas olhando para o Suburban. — Você o salvou. Você decide.

368
— Vamos chamá-lo de Rita. — Aaron brincou, o que lhe valeu um
tapa no ombro de Peggy. — Tudo bem, vamos chamá-lo de Velho.
Apenas até que eu possa chegar a algo melhor. — Relutantemente, ele
olhou para Belmont. — Você tem um problema com o cachorro?

Belmont observou Aaron por um momento sem responder, um


músculo pulsando em seu maxilar, antes de se virar e voltar para o
veículo. Quando Peggy bateu no ombro de Aaron, ele os encolheu.
Quando ela teve a porra da impressão de que precisava de conforto?
Estava acostumado a ser ignorado. Por alguém que não eram os
eleitores, seus constituintes, a imprensa. Que era por isso que Iowa
soava melhor agora.

Aaron Clarkson está mirando para você.

E ninguém poderia ficar em seu caminho.

~*~

As pernas de Rita estavam começando a tremer quando Jasper


colocou as mãos no ferro forjado de sua cabeceira, envolvendo seus
dedos entrelaçados ao redor de uma das finas barras, ele estava
curvado.

Desde que recuperaram sua bagagem no Buried Treasure e


correram para casa na caminhonete, Jasper passou a última hora

369
levando-a ao céu. Apenas para guiá-la de volta para terra e iniciar o
processo novamente.

— Eu te disse, não disse? — Sua voz era áspera e suave, tudo de


uma vez, em seu ouvido. — Disse que iria fazer amor com você, bem
assim. Com nossos dedos enrolados e apertados ao redor da cabeceira
da cama. — O balanço de seus quadris se aprofundando no final,
provocava um aperto em sua boceta preenchida. — O que mais posso
dizer?

— Você... — Rita molhou os lábios, apreciando a tensão de seus


músculos do braço sobre o travesseiro, o escorregamento suado de
seus corpos quando Jasper vinha e voltava. — Você ia dizer coisas no
meu ouvido. Coisas que não pode dizer sob a luz do dia.

Rita moveu seus quadris para que a base da ereção de Jasper


fizesse contato, ambos gemendo quando seus pontos sensíveis se
esfregaram, esfregaram, esfregaram.

— Isso foi o que eu disse. — Jasper estava ofegante, deixando cair


a boca para seus seios, lambendo seu mamilo direito com uma língua
hábil. — E sou um homem de palavra.

— Eu sei. — Rita sussurrou, desejando que seus braços


estivessem livres para que pudesse passar as mãos ávidas por suas
costas e apertá-lo mais profundamente. — Sei que você é.

Jasper colocou seu pau lentamente dentro dela, retrocedendo,


indo para frente novamente.

370
— Quando vi você no lado da estrada, Rita... — Sua cabeça suada
caiu na curva de seu pescoço, mas ele levantou para dizer as próximas
palavras em seu ouvido — Vi minha esposa. Eu sabia.

Um som que ela não poderia descrever, talvez um radiante gemido


deixou sua boca. Virou a cabeça para beijar Jasper, caindo em um
buraco de coelho profundo, escuro de paixão quando ele fez amor com
ela com os lábios e uma língua ansiosa. Durante todo o tempo, a sua
parte inferior do corpo bombeava, roubando-a da razão. Exceto por um
pensamento que circulava em rotações dentro de sua cabeça.

— A maneira como olhou para mim, como se ninguém mais


estivesse lá. Ninguém nunca me olhou assim. — Seus dedos apertados
na cabeceira da cama, uma aceleração em seu ventre. — Se você
continuasse pilotando sua moto para fora de Hurley... tivesse apenas
continuado. Teria o agarrado e deixado você me levar.

— Rita. — Beijos choveram ao lado de seu rosto. — Rita.

Seus movimentos se apressaram e a cabeceira começou a bater


na parede cada vez que ele exigia a entrada em seu corpo. Ela começou
em uma espiral maior, as coxas se levantando para levar Jasper mais
profundo, arqueando as costas, os soluços saindo de seus lábios.

— Jasper. — Seus olhos se arregalaram quando uma das mãos de


Jasper deixou a cabeceira da cama, descendo para cercar sua garganta.
Uma emoção familiar brilhou, seu orgasmo tão perto, tão perto. — Por
favor.

371
Os olhos de Jasper estavam vidrados, cheios de luxúria como seu
aperto firme. Apenas o suficiente para impulsionar Rita ao
esquecimento.

— Sente isso, Rita? Essa é a aderência que eu senti ao redor do


meu coração desde que você chegou aqui. Nunca vá embora. Por favor.

— Nunca. Eu nunca irei.

Pedindo para ter os braços livres, ela os jogou ao redor de Jasper,


segurando-o quando seu corpo explodiu sobre o dela, ruidosamente, os
grunhidos masculinos soando em seus ouvidos. Seu corpo ondulando,
trabalhando sua necessidade em estocadas febris. A cabeceira deu
algumas batidas finais contra a parede.

Pouco tempo depois, o suor secou em seus corpos, corações


batendo cheios de contentamento, Rita se virou de lado para enfrentar
Jasper.

— É isso o que as crianças estão chamando de ler os menus


especiais nos dias de hoje?

Jasper rolou-a em um abraço de urso, sua risada rouca já tão


familiar como uma canção favorita.

— Você quer os especiais, linda?

A casa rangia com ruídos de conforto à sua volta, como se


estivesse esperando, esperando e agora ele estava satisfeito.

— Estava pensando para o café da manhã de domingo, que


poderia servir waffles belga...

372
— Com compota de mirtilo, ao molho de manteiga e creme... e
bacon. Sempre o bacon...

— Sempre. — Ela sentiu Jasper sorrir em seu cabelo, levando ela


a fazer o mesmo contra o seu pescoço, desfrutando de sua vibração. —
Nós podemos testar de manhã.

— De manhã. — Rita suspirou. — Toda manhã.

Pernas entrelaçadas, braços segurando o outro, eles concordaram


sem palavras em dormir. Afinal, amanhã tinham um restaurante para
ser administrado.

Eles acordariam com o amanhecer. Sorridentes.

FIM!

373
AGUARDE A HISTÓRIA DO PRÓXIMO CLARKSON EM:

TOO WILD TO TAME


Às vezes você não consegue resistir a brincar com fogo ...

De dia, Aaron Clarkson usa terno, dá aperto de mãos e age como


um perfeito cavalheiro. Mas à noite, por trás das portas dos quartos, o
terno sai e o verdadeiro Aaron sai para jogar. Misturar negócios com
prazer foi o motivo de sua demissão, então Aaron sabe que, se quiser
trabalhar para o senador mais poderoso do país, terá que ficar de olho
no prêmio. Mas quando ele conhece a filha do senador, que é selvagem,
linda e 100% problemas, é mais fácil falar do que fazer.

Grace Pendleton é a ovelha negra de sua família conservadora. No


entanto, enquanto a presença de Aaron a faz lembrar de um passado
que ela preferiria esquecer, algo em seus olhos a atrai. Talvez seja o
modo como a voz dele a transforma. Ou talvez seja porque, lá no fundo,
o super-suave e polido Aaron Clarkson pode ser mais do que a Grace
pode lidar...

374
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