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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE CAXIAS – CESC


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE MEDICINA

FRANCISCO THYAGO ABREU ROCHA

PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES INTERNADOS POR


SEPSE NO MARANHÃO

CAXIAS/MA
2023
FRANCISCO THYAGO ABREU ROCHA

PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES INTERNADOS POR


SEPSE NO MARANHÃO

Trabalho de Conclusão do Curso


(TCC) apresentado ao Curso de
Graduação em Medicina do Centro de
Estudos Superiores de Caxias-Ma da
Universidade Estadual do Maranhão
como requisito parcial à obtenção do
grau de bacharel em Medicina.

Orientador: Prof. Dr.

CAXIAS/MA
2023
FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pelo bibliotecário Wilberth Santos Raiol CRB 13/608.

Elaborada pelo bibliotecário...


FRANCISCO THYAGO ABREU ROCHA

PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES INTERNADOS POR


SEPSE NO MARANHÃO

Trabalho de Conclusão do Curso


(TCC) apresentado ao Curso de
Graduação em Medicina do Centro
de Estudos Superiores de Caxias-
Ma da Universidade Estadual do
Maranhão como requisito parcial à
obtenção do grau de bacharel em
Medicina.

Orientador: Prof. Dr.

Aprovado em: / /

BANCA EXAMINADORA

                    _________________________________________________
Prof. Dr. ....................................................... (Orientador)

                    _________________________________________________
1° Examinador

_________________________________________________ 

                                                            2° Examinador
AGRADECIMENTO

A Deus por ter concedido, através de sua infinita bondade, o potencial de


concretizar mais uma conquista em minha vida. 

A minha família.

Aos meus amigos.

Ao meu orientador, professores da banca e preceptores, que foram


essências para guiar-me na minha formação de médico intensivista. 
4

"Deus de aliança, Deus de promessa,


Deus que não é homem pra mentir,
tudo pode passar, tudo pode mudar,
mas sua a palavra vai se cumprir."
5

RESUMO

A sepse é desordem orgânica associada a uma resposta inflamatória exacerbada do


hospedeiro, sendo a principal causa de óbitos em Unidades de Terapia Intensiva
(UTIs) no mundo, devido principalmente a disfunção de múltiplos órgãos. A resposta
inflamatória torna-se uma ameaça ao corpo por uma infecção, representando a
principal causa de mortalidade. Analisar o perfil clínico e epidemiológico dos
pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no estado do
Maranhão, no período de 2018 a 2022. Trata-se de estudo epidemiológico,
observacional do tipo ecológico e de abordagem quantitativa de pacientes
internados por sepse entre os residentes do Maranhão, no período de 2018 a 2022.
As unidades de análise serão as regiões de saúde do Estado do Maranhão. Os
dados das internações foram obtidos do Sistema de Internações Hospitalares do
Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). Foram notificadas um total de 7.619
internações relacionadas ao CID septicemia, equivalente a uma média de 1.523,8
casos anuais. Este estudo trouxe evidências e elucidou o perfil epidemiológico da
sepse no estado do Maranhão. Os resultados mostraram que a incidência da sepse
foi mais prevalente em idades avançadas, predominância no sexo masculino, quanto
a raça, fica o questionamento da completitude dos dados. A taxa de mortalidade
hospitalar apresentou aumento no ano da instalação da pandemia da covid-19.

Palavras-chave: Epidemiologia. Sepse. Hospitalização. Maranhão.


6

ABSTRACT

Sepsis is an organic disorder associated with an exacerbated inflammatory


response of the host, being the main cause of death in Intensive Care Units (ICUs)
in the world, mainly due to dysfunction of multiple organs. The inflammatory
response becomes a threat to the body by an infection, representing the main
cause of mortality. To analyze the clinical and epidemiological profile of patients
admitted to the Intensive Care Unit (ICU), in the state of Maranhão, from 2018 to
2022. This is an epidemiological, observational, ecological study with a
quantitative approach to patients hospitalized for sepsis among residents of
Maranhão, from 2018 to 2022. The units of analysis will be the health regions of
the State of Maranhão. Hospitalization data were obtained from the Hospital
Admissions System of the Unified Health System (SIH/SUS). A total of 7,619
hospitalizations related to ICD septicemia were reported, equivalent to an average
of 1,523.8 cases annually. This study brought evidence and elucidated the
epidemiological profile of sepsis in the state of Maranhão. The results showed that
the incidence of sepsis was more prevalent at advanced ages, predominance in
males, regarding race, the completeness of the data remains questionable. The
hospital mortality rate increased in the year of the installation of the covid-19
pandemic.

Keywords: Epidemiology. Sepsis. Hospitalization. Maranhão.


7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 9
2 OBJETIVOS................................................................................................. 11
2.1 Objetivo Geral............................................................................................. 11
2.2 Objetivos Específicos................................................................................ 11
3 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................... 12
3.1 Epidemiologia da sepse ........................................................................... 12
3.2 Sepse e choque séptico........................................................................... 13
3.3 Diagnóstico - SOFA e qSOFA na sepse.................................................. 16
3.4 Vantagens e desvantagens da Sepsis-3.................................................. 17
3.5 Tratamento.................................................................................................. 19
4 METODOLOGIA......................................................................................... 23
4.1 Tipo de estudo.…................................................................................... 23
4.2 Coleta de dados…….….............................................................................. 23
4.3 Organização e Análise dos dados............................................................ 23
4.4 Critérios de inclusão e exclusão ….......................................................... 24
4.5 Procedimentos éticos................................................................................ 24
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 25
6 CONCLUSÃO.............................................................................................. 30
REFERÊNCIAS........................................................................................... 31
9

1 INTRODUÇÃO

A sepse é uma desordem orgânica associada a uma resposta inflamatória


exacerbada do hospedeiro, sendo a principal causa de óbitos em Unidades de
Terapia Intensiva (UTIs) no mundo, devido principalmente a disfunção de múltiplos
órgãos (CRUZ; MACEDO, 2015). A resposta inflamatória torna-se uma ameaça ao
corpo por uma infecção, representando a principal causa de mortalidade (SINGER et
al., 2016).
Ao ser reconhecida qualquer infecção pelo o corpo, o organismo responde
com um processo complexo ao agente infectante, a princípio ocorre o reparo do
tecido lesionado a partir da ativação das células fagocitárias circulantes e fixas, junto
com a geração de mediadores pró e anti-inflamatórios. Na sepse, essa resposta é
desregulada e generalizada, com acometimento dos tecidos normais afastados do
local da lesão ou infecção, provocando um desequilíbrio na homeostase inflamatória.
Os sinais da Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS) são comuns ao
processo infeccioso, mas também àqueles derivados de agressão ao organismo por
outras causas, o que compromete sua especificidade (FERNANDES; FARIA, 2019;
VIANA; MACHADO; SOUZA, 2017).
É uma patologia considerada problema de saúde global pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), estima que há uma ocorrência de 31,5 milhões de casos
ao ano, com mais de 5 milhões de óbitos (TANIGUCHI et al., 2019).
Os países subdesenvolvidos são os que mais constam óbitos devido a sepse,
tanto pelos grandes custos ao estado, como também ao despreparo dos
profissionais. A américa Latina, no geral, possui poucos estudos que abordam a
incidência de casos de disfunção orgânica relacionada à infecção primária
(CAVALCANTI, 2018).
O Nordeste brasileiro possui 18,7% dos leitos intensivos totais, como citado
por Lobo et al. (2019) como ponto negativo de conter 59,83% dos pacientes
acometidos por sepse na região que evolui para óbito nas UTIs públicas e privadas.
No Maranhão, como demonstrado pela Agência Nacional de Saúde (2018), estão
1,8% dos leitos nordestinos, sendo 787 no total, onde 410 são públicos, uma das
menores proporções leitos públicos/habitantes representando 0,59/10 mil habitantes
(LOURENÇO, 2019).
10

Existe a classificação da gravidade e diagnóstico que foram criados por meio


de estudos na Pensilvânia, chamado de escores Quick Sequential Organ Failure
Assessment (qSOFA) e o SOFA (SINGER et al., 2016). Além disso, foram propostos
um conjunto de medidas que foram denominadas de bundles de três e seis horas,
que recentemente transformaram-se em um bundle de uma hora, mostrando cinco
intervenções diagnósticas e terapêuticas, consideradas prioridades no tratamento
inicial dos pacientes internados (LEVY; EVANS; RHODES, 2018).
O perfil epidemiológico de sepse serve para o direcionamento aos programas
de prevenção e de cuidados ao paciente. Essas medidas quando efetivadas no
ambiente hospitalar, ajudam no manejo do quadro clínico, evitando assim, o
desenvolvimento desta afecção (MARTISCHANG et al., 2018; RHEE et al., 2019).
11

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral


 
 Realizar uma análie do perfil clínico e epidemiológico dos pacientes
internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no estado do Maranhão, no
período de 2018 a 2022. 

2.2 Objetivos Específicos

 Oferecer dados relevantes para a reorganização das políticas públicas no


intuito de reduzir as taxas de morbimortalidade nas Unidades de Terapia
Intensiva;
 Realizar o delineamento do perfil das internações por sepse no estado do
Maranhão.
12

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Epidemiologia da sepse

A Organização Mundial da Saúde, aponta que a sepse mata 11 milhões de


pessoas a cada ano, com a população de crianças e idosos mais susceptível sendo
o principal alvo, ademais, incapacita outros milhões. No Brasil, possuem números
estimados de 240 mil mortes por um conjunto de manifestações graves em todo o
organismo produzidas por uma infecção. E a pandemia com advento do Covid-19,
contribuiu significativamente para o aumento deste problema nas unidades
hospitalares (FIOCRUZ, 2021).
A sepse é a principal agente causador de óbitos em ITUs de causas não
cardiológicas e possui alta taxa de letalidade. Ocorreu um aumento gradativo da
incidência da sepse nos últimos anos devido, a explicação é devido a melhora no
atendimento, principalmente na emergência, dessa forma os pacientes sobrevivam
ao acometimento inicial. Outro fator contribuinte para o aumento da incidência foi o
aumento da população idosa, resistência bacteriana e dos pacientes
imunossuprimidos, criando assim uma população suscetível a complicações graves
(ILAS, 2015).
Apesar da mortalidade global, a sepse diminuiu nos últimos 20 anos, como
um melhor atendimento na emergência, porém a incidência da síndrome aumenta a
cada ano, configurando esse aumento do número de mortes ao longo dos anos
(MARTINS; BRANDÃO; VELASCO, 2018).
Um estudo realizado no Brasil de prevalência, avaliou em 230 UTIs brasileiras
selecionadas aleatoriamente, mostrando que 30% dos pacientes internados nessas
unidades é por motivo de sepse grave ou choque séptico (ILAS, 2015). O relatório
publicado pelo ILAS (2019), referente aos dados do ano de 2018, mostra uma média
de 64,7 anos para pacientes hospitalizados com suspeita de sepse em território
brasileiro, com média de idade mais elevada em hospitais privados, com 66,9 anos e
60,6 para hospitais públicos.
13

O acometimento por sepse, no Brasil, varia de acordo com a faixa etária, o


sexo e a região. Um ponto que merece destaque para um foco mais direcionado nas
medidas de prevenção de sepse, como as políticas púbicas, é que ao depender da
localidade, pode ter maior incidência e mortalidade por esse agravo. Por isso, o
estudo epidemiológico é importante, pois servem como um guia para o melhor
conhecimento e preparo diante da patologia (RUDD et al., 2020).

3.2 Sepse e choque séptico

A sepse é um problema de saúde global considerado a principal causa de


morte entre adultos em unidades de terapia intensiva (UTIs) (KEELEY; HINE;
NSUTEBU, 2017). A palavra sepse provém do grego septikós, significando
putrefação, sendo um problema descrito há muito tempo na história da humanidade,
tendo como exemplo a peste, que foi uma pandemia devastadora, principalmente
devido a sua forma septicêmica, que dizimou um terço da população europeia no
século XIV (ILAS, 2015).
Historicamente, como destacado por Torres (2019) já foram realizadas três
grandes conferências para atualização dos conceitos envolvidos: a Sepsis-1
(1992), Sepsis-2 (2001) que posteriormente foram revisadas em 2008, e
novamente em 2012, e Sepsis-3 (2016).
Em 1992, ocorreu a primeira conferência, chamada de Sepsis-1, que trouxe
modificações nas definições e diretrizes para a identificação de sepse e choque
séptico, visando um diagnóstico rápido desses pacientes e uma intervenção
terapêutica precoce, favorecendo um melhor prognóstico (JAPARI et al., 1992).
Mas por não promoverem, adequadamente, um estadiamento de risco do
paciente, foi realizada a segunda conferência de consenso, após dez anos, em
2001, para a atualização das definições, a Sepsis-2 (GRANJA; PÓVOA, 2015).
Mais recentemente, foram publicadas novas definições de sepse, a Sepsis-
3, que trouxe consigo um embasamento teórico através de revisões sistemáticas,
além de análises de dados empíricos, baseando em dados, e não nas opniões de
especialistas (SANTOS et al., 2017).
As Definições do Consenso Internacional para Sepse e Choque Séptico
(Sepsis-3) que foram publicadas pela European Society of Intensive Care Medicine e
Society of Critical Care Medicine e incorporadas às diretrizes internacionais da
14

Surviving Sepsis Campaign (SSC) em 2016, trazem que o termo foi simplificado,
sendo sepse e choque séptico como únicos termos reconhecidos (SINGER et al.,
2016; SEYMOUR et al., 2016). 
A partir de 2016, a sepse passou a ser definida como uma disfunção orgânica
com potencial risco de vida tendo como causa uma resposta desregulada do
hospedeiro à infecção. Enquanto o choque séptico é definido como sepse que
apresenta disfunção circulatória, celular e metabólica que está associada a um maior
risco de mortalidade (SINGER et al., 2016).
O conhecimento do choque séptico, anteriormente, era caracterizado pela
presença de hipotensão. Atualmente, é considerada uma hipotensão com ocorrência
de manifestação tardia, com a hipoperfusão tecidual precede a hipotensão. Deve-se
citar também que o marcador indireto de perfusão tecidual, o lactato, foi incorporado
ao diagnóstico de choque séptico, acompanhado de terapia vasopressora como
necessária para manter a pressão arterial média superior a 65 mmHg (GAUER et al.,

2020), e manter um nível sérico de lactato > 2 mmol/L (MARTINS; BRANDÃO;


VELASCO, 2018).
O conceito de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS), em sua
essência, não precisa que haja necessariamente uma infecção. Importante
ressaltar que o conceito de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS)
não é mais utilizado para o diagnóstico de sepse, mas ainda são úteis seus critérios,
podendo ser utilizadas na prática clínica na suspeita de emergência em curso, como
a verificação de pelo menos 2 dos seguintes itens:
 Temperatura ≥ 38oC ou ≤ 36oC;
 Frequência cardíaca ≥ 90 bpm;
 Frequência respiratória ≥ 20 movimentos/min, ou PaCO2 ≤ 32 mmHg, ou
necessidade de ventilação mecânica;
 Leucócitos totais ≥ 12.000 células/mm3, ou < 4.000 células/mm3, ou 10% de
células imaturas (MARTINS; BRANDÃO; VELASCO, 2018).
Pode haver algumas interpretações equivocadas destas novas definições, então,
deve-se entender que o conceito de sepse é diferente de triagem de infecção, mas
que ainda assim os critérios de SRIS servem para realizar a detecção de infecção,
mas a ausência de critérios não exclui sepse. É importante uma maior atenção e
cuidado em indivíduos com suspeita de infecção e com qualquer disfunção orgânica,
15

tais quais, hipotensão, diminuição ou baixa na saturação arterial de oxigênio, que


precise de oxigenioterapia ou suporte respiratório, oligúria ou qualquer rebaixamento
do nível de consciência (MACHADO et al., 2016).
Resumidamente, o Quadro 1 estão expostas as principais mudanças que
ocorrem na definição de Sepsis-2, de 2012, para o Sepsis-3, que foi publicada no
ano de 2016. A definição de sepse grave foi excluída e a classificação de sepse e
choque sépticos foram atualizadas.
Quadro 1 – Mudanças do Sepsis-2 (2012) para o Sepsis-3 (2016).

Fonte: SANARFLIX (2019).

Os pacientes acometidos por sepse que sobrevivem à sepse se tornam mais


susceptíveis a maiores internações nos em centros de cuidados prolongados no
primeiro ano após a internação inicial, consequentemente possuem uma diminuição
substancial na qualidade de vida (WINTERS et al., 2010). O autor Yende (2016)
ressalta que o número crescente de pacientes internados por sepse tem taxas mais
16

altas de readmissão e de morte levando em consideração o tempo de 12 meses,


com função física e cognitiva significativamente reduzida em comparação ao grupo
controle.

3.3 Diagnóstico - SOFA e qSOFA na sepse

O estudo que embasou o uso do SOFA (Sequential Organ Failure Assesment)


e do quickSOFA (qSOFA) que é o SOFA simplificado, foi iniciado nos hospitais da
Pensilvânia, nos Estados Unidos, e publicado em 2016. Foi verificado que a
abordagem e estratégia terapêutica na sepse vai além do uso de antibióticos na
primeira hora e reposição da volemia, foi dado prioridade a critérios que garanta o
seu reconhecimento precoce (BLANCO, 2018).
O escore varia de 0 a 4, e uma pontuação igual ou superior a 2 representa
disfunção orgânica. Entretanto, em termos de praticidade, não é prática a sua
aplicação, pois envolve parâmetros laboratoriais controlados, tais quais,
hematológico, hepático, cardiovascular, médico e renal, como, por exemplo, o valor
da creatinina, plaquetas, bilirrubinas, entre outros (BLANCO, 2018). O escore SOFA,
representado na Tabela 1, é considerado padrão ouro para definir o diagnóstico da
sepse.

Tabela 1 – Escore SOFA Sequential (Sepse-related) Organ failure Assessment.


17

Fonte: Traduzida de Singer et al. (2016).


O escore quickSOFA, possui outras características que o diferencia do SOFA,
pois visa selecionar pacientes que tenham maior potencial de ter complicações,
envolvendo parâmetros mais práticos durante a avaliação, como:
 Pressão arterial sistólica <100 mmHg;
 Frequência respiratória >22irpm;
 Escala de Glasgow <15.
Cada variável conta 1 ponto (0 a 3) e pontuação igual ou maior a 2 sugere
maior mortalidade e aumento de permanência em UTI. O qSOFA é uma ferramenta
de triagem útil, pois seleciona os pacientes mais susceptíveis, ou seja, que
apresente risco aumentado de pior desfecho (BLANCO, 2018).
Saber quando usar o SOFA e o qSOFA é imprescindível para a prática
médica, o Sepsis-3 trouxe atualizado como devemos diferenciá-los. Foi concluído
que o SOFA é melhor utilizado a beira leito, ou seja, naqueles pacientes
com suspeita de infecção, que já estão hospitalizados na unidade de terapia
intensiva. Sua validade preditiva apresentou um melhor critério clínico em relação ao
da Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS). Também concluíram que
o qSOFA possui alto valor preditivo para mortalidade hospitalar em pacientes que se
18

encontram fora da UTI, sendo mais significativo também que o critério SRIS
(SALER; LUCANO, 2020).
Dessa forma, compreende-se que o SOFA deve ser utilizado como critério
clínico para diagnóstico de sepse em UTI, enquanto o qSOFA deve ser utilizado
como critério de triagem clínica para realizar o diagnóstico de sepse (SALER;
LUCANO, 2020). 

3.4 Vantagens e desvantagens da Sepsis-3

As novas definições trouxeram diversas vantagens para o entendimento da


sepse, mas algumas desvantagens podem ser consideradas, principalmente em
países subdesenvolvidos, como no Brasil.
Primeiramente, serão ressaltadas as principais vantagens trazidas pelas
Sepsis-3:
Foi ampliado a definição de sepse, ressaltando a presença de disfunção
orgânica devido a uma resposta desregulada à infecção do hospedeiro. Antes, havia
a limitação da sepse ser provocada exclusivamente como uma resposta inflamatória
do hospedeiro. Entender que a inflamação e a imunossupressão estão presentes
como parte da resposta ao microrganismo, por isso o termo "resposta desregulada
do hospedeiro" é mais apropriado para descrever o processo fisiopatológico
(MACHADO et al., 2016).
Pela primeira vez, o consenso baseou-se nos dados disponíveis, deixando de
lado a opinião de especialistas. Esses dados disponíveis que foram utilizados
estavam presentes em três grandes bases de dados dos Estados Unidos e da
Alemanha. Testaram os escores de disfunção orgânica mais conhecidos, como o
SOFA e a versão modificada do Logistic Organ Dysfunction System (LODS)
(SEYMOUR et al., 2016).  Essa padronização dos critérios para disfunção orgânica é
muito útil para analisar os pacientes com manifestações semelhantes, e os que não
possuam sintomatologia tão evidentes, baseando-se nos scores (MACHADO et al.,
2016).
As novas definições deixaram de exigir os critérios do SRIS, não sendo mais
fundamentais para definir a presença de sepse, pois um em cada oito pacientes
graves com sepse não desenvolvem tais critérios para SRIS (KAUKONEN et al.,
2016). Entretanto, esses critérios no contexto de programas de melhoria da
19

qualidade, possui sua relevância na triagem de pacientes potencialmente infectados.


Outra novidade foi a simplificação da nomenclatura para apenas "sepse", excluindo
o termo "sepse grave", visto que toda sepse, possui uma condição grave
(MACHADO et al., 2016).
A inserção do escore do qSOFA, embora tenha algumas limitações em seu
uso, trazem novas variáveis que auxiliam no reconhecimento da sepse diante da
gravidade e da mortalidade, como diminuição do nível de consciência e elevada
frequência respiratória. Logo, são úteis para a avaliação da gravidade, porém não
servem para dar o diagnóstico (VICENT; MARTIN; LEVY, 2016).
Na literatura, estão expostas algumas desvantagens sobre a Sepsis-3:
Uma das principais preocupações está em torno na redução de sensibilidade
na detecção de casos que possam ter evolução desfavorável, principalmente em
países subdesenvolvidos, com recursos escassos. Pois os critérios para disfunção
orgânica guia o médico para reconhecer e tratar os indivíduos com doença mais
grave (BESEN et al., 2016). A consequência é que os esforços direcionados para a
identificação da disfunção orgânica são considerados de maior prioridade para o
tratamento dos pacientes, do que a modificação da abordagem terapêutica
(MACHADO et al., 2016).
Outra preocupação, é o uso do SOFA pelos profissionais de saúde que
trabalham em urgência e emergência ou enfermarias, pois a variação do escore
pode demandar o cálculo para poder verificar se o paciente precisa ou não de
exames laboratoriais adicionais (MACHADO et al., 2016).
Uma nova definição de choque séptico foi estabelecida, diferentemente dos
consensos Sepsis-1 e Sepsis-2, é exigida a hiperlactatemia como componente
obrigatório para a definição, mas se o paciente está com hiperlactatemia grave,
porém sem hipotensão, não é considerado de alto risco para a ocorrência de óbito.
Esse contexto, pode não ser útil em locais vulneráveis que não dispunha de outra
opção ao lactato como marcador potencial de anormalidades metabólicas,
consequentemente, estes indivíduos que potencialmente estejam em choque serão
considerados apenas como sepse, não sendo possível estimar com precisão as
taxas de mortalidade do choque séptico (MACHADO et al., 2016).
Por fim, o escore qSOFA foi considerado uma ferramenta de triagem, porém,
alguns estudos iniciais mostraram uma baixa sensibilidade, com especificidade
elevada, diante de pacientes em risco elevado de óbito, servindo como alerta para
20

um cuidado mais rápido e efetivo destes pacientes, caso não tenha sido iniciado
(GIAMARELLOS-BOURBOULIS et al., 2016; WILLIAMS et al., 2016).
Os autores Machado et al (2016) esclarecem que não é necessário esperar
pela presença de dois critérios qSOFA para dar início ao tratamento, pois aguardar o
paciente desenvolver os critérios mínimos para só então dar início ao tratamento
pode ser deletério. Logo, a utilidade deste escore ainda precisa ser determinada
(MACHADO et al., 2016).

3.5 Tratamento

Sepse e choque séptico são emergências médicas, por isso o tratamento e a


ressuscitação devem ser realizados imediatamente. Os guidelines do Surviving
Sepsis Campaign (SSC) referente ao manejo da sepse e choque séptico foram
atualizadas em 2021 (EVANS et al. 2021).
Recomendações novas surgiram, tais quais, a indicação para que hospitais e
sistemas de saúde faça a implementação de programas de melhoria de performance
no manejo da sepse, como rastreio e sistematização de protocolos e bundles
(EVANS et al. 2021). 
O qSOFA, composto por Glasgow < 15, frequência respiratória ≥ 22 ipm e
pressão sistólica ≤ 100 mmHg, possui baixa sensibilidade, sendo utilizado como
preditor de pior desfecho. Quando o qSOFA tiver com dois itens presentes não é
sinônimo de sepse, cada caso deve ser analisado individualmente, muitas das vezes
esse preditor indica que o paciente terá um pior prognóstico. Foi evidenciado que
não existe evidência suficiente para o mesmo ser utilizado como rastreio, o mesmo
serve para a SRIS (EVANS et al. 2021).
O lactato é um aliado no diagnóstico, pois serve como diagnóstico do choque
séptico de acordo com a SEPSIS-3, e ainda ajuda no manejo do choque séptico,
sendo recomendada realizar a mensuração como parte do bundle da 1ª hora,
quando está aumentado com hipoperfusão, indica maior mortalidade no paciente
séptico. Além disso, o clearance do lactato pode indicar se a estratégia de
ressuscitação realizada pelo médico está sendo eficaz ou não, por exemplo, se o
lactato diminui no paciente em comparação de como estava quando deu entrada no
hospital, significa que o manejo está sendo realizado adequadamente (EVANS et al.
2021).
21

Na ressuscitação inicial na sepse, em relação ao guideline de 2018 é


destacado o acréscimo do tempo de enchimento capilar para guiar a estratégia de
ressuscitação concomitantemente a outras medidas de perfusão. Para a expansão
volêmica deve ser nas primeiras 3 horas de ressuscitação, no mínimo, 30 ml/kg de
cristaloides, em pacientes com hipoperfusão causada pela sepse ou choque séptico.
Importante frisar que caso esses pacientes tenham alguma comorbidade não é
contraindicado a administração inicial de fluidos, mas somente se houver sobrecarga
hídrica prévia (EVANS et al. 2021).
A recomendação final indica que para pacientes com choque séptico em uso
de vasopressores, a pressão arterial média (PAM) inicial deve ser de 65 mmHg
(EVANS et al. 2021). No fluxograma (Figura 1) encontra-se uma revisão rápida
referente a conduta da sepse na emergência. 

Figura 1 – Fluxograma para conduta da sepse na emergência.


22

Fonte: SANARFLIX (2021).


23

O guideline 2021, foca suas recomendações na padronização de


procedimentos, envolvendo tanto aspectos organizacionais, como educacionais, no
objetivo de promover melhoria do desfecho dos pacientes.
24

4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de estudo

Trata-se de estudo epidemiológico, observacional do tipo ecológico com


abordagem quantitativa de pacientes internados por sepse entre os residentes do
Maranhão, no período de 2018 a 2022. As unidades de análise serão as regiões de
saúde do estado do Maranhão.

4.2 Coleta de Dados

Os dados das internações foram obtidos do Sistema de Internações


Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). Todos os dados utilizados
neste estudo encontram-se disponíveis no sítio eletrônico do Departamento de
Informática do SUS (DATASUS): <https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-
saude-tabnet/>.

4.3 Organização e Análise dos dados

Depois de extraídos os dados, estes foram colocologados e organizados no


EXCEL 2010, o que facilitou a tabulação das seguintes variáveis do estudo: ano de
atendimento, internações, óbitos hospitalares, taxas de mortalidade hospitalar, faixa
etária, sexo, cor/raça dos indivíduos por sepse e custos financeiros. As taxas de
mortalidade hospitalar foram fornecidas diretamente pelo SIH/SUS, sendo os valores
expressos por cada 100 internações. Posteriormente a coleta de dados os mesmos
foram processados e apresentados em forma de gráficos e tabelas para melhor
compreensão dos resultados.

4.4 Riscos e Benefícios

Os riscos que o estudo proporcionou foram mínimos, uma vez que não houve
abordagens, administração de substâncias e nem aplicações de questionários. Além
25

de fazer o uso de dados presentes no DATASUS que não faz identificação dos
indivíduos.
O estudo poderá trazer como benefícios, conhecer o perfil clínico e
epidemiológico dos pacientes internados por sepse no Estado do Maranhão e pode
servir de base para a formulação das Políticas de Saúde Pública.

4.5 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos no estudo todos os casos de internações por Sepse no


Maranhão notificados entre 2018 a 2022, segundo ano de atendimento, internações,
óbitos hospitalares, taxas de mortalidade hospitalar, faixa etária, sexo, cor/raça dos
indivíduos por sepse e custos financeiros. Foram excluídos deste estudo os dados
estatísticos que não atenderam aos critérios de inclusão do presente estudo.

4.6 Procedimentos éticos

Não foi necessário o cadastro em Comitê de Ética em Pesquisa (CEP),


obedecendo às recomendações da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde, que define as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo principalmente seres humanos, por se tratar de dados públicos
presentes no DATASUS de forma aberta, sem identificação dos indivíduos
envolvidos na pesquisa.
26

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Brasil, foi elencado pelo IBGE (2023) como obrigatório o preenchimento


do diagnóstico principal em um documento único para autorização da internação
hospitalar (AIH) na rede pública, de cobertura universal, através do Sistema de
Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS).
Em relação ao estado do Maranhão, no período de 2018 e 2022, ocorreram
7.619 internações relacionadas ao CID septicemia, equivalente a uma média de
1.523,8 casos anuais. O quantitativo de internações não apresentou variações tão
relevantes, o de óbitos também se mostraram estáveis, maior número em 2022, com
779 óbitos, enquanto o menor número foi em 2018, com 532 óbitos (Gráfico 1).
A taxa de mortalidade hospitalar foi de 38,5 em 2018, de 45,3 em 2019, de
49,4 em 2020, de 48,8 em 2021 e de 41,3 em 2022. A taxa média de mortalidade
hospitalar por sepse foi de 44,6 a cada 100 internações, por ano. Houve uma
diminuição de internações nos anos de 2020 e 2021, mas com aumento nas taxas
de mortalidade, muito provavelmente devido a pandemia da Covid-19. A análise
temporal verificou que o ano de maior notificação foi o de 2022, com 1.887 casos.
Sobre os óbitos hospitalares por sepse, um total de 3.383 foram registrados (Gráfico
1).

Gráfico 1 – Internações, óbitos hospitalares e taxa de mortalidade


hospitalar por sepse. Estado do Maranhão. 2018 a 2022 (n = 7.619).
27

60.00% 1,887 2,000

1,666 1,800
50.00% 49.40% 48.80% 1,600
1,381 45.30%
1,319 1,366
40.00% 41.30% 1,400
38.50%
1,200
30.00% 1,000
755 779
666 800
651
20.00% 532 600
400
10.00%
200
0.00% 0
2018 2019 2020 2021 2022

Internações Óbitos hospitalares


Taxa de mortalidade hospitalar
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Estima-se cerca de 31,5 milhões de casos ao ano, com mais de 5 milhões de
óbitos (TANIGUCHI et al., 2019) pelo mundo. No Brasil, esse número é em torno de
400.000 novos casos de sepse por ano, com ruim prognóstico, visto que a letalidade
de pacientes com sepse provenientes do serviço de urgência em instituições
públicas brasileiras é de 51,7% (ILAS, 2021).  Além disso, nota-se que esses
números desfavoráveis de óbitos, decorre principalmente pelo diagnóstico tardio e
da falta de suporte em unidades de terapia intensiva, especialmente em estados
mais pobres e com poucos recursos (MACHADO; SOUZA; VIANA, 2020).
As 3 cidades com mais internações dentro do período estudado, foram a
capital de São Luís (n = 2.603), representando 34,1% da totalidade de casos, em
seguida, a segunda maior do estado, Imperatriz (n = 2.363), representando 31% da
totalidade de casos e Caxias (n = 444), região que possui uma grande capacidade
média de atendimento de urgência e emergência, representando 5,8% da totalidade
de casos (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Cidades do Maranhão com maiores casos de internação por


Sepse. 2018 a 2022.
28

Caxias
444

São Luís
2603 São Luís
Imperatriz Imperatriz
2363
Caxias

Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Essas cidades estão no foco, pois recebem mais recursos financeiros para o
atendimento desses pacientes, consequentemente possuem a maior quantidade de
leitos de UTI por habitantes e médicos disponíveis, o que explica o maior número de
internações, seja pela população nativa, ou por pessoas que foram encaminhadas
de regiões próximas para o tratamento.

A faixa etária com mais casos registrados foi a dos idosos, ou seja, pessoas
com 60 anos ou mais, com 3.557 (46,7%) internações e 2.036 (60,2%) óbitos e a
que menos necessitou foram as crianças de 5 a 9 anos, com 118 (1,5%) internações
(Tabela 1).

Tabela 1 – Perfil epidemiológico das internações, óbitos hospitalares e taxa de


mortalidade por sepse. Estado do Maranhão. 2018 a 2022.

Variáveis Internaçõe % Óbitos hospitalares % Taxa de


s mortalidade
Faixa etária
<1 1.100 14,4 332 9,8 30,2
1a4 273 3,6 57 1,7 20,9
5a9 118 1,5 15 0,4 12,7
10 a 19 320 4,2 61 1,8 19,1
20 a 39 875 11,5 289 8,5 33
40 a 59 1.376 18,1 602 17,8 43,8
60 anos e 3.557 46,7 2.036 60,2 57,2
mais
Sexo
Masculino 4.026 52,8 1.715 50,7 42,6
Feminino 3.593 47,2 1.668 49,3 46,4
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
29

A diferença entre os sexos é pequena; os homens apresentaram 52,8% das


internações, enquanto as mulheres 47,2%. A faixa etária com maior taxa de
mortalidade foi a de 60 anos ou mais, com 57,2 a cada 100 pacientes, sendo que o
sexo feminino apresentou uma taxa maior, de 46,9, em relação ao masculino, de
42,6, como exposto na Tabela 1.
O predomínio feminino na utilização de serviços de saúde é bastante
conhecido. Entretanto, apesar da demanda entre homens e mulheres por
atendimento médico no Sistema Único de Saúde (SUS) permanecer desequilibrada,
a distância entre os gêneros vem se reduzindo ao longo dos anos (AGÊNCIA
BRASIL, 2022), como exposto na pesquisa.
Houve uma maior expressividade das internações por sepse nos idosos,
observações semelhantes foram realizadas por Aguiar et al. (2020), ao estudar os
fatores que predispõe a sepse, sendo a idade avançada um dos principais motivos
de internação, devido, principalmente, esse grupo possuir alteração na imunidade
inata, com diminuição da fagocitose e quimiotaxia de polimorfonucleares, além da
redução na atividade de células natural Killer (NK).Há também uma redução na
imunidade adquirida, favorecendo a inibição da resposta proliferativa de células T, o
que compromete a imunidade celular e aumenta a suscetibilidade dessas pessoas à
infecção (BARROS; MAIA; MONTEIRO, 2016).
O estudo identificou também maior acometimento de sepse em homens com
uma diferença importante (cerca de 30%), quando comparado ao grupo de
mulheres, concordando com o panorama relatado mundialmente e nos serviços de
saúde do Brasil de que a maior ocorrência de sepse se dá em pessoas do sexo
masculino (CARIBÉ, 2013; ARRUDA et al., 2013).
A relação à cor/raça, foi observado um grande número de registros "sem
informação", constando mais da metade dos registros, com 3.948 (51,8%), seguida
da raça parda com 206.580 (33,55%), as outras raças tiveram um número
consideravelmente menor de internações (Gráfico 3).

Gráfico 3 – Internação por sepse segundo cor/raça. Estado do Maranhão. 2018


a 2022 (n = 7.619).
30

Cor/raça
Branca Preta
3,5% 1,7%

Parda
Sem in- 33,9%
formação
51,8%

Indígena Amarela
0,2% 9%

Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Não existe muitos dados na literatura que faça uma correlação de forma mais
aprofundada sobre a grande quantidade de cor/raça "sem informação" no sistema do
DATASUS. Mas, ressalta-se como uma das possíveis limitação, o fato de durante a
coleta dos dados do paciente essa variável ser ignorada pelos profissionais que
preenchem a ficha do paciente, e, também a variável raça/cor ser autodeclarada,
limitando as análises dessa natureza (BELON et al., 2008).
Em referência à cor/raça, no período proposto no estudo, os pacientes
internados foram majoritariamente pardos. Esse resultado está em conformidade
com os encontrados por Belo et al. (2020), onde os pardos representam a maioria
das internações por sepse, no Brasil. Embora, a literatura mostre maior incidência
da sepse em negros, por uma possível predisposição genética nessa raça
(ARTERO; ZARAGOZA; NOGUEIRA, 2012) por alguma modificação na regulação
da função dos mediadores fisiológicos (GUARGUEIRO; CARVALHO, 2002).
A Tabela 2 mostra o levantamento dos custos financeiros de 2018 a 2022.

Tabela 2 - Custos financeiros das internações por sepse. Estado do Maranhão.


2018 a 2022.

Ano Valor Total (R$)


2018 5.088.975,84
2019 5.535.337,37
2020 4.226.197,20
2021 5.137.383,29
2022 6.782.707,51
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
31

É notório que os gastos foram crescentes de 2018 a 2019, com uma


diminuição significativa em 2020, sendo que o maior valor ocorreu no último ano, em
2022. Os valores dos custos seguem a lógica do aumento quantitativo de pacientes
por ano e também aos reajustes dos procedimentos executados junto aos pacientes
e a própria inflação que anualmente incide sobre a economia.
Sabe-se que toda internação gera um custo e uma forma diferenciada de
analisar o gasto em saúde é examiná-lo sob a ótica da incidência do gasto por grupo
populacional. Os indivíduos acima de 65 anos respondem por aproximadamente 2/3
de todos custos médicos na maioria das internações hospitalares (ANDREAZZI,
2003). Os pacientes com sepse exigem maior tempo de internação na UTI
resultando num maior custo de tratamento comparado a outros pacientes, uma
forma de diminuir esses gastos, seria a adoção de protocolos que favoreçam ao
diagnóstico, otimizando o tratamento, à coleta de dados e à consequente prevenção
da sepse (ASSUNÇÃO et al., 2010).

6 CONCLUSÃO

Este estudo trouxe evidências e elucidou o perfil epidemiológico da sepse no


estado do Maranhão. Os resultados mostraram que a incidência da sepse foi mais
prevalente em idades avançadas, predominância no sexo masculino, quanto a raça,
fica o questionamento da completitude dos dados. A taxa de mortalidade hospitalar
apresentou aumento no ano da instalação da pandemia da covid-19.
Nesse sentido, diante do exposto, discutir a temática no âmbito hospitalar
com capacitação dos profissionais é imprescindível para detectar e tratar a sepse
precocemente, promovendo desfechos favoráveis para pacientes com esse quadro
clínico.
Ressalta-se a o fomento de mais estudos sobre esse agravo, com a
realização de trabalhos futuros que busquem dados que disponha sobre a
epidemiologia da sepse, no Maranhão, pois quase não existe estudos que
contemple as informações sobre o estado, o que dificulta a compreensão dessa
32

patologia pelos profissionais e equipes de saúde e aumenta a subnotificação dos


casos.

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