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Capa, projeto gráfico e assessoria à editoração | Pamella Luiza Ventura e Paula Moreira
Revisão | Caio Nogueira, Ricarda Tavares.
Apoio técnico de pesquisa: Paula Laiber
Imagens e Fotos: Acervo GPDU
E73
Escola em Transe: Escola de Arquitetura e Urbanismo - UFF [recurso eletrônico] : nº 4 - 2º semestre 2021
/ organizadores: Fernanda Sánchez; Louise Land; Caio Nogueira; Ricarda Tavares; Ana Beatriz da Rocha;
Camila Gavazzi; Cristina Nacif; Glauco Bienenstein,; Pamella Ventura; Paula Laiber; Paula Moreira;
Rossana Tavares; Vitor Roppa - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital, 2021.
Recurso digital ; 10 MB
Formato: ebook
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-89925-51-4 (recurso eletrônico)
apoio:
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ESCOLA EM TRANSE
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO - UFF
Editora
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A CIDADE COMO TELA
REFLEXÕES SOBRE O CARÁTER TÁTICO DAS ARTES URBANAS: O
PROJETO “IMPACTO DAS CORES”������������������������������������������������65
Diana Amorim
[entre]centros����������������������������������������������������������������������������96
Luiza Waldmann Brasil Matias, Pedro Medina Bernardes Bastos,
Tadeu Asevedo Porto Maia
Prezad@s,
O Brasil e o mundo têm enfrentado a presença e expansão da
pandemia da COVID-19. Cada nação, cada cidade, cada família e cada
indivíduo hoje procuram uma forma de se precaver ou tratar.
Diariamente, nos angustiamos com as perspectivas que se apresentam,
tanto quanto ao prazo da quarentena, como quanto ao número de
mortos nessa guerra mórbida.
No caso brasileiro, a situação é ainda dificultada pelo sucateamento
das políticas públicas, entre outros atos irresponsáveis de um presidente
despreparado, autocrata e criminoso que, em muitos momentos,
contribui para o agravamento da crise.
O país e, notadamente, os mais pobres, são alijados das melhores
práticas e bens da ciência. O ódio e o preconceito são disseminados
contra mulheres, negros, nordestinos e grupos LGBT, entre outros,
invertendo o processo de inclusão social e respeito à diversidade, até
então, incrementado por políticas públicas e pela adesão da sociedade.
Na verdade, a incapacidade já revelada em conter a expansão da
pandemia ocorre no momento mais grave, sob um governo que, desde
seu início, promoveu a divisão dos brasileiros, suprimiu direitos
trabalhistas e previdenciários; ampliou a desigualdade e reduziu as
oportunidades de ascensão social e geração de empregos. Ao mesmo
tempo, abre mão do patrimônio público e da soberania nacional, e
insulta o direito à liberdade de expressão. Recursos da cultura, da
ciência, da universidade pública e da própria saúde são subtraídos. Vale
lembrar que, desde o início desse governo, a permanência do tão bem-
sucedido Sistema Único da Saúde, o SUS, sofre ameaças.
Pode-se dizer que hoje a população brasileira enfrenta
simultaneamente duas graves crises: a pandemia da COVID-19 e os
desmandos criminosos do governo Bolsonaro.
As circunstâncias exigem um posicionamento crítico e político.
Durante o período de isolamento, um grupo de pessoas que integram a
Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense
(EAU-UFF) vem articulando um movimento coletivo para refletir sobre
questões que afetam a vida dos brasileiros, não somente as evidenciadas
pela pandemia, mas principalmente as já vivenciadas no cotidiano
institucional e que fazem parte do campo de atuação e influência de
professor@s, estudantes e técnicos da EAU-UFF.
O movimento Escola em Transe apresenta algumas dessas questões e
reflexões, em forma de manifesto.
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PRINCÍPIOS
Evidencia-se a necessidade de atitudes e meios mais democráticos e
inclusivos, que recoloquem em pauta o papel do Estado e,
especialmente, da Universidade Pública, quanto ao desenvolvimento de
pesquisas e projetos voltados à formulação e à condução de ações em
defesa de direitos humanos garantidos em compromissos e leis
nacionais e internacionais, particularmente, as garantias relacionadas ao
ambiente construído e às vulnerabilidades sociais.
Nesse quadro, as lutas típicas pertinentes ao campo da arquitetura e
do urbanismo apresentam-se ainda mais relevantes, notadamente,
quanto aos direitos urbanos, que incluem as aspirações à igualdade de
acesso ao saneamento básico, à condições adequadas de moradia, à
urbanização de favelas, à mobilidade urbana e a equipamentos e
serviços públicos essenciais, entre tantos outros.
A Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF tem, historicamente,
protagonizado diversas ações neste sentido. Estudantes, professor@s e
demais servidor@s têm atuado com comprometimento às questões
sociais e em busca da construção coletiva do ensino e da cidade. À
comunidade EAU, e a toda a UFF, cabe pensar e se preparar, de forma
unida, atenta e articulada, para grandes embates nos próximos anos.
Nosso perfil tem sido moldado pelo cinzel da diversidade e pela
coexistência do fazer arquitetônico com o pensamento urbano, tendo a
teoria crítica como uma de suas matrizes. É preciso entender a
sociedade em sua totalidade concreta para poder atuar como produtores
de ciência e agentes de transformação.
QUADRO INSTITUCIONAL
Hoje a EAU-UFF conta com 468 estudantes na graduação, 30% deles
ingressos por cotas de renda, etnia ou necessidades especiais. Vale
também destacar o predomínio feminino entre @s estudantes
matriculados, atualmente em torno de 70%. Este predomínio ou, pelo
menos, o equilíbrio hoje existente, também se estende ao quadro de
professores e ao de estudantes da pós-graduação. 70% dxs mestrandxs
são mulheres. No doutorado, chegam a 56%. Entre os professores, a
composição, por gênero, é equilibrada.
Esses percentuais têm-se elevado a cada semestre e estimulam a
reflexão, não apenas quanto ao perfil desejado para ess@ arquitet@ e
urbanista, mas, sobretudo, quanto ao modelo de ensino e ao papel que
se deve assumir diante dessa realidade. É cada vez mais clara a
necessidade de rever métodos e procedimentos pedagógicos, visando à
renovação do ensino, para a formação desse novo profissional e cidadão.
Faltam espaços físicos para o ensino e a pesquisa, ambientes
saudáveis para estudantes, professor@s e servidor@s, de modo a
oferecer o mínimo adequado às funções acadêmicas. Não há como
buscar qualidade e excelência, alheios a equipamentos e recursos
tecnológicos ainda inacessíveis, com o que seria possível ampliar
ESCOLA EM TRANSE
Transe significa “estado de alteração da consciência”. No momento
atual, pode significar a oportunidade de desenvolver uma nova
consciência, de pensar “tudo ao mesmo tempo, agora!”. O movimento
coletivo Escola em Transe propõe o pensar e projetar a EAU-UFF como
Unidade, como síntese de atravessamentos escalares múltiplos: a Escola
no Mundo, no País, no Estado e na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, na Baía de Guanabara, na cidade de Niterói, no bairro de São
Domingos...
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A inserção da EAU-UFF, em diversas escalas de atuação possível, por
meio de projetos de ensino, extensão e pesquisa, torna-se indispensável
neste momento. Mais do que nunca, aqui se somam estudantes e
servidor@s públic@s de todas as funções, acadêmicas, técnicas e
administrativas, em busca da materialização da qualidade de ensino, da
participação nas lutas populares e da construção de uma cidade e de
uma sociedade mais justas, fraternas e humanas.
Diante disso, a Escola em Transe considera fundamental manter uma
posição crítica e independente em defesa da Universidade Pública e do
direito à Educação de qualidade, que se some aos esforços para a
construção de um novo tempo, em que o interesse coletivo não se
submeta aos ditames individualistas dos que detêm o poder, em todos os
níveis em que se apresenta. Esta é a lição que a crise, que hoje atinge a
toda a sociedade, deve trazer para a reconstrução almejada.
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compromisso de absorver a experiência das Periferias para formar
arquitet@s e urbanistas que exerçam uma cidadania crítica, que sejam
capazes de, antropofagicamente, mesclar “centros” e “periferias”,
projetar futuros imaginando “espaços da esperança”.
Os tempos atuais são difíceis, de convivência com ameaças
constantes aos direitos duramente conquistados por trabalhador@s e
produtor@s do conhecimento. Essas ameaças compreendem redução de
salários; mudanças no sistema previdenciário e na progressão funcional;
cortes nos recursos destinados a pesquisas e no sistema de cotas;
inclusão sem base didática do “ensino à distância”, que se sabe
improdutivo e farsesco, entre tantos outros golpes ao mundo acadêmico.
Nesses termos, a Escola em Transe convoca estudantes, professor@s,
técnic@s e demais servidor@s a participar deste movimento que propõe
o pensar e o agir visando à renovação, a um novo convívio entre pessoas
que compartilham o mesmo ambiente institucional, a transformá-lo em
espaço de acolhimento ao debate, à diversidade, à solidariedade e à
cooperação. São essas as condições que farão com que, unid@s,
atent@s, persistentes e articulad@s a outros setores da sociedade, a
EAU-UFF esteja mais forte para enfrentar as ameaças e superar os
problemas que se apresentem.
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convida a conversar sobre essas duas manifestações do espírito humano.
É o que fazem Caio Nogueira, Leonardo Mesentier, Michelle Silva e José
Henrique Nogueira. Fechando o bloco, Bruna Guterman nos brinda com
um exercício reflexivo sobre a releitura da profissão de arquiteta e
urbanista a partir de sua vivência pessoal.
O bloco A CIDADE COMO TELA reúne textos resultantes das
comunicações e debates que animaram três diferentes rodas de
conversa, que tiveram em comum o tema das artes urbanas, em
diferentes manifestações, do grafite e fotografia às casas-tela das favelas
cariocas. Diana Amorim, Vinícius Lobo, Ana Prado, Rafael Augustaitiz,
Dinah Guimaraens e Raphael Vermil e Luiz Baltar, nos ajudam a refletir
que a arte não se afirma apenas pela reconhecida evolução de sua
técnica, mas, essencialmente, quando agrada aos olhos, corações e
mentes, quando nos inquieta e transforma.
ARQUITETURA, ENSINO E EXTENSÃO é o título do último bloco. No
campo da Arquitetura e Urbanismo, professores(as) e estudantes têm se
deparado com a necessidade de reinvenção frente às agudas e
excepcionais circunstâncias que atingem a sociedade. Diante dessa
realidade, a Escola em Transe serviu-se da oportunidade para colocar
em debate a formação profissional, em diferentes Rodas de Conversa.
Participaram, com suas produções e reflexões, a estudante Luiza
Waldmann, acompanhada dos colegas Pedro Medina e Tadeu Asevedo,
e as(os) professoras(es) Silvana Weihermann, Ricarda Tavares, Ana
Beatriz da Rocha, Simone Polli e José Ricardo Faria, Otavio Leonidio, e
Leo Name.
Com os temas abordados e debates produzidos, a Escola em Transe
espera contribuir para o fortalecimento da livre reflexão no ambiente
acadêmico. Reafirmamos a intenção de dar continuidade à projeção da
EAU/UFF como foro de pesquisa e conhecimento que se somam à luta
da sociedade por um futuro melhor, por meio de diálogos e trocas de
experiências. Que venham mais Rodas de Conversa e publicações!
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padronizadas e são geralmente experimentais e espontâneas. Podem se
tornar medidas temporárias, mediante um curto tempo de intervenção,
mas suas influências socioespaciais podem ser permanentes.
A proposta do Urbanismo Tático levantada por Brenner (2016) busca
fundamentar a democracia participativa, promovendo a coesão social,
com ênfase no atrito com o Urbanismo Neoliberal, considerado
generalista. Portanto, é possível observar certas escalas de intensidades
nas quais as iniciativas táticas podem corromper o Urbanismo
Neoliberal, como ‘neutralidade’ e ‘subversão’. Demonstra-se, assim, que
é possível refletir sobre as iniciativas a partir de suas formas de impacto,
sendo necessária a vigilância das especificidades das ações para
reconhecer os possíveis cenários que propiciam.
A verificação da aplicabilidade analítica do escopo teórico
apresentado se dá através do estudo de caso “Impacto das Cores”, criado
por Aline Mendes, no Morro da Providência, na cidade do Rio de Janeiro,
enquanto uma medida “tática”. Pretende-se observar tal projeto, que se
comunica através da arte urbana, enquanto uma ação de resistência de
seus saberes e identidades. Dessa forma, seria possível compreender a
arte urbana como método tático de confronto ao Urbanismo Neoliberal?
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Um lugar que eu colori e que teve transformação foi no topo da Providência, que é uma
praça que estava escura e cheia de lixo já tinha uns anos. E depois dessa pintura, a gente
conseguiu iluminação e a gente conseguiu limpeza desse lugar e ele todo colorido. Então
os moradores começaram a ocupar seu verdadeiro lugar e começaram a se sentir donos,
se apropriar do que é seu, do espaço público dentro da favela (MENDES, 2018, 1:17-1:47).
Referências Bibliográficas
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