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EM MOVIMENTO
HISTÓRIA PÚBLICA
EM MOVIMENTO
Juniele Rabêlo de Almeida e Rogério Rosa Rodrigues [org.]
letraevoz
Copyright © 2021 Os autores
Copyright © 2021 Letra e Voz
H673
História pública em movimento / Organizadores
Juniele Rabêlo de Almeida, Rogério Rosa Rodrigues. –
São Paulo, SP: Letra e Voz, 2021.
224 p. : 16 x 23 cm
ISBN 978-65-86903-17-1
1. História pública. 2. Historiografia. 3. Patrimônio
cultural – Brasil. I. Almeida, Juniele Rabêlo de. II.
Rodrigues, Rogério Rosa.
CDD 907.2
CONSELHO EDITORIAL
LETRA E VOZ
Rua Dr. João Ferraz, 67
03059-040 — São Paulo — SP
www.letraevoz.com.br
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SUMÁRIO
Apresentação 7
Juniele Rabêlo de Almeida e Rogério Rosa Rodrigues
Autores/as 217
APRESENTAÇÃO
Juniele Rabêlo de Almeida e Rogério Rosa Rodrigues
8 • Apresentação
anos do primeiro “Curso de história pública” – os debates aqui apresen-
tados ocorreram em formato online, entre os dias 22 e 26 de fevereiro
de 2021, nos grupos de trabalhos do 2º Curso de Introdução à História
Pública (marcado por diversas atividades simultâneas: aulas, oficinas,
mesas, grupos de discussão e lançamentos de livros). Tais discussões
proporcionaram o início da escrita coletiva/colaborativa das respostas
que se seguem. Os encontros online, em função do isolamento imposto
pela crise sanitária atual (pandemia de Covid-19), foi o formato possível
para reunião de interessados de todo o país. A diversidade teórico-me-
todológica e temática, que caracteriza a história pública no Brasil, se faz
presente na pluralidade das respostas em uma interlocução horizontal.
10 • Apresentação
sado e a disseminação de versões distorcidas e manipuladas; a relação
entre história pública e profissionalização, principalmente no cenário
de regulamentação da profissão.
12 • Apresentação
crimina, exclui e oprime, através de diversas formas de violências que
corroboram para as desigualdades sociais no estado. O objetivo é fazer
um documentário como forma de divulgar e salvaguardar o trabalho
e a história de vida das/dos militantes, pensando em uma história oral
e história pública construtiva, que viabilizem um retorno social para
ambos os movimentos sociais.
14 • Apresentação
raizamento em diversas regiões do país. Ao observarmos as atividades
realizadas por laboratórios, núcleos e projetos mobilizados nas ativida-
des aqui citadas (ver listagem apresentada ao final do livro), nos damos
conta da potência da história pública no Brasil e como ela têm abriga-
do projetos de grande apelo social e político e fomentado a criação de
tantos outros. O que tem sido feito sempre em busca de articulações
teóricas e metodológicas que dão suporte ao saber executado.
REFERÊNCIAS
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cação e mediações do passado. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
Almeida. J. R.; Rovai, M. G. O. (org.). Introdução à história pública. São Paulo:
Letra e Voz, 2012.
Avila, A. L.; Nicolazzi, F.; Turin, R. (org.). A história (in)disciplinada: teoria, ensino
e difusão do conhecimento histórico. Vitória: Milfontes, 2019.
Borges, V.; Rodrigues, R. R. (org.). História pública e tempo presente. São Paulo:
Letra e Voz, 2021.
Carvalho, B. L. P.; Teixeira, A. P. T. (org.). História pública e divulgação de histó-
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Ferreira, R. A.; Hermeto, M. (org.). História pública e ensino de história. São
Paulo: Letra e Voz, 2021.
Gomes, A. C.; Hansen, P. S. Intelectuais mediadores: práticas culturais e ação
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Magalhães, M. S.; Rocha, H. A. B.; Ribeiro, J. F.; Ciambarella, A. (org.). Ensino de
história: usos do passado, memória e mídia. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2014.
Mauad, A. M.; Almeida, J. R.; Santhiago, R. (org.). História pública no Brasil: sen-
tidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
Santhiago, R.; Mauad, A. M.; Borges, V. T. (org.). Que história pública queremos?
São Paulo: Letra e Voz, 2018.
16 • Apresentação
EXISTE UM MERCADO
DE TRABALHO PARA
O HISTORIADOR?
Bruno Flávio Lontra Fagundes, Daniel Saraiva,
Juliana Muylaert, Lara de Castro e Miriam Hermeto
18 • Mercado de trabalho
A primeira resposta seria “sim, existe um mercado de trabalho para
o historiador”. Em texto publicado no livro “Que história pública quere-
mos?”, Benito Schmidt lembra que “historiadores e historiadoras en-
contraram nichos para construir suas carreiras, embora o destino da
maioria dos egressos dos cursos de História tenha sido o magistério ou,
no mínimo, o ensino combinado com a pesquisa, no caso das universi-
dades” (2018, p. 18).
20 • Mercado de trabalho
as relações entre docência e pesquisa, licenciatura e bacharelado nos
cursos de formação e na atuação profissional de seus egressos. Pensar
em mercado profissional para historiadores implica operar com divi-
sões clássicas como licenciatura/bacharelado, professor versus pesqui-
sador? O mercado de trabalho exclui as competências e/ou produtos
próprios da docência? De fato, não existem possibilidades de amplia-
ção do mercado de trabalho para o historiador, se prevalecer a concep-
ção da História circunscrita a um saber cuja validação é a de formar
para a docência e o ensino.
22 • Mercado de trabalho
contra a profissionalização. Motta destacava que um dos aspectos que
fizeram com que ele fosse apoiador da causa: “Nas tradições do Esta-
do brasileiro, a ausência de lei regulamentadora implica desvantagens
profissionais significativas. Os órgãos públicos como Tribunais, Casas
Legislativas, Arquivos, Bibliotecas, Museus etc. só podem fazer concurso
para historiador se houver a regulamentação” (Motta, 2015). Na ausência
da lei, as vagas deixavam de ser abertas, evidenciando que havia um
mercado em potencial caso houvesse a aprovação.
24 • Mercado de trabalho
Decerto, a Lei n. 14.038/2020 é clara em sua redação ao oportunizar
de forma clara e objetiva a criação de postos de trabalho para
historiadoras e historiadores. No entanto, a categoria de profissionais
de nossa área conseguirá acompanhar e reivindicar o cumprimento
desse aspecto da legislação? Conforme o artigo 6º: “As entidades que
prestam serviços em História manterão, em seu quadro de pessoal ou
em regime de contrato para prestação de serviços, historiadores legal-
mente habilitados”. Ou seja, quaisquer entidades públicas ou privadas,
que prestam serviços na área de história, obrigatoriamente, deverão
ocupar em seus postos de trabalho, por meio de concursos públicos ou
em regime de contratos, profissionais regulamentados.
REFERÊNCIAS
Mauad, A. M.; Santhiago, R.; Borges, V. T. (org.) Que história pública queremos?
São Paulo: Letra e Voz, 2018.
Motta, R. P. S. “Porque vale a pena regulamentar a profissionalização de his-
toriador”. Associação Nacional de História, 20 jan. 2015. Disponível em: ht-
tps://anpuh.org.br/index.php/2015-01-20-00-01-55/noticias2/noticias-desta-
que/item/454-porque-vale-a-pena-regulamentar-a-profissao-de-historiador.
Acesso em: 14 abr. 2021.
Schmidt, B. B. “Qual a relação entre a história pública e a profissionalização do
historiador?”. In: Mauad, A. M.; Santhiago, R.; Borges, V. T. (org.). Que história
pública queremos? São Paulo: Letra e Voz, 2018. p. 17-22.
Shopes, L. “A evolução do relacionamento entre a história oral e a história pú-
blica”. In: Mauad, A. M.; Almeida, J. R.; Santhiago, R. (org.). História pública no
Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016. p. 71-84
Telles, P. S. “O historiador com CNPJ: depressão, mercado de trabalho e história
pública”. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 30, e204, 2020.
26 • Mercado de trabalho
QUAIS OS DESAFIOS DA
RESPONSABILIDADE
PROFISSIONAL NA PESQUISA
PARTICIPATIVA?
Frederico Duarte Bartz, Jean Baptista, Juliane Serres,
Letícia Brandt Bauer, Lívia Monteiro,
Maria Fernanda Rollo e Viviane Trindade Borges
28 • Responsabilidade profissional
zer história com o público significa ir além do uso de entrevistas para a
produção de uma narrativa histórica, até onde conseguimos avançar?
Entendo que nossa responsabilidade profissional diz respeito à teoria
e metodologia que levamos anos para aprender e colocar em prática
de maneira adequada. Numa pesquisa participativa parece-me que
o primeiro passo é colocar as cartas na mesa para que todas as pes-
soas envolvidas tenham conhecimento dos meios pelos quais se pro-
duz uma pesquisa histórica. Ademais, o tempo presente é inerente aos
processos colaborativos e, com ele, os embates contemporâneos e os
usos que se faz e se fará de determinado produto, seja ele um livro, um
documentário, uma exposição etc. Nesse caso, como afirmam Hebe
Mattos, Keila Grinberg e Martha Abreu (2018), entendo ser fundamental
que tomemos posição, que assumamos o fato de que o conhecimento
produzido é político e está engajado numa pauta, tal como os possíveis
partícipes da produção. Ademais, creio que seja importante reconhe-
cer que produzir coletivamente implica, necessariamente, conflito, e
acredito que não omitir os embates e suas possíveis soluções no pro-
duto final é relevante. Sou extremamente favorável às narrativas em
tom pessoal e, nesses casos, no uso da primeira pessoa do plural bem
fundamentada, onde o “nós” não seja um recurso estranho, um nós
vazio, mas o correspondente de um trabalho realizado, realmente, por
várias mãos e mentes.
30 • Responsabilidade profissional
tantas histórias sejam compartilhadas – e por isso, as autorias também,
como afirma Michel Frisch. Na História Pública a responsabilidade do
profissional deve ser encarada, assumida e declarada como parte epis-
têmica, metodológica e teórica da própria pesquisa.
32 • Responsabilidade profissional
as comunidades. Caso contrário, se estará apenas reforçando o horror
da LGBTfobia nacional.
34 • Responsabilidade profissional
momentos mais significativos desse curso de extensão se deu quando
os alunos e alunas propuseram diferentes trajetos de memória como
seu trabalho final, fazendo com que a busca pela história da classe tra-
balhadora se transformasse em um projeto coletivo.
ARQUIVOS MARGINAIS
(POR VIVIANE TRINDADE BORGES)
36 • Responsabilidade profissional
MEMORIAL DA BOATE KISS
(POR JULIANE SERRES)
38 • Responsabilidade profissional
MEMÓRIA PARA TODOS. UM PROGRAMA DE
HISTÓRIA PÚBLICA E COLABORATIVA
(POR MARIA FERNANDA ROLLO)
40 • Responsabilidade profissional
patrimonial, a literacia e desenvolvimento de competências digitais e
a democratização do acesso às ferramentas da investigação histórica.
42 • Responsabilidade profissional
De salientar também, constituindo um desafio permanentemente
renovado e ampliado, as formas de colaboração à distância, via digital.
Para além da submissão de conteúdos, através de formulários especí-
ficos, cada vez mais elaborados, como ocorre nesta fase com um dos
projetos mais recentes dedicado a recolha de testemunhos de emi-
grantes e de trabalhadores portugueses, prosseguimos o desafio de,
na fase mais precoce possível, envolver a comunidade acadêmica, os
investigadores que estudem temas semelhantes a participar num ce-
nário de investigação colaborativa.
44 • Responsabilidade profissional
tífica, busca envolver as pessoas e as comunidades no contexto que
habitam, procurando uma dinâmica colaborativa que promova a pre-
servação e valorização da memória, a criatividade e a criação de novo
conhecimento, garantindo a sua partilha e promovendo a sua acessibi-
lidade, constituindo, portanto, uma interface e uma intermediação en-
tre a academia e a sociedade. Memória para Todos é assim um espaço
em que a História Pública acontece, em sinergia e convergência entre
os profissionais da história e a sociedade.
APONTAMENTOS FINAIS
Diante das experiências, questionamentos, desafios e possibilida-
des apresentadas acima, consideramos que:
46 • Responsabilidade profissional
A HISTÓRIA PÚBLICA
BRASILEIRA TEM SIDO
EFICAZ NO COMBATE AOS
NEGACIONISMOS?1
Ana Carolina Barbosa Pereira, Edmilson Alves Maia Junior,
Natália Guerellus, Nashla Dahás, Samuel Silva Rodrigues de Oliveira,
Sônia Meneses e Sonia Wanderley
1. O presente texto foi elaborado a partir do Grupo de Discussão que deu nome a este capí-
tulo. A dinâmica consistiu na apresentação dos sete coordenadores e a posterior abertura
à discussão com o público, constituído de 70 inscritos, além da criação durante a apresen-
tação, de um Google Docs onde todos e todas foram convidados a colaborar em formato
de texto escrito. Muitos participaram da discussão e das conclusões contidas neste texto e
a eles e a elas agradecemos a participação.
DITADURA EM PROSA
O projeto Ditadura em Prosa consiste em um site na rede social
do Instagram para produção de conteúdo educacional feito por estu-
dantes. É uma experiência de pesquisa, extensão e educação no ensi-
no médio do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow
da Fonseca (Cefet-RJ), e articula a relação entre a história pública e o
ensino da história da ditadura. Em 2017, em vista da comemoração da
efeméride de cem anos do Cefet-RJ, foi realizada a pesquisa e publi-
cação do livro A escola que mudou a minha vida (2017), em parceria
com a associação de ex-alunos da instituição. Essa pesquisa realizada
com bolsas de iniciação científica no ensino médio formou um grupo
e serviu de estímulo para refletir sobre a forma como a memória e
HISTÓRIA DA DITADURA:
NOVAS PERSPECTIVAS
O site é atualmente editado por oito historiadores/as tendo Paulo
César Gomes como editor chefe e criador do projeto – todos/as sem
vínculo institucional efetivo. O site conta com a participação de 70
pesquisadores/as de várias nacionalidades, que publicam colunas
sobre temas do cotidiano a partir de diversas formas de escrita da
história, registros de época, referências culturais e imagens. Desta-
que para o banco de entrevistas com artistas, ativistas, intelectuais,
testemunhas e agentes do Estado, que narram suas vivências diretas
e indiretas com relação à ditadura militar, a partir de linguagem flui-
da e pessoal. Sem o compromisso com o rigor científico atribuído à
história oral ou à história pública, estritamente enquanto campos de
produção e reflexão histórica, o site incorpora elementos dessas ver-
tentes, em especial, a intersubjetividade e a pluralidade como tecidos
HISTÓRIA NA RUA:
CULTURA HISTÓRICA E HISTÓRIA PÚBLICA NA TV
O projeto de Extensão “História na Rua: cultura histórica e Histó-
ria Pública na TV UERJ” é um artefato didático cultural que parte do
projeto de pesquisa “Cultura histórica e ensino de história: interseções
com a História Pública”. Sua finalidade é experimentar empiricamente
as reflexões desenvolvidas com a pesquisa por meio da produção de
vídeo-programas que serão editados e exibidos nas redes sociais da TV
UERJ, do Centro de Tecnologia Educacional da UERJ (CTE). O eixo prin-
cipal dos programas relaciona narrativas historiográficas e narrativas
históricas (produzidas sem a metódica racional-histórica) acerca de te-
mas sensíveis e socialmente relevantes na cultura histórica contempo-
rânea. A perspectiva é pensar o “História na Rua”, título da série, como
um exercício de história pública, portanto como prática específica de
em um entrelugar onde o profissional de História faz circular o caráter
metódico da ciência histórica a partir dos objetivos de ampliação da
circulação do conhecimento científico. A proposta está relacionada às
REFERÊNCIAS
Avila, A. L. “Qual passado usar? A historiografia diante dos negacionismos”. Café
História, 29 abr. 2019. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/nega-
cionismo-historico-historiografia/. Acesso em: 14 abr. 2021.
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Mauad, A. M.; Dumas, F. “Fontes orais e visuais na pesquisa histórica: novos mé-
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dução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. p. 81-95.
Mauad, A. M.; Santhiago, R.; Borges, V. T. (org.). Que história pública queremos?
São Paulo: Letra e Voz, 2018.
Meneses, S. “Negacionismos e histórias públicas reacionárias: os usos abusivos
do passado em tempos de pós-verdade”. OPSIS, Catalão/GO, v. 19, n. 2, p. 1-9,
2019.
Oliveira, S.; Silva R.; Barreto, M. R. N.; Cardoso, T. M.F.L. A escola que mudou mi-
nha vida: uma história de vida, pertencimento, afeto, formação humana e
profissional. Rio de Janeiro: Proiatec, 2018.
SUPERLOTAÇÃO DA OBVIEDADE
(POR PEDRO TELLES DA SILVEIRA)
62 • História digital
na academia. Com essa segunda vertente, a história digital é uma atua-
lização da história pública através das tecnologias de mídia.
64 • História digital
funcionam, conhecimentos que já implicariam o contato com PCs
e laptops, usualmente disponíveis apenas em escolas e centros
comunitários – ambos fechados durante a pandemia. De qualquer for-
ma, a suspensão da imediaticidade das redes é contrária a um ritmo
de vida que muitas vezes não pode ser quebrado. Como lembra Terto,
“Ter tempo e ser pobre no Brasil é quase subversivo” (Terto, 2021, p. 27).
Em outro texto, que ainda está para sair, Anita Lucchesi e eu men-
cionamos o caráter experimental e exploratório da história digital. No
exterior, isso tem sido pensado sob a rubrica do thinkering, um neo-
logismo cunhado por Andreas Fickers para reunir os dois aspectos do
pensar e do brincar que caracterizam a prática da história digital. No
Brasil, a esse respeito, o principal insight é de Dilton Maynard, para
quem a escola, sobretudo a pública, é o grande laboratório das huma-
nidades digitais no país.
Em certa medida, tal situação não deixa de ser uma resposta à pre-
cariedade institucional e de infraestrutura brasileira, a qual transforma
as iniciativas de história digital em projetos isolados, descontínuos, in-
dividuais e provisórios. A precariedade é tanto o mote para a inventivi-
dade quanto o sinal da falta de alternativas. Voltando ao livro de Ricar-
do Terto, agora numa passagem mais longa,
66 • História digital
permite a invenção e a transformação nas mediações técnicas com as
quais nos situamos no mundo. Dessa maneira, a gambiarra não seria
uma falta num organismo já completo; pelo contrário, ela mostraria
que o aparelho é um constructo passível de novos desenvolvimentos.
Para o autor, a gambiarra seria uma forma de conhecer através da ex-
perimentação, o que sinalizaria a passagem de um contexto pós-colo-
nial marcado pela precariedade para uma epistemologia pós-colonial
que invalida qualquer recorte fixo entre sujeito e objeto, além da essen-
cialidade a esses termos.
Ainda que tentadora, leio sua proposta como uma aposta, pois
acredito que é muito diferente experimentar numa situação dotada de
estruturas que permitam acolher os fracassos e os erros do que ser for-
çado a inventar pela ausência dos requisitos básicos para iniciar qual-
quer atividade digna de merecer este nome. Aplicada ao contexto co-
lonial brasileiro, o pior que poderia acontecer à história digital é que ela
se tornasse o elogio heroico da precariedade. Quanto a isso, para que
a história digital não seja mais marginal tanto à prática historiográfica
quanto à circulação de enunciados sobre o passado, é necessário não
apenas que ela se fortaleça disciplinarmente, mas que ela se torne o
resultado colateral do investimento em infraestrutura de acesso à in-
ternet, recriação de centros comunitários, investimento em educação,
regulamentação da imprensa e criação de um arcabouço legal para
a atuação das redes sociais. Uma boa história digital é o resultado de
boas políticas públicas de acesso à internet.
68 • História digital
está muito longe de alcançar a universalização do acesso. O quadro de
desigualdades digitais fica evidenciado no fato de parcelas significa-
tivas da população não possuírem dispositivos digitais nem acesso à
internet. Apenas para ilustrar essa realidade, pode-se mencionar que
35% dos alunos de instituições públicas de ensino com faixas de renda
correspondentes às classes C, D e E não possuem internet em casa. Na
zona rural, a internet está ausente em 49% dos domicílios. No entanto,
mais do que quantitativo, o problema é qualitativo. Entre a população
de baixa renda, 85% acessam a internet unicamente pelo celular, sendo
que há aqueles que possuem planos de dados que permitem acesso
apenas a aplicativos de mensagens instantâneas e a redes sociais.
1. Deslocando-se pelos campos das Artes Visuais, Design, Fotografia, Educação, História
Digital e Patrimônio Cultural, alguns desses projetos resultaram em variados tipos de pro-
dutos e publicações digitais. Cito, aqui, apenas as mais recentes: Conceição e Sossai (2011);
Sossai e Coelho (2011); Sossai (2011, 2019, 2020); Sossai, Marmo e Fontoura (2013); Medeiros
e Sossai (2021).
2. Por exemplo, os trabalhos de Bresciano (2010); Noiret (2015a, 2015b); Westera (2015).
70 • História digital
ção. Sem dúvida, é preciso ir além de levantamentos e diagnósticos
atinentes à falta de condições de acesso a equipamentos e serviços
digitais de boa qualidade, assim como produzir novas pesquisas apon-
tando os ganhos auferidos em programas, projetos e ações públicas
ou privadas direcionadas à disseminação e/ou compartilhamento de
conhecimento histórico na web (internet, plataformas de streaming,
redes sociais digitais, entre outras).
72 • História digital
SOBRE A FRAGILIDADE DA INCLUSÃO DIGITAL E A
IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO:
NOTAS PARA UM DEBATE SOBRE O ESPAÇO PÚBLICO CONTEMPORÂNEO
(POR RODRIGO BRAGIO BONALDO)
74 • História digital
tornam-se alvo prioritário de mentiras fatais. A estratégia do absurdo
equivale a sua ressonância, pois transforma-se em armadilha ao ter
seu conteúdo igualmente compartilhado por aqueles que visam o de-
nunciar. Os espaços em que mediadores mal-intencionados operam,
espalhando mentiras e versões paralelas da realidade, são, portanto,
também espaços de emoção. O acesso à informação, feito a partir de
telefones móveis entre outros gadgets, não é apenas orientado por al-
goritmos neutros, mas igualmente manipulado por agentes que gasta-
ram muito tempo estudando modos de dominar suas métricas e sinais
de ranqueamento. Alguns operadores de fake news podem ser cíni-
cos, mas parece haver uma parcela convicta, direcionada pelo canto
hipnótico de narrativas que consolam o sujeito recalcado frente a um
cenário muito complexo, encaixando-o em visões de mundo desacre-
ditadas pela ciência e que se imaginavam superadas pelo nosso lento e
descontínuo processo de emancipação social. No entanto, todas essas
visões, ao contrário de superadas, restam disponíveis à agência política,
com consequências literalmente mortais.
76 • História digital
tanto, a pandemia promoveu a desmobilização e o fim do movimen-
to, quando este estava mais aguerrido. O governo de Minas Gerais
enxergou ali uma possibilidade de efetivação do seu projeto, sem a
resistência dos professores, e implementou o sistema de ensino re-
moto, chamado de “Regime de Estudo não presencial”. Às pressas,
foi desenvolvido um material didático definido assim pelo próprio
governo: “Os Planos de Estudos Tutorados são apostilas para que os
alunos e os professores trabalhem os conteúdos curriculares ao longo
do período de isolamento social”.7
Para se ter uma ideia desta dificuldade, além das questões provo-
cadas pelas desigualdades no acesso, um dos vídeos que tinha como
título “Os Primeiros Povos da América”, destinado ao quinto ano do en-
sino fundamental e que estava alocado no canal chamado Escola inte-
rativa da Secretaria da Educação, tinha apenas 36 visualizações, até o
momento que escrevemos aqui, em março de 2021.9
78 • História digital
de precarização não é fato novo, mas agora passa a ser promovido por
sistemas controlados por algoritmos digitais, o que é uma realidade em
todo mundo do trabalho, na qual também o ensino é parte.
Sigamos.
80 • História digital
HISTÓRIA DIGITAL: PRIMEIROS PASSOS DE UM HISTORIADOR
ANALÓGICO E A UNIVERSIDADE PÚBLICA
(POR WALDOMIRO LOURENÇO DA SILVA JÚNIOR)
82 • História digital
dos das disciplinas. Se isso complica a simples leitura dos textos bási-
cos para as disciplinas, quem dirá no âmbito da pesquisa e produção
de conhecimento.
O pontapé que dou para a nossa discussão hoje é mais pela via da
provocação do que da resolução. Quer dizer, um conhecido clichê, que
também poderia vir resumido no título “Novas possibilidade e Velhos
problemas”. Mas falar sobre os desafios da história digital em um país
que ultrapassa a marca de 13,5 milhões de pessoal abaixo da linha da
pobreza (conforme informações do IBGE, dados de 201810), requer que
lembremos também dos velhos problemas, antes de nos voltarmos
para o elemento digital.
Não quero chatear com muitos números, mas alguns dados são
interessantes aqui. Em 2018, por exemplo, a Internet era utilizada em
79,1% dos domicílios brasileiros (também segundo o IBGE11). Longe de
querer minimizar o problema do acesso, escolhi direcionar essa breve
intervenção para uma questão que diz mais respeito à qualidade do
que a quantidade do acesso e do uso à Internet. Nesse sentido, chama
atenção que naquele mesmo ano em que oito em cada dez domicílios
acessavam a Internet, em 99,2% dos domicílios o telefone móvel celular
foi o equipamento utilizado para este fim, contra 48,1% de uso dos mi-
crocomputadores. A mesma pesquisa mostrou que dentre os objetivos
do acesso à Internet, destacava-se o envio e recebimento de mensa-
gens de texto, voz ou imagens por aplicativos (95,7%).
Ao ver estes dados, penso na minha avó, que sem saber ler nem
escrever, utiliza o WhatsApp frequentemente para áudios e chamadas
de vídeo, por exemplo. Penso em muitos alunos que tive, pois também
eles só podiam acessar internet pelo celular e, majoritariamente, ape-
nas para mensagens e redes sociais – enquanto o pacote durava. Pen-
so também nos crediários das Casas Bahia e nas dívidas que acompa-
nham muitas famílias que só podem adquirir smartphones através das
parcelas. Penso no fosso que separa a minha família (por longa data
cliente das Casas Bahia) e daquelas que já na virada dos anos 1990 para
os 2000 possuíam um computador em casa. Lembrei, aliás, que duran-
te uns fins de semana no verão de 1996, o filho da patroa da minha mãe
84 • História digital
me deu umas aulas de informática (basicamente aprendi a mexer o
mouse no Paint) enquanto minha mãe fazia umas horas extras na casa
deles. Lembro do quão perdida eu me sentia com tudo em inglês e da
vergonha que eu tinha de perguntar sobre coisas que eu não entendia
nem para quê serviam e não sabia nem como ler. (Poderia fazer uma
longa digressão aqui, sobre como ainda me choco em trabalhar com
história digital hoje depois daquelas situações. Mas vou só deixar um
grande “obrigada” à minha mãe. E também um pedido de desculpas
por tudo que ela passou para que eu pudesse estar aqui hoje, numa
posição que considero superprivilegiada)
REFERÊNCIAS
Bresciano, J. A. La historiografía en el amanecer de la cultura digital. Monte-
video: Ediciones Cruz del Sur, 2010.
Conceição, F. O.; Sossai, F. C. Memórias do Jardim Sofia: cenas da cidade mi-
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Gil, J. M. S. “De la tecnología para aplicar a la tecnología para pensar: implicacio-
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Fiormonte, D. “Por que a universidade de plataforma é o fim da universidade”.
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90 • História local
CENTROS DE MEMÓRIA: UMA HISTÓRIA PÚBLICA LOCAL
Centros de memória constituem lugares institucionais que con-
sideramos significativos para se pensar formas de atuação e de pro-
dução do conhecimento no âmbito da História Pública. Um centro de
memória que abrigue um acervo com vasta documentação referente
a vários momentos da história de uma cidade – como é o caso do Cen-
tro de Memória – Unicamp (CMU), onde atua Maria Silvia Duarte Had-
ler (2007) – pode tornar a história local pública por facilitar o acesso à
documentação. Porém, mais do que promover formas de divulgação,
tanto do acervo quanto de pesquisas realizadas, ele pode ser entendi-
do como resultado de diálogos com sujeitos envolvidos em processos
sociais e culturais presentes na cidade, com suas demandas e conflitos.
92 • História local
a praticidade da vida e para a percepção da paisagem urbana, mar-
cadas pelo sentimento de amor dos moradores, que tem suas raízes
na cultura. Pensar na história local é procurar compreender os lugares
como categoria geográfica, temporal e perceptiva, pois é inegável o
poder que eles exercem e que vem das comunidades. Desta forma, so-
mos estimulados a pensar em modos de colaboração e construção de
memórias públicas inclusivas, que levem em conta as relações entre
lugar e indivíduos, os sentidos atribuídos, a sua topofilia (Tuan, 2012). As
relações dialógicas e sensíveis entre pesquisadores/as e comunidades
locais podem criar um sentido de autoridade compartilhada, formas de
promover a autoconfiança, maneiras de repensar os poderes políticos e
de considerar a história local como história pública.
94 • História local
Um dos aspectos da história pública é que, não raro, os temas e
práticas com as quais trabalharemos “nascem” de públicos que não são
mera audiência, mas que se apresentam como sujeitos conscientes da
necessidade dos registros e dos usos da história para que haja reconhe-
cimento da história local, com todos os seus conflitos e disputas. Indi-
víduos e coletividades cobram da universidade o seu caráter universal
e diverso, e da história a sua dimensão democrática e de reparação da
injustiça e do silenciamento histórico. Nesses casos, a divulgação não
pode ser confundida com a história pública, mas é apenas uma de suas
dimensões. Os sujeitos querem mais: desejam participar, selecionar,
debater, criar, refletir e escolher, com a mediação dos historiadores, as
maneiras de se narrar histórias muitas vezes subalternizadas. A histó-
ria oral, nesse sentido, tem sido uma das formas de articular narrativas
orais com formas democráticas de se incluir o público na produção de
conhecimento histórico local (ou glocal).
96 • História local
da mais a responsabilidade no registro e na divulgação de vozes que,
embora sejam expressões locais tornam-se ecos de histórias amplas e
globais. A responsabilidade pela escuta LGBTQIA+ envolve perceber os
consensos e dissensos de memória, as hierarquizações de gênero, raça,
classe e sexualidade em comunidades que não podem ser entendidas
como essências ou consensos na cidade, mas corpos em disputa por
reafirmações identitárias plurais e (des)continuidades.
98 • História local
rios quanto as respectivas instâncias públicas pertinentes da área da
cultura, da educação e do turismo. O inventário contou com acervos,
obras, mobiliário, edificações, bens naturais, equipamentos e os luga-
res e espaços de convívio, canções, crenças, celebrações, saberes e mo-
dos de fazer. Foram realizadas entrevistas orais com os proprietários
e funcionários que há mais tempo vivem na propriedade e visitantes
idosos, com o objetivo de reconstruir a memória da vida social passada
e da riqueza patrimonial que ela produziu, a partir das diferenças so-
ciais, culturais e econômicas dos sujeitos entrevistados. O processo de
inventário e de publicização desse material promoveu transformações
nas formas de investigação histórica, com o envolvimento da popula-
ção local, e promoveu o reconhecimento de memórias ordinárias que
ultrapassaram as “grandes narrativas” sobre a produção cafeeira.
REFERÊNCIAS
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Portelli, A. História oral como arte da escuta. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
Em seu Manual de História Oral, José Carlos Sebe Bom Meihy co-
menta que a história oral é um recurso moderno usado para a elabora-
ção de documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência
social de pessoas e de grupos. Para o autor “ela é sempre uma história
do tempo presente e também reconhecida como história viva” (Meihy,
2005, p. 17).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A perspectiva deste trabalho em construção está se dando através
de uma visão humanística, solidária e uma sensibilidade num cruza-
mento de epistemologias aguçadas, desde o contato com os/as mili-
REFERÊNCIAS
Akotirene, C. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen, 2019.
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to Velho: Edufro, 2001.
MOVIMENTOS INSURGENTES
Como os professores têm lidado com o ensino de história? Pergunta
direta merece resposta também direta: os professores estão aprenden-
do! Em tempos de pandemia, os professores têm aprendido para saber
Não teria como falar de como foi o ensino de História neste con-
texto, no caso aqui do Espírito Santo, porque se formos ser ho-
nestos, não houve de fato ensino algum, de qualquer disciplina.
Tapamos buraco totalmente cegos, perdidos, sem auxílio da se-
REFERÊNCIAS
Berardi, F. Extremo: crônicas da psicodeflação. São Paulo: Ubu, 2020.
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das Letras, 2020.
Todorov, T. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
Movimentar aulas de história sobre o fio foi atuar pelas brechas, ra-
surando a instrumentalização das aulas pelo modelo remoto que indu-
zia à formatação do conhecimento escolarizado. A maioria das aulas que
elaborei foram encaminhadas de forma assíncrona, via postagens na
plataforma Google Classroom. Outras assumiram a forma síncrona na
busca por resistir ao emudecimento das postagens com datas definidas,
ou a inexistência de inter-relação com os vídeos gravados. Essa noção de
resistência precisa ser assumida também pela perspectiva do fio, pois
pode parecer “algo muito simples: apenas uma linha no espaço. Mas é
também algo de muito complexo: um novelo, um emaranhado” (Didi-
-Huberman, 2019, p. 31). Para resistir, simplesmente era necessário gerar
o link de uma aula com horário divulgado para a participação dos/as es-
tudantes por meio de uma tela, geralmente poucos/as ou até nenhum/a,
mas não apenas. A complexidade também existia em decidir pela in-
teração. Isso porque, na realidade em que estava inserida, trabalhando
com estudantes do ensino médio de uma escola em comunidade social-
mente vulnerável e com estudantes de outra escola do período noturno
no município de Blumenau/SC, significava não alcançar todos/as os/as
interessados/as em se fazer presentes mesmo com os limites dessa in-
teração. Foram escolhas pedagógicas, portanto, políticas, na perspectiva
da “politicidade da educação” acionada por Paulo Freire (2019).
• Evasão escolar, uma vez que as taxas hoje chegam a 75% nos
cursos técnicos e 40% no ensino superior;
• Mais gastos com energia elétrica e internet por parte dos pais
dos alunos e profissionais da educação;
• Sobrecarga de tarefas;
Nesse sentido, este professor que escreve este relato iniciou o ano
letivo de 2021 em três realidades distintas: a rede estadual com o ensino
híbrido; a rede municipal com o ensino remoto; e a rede particular com
o ensino presencial. A sensação é que o ano de 2020 ainda não terminou.
REFERÊNCIAS
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de março de 2020a. Dispõe sobre os aspectos legais a serem observados pelo
Sistema Estadual de Ensino do Acre, na reorganização do Calendário Escolar
das Instituições Públicas e Privadas.
Acre (estado); Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes. Parecer
CEE/AC n. 5, 22 de abril de 2020b. Analisa e aprova o Plano de Implementa-
ção de Atividades Não Presenciais nas Escolas da Rede Pública Estadual.
Acre (estado); Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes. Parecer
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de Implementação de Atividades Não Presenciais nas Escolas da Rede Públi-
ca Estadual.
Acre (estado); Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes. Parecer
CEE/AC n. 25, 18 de setembro de 2020d. Analisa e aprova o Plano II para
a continuidade de Atividades Pedagógicas e aulas não presenciais para as
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Didi-Huberman, G. Sobre o fio. Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie, 2019.
Cabe-nos destacar que Marielle Franco não era somente uma figu-
ra pública para a nossa comunidade universitária, mas também com-
panheira de trabalho e de militância, inclusive em defesa da própria
UERJ. A vereadora esteve presente em diferentes atos na universidade,
o que ampliava a identificação pela pauta em comum. Em um dos re-
latórios finais, pudemos observar relações de amizade e trabalho com
Marielle Franco, a exemplo do depoimento de Pablo Ribeiro (2018):
MARIELLE, PRESENTE!
O trabalho escolhido para ser apresentado aqui teve como intui-
to inicial propor um roteiro que contemplasse a memória da perso-
nagem histórica Marielle Francisco da Silva levando em consideração
suas ações políticas e pautas durante o curto mandato na Câmara dos
Vereadores do Rio de Janeiro. Além de escrever e produzir material pe-
dagógico em suportes diversos para embasar o roteiro, foram criados
livretos, cartilhas, redes sociais, jogos e fichas didáticas.
A TESSITURA DO PLANEJAMENTO:
DA ANDARILHAGEM À PRODUÇÃO COCRIADA
Partindo dessas inquietudes, visamos explorar no material ela-
borado para uma turma do Ensino Fundamental, seja pela visita, seja
pela produção de material didático, a identidade local e o caso Marielle
como forma de resistência, criação de lugares de memória e do conflito
entre os diferentes discursos oficiais e não-oficiais acerca da realidade
carioca que atravessa, outrora denominada, Praça Marechal Floriano
Peixoto, na Cinelândia.
REFERÊNCIAS
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2002.
200 • Posfácio
nhecimento histórico e o mundo social ao qual esse conhecimento ine-
xoravelmente remete. Passo a passo, a perspectiva da história pública
veio a angariar maior interesse e reconhecimento, em parte graças ao
seu potencial catalisador.
202 • Posfácio
LABORATÓRIOS, NÚCLEOS
E PROJETOS DE PESQUISA
ENVOLVIDOS
DITADURA EM PROSA
O projeto Ditadura em Prosa é uma experiência de pesquisa, extensão e edu-
cação no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
(Cefet-RJ), e articula a relação entre a história pública e o ensino da história da
ditadura civil-militar. Teve início com a pesquisa sobre a história da instituição
do ensino técnico no Cefet-RJ, e resultou no livro A escola que mudou a mi-
HISTÓRIA PÚBLICA
O objetivo do canal é o intercâmbio de experiências que vinculem pesquisa
e produção audiovisual voltadas às comunidades, ao patrimônio e à Históri-
ca Pública. A ideia é aprofundar temáticas de interesse público e promover
o compartilhamento de experiências. Entre os temas figuram cidades, mu-
seus, monumentos, comunidades e “lugares de memórias”.
COORDENAÇÃO: Michel Kobelinski
CIDADE: União da Vitória/PR
DATA DE CRIAÇÃO: 31 mai. 2021
YOUTUBE: www.youtube.com/c/HistóriaPública/about