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Estado do Espírito Santo

Poder Judiciário
Central de Apoio Multidisciplinar da Comarca de Vitória
Equipe 1ª Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher

Relatório da Equipe Multidisciplinar acerca do Projeto Botão do Pânico

Apresentação

O presente relatório tem como objetivo apresentar informações sobre o Projeto


Experimental Botão do Pânico enfocando aspectos de sua execução, do perfil das
mulheres participantes e suas percepções quanto à utilização do dispositivo, e das
considerações técnicas da equipe multidisciplinar acerca do projeto.

Os primeiros Dispositivos de Segurança Preventiva (DSP) foram entregues em abril de


2013. Até o mês de setembro de 2014, foram entregues 61 DSP´s a mulheres com
medidas protetivas. Em outubro de 2014, em função do não aditamento do convênio entre
o Poder Judiciário do Espírito Santo, a Prefeitura Municipal de Vitória - PMV e o Instituto
Nacional de Tecnologia Preventiva – INTP, a entrega de novos dispositivos foi suspensa.

No momento, 36 mulheres continuam a fazer uso do Botão do Pânico, e o INTP,


independentemente de novo convênio firmado, tem realizado a manutenção dos
dispositivos concedidos.

A seguir apresentaremos os principais pontos da sistematização realizada até o momento


por esta equipe multidisciplinar.

1. Sobre os critérios para a concessão do Botão do Pânico

Os requisitos básicos necessários para a concessão do dispositivo às requerentes foram


definidos em reuniões do Comitê Gestor do Projeto Experimental Botão do Pânico, do
qual participam representantes do Tribunal de Justiça, da Prefeitura Municipal de Vitória e
do Instituto Nacional de Tecnologia Preventiva. Os critérios estabelecidos foram:

1 - mulheres residentes no município de Vitória;

2 - maiores de 18 anos;

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3 - com medidas protetivas deferidas pela 1ª Vara;

4 - com relato de descumprimento das medidas protetivas deferidas;

5 - risco potencial de reincidência de agressões/ possibilidade de descumprimento de


medidas protetivas pelo requerido, conforme relato da requerente;

6 - interesse da vítima em receber o botão do pânico.

Apesar de inicialmente um dos critérios estabelecidos para a concessão do dispositivo ter


sido a idade mínima de 18 anos, situações de violência vivenciadas por mulheres
atendidas em nosso serviço apontou para a necessidade de flexibilização de tal critério,
tendo sido o dispositivo entregue para duas adolescentes.

2. Sobre o pedido de Concessão do Botão do Pânico

O pedido do Dispositivo de Segurança Preventiva (DSP) é realizado pela requerente:

1 - na Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher - DEAM, juntamente com as


medidas protetivas de urgência, ou

2 - na Defensoria Pública - NUDEM ou por meio de advogado particular, a qualquer


momento.

3. Fluxo da Concessão do Botão do Pânico

1 - Solicitação da Requerente junto à DEAM, NUDEM ou advogado;

2 – Análise do pedido pela Juíza que encaminha o processo para avaliação da equipe
multidisciplinar;

3 – Juntada de relatório da equipe multidisciplinar;

4 – Parecer do Ministério Público;

5 – Análise de Viabilidade Técnica pelo INPT e Guarda Municipal

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6 – Concessão judicial do Dispositivo;

7 – Entrega do DSP pelo INTP;

8 - Acompanhamento da requerente pela equipe multidisciplinar (contatos telefônicos,


visita domiciliar, atendimentos individuais e em grupo, conforme demanda).

4. Sobre a quantidade de dispositivos entregues até o momento e seu acionamento

O projeto experimental de fiscalização de medidas protetivas realizou a entrega dos


primeiros dispositivos denominados Botão do Pânico em 15/04/2013. Até o presente
momento:

1 - Foram entregues 61 dispositivos a mulheres envolvidas em situações de violência


doméstica;

2 – Houve 23 devoluções do Dispositivo de Segurança Preventiva e 02 perdas;

3 - Hoje, 36 mulheres permanecem com o Dispositivo de Segurança Preventiva.

4 - Dos 61 dispositivos entregues, 19 foram acionados, sendo 06 de forma acidental.

A 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher possui em torno de 26441


processos de medidas protetivas, no entanto, nem todos os processos demandam a
aplicação do dispositivo de segurança preventiva tendo em vista que muitos processos
não apresentam perfil e/ou requisitos técnicos para utilização do botão do pânico.

Ressalta-se que a concessão do dispositivo de segurança preventiva à requerente que o


solicitou pode não ocorrer pelos seguintes fatores:

1 - Desistência da mulher quanto ao recebimento do equipamento;

2 - Viabilidade técnica indeferida (análise realizada pela Guarda Municipal de Vitória);

3 - Análise processual contrária à concessão.

Contudo, cabe registrar que até o momento, a maioria das solicitações de concessão do

1 Referente a julho de 2015.

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DSP foi deferida e efetivada.

Importante frisar ainda que todos os dispositivos entregues até o momento, foram
deferidos no âmbito das medidas protetivas, independente da existência de sentença
condenatória na ação penal.

5. Perfil das mulheres que receberam o Botão do Pânico

A Violência Doméstica e familiar contra a mulher é um fenômeno que atinge mulheres de


diferentes condições socioeconômicas e culturais. Essa diversidade também aparece no
conjunto de mulheres que receberam o dispositivo de segurança preventiva, conforme
abordaremos a seguir.

Registra-se que os dados apresentados a seguir foram extraídos das Guias de


Atendimento que são formulários utilizados pelos técnicos da Equipe Multidisciplinar para
registrar informações básicas do público atendido.

5.1 Faixa Etária

Faixa Etária (%)

5%
Até 17 anos
21%
De 18 a 28 anos 41%
De 29 a 39 anos
40 a 59 anos
33%

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No que se refere a idade das participantes, cabe registrar que a faixa etária de 29 a 59
anos reuniu 45 mulheres (74%), representando portanto o público adulto
aproximadamente ¾ das participantes do Projeto.

Apesar de inicialmente um dos critérios estabelecidos para a concessão do dispositivo ter


sido a idade mínima de 18 anos, situações de violência vivenciadas por mulheres
atendidas em nosso serviço apontou para a necessidade de flexibilização de tal critério,
tendo sido o dispositivo entregue para duas adolescentes.

5.2 Renda

Faixa de Renda (%)


Sem renda 11%

De 0 a ½ SM 16%

Acima de ½ a 1 SM 26%

Acima de 1 a 3 SM 33%

Acima de 3 SM 8%

Não informado 5%

Registra-se que 11% das mulheres não possuem nenhuma fonte de renda e 42% das
mulheres relatam possuir rendimentos de até 1 salário mínimo, renda que, se considerada
a composição familiar, as inclui no perfil de acesso a benefícios assistenciais. Este dado
demonstra uma importante e necessária interseção com a política de assistência social
para um atendimento integral destas mulheres.

Registra-se que estes dados são referentes à renda individual das mulheres atendidas.
Não sendo possível, no momento, levantar a renda familiar das requerentes.

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5.3 Escolaridade

No que se refere à escolaridade, a maior parte das mulheres relataram possuir ensino
médio completo ou incompleto (42%), enquanto, 27% relataram ter concluído alguns anos
ou integralmente o ensino fundamental. Chama a atenção o fato de muitas mulheres
possuírem poucos anos de estudo (18%). O gráfico abaixo mostra a inserção das
mulheres nas diferentes faixas de escolarização.

Grau de Escolaridade (%)

Não Informado 7%

Ensino Fundamental Incompleto 20%

Ensino Fundamental Completo 7%

Ensino Médio Incompleto 16%

Ensino Médio Completo 26%

Ensino Superior Incompleto 11%

Ensino Superior Completo 13%

5.4 Local de Residência

De acordo com o levantamento realizado, as mulheres participantes do Projeto são


provenientes de 38 bairros2.

Os bairros com maior número de DSP entregues foram Jardim da Penha, Jardim Camburi
e Santa Marta (com 04 dispositivos cada um), seguidos de Santo Antônio, São Pedro,
Centro e Praia do Canto (com 03 dispositivos cada).

Se considerarmos as Regiões Administrativas da cidade de Vitória/ES, observaremos que


a região com o maior número de dispositivos entregues é a Região de Ma ruípe, seguida
das Regiões de São Pedro e Santo Antônio.

2 Segundo informações da PMV, em Vitória existem 80 bairros.

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Do total de dispositivos entregues 60,6 % estiveram localizados em regiões cuja renda


média da população residente é inferior a R$ 1.000,00, e 39,3% em Regiões da cidade
com renda média mais elevada. A tabela a seguir mostra a distribuição por regiões admi-
nistrativas de Vitória/ES:

Renda Média (R$) da


Regiões Nº de DSP População*
Região*
Região Administrativa 1 - Centro 4 19.611 1.425,82
Região Administrativa 2 - Santo Antônio 9 35.261 649,84
Região Administrativa 3 - Jucutuquara 5 34.141 1.217,69
Região Administrativa 4 - Maruípe 16 54.402 806,72
Região Administrativa 5 - Praia do Can-
6 34.236 3.844,97
to

Região Administrativa 6 - Goiabeiras 3 20.316 946,95

Região Administrativa 07 - São Pedro 9 33.746 508,84

Região Administrativa 08 - Jardim Cam-


4 39.157 2.259,37
buri
Região Administrativa 09 - Jardim da
5 48.161 2.737,84
Penha

Total 61

* Fonte: Censo 2010. Disponível em: http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/dados_regiao/regiao_1/regia-


o1d.asp

6. Sobre a relação entre as partes e as situações de violência relatadas

6.1 Relação da requerente com o requerido

Conforme relatos apresentados pelas mulheres, verificou-se que no momento de


ocorrência da violência que gerou as medidas protetivas as partes mantinham os
seguintes tipos de relacionamento:

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Ralação entre as partes (%)

Parental 8%

Ex-afetiva 8%

Afetiva 8%

Ex-conjugal 45%

Conjugal 31%

As informações prestadas foram agrupadas em 05 categorias.

• Na categoria conjugal estão os casais que coabitavam independente da relação


formal.

• Na categoria ex-conjugal foram reunidas as situações em que a mulher possuía


uma relação anterior de conjugalidade, já extinta.

• A categoria afetiva e ex- afetiva incluiu os namorados e ex-namorados,

• A categoria parental reuniu as situações envolvendo mãe-filho, sogra-genro, neta-


avô e irmã-irmão.

Como é possível verificar no gráfico acima, 76% das mulheres que receberam o DSP
mantinham relações conjugais ou ex-conjugais na época da solicitação das medidas
protetivas.

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6.2 Tipos de Violência

Das 61 mulheres que receberam o Botão do Pânico, 50 relatam diferentes tipos de


violência sofridas concomitantemente, e apenas 11 citaram um único tipo de agressão.

O tipo de violência mais citado foi a física, seguida da violência psicológica e de ameaças.
A violência sexual foi relatada por duas mulheres, sendo uma adolescente e outra adulta.

Tipos de Violência Relatada

100%
90%
79%
80%
70%
60% 52% 49%
50%
40%
30% 26%
20% 15%
10% 3%
0%
Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual Ameaça

7. Percepção e utilização do Dispositivo de Segurança Preventiva pelas mulheres

Em 2013 e 2014 foram realizadas reuniões de grupo com as mulheres participantes do


Projeto Experimental Botão do Pânico, com os seguintes objetivos: acompanhar as
mulheres e propiciar um espaço de escuta e troca de experiências, avaliar o
desenvolvimento do projeto e fazer a substituição de dispositivos com problemas técnicos.

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Nas ocasiões, foi aplicado um questionário com o intuito de melhor entender as condições
de utilização do dispositivo, bem como identificar possíveis impactos deste projeto na vida
das mulheres. Os resultados deste levantamento seguem abaixo.

Cabe registrar que participaram dessas reuniões 30 mulheres.

7.1 Utilização física do botão do pânico

Durante os atendimentos, ocorreram relatos de inviabilidade na utilização do dispositivo


junto ao corpo como orientado no recebimento dos equipamentos. As mulheres
informaram que seu aspecto físico, condições de trabalho e rotina por vezes as impediram
de utilizar o dispositivo de tal maneira.

Do total das mulheres que responderam o questionário, apenas 27% relataram que,
quando estão fora de casa, utilizam o dispositivo no cinto que acompanha o
equipamento, conforme orientado pelo INTP.

Local onde leva o BP quando está fora de casa

No cinto que vem junto


com o botão
16%
27%
Na bolsa

No bolso da calça 20%

Outro
37%

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Já quando estão em sua residência, a maioria das mulheres deixa o botão sobre algum
móvel, e apenas 10% junto ao corpo. Tal comportamento pode ser compreendido em
função das mulheres se sentirem mais seguras dentro de suas residências e pelo fato de
ser pouco viável para a mulher estar em constante estado de vigilância.

Local onde deixa o BP quando está dentro de casa

Junto ao corpo
10%
Em alguma gaveta 23%

Em cima de algum móvel


10%
Na bolsa
57%
Outro

7.2 Sensações e sentimentos relacionadas ao uso do dispositivo

Para as mulheres que responderam ao questionário a utilização do BP ampliou a


sensação de segurança se compararmos os momentos anteriores e posteriores à
concessão do dispositivo.

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Sensação de Segurança

63%

50%
Com as medidas
protetivas
30% 30% Após receber o
Botão do Pânico
20%

7%

Como é possível verificar no gráfico anterior, após o recebimento do dispositivo houve,


por um lado, o aumento da resposta “me sinto segura/me sinto muito segura” e, por outro,
uma redução da frequência de respostas “não me sinto segura”.

As mulheres foram questionadas sobre quais sensações e sentimentos eram vivenciados


após o recebimento e utilização do DSP. Cabe informar que cada mulher poderia marcar
mais de um sentimento ou sensação vivenciados.

Os itens de maior incidência estão abaixo representados:

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Sensações e Sentimentos após receberem o Botão do Pânico

100%
90%
80% 77%
70%
70%
60%
60%
50%
50% 43% 43%
40%
30%
20% 13% 13% 13%
10% 7% 7%
0%
Proteção Coragem Tranquilidade Tensão Desconfiança
Segurança Liberdade Justiça Angustia Preocupação Vergonha

Cabe registrar que todas as mulheres apontaram pelo menos 01 sentimento positivo em
relação ao uso do dispositivo, e que as sensações e sentimentos positivos frente ao uso
do dispositivo são preponderantes. Contudo 06 mulheres, apesar de vivenciarem um ou
mais dos sentimentos positivos, apontaram outros sentimentos como angustia, medo,
preocupação, desconfiança e/ou vergonha.

8- Ocorrência de novas violências e acionamentos do DSP

O Botão do Pânico como um instrumento de fiscalização das medidas protetivas de


urgência quando acionado pelas mulheres expressa tentativas de aproximação do
requerido à requerente, e portanto, o descumprimento de medidas protetivas de urgência.

Neste sentido, temos registro de que desde abril de 2013, 13 mulheres acionaram o
dispositivo de segurança preventiva pelo menos uma vez, por se sentirem ameaçadas.
Tais acionamentos ocorreram em função de aproximação e/ou tentativas de aproximação

do requerido. Outras 6 mulheres acionaram o dispositivo, sendo contudo de forma


acidental.

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Chama a atenção o fato de duas mulheres terem relatado a esta equipe a tentativa de
acionar o botão do pânico sem êxito. Cabe contudo considerar que não temos
informações acerca do estado de bateria, área de cobertura ou condições do dispositivo
neste momento.

Acionamento do Botão do Pânico por mulheres

Mulheres que acionaram o BP intencionalmente 13

Mulheres que acionaram o BP acidentalmente 6

Mulheres que acionaram mas o BP não funcionou 2

Mulheres que não acionaram o BP 41

0 10 20 30 40 50 60

Frente a estes dados, verifica-se que das 61 mulheres participantes do projeto


experimental botão do pânico, apenas 14 (23%) tiveram necessidade de acionar o
dispositivo neste período.

Acerca do quantitativo de acionamentos do dispositivo, foram registrados 23


acionamentos pelo INTP desde abril de 2013. Ainda que se considere que alguns
acionamentos ocorreram de forma acidental, tal dado indica a existência de situações
onde o descumprimento das medidas protetivas reincidiu. Foram geradas 11 prisões de
requeridos devido aos acionamentos efetuados.

Cabe informar que mesmo com a utilização do DSP, situações de descumprimento de


medidas protetivas sem o acionamento do dispositivo foram relatadas pelas mulheres a

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esta equipe. Situações nas quais o requerido mandava mensagens via celular ou redes
sociais, telefonava, entrava em contato por meio de terceiros, caracterizam as situações
mais comuns de descumprimento de MPU´s, no qual o dispositivo não demonstrou
aplicabilidade.

9 – Dispositivos desligados
No mês de maio de 2015, fomos informados pelo INTP que 31 das 42 requerentes que
permaneciam com o Botão do Pânico encontravam-se com o equipamento desligado por
mais de 48h, o que representava aproximadamente 74% das mulheres que permaneciam
com o dispositivo.
Após análise de documentos, contatos telefônicos, atendimentos e visitas domiciliares
verificou-se situações diversas, conforme representado no gráfico abaixo:

Situação das Mulheres em relação aos DSPs(%)

Não permaneciam mais com o equipamento 6%

Problemas técnicos com o dispositivo 35%

DSPs funcionando, mas permaneceram desligados temporariamente 23%

DSPs funcionando e ligados 6%

Devolveram o DSP 16%

Manifestou o desejo em devolver o DSP, mas não o efetivou 3%

Se recusa a devolver 3%

Não conseguimos estabelecer contato 6%

Das situações acima mencionadas nos cabe fazer os seguintes esclarecimentos:


- 35% das mulheres relacionadas pelo INTP relataram algum tipo de problema técnico
com o dispositivo. Diante dessa informação todas as requerentes foram convidadas pela

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equipe a comparecer para a substituição dos equipamentos. Apesar do convite, apenas


55% das mulheres estiveram presentes. Neste processo o INTP se colocou inteiramente à
disposição;
- Quase ¼ das requerentes relacionadas relataram que apesar do equipamento estar
funcionando, por diversos motivos os mantiveram desligados temporariamente. Dentre
esses motivos podemos citar: realização de viagens e mudanças, esquecimento e
cumprimento das medidas protetivas por parte do requerido. Cabe registrar que todas as
requerentes são orientadas a manter os equipamentos em funcionamento e que apesar
dessas situações relatam desejo em permanecer com o dispositivo;

-19% das requerentes devolveram ou manifestaram o desejo em devolver o Botão do


Pânico por considerarem não haver risco de sofrerem novas agressões. Dentre as
situações que contribuíram para tais avaliações estão: histórico de cumprimento das
medidas protetivas de urgência, prisão, mudança e/ou falecimento do requerido;

- as situações de recusa em devolver o dispositivo, mesmo mediante decisão judicial,


dificuldades de contato com as requerentes e a efetivação das devoluções foram
comunicadas nos respectivos processos.

Entendemos que o adequado funcionamento do dispositivo de segurança preventiva é


fundamental para que este equipamento se efetive como um instrumento auxiliar na
fiscalização das medidas protetivas de urgência. Para isso, é necessário a existência de
condições técnicas satisfatórias (sinal de telefonia, condição física do equipamento,
disponibilidade de manutenção e substituição dos dispositivos quando necessário), mas
também de sua correta utilização (manutenção do equipamento carregado e em local
acessível, comunicação imediata em caso de perda de carregador, problemas na bateria
e outros sinais que possam indicar problemas no equipamento).

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10- Considerações da Equipe Multidisciplinar acerca do projeto

10.1 Considerações acerca da necessidade de Avaliação Psicossocial dos


processos contemplados com o DSP

Desde o início do projeto, esta equipe se posiciona quanto à importância da avaliação da


aplicabilidade do DSP não ser apenas processual, mas considerar a realidade geradora e
mantenedora deste processo, a fim de verificar a real existência de situações de violência
que justifiquem a entrega do dispositivo.

Os casos avaliados por esta equipe durante o projeto, nos quais foram considerados a
aplicação do Botão do Pânico, consistiram em situações nas quais a vítima sofria com as
atitudes de agressores que, ainda representavam risco potencial para estas mulheres.

Consistiam em situações nas quais as requerentes tiveram sua liberdade de ir e vir


reduzida, e o temor de novas agressões eram presentes em suas vidas. Assim, o
dispositivo passou a ser não meramente uma ferramenta de fiscalização de medidas
protetivas, mas sobretudo uma ferramenta de empoderamento para a vida dessas
mulheres.

Durante a seleção das mulheres que receberiam o botão do pânico neste projeto, a
equipe multidisciplinar visou sempre a premissa de que a preservação da segurança e
direito da mulher, não deve desconsiderar aspectos peculiares a cada situação. Tal prática
é de suma importância, visto que muitas solicitações de medidas protetivas, podem tratar-
se de outros conflitos que não a violência doméstica em si, mas sim aspectos de conflitos
patrimoniais e financeiros, conflitos de guarda e visitação de filhos, que encontram na
aplicação de medidas protetivas um caminho para o alcance de outros objetivos que não
a segurança contra agressões.

O cuidado na seleção de casos indicados pela equipe multidisciplinar evidenciou a grande


relevância que o Botão do Pânico teve na vida destas mulheres, e reações positivas da

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comunidade frente a existência e aplicação deste dispositivo.

Cabe ressaltar que esta equipe considera de extrema importância a avaliação e análise
dos casos selecionados para a entrega do DSP, a fim de que o dispositivo seja uma
ferramenta efetiva na fiscalização das medidas protetivas e torne-se um instrumento de
mudança e impacto na vida das mulheres que o receberem.

10.2 Considerações acerca da necessidade de critérios objetivos para a


devolução do DSP.

Ao longo do projeto esta equipe avaliou a importância de critérios objetivos para a


devolução do DSP, com base em diversas situações vivenciadas no acompanhamento às
mulheres participantes do projeto.

Verificou-se que o botão muitas vezes atuou no sentido de fornecer segurança e


possibilitar a retomada da vida para as mulheres que o receberam. Contudo, mesmo após
a situação de violência e risco ter cessado, notamos a relutância em abandonar este
equipamento, o qual passou a simbolizar a garantia de segurança para algumas
mulheres.

Situações onde o dispositivo era mantido desligado por longos períodos, sem motivo
específico, foram frequentes e relevantes. Tais situações podem sinalizar um processo de
adaptação e indicar, em alguns casos, o empoderamento desta mulher à medida que
consegue seguir sua rotina sem o dispositivo, sobretudo ao tempo em que o risco diminui
e a necessidade de utilização do DSP deixa de ser premente. Contudo, tal fato chama a
atenção para a necessidade de regulamentação acerca da manutenção do dispositivo,
quando o tempo de inutilização mostra-se extenso e recorrente.

Assim esta equipe multidisciplinar considera que critérios objetivos seriam relevantes para
uma utilização mais eficaz e eficiente dos dispositivos. Assim sugerimos:

- Que a concessão do dispositivo ocorra por período determinado, e que ao final do


período seja feita nova avaliação psicossocial visando identificar a necessidade de

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manutenção do dispositivo;

- Que a utilização inadequada e recorrente do dispositivo (períodos de mais de 1 semana


com dispositivos desligado sem justificativa – viagens, problemas técnicos) impliquem em
suspensão do dispositivo.

10.3 – Considerações acerca da necessidade de informações técnicas acerca


do funcionamento e utilização dos dispositivos.
Durante o período de funcionamento do projeto experimental verificou-se que a
necessidade de substituição dos equipamentos foi significativa, ainda que não seja
possível informar no momento, o percentual de dispositivos que demandaram tal
intervenção. Por outro lado, foi recorrente, como revelado neste último levantamento
realizado nos meses de junho e julho de 2015, situações em que, por algum motivo, as
requerentes mantiveram os equipamentos desligados temporariamente ou não
informaram imediatamente a ocorrência de problemas técnicos.

Registra-se ainda que a utilização do equipamento comporta determinado nível de


subjetividade e a requerente acaba o utilizando conforme sua própria avaliação de
necessidade.

Esses fatores indicam a necessidade da equipe responsável pelo acompanhamento às


requerentes ter acesso a relatórios periódicos de funcionamento dos dispositivos para que
as intervenções possam ser focadas também nas possíveis dificuldades de utilização dos
equipamentos. Um sistema informatizado de acesso a esses dados favoreceria esse
acompanhamento. Indicam ainda a necessidade de se estabelecer critérios mais rígidos
para a permanência com os dispositivos – prazos determinados que podem ser ampliados
mediante avaliação técnica.

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10.4 Considerações finais

O Projeto Experimental Botão do Pânico tem contribuído para que as mulheres detentoras
de medidas protetivas se sintam mais seguras e tenham um atendimento policial, pela
Guarda Municipal de Vitória, mais ágil em caso de descumprimento de medidas
protetivas. Trata-se de um instrumento auxiliar na fiscalização das medidas de proteção
concedidas.

Do acompanhamento realizado às mulheres, há relatos de que o Botão do Pânico tem


sido significativo para suas vidas e que causou reações positivas na comunidade.
Requerentes citam o fato de que após o recebimento do dispositivo muitos requeridos se
afastaram definitivamente, passando a cumprir sistematicamente a medida.

Sabe-se que o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher é tarefa


de todos os poderes públicos. Nesse sentido, o dispositivo configura-se em mais um
instrumento de proteção dentro do universo jurídico da Lei Maria da Penha, o que não
exclui todas as outras ações necessárias para a garantia da proteção integral às mulheres
vítimas de violência doméstica e familiar.

A partir do processo de acompanhamento realizado é possível dizer que tal experiência


tem sido importante, na medida em que se configura em uma estratégia de ampliação dos
mecanismos de proteção à mulher. No entanto, é necessário que processos sistemáticos
de avaliação possam ser implementados visando a identificação de possíveis impactos
sobre a frequência da violência doméstica em Vitória/ES.

Vitória, 06 de Agosto de 2015.

Equipe Multidisciplinar

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