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ANEXO I

ORIENTAÇÕES GERAIS

1ª ETAPA – FASE DE DENÚNCIA E/OU NOTIFICAÇÃO ÀS AUTORIDADES


COMPETENTES:

TODOS TÊM O DEVER DE NOTIFICAR OS CASOS DE SUSPEITA OU


CONFIRMAÇÃO DE MAUS TRATOS ENVOLVENDO CRIANÇA OU
ADOLESCENTE:
Segundo os artigos 4º e 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, é dever da
família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos da criança e adolescente, sendo punido na forma da lei,
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
O art.13 do ECA postula que “os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos
contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da
respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais”.
De acordo com o art. 245 do ECA, constitui-se ainda infração administrativa, deixar o
médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus tratos contra criança ou
adolescente.
Assim sendo, todo e qualquer cidadão que tenha conhecimento de situação que possa
configurar suspeita ou confirmação de abuso sexual contra criança ou adolescente, tem o dever
de comunicar o caso às autoridades competentes.
Nos casos de violência sexual, o atendimento deverá incluir exames, medidas
profiláticas contra infecções sexualmente transmissíveis, anticoncepção de emergência,
orientações, quando houver necessidade, além da coleta, da identificação, da descrição e da
guarda de vestígios.

1- FLAGRANTE
Se ocorrer flagrante da situação de abuso ou violência sexual, segundo o art. 301 do
CPC, qualquer pessoa pode prender quem se encontre em flagrante delito e/ou comunicar o fato
às autoridades policiais ou aos seus agentes (polícia civil, militar, etc.) que têm o dever legal de
efetuar a prisão em flagrante, sob pena de responder criminal e administrativamente pelo
descaso.

2- VERIFICAÇÃO DE ATENDIMENTO ESPECIALIZADO DE SAÚDE:


Deve ser verificada a necessidade de pronto atendimento médico da vítima em unidade
de saúde, sabendo-se que a urgência do atendimento em determinados casos é vital para sua
saúde e integridade da criança ou do adolescente.
Segundo informações prestadas por profissionais da área de saúde, o tempo necessário
para que seja feita a quimioprofilaxia das DST/AIDS é de até 72 horas após a ocorrência.
Mesmo ultrapassado este prazo, o caso deve ser encaminhado ao setor de saúde para
avaliação de outras medidas necessárias.
Assim sendo, a partir do conhecimento de situação que implique em suspeita ou
confirmação de violência sexual envolvendo criança ou adolescente, o notificante, além de
comunicar o caso ao Conselho Tutelar, deve verificar a necessidade de avaliação e atendimento
médico, encaminhando o caso imediatamente para a rede de atendimento do Sistema Único de
Saúde – SUS. Tal unidade efetuará o atendimento em conformidade com os procedimentos
elencados no Decreto nº 7.958, de 13/03/13 da Presidência da República, que estabelece
diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual pelos profissionais de segurança
pública e da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde, e pela Portaria nº 485, de
01/04/14, que redefine o funcionamento do serviço de atenção às pessoas em situação de
violência sexual no âmbito do Sistema Único de Saúde.

3-PROCEDIMENTO DE DENÚNCIA E/OU NOTIFICAÇÃO:

A denúncia ou notificação da suspeita de violência sexual pode ser anônima ou


declarada.

Em caso de denúncia anônima: esta pode ser feita por telefone para o disque 100, disque
125 ou disque 127. Esta será encaminhada para averiguação no Conselho Tutelar.

A denúncia declarada de suspeita de violência sexual pode ser feita:


a) por qualquer cidadão, obrigatoriamente junto ao Conselho Tutelar, conforme art.13 do ECA,
podendo também ser comunicada à Delegacia de Polícia e levado para atendimento no Serviço
Especializado no Sistema Único de Saúde (SUS), conforme Portaria nº 485/14 ou ainda no
Sistema de Assistência Social (SUAS – CREAS), serviço de referência no Atendimento às
Vítimas de Violência Sexual dada a leitura conjugada da Lei nº 8.742/1993, atualizada pela Lei
nº 12.435/2011 - Lei Orgânica da Assistência Social / LOAS, que dispõe sobre a organização da
Assistência Social no Brasil, da Resolução nº 109/2009, que efetua a tipificação Nacional dos
Serviços Socioassistenciais, da Resolução nº 33/12- Norma Operacional Básica do Sistema
Único de Assistência Social - NOB/SUAS e da Resolução nº 01/2007 – Norma Operacional
Básica de Recursos Humanos - NOB RH/SUAS.
b) por profissionais e responsáveis pela área de saúde ou de educação, devendo ser feita
obrigatoriamente ao Conselho Tutelar, conforme art. 13 do ECA, havendo pena prevista para a
não comunicação dos casos aos órgãos de proteção, conforme art. 245 do ECA; devem ainda
preencher ficha de notificação compulsória para a coordenação de epidemiologia do sistema de
saúde a fim de que se obtenham registros fidedignos sobre as situações de maus tratos, cujo
procedimento está respaldado pela Portaria nº 1.968/2001 do Ministério da Saúde que
institucionalizou a notificação compulsória de maus tratos contra crianças e adolescentes
atendidos no SUS. A Secretaria de Vigilância à Saúde, reconhecendo tal demanda, editou
a Portaria nº 1271/14, que define a lista nacional de notificação compulsória de doenças,
agravos e eventos de saúde públicos aprovados em todo o território nacional e dispõe sobre as
violências doméstica e sexual.
c) Na hipótese de o profissional da educação identificar ou a criança ou adolescente revelar
atos de violência, inclusive no ambiente escolar, ele deverá: acolher a criança ou o
adolescente; informar à criança ou ao adolescente, ou ao responsável ou à pessoa de
referência, sobre direitos, procedimentos de comunicação à autoridade policial e ao conselho
tutelar; encaminhar a criança ou o adolescente, quando couber, para atendimento emergencial
em órgão do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha
de violência e comunicar o Conselho Tutelar.

A Ficha de Notificação Compulsória, deve ser preenchida em duas vias, sendo uma
encaminhada ao Conselho Tutelar e outra a Secretaria Municipal de Saúde (Coordenação de
Epidemiologia). A notificação ao Conselho Tutelar atende ao primordial propósito de acionar a
rede de proteção social, a fim de cessar as formas de abuso e restituir direitos ameaçados ou
violados. Por sua vez, a notificação no âmbito do Setor de Saúde permite a análise
epidemiológica dos casos, fornecendo subsídios para a organização dos serviços e a formulação
de políticas públicas de saúde.

2ª ETAPA - PROVIDÊNCIAS NO ÂMBITO DO CONSELHO TUTELAR:


Ao tomar conhecimento do caso de suspeita e/ou confirmação de violência sexual, seja
por qual canal for, o Conselho Tutelar deverá efetuar o registro do atendimento realizado, do
qual deverão constar as informações coletadas com o familiar ou o acompanhante da criança ou
do adolescente e aquelas necessárias à aplicação da medida de proteção da criança ou do
adolescente. Deverão ser verificadas se as providências da etapa anterior foram tomadas, ou
seja, se ocorreu notificação à epidemiologia e se o caso foi ou deve ser encaminhado para
atendimento especializado de saúde e/ou comunicado à Delegacia de Polícia.
Após avaliação preliminar, três hipóteses são possíveis:
a) verificação de ausência de elementos que confirmem a suspeita de abuso sexual. Nesse caso,
breve relatório será efetuado e o caso será arquivado. Periodicamente, os casos arquivados
deverão ser comunicados ao Ministério Público da Infância e da Juventude. Caso não tenha
ocorrido registro do caso na Delegacia de Polícia e a família assim o desejar, deverá ser
encaminhada para tal pelo Conselheiro;
b) no caso de obtenção de elementos suficientes conclusivos sobre a ocorrência de abuso, a
notícia de fato e relatório do caso deverão ser encaminhados à Promotoria da Infância e
Juventude, bem como à Promotoria de Investigações Penais e à Delegacia de Polícia,, conforme
art. 136 do ECA. O caso também será encaminhado ao serviço de atendimento especializado do
SUAS (CREAS) ou SUS, conforme art. 87 III do ECA para atendimento e acompanhamento
das medidas necessárias junto à rede de proteção do Município.
c) no caso de plausibilidade da suspeita, porém, sem confirmação, o caso deverá ser
encaminhado para o serviço de atendimento especializado NAPE – Núcleo de Atendimento
Psicológico Especializado- Infanto Juvenil para aprofundamento da avaliação devendo o fato
também ser encaminhado à Promotoria da Infância e Juventude, à Promotoria de Investigações
Penais e à Delegacia de Polícia, conforme art.136 do ECA. Medidas preliminares de proteção
poderão ser tomadas de modo cautelar conforme art. 101, I a VII do ECA.
Após retorno da escuta especializada realizada pelo NAPE – Núcleo de Atendimento
Psicológico Especializado- Infanto Juvenil, esta instruirá o procedimento, devendo-se verificar
junto a este serviço as providências tomadas para atendimento da criança ou adolescente, pais
ou responsável e suposto abusador, conforme art. 101 e 136 do ECA, certificando-se que a
escuta especializada seguiu para o Ministério Público da Infância e da Juventude e Delegacia
de Polícia.
Nada mais havendo e tendo ocorrido a transferência do caso para a esfera judicial, este
será arquivado no Conselho Tutelar.

3ª ETAPA - PROVIDÊNCIAS NO ÂMBITO DO SERVIÇO DE ATENDIMENTO


ESPECIALIZADO DO SUAS – CREAS – PARA CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
(Resolução nº 109/2009)
O CREAS é o serviço responsável pelo atendimento, avaliação e acompanhamento dos
casos de crianças e/ou adolescentes envolvidos em situação de suspeita ou confirmação de
violência sexual.
Conforme Resolução 01/2007– Norma Operacional Básica de Recursos Humanos -
NOB RH SUAS, o CREAS é referência para o serviço de Proteção Social Especial de Média
Complexidade e, de acordo com a Lei nº 12.435/2011 é a unidade pública de abrangência e
gestão municipal, estatal ou regional que tem como função atender a famílias e indivíduos em
situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou contingência, que demandam
intervenções especializadas de proteção social especial.
A Resolução nº 109/2009 estabelece que os usuários de tal serviço são famílias e
indivíduos que vivenciam violações de direitos por ocorrência de: violência física, psicológica e
negligência; violência sexual (abuso sexual e/ou exploração sexual); afastamento do convívio
familiar devido à aplicação de medida socioeducativa ou medida de proteção, dentre outros.
A demanda poderá, então, ser proveniente de vários setores: do Conselho Tutelar, do
Sistema de Saúde, de outros segmentos da Assistência Social, do Ministério Público, ou de
outro segmento não citado anteriormente.
Assim, quando o caso não for proveniente do Conselho Tutelar, o CREAS deverá tomar
as medidas constantes da etapa I, comunicando a situação ao Conselho Tutelar.
O acompanhamento especializado de crianças e adolescentes em situação de violência
e de suas famílias será realizado preferencialmente no Centro de Referência Especializado de
Assistência Social - Creas, por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a
Famílias e Indivíduos, em articulação com os demais serviços, programas e projetos do Suas.
Deverá também proceder à escuta especializada, na forma dos artigos 19 a 21 do
Decreto 9603 de 10 de dezembro de 2018 do caso em consonância com as Orientações
Técnicas: CREAS, publicada pela Secretaria Nacional de Assistência Social. Esta escuta
qualificada será encaminhada ao Ministério Público, Conselho Tutelar e para Autoridade
Policial para instruir os procedimentos de defesa de direitos das crianças e adolescentes, bem
como a outros órgãos do sistema de defesa e responsabilização, resguardando-se o que dispõem
os códigos de ética e as orientações dos respectivos conselhos das categorias profissionais
(Orientações Técnicas do CREAS; Referências técnicas para atuação de psicólogos nos Centros
de Referência Especializado de Assistência Social/CREPOP – CFP/2009; Código de Ética do
Psicólogo; Código de Ética do/a Assistente Social, etc.).
Realizada a escuta qualificada, serão identificadas as demandas e especificidades de
cada situação (atendimentos individuais, familiares e em grupo, orientação jurídico-social,
visitas domiciliares, etc.), realizando-se um Plano de Acompanhamento que norteará as medidas
de atendimento continuado, bem como os encaminhamentos para serviços, programas e
benefícios da rede socioassistencial, das demais políticas públicas e órgãos de defesa de direito.
Estes acompanhamentos devem ser monitorados, verificando-se seus desdobramentos e
discutidos com outros profissionais da rede que atendam a família ou indivíduo. Poderão ser
encaminhados aos órgãos de defesa de direitos se estes entenderem serem válidos para instrução
dos processos e procedimentos.

4ª Etapa: OUTROS SEGMENTOS DO SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS

1-DELEGACIA DE POLÍCIA
Ao receber a notificação ou encaminhamento do caso de suspeita de violência sexual, a
Delegacia de Polícia efetua o registro e os procedimentos necessários para apuração das provas
cabíveis, instaurando um inquérito policial, podendo remeter a vítima para exame de corpo de
delito no setor médico legal do Posto Regional de Polícia Técnica Científica (PRPTC) se a
situação assim o exigir.
Havendo elementos considerados consistentes para responsabilização do agressor, o
inquérito é encaminhado para a Promotoria de Investigação Penal (PIP) para medidas judiciais
cabíveis, bem como para a Promotoria da Infância e Juventude, com vistas à promoção das
medidas protetivas necessárias às crianças e/ou adolescentes.

2-PROMOTORIA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE:


Ao receber notícia de fato que se configure como infração administrativa ou penal
contra os direitos da criança ou adolescente do Conselho Tutelar ou de outras vias, a Promotoria
de Justiça pode instaurar procedimentos administrativos ou sindicâncias, requisitar diligências
investigatórias, determinar a instauração de inquérito policial ou tomar outras providências para
apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção às crianças e adolescentes. A depender
dos elementos obtidos, propõe as medidas judiciais e extrajudiciais.
Em caso de recebimento de denúncia de outras fontes que não o Conselho Tutelar,
(denúncia anônima, por exemplo), o caso é encaminhado para o Conselho Tutelar
concomitantemente à Epidemiologia e à Unidade de Referência de Atendimento do SUS (DIP),
evitando-se superposição das ações.

3-VARA DA INFÂNCIA, DA JUVENTUDE E DO IDOSO


O Juízo toma as providências cabíveis ao caso, podendo encaminhá-lo à equipe técnica,
se necessário, para os devidos estudos, evitando-se a abordagem da criança ou do adolescente
no que se refere à revelação da alegada situação abusiva, uma vez que está já foi realizada pelo
CREAS.

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