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Direção Geral

Prof. Ms. Fernando Brandão


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Prof. Dr. Valtair Afonso Miranda
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Editores Matheus Ferreira
Prof. Dr. João Boechat
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Prof. Dr. Valtair Afonso Miranda
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Coordenação Editorial Profa. Cláudia Luiza Boechat Pires de
Profa. Esp. Sandrianne Gripp Profa. Esp. Almeida Sales
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Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem,


necessariamente, a opinião da Instituição e seu Conselho Editorial.
Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro,
SP, Brasil)
Machado, Maria Celeste Castro
Língua portuguesa / Maria Celeste Castro
Machado. -- 1. ed. -- Rio de Janeiro :
Faculdade Batista do Rio de Janeiro ;
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
2021.

Bibliografia.
ISBN 978-65-80268-02-3

1. Português - Estudo e ensino I. Título.

21-66720 CDD-469.07

Índices para catálogo sistemático:

1. Português : Estudo e ensino 469.07


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Brasil

APRESENTAÇÃO
Todo aprendizado é um processo, um caminho a ser percorrido.
Ao trilhar esse caminho sobre um determinado assunto, não apenas
torna o indivíduo mais informado, como o torna capaz de conhecer e
analisar a si mesmo. Contudo, esse conhecimento não tem por objeti
vo incitar críticas vazias, seja sobre si mesmo, sobre o outro ou sobre
o mundo, mas transformar esse indivíduo em todos os níveis. Assim,
o estudo e o aprendizado não são instrumentos de julgamento ou de
crítica vazia, mas de transformação.
A fim de contribuir para a capacitação do indivíduo, este material
visa introduzir o estudo da Língua Portuguesa. Foi produzido pela
professora MARIA CELESTE DE CASTRO MACHADO.
Esperamos que este espaço virtual seja um espaço de discussão,
leitura e produção de textos em Língua Portuguesa.
Nosso desejo é que este material desperte em você a necessidade
de buscar, cada vez mais, conhecimento acerca de nossa língua mãe,
o que nos permite maior e melhor comunicação com a sociedade na
qual estamos inseridos; que ao prosseguir nesse caminho, você co
nheça também mais sobre Deus, e, desse modo, você consiga trans
formar o seu entendimento sobre você mesmo, sobre o outro, sobre
o mundo e sobre Deus. Dessa forma, terá aprendido com o próprio
Deus enquanto esteve entre nós: “A vida eterna é esta: que te conhe
çam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem en
viaste” (João 17:3).
Atenciosamente,
Prof. João Boechat
Coordenador Geral do EAD – FABAT / Seminário do Sul

Sumário
APRESENTAÇÃO .................................................................................. 3

CAPÍTULO 1 – PORTUGUÊS PADRÃO...............................................


13 1.1 Contexto cultural e comunicação oral na comunidade de
fala.. 13 1.2 A língua como fenômeno cultural
............................................... 14 1.3
Ortografia...................................................................................... 15
1.4 Acentuação Gráfica ......................................................................
16 1.5 Uso da Crase
................................................................................. 17

1.5.1 Substituir o feminino pelo masculino ................................


17 1.5.2 Substituir a por
para............................................................. 18 1.5.3 Frases com
verbos chegar, voltar e retornar....................... 18 1.5.4 A Crase e a
palavra casa ....................................................... 19 1.5.5 A Crase e
os Pronomes Demonstrativos.............................. 19 1.5.6 A Crase
em À Que e À Qual ................................................... 20 1.5.7 A
Crase em À Tarde e À Noite................................................ 20 1.5.8
Crase e os Numerais ............................................................. 21
1.5.9 A Crase e os Dias da Semana................................................
21

1.5.9.1 Com a Preposição DE ............................................... 21 1.5.10


Não use a crase................................................................... 21 1.6
Ortoépia e Prosódia ..................................................................... 22
1.7 Problemas gerais da língua padrão.............................................
23

5
1.7.1 Que e Quê..............................................................................
24 1.7.2 Mas e
Mais............................................................................. 24 1.7.3
Onde, Aonde e Donde .......................................................... 24
1.7.4 Mal e Mau ..............................................................................
25 1.7.5 A par e Ao
par........................................................................ 25 1.7.6. Ao
encontro de e De encontro a.......................................... 25 1.7.7
Há e A na expressão de tempo............................................. 25
1.7.8 Acerca de, A cerca de e Há cerca de.....................................
26 1.7.9 Afim e A fim de
...................................................................... 26 1.7.10 Senão e Se
não ................................................................... 26 1.7.11. Nós
viemos e Nós vimos.................................................... 27 1.7.12
Torcer por e Torcer para ..................................................... 27
1.7.13 Desencargo e Descargo ......................................................
27 1.7.14 Sentar-se na mesa e Sentar-se à
mesa.............................. 27 1.7.15 Tilintar e
tiritar.................................................................... 28 1.7.16 Ao invés
de e Em vez de ..................................................... 28 1.7.17 Estadia
e Estada.................................................................. 28 1.7.18 A
domicílio e Em domicílio................................................. 28 1.7.19
Estágio e Estádio................................................................. 29
1.7.20. Perca e Perda .....................................................................
29 1.7.21 Despercebido e
Desapercebido......................................... 29 1.7.22 Escutar e
Ouvir.................................................................... 30 1.7.23 Olhar e
Ver........................................................................... 30 1.7.24 Haja
vista e Hajam vista ..................................................... 30

6
CAPÍTULO 2 – ACORDO ORTOGRÁFICO...........................................
31 2.1
Alfabeto......................................................................................... 31
2.2 Acentuação...................................................................................
31
2.2.1 Trema ................................................................................... 31
2.2.2 Acento Diferencial ................................................................
31 2.2.3 Acento Diferencial
................................................................ 32 2.2.4 Acento
Circunflexo . ............................................................ 32 2.2.5 Acento
Circunflexo .............................................................. 32 2.2.6
Ditongos Abertos .................................................................. 32
2.2.7 I e U Tônicos Formando Hiato .............................................
33
2.3 O Uso do Hífen.............................................................................. 33
2.3.1 Casos COM a presença do hífen........................................... 34
2.3.2 Casos SEM a presença do hífen............................................
36

CAPÍTULO 3 – PONTUAÇÃO.............................................................. 39
3.1 Sinais de pontuação: algumas particularidades ........................
41 3.1.1 Ponto..................................................................................... 41
3.1.2 Ponto Final............................................................................ 42
3.1.3 Aspas..................................................................................... 42
3.1.4 Parênteses ............................................................................ 42
3.1.5 Travessão ............................................................................. 43
3.1.6 Asterisco ............................................................................... 44
3.1.7 Ponto e Vírgula ..................................................................... 45
3.1.8 Os Dois Pontos ..................................................................... 46

7
3.1.9 Reticências............................................................................
46 3.2 Observações
................................................................................. 48 3.3 Uso da
Vírgula............................................................................... 49

3.3.1 Regras Gerais de Uso da Vírgula ..........................................


49 3.3.2 Vírgula no período simples
.................................................. 52 3.3.3 Vírgula no período
composto .............................................. 53 3.3.4 A vírgula e os
conectores conclusivos e adversativos ........ 53 3.3.5 Não use a
vírgula .................................................................. 54

3.4 Pontuação e Conotatividade .......................................................


54 3.4.1 Ponto-de-exclamação .........................................................
54

CAPÍTULO 4 – MORFOLOGIA ............................................................ 56


4.1 Sistema Flexional da Língua Portuguesa - Classes de Palavras Va
riáveis..................................................................................................
56
4.1.1 Substantivo...........................................................................
56 4.1.1.1 Classificação dos
Substantivos................................ 57 4.1.1.2 Flexões dos
substantivos ......................................... 57

a) Número..........................................................................
57 a.1 Plural com alteração de timbre da vogal tônica
... 57 a.2 Substantivos de um só número
............................. 58

b) Gênero .......................................................................... 58 b.1


Mudança de sentido na mudança de gênero........ 58 c) Valor das
formas aumentativas e diminutivas ............. 58 4.1.2 Adjetivos
............................................................................... 59

8
4.1.2.1 Comparativos e Superlativos Anômalos .................
59 a.1 Observações
........................................................... 60 a.2
Substantivação do adjetivo.................................... 60
a.3 Locução adjetiva.....................................................
61 a.4 Especificidades do adjetivo
................................... 61 a.5 Flexões dos Adjetivos
............................................. 62
a.5.1 Número .......................................................... 62 a.5.2 Plural
dos adjetivos compostos .................... 62 4.1.3
Pronomes.............................................................................. 63
4.1.3.1 Pronomes substantivos e pronomes adjetivos....... 63
4.1.3.2 Pronomes PESSOAIS ............................................... 63 a.1
Formas dos pronomes pessoais ............................ 64 a.2 Formas
O, LO e NO do pronome oblíquo .............. 65 a.3
Observação............................................................. 66 a.4
Equívocos e incorreções......................................... 66 a.5 Pronome
átono com valor possessivo................... 66 4.1.3.3 Pronomes
demonstrativos ...................................... 67 a.1 Valores gerais dos
Pronomes Demonstrativos...... 67 a.2 Alusão a termos
PRECEDENTES............................. 68 4.1.3.4 Pronomes RELATIVOS
.............................................. 68 a.1 Formas dos Pronomes
Relativos ........................... 68 4.1.3.5 Pronomes INTERROGATIVOS
.................................. 70 4.1.4 Numerais
.............................................................................. 71 4.1.4.1
Cardinais .................................................................. 71

9
4.1.4.2 Ordinais ................................................................... 72
4.1.4.3 Multiplicativos ..........................................................
72 4.1.4.4 Fracionários .............................................................
73
4.1.5 Verbos ...................................................................................
73 4.1.5.1 Classificação dos verbos
.......................................... 73 4.1.5.2 Flexões do
verbo....................................................... 74 4.1.5.3 Número
do verbo...................................................... 74 4.1.5.4 Pessoa
do verbo........................................................ 75 4.1.5.5 Modo
do verbo.......................................................... 75 4.1.5.6
Formas Nominais do verbo...................................... 75
4.1.5.7 Tempo do verbo........................................................
75 4.1.5.8 Voz do verbo
............................................................. 77
a) Como praticado pelo sujeito ........................................
77 a.1 Voz
Ativa.................................................................. 77 a.2Voz
passiva............................................................... 78
a.3Voz reflexiva.............................................................
78
b) Aspectos ........................................................................ 79
4.1.5.9 Emprego de Tempos e Modos Verbais e sua adequa
ção na comunicação oral e escrita ......................................
79
a) Emprego de Tempos do Modo Indicativo ....................
79 a.1 Observações
........................................................... 79 a.2 Pretérito
perfeito ................................................... 80 a.3 Pretérito
Composto ............................................... 80 a.4
Pretérito mais-que-perfeito (simples e composto) . 80

10
a.5 Futuro...................................................................... 81 b)
Emprego de Tempos do Modo Subjuntivo................... 81
4.1.5.10 Emprego das formas nominais ............................. 81
4.2 Sistema Flexional da Língua Portuguesa – Classe de Palavras In
variáveis..............................................................................................
84
4.2.1 Advérbios ............................................................................. 84

CAPÍTULO 5 – LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS................


87 5.1 Leitura de Textos com várias
Linguagens.................................... 87 5.1.1 Leitura em diversos
poemas................................................ 87 5.1.2 Textos
.................................................................................... 89 CAPÍTULO 6 –
INTEXTUALIDADE...................................................... 94 6.1 Práticas
de Comunicação ............................................................ 94 6.2 Como
realizar a intertextualidade ............................................... 95 6.3 Tipos
de intertextualidade........................................................... 96 6.4
Intertextualidade sob várias modalidades ................................. 97
6.5 Exemplos em Diversos Textos...................................................... 97
6.2 A intertextualidade no texto bíblico ..........................................
101 6.2.1 Intertextualidade Stricto Sensu.........................................
110 6.2.1.2 Intertextualidade estilística ................................... 112
6.2.1.3 Intertextualidade Explícita..................................... 113 6.2.1.4
Intertextualidade implícita .................................... 114 6.3 Textos e
recursos estilísticos adequados ao uso literário ........ 116 6.3.1
Intertextualidade estilística – recursos e considerações .. 116
6.3.2 Recursos e considerações - leitura de figuras de linguagem..
......................................................................................................
120
6.4 Coesão, Coerência e Intertextualidade .....................................
123 6.4.1 Coesão ................................................................................
123 6.4.1.1 Mecanismos de Coesão.......................................... 125
6.5 Integração entre o Estudo da Língua e o Desenvolvimento de Ha
bilidades na Produção Textual ....................................................... 129
6.5.1 Construção da Competência Textual ................................ 129
6.5.2 Produção de texto .............................................................. 139
6.6 O Conceito de Gênero e Tipos de Texto.....................................
140 6.6.1 Tipos de textos....................................................................
140 6.6.2 Os Gêneros de Textos .........................................................
141 6.7
Metáfora...................................................................................... 142
6.7.1 abordagem conceitual sobre a metáfora .......................... 142
6.7.2 A Importância da Metáfora na Linguagem Bíblica............ 143
6.7.3 A natureza associativa do processo metafórico................ 147

CONCLUSÃO.....................................................................................
148 REFERÊNCIAS
.................................................................................. 149
APÊNDICE.........................................................................................
153 EXERCÍCIOS PARA REVISÃO DOS
CONTEÚDOS............................ 153
FORUNS............................................................................................
229

CAPÍTULO 1
PORTUGUÊS PADRÃO
1.1 Contexto cultural e comunicação oral
na comunidade de fala
A língua pertence a um contexto cultural; apropria-se à comunica
ção entre os falantes, tanto oral quanto escrita.
As comunidades de falantes refletem a sociedade que constituem,
com sua cultura, características, preferências dialetais e léxicas. Des
se modo, cada povo se torna reconhecido pela língua que fala e esta,
por sua vez, reflete as qualidades dos que a falam.
As condições sociais inferem no modo como os povos falarão
como usarão seu idioma. Assim, como totalidade, cada língua tem
suas características e cada indivíduo terá sua maneira de empregar
uma mesma linguagem comum. Como a estrutura social pode
influenciar a estrutura da língua, conclui-se que os valores sociais do
povo exer cem influência e determinam efeitos sobre a língua.
Há muito tempo, pesquisadores do mundo todo estudam as lín
guas e seu comportamento variável. Quando uma pessoa, um de
terminado grupo ou até uma comunidade falam diferente, essa di
ferença suscita a preocupação em se compreenderem as razões que
influenciam essa variação na fala espontânea. Esse fato possibilita
uma linha divisória que separa a forma mais aceita na sociedade, pre
ferida na escola e no âmbito profissional, da forma que foge às nor
mas gramaticalizadas.
As relações sociais que reúnem e integram pessoas e grupos nas
cem na vivência do cotidiano coletivo. A partir da singularidade das

13
situações do dia-a-dia, configuram-se as interfaces que aproximam
as partes comunicativas e a formação social da realidade, e que se
instalam na subjetividade individual para aflorar na unificação do
senso comum.

1.2 A língua como fenômeno cultural


Um dos principais fatores que contribuem para a variação linguís
tica é a condição social e econômica à qual o indivíduo é exposto.
No passado, foi útil considerar que tais normas eram invariantes
e compartilhadas por todos os membros da comunidade linguística.
Todavia, as análises do contexto social em que a língua é utilizada
vieram demonstrar que muitos elementos da estrutura linguística es
tão implicados na variação sistemática que reflete tanto mudança no
tempo quanto os processos sociais extralinguísticos.
Não é novidade que todas as línguas estão em processo constante
de variação. Do ponto de vista conceitual, as ocorrências reportam
ao fenômeno no qual uma língua, na prática corrente, modifica-se
numa época, lugar ou grupo social, fornecendo seu objeto à
gramática his
tórica, à geografia linguística e à dialetologia, bem como à variação
social da qual trata a sociolinguística.
É também por meio do processo de comunicação que os indiví
duos aprendem sua função social e adquirem sua identidade cultu
ral. Ao nascer, o indivíduo é inserido num contexto socioeconômico
cultural pré-existente e, à medida que cresce, participa de um proces
so de socialização que o transforma num falante de uma
determinada variedade da língua, sob influência do meio social em
que vive.
Assim, os indivíduos aprendem sua função social e adquirem sua
identidade cultural por meio do processo de comunicação, o qual
seleciona os diversos comportamentos do indivíduo: o que ele fala,
onde, em que momento e como diz. Durante a fala, portanto, sua es-

14
trutura social é reforçada, formando, assim, a identidade cultural pe
culiar do indivíduo, visto que seu modo de falar é identificado com a
maneira de viver do grupo social e da localidade onde mora.
A mudança na língua ocorre mediante a observação do compor
tamento linguístico dos falantes de diversas faixas etárias. É possível
também constatar diferenças entre a linguagem dos idosos e dos ado
lescentes, por meio das quais é possível diagnosticar se uma dada va
riação ocorre em um desses períodos da vida. Também o gênero do
indivíduo pode acarretar variações linguísticas.
A maioria das pesquisas aponta, ainda, a influência do nível esco lar
do falante como condicionador bastante relevante, o que já é de se
esperar, uma vez que a norma-padrão é mais ensinada nas escolas.
Partindo do princípio de que a inclusão dos gostos, normas, pa
drões estéticos e morais, diante das normas estabelecidas para a
fala e a escrita, contribui para a ocorrência de mudanças de quem
frequenta uma escola, fenômenos encontrados na concordância, na
regência e no discurso (e fala) são cada vez mais aparentes nas si
tuações em que se prefere uma categoria de prestígio estigmatizada.
Portanto, os membros de uma comunidade da fala podem possuir
um repertório linguístico que está propício à variação, dependendo
do nível escolar que possuem.
A maneira como se fala, o sotaque e os costumes fazem com
que a região do falante seja reconhecida em qualquer espaço geo
gráfico

1.3 Ortografia
Como se depreende do título, esta unidade busca solidificar a efi
ciência do aluno no uso adequado da forma escrita do nosso
idioma.
Embora os linguistas e estudiosos considerem mais importante o
aspecto comunicativo da língua, é necessário que a eficiência da

15
mensagem retrate uma forma padrão, a fim de melhor permitir a sua
compreensão pelo receptor.
Muitos são os detalhes envolvidos no tema, desde a escolha da
correta letra, passando pelas acentuações e a boa forma da palavra,
evitando-se o problema da homonímia, da paronímia, da ambigui
dade. Comunicar bem é, em última análise, construir corretamente a
mensagem a ser transmitida.
Assim, é necessário que passemos vistas atentas por todas as ins
tâncias que constroem a mensagem escrita.

1.4 Acentuação Gráfica


A acentuação gráfica tem fundamental importância na distinção
das palavras, em uma mensagem escrita.
Por exemplo, o clássico trio “sábia, sabia e sabiá” se ressentiria
muito, caso o sinal gráfico agudo não estivesse presente, distinguin
do o significado do que se quis dizer.
O sistema de escrita regula-se por princípios etimológicos e gra
maticais, respeitando-se o compromisso entre a tradição oral e a his
tória das palavras da língua em estudo.
Não esqueçamos, também, que ortografia única obriga a uma in
flexão única, a uma ortografia idêntica.
Normalmente, em português, as sílabas acentuadas são também
tônicas, dentro daquela palavra. Outra percepção tem a ver com o
fato de que o acento agudo faz o timbre aberto da vogal, enquanto o
acento circunflexo torna a vogal com timbre fechado. É o caso, por
exemplo, do verbo poder, na 3ª pessoa do singular: presente do indi
cativo ‘pode’ e pretérito perfeito ‘pôde’.
De acordo com a sílaba tônica, sendo ela acentuada graficamente
ou não, a palavra pode ser classificada como, oxítona, paroxítona ou

16
proparoxítona, bem como poderão ser átonos ou tônicos, os monos
sílabos.

1.5 Uso da Crase


Um dos aspectos gramaticais mais simples de se entender e mais
complexos de se empregar, na prática, é a correta aplicação do sinal
gráfico da crase.
Quando pensamos no tema, é necessário lembrar que ele envol
ve os conceitos sintáticos de Regência Nominal e Verbal, pois a cra se
existirá quando nomes e verbos forem regidos por complementos
que exigirem a preposição A em seu início.
O sinal da crase corresponde à união do A preposição com um a ar
tigo feminino, ou a do pronome demonstrativo conveniente ao termo
eleito na escrita.
Por exemplo:
A – O sol é indispensável à fotossíntese.
Indispensável a (preposição) + a (artigo feminino) fotossíntese;
en tão: a + a = à
B – Ele se refere à própria mãe.
Se referiu a (preposição) + a (artigo feminino) própria mãe: a + a = à
No exemplo A temos um caso de Regência Nominal, enquanto no
exemplo B temos a Regência Verbal.
O bom uso da crase é primordial para o correto entendimento das
mensagens que se quer transmitir.

1.5.1 Substituir o feminino pelo masculino


Ao substituir o feminino pelo masculino, obtendo o resultado AO,
antes do vocábulo feminino deverá ocorrer a crase (À)

17
Por exemplo:
Tenho respeito à atividade que realiza. (AO trabalho)
Agimos favoravelmente à médica plantonista. (AO
médico) Temos aversão à violência. (AO vício)

1.5.2 Substituir a por para


Ao substituir A PARA = A / A PARA A = À
Por exemplo:
Naquela ocasião, todos se dirigiram a casa.
(PARA) Os inspetores dirigiram-se à delegacia.
(PARA A)
Resolvemos ir à Inglaterra. (PARA A)

1.5.3 Frases com verbos chegar, voltar e retornar

CHEGAR vim de = A

• Frases com os verbos


VOLTAR VIR
RETORNAR vim da = À

Por exemplo:
As duas moças foram à fazenda. (vim da)
Ao chegarmos a Fortaleza, sentimos uma grande alegria. (vim
de) Ao chegarmos à Fortaleza de Alencar, ficamos felizes. (vim
da) Todos retornamos a Recife. (vim de)
Todos retornaram à encantadora Recife. (vim da)
Voltamos a Brasília. (vim de)
Voltamos à Brasília de JK. (vim da)

18
1.5.4 A Crase e a palavra casa
Determinada = À
Por exemplo: Dirigiu-se à casa do amigo / velha / verde / assom
brada
Sem determinante = A
Por exemplo: Resolvi retornar a casa a fim de apanhar alguns
per tences.

1.5.5 A Crase e os Pronomes Demonstrativos


Aquele (s) Àquele à A esse
Aquela (s) Àquela à A essa
Aquilo Àquilo à A isso
Exemplos:
Fiz alusões àquele poeta. (a esse / ao)
Refiro-me àquela senhora. (a essa / ao senhor)
Não mais obedeço àquilo. (a isso, ao preceito)

1. Complete com aquele(s), àquele(s), aquela(s), àquela(s), aquilo,


àquilo:
a) Nem todos os diretores da empresa estavam presentes .................
acontecimento.
b) Não se esqueçam de entregar os documentos ..................... funcio
nário.
c) Ninguém se referiu ..................... moças.

19
1.5.6 A Crase em À Que e À

Qual À QUE = AO QUE

A crase em
À QUAL = AO
QUAL
Exemplos:

A sua atitude é semelhante à que tive ontem (AO QUE) A


jovem à qual fiz referência foi muito aplaudida (AO QUAL)

2. Utilize a crase, quando necessário, antes dos relativos QUE e


QUAL:
a) Aquela é a empresa .......................qual sempre fiz
elogios. b) A sua ideologia é semelhante ................. que
usei outrora.
c) A empresa ....................... qual me convidou para ministrar o curso
é muito competente e organizada.
d) A ideia .....................que fiz referências não foi essa.

1.5.7 A Crase em À Tarde e À Noite

• A crase em à tarde = durante a


à noite = durante a

Exemplos:
Todos resolveram sair à tarde (durante a tarde)
Nós iremos à festa à noite (durante a noite)

20
3. Observe os vocábulos tarde e noite e verifique se o uso da crase
faz-se necessário:
a) _______ noite traz no rosto sinais de quem tem chorado muito.
b) Aquele nosso amigo nos disse que deveríamos voltar _____ tarde,
pois _____ noite teria que sair.

1.5.8 Crase e os Numerais


a) Antes de horas.
Ex.: As aulas iniciarão às quinze horas.
b) Antes de ordinais femininos.
Ex.: Os alunos da primeira à quarta série deverão se dirigir ao
pátio. c) Na omissão de um vocábulo feminino.
Ex.: Leio o livro da página 5 à 20. (à página 20)

1.5.9 A Crase e os Dias da Semana


Ex.: As nossas reuniões serão realizadas apenas às segundas-feiras.

1.5.9.1 Com a Preposição DE


A preposição DE antes do vocábulo = A sem crase
Ex.: De segunda a sexta estaremos aqui.
1.5.10 Não use a crase
1. Antes de vocábulos masculinos. Ex.: Graças a
Deus. 2. Antes de verbo. Ex.: Ficou a cantar.
3. Em palavras repetidas. Ex.: Dia a dia

21
4. Antes dos pronomes relativos QUEM e CUJO
5. Antes dos oblíquos tônicos MIM, TI, SI, ELE(s), ELA(s), NÓS, VÓS
6. Antes de alguns indefinidos TUDO, TODO(s), TODA(s), NADA,
ALGO, NINGUÉM, ALGUÉM
7. Antes de alguns demonstrativos ESSE(s), ESSA(s), ISTO, ISSO
8. Antes dos tratamentos VOSSA SENHORIA, VOSSA EXCELÊNCIA,
VOCÊ, VOSSA EMINÊNCIA...

1.6 Ortoépia e Prosódia


Segundo Evanildo Bechara, ORTOÉPIA é a parte da gramática que
estuda a correta pronúncia dos fonemas de uma língua.
Ela se preocupa com o ritmo, a entonação, a expressão adequada,
a pronúncia das palavras (BECHARA, 1999, p. 571).

O filme My Fair Lady, baseado no mito de Pigmaleão, retrata muito bem


essa dificuldade. A vendedora de flores, naturalmente iletrada, é educa
da por um filólogo para aprender a pronunciar, com perfeição, as pala
vras em inglês mais que perfeito. Daí redunda toda a trama amorosa da
história. Seria interessante assistir à obra, estrelada por Rex Harrison e
Andrey Hepburn.

PROSÓDIA é o estudo e a correta identificação do conhecimento


da sílaba tônica das palavras.
A sílaba é um fonema, ou um grupo de fonemas, emitidos em uma
só emissão vocal, em um mesmo impulso respiratório. Nesse assun
to, a grande dificuldade é a identificação das sílabas que são átonas
e das que são tônicas.
As átonas poderão ser pretônicas ou postônicas. Tal dificuldade
pode acarretar equívocos na pronúncia das polissílabas, como no
exemplo de tardia x tardiamente. Como a sílaba “tar” fica muito dis-

22
tante da tônica, que é “men”, pode nascer um acento de menor inten
sidade, chamado secundário. Assim, é incorreto pronunciar “tardia
mente”.
Algumas palavras oferecem dúvidas quanto à posição de sua síla
ba tônica.
São oxítonas, embora não apresentem acento gráfico: mister, No
bel, ruim, sutil, ureter.
São paroxítonas, ainda que não acentuadas graficamente: Antio
quia, avaro, aziago, barbaria, edito, Epifania, exegese, filantropo, ibe
ro, necropsia, rubrica, por exemplo.
São proparoxítonas, entre outras: aríete, barbárie, cizânio, édito
(ordem judicial), etíope, habitat, ínterim, lêvedo, protótipo.
Algumas palavras admitem dupla prosódia: Dário ou Dario, hieró
glifo ou hieroglifo, homília ou homilia.

1.7 Problemas gerais da língua padrão


Dificuldades mais frequentes na escrita da língua
portuguesa.
Como consequência de sua própria história de formação, a nossa
língua mãe apresenta algumas dificuldades na grafia e na pronúncia,
bem como na correta elaboração dos nossos discursos.
Analisaremos algumas delas, que serão alvo dos exercícios corres
pondentes, a fim de aprendermos a evitar os equívocos tão frequen
tes.
A intenção desta parte é fixar a forma certa de algumas palavras e
expressões que sempre trazem dificuldades para o brasileiro em ge
ral.
Emprego de algumas palavras e expressões semelhantes:

23
1.7.1 Que e Quê
*Que é pronome, conjunção, advérbio ou partícula expletiva.
*Quê é um substantivo (com o sentido de “alguma coisa”),
interjei ção (indicando surpresa, espanto) ou pronome em final de
frase (ime diatamente antes de ponto final, de interrogação ou de
exclamação)
Ex.: Que você pretende, tratando-me dessa
maneira? Você pretende o quê?
Quê!? Quase me esqueço do nosso encontro.

1.7.2 Mas e Mais


* Mas é uma conjunção adversativa, de mesmo valor que “porém,
contudo, todavia, no entanto, entretanto”.
* Mais é um advérbio de intensidade, mas também pode dar ideia
de adição, acréscimo; tem sentido oposto a menos.
Ex.: Eu iria ao cinema, mas (porém) não tenho
dinheiro. Ela é a mais (menos) bonita da escola.

1.7.3 Onde, Aonde e Donde


* Onde significa “em que lugar”.
* Aonde significa “a que lugar”.
* Donde significa “de que lugar”.
Ex.: Onde (em que lugar) você colocou minha
carteira? Aonde (a que lugar) você vai, menina?
Donde (de que lugar) tu vieste?

24
1.7.4 Mal e Mau
* Mal é advérbio, antônimo de “bem”.
* Mau é adjetivo, antônimo de “bom”
Ex.: Ele é um homem mau (não é bom); só pratica o mal (e não o
bem).
* Mal também é substantivo, podendo significar “doença, molés
tia, aquilo que é prejudicial ou nocivo”
Ex.: O mal da sociedade moderna é a violência urbana.

1.7.5 A par e Ao par


* A par é usado, no sentido de “estar bem informado”, ter conhe
cimento”.
* Ao par só é usado para indicar equivalência entre valores
cambiais. Ex.: Estou a par de todos os acontecimentos.
O real está ao par do dólar.

1.7.6. Ao encontro de e De encontro a


* Ao encontro de indica “ser favorável a”, “ter posição convergen
te” ou “aproximar-se de”.
* De encontro a indica oposição, choque, colisão. Ex.: Suas ideias
vêm ao encontro das minhas, mas suas ações vão de encontro ao
nosso acordo. (Suas ideias são tais quais as minhas, mas suas ações
são contrárias ao nosso acordo)

1.7.7 Há e A na expressão de tempo


* Há é usado para indicar tempo decorrido.

25
* A é usado para indicar tempo futuro.
Ex.: Ele partiu há duas semanas.
Estamos a dois dias das eleições.

1.7.8 Acerca de, A cerca de e Há cerca de


* Acerca de é locução prepositiva equivalente a “sobre, a respeito
de”. * A cerca de indica aproximação.
* Há cerca de indica tempo decorrido.
Ex.: Estávamos falando acerca de política.
Moro a cerca de 2 Km daqui.
Estamos rompidos há cerca de dois meses.

1.7.9 Afim e A fim de


* Afim é adjetivo equivalente a “igual, semelhante”.
* A fim de é locução prepositiva que indica
finalidade. Ex.: Nós temos vontades afins.
Ela veio a fim de estudar seriamente.

1.7.10 Senão e Se não


* Senão significa “caso contrário, a não ser”.
* Se não ocorre em orações subordinadas adverbiais
condicionais; equivale a “caso não”.
Ex.: Nada fazia senão reclamar.
Estude bastante, senão não sairá sábado à noite.
Se não estudar, não sairá sábado à noite.

26
1.7.11. Nós viemos e Nós vimos
* Nós viemos é o verbo vir no pretérito perfeito do indicativo, ou
seja, no passado.
* Nós vimos é o verbo vir no presente do indicativo.
Ex.: Ontem, nós viemos procurá-lo, mas você não estava. Nós
vimos aqui, agora, para conversar sobre nossos problemas.

1.7.12 Torcer por e Torcer para


* Torcer por, pois o verbo torcer exige esta preposição.
* Torcer para é usado, quando houver indicação de finalidade,
equivalente a “para que”, “a fim de que”.
Ex.: Torço pelo Santos.
Torço para que o Santos seja o campeão.

1.7.13 Desencargo e Descargo


* Desencargo significa “desobrigação de um encargo, de um tra
balho, de uma responsabilidade”.
* Descargo significa “alívio”.
Ex.: Filho que se forma é mais um desencargo de família para o
pai. Devolvi o dinheiro por descargo de consciência.

1.7.14 Sentar-se na mesa e Sentar-se à mesa


* Sentar-se na mesa significa sentar-se sobre a mesa.
* Sentar-se à mesa significa sentar-se defronte à mesa. O mesmo
ocorre com “estar ao computador, ao telefone, ao portão, à janela
...

27
Ex.: Sentei-me ao computador para trabalhar. Sentei-me
na mesa, pois não encontrei cadeira alguma.

1.7.15 Tilintar e tiritar


* Tilintar significa “soar”.
* Tiritar significa “tremer de frio ou de medo”.
Ex.: A campainha tilintava sem parar.
O rapaz tiritava de frio.
1.7.16 Ao invés de e Em vez de
* Ao invés de indica “oposição, situação
contrária”. * Em vez de indica “substituição,
simples troca”. Ex.: Em vez de ir ao cinema, fui ao
teatro.
Descemos, ao invés de subir.

1.7.17 Estadia e Estada


* Estadia é usado para veículos em geral.
* Estada é usado para pessoas.
Ex.: Foi curta minha estada na cidade.
Paguei a estadia de meu automóvel.

1.7.18 A domicílio e Em domicílio


* A domicílio só se usa quando dá ideia de
movimento. * Em domicílio se usa sem ideia de
movimento.

28
Ex.: Enviarei a domicílio seus documentos.
Fazemos entregas em domicílio
Levaram a domicílio as compras.
Damos aulas particulares em domicílio.

1.7.19 Estágio e Estádio


* Estágio é preparação (profissional, escolar ...).
* Estádio significa “época, fase, período”.
Ex. Estou no primeiro ano de estágio na empresa.
Naquela época o país passava por um estádio de euforia.

1.7.20. Perca e Perda


* Perca é verbo.
* Perda é substantivo.
Ex.: Não perca a paciência, pois essa perda de gols não se
repetirá, disse o jogador ao técnico.

1.7.21 Despercebido e Desapercebido


* Despercebido significa “sem atenção”.
* Desapercebido significa “desprovido,
desprevenido”. Ex.: O fato passou-me totalmente
despercebido.

Ele estava desapercebido de dinheiro.

29
1.7.22 Escutar e Ouvir
* Escutar significa “estar atento para ouvir”.
* Ouvir significa “perceber pelo sentido da audição”.
Ex.: Escutou, a tarde toda, as reclamações da esposa.
Ao ouvir aquele som estranho, saiu em disparada.
1.7.23 Olhar e Ver
* Olhar significa “estar atento para ver”.
* Ver significa “perceber pela visão”.
Ex.: Quando olhou para o lado, nada viu, pois ele saíra de lá.

1.7.24 Haja vista e Hajam vista


* Haja vista pode-se usar, havendo ou não a preposição a à
frente, estando o substantivo posterior no singular ou no plural.
* Hajam vista pode-se usar, quando não houver a preposição a à
frente e quando o substantivo posterior estiver no plural.
Ex.: Haja vista aos problemas.
Haja vista os problemas.
Hajam vista os problemas.

30

CAPÍTULO 2
ACORDO
ORTOGRÁFICO
Acordo Ortográfico de 1990. Entrou em vigor, no Brasil, no início
de 2009, e tornou-se obrigatório a partir de 1º de janeiro de 2016.

2.1 Alfabeto
Acrescentadas as letras K, W e Y, totalizando 26 letras no alfabeto
do português brasileiro.
Assim: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z
Observação importante: mesmo essas letras sendo oficiais, pala
vras como “quilo” e “quilômetro” não passarão a ser escritas
como “kilo” e “kilômetro”.

2.2 Acentuação
2.2.1 Trema – abolido de palavras portuguesas; permanece ape
nas em palavras estrangeiras.
P. Ex.: Müller (sobrenome alemão de muitas famílias brasileiras)

2.2.2 Acento Diferencial – em palavras homógrafas (de mesma


grafia) perderam o acento.
ANTES DEPOIS

pára (verbo) para (verbo)

para (preposição) para (preposição)

31
2.2.3 Acento Diferencial – que distingue tempo verbal e singu
lar e plural de verbos, o acento permanece.
ANTES DEPOIS
tem / têm tem / têm

convém / convêm convém / convêm

2.2.4 Acento Circunflexo – desaparece em palavras


terminadas em ÊEM, terceira pessoa do plural do presente do
indicativo ou do subjuntivo dos verbos CRER, DAR, LER E VER e seus
derivados.
ANTES DEPOIS

crêem creem

dêem deem

lêem leem

vêem veem

relêem releem

revêem reveem

2.2.5. Acento Circunflexo – desaparece em palavras com o


hiato OO.
ANTES DEPOIS

enjôo enjoo

vôo voo

2.2.6 Ditongos Abertos – desaparece o acento nos ditongos EI


e OI, em palavras PAROXÍTONAS.
ANTES DEPOIS
idéia ideia

tablóide tabloide

32
Nos ditongos abertos – permanece o acento nos ditongos EI e EU
e OI, em palavras OXÍTONAS.
ANTES DEPOIS

pastéis pastéis

chapéu chapéu

herói herói

]
2.2.7 I e U Tônicos Formando Hiato – desaparece o acento
no I e U tônico, nas palavras PAROXÍTONAS.
ANTES feiúra Bocaiuva
Bocaiúva
DEPOIS

feiura
O I e U tônicos formando hiato – permanece o acento no I e U tôni
co, nas palavras OXÍTONAS, seguidas ou não de S.
ANTES DEPOIS

Piauí Piauí

Tuiuiú Tuiuiú

2.3 O Uso do Hífen


O hífen caracteriza-se como um sinal gráfico que, semelhantemen te
a tantos outros, desempenha algumas funções próprias, estando
estas relacionadas a uma infinidade de circunstâncias linguísticas.
Entre elas, podemos citar:
» ligar palavras compostas;
» fazer a junção entre pronomes oblíquos e algumas formas verbais,
representadas pela mesóclise e ênclise;

33
» separar as sílabas de um dado vocábulo;
» ligar algumas palavras precedidas de prefixos.

Desse modo, mediante a implantação do Novo Acordo


Ortográfico, o qual se instaurou desde 1º de janeiro de 2009,
algumas mudanças ocorreram em relação ao emprego do referido
sinal. Assim, algumas palavras que antes eram compostas se
aglutinaram, outras que não eram grafadas por hífen passaram a ser,
entre outros aspectos. Dessa forma, dada a sua complexidade, e
para enfatizar essas mudanças, vamos apresentar, levando-se em
consideração, em alguns casos, o que antes se fazia presente e o que
atualmente vigora. Vamos conferi las, portanto:

2.3.1 Casos COM a presença do hífen


a) O prefixo termina em vogal e a segunda palavra começa com a
mesma vogal.
ANTES DEPOIS

antiinflamatório anti-inflamatório

antiinflacionário anti-inflacionário

Micro-ônibus micro-ônibus
Microorganismo micro-organismo

Notas importantes:
» Essa regra padroniza algumas exceções já vigentes antes do
Acordo. Ex: auto-observação – auto-oscilação –
contra-almirante...
» Tal regra não se aplica aos prefixos “co”, “pro”, “re”, mesmo que a
segunda palavra comece com a mesma vogal que termina o
prefixo.
Ex.: coocupar – reescrever – proótico - proinsulina...

34
b) Prefixos diante de palavras iniciadas com “h”.
Ex.: anti-herói – anti-higiênico – co-herdeiro - extra-humano – pró
hidrotópico – sobre-humano...

c) Prefixo terminar em consoante e a segunda palavra começar


com a mesma consoante.
Ex.: sub-bibliotecário – inter-regional – super-romântico.

d) Prefixo “sub”, diante de palavras iniciadas por


“r”. Ex.: sub-reino – sub-região – sub-reitor.

e) Prefixo terminar em “r” e a segunda palavra começar por


“r”. Ex.: hiper-requintado – inter-regional – super-romântico.

f) Prefixos “além, aquém, bem, ex, pós, recém, sem, vice”.


Ex.: além-mundo – aquém-mar – recém-casado – sem-teto – vice
diretor...

g) Com o advérbio “mal” e a segunda palavra começar por vogal


ou “h”.
Ex.: mal-acabado – mal-humorado – mal-intencionado

h) Prefixos “circum” e “pan”, diante de palavra iniciada por “vogal,


m, n ou h”
Ex.: circum-adjacente - pan-americano – circum-hospitalar – pan
helenismo.

35
i) Usa o hífen nos casos relativos à ênclise e à
mesóclise. Ex.: amá-lo – dar-te-ei – entreguei-lhe.

j) Sufixos de origem tupi-guarani, representados por “-açu,


-guaçu, -mirim”
Ex.: capim-açu – cajá-mirim – amoré-guaçu.

k) Em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e


nas que designam espécies botânicas e zoológicas.
Ex.: amarelo-claro – bem-te-vi – conta-gotas – guarda-costas – er
va-doce – caneta-tinteiro

2.3.2 Casos SEM a presença do hífen


a) Prefixo terminado em vogal e a segunda palavra começada por
vogal diferente.
ANTES DEPOIS
auto-aprendizagem autoaprendizagem

auto-estima autoestima

auto-instrução autoinstrução

co-edição coedição

infra-estrutura infraestrutura

semi-analfabeto semianalfabeto

Nota Importante:
Essa nova regra padroniza algumas exceções existentes antes do
Acordo.
Ex.: antiaéreo - antiamericano – socioambiental...

36
b) Em determinadas palavras que perderam a noção de composição.
ANTES DEPOIS

manda-chuva mandachuva

pára-quedista paraquedista

para-quedas paraquedas

c) Em locuções substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, ad


verbiais, prepositivas ou conjuntivas.
ANTES DEPOIS

café-com-leite café com leite

camisa-de-força camisa de força


final-de-semana fim de semana

Obs.: O hífen ainda permanece em alguns casos:


Ex.: cor-de-rosa - água-de-colônia – lua-de-mel.

d) Quando a segunda palavra começa com “r” ou “s”, depois de


prefixo terminado em vogal, retira-se o hífen e essas consoantes são
duplicadas.
ANTES DEPOIS

anti-religioso antirreligioso

anti-racismo antirracismo

anti-social antissocial

auto-sugestão autossugestão

extrarregimento extrarregimento

contra-senso contrassenso

supra-sumo suprassumo

ultra-sofisticado ultrassofisticado

ultra-som ultrassom

37
Importante:
A nova regra padroniza alguns usos já existentes antes do
acordo: Ex.: minissaia – minissubmarino - minissérie
e) Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento co
meça por consoante diferente de “r” ou “s”.
Ex.: antinatural – anteprojeto – contracheque – geopolítica – semi
círculo.

f) Quando o prefixo termina em consoante e a segunda palavra co


meça por vogal ou uma consoante diferente.
Ex.: hiperativo – hipertenso – interescolar – subemprego – super
população.

g) Com o advérbio “mal” e o segundo elemento começar por con


soante.
Ex.: maldormido – malgovernado – malvestido – malsucedido...

38

CAPÍTULO 3
PONTUAÇÃO
Diferentemente do que era ensinado aos alunos do ensino básico,
os sinais de pontuação não se destinam a permitir que o leitor respi
re, aproveitando a pausa relativa ao sinal gráfico ali presente.
Na realidade, os sinais de pontuação se destinam a orientar a lei
tura e o significado da mensagem, tanto em termos rítmicos, quanto
sintáticos e inflexivos.
Por exemplo, observem-se as frases abaixo:
A – Pablo, meu aluno predileto, é educado.
B – Pablo, meu aluno predileto é educado!

Em A, as duas vírgulas inferem que “Pablo” é o sujeito da oração e


“meu aluno predileto” é o aposto para o sujeito Pablo.
Em B, a única vírgula faz de Pablo um chamamento, um vocativo.
Aqui, meu aluno predileto funciona como sujeito da oração.
A inflexão da leitura de A é apenas afirmativa. Ao passo que B,
devi do ao ponto de exclamação, deve ser lida com entonação mais
forte, forçando a modulação da voz sobre o final da frase. Em A, a
modula ção da leitura se concentra no aposto.
Finalmente, em A, deve haver duas breves pausas, enquanto, em
B, só haverá uma breve pausa e a entonação deve se fortificar ao lon
go da frase, com ascensão até o ponto de exclamação.
Pontuar corretamente um texto, portanto, exige a compreensão
dos aspectos citados.

39
Outra implicação importante dessa temática tem relação com o
aprimoramento do estilo de cada escritor e usuário da língua, aten
tando-se para o que o autor deseja demonstrar com a sintaxe escolhi
da para sua mensagem.
Em se tratando de texto literário, é comum haver predileções, da
parte de determinados autores, que caracterizam suas obras de
modo que se tornam reconhecíveis pela forma como expressam seus
pensamentos.
Quanto mais bem preparado for um falante do idioma, facilidade
maior ele terá para suas escolhas e criações textuais, ainda que seu
objetivo não seja literário.
Saber pontuar é valorizar o que se transmite e a forma como se
quer influenciar o receptor.
Assim, será preciso espraiar os estudos sobre cada um dos prin
cipais sinais de pontuação, a fim de revisar o que já se sabe, como
falante da língua portuguesa, e o que se pode aprender sobre as po
tencialidades desses mesmos sinais.
A pontuação é constituída por sinais gráficos que podem servir, es
sencialmente, para separar partes da oração e/ou do período - como
os diversos tipos de pontos e as reticências -, e os que servem como
introdutores de mensagens ou elementos comunicativos - como os
dois pontos, o travessão, as aspas, os colchetes e as chaves.
Os sinais de pontuação organizam visualmente os textos, evitan
do que se pareçam com um amontoado de palavras. É tão prejudicial
uma pontuação equivocada para a comunicação, quanto a sua au
sência e o desconhecimento dos seus objetivos.

40
3.1 Sinais de pontuação: algumas
particularidades
3.1.1 Ponto
O ponto assinala a pausa máxima da voz depois de um grupo fôni
co de final descendente. Emprega-se, pois, fundamentalmente, para
indicar o término de uma oração declarativa, seja ela absoluta, seja
derradeira de um período composto.
Quando os períodos (simples ou compostos) se encadeiam pelos
pensamentos que expressam, sucedem-se uns aos outros, na mesma
linha. Diz-se, neste caso, que estão separados por um ponto simples.
O ponto tem sido utilizado pelos escritores modernos onde os an
tigos poriam ponto e vírgula ou mesmo vírgula. Trata-se de um efi
ciente recurso estilístico, quando usado adequada e sobriamente.
Com a segmentação de períodos compostos em orações absolutas,
ou com a transformação de termos destas em novas orações, obriga
se o leitor a ampliar as pausas entre os grupos fônicos de determina
do texto, com o que lhe modifica a entonação e, consequentemente,
o próprio sentido. As orações assim criadas adquirem um realce par
ticular; ganham em afetividade e, não raro, passam a insinuar ideias
e sentimentos, inexprimíveis em uma pontuação normal e lógica.
Leia-se, por exemplo, esse trecho: “Era, na verdade, um mestre, o
mestre. Mestre Goeldi”. (Manuel Bandeira).
Quando se passa de um grupo a outro grupo de ideias,
costuma-se marcar a transposição com um maior repouso da voz, o
que, na escri ta, é representado pelo ponto-parágrafo. Deixa-se,
então, em branco, o resto da linha em que termina um dado grupo
ideológico, e inicia-se o seguinte na linha abaixo, com o recuo de
algumas letras. Ao ponto que encerra um enunciado escrito dá-se o
nome de ponto-final.

41
Além de servir para marcar uma pausa longa, o ponto é emprega
do depois de qualquer palavra escrita abreviadamente. Assim: V.S.ª
(Vossa Senhoria), Dr. (Doutor), Prof., pág., etc. CFC (Conselho Federal
de Cultura), INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica).
3.1.2 Ponto Final
Quando o período, oração ou frase termina por abreviatura, não
se coloca o ponto final adiante do ponto abreviativo, pois este,
quando coincide com aquele, tem dupla serventia.
Exemplo: “O ponto abreviativo põe-se depois das palavras indica
das abreviadamente por suas iniciais ou por algumas das letras com
que representam, v.g.: V. Sª, Ilmo., Exa., etc.

3.1.3 Aspas
Quando a pausa coincide com o final da expressão ou sentença
que se acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação
depois delas, se encerram apenas uma parte da proposição; quando,
porém, as aspas abrangem todo o período, sentença, frase ou expres
são, a respectiva notação fica abrangida por elas:
“Aí temos a lei”, dizia o Florentino. “Mas quem as há de segurar?
Ninguém” (Rui Barbosa)
“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda luz resume!”
“Por que não nasci eu um simples vaga-lume?” (Machado de Assis)

3.1.4 Parênteses
Quando uma pausa coincide com o final da construção parentéti
ca, o respectivo sinal de pontuação deve ficar depois dos parênteses,

42
mas, estando a proposição ou a frase inteira encerrada pelos
parênte ses, dentro deles se põe a competente notação:
“Não, filhos meus (deixai-me experimentar, uma vez que seja, con
vosco, este suavíssimo nome); não: o coração não é tão frívolo, tão
exterior, tão carnal, quanto se cuida.” (Rui Barbosa)
“A imprensa (quem o contesta?) é o mais poderoso meio que se
tem inventado para a divulgação do pensamento.” (Carta inscrita nos
Anais da Biblioteca Nacional-Vol. I)

3.1.5 Travessão
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com o
traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-men-
-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão
intercalada.
“... e eu falava-lhe de mil coisas diferentes – do último baile, da
discussão das câmaras, berlindas e cavalos, de tudo menos dos seus
versos ou prosas.” (Machado de Assis). Usam-se aspas simples se a
intercalação termina o texto; em caso contrário, usa-se o travessão
duplo.
“Duas, três vezes por semana, havia de lhe deixar na algibeira das
calças – umas largas calças de enfiar –, ou na gaveta da mesa, ou ao
pé do tintureiro, uma barata morta.” (MA). Como se vê neste
exemplo, pode haver vírgula depois do travessão.
O travessão serve, também, para denotar uma pausa mais forte:
“... e se estabelece uma coisa que poderemos chamar –
solidariedade do aborrecimento humano.” (MA).
Pode indicar, ainda, a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas, ou seja, podendo ou não combinar
com elas:

43
– Ah! Respirou Lobo Neves, sentando-se preguiçosamente no
sofá. – Cansado? Perguntei eu.
– Muito; aturei duas maçadas de primeira ordem (...). (MA)
3.1.6 Asterisco
O asterisco (*) é colocado depois e em cima de uma palavra do tre
cho para se fazer uma citação ou comentário qualquer sobre o
termo, ou, ainda, o que é tratado no trecho (neste caso o asterisco se
põe no fim do período).
Nas obras sobre linguagem, o asterisco, colocado antes e no alto
da palavra, apresenta-a como forma reconstituída ou hipotética, isto
é, de provável existência, mas até então não documentada; *sol(e)s.
Emprega-se também um ou mais asteriscos depois de uma inicial
para indicar pessoa cujo nome não se quer ou não se pode declinar.
O Dr.*, B.**, L.***.
Finalizando as nossas observações, devemos acentuar o seguinte:
a) Toda oração e todo termo de oração de valor meramente expli
cativo pronuncia-se entre aspas; por isso são isolados por vírgulas na
escrita.
b) Os termos essenciais e integrantes da oração ligam-se, uns com
os outros, sem pausa; não podem, assim, ser separados por vírgula.
Esta é a razão porque não é admissível o uso de vírgula entre uma
oração subordinada substantiva e a sua principal.
c) Há uns poucos casos em que o emprego da vírgula não corres
ponde a uma pausa real na fala; é o que se observa, por exemplo, em
respostas rápidas do tipo: Sim, Senhor. Não, Senhor.

44
3.1.7 Ponto e Vírgula
Como o nome indica, este sinal serve de intermediário entre o
ponto e a vírgula, podendo aproximar-se ora mais daquele, ora mais
desta, segundo os valores pausais e melódicos que representa no tex
to. No primeiro caso equivale a uma espécie de ponto reduzido, no
segundo assemelha-se a uma vírgula alongada.
Essa impressão do ponto e vírgula faz com que o seu emprego de
penda, substancialmente, do contexto. Entretanto, podemos estabe
lecer que, em princípio, ele é usado:
a) Para separar em um período as orações da mesma natureza,
que tenham uma certa extensão.
b) Em lugar da vírgula, costuma-se empregar o ponto e vírgula an
tes das conjunções adversativas (mas, porém, contudo, todavia, no
entanto, etc.) e das conclusivas (logo, portanto, por isso, etc.) colo
cadas no início de uma oração coordenada. Com o alongamento da
pausa, acentua-se o sentido adversativo (ou conclusivo) das
referidas conjunções.
Comparem-se estes períodos:
Pode a virtude ser perseguida, mas nunca
desprezada. Pode a virtude ser perseguida; mas
nunca desprezada.

Ele anda muito ocupado, por isso não tem respondido às suas
cartas. Ele anda muito ocupado; por isso não tem respondido às
suas cartas.

Em certos casos, o tom enfático aconselha mesmo o uso do ponto


em tal posição. É o que ocorre, por exemplo, neste passo de Rui Bar
bosa: “Qual é a doença reinante? Bubões. Logo, Tarantula cubensis.
Porque a mordedura desse aracnídeo gera sintoma de peste. Logo, a
previne. Logo, há de curá-la.”

45
3.1.8 Os Dois Pontos
Os dois pontos servem para marcar, na escrita, uma sensível sus
pensão da voz na melodia de uma frase não concluída.
Empregam-se, pois, para anunciar:
a) Uma citação (geralmente depois do verbo ou expressão que sig
nifique dizer, responder, perguntar e sinônimos).
Como ele nada dissesse o pai perguntou:
– Queres ou não queres ir? (Érico Veríssimo)

b) Uma enumeração explicativa:


Não fosse ele, outros seriam: pajens, gente de guerra, vadios das
estalagens, andejos da estrada. (Coelho Neto)
c) Um esclarecimento, uma síntese ou uma consequência do que
foi enunciado:
A razão é clara: achava a sua conversação menos insossa que a
dos outros homens. (Machado de Assis)

3.1.9 Reticências
As reticências marcam uma interrupção da frase e, consequente
mente, uma suspensão da sua melodia.
Empregam-se em casos muito variados. Assim:
a) Para indicar que o narrador ou a personagem interrompe uma
ideia que começou a exprimir, e passa a considerações acessórias:
Peça-lhe a sua felicidade, que eu não faço outra coisa... Uma vez
que você não pode ser padre, e prefere as leis... As leis são belas, sem
desfazer na teologia, que é melhor que tudo, como a vida eclesiástica
é a mais santa... Por que não há de ir estudar leis fora daqui? (Macha
do de Assis).

46
b) Para marcar suspensões provocadas por hesitação, surpresa,
dúvida ou timidez de quem fala:
– Homem, vê lá... Pensa bem no que vais fazer... – avisou o prior.
– A Raquel é boa rapariga... Mas a geração... Olha, eu não digo
nada. Resolve tu... (Miguel Torga)
Eu... eu... queria... um agasalho...respondeu soluçando a miserá
vel. (Graça Aranha)

c) Para assinalar certas inflexões de natureza emocional (de ale


gria, de tristeza, de cólera, de sarcasmo, etc.)
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... não vale a pena. (Florbela Espanca).

d) Para indicar que a ideia que se pretende exprimir não se com


pleta com o término gramatical da frase, e que deve ser suprida com
a imaginação do leitor:
Duas horas te esperei.
Duas mais te esperarei.
Se gostas de mim não sei...
Algum dia há de ser dia... (Fernando Pessoa).

Empregam-se também as reticências para reproduzir, nos diálo


gos, não uma suspensão do tom de voz, mas o corte da frase de um
personagem pela interferência da fala do outro:
– A senhora ia dizer que...
– Nada... nada... – atalhou a mulher. (Aníbal Monteiro Machado).

47
Se a fala do personagem continua normalmente depois dessa in
terferência, costuma-se preceder o seguimento de reticências:
O que me parece, aventurou o coronel, é que eles vieram ao
cheiro dos cobres...
– Decerto...
– ... e que a tal D. Helena (Deus lhe perdoe) não estava tão
inocente como dizia. (Machado de Assis)

Usam-se também as reticências antes de uma palavra ou expres


são que se quer realçar:
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente. (Florbela Espanca).

3.2 Observações
Como os outros sinais melódicos, as reticências têm certo valor
pausal, que é mais acentuado quando elas se combinam com outro
sinal de pontuação.
Duas combinações são possíveis:
a) Com um sinal pausal (vírgula ou ponto e vírgula). Neste caso as
reticências têm apenas valor melódico, a pausa é indicada pela vírgu
la ou pelo ponto e vírgula que as segue:
Passai, ó vagas..., mas passai de mando! (Castro Alves).
b) Com um sinal melódico (ponto de interrogação, ponto de excla
mação ou os dois conjugados). Neste caso, as reticências prolongam
a duração das inflexões interrogativa e exclamativa e lhes acrescen
tam certos matizes particulares, que indicamos ao estudarmos aque
les sinais.
Não se deve confundir reticências, que têm valor estilístico apre
ciável, com os três pontos que se empregam, como simples sinal ti-

48
pográfico, para indicar que foram suprimidas palavras no início, no
meio ou no fim de uma citação. Modernamente, para se evitar qual
quer dúvida, a tendência é generalizar-se o uso de quatro pontos
para marcar tais supressões, ficando os três pontos como sinal
exclusivo das reticências.

3.3 Uso da Vírgula


Vírgulas, vírgulas e mais vírgulas. Esses “pequenos monstrinhos”
acabam por se transformar, ao longo do ano de vestibular, em uma
verdadeira ameaça à tranquilidade do vestibulando. Principalmente
porque, nesse ano, você já deve ter percebido que determinados mi
tos que cercam o uso das vírgulas – principalmente aquele que diz
que é para marcar “pausas” na leitura, como se “pausa” fosse um
conceito objetivo ou suficientemente preciso. A fim de tornarmos o
estudo do uso das vírgulas realmente eficiente, aqui vão algumas re
gras de utilização, seguidas de exercícios que as tornem mais claras.

3.3.1 Regras Gerais de Uso da Vírgula


Segundo o professor Agostinho Dias Carneiro, os casos obrigató
rios de uso da vírgula são os abaixo listados:
Separar elementos de mesma função (o último elemento da série
dispensa a vírgula quando precedido de e, ou, nem) – é importante
ressaltar que não faz diferença serem núcleos do sujeito, ou do ob
jeto direto ou do adjunto adverbial, por exemplo. É fundamental que
todos desempenhem a mesma função.
» Separar o aposto ou termo de valor explicativo. Existe uma exce
ção à regra do aposto: o do tipo especificativo, como na frase “O
escritor Machado de Assis é genial.”, em que Machado de Assis é
aposto especificativo.

49
» Separar o vocativo. Lembre-se de que um vocativo é facilmente
reconhecível, pois aparece toda vez em que queremos chamar “al
guém” em um contexto oracional. Trata-se de um termo não es
sencial da oração e que marca a função apelativa da linguagem.
» Separar elementos idênticos, repetidos. Aqui, a ideia seria a mes
ma de regra do item “a” – os termos possuem a mesma função
sin tática e devem ser separados aos olhos do leitor.
» Separar o adjunto adverbial deslocado (quando o adjunto adver
bial é de pequena extensão, a vírgula pode ser suprimida, assim
como em frases em que o adjunto adverbial é seguido de verbo
com sujeito posposto). Note que a intenção da língua é preservar
aquilo a que chamamos de ordem direta – sujeito, verbo, comple
mento e, se for o caso, adjunto adverbial. Se essa ordem for rom
pida ou desestruturada, deve-se utilizar a vírgula para evidenciar
essa modificação.
» Separar o local, nas datas. Trata-se de uma separação de sintag
mas nominais: um relativo ao espaço e outro relativo ao tempo/
momento.
» Indicar a omissão do verbo ou do conectivo. Quando omitimos
umas dessas estruturas, literariamente, pode estar ocorrendo
uma elipse ou zeugma. Atente para as aulas de figuras de
linguagem para entender melhor essa nuance.
» Separar elementos de caráter incidental, como palavras denotati
vas, frases exclamativas, entre outros. Tais estruturas são entendi
das pela língua como elementos estranhos à ordem “natural” de
um período ou oração. Por isso, devem ser destacados do todo
por meio de vírgulas.
» Destacar elementos antecipados, em pleonasmo. É o caso, por
exemplo, do objeto direto pleonástico, como ocorre em Suas músi
cas, ouço-as sempre. O objeto direto pleonástico as obriga o enun-

50
ciador a utilizar a vírgula separando o referente suas músicas, que
é objeto direto.
» Distinguir o elemento explicativo do determinativo. Você se lem
bra das orações adjetivas restritivas e explicativas? As primeiras
aparecem sem vírgulas, enquanto as outras aparecem sempre en
tre vírgulas. É exatamente esse, o caso: as restritivas determinam
uma característica do termo substantivo que as antecede, diferen
ciando-se das explicativas.
» Esclarecer possível ambiguidade. As ambiguidades costumam ca
racterizar-se pela dupla possibilidade de leitura de uma frase, pe
ríodo ou enunciado.
» Separar o anacoluto. Lembre-se: o anacoluto é a figura de lingua
gem que se caracteriza pela ruptura “violenta” da estruturação
sintática da frase.
» Separar orações coordenadas assindéticas. As assindéticas são
aque las em que não há conectivo expresso, como em “Vim, vi,
venci.”
» Separar orações coordenadas sindéticas (aditivas, se o conectivo
aparecer repetido, adversativas, exceto as introduzidas por “mas”,
de pequena extensão, explicativas, conclusivas, alternativas). As
sindéticas, por sua vez, são aquelas em que o conectivo está ex
presso. Observe: Penso, logo existo. A primeira oração é coorde
nada assindética e a segunda é coordenada sindética conclusiva
– separada por vírgula, portanto.
» Separar as orações adverbiais, principalmente se antepostas à
principal. Por exemplo, na frase Quando a gente gosta, é claro que
a gente cuida, a primeira oração é subordinada adverbial
temporal anteposta. Por isso, utiliza-se a vírgula.
» Separar orações adverbiais reduzidas. É o caso de Terminada a
prova, foram embora, em que a oração reduzida de particípio vem
separada por vírgula.

51
3.3.2 Vírgula no período simples
A vírgula na Oração
a) Quando houver intercalações
Exemplos:
A tecnologia, a essência da sociedade moderna, embora tenha
facilitado a vida de muitas pessoas, prejudicou-as quanto ao de
senvolvimento social e harmônico.
Todas as acusações de corrupção, sem privilégios a políticos, de
vem ser apuradas com imparcialidade.

b) Termos explicativos
Exemplo: A fragilidade de nossa política, isto é, a falta de compro
misso dos nossos políticos atrapalha o desenvolvimento da
nação.

c) Vocativo (Chamamento)
Exemplo: Brasil, mostra a tua cara.

d) Datação: Sábado, 9 de setembro de 2009.

e) Repetições de conectores aditivos


Exemplo: Nem os vereadores, nem os deputados estaduais, nem
o governador estão preocupados com parte da população
cearense que vive em condições miseráveis.

f) Iniciando com expressão adverbial


Exemplo: Em um contexto histórico, pode-se explicar a falta de
patriotismo do povo brasileiro.
52
3.3.3 Vírgula no período composto
1. Orações antepostas
Exemplos: Como ninguém quer resolver o problema da corrup
ção, o presidente da CPI parou as investigações.
Embora todos tenham permanecidos incólumes a tal situação,
ninguém demonstrou nenhuma reação.
Se o Brasil não continuar investindo em educação, o seu desen
volvimento será, sem dúvida, prejudicado.

2. Adjetivas Explicativas
Exemplos: A Infraero, que tem como principal objetivo assegu
rar aos seus funcionários uma postura participativa, acredita
no desempenho de seus colaboradores.
O cumprimento das leis, dos deveres, dos princípios éticos, da res
peitabilidade ajudou a população a viver melhor.

Adversativas
Conclusivas
3. Orações
Coordenadas
Explicativas

Exemplos: Fiz todas as tarefas, mas o patrão não ficou satisfeito


Vamos trabalhar com mais afinco, pois precisamos melhorar a
produção.
Preparamos todos os projetos em tempo hábil, portanto merece
mos ganhar a concorrência.

3.3.4 A vírgula e os conectores conclusivos e adversativos


a. Antes do conector

53
Exemplos: A tecnologia beneficiou a maioria da população, no en
tanto dificultou o relacionamento mais harmônico entre as pes
soas.
O Brasil investe muito em educação, portanto merece respeito.

b. Intercalando o conector
Exemplos: O Brasil, portanto, merece respeito.
A filha, no entanto, não lamentou a morte do pai.

c. Após o conector
Exemplos: No entanto, nada mais pode ser feito para salvá-lo.
Portanto, o Brasil deve ser considerado um país
desenvolvido.
3.3.5 Não use a vírgula
» Para separar o sujeito do predicado.
» Para separar verbo de complemento.
» Para separar nome de complemento.
» Para intercalar o vocábulo TAMBÉM (denotativa de inclusão).
» Para intercalar as adjetivas restritivas.

3.4 Pontuação e Conotatividade


3.4.1 Ponto-de-exclamação
É importante recurso para dar expressividade à leitura e à escrita.
É responsável pela variação melódica que imprimimos à voz.
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a) É empregado para indicar, dependendo da intenção da mensa
gem, surpresa, espanto, animação, alegria, ironia, dor, além de
acom panhar as interjeições e intensificar as mensagens
imperativas. ─ Be líssimo enterro! ─ Minha nossa! ─ Pega! ─ Ele
está fugindo!
b) Pode ser associado ao ponto de interrogação para indicar uma
atitude de surpresa ou uma expectativa diante de algum fato, com
ausência de resposta. “─ Que é que a gente podia fazer?!”
c) Algumas vezes aparece nas exclamações que contêm certo tom
interrogativo: “Que faremos com os mortos!”
d) Usa-se geralmente letra maiúscula após tal pontuação. Há oca
siões em que aparece no interior da frase, nos casos em que o perío
do continua para além do diálogo citado ou quando a sequência se
prende fortemente ao texto anterior, sem ser preciso o uso de letra
maiúscula após ele. “─ Dê cá a mão! Dê cá! Vamos!”
e) O uso de vários pontos de exclamação seguidos denota ênfase.
55

CAPÍTULO 4
MORFOLOGIA
4.1 Sistema Flexional da Língua
Portuguesa - Classes de Palavras
Variáveis
Em português, existem DEZ classes de palavras. Destas, SEIS são
variáveis (isto é, flexionam-se em número, gênero e grau, indo ao plu
ral, ou feminino, ou superlativo, por exemplo); QUATRO são invariá
veis.
As classes variáveis são: artigo, adjetivo, pronome, numeral, subs
tantivo e verbo.
São variáveis porque sofrem flexões em sua forma, o que resulta
na sua formação a presença das chamadas desinências nominais de
gênero e de número, bem como nas desinências verbais, de modo,
tempo, número e pessoa.

4.1.1 Substantivo
Substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os se
res em geral. São substantivos:
a) Os nomes de pessoas, animais, vegetais, lugares, instituições,
coisas:
Maria – cão – ipê – Recife – Senado – livro
b) Os nomes das noções, ações, estados e qualidades tomados
como seres:
Verdade – colheita – velhice – bondade – largura

56
Qualquer palavra que desempenhe uma dessas funções equivale
rá a um substantivo. Qualquer palavra antecedida de artigo torna-se
um substantivo.

4.1.1.1 Classificação dos Substantivos


Substantivos Concretos e Abstratos
Chamam-se concretos os substantivos que designam os seres pro
priamente vivos, isto é, os nomes de pessoas, animais etc. que têm
vida própria.
Chamam-se abstratos os substantivos que indicam qualidade,
sentimento, estado, ação e conceito. Não existem por si só, pois ne
cessitam de outro ser para se manifestar. Por exemplo: alegria, vaida
de, rapidez, saudade, amor.
4.1.1.2 Flexões dos substantivos
Os substantivos podem variar em número e gênero.
a) Número
Quanto à flexão de número, os substantivos podem estar no sin
gular ou no plural.
a.1 Plural com alteração de timbre da vogal tônica
1. Alguns substantivos, cuja vogal tônica é o fechado, além de
rece berem a desinência ô, mudam, no plural, o o fechado (ô) para o
aber to (ó).
abrolho – aposto – caroço – contorno - esforço
estorno – fogo – forno – jogo - miolo
reforço – rogo – foro - imposto

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2. Note-se, porém, que muitos substantivos conservam no plural o
o fechado do singular.
Entre outros, não alteram o timbre da vogal tônica:
adorno – almoço – bolso – molho – restolho – rolo - sopro

a.2 Substantivos de um só número


Há substantivos que só se empregam no plural. Assim:
Afazeres Confins Matinas
Algemas Férias (escolares) Núpcias
Anais Fezes Parênteses
Cãs Finanças Pêsames
Condolências Idos Trevas
b) Gênero
b.1 Mudança de sentido na mudança de gênero
Há um certo número de substantivos cuja significação varia com a
mudança do gênero:
Masculino Feminino

O águia (pessoa esperta) A águia (ave)


O cisma (separação) A cisma (desconfiança)
O moral (coragem) A moral (ética)

c) Valor das formas aumentativas e diminutivas


Convém saber que o que denominamos aumentativo e diminutivo
nem sempre significa o aumento ou a diminuição do tamanho de um
ser. Ou melhor, essas noções são expressas quase sempre pelas for-

58
mas analíticas, especialmente pelos adjetivos grande e pequeno, ou
sinônimos que acompanham o substantivo.
Os sufixos aumentativos, em geral, emprestam ao nome as ideias
de desproporção, de disformidade, de brutalidade, de grosseria ou
de coisa desprezível. Assim: narigão, beiçorra, pratalhaz ou pratarraz,
atrevidaço, porcalhão etc. Ressaltam, pois, na maioria dos aumentati
vos, esse valor depreciativo ou pejorativo.
Os sufixos diminutivos empregam-se normalmente com valor afe
tivo. Daí a frequência com que aparecem nas formas de carinho. As
sim: mãezinha, velhinho etc.

4.1.2 Adjetivos
O adjetivo é essencialmente um modificador do substantivo. Ser
ve para:
1. Caracterizar os seres ou os objetos nomeados pelos substantivos.
2. Estabelecer com o substantivo uma relação de tempo, de espa
ço, de matéria, de finalidade, de propriedade, de procedência etc.
(adjetivo de relação)

4.1.2.1 Comparativos e Superlativos Anômalos


Quatro adjetivos – bom, mau, grande e pequeno – formam o
super lativo de modo especial:
Adjetivo Comparativo de Superlativo
superioridade

Absoluto Relativo

Bom Melhor Ótimo O Melhor


Mau Pior Péssimo O Pior
Grande Maior Máximo O Maior
Pequeno Menor Mínimo O Menor

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a.1 Observações
1. Quando se compara a qualidade de dois seres, não se deve
dizer mais bom, mais mau, mais grande, nem mais pequeno e sim:
melhor, pior, maior e menor. Possível é, no entanto, usar as formas
analíticas desses adjetivos quando se confrontam duas qualidades
do mesmo ser:
Ele foi mais mau do que desgraçado.
Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente.
2. A par de ótimo, péssimo, máximo e mínimo, existem os superla
tivos absolutos regulares: boníssimo e muito bom, malíssimo e muito
mau, grandíssimo e muito grande, pequeníssimo e muito pequeno.

3. Grande e pequeno possuem dois superlativos: o maior ou o má


ximo, o menor ou o mínimo.

4. Alguns comparativos e superlativos não têm forma normalmen


te usada:
Comparativo Superlativo

Superior Supremo ou sumo


Inferior Ínfimo
Anterior ----
Posterior Póstumo
Ulterior Último

a.2 Substantivação do adjetivo


A substantivação do adjetivo é um fato que se exprime,
gramatical mente, pela anteposição do artigo ao adjetivo.

60
Comparem-se, por exemplo, estas orações:
O boi malhado chamava atenção.
O malhado do boi chamava atenção.
Na primeira, malhado, é adjetivo; na segunda, substantivo.

a.3 Locução adjetiva


Locução adjetiva é a expressão formada de duas ou mais
palavras, equivalentes a um adjetivo.
Pode ser representada por:
Preposição + Substantivo – Coração de anjo (=
angélico) Preposição + Advérbio – Jornal de hoje (=
hodierno)
– Patas de trás (= traseiras)

a.4 Especificidades do adjetivo


Emprego adverbial do adjetivo
1. Examinemos as seguintes orações:
O menino dorme tranquilo.
Os meninos dormem tranquilos.
Vemos, que nelas, o adjetivo em função predicativa concorda em
gênero e número com o substantivo sujeito. Nas construções abaixo,
o adjetivo assume a forma adverbial, pelo acréscimo do sufixo – men
te, fazendo referência ao verbo.
Esse valor naturalmente será o preponderante, se, em lugar da
quelas construções, usarmos as seguintes:
O menino dorme tranquilamente.
Os meninos dormem tranquilamente.

61
Aqui, a forma adverbial, invariável, impede a possibilidade de con
cordância, justamente o elo que prendia o adjetivo ao sujeito, e, com
isso, faz aflorar o modo por que se processa a ação indicada pelo ver
bo dormir.
a.5 Flexões dos Adjetivos
Como os substantivos, os adjetivos podem flexionar-se em núme
ro e gênero.
a.5.1 Número
O adjetivo toma a forma plural ou singular que ele qualifica.
Assim: Mulher hindu Mulheres hindus
Perfume francês Perfumes franceses

a.5.2 Plural dos adjetivos compostos


Nos adjetivos compostos, apenas o último elemento recebe a for
ma plural:
Movimentos anglo-germânicos; Centros médico-cirúrgicos

Observação - Excetuam-se:
a) surdo-mudo, que faz surdos-mudos
b) os adjetivos referentes a cores, que são invariáveis quando o
se gundo elemento da composição é um substantivo:
Exemplo: uniformes verde-oliva; canários amarelo-ouro; saias
azul- -piscina; blusas vermelho-sangue

62
4.1.3 Pronomes
4.1.3.1 Pronomes substantivos e pronomes adjetivos
1. Os pronomes desempenham na oração as funções equivalentes
às exercidas pelos elementos nominais. Servem para:
a) Representar um substantivo:
Havia muitos poemas que mexiam, que se agitavam no seu espíri
to. Não encontrava, porém, forma de trazê-los à superfície. (A. F. Sch
midt)

b) Acompanhar um substantivo, determinando-lhe a extensão do


significado:
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado,
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei. (M. Bandeira)
No primeiro caso, desempenham a função de um substantivo e,
por isso, recebem o nome de pronomes substantivos; no segundo
chamam-se pronomes adjetivos, porque modificam o substantivo,
que acompanham, como se fossem adjetivos.
Há seis espécies de pronomes: pessoais, possessivos, demonstra
tivos, relativos, interrogativos, indefinidos.

4.1.3.2 Pronomes PESSOAIS


Os pronomes pessoais caracterizam-se:
1. Por denotarem as três pessoas gramaticais

63
a) quem fala = primeira pessoa: eu (singular), nós (plural) b)
com quem se fala = segunda pessoa: tu (singular, vós (plural)
c) de quem ou de que se fala = terceira pessoa: ele, ela (singular),
eles, elas (plural)

2. Por poderem representar, quando na terceira pessoa, uma for


ma nominal anteriormente expressa:
Santas virtudes primitivas, ponde
Bênçãos nesta Alma para que ela se uma
A Deus, e vá, sabendo bem por onde... (A. de
Guimarães) 3. Por variarem de forma.

a.1 Formas dos pronomes pessoais


Quanto às funções, as formas do pronome pessoal podem ser re
tas ou oblíquas. Retas, quando funcionam como sujeito da oração;
oblíquas, quando nelas de empregam fundamentalmente como ob
jeto (direto ou indireto).
Quanto à acentuação, distinguem-se, nos pronomes pessoais, as
formas tônicas e átonas.
O quadro a seguir mostra claramente a correspondência entre es
sas formas:
Pronomes Pronomes pessoais
Pessoais oblíquos Não reflexivos
Retos

Átonos Tônicos

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Singular 1ª pessoa Eu Me Mim, comigo
2ª pessoa Tu Te Ti, contigo,
3ª pessoa Ele, Ela O, a, lhe Ele, ela
Plural 1ª pessoa Nós Nos Nós,
2ª pessoa Vós Vos conosco
3ª pessoa Eles, Elas Os, as, Vós,
lhes convosco
Eles, elas

a.2 Formas O, LO e NO do pronome oblíquo


Quando o pronome oblíquo da 3ª pessoa, que funciona como ob
jeto direto, vem antes do verbo, apresenta-se com as formas o, a, os,
as. Assim:
A mãe o chamava da porta da cozinha. (O. I. Resende);
Quando, porém, está colocado depois do verbo e se liga a este por
hífen (pronome enclítico), a sua forma depende da terminação do
verbo. Assim:
a) Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empre
gam-se o, a, os, as: louvou-o - louvou-as

b) Se a forma verbal terminar em r, s ou z, suprimem-se estas con


soantes, e o pronome assume as modalidades lo, la, los, las: faze(r) +
o = fazê-lo; faze(s) + o = fazê-lo; fe(z) + o = fê-lo
Exemplos: Ouvi-lo é um prazer; revê-lo uma delícia. (C. de
Laet) Um rumor fê-lo voltar-se (C. D. Andrade)
O mesmo acontece quando ele vem proposto ao designativo eis
ou aos pronomes nos e vos.
Exemplos: Ei-lo finalmente diante da locomotiva. (A.
Machado) Que o Senhor vo-la dê suave e pronta. (J.
Montello)

65
c) Se a forma verbal terminar em ditongo nasal, o pronome
assume as modalidades no, na, nos, nas: dão-no, põe-na, tem-na,
trouxeram-nas.

a.3 Observação: No futuro do presente e no futuro do


pretérito, o pronome oblíquo não pode ser enclítico, isto é, não pode
vir de pois do verbo. Dá-se a próclise ou, então, a mesóclise do
pronome, ou seja, a sua colocação no interior do verbo.

a.4 Equívocos e incorreções


1. Como o pronome ele (ela) pode representar qualquer substan
tivo anteriormente mencionado, convém ficar bem claro a que ele
mento da frase ele se refere.
Por exemplo, uma frase como: Álvaro disse a Paulo que ele chega
ria primeiro – é ambígua, pois ele pode aplicar-se tanto a Álvaro
como a Paulo.
Para evitar a ambiguidade, pode-se repetir o nome da pessoa a
quem o pronome ele se refere, em forma de aposto:
Álvaro disse a Paulo que ele, Álvaro, chegaria primeiro.

2. Na linguagem familiar e coloquial do Brasil, é muito frequente o


uso do pronome ele(s), ela(s) como objeto direto em frase do tipo: Vi
ele - Encontrei ela
Na linguagem padrão: Vi-o - Encontrei-a
a.5 Pronome átono com valor possessivo
Os pronomes átonos que funcionam como objeto indireto (me, te,
lhe, nos, vos, lhes) podem ser usados com sentido possessivo, por
exemplo:

66
A revolta amargurava-lhe a boca, ressecava-lhe os lábios, contraía
lhe os maxilares. (J. Montello)

4.1.3.3 Pronomes demonstrativos


a.1 Valores gerais dos Pronomes Demonstrativos
Considerando-os nas suas relações com as pessoas do discurso,
podemos estabelecer as seguintes características gerais para os pro
nomes demonstrativos:
1. Este, esta e isto indicam:
a) o que está perto da pessoa que fala:
As mãos que trago, as mãos são estas. (C. Meirelles)
b) O tempo presente em relação à pessoa que fala:
Ó tristeza sem fim deste dia de agosto. (G. de Almeida)

2. Esse, essa e isso designam:


a) O que está perto da pessoa a quem se fala:
Que susto você me pregou, entrando aqui com essa cara de alma
do outro mundo. (C. dos Anjos)
b) O tempo passado ou futuro com relação à época em que se co
loca a pessoa que fala:
Desses longes imaginados, dessas expectativas de sonho, passava
ele ao exame da situação da Europa em geral e da Alemanha em par
ticular. (G. Amado)

3. Aquele, aquela e aquilo denotam:


a) O que está afastado tanto da pessoa que fala como da pessoa a
quem se fala:

67
Por que latem aqueles cães lá longe? (R. Couto)
b) Um afastamento no tempo, de modo vago, ou uma época
remota: Por que acordaste naquela hora morta? (G. de Almeida)
Naquele tempo não existia o Dia do Papai. (C. D de Andrade)

a.2 Alusão a termos PRECEDENTES


1. Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos já men
cionados, servimo-nos do demonstrativo aquele para o referido em
primeiro lugar, e do demonstrativo este para o que foi nomeado por
último:
O certo é que um e outro são inseparáveis, ou antes, este determi
na aquele. (C. D. Andrade)

2. Observe-se também a ocorrência de dois demonstrativos em


construção nas quais o predicativo do sujeito introduzido por aquele
melhor esclarece o sujeito, expresso por um substantivo determina
do por este ou esse.
Mas esses atos são justamente aqueles que os psiquiatras desig
nam como características de qualquer perturbação mental. (T. Bar
reto)

4.1.3.4 Pronomes RELATIVOS


São assim chamados porque se referem, em geral, a um termo an
terior – o antecedente.
a.1 Formas dos Pronomes Relativos
1. Os pronomes relativos apresentam:
a) Formas variáveis e invariáveis

68
Variáveis Invariávei
s
Masculino Feminino

o qual os quais a qual as quais que


cujo cujos cuja cujas quem
quanto quantos — quantas onde

b) Formas simples: que, quem, cujo, quanto e onde


Quem só se emprega com referência a pessoa ou alguma coisa
personificada e vem sempre antecedido de preposição:
Há um amigo meu a quem apelidaram “Mal Necessário”. (V. Mo
raes)

Cujo é equivalente, pelo sentido, a do qual, de quem, de que. Em


prega-se apenas como pronome adjetivo, referindo-se a um termo
antecedente (o possuidor) e a um consequente (a coisa possuída).
Concorda em gênero e número com o termo consequente.
Herculano é para mim, nas letras, depois de Camões, a figura em
cujo espírito e em cuja obra sinto com plenitude o gênio heróico de
Portugal. (G. Amado).

Quanto, como simples relativo, tem por antecedente os


pronomes indefinidos tudo, todos (ou todas). Daí o seu valor
também indefinido:
Soprava dum lado, do outro, e tudo quanto foi de garrancho e fo
lha seca se juntou num canto só. (L. Jardim).

Onde desempenha normalmente a função de adjunto adverbial (=


o lugar em que, no qual):
A casinha em que morei no Curvelo (e onde depois morou Raquel
de Queirós) foi posta abaixo. (M. Bandeira)

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c) Forma composta: o qual
2. Antecedido das preposições a e de, o pronome onde com ela se
aglutina, produzindo as formas aonde e donde.

3. Não é de se estranhar o emprego de uma forma por outra (onde


e aonde) em passos como os seguintes:
Vela ao entrares no porto
Aonde o gigante está! (F. Varella)
Espiando-se no pendor dos boqueirões profundos
Onde vinham ruir com fragor as cascatas. (O. Bilac)

4.1.3.5 Pronomes INTERROGATIVOS


1. Chamam-se interrogativos os pronomes que, quem, qual e
quan to empregados para formular uma pergunta direta ou indireta:
Que trabalho está fazendo?
Quem disse tal coisa?
Qual dos livros preferes?
Quantos passageiros desembarcaram?
Diga-me que trabalho estão fazendo.
Ignoramos quem disse tal coisa.
Não sei qual dos livros preferes.
Pergunte quantos passageiros desembarcaram.

2. Os pronomes interrogativos estão estreitamente ligados aos


pronomes indefinidos. Em uns e outros a significação é indetermi-

70
nada, embora no caso do interrogativo a resposta, em geral, venha
esclarecer o que foi perguntado.

4.1.4 Numerais
Numeral – é a palavra de função quantificadora que denota valor
definido: “A vida tem uma só entrada: a saída é por cem portas”
[MM].

4.1.4.1 Cardinais
Os numerais propriamente ditos são os cardinais: um, dois, três,
quatro, etc., e respondem às perguntas quantos? e quantas?.
Observações:
a) Não são quantificadores numerais, ainda que tenham o mesmo
significante, os substantivos que designam os algarismos e os núme
ros inteiros positivos. São substantivos e, como tais, admitem gênero
e podem ir ao plural: o um, os uns; o dois, os dois; o quatro, os qua
tros; prova dos noves. O gênero masculino se explica pela referência
à palavra número, que se subentende.
b) Entre brasileiros, principalmente em referência a números de
telefone, usa-se meia dúzia ou meia para o número seis. Não vale
como numeral. A tradição gramatical, levando em conta mais a sig
nificação de certas palavras denotadoras da quantidade e da ordem
definidas, tem incluído entre os numerais próprios – os cardinais –
ainda os seguintes: os ordinais, os multiplicativos e os fracionários.
Tais palavras não exprimem uma quantidade direta do ponto de vista
semântico, e, do ponto de vista sintático, comportam-se, em geral,
como adjetivos que funcionam como adjuntos e, portanto, passíveis
de deslocamentos dentro do sintagma nominal:
Exemplo: Ele era o segundo irmão entre os homens. Ele era o ir
mão segundo entre os homens.

71
(...) fica para ambos uma das duas classificações mais correntes:
ou um numeral plural ao lado de dois, mas dele diferente por só se
referir a seres já previamente indicados ou conhecidos, ou um
pronome, jus tamente levando em conta essa referência de dêixis
anafórica. ‘Ambos’ admite posição anteposta ou posposta ao nome
que modifica, nome (menos o pronome, naturalmente) que pode vir
ou não precedido de preposição e pode ser substituído por um e
outro:
Por exemplo: (...) Ambas (as) razões – Uma e outra razão.

4.1.4.2 Ordinais
Ordinais – denotam o número de ordem dos seres numa série:
pri meiro, segundo, terceiro, quarto, quinto etc.
Observação: Último, penúltimo, antepenúltimo, anterior, poste
rior, derradeiro, anteroposterior e outros tais, ainda que exprimam
posição do ser, não têm correspondência entre os numerais e por
isso devem ser considerados meros adjetivos.
O cardinal substitui o ordinal na indicação de horas e em expres
sões designativas da idade de alguém; neste caso, se o substantivo
estiver no plural, o número também irá ao plural: É uma hora (= é a
primeira hora). É uma hora e meia. São duas horas (= é a segunda
hora). Castro Alves faleceu aos 24anos (= no vigésimo quarto ano de
vida). Também o cardinal substitui o ordinal na designação dos dias
do mês.

4.1.4.3 Multiplicativos
Multiplicativos – exprimem a multiplicidade dos seres. Os mais
usados são: duplo ou dobro, triplo ou tríplice, quádruplo, quíntuplo,
sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, décuplo, cêntuplo.

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4.1.4.4 Fracionários
Fracionários – indicam frações dos seres: meio, terço, quarto,
quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo, vigésimo, centésimo,
milésimo, milionésimo, empregados como equivalentes de metade,
terça parte, quarta parte etc.

Observações:
a) O fracionário meio, funcionando como adjunto, concorda com
seu núcleo, explícito ou não: meio-dia e meia [hora]; duas e meia
[hora]. (...)
b) Para muitos fracionários empregamos o cardinal seguido da
palavra avos, extraído de oitavo, como se fora sufixo e, desse modo,
passa a funcionar como uma palavra: onze avos, treze avos, quinze
avos, etc.

4.1.5 Verbos
O verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se
pas sa, ou seja, um acontecimento representado no tempo. Assim:
O silêncio comeu o eco e a escuridão abraçou o silêncio. (G. de Fi
gueiredo)

4.1.5.1 Classificação dos verbos


Quanto à flexão, o verbo pode ser regular, irregular, defectivo e
abundante.
Os regulares flexionam-se de acordo com o paradigma, modelo que
representa o tipo comum da conjugação. Tomando-se, por exem plo,
cantar, vender e partir como paradigmas da 1ª, 2ª e 3ª conjuga-

73
ções, verificamos que todo os verbos regulares da 1ª conjugação for
mam os seus tempos como cantar; os da 2ª, como vender e os da 3ª,
como partir.
São irregulares os verbos que se afastam do paradigma de sua
conjugação, como dar, estar, fazer, ser; pedir, ir e vários outros, que
no momento próprio estudaremos.
Verbos defectivos são aqueles que não têm certas formas, como
abolir, falir e mais alguns de que trataremos adiante. Entre os defec
tivos costumam os gramáticos incluir os unipessoais, que só se em
pregam na 3ª pessoa do singular e do plural: miar, ganir etc., espe
cialmente os impessoais, usados apenas na 3ª pessoa do singular:
chover, ventar, etc.
Abundantes são os verbos que possuem duas ou mais formas
equivalentes. De regra, essa abundância ocorre no particípio. Assim,
o verbo aceitar apresenta os particípios aceitado, aceito e aceite; o
verbo entregar, os particípios entregado e entregue; o verbo matar,
os particípios matado e morto.

4.1.5.2 Flexões do verbo


O verbo apresenta as variações de número, de pessoa, de modo,
de tempo, de voz e de aspecto.
4.1.5.3 Número do verbo
Como as outras palavras variáveis, o verbo admite dois números:
o singular e o plural.
Singular: estudo, estudas, estuda
Plural: estudamos, estudais, estudam

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4.1.5.4 Pessoa do verbo
O verbo possui três pessoas relacionadas diferentemente com a
pessoa gramatical que lhe serve de sujeito.
1. A primeira é aquela que fala e corresponde aos pronomes pes
soais eu (singular) e nós (plural): estudo, estudamos.
2. A segunda é aquela a quem se fala e corresponde aos pronomes
pessoais tu (singular) e vós (plural): estudas, estudais.
3. A terceira é aquela de quem se fala e corresponde aos
pronomes pessoais ele, ela (singular) e eles e elas (plural): estuda,
estudam.

4.1.5.5 Modo do verbo


Chamam-se modos as diferentes formas que toma o verbo para
indicar a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando,
etc.) da pessoa que fala em relação ao fato que enuncia.
Há três modos, em português: o indicativo, o subjuntivo e o impe
rativo.

4.1.5.6 Formas Nominais do verbo


São formas nominais do verbo: o infinitivo (pessoal e impessoal) -
estudar; o gerúndio – estudando; o particípio - estudado.

4.1.5.7 Tempo do verbo


Tempo é a variação que indica o momento em que se dá o fato
expresso pelo verbo,
Os três tempos naturais são o presente, o pretérito (ou passado) e
o futuro, que designam, respectivamente, um fato ocorrido no mo
mento em que se fala, antes do momento em que se fala e após o
momento em que se fala.

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O presente é indivisível, mas o pretérito e o futuro subdividem-se
tanto no modo indicativo quanto no subjuntivo. Assim:
INDICATIVO Presen
te:
Estudo

Pretérito Imperfeito: Simples: Estudei


Estu dava
Composto:
Tenho
Estudado
Perfeito

Mais-que-perfeit Simples: Estudara


o Composto: Tinha
(ou havia)
Estudado
Futuro Do Presente Simples: Estudarei
Composto: Terei
ou haverei
Estudado

Do Pretérito
Simples: Estudaria
Composto: Teria
(ou haveria)
Estudado

SUBJUNTIVO Presen
te:
Estude

Pretérito Imperfeito:
Estu dasse

Perfeito: Tenha
(ou haja)
Estuda do

Mais-que-perfei
to: Tivesse (ou
hou vesse)
Estudado

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Futuro Simples: Estudar
Composto:
Tiver (ou
houver) Estu
dado
Afirmativo:
IMPERATIVO
Estuda (tu), Estude (você), Estudemos (nós), Estudai
(vós), Estudem (vocês).

4.1.5.8 Voz do verbo


O fato expresso pelo verbo pode ser representado de três formas:
a) Como praticado pelo sujeito
João feriu Pedro.
Não vejo rosas neste jardim.

b) Como sofrido pelo sujeito


Pedro foi ferido por João.
Não se veem (= são vistas) rosas neste jardim.

c) Como praticado e sofrido pelo sujeito


João feriu-se.
Dei-me pressa em sair.

a.1 Voz Ativa


No primeiro caso diz-se que o verbo está em voz ativa, no
segundo, na voz passiva e no terceiro, na voz reflexiva.
Como se verifica nos exemplos dados, o objeto direto da voz ativa
corresponde ao sujeito da voz passiva; na voz reflexiva, o objeto dire-

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to ou indireto é a mesma pessoa do sujeito. Logo, para que um verbo
admita transformação de voz, é necessário que ele seja transitivo.
a.2 Voz passiva
Exprime-se a voz passiva:
a) Com o verbo auxiliar ser e o particípio do verbo que se quer
con jugar:
Pedro foi ferido por João.

b) Com o pronome apassivador se e uma terceira pessoa verbal,


singular ou plural, em concordância com o sujeito:
Não se vê (= é vista) uma rosa neste jardim.
Não se veem (= são vistas) rosas neste jardim.

a.3 Voz reflexiva


Exprime-se a voz reflexiva juntando-se às formas verbais da voz
ativa os pronomes oblíquos me, te, nos, vos e se (singular e plural):
Eu me feri (= a mim mesmo)
Tu te feriste (= a ti mesmo)
Ele se feriu (= a si mesmo)
Nós nos ferimos (= a nós mesmos)
Vós vos feristes (= a vós mesmos)
Eles se feriram (= a si mesmos)

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b) Aspectos
1. Diferentemente das categorias do tempo, do modo e da voz, o
aspecto designa “uma categoria gramatical que manifesta o ponto
de vista do qual o locutor considera a ação expressa pelo verbo”.
Pode ele considerá-la como concluída.

4.1.5.9 Emprego de Tempos e Modos Verbais e sua


adequa ção na comunicação oral e escrita
a) Emprego de Tempos do Modo Indicativo
Pretérito imperfeito – O imperfeito, como ensina Coseriu [ECs.5,
165], é um membro não marcado, extensivo, de uma oposição que
encerra três membros, dois dos quais são marcados e intensivos: o
mais-que-perfeito e o chamado condicional presente, na forma sim
ples. Nesta oposição, o mais-que-perfeito significa um “anterior”, en
quanto o condicional presente (futuro do pretérito) um “depois”.

a.1 Observações:
1ª) Emprega-se o pretérito imperfeito do verbo dever (fazer uma
coisa) em lugar do pretérito perfeito:
Exemplo: Ele devia (e não deveu) ser (ou ter sido) ontem mais
aten cioso para contigo [ED.1, § 207, a, obs].
2ª) Aparece em lugar do futuro do pretérito para denotar um fato
certo como consequência de outro que não se deu:
Exemplo: Eu, se tivesse crédito na praça, pedia outro empréstimo.
3.ª) Ainda na referência ao futuro, entra o imperfeito chamado
“prelúdico” ou imperfeito dos jogos: então [neste jogo que vamos co
meçar a jogar] eu era o rei e tu eras a rainha [ECS.1, 207].
Exemplo: “Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês”
(João e Maria, de Chico Buarque e Sivuca).

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a.2 Pretérito perfeito
O pretérito imperfeito é o tempo da ação prolongada ou repetida
com limites imprecisos; ou não nos esclarece sobre a ocasião em que
a ação terminaria ou nada nos informa quanto ao momento do
início.
O pretérito perfeito, pelo contrário, fixa e enquadra a ação dentro
de um espaço de tempo determinado. (...) Não se pode dizer, comen
ta Coseriu, que o perfeito simples e o imperfeito se contrapõem por
uma simples oposição. Na essência, o imperfeito em português e no
românico visualiza as ações como em um pano de fundo, como se
completando num nível secundário.

a.3 Pretérito Composto (tenho trabalhado) exprime:


• Repetição ou prolongação de um fato até o momento em que se
fala, ou fato habitual: “Não me tens dito nada das tuas ocupações
nessa casa” [CBr.3, II, 133].
Fato consumado: Tenho dito (no fim dos discursos).

a.4 Pretérito mais-que-perfeito (simples e composto) –


De nota uma ação anterior a outra já passada:
Exemplo: “No dia seguinte, antes de me recitar nada, explicou-me
o capitão que só por motivos graves abraçara a profissão marítima...”
[MA.1, 66-67].
(...) Emprega-se, ainda, o mais-que-perfeito simples em lugar do
futuro do pretérito do indicativo e do pretérito do subjuntivo, o que
serve, hoje, como traço estilístico de linguagem solene:
Exemplo: “dizendo: Mais servira (= serviria), se não fora (= fosse)
para tão longo amor tão curta a vida” [LC.2, 147].
“Que fora (= seria) a vida, se nela não houvera (= houvesse) lágri
mas?” [AH.1, 32].

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