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Departamento de Teologia

OS ÚLTIMOS ANOS DO REINO DO NORTE (DA GUERRA SIRO-


EFRAIMITA À QUEDA DE SAMARIA) NA PESQUISA RECENTE

Aluno: Willian Gomes Mendonça


Orientador: Maria de Lourdes Corrêa Lima

Introdução
A pesquisa sobre os últimos anos do Reino do Norte adotou como fundamento o
estudo dos textos bíblicos ao lado dos estudos da arqueologia tradicional e recente. A partir
destas três visões, pretendeu-se compreender a perspectiva do autor bíblico ao narrar os
últimos anos do Reino do Norte em continuidade e descontinuidade com o dado histórico.

Objetivos
Apresentar a visão bíblica dos últimos anos do Reino do Norte a partir da guerra siro-
efraimita até à queda da Samaria. E confrontar os textos bíblicos com a arqueologia
tradicional e recente, a fim de especificar a intenção teológica dos textos bíblicos.

Metodologia
Parte-se da leitura dos textos bíblicos, a fim de identificar sua visão própria. Em
seguida, são estudadas as diferentes perspectivas dos historiadores, baseadas muitas vezes na
arqueologia histórica, a fim de reconstruir os fatos e interpretá-los. A partir deste estudo,
avalia-se o que de histórico a Bíblia refere, o que pode ser considerado sua interpretação
religiosa e qual a importância dos últimos anos do Reino do Norte para a história posterior.

Conclusões
A visão bíblica sobre os últimos anos do Reino do Norte no final do século VIII atesta
para o Reinado de Jeroboão II um período de florescimento e crescimento. Neste período,
Israel vive um momento grande de prosperidade. No entanto, após a morte de Jeroboão II, o
Reino do Norte é marcado pela violência e pelas mudanças constantes em torno do trono de
Israel. A sucessão de assassinatos como fruto de conspirações assinala profundamente estes
últimos anos, sob os reis Zacarias, Selum, Manaém, Faceias, Faceia e Oséias.
O fim do Reino do Norte, segundo a abordagem bíblica, é resultado de um longo
processo marcado pelos pecados cometidos contra YHWH. A idolatria e o sincretismo
religioso são apontados como sua causa principal: os israelitas recusaram os ensinamentos e
os mandatos de YHWH pelos profetas; prestaram culto aos ídolos vazios e se esvaziaram;
sacrificaram seus filhos aos Baal e foram deportados para a Assíria.
A arqueologia tradicional vai assegurar, com base em dados históricos, que o período de
florescimento do Reino do Norte sob o reinado de Jeroboão II possuía um cenário político
internacional favorável. A Assíria retoma sua política agressiva de expansão com Adad-nirari
III. O primeiro reino a sofrer com este processo assírio é Damasco. A Assíria pressiona
fortemente Damasco pelo pagamento de tributos. Durante este breve período de tempo, Israel
vê-se livre da opressão de Damasco e paga tributos aos assírios.
Neste ínterim, o Reino do Norte é marcado profundamente por um desenvolvimento e
crescimento jamais vistos. Todavia, a prosperidade trouxe consigo a disparidade entre ricos e
pobres, o sincretismo religioso, o não cumprimento da Lei de YHWH e a sucessão
monárquica marcada, após a morte de Jeroboão, por constantes assassinatos.
Após Adad-nirari III, a Assíria contou com um novo rei, Tiglat-Pileser III, que tinha
uma perspectiva de expansão muito mais agressiva e efetiva. Além de pagamentos de
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Tributos, Tiglat-Pileser III queria estabelecer o reino da Assíria através da submissão,


conquista, deportação e transformação dos reinos vizinhos em províncias assírias.
Com esta nova mudança no cenário político internacional, o período de relativa paz em
Israel encontra-se ameaçado. Os sucessivos assassinatos em torno do trono, que marcam a
rapidez de sucessão do Reino do Norte e sua instabilidade, são reflexos do poder assírio que,
após submeter Damasco, torna-se uma ameaça ao reino próspero e rico de Israel. Isto pode ter
contribuído para que os israelitas se dividissem em partidos pró-assírio e antiassírio. Assim,
por exemplo, a guerra siro-efraimita (734-732) deveu-se a uma união entre Damasco e Israel
para convencer Judá a formar uma coalizão antiassíria. Mas a recusa de Judá e a solicitação da
intervenção do poder da Assíria pôs fim à coalizão, deu início ao processo de desintegração
do Reino do Norte através de deportações e levou à sua anexação definitiva como província
assíria em 722/721.
A arqueologia recente vai fundamentar que além da mudança no cenário político
internacional, Israel contava com uma excelente localização comercial, com terras férteis para
o cultivo dos olivais e das vinhas. Isto fazia do Reino do Norte um reino riquíssimo e
cobiçado. Seu azeite e seu vinho eram exportados em grande escala. O Reino do Norte age
com perspicácia e veemência tirando proveito deste momento em que a Assíria estava voltada
para a conquista e anexação de Damasco. O desenvolvimento de Israel é comprovado também
pela criação de cavalos, por sua exportação para os exércitos assírios, pela alfabetização mais
ampla, pela administração burocrática, pela produção econômica e pela existência de um
exército profissional. No entanto, todo vigor crescente de Israel não foi suficiente para conter
o avanço da Assíria sobre suas terras e anexação total.
A interpretação do texto bíblico não tem uma perspectiva histórica e sim teológica dos
últimos anos do Reino do Norte, de forma que o autor bíblico, sob a perspectiva
deuteronomista, encontra o ponto alto de todo esse desenvolvimento na ruína de Israel. De
fato, é a partir deste dado que o texto bíblico explicita os motivos determinantes que levaram
o irmão do Norte ao fim. Narrar esta história é importante para que Judá não venha a cair no
mesmo caminho do Reino do Norte e perca sua herança. A arqueologia tradicional enfatiza a
riqueza de Israel como fruto de um cenário político internacional que libertou o Reino do
Norte da pressão de Damasco e possibilitou um breve período de crescimento, aspecto
deixado de lado pela Sagrada Escritura. Já a arqueologia recente ressalta que o Reino do
Norte não é tão frágil e inofensivo como se pensava. Israel age com sagacidade e audácia
durante o avanço do império assírio além do Eufrates. No entanto, o processo de expansão da
Assíria apresentou-se mais eficaz e mais forte diante da riqueza e vitalidade que marcaram os
últimos anos do Reino do Norte.

Referências
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2010.
BRIGHT, J. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2010.
CAZELLES, H. História Política de Israel – Desde as origens até Alexandre Magno. São
Paulo: Paulus, 1986.
DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. V. 2. São Leopoldo: Sinodal, 1997.
FINKELSTEIN, Israel & SILBERMAN, N. A. A Bíblia não tinha razão. São Paulo: A
Girafa Editora, 2003.
GUNNEWEG, A. H. J. História de Israel - Dos primórdios até Bar Kochba e de Theodor
Herzl ates os nossos dias. São Paulo: Loyola, 2005.
LIVERANI, M. Para além da Bíblia. História Antiga de Israel. São Paulo: Loyola, 2008.
MAZAR, Amihai. Arqueologia na terra da Bíblia: 10.000 – 586 a.C. São Paulo: Paulinas,
2003.

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