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O CONCEITO DE MEIO NA GEOGRAFIA

CARLOS FRANCISCO GERENCSEZ GERALDINO 2010

Outro motivo da falta de explicitação teórica para com o meio talvez se deva ao grau
de sua abrangência fenomênica. Meio, a princípio, poderia ser considerado o mais lato dos
conceitos, cuja essência seria imperceptível não por ser pequenina, mas, sim, por ser
demasiada grande. Estaria presente ao humano antes do surgimento da ciência ou sequer
mesmo da Filosofia. Viria acompanhado ao próprio ato de estar e pensar o mundo. Seria algo
como um complemento de determinação dialética de outro conceito amplo, o de consciência;
sinônimo, talvez, de realidade ou mundo. Assemelhando-se aquela primeira experiência
sensível hegeliana ou, melhor dizendo, algo que se faz presente e possibilitador da “primeira
geografia” nos moldes de como nos quis fazer saber Elvio Martins (1996). Estamos falando
aqui de meio gerado por um pensamento humano, ou seja, o meio ao qual está o homem,
porém, não estaríamos de maneira alguma equivocados se falássemos que qualquer animal ou
mesmo uma passível e ignóbil pedra estaria subordinada ou contida em um meio, sendo que a
última, é certo, não consciente e o animal, por sua vez, com um tipo de pensar e estar
diferente de nós. p.10

I. O AMBIENTE DO MEIO
conceito é uma palavra ou signo cujo conteúdo respalda-se por uma determinada
teoria, seja essa de ordem científica ou filosófica. Difere-se de categoria, pois, como afirmou
Armando Silva, esta “[...] define os modos de ser, enquanto o conceito define a ideia ou
conjunto de ideias a respeito de alguma coisa ou fenômeno” (1986, p. 28). p. 14

a diferença de ambos é que o meio sob sua forma conceitual é o termo3 que designa
determinado fenômeno estudado à luz de uma teoria. Enquanto que a palavra meio pode
conter várias definições – portando, ser polissêmica – o conceito meio ficaria, por seu turno,
monossemicamente agarrado à designação de determinado fenômeno. Dessa maneira, pode-se
até trocar o rótulo do conceito após uma discussão visando o melhor nome ao fenômeno
observado, porém, o fenômeno em si não mudará seu identificado conteúdo pela simples e
literalmente formal troca de palavra para designá-lo. 14

Um conceito jamais se sustém sozinho. Seu significado é atrelado e amparado pela definição de
outros, que formam, em última instância, uma teia ou rede conceitual possibilitadora de um discurso
teórico (OLIVA, 2003). 15

o reclame uníssono desses geógrafos é


para que haja uma efetiva ligação entre o que a Geografia classicamente já havia feito com os
novos conteúdos empíricos da desregulada apropriação humana da natureza. p. 31

resgate geográfico epistemológico do


meio, numa tentativa que visasse retirá-lo de seu trato reducionista em que ora se encontra. p. 33

Todavia, se há algum autor que para este trabalho se fez epistemologicamente mais
interessante, no que concerne ao conceito de meio, ele é Milton Santos. Isso se deve ao fato
que além de criticar o conceito de meio ambiente sob a égide do ambientalismo – seguindo
praticamente as mesmas linhas argumentativas dos autores citados, articulando, por exemplo,
o ambientalismo aos problemas políticos e acadêmicos – tem, também, como objetivo,
defender o conceito de meio que se faz tão caro à sua proposta de rede conceitual. Então, para
Santos, o conceito meio ambiente subsidiado pela temática ambiental lhe fez trabalhar em
dobro, pois além de criticar seu conteúdo, teve que ter o cuidado de procurar preservar sua
forma e repô-lo em outros patamares no debate. Assim, critica o conceito de meio ambiente
somente em seu conteúdo, mostrando que o conceito de meio tem validade epistêmica na
Geografia se fosse considerado pelo caminho da técnica. Ou seja, meio para Milton Santos,
deve ser entendido como meio técnico e não como meio ambiente. p. 34-35

Meio técnico
A interpretação do conceito de meio vinculado ao fenômeno técnico não é algo que se faz
recente no cenário epistemológico da geografia acadêmica. Nomes como Paul Vidal de La
Blache, Albert Demangeon, Max. Sorre21, Jean Gottman, Pierre Gourou, Pierre George e Jean
Labasse; debruçaram-se sobre o tema e contribuíram, cada qual com a sua ótica,
decisivamente ao enriquecimento teórico desse vínculo (SANTOS, 2004). p. 39

Se o entendimento da relação entre os conceitos de meio e de natureza em Santos são


pautados pela técnica, faz necessário sabermos então qual é a relação entre meio e técnica. E
esta, não muito diferente da anterior, resulta numa quase igualdade dos conteúdos dos termos.
Como é expresso em um dos subtítulos de A natureza do espaço: “A técnica, ela própria, é um
meio” (ibidem, p. 38). Dessa maneira, aquilo que envolve o homem, sua geografia, seu meio,
é composto de tecnicidade. O olhar estaria sempre procurando finalidades, por isso,
enxergando tudo ao seu redor como meio; mesmo aqueles objetos, como vimos, de origem
natural. A geografia faz-se, assim, como resultado histórico de um processo de tecnificação
que o homem faz de seu meio. Pois, como disse Santos, repetindo N. Rotenstreich, “[...] a
própria história se torna um meio (um environment)” (ibidem, p. 40). Sendo o meio
geográfico o mesmo que meio técnico; p.41

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