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Ajuste dos parâmetros cinéticos de uma reação de

transesterificação de óleo de soja


Artur P. Neto1 , Emerson E. S. R. Versiani1
1
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG)
Rua Dois, n° 300 - Village do Lago I –
Montes Claros – MG – CEP 39404-058 – Brasil
artur.neto@ifnmg.edu.br, eesr.aluno@ifnmg.edu.br

1. Introdução
Nos últimos anos, verifica-se um crescente interesse global na busca por fontes de ener-
gia renovável e sustentável. A dependência excessiva de combustı́veis fósseis tem levado
a preocupações ambientais, como a emissão de gases de efeito estufa e a degradação
do meio ambiente. Nesse contexto, o biodiesel surgiu como uma alternativa aos com-
bustı́veis derivados do petróleo, devido às sua viabilidade técnica e produção e à sua
origem renovável [Ramos 2011].
O biodiesel é um combustı́vel renovável produzido a partir de fontes vegetais ou
animais, como óleos vegetais, gorduras animais e óleos residuais. Dentre as matérias-
primas mais utilizadas na produção de biodiesel, destaca-se o óleo de soja, um dos óleos
vegetais mais abundantes e acessı́veis. A produção de biodiesel a partir do óleo de soja
ocorre através de um processo de transesterificação, no qual o óleo é convertido em ésteres
metı́licos ou etı́licos de ácidos graxos, que são a base do biodiesel [Costa 2011].
Um dos principais métodos de produção de biodiesel a partir do óleo de soja é
a catálise homogênea. Neste processo, um catalisador quı́mico é adicionado ao óleo de
soja, permitindo a reação de transesterificação ocorrer de forma mais rápida e eficiente. O
catalisador mais comumente utilizado na catálise homogênea para produção de biodiesel é
o hidróxido de sódio (NaOH) ou o hidróxido de potássio (KOH), que atuam como álcalis.
O processo de produção de biodiesel via catálise homogênea tem várias etapas.
Inicialmente, o óleo de soja é submetido a um processo de pré-tratamento, no qual são
removidos os contaminantes presentes, como água, resı́duos sólidos e outros compostos
indesejáveis. Em seguida, ocorre a etapa de transesterificação, na qual o óleo de soja
é misturado com álcool (geralmente metanol ou etanol) na presença do catalisador. A
reação quı́mica entre o óleo e o álcool na presença do catalisador leva à formação de
ésteres metı́licos ou etı́licos de ácidos graxos, que são o biodiesel. Simultaneamente,
ocorre a formação de subprodutos, como glicerol, que será separado do biodiesel por
meio de processos de purificação adicionais.

2. Revisão bibliográfica
2.1. Ácidos Graxos
Os ácidos graxos são constituı́dos por uma cadeia longa, onde uma das extremidades está
ligada a um gupo carboxila, podem ser saturados, sem duplas ligações, ou insaturados,
com duplas ou triplas ligações ao longo da cadeia. Os óleos e gorduras são constituı́dos
por diferentes tipos de ácidos graxos sendo que estes geralmente não se encontram em
sua forma livre na natureza, normalmente estão combinados ao glicerol (um álcool) na
forma de triacilglicerı́deos.
Os óleos vegetais possuem majoritariamente triacilgliceróis (TAG) de ácidos
graxos de cadeia longa e uma pequena fração de di- e monoacilgliceróis. Os ácidos graxos
majoritários presentes no óleo de soja são os Ác. Linoleico, Ác. Oléico, Ác. Palmitico e
Ác. Linolênico. Os triacilgliceróis são constituı́dos por três grupos ésteres que são oriun-
dos de ácidos graxos, os diacilgliceróis (DAG) correspondem a dois grupos ésteres e um
grupo álcool e o monoacilgliceróis (MAG) que há apenas um grupo éster e dois grupos
álcoois [Filho 2010].

2.2. Alcoois
Alcoois são usualmente utilizados para a reação de catálise homogênea básica são o
metanol e o etanol. O etanol aumenta a miscibilidade entre o biodiesel e o glicerol di-
ficultando o processo de separação. O seu etóxido é menos reativo em comparação ao
metóxido, sendo necessário uma quantidade maior de etanol para atingir um desempenho
favorável. Devido as desvantagens do etanol o metanol acaba sendo o mais procurado
para o uso em reações de transesterificação. O metanol apresenta uma cadeia carbônica
pequena, um bom desempenho na conversão de produtos e tem um menor custo em
comparação ao etanol, com exceção do Brasil onde o etanol tem um preço mais com-
petitivo [Aransiola 2014].

2.3. Reação de transesterificação


A reação de transesterificação via catalise básica ocorre inicialmente com a formação de
um alcóxido e um catalisador protonado pela mistura de metanol e a base (figura 1.1).
Haverá um ataque nucleofı́lico a carbonila do triacilglicerol pelo alcóxido, gerando assim
um complexo intermediário tetraédrico (figura 1.2) a partir do qual ocorre a formação do
ânion diacilglicerol e éster monoalquı́lico (figura 1.3). O catalisador é então desprotonado
formando assim uma molécula de diacilglicerol e regenerando a base (figura 1.4). Essa
base irá iniciar outro ciclo catalı́tico com o álcool gerando o monoacilglicerol, e no último
ciclo o glicerol e o biodiesel serão formados, como mostrado de forma geral na 1 Figura
1 nas etapas [2] e [3] [Vargas 1998].

Figure 1. Reação de transesterificação de óleos vegetais via catálise básica


2.4. Cinética da transesterificação
A cinética quı́mica é o estudo das velocidades das reações quı́micas e os fatores que a
influenciam, e tem grande importância pois é a partir desse estudo que é possı́vel avaliar as
melhores condições de trabalho que podem resultar em maiores conversões a possibilitar
o projeto de reatores industriais, otimizando o uso de recursos. A curva caracterı́stica de
uma reação de transesterificação segue o perfil mostrado na 2.

Figure 2. Gráfico de conversão de uma reação de transesterificação em anda-


mento indicando as concentrações relativas de óleo vegetal (triacilglicerol), in-
termediário di- e monoacilglicerol, e o produto metil éster.

Para encontrar as velocidades de reação utilizam-se as leis de velocidades, que de-


pendem das constantes de velocidade (k1, k2, k3, etc), concentração de reagentes e produ-
tos e as ordens das reações envolvidas. Quando a velocidade de uma determinada reação
não depende da concentração, esta é ordem zero; quando a velocidade é proporcional à
primeira potência de concentração, a reação é dita de primeira ordem; se a velocidade for
proporcional à segunda potência da concentração a reação será de segunda ordem.
Portanto, para reações com apenas um reagente, se a velocidade for proporcional
à enésima potência da concentração, a reação será de ordem n. Para reações onde há
mais que um reagente a ordem de reação total será a soma dos expoentes (a+b+...) como
mostrado na Equação 1 [P. Atkins 2006].

V elocidade = r = K [A]a [B]b (1)

Segundo [Noureddini 1997], o modelo cinético para a reação de transesterificação


de um óleo vegetal com metanol engloba as etapas de conversão da reação, sendo as
constantes de velocidade (k1 a k8), representadas a seguir nas etapas de formação dos
mono- e diglicerı́deos (figura 3).As equações difenciais que representam a variação das
concentrações dos reagentes e produtos ao longo de uma reação de transesterificação
são apresentadas na figura 4, onde: TG = triglicerı́deo; DG = diglicerı́deo; MG =
monoglicerı́deo; GL = glicerol; A = Álcool; E = Éster
A princı́pio é possı́vel dizer que a reação de transesterificação é reversı́vel, porém
na produção do biodiesel a reação de volta é negligenciada, devido a formação de glicerol
que é imiscı́vel com o produto [G. Knothe 2005].
Figure 3. Modelo cinético da reação de transetrificação de acordo com
[Noureddini 1997]

Figure 4. EDOs do modelo cinético de [Noureddini 1997]

3. Objetivos
Este trabalho avalia a adequação do método dos mı́nimos quadrados ao ajuste dos
parâmtros cinéticos de dados experimentais produzidos por [Bortoletto 2020].

4. Metodologia
Um subconjunto dos dados experimentais produzidos por [Bortoletto 2020] será utilizado
na avaliação do método dos mı́nimos quadrados. o modelo cinético utlizado será o de
uma reação irecersı́vel de pseudo-segunda ordem, como apresentado na equação 2.

dCa
−ra = − = k2 Ca2 (2)
dt
Na equação 2, k2 é a constante cinética do modelo de de pseudo-segunda ordem a
ser ajustada. Utilizando a definição de conversão XA , CA = CA0 (1 − XA ), a equação 2
pode ser transformada em:

dCa
−ra = − = k2 (CA0 (1 − XA ))2 (3)
dt
Onde, CA0 é a concentração inicial de triacilglicerois nas condições inciais da
reação (t = 0, XA = 0).
A integração da equação 3 fornece:

Xa
= k2 CA0 t (4)
1 − XA
A equação 4 indica que a constante cinética da reação, K2 pode ser obtida por
Xa
meio da inclinação da reta de um gráfico de 1−X A
versus o tempo, t. Os dados utilizados
neste trabalho são apresentados na tabela 1:

Table 1. Conversão a metil ésteres na reação de transesterificação.


[Bortoletto 2020]
Tempo (min) Conversão percentual (XA )
5 16,5
10 31,9
15 89,7
20 92,7
30 93,0
45 94,6
60 94,9
120 97,6
180 96,8
240 97,4

5. Resultados
Xa
Os valores de 1−X A
necessários para o ajuste do parâmerto cinético são apresentados
na tabela 2.Valores relevantes para a obtenção de parâmetros cinéticos confiáveis devem
representar o comportamento do sistema em regiões nas quais a conversão da reação ainda
não alcançou valores próximos de 90 porcento. Dessa forma, dos valores apresentados na
tabela 2, apenas os dados referentes aos tempos de 0, 10, 15 e 20 minutos serão utilizados
para o ajuste de parâmetros.
A figura 5 apresenta os resultados do ajuste dos dados experimentais ao modelo
da equação 4. O ajuste teve um erro quadrado de r2 = 0, 9054.O algoritmo utilizado e a
gerada pela sua execução são apresentados nos anexos deste trabalho.

6. Resultados
Os objetivos propostos neste trabalho forma alcançados. Foi possı́vel realizar o ajuste
de dados experimentais da cinética de reações de transesterificação através do método de
mı́nimos quadrados.
Table 2. Pré-tratamento dos dados de conversão a metil ésteres na reação de
transesterificação.
Tempo (min) Conversão (XA ) XA /(1 − XA )
5 16,5 0,1976
10 31,9 0,4684
15 89,7 8,7087
20 92,7 12,6986
30 93 13,2857
45 94,6 17,5185
60 94,9 18,6078
120 97,6 40,6667
180 96,8 30,2500
240 97,4 37,4615

Figure 5. Ajsute dos dados experimentais ao método dos mı́nimos quadrados

References
Aransiola, E. (2014). A review of current technology for biodiesel production: State of
the art. Biomass and Bioenergy.
Bortoletto, G. C. (2020). CinÉtica da reaÇÃo de transesterificaÇÃo do Óleo de soja para
produÇÃo de biodiesel via catÁlise homogÊnea. Master’s thesis, UNIFESP.
Costa, P. (2011). Catalisadores quı́micos utilizados na sı́ntese de biodiesel. Embrapa.
Filho, J. B. (2010). Produção de biodı́esel etı́lico de óleos e gorduras residuais em reator
quı́mico de baixo custo. Master’s thesis, UTFPR.
G. Knothe, J. Gerpen, J. K. (2005). Kinetics of Transesterification of Soybean Oil. AOCS
PRESS.
Noureddini, H. (1997). Kinetics of transesterification of soybean oil. JAOCS,
74(11):1457–1463.
P. Atkins, L. J. (2006). Princı́pios de Quimica:Quetionamento a vida moderna e o meio
ambiente. Bookman.
Ramos, L. R. (2011). Tecnologias de produção de biodiesel. Rev. Virtual Quim, 3(5):385–
405.
Vargas, U. S. R. S. M. (1998). Transesterification of vegetable oils: A review. journal of
the brazilian chemical society. Journal of the Brazilian Chemical Society, 9(3):199–
210.

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