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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 012.

581/2021-6

GRUPO tagGrupo – CLASSE VII – tagColegiado


TC 012.581/2021-6.
Natureza: Representação.
Representante: Tribunal de Contas do Estado do Ceará.
Interessada: ARN Engenharia Eireli (11.477.070/0001-51).
Órgão: Prefeitura Municipal de Acopiara/CE.
Representação legal: Alisson Ferreira Alves (OAB/CE 41.131),
procurador do município de Acopiara/CE; Lise Lima Lopes
(OAB/CE 37.482) e outros.

SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO.
LICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO DE
OBRA DE ADUTORA. EXIGÊNCIAS DE
HABILITAÇÃO EXCESSIVAS. AUSÊNCIA
DE REABERTURA DO PRAZO PARA
APRESENTAÇÃO DAS PROPOSTAS APÓS
ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS NAS
CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO.
MUDANÇA NÃO AUTORIZADA DO TIPO
DE TUBULAÇÃO. CONTRATO ASSINADO,
MAS COM BAIXA EXECUÇÃO. OBRAS
SEM ANDAMENTO ATUALMENTE, À
ESPERA DE APROVAÇÃO DE PEDIDO DE
MODIFICAÇÃO DO PROJETO E DE QUE
OUTRAS PROVIDÊNCIAS CORRETIVAS
SEJAM TOMADAS. CONHECIMENTO.
PRESENÇA DO PERICULUM IN MORA E
DO FUMUS BONI IURIS. INEXISTÊNCIA
DE PERIGO REVERSO. CONCESSÃO DE
MEDIDA CAUTELAR INAUDITA ALTERA
PARS. OITIVAS. CONFIRMAÇÃO DA
MAIOR PARTE DAS IRREGULARIDADES.
CONHECIMENTO E PROCEDÊNCIA.
ANULAÇÃO DA LICITAÇÃO POR ATO
DIRETO DA CONTRATANTE.
DETERMINAÇÕES COM VISTAS À
PROTEÇÃO DO ERÁRIO. CIÊNCIA.
ARQUIVAMENTO.

RELATÓRIO

Trata-se de representação de iniciativa do Tribunal de Contas do Estado do Ceará acerca de


irregularidades na Concorrência Pública 2020.07.02.01, promovida pela prefeitura municipal de
Acopiara/CE com vistas à contratação de empresa para a construção de adutora de abastecimento de
água, bancada por recursos federais comprometidos pelo Ministério do Desenvolvimento Regional
(MDR) mediante a Transferência Legal 216/2018 (Siafi 1AAAFC), no valor previsto de
R$ 11.599.117,00.

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2. Somados os apontamentos extraídos da representação com as verificações feitas pela


SeinfraUrbana em exame preliminar da licitação, foram identificados os seguintes indícios de
irregularidades:
a) exigência de registro dos atestados de capacidade técnico-operacional das licitantes no
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), sem que haja previsão normativa;
b) ausência de republicação do edital após a modificação que incluiu a necessidade de
comprovação de experiência com quantitativos mínimos, tanto para a capacidade técnico-profissional
quanto para a técnico-operacional, além do registro dos atestados no Crea, em contraste com o art. 21, §
4º, da Lei 8.666/1993;
c) exigência de “Certidão de Infração Trabalhista”, não prevista no art. 29, inciso V, da Lei
8.666/1993;
d) exigência de quitação da licitante junto ao Crea, sem que conste entre os documentos para
habilitação estabelecidos pelos arts. 28 a 31 da Lei 8.666/1993;
e) exigência de visto do Crea do Ceará para que empresas de outros estados pudessem
participar do certame, sem haver previsão no art. 30 da Lei 8.666/1993;
f) desclassificação da proposta mais vantajosa da licitante CNT Construtora Nova Terra
Eireli por falhas formais, sem dar-lhe oportunidade para correção, em contrariedade à jurisprudência do
TCU;
g) desconfiguração do objeto licitado em relação ao projeto aprovado pelo MDR, em razão
da substituição da tubulação em PRFV e Pead por ferro fundido, sendo o item mais representativo da
obra.
3. Naquela altura, a Prefeitura Municipal de Acopiara/CE já havia encerrado a licitação e
firmado com a empresa ARN Engenharia Eireli o Contrato 2020.10.02.01, em 2/10/2020, pelo valor de
R$ 11.252.249,43.
4. Não obstante, a SeinfraUrbana apurou, na documentação referente ao processo de
acompanhamento da Transferência Legal 216/2018, que a prefeitura aguardava resposta do MDR sobre
o seu pedido de readequação do projeto, feito em 27/1/2021, logo após a assinatura do contrato, de modo
que as obras tinham tido baixíssima execução e estavam paralisadas.
5. Em resumo, a prefeitura pretende alterar novamente o material de fabricação dos tubos, que
passariam de ferro fundido para PVC, bem como reduzir o comprimento da adutora em 1.688 metros,
que seriam compensados mediante o aproveitamento de canal já existente, resultando tudo em acréscimo
financeiro de R$ 1.898.695,74.
6. A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento
Regional (SEDEC/MDR) manifestou-se, de início, contra o pleito da prefeitura, devido à
descaracterização do projeto, sugerindo o cancelamento da licitação e a devolução dos recursos aos
cofres federais. Mas, depois de vistoria, ressalvou a possibilidade de continuação das obras, caso fossem
tomadas algumas providências, entre as quais a atualização da planilha orçamentária e a obtenção de
compromisso da Companhia de Águas e Esgoto do Ceará (Cagece) de que concorda com a interligação
do sistema adutor sob sua operação com o que está sendo construído.
7. Na ocasião, a Sedec/MDR informou, em relação ao andamento do Contrato 2020.10.02.01,
que “foram executados apenas um pequeno trecho de escavação para assentamento de tubulação e a casa
de comando das bombas da captação”.
8. Dado o cenário indicativo de irregularidades e de dificuldades no prosseguimento das obras,
a SeinfraUrbana propôs que o TCU determinasse à prefeitura municipal de Acopiara/CE, cautelarmente,
“que se abstenha de efetuar quaisquer pagamentos com recursos da Transferência Legal nº 216/2018
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(SIAFI 1AAAFC)”, em função “das irregularidades relacionadas à Concorrência Pública nº


2020.07.02.01”.
9. Por despacho, deferi a medida cautelar, que foi referendada pelo Acórdão 1.942/2021-
Plenário.
10. Em decorrência, foram feitas as oitivas da prefeitura e da empresa ARN Engenharia, além
de diligência, tendo a unidade técnica se pronunciado sobre elas nos seguintes termos:
“(...)
EXAME TÉCNICO
Manifestação município de Acopiara/CE – peça 52
18.Em relação às cláusulas potencialmente restritivas no edital da concorrência n. 2020.07.02.01, o
município, por intermédio de seu Procurador Geral, discorreu analiticamente acerca das ocorrências
objeto do ofício 43537/2021-TCU/Seproc.
19.Quanto à exigência de atestado registrado junto ao Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (CREA) para comprovação da capacidade técnico-operacional da empresa (item
5.4.5.1. do edital), o ente da federação apresenta extenso e detalhado arrazoado contendo
considerações doutrinárias e jurisprudenciais, muitas desta Corte, para defender ser “legal a
exigência de atestado de capacidade técnica profissional e atestado de capacidade técnica
operacional” no âmbito das licitações públicas.
20.No que se refere à ausência de republicação do edital, com a concessão de novo prazo de 30
dias para apresentação das propostas após modificados os itens 5.4.5.1 e 5.4.6 do edital da
Concorrência Pública nº 2020.07.02.01, lacuna que contraria o art. 21, §4º, da Lei nº 8.666/93,
sustenta que:
quando a mudança no Edital foi feita, no dia 27/07/2020, ainda restavam 9 (nove) dias para a data
de abertura do certame, que foi realizada no dia 06/08/2020, tendo as empresas prazo suficiente
para se adequarem, não sendo razoável a republicação por 30 (trinta dias), o que caso tivesse sido
feito, acarretaria enorme prejuízo ao Município, uma vez que seria um maior prazo para termino
da obra, e além disso, correria o risco de haver um maior gasto de recurso público, pois como é
sabido, os valores de materiais de construção estão subindo exponencialmente, o que acarretaria
um maior dispêndio financeiro.
Ora, a mudança/adendo feita pela comissão, não influencia em nada a proposta a ser apresentada
pelos licitantes, não existindo a necessidade de concessão de 30 dias, principalmente pelo fato de
que se trata de uma obra de extrema necessidade e urgência, não podendo serem feitos adiamentos
sem real necessidade, como preceitua o art. 21, §4, da Lei 8.666/93 que segue:
21.Quanto à exigência de Certidão de Infração Trabalhista (subitem 5.4.2.8 do edital), defende
que se trata de “tentativa válida de cumprimento da legislação pertinente e da jurisprudência
consolidada da Justiça Trabalhista.”. Agindo assim, estaria mitigando o risco de ter que assumir,
solidariamente conforme entendimentos do STF e do TST, passivos trabalhistas ou previdenciários
da empresa contratada, sendo válidos todos “os esforços para promover afastamento de particulares
que não respeitam os direitos trabalhistas e previdenciários de seus empregados, evitando contratá-
los, bem como ampla e firme fiscalização dos contratados para aferir se estão cumprindo com as
normas trabalhistas e previdenciárias.”.
22.Sobre a exigência de quitação da empresa junto ao Crea (subitem 5.4.4.1 do edital), assevera
que “não exigiu prova de quitação perante a entidade profissional competente, mas tão somente o
registro, na forma do art. 30, I da Lei n° 8.666/93”.
23.Assevera que o edital adotou a expressão “Certidão de Registro e Quitação” por ordem prática, já
que esse é o termo adotado por alguns conselhos de classe para referenciar o documento que expressa
a inscrição da pessoa jurídica. Assim, expõe que a exigência consistiu na apresentação de um único
documento, referente à inscrição da licitante, não sendo necessária a prova de regularidade.

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24.Em relação à exigência de visto no Crea/CE de empresas situadas em outro estado da


federação como condição para participar da licitação (subitem 5.4.4.2 do edital), esclarece que
(...) tal requisito NÃO precisava ser cumprido na fase de habilitação por todas as licitantes, mas
tão somente pela licitante vencedora, “por ocasião da contratação”. Assim, não se tratou de
condição de habilitação. A disposição tal qual formulada, como pressuposto da contratação e não
da habilitação da empresa, está compatível com o entendimento deste Tribunal de Contas da
União, como se vê dos Acórdãos n° 10.362/2017 – 2ª Câmara; 1.017/2019 – Plenário; 1.020/2019
– Plenário (...).
25.Em seguida, a manifestação do ente municipal discorre a respeito da desclassificação da
proposta apresentada pela licitante CNT Construtora Nova Terra Eireli, sem oportunizar a
correção da falha que motivou a exclusão da menor proposta, no valor de R$7.682 217,31. Sobre
esse fato, após apresentar considerações acerca das fases que compõem o processo licitatório e a
previsão contida no art. 43 da Lei n. 8.666/1993, inerente ao pode-dever de a comissão de licitação
realizar diligências com vistas ao esclarecimento de dúvidas; à obtenção de informações
complementares e ao saneamento de falhas (vícios e/ou erros), defende:
(...) a impossibilidade de se alterar ou modificar qualquer documento contido no envelope ou
ratificar qualquer item da proposta feita pelo licitante após a entrega dos envelopes, uma vez que
estes são assinados para garantir a inviolabilidade e abertos concomitantemente, onde caso isso
fosse feito, haveria a violação das propostas, claro desrespeito aos princípios administrativos e ao
Edital, onde além de gerar uma colossal insegurança a todos os licitantes, nitidamente a
Administração nesse caso estaria privilegiando o licitante modificador em detrimento dos demais.
Indo além, a administração estaria privilegiando um licitante, e por isso, incorreria no crime
previsto no art. 90 da Lei de licitações, que prevê o crime de fraude à licitação.
Todavia, restou-se evidente que caso a Administração autorizasse a modificação de qualquer
natureza dos documentos apresentados e lacrados no envelope acarretaria um desrespeito de
natureza oceânica ao princípio da isonomia entre os participantes e ao princípio da vinculação ao
instrumento convocatório como é tratado a seguir.
26.Por fim, a respeito da desconfiguração do objeto licitado na aludida concorrência,
caracterizada pela proposta de “Readequação do Projeto do Sistema de Abastecimento de Água –
Acopiara/Ceará - Março 2021” submetida à Sedec/MDR, informa o seguinte:
Quanto ao presente tópico, nos foi repassado pela engenharia que consta que houve uma
explanação em aditivo, devido a pandemia, com a alta dos tubos em até 70%, para apreciação dos
órgãos competentes.
Sendo assim, foi rejeitado o novo orçamento, por se tratar de itens diferentes aos licitados. Em
razão do posicionamento negativo, o projeto segue o mesmo, não havendo trocas.
Manifestação ARN Engenharia Eireli. – peça 59
27.A manifestação da empresa contratada em decorrência da concorrência n. 2020.07.02.01
encontra-se à peça 59 dos autos e apresenta argumentos semelhantes aos fornecidos pelo município
de Acopiara, cujo cerne colacionou-se no tópico anterior. Assim, salvo melhor juízo, desnecessário
apresentá-los novamente.
Análises
Exigência de atestado registrado junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
(CREA) para comprovação da capacidade técnico-operacional da empresa (item 5.4.5.1. do
edital), em desacordo com a legislação vigente, haja vista que o CAT (Certidão de Acervo
Técnico) é o documento oficial do Crea apto a fazer prova da capacidade técnica do
profissional, mas não da empresa licitante, conforme at. 5º da Resolução 1025/2009 do
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea)
28.Sobre as exigências para comprovação da capacidade técnica operacional das licitantes,
importante expor o trecho que trata do tema na primeira versão do edital publicado:

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Figura 1 – requisitos originais habilitação operacional

29.Posteriormente, na data de 27 de junho de 2020, foi publicado no Diário Oficial da União a


retificação do ato convocatório, indicando as seguintes exigências para habilitação técnica das
pessoas jurídicas:
Figura 2 – requisitos habilitação operacional ratificados

30.Conforme se verifica, houve substancial alteração na forma de comprovação da qualificação


técnica das empresas, passando-se a exigir a apresentação de atestados devidamente registrados na
entidade profissional competente, nos quais deveriam constar o nome da pessoa jurídica na condição
de contratada. Sobre tal exigência, importante primeiro esclarecer que a jurisprudência pacífica desta
Corte reconhece, há muito, a possibilidade de ser solicitada, para fins de habilitação técnica nos
certames para contratação de obras e serviços de engenharia, comprovação da capacidade técnica
operacional das entidades que pretendem contratar com a administração pública.
31.A vasta argumentação oferecida pelo município de Acopiara em sua manifestação, com
apresentação do entendimento consolidado da doutrina especializada e de decisões desta Corte e de
outros tribunais corrobora esse entendimento. Todavia, o cerne do questionamento efetuado nos
autos não se vincula a essa possibilidade, mas sim à forma como ela se materializou no edital da
concorrência, especialmente no que diz respeito à necessidade de os atestados apresentados pelas
proponentes serem registrados na entidade profissional competente (CREA).
32.Sobre essa exigência, cita-se, abaixo, trecho do Voto do Exmo. Ministro Marcos Bemquerer ao
relatar o recente Acórdão 1542/2021 - Plenário:
81. Ademais, destaca que a exigência de registro de atestados nas entidades profissionais
competentes deve ser limitada à capacitação técnico-profissional, conforme precedentes deste
Tribunal (v.g. Acórdão 1.849/2019-Plenário, Relator Ministro Raimundo Carreiro; Acórdão
1.674/2018-Plenário, Relator Ministro Augusto Nardes; e Acórdão 7.260/2016-2ª Câmara,
Relatora Ministra Ana Arraes).
82. Nesse contexto, as menções normativas e jurisprudenciais contidas na manifestação da ANA
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estão no contexto da comprovação da capacidade técnico-profissional. Já o subitem 10.11.3 do


edital, que se refere expressamente ao atestado de capacidade técnica "da licitante", alude
à capacidade técnico-operacional, o que é irregular, haja vista que o art. 55 da Resolução-
Confea 1.025/2009 veda a emissão de Certidão de Acervo Técnico - CAT em nome de pessoa
jurídica, e pode ter restringido indevidamente a competitividade do certame.
33.No mesmo sentido se manifestou o Exmo. Ministro Augusto Sherman Cavalcanti ao conduzir o
Acórdão 3094/2020 - Plenário:
Com relação ao item 9.12.2 do edital (peça 4, p. 14) , que prevê a apresentação de atestados de
capacidade devidamente registrados no Crea e acompanhados das respectivas Anotações de
Responsabilidade Técnica (ART's) e Certidão de Acervo Técnico (CAT) , inicialmente vale
lembrar - consoante apontado no Despacho de peça 35 - entendimento do Tribunal (a exemplo
dos Acórdão 7260/2016-TCU-Segunda Câmara, Relatora Ministra Ana Arraes; e
1.849/2019- Plenário, Relator Ministro Raimundo Carreiro) no sentido de ser irregular a
exigência de que a atestação da capacidade técnico-operacional da empresa licitante seja
registrada ou averbada junto ao Crea, inclusive porque o art. 55 da Resolução-Confea
1.025/2009 veda a emissão de CAT em nome de pessoa jurídica, não se compatibilizando com a
previsão contida no art. 30, § 3º, da Lei 8.666/1993.
34.Nesse contexto, conclui-se que a exigência contida no item 5.4.6.5 do edital da concorrência n.
2020.07.02.01 não observou esse entendimento, mostrando-se contrário à orientação tanto do
CONFEA quanto deste Tribunal.
Ausência de republicação do certame, com a concessão de novo prazo de 30 dias, após
modificados os itens 5.4.5.1 e 5.4.6 do edital, contrariando o art. 21, §4º, da Lei nº 8.666/93
35.Sobre esse indício de irregularidade, as manifestações da empresa contratada e do município
defendem que o mencionado art. 21, §4º, da Lei nº 8.666/93 exige a reabertura do prazo inicialmente
estabelecido somente quando a alteração afetar as propostas, situação que afirmam não corresponder
às modificações processadas na retificação do edital publicada em 27 de junho de 2020.
36.Conforme acima exposto, a alteração teve como objeto a modificação dos critérios de habilitação
dos licitantes, tanto no que diz respeito à qualificação técnico profissional quanto em relação à
qualificação operacional.
37.Sobre a questão, dispõe o mencionado parágrafo quarto do art. 21 da Lei de Licitações que
“qualquer modificação no edital exige divulgação pela mesma forma que se deu o texto original,
reabrindo-se o prazo inicialmente estabelecido, exceto quando, inquestionavelmente, a alteração
não afetar a formulação das propostas”. Da leitura do dispositivo legal nota-se que a regra deve ser
a republicação do ato convocatório, a menos que não restem quaisquer dúvidas de que a modificação
não impacta a formulação das propostas.
38.A nosso ver, a expressão “propostas” constante no dispositivo legal contempla não apenas as
propostas de preços, mas também os demais documentos de habilitação apresentados pelos
concorrentes na sessão de recebimento dos envelopes. Ou seja, se a alteração impacta, por exemplo,
a comprovação da habilitação para a execução do objeto, há a necessidade de republicação do
certame, de modo que eventuais empresas que até então não atendiam aos requisitos originalmente
estabelecidos e decidam ingressar na disputa possam contar com prazo suficiente para elaboração da
sua proposta comercial.
39.Caso contrário, haveria risco de quebra da isonomia da disputa, já que as empresas que decidiram
participar da licitação desde a primeira publicação do edital teriam prazo maior para organização da
documentação, conhecimento do objeto e confecção da proposta comercial.
40.Sobre essa alteração, uma das licitantes, inclusive, alegou o seguinte em recurso interposto contra
o resultado da habilitação (peça 77; pg. 1):
Nobre Presidente o que causa estranheza é que esta augusta comissão de licitação lança o Edital
de licitação nº 2020.07.02,01 com suas exigências dentro da lei solicitando a qualificação técnica
em nome do profissional e não em nome da empresa, então no apagar das luzes” faltando apenas
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10 (dez) dias para a abertura da licitação lança um “adendo” ao Edital com uma mudança brusca
no que se refere a exigência de qualificação técnica ou seja alterando em especial este Edital.
41.No caso concreto, nota-se que três empresas foram inabilitadas em função de não atenderem,
dentre outros aspectos, às exigências para qualificação técnica definidas pelo ato convocatório.
Exigência indevida de Certidão de Infração Trabalhista (subitem 5.4.2.8 do edital)
42.Conforme acima exposto, as manifestações defendem, na essência, que a exigência tem por
objetivo resguardar a administração pública de eventual solidariedade em débitos trabalhistas ou
previdenciários decorrentes da execução do empreendimento.
43.Entretanto, observando-se o dispositivo da Lei n. 8.666/1993 que disciplina a questão nota-se não
haver margem para o procedimento adotado pela comuna, tendo em vista a natureza numerus clausus
da documentação para comprovação da regularidade fiscal e trabalhista:
Art. 29. A documentação relativa à regularidade fiscal e trabalhista, conforme o caso, consistirá
em:
I - prova de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Geral de
Contribuintes (CGC);
II - prova de inscrição no cadastro de contribuintes estadual ou municipal, se houver, relativo ao
domicílio ou sede do licitante, pertinente ao seu ramo de atividade e compatível com o objeto
contratual;
III - prova de regularidade para com a Fazenda Federal, Estadual e Municipal do domicílio ou
sede do licitante, ou outra equivalente, na forma da lei;
IV - prova de regularidade relativa à Seguridade Social, demonstrando situação regular no
cumprimento dos encargos sociais instituídos por lei.
IV - prova de regularidade relativa à Seguridade Social e ao Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS), demonstrando situação regular no cumprimento dos encargos sociais instituídos
por lei.
V – prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho, mediante a
apresentação de certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Consolidação das Leis do
Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.
44.Em relação à regularidade trabalhista, o inciso V supra colacionado indica a comprovação da
regularidade por intermédio da certidão negativa prevista na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). A CLT, por sua vez, regulamenta no art. 642-A as situações em que o interessado não obterá
a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT):
Art. 642-A. É instituída a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT), expedida gratuita
e eletronicamente, para comprovar a inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do
Trabalho.
§ 1o O interessado não obterá a certidão quando em seu nome constar:
I – o inadimplemento de obrigações estabelecidas em sentença condenatória transitada em julgado
proferida pela Justiça do Trabalho ou em acordos judiciais trabalhistas, inclusive no concernente
aos recolhimentos previdenciários, a honorários, a custas, a emolumentos ou a recolhimentos
determinados em lei; ou
II – o inadimplemento de obrigações decorrentes de execução de acordos firmados perante o
Ministério Público do Trabalho ou Comissão de Conciliação Prévia.
§ 2o Verificada a existência de débitos garantidos por penhora suficiente ou com exigibilidade
suspensa, será expedida Certidão Positiva de Débitos Trabalhistas em nome do interessado com
os mesmos efeitos da CNDT.
§ 3o A CNDT certificará a empresa em relação a todos os seus estabelecimentos, agências e filiais.

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§ 4o O prazo de validade da CNDT é de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data de sua
emissão.
45.Conforme se observa, constituem condições para a não obtenção da certidão a inadimplência de
débitos reconhecidos pela Justiça do Trabalho ou decorrentes de acordos firmados junto ao MPT ou
à Comissão de Conciliação Prévia. Ainda assim, se houver débitos garantidos por penhora ou com
exigibilidade suspensa, poderá ser emitida certidão positiva, porém com efeito de negativa.
46.A certidão de infração trabalhista exigida pelo edital da concorrência, por sua vez, constitui
documento emitido pelo Poder Executivo indicando inexistência de autos de infração trabalhista
lavrados contra a pessoa jurídica. Tais autos são decorrentes de fiscalizações inerentes ao poder de
polícia da administração com o intuito de verificar o cumprimento das normas regulamentadoras das
condições de trabalho.
47.O referido auto de infração, após lavrado, inicia o processo administrativo, no qual é assegurado
o contraditório e a ampla defesa à empresa autuada. Caso confirmada a irregularidade é aplicada
sanção pecuniária à contratante.
48.Nota-se, portanto, que a certidão exigida no subitem 5.4.2.8 do edital da concorrência
2020.07.02.01 não se presta a verificar a “inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do
Trabalho”, tal qual estabelece a lei de licitações, motivo pelo qual não poderia ser exigido para fins
de habilitação das empresas interessadas em contratar com a administração. A jurisprudência deste
Tribunal também é firme nesse sentido, conforme Acórdãos 2913/2014-Plenário, de Relatoria do
Ministro-Substituto Weder de Oliveira; 434/2010-TCU-2ª C, Relatoria Ministro Aroldo Cedraz;
5611/2009-2ª C, Relatoria Ministro Substituto André Luis de Carvalho; 1544/2008-1ª C, Relatoria
Ministro Substituto Marcos Bemquerer e 697/2006-P, Relatoria Ministro Ubiratan Aguiar.
49.Em razão do exposto, conclui-se que a manifestação do município e da empresa ARN Engenharia
Eireli não justificam a irregularidade.
Exigência indevida de quitação da empresa junto ao CREA (subitem 5.4.4.1 do edital), por não
haver amparo nos arts. 28 a 31 da Lei 8.666/1993
50.Os argumentos oferecidos sustentam que o dispositivo do edital que exigira a apresentação de
certidão de inscrição e quitação junto ao CREA decorre de desdobramento prático da forma de
emissão do documento por parte da autarquia especial, pois o serviço ofertado pelo conselho
encontra-se denominado como certidão de registro e quitação, emitido conjuntamente.
51.Assim sendo, afirma não ser possível a emissão da certidão de inscrição junto à entidade sem que
a empresa esteja em dia com as suas obrigações.
52.Compulsando-se o portal do CREA/CE nota-se a pertinência das justificativas, pois o conselho
que regula e fiscaliza o exercício das profissões da agronomia, engenharia, geologia, geografia e
meteorologia condiciona a emissão da certidão de inscrição à situação de adimplência da pessoa
jurídica. A figura abaixo, extraída da página da autarquia especial no Ceará ilustra a exigência:
Figura 03 – requisitos certidão CREA

53.Assim sendo, a emissão da certidão no portal do CREA exige que a empresa esteja em dia com a
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autarquia. No mesmo sentido, a Resolução CONFEA 1.121/2019, que dispõe sobre o registro de
pessoas jurídicas nos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia, estabelece o cancelamento
do registro da pessoa jurídica que deixar de pagar a anuidade durante 2 (dois) anos consecutivos, de
modo que há uma vinculação entre a adimplência da empresa e a sua inscrição no conselho
profissional.
54.Nesses termos, ao que tudo indica a exigência do edital se mostra justificada, devendo ser
ressaltado que não impactou a habilitação das empresas que participaram do certame, pois nenhuma
foi inabilitada em razão da não apresentação da certidão exigida.
Exigência de visto no CREA/CE de empresas situadas em outro estado da federação para
participar da licitação (subitem 5.4.4.2 do edital), por não estar prevista no art. 30 da Lei
8.666/93
55.O subitem 5.4.4.2 do edital encontrava-se redigido da seguinte forma (destaque acrescido):
5.4.4.2. Em se tratando de empresa com sede em outro Estado, o registro ou inscrição na entidade
profissional competente deverá portar o visto no CREA/CE na forma da Resolução CONFEA n.º
413 de 27 de JULHO de 1997, por ocasião da contratação.
56.Conforme se observa, assiste razão aos manifestantes, que aduzem no sentido de que a exigência
de visto dar-se-ia apenas em função da futura contratação, não sendo aplicável para fins de
habilitação no certame.
57.Assim sendo, considera-se esclarecido o questionamento.
Desclassificação da proposta da licitante CNT Construtora Nova Terra Eireli, sem permitir
que a empresa pudesse corrigir a planilha apresentada durante o certame, abdicando-se,
portanto, de proposta muito mais vantajosa para a Administração
58.Nas manifestações oferecidas tanto pela empresa contratada quanto pelo município há o
reconhecimento acerca da possibilidade de a administração suprir eventuais falhas formais ou
lacunas nos documentos dos licitantes mediante a realização de diligências, nos termos previsto pelo
art. 43 da Lei n. 8.666/1993.
59.Entretanto, destacam não ser possível a “inclusão posterior de documentos/informações que
deveriam ter sido realizada originalmente da proposta”, e que a retificação da proposta oferecida pela
Construtora Nossa Terra implicaria ofensa aos princípios da legalidade e da vinculação ao
instrumento convocatório, bem como quebra da isonomia do certame.
60.Analisando-se a ata de julgamento das propostas de preços (peça 78; pg 123) observa-se que a
desclassificação da proposta da Construtora Nova Terra se fundamentou em parecer técnico emitido
por engenheiro do município, registrando a seguinte situação:
Figura 04: Trecho parecer análise proposta CNT

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61.Conforme se constata, a proposta comercial foi dispensada em razão de duas possíveis


inconformidades, a saber: i) não atendimento ao item 6.2.5.3 do edital, referente ao cronograma físico
financeiro, especificamente em razão da indicação de prazo de execução de três meses, diversamente
do prazo registrado no projeto básico, correspondente à noventa (90) dias; ii) valor divergente no
cronograma físico financeiro em relação ao indicado no orçamento.
62.A nosso ver, tais falhas podem ser consideradas formais e deveriam ser esclarecidas mediante
diligência à empresa proponente, especialmente em razão de que outros elementos da documentação
guardavam compatibilidade entre si, a exemplo da carta proposta que expressava a oferta de R$
7.682.217,31 para a execução do objeto, a planilha resumo das etapas do orçamento que totalizava o
mesmo valor e a própria planilha analítica dos serviços, que também registrou o valor global de R$
7.682.217,31.
63.Se o cronograma físico financeiro consignou valor diverso, em homenagem aos princípios do
formalismo moderado e da competitividade e alinhada com o objetivo de buscar a melhor proposta
para administração pública, seria prudente a comissão de licitação diligenciar a empresa para
esclarecer as inconsistências. Nesses termos, não há que se falar em quebra da isonomia do torneio,
pois não seria dado à empreiteira a possibilidade de realizar nova proposta, pois o valor global já se
encontrava definido, sem possibilidade de alteração.
64.Nesse sentido já decidiu este Tribunal:
Acórdão 2546/2015-TCU-Plenário-Rel. Min. André de Carvalho
A existência de erros materiais ou de omissões nas planilhas de custos e preços das licitantes não
enseja a desclassificação antecipada das respectivas propostas, devendo a Administração
contratante realizar diligências junto às licitantes para a devida correção das falhas, desde que não
seja alterado o valor global proposto. Cabe à licitante suportar o ônus decorrente do seu erro, no
caso de a Administração considerar exequível a proposta apresentada.
Acórdão 1811/2014-Plenário-Rel. Min. Augusto Sherman
Não restando configurada a lesão à obtenção da melhor proposta, não se configura a nulidade do
ato. Erro no preenchimento da planilha de formação de preço do licitante não constitui motivo
suficiente para a desclassificação da proposta, quando a planilha puder ser ajustada sem a
necessidade de majoração do preço ofertado.
Acórdão 187/2014-Plenário-Rel. Min. Valmir Campelo
É possível o aproveitamento de propostas com erros materiais sanáveis, que não prejudicam o
teor das ofertas, uma vez que isso não se mostra danoso ao interesse público ou aos princípios da
isonomia e da razoabilidade.

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65.No caso concreto, vale destacar que a inercia da comissão de licitação em diligenciar a licitante
resultou na desclassificação de proposta com valor significativamente inferior à oferecida pelas
demais empresas habilitadas, com possibilidade concreto de ter impactado a seleção da melhor
proposta. A diferença entre a menor proposta oferecida pela Construtora Nova Terra e a proposta
contratada, de lavra da ARN Engenharia Eireli, totaliza R$ 3.570.032,12.
66.O que mais chama a atenção na desclassificação da menor proposta são as falhas apontadas, em
especial o fato de a licitante ter indicado no cronograma físico financeiro o prazo de 90 dias para a
execução dos serviços, em detrimento do registro em meses, tal qual constou no projeto básico.
67.Não se vislumbra qual o impacto dessa distinção para a execução do objeto, ou até mesmo a
necessidade de ser registrado o prazo em meses, o que suscita dúvidas inclusive sobre a necessidade
de eventual diligência para esclarecer esse aspecto. A outra questão, inerente ao valor divergente no
cronograma físico, poderia ser facilmente corrigida pela licitante, sem maiores implicações.
68.Diante disso, conclui-se que a manifestação do ente municipal e da empresa ARN Engenharia não
esclarecem a impropriedade.
Desconfiguração do objeto licitado na aludida concorrência, caracterizada pela proposta de
“Readequação do Projeto do Sistema de Abastecimento de Água – Acopiara/Ceará - Março
2021” submetida à Sedec/MDR, indicando redução da extensão da adutora em 1688 metros;
substituição da tubulação de ferro fundido (FoFo Dúctil JGS JE K-7 P/ Água DN 400mm) por
PVC (BIAX PN 12,5 Adução –DEFoFo- DN 400 mm e DN 300 mm) e extrapolação do
percentual permitido pelo art. 65, § 1o, da Lei n. 8.666/1993 para alteração dos contratos
administrativos, prejudicando o alcance dos objetivos previstos no art. 3o da Lei n. 8.666/1993
69.Referente a essa questão, o município sustenta que “houve uma explanação em aditivo, devido a
pandemia, com a alta dos tubos em até 70%, para apreciação dos órgãos competentes”, mas que em
razão do indeferimento, o projeto segue o mesmo, não havendo trocas.
70.Já a ARN Engenharia alega que “pouco importa a mudança da natureza do tubo, pois o objeto
licitado continua sendo o mesmo, assim como a finalidade da obra continua sendo a mesma”.
71.Da análise do processo administrativo SEI 59202.001651/2018-46 constata-se que o município
de Acopiara apresentou junto à Sedec, na data de 27/01/2021, pleito de readequação do objeto
conveniado, no qual sinaliza para substituição dos tubos da adutora de água bruta, contratados
originalmente em ferro fundido (400 mm) junto à ARN Engenharia. Se aprovada a solicitação, seriam
implantados tubo “de PVC (BIAX) de mesmo diâmetro, mais barato que anterior, mas que atenderia
os esforços de pressão verificados nos estudos de transientes hidráulicos”.
72.Conforme destacado no parecer 20/2021/COPE/CGPP/DOP/SEDEC (MDR) “a proposta de
readequação, em suma, traz uma redução na extensão do trecho projetado de 1.688m (9.760m -
8.072,29m), e um reflexo financeiro à maior de R$ 1.898.695,74 (16,87%) sobre o total contratado,
após as compensações entre os acréscimos e supressões, a ser aditivado com empresa contratada”.
73.Consta também no mencionado processo administrativo que o plano de trabalho aprovado pela
União contemplava a execução de adutora com tubo de PRFV, mas que o município, por conta e
risco, alterou essa especificação antes da realização do processo licitatório, adotando elementos em
ferro fundido, os quais, novamente, pretendia alterar, adotando PVC, que julga mais econômico.
74.No RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA Nº 2021_05_RVT_DOP_MGC, elaborado pela Sedec
após inspeção ao local do empreendimento (peça 15), restam destacados outros apontamentos que
impactam na concepção do projeto financiado pela União, a saber:
A captação da água no Açude Trussu para a cidade de Acopiara já ocorre de forma intermitente
a partir de uma adutora em aço patinável e uma adutora em PRFV. A adutora em PRFV foi
parcialmente executada por meio de um convênio com a FUNASA. Ela está implantada a partir
da coordenada indicada em 2.1.1 (-6.201179, -39.433701) e estende-se até a ETA da CAGECE
na cidade de Acopiara.
A adutora emergencial em aço patinável com juntas de acoplamento, foi construída

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posteriormente, após a seca de 2012. Ela foi implantada a partir do açude Trussu e também
estende-se até a cidade de Acopiara. Não ficou claro o motivo de não terem aproveitado o trecho
então existente da adutora em PRFV e, assim, evitado a existência dessas adutoras em paralelo.
Verificou-se que a CAGECE, posteriormente, fez essa interligação entre as adutoras. Do local de
interligação até a ETA há cerca de 14km em adutora de PRFV. Percorreu-se cerca de 3km onde
observou-se as duas adutoras implantadas, nos quais a adutora em aço patinável está sem qualquer
uso.
Ao longo da operação, a CAGECE substituiu parte dos tubos danificados por PVC DEFoFo. Isso
foi observado nas duas adutoras. Na adutora em aço isso ocorre a partir da captação até uma
distância informada de cerca de 1,3km. Na adutora em PRFV essa substituição foi observada de
forma intermitentemente.
Na data da visita a adutora que faz captação no Açude Trussu estava desativada. Foi informado
que essa captação ocorre apenas quando o açude próximo à cidade (Açude Quincoé) encontra-se
com volume baixo.
Vale informar que, ao contrário do que foi apresentado nas justificativas e diagnósticos do plano
de trabalho (Documentação complementar - 08/04/2021 (SEI 3101184 - fl.4), não foi observada
qualquer previsão de entrega de água para a área rural ou distritos. A adutora segue do Açude
Trussu até a cidade de Acopiara sem derivações.
Em relação ao abastecimento por carros-pipa na área rural, além do gasto municipal informado
no referido documento, há atendimento do Município pela Operação Carro-Pipa (OCP) do
Governo Federal. Do mesmo modo, não foi observado atendimento desta população pela adutora
ou implantação de ponto para captação dos carros-pipa, o que reduziria custos. Permanecendo
este cenário, a adutora fatalmente não trará impacto ao abastecimento por carros-pipa, em
especial, à OCP Federal gerida pela SEDEC.
75.Destaca-se nas informações acima o registro de que no local de implantação do projeto já existem
duas adutoras levando água até a ETA de Acopiara, uma de ferro fundido e uma em PRFV, as quais
se encontram interligadas. Ao que tudo indica, essas adutoras são operadas pela Companhia de Água
e Esgoto do Ceará – CAGECE, que teria efetuado, a título de manutenção, a substituição de parte da
tubulação.
76.Diante dessa constatação, o mencionado relatório sinaliza para a necessidade de ações junto à
companhia estadual com vistas a avaliar o aproveitamento de equipamentos presentes no local
(trechos da adutora, flutuante, etc.), bem como obter homologação acerca do projeto da nova adutora.
77.Tais informações demonstram que o projeto da adutora que se pretende implantar com recursos
do Governo Federal precisa ser melhor analisado, notadamente com vistas a avaliar a sua real
necessidade, tendo em vista já existir, no mesmo local, equipamento similar gerenciado pela
companhia estadual de águas. Nesse contexto, não resta clara a função dos novos investimentos, se
complementar aos equipamentos existentes por exemplo, tampouco a responsabilidade pela posterior
operação do sistema.
78.De toda sorte, tais questões já se encontram em análise no âmbito da Sedec, haja vista que o
mencionado relatório de visita técnica registrou a necessidade de esclarecimento dos seguintes
aspectos antes da continuidade do empreendimento:
a) Análise atualizada e detalhada das alterações previstas no projeto original, nos aspectos
técnicos e de equilíbrio econômico-financeiro;
b) Considerar as informações indicadas em 4.3 na decisão acerca do material da adutora e avaliar
de forma minuciosa o estudo de transientes hidráulicos, uma vez que as duas adutoras implantadas
passam por problemas constantes de manutenção e substituição de tubos;
c) Atualização da planilha orçamentária e do cronograma físico-financeiro da obra;
d) Verificar com a CAGECE, que atualmente opera a adutora existente, o possível aproveitamento
de outros equipamentos e materiais desta adutora, a exemplo do flutuante e do tubo em

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PEAD, bem como submeter o projeto à sua homologação;


e) Solicitar declaração atualizada à CAGECE de que aquela companhia está de acordo com a
implantação da adutora e sua posterior operação;
f) Solicitar manifestação da prefeitura acerca do item 4.5 deste relatório;
g) A implantação de ponto para captação da Operação Carro-Pipa (OCP) do Governo Federal e
compromisso da CAGECE de que fará sua posterior operação.
79.Além dessas considerações, nota-se, ainda, que o projeto licitado no âmbito da concorrência
2020.07.02.01 não guarda compatibilidade com o que fora aprovado pela Sedec, tendo em vista a
modificação da tubulação ao arrepio de autorização do ente concedente (passou de PRFV para ferro
fundido). Ou seja, além das providencias com vistas a alterar o objeto licitado, nota-se que este
sequer guarda compatibilidade com o aprovado pelo órgão federal, descaracterizando toda análise da
compatibilidade do valor a ser investido pela União.
80.Diante desse cenário e das observações feitas pela Sedec no RELATÓRIO DE VISITA
TÉCNICA Nº 2021_05_RVT_DOP_MGC e no parecer 20/2021/COPE/CGPP/DOP/SEDEC
(MDR), mostra-se necessária uma reanálise dos termos da transferência voluntária, especialmente
com vistas a garantir a viabilidade do empreendimento, a sua operação após a execução e a
adequabilidade dos seus custos.
DA CONTINUIDADE DO EMPREENDIMENTO
81.Após análise das questões acima, exsurge a necessidade de avaliar a continuidade do
empreendimento, que se encontra com a aplicação de recursos federais suspensa em razão de medida
cautelar adotada pelo Exmo. Ministro Vital do Rego, ratificada pelo Plenário desta Casa.
82.Em que pesem duas das impropriedades objeto de apuração nos presentes autos terem sido
justificadas pela manifestação do município e da empresa contratada (exigência de quitação junto ao
CREA e visto no conselho do Ceará), aspectos relevantes da contratação restaram pendentes de
esclarecimentos, com reflexo na seleção da proposta mais vantajosa.
83.Chama a atenção que em certame para a contratação de objeto relativamente simples, com um
total de nove empresas interessadas em contratar com a administração pública, apenas duas lograrem
êxito em ter as propostas de preços validadas, sendo que uma dessas precisou recorrer ao Poder
Judiciário para ser habilitada no torneio (Construtora Planície Ltda.). Ou seja, das nove licitantes que
ofereceram documentação, apenas uma única concorrente, a que veio a ser contratada pela comuna,
conseguiu superar as exigências estabelecidas pelo ato convocatório, tanto em relação à habilitação
quanto no tocante às formalidades da proposta comercial.
84.Analisando-se a ata de julgamento dos documentos de habilitação contata-se que contribuíram
para esse cenário as exigências exacerbadas constantes no edital, a exemplo das que foram objeto de
oitiva do ente municipal, assim como em razão de outras falhas não identificadas quando da primeira
instrução dos autos. Cita-se, por exemplo, a exigência de regularidade para com a fazenda do
município de Acopiara/CE concomitante à comprovação da regularidade fiscal junto ao município
de domicílio do licitante, situação que não se coaduna com o disposto no art. 29 da Lei n. 8.666/1993.
85.No mesmo sentido as exigências para apresentação de garantia da proposta (item 7 do edital)
simultânea à comprovação de capital social, no montante de R$1.159.911,70, correspondente à 10%
(dez por cento) do valor estimado da contratação, em inobservância ao art. 31, § 2o, da mencionada
lei federal.
86.A habilitação técnica também se mostrou defeituosa, haja vista a alteração dos requisitos a serem
atendidos pelos concorrentes sem a reabertura do prazo do certame, nos termos anteriormente
detalhados, assim como em razão da solicitação da comprovação de quantitativos de serviços
para aferição da qualificação técnica profissional, situação que não encontra abrigo na Lei n.
8.666/1993.
87.Esse conjunto de falhas e o rigor excessivo na análise da proposta oferecida pela empresa CNT-
Construtora Nova Terra Eireli, desconsiderando o poder-dever inerente à realização de diligência
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para esclarecer ou corrigir falhas formais nas propostas das licitantes, contribuíram para a celebração
de contrato administrativo com valor consideravelmente superior ao que poderia ter sido obtido, a
ser custeado com recursos dos cofres da União.
88.Não obstante tais falhas já serem suficientes para colocar em suspeição a continuidade do contrato
2020.10.02.01, observa-se que as premissas que embasaram a referida contratação, bem como o
plano de trabalho aprovado pelo ente concedente, carecem de revisão dos seus aspectos técnicos,
quer seja para garantir a viabilidade do empreendimento, quer seja para a correta definição do valor
a ser despendido pelos cofres federais.
89.A esse respeito, observa-se que, por intermédio do Ofício nº 19/2021/DOP/SEDEC/MDR, de 16
de julho de 2021 (peça 127), a Sedec solicitou ao município de Acopiara manifestação acerca dos
“apontamentos constantes no item 5.5 do Relatório Visita Técnica 2021_05_RVT_DOP_MGC (SEI
nº 3248213), reiterando a necessidade de resposta quanto as providências adotadas diante das
impropriedades relativas ao processo licitatório e aos custos envolvidos para alteração de
projeto solicitadas pelo Parecer nº 20/2021/COPE/CGPP/DOP/SEDEC (MDR).”. Apesar da ciência
do expediente na data de 26/7/2021, o convenente se manteve inerte na apresentação de
esclarecimentos (situação verificada em 22/12/2021).
90. Assim, até o presente momento não há certeza acerca do escopo do objeto contratado, uma vez
que não só difere do aprovado pela Sedec como há indícios de serem necessárias alterações tanto no
material como na extensão da adutora. Também resta dúvida acerca da viabilidade técnica e
operacional do empreendimento, sendo necessário esclarecer o contexto em que se dará a
implantação da nova adutora face aos trechos já instalados na região, sob responsabilidade da
CAGECE.
91.Diante desse cenário, não resta alternativa a este Tribunal senão a anulação do contrato
administrativo defeituoso, ensejando nova licitação do objeto após esclarecidos os apontamentos
efetuados pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil e confirmada a viabilidade técnica e
operacional do empreendimento.
92.Por fim, cumpre-nos registrar que em razão de a SEDEC estar acompanhando adequadamente as
questões técnicas relacionadas ao sistema de adução, tais como material dos tubos e conexões,
aproveitamento das adutoras existentes, extensão do trecho a ser construído (se for o caso), operação
da adutora após conclusão, não se mostra necessária formulação de encaminhamento sobre esses
aspectos, tal qual orientação contida na Resolução TCU n. 315/2020 (art. 16 - Da Racionalização das
Deliberações).
IMPACTO DA PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
93.Conquanto tenha sido encaminhado ao município de Acopiara o ofício 43539/2021-TCU/Seproc
(peça 23) requerendo informações sobre as consequências práticas da implementação da
determinação aventada na instrução à peça 17 (determinar a anulação da Concorrência Pública
2020.07.02.01 e do contrato dela decorrente), não houve manifestação específica por parte da
unidade jurisdicionada abordando essa questão.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
94. Digno de nota que o empreendimento tratado nos presentes autos, qual seja, sistema adutor com
a captação no Açude Trussú, a ser custeado com recursos da Transferência Legal nº 216/2018, foi
objeto do TC 033.605/2020-3, já arquivado nesta Corte.
95.Naquele processo cuidou-se da análise da legalidade do Contrato n. 2020.04.03.01, celebrado pelo
município de Acopiara para a execução das obras sem o devido processo licitatório.
96.Conforme registrado à peça 47 do referido TC, após atuação desta Corte e de interveniência do
Poder Judiciário, provocado em função de Ação Civil Pública movida por parlamentar federal, o
ajuste foi desfeito, dando ensejo à publicação da Concorrência Pública 2020.07.02.01 para
contratação do empreendimento. A referida concorrência culminou na celebração do contrato
2020.10.02.01, celebrado com a ARN Engenharia Eireli, consoante já exposto.

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97.As duas tentativas de contratação do projeto por parte do município restaram frustradas,
enfrentando questionamentos dos órgãos de controle, tanto federal quanto local. No caso das
apurações conduzidas por este Tribunal, merece destaque a constatação da proposta de alteração do
contrato 2020.10.02.01 já no início de sua execução, modificando-se as características da tubulação
e a extensão da adutora, com risco de extrapolação do percentual permitido pelo art. 65 da Lei n.
8.666/1993.
98.Essas dificuldades suscitam dúvidas a respeito da capacidade técnica-operacional do convenente
para manejar adequadamente os escassos recursos alocados pelo legislador federal à defesa civil
nacional, prejudicando, inclusive, o alcance dos objetivos da Política Nacional de Proteção e Defesa
Civil. Conforme se constata, desde o início de 2020 tenta-se contratar o empreendimento, cuja
justificativa técnica de implantação consiste na mitigação dos efeitos da seca que aflige a região há
muitos anos, em que pese a utilização do sistema ocorrer de forma intermitente e já existir adutora
de água bruta no mesmo local.
99.Nesse contexto, considerando que a transferência de recursos do Governo Federal pressupõe a
capacidade técnica e gerencial do proponente, sendo esse um dos aspectos a ser avaliado pelo
concedente quando da formalização de transferências voluntárias, por exemplo (art. 16, V, da
Portaria Interministerial 424, de 30 dezembro de 2016), mostra-se relevante um olhar mais atento
sobre essa questão por parte do órgão repassador, ainda que a transferência em voga esteja submetida
aos ditames da Portaria MDR 3033/2020, que define procedimentos para a execução de ações de
prevenção em áreas de risco de desastres e de recuperação em áreas atingidas por desastres.
100. Essa avaliação poderia ocorrer mediante atuação junto ao município de Acopiara para
debater cenários que favoreçam a execução regular do empreendimento, caso esse ainda se mostre
viável, a exemplo da possível participação da Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE na
contratação e execução das obras, se assim for de interesse dos entes beneficiados pelo projeto.
101. Nesses termos, a proposta de encaminhamento abaixo formulada consigna o
encaminhamento da presente instrução à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil,
possibilitando-lhe a ciência dos fatos e a adoção das providências que entender cabíveis, dentre elas
a atuação com vistas a possibilitar a execução do objeto e garantir a efetividade da política pública a
seu cargo.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
102. Ante todo o exposto, elevo os autos à consideração superior para posterior
encaminhamento ao Exmo. Ministro Relator propondo:
a) conhecer da presente representação, por atender aos requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, VII, do RITCU, para, no mérito, assinalar a sua procedência, diante dos elementos
de convicção até aqui obtidos pelo TCU;
b) determinar, nos termos do art. 45 da Lei n.º 8.443, de 1992, e do art. 250, II, do RITCU, à atual
administração do Município de Acopiara – CE, que, dentro do prazo de 15 (quinze) dias contados da
notificação da deliberação a ser prolatada, comprove a efetiva anulação da Concorrência Pública
n. 2020.07.02.01 (contratação de empresa para execução de adutora de abastecimento de água) e,
por conseguinte, a desconstituição do contrato 2020.10.02.01, firmado com a ARN Engenharia
Eireli, CNPJ 11.477.070/0001-51, remetendo a este Tribunal comprovante das medidas adotadas;
c) promover o envio de ciência corretiva e preventiva à atual administração do Município de
Município de Acopiara – CE, nos termos do art. 9º da Resolução TCU n.º 315, de 2020, com vistas
à superveniente adoção das medidas cabíveis em prol da efetiva superação dos indícios de
irregularidades identificados nesse processo, em especial quando da deflagração de novo certame
para recontratação do empreendimento, se for o caso:
c.1) exigência de atestado registrado junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
(CREA) para comprovação da capacidade técnico-operacional da empresa (item 5.4.5.1. do edital
da Concorrência Pública n. 2020.07.02.01 ), em desacordo com a legislação vigente, haja vista
que o CAT (Certidão de Acervo Técnico) é o documento oficial do CREA apto a fazer prova da

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capacidade técnica do profissional, mas não da empresa licitante, conforme at. 5º da Resolução
1025/2009 do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea);
c.2) ausência de republicação do certame, com a concessão de novo prazo de 30 dias, após
modificados os itens 5.4.5.1 e 5.4.6 do edital da Concorrência Pública nº 2020.07.02.01,
contrariando o art. 21, §4º, da Lei nº 8.666/93;
c.3) exigência indevida de Certidão de Infração Trabalhista (subitem 5.4.2.8), uma vez que o art.
29, V, da Lei 8.666/93 considera que a regularidade trabalhista deve ser atestada por intermédio
da “prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho, mediante a
apresentação de certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Consolidação das Leis do
Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943”;
c.4) desclassificação da proposta comercial de licitante, sem permitir que a empresa corrigisse
falhas formais da proposta apresentada durante o certame, abdicando-se, portanto, de proposta
muito mais vantajosa para a Administração, o que contraria o art. 3o, caput, e o art. 43, §3o, ambos
da Lei n. 8.666/93;
c.5) exigência de regularidade para com a fazenda do município de Acopiara/CE
concomitantemente à comprovação da regularidade fiscal junto ao município de domicílio do
licitante, situação que não se coaduna com o disposto no art. 29 da Lei n. 8.666/1993;
c.6) exigências para apresentação de garantia da proposta (item 7 do edital) concomitante à
comprovação de capital social, no montante de R$1.159.911,70, correspondente à 10% (dez por
cento) do valor estimado da contratação, em inobservância ao art. 31, § 2o, da Lei nº 8.666/93;
c.7) solicitação da comprovação de quantitativos de serviços executados na aferição da
qualificação técnica profissional, situação que não encontra abrigo no art. 30, I, da Lei n.
8.666/1993;
c.8) risco de desconfiguração do objeto licitado na aludida concorrência, caracterizado pela
proposta de “Readequação do Projeto do Sistema de Abastecimento de Água – Acopiara/Ceará -
Março 2021” submetida à Sedec/MDR, indicando redução da extensão da adutora em 1688
metros; substituição da tubulação de ferro fundido (FoFo Dúctil JGS JE K-7 P/ Água DN 400mm)
por PVC ( BIAX PN 12,5 Adução –DEFoFo- DN 400 mm e DN 300 mm) e extrapolação do
percentual permitido pelo art. 65, § 1o, da Lei n. 8.666/1993 para alteração dos contratos
administrativos, prejudicando o alcance dos objetivos previstos no art. 3o da Lei n. 8.666/1993 e
o princípio da isonomia.
d) enviar cópia da presente instrução à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério
do Desenvolvimento Regional (SEDEC/MDR) para auxiliar no acompanhamento do
empreendimento e ciência acerca da importância de se garantir a capacidade técnica e operacional
do executor do projeto, contribuindo para a efetividade da Política Nacional de Proteção e Defesa
Civil;
e) enviar a cópia da decisão a ser proferida à empresa representante e à ARN Engenharia Eireli, CNPJ
11.477.070/0001-51, para ciência;
f) promover o arquivamento do presente processo, após as notificações da decisão a ser proferida.”
11. Pouco tempo depois, a prefeitura municipal de Acopiara/CE fez juntar aos autos ofício pelo
qual comunica ao TCU a “anulação da Concorrência Pública nº 2020.07.02.01”, conforme aviso
publicado no Diário Oficial da União de 11/1/2022.
É o relatório.

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VOTO

Ao ter conhecimento de possíveis irregularidades na Concorrência Pública 2020.07.02.01,


instituída pela prefeitura municipal de Acopiara/CE visando à construção de adutora de abastecimento
de água, o Tribunal de Contas do Estado do Ceará repassou a informação ao TCU, admitida como
representação, por se referir a obra financiada com recursos federais da Transferência Legal 216/2018
(Siafi 1AAAFC), consignada no montante de R$ 11.599.117,00, originários do Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR).
2. Na ocasião, a licitação já estava finalizada, tendo a prefeitura, inclusive, assinado o
Contrato 2020.10.02.01, de 2/10/2020, com a empresa ARN Engenharia Eireli, pelo valor de
R$ 11.252.249,43.
3. Não obstante, de acordo com elementos colhidos do processo de acompanhamento feito
pelo MDR a respeito da aplicação da transferência, a SeinfraUrbana descobriu que a prefeitura, ainda
em 22/2/2021, havia solicitado ao órgão federal a readequação do projeto, que, pelo que consta, não
teve sua análise concluída até o momento. Desde então, as obras não tiveram mais andamento,
restando executado apenas um pequeno percentual.
4. Tendo a matéria sido instruída neste Tribunal em caráter preliminar, decidi seguir a
proposta da unidade técnica e determinei à prefeitura de Acopiara/CE, cautelarmente, que “se abstenha
de efetuar quaisquer pagamentos com recursos da Transferência Legal 216/2018”, conforme despacho
de 5/8/2021 (peça 19), referendado pelo Acórdão 1.942/2021-Plenário, em face dos indícios de
irregularidades na Concorrência Pública 2020.07.02.01, assim resumidos:
a) exigência de registro dos atestados de capacidade técnico-operacional das licitantes no
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), sem que haja previsão normativa;
b) ausência de republicação do edital após a modificação que incluiu a necessidade de
comprovação de experiência com quantitativos mínimos, tanto para a capacidade técnico-profissional
quanto para a técnico-operacional, além do registro dos atestados no Crea, em contraste com o art. 21,
§ 4º, da Lei 8.666/1993;
c) exigência de “Certidão de Infração Trabalhista”, não prevista no art. 29, inciso V, da Lei
8.666/1993;
d) exigência de quitação da licitante junto ao Crea, sem que conste entre os documentos
para habilitação estabelecidos pelos arts. 28 a 31 da Lei 8.666/1993;
e) exigência de visto do Crea do Ceará para que empresas de outros estados pudessem
participar do certame, sem haver previsão no art. 30 da Lei 8.666/1993;
f) desclassificação da proposta mais vantajosa da licitante CNT Construtora Nova Terra
Eireli por falhas formais, sem dar-lhe oportunidade para correção, em contrariedade à jurisprudência
do TCU;
g) desconfiguração do objeto licitado em relação ao projeto aprovado pelo MDR, em razão
da substituição da tubulação em PRFV e Pead por ferro fundido, sendo o item mais representativo da
obra.
5. Feitas as oitivas da prefeitura e da contratada ARN Engenharia, suas respostas foram
examinadas pela SeinfraUrbana, que não as acolheu na maior parte, vindo a sugerir, no mérito,
determinação para a “anulação da Concorrência Pública 2020.07.02.01 (...) e, por conseguinte, a
desconstituição do Contrato 2020.10.02.01”.

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6. Segundo a unidade técnica, um dos pontos cujas justificativas merecem acolhimento se


refere à suposta exigência de quitação junto ao Crea. De fato, o edital pediu às licitantes a “Certidão de
Registro e Quitação”, que é o documento emitido pelo Crea a título de comprovante de inscrição. Ou
seja, ainda que não fosse propósito do edital exigir que as licitantes estivessem em dia com suas
obrigações junto ao Crea, só assim elas conseguem comprovar o registro.
7. Da mesma forma, ficou esclarecido, a partir de uma leitura mais atenta do edital, que a
exigência de visto do Crea do Ceará para empresas inscritas em outros estados não era para
participação no certame, e sim para contratação, em conformidade com o estabelecido pela Resolução
Confea 413/1997, que impõe o registro direto ou visado na jurisdição onde a atividade empresarial será
desenvolvida.
8. Entretanto, duas outras demandas editalícias exorbitaram da lei. Uma delas consistiu na
necessidade de registro no Crea dos atestados de capacidade técnico-operacional das licitantes, que,
em regra, não é concedido para pessoas jurídicas, consoante o art. 55 da Resolução Confea 1.025/2009.
A segunda foi a exigência de “Certidão de Infração Trabalhista”, que prove a inexistência de autuação
pela fiscalização administrativa, diferente da “Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas”
reconhecidos pela Justiça, que é a única com previsão legal para comprovação da regularidade quanto
ao direito do trabalho.
9. Também houve violação à lei na falta de republicação do edital quando a prefeitura
resolveu alterá-lo para incluir cláusulas requerendo prova de experiência em quantitativos mínimos,
tanto da própria empresa licitante como do seu responsável técnico, com relação aos serviços de
assentamento de tubos em ferro fundido e de escavação de material de 3ª categoria, necessariamente
realizados em obras de adutora.
10. Originalmente, o edital só obrigava a comprovação de experiência do profissional, e
mesmo assim genericamente na construção de adutoras. Portanto, é inegável que a fixação posterior de
quantitativos mínimos de serviços específicos (ainda que sejam os mais relevantes), bem como a
extensão de igual requisito às empresas concorrentes, adicionaram um fator inesperado à licitação,
afetando significativamente as condições de participação e, de modo indissociável, a formulação das
propostas.
11. Mais grave ainda foi a desclassificação da proposta da licitante CNT Construtora Nova
Terra, que ofereceu o preço de R$ 7.682.217,31 para a obra, isto é, mais de R$ 3,5 milhões inferior ao
efetivamente contratado, tendo sido recusada por falhas facilmente corrigíveis ou elucidáveis mediante
simples diligência, na forma do art. 43, § 3º, da Lei 8.666/1993.
12. Para se ter ideia da insensatez, uma das “falhas” resumiu-se na indicação, dentro da
proposta desclassificada, do prazo de execução da obra como “90 dias”, em vez de se anotá-lo como
“3 meses”, que era a forma exata constante do edital.
13. A outra inconsistência esteve no fato de que, aparentemente por engano, no cronograma
físico-financeiro a licitante apresentou totalização financeira maior do que a que constou dos demais
documentos da sua oferta, como a “carta proposta”, onde o preço de R$ 7.682.217,31 foi mencionado
três vezes, e as planilhas do orçamento, tanto a resumida quanto a analítica, peças inclusive mais
apropriadas à contabilização e evidenciação de custos. Aliás, até o preço informado no cronograma
pela licitante desclassificada (R$ 11.207.514,76) era menor, ligeiramente, do que o contratado
(R$ 11.252.249,43).
14. Em último lugar, igualmente corrompendo a licitação por completo, houve desvirtuamento
com relação ao projeto aprovado pelo MDR, uma vez que a prefeitura, unilateralmente, alterou o tipo
de tubulação, trocando o material em PRFV e Pead por ferro fundido.
15. Atente-se que a tubulação é o item de valor mais representativo na obra da adutora,
fazendo que a modificação na sua especificação impacte fortemente o orçamento sobre o qual o MDR
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manifestou sua concordância. Vale dizer, o montante envolvido na Transferência Legal 216/2018
provavelmente seria muito diferente do que foi autorizado.
16. Sem falar que, atualmente, a prefeitura deseja uma profunda reformulação do projeto, que
inclui a diminuição da obra por meio da sua interligação a adutoras vizinhas que já fazem o percurso
até a estação de tratamento de água de Acopiara/CE. Se aprovada, a modificação implicaria a absoluta
desconfiguração do objeto licitado.
17. Vale observar que a licitação, da forma que foi processada, na prática deu à contratante
poucas chances de obter um bom preço, pois a presença de requisitos impertinentes ou inseridos a
destempo presumivelmente inibiu a participação ou provocou a inabilitação de empresas interessadas,
fora a desclassificação com rigor excessivo de licitante com melhor oferta.
18. Como resultado, das nove participantes da licitação, sete foram inabilitadas, sendo que
uma delas voltou ao certame por força de decisão judicial. Das três que restaram para a abertura das
propostas de preços, uma foi desclassificada. Ao final, o preço contratado significou um desconto
irrisório de 3% sobre o orçamento.
19. Por causa das tantas irregularidades, que comprometeram a segurança dos princípios da
isonomia entre as licitantes, da competitividade do certame e da economicidade para o erário, dou
razão à unidade técnica quanto à imperatividade de anulação da concorrência e, consequentemente, do
contrato.
20. Tornou-se dispensável, todavia, determinação nesse sentido, visto que a prefeitura se
antecipou e baixou diretamente o ato de invalidação da licitação, conforme demonstrado na publicação
do Aviso de Anulação no DOU de 11/1/2022. Na página da prefeitura na internet, também se
encontram outros comprovantes, como o Termo de Anulação, que revela ter a prefeitura agido em
atenção aos posicionamentos até então emitidos no âmbito do TCU.
21. Contudo, não foram juntados documentos de prova da anulação do contrato, nem dada
nenhuma notícia acerca do entendimento da contratada a respeito.
22. É certo que a anulação da licitação induz à do contrato, nos termos do art. 49, § 2º, da
Lei 8.666/1993, de modo que, juridicamente, não cabe mais a execução contratual, que inclusive já
vinha suspensa há quase um ano, em face da indefinição nas alterações do projeto da adutora.
23. Mesmo assim, penso que a medida cautelar por mim proferida, que determinou à prefeitura
se abster de efetuar pagamentos com recursos da Transferência Legal 216/2018, não deva ser
simplesmente revogada, mas substituída por determinação de mesmo teor, que valha enquanto não
houver liberação expressa do MDR para movimentação dos recursos ainda existentes na conta
bancária específica. Assinalo que o MDR depositou uma parcela de R$ 3.338.799,78, em 15/5/2020.
24. Tal providência se justifica pelo fato de que o MDR ainda está decidindo entre a
possibilidade de manutenção do apoio financeiro à obra da adutora – que agora, com a anulação da
licitação, pode ter como base outro projeto acordado com a prefeitura –, ou, em via contrária, a
necessidade ou conveniência de cancelamento da Transferência Legal 216/2018, com exigência de
devolução dos recursos.
25. Então, enquanto isso, é preciso prevenir que o dinheiro já depositado na conta bancária do
ajuste seja usado em outros fins, ou até mesmo para acertos contratuais ou pagamento de eventuais
custos inerentes à anulação do contrato.
26. A propósito, cumpre ressaltar que a prefeitura fez dois pagamentos à contratada, em
16/12/2020 e 18/2/2021, que somaram R$ 533.311,62, pela execução de serviços correspondentes às
1ª e 2ª medições. Substancialmente, os serviços pagos foram de escavação e de fornecimento de
materiais diversos (sem tubulação).

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27. Assim, caberá ao MDR, se sua decisão for de manter a Transferência Legal 216/2018,
avaliar ao final se há prejuízos decorrentes do não aproveitamento parcial ou total dos serviços que
foram pagos, de modo a requerer sua recomposição perante a prefeitura, se for o caso.
28. Enfim, haja vista que a presente representação teve por finalidade apurar irregularidades na
Concorrência Pública 2020.07.02.01, que já foi anulada, faz-se necessário apenas cientificar a
prefeitura municipal de Acopiara/CE dos achados, com acréscimo das medidas para proteção do
erário, conforme anteriormente explicado.
Diante do exposto, voto para que o Tribunal adote o acórdão que submeto a este
Colegiado.

TCU, Sala das Sessões, em tagDataSessao.

Ministro VITAL DO RÊGO


Relator

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ACÓRDÃO Nº 470/2022 – TCU – Plenário

1. Processo TC 012.581/2021-6.
2. Grupo I – Classe de Assunto VII – Representação.
3. Representante: Tribunal de Contas do Estado do Ceará.
3.1. Interessada: ARN Engenharia Eireli (11.477.070/0001-51).
4. Órgão: Prefeitura Municipal de Acopiara/CE.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: SeinfraUrbana.
8. Representação legal: Alisson Ferreira Alves (OAB/CE 41.131), procurador do município de
Acopiara/CE; Lise Lima Lopes (OAB/CE 37.482) e outros.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação que tem por finalidade apurar
irregularidades em licitação para construção de adutora.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do
Plenário, com fundamento nos arts. 237 e 250 do Regimento Interno e no art. 9º da Resolução TCU
315/2020, e ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da representação para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. dispensar a expedição de determinação para anulação da Concorrência
Pública 2020.07.02.01, tendo em vista que a prefeitura municipal de Acopiara/CE já a providenciou,
conforme aviso publicado no Diário Oficial da União de 11/1/2022;
9.3. revogar a medida cautelar adotada por despacho (peça 19), referendada pelo
Acórdão 1942/2021-Plenário;
9.4. determinar à prefeitura municipal de Acopiara/CE que se abstenha de efetuar
quaisquer pagamentos ou saques com recursos da Transferência Legal 216/2018 (Siafi 1AAAFC),
enquanto não houver autorização expressa do Ministério do Desenvolvimento Regional;
9.5. determinar à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério do
Desenvolvimento Regional que:
9.5.1. confirme, junto à prefeitura municipal de Acopiara/CE, a anulação do Contrato
2020.10.02.01, decorrente da Concorrência Pública 2020.07.02.01 e vinculado aos recursos da
Transferência Legal 216/2018, em conformidade com o disposto no art. 49, § 2º, da Lei 8.666/1993;
9.5.2. de acordo a avaliação que lhe compete, caso sua decisão seja pelo desfazimento da
Transferência Legal 216/2018, exija a restituição de todo o montante já transferido, ou se, em sentido
inverso, decidir pela manutenção do repasse sob o mesmo ou novo projeto, verifique a possível
ocorrência de prejuízos aos cofres da União resultantes do não aproveitamento total ou parcial dos
serviços já pagos no âmbito do Contrato 2020.10.02.01, adotando as providências administrativas para
recomposição, inclusive, se necessário, mediante tomada de contas especial;
9.6. cientificar a prefeitura municipal de Acopiara/CE sobre as seguintes irregularidades
observadas na Concorrência Pública 2020.07.02.01, a fim de preveni-las:
9.6.1 exigência de atestado registrado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
(Crea) para comprovação da capacidade técnico-operacional da empresa (item 5.4.5.1. do edital), em
desacordo com a legislação vigente, haja vista que o CAT (Certidão de Acervo Técnico) é o
documento oficial do Crea apto a fazer prova da capacidade técnica do profissional, mas não da
empresa licitante, conforme o art. 5º da Resolução 1.025/2009 do Conselho Federal de Engenharia e
Agronomia (Confea);
9.6.2. ausência de republicação do certame, com a concessão de novo prazo de 30 dias,
após modificados os itens 5.4.5.1 e 5.4.6 do edital, contrariando o art. 21, § 4º, da Lei 8.666/1993;

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9.6.3. exigência indevida de Certidão de Infração Trabalhista (item 5.4.2.8 do edital), uma
vez que o art. 29, inciso V, da Lei 8.666/1993 considera que a regularidade trabalhista deve ser
atestada por intermédio da “prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do
Trabalho, mediante a apresentação de certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Consolidação
das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943”;
9.6.4. desclassificação da proposta comercial de licitante, sem permitir que a empresa
corrigisse falhas formais da proposta apresentada durante o certame, abdicando-se, portanto, de
proposta muito mais vantajosa para a Administração, o que contraria os art. 3º, caput, e 43, § 3º, da
Lei 8.666/1993;
9.6.5. exigência de regularidade para com a fazenda do município de Acopiara/CE
concomitantemente à comprovação da regularidade fiscal junto ao município de domicílio do licitante,
situação que não se coaduna com o disposto no art. 29 da Lei 8.666/1993;
9.6.6. exigências para apresentação de garantia da proposta (item 7 do edital) concomitante
à comprovação de capital social, no montante de R$ 1.159.911,70, correspondente a 10% (dez por
cento) do valor estimado da contratação, em inobservância ao art. 31, § 2º, da Lei 8.666/1993;
9.6.7. solicitação da comprovação de quantitativos de serviços executados na aferição da
qualificação técnica profissional, situação que não encontra abrigo no art. 30, inciso I, da
Lei 8.666/1993;
9.7. enviar cópia do presente acórdão, com o relatório e voto, à Secretaria Nacional de
Proteção e Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento Regional, à prefeitura municipal de
Acopiara/CE, à empresa ARN Engenharia Eireli e ao representante;
9.8. arquivar o processo.

10. Ata n° 8/2022 – Plenário.


11. Data da Sessão: 9/3/2022 – Telepresencial.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0470-08/22-P.
13. Especificação do quórum:
13.1. Ministros presentes: Ana Arraes (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler,
Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Vital do Rêgo (Relator), Jorge Oliveira e Antonio Anastasia.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti, Marcos Bemquerer Costa e André
Luís de Carvalho.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


ANA ARRAES VITAL DO RÊGO
Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral

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