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581/2021-6
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO.
LICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO DE
OBRA DE ADUTORA. EXIGÊNCIAS DE
HABILITAÇÃO EXCESSIVAS. AUSÊNCIA
DE REABERTURA DO PRAZO PARA
APRESENTAÇÃO DAS PROPOSTAS APÓS
ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS NAS
CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO.
MUDANÇA NÃO AUTORIZADA DO TIPO
DE TUBULAÇÃO. CONTRATO ASSINADO,
MAS COM BAIXA EXECUÇÃO. OBRAS
SEM ANDAMENTO ATUALMENTE, À
ESPERA DE APROVAÇÃO DE PEDIDO DE
MODIFICAÇÃO DO PROJETO E DE QUE
OUTRAS PROVIDÊNCIAS CORRETIVAS
SEJAM TOMADAS. CONHECIMENTO.
PRESENÇA DO PERICULUM IN MORA E
DO FUMUS BONI IURIS. INEXISTÊNCIA
DE PERIGO REVERSO. CONCESSÃO DE
MEDIDA CAUTELAR INAUDITA ALTERA
PARS. OITIVAS. CONFIRMAÇÃO DA
MAIOR PARTE DAS IRREGULARIDADES.
CONHECIMENTO E PROCEDÊNCIA.
ANULAÇÃO DA LICITAÇÃO POR ATO
DIRETO DA CONTRATANTE.
DETERMINAÇÕES COM VISTAS À
PROTEÇÃO DO ERÁRIO. CIÊNCIA.
ARQUIVAMENTO.
RELATÓRIO
10 (dez) dias para a abertura da licitação lança um “adendo” ao Edital com uma mudança brusca
no que se refere a exigência de qualificação técnica ou seja alterando em especial este Edital.
41.No caso concreto, nota-se que três empresas foram inabilitadas em função de não atenderem,
dentre outros aspectos, às exigências para qualificação técnica definidas pelo ato convocatório.
Exigência indevida de Certidão de Infração Trabalhista (subitem 5.4.2.8 do edital)
42.Conforme acima exposto, as manifestações defendem, na essência, que a exigência tem por
objetivo resguardar a administração pública de eventual solidariedade em débitos trabalhistas ou
previdenciários decorrentes da execução do empreendimento.
43.Entretanto, observando-se o dispositivo da Lei n. 8.666/1993 que disciplina a questão nota-se não
haver margem para o procedimento adotado pela comuna, tendo em vista a natureza numerus clausus
da documentação para comprovação da regularidade fiscal e trabalhista:
Art. 29. A documentação relativa à regularidade fiscal e trabalhista, conforme o caso, consistirá
em:
I - prova de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Geral de
Contribuintes (CGC);
II - prova de inscrição no cadastro de contribuintes estadual ou municipal, se houver, relativo ao
domicílio ou sede do licitante, pertinente ao seu ramo de atividade e compatível com o objeto
contratual;
III - prova de regularidade para com a Fazenda Federal, Estadual e Municipal do domicílio ou
sede do licitante, ou outra equivalente, na forma da lei;
IV - prova de regularidade relativa à Seguridade Social, demonstrando situação regular no
cumprimento dos encargos sociais instituídos por lei.
IV - prova de regularidade relativa à Seguridade Social e ao Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS), demonstrando situação regular no cumprimento dos encargos sociais instituídos
por lei.
V – prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho, mediante a
apresentação de certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Consolidação das Leis do
Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.
44.Em relação à regularidade trabalhista, o inciso V supra colacionado indica a comprovação da
regularidade por intermédio da certidão negativa prevista na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). A CLT, por sua vez, regulamenta no art. 642-A as situações em que o interessado não obterá
a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT):
Art. 642-A. É instituída a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT), expedida gratuita
e eletronicamente, para comprovar a inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do
Trabalho.
§ 1o O interessado não obterá a certidão quando em seu nome constar:
I – o inadimplemento de obrigações estabelecidas em sentença condenatória transitada em julgado
proferida pela Justiça do Trabalho ou em acordos judiciais trabalhistas, inclusive no concernente
aos recolhimentos previdenciários, a honorários, a custas, a emolumentos ou a recolhimentos
determinados em lei; ou
II – o inadimplemento de obrigações decorrentes de execução de acordos firmados perante o
Ministério Público do Trabalho ou Comissão de Conciliação Prévia.
§ 2o Verificada a existência de débitos garantidos por penhora suficiente ou com exigibilidade
suspensa, será expedida Certidão Positiva de Débitos Trabalhistas em nome do interessado com
os mesmos efeitos da CNDT.
§ 3o A CNDT certificará a empresa em relação a todos os seus estabelecimentos, agências e filiais.
§ 4o O prazo de validade da CNDT é de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data de sua
emissão.
45.Conforme se observa, constituem condições para a não obtenção da certidão a inadimplência de
débitos reconhecidos pela Justiça do Trabalho ou decorrentes de acordos firmados junto ao MPT ou
à Comissão de Conciliação Prévia. Ainda assim, se houver débitos garantidos por penhora ou com
exigibilidade suspensa, poderá ser emitida certidão positiva, porém com efeito de negativa.
46.A certidão de infração trabalhista exigida pelo edital da concorrência, por sua vez, constitui
documento emitido pelo Poder Executivo indicando inexistência de autos de infração trabalhista
lavrados contra a pessoa jurídica. Tais autos são decorrentes de fiscalizações inerentes ao poder de
polícia da administração com o intuito de verificar o cumprimento das normas regulamentadoras das
condições de trabalho.
47.O referido auto de infração, após lavrado, inicia o processo administrativo, no qual é assegurado
o contraditório e a ampla defesa à empresa autuada. Caso confirmada a irregularidade é aplicada
sanção pecuniária à contratante.
48.Nota-se, portanto, que a certidão exigida no subitem 5.4.2.8 do edital da concorrência
2020.07.02.01 não se presta a verificar a “inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do
Trabalho”, tal qual estabelece a lei de licitações, motivo pelo qual não poderia ser exigido para fins
de habilitação das empresas interessadas em contratar com a administração. A jurisprudência deste
Tribunal também é firme nesse sentido, conforme Acórdãos 2913/2014-Plenário, de Relatoria do
Ministro-Substituto Weder de Oliveira; 434/2010-TCU-2ª C, Relatoria Ministro Aroldo Cedraz;
5611/2009-2ª C, Relatoria Ministro Substituto André Luis de Carvalho; 1544/2008-1ª C, Relatoria
Ministro Substituto Marcos Bemquerer e 697/2006-P, Relatoria Ministro Ubiratan Aguiar.
49.Em razão do exposto, conclui-se que a manifestação do município e da empresa ARN Engenharia
Eireli não justificam a irregularidade.
Exigência indevida de quitação da empresa junto ao CREA (subitem 5.4.4.1 do edital), por não
haver amparo nos arts. 28 a 31 da Lei 8.666/1993
50.Os argumentos oferecidos sustentam que o dispositivo do edital que exigira a apresentação de
certidão de inscrição e quitação junto ao CREA decorre de desdobramento prático da forma de
emissão do documento por parte da autarquia especial, pois o serviço ofertado pelo conselho
encontra-se denominado como certidão de registro e quitação, emitido conjuntamente.
51.Assim sendo, afirma não ser possível a emissão da certidão de inscrição junto à entidade sem que
a empresa esteja em dia com as suas obrigações.
52.Compulsando-se o portal do CREA/CE nota-se a pertinência das justificativas, pois o conselho
que regula e fiscaliza o exercício das profissões da agronomia, engenharia, geologia, geografia e
meteorologia condiciona a emissão da certidão de inscrição à situação de adimplência da pessoa
jurídica. A figura abaixo, extraída da página da autarquia especial no Ceará ilustra a exigência:
Figura 03 – requisitos certidão CREA
53.Assim sendo, a emissão da certidão no portal do CREA exige que a empresa esteja em dia com a
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autarquia. No mesmo sentido, a Resolução CONFEA 1.121/2019, que dispõe sobre o registro de
pessoas jurídicas nos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia, estabelece o cancelamento
do registro da pessoa jurídica que deixar de pagar a anuidade durante 2 (dois) anos consecutivos, de
modo que há uma vinculação entre a adimplência da empresa e a sua inscrição no conselho
profissional.
54.Nesses termos, ao que tudo indica a exigência do edital se mostra justificada, devendo ser
ressaltado que não impactou a habilitação das empresas que participaram do certame, pois nenhuma
foi inabilitada em razão da não apresentação da certidão exigida.
Exigência de visto no CREA/CE de empresas situadas em outro estado da federação para
participar da licitação (subitem 5.4.4.2 do edital), por não estar prevista no art. 30 da Lei
8.666/93
55.O subitem 5.4.4.2 do edital encontrava-se redigido da seguinte forma (destaque acrescido):
5.4.4.2. Em se tratando de empresa com sede em outro Estado, o registro ou inscrição na entidade
profissional competente deverá portar o visto no CREA/CE na forma da Resolução CONFEA n.º
413 de 27 de JULHO de 1997, por ocasião da contratação.
56.Conforme se observa, assiste razão aos manifestantes, que aduzem no sentido de que a exigência
de visto dar-se-ia apenas em função da futura contratação, não sendo aplicável para fins de
habilitação no certame.
57.Assim sendo, considera-se esclarecido o questionamento.
Desclassificação da proposta da licitante CNT Construtora Nova Terra Eireli, sem permitir
que a empresa pudesse corrigir a planilha apresentada durante o certame, abdicando-se,
portanto, de proposta muito mais vantajosa para a Administração
58.Nas manifestações oferecidas tanto pela empresa contratada quanto pelo município há o
reconhecimento acerca da possibilidade de a administração suprir eventuais falhas formais ou
lacunas nos documentos dos licitantes mediante a realização de diligências, nos termos previsto pelo
art. 43 da Lei n. 8.666/1993.
59.Entretanto, destacam não ser possível a “inclusão posterior de documentos/informações que
deveriam ter sido realizada originalmente da proposta”, e que a retificação da proposta oferecida pela
Construtora Nossa Terra implicaria ofensa aos princípios da legalidade e da vinculação ao
instrumento convocatório, bem como quebra da isonomia do certame.
60.Analisando-se a ata de julgamento das propostas de preços (peça 78; pg 123) observa-se que a
desclassificação da proposta da Construtora Nova Terra se fundamentou em parecer técnico emitido
por engenheiro do município, registrando a seguinte situação:
Figura 04: Trecho parecer análise proposta CNT
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65.No caso concreto, vale destacar que a inercia da comissão de licitação em diligenciar a licitante
resultou na desclassificação de proposta com valor significativamente inferior à oferecida pelas
demais empresas habilitadas, com possibilidade concreto de ter impactado a seleção da melhor
proposta. A diferença entre a menor proposta oferecida pela Construtora Nova Terra e a proposta
contratada, de lavra da ARN Engenharia Eireli, totaliza R$ 3.570.032,12.
66.O que mais chama a atenção na desclassificação da menor proposta são as falhas apontadas, em
especial o fato de a licitante ter indicado no cronograma físico financeiro o prazo de 90 dias para a
execução dos serviços, em detrimento do registro em meses, tal qual constou no projeto básico.
67.Não se vislumbra qual o impacto dessa distinção para a execução do objeto, ou até mesmo a
necessidade de ser registrado o prazo em meses, o que suscita dúvidas inclusive sobre a necessidade
de eventual diligência para esclarecer esse aspecto. A outra questão, inerente ao valor divergente no
cronograma físico, poderia ser facilmente corrigida pela licitante, sem maiores implicações.
68.Diante disso, conclui-se que a manifestação do ente municipal e da empresa ARN Engenharia não
esclarecem a impropriedade.
Desconfiguração do objeto licitado na aludida concorrência, caracterizada pela proposta de
“Readequação do Projeto do Sistema de Abastecimento de Água – Acopiara/Ceará - Março
2021” submetida à Sedec/MDR, indicando redução da extensão da adutora em 1688 metros;
substituição da tubulação de ferro fundido (FoFo Dúctil JGS JE K-7 P/ Água DN 400mm) por
PVC (BIAX PN 12,5 Adução –DEFoFo- DN 400 mm e DN 300 mm) e extrapolação do
percentual permitido pelo art. 65, § 1o, da Lei n. 8.666/1993 para alteração dos contratos
administrativos, prejudicando o alcance dos objetivos previstos no art. 3o da Lei n. 8.666/1993
69.Referente a essa questão, o município sustenta que “houve uma explanação em aditivo, devido a
pandemia, com a alta dos tubos em até 70%, para apreciação dos órgãos competentes”, mas que em
razão do indeferimento, o projeto segue o mesmo, não havendo trocas.
70.Já a ARN Engenharia alega que “pouco importa a mudança da natureza do tubo, pois o objeto
licitado continua sendo o mesmo, assim como a finalidade da obra continua sendo a mesma”.
71.Da análise do processo administrativo SEI 59202.001651/2018-46 constata-se que o município
de Acopiara apresentou junto à Sedec, na data de 27/01/2021, pleito de readequação do objeto
conveniado, no qual sinaliza para substituição dos tubos da adutora de água bruta, contratados
originalmente em ferro fundido (400 mm) junto à ARN Engenharia. Se aprovada a solicitação, seriam
implantados tubo “de PVC (BIAX) de mesmo diâmetro, mais barato que anterior, mas que atenderia
os esforços de pressão verificados nos estudos de transientes hidráulicos”.
72.Conforme destacado no parecer 20/2021/COPE/CGPP/DOP/SEDEC (MDR) “a proposta de
readequação, em suma, traz uma redução na extensão do trecho projetado de 1.688m (9.760m -
8.072,29m), e um reflexo financeiro à maior de R$ 1.898.695,74 (16,87%) sobre o total contratado,
após as compensações entre os acréscimos e supressões, a ser aditivado com empresa contratada”.
73.Consta também no mencionado processo administrativo que o plano de trabalho aprovado pela
União contemplava a execução de adutora com tubo de PRFV, mas que o município, por conta e
risco, alterou essa especificação antes da realização do processo licitatório, adotando elementos em
ferro fundido, os quais, novamente, pretendia alterar, adotando PVC, que julga mais econômico.
74.No RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA Nº 2021_05_RVT_DOP_MGC, elaborado pela Sedec
após inspeção ao local do empreendimento (peça 15), restam destacados outros apontamentos que
impactam na concepção do projeto financiado pela União, a saber:
A captação da água no Açude Trussu para a cidade de Acopiara já ocorre de forma intermitente
a partir de uma adutora em aço patinável e uma adutora em PRFV. A adutora em PRFV foi
parcialmente executada por meio de um convênio com a FUNASA. Ela está implantada a partir
da coordenada indicada em 2.1.1 (-6.201179, -39.433701) e estende-se até a ETA da CAGECE
na cidade de Acopiara.
A adutora emergencial em aço patinável com juntas de acoplamento, foi construída
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posteriormente, após a seca de 2012. Ela foi implantada a partir do açude Trussu e também
estende-se até a cidade de Acopiara. Não ficou claro o motivo de não terem aproveitado o trecho
então existente da adutora em PRFV e, assim, evitado a existência dessas adutoras em paralelo.
Verificou-se que a CAGECE, posteriormente, fez essa interligação entre as adutoras. Do local de
interligação até a ETA há cerca de 14km em adutora de PRFV. Percorreu-se cerca de 3km onde
observou-se as duas adutoras implantadas, nos quais a adutora em aço patinável está sem qualquer
uso.
Ao longo da operação, a CAGECE substituiu parte dos tubos danificados por PVC DEFoFo. Isso
foi observado nas duas adutoras. Na adutora em aço isso ocorre a partir da captação até uma
distância informada de cerca de 1,3km. Na adutora em PRFV essa substituição foi observada de
forma intermitentemente.
Na data da visita a adutora que faz captação no Açude Trussu estava desativada. Foi informado
que essa captação ocorre apenas quando o açude próximo à cidade (Açude Quincoé) encontra-se
com volume baixo.
Vale informar que, ao contrário do que foi apresentado nas justificativas e diagnósticos do plano
de trabalho (Documentação complementar - 08/04/2021 (SEI 3101184 - fl.4), não foi observada
qualquer previsão de entrega de água para a área rural ou distritos. A adutora segue do Açude
Trussu até a cidade de Acopiara sem derivações.
Em relação ao abastecimento por carros-pipa na área rural, além do gasto municipal informado
no referido documento, há atendimento do Município pela Operação Carro-Pipa (OCP) do
Governo Federal. Do mesmo modo, não foi observado atendimento desta população pela adutora
ou implantação de ponto para captação dos carros-pipa, o que reduziria custos. Permanecendo
este cenário, a adutora fatalmente não trará impacto ao abastecimento por carros-pipa, em
especial, à OCP Federal gerida pela SEDEC.
75.Destaca-se nas informações acima o registro de que no local de implantação do projeto já existem
duas adutoras levando água até a ETA de Acopiara, uma de ferro fundido e uma em PRFV, as quais
se encontram interligadas. Ao que tudo indica, essas adutoras são operadas pela Companhia de Água
e Esgoto do Ceará – CAGECE, que teria efetuado, a título de manutenção, a substituição de parte da
tubulação.
76.Diante dessa constatação, o mencionado relatório sinaliza para a necessidade de ações junto à
companhia estadual com vistas a avaliar o aproveitamento de equipamentos presentes no local
(trechos da adutora, flutuante, etc.), bem como obter homologação acerca do projeto da nova adutora.
77.Tais informações demonstram que o projeto da adutora que se pretende implantar com recursos
do Governo Federal precisa ser melhor analisado, notadamente com vistas a avaliar a sua real
necessidade, tendo em vista já existir, no mesmo local, equipamento similar gerenciado pela
companhia estadual de águas. Nesse contexto, não resta clara a função dos novos investimentos, se
complementar aos equipamentos existentes por exemplo, tampouco a responsabilidade pela posterior
operação do sistema.
78.De toda sorte, tais questões já se encontram em análise no âmbito da Sedec, haja vista que o
mencionado relatório de visita técnica registrou a necessidade de esclarecimento dos seguintes
aspectos antes da continuidade do empreendimento:
a) Análise atualizada e detalhada das alterações previstas no projeto original, nos aspectos
técnicos e de equilíbrio econômico-financeiro;
b) Considerar as informações indicadas em 4.3 na decisão acerca do material da adutora e avaliar
de forma minuciosa o estudo de transientes hidráulicos, uma vez que as duas adutoras implantadas
passam por problemas constantes de manutenção e substituição de tubos;
c) Atualização da planilha orçamentária e do cronograma físico-financeiro da obra;
d) Verificar com a CAGECE, que atualmente opera a adutora existente, o possível aproveitamento
de outros equipamentos e materiais desta adutora, a exemplo do flutuante e do tubo em
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para esclarecer ou corrigir falhas formais nas propostas das licitantes, contribuíram para a celebração
de contrato administrativo com valor consideravelmente superior ao que poderia ter sido obtido, a
ser custeado com recursos dos cofres da União.
88.Não obstante tais falhas já serem suficientes para colocar em suspeição a continuidade do contrato
2020.10.02.01, observa-se que as premissas que embasaram a referida contratação, bem como o
plano de trabalho aprovado pelo ente concedente, carecem de revisão dos seus aspectos técnicos,
quer seja para garantir a viabilidade do empreendimento, quer seja para a correta definição do valor
a ser despendido pelos cofres federais.
89.A esse respeito, observa-se que, por intermédio do Ofício nº 19/2021/DOP/SEDEC/MDR, de 16
de julho de 2021 (peça 127), a Sedec solicitou ao município de Acopiara manifestação acerca dos
“apontamentos constantes no item 5.5 do Relatório Visita Técnica 2021_05_RVT_DOP_MGC (SEI
nº 3248213), reiterando a necessidade de resposta quanto as providências adotadas diante das
impropriedades relativas ao processo licitatório e aos custos envolvidos para alteração de
projeto solicitadas pelo Parecer nº 20/2021/COPE/CGPP/DOP/SEDEC (MDR).”. Apesar da ciência
do expediente na data de 26/7/2021, o convenente se manteve inerte na apresentação de
esclarecimentos (situação verificada em 22/12/2021).
90. Assim, até o presente momento não há certeza acerca do escopo do objeto contratado, uma vez
que não só difere do aprovado pela Sedec como há indícios de serem necessárias alterações tanto no
material como na extensão da adutora. Também resta dúvida acerca da viabilidade técnica e
operacional do empreendimento, sendo necessário esclarecer o contexto em que se dará a
implantação da nova adutora face aos trechos já instalados na região, sob responsabilidade da
CAGECE.
91.Diante desse cenário, não resta alternativa a este Tribunal senão a anulação do contrato
administrativo defeituoso, ensejando nova licitação do objeto após esclarecidos os apontamentos
efetuados pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil e confirmada a viabilidade técnica e
operacional do empreendimento.
92.Por fim, cumpre-nos registrar que em razão de a SEDEC estar acompanhando adequadamente as
questões técnicas relacionadas ao sistema de adução, tais como material dos tubos e conexões,
aproveitamento das adutoras existentes, extensão do trecho a ser construído (se for o caso), operação
da adutora após conclusão, não se mostra necessária formulação de encaminhamento sobre esses
aspectos, tal qual orientação contida na Resolução TCU n. 315/2020 (art. 16 - Da Racionalização das
Deliberações).
IMPACTO DA PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
93.Conquanto tenha sido encaminhado ao município de Acopiara o ofício 43539/2021-TCU/Seproc
(peça 23) requerendo informações sobre as consequências práticas da implementação da
determinação aventada na instrução à peça 17 (determinar a anulação da Concorrência Pública
2020.07.02.01 e do contrato dela decorrente), não houve manifestação específica por parte da
unidade jurisdicionada abordando essa questão.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
94. Digno de nota que o empreendimento tratado nos presentes autos, qual seja, sistema adutor com
a captação no Açude Trussú, a ser custeado com recursos da Transferência Legal nº 216/2018, foi
objeto do TC 033.605/2020-3, já arquivado nesta Corte.
95.Naquele processo cuidou-se da análise da legalidade do Contrato n. 2020.04.03.01, celebrado pelo
município de Acopiara para a execução das obras sem o devido processo licitatório.
96.Conforme registrado à peça 47 do referido TC, após atuação desta Corte e de interveniência do
Poder Judiciário, provocado em função de Ação Civil Pública movida por parlamentar federal, o
ajuste foi desfeito, dando ensejo à publicação da Concorrência Pública 2020.07.02.01 para
contratação do empreendimento. A referida concorrência culminou na celebração do contrato
2020.10.02.01, celebrado com a ARN Engenharia Eireli, consoante já exposto.
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97.As duas tentativas de contratação do projeto por parte do município restaram frustradas,
enfrentando questionamentos dos órgãos de controle, tanto federal quanto local. No caso das
apurações conduzidas por este Tribunal, merece destaque a constatação da proposta de alteração do
contrato 2020.10.02.01 já no início de sua execução, modificando-se as características da tubulação
e a extensão da adutora, com risco de extrapolação do percentual permitido pelo art. 65 da Lei n.
8.666/1993.
98.Essas dificuldades suscitam dúvidas a respeito da capacidade técnica-operacional do convenente
para manejar adequadamente os escassos recursos alocados pelo legislador federal à defesa civil
nacional, prejudicando, inclusive, o alcance dos objetivos da Política Nacional de Proteção e Defesa
Civil. Conforme se constata, desde o início de 2020 tenta-se contratar o empreendimento, cuja
justificativa técnica de implantação consiste na mitigação dos efeitos da seca que aflige a região há
muitos anos, em que pese a utilização do sistema ocorrer de forma intermitente e já existir adutora
de água bruta no mesmo local.
99.Nesse contexto, considerando que a transferência de recursos do Governo Federal pressupõe a
capacidade técnica e gerencial do proponente, sendo esse um dos aspectos a ser avaliado pelo
concedente quando da formalização de transferências voluntárias, por exemplo (art. 16, V, da
Portaria Interministerial 424, de 30 dezembro de 2016), mostra-se relevante um olhar mais atento
sobre essa questão por parte do órgão repassador, ainda que a transferência em voga esteja submetida
aos ditames da Portaria MDR 3033/2020, que define procedimentos para a execução de ações de
prevenção em áreas de risco de desastres e de recuperação em áreas atingidas por desastres.
100. Essa avaliação poderia ocorrer mediante atuação junto ao município de Acopiara para
debater cenários que favoreçam a execução regular do empreendimento, caso esse ainda se mostre
viável, a exemplo da possível participação da Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE na
contratação e execução das obras, se assim for de interesse dos entes beneficiados pelo projeto.
101. Nesses termos, a proposta de encaminhamento abaixo formulada consigna o
encaminhamento da presente instrução à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil,
possibilitando-lhe a ciência dos fatos e a adoção das providências que entender cabíveis, dentre elas
a atuação com vistas a possibilitar a execução do objeto e garantir a efetividade da política pública a
seu cargo.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
102. Ante todo o exposto, elevo os autos à consideração superior para posterior
encaminhamento ao Exmo. Ministro Relator propondo:
a) conhecer da presente representação, por atender aos requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, VII, do RITCU, para, no mérito, assinalar a sua procedência, diante dos elementos
de convicção até aqui obtidos pelo TCU;
b) determinar, nos termos do art. 45 da Lei n.º 8.443, de 1992, e do art. 250, II, do RITCU, à atual
administração do Município de Acopiara – CE, que, dentro do prazo de 15 (quinze) dias contados da
notificação da deliberação a ser prolatada, comprove a efetiva anulação da Concorrência Pública
n. 2020.07.02.01 (contratação de empresa para execução de adutora de abastecimento de água) e,
por conseguinte, a desconstituição do contrato 2020.10.02.01, firmado com a ARN Engenharia
Eireli, CNPJ 11.477.070/0001-51, remetendo a este Tribunal comprovante das medidas adotadas;
c) promover o envio de ciência corretiva e preventiva à atual administração do Município de
Município de Acopiara – CE, nos termos do art. 9º da Resolução TCU n.º 315, de 2020, com vistas
à superveniente adoção das medidas cabíveis em prol da efetiva superação dos indícios de
irregularidades identificados nesse processo, em especial quando da deflagração de novo certame
para recontratação do empreendimento, se for o caso:
c.1) exigência de atestado registrado junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
(CREA) para comprovação da capacidade técnico-operacional da empresa (item 5.4.5.1. do edital
da Concorrência Pública n. 2020.07.02.01 ), em desacordo com a legislação vigente, haja vista
que o CAT (Certidão de Acervo Técnico) é o documento oficial do CREA apto a fazer prova da
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capacidade técnica do profissional, mas não da empresa licitante, conforme at. 5º da Resolução
1025/2009 do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea);
c.2) ausência de republicação do certame, com a concessão de novo prazo de 30 dias, após
modificados os itens 5.4.5.1 e 5.4.6 do edital da Concorrência Pública nº 2020.07.02.01,
contrariando o art. 21, §4º, da Lei nº 8.666/93;
c.3) exigência indevida de Certidão de Infração Trabalhista (subitem 5.4.2.8), uma vez que o art.
29, V, da Lei 8.666/93 considera que a regularidade trabalhista deve ser atestada por intermédio
da “prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho, mediante a
apresentação de certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Consolidação das Leis do
Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943”;
c.4) desclassificação da proposta comercial de licitante, sem permitir que a empresa corrigisse
falhas formais da proposta apresentada durante o certame, abdicando-se, portanto, de proposta
muito mais vantajosa para a Administração, o que contraria o art. 3o, caput, e o art. 43, §3o, ambos
da Lei n. 8.666/93;
c.5) exigência de regularidade para com a fazenda do município de Acopiara/CE
concomitantemente à comprovação da regularidade fiscal junto ao município de domicílio do
licitante, situação que não se coaduna com o disposto no art. 29 da Lei n. 8.666/1993;
c.6) exigências para apresentação de garantia da proposta (item 7 do edital) concomitante à
comprovação de capital social, no montante de R$1.159.911,70, correspondente à 10% (dez por
cento) do valor estimado da contratação, em inobservância ao art. 31, § 2o, da Lei nº 8.666/93;
c.7) solicitação da comprovação de quantitativos de serviços executados na aferição da
qualificação técnica profissional, situação que não encontra abrigo no art. 30, I, da Lei n.
8.666/1993;
c.8) risco de desconfiguração do objeto licitado na aludida concorrência, caracterizado pela
proposta de “Readequação do Projeto do Sistema de Abastecimento de Água – Acopiara/Ceará -
Março 2021” submetida à Sedec/MDR, indicando redução da extensão da adutora em 1688
metros; substituição da tubulação de ferro fundido (FoFo Dúctil JGS JE K-7 P/ Água DN 400mm)
por PVC ( BIAX PN 12,5 Adução –DEFoFo- DN 400 mm e DN 300 mm) e extrapolação do
percentual permitido pelo art. 65, § 1o, da Lei n. 8.666/1993 para alteração dos contratos
administrativos, prejudicando o alcance dos objetivos previstos no art. 3o da Lei n. 8.666/1993 e
o princípio da isonomia.
d) enviar cópia da presente instrução à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério
do Desenvolvimento Regional (SEDEC/MDR) para auxiliar no acompanhamento do
empreendimento e ciência acerca da importância de se garantir a capacidade técnica e operacional
do executor do projeto, contribuindo para a efetividade da Política Nacional de Proteção e Defesa
Civil;
e) enviar a cópia da decisão a ser proferida à empresa representante e à ARN Engenharia Eireli, CNPJ
11.477.070/0001-51, para ciência;
f) promover o arquivamento do presente processo, após as notificações da decisão a ser proferida.”
11. Pouco tempo depois, a prefeitura municipal de Acopiara/CE fez juntar aos autos ofício pelo
qual comunica ao TCU a “anulação da Concorrência Pública nº 2020.07.02.01”, conforme aviso
publicado no Diário Oficial da União de 11/1/2022.
É o relatório.
16
VOTO
manifestou sua concordância. Vale dizer, o montante envolvido na Transferência Legal 216/2018
provavelmente seria muito diferente do que foi autorizado.
16. Sem falar que, atualmente, a prefeitura deseja uma profunda reformulação do projeto, que
inclui a diminuição da obra por meio da sua interligação a adutoras vizinhas que já fazem o percurso
até a estação de tratamento de água de Acopiara/CE. Se aprovada, a modificação implicaria a absoluta
desconfiguração do objeto licitado.
17. Vale observar que a licitação, da forma que foi processada, na prática deu à contratante
poucas chances de obter um bom preço, pois a presença de requisitos impertinentes ou inseridos a
destempo presumivelmente inibiu a participação ou provocou a inabilitação de empresas interessadas,
fora a desclassificação com rigor excessivo de licitante com melhor oferta.
18. Como resultado, das nove participantes da licitação, sete foram inabilitadas, sendo que
uma delas voltou ao certame por força de decisão judicial. Das três que restaram para a abertura das
propostas de preços, uma foi desclassificada. Ao final, o preço contratado significou um desconto
irrisório de 3% sobre o orçamento.
19. Por causa das tantas irregularidades, que comprometeram a segurança dos princípios da
isonomia entre as licitantes, da competitividade do certame e da economicidade para o erário, dou
razão à unidade técnica quanto à imperatividade de anulação da concorrência e, consequentemente, do
contrato.
20. Tornou-se dispensável, todavia, determinação nesse sentido, visto que a prefeitura se
antecipou e baixou diretamente o ato de invalidação da licitação, conforme demonstrado na publicação
do Aviso de Anulação no DOU de 11/1/2022. Na página da prefeitura na internet, também se
encontram outros comprovantes, como o Termo de Anulação, que revela ter a prefeitura agido em
atenção aos posicionamentos até então emitidos no âmbito do TCU.
21. Contudo, não foram juntados documentos de prova da anulação do contrato, nem dada
nenhuma notícia acerca do entendimento da contratada a respeito.
22. É certo que a anulação da licitação induz à do contrato, nos termos do art. 49, § 2º, da
Lei 8.666/1993, de modo que, juridicamente, não cabe mais a execução contratual, que inclusive já
vinha suspensa há quase um ano, em face da indefinição nas alterações do projeto da adutora.
23. Mesmo assim, penso que a medida cautelar por mim proferida, que determinou à prefeitura
se abster de efetuar pagamentos com recursos da Transferência Legal 216/2018, não deva ser
simplesmente revogada, mas substituída por determinação de mesmo teor, que valha enquanto não
houver liberação expressa do MDR para movimentação dos recursos ainda existentes na conta
bancária específica. Assinalo que o MDR depositou uma parcela de R$ 3.338.799,78, em 15/5/2020.
24. Tal providência se justifica pelo fato de que o MDR ainda está decidindo entre a
possibilidade de manutenção do apoio financeiro à obra da adutora – que agora, com a anulação da
licitação, pode ter como base outro projeto acordado com a prefeitura –, ou, em via contrária, a
necessidade ou conveniência de cancelamento da Transferência Legal 216/2018, com exigência de
devolução dos recursos.
25. Então, enquanto isso, é preciso prevenir que o dinheiro já depositado na conta bancária do
ajuste seja usado em outros fins, ou até mesmo para acertos contratuais ou pagamento de eventuais
custos inerentes à anulação do contrato.
26. A propósito, cumpre ressaltar que a prefeitura fez dois pagamentos à contratada, em
16/12/2020 e 18/2/2021, que somaram R$ 533.311,62, pela execução de serviços correspondentes às
1ª e 2ª medições. Substancialmente, os serviços pagos foram de escavação e de fornecimento de
materiais diversos (sem tubulação).
27. Assim, caberá ao MDR, se sua decisão for de manter a Transferência Legal 216/2018,
avaliar ao final se há prejuízos decorrentes do não aproveitamento parcial ou total dos serviços que
foram pagos, de modo a requerer sua recomposição perante a prefeitura, se for o caso.
28. Enfim, haja vista que a presente representação teve por finalidade apurar irregularidades na
Concorrência Pública 2020.07.02.01, que já foi anulada, faz-se necessário apenas cientificar a
prefeitura municipal de Acopiara/CE dos achados, com acréscimo das medidas para proteção do
erário, conforme anteriormente explicado.
Diante do exposto, voto para que o Tribunal adote o acórdão que submeto a este
Colegiado.
1. Processo TC 012.581/2021-6.
2. Grupo I – Classe de Assunto VII – Representação.
3. Representante: Tribunal de Contas do Estado do Ceará.
3.1. Interessada: ARN Engenharia Eireli (11.477.070/0001-51).
4. Órgão: Prefeitura Municipal de Acopiara/CE.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: SeinfraUrbana.
8. Representação legal: Alisson Ferreira Alves (OAB/CE 41.131), procurador do município de
Acopiara/CE; Lise Lima Lopes (OAB/CE 37.482) e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação que tem por finalidade apurar
irregularidades em licitação para construção de adutora.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do
Plenário, com fundamento nos arts. 237 e 250 do Regimento Interno e no art. 9º da Resolução TCU
315/2020, e ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da representação para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. dispensar a expedição de determinação para anulação da Concorrência
Pública 2020.07.02.01, tendo em vista que a prefeitura municipal de Acopiara/CE já a providenciou,
conforme aviso publicado no Diário Oficial da União de 11/1/2022;
9.3. revogar a medida cautelar adotada por despacho (peça 19), referendada pelo
Acórdão 1942/2021-Plenário;
9.4. determinar à prefeitura municipal de Acopiara/CE que se abstenha de efetuar
quaisquer pagamentos ou saques com recursos da Transferência Legal 216/2018 (Siafi 1AAAFC),
enquanto não houver autorização expressa do Ministério do Desenvolvimento Regional;
9.5. determinar à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério do
Desenvolvimento Regional que:
9.5.1. confirme, junto à prefeitura municipal de Acopiara/CE, a anulação do Contrato
2020.10.02.01, decorrente da Concorrência Pública 2020.07.02.01 e vinculado aos recursos da
Transferência Legal 216/2018, em conformidade com o disposto no art. 49, § 2º, da Lei 8.666/1993;
9.5.2. de acordo a avaliação que lhe compete, caso sua decisão seja pelo desfazimento da
Transferência Legal 216/2018, exija a restituição de todo o montante já transferido, ou se, em sentido
inverso, decidir pela manutenção do repasse sob o mesmo ou novo projeto, verifique a possível
ocorrência de prejuízos aos cofres da União resultantes do não aproveitamento total ou parcial dos
serviços já pagos no âmbito do Contrato 2020.10.02.01, adotando as providências administrativas para
recomposição, inclusive, se necessário, mediante tomada de contas especial;
9.6. cientificar a prefeitura municipal de Acopiara/CE sobre as seguintes irregularidades
observadas na Concorrência Pública 2020.07.02.01, a fim de preveni-las:
9.6.1 exigência de atestado registrado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
(Crea) para comprovação da capacidade técnico-operacional da empresa (item 5.4.5.1. do edital), em
desacordo com a legislação vigente, haja vista que o CAT (Certidão de Acervo Técnico) é o
documento oficial do Crea apto a fazer prova da capacidade técnica do profissional, mas não da
empresa licitante, conforme o art. 5º da Resolução 1.025/2009 do Conselho Federal de Engenharia e
Agronomia (Confea);
9.6.2. ausência de republicação do certame, com a concessão de novo prazo de 30 dias,
após modificados os itens 5.4.5.1 e 5.4.6 do edital, contrariando o art. 21, § 4º, da Lei 8.666/1993;
9.6.3. exigência indevida de Certidão de Infração Trabalhista (item 5.4.2.8 do edital), uma
vez que o art. 29, inciso V, da Lei 8.666/1993 considera que a regularidade trabalhista deve ser
atestada por intermédio da “prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do
Trabalho, mediante a apresentação de certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Consolidação
das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943”;
9.6.4. desclassificação da proposta comercial de licitante, sem permitir que a empresa
corrigisse falhas formais da proposta apresentada durante o certame, abdicando-se, portanto, de
proposta muito mais vantajosa para a Administração, o que contraria os art. 3º, caput, e 43, § 3º, da
Lei 8.666/1993;
9.6.5. exigência de regularidade para com a fazenda do município de Acopiara/CE
concomitantemente à comprovação da regularidade fiscal junto ao município de domicílio do licitante,
situação que não se coaduna com o disposto no art. 29 da Lei 8.666/1993;
9.6.6. exigências para apresentação de garantia da proposta (item 7 do edital) concomitante
à comprovação de capital social, no montante de R$ 1.159.911,70, correspondente a 10% (dez por
cento) do valor estimado da contratação, em inobservância ao art. 31, § 2º, da Lei 8.666/1993;
9.6.7. solicitação da comprovação de quantitativos de serviços executados na aferição da
qualificação técnica profissional, situação que não encontra abrigo no art. 30, inciso I, da
Lei 8.666/1993;
9.7. enviar cópia do presente acórdão, com o relatório e voto, à Secretaria Nacional de
Proteção e Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento Regional, à prefeitura municipal de
Acopiara/CE, à empresa ARN Engenharia Eireli e ao representante;
9.8. arquivar o processo.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral