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INSTITUTO MONITOR – CURSO

TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO

Renata Goes Rodrigues

O ÍNDICE GERAL DE CURSOS (IGC) E A SUA RELAÇÃO


COM AS DESPESAS DAS UNIVERSIDADES DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro
2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA/REFERENCIAL TEÓTICO ................................................ 6
METODOLOGIA E BASE DE DADOS ............................................................................ 9
RESULTADOS............................................................................................................12
CONCLUSÕES ............................................................................................................ 14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 15
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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tornou-se rotina os contingenciamentos e cortes nos orçamentos das
Universidades Federais no Brasil. Diversos setores da sociedade brasileira questionam
a base para a tomada de decisão para a determinação dessas medidas por parte do
governo federal, tendo em vista o impacto que podem causar.

A crise das Universidades Públicas Brasileiras, embora não seja um fenômeno recente,
seja em certos períodos em virtude de falta de investimento, ou, em outros tempos, pela
fragilidade com que o ensino público superior foi expandido, no contexto atual emerge a
necessidade de um olhar mais apurado.

Na década de 1990, Ristoff (1999) já citava que a Universidade Brasileira passava


por 3 grandes crises: a financeira, tento em vista o desinvestimento já em curso e a
incapacidade de planejar dos governos; a do elitismo, por conta da baixa participação da
população nas universidades; e a do modelo, que deriva da definição que fazemos da
função da educação superior, reduzindo a função das universidades às graduações. Mais
recentemente, Filgueiras, Druck e Moreira (2018) apresentaram a continuidade e o
agravamento da crise das Universidades, tendo em vista tanto a fragilidade da expansão
do ensino superior dos governos do PT, quanto os cortes orçamentários já a partir do
governo Temer, principalmente com a Emenda Constitucional 95 – EC do Teto dos
Gastos Públicos. Ferrari, J. F (2019).

Atualmente, em função da emenda do teto de gastos, o orçamento das Universidades


Federais é estabelecido levando em conta o ano anterior corrigido pela inflação. De
acordo com Oliveira e Corrêa (2021), nos anos de 2016 e 2017, 82,6% do total de
despesas das Instituições Federais de Ensino brasileira foram destinadas às despesas
com Pessoal, enquanto apenas 2,6% representavam despesas de investimento. Nesse
contexto, os recursos estabelecidos não consideram as reais necessidades das
Universidades.

Esse estudo visa analisar a execução orçamentária no ano de 2019 da despesa pública
das Universidades do Estado do Rio de Janeiro, equalizado com o número de docentes
e de técnicos-administrativos, e comparar com os resultados do Índice Geral dos Cursos
(IGC) 2019, produzido pelo Inep e divulgado pelo MEC em abril de 2021.
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A fim tornar a pesquisa mais coerente, apenas as Organizações Acadêmicas


categorizadas como “Universidades” foram selecionadas, tendo em vista a similaridade
de características, mesmo motivo pelo qual foi determinado a região do Estado do Rio
de Janeiro.

Visando atingir ao objetivo proposto, foram utilizadas as informações orçamentárias das


Universidades selecionadas, bem como o total de servidores técnicos- administrativos e
docentes, frente ao IGC contínuo das mesmas Instituições, de maneira a responder a
seguinte pergunta problema: existe uma relação direta entre o IGC e as despesas das
Universidades do Estado do Rio de Janeiro?

Considerando o objetivo, bem como ao problema do estudo, esse se classifica em


descritivo, bibliográfico, documental e quantitativo.

Além desta introdução o presente trabalho está estruturado da seguinte forma: Na


próxima seção será realizada uma revisão bibliográfica. Já na seção 3 está reportado a
metodologia utilizada. Na quarta seção serão discutidos os resultados e por fim, na última
seção são apresentadas as conclusões do trabalho
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA/REFERENCIAL TEÓRICO

Universidades Federais

O ensino superior no Brasil teve início, a nível universitário, nos anos 30 (SAMPAIO,
1991). Do início do século XVIII, com a chegada da corte brasileira ao Brasil, até o
começo da década de 30 do século XX, com a criação das universidades estaduais,
o modelo de ensino superior era destinado basicamente à formação de profissionais
que trabalham por conta própria, como médicos, advogados, engenheiros etc., os
chamados profissionais liberais. Na metade nos anos 40 foi desenvolvido o sistema
federal de ensino, com a transformação das Universidades Estaduais em Federais
(SAMPAIO, 1991).

Porém, apenas a partir da Lei 5.540 de 1968 e do Decreto-Lei 464 de 1969 que as
Instituições de Ensino Superior Federais adquiriram autonomia didático-científica,
disciplinar, financeira e administrativa (MEC, 2017). Desde então, poucas foram as
mudanças desenvolvidas no modelo das Universidades Federais. Desde a sua
origem, segundo Amaral (2008), as Instituições Federais de Ensino, apesar da
autonomia concedida, não tiveram uma definição a respeito do seu financiamento, o
que demonstra a falta de importância que sempre foi dada ao tema.

Orçamento das Universidades Federais

Em função da sua autonomia, as Universidades podem distribuir internamente os


recursos do seu orçamento. Isso faz com que o orçamento seja entendido através de
plano estratégico. No Brasil, o orçamento público é realizado através de três
instrumentos: Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei
Orçamentária Anual (LOA). O PPA é onde o governo define suas prioridades para o
período de 4 anos (ALBUQUERQUE, MEDEIROS E SILVA, 2013).

A LDO tem o objetivo de fazer o elo entre o instrumento de longo prazo (PPA) e a
LOA, tendo em vista que ele observa o que foi indicado no PPA e estabelece as
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prioridades para o ano subsequente. Já a LOA é o orçamento público em si, onde se


planeja, executa e controla o orçamento. É na LOA que são estimadas as receitas e
fixadas as despesas para um exercício financeiro, que compreende o período de 1º
de janeiro a 31 de dezembro.

Despesas Obrigatória x Despesas discricionárias

Parte do orçamento público, a despesa, ou seja, o gasto público, é dividido em


obrigatório e discricionário. As despesas obrigatórias são aquelas que não podem ser
modificadas, como por exemplo o pagamento de remuneração aos servidores e com
Previdência. Já as despesas discricionárias são aquelas das quais o gestor pode
decidir. Sendo assim, as únicas despesas das quais os gestores podem controlar, são
as discricionárias, como por exemplo as com pagamento de energia elétrica,
manutenção de infraestrutura etc.

Lei de Teto dos Gastos Públicos

A Lei do Teto dos Gastos Públicos, criada pela Emenda Constitucional nº 95 de 2016,
criou um limite para o crescimento do orçamento da União. Para evitar que a despesa
fixada cresça, foi criado um limite de gastos baseado no ano anterior ajustado pela
inflação. Esse limite não pode ser ultrapassado em um prazo de 20 anos, podendo
ser revisto após 10 anos, ou seja, em 2027.

No ano de 2019, no orçamento destinado às Universidades Federais, 85,34% foram


destinados às despesas obrigatória, enquanto apenas 13,83% eram referentes às
despesas discricionárias. Como não há margem para ajuste das despesas
obrigatórias, o gestor, para não atingir ao teto estabelecido, pode realizar ajustes na
menor parte do orçamento disponível, que ao mesmo tempo é onde se encontram os
gastos com investimentos, manutenção, energia, água etc.

Indicadores de Desempenho das IES

Com sua autonomia já prejudicada, como resultado prático da aplicação da Emenda


constitucional nº 95, as Universidades Federais necessitam ainda mais de indicadores
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que desempenho que demonstrem o real panorama das suas atividades fins. De
acordo com Dias Sobrinho (2010), a avaliação é um instrumento de mudança nas
Instituições de Ensino Superior, produzindo melhoria a partir do controlo de
desempenho.

Nesse contexto, o MEC, através da Lei 10.861 de 2004, citou o Sistema Nacional de
Avaliação Superior, o SINAES. O SINAS, por sua vez, mede a qualidade da Educação
Superior através de indicadores, sendo o mais abrangente o Índice Geral de Cursos
(IGC).

O IGC consiste na análise dos cursos de graduação e pós-graduação strictu sensu,


sendo realizada através da média de conceitos preliminares dos cursos (CPC). O CPC
é calculado através da composição de informações sobre o corpo docente, o
desempenho os alunos no ENADE, recursos didáticos, infraestrutura, entre outros.
Conforme pontuou Ribeiro (2012), as Instituições necessitam de uma constante e
contínua busca pela qualidade no desempenho acadêmico. Para isso, os indicadores
de desempenho exercem papel fundamental, visto que através dos indicadores
poderão ser demonstrados os resultados das atividades das Universidades, o que
servirá de subsídio para mudanças institucionais visando a adequação e melhora
diante do contexto atual.
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METODOLOGIA E BASE DE DADOS

Esse estudo teve como objetivo analisar a execução orçamentária no ano de 2019 da
despesa pública das Universidades do Estado do Rio de Janeiro, equalizado com o
número de docentes e de técnicos-administrativos, e comparar com os resultados do
Índice Geral dos Cursos (IGC) 2019, produzido pelo Inep e divulgado pelo MEC em
abril de 2021. Considerando o objetivo, esse se classifica em descritivo. Segundo
Beuren et al. (2008), a pesquisa descritiva visa identificar, relatar e comparar, entre
outras características.

Com relação aos procedimentos, ela é bibliográfica, tendo em vista que foram
utilizados artigos científicos para a análise, e documental, pois foram, pois, tiveram
como base os dados do IGC e dos orçamentos das Universidades. Segundo Gil
(1997).

A pesquisa documental é aquela feita através de materiais que ainda não receberam
tratamento analítico, enquanto a bibliográfica tem como base materiais já elaborados.
A abordagem é quantitativa, uma vez que foram utilizadas técnicas estatísticas para
a análise de dados numéricos (SMITH, 2013).

Para responder à questão de pesquisa, foi escolhido o método multicritério AHP-


TOPSIS 2N por se tratar de um método que serve como auxílio para tomadas de
decisões, e que equaliza critérios através de um sistema de pesos. Esse método une
os métodos AHP e TOPSIS em apenas um.

A população desta pesquisa abrange as Instituições Federais de Ensino Superior


localizadas no Estado do Rio de Janeiro. A fim tornar a pesquisa mais coerente,
apenas as Organizações Acadêmicas categorizadas como “Universidades” foram
selecionadas, tendo em vista a similaridade de características, mesmo motivo pelo
qual foi determinado a região do Estado do Rio de Janeiro. Sendo assim, 4 foram as
instituições: Universidade Federal Fluminense (UFF); Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); e
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Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Para a coleta de dados foi pesquisado o orçamento utilizado no ano de 2019 pelas
Instituições selecionadas através do site do Portal da Transparência, da Controladoria
Geral da União.

Os dados referentes aos números de docentes e de técnicos administrativos foram


retirados dos relatórios de gestão disponibilizados nos sítios das instituições, também
referentes ao ano de 2019, O IGC foi retirado no portal do Ministério da Educação-
MEC. O quadro 1 demonstra o quantitativo bruto de professores, técnicos e despesa
liquidada.

Para a aplicação do método AHP TOPSIS 2N, inicialmente foi definida uma matriz de
decisão, onde ficou definida a pontuação de cada critério com relação ao outro
(Quadro 2). Posteriormente foi definido uma matriz de ponderação, que cruza cada
critério, um contra o outro, a fim de realizar uma avaliação lógica, feita pela escala
fundamental de Saaty (Quadro 3).

O terceiro passo foi determinar, a partir do método AHP, o peso de cada um dos
critérios (Quadro 4). Feitos os pesos, foi realizada a matriz de decisão normalizada
ponderada (colocar as variáveis dentro de uma mesma ordem de grandeza).

O quinto procedimento foi calcular as medidas de distância, para posteriormente


demonstrar a proximidade relativa à alternativa ideal, que seria gastar menos com
mais técnicos e mais professores (Quadro 5).

Por último, ordenamos a partir de um cálculo de preferência, feito através da


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similaridade, calculando a diferença entre a pior distância e a soma da pior distância


e da melhor distância do ideal. Feito o ranking, o que se buscou foi comparar o IGC
com o ranking daquelas Universidades têm menor despesa com relação ao número
de técnicos e docentes (Quadro 6).
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RESULTADOS

Com os dados coletados e aplicada a metodologia, foi possível criar um ranking


ordenando a relação de recursos gastos, sendo mais bem colocada aquela que gasta
menos, em função do número de técnicos e docentes.

O resultado se encontra no quadro 5 abaixo:

No período de 2019, dentre as universidades selecionadas, a UNIRIO foi a Instituição


com menos recursos gastos (0,12), seguida da UFRRJ (0,13). A UFF, aparece como
a terceira que menos gastou (0,34), porém com valor proporcional mais de duas e
vezes e meia maior do que as duas primeiras. Já a UFRJ, universidade com maiores
despesas proporcionais, com mais do que o dobro da UFF, tendo mais de 6 (seis)
vezes mais gastos do que a UNIRIO.

Com relação ao número de docentes, a UFRJ e a UNIRIO têm números


estatisticamente semelhantes (ambos com 0,02), enquanto a UFF apresenta valores
três vezes e meia maior (0,07), sendo a UFRJ aquela com mais docentes
proporcionais (0,09).

Já para proporção de técnicos-administrativos, a UFRRJ aparece com 0,00, o que


demonstra que o peso dos técnicos, em relação as despesas e ao número de
docentes é praticamente nenhum. Enquanto isso, a UFRJ lidera com 0,03.

A similaridade atende a função que compara a despesas com o número de técnicos


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e docentes, aplicando os pesos que cada um tem na relação.

O resultado demonstra que a UFRRJ é a universidade que melhor relação entre menor
despesa e maior número de técnicos e docentes, com 0,90021638, seguidas por
UNIRIO 0,89868766, UFF com 0,66507766 e UFRJ tendo 0,10348865. O IGC
contínuo foi comparado ao resultado TOPSIS, sendo o resultado demonstrado abaixo,
no quadro 6:

Como a tabela demonstra, o ranqueamento é praticamente inversamente


proporcional, tendo em vista que aqueles que têm melhor resultado no TOPSIS, têm
os pior IGC contínuo.
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CONCLUSÕES

Tendo como objetivo analisar a execução orçamentária no ano de 2019 da despesa


pública das Universidades do Estado do Rio de Janeiro equalizados com o número de
docentes e de técnicos-administrativos, e comparar com os resultados do IGC 2019,
ficou demonstrado que há uma relação inversamente proporcional entre eles.

É de se notar que a principal razão para tal parece ser o peso que a despesa pública
teve quando da aplicação do TOPSIS, que foi de 85,58%. Daí se permite concluir que
as Universidades que tiveram maior gasto público, tiveram melhor desempenho.
Porém, a UNIRIO, apesar de ter maiores gastos proporcionais do que a UFRRJ,
tiveram resultado pior no TOPSIS.

Quando comparados ao IGC, tiveram desempenho ligeiramente melhor. Daí, ocorre


reforçar a tese de que as despesas têm mais peso do que o número de técnico e
docentes, inclusive quanto ao desempenho medido pelo IGC.

A principal contribuição deste estudo está em reforçar a ideia de que o desempenho


das Universidades Federais depende da sua situação econômico-financeira. Para
pesquisas futuras, sugere-se que seja feita a comparação dos dados do IGC,
proporcionalmente ao gasto por aluno, utilizando os dados aqui apresentados como
critérios.
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REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, C. M. de; MEDEIROS, M. B.; SILVA, P. H. F da. Gestão de finanças


públicas: Fundamentos e práticas de planejamento, orçamento e administração
financeira com responsabilidade fiscal.3. ed. v. I. Brasília: Gestão Pública. 2013.

AMARAL, N. C. Autonomia e financiamento das IFES: desafios e ações. Avaliação,


Campinas, v. 13, n. 3, p. 647–680, nov. 2008. Disponível em:
www.scielo.br./pdf/aval/v13n3/03.pdf. Acesso em: 21.09.2021.

BEUREN, I. M.; BOFF, M. L.; HEIN, N. Informações recomendadas pelo parecer de


orientação nº 15/87 da CVM nos relatórios da administração de empresas familiares
de capital aberto. In: CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE,
9., 2008. São Paulo. Anais... São Paulo: FEA/USP, 2008.

DIAS SOBRINHO, José. Avaliação e transformações da educação superior brasileira


(1995- 2009): do provão ao Sinaes. Revista Avaliação (Campinas, vol. 15, n. 1,
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FILGUEIRAS, L.; DRUCK, G.; MOREIRA, U. Sobre o caráter da burguesia brasileira.


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RIBEIRO, Elisa Antonia. As atuais políticas públicas de avaliação para a educação


superior e os impactos na configuração do trabalho docente. Avaliação, Campinas;
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RISTOFF, D. I. Universidade em foco: reflexões sobre a educação superior.


Florianópolis, Insular, 1999

SAMPAIO, H. Evolução do ensino superior brasileiro (1808-1990). Documento de


Trabalho 8/91. Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior da Universidade de São
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