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Latina
Resumo
lntrodução
O campo de estudos das relações internacionais iniciou-se na América
Latina já nos anos 1950 e 1960, de forma incipiente e localizada, na Colômbia,
Chile e l/éxico (Her2,2008; [Vlufroz, 1980). No entanto, é a partir da década de
1970 que a disciplina se dissemina pela região em razáo do aprofundamento dos
estudos sobre dependência e desenvolvimento, os quais estão inseridos em um
contexto de discussão sobre a busca de autonomia dos países periféricos perante
um nÚcleo hegemÔnico economicamente desenvolvido e liderado pelos Estados
Unidos. Esta busca de autonomia está, portanto, presente nas discussões
acadêmicas do período e caracteriza, em grande medida, parte da disciplina de
relações internacionais na América Latina. Como l/ônica Herz destaca, "a teoria
da Dependência é considerada a maior contribuição teórica da América Latina
nos estudos das relações internacionais e da economia política" (2008:2).
Apesar das contribuições dos teóricos da dependência para a análise das
relações internacionais, o embasamento teorico mais utilizado pela disciplina na
1
Professora Assistente do curso de Relações lnternacionais da Universidade Federal da Paraíba.
Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco.
1.
região ainda é de origem europeia e norte-american a2 11er2,2008). Além disso,
há certa heterogeneidade metodológica entre os cursos de relações
internacionais dentro da região ou do mesmo país, o que dificulta a caracterizaçáo
de uma Escola Latinoamericana de Relações lnternacionais: há cursos com um
enfoque mais unidisciplinário e outros interdisciplinar; cursos voltados para áreas
específicas, como direito internacional ou negócios internacionais, e que não se
dedicam ao ensino de teorias, conceitos e temáticas próprias da disciplina; cursos
que se limitam ao ensino das teorias e temáticas clássicas e não avançam nas
novas discussões da área (Mufroz, 't980; Merke, 2008; Jaramillo, 2008).
Esta problemática é explicada, de certa forma, por uma dificultade mais
ampla da área que consiste na sua separação de outras disciplinas. Esta
separação foi observada na Europa e Estados Unidos, mas não ocorreu na
América Latina. Tanto que em diversas instituições de ensino superior existem
cursos de graduação em ciência política ou sociologia com opção de
especialização em relações internacionais. De acordo com [\4ônica Herz, isso
ocorre porque parte do corpo docente também é composto, em sua maioria, por
estudiosos que se graduaram em ciências sociais, ciência política, história, direito.
Alem do mais, a separação entre questões internacionais e domésticas nunca foi
atingido na América Latina (2008: 5).
Assim, apesar do aumento significativo no número de cursos de graduação
e pós-graduação nas instituições de ensino latinoamericanas ao longo do tempo,
tal processo não resultou em uma configuração uniforme da disciplina. Há uma
diversidade de enfoques teóricos, metodológicos e temáticos que requerem maior
investigação e, neste sentido, é que o presente trabalho se insere.
O artigo proposto consistiu em um levantamento da produção bibliográfica
latinoamericana3 na área de relações internacionais nos últimos dez anos (2001-
2011) e, por conseguinte, na identificação das áreas temáticas e metodologias de
estudo mais empregadas. Um dos principais objetivos deste levantamento é
poder auxiliar na compreensão da evolução e configuração da disciplina de
'Há algumas ressalvas, como o caso do Equador, em que a Teoria da Dependência ocupa lugar
central nos cursos de Relações lnternacionais do país (Jaramillo, 2008).
3
Exceto o Brasil.
2
relações internacionais na região. O trabalho pode ser caracterizado como um
primeiro esforço de análise, pautado neste momento em buscas efetuadas em
sítios diversos (universidades, institutos, centros de investigação, redes de
informação, associações de pesquisa, periódicos) e também em literatura
específica que versa sobre a questão.
Neste levantamento foi possível identificar (1) as instituições de ensino
superior que possuem cursos de graduação e pós-graduação em relações
internacionais e os institutos e centros de investigação que desenvolvem
pesquisas na área; e o (2) corpo docente de algumas destas instituições, sua
produção e áreas de interesse. Na próxima seção serão discriminados os
procedimentos empregados no desenvolvimento da pesquisa e, em seguida,
serão analisados os resultados encontrados. Por último serão apresentadas as
conclusões gerais do trabalho.
o
Antigua e Barbados, Argentina, Aruba, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Chile, Colômbia,
Costa Rica, Cuba, Dominica, El Salvador, Equador, Grenada, Guadalupe, Guatemala, Guiana,
Guiana Francesa, Haiti, Honduras, llhas Caimãn, llhas Turcas e Caicos, llhas Virgens, Jamaica,
ÍVlartinica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, San
Bartolomé, San Cristobal e Nieves, San Vicente e as Granadinas, Santa Lucia, Suriname, Trinidad
e Tobago, Uruguai, Venezuela.
" http ://lan ic.utexas.edu/info/about
3
Universidade do Texas, e do General Education Ontine6, que consiste em um e-
project website sobre educação superior no mundo.
Foram consultados os sítios de todas as universidades, institutos e centros
de estudo latinoamericanos, encontrados nestas bases de dados, com o intuito de
localizar aquelas instituições com cursos ou área de pesquisa em relações
internacionais. Neste momento foram definidos alguns parâmetros de
identificação, especialmente em relação aos cursos das universidades, para então
considerar a instituição inserida na área. O objetivo desses parâmetros foi tentar
estabelecer uma diferenciação entre as relações internacionais e as demais
disciplinas.
Parâmetros de identificação:
a) Foram considerados os cursos de graduação e pós-graduação
não específicos (como ciência política, sociologia, direito, história,
etc) mas que possuíam especialização ou habilitação na área de
relações internacion ais ;
u
http //www. findaschool.org
' Foram consideradas como disciplinas específicas da área aquelas que caracterizam o curso de
relações internacionais, referenciadas na literatura e na comunidade acadêmica, em associações
do campo (lntemational Studles Association; Associação Brasileira de Relações lnternacionais) e
em organizações destinadas à avaliação dos cursos das instituições de ensino superior (No caso
brasileiro, foram uttilizados os critérios de avaliação da CAPES).
4
d) Foram excluídos os cursos de graduação e pos-graduação e os
centros de pesquisa que, embora estejam relacionados com
temáticas da área, não possuíam em seus programas ou
desenvolviam pesquisas específicas das relações internacionais
(como negócios internacionais, direito internacional, comércio
exterior).
Foram cerca de 739 instituições pesquisadas em todos os 41 países, das
quais 147 foram identificadas dentro dos parâmetros estabelecidos. Ressalta-se
que em 19 países8, especialmente da região do Caribe, não foram encontradas
instituições na área de relações internacionais.
Buscou-se então, na segunda etapa, determinar o corpo docente destas
instituições. Neste momento foram consultados os sítios das 147 universidades e
centros de estudo, os congressos da lnternationalSÍudês Association (lSA) e da
Latin American SÍudies AssocraÍion (LASA) e a literatura que trata do assunto. A
principal fonte da pesquisa foram os sÍtios das instituições. Nesta etapa, a maior
dificuldade foi a falta de informação disponível nos sítios destas entidades sobre
os professores e investigadores dos cursos. De qualquer forma, foram
encontradas informações sobre o corpo docente em 86 instituições, ou seja, em
cerca de 58% das entidades.
Na lista de professores e pesquisadores foram incluídos apenas aqueles
com produção acadêmica, já que o intuito da pesquisa consiste em mapear as
áreas temáticas e metodologias mais empregadas. Ressalta-se que a produção
acadêmica foi verificada por meio das publicações, tanto de livros como em
periódicos de relevância nacional e internacional. Não foram incluídos, portanto,
aqueles docentes cuja produção não foi localizada, ou seja, em que não foi
encontrado ao menos 1 artigo em períodico ou livro/capítulo de livro. Seguindo
este procedimento foram encontrados 499 profissionais. Na Tabela 1 abaixo
constam o número de instituições pesquisadas, as instituições encontradas dentro
dos parâmetros elencados, aquelas com informação disponível sobre o corpo
docente e o total de pesquisadores encontrados com produção na área.
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Antigua e Barbados, Aruba, Bahamas, Belize, Dominica, Grenada, Guadalupe, llhas Caimãn,
llhas Turcas e Caicos, llhas Virgens, Martinica, Porto Rico, San Bartolomé, San Cristóbal e
Nieves, San Vicente e Granadinas, Suriname, Santa Lucia, Guiana Francesa, Jamaica.
5
Tabela I- Número de institui@es por país
lnstituições lnstituições com Totalde
lnstituições pesquisadores
País
pesquisadas encontradas na informação disponível
área de Rl de docentes com produção
Arqentina 92 32 23 149
Barbados I 1 I 5
Bolívia 26 7 5 18
Chile 63 11 I 50
Colômbia B4 17 13 53
Costa Rica 34 6 3 12
Cuba '13 1 1 26
ElSalvador '19 2 1 5
Equador 35 7 3 19
Guatemala 10 4 1 2
México 131 33 16 120
Nicaráqua 13 I 2 4
Paraguai I 6 1 1
Peru 60 5 1
o
Uruguai 6 3 3 17
Venezuela 38 4 3 I
Total 634 147 86 499
*Foram incluÍdos na tabela apenas os países em que foi possível encontrar instituições com
informações sobre o corpo docente.
6
5) História das Relações Internacionais: questões das relações
internacíonais com enfoque histórico;
6) Teoria das Relações lnternacionais: questões teóricas e
conceituais das relações internacionais;
7) Organizações lnternacionais: questões dos organismos
internacionais; inclui temas como ONU, OEA, OIVC, OTAN, Ftt/l;
8) Política lnternacional: questões gerais da política internacional
que não são identificadas em uma área temática específica;
9) Direito lnternacional: questões do direito internacional público;
inclui temas como tratados internacionais, princípios de direito
internacional;
10) Globalização e Atores: questões da globalização e os atores
das relações internacionais; inclui temas como impactos da
globalização, ONGs, sociedade civil, paradiplomacia;
11) Estudos Regionais: estudos de regiões e países específicos;
inclui temas como Ásia, África, América Latina, China, Estados
Unidos, Oriente [\4édio, Rússia;
12) Estudos de Cooperação: questões de cooperação
de cooperação entre os atores
internacional; inclui temas
internacionais;
13) Meio Ambiente: questões do meio ambiente nas relações
internacíonais; inclui temas como regimes ambientais,
cooperação ambiental, tratados ambientais; conferências
ambientais;
14) Direitos Humanos e Migrações lnternacionais: questões dos
direitos humanos e das migrações nas relações internacionais;
inclui temas como direito humanitário, tratados de direitos
humanos, direitos humanos e os atores internacionais, direitos
humanos e os conflitos, migrações internacionais;
15) outros: questões de poucos estudos e que não aparecem nas
demais áreas temáticas; inclui temas como energia e
nacionalismo.
Ressalta-se que, por se tratar de um período longo de análise (de 2001 até
2011), houve casos em que o pesquisador produziu em mais de uma área
temátíca específica ao longo do tempo. Há também casos em que o pesquisador
produz em mais de uma área específica ao mesmo tempo. Para solucionar este
problema, utilizou-se
o critério "quantidade de produção" e os estudos foram
divididos em duas áreas prioritárias: a Área Prioritária 1 corresponde à área
temática específica que o pesquisador mais se dedicou e produziu ao longo do
7
tempo. A Área Prioritária 2 corresponde à segunda área específica de maior
produção do pesquisador.
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Gráfico 1 - Areas de estudo na América Latina (Área prioritária 1 dos docentes)
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159ü
I Ontío1
13
§: No Gráfico 1 constam as áreas temáticas de estudo mais pesquisadas ao
Iongo do período 2001-2011. O Gráfico 2 indica a segunda opção de área
temática mais pesquisada (necessário para solucionar o problema dos casos de
pesquisadores que publicam sobre assuntos de áreas diferentes). Ou seja, se um
docente publicou no período abordado 10 estudos sobre segurança e defesa e 6
estudos sobre integração regional, então a área de segurança e defesa será sua
Area Priorilária 1 e a área de integração regional será sua Area Prioritária 2.
A
partir do Gráfico 1, percebe-se que as cinco áreas temáticas mais
pesquisadas na região foram: segurança e defesa, economia política
internacional, estudos regionais, política externa e integração regional. Os
estudos nestas áreas apresentaram-se bem equilibrados, de maneira que
nenhuma preponderou sobre a outra. Já no Gráfico 2, a segunda área mais
pesquisada aparece na seguinte ordem: integração regional, estudos regionais,
política externa, globalização e atores e estudos de segurança e defesa. No
entanto, a área de integração regional se destaca de forma mais veemente das
demais áreas.
Se as duas áreas prioritárias fossem consolidadas, o resultado seria o
Gráfico 3 abaixo.
Gráfico 3 - Areas de estudo na América Latina (áreas consolidadas)
1 L% I lntegraçào Regiiorral
dt){ 19( I [stueios Regionais
2% 1,"ó
17% ffi Polític; [xtÊrilil
)v/
f Globalização * Âtçres
ffi Ectudos de Segurança e Deíesa
't Polítira lnternacional
. [conomia Po]Ítica Internacional
L1% L4% ffi Direitos Humanos e MigraçiÍo
IOutr(]s
L4
No Gráfico 3, a area de integração regional aparece com uma leve
preponderância sobre as demais e os estudos de segurança e defesa caem da 1'
paru a 5" posição quando comparada com o Gráfico 1. De certa forma, o que
podemos compreender destes dados é que os pesquisadores estão dando uma
leve ênfase aos estudos de segurança e defesa como área prioritária, no entanto,
o maior volume de produção é na área de integração regional e depois de estudos
regionais.
De fato, a area de estudos regionais é a que aparece com maior
consistência em todos os gráficos e consiste na área de relações internacionais
de maior crescimento na América Latina ([t/ufroz, 1980; Solórzano, 2011;
Robinson, 2008; Salazar, 2008; N/erke, 2008). A região que concentra o maior
número de estudos é a Asia, seguida da América do Norte, América Latina e
Africa. No Gráfico 4 e possível observar os dados consolidados das produções
sobre estudos regionais discriminado por região.
, rj./ 4%
I Asia
r Áfdra
ffi [uropa
9%
ffiOriente Mrciio
::::::ÂtTrtri(ü Cttrtral e Cariht
:::.. Anréricil do Snl
10:)í
Rússia e Balcãs
L60/;
1"3%
15
internacional ou das negociações e comércio de forma geral. São aqueles
pesquisadores inseridos, em grande medida, em cursos com abordagens de
âmbito econômico, como por exemplo a Fundación Universitária San lrtlarÍin da
Colômbia, em que no programa do curso constam as disciplinas de estatística,
álgebra, econometria, matemática financeira.
Gonclusão
A pesquisa realizada objetivou contribuir nas investigações para a
compreensão das características do campo das relações internacionais na
América Latina. De fato, como afirmam os estudiosos, há uma heterogeneidade
entre os cursos encontrados nas instituições de ensino superior, seja de âmbito
programático seja em termos de enfoque temático. De forma geral, as
informações sobre os cursos de relações internacionais (como corpo docente)
que estão disponíveis nos sítios das instituições são precárias. As instituições
com sítios bem estruturados e que disponibilizam informações mais detalhadas
são aquelas que também concentram o maior número de publicações e
instituições na área. Na maioria delas, o curso não está voltado para a área
acadêmica e para a pesquisa mas para o mercado de trabalho, portanto, a
intensidade de publicações é baixa e em muitos programas abdica-se de
disciplinas referentes à área específica das relações internacionais para inserir
disciplinas da área de administração, política, negocios e direito.
Em relação às áreas temáticas, observa-se um crescimento dos estudos
sobre segurança e defesa. Como destaca t\4ônica Herz, os estudos sobre
seguranÇa internacional têm sido marginais na América Latina em razáo da sua
condição periférica no sistema internacional, no entanto, em razão da ampliação
do conceito de segurança, os estudos nesta área têm se intesificado nos últimos
10 anos (2008, p.4). As áreas tradicionalmente mais pesquisadas, como estudos
regionais e integração, continuam engrossando o maior número das publicações.
Já os estudos de teoria das relações internacionais e organizações internacionais
persistem como áreas marginais na região.
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Referências bibl iográficas
HERZ, Ir4ônica (2008). The study of lnternational Relations in Latin America. ln:
Semínário sobre el estado de la disciplina de las Relaciones lnternacionales en
América Latina. [Vléxico: ITANI.
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