RODRÍGUEZ MOLAS, Ricardo. Aspectos ocultos de la identidad nacional: los
afroamericanos y el origen del tango. Ciclos en la historia, la economia y la sociedad. Instituto de Investigaciones de Historia Económica y Social. Facultad de Ciencias Económicas. UBA. Buenos Aires, año III, vol. III, n. 5, 2do. semestre de 1993, p. 147-161.
Durante mais de duzentos anos, os portos de Buenos Aires e Montevidéu estiveram
envolvidos nas especulações comerciais dos traficantes de escravos. Dezenas de milhares de africanos desembarcaram nesses portos e foram enviados para o interior ou vendidos nas cidades costeiras. Muitos chegaram à região da Alta Peru, ao Chile e em menor medida ao Paraguai. Pouco conhecido é o fato de que, no final do século XVIII, cerca de cinquenta por cento da população das cidades do interior do território argentino era composta por negros e mulatos. Na cidade de Buenos Aires, cerca de quarenta por cento da população era africana ou descendente de africanos. Vejamos os percentuais conhecidos da população total - rural e urbana - naquele momento: Tucumán, 64%; Santiago del Estero, 54%; Catamarca, 52%; Salta, 46%; Córdoba, 44%; Buenos Aires e Mendoza, 24% cada uma; La Rioja, 20%; San Juan, 16%; Jujuy, 13%; San Luis, 9%.
A partir da primeira chegada de negros em 1587, devido às especulações comerciais do bispo
Victoria, o tráfico de escravos aumentou constantemente. Contrabando e escravidão tornaram-se termos intimamente relacionados desde o século XVI. Na Argentina atual, a mão de obra escrava era destinada a trabalhos artesanais, domésticos, agrícolas e rurais. Muitas vezes, eles eram motivo de ostentação e luxo para as classes dominantes. A maioria dos escravos pertencia ao grupo étnico bantu, o mais numeroso na cidade de Buenos Aires, como indicado pela composição das "sociedades" e "irmandades". Além dos motivos de política econômica internacional em relação ao tráfico, como o domínio de áreas na África e monopólios, Angola e a região do Congo, mais próximas do Rio da Prata e do litoral sul do Brasil do que da Mauritânia, eram amplamente predominantes nos registros de envios. Além disso, é importante destacar um fato que não recebeu atenção suficiente nos estudos sobre a origem dos escravos. Referimo-nos à indiscutível preferência, em uma área onde não existem economias de plantação, pelas etnias de origem bantu, mais dóceis e adequadas para tarefas domésticas, como afirmam os manuais dos traficantes de escravos. Por sua vez, aqueles da Costa da Mina - em grande parte islamizados - e da Costa dos Escravos são requisitados pelas usinas e plantações do Brasil (especificamente em Bahia e Pernambuco) devido à força de seus corpos, sem esquecer o interesse em fornecer tabaco e cachaça para essas áreas como produtos de troca. É também importante ter em mente que a Coroa espanhola, desde o século XVI até o final do XVIII, proibiu a entrada em seus domínios de grupos islâmicos (iorubá, fanti, ashanti e outros), que, devido