A ECONOMIA DA AMÉRICA PORTUGUESA sendo, em certas situações, submetidos a jornadas exaustivas de
trabalho. Havia também a possibilidade de serem empregados em
O açúcar foi o produto escolhido pelos portugueses para importantes cargos políticos e militares como pode ser observado, estimular o aproveitamento econômico da terra e, dessa forma, por exemplo, nos reinos de Oyo, Daomé e Songai. viabilizar e efetivar a colonização dos seus territórios americanos. A Além disso, a comercialização de pessoas escravizadas escolha estava relacionada à experiência acumulada, desde o podia acontecer, mas não era uma atividade usual, e, entre alguns século XV, pelos portugueses, a partir da introdução da lavoura de povos, havia ainda a possibilidade dos escravizados serem cana-de-açúcar nas ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores, e, incorporados ao grupo de seu senhor como pessoas livres. principalmente, aos altos preços que o produto alcançava nos A partir do século XV, com a chegada dos portugueses ao mercados europeus. Continente Africano, os números da escravidão começaram a Dessa forma, ao longo dos séculos XVI e XVII, muitos crescer. Alguns líderes africanos estabeleceram relações comerciais engenhos foram construídos, principalmente em áreas da atual com os portugueses. As lideranças africanas aceitavam fornecer Região Nordeste, com destaque para os atuais estados da Bahia e pessoas escravizadas e recebiam dos portugueses armas de fogo, de Pernambuco. Entre os motivos que explicam os êxitos obtidos tecidos, tabaco, entre outros produtos. com a lavoura canavieira na Região Nordeste estão: a qualidade do A introdução das armas de fogo na África fez crescer os solo (do tipo massapê); o clima do litoral nordestino (quente, mas conflitos entre os povos africanos e aumentou a violência e a com chuvas na quantidade adequada); e a existência de florestas destruição desses embates. Os líderes africanos, desejosos de para obtenção de lenha, que era necessária para o beneficiamento obter armas de fogo para manter ou ampliar o seu poder, do açúcar. passaram a promover guerras que tinham como objetivo obter O engenho era uma grande propriedade rural, composta prisioneiros, escravizá-los e negociá-los com os portugueses. A por terras e equipamentos, onde se realizavam todas as fases de escravidão adquiria, dessa forma, um caráter comercial. produção do açúcar; desde o plantio da cana-de-açúcar, passando No século XVI, diante do aumento da procura de pelo beneficiamento (transformação da cana em açúcar), até a trabalhadores para os engenhos de açúcar da América portuguesa, embalagem do produto. Além dos canaviais, os engenhos iniciou-se o comércio de escravizados para o Continente possuíam também terras para o plantio de alimentos e para a Americano, através do Oceano Atlântico. criação de animais. Esse negócio, que envolvia pessoas e produtos de várias Apesar de existirem trabalhadores livres, o trabalho parte do mundo, é chamado pelos historiadores de tráfico estava baseado na mão-de-obra escravizada. Inicialmente, os negreiro. O tráfico envolvia a captura de africanos, seu embarque e indígenas escravizados foram a principal força de trabalho nos viagem nos navios negreiros, e sua venda nos portos e mercados engenhos. da América. Posteriormente, na passagem do século XVI para o XVII, os O tráfico de africanos escravizados, que durou mais de africanos escravizados se tornaram maioria. A opção pelos 300 anos, envolveu comerciantes europeus - no início, portugueses africanos ocorreu por conta da diminuição da população indígena e, posteriormente, também ingleses, holandeses, franceses, entre nas áreas próximas a região canavieira, resultante das fugas, mas, outros -, com o apoio de seus governos, e africanos (chefes e principalmente, pelo alto número de mortes, em decorrência de soberanos locais e negociantes). Os lucros obtidos com o comércio doenças, maus-tratos e pelas guerras promovidas pelos de escravizados eram tão altos que, no século XVII, os rendimentos portugueses. Além disso, existiam também os interesses que a Coroa portuguesa obtinha com o negócio eram equivalentes econômicos em torno do tráfico de africanos que rendiam altos aos do comércio do açúcar. Da mesma forma, os negociantes lucros aos envolvidos, incluindo a própria Coroa portuguesa, que envolvidos no tráfico, como os do Rio de Janeiro, do Recife e de cobrava tributos sobre a atividade. Salvador, por exemplo, conseguiram acumular fortunas com a Os rendimentos obtidos com a produção açucareira atividade. fizeram com que os domínios portugueses na América adquirissem importância fundamental para a Coroa portuguesa, uma vez que, já no final do século XVI, as rendas obtidas com o açúcar superavam aquelas do comércio de produtos e especiarias orientais. Isso, no entanto, não significa que a América fosse apenas um “grande canavial”. Apesar do açúcar ser o principal produto, a economia colonial contava com uma agricultura diversificada, com a produção de, por exemplo, tabaco, algodão, além de gêneros alimentícios e atividades como a pecuária. Essas atividades destinavam-se à produção tanto para o mercado externo como também para o consumo interno.
A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA E O TRÁFICO DE ESCRAVIZADOS
A escravidão não era uma instituição desconhecida dos
africanos. No entanto, na África, a escravidão possuía características próprias, não tendo, por exemplo, nenhuma relação Cerca de 11 milhões de africanos foram trazidos e com a cor da pele. Nas sociedades africanas, os escravizados eram escravizados na América enquanto o tráfico negreiro durou. Desse minoria. Em geral, as pessoas eram escravizadas por serem feitas total, quase 40%, ou aproximadamente 4,5 milhões de pessoas, prisioneiras nos conflitos – em geral, por terras ou poder – entre os tiveram como destino o Brasil. Do total de africanos que chegaram povos africanos ou como punição por algum crime ou dívida não ao Brasil, 25% eram iorubás, hauçás, jejes, entre outros, oriundos paga. da África Ocidental, da região da Costa da Mina (atuais Nigéria, Os escravizados eram empregados nas mais diversas Gana e Benin). Os outros 75% eram da Região Congo-Angolana e atividades, como artesanato, mineração, agricultura ou comércio, da costa leste africana (Moçambique). Os povos da área Congo- Angolana possuíam uma origem comum, falavam variações linguísticas do banto e possuíam certa unidade cultural.