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RESUMO
Este trabalho apresenta e discute as propriedades mecânicas de pastas celulósicas oriundas de diferentes processos de
desagregação de embalagens pós-consumo da Tetra Pak. Foram avaliados os processos de desagregação em baixa e
alta consistência e em processo alternativo com uso de centrífuga desenvolvida para processos em pequena escala. A
partir dos ensaios físicos, obtiveram-se os valores de alongamento, permeância ao ar e rigidez, e os índices de tração,
rasgo, esmagamento (Concora Medium Test e Ring Crush Test) e arrebentamento. As propriedades estudadas
apresentaram variações pouco significantes nos processos a baixa e alta consistência, tendo sido produzidas, em
ambos os casos, polpas compatíveis ao mercado de polpa celulósica para produção de papel ondulado, sacos de
cimento, tubetes etc.
ABSTRACT
This paper presents and discusses the mechanical properties of pulps from distinct repulping processes upon Tetra Pak
post-consumption packages. The repulping processes at low and high consistence were evaluated, as well as an
alternative process using a small scale centrifuge. Through the tests, the values of stretch, air permeability, stiffness,
index of tensile, tearing, crushing (CMT and RCT) and bursting were obtained. These properties have not showed
significant variations between the processes at low and high consistence, and both cases produced are compatible with
the regular pulp for the production of packaging papers, cement bags, paper core etc.
1. INTRODUÇÃO
As embalagens cartonadas Tetra Brik Aseptic, utilizadas para envase asséptico de alimentos
após o processo de ultra-pasteurização, são constituídas por três matérias primas: papel
duplex fibra virgem (75% em massa), polietileno de baixa densidade (20%) e alumínio (5%).
Popularmente conhecida como “longa vida”, a embalagem é composta por seis camadas,
sendo do interior para o exterior: polietileno, polietileno, alumínio, polietileno, papel e
polietileno. As camadas internas de polietileno têm a função de impermeabilizar a embalagem
internamente e evitar o contato do alimento com o alumínio, que por sua vez impede a entrada
de luz e ar, garantindo a preservação do alimento.
Por força de legislação, o papel com o qual são fabricadas as embalagens provém de celulose
virgem, não podendo conter nem em parte fibras recicladas pós consumo. Este fato torna
interessante o aproveitamento deste material como fonte de fibra virgem para ser utilizada no
processo, agregando qualidade e ganhos em propriedades mecânicas interessantes ao papel
reciclado que será produzido com esta matéria prima [1].
Através do desenvolvimento de tecnologias adequadas, do incentivo à coleta seletiva junto às
prefeituras, cooperativas e comércios, e da educação ambiental da população, atingiu-se a taxa
de 27% de embalagens longa vida recicladas no Brasil em 2011[2]. Este dado acompanha a
evolução gradual do valor pago pela indústria nesse material, que era de R$ 40,00/ton em
1997, quando iniciou-se o seu uso para a produção de papel, e hoje está na faixa de R$ 300,00
a R$ 400,00/ton [2], dependendo da região e do produto final a qual o material é destinado.
A desagregação das embalagens longa vida pode ser feita em diversos tipos de processos. As
primeiras plantas implantadas utilizaram-se de desagregação em “drum pulper”, onde as
embalagens são alimentadas continuamente e a polpa também é extraída de forma contínua.
Neste tipo de processo o polietileno e o alumínio saem ao final do sistema. Para a instalação é
necessária uma grande área e um valor de investimento superior ao do hidrapulper.
A maioria das fábricas que utilizam a embalagem longa vida no Brasil usam processos em
batelada, onde a cada carga, após a polpa ser bombeada para tanques de máquina, o
polietileno juntamente com o alumínio são descarregados por uma saída lateral. Em trabalho
realizado com desagregação a média consistência em fábrica de papel no Canadá [4], obteve-
se tempos de desagregação da ordem de 15 minutos. A média dos tempos de desagregação
de embalagens em instalações existentes no Brasil e América Latina, sendo a maioria
instalações de baixa consistência, foi também de 15 minutos, sendo ainda necessário mais 15
minutos para o bombeamento da polpa e limpeza do rejeito ainda no hidrapulper.
A etapa de limpeza é feita inserindo mais água no equipamento após o bombeamento da polpa
com o objetivo de extrair o máximo de material fibroso do rejeito. Algumas instalações, porém
não possuem unidade de espessamento da polpa após o hidrapulper, sendo esta enviada
diretamente para depuração e refino o que impossibilita esta operação acarretando grandes
perdas de fibra junto com o rejeito. A solução mais simples é usar peneiras tipo Side Hill para
drenar a água e espessar a polpa recuperada. A Figura 3 mostra uma peneira Side Hill
fabricada de madeira que tem sido largamente utilizada por pequenas empresas com custo
bastante reduzido e com excelentes resultados.
Após vários ciclos de limpeza do rejeito com drenagem da água o polietileno com alumínio é
descarregado através de uma saída lateral no hidrapulper. Em geral, o diâmetro desta
tubulação fica entre 12 (Figura 4) e 16 polegadas.
Com este sistema, um hidrapulper de baixa consistência pode desagregar uma batelada a cada
30 minutos efetuando entre 3 e 5 ciclos de limpeza após o bombeamento da polpa nos 15
minutos finais. Com este processo a quantidade de fibra agregada no rejeito representa entre
5% e 7% da massa residual.
Considerando que a embalagem longa vida possui 75% de papel, esta perda representa cerca
de 2% de perda de material fibroso. A Figura 5 mostra o processo durante os ciclos de limpeza
do rejeito e o aspecto do material no final do processo.
O fato de ser a primeira reciclagem traz um grande benefício ao se utilizar embalagens longa
vida no processo de fabricação de produtos que necessitem de características o mais próximo
possível da celulose, como caixas de papelão e tubetes. As fibras das embalagens estão mais
preservadas e com melhor interação entre elas, o que começa a mudar conforme realiza-se os
ciclos de reciclagem (Figura 8).
Em trabalho anterior [5], a inserção de material fibroso proveniente de embalagens longa vida
na composição de cartões duplex reciclados interferiu positivamente nas características destes.
O resultado obtido foi a manutenção das propriedades do cartão mesmo após cinco reciclos.
Neste trabalho, conclui-se que existe uma relação entre o corte dos traqueídeos (fibra longa)
durante o reciclo e as propriedades de resistência ao rasgo e arrebentamento, além disso,
conclui-se que o uso de material fibroso de embalagens longa vida elevaram as resistências a
dobras duplas, índices de tração, arrebentamento e rasgo.
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2. MÉTODOS
Foram coletadas cinco diferentes amostras de embalagens longa vida para realização dos
testes físicos: material laminado pré consumo, polpa reciclada em processo de desagregação à
alta consistência, polpa reciclada em processo à baixa consistência e polpa reciclada em
equipamento centrífugo desenvolvido especificamente para a desagregação da embalagem
longa vida.
A partir destas pastas celulósicas foram formadas folhas em laboratório. A partir dos ensaios
físicos, obtiveram-se cinco determinações dos valores de alongamento, permeância ao ar e
rigidez, e os índices de tração, rasgo, esmagamento (Concora Medium Test e Ring Crush Test)
e arrebentamento.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a análise dos dados, as amostras foram denominadas conforme exposto na Tabela 1.
Figura 9: Índice de rasgo da fibra vs °SR Figura 10: Alongamento da fibra vs °SR.
Figura 13: Resistência à flexão da fibra vs °SR. Figura 14: Índice de tração da fibra vs °SR.
Para os ensaios feitos, refinou-se as amostra até cerca de 60°SR, obtendo-se uma faixa de
análise que abrange diversos produtos na indústria. Através dos gráficos, pode-se notar que o
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Observa-se que para o material laminado pré consumo (amostra 1) os resultados de todas as
propriedades são superiores, o que é coerente com a literatura, visto que o ciclo no hidrapulper
faz com que haja corte das fibras recicladas, reduzindo a quantidade de traqueídeos em
relação às fibras virgens [5], e o material laminado pré consumo sofre um ciclo de reciclagem a
menos que as outras amostras.
O corte excessivo o qual a amostra 2 foi submetida no desagregador causou uma redução dos
valores de todas as propriedades em relação aos processos convencionais com pulper.
Essa tendência do efeito do corte nas fibras pode ser observada claramente nas Figuras 10 e
11, em que o alongamento e índice de arrebentamento apresentam valores mais altos para
amostras com menos corte, na seqüência: material pré consumo, material desagregado em alta
consistência, material desagregado em baixa consistência e material desagregado no
desagregador.
Para a permeância ao ar, apresentada na Figura 12, esperava-se que o corte das fibras fizesse
com que o valor da propriedade diminuísse, pois haveria a geração de grande quantidade de
fibras finas que ocupariam espaços vazios com mais facilidade. Porém, a tendência observada
é justamente contrária, e a hipótese levantada é que o corte das fibras aumenta a quantidade
de espaços vazios, aumentando a permeância ao ar.
Feita uma análise geral, pode-se agora comparar detalhadamente as propriedades das fibras
dos processos de desagregação a alta e baixa resistência, respectivamente amostras 3 e 4.
As Figuras 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 24 apresentam a comparação gráfica entre as amostras
3 e 4, com as barras de erros relativas ao desvio padrão de 5 testes. A análise das curvas será
feita a partir do patamar 30º SR, pois esse é o valor referente ao “ponto zero” da fibra do
processo em alta resistência.
Figura 17: Alongamento vs °SR (amostras 3 e 4). Figura 18: Arrebentamento (amostras 3 e 4).
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Figura 19: Permeância ao ar (amostras 3 e 4). Figura 20: Tração vs °SR (amostras 3 e 4).
Figura 22: Índice de rasgo vs °SR (amostras 3 e 4). Figura 23: CMT vs °SR (amostras 3 e 4).
Na produção de caixas de papelão e tubetes, por exemplo, utiliza-se 30-35°SR [8], faixa na
qual as propriedades de índice de rasgo e resistência à flexão são melhores para processo a
baixa consistência, e o processo a alta consistência favorece o alongamento e índice de
arrebentamento, sendo a diferença percentual entre esses valores muito baixa. Assim, o
consumo energético será determinante para a escolha da consistência da desagregação.
Quanto à energia específica consumida nos processos, pode-se estimá-las a partir de dados
fornecidos pelas indústrias recicladoras [8,9], expostos na Tabela 2, e através da Equação 1.
Dessa forma, tem-se que o consumo específico de energia do processo a baixa consistência é
inferior ao do processo em alta consistência, conforme Tabela 3.
4. CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos nas análises, também verificou-se que a diferença entre as
propriedades das fibras desagregadas em alta consistência e baixa consistência é pequena. As
propriedades de alongamento, índice de arrebentamento, permeância ao ar, índice de tração e
resistência à flexão são estatisticamente iguais em ambos os processos, enquanto o processo
a baixa consistência favorece o índice de resistência ao rasgo e o processo a alta consistência
favorece a resistência ao esmagamento (CMT e RCT).
Além disso, analisou-se o consumo energético dos processos. Em alta consistência o consumo
específico de energia foi maior que em baixa (110 kWh/ton e 70 kWh/ton, respectivamente).
As propriedades também foram analisadas para graus de refino específicos. Para a faixa de 30
a 35°SR (produção de caixas de papelão e tubetes), as propriedades de índice de rasgo e
resistência à flexão são melhores para processo a baixa consistência, e o processo a alta
consistência favorece o alongamento e índice de arrebentamento. Visto o custo energético do
processo em alta, a desagregação energética em baixa torna-se interessante. Já para 60°SR
(sacos de cimento e palmilhas de calçados) a propriedade de interesse, índice de resistência
ao rasgo, tem maiores valores para processo a baixa consistência, enquanto a resistência ao
esmagamento (CMT e RCT) é beneficiada pelo processo em alta resistência.
REFERÊNCIAS
3. NEVES, F.L. “Reciclagem de embalagens cartonadas Tetra Pak”. O Papel, fev., 1999,
p. 38-45.
7. HCR. Comunicação verbal sobre grau de refino nos produtos. Taió: HCR, 2012