Você está na página 1de 3

AZENETH NOUR

O ano é 1274 a.C, Ramsés II retorna ao Cairo após ter escapado da morte na
Batalha de Cades, que foi travada contra um inimigo mais substancial - o Império
Hitita. Embora tenham saído vencedores da batalha, Ramsés II sabe que saiu com
vida por muito pouco e sabe que essa batalha foi encomendada para atraí-lo até o
submundo de Anúbis antes da sua hora.

Ramsés II chega ao palácio real e é recepcionado por sua amada primeira-esposa,


Nefertari, com o banquete da vitória para celebrá-lo como herói, é um alento aos
seus olhos e espírito exaustos.

A suntuosa festa se prolonga noite a dentro, a certa altura Ramsés II desaparece.

Neste mesmo momento, nas catacumbas do palácio, surge uma figura encapuzada
que atravessa as paredes frias tendo como única testemunha dos seus passos uma
tocha de luz bruxuleante. A figura caminha até uma imensa porta de madeira, e ali
entra.

Essa figura nada mais era que o próprio faraó, que fez daquela masmorra seu
esconderijo, dos olhos inimigos, e por mais triste que fosse, inimigos que
compartilhavam com ele a vida no palácio. Em seu pensamento somente uma
certeza:

“- Alguém tentou me matar, nada e nem ninguém é confiável,


nem mesmo Nefertari, a luz dos meus dias, ela também pode
ser usada contra mim. Preciso encontrar uma solução, algo em
que eu possa me firmar, para ser meus olhos, meus ouvidos e
minha proteção.”

Nos momentos que se seguiram, Ramsés II buscou na vasta biblioteca sombria algo
que pudesse solucionar o seu problema, Ramsés herdará de sua mãe, a rainha
Tuya, a maestria nas artes ocultas. Em dado momento seu rosto se iluminou,
encontrara a solução.
Nas páginas de uma espécie de códex da época, jazia um ritual para criação de um
imbuído, uma espécie de cérebro e coração fora do corpo, um guardião fiel, capaz
de ser os olhos, os ouvidos e a proteção do seu criador.

Para o ritual precisaria de uma imagem da Deusa Isis, um coração de um servo puro
de corpo e de mente, o cérebro de uma sacerdotisa do templo, os olhos de uma
águia, o corpo de um gato selvagem e o corpo de um jovem devoto. Nos dias que se
seguiram, Ramsés II muito discretamente providenciou tudo que precisaria.

De volta a sua masmorra Ramsés II preparou em seu altar todos os elementos do


ritual seguindo as orientações do códex, faltava somente um elemento, uma gota de
seu próprio sangue na vela acessa que se encontrava centralizada no altar.

Ramsés desembainha seu punhal, ergue sua mão direita e então com um
movimento firme, a corta. Seu sangue jorra e atinge a vela enquanto ele recita as
palavras do códex:

“- Min eaqli, min eayni, min fami, min qalbi, 'atlub mink 'an takun
maghrusatan, eayni, 'udhuni wahimayati, anhad ya bunaya,
anhad 'azanithu!”

(Da minha mente, dos meus olhos, da minha boca, do meu


coração eu te invoco a ser meu imbuído, meus olhos, meus
ouvidos e minha proteção, levanta-te filho, levanta-te Azaneth!)

Neste instante uma luz de brilho extremo enche o ambiente e no centro dela flutua
um corpo batizado como seu próprio filho: Azeneth - De corpo e alma para ser seu
fiel protetor e confidente. Dotado de inteligência e força sobre-humanas serviria bem
aos seus propósitos.

Azeneth foi levado ao palácio, onde foi recebido com um amigo de longa data do
faraó, ali desfrutou de todo luxo e consideração que Ramsés II pode dispor, se
tornando seu confidente e amigo mais querido, a ele ensinou tudo que sabia, o
instruiu na escrita, na matemática, na astronomia, nas leis, nas artes da guerra e o
mais importante, o ensinou tudo sobre as artes das trevas. Serviu durante sua vida
toda como conselheiro, alertando-o de armadilhas e inimigos, protegendo-o nas
guerras e cuidando das demandas mais variadas do alto e do baixo Egito.

Azeneth, criado e tratado como filho, foi fiel e protetor ao seu mestre-criador até o
dia de sua morte, encontrando na perda de Ramsés II uma dor jamais
experimentada, vagou por anos no deserto a procura de algo que fosse capaz de
trazer Ramsés de volta, não encontrou.

Azeneth, precisou então se adaptar ao longo dos séculos aos costumes e as épocas
que foram surgindo, afinal como uma ser criado para ser um imbuído ele não era
capaz de envelhecer ou morrer, precisando dessa forma se camuflar entre os seres
humanos, já que havia perdido o que lhe dera sentido e propósito em ser quem era.

Passou mais de 3 séculos no Egito, estudando as artes ocultas com sacerdotes e


magos. Migrou pela Ásia e pela Europa estudando com bruxas e feiticeiras, até os
dias atuais, onde se dedicou ao estudo das artes e ciências humanas, se fixando na
cidade de Boston, nos Estados Unidos, encontrando ali no exercício das ciências,
como professor, algum consolo ao seu espírito cansado e sozinho e uma
oportunidade de continuar sua busca por algo que trouxesse seu mestre de volta a
vida.

Você também pode gostar