Você está na página 1de 59

REFERENCIAL TÉCNICO PARA

DEFINIÇÃO DE SOLUÇÕES DE
ESGOTAMENTO SANITÁRIO
DESCENTRALIZADO
E BASEADOS NO MANEJO
DO LODO FECAL

CAMINHOS PARA O SANEAMENTO


INCLUSIVO NO BRASIL
REFERENCIAL TÉCNICO PARA
VERSÃO BETA
DEFINIÇÃO DE SOLUÇÕES DE
ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Esta publicação traz conceitos e es-
tudos que colaboram para a atua-
ção do Instituto Água e Saneamento
com saneamento inclusivo. Trata-se
de um documento com fluxo de de- DESCENTRALIZADO
E BASEADOS NO MANEJO
senvolvimento contínuo, com a pre-
visão de aprimoramento a partir de
experiências com novos projetos,
análises e discussões. Esta constitui
uma versão inicial do documento, DO LODO FECAL
que deverá ser complementada e
revisada periodicamente.

CAMINHOS PARA O SANEAMENTO


INCLUSIVO NO BRASIL

TOMAZ GREGORI KIPNIS


PAULO BERNARDO NEVES E CASTRO

SÃO PAULO
OUTUBRO 2020
1. APRESENTAÇÃO 6

2. ETAPAS E POSSÍVEIS ARRANJOS PARA O ATENDIMENTO 10


DE ESGOTO POR MEIO DE SISTEMAS DESCENTRALIZADOS

SUMÁRIO E BASEADOS NO MANEJO DO LODO FECAL

3. SOLUÇÕES PARA CONTENÇÃO E/OU TRATAMENTO LOCAL 16


DO ESGOTO

4. SOLUÇÕES PARA COLETA DO LODO FECAL 30

5. SOLUÇÕES PARA TRANSPORTE DO LODO FECAL 40

6. SOLUÇÕES DE TRATAMENTO 50

7. DISPOSIÇÃO FINAL E REUSO 72

8. MODELOS DE SERVIÇO COLETIVOS PARA A OPERAÇÃO E 82


MANUTENÇÃO DOS SISTEMAS

REFERÊNCIAS 100
LISTA DE FIGURAS E TABELAS 110
LISTA DE SIGLAS 112
REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | APRESENTAÇÃO

Muitos dos atrasos e dificuldades do tir com os sistemas centralizados, mes-


atendimento de esgotamento sanitário mo no melhor dos cenários (Obermann
no Brasil estão intimamente relaciona- e Sattler, 2013; Eggimann, Truffer e
dos a como se aborda a questão e como Maurer, 2015; Ivar et al., 2017). Toman-
se resolve o problema. A situação é mais do, por exemplo, o Japão, a presença
acentuada em alguns contextos especí- concomitante de ambos sistemas é tão

1.
ficos, dentre os quais destacam-se pe- ampla que aproximadamente 38% da
quenos municípios, localidades com população é atendida por soluções não
população dispersa (como zonas rurais ligadas à rede pública de coleta e, em
ou periurbanas) e assentamentos e alguns casos, sistemas descentralizados
ocupações precários, não regularizadas, são até mesmo implementados com a
ou não planejados. Diante desse pano- função de desafogar as redes de coleta,
rama e com um olhar técnico, nota-se permitindo melhor aproveitamento das
por um lado a desvantagem econômica estruturas já implementadas e evitando
do atendimento às populações disper- custos demasiados com a ampliação de
sas por redes convencionais de coleta e sua capacidade (Yang et al., 2010; Hara-
transporte de esgotos, onde o custo de da, Strande e Fujii, 2016). Ampliar esse
implementação por ligação/economia repertório de soluções para o esgota-
esperada torna o sistema não atrativo; e mento sanitário, tornando-o mais adap-
pelo outro, fica nítida a dificuldade exe- tável às condições locais (socioculturais,
cutiva que esses sistemas encontram econômicas e ambientais), mostra-se
em locais com ocupação não planejada um passo fundamental a ser dado nas
e/ou irregular, dada a complexidade das políticas e práticas do Brasil.
intervenções estruturais, ou os entraves Diante desse quadro situacional, e
jurídicos advindos das questões fundiá- em diferentes graus de adequabilida-

APRESENTAÇÃO rias (O’Keefe et al., 2015; Eggimann, Tru-


ffer e Maurer, 2016; Guimarães, Malhei-
de, as soluções isoladas já se espalham
pelo território nacional. Esses sistemas
ros e Marques, 2016; Moss, 2016). atendem cerca de 63 milhões de ha-
Enquanto em condições de am- bitantes, um terço da população bra-
pla dispersão territorial da população sileira, de acordo com os dados apre-
os sistemas individuais evidenciam-se sentados pelo Plansab de 2019. Neste
como a melhor solução técnica para retrato, 15,6% dos domicílios do país
atendimento do esgotamento sanitário, encaminham seus efluentes para fos-
nos contextos urbanos apresentados, sas sépticas e 14,9% para fossas rudi-
as soluções individuais passam a coexis- mentares (Brasil, 2019a). Em ambos os

7
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | APRESENTAÇÃO

casos são escassas as políticas de ges- porque muitos dos sistemas convencio- inerentes a esses modelos, explorando
tão dos efluentes destes sistemas, o nais de tratamento de esgoto não foram seus possíveis arranjos e tornando cla-
que implica na elevada recorrência de projetados para absorver efluentes com ros seu propósito e função. Na sequ-
instalações inadequadas (sistemas que as características dos lodos fecais. Para ência, para cada etapa, são apresenta-
não propiciam tratamento adequado), além da carga orgânica e de sólidos, que dos fatores determinantes e aspectos
e sem o manejo adequado do lodo reti- são cerca de quatro vezes maiores nos relevantes para a seleção de soluções
dos nas soluções individuais. Sobre este lodos do que em esgotos brutos, outros e tecnologias, junto com a compilação
segundo aspecto a situação é bastante dois aspectos parecem centrais na pro- de algumas das principais alternativas
crítica, especialmente considerando a blemática: os altos teores de óleos e gra- apresentadas na literatura. Por fim, são
dimensão do passivo: com base na me- xas, até 10 vezes maiores, decorrentes apresentados possíveis caminhos para
todologia proposta em Andreoli, 2009, a das práticas de esvaziamento dos siste- a definição dos modelos de serviço. Es-
produção estimada de lodo fresco atu- mas (o prestador de serviço costuma es- pera-se com este estudo contribuir para
al nestes sistemas, se aproxima dos 63 vaziar conjuntamente aos sistemas iso- que o planejamento do saneamento
milhões de litros por dia. Esse panora- lados as caixas de gordura), que levam (pelos indivíduos, comunidade, gestão
ma mostra a necessidade de medidas à geração excessiva de escuma e até pública e/ou prestadoras de serviços)
de estruturação e gestão adequadas entupimento de tubulações nas esta- considere soluções cada vez mais viá-
e voltadas aos sistemas simplificados ções; e os elevados níveis de nitrogênio veis e adequadas aos contextos locais.
e/ ou descentralizados e ao manejo do amoniacal em relação à carga orgânica,
lodo fecal. característico de efluente dos sistemas
Diante deste quadro, uma realidade anaeróbios predominantes nos contex-
pouco discutida, mas de graves reper- tos isolados (Andreoli, 2009; Brasil. Mi-
cussões, é referente ao destino dos lo- nistério da Saúde. Fundação Nacional
dos retidos dos sistemas isolados. Ainda de Saúde., 2014; Sperling, 2014; Monay-
não existe no Brasil um levantamento na, Vasconcelos e Carvalho, 2016; Odey
sistemático do destino destes mate- et al., 2017; Chernicharo et al., 2018).
riais, mas estima-se que apenas uma Diante da evidente necessidade de
parte diminuta receba destinação final ampliar o repertório de soluções para
considerada adequada, com o envio à lidar com o esgoto no Brasil, este docu-
estações de tratamento de esgoto (An- mento constitui um esforço inicial para
dreoli, 2009). A situação torna-se ainda promover um maior entendimento so-
mais crítica já que muitas vezes o lodo bre as cadeias de serviço baseadas em
coletado não chega às ETEs, e mesmo sistemas simplificado, descentralizados
quando quando chega, não necessaria- e baseados no manejo do lodo fecal
mente a configuração da estação per- (MLF). O ponto de partida é introduzir de
mite o seu tratamento adequado. Isso forma consistente as diferentes etapas

8 9
REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | ETAPAS E ARRANJOS

ETAPAS Um dos grandes diferenciais de siste-


mas descentralizados é sua adaptabi-
em em domicílios, estabelecimentos co-
merciais, banheiros públicos, hotéis etc.

E ARRANJOS lidade às condições locais, envolvendo


técnicas e custos de implementação e
Estes podem se referir a todo o esgoto
gerado nestes locais, como fluxos es-
operação comumente mais acessíveis pecíficos gerados a partir de usos para
do que sistemas convencionais centra- limpeza de pratos ou roupas, higiene
lizados. Sua fragmentação em etapas pessoal e defecação. A configuração da
distintas, independente de complexas etapa é determinante para a caracteri-
redes de coleta, permitem um arranjo zação das linhas de efluentes gerados,
maleável diante da realidade local, po- além de estar intimamente relacionada

2.
dendo absorver diferentes soluções e à qualidade de vida e hábitos dos usu-
tecnologias. A configuração pode ser ários. Quando é necessário ampliar ou
definida considerando dinâmicas de prover novos pontos de geração, como
manutenção proporcionais as capacida- banheiros, deve-se considerar, entre
des de cada contexto, além de apresen- outros fatores, os hábitos culturais e a
tar maior flexibilidade para lidar com disponibilidade hídrica local. Nessa eta-
mudanças não planejadas nas condi- pa a garantia de medidas de higiene é
ções de ocupação do território ao longo essencial para a proteção do usuário e
do tempo; e num segundo momento, muito se discute a questão de gênero
a maior flexibilidade de cada etapa em nesse momento, uma vez que garantia
absorver novas e diferentes tecnolo- ao acesso seguro dessas instalações é
gias, uma vez que essas são centradas um fator predominante em comunida-
em sua função ao invés de uma técni- des precárias.
ca específica (Kvarnström et al., 2011;
Bassan et al., 2014; Blackett et al., II. Contenção
2014; Tilley et al., 2014).
As etapas (funções) envolvidas no es- Tem a função de receber os efluen-
gotamento sanitário, a paritir dos estudos tes dos pontos de geração, evitando o
PARA O ATENDIMENTO DE ESGOTO POR apresentados anteriormente, podem contato dos mesmos com a população
MEIO DE SISTEMAS DESCENTRALIZADOS ser distribuídas da seguinte maneira: e o meio ambiente, por meio da cone-
E BASEADOS NO MANEJO DO LODO FECAL xão segura do esgoto com os sistemas
I. Ponto de geração de transporte, ou constituindo por si só
uma parte do tratamento dos efluentes.
Se refere aos pontos a partir dos quais Em sistemas que utilizam rede de cole-
os efluentes domésticos são gerados ta essa etapa é representada pela tubu-

11
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | ETAPAS E ARRANJOS

lação de conexão entre edificação e a falta de sistemas adequados de cole-


rede de esgoto sanitário. Em sistemas ta não só expõe as pessoas a riscos de
descentralizados ela é composta pela saúde devido ao manuseio inadequado,
solução individual de esgoto, que prevê mas pode levar até mesmo à opção de
o tratamento local dos efluentes gera- não realização da coleta. Além disso, o
dos. Esses sistemas, se adequados, pro- método de remoção do lodo pode in-
piciam o tratamento do esgoto, retendo fluenciar a forma de transporte e a tec-
uma fração sólida de seus constituintes; nologia de tratamento, uma vez que irá
essa fração, no caso dos esgotos sanitá- resultar em lodos mais ou menos visco-
rios, é denominada de lodo fecal (LF). A sos. Em sistemas que utilizam redes de Figura 1: Etapas da rede de
esgotamento sanitário no MLF
medida que o sistema recebe esgoto, a coleta essa etapa é representada pela
quantidade de lodo acumulado aumen- ligação do sistema predial à rede.
ta, e deve ser removida periodicamente
para garantir o funcionamento adequa- IV. Transporte
do do sistema. Os elementos de conten-
ção podem prever um pré-tratamento É central na viabilização da cadeia de to devem garantir atendimento às exi- de manutenção - como geração de ener-
do lodo (com a estabilização da matéria serviço de esgotamento sanitário como gências locais, para disposição final ou gia, agricultura, limpeza, construção civil,
orgânica), no entanto, o lodo removido um todo, podendo apresentar diferen- reuso dos subprodutos, com relação entre outros. Este etapa pressupõe o en-
ainda demanda etapas posteriores de tes níveis de complexidade logística. aos níveis de patógenos, material orgâ- caminhamento dos subprodutos do tra-
tratamento para que possa ser reutiliza- Sua função primária é o transporte nico, nutrientes e outros parâmetros. tamento e aplicação nos processos, po-
do ou disposto adequadamente. seguro e higiênico do esgoto ou do LF Além destes aspectos, a determinação dendo contemplar tratamento adicional.
até o tratamento. Esta etapa pode ser de soluções e tecnologias apropriadas Cada uma das etapas discutidas
III. Coleta constituída por redes de coleta (consti- deve considerar também quais configu- permite uma miríade de configurações
tuída de tubulações), em sistemas cen- rações são mais adaptadas e viáveis aos de implementação e operação. Como
Essa etapa, específica e crucial no MLF, tralizados e descentralizados, ou por contextos locais, considerando as capa- defendido anteriormente, as diferen-
se refere à atividade e/ou sistema de veículos com recipientes de acúmulo cidades, interesses e potencialidades tes possibilidades de arranjo consti-
remoção do lodo fecal dos sistemas de de esgoto ou LF. para implementar e operar o sistema. tuem um dos principais potenciais dos
contenção. Trata-se de uma etapa de sistemas simplificados e baseados no
grande relevância, e recorrentemen- V. Tratamento VI. Reuso/ disposição final MLF para alavancar o atendimento de
te negligenciada, onde há grande risco esgoto adequado pelo Brasil. O dia-
de exposição de usuários e operadores Sua função primária é propiciar o pro- Refere-se ao retorno do esgoto ou do grama apresentado na Figura 1 apon-
do sistema ao LF; também se apresenta cessamento do esgoto ou do LF a fim LF, devidamente tratado, ao ambiente, ta de forma sintética a estruturação
como oportunidade, muitas vezes úni- de diminuir seu potencial de prejudicar por meio da disposição final segura e da cadeia de serviço do esgotamento
ca, de inspeção dos sistemas de acesso o meio ambiente e a saúde humana. adequada, ou ao aproveitamento dos por modelos descentralizados ou semi-
(ponto de geração) e de contenção. A Nesse sentido os sistemas de tratamen- mesmos em processos produtivos ou -centralizados.

12 13
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | ETAPAS E ARRANJOS

Figura 2: Cadeia de serviço


do esgotamento sanitário por
modelos descentralizados ou
semi-centralizados. *Estações de
Tratamento de Esgoto.

PONTO DE GERAÇÃO Domicílio, comér-


cio, hotel, edifício,
banheiro público
etc não conectado
às redes públicas de
coleta

CONTENÇÃO/ Soluções individuais Soluções individuais


TRATAMENTO LOCAL de tratamento por de tratamento por
agrupamento domicílio
de domicílios (com
rede de coleta sim-
plificada)

COLETA Coleta do lodo


retido por meio de
serviços coletivos
(comunitários
ou prestação de
serviços públicos

TRANSPORTE Coleta e transporte


do lodo retido por
meio de serviços
coletivos (comunitá-
rios ou prestação de
serviços públicos)
Coleta, transporte e
processamento do
lodo retido individu-
almente no local
TRATAMENTO COLETIVO Processamento do Processamento do
lodo coletado em lodo coletado em
ETEs* aptas ETEs*

REUSO/ Aproveitamento de Encaminhamento


DISPOSIÇÃO FINAL subprodutos na ETE de subprodutos para
outros processos
produtivos ou des-
cartes

14 15
REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | CONTENÇÃO E TRATAMENTO

Uma vez gerados os esgotos, é necessária o arranjo entre diferentes sistemas, o

3.
sua coleta e encaminhamento adequado dimensionamento das estruturas deve
para tratamento. Em sistemas servidos considerar as condições locais - como
por redes de coleta e transporte, a reten- população contribuinte, periodicidade
ção no local é mínima, normalmente re- pretendida para a remoção de lodo, cli-
presentada pela conexão entre o sistema ma etc. O Quadro 1 elenca alguns do pon-
hidráulico predial e a rede de coleta. Já tos importantes a serem considerados.
sistemas isolados da rede pública deman- A eficiência de tratamento dos sis-
dam maior atenção, uma vez que neces- temas está relacionado tanto aos meca-
sitam de um dispositivo que consiga con- nismos de retenção e/ou remoção de
ter, e geralmente tratar adequadamente, poluentes (físicos e bio-químicos) e o di-
o efluente gerado até o momento de sua mensionamento dos sistemas, que deve
coleta. Nos pontos de geração há diferen- ser condizente com tempo de detenção
tes tipos de efluentes sendo produzidos: hidráulica adequada para os processos

SOLUÇÕES o esgoto de bacias sanitárias (também


comumente referido como águas negras)
ocorrerem satisfatoriamente. A dimen-
são e configuração dos sistemas também

PARA CONTENÇÃO e as águas cinzas, provenientes de outras


fontes, como pias e chuveiros. Depen-
determina as condições para a detenção
de sólidos no sistema (lodo), sendo que

E/OU TRATAMENTO LOCAL dendo do arranjo das instalações hidros-


sanitárias nos domicílios é possível tratar
o período de armazenamento do ma-
terial no sistema tem impacto sobre a

DO ESGOTO os efluentes conjunta ou separadamen-


te. Em muitos casos tratar os efluentes
qualidade do lodo fecal a ser removido
periodicamente. A caracterização e qua-
de forma separada possibilita eficiências lidade deste material (teor de sólidos,
mais elevadas de tratamento além de au- nível de estabilização de matéria orgâni-
mentar as possibilidades de recuperação ca etc) é importante para o tratamento
de recursos e simplificar as estruturas ne- adequado do lodo, no local ou em esta-
cessárias (Bassan et al., 2014). ção semi-centralizada de tratamento de
A definição destes sistemas depen- esgoto ou específica para lodo fecal.
de de uma série de fatores, envolvendo Assim, a concepção, implementação
as condições ambientais e climáticas lo- e manutenção das soluções individuais
cais, interesses locais pela utilização de devem ser condizentes com as condi-
subprodutos do esgoto, condições das ções locais para o manejo de lodo fecal
estruturas prediais existentes e dispo- (seja com o tratamento no local ou em
nibilidade de espaço, disposição para estação afastada). Além disso, a instala-
operação e manutenção, entre outros. ção dos sistemas e verificação das con-
Além da definição das soluções em si e dições operacionais das soluções indivi-

17
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | CONTENÇÃO E TRATAMENTO

Possui instalações sanitárias Isso indicará a necessidade de implementar a etapa de inter- duais deve seguir orientações e rotinas dividuais adequadas, por meio de as-
suficientes face com o usuário específicas aos sistemas implementa- sessoria técnica, financiamento ou sub-
dos, a fim de garantir a integridade e sídio, seja pelo poder público ou pelas
Separação das águas de A segregação dos efluentes na fonte permite uma simplifica-
ESTRUTURAS vaso sanitário (águas negras) ção dos sistemas de tratamento, além de maior flexibilização funcionalidade dos equipamentos (An- prestadoras de serviço.
EXISTENTES no reaproveitamento de recursos
dreoli, 2009; Bassan et al., 2014; Tilley et al., Diversas são as tecnologias de con-
Proximidade de outros Permite o tratamento conjunto dos efluentes, além de in- 2014). Ainda que a responsabilidade por tenção disponíveis, algumas amplamen-
domicílios fluenciar na acessibilidade dos sistemas para manutenção e
operação pela implementação e operação destes te replicadas e outras em processo de
sistemas geralmente seja dos proprie- amadurecimento. Alguns sistemas, a
Desnível no terreno Implica no tipo de solução e na distribuição e complexidade
de equipamentos auxiliares no terreno (como tubulações e
tários dos domicílios, estes sistemas, de exemplo dos tanques sépticos e seus
unidades complementares) acordo com a Lei 11.445/2007 (e Decre- órgãos acessórios, são mais conhecidos
Tipo de solo Influencia principalmente a dificuldade de escavação
to 7.217/2010 que a regulamenta), indica e contam inclusive com normatizações
CONDIÇÕES que serviços públicos podem ser efeti- específicas para seu dimensionamento.
DO TERRENO Nível d’água Tem impacto direto sobre a solução e o método construtivo vados por meio de operação, controle No entanto, muitas soluções já consoli-
Disponibilidade de espaço Repercute na escolha da solução, que exija mais ou menos ou disciplina de fossa séptica e outras dadas, como o tanque de evapotrans-
área para implementação, além das condições para opera- soluções individuais. A realização de piração (TEvap), vermifiltro, zonas de
ção e manutenção
serviços municipais ou comunitários, ao raízes ou o círculo de bananeiras, ainda
Chuvas Tem impacto direto na disponibilidade hídrica e em fatores menos para a verificação da adequabili- não possuem normas técnicas específi-
como o interesse pelo reuso dos efluentes tratados. Além
disso, sistemas que dependem de evaporação ou evapo- dade e performance dos sistemas, além cas (Brasil. Ministério da Saúde. Funda-
CONDIÇÕES
transpiração tem de levar em conta o regime de precipita-
ção e umidade local.
da organização da rotina de remoção ção Nacional de Saúde., 2018; Tonetti et
CLIMÁTICAS e manejo do lodo destes sistemas, po- al., 2018). Estes amadurecimentos são
Temperatura É determinante no dimensionamento de etapas biológicas dem trazer importantes benefícios para essenciais para que as soluções des-
Insolação Influencia principalmente a dificuldade de escavação o atendimento adequado e eficiente centralizadas possam contribuir mais
do esgoto em determinada localidade. eficientemente para a universalização
Questões culturais Forma prevalecente de uso/acesso do sistema sanitário (tipo
de equipamento, forma de higienização, uso de água, etc.)
(Bassan et al., 2014; Rao et al., 2016; Chary, do saneamento pelo país, com a repli-
Reddy e Ahmad, 2017) cação sistêmica e em escala. Este capí-
Disponibilidade para manu- Determinante para a seleção das soluções e tecnologias,
tenção e operação sendo que as alternativas apresentam diferentes níveis de Em termos de viabilidade de im- tulo apresenta algumas das soluções
complexidade plementação das soluções individuais, potenciais para replicação pelos contex-
CONDIÇÕES
Materiais construtivos Afeta a viabilidade dos sistemas e é crucial aos métodos existe um amplo repertório de soluções tos brasileiros, com base em diferentes
E INTERESSES
LOCAIS
construtivos empregados de baixo custo e complexidade com al- compêndios tecnológicos de relevância
Acesso a rede de água Influência direta sobre hábitos culturais em relação à água ternativas acessíveis aos diferentes con- (Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014; Bra-
textos. Olhando para a escala do déficit sil. Ministério da Saúde. Fundação Nacio-
Interesse em recuperação Determinante para a seleção das soluções e tecnologias,
de recursos cada alternativa leva a diferentes produtos de quantidades e de atendimento de esgoto pelo Brasil, nal de Saúde., 2018; Tonetti et al., 2018).
qualidades distintas especialmente em contextos com baixo As soluções apresentadas possuem di-
poder aquisitivo, há de se destacar a ferentes funções e podem ser aplicadas
Quadro 1: fatores que influenciam na
determinação de soluções e tecnologias de importância de programas de estímulo em conjunto (como caixa de gordura, fos-
contenção de lodo fecal para a implementação de soluções in- sas sépticas, círculo de bananeiras etc).

18 19
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | CONTENÇÃO E TRATAMENTO

3.1 3.2

Caixa de gordura Container


A Tampas de acesso para inspeção e
coleta, deve ser estanque para impedir
maus odores A
B Tubulação de entrada, direcionando o A Vaso sanitário adaptado para uso com
F container
fluxo para o fundo
C Tanque impermeabilizado B Container para armazenamento de fezes
D Saída afogada para retenção de óleos de e/ou urina
graxas C Recipiente para material seco a ser
E Tubulação de saída, captando o efluente disposto sobre as excretas após o uso
abaixo da superfície do sanitário
F Acúmulo de óleos e graxas
A
E Recebe
Recebe • Fezes (com papel higiênico e serragem)
D • Efluente das cozinhas • Urina
B C
Encaminha Encaminha
• Águas cinzas • Fezes (com papel higiênico e serragem)
• Óleos, graxas e gorduras • Urina
• Sólidos sedimentos C
B
Função Dimensionamento Função Dimensionamento
Estrutura de pré-tratamento destinada a retenção gorduras, graxas e Para cozinhas é feito com base no número de Bacia sanitária, recebimento e contenção de fezes e urina De acordo com o volume a ser armazenado
óleos contidos no efluente doméstico, em especial no que sai das pias refeições servidas pela cozinha, devendo ter entre trocas. A produção média por usuário
das cozinhas. Esse dispositivo evita o entupimento de tubulações e ao menos 18 L para atender uma residência varia consideravelmente, mas uma referência
diminui o acúmulo de escuma no sistema de tratamento. com 5 habitantes. Buscar as referências para inicial é de 1.200 mL/dia de urina e 150 a 450
dimensionamento de sistemas maiores. ml/dia de fezes. Deve ser ponderado ainda
o volume de material seco utilizado para
recobrir as fezes a cada utilização.
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
A instalação desse mecanismo melhora a operação dos sistemas de Quando projetados conforme a normativa Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
tratamento de esgoto e deve ser considerada na saída da tubulação NBR 8160, costuma remover cerca de 60% Sistemas aplicáveis a escala unifamiliar. Trata-se de uma solução simples -
de pia de cozinha. Deve ser instalada também sempre que houver uma das partículas de gordura no efluente. Esta e modular, com alta flexibilidade e adaptabilidade; além de poder ser
linha de efluente com elevado teor de óleos e gorduras (por exemplo, performance pode ser afetada pela temperatura rapidamente implementada. No entanto, depende da aceitabilidade local,
efluentes de abatedouro). do efluente, que se elevadas ocasionam a estando vulnerável à perspectivas culturais que muitas vezes podem se
dissolução da gordura na água, restringindo a opor a retenção dos dejetos no domicílio. Depende também de uma
retenção deste componente na caixa de gordura. dinâmica segura de manejo dos materiais retidos no container. De qualquer
forma, constitui uma importante alternativa para locais com infraestrutura
precária, indisponibilidade hídrica e/ou casos de emergência.
Variações Fatores Determinantes
As caixas de gordura podem ser prismáticas ou retangulares, de câmara Distribuição das tubulações de efluentes, Variações Fatores Determinantes
única ou dupla, pré-fabricadas ou construídas no local. Há variações disponibilidade de espaço, acessibilidade para Além do tamanho, variável, de acordo com o volume a ser armazenado Aceitabilidade local, disponibilidade de
com ou sem barreira interna, e com diferentes alturas da tubulação de coleta dos materiais retidos. entre trocas, podem ser feitos para o recebimento e armazenamento material seco para aplicação no container,
aporte do esgoto no sistema, e de captação do efluente. separado ou conjunto de fezes e urina. O formato pode ser adaptado, disponibilidade para coleta periódica e
construído no local, já existindo diferentes sistemas pré-fabricados de processamento do material fecal retido.
bacia e container.

Operação e Manutenção Referências


Operação e Manutenção Referências
Solução de baixa manutenção, o dispositivo requer remoção periódica ABNT, 1999; Gnipper, 2008; Brasil. Ministério
dos óleos, graxas e gorduras acumulados, além de algum material da Saúde. Fundação Nacional de Saúde., 2018 Embora seja uma solução de rápida implementação, apresenta elevada Mels et al., 2009; Tilley et al., 2014; Russel et
sedimentado. A frequência de remoção varia de acordo com a taxa de demanda operacional, devido a necessidade de substituição frequente al., 2015, 2019; Brasil. Ministério da Saúde.
uso do sistema e hábitos alimentares no domicílio, mas uma referência (normalmente ao menos semanal) dos containers. Fora este aspecto, a Fundação Nacional de Saúde., 2018
genérica para esta atividade é a cada 6 meses. manutenção dessa solução é baixa.

20 21
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | CONTENÇÃO E TRATAMENTO

3.3 3.3

Fossa seca compostável Tanque | Fossa séptica


A Lavatório com encaminhamento para A Tampa de acesso para inspeção e coleta
tratamento separado de lodo e escuma
B Vaso sanitário seco B Tubulação de entrada, direcionando o
C Tanque para urina fluxo para o fundo
D Câmara de compostagem C Tanque impermeabilizado
F
E Mecanismo de acesso a câmara para D Acúmulo de lodo
coleta de compostagem E Acúmulo de escuma
F Sistema de ventilação da câmara de F Tubulação de saída, captando o efluente
compostagem A abaixo da superfície
A
Recebe Recebe
B
• Fezes (com papel higiênico e serragem) B • Esgoto doméstico
• Urina
Encaminha
Encaminha • Efluente tratado
• Composto • Biogás
E • Urina (em sistema com separação de F • Lodo
D urina) E • Escuma
C D
C
Função Dimensionamento Função Dimensionamento
Recebimento, contenção e compostagem de fezes e urina. Por meio do O volume útil da câmara de compostagem deve Remoção de sólidos e matéria orgânica por meio de processos físicos Deve seguir a norma técnica brasileira específica
processo de compostagem essa solução permite o reuso dos dejetos ser de 300 L/usuário.ano; ou prever local para e microbiológicos, além de retenção de óleos e graxas. Pode receber (NBR 7229), que estipula tempo de detenção e
como condicionante de solo e pode também contemplar o uso da urina compostagem das fezes, por no mínimo 6 meses; todos os efluentes domiciliares e tem como saídas o sobrenadante taxa de acúmulo de lodo por região climática;
separadamente como fertilizante, caso essa seja separada na fonte de caso haja separação de urina, considerar uma líquido tratado, biogás, lodo e escuma, esses dois últimos demandam mas podendo ser balizado com referências
geração. média de 1,2 L/dia por usuário para o recipiente remoção periodicamente. Requer sistema de pós-tratamento. complementares, como o tempo de detenção
de contenção do líquido. hidráulica mais elevados, como 48 horas.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
Além da produção de composto orgânico, essa solução leva a uma redução Com o manejo adequado, tem elevada
significativa de patógenos; Não apresenta problemas reais com moscas eficiência na retenção e estabilização do Sistemas aplicáveis às escalas unifamiliar, conjuntos de domicílios Solução de eficiência moderada na remoção
ou odores se usada e mantida corretamente; Vida útil longa; Baixos custos material retido, evitando o contato de ou instalações públicas. Trata-se de uma solução simples e robusta, de sólidos suspensos (por volta de 50%)
operacionais dependendo do acesso a câmara de compostagem. Trata-se de contaminantes com o ambiente sem o devido podendo receber todos os efluentes domésticos. Possui baixo custo e e baixa na remoção de matéria orgânica
um sistema com grande potencial de replicação, com relevância ainda maior tratamento. complexidade de construção e operação. (geralmente de 30 a 40%). Sistemas pré-
em contextos com baixa disponibilidade hídrica. fabricados que incorporam filtro anaeróbio
podem alcançar até 80% de remoção.
Variações Fatores Determinantes
Existem muitas possíveis configurações para este sistema, que podem ser Aceitabilidade local, disponibilidade de Variações Fatores Determinantes
adaptados diante das condições e interesses locais. A retenção das excretas material seco para aplicação no container, Tanques / fossas sépticas podem ter implantação circular ou prismática, Disponibilidade de espaço (embora
pode ser feita em câmara construída no local ou pré-fabricada (como disponibilidade para coleta periódica e ser constituídos de materiais pré-fabricados (com tanques plásticos ou aterrado, necessita entre 1 a 4 m2 em uma
bombonas e barris). O sistema pode ou não fazer a separação de urina, e processamento do material fecal retido. de fibra de vidro) ou localmente (alvenaria, concreto, ferro-cimento, etc.). residência unifamiliar padrão); perfil do solo
quando feita envolve uma bacia sanitária adaptada para esta separação e Há variações com ou sem barreira interna, e com diferentes alturas da e nível d’água; disponibilidade para efetuar
um compartimento dedicado a urina. A compostagem do material pode ser tubulação de aporte do esgoto no sistema, e de captação do efluente. seguramente ou contratar serviço para o
feita no próprio sistema, se forem previstas câmaras de uso alternado, ou ser Há atualmente sistemas compactos pré-fabricados, que incorporam manejo do lodo retido.
feita em local distinto. Devem incluir sistemas de ventilação com diferentes inclusive soluções de pós-tratamento.
configurações e níveis de eficiência.

Operação e Manutenção Referências Operação e Manutenção Referências


Essa solução requer usuários ou pessoal de serviço treinados para Tilley et al., 2014; Brasil. Ministério da Saúde. Solução de baixa manutenção, demanda remoção periódica do lodo ABNT, 1993, 1997; Bassan et al., 2014; Tilley et
monitoramento e manutenção; Composto pode necessitar de tratamento Fundação Nacional de Saúde., 2018; Tonetti et e da escuma retidos. Pelo acúmulo de gases nocivos (como o sulfeto al., 2014; Brasil. Ministério da Saúde. Fundação
adicional antes do uso; Necessidade de remoção periódica do composto; al., 2018 de hidrogênio) e inflamável (metano), é importante tomar cuidado no Nacional de Saúde., 2018; Tonetti et al., 2018
Demanda de material secante a cada uso (e.g.: serragem). Sistemas que manuseio de tampas e mecanismos de inspeção do sistema.
recebem urina não devem ser feitos em material metálico.

22 23
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | CONTENÇÃO E TRATAMENTO

3.5 3.6

Tanque | Fossa séptica compartimentada Biodigestor


A Tampa de acesso para inspeção e coleta A
de lodo e escuma A Mecanismo de acesso para inspeção e
coleta do biogás
B Tubulação de entrada, direciona o fluxo
para o fundo B Antecâmera de equalização, permite a
C A primeira câmara funciona como zona introdução de resíduos orgânicos
de sedimentação C Acúmulo de lodo
D Tanque impermeabilizado D Biodigestor
E Acúmulo de lodo E Câmara de compensação
F Barreira interna para retenção de lodo F Tubulação de saída, capta efluente
H e escuma abaixo da superfície
A G Acúmulo de escuma
G Recebe
H Tubulação de saída, capta o efluente
F abaixo da superfície • Esgoto doméstico
B F • Resíduos sólidos orgânicos
Recebe E
• Esgoto doméstico Encaminha
C Encaminha D • Efluente tratado
• Efluente tratado C • Biogás
• Biogás • Escuma
E
• Lodo • Lodo
D B
• Escuma
Função Dimensionamento Função Dimensionamento
Remoção de sólidos e matéria orgânica por meio de processos físicos Tempo de detenção hidráulica entre 48 e 72 Remoção de matéria orgânica e produção de biogás. Biodigestores É feito principalmente pelo tempo de detenção
e microbiológicos, além de retenção de óleos e graxas. Pode receber horas; velocidade de fluxo ascendente na podem receber todos os efluentes domésticos, inclusive resíduos hidráulica, valores típicos na literatura são 15 dias
todos os efluentes domiciliares e tem como saídas o sobrenadante primeira câmara abaixo de 0,6m/h; entre 3 e sólidos orgânicos para aumentar a produção de gás. Têm como saídas o em clima quente; 25 dias em clima temperado; e
líquido tratado, algum biogás, lodo e escuma, esses dois últimos 6 câmaras de fluxo ascendente. sobrenadante líquido tratado, biogás, lodo e escuma, esses dois últimos para temperaturas abaixo de 15 °C, pela inibição da
demandam remoção periodicamente. Trata-se de uma configuração demandam remoção periódica. atividade microbiana em menores temperaturas,
mais elaborada das fossas sépticas tradicionais, que podem apresentar o sistemas requer maiores dimensões, sendo
maior remoção de sólidos e matéria orgânica. menos vantajoso. Para detalhes construtivos
Potenciais e Aplicabilidade consultar as referências.
Sistema aplicável às escalas unifamiliar, conjuntos de domicílios ou
instalações públicas, com potencial de aproveitamento energético do
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência biogás gerado. Esses sistemas são bastante robustos e têm elevada Eficiência
Sistemas aplicáveis às escalas unifamiliar, conjuntos de domicílios ou Solução de eficiência elevada na remoção vida útil, sendo também muito utilizados no tratamento de excremento Remoção de matéria orgânica varia entre 50%
instalações públicas, podendo receber todos os efluentes domésticos. de sólidos e matéria orgânica, variando de de animais. Apresenta custos de construção moderado a elevado e e 80%, remoção de sólidos abaixo de 40%.
Trata-se de uma solução robusta e mais eficiente que os tanques 60% até 90%, em função principalmente do demanda mão de obra especializada para projeto e instalação. Quando operado em temperaturas entre 50 e
sépticos convencionais. Possui moderados custo e complexidade de projeto; de forma geral, quanto mais câmaras 57 °C pode apresentar uma boa remoção de
construção e operação. melhor a eficiência. patógenos. O efluente do biodigestor pode ser
Variações usado em fertirrigação quando não tratar águas
As principais variações dos biodigestores estão associadas ao sistema de de vaso sanitário; ou ser disposto em sumidouro
regulação da pressão interna, sendo domo flutuante (modelo indiano); ou vala de infiltração.
Variações Fatores Determinantes domo fixo com câmara de compensação (modelo chinês, ou sistema
Essas soluções são comumente de formato prismático e construídas em Disponibilidade de área; perfil do solo e nível autônomo de armazenamento do gás); e domo tipo balão. Podem ser
material resistente (alvenaria, concreto, ferro-cimento, etc.); também é comum da água subterrânea; disponibilidade para constituídos de materiais pré-fabricados (em blendas poliméricas, como Fatores Determinantes
seu projeto utilizando tanques pré-fabricados em série, como bombonas. O efetuar seguramente ou contratar serviço cisternas, mantas ou lonas) ou localmente (alvenaria, concreto, ferro- Tipo de efluentes a serem encaminhados para o
sistema apresenta entre 3 e 6 câmaras em sequência. para o manejo do lodo retido. cimento, etc.). sistema; disponibilidade de área; perfil do solo e
nível da água subterrânea; disponibilidade para
efetuar seguramente ou contratar serviço para o
Operação e Manutenção manejo do lodo retido.
Operação e Manutenção Referências Solução de operação delicada devido a produção e acúmulo do biogás,
Solução de baixa manutenção, demanda remoção periódica do lodo ABNT, 1993; Tilley et al., 2014; Brasil. Ministério no entanto é robusto e demanda pouca manutenção; requer a remoção
e da escuma retidos. Pelo acúmulo de gases nocivos (como o sulfeto da Saúde . Fundação Nacional de Saúde., 2018 periódica de lodo e escuma acumulados na câmara principal, porém Referências
de hidrogênio) e inflamável (metano), é importante tomar cuidado no com intervalo de remoção maior do que tanques sépticos, normalmente FAO, 1996; Mattos e Júnior, 2011; Tilley et al.,
manuseio de tampas e mecanismos de inspeção do sistema. entre 5 e 10 anos. 2014; Tonetti et al., 2018

24 25
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | CONTENÇÃO E TRATAMENTO

3.7 A Tampa de acesso para inspeção e coleta


de composto 3.8
Vermifiltro B Tubulação de entrada direciona o fluxo
Zona de raízes
para o fundo (pode ter articulação para
alternar o fluxo entres as duas câmaras) A
A Leito plantado
C Tanque impermeabilizado
B Tubulação de entrada com Tê para
D Tubulação perfurada para captação do
permitir a inspeção, também contribui
efluente
com a entrada de ar no sistema
E Camada de brita 2 ou outros materiais
C Meio filtrante de alta granulometria
para meio drenante
F Camada de brita 0-1 D Meio filtrante de baixa granulometria
G Camada de areia grossa E Meio suporte da zona de raízes
H Camada de serragem/folhagem e F Tubulação de saída com Tê para permitir
A
composto a inspeção
I I Possível barreira interna para operar
H o sistema com duas câmaras de Recebe
B
compostagem • Efluente de tratamento primário (fossa
G
séptica, vermifiltro, etc.)
F Recebe
F • Água cinza
• Idealmente, esgoto da bacias sanitárias
• Esgoto doméstico E
D Encaminha
C • Efluente líquido
Encaminha
E • Biomassa das plantas
D • Efluente líquido
C • Composto orgânico
B
Função Dimensionamento Função Dimensionamento
Remoção de sólidos e matéria orgânica por meio de retenção física e Taxa de aplicação de esgoto variando de 400 Utilizado no pós-tratamento de esgotos, pode também receber Comumente apresenta áreas de 1,5 a 3 m²/
decomposição biológica. Os vermes presentes nas camadas superiores a 1000 L/m².dia. Para a inoculação, considerar águas cinzas diretamente. São sistemas muito eficientes na remoção usuário. O dimensionamento do volume deve
iniciam o processo que é refinado pela comunidade microbiana aproximadamente 2,5 L de minhocas por m². As de matéria orgânica e outros poluentes, por associarem processos considerar o volume útil (livre dos meios de
presente nos meios filtrantes do sistema. Pode receber todos os dimensões de cada camada de preenchimento microbiológicos, filtragem e fitorremediação. Tem como saídas o preenchimento), e não o total do sistema.
efluentes domiciliares, embora seja recomendado receber apenas o variam, mas como referência, considerar entre 40 efluente tratado que pode ser reutilizado ou disposto e restos vegetais Recomenda-se a leitura das referências
efluente dos vasos sanitários. e 60 cm para a camada de vermicompostagem decorrentes de sua manutenção. para maiores detalhes construtivos sobre a
(de serragem/ folhagem) e para os meios filtrantes composição das camadas e configuração das
Potenciais e Aplicabilidade considerar um total aproximado de 50 cm (ex: 10 tubulações.
cm areia, 20 cm brita 0 ou 1, 20 cm brita 2).
Sistemas aplicáveis às escalas unifamiliar, conjuntos de domicílios ou instalações Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
públicas. Trata-se de um sistema de baixo custo e complexidade de construção e Sistemas aplicáveis às escalas unifamiliar, conjuntos de domicílios ou instalações Remoção global de matéria orgânica e sólidos
operação, embora requeira manutenção periódica para remoção do composto Eficiência públicas. Trata-se de uma solução robusta, que recebe bem flutuações na suspensos superior a 80%; remoção de nitrogênio
acumulado. Como não deve operar alagado, e a saída é na parte inferior do Solução de eficiência moderada a elevada na qualidade dos efluentes recebidos. É um sistema complexo que demanda inferior a 50% e de fósforo menor que 20%.
sistema, é um sistema bastante propício a locais com topografia acentuada. remoção de matéria orgânica, variando de 50 a 80%. projeto, construção e operação cuidadosos e adaptados as condições locais.

Variações Variações Fatores Determinantes


Pode ser constituído de materiais pré-fabricados (com tanques plásticos Esses sistemas apresentam grandes variações construtivas, sendo os principais Condições climáticas; Disponibilidade de área;
Fatores Determinantes
ou de fibra de vidro) ou localmente (alvenaria, concreto, ferro-cimento, etc.). tipos o de fluxo subsuperficial horizontal, fluxo subsuperficial vertical e o sistema e a necessidade de uma etapa para remoção
Caimento do terreno, perfil do solo e nível de fluxo superficial, onde a água está exposta a atmosfera. Pode possuir diferentes de óleos, gorduras e sólidos grosseiros,
Há variações com ou sem a compartimentação do sistema em dois (para
d’água; Disponibilidade de espaço construtivo; geometrias, mas o comprimento e largura devem ser adequados ao tipo de sistema uma vez que esses materiais podem levar a
intercalar períodos de compostagem e operação no próprio sistema), além de
disponibilidade mara manejo e aplicação do e forma de distribuição do afluente. Deve ter paredes e fundo impermeabilizados, colmatação do leito.
diferentes tipos de midia filtrante, e dimensão das camadas de preenchimento.
composto que podem ser feitos com alvenaria, ferro cimento ou mantas geotêxteis (como
As minhocas mais comumente utilizadas são as californianas, das espécies
Eisenia andrei e Eisienia fetida. camada dupla de lona 200 micra). As espécies vegetais aplicadas também variam
expressivamente, devendo ser adaptadas às condições e disponibilidade local,
tendo como exemplo taboa, papiro, lírio, capim tifton, bananeiras.).
Operação e Manutenção Referências
Não devem ser utilizados alvejantes e outros produtos químicos agressivos Pureza et al., 2015; Santiago et al., 2015;
na limpeza dos sistemas sanitários atendidos. Demanda a remoção de Tonetti et al., 2018 Operação e Manutenção Referências
húmus a cada 6 meses, que deve ser realizada com o uso de EPI devido a De forma geral esses sistemas apresentam pouca demanda de manutenção, de Queiroz et al., 2012; Bassan et al., 2014; Tilley
carga patogênica presente no material. O efluente tratado pode ser reutilizado sendo comum sistemas com mais de 20 anos de operação contínua. Sua et al., 2014; Dotro et al., 2017; Brasil. Ministério
ou disposto. Se o sistema operar sem intercalar câmaras ativas, pode ser cobertura vegetal, no entanto, demanda manutenção periódica de poda. da Saúde. Fundação Nacional de Saúde., 2018;
necessário um local para compostagem adicional do composto. Sperling e Sezerino, 2018; Tonetti et al., 2018

26 27
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | CONTENÇÃO E TRATAMENTO

3.9 3.10

Tanque de evapotranspiração | TEvap Filtro anaeróbico de fluxo ascendente


A Tampas de acesso para inspeção e
coleta de lodo e escuma
A Meio suporte da vegetação B Tubulação de entrada, direcionando o
B Tubo de entrada conduzindo para fluxo para o fundo
câmara de digestão C Tanque impermeabilizado
D Acúmulo de lodo
C Tubo de inspeção
E Meio suporte
D Tanque impermeabilizado
F Tubulação de saída, captando o efluente
E Câmara de digestão
abaixo da superfície
F Meio filtrante A
G Tubulação de saída, captando o efluente
abaixo da superfície
B Recebe
A Recebe • Esgoto doméstico
• Idealmente, esgoto bacia sanitária
B G • Esgoto doméstico Encaminha
f • Efluente tratado
F • Lodo
E Encaminha
• Biomassa das plantas E • Biogás (pouco)
D D
• Efluente líquido (eventualmente) C
C

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Pode receber diretamente todos os efluentes domésticos, ainda que área de 1,4 m²/usuário em climas quentes Comumente empregado na complementação do tratamento de tanques Altura do material de enchimento 1,20 m; nível
idealmente apenas o esgoto das bacias sanitárias. Apresenta elevada a 2,0 m²/usuário em clima temperado. O sépticos, esses sistemas, anaeróbios, também podem receber águas de vaso da calha vertedora e fundo falso 0,30 m. O
eficiência na remoção de matéria orgânica e sólidos suspensos, uma vez tanque tem profundidade entre 1,00 m e 1,20 sanitário diretamente, desde que prevista uma câmara de sedimentação volume útil médio do filtro é de 250 L/usuário
que em condições normais de operação não propicia efluente líquido, sendo m. Recomenda-se a leitura das referências anterior a zona do filtro. Apresenta um desempenho robusto e estável, com (para seu detalhamento consultar a norma
este liberado ao ambiente por meio do processo de evapotranspiração. É para mais detalhes construtivos. eficiência na remoção de sólidos e matéria orgânica. referenciada). Como referência também,
composto pela adaptação de uma câmara de digestão anaeróbica sob um recomenda-se um tempo de detenção
leito filtrante e uma zona de raízes. Robusto e de baixa manutenção, esses hidráulico de 12 a 36 horas.
sistemas demandam construção cuidadosa para boa operação.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


Potenciais e Aplicabilidade Eficiência Sistemas aplicáveis às escalas unifamiliar, conjuntos de domicílios ou Apresenta eficiência de remoção de matéria
Sistemas aplicáveis às escalas unifamiliar, conjuntos de domicílios ou Elevada remoção de sólidos, matéria orgânica instalações públicas, esses sistemas têm pouca manutenção, embora orgânica moderado, entre 50 a 80%.
instalações públicas. Trata-se de uma solução com grande potencial e nutrientes. Mesmo considerando a saída demande um longo tempo de inicialização e requer mão de obra
quando há disponibilidade de área, condições topográficas e perfil do solo esporádica de efluente líquido, pode-se observar especializada para sua construção (especialmente na estruturação do
favoráveis a escavação. remoção de matéria orgânica superior a 80%. fundo falso).

Variações Fatores Determinantes


Variações Fatores Determinantes
Normalmente de formato prismático, suas principais variações construtivas Disponibilidade de área (elevado requisito);
se referem: ao material de impermeabilização (alvenaria, ferrocimento, manta condições topográficas e perfil do solo; Operando em regime afogado esses sistemas normalmente apresentam Tipo de efluente entrando no sistema;
geotextil); à composição do fundo falso (câmara de tijolos vazados ou túnel condições climáticas; espécies de planta fluxo ascendente. Suas principais variações são em relação ao seu formato, disponibilidade de área; perfil do solo e nível
de pneus); aos materiais de preenchimento (entulho, brita etc.); à vegetação disponíveis e de interesse (não sendo cilíndrico ou prismático; e o material de preenchimento do filtro, comumente da água subterrânea; disponibilidade para
aplicada. Esse sistema pode ser adaptado para receber águas cinza, envolvendo recomendadas espécies com fins alimentícios de brita ou seixo, há relatos de sistemas preenchidos com bambu e cascas efetuar seguramente ou contratar serviço
um estrutura complementar com linha de efluente líquido, e não apenas que tenham contato direto com o solo). de coco operando a mais de 10 anos. Esses sistemas podem ser construídos para o manejo do lodo retido.
evapotranspiração. Mesmo sem esta previsão, é sempre importante considerar localmente (alvenaria, ferro cimento, etc.) ou adquiridos pré-fabricados
um sistema de extravasão de efluente líquido. (normalmente em blenda polimérica).

Operação e Manutenção Referências Operação e Manutenção Referências


Sua elevada robustez confere ao sistema uma pequena demanda por Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional De forma geral o sistema demanda pouca manutenção. No entanto, ABNT, 1997; Tilley et al., 2014; Brasil. Ministério
manutenção; a exceção da necessidade de poda periódica da cobertura de Saúde., 2018; Tonetti et al., 2018. havendo colmatação do meio filtrante, sua remoção e limpeza é da Saúde. Fundação Nacional de Saúde., 2018;
vegetal. Embora ainda não reportado um intervalo específico, há necessidade complicada. Tonetti et al., 2018
de coleta de lodo acumulado na câmara de digestão.

28 29
REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | COLETA

A etapa de coleta do LF é, de forma as etapas de remoção e transporte do


SOLUÇÕES geral, a mais delicada nos sistemas de
esgotamento sanitário baseados no
lodo separadamente.
Sistemas de coleta, com a função bá-
PARA COLETA manejo de lodo fecal, devido ao risco
de exposição e contato humano direto
sica de remover o lodo fecal de dentro
das soluções individuais, são bastante
DO LODO FECAL com o lodo. Seu objetivo principal é a
remoção do lodo acumulado nos siste-
diversos e podem ser genericamente
divididos entre manuais e motorizados.
mas isolados para que as estruturas de Sistemas manuais apresentam, de for-
contenção possam continuar a serem ma ampla, menor performance e capa-
utilizadas de forma apropriada. A maior cidade, mas são simples, mais acessíveis
preocupação neste momento deve ser e móveis, possibilitando a operação em
a realização da operação e pós-opera- locais de difícil acesso, além de apresen-
ção (fechamento do sistema e limpeza tarem baixo custo de aquisição/ confec-
do local) de forma higiênica (Bassan et ção, operação e manutenção. Já os sis-
al., 2014). Alguns autores associam essa temas motorizados, embora com custos
etapa à de transporte, no entanto, sua mais elevados de aquisição, operação e
execução não necessariamente ocorre manutenção, se destacam por uma ele-
em conjunto, prática comumente re- vada performance (maiores volumes re-
portada em outros países (Bassan et movidos em menos tempo). Diante des-
al., 2014; Simiyu, 2017; Murthy, 2018). sas características básicas fica evidente
Esta possível dissociação é bastante a tendência à coexistência de mecanis-
importante, uma vez que dependendo mos manuais e mecânicos em um sis-
das condições locais pode ser feito por tema, cada um mais apto para contex-
equipamentos e atores diferentes dos tos distintos. A seleção da solução, ou
equipamentos e atores envolvidos com tecnologia, de coleta a ser empregada
o transporte do lodo. Esta situação é é determinada basicamente por três as-
bastante plausível na realidade brasi- pectos: a qualidade do lodo em relação
leira, especialmente quando conside- ao seu estado de liquefação; a condição
ramos sistemas modernos que apre- de acesso ao sistema (que é determi-

4.
sentam sistema de remoção de lodo nante quanto ao porte e mobilidade do
autônomo, como as descargas por dife- equipamento); e acessibilidade das tec-
rencial hidrostático, que permitem a fá- nologias, no que se refere a custo e exis-
cil retirada do lodo de dentro dos siste- tência de materiais e serviços na região.
mas para tratamento e disposição local. O diagrama a seguir exemplifica o pro-
Por essas razões optou-se por abordar cesso de tomada de decisão para sele-

31
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | COLETA

TIPO DE LODO LIQUEFEITO ESPESSO SECO


al., 2018). De forma ampla, e como adap- Existem diferentes sistemas para efeti-
tação dos processos indicados pelo IWA var a remoção segura do lodo. A seguir
(International Water Association), as se- são apresentadas as principais soluções
CONDIÇÕES guintes atividades devem ser percorri- de esvaziamento consolidadas com apli-
DE ACESSO AO RUIM MÉDIO BOM das no processo de coleta do lodo: cações pelo mundo, e potenciais para
EQUIPAMENTO
os contextos brasileiros. As soluções
a) Elaboração, manutenção e difusão de são apresentadas aqui de acordo com o
calendário de remoção do lodo; grau de mecanização.
EQUIPAMENTO EQUIPAMENTO
TIPO DE SOLUÇÃO SEMI-
EQUIPAMENTO
A VÁCUO
EQUIPAMENTO Apesar de sua aparência rudimentar,
A VÁCUO MANUAL
MECANIZADO MOTORIZADO • Caso seja realizado por equipe exter- sistemas manuais de coleta mostram-se
na, fazer prévia comunicação com o essenciais em localidades de difícil aces-
Figura 3: Diagrama de auxílio à usuário para agendamento; so para equipamentos mecanizados,
decisão do tipo de solução a ser normalmente de maior porte, como em
utilizado na coleta de lodo fecal
• Negociar a cobrança da taxa de cole- vielas, locais com trânsito impedido a
ta, caso seja o modelo adotado; veículos (por exemplo, fundos de terre-
ção de soluções para remoção do lodo. incrementar o escopo das atividades nos em áreas urbanas) e comunidades
(Thye, Templeton e Ali, 2011; Bassan et para incluir a inspeção das soluções de b) Identificar e localizar os sistemas que remotas/ isoladas. São sistemas comuns
al., 2014; GOAL, 2016) contenção (Bassan et al., 2014) necessitam ser esvaziados; devido ao seu baixo custo de aquisição/
O momento da coleta do LF é ainda No momento de esvaziamento dos confecção, operação e manutenção.
uma excelente oportunidade para ins- sistemas muitos fatores devem ser le- c) Avaliar a acessibilidade do sistema; Além disso permitem também a coleta
peção dos sistemas isolados, permitin- vados em consideração e diversas são de lodos muito densos, como os de sis-
do a identificação de problemas estru- as atividades a serem cumpridas. Inicial- d) Acionar a abertura de acesso ao sistema; temas secos (O’Keefe et al., 2015; Hara-
turais e/ ou operacionais. Nos casos em mente é importante conciliar o tipo de da, Strande e Fujii, 2016; Simiyu, 2017).
que o serviço é realizado localmente, solução adotada localmente aos meca- e) Coletar o lodo; Os sistemas mecanizados são mais prá-
pelos próprios usuários ou proprietá- nismos de remoção de lodo, isso por- ticos e eficientes, permitindo um atendi-
rios do sistema, é importante conside- que cada tecnologia de armazenamento • Fazer a avaliação do sistema de ar- mento de maior número de domicílios
rar formas de compartilhamento das irá produzir um lodo com características mazenamento e contenção; em um mesmo espaço de tempo, além
informações de status do sistemas aos específicas; por exemplo, lodos armaze- de menor esforço físico pelos operado-
responsáveis pelo esgotamento sanitá- nados por longos períodos de tempo f) Executar o fechamento do sistema; res. No entanto envolvem custos mais
rio no município. Por outro lado, se a tendem a apresentar maior viscosidade elevados e não são viáveis a qualquer
remoção do lodo for realizada por pres- além de uma camada sedimentada de g) Fazer a limpeza após coleta; contexto de ocupação.
tadores de serviço, normalmente a mes- remoção mais complicada, demandan-
ma equipe de transporte de lodo (como do maior esforço ou até mesmo o uso h) Garantir inspeção final e anotação/
é o caso com serviços limpa fossa), é de jatos de água pressurizada para sua comunicação de deficiências ao admi-
fundamental ressaltar a importância da remoção (Bassan et al., 2014; Septien et nistrador e ao usuário.

32 33
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | COLETA

4.1 4.3

Coleta direta | Pás e baldes Bomba de deslocamento positivo

A
A
C
B
B Tanque para armazenamento e Tanque para armazenamento e
A A
transporte transporte
B Balde com corda B Carrinho para transporte
C Pá adaptada C Bomba de deslocamento positivo

Recebe Recebe
• Lodo • Lodo

Encaminha Encaminha
C • Lodo • Lodo

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Remoção do lodo retido nas soluções individuais de esgoto, adequada para - Remoção do lodo retido nas soluções individuais de esgoto, adequada para Deve ser projetado para coleta até 3 m de
pequena e média escala. Ainda que envolva trabalho manual e maior exposição pequena e média escala. Trata-se de uma solução bastante interessante profundidade. A FUNASA propõe uma bomba de
conteúdo da fossa, se feito com equipamentos de proteção individual e pás e por oferecer maior segurança e eficiência do que a coleta direta e ainda não sucção construída em cano de PVC de 40 mm
recipientes adequados, trata-se de uma solução relevante para muitos contextos, depender de sistema mecanizado para operar. O bombeamento neste caso de diâmetro, 2,30 m de comprimento e com um
por ser mais acessível e não depender de sistemas motorizados nem vias de é feito pela movimentação manual da alavanca. Este sistema é apropriado êmbolo (20 mm) contendo uma borracha de
acesso muito estruturadas. Além disso, constitui uma solução versátil, capaz de também para coleta de lodos de baixa densidade (mas não liquefeitos). formato esférico na parte interna (inferior).
coletar qualquer tipo de lodo, além de n especialmente lodos solidificados que
não podem ser bombeados, como em fossas sépticas com lodo de muitos anos Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
ou no caso da fossa seca compostável.
Sistema bastante acessível, com baixo custo de fabricação e manutenção, podendo A eficiência coleta varia de 30 a 60 L/min.
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência ser construídos e mantidos localmente. Apresentam também uma elevada
mobilidade e reduzem o risco de contato do operador com o lodo coletado.
aplicável a qualquer contexto, considerando sistemas unifamiliares ou de um Baixa, o esvaziamento de um sistema Assim, em contextos isolados, ou de elevados custos de serviços mecanizados de
conjunto de domicílios. A coleta direta permite acesso a qualquer sistema individual, individual pode levar de um a diversos dias, coleta, constitui uma importante alternativa para a remoção do lodo.
mesmo aqueles no interior das casas ou em local de acesso impossibilitado a dependendo do volume de condição do lodo.
sistemas de bombeamento. Não apresenta problemas com a presença de materiais
grosseiros e utiliza mão de obra local sem demanda por especialização. Variações Fatores Determinantes
Diversos esquemas construtivos podem ser encontrados nas referências, mas Condições de acessibilidade ao local
Variações Fatores Determinantes as duas principais variedades construtivas são o uso de êmbolo ou pistão. da solução individual; disponibilidade e
Os elementos básicos para a coleta direta podem variar, tanto no caso da pá Condições de acessibilidade ao local da solução Esse equipamento pode ser construído localmente com materiais como cano viabilidade local de serviços mecanizados de
como no do recipiente de coleta. As pás adaptadas devem ser resistentes individual; disponibilidade e viabilidade local de de aço ou PVC (alguns materiais, como o PVC, podem tornar o equipamento coleta; acesso a peças de reposição.
possuir dispositivo para abrir e fechar o compartimento de coleta (para serviços mecanizados de coleta. mais frágil). Os recipientes de armazenamento também são variados, podendo
remover o lodo de forma dedicada). Baldes com cordas podem ser práticos utilizados baldes, bombonas de plástico ou tonéis, desde que impermeáveis,
para coletar materiais sobrenadantes. Para o armazenamento pode ser feito com estrutura resistente e fechamento seguro.
o uso de bombonas de plástico ou tonéis, desde que permitam a vedação
segura do recipiente quando fechados. Operação e Manutenção Referências
Durante a operação dois aspectos centrais são o cuidado com o entupimento Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014; GOAL,
Operação e Manutenção Referências por material grosseiro depositados no sistema individual; e atenção aos respingos 2016; Brasil. Ministério da Saúde. Fundação
A coleta direta é pouco complexa, mas requer muito cuidado para garantir Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014; GOAL, na transferência para o recipiente de transporte. A limpeza do material após cada Nacional de Saúde., 2018
a segurança do operador e a higienização do local após a coleta. EPIs 2016 utilização é essencial para evitar entupimentos por acúmulo de material seco e a
como máscara, óculos e luvas são essenciais para este trabalho, além de quebra de componentes macios, como borrachas. O uso de EPIs (máscara, óculos
instrumentos para coleta e armazenamento do lodo em bom estado. e luvas de segurança são recomendado em todas as etapas do manejo do lodo).

34 35
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | COLETA

4.3 4.4

Bomba diafragma Bomba a vácuo

A A
B
B

A Tanque para armazenamento e


A Bomba a vácuo
transporte
B Tanque para armazenamento e
C B Carrinho para transporte
transporte
C Bomba diafragma
C Tubulação de sucção
D Tubulação de sucção

D Recebe Recebe
C
• Lodo • Lodo

Encaminha Encaminha
• Lodo • Lodo

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Remoção do lodo retido nas soluções individuais de esgoto, adequada Remoção do lodo retido nas soluções individuais de esgoto, adequada para Alguns parâmetros de dimensionamento
para qualquer escala. trata-se de uma solução bastante interessante qualquer escala. em locais Este sistema é utilizado na coleta mecanizada são a vazão de lodo fecal pretendida; a
por oferecer maior segurança e eficiência do que a coleta direta e ainda de lodos fluidizados e semi-fluidizados que envolve equipamentos de capacidade do tanque de recebimento; e a
não depender necessariamente de sistema mecanizado para operar. maior porte, como por exemplo o utilizado em caminhão limpa fossa. Por estrutura onde será montada.
O bombeamento neste caso pode ser feito de forma manual (pela serem sistemas mais caros, e de maiores dimensões, apresenta menor
movimentação da alavanca) ou motorizada. Este sistema é utilizado na acessibilidade, tanto para locais de mais difícil acesso (condições viárias,
coleta de lodos fluidizados e semi-fluidizados. distância a ser percorrida, condições de acesso à solução indiviual) e com
menos recursos disponíveis para viabilizar este serviço.
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
Essa solução restringe consideravelmente o contato do operador com o lodo, Sistemas manuais coletam até 100 L/min;
tornando a operação de coleta mais segura. Por apresentarem maior eficiência motorizados podem coletar até 330 L/min. A Trata-se de uma tecnologia consolidada na coleta de lodos fecais de alta Sistemas mecanizados têm vazões variando de 76
de coleta de lodo também melhoram as condições de trabalho dos operadores. profundidade máxima de operação é de 3,5 eficiência e segurança operacional, interessante para contextos em que a 9.000 L/min. (Possíveis modelos manuais operam
Esses equipamentos conseguem acessar locais de difícil acesso devido ao m (manual); e até 15m (mecanizada). o acesso dos equipamentos não é restritivo ou impeditivo (em termos de com uma vazão de até 40 L/min e conseguem
pequeno porte, permitindo a passagem por vias estreitas e instalação e em distância e condições do sistema viário). elevar o lodo de uma profundidade de até 3 m).
locais com área restrita.
Variações Fatores Determinantes
Variações Fatores Determinantes Disponível em diversos modelos e configurações, esses equipamentos podem Condições de acessibilidade ao local
ser facilmente adaptados a veículos diversos para o transporte, com ou sem da solução individual; disponibilidade e
As principais variações dessas bombas estão relacionadas a motorização Condições de acessibilidade ao local
tanque de transporte do lodo fecal coletadas. Sistemas a vácuo estão disponível viabilidade local de serviços mecanizados de
do sistema de bombeamento. Assim, o sistema pode funcionar com da solução individual; disponibilidade e
em diferentes modelos e configurações, normalmente de acordo com sua coleta; acesso a peças de reposição.
alavanca para bombeamento manual ou mecanizado. Os recipientes viabilidade local de serviços mecanizados de
potência. Vale notar o desenvolvimento de algumas tecnologias de operação
de armazenamento também são variados, podendo utilizados baldes, coleta; acesso a peças de reposição.
manual não motorizada, como o MAPET. os sistemas de armazenamento
bombonas de plástico ou tonéis, desde que impermeáveis, com estrutura
destes sistemas costumam ser mais elaborados para este uso em específico,
resistente e fechamento seguro (se possível vedado).
mas podem ser adaptados com recipientes como bombonas ou tonéis com
fechamento apropriado.
Operação e Manutenção Referências
Esses sistemas são de operação simples, mas podem ter problemas de Bassan et al., 2014; Rogers et al., 2015 Operação e Manutenção Referências
entupimento por materiais grosseiros depositados nos sistemas individuais. Equipamentos a vácuo requerem mão de obra especializada na sua operação e O’Riordan, 2009; Thye, Templeton e Ali, 2011;
Problemas com o selo da bomba também são comumente reportados, sendo manutenção. Se bem operados e mantidos limpos, apresentem pouca demanda Still e O’Riordan, 2012; Sugden, 2012; Bassan
importante considerar seu estoque. O uso de EPIs (máscara, óculos e luvas de por intervenções. Como esta solução não é adequada para lodos muito densos ou et al., 2014
segurança são recomendado em todas as etapas do manejo do lodo). secos, requer procedimentos prévios para fluidização.

36 37
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | COLETA

4.5

Caminhões limpa fossa

A Tanque de armazenamento e transporte


B Sistema de acesso e sucção
C Bomba a vácuo integrada

Recebe
C • Lodo
B
Encaminha
• Lodo

Função Dimensionamento
Remoção do lodo retido nas soluções individuais de esgoto, adequada Bombeamento vai depender capacidade da
para localidades com boas condições de acesso dos caminhões e bomba e motorização do caminhão. A extensão
distâncias que viabilizem financeiramente a contratação do serviço. Este da mangueira deve levar em conta que muitos
sistema faz a coleta mecanizada de lodos fluidizados e semi-fluidizados. dos domicílios não permitem aproximação dos
caminhões até a solução individual, de forma
que o dispositivo deve ser extenso o suficiente
para cobrir essas distâncias.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


Considerando que são sistemas mais caros, tendem a ser menos acessíveis Sistemas mecanizados têm vazões variando
em escala comunitária. Sendo mais viável em escala municipal, costuma ter de 76 a 9.000 L/min.
custo operacional pouco acessível para atender localidades distantes e com
condições de acesso dificultadas (condições viárias, distância a ser percorrida,
condições de acesso à solução individual) e com menos recursos disponíveis
para viabilizar este serviço.

Variações Fatores Determinantes


A variação desta solução é referente principalmente ao mecanismo e Taxa de geração de lodo no loca; distâncias
capacidade de bombeamento, tipo e extensão da mangueira e instalação ou a serem percorridas; disponibilidade de mão
não de mecanismos de retenção de sólidos na abertura da mangueira. de obra especializada; disponibilidade de
peças para manutenção.

Operação e Manutenção Referências


São sistemas de operação e manutenção complexos, sendo necessário Sugden, 2012; Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014
serviço especializado para manusear o sistema de acionamento e
controle da bomba, alocação da mangueira e aporte do lodo (além da
condução do caminhão, descarga do lodo e atividades de manutenção
dos equipamentos).

38 39
REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRANSPORTE

A etapa de transporte, tanto em sistemas sanitário baseado no manejo dos lodos


que contam com redes de coleta quanto fecais, à medida que área de cobertura
naqueles baseados no manejo do lodo do sistema aumenta, caso opte-se pela
SOLUÇÕES fecal, é a de maior custo e complexidade centralização da unidade de tratamento,
operacional (Além Sobrinho e Tsutiya, pode ocorrer uma complicação na estru-
PARA TRANSPORTE 1999; Dodane, Sow e Strande, 2012; Scho- turação de uma logística eficiente de co-
ebitz et al., 2017). Assim, a sua concepção leta do lodo, devido às grandes distâncias
DO LODO FECAL detalhada e da maneira mais eficiente a serem percorridas entre coleta e trata-
possível é essencial tanto para viabiliza- mento do lodo. Quanto maior o percurso
ção de implantação do sistema, quanto a ser feito, mais caro o serviço e maior o
para sua manutenção. Nos sistemas que risco de disposição inadequada do ma-
contam com redes de coleta, essa etapa terial coletado (em terrenos, córregos ou
é realizada pelas tubulações e órgãos lagos). Nesse momento é essencial fazer
acessórios da rede (Além Sobrinho e Tsu- um planejamento integrado entre a forma
tiya, 1999). Já nos sistemas baseados no de transporte, a área de cobertura, locali-
MLF, em que o transporte é efetivado por zação da estação de tratamento e pontos
veículos com recipientes próprios de ar- de reuso do lodo. Além da distribuição es-
mazenamento do lodo, as soluções os tratégica de centrais para tratamento do
podem ser divididas entre aqueles com material, Estações de Transferência (ET)
tração manual ou mecanizada. Soluções constituem uma importante solução para
não-mecanizadas são altamente mano- otimizar a logística do material.

5. bráveis, podendo acessar localidades


restritas, no entanto possuem reduzida
capacidade de armazenamento, baixa ve-
As ETs, posicionadas estrategicamen-
te entre a área de cobertura e estação de
tratamento, têm a função de acumular
locidade de deslocamento e percorrem o lodo coletado, até atingir volumes que
pequenas distâncias. Equipamentos mo- justifiquem o transporte do lodo por ve-
torizados, por outro lado, têm elevada ca- ículos de maior capacidade e velocidade
pacidade de transporte e velocidade, com até estações de tratamento distantes. São
grande autonomia de deslocamento; po- caracterizadas por capacidades elevadas
rém, encontram dificuldades de acessar de armazenamento de lodo, podendo ser
determinados locais devido ao seu tama- fixas ou móveis e, ainda, possuir ou não
nho e baixa manobrabilidade. A Tabela 1 alguma forma de tratamento preliminar,
aponta características gerais dos princi- como remoção de sólidos grosseiros ou
pais mecanismos de transporte de lodos sedimentação do lodo. Ressalta-se a im-
fecais (Sugden, 2012; Bassan et al., 2014). portância do correto planejamento quan-
Quando se opta pelo esgotamento do da instalação ou alocação de ETs, devi-

41
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRANSPORTE

5.1

Carreta manual
Tabela 1: Características de manobrabilidade,
capacidade, velocidade e autonomia de
deslocamento para diferentes soluções de A
transporte de LF. Adaptado de Bassan et al.
(2014) e Sugden (2012
A Carreta manual
B Tambores de armazenamento
VELOCIDADE DE
MANOBRABILIDADE CAPACIDADE (L) AUTONOMIA (KM)
DESLOCAMENTO (KM/H) Recebe
• Lodo
CAMINHÃO TANQUE
MUITO PEQUENA 10 000 OU MAIS 60 100 • Composto de sistemas de container
- GRANDE
• Urina de sistemas de container com
CAMINHÃO TANQUE separação
PEQUENA 3 000 60 100
- MÉDIO
CAMINHÃO TANQUE Encaminha
MÉDIA 1 500 50 50 • Lodo
- PEQUENO
• Composto de sistemas de container
TRICICLOS
ALTA 400 50 10 • Urina de sistemas de container com
MOTORIZADOS B separação
CARRINHO
MUITO ALTA 130 2,5 1
DE MÃO
Função Dimensionamento
Transporte de lodos coletados em domicílios e estabelecimentos Devem ser projetados para transporte não
do a problemas com o aceite por parte da sentar uma maior dimensão, inclusive comerciais em contextos que envolvam curtas distâncias e com cargas mais do que 200 L.
população local, similar ao enfrentado na para implementação de etapas prelimi- diárias de transporte moderadas.

alocação de ETEs e estações elevatórias nares de tratamento;


de esgoto em sistemas convencionais. A III. aceitação comunitária, já que os equi-
oferta de serviços na estação, como ba- pamentos, assim como ocorre com a insta- Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
Por apresentarem uma elevada manobrabilidade esses sistemas são Esses sistemas apresentam normalmente
nheiros públicos, ajudam a amenizar tais lação de estações de tratamento de esgoto, ideais para locais onde há dificuldade de acesso a veículos motorizados. volume de transporte entre 130 a 200 L.
problemas de rejeição da vizinhança. podem gerar preocupações locais com re- Também se configuram uma boa solução no transporte de pequenas Com velocidade média de deslocamento de
Ainda que não específicos às ativi- lação a problemas com odor, presença de massas por curtas distâncias, como sistemas individuais isolados. Com 2,5 km/h, carretas manuais têm autonomia
baixos custos capitais e de operação e manutenção, trata-se de uma variando de 1 a 3 km/dia.
dades de transporte, seguem alguns vetores e circulação de veículos pesados ; solução potencial para contextos com baixa disponibilidade de recursos
aspectos centrais na determinação da IV. adequabilidade aos requisitos de li- para esta finalidade.

localização estratégica de centrais de cenças pertinentes à sua instalação.


tratamento de lodo e Estações de Trans-
ferência com base em Bassan et al., 2014: Existem diferentes soluções para o trans- Variações Fatores Determinantes
Esses sistemas variam em relação a sua capacidade de transporte e Topografia local; qualidade do arruamento;
porte, seja por meio de redes de coleta a forma de tração, podendo ser adaptados em triciclos com pedais e distância a ser percorrida entre soluções
I. localização otimizada, em proximida- simplificadas de esgotos sanitários, seja tração animal. Qualquer carreta, comumente utilizadas para outros individuais e local de tratamento do lodo;
de da área atendida, permitindo tanto o por veículos de transporte de lodo fecal propósitos, podem ser utilizadas, a depender da disponibilidade local. disposição local para o serviço manual.

alcance rápido pelos equipamentos de (que podem ser divididos entre as varia-
menor autonomia atuantes na coleta di- das formas de tração. É importante res-
reta do LF, como também para o acesso saltar, contudo, que cada caso deve ser Operação e Manutenção Referências
Trata-se uma solução de com baixa complexidade operacional e de fácil Sugden, 2012; Bassan et al., 2014; Tilley et al.,
de equipamentos de grande porte, que avaliado de acordo com suas peculiari- manutenção. Envolve, no entanto, a disposição local para carregar e 2014
irão realizar seu esvaziamento; dades, abrindo-se, sempre, espaço para movimentar a carreta de forma manual.
II. disponibilidade de área, especialmen- inovações que melhor se adaptem ao
te para estações fixas que podem apre- contexto atendido.

42 43
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRANSPORTE

5.3
5.2

Carreta movida a motocicleta ou triciclo Carreta para veículo de quatro rodas


A
A A Tração motorizada por veículo de médio
A Ciclomotor para tração porte
B Carreta manual B Carreta de transporte
C Tambores de armazenamento C Tanque de amazenamento

Recebe Recebe
• Lodo • Lodo
• Composto de sistemas de container • Composto de sistemas de container
• Urina de sistemas de container com • Urina de sistemas de container com
separação separação

Encaminha Encaminha
• Lodo C • Lodo
C • Composto de sistemas de container B • Composto de sistemas de container
• Urina de sistemas de container com • Urina de sistemas de container com
B
separação separação

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Transporte de pequenos volumes de lodo coletado, a ser transportado por Capacidade de transporte de acordo com a Transporte de lodos coletados em volume, velocidade e distância medianas. De acordo com a capacidade de transporte da
distâncias moderadas, com razoável velocidade de deslocamento. propulsão, até 200 L para sistemas manuais e motorização utilizada.
até 400 L para sistemas motorizados.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


Potenciais e Aplicabilidade Eficiência Com manobrabilidade média e capacidade de transporte e autonomia Com capacidade de transporte de até 1.500 a
consideráveis, esses veículos são mais rápidos e ágeis do que caminhões 3.000 L, esses veículos se deslocam a velocidades
Por ser um veículo de pequeno porte pode acessar alguns espaços que são Com capacidade de transportar até 400 l
de grande porte, sendo adequados para atender comunidades com médias de 60 km/h e costuma-se considerar
restritos a caminhões e caminhonetes. Apresenta uma melhor capacidade (1.000 kg), esses sistemas se deslocam a até 50
número moderado de domicílios. Constitui uma importante alternativa estes sistemas para distâncias de até 100 km.
de transporte em relação às carretas manuais e representa uma melhora km/h e tem autonomia média de 10 km.
quando sistemas convencionais de limpa fossa são inexistentes
nas condições de trabalho do operador, além de melhorar a eficiência de
ou pouco viáveis financeiramente, envolvendo apenas um tanque
transporte do lodo por se deslocar a velocidades mais elevadas.
adaptado, a ser rebocado por carros, caminhonetes, tratores etc.

Variações Fatores Determinantes Variações Fatores Determinantes


A principal variação se dá em relação a propulsão, podendo ser manual Qualidade do arruamento; distância a ser As variações são referentes a capacidade de tração dos veículos utilizados; o Taxa de geração de lodo no loca; distâncias a
ou motorizada, alternado a capacidade de transporte, velocidade de percorrida entre soluções individuais e local volume, formato e material dos tanques, bem como do sistema de rodagem serem percorridas; disponibilidade de peças
deslocamento e autonomia de viagem. Sistemas de bombeamento do de tratamento do lodo; disposição local para e engate da carreta. Alguns equipamentos de armazenamento podem vir para manutenção devem ser considerados,
lodo podem ser adaptados. o serviço manual (caso o transporte não seja com bombas para coleta de lodo adaptadas. especialmente se tiverem sistemas de
mecanizado). bombeamento acoplados.

Operação e Manutenção Referências Operação e Manutenção Referências


Trata-se uma solução de com baixa complexidade operacional e de Sugden, 2012; Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014 São sistemas de operação e manutenção mais complexos, sendo Sugden, 2012; Bassan et al., 2014
fácil manutenção, envolvendo materiais e equipamentos comumente necessário considerar a acessibilidade a serviços com treinamento para
encontrados localmente. o carregamento, transporte e descarga dos lodos coletados.

44 45
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRANSPORTE

5.4 5.5

Caminhões limpa fossa Estação de tranferência

A A
B

A Estação de transferência fixa


A Tração motorizada por veículo de B Pontos de acesso para recebimento
grande porte C Tanque impermeabilizado
B Tanque de armazenamento e transporte D Ponto de acesso para coleta de lodo
C Sistema de sucção a vácuo armazenado

Recebe Recebe
• Lodo • Lodo

Encaminha Encaminha
C • Lodo
B • Lodo
• Efluente líquido (eventualmente)
D • Resíduos sólidos (eventualmente)
C

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Transporte de grandes volumes lodo coletado a longas distâncias. De acordo com a capacidade da motorização Otimizar a logística de transporte do lodo coletado, entre os pontos de geração Feito a partir do planejamento do volume de
escolhida. e a estação de tratamento. Permite também que uma mesma estação de coleta local e do intervalo de encaminhamento
tratamento de lodo tenha uma área de cobertura mais extensa. A estação de para a estação de tratamento.
transferência é composta basicamente por um recipiente de armazenamento
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência intermediário do lodo, capaz de reter o material proveniente a um conjunto
Com grande capacidade de transporte e elevada autonomia, caminhões Com capacidade de transporte entre 3.000 de domicílios por determinado período de tempo, até o encaminhamento do
tanque são adequados a contextos de atendimento onde se esperam e 20.000 L, caminhões tanque se deslocam a material para tratamento. As estações servem para dividir a etapa de transporte
grandes volumes de lodo por dia, embora dependa de condições uma velocidade média de 60 km/h e costuma- em duas fases: das soluções individuais até a estação de transferência; e da
apropriadas para a acessibilidade ao local de coleta a esses veículos se considerar estes sistemas para distâncias estação de transferência até a local de tratamento. Para cada uma delas pode
de grande porte (condições do sistema viário, manobrabilidade etc.) de até 100 km. haver diferentes tipos de transporte, bem como diferentes frequências de coleta.
Considerando que são sistemas mais caros, tendem a ser menos acessíveis Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
em escala comunitária. Sendo mais viável em escala municipal, costuma ter
Estes sistemas podem tornar os processos de transporte mais eficientes e Com capacidade de transporte de até 1.500
custo operacional pouco acessível para atender localidades distantes e com
viáveis, distribuindo soluções de forma estratégica entre a coleta do lodo nos a 3.000 L, esses veículos se deslocam a
condições de acesso dificultadas (qualidade de estradas e/ou arruamento)
domicílios e o direcionamento deste material a uma estação de tratamento velocidades médias de 60 km/h e costuma-se
mais distante. Assim, é uma solução de grande relevância para locais que considerar estes sistemas para distâncias de
demandem sistemas de menor porte para circulação entre domicílios (coleta até 100 km.
Variações Fatores Determinantes do lodo) ao mesmo tempo que requer veículos de grande porte (capacidade
A variação desta solução é referente principalmente à motorização Taxa de geração de lodo no loca; distâncias de carga e autonomia) para levar o lodo até estação de tratamento.
do veículo, volume do sistema de armazenamento d mecanismo de a serem percorridas; disponibilidade de mão
bombeamento. Muitos desses veículos vem com bombas para coleta do de obra especializada; disponibilidade de Variações Fatores Determinantes
lodo acopladas (comumente bombas a vácuo). Pode haver um tanque peças para manutenção. As estações podem ser móveis ou fixas. Estações móveis permitem a ampliação Distância entre a comunidade e a estação
exclusivo para recebimento de efluente de caixa de gordura, sendo essa da área de atendimento por meio do seu deslocamento planejado. Estações fixas de tratamento de lodo; condições do
opção muito recomendável. podem comportar grande volumes de lodo, além de permitir a implementação de sistema viário na comunidade; recursos e
etapas preliminares de tratamento (como remoção de resíduos sólidos grosseiros equipamentos disponíveis no local.
e adensamento do lodo), e pode ser considerada a ligação à rede coletora de
Operação e Manutenção Referências
esgoto para encaminhamento da fração líquida quando há etapa de deságue.
São sistemas de operação e manutenção complexos, sendo necessário Sugden, 2012; Bassan et al., 2014; Tilley et al.,
serviço especializado para manusear o sistema de aporte do lodo, 2014 Operaação e Manutenção Referências
condução do caminhão e descarga do lodo, além das atividades de
Com operação e manutenção simples, a principal preocupação com Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014
manutenção dos equipamentos.
esses sistemas deve ser seu assoreamento, sendo importante a
previsão de mecanismo de limpeza de todo o fundo do sistema.

46 47
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL REFERENCIAL TÉCNICO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRANSPORTE

5..6 5.7

Rede de Coleta com retenção de sólidos Rede de coleta condominal


A A
B
B
A Solução para retenção de sólido (ex:
tanque séptico)
B Rede local do efluente líquido
C Ponto de ligação á rede A Rede condominal
D Acúmulo de lodo B Ponto de ligação á rede pública
E Tampa de acesso para coleta de lodo C Rede pública
F Rede predial D Rede predial

Recebe
• Esgoto doméstico Recebe
• Esgoto doméstico

F Encaminha
• Lodo Encaminha
• Efluente líquido com baixo teor de C D • Esgoto doméstico
E sólidos
D
C

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Transporte dos efluentes domésticos por meio rede de coleta com O dimensionamento do mecanismo de retenção de Transporte dos efluentes domésticos por meio rede de coleta mais A rede pública de coleta é dimensionada pelo
diâmetro de menor diâmetro do que os sistemas convencionais. Para tanto, sólidos depende da quantidade de usuários servida adaptada às condições de ocupação no território, com menores custos de método convencional. A rede condominial é
antes da conexão na rede de coleta, é instalado um sistema de retenção e se considera ou não um tratamento preliminar do implementação e maior engajamento local. O sistema condominial facilita feita para atender aos usuário do condomínio.
de sólidos do efluente dos domicílios (que pode inclusive ser uma fossa lodo. Já a rede de coleta passa a ser dimensionada a ampliação da cobertura da coleta de esgoto, mesmo em localidades às
séptica ou similar). Pode ser aplicado também para possibilitar a ampliação para o transporte somente da fração líquida do quais os sistemas convencionais são menos viáveis (devido a aspectos como:
das vazões a serem transportadas em uma linha de esgoto existente. esgoto gerado pela população servida. disponibilidade de recursos; condições das vias públicas; disponibilidade
de espaço para as redes; etc. As redes condominiais permitem extensões
menores de tubulação para atender uma mesma área, conduítes de menor
diâmetro do que sistemas convencionais, além de menores profundidades e
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência gradientes de inclinação das redes.
Esses sistemas representam uma economia nos custos da rede de coleta, Dependente do mecanismo de retenção de
permitindo: substituição de poços de visitas por tubos de inspeção e limpeza; sólidos.
tubulação de menor diâmetro e materiais mais econômicos; tubulações com Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
menor caimento e portanto reduz demanda por escavação (sistemas menos Com custos de implementação expressivamente mais baixos do que -
profundos). São aplicáveis em contexto onde é possível instalação de sistemas de sistemas convencionais (até 58% menores) e maior flexibilidade para
retenção de sólidos e rede de coleta. São sistemas relevantes também para locais Fatores Determinantes adaptação às condições de ocupação do território, o sistema condominial
onde a infiltração do efluente tratado em soluções individuais é pouco viável. Densidade de ocupação; disponibilidade de tem grande potencial para o atendimento de contextos urbanos precários
espaço para redes de coleta e sistemas de e sistemas comunitário em aglomerados rurais, dentre outros contextos
retenção de sólidos; disponibilidade de dinâmicas comumente desassistidos por sistemas convencionais de coleta.
de manejo adequado dos lodos retidos;
Variações possibilidade de implementação de rede de Variações Fatores Determinantes
As variações desse sistema estão no mecanismo de retenção de sólidos, que coleta; necessidade de aumento da capacidade de Os ramais condominiais são amplamente divididos em ramal de fundo Forma de ocupação do território; nível de
podem considerar ainda o tratamento e estabilização inicial do lodo. transporte de redes de coleta já implementadas. de lote, ramal de jardim e ramal de passeio. O traçado do sistema engajamento na comunidade atendida.
deverá ser adaptado ao contexto local, de forma que cada localização
terá um arranjo próprio. O arranjo das tubulações e conexões, por sua
vez, também varia consideravelmente.
Operação e Manutenção Referências
Há uma diminuição da demanda de manutenção de rede de coleta por Além Sobrinho e Tsutiya, 1999; Mara, 2013; Operação e Manutenção Referências
apresentar menos eventos de acúmulo de sólidos e consequente entupimento. Tilley et al., 2014 Demanda envolvimento ativo da comunidade atendida na definição do Além Sobrinho e Tsutiya, 1999; Mara, 2013;
Por outro lado será necessário remover os sólidos retidos nos sistemas sistema e participação na operação e manutenção (ao menos vigilância) Tilley et al., 2014
individuais periodicamente, e encaminhá-los adequadamente. do ramal condominial

48 49
A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

SOLUÇÕES
DE TRATAMENTO

O propósito básico desta etapa é o tra- polimento. Cada um possui funções dis-
tamento de esgotos domésticos e/ ou tintas, muitas vezes essenciais para as
do lodo fecal, a fim de garantir condi- fases seguintes. O tratamento prelimi-
ções seguras e apropriadas de destina- nar, por exemplo, além de ser um mo-
ção final ou reuso dos subprodutos (fra- mento propício para medição de volu-
ção líquida, sólida e gasosa), de acordo me e massa de entrada no sistema, é
com as legislações locais vigentes ou responsável pela remoção de sólidos
melhores práticas. O tratamento pode grosseiros e possivelmente óleos e gra-
ser realizado em escala centralizada, xas, o que é importante para o pleno
semi-centralizadas ou descentralizada, funcionamento das etapas seguintes. A
cada um com diferentes escopos de tra- presença de etapa de adensamento, por
tamento e tipos de processos. Em dis- sua vez, pode viabilizar menores dimen-
posições descentralizadas esta etapa se sões e maior eficiência dos sistemas de
refere geralmente ao processamento estabilização e polimento do efluente.
do lodo fecal retido na etapa de conten- (Andreoli, 2009; Bassan et al., 2014).
ção, enquanto a fração líquida é tratada
nas próprias soluções individuais. Nas TRATAMENTO PRELIMINAR
demais escalas é comum a previsão tan-
to de uma linha para o tratamento do Fatores culturais têm grande influência
esgoto como para o tratamento do lodo sobre as características dos esgotos e
gerado na própria estação de tratamen- lodos fecais, sendo bastante comum a
to (que pode ou não ser integrado com presença de sólidos grosseiros. No caso
o processamento de lodo fecal coletado de lados, a prática de esvaziamento de
em soluções individuais). O foco aqui é caixas de gordura conjuntamente com
dado para processos de tratamento de as soluções isoladas de contenção, cos-
lodo fecal, seja em escala descentraliza- tuma agregar ainda elevados teores de
da ou semi (centralizada), não abrangen- óleos, gorduras e graxas. A remoção

6.
do alternativas dedicadas exclusivamen- desses materiais é essencial para a in-
te para linhas de tratamento de esgoto. tegridade e manutenção de condições
Quanto à constituição dos proces- adequadas de operação dos sistemas de
sos de tratamento de lodo, geralmen- tratamento e devem ser contempladas
te são previstos diferentes estágios: no projeto das estações. A essas unida-
tratamento preliminar; sedimentação/ des iniciais, deve-se incluir mecanismos
adensamento; estabilização da matéria adequados de recepção dos efluentes
orgânica; e tratamento complementar/ e de medição dos volumes (cargas) re-

50 51
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

operação, a fim de identificar soluções crucial nesse momento, garantindo tan-


TRATAMENTO PRELIMINAR mais assertivas. to a adequabilidade dos efluentes do
tratamento a uma demanda local, quan-
SEDIMENTAÇÃO ESTABILIZAÇÃO to o nível tecnológico a ser empregado
ESGOTO OU LF em sua produção (O’Keefe et al., 2015).
ESTABILIZAÇÃO DA MO Os efluentes domésticos possuem ele-
vados teores de matéria orgânica de- DESÁGUE/SECAGEM
TRATAMENTO COMPLEMENTAR mandando um processo de estabili-
zação, que visa diminuir o potencial Independente da presença ou não de
poluidor desse resíduo. Essa etapa do uma etapa anterior de adensamento,
tratamento é direcionada à redução da após a estabilização da matéria orgâni-
Figura 4: Etapas comumente parcela de matéria orgânica que é bio- ca o lodo processado ainda possui um
compreendidas no processo de
tratamento de lodos fecais degradável, sendo os indicadores utili- teor elevado de água. Para tornar mais
zados para a sua magnitude principal- viáveis e eficientes as etapas de trata-
mente os sólidos voláteis (SV) e a DBO. mento avançado, reuso ou descarte fi-
cebidos, sendo tais dados centrais na cais tem uma umidade média superior Quando abordamos essa etapa do pon- nal, é importante a previsão de etapas
operação da estação, assim como no le- a 96% e os esgotos de 99,9% (Bassan et to de vista dos lodos, a sua idade (tempo de deságue e secagem, que dissociam
vantamento do perfil do efluente rece- al., 2014; Sperling, 2014). Em muitos dos no qual o lodo ficou retido na solução linha sólida e líquida para processamen-
bido e, consequentemente, na melhora processos de tratamento, para elevar individual) é um fator determinante, já to e encaminhamento mais eficiente (no
contínua da gestão das estações e do a performance e viabilizar estruturas que lodos frescos demandam mais tra- caso dos sólidos inclusive, menor volu-
sistema como um todo. mais eficientes (especialmente no que tamento do que lodos mais antigos, que me para ser transportado).
se refere a dimensionamento) é conve- já se encontram parcialmente estabili- A água contida nos lodos se distribui
SEDIMENTAÇÃO/ADENSAMENTO niente prever uma etapa de sedimen- zados. A estabilização também garante em duas parcelas distintas, uma que
tação ou adensamento do conteúdo que carbono e nutrientes presentes nos podemos chamar de água ligada, que
Tanto os esgotos domésticos como o afluente antes ou conjuntamente com produtos finais possam ser utilizados é aquela no interstício das partículas
lodo fecal possuem uma fração líquida sistemas de estabilização A partir desta com maior segurança e que ocorra uma sólidas; essa água é dificilmente reti-
expressiva. As excretas humanas são etapa tem-se duas linhas distintas: a do menor formação de espuma no mane- rada dos lodos, sendo encontrada em
majoritariamente compostas por água, lodo adensado (com maior teor de só- jo do efluente, melhorando a etapa de maior quantidade nos lodos frescos. A
75% das fezes e 96% da urina (Rose et lidos) e uma líquida. A previsão e defi- separação sólido-líquido (Bassan et al., outra, denominada água livre, pode ser
al., 2015). Considerando ainda a água nição destes sistemas deve considerar 2014). Os processos de estabilização facilmente retirada, normalmente por
utilizada nas descargas e outros dispo- a caracterização do afluente (esgoto são determinantes também nas linhas processos físicos simplificados que não
sitivos de lavagem nos domicílios, tanto ou lodo fecal), nível de tratamento de subprodutos indiretos a serem pro- demandam energia ou adição de com-
o esgoto como lodo fecal coletado em pretendido, potenciais sistemas de duzidos, como biogás, fertilizantes e postos químicos; a água livre representa
soluções individuais, apresentam ele- tratamento (estabilização e remoção outros. Assim, uma análise voltada às a maior massa de água dos lodos, sen-
vados teores de diluição - os lodos fe- de poluentes) e condições locais para demandas locais por insumos torna-se do sua proporção ainda maior em lodos

52 53
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

antigos (Bassan et al., 2014; Semiyaga et ao LF, indicando que a origem dos resí- cas de sólidos e material orgânico muito pais soluções voltadas para a cons-
al., 2018; Septien et al., 2018). duos (unifamiliar, comercial, rural, etc) e distintos daqueles encontrados em es- tituição destes sistemas. A seguir são
A característica do lodo, especialmente o tipo de solução individual empregado gotos brutos; podem conter altos teores apresentadas algumas das principais
sua idade, é fundamental na determi- localmente, têm grandes influencia so- de óleos e gorduras, decorrente da prá- tecnologias com potencial de aplicação
nação do processo de separação sólido- bre sua qualidade. O autor destaca ain- tica de limpeza conjunta das soluções no país, em escala individual, comunitá-
-líquido a ser empregado. No caso dos da que a grande variabilidade dos resul- individuais e caixas de gordura; além ria, municipal e/ou regional. Uma tecno-
esgotos domésticos, os processos são tados encontrados faz com que não seja de altas concentrações de nitrogênio logia pode cumprir mais de uma função
aplicados ao lodo decorrente do tra- recomendado o uso de valores médios amoniacal. ETEs convencionais, em ge- no tratamento, no entanto, pensando
tamento biológico. Diversas são as so- na avaliação de lodos fecais. Bassan et ral, não são projetadas para aportar na estrutura do tratamento como apre-
luções para deságue, desde processos al., 2014, também salienta a importân- efluentes com essas características, sentado no início da seção, as mesmas
simples que se utilizam da força da gra- cia de caracterização dos lodos a serem podendo haver consequências severas serão agrupadas seguindo esse formato.
vidade, até tecnologias complexas que manejados, indicando esse processo na sua operação, como o aumento na
fazem uso de equipamentos industriais como essencial ao sucesso do sistema produção de escuma, entupimento de
ou da adição de produtos específicos, e à determinação das etapas e tecnolo- tubulações e até mesmo inibição dos
como polímeros. Dessa forma, a escolha gias adequadas de tratamento. processos biológicos essenciais (Andre-
da solução deve ser criteriosa e embasada Tonetti et al., 2018, abordando o tra- oli, 2009; Bassan et al., 2014; Chernicha-
no levantamento compreensivo das caracte- tamento de esgotos em comunidades ro et al., 2018). Assim, o co-tratamento
rísticas do lodo. A linha líquida de efluente isoladas, traz observações semelhan- de LF com esgotos em ETEs conven-
gerada nesse processo também deve re- tes, principalmente na determinação cionais, quando tomado como opção
ceber atenção, uma vez que essa ainda da intenção de reuso ou disposição dos tecnológica, deve contar com uma
pode conter elevados teores de matéria efluentes do tratamento, embora para operação bem planejada e estrutu-
orgânica, nutrientes, sais dissolvidos e esgotos valores médios sejam bem em- rada, como explorado adiante neste
patógenos (Bassan et al., 2014). basados na literatura. capítulo, de forma a garantir a pró-
Voltando a literatura sobre lodos, pria integridade operacional da ETE.
A determinação da solução adequada fica evidente a grande diferença entre Neste contexto, a introdução de
a cada uma dessas etapas, assim como esses e os esgotos domésticos (Andre- estações dedicadas ou com linhas ap-
o cumprimento ou exclusão da mesma, oli, 2009; Bassan et al., 2014). Esse fato tas ao tratamento de lodo focal cons-
depende da qualidade do esgoto ou é de extrema relevância uma vez que o tituiria um importante avanço em
lodo recebido e das intenções de reu- entendimento atual, inclusive preconi- direção à universalização do sane-
so ou disposição dos efluentes do tra- zado em norma, sobre a adequabilidade amento no Brasil. Ainda que já exis-
tamento. Andreoli, 2009, na publicação do lançamento dos lodos fecais na rede tam diversas iniciativas no mundo
do PROSAB, “Lodo de fossa e tanque convencional de coleta ou diretamente com estações dedicadas para o lodo
séptico: caracterização, tecnologias de em ETEs pode trazer adversidades às fecal, este conceito ainda é pouco ex-
tratamento, gerenciamento e destino estruturas e processo de tratamento. plorado no Brasil. Assim, este estudo
final”, aborda este aspectos em relação Os LF apresentam teores e característi- busca compilar algumas das princi-

54 55
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6.1 6.2

Pré-Tratamento Reator anaeróbio compartimentado


A Tampa de acesso para inspeção e coleta
A de lodo e escuma
B Tubulação de entrada, direcionando o
A Canal de admissão e aproximação
fluxo para o fundo
B Gradeamento
C Câmara de sedimentação
C Saída de areia e outros sólidos
D Acúmulo de lodo
sedimentares
D E Tanque impermeabilizado
Retenção superficial de óleos e graxas
F Acúmulo de escuma
E Tomada de efluente pré-tratado
G Barreiras internas
A H Câmaras de digestão
Recebe I Tubulação de saída, captando o efluente
• Esgoto doméstico abaixo da superfície
B
E • Lodo Recebe
D C • Esgoto doméstico
C Encaminha I • Lodo
• Esgoto ou lodo
H
G Encaminha
• Resíduos sólidos grosseiros • Efluente líquido
• Óleos e graxas F • Lodo estabilizado
B E
• Areia D • Biogás

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Remoção de sólidos grosseiros, óleos, graxas e gorduras, e areia. A velocidade de escoamento no canal de Remoção de sólidos e matéria orgânica. Trata-se de um sistema anaeróbio deve possuir entre 3 a 6 câmaras, tempo de
gradeamento deve ser entre 0,3 e 1,0 m/s; as simples e robusto, amplamente utilizado no tratamento de lodos. Ao forçar detenção hidráulica entre 8 e 72 horas; a carga
grades podem ter espaçamento entre 1,5 e 4,0 o deslocamento em ascensão e exposição do fluxo ao lodo ativo entre as orgânica deve ser limitada a 6 kg-DBO/m³/dia;
cm. A remoção de óleos, gorduras e graxas, câmaras, repetidamente, o desempenho de remoção da matéria orgânica e a velocidade de fluxo ascendente na câmara de
Potenciais e Aplicabilidade assim como de areia, irá depender da avaliação a retenção de sólidos é potencializado. sedimentação abaixo de 0,6m/h e variando entre
Além de apresentar baixos custos de implementação e operação, essa etapa da caracterização do lofo fecal recebido. 0,9 e 1,2 m/h nas demais. É crucial a previsão de
promove um aumento da vida útil da ETL, evita danos a outros equipamentos, mecanismos para exaustão dos gases produzidos.
como entupimentos de tubulações e assoreamento de reatores, e melhora
a tratabilidade do lodo pela remoção de materiais inertes ou de difícil Eficiência
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
decomposição. Aplicável a toda estação de traramento de lodo. -
Pode tratar esgotos domésticos e lodos fecais, desde que respeitadas Pode alcançar remoção de matéria orgânica
as cargas orgânicas apropriadas. Seus principais potenciais são a acima de 90%, além de uma boa retenção de
simplicidade operacional, elevada eficiência na remoção de sólidos e sólidos suspensos.
Variações Fatores Determinantes matéria orgânica e robustez com relação ao afluente recebido.
As etapas de pré-tratamento e a configuração do processo podem Caracterização do material aportado na
variar consideravelmente, bem como as estruturas do sistema e forma estação; configuração e dimensionamento do Variações Fatores Determinantes
de operação e manutenção. Em termos de arranjo, há sistemas que sistema de tratamento. A principal variação desse mecanismo está na quantidade de câmaras Caracterização do afluente aportado; configuração
contemplam apenas gradeamento e outras que incluem também de digestão em sequência, variando entre 3 e 6. Um maior o número das etapas seguintes de processamento do lodo;
remoção de óleos, graxas, gorduras e sedimentos. O gradeamento é de câmaras, pode propiciar maior eficiência de tratamento. Sistemas de taxa de aporte de lodo na estação; condições
uma etapa essencial e que deve ser prevista na entrada de toda ETL. A maior porte podem prever um processo de sedimentação separado do climáticas; disponibilidade de operadores para a
inclusão da remoção de sedimentos e gorduras que traz melhorias na corpo principal do reator. Pode ser construído em alvenaria comum, ou supervisão e remoção periódica de lodo e escuma.
operação da estação e aumento da sua vida útil. utilizando outras técnicas construtivas (como tanques pré-fabricados),
desde que seja mantida a separação entre câmaras. As proporções
geométricas do reator e o material aplicado também podem variar, desde
Operação e Manutenção Referências que respeitando uma velocidade de ascensão máxima nas câmaras.
A operação desses mecanismos consiste na coleta dos resíduos ABNT, 1992; Bassan et al., 2014; Tilley et al.,
depositados e seu encaminhamento junto dos resíduos sólidos. Caso 2014 Operação e Manutenção Referências
não haja manejo dos resíduos sólidos na localidade, esse material Sua operação é simples após o período de ativação biológica (3 a 6 meses), Gutterer et al., 2009; Tilley et al., 2014; Brasil.
deve ser aterrado. A manutenção dos dispositivos é simples e consiste consistindo na remoção mensal de materiais sólidos flotantes e de lodo Ministério da Saúde. Fundação Nacional de
na remoção periódica e destinação dos resíduos e limpeza dos a cada 6 meses; o processo de remoção de lodo deve deixar material Saúde., 2018
equipamentos de forma mecanizada ou manual suficiente para que o tratamento biológico seja mantido.

56 57
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6..4
6.3

Co-compostagem Filtro anaeróbio de fluxo ascendente


A Tampa de acesso para inspeção e coleta
A de lodo e escuma
B Tubulação de entrada, direcionando o
A Área coberta, dependendo do regime de
chuva fluxo para o fundo
B Laje impermeável com eventual sistema C Tanque impermeabilizado
de coleta de percolado D Acúmulo de lodo
C Pilha de compostagem do lodo E Meio suporte
desaguado, com ou sem resíduos F Tubulação de saída, captando o efluente
sólidos orgânicos abaixo da superfície
A
Recebe
• Lodo estabilizado e desaguado
B
• Conteúdo de fossa seca/ sistema de Recebe
container F • Esgoto doméstico
• Resíduos sólidos orgânicos • Lodo fecal
C Encaminha
E
Encaminha
• Efluente líquido
C • Composto • Lodo
B
D • Biogás (pouco)

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Tratamento (compostagem) conjunto de lodo estabilizado e Os principais critérios a serem considerados Comumente empregado após etapas de separação sólido líquido Altura do material de enchimento pode variar,
resíduos orgânicos. são uma relação carbono: nitrogênio entre 20- (reatores anaeróbios compartimentados, tanques Imhoff, biodigestores) considerando uma altura mínima de 1,20 m;
30:1, manutenção da umidade na leira entre esses sistemas propiciam maior remoção de sólidos suspensos e nível da calha vertedora e fundo falso com altura
40-60% e concentração de oxigênio na pilha matéria orgânica. mínima de 0,30 m. O volume útil médio do filtro
de compostagem entre 5-10%. Para pilhas é de 250 L/usuário (para seu detalhamento
Potenciais e Aplicabilidade estáticas, o diâmetro das partículas deve ser consultar a norma referenciada). Como referência
Com baixo custo de implementação e operação, essa solução produz um menos que 5 cm. O processo de compostagem também, recomenda-se um tempo de detenção
composto orgânico de elevada qualidade. A etapa termofílica da compostagem deve durar ao menos 3 meses e as leiras devem hidráulico de 12 a 36 horas.
tem o potencial de inativar microrganismos patogênicos. Aplicável em contextos ter cerca de 1 m de altura por 2 m de raio.
onde exista uma fonte segura de resíduos sólidos orgânicos e demanda pelo Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
composto produzido.
Pode tratar esgotos domésticos e lodos fecais, desde que respeitadas Apresenta eficiência de remoção de matéria
Eficiência as cargas orgânicas apropriadas. Seus principais potenciais são a orgânica moderado, entre 50 a 80%.
simplicidade operacional, elevada eficiência na remoção de sólidos e
Redução de 50% no volume e boa estabilização matéria orgânica e robustez com relação ao afluente recebido.
Variações de microrganismos patogênicos.
Este processo pode também ser feito sem co-compostagem, processando
apenas o lodo estabilizado, sem resíduos sólidos orgânicos. As condições Variações Fatores Determinantes
operacionais deste sistema podem variar bastante, no tempo de Operando em regime afogado esses sistemas normalmente apresentam Tipo de efluente entrando no sistema;
compostagem, proporção dos resíduos sólidos utilizados, temperatura fluxo ascendente. Suas principais variações são em relação ao número disponibilidade de área; perfil do solo e nível da
Fatores Determinantes
cultivada, forma de cobertura das pilhas, proteção ou não de chuva (em de câmara de filtragem, velocidade ascensional nas câmaras, o formato água subterrânea; disponibilidade para efetuar
localidades com elevada precipitação o local de compostagem deve ser Área disponibilidade e fonte de resíduos
do sistema (cilíndrico ou prismático), materiais de construção do reator, seguramente ou contratar serviço para o manejo
coberto), entre outros aspectos. sólidos orgânicos; área para implementação
e, o material de preenchimento do filtro - comumente de brita ou seixo, do lodo retido.
do sistema; unidade de tratamento para o
há relatos de sistemas preenchidos com bambu e cascas de coco
lixiviado; e condições climáticas locais.
operando a mais de 10 anos.

Operação e Manutenção
Durante o processo de compostagem a umidade e oxigenação das leiras Operação e Manutenção Referências
Referências
deve ser garantidas. Para a oxigenação podem ser usados mecanismos De forma geral o sistema demanda pouca manutenção. No entanto, ABNT, 1997; Tilley et al., 2014; Brasil. Ministério
Koanda, Koné e Strauss, 2006; Bassan et al.,
de ventilação passiva, como tubos de ventilação, ou ativa com sopradores havendo colmatação do meio filtrante, sua remoção e limpeza envolve da Saúde. Fundação Nacional de Saúde., 2018;
2014; Tilley et al., 2014
ou aspiradores; o revolvimento periódico da pilha pode garantir os níveis a substituição do meio filtrante ou a desativação do sistema para Tonetti et al., 2018
de oxigênio e distribuir melhor o composto ao longo de todo o processo. retrolavagem com fluxo com pressão).

58 59
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6.5 6.6

Vermicompostagem Mosca Soldado


A
B A Galpão coberto A
B Sistema de distribuição/ aplicação do B
lodo
C Tanque impermeabilizado A Galpão para criação das larvas,
D Drenagem de percolado quando do armazenamento de materiais, etc.
sistema tipo vermifiltro B Tela para contenção das moscas
E Meio filtrante C Larvas responsáveis pelo tratamento
F Meio suporte e vermes dos lodos e resíduos sólidos orgânicos
D Leito de tratamento impermeável
Recebe
• Lodo Recebe
• Resíduos sólidos orgânicos • Lodo
• Resíduos sólidos orgânicos
Encaminha D
• Composto (húmus) Encaminha
F C
• Efluente líquido (vermifiltro) • Composto (húmus)
E
D • Proteina animal
C

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Sistema aeróbio com boa capacidade de estabilização da matéria O tempo de vermicompostagem é de 60 dias, Estabilização e degradação do lodo fecal e produção de proteína. Particulas devem ter menos de 1-2 cm de
orgânica e retenção de sólidos. com humidade virando entre 35 e 40%. Uma diâmetro; a umidade deve ser ajustada para
relação ótima carbono:nitrogênio de 25:1 deve 70 - 80% (adição de resíduo sólido orgânico ou
ser buscada, um traço indicado para essa é a água); aproximadamente 10.000 larvas para
mistura 3:1 resíduos-orgânicos:lodo-fecal. Para 15 kg de resíduos; tratamento dura 12 dias;
Potenciais e Aplicabilidade
dimensionamento de sistemas a receberem lodos uma unidade tratando 2 Ton/dia de resíduos
Com baixos custos de implementação e operação, esses sistemas robustos mais úmidos buscar vermifiltragem nas referências. Potenciais e Aplicabilidade demanda 424 m².
alcançam uma boa estabilização da matéria orgânica, além de reduzir Aproximadamente 5 kg de minhocas por m². Com custos de implementação e operação relativamente baixos, essa
consideravelmente o volume do lodo. Em relação aos sistemas de co-compostagem,
solução alcança uma boa redução de volume no tratamento de lodos
a vermicompostagem tem a vantagem de operar 4 a 5 vezes mais rápido.
fecais, além de gerar composto orgânico e material proteico como
produtos do tratamento. Assim, além de alcançar a reciclagem de Eficiência
Eficiência nutrientes, há a possibilidade de comercialização de proteína. redução volumétrica de 75%; matéria
Redução volumétrica de 90%; o material orgânica e nutrientes são incorporados ao
Variações composto ou a massa protéica.
orgânico e nutrientes são incorporados ao
A vermicompostagem pode ser projetada em diferentes tipos de reator, pré- composto.
fabricados ou construídos no local (com alvenaria, tanques de fibra de vidro
ou plásticos). A geometria do sistema (largura, comprimento e altura) pode
variar também, sendo que os mecanismos de distribuição do afluente no
Variações Fatores Determinantes
leito devem ser proporcionais a estas condições. Além disso, há sistemas que
Fatores Determinantes Métodos construtivos dos módulos de processamento do lodo, incluindo a Área disponível para implementação; fonte
dispensam o dreno de coleta do efluente no fundo da estrutura, quando o
lodo recebido apresenta condições mais secas. Área disponível para implementação do base de atividade das larvas, as telas de retenção das moscas e a cobertura acessível de resíduos sólidos orgânicos para
sistema; unidade de tratamento para o lixiviado; do sistema. Para aproveitamento da proteína das larvas, podem ser necessárias ajuste de umidade; demanda local pelos
e condições climáticas locais; disponibilidade de etapas adicionais de tratamento para inativação de microrganismos patogênicos. produtos gerados.
resíduos orgânicos de baixa umidade e elevado
Operação e Manutenção teor de carbono.
Uma inspeção das cargas orgânicas antes de sua aplicação nas
vermicomposteiras é importante para garantir a ausência de materiais
sólidos, como plásticos, além disso, a manutenção de uma correta relação
Referências Operação e Manutenção Referências
carbono:nitrogênio e níveis adequados de oxigenação do sistema são
essenciais a uma boa operação. A manutenção é simples e focada na boa Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014; Cofie et Operação e manutenção complexas, demandam treinamento cuidadoso Lalander et al., 2013; Bassan et al., 2014;
operação das estruturas de aeração e drenagem de efluentes, caso existentes. al., 2016 da equipe. Consultar as referências para mais detalhes, especialmente Dortmans et al., 2017
O composto processado deve ser removido periodicamente. Dortmans, 2017.

60 61
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6.8
6.7

Leito de Secagem Leito de secagem plantado


A A Plantas
B Sistema de recebimento e aplicação do
lodo
A Tubulação de entrada C Tanque impermeabilizado
B Leito impermeável D Leito filtrante
C Camada de lodo E Camada de lodo acumulado e
D Camadas filtrantes estabilizado
E Tubulação de coleta e saída do F Camada de lodo aplicada
percolado G Tubulação de drenagem, saída e sistema
para inspeção
G
Recebe Recebe
E • Lodo úmido • Lodo
F
D Encaminha Encaminha
E
C
• Lodo seco ou desaguado D • Lodo seco ou desaguado
B • Efluente líquido a ser tratado • Efluente líquido
A C • Biomassa das plantas
B
Função Dimensionamento Função Dimensionamento
Secagem, retenção de sólidos e redução volumétrica. Taxa de aplicação 100-200 kg TS/m2/ano (0,08 Secagem, retenção de sólidos, estabilização da matéria orgânica e Taxas de aplicação de 100 a 200 Kg TS/ano. As
m²/hab); relação de aplicação lodo-fresco:lodo- redução volumétrica. aplicações devem ser feitas a intervalos de 3-7
estabilizado de 1:2; altura da camada de lodo por dias e em camadas de 7-10 cm. As plantas devem
aplicação 30cm. ser de crescimento rápido e se adaptarem a
meios húmidos e com elevada salinidade.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


São sistemas robustos com longa vida útil e não demandam energia. 97% de retenção de sólidos suspensos; até Com custos baixos, esses sistemas são robustos e tem uma longa vida útil. Retenção de 99% dos sólidos suspensos; 70
Apresentam ótimo desempenho no deságue dos lodos, especialmente 90% de redução na demanda química de Apresentam melhor tratamento do lodo do que os leitos de secagem e se a 90% de redução na demanda química de
em climas quentes e secos. Apresenta baixos custos de implementação, oxigênio; 90% de redução volumétrica. adaptam melhor em climas húmidos. Além de não consumirem energia em oxigênio; remoção de 99% de NTK (nitrogênio
operação e manutenção. sua operação, esses sistemas produzem composto (60% teor de umidade) e total Kjeldahl) e de 97% do fosfato; além de
biomassa, que pode ser utilizada como forragem. Em relação aos leitos não 100% de retenção de ovos de helmintos.
plantados, estes sistemas permitem maiores intervalos entre remoção do lodo.

Variações Fatores Determinantes


Uma variação desse sistema é a secagem térmica solar, que se constituí de Área disponível para implementação; proximidade
Variações Fatores Determinantes
um leito de secagem coberto por uma estufa com ventilação controlada, esse de domicílios; condições climáticas; disponibilidade A impermeabilização pode ser feita por meio de mantas geotêxteis ou Área disponível para implementação; proximidade
sistema é adequado a regiões com alto índice pluviométricos. para sistema de tratamento do efluente líquido alvenaria. As espécies utilizadas também podem variar, de acordo com de domicílios; condições climáticas; disponibilidade
drenado. disponibilidade, condições e interesses locais (taboa, diferentes tipos de para sistema de tratamento do efluente líquido
capim, bananeira, bambu etc.). drenado; disponibilidade e interesses para
destinação da biomassa cultivada.

Operação e Manutenção Referências


Consiste na aplicação de taxas adequadas de lodo nos leitos, eventual controle ABNT, 1992; Bassan et al., 2014; Tilley et al., Operação e Manutenção Referências
de roedores e vetores. O lodo pode ser removido do leito após 10 – 15 dias, 2014 Requer treinamento cuidadoso dos operadores. O lodo deve ser espalhado Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014
dependendo das condições climáticas. A camada superficial dos leitos deve de forma uniforme pelos leitos e somente quando as plantas tiverem atingido
ser refeita após remoção do lodo. o estágio adequado; e a biomassa deve ser podada ou colhida a intervalos
regulares. A remoção do lodo é feita a intervalos de 3 a 5 anos, quando a
cama superficial do leito deve ser reconstituída.

62 63
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6.9 6.10

Tanque de sedimentação Tanque Imhoff

A Acúmulo de escuma
B Tanque impermeabilizado
C Acúmulo de lodo
A Tubulação de entrada, direcionando o D Barreira interna para separação trifásica
fluxo para o fundo A E Efluente líquido
B Tanque impermeabilizado F Saída de lodo
C Tubulação de saída do lodo
D Tubulação de saída do efluente líquido Recebe
• Esgoto doméstico
A Recebe • Lodo
• Lodo
B Encaminha
B
Encaminha • Lodo adensado
• Lodo adensado F • Efluente líquido
D • Efluente líquido E • Biogás
D
C C

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Essa etapa primária de tratamento visa a remoção de partículas Para a sedimentação, um tempo de detenção Remoção de sólidos suspensos e estabilização parcial da matéria orgânica, Tem tempo de detenção hidráulica variando
sedimentáveis e flutuantes do efluente após o pré-tratamento, sendo hidráulica entre 1,5 e 2,5 horas em vazão de pico. além de ser utilizado em muitos casos para adensamento do lodo. entre 2 a 4 horas e o lodo é acumulado entre 4
utilizado em muitos casos para adensamento do lodo antes de etapas e 12 meses. Profundidade total entre 7,5 e 9m.
de estabilização de matéria orgânica mais intensivas. A inclinação do fundo do compartimento de
sedimentação deve ser de 1,25-1,75:1; e a do
funda da câmara de digestão de lodo de 45°.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


Solução simples e robusta, com custos de implementação e operação baixos, Remoção de 50 a 70% dos sólidos suspensos Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
que apresentar boa remoção de sólidos suspensos e separação do excesso de e redução de 20 a 40% na demanda biológica Baseado em processo anaeróbio, a solução produz relativamente pouco Redução dos sólidos suspensos de 50 a 70% e de
água do lodo. Comumente empregado no adensamento do lodo, propiciando de oxigênio (DBO). lodo. Trata-se de uma tecnologia robusta e que demanda pouca área demanda química de oxigênio de 25 a 50%.
a separação do afluente em duas linhas efluentes: linha do lodo e linha líquida. para sua implementação.
Cada uma dessas linhas então é encaminhada para tratamento específico.

Variações Fatores Determinantes


Variações Fatores Determinantes A configuração dos tanques varia entre sistemas circulares ou retangulares, Caracterização do afluente aportado; configuração
O mecanismo de coleta de lodo sedimentado e escuma flutuante podem Caracterização do afluente aportado; sempre com fundo inclinado. Podem ser construídos com alvenaria no local, das etapas seguintes de processamento do lodo;
ser manuais, mecanizados ou operar por gravidade, sendo essas as configuração das etapas seguintes de mas existem também sistemas pré-fabricados de fibra de vidro e plástico. taxa de aporte de lodo na estação; disponibilidade
principais variações desse dispositivo. Uma variação expressiva desse processamento do lodo; taxa de aporte de lodo de operadores para a supervisão e remoção
sistema são os tanques de espessamento, que buscam um adensamento na estação; disponibilidade de operadores para periódica de lodo e escuma.
do lodo por processo gravitacional. a supervisão e remoção periódica de lodo e
escuma.
Operação e Manutenção Referências
Desobstrução dos canais de escoamento, remoção de escuma e ventilação Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014
dos gases devem ser feitos sempre que necessários. De forma mais esparsa
Operação e Manutenção Referências é importante remover acúmulos nas paredes do tanque de sedimentação, a
Esses sistemas demandam a remoção periódica do lodo e escuma Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014 cada 2 meses; e fazer a retirada de lodo da câmara de digestão, seguindo os
acumulados e seu encaminhamento para tratamento e/ ou disposição intervalos de design (ou sempre que a manta de lodo ficar a menos de 50 cm
adequados. da abertura do compartimento de sedimentação.

64 65
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6.11 6.12

Desague mecânico Secagem térmica e peletização


A
B
C A Tampas de acesso para inspeção e
coleta de lodo e escuma
B Sistema de secagem térmica
C Entrada do lodo
A Saída de lodo desaguado D Saída de gases e vapores
B Saída do efluente líquido E Captação do efluente líquido
C Entrada do lodo F Saída do lodo desidratado
Recebe
Recebe • Lodo
• Lodo estabilizado
C
Encaminha
B Encaminha • Lodo desidratado
• Lodo desaguado • Efluente líquido
F
• Efluente líquido • Gases e vapores
E
A D

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Remoção de água livre do lodo de forma rápida e compacta. É feito de acordo com as características do lodo, Secagem do lodo e remoção de patógenos; pode também peletizar o Específico para o volume e qualidade do lodo.
objetivo de deságue e mecanismo mecânico produto final. O sistema LaDePa, por exemplo, processa
escolhido. 1.000 kg/hora.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


Muito compacta e robusta, essa solução alcança uma elevada redução de volume Variável de acordo com a tecnologia, mas pode
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência e da carga patogênica. o lodo a ser tratado deve ter umidade 45 e 90%; lodo de entregar lodos com umidade variando entre 10
Processos mecânicos demandam equipamentos especializados e demanda Varia de acordo com o projeto e sistema aplicado. sistemas secos pode ser adicionado a lodos de fossas sépticas para alcançar esses e 20%.
energia para operar, mas são extremamente rápidos e compactos. valores (a literatura reporta um traço de 1:2, lodo-seco:lodo-fresco). O produto final
apresenta praticidade para aproveitamento energético e possui um aspecto de fácil
aceitação para os usuários. Aplicável em contextos onde há limitações severas na
área disponível para implementação do tratamento dos lodos por sistemas naturais.

Variações Fatores Determinantes


Os principais processos mecânicos de deságue de lodo são a centrífuga, Taxa de recebimento de lodo; disponibilidade Variações Fatores Determinantes
o filtro-prensa e a prensa parafuso. de área; disponibilidade de mão de obra Este sistema pode possuir diferentes configurações mecânicas, sendo Taxa de recebimento de lodo; disponibilidade
especializada. que uma variação em destaque é o processo LaDePa. Este sistema de área; disponibilidade de mão de obra
pode ou não incluir a peletização como beneficiamento do subproduto, especializada; interesse por aproveitamento dos
encaminhando o material resultante para disposição final ou reuso como subprodutos do sistema de tratamento.
condicionante de solo.

Operação e Manutenção Referências


Operação e Manutenção Referências
Sistemas mecânicos demandam mão de obra especializada e treinada para ABNT, 1992; Bassan et al., 2014
operação e manutenção dos equipamentos utilizados. Envolve maquinário específico que demanda mão-de-obra especializada Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014; S. Septien
para operação e manutenção. O consumo de energia pelo processo é um et al., 2018
fator central a ser considerado. A disponibilidade de peças para reposição
também deve ser planejada.

66 67
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6.13 6.14

Adição de Cal Biodigestor


A A Tomada de gás
B Câmara de recebimento
B C Tubulação de entrada
D Paredes impermeáveis
E Acúmulo de lodo
F Acúmulo de escuma
A Lodo G Câmara de compensação e saída do
efluente
B Cal
C Equipamento de proteção para manejo
Recebe
do cal
• Esgoto doméstico
Recebe • Lodo
• Lodo úmido ou desaguado • Resíduos sólidos orgânicos
• Composto G •
Encaminha
F • Efluente tratado
Encaminha
C • Biogás
• Lodo esterilizado E
B • Lodo e escuma
D
A
C
Função Dimensionamento Função Dimensionamento
Tratamento químico do lodo alcançando bons resultados na inativação de Na inativação de patógenos a aplicação é Esses sistemas promovem a remoção de matéria orgânica por meio Tempos de detenção típicos são 15 dias em clima
patógenos e podendo ser usado como mecanismo de secagem química. feita de maneira a alcançar e manter, por no da digestão anaeróbia e propicia o acúmulo do biogás produzido para quente; 25 dias em clima temperado; e 60 dias
mínimo 2 horas, o pH de 12; nesse caso a dose aproveitamento energético. O efluente líquido, sai do sistema em fluxo devem ser considerados em sistemas recebendo
recomendada é de 10 a 17% em massa. Para a contínuo e pode ser encaminhado para fertirrigação, mas pode demandar efluente com elevados teores de patógenos.
secagem térmica, a adição de 100% em massa ainda tratamento complementar antes do lançamento ou uso. O lodo e a Maiores detalhes construtivos devem ser buscados
reduz a umidade de 80 para 5%. escuma retidos no sistema devem ser removidos periodicamente. nas referências.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


A cal é um método consolidado de inativação de patógenos. Material Elevada na inativação de patógenos. Redução de Dentro outros sistemas anaeróbios, seu maior potencial é relacionado Remoção de matéria orgânica entre 50% e 80%
normalmente disponível localmente, pode também ser usada no processo de 75% da umidade na dose indicada. produção do biogás (quanto à performance de tratamento, não apresenta e de sólidos comumente abaixo de 40%. Seu
secagem química do lodo e o uso de lodo seco com cal na produção de cimento, um diferencial - podendo inclusive ter menor eficiência do que sistemas como efluente demanda tratamento complementar
em substituição a própria cal, reduz em até 40% a emissão de NOx dos fornos, fossas compartimentadas). O biogás, pode ser utilizado cocção até produção de antes do lançamento.
devido a presença de amônia no lodo. eletricidade dependendo da escala do sistema. Esta solução pode receber esgotos
domésticos, lodos e outros resíduos orgânicos (de preferência já triturados ou em
pequenas dimensões), no entanto pode ser pouco recomendável se for específico
Variações Fatores Determinantes
para efluentes muito diluídos (como apenas águas cinzas).
Comercializada virgem ou hidratada a aplicação da cal pode ser feita de Taxa de recebimento de lodo; disponibilidade de
forma manual ou mecanizada e na etapa final ou inicial do tratamento, de área para estocar a cal; disponibilidade de mão Variações Fatores Determinantes
acordo com o projeto. O uso na etapa inicial deve ser ponderado, uma de obra treinada e equipamentos de proteção As principais variações dos biodigestores estão associadas ao sistema de Taxa de recebimento de lodo ou esgoto;
vez que a elevação do pH pode impactar nos processos biológicos de individual; interesse por aproveitamento dos regulação da pressão interna, sendo domo flutuante (modelo indiano); disponibilidade de área; disponibilidade de
estabilização da matéria orgânica. subprodutos do sistema de tratamento. domo fixo com câmara de compensação (modelo chinês, ou sistema mão de obra especializada; interesse por
autônomo de armazenamento do gás); e domo tipo balão. Pode ser aproveitamento dos subprodutos do sistema
Operação e Manutenção Referências implementado no local com alvenaria ou peças pré-moldadas. Há também de tratamento.
Por se tratar de um produto químico corrosivo a pele é fundamental o Taruya, Okuno e Kanaya, 2002; CONAMA, diferentes opções de produtos pré-fabricados.
treinamento da equipe e uso de equipamento de proteção. O manuseio e 2006b; Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014
aplicação do material deve ser feita com o uso de equipamentos de proteção Operação e Manutenção Referências
individual e ferramentas que minimizem o contato do operador com a Cal. A operação desses sistemas é delicada e deve considerar uma rotina FAO, 1996; Tilley et al., 2014; Vögeli et al., 2014
Demanda inspeção e reposição periódica dos equipamentos pode ser de inspeção diária, principalmente a integridade das tubulações de
necessária, devido ao elevado pH das soluções concentradas de cal, que gás, a funcionalidade dos dispositivos de regulagem da pressão interna
pode desgastar ferramentas, materiais e tubulações, demandando inspeção e o estado das câmaras de recebimento e saída. A remoção de lodo
periódica e manutenção sempre que necessária, das mesmas. Requer local e limpeza depende do regime de alimentação, sendo normalmente
adequado e seguro para estocagem do insumo. projetada para cada 5 a 10 anos.

68 69
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | TRATAMENTO

6.16

Zona de raízes
A Leito plantado
B Tubulação de entrada com dispositivo de
inspeção
C Paredes impermeabilizadas
D Meio suporte da vegetação
E Meio filtrante de baixa granulometria
F Meio filtrante de alta granulometria
A
G Tubulação de saída com dispositivo de inspeção
H Dispositivo de controle do nível interno da água
Recebe
• Esgoto doméstico após tratamento
H primário
G • Lodo pré-tratado
• Parte líquida drenada dos sistemas de
F adensamento e desidratação
E
D Encaminha
• Efluente tratado
C • Biomassa vegetal
• Lodo estabilizado (no caso do
B
tratamento de lodo)
Função Dimensionamento
Utilizado no pós-tratamento de esgotos domésticos, no tratamento do Comumente apresenta áreas de 1,5 a 3 m²/usuário.
lodo ou da parte líquida drenada dos sistemas de adensamento, deságue O dimensionamento do volume deve considerar
e desidratação do lodo. São sistemas eficientes na remoção de sólidos o volume útil (livre dos meios de preenchimento),
suspensos, matéria orgânica e com capacidade de remoção moderada de e não o total do sistema. Recomenda-se a leitura
nitrogênio e fósforo. Tem como saídas o efluente tratado que pode ser das referências para maiores detalhes construtivos
reutilizado ou disposto e biomassa vegetal desenvolvida no sistema. sobre a composição das camadas e confiiguração
das tubulações, de acordo com o tipo de elfuente
a ser aportado.

Potenciais e Aplicabilidade Eficiência


Aplicável a todas as escalas, desde que se disponha de área suficiente. Trata-se Remoção global de matéria orgânica e sólidos
de uma solução robusta, que recebe bem flutuações na qualidade dos efluentes suspensos superior a 80%; remoção de nitrogênio
recebidos. Requer projeto especializado, execução qualificada e manutenção inferior a 50% e de fósforo menor que 20%.
periódica da cobertura vegetada

Variações Fatores Determinantes


Esses sistemas apresentam grandes variações construtivas, sendo os principais disponibilidade de área; condições climáticas
tipos o de fluxo subsuperficial horizontal, fluxo subsuperficial vertical e o sistema locais; tipo de efluente a ser aportado;
de fluxo superficial, onde a água está exposta a atmosfera. Pode possuir disponibilidade de etapa preliminar para
diferentes geometrias, mas o comprimento e largura devem ser adequados remoção de óleos, gorduras e sólidos grosseiros;
ao tipo de sistema e forma de distribuição do afluente. Deve ter paredes e disponibilidade para rotina de supervisão, podas
fundo impermeabilizados, que podem ser feitos com alvenaria, ferro cimento e reposição vegetal.
ou mantas geotêxteis (como camada dupla de lona 200 micra). As espécies
vegetais aplicadas também variam expressivamente, devendo ser adaptadas às
condições e disponibilidade local, tendo como exemplo taboa, papiro, lírio, capim
tifton, bananeiras.) Os sistemas podem ser feitos para operar em fluxo contínuo
ou batelada (como o modelo francês).

Operação e Manutenção Referências


De forma geral esses sistemas apresentam pouca demanda de manutenção, Tilley et al., 2014; Sperling e Sezerino, 2018
sendo comum sistemas com mais de 20 anos de operação contínua. Sua
cobertura vegetal, no entanto, demanda manutenção periódica de poda.

70 71
A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | DISPOSIÇÃO FINAL E REUSO

7. Ao longo das diferentes etapas de pro- que um benefício econômico, mas uma
cessamento do lodo, diferentes subpro- melhora significativa no desempenho
dutos são obtidos, seja sólido, líquido ambiental e na sustentabilidade dos
ou gasoso. Estes efluentes apresentam processos de tratamento de esgotos
um grande potencial de uso, na geração domésticos. Os sistemas baseados no
de energia, irrigação, condicionamen- MLF tem se estruturado amplamente
to e fertilização do solo. No entanto, sobre esse conceito, sendo sua flexibi-
se dispostos de forma inadequada ou lidade e adaptabilidade às realidades
utilizados de maneira incorreta, espe- locais uma vantagem (Moya, Sakraba-
cialmente dependendo do nível de tra- ni e Parker, 2019). Podem ser destaca-
tamento ao qual foram submetidos, os dos da literatura o uso dos biossólidos
mesmos podem causar impacto signi- como composto ou condicionante de
ficativo ao meio ambiente e à saúde solo (Cofie e Drechsel, 2005; Bassan
pública. Dessa forma, é fundamental o et al., 2014); a produção de proteína
planejamento e monitoramento da dis- (Lalander et al., 2013; Dortmans et al.,
posição final e/ ou do reuso dos produ- 2017); o biogás proveniente de proces-
tos gerados no processo de tratamento sos anaeróbios (Jordão e Pêssoa, 2011;
de esgotos e lodos. Complementando Dangol e Rajbhandari, 2017); além do
o diagrama do capítulo anterior, Figura reuso planejado da água tratada, es-
5, podemos representar as principais li- pecialmente em regiões com escassez
nhas de efluente/ sub-produtos decor- hídrica (Andreoli, 2009; Bassan et al.,
rentes do tratamento dos lodos fecais e 2014; Tilley et al., 2014). Ainda, o reu-
esgotos domésticos, sendo elas: sólidos so do lodo e efluentes líquidos tratados
grosseiros; fração líquida; gases decor- como fertilizante possui um elevado
rentes dos processos de estabilização potencial, diante da quantidade de ma-
da MO; e o biossólido (lodo estabilizado cronutrientes presentes nas excretas
e eventualmente adequado para uma humanas. A Tabela 3, correlaciona a ofer-
demanda específica). ta destes componentes com a demanda

DISPOSIÇÃO FINAL Diversas são as possibilidades de


uso dos efluentes finais de sistemas de
dos mesmos no cultivo de cereais.
Essa seção se dedica a algumas pos-

E REUSO esgotamento sanitário. Como aborda-


do no conceito de economia circular,
síveis formas de reuso ou disposição
final dos diferentes efluentes decorren-
a reincorporação desses produtos na tes dos processos de tratamento de es-
cadeia produtiva, traz muito mais do gotos domésticos e dos lodos fecais.

72 73
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | DISPOSIÇÃO FINAL E REUSO

DEMANDA PARA O CULTIVO


NUTRIENTE URINA1 FEZES2 TOTAL %
TRATAMENTO PRELIMINAR SÓLIDOS GROSSEIROS DE 250KG DE GRÃOS*

NITROGÊNIO (N) 4,0 0,5 4,5 5,6 80


SEDIMENTAÇÃO EFLUENTES LÍQUIDOS
ESGOTO OU LF FÓSFORO (P) 0,4 0,2 0,6 0,7 86
ESTABILIZAÇÃO DA MO GASES OUTROS
POTÁSSIO (K) 0,9 0,3 1,2 1,2 100

TRATAMENTO COMPLEMENTAR BIOSÓLIDO (LODO) TOTAL (N-P-K) 5,3 1,0 6,3 7,5 84

1
50L/CAPITA.ANO; 2500L/CAPITA.ANO; *DRANGERT,1998, APUD BASSAN ET AL., 2014

Figura 5: Linhas de efluente Tabela 3: Nutrientes disponíveis


provenientes das diferentes etapas nas excretas humanas e
de tratamento dos lodos fecais demanda nutricional para a
produção de 250kg de grãos

RESÍDUOS SÓLIDOS
do qual derivam, e suas propriedades joritariamente por água. Durante o pro- de., 2018; Tonetti et al., 2018). Esse do-
o tornam, de forma geral, um produto cesso de tratamento dos mesmos, após cumento apresenta nessa seção algu-
Os resíduos sólidos gerados do proces- com grande potencial para inserção no a separação da fração sólida, o lodo do mas soluções para lidar com o reuso ou
so de tratamento de esgotos domésti- mercado agrícola. Tratamento alterna- tratamento, há uma linha de efluen- a destinação final dos efluentes líquidos
cos e do MLF podem ser divididos em tivos, como a vermicompostagem ou o te líquido; essa, inclusive, representa a derivados do tratamento de esgotos sa-
duas categorias amplas, os sólidos gros- processamento de lodo pela mosca sol- maior massa saindo de qualquer siste- nitário e do lodo fecal.
seiros e sedimentáveis e os lodos em si. dado, produzem ainda outros subpro- ma de tratamento. Essa água, já trata-
Os primeiros, derivam da etapa de pré- dutos sólidos, como húmus e proteína da, pode ser reutilizada ou deve receber EFLUENTES GASOSOS
-tratamento e representam uma peque- (Andreoli, Sperling e Fernandes, 2007; uma encaminhamento ambientalmente
na parcela dos sólidos totais oriundos Bassan et al., 2014; Tonetti et al., 2018). A adequado, como a disposição em cor- Uma das principais linhas de sub-pro-
do tratamento como um todo; no en- seguir são apresentadas algumas solu- pos superficiais ou a infiltração no solo, dutos do tratamento do esgoto ou lodo
tanto, dada sua natureza, bastante he- ções consolidadas, ou de grande poten- para recarga de aquíferos. A forma de se fecal é aquela composta pelos gases de-
terogênea e seu difícil tratamento, têm cial, para o aproveitamento dos biossó- proceder com esses efluentes deve ser correntes do metabolismo dos micror-
como destino mais comum o aterro sa- lidos ou para sua disposição adequada. estudada criteriosamente, consideran- ganismos envolvidos nesse tratamento.
nitário. Os lodos, também chamados de do sempre sua qualidade, os padrões Em especial, soluções de tratamento
biossólidos, representam a maior parte EFLUENTES LÍQUIDOS estipulados pela legislação ambiental que se beneficiam de processos anaeró-
dos sólidos que deixam os sistemas de pertinente e de acordo com as caracte- bios de estabilização da matéria orgâ-
tratamento; apresentam característi- Como já abordado anteriormente, os rísticas ambientais locais (Bassan et al., nica, uma vez que esses transformam
cas mais homogênea, embora variada esgotos domésticos e os lodos fecais 2014; Tilley et al., 2014; Brasil. Ministério cerca de 75% do material orgânico bio-
de acordo com o tipo de tratamento (em grande parte) são compostos ma- da Saúde. Fundação Nacional de Saú- degradável em gás (Jordão and Pêssoa,

74 75
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | DISPOSIÇÃO FINAL E REUSO

7.1

Condicionamento de solos

A Aplicação do composto
QUANTIDADE FINAL A SER DEMANDA SUPRIDA DO
TIPO DE REUSO B Carreta para transporte
ENTREGUE USUÁRIO FINAL

recuperação do biogás a partir


>= 1,2 m³ biogás/dia >= 1200 m³ biogás/dia, ou
do LF em contexto doméstico Recebe
recuperação do biogás a partir • Lodo úmido ou desaguado
>= 1200 m³ biogás/dia, ou >= 1200 m³ biogás/dia, ou
do LF em comunidades densas • Composto

LF seco para combustível 3,7x10^5 MJ/dia de combustível >= 1200 m³ biogás/dia, ou B

* CLÍNQUER É O CIMENTO EM SUAS ETAPAS INICIAIS DE FABRICAÇÃO A

Quadro 2: Quantidade de combustível


requerida e demanda equivalente suprida em Função Dimensionamento
diferentes usos do LF
Tratamento químico do lodo alcançando bons resultados na inativação de A forma de aplicação e dosagem de lodo
patógenos e podendo ser usado como mecanismo de secagem química. dependem das características do mesmo e do
solo, e da cultura a ser implementada no local.

2011; Sperling, 2014). Esse gás, prove- outros resíduos orgânicos, ou de fezes
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
niente da decomposição anaeróbica da de animais, para que o sistema torne-se O composto derivado de lodos biológicos possuem um elevado teor de carbono A forma de aplicação e dosagem de lodo
matéria orgânica, também é chamado viável (Vögeli et al., 2014; Rao e Doshi, 2018). e outros nutrientes importantes, como nitrogênio e fósforo. Sua aplicação no solo dependem das características do mesmo e do
diminui a demanda por fertilizantes industrializados, melhora a sua aeração e solo, e da cultura a ser implementada no local.
biogás e é composto por metano, dió- aumenta a sua capacidade de receber e reter água e íons. Essa forma de reuso, além
xido de carbono e alguns outros gases de aumentar a produtividade agrícola, pode fortalecer a relação com os usuários
traço. O metano, além de ser um gás de e autoridades locais. Aplicável em contextos onde há proximidade das áreas de
aplicação, já que o transporte a grandes distâncias pode inviabilizas esse uso.
preocupação no agravamento do efeito
estufa, e que portanto demanda trata-
mento adequado, tem elevado poder Variações Fatores Determinantes
calorífico, o que permite seu reaprovei- O lodo pode ser utilizado diretamente como um composto ou aplicado Proximidade entre estação de tratamento;
em trincheiras profundas, nesse último caso estudos da aplicação de disponibilidade e custo dos meios de transporte;
tamento energético (Sperling 2014). As lodo bruto na silvicultura. áreas de aplicação; interesse e aceitação local para
possibilidades de aproveitamento do uso na agricultura.
biogás são bastante atrativas sempre,
tanto que sistemas de biodigestor fo-
Operação e Manutenção Referências
ram projetados justamente para fazer
O tratamento adequado do composto (lodo) é fundamental; nesse caso CONAMA, 2006b, 2006a; Bassan et al., 2014;
o melhor proveito possível dessa subs- o composto pode ser utilizado normalmente. O uso de equipamentos de Tilley et al., 2014; Tonetti et al., 2018
tância; no entanto deve sempre ser ava- proteção individual é importante.
liada de forma detalhada a capacidade
de produção de gás, sendo comum a
necessidade de co-processamento de

76 77
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | DISPOSIÇÃO FINAL E REUSO

7.2 7.3

Fertirrigação Círculo de bananeiras


A

A Tanque de transporte e armazenamento


B Tanque de equalização/distribuição A Local de disposição
C Aplicação em vala ou por sistema de B Caixa de distribuição
gotejamento C Vegetação com alta taxa de
evapotranspiração
Recebe
• Efluente líquido tratado Recebe
A • Esgoto tratado
• Águas cinzas

C
C

B
Função Dimensionamento Função Dimensionamento
Encaminhamento da fração líquida do lodo tratado. Desde que Varia de acordo com as características do efluente, Aplicação do efluente tratado no solo, propiciando irrigação e/ou Profundidade entre 0,5 e 0,8m e raio de
corretamente tratada e manejada a aplicação no solo, tanto na agricultura do solo e da cultura. Tubulações e valas devem ser infiltração da água. aproximadamente 1,4m, devem ser usadas
quanto no reflorestamento, traz importantes benefícios, com a irrigação, dimensionadas diante da capacidade hidráulica espécies que gostem de elevados níveis de
recuperação de nutrientes e a recarga de mananciais subterrâneos. necessária, atentando a velocidades mínimas e umidade em seu centro e/ou margens (eg:
máximas indicadas. O sistema de armazenamento bananeiras, taiobas etc ).
deve levar em conta a dinâmica de irrigação e
recebimento da água. Atenção especial deve ser
dada aos níveis salinos desse efluente. Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
De baixo custo para implementação e operação, esses sistemas simples -
Potenciais e Aplicabilidade Eficiência além de recarregar o aquífero local permitem o reuso da água pelas culturas
Redução da demanda hídrica pela atividade agrícola e da dependência de Varia de acordo com as características do efluente, que circundam. Por serem sistemas superficiais, conseguem operar em
fertilizantes químicos e/ ou minerais, além da recarga das águas subterrâneas. do solo e da cultura. terrenos com o nível subterrânea mais raso do que sumidouros, além de
Melhoria significativa na produtividade da cultura a um baixo custo. Aplicável em propiciar aproveitamento da biomassa cultivada.
contextos onde há proximidade das áreas de aplicação, já que o transporte a
grandes distâncias inviabiliza esse uso. Variações Fatores Determinantes
Uma variação desse sistema são os filtros de mulche, que possuem Disponibilidade de área; nível da água
Variações Fatores Determinantes dimensionamento e estrutura similar, no entanto são plantadas espécies subterrânea; permeabilidade do solo; nível de
Águas residuais podem ser aplicadas por escoamento superficial, em Proximidade entre estação de tratamento; frutíferas no centro do círculo. São estruturas de confecção simples e local, tratamento do efluente.
tubulações ou em valas; ou com fluxo subsuperficial, por meio de tubulações disponibilidade e custo dos meios de sendo preenchido com galhos secos e palha. Estes sistemas podem ser
ou veios com preenchimento vazado. Métodos que favorecem a dispersão transporte; áreas de aplicação; interesse e implementados em formato circular ou prismático. Em locais com solo
aérea ou o contato humano com a água devem ser evitados. O transporte aceitação local para uso na agricultura. muito arenoso é recomendada a aplicação de uma camada de argila nas
do efluente tratado aos locais de aplicação pode ser feito por meio de paredes e fundo do sistema.
tubulações (em casos mais específicos) ou caminhões pipa (mais comum).

Operação e Manutenção Referências Operação e Manutenção Referências


Cuidados operacionais devem ser tomados para a aplicação das doses corretas de Pescod, 1992; ABNT, 1997; CETESB, 1999; World Manutenção bastante simples, consiste basicamente na remoção e reposição Tilley et al., 2014; Pureza et al., 2015; Brasil.
efluentes tratados. Nos sistemas por gotejamento atenção deve ser dada pressão Health Organization, 2006; Drechsel et al., 2010; periódica do substrato e manutenção do nível dos materiais de preenchimento. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de
adequada e limpeza periódica das tubulações, de forma a evitar entupimentos. A Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014 Alimentos produzidos em contato com o substrato devem ser consumidos cozidos Saúde., 2018; Tonetti et al., 2018
manutenção desses sistemas consiste na checagem dos sistemas de distribuição, por pelo menos 3 minutos em água fervente.
como tanques, tubulações e eventuais sistemas de bombeamento. O uso de
equipamentos de proteção individual é importante.

78 79
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | DISPOSIÇÃO FINAL E REUSO

7.4 7.5

Vala de infiltração Aproveitamento energético

A Produção de biogás
A Caixa de distribuição
B Rede de biogás: canalização, purificação
B Valas posicionadas em nível
e armazenamento
Recebe
• Esgoto tratado Recebe
• Águas cinzas • Biogás

Encaminha
• Energia térmica
B • Energia elétrica
A
A B

Função Dimensionamento Função Dimensionamento


Disposição final das águas residuais, por meio de infiltração no solo. Área determinada de acordo com as Aproveitamento do biogás oriundo dos processos anaeróbios de A produção de biogás varia amplamente de
características do solo, consultar referências. tratamento de efluentes. acordo com o sistema implementado e qualidade
As valas têm largura variando de 0,3 a 1,0 m; do efluente tratado. Para ponderações de uso,
e profundidade entre 0,3 e 1,5 m. Devem ser considerar o consumo de biogás como sendo de
preenchidas com material de preenchimento 300 – 400 L/hora por boca de fogão.
Potenciais e Aplicabilidade que garanta uma boa taxa de espaço vazio. O
Aplicados em localidades com disposição de área e solo adequado a infiltração. espaçamento entre valas deve ser de 2 m. Para
Esses sistemas podem ser operados em locais com nível da água subterrânea sumidouro consultar a NBR da referência. Potenciais e Aplicabilidade Eficiência
mais superficiais do que nos casos de sumidouros.
Além de representar uma fonte econômica de energia, com possibilidade A eficiência de recuperação energética
de aproveitamento térmico ou até conversão em eletricidade, esses do biogás é de 3% em lâmpadas, 24% em
sistemas de manutenção relativamente simples, reduzem os impactos motores, 55% em fogões e 88% em sistemas
Eficiência
climáticos do sistema de tratamento pela combustão do metano. de conversão para energia elétrica.
Varia de acordo com a permeabilidade do solo.
Variações
A configuração das valas pode variar tanto da largura, profundidade e
extensão, como no material de preenchimento utilizado (brita, entulho,
rachão etc.). A distribuição do fluxo entre as linhas de infiltração pode ser Variações Fatores Determinantes
feito por meio de caixas de passagem ou por conexões específicas junto Fatores Determinantes As principais formas de aproveitamos energético do biogás são Quantidade e caracterização do efluente
às tubulações. O sumidouro pode ser considerado uma variação desse Disponibilidade de área; nível da água a recuperação calorífica, seja para cocção ou para aquecimento; (para verificar se justificam o investimento
sistema, sendo aplicável em locais com o nível da água subterrânea mais subterrânea; permeabilidade do solo; nível de e a conversão em energia elétrica. No entanto, desde de que no sistema de aproveitamento); demanda e
profundo; sua vantagem é ocupar menos espaço. tratamento do efluente. adequadamente tratado, o gás pode ser utilizado também em motores interesse pelo recurso.
de combustão e ter outros fins.

Operação e Manutenção Referências Operação e Manutenção Referências


Cuidados devem ser tomados para a distribuição homogênea do efluente por todas ABNT, 1997; Tilley et al., 2014; Brasil. Ministério Depende do sistema implementado, mas limpeza e atenção as tubulações de Bassan et al., 2014; Tilley et al., 2014; Fundação
as valas do sistema. Limpeza eventuais das tubulações e valas, ou até substituição do da Saúde. Fundação Nacional de Saúde., 2018; transporte e tanques de armazenamento do biogás para detectar vazamento e/ ou Estadual do Meio Ambiente, 2015
material de preenchimento, podem ser necessárias, mas sistemas bem mantidos Tonetti et al., 2018 entupimentos.
podem operar por até 20 anos sem muita manutenção.

80 81
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

MODELOS DE SERVIÇO
Após abordar as diferentes etapas bá- mais nítida e distinta entre as etapas,
COLETIVOS PARA sicas de manejo de esgotos e lodo fe- de forma que usuários, gestão comu-
cal, e exemplificar soluções para cada nitária, profissionais locais de limpeza
A OPERAÇÃO E etapa, é importante ressaltar que, de fossa, gestão pública municipal e/ou
além do arranjo de sistemas estrutu- prestadores de serviço de saneamento
MANUTENÇÃO DOS rais, existem diferentes modelos de recorrentemente fazem parte de uma
serviço para a implementação e opera- mesma cadeia de serviço. Essa carac-
SISTEMAS ção destes sistemas. A definição des- terística permite um leque de arranjos
tes arranjos deve, assim como as tec- institucionais maior e mais flexível do
nologias empregadas, levar em conta que o encontrado em sistemas de es-
as condições e potencialidades locais gotamento sanitário convencionais.
para propiciar mecanismos de atendi- Para além das diferentes estrutu-
mento efetivos e sustentáveis. ras de governança em torno do sane-
Mesmo que grande parte dos servi- amento, que varia entre as localidade
ços de esgoto centralizados sejam efe- e países, é possível categorizar os ato-
tuados por uma única prestadora (seja res envolvidos na cadeia de serviço do
ela pública, privada ou a própria gestão saneamento em três grupos chaves de
municipal), existem arranjos que distri- atores: os usuários do sistema (popu-
buem funções complementares entre lação atendida); as autoridades públi-
diferentes atores. Mesmo nos siste- cas ou organizações responsáveis pela
mas centralizados, além de eventuais legislação e regulação dos sistemas,
divisões de escopo entre as etapas de geralmente voltados à saúde pública
transporte e tratamento de esgoto, a e meio ambiente; e organizações pú-

8.
responsabilidade pela etapa de con- blicas ou privadas que prestam algum
tenção (conexão da tubulação predial serviço na cadeia de valor do esgoto,
de esgoto à rede de coleta de esgoto) e/ou que se beneficiam da recupera-
é comumente dos proprietários dos es- ção de recursos e/ ou aproveitamento
tabelecimentos. Tratando de sistemas de subprodutos (Bassan et al. 2014).
descentralizados, baseados no manejo A Figura 6 apresenta uma distribuição
de lodo fecal, é comum a participação destas categorias entre as diferentes
de uma série de atores na cadeia de etapas da cadeia de serviço de esgoto.
serviço - com responsabilidade distin- Outra forma de representar a ca-
tas entre a contenção e o reuso. A con- deia de valor do esgotamento sanitário
figuração desta forma de atendimento é apresentada de forma resumida na Fi-
de esgoto propicia uma fragmentação gura 7 (Jayathilake et al. 2019). Avaliar e

82 83
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

CADEIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO

ACESSO COLETA TRATAMENTO REUSO E ções descentralizadas), ou pela conexão adequado desta etapa é de grande rele-
E TRATAMENTO E BENEFICIAMENTO DISPOSIÇÃO
• Usuário
da tubulação predial de esgoto na rede vância para a ampliação do atendimen-
• Autoridade • Usuário • Autoridade • Autoridade de coleta (nas configurações centraliza- to adequado do esgotamento sanitário
pública e • Autoridade pública e pública e
Organizações pública e Organizações Organizações das). No entanto, tratando de contextos no Brasil. A consideração de modelos
interessadas em Organizações interessadas em interessadas em de atendimento em situação precária descentralizados e baseados no mane-
saúde pública e/ou interessadas em saúde pública e/ou saúde pública e/ou
meio ambiente saúde pública e/ou meio ambiente meio ambiente ou com baixo poder aquisitivo, a imple- jo de lodo fecal como forma de aten-
• Entidades • Entidades
meio ambiente
privadas privadas e usuários
mentação adequada destes pode ser dimento, envolve garantir que o lodo
• Entidades
privadas comérciais restrita, sem alguma forma de estímulo gerado e não processado no local seja
ou apoio por parte do poder público ou encaminhado adequadamente. E assim,
prestadora de serviço responsável. Nes- as atividades de coleta e transporte,
tes casos, estruturar programas de difu- dependendo do arranjo local para os
são de tecnologias sociais, financiamen- serviços, podem ser efetuadas de for-
Figura 6: Principais atores
envolvidos nas diferentes etapas do to ou subsídio para a instalação destes ma comunitária ou pela prestadora de
MLF. Adaptado de Rao et al., 2016 sistemas constituem importantes estra- serviço, seja pela assimilação desta ati-
tégias para a universalização do acesso vidade no escopo da prestadora de ser-
estruturar os sistemas de esgotamento et al. 2019). Rao et al. (2016) destaca aos serviços de esgoto. viço, ou pela organização dos serviços
sanitário baseados no manejo do lodo que sistemas que valorizam o reuso existentes de limpa fossa. Neste sentido,
fecal a partir dessa perspectiva, da pro- de produtos derivados dos lodos têm Coleta e Transporte: No caso dos sis- a previsão da coleta programada do lodo
posição de valores entre componentes metade do custo operacional anual da- temas descentralizados, quando os usu- é uma estratégia que permite a formula-
da cadeia de valor, tem sido recorrente queles que apenas tratam o lodo para ários não têm interesse ou disponibili- ção de modelos de prestação condizentes
na literatura e se mostrado uma técnica envio à disposição final. Essa seção se dade para gerir o lodo fecal (retido na com os serviços convencionais de esgoto
contundente para a implementação de propõe a apresentar alguns modelos solução individual) por conta própria e/ (com base em taxas ou tarifas contínuas
diversos projetos piloto e em escala (Rao que têm se demonstrado efetivos, em- ou no próprio local, essas atividades cos- pela coleta de esgoto).
et al. 2016; Kennedy-Walker et al. 2016). bora, claro, seja fundamental reforçar tumam ser terceirizadas para prestado-
Observa-se ainda que a concepção ba- que a determinação do tipo mais ade- res de serviço voltados para a remoção Tratamento: Assim como na etapa
seada em princípios de economia circu- quado depende de ponderação sobre do lodo e transporte do mesmo. Estas anterior, quando os usuários não têm
lar, com forte atenção à valoração dos as particularidades locais. atividades são recorrentemente desem- interesse ou disponibilidade para gerir
subprodutos do tratamento dos lodos Alguns aspectos gerais sobre as penhadas por serviços privados de lim- o lodo fecal (retido na solução individu-
fecais, é um elemento chave em ope- possibilidades referentes às diferentes pa fossa (regulares ou irregulares), mas al) por conta própria e/ou no próprio
rações economicamente sustentáveis, etapas da cadeia de serviço são descri- podem que podem ser oferecidos por local, o tratamento deve ser feito de
que além de possibilitarem a recupera- tos a seguir. associações comunitárias, ou pela pres- forma semi-centralizada ou centraliza-
ção de valor levam a um maior enga- tadora municipal de saneamento (seja da. A operação dos sistemas de trata-
jamento de atores, o que é essencial Contenção: Comumente de responsabi- uma companhia estadual, empresa mento pode ser efetivada pela própria
à permanência dos sistemas (Moya, lidade dos usuários, seja pela instalação privada, autarquia ou pela própria ges- prestadora de serviços de esgoto do
Sakrabani, and Parker 2019; Jayathilake de soluções individuais (nas configura- tão pública municipal). O planejamento município ou, dependendo do escopo

84 85
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

territorial de atendimento da prestado- uma estruturação e divisão clara entre PRINCIPAIS ATORES RECURSOS-CHAVE PROPOSIÇÃO RELAÇÃO SEGMENTOS
DE VALOR COM OS CLIENTES DE CLIENTES
ra, por outras instâncias como associa- os papéis das diferentes esferas en- • Autoridades • Adequação
ções comunitárias, gestão pública mu- volvidas, públicas e privadas, buscan- públicas tencológica de • Acesso ao es- • Venda de soluções • Pontos de
• Fornecedores de equipamentos gotamento sa- • Serviço por geração não liga-
nicipal ou outras organizações. do sempre mediar da melhor maneira tecnologia • Mão de obra nitário e ganhos solução dos à rede
possível os conflitos de interesse exis- • Instituições • Investimento com reuso • Contrato com (PF e PJ)
financeiras • Licenciamento das • Coleta progra- munícipio • Coleta do LF
Reuso ou disposição final: Após o tra- tentes entre elas (Anh, Koottatep, and • Organização civil atividades mada • Direto ou por • Transporte do LF
tamento, os subprodutos podem ser Polprasert 2018; Murray et al. 2011; • Institutos de P&D • Transporte contratos • Tratamento
(como universidades) seguro com • Serviço individu- do LF
descartados adequadamente ou apro- Bassan et al. 2014). destinação con- al ou coletivo • Valoração de LF
veitados para processos produtivos. O primeiro passo na determinação trolada
• Tratamento
• Contrato
com munícipio
• Valoração de
outros elementos
No caso dos biossólidos isso envolve o do modelo de serviço a ser seguido é o ATIVIDADES-CHAVE CANAIS ambientalmen- • Direto (como biogás)
te adequado ou por contratos • Relação com
encaminhamento do material para lo- levantamento do arranjo institucional já • Produtos de • Vendas os clientes
• Soluções individuais • Distribuidores
cais apropriados para a disposição final implementado, buscando identificar e/ • Coleta de LF • Companhias alta qualidade dos subprodutos
como composto • Distribuição
como resíduo sólido em aterros sani- ou revisar atribuições e responsabilida- • Transporte de LF do setor
• Energia reno- dos subprodutos
• Tratamento de LF • Direto
tários ou para reuso em propriedades des e, ao mesmo tempo, elencar carên- • Valoração de LF • Municipalidade vável e social- • Refinamento
mente respon- dos subprodutos
agrícolas ou industriais - que envolvem cias referentes às etapas necessárias ao • Valoração de outros
elementos (como
• Boca-a-boca
• Panfletos e outras sável • Contratos
empresas, pequenos produtores ou or- MLF, considerando sempre as necessi- biogás) mídias de compras
• Relação com os de energia
ganizações públicas. dades e desdobramentos específicos ao clientes
contexto local. Rao et al. (2016) adapta o
Antes de apresentar os modelos em si, método Canvas, muito difundido na ela-
ESTRUTURA DE CUSTOS FLUXOS DE RECEITA
é importante abordar as formas como boração de modelos de negócios, para
comumente se dão as relações entre levantar as principais etapas e atores do • Capex (caminhão, ETL, equipamentos etc)
• Opex (mão de obra, insumos etc)
• Comercialização da solução e reuso de produtos
• Taxas de coleta
os atores da cadeia de valor. A litera- MLF e associar (por cores) estudos de • Juros • Transporte
• Taxas de esgoto, recebimento de LF e apoio
tura destaca duas maneiras principais, valor. O mapa criado, Figura 8, pode ser governamental
a “coopetição”, que é a emergência de utilizado como pano de fundo num pla- • Venda produtos
• Energia
negócios independentes para suprir nejamento inicial. Esse documento irá
demandas específicas e aparentes na exemplificar formatos que se demons-
CUSTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS BENEFÍCIOS SOCIAIS E AMBIENTAIS
cadeia de valor do esgotamento sani- traram eficientes em outros países (ba-
tário e que, mesmo competindo entre seando-se em estudos de caso). Com • Exposição de agentes em contato direto com LF • Melhoria da saúde e qualidade ambiental
• Tratamento não adequado levando a impacto no • Melhora de aspectos agropecuários
si, se beneficiam da cooperação e/ou isso, pretende-se uma estruturação reuso e/ou disposição do LF • Uso de energia renovável
eventual associação. Esse modelo sur- mais detalhada das relações institucio- • Criação de pontos de trabalho

ge de forma espontânea em contextos nais, das atribuições operacionais e dos


informais ou não regulamentados. Já fluxos monetários.
os modelos envolvendo organizações Vale relembrar mais uma vez que
Quadro 3: Modelo CANVAS destacando a
públicas, privadas e/ ou as parcerias uma análise crítica e aprofundada, ca- relação entre proposições de valor atividades
público privadas (PPP) têm como base so-a-caso, deve ser realizada para de- envolvidas no MLF

86 87
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

Quadro 5: Aspectos chave que


Quadro 4: Aspectos chave que influenciam o modelo baseado
podem influenciar os modelos de em sistemas isolados com
serviço envolvido no MLF recuperação de recursos

INSTITUCIONAL POLÍTICA E REGULAÇÃO INSTITUCIONAL POLÍTICA E REGULAÇÃO

Setor público Políticas públicas e/ou legislação Setor público P Políticas públicas e/ou legislação B

Setor privado Padronização/normatização Setor privado N Padronização/normatização B

Sociedade civil organizada e/ou ONG Fiscalização Sociedade civil organizada e/ou ONG B Fiscalização N

ECONÔMICO SAÚDE E MEIO AMBIENTE ECONÔMICO SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Custo para o usuário Lançamento inadequado de LF Custo para o usuário NA Lançamento inadequado de LF B

Saúde pública e segurança Saúde pública e segurança


Agrega valor ao LF Agrega valor ao LF B B
ambiental ambiental

Ganhos do operador Ganhos do operador NA

Subsídios Subsídios P

B - benéfico, essencial ao modelo; P - positivo, pode ajudar o modelo; N - não te influência; B - benéfico, essencial ao modelo; P - positivo, pode ajudar o modelo; N - não te influência;
NA - não se aplica ao modelo NA - não se aplica ao modelo

MODELO PARA SISTEMAS ISOLADOS


terminar o formato localmente apro- (gestão municipal, autarquias, compa- apoio de gestores públicos e entidades
INCLUINDO A RECUPERAÇÃO
priado, seja ele um dos modelos aqui nhias públicas) ou a empresas privadas DE RECURSOS sociais, de forma a promover tanto uma
propostos, um misto entre eles ou, até cobrem toda a cadeia, e há casos em normatização dos sistemas, avalizando
mesmo, uma composição totalmente que é feita uma distribuição estratégica Esse modelo se baseia no fato intrínseco sua adequabilidade, quanto aporte téc-
nova. Para ajudar nessa ponderação, é das funções entre as diferentes instân- de que o correto manejo dos efluentes, nico e acompanhamento do usuário/
adaptado de Rao et al. (2016) um qua- cias. A seguir são apresentados alguns inclusive do lodo fecal, gera produtos produtor, garantindo sua segurança e
dro de avaliação dos aspectos-chave exemplos de modelo. de interesses múltiplos, como biogás, de possíveis usuários de subprodutos
dos modelos baseados no manejo do composto e água de reuso, que podem (Rao et al. 2016).
lodo fecal, levantando pontos que po- ser aproveitados localmente. O bene- Exemplos desse modelo podem ser
dem ajudar ou limitar sua implemen- fício para o usuário do sistema isolado encontrados em diversos locais, espe-
tação em uma determinada localidade, provém da economia com a compra de cialmente em propriedades rurais de
conforme o Quadro 4. insumos externos, de acordo com o re- pequeno porte, pelo reuso planejado
Como apontado anteriormente, a aproveitamento que faz dos subprodu- ou não planejado das águas e do lodo.
configuração institucional e de modelo tos do tratamento dos efluentes; ou da No entanto, outros contextos isolados
de serviços é bastante variado, poden- comercialização local desses insumos. (sem acesso a rede de coleta de esgo-
do ser distribuído entre usuários, ins- Nesse sistema, o usuário toma papel to) que apresentam maior quantidade
tâncias públicas ou privadas ao longo central em toda a cadeia de valor, sen- de lodo disponível, como hotéis, univer-
da cadeia. Há casos em que os serviços do diretamente responsável por cada sidades, grandes centros administrati-
são realizados inteiramente pelos usuá- etapa do processo do MLF. Nesse sen- vos ou prisões, apresentam relevantes
rios, casos em que a instâncias públicas tido, faz-se fundamental no modelo o potenciais produtivos considerando os

88 89
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

Figura 7: Diagrama de fluxos e relações Quadro 6: Aspectos chave que


no modelo de sistemas isolados com influenciam o modelo voltado a
recuperação de recursos gestão pública

Capex INSTITUCIONAL POLÍTICA E REGULAÇÃO


PONTO DE GERAÇÃO
& Opex
Setor público B Políticas públicas e/ou legislação B

Setor privado N Padronização/normatização P

Sociedade civil organizada e/ou ONG P Fiscalização N


CONTENÇÃO/ Sistema
TRATAMENTO LOCAL Individual ECONÔMICO SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Custo para o usuário N Lançamento inadequado de LF B

Saúde pública e segurança


Agrega valor ao LF N B
ambiental

Composto/ Ganhos do operador N


COLETA LF $
Biogás
Subsídios B

B - benéfico, essencial ao modelo; P - positivo, pode ajudar o modelo; N - não te influência;


NA - não se aplica ao modelo

TRANSPORTE
subprodutos gerados. Um exemplo foi lodos fecais pela formalização e cen-
a implementação de sistemas biodiges- tralização da cadeia de esgotamento
tores pelo Comitê Internacional da Cruz sanitário no poder público. Os serviços,
Vermelha em prisões no Nepal, nas Fi- geralmente voltados às etapas de cole-
TRATAMENTO COLETIVO Tratamento lipinas e em Ruanda, o biogás gerado ta, transporte e tratamento, são efetu-
pelos sistemas e utilizado nas cozinhas ados a partir da cobrança de taxa ou
Capex Composto/
para a produção das refeições, gerou tarifa fixa para sustentar o serviço. Em-
LF Tratado
& Opex Biogás uma economia energética nos locais de bora o reuso possa ser levado em con-
até 41%. (Rao e Doshi 2018; Rao et al. sideração ainda no âmbito público, é
2016; Silva 2014). comum que esta etapa envolva atores
REUSO/ Disposição
Reuso
privados. Há, no entanto, importantes
DISPOSIÇÃO FINAL final MODELO VOLTADO PARA potenciais para reuso pelas instâncias
A GESTÃO PÚBLICA
públicas, como na manutenção de áre-
Esse modelo é bastante recorrente e se as vegetadas do município (irrigação e
Recursos
recuperados institucionaliza, de forma geral, diante condicionamento do solo) e aprovei-
Subsídio Gestor, Prestador de serviços e/ da prestação de serviço de esgoto pela tamento energético nas estações para
Usuário
do sistema
regulador e ou usuários de produ- gestão pública municipal, autarquia ou redução dos custos operacionais. (Rao
Normatização entidades tos derivados
companhias públicas de esgotamen- et al. 2016).
$ to sanitário. Nesse modelo o foco está Esse modelo também é bastante di-
no controle da disposição incorreta de fundido, especialmente em locais onde

90 91
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

Figura 8: Diagrama de fluxos e relações Quadro 7: Aspectos chave que influenciam o


no modelo voltado para a gestão pública modelo baseado em servidores privados

Capex INSTITUCIONAL POLÍTICA E REGULAÇÃO


PONTO DE GERAÇÃO
& Opex
Setor público N Políticas públicas e/ou legislação N

Setor privado B Padronização/normatização B

Sociedade civil organizada e/ou ONG N Fiscalização B


CONTENÇÃO/ Sistema
TRATAMENTO LOCAL Individual ECONÔMICO SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Custo para o usuário P Lançamento inadequado de LF N

Saúde pública e segurança


Agrega valor ao LF B P
ambiental

COLETA LF $ Ganhos do operador P

Subsídios N

B - benéfico, essencial ao modelo; P - positivo, pode ajudar o modelo; N - não te influência;


NA - não se aplica ao modelo

TRANSPORTE
a responsabilidade pelo esgotamento po que envolve a verificação das solu-
sanitário é depositada sobre a gestão ções individuais dos usuários, o contro-
pública, autarquias ou prestadoras de le e organização dos serviços existentes
Coleta/ serviços públicos, como é o caso de de limpa fossa e o tratamento do lodo
TRATAMENTO COLETIVO Transporte/ grande parte dos municípios brasileiros. coletado (Kipnis, Pastor E Castro 2020).
Tratamento
Um importante exemplo, mas que não Um outro exemplo, agora na Malásia,
Capex Recursos
inclui necessariamente a etapa de reu- em que foram constituídas autarquias
LF Tratado
& Opex recuperados so no escopo, é a iniciativa da CORSAN e empresas públicas para suprir essa
(Companhia Riograndense de Sanea- demanda, com a criação do Consórcio
mento),voltada para o atendimento de de Águas Indah (IWK, do seu acrônimo
REUSO/ Disposição
Reuso
esgoto por meio da coleta programada em inglês). Esta instância, vinculada ao
DISPOSIÇÃO FINAL final
de lodos fecais. Após um trabalho arti- ministério das finanças, mas com mode-
culado com agência reguladora do es- lo de operação privado, recebeu a con-
tado e ministério público, foi aprovado cessão exclusiva da gestão dos lodos
Recursos
recuperados este modelo de atendimento, com foco fecais na porção peninsular do país em
LF Gestor, Prestador de serviços e/ na universalização de áreas de ocupa- 1993. O IWK foi responsável até 2006
Usuário
do sistema
regulador e ou usuários de produ- ção com menor densidade (zonas pe- pelo atendimento de mais de 2 milhões
Tarifa entidades tos derivados
ri-urbanas e rurais), com a previsão de de sistemas isolados, quando um novo
$ aplicação em 24 municípios até o fim de marco regulatório abriu o mercado para
2022. Neste modelo é previsto um esco- o setor privado (Rao et al. 2016).

92 93
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

Figura 9: Diagrama de fluxos e Quadro 8: Diagrama de fluxos e


relações no modelo baseado em relações no modelo licenciador
servidores privados

Capex INSTITUCIONAL POLÍTICA E REGULAÇÃO


PONTO DE GERAÇÃO
& Opex
Setor público B Políticas públicas e/ou legislação B

Setor privado B Padronização/normatização B

Sociedade civil organizada e/ou ONG P Fiscalização B


CONTENÇÃO/ Sistema
TRATAMENTO LOCAL Individual ECONÔMICO SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Custo para o usuário P Lançamento inadequado de LF B

Saúde pública e segurança


Agrega valor ao LF N P
ambiental

COLETA LF $ Ganhos do operador N

Subsídios P

B - benéfico, essencial ao modelo; P - positivo, pode ajudar o modelo; N - não te influência;


NA - não se aplica ao modelo

TRANSPORTE
MODELO COM BASE
de forma a garantir uma atratividade de
EM SERVIDORES PRIVADOS
mercado. Como o quadro de aspectos
Nesse modelo a cadeia de esgotamento chave demonstra, a implementação de
Coleta/ sanitário é completamente efetuada por regras e padrões de serviço e de fiscaliza-
TRATAMENTO COLETIVO Transporte/ uma ou mais entidades privadas que lu- ção são pontos importantes a serem de-
Tratamento
cram das taxas de coleta, da cobrança sempenhados pelas autoridades locais,
Capex Recursos
pelo recebimento do lodo nas estações de forma a garantir a qualidade do servi-
LF Tratado
& Opex recuperados de tratamento e, sempre que houver ço prestado à população. (Rao et al. 2016)
demanda local, da venda de subprodu- Implementado em Mali e Benin, o
tos do tratamento do lodo. Nesse mo- modelo completamente privado partiu
REUSO/ Disposição
Reuso
delo o grande desafio é a obtenção de de duas iniciativas distintas. No primei-
DISPOSIÇÃO FINAL final
lucro na etapa de tratamento dos lodos, ro, foi criado como uma expansão das
nesse sentido, o modelo é comumente atividades da companhia local de coleta
aplicável em situações onde o governo e disposição de resíduos sólidos urbanos
Recursos
recuperados tem interesse na privatização dos ser- em Mali com apoio do Programa de De-
LF Gestor, Prestador de serviços e/ viços de esgotamento sanitário ou não senvolvimento das Nações Unidas (PNUD),
Usuário
do sistema
regulador e ou usuários de produ- possui capacidade para prestá-lo. Assim prevendo o tratamento e beneficiamen-
Tarifa entidades tos derivados
é comum haver incentivos e/ ou sub- to do lodo para comercialização como
$ sídios por parte de governos e outras composto. No entanto, a pouca adesão
entidades nas etapas mais deficitárias, de atores locais, a longa distância da es-

94 95
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

Figura 10: Diagrama de fluxos e


relações no modelo licenciador

Capex
PONTO DE GERAÇÃO
& Opex
tação e a não implementação da etapa viços prestados e conscientização dos
de beneficiamento do lodo levaram a operadores. O modelo, além de prever
uma curta duração do programa. Já em a rescisão da licença em casos de não
Benin a iniciativa partiu de uma compa- cumprimento de padrões mínimos de
CONTENÇÃO/ Sistema
nhia local que implementou o sistema qualidade e, especialmente, no caso de
TRATAMENTO LOCAL Individual de tratamento e estimulou a formação lançamento inadequado do lodo, e ge-
de uma associação dos coletores de rar arrecadação pela emissão das licen-
lodo, com isso o sistema é autogerido e ças, também permite as autoridades
auto fiscalizado pelos próprios agentes locais terem um conhecimento local
privados. Embora o sistema aparente mais detalhado a respeito da cobertu-
COLETA LF $
uma funcionalidade prática, contem- ra por soluções individuais quando há
plando inclusive a venda de composto acompanhamento próximo das ativida-
produzido a partir do lodo tratado, há des de coleta.
indicativos de que aspectos sanitários Diversas cidades africanas operam
TRANSPORTE estejam em níveis precários (Rao et al. sobre esse modelo, em Kumasi, Gana,
2016). Esses dois exemplos demonstram a assembleia municipal é responsável
a forte necessidade de interação do po- pela expedição de licenças e determi-
der público com outros atores da cadeia nação de padrões de serviço, sendo
Coleta/ de esgotamento sanitário, seja pelo in- prevista a revogação da licença de ope-
TRATAMENTO COLETIVO Transporte/ centivo à manutenção dos serviços, seja ração em casos de desrespeito as regu-
Tratamento
pela garantia de sua qualidade. lamentações. Já em cidades no Quênia,
Capex Recursos
diferentes licenças são requeridas, cada
LF Tratado
& Opex recuperados MODELO LICENCIADOR uma atrelada a um diferente órgão go-
O modelo licenciador funciona, estrutu- vernamental, como a municipalidade,
ralmente, de forma parecida ao anterior, que regula a atividade comercial, e a au-
REUSO/ Disposição
Reuso
no entanto, com uma mudança crucial toridade ambiental nacional, que expe-
DISPOSIÇÃO FINAL final
que é a expedição de licenças de ope- de uma licença específica para os cami-
ração por parte das autoridades locais, nhões de coleta, que devem apresentar
dessa maneira o governo se abstém da condições adequadas de operação. Na
Recursos
recuperados prestação direta do serviço mantendo, cidade de Kampala, em Uganda, a ins-
LF Gestor, Prestador de serviços e/ por outro lado, a possibilidade de con- talação de dispositivos de rastreamen-
Usuário
do sistema
regulador e Licenciamento ou usuários de produ- trole do mesmo. A expedição de licença, to em diversos caminhões coletores de
Tarifa entidades tos derivados
normalmente condicionada a uma taxa lodo, além de prevenir o lançamento
$ cobrada pelo poder público, serve como inadequado de lodo, resultou num ma-
momento propício a inspeção dos ser- peamento preciso dos pontos de coleta,

96 97
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | MODELOS DE SERVIÇO E MANUTENÇÃO

permitindo um entendimento mais pro-


fundo sobre a cobertura do serviço; o
principal achado foi o fato de regiões de
baixa renda apresentarem grau de aten-
dimento bastante baixo, evidenciando a
necessidade de um plano específico de
atendimento a essas localidades. (Scho-
ebitz et al. 2017; Rao et al. 2016).
Como apontado anteriormente, es-
tes são apenas alguns dos exemplos
dentre várias outras configurações
possíveis para a efetivação dos servi-
ços baseados no MLF. A distribuição de
responsabilidades, bem como a defini-
ção dos sistemas e tecnologias a serem
empregadas, dependem das condições
locais, levando em conta estrutura local
de governança do saneamento, existên-
cia de organizações locais interessadas
e capazes para a realização dos serviços,
entre outros. Contemplando as condi-
ções existentes nos diferentes contex-
tos brasileiros, para além dos habituais
prestadores de serviço (públicos ou pri-
vados), é essencial que se considere a
participação de atores locais na cadeia
de valores, para oficializar e garantir a
viabilidade e qualidade dos serviços.
Neste sentido, além dos modelos comu-
nitários de gestão do saneamento, que
apresentam um grande potencial de
aplicação no país, a inclusão desta for-
ma de atendimento de esgoto no escopo
das prestadoras de serviço podem integrar
atores e dinâmicas locais no desenvolvi-
mento das diferentes etapas da cadeia.

98 99
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

ABNT (1992) NBR 12209 Projeto de estações de tratamento de esgoto sa- Fecal Sludge Management in 12 Cities. doi: 10.13140/RG.2.1.4072.7205.
nitário. Rio de Janeiro.
Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. (2014) ‘Operação
ABNT (1993) NBR 7229 - Projeto, contrução e operação de sistemas de tan- E Manutenção De Tanques Sépticos – Lodo Manual de boas práticas e dis-
ques sépticos. Rio de Janeiro. posição do lodo acumulado em filtros plantados com macrófitas e desin-
fecção por processo térmico’, p. 32.
ABNT (1997) NBR 13969 - Tanques sépticos: unidades de tratamento com-
plementar e disposição final dos efluentes líquidos: projeto, construçõ e Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. (2018) CataloSan:
operação. Rio de Janeiro. catálogo de soluções sustentáveis de saneamento - gestão de efluentes
domésticos. Edited by P. L. Paulo, A. F. Galbiati, and F. J. C. M. Filho. Cam-
ABNT (1999) NBR 8160 Sistemas prediais de esgoto sanitário - Projeto e po Grande: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. Disponível
execução. Rio de Janeiro. em: http://www.funasa.gov.br/biblioteca-eletronica/publicacoes/estudos-
-e-pesquisas1/-/asset_publisher/qGiy9skHw4ar/content/catalosan-catalo-
Além Sobrinho, P. e Tsutiya, M. T. (1999) Coleta e transporte de esgoto sa- go-de-solucoes-sustentaveis-de-saneamento.
nitário. Epusp/PHD.
Brasil (2019a) Plano Nacional de Saneamento Básico - PLANSAB. Ver-
Andreoli, C. V. et al. (2007) ‘Wastewater sludge management : a Brazilian são Revisada 2019. Brasília. Disponível em: https://www.cidades.gov.br/
approach’, in Moving Forward – Wastewater Biosolids Sustainability (ed.) images/stories/ArquivosSNSA/Arquivos_PDF/plansab/Versaoatualizada-
WASTEWATER BIOSOLIDS SUSTAINABILITY. Moncton, pp. 117–131. 07mar2019_consultapublica.pdf.

Andreoli, C. V. (2009) Lodo de fossa e tanque séptico: caracterização, tecno- Brasil (2019b) SNIS - Dados Desagregados (2020 03 10). Brasília. Disponível
logias de tratamento, gerenciamento e destino final. 1st edn. Edited by C. em: http://app4.mdr.gov.br/serieHistorica/.
V. Andreoli. Rio de Janeiro: ABES.
CETESB (1999) Norma técnica P4230: Aplicação de lodos sistemas de tra-
Andreoli, C. V., Sperling, M. von e Fernandes, F. (2007) Sludge Treatment tamento biológico em áreas agrícolas - critérios para projeto e operação:
and Disposal. IWA Publishing. Disponível em: https://iwaponline.com/ manual técnico, Norma Técnica.
ebooks/book/1/Sludge-Treatment-and-Disposal.
Chary, V. S., Reddy, Y. M. e Ahmad, S. (2017) Towards a Model Sanitation
Bassan, M. et al. (2014) Faecal Sludge Management. Edited by L. Strande, City: Operationalizing FSM Regulations in Warangal.
M. Ronteltap, and D. Brdjanovic. London: IWA Publishing. Disponível em:
https://iwaponline.com/ebooks/book/384/Faecal-Sludge-Management- Chernicharo, C. A. de L. et al. (2018) ‘Contribuição para o aprimoramento
-Systems-Approach-for. de projeto, construção e operação de reatores UASB aplicados ao trata-
mento de esgoto sanitário – Parte 1: Tópicos de Interesse’, DAE, 66(214),
Blackett, I. et al. (2014) Targeting the Urban Poor and Improving Services pp. 5–16. doi: 10.4322/dae.2018.038.
in Small Towns The Missing Link in Sanitation Service Delivery A Review of

100 101
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | REFERÊNCIAS

Cofie, O. et al. (2016) Co-composting of Solid Waste and Fecal Sludge for Eggimann, S., Truffer, B. e Maurer, M. (2015) ‘To connect or not to con-
Nutrient and Organic Matter Recovery, Internation Water Management Ins- nect ? Modelling the optimal degree of centralisation for wastewater in-
titute. doi: 10.5337/2016.204. frastructures’, Water Research. Elsevier Ltd, 84, pp. 218–231. doi: 10.1016/j.
watres.2015.07.004.
Cofie, O. O. e Drechsel, P. (2005) ‘The use of human waste for peri-urban
agriculture in Northern Ghana’, 20(2). doi: 10.1079/RAF200491. Eggimann, S., Truffer, B. e Maurer, M. (2016) ‘Economies of density for on-
-site waste water treatment’, Water Research. Elsevier Ltd, 101, pp. 476–
CONAMA (2006a) RESOLUÇÃO CONAMA no 380, de 31 de outubro de 2006. 489. doi: 10.1016/j.watres.2016.06.011.
Brasília.
FAO (1996) Food and Agriculture Organization of Biogas Technology: a
CONAMA (2006b) RESOLUÇÃO CONAMA no 375 , de 29 de agosto de 2006. Training Manual for Extension. Nepal: FOOD AND AGRICULTURE ORGANI-
Brasília. ZATION OF THE UNITED NATIONS. Disponível em: http://www.fao.org/3/
ae897e/ae897e00.htm.
Dangol, B. e Rajbhandari, R. (2017) ‘Faecal sludge treatment and reuse sys-
tem in Mahalaxmi Municipality, Nepal’, Journal of Environment and Public Fundação Estadual do Meio Ambiente (2015) GUIA TÉCNICO AMBIENTAL
Health, 1(1), pp. 59–64. Disponível em: http://enpho.org/wp-content/uplo- DE BIOGÁS NA AGROINDÚSTRIA. Belo Horizonte. Disponível em: http://
ads/2017/07/ENPHO-Journal-V1-I1.pdf#page=67. pnla.mma.gov.br/publicacoes-diversas?download=36:guia-tecnicos-am-
bientais-de-biogas-na-agroindustria&start=40.
Dodane, P., Sow, O. e Strande, L. (2012) ‘Capital and Operating Costs of
Full-Scale Fecal Sludge Management and Wastewater Treatment Systems Gnipper, S. F. (2008) ‘Avaliação da eficiência das caixas retentoras de gor-
in Dakar, Senegal’, Environmental Science and Technology. doi: 10.1021/ dura prescritas pela NBR 8160:1999 como tanques de flotação natural’,
es2045234. Ambiente Construído, 8(2), pp. 119–132.

Dortmans, B. et al. (2017) Black Soldier Fly Biowaste Processing - A Ste- GOAL (2016) ‘Review of Manual Pit Emptying Equipment Currently in Use
p-by-Step Guide. Dübendorf: Eawag: Swiss Federal Institute of Aquatic and Available in Freetown and Globally’, Freetown, Sierra Leone, (April).
Science and Technology. Disponível em: https://www.eawag.ch/fileadmin/ Disponível em: https://wedc-knowledge.lboro.ac.uk/resources/pubs/Desk_
Domain1/Abteilungen/sandec/publikationen/SWM/BSF/BSF_Biowaste_ Study_of_MPE_Technologies_GOAL_Sierra_Leone.pdf.
Processing_LR.pdf.
Guimarães, E. F., Malheiros, T. F. e Marques, R. C. (2016) ‘Inclusive gover-
Dotro, G. et al. (2017) Treatment Wetlands Written. 1st edn. IWA Publishing. nance: New concept of water supply and sanitation services in social vulne-
doi: 10.2166/9781780408774. rability areas’, Utilities Policy. Elsevier Ltd, 43, pp. 124–129. doi: 10.1016/j.
jup.2016.06.003.
Drechsel, P. et al. (2010) Wastewater Irrigation and Health: Assessing and
Mitigating Risk in Low-Income Countries. London: IWMI. Gutterer, B. et al. (2009) ‘Designing DEWATS’, in Ulrich, A., Gutterer, S. R., and
Gutterer, B. (eds) Decentralised Wastewater Treatment Systems (DEWATS)

102 103
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | REFERÊNCIAS

and Sanitation in Developing Countries A Practical Guideon in Developing Mels, A. et al. (2009) ‘Sanitation services for the informal settlements of
Countries A Practical Guide. Loughborough: BORDA, pp. 230–281. Disponí- Cape Town, South Africa’, Desalination. Elsevier B.V., 248(1–3), pp. 330–337.
vel em: https://wedc-knowledge.lboro.ac.uk/details.html?id=10409. doi: 10.1016/j.desal.2008.05.072.

Harada, H., Strande, L. e Fujii, S. (2016) ‘Challenges and Opportunities of Monayna, S., Vasconcelos, A. e Carvalho, E. H. (2016) ‘Avaliação da dispo-
Faecal Sludge Management for Global Sanitation’, in, pp. 81–100. sição de lodos de fossa e tanque sépticos em lagoas de estabilização que
tratam lixiviados de aterro sanitário Evaluation of septage disposal in sta-
Ivar, R. et al. (2017) ‘Centralised, decentralised or hybrid sanitation sys- bilization ponds that treat landfill leachate’, Eng Sanit Ambient, 21(1), pp.
tems? Economic evaluation under urban development uncertainty and 183–196. doi: 10.1590/S1413-41520201600100136031.
phased expansion’, Water research, 109, pp. 274–286. doi: 10.1016/J.WA-
TRES.2016.11.051. Moss, T. (2016) ‘“Cold spots” of urban infrastructure : “Shrinking” processes
in Eastern Germany and the modern’, International Journal of Urban and Re-
Jordão, E. P. e Pêssoa, C. A. (2011) Tratamento de Esgotos Domésticos. 6th gional Research, 32(2), pp. 436–451. doi: 10.1111/j.1468-2427.2008.00790.x.
edn. Rio de Janeiro: ABES.
Moya, B., Sakrabani, R. e Parker, A. (2019) ‘Realizing the circular economy
Koanda, H., Koné, D. e Strauss, M. (2006) Stakeholder Involvement and Mo- for sanitation: Assessing enabling conditions and barriers to the commer-
ney Fluxes for Sustainable Faecal Sludge Management in Burkina Faso. doi: cialization of human excreta derived fertilizer in Haiti and Kenya’, Sustaina-
10.13140/RG.2.1.1291.4640. bility (Switzerland), 11(11). doi: 10.3390/su11113154.

Kvarnström, E. et al. (2011) ‘The sanitation ladder - a need for a revamp?’, Murthy, S. P. C. S. (2018) When the pits fill up: Fecal Sludge “Management”
Journal of Water Sanitation and Hygiene for Development, 1(1), pp. 3–12. in urban India. University of California, Berkeley Professor. Disponível em:
doi: 10.2166/washdev.2011.014. https://escholarship.org/uc/item/4hw76729 Author.

Lalander, C. et al. (2013) ‘Faecal sludge management with the larvae of the O’Keefe, M. et al. (2015) ‘Opportunities and limits to market-driven sani-
black soldier fl y ( Hermetia illucens ) — From a hygiene aspect’, Science tation services: evidence from urban informal settlements in East Afri-
of the Total Environment, The. Elsevier B.V., 458–460, pp. 312–318. doi: ca’, Environment and Urbanization, 27(2), pp. 421–440. doi: https://doi.
10.1016/j.scitotenv.2013.04.033. org/10.1177/0956247815581758.

Mara, D. (2013) Domestic wastewater treatment in developing coun- O’Riordan, M. (2009) ‘Investigation into methods of pit latrine emptying’,
tries, Domestic Wastewater Treatment in Developing Countries. doi: Partners in Development, WRC Project, 1745(April). Disponível em: http://
10.4324/9781849771023. www.sswm.info/sites/default/files/reference_attachments/O RIORDAN
2009 Investigation into Methods of Pit Latrine Emptying.pdf.
Mattos, L. C. e Júnior, M. F. (2011) Manual do Biodigestor Sertanejo. Dispo-
nível em: http://solarcities.eu/downloads/205. Obermann, I. e Sattler, K. (2013) ‘Comparison of centralized, semi-centra-
lized and decentralized sanitation systems’, First International Symposium

104 105
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | REFERÊNCIAS

on Urban Development: Koya as a Case Study, pp. 159–167. doi: 10.2495/ Technical Exhibition and Conference, WEFTEC 2015, 3(January 2015), pp.
isud130191. 4697–4707. Disponível em: http://toc.proceedings.com/41060webtoc.pdf.

Odey, E. A. et al. (2017) ‘Fecal sludge management in developing urban cen- Rose, C. et al. (2015) ‘The characterization of feces and urine: A review of
ters : a review on the collection , treatment , and composting’, Environmen- the literature to inform advanced treatment technology’, Critical Reviews
tal Science and Pollution Research. Environmental Science and Pollution in Environmental Science and Technology, 45(17), pp. 1827–1879. doi:
Research, pp. 23441–23452. doi: 10.1007/s11356-017-0151-7. 10.1080/10643389.2014.1000761.

Pescod, M. B. (1992) Wastewater treatment and use in agriculture - FAO Russel, K. et al. (2015) ‘User perceptions of and willingness to pay for
irrigation and drainage, FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE household container-based sanitation services: experience from Cap
UNITED NATIONS Rome. Disponível em: http://www.fao.org/3/t0551e/ Haitien, Haiti’, Environment and Urbanization, 27(2), pp. 525–540. doi:
t0551e00.htm. 10.1177/0956247815596522.

Pureza, F. et al. (2015) Como cuidar de nossas águas? São Francisco Xavier: Russel, K. C. et al. (2019) ‘Taking Container-Based Sanitation to Scale:
Projeto Protegendo as Águas. Disponível em: http://fluxus.eco.br/wp-con- Opportunities and Challenges’, Frontiers in Environmental Science, 7(No-
tent/uploads/2017/10/1.-protegendo-as-aguas.pdf. vember), pp. 1–7. doi: 10.3389/fenvs.2019.00190.

De Queiroz, J. et al. (2012) Estações de Tratamento de Esgoto por Zona de Santiago, F. et al. (2015) Manejo do Sistema Bioágua Familiar. 22nd edn.
Raízes (ETE). Campo Mourão: Editora da Fecilcam. Disponível em: http:// Caraúbas: ATOS. Disponível em: https://bioaguafamiliar.files.wordpress.
campomourao.unespar.edu.br/editora/documentos/estacoes_tratamen- com/2015/09/manual_bioagua_familiar_2015.pdf.
to_esgoto.
Schoebitz, L. et al. (2017) ‘GIS Analysis and Optimisation of Faecal Sludge
Ramos, L. L. C. (2014) Diagnóstico e avaliação de coleta e disposição de Logistics at City-Wide Scale in Kampala , Uganda’, pp. 1–16. doi: 10.3390/
lodo de fossa e de tanque séptico em cuiabá-mt. Universidade Federal de su9020194.
Mato Grosso. Disponível em: http://ri.ufmt.br/handle/1/521.
Semiyaga, S. et al. (2018) ‘Enhancing faecal sludge dewaterability and en-
Rao, K. C. et al. (2016) Business Models for Fecal Sludge Management. In- d-use by conditioning with sawdust and charcoal dust’, Environmental
ternational organization. Disponível em: http://www.iwmi.cgiar.org/Publi- Technology (United Kingdom). Taylor & Francis, 39(3), pp. 327–335. doi:
cations/wle/rrr/resource_recovery_and_reuse-series_6.pdf. 10.1080/09593330.2017.1300191.

Rao, K. C. e Doshi, K. (2018) ‘Case: Biogas from fecal sludge and kitchen Septien, S. et al. (2018) ‘“LaDePa” process for the drying and pasteuriza-
waste at prisons’, pp. 93–102. tion of faecal sludge from VIP latrines using infrared radiation’, South Afri-
can Journal of Chemical Engineering. Elsevier Ltd, 25, pp. 147–158. doi:
Rogers, T. et al. (2015) ‘The “excrevator” – safe and hygienic pit emptying 10.1016/j.sajce.2018.04.005.
for developing countries’, 88th Annual Water Environment Federation

106 107
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | REFERÊNCIAS

Septien, S et al. (2018) ‘Rheological characteristics of faecal sludge from Tilley, E. et al. (2014) Compendium of Sanitation Systems and Technologies.
VIP latrines and implications on pit emptying’, Journal of Environmen- 2nd edn. Dübendorf: Swiss Federal Institute of Aquatic Science and Tech-
tal Management. Elsevier, 228(August), pp. 149–157. doi: 10.1016/j.jen- nology (EAWAG). Disponível em: https://www.iwa-network.org/wp-content/
vman.2018.08.098. uploads/2016/06/Compendium-Sanitation-Systems-and-Technologies.pdf.

Simiyu, S. (2017) ‘Preference for and characteristics of an appropriate sani- Tonetti, A. L. et al. (2018) Tratamento De Esgotos Domesticos Em Comuni-
tation technology for the slums of Kisumu, Kenya’, International Journal of dades Isoladas. Disponível em: http://www.fec.unicamp.br/~saneamento-
Urban Sustainable Development. Taylor & Francis, 9(3), pp. 300–312. doi: rural/index.php/publicacoes/livro/.
10.1080/19463138.2017.1325366.
Vögeli, Y. et al. (2014) Anaerobic Digestion of Biowaste in Developing Cou-
Sperling, M. von (2014) Princípios do tratamento biológico de águas residu- ntries, Sandec: Department of Water and Sanitation in Developing Coun-
árias. Vol. 1. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. tries. Disponível em: http://www.eawag.ch/forschung/sandec/publikatio-
4th edn. Belo Horizonte: UFMG. nen/swm/dl/biowaste.pdf.

Sperling, M. von e Sezerino, P. H. (2018) Dimensionamento de wetlands World Health Organization (2006) ‘WHO guideline for the safe use of was-
construídos no Brasil. Edição Esp. Edited by B. W. Brasil. Boletim Wetlands tewater, excreta and greywater’, World Health Organization, 1, p. 204. Dis-
Brasil. ponível em: http://whqlibdoc.who.int/publications/2006/9241546832_eng.
pdf.
Still, D. e O’Riordan, M. (2012) Volume 3: The development of pit emptying
technologies, Tackling the Challenges of full Pit Latrines. Disponível em: Yang, X. M. et al. (2010) ‘History and Current Situation of Night Soil Treat-
https://www.susana.org/en/knowledge-hub/resources-and-publications/ ment Systems and Decentralized Wastewater Treatment Systems in Japan’,
library/details/1712. Water Practice & Technology, 5(4). doi: 10.2166/WPT.2010.096.

Sugden, S. (2012) ‘Reflections on business models and technology designs


for pit emptying services’, Fsm2, (May), p. 22.

Taruya, T., Okuno, N. e Kanaya, K. (2002) ‘Reuse of sewage sludge as raw


material of Portland cement in Japan’, Water Science and Technology,
46(August), pp. 255–258.

Thye, Y. P., Templeton, M. R. e Ali, M. (2011) ‘A critical review of techno-


logies for pit latrine emptying in developing countries’, Critical Reviews
in Environmental Science and Technology, 41(20), pp. 1793–1819. doi:
10.1080/10643389.2010.481593.

108 109
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | FIGURAS, TABELAS E GRÁFICOS

TABELAS FIGURAS

Tabela 1: Características de manobrabilidade, capacidade, velocidade e au- Figura 1: Etapas da rede de esgotamento sanitário no MLF
tonomia de deslocamento para diferentes soluções de transporte de LF
Figura 2: Cadeia de serviço do esgotamento sanitário por modelos descen-
Tabela 2: Nutrientes disponíveis nas excretas humanas e demanda nutri- tralizados ou semi-centralizados
cional para a produção de 250kg de grãos
Figura 3: Diagrama de auxílio à decisão do tipo de solução a ser utilizado
na coleta de lodo fecal

QUADROS Figura 4: Etapas comumente compreendidas no processo de tratamento


de lodos fecais

Figura 5: Linhas de efluente provenientes das diferentes etapas de trata-


mento dos lodos fecais

Quadro 1: fatores que influenciam na determinação de soluções e tecnolo- Figura 6: Principais atores envolvidos nas diferentes etapas do MLF
gias de contenção de lodo fecal
Figura 7: Diagrama de fluxos e relações no modelo de sistemas isolados
Quadro 2: Quantidade de combustível requerida e demanda equivalente com recuperação de recursos
suprida em diferentes usos do LF
Figura 8: Diagrama de fluxos e relações no modelo voltado para a gestão
Quadro 3: Modelo CANVAS destacando a relação entre proposições de va- pública
lor atividades envolvidas no MLF
Figura 9: Diagrama de fluxos e relações no modelo baseado em servidores
Quadro 4: Aspectos chave que podem influenciar os modelos de serviço privados
envolvido no MLF
Figura 10: Diagrama de fluxos e relações no modelo licenciador
Quadro 5: Aspectos chave que influenciam o modelo baseado em sistemas
isolados com recuperação de recursos

Quadro 6: Aspectos chave que influenciam o modelo voltado a gestão pública

Quadro 7: Aspectos chave que influenciam o modelo baseado em servido-


res privados

Quadro 8: Diagrama de fluxos e relações no modelo licenciador

110 111
CAMINHOS PARA O SANEAMENTO INCLUSIVO NO BRASIL A RELEVÂNCIA DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DESCENTRALIZADO | LISTA DE SIGLAS

SIGLAS

ABES-SP - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental de São Paulo PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios

AGERGS – Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul PNAD-C – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios Contínua

ANA – Agência Nacional de Águas PMSB – Plano Municipal de Saneamento Básico

CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará PNSR – Programa Nacional de Saneamento Rural

CENTRAL - Central de Associações Comunitárias para Manutenção de Sistemas de Saneamento PRODES - Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas

CESB – Companhia Estadual de Saneamento Básico PRORURAL – Programa de Saneamento Rural

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente PROSAB – Programa de Pesquisas em Saneamento Básico

CORSAN – Companhia Riograndense de Saneamento SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária SISAR – Sistema Integrado de Saneamento Rural

ETE – Estação de Tratamento de Esgoto SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

ETL – Estação de Tratamento de Lodo Fecal UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos BMFG - Bill and Melinda Gates Foundation

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde BORDA - Bremen Overseas Research and Development Association Organization

ODS – Objetivo de Desenvolvimento Sustentável CDD Society - The Consortium for DEWATS Dissemination Society

OMS – Organização Mundial da Saúde ENPHO - Environment and Public Health Organization

ONU – Organização das Nações Unidas NSSMP - National Sewerage and Septage Management Program

PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico WHO – World Health Organization

112 113
EQUIPE TÉCNICA
AUTORES DIAGRAMAÇÃO
Tomaz Gregori Kipnis COTA 760
Paulo Bernardo Neves e Castro Marília Müller

REVISÃO DE TEXTO
Gisela Monroe
Rafaela Marques

TIPOGRAFIA
Montserrat
Open Sans

Você também pode gostar