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ARQUITECTURA Y CLIMA - Rafael Serra
Tradução de ROGER ABRAHIM
Capítulo I.
O entorno da arquitetura.
Os edifícios são barreiras contra a chuva, o vento e, às vezes, filtros sutis de luz e
calor. Com entornos variáveis, que mudam conforme o dia e a noite, o calor e o
frio, o vento e a calmaria, a chuva e o sol; as construções se transformam em
refúgios de condições artificiais, como ilhas de tranqüilidade num mundo
incômodo.
Se a arquitetura é clima, também é verdade que existem muitos climas que nela
intervém: climas de inverno e de verão, climas de luz e calor, climas de transição
entre interior e exterior, climas de arquitetura popular e de arquitetura mais
representativa, climas naturais e artificiais e por último, os climas que não são
climas; climas sonoros, psicológicos, espirituais e mágicos, com o que se gera a
infinita variedade dos espaços arquitetônicos.
Estudar os climas da arquitetura pode apresentar certa dificuldade devido à
complexidade de cada um dos diferentes climas. Simplificando uma abordagem
inicial do problema, considerando somente o sentido térmico da palavra “clima”,
temos que, determinado clima depende de somente quatro parâmetros: da
radiação solar e da temperatura do ar, da umidade do ar e da velocidade do
movimento do ar. Esta simplicidade resume a enorme variedade climática do
planeta a estes quatro valores.
Neste livro, entenderemos o clima ou, melhor dizendo, os climas, da arquitetura
num sentido mais amplo, incluindo todos aqueles fenômenos ambientais que
atuam sobre os ocupantes de um edifício, influindo sobre seu bem estar e sobre
sua percepção do mesmo no que diz respeito a sensações térmicas, táteis,
visuais, auditivas, entre outras.
Falando num sentido mais convencional do termo, os climas sobre a superfície
do nosso planeta também são muito variados: quentes ou frios, secos ou úmidos.
Mudam segundo a época do ano, com a variação do movimento aparente do Sol
no céu ou segundo o regime de ventos. De toda esta variedade de climas
existentes, quando os analisamos com relação à arquitetura, os simplificamos em
casos-tipo representativos conforme as imposições do entorno.
Nas regiões quentes e secas, as temperaturas são muito altas durante o dia,
mas baixam consideravelmente durante as horas noturnas. A insolação intensa e
as precipitações e nebulosidade escassas, fazem com que a radiação solar direta
seja preponderante e que a distinção entre sol e sombra seja muito importante.
Eventualmente podem ocorrer ventos carregados de poeira e areia, compatíveis
com a aridez e a pouca vegetação normais neste tipo de região.
É um tipo de clima típico de zonas continentais e próximas do equador, e a
arquitetura popular característica destas zonas tende a ser compacta, com
poucas aberturas, muitas vezes com paredes grossas, ou subterrânea, para obter
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a máxima inércia térmica contra as variações do clima exterior e, por último, com
o magnífico recurso do pátio, que gera um espaço interno abrigado do Sol,
umedecido e refrescado com a presença d’água, que permite uma conciliação da
arquitetura interior com o exterior.
Ilustração 01: arquitetura árabe.
Nas zonas quentes e úmidas, as temperaturas, ainda que altas, são mais
moderadas e constantes do que nas regiões desérticas. As nuvens e a chuva são
freqüentes, sobretudo durante certa época do ano, fazendo com que a radiação
solar, sempre intensa, se apresenta muito mais difusa que no caso anterior e a
umidade se apresenta constantemente alta. A arquitetura popular característica
destes climas, próprios das zonas subtropicais marítimas, é uma arquitetura
leve, muito ventilada, protegidas contra as radiações solares em todas as
direções e sem inércia térmica de nenhum tipo. Os edifícios são abertos, largos e
separados entre si e do chão para melhor se expor às brisas. As paredes quase
que desaparecem, ao ponto de comprometer a privacidade para melhorar a
ventilação. As coberturas são elevadas e com largos beirais, para proteger os
fechamentos verticais dos edifícios da radiação solar e das chuvas.
Ilustração 02: arquitetura tropical.
Nas regiões frias as temperaturas são baixas o ano todo, em especial durante o
inverno; a radiação solar é pouca e as precipitações são, freqüentemente, sólidas.
Nestas condições, as considerações sobre a umidade do clima ficam em segundo
plano1 e, por causa disso, não se costuma fazer diferença entre climas frios secos
e úmidos, mesmo considerando que a maior ou menor distancia da região com
relação ao mar pode ter repercussões sobre as oscilações térmicas e, em último
caso, sobre a dureza das condições térmicas.
Este clima é próprio de regiões de latitude elevada, próximas das zonas polares.
Nestas regiões a arquitetura autóctone tem como principal dificuldade a ser
vencida a conservação do calor em seu interior. Por isso as construções são
compactas, isolados, com pequenas aberturas para o exterior e com formas que
minimizam a ação dos ventos frios2. Em certo sentido as formas arquitetônicas
2 Os iglus são construídos com blocos de neve (que é um excelente isolante térmico e fácil
de cortar), o bloco superior da cúpula, a pedra angular da estrutura, é, frequentemente,
talhada em gelo que, por ser transparente fornece uma desejável iluminação ao interior.
Quando a cúpula do iglu está pronta, a dona da casa entra e, numa cerimônia ritual,
acende uma lamparina e fecha a abertura de saída, causando a elevação da temperatura
interior; com a elevação da temperatura a parede começa a derreter, a dona da casa
então abre a abertura novamente causando o congelamento da água que escorre pela
parede, impermeabilizando-a. Em seguida, uma cortina de peles de animais é estendida
ao longo da parede, criando um colchão de ar entre as duas, melhorando ainda mais o
isolamento térmico que, mesmo com temperaturas externas na casa do 40º C negativos,
pode apresentar temperaturas internas superiores a 14º C acima de zero.
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nestes climas apresentam similitudes com as dos climas quente e secos, que
coincidem em sua atitude primordial de defesa contra as condições do ambiente
exterior.
Ilustração 03: arquitetura ártica.
Ainda que não seja propriamente um tipo de clima, também vale a pena
considerar a ação específica dos ventos como condicionante da arquitetura. O
movimento do ar está relacionado com a sensação térmica e, por isso, pode ser
um fator positivo no caso dos climas quentes e úmidos, às vezes negativo nos
quentes e secos, e sempre negativos nos frios. Além do que, os ventos intensos
são desagradáveis e podem afetar outros aspectos do conforto além do térmico,
por causa deles, muitas vezes se convertem numa imposição da forma
arquitetônica.
Na arquitetura popular de muitas regiões do globo, o vento se mostra com
clareza como condicionante de soluções e sistemas especiais, que têm como
função específica atenuar sua ação. Por este motivo, ao considerar os diversos
tipos de climáticos, incluímos entre eles os do clima ventoso.
Outro tipo climático a considerar é o dos climas temperados, onde se registram
consideráveis modificações das condições climáticas ao longo do ano, como é o
caso do clima mediterrâneo. Paradoxalmente, é neste tipo de clima que a
arquitetura se faz mais complexa, ao ter que ser adaptável, ainda que por curtos
períodos de tempo, a todo o espectro dos tipos básicos de clima comentados até
aqui. Assim, o problema básico destes climas não é sua dureza, mas o fato de
que, em qualquer dia do ano e hora do dia as condições do clima, eventualmente,
podem mudar radicalmente. Registram-se problemas de frio no inverno, que pode
ser seco ou úmido (diferença que, neste caso, é importante); problemas de calor
no verão, que também podem ser seco ou úmido e tão intensos como em regiões
mais extremas, ainda que os períodos de tempo sejam sempre mais curtos, e,
finalmente, o problema do clima variável que, nas estações intermediárias,
podem gerar problemas de frio ou de calor separados por curto espaço de tempo.
Ainda que cada uma destas características, consideradas em separado, não seja
realmente crítica, em conjunto fazem com que a arquitetura dos climas
temperados tenha que apresentar um maior grau de complexidade, o que a torna
mais difícil do ponto de vista do desenho.
Ilustração 04: casa mediterrânea.
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Capítulo II.
O difícil bem estar.
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aparente dos objetos conhecidos, que é o sistema que mais utilizamos, ainda que
possa nos enganar facilmente se são de entorno desconhecidos ou em escala
diferente da normal.
No caso da audição, ao contrário, a avaliação da distância se apóia quase que
exclusivamente na experiência, ligada à intensidade do som que percebemos, o
que representa uma fraca precisão do sentido na dita avaliação da distância.
Mas além de ser percepção, a transmissão de informação é também estética. Os
parâmetros ambientais, que são energias que interagem livremente com os seres
humanos, geram impulsos de informação com uma ordenação própria, da qual
resulta uma mensagem estética capaz de produzir as emoções que normalmente
associamos com as expressões artísticas mais convencionais, da música, da
literatura e das artes plásticas.
Este papel estético dos parâmetros ambientais se torna mais claro se analisamos
sua capacidade de gerar as sensações que associamos ao conceito de beleza.
Para isso deveremos ter em consideração como os diferentes tipos de expressão
artística utilizam os mesmos recursos básicos de composição. Estes recursos
(“ferramentas artísticas”), são, entre outros, o ritmo (no tempo e no espaço), o
ênfase ou acento (positivo ou negativo) e o contraste (de intensidade, de cor, de
tom, de volume, etc.).
O mesmo se dá quando tratamos de pintura, cinema, musica ou literatura; em
todos se faz uso destas ferramentas básicas, que se transformam em obra
artística através de outras ferramentas materiais de expressão concreta, que são
as que produzem o resultado aparente e a conseguinte transmissão da
mensagem ao receptor.
Como é evidente, o fato de se utilizar estas ferramentas artísticas não tem nada a
ver com a qualidade do resultado obtido. Usando ritmos, acentos e contrastes
pode-se gerar péssimas obras; o valor estético depende de algo mais que isto.
Mas também é certo que, sem estas ferramentas, não existe mensagem coerente
e faltará expressão artística e, portanto, beleza.
Admitindo o que expressamos nos parágrafos anteriores, podemos agora julgar a
capacidade das energias ambientais para gerar este tipo de expressão artística.
Em maior ou menor medida vemos que, tanto os parâmetros de luz como de som,
os térmicos e os do ar, têm a capacidade de estabelecer no interior dos edifícios,
no tampo e no espaço, ritmos, ênfases ou contrastes, com todas as suas
possíveis variantes. Em conseqüência, defendemos aqui que os parâmetros
ambientais são também portadores de informação estética. Em última instância,
o bem estar dos ocupantes da arquitetura também está condicionado por estes
mesmos parâmetros.
Portanto, seja considerando os parâmetros ambientais como meros agentes de
conforto fisiológico, ou valorizando-os como transmissores de informação,
simplesmente perceptiva ou estética, seu papel na arquitetura é de agente
principal. Por esta razão, o desenho ambiental não deve ser relegado à uma área
técnica de apoio ou correção, mas deve ser entendida como objeto direto do
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Capítulo III.
O clima do ar e da umidade.
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Por outro lado, existem limites de comodidade para a velocidade do ar, que
não convém que ultrapasse um metro por segundo (1 m/s). Com esta tática, a
ventilação contínua e de fluxo alto supõe, para ser efetiva, um intercambio de
ar interior-exterior superior aos 30 volumes/hora.
c) A renovação do ar interior com o ar exterior à temperatura mais baixa (e
também de menor umidade, se possível), se pode conseguir mediante
ventilação noturna ou ventilação procedente de zonas especiais, onde o ar é
mais fresco (pátios arborizados, subterrâneos, etc.).
Nestes casos não é necessário que a renovação seja muito alta e, mesmo quando
se toma ar das chamadas zonas especiais, convém limitar o fluxo para evitar o
rápido esgotamento da reserva de ar fresco.
A aplicação destas diferentes táticas nos edifícios implicará na existência de uma
disposição de aberturas tal que permita dispor com simplicidade os diferentes
tipos de ventilação. Em geral, serão imprescindíveis aberturas para a saída do ar
na parte alta dos locais, outras dispostas nas paredes verticais de fachadas
opostas, para permitir a ventilação cruzada no caso de existir vento e, por último,
como solução de desenho básico, a disposição de zonas exteriores ou semi-
interiores frescas, subterrâneos, pátios ou jardins, com reserva de ar fresco.
No caso mais complicado da ventilação cruzada, usada para refrigeração direta
sobre o corpo, existe a necessidade de um fluxo de ar muito maior, que pode ser
mitigada com a escolha de zonas interiores preferenciais para a passagem da
corrente de ar, em detrimento de outras zonas de menor ocupação, onde se
permite um ar mais estático.
As soluções arquitetônicas necessárias para conseguir um clima e umidade
adequados do ar, são mais complexas do que em outros climas da arquitetura, já
que significam solucionar os casos de inverno, crítico em qualquer clima frio
temperado, mas sem comprometer o comportamento do mesmo edifício no verão,
quando algumas das soluções de inverno atuam negativamente sobre as
condições térmicas anteriores.
Para o inverno, deve-se considerar no projeto os seguintes resultados:
1) “Forma geral do edifico compacta”, que evita entradas e saídas que
aumentam as superfícies de perda e favorece o desenvolvimento de fachadas
orientadas entre sudeste e sudoeste, em detrimento das outras.
2) “Isolamento dos fechamentos”, reforçado na orientação norte e na cobertura
do edifício (10 centímetros de material isolante e vidro duplo com câmera nas
aberturas) e, mesmo que em menor medida, isolar também os contatos com
locais auxiliares e com o terreno.
3) “Fechamentos praticáveis” com estanquidade relativamente alta, mas, em
casos de climas úmidos, conservando as possibilidades de ventilação que
renovem o ar dos locais sem que as correntes incidam sobre os ocupantes. Na
distribuição das aberturas devem-se levar em consideração os ventos frios e
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intensos, que devem ser evitados, sendo mais adequadas as orientações nas
direções de brisas suaves e freqüentes.
4) “Isolamento móvel nas janelas”, mediante uma segunda janela com material
isolante na sua composição, ou cortinas que criem barreira à passagem do ar.
Para o caso do verão, as soluções adequadas serão:
1) Assegurar uma “saída de ar permanente” na parte mais alta de cada local e
do edifício em seu conjunto. A área de passagem deste ar a ser eliminado, em
metros quadrados, deve ser proporcional ao volume a ser ventilado dividido
por 40 (quarenta).
2) Assegurar uma ou várias “entradas de ar” na parte inferior dos locais, se
possível dando para zonas ou espaços onde o ar esteja em boas condições de
temperatura e umidade. Estas aberturas devem ter uma área de passagem
total da ordem de uma vez e meia as mencionadas no item anterior.
3) Além das soluções anteriores, será conveniente prever “aberturas
praticáveis” que se comuniquem, pelo menos, com zonas exteriores em
condições de temperatura e vento diferentes. A área de passagem destas
aberturas devem ser proporcionais ao volume do local dividido por 20, tanto
para a entrada como para a saída do ar.
Reunindo estas soluções, estará assegurado, em condições normais, o
funcionamento das estratégias de ventilação mencionadas anteriormente (anti
umidade, ação sobre o corpo e refrigeração noturna). No entanto, as áreas de
passagem mencionadas podem representar pontos fracos no isolamento de
inverno, embora as aberturas praticáveis estejam fechadas. Por este motivo pode-
se reduzir as ditas aberturas a menos da metade do aconselhado, sempre que
isso signifique o favorecimento da eficiência dos diferentes tipos de ventilação
com um desenho adequado. Uma escolha precisa da localização das aberturas e
da colocação de dispositivos ou sistemas especiais que favoreçam a circulação e,
no caso, o tratamento do ar de ventilação, veremos ao tratar do “clima do vento e
da brisa”.
Como resumo geral, seja através do desenho arquitetônico ou utilizando alguns
dos sistemas especiais tratados mais adiante, o “clima do ar e da umidade”
implica, tanto uma boa abordagem arquitetônica, como um correto uso do
edifício por parte de seus ocupantes, contemplando conjuntamente os casos de
inverno e verão.
Deste modo pode se assegurar um funcionamento ambiental da arquitetura
muito superior ao que normalmente acontece; no entanto existem outros
aspectos, que ainda não tratamos e que atual de forma importante no conforto
ambiental dos usuários, em especial o “clima da luz e do sol”, que não deverá ser
desconectado nunca do que foi tratado no presente capítulo.
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Capítulo IV.
O clima da luz e do sol.
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A iluminação artificial, primeiro com gás e depois com eletricidade, nos permitiu
conquistar a noite, não só para o trabalho mas, sobretudo, para recreação. Mas
esta conquista nos levou, infantilmente, a supervalorizar as possibilidades desta
luz artificial e com isso a projetar arquiteturas só habitáveis, de dia e de noite,
com a ajuda deste tipo de iluminação. O moderno paradoxo arquitetônico de
edifícios totalmente revestidos de vidro e com a iluminação artificial interior em
funcionamento durante todo o dia, não é mais do que a conseqüência desta
ingênua fé na artificialidade.
O clima da luz e do sol é, em grande parte, um tema relacionado com a
visibilidade. Dos diferentes parâmetros relacionados com o bem estar, os
luminosos se resumem, muitas vezes de forma equivocadas, em um nível ou
96quantidade de luz (iluminação), mas o que o olho humano vê não são as
quantidades de luz que chegam às superfícies, mas a luz que está sendo refletida
até o olho (luminância).
O que resume a comodidade visual (e a percepção) com maior fidelidade, é o
conceito de visibilidade, que depende das relações entre as claridades
(luminâncias) presentes no campo visual e muito pouco do valor absoluto destas
luminâncias.
A visibilidade inclui os efeitos de deslumbramento3, que é a capacidade de ver
com o mínimo esforço aquilo que o ser humano quer observar; mas considera
este efeito um caso particular de um conceito mais global. Este conceito pode ser
exemplificado perfeitamente com um caso concreto.
Nos países mediterrâneos, onde os dias de inverno são curtos e os de verão mais
longos, como nas costas e ilhas temperadas pelas brisas, a arquitetura se veste
de branco, refletindo descaradamente toda luz visível para evitar seu calor. Mas,
surpreendentemente, as janelas são cobertas por persianas escuras,
normalmente verdes ou marrons, que se destacam sobre as brancas paredes dos
edifícios.
Terá, talvez, a saudade da cor da vegetação, se perdido sob o sol cruel?
Inconstância estética de uma arquitetura tão escassa em recursos? Ou, talvez a
técnica protetora da madeira, própria dos pescadores, tenha sido transferida
para a arquitetura? Em qualquer caso, o fenômeno nos surpreende, a cor escura
absorverá a radiação e a transformará numa maior quantidade de calor presente
no ar e os espaços interiores ficarão inutilizados por falta de iluminação.
Por trás destas considerações, uma vez mais se esconde uma sábia técnica da
arquitetura popular. Porque com o uso da persiana mediterrânea se consegue
uma adequada visibilidade no interior, reduzindo ao mínimo imprescindível a
quantidade de luz que penetra no ambiente e, portanto, também a quantidade de
calor.
A única luz que entra nos locais é a luz refletida pelas superfícies exteriores
(normalmente brancas ou de cor clara) que, também, o faz numa única direção, a
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das lâminas das persianas, que absorve a radiação que não segue esta direção
ascendente.
Como resultado os raios vão incidir diretamente sobre o teto do local, sempre de
cor branca, e daí se distribui de forma difusa pelo dito local. Desta forma, o
resultado é um espaço interior escuro, com uma mancha clara no teto, sobre a
janela, para onde normalmente a visão humana não está orientada.
Em conseqüência, no campo visual dos ocupantes do local não existe nenhuma
superfície de grande claridade, que obrigue a visão a reduzir sua sensibilidade. A
cor escura da persiana reduz a claridade do interior e as áreas mais claras
estarão sobre a mesa, o livro ou o trabalho a ser realizado, iluminado pela
mancha de luz no teto, que fica fora de nossa visão principal.
Se mudássemos as condições, abrindo a persiana, teríamos muito maior
quantidade de luz no espaço, mas a visão do exterior através da persiana, com as
altíssimas claridades de fora, propiciaria uma visibilidade muito pior.
Secundariamente, neste caso, teríamos um aporte muito maior de calor.
Por último, podemos dizer que a luz num espaço é, sobretudo, um problema de
equilíbrio entre as claridades do mesmo. Se também considerarmos como a
direção da luz que incide sobre os objetos (luz dirigida ou luz difusa), produz
sombras que acentuam ou mascaram sua forma, o que é também um jogo de
claridades, obteremos com ela a maior parte dos efeitos visuais da arquitetura.
O efeito da luz que nos permite observar as cores é resultado da reflexão desta
nas superfícies dos objetos observados. Ainda que a legibilidade do espaço
dependa mais do jogo de claridades do que de suas cores, a influência consciente
ou inconsciente da cor da luz e das superfícies que a refletem, têm uma
importância decisiva no bem estar de seus usuários.
Quando consideramos a cor, de modo geral, é quando mais se acentua a
diferença de qualidade entre a iluminação natural da artificial. A entrada de
radiação solar direta tem uma distribuição espectral que consideramos “perfeito”
e as cores dos objetos, refletindo esta luz, são as únicas que consideramos
verdadeiras. Esta qualidade da luz natural, unida a sua economia energética,
justifica qualquer esforço de desenho arquitetônico que contribua para que os
edifícios só utilizem este tipo de luz durante as horas diurnas.
Porque, além disso, existe uma correlação demonstrada entre o tipo de luz e o
ciclo dia-noite, que influi sobre as reações humanas, inclusive sobre sua saúde
fisiológica. O organismo humano, preparado para um ciclo luz-escuridão
determinado, se ajusta com certa dificuldade a estas condições artificiais de
nossa cultura, com excesso de luz em horas noturnas e escassez e pouca
adequação nas diurnas.
Mas o clima da luz e do sol não termina com os efeitos visuais e seria um erro
limitar as análises a esta parte. Como dizíamos no início, as radiações são uma
forma de energia que, como todas, acaba se transformando em calor. A parte
mais importante da influência do clima da luz e do sol sobre o bem estar térmico,
é conseqüência direta disto.
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somente o aporte direto de energia solar que penetra pelas aberturas, permite
aquecer um interior no qual se deve evitar a perda de calor, isolando os
fechamentos opacos e colocando elementos transparentes nas aberturas, o que
permite a entrada do sol e evita a perda do ar aquecido do interior.
Na verdade, esta situação é relativamente simples. Só é preciso orientar as
aberturas na direção do sol no inverno (entre sudeste e sudoeste) e isolar
convenientemente o ar interior com relação ao exterior. Nos casos mais extremos
pode ser conveniente reforçar a captação de energia, convertendo algumas
superfícies opacas orientadas para o sul em superfícies captoras, simplesmente
pintando-as de cor escura e revestindo-as de material transparente, o que
permite o acesso do sol e dificulta seu esfriamento por contato com o ar exterior
ou por radiação própria.
Com estas estratégias aplicadas de uma maneira coerente é relativamente
simples solucionar, ou pelo menos melhorar, a situação em caso de tempo frio.
Outra coisa será a situação de calor, no verão, na qual os fenômenos são mais
complexos e, embora as conseqüências sejam menos críticas, a solução
arquitetônica é mais difícil.
Na dita situação de calor o fator de maior gravidade é a penetração de radiação
solar direta, que procederá basicamente das direções leste, oeste e zenital. Mas, o
que não se considera normal é que, embora o sol não incida de forma direta, nos
prédios podem penetrar importantes quantidades de energia radiante e sua
prevenção é também obrigatória se queremos evitar sobreaquecimentos
interiores.
O sol refletido no exterior, em outros edifícios ou em terrenos claros, é outro
importante aporte de energia quando penetra por aberturas sem incidência de
radiação solar direta. Neste caso, as aberturas para o norte ou as que se oriental
para o sul protegida por protegidas por beirais, pode significar forte aquecimento
não previsto.
Sempre, quer se trate de aporte direto ou refletido, a entrada de energia está
associada, e é proporcional, à entrada de luz. Por isso existe uma tática fácil de
utilizar em tempos quentes, escurecer os espaços durante o dia, o que é
adequado tanto para climas secos como para climas úmidos.
Mais prejudicial é a entrada de radiação reemitida, que ocorre quando as
superfícies, aquecidas previamente pelo sol, emitem sua própria radiação. Neste
caso se trata de radiação não visível, ou seja, não denuncia sua presença com a
luz, mas que também pode representar importante fonte de aquecimento nos
interiores que a recebem. Além do que, como já comentamos, esta reemissão
pode ser o resultado do aquecimento por radiação solar dos próprios
fechamentos opacos do edifício, que vem a se somar à radiação reemitida pelas
superfícies exteriores e que penetram através das aberturas.
Para solucionar o problema, a tática do escurecimento já não é suficiente e, se
queremos evitar seus efeitos perniciosos, será preciso utilizar recursos mais
sofisticados e menos aparentes.
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Capítulo V.
O clima das paredes.
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Capítulo VI.
O clima do vento e da brisa.
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entorno, se pode começar a pensar no vento com relação ao desenho e sua ação
sobre a arquitetura.
Esta ação representará proteger os edifícios dos ventos frios e impedir a geração
de correntes de ar indesejáveis no interior dos locais mas, por outro lado, em
caso de calor, será necessário favorecer a passagem do vento nos edifícios e
permitir a adequada ventilação interior dos mesmos com as pressões e
depressões que o originam.
Em todos estes casos será importante conhecer e controlar as ações dos
elementos construídos sobre o vento, e como se comporta o movimento e as
pressões do ar no entorno dos e no interior dos edifícios.
A primeira ação a ser considerada é a das barreiras que o vento pode encontrar
na sua circulação, sejam eles elementos naturais, construídos ou vegetais.
Como regra geral e para um vento típico e com qualquer um destes tipos de
barreira, a intensidade do vento será reduzida à metade até uma distância de dez
a quinze vezes a altura da barreira, sempre dependendo da forma da mesma.
Uma redução maior, de até um quarto da intensidade, se conseguirá com
barreiras contínuas (não vegetais), até a uma distância de dez vezes a altura da
barreira.
A proteção que as barreiras oferecem ao vento, como é lógico, não têm sua
aplicação restrita aos elementos construídos num determinado prédio mas
também influenciam a ação que este prédio exerce sobre seu entorno imediato e
sobre outras construções próximas.
Um caso que merece especial atenção, com relação à incidência do vento sobre os
edifícios, é o das árvores situadas em suas proximidades. A presença de áreas
arborizadas, em relação ao edifício, deve sinalizar a criação de zonas
diferenciadas no seu entorno, mais ou menos protegidas, ou que aumentem a
ação do vento, conforme sua disposição.
É importante estudar cada caso em planta e em corte, à nível de aproximação
gráfica ou, caso seja possível, em túnel de vento, já que as ações concretas em
um caso particular podem apresentar drasticamente modificadas com ligeira
modificação das proporções das barreiras utilizadas.
O passo seguinte consiste em analisar o efeito sobre os fechamentos do edifício e
dos fluxos de ar. Este efeito se pode resumir, na prática, nas pressões e
depressões que se criam sobre as diferentes superfícies que, em última instância,
geram as correntes de ar, desejadas ou não, através dos espaços interiores.
Sob uma forma básica simples, paralelepípeda, quando o vento incide
perpendicularmente a uma de suas faces, é gerada uma acentuada pressão na
dita face, uma depressão menor na face oposta e uma ligeira depressão nas faces
laterais, na zona mais próxima à face submetida à depressão.
Em outros casos, ao modificar a direção do vento ou a forma do edifício que o
recebe, modifica-se a partição das pressões sobre seus fechamentos.
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imprecisão no seu uso. A regra geral deve consistir em prever sistemas flexíveis e
confiar que os usuários saibam utilizá-los com a máxima eficiência.
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Capítulo VII
O Clima do silêncio
Pode parecer insólito que, ao falar dos climas da arquitetura nos refiramos ao
“clima do silêncio”, entendemos, porém, que faz todo o sentido se estamos
analisando o ambiente interior e sua ação sobre o ser humano que o habita. Os
ocupantes de um edifício recebem, constantemente, uma série de estímulos
energéticos que são percebidos, conscientemente ou não, através de seus
diversos sentidos naturais. Ao contrário do que muitas vezes parece, estes
estímulos não são independentes entre si e o bem estar dos usuários depende de
sua ação conjunta, com efeitos que não podem ser avaliados como uma simples
soma das ações individuais sobre cada um dos sentidos.
No caso do som, que percebemos com nosso sentido auditivo, está demonstrado
que as sensações sonoras atuam sobre nosso bem estar, não só diretamente,
mas também modificando, e com freqüência para pior, nossas sensações
térmicas, luminosas ou de outro tipo qualquer. Por isso, neste capítulo
comentaremos o comportamento acústico da arquitetura porque, também, as
resoluções de projeto para melhorar o desempenho térmico ou a iluminação de
um determinado espaço, terão sempre conseqüências acústicas que convém
conhecer.
Ainda o som, como todos os outros fenômenos ambientais, é portador de uma
determinada quantidade de energia que é transferido ao ambiente (neste caso,
energia mecânica), devemos ter em conta, porém, que as potências energéticas
envolvidas na produção do fenômeno sonoro são muito pequenas em comparação
com os outros casos. Por este motivo, a presença do som dificilmente terá
repercussões sobre o estado térmico de um interior ainda que, inversamente, é
fácil que qualquer perda de energia de sistemas ou máquinas existentes no
interior considerado repercuta, se existem vibrações, na geração de sons de alta
intensidade relativa.
Talvez por este motivo, na nossa moderna sociedade a acústica arquitetônica
tomou um sentido muito diferente do tinha, historicamente. O que antes era um
problema de reprodução do som nos interiores, quando havia interesse que estes
sons de difundissem no ambiente de maneira adequada (palavra ou musica, por
exemplo), na atualidade se transformou basicamente num problema de proteção
contra ruído.
A “escória sonora” que rodeia os espaços onde habitamos faz com que o problema
acústico se converta numa questão de proteção, de criação de barreiras
separadoras. Por isso, da mesma maneira que acontece nosso sentido do olfato,
nosso sentido acústico é, sobretudo, de defesa e, somente em pequena monta, de
comunicação, esta sim, cada vez mais individualizada.
Mas, antes de prosseguirmos, devemos distinguir de maneira clara o que
significa, conceitualmente, som e ruído. Ainda que do ponto de vista físico um
som (vibração mecânica no ar captada por nossos sentidos) se transforma em
ruído quando deixa de ser som puro (uma única freqüência) ou um som musical
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comprovar que os espaços que cumpriam as leis de estética mais conhecidas das
proporções geométricas, de base matemática e visual, resultaram em
compartimentos acústicos mais nobres que outros espaços desproporcionados,
segundo estas mesmas leis.
Esta aproximação positiva do som na arquitetura deixou, nos dias de hoje, ainda
mais mascarado pelo mencionado problema da “escória sonora” onipresente na
nossa moderna sociedade e, também, pelo mesmo desenvolvimento tecnológico
que, com os modernos sistemas de gravação, transporte, armazenamento e
reprodução do som, tenta nos fazer acreditar que a ação da arquitetura sobre a
acústica já não é importante.
Talvez, com a acústica estejamos cometendo o mesmo tipo de erro que caímos
com as técnicas climáticas propriamente ditas. Como já mencionamos, falando
do clima da arquitetura, existem situações nas quais as instalações artificiais de
refrigeração não conseguem compensar as deficiências do edifício, e não é por
limites econômicos ou capacidade das máquinas, mas pelos limites fisiológicos
de conforto do usuário que não suporta caudais excessivos ou temperaturas
muito baixas do ar insuflado. Da mesma forma, nos espaços acústicos
claramente desproporcionados e com uma ressonância excessiva, as melhores
técnicas eletroacústicas fracassarão se tentarem conseguir um som agradável.
Uma vez mais, as muletas que para a arquitetura representam muitas vezes os
sistemas artificiais de controle ambiental, se mostrarão insuficientes para tornar
um ambiente adequado se não existe uma base apropriada no corpo desta
mesma arquitetura.
Retornando ao princípio, para trabalhar o som na arquitetura, o primeiro que
temos que saber é conquistar o silêncio. Se trata de um silêncio relativo,
inexistente, o silêncio do som que nos permite atuar sonoramente sobre ele, sem
ferir com ele a fisiologia humana.
Para isso se fazem necessárias barreiras, quanto mais perto da fonte do ruído
melhor. De nada nos serve uma grossa parede como barreira acústica se nela
houver um pequeno buraco pelo qual se infiltrará todo o ruído. Mais vale reduzir
o ruído na sala de máquinas do que isolar acusticamente o dormitório com
soluções sofisticadas e caras.
Se levarmos esta abordagem ao limite, os edifícios deveriam ser um ajuntamento
de caixas estanques, elasticamente independentes. Cada espaço seria um recinto
claustrofobicamente isolado com pesadas paredes, não só dos outros espaços,
mas, sobretudo, do espaço externo; silenciosos ataúdes enfim. Mas, por sorte,
existem outros recursos, o som pode ser atenuado no seu caminho, várias
barreiras leves podem dar mais resultado que uma pesada. Sobretudo, pode-se
obter surpreendentes resultados isolantes com uma adequada distribuição
espacial dos recintos.
Poderemos obter recintos que talvez não sejam tão silenciosos, mas que podem
ser trabalhados de maneira positiva com relação ao som, conservando o valor
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informativo que têm, inclusive, os sons não desejados e que nos mantêm
conectados psicologicamente como nosso entorno.
Se a arquitetura pertence a um determinado lugar, deve estar conectada
sonoramente, mas não agressivamente, com ele; como deveria estar, também,
térmica e luminosamente e com sua ventilação. O recurso supremo não é
separar-se do lugar e construir anônimos edifícios transplantáveis a qualquer
lugar do mundo, sem utilizar com critério e sabedoria nossa tecnologia para
aproveitar o muito de positivo que o entorno pode nos oferecer, eliminando de
forma adequada suas agressões indesejadas.
Repassando os processos de desenho que afetam o “clima do silêncio”, podemos
definir as estratégias mais adequadas para cada aspecto do projeto arquitetônico.
Em primeiro lugar deve-se considerar a orientação do prédio, onde, se possível,
deve-se procurar proteção topográfica ou da vegetação existente para qualquer
ruído existente, apesar de sabermos que os sons mais graves se difratarão e
chegarão até nós, mesmo que estejamos visualmente protegidos. Apesar de a
arborização representar uma barreira relativa e de que é necessário mais de 30
metros de largura para que uma área arborizada para se conseguir isolamentos
acústicos importantes, qualquer barreira é boa, mesmo que seja somente pela
proteção visual, que nos impede de ver o elemento disturbante (vias, indústria,
discoteca, etc.).
O ruído é um fenômeno físico, mas sua ação perniciosa tem um importante
componente psicológico. Acomodando-se com facilidade aos estímulos
persistentes, nossas mentes podem não registrar alguns ruídos, sobretudo se os
estímulos visuais não ajudam a recordá-los. Por isso, ruídos amortizados podem
ser uma parte do silêncio relativo mencionado, que conserva nossa conexão com
o mundo.
Uma segunda ação de projeto possível é a correção do entorno, tratando-se
aqui da proteção de nosso espaço arquitetônico contra o espaço que o rodeia. As
barreiras, neste caso poderão ser relevos artificiais, muros ou cercas, vegetação
de vários tipos, etc. A regra geral é a mesma: a barreira visual não significa
barreira acústica, mas ajuda psicologicamente. Se não podemos aproximar a
barreira do ruído, podemos a aproximar do espaço protegido, procurando evitar
que estas se localizem no meio onde a difração as tornará inúteis.
Uma correção adequada pode criar uma área protegida no entorno ou, no
mínimo, perto da entrada do edifício. Este tipo de consideração pode ser
interessante porque procura diminuir a sensação desagradável na mudança do
ambiente externo, barulhento, para o interior, onde parece que a arquitetura nos
protege e acolhe antes de nela penetrarmos.
Um espaço deste tipo, eventualmente complementado com proteção contra o
vento ou chuva e referenciado mediante uma gradação luminosa (sombreamento
diurno, iluminação quente à noite), pode configurar um agradável preâmbulo
ambiental à experiência de refugiar-se num edifício da agressividade do mundo
exterior.
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que, por sua vez, podem influir as condições dos espaços contíguos. Numa
primeira análise classificamos os tipos de espaço conforme o tipo de função que
se desenvolvem nos mesmos.
Podem ser: Tipo 1) funções complexas (produzem energia e requerem controle);
tipo 2) funções geradoras (produzem energia e não requerem controle); tipo 3)
funções receptoras (não produzem energia e requerem controle) e tipo 4) funções
passivas (não produzem energia e não requerem controle).
Do ponto de vista acústico, como exemplo de produtores de som que requerem
controle acústico temos: salas de música, salas de estar com TV ou HI-FI, salas
de reuniões, etc. Como exemplo do tipo 2, ruidosos mas que não requerem
controle temos os sanitários, cozinhas, elevadores e sala de máquinas. Como
exemplo do tipo 3 temos dormitórios, bibliotecas e salas de estudo, por exemplo.
Por último, como exemplo do tipo 4, silenciosos e que não requerem controle,
temos armários, arquivos, vestiários, etc.
Assim podemos estabelecer um quadro de compatibilidade que pode ser aplicado
a qualquer espaço, incluindo-se os exteriores.
Como regra geral, duas funções incompatíveis devem estar junto de uma função
compatível com as duas. Os espaços passivos do tipo 4 podem servir de
protetores aos do tipo 3 contra os de tipo 1 e 2; estes últimos podem agrupar-se
sem problemas mas os de tipo 1 devem ser localizados em separado, o que
dificulta muito qualquer distribuição espacial.
Tendo em conta todas as considerações funcionais, juntamente com as diferentes
implicações ambientais, ao desenhar uma distribuição espacial interior,
acabamos por fazer prevalecer uns efeitos sobre outros. Para realizar esta
escolha não existe uma regra geral, porque cada edifício e cada um de seus
espaços internos é, em si mesmo, um complexo mundo de relações que se
estabelecem em diferentes níveis. Em cada caso, a decisão final pode e deve ser
diferente, ao ponto de que, em um caso similar ao que se já tenha projetado uma
vez, uma pequena variação de qualquer condicionante pode fazer com que o
resultado final seja totalmente diferente.
Outro aspecto a considerar é a simultaneidade temporal que pode existir entre as
diferentes funções ou atividades que acontecem nos espaços do edifício. Este
fator pode fazer com sejam irrelevantes incompatibilidades que poderiam existir
em outro caso. Como exemplo mais imediato temos o caso da relação entre um
dormitório individual e seu espaço sanitário. Por este motivo pode ser
aconselhável em certos casos fazer um diagrama temporal do desenvolvimento
das atividades.
Acusticamente também é importante prever as conexões indiretas entre espaços,
que se podem produzir por portas que se abrem de frente para uma calçada.
Neste caso, se si quer evitar esta comunicação acústica indireta, além de evitar o
confronto direto entre as portas, o espaço entre elas deve ser especialmente
absorvente.
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Além das regras mencionadas anteriormente e da mesma forma que temos feito
com outros climas da arquitetura, pode-se estudar soluções específicas para os
problemas acústicos, mediante “sistemas de controle acústico”.
Estes sistemas são caracterizados pelo conjunto de componentes de um edifício
que tem como função a melhora de seu comportamento acústico, atuando sobre
os sons externos ou internos sem requerer nenhum tipo de energia artificial para
seu funcionamento.
Ao considerar os sistemas que se incorporam ao projeto com uma finalidade
exclusivamente acústica devem-se analisar dois tipos principais de ação: por um
lado, a correção de deficiências em aspectos genéricos do desenho segundo a
função acústica, e por outro, a incorporação, menos freqüente, de sistemas
unicamente acústicos para conseguir um efeito particular.
Os sistemas de controle acústico podem ser classificados em quatro categorias,
conforme o tipo de ação que emprestam à correção sonora dos ambientes: se
proporcionam proteção acústica aos ambientes interiores contra os ruídos
externos, se corrige a acústica dos locais, se geram algum tipo de som ou se
transmitem o som.
A aplicação destes sistemas acústicos especiais na arquitetura, muitas vezes não
é necessária nos casos de espaços de uso corrente, mas serão imprescindíveis
para espaços que tenham uso prioritariamente acústico, como salas de concerto
ou estúdios de gravação.
Os sistemas de proteção acústica são conjuntos de componentes que se
incorporam aos edifícios com a intenção de deter sons não desejados antes que
penetrem nos espaços que queremos controlar. Ao considerar as características
da “pele” dos edifícios, isto é, dos fechamentos externos do prédio, é importante
levar em conta seu peso relativo, a continuidade e uniformidade de suas
qualidades como barreira acústica, assim como a hermeticidade dos fechamentos
que podem abris e fechar. Considerações muito parecidas pode-se fazer sobre o
desenho de interiores.
Vamos considerar aqui o caso em que o leiaute do projeto não pode separar os
espaços acusticamente incompatíveis. Neste caso, os sistemas possíveis, que
podem representar um incremento do isolamento em decibéis, são: as barreiras
acústicas e os espaços acústicos intermediários.
Os painéis acústicos especiais são sistemas de proteção acústica que reforçam
o efeito de barreira dos componentes construtivos de separação entre espaços
acústicos interiores diferentes, mas contíguos. Sua função é a de reduzir a
emissão de som de um local que produz ruído a outro espaço interior.
Os elementos salientes de uma fachada, sejam marquises, beirais, balcões ou
outros, podem refletir as ondas acústicas provenientes de uma determinada
direção, que normalmente é de baixo para cima, e assim proteger as janelas ou
outros pontos frágeis do ponto de vista acústico. Deve-se evitar que estes
mesmos elementos não se transformem em refletores sonoros que incrementem a
incidência do som sobre as aberturas. Para evitar este efeito convém transformar
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Capítulo VIII.
Controlando os Climas.
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para cada uma das possíveis combinações, mas que devemos fazê-lo de forma
que sejam capazes da adaptar-se com facilidade à variabilidade lógica dos
fenômenos energéticos.
Considerando o caso do controle ambiental como uma parte importante do
problema, veremos que esta adaptação às variáveis pode ser conseguida
mediante diversos mecanismos de controle e regulação, que classificaremos
globalmente nas categorias: passivos e ativos.
Os sistemas de controle passivo são os que atuam sem intervenção de
mecanismos ou energia artificiais, se trata, portanto, de modificações que são
produzidas na superfície externa do edifício (controle ambiental natural) ou em
seu interior (outros tipos de ação), para controlar dinamicamente os efeitos sobre
o ambiente e seus usuários. Este controle ambiental passivo implica, em muitos
casos, a ação humana, transformando os usuários em elementos controladores
do sistema (abrindo e fechando portas, janelas, persianas, etc.
Existem, no entanto, certos dispositivos de sistemas passivos de controle sem
intervenção direta de pessoas e sem energia artificial para seu funcionamento.
Este é o caso de aberturas para ventilação que regulam automaticamente o
caudal de ar que passa, fechando-se quando a pressão do vento sobe, ou lâminas
de persianas chamadas skylids por seu inventor Steve Baer, que têm um sistema
com depósitos conectados com tubos e cheios de freon; este, quando o sol
esquenta o sistema, se gaseifica e desequilibra o peso, fechando e protegendo as
aberturas, que voltam a abrir-se quando se esfria e o gás se condensa quando o
sol deixa de incidir sobre o aparato.
O controle ativo acontece quando a detecção ou medida de um efeito, as
decisões sobre este efeito e as ações correspondentes, se realizam através de um
sistema artificial, com os componentes destinados à cada uma destas três partes
do controle ativo, que se chama retroativo ou realimentado, ao influenciar a
saída ou efeito do sistema sobre a entrada ou causa do processo. Apesar de que
cada ação que a central decida fazer tem que estar pré-programada e, portanto,
prevista a priori, a capacidade de um sistema de controle ativo pode ser muito
superior a de sistemas passivos. Apesar disso, todavia, a flexibilidade e
capacidade de adaptação dos sistemas passivos ainda não foram superadas pelos
sistemas ativos.
Para chegar ao conceito de controle integral na arquitetura é necessário superar
a vigente consideração individual de cada tipo de instalação, substituindo-a por
um conceito global, que estaria relacionado com denominações que já estão em
uso, como edifício inteligente, por exemplo. Mas, da mesma maneira que
acontece com o corpo humano, onde os órgãos dos sentidos funcionam isolados
uns dos outros e a verdadeira sinestesia se produz no cérebro, as instalações de
um edifício continuam funcionando isoladamente, com apenas alguns processos
parcialmente integrados.
A verdadeira integração global se realiza em nível do sistema de controle, que
cumpre um papel equivalente, ainda que nunca igual, ao do cérebro humano. De
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Capítulo IX.
Outras culturas, outros climas.
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