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N.M SETEMBHO- 1894

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HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA


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I Discurso proferido por v-'';';;


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jg II Carta-Circular. estado dovjMuseu Paraense. S5
III Relatório sobre o
IV Regulamento do Museu Paraense. S ' -
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I Archeologia e EthnograpMa no Brazil, por
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PENNA. \ . «'-. W s
Brazil, , S «
REIRA
II Estudos araclinologicos relativos ao pelo
dr. Emílio Goeldi. interessantes |.
III Breve noticia sobre alguns vermes
» do Brazil, pelo dr. Emílio Goeldi; j«
IV Observações e impressões durante a viagem cos-
teira do Jüo dp Janeiro ao Para, pelo dr. • :i
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Emílio Goeldi. 'f^
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ÍNDICE
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TOMO I

PARTE ADMINISTRATIVA:

antiga :
A ) Documentos relativos- ao Museu Paraense em sua phase

I) Discurso pronunciado por José Veríssimo, Director Geral


da Instrucção Publica, cm 13 de Maio dc 1891, por
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oceasião dc se inaugurar o Museu
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IO — 22
II) Relatório sobre o anterior estado do Museu :
III) D. S. Ferreira Penna. Noticia biographica por José — 73 ''¦•«;-.:
56 • .
Verissimo

sua nova phase:


B) Documentos relativos ao Museu Paraense em

I) Carta circular do actual Director . *m .'1 •'f^-aBSl


dc 2 de Ju-
II) Regulamento do Museu Paraense (Decreto 2 2 — 2/ ':M-
lho dc 1804)
da na-
III) Instrucções sobre o modo de colligir produetos
tureza para o Museu Paraense í 239— 256
IV) Officio ao c do Sr. Barão de Marajó • •
do
V) Relatório (1894) apresentado ao Sr. Governador
Estado, Dr. Lauro Sodré
124
VI) Regimento interno do Museu Paraense (Decreto o -s t m 'n \ff f,
de 28 de Set. 1895)
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A) ZOOLOGIA
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Estudos aracknologicos relativos ao Brazil.


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l> Rc™*<\/Ias Territclarias brazilciras
4 pelo Dr. E. A
v.\*V
Goeldi. -,
II) Breve noticia acerca de alguns vermes
interessantes 39 . #3

cio. Brazil pelo Dr. E. A. Goeldi


V, faUna- ^^/orn-i^s do 3ra.il "òr*X^Vstô *FoV;í S?S*Í
íííí «Ds
IV A myr.apodos do Brazil pelo
"7 V) A cigana (ppisthocomus cristatus), pelo Dr. E. A. Goeldi ,S_ Jg
resenha ornitholo- 7
*»¦•*»¦¦•¦ log»»*a pelo Dr. E. A. Goeldi... l6- ^_fR
VI> 0sRhosF^ c terim^ cupim V)'mi •
: ^/ormigas
Brazil por Erich Wasmann S. J4
7 *i|
VII) Contornos para a Avifauna do Para/co^r.ne'ô
' mate»' U~3H
* WaUaCe C Layaid' C°mp- Pd°Dr-
- RA GoduT'
VIII) A fanna do ?$?¦#
^5ág^% ^(^^>b£
TV C°m criticas do -Dr. E. A. Goeldi - ,*¦, _ „.
IX) \ n .observa,?r,es
Os símios* (macacos) da Amazônia
i,,: 5
por Alfred R
m&: ''% Wallace (versão annotada) _ ^
'
Kfe X)Lancear de olhos sobre a fauna dos RepHs'dò Bràzií
Dr. E. A. Goeldi _
Jl:'" pelo
*l) A ^fdosiren paradoxa descoberta* hSia
m*?Z ' - ¦•.
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, . , pelo Dr. E. A. Goeldi J ¦ .¦ ,—
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' I) Contribuição á
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K\ - :7 ^ana entre o Amazonas e o Rio Oyapock
'iStfSm 7 Dr* Huber.... - pelo 0
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¦''.-; ' "II) Jacques '^SSP
A flora das«aProphytas do Parâ
p;ío' Dr^HtJberT

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.... A geologja do Pará
tJ) por Ch. F: Hartt (re-impressão) . 2C, ,„
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-'.",; D) A-RCHEOLOGIA E ETHNOGRAPHIA


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II) Joh arines von Natlcrcr. Pelo'D,' '£'a.
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pag. 186 — 4) E Watmam, Krit Jí, % -V/'. ^ nxnen in Mattt>Grof«


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Amazônia pag. 326-8) //. M-,4-, '^ "2
-9) •/»* BôgS" únd^dlitVce^n'^,
Ehrenreich, Einteüuiíg und SSSuna «W S^ 1 ^sil,enp^^2$
pag* 328-10) /> Fkrmrrírh TM™ „• 8 ^ ,VüIkerstí*mme BtasiUens
aeUcre Bildnisse ^damerik. «*»
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12)?P*TaíLt ',nJtrã Zllr V('iIkerk»"JcBrasiliens^.


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Govírt de. centralbrasilianiscgsi
pag. 443-13 ;'//
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Schenck, Brasilianische Pteridophyten
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D Retrato do Sr. Dr. Lauro Sodré, Governador " ^


do Pará e '4 *:
creador do Museu Paraense "•
. \;;.vl;l) Retrato de D. S. Ferreira Penna.'.".'.' i b
/¦.-..- OI Opisthocomus cristatus, «cigana», filhot L*Jf ¦
• Vovós' ' *!t~
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V) Lepidosiren paradoxa.. l88 •-
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VI) Hospedes de formigas e t'e*rmUe's'.!
VII) Uma paisagem de Podostemaceas * b ^í '
flüviàtilis')".'.'"
VIII) Mappa explicativo das localidades(Mourera
onde até hoje foram én- b
400
contrados exemplares de Lepidosiren
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r.taftat çç 4* Museu) e u sim irmão, o Sr, Cãpíia© Tiio d < >iti£ c o SrflL
Pai >; '¦.;-,..»x»*< ¦

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fpMç^ á^tfa jmbJ&aiinonte a tcdc* "-.tscavaibci^»
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ipc^ &r>>itfapíi« tanf%m,yií:ax -
g?^ Dunas * sHik coaíp^U^
Icor^^odpnte^oVfc^r, Vic^t«.riiormohtdè
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^ííraníja. nos íb; r;^vía^;-';Jf™
"^'^-^ i»a vj*r* ôailhà d«>:- i; da inter^iánct: ^^ii«^U^^^P/S|l
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ié-9* The oditors of the boletim do museu pIiiae^bk kindly ask for tíie
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ExriiAXGi*: of rri5ucATio:N>; iastieâ both by Áeaclémies, Scièntific Socie-
*: £ ,i lies, Musomiiey JnslitTttoK- Ui.iveisitks and KeJicols of Technology atá}
bj^ Naturalista, and Speeialists, and specifie the íitfêrature that lhoy
wisli to obtain. in the foÜòwing way;
<0 Papers treating <>l any òf the branchesof naturai, iiistouy. espe-
cially zoology, kotaivv and gkologx works r<dating to Bonth-America
Brazil and Amazônia.
*
: y':^^*\*_)*-. ¦

b) Papêrs treating of etilvouhai^ív, gkoiírawiy, joukxey.s, i-xri-Oio~


tiox8j clímatolouv and AGiucTn/rurvE of Brazil and neighbouring cora-
trios.
• There will be a bibUographir seetion, in Vfíiich we \vill gif e ari
account of hiemoirs, pamphlets, books and reviewp receive<L and wliore r-VÍ"_T*

\vo will make some short criticai notes iri case it should be desired.
We cal] special attention to the ckcnlar lettor on page 8 and to the
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invitafion- for eollaboration expressed in _•- it; asking, ho\YeYer for a
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previou^ nnderstanding with the éditors as to snbjeet, and size of oi'


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ticles and bearmg ?,hvays in núnd that \ve iríêét, for'tlie pre^ent; with
serioiis cliífioiilties in fará aboiit ilhistrations.

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Priére d'échange <le j.ublications .*'-*, *fK ¦'
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Homenagem justa prestada, áquelle,


verdadeiramente creou o Musep
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Paraense, dando-lhe corpo e a
A acoao. .< a.
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Sem pretcnções grandiosas e projectos, que se perdem
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na altura das nuvens, apresenta-se, hoje, o nosso Boletim,
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pela primeira vez, á porta do recinto, onde se opera o


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movimento scientifico e litterario internacional. Já de fora


vemos a sala repleta de gente illustre e avistamos innu-
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meros vultos de sábios e obreiros preclaros, de nome feito
I
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V e reputação universal, vetustecidos no officio e com per-
feita pratica cVesta vida. Quasi nos offusca o formigar fe-
a

bril que ha lá dentro; mas, descobrimos também logo,


numerosas physionomias, de nós ha muito conhecidas,
tantos amigos pessoaes, que sorriem amigavelmente e com
gestos nos convidam a entrar e collaborar. Despimo-nos
do acanhamento natural em semelhantes occasiões, toma- : . " -.A*
¦: *¦¦ '. .
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mos coragem e pedimos respeitosamente o ingresso n'esta
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assembléa. Novos, como somos, assentamo-nós n'um dos
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lugares vasios ao fim da niesa.


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Qual é o nosso programma?


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•'Seriamente trabalhar no desenvolvimento das scien-


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cias naturaes e da ethnologia do Pará e da Amazônia em

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II ''7::
Pnfado

do Brazil e do continente americano em geral. ^


particular,
de modo pensamos sahir-nos de seme-
Perguntarão que ¦
tarefa. Publicaremos trabalhos originaes, realisados-
lhante
nós e collegas, que estão em contacto
-s^
aqui por por
Estudaremos igualmente o que tem sido feito
comnosco.
de nós, em relação ao campo de trabalho
' de bom antes fora, ;
assim circumscripto, fiscalisando o que se vae fazer
longe d'aqui, em outras partes do mundo, por naturahs-¦ /~
tas com quem ainda não travamos relações. Descobrindo
" cousa mais antiga, de incontestável valor
tf.
uma ou outra
e"nós, talvez não tenha achado a devida vulgarisação entre
que
trataremos de tirar do pó do esquecimento, procu-
rando ser justo com todos e prestar-lhes uma modesta .
'¦'¦' 'a

homenagem, embora posthuma em tantos casos. Fratare-


mos de reunir, condensar e colligir material esparso no
^?¥ jÍa '
tempo e na litteratura de outros povos, sempre com o fim
e intento de fazer aproximar a epocha em que será pos-
sivel um balanço mais ou menos exácto dos conhecimen-
tos actuaes sobre a Amazônia e delimitar a somma do
que já é conhecido da que fica ainda por se investigar.
Procuraremos preencher lacunas è chamar para ellas a
Vi. ,
attenção publica.
¦
I Para não fazermos promessas, que finalmente talvez se
mostrassem praticamente irrealisaveis, o Boletim do Mu-
V- ¦
¦ ~;
tf'

seu Paraense não toma compromisso algum sobre a pe-


riodicidade do seu apparecimento. O futuro nos dará a
"a.',a.:"a
experiência de que carecemos. Os intervallos serão logi-
camente determinados pelo- tempo que nos deixarem as
tf''. -

outras occupações museares e pelo material que nos


llll
•i
^affluir. *

S.;". , - tf.tf;..,
Quanto a este segundo ponto, os leitores não devem
sisdre"*! *' .'.-'V 'H-:-'-, í. <*.,.jí

receio de que o Boletim tenha talvez uma existência


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Prefacio iu
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» «phemera. Porque?—Isto é um pequeno segredo nosso;


tf deixem-nos guardal-o por ora e contentem-se com a nossa
garantia verbal. Será mais fácil faltar-nos o tempo para
a redaeção e esgotar-se o « ncrvus rcrum » para a publi-
i

cação, que o material.


^Lá na Europa e em outras partes do mundo haverá,
talvez, quem lastime que o Boletim não se publique em
outra lingua mais conhecida. O assumpto é serio. Mas,
depois de madura reflexão, achamos que o Boletim, como
produeto brazileiro, deve sahir com a sua roupa nacional.
Nos dirão que o Japão, tão progressista, publica em
Francez e Inglez; mas nós apontamos, do nosso lado, para
os Russos, os Húngaros, os Dinamarquezes, os Suecos e
os Allemães, que, cada vez mais, mostram a tendência
moderna de publicar obras de sciencias no seu idioma
nacional. O Francez, o Italiano, o Hespanhol nos enten- *
¦
¦:.

dera sem muita difficuldade e em todo o mais, raro será


o naturalista, que nào saiba tanto do latim e de qualquer
lingua romana, para que a leitura do nosso Boletim, n'a-
quillo que o possa interessar, lhe seja positivamente
impossível.
Belém do Pará (Brazil), i de Julho de 1894.

A REDACÇACV

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PARTE ADMINISTRATIVA ¦¦ -:.-:-..-..- .,¦ ¦ -.-

I *

DISCURSO PRONUNCIADO POR JOSÉ VERÍSSIMO, DIRECTOR


GERAL DA INSTRUCÇÁO PUBLICA, PERANTE O GOVERNA-
DOR DO ESTADO, CAPITÂO-TENENTE BACELLAR PINTO
GUEDES, POR OCCASIÃO DE SE INAUGURAR O MUSEU, RES-
TAURADO EM 13 DE MAIO DE 1801. (*)

Sr. Governador:

Com a sua sincera boa vontade e seu nunca desmentido


interesse por quanto á instrucçáo popular concernia, o Sr.
Dr. Justo Chermont, nao esqueceu um estabelecimento que
havendo custado á antiga provincia do Pará, sommás não
mesquinhas, quasi veio a desapparecer completamente após
uma vida inglória, obscura e inútil.
Esse estabelecimento é o que digna-se V. Ex.a a reins-
tallar hoje, completando assim a obra benemérita por aquelle
vosso antecessor iniciada, é o Museu Paraense.
Como um outro estabelecimento de instrucçáo, a Biblio-
theca publica, o Museu Paraense deveu arrastar essa vida
mesquinha e sem utilidade até quasi extinguir-se, não só a
mal avisada economia, antes ridicula parcimônia deis adminis-
trações que não lhes concederam os meios indispensáveis a
uma prestadia existência e, tambem ao erro de confiarem-
n'os a indivíduos por via de regra escassamente habilitados
para dirigirem-n^s.
Esperamos que o restaurado Museu, como a restaurada
Bibliotheca, escaparão agora a esses males e que, providos .¦¦?-....¦;

de meios sufficientes e capazmente dirigidos, justifiquem a


¦
¦

sua restauração e honrem a idéa patriótica que levou aquelle \S?


administrador a tental-a.
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¦ * • :" *t» .."

(*) nota DA RED acção. — Este discurso, que nos foi gentilmente ofíerecido pelo
Sr. J. Veríssimo, tem para o nosso Museu interesse histórico. Mostra tentativas an-
teriores de endireital-o, ensina o que deveria ser, pronuncia esperanças e deixa
perceber certos receios—-que a experiência ulterior demostrou bem fundados, ppis
o passo dado naquelle tempo, nao foi coroado de succes.so. Hoje somos nós os
herdeiros d'aquéllas esperanças e cVaquelles compromissos!
Pará, 20 dc Agosto de 1894.
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G Discurso sobre o Museu cm 1801


a..., -tf; "tf tf.:

'4.

um Museu é uma conseqüência, e


Manter dignamente
um dever da nossa civilisaçào. A nossa bella e futurosa
auasi
de um Estado
cidade do Pará, nào é só a capital política o digo, um
fadado a ser, sem o mínimo preconceito nativista
também inega-
dos mais importantes da Uniào brazileira; e
a capital da mais bella da mais rica-
velmente, . i geographica
;>^ j~ a •^™-,.^'i Ar\ <sn1 • 5i Amazônia.

o w ^««a^^ ^—* m
±5ates. enamou penais #
e viajan-
damine até Carlos Hartt, foi perlustrada por sábios o nosso
tes do mais alto valor, como Rodrigues Ferreira, Las-
comprovinciano Lacerda, o glorioso Humboldt, Martius,
Keller,
telnau o celebre Wallace, e Chandless, e Orton, e
e Agássiz, para nào citar sinào os mais notáveis e beneme-
ritos de mençào especial, á capital d'esta regiào impõe-se
como um dever de sua civilisaçào, como uma conseqüência
de
de sua situação e de seu justo prestigio a manutenção
um Museu que recolha, guarde, censerve e exponha a atten-
e ao estudo dos naturaes e dos forasteiros as incalcula-
ção
veis riquezas que em os tres reinos da natureza ella possue.
Além das riquezas naturaes do seu solo, a opulencia ver-
dadeiramente maravilhosa da sua flora, a esquisita variedade
de sua fauna, principalmente a ornithologica e a ichthyologica,
•% - a, ainda mal conhecida, mas por incontestáveis indícios, cer-
tamente notável mineralogia, a regiào amazônica possue ou-
tros attractivos que a cada passo estào chamando a attenção
dos sçientistás do mundo inteiro.
N*esta parte da America passou-se, senhores, um d'esses
.dramas obsconditos e esqui vos ás investigações ainda dos
mais. sagazes estudiosos que vem se passando no seio da Hu-
mánidade desde que ella surgio de seus principios obscuros
r ¦¦
e impenetráveis. N'esta regiào, raças cuja origem se.ignora,
cuja filiação se desconhece, cuja historia se não sabe, exis^
tiram, viveram, luetaram, deixando vestígios que lançam.a
!¦ \

cada passo a duvida, a hesitação, a contradicçâo, no campo


das; investigações scientificas, creando e destruindo na an-
'tf 7- A

¦'.-¦''-'.. ¦¦¦¦tf''*;
thropologia e na ethnographia, hypotheses e generalisa-
ções.
Quem sabe, senhores, si aqui não está a chave de um
dos; enigmas mais excitantes da curiosidade scientifica destes
tempos: a origem do homem americano? Quem sabe si os
mounds de Maracá e de Marajó, cujo estudo não foi ainda
com todo o rigor scientifico feito, quem nos diz que o nmir
rakitan, os restos da maravilhosa cerâmica d'essa gente ape-
... i ¦¦»¦¦¦

tf' A. ,_ '

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*

l)ÍM)trm sobre o Museu era 1801

nas sabida, nao nos dará um dia um. elemento importante á


solução d'esse problema?
Para que um Museu, porém, possa a todos estes fins sa-
tisfazer, ó indispensável que nao seja mera accumulação de
rai idades, mais ou menos curiosas, com mais ou menos gosto
arranjadas, sinão uma eollecção e um repositório, systema-
ticamente disposto e scientificamente classificado *
Tal qual está o restaurado Museu Paraense, nao obstante
a prova que dá do zelo e habilidade do digno preparador
encarregado de sua installaçào e conservação, nào corres-
.-¦%.
ponde ainda ao fim que é o seu e que em leves traços des-
crevi. Esse fim, porém, pode ser facilmente alcançado, desde
que nao esmoreça no governo o desejo cie levantar e con-
servar dignamente e.sta útil instituição.
Como elemento cia instrucção popular, um Museu é ama
eloqüente, instruetiva e interessante, para falar a linguagem
. pedagógica, lição de coisas. Para que realmente o seja, nào
se dispensa também o arranjo systematico das collecçOes, a
classificação rigorosa dos objectos dando aos visitantes ao
*e
¦7 ¦ ¦ ¦

mesmo tempo uma noçào exacta, clara precisa de cada A,

coisa exposta e da classe a que pertence, o seu nome, a sua •-".'*,

utilidade, a sua origem ou qualquer outro elemento neces-


sario ao seu conhecimento.
0 primeiro trabalho está feito e bem feito —posso dizel-o
sem immodestia pois a parte que n'elle tive foi apenas a do
interesse que me cumpria ter, Nào devemos, entretanto, ficar
n'isto.
- Installado, arranjado, cumpre organisal-o com systema, bw
com methodo, com seiencia, sem o que, por mais bello que
seja á vista, fica inútil para a intelligencia.
* Ao
povo, de quem é e para quem é, cumpre arnparal-o
je auxilial-o, com a sua freqüência, com o seu interesse, com *¦:¦»*•

os seus donativos.
Não temos duvida que o fará e que, alcançando a impor-
tancia d'este instituto, lhe traga com a prova do seu inte-
resse intelligente, a generosidade de suas dádivas.
Desde muito que penso e digo que não basta produzir
borracha, e praz-me repetil-o em um novo regimem. b:.b
Nenhuma nação nenhum povo vive sinão pelas manifes- .«liS

ções da sua actividade espiritual. A mais commercial nação '">


*¦ bb- %WÍ

¦
:.

do mundo, a Inglaterra, não põe no Westminster, no seu Í-J

glorioso Pantheon, sinão os representantes do seu espirito,


da sua intelligencia e da sua força moral. . . ;**•§•*
Hoje reabre-se uma boa escola: que seja proveitosa de- '.¦¦¦•¦
v '"^>,¦-:.*
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#'\ 1=

Carta-Circulai
¦¦**-¦

8
¦
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votos e que seja devem convergir


vem ser os nossos para

B*-' o » Governador do Estado, está


?. SffvSÊXá
reinstallado o Museu Paraense.

II

CAR TA-CIRCULAR v*

///.'"" .sy;
¦ de levar ao conhecimento dc \ . S qm ¦fa. s

Tenho a honra diversos Kstados


a autonomia creada pda Republica parados
iniciativa assim despertada-cm con-
do Braril ca própria
com a situarão lamentável que vigorcwa durane
traste vim dizer dc pedir
onde Sul c Norte tinham por assim
o império,
no Rio dc Janeiro autorisação e licença para qualquer pro-
<rrcss0-já maduraram mais nm precioso friicto pela decisão do
^Governo
> ¦
;»»
m-fyt *»»/ -, Estadoal do Pará dc crear um MUSEU DE HISTORIA
CStaOctCCl-
NATURAL E DE ETHNOGRAPHIA «110 pé dos boilS
mentos congêneres.» .
a
No Sul do Brazil o Estado dc S. Paulo foi o primeiro
-•¦ reconhecer d necessidade dc um Museu próprio a cuja testa
' benemérita (tas scicncias naturaes—oòr.
foi
'Dr collocado pessoa
Hcrmann vou Ihering, meu collega c amigo. No Aorte
*
da Republica, no Pará, quasi simultaneamente c dc modo tn-
¦ . dependente nasceu idêntica idéa, concebida cm boa hora pelo
Sr. Dr. Lauro Sodrc,^Dig."w Governador, sempre zeloso do
';':.
do seu Estado natal Já no anno decorrido tinha-me
progresso
5®>SK**x
>-v.y-
sido dirigida a pergunta se eu estaria inclinado a encarre-
Igar-me da creação e direcção dc um Museu. Anniiindo eu
;?.•,«.

.>,.-! • -:%.iconvite,foí lavrado o decreto no dia 31 de Janeiro de 1894.


^0ÊW'^M^M0^^ decreto as WÈès: propostas sobre o fim, a
W administração, etc., do novo Instituto foram acceitas c fiquei
Wmcumbido da direcção do mesmo.
líM^-vA- carta particular que acompanha a nomeação, como to-
dos* os documentos relativos a esta questão e oriundos da
¦penna de tão esclarecida autoridade, respira o sentimento ar-
'W^0è dente ca profunda, intelligencia da relevância do assumpto
tão de perto se relaciona com o nosso futuro, pelo muito
B que pôde influir para a elucidação de partes obscuras da
: scienáa e pelo muito que pódc contribiiir para o desenvolvi-

•\ ••- ¦¦'-¦":' ¦"" :n


'..,-./' >
",' ', ''¦
¦• ¦ .¦¦)¦' ;. -.'.:' /*?,'•«
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Carta-Circular 9 «•>*•¦

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meido do ensino popular.» A mesma carta e outrosim notável


pelo modo franco, eom o qual se declara que se trata antes *,,

da creação nova do que de uma reforma d}aquillo que ati


agora figurava com o nome de Museu do Para. E este o
theor litteral:
« Verá que digo CRRAR, pois o que temos nem de Museu
merece o nome, tào pouco e, tào desalinhado e fora de regra e
longe de sciencia anda aquillo tudo que doe o ver o contraste
entre esta tamanha pobreza* açcumula da e a enorme riqueza
anda d * 7
que mão no seio da natureza,aqui.» *
Taes palavras, juntamente com a promessa official de apoio
enérgico e de todos os auxílios moraes, são para animar-me
ji activar vivamente a solução da honrosa tarefa. A minha
boa vontade encontra mais um considerável robustecimento na
consciência de estar assaz preparado por investigações scien-
tificas uo Brazil durante dez annos c de achar-me bastante
ao par das cousas do paiz.
O Governo tem cm vista um edificio apropriado e com
capacidade bastante para permittir o desenvolvimento e au-
pmento das collc cedes.
Julgo poder interpretar bem nitidamente as intenções do
Governo Estadoal, dizendo que o Museu Paraense serd priu-
cipalniente e em primeira linha ilm INSTITUTO PARA A HIS- *M

TO RIA NATURAL DO AMAZONAS, UM ESTABELECIMENTO QUE 7 .,*.*.


'

SE PROPÕE OBSERVAR, COLLECCIONAR, DETERMINAR E TOR-


NAR CONHECIDOS OS QBJECTÔg DA NATUREZA.. INDÍGENA.
Prestará igualmente toda*» a attenção ao ramo ETHXO-
GRAPI-IICO, visto que se trata de região altamente interessante
ri este sentido, A Zoologia e a Botânica sobretudo—sciencias ,
• minhas -v
predilectas—promettem fornecer um campo de traba-
lho extraordinariamente opulento e a preencher as lacunas
seientificas, deixadas por investigadores e viajantes como
:. . .".
¦
,\, Uumboldt, Wallace, Bates, Martins, Spix, Xailerer, Agassiz
e outros, estará no alto do mm, prògramma de trabalho.** Co-
gita-se seriamente na FUNDAÇÂ.0 de modesta estação bio-
LÓGICA no Amazonas com tuna filial fora, na costa atlântica.
(talvez em Bragança) e o estudo intensivo de problemas que
tenham alguma conuexão directa com a economia social (como
por exemplo o da fauna ichthyologica do Amazonas e da V* 1 ***

costa) ê um postulado que desde o principio se impõe pela


sua importância intrinseca.
Estou firmemente resolvido a cultivar e a fazer reverter %$m
em beneficio do novo Instituto, que me é confiado, todas as
múltiplas relações amigáveis qiic particularmente tenho'ciei- • < ¦
'
.''a;*-

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4 • -,
,

10 Relatam

Museus estrangeiros e especialistas em


tivado até agora eom dizem
lidas as fartes do mundo. Questões e problemas que

' da minha actwidade, e não des-


Tm diante no P1'""
em amnte primeiro plano como apropriado
de meio algum qmafigure,
se me '{/<$"" . r f
cuidarei instituição, onde serão
Museu do Pará uma
Tara tornar o todo, *"«*««*
TebiZ c dado, com omfor. fr^cr do Exterior Peço o
—. _ scientificos em proveito do Interior eomo
meus correspondentes n'este cm/>enho, cprmci-
auxilio dos do material lit-
Talmente rogo o favor da remessa bencvola
de contacto com o ,yn/«-
ZZTinAvl/a ffefe» tonto linha, detido
turo eaínpo de trabalho, eomo, em segunda
-aquillo que tenha alguma relação com nm dos rammdas-
do Brazil e da America do Suíno sentido mais
toria natural es receberão
amplo. Claro é que os III™ Srs. Correspondeu
empermuta os trabalhos que ^W^^^t^r^
- Com subida estima e consideração dc V. ò. Ath cr. ;e
, • »
Ven.d"r—T>&. EMÍLIO AUGUSTO GOELDI.
Rio de Janeiro, 22 de Março de 1894.

III

Relatório sobre o estado do Museu Paraense


APRESENTADO A S. EX.a O SR. DR. GOVERNADOR DO ESTADO
DO PARÁ, PELO DR. EMÍLIO AUGUSTO GOELDI H. T. DIRE-
m

'.. V CTOR DO MESMO MUSEU. *


¦¦¦¦> ' ¦
%

Sr. Governador:—-Tenho a honra de apresentar a V. Ex.a


um suecinto relatório sobre o estado em que encontrei o
¦¦/A Museu Paraense no momento de assumir o cargo de Director
do mesmo estabelecimento.
UíSPÍ riri-ri Acompanha-o, como annexo, um inventario do mesmo
Museu, levantado pouco tempo antes por meu antecessor
immediato, o Sr. Dr. Raymundo Porto, Director interino.
Saúde e fraternidade. — dr. emilio augusto goeldi.

^—Collecções zoológicas
MÀMMIFEROS.—Constatei a existência de.6r.exem-
de mammiferos empalhados—se este termo tiver ra-
plares V ^ * '» * «4. '

..*$- ¦'
¦'¦¦-
'".

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7'

Hdatorio 11

zão dc ser applieado á maioria dVílles— sendo a distribuição


sobre as diversas famílias a seguinte:
a) Simiae (macacos). Total io exemplares: Mycctes 3 —
Cebits \ — Nyetipillieciis $—IFapale 3.
b) Chiroptera (morcegos). Total i exemplar: PhyUostoma.
c) Carnívora (carniceiros). Total 10 exemplares: Canis 1
->
¦^¦¦» -^h.-,-,,-,^.. ¦ i
Nasna 3 -Ga lie tis 2 —Fe lis 2—Proeyon 2.
* ¦
'....
¦: d) Rodentia (roedores). Total 8 exemplares: Dasyprocta
4 — Cereolabes 1 — il ias 1 — Ilydrochocrus 2.
¦ ¦¦ ' '
¦ -..

é) Ungulata (Ungulados). Total 4 exemplares: Cervits 3


Dicotyles 1.
f) Edentata (Desdentados). Total 24 exemplares: Brady-
-j
pus q—rMyrmecpphaga — Dasypus 8.
g) Marsupialia (Marsupiaes). Total 2 exemplares: Úu
delphys 2.
«*¦¦

AVES.—Verifiquei a existência de 90 exemplares de aves


empalhaclas, sendo a proporção numérica entre as diversas
famílias a seguinte:
a) Raptatores (Rapineiros). Total 23 exemplares: Diur-
nos 20—Nocturnos 3.
b) Scansores (Trepadores). Total 5 exemplares: Psittaci
2—Pieidae 1—Ramphastidae 1 — Cueididae 1.-
•c) Scansoroides Total 6 exemplares: Caprimitlgidae 1
—Aleedinidae 5.
d) Passeres Total 9 exemplares: IcteridaeT Tyrannidae,
Cotirigidae.
e) Gallinae (Gallinaceos). Total 5 exemplares: Craeidae,
Opisthoeomus. -
f) Grallatores. Total 30 exemplares: Ardeidae, Pia talei-
dae, Cieoniidae.
g) Natatores. Total 12 exemplares: Auatidae, Peleeani-
dae, Podieepidae.
REPTIS.—Achei diminuta quantidade de exemplares
empalhados pertencentes a esta classe de vertebrados — o to-
tal importa apenas em sete especimens, a saber:
a) Crocodilia 2.
b). San ria 2.
e) Chelonia 3.
AMPHIBIOS.—Especimens preparados d'esta classe não
os ha até agora no Museu Paraense.
Existem alguns (muito poucos), conservados em afcool
(Hylidae1, íBufonidae).
PEIXES.—Peixes preparados só existem 5: 2 Pirarucus ¦-•me ,:.¦:?"., -í<§',í

(Vastres), 2 Diodon, 1 Siluroide (Hypostoma). ¦**!-

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12 Relatório tf-':.
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é de accrescentar que alem dos


Ouanto aos mammifcros de pelles,
existe um certo numero
exemXes empalhados, i de onça vermelha i
^ onça pintada, i de onça preta,
dc veado, a de 'amandua-tende,ra, rg
de gaLVmato, ¦ i de coati, i de lobo,
nreíuica i de cotia, i de quaxinim,
isolado,, de (onça), de (veado) do,Jgng
SQgg£à*Ai
^objectos na maioria lesados e pouco °«^|fg^f
!ràt*k*i Tem mais uns poucos de fetos de mammi-
collecções. sem
e alguns productos teratologieos,
££ mHtaXW)
^oSTot
reptís. eonservados em aleooL o inventario
Ha entre elles que sejam
resa~io5 especimens. porém poucos
estào descobridos
realmente bem conservados; quasi todos trahem a de-
e pallidos, alguns cobertos de cogumellos que
de Ophidios (co-
composição completa. A maioria compõe-se
'
1 v

de Saurios. ha bem poucos; assim como de


bras); (lagartos)
Crocodilios (jacarés). .inventa-
o
Fm relação aos peixes conservados em álcool,
demonstra a existência de 27 exemplares, sendo o estado
rio
de conservação o mesmo. .
MOLLUSCOS. — Existe uma agglomeração de concUas,
bivalves e univalves, tudo sem letreiro, e como logo ven-
a
fiquei na oceasião, infelizmente de origem exótica para
Amazônia.
CRUSTÁCEOS.—D'esta classe de invertebrados quasi
não ha nada, existindo unicamente um quadro parietal com
meia dúzia de crustáceos Decapodes (Palaemon, Peneus, Lu-
mas sem letreiro.
pea, Dilocarcinus) preparados,
INSECTOS.—Examinou-se logo com todo o cuidado o
conteúdo dos 21 quadros, nos quaes se achava guardada a
V"a ?a>'>;>r a- |

collecção entomologica. O resultado é o seguinte: De espe-


cimens, que ainda serão aproveitáveis no futuro, existem re-
lativamente ás diversas ordens:
* 1)519 Coleopteros a saber:
ltf (besouros)
115 Cerambycides. '¦'¦¦>•

105 Lamellicorniac* '• '.,:


10 Buprestidae. 1
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140 Ciirculionidae. ¦

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Chrysomelidac. .". ¦.
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17 Elateridae.
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3 Tenebrionidae.
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40 Erotylidae. ...» .'.
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Relatório
.

13

16 Esfiecimew pertencentes a diversas famílias.


II) 8 Hymcnopteros (Abelhas, marimbondos).
III) 16 Lepidopteros (Borboletas).
IV) 3 Orthopteros (Gafanhotos, Baratas).
V) 3 Ifeniipteros (Cigarras).
Incluio-se no total acima declarado ainda i Myriapodo
(Centopeia) e i Arachnido (Aranha). Tudo o mais é im-
prestavel para o Museu; pôde, porém ainda servir como ma-
terial demonstrativo para um estabelecimento de ensino, em
falta de cousa melhor. Este resto a eliminar-se é constituido wt

do seguinte modo:
246 Colcoptcros.
88 Lepidopteros.
32 Orthopteros,
69 llemipteros.
42 irymenopteros.
26 D ipie ros, acerescentando-se ainda 4 Arachnidos e 1
Myriapodo.
Temos, portanto, dentro da eollecção total com 1.052 ¦*»
*

(1.059) especimens, logo uma deplorável scisão em duas par-


tes, uma aproveitável com 594 (551) exemplares e uma para
eliminar-se com 503 (508) exemplares, esta ultima importan-
do quasi em 50 % do total. Uma comparação dos dados
acima indicado ensina também, que a proporção mutua, re-
¦lativamente ás diversas ordens, só fica de algum modo sa-
tisfactorio em relação aos Coleopteros (119) aproveitáveis
contra 246 a eliminar, ao passo que nas outras ordens a
proporção é realmente calamitosa clevendo-se eliminar (ou
porque desde o principio não foram devidamente preparados
¦*«¦

ou porque estragaram-se posteriormente), por exemplo, entre


os Lepidopteros (Borboletas), perto de 80 %\ entre os Or-
thopteros perto de 60 % e assim por diante. E quasi ocioso,
dizer-se, que nenhum objecto entomologico possuía letreiro,
indicando nome ou proveniencia.

Resumirei o meu julgamento sobre as collecções zoolo-


gicas aqui existentes do seguinte modo:
a) Numericamente ellas estão em opposição «directa com
a proverbial riqueza faunistica do Amazonas. São simples- : .. «.

"bmente pobres e muito deficientes.


b) Taxidermicamente ellas não satisfazem de modo ai-
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mt.'
14 Relatório

são velhos alcaides e muitos estão até abaixa


gurn. A maioria
de toda e qualquer critica (mammifcros, pássaros) de uma
c) Systematicamente nem vestígios se descobre
de determinar e classificar os diversos obje-
séria tentativa são
nos lettreiros de certos vertebrados
ctos e o que se lê
verdadeiros descalabros, indignos da descnpçào
geralmente
do edifício. ¦: í&à-ãú
Muitas ordens da fauna amazônica não sao representadas
um modesto e o que ha no Museu da
nem sequer por principio
fauna está em tal estado, que a substituição se torna
nossa
E prinei-
;* - -»* n urgentíssima. Pouco ha, e isto ainda pouco presta.
piar-se de novo!
b)—Collecções botânicas ¦;'-;. :¦-;¦. ¦'"¦"¦;.;,'„¦
"-V-':

':¦_¦¦

li-
Como o inventario demonstra, as collecções botânicas
mitam-se, na sua essência, a uma pequena série de amostras
de madeiras. Outra cousa nào ha, falta tanto um herbário,
como qualquer outra eollecção de fruetas, flores, etc, em es-
tado secco ou conservado em álcool.
É, por conseguinte, um lado, até agora, por assim dizer,
\*
ainda não cultivado e representado no Museu Paraense.

¦
c)—Collecções mineralogicas e geológicas
•« :;-Vl

¥*¦ *

Existe um principio de uma eollecção relativa a estes ra-


mos de seieneias naturaes. Porém pouco é. Os especimens
mineralogicos sào evidentemente na maioria de origem exo-
tica, para a Amazônia, e também pelo seu aspecto uniforme
'*
...'.',..''¦ V

••'•¦ -
-•

e as diminutas dimensões logo trahem o seu caracter de~


eollecção de amostras compradas no estrangeiro. O que ha
relativamente á geologia é o que algum acaso forneceu —
*•**•.... eollecção methodica não é. A impressão geral que se obtém
logo á primeira vista é que evidentemente este lado do Mu-
seu Paraense tem sido completamente desamparado até agora,
-

que nunca gosou do tratamento e desenvolvimento, que um


..v

especialista na matéria lhe poderia dispensar, imprimindo-lhe


úma feição profissional, e não a de mero dilettante como
, ella se observa agora. 1&',..**.'

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d)—Collecções ethnologicas

O que positivamente mais me surprehendeu, quando as-


.sumi a direcçáo d'estc Museu, foi o cháos existente n'esta sec-
ção.
A collecçao é pequena, mas desde muito orientado sobre
os diversos factores, que contribuíram para reduzil-a ás di-
mensoes modestíssimas de hoje, eu nao teria me preoecupado
com este ponto. Mas encontrar talvez umas 150 flechas, perto
de uma dúzia de arcos, alóm dc maracás, remos, enfeites de
pennas, collares, machados de pedra, etc, tudo sem letreiro,
nem indicação alguma de proveniencia ? Isto é mais que fu-
nesto e quasi disperta a suspeiçào que houve quem tivesse
um interesse especial de produzir intencionalmente este es-
tado chaotico, valendo-se do conhecimento da circumstancia,
que objectos ethnographicos de origem incerta pouco ou
nenhum valor possuem.
Accentuo particularmente esta observação deveras des-
agradável. Vejo-me obrigado em prol da probidade scienti-
fica (que o Museu Paraense deverá observar como estricta
norma de condueta nào só em relação ás sciencias naturaes,
como mui particularmente também no terreno da ethnolo-
£Ía Amazônica) a encostar a maioria d'estes instrumentos de
indios, ou a degradal-os a um uso meramente ornamental e
principiar de novo.
Teremos de colleccionar nós mesmos e desde já seja ar-
chivado aqui um appello ao patriotismo do povo do Pará, de
auxiliar-nos efficazmente em preencher quanto antes uma la-
cuna no nosso Museu que ameaça tornar-se quasi uma ver-
gonha publica. E duro, reconhecer, que teremos de crear
collecções mesmo n'esta secção e que nem se encontram no
Museu, por assim dizer, bases sólidas e fidedignas para um
principio!
á archeologia e anthropologia — o mesmo aspecto
Quanto
de pauperismo. Uns cacos de igaçabas aqui, uns fragmentos
de craneos acolá, por assim dizer nada de inteiro, de com-
pleto, nenhuma série de objectos da mesma natureza, que
desse o direito de empregar o termo de collecçao. Ora, é
publico e notório quantas collecções bellas e ricas tem sido
desenterradas de certas localidades do solo paraense—mui-
tas vezes com o auxilio official—material que se espalhou
sobre a terra inteira, formando preciosos ornamentos até em
LÍjM Museus longinquos. Nào menos sabido é o modo pelo qual
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16 Relatório

do Rio dc Janeiro, enriqueceu-se ainda


o Museu Nacional, do Museu
nao ha muitos annos, ás expensas incontestáveis
avultado numero de objectos preciosos oriun-
Paraense, com a
e de outros da Amazônia, levando
dos de Marajó pontos
í - *
vv -
a titulo de «empréstimo» e com o pretexto dc
5'rt*.-* directoria,
dar maiores dimensões a uma tal «Exposição anthropologica» do que
na Capital Brazileira, o quinhão maior
a realisar-se o suor
•í ¦.*¦
de bom havia aqui no Pará, colleceõès representando de
do rosto e o trabalho indefesso de homens da estatura

;r
Penna! Nada voltou, liada foi dado om troca e
um Ferreira
di-
natural é, que no Rio dc Janeiro a recordação d aquella
vida de honra contrahida hojo já é tào pallida, que amanha
V

talvez seja completamente extincta. Ficaremos decididamente


;_** só còm aquelle «recibo» na mão com o valor de uma % acção
áfondpcrdu?»
*,

rj— Outras collecções '¦':"* ¦¦


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Existem, no Múséü Paraense, certas outras collecções, que


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não têm relação alguma directa com as sciencias naturaes,


a saber: uma collecção numismatica (sobre a qual informa
¦'':> * ¦

o inventario annexo do meu antecessor), armas de fogo,


antigos, notas
pentes de tartaruga, uma vitrine com jornaes
antigas (verdadeiras e falsas), inscripções, tabellas explicati-
vas' sobre a receita publica do Estado do Pará em annos
anteriores, certo numero de quadros da familia ex-imperial,
*,-.*:<. --'.
evidentemente removidos das repartições publicas no mo-
mento da transformação do Brazil em Republica.
ív ;íl*»V

&*;*7

•'**;'- Proponho e insisto na separação destas collecções do


Museu reorganisado, convindo que o futuro Instituto con-
serve estrictamente o caracter de e«stabelecimento para a
cultura das sciencias naturaes e da etimologia amazônicas.
Aquellas collecções, das quaes eu desejo vêr-me livre quanto
antes, poderiam perfeitamente formar o principio de um
«Gabinete Histórico», de organisação independente e talvez
a cargo de uma sociedade de Estudos Paraenses, secção his-
^uj*****'*.'-. *
- ' '
. torica, ampliando-se e augmentando-se ellas, com o tempo,
-ii" './'' com livros, documentos, mappas, objectos antigos, etc, que se
&&£ •:
relacionassem, de qualquer modo, com o passado recente, ou
o mais remoto da Historia do Pará e do valle do Amazo-
nas. Ouso aventar esta idéa, que crearia uma instituição nova.
não só útil e interessante, como certamente sympathica. ao
publico Paraense e teria a manifesta vantagem de dar um
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17
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Relatório tt**

¦¦¦¦

destino e futuro conveniente a certas collecções do actual **.


Museu, que eu não posso deixar de considerar como incom-
pativeis com o caracter e o espirito do novo Museu.
Quanto aos animaes vivos que actualmcnte se acham
guardados no Museu (com certo incommodo de natureza
administrativa, visto que o antigo Regulamento nüo prevê
verba para esta eventualidade), poderiam estes passar para
um Jardim Zoológico em contcicto com o futuro Museu.

/^—Mobília do Museu e material de conservação


¦
¦

A mobília do Museu e o material de conservação são pe-


quenos, mas satisfaziam em relação ao diminuto numero dos
objecto.s até agora existentes. O espaço vasio, porém, quê se
nota em diversos armários com mammiferos e pássaros, nos
quadros parietaes que contém a collecção entomologica, é
1 manifesto 'testemunho do pouco zelo que havia em augmôn-
tar estas collecções, que evidentemente conservaram-se du-
rante annos já. em phase completamente estacionaria.
Não se notam acerescimos recentes.
A mobília já existente poderá ser aproveitada, mas não
chegará de longe para as necessidades do Museu reorgani-
"cogitar-se
sado. É preciso quanto antes na acquisição de ar-
níarios e vitrines apropriadas e espaçosas para as collecções
a expôr-sc ao publico.
O material de conservação carece de urgente reforma
radical. Já quasi nào ha mais nada de aproveitável (nem
álcool, nem vidros, nem drogas, etc), e é provável que •., \ •, -

mesmo nunca o Museu Paraense possuísse este material tão ~


¦^A

..*:

bem escolhido e completo, para poder corresponder a*todas


- ¦'¦'•;,
.

as necessidades que se fazem sentir nas diversas secçòes de


um bom Museu em pleno andamento. Dos apparelhos de
caça e pesca nào ha mais um objecto, que nào careça de
•concertos.

, ...
g)—Bibliotheca
Uma bibliotheca própria do Museu não e4\iste e isto
constituo certamente um dos melhores critérios para se julgar
i*7v

do sen estado actual. Como ha de se determinar objectos de


historia natural sem obras systematicas ?
O Museu Paraense deve ter sua bibliotheca^ e ate uma
•muito boa sobre sciencias naturaes e etimologia, especial-
'¦¦7 ¦¦¦"¦¦¦» ¦'. ¦ 4" . -..'-. ',

mente em relação a tudo que diz respeito á Amazônia.


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AA 2-—,(bol. do mus. paraense)


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18 Relatório

;-.: ¦¦;..:¦ ^/vv-.íí'-/. ¦

h)—Ediflcio

Como se sabe, o Museu compõe-se de um edifício con-


«sala
tendo as collecções e um appendice atraz, servindo de as
de disseccào». O é de aspecto sympathico, mas
primeiro se trata de
suas dimensões exteriores trahem logo, que nào
outra cousa senão de um Museu em miniatura, de um mero
«Gabinete». Nào permitte augmentar nem pelos fundos,
nem verticalmente por um segundo andar, nem lateralmente,
de
havendo valiosas razões tanto de ordem estática como
ordem architectonica contra qualquer das eventualidades enu- .
¦¦
¦¦

...
'¦'.

meradas.
Convenci-me, tambem desde logo, que o estado de con-
servaçào deixa a desejar, havendo gotteiras e os telhados ne-
cessitando de concertos. Poderia o actual edifício^ do Museu
servir no futuro como «Gabinete Histórico», na fôrma acima
estipulada, mas nào serve absolutamente para o Museu re-
organisado. É preciso a mudança, quanto antes, para um edi-
ficio apropriado que permitta o desenvolvimento e augmento
;.•' '
das collecções, pelo menos para um certo numero de annos
ü que dê talvez tambem occasiào para organizar-se certos
annexos desejáveis, como por exemplo um modesto Jardim
Zoológico e um pequeno Horto botânico.

i)—Pessoal

"* l Serei succinto n'este ponto. E preciso que haja menos


administradores e mais trabalhadores! E preciso que o Mu-
seu cesse de ser uma repartição publica propriamente dita e
se torne antes uma officina scientifica—venta sit verbo! Ti-
rar o centro de gravidade do terreno administrativo e pôl-o,
onde deve ser posto, no terreno da sciencia, isto constitue,
a meu ver, um dos mais importantes factores a ponderar-se
"'¦#v'';'

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£ê,y$;'x 7: ¦;
:x. na organisação do fitaro Museu Paraense. Máxima simpli-
ficação em todas as suas relações administrativas em prol do
verdadeiro fim e destilo do estabelecimento — eis minha prin-
cipal recommendaçào, que faço baseando-me na ampla ex-
periencia adquirida algures! -..r-y- -~, "77^7-77;v

f '.'.' '*
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'..?..' V.it'7^" ¦ - ' '.
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il". .'- .,-;¦,,;.;: v
w

Relatório iii ?.

JJ—Regulamento

O regulamento até agora vigente é simplesmente inapro-


veitavel, tanto no geral como nos pormenorcs. Não contesto,
que certamente elle se originou em boas intenções, mas não
menos certo é, que a sua redacção deixa perceber completa
inexperiência da organisação de Museus em outras partes
do mundo, e que ella nos causa a mesma impressão que se
sente no folhear um código legislativo medieval, ü fazer-se
outro, moldado sobre bases melhor assentes e adaptadas ás
necessidades de um Museu no pé dos bons estabelecimentos
congêneres, qual o deseja ver creado aqui no Pará um Go-
verno tão amigo do progresso material e intellectual de sua
terra natal.
*

Pouco edificante é o quadro descortinado n'estas linhas,


do estado, em que achei o Museu Paraense no momento de
assumir a direcção. Fui franco e leal na apreciação, e não
tratei de encobrir cousas, que n'uma Republica pertencem
áo foro popular.
A minha critica não tem nada de tendencial; se nào
posso louvar de um lado, também nào censuro do outro lado
com a simples intenção de desfazer a obra dos meus ante-
cessores. Desejo vêr o Museu Paraense grande e digno do
seu nome, respeitado nos circulos scientificos e com o papel
que lhe compete no certamen internacional em prol dos bens
intellectuaes da humanidade.
O meu julgamento sobre o estado actual do Museu Pa-
raense —me é um verdadeiro consolo sabel-o de antemão —
não surprehenderá muito V. ExA V. Ex.a foi quem com a
maior franqueza, tinha já formulado uma opinião idêntica nas
cartas a mim dirigidas antes da minha vinda e com perfeita
lealdade tinha-me esboçado a árdua tarefa que me esperava
com a reorganisação.
Sr. Governador, V. Ex.a não me tinha encarregado for-
malmente da redacção do presente relatório. Julgo, porém,
V. Ex.a nutria este desejo como cousa que estava sub-
que
entendida e portanto não precisava de ordem expressa.
Além d'esta argumentação, parecia-me ser de interesse e
vantagem geraes, erigir uma espécie de marco separativo
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20 Anncxo

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e futuro do Museu —marco visível e que


entre o passado
conste para todo o tempo.-Saúde e fraternidade.
do
A S. Ex» o Sr. Dr. Lauro Sodré, Dig.™ Governador
Estado do Pará.
Belém, 28 de Junho de 1894.

O Director do Museu Paraense,

DR. EMILIO AUGUSTO GOELDI

ANNEXO
tf': 7

RELAÇÃO DOS OBJECTOS EXISTENTES NO MUSEU PARAENSE

Zoologia.—27 peixes de differentes espécies conservados em álcool,


- *. 105 reptis diversos conservados em álcool, 3 crustáceos conservados em
álcool, 8 reptis vivos entre os quaes acha-se um enorme sucuriju me-
dindo 3 metros de comprimento sobre 20 centímetros de# largura, 21
quadros contendo em exhibição insectos de differeutes famílias, 282 qua-
ovos
<lros com vistas, 29 ossos de cetáceos e outros grandes animaes,
de diversas aves, 86 aves empalhadas, 1 vitrine grande contendo em
exposição innumeras conchas, 10 frascos contendo em conservação fotos
ri 1
'tf'' •

de diversos animaes, 2 tuyuyús vivos, 1 cabeça de peixe gurijuba, 1


^
ai

jacaré-assú empalhado, 1 dito tinga, 2 peitos de jacaré, 1 gavião real


pegando uma preguiça, ambos empalhados, 2 peixe espinhos, 1 grande
unha de tatú-assú, 1 dita de tamanduá-bandeira, 1 dente de elephante,
2 pedaços de dito polidos, 4 garras de gavião com unhas, 1 morcego
branco, 1 bico e papo de pelicano, 1 caixa contendo olhos de pássaros
e de bichos, 2 jacuruaríis empalhados, sendo um grande e um pequeno,
49 quadrúpedes ç quadromanos empalhados, 1 queixada cie peixe, 2
casas grandes de formigas, 6 espinhas de peixe, 5 serras de espadartes,
sendo 3 pequenas o 5 grandes, 5 pedaços de chifres de veados, 7 ca-
veiras cie veado completas, 3 ninhos de japiim, 6 pelles de giboia, e 1
,1 -V-r «<*-

pirarucu grande conservado em álcool.


Wj^*lia4*»*V
Mmeralpgia.—2 vitrines grandes contendo mineraes diversos, 2
ditas pequenas, 10 caixas pequenas contendo amostras mineral ogicas,
824 mineraes diversos, como sejam: agathas, topasios, chrystaes, ira-
gmento8.de-quartzo e pedaços de outras rochas não classificados, 5 xy-
tfitt-.'.'

i tf
•¦'. lolithes, 4 zoolithos, 1 fragmento cie aerolitho, e 7 amostras de ai-
luminium.
Botânica.—58 amostras de. diversas macieiras reaes, 11 raízes exo-
ticas, notáveis pela exquisitice da forma, 1 ouriço de churú, 1 roda cie
macieira contendo uma inscripção, 1 galho de arvore contendo um nir
nho cie passarinho.
Anthropologia. — 1 urna funerária contendo ossada humana, 14 pe-
daços de urrias funerárias (igaçabas) 1 mão de mumia egypcia.
Ártefactos indígenas. —176 armas incligenas, entre as quaes temos

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Annexo 2t

1 escudo do madeira, 7 arcos, 5 chuços, 0 lanças, 5 táeapes, 1 ubá com


8 remos.
Objectos de uso indígena. — 1 maracíi do friictas, 1 memby, 1 maracá,
de búzios, 3 tomatias do barro, 1 dito de algodão, 5 urupes, 28 macha-
dos de pedra, 1 màsso de flexas ervadas, 3 colheres indígenas, 1 ar-
chote, 32 enfeites de pennas de ave, 7 enfeites de missangas, 3 ditos
de fructinhos, também 1 collar pequeno feito de coco, 2 pentes de pa-
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j. imi ia u uni j<i i i vj vi-o uiiiMiiid, j. uuciv; i-ui-iiiw un; pcu.na, U LCUUO IHJ iiici-
deira com pedras engastadas, 1 dito pequeno, 1 panelía dc barro con-v
tendo veneno curari, e 1 cesto tecido cie tallas.
Numismatica.—452 moedas do bronze e cobre de differentes paizes,
155 moedas de prata das quaes 48 desappareceram, 5 moedas de ouro,
21 moedas de nickel, 1 medalha representando a alliança do Brazil aos
Estados-Uni dos da America (1890), 1 medalha (10 de Junho de 1880)
eommcmorativa do trieentenario de Camões, 1 medalha idem da Expo-
sição de Paris (1889), 1 medalha idem do Ministério das Finanças Fran-
cozas (1789), 1 medalha idem da Torre Eiffel, 1 medalha de prêmio do
applicaçao concedida pela sociedade «Litteratura, Seieneias o Lettras»,
1 medalha commemorativa da liberdade dos servos da Rússia, 1 caneta
e peima de ouro eom que o Dr. Josú Paes de Carvalho assignou a Cons-
tituiçao do Estado do Pará, 1 nota brazileira de lOÔíOOO, 2 notas brazi-
loiras dè 2Ü$GÕ0 (18.í:í-1S35). 1 dita de 21000 do Estado do Amazonas,
1 dita de 500 réis do mesmo Estado (1891), 1 dita brazileira de 1$000 •
(1836), 1 dita do Paraguay de 5 pesos, 3 ditas Argentinas de diversos
pesos.
Objectos históricos. — 1 balaustre da cama de Marilia de Dircêo, 6
armas do combate de Caeoalinho, 1 livro de actas do Club Republicano
dos Acadêmicos do Recife, 2 patentes militares, 5 conhecimentos do
tempo de D. João IV, resposta de uma carta escripta a Francisco de
Souza Coutinho. 1 coroa de pedra brazileira.
Objectos diversos.-1 taboca de rede, 22 fragmentos de igaçabas,
2 anjos dourados, oura ue maneira, i par uü ut»».uvg$»> ^U1C* ^vhsvi *-
1 copo de vidro, 1 grande espora, 1 tigèlla e pires de louça .antiga, 1 co-
pinho chinez, 8 pentes do tartaruga em perfeito estado de e 2 quebrados,
1 arbusto petrificado, 2 caixinhas de madeira, 1 caveira onça, 1 dita
de porco, 2 ditas de jacaré, 1 casco grande de tatú-assú. 2 línguas cie
de rabo cie
pirarucu, 2 taquarís, 1 paliteiro de madeira, 1 espanador
mio^r 1 r.i.nv rln mswlpira 1 nvíienm. 2 frueteiras feitas de coco, 1 lata
de sardinhas conservadas, 7 pratos com differentes fruetas também con-
servadas, l biisiò de barro, 1 bengala com o gastào de um ciente cie
onça. 1 charão de barro com 3 chicaras e pires, 1 bacamarte pertencente
aos indios do Tocantins, 1 panelia de pedra (Minas Geraes), 1 urupema,
1 par de cbarlotes tecido de palha, 2 mangas para candieiro tecido de
cientes de animaes
palha, 3 bolcas tecido de palha, 1 esteira idem, 2
anti-diluvianos, 1 pyramide de pedra.
moveis e ODjecios ae uso.—o vitrines grandes contendo em expo-
•a— 1 J O ~,'i

sição diversos animaes, 1 grande vitrine sestevada com artefactos indi-


-genas, 2 grandes vitrines com mineraes, 2 ditas menores, 1 armano
com artefactos indigenas, 1 vitrine com moeclas.ldita com notas de
diversos paizes, 1 vitrine par* iimn.aniat.ii».. 1 vitrine com pentes üe
' tartaruga, 1 dita com amostrras de vegetaes, 4 caixas de madeira, 1
armário comp archivo, 1 mesa sa do Director, 1 dita do Porteiro, 1 car-
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Bcrjulamcnto do Mmeu Paraense

5 bancos para os visitantes, 7 cadeiras de palW-


teira do Amannense,
S 1 54 rio So 1 mòcho, 1 columna com pedra mármore, 1 filtro,
* *v ... .v i#. .^~ 1 Ar./i,w n irvoni n 1 ílltíl. fiRlillGIia. ú IU-

ferramentas, í espinganias, i y™~* í«»»«wvv~ ""


caixa com de-alyatade, G latas com Âc
es-
lata com chumbo, 1 maço de arame, 1 kilo
ir
SarMos, 3 facas pequenas, 1 canivete, 2 cartncheiros, 2
nofetas 5 12 caixinhas com cartuchos, g
S cmn cápsulas, 1 dita com buchas,maço de embrulho, 8
ScOs^iosf 3 enfiadas de linha, 1 papel para
irarr*ifiq grandes com álcool, 12 ditas menores.
-' :*V S^StSiSSSSítB armários envidraçados, 1 meza com pedra de
--
mármore, 2 lavatorios, 2 tesouras, 2 Serrotes, 1 raspadeira, 21 pas,1ter-
çado com bainha, 3 bacias, 4 limas, 2 martellos pequenos anc.nho,1.
formao, 3 escovas, 50 peanhas, 1 carrinho de ferro/l1 cavador 4 maços
de arame, 1 ferro de cova, 6 alicates, 1 regador de cora, V^&jfâ&
de
hume, 1 boiflo com chlornreto, 1 massete, 3 bolces dito com1 panella sulfato ao
ferro, 2 fogões para álcool, 1 vidro com arsênico, 1 1 frasco com álcool,
zinco, 2 tardos de algodão, 2 ditos de capim, 1 pita, com tinta
1 vidro cora verniz-virgera, 1 frasco com sahtre, 1 vidro 1 lata com pez,
,',
'-'.'./
rocho-terra, 1 banco de acapú, 1 ferro de abrir latas, frasco de álcool.
*.

1 garrafão com agua destinada, 1 pillfio de vidro e 1


; , Pará, 28 de Dezembro de 1893.
O Director interino,—raymundo m. s. porto

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Regulamento do Museu Paraense :
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CAPITULO I
Do Museu Paraense, seu fim e caracter

, Al. Artigo i.°—O Museu Paraense terá por fim o estudo, o


desenvolvimento e a vulgarisação da Historia Natural e Ethno-
¦»':••>'**:¦*''. '¦**-
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logia do Estado do Pará e da Amazônia em particular e do
Brazil, dá America do Sul e do continente americano em ge-
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^ i.° pòr collecções scientificamente coordenadas e classifi-
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cadas; 2.0 por conferências publicas expontaneamente feitas,


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pelo pessoal scientifico do Museu; 3;° por publicações. 4


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Regulamento do Museu Paraense 23


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CAPITULO II
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Da organisaçao do Museu
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* Art. 2.°—O Museu Paraense comprehenderá quatro sec-


ções:
i.a—Zoologia e sciencias annexas (anatomia e embryolo-
gia comparadas) ' *,J
2.a —Botânica e ramos annexos.
3.a—Geologia, paleontologia e mineralogia.
-

4.a—Ethnologia, archeologia e anthropologia.


Art. 3.°—Poderá ter o Museu, como annexos, um Jardim ¦*
s

Zoológico, um Horto Botânico e uma ou mais Estações Bio-


lógicas no rio Amazonas e na Costa do Atlântico.
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CAPITULO III
— Da administração—
¦¦¦*¦¦.¦.... .

Art. 4.0—O pessoal do Museu será dividido em duas


classes:
i.°—O seientifico.
2.0—O administrativo.
Art. 5.0 —O pessoal seientifico constará de:
1 Director.
1 Chefe da secção zoológica. *.»¦

1 Dito da secção botânica,


1 Dito da secção geológica. "W-

Art. 6.° — O pessoal administrativo constará de:


i Sub-director.
Amanuense.
Preparadores de zoologia.
¦

1 Dito de botânica. ,

1 Dito de geologia, etc, etc. .


¦ :í, ¦•:¦»¦

1 Zelador-porteiro.
4 Serventes (um para cada secção).
Art. 7.0 —Ao Director compete:
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¦

.¦¦¦¦¦¦

i.°—Cumprir e fazer cumprir fielmente o presente regu-


lamento.
, 2.0—Propor ao Governador pessoa idôneo para os car-
gos que devem ser providos por portaria ou contracto.
' * 3.0—Distribuir e fiscalisar os diíferentes ramos de serviço - •¦

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24 Regulamento da Museu Paraense ¦;;

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necessárias
a cargo das quatro secções, dando as instrücções ¦¦::-
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a boa marcha scientifica de cada uma d'ellas.


para
5 * k* .

o—Determinar o objecto, a duração e a extensão das D

4 scien-
excursões, explorações, excavações, ás quaes o pessoal
tiíico fôr chamado, attentas as conveniências do Museu.
*°—Estabelecer e activar relações com os Museus, Tnsti-
tutos Corporações scientificas nacionaes e estrangeiras para
a permuta de publicações; bem assim com os especialistas
de collecções par-
para a troca, determinação e classificação
?* ¦*
ciaes, podendo, para esse fim, fazer quaesquer concessões que
o caso exija. v ,
6.°—Nomear membros correspondentes e honorários den- 4-

tro e fora do Estado. ;


o pessoal scientifico, a
A. 7#o_Organisar, de accordo com
Bibliotheca do Museu.
-
8.°—Apresentar ao Governo as providencias que enten-
der convenientes ao desenvolvimento do Museu.
Organisar o Regimento interno do Museu, para fiel
go_
PT*."
' observância deste Regulamento, submettendo-o á approva-
ção do Governador.
I0.°—Dirigir ou mandar dirigir por um dos chefes de sec-
ção, provisoriamente, a secção de etimologia, etc, emquanto
o desenvolvimento cVesta não torne necessário a nomeação
de pessoal próprio.
u.°—Apresentar ao Governo as bases para o orçamento
do Museu.
12.°--Apresentar ao Governo, até o fim de Dezembro, o .
relatório do movimento scientifico e administrativo do anno
¦*,*.

mmA antecedente.
- 13.0—Representar o Museu em todos os actos públicos.
¦ . ^ i - „
Art. 8.°—O Director poderá ausentar-se do Museu, todas
., *.
..«-i.-*";-"- ¦¦¦' *»'-*'4-:¦¦-)-':' V.

as vezes que fôr necessário para excursões dentro do Estado


; . ou em toda a região do Amazonas, dando previamente scien-,
cia ao Governo.
| - Art. 9.0—Aps chefes de secção compete:
i.° — Cumprir e fazer cumprir as instrücções, que para a
boa execução dós serviços a cargo das secções, lhe forem
transmittidas pelo Director. '. ***%'¦*?'

2.0—Coordenar e classificar, segundo as regras scientifi-


cas, os objectos pertencentes a cada secção, e organisar os
\; seus respectivos catalagos.
'A 3.0—Informar detalhadamente ao Director acerca dos re-
sultados scientificos alcançados em viagens e explorações;,
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assim como sobre investigações originaes realisadas no Museu.
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Regulamento do Museu Paraense 25,

4.0—Reservar de preferencia para as publicações do Mu-


•seu os fructos dos seus trabalhos scientificos.
5-°—Apresentar ao Director até o fim de Novembro uma
exposição summaria sobre o movimento scientifico das res-
pectivas secções.
Art. io.° —Ao Sub-director compete:
i.°— Executar e fazer executar as ordens emanadas da
Directoria sobre os serviços a seu cargo.
2.°—Redigir (e assignar na ausência do Director) todo o .\.-i''
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expediente administrativo. '

¦'....;

3.°—Receber, trimestralmente, do Tliesouro quantias que '.

forem necessárias para despezas de caracter urgente e que


forem adiantadas por ordem do Governo, prestando contas
de um trimestre antes do recebimento do trimestre seguinte.
4.0 — Fazer os lançamentos da receita e despeza do Esta- ,-- i.

belecimento; e ter sob sua guarda devidamente archivados ., .^ ,,? ^ , . fm*^i

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os documentos relativos á administração. ¦ ¦*'
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'

5»° — Ter a seu cargo, provisoriamente, a Bibliotheca do '.''¦'¦¦'';%

Museu. ' 'ífflEBÊk

6.°—Representar o Museu no impedimento do Director. .•,**-•


Art. n.°—Aos preparadores compete:
. i.° — Preparar com aceio e promptidão todos os objectos
que lhes forem fornecidos pelo Director e pelos chefes de
secção.
2.0—Acompanhar, nas excursões, o Director ou os chefes •è*.
de secção, quando tenham de fazer qualquer viagem, coadju-
. vando-os, pelos meios ao seu alcance, na formação de collec-
ções e contribuindo com todo o zelo para o bom êxito da
expedição.
Art. 12.0—As funcções dos demais empregados se acha-,
rão determinadas no reorimento interno. i,
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CAPITULO IV -7-V,",'
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Das conferências •

Art. 13.° — Poderá haver conferências publicas feitas pelo


pessoal scientifico, sobre assumptos que se prendam com os '..'•¦ *' '¦¦-':
j-t.1

diversos ramos cultivados no Museu; sendo este um dos me-


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lhores meios de pôr o Museu em contacto com o publico e


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patentear a sua vitalidade.
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26 Regulamento do Museu Paraense

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CAPITULO V
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—Das publicações—
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Árt 14 o—O Museu Paraense publicará, com intervallos : fr

e á do material existente uma re-


indeterminados proporção la-
vista de pequeno formato intitulada Boletim do Museucertos
raense, com o fim de tornar rapidamente conhecidos e
estudos e resultados sobre assumptos de Historia Natural
Etimologia, que significam um real adiantamento dos conhe-
cimentos humanos e são apropriados a accelerar a explora-
».»-
methodica da Amazônia em especial e da America em
ção de meio de publi-
geral O dito Boletim servirá igualmente
cação sobre questões da historia, marcha e desenvolvimento ¦•¦¦

do Museu. .
\ Art ls,o_Çom o desenvolvimento ultenor do Museu,
haver uma outra publicação, de formato maior e illus-
poderá
trada com estampas, com a denominação de Memórias do
v
¦•

Museu Paraense. t '-¦ 7'

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Art 16.0—A redacção d'estas revistas ficara a cargo do


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Director e do pessoal scientifico.


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' Art. 17.0—A distribuição será gratuita e ao arbítrio do
Director.
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CAPITULO VI
Das nomeações e substituições
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Art. 18.°—Todo o pessoal do Museu, excepto os serven-
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tes, será nomeado ou contractado pelo Governador, mediante


proposta do Director, sobretudo no que diz respeito ao pes-
soai scientifico e preparadores.
A.t. 19.0—Para os cargos scientificos, quer por nomea-
ção quer por contracto, são condições: i.° ter cursado aca-
demias ou universidades onde ô ensino das sciencias naturaes
oecupe um lugar notoriamente proeminente; 2.0 ter estudos t.tf

aprofundados sobre a sua especialidade ,e, se fôr possivel,


trabalhos originaes; 3.0 ter probidade scientifica. \ ^
Art. 2Ò.° ¦— O Director, no caso de impedimento será subs-
tituido, na parte administrativa pelo Sub-director e na parte
scientifica pelo chefe de secção que elle designar.
Art. 21o—Os chefes de secção serão substituidos uns pelos "
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outros, attendendo a affinidade mutua das differentes secções^ ¦

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Rcgídamento do Museu Paraense 27


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DISPOSIÇÕES GERAES

Art. 22.° — É expressamente prohibido a todos os em pre-


gados do Museu negociar, isto é, vender objectos de Histo-
ria Natural e de Etimologia, assim como acceitar incumben-
cias particulares com o fito de lucros materiaes e pessoaes.
Art. 23.0—Com o fim de obstar o nocivo esfacellamento
litterario, o Museu Paraense considera, como principio domi-
nante do seu prògramma de trabalho e suprema regra na
escolha das suas relações exteriores, auxiliar efíicazmente
(por correspondências, publicações, remessas de collecções),
os especialistas, corporações, Museus, que tomem parte na
« Flora Braziliensis» de Martius e seus suecessores, na «Fauna
Braziliensis» de Goeldi e outros e em outras obras collectivas
congêneres, que têm por fim a exploração methodica e ra-
cional do Brazil e da America do Sul ou áquelles, qüe de
qualquer outra maneira, dêem uma garantia sufficiente pela
elaboração prompta do material que lhes fôr confiado.
Art. 24.0—Poderão ser admittidos praticantes, que quei-
ram dedicar-se ao estudo da Historia Natural, quando disto
não resulte inconveniente ao serviço do Museu, a juizo do
Director.
Art. 25.0—O Museu estará franco ao publico, em geral,
aos domingos e quintas-feiras, das oito ás doze horas da ma-
nhã. As pessoas, porém, que tenham negócios com o Museu
ou que queiram fazer ofFertas, os naturalistas e viajantes de
passagem por aqui serão recebidos a qualquer hora.
Árt. 26.° —O Jardim Zoológico, Horto Botânico e as Es-
tações Biológicas, previstas no art. 2.0 terão suas organisa-
ções próprias ficando porém a direcção do primeiro a cargo
da i.a secção; a do segundo a cargo da 2.a secção e as Es- .-•:.•*, f

tações Biológicas a cargo das i.a e 2.a secções.


Art. 27.0—Os cargos, creados pelo presente Regulamen-
to, serão providos á medida que o reclamarem as necessida-
'
des do serviço.
Palácio do Governo do Pará, 2 de Julho de 1894.
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LAURO SODRÉ.
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nota. —Decreto de 2 dc Julho de 1894 .Lei n.° 199 de 26 de Junho de 1894.


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Arciieologia c BhMgraphia no Brazil


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PARTE SCIENTIFICA
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I
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ARCHEOLOGIA E ETHNOGRAPHIA NO BRAZIL


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-v :*"-.
Por DOMINGOS S. FERREIRA PENNA W

asso-
Em 1886 appareceu aqui a idéá de formar-se uma —
ciaçao destinada a crear e fundar na Capital um Museu
no qual pouco a pouco se reunisse os numerosos froductos
antros e modernos da industria dos índios aproveitando-se
ao mesmo tempo toda a sorte de objectos de Historia Natural
sfr. ^ .,

se obter.-Era, por outras palavras, um Museu


que podesse
archeologico e cthnographico que se tratava de fundar, mas
sem a ostentação de palavras pomposas que a sciencia regeita.
Ouvidos e consultados sobre esta idéa, dous dos mais
distinctos paraenses, não só acolheram-n'a com plena appro-
vação, mas logo e de accordo com outros cidadãos trataram
íi^iâ ¦'¦'. de propagal-a e dar-lhe desenvolvimento.
Em uma primeira reunião dos cavalheiros interessados
intellectual da Provincia, reunião que se effe-
pelo progresso
ctuou na sala principal do Palácio do Governo, foi resolvida
a creação da Associação que tomou o nome de Sociedade
e na segunda reunião no mesmo Palácio ficou
philomatica,
.V

constituida a sociedade com a eleição da sua Meza ou Dire-


ctoria que logo começou a trabalhar, e na mesma oceasião
se conferio ao futuro Museu o titulo de Museu Paraense.
A Meza da sociedade dirigio cartas aos mais distinctos
cidadãos residentes nas cidades e villas do interior pedindo-lhes
o seu valioso concurso em beneficio do Museu.
Na Capital muitos cidadãos, entre os quaes os Srs. Dr. Cas-
tro, Dr. Malcher, Coronel J. Diogo Malcher, Dr. Cantão e
outros,—enviaram logo á Meza, cada um por sua vez, o que
poderam obter para o Museu.
Foi, porém, do interior, como se devia esperar, embora
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com a demora indispensável, que a Meza recebeu o maior
.... .

; (1) Trabalho inédito, gentilmente oferecido ao Boletim do Museu Paraense


pelo Sr. José Veríssimo.

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Archeoloyia c tthnofjraphia no Brazil 29


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numero de objectos, os mais preciosos artefactos, taes como


vestimentas^ de pennas e plumas; adufos ou tamborins, trom-
betas e tibicinas; armas de guerra; instrumentos de caça e
pesca; machados de pedra, tembetás de quartzo branco; ido-
los de argilla, e vasos de barro, alguns muito ornamentados,
e assim outros objectos.
Com estas collecções, que constituíram o núcleo do Museu,
foi este afinal installado em Abril de 1867, depois de auxi-
liado com uma pequena quantia que o Presidente Dr. Leão
Velloso, hoje Senador, mandou fornecer pelo Thesouro Pro-
vincial para a compra de moveis e outras despezas neces-
sarias.
O Museu progredia, ainda que lentamente, augmentando
suas collecções com os contingentes que lhe chegavam de
diversas partes, e graças á contribuição espontânea de vários
commerciantes e de dous particulares chegou mesmo a formar
um importante núcleo de numismatica composto de moedas
antigas, algumas medalhas, etc.
Um dos membros da Meza da Sociedade, tendo-se demo-
rado algum tempo em Manáos, foi bastante feliz obtendo por
mercê e gentileza de dous cavalheiros daquella Capital e tra-
zendo para o Museu em 1869 uma estimada porção de arte-
factos archeologicos dos nossos índios Uaupés e dos índios
Venezuelanos que habitam a curiosa região mesopotamica,
quasi fechada pelo curso do Guainia, Inerida e Atabapo.
Mais tarde (em Fevereiro de 1872) o Museu recebeu das
cabeceiras do rio Maracá uma porção de urnas mortuarias
de um caracter até então novo para os archeologistas, con-
tendo craneos e outros ossos humanos, preciosos testemunhos
da veneração do antigo povo d'aquella região para com os
seus maiores e seus chefes.
:';-*Vv'-r :.'.v:(.
Em 18690 Museu tomou um caracter quasi official quando, *
por ordem do Presidente, conselheiro José Bento, hoje Se-
nador, deixou a casa em que mal se accommodava e passou •¦iJrJS

a occupar uma parte do pavimento inferior da Directoria da ¦* <:y yt.


7
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Instrucçao Publica. Esse caracter foi confirmado em Abril ¦

de 1871, por oceasião de installar a Bibliotheca Publica, crea-


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da a exforços do Presidente Dr. Portella que deu então ao ¦'.'.¦•**,' • *¦¦

Museu o Regulamento pelo qual ainda hoje se rege. '¦",


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Desde o começo de 1870 o Museu Paraense, não obstante


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estar ainda numericamente pouco enriquecido, attrahia já, pela ¦


¦ ¦

importância das suas pequenas collecções ethnographicas e


archeologicas, a attenção dos naturalistas, viajantes e amado-
res das sciencias que vinham ao Pará, bastando apresentar v ¦ y. -'.¦' "¦*,

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e EthnognqMa no Brazil
30 ArchcoloQia
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fundador do
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iM ^e Qrc
hrs. Ta vard
L&yarq, cônsul
cuii&ui britânico
ui
como exemplos os Steere da Uni-
do cabo da Bôa Esperança; Professor
museu ao
Museu V*"y é Professor da universidade de
versidade de Michigan, íroiessor Hartt
xww- TWlim
Professor de anthropologia de Berlim,
Cornell Dr Crinne, dos volcões da
d£LS e Stàtí, intrépidos exploradores
AmChÍÇFrde0d. acom-
Hartt, antigo alumno d'Agassiz a quem
na viagem feita po»im» *";gf|^
panhou Professor de Geologia na Uni-
aue pouco depois foi nomeado os recursos de um
versidade de Cornell, preparou-se com
de New-York e partio de novo para o
Sor opulento do Para onde
S preferindo porém d'esta vez a Província
trazendo, além d'um botamsta, seu col-
Sü em 1870
uma escolhida turma dos seus mais hábeis alumnos,
teca Derby, ja muito
entre outros os .Srs. H. Smith, A.
Ss como
'¦^
'

conhecidos hoje por seus trabalhos saentificos. Dr. Abel braça


Favorecido, como merecia, pelo Presidente
e commodo meio de transporte,
que lhe prestou prompto
• Hartt entregou-se logo com ardor a uma serie de explora-
estudos sobre a physica e mais extorça-
ções e geographia
do U estas ex-
damente sobre a geologia e archeologia paiz
•ploraçòes que se estenderam até as cachoeiras do locantins
um acima de Itaituba no Tapajós e ao lago Arary
e a pouco um re-
em Marajó, o Professor apresentou os resultados em
latorio dirigido ao Presidente como único testemunho que
podia dar de sua gratidão.
Este relatório escripto por seu autor em portuguez cor-
foi a diligencias minhas copiado do autographo e ei>
recto,
viado ao redactor e proprietário do Diário do Gram-lam
amigo sempre dos bons trabalhos, logo o publicou, no
que,
mesmo anno 1870. ,
. * Em 1871 veio continuar as suas explorações no Iara,
trabalhando mais particularmente nos districtos do Tapajós
e Mont'Alegre onde demorou-se visitando as terras visinhas,
e
'¦ a serra do Ereré onde desenhou todas as Pedras pintadas
i por ultimo a serra do Paranaquára, no districto da Prainha.
• Mas antes d'esta segunda visita ao Pará, o Professor fez
em duas Revistas scientificas e mormente nó Ame-
publicar
rican Naturalist,&o que remetteu para aqui e para as outras
cidades do Império onde tinha amigos, bom nu-
principaes
mero de exemplares de um extenso e importante artigo, il-
luminado por muitas figuras, no qual descreveu magistral-
mente uma variada porção de artefactos archeologicos como
louça e outros vasos de uso doméstico, urnas, Ídolos, etc, que,

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Arclípologia e Elhnographia no Brazil 31


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por indicação minha, mandou por um dos seus Ajudantes


extrahir do ceramio do Faoval do Arary.
Outros artigos áeus appareceram uns no Bulletim da Uni-
ver sidade de Comei/ e outros no American Natitraliti de
1871 e 1872. Não mencionarei senão os dois que mais im-
portantes são para a archeologia.
Refere-se o primeiro a um dos mais curiosos artefactos
cerâmicos que poude produzir o povo que, em época ainda
não determinada, dominava o paiz que hoje habitamos: -
uma urna tubular, anthropomorpha, de rosto humano em re-
levo encerrando o craneo e os ossos longos de um homem.
Este objecto precioso foi doado ao Museu pelo activo cultor
das sciencias Dr. Francisco da S. Castro que o recebera de
Maracá já bastante fracturado nos braços.
Hartt em uma das suas visitas ao Museu em 1870 de-
senhou e descreveu circumstanciadamerite a urna e com a
respectiva estampa publicou o seu artigo que attrahio a at- ri .',**«
t>*i-if"

tenção dos principaes archeologistas. * *£>

O outro artigo é uma descripçào igualmente magi,stral e


completa, das Pedras pintadas da serra do Ereré, e das in-
scripções esculpidas em algumas rochas d'essa mesma serra
nas da primeira cachoeira do Tocantins, lí> bem como uma ligeira
noticia das figuras, pela maior parte amorphas, gravadas nas
pedras da serra da Escama <2> ao pé de Óbidos e nas que exis- :-rAi
tiam em Mont d'Argent, á foz do Oyapoke. O Professor
illuminando este seu escripto com um crescido numero de
estampas e figuras no texto, emittiu sobre cada objecto o seu tm
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autorisado juizo.
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M Todos estes objectos foram desenhados pelo Professor e estampados na


seu artigo.
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(2) As figuras d'esta serra foram desenhadas em 1866 pelo Dr. José Virissimo
de Mattos que teve a gentileza de offerecer-me em original os desenhos. Pare-
'A-
cendo-me de muito interesse este trabalho que, alem d'isso, tinha o mérito de ser
n'este gênero (eom excepção somente d'alguns desenhos das Pedras do Ereré, feito
por Wallaóe) o primeiro que se executou na Provincia do Pará. eu o remetti com
aquella declaração ao Professor que muito o apreciou e o enserio entre as estam—
pas do seu artigo.
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32 Esímííos arachnologicofrelativos ao Brazil


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RELATIVOS AO BRAZIL
ESTUDOS ARACHNOL0GIC0S
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Pelo dr. EMILIO A. GOELDI

reunir um o material litterario tão L


Com o iim de pouco
ás aranhas do Brazil e de preparar as bases ¦.«-¦ «

esparso relativo a «1-auna .


Sn» pn a «Monographia» respectiva, para
redigi, a •# *mg
do Brazil» em via de organisaçâo, pe^O
da Allemanha, em meiado de 1892 um
Sociedade Scientifica « na fauna
introductorio, intitulado Orientação
primeiro trabalho áquelle tempo faltou-me a
Wmmhas do Brazih i. Desde
escrever outras communicaçòes supplement^es
oceasião para liatarei
e o material reunido amontoou-se na minha pasta, A<

de dal-as á publicidade suecessivamente e resolvi conhecidas principiar por


do
uma revisão rápida das aranhas territelanas
isto é, d'aquellas aranhas que se distinguem das outras
Brazil e o
vertical das suas garras mandibulares que
pelo movimento - a seus represen-
povo no Brazil conhece pelo menos quanto
denominação trivial de -<< aranhas
tantes avantajados-pela
caranguejeiras». A revisão será por ordem chronologica.

I. REVISÃO DAS TERRITELARIAS BRAZILEIRAS


» A) ,Territelarias da viagem Spix e Martius (1817-1320)
elaboradas por M. Perty
'
¦

declarei no mencionado trabalho, escripto em língua



allemã, que o numero das aranhas colligidas no Brazil por as
Spix e seu companheiro não era grande. Relativamente
Territelarias acho só as seguintes espécies na respectiva me-
moria de Perty:
i) Mygale fusca (Crypsidromus?) Perty (nec. fusca Koch). 4

^ v 3) W§& |f^$^ r
V - , 4-j Myg. pumilio (?).
• 5) Idiops fusca.
"% 6) Actinopus tarsalis.

1 Dr E A. Goeldi, Zur: Orientirung in der SpimienfanW Brasüiens.»
Mitteilurígen;der Naturforsch. Gesellschaft des Osterlandes in Altenbvg (Sachsen).
—249.
Festschriít. V.,cv Band, 1892, pag. 200 ,
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Estudos arachnologicos- relativos ao Brazil 33
vi

• Sao portanto seis espécies. Como novos gêneros introduziu


n'aquelle tempo Idiops e Actinopus -*•.
Perty
sobre
B) Territelarias na grande obra de Hahn «»e Koch
os Arachnidos (1831*1848)
»

Tá sào bastante numerosas as espécies brazileiras de ara-


n esta
nhas do nosso grupo citadas, figuradas e descnptas
obra, a saber:
i) Mygale adusta.

2) Myg. avicularia. \

3) Myg. bistriata. m
4) Myg. Blondii.
.*.;,-;. .;:- 5) Myg. brunnipes.
6) Myg. caneerides. ^ «:- í«

7)'Myg. detrito,. "*" '


\Tjí

8) Myg. diversipes. J'--


'. ":.:'\]

9) Myg. férvida. '


10) Myg. fimbriata.
11) Myg. fusca.
12) Myg. hirtipes.
13) Myg. Klugii.
14) Myg. leporina.
15) Myg. lycosaeformis.
16) Myg. ochracca,
17) Myg. plantaris.
18) Myg- rufidcns.
iq) Myg. scoparia:
20) Myg* seladonia,
21) Myg. versicolor. -. :

22) Myg- Walckenaerii.


23) Myg. zebra.
24) Actinopus tarsalis. - .
accrescimo de 18
As espécies são portanto 24-com um
De todas ellas tem figuras e assim mes-
sobre o antecessor. como
mo é ás vezes difficillimo reconhecel-as exactamente,
N'aqueüe tempo ainda não se prestava a
Wo mostraremos: dtóinctivos m.nuaosos^como
£a atte^o a todos aquelles
figura do habito exterior em bem pou-
hoje, e uma simples

Animalinm Articul.quaein intinere per Brasiliam


(*)• M. Perty, Delectui
J. B. de Spix e C. F. de Martius coll (1830-1844
Nurnberg ^ch'm
1832-1848., 10 vol com
l6 vol.
O) Hahn & Koch, *Die Arachniden»,
563 estampas coloridas.
3 — (bol. do mus. paraens e) -tii

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Esludos arachnologieos relativos ao Brazil

34
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cos casos torna possivel uma determinação ?. Comtudo direi


I -
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que a Mygale zebra, por exemplo, parece constituir uma


excepção. Achei-a na Serra dos Órgãos, Estado do Rio., 800
metros acima do mar, e reconheci-a logo mediante a figura
**
¦*
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•& 5 -.••* '


. Y'
' ¦ - 729. As Territelarias de Hahn e Koch acham-se principal-
mente nos fasciculos i, 2, 3, 5, 9. Merece notar-se especial-
** ,

mente que os autores encaixam tudo no genero Mygale (23


espécies), com única excepção do Actinopus tarsalis.
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c't *•¦..-¦"

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C) Territelarias da viagem do Conde Prançois de Castelnau,
elaboradas por Lucas (1843-1847) 2
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¦
Os resultados d'esta viagem não adiantam muito relati-
vãmente ás aranhas territelarias. Acho só as seguintes es-
%

't > ' pecies mencionadas:


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1) Mygale Blondii (Theraphosa).
Y,r ¦

2) Myg. nigra Walk (?).


3) Myg. oc/traem Perty (Eurypelma),
4) Myg. lineata Lucas (Rio de J.)
5) Actinopus nifipes Lucas (Pachyloscelis).
Hi*WY' - " 6) Actinopus nigripes Lucas (Closterochilon).
São em todo seis espécies, das quaes tres novas, uma do
genero Mygale e duas do genero Actinopus.
.^^^^R* ¦*¦"

D) Territelarias brazileiras citadas no trabalho monographico


de A. Ausserer (1871-1875) 3
''La''"
WÈ$l:7.]
Como já accentuei no meu trabalho allemão (pag. 230)
este é o principal e melhor que existe sobre a matéria e
' ainda hoje serve de código na determinação das aranhas que
0yx''L.:: ¦ ¦
W.
fazem parte do nosso grupo. Foi o prof. Ausserer quem pela
'W-L primeira vez estabeleceu uma tentativa seria para um sys-
y WmW*i
'.;
., ;¦
•¦

tema, que se não se pôde chamar de todo natural, pelo me-


J:tA -v
nos presta bons serviços para a orientação no cháos das
múltiplas formas que se juntaram ultimamente nos Museus
de todas as partes do mundo. No, momento de redigir a me-
.,¦.,,-..

Assim o Dr. Simon declara que as espécies acima mencionadas: M.


plan-
taris, scoparia, adusta, leporina C. Koch são «de très-jeunes Aviculariá indêter-
¦..'¦.; ¦

minables» (pag. 172) e eu não duvido em participar n'esta opinião.


Expédition scientiíique dans PAmérique du Sud Centrale, do Rio á Lima
WiiAy.
m/-,A-A. e de)Lima á Pará. Zoologie en 8 parties avec 176 planches (Paris 1850-1862),
mi.
ms&AJ1' Beitraege zur Kenntnis der Arachniden — Familie der Territelariae Thorel.
$ t'

%? (Mygalidae Autor.) (Abbandl. der K. K. zoolog. —bot. Akademie in Wien.


Bd. xxi, Br. xxv)* ».'-¦' ** ;'.
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V
I
Estudos arachnologicos relativos ao Èrazit
l

moria allemã, não tinha o trabalho de Ausserer á minha dis-


posição; escrevi de memória. Hoje o possuo e assim me é
possivel dar uma lista das Territelarias, que o melhor conhe-
cedor do grupo declara pertencer á fauna no Brazil.
i) Pachyloscelis rufipes Lucas.
2) Pach. Na tter cri Dolechall (Rio Negro; Natterer). •m
3) Pach. picca Auss.
4) Actinopus tarsalis Perty.
5) A et. longipalpis Koch. l
6 Ciosterochilus nigripes Lucas. *

7 Pachylomerus glaber Doi. (?)


8 Idiops fuscus Perty.
9 f. Petitii Gucrin-Meneville.
o Diplura Rogenhoferi Auss.
I Crypsidromus isabellinus Auss. (Rio de J.; Tschudi).
2 Cryp. (Mygale) fusca Koch.
3 Eurypelma (Mygale) brunneipcs Koch.
4 Trechona (Mygale) lycosiformis Koch.
.5 Avtcularia ves liaria D. Geer (+ var. vulpina). /
6 Avie. Walckenaerii Perty (Eurypelma).
7 Avie. diversipes Koch..(").
8 Avie. plantar is Koch. (H).
9 Acanthoscurria geniculata Koch. (Rio Branco; Natterer.
20 Acanthopalpus theraphosoides Doi.- (Natterer).
21 Lasiodora Klugii Koch.
22 Las. spinipes Auss.
23 Homceomma versicolor Walck. (Rio de J.).
24 Eurypelma striatipes Auss.
25 Eurijp. rubropilosa Auss. (= Myg. avicularia C. Koch
Fig* 737*
26) Euryp. câncer ides Lucas.
27) Euryp. ochracea Perty.
28) Theraphosa Blondii (?) Cayenne). *¦*.*.

29) Typhochloena seladona Koch.


30) Ischnocolus Dolechallii Auss.
Além destas 30 espécies, das quaes Ausserer reconhece
pelo menos 26 como boas e examinadas por elle, cita ainda
7 espécies como duvidosas, a saber:
* . 1) Mygale Bartholomei Lat.
2) Myg. conspersa Walck.
3) Myg. pumilio Perty*

1 Na obra de Koch (Vol. IX, pag. 102) esta espécie é indicada como pro*
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veniente de Montevidéo.
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36 Estudos arachnologicos relativos ao Brazi <

4) ilft/f. adusta Koch


5) i^f. scoparia Koch.
6) il-///^. Icporina Koch. f
7) il^'. dctrita Koch.
Como' se vê, Ausserer deu o primeiro passo decisivo para
um agrupamento racional, estabelecendo numero avultado
de novos gêneros e subgeneros, tomando característicos dis-
tinctivos da posição dos olhos, do armamento das unhas e
dos tarsos, etc.
Na introducção do seu segundo trabalho, publicado em
1875, avalia Ausserer o total das Territelarias do mundo
actual em 260 espécies. Declara também, que a America
central junto com a America meridional—pátria e metrópole
das grandes Theraphosides—fornecem 125 espécies (perto
de 48 % do total) e quasi t dos gêneros conhecidos. Dá como
característicos cVesta parte do Novo Mundo os seguintes ge-
neros, ricos em espécies: Diplura, Crypsidromus, Avicularia,
Lasiodora, e Eurypelma.

E) Territelarias da viagem do prof. 3. von Beneden, deseriptas


polo Dr. Ph. Eertkau (1880) 1

Pela viagem do prof. van Beneclen o conhecimento cias


territelarias brasileiras soffreu um pequeno adiantamento.
Acharam-se as seguintes espécies:
1) Avicularia vesíiaria.
. 2) Cyriauchenias maculalus Bcrtk.
3) Nemesia anômala B.
4) N. fossor B.
5) Diplura gymnognatha B.
, 6) Thalerothcle fasciata B.
7) Macrothele annectens B.
8) Crypsidromus fallax B. (an C. intermedius Auss).
9) Trechona adspersa B.
.-«,?

¦V> /;
10) Eurypelma (Lasiodora) Benedenii B.
11) Hom&omma familiar is B.
São portanto onze espécies—quasi todas novas. Bertkau
<5r"eou o novo gênero Thalerothele para uma aranha, achada
na Tijuca (Rio de Janeiro).
"

* Verzeickniss der von prof. Ed. van Beneden in Brasilien


(1872-1873) ge-
sammelteir Aràchtiiden. Brüsseli88o.

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Estados aracltnologicos relativos ao Brazil 37


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F) Territelarias brasileiras doscriptas na grando obra do Conde Eugen


von Keyserling sobre as "Aranhas da America" (1802)x

Ha n'csta obra também um certo numero de aranhas per-


tencentes ao nosso grupo. Ellas foram descobertas por meu
collega, o Dr. Hermann von Ihering, no Rio Giande do Sul,
e por mim no Rio cie Janeiro. São as seguintes:
i Pac/iy tose e lis crassipes Keys.
2 Pach. luteipes Keys.
3 Cyrtosternum mcridionale Keys.
4 Ilapalopus villosus Keys.
5 Isciiriocolns pilosus Keys.
6 L gracilis Keys.
7 L riibropilosus Keys. \
8 I. janeirus Keys.
9 Crypsidronms pcrfidus Keys.
IO Cryp. junestns Keys.
11 Trechoua auronitens Keys.
12 Trech. pantherina Keys.
13 Eurypelma Iheringii Keys.
Euryp. vitiosa Keys.
_íío quatorze espécies; ha um accrescimo de quatro es-
no genero Ischnocolus e de duas nos gêneros Pachy-
pecies
loscelis. Crypsiclrormis* Trcchona c Eurypelma.

G) Territelarias brasileiras segundo a obra do Dr. Eugene Simon


"Historia natural dos Arachnidos" (1892-1894) 2

Um novo aspecto é dado á systematica das Territelarias


n'esta obra do excellente araneologo francez. Elle divide a
familia das Aviculariidae em sete subfamilias, a saber:
I) Paratropidinae.
. II) Actinopodinae.
III) Miginae.
.IV) Ctenizinae.
V) Barychelinae. N
VI) Aviciilariinae.
VII) Dipliirinae.
Elle calcula o total das espécies conhecidas de toda a

1 Die Spinnen Amerikas.Xir0 Vol. Brasilianische Spinnen von Graf E. von


Keyserling, edit. Dr. George Marx, Nürnberg 1891.
2,E. Simon, Histoire naturelle des Araignées. 2d0 édition Paris (até agora só
appareceram qs dous primeiros fasciculos).

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terra em 487 e indica que 24 espécies pertencem á Ameri-


ca do Norte,rte, 17 espécies ás Antilhas e 248 á America cen-
trai e meridional.
Da subfamilia dos Paratropidinac ha só o gênero Para-
tropis que nos possa interessar, visto achar-se no Alto-Ama-
zonas (P. scrupea).
Da subfamilia das Actinopodinae é próprio a parte meri-
dional do continente americano o gênero Actinopus, contan-
do, .segundo Simon, hoje umas dez espécies.
É extra-americana a subfamilia das Miginae.
Da numerosa subfamilia das Ctenizinae ha representantes
brazileiros nos gêneros Pachylomerns, Acanthodon, Idiops
(como nova espécie cita I. Germainii), Stenoterommata, Psel-
ligmus, Rachias.
Da subfamilia das Barychelinac encontramos representan-
tes no Brazil nos gêneros Homceoplacis, Idiophthalma, Cos-
mopelma, Trichopelma.
A subfamilia das Aviculariinae é fortemente representada
na America do Sul e bom numero de espécies encontram-se
no Brazil. São os gêneros: Ischnocolus, Magulla, Tmesiphan-
tes, Cyclosternum, Callyntropus, Acanthoscitrria, Lasiodora,
Homceomma, Eurypelma, Avicularia, Tapinaiichenius.
A ultima subfamilia, das Diplurinae, também tem seu qui-
nhão no Brazil nos gêneros: Diplura, Eudiplura, Trechona,
Hapalothele (H. auricomis, H. aíbovittata S.), Thelechoris.
*

Infelizmente a obra do Dr. Simon, trata principalmente


sós de gêneros e deixa portanto de citar todas as espécies
que nos podem interessar relativamente ao Brazil. Nutrimos
entretanto a esperança que estas nossas linhas se constituam
em ponto de partida para uma noticia complementaria que
liquide este assumpto e temos razões para suppôr que o pro-
prio Dr. Simon venha nos dar proximamente a enumeração
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das Territelarias brazileiras que elle possue em sua magni-
fica collecção ou que elle tem tido oceasião de estudar em
outra parte. a
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Não posso dar por findo este ligeiro estudo sem apon-
tar para um erro muito commum em publicações sobre his-
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toria natural do Brazil. Em toda a parte acho indicado como
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exemplo saliente de grandes «aranhas-çaranguejeiras» do '• - *


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Estudos arachnologicos relativos ao Brazil 39
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Brazil a Mygale Blondii, estabelecido por Latreille em 1804.
Ora, esta aranha (cujo original ainda existe em Paris) é ori-
noticia alguma
ginariã da Guyana, do Rio Maroni e nào ha ¦Iti
i. s'l'-y?

que ella jamais fosse vista, observada e colleccionada posi-


tivamente em território do Brazil * . Ausserer tomou-a por
typo. do genero Thcraphosa e Simon o segue n'este ponto.
Eu posso a-firmar, baseando-me nas minhas próprias obser-
vações, que as grandes aranhas-caranguejeiras que se vêem,
em sua maioria
por exemplo no Rio de Janeiro, pertencem
ao genero Homceomma ou então ao genero Eurypelma
(Ausserer) pag. 210 seq; Simon pag. 159. A determinação
especifica das Territelarias nào é fácil e exige um estudo
minuciosissimo; é sem duvida um dos grupos mais difficeis
na systematica dos Arachnidos e quem quizesse que um na-
turalista dissesse logo á primeira vista o nome de qualquer &t£

aranhas tomar-se-ia culpavel da mais — grosseira igno-


d'estas
rancia. * .
A maneira como uma caranguejeira, própria da txuyana,
a ser considerada em tantos e tantos livros sobre o
passou
nosso paiz como typo genuinamente brazileiro, é um exem-
de catechismo que
pio frisante d'esta antiquada sabedoria se de
lastra ainda por toda a parte. E tempo que ponha
finalmente, um d'estes erros de chapa, que infeccionou
parte,
a litteratura scientifica já perto de um século.
D'aquellas Territelarias interessantes, que fabricam um
canudo na terra, fechado por um operculo bem confeccionado
e que os ingiezes chamam, de modo bastante significativo,
c trap-door-spiders» ha também representantes no Brazil.
Observei diversas d'estas maravilhosas construcções na berra
dos Orgàos, Rio de Janeiro. Sei que são devidas a membros
do grupo das Ctenkinae, mas não consegui ainda descobrir
a sua paternidade com toda a exactidão desejável.
Pará, 8 de Julho de 1894.
(Contintla)
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Lucas talvez confundisse esta espécie com outras, como tem


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40 Breve noticia acerca de alguns vermes, etc.


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Breve noticia acerca de alguns vermes interessantes


do Brazil
Pelo dr. EMILIO A. GOELDI

I. Gordiidae. Ha muito tempo que temos observado oc-


casionalmente certos vermes da familia dos Gordiidae como
parasitas de insectos, principalmente da ordem dos OrtÂop-
ter os, Acridios e Locustideos (Gafanhotos). De vez em quando
encontra-se tambem uma Barata (Blattidae) infectada de se-
melhante moléstia, chegando estes vermes, de dimensões assás
consideráveis e semelhando a um comprido fio de linha en-
rolado, a ganhar a superfície exterior do seu hospede. Na
falta de um especialista nosso conhecido que mostrasse en-
sejo de occupar-se mais detalhadamente com este assumpto,
não tratamos nos annos anteriores de conservar o respectivo
material com todo o desvelo—que agora desejávamos ter
empregado. De repente surgiu, quem faz d'cste assumpto um
estudo especial. O Sr. lirí landa, do Instituto Zoológico da
Universidade de Prag (Áustria) publicou recentemente f um
interessante trabalho sobre a systematica dos Gordiidae e
oecupa-se de uma revisão do genero Chordodcs, que abrange
os parasitas mencionados. O Sr. landa constata que até agora
o genero;constitiíe-se de treze espécies, a saber:
i) Chordodes ; parasitus Creplin, (1847), parasita de um
gafanhoto brazileiro (Acanthodiiis glabrata).
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7 7: 2) Ch. pilosus Moebius (1855)—parasita de uma barata


de Angustura (Blatta gigantea)
.3) Ch. ornatus Grenacher (1868)—parasita de um gafa-
nhoto «Louva-Deus» (.Mantis) das Ilhas Philip-
pinas.
4) Ch. (Gordius) caledoniensis Villot (1874)—Nova-Cale-
donia—hospedado por?
5) Ch. (Gordius),'tuberculatus Villot (1874)—parasita de
uma Mantis de Nova-Hollanda.
6) Ch. (Gordius) defilippei; Rosa (1881)—da visinhança
de Tifíis (Caucaso);—hospede?

* « Beitráege zur Systematik der Gordiiden » Zoologische


Jahrbucher. Vol. VU,
Fasciculo 4 (1893) (Iena) pag. 595 seq.

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Breve no/tcia acerca de alijum vermes, etc. 41

7) C//. (G.) bouvieri Villot (1884) Hospede e provenien-


cia desconhecidas.
*8) C/i. {íi.) verrucosus Baird. África oriental—Hospede
desconhecido.
Ch. (G.) weberi Villot (1891) Sumatra—Hospede des-
9)
conhecido.
10) Ch. (G.) sumatrensis Villot (1891) Sumatra.
* 11) Ck {Cj.) diblastus Oerley (a881).
*i2) Ck (G.) pachydermus Oerley. (estas duas ultimas es-
pecies sem hospede e proveniencia conhecidos).
13) C/i. (G.) modigliani Camerano (1892) África. *
A estas treze espécies (das quaes tres, as com um tanto
duvidosas ainda) junta o autor uma nova espécie, proveniente
do Brazil, á qual elle dá o nome de Chordodcs brasthensis
comprimento 33cm•),
(typo em Prag, hospede desconhecido,
estendendo-se largamente nos pormenores systematicos.
Os Gordiidac, do gênero Chordodcs medem entre 200 a
em comprimento, mas não mais do que i a 2mm' de
5oomm'
diâmetro. São um tanto att.cnuados tanto do lado anterior,
como do lado posterior. A côr é geralmente a de cate. Sao
todos extra-europeus e certamente também todos parasitários.
Ainda temos algum material sobre estes vermes, colhgido
do
na Serra dos Órgãos, q-ie tencionamos pôr á disposição
especialista em questão. # §
II Planariae. Temos, durante annos, colhgido Planarias
era _ rela-
terrestres, grupo tão variado quão pouco estudado ti-
brazileiras, embora já Charles Darwin
ção ás espécies etc.) . Ue-
vesse chamado a attenção para cilas (Geoplana,
esperar, que a epocha não esteja mais
lizmente podemos respeito.
muito longe, onde teremos um bello principio a este
Somos informados que o prof. L. von Gfaff, da Universidade aes-
V

de Graz (Áustria) prepara um trabalho mOnõgraphico


tinado á descripçào cias nossas colheitas. .','.'
» Estes vermes chatos, que habitam debaixo de paos hu-
midos e podres do mato, e que. o povo do Sul comprehende como os
com a mesma denominação trivial de «lesmas,,
sem testo ( Vagmulus etc.) dispõem em
molluscos gasteropodes ser
colorido lindíssimo, que mereceria
vida ás vezes de um
de um artista. No musgo humiao temos
fixado pelo pincel

1875, pag-
. Voyage d'un naturaliste. (Traduction française par E. Barbier
diz, elle, no Rio de Janeiro, não ou m^os de dez
- f 28 seqO Darwin nos que f of Nat. History
Annals
espécies em poucos dias, enumeradas e deseriptas nos
Vol. xiv, pag. 241.
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42 Breve noticia acerca de alguns vermes, ele. ¦;¦"¦


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Bipalmm,
encontrado, no Rio de Janeiro, espécies do genero e con-
com o pólo anterior alargado em fôrma de martello
semelhante á das espécies dcscnptas por Schmarda
figuração
—Planarias terrestres que já por vezes se tem encontrado
nas estufas da Europa, introduzidas com plantas provenientes
da zona torrida. .
III Enteropneustos. Deste grupo singular, do qual ainda
não se sabe bem onde se ha de collocal-o no systema,
hoje
ver-
e que segundo a opinião moderna faz a passagem dos
mes para os Echinodermes, encontrei em meiados de 1880,
na bahia do Rio de Janeiro, por meio da draga, diversos
exemplares—infelizmente nenhum inteiro—de um Baiano-
remetti ao prof. J. W. Spengel, da Universidade
glossus, que
de Giessen (Allemanha), do qual eu sabia que estava ja ha
annos preparando uma monographia especial dedicada » ao
Balanoglossus. Este trabalho está hoje publicado e
genero
ao nosso Enteropneusto fluminense está n'elle reservado um
Capitulo inteiro (X) com tres magnificas estampas sobre a sua
anatomia. O prof. Spengel lhe deu o nome de Schizocardium
brasiliense. Pelo mappa, que illustra a distribuição geogra-
(pag. 215), vê-se que este verme até hoje só foi achado
phica
na habia do Rio de Janeiro e por tres naturalistas: o prof.
Edouard von Beneden o obteve (em quatro fragmentos) entre
as ilhas da Lage e de Villegagnon (187 2-187 3), o prof. Se-
lenka (1875) retirou (igualmente só fragmentos) alguns exem-
plares perto da ilha Bôa Viagem e eu apanhei sete exempla-
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res mais no fundo da bahia, nas visinhanças das ilhas de Pa-


quetá e de Brocoió. Minha opinião, que participei ao distin-
.
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cto especialista, é porém, que o interessante Enteropneusto
será provavelmente achado ainda em muitos outros pontos
daquella bahia.
. IV. Trematodes. No riacho, que atravessa a Colônia Al-
pina, situada na Serra dos Órgãos (Estado do Rio de J.)
acha-se freqüentemente um Chelonio («kagado»), que recc>
nheci ser a Hydromedusa tectifera Cope. Além de um Hi-
tf' /
rudineo (Sanguesuga), que observei uma vez agarrado no
i\tf: «plastron sternal» d'este réptil, achei diversas vezes um ou-
tro verme ectoparasitario, de pequenas dimensões e de cor
amarellada, alojado de preferencia e em associações nume-
rosas nos sovacos dos braços e na inserção das pernas. O
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prof. A. Giard, do collège de France, em Paris, reconheceu
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il. W. Spengel, Monographie der Enteropueusten. (Fauna und Flora, des


Golfes von Neapel) (1893).
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n'este ectoparasita um tremlatodo, descripto por Monticelli ¦ .1.

com o nome de Temnocephala brevicornis, sobre um exem- • *..

no Museu de Copenhague (Dinamarca), trazido do Bra- r» «

plar
zil pelo prof. Reinhardt, em 1876. A descripçào original pa- m. i
'é-;0
¦

rece que é muito deficiente e o prof. Giard promette-nos


um estudo mais aceurado; escrevendo-nos— «car vous le
voyez, on sait encore bien peu de choses sur ce cuneux ¦ ¦ '
,Af
- «.

trémaloíc • ». Aguardamos este estudo do eminente zoólogo


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ftjê
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y
francez
V. Hirudineos. Com o nome de Hacmenteria conhece a
sciencia um genero de Sanguesugas exclusivamente ameri- ex-
canas, entre as quaes toma lugar proeminente pelo seu H.
traòrdinario tamanho uma espécie própria do Amazonas,
Ghüianü (Filippi 1849)—certamente o individuo o mais gi-
de toda esta stirpe. O primeiro exemplar, que serviu
gantesco 2 1846 br. V it-
de typo a Filippi foi colleccionado em pelo
Ghiliani, assistente no Museu de Torino (Itália) e ainda ¦
- Y ¦¦/¦¦¦p,,.&
'-¦•¦

tore ura se-


Museu. Eu tive a felicidade de obter
existe n'aquelle
exemplar, proveniente de um membro da commissão
gundo do Madeira e Mamore
de exploração da Estrada de Ferro
-exemplar que hoje está na Suissa em mãos de um espe-
d'elle fez objecto de uma importante e defatoada
cialista, que
3. O exemplar original de Fúippi mede-eml es-
publicação de comprimento, sobre uma
tado de contracção-i35mm- mim obtido mede
largura máxima de 50-; o individuo por
de comprimento, sobre 100- de largura máxima
\S» nao se co-
e 8— de espessura. Além destes dous exemplares

Btchard, de Pari, Secretario Gera. da


mMMl natur^ que fora de
Sociedade de Zoologia na Françã,-o d es e grupo de
duvida é actualmente o melhor conhecedor
se oecupou ultimamente deste hercúleo
vermes-também a de man- ¦ '¦"¦ .¦*'

Hirudineo 4, e o trabalho (que elle teve gentileza


:.'. ¦Ür**"í

muitos outros) merece especial menção porque


d^r me com trabalhos rela-
condensado de todos os
contém um resumo
tivos a este notável Annelido.

'
delle Sanghuisughe.
S Wa^tô^Lre di Annelidi delia fapiglia

R. Umversua
Musei di Zoologia ed Anatomia coraparata delia
N.*° 145 (1893)-

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*
Observações e impressões durante a viagem, etc.
-
44

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Claro é que vale a pena proceder-se a novas tentativas
para obter-se ainda mais exemplares da Ilacmcntcria Ghilianii
e espero que estas linhas tenham o benéfico effeito, dc cha-
mar a attenção sobre esta sanguesuga na sua própria pa-
tria. Além de mais exemplares seria altamente desejável in-
vestigar o seu modo de vida. Quem sabe se talvez qualquer
pescador d'aqui não conhece perfeitamente o animal, e sabe
mais acerca dos seus costumes, do que, até esta hora, consta
nos annaes da seiencia?
Belém do Pará, 18 de Julho de 1894.

IV

Observações e impressões durante a viagem costeira


do Rio de Janeiro ao Pará '

(12 DE MAIO A 7 DE JUNHO DE iS94J

Pelo dr. EMÍLIO A. GOELDI


-?...

Era entre 4 a 5 horas da tarde do dia 12 de Maio, quando


.-->..- o vapor Patagônia, da linha de Hamburgo, levantou ferro
para sahir barra fora. O nome do nosso paquete achava-se
;>-*:

n'uma contradicção manifesta com o nosso destino, debaixo
-?'
do Equador. Mas nós não nos preoecupamos muito com tal
......

antagonismo nominal. A marcha vagarosa no principio con-


vidava-nos e dava-nos boa oceasião para examinar de perto
-,- :-* os vestígios da epocha triste, que poucos dias tinha findo na
historia da formosa bahia de Guanabara. Por mais avesso
que sejamos a tudo que pertence ao terreno politico, n'a-
quella meia hora até chegarmos debaixo das austeras peças
de Santa Cruz, quantas recordações e impressões variadas
pAr:'.:
*&*%'- * '- * - ¦ >.
* *
¦

.4-

'Aí' • ' ''" "'.~-


1 Ás pressas tivemos de escrever este artigo para substituir um extenso e
belío estudo monographico do professor Dr. A. Forel de Zürich (Suissa), intitu-
lado A Fauna das Formigas do Brazil.. devido á arcumstancia de tal publicação
demandar, attento seu copioso fraseado technico, de grande quantidade de typos
e dizeres especiaes, que nosso editor já encommenclou para a Europa.
Dada esta explicação aos nossos leitores, desde já convidamol-os para apre-
ciarem, nJum dos próximos fasciculos d'este Boletim* o erudito trabalhe do
eminente prof. Dr. A Forel. .
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Observações e impressões áiranle a viagem, ele. 4b

nao devia provocar em nós o aspecto da paisagem ao redor!


Ruinas e chaoticos montões de pedra avistamos Ia, onde em
tempos mais felizes, estávamos acostumados a ver, da nossa
embarcação cm serviço da seiencia, muros paciücós e anti-
fortes fora de uso e, aranhados pelas ferozes garras da
gos,
apresentavam-se até os escolhos e pedras, onde tan-
guerra,
tas vezes, na vasante, tínhamos saltado para dar caça aos
ligeiros siris e ás variadas fôrmas da fauna maritima, que as
ondas não tinham levado comsigo na sua retirada. Onde
Marte se agita com tanto furor,—Minerva deixa-lhe o cam-
emigra, e praias mais pacificas espera a volta
po, procurando 3jB
do sòcêgo c de tempos melhores.
*

Pouco férteis para observações scientiíicas foram os tres


dias consecutivos no alto mar. As gaivotas (Larus macuh-
nos acompanharam ainda algum tempo, formando
ficmris) Rio.
nossa guarda de honra e dando-nos o ultimo adeus dohome-
E porque não haviam de prestar-nos esta attenciosa bra-
naíem? Oueriam significar-nos a gratidão cia aviaria ao meu
'
:
•/:

zileira? OÚe me seja licito, interpretar as cousas


tenho consciência que' deixei no Rio obra digna d ella.
modo-
¦

tinha seguir para a Europa e nós \ y

O Patagônia que
nos nos sepa-
viajar para o Norte, de sorte que
queríamos Com receio da febre amarella
ramos d'elle na yetusta Bahia.
ainda em observação desde a manha
üorém fomos postos
durante as quaes
até a tarde-horas sempre desagradáveis,
uma tartaruga veio distrahir-nos um pouco
unicamente grande do
com os seus exercícios de natação ao redor ate paquete. a vinda de
Os dez dias que nós tínhamos de esperar
nos levasse o Amazonas, foram apro- ;*i ¦*•;*¦¦: :V

outro vapor que para e na


excursões,
¦

veitados tanto quanto possivel, em pequenas ¦

d-aqnella da fauna bahiana, qne **££>*¦


oSaçio parte nas tormi-
' '. •

á mão N'aquellas, particularmente núnteresse


aranhas. De ambas as ordens fiz collecções rela-
¦. ..:•'¦_ ¦ IPihai umas espécies. Nos.
40
¦¦¦'¦ i

tívamente boas, sendo de Arachnidos


com a Nephila clavipes e a Argyope argen-
3 dei logo
l-*".b''
.e vistosas, com as delicadas teias de
.' *- ¦. V
tata espécies grandes Broméhas, e as
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¦¦.¦'*¦¦¦¦.¦
v. ¦"
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„"" ¦¦ ¦.; ¦¦¦

A%ro!pZ atendidas entre as folhas das


hexacantha nas larangeiras, alem de uma
de Gasteracantha • -¦' a-
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•io ObservafeÉ e impressões àiranie a viagem, etc. ...

Epeira menor, próxima de E. tanricornis e como esta nota-


vel pelas numerosas tuberosidades do abdômen. O conjunto
'

arachnologico ainda me lembrava fortemente aquelle do Rio


de Janeiro, especialmente da zona quente d'aquelle Estado
e dos circumvisinhos, ao passo que elle era differente do da
Serra dos Orgaos, onde, como eu demonstrei em outro tra-
balho, os Epeiridae maiores sao parcamente representados.
As teias eram habitadas por fêmeas somente; do sexo mas-
¦•

.'•¦ .

culino d'estas Orbitelarias nao se via nada. Esta circumstan-


cia não me podia surprehender muito; era Maio, portanto
pleno inverno, e antes de partir do Rio de Janeiro eu tinha
í-;;

notado mais uma vez o mesmo estado de cousas, como em


. *.' igual periodo dos annos anteriores, e como elle se acha des-
,cripto no meu trabalho Orientação sobre a fauna das aranhas
do Brazil (pag. 240).
- -.''***
7,;;
A avifauna da Bahia, dá um cunho característico com a
sua apparição quotidiana a lavandeira, Fluvieola climamra,
(Vieillot) (mystacea Wied), que á toda a hora e em toda a
.*¦ •-'¦¦ ¦»¦,: '¦:¦¦..

parte saltita, pelos caminhos, nos jardins, á beira dos regos


01: r'^ e riachos, na cumieira das casas, nos fios das linhas telegra-
phicas, nas torres das numerosas igrejas com seus tectos
muitas vezes cobertos de uma vegetação inteira de gra-
mineas e arbustos. Faz-se notar pelo seu colorido, seu vôo
elegante e rápido, e sua chilrada garrula quando dous se
-.&«*•»./.
perseguem e seu character confiado, pois deixa a gente
approximar-se a dous passos. Em todo o seu porte e nos
^ seus costumes é com as Motacillas européas que melhor posso
^ comparar este gracioso pássaro, que gosta igualmente de
v abanar a cauda. O individuo adulto, do sexo masculino, é
todo branco, com excepção das azas, da cauda e de uma
i £-»'***¦„
estria desde o olho até o ouvido, que são de cor preta; as fe-
|| meas e individuos novos são de preto mais desbotado. Já em
;v fins de 1884, quando pela primeira vez pisei na Bahia, este pas-
*>'•»*¦
ff/.- saro tinha me impressionado e nas minhas visitas posteriores
;rV:i
-•'¦í-V'' sempre o notei. O mesmo se deu com o ornithologo inglez
Forbes, em Pernambuco, quando elle veio durante algumas
; semanas estudar a ornis d'este paiz \
iiW' Nas minhas viagens tenho o costume de visitar os mer-
||| cados, pois são as vezes uma boa eschola de informações
sobre os productos naturaes. Assim fiz tambem nà Bahia,
... !'-."-,¦

1 A. Forbes — B. A. (Prosectõr to the Zoòlògícal Society of Londôn)Eleven


11 -•¦'¦'¦ .
Weeks in Nortk-eastern Bíazil, pag. 315, pag. 340. '..-¦-
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Obstinações e impressões durante a viagem, etc. 47 ¦

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sempre na esperança de encontrar um sortimento variado de


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animaes expostos á venda. A variedade durante áquelles dias '^:\MmMi

não era muito grande, mas assim mesmo demorava-me s_W^J*____i


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porém em revista os pei-
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quasi todos os dias umas horas, passando '..,.?_*•»' '"if-M^BBÊm


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xes, lulas e polvos no logar, onde os pescadores tem seu centro £.___¦

commercial, e as" gaiolas do mercado no cáes: Centenas eram


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os Papagaios gregos (Androglossa aestiva), de todas as ida-
• - ¦ -*?s_l
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des, uns com a mancha amarella na fronte ainda muito pe- -'
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*i3
outros com todo o ornato completo de amarello e ''*rJi
quena, já ¦'' ~*m*WÊ

azul-cíaro na testa e de encarnado vivo nos encontros, de * * j7:-feaJBB


.'l *''l_jÍ

maneira que formavam magnificas séries para estudos com-


Indaguei de onde vinham e, apezar de «o segredo : ;*** ^51
parativos. •

é a alma do negocio» e que os negociantes d'este ramo são


;

f* '^i*ffiiJ_S-_B

aqui, como no resto de toda a parte, bastante desconfiados,


soube que vem principalmente do sertão, exactamente como
eu já tinha referido detalhadamente no respectivo capitulo
da minha monographia sobre as Aves do Brazil. Os preços
¦'.*¦¦¦
**,

regulavam, na media, o mesmo como no Rio de Janeiro.


Curicas não havia n'aquelle momento. Tinha Ia uns poucos digno
éerú/uitos-rei fCommis aureus) e, como artigo mais
attenção, dous exemplares jovens da arara azul (Sittace
de
ambas ainda sem a zona ocular amarella. De
hyacinthina),
nada havia de vivo, com excepçao de
outros pássaros quasi menores da
tins Currupiões (Iderus jamaicai) e uns cantores
fazenda trivial. Os mammiferos es-
familia dos FHngillideos,
: tavam representados unicamente por uns exemplares de te-
bus fatiiellus (Macaco-prego) e de Hapale pentcillata (sa- '
¦'-'¦'¦' '•-'•',i

ao que da bella espeae bahiana H.


huy-commum), passo
especimen pode
leueoce.phala (sahuy de cara branca) nem um construtor)
descobrir. De outro lado havia umas giboias (Boa
sucuriú murinus) de meio tamanho, como
e uma (Eunectes
da classe dos Reptis. Fiz a revisão nas pelles
representantes expõe .
de üassaros, que lá na Bahia, como no Sul, certa gente
e acha sempre boa freguezia nos passageiros
á venda, que
dos transatlânticos, mas nao achei.,
em transito paquetes nao. .
í": objecto algum digno de particular attenção para quem
é novato no terreno da ornithologia brazueira. surpreza
foi bastante grande a minha^
Em compensação, allemão, sita^a
na loja de um negociante
quando ao entrar da cidade baixa, deparei logo
rua "um
principal do commercio
Tm riquíssimo sortimento de duas das ***%»***
de coleopteros que possue a Amencado
notáveis espécies exquisitis-
Sul. A primeira é o Hypocephalus armatus, typo e tortas e
simo de bezouro grande, preto, de pernas grossas V"*w
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48 Observaç/ks e impressões durante a viagem, etc.

com um thorax singularmente alongado, quasi como n'aquelle


1
orthoptero fossante, que na entomologia traz o nome de Gryl-
lotalpa e que aqui no Pará e no Maranhão o povo baptisou
com a designação trivial de paca ou paquinha e que os
francezes chamam courtilicre. Faz agora 62 annos somente
que se conhece este coleoptero, do qual durante annos só
existia um único exemplar entre todas as collecções. De
quando em vez veio mais um especimen, sempre de prove-
niencia bahiana, mas ainda quando eu vim para o Brazil, em
1884, pagava-se entre 10 a 20 libras esterlinas por cada
exemplar, e me lembra ainda muito bem, com que extremo
cuidado e ciume nós guardávamos, na secção zoológica do
Museu Nacional, no Rio de Janeiro, uma pequena caixinha,
'St.'
I ¦£ ..
que continha 4 exemplares do Ilypoccp/ialus, que um feliz
acaso nos tinha posto nas mãos (creio que foi presente de
um padre do sertão da Bahia) e dos quaes nem todos eram
completos. A posição no systema foi objeeto de viva con-
tro versa entre as autoridades mais afamadas em entomologia;
uns faziam d'elle um Cerambycideo, outros um Scarabaeideo.
Eu estava informado, que nos últimos annos de repente os
especimens de Hypoccphalus appareciam com mais frequen-
cia nos Museus, sempre todos vindos cia Bahia. Mas confesso,
que fiquei estupefacto, de ver n'aquella loja logo mais de 50
exemplares, na maioria bonitos e completos, ao preço médio
'.?a*:
de—2 mil réis. Sei que o singular bezouro habita o sertão
limitrophe entre Minas e Bahia, que vive no estéreo do gado
e que é conhecido pelos sertanejos com o nome trivial de
vaqueiro. Posso outrosim informar, que os recentes e nume-
rosos achados são devidos principalmente á attenção desper-
tada por um folheto impresso e trazendo o desenho do be-
zouro—folheto que foi vulgarisado na Bahia
'.';i por uns entorno-
_; ¦
logistas europeus emprehendédores. Experimentarei o mesmo
methodo aqui na Amazônia em relação ao Lepidosiren
radoxus, áquelle singular peixe, que tão desejado ainda é pa-
em
todos os Museus de historia natural. O modo de vida do
Hijpocephalus armatus assim depõe em favor da opinião d'a-
l quelles, que tinham visto n'elle um Scarabaeideo.
O segundo coleoptero era o formoso Acrocinus longima-
nus—insecto grande, com pernas dianteiras descommunal-
mente alongadas e um desenho bonito, no thorax e nas
elytras, de estrias amarelladas sobre um fundo brunno, se-
:
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melhando um tanto a um mozaico., Este vistoso Ceramby-
cideo, porém não é de longe tão raro, como o
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primeiro, sem '
todavia ser commum. Geralmente quando se acha, dá-se logo
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observações e impressões durante a viagem, ele. 49


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com elle em maior numero reunido em pequeno espaço, 6r


9 juntos e os entomologos com alguma pratica da fauna no
Brazil sabem perfeitamente que é para os troncos dos ja-
queiros (Artocarpus integrifolia) que devem principalmente
dirigir a sua attenção. Havia muitos bonitos exemplares na
tal loja, regulando na media cinco mil réis o casal, portanto
mais que o próprio Hypocephalus. Quem teria supposto tal
inversão uns dez annos atraz ?
> Ainda outra surpreza me foi reservada na Bahia. Desço-
brí um modesto lithographo suisso, que durante uns vinte e
tantos annos encheu, de modo summamente louvável, as suas
horas vagas, com a observação e criação de lepidopteros e
coleopteros bahianos, desenhando e pintando com extrema
paciência e gosto artístico as diversas phases até o insecto
¦ími

perfeito. As estampas do Sr. Carlos Wirz—sào umas qua-


'.

renta—pertencem ao melhor, que eu tenho visto n'este ramo


e seriam um real ornamento para uma obra scientifica. O
Sr. Wirz tem tido ao mesmo tempo o raro tino e bom senso,
de não baptisar como novo tudo o que elle não acha men-
cionado na sua litteratura deficiente—limitou-se a ser exacto
e fiel na representação graphica d^quillo que elle tinha de-
baixo dos olhos e julgou, muito acertadamente, que qualquer
profissional poderia facilmente fazer uso das suas estampas
mesmo sem nome^. E um amador de boa tempera e possue
os requisitos de um genuino naturalista. Tive o prazer de
poder-lhe indicar talvez uma dúzia de nomes systemati-
cos d'estes insectos, cujas metamorphoses magistralmente pin-
tadas, tanta admiração me causavam e o modesto autor me
mimoseou com uma d'estas estampas, apresentando aquelle
- •? '¦ pequeno coleoptero que tantos estragbs causa nas fabricas e
depósitos de charutos, em sua açtividade — estampa á qual
.

um dia espero poder dar a merecida publicação.


Durante aquelles dias tive oceasião de apreciar, pela pri-
meira vez, como frueta saborosa, a da mangabeira (Hancor- '
;

nia speciosa) e de encontrar, com flores e vagens maduras


ao mesmo tempo, a Pointiana pequena, parente menor do
flamboyanl do Rio de Janeiro, aquella vistosa Papilionacea
que tão profusamente è aproveitada lá como arvore de ala-
meda e que de Dezembro em diante com os seus pendões
encarnados tanto enfeita as ruas da capital. ''a,

O dono do hotel, onde nós estávamos alojados, me offe-


,..::!<
•»».¦<».. .'¦ •' L 'í..lftM

receu, no dia da partida, tres grandes e magnificos cama-


leões vivos (Iguana tuberculata) que arrumei n'um caixão
e os trouxe sãos e,salvos até ao Pará (onde hoje ainda vivem
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,

4*- (sol. do mus. paraense)

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50 Observações e impresè :es durante a viagem, etc.


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d'elles, tendo sido os dous outros victimas de uma des-


um
graça casual.)
-

No dia 25 de Maio embarcávamos no Planeta, do Lloyd


Brazileiro, vapor que não prima justamente pela sua veloci-
dade e que com um astro pôde ter algum parentesco pelos
seus variados movimentos, sendo porém de notar que o para
Ti-
a frente era do qual a gente menos se podia convencer.
nha sahido do Rio de Janeiro com uma velocidade de cinco
milhas por hora na media e durante todo o resto da viagem
nunca chegou a passar o máximo de sete milhas. Allegou
KH. , . o digno commandante que o paquete tinha durante os seis
LV»
»'•-'•* longos mezes da revolta ficado com o casco cheio de ma-
riscos e tinha a esperança que a agua doce do Amazonas
havia de desembaraçar um tanto esta carga incommodativa.
Parecia-me entretanto que isto não era puramente um de-
feito da epidermide rugosa e que faltava-lhe também alguma
%*'.*:
cousa nos pulmões. Emfim sempre chegamos em Maceió (27
de tarde), cidade de aspecto sympathico com o seu porto
de coqueiros, e com mais um dia em Pernam-
guarnecido
buco (28), onde pela primeira vez achei oceasião de saltar,
pois qüe sempre nas viagens transatlânticas anteriores achei-me
a bordo de paquetes estrangeiros, que por causa das qua-
•Êf..
rentenas não se podiam communicar com a terra. Entramos
no recife e procuramos ver aquillo que era possivel no es-
paço de 24 horas. Olhando para o recife, lembrei-me da lou-
:-','¦ '
'.'_'•.-¦-

.
-'írijri
- ¦

vavèl campanha realisada no terreno da zoologia marítima


pelos membros da extineta Commissão geológica do Brazil, dos
,'.'.*- ri

Srs. Charles Hartt, Derby e Branner—commissão da qual eu


tinha tido em mãos algum material. E entrando na parte
antiga da cidade, fiquei singularmente impressionado pelos
múltiplos vestígios, difficilmente a desconhecer, do estylo ar-
chitectonico germânico—certas ruas é certos edifícios trahem
logo a origem hollandeza. Achei-me no logar, onde Markgraf
e Piso, dous séculos antes, tinham feito os seus estudos so-
bre a historia natural do Brazil—os primeiros, que geral-
mente tem ficado conhecidos e a todo o passo se me apre-
-A- ¦ ^rit.
sentaram recordações históricas sobre o memorável período,
onde o conde Maurício de Nassau fundou uma florescente
cidade, na qual tanto soübè desenvolver a industria, artes e *
.
'ri'
.ri/,
" ¦
-ri': ... ¦¦¦

sciencias. Pouco ou nada ficou d'aquelles nobres germens e .riri»V.;jiri'..'

èü não posso ássaz elogiar o extremo zelo e o piedoso cui- A-,À-W

dado, com que ultimamente o Instituto Histórico Pernam- ¦ '''¦ '¦¦"¦-•/' '- ¦ ' It* •.-¦.-.¦ ' -J. <¦¦" * -¦ "V* .!.-

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Observações e impressões durante a viagem, etc. 51 '* -


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. *

bucano tem tomado a si a tarefa de desenterrar da escuri- .; r -


dão datas e documentos relativos aquelle período. Julgo que
seria empreza digna de toda a animação reunir uma vez em
volume tudo aquillo, que já veiu á luz, graças aquelies pa-
cientes investigadores, e que hoje infelizmente quasi inacces-
sivel ainda é pelo esphacelamento litterario.
Estas reminiscencias históricas tiveram um agradável se- ,
¦-.>

¦¦~i
Ai'

guimento a bordo, pois ganhamos como passageiro novo um


membro do mencionado Instituto, hoje Juiz de Direito em ¦
¦ -
¦

Rosário do Maranhão, e na conversa com este cavalheiro


positivamente muito lucrei. O Sr. Dr. Arthur C. Moreira era
para mim um Baedecker aberto. ¦i ¦

De Pernambuco em diante a costa brazileira era de todo i Y-YÍ


¦¦¦'"¦ ¦ A'

nova para mim e com o mappa na mão e consultando aquillo . yj


que na memória tinha ficado de leituras anteriormente feitas
nos melhores autores, entreguei-me de corpo e alma a esta .;, :.-0va
viva lição de geographia pratica, tanto mais que do ponto . mm

de vista zoológico a bordo pouco havia a fazer. Dos peixes


voadores (Dactylopterus e Exocoetus), que, como é sabido,
n'aquellas alturas tornam-se apparição mais freqüente, nenhum
quiz-se apresentar a bordo e das Thalassidrornas, d.as quaes
uma pequena espécie taciturnamente fiscalisava a agua agi-
tada e revolucionada pelo effeito propulsorio da helice, espe-
cialmente quando o tempo estava mudando, também não
havia meio de. apanhar alguma.
A costa porém, que durante o trajecto ao longo dos Es-
tados da Parahyba e do Rio Grande do Norte quasi cons-
tantemente estava á vista, não offerece grandes encantos
como paysagem. É monptona, ás vezes por centenas de nii-
lhas baixa e apresenta-se qual fita ininterrompida, alvissima
no horisonte, quasi sem differenciaçâo de nivel. Em momen-
tos de maior approximação dissolve-se esta fita geralmente
em uma associação interminável de praias arenosas e de col-
linas, de maior e menor altura, formadas por areia movei, ¦AL

branca ao brilho do solf a ponto de doer nos olhos, e de


vez em quando com parca vegetação de restinga typica nos
seus topes. Perguntando a uns passageiros oriundos destas
regiões, me informaram uniformemente que aquella vegeta-
ção era constituida principalmente por uma e mesma espe-
cie de planta, chamada trivialmente salsa e soubemos mais,
¦ .. -:L. aa'
* * '¦ '
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no sentido de
i''

que a tal salsa exercia um benéfico effeito


solidificar os contornos d'estas coilinas arenosas e dedimi-
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nuir assim o poder dos ventos sobre, esta areia aliás em


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eterno movimento.
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b>2 Observações e impressões durante a viagem, etc.

No porto da Parahyba (30) encostaram umas canoas offe-


recendo aos passageiros cocos verdes, peixes, e como prova
de industria local, apreciamos bastante umas cestinhas gra-
ciosas, enfeitadas com rosetas de conchas brancas e côr de
rosa, entre as quaes são principalmente aproveitadas a Tcl-
Una exilis e a Liuina jamaiecnsis, se a minha memória não
me desfallece n'este assumpto conchyliologico. De um pesca-
dor, que vinha com um carregamento copioso de conchas
maiores, adquiri meia dúzia de magnificos exemplares da
:
'¦¦¦

nossa maior espécie de Cassis (C. tuberosa) por quantia dl-


¦¦¦'¦'¦"

¦-.*'¦.'-'•

minuta, ao passo que do gigantesco Tritonium deixei de


.

comprar dous especimens realmente muito grandes, mas tam-


bem bastante avariados. De bordo eu tinha observado, que
a maioria dos coqueiros da índia, que guarneciam o porto,
tinham um aspecto doentio e pela conversa com os visitan-
tes do logar soube, que uma praga de bichos tinha assolado
vehementemente este anno a utilissima palmeira. Que bicho
será? Até agora tive accasião de conhecer principalmente
dous inimigos do coqueiro l um coleoptero—a Calandra
Cuculionideo preto de tromba comprida, e uma
palmarum—, —a Brás-
borboleta brunna, com listas amarelladas nas azas
solis sophorae—cu]as lagartas eu já tenho visto atacar em
numero espantoso esta e outras palmeiras. Não pôde tirar a
questão a limpo.
Chegamos depois a Natal (31), capital do:Estado do Rio
Grande do Norte—, cidade pouco distante do mar, de aspe-
cto ameno e que, com as suas torres brancas, que appare-
cem por cima das collinas de areia da visinhança, convida
a saltar. Tal não fizemos, porque suppunhamos, que o tempo
t\AÀ> i não chegava. Esta supposição era errônea, e deixo aqui ar-
chivado a curiosa coincidência, que um autor norte-ameri-
cano escreveu, em 1879, o seguinte tópico em relação á sua
passagem n'este porto do Rio Grande do Norte; «We have
-to endure the customary delay here, while mails are ex-
changed; a Brazilian post-master does nothing in ahurry and
'.¦•
-
.¦'•..'*»-' .'*• !.

commerce and pleasure alike must await his convenience.» 2. ....... . *'l'ê*._ .*.**

Navegando de novo, travei conversa com o pratico da


costa sobre as baleias, assumpto sobre o qual uma pessoa,
'¦,;.,'.»'

1 Descrevi, em 1887, a larva e o desenvolvimento de um coleoptero bastante


m nocivo ás Latamas, nos jardins do Rio de Janeiro;~è o Alurnus marginatus.^
(Zoolog. Iahrbücher, vol. il, pag. 584) Iena.
2'H. Smith, Brazil, tbe Amazons and the Coast (London 1879) pag. 436.
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Observações e impressões durante a viagem, etc. t>3

que mais de vinte annos viaja e 3, 4 vezes cada anno n'eS-


tas paragens necessariamente deve saber alguma cousa.
Affirmou-me, que ellas principalmente apparecem de Dezem-
bro em diante e que costumam encontrar-se as mais das
vezes a umas 20 milhas da costa. Com os cearenses, que
iam comnosco, informei-me sobre o peixe camarupim, do
qual os filhos d'aquella terra tanto caso fazem, e sobre a pomba
de bando, de cuja freqüência phenomenal o Sr. Antonio Be- * «
zerra de Menezes me tinha anteriormente feito tão viva e
eloqüente descripção, que reproduzi no respectivo capitulo
do meu livro. Diversos me prometteram material sobre estes
e outros assumptos e quero crer que, mais cedo ou mais tar-
de, cumpram com a sua promessa.
Pouco a pouco dobramos o cabo de São Roque e com ,
elle o ponto oriental do continente sul-americano, onde a
costa assume de uma vez direcção noroeste. Quem esperasse
ver n'este cabo um imponente promontorio, profundamente <í
desapontado ficaria, pois não se differencía, de modo algum
na sua physiognomia, da costa arenosa, observado nos dias
anteriores e acima caracterisada. O littoral cearense ainda
se apresenta debaixo da mesma configuração, com a diffè-
rença que de vez em quando apparecem, mais retiradas
para o interior, umas serras azuladas de diíferentes alturas,
sobresahindo especialmente a Serra de Baturité—região mon- '

tanhosa que parece ser a parte menos flagellada d'este cè-


lebre Estado e possibilitar a rendosa lavoura de café e le-
gumes. Finalmente tínhamos chegado em frente de Fortaleza
(1 de Junho), que os cearenses com orgulho chamam uma das
mais bonitas cidades do Brazil. De facto o aspecto do lado
do mar é bellissimo, tanto de dia como de noite. Minhas
circumstancias não me permittiram saltar em terra. Como é
sabido, não tem porto e o desembarque nem é fácil nem
agradável, especialmente com máo tempo, apezar da distan-
cia ser curta. Lembrei-me da plástica descripção, que Gon-
çalves Dias deu do desembarque penoso, na oceasião em que
lá chegou- a Commissão de Exploração do Ceará, da qual
era o historiador official (4 de Fevereiro de 1859).
^|^^^0eai^ .d'esta vez não quiz passar por secco; chovia í V

torrencialmente e os visitantes traziam a cada momento no-


ticias de enchentes desastrosas, pontes arrancadas, trechos de
estradas de ferro interrompidos, casas desmoronadas, de ma-
neira que parecia haver completa inversão do estado normal.
Nos momentos de tregoas as scenas na próxima praia, o
furor das ondas no quebra-mar principiado e já parcialmente
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84 Observações e impressCes durante a viagem, etc:

na areia, as dos pescadores e uma ver-


sepultado jangadas
chusma de medusas bellissimas, todas de um e mesmo
dadeira
e espécie mas de variadas edades e dia-
genero (Amélia),
metros, que cercavam o nosso paquete, e com o seu habitual discos,
rhythmo stoico contrahiam e afrouxavam seus hyahnos can-
eram para nós objectos gratos de observação que nâo
savam. «Aguas-vivas i ouvi, em seu tempo chamar os pesca-
igual
dores no Tejo ás magestosas Rhizostomas, que em
Lisboa e devo
abundância costumam ser vistas em frente de de-
confessar, que sempre achei bastante significativa como
i-.

nome tn-
, signação genérica para as graciosas medusas este
vial portuguez.
."

. Litteralmente atopetado ficou o con vez do nosso / lancta
com os cearenses, que como passageiros de terceira classe
ir os seringaes da Amazônia, indicando talvez
queriam para
da metade como destino escolhido o Rio Purús. Eram
perto norma algum
SCVj-,1
perto de 700, quando o vapor, tomando por
raciocinio humanitário, talvez não comportasse a terça parte
d'este numero!
Claro é que a continuação da viagem devia tornar-se in
commodissima e ninguém ousava reflectir na angustiosissima
situação que poderia resultar de semelhante—imprudência
em caso de um desastre no alto mar á vista da palpável
desproporção entre a máxima lotação de botes de salvação
e o exagerado numero de passageiros. São cousas que fa-
' zem arripiar os cabellos!
Bastante carregado, repleto de gente e com o con vez
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n'um entulho indescriptivel de redes, bahús, carga «que não
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ígiSíKv.'5. cabia mais no porão, fazia-se o nosso vapor mais para o largo
: (2 dé Junho), de sorte «que da costa, nos dias consecutivos,
pouco nos foi visível. Quando nós nos approximamos d'aquella
tira estreita, com a qual o Estado do Piauhy hoje participa
7'§¦$ da peripheria aliantica, o Httòral tinha assumido üma outra
physiognomia, que se conservou então por todo o Norte.
Era baixo ainda, mas as praias arenosas eram substituídas
por uma pujante vegetação de matto mais alto, de um viçoso
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. * •

verde, agradável a vista. Passamos uma noite em frente a


Amarração (3 a 4 de Junho), porto do Piauhy e situado na
émboccadura do Rio Parnahyba, ancorados talvez á distan-
cia de uma meia hora daquelle logarejo, composto, ao que
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parece, dé pequeno numero de casas meio escondidas entre


pai:rneiras e o ininterrompido matto do fundo.
, Burante todo o trajeçto até São Luiz 4o Maranhão yi
predominar n'esta matta do littoral certa arvore de meia
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Observações e impressões durante a viagem, etc. í>í>

altura e copa frondosa, que os companheiros de viagem, fi-


lhos d'estes Estados, declaram unanimemente ser o Muricy. • - •¦*:•;

Desde que cheguei aqui no Pará tive oceasião de co-


nhecer de perto o que pelo Norte se designa com seme-
lhante nome—são Byrsonimas, da familia das Malpighiaceas,
membros de um genero, que conta mais de quarenta espécies
aqui no Brazil. Convenci-me igualmente, que não é a mesma
arvore que se conhece no Sul debaixo de idêntico nome
indígena; o Muricy, tão freqüente na Serra dos Órgãos e
n'aquellas alturas por assim dizer a madeira a mais aprovei-
tada entre as brancas nas construcções, é evidentemente ou-
¦

tra planta, já pelo seu habitus exterior, embora nunca ti- ,


vesse oceasião de encontrar suas flores e seus fruetos. Os
muricys do Brazil septentrional são, como já pôde observar .
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amplamente, muito.procurados por innumeros pássaros de to-
dos os tamanhos e de diversas familias por causa dos seus
fruetos pequenos, em forma de cereja miúda, que tem um
caroço duro, redondo, envolvido n'uma polpa amarella, de
gosto bastante insipido %
Os numerosos baixos que guarnecem a terra natal de .
a.

Gonçalves Dias, são objeeto de justo receio dos navegantes,


que tratam de contornal-a mais fora, pelo alto mar. A en-
trada do porto de Maranhão (5) é difficillima e durante um
dia tivemos ensejo, de ver que o nosso paquete, ancorado
n'um canal estreito, a um quarto dè hora em frente de São
Luiz, estava no meio de verdadeiro labyrintho de bancos de
areia que na vasante surgiram como cogumellos sobre a su-
¦

1 Nao è sem interesse a explicação etymologica dada por Martius (Flora bra-
siliensis, Fase. 21, pag. 121) do nome Muricy. « Avibus et mammalibus herbivoris,
praesertim gliribus, samarae abunde maturescentes et baccae, imprimis generis
Byrsonimae, nutrimento sunt. Neque Indianus has baccas repudiat, quamvis vo-
racitatem ejus sedare non sufficiant. Quod nomenipsum tupicum : Muricí, Murecy,
Morecy significare videtur (je-moroó) nutrio et cy (iniquus. invitus) — ergo:
TPprce nutriens ». Escreve na mesma oceasião que a primeira das duas palavras com-
ponentes encontra-se ainda em outros nomes triviaes de plantas brazileiras, como
em Murú-murú (Astrocaryum murumuru) (Palmae), «more linguae tupicae, quae . tf,-
vocabjulo repetito pro augmentativo utitur, probe nutriens», e em «murú-cujá» ¦

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.'¦¦' I (Passiflora), «in vase (cuja) nutriens significat». Explica Martius a grande dis-
tribuiçâo das arvores d^ste grupo sobre extensão tão grande na America do Sul
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I , . ,•*' pela intervenção inconscia dos . índios: «Verisimiliter Indiani ex antiquissimis
temporibus terras pervagantes fruetusque edules harum specierum edentes eas
longe lateque sparserunt quum semina intestina permeantia germinandi facultatem 7:: 'tf1 }¦ tf
' :
non perderent. Mos Indianoram communis est excrementa, ubi dejecta sunt, instar r

feliüm vel ipsos terra^obtegere vel per alios, praecipue liberos, tegenda curare.
Ita nostratium adagio cynegetico: Turdus malutn sibi cacat (viscum edendo)
addi possit: Indus pomum.»
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$6 Observações e impressks durante a viagem, etè.} <#•


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perficie. As embarcações á vela, que voltaram do largo, ja


de manhã com remunerativo resultado de pescaria, um grupo,
de uns doze rapazes, occupados em preparar, lançar e retirar
uma enorme rede de arrastão n'um banco de areia próximo,
V os urubus que pairavam em numero considerável sobre a
cidade, uma ou outra borboleta que de terra nos vinha fa-
SJf» - zer rápida visita a bordo, a ida e vinda de botes, uns com
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fruetas, outros com rendas e redes para a venda, tudo isto
servia para nos distrahir soffrivelmente. i
Mais uma vez poz-se o nosso Planeta em marcha*(5 de
Junho, ás 7 horas da tarde) e os dous dias seguintes, onde
:*... • . não havia que ver se não ceu e agua, já nos pareciam in-
terminaveis. Passamos ás ondas turvas que o Rio Gurupy
ar«*f,? despeja para o oceano atlântico e com crescente impaciência
*»*-

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' ' aguardávamos águas francamente amazônicas. Com verda-


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deiro júbilo vimos emergir ao longe uma ponta da ilha de
Marajó, o cabo de Magoarí e pouco a pouco entramos no
braço meridional do grandioso rio. Um archipelago de
ilhas appareceu suecessivamente, e mais e mais approxima-
Li"
'í vam-se as margens e com distineção e nitidez palpável já
surgiam, do aprazível Pinheiro em diante, beiras idylücas,
Owíli.*...
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onde habitações abastadas alternavam com ranchos cobertos
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de palha e ambos com parcellas de matto virgem e graciosos
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grupos do Assay e outras formosas palmeiras sem conta. A
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paysagem do Rio Guajará nos lembrou vivamente a da foz
do Gironde, entre Pauillac e Bordéos—com a differença to-
davia, que na luxuriança da vegetação aquella'bella região
franceza naturalmente não pôde competir com a Amazônia.
Era pelas cinco horas da tarde, do dia 7 de Junho, quando
o Planeta ancorava em frente de Belém do Pará—nosso
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porto de destino, e, gratos pela feliz, embora longa e in-
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çpmmQda viagem, e com confiança no futuro, baldeamos para
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d'esta futurosa terra, tinha mandado ao nosso encontro.
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Pará-Typ. de Alfredo Silva & C,tt —1894


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da * Nafurfofschonde Gàoltóaft do» O^rMuM
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do ZV. /\ fr*fer>; do Real Museu Botânico
do Dr. A". PqtomtlABerlim), redactor;
da casa editora í/. &Vto' em /"/« /
5. ..;

do Dr. A'. A'//« lBerlim), redactor; 1

dn casa editora R. FriedlHmlvr em BerWtí. •

Iv do Prof. Dr. Mt**», Director .1.. Muwii tóWògiro dn Univorsidado do


Da Dinamarca:
Kopènhágen; rin& (do mesmo Museu).
do T)r. ///v//// //

,.'
.1» Prof. Ih: Cihtbrrz, (da Universidade dn Cl.ristiania, o ox.ellente
Do Noruega:
conhecedor dos Cetáceos).

do PíoÍ Dr. /.. ilW Gjmffi, (da Universidade .lo (irat).


. Da Áustria: -
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do Rov. /•;/>/, H7»««i»». I-, om Exneten. Roormund: o excellente


Da Hollanda: |
especialista em Myrmeoophilos.
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fomos alvos do «amorosas mamfetações do co-participaci" intolleotual na nossa


Da Suissa
das citamos as: do Dr. Prof. ,/. Ford, da Univon.ida.lo de Zuricl., o conheodo
empreza, quaes
myrmecolog^ , , +
^ ^ p^^icil om Zurich ;
gg ^gr ^ ^ ^^
C. Schrofer] Lente de Botânica Pharmaceutica da mesma Eschola;
do Prof. Dr
Dr. Wartmann, Dirootor do Musou om St. (iallon, (partioularmonto o o.n nomo
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" do Prof.
Cidade), etc.
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da Sociedade de Sciencias Naturaes da mesma

do Norto nos comprimontaram .ordialmonto os


Dos Estados UnidOS da America
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Washington ;
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•;'

Dr. Th. GUI. do United States National Museum,


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of A^riculture;
/,. Hoivard, Acting Entomologist, of the Department
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etc.
Dr. George Marx, do mesmo Departamento,
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lidando logo utile curn dida,
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r'í .»¦',»¦. £;y,-v;»\ '/,^'v^í. Diversos d'estes nossos correspondentes nos mimoseavam,
Zoológico do Koponhagon (Dinamarca), a

do totorial ütterario, como o Mosou \
com remossas
Museum in Londres, etc.
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Smithsonian Institution em Washington, e o British
de sympathia e benevolo colleguismo .
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O nosso cordial agradecimento para tantas provas


Belém do Pará, 20 de Julho de 1894.
DR. KMII.IO A. OOKLDI.

) -Prière de diriger toute correspondence et xnatériel littéraire


destines à Ia Redaction du
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