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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE LETRAS
IHP086– Literatura Brasileira III – PROVA FINAL
Profa. Maria Luiza Germano de Souza
Orientações
1. São apresentadas quatro (4) questões. O aluno deve escolher duas para responder. Valor de
cada uma é 5 pontos.
2. As questões possuem caráter dissertativo-argumentativo, portanto não serão consideradas as
respostas que apresentem esquemas, tópicos, tabelas ou outros formatos que fujam à redação
do gênero e tipologia textual especificados.
3. As questões deverão ser respondidas com clareza, objetividade, coesão e coerência e correção
gramatical.
4. Será aplicada a nota zero para o texto que se configurar como plágio (primário,
secundário, citação, alusão não referendada).
5. As questões devem trazer argumentação e comprovação: cuidado com o laconismo.
6. Prova sem consulta

QUESTÕES –NÃO ESQUECER: as respostas devem ser pensadas SEMPRE de forma específica,
sem elucubrações gerais.

1. Podemos considerar em O Quinze (2001) três núcleos familiares (o de Chico Bento, o de


Conceição e o de Vicente). Explique-os na narrativa, levando em conta como a seca atinge-os:
“Pois bem, objetivamente, perscrutando-se a narrativa de O Quinze se pode extrair o fenômeno da ‘Seca’
que, longe de qualquer contradição, é o elemento que manipula a tessitura do texto, a trama narrativa[...],
é a própria Seca a Penélope que tece e destece o tecido narrativo do romance ao sabor de sua angustiante
onipresença, seu caráter cíclico e perene na elaboração espaço-temporal [...]” (LOBATO; PEREIRA,
2011, p.1)
Em "O Quinze" (2001), de Rachel de Queiroz, podemos identificar três
núcleos familiares principais que são afetados pela seca no sertão nordestino.
Esses núcleos são o de Chico Bento, o de Conceição e o de Vicente. A seca é
um elemento central na narrativa e desempenha um papel fundamental na vida
dessas famílias.
Chico Bento é retratado como um homem trabalhador, simples e
determinado. Ele é o chefe de seu núcleo familiar, composto por sua esposa e
seus filhos. A seca exerce um impacto profundo na vida de Chico Bento e de
sua família. O principal meio de subsistência deles é a agricultura, e a falta de
chuva prejudica suas colheitas. As plantações secam, os animais não têm
pastagem suficiente e acabam morrendo. Sem trabalho, ele e sua família são
obrigados a abandonar Quixadá. Sem dinheiro para a passagem e sem apoio
do governo, a família tem que fazer o percurso de Quixadá até Fortaleza a pé.
A escassez de alimentos e a falta de recursos financeiros tornam-se uma
constante, colocando em risco a sobrevivência da família. Chico Bento é
representado como alguém que faz o possível para sustentar sua família. Ele
trabalha arduamente na terra, mesmo nas condições adversas da seca. Sua
obstinação e sua força de vontade são evidentes na narrativa. Ele busca
soluções para minimizar os efeitos da seca, como a busca de trabalhos
temporários. Além dos desafios materiais, a seca também tem um impacto
psicológico sobre Chico Bento. Com a morte de um filho e não sabendo onde
se encontra o outro. Ele é confrontado com a dura realidade da vida no sertão,
onde a seca é uma presença constante e opressora. O medo da fome, da
escassez e da perda permeia seus pensamentos e ações.
Conceição é uma jovem professora que representa a cidade, tendo sido
criada na zona urbana. Ela é uma personagem intelectualizada, com ideais
libertários de emancipação feminina, trazendo consigo uma visão de mundo
mais aberta e progressista. Ela vai para Fortaleza juntamente com sua avó,
deixando a fazenda da sua família, na qual visitava, que foi afetada pela seca.
A presença da professora Conceição na narrativa adiciona camadas de
reflexão e consciência ao livro, ampliando a perspectiva sobre os desafios
enfrentados pelas pessoas afetadas pela seca e as possibilidades de
superação por meio da educação e da conscientização. Ela é uma voz crítica e
consciente das injustiças e opressões enfrentadas pelos trabalhadores rurais, e
busca conscientizar e mobilizar as pessoas ao seu redor. Ao longo da história,
Conceição se envolve em discussões políticas e sociais, buscando formas de
melhorar as condições de vida das pessoas afetadas pela seca. Ela é uma voz
ativa na denúncia das desigualdades e da exploração no sertão nordestino.
Conceição também representa a esperança de um futuro melhor. Ela acredita
na importância da educação e do conhecimento como meios de transformação
e emancipação das pessoas. Sua profissão de professora é vista como uma
forma de trazer luz e oportunidades para os mais desfavorecidos.
Vicente, primo de Conceição, é um vaqueiro e proprietário de terras no
sertão. Ele é retratado como uma pessoa inculta e conservadora, mais alinhada
às tradições e valores rurais do sertão. Como vaqueiro, ele cuida do gado e
enfrenta os desafios do trabalho no campo, utilizando seus conhecimentos e
habilidades para sobreviver em um ambiente hostil. A seca afeta Vicente de
maneira significativa. Ele enfrenta a escassez de água e alimentos, a perda de
animais e as condições precárias de trabalho. No entanto, Vicente se mostra
resiliente e determinado, não se deixando abater pelas adversidades. Ele
busca soluções práticas para garantir a sobrevivência do rebanho, como
encontrar novos pastos e água em meio à aridez do sertão. Ele participa de
mutirões e se envolve em ações coletivas, compartilhando recursos e ajudando
outros personagens em momentos de necessidade. Sua solidariedade e seu
senso de comunidade são evidenciados em sua disposição de unir forças para
enfrentar os desafios impostos pela seca.

2. Faça o perfil psicológico de Chico Bento. Em quais situações o perfil a ser traçado pode ser
corroborado na narrativa?

3. Qual conto de João Guimarães Rosa foi trabalhado por sua equipe? Discorra sobre ele,
considerando os pontos mais relevantes do texto teórico explorado por vocês.

4. Sobre o Quinze é dito que: “Outra característica importante do romance é a pluralidade


de planos narrativos. O enredo é estruturado em torno de dois planos principais, o
sertão e a cidade, conectados pelos vários deslocamentos e encontros entre os
personagens pertencentes a planos distintos [...].” (CATTAPAN, 2010, p. 106)

Como os dois planos relacionam-se e quais personagens são responsáveis por ligar um
plano ao outro?

Em "O Quinze", o contraste entre o sertão e a cidade é o pano de fundo


para explorar temas como a seca, a pobreza, a desigualdade social e as
dificuldades enfrentadas pelas comunidades nordestinas. Através dos
personagens de Conceição, Vicente e Chico Bento, a autora Rachel de Queiroz
nos apresenta perspectivas distintas sobre a vida nessas duas realidades tão
diferentes.
No sertão, representado de forma realista e crua, a seca é uma
presença constante e devastadora. É um ambiente árido, onde a escassez de
água e a falta de recursos tornam a vida extremamente desafiadora. As
descrições detalhadas da paisagem sertaneja destacam a aridez, o sol
escaldante e a luta diária pela sobrevivência. A seca é retratada como um
elemento opressor, que afeta não apenas a agricultura e o gado, mas também
a vida das pessoas, levando-as à pobreza, à fome e à miséria. Já a cidade é
apresentada como um lugar de oportunidades e transformação, onde a vida é
vista como mais confortável e moderna. A cidade é retratada como um espaço
de acesso à educação, cultura e trabalho, representando um certo progresso
em relação ao sertão. Conceição, a personagem que vive na cidade, encarna
essa perspectiva. Ela é uma professora com ideais de emancipação feminina e
representa um modo de pensar mais intelectualizado, adaptado ao ambiente
urbano.A jornada de Chico Bento e sua família, fugindo da seca e buscando
uma vida melhor na cidade, evidencia a dura realidade enfrentada pelas
pessoas que habitam o sertão. A fome, a miséria e as perdas trágicas que eles
sofrem ao longo do caminho destacam a luta pela sobrevivência e a falta de
assistência governamental diante da seca. Por outro lado, Conceição
representa a perspectiva da cidade, uma personagem intelectualizada e com
ideais de emancipação feminina. Ela tenta conciliar suas origens no sertão com
a adaptação à vida urbana, enfrentando os desafios e preconceitos que surgem
nesse processo. Vicente, por sua vez, simboliza a ligação entre o sertão e a
cidade, sendo um vaqueiro e proprietário de terras com uma mentalidade mais
conservadora. Seu amor não correspondido por Conceição reflete as barreiras
e diferenças culturais que separam os dois mundos. Através desses
personagens e suas experiências, "O Quinze" nos convida a refletir sobre as
desigualdades sociais, as adversidades impostas pela seca e as
complexidades da vida no sertão nordestino. A obra nos mostra a resiliência, a
coragem e a capacidade de superação dos protagonistas diante das
dificuldades, e nos faz questionar a falta de políticas públicas efetivas para
enfrentar os desafios da região.
Em suma, "O Quinze" é uma obra que retrata de maneira profunda e
sensível a realidade do sertão nordestino, explorando as diferentes
perspectivas dos personagens e as questões sociais e humanas envolvidas. É
um convite para conhecermos e compreendermos a história e as lutas das
pessoas que habitam essa região, promovendo uma reflexão sobre as
desigualdades e a necessidade de medidas efetivas para enfrentar os
problemas enfrentados pelas comunidades sertanejas.

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