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Edição e -Digital

Edição 46 . Ano 11
Maio e Junho de 2023

revistamineracao.com.br

ENTREVISTA
Wilfred Bruijn
e os 50 anos da
Anglo American

política mineral
‘Guerra dos
tributos’ afeta
mineração

sustentabilidade
O combate
ao garimpo
ilegal de ouro

MINERAÇÃO E ESG
PARCERIA PELO PLANETA
Setor investe em ações ambientais, sociais e de governança
para garantir uma nova imagem perante à sociedade
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e-Digital
CLIQUE

REFLORESTAR E
REFLORESCER

Exemplo na área
ambiental, a Jacobina
Mineração criou um
novo canteiro de mudas
com espécies nativas da
região de Jacobina (BA).
Até 2030, a empresa
deve investir R$ 1,4
bilhão em projetos
de sustentabilidade,
com foco na energia
limpa. Não por acaso, a
companhia se tornou a
primeira mineradora do
país com certificação ESG
pela Associação Brasileira
Divulgação MRN

de Normas Técnicas (ABNT).

Divulgação
EXPEDIENTE

Diretor-geral Anúncios / Comercial Conselho editorial


Wilian Leles + 55 (31) 98802 . 0070 Adriano Espeschit
diretor@revistamineracao.com.br comercial@revistamineracao.com.br Engenheiro de Minas
J. Mendo Consultoria
Editores-gerais Assinaturas
André Martins + 55 (31) 3544 . 0045 Marcelo Mendo de Souza
MTB 21.455/MG faleconosco@revistamineracao.com.br Advogado
Lucas Alvarenga Mendo de Souza Advogados Associados
MTB. 17.557/MG Distribuição
Edição digital entregue via e-mail, Portal / Contato
Redação portal de notícias e redes sociais. www.revistamineracao.com.br
Bianca Alves revista@revistamineracao.com.br
Daniela Maciel Circulação
Emelyn Vasques Esta publicação é dirigida aos setores
Juliana Gontijo mineral, siderúrgico e ambiental, com Razão social:
Patrícia Medeiros destaque para mineradoras, siderúrgi- W. L. Tourinho - Revista
Roger Dias cas, fornecedores, entidades de classe, Mineração & Sustentabilidade
redacao@revistamineracao.com.br consultorias, instituições acadêmicas,
além de governos e assinantes. Rua Maria Consuelo, 16, Brasileia
Diagramação Betim . MG - 32.600.294
Felipe Cecilio Foto da capa Dalila Fauaze | Hydro + 55 (31) 3544 . 0045 | 98802 . 0070

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da revista os artigos de opinião e
conteúdos de informes publicitários.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de
2023
2023
e-Digital
ESTANTE

uma operação segura, com bai-

Reprodução
GUIA PARA PROJETOS xo risco de acidentes geológicos.
DE TALUDES DE MINAS
A CÉU ABERTO O “Guia para projetos de talu-
des de minas a céu aberto” foi
JOHN READ E PETER STACEY
concebido para apoiar profis-
(EDITORES)
sionais e abordar conceitos de
ABGE (tradução, 2023) investigação geotécnica, análi-
se, projeto e monitoramento de
taludes a céu aberto. Lançado
• Páginas:
em 2009, o livro não contava
557 páginas
com uma edição em português.
• Formato:
24 cm x 31 cm x 7 cm Assegurar a estabilidade de uma A tradução é resultado de um
• Preço: mina é um dos pré-requisitos para convênio entre o LOP, desenvol-
R$290,00 uma produção sólida. Ter taludes vedor de produtos técnico-ope-
• Site: bem recortados, com ângulos e racionais, e a Associação Brasi-
clique aqui especificações compatíveis com o leira de Geologia e Engenharia
maciço rochoso, é essencial para Ambiental (ABGE).

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SUMÁRIO

revistamineracao.com.br
Maio e Junho de 2023
Edição 46 . Ano 11 . Versão e-Digital

Especial | Meio Ambiente Especial | Social

26 32
Reflorestamento de Ações educacionais
áreas lavradas reafirma transformam comunidades
compromisso ESG minerárias

Divulgação Alcoa
Nexa Resources

52

Divulgação Ibama
Política Mineral
Estratégias para
enfrentar o
garimpo ilegal de
Anglo American

ouro no país

58
Carlos Moura SCO - STF
Especial | Entrevista |
Governança Wilfred Bruijn
36 Setor aposta em
boas práticas de
12 O líder à frente
dos 50 anos da
Política Mineral
Estados e
gestão Anglo American
Munícipios
rediscutem a lei
ao elevar tributos

Seções
46
7 Editorial 24 Artigo EBP 52 Política Mineral
8 Panorama 26 Especial 58 Política Mineral Inovação
12 Entrevista 46 Inovação 64 Artigo Gallagher Iniciativas públicas e privadas aceleram
20 Sustentabilidade 50 Artigo CETEM 66 Agenda cadeia do lítio

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EDITORIAL

Sinal dos
tempos
As transformações positivas vivenciadas pela ati-
vidade mineral não se restringem a um lugar no
mundo. Elas acontecem ao mesmo tempo nos qua-
tro cantos do planeta, orientadas pela agenda ESG
(meio ambiente, social e governança). Esse conjun-
to de ações com foco na sustentabilidade é a chave
para uma mudança profunda em todo o setor. WILIAN LELES
A edição 46 da Mineração & Sustentabilidade
dedica um especial ao tema, a começar pela Com mais de 20 anos de
reportagem de Emelyn Vasques. Ela mostra os experiência no jornalismo e no mercado
impactos do reflorestamento de áreas lavradas publicitário, é o fundador e diretor-geral
para a redução de danos ao solo e à atmosfera. da Revista Mineração & Sustentabilidade,
A segunda matéria, de Natália Macedo, lança luz no mercado nacional desde 2011. Dirige
aos projetos educacionais que transformam a também um jornal da Região Metropolita-
realidade de comunidades minerárias. A última na de Belo Horizonte desde 2003.
reportagem do especial, de Roger Dias, revela os
esforços de companhias para se tornarem mais
transparentes, éticas e próximas da sociedade.
nacional e com maior valor agregado. Tão nobre
Sintonizado com esses novos tempos, o Grupo quanto, o ouro norteia a reportagem de Juliana
Anglo American comemorou, em abril, 50 anos de Gontijo, que mostra as esforços do setor e de en-
presença no país. Para evidenciar os aspectos que tidades fiscalizadoras para coibir o garimpo ile-
o fizeram uma referência em inovação e respon- gal no coração da Amazônia.
sabilidade socioambiental, os jornalistas André
Martins e Lucas Alvarenga entrevistaram o CEO Por fim, a repórter Bianca Alves explica os efeitos
da companhia no Brasil, Wilfred Bruijn, enquanto da criação de taxas incidentes sobre a atividade
Patrícia Medeiros destaca um pouco da história e minerária por Estados e Municípios. Enquanto o
dos valores da empresa ao longo de meia década. setor se queixa da insegurança jurídica gerada
pelos novos tributos, governos estaduais e mu-
Mineral-chave para a transição energética, o lí- nicipais alegam falta de constância nos paga-
tio é foco da matéria de Daniela Maciel. O texto mentos e necessidade de compensação social.
apresenta iniciativas como a do Senai-PR, que
auxilia empresas na produção de um lítio 100% Uma ótima leitura a todos!
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PANORAMA

Divulgação BHP
ENERGIA LIMPA
PARA PRODUZIR
Comprometida com a transição energética
em curso em todo o mundo, a Alcoa atingiu
a marca de R$ 1,3 bilhão em investimentos
COOPERAÇÃO QUE
em sustentabilidade apenas nos dois últimos DESENVOLVE
anos. A produtora de alumínio aposta em pro-
jetos de energia renovável nas unidades de
Alumar (Maranhão) e em Poços de Caldas (Mi- As mineradoras BHP Billiton e Codelco firmaram
nas Gerais) para cumprir com o compromisso uma parceria para enfrentar, de forma conjunta,
de zerar suas emissões de carbono até 2050. os desafios da indústria da mineração e, por con-
sequência, os problemas que impactam suas ati-
O montante é uma resposta à adesão aos vidades. O acordo de cooperação prevê a análise
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de temas como eletrificação, tecnologias para a
(ODS), traçados pelo Pacto Global da Organi- descarbonização e a exploração mineral de bai-
zação das Nações Unidas (ONU). Atualmente, xo teor, operações em jazidas profundas e bene-
a Alcoa atua em várias frentes de transfor- ficiamento a seco ou com baixo teor de umidade.
mação para substituir o uso de combustíveis
fósseis nas operações. O objetivo é contribuir O documento assinado pela empresa australiana
para o enfrentamento das mudanças climáti- e a estatal chilena estabelece um prazo de cinco
cas, tornando a empresa uma referência glo- anos para a troca de informações. “Fornecedores,
bal na produção sustentável de alumínio. centros de pesquisa, universidades e empresas
com desafios comuns são peças-chave para com-
plementar nosso conhecimento e experiência e
criar soluções sustentáveis”, pontua o CEO da Co-
delco, Andre Sougarret.

Um comitê gestor formado por profissionais das


duas empresas orientará os trabalhos. “Para a
Divulgação Alcoa Poços de Caldas

BHP, este acordo mostra como a atuação conjun-


ta dos setores público e privado é essencial para
tornar a mineração cada vez mais sustentável”,
ressalta o presidente da BHP, Rag Udd.
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MAIS SUSTENTABILIDADE

Produtora de bauxita no Sudeste do Pará, a Hydro mais de 2.905 hectares em Paragominas (PA)
Paragominas formalizou o compromisso de ze- e em pesquisa meteorológica para melhorar
rar suas emissões de carbono até 2030 ao as- a gestão dos recursos hídricos e o reaprovei-
sinar o Pacto pelo Clima, parte integrante do tamento da água de chuva. Em parceria com
“Paragoclima”. O projeto conta com cinco gru- a Universidade Federal do Pará (UFPA), iniciou
pos de trabalho focados na construção de polí- estudos sobre o uso de placas solares.
ticas públicas em parceria com as comunidades
locais. A mineradora busca promover a econo- Além disso, a companhia é reconhecida pelo
mia circular, aumentando a oferta de alumínio pioneirismo na implantação da metodolo-
carbono zero e gerando mais energia renovável. gia tailing dry backfill, que devolve os rejei-
tos inertes da mineração de bauxita às áreas
Nesses 16 anos no mercado, a Hydro Parago- abertas e mineradas, eliminando a necessida-
minas vem investindo no reflorestamento de de de barragens.

AD

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PANORAMA

PROJETO BABILÔNIA
A energia gerada pela força dos ventos será in- a Casa dos Ventos terá 55% de participação da
dispensável para os planos da ArcelorMittal no siderúrgica e 45% da produtora de energia re-
Brasil. A empresa instalará uma usina eólica – novável. As obras devem começar neste ano,
com capacidade de produção de 554 MW – na com operação prevista para 2025. O custo total
região central da Bahia. Além de contribuir para foi estimado em R$ 4 bilhões, que poderá au-
a descarbonização nas plantas da empresa, a mentar caso a empresa adicione mais 100 MW
unidade fornecerá 38% da energia necessária de energia solar ao projeto.
pela companhia, segundo projeções, em 2030.
A ArcelorMittal Brasil firmará um contrato de
Em fase de licenciamento ambiental e regula- compra de energia de 20 anos com a joint venture
tório, o projeto desenvolvido em parceria com para o fornecimento de eletricidade.

APOSTA NA A Glencore adquiriu 45% dos ativos da maior


produtora e exportadora de bauxita do Bra-
TRANSIÇÃO sil: a Mineração Rio do Norte (MRN). A opera-
ção foi realizada em acordo com Vale e Norsk
ENERGÉTICA Hydro. Além desta aquisição, a multinacional
anglo-suíça se tornou detentora de 30% de
participação na Alunorte, maior refinaria de
alumina instalada fora da China e controlada
pela Hydro. Pelas transações, a mineradora de-
sembolsará aproximadamente R$ 3,8 bilhões.

“A aquisição dessas participações acionárias


fornece à Glencore um portfólio mineral de
baixo carbono, como alumina e bauxita pro-
duzidas na Alunorte e na MRN, respectiva-
mente. Esse investimento também aumentará
a capacidade de fornecer – aos nossos clientes
– materiais críticos para a transição energética
em andamento”, avaliou o head de Alumina e
Alumínio da Glencore, Robin Scheiner
Tarso Sarraf

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ENTREVISTA WILFRED BRUIJN

Divulgação
Anglo American:
50 anos de Brasil
Companhia celebra meio século de presença no
país com bons resultados e de olho num futuro
ainda mais próspero, diverso e tecnológico

André Martins e Lucas Alvarenga

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio
Abril ae Maio
Junho2023
de 2023
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Q
uais as métricas indicam o sucesso Mineração & Sustentabilidade – A Anglo Ameri-
de um empreendimento? A pereni- can celebra 50 anos de presença no Brasil. Qual
dade de um negócio é, sem dúvida, é o papel estratégico dos ativos da empresa no
uma variável importante. Em ativi- país para a história do conglomerado?
dade há 106 anos, o conglomerado britânico
Anglo American é um dos poucos na mineração Wilfred Bruijn – Esse marco comprova o quanto
a ostentar, com o orgulho, operações em todos nos sentimos acolhidos pelos brasileiros e esti-
os continentes. Presente no Brasil desde 1973, mulados a seguir por muitas décadas no país,
a empresa mantém dois de seus mais valiosos em busca de uma mineração cada vez mais se-
ativos – de minério de ferro e ferroníquel – em gura, responsável e sustentável. Ao longo dessa
Minas Gerais e Goiás, respectivamente. história, a Anglo American desenvolveu empre-
endimentos ligados à produção de ouro, nióbio
Em terras brasileiras, a companhia acompanhou e fosfato, além de minério de ferro e ferroníquel,
as profundas transformações que impactaram nossos atuais negócios. Tanto o Minas-Rio, nosso
a mineração: inovações tecnológicas, desafios empreendimento de minério de ferro em Minas
ambientais e novos modelos de produção. Gerais, quanto a operação de níquel em Goiás
Com a missão de pensar a mineração de forma são ativos estratégicos de longo prazo, mas que
diferente, a mineradora acenou com gentileza já representam entre 15% e 18% do resultado
às transformações, consolidando a imagem de global da empresa.
empresa responsável, tecnológica e plural.
M&S – A Anglo American possui plantas in-
CEO da Anglo American no Brasil desde março dustriais em todos os continentes do mundo.
de 2019, o holandês Wilfred Bruijn, mais conhe- Quais são as singularidades quanto aos as-
cido como Bill, iniciou sua trajetória no setor pectos de governança da empresa?
em 1992, nas Minerações Brasileiras Reunidas
(MBR). Matemático de formação, exerceu car- Bruijn – A integridade é um valor basilar na
gos nas áreas financeira e administrativa, ocu- nossa empresa. Somos intransigentes com
pando um assento no Conselho de Administra- corrupção, atitudes antiéticas e descumpri-
ção da MRS Logística por quase dez anos. Antes mentos de dispositivos legais. Isso corrói a
da Anglo American, foi CEO da Mineração Usi- confiança, afasta os investimentos, enfraque-
minas. Além de presidente do Conselho Diretor ce o estado de direito relacionado ao ambien-
do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), te de negócios, aumenta os custos e a impre-
Bruijn é cônsul honorário dos Países Baixos em visibilidade jurídica.
Minas Gerais. Em dezembro, será sucedido pela
CFO da empresa em Londres, Ana Sanches. Para acompanhar o cumprimento das normas,
possuímos mecanismos de controle internos de
Em entrevista exclusiva à Revista Mineração & compliance para combater desvios de conduta e
Sustentabilidade, Brujin fala sobre o compro- garantir a continuidade dos negócios com altos
misso de conduzir os ativos da Anglo American padrões éticos. Nossos empregados passam por
no Brasil e de contribuir para tornar a compa- treinamentos constantes sobre a nossa política
nhia cada vez mais moderna e sensível às ne- de integridade, que se estende aos fornecedores
cessidades sociais contemporâneas. Confira! e prestadores de serviço.
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ENTREVISTA WILFRED BRUIJN

Somos signatários do Movimento Transparên-


cia 100%, da Rede Brasil do Pacto Global da Or-
ganização das Nações Unidas (ONU), que visa
engajar as empresas no combate à corrupção.
Ao assinar o documento, nos comprometemos
a adotar medidas que vão além das obrigações
legais, como o fortalecimento de mecanismos
de transparência e integridade.

M&S – De que forma a companhia tem con-


tribuído para transformar o contexto so-
cioeconômico e cultural das cidades onde
está presente?

Divulgação
Divulgação Potássio do Brasil

Bruijn – A sociedade espera, com razão, que


a indústria mineral contribua para o desenvol-
vimento socioeconômico, reduzindo os impac- Outro destaque são os investimentos em editais
tos ambientais e promovendo a biodiversida- voltados a projetos sociais das comunidades. Por
de. Na Anglo American, temos o propósito de meio deles, pessoas jurídicas sem fins lucrativos,
reimaginar a mineração para melhorar a vida conselhos de direitos, grupos informais locais e
das pessoas e a ambição de sermos a empresa escolas podem inscrever iniciativas que promo-
mais valorizada aos olhos dos nossos stakehol- vam o bem coletivo.
ders. Pois, quando falamos em oportunidades
de negócios, precisamos colocar as pessoas Sobre os desafios e oportunidades ligadas à res-
em primeiro lugar. ponsabilidade social, o ‘S’ do ESG, precisamos
sempre repensar nossa forma de agir por meio
Temos vários exemplos de ações que visam o do diálogo constante e da transparência com as
desenvolvimento das comunidades anfitriãs comunidades. Quando chegamos com um em-
com projetos em favor da saúde e bem-estar, preendimento, em busca de licença social para
meio ambiente, educação e treinamento, mo- operar, somos os hóspedes das comunidades.
bilidade urbana, cultura e patrimônio, além do Logo, precisamos bater na porta das pessoas
desenvolvimento econômico para além da de- com muita humildade, gentileza e escuta ativa.
pendência da atividade mineral. Não dá mais para o setor falar apenas para si.

Só o Programa Crescer já recebeu mais de R$ 20 Precisamos evoluir na busca por uma mentali-
milhões para diversificar a economia e reduzir dade cada vez mais colaborativa, com fóruns de
a dependência da mineração das comunidades diálogo e engajamento junto às comunidades.
que acolhem nossas operações. Ele promove Assim, faremos da licença social para operar uma
um diagnóstico aprofundado das vocações lo- parte da estratégia do negócio e seguiremos
cais, priorizando cadeias de valor a fim de ofer- construindo uma relação de confiança e enga-
tar assessoria técnica e capacitações aos pro- jamento com nossos stakeholders. Só dessa for-
dutores para alavancar suas produções. ma poderemos agir assertivamente, fortalecer a
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reputação do setor e mostrar a mineração sus- tamento e gestão inteligente dos recursos hídricos;
tentável em amplos sentidos. entre outros.

M&S – O jeito de fazer mineração no Brasil mudou Entendemos que a adoção das boas práticas ESG
nesse meio século. Qual a contribuição da Anglo é uma demanda global – e que a Anglo American
American para a consolidação de uma mineração contribui, e muito, para a consolidação de uma
mais responsável, inovadora e sustentável? mineração do futuro. Organizações e setores que
não estiverem compromissados com a ampla
Bruijn – Somos orgulhosos do nosso passado e sustentabilidade de seus negócios abrirão espa-
atentos aos desafios do presente e do futuro. A mi- ço para concorrentes conectados com as novas
neração só tem sentido se buscar soluções para o demandas mundiais.
bem de todos. Desse modo, a Anglo American insti-
tuiu o Plano de Mineração Sustentável em seus ne- M&S – No Brasil, a companhia está focada na
gócios globais desde 2018. A iniciativa, alinhada aos exploração de minério de ferro e ferroníquel.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) Quais as expectativas para o futuro dessas com-
da Organização das Nações Unidas (ONU), orienta modities e para ampliação do seu portfólio?
as ações a partir de três pilares baseados em práticas
ESG: Ambiente Saudável, Comunidades Prósperas e Bruijn – Hoje, operamos dois negócios no Brasil. O
Liderança Corporativa de Confiança. Minas-Rio produz minério de ferro em Conceição
do Mato Dentro e Alvorada de Minas, em Minas Ge-
O plano inclui parcerias para melhorar os sistemas rais, englobando um dos maiores minerodutos do
de educação e saúde das comunidades que aco- mundo, com 529 km de extensão. O sistema, ope-
lhem nossas operações; ações de inclusão e diver- rado de forma conjunta com a Ferroport, passa por
sidade; fortalecimento dos mecanismos de trans- 33 municípios, saindo de Minas Gerais para o Porto
parência e integridade; foco na redução da emissão do Açu, no Rio de Janeiro. A outra operação produz
de gases do efeito estufa nas operações; reaprovei- ferroníquel em Barro Alto e Niquelândia, em Goiás.

Nossos ativos no Brasil são estratégicos e de longo


prazo. O Minas-Rio é a reserva mais longeva do gru-
po, com perspectiva de produção até 2070 – prazo
Dê o play que poderá ser postergado. Nele, produzimos um
minério premium, com alto teor de ferro (67%) e
e ouça o bate-papo entre Wilfred Bruijn baixo índice de contaminantes, muito demandado
e diretor-presidente do Ibram, Raul pelas siderúrgicas asiáticas por ser menos poluen-
Jungmann, sobre os planos da Anglo te. Além disso, estamos trabalhando em melhorias
American para impulsionar os Objetivos
operacionais no Brasil para alcançarmos nossa ca-
de Desenvolvimento Sustentável da ONU
pacidade de produção de 26 milhões de toneladas
anuais nos próximos dois anos.

Em Goiás, temos duas plantas com produção de


40 mil toneladas por ano, o que nos faz um dos
seis principais produtores mundiais de ferroníquel.
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ENTREVISTA
ENTREVISTA WILFRED BRUIJN

O Sistema Minas-Rio poderá


produzir 26 milhões de
toneladas/ano de minério
de ferro de alto teor

Divulgação Potássio do Brasil


Divulgação

Neste negócio, seguimos trabalhando em novas valorizada por empregados, acionistas, clientes,
tecnologias para aumentar a vida útil das opera- fornecedores, países e comunidades das quais
ções de 25 anos para, no mínimo, mais 40 anos. faz parte. Sobre expansões, investimentos ou
O nosso produto é direcionado aos mercados in- aquisições no país, seguimos sempre atentos às
terno e externo de aço inox, incluindo clientes da oportunidades de mercado.
Ásia, Europa, África e América Central.
M&S – Diversidade, equidade, tecnologia em
Em relação às perspectivas de faturamento, vi- favor da segurança, meio ambiente são ter-
samos atingir uma curva suave de crescimento, mos em voga na mineração. Como a agenda
respeitando sempre a segurança e a saúde dos ESG tem sido implementada pela companhia
nossos empregados. no Brasil? Há resultados já mensurados des-
sas ações?
M&S – Quais são as principais metas da compa-
nhia para os próximos anos? Elas contemplam Bruijn – O Plano de Mineração Sustentável vem
expansões, novos investimentos ou aquisições? rendendo frutos que merecem ser celebrados
neste aniversário da companhia no Brasil. Nossa
Bruijn – Nossos empreendimentos no país ga- empresa é uma das pioneiras mundiais do setor
rantem 12 mil empregos, entre diretos e tercei- a constituir uma área específica para inclusão, di-
ros, e investimentos de R$ 12 bilhões até 2027. versidade e saúde mental, além de manter gru-
Os recursos incluem melhorias operacionais e pos de trabalho que discutem essa agenda. As
de manutenção, aumento de produção e investi- ações integram nosso planejamento estratégico
mentos nas comunidades anfitriãs e em seguran- para a consolidação de uma cultura alinhada às
ça – nosso principal valor. Mesmo diante desse demandas da sociedade atual. Nosso planeja-
cenário, a Anglo American não tem a intenção mento tem objetivos e metas exclusivas para os
de ser a maior empresa do setor, mas, sim, a mais grupos minorizados.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
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Trabalhamos para alcançar, até 2027, 40% de mu- tebol ou mais de seis vezes a sua área operada no
lheres em posição de liderança globalmente. Para país. A companhia também aderiu ao Programa
isso, promovemos o Programa de Desenvolvimen- de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), doando
to das Mulheres, que debate temas pertinentes às US$ 5 milhões para a conservação de mais de 60
esferas pessoais, sociais e profissionais e aos desa- milhões de hectares na região.
fios enfrentados diariamente nas rotinas de traba-
lho. Também oferecemos capacitações para contra- Além disso, firmamos acordos recentes para pro-
tar novas profissionais, como cursos de soldadoras mover o desenvolvimento regional colaborativo
e treinamento de mulheres em nos municípios onde opera-
caminhões fora de estrada. mos, de forma que prospe-
rem muito além da vida útil
Em relação à estrutura e aos da mina.
programas da empresa, temos Nossa empresa é
M&S – O país vive uma nova
nossa atuação em diversidade
respaldada por políticas e pro-
uma das pioneiras fase no que diz respeito
cedimentos consistentes, apli- mundiais do setor às pautas ambientais, que
cados globalmente pela Anglo abrangem desde o estímulo
American, tais como: Política de a constituir uma à energia limpa ao combate
Integridade Empresarial, Política área específica ao garimpo ilegal. Essa pos-
de Inclusão e Diversidade, Polí- tura poderá abrir um novo
ticas contra a Violência Domés- para inclusão, horizonte de oportunida-
tica e contra Bullying, Assédio
e Retaliação.
diversidade e des para a Anglo American?

saúde mental. Bruijn – Novos horizontes


Na área ambiental, mantemos para uma mineração respon-
uma matriz energética 100% sável já vêm sendo traçados
renovável no país e avançamos pela Anglo American desde a
em um projeto de reuso de água do nosso minero- implantação do Plano de Mineração Sustentável.
duto. Também investimos em alternativas para ele- A promoção de um meio ambiente saudável está
var a eficiência operacional dos recursos hídricos, atrelada ao nosso modelo de negócio, pois é pre-
por meio de parcerias com universidades e centros ponderante para o sucesso e a continuidade dos
de pesquisa; e apoiamos a recuperação de bacias empreendimentos.
hidrográficas do Rio Araguaia, em Goiás, e de nas-
centes do Rio Santo Antônio, em Minas Gerais. Globalmente, a Anglo American tem empenha-
Trabalhamos, ainda, em uma iniciativa piloto de do esforços para reduzir a emissão de carbono
reaproveitamento de escória de ferroníquel para de suas operações e atua com parceiros para aju-
pavimentar rodovias em Goiás. Além dos ganhos dar a descarbonizar as cadeias de valor. No Brasil,
ambientais, o projeto incentiva a economia circular. um dos destaques dessa estratégia é o uso de
fontes de energia renovável – um imperativo nos
A Anglo American mantém 27 mil hectares de processos de compra de eletricidade da empre-
áreas de Cerrado e Mata Atlântica protegidas no sa. Entre 2019 e 2020, foram assinados contratos
Brasil, o que corresponde a 27 mil campos de fu- de aquisição de 140 megawatss (MW) médios
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
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ENTREVISTA WILFRED BRUIJN

Garantir a segurança
de colaboradores de energia solar e eólica junto à Atlas Renewable
faz parte da filosofia Energy e à AES Tietê, com vigência de 15 anos. Em
da Anglo American
2022, a Anglo American tornou-se autoproduto-
ra de energia elétrica renovável por meio de uma
Sociedade de Propósito Específico (SPE) com a
Casa dos Ventos para a produção de energia no
parque eólico Rio do Vento (RN), um dos maio-
res empreendimentos eólicos do mundo, em um
contrato de produção de 95 MW médios até 2041.
Desde então, 100% dos 300 MW médios consu-
midos pela companhia no Brasil passaram a vir de
fontes renováveis como eólica, hidráulica e solar.

Com esses contratos, a Anglo American no Brasil


contribui para alcançar seus objetivos globais até
2030: diminuir as emissões líquidas de gases de
efeito estufa em 30%; elevar a eficiência energética
em 30%; e ser neutra em carbono em oito dos seus
sites operacionais. Assim, se tornará globalmente
neutra em carbono até 2040 – considerando suas
emissões diretas e consumo de combustíveis. Para
emissões de clientes e fornecedores, a meta é redu-
zir 50% até 2040.

M&S – Enquanto liderança da Anglo Ameri-


can, qual mensagem o senhor deixaria para
as gerações futuras que estarão à frente da
mineração no Brasil?

Bruijn – Para fazermos uma transição rumo a um


novo e melhor paradigma, o foco precisa estar no
desenvolvimento territorial, na gestão de riscos e
na adaptação às mudanças regulatórias, sem dei-
xar de termos como norte uma transformação para
melhorar a vida das pessoas. Este é um caminho
sem volta para o futuro da mineração sustentável.

Um futuro no qual um amplo pensamento ino-


vador, tecnologias capacitadoras e parcerias de
colaboração formarão uma indústria ainda mais
segura, sustentável, eficiente e sintonizada com as
Divulgação

necessidades das comunidades que nos acolhem e


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da sociedade em geral.
Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de
2023
2023
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
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SUSTENTABILIDADE ANGLO AMERICAN

CELEBRAR O HOJE E
CONSTRUIR O AMANHÃ

Anglo American
Grupo inglês Anglo American chega aos 50 anos no Brasil,
festejado por colaboradores, parceiros e o mercado
Patrícia Medeiros

O
ano era 1917: Primeira Guerra Mun- década de 1960. Além do ouro, a Anglo Ameri-
dial. Em um contexto de turbulência can explorava cobre, platina, diamantes e carvão
política e instabilidade econômica – produto que levou à independência energética
internacionais, um ato de coragem sela o iní- sul-africana.
cio de uma das mais bem-sucedidas histórias
de empreendedorismo no setor mineral. A ex- Investindo continuamente em pesquisa e tecno-
ploração de uma mina de ouro em Joanesbur- logia, o grupo cruzou o Atlântico, no fim da dé-
go, na África do Sul, pelo visionário empresário cada de 1960 e início da década de 1970, para
alemão de origem judaica Ernest Oppenhei- diversificar sua produção, explorando níquel nos
mer foi o ponto de partida do hoje centenário Estados Unidos e no Brasil, onde também passou
Grupo Anglo American. a apostar na lavra de ouro. Na América do Sul, a
empresa se instalou, ainda, no Chile, com o obje-
A partir daquele pequeno empreendimento, a tivo de produzir cobre.
recém-fundada companhia de exploração mine-
ral passou a expandir seu portfólio por cidades O Velho Continente foi o destino seguinte. Em
sul-africanas e outros países do continente até a países europeus, a Anglo investiu na produção
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio a Junho 2023
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de papel e minerais industriais ao longo da déca-


da de 1990. Quase na virada do milênio chegou à 50 anos de
Colômbia e à longínqua Austrália, a fim de extrair
carvão em ambos os países.
história
Nos anos 2000, a Anglo American iniciou a ex-
ploração de minério de ferro na África do Sul e 1917
A Anglo American é fundada pelo
no Brasil. Em pouco tempo, o mineral veio a se empresário Ernest Oppenheimer
tornar um dos principais produtos da empresa, para explorar ouro em
impulsionado pela alta demanda da China, país Joanesburgo, na África do Sul.
que àquela época experimentava um crescimen-
to acelerado de sua economia.

No Rio de Janeiro, nasce a Anglo


1973
Ao longo dos anos, a Anglo American se desfez
American Corporation do Brasil
de algumas de suas minas e adquiriu outras ins-
(Ambras), parceira da Caemi na
talando-se em outros países e no continente asi- extração de ouro em Jacobina (BA).
ático. A companhia enxugou o portfólio para se
tornar específica em seus propósitos. No Brasil, a
empresa abriu mão dos negócios de ouro, nióbio 1982
e fosfato, optando por focar apenas em minério A unidade Codemin, em
de ferro e ferroníquel. Niquelândia (GO), é inaugurada e
inicia a produção de ferroníquel.

Atualmente, a Anglo American mantém três es-


critórios administrativos principais: em Londres
(Reino Unido), Joanesburgo (África do Sul) e A empresa assume o controle total
1984
Belo Horizonte. do Grupo Hochschild na América
do Sul, com ativos siderúrgicos,
TRABALHO RECONHECIDO petroquímicos e fertilizantes e de
níquel, tungstênio, nióbio e fosfato.
Com o mote “Reimaginar a mineração para melho-
rar a vida das pessoas”, a Anglo American marca
posição como líder em inovação, tecnologia, sus- É inaugurado o projeto Codemin II
2003
tentabilidade e diversidade. Seus investimentos para lavrar o minério de Barro Alto
refletem o empenho da companhia em se ajustar (GO), transportá-lo e processá-lo na
às novas demandas do mercado e também da so- Codemin, a 170 km de distância.
ciedade. Não por acaso, diferentes atores sociais
das comunidades onde a mineradora está inseri-
da reconhecem os esforços da empresa.
Produção em Niquelândia é
2005
ampliada e melhorias em Catalão
“Em Conceição do Mato Dentro (MG), onde extrai são implementadas, acarretando no
minério de ferro, a Anglo American tem ‘reimagina- aumento de 66% na produção de
do’ a mineração colocando as pessoas no centro de ferroníquel e 15% de ferronióbio.

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
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SUSTENTABILIDADE ANGLO AMERICAN

2007
Anglo adquire o Sistema Minas-Rio
suas ações. Esse deveria ser o lema de todas as em-
presas instaladas em nosso país. É importante traba-
e o Sistema Amapá, ambos da MMX lharmos uma nova mineração, que tenha a sustenta-
Mineração e Metálicos S.A. bilidade, a segurança e a diversificação econômica em
seu DNA”, entende o prefeito da cidade, José Fernando
Aparecido de Oliveira.
2009
A companhia vende suas ações da
O secretário de Estado de Indústria, Comércio e Servi-
AngloGold Ashanti, finalizando seus ços de Goiás, Joel de Sant’Anna Braga Filho, corrobora
investimentos em ouro no Brasil. as palavras de Oliveira, destacando as transformações
nas cidades goianas de Barro Alto e Niquelândia,
onde a empresa mantém seus negócios de ferroní-
2011
Após adquirir os direitos minerários
quel. “A Anglo American gera 3,6 mil empregos e R$
21 milhões por ano aos cofres do Estado por meio
do projeto Barro Alto (GO) em 1998, da Compensação Financeira pela Exploração Mineral
a mineradora inicia a operação da (CFEM). Trata-se de um incremento de receita impor-
planta industrial. tante para projetos de desenvolvimento econômico
local, como o Plano de Mineração de Goiás, no qual
é parceira do governo do Estado na construção de
2012
O Sistema Minas-Rio é inaugurado em
uma mineração mais sustentável.”

Conceição do Mato Dentro e Alvorada de O protagonismo da companhia nas discussões e ações


Minas (MG) e conectado a um mineroduto estratégicas tomadas pela mineração também foi per-
de 529 km até o Porto do Açu (RJ). cebido pelo diretor-presidente do Instituto Brasileiro
de Mineração (Ibram), Raul Jungmann. “O setor mine-
ral tem na Anglo American uma de suas principais re-
2014
A empresa inaugura sua sede
ferências. Ela sintetiza como queremos que esse setor
seja visto e compreendido ao se destacar pelas boas
corporativa nacional em Belo práticas em ESG e se envolver em grandes temas na-
Horizonte (MG) e firma parceria com a cionais. A companhia é uma grande parceira do Ibram,
joint venture Ferroport para operação
do terminal do Porto do Açu.  colaborando para planejar iniciativas institucionais que
desenvolvam a indústria mineral”, salienta.

2023
Os esforços para reimaginar a mineração se tornaram
um compromisso da mineradora, que aposta nesta fór-
A Anglo American completa 50 anos de mula para o futuro. “Sabemos que tudo isso só se tor-
presença no Brasil.
nou possível porque colocamos as pessoas no centro
de tudo que fazemos. Estar em sintonia com as necessi-
dades das comunidades anfitriãs às nossas operações e
Dê o play da sociedade em geral é preponderante para o sucesso
e assista a esta
história. e a continuidade do negócio”, pontua o CEO da compa-
nhia, Wilfred Bruijn.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
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Quem faz a Anglo American


Divulgação

Divulgação

Divulgação
A partir do trabalho, a Por ser uma multinacional, Em Conceição do Mato Den-
empresa já ajudou muitos a diversidade e a multicul- tro, a Anglo tem contribuído
pais de família a formarem turalidade são valorizadas para a expansão do turis-
seus filhos. Entrar na Anglo em suas mais variadas mo. Quero continuar na
American foi um sonho que formas. Com esse compro- empresa ajudando na boa
pude realizar e o qual vi- misso, vejo outros 50 anos convivência com as comuni-
vencio todos os dias. ou mais pela frente. dades anfitriãs.

Maria Francisca Maia, na Euler Piantino, na Anglo Rafael Costa, na Anglo


Anglo American há 12 anos American há 40 anos American há 15 anos

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio a Junho de 2023
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ARTIGO EBP

Agenda ESG: presente e


futuro da mineração
As práticas ESG (meio ambiente, social e gover- O relatório “Riscos e Oportunidades de Negó-
nança) na mineração são impulsionadas pelas cios em Mineração e Metais no Brasil”, produ-
iniciativas de responsabilidade socioambiental, zido pela Ernst & Young em parceria com o Insti-
priorizando o cumprimento de condicionantes e tuto Brasileiro de Mineração (Ibram), destaca as
compromissos junto às licenças. Apesar do cres- preocupações das mineradoras brasileiras com a
cimento de iniciativas para preservação e con- gestão da água, a descarbonização, a diversida-
servação da natureza, especialmente em relação de e a gestão socioambiental. O estudo identifi-
às mudanças climáticas e à biodiversidade, essas ca o caminho para manter a relevância na cadeia
práticas ainda estão em estágio inicial e variam global de mineração, contribuindo para o desen-
conforme o tipo de operação e o porte da mi- volvimento sustentável. Os resultados mostram
neradora. Afora novas demandas de iniciativas como o setor identifica e lida com riscos socio-
internacionais, como o Science Based Targets ambientais e de governança.
initiative (SBTi) e o Science Based Targets Nature
(SBTN), há carência de estratégias nos níveis fe- Dado que a maioria das atividades de mineração
deral e estadual para esses aspectos. no Brasil ocorre a céu aberto, existe um maior po-

Freepik

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de
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evidenciando desafios socioambientais, mas


também oportunidades para a implementação
de novas tecnologias e soluções integradas à se-
gurança da mineração e externalidades.
A adoção de
práticas ESG Estar engajado nessas questões tem impacto po-
sitivo no meio ambiente e na sociedade. A ado-
deve ser contínua ção de práticas ESG deve ser contínua e aprimo-

e aprimorada, rada, buscando resultados ambientais, sociais e


de governança. Afinal, a integração dessas ações
buscando resultados às operações é essencial para garantir a sustenta-
ambientais, sociais e bilidade do setor e o desenvolvimento social.

de governança.

tencial de impacto no uso da terra, nas questões


sociais, na flora e fauna, e nos rios e corpos
d’água. No entanto, as operações normalmen-
te são adequadamente planejadas visando a
regeneração desses ambientes. Os planos de
fechamento de minas são projetados para pro-

Divulgação EBP Brasil


mover a recuperação das áreas impactadas pe-
las atividades.

Atualmente, muitas empresas estão planejan-


do essas medidas, não apenas em longo prazo,
mas também vêm implementando ações de re- JOÃO CASTRO
cuperação socioambiental conforme avançam
no ciclo de vida do empreendimento. Além
dos benefícios socioambientais, a estratégia
contínua de encerramento de atividades gera Líder da divisão de Engenharia da EBP
Brasil. Trabalhou em projetos de energia
grandes melhorias para a biodiversidade e abre
de biomassa e foi coordenador técnico
possibilidades para novas soluções e abordagens
de estudos ambientais envolvendo ma-
técnicas, como o conceito de perda líquida zero
peamento de cadeia, balanços de massa
de biodiversidade e estoque de carbono. e energia com foco em emissões de gases
de efeito estufa e uso sustentável de
O Brasil enfrentou situações catastróficas na mi-
água, além de indicadores de impacto
neração, resultando em fatalidades e contami-
ambiental para gestão corporativa.
nação. A recuperação exigiu acordos bilionários,

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ESPECIAL ESG MEIO AMBIENTE

ATITUDE
TRANSFORMADORA
Reportagem Edição
Emelyn Vasques André Martins
Natália Macedo Lucas Alvarenga
Roger Dias

Três letras têm transformado as atividades de mineração e siderurgia em


todo o planeta: ESG. Juntas, elas resumem os esforços de centenas de negó-
cios para promover uma gestão mais estratégica e sustentável nas áreas ambien-
tal, social e de governança corporativa.

Para lançar luz às iniciativas ESG, a Revista Mineração e Sustentabilidade apresenta


um especial com exemplos inspiradores de ações realizadas pelo setor.

Nas próximas páginas, você conhecerá projetos que preservam e recuperam a flora brasileira,
promovem a educação como ferramenta de transformação social e adotam boas práticas de
gestão para promover ambientes mais éticos, transparentes e abertos às comunidades.

Leia e surpreenda-se.

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ESPECIAL ESG MEIO AMBIENTE

Hydro Paragominas
Reflorestar:
equilíbrio
vital ao meio
ambiente
Plantio em áreas
lavradas se torna
estratégia comum entre
mineradoras na busca
pela sustentabilidade

Emelyn Vasques

N
atureza. Derivada do la-
tim natura, a palavra sig-
nifica “qualidade essen-
cial, disposição inata, o curso natural
das coisas e do próprio universo”. En-
tre as representações que mais fazem
jus a essa definição está o nascer de
árvores. Brotar, crescer, florescer. Verbos
que por si só indicam aquilo que de mais
precioso as diversas espécies de plantas
oferecem à humanidade: a capacidade de se
frutificar, sem que isso demande, necessaria-
mente, intervenções do próprio homem. Mais
fortemente no caso das árvores, patrimônio am-
biental, a discreta fotossíntese, imperceptível a
olho nu, revela-se mágica e detentora de uma
Hydraparagominas

das funções mais importantes para a proteção


da Terra e manutenção da vida.
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Enquanto a PachaMama (Mãe Terra, em quechua) o reflorestamento de áreas transformadas em la-


segue seu curso natural e se encarrega de traba- vras ou a manutenção de iniciativas para a pre-
lhar para ser o abrigo para seres vivos de tantos servação ambiental e a integração da sociedade
gêneros, as necessidades humanas fazem brotar civil à floresta ganham destaque.
novos desafios. E o crescer, agora, ganha novas
significações. Crescer significa impactar, positi- META 1:1
va ou negativamente. O desenvolver que antes
tinha conotações tão somente boas passa a criar Na Hydro Paragominas, cada hectare minerado é
raízes em terrenos cautelosos, de futuro incerto. um hectare reflorestado. A empresa – que hoje
Uma equação que, há anos, desperta empresas atua com a extração de bauxita no Pará – trans-
que entendem a responsabilidade sobre cada fo- formou esse propósito em projeto, em 2012, com
lha que cai ao chão antes da hora determinada a meta 1:1. O conceito, segundo o gerente de
pelo curso natural. meio ambiente da mineradora, Jonilton Pascho-
al, aponta para a necessidade de reflorestar, em
Na Semana Mundial do Meio Ambiente, que até dois anos, a área de lavra anualmente dispo-
ocorre entre 5 a 9 de junho, oxigena-se uma das nibilizada para a atividade de recuperação. Dessa
pautas que mais circulam no mundo dos negó- forma, após a execução do processo de lavra, a
cios: o fazer sustentável. E, ainda que a tecnolo- área disponível é entregue com a aplicação de
gia ampare o homem na implantação de solu-
ções cada vez mais ecológicas, retornar ao curso
natural é uma das respostas fundamentais para
o equilíbrio entre produzir e conservar. Por isso,
nos setores minerário e siderúrgico, ações como
Hydraparagominas

Hydraparagominas

Técnica de
nucleação

Hydraparagominas

Viveiro
da Hydro

Indição
regenerativa

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Revista
RevistaMineração
Mineração&&Sustentabilidade
Sustentabilidade| Maio
| AbrileaJunho
Maio de 2023
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ESPECIAL ESG MEIO AMBIENTE

uma das técnicas utilizadas na recuperação do

Marcelo Casal Jr. /ABr


solo: plantio tradicional, nucleação ou indução
da regeneração natural.

Ao longo das atividades em Paragominas (PA),


mais de 2.095 hectares foram reflorestados, se-
gundo a empresa, o que reflete a totalidade da
área transformada em mina. Só em 2022, a Mi-
neração Paragominas realizou o plantio de
75.449 mudas, considerando 131 espécies que
se adaptam à região, como o ipê-amarelo, a O ipê-amarelo é uma das
copaíba e o jatobá. De acordo com Paschoal, espécies plantadas nos
95% do reflorestamento realizado é fruto do processos de reflorestamento
processo de nucleação. A técnica consiste na da Hydro Paragominas
criação de pequenos núcleos de solo, galhos,
poleiros, mudas e serapilheira – camada com

depósito de plantas e material orgânico vivo –, to-


dos frutos de transposição artificial, que contri-
buem para acelerar o processo de regenera-
ção natural.
Investimentos da Nexa Assim como as demais técnicas utilizadas,
em reflorestamento Paschoal lembra que a metodologia aplica-
da tem recebido melhorias a partir de pes-
2018 - 2022 quisas e lições aprendidas em anos anteriores.
Um dos principais motivos para as mudanças
Investimento: implementadas é o surgimento de erosões que
R$ 80,3 milhões decorrem do escoamento superficial da água
da chuva, que, além da própria deterioração do
solo, provoca a lavagem de nutrientes.
Projeto:
Recuperação de áreas degra- “A técnica de nucleação promove a atração de
dadas na unidade de Vazante fauna ao criar ambientes propícios para abrigo
de animais, poças de água que são usadas para
Ações: dessedentação e galhos de pouso para aves. Os
Plantio de mudas nativas animais, por sua vez, são excelentes dispersores
do Cerrado de sementes, o que promove o melhor desenvolvi-
mento da área no processo de sucessão ecológica”,
* As áreas mineradas seguem planos
explica Paschoal.
próprios de reflorestamento
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VAZANTES MINEIRAS
Em cinco anos, foram
Diversificar os usos da terra e conectar comuni- oito Florestas de
dades, líderes e o meio ambiente em um só lu-
Bolso, com o plantio
gar. Esse é o objetivo do novo projeto da Nexa
Resources, que visa destinar 3 mil hectares de total de mais de duas
áreas rurais, dentro da propriedade da Nexa mil espécies nativas.
em Vazante, município do Noroeste mineiro,
para a implantação de projetos divididos em
quatro macropilares: plantio e produção, pes-
quisa, turismo e atuação socioambiental. O
Maria Cristina Gonçalves
“Vazantes Mineiras” conta com a consultoria da Gerente de relações
Reservas Votorantim, responsável por gerir o re- externas e comunicação
conhecido “Legado das Águas”, em São Paulo, do da Alcoa Poços de Caldas
qual a produtora de zinco também é fundadora.

A base de atuação e estrutura do projeto está


no Centro de Ensino e Pesquisa presente na área
rural de Vazante. O instituto concentrará todas
Divulgação Alcoa
as ações e iniciativas adotadas pelo projeto,
com espaços para palestras, cursos teóricos e
práticos, espaço para bovinocultura, cultivo de

hortaliças, plantio de café, frutas do Cerrado,


agricultura regenerativa, entre outros.

No que tange à pesquisa, a empresa estabeleceu


parceria com a Universidade Federal de Uberlân-
dia (UFU) para fomentar o levantamento da flora
pertencente às áreas da reserva. O processo será
desenvolvido por meio da coleta de exemplares
botânicos de plantas com flores e ou frutos ao lon-
go das trilhas e de áreas do “Vazantes Mineiras”.

Os exemplares coletados serão incorporados


Dê o play
e assista às
no Herbarium Uberlandense (HUFU), do Institu-
ações da Hydro pelo to de Biologia da UFU, e todo o levantamento
reflorestamento no Pará será disponibilizado em plataforma virtual
para monitoramento da vegetação e acesso
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ESPECIAL ESG MEIO AMBIENTE

A recuperação do

Nexa Resourses
solo promovida pela
Nexa, em Vazante, é
a primeira etapa do
reflorestamento
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da população de Vazante. À medida que houver processo de cura de diversas doenças têm origem
avanços na pesquisa, a proposta é que o conteú- em plantas e árvores. Ademais, a promoção do
do gerado seja trabalhado em atividades de edu- bem-estar pelo contato com a natureza já é uma ve-
cação ambiental, que incentivam o conhecimen- lha conhecida da ciência. Com o “Floresta de Bolso”,
to da flora característica da região. a unidade da Alcoa em Poços de Caldas, em Minas
Gerais, leva o privilégio e todos os benefícios de um
A pequena Vazante, de 20 mil habitantes, é conhe- ambiente arborizado aos centros urbanos.
cida como a ‘Capital do Zinco’, embora também
reúna belezas que somente a mãe natureza pode Essa iniciativa consiste na restauração de fragmen-
construir. Grutas e cachoeiras atraem visitantes, tos de florestas com espécies nativas da Mata Atlân-
fazendo com que o pilar turismo siga ao encontro tica e posterior plantio em áreas urbanas. Além da
das necessidades locais. Diante disso, a minerado- unidade da Alcoa em Poços de Caldas, a ação ocor-
ra implantará um Centro de Atendimento ao Tu- re em parceria com a Associação Poços Sustentável
rista, onde serão trabalhadas as potencialidades (APS) e a Alcoa Foundation, por meio do programa
históricas e culturais de Vazante e o fomento ao Partnership for Tree, e conta com o apoio da Funda-
trabalho de artesãos e empreendedores locais. ção Jardim Botânico de Poços de Caldas.

FLORESTAS DE BOLSO Segundo a gerente de relações externas e comu-


nicação da Alcoa Poços de Caldas, Maria Cristina
Os benefícios da natureza às pessoas são incon- Gonçalves, os principais benefícios são a criação
táveis. As medicações utilizadas diariamente no de nichos de floresta que trazem mais conforto
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térmico à microrregião; a recriação de uma pai- por capacitações em diferentes áreas. No caso da
sagem mais orgânica e integrada ao ambiente Hydro Paragominas, essa integração é feita por
urbano; a promoção ou alteração da percepção meio do acesso às dependências da empresa. No
da importância das florestas nas comunidades e local, há uma trilha ecológica que permite a visi-
bairros; e o fomento ao cuidado com a natureza tação segura de pessoas da comunidade a uma
entre os habitantes das cidades de Poços de Cal- área vegetada – recuperada em 2010 – onde são
das e Andradas, sendo esta beneficiada com uma compartilhadas informações sobre os processos
floresta de bolso. ali praticados.

A primeira floresta de bolso foi implantada pela Estabelecer proximidade com a população, par-
Alcoa em 2017, mas inaugurada em 2019, no cerias com instituições de educação e percorrer
bairro Santa Ângela, com infraestrutura que in- o caminho do reflorestamento são caminhos que
clui iluminação, passarelas para pedestres, pas- criam um solo fértil, preparado para o futuro.
seios e bancos. “Em cinco anos, foram oito flores- Para as empresas, e para o mundo, voltar os olhos
tas de bolso, com o plantio total de mais de duas e os investimentos ao curso natural e aos ensina-
mil espécies nativas, colaborando para melhorar mentos milenares da floresta significa reconhe-
a qualidade do ar das regiões e oferecendo à cer que os esforços que plantarem também farão
comunidade novos espaços para lazer e prática parte da evolução e do progresso.
de exercícios físicos. Além disso, a iniciativa já
envolveu centenas de pessoas da comunidade,
incluindo crianças do ensino fundamental e mé-
dio”, destaca Maria Cristina.

SOLO FÉRTIL

Crescem árvores e se enraízam o conhecimen-


to e o relacionamento. Afora o plantio, os pro-
jetos compartilham o diálogo com as comuni-
dades onde as empresas de mineração estão
Divulgação Alcoa

alocadas, a exemplo do “Floresta de Bolso”,


que envolve a comunidade em suas diferentes
etapas. A possibilidade de geração de renda
também é um dos resultados. Com o “Vazantes
Mineiras”, a população local será priorizada nas
contratações, uma decisão que considera fato-
res como o conhecimento dos próprios morado-
res sobre os potenciais da cidade.

Mas não é só: a Nexa espera que a comunidade


veja no projeto uma forma de criar uma nova
fonte de renda ou renda extra – fomentada

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ESPECIAL ESG SOCIAL
Divulgação Alcoa

MINERANDO O FUTURO
PELA EDUCAÇÃO
Indústria mineral-siderúrgica investe em ações educacionais
para transformar a realidade de comunidades onde atuam

Natália Macedo

N
ão resta dúvida de que a educação é a sonho de uma sociedade mais qualificada
mais poderosa ferramenta de transfor- e consciente menos desafiador.
mação social. O acesso a esse direito, no
entanto, pode ser falho, sobretudo em um país No setor privado, companhias de diversos
continental e cheio de contrastes como o Brasil. segmentos desenvolvem iniciativas dan-
O investimento público acaba sendo essencial do mostras claras do desejo de participar
para democratizar o acesso às salas de aula. Mas dessa construção coletiva. As minerado-
não é só isso. O envolvimento da iniciativa priva- ras e siderúrgicas espalhadas pelo país
da também cumpre um papel estratégico. Juntos, têm se engajado nessa proposta a partir
os setores público e privado têm o potencial de de projetos que envolvem as comunida-
impulsionar projetos e ações, disponibilizando des locais. É o caso de uma das iniciativas
recursos humanos e/ou financeiros para tornar o da Alcoa.
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Por meio do instituto que leva o nome da si- forma cada vez mais urgente na pauta do dia,
derúrgica, o Instituto Alcoa, a companhia tem uma atuação integrada da sociedade. O Insti-
buscado formas de reduzir desigualdades a tuto Alcoa está atento a esta agenda funda-
partir da educação. No dia 9 de agosto, a em- mental.”
presa lançará a campanha “Educador de Valor”.
A ação se estenderá a 11 municípios dos esta- Segundo Mônica, a companhia se esforça para
dos onde a empresa está presente: Pará, Minas ampliar a qualidade da educação pública e ga-
Gerais e Maranhão. Com o projeto, a Alcoa bus- rantir que as crianças absorvam o que devem
ca dar protagonismo aos professores, prestan- aprender na idade certa. “Nosso foco é no ensi-
do o reconhecimento devido aos profissionais no fundamental – do 1º ao 9º ano –, período de-
que fazem a diferença nas escolas e comunida- finidor da vida escolar; por isso, primordial para
des de ensino. o desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Investir nos anos iniciais garante aos adolescen-
A diretora executiva de Operações do Instituto tes, ao chegarem no ensino médio, condições
Alcoa, Mônica Espadaro, aponta que a educa- de se desenvolverem plenamente”, pontua.
ção é o fator central para o desenvolvimento
do país e a diminuição das desigualdades, im- Com o “Programa de Apoio a Projetos Locais” e
pactando em todos os setores. “Os desafios na o “Programa Ecoa”, o Instituto Alcoa apoia pro-
melhoria da qualidade, acesso, permanência jetos educacionais nas comunidades. “Os pro-
e gestão da educação básica e pública no jetos são selecionados anualmente por
Brasil colocam, de meio de edital.
Divulgação Alcoa

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ESPECIAL ESG SOCIAL

Em 2022, foram investidos R$ 660 mil em seis dicas e das ações de letramento sobre diversi-
iniciativas aprovadas, com potencial de be- dade e inclusão de pessoas com deficiência e
neficiar mais de 2,6 mil pessoas. Eles incluem LGBTQIAP+, também contamos com ações es-
temas como melhoria das condições de ensi- pecíficas da Academia Alcoa. O instituto possui
no-aprendizagem por meio da adequação da diferentes treinamentos e cursos, que vão desde
infraestrutura das escolas públicas de ensino assuntos técnicos de cada área de atuação até te-
fundamental, fortalecimento de espaços de mas como educação financeira, idiomas, Libras e
participação estudantil e apoio à educomuni- comunicação não-violenta”, explica o diretor de
cação”, detalha Mônica. Recursos Humanos da Alcoa, André Rolim.

A fabricante de alumínio se preocupa, ainda, APRENDIZADO PROFISSIONALIZANTE


em apoiar ações educacionais para o público
interno. “Para além das comunicações perió- Conectada à ideia de transformar a sociedade
pelo ensino, a Bahia Mineração (Bamin) tem
apostado na educação e na profissionalização
de jovens para impulsionar as regiões onde
atua. Recentemente, a empresa celebrou a cer-
tificação de 154 alunos de seis cursos profissio-
nalizantes do projeto “Canteiro Escola”, manti-
Divulgação Bamin

do em parceria com o Senai. Dentre os cursos


ofertados estão: Auxiliar de Segurança e Saúde
Ocupacional, Auxiliar Administrativo e Auxiliar
de Meio Ambiente – para atividades com a flora.

Para a diretora de ESG, Meio Ambiente, Rela-


cionamento com Comunidades e Comunicação
Investir em projetos Corporativa da Bamin, Rosane Santos, a adoção
de uma agenda ESG estruturada muda toda a ló-
educacionais nos gica da atuação de uma empresa comprometida
permite maximizar com a gestão sustentável. “A organização deve
nossas interações e ter a missão de olhar para longo prazo e engajar
resultados com a cadeia todas as suas áreas no papel social de construir
um legado. O estímulo à educação é um eixo
produtiva que nos atende, central dessa estratégia, pois colabora, de fato,
contribuindo para a para um contexto socioeconômico menos de-
sociedade em geral. sigual. Com políticas consistentes e bem es-
truturadas, a educação é capaz de promover
esta transformação”, destaca.
Rosane Santos
Diretora de ESG, Meio Ambiente, Rela- Rosane acredita que a estratégia de susten-
cionamento com Comunidades e Comu- tabilidade da companhia deve ser autêntica
nicação Corporativa da Bamin e expressar as reais necessidades do contexto
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e-Digital

Divulgação Grupo Avante

Divulgação Bamin
cial dos ecossistemas em que estamos inseri-
dos enquanto os nossos projetos estão em cur-
so. É contribuir efetivamente com mudanças
onde está inserida. Para tanto, deve capturar as significativas de qualificação e aprimoramen-
expectativas e percepções que as comunida- to, além de atender aos compromissos estraté-
des do entorno têm em relação ao empreendi- gicos da companhia, retorna ainda mais valor
mento. “As jornadas de aprendizagem que nos ao nosso negócio. Investir em projetos educa-
propusermos a estimular devem se conectar às cionais nos permite maximizar nossas intera-
experiências que cada um possui, com as suas ções e resultados com a cadeia produtiva que
culturas e características de comunidades de nos atende, contribuindo para a sociedade em
origem”, defende. geral”, acredita.

Tema sensível para o segmento da mineração, EDUCAÇÃO AMBIENTAL


a educação ambiental deve estar integrada à
estratégia de negócio como um pilar, represen- Assim como a Bamin, o Grupo Avante investe
tando um dos principais legados dessa agenda na educação ambiental para inspirar e trans-
em favor da sustentabilidade. “Assim consegui- formar mentalidades. O negócio engloba as
mos garantir que o tema não será esquecido, empresas GSM Mineração, Ferro Puro Mineração,
aparecendo de maneira transversal na relação GSS Mineração, CDA Logística e CDB Logística,
com os stakeholders. Desta forma, toda a ca- cuja atividade principal visa a produção e opera-
deia produtiva conseguirá participar da nossa ção logística de minério de ferro. Alinhado aos 17
visão de sustentabilidade”, avalia Rosane. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
da Organização das Nações Unidas (ONU), o Gru-
Para a executiva, investir em educação é mais po Avante lançou, em março deste ano, o Progra-
do que pensar no futuro. “É apostar no poten- ma Avante de Sustentabilidade (PAS).
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e -Digital
ESPECIAL ESG SOCIAL

O projeto está estruturado no tripé ambiental, Preto – ambas em Minas Gerais. Nas fases iniciais
social e econômico, por meio de práticas que do projeto, foram promovidas blitz educativas para
visam a promoção do bem-estar social e uma orientar e engajar a comunidade a descartar resídu-
economia sustentável, fomentando iniciativas os comuns e recicláveis nos seis ecopontos de cole-
de preservação ambiental. A supervisora de ta instalados pelo Grupo Avante, em parceria com
Projetos Sociais do Grupo Avante, Daniela Ter- as Secretarias Municipais de Meio Ambiente desses
ra, explica que, a partir do pilar Comunidade, a municípios”, explica Daniela.
companhia apoia projetos esportivos, culturais,
educacionais e de ciência e tecnologia, desen- DO LETRAMENTO À FORMAÇÃO DOCENTE
volvidos em seus territórios de atuação.
Com investimentos robustos em educação, a
“Os investimentos do Grupo Avante são realiza- Fundação Vale se destaca pela manutenção de
dos por meio de mecanismos de incentivo fis- cinco Estações de Conhecimento. Nesses pro-
cais, como a Lei de Incentivo ao Esporte e a Lei jetos são trabalhadas ações de alfabetização
de Incentivo à Cultura, além de recursos próprios plena de crianças; promoção da leitura; novas
e iniciativas de formação proativas, realizadas pelo formas de ensinar e aprender Ciências e Mate-
próprio empreendedor”. É o caso do recém-lança- mática; proteção social; desenvolvimento inte-
do programa “Rede de Protetores Ambientais Mi- gral de crianças e adolescentes em situação de
rins”, parte do eixo formativo educacional mantido violação de direitos; e diagnóstico dos desafios
pela companhia. relativos ao desenvolvimento dos municípios.

“No território da Ferro Puro Mineração, desenvolve- Na Bahia, a Fundação José Carvalho, da Ferba-
mos o projeto ‘Recicla Tudo, Recicla Todos’. Esse pro- sa, atende cerca de 4 mil crianças e adolescen-
grama – com foco na educação ambiental – ajuda tes carentes do interior do estado. O instituto
a organizar e implantar a coleta seletiva nas comu-
nidades de Acuruí e Maracujá, em Itabirito e Ouro

Divulgação FSFX
Divulgação FJC

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e-Digital

mantém, com recursos próprios, seis escolas Em Cubatão (SP), a Usiminas apoia o apren-
dedicadas à educação básica, sendo duas vol- dizado lúdico, a iniciação esportiva e a in-
tadas à educação no campo. A Fundação ainda serção no mercado de trabalho por meio de
desenvolve outros projetos socioeducativos atividades com crianças e adolescentes de 6
planejados para oferecer atividades de reforço a 16 anos. Ela oferece, ainda, cursos de arte,
escolar aos alunos da rede pública no contra- educação e cultura pela Plataforma Educati-
turno escolar. va a professores interessados em desenvolver
novos métodos de ensino e projetos integra-
Já entre as siderúrgicas, a Usiminas se destaca dos nas escolas.
pela filosofia de apoio irrestrito à educação. Ad-
ministrado pela Fundação São Francisco Xavier, Os projetos – cada vez mais diversos e voltados
braço social da companhia, o Colégio São Fran- à realidade local – mostram uma nova face da
cisco Xavier, em Ipatinga (MG), dedica-se desde indústria mineral-siderúrgica no país, preocu-
a educação infantil à pós-graduação, contando pada em transformá-lo não apenas pelo que
ainda com um MBA em Gestão de Saúde, escola minera, mas também pela educação – benefí-
de idiomas e de esportes. cio intangível que produz em suas ações.

Usiminas, Ferbasa
e Vale (da esquerda
para a direita)
investem em
educação - dos
períodos iniciais
à especialização

Divulgação Fundação Vale

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e -Digital
ESPECIAL ESG GOVERNANÇA

Compromisso com a ética,


governança e transparência
Promover o diálogo com as comunidades, ganhar valorização
e atrair novos investidores: agenda ESG se torna indispensável
para siderúrgicas e mineradoras

Roger Dias

C
onjugar geração de riquezas com as questões socioambientais e de gover-
nança corporativa se tornou um imperativo para os setores produtivos. Na
mineração e na siderurgia, as políticas que promovem ética, transparência e
diálogo com as comunidades ganham espaço, atraem mais investidores e valorizam
companhias com planejamentos já avançados sobre o tema.

Apresentado pela primeira vez em uma conferência da Organização das Nações Uni-
das (ONU), em 2005, o conceito de ESG (meio ambiente, social e governança) há
alguns anos se tornou indispensável na gestão dos negócios. O caminho ainda é
longo, mas as empresas já se preocupam em colocar na agenda os pilares da gover-
nança corporativa.
ArceloMittal

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e-Digital

O estudo Panorama ESG Brasil, elaborado pela Neste ano, a AVB vai readequar o Relatório de Sus-
Amcham Brasil entre março e abril deste ano, tentabilidade ao padrão Global Reporting Initia-
destaca que 47% das 574 médias e grandes tive (GRI), referência mundial de reporte das prá-
companhias do país se consideram referência ticas de sustentabilidade. O documento impacta
ou implementam melhores práticas de ESG. Em diretamente na comunicação das empresas com a
54% das empresas foram implantados códigos sociedade e o mercado. O relatório – verificado e
de ética e ações anticorrupção, enquanto 30% auditado por uma empresa externa – contará com
adotaram comitês ou equipes para discutir a matriz de materialidade, além de indicadores
ações ambientais, sociais e de governança. baseados em seus temas materiais identificados
como prioritários.
A análise da Amcham Brasil ainda destaca a
necessidade de presença do poder público Com a missão de disseminar suas estratégias an-
neste processo. Para 69% dos entrevistados, o ticorrupção, a AVB também criou uma Política de
governo tem o papel fundamental nas práticas Brindes e Doações, que, junto à Política de Com-
de governança. Mas, há ainda barreiras a serem pliance, fixa mecanismos e procedimentos de in-
cumpridas, segundo dados do estudo: apenas tegridade voltados à prevenção, detecção e reme-
20% das companhias priorizam investimentos diação de fraudes e ilícitos contra a administração
e 16% usam certificações de rating ESG. pública. “Buscamos implementar as mais elevadas

Primeira siderúrgica carbono neutro do mun-


do, a Aço Verde Brasil (AVB) se tornou pioneira
também ao criar, no ano passado, um Comitê
de Governança e Sustentabilidade. O grupo
ArceloMittal

contribui com o Conselho de Administração no


cumprimento da agenda ESG da companhia.
Durante as reuniões mensais, diretores, co-
laboradores e conselheiros apresentam
propostas para debater as práticas ESG e
indicar processos inovadores para os ne-
gócios e operações, a fim de impulsionar Buscamos implementar
procedimentos de certificação importantes
para a empresa.
as mais elevadas
práticas de governança
“Desde à sua implementação, o Comitê de corporativa em relação à
Governança e Sustentabilidade discute e
aprova estratégias ESG de curto, médio
equidade, conformidade
e longo prazo, buscando o desenvolvi- e transparência.
mento sustentável, com geração de valor
para diferentes stakeholders, como clien-
tes, fornecedores e comunidades”, explica Vinícius Ribeiro
o gerente de Relações com Investidores da Gerente de Relações com
AVB, Vinícius Ribeiro. Investidores da AVB
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e -Digital
ESPECIAL ESG GOVERNANÇA

práticas de governança corporativa em relação à certificação especial de sustentabilidade da Res-


equidade, conformidade e transparência”, ressal- ponsibleSteel™, entidade referência para a pro-
ta Ribeiro. dução de aço responsável. A unidade passou
por uma auditoria interna antes de se tornar
EXCELÊNCIA CERTIFICADA reconhecida por seus processos produtivos sus-
tentáveis. A perícia consistiu no levantamento
Para acelerar seu pacto de governança e susten- de informações aprofundadas sobre as práticas
tabilidade, a ArcelorMittal investirá pesado nos sustentáveis e no trabalho in loco para recolher
próximos anos. A companhia anunciou, em 2022, evidências, com visita à planta industrial e en-
que aplicará R$ 7,6 bilhões em suas unidades in- trevistas com stakeholders.
dustriais espalhadas pelos seis estados brasileiros.
Os recursos serão destinados desde à produção Segundo o CEO da empresa, Jorge Oliveira, a pre-
do aço até a geração de energia, a produção de ocupação com as questões de ESG permeia toda
biorredutor renovável e a utilização de tecnologia a cadeia de negócios. “Procuramos adotar cons-
de informação em seus processos. tantemente processos mais sustentáveis desde o
fornecimento de matérias-primas até a venda de
Desde março do ano passado, a estratégia se re- soluções para nossos clientes. A ArcelorMittal alme-
flete, inclusive, em reconhecimento. A unidade ja que a indústria e a sociedade tenham certeza de
de Tubarão, no Espírito Santo, tornou-se a primei- que nosso aço é produzido com responsabilidade
ra planta industrial fora da Europa a ganhar uma em todas as etapas”, observa.
INFOGRÁFICO

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio
Abril ae Maio
Junho2023
de 2023
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Jacobina Mineração

Em diálogo constante
com a comunidade,
Jacobina se tornou a
primeira mineradora
do país com
certificação
ESG da ABNT

Motivo de orgulho para o setor e inspiração para iniciativa estimula e reconhece ideias inovadoras
outras companhias, a Jacobina Mineração se tor- e disruptivas em qualquer projeto ou área da em-
nou a primeira empresa mineradora a receber a presa. No último ano, mais de 26 propostas para
certificação ESG da Associação Brasileira de Nor- otimização de processos internos, ampliação de
mas Técnicas (ABNT). A entidade lançou, em de- eficiência e redução de custo foram acolhidas. Na
zembro passado, uma norma – a ABNT PR 2030 esfera ambiental, a Jacobina atuou no desenvol-
– que ajuda as empresas interessadas a diagnos- vimento dos perfis de energia em longo prazo
ticarem o quanto estão alinhadas com a agenda adequados a cada uma das minas, o que ajuda
ambiental, social e de governança corporativa. a estabelecer metas significativas de redução de
emissões de gases de efeito estufa nesse período.
O country manager da Jacobina Mineração/Pan
American Silver, Sandro Magalhães, ressalta que o “Esperamos sempre melhorar nossos indicado-
compromisso da empresa é buscar o sucesso do res na governança estratégica para o ESG. Assim
negócio sem negligenciar o bem-estar das pes- teremos uma compreensão ainda mais profunda
soas e a preservação do meio ambiente. “O cer- do nosso desempenho em todo o negócio. Temos
tificado evidencia os diversos programas imple- trabalhado para melhorar a qualidade de dados,
mentados pela Jacobina, que visam a melhoria da pois entendemos que ampliar o conhecimento
qualidade de vida dos colaboradores, prestadores sobre nossas atividades contribuirá para elevar-
de serviço e comunidades vizinhas, bem como as mos o desempenho da empresa e definirmos me-
ações concretas voltadas para a redução dos im- tas quantitativas adicionais”, certifica Magalhães.
pactos ambientais eventualmente causados por
nossa operação.” PARTICIPAÇÃO POPULAR

Para melhorar o diálogo com os colaboradores, A valorização da política ESG é uma pauta inego-
a companhia baiana fez uma imersão interna ao ciável para a Mineração Vale Verde (MVV). A em-
desenvolver o programa “Sua Ideia Vale Ouro”. A presa mantém um Comitê Social Participativo de

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e -Digital
ESPECIAL ESG GOVERNANÇA

Mineração (CSPM), criado com o propósito


de engajar lideranças formais e informais
das 14 comunidades vizinhas à Mina Ser-
rote, no município de Craíbas (AL). A ação
consiste em um fórum consultivo que dá
voz à sociedade e discute riscos da ativida-
de, impactos e soluções de forma conjunta
com as comunidades .

O grupo analisa demandas gerais que che-


gam da população de forma ética, respon-
sável e transparente. “O intuito é estabe-
lecer um diálogo contínuo e estruturado,
contribuindo para o desenvolvimento lo-
cal, em crescente integração com o territó-
rio onde a empresa se encontra. O comitê
também oportuniza o debate de pautas re-
levantes mês a mês, atendendo a empresa,
as comunidades e a Prefeitura de Craíbas”,
pontua o gerente geral da MVV, Tony Lima.

Em 2020, a MVV atuou na retomada da As-


sociação Comunitária dos Moradores do
Pau Ferro, apoiando no processo de vota-
ção para a chapa gestora e na regulariza-
ção documental da entidade. Na ocasião,
foram realizadas diversas oficinas com os
moradores para despertar a cultura da co-
operação e incentivar o associativismo e o
cooperativismo na região.

“Nossa missão é estimular a gestão com-


partilhada agregando valor por meio de
conceitos como produtividade, liderança,
inovação e melhores práticas empreen-
dedoras, além de incentivar os jovens a
criarem ações participativas em favor da
comunidade, despertando nos seus repre-
sentantes atitudes de governança”, com-
pleta Lima.

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e- Digital
INOVAÇÃO SOLUÇÃO ENERGÉTICA
Divulgação Senai

Por um O
potencial para liderar a transi-
ção econômica mundial chama
atenção. O Brasil ostenta condi-
ções excepcionais no que diz respeito à

lítio 100%
produção de matérias-primas que substi-
tuam os combustíveis fósseis por energia
de baixo carbono. O solo rico em minerais
de toda espécie – muitos sequer conheci-

nacional
dos, visto o baixo percentual de mapea-
mento do subsolo nacional – é um dife-
rencial competitivo, especialmente para a
produção e o uso de energias limpas.

Embora a base da geração de energia


elétrica no país – hidráulica, eólica e foto-
voltaica – seja considerada equilibrada e
Commodity ganha limpa, permitir que essa energia seja ar-
protagonismo por mazenada e transportada persiste como
um grande desafio. Para reverter esse ce-
meio de iniciativas nário, um conjunto de tecnologias vem
sendo desenvolvido para tornar o pro-
privadas, como do cesso mais eficiente e barato. Entre esses
Senai-PR, e públicas, projetos, aqueles que utilizam baterias de
metais estratégicos aparecem no topo da
a exemplo do governo lista de prioridades.
de Minas A famosa bateria de íon-lítio é a ponta
de lança das empresas que oferecem
Daniela Maciel essa solução cada vez mais eficiente e
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e
a Junho 2023
e - Digital

Arquivo Pessoal
com dimensões reduzidas. O Brasil, grande detentor de reser-
vas do metal, poderia levar vantagem na competição interna-
cional, mas ainda não consegue potencializar a riqueza que a
natureza lhe reservou.

Assim como acontece com outros materiais, o país se restrin-


ge a operar no campo da commodity, exportando o minério
bruto e importando o produto manufaturado muito mais caro.
Uma das soluções para agregar valor ao lítio e outros metais
estratégicos, como o nióbio, níquel e cobalto, é desenvolver
uma tecnologia capaz de beneficiar o minério retirado da terra,
transformando-o no sal base utilizado nas baterias. Um produto
beneficiado pode
APOIO ÀS EMPRESAS
custar até 15
Para acelerar a disponibilidade dessa solução para o mercado é vezes mais que o
que trabalham os pesquisadores do Instituto Senai de Inovação minério bruto (...).
em Eletroquímica (ISI-EQ), em Curitiba (PR). De acordo com o pes-
quisador-chefe do ISI-EQ, Marcos Berton, o objetivo é desenvolver
A oportunidade está
uma cadeia de valor para produzir uma bateria de íon-lítio total- lançada, mas falta
mente nacional, fazendo desta inovação uma forma de desenvol- aproveitá-la.
ver o país tanto do ponto de vista social quanto econômico.

“Temos reservas de lítio no Brasil, mas não o beneficiamos.


Precisamos tratar o mineral para que ele tome a forma de di- Marcos Berton
ferentes sais que são utilizados na bateria. Hoje, o máximo que Pesquisador-chefe do ISI-EQ
fazemos é a primeira etapa: produzir carbonato de lítio de alta
pureza. Essa situação se repete com outros minerais estratégi- para o consumidor como contri-
cos. Atualmente, importamos as baterias prontas ou as partes buiria para um mundo ecologica-
importadas para serem montadas aqui. Fica difícil falar em eco- mente equilibrado. Afinal, evitaria
nomia de baixo carbono e eletrificação da frota automotiva, deslocamentos intercontinentais
porque a bateria corresponde a cerca de 45% do preço de um nas diferentes fases do processo,
carro. Por isso, pagamos tão caro por um carro elétrico no Bra- realizados em modais que ainda
sil”, explica Berton. utilizam combustíveis fósseis.

O especialista acredita que o Brasil precisa construir uma polí- “É uma questão de política públi-
tica pública que apoie e fomente a construção e manutenção ca. Falta protagonismo do Estado
dessa cadeia de valor. Além disso, defende que a iniciativa pri- para fomentar a pesquisa, facili-
vada também envolva e destine recursos para pesquisa e de- tando o financiamento. Precisa-
senvolvimento (P&D). Devidamente alicerçada, essa base cria- mos, ainda, firmar parcerias com
ria não só um novo braço da indústria com inovação, empregos as mineradoras para que, pelo me-
mais qualificados, desenvolvimento local e menor preço final nos, uma parte do investimento
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e- Digital
INOVAÇÃO SOLUÇÃO ENERGÉTICA

de fatos e dados que comprovam nossa


capacidade de fornecer os insumos”, ob-
serva Carolina.

Para a consultora, a maior possibilidade,


em curto prazo, é a exportação desse
produto. “O desenvolvimento da cadeia
produtiva do lítio no Brasil ainda é um
projeto de médio e longo prazos. Em um
período mais curto, no nosso país, exis-
te a possibilidade de investimentos em
Dê o play baterias para ônibus e para outras apli-
e conheça o processo de
cações, como equipamentos eletrôni-
produção de baterias de
lítio no ISI-EQ cos. O Senai é um parceiro de referência,
cujo trabalho nos aproximou de diferen-
tes empresas”, relata Carolina.
seja feito em pesquisa. Embora empresas importantes já
possuam produtos desenvolvidos, o Senai pode homolo-
gá-los. Um produto beneficiado pode custar até 15 vezes
mais que o minério bruto, e o investimento pode ser sub-
vencionado a fundo perdido. A oportunidade está lança- Soluções
da, mas falta aproveitá-la”, destaca Berton. para pequenas
NOVOS MERCADOS E APLICAÇÕES a grandes
Uma das mais influentes siderúrgicas de derivados de bau-
xita, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) é parceira
empresas
do ISI-EQ. Segundo a consultora de Desenvolvimento de Ne- Saiba como solicitar os serviços
gócios e Inovação da CBA, Carolina Hattori, a relação entre a do ISI-EQ do Senai-PR
companhia e o instituto visa muito mais do que desenvolver
um produto, mas criar condições para que o Brasil domine Acesse o site da instituição:
toda a cadeia produtiva de baterias de íon-lítio. O mais pro- clique aqui
vável, porém, é que o metal beneficiado em forma de dife-
rentes sais, em um primeiro momento, seja exportado. Clique no botão “Estamos no
WhatsApp” ou “Fale Conosco”
“A ideia é desenvolver o mercado, visto que o Brasil ainda
não produz a célula de bateria de lítio. Por isso, estamos es- Informe seus dados e descreva
tudando nossa folha para ter prontidão. O projeto não é só sua necessidade
técnico, ele passa por uma vertente sustentável. Os nossos
fabricantes importam a célula e só montam a bateria aqui. Aguarde o retorno do time de
Por isso, veem a necessidade de fazer uma fábrica de célu- consultores do Senai-PR
la. O papel da CBA é mostrar que temos o produto, além
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e - Digital

André Cruz_Imprensa MG
Minas projeta “Sociedade do Lítio”
A expectativa por uma economia baseada no lítio Luciano Andrey Montoro, dificilmente o mundo
anima os políticos. O governador de Minas Gerais, assistirá à chamada ‘sociedade do lítio’. O pesqui-
Romeu Zema (Novo), lançou em Nova York, no sador atua há mais de 20 anos em pesquisas com
dia 9 de maio, um projeto socioeconômico ambi- materiais e dispositivos para a armazenagem de
cioso: o Lithium Valley Brazil. A proposta visa de- energia, sobretudo baterias de íons-lítio.
senvolver a região Norte de Minas e os Vales do
Mucuri e Jequitinhonha em torno da cadeia pro- “É claro que o lítio será importantíssimo, porém
dutiva do lítio. acredito muito mais em uma composição de me-
todologias conforme características e necessida-
Quatorze cidades detentoras do mineral com- des. Os carros elétricos são a grande aposta mun-
põem o Vale do Lítio: Araçuaí, Capelinha, Coronel dial, mas não serão iguais em todos os lugares. No
Murta, Itaobim, Itinga, Malacacheta, Medina, Mi- Brasil, possuímos o etanol – uma fonte limpa de
nas Novas, Pedra Azul, Teófilo Otoni, Turmalina, energia. Então, temos uma oportunidade de de-
Rubelita e Salinas. “Queremos que o Jequitinho- senvolver modelos híbridos de energia elétrica-
nha se transforme no vale da tecnologia para -álcool, que já possuem uma rede de distribuição
a produção de baterias e demais bens de valor estabelecida”, avalia Montoro.
agregado”, afirmou Zema.
Algumas pesquisas estratégicas, porém, têm
Durante a cerimônia, o secretário de Estado de priorizado a ‘mineração urbana’ ou ‘remineração’,
Desenvolvimento Econômico, Fernando Passa- que aposta na recuperação de componentes em
lio, destacou a importância da aproximação en- produtos já descartados e na reciclagem de bate-
tre os diferentes atores da cadeia produtiva do rias. “Quando ela perde eficiência, ainda há uma
lítio. “Essa proximidade atrairá diversas empresas, grande quantidade de sais que podem viver uma
transformando a realidade local com empregos ‘second life’, sendo reutilizados em aplicações me-
de qualidade para a região”, pontuou. nos nobres. Depois de esgotadas, as baterias vão
para reciclagem, tornando, assim, a mineração
Para o professor do Departamento de Química urbana indispensável para a sustentabilidade de
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), todo o processo”, completa Montoro.
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Revista
RevistaMineração
Mineração&&Sustentabilidade
Sustentabilidade| Maio
| AbrileaJunho
Maio de 2023
e- Digital
ARTIGO CETEM

Economia circular: exemplos de


utilização de subprodutos do
processamento de rochas ornamentais

As rochas ornamentais vêm desempenhando um rochas ornamentais vêm sendo desenvolvidas,


papel cada vez mais importante para a economia principalmente para a utilização na construção
do país. Elas são um dos recursos minerais não civil, engenharia de materiais, entre outras áreas.
metálicos que mais tem contribuído com a balan-
ça comercial brasileira. Neste artigo serão detalhadas algumas das
principais pesquisas voltadas à aplicação des-
As fases de beneficiamento ses subprodutos da cadeia
deste recurso natural se ca- produtiva de rochas orna-
racterizam por uma sucessão mentais, em sinergia com
de etapas que dimensionam os conceitos de economia
a rocha – desde a confecção A utilização de circular, realizadas pelo Nú-
dos blocos nas pedreiras até o cleo Regional do Centro de
corte final em ladrilhos. O pro- pó de rochas Tecnologia Mineral (CETEM),
cessamento industrial dessas ornamentais no Espírito Santo.
rochas gera uma considerá-
vel quantidade de resíduos, na agricultura Em parceria com a Funda-
denominados subprodutos. pode melhorar ção de Amparo à Pesquisa e
Eles possuem uma variedade Inovação do Espírito Santo
de granulometrias, formas e as condições de (Fapes), o CETEM desenvol-
componentes minerais, os
quais refletem propriedades
fertilidade dos veu um projeto de normati-
zação para o aproveitamen-
físicas e químicas que podem solos e de nutrição to de subprodutos obtidos a
propiciar sua utilização na
fabricação de diversos mate-
vegetal. partir do processamento de
rochas ornamentais em ar-
riais e na aplicação em outros tefatos de cerâmica verme-
setores da economia. lha e de concreto. A elabora-
ção do projeto foi focada no
Considerando os recursos minerais como finitos pensamento do ciclo de vida, visando a disse-
e não renováveis, é fundamental que os esforços minação de uma forma circular e sistêmica de
de pesquisa se voltem para o setor produtivo, tor- pensar o desenvolvimento e facilitar a aplica-
nando-o mais sustentável em quaisquer de suas ção desse conhecimento para melhor alcançar
várias etapas. Algumas iniciativas de aproveita- os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
mento dos subprodutos do processamento de (ODS).

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
e - Digital

Além dos projetos de normatização de cerâmica evidentes. Por isso, o principal produto deste proje-
vermelha e concreto, o CETEM realizou, novamen- to – desenvolvido junto à Associação Brasileira da
te em parceria com a Fapes, o projeto sobre o “De- Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas) – é o
senvolvimento de norma para rochas artificiais e entendimento dos impactos da utilização de dife-
vidros utilizando subprodutos do processamento rentes resíduos gerados na produção de rochas or-
de rochas ornamentais”. O objetivo foi desenvolver namentais em substituição parcial aos fertilizantes
a metodologia nacional de ensaios de caracteriza- minerais comerciais usados no desenvolvimento
ção tecnológica para rochas aglomeradas, origi- de culturas de interesse econômico em casas de
nadas com subprodutos do processamento de ro- vegetação e/ou em condições de campo.
chas ornamentais, e verificar a viabilidade técnica
da utilização de diversos tipos de subprodutos de Assim, espera-se que os resultados sirvam de
rochas ornamentais – ou seja, a variabilidade des- base para a implementação de medidas adap-
ses materiais – para preparação de vidros, visando tativas e/ou mitigadoras por parte do setor de
a normatização do uso desses subprodutos. rochas ornamentais, enfrentando os impactos
ambientais decorrentes da produção de subpro-
Outra potencial aplicação dos resíduos de rochas dutos industrias e da dependência nacional de
ornamentais é na agricultura. O setor agrícola bra- insumos agrícolas importados.
sileiro é altamente dependente de insumos estran-
geiros, principalmente no que se refere aos fertili- O Brasil possui destaque no cenário agrícola mun-
zantes, mais especificamente aos macronutrientes. dial, sendo o quarto maior produtor de alimentos.
Isso seja em função dos solos tropicais, seja em A manutenção da produção e da produtividade
função da geologia do país, que não favorece a das safras agrícolas nacionais está diretamente re-
existência de matérias-primas para a produção de lacionada à fertilidade do solo e das plantas, visto
fertilizantes. Atualmente, o Brasil importa cerca de que constantemente se torna necessária a reposi-
95% de todo o potássio e mais de 50% do fósforo ção dos nutrientes retirados do solo. Buscando so-
necessário para a demanda doméstica. De acordo lucionar as atuais demandas industriais e ambien-
com dados da Associação Nacional para Difusão de tais, a utilização de pó de rochas ornamentais na
Adubos (ANDA), 86% de todo o fertilizante utiliza- agricultura pode melhorar as condições de fertili-
do no país é proveniente do mercado externo. dade dos solos e de nutrição vegetal, sem afetar,
contudo, o equilíbrio ambiental.
De modo pioneiro, em 2019, foi criado o progra-
ma “CETEM Desafios”, na modalidade de inovação
aberta inversa (em inglês, problem sourcing). Essa CETEM
iniciativa buscou selecionar propostas de projetos
de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I)
de empresas do setor de rochas ornamentais para ESCRITO POR
serem realizadas pelo CETEM. Leonardo Luiz Lyrio da Silveira
Monica Castoldi Borlini Gadioli
Para o setor nacional de rochas, a sinergia e as
oportunidades de negócio decorrentes da utiliza- Guilherme de Resende Camara
ção dos subprodutos industriais na agricultura são Mariane Costalonga de Aguiar

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e- Digital
POLÍTICA MINERAL TAXAÇÃO DE TRIBUTOS

QUEDA
pela União – distribuídos a Estados e Municípios.
Nesta conta, somam-se a Taxa Anual por Hectare,
cobrada na fase de pesquisa mineral sobre a área
pesquisada, e a Taxa de Controle, Monitoramento

DE BRAÇO
e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Mine-
rários (TFRM), taxa estadual e municipal que inci-
de sobre o volume de minério extraído.
Mineradoras alegam que excesso
Em agosto de 2022, o Supremo Tribunal Federal
de tributos desacelera o setor, (STF) considerou constitucional a cobrança de
enquanto Estados e Municípios TRFM, instituídas por Minas Gerais, Pará e Amapá.
buscam aumentar a arrecadação Desde então, mais estados e municípios criaram
taxas próprias, como Mato Grosso, Mato Grosso
Bianca Alves do Sul, Tocantins, oito municípios paraenses e dois
mineiros. No Maranhão, foi criada uma taxa para car-
gas transportadas sobre trilhos. Mais recentemente,

N
os últimos anos, agricultura e minera- foram instituídas contribuições voltadas a fundos de
ção têm rivalizado pelo posto de prin- infraestrutura e transportes, como o Fundeinfra, de
cipal atividade na balança comercial do Goiás, e o FET, de Tocantins.
país. Só em 2022, o setor mineral acumulou R$
250 bilhões de receita. Por movimentar cifras ex- Para o sócio da William Freire
pressivas, é de se esperar que a mineração brasilei- Advogados, Paulo Honório
ra contabilize uma extensa lista de tributos. Mas, no de Castro Júnior, esses fun-
embate entre os entes federados, Estados e Muni- dos “nada mais são que o
cípios – em especial – têm se mostrado mais vora- Imposto sobre Circulação de
zes. E o setor, que enfrentou oscilações nos últimos Mercadorias e Prestação de
semestres, teme pelos resultados futuros. Serviços, o ICMS, cobra-
dos de forma disfarçada
Além dos impostos comuns a todas as atividades, sobre as exportações”.
o setor recolhe a Compensação Financeira pela Segundo o especia-
Exploração Mineral (CFEM) e os royalties cobrados lista, mesmo a TFRM

52
Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio
Janeiro
e Junho
a Fevereiro
2023 de 2023
e - Digital

seria questionável e passível de reavaliação, pois No primeiro trimestre de 2023, os principais


há fundamentos não apreciados pela Corte, a indicadores do setor decaíram: faturamen-
exemplo da caracterização da taxa como uma to, exportações, recolhimento de encargos
‘CFEM estadual’. Isso afronta a competência ex- e tributos, saldo mineral e novos empregos,
clusiva da União para criar o royalty e a própria seguindo uma tendência verificada no ano
destinação da taxa – usada para custear despe- passado. Na ocasião, a atividade declinou
sas gerais dos Estados em vez de ressarcir os ór- 12% no país, com queda das encomendas
gãos fiscalizadores. na China e do preço do minério de ferro.
Esse cenário fez a receita total despencar
“O STF analisou ’a foto‘ da relação entre despesa 26% – de R$ 339,1 bilhões, em 2021, para R$
estimada com os órgãos fiscalizadores da ativi- 250 bilhões, em 2022.
dade mineral e a receita estimada com a arreca-
dação da taxa, concluindo pela ausência de des- Para o diretor de Relações Institucionais do
proporcionalidade entre essas grandezas. Porém, Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Ri-
não analisou ’o vídeo’, ou seja, a evolução dessa naldo Mancin, o Fundeinfra confronta a Lei
relação desde 2012, quando as TFRM começaram Complementar 87/1996 – a Lei Kandir – ao
a ser cobradas. O ‘vídeo’ comprova que há des- eliminar a imunidade tributária do ICMS so-
proporção entre o valor arrecadado e a despesa bre as exportações, sobretudo do agronegó-
correspondente ao fato gerador do tributo, o que cio e de minérios. “Se mais estados seguirem
deveria invalidá-lo”, analisa o especialista. o caminho de Goiás, todos os setores expor-
tadores do país serão prejudicados. Afinal,
Não faltam argumentos da indústria mineral intervenções estatais desconectadas da rea-
contra os tributos criados por governos estadu- lidade sempre causam insegurança jurídica,
ais e municipais. Para o setor, eles afetam a com- fuga de novos investimentos e favorecimen-
petitividade da mineração de pequeno a grande to à concorrência, com a elevação da carga
porte e prejudicam a geração de renda e empre- tributária aplicada à atividade mineral.”
gos. Além disso, aumentam a insegurança jurí-
dica, afastando investidores em um momento Junto à Confederação Nacional da Indústria
delicado para a atividade. (CNI), o Ibram tem alertado para o impac-
to dessas taxas sobre a atividade mineral e
seus reflexos na competitividade do setor. A
entidade pede mais envolvimento dos Po-
deres Executivo e Legislativo federais para
debater a questão.

O OUTRO LADO DA MOEDA

Para estados e municípios, a discussão não


deve ser nacionalizada, pois a Constituição
Divulgação STF

lhes garante competência para instituir taxas


de acompanhamento, fiscalização e registro
de concessões de lavras em seus territórios.
53
Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e- Digital
POLÍTICA MINERAL TAXAÇÃO DE TRIBUTOS

“Os municípios conhecem sua realidade, têm quanto para órgãos governamentais, que essa
autonomia e precisam agir em favor de suas popu- situação protelatória com a União afeta o re-
lações. Não vemos correlação entre a Lei Kandir e passe ao município, detentor da maior parcela
a TRFM”, avalia a consultora tributária da Associa- desses royalties”, observa.
ção dos Municípios Mineradores de Minas Gerais
(Amig), Roseane Seabra. Segundo a Amig, as dívidas apuradas no reco-
lhimento incorreto da CFEM entre 1999 e 2017
A tributação do setor precisa considerar a fini- somam R$ 15 bilhões, valor que não chega a
tude do recurso mineral, segundo Roseane. “A 2% do faturamento anual do setor. “Há recur-
sociedade deseja uma mineração forte, segu- sos para regularizar esse passivo, mas não há
ra e responsável com as regiões onde atuam. interesse nacional. O que assistimos é uma fal-
Infelizmente, não encontramos em regra esse ta de comprometimento com o patrimônio do
compromisso. Com frequência, temos visto al- país, que deveria ser ressarcido de forma justa
gumas empresas não recolhendo corretamen- pelo insumo há anos fornecido para o mundo”,
te a CFEM. Está clara, tanto para a população aponta Roseane.

A OPINIÃO DOS ESPECIALISTAS


É razoável ou não criar novos tributos estaduais e municípios sobre a mineração?
Willian Freire Advogados

Divulgação Ibram

Divulgação CNI

A proliferação de tributos “Se mais estados Essas iniciativas


novos, exóticos e de seguirem o caminho de atentam contra a
validade duvidosa, (...) Goiás, todos os setores competividade e
cria enorme insegurança exportadores do país a performance da
jurídica serão prejudicados. indústria da mineração.

Paulo Honório Castro Júnior, Rinaldo Mancin, do Sandro Mabel, da CNI, sobre
da William Freire Advogados, Ibram, sobre a criação de os impactos dos novos tribu-
em relação ao aspecto legal fundos estaduais sobre tos estaduais e municipais na
dessa tributação produtos exportados mineração

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
e - Digital

AMEAÇA À COMPETITIVIDADE tações, conforme prevê a Lei Kandir”. Para o diri-


gente, isso implica em ofensa aos limites legais. “O
O presidente do Conselho Temático de Mineração Estado não pode tirar com uma das mãos o be-
da Confederação Nacional da Indústria (CNI), San- nefício que a Constituição outorgou com a outra.
dro Mabel, é enfático: estados e municípios estão Essas iniciativas atentam contra a competividade
criando impostos mascarados de taxas. “O exercí- e a performance da indústria da mineração, sub-
cio do poder de tributar por estados e municípios traem da balança comercial e inibem novos inves-
se baliza em regras constitucionais, que não dão timentos”, completa.
margem à pretensão de entes subnacionais de
participar do resultado de empresas por meio da O conjunto de CFEM mais tributos posicionam o
instituição de taxas de fiscalização”, sustenta. Brasil entre os países que mais tributam a minera-
ção em relação à concorrência. Segundo estudo da
Nas contribuições para custeio de fundos esta- consultoria internacional Ernst & Young, conside-
duais, Mabel vê claramente uma tentativa “de rando uma cesta com dez minérios, o Brasil possui
compensar a não tributação pelo ICMS nas expor- a carga mais elevada para oito itens e a segunda
para dois. “É preciso ponderar que a complexida-
de do sistema e a carga tributária compõem a de-
cisão de investir, além da direta correlação entre
o aumento da tributação e a competividade da
produção nacional”, sugere Mabel.

O representante da CNI sustenta que, no caso da


mineração, essas variáveis têm maior peso, diante
do risco na fase de pesquisa e o longo prazo de
maturação dos investimentos. A CNI estima que, a
cada mil alvarás de pesquisa, apenas dez se con-
Léo Lara

solidem em jazidas minerais, das quais apenas


uma se converterá em concessão de lavra, dadas
as incertezas geológicas e fatores como a viabili-
dade econômica do empreendimento.

Segundo o Ibram, o setor mineral brasileiro é for-


Os municípios conhecem mado por 87% de micros e pequenas empresas;
sua realidade, têm 11% de médias; e apenas 2% de grandes compa-
autonomia e precisam nhias. Parte desses negócios pode ter a viabilida-
agir em favor de suas de de seus projetos comprometida em razão da
populações. TFRM ou por outras medidas que interfiram na
condução desses empreendimentos.
Roseane Seabra, da Amig,
em defesa da criação de Neste contexto, a criação de taxas estaduais e
taxas estaduais e municipais municipais sobre a pesquisa mineral causa ain-
como a TRFM da mais efeitos nocivos. Primeiro, porque o país
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e- Digital
POLÍTICA MINERAL TAXAÇÃO DE TRIBUTOS

apresenta um índice de conhecimento geológico CENÁRIO DE INCERTEZAS


insatisfatório – apenas 2,2 % do território é mape-
ado numa escala de 1:100.000. Em segundo lugar, Para Castro Júnior, as principais mineradoras ex-
destaca Mabel, porque estamos cada vez mais de- portadoras do país, localizadas em Estados e Mu-
pendentes de alguns bens minerais. nicípios que cobram TFRM, pagam mais dessa
taxa do que CFEM e ICMS. Segundo o advogado, o
“Alguns países exploram de forma protecionis- tributo é expressivo, o que afeta acentuadamente
ta suas vantagens competitivas, como a China o resultado das empresas e interfere na confian-
– detentora de terras raras, titânio, magnésio, ça do investidor. “A proliferação de tributos novos,
tungstênio, grafita natural, bismuto e barita – exóticos e de validade duvidosa, que se somam
e Austrália, com o carvão. nos diversos níveis federa-
Já no Brasil, prevalecem as tivos, cria enorme insegu-
políticas de cunho arreca- rança jurídica.”
datório incidentes sobre
a pesquisa e a explora- Líder em Por isso, o ministro Nu-
ção mineral. Tais medidas tributos nes Marques, ao julgar
não só comprometem os as TFRM em 2022, afir-
investimentos, como fra- mou que o STF tem um
gilizam cadeias de abaste- Em uma cesta com ‘encontro marcado’ com
cimento nacionais e glo- dez tipos de minério, a questão da cumulação
bais”, discorre Mabel. de taxas sobre a minera-
o Brasil possui a ção. “O problema não é
Por ser uma indústria de maior carga tributária apenas a carga tributária,
base, a elevação dos custos para oito itens mas, principalmente, a in-
para a mineração impac- e a segunda para certeza sobre qual será o
ta diretamente em outros retorno sobre o capital in-
setores da economia, além
dois itens vestido, pois não se sabe
de afetar a disponibilidade quais tributos vão onerá-
de matérias-primas e bens. -la”, entende o especialista
Esse fator se soma às inova- em Direito Tributário.
ções tecnológicas que têm transformado as ca-
deias de suprimento, a fim de se adaptarem aos O sócio da William Freire Advogados defende ser
novos mercados. preciso repensar a tributação da mineração no
Brasil sob a perspectiva do Federalismo. “A União
“A mineração e o agronegócio caminham lado arrecada proporcionalmente muito mais sobre o
a lado, pois a produção de diversas commo- setor do que Estados e Municípios, em razão do
dities depende diretamente da fertilidade do imposto de renda e das contribuições previden-
solo para que se alcance determinados níveis ciárias. Em países como a Austrália ocorre o in-
de produtividade e qualidade. Esse contexto verso: mais recursos são destinados ao local da
motiva estímulos à mineração que possibili- atividade. Sem essa repactuação, sempre haverá
tem a fruição de benefícios econômicos e so- pressão de Estados e Municípios pela cobrança
ciais”, analisa Mabel. de novos tributos sobre o setor”, finaliza.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e-Digital
POLÍTICA MINERAL OURO ILEGAL
Tonyoquias

NA ORIGEM DO
PROBLEMA
Nota fiscal eletrônica, MP do Ouro,
acordo de cooperação técnica:
as estratégias para enfrentar o
garimpo ilegal de ouro

Juliana Gontijo

O
O ano de 2021 foi histórico para a deral. Em 18 de abril, uma audiência pública so-
mineração brasileira. Seguido pelo bre o tema – realizada na Comissão Temporária
minério de ferro, o ouro foi a subs- sobre a Situação dos Yanomami – concluiu que o
tância que mais contribuiu para a arrecadação rastreamento do minério é indispensável para a
recorde daquele ano. Mas, embora o desempe- proteção de indígenas e a legalização do comér-
nho tenha sido celebrado, 52,8 toneladas do cio de ouro.
metal dorado comercializadas pelo país – 54%
da produção nacional – tinham graves indícios A fim de estrangular a rede criminosa em ação na
de ilegalidade. A maioria (61%) era proveniente Amazônia Legal e garantir mais transparência e
da Amazônia. O problema é crônico, de acor- controle às fiscalizações, a Receita Federal do Bra-
do com o Instituto Escolhas. De 2015 a 2020, o sil (RFB) instituiu a obrigatoriedade da emissão
Brasil comercializou 229 toneladas de ouro – ao da Nota Fiscal Eletrônica do Ouro (NF-e Ouro)
que tudo indica – extraídas de forma ilegal. para operações de especulação ou reserva de
capital. Prevista na Instrução Normativa RFB
No início deste ano, os impactos do garimpo nº 2.138/2023, a medida permite que as ope-
ilegal de ouro na Terra Indígena Yanomami, em rações sejam auditadas por meio de tecnolo-
Roraima, ganharam a mídia. Desequilíbrio am- gias disponíveis na RFB. A iniciativa não só fa-
biental, rios arrasados pelas altas concentrações cilita o acesso aos dados das operações como
de mercúrio, invasões de terra, desnutrição e fortalece o combate à sonegação ao integrar
mortes provocaram uma resposta do Senado Fe- as administrações tributárias.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
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Embora em vigor desde 30 de março, a norma Segundo Clara, a ausência de dados e o desco-
só se tornará obrigatória a partir de 3 de julho nhecimento sobre os meandros da extração de
de 2023, dado o prazo necessário para o desen- ouro no país impossibilitam revelar a expressi-
volvimento do sistema emissor da NF-e Ouro. De vidade do garimpo, que ainda enfrenta desa-
acordo com especialistas do setor, o cumprimen- fios para a organização legal. “A formalização e o
to dessa obrigação acessória se soma a outras aprimoramento na rastreabilidade são caminhos
medidas indispensáveis para combater o proble- para o desenvolvimento responsável do garimpo
ma, como o fortalecimento das fiscalizações e a e da pequena mineração de ouro. Só assim pode-
celebração de parcerias com entidades. mos respeitar e valorizar o trabalho do garimpei-
ro, o melhor aproveitamento dos bens minerais,
A gerente de relações institucionais da Organiza- o meio ambiente, a diversificação econômica e a
ção das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB), inclusão social”, acredita.
Clara Maffia, ressalta que a entidade defende
há anos a necessidade de instituir meios para o Para o professor da Escola Politécnica da Uni-
controle e a rastreabilidade da produção mineral. versidade de São Paulo (USP), Giorgio De Tomi,
“Talvez essas respostas tenham demorado em é preciso diferenciar o garimpo da extração ile-
função da incompreensão dos impactos socio- gal. Coordenador do Núcleo de Pesquisa para a
econômicos da atividade por parte dos Poderes Mineração Responsável (NAP.Mineração), ele ex-
Executivo e Legislativo, das entidades de classe, plica que o garimpo é uma atividade legitimada
da academia, da imprensa e da sociedade.” pela Constituição, contemplada no Código de
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e-Digital
POLÍTICA MINERAL OURO ILEGAL

A formalização e o
aprimoramento na
rastreabilidade são caminhos

Sistema OCB
para o desenvolvimento
responsável do garimpo e da
pequena mineração de ouro.

Clara Maffia
Gerente de relações institucionais
do Sistema OCB

Mineração e autorizada pela Agência Nacional à sociedade, como a incapacidade de recu-


de Mineração (ANM) por meio da Permissão de perar áreas exploradas após o esgotamento
Lavra Garimpeira (PLG). Já a extração ilegal se das jazidas. “O emprego de técnicas rudimen-
desenvolve em áreas proibidas, com emprego tares e predatórias de extração mineral su-
de técnicas que agridem o meio ambiente. baproveita o minério e causa danos ao meio
ambiente e à população no entorno”, des-
O docente afirma, ainda, que o comprador de taca. Clara ainda menciona outros tipos de
ouro tem a responsabilidade de verificar a ori- contravenção causadas pelo garimpo ilegal,
gem do produto a ser adquirido. “A transação é como o descaminho do minério, a sonegação
regida pelo título mineral da ANM. As medidas e a evasão de divisas.
recentes de transparência incluem a implanta-
ção da NF-e Ouro para a compra do metal e Membro da Estratégia Nacional de Com-
o fim do princípio da boa-fé na declaração de bate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro
originação”, aponta. Para De Tomi, a socieda- (ENCCLA), o Banco Central (BC) se coloca à
de deve apoiar as ações de transparência em disposição para integrar grupos de trabalho
implementação no país para assegurar que a interinstitucionais que melhorem a ação do
origem do ouro comercializado esteja em con- Estado sobre o combate ao comércio ilegal
formidade com a lei. de ouro no país. A autarquia também apoia a
criação de mecanismos privados que aumen-
CENÁRIO DESAFIADOR tem a rastreabilidade da cadeia produtiva e o
aprimoramento do marco legal para a fisca-
A executiva do Sistema OCB ressalta que a ex- lização do comércio do ouro, o que inclui o
tração ilegal de ouro impõe diversos desafios fim da presunção de boa-fé na aquisição por
– sobretudo ambientais – ao poder público e instituição financeira e a exigência da NF-e.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
e-Digital

GALERIA
DE FOTOS

Outra ação inibidora do comércio ilegal desse ral e a mineração artesanal e de pequena esca-
minério é a MP do Ouro, assinada pelo gover- la (Mape). “O Sistema OCB tem se mantido aten-
no federal em abril deste ano. Resultado de um to aos anseios e dores dos pequenos produtores
grupo de trabalho criado pelo Ministério da minerais”, destaca Clara.
Justiça e Segurança Pública (MSJP), a medida
provisória endurece as regras de compra, ven- No mesmo ano, o Sistema OCB realizou o
da e transporte do metal. “Hoje, no Brasil, há Seminário Garimpo e Cooperativismo no Brasil,
menos controle sobre o ouro do que sobre a que reuniu desde representantes setoriais a
madeira ou a carne. Com a MP, quem vender dirigentes de cooperativas. Em 2022, foram
ouro terá que se submeter a uma série de me- realizadas diversas iniciativas para a produção
canismos de regulação”, destaca o secretário de dados e conhecimento e a análise de pro-
de Acesso à Justiça do MSJP, Marivaldo Pereira. jetos de lei (PL) em tramitação que busquem a
melhoria regulatória do setor. No ano passado,
MEDIDAS CONCRETAS a OCB promoveu, ainda, visitas técnicas às coo-
perativas para sensibilizá-las sobre o tema, além
A busca por mais efetividade no combate ao de realizar o mapeamento de boas práticas re-
garimpo ilegal também fortalece o surgimen- lacionadas aos Objetivos do Desenvolvimento
to de parcerias. Em junho de 2021, o Sistema Sustentável (ODS) na mineração.
OCB firmou – por três anos – um acordo de
cooperação técnica com o Ministério de Minas Para capacitar garimpeiros a firmarem parcerias
e Energia (MME) para realizar ações conjuntas com o setor privado, o Sistema OCB apoia – des-
para promoção, apoio à regularização, estrutu- de 2022 – o “Projeto ASGM – Coexistência no Bra-
ração de estudos técnicos e compartilhamento sil”. A iniciativa – financiada pelo fundo Extractive
de informações sobre o cooperativismo mine- Global Programmatic Support (EGPS), do Banco
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
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POLÍTICA MINERAL OURO ILEGAL

Mundial – estimula a adoção de uma agen-


da ESG (ambiental, social e de governança) na
mineração artesanal e em pequena escala. As
cartilhas e vídeos educativos para capacitação
garimpeira se encontram disponíveis de forma
gratuita na plataforma de aprendizagem da
OCB, a CapacitaCoop, e no site do Sistema.
Emissão da
Coordenado pelo NAP.Mineração, da USP, o
projeto ASGM estabelece modelos minerários
NF-e Ouro
mais seguros e eficientes, disseminando téc- Obrigatória a partir de
nicas de recuperação de ouro sem mercúrio, 3 de julho
além de práticas e princípios de saúde e segu-
rança, gestão econômica e igualdade de gêne- Quando o ouro for
ro. Segundo De Tomi, o núcleo estuda, há mais classificado como
de 10 anos, soluções para o aproveitamento
responsável de depósitos minerais de menor
ativo financeiro
porte, indispensáveis ao suprimento de mine- ou instrumento
rais estratégicos para a transição energética. “A de câmbio
atuação do núcleo é governada pelos 17 ODS e
padrões ESG”, revela.

Transformar práticas
artesanais e seculares
de trabalho do garimpo
Divulgação OEA USP

em operações limpas
e ambientalmente
responsáveis é complexo.

Giorgio De Tomi
Coordenador do NAP.
Mineração, da USP

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
e-Digital

Neste ano, o Sistema OCB – em parceria


com a Aliança para Mineração Respon-
sável – lançou o projeto “Rastreabilidade
e Cadeia Responsável no Cooperativis-
mo Mineral Brasileiro”. “Além de adequar
as ferramentas de due diligence à mine- TECNOLOGIA PARA
ração artesanal e em pequena escala, a
ação contribui para sensibilizar dirigen- PROCEDÊNCIA DO OURO
tes de cooperativas e o mercado sobre
a criação de uma rede nacional de téc- O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e a
nicos de cooperativas capacitados para USP assinaram, no dia 18 de maio, um acordo
enfrentar os desafios da rastreabilidade de cooperação para intensificar o combate ao
e da gestão e mitigação de riscos de la- garimpo ilegal. A parceria inclui o aprimo-
vagem de dinheiro na atividade”, expli- ramento da Plataforma de Compra Respon-
ca Clara. sável de Ouro (PCRO), desenvolvida pelo
NAP.Mineração, com apoio da Fundação de
SEM CONTINUIDADE Desenvolvimento Tecnológico da Poli/USP
e do Instituto Igarapé.
Para o professor da USP, a eficácia das
medidas de controle cresce na medida On-line e gratuita, a solução permite iden-
que as políticas de transparência são im- tificar – por meio de pesquisas em sistemas
plantadas por quem atua na cadeia de públicos e imagens de satélite – se o ouro
comercialização do ouro. “Ao longo dos comercializado no país provém de áreas com
anos, diversas iniciativas compreende- Permissão de Lavra Garimpeira (PLG). Caso o
ram o contexto e o impacto socioeco- processo não esteja 100% legal, a PCRO dará
nômico causado pelo garimpo de ouro uma nota abaixo de 100 e alertará garim-
na Amazônia brasileira. No entanto, a peiro e comprador sobre quais providências
falta de continuidade em projetos que precisam ser tomadas.
propõem soluções e de vontade políti-
ca para mudanças estruturais se tornou Apoiador do projeto, o Ibram já se articula
um problema.” junto aos órgãos de controle para fazer da
plataforma um instrumento de fiscalização
Essa postura mantém a imagem da ati- do mercado do ouro. “O Instituto apoia a
vidade atrelada à precariedade, à de- iniciativa por acreditar que ela inibe ilegali-
gradação ambiental e aos riscos à saú- dades no comércio e no garimpo do ouro.
de. “Transformar práticas artesanais e Quem age nesse sentido é nosso inimigo e
seculares de trabalho do garimpo em deve ser combatido com vigor”, afirma o di-
operações limpas e ambientalmente retor-presidente do Ibram, Raul Jungmann.
responsáveis é complexo. Alcançar esse
objetivo requer ambição e investimento Acesse e confira a ferramenta:
para fiscalização contínua dos órgãos
clique aqui
competentes”, finaliza De Tomi.
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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e- Digital
ARTIGO GALLAGHER BRASIL

Como o amadurecimento
das empresas e do mercado
de resseguro podem trazer
ganhos para a mineração?
O mercado de seguros e resseguros vem se espaço para o aprimoramento da cultura e das
mostrando mais restritivo há algum tempo. A boas práticas de gerenciamento de riscos quan-
partir de 2021, este movimento se intensificou e do tratamos de mineradoras latino-americanas.
espalhou para todos os segmentos. A indústria
de mineração, que desde Vale mencionar que, para
2019 já vinha percebendo as renovações das apólices
um endurecimento das neste ano de 2023, ques-
condições e capacidades tões como a volatilidade
ofertadas, passou a sofrer,
ainda mais, com essa onda
É preciso ajudar dos preços das commodi-
ties e a inflação global têm
de hard market. Trata-se o mercado sido alvos de atenção por
de um período de ascen-
são em um ciclo de mer-
ressegurador parte dos resseguradores.
Além disso, as práticas de
cado, quando os prêmios a ter um olhar ESG (meio ambiente, social
aumentam e a capacidade
para a maioria dos tipos de coerente em e governança, em portu-
guês) são consideradas re-
seguro diminui. relação à levantes, dado o histórico
de impactos causados pe-
Como a mineração atrai realidade de las atividades desse setor.
poucas seguradoras e res-
seguradoras, é importan-
implementação A contratação de empresas
especializadas em produ-
te trazer para o painel de dessas ações. ção de Laudo Patrimonial
resseguro quem ‘goste’ de de Avaliação de Ativos para
comprar este tipo de risco. fins de seguros faz parte de
Esses resseguradores pos- uma boa gestão de risco.
suem especialistas que entendem bem a ativi-
dade e, portanto, conseguem avaliar a gestão A percepção de amadurecimento do setor vem
realizada em linha com os desafios da indústria sendo demonstrada diante do emprego de
mineral. Para esses especialistas, ainda existe algumas ações que passaram a ser adotadas

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho 2023
e - Digital
e-Digital

Se por um lado as mineradoras precisam e es-


tão amadurecendo em suas práticas de gestão,
o mercado ressegurador também precisa ama-
durecer o entendimento do que é possível re-
alizar por parte dos clientes em curto, médio e
longo prazos.

É importante que nós, consultores de risco e


seguros, saibamos apresentar essa realidade
durante a condução do processo de contrata-
ção do seguro para que os melhores termos e
condições, adequados à exposição, sejam en-
Freepik
tregues ao cliente.
para possibilitar a transferência do risco. No
Brasil, após os eventos ocorridos nas cidades
de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais,
as práticas ESG têm impactado positivamente
o mercado, fazendo com que as mineradoras
se tornem cada vez mais conscientes e atuan-
tes no que diz respeito à governança, ao risco
operacional e às questões ligadas ao meio am-
biente e à sociedade.

Vale uma ressalva: a gestão de risco das mi-


neradoras. Sabemos que elas são expostas a
ambientes agressivos e estão preparadas para
conviver com perdas de menor impacto, razão
pela qual o nível de franquia da apólice de se-
guro tende a ser significativo. Isso é traduzido,
sem a menor dúvida, na confiança que a pró-
pria mineradora possui em relação à sua ges-
tão de risco. E isso tem que ser considerado CRISTIANE ALVES
pelo mercado ressegurador.

Em certa medida, a mesma ressalva aplica-se Com profundo conhecimento em


ao ESG. As ações preconizadas por essas três seguros para mineração, é diretora de
letrinhas possuem um valor imenso para to- Mineração e Metais da Gallagher Brasil.
dos nós e são uma conquista para o mundo Atuou ainda como gerente de Seguros
sustentável que todos buscamos. No entanto, da Companhia Siderúrgica Nacional
é preciso ajudar o mercado ressegurador a ter (CSN), onde permaneceu por nove anos.
um olhar coerente em relação à realidade de Cristiane iniciou carreira na área
implementação dessas ações. securitária em 1996, na Pirelli.

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Revista Mineração & Sustentabilidade | Maio e Junho de 2023
e -Digital
AGENDA

Mais relevante evento do setor mineral do país, a


Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (Exposi-
bram) reunirá lideranças do setor, que compartilharão
projetos, casos de sucesso e suas perspectivas para a
atividade nas próximas décadas. A feira internacional
é a maior vitrine para a geração de novos negócios. Já
o congresso debate cenários e desafios do setor mine-
Exposibram ral sob a ótica política e socioeconômica global, além
2023 de revelar tendências para o segmento.

29 a 31 de agosto de 2023 Informações e inscrições:


Bélem (PA) clique aqui

e-Mineração 8º Encontro Nacional FIPP


do Brasil de Média e Pequena
Mineração e 2ª Brasmin
4 de julho de 2023 27 a 29 de junho de 2023 25 a 29 de julho de 2023
On-line Goiânia/GO Teófilo Otoni/MG

Lançado em 2020 pelo Ibram, A 8ª edição do Encontro Nacio- Produtores e amantes das
o e-Mineração do Brasil é um nal de Média e Pequena Mine- gemas se reúnem na Feira
evento destinado às peque- ração e a 2ª Feira da Indústria Internacional de Pedras Pre-
nas e médias empresas que da Mineração (Brasmin 2023) ciosas, maior evento do setor
negociam com as grandes acontecem simultaneamente no Brasil. Na Feira é possível
mineradoras do país. A nova na PUC Goiás, em Goiânia. Reali- encontrar várias qualidades
edição contará com dois dias zadas pela Associação Brasileira de gemas produzidas no país,
de rodadas de negócios virtu- das Empresas de Pesquisa Mi- amostras de coleção, artesa-
ais, além de palestras técnicas neral (ABPM), as iniciativas vão nato e bijuterias em pedras.
e painéis temáticos. Em 2022, discutir e reforçar o papel das Além da FIPP, uma feirinha pa-
o evento atraiu 4,2 mil partici- pequenas e médias empresas ralela na praça central de Teófi-
pações, que proporcionaram do setor para o desenvolvimen- lo Otoni aproxima expositores
264 rodadas de negócios. to do país. e pessoas para bons negócios.

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