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CÂMARA TÉCNICA

ORIENTAÇÃO FUNDAMENTADA Nº 003/2017

Assunto: Injeção intramuscular ventro glútea


em recém nascidos.

1. Do fato

Solicitação de esclarecimentos em relação à utilização de injeção intramuscular ventro


glútea em recém nascidos e qual o respaldo legal do profissional.

2. Da fundamentação e análise

A Enfermagem segue regramento próprio, consubstanciado na Lei do Exercício


Profissional (Lei no 7.498/1986) e seu Decreto regulamentador (Decreto 94.406/1987), além
do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE). Neste sentido, a Enfermagem
atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde humana, com autonomia e
em consonância com os preceitos éticos e legais.

Sendo assim, conforme o questionamento realizado, bem como em relação à


legislação, entendemos que a região ventro glútea foi descrita por Von Hochstetter há mais de
50 anos, sendo considerada uma região segura para injeções intramusculares. Essa região é
delimitada pela espinha ilíaca ântero superior; grande trocanter e crista ilíaca superior, sendo
recomendada para administração de medicamentos injetáveis em indivíduos de qualquer faixa
etária, inclusive para idosos, indivíduos magros e crianças (HOCHSTETTER, 1954).

Segundo Meneses & Marques (2007) em estudo sobre “Proposta de um modelo de


delimitação geométrica para a injeção ventro-glútea” descrevem que a região ventro glútea
(VG), é considerada cientificamente como a mais segura para aplicação intramuscular (IM)
devido a algumas características, como maior espessura dos ventres musculares dos glúteos
(glúteo médio e mínimo) que ficam cobertos pelo músculo glúteo máximo, está livre de vasos
sanguíneos e nervos importantes tanto em adultos como em crianças e conter menor espessura
de tecido subcutâneo se comparada às outras regiões de aplicação. Além disso, é delimitada
por estruturas ósseas palpáveis que salientam pontos indicativos importantes. (Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar ttext&pid=S0034-71672007000500013.)

Lima et al., (2012), conduziram “estudo ultrassonográfico da região de Hochstetter em


recém nascidos e lactentes: contribuições da enfermagem”, e apresentaram em sua conclusão:

[...]
A região ventroglútea é uma parte estudada e difundida no meio acadêmico há muito
tempo. Em outros países, essa região já vem sendo utilizada há mais de 20 anos
como o local mais seguro para injeções intramusculares. No Brasil, apesar de ser
ensinado nas escolas de enfermagem, esse local é pouco utilizado e, muitas vezes,
negligenciado pelas equipes de enfermagem, mesmo sendo comprovada como a
região mais segura. Seguindo a linha nacional de pesquisas a favor dessa região,
busca-se enveredar por um espaço pouco explorado, a relação dessa região em
crianças, especialmente em recémnascidos e lactentes. Segundo os dados obtidos,
com relação à agulha 25X7mm, a qual é a mais utilizada para as injeções
intramusculares, os recém-nascidos não devem utilizar a região de Hochstetter
para injeções intramusculares, enquanto os lactentes podem utilizá-las, mas
com cautela. O ideal seria definir a partir de que idade a criança pode receber
injeções intramusculares na região de Hochstetter. Por essa razão, essa pesquisa foi
o primeiro passo para uma investigação mais profunda, que poderá acarretar em
modificações para a prática assistencial há muitos anos executada em enfermagem.
Acredita-se que as evidências deste estudo adicionarão aos conhecimentos já obtidos
em relação à prática de injeções e administração de substâncias intramusculares,
principalmente ao subsidiar tomadas de decisão em relação à escolha do local mais
apropriado para aplicação de vacinas e medicações em crianças, contribuindo, assim,
para a redução de agravos, bem como fomentando a qualidade da assistência e
eficiência das substâncias em nossa população. [...] .

Freitag, et al., (2015), conduziram estudo para analisar o conhecimento dos


profissionais de enfermagem sobre a utilização da região ventro glútea e apresentaram em sua
conclusão:

[...]
Os resultados evidenciaram o déficit de conhecimento entre os profissionais de
Enfermagem, em relação à aplicação de injeções/medicações na região VG. Há
necessidade de desmembrar este trabalho em ações de caráter de extensão que
objetivam trabalhar conceitos teóricos e práticos em relação à região VG,
estimulando-os a aumentarem a utilização e aplicabilidade por esta via em seus
campos de trabalho, sensibilizando-os baseado em conceitos teóricos explanados
pela literatura atual, pois a educação permanente é de grande importância aos
profissionais que estão envolvidos diretamente na execução do procedimento,
favorecendo uma melhor qualidade no cuidado prestado, pois há necessidade do
enfermeiro trabalhar na perspectiva da integralidade, por ter interação frequente com
a população e com pacientes, oferecendo alternativas para colaborar com sua
recuperação de maneira eficaz. [...].

O Parecer COREN-SP nº 039/2012 – CT, que dispõe sobre aplicação de injeção


intramuscular, apresenta em sua conclusão:

[...]
Em relação à escolha do local a ser realizada a injeção IM, não há consenso sobre o
melhor local para aplicação da IM. Cabe ao Enfermeiro por meio do Processo de
Enfermagem, considerar os critérios supracitados para sua definição garantindo a
segurança, individualização e a qualidade do cuidado.
[...] (CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO, 2012).

Segundo Silva e Vaz (2013), em estudo sobre “As relações anatômicas envolvidas na
administração de medicamentos por via intramuscular: um campo de estudo do enfermeiro”,
entre várias técnicas que são realizadas sob responsabilidade do enfermeiro, a administração
de medicamentos parenterais, sobretudo por via IM, exige que o profissional tenha uma visão
científica e analise as regiões anatômicas possíveis e mais apropriadas no cliente, tendo em
vista as características farmacológicas das drogas, a capacidade de absorção muscular e o
caminho percorrido pelo medicamento no organismo até a sua eliminação. (Disponível em:
http://scielo.isciii. es/pdf/eg/v12n30/pt_doce ncia3.pdf.)

A Lei nº 7.498/86, determina que a administração de medicamentos é uma atribuição


da Enfermagem. O Enfermeiro é responsável pela orientação e supervisão da equipe de
Enfermagem e deve ter conhecimento baseado nas melhores evidências científicas para
escolher o melhor sítio de aplicação de injeção.

Diante do exposto, consideramos que a utilização da região ventro glútea para


aplicação de injeção intramuscular em recém nascidos ainda carece de estudos que confiram
maior respaldo científico para a tomada de decisão do Enfermeiro, entretanto, a conclusão do
Parecer COREN-SP nº 039/2012, determina que cabe ao Enfermeiro por meio do Processo de
Enfermagem, considerar os critérios citados para definição do local mais seguro, garantindo
qualidade na assistência de Enfermagem.

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