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“Rei Amador”, Eduardo Malé Fernandes, Núcleo Museológicco Rota da Escravatura, Foto: MIR, 2016
(foto retirada daqui)
Como?
Hoje o museu é entendido como multivocal, chamando a atenção para vários pontos
de vista sobre uma determinada temática e estimular o pensamento crítico dos
visitantes, colocar interrogações e muitas vezes assumi-las em aberto. Reside aqui
também a ideia de que os museus têm uma função pedagógica, no sentido de
colocar os visitantes diante de diferentes perspectivas, do reconhecimento de não
se repetirem os mesmos erros do passado, que o conhecimento sobre a história
pode evidenciar. Esta ideia vem contrariar, em larga medida, o que se entendia
como a narrativa construída a partir dos museus: a uma só voz, anónima e
monolítica, ideia que parece estar ultrapassada.
Significa que todas estas questões podem ter uma perspectiva renovada através de
novas interpretações de objectos e colecções, em estreita ligação com a
contemporaneidade, e podem levar também a uma reinterpretação, correcção ou
reparação, reflectindo sobre as práticas museológicas do passado.
Alguns exemplos
O facto é que há vários exemplos de museus que têm abraçado estas questões.
Entre nós começam a ganhar expressão temas como escravatura, como revela a
criação do Núcleo Museológico Rota da Escravatura (2016), em Lagos, ou o
projecto em curso “Testemunhos da Escravatura – Memória Africana” que junta 42
museus, arquivos e bibliotecas de Lisboa, reunindo mais de 200 objectos e
documentos para representar esta história.
Mas vêm-me de imediato à memória alguns museus que estudei durante a minha
investigação de doutoramento (veja-se Carvalho 2016). É o caso do International
Slavery Museum, criado em 2007 em Liverpool, com o objectivo de reparação e
conciliação sobre a escravatura, no qual o Reino Unido foi um dos principais
promotores. Este museu faz uma abordagem histórica da escravatura, mas também
assume um olhar sobre a contemporaneidade.
Mais leituras:
Acesso Cultura. 2017. Resumo do debate ‘Dizer o Indizível para Quê?’ (Évora,
Lisboa, Portimão, Porto), 18 de Abril de 2017.
https://acessoculturapt.files.wordpress.com/2014/01/20170418_debate_resumo.pdf
Blogue Musing on Culture de Maria Vlachou, em particular os textos organizados de
acordo com as seguintes etiquetas: “Direitos Humanos”, “Democracia” e “Política”.
http://musingonculture-pt.blogspot.pt
Referências
Camacho, Clara Frayão, Pedro Pereira Leite, e Ana Carvalho. 2016. “Contextos e
Desafios da Nova Recomendação Da UNESCO para Museus e Colecções:
Entrevista com Clara Frayão Camacho e Pedro Pereira Leite.” Boletim ICOM
Portugal 7 (Set.): 10-19. http://hdl.handle.net/10174/19118
Carvalho, Ana. 2016. Museus e Diversidade Cultural: Da Representação aos
Públicos. Vol. IV. Colecção Estudos de Museus. Casal de Cambra: Caleidoscópio e
Direção-Geral do Património Cultural. http://hdl.handle.net/10174/19109
Gokcigdem, Elif M, ed. 2016. Fostering Empathy Through Museums. Blue Ridge
Summit: Rowman & Littlefield Publ.
Gurian, Elaine Heumann. 2010. “Foreword: Celebrating Those Who Create Change.”
In Hot Topics, Public Culture, Museums, editado por Fiona Cameron and Lynda
Kelly, xi–xv. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing.
Museums Association. 2013. Museums Change Lives: The MAS’s Vision for the
Impact of Museums. [S.l.]: Museums Association.
https://www.museumsassociation.org/download?id=1001738
Shelton, Anthony. 2001. “Unstettling the Meaning: Critical Museology, Art and
Anthropological Discourses.” In Academic Anthropology and the Museum: Back to
the Future, editado por Mary Bouquet, 142–61. New York, Oxford: Berghahn books.
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Carvalho, Ana. 2017. “Museus: Dizer o Indizível para quê?” Blogue No Mundo dos
Museus, Maio 10. https://nomundodosmuseus.hypotheses.org/7494