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A autora
Era finalzinho de outono,eu observara o vento varrendo as folhas,
que ainda despencavam dos galhos ressequidos.
O inverno estava prestes a chegar.
A cidade vestira com uma tonalidade cinza, e as ruas silenciosas,
permaneceram inertes ao longo do tempo.
Aquele ano fora um ano tristonho, Jorge se fora tão de repente,
sem me dizer nada,sem me ensinar como eu viveria sem ele.
Meu coração o guardara para sempre, mesmo com um vazio enorme
me rondando o tempo todo.
Nosso neto Jorge terminara o curso de medicina em Londres, minha
filha sabia que eu não iria á cerimônia,
Eles entenderam que eu precisara daquele momento comigo
mesma,então conversáramos quase todo dia via Skype,mas no final
da conversa eu sempre acabara chorando,então,ás vezes,evitara de
falar com eles.
A minha filha sentira muito a morte do pai,mas ela precisara tocar
sua vida em frente,eu,no entanto tivera como motivo único de
minha existência cuidar de Jorge.
Além dos cuidados eram nossas conversas,nossos passeios,as nossas
risadas também.
Eu realmente precisara ficar comigo mesma em tal momento.
Seis meses parecera durar uma eternidade, e ao mesmo tempo,
parecera ter sido ontem aquele adeus sem voz.
Sobre a estante, aquela estátua permanecera como um livro fechado
com uma história querendo saltar.
As ruas percorridas durante tal tempo, pareceram mudar de cor,e eu
me sentira perdida, dentro de uma solidão tão estrangeira.
Uma solidão proposital, que levara meu amor embora para sempre,
portanto, levando consigo boa parte de mim.
Um vento morno tocara meu rosto e a noite ficara a mercê de nossos
encontros,assim que o sono viera.
Eu houvera feito uma simbiose com ele para sempre.
Eu crera ,que cada pessoa devera viver de maneira tal ,com o jeito
que viera ao mundo,e se mudanças ocorriam,estivera premeditado
de que seria assim mesmo,porém,por outro lado,pudéramos ser
fortes e vencermos os percalços pelos quais passáramos.
Jorge meu amor, o qual eu houvera feito uma fusão entre
nós,fôramos um casal que dera certo na vida e á medida que o tempo
fora passando,estivéramos mais perto um do outro.
Eu amara , o sentir chegando em casa, quando ele precisara
sair,todo o vazio deixado por ele,simplesmente se enchera e tomara
todos os espaços de nossas existências.
Ele sempre me trouxera um chocolate.
Sempre voltara ao passado e começara a recordar das nossas
primeiras viagens em Londres, tentando captar as imagens
fotográficas com neve caindo.
Depois percorrera o olhar pela sala e pudera sentir nitidamente,
cada uma delas presentes dentro das lindas molduras feitas de
recicláveis para vestirem uma fotografia pintada e ampliada.
As lágrimas grossas e destemidas molham meu rosto várias
vezes,eu passara um avental que ele usara no ateliê para me secar.
Nosso neto ainda não houvera nascido na primeira viagem, mas
depois vieram tantas outras viagens.
Eu entendera que a finitude faz parte da vida tornando-a até mais
encantadora, por isso, nesse instante eu pudera vestir meu amor de
um encanto perfeito.
Pois ele já houvera terminado sua caminhada e deixado sua
história.
Porém,eu ficara aqui tão sozinha, imaginando onde pudera estar
Jorge nesse determinado momento.
Rezara a Deus que o mantivesse em bom lugar, visto que fora uma
pessoa tão especial.
A noite começara a cair, salpicando o ar cinzento, de nuvens e de
mil estrelas brilhantes.Eu soubera que por elas perpassara Jorge
tão livremente vindo se encontrar comigo .
Londres sempre fora nosso sonho, uma cidade tranquila para se
transitar a pé a qualquer hora do dia ou da noite.
Estávamos nos preparando para uma visita á nossa filha Miranda e seu
marido Luiz, mas queríamos deixar para a chegada do inverno, pois
Luiz adorava as fotos, que Miranda vez ou outra, conseguia tirar e
mandar.
Ele então fizera molduras estupendas, e ampliara as fotografias,
transformando-as em pinturas a óleo, que ficavam espetaculares.
Depois que nossa filha se casara e mudara para Londres ele também se
dedicara ás Artes Plásticas como ela e o marido.As artes moviam novas
emoções.
Mas uma cidade, com uma concentração de edifícios como Londres,
mantém sempre a temperatura mais elevada, devido ao recapeamento
de concreto.
Jorge gostava bastante do inverno, achava romântico viajar nessa
época,eu aprendera a gostar mais do inverno com ele.
Estávamos entardecendo juntos, era maravilhoso ver um brilho
prateado nos cabelos de Jorge, com o passar do tempo, ele se
transformara num homem lindo.Muito mais lindo do que era antes!
Então, voltara no começo de minha vida e ficara imaginando como
seria a maturidade sozinha, pois a solidão produz uma toxidade,
fazendo mal á saúde física e mental
Jorge vestira um sobretudo escuro, enquanto eu vestira um quase
igual, mas cinza.
O inverno era bastante rigoroso mas houvéramos nos preparado para
isso.
Soubéramos que nevara muito raramente em Londres e quando isso
acontece a neve não se acumulara no chão por muito tempo. Assim,
teríamos poucas chances de conseguir as fotos lindas, que mesmo
esporadicamente, mas Miranda nunca deixara de nos mandar.
Ela e Luiz ao nosso lado esperando que pudéssemos, pelo menos ter
tempo em tirar uma foto para Jorge ampliar numa linda moldura.
Soubéramos que em média, fora somente em quinze dias.
Aproximadamente no ano, em que a neve se acumulara em algum
lugar do Reino Unido.
Importante também para nós, não seriam as fotografias tiradas ou
não, dentro de pouco tempo Jorge iria emoldurar os mais belos
quadros de nosso neto.
Estivéramos visitando nossa filha e genro como comumente
fizéramos, eles sempre nos aguardavam, no aeroporto e depois
fizéramos uma tour juntos.
Minha filha estava grávida de quatro meses de Jorge, nosso netinho
teria o nome do avô.
Jorge.
Ela demorara um pouco para engravidar e nós , ansiosos pelo netinho
.Fora um momento único!
Meu nome Mariana,eu fora uma criança feliz criada na periferia de
São Paulo, meu pai Davi, um metalúrgico incansável, pois trabalhava
de domingo a domingo, fazendo horários extras também.
Minha mãe Joana, cuidava da casa e fazia sua parte sendo muito
econômica ensinando eu e meu irmão Mário, como aprender a viver,
sem medo de encarar os percalços da vida.
Essa maneira, acredito eu,fora a melhor escola que pudera cursar,
desde muito cedo ela nos ensinara como não desperdiçar nada.
Desde comidas, materiais escolares, cuidados com as roupas e
calçados também.
Até mesmo, saber como usar
Então usara muito a roupa sem sujar, evitando tantas lavagens, tudo
que descobríramos quando criança, tornara-se um hábito entre nós,
não sabíamos fazer diferente depois de adultos.
Eu estudara de manhã e á tarde sempre tivera algum serviço de casa
para eu fazer, meu irmão três anos mais velho que eu,estudara á
noite e trabalhara num mercado durante o dia.
Eu tinha nove anos e estava na terceira série Primária e meu irmão,
tinha doze e estava na sexta série do Fundamental noturno, na escola
próxima de casa.
A minha vida fora regada com o encanto vindouro do futuro,sonhara
com o tal.
Meu pai sempre fora extremamente dedicado á família, e conversava
conosco sempre que tinha tempo, ele era um grande mestre também,
estava sempre nos dando bons conselhos e também nos ensinava com
sua maneira sincera e tranquila de viver.
Eu e meu irmão éramos muito felizes, gostávamos de estudar, e
também tínhamos uma família exemplar para nos apoiar e corrigir
também.
Morávamos na Vila Medeiros, um bairro bastante tranquilo, que fazia
parte da grande Vila Maria, onde nasceram meus pais também, e essa
vila era como se fosse uma cidade a parte para nós.
A minha mãe comprava tudo que precisávamos nessa vila, desde
coisas de supermercado até roupas, calçados e outras coisas mais,
que precisasse para nossa casa.
Sempre nos esforçávamos para tirarmos boas notas na escola,eu e
meu irmão, e quando chegava no Natal meus pais diziam, que o papai
Noel estava contente conosco e que viria trazer um presente do
menino Jesus na noite de Natal.
Eu e meu irmão Mário, eufóricos, não víamos a hora que chegasse na
véspera de Natal, para limparmos bem nossos sapatos e colocarmos
na janela.
La ficavam estes, cheio de capim, para o papai Noel colocar nossos
presentes, e no outro dia ficávamos felicíssimos. Sendo uma boneca ou
mesmo bibelô. Quando eu estava com quinze anos conheci o Leonardo e
me apaixonei perdidamente por ele.
Ele também cantava numa banda da jovem guarda e quando o conheci ele
estava com uma camisa amarelo creme, toda cheia de babadinhos na
frente onde abotoava, ele me olhava no cinema querendo sentar ao meu
lado, mas eu meio tímida fingia não ver.
Até que aos poucos ele chegou e conversou com uma amiga minha e disse
que me achou muito bonita.
A partir desse dia paquerávamos de longe, mas nunca deixei ele se
aproximar, até que ele começou a namorar uma prima minha e perdi as
esperanças.
Eu sempre fora magra alta, loira e me achava desinteressante mediante
outras meninas com cabelos encaracolados mais cheinhas e menos altas.
Conheci o Rubens e começamos a namorar, porque ele era bem
extrovertido e foi direto ao assunto, então gostei dele, achei-o bonito,
educado e assim engatamos namoro.
Quando comecei namorar o Rubens eu tinha dezessete anos e ele vinte e
quatro, mas eu gostava de nossa diferença de idade.
Íamos aos domingos no cinema, durante a semana, as vezes nos
encontrávamos.
Não fora tão difícil, eu me apaixonar por ele.
Além de bonito,sedutor ,era carinhoso
Rubens tive um jeito bastante peculiar, por isso que eu me
apaixonara por ele.
Fora o primeiro namorado, o primeiro beijo, a primeira emoção forte.
Eu era meio tímida, mas ele tinha uma certa desenvoltura e logo no
início do namoro, alertara-me para não ligar ás possíveis intrigas
envolvendo seu nome.
Eu meio surpresa perguntei:
Que tipo de intrigas?
Ele me respondeu:
As pessoas dizem que eu ando envolvido com prostitutas.
Eu perguntei:
E você anda mesmo?
Ele respondeu:
Saí algumas vezes com algumas delas, mas jamais do jeito que
comentam.
Meu pensamento até continuou curioso, mas detive a nossa conversa
por aí.
Ele me disse:
Eu sempre quis namorar uma garota como você.
Eu perguntei:
Garota como eu?
Ele disse:
É, uma menina que nunca namorou ninguém feito você.
Eu não entendera o que quisera dizer com isso, mas também, não
perguntara mais nada.
Rubens era um rapaz vivido,destemido no que tange a envolvimentos
sentimentais,e eu uma garota ingênua que vivia tentando descobrir o
amor.
Porém para ele, tal fato ia muito além de compromisso.
Depois de quatro anos de namoro nos casamos, não houve festa, uma
amiga me emprestou um vestido de noiva e fizemos uma comemoração
entre os familiares.
Eu sabia da fama dele de conquistador e mulherengo,mas ao mesmo
tempo ,ele tinha um lado doce, compreensivo e muito sedutor, achei
que quando casasse tudo melhoraria.
Nossa viagem de lua de mel foi na Praia Grande, Vila Oceanópolis,
onde um tio dele tinha uma casa e sendo padrinho nos cedeu uma
semana lá como presente de casamento.
Eu passei a conhecer o Rubens melhor e gostar mais ainda dele,
sempre carinhoso compreensivo.
E eu fora me apegando nele como meu marido, apesar da pouca idade.
Ele trabalhava numa loja de tecidos no centro de São Paulo e eu
havia arrumado emprego numa loja.
Já havia terminado o Ensino Médio e na época não podia fazer
faculdade, mas o curso já me dera oportunidade para arranjar um
emprego.
Fomos morar numa rua no bairro do Ipiranga, um pouco longe da Vila
Medeiros, mas eu via minha família constantemente depois de casada.
Saíamos logo cedinho e só voltávamos á noite.Nossas vidas eram um
eterno endividamento deixando as responsabilidades meio aquém.
Rubens era um homem bonito, e eu tinha muito ciúme, pois ele não
podia ver um a mulher bonita, que logo dava um jeito de conversar
com ela.
Mesmo que eu estivesse junto, eram conversas aparentemente
despretensiosas e discretas, mas não deixava de fazer.
Logo que casamos íamos ao cinema Marabá no Ipiranga mesmo,
assistíamos bons filmes e o cine era imenso.
Inspirados pelos filmes românticos, nós voltávamos mais intensos em
nossos desejos.
Aos finais de semana, além do Cine Marabá, haviam as feiras e
também a praia José Menino, que saíamos no sábado cedinho.
Contudo só voltávamos á noite, levando nossos lanches ,lanchando
como farofeiros, e passando o dia todo na praia.
O começo da vida de casado, apesar da correria ,era muito
bom,porém ,o Rubens tinha uma disposição para sair de casa, que
quase eu não conseguia acompanhá-lo.
Eu me sentira cansada ás vezes, e ele começara a reclamar bastante
disso.
Eu trabalhava no crediário de uma loja de móveis, na rua Vergueiro,
o dia passava rapidamente e quase não dava tempo de perceber.
Eram filas imensas e intermináveis, quase dia todo para eu atender.
E para tal houvera treinado.
Houvera bastante trabalho em casa, depois do expediente do
trabalho á noite, mas aos poucos eu fui me organizando, e
conseguira deixar tudo sob controle.
Não demorou muito tempo, para que o Rubens começasse a reclamar
de tudo, também voltava tarde, e nem dava satisfações,eu tinha
muito ciúme e ficava triste e fechada comigo mesma.
Sabia ,que ele devia sair ainda com outras mulheres, pois ele
adorava sair com garotas de programa, havia feito uma promessa,
que depois do casamento ia parar, mas tudo parecera ficar, só na
promessa.
Ele era um tanto quanto enjoado, com as coisas.
E começara a ficar sempre de mau humor e reclamando, nunca
colaborara com nada, queria tudo na mão e do jeito que mais
gostasse.
Eu era muito apaixonada por ele, fazia tudo para agradar, mas ele
nunca parecia satisfeito, sempre achando um motivo para reclamar.
Ele fora muito paparicado pela mãe, e continuava se portando, como
um garoto mimado, apesar de ser bem mais velho que eu.
Haviam coisas que eu não tinha tanta prática, tais como:
Cozinhar, lavar roupas.
Mas, rapidamente estava me tornando exímia dona de casa.
Porém, em pouco tempo houvera me especializado.
Durante quatro anos ficamos juntos , e eu entendia, que havia casado,
e era para sempre ,e não reclamava com minha família.
Ele porém, além de me maltratar, começara a voltar bêbado para
casa nos finais de semana, e de madrugada.
Eu evitava lhe fazer perguntas, e assim, á medida que o tempo
passava, ele ficava cada vez pior.
Quando eu falava em ir embora, ele ficava uma semana bem, depois
voltava a ser o que era.
E eu jamais deixava transparecer isso á minha família, e na frente
deles, Rubens era delicado e carinhoso comigo.
Eu não podia dizer nada a seu repeito para meus familiares.
Pois, meu irmão ,e meus pais diziam ,que ele era tão bom,e eu
precisara ter mais paciência.
Diziam:
Você é muito nervosa!
Assim, à medida que o tempo passava eu ia mergulhando numa
solidão sem fim.
Ele passava semanas e semanas, sem me procurar,eu tinha certeza
absoluta, de que ele saia com garotas de programa.
Ele sempre me dizia, que era enlouquecido por elas.
Havia acostumado desde adolescente frequentar prostíbulos e
desenvolvera uma certa dependência por garotas de programa.
Então eu fora me desinteressando pelo sexo.
Depois de seis anos, não suportando mais, fui embora de casa.
Loquei um apartamento, na Rua Vergueiro, perto de meu emprego, já
ganhava o suficiente para me manter, uma amiga me avisara do
apartamento vazio, e eu loquei.
Avisei minha família depois, que ficou bastante aborrecida se
afastando de mim.
Ele continuou frequentando a casa de meus pais, e logicamente, se
fazendo de vítima.
Porém, nunca procurei saber o que ele falava de mim, apenas notei
que ele, os afastara de mim.
No começo foi bastante difícil, as investidas de homens, sabendo de
minha separação.
Eles me confundindo,com uma mulher desfrutável,apareciam em
minha casa sem ter horário,eu precisara os tocar de la.
Eu resolvera focar em mim, e me fechar para o mundo, pois estava
bastante decepcionada.
Assim, foquei-me no trabalho e logo montei meu apartamento,
levando minha vida mais tranquila, sem as torturas, a que Rubens
me submetia.
Nos finais de semana punha minhas coisas em ordem ,depois
descansava.
Ia ao cinema, passeava no Museu do Ipiranga, enfim, fazia alguma
coisa para espairecer.
Porém, estivera livre das reclamações e mal tratos de Rubens.
Sempre me fora companhia,fora sozinha comigo que eu crescera.
Logo depois, com o tempo, ele começou ir na minha casa,
implorando para que eu voltasse
Ás vezes, eu o tratava com carinho, via uma esperança, e ele acabava
dormindo na minha casa, passando o final de semana todinho.
Mas eu não queria voltar para ele, pois havia sofrido muito, e não
pretendia passar pelos mesmos sofrimentos de novo.
Deixara isso bem claro para ele.
Um dia ele me disse que queria ter filhos comigo,mas eu nunca deixei
de tomar a pílula.
Pois filho implicara uma grande responsabilidade, eu
definitivamente, estivera convencida ,de que ele não tinha nenhuma
estrutura para ser pai.
Ele passara a me visitar com muita frequência, e insistindo para que
eu voltasse para nossa casa.
Meus pais achavam que eu devera voltar, pois ele era meu marido, e
também um bom homem.
Ignorando todos, o que eu sofrera muito na época da separação,
embora não demonstrasse a ninguém, e não queria arriscar a ter
que passar tudo de novo.
Um dia ele apareceu bêbado e tentou me agredir,eu dissera a ele, que
se voltasse á minha casa, eu chamaria a polícia da próxima vez.
Então, ele fora dando um certo rumo a sua vida também e me
deixando em paz.
Minha casa ficara aconchegante e pacífica.
Eu voltara a ter alegria de viver,sentira mais prazer em tudo que
realizara,sumiram fadigas e sensações de cansaço que eu vinha
sentindo,até então.
Rubens nunca me amara de verdade,acreditara eu,ele não amar nem
a si próprio.
Sentira eu, minha família desaparecer de minha vida, logo depois de
minha separação.
Por outro lado, meus pais tinham pelo Rubens verdadeira adoração.
Eu passara a viver mais só, a receber indiretas de vez em quando, das
pessoas que mantinham uma certa discriminação por mulheres
separadas.
Meu sentimento de culpa fizera de mim, uma mulher fechada para viver
novas experiências, como se o mundo houvera terminado para mim.
Então restara o árduo trabalho, para recomeçar tudo de novo. Então
todos foram se afastando e eu trabalhara muito e nos finais de semana.
Ocupava-me, de colocar tudo em ordem,pois a semana toda sempre fora
muito corrida para mim.
Á noite depois do banho,deitava no sofá para ver televisão e morta de
cansaço,quando acordara fora o despertador tocando para recomeçar
outro dia.
E tudo se repetira igualmente todos os dias.
Meu coração fizera de mim uma pessoa frágil, pois não suportara mais
ouvir uma música romântica,então adotara os rocks dos Titãs, pois
bem,banira o romantismo de minha existência.
Eu quisera esquecer toda e qualquer possibilidade de relação afetiva.
Focara-me em realizar-me em outras coisas.
Estivera feliz!
Depois de três meses, fiquei sabendo que ele havia levado uma
garota de programa para morar com ele.
Eu continuei minha vida tranquila, muito sozinha, e voltada ao
trabalho.
Estava chegando a época do Natal, e a loja tinha mais movimento,eu
percebera que depois de me separar, passara a não gostar mais das
festas de fim de ano.
Sentira muita angústia e também ficara deprimida.
Quando eu era criança, amava a época de Natal, jamais imaginara
um dia, vir a sentir tristeza nessa época..
Dava um jeito, de sempre fugir para uma praia deserta, e ficar
tranquila até tudo passar.
Quando tudo passava eu ficava alegre de novo.
No entanto, as minhas férias, sempre coincidentemente ,eram no
final do ano, iniciavam logo depois do Natal, e só terminavam no
finalzinho de Janeiro.
Minha família sempre me convidara e eu passara a noite de Natal
com eles, e no dia seguinte viajara para algum lugar.
Aprendera a ser sozinha e ser um e jamais fora má conselheira para
mim mesma.
Aproveitava as férias para descansar bastante e refazer minhas
energias.
Pois minha vida era muito agitada o ano inteiro, trabalhando sob a
mira de uma gerente bastante exigente.
A praia e frescor do mar me refaziam, geralmente.
Eu resolvera voltar a estudar, prestara o vestibular numa faculdade
particular de Letras e fora bem classificada.
Embora vivesse mais apressada ainda, a faculdade me indicara novos
horizontes e eu adorava o curso.
Fizera algumas boas amizades, saia para barzinhos e lugares
diferentes nos finais de semana, sem muitos exageros.
Conhecera rapazes interessantes, mas não estava disposta a me
envolver com ninguém.
Ficara traumatizada com a vida de casada, portanto, não abrira a
mão de minha liberdade conquistada.
Liberdade tal, que viera a duras penas.
Comprei uma pequena casa financiada, no mesmo bairro, e aos poucos
fui ajeitando ao meu gosto, isso me dava uma satisfação imensa,
sentia que estava progredindo.
Eu pintara as paredes, refizera os pisos, fora aos poucos aprendendo
quase que uma nova profissão.
Dentro de um ano a casa estava maravilhosa, eu havia feito muita
coisa sozinha, vendo vídeos informativos, e pondo as mãos a obra.
Amara aquela casa!
Terminando então a minha faculdade, mantive-me, no mesmo
emprego, mas havia passado para gerência ganhando muito mais.
Agora sim,eu podia equilibrar minhas contas e minha vida havia
ficado bem mais tranquila em termos financeiros.
Desde muito cedo, meus pais ensinaram-me Educação Financeira,
sem saberem que esta viria a ser importante para mim e para meu
irmão.
Agora já estávamos em paz, e eles se orgulhavam de meu
empreendedorismo.
Havia literalmente, e distanciado de Rubens e o tempo correra
abruptamente.
Depois de sete anos, após a minha separação,eu ainda não me
interessara por ninguém.
Apenas me realizara com a minha casa própria, meu carro, e
também minhas economias me punham bastante segura.
Eu era uma mulher feliz e pronta para um outro relacionamento,
porém eu sentia-me fechada para tal.
Talvez fosse medo de me machucar novamente.
Eu gostava muito de ler, ficava horas na Internet lendo, pois o
computador havia se tornado uma espécie de biblioteca informativa
para mim.
Eu estivera feliz!
Sem contar os vídeos maravilhosos que me ensinaram reformar
minha casa.
Então eu fora deixando meu espaço simples,porém encantador para
mim.
Á medida em que eu ia progredindo, mais eu trabalhava, sentia
prazer no trabalho, mas ás vezes, ficava estressada e esbaforida.
Era uma correria, mas eu tinha a vantagem de poder ir para casa, á
pé, na hora do almoço e comer a comida que eu fazia.
Por isso, nos finais de semana,eu deixava as refeições todas feitas e
separadas em porções no congelador.
Quando chegava em casa punha esquentar no meu prato feito, no
micro-ondas,era mais saudável e muito mais econômico.
Eu tinha uma hora de almoço, contando com o tempo de ir para casa,
Minha rotina fora ir ao meio dia almoçar em casa e voltar.
Mesmo assim dava tempo,eu precisava ser rápida, mas nada que
fugisse de meu controle.
Era uma rotina de todos os dias, o mesmo caminho, ás vezes a
aglomeração proporcionava maior correria.
Outros dias, até eram mais tranquilos, e quando eu voltava para o
trabalho á tarde, deixava tudo em ordem.
Nada me esperando além de um bom banho e o jantar á noite.
Tudo fora muito bom!
Depois uma televisão, um filme, uma relaxada e uma boa noite de
sono.
Era uma vida muito regrada, onde eu jamais pudera falhar, mas
mesmo assim, sentira gratidão por isso.
Em determinado dia, a rua estava repleta de carros, meio dia e meio
da semana, quarta feira ferrada,eu caminhava a largos passos para
almoçar em casa, pois morava perto de meu emprego, o que tornava
minha vida, menos dificultosa...
Farol fechado e aquele amotinado de pessoas se trombando, entre os
que iam e vinham sentido contrário, começo de verão e o sol se fazia
escaldante, esfreguei com as costas da mão minha testa, quando
senti uma gotícula fria descendo pela face.
A vida e seu cotidiano se tornava ás vezes muito difícil, mesmo
porque, nunca me dava tempo para avaliar-me.
Contudo uma correria sem piedade se apoderava de mim,como se eu
vivesse apenas para trabalhar em não trabalhasse para viver.
Ficava ás vezes imaginando como seria o outro lado da vida, o lado
mais confortável de uma mulher, onde as coisas poderiam fluírem
com mais calma, fazendo de mim uma mulher melhor, mais
tranquila, com horários menos loucos e mais definidos.
Mas a minha vida apesar da loucura, de viver estressada e
correndo,era do jeito que eu gostava.
As vezes sentindo a vida escoar pelos vãos, sem ao menos constatar,
como seria eu, vivendo como uma mulher elegante, sem grandes
preocupações financeiras.
Com esperanças mais latentes e não apenas aquelas que eu
comumente ia pegá-las a unha para torná-las em realidade.
Considerara-me feliz, mas às vezes,eu mesma me perguntando, se eu
soubesse o que era felicidade, me via toda enrolada sem saber me
definir feliz ou não.
Enfim, era saudável ,nem feia nem bonita, e bastando e pronto.
Portanto, acredito que dentro da gente, existam outras prioridades,
das quais, não nos damos conta.
Rapidamente atravessei, quase tropeçando, em um racho da sarjeta, e
equilibrei, e saí me equilibrando, e caminhando, em direção á minha
casa.
Os ponteiros disparavam em tais horas.
Então,eu sentira um alguém se aproximando, e sem mais, nem menos
rodeios, me perguntou onde eu morava.
Olhei de soslaio, titubeei na resposta, mas ele, passo apressado, tanto
quanto insistente, de imediato me ocorreu, que ele já devia
saber,eu,meio discretamente, respondi:
Pois é, moro por aí,por aí...
E continuara andando.
Ele rira de minha resposta, mas desviara a pergunta querendo saber
meu nome.
Puxa vida!
Pensei:
Que cara insistente!
Faça uma pergunta de cada vez para não me deixar mais confusa do
que já estou.
Eu lhe respondi esboçando um sorriso apressado.
A tais altura eu quase correndo arriscara:
Mariana, respondi com ar de azedume, porém ele se manteve calmo,
e como é de praxe, disse que eu tinha um bonito nome, dizendo se
chamar Jorge.
Agradeci acelerando o passo, enquanto ele me seguia no mesmo
ritmo...
Ao chegar á porta de minha casa,eu pensei, mas que droga!
Porem-me voltei a ele e disse, que ia ter que ser rápida porque estava
em horário de almoço, nos falaríamos por aí.
Ele estendeu a mão, apertou a minha e disse: Até mais Mariana,
adorei te conhecer!
Eu meio desajeitada, tentei ser um pouco gentil.
Bati o portão e pensei.
Pois é...
Ele riu de minha resposta, mas desviara a pergunta querendo saber
meu nome.
Puxa vida!
Pensei:
Que cara insistente!
Faça uma pergunta de cada vez para não me deixar mais confusa do
que já estou.
Eu lhe respondi esboçando um sorriso apressado.
A tais altura eu quase correndo arriscara:
Essa tal formalidade é uma droga, ele mentiu porque não conhecia
nada sobre mim.
Como já gastou o verbo adorar, mediante segundos de conversa, pois
não passara de um conquistador barato,daqueles que vivem cercando
as mulheres na rua.
Entrei em casa correndo para não atrasar no almoço.
Voltando ao trabalho, sem perceber, me peguei pensando de novo no
fato, mesmo sem querer.
Enfim,eu estivera tanto tempo ausente do amor, da companhia de
alguém, que nem soubera mais,talvez,lidar com o fato.
Pensei:
Como estou enfadonha!
Aquele dia transcorrera tudo dentro da normalidade, porém dentro
de um sufoco tremendo.
Novos clientes, tão exigentes quanto chatos,e uma infinidade de
papéis atrasados para por em dia, mas em dado momento, mediante
tanta grosserias e disfarçada complacência.
Me veio, a imagem dele, em minha mente,eu,uma tola agitada, e ele
tão tranquilo ,mantendo um passo acelerado para me acompanhar...
Imaginei:
Ele deve estar desempregado, ou então faltou do trabalho.
Porque, pose de rico não tinha.
Devia estar por aí jogando charme.
Quanta besteira imaginei ,trocando o foco do pensamento.
Enfim, a tarde houvera chegado, e eu morrendo de cansada.
Só pensava em voltar para casa e poder aliviar a tensão, sentir-me
inteira ao pisar dentro de meu querido espaço...
Pois, a pior solidão para mim, até então, sempre foi estar no meio da
multidão.
Sempre faltava alguma coisa familiar, algum sorriso diferente,
alguma palavra mais informal e verdadeira.
Como isso me fazia falta, em meio aos
expedientes,superlotados,cansativos, precisara neutralizar , com a
paz de minha casa.
Esta me abraçara sempre!
No trabalho, eu precisava me desdobrar em gentilezas, e para não
sofrer, tentava dar o máximo de veridicidades embutidas ,em tudo que
me incumbiam.
Mas quando era acolhida dentro de meu recinto, as coisas mudavam de
posições e uma paz me esperava bem na entrada da porta.
Saí da loja, as luzes já estavam clareando a cidade, foscas e lívidas
enfileiradas na avenida, onde os carros resmungavam, um espaço para
chegarem depressa, não sei aonde.
Aí me pus a imaginar como o mundo é vasto, intenso e somos apenas
pequenas porções no meio de um aglomerado na cidade grande.
Apressei-me em chegar.
Depois de um banho, uma comida saborosa e simples, liguei a TV,por
não ter o que fazer antes que o sono viesse.
Porém fui interrompida pelo som do interfone tocando.
Imaginei quem seria naquela hora.
Atendi, era ele. Jorge.Nenhum espanto me causara, porém também,
nenhuma alegria, só achara aquilo tudo uma chatice.
Contudo, levantei-me e fui atender,aí ele me disse ser meu vizinho,
morando logo ali á três quadras de minha casa.
E que me observava de longa data.
Eu quase caí das pernas,como pudera nunca tê-lo visto?
Bem,eu respirei fundo e requisitei uma paz para mim.
E que além de inteligente e interessante, me achava muito bonita
também, mas que sempre faltou coragem.
Eu ficara estática de momento, mas depois me recobrara.
E ao me ver sempre sozinha imaginou, que poderíamos sermos
namorados, e que ele andava se sentindo muito só, e era só por isso.
Eu fiz uma cara de espanto e disse:
Isso são modos de pedir alguém em namoro?
Ora faça-me o favor!
Saia daqui, e não me importune mais.
Ele tentou me dizer mais alguma coisa, mas eu fui abrindo a porta e
disse:
Passe bem Jorge!
Estava cansada, desisti da televisão,
E também de qualquer livro, caí na cama e dormi feito um anjo.
Naquele final de semana, saíra com algumas amigas assistirmos um
filme, que estava em cartaz.
Fiz uma macarronada no domingo, comprei um bom vinho e me dei
ao luxo.
De vez em quando, não sei porque, ele me vinha na cabeça, já estava
me sentindo uma verdadeira idiota, encantando-me com besteiras.
Eu pensara muito nele.
Por outro lado, sentira que a vida me deixara inflexível para o
amor,eu houvera me tornado uma pedra fria depois da experiência
que tive. Porém Jorge parecera ser perigoso,se achegara de
mansinho,assim como quem quer roubar algo,no caso,meu coração.
Pois , voltei a pensar, que talvez fosse melhor esse tipo de
sinceridade em um homem, do que outra mentira qualquer, se
revelando apaixonado.
A segunda feira estava agitadíssima, e parecia que eu não havia
descansado o suficiente, ou então, alguma coisa a mais estaria
acontecendo comigo.
Bem, como era de praxe, nem dei bola para minhas conjecturas e
continuei tentando
Tranquilidade.
Dentro do possível, sentindo-me alegre, fazendo de meu dia, um dia
melhor.
Acreditando que o Jorge houvera partido para outra conquista, e
aquilo era mesmo só balela,invenção dele.
Pensara comigo:
Besteira!
Passara o mês de novembro, minhas férias chegaram, e como eu
estava meio curto de grana, resolvi alugar um lugarzinho pequeno
numa praia próxima á São Paulo.
Estivera terminando de tomar meu café da manhã e o interfone
tocou, imaginei qualquer coisa, ou melhor, não imaginei nada, mas
atendi e uma voz bem casual me dissera:
Mariana?
É o Jorge.
Meu coração me traiu nessa hora e saltitou de alegria, mas me
contive.
Fui recebê-lo, simulando um ar de surpresa, quando na verdade
estava até um pouco contente, pois nessa época do ano, a presença
de alguém nos faz falta.
Ele me fizera falta!
Mesmo assim , mantive-me, quase que indiferente, ao fato alegre
para mim,de ele estar minha casa.
Estendendo amistosamente.
Assim passaria Natal também e Ano Novo,tranquila,longe daquele
movimento todo e em paz.
Deixei minhas congratulações aos amigos e familiares.
Comecei a arrumar as coisas, ajeitar a casa e me concentrar
naquilo que eu tinha em mente.
Descansar.
O mar, e aquela beleza toda!
Mas,e Jorge?
Tais lapsos de memória focados em Jorge trazendo alguma coisa
escondida dentro de mim continuaram me perturbando.
Alegremente, Jorge então me cumprimentou olhando nos olhos.
E eu senti um certo arrepio perpassar-me o corpo, mas subitamente
decidi que seria a sensibilidade á flor da pele,que nos deixa a chegada
do Natal, a virada do Ano Novo.
Ele concluiu francamente, em meio a minha ligeira confusão.
Senti vontade de te ver, depois daquele dia, mas estava magoado, com
tua atitude.
Eu me desculpei meio sem jeito, e ele aceitou a desculpa, e um café
também.
Uma sensação indescritível pairava entre nós,tão similar quanto
verídica.
Sentamos lado a lado e começamos a conversar.
Ele era extremamente inteligente ,e me parecia bem sincero,eu havia
sofrido muito devido a um relacionamento com uma pessoa boníssima
para minha família.
Mas, que me fizera sofrer muito além de me lesar também na
separação, por isso, havia me fechado tanto.
Havia prometido a mim mesma, que jamais passaria por isso.
Ele começara me contar detalhes de sua vida, de pessoas de sua
convivência, que também eram pessoas amigas minhas .
A vida fora tomando formas.
Aos poucos,eu fora me envolvendo, a tal ponto, e quando dei por mim,
instantaneamente, éramos grande amigos e namorados também.
A partir daí, a vida parecia ter mudado para mim.
Uma paixão sempre muda a vida de uma pessoa.
Relutante ainda, pensei:
Sentia no coração uma extrema felicidade comigo mesma pela
sensação de estar apaixonada.
Sensação essa, que pensei nunca mais sentir.
Conversamos muito!
Aí me senti mais á vontade, e quando percebemos já haviam se
passado horas.
Houvera para mim, imensa transformação nesse dia,eu estava muito
feliz.
Naquela manhã cuidei de me arrumar, coloquei um esmalte mais
colorido, lavei caprichosamente os cabelos.
Não fora ele, mas sim,eu mesma, que me devera esse carinho, essa
atenção.
Pois quando alguém nos fere ou magoa, a primeira pessoa, da qual
esquecemos somos nós.
Vamos consumindo nosso tempo no trabalho ,nas arrumações
caseiras, quase que em exageros.
Porque precisamos arrumar um pretexto, para provar, que nos
somos boas companhias, e que não precisamos de mais ninguém.
As pessoas que nos ferem, precisam desocupar tal espaço de nossas
vidas, e quem as seguram, somos nós.