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VETORES no PLANO e no ESPAÇO

Norma de um vetor, produto interno, produto vetorial e produto misto.

1. NORMA DE UM VETOR

Seja o vetor v = ( x, y ). Pelo teorema de Pitágoras podemos determinar a norma (ou módulo, ou
comprimento) de um vetor:

v = x2 + y2

Ex. 1: Seja o vetor v = (4, -3), então

( 4 ) + ( -3)
2 2
v= = 16 + 9 = 5

NOTA:
- Distância entre dois pontos: A distância entre
dois pontos A ( x1, y1 ) e B ( x2 , y2 ) é o
comprimento (módulo) do vetor AB, isto é,
d ( A, B ) = AB . Como
AB = B - A = ( x2 - x1, y2 - y1 ) , temos:

d ( A, B ) = ( x2 - x1 ) + ( y 2 - y1 )
2 2

- Vetor Unitário: Vimos que a cada vetor v , v ¹ 0 , é possível associar dois vetores unitários
v v
paralelos a v : (é o versor de v ) e seu oposto - .
v v

Ex. 2: O versor de v = (3, -4) é:

v =
(3, -4) = (3, -4) = æ 3 , - 4 ö
u= = ç ÷
2
25 5 è5 5ø

O versor é, na verdade, um vetor unitário, pois:

2 2
æ 3,- 4ö = æ3ö æ 4ö 9 16 25
ç5 ç5÷ +ç- 5 ÷ = + = =1
è ø è ø è ø 25 25 25
÷5
1
É importante observar que este versor u é também versor de todos os vetores múltiplos de v que
tiverem o mesmo sentido dele.
Para exemplificar, o versor de 2v = 2 (3, -4) = (6, -8) é ainda:

2v
=
(6, -8) = æ 6 8 ö æ3 4ö
u= = ç 10 , - ÷ = ç , -
2v 2
100 è ø è ø
÷10 5
5
2. DESCOMPOSIÇÃO DE UM VETOR NO PLANO

Dados dois vetores v1 e v2, não colineares, qualquer vetor v (coplanar com v1 e v2) pode ser

decomposto segundo as direções de v1 e v2 . O problema consiste em determinar dois vetores

cujas direções sejam as de v1 e v2 e cuja soma seja v . Em outras palavras, iremos determinar dois

números reais a1 e a2 tais que:

v = a1 v1 + a 2 v2

EXEMPLOS:
a) Dados os vetores v1 e v2 não colineares e v (arbitrário), a figura mostra como é possível

formar um paralelogramo em que os lados são determinados pelos vetores a1 v1 e a 2 v2 e, portanto,

a soma deles é o vetor v , que corresponde à diagonal desse paralelogramo:

b) Na figura seguinte os vetores v1 e v2 são mantidos e consideramos outro vetor v :

2
Para esta figura, temos
que a1 > 0 e a2 < 0 .

c) Se no caso particular, o vetor v tiver a mesma direção de v1 ou de v2 , digamos de v1 , como na

figura, v não pode ser diagonal do paralelogramo e, portanto, a 2 deve ser igual a zero:

v = a1 v1 + 0 v2

Quando o vetor v estiver representado por:

v = a1 v1 + a 2 v2 (1)

Dizemos que v é combinação linear de v1 e v2 . O par de vetores v1 e v2 , não colineares, é

chamada base no plano. Aliás, qualquer conjunto v1 , v 2 { } de vetores não colineares constitui uma

base no plano. Os números a1 e a2 da representação (1) são chamados componentes ou

{
coordenadas de v em relação à base v1 , v 2 .}
É bom logo esclarecer que, embora estejamos
simbolizando a base como um conjunto, nós a
pensamos como um conjunto ordenado. O vetor
a1 v1 é chamado projeção de v sobre v1

segundo a direção de v2 . Do mesmo modo,

a 2 v2 é a projeção de v sobre v2 segundo a

direção de v1 .

3
{
Na prática, as bases mais utilizadas são as bases ortonormais. Uma base e1 , e 2 } é dita ortonormal

se os seus vetores forem ortogonais e unitários, isto é e1 ^ e2 e e1 = e2 = 1 .

Consideremos uma base ortonormal

{e , e } no plano xOy e um vetor v com


1 2

componentes 3 e 2, respectivamente, isto


é, v = 3e1 + 2 e2 .

No caso de uma base ortonormal como

esta, os vetores 3e1 e 2 e2 são

projeções ortogonais de v sobre


e1 e e2 , respectivamente.

Dentre as infinitas bases ortonormais no plano, uma delas é particularmente importante. Trata-se da
base que determina o conhecido sistema cartesiano ortogonal xOy. Esta base é formada pelos
vetores representados por segmentos orientados com origem em O e extremidade nos pontos (1, 0) e

(0, 1). Estes vetores são simbolizados com i e j e a base {i, j} é chamada canônica.
Em nosso estudo, a menos que haja referência em contrário, sempre trataremos com a base
canônica.
Dados um vetor v = x i + y j no qual x e y são as

componentes de v em relação à base {i, j} , o vetor


x i é a projeção ortogonal de v sobre i (ou sobre

o eixo dos x) e y j é a projeção ortogonal de v

sobre j (ou sobre o eixo dos y). Como a projeção


será ortogonal diremos somente projeção.

4
3. PRODUTO ESCALAR E ÂNGULO ENTRE VETORES

Fixemos uma base ortonormal {i, j, k} , e sejam dois vetores u = x i + y j+ z k


1 1 1 e v = x2 i + y2 j+ z2 k

, chama-se produto escalar (ou produto interno), e se representa por u × v ou u, v , ao número

real:

u × v = x1 x2 + y1 y2 + z1 z2

O produto escalar de u por v se lê “ u escalar v ”.

Ex. 3:
a) Dados os vetores u = 3 i - 5 j+ 8 k e v = 4 i - 2 j- k , tem-se:

u × v = 3´ 4 + ( -5 ) ´ ( -2 ) + 8´ ( -1 ) = 12 +10 - 8 = 14

b) Sejam os vetores u = 3 i + 2 j+1 k e v = - i - 4 j- k . Calcular:


( )(
b1) u + v × 2u - v ) b2) u ×u

(u + v) = (2, -2, 0) u × u = 3(3) + 2 ( 2 ) +1(1) =


(2u - v) = (6, 4, 2) - (-1, -4, -1) = (7,8, 3) = 32 + 22 +12 = 14

(u + v ) ×( 2u - v) = 2 (7) - 2 (8) + 0 (3) =


= 14 -16 + 0 = -2

c) Dados os vetores u = (4,a , -1) e v = (a , 2, 3) e os pontos A(4,-1,2) e B(3,2,-1), determinar o

( )
valor de a tal que u × v + BA = 5 .

5
BA = A - B = (4 - 3, -1- 2, 2 - (-1)) = (1, -3, 3)
substituindo e resolvendo a equação dada, temos:
(4,a ,-1)×((a ,2,3) + (1,-3,3)) = 5
(4,a ,-1)×(a +1,-1,6) = 5
4 (a +1) + a (-1) -1(6) = 5
4 a + 4 -a - 6 = 5
7
3a = 5 - 4 + 6 = 7 Þ a =
3

Propriedades do Produto Escalar


Para quaisquer que sejam os vetores u = ( x1 , y1 , z1 ) , v = ( x 2 , y 2 , z 2 ) , w = ( x 3 , y 3 , z 3 ) e mÎR , é
fácil verificar que:

2 2 2
Ex. 4: Provar que u + v = u + 2u× v + v . Para a dedução empregar a propriedade (V) do item
anterior.

=
=
6
Ângulo de Dois Vetores

⃗→ = (𝑥1 , 𝑦1 , 𝑧1 ) e
Consideremos os vetores não nulos 𝑢
𝑣→ = (𝑥2 , 𝑦2 , 𝑧2 ). Tomemos um ponto 0 ÎR 2 , e
sejam 𝐵, 𝐶 ∈ 𝑹2 tais que 𝑢 ⃗⃗⃗⃗𝐶
⃗→ = 𝑂 ⃗→ e 𝑣→ = 𝑂
⃗⃗⃗⃗𝐵
⃗→. Seja q a
medida em radianos (ou graus) do ângulo COB
satisfazendo 0 £ q £ p (0 £ q £ 180o ) .

O número q se chama medida em radianos (graus)


do ângulo entre u e v .
A continuação mostra-se que o produto escalar de dois vetores está relacionado como o ângulo por

eles formado. Se u ¹ 0, v ¹ 0 e se q é o ângulo dos vetores u e v , então:

u × v = u v cosq (2)

Aplicando a lei dos cossenos ao triângulo ABC, temos:

|𝑢
⃗→ − 𝑣→|2 = |𝑢
⃗→|2 + |𝑣→|2 − 2|𝑢
⃗→||𝑣→|𝑐𝑜𝑠𝜃 (3)

mas,
2 2 2
BC = u - v = (x1 - x 2 , y1 - y 2 , z1 - z2 )
= (x - x ) + ( y1 - y 2 ) + ( z 1 - z 2 )
2 2 2

1 2

= x21 + y12 + z12 + x22 + y22 + z22 -


- 2 ( x 1 x 2 + y1y2 + z1z2 )

Comparando com a equação (3) e levando em conta que x2 + y2 + z2 e x2 + y2 + z2 ,

se pode concluir que:

u v cosq = x1x2 + y1y2 + z1z2 = u × v


u × v = u v cosq

expressão esta que nos permite calcular cos q. Finalmente, podemos concluir que o produto escalar
de dois vetores u e v é o produto dos seus módulos pelo cosseno do ângulo por eles formado.

7
NOTA:
a) Se u × v > 0 , cosq deve ser um número
positivo, isto é, cosq > 0 , o que implica
0o £ q < 90o . Nesse caso, q é ângulo agudo ou
nulo.

b) Se u × v < 0 , cosq deve ser um número


negativo, isto é, cosq < 0 , o que implica
90o < q £ 180o . Nesse caso, q é ângulo obtuso
ou raso.

c) Se u × v = 0 , cosq deve ser igual a zero, isto


é, cosq = 0 , o que implica q = 90o . Nesse caso,
q é ângulo agudo reto.

O ângulo entre dois vetores não nulos fica:

u×v (4)
cosq =
u v

Proposição 1
Dois vetores u e v são ortogonais se, e somente se, u × v = 0 .

Demonstração
Se u ou v é nulo, é imediato. Senão, decorre da equação (4), que nos diz que:

p
u × v = 0 Û cosq = 0 Û q= Û u^v
2
A equação (4) e a Proposição 1 nos permite caracterizar as bases ortonormais do seguinte modo:
( )
Uma condição necessária e suficiente para que uma tripla e1 , e 2 , e3 de vetores de R 3 seja uma

base ortonormal é que:

e1 ×e1 = e2 ×e 2 = e3 ×e 3 = 1 ( 5)

e1 × e2 = e1 ×e 3 = e2 ×e 3 = 0 (6)

8
se i = j
Resumindo, ei ×e j = . De fato, a equação (5) garante que os vetores e1 , e2 e e3 são
ïî0, se i ¹ j
unitários, e a equação (6) garante que eles são dois a dois ortogonais.

Ex. 5: Calcular o ângulo entre os vetores:


a) u = (1,1, 4) e v = (-1, 2, 2)
u× v (1,1, 4 ) × (-1, 2, 2)
cosq = = =
1 +1 + 4 ( -1) + 2 + 2
2
u v 2 2 2 2 2

1(-1) +1 ( 2 ) + 4 ( 2 ) 9 2
= = = =
18 9 3 3 2

Logo, temos:
æ 2ö
q = arc cos = 45o
ç2 ÷
è ø

b) u = (-2, 3, -2) e v = (-1, 2, 4)

u×v (-2, 3, -2)× (-1, 2, 4)


cosq = = =
u v ( )
-2
2
+ 32
+ ( ) ( )
-2
2
-1
2
+ 2 2
+ 4 2

-2(-1) + 3 ( 2 ) - 2 ( 4 ) 2 + 6 - 8
= = =0
17 21 17 21

c) Sabendo que o vetor v = (2,1, -1) forma ângulo de 60º com o vetor AB determinar pelos pontos
A(3, 1, -2) e B(4, 0, m), calcular o valor de m.

De acordo com a igualdade (4), tem-se:

cosq = v × AB
v AB

1
Como cos 60o = e AB = B - A = (1, -1, m + 2) , temos:
2

9
1
=
(2,1, -1)× (1, -1, m + 2) =
2 -1- m - 2
2 2 +1 + -1 1 + -1 + m + 2 6
2
æ1ö æ -1- m ö2
ç ÷ = ç ÷
è 2 ø è 6m + 24m + 36 ø
2

1 1+ 2m + m2
=
4 6m2 + 24m + 36
6m2 + 24m + 36 = 4 + 8m + 4m2
2m2 +16m + 32 = 0
m2 + 8m +16 = 0 ® m = -4 (raiz dupla)

Ângulos Diretores e Cossenos Diretores de um Vetor


Seja o vetor v = x i + y j+ z k não nulo. Os Ângulos Diretores de v são os ângulos a, b e g que

v forma como os vetores i, j e k , respectivamente.

Cossenos diretores de v são os cossenos de seus ângulos diretores, isto é, cosa, cosb e cosg .
Para o cálculo dos cossenos diretores utilizaremos a equação (4):

cosa =
v× i
=
(x, y, z ) × (1, 0, 0) = x
v i v1 v

cos b =
v× j
=
(x, y, z ) × (0,1, 0) = y
(7)
v j v1 v

cos g =
v× k
=
(x, y, z ) × (0, 0,1) = z
v k v1 v

10
NOTA: Observa-se que os cossenos diretores de v são precisamente as componentes do versor de
v:
v (x, y, z) æ x y z ö
= = ç , , ÷ = (cosa, cos b , cos g )
v v çv v v÷
è ø
Como o versor é um vetor unitário, decorre imediatamente:

cos2 a + cos2 b + cos2 g =1 (8 )

Ex. 6: Os ângulos diretores de um vetor são a, 45º e 60º. Determinar a.


Substituindo na equação (8), b por 45º e g por 60º, obtemos:

cos2 a + cos2 45o + cos2 60o = 1


2 2
æ ö æ1ö
cos a + ç 2 ÷ + ç ÷ = 1
2

è 2 ø è2ø
2
2 æ ö
cos a = 1- çæ 1 ö÷ - ç 2 ÷ = 1- 1 - 2 = 4 - 2 -1 = 1
2

è2ø è 2 ø 4 4 4 4
1 1
cosa = ± =± Logo, a = 60o ou a = 120o
4 2

Ex. 7: Calcular os ângulos diretores da reta l que passa pelos pontos P1(2,1,-2) e P2(-2,3,3) e tem
direção de P2 a P1.

Projeção de um Vetor sobre outro


Sejam os vetores u e v , com u ¹ 0 e v ¹ 0 , e q o ângulo por eles formado. Pretendemos calcular
o vetor w que representa a projeção de u sobre v . A Figura abaixo mostra as duas situações
possíveis podendo ser q um ângulo agudo ou obtuso.

11
Do triângulo retângulo, temos:

u× v u× v
w = u cosq = u
u v v

Como os vetores w e v têm a mesma direção, segue-se que: w = k v, k ÎR

Então: w = k v

u×v 1 u×v
ou, k = w = \ k= 2
v v v

æ ö
ç u×v÷
logo, w = 2
v
ç v
è ø

Portanto, o vetor projeção de u sobre é:

⃗→ ∙ ⃗𝑣⃗→
𝑢
𝑝𝑟𝑜𝑗→ ⃗𝑢→ = ( ) ⃗𝑣→ (9)
𝑣 ⃗→ ∙ ⃗𝑣⃗→
𝑣

Ex. 8: Determinar o vetor projeção de u = (2, 3, 4) sobre v =(1, -1, 0) .


Utilizando a equação (9), obtemos:

æ u×v ö æ (2, 3, 4)×(1, -1, 0) ö


proj u =
ç ÷
v= (1, -1, 0) =
ç ÷
è (1, -1, 0)×(1,2-1, 0) ø
v
è v× vø
æç 2 - 3 + 0 ö÷ æç - 3 ö÷
= 1+1+ 0 (1, -1, 0) = 2 (1, -1, 0) =
è1 ø è ø
æ 1 1 ö
= - 2 (1, -1, 0) = ç - 2 , 2 , 0 ÷
è ø

12
NOTA:
Podemos fazer uma interpretação geométrica do módulo do produto escalar de seguinte maneira: se
(
na equação (9) o vetor v é unitário v = 1 , tem-se )
( )
2
proj v u = u × v v pois v×v = v =1
e, portanto,

( )
proj v u = u × v v = u × v v ou projv u = u × v

Logo, pode-se concluir: o comprimento do vetor projeção de u sobre v , sendo v unitário, é igual
ao módulo do produto escalar de u por v .

4. PRODUTO VETORIAL

Dados os vetores u = x1i + y1 j+ z1 k e v = x2 i + y2 j+ z2 k , tomados nesta ordem, chama-se produto

vetorial ou produto externo dos vetores u e v , e se representa por u ´ v ou u Ù v , ao vetor: ( )

u ´ v = ( y1 z 2 - z1 y 2 ) i - ( x1 z 2 - z1 x 2 ) j+ ( x1 y 2 - y1 x 2 ) k ( 10 )

O produto vetorial de u pelo vetor v se lê “ u vetorial v ”. O terceiro vetor resultante do produto de


dois vetores u e v apresenta as seguintes características:

1) direção: o vetor u´v é perpendicular aos


vetores u e v .
2) sentido: os vetores u, v e u´v , nesta ordem,
formam um triedro direto.
3) módulo: u ´ v = u v senq onde q é a
medida do ângulo entre u e v .

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Cada componente deste vetor pode ainda ser expresso na forma de um determinante de 2ª ordem:

éy1 z1 ù éx1 z1 ù éx1 y1 ù


u´v = ê úi - ê ú j+ ê úk
ëê y 2 z 2 úû êë x 2 z 2 úû êë x 2 y 2 úû

Uma maneira muito fácil de memorizar esta fórmula é utilizar a notação:

éi j kù
ê ú
u ´ v = êx1 y1 z1 ú ( 11 )
ê ú
êx y z ú
ë 2 2 2û

Pois o 2º membro de (11) é o desenvolvimento deste determinante simbólico segundo os elementos


da 1ª linha, observada a alternância dos sinais que precedem os termos desse 2º membro. Na
verdade, o símbolo à direita da igualdade (11) não é um determinante, pois a primeira linha contém
vetores ao invés de escalares. No entanto, usaremos esta notação pela facilidade de memorização
que ela propicia no cálculo do produto vetorial.
Intuitivamente, o produto vetorial pode ser descrito pelo método de Sarrus, onde:

Para os primeiros três vetores unitários,


multiplique os elementos na diagonal da
direita (ex. a primeira diagonal conteria i ,
y1, e z2). Para os três últimos vetores
unitários, multiplique os elementos na
diagonal da esquerda e então os multiplique
por -1 (ex. a última diagonal conteria k , y1,
e x2). O produto vetorial seria definido pela
soma destes produtos:

u ´ v = ( y1 z 2 ) i + ( z1 x 2 ) j + ( x1 y 2 ) k - ( z1 y 2 ) i - ( x1 z 2 ) j - ( y1 x 2 ) k

14
Ex. 9: Calcular o produto vetorial de u = (1, 2, 3) sobre v = ( 4, 5, 6) .
Utilizando a equação (11), temos:

éi j kù
ê ú é2 3ù é 1 3ù é1 2ù
u ´ v = ê1 2 3ú = ê úi - ê ú j+ ê úk =
ê ú êë 5 6úû êë 4 6úû êë 4 5úû
ê4 5 6úû
ë
= ( 2 (6 ) - 5 ( 3 ) ) i - (1(6) - 4 (3)) j+ (1(5) - 4 ( 2 ) ) k
= (12 -15)i - (6 -12) j+ (5 - 8 ) k
= -3i + 6 j- 3k

Que acontece se trocarmos a ordem dos vetores ??

éi j kù
ê ú é5 6ù é4 6ù é4 5ù
v´ u = ê4 5 6ú = ê úi - ê ú j+ ê úk =
ê ú êë 2 3úû êë1 3úû êë1 2úû
ê1 2 3úû
ë
= ( 5 ( 3 ) - 2 ( 6 ) ) i - (4 (3) -1 ( 6 ) ) j+ (4 ( 2 ) -1 ( 5 ) ) k
= (15 -12) i - (12 - 6) j+ (8 - 5) k
= 3i - 6 j+ 3k

Logo os vetores u´v e v´u são opostos,


isto é, u´v = -v´u , o que significa que o
produto vetorial não é comutativo.

NOTA: os versores i, j e k nesta ordem representam um triedro positivo. Na prática, utilize a


circunferência para efetuar o produto vetorial de dois desses versores, cujo resultado é o versor
faltante, de sinal positivo se é adotado o sentido anti-horário. Assim, neste dispositivo temos
imediatamente i´ j = k (sentido anti-horário) e consequentemente, j´i = -k (sentido horário).

15
Propriedades do Produto Vetorial

1) u´u = 0 qualquer que seja u ;


2) u´v = -v´u , isto é, os vetores u´v e v´u são opostos;
( ) ( ) ( ) propriedade distributiva;
3) u ´ v + w = u ´ v + u ´ w
4) u ´ ( v´ w ) ¹ (u ´ v ) ´ w o produto vetorial não é associativo;
5) u ´ ( k v) = (k u ) ´ v = k (u ´ v) propriedade associativa escalar;
6) u´ v = 0 se, e somente se, um dois vetores é nulo ou se u e v são colineares;
( ) ( )
7) u´v é ortogonal simultaneamente aos vetores u e v , ou seja, u × u ´ v = v × u ´ v = 0 ;
8) Os vetores u,v e u ´ v têm as direções das arestas de um triedro Oxyz direto (se um saca-
rolhas, girando de um ângulo menor do que p, de Ox para Oy, avançar no sentido positivo de
Oz, o triedro é positivo);
( )( ) ( )( ) ( )
2
9) Identidade de Lagrange, u ´ v = u ou u ´ v × u ´ v = u × u v × v - u × v
;
10) u ´ v = u v senq .

Interpretação Geométrica do Módulo do Produto Vetorial de dois Vetores

Geometricamente, o módulo do produto vetorial dos vetores u e v mede a área do paralelogramo


ABCD determinado pelos vetores u = AB e v = AC .

De fato: Área ABCD = (base) (altura) = u h

h = v senq

Área ABCD = u v senq

mas: u ´ v = u v senq ,

logo,

u ´ v = Área ABCD ( 12 )

O resultado dado na equação (12) poderá ser expresso por: a área do paralelogramo determinado
pelos vetores u e v é numericamente igual ao comprimento do vetor u´v .

Ex. 10: Vamos comprovar este resultado por meio de um exemplo particular tomando os vetores
u = (2, 0, 0) e v =(0, 3, 0) . Temos então:

16
éi j kù
ê ú
u ´ v = ê2 0 0ú
ê ú
ê0 3 0ú
ë û
= 0i + 0 j+ 6k = 6k
e u´v = 6

A figura mostra claramente que o


paralelogramos determinado por u e v tem 6
unidades de área e o vetor u´v tem 6 unidades
de comprimento. Quer dizer, numericamente
estas medidas são iguais.

5. PRODUTO MISTO

Dados os vetores u = x1i + y1 j+ z1 k , v = x2 i + y2 j+ z2 k e w = x3 i + y3 j+ z3 k , tomados nesta

ordem, chama-se produto misto dos vetores u, v e w ao número real u × v´ w ( ) ou (u, v, w ) .


Indica-se o produto misto por ( u , v , w ). Tendo visto que:

éi j kù
ê ú éy2 z2 ù éx2 z2 ù éx2 y2 ù
v´ w = êêx y2 z 2 úú = ê úi - ê ú j+ ê úk
2 êy z ú êx z ú êx y ú
êx y z ú ë 3 3û ë 3 3û ë 3 3û

ë 3 3 3û

E levando em consideração a definição de produto escalar de dois vetores, o valor de u × v´ w ( ) é


dado por:

éx1 y1
ê ú éy2 éx2 éx2
y2
ê ú êëy3 z úû êë x z úû êë x y3úû
êë x y3 ú
z3 û

Ex. 11:Calcular o produto misto dos vetores u = 2 i + 3 j+ 5 k , v = -i + 3 j+ 3 k e w = 4 i - 3 j+ 2 k .

é2 3 5ù
ê ú
( ê
)
u × v´ w = ê-1 3 3ú = 27
ú
êë 4 -3 2úû

17
Propriedades do Produto Misto

1) O produto misto u × v´ w( ) muda de sinal ao trocarmos a posição de dois vetores. Em

( ) ( )
relação ao exemplo anterior onde u × v´ w = 27 , teríamos: v × u ´ w = -27 (permuta de
u e v ), ( )
w × v´ u = -27 (permuta de

u e w) e u × ( w ´ v) = -27 (permuta de
v e w ). Se em qualquer um destes três
últimos produtos efetuarmos nova
permutação de dois vetores, o produto misto
resultante volta a ser 27.
Então, se em relação ao produto interno misto u × v´ w( ) ocorrer:
a) uma permutação (trocam as posições de dois vetores consecutivos), haverá troca de sinal;
b) duas permutações, não altera o sinal.
Resulta desta propriedade que os sinais, e x podem ser permutados, isto é,
( ) ( )
u × v´ w = u ´ v × w

2) (u + x, v, w) = (u, v, w ) + (x, v, w ) ,
(u, v + x, w) = (u, v, w ) + (u, x, w ) ;
(u, v, w + x) = (u, v, w ) + (u, v, x) .
3) (k u, v, w ) = (u, k v, w) = (u, v, k w) = k (u, v, w ) ;
4) (u, v, w ) = 0 se, e somente se, os três vetores forem coplanares.
Admitindo-se que (u, v, w ) = 0 , ou seja, u × ( v´ w ) = 0 , conclui-se que ( v´ w ) ^ u . Por
outro lado, no estudo do produto vetorial vimos que o vetor v´ w é também ortogonal a
v e w . Assim sendo, como v´ w é
ortogonal aos três vetores u, v e w , estes
são coplanares. Reciprocamente,
admitindo-se que u, v e w sejam
coplanares, o vetor v´ w , por ser
ortogonal a v e w , é também ortogonal a
u.
Ora, se u e v´w são ortogonais, o produto escalar deles é igual a zero, isto é,
( ) ( )
u × v´ w = u, v, w = 0 .

NOTA: a equivalência da propriedade 4 continua válida em situações particulares, tais como:


a) se pelo menos um dos vetores é nula (o determinante é zero por ter uma fila de zeros e os três
vetores são coplanares);
b) se dois deles forem paralelos (o determinante é zero por ter duas filas de elementos proporcionais
ou iguais e os três vetores são coplanares).

18
Ex. 12: Verificar se são coplanares os vetores u = 2 i - j+ k , v =i - k e w = 2 i - j+ 4 k .

( ) (
Para que u, v e w sejam coplanares u × v´ w = u, v, w = 0 . )
Como
é2 -1 1ù
ê ú
0 -1ú = 3 ¹ 0
ê ú
êë 2 -1 4 úû
os vetores não são coplanares.

Ex. 13: Qual deve ser o valor de m para que os vetores u = (2, m, 0) , v =(1, -1, 2) e w = (-1, 3, -1)
sejam coplanares ?
( ) (
Para que u, v e w sejam coplanares u × v´ w = u, v, w = 0 . )
Como
é2 m 0ù
ú é-1 2ù é1 2ù é1 -1ù
-1 2 ú = 2ê ú-mê ú +0ê ú
ê ú êë 3 -1úû êë -1 -1úû êë -1 3 úû
êë -1 3 -1úû

( )
u × v´ w = -10 - m = 0

portanto, m = -10.

Interpretação Geométrica do Módulo do Produto Misto

Geometricamente, o módulo do produto misto u × v´ w ( ) é igual, em módulo, ao volume do


paralelepípedo de arestas determinadas pelos vetores u = AD, v = AB e w = AC .
Sabe-se que o volume Vol de um paralelepípedo é:

Vol = (área da base) (altura) = A b h

mas,
Ab = v´ w

E sendo q o ângulo entre os vetores u e v´w ,


lembrando que o vetor v´ w é perpendicular à
base, a altura do paralelepípedo é dada por:

h = u cosq

19
é necessário considerar o valor absoluto cosq , pois q pode ser um ângulo obtuso. Logo, o volume
do paralelepípedo é:

Vol = v´ w u cosq ou Vol = u v´ w cosq ( 13 )

Fazendo, v´w = a , vem:


Vol = u a cosq ( 14 )
mas,

e, em conseqüência,
u ×a = u a cosq ( 15 )

Comparando equação (14) com (15), vem:

Vol =
Logo,
Vol =

Volume do Tetraedro

Todo paralelepípedo é equivalente a dois prismas triangulares iguais. Como todo prisma triangular
equivale a três pirâmides (que não caso são
tetraedros) de base e altura equivalente à base
do prisma, o volume de cada uma destas
pirâmides é 16 do volume do paralelepípedo.
Sendo A, B, C e D quatro pontos do espaço, não
situados num mesmo plano, e três a três não
colineares, as arestas do paralelepípedo são
determinadas pelos vetores AB, AC e AD e,
portanto, o volume do tetraedro ABCD é:

Vol_Tetra =
1
6
Vol =
1
6
(AB, AC, AD )

NOTA: na Mecânica
Computacional é fundamental
conhecer o volume dos tetraedros
quando se emprega o Método dos
Elementos Finitos e Volumes
Finitos.

20
Ex. 14: Dados os vetores u = ( x, 5, 0) , v =(3, -2,1) e w = (1,1, -1) , calcular o valor de x para que o
volume do paralelepípedo determinado por u, v e w seja 24 unidades de volume.
O volume do paralelepípedo é dado por: Vol = u, v, w ( ) e, no caso presente, deve-se ter:

(u, v, w ) = 24
mas,
éx 5 0ù
ú é-2 1ù é3 1ù é3 -2ù
-2 1 ú = xê ú -5ê ú+0ê ú
ê ú êë 1 -1ûú êë1 -1ûú êë1 1 úû
êë 1 1 -1úû

( )
u × v´ w = x + 20

Logo, x + 20 = 24
que, pela definição de módulo, implica duas hipóteses:

x + 20 = 24 ou x + 20 = -24

Portanto,
x=4 ou x = -44

Duplo Produto Vetorial

Dados os vetores u = x1i + y1 j+ z1 k , v = x2 i + y2 j+ z2 k e w = x3 i + y3 j+ z3 k , chama-se duplo


produto vetorial dos vetores u, v e w ao vetor u ´ v´ w( ) .

(
Tendo em vista que o produto vetorial não é associativo, em geral: u ´ v´ w ¹ u ´ v ´ w ) ( )
O duplo produto vetorial pode ser decomposto na diferença de dois vetores com coeficiente
escalares:
( ) ( ) ( )
u ´ v´ w = u × w v - u × v w

O duplo produto vetorial se pode escrever na forma de determinante:

év w ù
ú
êë u × v ú
u × wû

21
6. APLICAÇÕES DO CÁLCULO VETORIAL

O produto escalar é uma importante ferramenta matemática para a Física, uma vez que inúmeras
grandezas físicas são definidas com seu emprego, como por exemplo, o trabalho.
O trabalho realizado por uma força constante F
ao longo de um determinado deslocamento d é
definido como o produto escalar desta força pelo
deslocamento efetuado pelo corpo no qual a força
está aplicada.
Pode-se observar que a componente da força F
que realiza o trabalho é Fx paralela ao
deslocamento AB = d , conforme mostra a figura.
Então,
Fx = F cosq

onde q é o ângulo entre a força e o deslocamento.


A grandeza física trabalho, notada por W, é uma grandeza escalar e tem como unidade no Sistema
Internacional o Joule, notado por J.
A expressão para o cálculo de trabalho W é

W = F×d ou W = F d cosq

e J = N×m (1 Newton vezes um metro)

Ex. 15: Calcular o trabalho realizado pelas forças constantes, F, Fa , FN e P e pela força resultante,
para deslocar o bloco de A até B, sabendo que F = 10 N , Fa = 8 N , P = 3 N , FN = 3 N , d = AB,
e d = 10 m .

O trabalho é dado por:

W = F d cosq

Para cada uma das forças temos:

1- Como q = 0o (ângulo entre F e d ) temos:

WF = F d cosq = (10N)(10m)cos 0o = (10N)(10m)(1) = 100 J

2- Como q = 180o (ângulo entre Fa e d ) temos:

WF = Fa d cos q = ( 8N )(10m ) cos180o = (8N )(10m )( -1) = -80 J


a

3- Como q = -90o (ângulo entre P e d ) temos:

22
WP = FP d cos q = ( 3N )(10m ) cos ( -90o ) = ( 3N )(10m )( 0 ) = 0 J

4- Como q = 90o (ângulo entre FN e d ) temos:

WF = FN d cosq = (3N)(10m)cos 90o = ( 3N )( 10m )( 0 ) = 0 J


N

Neste exemplo, o trabalho resultante WR das quatro forças pode ser calculado de duas maneiras:
a) pela soma algébrica dos trabalhos realizados pelas forças:

WR = WF + WF + WP + WF
a N

WR = 100 J - 80 J + 0 J + 0 J = 20 J

b) pelo trabalho realizado pela força resultante FR = F+ Fa + P + FN :


como FR = 2 N . Logo:
WR = FR d cosq = (2N)(10m)cos 0o = 20 J

Ex. 16: Calcular o trabalho realizado pelas forças F para deslocar o bloco de A até B, sabendo que
F = 10 N , q @ 36,9o e d = AB = 20 m .

A força F é descomposta em F = 8 i + 6 j , onde


6 = F senq , 8 = F cosq e d = 20 i + 0 j . O
trabalho realizado pela força F pode ser
calculado por:

W = F d cosq W = F×d
ou
W = (10 N )( 20 m)cos 36, 9o ( )( )
W = 8 i + 6 j × 20 i + 0 j
W = 160 J W = 160 J

Outra importante ferramenta utilizada na Física é o produto vetorial. Dentre algumas de suas
aplicações pode-se citar o torque.
O torque é uma grandeza vetorial, representada por t, e está relacionada com a possibilidade de um
corpo sofrer uma torção ou alterar seu movimento de rotação. A equação para o cálculo do torque é:

t = r´F

onde é a distância do ponto de aplicação da força F ao eixo de rotação, ao qual o corpo está
vinculado. Lembrando o cálculo do módulo do produto vetorial tem-se:
23
t = r F senq

onde q é o ângulo entre r e F .

Ex. 17: Calcular o torque sobre a barra AB , onde AB = r = 2 j (em metros), F = 10i (em Newton)
e o eixo de rotação é o eixo z.

O vetor torque, para o caso desta figura, é dado


por:

( ) ( )
t = 0 i + 2 j+ 0 k m´ 10 i + 0 j+ 0 k N

t = (0 i + 0 j- 20 k ) mN

t = - ( 20 k ) mN

A intensidade (módulo) do torque pode ser calculado por:

t = r F senq = (2m)(10N)sen90

t = 20 Nm

24

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