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Brasília - DF
2013
SILMARA DE ALMEIDA GONÇALVES
BRASÍLIA
2013
G635a Gonçalves, Silmara de Almeida.
Análise das bulas de medicamentos e percepção da sua importância
pelos idosos. / Silmara de Almeida Gonçalves – 2013.
119 f.; il.: 30 cm
___________________________________________
Prof. Dra. Gislane Ferreira de Melo
Orientadora
Pós-graduação Stricto Sensu em Gerontologia – UCB
____________________________________________
Prof. Dra. Maria Liz Cunha de Oliveira
Pós-graduação Stricto Sensu em Gerontologia – UCB
____________________________________________
Prof. Dra. Margô Gomes de Oliveira Karnikowski
Pós-graduação da Faculdade de Ceilândia - UnB
Dedico este trabalho aos meus filhos Alan
Patrick e Taciane, companheiros
inseparáveis nesta jornada.
AGRADECIMENTOS
Elderly are major consumers of drugs and are at increased risk of problems.
Medicines must be accompanied by information to guide their appropriate use. One
of the instruments accompanying the product is the package insert. This study
investigated the perception of the elderly on the importance of package inserts and if
information contained in this document meets this group. It is a documentary,
descriptive and transversal study. In February 2013, interviewed 239 elderly patients
at a community center in the Federal District, Brazil, through a questionnaire with
open and closed questions and the package inserts were collected. 114 package
inserts were analyzed using forms of data collection. The results were: 96.23% of
elderly consumed medicines on average 3.82 ± 2.56; practice of polypharmacy was
33.47% of cases, 46.44% of elderly reported that they always read the package
insert; the habit of reading increased with education, most elderly considered
package inserts important for their self-care. As for the inserts analyzed, only 17.54%
were in accordance with the rule, RDC 47/2009 (BRAZIL, 2010); specific information
for elderly were present in 33.33 % of the patient inserts; specific information about
elderly were present in 94 06 % of health professionals package inserts, but this
information was 57.09 % according to the literature and only two package inserts had
recommendations considered by the Beers criteria (AGS, 2012). It was concluded
that the package inserts analyzed were not reliable source of information on elderly
pharmacotherapy. The elderly are different from young adults and should be
highlighted in the product information. Suggests the creation of leaflets aimed at the
needs of the elderly.
1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 13
2 OBJETIVOS.................................................................................. 15
3 REVISÃO DA LITERATURA........................................................ 17
4 MATERIAL E MÉTODOS............................................................. 37
4.4 AMOSTRA..................................................................................... 38
4.5 INSTRUMENTOS.......................................................................... 38
4.6 PROCEDIMENTOS....................................................................... 39
5 RESULTADOS.............................................................................. 42
6.3.2.2 Antidepressivos............................................................................. 73
6.3.2.3 Benzodiazepínicos........................................................................ 81
6.3.2.6 Anti-histamínicos........................................................................... 89
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................... 95
8 REFERÊNCIAS............................................................................. 98
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVOS
1
Optou-se por definir o verbete “percepção” como o ato, efeito ou faculdade de compreender/
entender a importância das bulas enquanto fonte de informação (MICHAELIS, 2012).
17
3 REVISÃO DE LITERATURA
são gastos US$ 1,33 para tratar adversidades relacionadas à toxicidade (SECOLI,
2010).
Juurlink et al. (2003) salientam que as interações medicamentosas
correspondem a um importante tipo de reação adversa em idosos. Em um estudo de
base populacional, realizado na cidade de Ontario, Canadá, com duração de sete
anos, os pesquisadores identificaram diversas internações hospitalares evitáveis,
relacionadas diretamente à toxicidade medicamentosa em idosos. Os resultados
refletiram somente uma pequena fração do problema relativo às interações
medicamentosas em pacientes idosos, um grupo que é particularmente suscetível
em virtude de doença, polifarmácia, comorbidades, e tratamento por vários médicos.
Hamra, Ribeiro e Miguel (2007) verificaram se o uso de medicamentos
poderia ser considerado como fator de risco para fratura por queda no idoso. Para
isso fez-se um estudo no ano de 2004 com 205 idosos internados com fratura por
queda e comparou-se com grupo-controle constituído por 205 pacientes do mesmo
grupo etário sem fratura. Verificou-se que o uso de medicamentos pode ser
considerado como fator de risco para fratura por queda.
Rozenfeld, Fonseca e Acúrcio (2008) realizaram um estudo transversal em
800 idosos aposentados e pensionistas do Instituto Brasileiro de Segurança Social
com o objetivo de descrever o uso de medicamentos com ênfase no uso
inadequado; verificaram que 10% das substâncias ativas utilizadas pelos
respondentes eram inadequadas a essa faixa etária.
Farfel et al. (2010) realizaram um estudo cujo objetivo foi investigar a taxa de
visitas aos serviços de emergência resultantes de eventos adversos a fármacos
relacionados ao uso de medicamentos inapropriados em idoso, por meio de revisão
sistemática dos prontuários médicos. O estudo demonstrou que mais de um terço
das visitas à emergência estavam relacionadas a eventos adversos a
medicamentos. As ocorrências foram causadas por fármacos listados nos critérios
de Beers (FICK, 2003), ou seja, classificados como potencialmente inapropriados
para essa faixa etária. Sendo assim, os eventos adversos a fármacos em idosos são
causa frequente de visitas à emergência e podem levar a complicações graves e
hospitalização.
Em geral, um fármaco é considerado apropriado quando se apresenta
evidências que apoiam a sua utilização numa determinada condição, ser bem
22
tolerado para a maioria dos pacientes e possuir baixa relação custo/ efetividade.
Além disso, a prescrição adequada no idoso deve levar em conta a expectativa de
vida, evitar terapias preventivas em pacientes com prognóstico curto de sobrevida e
favorecer o uso de fármacos com baixa relação risco / benefício (FUENTES;
WEBAR, 2013).
Segundo Fuentes e Webar (2013), uma prescrição inapropriada para idosos é
considerada:
− Quando o risco de efeitos adversos for superior ao benefício clínico,
especialmente quando existe uma evidência da existência de alternativas
terapêuticas mais seguras e eficazes;
− Quando a exposição ao fármaco for maior devido a doses altas ou
tratamentos mais longos do que o indicado;
− Quando ocorrer uso de fármacos com alto risco de interações
medicamentosas ou interações fármaco-doença;
− Quando o fármaco estiver duplicado ou for da mesma classe
farmacológica de um fármaco já utilizado pelo paciente;
− Quando se utiliza fármaco potencialmente inadequado em vez de outro
clinicamente indicado.
É importante notar que a prescrição inadequada é uma importante fonte de
morbidade e evitável. Para isso, foram criadas listas que relacionam medicamentos
inapropriados para idosos, como o critério de Beers. O critério de Beers (THE
AMERICAN GERIATRIC SOCIETY, 2012) consiste em uma relação atualizada de
fármacos considerados potencialmente inapropriados para idosos. Os fármacos
incluídos na relação foram submetidos a uma revisão abrangente e sistemática
sobre problemas relacionados a medicamentos e eventos adversos em idosos.
Atualmente, este critério é considerado uma medida da qualidade da prescrição
médica em estudos de pesquisa e são utilizados nos serviços Medicare e Medicaid,
nos Estados Unidos, como uma medida da qualidade da assistência médica e da
segurança para idosos. A versão mais recente foi publicada em 2012, incluindo 53
fármacos, divididos em três categorias: fármacos potencialmente inapropriados e
que devem ser evitados em idosos; classes de fármacos a serem evitados em
idosos com diagnóstico das doenças e síndromes listadas, e, finalmente, os
fármacos que devem ser utilizados com precaução em idosos.
23
açúcar dos produtos (77%). Duas das quatro bulas de medicamentos contendo
aspartame não mencionavam as precauções do uso por fenilcetonúricos. A omissão
e a imprecisão das informações da bula sobre os excipientes farmacêuticos expõem
os indivíduos suscetíveis ao risco de reações adversas pelo uso de conservantes e
corantes. Também podem ocorrer complicações do uso inadvertido de
medicamentos contendo açúcar por pacientes diabéticos, ou de fármacos adoçados
com aspartame por fenilcetonúricos.
Auricchio, Bastitic-Longatto e Nicoletti (2007) estudaram as informações
contidas nas bulas e embalagens de oito medicamentos de diferentes fabricantes
contendo Panax ginseng. As bulas foram analisadas comparativamente com os
dados encontrados na literatura científica. Observaram-se bulas longas, com várias
informações em relação às indicações de uso, muitas das quais sem comprovação
em humanos, e todas foram deficitárias em relação aos efeitos adversos e
interações medicamentosas. Foi observada falta de padronização quanto às
posologias, em relação tanto ao extrato seco, quanto ao teor dos ginsenosídeos
presentes. Constatou-se a falta de homogeneidade nas informações aos usuários
sobre indicações de uso, efeitos adversos e interações medicamentosas.
Caldeira, Neves e Perini (2008) analisaram a evolução histórica das bulas no
Brasil, procurando observar a influência do desenvolvimento científico, da
globalização da informação e das diferentes políticas de saúde. Procedeu-se uma
revisão retrospectiva da legislação sanitária brasileira até 1920 e constataram que a
bula se tornou um importante veículo informativo que passou por grandes
transformações regulamentares na segunda metade do século XX. Entretanto, a
padronização da informação para os medicamentos com o mesmo princípio ativo
não se efetivou.
Fujita (2009) estudou a estrutura e apresentação gráfica das bulas de
medicamentos na perspectiva de leitura do paciente/usuário. A metodologia adotada
constou da execução de um estudo analítico e de um estudo de caso de cunho
experimental. O estudo analítico consistiu de amostra aleatória de 20 bulas de
medicamentos. A partir dos resultados da análise, foi possível constatar muitos
problemas de composição gráfica que comprometiam seriamente a legibilidade e o
grau de importância das informações. O estudo de caso contemplou a identificação
de dificuldades através da observação das estratégias de leitura de seis
31
Neves e Perini (2008), o ponto chave para a ANVISA é a análise de tais informações
confrontadas com a literatura científica.
No que se refere a informações sobre o uso de medicamentos em idosos, a
nova RDC nº 47/ 2009 (BRASIL, 2010) os inclui no termo “populações especiais”,
cuja definição é:
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.4 AMOSTRA
4.5 INSTRUMENTOS
4.6 PROCEDIMENTOS
3
As bulas dos medicamentos com associação de fármacos (ex: amlodipino + hidroclorotiazida) não
foram analisadas, exceto as bulas do medicamento carbonato de cálcio + calcitriol.
41
5 RESULTADOS
Participaram da pesquisa 239 idosos, cuja média de idade foi 69,6 ± 5,9 anos
(60 a 85 anos). O número de participantes do sexo feminino foi 221(91,21%) com
nível de escolaridade fundamental (59,63%), médio (28,90%) e superior (11,47%).
Os participantes do sexo masculino corresponderam a apenas 28 (8,79%) com nível
de escolaridade médio (52,38%) e fundamental (47,62%).
Dos 239 participantes, 96,23% (230 idosos) informou ter usado medicamentos
nos 15 dias anteriores à pesquisa e 94,14% (225 idosos) informou fazer uso
contínuo de medicamentos.
Dos idosos participantes, 33,47% (80 idosos) informou usar cinco ou mais
medicamentos (prática da polifarmácia) nos 15 dias anteriores à pesquisa.
Considerando o total de participantes, o número médio de medicamentos
informados por pessoa foi de 3,82 ± 2,56, com variação de 0 a 13 medicamentos
usados.
A análise estatística (teste “t” para amostras independentes) para verificar se
houve diferença entre a quantidade de medicamentos utilizada por homens (3,24 ±
2,34) e mulheres (3,88 ± 2,59) não foi significativa (p= 0,274).
A análise estatística (ANOVA, one way) também não demonstrou haver
relação entre grupos de idade (60-69/ 70-79/ 80 acima) e a quantidade de
medicamentos consumidos [F(2:238)=2,273; p=0,105].
Ainda, a análise estatística (Qui-Quadrado, χ2= 54,936; p= 0,809) não
demonstrou correlação significativa entre a escolaridade e o número de
medicamentos consumidos.
43
4
Segundo a Lei nº 5991/ 1973, medicamento é um produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou
elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico.
5
O número de fármacos é diferente do número de medicamentos, pois nem todos os sujeitos da
pesquisa informaram o nome do medicamento utilizado e/ou forneceram a bula do mesmo e, ainda,
há vários medicamentos que contém mais de dois fármacos em sua composição.
6
Segundo Katzung (2003), fármaco é uma substância, matéria-prima ou composto químico
administrados com o objetivo de obter-se um efeito terapêutico benéfico sobre algum processo no
paciente.
44
7
Os idosos pesquisados que fazem uso de medicamentos incluídos no critério de Beers não foram
avaliados quanto às condições particulares que classificam os medicamentos como potencialmente
inapropriados.
8
Se fosse retirado os idosos que não se enquadram na faixa etária para o uso inapropriado de Ácido
acetilsalicílico (≥ 80 anos) e de Diclofenaco (≥ 75 anos), a freqüência de idosos passaria a ser de
17,99% (43 idosos).
9
Os trabalhos científicos considerados no critério de Beers (ASG, 2012) têm como sujeitos, idosos de
língua inglesa, acima de 65 anos de idade.
45
10
Condição ou circunstância para que exista o uso inapropriado no idoso segundo o Critério de Beers
(ASG, 2012); exemplos: o alprazolan não deve ser utilizado em idoso no tratamento de insônia entre
outras condições, a amitriptilina não deve ser utilizada por idosos.
46
% idosos
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0,88% (1)
Medicamento genérico
43,86% (50)
Medicamento de
40,35% (46) referência
Medicamento biológico
50
− Estava disponível 54,39% das bulas analisadas nos sítios eletrônicos dos
fabricantes;
− Foi possível contatar o fabricante por meio do SAC em 68,42% (78 bulas)
dos casos;
− Considerando as bulas (78) dos fabricantes contatados, em 35,89% (28)
dos casos, o SAC do fabricante informou enviar a bula com letra ampliada;
− Somente em 28,21% dos casos (22) as bulas foram efetivamente
encaminhadas no prazo igual ou inferior a 10 dias úteis.
Quanto ao tamanho das letras, verificou-se que a maioria das bulas (74,56%)
estava com tamanho inferior ao equivalente a Times New Roman 10 pt, conforme
preconiza a norma vigente (BRASIL, 2010). A Tabela 8 apresenta a quantidade de
bulas separadas de acordo com os tamanhos de letra equivalente11.
Quanto à cor da impressão, 78,95% (90 bulas) foram impressas com letras na
cor preta, preconizado pela norma atual (BRASIL, 2010). As demais, 21,05% (24
bulas) estavam impressas com letras na cor azul.
O gráfico 3 apresenta a distribuição das bulas analisadas e sua conformidade
com as respectivas bulas padrão, publicadas no Bulário eletrônico no sítio oficial da
ANVISA.
11
Muitas bulas analisadas estavam impressas com tipos de letras diferentes de Times New Roman.
O tipo de letra não foi classificado; foi medido apenas o tamanho da letra “a” impressa.
52
15,79% (18)
Não possui bula padrão
Quanto aos textos das bulas, em 114 bulas, foi verificado o seguinte:
− A maioria das bulas (60,53%) não estava organizada na forma de
perguntas e respostas;
− A maioria das bulas (52,63%) possuía termos explicativos após termos
técnicos;
− A maioria das bulas (88,60%) apresentava a parte identificação do
medicamento em conformidade com a norma atual;
Quanto ao conteúdo, somente em 34,21% (39) das bulas foi verificada a
presença de todos os itens (9 itens) necessários, conforme a norma vigente ou o
equivalente nas normas anteriores, a saber:
1. Para que este medicamento é indicado ou indicação;
2. Como este medicamento funciona ou ação esperada;
3. Quando não devo usar este medicamento ou contraindicações;
4. O que devo saber antes de usar este medicamento ou advertências
e precauções;
5. Onde, como e por quanto tempo posso guardar este medicamento
ou cuidados de armazenamento;
6. Como devo usar este medicamento ou modo de usar;
7. O que devo fazer quando eu me esquecer de usar este
medicamento ou recomendações em caso de esquecimento;
53
10. Superdose.
A tabela 14 apresenta o número de bulas segundo a presença ou não de
informações referentes ao uso do medicamento em idosos. Observe que a maioria
das bulas (95 bulas, 94,06%) continha informações referentes ao uso do
medicamento em idosos.
Das bulas que continham informações aos profissionais de saúde sobre o uso
do medicamento em idosos, 54,74% (52 bulas) apresentavam a informação em item
específico.
57
6 DISCUSSÃO
Outra variação observada entre este estudo e os demais (COSTA et al, 2000;
ROZENFELD, 2003; BERTOLDI et al, 2004; LOYOLA FILHO; UCHOA; LIMA-
COSTA, 2006; RIBEIRO et al, 2008; ROZENFELD; FONSECA; ACURCIO;2008;
SILVA et al, 2012) é que não houve diferença significativa entre a quantidade de
medicamentos consumida por homens e mulheres. É possível que os homens da
população estudada apresentem características que o diferem dos demais estudos.
O homem do estudo está disposto e se propõe a participar de um grupo de
convivência, onde a maioria é composta por mulheres idosas e tem a finalidade de
proporcionar o acesso de idosos às atividades físicas, artístico-culturais e
socioeducativas. Uma segunda hipótese levantada é que pode ter havido prejuízo da
análise estatística por ser o número de homens bastante inferior quando comparado
ao número de mulheres que compunha a amostra, diferindo assim dos demais
estudos. Contudo, observa-se uma tendência de aumento no número de
medicamentos usados pelas mulheres sem significância estatística.
Também não houve aumento significativo no uso de medicamentos com o
aumento da idade, encontrado nos demais estudos (BERTOLDI et al, 2004;
COELHO FILHO; MARCOPITO; CASTELO, 2004; LOYOLA FILHO; UCHOA; LIMA-
COSTA, 2006; SILVA et al, 2012). Mais uma vez, a diferença poderia ser justificada
pela população de idosos estudada. A inserção em um grupo de convivência com
tais características (desenvolvimento de atividades físicas, artístico-culturais e
socioeducativas) pressupõem que os idosos devam se sentir relativamente bem e
essa condição auto referida excluiria do grupo, a priori, idosos mais doentes,
dependentes, mais velhos e/ou em uso de quantidade maior de medicamentos.
Com relação à existência da polifarmácia, a proporção encontrada de 33,47%
de casos corrobora com o estudo de Silva et al (2012) onde a polifarmácia esteve
presente em 35,4% dos casos. O estudo realizado em Goiânia por Santos et al
(2013) encontrou o valor de 26,4%. Valor inferior a esse (13,4%), foi encontrado por
Dal Pizzol (2012) em Carlos Barbosa.
A prática da polifarmácia foi elevada (33,47%); cerca de um a cada três
idosos pesquisados estiveram expostos. Segundo Santos et al (2013), muitas vezes,
a polifarmácia é necessária, pois muitos idosos possuem comorbidades que
requerem o uso de vários medicamentos para a manutenção da sua qualidade de
vida. Não pressupõe necessariamente o uso irracional de medicamentos. Entretanto,
60
12
Acesso à lista de medicamentos do programa “Saúde não tem preço”
http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cfm?portal=pagina.visualizarTexto&codConteudo=4
438&codModuloArea=780&chamada=medicamentos
62
Quanto à análise das bulas pesquisadas, pode-se perceber que a maioria era
de medicamentos similares ou genéricos (84,21%, 1:1), refletindo o mercado
nacional de medicamentos. Geralmente, os preços dos medicamentos genéricos e
similares são menores quando comparados aos medicamentos de referências,
65
Cilostazol
Cloridrato de Ticlopidina
6.3.2.2 Antidepressivos
Cloridrato de amitriptilina
sensível aos efeitos por serem mais propensos a apresentar problemas hepáticos
que necessitam de ajuste de doses.
O critério de Beers (AGS, 2012) recomenda que o uso de amitriptilina e outros
antidepressivos tricíclicos sejam evitados, devido aos fortes efeitos anticolinérgicos.
O clearance dos antidepressivos tricíclicos diminui com a idade avançada. Há risco
de confusão, boca seca, constipação, sedação, hipotenção ortostática, outros efeitos
anticolinérgicos e toxicidade. Os antidepressivos tricíclicos devem ser evitados em
idosos que apresentam delirium, histórico de quedas e fraturas, constipação,
retenção urinária e hiponatremia, pois podem produzir delirium, ataxia, prejudicar a
função psicomotora, síncope, quedas, constipação, retenção urinária e elevação dos
níveis de sódio no sangue, respectivamente.
Bhattacharya et al (2011) verificaram que diversos medicamentos
anticolinérgicos estão associados com disfunção cognitiva e constituem
preocupação significativa para os pacientes que sofrem de demência. Os
anticolinérgicos podem piorar o funcionamento cognitivo, principalmente nas
pessoas com demência, pois são mais vulneráveis aos efeitos adversos.
As bulas analisadas não destacaram as reações adversas mais importantes
nos idosos, como as relacionadas aos efeitos anticolinérgicos.
Cloridrato de bupropiona
Citalopram
Cloridrato de fluoxetina
Cloridrato de paroxetina
Cloridrato de sertralina
ou fraturas e usar com cautela em idosos, pois podem causar ou agravar SIADH e a
hiponatremia.
As bulas não mencionavam o aumento do clearance da sertralina em idosos,
assim como não recomendavam evitar o seu uso na presença de quedas e fraturas.
Oxalato de escitalopram
6.3.2.3 Benzodiazepínicos
Alprazolam
Bromazepam
Clonazepam
as mesmas doses do adulto jovem, a menos que outras doenças estejam presentes,
quando as precauções e advertências gerais do uso do clonazepam devem ser
respeitadas.
Segundo o Micromedex (2013), as observações destacadas são as mesmas
do alprazolam.
O critério de Beers (AGS, 2012) recomenda evitar o uso do clonazepam,
assim como os demais benzodiazepínicos, no tratamento da insônia, agitação e
delirium. Evitar em idosos com histórico de quedas ou fraturas, demência e
comprometimento cognitivo devido ao risco de efeitos adversos relacionados ao
sistema nervoso central.
O estudo de Sylvestre et al (2012), observou que os mecanismos que ligam o
uso de benzodiazepínicos com quedas parecem diferir entre os medicamentos.
Enquanto a dose acumulativa recente é um importante fator de risco para
flurazepam; mas, para o alprazolam e clonazepam a duração do tratamento anterior
parece ser mais importante. O estudo destaca ainda que os mecanismos que afetam
o risco de quedas diferem entre os benzodiazepínicos.
A bula analisada não recomendou cautela em idosos com histórico de quedas
ou demência e nem tão pouco evitar o uso no tratamento da insônia, agitação e
delirium em idosos.
Hemitartarato de zolpidem
Cloridrato de diltiazem
Mesilato de doxazosina
Cloridrato de sotalol
têm sido utilizados em idosos de forma eficaz e segura. A idade geralmente não
influencia a farmacocinética do sotalol a ponto de necessitar ajuste de dose. A
alteração na função renal associada com a idade deve ser considerada para o ajuste
da dose. Entretanto, os idosos podem ser mais sensíveis a alguns efeitos adversos
destes agentes. Os bloqueadores beta-adrenérgicos têm sido citados por causar ou
exacerbar falha mental no idoso, esse efeito carece de evidências. Os idosos são
mais propensos a apresentar doença vascular periférica relacionada à idade, a qual
pode requerer cautela. Além disso, o risco do betabloqueador induzir a hipotermia
pode estar aumentado em idosos.
Segundo AHFS Drug Information (ASHSP, 2011), a segurança e a eficácia de
sotalol em idosos não foram estudadas especificamente, no entanto, nas arritmias
ventriculares com risco de morte, tais como taquicardia ventricular sustentada, o
risco geral de morte cardíaca esteve associado ao aumento da idade. Devido à
maior possibilidade de decréscimo da função renal, os idosos podem estar em maior
risco de toxicidade induzida por sotalol; por isso, devem ser acompanhados de perto
e a dose deve ser ajustada.
Segundo o Micromedex (2013), não há informação relacionada aos efeitos do
sotalol com a idade em idosos.
O critério de Beers (AGS, 2012) recomenda evitar medicamentos
antiarrítmicos, como o sotalol, no tratamento de primeira escolha para fibrilação
atrial.
A bula apresentou informações sobre a possível toxicidade ao sotalol em
idosos e a necessidade de ajuste na presença de disfunção renal, porém não
recomendou evitar o uso em idosos como primeira escolha na fibrilação atrial.
6.3.2.6 Anti-histamínicos
Cloridrato de ranitidina
Maleato de dexclorfeniramina
Ebastina
Etodolaco
Tenoxicam
Foi analisada uma bula de medicamento similar. A bula ressaltava que não há
restrições específicas para o uso em idosos e que nenhum ajuste de dose é
necessário para atingir concentrações plasmáticas semelhantes às observadas em
adultos jovens.
O tenoxicam não faz parte das listas do critério de Beers (AGS, 2012) por não
ser comercializado nos Estados Unidos (MICROMEDEX, 2013). Entretanto, por se
tratar de um anti-inflamatório não esteroide, será considerado como medicamento
potencialmente inapropriado para idoso, de acordo com as recomendações para
essa classe farmacológica.
94
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 REFERÊNCIAS
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AYRUS, Juan Carlos et al. Is chronic hyponatremia a novel risk factor for hip fracture
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<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3484731/>. Acesso em: 08 out. 2013.
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Acesso em: 22 maio 2012
outra face?
Observação:__________________________________________________________
3. Quanto à presença dos itens da Bula ou parte destinada ao paciente**:
NORMA SIM NÃO
Está conforme bula padrão, caso possua?*
Organizada na forma de pergunta e resposta?
Possui termos explicativos incluídos para leigos, após termos
técnicos?
Possui informações somente sobre as apresentações de uma forma
farmacêutica e vias de administração?
Apresenta item IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO de acordo com
a norma atual?
Apresenta os seguintes itens relativos às INFORMAÇÕES AO
PACIENTE?
1. Para que este medicamento é indicado? Ou indicação.
2. Como este medicamento funciona? Ou ação esperada.
3. Quando não devo usar este medicamento? Ou
contraindicações.
4. O que devo saber antes de usar este medicamento? Ou
Advertências e precauções.
5. Onde, como e por quanto tempo posso guardar este
medicamento? Ou cuidados de armazenamento.
6. Como devo usar este medicamento? Ou Modo de usar.
7. O que devo fazer quando eu me esquecer de usar este
medicamento? Ou recomendações em caso de
esquecimento.
8. Quais os males que este medicamento pode me causar? Ou
reações adversas.
9. O que fazer se alguém usar uma quantidade maior do que a
indicada deste medicamento? Ou sinais e sintomas e
conduta na superdose.
Apresenta item DIZERES LEGAIS de acordo com a norma atual?
19. Superdose
Apresenta item DIZERES LEGAIS de acordo com a norma atual?