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PELOSI, M.B. Dispositivos Móveis para a Comunicação Alternativa: primeiros passos.

In: Liliana Maria


Passerino , et al (Orgs). Comunicar para Incluir. Porto Alegre: CRBF, 2013, p.371-380.

Dispositivos Móveis para Comunicação Alternativa: primeiros passos

Miryam Bonadiu Pelosi


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

A Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) é um grupo integrado de componentes que inclui


símbolos, recursos, estratégias e técnicas que vão auxiliar as pessoas com dificuldades
comunicativas oral e/ou escrita a se comunicarem e a participarem de suas atividades diárias. Os
dispositivos móveis são os recursos mais atuais graças a sua portabilidade, grande capacidade de
memória, variedade de possibilidade de acesso com a tela sensível ao toque e os acionadores
bluetooth, conexão com a internet e interface com outras tecnologias. Para ampliar a
funcionalidade, podem ser utilizadas canetas especiais, colmeia para o teclado virtual e teclados
externos. Outros recursos como a câmara fotográfica e a filmadora permitem rápida
personalização dos aplicativos de CAA. Suportes para fixação em cadeira de rodas ou carrinhos,
capas extremamente resistentes para usuários jovens ou pouco cuidadosos e amplificadores de
som sem fio complementam o conjunto de acessórios que podem ampliar a funcionalidade do
uso de dispositivos móveis. A compra do recurso não é suficiente para o início de sua utilização.
É necessário que haja um profissional fazendo a interface entre o recurso e o usuário, e que
considere não apenas suas características físicas, cognitivas, sensoriais e emocionais, mas a
atividade que será desempenhada e o contexto em que ela acontecerá.

Palavras-chave: Auxiliares de comunicação para pessoas com deficiência, Tecnologia


Assistiva, Terapia Ocupacional.

Introdução

Os últimos vinte anos vêm sendo descritos como a era de revolução digital. Hoje os
telefones podem ser usados para acessar a internet ou controlar a iluminação de uma casa. Os
computadores podem ser utilizados como televisão e os microprocessadores instalados nos
carros podem oferecer uma série de alertas.

A disponibilidade de novas tecnologias modificou a forma como as pessoas controlam


seus equipamentos, trocam informações e se comunicam umas com as outras. Contudo, barreiras
significativas têm impedido que pessoas com necessidades complexas de comunicação acessem
essa tecnologia, realizem atividades no computador e naveguem na internet.
PELOSI, M.B. Dispositivos Móveis para a Comunicação Alternativa: primeiros passos. In: Liliana Maria
Passerino , et al (Orgs). Comunicar para Incluir. Porto Alegre: CRBF, 2013, p.371-380.

A cada dia os recursos estão mais integrados e desempenham múltiplas funções, contudo,
todo esse desenvolvimento não tem implicado a ampliação das possibilidades comunicativas de
usuários de Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA). Apesar da evolução dos equipamentos
em itens como memória, bateria, qualidade da tela e síntese de voz, a maior parte dos recursos de
CAA não disponibiliza o mesmo acesso integrado de outros produtos. A maioria dos recursos
não permite acesso a múltiplas possibilidades de comunicação em um mesmo equipamento,
como acontece com os aparelhos celulares ou os computadores pessoais. Os desenvolvedores de
recursos de CAA continuam focando seus objetivos na comunicação presencial, na interação
face a face (DeRUYTER, e cols., 2007).

Como resultado, os usuários de CAA acabam precisando carregar diferentes recursos, e,


frequentemente, não conseguem acessá-los porque não possuem as habilidades motora, cognitiva
ou visual que possibilitem o uso dos diferentes equipamentos.

O acesso à internet não é apenas conveniente, mas extremamente necessário no mundo


atual. O acesso à educação, ao trabalho, à interação social e ao entretenimento está extremamente
dependente das tecnologias digitais e da internet. Com equipamentos mais integrados é possível
ler, escrever, ouvir música, fazer compras, se conectar com a família e com os amigos, criando
uma independência muitas vezes não experimentada sem o uso da tecnologia e da internet.

As barreiras de acesso podem ser consideradas sob várias perspectivas: as características


dos usuários; o enfoque das pessoas que dão suporte a esses usuários; o número reduzido de
pesquisas na área de CAA; e as pessoas envolvidas no desenvolvimento dos produtos e políticas
públicas.

Cada usuário de CAA não difere apenas em idade, escolaridade e ocupação, mas,
também, em interesses, habilidades e objetivos. Cada um deles apresenta necessidades distintas
para o uso dos recursos de Tecnologia Assistiva, e essas necessidades podem estar relacionadas
a: telas de alto contraste; programas com feedback de som; uso de pictogramas; acesso
diferenciado por teclado ampliado; teclado virtual; mouses especiais; tela sensível ao toque; ou
através de programas com sistemas de varredura acoplados a switches. Podem ser necessários
ambientes de trabalho mais simplificados e de fácil compreensão.
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Os estudos compilados por DeRuyter e colaboradores (2007) sobre as dificuldades dos


usuários apontam para: barreiras físicas como o uso do mouse, teclado e a colocação da senha no
computador; barreiras cognitivas que geram a necessidade de utilização de ícones com cores
padronizadas para facilitar o reconhecimento, ou poucos ícones na área de trabalho, e redução
dos passos para o acesso às informações; barreiras financeiras; tecnológicas, ou relacionadas às
políticas públicas.

Outro aspecto a ser considerado diz respeito aos profissionais que dão suporte aos
usuários e que necessitam conhecer os diferentes recursos, customizá-los, e avaliar o tempo de
treinamento necessário para a sua implementação. As dificuldades nessa área envolvem: a
grande diversidade de produtos; a complexidade de utilização; a falta de conhecimento dos
profissionais na área de CAA; e os obstáculos para avaliação dos impedimentos e das
potencialidades do usuário.

Os fabricantes, por sua vez, têm procurado implementar inovações tecnológicas por todo
o mundo. Em 2007, a Assistive Tecnology Industry Alliance (ATIA) listou 18 fabricantes de
produtos de CAA e 13 empresas cujo foco era o acesso ao computador. O tamanho das empresas
variava significativamente de pequenas, com apenas um produto, a empresas com uma enorme
quantidade de ítens. Estimava-se na época a existência de 11 mil equipamentos geradores de fala
(Speech Generating Devices – SGDs) vendidos anualmente nos Estados Unidos (ASSITIVE
TECNOLOGY LAW CENTER, 2006, apud DeRUYTER, et al., 2007).

No Brasil, o acesso a recursos de Comunicação Alternativa pela população ainda é bem


limitado. As barreiras estão relacionadas às políticas públicas de não dispensação de
equipamentos de CAA pelo Sistema Único de Saúde, ao pouco conhecimento dos profissionais
das áreas de Saúde e Educação quanto à indicação dos recursos, e ao número limitado de
produtos oferecidos pela indústria brasileira.

A Comunicação Alternativa e Ampliada e seus recursos

A Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) é um grupo integrado de componentes


que inclui símbolos, recursos, estratégias e técnicas que vão auxiliar as pessoas com dificuldades
comunicativas oral e/ou escrita a se comunicarem e a participarem de suas atividades diárias.
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Os recursos alternativos de comunicação desenvolvidos na última década caminharam


por três abordagens distintas: sistemas dedicados de CAA hospedados em hardwares
especialmente desenhados com esse objetivo; softwares desenvolvidos para rodar em sistemas
operacionais do mercado, mas implantados em hardwares específicos; e softwares desenvolvidos
para funcionar em sistemas operacionais e hardwares do mercado como os computadores,
telefones e tablets (DERUYTER, e cols., 2007).

Nos sistemas dedicados de software e hardware não é possível à realização de outras


tarefas que não as especificadas na configuração dos recursos. O acesso à internet, o uso de
calculadoras ou a visualização de fotos não são possíveis. A vantagem desse sistema é que a
empresa controla todos os aspectos relacionados ao equipamento, software e hardware, e pode
fazer modificações dependendo da necessidade do mercado.

Os softwares que funcionam com sistemas operacionais do mercado, mas em plataformas


específicas, são personalizados para diferentes populações. Novas configurações só podem ser
realizadas pelos desenvolvedores, mas em geral permitem o acesso a outros aplicativos que
funcionem no sistema operacional em que estão ancorados. O comunicador “NOVA chat 10”, da
empresa LIBERATOR PTY LTD, por exemplo, funciona com o sistema operacional Android.
Esses equipamentos são em geral pensados para pessoas com dificuldades motoras e permitem
que o recurso seja acoplado à cadeira de rodas, com teclados modificados, e com opção de
sistema de varredura. No “NOVA Chat 10” o usuário acessa um chat através do uso de símbolos.
Ele possui uma versão dedicada que só roda o programa de comunicação, e uma versão aberta,
em que é possível enviar as mensagens do chat por e-mail, para o Twitter ou outra rede social
que esteja disponível para o Galaxy tablet WiFi. Na versão aberta é possível, também, acessar
outros aplicativos disponíveis no Android Market (LIBERATOR, 2012). Os problemas
relacionados a esse tipo de solução são o preço elevado e a dificuldade de atualização dos
produtos quando ocorre uma atualização dos sistemas operacionais.

No terceiro grupo, estão os softwares desenvolvidos para plataformas existente no


mercado e que, dependendo do produto, podem ser personalizados para cada usuário. Exemplos
desses produtos são o Speaking Dynamically Pro (SDP), da empresa Mayer Johnson, e o
software The Grid, da empresa Sensory Software.
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O Speaking Dynamically Pro permite a criação de pranchas de comunicação interligadas,


com funções programáveis em suas células. Essas funções permitem interligar as pranchas entre
si, funcionando como links das páginas da internet, e fazendo com que cada célula abra uma
nova prancha temática na tela do computador. O Speaking Dynamically Pro tem mais de 100
funções programáveis que possibilitam escrever e editar textos na área de mensagem, abrir
programas, exibir filmes e reproduzir arquivos de som, fala e música. Possui, ainda, predição de
texto e síntese em português (MAYER JOHNSON, 2012). Contudo, esse é um programa
dedicado, que não acessa a internet nem permite escrita em outros programas disponíveis no
computador.

O software The Grid2, da empresa Sensory Software, é um programa de Comunicação


Alternativa que permite acesso de múltiplas maneiras, incluindo o uso do mouse, do teclado,
acionador externo, acionador pelo olhar e joystick. Com esse programa é possível acessar a
internet, mandar mensagens SMS, receber e enviar e-mails escrevendo com pranchas
personalizadas com símbolos, letras, frases, ou a combinação desses recursos. Permite, também,
acesso a páginas da internet, Skype, músicas e fotos do computador. Com o The Grid é possível
acessar DVDs e controlá-los com pranchas personalizadas, construir textos com auxílio de
recursos de predição e síntese em português (SENSORY SOFTWARE, 2012). Dos softwares
disponíveis em português, o The Grid2 é o que possibilita maior interação com os aplicativos do
computador.

Mais recentemente, nesse grupo de softwares desenvolvidos para plataformas existentes


no mercado, surgiram inúmeros aplicativos para smartphones e tablets com sistemas
operacionais Android e iOS.

Os dispositivos móveis são os recursos mais atuais, e particularmente funcionais, devido


a sua portabilidade, grande capacidade de memória, variedade de possibilidade de acesso com a
tela sensível ao toque e os acionadores bluetooth, conexão com a internet e interface com outras
tecnologias. Para ampliar a funcionalidade, podem ser utilizadas canetas especiais, colmeia para
o teclado virtual e teclados externos.

Outros recursos como a câmara fotográfica e a filmadora, que acompanham a maior parte
desses dispositivos, permitem rápida personalização dos aplicativos de CAA. Suportes para
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fixação em cadeira de rodas ou carrinhos, capas extremamente resistentes para usuários jovens
ou pouco cuidadosos, amplificadores de som sem fio complementam o conjunto de acessórios
que podem ampliar a funcionalidade do uso de dispositivos móveis.

O recurso é parte da estratégia a ser utilizada. Para além dele é necessária a escolha de
aplicativos de Comunicação Alternativa que atendam a demanda do usuário e que possam ser
customizados, e outras ações relacionadas ao serviço de Comunicação Alternativa, ou mais
genericamente da Tecnologia Assistiva.

O termo “Serviço de Tecnologia Assistiva” inclui qualquer serviço que diretamente


auxilie o usuário ou sua família na seleção, na aquisição ou no uso do recurso. O serviço
compreende: a) o levantamento das necessidades do usuário, sua avaliação funcional e análise do
ambiente em que essa tecnologia será utilizada; b) indicação e compra do recurso de TA; c)
seleção, confecção, ajuste, customização, adaptação, manutenção, conserto ou substituição do
recurso de TA; d) orientação quanto ao uso do recurso de TA em outras terapias, intervenções ou
serviços como as associadas à Educação ou programas de reabilitação; e) treinamento e
assistência técnica para o usuário e seus familiares; e f) treinamento e assistência técnica para
profissionais da Educação e Reabilitação ou outros profissionais que tenham contato próximo
com o usuário (BRYANT, D; BRYANT, B, 2012).

Alguns recursos de Comunicação Alternativa são simples, enquanto outros são mais
complexos, mas em ambos os casos é preciso que seja realizado treinamento específico para que
o usuário utilize o recurso da melhor maneira possível. Fica claro que a compra do recurso não é
suficiente para o início de sua utilização.

É necessário que haja um profissional fazendo a interface entre o recurso e o usuário, e


que considere não apenas suas características físicas, cognitivas, sensoriais e emocionais, mas a
atividade que será desempenhada e o contexto em que ela acontecerá. Profissionais de várias
áreas podem se tornar especialistas na área de Comunicação Alternativa, área interdisciplinar por
essência (ISAAC, 2013).

O terapeuta ocupacional, no exercício da profissão, analisa a atividade humana em


condições típicas e atípicas de desenvolvimento, explora ao máximo o potencial do indivíduo no
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seu desempenho funcional/ocupacional e desenvolve, indica e aplica recursos de Tecnologia


Assistiva com competência e eficácia (MANN & LANE, 1991; GOLEGÃ, 2001).

Exemplos de aplicativos de Comunicação Alternativa disponíveis na Aple Store e/ou


na Play Store

O aplicativo para iPad e Android chamado Alexicom AAC é um aplicativo de


Comunicação Alternativa distribuído com vários exemplos de pranchas que podem ser editadas
no próprio iPad. É possível a substituição da imagem, do texto e do som através da gravação em
português. O aplicativo funciona com sistema de varredura. Os aspectos positivos são a
disponibilização de uma versão gratuita, a ação integrada com a câmara fotográfica e a
possibilidade de gravação de som, e, em especial, a possibilidade de escrever e-mails e
mensagens para o Facebook e Twitter a partir de símbolos. Os aspectos negativos incluem a
inexistência de voz sintetizada em português, o alto custo mensal para a utilização da versão
completa e a impossibilidade de ajuste do layout de tela na versão gratuita.

O aplicativo para iPAd denominado GoTalk Now, da empresa Attainment Company, é


um aplicativo de Comunicação Alternativa que permite personalizar e interligar telas com 1, 4, 6,
16 e 25 opções. Possibilita a gravação de som e a síntese com voz em português, além do uso de
vídeos, imagens com hotspots, link com a internet e controle de músicas do iPad. O aplicativo
permite o uso de acionadores externos e é um dos aplicativos que possibilitam maior interface
com outras funções do iPad. Os pontos fracos são a complexidade de programação e
compartilhamento das pranchas prontas e a ausência de possibilidade de uso de pranchas com
duas opções, tão importante para os usuários iniciais.

O software The Grid 2 possui um aplicativo para iPad com uma versão gratuita, não
personalizável. A versão completa, que exige o programa instalado no computador, é bem
interessante, mas não apresenta as mesmas funcionalidades que estão disponíveis na versão para
desktop. No tablet não é possível utilizar acionadores, o que inviabiliza o acesso de muitos
usuários do programa original.

O programa de Comunicação SoundingBoard, da empresa AbleNet, é gratuito e


totalmente personalizável. O aplicativo permite que sejam adicionadas figuras, fotos da sua
própria biblioteca de imagens, além de possibilitar a gravação de todos os sons necessários para
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o desenvolvimento do aplicativo. Possui a opção de interligação entre as telas e layout de


construção de pranchas com 1, 2, 3, 4, 6, e 9 células. É muito simples de utilizar e programar, e
funciona com a tela touch screen do tablet e através do sistema de varredura com um acionador
externo (ABLENET, 2012). A vantagem desse aplicativo é a sua simplicidade de programação e
a gratuidade. As principais desvantagens são a impossibilidade de fazer backup das páginas, a
não rotação da tela para paisagem e a inexistência de uma versão para tablet.

O aplicativo Sono Flex da Tobii é um aplicativo para Android e iPAd muito interessante,
com versões gratuita e paga. Na versão gratuita é possível acessar um vocabulário bem extenso
que possibilita a comunicação a partir de contextos. Esse vocabulário de contexto pode ser
modificado e ampliado na versão completa, já na gratuita, é possível acessar pranchas sobre
atividades de arte, praia, parquinho, aniversário, informações sobre o usuário, vestuário,
cozinhar, jantar, médico, leitura, matemática e sobre o tempo. Os verbos podem ser conjugados,
há uma página só de expressões, para uma comunicação mais imediata, e acesso a um teclado
que pode ser utilizado com letras maiúsculas para complementar palavras inexistentes. Os pontos
fracos são o número de células fixas em cada página, com 28 opções além da barra superior, e a
inexistência de acesso por varredura.

O aplicativo Vox4all foi desenvolvido pela empresa Imagina, de Portugal, para iPad e
Android, e possui uma versão lite e outra completa. As telas são customizáveis, utilizando-se a
biblioteca de mais de 12 mil símbolos Widgit ou fotografias da câmera ou da biblioteca pessoal.
Possui síntese de voz em português do Brasil e a possibilidade de gravação de voz. O aplicativo é
muito fácil de programar, e as necessidades básicas e as emergências têm especial destaque,
porque essas funções estão sempre acessíveis e tornam a comunicação mais imediata. A
quantidade de informações em cada tela é programável, e podem ser construídas telas com
apenas duas informações como o SIM/NÃO, que acompanha a versão lite. O ponto fraco é a
inexistência do acesso por acionador externo.

O aplicativo Que-Fala! é uma prancha de comunicação digital feita para tablets e


smartphones, com sistema operacional Android, que permite a introdução de símbolos do próprio
computador, da internet, ou dos bancos de dados do ARASAAC e Sclera português. O aplicativo
foi desenvolvido por Daniel Bronzeri Barbosa, Roberto Elvira Jr., Paulo Rogério Panhoto e
Juliana Remorini, uma terapeuta ocupacional. O aplicativo possui um sintetizador de voz em
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português, com uma voz bem inteligível, e permite a inclusão de sons personalizados. Funciona
com acesso direto ou por sistema de varredura, mas utiliza a própria tela para iniciar e parar a
varredura. Para a personalização da prancha é possível acessar um editor de telas na internet e
fazer toda a configuração. Os pontos positivos são a possibilidade de configuração da prancha
por mais de uma pessoa, em qualquer computador com acesso à internet, favorecendo, assim, a
atualização do recurso por todos os profissionais que trabalham com o usuário. O ponto fraco é a
forma de pagamento para ter acesso à edição das páginas, que funciona por mensalidade ou
anuidade.

Considerações finais

Os aplicativos de Comunicação Alternativa em português, ou passíveis de


personalização, que foram apresentados reproduzem os problemas do terceiro grupo de recursos
que estamos abordando, que compreende os aplicativos desenvolvidos para plataformas
existentes no mercado.

Poucos permitem o envio de textos por e-mail, Facebook ou Twitter como o Alexicon
AAC, ou possibilitam o acesso a outros programas do dispositivo móvel como o GoTalk Now. A
possibilidade de uso de sistema de varredura é também limitada a poucos exemplos como o
Sounding Board e o GoTalk Now, e depende de acionadores ou adaptadores com sistema
Bluetooth. Dos programas apresentados, a única exceção à utilização de acionadores externos foi
o aplicativo Que-fala! — ele utiliza a própria tela como acionador. Os acionadores e adaptadores
Bluetooth, por sua vez, não são compatíveis com todos os aplicativos disponíveis no mercado, o
que gera mais dificuldade de acesso para as pessoas com deficiência.

Apesar da ampliação da oferta de aplicativos de Comunicação Alternativa disponíveis


para os sistemas Android e iOS, a integração desses aplicativos com outras funcionalidades do
dispositivo móvel é ainda bastante limitada, sendo necessário a evolução para aplicativos mais
acessíveis e que desempenhem ações interligadas aos demais recursos disponíveis no sistema.

Os dispositivos móveis, como recurso de Comunicação Alternativa, ainda estão dando os


primeiros passos.
PELOSI, M.B. Dispositivos Móveis para a Comunicação Alternativa: primeiros passos. In: Liliana Maria
Passerino , et al (Orgs). Comunicar para Incluir. Porto Alegre: CRBF, 2013, p.371-380.

Referências:

ABLENET. Informações sobre o aplicativo para iPad chamado SoundingBoard da empresa


AbleNet. Disponível em: http://www.ablenetinc.com/Assistive-
Technology/Communication/SoundingBoard. Acesso em 30/3/2012.

BALUH. Informações sobre o aplicativo Baluh para a plataforma Apple Touch


desenvolvido pela Fundacion Paideia. Disponível em: http://blog.baluh.org. Acesso em
30/3/2012.

BRYANT, D; BRYANT, B. Assistive Technology for People with Disabilities. Boston:


Pearson, 2a ed., 2012.

DERUYTER, F.; McNAUGHTON, D; CAVES, K.; BRYEN, D.N.; WILLIAMS, M.B.


Enhancing AAC Connections with the World. In: Augmentative and Alternative
Communication, v.23, 3, set. 2007, p. 258-270.

GOLEGÃ, A.C.C.; LUZO, M.C.M. & DE CARLO, M.M.R. Terapia Ocupacional – princípios,
recursos e perspectivas em reabilitação física. In M.M.R.P. de Carlo & C.C. Bertalotti (Orgs.).
Terapia Ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas. São Paulo: Plexus Editora,
2001, p.137-154.

ISAAC – International Society for Augmentative and Alternative Communication.


Disponível em https://www.isaac-online.org/english/what-is-aac/how-is-aac-supported/. Acesso
em 21 de maio de 2013.

LIBERATOR. Informações sobre o equipamento Nova 10 da empresa Liberator PTY LTD.


Disponível em http://liberator.net.au/products/high-tech-communication-aids/nova-chat-10.
Acesso em 20/4/2012.

MANN, W.C.; LANE, J.P. Assistive Technology for Persons with Disabilities – The Role of
Occupational Therapy. Maryland: American Occupational Therapy Association, 2001.

MAYER JOHNSON. Informações sobre o software Speaking Dynamically Pro. Disponível


em: http://www.mayer-johnson.com. Acesso em 30/3/2012.
PELOSI, M.B. Dispositivos Móveis para a Comunicação Alternativa: primeiros passos. In: Liliana Maria
Passerino , et al (Orgs). Comunicar para Incluir. Porto Alegre: CRBF, 2013, p.371-380.

SENSORY SOFTWARE. Informações sobre o software The Grid2 da empresa Sensory


Software. Disponível em: http://www.sensorysoftware.com. Acesso em 30/3/2012.

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