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O Uso da Inteligência Artificial Assistiva para o ensino de

alunos com Deficiência Visual


Emily Stefany dos Santos de Souza1
1
Instituto de Computação/PPGI – Programa de Pós Graduação em Informática –
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
Caixa Postal 15.064 – 91.501-970 – Manaus – AM – Brazil
{emy.stef.13@gmail.com}

1. Introdução
Historicamente, a interação entre o ato de ensinar e aprender carrega alguma tecnologia
como instrumento de suporte didático. Dentre elas, a escrita na pedra, o giz branco, o
piloto, a caneta, o caderno, o livro, a lousa eletrônica, os computadores, a internet, mais
recentemente a Inteligência Artificial (IA). Nesse contexto é importante destacar dois
fatores: O grande acesso, por parte da população em geral, a dispositivos para
comunicação como computadores, laptops, tablets, smartphones e acesso mais fácil à
internet, além do desenvolvimento de tecnologias que passaram a ser incorporadas ao
ensino - aprendizagem, como videoconferências, podcast, vídeo aulas, virtualização e
inteligência artificial.
Com a popularização da informática, o acesso à Internet cresceu exponencialmente,
atingindo níveis extraordinários, onde é possível fazer desde uma consulta on-line, a
compras através da internet, pesquisas e diversas outras atividades.
A Inteligência Artificial vem impactando e mudando vários aspectos da educação,
podendo ser encontrada através dos jogos educacionais e aprendizagens ativas, sala de
aula invertida e entre outros. Com isso, quando nos deparamos com o uso das
tecnologias nas escolas, visualizamos a inteligência artificial influenciadas por elas, seja
nas redes sem fio, internet, wi-fi, tecnologias móveis, celulares, tablets, ou em
armazenamentos de conteúdos em nuvens, portanto, é difícil pensar em tecnologias
educacionais desvinculadas aos avanços da computação e da comunicação.
Não demoraria para que a IA também fosse aplicada para promover mais acessibilidade,
afinal, é muito importante tanto do ponto de vista social, quanto do ponto de vista ético
e econômico, assim, permitindo que pessoas com deficiência possam usufruir dos
mesmos recursos que o restante da população. Mas, assim como uma calçada
esburacada atrapalha o direito de ir e vir de um cadeirante, recursos sem acessibilidade
atrapalham e, por consequência, excluem as pessoas com deficiência. Por isso, são cada
vez mais populares recursos como legendas automáticas, digitação por voz e
audiodescrição, que fazem com que pessoas com deficiência acessem conteúdos e usem
tecnologias de forma muito similar à das pessoas sem deficiência. Porém, é preciso
fazer mais e desenvolver recursos que sejam ainda mais inclusivos, especialmente
dentro do ambiente escolar.
Assim, com as novas tecnologias, tornou-se possível romper as barreiras existentes para
alfabetização e comunicação dos Deficientes Visuais, como softwares próprios para
serem usados dentro ou fora da sala de aula, incluindo todos os alunos presentes. Sendo
assim, o intuito desta pesquisa é ajudar estes alunos com deficiência, em sua adaptação à
“nova vida”, com a ajuda da Inteligência Artificial, através de softwares e aplicativos
que ajudem na educação e desempenho do aluno dentro do ambiente escolar,
enfrentando as barreiras do mundo comandado pelo visual.

1.1. Justificativa
O uso dos softwares em sala de aula é uma das grandes apostas no mercado da
tecnologia, já possuindo vários aplicativos disponíveis (tanto para dispositivos móveis
quanto para desktop) para pessoas com deficiência, aprimorando o aprendizado e
quebrando barreiras.
Segundo dados do IBGE, mais de 17,3 milhões de brasileiros afirmaram possuir algum
tipo de deficiência, seja visual, motora, auditiva ou mental (IBGE, 2012). Deste todo,
6,5 milhões de pessoas possuem deficiência visual, sendo 582 mil com perda total e 6
milhões com baixa visão (IBGE, 2012). Outros 29 milhões de pessoas declararam
possuir alguma dificuldade permanente de enxergar, ainda que usando óculos ou lentes
(IBGE, 2012). Estes números têm justificado cada vez mais as ações para promover a
inclusão das pessoas com deficiência visual, especialmente em se tratando das questões
de comunicação e acesso à educação.
A Inteligência Artificial tem apresentado avanços em aplicações educacionais que
auxiliam professores e gestores escolares, seja por meio de softwares que tornam a
aprendizagem adaptada as necessidades e desempenho do estudante ou por meio de
softwares que auxiliam com indicadores que apresentam como um professor pode
melhorar a sua aula, indo muito além da avaliação realizada pelos os estudantes aos
professores.
Através da tecnologia assistiva que muitas pessoas com deficiência conseguem realizar
ações que jamais conseguiriam sem o uso da tecnologia, como a startup ORCAM que
produz dispositivos de Inteligência Artificial (IA) vestíveis para pessoas com deficiência
visual. Técnicas de visão computacional são utilizadas para ler textos e identificar rostos
e objetos, como o OrCam MyEye 2, que é o dispositivo de tecnologia assistiva vestível
produzido para pessoas com deficiência visual ou com dificuldade de leitura. A
tecnologia permite que todos possam ler textos impressos ou digitais, em diversas
velocidades, de perto ou de longe, em três línguas: português, inglês ou espanhol. Ele
reconhece, em tempo real, cores, cédulas de dinheiro, produtos e muito mais. Um dos
destaques é que ele não precisa de conexão com a internet e com apenas 22,5 gramas de
peso, ele pode ser acoplado em, praticamente, qualquer par de óculos.
Outra tecnologia favorável para os deficientes visuais é a bengala inteligente WeWALK,
que promete resolver as dificuldades que os deficientes possuem para desviar de
obstáculos, ainda possibilitando com a integração de smartphones para utilização de
mapas e controle por voz, por exemplo. Com isso, além de melhorar a mobilidade do
usuário, ela tem conexão com a internet e utiliza sensores ultrassônicos e dados do
próprio Google Maps para compreender os arredores e avisar sobre os obstáculos.
Desse modo, o uso de computadores com os softwares adequados e aplicativos que
permitem a inclusão, possibilita aos alunos com deficiências visuais o registro do
conteúdo em tempo real, permitindo assim sua participação e aprendizagem. Isso amplia
as possibilidades para construção do conhecimento e minimiza as diferenças de
aprendizado em relação aos demais.

2. Objetivos
2.1. Objetivo Geral
Expandir o uso da informática na educação especial através de softwares educativos
visando auxiliar no ensino-aprendizagem de alunos com deficiência visual e como a
inteligência artificial assistiva pode melhorar essa realidade.
2.2. Objetivos Especificos
 Identificar se as escolas têm a estrutura tecnológica necessária para o letramento
computacional dos alunos com deficiência visual.
 Analisar o desenvolvimento das atividades escolares por alunos cegos com e
sem o uso dos softwares propostos.
 Apresentar e incluir a Inteligência Artificial dentro do ambiente escolar;
 Proporcionar a inclusão de alunos com deficiência visual através dos softwares
com o uso da IA.

3. Metodologia
Inicialmente foi realizado uma pesquisa descritiva para analisar o público alvo, sendo
eles deficientes visuais, o objetivo foi definir a relevância da elaboração do projeto, para
Gil (2002) pesquisa descritiva tem como objetivo levantar opiniões sobre o público alvo
da pesquisa e coletar dados sobre atitudes, sendo umas das formas de realizar este tipo
de pesquisa os questionários, com a finalidade de traçar um objetivo e um embasamento
sobre as necessidades e o nível de conhecimento dos deficientes visuais sobre a
existência e o uso de sistemas de acessibilidade.
Dando continuidade a pesquisa descritiva, será realizado um levantamento de dados em
escolas públicas distintas na cidade de Manaus, para obtermos amostrar com professores
que ensinavam alunos com deficiência visual e aos que não ensinavam esses alunos,
apesar de trabalharem nas escolas frequentadas pelos mesmos. A amostra será
selecionada de acordo com os seguintes critérios: (1) para trabalho em escolas
frequentadas por alunos com deficiência visual e (2) para ensinar no ensino
fundamental, médio ou médio nível nas escolas públicas.
Para obtermos um melhor resultado, será desenvolvido um questionário autoaplicável
com perguntas para todos os professores, bem como perguntas direcionadas aos
professores que trabalharam com alunos deficientes. Junto com o questionário, os
participantes da pesquisa iram preencher e assinar um termo de consentimento para a
participação do mesmo.
Após o desenvolvimento da pesquisa descritiva, foi realizado o um levantamento que se
dará através de uma revisão da literatura acadêmica de artigos relacionados às
tecnologias assistivas, inteligência artificial dento do ambiente escolar e sobre a IA na
acessibilidade para deficientes visuais, além de leitura de livros, revistas e sites
relacionados aos temas da proposta.
Para coleta de dados, irá ser aplicado um outro questionário, com 3 perguntas principais,
sendo elas: Você tem conhecimento de algum aplicativo ou dispositivo que possa lhe
auxiliar em suas atividades diárias? Você utiliza algum aplicativo ou dispositivo que
auxilie em suas atividades diárias? Em uma escala de 1 á 10 o quão relevante você
considera o desenvolvimento deste tipo de tecnologia para a comunidade de deficientes
visuais? questionário esse que será destinado aos alunos com deficiência visual.

4. Contextualização bibliográfica
4.1 Legislação Brasileira
Segundo a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) e a Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, estabelecida pela Organização das Nações Unidas
(ONU), em 2006, e ratificada no Brasil com status de emenda Constitucional por meio
do Decreto Legislativo nº 186/2008 e do Decreto Executivo nº 6.949/2009:
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas
(BRASIL, 2009).

Para a LDB Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação.
De acordo com a LDB no Art. 59, inciso I, fica assegurado que os sistemas de ensino
garantam aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades ou superdotação “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos, para atender às suas necessidades”.
O Plano nacional de educação aponta, Lei nº 13.005, de junho de 2014, dentre suas
metas e estratégias:
Fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso à escola e ao
atendimento educacional especializado, bem como da permanência e do
desenvolvimento escolar dos (as) alunos (as) com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
beneficiários (as) de programas de transferência de renda, juntamente com
o combate às situações de discriminação, preconceito e violência, com
vistas ao estabelecimento de condições adequadas para o sucesso
educacional, em colaboração com as famílias e com os órgãos públicos de
assistência social, saúde e proteção à infância, à adolescência e à
juventude (BRASIL, 2014).

Perante as afirmações colhidas na literatura e apresentadas neste tópico, fica claro que é
de responsabilidade do estado garantir atendimento especializado e gratuito para pessoas
com deficiência, não só no dia-a-dia, como também atendimento escolar. Além de
garantir a permanência da PcD preferentemente na rede regular de ensino.
4.2 Tecnologia Assistiva e a Inclusão Digital
O CAT, Comitê de Ajudas Técnicas (2009),
Conceituou o termo Tecnologia Assistiva como área do conhecimento de
característica interdisciplinar que engloba produtos, recursos,
metodologia, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a
funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com
deficiência, incapacidade ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia,
independência, qualidade de vida e inclusão social (CAT, 2009).

Hogetop e Santarosa (2002, p. 104) abordam que vários termos têm sido adotados para
denominar os novos artefatos tecnológicos, que visam potencializar as capacidades das
pessoas com qualquer tipo de "deficiência", entre os quais Tecnologia Adaptativa e
Tecnologia Assistiva. (HOGETOP, 2002; SANTAROSA, 2002).
A literatura apresenta diversas pesquisas que mostram que, por intermédio das TIC,
pessoas com deficiência encontram a oportunidade de serem incluídas em espaços
sociais e digitais, através das tecnologias assistivas, que dão suporte às pessoas com
deficiência e servem de incentivo a superação das dificuldades (SILVEIRA et al., 2007;
HEIDRICH; BASSANI, 2008; HEIDRICH, 2004; BASSANI et al., 2008).
Para o CORDE (2009, p. 104) cita a Lei nº 8.080, de 16 de setembro de 1990 - chamada
de Lei Orgânica da Saúde que garante a “preservação da autonomia das pessoas na
defesa de sua integridade física e moral - garante a universalidade de acesso e a
integralidade da assistência.” (CORDE, 2009).
Entende-se que a acessibilidade e inclusão digital não dizem respeito apenas ao acesso à
rede de informações, mas também à eliminação de barreiras de comunicação,
equipamentos e software adequados às diferentes necessidades especiais (PASSERINO
E MONTARDO, 2007, p. 15).
4.3 A Educação do Deficiente Visual no Brasil
O MEC, através do documento: Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva, constata que o número de pessoas com deficiência matriculadas
em escolas regulares é superior as matrículas em escolas de educação especial, portanto
é necessário a adequação dos ambientes escolares para atender as necessidades desse
público:
O aumento do número de escolas com matrícula, que em 1998 registra
6.557 escolas com matrícula de estudantes públicos alvo da educação
especial e, em 2013 passou a registrar 104.000, representando um
crescimento de 1.486%. Dentre as escolas com matrícula de estudante
público alvo da educação especial, em 2013, 4.071 são escolas especiais e
99.929 são escolas de ensino regular com matrículas nas turmas comuns
(BRASIL, 2014).

Lopes et al. (2012) afirmam que “na prática pedagógica da sala de aula, o professor, ao
propor aos alunos que explorem o objeto de aprendizagem, busca desenvolver neles a
exploração, descobertas e apropriação do conhecimento”. Nessa visão, as tecnologias
têm um papel fundamental, pois além de proporcionar autonomia também permitem o
acesso à informação e a busca do conhecimento de forma autônoma.
Para Silveira et al (2007), o domínio das tecnologias da informação e comunicação
(TICs) por poucos e a situação de exclusão digital em que se encontram as populações
carentes em todo o território nacional contribuem para o aprofundamento das
desigualdades econômicas e sociais já estão graves em nossa sociedade. Assim,
observamos o quanto as tecnologias continuam distantes para muitas dessas pessoas é
muito pouco acessível para as pessoas que não moram nos grandes centros e alunos que
não estudam em escolas particulares e bem renomadas (SILVEIRA,2005).
Pode-se constatar que no Brasil, existe uma grande desigualdade de acesso aos aparatos
digitais para PcD, pois o poder público dificilmente proporciona inclusão digital para
pessoas sem deficiências e quando falamos da inclusão digital de deficientes visuais, ou
de pessoas com outras deficiências, esse número é ainda menor. Precisa-se garantir
acessibilidade e inclusão digital para PcD e proporcionar aprendizagem de forma
igualitária para todos.
4.4 A Inteligência Artificial na Educação
Segundo Larousse, inteligente é dotado de inteligência, capaz de compreender, esperto,
habilidoso. (Larousse, 99), diz que inteligência é a Faculdade de conhecer, de aprender,
de conceber, de compreender, a inteligência distingue o homem do animal. Inteligência
Artificial é o Conjunto de teorias e de técnicas empregadas com a finalidade de
desenvolver máquinas capazes de simular a inteligência humana (Larousse, 99).
Bates (2015) define a inteligência artificial como a representação em software dos
processos mentais usados na aprendizagem de humanos. Segundo Bates, as tentativas de
replicar o processo de ensino usando a inteligência artificial (IA) começaram por volta
dos anos 1980, inicialmente no ensino da aritmética.
5. Cronograma

6. Referências
BATES, A. W. Teaching in a Digital Age: Guidelines for Designing Teaching and
Learning Vancouver BC: Tony Bates Associates Ltd, 2015.
BRASIL. Plano Nacional de Educação (PNE). Lei Federal n.º 13.005, de 25/06/2014.
Brasília: MEC, 2014c.
BRASIL. (2014) Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, MEC/SEESP.
BRASIL. (2009) Tecnologia Assistiva, CORDE.
HOGETOP, L.; Santarosa, L. M. C. Tecnologias assistivas: Viabilizando a
Acessibilidade ao Potencial Individual. Porto Alegre, 2002.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA (IBGE). Características
gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
LAROUSSE. Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Editora Nova Cultural, 1999.
LOPES, Arilise, M. A; BARCELOS, Elvis C; PASSERINO, Liliana M; VICCARI,
Rosa M. Requisitos de acessibilidade: objeto de aprendizagem para a educação
especial no estudo de matemática. Memorias del XVII Congresso Internacional de
Informática Educativa, TISE, p. 74. Chile, 2012.
PASSERINO, L. M., & MONTARDO, S. P. (2007). Inclusão social via acessibilidade
digital: proposta de inclusão digital para Pessoas com Necessidades Especiais. E-
Compós, 8. https://doi.org/10.30962/ec.144
SILVEIRA, C.; HEIDRICH, R. O.; BASSANI, P. B. S. Avaliação das tecnologias de
softwares existentes para a inclusão digital de deficientes visuais através da utilização
de requisitos de qualidade. RENOTE. Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 5,
p. 1-16, 2007
SILVEIRA, C.; HEIDRICH, R. O.; BASSANI, P. B. S. Avaliação das tecnologias de
softwares existentes para a inclusão digital de deficientes visuais através da utilização
de requisitos de qualidade. RENOTE. Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 5,
p. 1-16, 2007.

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