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ROTEIRO DE ENTREVISTA - TERCEIRO SETOR

Esta pesquisa é um estudo em nível de DOUTORADO, que busca entender a relação entre
TURISMO, GESTÃO DE CRISE e ATORES LOCAIS a fim de trazer contribuições para o
planejamento e a gestão do destino turístico de PIPA, Tibau do Sul-RN, mediante cenários críticos e
de crise no turismo. Contamos com a colaboração do senhor(a) para que possamos ter resultados que
representem o real cenário das crises na dinâmica do turismo de Pipa, e principalmente as formas de
articulação entre os atores locais para lidar e reagir em situações de crise. O tempo estimado de
resposta a esta pesquisa é de 30 a 40 minutos.

TERMO DE LIVRE CONSENTIMENTO E ESCLARECIMENTO: Gostaríamos de CONVIDAR


você a participar deste estudo. O principal motivo para a realização desta pesquisa consiste na
INTENSIDADES DAS CRISES que atingem os DESTINOS TURÍSTICOS. Dessa forma,
pretendemos compreender como os ATORES LOCAIS SE (RE)ARTICULAM diante das
adversidades em contextos de crise no destino turístico de PIPA, RN.

GLOSSÁRIO: Buscando-se facilitar o processo de resposta à pesquisa, apresenta-se o significado


de termos-chave para a compreensão de sentido das perguntas realizadas, a saber:

Crise: Circunstância que possa ameaçar o normal funcionamento e condução do ambiente turístico,
prejudicar a reputação geral de segurança, atratividade e conforto de um destino, causar
desaceleração na economia de viagens e turismo e interferir nas operações de negócios.
Gestão de crise: Conjunto de fatores destinados a combater e/ou diminuir os danos reais infligidos
por uma crise, visando o preparo e capacidade de resposta a eventos inesperados ou não resolvidos a
partir de estratégias, ações, projetos, programas etc.
Problema: Situação a ser resolvida, que traz transtornos e que exige determinado esforço para ser
solucionado.
Impacto: Ação ou acontecimento positivo ou negativo capaz de trazer implicações (consequências)
diretas ou indiretas para o ambiente, o indivíduo ou sociedade.
Risco: Probabilidade de ocorrência de um evento potencialmente perigoso e causador de danos.
Atores Locais: Indivíduos ou grupos presentes em determinado contexto e espaço (residentes,
representantes do poder público, empresários etc.)

INFORMAÇÕES PRELIMINARES

Entrevista em: 18/05/2023


Nome: Gustavo Santa Clara Ferreira
Organização que representa: Conselho Popular de Cultura
Tempo de atuação na organização: 2 anos
Escolaridade: Ensino médio completo

TÓPICOS-GUIA

1) Quais são os principais problemas relacionados ao turismo em Pipa-RN nos últimos anos?
Escassez dos turistas de um modo geral, em especial dos estrangeiros e de regiões distantes
do município
Crescimento desordenado e completamente sem planejamento estrutural da cidade
Cartéis que ditam preços a serem cobrados nos aluguéis e na prestação de mão de obra em
Pipa

2) Você acredita que as questões mencionadas são aspectos que ameaçam o desenvolvimento do
turismo em Pipa-RN? Justifique.
Eu diria que atrasam o desenvolvimento do destino turístico de um modo geral

3) Quais fatores influenciaram ou causaram os problemas/crises citados?


Escassez de turistas foi ocasionado pela pandemia e não houve plano de retomada da economia, não
houve organização entre empresários e prefeitura para um programa da retomada do turismo em
Pipa
Crescimento desordenado se dá pela incapacidade e/ou falta de comprometimento dos governos
(atual e anteriores) na organização estrutural da cidade, falta de saneamento básico e desinteresse
em suprir as demandas da população
Cartéis de empresários é oriundo da falta do caráter predatório que a maioria dos grandes
empresários/ proprietários ostenta, visando apenas o maior lucro possível, sem estudo algum sobre
os impactos disso a curto, médio e longo prazo

4) Quais problemas ou crises ocorridos fora do contexto de Pipa, ou seja, em âmbito regional,
nacional ou internacional, afetaram direta ou indiretamente a dinâmica do turismo local?
Pandemia, antes disso a quantidade de turistas era significativamente maior

5) Como você avalia que Pipa tem enfrentado esses problemas e crises? Justifique sua resposta.
( X ) De forma improvisada e desorganizada
( )De forma reativa ou seja, buscando estratégias apenas quando a crise ou problema já está
ocorrendo
( ) De forma planejada com ações e estratégias previamente definida

6) Como você percebe que os problemas/crises anteriormente citados, têm se refletido (ou
interferido) nos seguintes aspectos de Pipa:
 Infraestrutura;
Na infraestrutura é totalmente perceptível, o município não tem capacidade pra sustentar
nem os novos moradores, que são muitos pois cresceu alarmantemente na pandemia,
quem dirá nas datas festivas quando a quantidade de pessoas no local triplica.
 Segurança do destino;
A segurança do destino sempre foi um diferencial, ainda é um lugar com pouquíssima
criminalidade, claro que nas datas festivas ocorrem pequenos furtos, mas ainda é possível
dormir com a casa aberta sem preocupação (isso em Pipa, eu digo, Tibau, Cabeceiras,
Bela Vista, não é mais tão tranquilo assim). As pessoas que perdem coisas (carteira,
celular, etc), anunciam nos grupos de Pipa, e na grande maioria das vezes tudo é
devolvido. A segurança em Pipa é um grande diferencial, os números pra casos de
violência são ínfimos.
 Práticas turísticas locais;
Nas práticas turísticas locais percebemos um aumento nos preços, devido a pandemia,
tudo aumentou de preço após isso.
 Mobilidade urbana;
Sem alterações há tempos, inclusive é um setor que precisa de uma atenção maior do
poder público, pessoas com necessidades especiais sequer conseguem descer até a praia,
devido a dificuldade de acesso.
 Envolvimento dos residentes na dinâmica turística local.
Os moradores não se sentem parte do turismo. Eles apenas trabalham para os turistas, mas
não sentem pertencer ao mundo turístico. As atrações turísticas não são frequentadas pelos
moradores, eles sentem que não se encaixam nesse local, dados os valores praticados, e os
valores por eles recebidos.
 Atuação do poder público em relação ao turismo.
O poder público só prioriza grandes investidores, fazendo concessões absurdas e de
caráter duvidoso, quanto aos benefícios ao município. As ações da Secretaria de Turismo
parecem ser interessantes, mas nós do terceiro setor não sentimos realmente nenhum
impacto referente às ações deles, mais uma vez, parece priorizar grandes empresários e
não a população local e o município como um todo.

7) Na sua opinião, o destino turístico de Pipa possui estratégias ou ações preventivas (seja por parte
da gestão municipal, empresas, ONGs, associações etc.) para minimizar problemas rotineiros ou
circunstâncias que podem gerar crises ou risco?
Não há. Alguns residentes voluntários fazem mutirões de limpeza de praias, mas mesmo as
associações existentes como “preservadores” pouco ou nada fazem a respeito. Inclusive existe uma
taxa de preservação nas hospedagens que ninguém sabe pra onde vai esses valores.

8) A infraestrutura local, os espaços públicos de lazer e os atrativos naturais presentes no destino de


Pipa, apresentam condições que podem gerar problemas e/ou contribuir para o surgimento de
crises? Justifique.
A curto prazo eu diria que não há nada que possa gerar crises, à princípio. Exceto pela questão das
falésias, onde há várias construções irregulares, condenadas pela defesa civil, inclusive hotéis, que
mesmo após a condenação continuam “de alguma forma” em funcionamento. A prefeitura disse que
precisa de R$ 1,5 Milhões pra começar a mexer nas falésias, e espera que o governo federal os
agracie com a verba, de resto, nada faz. Porém a longo prazo, a falta do saneamento básico e
escoamento de águas pluviais, a inexistência de uma rede de esgoto e o crescimento desordenado,
certamente irá causar uma crise, tanto no abastecimento de água quanto na destinação do esgoto em
cerca de 2 a 3 anos, se nada for feito, isso é fato. Temos também a questão da destinação do lixo,
um lixão que há anos é controverso pois não há interesse do poder público em fazer coleta seletiva,
jogam tudo no lixão, que só aumenta.

9) Na sua opinião, o turismo consiste em um fator que agrava ou minimiza as crises existentes em
Pipa?
O turismo em si nem agrava nem minimiza, Pipa vive do turismo. O grande problema é que
empresários locais e prefeitura só visam lucros e não a preservação local, não visam uma cidade
bem estrutrurada, não agem nem pensam coletivamente.
10) Quais foram os principais problemas causados pela pandemia de Covid-19 ao turismo local e
como você percebe que os residentes lidaram com os problemas gerados?
O principal problema foi tanto a impossibilidade te trabalhar quanto a escassez de turistas. OS
residentes não puderam lidar bem, foi bem complicado, alguns empresários forneceram cestas
básicas, mas mesmo assim foi difícil pra toda a população local.

11) As formas como as práticas de turismo são realizadas em Pipa, podem provocar algum tipo de
crise interna para o destino? Se sim, porquê?
Se as práticas de turismo continuarem como estão, acredito que não, exceto na questão do parque
que está sendo invadido inclusive pelos passeios de quadricículo.

12) Como você percebe que os aspectos de fragilidade e riscos socioambientais das áreas de falésias
vem sendo trabalhados pela gestão municipal?
Os riscos de queda das falésias tem sido negligenciados veementemente pela gestão municipal,
tanto a atual quanto a passada. Já houve decisões judiciais de interdição de casas e pousadas, porém
a defesa civil não cumpre com as interdições.

13) Como se dá a comunicação/relação entre o terceiro setor (ONGs, associações, sindicatos etc.), o
poder público e os residentes frente aos problemas que atingem o turismo de Pipa?

Não há de fato uma comunicação clara. Cada representante do terceiro setor tem que ir
pessoalmente ao poder público, então, em alguns casos eles tem seus anseios atendidos,
mas na maioria não, depende de contatos.
14) Como os residentes de Pipa costumam reagir/lidar com problemas (rotineiros ou não)
relacionados ao turismo, que de forma direta ou indireta possam afetá-los?
Em geral o problema maior do turismo é o lixo nas ruas e praias, os residentes das barracas fazem
uma limpeza nas praias diariamente, e alguns residentes fazem mutirões de limpeza das praias. Nas
ruas somente os coletores de lixo tem realizado esse trabalho, e podemos ver que a falta de lixeiras
aumenta a quantidade de lixo nas ruas. Há locais onde o cheiro de lixo é permanente e quando
chove tudo se espalha, devido aos alagamentos, causados pela falta de escoamento de águas
pluviais.

15) Você percebe algum tipo de parceria ou colaboração entre atores locais de Pipa, (residentes,
empresas, poder público e terceiro setor) para mitigar ou solucionar problemas/crises? Se sim, quem
são esses atores e como se dá esse processo? Se não, explique porque isso não acontece.
Não. As empresas correm atrás do seu lobby junto ao poder público. Há uma organização tímida
entre os artistas locais dos diversos segmentos culturais para mobilizar o poder público a cumprir a
lei cultural 510 de 2014, mas o poder público não tem se esforçado suficientemente para isso.

16) Na sua visão quais fatores facilitam ou impedem a articulação entre os atores locais de Pipa em
contexto de crises e problemas perpassados no destino?
Falta de interesse e empenho do poder público e egoísmo da parte dos grandes empresários, que
atentam apenas para seus empreendimentos e lucros, esquecendo-se da cidade como um todo.

17) O que você acha que a gestão municipal e demais entidades locais poderiam fazer para reduzir
tais problemas e melhorar o turismo em Pipa?
Se unir a sociedade civil e ouví-la, estudar outros destinos turísticos e suas soluções, trabalhar em
conjunto com a cultura para que seja criada uma cultura de preservação do local e enaltecimento das
raízes culturais locais.

18) Sobre o turismo, o contexto da gestão de crise e os diferentes atores locais presentes em Pipa,
gostaria de compartilhar algo mais?
Ao longo dos últimos 15 anos, a gestão municipal conseguiu incutir na mentalidade dos residentes
que as coisas são como estão e que não há nada que possam fazer para mudar, apenas aceitar. Os
atores locais tem se mobilizado para mudar essa mentalidade, instruindo politicamente e
consciencialmente a população, mas é um trabalho que tem que ser feito na base. Está se iniciando
mas certamente levará alguns anos para que a população entenda que ela deve estar no poder para
que a governança seja em função dela, não do lobby político.

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