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Samantha Abschteulich - Parte 1

Trecho de "Profecias de Samantha Abschteulich"

Eu sou a protetora dos homens, a filha da dor, e ao mesmo tempo, mãe da dor e desespero no
coração da humanidade, eu experimentei o verdadeiro sofrimento durante minha vida, mas a
dor é o que nos torna perfeitos, sofrendo e nos fortalecendo cada vez mais, assim, acredito ser
hoje a pessoa mais poderosa em todo o mundo, porque ninguém sofreu como eu sofri, e
tenho visto coisas inexplicáveis. Ninguém sobre a face de nosso mundo entende perfeitamente
o seu funcionamento, mas eu fui a pessoa mais próxima disso, eu preciso escrever isso rápido,
pois não acredito que vá ser capaz de viver por muito tempo, irei morrer em breve, pois estou
doente e morrendo aos poucos, sofrendo mais do que nunca, mas a diferença, é que já sofri
tanto que nem me importo mais, se tornou um prazer gratificante. A retrocinese é a verdade
que todos nós procuramos, a capacidade de mudar nosso futuro, em meus sonhos mais
fantásticos, vi-me em projeções astrais onde senti minha dor ser reprimida, e substituída por
um prazer supremo, algo que eu chamaria de “felicidade absoluta”, enquanto sentia essa
sensação maravilhosa, vi meu futuro e meu presente, vi coisas que eu lembrava de já terem
acontecido, e coisas que ao acontecerem, mas que viriam a acontecer no futuro. Em um
futuro, não sei exatamente em quanto tempo, mas eu tenho visto esses sonhos em várias
noites, sentindo minha alma fora do corpo, como nas projeções astrais, mas um modo mais
intenso, quase sólido, é como se eu realmente estivesse do outro lado, mas eu vi muitas
coisas, e nesse livro eu as descreverei com detalhes, para que meus filhos e filhas possam
saber o que virá a acontecer. E eu sei disso, pois de acordo com a retrocinese, o passado, o
futuro e o presente estão interligados, e portanto, não são inalteráveis, claro que não
podemos viajar no tempo, mas nós podemos influenciar ou prever as coisas que o acaso
provocará, Eric Lionel descreveu a retrocinese como procinese, ou programming, mas acredito
que esse termo esteja errado, retro faz mais sentido, afinal, estamos mudando o que
acontecerá.

E a primeira profecia foi a volta de Samantha Abschteulich, assim como prevejo a minha morte
em breve e escrevo esse livro apressadamente para que meus filhos leiam minhas últimas
notas, prevejo que voltarei, em uma noite sagrada da Hallanacht, nosso culto sagrado nas
madrugadas da última sexta-feira de cada mês, representando o início do fim, o fim é a morte,
e o início do fim, é a dor, eu vi um de meus sucessores dentro da Igreja Abschteulichista, e esse
meu sucessor , que será uma pessoa digna e amante da dor, me abrigará em seu corpo, após
eu retornar de minha morte, pelo meu ciclo. Essa pessoa estará com sua mente aberta,
superando todos os limites de sua mente, e permitindo que aqueles que não estão nesse
mundo, se comuniquem, essa pessoa permitirá que eu volte, e me abrigue em seu corpo,
iniciando o primeiro passo da nova era da humanidade. Eu vi uma criança sofrendo, eu não
podia ver o que acontecia com ela, mas ela passava por uma dor imensa, a maior dor de sua
vida, eu vi uma ligação entre essa criança essa criança, a minha sucessora e eu, pelo que vi, eu
deverei me abrigar no corpo dessa criança, que carregará um sofrimento ainda maior do que o
de minha sacerdotiza, e então eu estarei pronta para começar a minha missão na segunda
vida. Eu quero que meus servos preparem para que cada fase ocorra com perfeição, e darei
para todos, nesse livro, junto com cada profecia, as instruções que devem seguir para que tudo
ocorra bem, tanto para mim, quanto para vocês, meus filhos amados, e façam com devoção e
atenção, pois a perfeição não virá fácil, e preciso que se esforcem para fazer exatamente o que
eu pedirei.

eu posso estar louca, mas eu tenho o poder de mudar o meu próprio futuro, se essa profecia
não se cumprir pelo destino, se cumprirá pelo poder de minha retrocinese. A filha da dor
voltará de um jeito de outro, e vocês irão me ajudar nisso, eu sei que elas se cumprirem, pois
mesmo que eu estive errada, vocês a cumpririam por mim, e eu acredito em vocês, meus
filhos, vocês irão construir as bases necessárias para o meu retorno, então, peço que sigam as
regras que darei com total exatidão...”

- Minhas mãos ainda não se cansaram, o que quer? – Samantha viu seu quarto invadido por
uma pessoa vestida com uma capa negra e segurando uma foice, um uniforme que só era
usado pelos sacerdotes da Igreja Kinezista, não o maior, mas o mais radical rival da Igreja
Abschteulichista, afinal, enquanto um pregava a busca da perfeição através do auto sacrifício,
o outro pregava o sacrifício de outros e a busca da força militar para a supremacia na terra.

Samantha estava em seu quarto escrevendo, morava em uma casa grande de dois andares, até
pequena para uma pessoa de seu porte, aquele homem estava lá, mas parecia não estar lá
para matá-la, pois ainda não havia tentado, mas olhava para seus olhos com um certo
desprezo, mas certamente não seria um problema para a grande Filha da Dor.

- Como pode ver, vim aqui pacificamente, é claro que mesmo se minha intenção fosse
machucá-la, eu não conseguiria, já que é a maior TK mulher de nossos tempos, e talvez, da
nossa história. Eu estou aqui para oferecer um trato entre os Kinezistas e os Abschteulichistas,
embora suas filosofias sejam controversas, ambos estão por baixo, afinal, o Drachenismo é
quem está por cima, a maior parte do mundo o segue, essa maldita religião de humanistas que
se auto-veneram, há uma rixa entre todos nós, mas tenho certeza de que se derrotarmos o
Drachenismo primeiro, será melhor para nos combatermos em seguida.

- Eu entendo, enquanto nós os pequenos nos matamos, os grandes se fortalecem, mas não me
interessa, logo eu estarei morta, e não confio em vocês, não sei se meus sucessores serão
fortes o bastante para lidar com vocês, então me deixe. – Ela usou seu dom super
desenvolvido de transferir dor para fazer o homem cair no chão, sentindo como se tivesse as
partes íntimas perfuradas por um ferro quente, rolando no chão e gritando como um animal
indefeso. – Alguém leve esse cara para longe de mim. – Falou bem alto, mas ninguém veio,
pelo jeito, o homem devia ter apagado as pessoas que guardavam o local, o que a levava a
acreditar que era um poderoso TK, mas debaixo de sua tortura psíquica, até os mais fortes TKs
se tornavam animais indefesos.

- Para, para, pelo amor de Kinesis, para. – O Kinezista gritava em agonia, aquela mulher tinha a
capacidade de criar todo tipo de sensação no tipo de sua vítima, embora fossem ilusórios,
eram muitas vezes piores que a morte.

13/04/ 1914
Estava naquele lugar, entre o nosso mundo e o mundo deles. Algumas pessoas brincam com o
que é proibido, em um mundo em que todo mundo pratica telecinese isso não deveria parecer
tão estranho, pois de telecinese para contato com os mortos, só iria meio caminho. Claro, não
tem nada a ver um com o outro, mas em meu mundo ignorante há gente que acha que
telecinese é bruxaria a atribui ao Diabo, de qualquer modo, quanto a projeção astral, não
entendo como pessoas podem tentar ir para aquele lugar por vontade própria, eu odeio
aquele lugar. Aquele lugar é escuro e desagradável, mas eu aprendi tanta coisa e vi tantas
mentes, quando elas estão sonhando ou em projeção astral, elas passam perto de mim, e eu
posso ver a maioria delas, o problema é a localização, aquela mulher estava com a mente
aberta, aberta de um modo que eu nunca havia visto antes, então eu consegui entrar em sua
mente, assim como um penetra entra em uma festa.

- Mestra Abschteulich, é você? – Aquele mulher parecia ser louca, seus olhos brilhavam como
se estivesse de frente de seu Deus.

- Sim, sou eu. – Eu podia ver nos olhos daquela mulher que ela tinha fé, a fé torna as pessoas
tolas e faz com que acreditem em coisas absurdas, se ela estavam perguntando se eu era a tal
Abschteulich, eu não negaria, pois eu poderia ter controle sobre ela se ela achasse isso.

- Oh mestra, estive esperando por você, as profecias previam que você voltaria à vida, que seu
sofrimento foi tão grande que nem a morte poderia cessá-lo. Mas agora, minha mestra,
poderá ser recompensada por tudo que sentiu por todos aqueles anos, como nossa deusa terá
o pagamento, a recompensa, tudo que merece por ter sido tão forte. – Ela falava com lágrimas
nos olhos, percebi que seria fácil convencê-la, mas ainda deveria ter uma desculpa.

- Bem, admito que não me lembro de nada de quando eu era viva, poderia me lembrar? Só me
lembro de ter vindo parar aqui, nada antes, é como se eu tivesse nascido agora, mas de algum
modo, eu sei meu nome. – Eu parecia convincente com meu tom de voz, mas naquele lugar, as
coisas são mais simples.

- Te contarei a história toda:

Samantha Abschteulich era filha de um militar, sua mãe era enfermeira, e passou seus
primeiros anos de vida em Houkaiser. Tsuchin, o continente de origem de seus pais estava em
guerra com Houkaiser, Diller Abschteulich e Charllote Cavalcante, a guerra durou 10 anos e
causou milhares de mortes. Ela era uma criança de saúde extremamente frágil, quase morreu
durante o parto, cresceu em uma colônia para as famílias dos militares, onde ia para a
enfermaria toda semana, tendo a sorte de ter mãe enfermeira, pois tinha constantes ataques
de vômito e dores intensas de cabeça, os pais dela eram depressivos e nunca sorriam, que
nem ela, embora não fossem assim antes do nascimento da filha. Costumava sentir dor nos
membros, e precisava ser sedada para dormir, pois não conseguia naturalmente, já que suas
dores intermináveis nunca a deixavam. Seus membros doíam com qualquer movimento, as
pernas quando ela andava e os braços quando ela os usava, mas não doíam quando em
repouso, seu grande problema era a dor de cabeça, que durava 24 horas por dia.

Tinha a aparência de uma morta, seu rosto era extremamente magro e todos os seus ossos
eram visíveis, Samantha tinha dificuldade para comer, pois tudo que ela conseguia não vomitar
eram as sopas leves, geralmente de batata e cenoura, coisas que não causavam vômitos na
garota. Após algum tempo com essa dieta de sopa, parou com os vômitos, tendo a situação
estabilizada. Samantha tinha a pele acinzentada, algo que assustava até seus pais, que foram
despedidos quando ela tinha 8 anos, pois a guerra acabou e foi feita uma grande despensa de
militares desnecessários. Sem condições de criá-la, os pais de Samantha a abandonaram em
uma rua, para que morresse, eles sabiam que não poderiam fazer mais nada por ela, uma
garota extremamente doente e com pais desempregados e sem-teto, tendo também a certeza
de que ninguém iria querer adotá-la e criá-la, e sem coragem para matar a garota de modo
rápido e indolor .

A garota foi deixada em um beco na cidade de Florência, os pais disseram para que esperasse,
e ela esperou, até o terceiro dia, quando desmaiou. Quando acordou, estava em um hospital
público, em um cama, aparentemente havia sido salva por alguma espécie de biocinese
medicinal extremamente efetiva, se viu na frente de um médico alto, que havia cuidado dela,
eles conversaram e ele acabou a adotando, se comovendo com a história de sofrimento da
garota.

Ela passou os 3 anos seguintes vivendo com o médico Jonieriton Drunko, que acabou
cometendo suicídio no final do terceiro ano. Ele havia dedicado grande parte de seu tempo
livre a tentar curar a filha adotiva, mas falhou, e se matou por causa da culpa que sentia por
não ter sido capaz de curar a menina, que herdou todo o dinheiro do homem e passou a ser
guardiã legal do patrimônio dele, algo possibilitado por uma lei da época, que permitia que
menos estudantes com média escolar de pelo menos 90% não precisassem de um guardião
legal para cuidar de seus bens. Sua depressão e necessidade de compartilhar a dor a levou ao
cargo de escritora, dedicava sua vida a escrever e publicar livros, criando a primeira editora da
história do mundo, a editora Abschteulich, que alcançou grande sucesso com seus livros
baratos. As principais temáticas dos livros de Samantha eram histórias fictícias de terror e
mistério e livros de “auto-ajuda” que apontavam o sofrimento como o caminho para a
felicidade o sucesso. Ela passou a acreditar que seu sofrimento eterno era um dom que a
tornaria forte, ela acreditava que as pessoas deveriam ser como espadas, sendo forjadas no
fogo do sofrimento, e quanto maior o sofrimento, mais forte a pessoa seria, sendo esse
sofrimento o único caminho correto.

Muitas pessoas se identificaram com a filosofia de Samantha, que ela chamava de


Abschteulichismo, ela conseguiu muitos adeptos, principalmente pessoas de vida dura ou
saúde fraca. O fato era que a garota conseguia passar pedaços de seu sofrimento para os
livros, fazendo com que os leitores sofressem também, coisa que ela aprendeu a fazer durante
os anos que viveu com Jonieriton, mas ela conseguia fazer com que as pessoas se
acostumassem com o sofrimento e gostassem dele, levando em conta a filosofia do
Abschteulichismo, que fazia com que elas desejassem sofrer para se tornarem melhores, como
masoquistas. Samantha passou a escrever obras religiosas, o Abschteulichismo deixava de ser
filosofia para ser religião, a dor era vista como um caminho para o divino, e as pessoas
deveriam compartilhar a dor sempre que pudessem. A Igreja Abschteulichista não tinha
nenhuma sede, e os cultos eram discursos feitos pela líder em locais públicos.
“- Meus seguidores, a dor e o sofrimento nos fazem pessoas melhores, compartilhem de meu
sofrimento, para que possam ser grandes, todos juntos, como uma grande família de pessoas
forjadas no mais alto fogo, fortes e evoluídas.” Essa foi a frase mais famosa de nossa religião,
mestra.

Após o Abschteulichismo se tornar popular como religião, Samantha se casou para poder
continuar sua linhagem de sofrimento, a essa altura já havia se tornado uma pessoa
totalmente masoquista. Ela não pretendia fazer sua religião se espalhar pelo mundo todo, ela
sabia que só podia compartilhar sua dor com as pessoas ao seu redor, ela podia fazer com que
os seus sentimentos e sensações fossem transferidos, ela não podia evitar a tristeza doentia e
as dores infernais que sempre sentia, mas podia fazer que qualquer pessoa por perto as
sentisse também, a dor emocional passavam para os outros naturalmente, a física, só quando
ela fazia conscientemente. Ela queria divulgar seu livros, isso espalharia a dor pelo mundo, mas
não na quantidade certa, ela pretendia fazer com que seus descendentes fossem se
multiplicando para poderem espalhar a dor, já que uma grande quantidade de pessoas teria
mais facilidade para espalhar o sofrimento do que ela sozinha, então acabariam por dedicar
suas vidas à procriação. Após sua morte, aos 32 anos, por falta de nutrientes no sangue, seus
filhos continuaram a linhagem, levando o dom de compartilhar a dor e a necessidade de sofrer
para evoluir, porém o Abschteulichismo decaiu muito, passando a ter pouquíssimos seguidores
após a morte de sua criadora, passando a ser difundido pelos seus descendentes. - Ela
terminou após falar pó muito tempo, a mulher se emocionava a cada palavra, ela realmente
acreditava naquela história.

- Eu sou Samantha Abschteulich, a criadora do Abschteulichismo, eu vim para mostrar a dor à


humanidade para que cada homem na terra se torne uma pessoa melhor. Mas você, minha fiel
sacerdotiza, como se chama? – Fui fria, a tala Samantha não parecia um tipo de pessoa
emotiva, então quanto mais tranqüila eu estive sendo, mais convincente, afinal, eu
supostamente sofri mais que qualquer pessoa no mundo e agüentei resistentemente até onde
pude.

- Mestra, não sabe como estou honrada em te ter em minha mente, irei providenciar os
métodos para te levar o mundo real, a senhora viverá dentro de mim 24 horas por dia, e logo
poderá ter seu próprio corpo, meu nome é Zena Lavigne. – Ela se curvou em reverência
quando disse isso.

- Zena, por que simplesmente não deixa eu possuir o seu corpo, tributando sua mente para
permitir que sua mestra viva? – Eu estava com pressa para sair daquele lugar.

- Não existe um modo de se fazer isso. Mestra, os seus livros previram que voltaria no corpo de
uma criança, primeiro você retornaria como espírito, e depois como uma pessoa, a data da sua
volta espiritual não foi definida, mas a de sua volta física foi. Acontecerá na Hallanacht, algo
que só acontecerá em alguns anos, enquanto isso, ficará abrigada em minha mente, a senhora
é poderosa e não condições de viver completamente em um corpo fraco como meu, a pessoa
que assumir seu corpo será uma pessoa tomada pelo sofrimento e pelo desespero, uma
pessoa que não acredita em vossos princípios, uma pessoa que não pode aceitar a dor. – Ela
estava me enrolando.
- Eu quero voltar agora mesmo, me dê seu corpo, eu não me importo se não é forte, eu só
quero sair daqui e fazer o que preciso fazer logo. – Eu fui sincera, não agüentava mais estar
naquele lugar, queria estar vivendo como qualquer outra pessoa.

- Desculpe mestra, mas não há opção, não pode ter meu corpo, mas não é porque não deixo,
mas porque não posso, o sofrimento necessário para abrir as portas para sua dominação
precisa ser muito forte e forçado, eu sofro e gosto disso, pois sei que a dor é o caminho para a
perfeição, então não estarei sofrendo plenamente, nós Abschteulichianos estamos acima do
sofrimento, é por isso que a pessoa que te receberá não pode ser um.

- Já que não tem escolha, viverei em tua mente e esperarei pela noite em que voltarei á vida. –
Tive que aceitar, eu era fraca demais para possuir a mente ou corpo dela, e se eu tentasse isso,
ela perceberia que não sou Samantha, então minha chance estaria perdida.

- Mestra, espere, já esperou sua vida toda, não fará mal esperar mais alguns anos, a noite
chegará, e a profecia se cumprirá, Samantha Abschteulich estará de volta! – E ela falou com
toda a devoção que uma pessoa poderia ter.

- Eu sou uma garota que tem tido pesadelos assustadores, na verdade, fico impressionada por
ainda estar viva, não é fácil pra mim agüentar, pois dói muito. Desde meus 3 anos, me lembro
que sentia violentas e constantes dores em minhas pernas e braços, eu poderia dizer que é
uma maldição que carrego e que não posso evitar, mas isso seria pouco para descrever o que
sinto. Vocês não entenderiam, afinal, são apenas pessoas comuns que têm a chance de ser
feliz, e acabam sendo sem ter que se esforçar. Ter paz, ter saúde, vocês não são forçados a
idolatrar os momentos de sono como o único instante de paz de suas vidas, e muito menos são
perseguidas por pesadelos ásperos que acabam tornando esse momento de paz em um
inferno ainda maior. Eu queria que todos conhecessem a minha dor, eu queria que todos
pudéssemos sentir juntos essa sensação amarga e contínua, não são apenas as dores que
assolam meus ossos e músculos, mas a constante vontade de morrer e escapar desse mundo
tão indevido para mim. Nada é realmente importante, eu vivo por viver, talvez haja um lado
bom em tudo, certamente porque me sinto a pessoa mais miserável do mundo, mas apesar de
tudo, sinto que tenho um fardo e uma missão, meu sofrimento me deixará mais forte, e quem
sabe, um dia, eu tenha me acostumado e já não me importe com tudo isso. – A pessoa estava
sentada em um tipo de trono em uma igreja, iluminada à luz de velas, ela lia uma carta em voz
alta, as luzes não eram muito fortes e seus cabelos ficavam na frente dos olhos, para ela era
possível ver além dos próprios cabelos, mas para quem olhava, não era possível ver seus olhos,
a boca parecia bastante seca, ela vestia um vestido negro bem curto, que deixava apenas os
braços de cotovelos até as mãos e as pernas dos joelhos para baixo de fora.

- Santificada seja Samantha Abschteulich! – Um homem que disse, havia 9 pessoas no total
naquele lugar, esse homem estava vestido com roupas de frio bastante grandes, de fato,
Magnekure era um continente extremamente frio, com média de temperatura entre 10 e 0
graus.
- Eu celebro essa missa Abschteulichiana em nome da grande Samantha Abschteulich, a nossa
guia, nossa mãe. Hoje é a noite mais importante do calendário feito por nossa mestra, a
Hallanacht, a noite mágica da águia, como todos sabemos, nossa mãe definiu em maior livro, a
“O Absch”, a Hallanacht ocorreria no dia 14 do 8 de 1924, o dia em que o sofrimento tomaria
conta de uma criança, quando o princípio do sofrimento voltaria no corpo de uma criança
especial. – A sacerdotiza guardou o pedaço de papel e segurou a ankh que estava levando
pendurada no pescoço, a ankh era a imagem que Abschteulich tomou como seu símbolo, mas
a que representava a religião era diferente, pois era pontuda, exceto na cabeça, as pontas
eram cortantes como facas, a mulher colocou o objeto nos lábios e cortou os cortou com a
ponta.

Cada pessoa naquela local levava ankhs iguais em seus pescoços, todos fizeram o mesmo,
cortando os lábios, isso poderia explicar o porque de todos terem bocas secas, arrancavam
todo o sangue à força.

- A criança que Abschteulich previu, DDM, ela nunca contou o que significava essa sigla,mas
previu que saberíamos dizer quem seria, e que essa garota nos mostraria a verdade. A essa
altura, está começando uma guerra aqui. Cortamos nossos lábios para que nossas palavras
saiam com mais intensidade, assim que a menina entrar por esta porta, usaremos nossas
habilidades para fazer de nossas palavras, os seus pensamentos, e ela será o que nós
mandarmos que ela seja. – As portas e janelas estavam todas fechadas, a única luz era das
velas, de fora da igreja realmente havia uma barulheira impressionante, era o barulho de
várias pancadas bem altas, aparentemente estava acontecendo um tumulto do lado de fora.

- Ave Abschteulich, bendita sóis vós entre as mulheres, bendito sejam vossos ensinamentos,
traga a nós a dor que sentiu, compartilhe de vossa dor, deixe-nos experimentar o vinho
amargo que sentiu. – A sacerdotiza orava, mas a essa altura, alguém abriu as portão da igreja.

- É ela, irmã Zena. – Era um policial segurando na mão de uma criança, uma pequena menina
loira que vestia uma blusa de frio vermelha e uma calça de lã grossa rosa, o policial
obviamente usava uma farda, as fardas em Magnekure eram bastante grossas, azuis com
quepe, mas tudo feito com lã grossa. A menina era loira, de pele morena clara, olhos
castanhos e cabelo dourado, ela chorava muito, mas baixo, como se estivesse sendo
ameaçada, também é bom salientar que seu rosto e seus braços estavam inchados e roxos,
cheios de marcas, com as mãos totalmente raladas, vários cortes, pequenos rasgados na
região inferior do vestido e um dente faltando, arrancado à pancadas, era de dar pena, sem
falar que ela mal ficava de pé direito, mancava como um animal ferido.

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