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RESUMO DAS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELO RELATOR

NA “ERRATA” AO RELATÓRIO DA MPV 905 APRESENTADA


EM 10.03.2020

Em 10 de março de 2020, o Relator da MPV 905 apresentou à Comissão


Mista do Congresso Nacional “errata” para a sua Complementação de
Voto, incluindo novo Projeto de Lei de Conversão, com alterações em
vários dispositivos.
Ao final, a maior parte dos ajustes tem caráter técnico mas alguns deles
afetam o mérito da proposição. Há inclusões e supressões de dispositivos,
que demonstram a dificuldade do relator de apresentar um PLV
consistente, dada a complexidade do tema e o grande número de normas
objeto de alteração.
Entre as modificações contidas na “Errata”, destacamos as seguintes:
1. - nova redação ao § 3º do art. 161 da CLT, suprimindo a previsão de prazo
de 5 dias uteis para exame de recurso pela autoridade máxima regional da
inspeção do trabalho em caso de interdição de obra ou atividade, passando
a apenas prever que “caberá à Secretaria de Trabalho da Secretaria
Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia a
harmonização nacional dos procedimentos de embargo e interdição”.
Medida correta, eu afasta a obrigatoriedade de exame de recurso em prazo
que, de fato, era muito curto.
2. - suprimida a alteração no art. 198 da CLT, que previa o peso máximo que
um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as disposições
especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher, passaria de 60 para
30 kg em dez anos. Sob a alegação de que a medida não teria efeito
imediato e geraria insegurança jurídica, foi suprimida a regra por ele
mesmo proposta.
3. - alteração no inciso II do art. 627, que trata da dupla visita prevendo que
não haverá esse tratamento quando se tratar de primeira inspeção em
estabelecimentos recentemente inaugurados, nos casos de frentes de
trabalho e canteiros de obra cujo empregador já tenha sido devidamente
orientado em inspeção anterior. A mudança é positiva, dado o fato por ele
mesmo apontado de que as obras tem, muitas vezes, curta duração e as
infrações se repetiriam sem penalização do empregador reincidente.
4. - alteração no inciso V do § 2º do art. 627, que trata da dupla visita, para
prever que a dupla visita não será aplicada no caso de trabalho em
condições análogas às de escravo ou trabalho “para todas as
irregularidades diretamente relacionadas à configuração da situação”.
Acata em parte crítica feita pelo SINAIT, e que é objeto de DVS pendente
de apreciação, de que a expressão “exclusivamente” no § 2º impediria a
autuação das irregularidades associadas à infração principal (trabalho
escravo, e trabalho infantil).
5. - inserção do § 6º do art. 627, para prever que o benefício da dupla visita
será renovado após passados 10 (dez) anos da lavratura de auto de
infração, ou em prazo diferente para infrações específicas, conforme
regulamento da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do
Ministério da Economia, para cada item expressamente notificado por
Auditor Fiscal do Trabalho. Modificação negativa, que “zera” a
reincidência após dez anos, permitindo que a mesma empresa seja
novamente beneficiada.
6. - alteração no § 3º do art. 628, prevendo que no caso de lavratura indevida
de auto de infração por auditor fiscal com comprovada má-fé, responderá
por falta grave mas será instaurado, obrigatoriamente, processo
administrativo disciplinar. Suprime, assim, a previsão de suspensão por 30
dias, previamente a abertura do processo. Medida positiva, de caráter
técnico, que afasta excesso punitivo da proposta e não prejudica a
responsabilização do agente em caso de abuso de autoridade.
7. - inclusão de § 4º no art. 628, para prever que “o disposto no caput não se
aplica quando se tratar de infrações a preceitos legais ou a
regulamentações sobre segurança e saúde do trabalhador de gradação leve
ou media regularizadas no curso da própria ação fiscal, ou ainda em prazo
posterior, conforme regulamento da Secretaria Especial de Previdência e
Trabalho do Ministério da Economia. ” Contudo, o dispositivo não faz
sentido, pois há 2 situações previstas no caput do art. 628: a) a ressalva da
não aplicação dos art. 617 e 627-A e 627-B, relativos a dupla visita; b) o
dever legal do auditor lavrar auto de infração, exceto naquelas hipóteses.”
Assim, o resultado pode ser impedir o Auditor de multar em caso de
infração leve ou média a normas de segurança e saúde do trabalhador.
Deve ser feito questionamento ao Relator, portanto, quanto ao sentido
da norma.
8. - alteração no § 3º do art. 629 para fixar em 30 dias uteis o prazo para
apresentação de defesa contra auto de infração lavrado pelo auditor fiscal
do trabalho. Beneficia o infrator.
9. - alteração no art. 636 para fixar em 30 dias úteis o prazo para interposição
de recurso para a segunda instancia contra penalidade por
descumprimento da legislação trabalhista. Beneficia o infrator.
10. - alteração ao § 3º do art. 18 da Lei 5889, para prever expressamente que
caberá à auditoria fiscal do trabalho exigir dos empregadores rurais ou
produtores equiparados a comprovação do recolhimento da Contribuição
Sindical Rural. Ajuste de caráter técnico, harmonizando o texto com a
previsão da CLT contida no PLV.
11. - alterações nas normas relativas aos corretores de seguro, suprimindo
alteração ao art. 122 e caput e §2º do art. 123, do DEL 73, e supressão de
alterações aos §§ 1 e 2 do art. 3 da Lei 4.594, relativa aos corretores de
seguros. Ajustes de caráter técnico que não afastam as impropriedades do
texto, no tocante à delegação do poder de polícia a entes privados.
12. - supressão (por inutilidade) da redação dada ao art. 18, III da Lei 8.213,
mantendo o serviço social no INSS. Medida positiva, dada a incoerência
do PLV, apontada em Voto em Separado do Senador Paulo Paim.
13. - supressão da revogação do parágrafo único do art. 68 da CLT (correção
de erro técnico, já que o PLV está dando nova redação ao art. 68, sobre o
trabalho aos domingos).

Em 10 de março de 2020.

LUIZ ALBERTO DOS SANTOS


Consultor Legislativo - Advogado

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