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702 Recensões Críticas

Só em 1473 gastou o Rei com bol­ bio. Mendel foi dotado de uma gran­
sas 275.800 reis a ponto de o Povo de inteligência, que cultivou com mui­
reclamar, nas Cortes de Évora, que não tas dificuldades, porque seus pais não
se dessem bolsas para o estrangeiro, tinham meios financeiros para ocor­
pois havia prejuízio com a saída de rer às despesas com os estudos. Con­
ouro e prata do Reino. D. Afonso V fiando em si mesmo, sereno e firme,
atendeu a petição do Povo. foi sempre um aluno distinto. Em 1843
Caso curioso era o dever do bedel entrou no convento dos Agostinhos
apontar as faltas do Lente, que tives­ em Brunn, continuando com o mes­
se de assistir aos conselhos escolares, mo amor, a sua formação científica.
de 15 em 15 dias, aos sábados, e, não De 1851-1853 frequentou a Universi­
comparecendo, era-lhe descontado o dade de Viena, em Ciências Naturais,
salário como se faltassem às aulas. Em 1854 foi nomeado Professor da
Havia verdadeiro espírito democrá­ Escola Profissional de Brunn, gran-
tico na vida da Universidade e nas geando a estima e o amor de todos
eleições de Reitor. Deviam tomar par­ os alunos e Professores, pois era cla­
te em tal acto, os alunos de Cânones, ro na exposição, doce no convívio com
de Leis e os Lentes e conselheiros das os discípulos e dotado de uma inalte­
várias faculdades. Também desperta rável paciência em resolver e vencer
certa curiosidade ver como cada esco­ as dificuldades. Foi Director do Jar­
la tinha de escolher dois conselheiros, dim Botânico de Brunn.
entre os estudantes mais «sabedores, De 1854-1869 dedicou-se à investiga­
idosos e assíduos», que serviriam du­ ção, fazendo centenas de ensaios para
rante um ano. Eram os escolares descobrir e estabelecer as leis de for­
quem escolhia as matérias, que os Len­ mação de plantas híbridas, descobrin­
tes deviam ensinar. As aulas iam até do as leis da hereditariedade, que ele
«15 de Agosto» e eram reguladas por enunciou em 1866, embora só fossem
relógios, comprados com dinheiro da reconhecidas em 1900. São as célebres
Universidade e guardados pelos conse­ leis de Mendel.
lheiros, seus responsáveis. Em 30 de Março de 1866, foi nomea­
Há vários documentos em que o Rei do Abade e Prelado da Abadia dos
pedia ao Papa a faculdade de aplicar Agostinhos de Brunn, que dirigiu ate
os rendimentos de certas Igrejas para à sua morte
aumentar o pagamento aos Lentes, Foi um sacerdote exemplar e um in­
etc.. vestigador incansável na Genética.
Por estes documentos se vê como o Esta biografia, embora resumida, é
Rei vigiava para que os estudos pro­ muito boa, porque o autor sabe dar
gredissem, na ordem e com disciplina, relevo, com muita precisão, aos pontos
dentro de um espírito de verdadeira fundamentais da vida e obra de Men
democracia. del, que honrou a Ciência e a Igreja
A edição é rigorosamente crítica e a com os seus talentos e a sua vida,
sua consulta é facilitada por índices, sendo admirado por todos os que o
cronológicos, analíticos e das estam­ conheceram e pela sua cidade natal,
pas. que lhe erigiu um monumento em
É um importantíssimo instrumento 1910. — J. Arieiro.
de trabalho, que muito honra os que
intervieram na sua preparação e pu­
blicação.— J. Arieiro. SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de
Portugal. Vol. IV. Ed. Verbo. 1 vol.
de 512 ps. 235x170. Lisboa 1979.
SAJNER, Josef, Juan Gregorio Mendel,
Vida e Obra. Ed. Religión y Cultura. Com regularidade consoladora, o
Ilustre Autor continua a publicação
1 vol. de 139 ps. 190x120. Madrid da História de Portugal. O IV volume,
1978. que acaba de sair dos prelos, abrange
o período filipino (1580-4640). A sua
Mendel nasceu em 22 de Julho de leitura desperta interesse especial, por­
1822, em Heinzendorf, perto de Odrau que trata de uma época menos conhe­
e morreu em 1884. Nesta biografia es­ cida, por razões bem sabidas. O de­
tuda-se o homem o sacerdote e o sá­ sastre de Alcácer-Quibir, que fez per-

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