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Jornalismo Especializado II
junho, 2022
Reflexão crítica sobre o jornalismo de investigação praticado em
Portugal
O jornalismo de investigação é determinante para o exercício do quarto poder que tem
sido esquecido devido à falta de jornalistas motivados, à falta de recursos financeiros e
ao tempo escasso vivido nas redações. O jornalismo de investigação permite uma
monitorização do exercício do poder, um aumento da responsabilidade de quem o
exerce, uma proteção da democracia e a denúncia dos casos de corrupção e abuso do
poder, aspetos estes que são decisivos para uma sociedade livre (Coelho, 2015). Há falta
de jornalistas de investigação sobretudo porque é uma área desafiante onde é necessário
ter determinação, confiança, experiência, conhecimento e uma motivação pessoal
elevada, onde um não nunca pode ser aceite. As reportagens de investigação resistem ao
imediatismo que tem emergido, devido à competitividade entre meios de comunicação e
à massificação de informação presente no digital que violam muitas das vezes o código
deontológico. Depois de muita pressão para chegar a um fim, o jornalismo de
investigação prevaleceu demonstrando que é possível ser transparente, contextualizar e
investigar a informação, assim como verificar os factos no terreno e expor da melhor
forma informação rigorosa e à prova de bala. Só este género jornalístico permite
cumprir as regras éticas e deontológicas na sua essência.
Para o autor há uma solução para este problema que passa por um equilíbrio “que nos
abra um caminho que evite as ilusões provocadas pelo ruído do excesso e as restrições
impostas pela unidirecionalidade” (Coelho, 2015, p.109). Porque de facto é melhor
trabalhar com mais informação que nos permita reter e verificar o que realmente é
verdade, abrindo-se um leque de opções, do que apenas ter um caminho a seguir.
Através desta investigação aprofundada, o jornalista recupera o seu papel que tem sido
descredibilizado, posto de parte e esquecido na imensidão de informação que chega ao
público diariamente.
O professor avisou-nos que seria um tema difícil, mas mesmo assim decidimos arriscar.
O facto de termos decidido mais tarde o nosso ângulo condicionou-nos no tempo que
tínhamos para fazer uma reportagem de tal calibre, o que nos deixou em desvantagem
em relação aos outros grupos. O maior desafio foi sem dúvida em tão pouco tempo
conseguirmos arranjar fontes fiáveis e testemunhos de refugiados ainda para mais sobre
um tema tão sensível. Um agendamento de material da universidade que fosse
compatível com os nossos próprios horários e o horário dos nossos testemunhos
também foi difícil. Logo na nossa primeira fonte não conseguimos requisitar microfone
de lapela e o som não ficou agradável. Além disso a nossa fonte só falava ucraniano
pelo que tivemos de arranjar uma intérprete e fazer a posterior legendagem da
reportagem.
Alguns de nós nunca tinham feito uma reportagem no seu percurso académico porque
vieram de áreas distintas de comunicação, por isso não tínhamos bem noção dos planos
a gravar e na edição o desafio do visual foi o principal entrave. Fazer um bom
storytelling também é fundamental para uma reportagem de investigação e também
tivemos algumas dificuldades nesse aspeto. Já tínhamos a história estruturada, mas
alguns planos que tínhamos feito simplesmente não faziam sentido, por isso a edição
ficou um pouco aquém. Foi um processo muito complicado devo confessar, já tinha
feito reportagens quotidianas anteriormente, mas nunca em tão pouco tempo, ainda para
mais com um rigor que uma reportagem de investigação merece. Os dados do IEFP
eram decisivos para a nossa história e infelizmente não conseguimos com que falassem
connosco mesmo depois das inúmeras tentativas. Tivemos azar porque os dados que
queríamos sobre o número de refugiados que estão atualmente a trabalhar em Portugal
apenas poderiam ser concedidos pelo presidente da instituição e no final do nosso
percurso a presidência mudou.
Estes obstáculos eram facilmente ultrapassados se tivéssemos tido mais tempo para
realizar a reportagem e se no início não estivéssemos tão indecisos sobre o nosso tema.
A partir do momento em que estávamos na página certa demos o nosso melhor apesar
de todos os trabalhos que tínhamos para as outras cadeiras e os nossos empregos.
Apenas eu e outra pessoa do grupo tínhamos alguma experiência básica a editar o que
dificultou o processo também.
Depois deste obstáculo considero que esta experiência foi enriquecedora acima de tudo.
Devo concordar que fazer uma reportagem de investigação não é nada fácil e um
jornalista desta área deve ser mesmo persistente e nunca aceitar um não como resposta.
Levo este ensinamento para a vida e espero no futuro ser uma pessoa mais organizada e
decidida porque sei que foi um dos principais motivos das dificuldades acima
mencionadas.
Apesar destas dificuldades e de tantas vezes ter pensado em desistir estou agradecida
por não o ter feito. Tenho orgulho no meu trabalho porque sei que demos o nosso
melhor nas condições que tínhamos ao nosso dispor.
Agradeço pela exigência e rigor que o professor nos passou porque só assim seremos
bons jornalistas. Embora tenha sido um trabalho extremamente difícil serviu para me
preparar para minha carreira jornalística que não será nada fácil também.
Referências bibliográficas:
Coelho, Pedro (2015): “A Investigação Jornalística em TV, algumas reflexões sobre o
futuro do jornalismo televisivo”, in SERRA, Paulo, SÁ, Sónia, WASHINGTON, Sousa
Filho (orgs), A Televisão Ubíqua (pp. 105-121), Livros Labcom, disponível em
http://www.livroslabcom.ubi.pt/book/136