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de Aldo Rossi
Discentes: João Vitor Torres e Breno Teixeira
Aqui, portanto, é possível notar que, ao tentar conceituar uma arquitetura que também seja analógica,
Rossi começa a partir de um entendimento não apenas material e histórico do objeto arquitetônico,
concebendo-o, também, em uma dimensão imaginativa e, como ele mesmo coloca, arquetípica.
(ROSSI in NESBITT, 2006)
Assim, ao olhar separadamente, esses dois conceitos parecem tratar de duas esferas
completamente distintas: enquanto o fatti parece dizer respeito a um entendimento material
e histórico da arquitetura, a proposição de uma arquitetura que lida com a analogia se
coloca em outro contexto, relacionado a uma sublimação daquilo que é real, considerando a
arquitetura através de sua capacidade imaterial de comunicar ideias e se relacionar com o
ideário individual e coletivo. É aqui, então, que o terceiro conceito central da teoria de Rossi,
o da tipologia, aparece, possibilitando não só um entendimento mais aprofundado do
conceito do fatti e da città analoga, mas também um entendimento da relação entre ambos.
Já tendo sida discutida no campo da arquitetura por autores como Quatremère de
Quincy e Giulio Carlo Argan, a tipologia aparece como um elemento que diz respeito aos
tipos e às formas materializadas. Como coloca Boaventura, a tipologia pode ser entendida
como “uma regra, um enunciado lógico e apriorístico em relação à forma.[...] é aquilo mais
próximo da ‘essência da arquitetura'''; nesse sentido, esse entendimento de algo apriorístico
traz a teoria de Rossi a uma nova categoria epistemológica. Ao entender a tipologia como
algo que está na esfera de algo essencial, Rossi entende aquilo que está posto como fatti
como tipos, formas a posteriori que poderiam, portanto, se referir a essa essência. Por outro
lado, de certa forma, é a existência dessa essência tipológica que torna possível a
assimilação dos símbolos formais aos quais uma arquitetura analógica se referiria.
Para constatar a importância do conceito da tipologia como peça articuladora da
teoria de Rossi, uma análise cronológica mostra que, já na discussão de seu livro
Arquitetura da Cidade, o conceito da tipologia aparece como uma resposta a um problema
sugerido pela compreensão da arquitetura enquanto fatti, enquanto, ao mesmo tempo,
sedimenta o entendimento de uma dimensão imaterial da arquitetura que seria retomada
com o conceito da cittá analoga. Ao olhar para a condição dos fatti, Rossi se depara com o
problema de que estes estão sempre sujeitos à ação do tempo; de modo que seus usos,
com o passar dos anos seriam inevitavelmente alterados de acordo com as demandas
daqueles que ali viviam. Com isso, ao tentar sugerir um método para a concepção
arquitetônica, Rossi considera que esse entendimento material da arquitetura enquanto fatti
deveria se referir ao tipo, constatando uma necessidade de se referir a tipologia ao conceber
a arquitetura. Essa ideia, por fim, tem respaldo no pensamento da cittá analoga, que ao se
debruçar sobre a ideia de signos que transporiam a experiência individual do arquiteto, se
comunicando com a experiência coletiva daqueles que usariam o edifício, considera
justamente a existência de uma “essência” por trás dessa forma; responsável por tornar
essas analogias e significações possíveis.
Portanto, entende-se que, para chegar ao conceito da città análoga, ponto no qual a
teoria do arquiteto passa de um pensamento lógico a um pensamento analógico, Rossi
passou pelo entendimento dos fatti e da importância da cidade, desenvolvidos no
“Arquitetura da cidade”; reconhecendo, neles, tipos que vão além do material construído e
que podem, assim, atingir essa dimensão imaterial da ideia.
Nota-se, assim, que o conceito de tipologia atua como peça chave na teoria do
arquiteto, ligando e dando forma aos outros dois conceitos centrais e aparentemente tão
distintos de sua obra. Ao valer-se do conceito da tipologia, Rossi admite uma nova categoria
epistemológica em sua teoria; ao trazer a existência de esferas apriori da arquitetura,
consegue sobressair o entendimento estritamente material e histórico intrínseco ao
conceito dos fatti ao colocá-los como formas que estavam ligadas a uma essência. Essa
questão do que é essencial e apriorístico é retomada ao se pensar a cittá analoga, uma vez
que, posto o problema da relação entre a experiência individual e histórica do arquiteto e a
experiência coletiva daqueles que usariam o edifício no decorrer da história, Rossi recorre à
existência dessa tipologia para sugerir uma arquitetura que, sendo analógica, conseguiria,
através de seus signos, se referir a essa essência conhecida por todos.
Referências
BOAVENTURA, C.R., Aldo Rossi e a crítica italiana: nostalgia versus analogia. Grupo de Estudos em
Estética Contemporânea da USP, p.92.
NESBITT, K., 2006. Uma nova agenda para a arquitetura. Editora Cosac Naify.
ROSSI, A., 1976. Uma arquitetura analógica. in NESBITT, K., 2006. Uma nova agenda para a arquitetura.
Editora Cosac Naify.
VIDLER, A., 1976. A terceira tipologia. in NESBITT, K., 2006. Uma nova agenda para a arquitetura.
Editora Cosac Naify.