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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS


CÂMPUS DE ARARAQUARA

MARINA TREVIZAN MAZON

INIBIÇÃO DE FOSFODIESTERASES, UMA NOVA PERSPECTIVA NO


TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS E OUTRAS PATOLOGIAS

ARARAQUARA - SP
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
CÂMPUS DE ARARAQUARA

INIBIÇÃO DE FOSFODIESTERASES, UMA NOVA PERSPECTIVA NO


TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS E OUTRAS PATOLOGIAS

Marina Trevizan Mazon

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Graduação em Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista
como requisito para obtenção do grau de Farmacêutica-Bioquímica.

Orientadora: Profa. Dra. Amanda Martins Baviera


Co-orientador: Anderson Kiyoshi Kaga

ARARAQUARA - SP
2018
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço aos meus pais e ao meu irmão por todo apoio e
companheirismo durante esses anos, por sempre me incentivarem a batalhar pelos meus
sonhos, e a vencer cada dificuldade que porventura aparecem em nossas vidas. Obrigada
por caminharem ao meu lado nesta trajetória, por serem fortes para aguentar a saudade
durante esses anos em que estive longe, e por todos os ensinamentos que me passaram.
Nossa família é meu maior orgulho, além de ser meu porto seguro.
Agradeço também a todas as minhas amigas de Jundiaí, que sempre me deram todas
as forças para seguir em frente. Sou muito feliz por ter vocês ao meu lado, e também por ver
que a nossa amizade se fortaleceu cada vez mais mesmo com a distância.
Um agradecimento em especial a minha amiga Érica, que me mostrou a magia da
farmácia, e que foi a minha grande inspiração e exemplo no momento em que eu tive que
escolher qual seria o meu caminho profissional a ser traçado.
Ao meu namorado, Lucas, por estar sempre ao meu lado me proporcionado
momentos tão felizes, como também enxugando minhas lágrimas e me apoiando
principalmente nos momentos mais difíceis. Agradeço por todo carinho, compreensão,
paciência e amor. Você foi o maior presente que a UNESP me deu!
A todos os meus amigos da faculdade, agradeço por todos os momentos de alegria
compartilhados juntos durante esses anos, e pelo companheirismo. Juntos fomos capazes
de vencer todas as dificuldades da “vida de faculdade”. Em especial, agradeço a minha
grande amiga Priscila, que além de ser minha companheira na faculdade, foi também minha
companheira de casa. Sou muito grata pela linda amizade que construímos, por ser minha
amiga fiel, e por estar sempre ao meu lado em todas as situações. Durante estes anos que
moramos juntas nossa amizade só cresceu e se fortaleceu. Com você vive os melhores
momentos de minha vida. Que a nossa amizade seja sempre pura e repleta de amor como
ela é hoje. Agradeço imensamente por todos esses anos e pela pessoa incrível que você é.
A minha orientadora Amanda, agradeço por ter me acolhido tão bem quando precisei
nesse último ano de graduação, e por todas as vezes que com suas palavras me acalmou
quando eu aparecia em prantos em sua sala. Obrigada por me orientar e me guiar neste
projeto, por toda paciência e ensinamento. Agradeço também ao meu co-orientador Anderson
Kiyoshi Kaga pela disponibilidade em me orientar na realização deste trabalho, e por ser
sempre solícito quando precisei.
Por fim, agradeço a UNESP, e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas pelos
momentos vividos, e a todos os professores pelos conhecimentos ensinados. Vocês fazem
parte da minha trajetória profissional que se iniciará agora.
RESUMO

As enzimas fosfodiesterases (PDEs) encontram-se distribuídas por todos os tecidos e células


do nosso organismo, sendo divididas em onze famílias. Estas enzimas regulam diversas
cascatas intracelulares de transdução de sinal, uma vez que são responsáveis pela hidrólise
dos nucleotídeos monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) e monofosfato cíclico de
guanosina (GMPc), que atuam como segundos mensageiros que participam do controle de
diversos eventos, tais como proliferação e apoptose celular, relaxamento e contração da
musculatura, respostas inflamatórias, degradação de glicogênio e triacilgliceróis, entre outros.
Algumas famílias de PDEs apresentam especificidade apenas para o AMPc, outras para o
GMPc, enquanto algumas podem promover a hidrólise de ambos os nucleotídeos cíclicos.
Inibidores de PDE são compostos que possuem as isoenzimas de PDE como alvos, e
portanto, são capazes de aumentar os níveis intracelulares de AMPc e/ou GMPc, estimulando
uma série de eventos e respostas intracelulares dependentes destes nucleotídeos. Por esta
razão, evidências recentes apontam que a inibição farmacológica de PDE pode ser utilizada
como uma estratégia para o tratamento e até mesmo a prevenção de inúmeras doenças e
suas complicações. Sendo assim, este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica a
respeito das enzimas PDEs e compostos com capacidade inibitória destas PDEs, com ênfase
na compreensão dos mecanismos de ação relacionados aos benefícios observados no
combate aos sintomas e complicações de diversas doenças. Ademais, esta revisão descreve
o uso de inibidores de PDE aplicados ao tratamento do diabetes mellitus e suas
complicações, com ênfase nas principais PDEs que estão presentes nas células beta
pancreáticas, e os mecanismos pelos quais estes inibidores são capazes de melhorar a
secreção de insulina, bem como a captação de glicose. Por fim, este trabalho ainda descreve
o uso de inibidores de PDE no tratamento de outras doenças, incluindo distúrbios
neurológicos e pulmonares.

PALAVRAS-CHAVES: fosfodiesterases, inibidores de fosfodiesterases, diabetes mellitus,


nucleotídeos cíclicos.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Hidrólise dos nucleotídeos cíclicos AMPc e GMPc pela enzima fosfodiesterase
Figura 2: Característica dos domínios estruturais e funcionais da PDE
Figura 3: Estrutura dos domínios catalíticos e regulatórios das diferentes isoformas de PDE
Figura 4: Especificidade das PDEs pelos nucleotídeos cíclicos
Figura 5: Nomenclatura das fosfodiesterases
Figura 6: Mecanismos gerais de regulação e função do GMPc e AMPc
Figura 7: Regulação da secreção de insulina pela célula beta pancreática e papel da PDE3B
Figura 8: Estrutura química dos dihidroisquinolínicos inibidores de PDE10.
Figura 9: Síntese do AMPc a partir da ativação do adenilato ciclase por neurotransmissores
nos tecidos nervosos
Figura 10: Potencial papel do GMPc em diversos órgãos
Figura 11: Esquema da cascata bioquímica desencadeada a partir do uso de um inibidor de
PDE5 como o sildenafil para o tratamento de doença de Alzheimer
Figura 12: Mecanismo de inibição da PDE4 e seus efeitos no tratamento de doença pulmonar
obstrutiva crônica
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição tecidual das PDEs em humanos, seus inibidores e principais usos
terapêuticos
LISTA DE ABREVIATURAS

5’AMP - adenosina 5’ fosfato


5’GMP - guanosina 5’ fosfato
AC - adenilato ciclase
AMPc - monofosfato cíclico de adenosina
AMPK - proteína quinase ativada por adenosina monofosfato
ARNH - aryl hydrocarbon receptor nuclear translocator protein
ATP - trifosfato de adenosina
Ca2+ - íon cálcio
CaM – calmodulina
CaMK II - proteína quinase dependente de Ca2+/calmodulina tipo II
CBP - CREB-Binding Protein
CRE - elemento de resposta ao AMPc
CREB - cAMP response element binding protein
DA - doença de Alzheimer
DE - disfunção endotelial
DM - diabetes mellitus
DP - doença de Parkinson
DPOC - doença pulmonar obstrutiva crônica
EHNA - eritro-9-(2-hidroxi-3-nonil)-adenina
ERK - extracellular signal-regulated kinase-2
eNOS - óxido nítrico sintase endotelial
iNOS - óxido nítrico sintase induzível
nNOS - óxido nítrico sintase neuronal
EPAC - exchange protein activated by cAMP
FDA - food and drug administration
GAF - domínio mammalian cGMP-binding PDEs, Anabaena adenylyl cyclases and
Escherichia coli FhIA
GC - guanilil ciclase
GCp - guanilil ciclase particulada
GEF - fator de troca de nucleotídeo guanina
GCs - guanilil ciclase solúvel
GLP-1 - glucagon like peptide 1
GLUT4 - transportador de glicose 4
GMPc - monofosfato cíclico de guanosina
GSK-3 - glicogênio sintase quinase 3
GTP - trifosfato de guanosina
HP - hipertensão arterial pulmonar
IBMX - isobutilmetilxantina
IC - insuficiência cardíaca
IDF - Federação Internacional de Diabetes
IGF-1 - fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1
IL-12 - interleucina 12
IFN-γ - interferon gama
NO - óxido nítrico
PAS - domínio PER-ARNH-SIM
PER - period circadian protein
PDE - fosfodiesterase
PI3 - fosfaditil-inositol-3-quinase
PKA - proteína quinase A
PKB - proteína quinase B
PKG - proteína quinase G
PTX - pentoxifilina
ROL - rolipram
SIM - single minded protein
TNF - fator de necrose tumoral
UCR - upstream conserved region
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA............…………………………….....…….…………....9

2. OBJETIVO..........................………............…………………………….....…….…………..10

3. METODOLOGIA.............................................................................................................10

4. DESENVOLVIMENTO LITERÁRIO................................................................................11
4.1. Fosfodiesterases.....................................................................................................11
4.1.1. Isoenzimas e isoformas de fosfodiesterases..................................................11
4.1.2. Localização tecidual........................................................................................14
4.1.3. Mecanismos de regulação das PDEs.............................................................17
4.2. Nucleotídeos cíclicos e sinalização intracelular......................................................18
4.3. Inibidores de fosfodiesterases................................................................................19
4.3.1. Usos terapêuticos...........................................................................................20
4.3.1.1. Usos clássicos..................................................................................20
4.3.1.2. Perspectiva de usos de inibidores de PDE em outras doenças.......23
4.3.1.2.1. Diabetes mellitus...............................................................23
4.3.1.2.2. Diabetes mellitus e fosfodiesterases..................................24
A) PDE3................................................................................24
B) PDE4................................................................................27
C) PDE5...…….......…………...………………………………. 28
D) PDE10..............................................................................30
4.3.1.2.3. Usos emergentes em outras doenças...............................31
A) Doenças neurodegenerativas...........................................31
B) Doença pulmonar obstrutiva crônica................................35

5. CONCLUSÃO................................................................................................................36

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................37
9

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

A atividade das fosfodiesterases (PDEs) foi descrita pela primeira vez em 1962, e a
partir de então estas enzimas se tornaram alvo de interesse para o desenvolvimento de
inúmeras substâncias com potencial terapêutico para o tratamento de diversas doenças, uma
vez que estão envolvidas na hidrólise dos segundos mensageiros, monofosfato cíclico de
adenosina (AMPc) e monofosfato cíclico de guanosina (GMPc), e estes nucleotídeos cíclicos,
por sua vez, são importantes na sinalização intracelular de diversos processos fisiológicos.
Sendo assim, os inibidores de PDEs têm se mostrado muito eficazes, uma vez que inibem a
hidrólise dos segundos mensageiros, prolongando e/ou aumentando os efeitos biológicos
controlados por esta via de sinalização.
A busca por novas moléculas capazes de inibirem as PDEs torna-se de extrema
importância na descoberta de novos fármacos para a tratamento de doenças muito comuns
entre a população, como é o caso do diabetes mellitus, doenças pulmonares e distúrbios
neurológicos, entre outras, surgindo, portanto, como uma alternativa aos tratamentos mais
comuns, uma vez que se mostram tão eficazes e ainda capazes de causarem menos efeitos
adversos aos pacientes.
Diante disso, os estudos acerca dos inibidores de PDE se mostram importantes e de
grande interesse aos pesquisadores e indústrias farmacêuticas, que têm como objetivo a
busca por novos fármacos, cujo os alvos são as PDEs, e seus mecanismos de ação, bem
como sua aplicação clínica no tratamento de patologias visando a redução de efeitos
adversos.
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2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica acerca dos novos usos
de inibidores de PDEs, com ênfase no tratamento do diabetes mellitus, bem como estudar os
seus mecanismos de ação.

3. METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica, também
denominado revisão de literatura. O método utilizado trata-se de um conjunto de atividades
que permitiu alcançar o objetivo proposto, traçando o caminho a ser seguido, determinando
possíveis erros e auxiliando na elaboração do projeto.
O presente trabalho tratou-se de uma pesquisa de caráter descritivo, de natureza
qualitativa, desenvolvida por meio de leitura de artigos acessados em bases de dados,
incluindo PubMed (www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), SciELO (www.scielo.br/), Lilacs
(www.lilacs.bvsalud.org/) e Google Acadêmico (www.scholar.google.com.br/), para a
pesquisa de artigos que estejam relacionados ao assunto proposto.
Foi utilizado como critério para a seleção de artigos as seguintes palavras chaves:
“fosfodiesterases”, “inibidores de fosfodiesterases”, “diabetes mellitus” e “nucleotídeos
cíclicos”. Estas palavras chaves foram usadas isoladamente e em combinação durante as
pesquisas nas bases de dados. Os artigos foram selecionados sem restrição de tempo.
Os procedimentos para a realização deste trabalho obedeceram às seguintes etapas:
levantamento bibliográfico, leitura analítica, seleção, resumo e arquivamento das informações
pertinentes, seguidas de interpretação de todas as informações coletadas. A partir da análise
de uma lista de referências e artigos de revisão, foram selecionadas as referências
mencionadas e mais características em relação ao assunto proposto.
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4. DESENVOLVIMENTO LITERÁRIO

4.1. Fosfodiesterases

4.1.1. Isoenzimas e isoformas de fosfodiesterases

Em meados de 1962, Sutherland e seus colaboradores descreveram pela primeira


vez a atividade da enzima fosfodiesterase (PDE), logo após a descoberta do monofosfato
cíclico de adenosina (AMPc) e do monofosfato cíclico de guanosina (GMPc) (BENDER;
BEAVO, 2006). O AMPc e o GMPc são segundos mensageiros envolvidos na transdução de
sinais intracelulares que regulam inúmeros processos fisiológicos importantes em nosso
organismo (MEHANNA et al., 2017). Tais nucleotídeos são hidrolisados em seus metabólitos
inativos, adenosina-5’-fosfato (5'AMP) e guanosina-5’-fosfato (5’GMP), pela ação das
enzimas PDEs. Normalmente, estas cascatas de transdução de sinal que utilizam
nucleotídeos cíclicos como segundos mensageiros são iniciadas pela ativação do receptor
acoplado à proteína G que resultam na regulação de diversos eventos, incluindo proliferação
e apoptose celular, relaxamento e contração da musculatura, respostas inflamatórias,
degradação do glicogênio, hidrólise de triacilgliceróis, reprodução, entre outros (AHMAD et
al., 2015). Para a hidrólise destes segundos mensageiros, e assim encerramento da
sinalização intracelular dependente de nucleotídeos cíclicos, as PDEs atuam hidrolisando a
ligação que envolve o fosfato na formação de uma estrutura cíclica com o açúcar do
nucleotídeo (Figura 1) (BENDER; BEAVO, 2006).
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Figura 1: Hidrólise dos nucleotídeos cíclicos AMPc e GMPc pela enzima fosfodiesterase

1 - Estrutura do AMPc, onde R é uma molécula de adenosina


2 - Estrutura do GMPc, onde R é uma molécula de guanosina
3 - Estrutura do 5’AMP, onde R é uma molécula de adenosina
4 - Estrutura do 5’GMP, onde R é uma molécula de guanosina
Fonte: AZEVEDO; KUMMERLE, 2014.

A estrutura funcional das PDEs consiste em uma extremidade C-terminal, que


apresenta um domínio catalítico conservado, envolvendo de 250-300 resíduos de
aminoácidos, seguido por uma região terminal-N reguladora (Figura 2) (SHARMA et al.,
2013).

Figura 2: Característica dos domínios estruturais e funcionais da PDE

Fonte: SHARMA et al., 2013


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No domínio catalítico das PDEs 4 e 5, existe um sítio de ligação, conhecido como sítio
M, que atua como um local para a ligação de alguns átomos de metais, no qual a sequência
de alguns grupos de aminoácidos na região Q (Gln 817, Phe 820, Val 782, Tyr 612) são
conservados em todas as isoformas destas famílias de PDEs (SUNG et al., 2003).
Normalmente os metais que se ligam nesse sítio são o magnésio e o zinco, e eles atuam
estabilizando estruturalmente a PDE, de maneira a favorecer a catálise enzimática
(PERCIVAL et al., 1997). Nos domínios catalíticos existem sequências específicas de cada
família de PDE, que determinam a afinidade diferencial pelos substratos, as propriedades
catalíticas e os determinantes estruturais que estão envolvidos na clivagem do fosfato da
estrutura cíclica. Já na porção N-terminal, existem determinantes envolvidos nas diferentes
respostas seletivas de PDE, possuindo função regulatória, além de sinais que regulam a
atividade catalítica e interações proteína-proteína (SHARMA et al.; 2013). Por exemplo, na
PDE1 existe uma região que apresenta um domínio de ligação para a calmodulina (CaM), a
PDE2 contém um domínio de ligação do GMPc conhecido como domínio mammalian cGMP-
binding PDEs, Anabaena adenylyl cyclases and Escherichia coli FhIA (GAF), a PDE6 possui
um domínio de ligação a transducina, e as PDE1, PDE3 e PDE4 contêm sítios de fosforilação
para proteínas quinases (Figura 3) (TORPHY, 1998).

Figura 3: Estrutura dos domínios catalíticos e regulatórios das diferentes isoformas de PDE.

CaM: domínio de ligação à calmodulina, GAF: domínio de ligação do GMPc, UCR:upstream conserved region,
PAS: domínio PER-ARNT-SIM (PER: period circadian protein; ARNT: aryl hydrocarbon receptor nuclear
translocator protein; SIM: single minded protein.
Fonte: Conti, 2000
14

4.1.2. Localização tecidual

A princípio, imaginava-se que existia uma única enzima PDE, que era comum em
todas as células, e que sua inibição acarretava em aumentos nos níveis de AMPc e GMPc.
Os inúmeros estudos feitos ao longo do tempo a respeito desta enzima confirmaram a
existência de uma ampla variedade de PDEs, estas distribuídas por todos os tecidos e células
do nosso organismo (Tabela 1). Atualmente, é descrito na literatura mais de 50 isoformas de
PDE, distribuídas por onze famílias (VILELA et al., 2016). Entre estas famílias, algumas PDEs
apresentam especificidade em relação ao substrato, sendo as PDEs 4, 7 e 8 capazes de
hidrolisar apenas AMPc, as PDEs 5, 6 e 9 hidrolisam apenas o GMPc, e por fim existem
aquelas capazes de hidrolisarem ambos os nucleotídeos, que são as PDEs 1, 2, 3, 10 e 11
(Figura 4) (FRANCIS et al., 2011).
15

Tabela 1: Distribuição tecidual das PDEs em humanos, seus inibidores e principais usos
terapêuticos.

Fonte: Adaptado de GHOSH et al., 2009; MOUSTAFA et al., 2014.


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Figura 4: Especificidade das PDEs pelos nucleotídeos cíclicos.

Fonte: FRANCIS et al., 2011

Devido à grande diversidade de PDEs presentes em humanos, foi criada uma


nomenclatura: o numeral inicial significa a família genética, ou seja, pertencente à classe de
uma PDE, a letra do alfabeto significa o gene, e o número final está relacionado com a
variante que está descrita nas bases de dados, também chamada de alelo (BENDER;
BEAVO, 2006). Como exemplo, na PDE8A2, ela pertence à família PDE8, codificada pelo
gene A variante de processamento de mRNA número 2 (Figura 5).

Figura 5: Nomenclatura das fosfodiesterases.

Fonte: BEAVO, 1995.


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4.1.3. Mecanismos de regulação das PDEs

A família de PDE1 foi a primeira a ser identificada e estudada, sendo uma classe de
enzimas que são reguladas por Ca2+/CaM. A ligação do complexo Ca2+/CaM em seus sítios
de ligação na região N-terminal da enzima estimula a hidrólise dos nucleotídeos cíclicos
(BENDER, BEAVO, 2006). Dessa forma, a ligação de PDE1 com o citado complexo culmina
em grande aumento na atividade da enzima, sugerindo que a mesma pode ser
completamente inativa na ausência de Ca2+/CaM (CONTI, 2000). Por outro lado, a
fosforilação da PDE1 por proteína quinase A (PKA) acarreta em uma diminuição na afinidade
da enzima pelo complexo Ca2+/CaM (HASHIMOTO et al., 1989).
Nas PDEs 2, 5, 6, 10 e 11 existem regiões reguladoras GAF, que atuam como
domínios facilitadores de interação proteína-proteína. Essas regiões são constituídas por
150-200 resíduos de aminoácidos, que são reconhecidas por se ligarem ao GMPc (AHMAD
et al., 2015). Estudos mostram que o domínio de GAF é composto por 2 subunidades, GAF
A e GAF B. Martinez e colaboradores (2002) demonstraram que na isoforma da PDE2A, a
subunidade GAF A possui função de ponto de dimerização entre as subunidades, e a GAF B
é responsável pela ligação com o GMPc. Entretanto, as subunidades apresentam a
capacidade de ligação ao GMPc diferenciada, dependendo da isoforma de PDE, onde na
PDE5A e na família de PDE6, por exemplo, o ligante é a subunidade GAF A (MARTINEZ et
al., 2002). A proteína quinase G (PKG) e a PKA são capazes de fosforilar a PDE5, culminando
em sua ativação e assim aumentando a afinidade do sítio catalítico para o GMPc (BESSAY
et al., 2007).
As isoformas de PDE4 apresentam regiões conservadas conhecidas como upstream
conserved region 1 (UCR1) e upstream conserved region 2 (UCR2). As isoformas onde essas
regiões encontram-se ausentes são cataliticamente inativas. As UCR1 e UCR2 são capazes
de formar um módulo de interação que regula a dimerização das PDE4 (AHMAD et al., 2015).
Desta forma, as PDE4 podem ser fosforiladas por PKA ou ainda por extracellular signal-
regulated kinase-2 (ERK). Quando ocorre a fosforilação do UCR1 em um resíduo de serina
por PKA, uma mudança conformacional ocorre, aumentando de 60 a 250% a atividade
catalítica da enzima, mas quando a fosforilação acontece por ERK, uma inibição da atividade
catalítica pode ser observada, que pode ser revertida via fosforilação da UCR1 pela PKA
(BENDER; BEAVO, 2006). Dessa forma, observa-se um sistema regulador tipo feedback,
onde a inibição de PDE4 mediada pela ERK faz com que os níveis de AMPc se elevem
(MACKENZIE et al., 2000).
Por fim, nas isoformas de PDE8 estão presentes um domínio regulatório conhecido
como PAS (Per, Arnt, Sim), onde sua função ainda é pouco conhecida, mas acredita-se que
ele possa ser um sítio de interações com outros ligantes (BENDER; BEAVO, 2006).
18

4.2. Nucleotídeos cíclicos e sinalização intracelular

Os nucleotídeos cíclicos são essenciais no controle de uma infinidade de respostas


fisiológicas em nosso corpo, desempenhando um papel importante como componentes de
vias de sinalização. Dessa forma, existe um importante controle dos níveis celulares desses
segundos mensageiros, para que as respostas celulares ocorram dentro de uma faixa de
concentração específica (IFFLAND et al., 2005). O AMPc e o GMPc são sintetizados a partir
do ATP (trifosfato de adenosina) e do trifosfato de guanosina (GTP) por reações catalisadas
pelas enzimas adenilato ciclase (AC) e guanilil ciclase (GC), respectivamente (JEON et al.,
2005).
A síntese do AMPc ocorre pela ativação da enzima AC. Receptores acoplados à
proteína G, quando ativados, sofrem mudanças conformacionais que desencadeiam a
liberação do nucleotídeo guanosina difosfato da subunidade Gα e a subsequente ligação do
nucleotídeo guanosina trifosfato, ativando Gα. Na sequência, a subunidade G se desliga do
dímero G da proteína G, e ao encontrar a enzima AC, a ativa. Com a AC ativada, esta é
capaz de catalisar a conversão do ATP em AMPc, e este se difunde por toda a célula de
maneira a ativar proteínas efetoras específicas. Um exemplo de proteína efetora é a PKA,
que é uma enzima formada por duas subunidades, a subunidade regulatória, com alta
afinidade pelo AMPc, e a subunidade catalítica. Quando o AMPc se liga às subunidades
regulatórias da PKA, induz a uma mudança conformacional que resulta na dissociação das
subunidades e liberação da subunidade catalítica, que passa a apresentar atividade quinase,
fosforilando proteínas alvo no citoplasma, ou ainda, migrando para o núcleo, onde são
capazes de fosforilar proteínas que estão envolvidas na expressão gênica dependente de
AMPc (BAILLIE et al., 2005). Com isso, o AMPc é capaz de regular uma série de eventos
celulares, como por exemplo contração do músculo liso e cardíaco, secreção glandular,
disposição de substratos energéticos, plasticidade neuronal, proliferação celular e apoptose
(Figura 6) (ZACCOLO et al., 2006).
Existem ainda outras vias pelo qual o AMPc consegue exercer seus efeitos celulares,
como nas células de origem neuronal, nas quais ele é capaz de ativar seus canais iônicos.
Além da PKA, existe uma segunda proteína efetora das ações dependentes de AMPc, a
proteína EPAC (Exchange Protein Activated by cAMP). Esta proteína apresenta um domínio
de ligação ao AMPc associado a um fator de troca de nucleotídeo guanina (GEF); quando o
AMPc se liga ao sítio alostérico presente na proteína EPAC, promove mudanças
conformacionais que levam a ativação de GEF. Como consequência, ocorre a troca do
nucleotídeo guanosina difosfato da molécula Rap 1 para o nucleotídeo guanosina trifosfato,
levando a efeitos intracelulares independentes de PKA (LEZOUALC’H, et al., 2016).
19

A síntese do GMPc é realizada por dois tipos de GC, que se diferem em sua
localização celular e ativação por ligantes específicos. Um tipo é a guanilil ciclase particulada
(GCp) que está presente na membrana plasmática e é ativada pelo peptídeo natriurético, e o
outro tipo é a guanilil ciclase solúvel (GCs) presente no citoplasma e ativada pelo NO
(FISCHMEISTER et al., 2006). Quando a GC é ativada, esta é capaz de sintetizar GMPc a
partir de GTP. O GMPc então se liga a proteína quinase dependente de GMPc (PKG), que
passa a fosforilar seus substratos, estes podem ser canais iônicos, proteínas envolvidas na
contração do músculo liso, ou ainda fatores de transcrição (Figura 6) (JEON et al., 2005).

Figura 6: Mecanismos gerais de regulação e função do GMPc e AMPc.

Fonte: BEAVO; BRUNTON, 2002.

4.3. Inibidores de fosfodiesterases

Nos últimos tempos, pesquisadores vêm trabalhando na busca do uso de


medicamentos fora da sua indicação médica original; este processo é conhecido como
redirecionamento, reaproveitamento ou reposicionamento de fármacos. Neste processo, os
riscos de efeitos adversos tornam-se reduzidos, uma vez que os medicamentos já passaram
por uma série de etapas de desenvolvimento e ensaios clínicos e, portanto, apresentam perfis
de segurança e farmacocinética conhecidos (ASHBURN; THOR, 2004).
20

Um grande exemplo é o caso do sildenafil (Viagra®), que é um inibidor de PDE5, e foi


descoberto na década de 1980 para o tratamento de angina, causando relaxamento das
artérias coronárias e assim permitindo um maior fluxo sanguíneo coronariano. Em 1991, na
Inglaterra, alguns voluntários participaram do estudo, e relataram que apresentaram fortes e
persistentes ereções penianas, e que o efeito cardiovascular desejado não foi alcançado.
Inúmeras pesquisas começaram a ser feitas a respeito da PDE5, identificando-a como um
alvo importante no mecanismo promotor das ereções. Entre 1993 e 1995, um estudo
realizado com 3700 homens com disfunção erétil confirmou a eficácia de inibidores de PDE5
em 63% dos indivíduos testados com doses mais baixas, e em 82% com doses mais altas
(ASHBURN; THOR, 2004).
Os inibidores de PDE são compostos com potencial terapêutico e que apresentam
como alvo as isoenzimas de PDE, e, portanto, aumentam as ações dos segundos
mensageiros AMPc e GMPc, de maneira a prolongar seus efeitos biológicos na célula alvo.
Atualmente os inibidores de PDE vêm sendo cada vez mais estudados e explorados como
possíveis adjuvantes nos tratamentos para uma série de doenças, tais como disfunção
sexual, doença de Alzheimer (DA), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), diabetes
mellitus (DM), problemas neuropsicológicos, aplicações imunológicas, entre outros. Dessa
forma, os inibidores de PDE auxiliam no restabelecimento da sinalização intracelular
dependente de nucleotídeos cíclicos, proporcionando terapias com efeitos adversos
reduzidos (GHOSH et al., 2009).
Na transição entre as décadas de 1970 para 1980, ficou claro que as PDEs poderiam
de fato ser inibidas seletivamente por uma série de moléculas orgânicas, e partir de então o
desenvolvimento de inibidores de PDE vem crescendo cada vez mais rápido. Sendo assim,
várias moléculas estão em fase de estudos clínicos para verificar seu potencial terapêutico,
e outras centenas estão em fase de descoberta (JEON et al., 2005).

4.3.1. Usos terapêuticos

4.3.1.1. Usos clássicos

Os fármacos inibidores de PDE estão sendo largamente utilizados tanto na medicina


humana para o tratamento de diversas patologias, como também na medicina veterinária, no
tratamento de cães com hipertensão arterial pulmonar (KELLUM; STEPIEN, 2007). O citrato
de sildenafil vem se mostrando um inibidor seletivo de PDE5, e que resulta em um aumento
da concentração de GMPc e subsequente vasodilatação mediada por aumento nos níveis de
óxido nítrico (NO), causando assim uma diminuição da pressão arterial e resistência pulmonar
21

nos cães, como também em crianças e adultos com hipertensão pulmonar (BACH et al.,
2006).
Como família PDE1 está localizada predominantemente no cérebro, tem sido utilizada
no tratamento de de perda de memória e demência. Estudos recentes sugerem ainda que a
inibição da PDE1B1 induz apoptose de células leucêmicas em humanos. Um exemplo de
inibidor de PDE1 é a vimpocetina, utilizada para o tratamento de perda da memória (GHOSH
et al., 2009).
Os inibidores de PDE2 têm sido utilizados no tratamento de doenças respiratórias,
bem como em caso de perda de memória. A eritro-9-(2-hidroxi-3-nonil)-adenina (EHNA) é um
inibidor seletivo de PDE2 que apresenta uma estrutura semelhante ao AMPc, porém tem uma
cadeia carbônica lateral volumosa e hidrofóbica, se mostrando uma substância eficaz para o
tratamento de problemas respiratórios, revertendo casos de vasoconstrição pulmonar
(GHOSH et al., 2009).
Alguns inibidores de PDE3 já são utilizados nos tratamentos de glomerulonefrite,
insuficiência cardíaca congestiva, trombose e hipertensão pulmonar. Como a PDE3
desempenha um papel importante na contração cardíaca, controlando a entrada de cálcio,
sua inibição está relacionada com os tratamentos de insuficiência cardíaca (IC), porém causa
efeitos adversos arrítmicos indesejáveis. A milrinona, amrinona, enoximone são exemplos de
fármacos usados no tratamento desta patologia. Além disso, o cloridrato de parogrelil é um
exemplo de inibidor de PDE3 usado no tratamento de asma (GHOSH et al., 2009).
Recentemente, um novo inibidor de PDE3, o cilostazol, passou a ser comercializado para o
tratamento de claudicação intermitente, uma condição observada em doenças arteriais onde
o fluxo sanguíneo para os membros inferiores é diminuído, especialmente quando o paciente
realiza exercícios físicos leves ou intensos, como caminhadas ou corridas. O cilostazol inibe
a agregação plaquetária e é responsável por causar efeitos benéficos, incluindo a dilatação
das artérias, aumentando assim o fluxo de sangue aos membros inferiores (KERAVIS;
LUGNIER, 2012).
Glomerulonefrite, asma, DPOC, depressão bipolar, doenças autoimunes,
encefalomielite e DA são patologias que podem ser tratadas com inibidores de PDE4
(GHOSH et al., 2009). O rolipram (ROL), que é um fármaco antidepressivo com alta afinidade
para PDE4, foi um dos primeiros compostos desenvolvidos para uso no tratamento de
algumas patologias. Porém, ele apresentou inúmeros efeitos colaterais gastrointestinais, tais
como náusea, vômito e diarreia, o que fez com que as indústrias farmacêuticas aumentassem
os investimentos no desenvolvimento de novos inibidores de PDE4, mais avançados e com
menos efeitos adversos. Sendo assim, em 2011, o roflumilaste foi aprovado para o tratamento
de DPOC, e o apremilast aprovado em 2014 como o primeiro medicamento oral contra
psoríase (MAURICE et al., 2014; MARTINEZ; GIL, 2014). Além disso, a inibição de PDE4
22

vem criando, recentemente, uma nova perspectiva para o tratamento de esquizofrenia e


memória a longo prazo (GHOSH et al., 2009).
Os altos níveis de PDE5 no pulmão têm contribuído para propor o uso de inibidores
de PDE5 para o tratamento de hipertensão pulmonar e síndromes do desconforto respiratório.
Além disso uso, os inibidores de PDE5 são vastamente utilizados no tratamento de disfunção
erétil e condições que levam à retenção de líquidos, e também demonstrado a eficácia de
sua inibição no cérebro melhorando a memória. Sildenafil, tadalafil e vardenafil são
medicamentos utilizados para o tratamento da disfunção erétil, mas estudos mostram que o
tadalafil apresentam um potencial efeito anti-inflamatório e seu uso já foi aprovado para o
tratamento de hipertensão pulmonar. Pesquisas recentes demonstram que o tadalafil e o
vardenafil são capazes de induzir apoptose em linfócitos de células leucêmicas (GHOSH et
al., 2009).
Há poucos inibidores para PDE6 atualmente, e sua aplicação é muito restrita devido
aos efeitos adversos causados, não existindo tanto investimento farmacêutico nos inibidores
desta família de PDE. Os inibidores de PDE7 são utilizados na terapia de doenças
imunológicas e de vias aéreas. Alguns testes com novas substâncias inibidoras mostraram-
se suprimir a indução de interleucina 12 (IL-12) induzida por interferon gama (IFN-γ)
produzidos por linfoblastos T, indicando seu efeito benéfico em pacientes com distúrbios
imunológicos (GHOSH et al., 2009).
Assim como PDE7, os inibidores de PDE8 estão relacionados em aplicações
imunológicas, sugerindo que PDE8 é altamente regulada durante a estimulação de linfócito
T CD3. Já no caso da família das PDE9, poucos estudos existem a respeito da sua função
específica, mas há evidências que a regulação dos níveis de GMPc, por essa inibição, pode
desempenhar um papel importante na regulação do estado comportamental e de aprendizado
(GHOSH et al., 2009).
Os tratamentos de esquizofrenia e outras doenças neurológicas têm sido realizados
com inibidores de PDE10, enquanto evidências indicam que a PDE11 está envolvida no
desenvolvimento e função do espermatozóide (GHOSH et al., 2009).
23

4.3.1.2. Perspectiva de usos de inibidores de PDE em outras doenças

4.3.1.2.1. Diabetes mellitus

Nos últimos tempos, o DM se tornou um crescente problema de saúde em todos os


países. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), em 2017, aproximadamente
425 milhões de pessoas entre 20 a 79 anos conviviam com a doença. Se este cenário
persistir, estima-se que em 2045 esse número aumente para 629 milhões. Além disso, a
maior parte dos indivíduos que apresentam DM vive em países de baixa e média rendas,
sendo que 1 em cada 2 (212 milhões) pessoas com DM não são diagnosticadas
(INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2017). Aproximadamente 5 milhões de
pessoas morreram devido às complicações do DM em 2015, sendo a síndrome responsável
por 14,5% das taxas de mortalidade mundial (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES, 2017-2018).
O DM se caracteriza por uma alteração metabólica cujo o principal sintoma é a
hiperglicemia, em decorrência de deficiência na ação e/ou secreção de insulina. No caso de
deficiência na produção/secreção de insulina, esta ocorre porque as células beta
pancreáticas, que são responsáveis pela produção do hormônio, podem ser maciçamente
destruídas, especialmente por mecanismo mediado por autoimunidade (DIRETRIZES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017-2018). Resistência dos tecidos alvos às
ações da insulina em combinação com disfunção pancreática, também contribui com
números significativos dos casos de DM (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2017-2018). Assim, o DM pode ser classificado segundo a sua etiologia em 4
tipos. (i) O DM tipo 1, causado por uma destruição das células beta pancreáticas e como
consequência há uma diminuição na quantidade de insulina produzida e secretada. Esse tipo
de diabetes ainda pode ser subdividido em 1A e 1B, sendo o primeiro subtipo mais comum
entre os indivíduos e é caracterizada por uma destruição autoimune das células beta
pancreáticas, já no subtipo 1B é observada uma deficiência de insulina de natureza idiopática,
ou seja, os auto anticorpos não são observados na circulação e portanto pode ser confundido
com outras formas de DM. (ii) O DM tipo 2 é o mais comum, e pode permanecer durante anos
de maneira assintomática. Normalmente está muito relacionado com uma herança genética,
mas fatores ambientais encontram-se fortemente associados a sua etiologia. É caracterizado
pelo aumento da glicemia por conta de inúmeros fatores, tais como resistência dos tecidos
às ações da insulina, disfunção pancreática, com deficiência na síntese e secreção de insulina
pelas células beta pancreáticas, aumento da produção hepática de glicose, aumento de
lipólise que leva a um crescente número de ácidos graxos circulantes e maior risco de
desenvolvimento de resistência insulínica, e aumento da reabsorção renal de glicose
24

(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017-2018). (iii) O DM


gestacional é normalmente diagnosticado no segundo ou terceiro trimestre de gravidez em
mulheres que nunca apresentaram quadros de diabetes antes da gestação. (iv) Por fim,
existem os outros tipos de DM, tais como diabetes neonatal, diabetes induzido por
medicamentos, diabetes monogênico (que se manifesta precocemente), ou ainda decorrente
de doenças do pâncreas ou após quadros infecciosos (AMERICAN DIABETES
ASSOCIATION, 2017).
Diversas complicações podem surgir associadas ao DM, incluindo doenças
coronarianas, cerebrovasculares, complicações renais e agravos na visão, bem como
diversos distúrbios no sistema musculoesquelético, digestório e sua associação a diversos
tipos de câncer. Na década passada, confirmou-se que a chance de desenvolvimento das
complicações vasculares em indivíduos diabéticos é de 10 a 20 vezes maior em comparação
aos indivíduos que não convivem com esta síndrome metabólica (DIRETRIZES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017-2018). Tendo em vista estes fatores, a
prevenção e o tratamento da doença tornam-se cada vez mais importantes. Mudanças no
estilo de vida, tais como adesão à dieta balanceada, prática de exercícios físicos, não
tabagismo, bem como o tratamento medicamentoso são práticas essenciais para a prevenção
e o controle da doença e suas complicações (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES, 2017-2018).

4.3.1.2.2. Diabetes mellitus e fosfodiesterases

As classes de medicamentos comumente usadas no tratamento do DM são


responsáveis por inúmeros efeitos adversos, tais como problemas gastrointestinais,
insuficiência cardíaca, vômitos e risco de hipoglicemia, surgindo assim a necessidade da
busca por novos medicamentos com maior eficácia e menos efeitos adversos (SAYED et al.,
2014). Por serem reguladores essenciais na sinalização dos nucleotídeos cíclicos, as PDEs
tornaram-se muito reconhecidas como alvos de fármacos para inúmeras doenças, dentre elas
o diabetes (JEON et al., 2005).
Estudos confirmam que nas células beta pancreáticas estão presentes as isoenzimas
PDE3, PDE4 e PDE10 (SUGDEN; ASHCROFT, 1981).

A) PDE3

Evidências sugerem que a isoforma PDE3B presente nas células beta do pâncreas é
a mais importante na regulação da síntese e liberação de insulina. Desta maneira, inibidores
seletivos de PDE3B tornam-se moléculas promissoras e capazes de aumentarem a secreção
25

de insulina induzida pela glicose, através de seu efeito na regulação da concentração de


nucleotídeos cíclicos, tal como o AMPc, nas células beta pancreáticas, de modo a modular o
seu crescimento, sua diferenciação e sobrevivência (PYNE; FURMAN, 2003). A
metabolização da glicose pelas células beta do pâncreas desencadeia uma série de eventos
que culminam em aumento na secreção de insulina. Tais eventos envolvem a participação
de diversos efetores intracelulares, responsivos à AMPc e cálcio, bem como pode contar com
a participação de componentes do citosol, microfilamentos e microtúbulos, que são
responsáveis pela fusão das membranas dos grânulos contendo insulina com membranas
plasmáticas, levando à liberação de insulina (SHARP, 1979). Hoje, é conhecido que, quando
a concentração de AMPc aumenta, por qualquer mecanismo, a resposta da célula beta
pancreática relacionada à liberação de insulina induzida pela da glicose também é
aumentada. Além disso, é conhecido que os efeitos do AMPc na estimulação da secreção de
insulina são maiores em altos níveis de glicose, enquanto que em concentrações menores
de glicose os efeitos geralmente diminuem (SHARP, 1979). O AMPc aumenta a secreção e
consequentemente as concentrações séricas de insulina (induzida por glicose) via diversos
mecanismos, como por exemplo o que envolve o aumento de canais de cálcio sensíveis a
voltagem (KANG et al., 2001). Hoje já é confirmado que as proteínas EPAC são responsivas
ao AMPc e possuem atividade ao GEF para as proteínas Rap 1. Quando o AMPc interage no
seu sítio alostérico presente nas proteínas EPAC 2, ocorre uma alteração conformacional que
estimula a atividade de GEF para proteínas RAP 1. Como consequência, ocorre a abertura
dos canais de Ca2+ voltagem-dependentes nas células beta pancreáticas, levando a um
aumento da concentração de cálcio intracelular, e este por sua vez estimula a secreção de
insulina. Além disso, as sulfonilureias também são capazes de estimular a secreção de
insulina via fechamento dos canais de potássio e ativação do sistema EPAC 2/RAP 1 (SEINO
et al., 2012).
Esse aumento na secreção de insulina dependente de aumento nos níveis de AMPc
também pode estar associado ao glucagon like peptide 1 (GLP-1) e seus derivados, que são
importantes na normalização das respostas da insulina (JEON et al., 2005). O GLP-1 é um
hormônio incretina secretado pelas células L do trato gastrointestinal após a ingestão de
alimentos e são responsáveis pela estimulação da secreção de insulina pós-prandial,
participando assim de um mecanismo essencial para a homeostase da glicose, uma vez que
moderam a elevação precoce da glicose no sangue (HOLST, 2007).
O GLP-1 e seus derivados ativam seus respectivos receptores, que estão acoplados
à proteína G, e que acabam ativando a enzima AC. A AC então será responsável por catalisar
a síntese de AMPc, associado à secreção de insulina dependente de glicose, estimulação da
biossíntese de insulina e aumento da massa das células beta pancreáticas. Como o GLP-1
aumenta a síntese de AMPc através da ativação de AC, os inibidores de PDE3 se tornaram
26

uma opção para a melhoria da sinalização estimulada pelo GLP-1. Assim, os tratamentos
com os inibidores de PDE têm mostrado resultados positivos quanto ao aumento da secreção
de insulina dependente de glicose pelas células beta pancreáticas (PYNE; FURMAN, 2003).
Um inibidor não seletivo de PDE3 é a isobutilmetilxantina (IBMX), e muitos autores
têm observado que este composto parece ser responsável pelo aumento da secreção de
insulina induzida por glicose, e passou a ser foco de estudo para inúmeros pesquisadores
que buscavam entender o papel do AMPc nas células beta pancreáticas (PYNE; FURMAN,
2003). Porém, além de ser um inibidor não seletivo de PDE, a IBMX passou a ser associada
a uma atividade antagonista de receptores de adenosina, e com isso se tornou uma molécula
que requer muita atenção. Alguns exemplos de outros inibidores de PDE3, são o Org 9935,
siguazodan, ICI118233, SK & F 94120 e a milrinona, que também foram descobertos por suas
capacidades de aumentarem a secreção de insulina por células beta pancreáticas (PYNE;
FURMAN, 2003).
O AMPc acumulado nas células beta pancreáticas devido a ação de inibidores de
PDE3 pode ser hidrolisado por outras isoformas de PDE, à medida que o nucleotídeo se
difunde do seu local de produção e ação. Apesar de não ser conhecida exatamente a
localização das PDE3 nas células pancreáticas, acredita-se que estejam presentes próximas
às membranas plasmáticas das células (PYNE; FURMAN, 2003). Além disso, os inibidores
de PDEs com potencial uso no tratamento do diabetes devem apresentar uma seletividade
apenas para os PDE3 presentes nas células pancreáticas, já que essa enzima também é
encontrada no sistema cardiovascular e nas plaquetas, e sua inibição nestes locais poderia
acarretar em efeitos adversos indesejáveis (JEON et al., 2005).
O aumento na secreção de insulina pode não estar apenas relacionado ao aumento
nos níveis de AMPc, quando se analisa os efeitos decorrentes da inibição de PDE; aumentos
na sensibilização ao cálcio também estão relacionados a uma maior liberação de insulina,
uma vez que o mecanismo exocitótico intracelular sensível ao cálcio é ativado, fazendo com
que a proteína quinase dependente de Ca2+/calmodulina tipo II (CaMK II) também seja
ativada, acarretando em exocitose dos grânulos de insulina (Figura 7) (FUJUMOTO et al.,
1998). Em trabalho realizado por Fugimoto e colaboradores (1998), foi demonstrado que
ilhotas de Langerhans de ratos isoladas e incubadas com pimobendan, um inibidor seletivo
de PDE3, estimulou a secreção de insulina por aumentar as concentrações de cálcio e
ativação de CaMK II (FUJUMOTO et al., 1998).
A insulina é capaz de ativar a PDE3B após a ligação aos receptores de insulina
presentes nas células beta pancreáticas. Ela é capaz de inibir sua própria secreção através
de ativação da PDE3B, que por sua vez leva a uma diminuição das concentrações de AMPc.
Estudos mostram que existe ainda uma atividade de PDE3B que é ativada por fator de
crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1), onde a insulina em altas concentrações faz
27

com que o IGF-1 interaja através de uma ligação de baixa afinidade com seus respectivos
receptores presentes na membrana da célula, ativando a PDE3B, permitindo que a liberação
de insulina seja modulada. A leptina também é responsável pela ativação da PDE3B (Figura
7) (PYNE; FURMAN, 2003).

Figura 7: Regulação da secreção de insulina pela célula beta pancreática e o papel da


PDE3B.

Fonte: PYNE; FURMAN, 2003.

B) PDE4

A PDE4, mais especificamente a isoforma PDE4C, é expressa nas células beta


pancreáticas e nas ilhotas pancreáticas, e quando inibida, promove potencialização da
secreção de insulina estimulada por glicose (HEIMANN et al., 2010).
A concentração de AMPc, controlada pela PDE4, é um forte estímulo para a
transcrição do GLP-1. Quando o GLP-1 se liga ao receptor do peptídeo 1 semelhante ao
glucagon (GLP1R), ocorre ativação de AC, a qual aumenta a produção de AMPc, havendo
assim estímulo à síntese e secreção insulina. O estímulo à secreção de insulina parece
depender de ativação de EPAC, desencadeando a abertura dos canais de Ca2+, que
28

consequentemente leva a um aumento na concentração de cálcio intracelular nas células


beta pancreáticas, estimulando assim a secreção de insulina. Dessa forma, os inibidores de
PDE4 são capazes de aumentar os níveis de AMPc nas células beta pancreáticas, com
subsequente ativação de EPAC e estímulo à secreção de insulina (WU; RAJAGOPALAN,
2016).
Vollert e seus colaboradores (2012) mostraram que após a administração de
roflumilast, um inibidor de PDE4, a ratos obesos, foi observado um aumento na secreção de
insulina dependente de glicose, como também um aumento na secreção de GLP-1
(VOLLERT et al., 2012). Além disso, em outro estudo duplo cego realizado com pacientes
com DM tipo 2, o tratamento com roflumilast durante 12 semanas promoveu uma redução
nos níveis de glicose destes pacientes (WOUTERS, et al., 2012).

C) PDE5

Pacientes com DM tipo 2 podem apresentar resistência à insulina em diversos órgãos


alvo, incluindo as células do endotélio vascular, condição esta que favorece a disfunção
endotelial, a qual ocorre como uma consequência da interrupção nas vias de sinalização da
insulina, acarretando em prejuízos na produção de óxido nítrico (NO) (POOLSUP et al., 2016),
tal como será descrito em seguida. No entanto, recentes evidências também indicam que o
NO, sintetizado no endotélio pela enzima óxido nítrico sintase endotelial (eNOS), contribui
para algumas das respostas metabólicas desencadeadas pela insulina, incluindo a
estimulação na captação de glicose pela musculatura esquelética. O NO endotelial participa
da ativação da enzima guanilato ciclase (GC) nos músculos lisos, levando à produção do
GMPc, que por sua vez está classicamente envolvido no relaxamento da musculatura lisa e
vasodilatação. No entanto, aumentam as evidências de que a sinalização do GMPc também
regula de maneira positiva a captação de glicose pela musculatura esquelética (YOUNG et
al., 1997). Estudos têm demonstrado que a sinalização NO/GMPc promove um aumento na
expressão do transportador de glicose 4 (GLUT4) de células musculares via mecanismo
dependente de ativação da proteína quinase ativada por adenosina monofosfato, AMPK
(LIRA et al., 2007; DESHMUKH et al., 2010).
Considerando que as respostas ligadas aos aumentos de GMPc na musculatura lisa
são atenuadas após a sua hidrólise, especialmente via ação de PDE5, inibidores de PDE5,
têm sido estudados quanto ao seu potencial em contribuir no estímulo à captação de glicose
em modelos experimentais de resistência à insulina. Neste sentido, Ayala e colaboradores
(2007) observaram que o tratamento de animais em dieta hiperlipídica com sildenafil, sozinho
ou em combinação com L-arginina (substrato para a síntese de NO) promoveu aumento nos
níveis arteriais de GMPc, reduziu os níveis séricos de insulina e glicose e aumentou a
29

captação de glicose no músculo esquelético. É interessante observar que estas respostas


foram independentes de ativação da sinalização insulínica na musculatura esquelética. Em
revisão de POOLSUP et al. (2016), há evidências de que as ações de inibidores de PDE5 no
estímulo à captação muscular de glicose ocorram via aumento nos níveis de NO e GMPc, e
subsequente ativação da proteína quinase PKG. Em conjunto, estes achados sugerem que
inibidores de PDE5 surgem como opções terapêuticas promissoras no controle glicêmico em
quadros de resistência insulínica e DM tipo 2.
Não somente o sildenafil, como também o tadalafil, surgem como uma nova opção
terapêutica para o manejo de doenças metabólicas. Em um estudo realizado nos Estados
Unidos envolvendo 18 pacientes com síndrome metabólica, a administração de 10 mg de
tadalafil em dias alternados durante três semanas, foi associada a uma melhora na função
das células beta pancreáticas, quando comparados com os resultados obtidos dos pacientes
que receberam placebo (HO et al., 2014).
Outra complicação frequentemente observada no DM ou em quadros de resistência à
insulina é a disfunção endotelial (DE), aumentando o risco de doenças cardiovasculares. Um
dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento de DE no diabetes tem relação com
alterações nas vias sinalizatórias que levam à ativação de eNOS nas células endoteliais e
subsequente aumento na produção de NO. Diversas vias têm sido sugeridas como
participantes da ativação da enzima eNOS, incluindo a via fosfatidilinositol-3-quinase (PI3
quinase)/AKT, pertencente à cascata intracelular da sinalização insulínica. Sabe-se que a
quinase AKT fosforila eNOS em resíduo de serina-1177, aumentando assim sua atividade de
produção de NO, que se difunde localmente na parede arterial, ativa GC e promove aumento
na produção de GMPc nas células musculares lisas, plaquetas e células endoteliais,
induzindo diversos efeitos biológicos, incluindo vasodilação (TABIT et al., 2010).
Ao reduzirem a hidrólise do GMPc, inibidores de PDE5 têm sido amplamente
estudados como opções para o tratamento da DE em casos de DM tipo 2 e resistência
insulínica (SCHWARTZ et al., 2013; SANTI et al., 2015). No entanto, além de seus efeitos
relacionados ao aumento nos níveis de GMPc, também tem sido reportado que inibidores de
PDE5 possam ser eficazes no tratamento da DE via outro mecanismo, relacionado à redução
na expressão da enzima NADPH oxidase, culminando assim em diminuição na formação do
ânion superóxido e assim, a quantidade de NO biodisponível é aumentada
(KONSTANTINOPOULOS et al., 2007).
Em contrapartida, Muhammed et al. (2012) apontam evidências de que as células beta
pancreáticas desempenham um papel importante no desenvolvimento do DM tipo 2. Como já
dito, a glicose é o principal estimulador para a secreção pancreática de insulina. A exposição
crônica das células pancreáticas às concentrações elevadas de glicose pode prejudicar sua
função celular, via efeitos mediados pela glicotoxicidade. Além disso, os pesquisadores
30

acreditam que o NO produzido no pâncreas pode influenciar negativamente as células beta.


O NO pode ser sintetizado via ação duas enzimas, a enzima óxido nítrico sintetase neuronal
(nNOS) que é dependente de cálcio/calmodulina, e a enzima óxido nítrico sintetase induzível
(iNOS), que é independente de cálcio/calmodulina. A nNOS é responsável por produzir
pequenas quantidades de NO, enquanto que a iNOS produz quantidades elevadas, chegando
a níveis tóxicos, que podem causar disfunção das células beta do pâncreas e até mesmo sua
morte celular. Dessa forma, a enzima iNOS vem sendo associada ao desenvolvimento de DM
tipo 2, e assim, inibidores de PDE estão sendo estudados na atenuação das complicações
pancreáticas relacionadas à iNOS, uma vez que estes inibidores são capazes de suprimir a
expressão de iNOS, contribuindo para uma maior sobrevivência das células beta
pancreáticas, bem como também podem induzir efeitos benéficos dependentes de AMPc, e
que inclui um aumento da secreção de insulina. Dentre as diferentes PDE existentes, a
inibição da PDE3 se mostrou a mais importante na ativação do sistema dependente de AMPc
e consequente supressão da expressão de iNOS, aumento da secreção de insulina e,
portanto, preservação da função endócrina pancreática (MUHAMMED et al., 2012).

D) PDE10

A busca por novos alvos para a secreção de insulina levou a descoberta da expressão
de PDE10 nas células pancreáticas. Dois compostos dihidroisquinolínicos (Figura 8)
provaram serem inibidores potentes de PDE10, quando testes em células foram realizados e
seus resultados mostraram um aumento significativo na secreção de insulina (CANTIN et al.,
2007).

Figura 8: Estrutura química dos dihidroisquinolínicos inibidores de PDE10.

Fonte: CANTIN et al., 2007


31

A partir de algumas mudanças na estrutura desses compostos com objetivo de alterar


características físico-químicas, foi possível obter moléculas seletivas apenas para a PDE10A,
que é a isoforma presente nas células pancreáticas, com uma eficácia maior ainda quando
se fala em secreção de insulina. Além disso, esses compostos mostraram não causar
hipoglicemia, e assim se tornam promissores para o tratamento do DM tipo 2 (CANTIN et al.,
2007).
A sinalização do AMPc é, portanto, uma estratégia interessante para o tratamento do
diabetes mellitus, uma vez que este nucleotídeo cíclico causa efeitos positivos na secreção
de insulina. O metabolismo da glicose promove o fechamento dos canais de potássio
dependentes de ATP, o qual leva a despolarização celular e acarreta na abertura dos canais
de Ca2+. Isso, por sua vez, resulta na exocitose dos grânulos de insulina. O AMPc é o principal
regulador da secreção de insulina estimulada por glicose (WEINHAUS et al., 1998). Dessa
forma, os inibidores de PDE10A se mostram eficazes no tratamento do DM, pois são capazes
de aumentar os níveis de AMPc nas células beta pancreáticas, levando a uma maior
exocitose dos grânulos de insulina (SWEET, 2007).

4.3.1.2.3. Usos emergentes em outras doenças

A) Doenças neurodegenerativas

Hoje é reconhecida a presença de PDE no cérebro, e a importância do AMPc como


um mensageiro intracelular nos tecidos nervosos. A principal PDE encontrada no cérebro é a
PDE da família PDE1 (NATHANSON, 1997), porém estudos mostram que outras PDEs, como
por exemplo a PDE5, também podem ser encontradas nas regiões cerebrais (UTHAYATHAS
et al., 2007).
A ativação da enzima adenilato ciclase (AC) ocorre após a ligação de
neurotransmissores aos receptores presentes nas membranas plasmáticas pós-sinápticas.
Como consequência, ocorre um aumento na síntese de AMPc, a partir do ATP. Esse AMPc
formado é capaz de interagir com proteínas quinases presentes no citosol ou na membrana
da célula de forma a ativá-las. Essa ativação de proteínas quinases resulta na transferência
catalítica de um grupo fosfato para diversos substratos proteicos (Figura 9) (NATHANSON,
1997).
32

Figura 9: Síntese do AMPc a partir da ativação de adenilato ciclase por neurotransmissores


nos tecidos nervosos.

Fonte: NATHANSON, 1997.

O AMPc está envolvido na regulação do metabolismo e da função do sistema nervoso,


sendo essencial na sobrevivência neuronal. Relatos mostram que pacientes com Doença de
Parkinson (DP) e demência apresentam uma diminuição significativa em AMPc. Foi
demonstrado que a inibição de PDE1A2 pode ser uma estratégia promissora para o
tratamento da doença, uma vez que sua inibição impede que a concentração de AMPc
diminua ainda mais, aumentando o tempo de sobrevivência do neurônio e contornando os
sintomas causados pela DP (JEON et al., 2005).
O uso de inibidores de PDE também foi investigado para sua utilização em pacientes
com perdas de memória, tal como a DA. Nos últimos tempos, pesquisadores vêm estudando
um fator de transcrição conhecido como cAMP response element binding protein (CREB),
que parece ser um ponto importante para a formação da memória a longo prazo. A perda de
sua função pode estar relacionada então a esquecimentos frequentes nos pacientes. Além
disso, modulações de CREB se mostraram responsáveis por mudanças na estrutura sináptica
(TULLY, 1997). Inibidores de PDE4, como o ROL, são capazes de estimular a atividade de
CREB, contribuindo para melhorias na memória (TULLY et al., 2003), uma vez que levam a
um aumento da concentração de AMPc nas células e consequentemente um aumento das
vias de sinalização responsáveis pela síntese de proteínas importantes para o
armazenamento da memória. Isso ocorre porque o AMPc ativa a PKA, por ligação
33

cooperativa, que leva à dissociação da subunidade catalítica livre, que é responsável por
fosforilar CREB na região da SER 133. Quando fosforilada, a CREB forma um complexo com
seu cofator CREB-Binding Protein (CBP) e liga-se ao elemento de resposta ao AMPc (CRE)
presente do DNA, aumentando a transcrição de proteínas responsáveis pelo estímulo da
memória (SAURA; VALERO, 2011).
Como dito anteriormente, a PDE5 também está presente no tecido cerebral, como
também em vários outros órgãos do nosso corpo. Sendo assim, o sildenafil vem se tornando
uma nova opção para o tratamento de inúmeras doenças a partir do aumento das
concentrações de GMPc (Figura 10), entre elas os distúrbios neurológicos (UTHAYATHAS et
al., 2007).

Figura 10: Potencial papel do GMPc em diversos órgãos.

Fonte: (UTHAYATHAS et al., 2007)

O sildenafil vem sendo indicado como um potencial indutor de neurogênese a partir


do aumento dos níveis de GMPc no cérebro, reduzindo assim os déficits neurológicos.
Autores relatam que os inibidores de PDE5 apresentam um potencial terapêutico em
pacientes que sofreram acidente vascular cerebral, e que ainda podem ser importantes para
a recuperação do tecido cerebral lesado em episódios isquêmicos. O mecanismo de ação
pelo qual os inibidores atuam nessas desordens ainda não está completamente elucidado,
mas alguns estudos sugerem que o Sildenafil leva a fosforilação da proteína quinase B (PKB),
34

que por sua vez leva a um aumento na fosforilação da enzima glicogênio sintase quinase 3
(GSK-3) (UTHAYATHAS et al., 2007). A ativação desta via PKB-PI3K/GSK-3 medeia um
papel importante na sobrevivência do GMPc no cerebelo, contribuindo para a neurogênese,
já que o GMPc é responsável por aumentar a proliferação de células neuronais (WANG et al.,
2005). Sendo assim, uma vez que o crescimento neuronal é diminuído com a idade
principalmente devido a uma menor produção de GMPc, e que o acidente vascular cerebral
reduz o número de neurônios funcionais no cérebro, os inibidores de PDE5 vem se tornando
cada vez mais promissores no tratamento destes pacientes (WANG et al., 2005;
UTHAYATHAS et al., 2007).
Assim como os inibidores de PDE4, os inibidores de PDE5 também estão se
mostrando como futuras opções eficazes no tratamento de DA, visando retardar a progressão
da doença e eventualmente prevenir seu desenvolvimento. Uma provável teoria para explicar
o mecanismo é que a inibição da PDE5 leva a um aumento nos níveis de GMPc, que é
responsável por desencadear a liberação de glutamato, que por sua vez levaria a um aumento
de cálcio intracelular, que se liga à calmodulina e ativa a óxido nítrico sintase, que leva a um
aumento de NO. O NO então ativa a AC, resultando na síntese de GMPc. O aumento da
síntese de GMPc aumenta a expressão de proteínas e a sinaptogênese (formação de sinapse
entre os neurônios), melhorando a memória (Figura 11) (UTHAYATHAS et al., 2007).

Figura 11: Esquema da cascata bioquímica desencadeada a partir do uso de um inibidor de


PDE5 como o sildenafil para o tratamento de doença de Alzheimer.

Fonte: UTHAYATHAS et al., 2007.


35

B) Doença pulmonar obstrutiva crônica

A DPOC caracteriza-se por uma obstrução crônica do fluxo aéreo, normalmente


associada a uma resposta inflamatória anormal nos pulmões frente a inalação de partículas
ou gases tóxicos. Nos últimos anos, os inibidores de PDE4 se mostraram promissores para
o tratamento de DPOC (VIGNOLA, 2004). A PDE4 possui especificidade para o substrato
AMPc, sendo esse segundo mensageiro o responsável pelo bloqueio da proliferação e
quimiotaxia de células inflamatórias, inibição da atividade das células pró-inflamatórias e
ainda pela supressão da liberação de mediadores inflamatórios e citocinas pulmonares.
Sendo assim, os inibidores de PDE4 podem bloquear a hidrólise do AMPc, gerando uma
atividade anti-inflamatória nas vias aéreas e sistêmicas (Figura 12) (AZEVEDO; KUMMERLE
2014).

Figura 12: Mecanismo de inibição da PDE4 e seus efeitos no tratamento de doença


pulmonar obstrutiva crônica.

Fonte: AZEVEDO; KUMMERLE, 2014.

Em 2011, um novo inibidor de PDE4 foi aprovado pelo food and drug administration
(FDA) para o tratamento de DPOC, o roflumilast. Os estudos demonstraram sua capacidade
de diminuir o processo inflamatório causado pela doença e melhorar a função pulmonar em
pacientes que estão em um estágio mais avançado da doença. Mesmo assim, as pesquisas
ainda continuam para a descoberta de inibidores que causem menos efeitos adversos nos
pacientes frente a seu uso contínuo para o tratamento da DPOC. Acredita-se que inibidores
36

de PDE4 seletivos apenas para as isoformas PDE4A e PDE4B e não para a PDE4D, sejam
melhores e desencadeiem menos efeitos adversos (HATZELMANN et al., 2010; AZEVEDO;
KUMMERLE 2014).

5. CONCLUSÃO

Atualmente, onze famílias de PDE, abrangendo mais de 50 isoformas da enzima, já


foram identificadas. A atividade de PDE é observada em todas as células do corpo, permitindo
múltiplas possibilidades para metas terapêuticas cada vez mais seletivas.
Nos últimos 10 anos, inibidores seletivos de PDE estão sendo investigados para o
tratamento de inúmeras doenças, incluindo seu uso no tratamento de diabetes mellitus.
Estratégias para a inibição das isoformas de PDE presentes nas células beta pancreáticas,
principalmente das famílias PDE1, PDE3, PDE4 e PDE5, se mostram cada vez mais
promissoras no tratamento do diabetes mellitus, já que tais inibidores são capazes de
estimularem a secreção de insulina e assim o aumento na captação de glicose nos tecidos
periféricos. Nos dias de hoje, o diabetes mellitus ocupa a nona posição entre as doenças que
mais matam em todo o mundo. Este panorama é extremamente preocupante, uma vez que o
diabetes se encontra associado ao desenvolvimento de uma série de outras doenças e
complicações; portanto, tanto a prevenção ao desenvolvimento das complicações diabéticas
como também o tratamento dos indivíduos acometidos por esta síndrome metabólica, são de
extrema importância para reverter as elevadas taxas de morbidade e mortalidade associadas
ao diabetes mellitus.
Uma vez que as PDEs e os nucleotídeos cíclicos estão envolvidos na regulação de
diversas atividades e funções em nosso organismo, as PDEs surgem como importantes alvos
para novos medicamentos no tratamento não só do diabetes mellitus, como também de
inúmeras outras doenças, tais como distúrbios neurológicos e pulmonares, além de causarem
menos efeitos adversos aos pacientes.
As descobertas de novos fármacos são desafios únicos, que necessitam de grande
dedicação por parte dos pesquisadores e indústrias farmacêuticas. Os inibidores de PDEs
surgem então como uma alternativa promissora no âmbito farmacêutico. Inúmeras moléculas
já foram demonstradas como potentes inibidores de PDE, mas a busca para melhor
compreender seus mecanismos de ação e também a descoberta de novas moléculas com
este potencial ainda devem continuar.
37

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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