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ARARAQUARA - SP
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
CÂMPUS DE ARARAQUARA
ARARAQUARA - SP
2018
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço aos meus pais e ao meu irmão por todo apoio e
companheirismo durante esses anos, por sempre me incentivarem a batalhar pelos meus
sonhos, e a vencer cada dificuldade que porventura aparecem em nossas vidas. Obrigada
por caminharem ao meu lado nesta trajetória, por serem fortes para aguentar a saudade
durante esses anos em que estive longe, e por todos os ensinamentos que me passaram.
Nossa família é meu maior orgulho, além de ser meu porto seguro.
Agradeço também a todas as minhas amigas de Jundiaí, que sempre me deram todas
as forças para seguir em frente. Sou muito feliz por ter vocês ao meu lado, e também por ver
que a nossa amizade se fortaleceu cada vez mais mesmo com a distância.
Um agradecimento em especial a minha amiga Érica, que me mostrou a magia da
farmácia, e que foi a minha grande inspiração e exemplo no momento em que eu tive que
escolher qual seria o meu caminho profissional a ser traçado.
Ao meu namorado, Lucas, por estar sempre ao meu lado me proporcionado
momentos tão felizes, como também enxugando minhas lágrimas e me apoiando
principalmente nos momentos mais difíceis. Agradeço por todo carinho, compreensão,
paciência e amor. Você foi o maior presente que a UNESP me deu!
A todos os meus amigos da faculdade, agradeço por todos os momentos de alegria
compartilhados juntos durante esses anos, e pelo companheirismo. Juntos fomos capazes
de vencer todas as dificuldades da “vida de faculdade”. Em especial, agradeço a minha
grande amiga Priscila, que além de ser minha companheira na faculdade, foi também minha
companheira de casa. Sou muito grata pela linda amizade que construímos, por ser minha
amiga fiel, e por estar sempre ao meu lado em todas as situações. Durante estes anos que
moramos juntas nossa amizade só cresceu e se fortaleceu. Com você vive os melhores
momentos de minha vida. Que a nossa amizade seja sempre pura e repleta de amor como
ela é hoje. Agradeço imensamente por todos esses anos e pela pessoa incrível que você é.
A minha orientadora Amanda, agradeço por ter me acolhido tão bem quando precisei
nesse último ano de graduação, e por todas as vezes que com suas palavras me acalmou
quando eu aparecia em prantos em sua sala. Obrigada por me orientar e me guiar neste
projeto, por toda paciência e ensinamento. Agradeço também ao meu co-orientador Anderson
Kiyoshi Kaga pela disponibilidade em me orientar na realização deste trabalho, e por ser
sempre solícito quando precisei.
Por fim, agradeço a UNESP, e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas pelos
momentos vividos, e a todos os professores pelos conhecimentos ensinados. Vocês fazem
parte da minha trajetória profissional que se iniciará agora.
RESUMO
Figura 1: Hidrólise dos nucleotídeos cíclicos AMPc e GMPc pela enzima fosfodiesterase
Figura 2: Característica dos domínios estruturais e funcionais da PDE
Figura 3: Estrutura dos domínios catalíticos e regulatórios das diferentes isoformas de PDE
Figura 4: Especificidade das PDEs pelos nucleotídeos cíclicos
Figura 5: Nomenclatura das fosfodiesterases
Figura 6: Mecanismos gerais de regulação e função do GMPc e AMPc
Figura 7: Regulação da secreção de insulina pela célula beta pancreática e papel da PDE3B
Figura 8: Estrutura química dos dihidroisquinolínicos inibidores de PDE10.
Figura 9: Síntese do AMPc a partir da ativação do adenilato ciclase por neurotransmissores
nos tecidos nervosos
Figura 10: Potencial papel do GMPc em diversos órgãos
Figura 11: Esquema da cascata bioquímica desencadeada a partir do uso de um inibidor de
PDE5 como o sildenafil para o tratamento de doença de Alzheimer
Figura 12: Mecanismo de inibição da PDE4 e seus efeitos no tratamento de doença pulmonar
obstrutiva crônica
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição tecidual das PDEs em humanos, seus inibidores e principais usos
terapêuticos
LISTA DE ABREVIATURAS
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA............…………………………….....…….…………....9
2. OBJETIVO..........................………............…………………………….....…….…………..10
3. METODOLOGIA.............................................................................................................10
4. DESENVOLVIMENTO LITERÁRIO................................................................................11
4.1. Fosfodiesterases.....................................................................................................11
4.1.1. Isoenzimas e isoformas de fosfodiesterases..................................................11
4.1.2. Localização tecidual........................................................................................14
4.1.3. Mecanismos de regulação das PDEs.............................................................17
4.2. Nucleotídeos cíclicos e sinalização intracelular......................................................18
4.3. Inibidores de fosfodiesterases................................................................................19
4.3.1. Usos terapêuticos...........................................................................................20
4.3.1.1. Usos clássicos..................................................................................20
4.3.1.2. Perspectiva de usos de inibidores de PDE em outras doenças.......23
4.3.1.2.1. Diabetes mellitus...............................................................23
4.3.1.2.2. Diabetes mellitus e fosfodiesterases..................................24
A) PDE3................................................................................24
B) PDE4................................................................................27
C) PDE5...…….......…………...………………………………. 28
D) PDE10..............................................................................30
4.3.1.2.3. Usos emergentes em outras doenças...............................31
A) Doenças neurodegenerativas...........................................31
B) Doença pulmonar obstrutiva crônica................................35
5. CONCLUSÃO................................................................................................................36
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................37
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1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A atividade das fosfodiesterases (PDEs) foi descrita pela primeira vez em 1962, e a
partir de então estas enzimas se tornaram alvo de interesse para o desenvolvimento de
inúmeras substâncias com potencial terapêutico para o tratamento de diversas doenças, uma
vez que estão envolvidas na hidrólise dos segundos mensageiros, monofosfato cíclico de
adenosina (AMPc) e monofosfato cíclico de guanosina (GMPc), e estes nucleotídeos cíclicos,
por sua vez, são importantes na sinalização intracelular de diversos processos fisiológicos.
Sendo assim, os inibidores de PDEs têm se mostrado muito eficazes, uma vez que inibem a
hidrólise dos segundos mensageiros, prolongando e/ou aumentando os efeitos biológicos
controlados por esta via de sinalização.
A busca por novas moléculas capazes de inibirem as PDEs torna-se de extrema
importância na descoberta de novos fármacos para a tratamento de doenças muito comuns
entre a população, como é o caso do diabetes mellitus, doenças pulmonares e distúrbios
neurológicos, entre outras, surgindo, portanto, como uma alternativa aos tratamentos mais
comuns, uma vez que se mostram tão eficazes e ainda capazes de causarem menos efeitos
adversos aos pacientes.
Diante disso, os estudos acerca dos inibidores de PDE se mostram importantes e de
grande interesse aos pesquisadores e indústrias farmacêuticas, que têm como objetivo a
busca por novos fármacos, cujo os alvos são as PDEs, e seus mecanismos de ação, bem
como sua aplicação clínica no tratamento de patologias visando a redução de efeitos
adversos.
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2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica acerca dos novos usos
de inibidores de PDEs, com ênfase no tratamento do diabetes mellitus, bem como estudar os
seus mecanismos de ação.
3. METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica, também
denominado revisão de literatura. O método utilizado trata-se de um conjunto de atividades
que permitiu alcançar o objetivo proposto, traçando o caminho a ser seguido, determinando
possíveis erros e auxiliando na elaboração do projeto.
O presente trabalho tratou-se de uma pesquisa de caráter descritivo, de natureza
qualitativa, desenvolvida por meio de leitura de artigos acessados em bases de dados,
incluindo PubMed (www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), SciELO (www.scielo.br/), Lilacs
(www.lilacs.bvsalud.org/) e Google Acadêmico (www.scholar.google.com.br/), para a
pesquisa de artigos que estejam relacionados ao assunto proposto.
Foi utilizado como critério para a seleção de artigos as seguintes palavras chaves:
“fosfodiesterases”, “inibidores de fosfodiesterases”, “diabetes mellitus” e “nucleotídeos
cíclicos”. Estas palavras chaves foram usadas isoladamente e em combinação durante as
pesquisas nas bases de dados. Os artigos foram selecionados sem restrição de tempo.
Os procedimentos para a realização deste trabalho obedeceram às seguintes etapas:
levantamento bibliográfico, leitura analítica, seleção, resumo e arquivamento das informações
pertinentes, seguidas de interpretação de todas as informações coletadas. A partir da análise
de uma lista de referências e artigos de revisão, foram selecionadas as referências
mencionadas e mais características em relação ao assunto proposto.
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4. DESENVOLVIMENTO LITERÁRIO
4.1. Fosfodiesterases
Figura 1: Hidrólise dos nucleotídeos cíclicos AMPc e GMPc pela enzima fosfodiesterase
No domínio catalítico das PDEs 4 e 5, existe um sítio de ligação, conhecido como sítio
M, que atua como um local para a ligação de alguns átomos de metais, no qual a sequência
de alguns grupos de aminoácidos na região Q (Gln 817, Phe 820, Val 782, Tyr 612) são
conservados em todas as isoformas destas famílias de PDEs (SUNG et al., 2003).
Normalmente os metais que se ligam nesse sítio são o magnésio e o zinco, e eles atuam
estabilizando estruturalmente a PDE, de maneira a favorecer a catálise enzimática
(PERCIVAL et al., 1997). Nos domínios catalíticos existem sequências específicas de cada
família de PDE, que determinam a afinidade diferencial pelos substratos, as propriedades
catalíticas e os determinantes estruturais que estão envolvidos na clivagem do fosfato da
estrutura cíclica. Já na porção N-terminal, existem determinantes envolvidos nas diferentes
respostas seletivas de PDE, possuindo função regulatória, além de sinais que regulam a
atividade catalítica e interações proteína-proteína (SHARMA et al.; 2013). Por exemplo, na
PDE1 existe uma região que apresenta um domínio de ligação para a calmodulina (CaM), a
PDE2 contém um domínio de ligação do GMPc conhecido como domínio mammalian cGMP-
binding PDEs, Anabaena adenylyl cyclases and Escherichia coli FhIA (GAF), a PDE6 possui
um domínio de ligação a transducina, e as PDE1, PDE3 e PDE4 contêm sítios de fosforilação
para proteínas quinases (Figura 3) (TORPHY, 1998).
Figura 3: Estrutura dos domínios catalíticos e regulatórios das diferentes isoformas de PDE.
CaM: domínio de ligação à calmodulina, GAF: domínio de ligação do GMPc, UCR:upstream conserved region,
PAS: domínio PER-ARNT-SIM (PER: period circadian protein; ARNT: aryl hydrocarbon receptor nuclear
translocator protein; SIM: single minded protein.
Fonte: Conti, 2000
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A princípio, imaginava-se que existia uma única enzima PDE, que era comum em
todas as células, e que sua inibição acarretava em aumentos nos níveis de AMPc e GMPc.
Os inúmeros estudos feitos ao longo do tempo a respeito desta enzima confirmaram a
existência de uma ampla variedade de PDEs, estas distribuídas por todos os tecidos e células
do nosso organismo (Tabela 1). Atualmente, é descrito na literatura mais de 50 isoformas de
PDE, distribuídas por onze famílias (VILELA et al., 2016). Entre estas famílias, algumas PDEs
apresentam especificidade em relação ao substrato, sendo as PDEs 4, 7 e 8 capazes de
hidrolisar apenas AMPc, as PDEs 5, 6 e 9 hidrolisam apenas o GMPc, e por fim existem
aquelas capazes de hidrolisarem ambos os nucleotídeos, que são as PDEs 1, 2, 3, 10 e 11
(Figura 4) (FRANCIS et al., 2011).
15
Tabela 1: Distribuição tecidual das PDEs em humanos, seus inibidores e principais usos
terapêuticos.
A família de PDE1 foi a primeira a ser identificada e estudada, sendo uma classe de
enzimas que são reguladas por Ca2+/CaM. A ligação do complexo Ca2+/CaM em seus sítios
de ligação na região N-terminal da enzima estimula a hidrólise dos nucleotídeos cíclicos
(BENDER, BEAVO, 2006). Dessa forma, a ligação de PDE1 com o citado complexo culmina
em grande aumento na atividade da enzima, sugerindo que a mesma pode ser
completamente inativa na ausência de Ca2+/CaM (CONTI, 2000). Por outro lado, a
fosforilação da PDE1 por proteína quinase A (PKA) acarreta em uma diminuição na afinidade
da enzima pelo complexo Ca2+/CaM (HASHIMOTO et al., 1989).
Nas PDEs 2, 5, 6, 10 e 11 existem regiões reguladoras GAF, que atuam como
domínios facilitadores de interação proteína-proteína. Essas regiões são constituídas por
150-200 resíduos de aminoácidos, que são reconhecidas por se ligarem ao GMPc (AHMAD
et al., 2015). Estudos mostram que o domínio de GAF é composto por 2 subunidades, GAF
A e GAF B. Martinez e colaboradores (2002) demonstraram que na isoforma da PDE2A, a
subunidade GAF A possui função de ponto de dimerização entre as subunidades, e a GAF B
é responsável pela ligação com o GMPc. Entretanto, as subunidades apresentam a
capacidade de ligação ao GMPc diferenciada, dependendo da isoforma de PDE, onde na
PDE5A e na família de PDE6, por exemplo, o ligante é a subunidade GAF A (MARTINEZ et
al., 2002). A proteína quinase G (PKG) e a PKA são capazes de fosforilar a PDE5, culminando
em sua ativação e assim aumentando a afinidade do sítio catalítico para o GMPc (BESSAY
et al., 2007).
As isoformas de PDE4 apresentam regiões conservadas conhecidas como upstream
conserved region 1 (UCR1) e upstream conserved region 2 (UCR2). As isoformas onde essas
regiões encontram-se ausentes são cataliticamente inativas. As UCR1 e UCR2 são capazes
de formar um módulo de interação que regula a dimerização das PDE4 (AHMAD et al., 2015).
Desta forma, as PDE4 podem ser fosforiladas por PKA ou ainda por extracellular signal-
regulated kinase-2 (ERK). Quando ocorre a fosforilação do UCR1 em um resíduo de serina
por PKA, uma mudança conformacional ocorre, aumentando de 60 a 250% a atividade
catalítica da enzima, mas quando a fosforilação acontece por ERK, uma inibição da atividade
catalítica pode ser observada, que pode ser revertida via fosforilação da UCR1 pela PKA
(BENDER; BEAVO, 2006). Dessa forma, observa-se um sistema regulador tipo feedback,
onde a inibição de PDE4 mediada pela ERK faz com que os níveis de AMPc se elevem
(MACKENZIE et al., 2000).
Por fim, nas isoformas de PDE8 estão presentes um domínio regulatório conhecido
como PAS (Per, Arnt, Sim), onde sua função ainda é pouco conhecida, mas acredita-se que
ele possa ser um sítio de interações com outros ligantes (BENDER; BEAVO, 2006).
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A síntese do GMPc é realizada por dois tipos de GC, que se diferem em sua
localização celular e ativação por ligantes específicos. Um tipo é a guanilil ciclase particulada
(GCp) que está presente na membrana plasmática e é ativada pelo peptídeo natriurético, e o
outro tipo é a guanilil ciclase solúvel (GCs) presente no citoplasma e ativada pelo NO
(FISCHMEISTER et al., 2006). Quando a GC é ativada, esta é capaz de sintetizar GMPc a
partir de GTP. O GMPc então se liga a proteína quinase dependente de GMPc (PKG), que
passa a fosforilar seus substratos, estes podem ser canais iônicos, proteínas envolvidas na
contração do músculo liso, ou ainda fatores de transcrição (Figura 6) (JEON et al., 2005).
nos cães, como também em crianças e adultos com hipertensão pulmonar (BACH et al.,
2006).
Como família PDE1 está localizada predominantemente no cérebro, tem sido utilizada
no tratamento de de perda de memória e demência. Estudos recentes sugerem ainda que a
inibição da PDE1B1 induz apoptose de células leucêmicas em humanos. Um exemplo de
inibidor de PDE1 é a vimpocetina, utilizada para o tratamento de perda da memória (GHOSH
et al., 2009).
Os inibidores de PDE2 têm sido utilizados no tratamento de doenças respiratórias,
bem como em caso de perda de memória. A eritro-9-(2-hidroxi-3-nonil)-adenina (EHNA) é um
inibidor seletivo de PDE2 que apresenta uma estrutura semelhante ao AMPc, porém tem uma
cadeia carbônica lateral volumosa e hidrofóbica, se mostrando uma substância eficaz para o
tratamento de problemas respiratórios, revertendo casos de vasoconstrição pulmonar
(GHOSH et al., 2009).
Alguns inibidores de PDE3 já são utilizados nos tratamentos de glomerulonefrite,
insuficiência cardíaca congestiva, trombose e hipertensão pulmonar. Como a PDE3
desempenha um papel importante na contração cardíaca, controlando a entrada de cálcio,
sua inibição está relacionada com os tratamentos de insuficiência cardíaca (IC), porém causa
efeitos adversos arrítmicos indesejáveis. A milrinona, amrinona, enoximone são exemplos de
fármacos usados no tratamento desta patologia. Além disso, o cloridrato de parogrelil é um
exemplo de inibidor de PDE3 usado no tratamento de asma (GHOSH et al., 2009).
Recentemente, um novo inibidor de PDE3, o cilostazol, passou a ser comercializado para o
tratamento de claudicação intermitente, uma condição observada em doenças arteriais onde
o fluxo sanguíneo para os membros inferiores é diminuído, especialmente quando o paciente
realiza exercícios físicos leves ou intensos, como caminhadas ou corridas. O cilostazol inibe
a agregação plaquetária e é responsável por causar efeitos benéficos, incluindo a dilatação
das artérias, aumentando assim o fluxo de sangue aos membros inferiores (KERAVIS;
LUGNIER, 2012).
Glomerulonefrite, asma, DPOC, depressão bipolar, doenças autoimunes,
encefalomielite e DA são patologias que podem ser tratadas com inibidores de PDE4
(GHOSH et al., 2009). O rolipram (ROL), que é um fármaco antidepressivo com alta afinidade
para PDE4, foi um dos primeiros compostos desenvolvidos para uso no tratamento de
algumas patologias. Porém, ele apresentou inúmeros efeitos colaterais gastrointestinais, tais
como náusea, vômito e diarreia, o que fez com que as indústrias farmacêuticas aumentassem
os investimentos no desenvolvimento de novos inibidores de PDE4, mais avançados e com
menos efeitos adversos. Sendo assim, em 2011, o roflumilaste foi aprovado para o tratamento
de DPOC, e o apremilast aprovado em 2014 como o primeiro medicamento oral contra
psoríase (MAURICE et al., 2014; MARTINEZ; GIL, 2014). Além disso, a inibição de PDE4
22
A) PDE3
Evidências sugerem que a isoforma PDE3B presente nas células beta do pâncreas é
a mais importante na regulação da síntese e liberação de insulina. Desta maneira, inibidores
seletivos de PDE3B tornam-se moléculas promissoras e capazes de aumentarem a secreção
25
uma opção para a melhoria da sinalização estimulada pelo GLP-1. Assim, os tratamentos
com os inibidores de PDE têm mostrado resultados positivos quanto ao aumento da secreção
de insulina dependente de glicose pelas células beta pancreáticas (PYNE; FURMAN, 2003).
Um inibidor não seletivo de PDE3 é a isobutilmetilxantina (IBMX), e muitos autores
têm observado que este composto parece ser responsável pelo aumento da secreção de
insulina induzida por glicose, e passou a ser foco de estudo para inúmeros pesquisadores
que buscavam entender o papel do AMPc nas células beta pancreáticas (PYNE; FURMAN,
2003). Porém, além de ser um inibidor não seletivo de PDE, a IBMX passou a ser associada
a uma atividade antagonista de receptores de adenosina, e com isso se tornou uma molécula
que requer muita atenção. Alguns exemplos de outros inibidores de PDE3, são o Org 9935,
siguazodan, ICI118233, SK & F 94120 e a milrinona, que também foram descobertos por suas
capacidades de aumentarem a secreção de insulina por células beta pancreáticas (PYNE;
FURMAN, 2003).
O AMPc acumulado nas células beta pancreáticas devido a ação de inibidores de
PDE3 pode ser hidrolisado por outras isoformas de PDE, à medida que o nucleotídeo se
difunde do seu local de produção e ação. Apesar de não ser conhecida exatamente a
localização das PDE3 nas células pancreáticas, acredita-se que estejam presentes próximas
às membranas plasmáticas das células (PYNE; FURMAN, 2003). Além disso, os inibidores
de PDEs com potencial uso no tratamento do diabetes devem apresentar uma seletividade
apenas para os PDE3 presentes nas células pancreáticas, já que essa enzima também é
encontrada no sistema cardiovascular e nas plaquetas, e sua inibição nestes locais poderia
acarretar em efeitos adversos indesejáveis (JEON et al., 2005).
O aumento na secreção de insulina pode não estar apenas relacionado ao aumento
nos níveis de AMPc, quando se analisa os efeitos decorrentes da inibição de PDE; aumentos
na sensibilização ao cálcio também estão relacionados a uma maior liberação de insulina,
uma vez que o mecanismo exocitótico intracelular sensível ao cálcio é ativado, fazendo com
que a proteína quinase dependente de Ca2+/calmodulina tipo II (CaMK II) também seja
ativada, acarretando em exocitose dos grânulos de insulina (Figura 7) (FUJUMOTO et al.,
1998). Em trabalho realizado por Fugimoto e colaboradores (1998), foi demonstrado que
ilhotas de Langerhans de ratos isoladas e incubadas com pimobendan, um inibidor seletivo
de PDE3, estimulou a secreção de insulina por aumentar as concentrações de cálcio e
ativação de CaMK II (FUJUMOTO et al., 1998).
A insulina é capaz de ativar a PDE3B após a ligação aos receptores de insulina
presentes nas células beta pancreáticas. Ela é capaz de inibir sua própria secreção através
de ativação da PDE3B, que por sua vez leva a uma diminuição das concentrações de AMPc.
Estudos mostram que existe ainda uma atividade de PDE3B que é ativada por fator de
crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1), onde a insulina em altas concentrações faz
27
com que o IGF-1 interaja através de uma ligação de baixa afinidade com seus respectivos
receptores presentes na membrana da célula, ativando a PDE3B, permitindo que a liberação
de insulina seja modulada. A leptina também é responsável pela ativação da PDE3B (Figura
7) (PYNE; FURMAN, 2003).
B) PDE4
C) PDE5
D) PDE10
A busca por novos alvos para a secreção de insulina levou a descoberta da expressão
de PDE10 nas células pancreáticas. Dois compostos dihidroisquinolínicos (Figura 8)
provaram serem inibidores potentes de PDE10, quando testes em células foram realizados e
seus resultados mostraram um aumento significativo na secreção de insulina (CANTIN et al.,
2007).
A) Doenças neurodegenerativas
cooperativa, que leva à dissociação da subunidade catalítica livre, que é responsável por
fosforilar CREB na região da SER 133. Quando fosforilada, a CREB forma um complexo com
seu cofator CREB-Binding Protein (CBP) e liga-se ao elemento de resposta ao AMPc (CRE)
presente do DNA, aumentando a transcrição de proteínas responsáveis pelo estímulo da
memória (SAURA; VALERO, 2011).
Como dito anteriormente, a PDE5 também está presente no tecido cerebral, como
também em vários outros órgãos do nosso corpo. Sendo assim, o sildenafil vem se tornando
uma nova opção para o tratamento de inúmeras doenças a partir do aumento das
concentrações de GMPc (Figura 10), entre elas os distúrbios neurológicos (UTHAYATHAS et
al., 2007).
que por sua vez leva a um aumento na fosforilação da enzima glicogênio sintase quinase 3
(GSK-3) (UTHAYATHAS et al., 2007). A ativação desta via PKB-PI3K/GSK-3 medeia um
papel importante na sobrevivência do GMPc no cerebelo, contribuindo para a neurogênese,
já que o GMPc é responsável por aumentar a proliferação de células neuronais (WANG et al.,
2005). Sendo assim, uma vez que o crescimento neuronal é diminuído com a idade
principalmente devido a uma menor produção de GMPc, e que o acidente vascular cerebral
reduz o número de neurônios funcionais no cérebro, os inibidores de PDE5 vem se tornando
cada vez mais promissores no tratamento destes pacientes (WANG et al., 2005;
UTHAYATHAS et al., 2007).
Assim como os inibidores de PDE4, os inibidores de PDE5 também estão se
mostrando como futuras opções eficazes no tratamento de DA, visando retardar a progressão
da doença e eventualmente prevenir seu desenvolvimento. Uma provável teoria para explicar
o mecanismo é que a inibição da PDE5 leva a um aumento nos níveis de GMPc, que é
responsável por desencadear a liberação de glutamato, que por sua vez levaria a um aumento
de cálcio intracelular, que se liga à calmodulina e ativa a óxido nítrico sintase, que leva a um
aumento de NO. O NO então ativa a AC, resultando na síntese de GMPc. O aumento da
síntese de GMPc aumenta a expressão de proteínas e a sinaptogênese (formação de sinapse
entre os neurônios), melhorando a memória (Figura 11) (UTHAYATHAS et al., 2007).
Em 2011, um novo inibidor de PDE4 foi aprovado pelo food and drug administration
(FDA) para o tratamento de DPOC, o roflumilast. Os estudos demonstraram sua capacidade
de diminuir o processo inflamatório causado pela doença e melhorar a função pulmonar em
pacientes que estão em um estágio mais avançado da doença. Mesmo assim, as pesquisas
ainda continuam para a descoberta de inibidores que causem menos efeitos adversos nos
pacientes frente a seu uso contínuo para o tratamento da DPOC. Acredita-se que inibidores
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de PDE4 seletivos apenas para as isoformas PDE4A e PDE4B e não para a PDE4D, sejam
melhores e desencadeiem menos efeitos adversos (HATZELMANN et al., 2010; AZEVEDO;
KUMMERLE 2014).
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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