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Perfil dos compradores de tomate de mesa em supermercados da região de


Campinas

Article  in  Horticultura Brasileira · March 2005


DOI: 10.1590/S0102-05362005000100031

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41 131

3 authors:

Caroline Andreuccetti Marcos D. Ferreira


University of São Paulo Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
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Marcelo Tavares
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
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economia e extensão rural
ANDREUCCETTI, C.; FERREIRA, M.D.; TAVARES, M. Perfil dos compradores de tomate de mesa em supermercados da região de Campinas. Horticultura
Brasileira, Brasília, v.23, n.1, p.148-153, jan.-mar. 2005.

Perfil dos compradores de tomate de mesa em supermercados da região


de Campinas1
Caroline Andreuccetti2; Marcos David Ferreira2; Marcelo Tavares3
2
Universidade Estadual de Campinas, Fac. Eng. Agrícola, Barão Geraldo, C. Postal: 6011, 13083-970 Campinas-SP; E-mail:
cline@agr.unicamp.br; 3UFU, Fac. Matemática, Av. João Naves de Ávila., 2121, 38408-100, Uberlândia-MG

RESUMO ABSTRACT
O acesso a informações e às mudanças tecnológicas fizeram com Market profile of fresh tomato consumers in the Campinas
que consumidores se tornassem cada vez mais exigentes e preocu- area
pados com a saúde. Assim, procurou-se estabelecer o comportamento Access to information together with technological developments
de compra dos consumidores de tomate de mesa (Lycopersicon have helped to make consumers more preocupied about their health.
esculentum Mill.) em supermercados de Campinas (SP), e a partir A study was made of the buying habits of tomato consumers in
das respostas aos questionários traçou-se seu perfil destacando suas supermarkets in Campinas (São Paulo State, Brazil). With the answers
preferências, costumes, reclamações e exigências. Identificou-se que to the questionnaire to hand it was possible to determine the
é a mulher que realiza as compras para casa, com preferência pelo preferences, the customs, the complaints and the demands of the
consumo do tomate na forma “in natura”. Encontrou-se insatisfação customers. It was established that it is the woman of the house who
de 95,6% dos entrevistados quanto à qualidade do tomate, sendo a does the buying and that tomatoes are consumed raw. 95,69% of
presença de danos físicos a maior reclamação. Assim, a qualidade those interviewed complained about the quality of the tomatoes, the
do tomate que estava sendo apresentado nas gôndolas dos super- presence of physical damage to the tomato being the main complaint.
mercados não correspondia àquela indicada pelos consumidores (fru- The quality of the tomatoes displayed do not live up to customers
tos com coloração vermelha, uniformes e ausência de injúrias). Diante expectations (color, uniformity of size and mechanical injuries).
da insatisfação dos consumidores e considerando que o tomate pre- Consumers disclosed that they would pay higher prices for tomatoes
ferencialmente é consumido “in natura” deve-se atentar para sua with better quality attributes. Ahead of the consumers’ complaints
aparência externa, promovendo manuseio adequado nas etapas pós- and considering the preference for fresh tomatoes, special attention
colheita a fim de minimizar danos físicos. Os consumidores revela- must be given to the appearance, promoting appropriate handling in
ram que pagariam uma quantia mais elevada pelo tomate caso este the post-harvest stages, to minimize injuries. The opinion of the
apresentasse melhor qualidade. A opinião do consumidor deve ser consumers must be considered in order to trace technological and/or
considerada para se encontrar soluções tecnológicas e/ou estratégi- strategical solutions that can minimize this problem, therefore
cas que possam minimizar os danos pós-colheita do tomate, atingin- reaching their expectations related to product quality.
do suas expectativas quanto à qualidade do produto.

Palavras-chave: Lycopersicon esculentum Mill., danos físicos, pa- Keywords: Lycopersicon esculentum Mill., injuries, quality
drões de qualidade, custo do tomate, consumo in natura, consumidor. standards, tomato’s cost, fresh market, consumer.

(Recebido para publicação em 25 de setembro de 2003 e aceito em 18 de outubro de 2004)

O s consumidores sinalizam a estra-


tégia de mercado para melhoria na
apresentação do produto, a ser adotada
midor é função das expectativas atendi-
das no momento da compra. Se o de-
sempenho do produto adquirido se afas-
mundo e para ser competitivo e atender
a demanda é necessário compreender o
consumidor, traçar seu perfil e conhecer
pelas empresas do setor alimentício e ta das expectativas, o consumidor con- seus hábitos (Saabor, 2001).
produtores agrícolas. Sabe-se que a sa- seqüentemente estará insatisfeito. Caso Kader (2002), relata que o consumi-
tisfação ou não do consumidor pode in- contrário, se o desempenho atender às dor de frutas e hortaliças avalia primei-
terferir em decisões de compras futuras expectativas, o consumidor estará satis- ramente a cor deste e posteriormente a
(Marcos, 2000). O consumidor busca feito e dessa maneira com grandes pos- sua textura, e como o cliente não tem
qualidade e comodidade, procurando sibilidades de manter a fidelidade do con- acesso à visualização do interior do fru-
produtos frescos, com bons preços, além sumidor em relação ao produto adquiri- to, usa sua experiência anterior para
de um ambiente seguro e disponível em do. Nos últimos anos, a participação dos avaliar o produto. Desde a década dos
seu horário livre (Frutas, 1996). Kotler supermercados na distribuição e venda anos setenta os consumidores estão in-
(1998) relata que a satisfação do consu- de hortaliças tem crescido no Brasil e no satisfeitos com o preço e a qualidade do

1
Parte do projeto de pesquisa UNIMAC (Unidade Mecânica de Auxílio à Colheita) financiado pela FAPESP.

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Perfil dos compradores de tomate de mesa em supermercados da região de Campinas

tomate (Kader et al.,1977). Brumfield


et al. (1993) realizando estudos com
consumidores sobre os aspectos que
interferem na decisão de compra do
tomate, concluíram que o preço do
produto é função da qualidade do
mesmo e que a partir dos atributos de
qualidade mensurados pelos consu-
midores, estes podem interferir em
decisões futuras de compra. Brunfield
et al. (1993) ainda afirmam que a
variação de preço de um produto
ocorre na mesma proporção, sem ha-
ver grandes diferenciações, seja pelo Figura 1. Motivos da insatisfação do consumidor em relação ao tomate de mesa. 1=tomate
aumento da demanda de um produto muito verde, 2=manchado (amarelado), 3=com presença de danos físicos, 4=preço elevado,
de melhor qualidade ou de um pro- 5=ausência de firmeza, 6=sinais de podridão, 7=sabor aguado. Campinas, Univ. Estadual de
duto que apresenta baixo padrão de Campinas, 2002.
qualidade pois os consumidores são
menos sensíveis ao preço do que à
qualidade dos produtos. Quando pravam tomates no momento da entre- te?, (24) quanto a mais ele está disposto
ocorre o aumento de renda dos con- vista, atendendo à indicação de Ferreira a pagar. Foi realizada uma análise grá-
sumidores, aumenta por conseqüên- et al. (2000). A entrevista se deu de for- fica dos dados e utilizou-se a estatística
cia seu consumo de produtos com ma individual na qual não foi privilegia- de qui-quadrado para verificar a ocor-
melhores padrões de qualidade. do nenhum grupo de pessoas. O questi- rência de independência entre as variá-
Diante da mudança comportamental onário continha 24 perguntas para de- veis obtidas por meio das respostas dos
dos consumidores, procurou-se identi- terminação do perfil dos consumidores, consumidores, em uma amostra de 90
destacando-se: (1) dados pessoais; (2) pessoas. Valores de probabilidade en-
ficar o perfil do consumidor de tomate
motivo da compra; (3) determinação das contrados menores de 0,05 indicam que
de mesa quanto às preferências, exigên-
cultivares conhecidas pelos consumido- o teste foi significativo e as variáveis
cias, reclamações e comportamento de
res; (4) grau de satisfação quanto à qua- independentes.
compra.
lidade do tomate; (5) identificação do
O teste do qui-quadrado foi aplica-
tipo de tomate rejeitado pelo consumi-
MATERIAL E MÉTODOS dor; (6) horário que costuma consumir do nas comparações que atendiam à res-
o tomate, (7) local onde costuma arma- trição com relação ao tamanho das fre-
Esta pesquisa foi realizada em su- zenar o tomate em casa, importância qüências, ou seja, quando n<20, as fre-
permercados no município de Campi- quanto ao (8) tamanho; (9) formato e qüências esperadas devem ser superio-
nas (SP), nos meses de novembro e de- (10) coloração; (11) o consumidor con- res a 5 e naquelas comparações em que
zembro de 2002. Foram escolhidos três segue associar o formato do tomate à o número de células com freqüência es-
supermercados, classificados em peque- sua cultivar?, (12) local onde costuma perada inferior a 5 deve corresponder a
no, médio e grande. Segundo Mattar comprar o tomate e (13) razões para tal, menos de 20% do total de células. Nos
(1999), a forma tradicional para coleta (14) horário para realizar as compras e casos em que estas restrições não foram
de dados primários (dados que nunca (15) freqüência da mesma; (16) avalia- cumpridas não foi possível a aplicação
foram coletados, tabulados e analisados) ção dos itens: aparência externa, cor, do teste qui-quadrado.
é através da comunicação direta com o firmeza, sabor, formato, tamanho, du-
detentor dos dados, sendo o dado obti- rabilidade, adequado para salada, danos RESULTADOS E DISCUSSÃO
do pela declaração do próprio físicos e mistura de padrões numa esca-
la de 1 a 5, sendo 1=pior; 2=ruim; 3=re- Dos entrevistados, 71,1% correspon-
respondente, o que caracteriza o uso de
gular; 4=bom e 5=ótimo; (17) conceito dem ao sexo feminino, indicando que a
entrevistas e questionários. Brumfield et
de produto ideal; (18) conhecimento mulher ainda é a responsável pelas com-
al. (1993) e Wilkins et al. (2002) tam-
sobre a procedência do tomate, (19) su-
bém utilizaram questionários como pras de alimentação da família. O perfil
gestões para melhoramento do tomate;
meio de coletar informações junto aos feminino demonstrou maior atenção aos
(20) opinião do consumidor sobre o pre-
consumidores, indicando que esta detalhes com maior cuidado na escolha
ço do tomate, (21) o consumidor deixa-
metodologia representa facilidade e ra- ria de consumir tomate? Motivos para do produto, tal como identificado por
pidez na obtenção dos dados. Conside- isso, (22) questionamentos sobre possí- Marcos (2001). Nos dias de pesquisa, ob-
rou-se público alvo os consumidores, ou veis substitutos, (23) o consumidor pa- servou-se que o motivo pelo qual o con-
seja, as pessoas que efetivamente com- garia um valor mais elevado pelo toma- sumidor é levado a comprar tomate, foi a

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C. Andreuccetti et al.

manuseio precário existente na cadeia


de comercialização, pode gerar perdas
que prejudicam tanto os agentes da
comercialização como os consumido-
res presentes no final da cadeia.
Moretti e Sargent (2000) relatam que
durante as etapas de colheita e pós-
colheita, o tomate sofre danos físicos
por impactos, compressão e vibração
e, a presença dessas injúrias nos fru-
tos influencia alterações fisiológicas,
metabólicas, de aroma, sabor e quali-
dade. A exposição do produto nas
gôndolas do varejo, muitas vezes por
Figura 2. Preferência do consumidor quanto ao grau de coloração do tomate de mesa. 1=to- tempo prolongado, também contribui
mate na cor salada, 2=cor vermelha, 3=salada e vermelho, 4=molho, 5=verde, 6=verde e na maior perda. Esse fato pode trazer
salada (colorido), conforme classificação dada pelo Programa Brasileiro para a Moderniza- como conseqüência a diminuição do
ção da Horticultura (CEAGESP, 2003). Campinas, Univ. Estadual de Campinas, 2002.
padrão de qualidade do produto, acar-
retando insatisfação do comprador
(Shewfelt, 2000). Somente, através de
avanços tecnológicos que possam ga-
rantir a qualidade dos produtos, poder-
se-á atender às expectativas dos con-
sumidores.
Houve maior preferência dos con-
sumidores pelo tomate com coloração
vermelha (Figura 2). Por outro lado,
Marcos (2001), durante entrevista jun-
to a consumidores identificou a prefe-
rência pela coloração esverdeada
(correspondendo ao salada e/ou colori-
do, conforme classificação dada pelo
Programa Brasileiro para a Moderniza-
ção da Horticultura, CEAGESP, 2003).
Segundo este autor o consumidor pro-
Figura 3. Avaliação dos consumidores quanto aos atributos de qualidade para tomate de curava cor esverdeada por relacioná-la
mesa. Campinas, Univ. Estadual de Campinas, 2002. com a maior durabilidade esperada para
esses frutos.
Foi determinado que 51,1% dos con-
maior intenção de consumo do tomate in monstraram conhecimento das cultiva-
sumidores entrevistados dão importância
natura, principalmente em saladas, res, as conhecem pelo formato que apre-
ao tamanho do tomate com preferência
correspondendo a 70% da preferência. senta e não pelo nome da mesma.
para o tamanho médio. A preferência dos
Enquanto que apenas 2,2% dos consumi- Durante o período da pesquisa, consumidores foi na proporção de 34,4%
dores adquirem o tomate para a confec- 95,6% dos consumidores estavam insa- para o formato ovalado, 15,6% para o
ção de molhos e 27,8% compram tomate tisfeitos quanto à qualidade do tomate, redondo, 13,3% para o mais comprido,
tanto para consumi-lo na forma in natura apontando mais de um item relativo a 5,6% para o ovalado e mais comprido e
como para molho. A preferência do con- insatisfação, sendo a presença de danos finalmente 31,1% indiferentes quanto ao
sumidor de tomate de mesa para consu- físicos (incluindo cortes, furos e amas- formato. Identificou-se ainda que 72,2%
mo na forma in natura, reforça a idéia da sados) a principal causa do desconten- não conseguem associar o formato com
manutenção da qualidade do produto, uma tamento, seguido do tomate manchado a cultivar do tomate. Esse fato pode ser
vez que a aparência do mesmo é o fator (aspecto amarelado, coloração resultado da ausência de identificação das
decisivo da compra. desuniforme), conforme descrito na Fi- cultivares comercializadas nas gôndolas
A maioria dos consumidores gura 1. O tomate, como a maioria das dos supermercados. A etiquetação colo-
(63,4%) desconhece as cultivares hortaliças, é classificado como perecí- cada junto ao produto nas gôndolas se
comercializadas e aqueles que de- vel. Essa característica quando aliada ao refere somente ao seu preço de venda.

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Perfil dos compradores de tomate de mesa em supermercados da região de Campinas

Em alguns casos ainda encontrou-se


mistura de cultivares numa mesma
gôndola de comercialização, sendo ven-
didos sem distinção, ou seja, os consu-
midores compravam mais de uma vari-
edade de tomate sem ter conhecimento.
Marcos (2001), identificou que o tama-
nho foi considerado importante pelos
consumidores, indicando sua preferên-
cia por frutos médios. Também foi rela-
tado que o formato mais longo era o pre-
ferido pelos consumidores, apontando
menor importância pelo formato arre-
dondado. Como o consumidor não re- Figura 4. Conceito de tomate de mesa ideal para os consumidores. 1=tomate com coloração
conhece as cultivares de tomate, não vermelha, 2=tamanho médio, 3=alta durabilidade, 4=uniformidade, 5=firmeza, 6=sem pre-
associa aspectos visuais às suas carac- sença de danos físicos, 7=sem resíduo de agrotóxico, 8=coloração salada. Campinas, Univ.
terísticas sensoriais, sejam positivas ou Estadual de Campinas, 2002.
negativas ou indiferentes.
Baseados na coleta de dados,
correlacionou-se sexo dos consumido- A Figura 3 representa a avaliação dos (1993), que observaram que a percepção
res com: (1) motivo da compra do toma- consumidores quanto aos padrões de do consumidor quanto aos aspectos de
te, (2) motivo da insatisfação, (3) conhe- qualidade observados no momento da coloração, firmeza, valor nutritivo e apa-
cimento das variedades de tomate, (4) compra. Essa avaliação foi determina- rência não influenciaram o procedimen-
horário de consumo, (5) importância da com base numa escala de 1 a 5, re- to de compra dos consumidores.
quanto a tamanho, (6) formato e (7) co- presentando os conceitos 1=péssimo, Quanto ao horário que costumam
loração do tomate, através do teste Qui- 2=ruim, 3=regular, 4=bom e 5=ótimo. consumir o tomate, 23,3% responde-
quadrado. Observou-se que todos os p- Observa-se que a mistura de pa- ram que somente durante o almoço,
valores foram maiores que 0,05, indican- drões não é desejada pelos consumi- 3,3% durante o jantar e 73,3% em
do dependência entre as variáveis anali- dores atingindo o nível de insatisfa- ambas as ocasiões. A geladeira repre-
sadas, ou seja, o sexo da pessoa prediz o ção de 65,6% (classificado como senta, para 94,4% dos consumidores,
comportamento de compra. ruim). Outro aspecto que se pode des- o local preferido para armazenamento
Relacionaram-se, também, a pre- tacar é presença de danos físicos nos do tomate, seguido de 2,2% em fru-
ferência de tamanho e formato do to- frutos dos tomates (também classifi- teiras e 3,3% para os dois casos. Con-
mate com a coloração apresentada cado como ruim) com índices de sumidores relataram que quando o to-
pelo produto segundo a preferência 68,9% de insatisfação. A durabilida- mate é comprado ainda com a colo-
dos consumidores no momento da de e a firmeza, de modo geral, foram ração verde, é acondicionado na fru-
compra. Pelo teste Qui-quadrado ob- consideradas regulares com 67,8% e teira e quando atinge a cor vermelha
servou-se o parâmetro p-valor menor 43,3%, respectivamente. Não foram é transferido para a geladeira. Toma-
que 0,05, para a correlação das variá- encontradas adversidades quanto ao tes comprados com a coloração ver-
veis coloração e tamanho do tomate, formato (73,3%) e tamanho (88,9%) melha são armazenados logo na ge-
mostrando assim a independência en- dos tomates que estavam sendo apre- ladeira.
tre estas, ou seja, o consumidor não sentados na gôndola, sendo esses As redes de supermercado foram
associa, no momento da compra, a parâmetros destacados como bons. Os apontadas como o local preferido para
coloração com o tamanho do fruto. únicos itens que foram considerados realizar a compra do tomate de mesa,
Considerando a coloração e formato como ótimo, segundo avaliação de para 57,8% dos consumidores devido a
(com p-valor acima de 0,05), verifi- uma minoria de consumidores, são: comodidade, limpeza e proximidade de
cou-se dependência entre esses índi- formato (2,2%), tamanho (2,2%), du- suas residências. Os varejos (tipo qui-
ces. Comparando as variáveis, super- rabilidade (2,2%) e tomate adequado tanda e sacolões) e as feiras livres têm
mercado e tamanho do tomate, não se para salada (2,2%). 4,4%, cada, da preferência dos consu-
encontrou dependência entre as variá- Percebe-se que o consumidor avalia midores pela qualidade e por acredita-
veis (p-valor abaixo de 0,05), indican- alguns parâmetros de qualidade antes de rem que nestes locais os produtos são
do que os consumidores dos diferen- realizar sua compra, tais como colora- mais frescos. Há aqueles (24,4%) que
tes supermercados não possuem con- ção uniforme, firmeza e presença de da- fazem suas compras tanto em supermer-
sideração diversificada quanto ao as- nos físicos. Porém, esse comportamento cados e varejões, e ainda 8,9% que fre-
pecto tamanho do tomate. não foi detectado por Brunfield et al. qüentam supermercados e sacolões.

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C. Andreuccetti et al.

Normalmente 46,7% dos consumido- mo ao ideal, o consumidor sugeriu: pro- vez que são amontoados e colocados nas
res realizam suas compras quando pos- dução orgânica, realizar processos de gôndolas sem critério algum.
suem disponibilidade de tempo, en- seleção, classificação e exposição mais A satisfação ou não do cliente pode
quanto que 37,8% realizam as compras adequados, plantio da cultura sob pro- interferir em decisões futuras de com-
pelo período da manhã, 13,3% à tarde teção, melhoramento de sementes e trei- pra. A preferência de consumir o toma-
e 2,2% à noite. Quanto à freqüência de namento de mão-de-obra que manuseia te in natura reforça a idéia da manuten-
compra do tomate, identificou-se que o tomate. ção da qualidade pós-colheita do pro-
46,7% o fazem apenas uma vez por Durante a pesquisa 88,9% dos duto, especialmente no que se refere à
semana, 44,4% duas vezes, 2,2% três consumidores avaliaram o preço do aparência e textura, já que este não será
vezes, 4,4% quatro vezes por semana tomate considerando-o caro diante da processado e deve ter a melhor aparên-
e 2,2% compram tomate todos os dias qualidade que estava sendo apresen- cia possível (coloração uniforme, sem
da semana. A maior freqüência de com- tada (média de R$1,72 entre os su- presença de injúrias, por exemplo) ga-
pra é realizada por mulheres que pos- permercados). Brunfield et al (1993) rantindo atrativos para o consumidor. As
suem família estabelecida, enquanto identificaram que o preço do tomate redes de supermercado mostram-se,
pessoas que moram sozinhas são res- pode interferir na decisão de compra hoje, alternativas preferidas pelos con-
ponsáveis pela menor freqüência. sumidores para a compra do tomate, pois
do produto, variando de acordo com
Pode-se notar o estabelecimento de estes aproveitam o local com grande
sua renda. Todavia, mesmo diante
uma rotina pelas pessoas entrevistadas, diversificação de produtos para realiza-
desse índice, a maioria (63,3%) não
ou seja, a maioria delas constituiu ho- rem suas compras e ainda contam com
deixaria de comprar tomate, seja por
rário e freqüência de compra. Tais in- a comodidade do local. Estes danos fí-
hábito de consumo, ou por razões re-
formações podem ser importantes aos sicos acarretarão no final da cadeia de
lacionadas à saúde. O restante deixa-
supermercados, pois podem instituir comercialização (consumidor) insatisfa-
ria de comprar o produto pela falta
uma logística de venda adequada para ção e desvalorização do produto, como
de qualidade, pelo alto custo de com-
cada situação e tipo de cliente. pode ser observado para o caso do to-
pra e devido à presença de
Nenhum dos consumidores entrevis- mate de mesa nesta pesquisa. A opinião
agrotóxico. As hortaliças apontadas
tados conhece a procedência do tomate, dos consumidores deve ser considerada
como possíveis substitutos para o to-
afirmando que mais do que conhecer a tentando estabelecer os pontos
mate foram cenoura, beterraba, berin-
origem do produto seria importante sa- (tecnológicos e/ou estratégicos) que de-
jela, folhas verdes, pepino e molho
ber a data de colheita do tomate. Por vem ser melhorados dentro da cadeia de
de tomate pronto. Os consumidores
outro lado, Brumfiled et al (1993) de- comercialização a fim de minimizar os
(70%) alegaram que, se o tomate es-
tectaram em sua pesquisa que os consu- danos pós-colheita e melhoria da quali-
tivesse com o aspecto ideal por ele
midores têm conhecimento da origem dade do produto final.
conceituado, com atributos de quali-
dos tomates, fazendo preferência, na-
dade desejados, tal como exposto na
quela ocasião, pelos tomates oriundos AGRADECIMENTOS
Figura 4, pagariam uma quantia mais
de Nova Jersey, concluindo que a ori-
elevada, alcançando até 50%, do que
gem do tomate influencia significativa- À FAPESP pelo apoio financeiro
pagavam durante o período da entre-
mente o comportamento de compra dos para realização deste trabalho e à Dra.
vista. Essa informação coincide com
consumidores. Anita de S.D. Gutierrez, Centro de Qua-
aquela exposta por Owen et al (2002), lidade em Horticultura da CEAGESP.
Os consumidores foram questiona-
na qual consumidores possuem uma
dos sobre o que seria, na opinião deles,
faixa aceitável de preços e que esses LITERATURA CITADA
um tomate ideal para consumo. Identi-
são extremamente sensíveis às alte-
ficou-se que seria aquele, que apresen-
rações dos preços dos produtos. BRUMFIELD, R.G.; ADELAJA, A.O.;
tasse coloração vermelha, uniformida-
de, firmeza e sem presença de injúrias, A preocupação com dietas balance- LININGER, K. Consumer tastes, preferences, and
behavior in purchasing fresh tomatoes. Journal
conforme mostra Figura 4. O conceito adas, associado ao grau de informação
American Society Horticultural Science, v.118,
de produto ideal identificado nessa pes- e avanços tecnológicos, torna os consu- n.3, p.433-438, 1993.
quisa equivale aquele encontrado por midores mais exigentes e estes valori- FERREIRA, V.L.P.; ALMEIDA, T.C.A.;
Marcos (2001), no qual constatou que zam o consumo de frutas e hortaliças, PETTINELLI, M.L.C.; SILVA, M.A.A.P.; CHA-
aumentando a demanda de tais produ- VES, J.B.P.; BARBOSA, E.M.M. Análise Senso-
os consumidores estão a busca de toma- rial: testes discriminativos e afetivos. Campinas:
tes que sejam perfeitos, sem manchas, tos. Por isto, deve-se atentar para a fase SBCTA, 2000. 127 p. (Manual: Série Qualidade).
de tamanho médio, com qualidade fir- pós-colheita destes, os quais estão sus- FRUTAS frescas: delícia tropical. Superhiper,
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152 Hortic. bras., v. 23, n. 1, jan.-mar. 2005


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Hortic. bras., v. 23, n. 1, jan.-mar. 2005 153

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