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Palavras – chave: Gestão por competências; Perfil do contador; Alunos concluintes; Educação contábil.
1 – INTRODUÇÃO
As mudanças sociais, econômicas e culturais nos setores produtivos de bens e serviços baseados em
conhecimento e inovações tecnológicas, impactam significativamente o modo de vida das pessoas e das
profissões. Trabalhadores mais competentes e esclarecidos, que alcancem maior grau de produtividade e atinjam
todo o potencial das novas tecnologias são exigidos. Este cenário demanda grandes mudanças na formação e no
comportamento do profissional contábil, os quais são forçados a expandirem o senso crítico, e a se desenvolverem
intelectualmente, obtendo não apenas conhecimentos técnicos (qualificação formal, conhecimento formal), mas a
capacidade de mobilizá-los para resolver e enfrentar os imprevistos nas situações de trabalho. Segundo Dutra e
2 – REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A noção de competências
O processo de globalização da economia trouxe transformações de ordem econômica, social e cultural. Tais
mudanças provocam alterações em todos os setores da economia que precisa se reestruturar para enfrentar a
competitividade e a concorrência dos mercados. Essas transformações reiteram a superação do modelo
taylorista/fordista bem como do toyotismo de produção que predominou na grande indústria capitalista, que se
expandiu em escala mundial e sob diversas formas ao longo do século XX.
Tais mudanças sociais provam a crise do paradigma positivista e de formação “tecnocrata” baseado na
aquisição de habilidades necessárias ao desempenho das tarefas de cada posto de trabalho, surgindo desta forma,
a tendência de substituir a qualificação pela noção de competências (CARDOZO E BARBOSA, 2004).
Iudícibus e Marion (2002) apontam como um dos problemas dos cursos de Contabilidade, o fracionamento do
conhecimento decorrente dos enfoques técnicos, ocasionando visão inadequada de seu objeto de estudo.
Destacam as limitações e dificuldades dos alunos em vista da excessiva concentração de disciplinas de natureza
técnica, tornando a visão do profissional restrita à escrituração Contábil.
Dolz e Ollagnier (2004) sustentam que a apropriação do conhecimento teórico não é suficiente para julgar
que o conhecimento prático seja eficaz; no cotidiano de trabalho, valoriza-se o conhecimento obtido por meio da
experiência, ou seja, por meio da prática do trabalho. Padoan e Clemente (2006) apontam para a necessidade de
revisão da proposta pedagógica e para a superação da disciplinaridade, em prol de uma formação dos futuros
profissionais que lhes dê condições de desempenhar com competência sua profissão.
2.2 Dimensões e conceito de competências
O conceito de competência adentrou a educação geral a partir da educação profissionalizante, já que foi este,
inicialmente, seu espaço privilegiado. Hoje tem lugar em diferentes espaços: economia, trabalho, educação,
formação, com diferentes sentidos. O termo competência apresenta diversos sentidos e definições dentro de
determinado contexto e espaço temporal. Por se tratar de um termo multidimensional, diversos tipos de
competências podem ser descritas tais como: competências profissionais, ocupacionais, básicas, tecnológicas,
3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Tendo em vista o objetivo da pesquisa em delinear o perfil de competências profissionais requeridas pelo
mercado e já desenvolvidas pelos alunos concluintes de um curso de bacharelado, o survey como método
quantitativo apresentou-se como o caminho mais indicado.
A pesquisa delimitou-se aos 670 alunos matriculados em um curso de Ciências Contábeis oferecido por uma
IES da cidade de São Paulo, sendo que para este estudo selecionou-se uma turma concluintes matriculados no 8º
semestre com um total de 38 alunos.
Os dados foram coletados por meio de questionário com questões fechadas e com escalograma do tipo Likert.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Perfil dos respondentes
De acordo com os dados da tabela 01, a maioria dos respondentes da amostra (60,53%) possui tempo de
experiência na empresa e na função entre 1 e 3 anos. Estes dados indicam que a maior parte dos alunos assumiu a
função atual entre o primeiro e o segundo ano do curso. Isto poderá refletir positivamente no resultado de auto-
avaliação de competências que dependem de experiência do trabalho para serem desenvolvidas.
Quanto a área em que atuam na empresa os dados do gráfico abaixo indicam que 52,63% dos alunos estão
empregados na área contábil, seguidos de 26,32% na área administrativa/financeira e 18,42% na área tributária.
Somente 2,63% dos alunos estão empregados em outras áreas.
Para Cruz (2004) a construção de medidas e processos de avaliação de competências profissionais tem se
tornado frequente especialmente nos últimos dez anos nas diferentes áreas. Dentro das duas competências mais
requeridas pelas empresas, Fleury e Fleury (2001) confirmam que, saber engajar-se e comprometer-se com os
objetivos da organização é uma das competências consideradas impactantes na vida profissional e de extrema
relevância dentro da empresa, como demonstrado pela pesquisa. Sobre o trabalho em equipe, Sant’Anna (2002)
conclui que esta competência tornou-se necessária devido a diversas evoluções no ambiente empresarial. Os
trabalhos em equipe e em grupos multidisciplinares marcam esta fase de mudanças e demandam valores humanos
que facilitem a interação interdisciplinar e heterogênea tais como, paciência, tolerância, disposição para aceitar e
integrar as mudanças, predisposição para aprender e compreender as atitudes do outro.
Ao relacionar-se as competências reconhecidas pelos alunos como as mais exigidas pela profissão e já
desenvolvidas, nota-se que existe ainda existe distancia entre o exigido e o já desenvolvido pelos alunos. Para
Bronckart e Dolz (2004) as competências profissionais são construídas ao longo da vida do trabalhador, sendo
formadas com base em aprendizagem em ambientes formais e informais, logo as competências não são
asseguradas por diplomas, mas desenvolvidas e aprimoradas ao longo da vida. Seguindo esta lógica, é possível
associar ao bom desenvolvimento de algumas competências ao fato dos pesquisados estarem trabalhando em
média três anos na função atual. Para Dolz e Ollagnier (2004) sustentam que a apropriação do conhecimento
teórico não é suficiente para julgar que o conhecimento prático seja eficaz; no cotidiano de trabalho, valoriza-se o
conhecimento obtido por meio da experiência, ou seja, por meio do exercício da profissão.
Estes resultados quando apresentados em ordem de incidência das competências menos desenvolvidas, tem-
se a seguinte composição: 1 – Empreendedorismo = 11 pessoas (28,90%); 2 – Domínio teórico = 7 pessoas
(18,40%); 3 – Criatividade = 6 pessoas (15,80%);4 – Visão de Mundo = 5 (13,20%); 5 – Lidar com incertezas e
ambigüidades = 5 (13,20%) ; 6 – Ter auto-controle emocional = 5 (13,20%);.
Segundo AICPA, o perfil do contador deve atender mudança relacionadas ao pleno entendimento do negócio
da organização, adotar uma postura mais empreendedora, habilidades em comunicação interpessoal, atitudes
proativas e visão de futuro. Para Barbosa (2005) a internacionalização da economia gerou um novo perfil de
profissional, no qual o conhecimento deve ser composto dos mais inúmeros saberes, habilidades e capacitado para
contínuas mudanças no processo de trabalho. O mercado necessita não só do conhecimento técnico, mas também
da capacidade de transformar este conhecimento em inovação permanente dos processos e produtos da
organização, visando atender a imprevisibilidade do mercado.
Para Barbosa (2005) a nova ordem econômica impacta as profissões, forjando a auto - formação e
competência multifacetadas, dentre elas saber manipular as tecnologias de informação e comunicação e ter senso
empreendedor, de modo a atender as perspectivas da nova ordem mundial, condição de sobrevivência de países,
organizações e profissionais. O autor observa que um fator determinante desta situação, foi o avanço da C&T e sua
aplicação na geração de processos e novos produtos, que se acelerou sustentada pela acumulação de
conhecimento e pelo aperfeiçoamento das tecnologias da informação e da comunicação, condição que fez emergir
também um novo perfil profissional.
Neste sentido, Cruz (2004) afirma que esta auto-avaliação é fundamental para que os alunos possam refletir
sobre o seu próprio nível de confiança e competência pessoal na transição entre a universidade e o mercado de
5 – CONCLUSÕES
Esta pesquisa procurou conhecer as percepções de alunos concluintes de um curso de bacharelado em
ciências contábeis sobre competências profissionais requeridas e já desenvolvidas ao longo do seu curso. Foi
possível constatar que dentre as 17 competências do desenvolvimento profissional, 6 destas foram qualificadas
como de maior grau de exigência nas empresas em que trabalham. São elas: 1. Comprometer-se com objetivos da
organização (66%); 2. Capacidade de trabalhar em equipe (50%); 3. Capacidade de domínio de novos
conhecimentos e tecnologia (42%); 4. Capacidade de aprendizagem pessoal (42%); 5. Ter foco no cliente (39%); 6.
Capacidade de gerar resultados (39%).
Das seis competências mais requeridas pelas empresas, cinco os alunos reconhecem ter “Domínio quase
Total” a saber: comprometer-se com os objetivos da organização (50,0%), aprendizagem pessoal (39,5%), seguido
de trabalhar em equipe (31,6%) e ter foco no cliente (31,6%). A capacidade para gerar resultados (21,1%) foi
reconhecida como de “Domínio suficiente” e a capacidade para “Novos Conceitos e Tecnologias” (13,2%) foi
reconhecida como de “Domínio Insuficiente”.
De acordo com a auto-avaliação dentre o rol de competências profissionais apresentado aos alunos seis
destas foram classificadas como as menos desenvolvidas em ordem de incidência, tendo-se a seguinte
composição: 1 – Empreendedorismo = 11 pessoas (28,90%); 2 – Domínios teórico = 7 pessoas (18,40%); 3 –
Criatividade = 6 pessoas
(15,80%);4 – Visão de Mundo = 5 (13,20%); 5 – Lidar com incertezas e ambigüidades = 5 (13,20%) ; 6 – Ter auto-
controle emocional = 5 (13,20%). Entende-se que estas limitações e dificuldades podem impactar o desempenho
do futuro contador nas organizações e necessitam de atenção por parte da IES e dos cursos de Ciências Contábeis.
Pode-se notar a existência de uma aproximação entre o que está sendo exigido pelo mundo do trabalho e que
está sendo oferecido pela IES. Embora o perfil de desenvolvimento de competências profissionais dos alunos
concluintes do curso de bacharelado em Ciências Contábeis não seja totalmente equivalente ao perfil requerido
pelas empresas, os dados indicam uma preocupação em alcançar o níveis maiores de aproximação entre o exigido
e o ofertado pelo curso.
Algumas diferenças de opinião surgiram em função da faixa etária dos alunos pesquisados. Alunos com idade
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