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Tecnologias Regionais II

Petróleo

Curso técnico de Química – Módulo IV


Professor: Hélio Arêas Crespo Neto

Colaboração: Profa. Mônica Manhães

Prof. Sérgio Batista

2013
Capítulo 1 – Origem do petróleo

A origem do petróleo é um dos mistérios mais bem guardados pela natureza. Séculos de
especulações e experimentações propiciaram numerosas hipóteses e teorias, muitas delas
antagônicas e passíveis de discussões tão acaloradas quanto estéreis. Estas teorias podem ser
classificadas em inorgânicas e orgânicas. As teorias inorgânicas atribuem ao petróleo uma origem
a partir de processos exclusivamente inorgânicos, isto é, sem a intervenção dos organismos vivos
de qualquer espécie. Já as teorias orgânicas atribuem aos organismos vivos um papel
fundamental no processo de geração do petróleo. Abordaremos brevemente algumas destas
teorias até chegarmos a teoria orgânica moderna que é a que melhor se destaca na comunidade
científica.
O petróleo é conhecido desde a mais remota antiguidade, uma vez que, tem a tendência
de escapar para a superfície sob a forma de exsudações, expondo-se à curiosidade dos homens.
Desta forma, a utilização do petróleo pelas civilizações antigas está bem documentada na
literatura. A Bíblia, por exemplo, apresenta diversas citações, como a calafetagem da arca
lendária por Noé, em preparação para o advento do dilúvio. Os fenícios utilizaram largamente o
“betume” para calafetamento de suas magníficas embarcações. Na Mesopotâmia e no Egito, o
petróleo era bastante utilizado como argamassa nas construções, na pavimentação das estradas
e outras finalidades, como no processo de embalsamento, muito difundido no Egito.
No Novo Mundo, o petróleo também era conhecido desde tempos remotos. Índios pré-
colombianos, como os Karnkawa dos Texas (E.U.A), utilizavam este produto para decorar e
impermeabilizar seus potes de cerâmicas. Os incas, os maias e outras civilizações índias antigas
também estavam bem familiarizadas com o petróleo, dele se aproveitando para diversos fins
(remédios, combustível, artefatos bélicos etc.).
Com tantas ocorrências em todo o mundo não é de se estranhar a utilização do petróleo
desde épocas imemoriais. O homem, certamente, passou a especular sobre a origem deste fluido
desde a primeira vez que veio a utilizá-lo, por curiosidade ou intuição. Entretanto, somente a partir
dos três últimos séculos, é que o assunto mereceu tratamento aprofundado e de caráter científico.

1.1- Teorias Inorgânicas


As Teorias inorgânicas atribuem ao petróleo uma origem exclusivamente abiogênica, a
partir de sínteses inorgânicas. Essas teorias foram estabelecidas e definidas principalmente pelos
químicos, alguns deles de celebridade reconhecida. Isto porque, em seus laboratórios, eram
capazes de produzir hidrocarbonetos a partir de fontes exclusivamente inorgânicas e não viam
razão para que fenômeno semelhante não ocorresse em condições naturais.

1.1.1 - Emanações Vulcânicas


A referência mais antiga sobre a origem inorgânica do petróleo parece ser de Virlet. Esse
autor, em artigo publicado em 1834, considerou os hidrocarbonetos do petróleo como originários
de emanações vulcânicas. Segundo ele: “as ocorrências de petróleo estão em relação mais ou
menos direta com fenômenos vulcânicos” e acredita que os hidrocarbonetos são produtos de
vulcanismo produzidos em condições particulares. Brunet (1838) endossa a opinião de Virlet. “As
fontes de petróleo e de betumes são encontradas, quase sempre, nas vizinhanças de vulcões de
lama, de fontes ardentes e de depósitos vulcânicos, logo a origem do petróleo e dos betumes é
um efeito da mesma causa que produz os fenômenos vulcânicos”.
Nos séculos XVII e XVIII, teorias vulcânicas como as de Virlet e Brunet gozaram de uma
certa popularidade entre os cientistas. O fato se deve à observação de numerosas ocorrências de
óleo e gás em associação íntima com vulcões de lama, tidos na época como manifestações de
verdadeiro vulcanismo. Vulcões de lama são exsudações de gás sob alta pressão, que escapam
das acumulações petrolíferas através de falhas ou fraturas, trazendo consigo água, lama, areia,
fragmentos de rocha e, ocasionalmente, óleo.
Essa teoria não se suporta pois áreas de onde óleo e gás são encontrados em associação
com materiais ígneos (vulcânicos), fontes termais, ou outras evidências de vulcanismo, contem
rochas sedimentares na subsuperfície e não há registro de ocorrência de petróleo em áreas onde
o material de subsuperfícies é inteiramente de origem ígnea.

1.1.2 – Origem Cósmica


Boutigny, em 1858, propôs uma “teoria cósmica” para a origem do petróleo. O autor
imaginou a atmosfera primitiva da Terra contendo hidrocarbonetos em abundância sob a forma
gasosa, além de vapor d’água. Com o resfriamento do planeta os hidrocarbonetos teriam se
precipitado sob a forma de chuva, infiltrando-se no solo e aí formando os depósitos petrolíferos.
A analise crítica da possibilidade de uma origem cósmica para o petróleo, pondera que, se
esse tivesse sido o caso, o petróleo deveria ser encontrado mais uniformemente distribuído na
superfície da Terra e deveria ser encontrado mais abundantemente nas rochas mais antigas. O
que sabemos é que regiões restritas como o Oriente Médio são ricos em petróleo e acumulações
de eras antigas como o Precambriano, o Cambriano e o Triássico são notavelmente pobres em
em petróleo, muito embora contenham volumes consideráveis de rochas porosas e permeáveis
adequadas ao armazenamento de hidrocarbonetos.

1.1.3 – Síntese Inorgânica


Berthelot, químico e político francês, apresentou, em 1866, uma teoria que atribuiu origem
exclusivamente inorgânica para o petróleo. Para esse autor, o petróleo se originaria nas
proximidades do núcleo terrestre. O gás carbônico aí existente se combinaria com metais
alcalinos livres, produzindo compostos do tipo C2Na2. Estes em contato com a água, dariam
origem ao acetileno que por reações de polimerização e hidrogenação, formaria os demais
hidrocarbonetos do petróleo, tanto aromáticos como saturados.
Byasson (1871) também demonstrou a possibilidade de produção de hidrocarbonetos por
processos puramente inorgânicos, ou seja, pela reação do monóxido de carbono (CO) com
hidrogênio (H2). O cientista fez passar o CO2 e vapor d’água sobre carvão e o ferro em brasa,
obtendo um óleo semelhante ao petróleo bruto.
Mendeleiv em 1877, obteve hidrocarbonetos em laboratório reagindo carbonetos metálicos
com vapor d’água. Nas décadas de 50 e 60 as teorias inorgânicas foram reativadas na Rússia,
devido à comprovação de indícios de hidrocarbonetos em emanações vulcânicas e em rochas
cristalinas. Numerosos cientistas desse país tentaram consolidar as teorias inorgânicas, tendo
sido realizados quatro grandes conclaves sobre o assunto nos anos de 1954, 1957, 1958 e 1968.
Os congressos de 1958 e 1968 foram os mais importantes tendo sido gerados numerosos
artigos de interesse científico. Os trabalhos de 1958 foram publicados em 1959, numa coleção
que recebeu o título de “Problemas da Origem do Petróleo e Gás Natural e Condições para a sua
Formação”. Os do congresso de 1968 foram reunidos na coleção “Origem dos Depósitos de
Petróleo e de Gás e Condições de Formação”.
Um dos trabalhos mais populares de síntese inorgânica pelos russos é o de Chekalyuk
(1967). Ele analisou teoricamente as condições termodinâmicas e geológicas para a formação de
hidrocarbonetos no manto. Suas conclusões foram apresentadas no trabalho “Óleo no Manto
Superior da Terra”. O trabalho de Chekalyuk, embora sério e de alto valor científico, foi duramente
criticado. Isso levou o autor a efetuar uma série de experimentos visando comprovar sua teoria.
Consta que com misturas de CaCO3, MgSO4, CH2O, SiO2, FeO, a temperaturas de 150-1700
Kelvin e pressões de 40 a 60 Kbar, o autor obteve misturas de hidrocarbonetos contendo metano
até n-heptano.

1.1.4 – Teoria de Porfir’ev


Dentre as teorias de origem inorgânica mais modernas, merece destaque a do cientista
russo Porfir’ev, que tem apresentado numerosos trabalhos importantes visando solucionar o
intrigante problema de origem do petróleo.
Porfir’ev (1974), usando o método dedutivo e baseado em princípios clássicos de
termodinâmica e ideias modernas de geologia e geofísica, concluiu que, sob as altas pressões e
temperaturas existentes dentro da camada de Gutemberg, na parte superior do manto, em rochas
ultramáficas contendo óxido de ferro e compostos voláteis (H 2O, CO), compostos orgânicos
equivalentes ao petróleo são formados e podem aí existir em equilíbrio termodinâmico com o meio
circundante.
O trabalho de Porfir’ev merece maior atenção pelo fato de o autor tentar explicar como o
petróleo poderia migrar do manto para as bacias sedimentares; pela discussão das em prol da sua
teoria e pelo fato de criticar as evidências que constituem as bases das teorias orgânicas.
De acordo com Porfir’ev, a prova mais direta e convincente da teoria inorgânica é a
existência de acumulações petrolíferas comerciais em rochas cristalinas e metamórficas do
embasamento, entretanto, em todos os casos conhecidos, existem rochas sedimentares próximas
nas quais o óleo poderia ter sido gerado, migrando posteriormente para as rochas cristalinas
fraturadas ou alteradas. Estas agiriam, neste caso, apenas como rochas reservatório.

1.2 Teorias Orgânicas


As teorias orgânicas postulam que o petróleo é formado a partir de restos de animais e
plantas, isto é, dos produtos bioquímicos incorporados às rochas sedimentares durante a
sedimentação.
1.2.1 – Vulcanismo
A frequente associação de exsudações petrolíferas com fenômenos vulcânicos ou pseudo-
vulcânicos também inspirou as primeiras teorias sobre a origem orgânica do petróleo.
A teoria mais antiga parece ter sido formulada por Boccone, na Itália, em 1667. Esse autor,
discutindo a origem do petróleo e do asfalto, afirma que ambos são resultantes da destilação da
matéria orgânica. De acordo com Forbes (1955) Boccone foi influenciado pela observação de
exsudações petrolíferas nas imediações de vulcões da Itália.
A monumental Encyclopédie de Dederot e D’Alembert tratando da origem do petróleo e
dos betumes, conclui que “a destilação (da matéria orgânica) por fogos subterrâneos é a hipótese
mais acreditada”. Ensodossava, assim, a teoria de Boccone.
O grande prestígio de Alexander vom Humboldt contribuiu para o crédito de que o
vulcanismo teria papel preponderante na geração do petróleo. Em sua obra-prima, “Cosmos”,
publicada entre 1845 e 1862, o autor afirma que o petróleo associado aos vulcões de lama é
destilado de grandes profundidades, o vulcanismo fornecendo o calor para a destilação.
Charles Lyell, famosos geólogo inglês, também contribuiu em sua época para a
vulgarização e crédito de uma origem vulcânica para o petróleo. Lyell é considerado o pai da
geologia moderna. Sua obra “Principles of Geology”, publicada em três volumes entre 1830 e
1833, ainda é clássica na literatura geológica. O trabalho desse autor se destaca principalmente
pelo fato de desenvolver e o popularizar o famoso princípio “o presente é a chave do passado”,
estabelecido por James Huton de Edinburgo no final do século anterior.
1.2.2 – Óleos, Gorduras e Resinas
Estas substâncias foram cogitadas como a matéria-prima do petróleo, e é interessante
assinalar que muitas delas gozam atualmente de grande popularidade como precursoras de
petróleo.
Pierre-Joseph Macquer, da Academia Francesa de Ciências, postulou em 1758, a hipótese
de que o petróleo se originaria por reações de óleos vegetais com ácidos minerais. Afirmava este
cientista que o flogisto desempenhava um papel fundamental na transformação dos óleos vegetais
em petróleo.
Charles Hatchett, químico inglês, sugeriu em 1798, que óleos, gorduras e resinas, tanto de
origem animal como vegetal, formavam betumes quando se decompunham. Esse químico havia
analisado inúmeras amostras de asfalto e outros materiais semelhantes, estando bastante
familiarizado com o caráter destas substâncias.

1.2.3 – Engler e a Teoria Hofer-Engler


Em 1888, Engler, químico alemão, evidenciou pela primeira vez, em bases experimentais,
a geração de petróleo a partir da matéria orgânica. O cientista aqueceu, em autoclave a 400ºC e
alta pressão, óleos de peixes e animais marinhos, obtendo um produto semelhante ao petróleo, no
qual diversos hidrocarbonetos foram reconhecidos. Posteriormente Engler se associou a Hofer,
grande adversário das teorias inorgânicas, que estavam se firmando na Rússia, e estabeleceram
a teoria Hofer-Engler sobre a origem do petróleo. Para esses autores, a matéria orgânica animal e
os óleos vegetais são matéria-prima a partir da qual o petróleo se forma por destilação a
temperatura moderada e alta pressão.

1.2.4 – Teoria Orgânica Moderna


Nas décadas de 60 a 70, foi estabelecido e firmado o conceito de rocha geradora, base da
Teoria Orgânica Moderna: “Se foi encontrado Petróleo, deve existir uma rocha geradora a ela
relacionada”.
Evidências mais positivas da natureza química e geológica para a origem do petróleo
reduziram, drasticamente, o número de seguidores de teorias inorgânicas, mesmo na Rússia,
tradicionalmente o “quartel-general” dos “inorganistas”.
Atualmente, aceita-se que a matéria orgânica depositada com os sedimentos é convertida
por processos bacterianos e químicos, durante o soterramento, num polímero complexo chamado
de querogênio contendo maior quantidade de nitrogênio e oxigênio. Este processo é
acompanhado pela remoção de água e compactação de sedimentos. O querogênio, por sua vez,
é convertido em hidrocarbonetos pelo craqueamento térmico a maiores profundidades e
temperatura relativamente elevadas.
A Teoria Orgânica Moderna é aceita atualmente pela esmagadora maioria dos geólogos e
geoquímicos. As seguintes evidências são consideradas provas convincentes da origem orgânica
do petróleo:
a) mais de 90% dos depósitos petrolíferos encontram-se em rochas sedimentares.
b) hidrocarbonetos do petróleo podem ser produzidos em laboratório a partir de matéria
orgânica
c) existem hidrocarbonetos disseminados em abundância nas rochas geradoras
d) o petróleo contém alguns compostos cuja origem bioquímica é evidente
e) o petróleo é oticamente ativo, isto é, desvia o plano de vibração da luz polarizada
f) a razão isotópica C12/C13 dos petróleos evidencia origem orgânica
Capítulo 2 - Fatores condicionantes da ocorrência de petróleo em bacias
sedimentares

A formação de uma acumulação de petróleo em uma bacia sedimentar requer a


associação de uma série de fatores. Uma acumulação comercial de petróleo é o resultado de uma
associação adequada destes fatores no tempo e no espaço. A ausência de apenas um desses
fatores inviabiliza a formação de uma jazida petrolífera.

a) a existência de rochas ricas em matéria orgânica, denominadas de rochas geradoras;


b) as rochas geradoras devem ser submetidas às condições adequadas (tempo e
temperatura) para a geração do petróleo;
c) a existência de uma rocha com porosidade e permeabilidade necessárias à acumulação e
a produção do petróleo, denominada de rochas reservatório;
d) a presença de condições favoráveis à migração do petróleo da rocha geradora até a rocha
reservatório;
e) a existência de uma rocha impermeável que retenha o petróleo, denominada de rocha
selante ou capeadora; e
f) um arranjo geométrico (trapa) das rochas reservatório e selante que favoreça a acumulação
de um volume significativo de petróleo.

A rocha geradora deve possuir matéria orgânica em quantidade e qualidade adequadas e


submetida ao estágio de evolução térmica necessário para degradação do querogênio. É aceito
de modo geral, que uma rocha geradora deve conter um mínimo de 0,5 a 1,0% de teor de carbono
orgânico total (COT). Os aspectos volumétricos da rocha geradora (espessura e extensão lateral)
também não devem ser ignorados, pois uma rocha com quantidade e qualidade da matéria
orgânica adequadas pode ser, por exemplo, muito delgada - pouco espessa - para gerar
quantidades comerciais de petróleo. Estima-se que em média 0,1% da matéria orgânica produzida
pelos organismos fotossintéticos é preservada nos sedimentos. Os ambientes mais favoráveis à
preservação da matéria orgânica são os mares restritos e os lagos profundos.
A matéria orgânica passa por uma série de transformações denominada de diagênese.
Essas transformações ocorrem após a incorporação nos sedimentos e as pequenas
profundidades e baixas temperaturas (até 1000m e 50ºC) as quais a matéria orgânica é
submetida.
A diagênese tem início com a degradação bioquímica da matéria orgânica pela atividade
de microorganismos (bactérias, fungos, etc) aeróbicos e anaeróbicos que vivem na porção
superior da coluna sedimentar (principalmente no primeiro metro). As proteínas e carboidratos são
transformadas em seus aminoácidos e açúcares individuais, os lípidios são transformados em
glicerol e ácidos graxos e a lignina, em fenóis e ácidos aromáticos. As proteínas e carboidratos
são os compostos mais instáveis, enquanto os lipídios e a lignina são mais resistentes à
degradação. Essas transformações são acompanhadas pela geração de dióxido de carbono, água
e metano.
O resíduo da degradação microbiana passa em seguida por mudanças químicas (perda de
grupos funcionais e polimerização) que resultam numa progressiva condensação e insolubilização
da matéria orgânica. Ao longo deste processo, os biopolímeros (compostos sintetizados pelos
organismos) são transformados nos geopolímeros encontrados nas rochas sedimentares.
O produto final do processo de diagênese é o querogênio, definido como a fração insolúvel
da matéria orgânica presente nas rochas sedimentares. Além do querogênio, também há uma
fração solúvel, composta por hidrocarbonetos e não-hidrocarbonetos derivados de biopolímeros
pouco alterados, e denominada de betume. O querogênio é a forma mais importante de
ocorrência de carbono orgânico na Terra, sendo 1000 vezes mais abundante do que o carvão e o
petróleo somados.
Quimicamente, o querogênio é uma macromolécula tridimensional constituída por
‘’núcleos’’ aromáticos (camadas paralelas de anéis aromáticos condensados), ligados por ‘’pontes’’
de cadeias alifáticas lineares ou ramificadas. Tanto os núcleos quanto as pontes apresentam
grupos funcionais com heteroátomos (ex: ésteres, cetonas, etc). Ao microscópio, normalmente é
possível identificar estruturas remanescentes da matéria orgânica original, tais como tecidos
vegetais, pólens e esporos, colônias de algas, etc. Em muitos casos, entretanto, o processo de
diagênese pode obliterar a estrutura original, o que resulta a formação de um querogênio amorfo.
Com o soterramento da rocha geradora o querogênio é submetido a temperaturas
progressivamente mais altas. Como forma de se adaptar as novas condições de pressão e
temperatura, o querogênio passa por uma série de transformações que incluem, inicialmente, a
liberação de grupos funcionais e heteroátomos, seguida pela perda de hidrocarbonetos alifáticos e
cíclicos, e acompanhadas por uma progressiva aromatização da matéria orgânica. Como
consequência das transformações sofridas pelo querogênio, são produzidos dióxido de carbono,
água, gás sulfídrico, hidrocarbonetos, etc.
O processo de expulsão do petróleo das rochas geradoras, fator essencial para a formação
das acumulações comerciais, é denominado de migração primária. Acredita-se que a migração
primária é controlada basicamente pelo aumento de pressão nas rochas geradoras em resposta à
progressiva compactação e à expansão volumétrica ocasionada pela formação do petróleo. Deste
modo, forma-se um gradiente de pressão entre a rocha geradora e as camadas adjacentes,
favorecendo a formação de microfaturas e o deslocamento de fases discretas de hidrocarbonetos.
O encadeamento dos processos de aumento de pressão, microfraturamento, movimentação de
fluidos e subsequente alívio de pressão constitui um ciclo que deve se repetir diversas vezes para
que ocorra a expulsão de quantidades significativas de petróleo. Balanços de massa baseados em
dados geoquímicos de poços e nos resultados de experimentos de laboratório indicam que a
eficiência do processo de expulsão pode ser elevada, alcançando valores de 50 a 90%.
Denomina-se de reservatório à rocha com porosidade e permeabilidade adequadas à
acumulação de petróleo. A maior parte das reservas conhecidas encontra-se em arenitos e rochas
carbonáticas, embora acumulações de petróleo também ocorrem em folhelhos, conglomerados ou
mesmo em rochas ígneas e metamórficas. Para ser uma rocha reservatório explorável, o
conglomerado de sedimentos deve possuir porosidade e permeabilidade suficiente.
A porosidade, representada pela letra grega φ, é definida como a porcentagem (em
volume) de vazios de uma rocha. Na maioria dos reservatórios a porosidade varia de 10 a 20%.
Os reservatórios normalmente apresentam variações horizontais e verticais de porosidade. A
quantidade, tamanho, geometria e grau de conectividade dos poros controlam diretamente a
produtividade do reservatório.
A permeabilidade, representada geralmente pela letra K, é a capacidade da rocha de
transmitir fluido, sendo expressa em Darcys (D) ou milidarcys (md). Uma rocha tem 1D de
permeabilidade quando transmite um fluido de 1cP (centipoise) de viscosidade com uma vazão de
1cm3/s, através de uma seção de 1cm2 e sob um gradiente de pressão de 1atm/cm. È controlada
principalmente pela quantidade, geometria e grau de conectividade dos poros.

Rocha com poros mas com pouca conectividade Rocha com poros e com alta conectividade entre
entre eles (baixa permeabilidade). eles (alta permeabilidade).

A acumulação de petróleo somente ocorre se entre a rocha reservatório e a rocha selante


estiverem presentes falhas geológicas que funcionam como trapas (armadilhas). O deslocamento
do petróleo entre a rocha geradora e a trapa é denominada de migração secundária.
As rochas selantes ou capeadoras são as responsáveis pela retenção do petróleo nas
trapas. Devem apresentar baixa permeabilidade associada com alta pressão capilar, de modo a
impedir a migração vertical do petróleo. Cabe ressaltar que a capacidade selante de uma rocha é
dinâmica. Um folhelho capeador pode, com o aumento da compactação e alguma atividade
tectônica, fraturar-se e perder sua capacidade selante. Para que seja possível a formação de uma
jazida petrolífera, é fundamental que a formação da trapa seja contemporânea ou anteceda a
geração e migração do petróleo.
Capítulo 3 – Composição química do petróleo

Do latim petra e oleum o petróleo no estado líquido é uma mistura complexa de


hidrocarbonetos, oleosa, menos densa que a água, inflamável, apresenta odor característico e cor
que varia entre o negro e o castanho-claro podendo apresentar-se com aspecto fluido ou semi-
sólido.
O petróleo contém centenas de compostos, e separá-los em componentes puros ou
misturas de composição exatamente conhecida é praticamente impossível. São considerados
componentes principais o C, o H e o S, sendo este último a impureza mais importante tanto com
relação à manutenção industrial dos equipamentos (caráter ácido, ação corrosiva) quanto com
relação a aspectos ambientais.
Durante a combustão, o enxofre presente nos combustíveis reage com o O2:

S + O2 SO2 SO2 + 1/2 O2 SO3


Os gases produzidos, em contato com água formam ácido sulfúrico, principal constituinte
da chuva ácida.
SO3 + H2O H2SO4

Em média, o petróleo constitui-se de:

Hidrogênio 11-14%
Carbono 83-87%
Enxofre 0,06-8%
Nitrogênio 0,11-1,7%
Oxigênio 0,1-2%
Metais Até 0,3%

Tabela 1 - Composicão química elementar média (% em peso)

O petróleo sendo basicamente composto de carbono e hidrogênio, é uma mistura


essencialmente orgânica e desta forma pode ser analisado do ponto de vista dos componentes
orgânicos nele contidos.

Parafinas Normais 14%


Parafinas Ramificadas 16%
Parafinas Cíclicas (naftênicas) 30%
Aromáticos 30%
Resinas e asfaltenos 10%

Tabela 2 - Composicão química de um petróleo típico

 Parafinas normais => são os hidrocarbonetos de cadeia aberta, normal e saturada

Ex.:CH3-CH2-CH3 Nome - Propano

 Parafinas ramificadas => são os hidrocarbonetos de cadeia aberta, saturada e ramificada

Ex.: CH3-CH-CH2-CH3 Nome – 2- metil butano


|
CH3
 Parafinas cíclicas => são os hidrocarbonetos de cadeia fechada e saturada, geralmente
sem ramificações

Ex.:

 Aromáticos => são os hidrocarbonetos aromáticos

Ex.:

 Resinas e asfaltenos

Moléculas grandes com alta relação C/H e S, O e N (de 6,9 a 7,3%). São constituídas de 3
a 10 ou mais anéis, geralmente aromáticos, em cada molécula.
Os asfaltenos não estão dissolvidos no petróleo mas sim dispersos na forma coloidal,
quando puros são sólidos escuros e não voláteis; já as resinas são facilmente solúveis, sendo
líquidos viscosos ou sólidos pastosos e tão voláteis quanto hidrocarbonetos de mesma massa
molecular. As resinas de alto peso molecular são avermelhadas, enquanto as mais leves são
menos coloridas.

Os hidrocarbonetos insaturados, dos quais os mais comuns são os alcenos, apresentam


fórmula geral CnH2n. Também chamados olefinas, constituem um grupo extremamente reativo e
são dificilmente preservados na natureza, e por conseguinte, praticamente não ocorrem no
petróleo.
O petróleo também apresenta componentes que não são hidrocarbonetos, a saber:

 Compostos Nitrogenados

Os compostos nitrogenados apresentam-se quase em sua totalidade na forma orgânica e


são termicamente estáveis. Aparecem nas formas de piridinas, quinolinas, pirróis, indóis,
porfirinas e compostos policíclicos com enxofre, oxigênio e metais.
Os petróleos contêm cerca de 0,17% em massa de nitrogênio.

 Compostos Sulfurados

O enxofre é o terceiro elemento mais abundante no petróleo tendo composição média de


0,65% em massa, variando entre 0,02 e 4,00%.
Ocorre no petróleo na forma de sulfetos, polissulfetos, benzotiofenos e derivados,
moléculas policíclicas com N e O, gás sulfídrico, dissulfeto de carbono, sulfeto de carbonila e
enxofre elementar.
Em geral quanto maior o teor de S maior a densidade.
Tais compostos são indesejáveis pois aumentam a polaridade dos óleos aumentando a
estabilidade das emulsões, são responsáveis pela corrosividade do óleo bruto e dos
derivados, contaminam os catalisadores e determinam a cor e o cheiro dos produtos finais.
São tóxicos, produzem anidridos por combustão os quais formam ácidos em meio aquoso.

 Compostos Oxigenados

Aparecem no petróleo de forma mais ou menos complexa, tais como ácidos carboxílicos,
fenóis, cresóis, ésteres, amidas, cetonas e benzofuranos. De modo geral tendem a se
concentrar nas frações mais pesadas e são responsáveis pela acidez e coloração (ácidos
naftênicos), odor (fenóis), formação de goma e corrosividade das frações do petróleo.

 Compostos Metálicos

Podem ocorrer no petróleo o Fe, Zn, Cu, Pb, Mo, Co, As, Mn, Cr, Na, Ni e V, onde os
dois últimos apresentam maior incidência. O teor varia de 1 a 1200 ppm.
Apresentam- se como sais orgânicos dissolvidos na água emulsionada ao petróleo e na
forma de compostos organometálicos complexos, que tendem a se concentrar nas frações
mais pesadas.

3.1 - TIPOS DE PETRÓLEO

3.1.1- Classe parafínica

Nesta classe os óleos apresentam 75% ou mais de parafinas, são leves, fluidos ou de alto
ponto de fluidez exceto nos casos onde o óleo apresenta n-parafinas de alto peso molecular
(alto ponto de fluidez). Os aromáticos presentes apresentam um ou dois anéis e o teor de
enxofre é baixo. Encontrado na região nordeste do Brasil. Os petróleos de várias regiões do
recôncavo baiano são ricos em cêras parafínicas dissolvidas que chegam a causar problemas
como entupimento nas tubulações dos poços e oleodutos.

3.1.2- Parafínico-naftênica:

Nesta classe os óleos apresentam de 50% a 70% de parafinas e mais de 20% de naftenos
(25% a 40%). A densidade e a viscosidade ainda são maiores que nos da classe parafínica. A
maioria dos petróleos produzidos na Bacia de Campos é deste tipo.

3.1.3- Classe Naftênica:

Nesta classe os óleos apresentam mais de 70% de compostos naftênicos. Apresentam


baixo teor de enxofre e correspondem a uma pequena fração dos óleos encontrados. Alguns
na América do Sul, Rússia e Mar do Norte pertencem a esta classe.

3.1.4- Classe Aromática intermediária:

Nesta classe os óleos apresentam mais de 50% de hidrocarbonetos aromáticos.


Apresentam teor de enxofre acima de 1% e 10% a 30% de resinas e asfaltenos. O teor de
monoaromáticos é baixo, mas o teor de tiofenos e dibenzotiofenos é elevado. A densidade é
geralmente maior que 0,85.
Alguns óleos do Oriente Médio (Arábia Saudita, Catar, Kuwait, Iraque, Síria e Turquia),
África Ocidental, Venezuela, Califórnia e Mediterrâneo (Sicília, Espanha e Grécia) são desta
classe.

3.1.5- Classe Aromático-naftênica:

Estes óleos são derivados dos parafínicos e parafínico-naftênicos que apresentam mais de
35% de compostos naftênicos, podendo conter mais de 25% de resinas e asfaltenos e teor de
S entre 0,4% e 1%. Alguns óleos do Ocidente Africano são assim classificados.
3.1.6- Classe Aromático-asfáltica:

Compreende óleos pesados e viscosos, resultantes de alterações sofridas por aromáticos


intermediários. O teor de resinas e asfaltenos é elevado. O teor de S varia de 1% a 9%. A esta
classe pertencem alguns óleos encontrados no Canadá, na Venezuela e no sul da França.

3.2- CARACTERÍSTICAS FÍSICAS


3.2.1- Odor:
Varia muito com a composição, mas costuma ser característico. Se for rico em frações
leves (C1 a C5) apresenta odor parecido com o da gasolina, se for rico em compostos sulfurados
(mercaptans ou tíois) apresenta odor bastante desagradável como o que sentimos ao presenciar
um vazamento de GLP.
A função mercaptan apresenta fórmula genérica: R—SH, onde o átomo de hidrogênio
liberado sob forma de cátion H+ é responsável pelo aspecto corrosivo e a presença de enxofre
pelo aspecto poluidor desses compostos.

Ex.: CH3 — SH metanotiol ou mercaptan metílico

CH3—CH—CH3 propano-2-tiol ou mercaptan isopropílico


|
SH

3.2.2 – Densidade:
Varia entre 0,75 e 0,95 considerando o óleo cru. Os mais profundos e mais antigos
costumam ser os menos densos, pela cisão mais pronunciada das moléculas e
consequentemente aumento das frações mais leves. O petróleo árabe é leve pois é o mais velho
do mundo.
No mundo do petróleo a densidade (massa específica) é medida em uma escala arbitrária
criada pela American Petroleum Institute conhecida como grau API. Essa escala está relacionada
com a massa específica do petróleo pela fórmula:
141,5
API = − 131,5
ρ
No Brasil, existe uma classificação baseada no °API para os petróleos produzidos:

°API Classificação
Acima de 30 Leve
Entre 22 e 30 Médio
Abaixo de 22 Pesado
Abaixo de 10 Extrapesado

Tabela 3 - Classificação brasileira do petróleo em relação ao °API

Tabela 4 – Características do petróleo brasileiro


Tabela 5 - Características do petróleo mundial

Um petróleo classificado como leve apresenta maior valor de mercado devido a se obter
uma maior quantidades de derivados leves numa simples “destilação”; a ter elevada abundância
de n-parafinas; a possuir menor teor de enxofre; a possuir menos impurezas; a ser mais claro e
de fácil refinamento.

3.2.3 – Viscosidade:

Os petróleos mais viscosos costumam ser os mais densos. A importância do controle da


viscosidade se dá na medida correta e seleção de bombas (potência) e dimensionamento das
tubulações ( ∅ ).
Capitulo 4 – Prospecção

A descoberta de uma jazida de petróleo é uma tarefa que envolve longo e dispendioso
estudo e análise de dados geológicos e geofísicos das bacias sedimentares. A fase de estudos
preliminares para localização da jazida é chamada de prospecção.
Após exaustivo prognóstico do comportamento das diversas camadas do subsolo, os
geólogos e geofísicos decidem propor a perfuração de um poço, que é a etapa que exige mais
investimento em todo o processo de prospecção.

Um programa de prospecção visa fundamentalmente dois objetivos:

A) Localizar dentro de uma bacia sedimentar as situações geológicas quer tenham


condições pra acumulação de petróleo.
B)Verificar qual destas situações, possui mais chance de conter petróleo.

A identificação de uma área favorável à acumulação de petróleo é realizada através de


métodos geológicos e geofísicos, que, atuando em conjunto conseguem indicar o local mais
propício para a perfuração.

4.1- MÉTODOS GEOLÓGICOS

A primeira etapa de um programa exploratório é o estudo geológico com o propósito de


reconstituir as condições de formação e acumulação de hidrocarbonetos em uma determinada
região. Para esse fim, o geólogo elabora mapas de geologia de superfície com o apoio da
aerofotogrametria e da fotogeologia, infere a geologia de subsuperfície a partir dos mapas de
superfície e dados de poços, como também analisa as informações de caráter paleontológico e
geoquímico.
A geologia de superfície é determinada através de mapeamentos das rochas que afloram
na superfície, sendo possível reconhecer e delimitar as bacias sedimentares e identificar
estruturas capazes de acumular hidrocarbonetos.

4.1.1- Aerofotogrametria e Fotogeologia:

A aerofotogrametria é fundamental para a construção de mapas de base ou topográficos.


Consiste em fotografar o terreno utilizando-se um avião devidamente equipado, voando com
altitude, direção e velocidades constante.
A fotogeologia consiste na determinação das feições geológicas a partir de fotos aéreas,
onde dobras, falhas e o mergulho das camadas geológicas são visíveis.
As estruturas geológicas podem ser identificadas através da variação de cor do solo, da
configuração de rios e de drenagem presentes na região de estudo. Além das fotos aéreas obtidas
nos levantamentos aerofotogramétricos, usa-se também imagens de radar e imagens de satélites.

4.1.2- Estudos complementares:


Os estudos geológicos abrangem também os aspectos estratigráficos, petrográficos e
micropaleontológicos. O primeiro estuda e analisa a origem e distribuição das rochas no tempo e
no espaço; o segundo descreve a natureza das rochas e o último estuda e analisa os fósseis
microbiológicos presentes em uma região. Os estudos complementares são realizados
normalmente após a perfuração de um poço, na qual testemunhos são retirados e analisados.
Se as indicações analisadas pelos geólogos são favoráveis a ocorrência de petróleo e
maiores detalhes são necessários, métodos geofísicos são aplicados.

4.2- MÉTODOS GEOFÍSICOS


A geofísica é a ciência que estuda as características físicas das rochas. Os métodos
geofísicos ou potenciais correspondem a gravimetria, magnetometria e sismografia.
4.2.1- Gravimetria
A prospecção gravimétrica evoluiu do estudo do campo gravitacional da Terra. O campo
gravitacional depende de cinco fatores, latitude, elevação, topografia, marés e variações de
densidade em superfície. Este último é único que interessa na exploração gravimétrica do
petróleo, pois permite fazer estimativas da espessura dos sedimentos, presença de rochas com
densidades anômalas como rochas ígneas e domos de sal e prever a existência de altos e baixos
estruturais pela distribuição desigual das densidades em superfície. Desta forma pode-se inferir
locais com possibilidade de acumular fluidos.

4.2.2- Magnetometria
Baseia-se nas variações locais do magnetismo terrestre. Essas variações são causadas
pela maior ou menor presença de magnetita (Fe3O4) nos diferentes tipos de rocha.
Nas rochas sedimentares são comuns os elementos Na e K - provenientes de cinzas de
plantas; Si, Al e Ca – geralmente sob forma de SO4= e CO3=; P – proveniente de ossos e Fe
– apenas traços.
A unidade de medida em levantamentos magnéticos é o gamma, que equivale a 10-5
gauss, unidade criada em homenagem ao matemático alemão Karl F. Gauss (1777 – 1855). O
campo magnético da Terra é da ordem de 50000 gammas e as anomalias de interesse na
pesquisa do petróleo são da ordem de 1 a 10 gammas.
As anomalias produzidas por diferentes rochas, podem ser comparadas com a quantidade
de magnetita distribuída nessas rochas. As rochas sedimentares apresentam, em geral, valores
de susceptibilidade magnética muito baixos. A presença de maiores quantidades de magnetita
indica ausência de petróleo.

4.2.3- Sismografia
Do grego seismós que significa abalo, agitação, tremor de terra, a sísmica é o método da
geofísica que se utiliza da produção artificial de abalos para determinar a distribuição das
velocidades de propagação das ondas nas rochas e suas estruturas geológicas.
A sísmica tornou-se pouco a pouco uma ferramenta indispensável a pesquisa do petróleo
que baseia-se no fato da velocidade de propagação das ondas sísmicas variar de rocha para
rocha, em função entre outras propriedades da densidade das mesmas.
O método sísmico de reflexão fornece alta definição das feições geológicas em
subsuperfície propícias à acumulação de hidrocarbonetos. Mais de 90% dos investimentos em
prospecção são aplicados em sísmica de reflexão.
O levantamento sísmico inicia-se com a geração de ondas elásticas, através de fontes
artificiais, que se propagam pelo interior da Terra. Tais ondas são refletidas e refratadas nas
interfaces que separam rochas de diferentes constituições petrofísicas, e retornam à superfície
onde são captadas por sofisticados equipamentos de registro.
Tendo com parâmetro a economia, em função do detalhe necessário aos objetivos do
levantamento sísmico, critérios são pré-estabelecidos como por exemplo resolução e
profundidade de interesse.
Como exemplo, o tempo de registro determina a profundidade máxima da pesquisa. No
instante t=0 (detonação) o sismógrafo inicia a gravação até o tempo estabelecido pelo operador
(geofísico). Em levantamentos terrestres o tempo é geralmente de 4 segundos. Considerando que
a velocidade média de propagação das ondas sísmicas nas rochas é de 3000 m/s, para t=4s a
profundidade máxima de pesquisa será de 6000 metros (dois segundos para a ida e dois para a
volta). No mar devido à lâmina d’água onde as ondas se propagam mais lentamente (1500 m/s) o
tempo de registro varia de 6 a 12 segundos.
A análise destes registros (sismogramas) permite a elaboração de mapas que podem
evidenciar estruturas favoráveis — armadilhas — ao acúmulo de petróleo.

As técnicas de geologia e geofísica, embora avançadas só permitem um prévio


reconhecimento das camadas rochosas e da sua profundidade a partir da superfície, gerando
apenas resultados prováveis. Geólogos e geofísicos podem afirmar a inexistência de petróleo em
determinadas áreas mas não podem garantir sua presença mesmo nas áreas consideradas
prováveis.
Para comprovar a existência de petróleo só existe um meio: PERFURAR
Capítulo 5- Perfuração e Completação

A perfuração de um poço de petróleo é realizada através de uma sonda. Na perfuração


rotativa as rochas são perfuradas pela ação da rotação e pesos aplicados a uma broca existente
na extremidade de uma coluna de perfuração. A coluna de perfuração consiste basicamente de
comandos ﴾tubos de paredes espessas﴿ e tubos de perfuração (tubos de paredes finas). Os
fragmentos das rochas são removidos continuamente através de um fluído de perfuração ou lama.
O fluído é injetado por bombas para o interior da coluna de perfuração através da cabeça
de injeção ou swivel, e retorna á superfície através do espaço anular formado pelas paredes do
poço e a coluna. Ao atingir determinada profundidade, a coluna de perfuração é retirada do poço e
uma coluna de revestimento de aço, de diâmetro inferior ao da broca é descida no poço.
O anular entre os tubos do revestimento e as paredes do poço é cimentado com a
finalidade de isolar as rochas atravessadas, permitindo então o avanço da perfuração com
segurança. Após a operação de cimentação a coluna de perfuração é novamente descida ao
poço, tendo na sua extremidade uma nova broca de diâmetro menor do que a do revestimento
para prosseguimento da perfuração. Do exposto percebe-se que um poço é perfurado em
diversas fases, caracterizadas pelos diferentes diâmetros das brocas.
O sistema de rotação permite uma maior eficiência de perfuração. O sistema de rotação
convencional é constituído de equipamentos que promovem ou permitem a livre rotação da coluna
de perfuração. São eles:
• Mesa rotativa: é o equipamento que transmite rotação á coluna de perfuração e
permite o livre deslizamento do kelly no seu interior. Em certas operações a mesa rotativa deve
suportar o peso da coluna de perfuração.
• Kelly: elemento que transmite a rotação proveniente da mesa rotativa a coluna de
perfuração;
• Cabeça de injeção ou Swivel – é o equipamento que separa os elementos
rotativos daqueles estacionários na sonda de perfuração.

5.1- FLUIDO OU LAMA DE PERFURAÇÃO

O fluido de perfuração é uma suspensão aquosa de vários tipos especiais de argila, a lama
de perfuração vai sendo injetada continuamente à medida que a broca se aprofunda. O fluído de
perfuração é bombeado através da coluna de perfuração até a broca, retornando pelo espaço
anular até a superfície, trazendo consigo os cascalhos das rochas cortados pela broca de
perfuração. Na superfície o fluído permanece dentro de tanques, após receber o tratamento
adequado.
Um dos componentes da lama ou fluido de perfuração é um tipo de argila ativada chamada
bentonita ou betonita que é um silicato de alumínio e que durante agitação apresenta-se fluido e
quando em repouso apresenta consistência gelatinosa sem solidificar-se.
Esse fluido tem algumas funções durante a perfuração, tais como:
• Limpar, esfriar e lubrificar a broca e a coluna de perfuração, reduzindo o desgaste da
broca.
• Controlar a pressão de subsuperfície – caso a “lama” não fosse utilizada ao final da
perfuração o óleo jorraria violentamente.
• Transportar até a superfície os fragmentos rochosos triturados pela broca ou provenientes
de desmoronamentos.
• Prevenir desmoronamentos das formações perfuradas, à medida em que forma um
reboco (provisório) de consistência ao longo das paredes do poço. Além de minimizar a
ocorrência de desmoronamentos, reduz a filtração em camadas mais permeáveis.
• Transmitir potência à broca uma vez que reduz o atrito.
• Prevenir a corrosão da coluna de perfuração.
• Reduzir ao mínimo, o risco de acidentes com as equipes de perfuração bem como o perigo
de incêndios.
• Manter a suspensão durante possíveis paralisações.

CIRCULAÇÃO PELOS
IMPULSÃO CANAIS DA COLUNA DE
FLUIDO PERFURAÇÃO
ATRAVÉS DE
BOMBAS

REBOCO
ANÁLISE * DESCARTE PROVISÓRIO NAS
PAREDES DO POÇO

ARRASTE DE
PENEIRAÇÃO DETRITOS ROCHOSOS RETORNO À
PROVENIENTES DA SUPERFÍCIE
PERFURAÇÃO

ANÁLISE INFORMAÇÕES SOBRE A


DOS NATUREZA E A
DETRITOS PROFUNDIDADE DAS
ROCHAS

* Análise: Acidez/alcalinidade, salinidade, viscosidade, gases e óleo dissolvidos

5.2- BROCAS
As características de uma broca para determinado objetivo devem variar em função do tipo
de rocha a ser perfurada:
Em terrenos duros (quartzo, mica, feldspato) utiliza-se brocas de diamantes ou carbeto de
tungstênio (WC), já em terrenos macios (arenito, calcário) utiliza-se brocas de dentes ou lâminas
de aço ou de diamante artificial (PDC). As brocas para terrenos duros perfuram por
esmerilhamento e as brocas de terrenos macios perfuram por raspagem e possuem altas taxas de
penetração.
5.3 – POÇOS
O primeiro poço é o chamado poço pioneiro, que mesmo se não entrar em produção
contribui nas pesquisas pois nessa etapa a rocha é trazida à superfície.
Outros poços, chamados poços de extensão ou delimitação são perfurados nas
proximidades do primeiro (pioneiro) para auxiliar na coleta de dados utilizados na determinação
das características da jazida, permitindo inclusive uma estimativa sobre a quantidade de petróleo
acumulado naquele campo.
Os poços de delimitação ou de extensão se classificam em:
a) Estratigráfico perfurado para obtenção de dados sobre a formação e a
disposição dos terrenos sedimentares permitindo futuras
Estratos = camadas estimativas sobre a quantidade de petróleo acumulado naquele
campo.

b) Pioneiro Adjacente tem como objetivo a descoberta de jazidas geologicamente


relacionadas com o campo já delimitado.

c) Jazida mais rasa perfurado dentro dos limites de um campo para determinar
ou mais profunda maior e/ou menor profundidade do reservatório.

Os poços podem ser perfurados de maneira vertical ou direcional. As perfurações para


poços direcionais são efetuadas para atingir locais de difícil acesso, atingir um objetivo geológico
descoberto após o início da perfuração, atingir petróleo nas circunvizinhanças e prosseguir uma
perfuração obstruída.

5.4 – SEGURANÇA DE POÇO


A perfuração de um poço de petróleo requer cuidados relevantes para não pôr em risco a
vida das pessoas que se encontram na sonda bem como não agredir o meio ambiente.
O sistema de segurança é constituído de dois equipamentos: Equipamentos de Segurança
de Cabeça do Poço (ESCP) e o mais importante que é o Blow Out Prevent ﴾BOP﴿. Este último
corresponde a um conjunto de válvulas que permite fechar o poço, sendo um dispositivo de
segurança contra explosões.
Os sistemas são acionados sempre que houver ocorrência de um kick – fluxo indesejável
do fluído contido numa formação para dentro do poço. Se este fluxo não for controlado
eficientemente poderá se transformar em um blowout, ou seja, o poço fluindo totalmente sem
controle, e criar sérias consequências, tais como danos aos equipamentos da sonda, acidentes
pessoais, perda parcial ou total do reservatório, poluição ou danos ao meio ambiente, etc.

5.5- PERFURANDO O POÇO

A perfuração é norteada por três operações básicas, perfurar, revestir e cimentar. A


perfuração é iniciada com uma haste que tem em sua extremidade uma broca que faz o furo de
maior diâmetro. Perfurados 10 metros, começa-se então a conectar as hastes intermediárias até
atingir a profundidade desejada para abertura com aquele diâmetro.
O conjunto perfurador é retirado (em seções contendo cada 3 hastes, 3
x 9m = 27m) e então é revestida toda formação rochosa exposta pela broca
com um tubo de aço com diâmetro compatível com diâmetro interno do orifício
o qual é cimentado externamente. A cimentação, além de resultar em melhor
aderência do revestimento às paredes do poço garante uma vedação perfeita
e evita perda de fluido.
Cada fase de perfuração é composta por um tubo de revestimento e
uma broca de diâmetro menor, sendo o revestimento atual descido dentro do
anterior e a broca substituída. As diversas fases da perfuração são
determinadas através de seus diferentes diâmetros.

5.6- COMPLETAÇÃO
A completação consiste no conjunto de serviços efetuados no poço desde o momento em
que, na fase de perfuração, a broca atinge o topo da zona produtora até o momento que o poço
entra em produção. Corresponde a transformação do esforço de perfuração e avaliação em uma
unidade produtiva; o poço passa a produzir óleo e/ou gás, gerando receitas.
A completação abrange as seguintes fases:
1- Instalar coluna de produção na superfície => o poço estava com uma coluna de perfuração
instalada e esta deve ser substituída por uma coluna de produção provida de todos os
equipamentos e aparatos necessários para o controle e manutenção da produção de petróleo.
2- Avaliar qualidade da cimentação => antes do poço ser liberado para produzir, a cimentação
realizada deve ser avaliada para que não venha a gerar problemas durante ou no início da
produção, uma vez que após substituir a sonda por uma unidade de produção, qualquer
intervenção no poço necessita do auxílio de um barco.
3- Substituir fluido de perfuração pelo de completação => o fluido de perfuração é “sujo” e está
carregando cascalho proveniente da formação. A unidade de produção não é apta para receber e
tratar um fluido com essas características, assim se deve remover todo este fluido e preencher o
poço com um fluido “limpo” que mantenha a segurança do poço estável até o início da produção.
4- Canhonear intervalo de interesse => a região da formação onde está o petróleo é a área de
interesse, como o poço está todo cimentado, esta área não pode mandar fluido para dentro do
poço. Para permitir esse comando, canhoneamos o poço, isto é, explodimos áreas da cimentação
em frente a formação que contém petróleo.
5- Avaliar intervalo de interesse => Estando o poço apto a produzir, a equipe de engenharia
realiza alguns testes para confirmar a previsão feito com o poço pioneiro e a retirada dos
testemunhos. Os testes de formação a poço revestido, teste de produção e teste de injetividade
são os mais comuns.
6- Instalar contenção de areia (gravel pack) => o gravel pack é uma técnica de preenchimento
da área canhoneada com areia ou cerâmica e tela com o objetivo de diminuir a produção de areia
da formação.
7- Instalar árvore-de-natal => o poço até o momento possui um BOP instalado na sua cabeça e
esse equipamento é feito para não deixar fluidos descontrolados passar para a plataforma. Como
neste momento queremos produzir fluidos, trocamos o BOP por um conjunto de válvulas de
controle de produção chamado de árvore-de-natal. Esse equipamento pode ser instalado no solo
marinho (árvore-de-natal molhada) ou no convés de plataformas fixas de produção (árvore-de-
natal seca) de acordo com o tipo de unidade de produção utilizada na região.
8- Induzir surgência => a última fase da completação é a de tentar fazer com que o poço
produza por surgência, isto é, utilizando-se da sua própria pressão para elevar o petróleo a
plataforma.
Capítulo 6- Recuperação do petróleo
A engenharia de reservatório elabora um plano de exploração da jazida de petróleo com
o objetivo de recuperar, isto é, retirar o máximo de petróleo da rocha reservatório deslocando-o
para dentro do poço.
Para que o maior percentual de petróleo seja recuperado, a engenharia de reservatório
precisa conhecer o fluido contido no reservatório, atentando para os estados físicos, °API e
viscosidade; conhecer as propriedades da rocha-reservatório, principalmente porosidade e
permeabilidade; estudar o comportamento do fluido na rocha e na superfície, analisando quanto a
formação de gás, óleo volátil ou não, formação de LGN (líquido de gás natural) ou não; explorar
os mecanismos de produção e gerenciar o reservatório.
Os métodos de recuperação do petróleo podem ser naturais e/ou artificiais, a saber.

6.1- MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO NATURAL


Os métodos de recuperação naturais são aqueles em que não ocorre intervenção do
homem para que o petróleo flua da rocha-reservatório para o poço. Eles podem ser basicamente
por capa de gás, gás em solução e influxo de água.

6.1.1- Gás em solução


O método de recuperação por gás em solução ocorre em reservatórios que a princípio não
possuem gás, mas quando começam a produzir uma quantidade de gás se forma pela diminuição
da pressão no reservatório. Esse gás produzido fica solubilizado no óleo e re-pressuriza o
reservatório mantendo a pressão que é responsável por deslocar o fluido para o poço.

O processo de recuperação por gás em solução tem como características:


- A pressão declina rápida e continuamente
- Baixo fator de recuperação
- Eleva pouco óleo em comparação ao que existe no reservatório
- Requer elevação artificial muito cedo
- Pouca ou nenhuma produção de água
- Potencial candidato à recuperação secundária

6.1.2- Capa de gás


O método de recuperação por capa de gás ocorre em reservatórios que são bifásicos, ou
seja, possuem originalmente gás e óleo. Desta forma quando o óleo começa a fluir para o poço a
capa de gás começa a migrar e pressurizar o reservatório, favorecendo a recuperação.

O processo de recuperação por capa de gás tem como características:


- A pressão cai vagarosa e continuamente;
- A produção de gás cresce especialmente nos poços na parte alta da estrutura (restaurações
freqüentes nesses poços para correção de RGO);
- Fatores de recuperação elevados;
- Poços surgentes por mais tempo;
- Pouca ou nenhuma produção de água.

6.1.3- Influxo de água


O método de recuperação por influxo de água ocorre em reservatórios que são bifásicos –
água/óleo. Quando o óleo adentra o poço a pressão do reservatório diminui e o aquífero se eleva
pressurizando o óleo e deslocando-o para o poço.

O processo de recuperação por influxo de água tem como características:


- A pressão cai suavemente;
- A produção de água cresce especialmente nos poços na parte baixa da estrutura
(restaurações frequentes nesses poços para correção de RAO);
- Fatores de recuperação elevados;
- Poços surgentes até a produção de água se tornar excessiva.

6.1.4- Mecanismo combinado


Os mecanismos propostos acima podem e atuam mutuamente, sendo o mecanismo mais
comum e mais complexo de realizar previsões.
6.2- MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO ARTIFICIAL
Os reservatórios, cujos mecanismos são pouco eficientes e que por conseqüência retêm
grandes quantidades de hidrocarbonetos após a exaustão da sua energia natural, são fortes
candidatos ao emprego de uma série de processos que visam à obtenção de uma recuperação
adicional, esses processos são conhecidos com métodos de recuperação artificial.

6.2.1- Métodos de recuperação secundária ou convencional


Baseadas na ideia de que as baixas recuperações eram resultados de baixas pressões
nos reservatórios, as primeiras experiências buscavam fornecer pressão ao reservatório por meio
da injeção de um fluido cuja finalidade era deslocar o fluido residente no meio poroso e ocupar o
espaço deixado por este. Deste modo, começou o que hoje se chama método de recuperação
secundária.
A recuperação secundária é aquela que ocorre pela injeção de fluidos que não reagem
com o petróleo na formação. A injeção de fluidos irá preencher os poros deixados pelo petróleo
que já foi recuperado aumentando a pressão do reservatório e empurrará mecanicamente o
petróleo para dentro de poços adjacentes a injeção.
Mesmo na porção do reservatório invadida pelo fluido deslocante (água, por exemplo),
nem todo o óleo lá contido é deslocado. O óleo retido nos poros da zona invadida pela água,
denominado óleo residual.
Os fluidos injetados podem ser água e gás, sendo a injeção de água o mecanismo mais
usado devido a disponibilidade de água em abundância seja de rios, lagos, oceano, subsolo ou da
própria formação; baixo custo em comparação com a injeção de outros fluidos; facilidade de
injeção de água na formação, uma vez que a água tem alto escoamento devido a baixa
viscosidade; alta eficiência com que a água desloca o óleo de ser bem conhecida a tecnologia.
No que tange a utilização da água produzida, existe um forte apelo ambiental para que
essa água tenha um destino correto e nada melhor do que devolvê-la ao lugar de origem.
Não é necessário esperar o declínio total da produção para se começar a injeção de fluidos
no reservatório. Ao contrário, a boa prática de engenharia recomenda que a injeção seja iniciada
bem antes que isso aconteça. Existe uma prática, chamada “manutenção de pressão”, que
consiste na injeção de água e/ou gás ainda no início da vida produtiva do reservatório e tem por
finalidade manter a pressão em níveis elevados, preservando razoavelmente as características
dos fluidos e do fluxo. Ou seja, os métodos de recuperação são aplicados mesmo havendo
condições de produção com recuperação primária.

6.2.2- Métodos de recuperação terciária ou melhorada


Os métodos de recuperação terciária são empregados para atuar nos pontos onde o
processo convencional falhou, ou falharia caso fosse empregado. No entanto são métodos de
levados custos.
As baixas recuperações resultantes de um processo convencional de injeção de fluidos
podem ser creditadas basicamente a dois aspectos principais: alta viscosidade do óleo do
reservatório e elevadas tensões interfaciais entre o fluido injetado e o óleo.
Quando a viscosidade do fluido injetado é muito menor que a do fluido a ser deslocado, o
primeiro se move muito mais facilmente no meio poroso, encontrando caminhos preferenciais e se
dirigindo rapidamente para os poços de produção. O óleo fica retido porque o fluido injetado não
se propaga adequadamente no reservatório, ficando grandes volumes de rocha nos quais o
deslocamento não se processou.
No caso de altas tensões interfaciais, a capacidade do fluido injetado de desalojar o óleo
do reservatório para fora dos poros é bastante reduzida, deixando saturações residuais elevadas
de óleo nas regiões já contatadas pelo fluido injetado.
As duas situações acima definem a forma de atuação dos métodos especiais de
recuperação e são o ponto de partida para a sua distribuição em quatro categorias: métodos
térmicos, métodos miscíveis, métodos químicos e métodos microbiológicos, de acordo com a
natureza geral dos processos e o ponto principal a ser atacado.

6.2.2.1- Métodos térmicos


Em reservatórios cujos óleos são muito viscosos, a utilização de um processo
convencional de recuperação fatalmente resulta em insucesso. A alta viscosidade do óleo dificulta
o seu movimento dentro do meio poroso, enquanto que o fluido injetado, água ou gás, tem uma
mobilidade muito maior resultando em baixas eficiências de varrido e, por conseqüência, uma
recuperação normalmente muito baixa.
A constatação de que, ao ser aquecido, o óleo tem a sua viscosidade substancialmente
reduzida foi o ponto de partida para o desenvolvimento dos métodos térmicos.
Há dois tipos de métodos térmicos que diferem na maneira como é feito o aquecimento do
fluido do reservatório. Em um deles o calor é gerado na superfície e em seguida transportado para
o interior da formação, utilizando-se um fluido – normalmente a água. É chamado de injeção de
fluidos aquecidos. No outro grupo o calor é gerado no interior do próprio reservatório a partir da
combustão de parte do óleo ali existente. Este segundo processo é chamado de combustão in
situ.
Na combustão in situ se inicia por meio de uma injeção de ar aquecido, um processo de
oxidação do óleo que vai gerando calor, que por sua vez intensifica a oxidação num processo
crescente até se chegar a uma temperatura chamada “ponto de ignição”, a partir do qual está
estabelecida a combustão. A partir daí, continuando-se a injetar ar frio, o processo tem
continuidade. O calor gerado desencadeia processos que resultam no aumento do fator de
recuperação.

6.2.2.2- Métodos miscíveis


Quando se trata de baixas eficiências de deslocamento, ou seja, o fluido injetado não
consegue retirar o óleo para fora dos poros da rocha devido a altas tensões interfaciais, os
métodos miscíveis são os indicados. Trata-se de processos em que se procura reduzir
substancialmente e se possível eliminar as tensões interfaciais.
Quando dois fluidos que não se misturam estão em contato, entre eles se estabelece uma
interface submetida a tensões interfaciais. Estas tensões de natureza físico-química
desempenham um papel também nas relações rocha e fluido, podendo ser mais ou menos
intensas, dependendo da natureza dos fluidos e da rocha. Caso o fluido injetado e o óleo sejam
miscíveis, isto é, se misturem, não existe nem interfaces nem tensões interfaciais.
Os métodos miscíveis se ocupam da injeção de fluidos que venham a se tornar ou que
sejam miscíveis com o óleo do reservatório, de tal modo que não existam tensões interfaciais.
Dessa maneira, o óleo será totalmente deslocado para fora da área que for contatada pelo fluido
injetado.
Os fluidos que podem ser utilizados para deslocamento miscível são, preferencialmente, o
dióxido de carbono, o gás natural e o nitrogênio.

6.2.2.3- Métodos químicos


Os processos em que se pressupõe uma certa interação química entre o fluido injetado e o
fluido do reservatório são chamados de métodos químicos. São eles: a injeção de polímeros,
injeção de solução de tensoativos, injeção de microemulsão, injeção de solução alcalina, etc. Não
existe um ponto único de ataque como nas outras categorias, sendo que alguns processos
poderiam ser enquadrados dentro dos métodos miscíveis.
Quando o óleo do reservatório tem viscosidade um pouco elevada, pode-se adicionar
polímeros à água de injeção para transformá-la em um fluido que se desloca no meio poroso com
a mesma mobilidade que o óleo. Devido a essa semelhança, o fluido injetado em vez de escolher
caminhos preferenciais e se dirigir rapidamente para os poços de produção, se difunde mais no
meio poroso, aumentando as eficiências de varrido.
Ao se adicionar uma substância tensoativa à água de injeção, na verdade está se fazendo
um deslocamento miscível com água. O tensoativo, também chamado de surfactante, tem a
finalidade de reduzir as tensões interfaciais entre a água e o óleo, ampliando a eficiência de
deslocamento.
De uma maneira geral os métodos miscíveis são pobres em relação a eficiências de
varrido. Isto acontece porque essas soluções normalmente têm viscosidades bem menores que a
do óleo, deixando a maior parte do reservatório sem ser varrida.
A injeção de microemulsão, também chamada de solução micelar, é uma tentativa de se
obter um deslocamento miscível com boas eficiências de varrido. É uma mistura com a qual se
tem a preocupação com a miscibilidade e com o controle da viscosidade.
No processo de injeção de fluidos alcalinos, a substância alcalina que se adiciona à água,
em geral soda cáustica, tem a finalidade de reagir com certos ácidos orgânicos presentes em
alguns óleos, produzindo dentro do próprio reservatório uma certa quantidade de substância
tensoativa. Este tensoativo assim formado vai produzir uma série de efeitos dentro do
reservatório, os quais concorrem para um ganho na produção de óleo.

6.2.2.4- Método microbiológicos


A recuperação microbiológica é obtida a partir da utilização de diferentes microrganismos
que, quando adequadamente escolhidos e através dos seus processos biológicos no interior do
reservatório, produzem uma série de substâncias que causam os mais diversos efeitos e que
podem aumentar a recuperação de petróleo.
Capítulo 7- Elevação do petróleo

O petróleo depois de ser recuperado precisa ser elevado a unidade produtora, mas para tal
ele precisa possuir pressão suficiente para vencer o peso da coluna hidrostática. Quando o
reservatório apresenta pressão suficiente para elevar esses fluídos até a superfície o poço é
denominado surgente e produz por elevação natural. No caso do reservatório não possuir pressão
suficiente para elevar esses fluidos até a superfície ou se a vazão de produção for muito inferior a
capacidade de produção será utilizado métodos de elevação artificial.

7.1- ELEVAÇÃO NATURAL


A elevação natural dos poços de petróleo ocorre normalmente no início da vida produtiva
do reservatório, e os fluidos nele contidos chegam ate a superfície devido à energia do
reservatório. Mais com o passar do tempo e o aumento da produção, a pressão do reservatório
declina, sendo a mesma insuficiente para deslocar os fluidos até a superfície com uma vazão
econômica ou conveniente.
Quando se tem um reservatório com uma pressão elevada, os fluidos que estão contidos
nele alcançam livremente a superfície. Estes poços são denominados surgentes e produzem por
elevação natural.
Os poços surgentes produzem com menores problemas operacionais devido à
simplicidade dos equipamentos de superfície e subsuperfície, com maiores vazões de líquido e
com um menor custo por unidade de volume produzido, devido essas vantagens vem sendo feito
estudos há anos das variáveis que afetam a vazão de um poço surgente, para que se poça
manter e incrementar essa produção de petróleo por elevação natural.

7.2- ELEVAÇÃO ARTIFICIAL


Há reservatórios que possuem pressão relativamente baixa, neste caso os fluidos contidos
nele não alcançam a superfície, sendo necessário utilizar métodos de elevação artificial. Esses
métodos de elevação também são utilizados no final da vida produtiva por surgência ou quando a
vazão dos poços está muito abaixo do que poderiam produzir.
Na indústria de petróleo há quatro principais métodos de elevação artificial, gás-lift
contínuo (GLC) e intermitente (GLI), bombeio centrífugo submerso (BCS), bombeio mecânico com
hastes (BM) e o bombeio por cavidades progressivas (BCP).

7.2.1- Bombeio Mecânico com Hastes (BM)


O bombeio mecânico com hastes é o método de elevação mais utilizado em todo o mundo,
podendo ser instalado para elevar vazões médias de poços rasos ou baixas vazões para grandes
profundidades. No bombeio mecânico com hastes (BM) o movimento rotativo de um motor elétrico
ou de combustão interna é transformado em movimento alternativo por uma unidade de bombeio
situada próximo a cabeça do poço, então uma coluna de hastes tem a função de transmitir o
movimento alternativo para o fundo do poço acionando uma bomba que tem a finalidade de elevar
os fluidos produzidos pelo reservatório até a superfície.
A grande vantagem do bombeio mecânico é a fácil implantação e manutenção do
equipamento aliado ao custo baixo.
O bombeio mecânico com hastes apresenta problemas operacionais mediano em poços
direcionais (desviados propositalmente da vertical), em poços que produzem areia e poços onde
parte do gás produzido passe pela bomba.
Os poços direcionais resultam em elevado atrito da coluna de hastes com a de produção,
provocando desgaste prematuro das hastes e da coluna de produção nos pontos onde ocorre um
maior contato. A areia desgasta mais rápido as partes móveis e a camisa da bomba devido à sua
abrasividade. O gás quando passa pela bomba reduz sua eficiência volumétrica.
7.2.2- Bombeio por cavidades progressivas
O bombeio por cavidades progressivas (BCP), é um método de elevação utilizado para
elevar petróleo, sendo aplicado em poços não muito profundos tanto no meio onshore como
offshore. È um método excelente para fluidos abrasivos e viscosos. Possui como limitação o
diferencial de pressão sobre a bomba que resulta em baixas vazões. A temperatura do fundo do
poço e os poços direcionais também são fatores limitantes para o BCP.
No BCP a transferência de energia ao fluido é feita através da utilização de uma bomba de
cavidades progressivas. Esta bomba de deslocamento positivo trabalha imersa em poços de
petróleo e é constituída de rotor e estator. A ação do bombeio é realizada através do giro do rotor
no interior do estator originando um movimento axial das cavidades, progressivamente no sentido
da sucção para a descarga.

7.2.3- Bombeio Centrífugo Submerso (BCS)


O bombeio centrífugo submerso é um método de elevação que vem sendo cada vez mais
utilizado devido a disponibilidade, a crescente flexibilidade dos equipamentos e sua funcionalidade.
No bombeio centrífugo submerso (BCS), a transmissão de energia para o fundo do poço é através
de um cabo elétrico, onde essa energia elétrica através de um motor de subsuperfície é
transformada em energia mecânica. Esse motor está diretamente conectado a uma bomba
centrífuga que transmite a energia para o fluido em forma de pressão, elevando-o até a superfície.
O BCS há alguns anos era utilizado em poços que produziam com alto teor de água e com
baixa razão gás-óleo. Atualmente estão sendo produzidos economicamente pelo BCS, poços com
fluidos de alta viscosidade e com altas temperaturas. Estudos estão sendo feitos para esse
método de elevação produzir também poços com alta razão gás-líquido.
A elevação por BCS não trabalha com poços que produzam areia, não é apropriado para
poços que produzam H₂S, na retirada para manutenção da bomba é necessário bastante cuidado
com o cabo elétrico e há deposição de detritos na bomba.

7.2.4- Gás-lift
Esse método de elevação por ter um custo relativamente baixo para produzir em poços
profundos e devido a sua excelente continuidade operacional, é bastante utilizado. Sendo propício
para poços produtores de fluidos com alto teor de areia, elevada razão gás – liquido.
O contínuo e intermitente são os principais tipos de gás-lift utilizados nos poços de
petróleo. O gás-lift contínuo consiste na injeção de gás a alta pressão continuamente na coluna de
produção, tendo como objetivo de gaseificar o fluido desde o ponto de injeção até a superfície. O
aumento da quantidade de gás na coluna de produção diminui o gradiente médio de pressão,
tendo como conseqüência a diminuição da pressão de fluxo no fundo e aumento da vazão.
O gás-lift intermitente é produzido através da injeção de gás a alta pressão, necessário
para o deslocamento do petróleo a base das golfadas (fluxo para a superfície de forma
inconstante). Esta injeção de gás é feita através de tempos bem definidos e é normalmente
controlada na superfície por um intermitor de ciclo e uma válvula controladora (motor valve).
As principais desvantagens são a necessidade de injetar gás comprimido e o gás não
pode ser corrosivo.

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