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24 de outubro de 2019
Controladoria-Geral da União - CGU
Secretaria Federal de Controle Interno
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
Órgão: MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA
Unidade Examinada: NUCLEBRÁS EQUIPAMENTOS PESADOS S/A
Município/UF: Rio de Janeiro/Rio de Janeiro
Ordem de Serviço: 201902354
Missão
Promover o aperfeiçoamento e a transparência da Gestão Pública, a prevenção
e o combate à corrupção, com participação social, por meio da avaliação e
controle das políticas públicas e da qualidade do gasto.
INTRODUÇÃO 7
2.1. Em qual tipo de mercado a empresa estatal atua e como ela está posicionada em termos
de participação? 14
2.4. Existem entidades estatais que realizam atividades (entregam produtos ou serviços)
similares às que atualmente são realizadas pela empresa estatal? 24
2.5. Há algum ente estatal com capacidade para absorver, parcial ou totalmente, as atividades
realizadas pela empresa estatal? 25
2.8. A empresa estatal entrega algum produto ou presta algum serviço cuja sensibilidade
indique não ser possível sua transferência para a iniciativa privada, na opinião de clientes
governamentais? 26
2.9. As atividades realizadas (produtos entregues e serviços prestados) pela empresa estatal,
necessariamente, precisam ser prestadas pelo Estado? 28
2.11. Quais são os impactos do modelo jurídico e operacional para retomada das obras de
Angra 3 sobre a participação da NUCLEP em futuros empreendimentos termonucleares? 31
3. MARCO LEGAL 34
3.3. Os indicadores – caso existentes – apontam que a empresa estatal vem cumprindo sua
finalidade e executando adequadamente as políticas públicas que estão sob sua
responsabilidade? 34
4. DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO 36
4.1. Qual o nível de dependência da empresa estatal em relação a aportes, receitas e funding
governamentais? 36
5. FORÇA DE TRABALHO 45
6.1. Modelo societário adotado pelos principais países geradores de energia nuclear. 50
7. GOVERNANÇA CORPORATIVA 52
CONCLUSÃO 54
ANEXOS 60
Inicialmente, importa remontar a julho de 2000, período em que o TCU realizou uma Auditoria
Operacional, de natureza semelhante aos trabalhos aqui propostos, visando verificar a
compatibilidade da estrutura administrativo-operacional da NUCLEP em relação ao Programa
Nuclear Brasileiro (PNB).
Em que pese o lapso entre a data da referida Auditoria Operacional realizada pelo TCU e os
dias atuais, identificou-se que a NUCLEP apresenta as mesmas dificuldades previamente
relatadas na auditoria realizada pela corte de contas, a saber:
O presente Relatório tem por objetivo apresentar os resultados dos exames procedidos junto
à NUCLEP, com o intuito de avaliar o seu desempenho fabril, bem como os papéis da empresa
estatal no âmbito do Programa Nuclear Brasileiro e no mercado privado.
Tendo em vista a extensão do presente trabalho, este documento consistirá em uma síntese
das principais informações e análises concernentes às questões de auditoria propostas, cujo
conteúdo completo encontra-se disponível no Apêndice deste Relatório. Ao final, serão
apresentados possíveis cenários relacionados à NUCLEP, evidenciando os riscos considerados.
1
Conforme demanda apresentada pela SEDDM à CGU, em reunião realizada em 22.04.2019.
7
Responsabilidade da Auditoria
Ressaltamos que o presente trabalho não tem o condão de direcionar a tomada de decisão
sobre propriedade estatal e estratégias de desestatização, que competem aos gestores
(Ministério de Minas e Energia, Ministério da Economia, PPI e Presidência da República) e ao
Congresso Nacional, naquilo que lhe cabe.
Ainda, destacamos que, conforme as normas que regem a gestão de riscos da Administração
Pública Federal2, é responsabilidade da alta administração o estabelecimento de estrutura de
gerenciamento de riscos, incluindo a identificação, a mensuração, o tratamento, o
monitoramento e a análise crítica de riscos que possam impactar a implementação da
estratégia e a consecução dos objetivos da organização no cumprimento da sua missão
institucional. Assim, destacamos que:
Além disso, não constituiu escopo do presente trabalho a avaliação do valor econômico da
empresa estatal ou de seus ativos.
2
Em particular, Decreto nº 9.203, de 22 de novembro de 2017 e Instrução Normativa Conjunta nº 1, de 10 de
maio de 2016 (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e Controladoria-Geral da União), que dispõe
sobre controles internos, gestão de riscos e governança no âmbito do Poder Executivo federal.
8
RESULTADOS DOS EXAMES
1. ANÁLISE CRÍTICA DO HISTÓRICO E DA ATUAL SITUAÇÃO DA
EMPRESA ESTATAL
A busca pela tecnologia nuclear remonta à década de 1950, quando, no início, buscou-se a
implantação de um programa nuclear de desenvolvimento autônomo. Em 1955, o setor
nuclear alterou sua política de desenvolvimento, tendo optado pela aquisição de
equipamentos junto a outros países sem transferência de tecnologia por meio de contratações
do tipo “Turn-Key”.
Foi dessa maneira que, após a realização de licitação internacional, a usina nucleoelétrica de
Angra I foi contratada junto à empresa Westinghouse, associada às empresas EBE – Empresa
Brasileira de Engenharia (Brasil), Gibbs & Hill (EUA) e Promon (Brasil).
Nesse sentido, em 1971 foi criada a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN), com
a finalidade de realizar pesquisas em jazidas de minérios nucleares, desenvolver tecnologia
nuclear para o tratamento de minérios e produção de combustível, além de instalar uma usina
de enriquecimento de urânio e componentes para reatores.
A partir de 1974, criou-se um setor produtivo estatal no segmento nuclear controlado pela
NUCLEBRÁS e composto por seis empresas subsidiárias, entre elas a NUCLEP.
Em linhas gerais, o objetivo do Programa Nuclear Brasileiro - PNB era instalar no Brasil um
complexo industrial nuclear voltado para a geração energética, garantindo efetiva
transferência da tecnologia alemã no setor, incluindo o domínio do ciclo do combustível e a
implantação de uma capacidade industrial em componentes pesados e turbogeradores para
a construção de reatores nucleares da linha PWR (de água leve pressurizada).
No aspecto técnico e operacional, vislumbrava-se que um programa desse vulto com forte
ênfase no fornecimento externo, tornaria vulnerável a confiabilidade operacional das usinas
nucleares, uma vez que problemas técnicos de manutenção de equipamentos demandariam
a vinda de técnico do exterior ou do fornecimento externo de materiais e equipamentos.
O caminho escolhido pelo Brasil para concretização dos objetivos do PNB, por meio do Acordo
de Cooperação nos Usos Pacíficos da Energia Nuclear, celebrado em Bonn, em 1975, previa
além da transferência de tecnologia e da capacidade de fabricação de reatores, a identificação
das reservas de urânio. Além disso, previa a construção, até 1990, de oito usinas
nucleoelétricas, além da usina Angra I.
A NUCLEP, dimensionada para produzir componentes pesados para uma usina nuclear por
ano, foi inaugurada em 08.05.1980, representando um investimento para o país de US$ 256
milhões (valor na data base do ano de 1981).
10
O Decreto nº 76.805/1975, que autorizou a criação da NUCLEP, previu que a sua estrutura
acionária poderia ser alterada garantindo, no mínimo, 1/3 do capital com direito a voto para
a NUCLEBRÁS, até 1/3 para o consórcio de empresas indicadas pelo Governo da República
Federal da Alemanha e até 1/3 para empresas brasileiras sob o controle acionário de pessoas
físicas ou jurídicas brasileiras, domiciliadas no país.
Apesar dessa previsão legal, o empreendimento não despertou interesse do capital nacional
privado, segundo o Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instituída em 1978
pelo Senado para investigar a concepção e execução do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha.
Conforme salientado, a NUCLEP foi projetada para produzir um conjunto por ano de
equipamentos pesados para usinas nucleares de 1.200 MW com possibilidade de aumentar
sua capacidade para dois conjuntos de 2.000 MW.
Foi previsto que, a partir de 1985, a NUCLEP atingiria sua plena capacidade com a fabricação
simultânea de quatro conjuntos de equipamentos de SNGV (sistema nuclear gerador de
vapor), permitindo ao Brasil atingir os níveis de nacionalização de equipamentos do SNGV.
Cada conjunto de equipamentos pesados do SNGV era composto por 1 vaso de pressão do
reator e a estrutura interna do núcleo, 4 geradores de vapor, 1 pressurizador, 8 acumuladores
de calor.
11
A estatal ampliou sua atuação ao fabricar, no âmbito do Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (PROSUB), os cascos resistentes para quatro submarinos da classe IKL e para os
quatro submarinos convencionais da classe Scorpene. Ainda no contexto deste programa,
participará da fabricação do casco resistente do primeiro submarino de propulsão nuclear (SN-
BR), a ser construído no Brasil.
No setor de óleo e gás, não obstante a participação na construção dos cascos das plataformas
semissubmersíveis P-51 e P-56, a NUCLEP, na presente era do pré-sal, tem atuado de forma
menos expressiva, face a concorrência local no estado do Rio de Janeiro dos estaleiros Mauá
– CNPJ 02.926.485/0001-74 (Niterói), Brasa – CNPJ 14.983.032/0001-69 (Rio de Janeiro) e
Brasfels – CNPJ 03.669.753/0001-82 (Angra dos Reis), que formaram nos últimos anos
parcerias com as empresas vencedoras das licitações (contratos de afretamento) realizadas
pela Petrobras para suprir sua necessidade de plataformas de águas profundas do tipo FPSO.
Por relevante, a empresa informou que atualmente decidiu entrar no mercado de construção
de torres de transmissão de energia elétrica, em parceria com outra empresa. Esclareceu,
ainda, que está em fase de negociação de um contrato de valor significativo para fabricação
de estruturas metálicas para utilização nessas torres.
Com relação à expectativa de receita futura da Nuclep, decorrentes dos novos contratos
firmados e da previsão de expansão, a empresa apresentou os dados referentes ao período
de 2019 a 2023, em relação a (i) Previsão de Faturamento das Perspectivas de Venda e (ii)
Obras em Carteira, conforme quadro abaixo, cujo detalhamento consta do Apêndice a este
relatório.
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Quadro 1: Previsão de Faturamento Total
(Perspectivas + Obras em Carteira [Milhares de R$])
Previsão de Faturamento Total 2019 2020 2021 2022 2023
(Perspectivas + Obras em Carteira)
Defesa 9.179 15.297 26.150 52.813 68.032
Nuclear 12.273 15.830 15.023 23.923 22.700
Óleo e Gás 440 9.000 10.000 10.000 10.000
Outros 18.276 104.380 189.000 283.500 378.000
Total 40.168 146.647 241.043 370.237 478.732
Fonte: Ofício P-074/2019, de 12.06.2019 – NUCLEP
Cumpre salientar que, nas informações disponibilizadas pela NUCLEP acerca de suas previsões
de faturamento, não constava o montante de recursos que a Empresa necessitará aportar em
razão de investimentos em infraestrutura/maquinário, capacitação de seus empregados, bem
como outras despesas necessárias para suportar a execução dos contratos a serem
celebrados.
13
2. INSERÇÃO DA EMPRESA ESTATAL NO MERCADO E RAZÕES PARA
PROPRIEDADE ESTATAL
2.1. Em qual tipo de mercado a empresa estatal atua e como ela está
posicionada em termos de participação?
A NUCLEP foi criada e dimensionada para construir os componentes pesados do sistema
nuclear de geração de vapor (SNGV ou NSSS, sigla em inglês para nuclear steam supply system)
das oito usinas previstas no PNB.
Fonte: Estudo da Cadeia de Suprimento do Programa Nuclear Brasileiro – Relatório Parcial elaborado pela CNEN
em novembro de 2010
3 Informações adaptadas do artigo “Agentes Envolvidos na Construção de uma Usina Nuclear”, publicado no
endereço http://www.defesanet.com.br/nuclear/noticia/28694/Leonam-Guimaraes-%E2%80%93-Agentes-
Envolvidos-na-Construcao-de-uma-Usina-Nuclear/, consulta em 22.10.2019.
14
especificados, o A&E projeta a usina como um todo, por meio de extensa
documentação técnica, com detalhamento das especificações fornecidas tanto pelo
fornecedor do SNGV quanto pelo Proprietário. O A&E precisa analisar, por exemplo,
se um projeto em particular incluiria uma torre de resfriamento, ou seria o caso de
usar diretamente um rio ou mesmo o mar. O trabalho do A&E está também associado,
tipicamente, ao gerenciamento da construção.
✓ Construtor - empresa que constrói ou supervisiona a construção da usina nuclear, de
acordo com a documentação técnica fornecida pelo A&E. Normalmente, contrata
dezenas de empresas para executar os trabalhos de lançamento de concreto,
montagem de tubulações, instalação do cabeamento elétrico e de instrumentação e
controle, etc. Atua com base na paulatina disponibilidade dos componentes
necessários para a instalação.
✓ Fornecedor do SNGV - projeta e fabrica o reator nuclear e os demais componentes do
Sistema Nuclear de Geração de Vapor – SNGV a ele ligados. O SNGV é montado dentro
do edifício de contenção e tem muitas interfaces com o restante da usina, sendo as
mais importantes o vapor que ele envia para acionamento do turbo-gerador e a água
condensada que retorna para o SNGV para ser novamente transformada em vapor.
Por mais importante que seja o SNGV, seu fornecedor não define o projeto geral da
usina, o que é responsabilidade do A&E e do proprietário. Não obstante, ao longo do
tempo houve tendência crescente para padronizar e multiplicar usinas, de modo que
se tornou usual falar sobre um projeto particular em termos do próprio projeto do
reator (exemplo: "Usina Westinghouse").
✓ Fornecedor do Turbo-Gerador - poucos fornecedores no mundo são capazes de
fabricar os turbo-geradores de grande porte associados às usinas nucleares, com
potência superior a 1.000 MW (a lista inclui Alstom, Mitsubishi, Siemens, GE, além de
empresas russas e chinesas). Cada equipamento é feito sob encomenda, sendo
possível combinar diferentes fornecedores de turbo-geradores com fornecedores de
SNGV.
✓ Financiador - instituição de crédito que financia o projeto termonuclear.
✓ Governo - responsável pela política energética global e, em alguns casos, pelo
financiamento.
✓ Mercado - formado por clientes que demandam suprimento de energia elétrica a
preços competitivos.
✓ Autoridades de Segurança - responsáveis pela resolução de todos os assuntos
relacionados com a proteção da segurança pública e do ambiente, desde a fase de
projeto até a operação da planta e de gestão do combustível irradiado.
15
O Quadro 2 apresenta de forma resumida a atuação dos agentes para as usinas de Angra 1,
Angra 2 (duas fases) e a Angra 3 na primeira fase.
Proprietário /
FURNAS FURNAS ETN (Eletronuclear) ETN
Operador
Fonte: Eletronuclear
(http://www.eletronuclear.gov.br/Sociedade-e-Meio-Ambiente/Documents/RIMA/03_caracterizacao.html)
16
Segundo o estudo “Cost Estimates and Economics of Nuclear Power Plant New Build:
Literature Survey and Some Modelling Analysis”, os custos diretos de construção dos
equipamentos do reator representam cerca de 25% do custo total da planta nuclear,
excluindo-se os custos com juros durante a construção (overnight cost), conforme ilustra a
Figura 3:
Fonte: Apresentação “Cost Estimates and Economics of Nuclear Power Plant New Build: Literature Survey and
Some Modelling Analysis”. Disponível em: http://www.usaee.org/usaee2018/submissions/Presentations/2018-
09-24_nuclear_economics_Wealer_Ben_USAEE.pdf, consulta em 23.10.2019.
Cabe destacar que os vasos de pressão dos equipamentos pesados do sistema nuclear de
geração de vapor (SNGV) são fabricados com a utilização de aço forjado. A oferta de peças
forjadas ou ultra-grandes configura uma das restrições à construção de novas usinas
nucleares, em razão da capacidade de produção anual mundial dos principais fornecedores.
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A NUCLEP executa somente as operações de usinagem mecânica e soldagem, a partir de
forjados importados. Contudo, a NUCLEP detém expertise e equipamentos em suas
instalações industriais para a fabricação de estruturas de vaso de pressão e outras estruturas
resistentes pesadas de até 300 mm de espessura com a utilização de calandras.
Por outro lado, segundo o Relatório da CPI, nenhuma das 34 empresas selecionadas em
estudo da CBTN/Bechtel e tidas como capacitadas para fornecerem equipamentos nucleares
se interessou em participar no empreendimento estatal, sob o argumento de que os estudos
de viabilidade demonstravam que o retorno do capital era impraticável face aos investimentos
previstos. Os industriais da mecânica pesada nacional entendiam que o “break-even point”
(ponto de equilíbrio) se daria somente quando houvesse a necessidade de produção de quatro
conjuntos completos por ano, ou se a empresa entrasse no mercado internacional altamente
competitivo onde 25 das 30 empresas americanas haviam encerrados suas atividades.
Com relação aos principais compradores da Nuclep, atualmente no segmento nuclear, o grupo
dos principais compradores de componentes e equipamentos é composto pela Eletronuclear,
Marinha do Brasil, INB e CNEN, sendo a NUCLEP a única fabricante nacional.
Pode-se atribuir a origem desse monopólio natural a dois aspectos principais: um de natureza
econômica e outro de caráter tecnológico. Do ponto de vista econômico, conforme citado, os
investimentos previstos no PNB para formação da indústria nacional nuclear eram
incompatíveis com o retorno do capital.
É possível verificar, ainda, no Relatório da CPI, que era desejável que a fábrica de componentes
pesados no Brasil também produzisse componentes e equipamentos para outras indústrias
(petróleo, química, mineração, aço, papel, etc.), de forma a manter uma carga constante de
trabalho e empregos.
18
Com a relação à aderência a normas internacionais, a NUCLEP é a única empresa brasileira a
possuir a certificação ASME III para a produção e certificação de equipamentos e
componentes nucleares.
Em síntese, pode-se caracterizar a NUCLEP como sendo uma empresa criada para projetar,
desenvolver, fabricar e comercializar componentes pesados relativos a usinas nucleares
previstos no PNB e outros projetos de atendimento às demandas estratégicas do país que teve
seu fluxo de caixa e sua viabilidade econômica fortemente afetados pela descontinuidade do
PNB, fazendo com que a empresa, desde sua criação, buscasse novos mercados, com vistas à
auferir as receitas necessárias para a manutenção das suas atividades fabris.
Em função das diretrizes estabelecidas, a CBTN elaborou com a Bechtel Overseas Corporation,
que assessorou a empresa Monsor S/A, um estudo pormenorizado no qual avaliou-se a
possibilidade de participação da indústria nacional no fornecimento de materiais e
equipamentos para uma usina nucleoelétrica de 1.000 MW.
19
Não obstante a confiança da CBTN na cooperação do empresariado privado nacional,
nenhuma das 34 empresas se interessou em participar do empreendimento (fabricação de
componentes pesados), conforme já mencionado.
A Nuclebrás (holding do grupo) informou à referida CPI que 47% das encomendas a serem
feitas no mercado nacional, que representavam 34% do valor total dos equipamentos, seriam
supridas pelas empresas líderes da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base
(ABDIB), segundo os seguintes percentuais de rateio: 47% Cobrasma, 36% Confab e 15%
Bardella. Ainda no mesmo Relatório da CPI, pode-se observar que a participação prevista da
indústria nacional, excluindo a NUCLEP, no fornecimento de equipamentos das usinas Angra
II e Angra III correspondia a 57,3% e 55,6%, respectivamente.
Nos dias atuais, após a descontinuidade do PNB e as recentes crises econômicas que ainda
abalam a indústria de base nacional, constata-se que, das três empresas líderes da ABDIB à
época da concepção do desenvolvimento industrial do segmento nuclear (Bardella, Confab e
Cobrasma) somente a empresa Confab continua em operação. Observa-se, ainda, que outras
empresas que integraram a lista de participantes do acordo de cooperação tecnológica, por
exemplo, a empresa Jaraguá (CNPJ 60.395.126/0001-34), também se encontram em
recuperação judicial, demonstrando a fragilidade atual da indústria nacional de bens de
capital.
Com relação ao mercado nacional, em razão de a NUCLEP ser a única empresa brasileira
certificada pela ASME para fabricar equipamentos do sistema nuclear de geração de vapor
(vaso de pressão, geradores, pressurizador e acumuladores), o indicador HHI4 nacional
corresponde a 10.000, representando o nível máximo de concentração na escala do indicador.
Invariavelmente, nos contratos mais recentes, os governos dos países, ao decidirem incluir na
sua matriz energética empreendimentos termonucleares, demandam das projetistas um
4
O indicador Herfindahl-Hirschman Index (HHI) histórico é utilizado para medir o nível de concentração de um
determinado setor/indústria da economia. Uma indústria altamente concentrada é aquela em que apenas alguns
poucos participantes detêm uma porcentagem elevada da participação de mercado, levando a uma situação
quase monopolista. Um grau baixo de concentração significa que a indústria está mais próxima de um cenário
de concorrência perfeita, com empresas compartilhando o mercado.
20
percentual mínimo de conteúdo local, que acarreta na inclusão de etapas de transferência de
tecnologia.
Nesse contexto, pode-se concluir que a NUCLEP é a única empresa brasileira credenciada para
fabricar componentes pesados para a indústria nuclear, portanto, os seus principais
concorrentes no setor nuclear são empresas internacionais fabricantes de equipamentos
nucleares detentoras de certificação internacional, como, por exemplo, a ASME III selos “N”.
No segmento de óleo e gás, não obstante a participação na construção dos cascos das
plataformas semissubmersíveis P-51 e P-56, a NUCLEP, na presente era do pré-sal, tem atuado
de forma menos expressiva, face à concorrência local no estado do Rio de Janeiro dos
estaleiros Mauá (Niterói), Brasa (Rio de Janeiro) e Brasfels (Angra dos Reis), que formaram nos
últimos anos parcerias com as empresas vencedoras das licitações (contratos de afretamento)
realizadas pela Petrobras suprir sua necessidade de plataformas de águas profundas do tipo
FPSO. As empresas SBM Offshore e Modec são as líderes no mercado de construção e
afretamento de FPSO.
Com relação ao setor de defesa, a NUCLEP tem uma parceria de longa data com a Marinha do
Brasil, com destaque para a construção dos quatro cascos resistentes dos submarinos de
propulsão convencional da classe IKL e, recentemente, de mais quatro cascos resistentes para
os submarinos da classe Scorpene. A NUCLEP aguarda ainda os desdobramentos do PROSUB,
para dar início à fabricação do casco do submarino de propulsão nuclear.
21
2.3. A empresa estatal opera no mesmo nível de maturidade
tecnológica de seus concorrentes?
A partir da década de 50, com o advento da aviação e do segmento nuclear, tornou-se
necessário estabelecer, por meio de sistemas de gestão de qualidade, procedimentos a serem
adotados na prevenção, na detecção e na correção de erros de projetos, visando demonstrar
a segurança e a confiabilidade desses setores, sensivelmente mais exigentes.5
5
A importância do segmento nuclear para o desenvolvimento e a disseminação dos sistemas de garantia da
qualidade no Brasil e no mundo é relatada na publicação “O Movimento da Qualidade no Brasil”, do Inmetro,
disponível em http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/pdf/Livro_Qualidade.pdf, consulta em 24.10.2019.
22
Em que pese o avanço da tecnologia dos reatores, as restrições e as dificuldades financeiras
enfrentadas nos últimos anos, a NUCLEP obteve as certificações junto a ASME III, o que
possibilita a empresa fabricar componentes para usinas nucleares. As certificações são fruto
da implementação, desde a criação da empresa, de um sistema de garantia da qualidade –
SGQ, dentro dos padrões rigorosos exigidos na indústria nuclear. Ademais, a NUCLEP possui a
certificação conferida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN-NN-1.16 (fabricação
e fornecimento de componentes nucleares), capacitando-a para fornecer equipamentos para
Eletronuclear, INB e CTMSP.
Nesse contexto, solicitou-se que a estatal esclarecesse, em função dos avanços tecnológicos
nos processos de fabricação da indústria de bens de capital e da evolução dos reatores
ocorridos desde a data de criação da NUCLEP e do Memorando de Entendimentos assinado,
em junho de 2015, com a empresa Westinghouse Electric Company, se a NUCLEP havia
elaborado estudos técnicos identificando as ações de capacitação e investimentos na
infraestrutura industrial, para que em futuros empreendimentos termonucleares a empresa
possa participar da fabricação dos equipamentos e componentes pesados, caso a solução
adotada seja o reator AP1000 da Westinghouse, ou ainda outros reatores da Geração III e III+,
como, por exemplo, aqueles das empresas Rosatom, CNNC (China) e Electricité de France.
A NUCLEP esclareceu que está apta e tem plena capacidade para fornecer os principais
equipamentos primários (Vaso de Pressão do Reator, Geradores de Vapor e Pressurizador)
para reatores de Geração III+. Asseverou ainda que as evoluções tecnológicas adotadas nesses
reatores facilitaram, em muito, seus processos produtivos, o que para a NUCLEP trouxe
benefícios no sentido de facilitar a obtenção da qualidade requerida no processo fabril e de
reduzir prazos de fornecimento.
23
Além disso, a NUCLEP afirmou que incorporou os avanços tecnológicos necessários à
fabricação de equipamentos pesados para reatores de geração III+ quando produziu os dois
geradores de vapor substitutos da Usina Nuclear Angra 1, uma vez que esses equipamentos
foram projetados com base nas novas tecnologias aplicadas aos reatores mais modernos.
Por relevante, a NUCLEP registrou que, para se manter competitiva, tem investido para
atualizar seu parque fabril, visando o segmento nuclear, tendo como principais investimentos
a construção de uma sala limpa certificada para melhorar a capacidade de trabalho com ligas
de níquel, de titânio e aços especiais; a aquisição de equipamentos para ensaios tecnológicos
e não destrutivos de última geração, além de máquinas de solda, de usinagem e conformação.
Ressaltou também que a capacitação de pessoal tem evoluído com a inclusão das novas
tecnologias fabris, entretanto, treinamentos apenas pontuais, como ocorre para qualquer
obra de grande porte, poderão ser necessários dependendo da tecnologia do reator de
geração III+ do player escolhido pela ELETRONUCLEAR.
Portanto, entende-se que, em decorrência das certificações junto a ASME, ISO e CNEN, da
participação na construção de geradores de vapor para Angra 1, das informações acerca da
infraestrutura industrial e qualificação do seu corpo técnico apresentados pela NUCLEP, a
empresa detém maturidade tecnológica suficiente para fabricar os equipamentos do SNGV de
futuros empreendimentos termonucleares.
Com relação ao setor de defesa, da mesma forma, a NUCLEP foi a única empresa contratada
pela Marinha do Brasil para fabricar cascos resistentes de submarinos, além de ter fornecido
o vaso de pressão para o Reator do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (LABGENE).
24
Já o setor de óleo e gás, em especial o de construção de plataforma de produção e os
respectivos módulos (topsides), é ocupado por empresas privadas nacionais e internacionais
que atuam por meio de parcerias que foram estabelecidas ao longo dos anos de
desenvolvimento desse setor da economia brasileira.
25
➢ Óleo e gás – Estaleiro Brasfels e demais empresas privadas que subcontratam a NUCLEP
para fabricação de componentes mecânicos, tubos e estruturas previstos em contratos
celebrados com a Petrobras.
Pode-se concluir que a NUCLEP, mesmo com a busca de novos mercados, depende
majoritariamente de receitas de projetos idealizados por entes governamentais – estando
sujeita, por essa razão, aos impactos de restrições orçamentárias do governo brasileiro e aos
ciclos econômicos sob a demanda para a empresa.
Com esse propósito, a NUCLEP foi subcontratada pela Itaguaí Construções Navais (ICN), CNPJ
10.827.182/0001-22, para fabricar, no âmbito do PROSUB da Marinha do Brasil (MB), os
cascos resistentes de quatro submarinos convencionais, classe Riachuelo, Tipo Scorpene, de
26
tecnologia francesa, bem como outras estruturas pesadas, assim como para participar do
processo de transferência de tecnologia originária da França.
Vale lembrar que a NUCLEP, na década de 1980, participou também de projetos de construção
dos submarinos convencionais da classe IKL, de tecnologia alemã, havendo fabricado para a
Marinha os cascos resistentes de todos os submarinos até hoje construídos no Brasil.
O PROSUB prevê a construção das seções do SN-BR pela NUCLEP. A MB afirma que “a NUCLEP
é a empresa recomendada para a fabricação do casco resistente e das estruturas pesadas
do SN-BR”, cujo montante de recursos previstos a serem gastos é estimado em R$ 350
milhões, com início programado para 2022 e execução estimada em quatro anos.
A Marinha acrescentou que, devido ao atual cenário econômico nacional desfavorável, onde
as empresas de caldeiraria pesada e usinagem de grande porte encontram-se com problemas
financeiros ou foram fechadas, não há perspectiva do surgimento de empresa capaz de
substituir a NUCLEP. Ademais, durante a reunião realizada, mencionou-se o fato de a NUCLEP
possuir a Certificação CNEN-NN-1.16 (fabricação e fornecimento de componentes nucleares)
e ser credenciada como uma “Empresa Estratégica de Defesa”.
Por fim, a Marinha afirmou que considera a NUCLEP como empresa estratégica e que, em caso
de liquidação da Empresa, o PROSUB estaria comprometido, conforme transcrito a seguir:
27
2. Por todo o exposto, a MB considera a NUCLEP como empresa estratégica e
participa de sua governança ativamente. Em caso de liquidação da empresa, os
interesses estratégicos brasileiros não mais seriam garantidos, e o PROSUB, em
primeira análise, estaria comprometido. (grifo nosso)
Em resposta, o MME esclareceu que o modelo de contratação de novas usinas ainda não está
definido, mas a previsão é que ocorrerá em parceria com a iniciativa privada, num
desdobramento do modelo em elaboração para a Usina Angra 3, e ressaltou a importância do
uso pleno da cadeia de suprimento estabelecida e disponível no país para redução de custos,
o que deverá ser considerado na contratação. Destacou ainda que “no caso de construção em
série de mais de uma usina, antecipa-se um índice de nacionalização crescente”.
O MME informou que não possui estudo sobre potenciais fornecedores de insumos para a
manutenção das usinas Angra 1 e 2, bem como para o término da construção de Angra 3, em
caso de descontinuidade da NUCLEP. Segundo a Eletronuclear, entretanto, a NUCLEP não
fornece, atualmente, insumos para manutenção de Angra 1 e 2.
Por fim, vale citar o que preconiza a Estratégia Nacional de Defesa como princípio de
desenvolvimento:
28
Nesse contexto, a NUCLEP foi concebida para atender as demandas do PNB sob a premissa da
necessidade de garantir ao país a expertise necessária para se alcançar a independência
tecnológica de outras nações na construção dos componentes pesados do SNGV.
Pode-se observar que os países, bem como o Brasil, que buscaram o desenvolvimento da
indústria local para fabricação de componentes pesados nucleares, assim o fizeram, por
intermédio de contratos comerciais celebrados com empresas privadas, onde foram previstas
cláusulas de transferência de tecnologia.
Entende-se que a demanda atual do setor nuclear nacional, após a redução do PNB, não seria
suficiente para surgir uma indústria nuclear exclusivamente privada, bem como inexiste outra
entidade governamental apta a assumir as atividades da NUCLEP.
29
dizer, portanto, que a NUCLEP, em virtude da natureza da fabricação não seriada e da
necessidade de investimentos, desenvolve projetos de capital.
Entende-se que a metodologia utilizada pela NUCLEP na elaboração do orçamento das obras
de construção do casco da P-51 apresenta fragilidades, tendo sido insuficiente para mensurar
e precificar os riscos assumidos pela empresa.
O custo do item “produção de mão-de-obra direta”, estimado para uma certa produtividade
de fabricação, demonstrou-se incompatível com a produtividade da empresa subcontratada
(PEM Engenharia – CNPJ 62.458.088/0001-47), o que resultou na redução do escopo do
contrato celebrado com a Brasfels e do fluxo de caixa de todo o empreendimento e,
consequentemente, na elevação do custo de fabricação para a NUCLEP, conforme
detalhamento apresentado no Apêndice.
Cabe ainda mencionar que o fluxo de caixa dos projetos de construção dos cascos resistentes
dos quatro submarinos convencionais, SBR-1 a SBR-4, classe Riachuelo, Tipo Scorpene, não
produziu resultados financeiros expressivos para a NUCLEP, apesar de ter sido positivo,
conforme informações disponibilizadas pela empresa. É oportuno destacar que o retorno
30
financeiro dos projetos do PROSUB devem ser objeto de uma avaliação mais aprofundada, de
modo a identificar a compatibilidade das possíveis margens de contribuição geradas com os
valores referenciais de mercado, considerando a viabilidade de aquisição de terceira parte.
É importante frisar que a natureza não seriada dos projetos executados pela NUCLEP pode
dificultar a alocação dos investimentos não amortizados em outros projetos comerciais, e,
portanto, esse fato deve ser considerado na precificação de produtos e serviços da empresa.
O avanço tecnológico ocorrido nos últimos anos aponta que, em futuras usinas, os reatores
nucleares tendem a ser da geração III+, por representar nos dias atuais a tecnologia mais
avançada disponível no mercado.
Portanto, é razoável assumir que por não ser a projetista dos equipamentos do SNGV, a
participação da NUCLEP na fabricação de equipamentos de empreendimentos futuros carece
da elaboração de um modelo jurídico que a viabilize e garanta possíveis transferências de
tecnologia, se necessárias.
31
Nesse contexto, entende-se que as análises sobre o modelo jurídico para retomada de Angra
3 são pertinentes, tendo em vista que esses modelos podem vir a ser adotados nos
empreendimentos nucleares futuros.
Vale destacar que o Plano Nacional de Energia 2050 não se encontrava concluído, durante a
elaboração deste relatório, entretanto o Plano Nacional de Energia anterior (PNE 2030) previa
a construção de quatro a oito usinas nucleares no País. O Governo Federal tem empreendido
esforços a fim de dar entrada em operação comercial da Usina Termonuclear Angra 3 em
janeiro de 2026, conforme previsto no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2026
aprovado pelo MME.
O GT estudou dois modelos para captação de parceiro privado: o primeiro com participação
societária e o segundo sem participação societária. Para cada modelo foram identificadas as
respectivas vantagens e desvantagens.
Entende-se que a definição do conteúdo nacional a ser fabricado pela NUCLEP e demais
empresas da indústria de bens de capital em empreendimentos termonucleares futuros deve
ser estudada conjuntamente com a definição do modelo jurídico para retomada de Angra 3,
de forma que sejam estabelecidos critérios que garantam a sua participação, caso o Governo
Federal opte pela manutenção da estatal.
Destarte, nos modelos de contratação em estudo, para retomada das obras de Angra 3 e de
possíveis empreendimentos termonucleares futuros, deve-se avaliar o impacto dos riscos de
aporte do Tesouro Nacional decorrentes de atrasos (risco fiscal) no cronograma de execução
das obras. A substituição da indústria nacional por empresas estrangeiras, que porventura
possuam índices de produtividades melhores, não garantiria por si só a redução dos prazos de
execução de construção de usinas nucleares, uma vez o modelo jurídico de contratação
32
adotado pode não eliminar, integralmente, os riscos fiscais (aporte do Tesouro) decorrentes
do ciclo econômico.
Portanto, sugere-se que, caso o Governo Federal decida pela participação da NUCLEP e da
indústria de bens de capital brasileira em empreendimentos termonucleares futuros e em
Angra 3, os estudos em andamento avaliem os impactos dos modelos jurídicos na cadeia
produtiva nuclear brasileira.
33
3. MARCO LEGAL
3.1. A legislação conferiu à empresa estatal algum tipo de privilégio
mercadológico (monopólio, monopsônio, etc.)?
Não se identificou, na legislação vigente, previsão de monopólio em relação à NUCLEP.
Ressalta-se que a NUCLEP foi credenciada em 2013 pelo Ministério da Defesa como uma das
primeiras Empresas Estratégicas de Defesa do país. Trata-se de um mecanismo que garante
às indústrias nacionais assim credenciadas o acesso a regimes especiais tributários e
financiamentos, com o objetivo de torná-las mais competitivas, tanto no mercado interno
quanto no externo.
34
2. 048O - Produzir 8 equipamentos e componentes para as indústrias nuclear e de alta
tecnologia, sendo 1 para Usina Nuclear Angra-III, 3 para o Submarino Nuclear e 4 Cascos de
Submarinos Convencionais.
35
4. DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO
4.1. Qual o nível de dependência da empresa estatal em relação a
aportes, receitas e funding governamentais?
Em decorrência da descontinuidade do PNB, o fluxo de caixa previsto no estudo de viabilidade
técnica e econômica que culminou na decisão de criar o parque industrial NUCLEP não se
concretizou, sendo um dos principais fatores da dependência atual da empresa.
A empresa tem auferido prejuízos nos últimos oito exercícios, sendo assim não está
praticando a distribuição de dividendos aos seus acionistas.
36
Os custos fabris não apropriados (CFNA) representam os custos com equipamentos e pessoal
eventualmente não alocados na produção de produtos e serviços e refletem, portanto, a
ociosidade da capacidade instalada da NUCLEP. Em 2018, os custos fabris corresponderam a
R$ 132,98 milhões que somados às despesas administrativas de R$ 176,69 milhões,
totalizaram R$ 309,57 milhões, equivalente a 86,90% do aporte de recursos da União no
mesmo ano (R$ R$356,26 milhões).
Das análises aqui apresentadas, conclui-se que a dependência econômica da NUCLEP está
fortemente ligada aos custos e gastos com pessoal. A necessidade de aporte de recursos da
União pode ser reduzida a partir de medidas administrativas que visem alinhar os seus custos
e as despesas operacionais com o nível de atividade industrial da empresa, e,
consequentemente, com a receita de produtos e serviços vendidos.
98,18
91,76
86,79 84,42 86,05
37
Tabela 4: Dependência dos Aportes (R$ milhares)
Aportes 2018 2017 2016 2015 2014
Tesouro 356.257 382.535 365,358 290.673 222.008
Receita Própria 6.605 34.582 55.586 53.651 35.990
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014-2018)
Por ser uma empresa dependente financeiramente do Tesouro Nacional, a NUCLEP mantém
parte das suas aquisições de insumos de produção com recursos recebidos em forma de
subvenção e o restante com recursos próprios decorrentes de suas atividades operacionais, o
que tem se mostrado insuficiente para cobrir minimamente o custo dos produtos vendidos.
Os crescentes aportes da União visam cobrir não só os custos dos produtos vendidos, mas
principalmente as despesas operacionais, que nos dois últimos exercícios obtiveram
expressivo crescimento (Figura 5).
Figura 5: Análise de Estrutura da Receita Própria versus o Custo dos Produtos Vendidos e do
Resultado Bruto versus as Despesas Operacionais.
38
Tabela 5: Receita Própria, Custo dos Produtos Vendidos, Resultado Bruto e Despesas
Operacionais (R$ milhares).
Contas 2018 2017 2016 2015 2014
Receita Própria 6.605 34.582 55.586 53.651 35.990
CPV (49.512) (120.365) (163.992) (113.014) (49.053)
Resultado Bruto 313.350 296.522 256.952 231.310 208.945
Despesas Operacionais (315.478) (306.421) (272.866) (236.410) (213.950)
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014-2018)
-15.702
Embora no exercício de 2018, a NUCLEP tenha apurado um prejuízo líquido inferior a 2017,
cabe ressaltar que os aportes do Tesouro Nacional aumentaram de 91,76% em 2017 para
98,18% em 2018 do total da receita líquida.
No que tange aos ativos da NUCLEP, a análise de evolução, evidenciada na Figura 7, mostra
um aumento do nível de ativos da empresa em 2018 frente a 2017 de 12,62%6. Tal ocorrência
tem como um dos fatores o aumento no nível dos estoques (62,2%)7, principalmente o de
produtos em elaboração (aproximadamente 106%), devido a demanda de cliente da empresa,
o Centro Tecnológico da Marinha SP – CTMSP.
6
Apurado no BP, no Painel 1 do Anexo IV do Apêndice.
7
Valores da conta contábil estoques no período (R$ milhares): 2018 – R$ 92.506; 2017 – R$ 57.016; 2016
– 41.160; 2015 – R$ 48.298; 2014 – R$ 46.380
39
Figura 7: Evolução dos Ativos Totais (R$ Milhares)
684.168 694.553
663.885
635.347
607.495
Ativos Totais
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)
Exigível Total PL
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)
Nota: (1) Os percentuais do Passivo Exigível Total e do Patrimônio Líquido são baseados no Passivo Total.
40
Figura 9: Indicadores de Rentabilidade – ROI e Patrimônio Líquido
ROI ROE
Margem Líquida
Giro do Ativo
0,67
0,63 2018 2017 2016 2015 2014
0,56 -0,006
0,51
0,4
-0,024 -0,023
0,09 0,09 0,07 -0,028
0,06
0,02
-0,037
2018 2017 2016 2015 2014
GA GAA ML
A partir do Giro do Ativo pode-se relacionar o total das vendas no exercício com o Ativo
alocado pela empresa. Verificou-se que esse indicador apresentou resultados positivos e
razoavelmente constantes, em média de aproximadamente 0,55, representando que a receita
líquida8 da NUCLEP, no geral, consegue girar pouco mais da metade dos seus ativos.
Entretanto, se for considerado como vendas líquidas apenas as receitas próprias, os índices
8
A Receita líquida inclui as subvenções do Tesouro Nacional
41
revelam que as receitas decorrentes das atividades finalísticas, em 2018, conseguiram girar
apenas 2% do ativo da NUCLEP.
O indicador Margem Líquida relaciona o lucro obtido pela companhia em função de sua receita
total. Conforme visualizado na Figura 10, esse indicador apresentou resultados negativos,
decorrentes dos prejuízos auferidos ao longo dos exercícios analisados. Conforme já
mencionado, os prejuízos observados resultam da incapacidade de geração de lucro
operacional, principalmente em função das elevadas despesas administrativas e comerciais e
dos custos fabris não apropriados à produção. Isto posto, infere-se que os índices negativos
do ROI são explicados pela margem líquida negativa, isto é, o inadequado gerenciamento dos
custos e despesas da NUCLEP reduzem o retorno do investimento.
ET ETA PE
9
ETA é índice ajustado (sem os recursos recebidos do Tesouro Nacional registrados no Ativo).
42
Conforme a manifestação CE P–079/2019, de 25/06/2019, a NUCLEP informa que o maior
passivo que a empresa possui é em relação à Previdência Privada – NUCLEOS que
corresponde, em 2018, a 41% do capital de terceiros e que a dívida já está judicializada e a
Companhia possui um prazo de liquidação até outubro/2039.
Corrente Geral
1,35 0,91 0,87 0,87 0,91 0,87
1,22 1,19
1,14 1,14 1,09
0,98
0,75 0,77 0,8
0,4 0,41 0,37
0,34 0,29
2018 2017 2016 2015 2014 2018 2017 2016 2015 2014
LC LCA LG LGA
A liquidez corrente positiva indica uma margem de segurança ou capital circulante líquido11
positivo, e no período, representou aproximadamente: 2018 – 26%; 2017 – 12%; 2016 – 12%;
2015 – 8% e 2014 – 16%. Em outras palavras, esses percentuais indicam o grau de liberdade
financeira da NUCLEP, de curto prazo, que não está comprometido com seu exigível de curto
prazo.
Contrapondo a liquidez corrente, a liquidez geral da NUCLEP mostra-se insuficiente para quitar
seu passivo exigível total. A situação se agrava quando excluídos os recursos do Tesouro
Nacional do Ativo (LCA e LGA), pois observa-se uma deterioração em ambos índices de
liquidez.
10
LCA e LGA são índices ajustados (sem os recursos recebidos do Tesouro Nacional registrados no
Ativo).
11
Capital Circulante Líquido (CCL) = Ativo Circulante (AC) – Passivo Circulante (PC).
43
O Parque Fabril ocupa uma área de 1 milhão de metros quadrados no bairro Brisamar, no
município de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e possui um conjunto de
máquinas operatrizes para usinagem, soldagem, calandragem e tratamento térmico únicos no
país. Em seu galpão principal com capacidade nominal de movimentação de carga de até 600
toneladas, podendo, em casos especiais, chegar a 900 toneladas, encontra-se a Sala Limpa,
classe 100.000.
Com relação aos principais Ativos da empresa, o Quadro 6 apresenta o rol discriminado do
Imobilizado, conforme demonstrações contábeis de 2018.
A NUCLEP, mediante Ofício nº 115/2019/P-NCP, informou que não realizou nenhum estudo
comparativo do valor contábil dos seus ativos versus o seu valor econômico.
44
5. FORÇA DE TRABALHO
Qtde. pessoal
R$ (mil)
140.211
150.000 130.394 600
109.417
100.000 400
50.000 200
0 0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019*
- Aposentados e pensionistas:
Até 30.09.2019, constam 32 empregados ativos, aposentados pelo INSS, que ainda mantêm
vínculo laboral com a NUCLEP.
45
- Funções de Gerência e Direção:
46
Figura 14: Quantidade de Servidores Lotados nas Áreas Meio e Fim
1000
800
765
600
400
497
200
303
0 65
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
ADMINISTRAÇÃO OPERACIONAL
47
Quadro 9: Principais ocupações da Nuclep em 2018
Principais ocupações segundo a RAIS 2018 Participação %
Técnico mecânico R$ 15.103.023,87 7,83%
Engenheiro mecânico R$ 13.395.053,41 6,95%
Técnico de garantia da qualidade R$ 11.865.882,83 6,15%
Supervisor administrativo R$ 10.881.213,26 5,64%
Mestre de caldeiraria R$ 9.771.117,75 5,07%
Secretária(o) executiva(o) R$ 6.885.898,49 3,57%
Engenheiro metalurgista R$ 6.830.034,19 3,54%
Supervisor de vigilantes R$ 6.094.619,56 3,16%
Mestre de soldagem R$ 5.917.567,54 3,07%
Administrador R$ 5.745.445,25 2,98%
Soldador R$ 5.274.712,45 2,73%
Subtotal – principais ocupações R$ 97.764.568,60 50,69%
TOTAL NUCLEP R$ 192.870.854,35 100,00%
Fonte: RAIS 2018. Informações detalhadas na Tabela 17 - Anexo V do Apêndice.
O programa criado em 1979 para ser o fundo de pensão do setor nuclear do país, englobando
todos os funcionários da Nuclebrás e de suas subsidiárias, é mantido através de um Plano de
Benefícios Definidos (BD), que visa garantir à maioria dos participantes, uma renda vitalícia
pós-emprego em níveis semelhantes à da atividade, quando somada a da previdência social
limitada a três tetos previdenciários. Dá cobertura, também, às aposentadorias por invalidez,
especiais e o pagamento de pensões aos dependentes de participantes que vierem a falecer.
48
Em 31.12.2018, a população vinculada ao programa era a seguinte, comparada com o
exercício anterior:
49
6. COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES
Em julho de 2018, no mundo, estavam em operação 413 reatores nucleares voltados para a
geração de energia em 31 países. Nessa mesma data outros 50 reatores encontravam-se em
construção em países como: China, Argentina, Japão, Rússia, Índia, Coreia do Sul, Paquistão,
Irã e Estados Unidos (WNISR, 2018). A China lidera com 11 reatores, seguida pela Índia com 7,
a Rússia com 6, a Coréia do Sul com 5 e os Emirados Árabes Unidos com 4 unidades. (WNISR,
2018).
Países com dois reatores em construção incluem: Bangladesh, Bielorrússia, Japão, Paquistão,
Eslováquia, Ucrânia e EUA. Argentina, Brasil, Finlândia, França e Turquia têm 1 reator em
construção (Ho et al., 2018).
Os “cinco grandes” países geradores de energia nuclear (Estados Unidos, França, China, Rússia
e Coréia do Sul) geraram, em 2017, 70% de toda a eletricidade desta fonte no mundo. Dois
países, os EUA e a França, representaram 47,5% da produção nuclear global em 2017 (WNISR,
2018).
50
➢ Estados Unidos: WESTINGHOUSE – Empresa privada com tradição na construção e
operação de usinas nucleares (faliu, mas foi adquirida pela Brookfield Business Partners L.P).
A Westinghouse produz o modelo AP1000.
51
7. GOVERNANÇA CORPORATIVA
Consta ainda como iniciativas alinhadas às mudanças introduzidas pelo IBGC quanto à
governança corporativa:
Contudo, não há formalizado uma política sobre prevenção e detecção de atos de natureza
ilícita, conforme disseminado nas melhores práticas de governança corporativa.
Não obstante a existência de política de gestão de riscos, de uma matriz de riscos e um plano
de ação, o gerenciamento de riscos da NUCLEP encontra-se, ainda, em estágio incipiente, visto
que a maioria das atividades iniciaram em 2019.
52
Cabe mencionar que o indicador de governança - IG SEST conferiu, no 4º ciclo de avaliação em
2019, o nível 1 de governança à NUCLEP.
53
CONCLUSÃO
Considerando as análises realizadas no âmbito das questões de auditoria formuladas,
avaliaram-se os riscos de seis cenários possíveis, conforme será detalhado a seguir, nos
quadros abaixo:
Entende-se que as decisões acerca do futuro da NUCLEP devem ser tomadas após a avaliação
da participação da energia nuclear dentro da matriz energética nacional, segundo os critérios
definidos no Plano Nacional de Energia 2050, e da manutenção da capacidade de fabricação
de componentes e equipamentos pesados nucleares que garantam ao país o domínio de todo
ciclo do urânio, desde a prospecção até a geração de energia.
Sugere-se que, caso o Governo Federal decida pela participação da NUCLEP e da indústria de
bens de capital brasileira em empreendimentos termonucleares futuros e em Angra 3, os
estudos em andamento avaliem os impactos dos modelos jurídicos e operacionais na cadeia
produtiva nuclear brasileira.
Por relevante, faz-se necessário esclarecer que os riscos apresentados a seguir não foram
mensurados em função da sua probabilidade e do seu impacto. Portanto, os riscos
identificados, quer sejam iguais ou semelhantes, podem variar quanto a sua probabilidade de
ocorrência e o seu impacto nos diferentes cenários analisados.
54
QUADRO 11 – RISCOS ASSOCIADOS À ALIENAÇÃO TOTAL, PARCIAL OU LIQUIDAÇÃO DA NUCLEP
PARÂMETRO / CATEGORIA CENÁRIO 6 CENÁRIO 7
DE RISCO
ALIENAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DA NUCLEP (CESSÃO DE CONTROLE) LIQUIDAÇÃO DA NUCLEP
MERCADO (FALHAS) • O nível de atividade do setor nuclear e da indústria de capital pode ser • O nível de atividade do setor nuclear e da indústria de capital
insuficiente para gerar interesse de investimentos do setor privado (com pode ser insuficiente para gerar interesse de investimentos do
possível impacto no valuation da empresa); setor privado (com consequente ausência de fornecedores
• Existência de um único cliente (governo brasileiro), com longo histórico de nacionais nos setores em que a Nuclep atua);
restrições orçamentárias em suas contratações, pode gerar incentivos para que • Longo histórico de restrições orçamentárias do governo
a empresa precifique, em cada fornecimento, margem de risco brasileiro em suas contratações, pode gerar incentivos para que os
desproporcional; fornecedores internacionais precifiquem, em cada fornecimento,
• Risco de inviabilidade da continuidade operacional da empresa, gerando margem de risco desproporcional;
uma “liquidação em duas etapas”;
SEGURANÇA ENERGÉTICA E • Risco de não contratualização de fornecimentos de longo prazo para de • Dependência de fornecedores internacionais para a cadeia
OPERACIONAL atender as demandas energéticas futuras previstas no Plano Nacional de nuclear, mercado que pode ser atingido por contingências
Energia 2050; geopolíticas, cambiais, etc, pode impossibilitar o atendimento às
• Redução da confiabilidade operacional das usinas nucleares Angra I e II, caso demandas energéticas futuras previstas no Plano Nacional de
o novo bloco de controle da empresa decida não prestar assistência para Energia 2050;
problemas técnicos de substituição de equipamentos e manutenção, o que • Redução da confiabilidade operacional das usinas nucleares
demandaria a vinda de técnico do exterior ou o fornecimento externo de Angra I e II, uma vez que problemas técnicos de substituição de
materiais e equipamentos; equipamentos e manutenção demandariam a vinda de técnico do
exterior ou o fornecimento externo de materiais e equipamentos;
DESENVOLVIMENTO • Em caso de descontinuidade de operações da empresa (por mudança de • Perda da tecnologia de fabricação de componentes e
TECNOLÓGICO estratégia empresarial ou insolvência): equipamentos pesados nucleares e do setor de Defesa Nacional;
o Perda da tecnologia de fabricação de componentes e equipamentos • Redução da capacidade do setor de mecânica pesada nacional
pesados nucleares e do setor de Defesa Nacional; fortemente afetada na recente crise econômica;
55
PARÂMETRO / CATEGORIA CENÁRIO 6 CENÁRIO 7
DE RISCO
ALIENAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DA NUCLEP (CESSÃO DE CONTROLE) LIQUIDAÇÃO DA NUCLEP
o Redução da capacidade do setor de mecânica pesada nacional • Impossibilidade de aproveitamento em outros setores de
fortemente afetada na recente crise econômica; transbordamentos tecnológicos oriundos da fabricação de
o Impossibilidade de aproveitamento em outros setores de componentes nucleares;
transbordamentos tecnológicos oriundos da fabricação de • O país retornaria à condição de dependente tecnológico para
componentes nucleares; fabricação dos componentes e equipamentos pesados para usinas
o O país retornaria à condição de dependente tecnológico para nucleoelétricas, após os investimentos vultosos realizados nos
fabricação dos componentes e equipamentos pesados para usinas últimos 35 anos para atingir o domínio de todas as etapas do ciclo
nucleoelétricas, após os investimentos vultosos realizados nos últimos de urânio;
35 anos para atingir o domínio de todas as etapas do ciclo de urânio; • A extinção da NUCLEP pode inviabilizar a participação do país
• Aproveitamento em outros setores de transbordamentos tecnológicos em projetos de pesquisa internacionais de desenvolvimento
oriundos da fabricação de componentes nucleares dependente de coordenação nuclear voltados para geração de energia e outras aplicações;
da empresa (iniciativa privada) com o sistema nacional de inovação;
• Ausência de incentivos do ator privado para participação do país em
projetos de pesquisa internacionais de desenvolvimento nuclear voltados para
geração de energia e outras aplicações;
DEFESA NACIONAL • Risco de não contratualização de longo prazo para atingimento dos objetivos • Comprometimento dos objetivos do PROSUB e dos interesses
do PROSUB e dos interesses estratégicos de Defesa Nacional; estratégicos de Defesa Nacional;
ECONÔMICO/FINANCEIRO • Caso não seja estabelecido alguma garantia de demanda de médio e longo • Subavaliação de equipamentos industriais, máquinas e
prazo (contratos de fornecimento de longo prazo ou conteúdo local), risco de equipamentos já amortizados, porém com valor econômico
subavaliação de equipamentos industriais, máquinas e equipamentos já possivelmente relevante.
amortizados, porém com valor econômico possivelmente relevante.
56
QUADRO 12 – RISCOS ASSOCIADOS AO CONTROLE DA NUCLEP PELA UNIÃO
PARÂMETRO CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 CENÁRIO 5
SITUAÇÃO ATUAL AJUSTE DAS DESPESAS CENÁRIO 2 + OBRAS DO CENÁRIO 2 + PROJETOS DE CENÁRIO 4 + OBRAS DO PNB
C/PESSOAL PNB OUTROS SETORES + ATIVIDADES
EDUCACIONAIS E DE PD&I
RECEITA Ausência de uma carteira firme Ausência de uma carteira Criação de uma carteira Carteira instável de clientes de Criação de uma carteira firme de
de clientes de curto, médio e firme de clientes de curto, firme de clientes de médio e curto, médio e longo prazo clientes de médio e longo prazo
longo prazo. médio e longo prazo. longo prazo. referente ao PNB, uma vez que referente ao PNB. Entretanto,
receitas de outros setores (óleo e possíveis receitas de outros
gás, defesa e etc.) dependem de setores (óleo e gás, defesa e etc.)
outros fatores externos não dependem de outros fatores
necessariamente controláveis externos não necessariamente
pela NUCLEP. controláveis pela NUCLEP.
DESPESAS Manutenção das despesas com Impossibilidade de redução Manutenção das despesas Manutenção das despesas com Manutenção das despesas com
pessoal incompatíveis com as das despesas com pessoal com pessoal no curto prazo pessoal no curto prazo pessoal no curto prazo
receitas das atividades devido a questões incompatíveis com as incompatíveis com as receitas das incompatíveis com as receitas
industriais. trabalhistas. receitas das atividades atividades industriais. das atividades industriais.
industriais.
PESSOAL Incapacidade de retenção de Incapacidade de retenção de Possibilidade de implantação Incapacidade de retenção de Possibilidade de implantação de
pessoal em função da ausência pessoal em função da de uma política de RH pessoal em função da ausência de uma política de RH visando o
de recursos financeiros ausência de recursos visando o cenário de médio e recursos financeiros necessários cenário de médio e longo prazo.
necessários para execução de financeiros necessários para longo prazo. para execução de uma política de
uma política de RH adequada. execução de uma política de RH adequada.
RH adequada.
57
PARÂMETRO CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 CENÁRIO 5
SITUAÇÃO ATUAL AJUSTE DAS DESPESAS CENÁRIO 2 + OBRAS DO CENÁRIO 2 + PROJETOS DE CENÁRIO 4 + OBRAS DO PNB
C/PESSOAL PNB OUTROS SETORES + ATIVIDADES
EDUCACIONAIS E DE PD&I
CUSTOS DE Custos de produção superiores Custos de produção Custos de produção ainda Custos de produção superiores às Custos de produção ainda
PRODUÇÃO às receitas de venda de produtos superiores às receitas de superiores às receitas de receitas de venda de produtos e superiores às receitas de venda
e serviços. venda de produtos e venda de produtos e serviços serviços. de produtos e serviços no curto
serviços. no curto prazo (possível prazo (possível melhoria em
melhoria em médio e longo médio e longo prazo).
prazo).
Metodologia de precificação Metodologia de precificação Metodologia de precificação
inadequada dos produtos e inadequada dos produtos e inadequada dos produtos e
serviços, incluindo as serviços, incluindo as previsões serviços, incluindo as previsões
previsões dos investimentos, dos investimentos, não dos investimentos, não
não permitindo margem permitindo margem positiva e permitindo margem positiva e
positiva e compatível com as compatível com as praticadas no compatível com as praticadas no
praticadas no mercado. mercado (especialmente para mercado (especialmente para
novos produtos/serviços). novos produtos/serviços).
DESEMPENHO Capacidade ociosa de cerca de Redução insuficiente da Redução insuficiente da Redução insuficiente da Redução insuficiente da
FABRIL 75%, impossibilitando a capacidade ociosa. capacidade ociosa. capacidade ociosa. capacidade ociosa.
apropriação dos custos fabris.
EQUIPAMENTOS Níveis de investimento Níveis de investimento Demanda por investimentos Níveis de investimento Demanda por investimentos
insuficientes para reposição e insuficientes para reposição elevados para reposição e insuficientes para reposição e elevados para reposição e
modernização do parque e modernização do parque modernização do parque modernização do parque modernização do parque
industrial. industrial. industrial. industrial. industrial.
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PARÂMETRO CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 CENÁRIO 5
SITUAÇÃO ATUAL AJUSTE DAS DESPESAS CENÁRIO 2 + OBRAS DO CENÁRIO 2 + PROJETOS DE CENÁRIO 4 + OBRAS DO PNB
C/PESSOAL PNB OUTROS SETORES + ATIVIDADES
EDUCACIONAIS E DE PD&I
FINANCEIRO * Índices de liquidez Manutenção da situação Manutenção da situação Manutenção da situação Manutenção da situação
insatisfatórios; financeira do Cenário 1 no financeira do Cenário 1 no financeira do Cenário 1 no curto financeira do Cenário 1 no curto
Elevado grau de endividamento; curto prazo (perspectivas de curto prazo (perspectivas de prazo (perspectivas de melhoria prazo (perspectivas de melhoria
Prejuízos acumulados e redução melhoria limitada no médio melhoria no médio e no no médio e no longo prazo). no médio e no longo prazo).
do patrimônio líquido. e no longo prazo). longo prazo).
CONCLUSÃO • Manutenção ou aumento da • Redução insuficiente da • Manutenção da • Manutenção da dependência • Manutenção da dependência
dependência financeira; dependência financeira; dependência financeira no financeira no curto, médio e financeira no curto prazo com
curto prazo com longo prazos. As atividades de perspectivas de redução a
• Manutenção do domínio da • Manutenção do domínio perspectivas de redução a pesquisa e educacionais para o médio e longo prazo. As
tecnologia de fabricação de da tecnologia de médio e longo prazo; público externo podem atividades de pesquisa e
componentes e equipamentos fabricação de aumentar o impacto social da educacionais para o público
pesados nucleares; componentes e • Manutenção do domínio empresa, justificando externo podem aumentar o
equipamentos pesados da tecnologia de fabricação parcialmente a dependência impacto social da empresa,
• Manutenção da capacidade de nucleares; de componentes e financeira; justificando parcialmente a
produção de equipamentos e equipamentos pesados dependência financeira;
componentes pesados para o • Manutenção da nucleares; • Manutenção do domínio da
setor de defesa nacional. capacidade de produção tecnologia de fabricação de • Manutenção do domínio da
de equipamentos e • Manutenção da componentes e equipamentos tecnologia de fabricação de
componentes pesados capacidade de produção pesados nucleares; componentes e equipamentos
para o setor de defesa de equipamentos e pesados nucleares;
nacional. componentes pesados • Manutenção da capacidade de
para o setor de defesa produção de equipamentos e • Manutenção da capacidade de
nacional. componentes pesados para o produção de equipamentos e
setor de defesa nacional. componentes pesados para o
setor de defesa nacional.
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ANEXOS
I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA EQUIPE
DE AUDITORIA
MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA
Na página 26, subitem 2.11., que trata do nível de dependência da empresa estatal em
relação a aportes, receitas e funding governamentais, restou consignado, no quarto
parágrafo, que entre 2003 e 2018, as despesas administrativas cresceram 1158%, em razão
do acréscimo da mão-de-obra contratada pela NUCLEP para execução das atividades meio.
Neste ponto, esclarecemos que tal acréscimo se deu em decorrência das restrições
legislativas à época, acerca do instituto da terceirização. Neste contexto, viu-se a NUCLEP
compelida a celebrar um acordo nos autos da Ação Civil Pública nº 0192600-
30.2007.5.01.0461, movida pelo Ministério Público do Trabalho, comprometendo-se, assim,
a substituir gradativamente os seus trabalhadores terceirizados por trabalhadores
concursados, fato que ensejou o identificado crescimento de despesas. Hoje, com a vigência
do Decreto nº 9.508/2018, a NUCLEP possui autorização legal para terceirizar suas
atividades, em decorrência do incremento temporário do volume de seus serviços.
Na página 27, subitem 2.12., que trata do nível de maturidade da metodologia de precificação
dos produtos/serviços existentes na NUCLEP, sugerimos incluir, no segundo parágrafo, o
período de construção dos cascos das plataformas P-51 e P-56, portanto, deixar consignado
que foram construídos no período de 2004 a 2008. Ainda, esclareceremos que desde janeiro
de 2017, a atual gestão vem procurando mitigar todos os processos de modo que os valores
cobrados reproduzam efetivamente os gastos envolvidos. Da mesma forma, novos modelos
de apropriação de custos foram implantados para dar suporte a uma precificação efetiva,
como recentemente ocorreu no contrato com a ThyssenKrupp, firmado em Agosto/2019.
Na página 39, subitem 4.4., que trata do nível e o perfil de endividamento da empresa estatal,
constou erro material no que tange ao prazo de liquidação da dívida com o Nucleos. No
lugar de outubro/2019, deveria ter constado outubro/2039. Relativamente à dívida com a
INB, que deveria ter sido liquidada até 31/12/1998, esclarecemos que a questão está sendo
analisada pela CONJUR/MME – Ministério Supervisor de ambas as empresas, em razão da
divergência de entendimentos acerca de exigibilidade de tal dívida, pois a NUCLEP entende
que ocorreu a prescrição, porém a INB assim não reconhece.
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Ainda na página 39, subitem 4.5., que trata dos principais ativos e unidades geradores de
caixa da empresa estatal, entendemos que além do seu Parque Fabril, a NUCLEP conta um
Terminal de Uso Privado – TUP que também pode ser considerado como uma fonte geradora
de caixa. O TUP da NUCLEP, atualmente em processo de manutenção preventiva e corretiva
(recuperação estrutural) possibilitará agregar dentro em breve um expressivo faturamento
como também creditará um diferencial a NUCLEP ao ter o modal marítimo na sua plenitude,
importante para a retirada de grandes estruturas que não poderiam ser deslocadas por vias
rodoviárias ou terrestres.
Na página 40, subitem 5.1., que trata do perfil da força de trabalho da empresa estatal, no
terceiro parágrafo, os números devem ser retificados para constar que: As adesões ao plano
foram iniciadas em 02/05/2018, 174 empregados se inscreveram, 131 se desligaram até
31/08/2019, 4 estão com desligamento previsto até dezembro/2019 e 39 estão aguardando
a carta de concessão da aposentadoria pelo INSS. Da mesma forma, necessita de retificação
os números do “Quadro Resumo de gastos com pessoal”, na forma abaixo:
ANO NUCLEP
2012 R$ 109.417.429,69
2013 R$ 130.394.327,21
2014 R$140.210.815,06
2015 R$ 179.082.234,36
2016 R$ 205.740.015,27
2017 R$ 215.138.772,79
2018 R$ 221.785.494,03
2019 (até agosto) R$ 126.455.232,55
TOTAL R$ 1.328.224.320,96
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QUANTIDADE
OCUPADO
DENOMINAÇÃO / NÍVEL
COM VÍNCULO SEM VÍNCULO
SUBTOTAL
EMPREGATÍCIO EMPREGATÍCIO
Assessor 3 - 3
Assessor da Diretoria Executiva 6 - 6
Assistente 21 - 21
Consultor 1 - 1
Gerente 30 - 30
Gerente Geral 16 - 16
Secretária da Diretoria 3 - 3
Secretária da Presidência 2 - 2
Auditor Geral* - 1 1
Comitê de Auditoria - 3 3
Conselheiro de Administração** 1 4 5
Conselheiro Fiscal - 3 3
Diretor - 3 3
Presidente - 1 1
TOTAL 83 15 98
Na página 43, subitem 5.1., tópico Plano de Previdência Privada, consideramos salutar
acrescer que recentemente, em cumprimento a Resolução CGPAR 25, foi aprovado, no
âmbito do Conselho Deliberativo do Nucleos, o fechamento do Plano de Benefício Definido
(BD) e consequente criação do Plano de Contribuição Definida (CD), aguardando, apenas, a
aprovação no âmbito das patrocinadoras, do Ministério Supervisor e da SEST, conforme
determinada a Portaria DEST nº 27/2012. Com o fechamento do BD e a criação do CD, haverá
mitigação de riscos futuros de custos não previstos.
Na página 47, subitem 7.1., que trata das melhores práticas de governança corporativa,
esclarecemos que a NUCLEP tem realizado esforços constantes no que tange Governança
Corporativa, como:
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• o Comitê de Integridade, Governança, Riscos e Controle foi criado de modo a
institucionalizar estruturas adequadas de integridade, governança, gestão de
riscos e controles internos, dentre outras atribuições;
• a Gerência de Gestão de Riscos e Conformidade foi estruturada em novembro
de 2018 e estruturou o Gerenciamento de Riscos da Empresa utilizando o
framework COSO e a ISO 31000:2018, emitindo um Método de Gestão de
Riscos e Manuais de Fluxos de Processos de todos os seus processos de
operação de Gerenciamento de Riscos; e
• em parceria com a Auditoria Interna, a Gerência de Gestão de Riscos e
Conformidade estruturou a segregação de funções de Análise de Riscos do
próprio setor e Controles Internos de forma integrada, de modo que a Gestão
da Conformidade e operações do setor sejam realizadas de forma
interdependente.
Na página 51, que trata do Quadro – Riscos Associados ao Controle da NUCLEP pela União,
como desconhecemos as premissas que fundamentaram os cenários criados, não temos
muito o que agregar, entretanto, causa estranheza que ainda no melhor cenário (5), o mesmo
não é favorável à Companhia, mesmo diante das perspectivas alvissareiras, como a
implementação/execução das ações provenientes do Plano de Negócios no que tange a
entrada de novos mercados.” (grifos do autor).
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