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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO

NUCLEBRÁS EQUIPAMENTOS PESADOS S/A


Exercício 2019

24 de outubro de 2019
Controladoria-Geral da União - CGU
Secretaria Federal de Controle Interno

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
Órgão: MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA
Unidade Examinada: NUCLEBRÁS EQUIPAMENTOS PESADOS S/A
Município/UF: Rio de Janeiro/Rio de Janeiro
Ordem de Serviço: 201902354
Missão
Promover o aperfeiçoamento e a transparência da Gestão Pública, a prevenção
e o combate à corrupção, com participação social, por meio da avaliação e
controle das políticas públicas e da qualidade do gasto.

Auditoria Interna Governamental


Atividade independente e objetiva de avaliação e de consultoria, desenhada
para adicionar valor e melhorar as operações de uma organização; deve buscar
auxiliar as organizações públicas a realizarem seus objetivos, a partir da
aplicação de uma abordagem sistemática e disciplinada para avaliar e melhorar
a eficácia dos processos de governança, de gerenciamento de riscos e de
controles internos.
POR QUE A CGU REALIZOU ESSE
QUAL FOI O TRABALHO?
TRABALHO O presente trabalho, realizado por demanda da
REALIZADO Secretaria Especial de Desestatização,
Desinvestimento e Mercados do Ministério da
PELA CGU? Economia, tem o objetivo de apresentar, à citada
Secretaria e aos demais atores responsáveis pela
O trabalho teve como escopo função de propriedade estatal, subsídios capazes
o levantamento de de qualificar eventuais discussões sobre a revisão
informações contábeis, da participação do Estado brasileiro na NUCLEP.
econômicas e operacionais QUAIS AS CONCLUSÕES
sobre a empresa estatal
Nuclebrás Equipamentos ALCANÇADAS PELA CGU?
Pesados S.A. (NUCLEP), com Como resultado das análises efetuadas sobre a
foco nas finalidades da atuação da NUCLEP, mormente, no âmbito do
Empresa, sobretudo, para a Programa Nuclear Brasileiro, referente à produção
produção e fornecimento de de equipamentos e componentes pesados para
equipamentos e usinas termonucleares, bem como nos projetos do
componentes pesados para setor de Defesa Nacional da Marinha do Brasil,
os sistemas nucleares de identificaram-se riscos associados aos possíveis
geração de vapor de usinas cenários de desestatização ou manutenção da
termonucleares, bem como propriedade estatal.
para a estratégia de Defesa Entende-se que as decisões acerca do futuro da
Nacional, especificamente, NUCLEP devam ser tomadas considerando a
em relação aos projetos da participação da energia nuclear na matriz
Marinha do Brasil. energética nacional, segundo os critérios definidos
no Plano Nacional de Energia 2050, e a
Nesse contexto, foram manutenção da capacidade de fabricação de
realizadas análises técnicas, a componentes e equipamentos pesados nucleares
partir das informações que garantam ao País o domínio da tecnologia
fornecidas pela NUCLEP e de nuclear, inclusive da geração de energia.
outras fontes de informação
Ademais, caso o Governo Federal decida pela
disponíveis, com o propósito
participação da NUCLEP e da indústria de bens de
de responder às questões de
capital brasileira em empreendimentos
auditoria apresentadas no
termonucleares futuros e em Angra 3, é
presente relatório.
importante que os estudos em andamento
avaliem os impactos dos modelos jurídicos e
Tendo em vista a extensão
operacionais dos novos empreendimentos na
deste trabalho, este
cadeia produtiva nuclear brasileira.
documento consiste em uma
síntese das principais Deve-se considerar também a importância da
informações e análises empresa no desenvolvimento de projetos
efetuadas, as quais se estratégicos de Defesa, tais como a fabricação de
encontram disponíveis no cascos resistentes de submarinos convencionais e
Apêndice deste relatório. de propulsão nuclear e de equipamentos para o
reator do submarino nuclear, e no fomento da
base industrial de defesa (BID).
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AACE Association for the Advancement of Cost Engineering


ABDIB Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base
BID Base Industrial de Defesa
CBTN Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear
CFNA Custos Fabris não Apropriados
CGU Controladoria-Geral da União
CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear
CNPE Conselho Nacional de Política Energética
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
CPV Custos dos Produtos e Serviços Vendidos
CTMSP Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo
EED Empresa Estratégica de Defesa
END Estratégia Nacional de Defesa
GT Grupo de Trabalho
ICN Itaguaí Construções Navais
INB Indústrias Nucleares do Brasil S. A.
LABGENE Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica
MB Marinha do Brasil
MCTIC Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
MME Ministério das Minas e Energia
NUCLEP Nuclebrás Equipamentos Pesados S. A.
PNB Programa Nuclear Brasileiro
PPI Programa de Parcerias e Investimentos
PROSUB Programa de Desenvolvimento de Submarinos
ROE Return on Equity (Retorno sobre o Patrimônio Líquido)
ROI Return on Investment (Retorno sobre o Investimento)
SEDDM Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados
SIN Sistema Interligado Nacional
SN-BR Submarino de Propulsão Nuclear
SNGV Sistema Nuclear de Geração de Vapor
TCU Tribunal de Contas da União
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Cadeia Produtiva do Setor Nuclear Brasileiro – elo de usinas nucleares. ....... 14
Figura 2: Esquema de funcionamento dos circuitos do reator PWR ............................. 16
Figura 3: Detalhamento de custos para um Westinghouse AP1000. ............................. 17
Figura 4: Nível de dependência da NUCLEP baseado na Receita Líquida Total. ............ 37
Figura 5: Análise de Estrutura da Receita Própria versus o Custo dos Produtos Vendidos
e do Resultado Bruto versus as Despesas Operacionais. ............................................... 38
Figura 6: Evolução do Resultado Líquido (R$ Milhares) ................................................. 39
Figura 7: Evolução dos Ativos Totais (R$ Milhares)........................................................ 40
Figura 8: Análise de Estrutura do Passivo Exigível e do Patrimônio Líquido (%). .......... 40
Figura 9: Indicadores de Rentabilidade – ROI e Patrimônio Líquido.............................. 41
Figura 10: Indicadores de Rentabilidade – Giro do Ativo e Margem Líquida ................ 41
Figura 11: Índices de Endividamento ............................................................................. 42
Figura 12: Índices de Liquidez......................................................................................... 43
Figura 13: Gastos e quantitativo de pessoal ativo. ........................................................ 45
Figura 14: Quantidade de Servidores Lotados nas Áreas Meio e Fim ............................ 47

LISTA DE QUADROS E TABELAS


Quadro 1: Previsão de Faturamento Total ..................................................................... 13
Quadro 2: Agentes envolvidos nas usinas de Angra ...................................................... 16
Quadro 3: Quantidade de certificações emitidas pela ASME selo"N" ........................... 21
Tabela 4: Dependência dos Aportes (R$ milhares) ........................................................ 38
Tabela 5: Receita Própria, Custo dos Produtos Vendidos, Resultado Bruto e Despesas
Operacionais (R$ milhares). ........................................................................................... 39
Quadro 6: Ativo Imobilizado da NUCLEP em 2018. ........................................................ 44
Quadro 7: Funções de Gerência e Direção ..................................................................... 46
Quadro 8: Resumo do perfil profissional segundo a RAIS 2018. .................................... 47
Quadro 9: Principais ocupações da Nuclep em 2018. .................................................... 48
Quadro 10: Produção de Energia Nuclear em 2017 ....................................................... 50
Quadro 11: Riscos associados à alienação total, parcial ou liquidação da Nuclep ........ 55
Quadro 12: Riscos associados ao controle da Nuclep pela União ................................. 57
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

RESULTADOS DOS EXAMES 9

1. ANÁLISE CRÍTICA DO HISTÓRICO E DA ATUAL SITUAÇÃO DA EMPRESA ESTATAL 9

1.1. Qual a motivação inicial para a criação da empresa estatal? 9

1.2. Ao longo do tempo, a finalidade da empresa estatal foi alterada? 11

2. INSERÇÃO DA EMPRESA ESTATAL NO MERCADO E RAZÕES PARA PROPRIEDADE ESTATAL 14

2.1. Em qual tipo de mercado a empresa estatal atua e como ela está posicionada em termos
de participação? 14

2.2. Quais são os principais concorrentes da empresa estatal? 19

2.3. A empresa estatal opera no mesmo nível de maturidade tecnológica de seus


concorrentes? 22

2.4. Existem entidades estatais que realizam atividades (entregam produtos ou serviços)
similares às que atualmente são realizadas pela empresa estatal? 24

2.5. Há algum ente estatal com capacidade para absorver, parcial ou totalmente, as atividades
realizadas pela empresa estatal? 25

2.6. Quais são os principais clientes da empresa estatal? 25

2.7. Quais são os principais fornecedores (privados e governamentais) da empresa? 26

2.8. A empresa estatal entrega algum produto ou presta algum serviço cuja sensibilidade
indique não ser possível sua transferência para a iniciativa privada, na opinião de clientes
governamentais? 26

2.9. As atividades realizadas (produtos entregues e serviços prestados) pela empresa estatal,
necessariamente, precisam ser prestadas pelo Estado? 28

2.10. Qual o nível de maturidade da metodologia de precificação dos produtos/serviços


existentes na NUCLEP? 29

2.11. Quais são os impactos do modelo jurídico e operacional para retomada das obras de
Angra 3 sobre a participação da NUCLEP em futuros empreendimentos termonucleares? 31

3. MARCO LEGAL 34

3.1. A legislação conferiu à empresa estatal algum tipo de privilégio mercadológico


(monopólio, monopsônio, etc.)? 34
3.2. As atividades realizadas pela empresa estatal são reguladas/fiscalizadas por algum ente
estatal? 34

3.3. Os indicadores – caso existentes – apontam que a empresa estatal vem cumprindo sua
finalidade e executando adequadamente as políticas públicas que estão sob sua
responsabilidade? 34

4. DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO 36

4.1. Qual o nível de dependência da empresa estatal em relação a aportes, receitas e funding
governamentais? 36

4.2. Qual é o retorno sobre o patrimônio líquido da empresa estatal? 40

4.3. Qual é o nível e o perfil de endividamento da empresa estatal? 42

4.4. Quais os principais ativos e unidades geradores de caixa da empresa estatal? 43

5. FORÇA DE TRABALHO 45

5.1. Qual o perfil da força de trabalho da empresa estatal? 45

6. COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES 50

6.1. Modelo societário adotado pelos principais países geradores de energia nuclear. 50

7. GOVERNANÇA CORPORATIVA 52

7.1. A empresa adota as melhores práticas de governança corporativa? 52

7.2. A empresa adota sistema integrado de controle interno e gerenciamento de riscos? 53

CONCLUSÃO 54

ANEXOS 60

I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA 60


INTRODUÇÃO
Trata-se de levantamento de informações realizado na Nuclebrás Equipamentos Pesados S. A.
- NUCLEP, com o intuito de apresentar, à Secretaria Especial de Desestatização,
Desinvestimento e Mercados (SEDDM) do Ministério da Economia e aos demais atores
responsáveis, subsídios capazes de qualificar eventuais discussões sobre a participação do
Estado brasileiro na NUCLEP.1

Inicialmente, importa remontar a julho de 2000, período em que o TCU realizou uma Auditoria
Operacional, de natureza semelhante aos trabalhos aqui propostos, visando verificar a
compatibilidade da estrutura administrativo-operacional da NUCLEP em relação ao Programa
Nuclear Brasileiro (PNB).

Naquela época, a NUCLEP já se encontrava, assim como hoje, em delicada situação


econômico-financeira e os seus resultados operacionais implicavam em excessiva
dependência de recursos do orçamento da União para sua manutenção e operação.

Em que pese o lapso entre a data da referida Auditoria Operacional realizada pelo TCU e os
dias atuais, identificou-se que a NUCLEP apresenta as mesmas dificuldades previamente
relatadas na auditoria realizada pela corte de contas, a saber:

✓ Índices de liquidez insatisfatórios;


✓ Elevado grau de endividamento;
✓ Custos de produção superiores às receitas de venda de produtos e serviços;
✓ Baixos índices de investimento, com risco iminente de perda da capacitação industrial
e tecnológica;
✓ Prejuízos acumulados e redução do patrimônio líquido;

O presente Relatório tem por objetivo apresentar os resultados dos exames procedidos junto
à NUCLEP, com o intuito de avaliar o seu desempenho fabril, bem como os papéis da empresa
estatal no âmbito do Programa Nuclear Brasileiro e no mercado privado.

As informações constantes deste trabalho foram obtidas por meio de expedientes


encaminhados à Unidade e à Marinha do Brasil, reuniões com esses órgãos, bem como a partir
de fontes de informações consultadas e relacionadas à NUCLEP ou ao Programa Nuclear
Brasileiro. Foram enviados, ainda, Ofícios ao Ministério das Minas e Energia e à
ELETRONUCLEAR, apresentando questionamentos acerca de assuntos referentes à NUCLEP.

Tendo em vista a extensão do presente trabalho, este documento consistirá em uma síntese
das principais informações e análises concernentes às questões de auditoria propostas, cujo
conteúdo completo encontra-se disponível no Apêndice deste Relatório. Ao final, serão
apresentados possíveis cenários relacionados à NUCLEP, evidenciando os riscos considerados.

1
Conforme demanda apresentada pela SEDDM à CGU, em reunião realizada em 22.04.2019.
7
Responsabilidade da Auditoria
Ressaltamos que o presente trabalho não tem o condão de direcionar a tomada de decisão
sobre propriedade estatal e estratégias de desestatização, que competem aos gestores
(Ministério de Minas e Energia, Ministério da Economia, PPI e Presidência da República) e ao
Congresso Nacional, naquilo que lhe cabe.

Ainda, destacamos que, conforme as normas que regem a gestão de riscos da Administração
Pública Federal2, é responsabilidade da alta administração o estabelecimento de estrutura de
gerenciamento de riscos, incluindo a identificação, a mensuração, o tratamento, o
monitoramento e a análise crítica de riscos que possam impactar a implementação da
estratégia e a consecução dos objetivos da organização no cumprimento da sua missão
institucional. Assim, destacamos que:

• A intenção do trabalho é dar transparência a riscos reputados pela auditoria como


relevantes, que precisam ser endereçados durante as discussões sobre os cenários que
refletem as possíveis estratégias de revisão da propriedade estatal para a Nuclep.
• O levantamento não exime as partes envolvidas, supracitadas, de realizar a
identificação e o gerenciamento de riscos não descritos pela CGU.
• Os riscos foram apontados pela CGU de forma descritiva, conforme listados no tópico
Conclusão deste documento. Assim, a valoração dos riscos, nos diferentes cenários,
deve ser realizada pelas partes supracitadas, para que sejam definidas estratégias
explícitas para mitigação ou aceitação dos riscos.

Além disso, não constituiu escopo do presente trabalho a avaliação do valor econômico da
empresa estatal ou de seus ativos.

Importante destacar, finalmente, que o presente levantamento, a despeito de sua amplitude,


não tem caráter exaustivo e, a depender da demanda dos órgãos responsáveis pela tomada
de decisão, pode ser aprofundado.

2
Em particular, Decreto nº 9.203, de 22 de novembro de 2017 e Instrução Normativa Conjunta nº 1, de 10 de
maio de 2016 (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e Controladoria-Geral da União), que dispõe
sobre controles internos, gestão de riscos e governança no âmbito do Poder Executivo federal.
8
RESULTADOS DOS EXAMES
1. ANÁLISE CRÍTICA DO HISTÓRICO E DA ATUAL SITUAÇÃO DA
EMPRESA ESTATAL

1.1. Qual a motivação inicial para a criação da empresa estatal?


Para uma melhor compreensão das atividades industriais desenvolvidas pela NUCLEP desde a
sua criação, apresenta-se aqui um breve histórico do setor nuclear brasileiro, trazendo à luz
as diretrizes estabelecidas no Protocolo de Brasília, em 1974, fruto de negociações com o
Governo da República Federal da Alemanha Ocidental, à época, que visavam proporcionar ao
Brasil conhecimentos no aproveitamento nuclear e que formaram o alicerce para a
celebração, em 1975, do Acordo de Cooperação nos Campos dos Usos Pacíficos de Energia
Nuclear entre esses dois governos.

A busca pela tecnologia nuclear remonta à década de 1950, quando, no início, buscou-se a
implantação de um programa nuclear de desenvolvimento autônomo. Em 1955, o setor
nuclear alterou sua política de desenvolvimento, tendo optado pela aquisição de
equipamentos junto a outros países sem transferência de tecnologia por meio de contratações
do tipo “Turn-Key”.

Foi dessa maneira que, após a realização de licitação internacional, a usina nucleoelétrica de
Angra I foi contratada junto à empresa Westinghouse, associada às empresas EBE – Empresa
Brasileira de Engenharia (Brasil), Gibbs & Hill (EUA) e Promon (Brasil).

Face à dependência tecnológica e à determinação de fornecimento exclusivo de urânio por


empresas dos EUA, decorrentes do modelo de contratação da usina Angra I, o governo
brasileiro buscou o caminho do desenvolvimento da tecnologia nuclear a partir de acordos de
cooperação internacionais que visaram reduzir o tempo de aquisição dos conhecimentos
técnicos por meio de transferência de tecnologia.

Nesse sentido, em 1971 foi criada a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN), com
a finalidade de realizar pesquisas em jazidas de minérios nucleares, desenvolver tecnologia
nuclear para o tratamento de minérios e produção de combustível, além de instalar uma usina
de enriquecimento de urânio e componentes para reatores.

Os estudos de viabilidade econômica conduzidos pela CBTN recomendaram a adoção de uma


estratégia distinta daquela implementada para a construção da usina de Angra I, em especial:

✓ A transferência de tecnologia com participação da engenharia e indústria nacionais;


✓ Implantação gradativa das indústrias do ciclo do combustível;
✓ Escolha de tecnologia adequada aos interesses nacionais a médio e longo prazos;
✓ Padronização tecnológica de 4 usinas nucleares a serem construídas;
✓ Negociação conjunta da importação dos equipamentos para as usinas, em
contrapartida à transferência de tecnologia de reator e do ciclo do combustível,
sobretudo as tecnologias sensíveis (enriquecimento e reprocessamento);
9
✓ Criação de empresas mistas, em parceria com o país fornecedor da tecnologia, para
aperfeiçoar o processo.

Cabe mencionar a assinatura do Protocolo de Brasília de 1974, precursor do Acordo Nuclear


Brasil-República Federal da Alemanha. Nesse protocolo, que representava um programa de
cooperação industrial, foram considerados essenciais para o Brasil os seguintes aspectos:

✓ Indústria de reatores nucleares;


✓ Prospecção e exploração de urânio;
✓ Conversão do concentrado de urânio em gás UF6;
✓ Enriquecimento de urânio;
✓ Fabricação do elemento combustível; e
✓ Reprocessamento do combustível irradiado.

Assim, o governo brasileiro decidiu acelerar o ritmo da indústria nacional do ciclo do


combustível, tendo substituído a CBTN pelas Empresas Nucleares Brasileiras S.A. (Nuclebrás).

A partir de 1974, criou-se um setor produtivo estatal no segmento nuclear controlado pela
NUCLEBRÁS e composto por seis empresas subsidiárias, entre elas a NUCLEP.

Em linhas gerais, o objetivo do Programa Nuclear Brasileiro - PNB era instalar no Brasil um
complexo industrial nuclear voltado para a geração energética, garantindo efetiva
transferência da tecnologia alemã no setor, incluindo o domínio do ciclo do combustível e a
implantação de uma capacidade industrial em componentes pesados e turbogeradores para
a construção de reatores nucleares da linha PWR (de água leve pressurizada).

Do ponto de vista econômico, considerava-se a impossibilidade de criar o PNB ancorado na


importação sob risco de forte pressão na balança comercial brasileira. Ademais, a participação
da indústria nacional seria uma oportunidade para o seu desenvolvimento.

No aspecto técnico e operacional, vislumbrava-se que um programa desse vulto com forte
ênfase no fornecimento externo, tornaria vulnerável a confiabilidade operacional das usinas
nucleares, uma vez que problemas técnicos de manutenção de equipamentos demandariam
a vinda de técnico do exterior ou do fornecimento externo de materiais e equipamentos.

O caminho escolhido pelo Brasil para concretização dos objetivos do PNB, por meio do Acordo
de Cooperação nos Usos Pacíficos da Energia Nuclear, celebrado em Bonn, em 1975, previa
além da transferência de tecnologia e da capacidade de fabricação de reatores, a identificação
das reservas de urânio. Além disso, previa a construção, até 1990, de oito usinas
nucleoelétricas, além da usina Angra I.

Em virtude do referido Acordo de Cooperação, a NUCLEP foi criada, em 16.12.1975, com o


objetivo de projetar, desenvolver, fabricar e comercializar componentes pesados
relativos para as usinas nucleares previstos no PNB.

A NUCLEP, dimensionada para produzir componentes pesados para uma usina nuclear por
ano, foi inaugurada em 08.05.1980, representando um investimento para o país de US$ 256
milhões (valor na data base do ano de 1981).

10
O Decreto nº 76.805/1975, que autorizou a criação da NUCLEP, previu que a sua estrutura
acionária poderia ser alterada garantindo, no mínimo, 1/3 do capital com direito a voto para
a NUCLEBRÁS, até 1/3 para o consórcio de empresas indicadas pelo Governo da República
Federal da Alemanha e até 1/3 para empresas brasileiras sob o controle acionário de pessoas
físicas ou jurídicas brasileiras, domiciliadas no país.

Apesar dessa previsão legal, o empreendimento não despertou interesse do capital nacional
privado, segundo o Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instituída em 1978
pelo Senado para investigar a concepção e execução do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha.

Conforme salientado, a NUCLEP foi projetada para produzir um conjunto por ano de
equipamentos pesados para usinas nucleares de 1.200 MW com possibilidade de aumentar
sua capacidade para dois conjuntos de 2.000 MW.

Foi previsto que, a partir de 1985, a NUCLEP atingiria sua plena capacidade com a fabricação
simultânea de quatro conjuntos de equipamentos de SNGV (sistema nuclear gerador de
vapor), permitindo ao Brasil atingir os níveis de nacionalização de equipamentos do SNGV.

Cada conjunto de equipamentos pesados do SNGV era composto por 1 vaso de pressão do
reator e a estrutura interna do núcleo, 4 geradores de vapor, 1 pressurizador, 8 acumuladores
de calor.

Nota-se que a viabilidade econômica da NUCLEP se encontrava amparada em receitas


advindas da construção de componentes nucleares. Consequentemente, com a
descontinuidade do PNB, a empresa foi fortemente impactada.

1.2. Ao longo do tempo, a finalidade da empresa estatal foi alterada?


A NUCLEP tinha como propósito construir os componentes pesados das usinas nucleoelétricas
de Angra 1 e 2, assim como todos os componentes para as futuras plantas. No entanto,
adicionou-se, posteriormente, ao seu objeto social o atendimento aos segmentos de defesa e
de óleo e gás (construção naval e offshore). Além disso, conforme explicitado abaixo, a
empresa ampliou sua atuação em outros segmentos, como o de construção de torres
metálicas para linhas de transmissão de energia elétrica e construção de equipamentos
utilizados no setor de mineração.

O Relatório de Auditoria Operacional do TCU - aprovado pela Decisão nº 805/2001 – Plenário-


destaca que a descontinuidade do PNB e a suspensão da construção das oito usinas previstas
impactaram negativamente o fluxo de caixa da NUCLEP, que deixou de faturar cerca de US$
950 milhões em seus primeiros 15 anos de operação.

A manutenção do parque fabril da NUCLEP e de seus equipamentos tornou-se crítica com a


desaceleração do Programa Nuclear Brasileiro, levando à suspensão de encomendas de
equipamentos nucleares e, consequentemente, à frustração de receitas.

11
A estatal ampliou sua atuação ao fabricar, no âmbito do Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (PROSUB), os cascos resistentes para quatro submarinos da classe IKL e para os
quatro submarinos convencionais da classe Scorpene. Ainda no contexto deste programa,
participará da fabricação do casco resistente do primeiro submarino de propulsão nuclear (SN-
BR), a ser construído no Brasil.

Já com relação ao Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE), que é o


protótipo, em terra, da planta nuclear do futuro submarino nuclear, a NUCLEP contribuiu, e
vem contribuindo, com a fabricação dos acumuladores, tanques de inundação, e trocadores
de calor para o seu sistema de resfriamento em emergência.

No setor de óleo e gás, não obstante a participação na construção dos cascos das plataformas
semissubmersíveis P-51 e P-56, a NUCLEP, na presente era do pré-sal, tem atuado de forma
menos expressiva, face a concorrência local no estado do Rio de Janeiro dos estaleiros Mauá
– CNPJ 02.926.485/0001-74 (Niterói), Brasa – CNPJ 14.983.032/0001-69 (Rio de Janeiro) e
Brasfels – CNPJ 03.669.753/0001-82 (Angra dos Reis), que formaram nos últimos anos
parcerias com as empresas vencedoras das licitações (contratos de afretamento) realizadas
pela Petrobras para suprir sua necessidade de plataformas de águas profundas do tipo FPSO.

Com relação à perspectiva de projetos futuros, a empresa informou ao Ministério de Minas e


Energia (MME), por meio do Ofício P-74/2019, de 12.06.2019, o interesse em participar dos
projetos em desenvolvimento pela Marinha do Brasil (MB), destacando-se "a construção do
Núcleo do Poder Naval, composto por programas de modernização como o de
desenvolvimento de submarinos convencionais e de propulsão nuclear – PROSUB”.

Ademais, declarou que a empresa tem interesse no projeto do “Reator Multipropósito


Brasileiro – RMB, que dará ao Brasil autossuficiência na produção de radioisótopos usados na
fabricação de radiofármacos para diagnóstico e tratamento de doenças, como o câncer.”

A Empresa conta também com o fornecimento de condensadores para a Usina de Angra 3.

Por relevante, a empresa informou que atualmente decidiu entrar no mercado de construção
de torres de transmissão de energia elétrica, em parceria com outra empresa. Esclareceu,
ainda, que está em fase de negociação de um contrato de valor significativo para fabricação
de estruturas metálicas para utilização nessas torres.

No setor de mineração, em 12.07.2019 a NUCLEP assinou contrato para construção de uma


máquina “Stacker/Reclaimer” (empilhadeira/recuperadora) ER1-A, equipamento responsável
pelo despejo e recolhimento do minério em uma pilha de estocagem para embarque em
navio.

Com relação à expectativa de receita futura da Nuclep, decorrentes dos novos contratos
firmados e da previsão de expansão, a empresa apresentou os dados referentes ao período
de 2019 a 2023, em relação a (i) Previsão de Faturamento das Perspectivas de Venda e (ii)
Obras em Carteira, conforme quadro abaixo, cujo detalhamento consta do Apêndice a este
relatório.

12
Quadro 1: Previsão de Faturamento Total
(Perspectivas + Obras em Carteira [Milhares de R$])
Previsão de Faturamento Total 2019 2020 2021 2022 2023
(Perspectivas + Obras em Carteira)
Defesa 9.179 15.297 26.150 52.813 68.032
Nuclear 12.273 15.830 15.023 23.923 22.700
Óleo e Gás 440 9.000 10.000 10.000 10.000
Outros 18.276 104.380 189.000 283.500 378.000
Total 40.168 146.647 241.043 370.237 478.732
Fonte: Ofício P-074/2019, de 12.06.2019 – NUCLEP

Cumpre salientar que, nas informações disponibilizadas pela NUCLEP acerca de suas previsões
de faturamento, não constava o montante de recursos que a Empresa necessitará aportar em
razão de investimentos em infraestrutura/maquinário, capacitação de seus empregados, bem
como outras despesas necessárias para suportar a execução dos contratos a serem
celebrados.

13
2. INSERÇÃO DA EMPRESA ESTATAL NO MERCADO E RAZÕES PARA
PROPRIEDADE ESTATAL

2.1. Em qual tipo de mercado a empresa estatal atua e como ela está
posicionada em termos de participação?
A NUCLEP foi criada e dimensionada para construir os componentes pesados do sistema
nuclear de geração de vapor (SNGV ou NSSS, sigla em inglês para nuclear steam supply system)
das oito usinas previstas no PNB.

Como pode se observar na Figura 1, um empreendimento termonuclear demanda a


participação de uma gama de empresas segundo a sua especialização para execução das
atividades previstas nas etapas de pré-construção, construção, operação e
descomissionamento.

Figura 1: Cadeia Produtiva do Setor Nuclear Brasileiro – elo de usinas nucleares

Fonte: Estudo da Cadeia de Suprimento do Programa Nuclear Brasileiro – Relatório Parcial elaborado pela CNEN
em novembro de 2010

Os principais participantes no processo de implantação e operação de uma central nuclear


são3:
✓ Proprietário - empresa de serviços públicos que está comprando a usina nuclear. Em
geral, o Proprietário se confunde com o Operador, como no caso da Eletronuclear.
Entretanto, existem modelos modernos em que esses dois atores são distintos.
✓ Arquiteto – Projetista (Architect – Engineer – A&E) - empresa responsável pelo projeto
da usina na sua totalidade. O A&E pode ou não ajudar o Proprietário na seleção de
uma determinada tecnologia nuclear. Uma vez que o SNGV e outros detalhes foram

3 Informações adaptadas do artigo “Agentes Envolvidos na Construção de uma Usina Nuclear”, publicado no

endereço http://www.defesanet.com.br/nuclear/noticia/28694/Leonam-Guimaraes-%E2%80%93-Agentes-
Envolvidos-na-Construcao-de-uma-Usina-Nuclear/, consulta em 22.10.2019.
14
especificados, o A&E projeta a usina como um todo, por meio de extensa
documentação técnica, com detalhamento das especificações fornecidas tanto pelo
fornecedor do SNGV quanto pelo Proprietário. O A&E precisa analisar, por exemplo,
se um projeto em particular incluiria uma torre de resfriamento, ou seria o caso de
usar diretamente um rio ou mesmo o mar. O trabalho do A&E está também associado,
tipicamente, ao gerenciamento da construção.
✓ Construtor - empresa que constrói ou supervisiona a construção da usina nuclear, de
acordo com a documentação técnica fornecida pelo A&E. Normalmente, contrata
dezenas de empresas para executar os trabalhos de lançamento de concreto,
montagem de tubulações, instalação do cabeamento elétrico e de instrumentação e
controle, etc. Atua com base na paulatina disponibilidade dos componentes
necessários para a instalação.
✓ Fornecedor do SNGV - projeta e fabrica o reator nuclear e os demais componentes do
Sistema Nuclear de Geração de Vapor – SNGV a ele ligados. O SNGV é montado dentro
do edifício de contenção e tem muitas interfaces com o restante da usina, sendo as
mais importantes o vapor que ele envia para acionamento do turbo-gerador e a água
condensada que retorna para o SNGV para ser novamente transformada em vapor.
Por mais importante que seja o SNGV, seu fornecedor não define o projeto geral da
usina, o que é responsabilidade do A&E e do proprietário. Não obstante, ao longo do
tempo houve tendência crescente para padronizar e multiplicar usinas, de modo que
se tornou usual falar sobre um projeto particular em termos do próprio projeto do
reator (exemplo: "Usina Westinghouse").
✓ Fornecedor do Turbo-Gerador - poucos fornecedores no mundo são capazes de
fabricar os turbo-geradores de grande porte associados às usinas nucleares, com
potência superior a 1.000 MW (a lista inclui Alstom, Mitsubishi, Siemens, GE, além de
empresas russas e chinesas). Cada equipamento é feito sob encomenda, sendo
possível combinar diferentes fornecedores de turbo-geradores com fornecedores de
SNGV.
✓ Financiador - instituição de crédito que financia o projeto termonuclear.
✓ Governo - responsável pela política energética global e, em alguns casos, pelo
financiamento.
✓ Mercado - formado por clientes que demandam suprimento de energia elétrica a
preços competitivos.
✓ Autoridades de Segurança - responsáveis pela resolução de todos os assuntos
relacionados com a proteção da segurança pública e do ambiente, desde a fase de
projeto até a operação da planta e de gestão do combustível irradiado.

15
O Quadro 2 apresenta de forma resumida a atuação dos agentes para as usinas de Angra 1,
Angra 2 (duas fases) e a Angra 3 na primeira fase.

Quadro 2: Agentes envolvidos nas usinas de Angra

ANGRA 2 ANGRA 2 ANGRA 3


Agentes ANGRA 1
(INÍCIO) (CONCLUSÃO) (INÍCIO)

Proprietário /
FURNAS FURNAS ETN (Eletronuclear) ETN
Operador

A&E GIBBS & HILL NUCLEN ETN ETN

Construtor FURNAS NUCON ETN ETN

Fornecedor do SNGV WESTINGHOUSE SIEMENS - KWU SIEMENS - KWU AREVA

Fornecedor do TG WESTINGHOUSE SIEMENS SIEMENS SIEMENS

Regulador CNEN CNEN CNEN / IBAMA CNEN / IBAMA


Fonte: adaptado de http://www.defesanet.com.br/nuclear/noticia/28694/Leonam-Guimaraes-%E2%80%93-
Agentes-Envolvidos-na-Construcao-de-uma-Usina-Nuclear/

A NUCLEP é uma empresa fabricante de equipamentos, em especial aqueles do sistema


nuclear de geração de vapor, portanto, a sua atuação ocorre após a definição da tecnologia
(tipo de reator) e da elaboração dos projetos de engenharia da central nuclear e dos
respectivos equipamentos. O esquema da geração de energia de uma usina nucleoelétrica
com reator do tipo PWR é apresentado na Figura 2:

Figura 2: Esquema de funcionamento dos circuitos do reator PWR

Fonte: Eletronuclear
(http://www.eletronuclear.gov.br/Sociedade-e-Meio-Ambiente/Documents/RIMA/03_caracterizacao.html)

16
Segundo o estudo “Cost Estimates and Economics of Nuclear Power Plant New Build:
Literature Survey and Some Modelling Analysis”, os custos diretos de construção dos
equipamentos do reator representam cerca de 25% do custo total da planta nuclear,
excluindo-se os custos com juros durante a construção (overnight cost), conforme ilustra a
Figura 3:

Figura 3: Detalhamento de custos para um Westinghouse AP1000

Fonte: Apresentação “Cost Estimates and Economics of Nuclear Power Plant New Build: Literature Survey and
Some Modelling Analysis”. Disponível em: http://www.usaee.org/usaee2018/submissions/Presentations/2018-
09-24_nuclear_economics_Wealer_Ben_USAEE.pdf, consulta em 23.10.2019.

A participação da indústria nacional no elo de usinas nucleares é estabelecida pelo contratante


levando-se em conta a maturidade da indústria local, as definições estratégicas do país sobre
nacionalização de tecnologia e, consequentemente, a necessidade de transferência de
tecnologia estabelecida para o empreendimento.

Diversas empresas brasileiras participaram das etapas de transferências de tecnologia


previstas no PNB, com o objetivo de incrementar significativamente o nível de nacionalização
na fabricação de componentes eletromecânicos (turbo-gerador, componentes pesados e
equipamentos elétricos), o que incluía a participação da NUCLEP na fabricação de
componentes pesados.

A título de exemplo, para Angra 1, a NUCLEP fabricou geradores de vapor substitutos da


projetista da Westinghouse; para Angra 2, fabricou 8 acumuladores, 3 Condensadores e racks
supercompactos; e para Angra 3, conforme informações disponibilizadas pela própria
Eletronuclear, a estatal foi contratada para fornecer 8 acumuladores, 3 condensadores, além
de suportes especiais e embutidos, projetados pela Empresa Areva.

Cabe destacar que os vasos de pressão dos equipamentos pesados do sistema nuclear de
geração de vapor (SNGV) são fabricados com a utilização de aço forjado. A oferta de peças
forjadas ou ultra-grandes configura uma das restrições à construção de novas usinas
nucleares, em razão da capacidade de produção anual mundial dos principais fornecedores.
17
A NUCLEP executa somente as operações de usinagem mecânica e soldagem, a partir de
forjados importados. Contudo, a NUCLEP detém expertise e equipamentos em suas
instalações industriais para a fabricação de estruturas de vaso de pressão e outras estruturas
resistentes pesadas de até 300 mm de espessura com a utilização de calandras.

É oportuno destacar também, conforme mencionado no Relatório da CPI já mencionado, que


durante o processo de formação do polo industrial estatal para fabricação de componentes
pesados no segmento nuclear, a NUCLEP foi vista como uma ameaça a outros setores de
produção de bens de capital brasileiros dado o seu porte e capacidade de produção.

Por outro lado, segundo o Relatório da CPI, nenhuma das 34 empresas selecionadas em
estudo da CBTN/Bechtel e tidas como capacitadas para fornecerem equipamentos nucleares
se interessou em participar no empreendimento estatal, sob o argumento de que os estudos
de viabilidade demonstravam que o retorno do capital era impraticável face aos investimentos
previstos. Os industriais da mecânica pesada nacional entendiam que o “break-even point”
(ponto de equilíbrio) se daria somente quando houvesse a necessidade de produção de quatro
conjuntos completos por ano, ou se a empresa entrasse no mercado internacional altamente
competitivo onde 25 das 30 empresas americanas haviam encerrados suas atividades.

Para fins de sustentabilidade econômico-financeira, em decorrência da desaceleração do PNB,


a NUCLEP, a partir de 1984, buscou novos mercados e passou a fabricar componentes e
equipamentos para os setores de defesa, óleo e gás, além do nuclear.

Com relação aos principais compradores da Nuclep, atualmente no segmento nuclear, o grupo
dos principais compradores de componentes e equipamentos é composto pela Eletronuclear,
Marinha do Brasil, INB e CNEN, sendo a NUCLEP a única fabricante nacional.

Destarte, tem-se no modelo atual no setor nuclear, em especial o de componentes pesados


do sistema SNGV, a formação conjunta de um monopsônio (único comprador) exercido pela
União (Eletronuclear) e um monopólio natural no âmbito nacional por parte da NUCLEP
concretizado em decorrência dos investimentos realizados pelo próprio governo federal.

Pode-se atribuir a origem desse monopólio natural a dois aspectos principais: um de natureza
econômica e outro de caráter tecnológico. Do ponto de vista econômico, conforme citado, os
investimentos previstos no PNB para formação da indústria nacional nuclear eram
incompatíveis com o retorno do capital.

Já do ponto de vista tecnológico, destaca-se a necessidade de investimentos vultosos com


treinamento de pessoal, englobando etapas conhecidas como “on-the-job” que acontecem no
próprio local de trabalho, ou seja, nas instalações das indústrias de países detentores da
tecnologia, simulando situações mais próximas daquelas enfrentadas posteriormente nos
processos de fabricação, significativamente mais custosos do que aqueles normalmente
requeridos na indústria de bens de capital.

É possível verificar, ainda, no Relatório da CPI, que era desejável que a fábrica de componentes
pesados no Brasil também produzisse componentes e equipamentos para outras indústrias
(petróleo, química, mineração, aço, papel, etc.), de forma a manter uma carga constante de
trabalho e empregos.
18
Com a relação à aderência a normas internacionais, a NUCLEP é a única empresa brasileira a
possuir a certificação ASME III para a produção e certificação de equipamentos e
componentes nucleares.

Em síntese, pode-se caracterizar a NUCLEP como sendo uma empresa criada para projetar,
desenvolver, fabricar e comercializar componentes pesados relativos a usinas nucleares
previstos no PNB e outros projetos de atendimento às demandas estratégicas do país que teve
seu fluxo de caixa e sua viabilidade econômica fortemente afetados pela descontinuidade do
PNB, fazendo com que a empresa, desde sua criação, buscasse novos mercados, com vistas à
auferir as receitas necessárias para a manutenção das suas atividades fabris.

Em virtude da descontinuidade da PNB, a estatal buscou, a partir de 1984, novos mercados,


em especial, projetos nos setores da defesa e offshore (exploração de petróleo e gás natural
em alto-mar), conforme detalhado nos itens subsequentes do presente relatório.

A participação da NUCLEP em outros setores, como o de construção offshore, em especial o


de plataformas do tipo FPSO, é tímida quando comparada aos principais estaleiros do estado
do Rio de Janeiro. Ressalta-se que atualmente a empresa decidiu por iniciar a atuação nos
segmentos de construção e montagem de torres de transmissão de energia elétrica, bem
como na construção de máquina utilizada no setor de mineração.

2.2. Quais são os principais concorrentes da empresa estatal?


A partir das premissas estabelecidas para o Programa Nuclear Brasileiro (redução da pressão
sobre a balança comercial, desenvolvimento da indústria nacional e aumento da
confiabilidade operacional das usinas nucleares), o governo estabeleceu as diretrizes que
julgou necessárias para que o Brasil atingisse a independência no menor tempo possível, por
meio da transferência de tecnologia de países tecnologicamente desenvolvidos.

Em função das diretrizes estabelecidas, a CBTN elaborou com a Bechtel Overseas Corporation,
que assessorou a empresa Monsor S/A, um estudo pormenorizado no qual avaliou-se a
possibilidade de participação da indústria nacional no fornecimento de materiais e
equipamentos para uma usina nucleoelétrica de 1.000 MW.

Conforme o estudo, elaborado em 1973, a contribuição imediata, naquela época, da indústria


nacional para suprir aproximadamente 1.400 componentes de uma usina nuclear de 1.000
MW era da ordem de 51 a 54% e poderia atingir até 70% caso fossem adotadas as melhorias
propostas. Das 79 fábricas avaliadas, o estudo da empresa Bechtel concluiu que 34 delas
estariam aptas a suprir os componentes e equipamentos requeridos em usinas nucleares de
1.000 MW.

O referido estudo investigou minuciosamente a capacidade de fornecimento da indústria


nacional de hardware nas áreas mecânicas e instrumentação e controle, restando à NUCLEP
a fabricação dos componentes pesados, isto é, os vasos de pressão, acumuladores, geradores
de vapor, pressurizadores e estruturas internas do reator nuclear.

19
Não obstante a confiança da CBTN na cooperação do empresariado privado nacional,
nenhuma das 34 empresas se interessou em participar do empreendimento (fabricação de
componentes pesados), conforme já mencionado.

A participação da indústria nacional, em especial, no fornecimento de componentes e


equipamentos mecânicos para o segmento nuclear foi estabelecida por meio do Protocolo de
Garantia de Mercado para Componentes Mecânicos assinado entre a Nuclebrás e o consórcio
formado pelas empresas Bardella, Confab e Cobrasma, e homologado pelo MME em 1976.

A Nuclebrás (holding do grupo) informou à referida CPI que 47% das encomendas a serem
feitas no mercado nacional, que representavam 34% do valor total dos equipamentos, seriam
supridas pelas empresas líderes da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base
(ABDIB), segundo os seguintes percentuais de rateio: 47% Cobrasma, 36% Confab e 15%
Bardella. Ainda no mesmo Relatório da CPI, pode-se observar que a participação prevista da
indústria nacional, excluindo a NUCLEP, no fornecimento de equipamentos das usinas Angra
II e Angra III correspondia a 57,3% e 55,6%, respectivamente.

Nos dias atuais, após a descontinuidade do PNB e as recentes crises econômicas que ainda
abalam a indústria de base nacional, constata-se que, das três empresas líderes da ABDIB à
época da concepção do desenvolvimento industrial do segmento nuclear (Bardella, Confab e
Cobrasma) somente a empresa Confab continua em operação. Observa-se, ainda, que outras
empresas que integraram a lista de participantes do acordo de cooperação tecnológica, por
exemplo, a empresa Jaraguá (CNPJ 60.395.126/0001-34), também se encontram em
recuperação judicial, demonstrando a fragilidade atual da indústria nacional de bens de
capital.

Com relação ao mercado nacional, em razão de a NUCLEP ser a única empresa brasileira
certificada pela ASME para fabricar equipamentos do sistema nuclear de geração de vapor
(vaso de pressão, geradores, pressurizador e acumuladores), o indicador HHI4 nacional
corresponde a 10.000, representando o nível máximo de concentração na escala do indicador.

Com relação ao mercado mundial de suprimento de equipamentos e componentes pesados


do SNGV, as principais projetistas de reatores (Westinghouse, Areva, Rosatom e etc.), face as
especificidades desse segmento, celebram contratos com diversas empresas da cadeia de
produtiva nuclear, a exemplo dos aços forjados dentre outros, de modo a suprir todos os
grupos de equipamentos da planta (SNGV), convencionais e equipamentos auxiliares
existentes em usinas nucleares.

Invariavelmente, nos contratos mais recentes, os governos dos países, ao decidirem incluir na
sua matriz energética empreendimentos termonucleares, demandam das projetistas um

4
O indicador Herfindahl-Hirschman Index (HHI) histórico é utilizado para medir o nível de concentração de um
determinado setor/indústria da economia. Uma indústria altamente concentrada é aquela em que apenas alguns
poucos participantes detêm uma porcentagem elevada da participação de mercado, levando a uma situação
quase monopolista. Um grau baixo de concentração significa que a indústria está mais próxima de um cenário
de concorrência perfeita, com empresas compartilhando o mercado.

20
percentual mínimo de conteúdo local, que acarreta na inclusão de etapas de transferência de
tecnologia.

Nesse contexto, pode-se concluir que a NUCLEP é a única empresa brasileira credenciada para
fabricar componentes pesados para a indústria nuclear, portanto, os seus principais
concorrentes no setor nuclear são empresas internacionais fabricantes de equipamentos
nucleares detentoras de certificação internacional, como, por exemplo, a ASME III selos “N”.

Em consulta ao site da ASME, identificou-se as empresas que possuem a mesma certificação


ASME III selo “N” (NPT, NS e NA) que a NUCLEP e, portanto, representariam potenciais
concorrentes internacionais, conforme apresentado no Quadro 3. Entretanto, a determinação
do nível de competividade da NUCLEP carece de estudos específicos, tendo em vista que
depende de fatores mercadológicos (preço baixo, arquitetura flexível, logística estratégica de
distribuição, participação no mercado internacional, estratégia global, visão orientada para o
mercado, planejamento estratégico, etc.), relacionados à clientela (satisfação as necessidades
e expectativas de clientes, inclusive quanto a estratégias nacionais, bem como valorização e
fidelização de clientes), relacionados à gestão de recursos humanos (agilidade, inovação,
investimento em P&D, custos baixos, adoção de técnicas gerenciais, adequação a padrões e
certificações de qualidade), bem como concernentes às estratégias de relacionamento
(conhecimento e valorização das relações com concorrentes, valorização da imagem
institucional, cooperação empresarial, valorização do relacionamento com fornecedores).

Quadro 3: Quantidade de certificações emitidas pela ASME selo"N"

Selo “N” Quantidade de Empresas

NPT - Fabricação de componentes nucleares 197

NS - Fabricação de suportes para aplicação nuclear 86

NA - Montagem de equipamentos para aplicações nucleares 76


Fonte: ASME, consulta em 02.07.2019.

No segmento de óleo e gás, não obstante a participação na construção dos cascos das
plataformas semissubmersíveis P-51 e P-56, a NUCLEP, na presente era do pré-sal, tem atuado
de forma menos expressiva, face à concorrência local no estado do Rio de Janeiro dos
estaleiros Mauá (Niterói), Brasa (Rio de Janeiro) e Brasfels (Angra dos Reis), que formaram nos
últimos anos parcerias com as empresas vencedoras das licitações (contratos de afretamento)
realizadas pela Petrobras suprir sua necessidade de plataformas de águas profundas do tipo
FPSO. As empresas SBM Offshore e Modec são as líderes no mercado de construção e
afretamento de FPSO.

Com relação ao setor de defesa, a NUCLEP tem uma parceria de longa data com a Marinha do
Brasil, com destaque para a construção dos quatro cascos resistentes dos submarinos de
propulsão convencional da classe IKL e, recentemente, de mais quatro cascos resistentes para
os submarinos da classe Scorpene. A NUCLEP aguarda ainda os desdobramentos do PROSUB,
para dar início à fabricação do casco do submarino de propulsão nuclear.

21
2.3. A empresa estatal opera no mesmo nível de maturidade
tecnológica de seus concorrentes?
A partir da década de 50, com o advento da aviação e do segmento nuclear, tornou-se
necessário estabelecer, por meio de sistemas de gestão de qualidade, procedimentos a serem
adotados na prevenção, na detecção e na correção de erros de projetos, visando demonstrar
a segurança e a confiabilidade desses setores, sensivelmente mais exigentes.5

A NUCLEP, especializada em caldeiraria de grande porte, implementou desde sua criação um


sistema de garantia e controle de qualidade reconhecido internacionalmente. As
especificidades do processo produtivo da NUCLEP, detalhadas no item 2.3 do Apêndice deste
relatório, o diferenciam substancialmente do processo da indústria metal-mecânica
convencional, envolvendo, por exemplo:

✓ Galpões com vãos de dimensões de até 30m x 23m x 200m (L x A x C) e capacidade de


içamento de até 600 ton (2 pontes de 300 ton);
✓ Expertise reconhecida na soldagem de aço ao carbono, baixa liga e inoxidáveis, com
espessura de até 300 mm, bem como ligas de níquel e titânio;
✓ Bunker para a realização de radiografias sem interrupção dos trabalhos na fábrica;
✓ Laboratório de ensaios mecânicos (tração, compressão, impacto, dobramento, pellini,
fadiga) e metalográficos (micrografia e macrografia);
✓ Laboratório de calibração de instrumentos e equipamentos reconhecido e aceito pela
Sociedade de Engenheiros Mecânicos dos Estados Unidos (ASME, da sigla em inglês),
Eletronuclear e Petrobras;
✓ Sala limpa com ambiente controlado especial para a soldagem de componentes
nucleares e equipamentos especiais. A Sala Limpa da NUCLEP é de classificação:
100.000 partículas 0,5 µm / ft3. Possui 1.117 metros quadrados (45 m x 26 m) com 8
m de altura. Os portões metálicos e tetos retráteis possibilitam a colocação de
equipamentos de grandes dimensões com até 200 ton;
✓ Terminal marítimo.

Conforme previsto no Acordo de Cooperação, a NUCLEP absorveu a tecnologia para fabricação


de reatores do tipo PWR (água leve pressurizada). Em 2017, havia um total de 448 reatores
em operação, sendo o PWR o tipo de reator predominante, conforme o Relatório de
Performance de 2018 da Associação Mundial Nuclear (World Nuclear Association).

Quanto à classificação, os reatores de usinas nucleoelétricas podem ser divididos segundo a


sua geração em: i) primeira (Gen I - primeiros protótipos sem fins comerciais); ii) segunda (Gen
II), terceira (Gen III); iii) terceira + (Gen III+); e iv) quarta (Gen IV).

5
A importância do segmento nuclear para o desenvolvimento e a disseminação dos sistemas de garantia da
qualidade no Brasil e no mundo é relatada na publicação “O Movimento da Qualidade no Brasil”, do Inmetro,
disponível em http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/pdf/Livro_Qualidade.pdf, consulta em 24.10.2019.
22
Em que pese o avanço da tecnologia dos reatores, as restrições e as dificuldades financeiras
enfrentadas nos últimos anos, a NUCLEP obteve as certificações junto a ASME III, o que
possibilita a empresa fabricar componentes para usinas nucleares. As certificações são fruto
da implementação, desde a criação da empresa, de um sistema de garantia da qualidade –
SGQ, dentro dos padrões rigorosos exigidos na indústria nuclear. Ademais, a NUCLEP possui a
certificação conferida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN-NN-1.16 (fabricação
e fornecimento de componentes nucleares), capacitando-a para fornecer equipamentos para
Eletronuclear, INB e CTMSP.

Com relação a projetos de pesquisa e desenvolvimento, a NUCLEP participou efetivamente de


reuniões internacionais do Projeto IRIS – International Reactor Innovative and Secure, que
trata do desenvolvimento de um reator nuclear de quarta geração, realizado por diversas
empresas, laboratórios e universidades de 10 países, dentre os quais o Brasil.

As maiores empresas da indústria nuclear, Framatome (antiga Areva NP), GE Energy e


Westinghouse aplicam parte considerável de suas receitas em pesquisa e desenvolvimento,
e, por conseguinte, pode-se atribuir a liderança dessas empresas no setor nuclear aos
investimentos contínuos que permitem tanto o aprimoramento da segurança como o
surgimento de novas tecnologias.

Nesse contexto, solicitou-se que a estatal esclarecesse, em função dos avanços tecnológicos
nos processos de fabricação da indústria de bens de capital e da evolução dos reatores
ocorridos desde a data de criação da NUCLEP e do Memorando de Entendimentos assinado,
em junho de 2015, com a empresa Westinghouse Electric Company, se a NUCLEP havia
elaborado estudos técnicos identificando as ações de capacitação e investimentos na
infraestrutura industrial, para que em futuros empreendimentos termonucleares a empresa
possa participar da fabricação dos equipamentos e componentes pesados, caso a solução
adotada seja o reator AP1000 da Westinghouse, ou ainda outros reatores da Geração III e III+,
como, por exemplo, aqueles das empresas Rosatom, CNNC (China) e Electricité de France.

Questionou-se, ainda, se a NUCLEP elaborou estudos com intuito de identificar os desgastes


mecânicos dos equipamentos do seu parque industrial e aqueles que carecem de processo de
“retrofit” com a incorporação de comandos digitais (computadorizados), de forma a fazer
frente aos avanços tecnológicos seja na fabricação de componentes nucleares ou de outros
setores, a exemplo de óleo e gás e defesa.

Em síntese, a NUCLEP informou que possui capacidade de fornecer Vasos de Pressão do


Reator, Geradores de Vapor, Pressurizadores, Vasos Acumuladores de água de refrigeração,
Racks para armazenagem de elementos combustíveis, Condensadores de Vapor, Vasos
Separadores de Umidade, além de vasos e trocadores de calor em geral, e que esse escopo de
fornecimento aplica-se a qualquer geração de tecnologia de reatores, inclusive III+.

A NUCLEP esclareceu que está apta e tem plena capacidade para fornecer os principais
equipamentos primários (Vaso de Pressão do Reator, Geradores de Vapor e Pressurizador)
para reatores de Geração III+. Asseverou ainda que as evoluções tecnológicas adotadas nesses
reatores facilitaram, em muito, seus processos produtivos, o que para a NUCLEP trouxe
benefícios no sentido de facilitar a obtenção da qualidade requerida no processo fabril e de
reduzir prazos de fornecimento.
23
Além disso, a NUCLEP afirmou que incorporou os avanços tecnológicos necessários à
fabricação de equipamentos pesados para reatores de geração III+ quando produziu os dois
geradores de vapor substitutos da Usina Nuclear Angra 1, uma vez que esses equipamentos
foram projetados com base nas novas tecnologias aplicadas aos reatores mais modernos.

Por relevante, a NUCLEP registrou que, para se manter competitiva, tem investido para
atualizar seu parque fabril, visando o segmento nuclear, tendo como principais investimentos
a construção de uma sala limpa certificada para melhorar a capacidade de trabalho com ligas
de níquel, de titânio e aços especiais; a aquisição de equipamentos para ensaios tecnológicos
e não destrutivos de última geração, além de máquinas de solda, de usinagem e conformação.

Ressaltou também que a capacitação de pessoal tem evoluído com a inclusão das novas
tecnologias fabris, entretanto, treinamentos apenas pontuais, como ocorre para qualquer
obra de grande porte, poderão ser necessários dependendo da tecnologia do reator de
geração III+ do player escolhido pela ELETRONUCLEAR.

No entanto, destacou que, a princípio, não havia necessidade de transferência de tecnologia,


salvo treinamentos de pessoal específicos, porém isso iria depender da avaliação da NUCLEP
pelo player escolhido pela ELETRONUCLEAR.

Portanto, entende-se que, em decorrência das certificações junto a ASME, ISO e CNEN, da
participação na construção de geradores de vapor para Angra 1, das informações acerca da
infraestrutura industrial e qualificação do seu corpo técnico apresentados pela NUCLEP, a
empresa detém maturidade tecnológica suficiente para fabricar os equipamentos do SNGV de
futuros empreendimentos termonucleares.

No setor de defesa, mais precisamente no segmento de construção de submarinos, a NUCLEP


detém um monopólio natural em âmbito nacional. Credita-se isso, dentre outros aspectos
intrínsecos ao surgimento de monopólio, à sua posição estratégica, a qualificação do seu
corpo técnico, a capacidade fabril e a parceria desenvolvida com a Marinha do Brasil, tendo
sido a única empresa brasileira contratada para construir cascos resistentes de submarinos.

A transferência e os transbordamentos da tecnologia decorrentes do processo de execução


dos cascos submarinos proporcionaram à NUCLEP o aprimoramento da sua expertise na
engenharia mecânica pesada.

2.4. Existem entidades estatais que realizam atividades (entregam


produtos ou serviços) similares às que atualmente são realizadas
pela empresa estatal?
A NUCLEP é a única empresa brasileira que fabrica componentes pesados do sistema nuclear
de geração de vapor (vaso de pressão, geradores, pressurizador e acumuladores).

Com relação ao setor de defesa, da mesma forma, a NUCLEP foi a única empresa contratada
pela Marinha do Brasil para fabricar cascos resistentes de submarinos, além de ter fornecido
o vaso de pressão para o Reator do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (LABGENE).

24
Já o setor de óleo e gás, em especial o de construção de plataforma de produção e os
respectivos módulos (topsides), é ocupado por empresas privadas nacionais e internacionais
que atuam por meio de parcerias que foram estabelecidas ao longo dos anos de
desenvolvimento desse setor da economia brasileira.

2.5. Há algum ente estatal com capacidade para absorver, parcial ou


totalmente, as atividades realizadas pela empresa estatal?
Com relação à fabricação de componentes pesados, em especial aqueles do sistema nuclear
de geração de vapor, pode-se afirmar que a NUCLEP exerce um monopólio natural na indústria
nacional.

As características intrínsecas do setor nuclear brasileiro geraram um ambiente propenso ao


surgimento de monopólio natural em função de:

✓ Demanda baixa para fabricação de componentes pesados do sistema gerador nuclear


de vapor, situação aprofundada face a descontinuidade no PNB. Desde a concepção
do parque industrial da NUCLEP, a iniciativa privada nacional apontou que o retorno
do capital seria incompatível com os vultosos investimentos necessários;
✓ A transferência de tecnologia no setor nuclear normalmente é concretizada por meio
de contratos comerciais celebrados com empresas, que englobam além do
fornecimento dos componentes mecânicos, os critérios a serem seguidos para efetiva
transferência de expertise. A transferência de tecnologia para outras empresas
nacionais públicas, privadas ou de economia mista dependem de planejamento e
continuidade do PNB de modo a garantir a viabilidade técnico-econômica do setor
nuclear brasileiro.
✓ Custos fixos elevados para implantação de um parque industrial com maquinário
adequado para fabricar componentes extremamente pesados (cerca de 500
toneladas) e que demandam um sistema de garantia de qualidade substancialmente
mais rigoroso do que aquele aplicado na fabricação de produtos da indústria de bens
de capital convencional.
✓ Investimento elevado com treinamento de pessoal, envolvendo inclusive etapas “on-
the-job” nas instalações industriais sediada no exterior da empresa transferidora da
tecnologia;

A existência de economias de escala relevantes nos processos produtivos desenvolvidos pela


NUCLEP, bem como as especificidades desses processos fabris, não permitem vislumbrar a
existência de outros entes estatais com capacidade para absorver as principais atividades
desenvolvidas pela NUCLEP, em particular aquelas do segmento nuclear.

2.6. Quais são os principais clientes da empresa estatal?


Os principais clientes da NUCLEP divididos pelos setores nuclear, defesa e óleo e gás, são:

➢ Setor Nuclear – Eletrobras Eletronuclear;


➢ Defesa – Marinha do Brasil;

25
➢ Óleo e gás – Estaleiro Brasfels e demais empresas privadas que subcontratam a NUCLEP
para fabricação de componentes mecânicos, tubos e estruturas previstos em contratos
celebrados com a Petrobras.

Pode-se concluir que a NUCLEP, mesmo com a busca de novos mercados, depende
majoritariamente de receitas de projetos idealizados por entes governamentais – estando
sujeita, por essa razão, aos impactos de restrições orçamentárias do governo brasileiro e aos
ciclos econômicos sob a demanda para a empresa.

2.7. Quais são os principais fornecedores (privados e


governamentais) da empresa?
Pode-se observar que a estatal utiliza principalmente a cadeia de suprimentos de serviços da
iniciativa privada para execução das suas atividades.

Portanto, em decorrência do baixo nível de atividades industriais desenvolvidas pela NUCLEP


nos últimos quatro anos, período de 2016-2019, os principais fornecedores da empresa são
empresas privadas prestadoras de serviços (custeio) nas áreas de alimentação, transporte,
vigilância, brigada de incêndio e limpeza.

2.8. A empresa estatal entrega algum produto ou presta algum


serviço cuja sensibilidade indique não ser possível sua transferência
para a iniciativa privada, na opinião de clientes governamentais?
O planejamento e o processo de absorção da tecnologia nuclear na própria NUCLEP,
demonstra que o seu desenvolvimento demandou, além de tempo, etapas de treinamento no
exterior onerosos e investimentos vultosos nas instalações fabris. Como pode se observar no
caso brasileiro, a nacionalização dos componentes pesados de usinas nucleoelétricas é um
processo gradativo.

No que diz respeito à importância da NUCLEP para o Programa de Desenvolvimento de


Submarinos (PROSUB), vale mencionar que a Estratégia Nacional de Defesa (END) preconiza,
como uma de suas diretrizes, fortalecer o setor nuclear, considerado como estratégico para o
país, e apresenta como necessário o projeto do submarino de propulsão nuclear (SN-BR).
Nesse sentido, visando assegurar a tarefa de negação do uso do mar, a END prevê o seguinte:

(...) o Brasil contará com força naval submarina de envergadura, composta de


submarinos convencionais e de submarinos de propulsão nuclear. O Brasil manterá
e desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de
propulsão convencional, como de propulsão nuclear.”

Com esse propósito, a NUCLEP foi subcontratada pela Itaguaí Construções Navais (ICN), CNPJ
10.827.182/0001-22, para fabricar, no âmbito do PROSUB da Marinha do Brasil (MB), os
cascos resistentes de quatro submarinos convencionais, classe Riachuelo, Tipo Scorpene, de

26
tecnologia francesa, bem como outras estruturas pesadas, assim como para participar do
processo de transferência de tecnologia originária da França.

Vale lembrar que a NUCLEP, na década de 1980, participou também de projetos de construção
dos submarinos convencionais da classe IKL, de tecnologia alemã, havendo fabricado para a
Marinha os cascos resistentes de todos os submarinos até hoje construídos no Brasil.

A NUCLEP já recebeu do PROSUB investimentos no valor aproximado de R$ 145 milhões, em


máquinas, equipamentos e preparação da fábrica e R$ 36 milhões em treinamento de
empregados. Durante reunião realizada na Coordenadoria-Geral do Programa de
Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear da Marinha (COGESN), foi informado
que o montante de recursos investidos já gira em torno de R$ 200 milhões.

Inclusive, segundo informado pela Marinha, a escolha da instalação do Complexo Naval em


Itaguaí/RJ considerou a relevância da NUCLEP para o PROSUB, dado que a fabricação dos
cascos resistentes e estruturas pesadas deveria estar próxima da base naval da MB.

O PROSUB prevê a construção das seções do SN-BR pela NUCLEP. A MB afirma que “a NUCLEP
é a empresa recomendada para a fabricação do casco resistente e das estruturas pesadas
do SN-BR”, cujo montante de recursos previstos a serem gastos é estimado em R$ 350
milhões, com início programado para 2022 e execução estimada em quatro anos.

Ademais, em razão de sua expertise em projetos da área nuclear e de seu maquinário


industrial, a NUCLEP tem fabricado equipamentos e componente nucleares para o Laboratório
de Geração de Energia Nucleoelétrica (LabGENE), que é o protótipo em terra de uma seção do
SN-BR, com uma planta idêntica à que haverá no submarino.

A MB esclareceu, ainda, o seguinte:


A empresa é a indicada para fabricação de toda a parte pesada da seção do reator do
LabGENE - casco e estruturas, não se restringindo ao vaso de pressão. Equipamentos
nucleares a serem utilizados no SN-BR, como o vaso de pressão do reator nuclear e o
gerador de vapor do circuito primário, já estão sendo fabricados na NUCLEP.

A Marinha acrescentou que, devido ao atual cenário econômico nacional desfavorável, onde
as empresas de caldeiraria pesada e usinagem de grande porte encontram-se com problemas
financeiros ou foram fechadas, não há perspectiva do surgimento de empresa capaz de
substituir a NUCLEP. Ademais, durante a reunião realizada, mencionou-se o fato de a NUCLEP
possuir a Certificação CNEN-NN-1.16 (fabricação e fornecimento de componentes nucleares)
e ser credenciada como uma “Empresa Estratégica de Defesa”.

Por relevante, a MB destacou que a NUCLEP já recebeu tecnologia para fabricação de


submarinos convencionais e avaliou que, se a NUCLEP fosse liquidada, haveria perda dos
investimentos realizados, necessidade de reinvestimentos na infraestrutura industrial
nacional e de nova transferência de tecnologia, o que resultaria, provavelmente, em despesas
superiores as já realizadas.

Por fim, a Marinha afirmou que considera a NUCLEP como empresa estratégica e que, em caso
de liquidação da Empresa, o PROSUB estaria comprometido, conforme transcrito a seguir:

27
2. Por todo o exposto, a MB considera a NUCLEP como empresa estratégica e
participa de sua governança ativamente. Em caso de liquidação da empresa, os
interesses estratégicos brasileiros não mais seriam garantidos, e o PROSUB, em
primeira análise, estaria comprometido. (grifo nosso)

Com vistas a compreender a importância da NUCLEP, em caso de construção de novas usinas


nucleoelétricas, questionou-se o Ministério das Minas e Energia (MME) sobre o modelo de
contratação a ser adotado, como, por exemplo, tipo “Turn-Key”, contratação com
transferência de tecnologia, ou utilização de tecnologia de domínio nacional.

Em resposta, o MME esclareceu que o modelo de contratação de novas usinas ainda não está
definido, mas a previsão é que ocorrerá em parceria com a iniciativa privada, num
desdobramento do modelo em elaboração para a Usina Angra 3, e ressaltou a importância do
uso pleno da cadeia de suprimento estabelecida e disponível no país para redução de custos,
o que deverá ser considerado na contratação. Destacou ainda que “no caso de construção em
série de mais de uma usina, antecipa-se um índice de nacionalização crescente”.

O MME informou que não possui estudo sobre potenciais fornecedores de insumos para a
manutenção das usinas Angra 1 e 2, bem como para o término da construção de Angra 3, em
caso de descontinuidade da NUCLEP. Segundo a Eletronuclear, entretanto, a NUCLEP não
fornece, atualmente, insumos para manutenção de Angra 1 e 2.

Por fim, vale citar o que preconiza a Estratégia Nacional de Defesa como princípio de
desenvolvimento:

(b) Independência nacional alcançada pela capacitação tecnológica autônoma,


inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. Não é
independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a
defesa, como para o desenvolvimento;

2.9. As atividades realizadas (produtos entregues e serviços


prestados) pela empresa estatal, necessariamente, precisam ser
prestadas pelo Estado?
Pode-se afirmar que o desenvolvimento da indústria nuclear, para fins de geração de
eletricidade, é fruto de uma decisão política e econômica quanto à relevância e à participação
da energia nuclear na composição matriz energética do país.

A viabilidade técnica e econômica de uma indústria nacional capaz de fabricar componentes


pesados do sistema nuclear gerador de vapor – SNGV está diretamente relacionada à criação
e à manutenção de um programa nuclear nacional robusto de forma a estimular o crescimento
da indústria de bens de capital local.

No modelo brasileiro, os riscos, as barreiras de custos e tecnológicas, as políticas


governamentais, entre outros aspectos inerentes ao setor nuclear, foram vistas pelo
empresariado local como incompatíveis com a remuneração sobre o investimento requerido.

28
Nesse contexto, a NUCLEP foi concebida para atender as demandas do PNB sob a premissa da
necessidade de garantir ao país a expertise necessária para se alcançar a independência
tecnológica de outras nações na construção dos componentes pesados do SNGV.

Vale ressaltar que, não obstante a possibilidade de contratação de empresas internacionais


para o fornecimento de componentes pesados, como aqueles previstos em Angra I
(Westinghouse), II e III (KWU/Siemens), cabe às autoridades competentes, a partir do
planejamento da matriz energética brasileira dos próximos anos, definirem os investimentos
necessários na indústria nuclear para fins de geração de energia e o modelo de contratação
dos componentes pesados do SNGV.

É oportuno sugerir, também, que a definição acerca do futuro da NUCLEP leve em


consideração a necessidade de manutenção e substituição dos componentes mecânicos
pesados das usinas nucleares em operação Angra I, II e III, caso as obras dessa última sejam
retomadas.

A definição do grau de participação da energia nuclear na matriz energética nacional,


influenciará diretamente, também, o nível de dependência de recursos públicos da NUCLEP
para a manutenção das atividades operacionais. A demanda por componentes pesados do
SNGV resultante do planejamento energético pode ser insuficiente para gerar o fluxo de caixa
necessário, tanto para garantir a independência financeira da estatal como para atrair
investimentos da iniciativa privada.

Os processos de transferência de tecnologia materializados por meio de contratos comerciais


com empresas internacionais detentoras de “know-how” representam a prática adotada por
diversos países desde os anos inicias do desenvolvimento dessa tecnologia, incluindo França,
Japão e Coréia do Sul, por exemplo.

Pode-se observar que os países, bem como o Brasil, que buscaram o desenvolvimento da
indústria local para fabricação de componentes pesados nucleares, assim o fizeram, por
intermédio de contratos comerciais celebrados com empresas privadas, onde foram previstas
cláusulas de transferência de tecnologia.

Conforme já apresentado, o desenvolvimento da tecnologia nuclear para fabricação de


componentes pesados de usinas no Brasil é fruto de investimentos realizados exclusivamente
pelo governo brasileiro e o retorno de capital previsto no PNB foi insuficiente para atrair a
participação de empresas nacionais no empreendimento.

Entende-se que a demanda atual do setor nuclear nacional, após a redução do PNB, não seria
suficiente para surgir uma indústria nuclear exclusivamente privada, bem como inexiste outra
entidade governamental apta a assumir as atividades da NUCLEP.

2.10. Qual o nível de maturidade da metodologia de precificação dos


produtos/serviços existentes na NUCLEP?
Os projetos desenvolvidos pela NUCLEP demandam, por vezes, investimentos com aquisição
ou retrofit de equipamentos, expansão da planta industrial etc. Em linhas gerais, pode-se

29
dizer, portanto, que a NUCLEP, em virtude da natureza da fabricação não seriada e da
necessidade de investimentos, desenvolve projetos de capital.

Buscou-se verificar as metodologias de desenvolvimento de projeto e precificação de


produtos e serviços da NUCLEP, tendo para isso avaliado a contratação da construção dos
cascos das plataformas P-51 e P-56.

Entende-se que a metodologia utilizada pela NUCLEP na elaboração do orçamento das obras
de construção do casco da P-51 apresenta fragilidades, tendo sido insuficiente para mensurar
e precificar os riscos assumidos pela empresa.

O custo do item “produção de mão-de-obra direta”, estimado para uma certa produtividade
de fabricação, demonstrou-se incompatível com a produtividade da empresa subcontratada
(PEM Engenharia – CNPJ 62.458.088/0001-47), o que resultou na redução do escopo do
contrato celebrado com a Brasfels e do fluxo de caixa de todo o empreendimento e,
consequentemente, na elevação do custo de fabricação para a NUCLEP, conforme
detalhamento apresentado no Apêndice.

Ademais, a margem de contingência de 1% estimada no orçamento foi insuficiente para cobrir


a variação dos custos decorrentes da alteração da produtividade horária, além de ser
incompatível com as faixas de precisão esperada recomendadas pela AACE (Association for
the Advancement of Cost Engineering).

Caberia à NUCLEP, em função da ausência de informações acerca da produtividade da


empresa PEM Engenharia subcontratada, e do ineditismo do projeto em âmbito nacional,
elaborar uma matriz de riscos contendo os fatores que poderiam impactar nos custos de
fabricação, de modo que as contingências estimadas fossem compatíveis com os riscos
assumidos pela empresa.

O orçamento alocou 10% do investimento necessário e previsto na fábrica para a execução do


contrato, ou seja, os investimentos realizados não foram integralmente amortizados no
projeto. Em que pese, por vezes, ser inviável do ponto de vista comercial, a alocação de todos
os investimentos requeridos em um único projeto (cliente), a NUCLEP deve elaborar seus
orçamentos e sua estratégia comercial de forma que os projetos assumidos gerem fluxo de
caixa positivo.

A redução do escopo do contrato, decorrente da baixa produtividade da empresa


subcontratada, ocasionou a contratação de outras empresas para realização de retrabalhos e
de trabalhos remanescentes, que gerou um prejuízo contábil e um fluxo de caixa negativo.

De modo semelhante, observou-se que, em relação à plataforma semissubmersível P-56 de


2007, o orçamento foi elaborado desconsiderando os custos com investimento, o que
também prejudicou a geração de um fluxo de caixa positivo para a empresa.

Cabe ainda mencionar que o fluxo de caixa dos projetos de construção dos cascos resistentes
dos quatro submarinos convencionais, SBR-1 a SBR-4, classe Riachuelo, Tipo Scorpene, não
produziu resultados financeiros expressivos para a NUCLEP, apesar de ter sido positivo,
conforme informações disponibilizadas pela empresa. É oportuno destacar que o retorno
30
financeiro dos projetos do PROSUB devem ser objeto de uma avaliação mais aprofundada, de
modo a identificar a compatibilidade das possíveis margens de contribuição geradas com os
valores referenciais de mercado, considerando a viabilidade de aquisição de terceira parte.

É importante frisar que a natureza não seriada dos projetos executados pela NUCLEP pode
dificultar a alocação dos investimentos não amortizados em outros projetos comerciais, e,
portanto, esse fato deve ser considerado na precificação de produtos e serviços da empresa.

2.11. Quais são os impactos do modelo jurídico e operacional para


retomada das obras de Angra 3 sobre a participação da NUCLEP em
futuros empreendimentos termonucleares?
A participação da NUCLEP na fabricação dos componentes e equipamentos pesados de futuros
empreendimentos termonucleares poder ser impactada pelo modelo jurídico e operacional
de contratação a ser adotado para viabilização do empreendimento da Usina Termonuclear
Angra 3, que fora inserida no Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).

Por exemplo, no regime “Turn-key”, como aquele adotado em Angra 1, as empresas ou


consórcios responsáveis pelos projetos e construção dos empreendimentos poderiam optar
por fabricar esses equipamentos em seus próprios parques fabris ou até subcontratar
empresas localizadas em outros países. Dessa maneira, nesse regime a participação da
NUCLEP não estaria garantida, a não ser que fosse estabelecido um percentual mínimo de
conteúdo local que viabilizasse a atuação da indústria nacional.

O avanço tecnológico ocorrido nos últimos anos aponta que, em futuras usinas, os reatores
nucleares tendem a ser da geração III+, por representar nos dias atuais a tecnologia mais
avançada disponível no mercado.

Conforme informações obtidas junto a NUCLEP e corroboradas pela literatura técnica


especializada, os vasos de pressão do SNGV dos reatores de geração III+ são praticamente os
mesmos da geração anterior II. Os avanços tecnológicos, portanto, estariam associados a
inclusão de sistemas passivos que configuram mecanismos e instalações externos aos vasos
de pressão que visam aumentar a segurança operacional da usina nuclear, garantindo a
refrigeração do reator quando da impossibilidade de fornecimento de energia aos
componentes do sistema de refrigeração.

Independente do modelo jurídico e operacional a ser adotado, a participação da NUCLEP,


apesar da interação necessária entre projetista e fabricante, está vinculada especificamente
ao processo de fabricação dos equipamentos e dos componentes pesados do SNGV.

Portanto, é razoável assumir que por não ser a projetista dos equipamentos do SNGV, a
participação da NUCLEP na fabricação de equipamentos de empreendimentos futuros carece
da elaboração de um modelo jurídico que a viabilize e garanta possíveis transferências de
tecnologia, se necessárias.

31
Nesse contexto, entende-se que as análises sobre o modelo jurídico para retomada de Angra
3 são pertinentes, tendo em vista que esses modelos podem vir a ser adotados nos
empreendimentos nucleares futuros.

Vale destacar que o Plano Nacional de Energia 2050 não se encontrava concluído, durante a
elaboração deste relatório, entretanto o Plano Nacional de Energia anterior (PNE 2030) previa
a construção de quatro a oito usinas nucleares no País. O Governo Federal tem empreendido
esforços a fim de dar entrada em operação comercial da Usina Termonuclear Angra 3 em
janeiro de 2026, conforme previsto no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2026
aprovado pelo MME.

Nesse diapasão, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) instituiu um Grupo de


Trabalho (GT) com o intuito de realizar estudos, análises e apresentar proposições acerca da
viabilidade econômica do empreendimento Usina Nuclear Angra 3 e de propor outras medidas
necessárias para a viabilização desse empreendimento.

O GT estudou dois modelos para captação de parceiro privado: o primeiro com participação
societária e o segundo sem participação societária. Para cada modelo foram identificadas as
respectivas vantagens e desvantagens.

Observou-se que os potenciais parceiros privados apresentaram como condicionante para a


retomada das obras de Angra 3 a participação em futuros projetos nucleares. Em função dessa
condicionante e, ainda, por ser a opção 1 o modelo com estudos mais avançados, torna-se
essencial a elaboração de estudos visando definir o percentual de conteúdo nacional e os
impactos na cadeia de suprimento de energia nuclear e na indústria de bens de capital
nacional.

Entende-se que a definição do conteúdo nacional a ser fabricado pela NUCLEP e demais
empresas da indústria de bens de capital em empreendimentos termonucleares futuros deve
ser estudada conjuntamente com a definição do modelo jurídico para retomada de Angra 3,
de forma que sejam estabelecidos critérios que garantam a sua participação, caso o Governo
Federal opte pela manutenção da estatal.

O modelo adotado em Angra 3 poderá limitar ou até mesmo inviabilizar a participação da


indústria nacional, tanto nessa usina quanto em empreendimentos futuros, pela ausência de
critérios definidos no referido modelo.

Os prazos de construção de empreendimentos termonucleares podem, também, ser


impactados diretamente pelo modelo jurídico adotado. Como é de conhecimento geral, as
crises econômicas que infligiram o país, as práticas de corrupção, dentre outros fatores,
ocasionaram atrasos no cumprimento do cronograma de execução das obras de Angra 3.

Destarte, nos modelos de contratação em estudo, para retomada das obras de Angra 3 e de
possíveis empreendimentos termonucleares futuros, deve-se avaliar o impacto dos riscos de
aporte do Tesouro Nacional decorrentes de atrasos (risco fiscal) no cronograma de execução
das obras. A substituição da indústria nacional por empresas estrangeiras, que porventura
possuam índices de produtividades melhores, não garantiria por si só a redução dos prazos de
execução de construção de usinas nucleares, uma vez o modelo jurídico de contratação
32
adotado pode não eliminar, integralmente, os riscos fiscais (aporte do Tesouro) decorrentes
do ciclo econômico.

Deve-se considerar, ainda, os riscos associados à dependência tecnológica, à confiabilidade


das usinas nucleares e, consequentemente, ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e aos
aspectos econômicos (cambial), caso a participação da NUCLEP e da indústria nacional não se
concretize.

Portanto, sugere-se que, caso o Governo Federal decida pela participação da NUCLEP e da
indústria de bens de capital brasileira em empreendimentos termonucleares futuros e em
Angra 3, os estudos em andamento avaliem os impactos dos modelos jurídicos na cadeia
produtiva nuclear brasileira.

33
3. MARCO LEGAL
3.1. A legislação conferiu à empresa estatal algum tipo de privilégio
mercadológico (monopólio, monopsônio, etc.)?
Não se identificou, na legislação vigente, previsão de monopólio em relação à NUCLEP.

Entretanto, tem-se no modelo atual no setor nuclear, em especial o de componentes pesados


do sistema SNGV, a formação conjunta de um monopsônio (único comprador) exercido pela
União (Eletronuclear) e de um monopólio natural em âmbito nacional por parte da NUCLEP,
concretizado em decorrência dos investimentos realizados pelo próprio governo federal.

Pode-se atribuir a origem desse monopólio natural a aspectos de natureza econômica e de


caráter tecnológico, conforme já citado neste documento.

No setor de defesa, mais precisamente no segmento de construção de submarinos, a NUCLEP


também detém um monopólio natural em âmbito nacional, conforme também já descrito.
Tampouco foi identificado monopólio legal ou normativo.

Ressalta-se que a NUCLEP foi credenciada em 2013 pelo Ministério da Defesa como uma das
primeiras Empresas Estratégicas de Defesa do país. Trata-se de um mecanismo que garante
às indústrias nacionais assim credenciadas o acesso a regimes especiais tributários e
financiamentos, com o objetivo de torná-las mais competitivas, tanto no mercado interno
quanto no externo.

3.2. As atividades realizadas pela empresa estatal são


reguladas/fiscalizadas por algum ente estatal?
As atividades realizadas no segmento nuclear são fiscalizadas pela CNEN, que detém quase a
integralidade do capital social da empresa. Ressalta-se que não há separação entre a função
de propriedade e a função de regulação, como recomenda o guia “Diretrizes da OCDE sobre
Governança Corporativa de Empresas Estatais”.

3.3. Os indicadores – caso existentes – apontam que a empresa


estatal vem cumprindo sua finalidade e executando adequadamente
as políticas públicas que estão sob sua responsabilidade?
O Objetivo central do PPA para a NUCLEP, vinculado ao programa “Política Nuclear”, é
“Objetivo: 1081 - Produzir equipamentos pesados para as indústrias nuclear e de alta
tecnologia, mantendo a capacidade nacional no setor”, conforme as seguintes Metas:

1. 048N - Manter as certificações nacionais e internacionais para a fabricação de


componentes para usinas nucleares - certificações NPT, NS e NA, concedidas pelo ASME
(American Society of Mechanical Engineers).

34
2. 048O - Produzir 8 equipamentos e componentes para as indústrias nuclear e de alta
tecnologia, sendo 1 para Usina Nuclear Angra-III, 3 para o Submarino Nuclear e 4 Cascos de
Submarinos Convencionais.

A Meta 048N fora cumprida pela NUCLEP.

Quanto à Meta 048O, consta no Relatório de Gestão 2018 da Unidade as seguintes


informações, entre outras obras em andamento:

- Fornecimento de 3 Condensadores para a Usina Nuclear de Angra 3, com execução de 85,1%;


- Fornecimento de 8 Acumuladores para Usina Nuclear de Angra 3, com execução de 98%;
- Fabricação de 1 Vaso de Pressão de Reator para o Submarino Nuclear, com avanço de 27,7%.
- Fabricação de 2 Geradores de Vapor para o Submarino Nuclear, com execução de 22,3%;
- Fabricação de cascos de submarinos convencionais com 99,2% de execução.

A NUCLEP detém indicadores relacionados à atividade finalística da empresa, mas, pela


estruturação e desenvolvimento ainda incipientes, não é possível afirmar, pela análise de tais
indicadores, que a empresa estatal vem cumprindo sua (s) finalidade (s) e executando
adequadamente as políticas públicas que estão sob sua responsabilidade.

Entretanto, há espaço para melhoras no acompanhamento da empresa, por meio de


indicadores, conforme reconhecimento espelhado pelo Relatório de Gestão 2018.

35
4. DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO
4.1. Qual o nível de dependência da empresa estatal em relação a
aportes, receitas e funding governamentais?
Em decorrência da descontinuidade do PNB, o fluxo de caixa previsto no estudo de viabilidade
técnica e econômica que culminou na decisão de criar o parque industrial NUCLEP não se
concretizou, sendo um dos principais fatores da dependência atual da empresa.

A empresa tem auferido prejuízos nos últimos oito exercícios, sendo assim não está
praticando a distribuição de dividendos aos seus acionistas.

O Relatório de Auditoria Operacional do TCU, anteriormente mencionado, demonstra que a


NUCLEP, no ano 2000, já se encontrava na situação de dependência econômica com índices
de liquidez insatisfatórios, elevado grau de endividamento, custos de produção superiores às
receitas de venda de produtos e serviços, baixos índices de investimento, prejuízos
acumulados e redução do patrimônio líquido.

Analisando-se os demonstrativos de resultado de exercício do período de 2004-2018, observa-


se uma redução da razão entre as receitas de venda de produtos e serviços e despesas
administrativas. Entre 2003 e 2018, as despesas administrativas cresceram 1158% ao passo
que a receita bruta de venda de produtos e serviços aumentou apenas 132%. O aumento das
despesas administrativas e comerciais pode ser atribuído ao acréscimo, em descompasso com
o aumento de receita de venda de produtos e serviços no período, de mão-de-obra contratada
pela NUCLEP para a execução das atividades meio.

Comparando-se com o valor percentual do índice IPCA de 121,67% referente ao período de


dezembro/2003 a dezembro/2018, pode-se afirmar que o aumento da receita bruta (132%)
acompanhou de certo modo o índice inflacionário, ao passo que o acréscimo das despesas
administrativas (1158%) resultou no aumento da necessidade de aporte de recursos da União
(889%).

Da análise de indicadores de desempenho da NUCLEP apresentado na tabela 24 do Apêndice,


pode-se verificar que, em 2003, a receita bruta de venda de produtos e serviços seria
suficiente para cobrir apenas 63% dos custos dos produtos e serviços vendidos (CPV) ou 20%
dos CPV somados aos custos fabris não apropriados (CFNA) ou 13% do CPV acrescido do CFNA
e das despesas administrativas.

Já em 2018, os mesmos indicadores correspondem a 26%, 7% e 4%, respectivamente,


demonstrando o aprofundamento da crise econômica da NUCLEP.

Pode-se observar, ainda, que os indicadores de desempenho analisados apresentaram


melhoras no período entre 2003 e 2010 com a construção dos cascos das plataformas
semisubmerssíveis P-51 e P-56, porém a partir desse último ano, os indicadores demonstram
uma trajetória de redução do desempenho econômico, tendo atingido, em 2018, valores
ainda menores do que aqueles do ano de 2003.

36
Os custos fabris não apropriados (CFNA) representam os custos com equipamentos e pessoal
eventualmente não alocados na produção de produtos e serviços e refletem, portanto, a
ociosidade da capacidade instalada da NUCLEP. Em 2018, os custos fabris corresponderam a
R$ 132,98 milhões que somados às despesas administrativas de R$ 176,69 milhões,
totalizaram R$ 309,57 milhões, equivalente a 86,90% do aporte de recursos da União no
mesmo ano (R$ R$356,26 milhões).

Conforme informações apresentadas pelo departamento de contabilidade da NUCLEP, cerca


de 86% dos custos fabris não apropriados correspondem a despesa com pessoal.

Das análises aqui apresentadas, conclui-se que a dependência econômica da NUCLEP está
fortemente ligada aos custos e gastos com pessoal. A necessidade de aporte de recursos da
União pode ser reduzida a partir de medidas administrativas que visem alinhar os seus custos
e as despesas operacionais com o nível de atividade industrial da empresa, e,
consequentemente, com a receita de produtos e serviços vendidos.

Em 2018, a NUCLEP alcançou um nível de dependência dos aportes do Tesouro Nacional de


aproximadamente 98,18% dos recursos totais, enquanto as receitas próprias decorrentes das
atividades operacionais atingiram aproximadamente 1,82%, conforme a Figura 4. De acordo
com o informado no Relatório de Administração 2018, a retração dos recursos próprios
decorre, principalmente, do adiamento da construção do Submarino de Produção Nuclear e
do Reator Multipropósito, além da paralisação das obras da Usina Nuclear de Angra 3.

Figura 4: Nível de dependência da NUCLEP baseado na Receita Líquida Total

Dependência dos Aportes (%)

98,18
91,76
86,79 84,42 86,05

13,21 15,58 13,95


8,24
1,82

2018 2017 2016 2015 2014

Tesouro Receita Própria

Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014-2018)


Nota: (1) Receita Própria = Receita Líquida de Bens ou Serviços, apurada no Anexo IV do Apêndice.
Nota: (2) Receita Líquida Total = Receita Líquida de Bens/Serviços + Receita de Subvenção do Anexo IV do
Apêndice.

A Tabela 4 traduz os percentuais de dependência dos aportes apresentados na Figura 4, em


valores absolutos.

37
Tabela 4: Dependência dos Aportes (R$ milhares)
Aportes 2018 2017 2016 2015 2014
Tesouro 356.257 382.535 365,358 290.673 222.008
Receita Própria 6.605 34.582 55.586 53.651 35.990
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014-2018)

Por ser uma empresa dependente financeiramente do Tesouro Nacional, a NUCLEP mantém
parte das suas aquisições de insumos de produção com recursos recebidos em forma de
subvenção e o restante com recursos próprios decorrentes de suas atividades operacionais, o
que tem se mostrado insuficiente para cobrir minimamente o custo dos produtos vendidos.
Os crescentes aportes da União visam cobrir não só os custos dos produtos vendidos, mas
principalmente as despesas operacionais, que nos dois últimos exercícios obtiveram
expressivo crescimento (Figura 5).

Figura 5: Análise de Estrutura da Receita Própria versus o Custo dos Produtos Vendidos e do
Resultado Bruto versus as Despesas Operacionais.

Receita Própria x CPV (%) Resultado Bruto x Despesas


Operacionais (%)
38,96
32,82
28,87 86,94 82,93
86,36 73,5
68,66 80,99
19,01 71,13 64,82
67,18
13,64 15,58 13,95 61,04
13,21
8,24
1,82

2018 2017 2016 2015 2014


2018 2017 2016 2015 2014

Receita própria CPV Resultado Bruto Despesas operacionais


Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)
Nota: (1) Receita Própria = Receita Líquida de Bens ou Serviços do Anexo IV do Apêndice
Nota: (2) Resultado Bruto = Receitas Próprias + Receita de Subvenção do Anexo IV do Apêndice
Nota: (3) Os valores percentuais da Receita Própria, do CPV, do Resultado Bruto e das Despesas
Operacionais são baseados na Receita Líquida Total, do Anexo IV do Apêndice

A Tabela 5 traduz os percentuais do Custo dos Produtos Vendidos, da Receita Própria, do


Resultado Bruto (que inclui os aportes do tesouro) e das Despesas Operacionais apresentados
na Figura 5, em valores absolutos.

38
Tabela 5: Receita Própria, Custo dos Produtos Vendidos, Resultado Bruto e Despesas
Operacionais (R$ milhares).
Contas 2018 2017 2016 2015 2014
Receita Própria 6.605 34.582 55.586 53.651 35.990
CPV (49.512) (120.365) (163.992) (113.014) (49.053)
Resultado Bruto 313.350 296.522 256.952 231.310 208.945
Despesas Operacionais (315.478) (306.421) (272.866) (236.410) (213.950)
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014-2018)

A análise de evolução mostra que as despesas operacionais, cuja maior representatividade


são as despesas administrativas, comerciais e os custos fabris não apropriados, no período de
2014 a 2018, superavam o resultado bruto. Como a empresa não possui outras receitas e
despesas não operacionais, o resultado operacional impacta fortemente o resultado do
exercício da companhia, o que fica demonstrado na Figura 6.

Figura 6: Evolução do Resultado Líquido (R$ Milhares)


Resultado Líquido
2018 2017 2016 2015 2014
-2.128
-5.937
-10.099 -9.774

-15.702

Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)

Embora no exercício de 2018, a NUCLEP tenha apurado um prejuízo líquido inferior a 2017,
cabe ressaltar que os aportes do Tesouro Nacional aumentaram de 91,76% em 2017 para
98,18% em 2018 do total da receita líquida.

No que tange aos ativos da NUCLEP, a análise de evolução, evidenciada na Figura 7, mostra
um aumento do nível de ativos da empresa em 2018 frente a 2017 de 12,62%6. Tal ocorrência
tem como um dos fatores o aumento no nível dos estoques (62,2%)7, principalmente o de
produtos em elaboração (aproximadamente 106%), devido a demanda de cliente da empresa,
o Centro Tecnológico da Marinha SP – CTMSP.

6
Apurado no BP, no Painel 1 do Anexo IV do Apêndice.
7
Valores da conta contábil estoques no período (R$ milhares): 2018 – R$ 92.506; 2017 – R$ 57.016; 2016
– 41.160; 2015 – R$ 48.298; 2014 – R$ 46.380
39
Figura 7: Evolução dos Ativos Totais (R$ Milhares)

684.168 694.553
663.885
635.347
607.495

2018 2017 2016 2015 2014

Ativos Totais
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)

Quanto ao passivo exigível e ao patrimônio líquido da NUCLEP, a análise de estrutura evidencia


um crescimento no seu nível de endividamento e uma redução na participação do seu capital
próprio (patrimônio líquido), demonstrando a expressiva necessidade de capital de terceiros
(Tesouro Nacional) para manutenção das atividades da empresa estatal, conforme mostra a
Figura 8.

Figura 8: Análise de Estrutura do Passivo Exigível e do Patrimônio Líquido (%)

71,04 67,73 67,86 68,34 65,32

32,27 32,14 31,66 34,68


28,96

2018 2017 2016 2015 2014

Exigível Total PL
Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)
Nota: (1) Os percentuais do Passivo Exigível Total e do Patrimônio Líquido são baseados no Passivo Total.

4.2. Qual é o retorno sobre o patrimônio líquido da empresa estatal?


Para fins de avaliação do retorno sobre os investimentos realizados na companhia procurou-
se calcular indicadores de rentabilidade. Foram analisados os indicadores ROI (Return on
Investment), ROE (Return on Equity), Giro do Ativo e Margem Líquida. Os resultados
observados estão apresentados nas Figuras 9 e 10.

40
Figura 9: Indicadores de Rentabilidade – ROI e Patrimônio Líquido

Retorno sobre Investimento e Patrimônio Líquido

-0,003 2018 2017 2016 2015 -0,009 2014


-0,016 -0,014
-0,023 -0,025
-0,05 -0,043
-0,074
-0,1

ROI ROE

Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)


Nota: ROI = Return on Investment ou TRI = taxa de retorno sobre o investimento, ROE = Return on Equity
ou TRPL = taxa de retorno sobre patrimônio líquido

Os indicadores mensuram o retorno do investimento feito pela empresa (ROI) e pelos


acionistas (ROE) em relação aos recursos aplicados. Nesse sentido, ambos os indicadores
mostraram valores negativos, visto os prejuízos auferidos nos respectivos exercícios, e,
portanto, a estatal não conseguiu remunerar seus acionistas tampouco realizar o payback dos
seus investimentos. A Figura 10 apresenta os indicadores de Giro do Ativo e Margem Líquida:

Figura 10: Indicadores de Rentabilidade – Giro do Ativo e Margem Líquida

Margem Líquida
Giro do Ativo
0,67
0,63 2018 2017 2016 2015 2014
0,56 -0,006
0,51
0,4

-0,024 -0,023
0,09 0,09 0,07 -0,028
0,06
0,02
-0,037
2018 2017 2016 2015 2014

GA GAA ML

Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)


Nota: (1) GA = Giro do Ativo, ML = Margem Líquida e GAA = Giro do Ativo Ajustado, considerando as vendas
líquidas apenas as receitas próprias

A partir do Giro do Ativo pode-se relacionar o total das vendas no exercício com o Ativo
alocado pela empresa. Verificou-se que esse indicador apresentou resultados positivos e
razoavelmente constantes, em média de aproximadamente 0,55, representando que a receita
líquida8 da NUCLEP, no geral, consegue girar pouco mais da metade dos seus ativos.
Entretanto, se for considerado como vendas líquidas apenas as receitas próprias, os índices

8
A Receita líquida inclui as subvenções do Tesouro Nacional
41
revelam que as receitas decorrentes das atividades finalísticas, em 2018, conseguiram girar
apenas 2% do ativo da NUCLEP.

O indicador Margem Líquida relaciona o lucro obtido pela companhia em função de sua receita
total. Conforme visualizado na Figura 10, esse indicador apresentou resultados negativos,
decorrentes dos prejuízos auferidos ao longo dos exercícios analisados. Conforme já
mencionado, os prejuízos observados resultam da incapacidade de geração de lucro
operacional, principalmente em função das elevadas despesas administrativas e comerciais e
dos custos fabris não apropriados à produção. Isto posto, infere-se que os índices negativos
do ROI são explicados pela margem líquida negativa, isto é, o inadequado gerenciamento dos
custos e despesas da NUCLEP reduzem o retorno do investimento.

4.3. Qual é o nível e o perfil de endividamento da empresa estatal?


A Nuclep apresentou nos últimos exercícios um significativo nível de endividamento, por outro
lado, apresentou Liquidez Corrente positiva no período, inclusive com elevação em 2018,
conforme demonstrado nas Figuras 11 e 12.

Figura 11: Índices de Endividamento


Endividamento Total e Perfil
1,12 1,12
1,06 1,04 1,06

0,71 0,68 0,68 0,68 0,65

0,27 0,27 0,25 0,25


0,2

2018 2017 2016 2015 2014

ET ETA PE

Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)


Nota 1: ET = Endividamento Total, ETA = Endividamento Total Ajustado9, PE = Perfil do Endividamento

Não obstante o nível significativo de endividamento da NUCLEP, que em 2018 atingiu


aproximadamente 71%, este mostra uma relativa estabilidade, e, a análise do seu perfil
constata que o maior percentual do endividamento se concentra no exigível a longo prazo.
Fator positivo para o perfil, posto que o endividamento, em 2018, de curto prazo gira em torno
de aproximadamente 27%.

Todavia, quando excluídos os recursos recebidos do Tesouro Nacional, o endividamento total


ajustado mostra um passivo a descoberto, visto que os índices são superiores a 1.

9
ETA é índice ajustado (sem os recursos recebidos do Tesouro Nacional registrados no Ativo).

42
Conforme a manifestação CE P–079/2019, de 25/06/2019, a NUCLEP informa que o maior
passivo que a empresa possui é em relação à Previdência Privada – NUCLEOS que
corresponde, em 2018, a 41% do capital de terceiros e que a dívida já está judicializada e a
Companhia possui um prazo de liquidação até outubro/2039.

Impende também mencionar que uma parcela desse endividamento decorre de um


empréstimo, apropriado em exigível a longo prazo, com a INB que deveria ter sido liquidado
até 31/12/1998, porém permanece sem pagamento do principal acrescido de juros.

Figura 12: Índices de Liquidez

Corrente Geral
1,35 0,91 0,87 0,87 0,91 0,87
1,22 1,19
1,14 1,14 1,09
0,98
0,75 0,77 0,8
0,4 0,41 0,37
0,34 0,29

2018 2017 2016 2015 2014 2018 2017 2016 2015 2014
LC LCA LG LGA

Fonte: Demonstrações Contábeis NUCLEP (2014 -2018)


Nota 1: LC = Liquidez Corrente e LCA = Liquidez Corrente Ajustada10
Nota 2: LG = Liquidez Geral e LGA = Liquidez Geral Ajustada

A liquidez corrente positiva indica uma margem de segurança ou capital circulante líquido11
positivo, e no período, representou aproximadamente: 2018 – 26%; 2017 – 12%; 2016 – 12%;
2015 – 8% e 2014 – 16%. Em outras palavras, esses percentuais indicam o grau de liberdade
financeira da NUCLEP, de curto prazo, que não está comprometido com seu exigível de curto
prazo.

Contrapondo a liquidez corrente, a liquidez geral da NUCLEP mostra-se insuficiente para quitar
seu passivo exigível total. A situação se agrava quando excluídos os recursos do Tesouro
Nacional do Ativo (LCA e LGA), pois observa-se uma deterioração em ambos índices de
liquidez.

4.4. Quais os principais ativos e unidades geradores de caixa da


empresa estatal?
Conforme informado pela NUCLEP (documento CE P–076/2019 e resposta ao Relatório
Preliminar), são unidades geradoras de caixa o seu Parque Fabril, instalado em Itaguaí, e um
Terminal de Uso Privado – TUP.

10
LCA e LGA são índices ajustados (sem os recursos recebidos do Tesouro Nacional registrados no
Ativo).
11
Capital Circulante Líquido (CCL) = Ativo Circulante (AC) – Passivo Circulante (PC).
43
O Parque Fabril ocupa uma área de 1 milhão de metros quadrados no bairro Brisamar, no
município de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e possui um conjunto de
máquinas operatrizes para usinagem, soldagem, calandragem e tratamento térmico únicos no
país. Em seu galpão principal com capacidade nominal de movimentação de carga de até 600
toneladas, podendo, em casos especiais, chegar a 900 toneladas, encontra-se a Sala Limpa,
classe 100.000.

Com relação aos principais Ativos da empresa, o Quadro 6 apresenta o rol discriminado do
Imobilizado, conforme demonstrações contábeis de 2018.

Quadro 6: Ativo Imobilizado da NUCLEP em 2018


Ativo Valor Contábil Líquido Participação no Ativo
(R$ mil) Permanente (%)
Terreno 161.424 58,45
Edificações 50.765 18,38
Equipamentos Industriais 46.764 16,93
Instalações 5.776 2,09
Máquinas e Equipamentos 8.341 3,02
Móveis e Utensílios 911 0,33
Tecnologia da Informação 2.049 0,75
Veículos 136 0,05
Total Imobilizado 276.166 100,00
Fonte: Demonstrações Contábeis 2018

A nota explicativa nº 13.1 das Demonstrações Contábeis publicadas referentes ao 2º trimestre


de 2019 relata que o ativo terreno foi reconhecido contabilmente em 2012, sendo
posteriormente ajustado o valor contábil baseado em laudos de avaliação ao valor justo. A
nota ressalta que a titularidade do terreno ainda é da Indústrias Nucleares do Brasil – INB e o
registro contábil do referido ativo consta em ambas empresas. Em 14/09/2018, o Ministério
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTIC, mediante o aviso nº 371/2018,
reabriu o processo nº 00400.006127/2010-18 visando a regularidade do terreno, mediante a
constituição de grupo de trabalho com representantes da NUCLEP, INB, CNEN e MCTIC.

A NUCLEP, mediante Ofício nº 115/2019/P-NCP, informou que não realizou nenhum estudo
comparativo do valor contábil dos seus ativos versus o seu valor econômico.

44
5. FORÇA DE TRABALHO

5.1. Qual o perfil da força de trabalho da empresa estatal?


A NUCLEP, no exercício de 2018, obteve um acumulado total de pagamentos com despesas
correntes no valor de R$ 400.149.917,00, dos quais a maior parte foi direcionada aos
pagamentos de despesas com pessoal e seus encargos, onde estão inclusos os pagamentos de
vencimentos e salários, depósitos recursais, sentenças, contribuição previdenciária, dentre
outras obrigações, representando R$ 313.652.329,00, ou 78,38% das despesas correntes.

Em 2018, a Gerência de Gestão de Pessoas desenvolveu e implantou o Plano de Apoio à


Aposentadoria – PAA, que previu como público elegível 129 empregados aposentados ou em
condições de se aposentar, totalizando 12,2% do efetivo da empresa.

Em resposta ao Relatório Preliminar a Unidade informou que as adesões ao plano foram


iniciadas em 02.05.2018, 174 empregados se inscreveram, 131 se desligaram até 31.08.2019,
4 estão com desligamento previsto até dezembro/2019 e 39 estão aguardando a carta de
concessão da aposentadoria pelo INSS.

Figura 13: Gastos e quantitativo de pessoal ativo.

Gastos e quantitativo de pessoal Nuclep (ativo)


300.000 1200
1048 1066 1058 1067 1034
999 984
250.000 1000
848 215.139 221.785 900
205.740 205.490
200.000 179.082 800

Qtde. pessoal
R$ (mil)

140.211
150.000 130.394 600
109.417
100.000 400

50.000 200

0 0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019*

Qtde. Pessoal Gastos com pessoal Gastos (deflator IPCA)

Fonte: RH NUCLEP (Ofício nº 131/2019/P-NCP, 20.09.2019).


Dados de 2019 atualizados até agosto/2019, com gastos projetados para todo o exercício. Deflator indica
gastos a preços constantes de dez/2011.

- Aposentados e pensionistas:

Até 30.09.2019, constam 32 empregados ativos, aposentados pelo INSS, que ainda mantêm
vínculo laboral com a NUCLEP.

45
- Funções de Gerência e Direção:

Verifica-se que há 83 ocupantes de funções de gerência e direção com vínculo empregatício e


15 sem vínculo empregatício, conforme quadro a seguir:

Quadro 7: Funções de Gerência e Direção


QUANTIDADE
DENOMINAÇÃO / NÍVEL COM VÍNCULO SEM VÍNCULO
SUBTOTAL
EMPREGATÍCIO EMPREGATÍCIO
Assessor 3 - 3
Assessor da Diretoria Executiva 6 - 6
Assistente 21 - 21
Consultor 1 - 1
Gerente 30 - 30
Gerente Geral 16 - 16
Secretária da Diretoria 3 - 3
Secretária da Presidência 2 - 2
Auditor Geral* - 1 1
Comitê de Auditoria - 3 3
Conselheiro de Administração** 1 4 5
Conselheiro Fiscal - 3 3
Diretor - 3 3
Presidente - 1 1
TOTAL 83 15 98
Fonte: RH NUCLEP (Ofício nº 131/2019/P-NCP, 20.09.2019).
* Cedido de outro órgão para a NUCLEP
** 1 Conselheiro de Administração, sem vínculo empregatício, não foi incluído por ser também Presidente.

- Quantidade de Servidores Lotados nas Áreas Meio e Fim:

No período entre 2005 e 2017 observa-se um crescimento de 90% do quadro de pessoal da


Nuclep. Há crescimento de 54% em profissionais lotados em atividades finalísticas quanto em
áreas meio sendo, contudo, mais expressivo em profissionais lotados em áreas meio (366%),
conforme se observa na Figura 14:

46
Figura 14: Quantidade de Servidores Lotados nas Áreas Meio e Fim

Quantidade de Servidores Lotados nas Áreas Meio e Fim


1200

1000

800

765
600

400
497
200
303
0 65
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

ADMINISTRAÇÃO OPERACIONAL

Fonte: Perfil das empresas estatais – SEST – 2005 a 2017.


Informações detalhadas na Tabela 13 - Anexo V do Apêndice.

A este propósito, a NUCLEP esclareceu que: “A Companhia encontra-se exatamente no meio


de um processo de reestruturação que, dentre outros, fará estudo de gestão da força de
trabalho para definição do ponto ótimo de distribuição entre as áreas fim e meio”.

- Perfil Profissional (RAIS 2018):

Quadro 8: Resumo do perfil profissional segundo a RAIS 2018


Instrução TRABALHADORES TRABALHADORAS Total
Média de Média de Média de
Trabalhador Quantidade Quantidade Quantidade
Idade Idade Idade
Fundamental incompleto 1 59 1 59
Fundamental completo 68 35 24 29 92 33
Médio incompleto 8 27 4 22 12 25
Médio completo 600 44 105 36 705 43
Superior incompleto 22 33 6 34 28 33
Superior completo 227 47 95 44 322 46
Mestrado 29 46 6 43 35 46
Doutorado 4 53 1 35 5 49
Total Geral 959 44 241 38 1200 43
Fonte: RAIS 2018. Informação analítica disponível na Tabela 19 do Anexo V do Apêndice.

Os colaboradores (homens e mulheres) da NUCLEP tem em média 43 anos, mais de 12 anos


de casa, e salário base de R$ 9.041,58, na média.

47
Quadro 9: Principais ocupações da Nuclep em 2018
Principais ocupações segundo a RAIS 2018 Participação %
Técnico mecânico R$ 15.103.023,87 7,83%
Engenheiro mecânico R$ 13.395.053,41 6,95%
Técnico de garantia da qualidade R$ 11.865.882,83 6,15%
Supervisor administrativo R$ 10.881.213,26 5,64%
Mestre de caldeiraria R$ 9.771.117,75 5,07%
Secretária(o) executiva(o) R$ 6.885.898,49 3,57%
Engenheiro metalurgista R$ 6.830.034,19 3,54%
Supervisor de vigilantes R$ 6.094.619,56 3,16%
Mestre de soldagem R$ 5.917.567,54 3,07%
Administrador R$ 5.745.445,25 2,98%
Soldador R$ 5.274.712,45 2,73%
Subtotal – principais ocupações R$ 97.764.568,60 50,69%
TOTAL NUCLEP R$ 192.870.854,35 100,00%
Fonte: RAIS 2018. Informações detalhadas na Tabela 17 - Anexo V do Apêndice.

Em vista dos dados apresentados, a NUCLEP prestou o seguinte esclarecimento:

Em estudo realizado e comparativo com empresas do mesmo ramo e porte


semelhante ao da NUCLEP, diagnosticou-se que, atualmente, o quadro de pessoal da
Companhia está superdimensionado. Adequando a força de trabalho à estratégia da
empresa, estima-se que nos próximos 4 anos haja uma redução de 35,89% no quadro
de pessoal efetivo da NUCLEP, mediante a conclusão, ainda este ano, da execução
do Plano vigente de Apoio à Aposentadoria, bem como com o oferecimento de novos
planos de incentivo à aposentadoria e à demissão voluntária, todos frutos de uma
política estratégica de recursos humanos, que só se tornou viável após a edição do
Decreto no 9.507, de 21 de setembro de 2018. Assim, com fulcro nos princípios
administrativos da eficiência, da economicidade e da razoabilidade, objetiva-se fazer
o mais, com menos, e, quando se afigurar um incremento temporário de volume de
serviços, que não possa ser atendido com a mão de obra própria, utilizar-se da
execução indireta de serviços (terceirização).

- Plano de Previdência Privada:

Segundo o Relatório de Gestão 2018, página 90, a NUCLEP é Patrocinadora-Fundadora do


NUCLEOS – Instituto de Seguridade Social, tendo como demais patrocinadores a Eletrobrás
Termonuclear S/A (ELETRONUCLEAR), as Indústrias Nucleares do Brasil S/A (INB) e o próprio
Instituto, entidade fechada de previdência privada, que administra um programa de
benefícios complementares aos do Regime Geral da Previdência Social para seus empregados
e dirigentes, amparado por contrato solidário de responsabilidades firmado entre todas as
partes.

O programa criado em 1979 para ser o fundo de pensão do setor nuclear do país, englobando
todos os funcionários da Nuclebrás e de suas subsidiárias, é mantido através de um Plano de
Benefícios Definidos (BD), que visa garantir à maioria dos participantes, uma renda vitalícia
pós-emprego em níveis semelhantes à da atividade, quando somada a da previdência social
limitada a três tetos previdenciários. Dá cobertura, também, às aposentadorias por invalidez,
especiais e o pagamento de pensões aos dependentes de participantes que vierem a falecer.
48
Em 31.12.2018, a população vinculada ao programa era a seguinte, comparada com o
exercício anterior:

DADOS POPULACIONAIS 2017 2018


Plano BD Plano BD
1. Participantes Ativos
1.1. Número de empregados vinculados ao plano 865 818
1.2. Idade Média (anos) 40,73 48,86
1.3. Serviço Creditado (total) 14,14 13,89
1.4. Tempo Médio de Serviço Futuro (Aposentadoria) 17,79 14,41
1.5. Valor do Salário Médio (R$) R$11.138,81 R$11.409,88
2. Aposentados
2.1. Participantes Aposentados por contribuição, idade e especial 200 245
2.2. Idade Média (anos) 64,77 65,09
2.3. Benefício Médio (R$) R$5.907,40 R$6.858,60
3. Pensionistas
3.1. Número de participantes pensionistas 51 51
3.2. Idade Média (anos) 61,95 63,64
3.3. Benefício Médio em R$ R$2.307,06 R$2.979,08
População Total 1.116 1.114
Fonte: Relatório de Gestão 2018, página 90. Informação disponível na Tabela 2, Anexo V do Apêndice.

Em resposta ao Relatório Preliminar, a NUCLEP informou o seguinte:


(...) recentemente, em cumprimento a Resolução CGPAR 25, foi aprovado, no âmbito
do Conselho Deliberativo do Nucleos, o fechamento do Plano de Benefício Definido
(BD) e consequente criação do Plano de Contribuição Definida (CD), aguardando,
apenas, a aprovação no âmbito das patrocinadoras, do Ministério Supervisor e da
SEST, conforme determinada a Portaria DEST nº 27/2012. Com o fechamento do BD
e a criação do CD, haverá mitigação de riscos futuros de custos não previstos.

49
6. COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES

6.1. Modelo societário adotado pelos principais países geradores de


energia nuclear.
A participação nuclear na geração global de eletricidade permaneceu praticamente estável
nos últimos cinco anos (-0,5% pontos), com uma tendência de declínio a longo prazo, de 17,5%
em 1996 para 10,3% em 2017.

Em julho de 2018, no mundo, estavam em operação 413 reatores nucleares voltados para a
geração de energia em 31 países. Nessa mesma data outros 50 reatores encontravam-se em
construção em países como: China, Argentina, Japão, Rússia, Índia, Coreia do Sul, Paquistão,
Irã e Estados Unidos (WNISR, 2018). A China lidera com 11 reatores, seguida pela Índia com 7,
a Rússia com 6, a Coréia do Sul com 5 e os Emirados Árabes Unidos com 4 unidades. (WNISR,
2018).

Países com dois reatores em construção incluem: Bangladesh, Bielorrússia, Japão, Paquistão,
Eslováquia, Ucrânia e EUA. Argentina, Brasil, Finlândia, França e Turquia têm 1 reator em
construção (Ho et al., 2018).

Os “cinco grandes” países geradores de energia nuclear (Estados Unidos, França, China, Rússia
e Coréia do Sul) geraram, em 2017, 70% de toda a eletricidade desta fonte no mundo. Dois
países, os EUA e a França, representaram 47,5% da produção nuclear global em 2017 (WNISR,
2018).

O Quadro a seguir apresenta a contribuição dos principais produtores mundiais na geração de


energia nuclear em 2017, bem como a quantidade de reatores instalados nesses países.

Quadro 10: Produção de Energia Nuclear em 2017


País Contribuição da Geração Nº Reatores
de Energia Nuclear para em Operação
a matriz do país (%)
CHINA 3,9 41
FRANÇA 71,6 57
ALEMANHA 11,6 7
JAPÃO 3,6 9
COREIA DO SUL 27,1 24
REINO UNIDO 19,3 15
ESTADOS UNIDOS 20,1 99
RÚSSIA 10 37
ARGENTINA 4,5 2
SUÉCIA 39,6 8
CANADÁ 14,6 19
Fonte: WNISR, 2018

A seguir são apresentadas as características de produção nuclear dos maiores produtores


mundiais, evidenciando o modelo societário adotado.

50
➢ Estados Unidos: WESTINGHOUSE – Empresa privada com tradição na construção e
operação de usinas nucleares (faliu, mas foi adquirida pela Brookfield Business Partners L.P).
A Westinghouse produz o modelo AP1000.

Também há a atuação da aliança GE-HITACHI Nuclear Energy (Empresa privada), formada


pelas Empresas General Electric e Hitachi.

➢ França: ELECTRICITÉ DE FRANCE – EDF - Empresa com 85% de participação do governo


francês. A concessionária estatal francesa EDF concluiu, em dezembro 2017, a aquisição de
75,5% das ações da Areva NP, empresa cuja subsidiária Framatome (antiga New NP) detém as
operações de projeto e fabricação do reator nuclear do Grupo Areva.
➢ China: CHINA NATIONAL NUCLEAR CORPORATION (CNNC) - Empresa estatal chinesa que
atua em toda a cadeia, inclusive produzindo o elemento combustível e o urânio.
➢ Rússia: ROSATOM - Empresa estatal russa que atua em toda a cadeia de geração de energia
nuclear, construção e operação de usinas, e produz ainda os elementos combustíveis. Fabrica
o modelo VVER-1200, baseado no modelo PWR.
➢ Coreia do Sul: KOREA HYDRO & NUCLEAR POWER COMPANY (KHNP) - Empresa de
propriedade (100%) da Korea Eletric Power Corporation (KEPCO), concessionária de serviços
públicos, cujo governo da Coreia do Sul possui 51,1%. Produz o modelo APR1400 que também
é baseado no modelo PWR.
➢ Canadá: ATOMIC ENERGY OF CANADA LTD (AECL) - Empresa federal cujo único proprietário
é o Governo do Canadá.
➢ Índia: NUCLEAR POWER CORPORATION OF INDIA LTDA. (NPCIL) - Empresa estatal do
Governo da Índia. A NPCIL é responsável pelo projeto, construção, comissionamento e
operação de reatores nucleares.
➢ Argentina: INVAP S.E. - Empresa estatal de fabricação de reatores nucleares. O Estado do
Rio Negro é o proprietário de 100% das ações e compartilha a direção da empresa com o
estado Nacional através da Comissão Nacional de Energia Atômica da Argentina (CNEA).
Apesar de ser uma empresa estatal, a INVAP opera como uma empresa privada, atuando
também nos setores espacial, de defesa e de serviços de integração tecnológica, que inclui
construção de centros de medicina nuclear e radioterapia.

51
7. GOVERNANÇA CORPORATIVA

7.1. A empresa adota as melhores práticas de governança


corporativa?
A NUCLEP não é listada em bolsa. Para se adequar às mudanças introduzidas pelo Lei nº
13.303/16 e Decreto nº 8.945/16, a companhia reformulou seu estatuto, em 19.04.2018, e
definiu a sua estrutura de governança, que consta detalhada no Apêndice a este Relatório.

A Empresa formalizou seu Código de Conduta e Integridade, em 26.06.2018, que em linhas


gerais aborda princípios éticos e compromissos de conduta com seus stakeholders (usuários
das informações) e procedimentos quanto ao uso de informações privilegiadas.

A Política de Gestão de Riscos foi formalizada em 26.06.2018.

Consta ainda como iniciativas alinhadas às mudanças introduzidas pelo IBGC quanto à
governança corporativa:

➢ Política de distribuição de dividendos;


➢ Política de divulgação das informações;
➢ Política de partes relacionadas.

Contudo, não há formalizado uma política sobre prevenção e detecção de atos de natureza
ilícita, conforme disseminado nas melhores práticas de governança corporativa.

A Unidade informou, como exemplo da adesão às boas práticas de governança corporativa, a


criação pela Diretoria Executiva da Gerência de Gestão de Riscos e Conformidade que atua
como agente central para garantir que os riscos corporativos sejam monitorados e geridos,
assim como, para garantir que todos os normativos internos e externos sejam devidamente
cumpridos, em linha com os dispositivos legais.

Criou-se, também, o Comitê Permanente de Integridade, Governança, Riscos e Controle com


o objetivo de fixar diretrizes para promoção da conformidade, como condição fundamental
da boa governança, visando prevenir a ocorrência de irregularidades e desvios éticos que
possam vir a ocorrer na Companhia. Instituiu-se ainda o Comitê Permanente de Gestão
Estratégica para auxiliar na elaboração do Planejamento Estratégico da Companhia.

O Comitê Permanente de Governança Corporativa elaborou a Matriz de Riscos Estratégicos


da NUCLEP, com mapeamento dos riscos compreendendo o período de 01.01 a 31.12.2018,
porém não houve atualização da Matriz de Riscos. A Matriz de Riscos encontra-se detalhada
no Anexo VI do Apêndice do presente documento.

Não obstante a existência de política de gestão de riscos, de uma matriz de riscos e um plano
de ação, o gerenciamento de riscos da NUCLEP encontra-se, ainda, em estágio incipiente, visto
que a maioria das atividades iniciaram em 2019.

52
Cabe mencionar que o indicador de governança - IG SEST conferiu, no 4º ciclo de avaliação em
2019, o nível 1 de governança à NUCLEP.

7.2. A empresa adota sistema integrado de controle interno e


gerenciamento de riscos?
A NUCLEP, mediante a manifestação CE P–076/2019, informou que:

A Gerência de Gestão de Riscos e Conformidade tem elaborado normativos internos


relativos à Gestão de Riscos e Controles Internos, assim como preside o Comitê
Permanente de Controles Internos de modo a levantar processos, realizar análises
de riscos, controles internos e melhoria contínua inicialmente das demandas do RH,
segundo Relatório de Auditoria Anual de Contas nº 201800436 emitido pela CGU.

Não foi evidenciada a efetiva adoção de um sistema integrado de controle interno, e, em


relação à resposta apresentada pela NUCLEP, destaca-se que o referido relatório avaliou os
controles internos da gestão de pessoas e as análises emitidas tratam apenas da gestão de
pessoas e não aborda sistema integrado de controle interno para toda a empresa estatal.

53
CONCLUSÃO
Considerando as análises realizadas no âmbito das questões de auditoria formuladas,
avaliaram-se os riscos de seis cenários possíveis, conforme será detalhado a seguir, nos
quadros abaixo:

✓ Cenário 1 – Situação Atual;


✓ Cenário 2 – Ajuste das despesas com pessoal, visando reduzir a dependência financeira
e a ociosidade industrial;
✓ Cenário 3 – Ajuste das despesas com pessoal e aumento da receita decorrentes da
retomada de obras previstas no PNB;
✓ Cenário 4 – Ajuste das despesas com pessoal, aumento da receita decorrentes de
projetos de outros setores, como, por exemplo, óleo e gás, defesa, mineração, elétrico
e etc. Além da implementação de atividades de pesquisa e educacionais que possam
justificar, em função do impacto social da empresa, algum nível de dependência do
Governo Federal;
✓ Cenário 5 – Ajuste das despesas com pessoal, aumento da receita decorrentes da
retomada de obras previstas no PNB e de projetos de outros setores, como, por
exemplo, óleo e gás, defesa, mineração, elétrico etc. Além da implementação de
atividades de pesquisa e educacionais que possam justificar, em função do impacto
social da empresa, algum nível de dependência do Governo Federal;
✓ Cenário 6 – Alienação total ou parcial da NUCLEP (com cessão do controle);
✓ Cenário 7 – Liquidação da NUCLEP.

Entende-se que as decisões acerca do futuro da NUCLEP devem ser tomadas após a avaliação
da participação da energia nuclear dentro da matriz energética nacional, segundo os critérios
definidos no Plano Nacional de Energia 2050, e da manutenção da capacidade de fabricação
de componentes e equipamentos pesados nucleares que garantam ao país o domínio de todo
ciclo do urânio, desde a prospecção até a geração de energia.

Sugere-se que, caso o Governo Federal decida pela participação da NUCLEP e da indústria de
bens de capital brasileira em empreendimentos termonucleares futuros e em Angra 3, os
estudos em andamento avaliem os impactos dos modelos jurídicos e operacionais na cadeia
produtiva nuclear brasileira.

Deve-se levar em consideração também a importância da empresa no desenvolvimento de


projetos estratégicos de defesa, tais como os cascos dos submarinos convencionais e nuclear
e os equipamentos para o reator do submarino nuclear, além do fomento da base industrial
de defesa (BID).

Por relevante, faz-se necessário esclarecer que os riscos apresentados a seguir não foram
mensurados em função da sua probabilidade e do seu impacto. Portanto, os riscos
identificados, quer sejam iguais ou semelhantes, podem variar quanto a sua probabilidade de
ocorrência e o seu impacto nos diferentes cenários analisados.

54
QUADRO 11 – RISCOS ASSOCIADOS À ALIENAÇÃO TOTAL, PARCIAL OU LIQUIDAÇÃO DA NUCLEP
PARÂMETRO / CATEGORIA CENÁRIO 6 CENÁRIO 7
DE RISCO
ALIENAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DA NUCLEP (CESSÃO DE CONTROLE) LIQUIDAÇÃO DA NUCLEP
MERCADO (FALHAS) • O nível de atividade do setor nuclear e da indústria de capital pode ser • O nível de atividade do setor nuclear e da indústria de capital
insuficiente para gerar interesse de investimentos do setor privado (com pode ser insuficiente para gerar interesse de investimentos do
possível impacto no valuation da empresa); setor privado (com consequente ausência de fornecedores
• Existência de um único cliente (governo brasileiro), com longo histórico de nacionais nos setores em que a Nuclep atua);
restrições orçamentárias em suas contratações, pode gerar incentivos para que • Longo histórico de restrições orçamentárias do governo
a empresa precifique, em cada fornecimento, margem de risco brasileiro em suas contratações, pode gerar incentivos para que os
desproporcional; fornecedores internacionais precifiquem, em cada fornecimento,
• Risco de inviabilidade da continuidade operacional da empresa, gerando margem de risco desproporcional;
uma “liquidação em duas etapas”;
SEGURANÇA ENERGÉTICA E • Risco de não contratualização de fornecimentos de longo prazo para de • Dependência de fornecedores internacionais para a cadeia
OPERACIONAL atender as demandas energéticas futuras previstas no Plano Nacional de nuclear, mercado que pode ser atingido por contingências
Energia 2050; geopolíticas, cambiais, etc, pode impossibilitar o atendimento às
• Redução da confiabilidade operacional das usinas nucleares Angra I e II, caso demandas energéticas futuras previstas no Plano Nacional de
o novo bloco de controle da empresa decida não prestar assistência para Energia 2050;
problemas técnicos de substituição de equipamentos e manutenção, o que • Redução da confiabilidade operacional das usinas nucleares
demandaria a vinda de técnico do exterior ou o fornecimento externo de Angra I e II, uma vez que problemas técnicos de substituição de
materiais e equipamentos; equipamentos e manutenção demandariam a vinda de técnico do
exterior ou o fornecimento externo de materiais e equipamentos;
DESENVOLVIMENTO • Em caso de descontinuidade de operações da empresa (por mudança de • Perda da tecnologia de fabricação de componentes e
TECNOLÓGICO estratégia empresarial ou insolvência): equipamentos pesados nucleares e do setor de Defesa Nacional;
o Perda da tecnologia de fabricação de componentes e equipamentos • Redução da capacidade do setor de mecânica pesada nacional
pesados nucleares e do setor de Defesa Nacional; fortemente afetada na recente crise econômica;

55
PARÂMETRO / CATEGORIA CENÁRIO 6 CENÁRIO 7
DE RISCO
ALIENAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DA NUCLEP (CESSÃO DE CONTROLE) LIQUIDAÇÃO DA NUCLEP
o Redução da capacidade do setor de mecânica pesada nacional • Impossibilidade de aproveitamento em outros setores de
fortemente afetada na recente crise econômica; transbordamentos tecnológicos oriundos da fabricação de
o Impossibilidade de aproveitamento em outros setores de componentes nucleares;
transbordamentos tecnológicos oriundos da fabricação de • O país retornaria à condição de dependente tecnológico para
componentes nucleares; fabricação dos componentes e equipamentos pesados para usinas
o O país retornaria à condição de dependente tecnológico para nucleoelétricas, após os investimentos vultosos realizados nos
fabricação dos componentes e equipamentos pesados para usinas últimos 35 anos para atingir o domínio de todas as etapas do ciclo
nucleoelétricas, após os investimentos vultosos realizados nos últimos de urânio;
35 anos para atingir o domínio de todas as etapas do ciclo de urânio; • A extinção da NUCLEP pode inviabilizar a participação do país
• Aproveitamento em outros setores de transbordamentos tecnológicos em projetos de pesquisa internacionais de desenvolvimento
oriundos da fabricação de componentes nucleares dependente de coordenação nuclear voltados para geração de energia e outras aplicações;
da empresa (iniciativa privada) com o sistema nacional de inovação;
• Ausência de incentivos do ator privado para participação do país em
projetos de pesquisa internacionais de desenvolvimento nuclear voltados para
geração de energia e outras aplicações;
DEFESA NACIONAL • Risco de não contratualização de longo prazo para atingimento dos objetivos • Comprometimento dos objetivos do PROSUB e dos interesses
do PROSUB e dos interesses estratégicos de Defesa Nacional; estratégicos de Defesa Nacional;
ECONÔMICO/FINANCEIRO • Caso não seja estabelecido alguma garantia de demanda de médio e longo • Subavaliação de equipamentos industriais, máquinas e
prazo (contratos de fornecimento de longo prazo ou conteúdo local), risco de equipamentos já amortizados, porém com valor econômico
subavaliação de equipamentos industriais, máquinas e equipamentos já possivelmente relevante.
amortizados, porém com valor econômico possivelmente relevante.

56
QUADRO 12 – RISCOS ASSOCIADOS AO CONTROLE DA NUCLEP PELA UNIÃO
PARÂMETRO CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 CENÁRIO 5
SITUAÇÃO ATUAL AJUSTE DAS DESPESAS CENÁRIO 2 + OBRAS DO CENÁRIO 2 + PROJETOS DE CENÁRIO 4 + OBRAS DO PNB
C/PESSOAL PNB OUTROS SETORES + ATIVIDADES
EDUCACIONAIS E DE PD&I
RECEITA Ausência de uma carteira firme Ausência de uma carteira Criação de uma carteira Carteira instável de clientes de Criação de uma carteira firme de
de clientes de curto, médio e firme de clientes de curto, firme de clientes de médio e curto, médio e longo prazo clientes de médio e longo prazo
longo prazo. médio e longo prazo. longo prazo. referente ao PNB, uma vez que referente ao PNB. Entretanto,
receitas de outros setores (óleo e possíveis receitas de outros
gás, defesa e etc.) dependem de setores (óleo e gás, defesa e etc.)
outros fatores externos não dependem de outros fatores
necessariamente controláveis externos não necessariamente
pela NUCLEP. controláveis pela NUCLEP.
DESPESAS Manutenção das despesas com Impossibilidade de redução Manutenção das despesas Manutenção das despesas com Manutenção das despesas com
pessoal incompatíveis com as das despesas com pessoal com pessoal no curto prazo pessoal no curto prazo pessoal no curto prazo
receitas das atividades devido a questões incompatíveis com as incompatíveis com as receitas das incompatíveis com as receitas
industriais. trabalhistas. receitas das atividades atividades industriais. das atividades industriais.
industriais.
PESSOAL Incapacidade de retenção de Incapacidade de retenção de Possibilidade de implantação Incapacidade de retenção de Possibilidade de implantação de
pessoal em função da ausência pessoal em função da de uma política de RH pessoal em função da ausência de uma política de RH visando o
de recursos financeiros ausência de recursos visando o cenário de médio e recursos financeiros necessários cenário de médio e longo prazo.
necessários para execução de financeiros necessários para longo prazo. para execução de uma política de
uma política de RH adequada. execução de uma política de RH adequada.
RH adequada.

57
PARÂMETRO CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 CENÁRIO 5
SITUAÇÃO ATUAL AJUSTE DAS DESPESAS CENÁRIO 2 + OBRAS DO CENÁRIO 2 + PROJETOS DE CENÁRIO 4 + OBRAS DO PNB
C/PESSOAL PNB OUTROS SETORES + ATIVIDADES
EDUCACIONAIS E DE PD&I
CUSTOS DE Custos de produção superiores Custos de produção Custos de produção ainda Custos de produção superiores às Custos de produção ainda
PRODUÇÃO às receitas de venda de produtos superiores às receitas de superiores às receitas de receitas de venda de produtos e superiores às receitas de venda
e serviços. venda de produtos e venda de produtos e serviços serviços. de produtos e serviços no curto
serviços. no curto prazo (possível prazo (possível melhoria em
melhoria em médio e longo médio e longo prazo).
prazo).
Metodologia de precificação Metodologia de precificação Metodologia de precificação
inadequada dos produtos e inadequada dos produtos e inadequada dos produtos e
serviços, incluindo as serviços, incluindo as previsões serviços, incluindo as previsões
previsões dos investimentos, dos investimentos, não dos investimentos, não
não permitindo margem permitindo margem positiva e permitindo margem positiva e
positiva e compatível com as compatível com as praticadas no compatível com as praticadas no
praticadas no mercado. mercado (especialmente para mercado (especialmente para
novos produtos/serviços). novos produtos/serviços).
DESEMPENHO Capacidade ociosa de cerca de Redução insuficiente da Redução insuficiente da Redução insuficiente da Redução insuficiente da
FABRIL 75%, impossibilitando a capacidade ociosa. capacidade ociosa. capacidade ociosa. capacidade ociosa.
apropriação dos custos fabris.
EQUIPAMENTOS Níveis de investimento Níveis de investimento Demanda por investimentos Níveis de investimento Demanda por investimentos
insuficientes para reposição e insuficientes para reposição elevados para reposição e insuficientes para reposição e elevados para reposição e
modernização do parque e modernização do parque modernização do parque modernização do parque modernização do parque
industrial. industrial. industrial. industrial. industrial.

58
PARÂMETRO CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 CENÁRIO 5
SITUAÇÃO ATUAL AJUSTE DAS DESPESAS CENÁRIO 2 + OBRAS DO CENÁRIO 2 + PROJETOS DE CENÁRIO 4 + OBRAS DO PNB
C/PESSOAL PNB OUTROS SETORES + ATIVIDADES
EDUCACIONAIS E DE PD&I
FINANCEIRO * Índices de liquidez Manutenção da situação Manutenção da situação Manutenção da situação Manutenção da situação
insatisfatórios; financeira do Cenário 1 no financeira do Cenário 1 no financeira do Cenário 1 no curto financeira do Cenário 1 no curto
Elevado grau de endividamento; curto prazo (perspectivas de curto prazo (perspectivas de prazo (perspectivas de melhoria prazo (perspectivas de melhoria
Prejuízos acumulados e redução melhoria limitada no médio melhoria no médio e no no médio e no longo prazo). no médio e no longo prazo).
do patrimônio líquido. e no longo prazo). longo prazo).
CONCLUSÃO • Manutenção ou aumento da • Redução insuficiente da • Manutenção da • Manutenção da dependência • Manutenção da dependência
dependência financeira; dependência financeira; dependência financeira no financeira no curto, médio e financeira no curto prazo com
curto prazo com longo prazos. As atividades de perspectivas de redução a
• Manutenção do domínio da • Manutenção do domínio perspectivas de redução a pesquisa e educacionais para o médio e longo prazo. As
tecnologia de fabricação de da tecnologia de médio e longo prazo; público externo podem atividades de pesquisa e
componentes e equipamentos fabricação de aumentar o impacto social da educacionais para o público
pesados nucleares; componentes e • Manutenção do domínio empresa, justificando externo podem aumentar o
equipamentos pesados da tecnologia de fabricação parcialmente a dependência impacto social da empresa,
• Manutenção da capacidade de nucleares; de componentes e financeira; justificando parcialmente a
produção de equipamentos e equipamentos pesados dependência financeira;
componentes pesados para o • Manutenção da nucleares; • Manutenção do domínio da
setor de defesa nacional. capacidade de produção tecnologia de fabricação de • Manutenção do domínio da
de equipamentos e • Manutenção da componentes e equipamentos tecnologia de fabricação de
componentes pesados capacidade de produção pesados nucleares; componentes e equipamentos
para o setor de defesa de equipamentos e pesados nucleares;
nacional. componentes pesados • Manutenção da capacidade de
para o setor de defesa produção de equipamentos e • Manutenção da capacidade de
nacional. componentes pesados para o produção de equipamentos e
setor de defesa nacional. componentes pesados para o
setor de defesa nacional.

59
ANEXOS
I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA EQUIPE
DE AUDITORIA
MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA

O Presidente da NUCLEP, por meio do Ofício nº 131/2019/P-NCP, de 20.09.2019, em resposta


ao Relatório Preliminar nº 201902354 encaminhado à NUCLEP, mediante o Ofício n.º
19380/2019/GAB-RJ/RIO DE JANEIRO/CGU, de 13.09.2019, apresentou a seguinte
manifestação, transcrita integralmente, inclusive, mantendo-se os grifos do autor:

“Cumprimentando-o cordialmente, fazemos uso do presente para, em atenção à versão


preliminar do Relatório de Avaliação desta Companhia – Exercício 2019, que instruiu o OFÍCIO
Nº 19380/2019/GAB-RJ/RIO DE JANEIRO/CGU, de 13/09/2019, submeter à análise de V.S. ª as
observações abaixo que acreditamos agregar no referido documento:

Na página 26, subitem 2.11., que trata do nível de dependência da empresa estatal em
relação a aportes, receitas e funding governamentais, restou consignado, no quarto
parágrafo, que entre 2003 e 2018, as despesas administrativas cresceram 1158%, em razão
do acréscimo da mão-de-obra contratada pela NUCLEP para execução das atividades meio.
Neste ponto, esclarecemos que tal acréscimo se deu em decorrência das restrições
legislativas à época, acerca do instituto da terceirização. Neste contexto, viu-se a NUCLEP
compelida a celebrar um acordo nos autos da Ação Civil Pública nº 0192600-
30.2007.5.01.0461, movida pelo Ministério Público do Trabalho, comprometendo-se, assim,
a substituir gradativamente os seus trabalhadores terceirizados por trabalhadores
concursados, fato que ensejou o identificado crescimento de despesas. Hoje, com a vigência
do Decreto nº 9.508/2018, a NUCLEP possui autorização legal para terceirizar suas
atividades, em decorrência do incremento temporário do volume de seus serviços.

Na página 27, subitem 2.12., que trata do nível de maturidade da metodologia de precificação
dos produtos/serviços existentes na NUCLEP, sugerimos incluir, no segundo parágrafo, o
período de construção dos cascos das plataformas P-51 e P-56, portanto, deixar consignado
que foram construídos no período de 2004 a 2008. Ainda, esclareceremos que desde janeiro
de 2017, a atual gestão vem procurando mitigar todos os processos de modo que os valores
cobrados reproduzam efetivamente os gastos envolvidos. Da mesma forma, novos modelos
de apropriação de custos foram implantados para dar suporte a uma precificação efetiva,
como recentemente ocorreu no contrato com a ThyssenKrupp, firmado em Agosto/2019.

Na página 39, subitem 4.4., que trata do nível e o perfil de endividamento da empresa estatal,
constou erro material no que tange ao prazo de liquidação da dívida com o Nucleos. No
lugar de outubro/2019, deveria ter constado outubro/2039. Relativamente à dívida com a
INB, que deveria ter sido liquidada até 31/12/1998, esclarecemos que a questão está sendo
analisada pela CONJUR/MME – Ministério Supervisor de ambas as empresas, em razão da
divergência de entendimentos acerca de exigibilidade de tal dívida, pois a NUCLEP entende
que ocorreu a prescrição, porém a INB assim não reconhece.

60
Ainda na página 39, subitem 4.5., que trata dos principais ativos e unidades geradores de
caixa da empresa estatal, entendemos que além do seu Parque Fabril, a NUCLEP conta um
Terminal de Uso Privado – TUP que também pode ser considerado como uma fonte geradora
de caixa. O TUP da NUCLEP, atualmente em processo de manutenção preventiva e corretiva
(recuperação estrutural) possibilitará agregar dentro em breve um expressivo faturamento
como também creditará um diferencial a NUCLEP ao ter o modal marítimo na sua plenitude,
importante para a retirada de grandes estruturas que não poderiam ser deslocadas por vias
rodoviárias ou terrestres.

Na página 40, subitem 5.1., que trata do perfil da força de trabalho da empresa estatal, no
terceiro parágrafo, os números devem ser retificados para constar que: As adesões ao plano
foram iniciadas em 02/05/2018, 174 empregados se inscreveram, 131 se desligaram até
31/08/2019, 4 estão com desligamento previsto até dezembro/2019 e 39 estão aguardando
a carta de concessão da aposentadoria pelo INSS. Da mesma forma, necessita de retificação
os números do “Quadro Resumo de gastos com pessoal”, na forma abaixo:

ANO NUCLEP
2012 R$ 109.417.429,69
2013 R$ 130.394.327,21
2014 R$140.210.815,06
2015 R$ 179.082.234,36
2016 R$ 205.740.015,27
2017 R$ 215.138.772,79
2018 R$ 221.785.494,03
2019 (até agosto) R$ 126.455.232,55
TOTAL R$ 1.328.224.320,96

Igualmente, carece de correção a Tabela – Quantitativo total de Pessoal. Os números corretos


são:
Exercício Qtd Pessoal
2011 848
2012 999
2013 984
2014 1048
2015 1066
2016 1058
2017 1067
2018 1034
2019/Ago 900

Na página 41, subitem 5.1., no tópico Aposentados e Pensionistas, a informação correta é:


Até 31.09.2019, constam 32 empregados ativos Aposentados pelo INSS. Ainda na mesma
página, no tópico Funções de Gerência e Direção, impõe-se alguns ajustes, pois dos 16
Gerentes Gerais, 5 são de provimento interno. Algumas correções foram feitas na tabela
abaixo por conta de que apenas os membros do COAUD, Conselhos e Diretoria não têm
vínculo empregatício com a empresa:

61
QUANTIDADE
OCUPADO
DENOMINAÇÃO / NÍVEL
COM VÍNCULO SEM VÍNCULO
SUBTOTAL
EMPREGATÍCIO EMPREGATÍCIO
Assessor 3 - 3
Assessor da Diretoria Executiva 6 - 6
Assistente 21 - 21
Consultor 1 - 1
Gerente 30 - 30
Gerente Geral 16 - 16
Secretária da Diretoria 3 - 3
Secretária da Presidência 2 - 2
Auditor Geral* - 1 1
Comitê de Auditoria - 3 3
Conselheiro de Administração** 1 4 5
Conselheiro Fiscal - 3 3
Diretor - 3 3
Presidente - 1 1
TOTAL 83 15 98

* Cedido de outro órgão para a NUCLEP


** 1 Conselheiro de Administração, sem vínculo empregatício, não foi incluído por ser também
Presidente.

Na página 43, subitem 5.1., tópico Plano de Previdência Privada, consideramos salutar
acrescer que recentemente, em cumprimento a Resolução CGPAR 25, foi aprovado, no
âmbito do Conselho Deliberativo do Nucleos, o fechamento do Plano de Benefício Definido
(BD) e consequente criação do Plano de Contribuição Definida (CD), aguardando, apenas, a
aprovação no âmbito das patrocinadoras, do Ministério Supervisor e da SEST, conforme
determinada a Portaria DEST nº 27/2012. Com o fechamento do BD e a criação do CD, haverá
mitigação de riscos futuros de custos não previstos.

Na página 47, subitem 7.1., que trata das melhores práticas de governança corporativa,
esclarecemos que a NUCLEP tem realizado esforços constantes no que tange Governança
Corporativa, como:

• a revisão da Política de Gestão de Riscos e criação das Políticas de


Conformidade e Governança, ambas em fase de aprovação;
• o Código de Conduta e Integridade foi apresentado em forma de treinamento
para os funcionários, Diretoria Executiva e Conselho de Administração;
• a Diretoria Comercial foi oficialmente definida como responsável pelo
acompanhamento periódico das ações advindas do Plano de Negócios,
conforme deliberação VI da Ata da 615ª Reunião Ordinária da Diretoria
Executiva, de 08/05/2019;

62
• o Comitê de Integridade, Governança, Riscos e Controle foi criado de modo a
institucionalizar estruturas adequadas de integridade, governança, gestão de
riscos e controles internos, dentre outras atribuições;
• a Gerência de Gestão de Riscos e Conformidade foi estruturada em novembro
de 2018 e estruturou o Gerenciamento de Riscos da Empresa utilizando o
framework COSO e a ISO 31000:2018, emitindo um Método de Gestão de
Riscos e Manuais de Fluxos de Processos de todos os seus processos de
operação de Gerenciamento de Riscos; e
• em parceria com a Auditoria Interna, a Gerência de Gestão de Riscos e
Conformidade estruturou a segregação de funções de Análise de Riscos do
próprio setor e Controles Internos de forma integrada, de modo que a Gestão
da Conformidade e operações do setor sejam realizadas de forma
interdependente.

Na página 51, que trata do Quadro – Riscos Associados ao Controle da NUCLEP pela União,
como desconhecemos as premissas que fundamentaram os cenários criados, não temos
muito o que agregar, entretanto, causa estranheza que ainda no melhor cenário (5), o mesmo
não é favorável à Companhia, mesmo diante das perspectivas alvissareiras, como a
implementação/execução das ações provenientes do Plano de Negócios no que tange a
entrada de novos mercados.” (grifos do autor).

ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA


A manifestação da Unidade foi analisada, e as correções consideradas necessárias já foram
incorporadas ao corpo do Relatório.

63

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