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REABILITAÇÃO DE REVESTIMENTOS DE PAREDES

DE EDIFÍCIOS ANTIGOS

PROPOSTA DE METODOLOGIA DE APOIO AO PROJECTO

Maria do Carmo Nevado Gonçalves de Carvalho

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Construção e Reabilitação

Orientadoras: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen


Professora Doutora Maria Paulina Santos Forte de Faria Rodrigues

Júri
Presidente: Professor Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques
Orientadora: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen
Vogal: Professor Doutor José Maria da Cunha Rego Lobo de Carvalho

Outubro de 2014
Agradecimentos

Gostaria de começar por referir que este trabalho de investigação contou com os valiosos e
indispensáveis contributos de inúmeras pessoas nas diversas fases do processo. As minhas palavras
de profundo e sentido agradecimento são dirigidas a todas estas pessoas que contribuíram para a
concretização da dissertação, sem as quais este trabalho não teria sido possível.

À Professora Doutora Inês Flores-Colen e à Professora Doutora Paulina Faria, orientadoras da


dissertação, muito agradeço o apoio e as importantes contribuições ao longo da elaboração do meu
trabalho, fundamentais para a conclusão desta dissertação.

O meu profundo agradecimento ainda a todos os intervenientes em reabilitação e conservação que,


com a disponibilidade e interesse demonstrados, colaboraram para o desenvolvimento da
investigação espelhada neste trabalho através da resposta ao inquérito sobre as melhores práticas e
as principais preocupações em torno desta temática em termos dos procedimentos por si aplicados.
Com a sua experiência, contribuíram amavelmente para o enriquecimento do estudo e para o
sucesso que espero deste trabalho, tanto na perspectiva académica como projectual e empresarial.

i
ii
Resumo

Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte
em alvenaria de pedra e argamassas de revestimento à base de cal aérea, o presente trabalho tem
como objectivos principais a apresentação de proposta de metodologia de apoio ao projecto de
reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e a sua aplicação.

Na investigação da autora é fundamental a definição dos principais tipos de intervenientes e aspectos


para reabilitação e conservação de edifícios antigos a integrar a proposta. A metodologia de
investigação consiste na realização de um inquérito a intervenientes diversos ao nível da reabilitação,
elaboração de uma proposta de metodologia e sua aplicação a um caso de estudo. A proposta visa
constituir um guia de apoio à decisão e projecto neste âmbito, consistindo numa sequência de
procedimentos relevantes de apoio, e ser testada mediante a sua aplicação ao edifício.

Nesta dissertação concluiu-se que na fase de concepção é essencial a avaliação do estado de


conservação do edifício e respectivos revestimentos exteriores, o seu diagnóstico e da parede de
suporte, definição da intervenção, especificação de materiais a utilizar e requisitos de desempenho a
cumprir no revestimento e, ainda, previsão de planos de conservação e manutenção periódica.
Salienta-se a compatibilização de materiais e a complementaridade entre tipos de intervenientes em
reabilitação e conservação. A existência de uma metodologia de apoio ao projecto pode constituir
uma orientação particularmente para projectistas e melhorar o entendimento de intervenientes
directos em obra, contribuindo assim para a correcta execução da intervenção.

Palavras-chave: reabilitação, conservação, edifícios antigos, revestimentos de paredes, metodologia de apoio.

iii
iv
Abstract

Based on the integrated understanding of rehabilitation intervention in an old building, with load-
bearing stone masonry and air-lime based renders, the present work has as main objectives a
proposal for a methodology to support the rehabilitation project of wall renders of old buildings and its
application.

The definition of the main types of participants and aspects for rehabilitation and conservation of old
buildings to integrate the proposal is essential in the author research. The research methodology
consists of an inquiry presented to professional participants in rehabilitation, the establishment of a
methodology proposal and its application to a case study. The proposal aims to provide a supporting
guide to decide and project in this context, consisting in a sequence of relevant supporting procedures,
also to be tested with its application to the building.

In this dissertation, it is concluded that, during project design, the assessment of the condition of the
building and external renderings, its diagnosis and of the supporting walls, the definition of intervention,
the specification of materials to be used and performance requirements to comply, and also plans for
conservation and periodic maintenance, are crucial. Compatibility between materials as well as
complementary roles of different types of participants in rehabilitation and conservation must be
highlighted. The existence of an integrated supporting methodology to the project can provide a proper
and useful guidance particularly for architects and engineers, and also improve the understanding of
direct participants on site, therefore contributing for the correct implementation of the intervention.

Keywords: rehabilitation, conservation, old buildings, renders, supporting methodology.

v
vi
Índice

Agradecimentos .........................................................................................................................................i
Resumo ................................................................................................................................................... iii
Abstract.....................................................................................................................................................v
Índice ...................................................................................................................................................... vii
Índice de figuras ...................................................................................................................................... ix
Índice de tabelas ..................................................................................................................................... xi

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1
1.1. Enquadramento geral e âmbito da investigação ..................................................................... 1
1.2. Objectivos da dissertação ....................................................................................................... 3
1.3. Metodologia de estudo ............................................................................................................ 4
1.4. Organização do documento .................................................................................................... 5

2. Conservação e reabilitação de revestimentos em edifícios antigos ............................................... 7


2.1. Enquadramento e princípios da reabilitação ........................................................................... 7
2.2. Diagnóstico e intervenção ....................................................................................................... 8
2.2.1. Reabilitação de edifícios antigos ..................................................................................... 8
2.2.2. Revestimentos de paredes ............................................................................................ 10
2.2.3. Patologia e diagnóstico ................................................................................................. 11
2.2.4. Estado de conservação e estratégias de intervenção................................................... 15
2.2.5. Conservação / Manutenção ........................................................................................... 16
2.3. Metodologias existentes de apoio à reabilitação de edifícios antigos................................... 18
2.4. Síntese do capítulo ................................................................................................................ 25

3. Caracterização construtiva de paredes e revestimentos de edifícios antigos .............................. 27


3.1. Paredes antigas de suporte ................................................................................................... 27
3.1.1. Considerações iniciais ................................................................................................... 27
3.1.2. Alvenaria de pedra ........................................................................................................ 27
3.1.3. Funções da parede e contributo do revestimento ......................................................... 28
3.2. Argamassas de revestimento tradicionais/vernaculares ....................................................... 29
3.2.1. Considerações iniciais ................................................................................................... 29
3.2.2. Argamassas ................................................................................................................... 29
3.2.3. Exigências funcionais e parâmetros de desempenho ................................................... 35
3.3. Argamassas de substituição.................................................................................................. 35
3.3.1. Considerações iniciais ................................................................................................... 35
3.3.2. Exigências funcionais dos revestimentos ...................................................................... 36
3.3.3. Compatibilidade ............................................................................................................. 36
3.3.4. Caracterização e requisitos de argamassas de substituição ........................................ 38
3.3.5. Método de selecção e formulação de argamassas de substituição .............................. 40
3.3.6. Utilização e tipos de argamassas de cal para reabilitação ........................................... 40
3.4. Documentação internacional e nacional ............................................................................... 41

vii
3.5. Síntese do capítulo ................................................................................................................ 41

4. Inquérito sobre revestimentos de paredes de edifícios antigos .................................................... 45


4.1. Considerações gerais ............................................................................................................ 45
4.2. Definição de aspectos para a reabilitação de revestimentos antigos ................................... 46
4.2.1. Identificação de principais tipos de intervenientes em reabilitação e selecção de
amostra ....................................................................................................................................... 46
4.2.2. Elaboração de ficha-tipo de inquérito e preenchimento conforme a amostra de
intervenientes .............................................................................................................................. 47
4.2.3. Análise de resultados .................................................................................................... 52
4.3. Síntese de conclusões do inquérito ...................................................................................... 71

5. Metodologia para reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos ........................ 75


5.1. Considerações gerais ............................................................................................................ 75
5.2. Proposta de metodologia de estudo e apoio à reabilitação de revestimentos antigos ......... 75
5.2.1. Objectivos da proposta de metodologia de avaliação e reabilitação ............................ 75
5.2.2. Compatibilidade dos elementos .................................................................................... 76
5.2.3. Procedimentos e critérios relevantes na fase de concepção ........................................ 76
5.2.4. Proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de
paredes ....................................................................................................................................... 77
5.2.5. Considerações finais sobre a proposta de metodologia ............................................... 81
5.3. Aplicação da metodologia proposta a caso de estudo .......................................................... 82
5.3.1. Considerações gerais .................................................................................................... 82
5.3.2. Enquadramento histórico e caracterização do caso de estudo .................................... 83
5.3.3. Caracterização estrutural e construtiva do edifício ....................................................... 85
5.3.4. Metodologia de trabalho ................................................................................................ 89
5.3.5. Estado de conservação e diagnóstico do edifício ......................................................... 90
5.3.6. Diagnóstico dos revestimentos de paredes .................................................................. 94
5.3.7. Definição da intervenção no revestimento de paredes ................................................. 96
5.3.8. Especificação dos revestimentos .................................................................................. 98
5.3.9. Considerações finais sobre o caso de estudo ............................................................. 102
5.4. Análise crítica da aplicação da metodologia de apoio proposta ......................................... 103
5.5. Considerações finais da metodologia ................................................................................. 108

6. Conclusões e desenvolvimentos futuros ..................................................................................... 109


6.1. Considerações finais ........................................................................................................... 109
6.2. Perspectivas de desenvolvimento futuro neste domínio ..................................................... 113

Referências bibliográficas ................................................................................................................... 115

Anexos
Anexo A. Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito .................................................. A1.I
Anexo B. Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos ................................. B1.I

viii
Índice de figuras

Figura 2.1 - Planeamento e execução descuidados comprometendo o acabamento final de uma obra
com intervenção ao nível do reboco ....................................................................................................... 9
Figura 2.2 - Revestimento antigo em várias camadas, séc. I ............................................................... 11
Figura 2.3 - Realização de corte estratigráfico in situ ........................................................................... 12
Figura 2.4 - Revestimento com perda de aderência generalizada ....................................................... 14
Figura 2.5 - Tipos de estratégias de intervenção .................................................................................. 14
Figura 2.6 - Fases de uma intervenção de reabilitação na construção ................................................ 19
Figura 2.7 - Excerto de ficha de verificação para a Certificação das Condições Mínimas de
Habitabilidade ........................................................................................................................................ 20
Figura 2.8 - Metodologia para a implementação de checklists em intervenções de reabilitação ......... 21
Figura 2.9 - Relação entre os vários conteúdos do sistema Buildings Life .......................................... 21
Figura 2.10 - Metodologia de caracterização de argamassas antigas seguida no LNEC .................... 23
Figura 2.11 - Metodologia para determinação da composição de argamassas antigas empregue no
LNEC ..................................................................................................................................................... 24
Figura 2.12 - Metodologia de diagnóstico geral para revestimentos antigos ........................................ 25
Figura 3.1 - Pedreira em Alpalhão ........................................................................................................ 28
Figura 3.2 - Camada intermédia de reboco picada para aderência da seguinte .................................. 30
Figura 3.3 - Textura de um reboco tradicional caiado ........................................................................... 31
Figura 3.4 - Argamassa de cal bastante consistente pronta a aplicar .................................................. 33
Figura 3.5 - Painéis experimentais para avaliar o comportamento das argamassas de revestimento
em suportes finais de alvenaria de pedra ............................................................................................. 35
Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes ......................................................................... 48
Figura 4.2 - Tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios correspondente à
amostra .................................................................................................................................................. 53
Figura 4.3 - Indicadores e procedimentos para a intervenção em revestimentos de paredes antigas 53
Figura 4.4 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes ........................ 54
Figura 4.5 - Preocupações com a patologia, diagnóstico da parede de suporte e definição da
intervenção ............................................................................................................................................ 55
Figura 4.6 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver ........ 56
Figura 4.7 - Técnicas de caracterização experimentais no diagnóstico do edifício .............................. 57
Figura 4.8 - Especificação de revestimentos de paredes exteriores .................................................... 58
Figura 4.9 - Desenhos e especificações no projecto ............................................................................ 58
Figura 4.10 - Opção pelo tipo de produtos ............................................................................................ 59
Figura 4.11 - Experimentação do produto escolhido ............................................................................ 60
Figura 4.12 - Especificação dos materiais e produtos a utilizar ............................................................ 60
Figura 4.13 - Ficha técnica do material na especificação ..................................................................... 61
Figura 4.14 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto .......................................... 61
Figura 4.15 - Especificação da composição da argamassa a utilizar ................................................... 62

ix
Figura 4.16 - Descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas ........................... 63
Figura 4.17 - Especificação ou execução de revestimento exterior ..................................................... 63
Figura 4.18 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada ........................................ 64
Figura 4.19 - Verificação e utilização das normas aplicáveis ............................................................... 65
Figura 4.20 - Especificação dos requisitos pretendidos para o revestimento exterior ......................... 66
Figura 4.21 - Critérios de compatibilidade dos revestimentos .............................................................. 66
Figura 4.22 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição ... 67
Figura 4.23 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco . 68
Figura 4.24 - Conservação do revestimento como opção mais correcta e favorável ........................... 69
Figura 4.25 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores . 70
Figura 5.1 - Processo para o desenvolvimento da proposta de metodologia de apoio ao projecto de
reabilitação ............................................................................................................................................ 75
Figura 5.2 - Base para a proposta de metodologia de apoio ao projecto ............................................. 77
Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto ................................................................. 78
Figura 5.4 - Síntese da proposta de metodologia ................................................................................. 81
Figura 5.5 - Observatório Astronómico integrado no Jardim Botânico de Lisboa ................................. 83
Figura 5.6 - Equipamentos de observação no âmbito da Astronomia .................................................. 83
Figura 5.7 - Implantação do Observatório Astronómico no conjunto do Jardim Botânico de Lisboa ... 84
Figura 5.8 - Vista da implantação do Observatório Astronómico .......................................................... 85
Figura 5.9 - Fachadas do Observatório Astronómico - fachada principal ou vista Sudeste e fachada
lateral direita ou alçado Norte ............................................................................................................... 85
Figura 5.10 - Vistas do Observatório Astronómico - vista Sul e vista Norte ......................................... 86
Figura 5.11 - Desenhos do Observatório Astronómico - plantas e alçado principal ............................. 87
Figura 5.12 - Diversas vistas do Observatório Astronómico ................................................................. 87
Figura 5.13 - Diversas vistas da fachada principal do Observatório Astronómico................................ 88
Figura 5.14 - Vistas exteriores e interiores do Observatório Astronómico ............................................ 89
Figura 5.15 - Fachada posterior ou vista Noroeste do Observatório Astronómico ............................... 90
Figura 5.16 - Anomalias nas fachadas do Observatório Astronómico - vista Sudoeste e vista Este ... 91
Figura 5.17 - Anomalias no Observatório Astronómico ........................................................................ 92
Figura 5.18 - Observatório Astronómico em risco ................................................................................. 93
Figura 5.19 - Anomalias em revestimentos de fachadas ...................................................................... 95
Figura 5.20 - Anomalias associadas a elementos decorativos de fachadas ........................................ 95
Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta ........................................... 104
Figura 5.22 - Exemplo de preenchimento relativo ao diagnóstico dos revestimentos na aplicação ao
caso de estudo .................................................................................................................................... 104

x
Índice de tabelas

Tabela 2.1 - Fases da intervenção de reabilitação em que os métodos de inspecção e ensaio são
aplicáveis ............................................................................................................................................... 19
Tabela 2.2 - Níveis de degradação para rebocos exteriores ................................................................ 23
Tabela 3.1 - Resumo da documentação internacional e nacional ........................................................ 42
Tabela 4.1 - Lista de intervenientes ...................................................................................................... 46
Tabela 4.2 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes ....................... 54
Tabela 4.3 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver ....... 56
Tabela 4.4 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto ............................................ 62
Tabela 4.5 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada ......................................... 65
Tabela 4.6 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição ..... 68
Tabela 4.7 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco .. 69
Tabela 4.8 - Justificações para a conservação do revestimento .......................................................... 70
Tabela 4.9 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores .. 71
Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito………………….…………...……….…A1.I
Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos
intervenientes…………………………………………………………………………………………………………….……..…...A1.IV
Tabela B1 - Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos……………….....………….B1.I

xi
xii
1. Introdução

1.1. Enquadramento geral e âmbito da investigação

A reabilitação do património monumental e de edifícios antigos correntes assume uma importância


fundamental hoje em dia na Europa e em particular em Portugal, fruto de alterações nos tipos de
intervenções aos níveis da engenharia e da arquitectura ao longo do tempo em função da
necessidade de resposta aos problemas concretos da sociedade. De modo a conceber e concretizar
as soluções melhores e mais adequadas, o estudo neste âmbito exige a confluência de esforços de
um conjunto de especialistas de várias áreas científicas e um conhecimento multidisciplinar é também
exigido aos intervenientes no exercício complexo da conservação e reabilitação de edifícios (Freitas,
2012; Veiga, 2009).

A dissertação tem como objecto principal os revestimentos das paredes exteriores de edifícios
antigos, particularmente ao nível do suporte em alvenaria de pedra e das argamassas de
revestimento à base de cal aérea e a compatibilidade entre ambas. A tecnologia, o desempenho e a
durabilidade de revestimentos na construção bem como, sobretudo, a compatibilização de materiais
constituem o enquadramento da dissertação, no âmbito da conservação e reabilitação do edificado.

Os revestimentos de paredes têm um papel relevante na conservação dos edifícios e protecção das
alvenarias, exercendo uma influência determinante nas suas principais propriedades e funcionalidade.
Também constituem um valor estético de grande ligação à arquitectura e têm um impacto
considerável na imagem das construções (Figueiredo, 2001; Rodrigues et al., 2011; Santos Silva e
Reis, 1999; Veiga, 2003b). As diferenças de textura dos revestimentos de cal, a não homogeneidade
das superfícies e a expressão cromática das tecnologias de pintura podem determinar um valor
perceptivo e estético fundamental ao resultarem num comportamento único face à luz (Aguiar, 1999).
Os revestimentos condicionam o aspecto final das construções, apresentando-se no entanto como
elementos sujeitos aos agentes de degradação (Santos Silva e Reis, 1999; Veiga, 2003b; Veiga et al.,
2004).

Quando degradados, a opção pela conservação dos revestimentos antigos deve ter em conta alguns
factores como o seu valor histórico e arquitectónico, o estado de conservação, a autenticidade
histórica dos materiais existentes e a disponibilidade de recursos para a sua concretização,
relacionando-se assim com o âmbito da sustentabilidade, economia e durabilidade (Flores-Colen e
Brito, 2012; Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). O estudo dos revestimentos antigos possibilita também
o conhecimento acerca da história do edifício (Santos Silva e Reis, 1999; Veiga et al., 2004). Por um
lado os materiais, técnicas, texturas e cores, por outro o bom funcionamento global das paredes
resultante da compatibilidade entre materiais e das soluções construtivas, não só fazem parte da
história e memória colectiva como inclusive constituem importantes objectos de estudo da história dos
materiais e tecnologias da construção, sendo valores a preservar (Aguiar, 2000; Flores-Colen et al.,
2006; Veiga, 2003b).

1
Uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes de edifícios antigos exige um
bom domínio de determinados aspectos: (i) conhecimento dos revestimentos existentes, da sua
composição e estado de conservação, assim como dos suportes; (ii) conhecimento das estratégias de
intervenção possíveis, domínio das técnicas aplicáveis e apreensão de critérios que fundamentem a
opção; (iii) conhecimento de soluções de reparação adequadas, eficazes e duráveis e das regras
para aplicação; (iv) critérios de avaliação da compatibilidade, adequabilidade e durabilidade de
soluções de reparação; (v) planos de manutenção das soluções existentes (Veiga, 2009). As
intervenções em revestimentos de edifícios antigos devem ter por base o estudo das exigências
funcionais das paredes e ser o menos intrusivas possível, respeitando critérios definidos
cientificamente e seleccionando tanto as técnicas como os materiais de acordo com requisitos de
compatibilidade (Faria Rodrigues e Henriques, 2004; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Após a
identificação da composição da argamassa de revestimento original e suas propriedades mecânicas e
físicas, é importante projectar as características da argamassa de reparação ou substituição a aplicar
e proceder à análise da sua compatibilidade do ponto de vista mecânico, químico, físico, geométrico e
estético com o suporte (muitas vezes constituído por alvenaria de pedra argamassada), com vista a
manter níveis adequados de desempenho (Coelho et al., 2009; Flores-Colen e Brito, 2012; Hughes e
Válek, 2003; Válek et al., 2000; Veiga, 1998; Veiga e Carvalho, 2002; Veiga et al., 2004).

Neste âmbito, tornou-se importante a retoma das tecnologias tradicionais à base da cal aérea, sob
determinados pontos de vista, entre outros: (i) construtivo, pela natural compatibilidade com as
construções antigas e suas técnicas construtivas; (ii) estético, por assegurar de uma forma natural a
harmonia com o território e envolventes tradicionais; (iii) histórico, por inserir as intervenções numa
continuidade histórica e social (Aguiar, 2001).

A análise do estado das paredes, nomeadamente a nível de estabilidade, seguida de diagnóstico das
causas das anomalias identificadas e de avaliação do estado de conservação das argamassas,
facilitam o planeamento da intervenção de reparação dos revestimentos (Veiga, 2009). A
caracterização correcta do estado de conservação das argamassas, bem como do tipo e severidade
da degradação provocada, são da maior importância para uma decisão correcta relativamente ao tipo
de intervenção a realizar (Gaspar e Brito, 2005; Veiga, 2003b; Veiga e Aguiar, 2003).

A conservação e reabilitação de edifícios antigos exigem um bom conhecimento dos revestimentos


em argamassas de cal e também das suas alvenarias de suporte, de modo a avaliar correctamente o
seu estado de conservação, a evitar a progressão de situações patológicas e a planear intervenções
eficazes, com materiais de reparação ou substituição de características semelhantes, compatíveis
com a construção existente e com durabilidade adequada. Todo o processo deve ter por base um
projecto e as diferentes fases devem ser cuidadosamente planeadas e concretizadas, em
conformidade com regras que garantam a conservação das características construtivas, da
funcionalidade e da imagem do edifício (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). O projecto de reabilitação e
conservação, em particular ao nível dos revestimentos de paredes antigas, deve ter um papel
fundamental tanto no âmbito arquitectónico como de engenharia/tecnológico na medida em que exige

2
um bom conhecimento da física das construções e das características dos materiais (Veiga et al.,
2004).

A presente dissertação é desenvolvida tendo em conta o contexto apresentado.

1.2. Objectivos da dissertação

Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo como um
todo, a dissertação tem como principais objectivos os seguintes:

 Aferição dos aspectos relevantes para reabilitação de revestimentos de paredes antigas mediante
realização de inquérito a diversos grupos de intervenientes;

 Apresentação de proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos


de paredes de edifícios antigos;

 Aplicação da metodologia proposta a caso de estudo.

Pretende-se clarificar os procedimentos e critérios relevantes que o projectista deve seguir na fase de
concepção, atendendo à compatibilidade dos vários constituintes das paredes e respectivas
argamassas de revestimento, elementos onde intervir em paredes de edifícios antigos.

A investigação centra-se na avaliação crítica da reabilitação de paredes antigas ao nível do seu


revestimento com argamassas tradicionais, particularmente na importância da compatibilização entre
materiais e destes sistemas de revestimento com a estrutura da parede, contribuindo para a
estabilidade e durabilidade. As diferentes vertentes da compatibilidade, ou seja, do ponto de vista
mecânico, químico, físico, geométrico e estético, são um aspecto crucial no âmbito da conservação e
reabilitação de revestimentos de paredes antigas e, portanto, do presente trabalho.

Pretende-se aprofundar e interrelacionar o conhecimento nesta área, de forma a melhor compreendê-


la e propor procedimentos de actuação relevantes, contribuindo para apoiar o problema global da
conservação e reabilitação de revestimentos de edifícios antigos. Face a um revestimento existente
deve-se decidir, com base em critérios científicos, qual a estratégia a adoptar: (i) conservação; (ii)
reparação pontual com recurso a novos materiais e tecnologias similares ao preexistente; (iii)
substituição exigindo a utilização de materiais e tecnologia compatíveis.

Os conhecimentos adquiridos e sistematizados ao longo do desenvolvimento do trabalho devem


permitir uma visão global do problema e uma proposta de metodologia adequada e aplicável. Os
aspectos considerados são relevantes para a abordagem metodológica de diversos intervenientes na
reabilitação de edifícios antigos e, como tal, são merecedores de estudo e reflexão, constituindo-se
como justificação da presente dissertação.

3
1.3. Metodologia de estudo

De modo a concretizar os objectivos definidos para a sua elaboração, a dissertação tem uma
metodologia de investigação que se inicia com a recolha de informação bibliográfica no âmbito do
estudo. Segue-se o estudo teórico do estado dos conhecimentos a nível de conservação e
reabilitação de edifícios, o levantamento sobre metodologias existentes de apoio à reabilitação de
edifícios e respectivos constituintes e o estudo teórico do estado dos conhecimentos a nível de
paredes de edifícios antigos e seus revestimentos. De seguida, é relevante a definição de exigências
funcionais e parâmetros de desempenho dos revestimentos, a análise e definição dos critérios de
compatibilidade considerando o suporte, as funções a desempenhar pelas argamassas face ao
contexto externo, bem como ainda a recolha de documentação internacional e nacional no âmbito do
estudo que seja uma base para a elaboração da metodologia a propor.

Constituindo o corpo principal da presente dissertação e investigação da autora, é de referir a


identificação de aspectos relevantes para a reabilitação e conservação de edifício antigo, mediante
reconhecimento dos principais tipos de intervenientes e definição de pontos de vista e aspectos
pertinentes a integrar a proposta de metodologia de apoio ao projecto. A metodologia de investigação
neste campo consiste na realização de um inquérito a intervenientes diversos ao nível da reabilitação,
elaboração de uma proposta de metodologia e sua aplicação a um caso de estudo. Paralelamente à
elaboração de uma ficha-tipo de inquérito, faz-se a selecção dos principais intervenientes em
reabilitação a integrar a amostra para aplicação do estudo através de trabalho de campo, dadas as
suas competências e responsabilidades. O inquérito realizado neste trabalho aos intervenientes em
reabilitação e conservação que constituem a amostra criteriosamente seleccionada, tem por base a
definição de diversos aspectos como a compatibilidade dos elementos e a identificação de
procedimentos e critérios relevantes para a reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios
antigos. Todos estes aspectos podem ser validados no contacto com os intervenientes e
preenchimento da ficha-tipo de inquérito, mediante identificação dos pontos coincidentes e
divergentes entre os intervenientes e a sua análise crítica. Permitem ainda ordenar prioridades e,
desse modo, propor uma metodologia de apoio ao projecto.

Tendo por base o estudo do estado dos conhecimentos e a consequente investigação mediante o
contacto com intervenientes, a proposta de metodologia visa, assim, constituir um modelo prático ou
guia de apoio à decisão e projecto, que consiste numa sequência de trabalhos ou procedimentos
relevantes de apoio. Elabora-se, deste modo, uma proposta teórica de metodologia de avaliação e
apoio à reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos. Por fim, é importante a
selecção do edifício a constituir caso de estudo, de património monumental e com necessidades
urgentes de intervenção atendendo ao seu estado de conservação actual, a caracterização do edifício
e a aplicação da metodologia proposta, ao nível dos seus revestimentos de paredes exteriores.
Consequentemente, elabora-se a análise crítica da aplicação da metodologia proposta.

Portanto, em suma, inicialmente é desenvolvido o estudo teórico do estado da arte no âmbito da


conservação e reabilitação de edifícios bem como das paredes antigas e seus revestimentos. Após o

4
estado dos conhecimentos, segue-se a reflexão e identificação dos pontos considerados importantes
para análise de edifício antigo e definição da intervenção a nível do revestimento de paredes, e
realizou-se um inquérito aos intervenientes para a sua validação. O trabalho inclui a proposta de
metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e a
consequente aplicação através do estudo de caso.

1.4. Organização do documento

Por forma a desenvolver a investigação no sentido pretendido, a dissertação é organizada em seis


capítulos, bibliografia e anexos, conforme organização dos conteúdos que se apresenta de seguida.

O primeiro capítulo da dissertação corresponde à introdução ao trabalho, em que se apresenta o


enquadramento geral e âmbito da investigação, objectivos da dissertação e metodologia de estudo,
bem como a presente organização do documento.

No segundo capítulo aborda-se genericamente a conservação e reabilitação de edifícios antigos e


particularmente no que respeita aos revestimentos de paredes, respectivo diagnóstico e definição da
intervenção. Referem-se exigências aplicáveis à reabilitação e considerações sobre a intervenção no
revestimento de paredes antigas, concluindo-se com um levantamento das metodologias existentes
de apoio à reabilitação de edifícios antigos e respectivos constituintes.

No terceiro capítulo desenvolve-se a análise construtiva a nível do revestimento, suporte e envolvente


de paredes de edifícios antigos a reabilitar. Aborda-se a caracterização de paredes antigas
inicialmente ao nível do suporte em alvenaria de pedra, seguidamente das argamassas de
revestimento tradicionais e, por fim, das argamassas de substituição. Efectua-se a identificação de
exigências funcionais e parâmetros de desempenho aplicáveis aos revestimentos. Evidencia-se a
relevância da compatibilidade entre materiais e a caracterização e exigências de argamassas de
substituição em intervenção no contexto em causa compatibilizando argamassa e suporte. Definem-
se, assim, critérios de compatibilidade e conclui-se com a apresentação da documentação a nível
internacional e nacional.

Seguidamente, no quarto capítulo aborda-se o estado da prática de reabilitação de revestimentos


antigos. Fruto do estudo do estado dos conhecimentos e da experiência profissional da autora,
identificam-se os principais tipos de intervenientes em reabilitação e definem-se os aspectos e
procedimentos relevantes para a reabilitação de revestimentos antigos. Elabora-se uma ficha de
inquérito que se aplica aos principais tipos de intervenientes em reabilitação e esclarecem-se os
aspectos essenciais por estes considerados e aplicados na sua actividade profissional. Constitui-se,
assim, uma base para análise crítica com vista à metodologia a propor.

No quinto capítulo propõe-se uma metodologia para a reabilitação de revestimentos de paredes de


edifícios antigos e testa-se a sua aplicação. A proposta teórica de metodologia de apoio ao projecto
resulta da definição de objectivos, de aspectos considerando a compatibilidade dos elementos e,
ainda, de procedimentos e critérios relevantes para o projectista na fase de concepção. Após

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selecção e caracterização de um edifício antigo, faz-se a aplicação prática da metodologia proposta a
esse caso de estudo e realiza-se uma análise crítica à aplicação da metodologia de apoio
enunciando-se conclusões. Testa-se, assim, a aplicação da metodologia proposta.

Por último, no sexto capítulo apresentam-se as considerações finais da investigação realizada no


desenvolvimento da dissertação através de uma síntese das conclusões alcançadas, assim como as
linhas de orientação para desenvolvimentos futuros neste domínio.

6
2. Conservação e reabilitação de revestimentos em edifícios antigos

2.1. Enquadramento e princípios da reabilitação

O presente capítulo aborda genericamente a conservação e reabilitação de edifícios antigos no que


respeita o revestimento de paredes, respectivo diagnóstico, definição da intervenção e levantamento
de metodologias existentes de apoio à reabilitação de edifícios antigos e respectivos constituintes.

A conservação e reabilitação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos, estes entendidos


como os edifícios anteriores à adopção da estrutura de betão armado, é uma temática cada vez mais
proeminente no contexto actual da reabilitação de edifícios. Muito mais do que simplesmente
monumentos e edifícios públicos de grande importância, no grupo de edifícios antigos inclui-se o
património monumental, o património edificado classificado e o património edificado corrente, com
materiais e tecnologias tradicionais recorrendo sobretudo à pedra, madeira, cal e vidro (Appleton,
2011; Freitas, 2012). Apesar de muito diversificados técnica e formalmente, os revestimentos que
protegeram as paredes ao longo dos séculos tinham aspectos importantes em comum e funções bem
definidas que presentemente lhes conferem grande relevância na conservação dos edifícios antigos.
Eram essencialmente baseados em rebocos de argamassas.

A reabilitação de edifícios pode ser entendida como acções de intervenção necessárias e suficientes
para as suas adequadas condições de segurança, funcionalidade e conforto, com respeito pela sua
arquitectura, tipologia e sistema construtivo (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012, Paiva et al.,
2006). As cartas e as recomendações internacionais que Portugal subscreveu são substancialmente
relevantes neste âmbito, desde a Carta de Atenas (1931) decorrente da Conferência Internacional
sobre o Restauro dos Monumentos e Carta de Veneza (1964) - Carta Internacional sobre a
Conservação e Restauro dos Monumentos e dos Sítios, até à Carta de Burra (1999) e Carta de
Cracóvia (2000) - Princípios para a Conservação e Restauro do Património Construído. Naquelas é
claro o reconhecimento do valor intrínseco ao sistema construtivo do edifício, a par do valor
arquitectónico, do valor histórico e do valor artístico, sendo importante uma boa prática de reabilitação
ou conservação e o necessário envolvimento de equipas multidisciplinares (Appleton, 2011; Cóias,
2007; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006). O edifício deve ser entendido como um todo e não como um
somatório de partes, umas a manter e outras a demolir. Grande parte da degradação dos edifícios
antigos não resulta de fraca qualidade construtiva ou dos materiais utilizados mas advém do
abandono e falta de manutenção adequada.

Um conjunto de acções deve ser realizado antecedendo a intervenção em edifícios antigos,


justificando a sua necessidade e dimensão através de um estudo de diagnóstico. Em qualquer
projecto de reabilitação, o conhecimento e o respeito pelo objecto da intervenção, pela sua história e
técnicas construtivas originais utilizadas na sua concepção são essenciais e devem ter influência na
decisão dos procedimentos e técnicas a adoptar. Neste âmbito, deve ser demonstrada a
indispensabilidade de uma acção antes de esta ser empreendida, aspecto que se integra no
pressuposto da intervenção mínima com garantia da segurança e durabilidade e que deve orientar o
projecto (Appleton, 2011; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga 2003b; Veiga et al., 2004).

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Associado ao conceito de reabilitação de uma construção está também o de autenticidade, na forma,
função, utilização anterior, superfície exposta, materiais e estrutura. Na linha das orientações contidas
nas cartas e convenções internacionais, certos critérios devem, assim, ser seguidos na salvaguarda
de um edifício, como a eficácia, compatibilidade, durabilidade, reversibilidade e também eficiência.
Numa intervenção pouco intrusiva nomeadamente em património arquitectónico, deve ser notória a
salvaguarda da autenticidade do edifício sobre o respeito pelas prescrições regulamentares de
segurança e conforto (Cóias, 2007; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006).

A nível europeu, tanto o ritmo de crescimento da construção nova tem vindo a diminuir como em
paralelo tem-se incrementado cada vez mais a necessidade de conservar e reabilitar o edificado,
tendência que na sua origem tem razões ambientais, culturais, legais, económicas e de durabilidade
(Paiva et al., 2006; Veiga, 2009).

2.2. Diagnóstico e intervenção

2.2.1. Reabilitação de edifícios antigos

Na generalidade dos casos e em função do processo de tomada de decisão, é sensato equacionar


uma abordagem faseada da informação a obter. A avaliação da sua viabilidade antecede e é
indispensável à decisão de promover uma operação de reabilitação, ponderando-se os aspectos de
exequibilidade financeira e técnica, no tempo e no espaço. A escala das intervenções influencia a
viabilidade económica, pelo que a deficiência de estudo prévio ou de diagnóstico e também de
projecto de execução traduz-se em sobrecustos por trabalhos não previstos, interferindo na gestão da
própria obra. Na reabilitação de edifícios antigos tem-se não só uma valorização do imóvel mas
também um respeito pela preservação de valores a nível artístico, cultural ou histórico, podendo da
reabilitação advir um desenvolvimento sustentável, reutilizando o construído de forma a poupar
recursos (solo, materiais, incluindo água e energia) (Freitas, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al.,2004). A
dificuldade em assegurar algumas exigências actuais é maior nestes edifícios, sendo que a própria
legislação nacional no domínio da construção é principalmente orientada para a construção nova e
não revela grandes preocupações face às exigências específicas das intervenções de reabilitação,
podendo não definir claramente as disposições de referência (Freitas, 2012; Paiva et al., 2006).
Actualmente e durante um período limitado, encontra-se em vigor legislação sobre o Regime
Excepcional de Reabilitação Urbana (RERU, 2014) que, pela primeira vez, e tal como o nome indica,
legisla sobre excepções que podem ser aplicadas a determinados edifícios antigos.

Em geral, a reabilitação de edifícios pressupõe a resolução das anomalias construtivas e a melhoria


do desempenho local ou geral do edifício. Consiste, portanto, no conjunto de operações com vista ao
aumento dos seus níveis de qualidade, de modo a corresponder a níveis de exigências funcionais
superiores àqueles para os quais foi concebido (Appleton, 2011). Com vista à garantia de uma
análise detalhada e clara da necessidade e âmbito da intervenção, é essencial que o estudo de
diagnóstico seja efectuado por técnicos experientes e familiarizados com as várias técnicas
tradicionais de construção a nível dos materiais e seu comportamento ao longo do tempo. Nesta fase

8
de diagnóstico avalia-se o estado de conservação e as condições de segurança do edifício e da sua
estrutura sendo que, de forma a dar resposta ao programa estabelecido, é importante delinear a
estratégia a adoptar (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).
Pelo facto de o estudo de diagnóstico ser complexo e resultar da combinação de diversos factores de
análise, deve ser realizado por equipa multidisciplinar com qualificação e experiência a nível da
patologia e reabilitação de edifícios. A equipa projectista define procedimentos a incluir na inspecção
e diagnóstico, dependendo do grau de intervenção no edifício e do seu valor isolado e integrado num
conjunto mais vasto de edifícios (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga,
2009; Veiga et al., 2004). Logo desde a fase de análise e diagnóstico deve ser aplicada uma
metodologia para a garantia da qualidade numa intervenção de reabilitação. Esta permite realizar o
diagnóstico da situação e definir a intervenção, conceber soluções adequadas que dêem resposta
aos objectivos definidos e executar a sua correcta implementação (Paiva et al., 2006). É essencial o
planeamento adequado da qualidade da intervenção a nível dos diversos agentes, interfaces e
actividades desenvolvidas (figura 2.1). Urge promover-se e apoiar-se uma componente técnica
interdisciplinar e altamente especializada da qual dependem a conservação e reabilitação (Cóias,
2007; Paiva et al., 2006).

Figura 2.1 - Planeamento e execução descuidados comprometendo o acabamento final de uma obra com
intervenção ao nível do reboco (fonte: Veiga et al., 2004)

Definida a estratégia de intervenção, deve então proceder-se à elaboração do projecto de execução.


O projecto de reabilitação deve consistir num processo de síntese que abrange uma grande
pluralidade de informações, reflecte o seu claro entendimento e implica a qualificação dos projectistas.
Aquele exige-lhes respeito pelos princípios da conservação, grande conhecimento do contexto,
materiais, interdependências e funções dos elementos construtivos, bem como ainda o cumprimento
dos condicionamentos aplicáveis, a nível urbano, normativo e regulamentar (Appleton, 2011; Freitas,
2012; Paiva et al., 2006). O projecto deve ser constituído por um conjunto de peças escritas e
desenhadas que descrevam detalhadamente os vários trabalhos necessários para a reabilitação do
edifício, sendo que o sucesso depende muito da qualidade e especificidade dos desenhos de
pormenor, de difícil elaboração (Freitas, 2012; Veiga, 2009). A fase de execução desenvolve-se após
a realização do projecto e o licenciamento da obra. Exigindo um acompanhamento activo por parte do
projectista, a execução da obra constitui o ponto culminante de todo o processo (Appleton, 2011;
Freitas, 2012; Paiva et al., 2006).

Uma metodologia que garanta a qualidade e o correcto desenvolvimento de uma intervenção de


reabilitação sobretudo de edifícios antigos deve, assim, englobar as fases de análise e diagnóstico,

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projecto e execução da obra. As actividades necessárias a uma operação de reabilitação são
inúmeras e têm especificidades, visando objectivos singulares, requerendo o envolvimento de um
conjunto abrangente e diverso de pessoas e organizações com perfis profissionais e experiências
distintos mas interdependentes (Freitas, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Na elaboração de
projectos de reabilitação e construção tradicional, a escolha de materiais e tecnologias de construção
antes era validada pela experiência, levando à elaboração de cadernos de encargos prescritivos
(Freitas, 2012; Veiga, 2009). Para garantia de desempenho que não ponha em causa a durabilidade
do preexistente, é necessária uma selecção exigencial dos elementos de construção dada a grande
diversidade de materiais e novas soluções disponíveis no mercado (Appleton, 2011; Freitas, 2012).

Dada a especificidade, muitas vezes os edifícios antigos não possibilitam aplicação directa dos
regulamentos existentes, muito direccionados para a construção nova. De grande relevância é não só
a adequabilidade da regulamentação nacional aos edifícios antigos mas também a sua aplicabilidade
(Appleton, 2011; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006). Relativamente a exigências a satisfazer, a obra
deve ser concebida e realizada de modo a que não comprometa a saúde e segurança de pessoas e
bens, a qualidade de vida e o património ambiental. Neste sentido, comparativamente aos edifícios
em geral, os edifícios antigos têm particularidades a nível das principais exigências a satisfazer.
Muitas vezes identifica-se a legislação do sector da construção como obstáculo à reabilitação, muito
pensada para a construção nova e cuja interpretação revela incompatibilidades e não é consensual. A
legislação coloca dificuldades ao projecto de reabilitação de edifícios pelo que, enquanto não for
criada regulamentação específica para a reabilitação, os responsáveis pelos diversos projectos
devem cumprir as exigências regulamentares e também ter atenção às várias dispensas e
alternativas previstas (Freitas, 2012; Paiva et al., 2006; RERU, 2014).

2.2.2. Revestimentos de paredes

Para além de se constituir como crucial a vertente cultural e histórica a nível do património edificado
classificado, também as acções em edifícios fora da classificação devem ter presente a primazia da
preservação e reabilitação, devendo impor-se sempre que possível à substituição integral por novos
elementos, tanto pela poupança de recursos e sustentabilidade como pela memória e resultante valor
a preservar (Aguiar, 2000; Lobo de Carvalho, 2007; Veiga, 2009).

No âmbito da temática em estudo, os trabalhos de reabilitação de revestimentos em edifícios antigos


devem ser precedidos de uma análise quer do valor histórico ou artístico do imóvel a reabilitar quer
da profundidade da sua degradação. Tanto do ponto de vista da história como da ciência, é primordial
conhecer a composição dos revestimentos de edifícios antigos, tanto para estudo e registo da arte da
construção e sua evolução como para fundamentar a política de conservação a implementar e servir
de base às soluções de reparação ou de substituição a utilizar (Veiga, 2009; Veiga et al.,2004). As
distintas perspectivas do conhecimento dos revestimentos determinam diferentes metodologias de
análise com enfoque no objectivo definido, tanto a perspectiva da conservação como a arqueológica
ou a investigação de materiais (Elsen, 2006).

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Nas intervenções em edifícios antigos, os revestimentos que foram sendo sistematicamente retirados
deixaram muitas vezes alvenarias de pedra à vista ou levaram à execução de novos rebocos e
refechamentos de juntas com materiais não tradicionais. A prática mais recente tem demonstrado um
maior cuidado com os materiais a utilizar em obras de conservação e reabilitação, pelo que se tem
readquirido conhecimentos e procurado corresponder às necessidades actuais (Velosa, 2002). Os
revestimentos exteriores originais de paredes de edifícios antigos devem ser conservados o mais
possível, mediante recurso a operações de manutenção e, quando necessário, de consolidação e
reparação pontual. Este é não só o modo de respeitar a identidade histórica e material do edifício e
preservar técnicas construtivas raras, como ainda o método mais seguro de evitar incompatibilidades
entre materiais antigos e novos e o processo menos oneroso de garantir o bom estado de
conservação dos revestimentos e da totalidade do edifício. Na necessidade de renovação dos
revestimentos antigos devido ao seu estado de degradação, devem ser tomados todos os cuidados
de modo a minimizar os inconvenientes e os riscos da opção. O levantamento, identificação e registo
dos revestimentos antigos são da maior importância (figura 2.2) (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).

Figura 2.2 - Revestimento antigo em várias camadas, séc. I (fonte: Veiga, 2003b)

2.2.3. Patologia e diagnóstico

A avaliação do estado actual de edifícios existentes é indispensável no processo da sua reabilitação,


tornando possível propor soluções que possibilitem atingir o desempenho pretendido. Pelo facto de a
reabilitação dever ser adaptativa, é essencial um diagnóstico específico e fundamentado para cada
caso, permitindo proposta de metodologia técnica e economicamente adequada (Freitas, 2012).

Aquando de uma operação de reabilitação, é importante ter a noção que o revestimento de uma
alvenaria bastante irregular com argamassa em geral implica uma grande heterogeneidade de
espessuras, pelo que revela ser essencial uma prévia inspecção dos materiais originais (Coelho et al.,
2009). Para além do possível valor histórico implícito na utilização de técnicas e materiais originais,
torna-se crucial a compatibilidade entre materiais originais e os de substituição (Coelho et al., 2009;
Veiga, 1998; Veiga e Carvalho, 2002; Veiga et al., 2004). Perante diferentes comportamentos
mecânicos e físico-químicos surgem, a dado momento, situações de mau desempenho.
Particularmente materiais com diferenças de permeabilidade, módulo de elasticidade, nível de
aderência e nível de absorção de água geram o aparecimento de anomalias, pelo que dificilmente se
constituem como boa solução de reabilitação (Coelho et al., 2009).

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Para tomar correctamente uma decisão sobre o tipo de intervenção a realizar, é da maior importância
a caracterização correcta do estado de conservação e do tipo e gravidade da degradação provocada.
Para além dos instrumentos imprescindíveis a essa caracterização que consistem numa observação
cuidada, olhar treinado e espírito rigoroso, bem como conhecimento de base sobre os mecanismos
de degradação e respectivos sintomas, para obter uma informação mais detalhada e quantificada que
viabilize uma estratégia de reparação em geral é útil recorrer-se a outros meios de diagnóstico, se for
praticável (Veiga, 2003b). A caracterização de argamassas de edifícios antigos não dispensa, como
meio essencial auxiliar da inspecção visual, a avaliação in situ das propriedades físicas e mecânicas,
para a qual existem diversos ensaios que se diferenciam consoante o seu grau de intrusão, como
para o comportamento à água e comportamento mecânico (Flores-Colen e Brito, 2012; Flores-Colen
et al., 2006; Veiga, 2003b). Das técnicas in situ, primeiro devem ser aplicadas as não destrutivas,
seguindo-se as pouco destrutivas e, se necessário, as destrutivas; pode ser precisa a recolha de
amostras para ensaios de laboratório. Numa caracterização laboratorial de revestimentos de edifícios
antigos nomeadamente de valor patrimonial, a actuação pode passar por análises química,
mineralógica e microestrutural, seguindo-se por exemplo análise orgânica (Veiga, 2003b; Veiga et al.,
2004). A nível dos revestimentos de paredes, pelo ponto de vista da conservação a princípio é
necessário identificar o número de camadas e a espessura de cada uma, bem como obter por
observação cuidadosa das amostras a informação possível sobre a técnica de aplicação, recorrendo-
se sobretudo a análise estratigráfica. Esta pode ser realizada in situ mediante sondagens em
profundidade do revestimento (figura 2.3) ou em laboratório implicando extracção de amostras
através de corte transversal que abranja toda a espessura (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Após
identificação das diversas intervenções e camadas que compõem o revestimento, é necessário
estudar cada uma identificando a composição e características físicas (Elsen, 2006; Santos Silva e
Reis, 1999; Veiga et al., 2004).

Figura 2.3 - Realização de corte estratigráfico in situ (fonte: Veiga, 2009)

Embora o conhecimento da composição química e mineralógica das argamassas seja necessário à


execução de argamassas de reparação ou substituição idênticas, aquele é insuficiente pela existência
de factores que influenciam de forma decisiva a estrutura física da argamassa, o seu comportamento
e a sua durabilidade, tais como o modo de preparação, a cura, a interacção com o suporte e a
evolução ao longo do tempo (Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Pode
considerar-se que o conhecimento da proporção da composição original das argamassas não é
imprescindível (Henriques e Faria, 2008). Revela-se, assim, ser importante a caracterização física

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sobretudo no que respeita à determinação da estrutura e do comportamento global da argamassa,
pelo que o volume e a estrutura dos vazios, diâmetros e formas constituem um aspecto importante
com influência decisiva no comportamento da argamassa tanto à água como mecânico. A porosidade
total, a distribuição da dimensão dos poros e a superfície específica são valores com relevância para
a descrição da estrutura porosa dos materiais. Esta condiciona as propriedades mais importantes das
argamassas de edifícios antigos constituindo um dos indicadores mais significativos do seu
comportamento e, como tal, das características a procurar em argamassas de reparação ou
substituição (Veiga, 2009).

Deve ser definida uma metodologia geral de diagnóstico fruto do cruzamento de resultados obtidos,
permitindo concluir relativamente aos mecanismos de degradação em curso, grau de degradação
atingido e previsão da evolução da situação. Podem ser analisadas, de seguida, as possibilidades de
conservação, por interrupção dos mecanismos de degradação, por protecções contra as acções
deteriorantes e, se necessário, acções de reparação do revestimento. Conforme os problemas
existentes e os objectivos definidos, a equipa projectista deve delinear as acções a desenvolver de
modo a identificar o número e tipo de camadas do revestimento para posterior caracterização destas,
bem como o conjunto de ensaios a realizar, o seu faseamento e os pontos de aplicação (Flores-Colen
e Brito, 2012; Veiga et al., 2004).

Podendo o termo patologia ser definido como o estudo sistemático de doenças com vista à
compreensão dos sintomas e causas bem como definição de tratamento, é aplicável ao estudo de
edifícios. Assim, a patologia da construção implica um conhecimento detalhado das características
arquitectónicas, construtivas e funcionais do objecto em estudo, a partir do qual é efectuado um
diagnóstico, prognóstico das anomalias detectadas e definição de recomendações de actuação (Watt,
1999). Os tipos de anomalias que revelam e o grau com que se manifestam podem caracterizar o
estado de conservação dos revestimentos existentes, surgindo o conceito de severidade da anomalia
que, juntamente com o consequente nível de degradação provocada, se relaciona com a percepção e
efeitos funcionais da anomalia bem como a viabilidade da sua reparação (Magalhães, 2002; Veiga,
2003b; Veiga e Aguiar, 2003). Pode-se estabelecer correlações com os factores de degradação
principais bem como definir e escalonar tratamentos, mediante o mapeamento das anomalias dos
edifícios antigos com o registo dos tipos, categorias e índices de degradação ou de susceptibilidade
(Veiga, 2009). É possível definir estratégias e metodologias de conservação mediante intervenções
fundamentalmente preventivas e de reparação através de intervenções correctivas, caso se justifique.

As anomalias principais mais correntes nos rebocos tradicionais, multicamadas, que consistem
geralmente em fendilhação, perda de aderência, eflorescências, colonização biológica, manchas de
humidade e sujidade, são provocadas sobretudo por curtos prazos de aplicação impostos pelo ritmo
das obras e ausência de cumprimento dos prazos de secagem das alvenarias e camadas, ou por
dosagem inadequada e aplicação incorrecta. Salienta-se também que o sistema de reboco aplicado,
seja tradicional, pré-doseado ou com pintura como acabamento, pode fazer variar o tipo ou incidência
das anomalias (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga, 2004). Das
principais anomalias detectadas em rebocos, a perda de aderência entre argamassa e parede é

13
particularmente relevante e gravosa, manifestando-se através do destacamento da argamassa
relativamente ao suporte ou pela perda de coesão do material constituinte (figura 2.4). Esta anomalia
representa o final da vida útil do reboco, dado que este deixa de cumprir os requisitos de protecção
das alvenarias, segurança dos utentes e qualidade visual das superfícies das fachadas (Flores-Colen
e Brito, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga, 2009). Em geral, os problemas de destacamento e perda de
coesão solucionam-se pela substituição, localizada ou geral, do reboco. O levantamento da condição
global de fachadas deve integrar essencialmente a informação relativa a anomalias do tipo fissuração
e manchas, bem como a identificação e descrição das anomalias por perda de aderência (Gaspar et
al., 2006, 2007).

Figura 2.4 - Revestimento com perda de aderência generalizada (fonte: Veiga, 2009)

Uma grande diversidade de formas sob as quais ocorrem as anomalias em revestimentos relaciona-
se com as partes do edifício, elementos funcionais e respectivas funções afectadas, com a natureza
dos materiais e técnicas de construção, bem como com a origem, causas e períodos de ocorrência
das anomalias (Paiva et al., 2006; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).

Aspectos responsáveis pelos mecanismos de degradação mais correntes a nível de revestimentos


antigos são a água, poluição, sais, reacções expansivas, biodeterioração e deformações estruturais
(Magalhães, 2002; Veiga, 2009). Apesar da diversidade das anomalias detectadas nos edifícios, a
maior parte tem origem directa ou indirecta na presença da água e consequente humedecimento dos
materiais, acompanhado ou potenciado pela modificação indesejável de propriedades físicas, o que
influencia as condições de habitabilidade e durabilidade. A fendilhação é a anomalia com maior
influência no comportamento dos rebocos exteriores, pelo facto de afectar a sua capacidade de
impermeabilização, prejudicar gravemente a aderência, permitir infiltrações de água ou outros
agentes e fixação de microrganismos e, consequentemente, reduzir a durabilidade do revestimento e
da própria parede (Gaspar et al., 2006; Magalhães, 2002). Com importância considerável é também o
envelhecimento e degradação de materiais como consequência da acção de agentes climáticos, do
tipo de ocupação dos edifícios e uso dos elementos construtivos, da desadequação ou inexistência
de trabalhos de manutenção, bem como de incompatibilidades entre materiais novos e velhos ou uso
de materiais de características desapropriadas (Paiva et al., 2006).

14
2.2.4. Estado de conservação e estratégias de intervenção

Enquanto para edifícios de elevado valor é especialmente importante respeitar-se a autenticidade


devendo optar-se pela substituição das argamassas apenas se a sua conservação e reparação não
for possível, para edifícios antigos de menor valor este limite pode ser mais flexível e ter em conta a
disponibilidade de meios e os custos (Veiga, 2005a). Bem identificadas as anomalias, diagnosticadas
as causas e bem conhecidas as técnicas adequadas, ainda que as anomalias manifestadas atinjam
graus elevados de incidência, são passíveis de reparação e a sua progressão pode ser travada, como
são exemplo a fissuração, biodeterioração, manchas, sujidades e erosão. Já a falta de coesão e a
perda de aderência aos elementos circundantes ou entre camadas de um revestimento são de
reparação difícil (Gaspar et al., 2007; Veiga, 2005a).

A constituição e o modelo de funcionamento das paredes antigas diferiam das actuais, relacionando-
se com a protecção contra a humidade que é um aspecto particularmente importante. O modelo de
funcionamento das paredes antigas admitia a entrada de água para o interior da alvenaria por
ascensão capilar moderada através das fundações e da própria superfície da parede; no entanto
evitava uma permanência prolongada promovendo a sua expulsão por evaporação (Appleton, 2011;
Henriques, 2001; Veiga, 2005a). Pelo contrário, as paredes dos edifícios actuais são muitas vezes
construídas de forma a impedir a penetração da água do exterior, com cortes de capilaridade junto às
fundações, revestimentos impermeabilizantes, caixilharia preferencialmente estanque, coberturas e
remates cuidados (Veiga, 2005a). Em intervenções de conservação e reabilitação em edifícios
antigos, devem ser respeitados os modelos de funcionamento originais sendo primordial manter
materiais e soluções ou, quando necessário, substituí-los por outros compatíveis e preferencialmente
de características semelhantes. As argamassas, sobretudo como revestimentos exteriores de
paredes, são o objecto sobre o qual incide grande parte das intervenções em edifícios antigos
(Santos Silva e Reis, 1999; Veiga, 1998; Veiga et al., 2004). O desconhecimento da constituição e
tecnologia associada levam a que a opção comum para reparação seja a extracção de todo o
revestimento e sua substituição por uma solução actual, geralmente não adaptada ao funcionamento
da parede antiga o que gera desempenho e durabilidade inferiores aos originais (Veiga, 2003b).
Soluções inadequadas, descaracterizadoras do edifício e potenciadoras de anomalias originam um
tempo depois degradação generalizada constituída por fendilhação e perda de aderência do novo
reboco, associada geralmente a degradação da alvenaria de suporte por perda de coesão e
degradação de camadas junto à interface com o novo reboco que acaba por se destacar.

De primordial importância é a adequabilidade dos materiais de reparação, consolidação e substituição,


por forma a evitar o risco de acelerar a degradação (Aguiar, 2000; Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho,
2002; Veiga et al., 2001). Neste contexto, um conjunto de conhecimentos torna-se essencial à
selecção da estratégia de conservação e planeamento das acções. Aquele abrange não só a parede,
revestimento antigo e respectivas tecnologias e materiais, mas também a patologia e avaliação do
estado de conservação, bem como os materiais e técnicas de reparação e execução compatíveis
com a construção existente e com durabilidade adequada (Veiga, 2009).

15
A conservação é a opção mais correcta e também favorável a nível da durabilidade, funcionalidade e
economia (Veiga, 2003b). O valor do edifício antigo reside no aspecto formal da sua arquitectura e no
conjunto funcional, materiais e tecnologia utilizados, os quais constituem valores a preservar que,
juntamente com razões práticas e económicas, tornam essencial garantir a durabilidade do conjunto
(Aguiar, 2000; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Os rebocos antigos são sistemas de multicamadas,
com camadas de regularização e protecção, constituídas por argamassas de cal e areia aos traços
volumétricos entre 1:1 e 1:5 de cal aérea:areia, com adições minerais e orgânicas, tais como pó de
tijolo, pozolanas naturais, cal dolomítica, fibras naturais e adições diversas. Estas camadas foram
aplicadas em várias subcamadas, com granulometria decrescente bem como deformabilidade e
porosidade crescentes das camadas mais internas para as mais externas. As estratégias de
intervenção nos rebocos, perante a diversidade das suas características, devem assim incluir não só
o conhecimento dos rebocos existentes mediante diversas técnicas de diagnóstico disponíveis para
análise, como também a selecção da estratégia a adoptar tendo em conta o estado de conservação
do edifício, autenticidade histórica dos materiais existentes e disponibilidade de recursos para a
realização (Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 2005a).

Os tipos de estratégias de intervenção podem ser sistematizados em conservação, reparação


localizada, consolidação e substituição parcial ou total, tal como é representado na figura 2.5.

1 Conservação
A primeira opção a considerar deve ser a conservação da argamassa original mediante operações
periódicas de manutenção e reparação pontual.

2 Reparação localizada
Não se justificando esta opção, sendo inviável técnica ou economicamente, ou revelando-se
degradação superficial como frequentemente acontece, a reparação localizada com substituição
parcial em alguns paramentos ou zonas da parede com recurso a argamassas semelhantes e
compatíveis com as antigas constitui a opção seguinte.

3 Consolidação
Não sendo viável a conservação da argamassa original mediante operações de manutenção e
reparação pontual, e justificando-se por elevado valor histórico ou artístico do revestimento ou por
raridade do material ou da técnica, pode optar-se por consolidação da argamassa existente.

4 Substituição parcial ou total


Quando não é possível conservar integralmente o reboco pela sua degradação ter atingido um nível
elevado, torna-se necessário substituí-lo, parcial ou totalmente, por um identicamente compatível
com os elementos preexistentes com os quais irá interagir. Quando as anomalias são de severidade
elevada e houver valor reduzido do edifício e disponibilidade de meios insuficiente, pode então ser
preciso substituir o reboco impondo-se assim como última opção.

Figura 2.5 - Tipos de estratégias de intervenção (Veiga, 2003b; Veiga e Aguiar, 2003; Veiga et al., 2004)

2.2.5. Conservação / Manutenção

A manutenção trata da combinação de todas as acções técnicas e administrativas que permitem ao


edifício e seus elementos desempenharem, ao longo da sua vida útil, as funções para as quais foram
concebidos (Flores-Colen, 2006; Veiga, 2009). Segundo uma perspectiva simultaneamente histórica,
técnica e financeira, a manutenção pode ser entendida como uma atitude sustentável perante o

16
património construído (Lobo de Carvalho, 2007). Sendo objectivo da conservação, se possível, a
preservação da identidade funcional, material e formal, não propriamente a continuação do
desempenho das mesmas funções, no caso de edifícios antigos o conceito tem que ser adaptado
nesse sentido (Veiga, 2009). Como apoio à decisão, é importante o enquadramento das exigências
aplicáveis e escalonamento das acções em função da prioridade assumida, como o estado de
degradação, efeito no funcionamento do edifício e implicações nos custos. A manutenção pró-activa,
periódica e atempada, constitui uma forma de controlar a degradação dos edifícios e impedir o
envelhecimento precoce dos seus elementos. O termo manutenção inclui actividades de inspecção,
manutenção e reparação nos elementos que tenham durabilidade inferior à vida útil do edifício, ou
seja, abrange as acções de manutenção preventiva e predictiva (Flores-Colen, 2009; Lobo de
Carvalho, 2007). Pelo facto de as inspecções serem realizadas durante a fase de utilização,
aumentam a capacidade de detectar a necessidade de intervenções, reduzem o número de
anomalias imprevistas e permitem o conhecimento do comportamento em serviço do reboco, da sua
vida útil expectável e de agentes de degradação prematura (Flores-Colen, 2009; Veiga, 2009).

Três fases principais caracterizam o comportamento em serviço de revestimentos de fachadas. A


primeira, inicial, inclui os primeiros anos após a construção e caracteriza-se pela eventual existência
de anomalias prematuras. A segunda, intermédia, apresenta um comportamento dependente dos
vários factores em serviço e da sua influência no envelhecimento natural dos rebocos aplicados. A
terceira, terminal, inclui os últimos anos do ciclo de vida nos quais existe uma maior probabilidade de
se atingir a rotura. Dado o contexto, no planeamento das acções em paredes rebocadas devem
incluir-se inspecções detalhadas nas fases iniciais e terminais bem como correntes ou detalhadas na
fase intermédia do ciclo de vida útil (Flores-Colen e Brito, 2012). Sem interferir com a funcionalidade
da própria parede, se forem feitas observações periódicas e trabalhos de conservação e limpeza
aumenta-se significativamente o tempo de vida útil da parede em geral e do revestimento em
particular. A aplicação da manutenção pró-activa a rebocos exteriores possibilita uma adequada
monitorização durante o tempo de vida útil, mediante determinadas acções principais (Appleton, 2011;
Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 2009).

Certos requisitos devem ser cumpridos na fachada e edifício de modo a manter os custos de
manutenção dentro de limites aceitáveis, tais como ser fácil de manter, haver acessibilidade para a
realização de acções periódicas de manutenção, ter elementos facilmente reparáveis ou substituíveis,
não podendo no entanto modificar o aspecto da superfície com efeitos indesejáveis como brilho ou
mudança de tonalidade. Quatro princípios de base podem subdividir as acções de manutenção em
fachadas rebocadas, sendo eles a monitorização do comportamento através de inspecções, a
alteração da superfície com limpezas e repinturas, a resistência mecânica e físico-química do reboco
através de reparações ou substituições pontuais e, por fim, a protecção a certos agentes sobretudo à
acção da água como a aplicação de hidrófugo por exemplo (Flores-Colen, 2009). No diagnóstico em
serviço a opção de reparação ou substituição do reboco aplicado deve ser equacionada, pelo que a
segurança e balanço entre custos e considerações práticas influencia a decisão final (Flores-Colen,
2009). Considera-se que um plano de inspecção e manutenção programada deve fazer parte do
próprio projecto, na estratégia a implementar como resultado desta dissertação.

17
2.3. Metodologias existentes de apoio à reabilitação de edifícios antigos

O conhecimento do estado de degradação dos objectos em estudo está na base dos instrumentos de
apoio à reabilitação de edifícios, quer sejam de carácter estatístico, legislativo ou de investigação.
Inevitavelmente, ocorre o processo natural de degradação dos edifícios, pelo que os mecanismos de
deterioração são consequência da interacção de duas variáveis, o edifício como objecto físico e o
ambiente como fonte de agentes de degradação (Barrelas, 2012; Rodrigues et al., 2011). Anomalias
construtivas são as que constituem defeitos ou insuficiências que afectam o desempenho em serviço
do edifício face aos requisitos a que deve obedecer. A sua manifestação é consequência do processo
de envelhecimento, contudo um conjunto de factores influencia o seu desenvolvimento, como a
qualidade da construção, condições atmosféricas e falta de manutenção.

Para a aferição da necessidade de reabilitação e forma de intervenção é essencial o conhecimento


sobre o estado de degradação de edifícios, sendo que os procedimentos decorrentes entre inspecção
e reabilitação se desenvolvem em diversas etapas, incluindo a realização de ensaios com vista à
avaliação crítica de materiais, componentes da construção e anomalias nos elementos construtivos e
equipamentos bem como avaliação da sua gravidade. A sistematização desta análise possibilita a
definição do estado de conservação do conjunto dos elementos afectados ou da globalidade do
edifício e a verificação do nível de afectação das condições de utilização e habitabilidade (Barrelas,
2012; Vilhena, 2011). Dependendo do tipo e quantidade de edifícios em análise bem como da
objectividade dos métodos utilizados, pode tornar-se complexa a tarefa de gestão de dados
resultantes daqueles procedimentos. A concepção e a utilização de instrumentos informáticos na
investigação de desenvolvimentos patológicos facilitam os processos analíticos, possibilitam uma
melhor leitura e cruzamento dos parâmetros de avaliação e podem contribuir para o aumento da sua
eficácia. Consistindo num meio auxiliar do trabalho do inspector, não só viabilizam o armazenamento
de dados e facilitam a sua consulta e manipulação, como também reduzem a subjectividade das
decisões normalizando os procedimentos e permitem a aplicação de conhecimentos adquiridos a
casos semelhantes (Silvestre, 2005; Watt, 1999).

A reflexão sobre o ciclo completo das intervenções de conservação e reabilitação é relevante para a
compreensão da importância dos métodos de diagnóstico. Uma intervenção de reabilitação dá-se em
diversas fases, desde a detecção da necessidade de intervenção até à manutenção e monitorização
da construção no período após intervenção, pelo que o fluxograma da figura 2.5 o representa. Dada a
complexidade da caracterização de um edifício antigo com vista a avaliar o seu estado actual e prever
o seu comportamento futuro são requeridos intervenientes experientes, conhecedores da metodologia
de análise histórica e conservativa, estudos esses que devem ser combinados mediante o recurso às
ferramentas modernas de análise. O processo de reabilitação inclui certas fases em que podem ser
utilizados métodos não destrutivos de inspecção e ensaio, tanto na preparação de uma intervenção
como durante e após esta, sendo a tabela 2.1 representativa daquelas (Cóias, 2007).

18
Figura 2.6 - Fases de uma intervenção de reabilitação na construção (fonte: Cóias, 2007)

Tabela 2.1 - Fases da intervenção de reabilitação em que os métodos de inspecção e ensaio são aplicáveis
(fonte: Cóias, 2007)

19
A Metodologia de Certificação das Condições Mínimas de Habitabilidade (MCH), desenvolvida no
LNEC, enquadra-se na proposta de revisão do Regime de Arrendamento Urbano planeada pelo XV
Governo Constitucional em 2003. Quando o Governo seguinte iniciou as suas funções em 2004, a
interrupção do estudo foi solicitada pelo Instituto Nacional de Habitação (actual Instituto da Habitação
e da Reabilitação Urbana - IHRU). O preenchimento de um documento tipo apoia a inspecção
realizada para a avaliação do imóvel, estando esta baseada no cumprimento ou não cumprimento de
requisitos referentes às anomalias em elementos construtivos e instalações técnicas, com vista às
exigências mínimas de segurança e saúde para moradores e público (figura 2.6) (Pedro et al., 2006).

Figura 2.7 - Excerto de ficha de verificação para a Certificação das Condições Mínimas de Habitabilidade (fonte:
Pedro et al., 2006)

Na sequência da experiência acumulada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) sobre
métodos de avaliação e em colaboração com o IHRU, em 2007 potencia-se o desenvolvimento do
projecto governamental “Bairros Críticos” visando a qualificação e reinserção urbana de bairros
problemáticos. O objectivo do Método de Avaliação das Necessidades de Reabilitação (MANR)
consiste na análise das condições de habitabilidade dos edifícios integrados no Bairro do Alto da
Cova da Moura com vista à sua reabilitação. Dada a especificidade do estudo, impõe-se a concepção
de uma nova ficha de avaliação com base nos modelos anteriores, incluindo a caracterização
construtiva dos edifícios e a avaliação tanto da gravidade das anomalias detectadas como da
complexidade e extensão da intervenção (Vilhena, 2011).

Uma metodologia existente para a implementação de checklists em intervenções de reabilitação


assenta num sistema de base de dados em que é introduzida informação disponível relativamente a
anomalias, causas, estado de degradação de elementos construtivos e recomendações de actuação
(Leitão e Almeida, 2004). Mediante análise exaustiva das variáveis e estabelecimento de ligações
entre os dados registados nas várias bases de dados específicas, obtêm-se listagens de soluções de
intervenção, contribuindo como orientação do trabalho dos intervenientes em processos de
reabilitação, conforme representado no organograma da figura 2.7 (Barrelas, 2012).

20
Figura 2.8 - Metodologia para a implementação de checklists em intervenções de reabilitação (fonte: Barrelas,
2012)

Uma plataforma multimédia designada por Buildings Life foi desenvolvida no âmbito de uma tese de
doutoramento no Instituto Superior Técnico (Paulo, 2009) em parceria com outras entidades e
consiste num sistema para o registo e organização da informação sobre a degradação de elementos
construtivos. Deste modo possibilita-se a introdução de dados gerais relativos a cada edifício em
análise, tais como características técnicas e construtivas, orientação solar das fachadas e peças
gráficas, bem como se viabiliza o registo de informação reunida em inspecções, tais como
quantificação e localização de anomalias, intervenções prévias, condições climatéricas e poluentes. A
figura 2.8 é representativa desta relação de conteúdos do sistema, o qual tem como objectivos
essenciais a classificação do estado de degradação dos elementos construtivos, a previsão da
probabilidade da sua deterioração ao longo da vida útil do edifício e o auxílio das entidades
intervenientes no processo de reabilitação relativamente à decisão de como e quando intervir, com
vista à durabilidade (Barrelas, 2012; Paulo et al., 2006).

Figura 2.9 - Relação entre os vários conteúdos do sistema Buildings Life (fonte: Barrelas, 2012)

O Grupo de Estudos da Patologia da Construção (PATORREB) com a participação de várias


universidades portuguesas criou um sistema que consiste num catálogo de fichas de anomalias. Em
função do elemento construtivo com a manifestação do problema, as fichas agrupam-se nesse
sentido e incluem identificação e descrição da anomalia, métodos de diagnóstico, causas e soluções
de reparação (Freitas et al., 2007).

21
À semelhança do contexto português, alguns estudos desenvolvidos a nível do contexto internacional
consideram a avaliação do estado de degradação de edifícios e constituem instrumentos de apoio à
reabilitação.

O método apresentado no “Guide Socotec de la Maintenance et de la Réhabilitation” baseia-se na


determinação do nível de deterioração específico dos diversos componentes do edifício, conforme a
análise das deficiências que manifestam. A sua classificação varia numa escala de 0 (deficiência
máxima) a 20 (estado novo do componente), determinando o grau de degradação actual do elemento
e comparando-o com o seu estado novo, bem como a tomada de decisão quanto ao tipo de
intervenção a promover (Rodrigues, 2008).

Outro exemplo, este já no México, é o sistema para inventário e avaliação de edifícios habitacionais e
arruamentos (SIEV), desenvolvido para ser implementado em diversas das suas cidades e com base
na criação de uma base de dados informatizada. O sistema tem como objectivo possibilitar o
armazenamento da informação alcançada ao longo do tempo relativa a anomalias e respectiva
gravidade, causas e processo de deterioração, visando deste modo obter resultados que contribuam
para a optimização das acções de manutenção e reabilitação (Farrera et al., 2009).

Apoiada pela Comissão Europeia, a iniciativa “Sustainable Refurbishment Europe” (SUREURO)


considera a optimização de gastos energéticos e qualidade ambiental, bem como prevê deste modo a
concepção de metodologias e instrumentos para a gestão da reabilitação sustentável de edifícios e
zonas residenciais construídas após a II Guerra Mundial. Durante um período experimental, entre
1999 e 2004, a iniciativa foi implementada em vários países europeus (Dinamarca, França, Inglaterra,
Alemanha, Suécia, Finlândia, Holanda, Itália e República Checa). Incluindo checklists e bases de
dados sobretudo relativas a soluções técnicas, os instrumentos desenvolvidos com a iniciativa têm
por fim facilitar o processo de diagnóstico e o projecto de reabilitação (Dekker, 2004).

As técnicas a utilizar numa análise dependem das questões em cada caso e da disponibilidade de
cada laboratório quanto a equipamentos, conhecimentos de base e pessoal treinado (Veiga, 2009).

Um método para aferição do nível de degradação de um elemento construtivo foi desenvolvido no


âmbito de uma tese de doutoramento no Instituto Superior Técnico (Gaspar, 2009) para a avaliação
de rebocos exteriores em fachadas e com base na identificação e classificação de anomalias
conforme a sua severidade e na determinação de padrões de deterioração ao longo da vida útil do
revestimento. Para cada caso de estudo, regista-se numa ficha de levantamento individual a
informação reunida em trabalho de campo, sendo que o grau de deterioração das anomalias é
classificado segundo uma escala de cinco níveis, definidos na tabela 2.2 (Barrelas, 2012; Gaspar e
Brito, 2005). Produzindo-se gráficos probabilísticos que expressam o comportamento expectável do
revestimento, o estudo tem como objectivo constituir uma base técnica fundamentada de modo a
apoiar o processo projectual e contribuir para o aumento da durabilidade.

22
Tabela 2.2 - Níveis de degradação para rebocos exteriores (fonte: Barrelas, 2012)

No âmbito dos revestimentos antigos, uma metodologia é proposta por Palomo et al. (2004). Numa
primeira fase é baseada na análise visual, microscopia óptica, identificação do agregado e estudo do
ligante. Numa segunda fase, segue uma metodologia que permite distinguir a cal aérea sem
pozolanas, ou seja uma matriz carbonatada sem indicadores de pozolanas, a cal aérea com
pozolanas, ou seja com fases mineralógicas típicas dos tufos vulcânicos que as constituem, e os
ligantes hidráulicos designadamente a cal hidráulica ou o cimento (Veiga, 2009).

A metodologia de trabalho que tem sido particularmente desenvolvida no LNEC para revestimentos
com base em cal inclui fundamentalmente: técnicas de análise química, por via húmida, cromatografia
iónica e espectrofotometria de absorção atómica; análise mineralógica por difractometria de raios X
(DRX); análise térmica por termogravimetria e análise térmica diferencial (TG-ATD); análise
microestrutural em microscopia óptica (lupa binocular) e microscopia electrónica de varrimento (MEV)
complementada com a microanálise de raios X por dispersão em energias (EDS); e pesquisa de
compostos orgânicos por espectrofotometria de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)
(Veiga et al., 2004). Uma representação esquemática desta metodologia está patente na figura 2.9.

Figura 2.10 - Metodologia de caracterização de argamassas antigas seguida no LNEC (fonte: Veiga et al., 2004)

23
Baseada nas técnicas disponíveis, foi desenvolvida no LNEC uma metodologia própria que tem sido
complementada e actualizada, salientando-se o trabalho do investigador Santos Silva. A figura 2.10
apresenta um esquema da respectiva metodologia para determinação da composição de argamassas
antigas (Santos Silva, 2002). Os estudos realizados com as metodologias que têm sido difundidas e
complementadas, no LNEC e por vezes com colaboração de outros núcleos de investigação como
certas universidades, sobre argamassas de diversos períodos da História até início do século XX,
mostram os mesmos tipos de argamassas que na Europa em geral e encontram-se a par dos
avanços internacionais (Veiga, 2009). Resultado de estudos e trabalhos de investigação realizados e
baseado nas técnicas estudadas na área, o fluxograma da figura 2.11 representa uma metodologia
geral que pode ser considerada para diagnóstico de revestimentos de edifícios antigos.

Figura 2.11 - Metodologia para determinação da composição de argamassas antigas empregue no LNEC (fonte:
Santos Silva, 2002)

24
Figura 2.12 - Metodologia de diagnóstico geral para revestimentos antigos (fonte: Veiga, 2009)

2.4. Síntese do capítulo

Como síntese dos conhecimentos abordados neste capítulo, determinados aspectos são de referir. A
conservação e reabilitação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos é uma temática cada
vez mais relevante no contexto actual da reabilitação de edifícios. No grupo de edifícios antigos inclui-
se o património monumental, o património edificado classificado e o património edificado corrente,
com materiais e tecnologias tradicionais.

Apesar da sua grande diversidade técnica e formal, os revestimentos que protegeram as paredes ao
longo do tempo, essencialmente baseados em rebocos de argamassas, tinham aspectos importantes
em comum e funções bem definidas que presentemente lhes conferem grande relevância na
conservação dos edifícios antigos. A reabilitação de edifícios pode ser entendida como acções de

25
intervenção necessárias às suas adequadas condições de segurança, funcionalidade e conforto, com
respeito pela sua arquitectura, tipologia e sistema construtivo. Grande parte da degradação dos
edifícios antigos não resulta de fraca qualidade construtiva ou dos materiais utilizados mas advém do
abandono e falta de manutenção adequada.

Antes da intervenção em edifícios antigos, um diagnóstico deve ser realizado justificando assim a sua
necessidade e dimensão. Num projecto de reabilitação são essenciais o conhecimento e o respeito
pelo objecto da intervenção, pela sua história e técnicas construtivas originais utilizadas na sua
concepção, devendo ter influência na decisão dos procedimentos e técnicas a adoptar. Enquadrados
nas orientações contidas nas cartas e convenções internacionais, certos critérios devem ser seguidos
na salvaguarda de um edifício, como a eficácia, compatibilidade, durabilidade, reversibilidade e
também eficiência. Em função do processo de tomada de decisão na generalidade das intervenções,
deve equacionar-se uma abordagem faseada da informação a obter.

A reabilitação de edifícios pressupõe, em geral, a resolução das anomalias construtivas e a melhoria


do desempenho local ou geral do edifício. Pelo facto de o estudo de diagnóstico ser complexo e
resultar da combinação de diversos factores de análise, deve ser realizado por uma equipa
multidisciplinar com qualificação e experiência a nível da patologia e reabilitação de edifícios. Uma
metodologia que garanta a qualidade e o correcto desenvolvimento de uma intervenção de
reabilitação sobretudo de edifícios antigos deve, assim, englobar as fases de análise e diagnóstico,
projecto e execução da obra.

Para tomar correctamente uma decisão sobre o tipo de intervenção a realizar, é da maior importância
a caracterização correcta do estado de conservação e do tipo e gravidade da degradação provocada.
As anomalias principais mais correntes nos rebocos tradicionais, multicamadas, consistem
geralmente em fendilhação, perda de aderência, eflorescências, colonização biológica, manchas de
humidade e sujidade.

A manutenção trata da combinação das acções que permitem ao edifício e seus elementos
desempenharem, ao longo da sua vida útil, as funções para as quais foram concebidos, pelo que um
plano de inspecção e manutenção programada deve fazer parte do próprio projecto.

O conhecimento do estado de degradação dos objectos em estudo está na base dos instrumentos de
apoio à reabilitação de edifícios. Existem determinadas metodologias de apoio à reabilitação de
edifícios antigos, sobretudo ao nível da avaliação das anomalias e mecanismos de degradação. Uma
intervenção de reabilitação dá-se em diversas fases, desde a detecção da necessidade de
intervenção até à manutenção e monitorização da construção no período após intervenção.
Particularmente ao nível dos revestimentos, existem metodologias de caracterização de argamassas
antigas e para diagnóstico de revestimentos de edifícios antigos.

Após ter sido genericamente abordada neste capítulo a conservação e reabilitação de edifícios
antigos e particularmente no que respeita aos revestimentos de paredes, respectivo diagnóstico e
definição da intervenção, no capítulo seguinte aborda-se construtivamente o revestimento, suporte e
envolvente de paredes antigas.

26
3. Caracterização construtiva de paredes e revestimentos de edifícios antigos

3.1. Paredes antigas de suporte

3.1.1. Considerações iniciais

Após ter sido abordada genericamente no capítulo anterior a conservação e reabilitação dos edifícios
antigos e nomeadamente dos seus revestimentos de paredes, é fundamental estudar-se agora com
mais detalhe o revestimento e o suporte. Aborda-se, assim, a caracterização de paredes antigas
inicialmente ao nível do suporte em alvenaria de pedra, seguidamente das argamassas de
revestimento tradicionais e, por fim, das argamassas de substituição. Estudam-se as exigências
funcionais e parâmetros de desempenho aplicáveis aos revestimentos, e particularmente a
compatibilidade entre materiais. Apresenta-se, ainda, a documentação a nível internacional e nacional.

A protecção e a salvaguarda do património estão consideradas e enquadradas na Constituição da


República Portuguesa. Quer os edifícios antigos sejam monumentos, edifícios classificados ou
simplesmente edifícios correntes que contribuem para manter o carácter de um centro urbano ou
bairro histórico, a sua conservação e reparação exige uma grande diversidade de conhecimentos,
desde a ética da conservação às estruturas e materiais bem como aos vários mecanismos de
degradação de diversas origens, tratando-se de uma temática verdadeiramente multidisciplinar
(Freitas, 2012; Veiga, 2009). Nesse sentido, a conservação e reparação dos revestimentos de
paredes e a manutenção do seu desempenho e do seu aspecto são decisivas para a conservação do
património construído. Às paredes, que sofreram uma mudança significativa depois do advento e
adopção da estrutura de betão armado, foram retiradas funções resistentes que tinham anteriormente,
pelo que esta diferença de funções e a evolução dos materiais e soluções implicaram alterações na
concepção e constituição dos revestimentos e nos modelos de conservação a adoptar (Veiga, 2009).

3.1.2. Alvenaria de pedra

A construção antiga tradicional engloba um conjunto de procedimentos relativos a certas formas de


manuseamento de determinados materiais resultando em técnicas e sistemas de construção de
edifícios até às primeiras décadas do século XX, sendo que a partir deste período vão sendo
lentamente incorporados novos materiais e conhecimentos científicos. Abordada de forma mais
específica, este tipo de construção materializa-se nas diversas formas correspondentes aos contextos
geográficos e socioculturais, épocas e estilos (Freitas, 2012).

Uma parede resistente é entendida como o elemento vertical contínuo cuja constituição fá-la
apresentar capacidade de desempenho de funções estruturais, resistindo portanto a acções aplicadas.
Particularmente a nível de elementos de alvenaria de pedra, em geral estas estruturas apresentam
uma boa capacidade resistente sobretudo a acções de compressão e, quando em conjunto com
outros elementos, também a acções horizontais. Muitas vezes, as paredes resistentes principais,
entendidas como aquelas que recebem o vigamento de madeira dos pisos, correspondem a paredes

27
laterais ou a paredes meeiras dos edifícios, pelo que as paredes de fachada funcionam como
elementos de travamento transversal e de apoio à cobertura (Appleton, 2011; Freitas, 2012). Para
além destas características gerais identificativas, diferentes tipos de paredes resistentes são definidos
em função do material e da sua estrutura interna, apresentando assim propriedades específicas.

Ao longo dos tempos, a pedra natural foi um dos principais materiais constituintes das construções
executadas pelo homem (figura 3.1) (Pinto et al., 2006; Nero, 2001c, 2001d). Actualmente, as novas
construções em alvenaria de pedra, à vista ou revestida, são raras devido não só à escassez e
elevado custo da pedra natural mas também à falta de mão-de-obra especializada neste tipo de
construção que remonta aos primórdios da história do ser humano.

Figura 3.1 - Pedreira em Alpalhão (fonte: Pinto et al., 2006)

No contexto das construções em alvenaria de pedra, importa esclarecer o próprio significado do


termo alvenaria, sendo esta uma palavra de origem árabe que significa o trabalho feito pelo pedreiro
ou alvanel como era designado antigamente (Branco, 1981). A alvenaria constitui-se por elementos
de pequenas dimensões entre os quais as pedras naturais ou artificiais, sobrepostos e arrumados,
ligados ou não por argamassa, pretendendo-se desta forma garantir à construção alguma resistência
a esforços de compressão. A designação alvenaria de pedra argamassada, tradicional/vernacular,
refere-se a paredes constituídas por pedras irregulares em forma e dimensão, sem faces aparelhadas
e ligadas por argamassa ordinária (Cóias, 2007; Freitas, 2012). Elevada espessura e diversidade de
materiais de constituição consistem em aspectos comuns das paredes resistentes em alvenaria de
pedra, gerando deste modo elementos rígidos e muito pesados com determinadas características
mecânicas importantes.

3.1.3. Funções da parede e contributo do revestimento

As paredes exteriores dos edifícios apresentaram uma grande variabilidade no tempo e no espaço,
nomeadamente na sua forma e constituição (Veiga, 2003b). Contudo, pelo menos a nível europeu
podem considerar-se importantes características comuns desde a antiguidade até ao advento do
betão armado em meados do século XX. Disso é exemplo o facto de que acumulavam a função
resistente com função de vedação e protecção face aos agentes climáticos, contaminação ambiental
e acções externas como choques mecânicos; os materiais constituintes eram mais porosos e
deformáveis que os usados actualmente (Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho, 2002). Anteriormente ao
advento do betão armado e à era dos polímeros, as paredes antigas eram constituídas por materiais
com porosidade muito maior e resistências mecânicas inferiores. Conseguiam-se as funções

28
estrutural e de protecção à água nas paredes exteriores com espessuras elevadas, diversas camadas,
compatibilidade dos constituintes e conjugação das suas características e funções complementares,
fazendo as argamassas parte desse conjunto (Appleton, 2011; Veiga, 2005a). Muitas delas,
fundamentalmente constituídas por cal aérea e areia, mantiveram-se em óptimas condições de
conservação e com capacidade eficaz de desempenho das suas funções até à actualidade (Veiga,
2005a). Sendo que, em geral, as paredes antigas têm funções estruturais, é importante o facto de os
rebocos poderem reforçar significativamente a resistência mecânica de alvenarias fracas. No entanto,
os revestimentos são também dos elementos mais sujeitos à degradação pela grande exposição a
acções potencialmente destrutivas (Santos Silva e Reis, 1999; Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004).

3.2. Argamassas de revestimento tradicionais/vernaculares

3.2.1. Considerações iniciais

Os revestimentos de paredes de ligante mineral, habitualmente designados de forma simplificada por


rebocos, são de utilização muito antiga nomeadamente na Europa em geral e a sua qualidade é um
factor determinante para a salubridade, conforto, durabilidade e aspecto estético dos edifícios (Veiga,
1998). Durante séculos têm cumprido funções de regularização das alvenarias e impermeabilização
das fachadas de modo a contribuírem significativamente para a estanqueidade global da parede
exterior em lugar de constituírem revestimentos de estanqueidade por si sós. Também têm tido
funções de protecção das paredes contra acções externas e de acabamento e suporte de decoração,
adaptando-se continuamente à evolução da tecnologia e das correntes arquitectónicas e estéticas
bem como à mão-de-obra existente (Appleton, 2011; Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 1998). No
passado, em Portugal, a evolução da utilização das argamassas e a sua investigação esteve muito
condicionada pelo que se passava em França. Em Portugal são conhecidos rebocos com centenas
ou milhares de anos, em boas condições de conservação e com capacidade funcional.

Com efeito, os revestimentos de ligante mineral, de modo a cumprirem as funções que lhes estão
destinadas no edifício, devem verificar determinadas exigências funcionais. Pela natureza e
comportamento geral das paredes antigas, muito distintas das actuais, os rebocos a aplicar em
paredes de edifícios antigos apresentam funções específicas (Veiga, 2005a). Adaptados a estas, têm
vindo a ser estabelecidos requisitos para garantir a compatibilidade com elementos preexistentes e,
assim, contribuir para o bom desempenho global e durabilidade do edifício. Sob pena de contribuírem
para a sua degradação, as argamassas a usar em paredes antigas devem ter características que
assegurem aqueles requisitos (Aguiar, 2000; Veiga, 2005b; Veiga et al., 2001).

3.2.2. Argamassas

Podem identificar-se funções bem definidas e importantes aspectos em comum nos revestimentos
que protegeram as paredes exteriores ao longo do tempo, muito diversificados técnica e formalmente.
Um correcto planeamento da intervenção nos revestimentos de um edifício exige um conhecimento

29
detalhado da sua constituição, nomeadamente da geometria e cronologia das diversas camadas e da
composição de cada uma (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). Genericamente, os revestimentos
exteriores de paredes antigas são constituídos por camadas de argamassas de cal aérea e areia e
são acabados com barramentos ou com pinturas de cal. Os revestimentos interiores apresentam uma
composição semelhante mas muitas vezes contêm camada à base de gesso. Quanto à composição
das argamassas antigas, estas são materiais compósitos complexos com uma enorme variedade de
constituintes orgânicos e inorgânicos; durante toda a sua vida útil, continuam a interagir entre si e
com o meio ambiente (Appleton, 2011; Veiga, 2006).

As camadas essenciais dos revestimentos, com funções distintas, eram as camadas de regularização
e protecção como emboço, reboco propriamente dito e esboço, bem como as camadas de protecção,
acabamento e decoração como barramento ou guarnecimento e pintura geralmente mineral, simples
ou de ornamentação. Por forma a facilitar a aderência dos materiais, os paramentos a revestir eram
deixados com superfície grosseira (figura 3.2). A composição do reboco variava com os materiais de
suporte e as diversas camadas eram executadas com diferentes traços e composições conforme as
características do suporte, a natureza dos materiais usados e o fim a que se destinavam (Appleton,
2011; Veiga, 2009). Cada camada principal subdividia-se em várias subcamadas, pelo que uma
capacidade de protecção melhor e durabilidade superior eram possibilitadas por camadas finas em
maior número para a mesma espessura total, sem afectar a importante propriedade de
permeabilidade ao vapor de água das argamassas antigas (Veiga, 2003b).

Figura 3.2 - Camada intermédia de reboco picada para aderência da seguinte (fonte: Veiga, 2009)

Procurava-se fabricar argamassas com características que as tornassem adequadas à base, pelo que
se salientam a baixa retracção, relativamente fraca resistência mecânica, elevada porosidade, boa
aderência à base e boa trabalhabilidade. Apesar de definidos empiricamente, os traços ou relações
volumétricas de cal:areia a usar nas argamassas de revestimento baseavam-se no princípio de
máxima compacidade, ou seja, pretendia-se que a quantidade de cal adicionada preenchesse o mais
possível os vazios dos grãos de areia. Como tal, o traço dependia da granulometria e da forma dos
grãos da areia usada (e do seu índice de vazios) e, ainda, da própria finura da cal (Appleton, 2011;
Veiga, 2009). Quanto aos rebocos originais, para além de execução cuidada e aplicação regrada,
tinham grande durabilidade e resistência, como o comprova o bom estado de conservação dos que
resistiram aos tempos. Tanto as texturas e cores características, materiais seleccionados e tecnologia
usada, como o bom funcionamento global das paredes proporcionado pela compatibilidade de
materiais e soluções construtivas, merecem preservação (figura 3.3) (Aguiar, 2000; Veiga, 2003b).

30
Figura 3.3 - Textura de um reboco tradicional caiado (fonte: Veiga et al., 2004)

O termo argamassa corresponde à mistura de um ou mais ligantes orgânicos ou inorgânicos,


agregados, cargas, adições e/ou adjuvantes, incluindo a adição de água. Consistindo em materiais
que intervêm na reacção de endurecimento da argamassa, os ligantes devem ser seleccionados e
doseados para minimizar a retracção e módulo de elasticidade do revestimento. Fundamentalmente
de natureza inorgânica, os ligantes utilizados em argamassas de revestimento são os ligantes aéreos
como cal aérea e gesso, ligantes hidráulicos como cal hidráulica, cimento e escória de alto-forno, bem
como outras adições como terras argilosas, pozolanas naturais e cinzas volantes (Nero, 2001a).
Neste último grupo integram-se materiais que não apresentam função ligante por si só, necessitando
da adição de outros componentes que reagem em presença da água e lhes propiciam tal propriedade
(Nero, 2001b). Enquanto um ligante apresenta comportamento hidráulico quando, após ter atingido
estágio de endurecimento, não o perde em contacto permanente com a água, por outro lado aquele
apresenta comportamento aéreo quando só atinge certo grau de endurecimento por contacto com o
dióxido de carbono do ar.

Os principais tipos de ligante utilizados actualmente nas argamassas dos rebocos são os cimentos
geralmente Portland composto (CEII) constituído por clínquer e cinzas volantes, escórias ou
pozolanas, as cais aéreas hidratadas e as cais com propriedades hidráulicas (em conformidade com
a NP EN 459:2011-Cal de construção-Parte 1: Definições, especificações e critérios de conformidade),
ambas usadas como ligantes em complemento do cimento (Faria Rodrigues, 1993; Flores-Colen,
2009). As argamassas dos rebocos tradicionais, para além dos ligantes constituem-se por outros
materiais como agregados (em conformidade com a NP EN 13139:2005), uso relativamente baixo de
adjuvantes exceptuando os hidrófugos, algum uso de adições, bem como ainda água sem impurezas.
Os agregados consistem em materiais granulares que geralmente não intervêm na reacção de
endurecimento da argamassa, são geralmente areias. Com o objectivo de modificar as propriedades
da argamassa fresca ou endurecida, os adjuvantes consistem em materiais orgânicos ou inorgânicos
adicionados em pequenas quantidades, sendo que a maior parte pode desempenhar várias funções
simultâneas pelo que é essencial haver um compromisso entre os diferentes adjuvantes a utilizar e
não devem prejudicar a resistência e durabilidade do reboco, a sua colocação e endurecimento (EN
13914-1:2005). Para as argamassas de revestimento destacam-se os promotores de aderência,
hidrófugos de massa, introdutores de ar, plastificantes, retentores de água e fungicidas. Materiais
inorgânicos finamente divididos, as adições podem ser utilizadas na mistura para obter ou melhorar
as propriedades específicas, sendo que para as argamassas de revestimento se salientam pigmentos,

31
fibras, cargas leves, pozolanas naturais e artificiais (Faria Rodrigues, 1993; Veiga, 1998). Na
amassadura, a água a utilizar deve ser potável e não conter impurezas acima de certo limite, sendo
entendidas como materiais em suspensão, sais dissolvidos e matéria orgânica.

De acordo com a sua aplicação, as argamassas de construção dividem-se em argamassas de


assentamento de alvenaria, argamassas de revestimento, cimentos-cola, argamassas de juntas e,
ainda, argamassas de regularização de pavimentos. O presente trabalho aborda as argamassas de
revestimento, correntemente designadas por rebocos. As argamassas de revestimento constituem-se
pela mistura de um ou mais ligantes, agregados, eventualmente adições e/ou adjuvantes, para
revestimento de paredes exteriores ou interiores, podendo ser minerais ou orgânicas consoante a
natureza do ligante e sendo possível o revestimento com cerâmico ou tintas bem como uma
variedade de acabamentos. A classificação é possível ser diferenciada segundo a sua função, o tipo
de ligante, as propriedades e/ou utilização e, por fim, o local de produção (Flores-Colen e Brito, 2012).

Para argamassas de revestimento, a classificação correntemente utilizada em Portugal e adoptada


pelo LNEC incide sobre as suas funções essenciais, sendo que para revestimentos exteriores se
divide nas categorias de revestimentos de estanqueidade, revestimentos de impermeabilização,
revestimentos de isolamento térmico e, por fim, revestimentos de acabamento (Flores-Colen e Brito,
2012; Veiga,1998). Conforme esta classificação funcional, os rebocos tradicionais enquadram-se nos
revestimentos de impermeabilização. Por outro lado, para revestimentos interiores a classificação
reúne as categorias de revestimentos de regularização, revestimentos de acabamento, revestimentos
resistentes à água e revestimentos decorativos. Os rebocos tradicionais interiores classificam-se
como revestimentos de regularização por propiciarem sobretudo planeza, verticalidade e regularidade
superficial, em conformidade com a própria definição deste tipo (Flores-Colen e Brito, 2012). Dado o
facto de poderem ser usados diversos tipos de ligantes na produção de argamassas, estas são
também classificadas segundo o tipo de ligante, pelo que importa salientar as argamassas de cal
aérea, com elevada deformação na rotura, baixa retracção, estrutura friável, endurecimento muito
lento e grande utilização em construção antiga e, idealmente, em obras de reabilitação (Flores-Colen
e Brito, 2012). Constituem o objecto de estudo do presente trabalho.

Certos documentos normativos europeus utilizam classificações que incluem também notações
associadas a revestimentos distintos segundo as suas propriedades e utilização, em função do fim a
que se destinam. Por exemplo, a NP EN 998-1:2013 (Especificação de argamassas para alvenarias -
Parte1: Argamassas para rebocos interiores e exteriores) distingue argamassas de uso geral, leves,
coloridas, monocamadas, de isolamento térmico ou de renovação. Segundo o local de produção, a
classificação divide-as em argamassas industriais, argamassas industriais semi-acabadas e
argamassas feitas em obra ou tradicionais, sendo que as últimas têm constituintes primários,
doseados, misturados em obra.

Os rebocos tradicionais, entendidos como argamassas doseadas em obra e executadas com


aplicação geralmente manual e de acordo com procedimentos convencionais, devem ser aplicados
em duas ou três camadas, consoante a severidade das condições de exposição, conforme
recomendações técnicas e com funções distintas (Flores-Colen e Brito, 2012). A necessidade de

32
execução destes revestimentos com mais que uma única camada advém não só de não serem
completamente conseguidas as características exigidas apenas com uma, de boa trabalhabilidade,
boa aderência ao suporte, boa compacidade e baixa tendência para a fendilhação por retracção,
como também advém da necessidade de existir um revestimento espesso para constituir barreira
eficaz contra a penetração da água. A descontinuidade existente em cada camada possibilita, ainda,
que uma eventual fissuração existente numa delas não ocorra na seguinte (Faria Rodrigues, 1993;
Flores-Colen e Brito, 2012). Conforme a EN 13914-1:2005 (Design, preparation and application of
external rendering and internal plastering - External rendering), pelo menos duas camadas devem
compor os rebocos e as camadas sucessivas devem ser mais fracas do que as anteriores. O número
de camadas depende do tipo de suporte, condições mais ou menos severas de exposição às
intempéries, grau de protecção requerido pelas paredes e tipo de acabamento pretendido. Em
fachadas correntes, as camadas constituintes dos rebocos tradicionais são o crespido, camada de
regularização, camada de acabamento e acabamento propriamente dito (Flores-Colen e Brito, 2012).

Recomendações técnicas ao nível dos materiais e procedimentos de execução estão patentes na


norma europeia EN 13914-1:2005 referida, que se aplica às argamassas de revestimento exterior,
tradicionais e industriais, diferenciando-se toda a tecnologia de fabrico e de aplicação. Nos rebocos
tradicionais, objecto deste trabalho, o fabrico é em obra, sendo doseados conforme prescrição dos
traços e recorrendo a maior parte das vezes a métodos empíricos para as quantidades dos materiais.
A preparação ou amassadura é realizada em obra, com preparação manual, betoneira ou misturador,
sendo que a amassadura mecânica melhora a homogeneidade da mistura e reduz a quantidade de
água (figura 3.4). A aplicação pode ser manual ou mecânica, com três camadas, respeitando a regra
da degressividade do teor de ligante para que as tensões transmitidas durante a retracção não
tendam a fendilhar a camada inferior e para que a susceptibilidade à fendilhação reduza cada vez
mais. Durante a aplicação, cada camada deve ser bem apertada para melhorar a sua compacidade e
os tempos de espera devem ser os suficientes para que a secagem se possa processar e a maior
parte da retracção se possa dar (Flores-Colen, 2009). Na fase da aplicação propriamente dita,
subsequente à preparação, nos rebocos tradicionais a sequência das operações inclui a aplicação do
crespido, execução de pontos e mestras, aplicação da camada de base, aplicação da camada de
acabamento e aplicação de revestimento final por pintura.

Figura 3.4 - Argamassa de cal bastante consistente pronta a aplicar (fonte: Veiga et al., 2004)

33
Relativamente a tipos de acabamentos, em conformidade com a EN 13914-1:2005, os acabamentos
texturados são preferíveis aos lisos. Os acabamentos muito lisos têm grande susceptibilidade ao
aparecimento de linhas de escorrência de água e desenvolvimento de fendilhação, pelo que durante
a execução se torna difícil garantir a obtenção de aspecto final uniforme (Faria Rodrigues, 1993). Já
os acabamentos rugosos têm maior susceptibilidade de fixação de sujidade contudo resistem a
estabelecerem-se caminhos preferenciais de escorrência de água nas paredes e são menos
deterioráveis face a acções de choque e atrito. A cor natural do reboco depende em grande medida
do tipo de cal, agregados finos e teor de água de amassadura, pelo que pode ainda ser modificada
com a adição de pigmentos ou acabamento final com pintura. A sua maior absorção de calor origina a
maior tendência de fendilhação dos acabamentos coloridos, bem como a variação de cores neste tipo
de acabamento pode ser maior e, nomeadamente a formação de uma película de carbonato de cálcio
à superfície, pode provocar manchas brancas (Flores-Colen e Brito, 2012).

O recurso a rebocos tradicionais de boa qualidade, doseados em obra, apresenta exigências de


execução e, comparativamente aos rebocos não tradicionais, pré-doseados em fábrica, têm certos
condicionalismos. Entre os principais, pode referir-se a necessidade de uma mão-de-obra qualificada
que saiba seleccionar, utilizar e dosear os materiais apropriados e que realize convenientemente as
composições, bem como o facto de os rebocos pré-doseados estarem sujeitos a controlo interno de
qualidade que garante a sua manutenção mas também das características (figura 3.5). Outro
condicionalismo prende-se com o ritmo cada vez mais rápido exigido à construção e que gera o
desrespeito das regras de execução dos rebocos tradicionais, como pela sua execução em condições
climáticas desfavoráveis e desrespeito dos tempos de secagem e do número ou espessura das
camadas. Por outro lado, aplicados em três camadas, rebocos tradicionais podem desempenhar as
funções de rebocos não-tradicionais com uma única camada, são de execução e aplicação mais lenta,
bem como é comum a aplicação de pintura que pode ser dispensada nos não-tradicionais caso sejam
pigmentados na massa. Os rebocos tradicionais não são adequados a novos materiais de suporte
com características de resistência mecânica e estabilidade dimensional muito distintas. Outros
condicionalismos são os do estaleiro como o espaço necessário para este poder ser significativo, o
uso mais agressivo para o ambiente sobretudo pelos resíduos e valores inferiores de armazenagem
na preparação tradicional (Faria Rodrigues, 1993; Flores-Colen, 2009; Veiga, 1998).

Apesar das desvantagens referidas, os rebocos tradicionais têm também vantagens relativamente
aos não-tradicionais na medida em que estes apresentam um custo inicial do material superior,
implicam mão-de-obra especializada, planeamento de obra rigoroso e alvenarias bem desempenadas,
bem como requerem cuidados especiais após aplicação, designadamente a nível de programação
dos trabalhos, caso sejam coloridos na massa não levando, assim, pintura. Estes produtos podem
apresentar aspectos finais nem sempre enquadrados com a arquitectura envolvente dado o facto de
seguirem a tecnologia de outros países, pelo que existe uma menor experiência na sua utilização
face a rebocos tradicionais (Flores-Colen e Brito, 2012).

34
Figura 3.5 - Painéis experimentais para avaliar o comportamento das argamassas de revestimento em suportes
finais de alvenaria de pedra (fonte: Coelho et al., 2009)

3.2.3. Exigências funcionais e parâmetros de desempenho

Determinados aspectos gerais de concepção e execução são necessários nas argamassas de reboco
como adequabilidade do reboco ao projecto (EN 13914-1:2005), adequabilidade às condições locais
da obra, recepção de materiais ou de produtos pré-doseados, preparação do suporte e condições
atmosféricas no momento da aplicação (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012). Desta forma,
desenhos e especificações com pormenor suficiente devem ser incluídos no projecto tendo em conta
a natureza do suporte, condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento bem
como, por exemplo, influência de elementos metálicos embebidos e de pormenores arquitectónicos.
Nos projectos para intervenções de conservação, um caderno de encargos completo, bem elaborado
e ajustado à obra a realizar, constitui-se como instrumento-chave (Veiga et al., 2004).

Dado o enquadramento, a temática das argamassas de construção é, portanto, muito diversificada


particularmente pela possibilidade de estarem envolvidos diversos tipos de materiais constituintes e
com tecnologia específica. Actualmente, também por apresentarem diferentes utilizações, associadas
a tecnologias tradicionais ou competitivas, ou que integram actividades de manutenção e reabilitação
cada vez mais pertinentes e que urge serem desenvolvidas sobretudo no contexto nacional e europeu.

3.3. Argamassas de substituição

3.3.1. Considerações iniciais

Em substituição dos revestimentos originais de edifícios antigos foram sendo recomendados vários
tipos de argamassas, dos quais as soluções usadas geralmente se enquadram em argamassas de
cimento, de cal hidráulica natural, de cal hidráulica artificial, de cal aérea e cimento, de cal aérea, de
cal aérea aditivada, argamassas pré-doseadas e de ligantes especiais (Veiga, 2003a).

Na formulação de argamassas, o conhecimento do ligante utilizado é um ponto de partida importante


dado que as principais características das argamassas decorrem em grande parte da natureza
daquele (Sousa et al., 2005). O bom comportamento das argamassas depende do ligante utilizado e
sua composição, agregado, condições de cura, de execução e de exposição e utilização, incluindo o

35
suporte. Estes parâmetros condicionam de forma acentuada a estrutura porosa que, por sua vez,
define o comportamento relativamente à água e acções externas na sua generalidade (Veiga, 2003b;
Veiga et al., 2004). Definidos os critérios orientadores, o tipo e nível de intervenção adequado à
situação, é essencial estabelecer requisitos para os materiais a utilizar e as condições e técnicas de
execução dos trabalhos. Aspectos particularmente importantes para o comportamento, durabilidade e
qualidade do revestimento são não só as características dos materiais mas também as técnicas de
preparação e aplicação, condições climáticas e de cura e preparação do suporte. Este contribui
significativamente para o desempenho do reboco em serviço (Veiga, 2009; Sousa et al., 2005).

3.3.2. Exigências funcionais dos revestimentos

Os rebocos com aplicação nos edifícios apresentam como exigências principais a protecção das
paredes contra as acções externas, climáticas e decorrentes da utilização normal do edifício, a
impermeabilização e resistência das paredes à água, o acabamento das paredes e a durabilidade
adequada tendo em conta a manutenção (Veiga, 2003b). O reboco deve garantir as funções durante
um período de tempo compatível designado de tempo de vida útil, com a dificuldade e custo
associados às acções de manutenção ao longo do tempo em serviço e, por conseguinte, os níveis
adequados de desempenho dependem grandemente da garantia da compatibilidade geométrica,
física e química entre reboco, suporte e acabamento final (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito,
2012; Hughes e Válek, 2003; Válek et al., 2000; Veiga, 2005b). Quando comparada com outros
elementos das paredes nomeadamente as alvenarias, a contribuição dos rebocos não é tão
significativa a nível de segurança em caso de incêndio, protecção contra o ruído e economia de
energia e retenção de calor (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012). Por fim, os rebocos têm
uma contribuição não negligenciável para o ambiente a nível de reciclagem e reutilização das
argamassas durante o ciclo de vida útil, particularmente pelos impactes ambientais destes materiais
aquando da sua produção, aplicação ou demolição (Flores-Colen e Brito, 2012).

A especificação dos rebocos tradicionais continua com maior ênfase na formulação prescritiva do que
na abordagem exigencial. Em conformidade com a EN 13914-1:2005, a escolha do tipo de reboco, a
sua dosagem e o número de camadas e respectivas espessuras dependem da aparência desejada,
requisitos, condições de exposição e natureza do suporte. Para uma monitorização periódica do
desempenho em serviço, apesar de fornecer informações relevantes a especificação prescritiva é
claramente insuficiente, pelo que a documentação técnica tem progressivamente passado de
prescritiva para exigencial, traduzindo-se as exigências funcionais em características de desempenho
quantificáveis (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012).

3.3.3. Compatibilidade

A selecção e o desenho das soluções de revestimentos de substituição devem basear-se em critérios


de compatibilidade com os elementos preexistentes, de acordo com o conhecimento actual. Muitos

36
investigadores têm discutido a definição de compatibilidade, pelo que ainda levanta polémica. Foram
por aqueles desenvolvidos determinados conceitos que têm vindo a ser discutidos pela comunidade
científica em vários eventos nomeadamente numa Comissão da RILEM (International Union of
Laboratories and Experts in Construction Materials, Systems and Structures) à qual grande parte
deles pertence, denominada RILEM TC RHM Repair mortars for Historic Masonry. De um modo geral,
os conceitos apresentados pelos vários autores têm vindo a convergir para ideias concordantes
embora não idênticas, pelo que o desafio da Comissão da RILEM prende-se com estabelecer
requisitos aceitáveis por todos e lançar as bases para regular o modo de avaliação desses requisitos
a nível prático e realista (Veiga, 2009).

A compatibilidade dos revestimentos de substituição deve ser garantida na medida em que só através
dela se evita a descaracterização do edifício e, sobretudo, o surgimento precoce de anomalias que
pode acelerar a degradação das próprias paredes (figura 3.6). As características que definem a
compatibilidade são numerosas e torna-se complexa a definição concreta dos requisitos a
estabelecer aos novos materiais, devendo ter por base o estudo dos preexistentes e em critérios
definidos cientificamente. Pela compatibilidade depender de vários factores, é difícil especificar
argamassas de substituição completamente compatíveis com os elementos preexistentes e também
com boas características de durabilidade (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). A melhor compatibilidade
com a alvenaria de pedra consegue-se com as argamassas de cal aérea, que constituem as mais
semelhantes aos materiais antigos. Tem-se confirmado como um caminho a seguir o uso de aditivos
que confiram alguma hidraulicidade à argamassa sem prejudicar a capacidade de secagem do
suporte. Por forma a obter características melhores e durabilidades mais elevadas daquelas,
determinados caminhos têm sido seguidos quer a nível nacional quer europeu (Veiga, 2003b).

Figura 3.6 - Incompatibilidade de materiais (fonte: Veiga et al., 2004)

Para edifícios antigos, a adequabilidade dos materiais e as exigências funcionais requeridas às


argamassas são evidentemente distintas daquelas para edifícios novos, pelo que é primordial o
respeito pelos critérios de compatibilidade, funcionais, de aspecto e comportamento futuro com os
elementos preexistentes, sob pena de contribuírem para a degradação das paredes em lugar da sua
protecção bem como o surgimento de fenómenos de envelhecimento diferencial entre revestimentos
novos e antigos (Aguiar, 2000; Veiga, 2003b).

37
Após análise do estado de conservação do edifício, caso se conclua pela inviabilidade da reparação e
consequente necessidade de remoção parcial ou total dos rebocos antigos, para os rebocos de
substituição torna-se essencial escolher soluções que tenham em conta critérios de compatibilidade.
Relativamente a estes, Veiga procurou estabelecer uma definição de argamassas compatíveis, pelo
que genericamente os revestimentos de substituição devem respeitar determinados requisitos, como
não contribuir para degradar os elementos preexistentes sobretudo alvenarias, proteger as paredes,
não prejudicar a apresentação visual nem descaracterizar o edifício, ser reversíveis bem como
reparáveis, ser duráveis bem como contribuir para a durabilidade do conjunto (Veiga, 2003b; Veiga et
al., 2004). O primeiro, relativo à ausência de degradação, versa o respeito pela autenticidade
mediante a preservação dos elementos mais antigos do edifício durante o máximo tempo possível.
Outros autores acrescem requisitos gerais como a satisfação das exigências funcionais
designadamente exteriores a nível de estanqueidade, isolamento térmico, condensações no interior,
protecção do suporte e aspecto estético, bem como interiores a nível de regularidade das paredes,
conforto higrotérmico, acústica, conforto dos utentes e aspecto estético também.

No que respeita os critérios e exigências de sustentabilidade a aplicar aos rebocos, relacionada com
a durabilidade está também a questão da economia (Sousa et al., 2005; Veiga e Aguiar, 2002). O
desrespeito pela exigência de compatibilidade entre materiais preexistentes e recentes resulta na
degradação dos mais antigos, devido à introdução de tensões excessivas num suporte fraco e com
deficiências de coesão, baixa permeabilidade ao vapor de água e introdução de sais solúveis nas
alvenarias e em argamassas recentes, por exemplo resultantes do cimento (Sousa et al., 2005; Veiga
e Aguiar, 2002). A importância da exigência de protecção do suporte prende-se com a rápida
degradação das paredes antigas em alvenaria quando expostas à acção directa dos diversos agentes
agressivos, pelo que se mantêm em bom estado quando devidamente protegidas. Não só requisitos
relativos à composição dos revestimentos mas também à tecnologia de aplicação, expressam o
necessário respeito pela autenticidade estética e histórica. Os primeiros preservam a textura e
características cromáticas próprias dos rebocos antigos, enquanto os segundos conferem uma
textura própria aos revestimentos e encerram um registo histórico de evolução dos efeitos (Veiga e
Aguiar, 2002).

3.3.4. Caracterização e requisitos de argamassas de substituição

Para além do seu desempenho a diversos níveis, a selecção do reboco deve atender também à
relação custo/durabilidade, que dá sentido às restantes exigências. A concepção com durabilidade de
argamassas de revestimento deve atender aos parâmetros de vida útil, resistência às condições de
exposição, necessidade e facilidade de realização de acções de manutenção (Flores-Colen e Brito,
2012; Sousa et al., 2005). A durabilidade torna-se essencial ao significado dos outros requisitos,
sendo que a degradação do revestimento origina, em geral, a degradação rápida da alvenaria. A
durabilidade implica não só uma boa resistência mecânica, boa coesão interna, boa aderência ao
suporte e entre camadas mas não em excesso e boa resistência química nomeadamente aos sais
presentes nas paredes antigas, como também um bom comportamento à água no que respeita

38
absorção relativamente lenta e facilidade de secagem. Relacionada com a composição e também
com o comportamento à água pela probabilidade de fixação de fungos, a durabilidade implica ainda
resistência à colonização biológica (Sousa et al., 2005; Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho, 2002).

Como tal, função dos requisitos e para a formulação das argamassas de substituição, de acordo com
Veiga (2003b) podem admitir-se os seguintes princípios básicos: as características mecânicas devem
ser semelhantes às das argamassas originais e inferiores às do suporte, pelo que o módulo de
elasticidade deve ser moderado; a aderência deve ser a adequada para que nunca haja rotura
coesiva pelo suporte; a tensão desenvolvida por retracção restringida deve ser inferior à resistência à
tracção do suporte; devem ter características físicas semelhantes às do suporte em alvenaria para
minimizar as tensões devidas a deformações diferenciais, sobretudo o módulo de elasticidade e o
coeficiente de dilatação térmica e higrométrica; a capilaridade, a permeabilidade ao vapor de água e
a facilidade de secagem devem ser similares às das argamassas originais e superiores às do suporte;
não podem conter sais solúveis em quantidades significativas; devem adequar-se ao papel funcional
e estético das argamassas que substituem; devem possuir durabilidade e envelhecimento de forma
semelhante e não devem originar alterações de cor ou halos em revestimentos adjacentes
preservados. Para além dos princípios básicos, os materiais para reparações localizadas ou de
preenchimento de lacunas têm requisitos mais rigorosos, como composições muito semelhantes às
dos preexistentes tanto a nível dos constituintes como da técnica de preparação e aplicação. Estas
são decisivas para o desempenho e durabilidade dos revestimentos, sobretudo o número e
espessura das camadas, quantidade de água de amassadura e condições de cura (Veiga, 2005a).

Os requisitos de compatibilidade fazem a diferença das exigências estabelecidas para os rebocos de


edifícios antigos face às exigências gerais dos rebocos. Da diversidade de aspectos a considerar e
analisar para os edifícios antigos, referem-se a resistência menor, deformabilidade maior, aderência
moderada de modo a permitir a reversibilidade, capilaridade e permeabilidade ao vapor de água mais
elevadas, teores de sais solúveis reduzidos. A relação entre suporte e revestimento é de grande
importância, pelo que o bom conhecimento da alvenaria é essencial sobretudo a nível da distribuição
porosimétrica. Caso não seja possível caracterizar as argamassas originais, há determinados valores
mínimos a respeitar pelas argamassas a aplicar, apresentados por alguns autores sobretudo no
âmbito de estudos do LNEC (Veiga, 2005a). O cumprimento dos requisitos expressos, em
revestimentos de substituição, é em grande parte função do respeito por duas condições
fundamentais, a de uma execução cuidada de acordo com as regras da boa arte e a compatibilidade
com os materiais preexistentes nos seus diversos níveis, como mecânico, físico e químico (Sousa et
al., 2005; Veiga e Carvalho, 2002). Duas das principais causas de anomalias e de desempenhos
menos satisfatórios de um reboco são os erros na execução e as agressões ocorridas nos seus
primeiros tempos de vida, pelo que se traduz a relevância extrema da primeira condição, um aspecto
que influencia decisivamente a qualidade dos revestimentos e o seu desempenho (Flores-Colen e
Brito, 2012; Sousa et al., 2005; Veiga e Carvalho, 2002). Quanto à verificação da condição relativa às
argamassas, é bastante complexa na medida em que a compatibilidade com os elementos
preexistentes tem que ser considerada sob diversos aspectos e é, ainda, necessário analisar as
características da argamassa que a condicionam e a garantem (Veiga e Carvalho, 2002).

39
3.3.5. Método de selecção e formulação de argamassas de substituição

Para além da importante questão dos materiais, é fundamental a forma como é feita a mistura e
aplicação posterior da argamassa. Uma correcta operação de conservação requer a adequação dos
materiais usados e a execução em boas condições. A consistência de uma argamassa é importante
na sua aplicação e bom desempenho pelo que deve ser uma consistência seca, bem como por outro
lado a natureza do suporte influencia decisivamente o desempenho da argamassa.

O método de selecção de uma argamassa de substituição, para além de ter por base os requisitos
definidos, deve ter em conta a adequação das condições de aplicação, tecnologias a utilizar,
características do suporte e perícia do executante, devendo procurar-se soluções que permitam
atingir bons desempenhos e durabilidades com melhores rendibilidades possíveis (Veiga, 2003b). A
selecção constitui um processo iterativo, na medida em que se parte de hipóteses de formulações,
em geral apoiadas na semelhança constitutiva com o material original, e depois se verifica o desvio
relativamente às exigências estabelecidas, através de ensaios in situ e de laboratório. A importância
histórica e arquitectónica do edifício determina o grau de aproximação exigido e consequentemente o
número limite de iterações a realizar (Veiga, 2003b). As técnicas de preparação e aplicação dos
revestimentos influenciam significativamente o seu aspecto e comportamento finais, pelo que não
devem ser descuradas apesar das dificuldades sobretudo pela desqualificação da mão-de-obra
disponível. Havendo, portanto, uma influência tão relevante no desempenho tanto das tecnologias de
execução e aplicação das argamassas como da sua composição, deve acompanhar-se as
especificações relativas a esta com uma descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação
propostas. Deste modo, quem estiver envolvido na execução dos rebocos tem antes a formação e
treino adequados à tarefa (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004).

No caso de edifícios de menor interesse monumental e histórico, em alternativa a argamassa


doseada em obra pode utilizar-se argamassa pré-doseada de características conhecidas desde que
corresponda comprovadamente aos requisitos mínimos e seja esteticamente compatível. Deste modo,
o processo de selecção é, no limite, reduzido ao único passo de preparação de uma argamassa pré-
doseada de características bem conhecidas e adequadas. Com vista a definir campos de aplicação e
apontar caminhos a seguir, têm sido aplicadas as exigências a argamassas de diversos tipos como
soluções possíveis (Sousa et al.,2005; Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho, 2002).

3.3.6. Utilização e tipos de argamassas de cal para reabilitação

No âmbito das argamassas de substituição à base de cal, depois de se identificar a composição da


argamassa de revestimento original bem como as suas propriedades físicas e mecânicas, necessita-
se de projectar as características da argamassa a aplicar e proceder à análise da compatibilidade
entre as duas (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). Enquanto as argamassas à base de cimento têm
uma excessiva resistência mecânica e retracção, uma rotura demasiado frágil bem como uma baixa
permeabilidade à água e ao vapor de água, o que as determina pouco adequadas para paredes

40
antigas, as tradicionais à base de cal aérea apresentam características como compatibilidade com os
materiais preexistentes em edifícios antigos e autenticidade (Sousa et al., 2005; Veiga, 2005a).

As argamassas tradicionais à base de cal aérea levantaram, contudo, algumas questões tanto de
durabilidade, resultantes da sua resistência mecânica reduzida ou aceitável aliada ao prolongado
tempo de cura, à excessiva porosidade e à influência dos agentes atmosféricos, como de execução
face à conjuntura actual da construção civil por exigir tempos de execução elevados, mão-de-obra
abundante e especializada. Independentemente da escolha quanto ao tipo de argamassa, na fase de
execução o tempo de cura é uma questão importante, pelo que deve ser cumprido o tempo
necessário em lugar de acelerar o processo e a obra, contrariamente à tendência que existe. A
aplicação das argamassas de cal aérea requer mão-de-obra especializada que escasseia pela perda
do saber relativo às técnicas antigas, adaptação aos novos materiais e rotatividade de pessoas na
área da construção dificultando uma formação adequada e completa (Cóias, 2007; Sousa et al., 2005;
Veiga, 2003b; Velosa, 2002). Neste contexto, têm-se desenvolvido produtos em que se associa à cal
aérea outros materiais, capazes de melhorar as propriedades das argamassas com base apenas na
cal aérea. Assim, foram também sendo consideradas e utilizadas as argamassas bastardas, com
pequenas dosagens de cimento, argamassas de cal aérea com pozolanas ou outros aditivos, que
lhes conferem hidraulicidade, e argamassas de cal hidráulica (Cóias, 2007; Sousa et al., 2005; Veiga,
2005a).

3.4. Documentação internacional e nacional

Nos últimos anos, uma multiplicidade de normas e documentos legais relativos a argamassas de
construção e de revestimento, rebocos tradicionais, revestimento de argamassas ou outros elementos
associados tem surgido por todo o mundo, em especial na Europa, dos quais os mais relevantes se
enumeram na presente secção (tabela 3.1). Note-se que, pelo carácter generalista das normas
europeias ao nível das especificações e recomendações, os países da União Europeia continuam a
usar documentos nacionais complementares, dado que fornecem muitas indicações relevantes para o
tipo de revestimento considerado e por vezes têm exigências ou recomendações mais numerosas e
restritas face às normas europeias. Veja-se por exemplo os casos de França ou Portugal, onde novas
normas ou documentos técnicos têm sido desenvolvidos para densificar ou completar a
regulamentação à volta destes produtos e materiais.

Vale a pena lembrar que, em Portugal, os documentos com requisitos adicionais são emitidos pelo
LNEC ou pelos organismos de certificação de produtos. A metodologia seguida no presente estudo
incluiu a elaboração e disponibilização de uma ficha-tipo ao conjunto de intervenientes-alvo do
inquérito sobre as melhores práticas ao nível dos procedimentos para reabilitação de revestimentos
de paredes de edifícios antigos onde foi questionado se estes seguiam as respectivas normas
aplicáveis. As respostas (capítulo 4) demonstram que nem todos os intervenientes o fazem com
regularidade, o que seria aconselhável, dado que contribuem para a especificação adequada dos
procedimentos, sendo um passo importante para a correcta implementação dos procedimentos para
a reabilitação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos.

41
Tabela 3.1 - Resumo da documentação internacional e nacional
País / Referência do documento Ano de
Âmbito região de legal, norma ou implemen- Observações
aplicação especificação tação
Determina condições
harmonizadas para a
comercialização dos produtos de
Regulamento Produtos de construção. Desempenho relativo
Produtos da
Europa Construção - RPC 2011 às características essenciais e
Construção
(Regulamento (UE) 305/2011) utilização da marcação CE neles.
Substitui a Directiva Europeia dos
Produtos da Construção (Directiva
89/106/CEE).
Argamassas Conformidade com os requisitos
Europa Marcação CE 2004
de construção criados em directivas comunitárias.
- Norma EN 13914-1:2005
(Design, preparation and
application of external
rendering and internal
Revestimentos plastering - External rendering)
Recomendam aspectos referentes
de argamassa - Norma EN 13914-2:2005
à concepção, preparação e
à base de Europa (Design, preparation and 2005
aplicação de argamassas de
ligantes application of external
reboco.
minerais rendering and internal
plastering - Design
considerations and essential
principles for internal
plastering)
Tintas e
Substitui a NP EN ISO 7783-2:2001
vernizes,
- Tintas e vernizes, materiais e
materiais e EN ISO 7783:2011 (Paints and
esquemas de pintura para rebocos
esquemas de varnishes - Determination of
Europa 2011 exteriores e betão. Parte 2:
pintura para water-vapour transmission
Determinação e classificação da
rebocos properties - Cup method)
velocidade de transmissão de
exteriores e
vapor de água (permeabilidade).
betão
De salientar particularmente a
descrição de métodos para
determinação de valores térmicos
Alvenarias e EN 1745:2012 (Masonry and de cálculo.
elementos de Europa masonry products. Methods for 2012 Substitui a NP EN 1745:2005 -
alvenaria determining thermal properties) Alvenarias e elementos de
alvenaria. Métodos para
determinação de valores térmicos
de cálculo.
- DTU 26.1:2008 P1-1.
(Travaux de bâtiment. Travaux
d’enduits de mortiers. Partie 1-
1: Cahier des clauses
techniques) Define as condições técnicas
Rebocos - DTU 26.1:2008 P1-2. gerais e especiais para a
França 2008
tradicionais (Travaux de bâtiment. Travaux especificação, execução e
d’enduits de mortiers. Partie 1- aplicação de rebocos tradicionais.
2:Critères généraux de choix
des matériaux)

Document Technique Unifié

42
Tabela 3.1 - Resumo da documentação internacional e nacional (cont.)
País / Referência do documento Ano de
Âmbito região de legal, norma ou implemen- Observações
aplicação especificação tação
Guia para a especificação,
ACI 524R:2008
Argamassas de métodos de ensaios, concepção,
EUA (Guide to Portland Cement- 2008
revestimento preparação e aplicação de
Based Plaster)
argamassas de revestimento.
- ASTM E2136:2004 (Standard
Guide for Specifying and
Evaluating Performance of
Single Family Attached and
Detached Dwellings - Avaliação do desempenho em
Durability) serviço e durabilidade destes
- ASTM E1700:2005 (Standard sistemas de revestimento.
Classification for Serviceability Desempenho de materiais,
Argamassas de of an Office Facility for 2004 e produtos, componentes,
EUA
revestimento Structure and Building 2005 subsistemas e sistemas duráveis.
Envelope) Capacidade para atender a certos
- ASTM E1671:2005 (Standard requisitos possíveis para a
Classification for Serviceability estrutura e envolvente construtiva,
of an Office Facility for bem como para a limpeza.
Cleanliness)

American Society for Testing


Materials
Aplica a norma europeia EN 998-
NP EN 998-1:2013 1:2010 - Specification for mortar for
(Especificação de argamassas masonry - Part 1: Rendering and
Argamassas
Portugal para alvenarias - Parte1: 2013 plastering mortar, que designa os
para alvenarias
Argamassas para rebocos requisitos regulamentares
interiores e exteriores) necessários para a marcação CE
(substitui a EN 998-1:2003).
Dividida em três partes: definições,
especificações e critérios de
conformidade; métodos de ensaio;
NP EN 459:2011 (Cal de
avaliação da conformidade.
Cal de construção. Parte 1:
Portugal 2011 Aplica a norma europeia EN 459-
construção Definições, especificações e
1:2010 - Building lime - Part 1:
critérios de conformidade)
Definitions, specifications and
conformity criteria (substitui a EN
459-1:2001).
Agregados Aplica a norma europeia EN
NP EN 13139:2005
para Portugal 2005 13139:2002 - Aggregates for
(Agregados para argamassas)
argamassas mortar.

3.5. Síntese do capítulo

Como síntese dos conhecimentos abordados no presente capítulo, salientam-se determinados


aspectos. A conservação e reparação dos revestimentos de paredes e a manutenção do seu
desempenho e do seu aspecto são decisivas para a conservação do património construído.

A mudança a nível das paredes, a diferença das suas funções e a evolução dos materiais e soluções
implicaram alterações na concepção e constituição dos revestimentos e nos modelos de conservação

43
a adoptar. Apesar de os revestimentos serem dos elementos mais sujeitos à degradação pela grande
exposição a acções potencialmente destrutivas, a resistência mecânica de alvenarias fracas pode ser
significativamente reforçada pelos rebocos. Os revestimentos de paredes de ligante mineral têm
cumprido funções de regularização das alvenarias e impermeabilização das fachadas de modo a
contribuírem significativamente para a estanqueidade global da parede exterior, bem como funções
de protecção das paredes contra acções externas e de acabamento e suporte de decoração.

Os rebocos a aplicar em paredes de edifícios antigos devem verificar determinadas exigências


funcionais, pelo que têm vindo a ser estabelecidos requisitos para garantir a compatibilidade com
elementos preexistentes e, assim, contribuir para o bom desempenho global e durabilidade do edifício.
Definidos os critérios orientadores, o tipo e nível de intervenção adequado à situação, para a
formulação de argamassas de substituição é essencial estabelecer requisitos para os materiais a
utilizar e as condições e técnicas de execução dos trabalhos. Para uma monitorização periódica do
desempenho em serviço dos rebocos tradicionais, apesar de fornecer informações relevantes a
especificação prescritiva é insuficiente, pelo que a documentação técnica tem progressivamente
passado de prescritiva para exigencial, traduzindo-se as exigências funcionais em características de
desempenho quantificáveis. A compatibilidade dos revestimentos de substituição deve ser garantida
na medida em que só através dela se evita a descaracterização do edifício e, sobretudo, o surgimento
precoce de anomalias que pode acelerar a degradação das próprias paredes.

Documentação normativa e técnica existente neste âmbito tanto a nível internacional como nacional
contribui para a especificação adequada dos procedimentos, sendo um passo importante para a
correcta implementação dos procedimentos para a reabilitação dos revestimentos de paredes de
edifícios antigos.

Após o estudo dos conhecimentos no âmbito do trabalho, o capítulo seguinte aborda o estudo da
prática da actividade profissional dos principais tipos de intervenientes em reabilitação.

44
4. Inquérito sobre revestimentos de paredes de edifícios antigos

4.1. Considerações gerais

Após o estudo do estado dos conhecimentos, desenvolvido ao longo dos capítulos 2 e 3, o presente
capítulo tem como objectivo principal o desenvolvimento de um inquérito a principais tipos de
intervenientes em reabilitação de forma a validar os aspectos, procedimentos e critérios que estes
utilizam na prática da sua actividade profissional. Tem-se em vista uma proposta de metodologia de
apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos, apresentada no
capítulo seguinte.

Para o projecto de conservação e reparação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e para


execução da intervenção, deve haver um conhecimento abrangente e sistemático dos revestimentos
antigos nacionais, materiais usados e técnicas empregues. A escolha da estratégia de intervenção a
adoptar deve ser fundamentada com base na avaliação criteriosa do estado de conservação do
revestimento antigo e da importância da técnica empregue (Veiga, 2009). Deve, portanto, decidir-se
nomeadamente sobre a viabilidade de manter o revestimento existente e decidir-se a metodologia de
reparação, materiais e técnicas a utilizar, atendendo ao suporte, ao revestimento e às características
a preservar. Optando-se pela remoção parcial ou total, devem seleccionar-se os revestimentos de
substituição tendo em conta critérios de compatibilidade funcional e estética bem como aspectos de
viabilidade de execução e durabilidade (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). Para a eficiência do estudo
para uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes de edifícios antigos é
essencial a visão global do problema e das possíveis soluções (Veiga, 2009).

Com vista a limitar-se a deterioração, prolongar-se a vida útil do revestimento e, por sua vez, do
edifício antigo, devem ser estabelecidos planos de conservação e de manutenção periódica (Flores-
Colen e Brito, 2012; Veiga, 2009). Para tal, têm sido e continuarão a ser desenvolvidos estudos
importantes, pelo que os resultados obtidos devem ser divulgados de forma acessível e completa no
meio técnico, fundamentalmente a nível dos projectistas arquitectos e engenheiros, dos promotores e
responsáveis por intervenções em edifícios antigos a nível local e nacional. Necessária é também a
consciencialização dos empreiteiros e fabricantes de materiais de construção, de modo a tornar
viáveis aquelas estratégias. Para a correcta execução das operações em revestimentos de edifícios
antigos, é de salientar a necessidade de uma mão-de-obra especializada, ou no mínimo sensibilizada
para os problemas da conservação, e bem dirigida por técnicos também com formação adequada à
especificidade das intervenções de conservação (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Veiga et al., 2004).

O enquadramento apresentado integra o âmbito e as principais relações entre o estado da arte


estudado e o desenvolvimento de inquérito a principais tipos de intervenientes em reabilitação,
correspondente ao presente capítulo.

45
4.2. Definição de aspectos para a reabilitação de revestimentos antigos

4.2.1. Identificação de principais tipos de intervenientes em reabilitação e selecção de amostra

Dado o enquadramento, é pertinente não só a reflexão e identificação dos aspectos considerados


relevantes para análise de edifício antigo e definição da intervenção a nível do revestimento de
paredes mas também a identificação dos principais tipos de intervenientes em reabilitação, selecção
de amostra para o estudo e validação daqueles aspectos. Estes são pertinentes para a proposta de
metodologia de apoio ao projecto que se apresenta no capítulo seguinte.

Considera-se que os principais tipos de intervenientes em reabilitação, cruciais a integrar a amostra


para aplicação do estudo através de trabalho de campo pelas competências e responsabilidades que
apresentam, são considerados os seguintes:

• Projectistas arquitectos;
• Projectistas engenheiros;
• Gestores de projecto;
• Conservadores-restauradores;
• Consultores técnicos;
• Promotores e donos-de-obra;
• Directores de obra e empreiteiros;
• Fornecedores e fabricantes de materiais de construção.

Estes constituem, assim, o público-alvo do inquérito realizado.

O conjunto de intervenientes em reabilitação criteriosamente seleccionados para integrarem a


amostra para o inquérito abrangeu todos os tipos de intervenientes identificados. Aqueles pelos quais
foi efectivamente possível a resposta ao inquérito, e que constituem a amostra, bem como o
respectivo tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios são apresentados na
tabela 4.1.

Tabela 4.1 - Lista de intervenientes

Projectistas arquitectos:

Salgado Braz Arquitecto, Lda. - Miguel Salgado Braz


Appleton e Domingos - João Appleton

Projectistas arquitectos e gestores de projecto:

Soraya Genin, Arqª e Restauro, Lda. - Soraya Genin

Projectistas arquitectos e promotores e donos-de-obra:

Direcção-geral do Património Cultural (DGPC) - Maria da C. Lopes Aleixo Fernandes

Projectistas arquitectos, gestores de projecto e promotores e donos-de-obra:

Parques de Sintra, Monte da Lua - José Maria Lobo de Carvalho

Projectistas engenheiros e consultores técnicos:

A2P Consult, Lda. - João A. Silva Appleton

46
Tabela 4.1 - Lista de intervenientes (cont.)

Gestores de projecto, consultores técnicos e directores de obra e empreiteiros:

SuperiorWork, Lda. - César Alho

Conservadores-restauradores:

Marta Frade

Conservadores-restauradores e consultores técnicos:

Martha Lins Tavares

Conservadores-restauradores e directores de obra e empreiteiros:

Nova Conservação, Lda. - Nuno Proença

Consultores técnicos:

Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) - Maria do Rosário Veiga

Promotores e donos-de-obra, consultores técnicos e directores de obra e empreiteiros:

Cascais Próxima, E.M., S.A. - Nuno Almeida

Promotores e donos-de-obra e directores de obra e empreiteiros:

Genioreis, Lda. - Eugénio Reis

Directores de obra e empreiteiros:

António Santos
Monumenta, Lda. - Luís Mateus

Consultores técnicos e fornecedores e fabricantes de materiais de construção:

Fradical, Fábrica de Transformação de Cal, Lda. - Fernando Cartaxo

Fornecedores e fabricantes de materiais de construção:

Associação Portuguesa dos Fabricantes de Argamassas e ETICS (APFAC) - Carlos Duarte


Calcidrata, Indústrias de Cal, S.A. - Nuno Batista
Fassa Bortolo - Nuno Rodrigues
Matesica, S.A. - José Manuel Pereira
Saint-Gobain Weber Portugal, S.A. - Luís Silva

Secil Argamassas - Paulo Gonçalves


Sika Portugal, S.A. - Cláudia Gomes
Topeca, Lda. - Andreia Rodrigues

4.2.2. Elaboração de ficha-tipo de inquérito e preenchimento conforme a amostra de intervenientes

A definição de aspectos como a compatibilidade dos elementos e a identificação dos procedimentos e


critérios relevantes para a reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos possibilitaram
a elaboração da ficha-tipo de inquérito aos intervenientes em reabilitação e conservação apresentada
de seguida na figura 4.1. As respostas recebidas por parte destes intervenientes, que representam a
amostra seleccionada, são analisadas no subcapítulo seguinte.

47
Inquérito sobre revestimentos de paredes de edifícios antigos

Empresa/Entidade: ______________________ Nome: _______________________________

1. Em que tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios se enquadra?


(seleccione as opções aplicáveis)
Projectistas arquitectos Projectistas engenheiros Gestores de projecto
Conservadores-restauradores Promotores e donos-de-obra Consultores técnicos
Directores de obra e empreiteiros Fornecedores e fabricantes de materiais de construção

2. Qual a importância que atribui aos seguintes aspectos e procedimentos para a intervenção
de conservação e reabilitação de revestimentos de paredes antigas?
Muito Pouco Nada Não
Importante
importante importante importante aplicável
a) Valores e características a preservar nas
    
paredes e seus revestimentos
b) Avaliação do estado de conservação do
    
edifício e dos revestimentos de paredes
c) Disponibilidade de recursos, materiais,
    
técnicas e mão-de-obra
d) Especificação de materiais e sua
    
adequabilidade ao projecto e à obra

3. Quais os aspectos que considera relacionados com a caracterização do estado de


conservação dos revestimentos existentes? (seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)
Tipos de anomalias que revelam Grau com que se manifestam (severidade da anomalia)
Consequente nível de degradação provocada Viabilidade da sua reparação
Outro(s). Especifique: _____________________________________________________________
Não sei / não aplicável

4. Em termos de metodologia em edifícios existentes, tem preocupações a nível da patologia,


faz diagnóstico da parede de suporte e define a intervenção?
 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

5. Quais os aspectos que a equipa projectista deve identificar ao delinear as acções a


desenvolver? (seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)
Número, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização
Conjunto de ensaios a realizar Faseamento dos ensaios Pontos de aplicação
Outro(s). Especifique: _____________________________________________________________
Não sei / não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes

48
6. Para além da inspecção visual, aquando do diagnóstico do edifício, utiliza técnicas de
caracterização experimentais?
Não
Sim Habitualmente Raramente Não
aplicável
a) Ensaios in situ sobre o revestimento antigo

Avaliação das propriedades físicas     


Avaliação das propriedades mecânicas     
b) Ensaios de laboratório sobre amostras extraídas

Análise química     
Análise mineralógica     
Análise microestrutural     
Análise orgânica     

c) Outro(s) ensaio(s). Especifique:


    
___________________________________

7. Qual a importância que atribui a cada um dos seguintes factores físicos e mecânicos
para a especificação de revestimentos de paredes exteriores?
Muito Pouco Nada Não
Importante
importante importante importante aplicável
a) Condições atmosféricas     
b) Humidade do suporte     
c) Deformações do suporte     
d) Área superficial da parede     

e) Outro. Especifique:
    
____________________________

8. No projecto inclui desenhos e especificações tendo em conta a natureza do suporte,


condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento?
 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

9. Opta por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra?


 Pré-doseados  Doseados em obra  Depende  Não aplicável

10. Quando escolhe um produto, experimenta-o/avalia-o através de ensaio?


 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

11. Especifica os materiais e produtos a utilizar?


 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes (cont.)

49
12. Inclui a ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia
da obra?
 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

13. Na especificação do material/produto, quais os critérios que utiliza? (seleccione todas as


opções que considerar aplicáveis)
Custo do produto Âmbito de aplicação do produto Traço da argamassa
Outro(s). Especifique: __________________________________________________________
Não sei / não aplicável

14. Especifica a composição da argamassa a utilizar?


 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

Exemplifique (traço em volume, proporções em massa): _________________________________

15. Acompanha as especificações relativas à composição da argamassa com uma descrição


técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas?
 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

16. Na especificação/execução de revestimento exterior em argamassa, opta por uma única


camada (a) ou mais que uma (b)?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

a)     

b)     
17. Quais as razões/objectivos para a necessidade de mais que uma única camada?
(seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)
Boa trabalhabilidade Boa aderência ao suporte Boa compacidade
Baixa tendência para fendilhação por retracção Barreira eficaz contra penetração de
água
Descontinuidade em cada camada evitando que uma fissuração numa delas ocorra na seguinte
Outra(s). Especifique: __________________________________________________________
Não sei / não aplicável

18. Verifica e utiliza as normas aplicáveis?


 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

19. Especifica os requisitos que pretende que o revestimento exterior cumpra?


 Sim  Habitualmente  Raramente  Não  Não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes (cont.)

50
20. Concorda com os seguintes critérios de compatibilidade dos revestimentos?
Sim Não Não aplicável
a) Não contribuir para degradar os elementos
  
preexistentes sobretudo alvenarias
b) Proteger as paredes   
c) Não prejudicar a apresentação visual nem
  
descaracterizar o edifício
d) Ser duráveis bem como contribuir para a
  
durabilidade do conjunto
e) Outro(s). Especifique:
  
______________________________________

21. Para além de ter por base requisitos de compatibilidade, quais os factores que considera
que o método de selecção de uma argamassa de substituição deve ter em conta?
(seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)
Adequação da mistura e das condições de aplicação Tecnologias a utilizar
Caraterísticas do suporte e perícia do executante
Soluções que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível
Outro(s). Especifique: __________________________________________________________
Não sei / não aplicável

22. Quais os factores que influenciam de forma decisiva a estrutura física do reboco de
argamassa, o seu comportamento e a sua durabilidade? (seleccione todas as opções que
considerar aplicáveis)
Modo de preparação Cura Interacção com o suporte Evolução ao longo do tempo
Outro(s). Especifique: __________________________________________________________
Não sei / não aplicável

23. Considera verdadeira a afirmação de que a conservação do revestimento é a opção mais


correcta e favorável a nível de durabilidade, funcionalidade e economia?
 Sim  Não  Não aplicável
Justifique: ______________________________________________________________________

24. Onde costuma aceder a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de
revestimentos de paredes exteriores com argamassas (seleccione todas as opções que
considerar aplicáveis)
Internet Congressos e palestras Revistas de especialidade
Manuais de aplicação de revestimentos Manuais de aplicação de fabricantes de argamassas
Normas e documentação técnica do LNEC
Outra(s). Especifique: __________________________________________________________
Não sei / não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes (cont.)

51
Centrando-se o presente trabalho na temática da reabilitação de revestimentos de paredes de
edifícios antigos, concretamente de argamassas de revestimento à base de cal de paredes em
alvenaria de pedra, para este fim foi realizado um inquérito no qual se aplicou a ficha-tipo. Foi
especificamente desenvolvido para categorizar os procedimentos por parte de uma selecção de
intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios antigos neste campo. A identificação da
empresa, entidade ou pessoa em particular é de crucial importância para revestir o presente projecto
da credibilidade pretendida com a criteriosa e restrita selecção de intervenientes.

Os contactos com os intervenientes seleccionados consideraram-se ser essenciais ao estudo por


forma a validar os aspectos, procedimentos e critérios relevantes neste âmbito. A finalidade é validar
no contacto com aqueles os aspectos relevantes para reabilitação de revestimentos de paredes
antigas e constituir base para análise crítica com vista à metodologia a propor. A identificação dos
pontos coincidentes e divergentes bem como a sua análise crítica permite validar os aspectos
considerados, ordenar prioridades e, desse modo, propor uma metodologia de apoio ao projecto.

4.2.3. Análise de resultados

As respostas ao inquérito equivalem efectivamente a uma amostra de vinte e quatro intervenientes


em reabilitação (anexo A-tabela A1.1 para todas as questões). Corresponde a projectistas arquitectos
e engenheiros, gestores de projecto, conservadores-restauradores, consultores técnicos, promotores
ou donos-de-obra, directores de obra ou empreiteiros e fornecedores ou fabricantes de materiais de
construção.

No âmbito do tipo de intervenientes, a análise do gráfico da figura 4.2 correspondente à questão 1,


“Em que tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios se enquadra?”, permite
perceber a diversidade da amostra com a qual houve contacto e partilha do respectivo conhecimento.
Os fornecedores e fabricantes de materiais de construção correspondem a 38% (9) da amostra.
Quanto aos consultores técnicos bem como directores de obra e empreiteiros, equivalem a 25% (6)
cada grupo, enquanto os projectistas arquitectos a 21% (5) e os promotores e donos-de-obra a 17%
(4). Já os gestores de projecto bem como conservadores-restauradores correspondem a 13% cada
(3), sendo que os projectistas engenheiros apenas perfazem 4% (1). O número de intervenientes que
se disponibilizou a partilhar a sua experiência e que efectivamente respondeu ao inquérito realizado
corresponde sensivelmente à criteriosa e restrita selecção realizada aquando da definição da amostra,
salvo algumas excepções. A proporção entre os tipos de intervenientes deve-se genericamente à
maior ou menor disponibilidade por parte de alguns deles. Vários intervenientes inserem-se em mais
do que um grupo dos apresentados, o que demonstra a multidisciplinaridade e relação entre as
diversas partes, a complementaridade entre vertentes, pontos de vista e contributos para o sucesso
de uma intervenção de reabilitação a nível de revestimentos de paredes antigas. Conforme Freitas
(2012), o exercício complexo da reabilitação de edifícios exige a confluência de esforços de um
conjunto de especialistas de várias áreas científicas bem como um conhecimento multidisciplinar,
pelo que o levantamento do estado da prática o comprova.

52
9

6 6
5
4
3 3

Proj. Arq. Proj. Eng. Gest. Proj. Conserv.-Rest. Cons. Técn. Promot. e D. Obra Dir. Obra e Emp. Fornec. e Fabric.

Nota: Os valores nas barras correspondem às unidades relativamente à amostra de 24 intervenientes.

Figura 4.2 - Tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios correspondente à amostra

Da análise das respostas atribuídas à questão 2, “Qual a importância que atribui aos seguintes
aspectos e procedimentos para a intervenção de conservação e reabilitação de revestimentos de
paredes antigas?” (figura 4.3), pode concluir-se que as quatro possibilidades apresentadas foram
consideradas ‘muito importantes’ ou ‘importantes’. Salienta-se a especificação de materiais e sua
adequabilidade ao projecto e à obra (21 respostas; 88%) bem como a avaliação do estado de
conservação do edifício e dos revestimentos de paredes (20; 83%), face aos valores e características
a preservar nas paredes e seus revestimentos (15; 63%). A disponibilidade de recursos, materiais,
técnicas e mão-de-obra foi o menos consensual (13; 54%), mas que ainda assim representa mais de
metade das respostas recolhidas. Este foi considerado ‘importante’ em lugar de ‘muito importante’
sobretudo por directores de obra e empreiteiros, ao contrário do que seria de esperar por estarem
directamente relacionados com a obra e pela importância também deste aspecto de acordo com
Veiga (2003b). Conclui-se que os dois primeiros aspectos acima referidos e considerados muito
importantes foram consensuais à maioria deles.

Especificação de materiais e sua adequabilidade ao


21 3
projecto e à obra

Disponibilidade de recursos, materiais, técnicas e


13 11
mão-de-obra

Avaliação do estado de conservação do edifício e


20 4
dos revestimentos de paredes

Valores e características a preservar nas paredes e


15 9
seus revestimentos

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Muito importante Importante Pouco importante Nada importante

Figura 4.3 - Indicadores e procedimentos para a intervenção em revestimentos de paredes antigas

No que respeita ao estado de conservação, a análise do gráfico da figura 4.4 correspondente à


questão 3, “Quais os aspectos que considera relacionados com a caracterização do estado de
conservação dos revestimentos existentes?”, possibilita concluir que os tipos de anomalias que
revelam foram o aspecto identificado pela totalidade da amostra (24 respostas), tendo sido portanto,
consensual. Esta caracterização é da maior importância para uma decisão correcta relativamente ao

53
tipo de intervenção a realizar, de acordo com Veiga (2003b). Segue-se o grau com que as anomalias
se manifestam (18; 75%) e viabilidade da sua reparação (18 igualmente, ou 75% da amostra), bem
como ainda o consequente nível de degradação provocada (14; 58%) que apesar de ser o aspecto
identificado com menos frequência, é no entanto representativo de mais de metade do número total
de respostas recebidas. Aqueles que não referiram este aspecto correspondem a directores de obra e
empreiteiros bem como promotores e donos-de-obra.
25
Tipos de anomalias que revelam; 24

20

15

10

Viabilidade da reparação das anomalias;


18 0
Grau com que as anomalias se
manifestam; 18

Consequente nível de degradação


provocada; 14

Figura 4.4 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes

Para além dos aspectos questionados, outras alternativas foram especificadas por vários
intervenientes, sobretudo a identificação das causas das anomalias (2; 8%), mas também outros tais
como a autenticidade, valor técnico e decorativo, anomalias associadas a outros elementos, funções
do revestimento afectadas, caracterização do revestimento e viabilidade técnica (tabela 4.2; anexo A-
tabela A1.2).

Tabela 4.2 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes

Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes Nº de respostas Amostra %


Tipos de anomalias que revelam 24 100%
Grau com as anomalias se manifestam 18 75%
Consequente nível de degradação provocada 14 58%
Viabilidade da reparação das anomalias 18 75%
74 24 100%
Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
Informação sobre revestimentos decorativos a proteger 1 4%
Autenticidade 1 4%
Valor técnico e decorativo 1 4%
Identificação das causas das anomalias 2 8%
Anomalias associadas a outros elementos 1 4%
Funções do revestimento afectadas 1 4%
Caracterização do revestimento 1 4%
Viabilidade técnica 1 4%
9 24 100%

54
Quanto à questão 4, “Em termos de metodologia em edifícios existentes, tem preocupações a nível
da patologia, faz diagnóstico da parede de suporte e define a intervenção?”, da análise do gráfico da
figura 4.5 conclui-se que todos os intervenientes aos quais era aplicável responderam
afirmativamente (62%) ou que habitualmente o fazem (38%), o que é positivo e demonstra haver
preocupações não só com a anomalia mas também com a sua análise e reparação. Verifica-se que o
grupo que deu todo ele a mesma resposta afirmativa, constitui o dos conservadores-restauradores e
também que, genericamente, os grupos dos directores de obra e empreiteiros bem como dos
fornecedores e fabricantes de materiais de construção correspondem aos que o fazem habitualmente.
Este aspecto é expectável pelo facto de serem os tipos de intervenientes menos relacionados com o
projecto em si. Conforme Veiga et al. (2004), o processo de reabilitação deve basear-se num projecto
e respectiva metodologia, pelo que devem planear-se e concretizar-se as diferentes fases envolvidas.

Habitualmente
38%

Sim
62%

Figura 4.5 - Preocupações com a patologia, diagnóstico da parede de suporte e definição da intervenção

Relativamente à questão 5, “Quais os aspectos que a equipa projectista deve identificar ao delinear
as acções a desenvolver?” (figura 4.6), dos quatro que foram questionados o que se salienta é o
número, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização, referido quase
pela totalidade da amostra à qual a questão era aplicável (22; 96%), seguido do conjunto de ensaios
a realizar (19; 83%). Constata-se ainda que 57% (13) dos intervenientes também referiu pontos de
aplicação, sendo de notar que este se traduziu como o aspecto menos consensual, supondo-se que
por ser o mais específico, enquanto apenas 30% daqueles (7) referiu o faseamento dos ensaios,
sobretudo directores de obra e empreiteiros.

Para além dos aspectos questionados, também outros foram especificados por intervenientes, tais
como: (i) incompatibilidades e materiais diferenciados; (ii) tipo de anomalias; (iii) registo das áreas
afectadas e nível de degradação de cada uma delas; (iv) decisões a tomar face aos resultados
obtidos nos ensaios; (v) necessidade de intervenção de outros técnicos; (vi) outras acções a
desenvolver a montante; (vii) prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior
aplicação; (viii) histórico da obra (possíveis intervenções anteriores) (tabela 4.3; anexo A-tabela A1.2).

55
25
Nº, tipo e espessura de
camadas do revestimento para
posterior caracterização; 22
20

15

10

Pontos de aplicação; 13
0
Conjunto de ensaios a realizar;
19

Faseamento dos ensaios; 7

Figura 4.6 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver

Tabela 4.3 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver
Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver Nº de respostas Amostra %
Nº, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização 22 96%
Conjunto de ensaios a realizar 19 83%
Faseamento dos ensaios 7 30%
Pontos de aplicação 13 57%
61 23 100%
Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
Incompatibilidades e materiais diferenciados 1 4%
Tipo de anomalias 1 4%
Registo das áreas afectadas e nível de degradação de cada uma delas 1 4%
Decisões a tomar face aos resultados obtidos nos ensaios 1 4%
Necessidade de intervenção de outros técnicos 1 4%
Outras acções a desenvolver a montante 1 4%
Prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior aplicação 1 4%
Histórico da obra - possíveis intervenções anteriores 1 4%
8 23 100%

Já no que respeita a questão 6, “Para além da inspecção visual, aquando do diagnóstico do edifício,
utiliza técnicas de caracterização experimentais?” (figura 4.7), houve maior variação nas respostas.
Em relação a ensaios in situ sobre o revestimento antigo, quando analisadas as suas respostas de
forma global, os intervenientes aos quais se aplica esta questão afirmam proceder sempre ou pelo
menos habitualmente à avaliação das propriedades mecânicas (13; 65%) e físicas (12; 60%). No
entanto, a diferença é pequena e ambas se revelam importantes. Analisa-se que os tipos de
intervenientes que mais a fazem equivalem aos consultores técnicos, directores de obra e
empreiteiros e, ainda, conservadores-restauradores. Por outro lado, nos ensaios de laboratório sobre
amostras extraídas em obra, a análise química (5; 26%) destaca-se como sendo a mais realizada,
seguindo-se as análises mineralógica e microestrutural (4; 21%) e, por fim, a análise orgânica (3;

56
16%). Nos ensaios em laboratório observa-se que os intervenientes que afirmaram fazê-la
correspondem a consultores técnicos. Analisa-se, portanto, o facto de serem muito mais comuns os
ensaios in situ face aos ensaios de laboratório. Outros ensaios foram igualmente especificados por
alguns intervenientes, tais como análise estratigráfica, ensaios físicos e mecânicos em laboratório e
ensaios realizados por equipas de conservação e restauro (anexo A-tabela A1.2).

Ensaios realizados por equipas de conservação e restauro 1

Ensaios físicos e mecânicos em laboratório 1

Análise estratigráfica 1

Análise orgânica 2 1 10 6

Análise microestrutural 1 3 10 5

Análise mineralógica 2 2 10 5

Análise química 2 3 11 3

Avaliação das propriedades mecânicas 4 9 4 3

Avaliação das propriedades físicas 5 7 6 2

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Sim Habitualmente Raramente Não

Figura 4.7 - Técnicas de caracterização experimentais no diagnóstico do edifício

Em relação à questão 7, “Qual a importância que atribui a cada um dos seguintes factores físicos e
mecânicos para a especificação de revestimentos de paredes exteriores?” (figura 4.8), os factores
apresentados foram genericamente considerados ‘muito importantes’ ou ‘importantes’, à excepção de
terem sido consideradas ‘pouco importantes’ as deformações do suporte por 8% (2) das respostas e
a área superficial da parede (7; 29%). No entanto, à humidade do suporte e às suas deformações foi
atribuída muita importância, respectivamente, por 79% (19) e 75% (18) da amostra. Seguem-se as
condições atmosféricas (6; 25%) sobretudo consideradas importantes e, por fim, a área superficial da
parede (2; 8%). Este último factor foi maioritariamente considerado importante mas alguns
intervenientes atribuíram-lhe pouca importância, equivalendo a fornecedores e fabricantes de
materiais de construção. Outros aspectos foram ainda referidos por intervenientes como muito
importantes, tais como: (i) valor cultural do edifício e do revestimento; (ii) verificação se as anomalias
do suporte estão ou não estabilizadas; (iii) compatibilidade com o existente; (iv) natureza do suporte e
do revestimento; (v) tipo de suporte; (vi) resistências mecânicas. A função do espaço e envolvente de
áreas anexas foram referidas como importantes (anexo A-tabela A1.2).

57
Resistências mecânicas 1

Tipo de suporte 1 1

Natureza do suporte e do revestimento 1

Envolvente áreas anexas 1

Função do espaço 1

Compatibilidade com existente 1

Verificar se as anomalias do suporte estão ou não estabilizadas 1

Valor cultural do edifício e do revestimento 1

Área superficial da parede 2 15 7

Deformações do suporte 18 4 2

Humidade do suporte 19 5

Condições atmosféricas 6 18

0 5 10 15 20 25

Muito importante Importante Pouco importante Nada importante

Figura 4.8 - Especificação de revestimentos de paredes exteriores

Na questão 8, “No projecto inclui desenhos e especificações tendo em conta a natureza do suporte,
condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento?”, de acordo com Veiga et al.
(2004), da análise do gráfico da figura 4.9 conclui-se que os intervenientes aos quais era aplicável
responderam afirmativamente (60%) ou que habitualmente (27%) ou mesmo raramente o fazem
(13%), não tendo havido qualquer resposta negativa. Apesar da última representar uma percentagem
considerável, verifica-se que foi maioritariamente respondida por fornecedores e fabricantes de
materiais de construção, o que faz reflectir sobre a não aplicabilidade da questão a estes. Os
intervenientes que responderam afirmativamente a esta questão englobam projectistas arquitectos,
projectistas engenheiros e consultores técnicos, o que se encontra em linha com o esperado uma vez
que é expectável que estes desenvolvam um melhor entendimento no processo e uma melhor
garantia de qualidade da posterior execução da intervenção pelos intervenientes directos em obra.

Raramente
13%

Habitualmente Sim
27% 60%

Figura 4.9 - Desenhos e especificações no projecto

58
Quanto à questão 9, “Opta por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra?”
(figura 4.10), praticamente metade dos intervenientes afirmou preferir produtos doseados em obra
(48%) sendo que 22% respondeu que utiliza produtos pré-doseados. Para 30% dos intervenientes, a
escolha não é clara, tendo escolhido pela opção ‘depende’. A análise das respostas permite concluir
que a opção por produtos tradicionais doseados em obra se destaca, no entanto os pré-doseados
têm um peso considerável, bem como a percentagem de quem faça depender a sua escolha da
especificidade da situação e da intervenção em causa. A opção por produtos tradicionais doseados
em obra equivale a projectistas arquitectos, consultores técnicos, conservadores-restauradores e,
ainda, promotores e donos-de-obra, o que pode demonstrar as suas preocupações e preferências
pelo que é tradicional, mas também alguma falta de soluções pré-doseadas específicas ou
consideradas adequadas. Ao invés, relativamente a produtos pré-doseados, estes correspondem
quase na totalidade a fornecedores e fabricantes de materiais de construção. Este aspecto é
expectável atendendo sobretudo aos curtos tempos de execução das obras presentemente e
facilidade de aplicação, sendo em função disso que optam, desenvolvem, fornecem ou fabricam os
seus materiais ou produtos, e por serem apenas esses os projectos e obras que acompanham estes
fabricantes de argamassas pré-doseadas. De notar, portanto, que quem especifica ainda não está
sensibilizado para este tipo de produtos produzidos por este grupo de intervenientes.

Sobre estes materiais e produtos, apresenta-se no anexo B (tabela B1) uma síntese do estudo de
mercado de materiais e produtos tradicionais doseados em obra ou pré-doseados, incluindo a
identificação dos seus produtores e marcas presentes no mercado nacional bem como a descrição
das respectivas constituições, propriedades e campos de aplicação, de acordo com informação do
respectivo fabricante. No capítulo 5, na aplicação da metodologia proposta no início desse capítulo ao
caso de estudo, especificam-se materiais e produtos também com base no estudo de mercado.

Pré-doseados
Depende
22%
30%

Doseados em
obra
48%

Figura 4.10 - Opção pelo tipo de produtos

Em relação à questão 10, “Quando escolhe um produto, experimenta-o/avalia-o através de ensaio?”,


a análise do gráfico da figura 4.11 permite observar que 48% da amostra aplicável o faz, 38% fá-lo
habitualmente enquanto 14% o faz apenas raramente, esta última fracção correspondente a
projectistas arquitectos e projectistas engenheiros. No entanto, a maior percentagem de respostas
afirmativas também equivale a projectistas arquitectos bem como a consultores técnicos e a
conservadores-restauradores. Como tal, depreende-se que não haja uniformidade a nível dos
projectistas na existência ou não deste procedimento de experimentação do produto escolhido.

59
Constata-se ainda que os directores de obra e empreiteiros responderam todos sobretudo que o
fazem ou habitualmente, o que constitui um aspecto de grande importância antes da aplicação do
produto por parte dos intervenientes directos em obra.
Raramente
14%

Sim
48%

Habitualmente
38%

Figura 4.11 - Experimentação do produto escolhido

No que respeita a questão 11, “Especifica os materiais e produtos a utilizar?”, dos intervenientes que
aplicam materiais e produtos grande parte afirmou que os especifica (81%) e os restantes fazem-no
habitualmente (19%), como pode ser observado no gráfico da figura 4.12. Constata-se que a
percentagem que habitualmente o faz corresponde a directores de obra e empreiteiros bem como a
fornecedores e fabricantes de materiais de construção. Todos os restantes tipos de intervenientes
especificam os materiais e produtos a utilizar, sendo importante que não tenha havido respostas
negativas relativamente a essa especificação, com vista a um projecto adequado e execução correcta
das intervenções. No entanto, tal situação revela especificação prescritiva e não exigencial, que
estaria mais directamente ligada com o desempenho em serviço (responsabilizando mais os técnicos
directamente intervenientes na obra, a partir de requisitos previamente definidos pelos projectistas)
que com as características técnicas típicas dos materiais de per se. De acordo com Flores-Colen
(2009), a especificação dos rebocos tradicionais continua com maior ênfase na formulação prescritiva
do que na abordagem exigencial.

Habitualmente
19%

Sim
81%

Figura 4.12 - Especificação dos materiais e produtos a utilizar

Quanto à questão 12, “Inclui a ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e
garantia da obra?” (figura 4.13), da mesma amostra aplicável de intervenientes que as duas questões
anteriores mais de metade inclui-a (67%), 19% fá-lo habitualmente, 9% raramente e 5% afirmou não
a incluir, as últimas duas correspondendo sobretudo a consultores técnicos. Verifica-se que houve
uma maior variação nas respostas inclusive referentes ao mesmo tipo de intervenientes, o que pode

60
levar a pensar que a utilidade e importância dadas a este elemento não são consensuais entre os
inquiridos. Este aspecto é visível a nível de consultores técnicos, promotores e donos-de-obra bem
como directores de obra e empreiteiros.
Raramente
Não
9%
5%

Habitualmente
19%
Sim
67%

Figura 4.13 - Ficha técnica do material na especificação

Relativamente à questão 13, “Na especificação do material/produto, quais os critérios que utiliza?”, da
análise do gráfico da figura 4.14 conclui-se que a quase totalidade dos intervenientes que especificam
os materiais e produtos utiliza o critério de âmbito de aplicação do produto (23; 96%), bem como 67%
(16) o traço da argamassa. Já o custo do produto é apenas utilizado por 25% (6). Constata-se que
não só é genericamente consensual o critério de âmbito de aplicação entre os intervenientes, como o
inverso quanto ao custo do produto. Tal como é expectável dado o seu âmbito de trabalho e actuação,
este critério foi referido essencialmente por fornecedores e fabricantes de materiais de construção
mas também por promotores e donos-de-obra. Quanto ao traço, os intervenientes que não o referiram
correspondem sobretudo a fornecedores e fabricantes de materiais bem como a directores de obra e
empreiteiros. De referir que a prescrição por traço é muito limitativa, contrária à prescrição exigencial
pretendida, à especificação de requisitos de desempenho, por exemplo segundo a NP EN 998-1:2013.
25

20

15

10
Custo do produto; 6

Traço da argamassa; 16

Âmbito de aplicação do produto; 23

Figura 4.14 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto

Foram também referidos outros critérios por diversos intervenientes, sendo que se destaca a
compatibilidade com as preexistências (quando haja) que foi identificada por 8% dos inquiridos (2).
Os restantes critérios mencionados foram o cumprimento dos requisitos de compatibilidade e
desempenho especificados, preparação do suporte, modo de execução, bem como especificidades
da obra, suporte e revestimento, e marcação CE (quando aplicável) (tabela 4.4; anexo A-tabela A1.2).

61
Tabela 4.4 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto
Critérios utilizados na especificação do material ou produto Nº de respostas Amostra %
Custo do produto 6 25%
Âmbito de aplicação do produto 23 96%
Traço da argamassa 16 67%
45 24 100%
Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
Compatibilidade com as preexistências (quando haja) 2 8%
Cumprimento dos requisitos de compatibilidade e desempenho especificados 1 4%
Preparação do suporte 1 4%
Modo de execução 1 4%
Especificidades da obra, do suporte e do revestimento 1 4%
Marcação CE (quando aplicável) 1 4%
7 24 100%

Na questão 14, “Especifica a composição da argamassa a utilizar?”, o gráfico da figura 4.15 permite
concluir que a maior parte dos intervenientes a especifica pelo menos habitualmente, sendo que 61%
da amostra aplicável respondeu afirmativamente e 22% habitualmente. Por outro lado, apenas 4%
raramente o faz e 13% respondeu negativamente em particular fornecedores e fabricantes de
materiais de construção. Observa-se que também alguns do mesmo grupo bem como directores de
obra e empreiteiros responderam que habitualmente especificam a composição. Tal como na questão
12, constata-se, assim, que houve uma maior variação nas respostas face a outras inclusive
referentes ao mesmo tipo de intervenientes, relativamente a fornecedores e fabricantes de materiais
bem como directores de obra e empreiteiros. No que respeita à exemplificação, tendo sido dados os
exemplos de traço em volume e proporções em massa, dos intervenientes que habitualmente o
fazem um referiu traço em volume quando não pré-doseados e outro especificou 1:4. Dos
intervenientes que efectivamente especificam a composição da argamassa, a maior parte dos que
exemplificaram (65%) referiu traço em volume (56%) sendo que um deles afirmou que o faz quando
não especifica argamassas pré-doseadas, outros acrescentaram ainda o tipo de areias, as
características dos constituintes e relação água/ligante. Dois intervenientes indicaram inclusivamente
exemplos específicos, 3:1 e 1:3. Conclui-se, portanto, que genericamente se especifica traço em
volume no caso de argamassas doseadas em obra. Do estudo dos rebocos antigos sabe-se que a
constituição das suas camadas de regularização e protecção corresponde a argamassas de cal e
areia ao traço entre 1:1 e 1:5 de cal aérea:areia, de acordo com Flores-Colen e Brito (2012). No
entanto, fica a questão de onde se baseiam os intervenientes para a recomendação do traço.

Raramente Não
4% 13%

Sim
Habitualmente 61%
22%

Figura 4.15 - Especificação da composição da argamassa a utilizar

62
Quanto à questão 15, “Acompanha as especificações relativas à composição da argamassa com uma
descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas?” (figura 4.16), dos
intervenientes que afirmaram especificar a argamassa a utilizar todos fazem acompanhar as
especificações de uma descrição técnica das tecnologias de aplicação (61% da amostra aplicável),
sendo ainda notório que 31% habitualmente o faz. Os restantes (8%), fornecedores e fabricantes de
materiais de construção raramente o fazem (4%), enquanto directores de obra e empreiteiros
referiram especificamente não o fazerem habitualmente (4%). Naturalmente por esta questão se
relacionar com a anterior, também se verifica uma grande dispersão de respostas entre quem
acompanha as especificações com uma descrição técnica das tecnologias e quem habitualmente o
faz, abrangendo a generalidade dos tipos de intervenientes.
Raramente Não
4% 4%

Habitualmente
31% Sim
61%

Figura 4.16 - Descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas

No que respeita a questão 16, “Na especificação/execução de revestimento exterior em argamassa,


opta por uma única camada (a) ou mais que uma (b)?”, da análise do gráfico da figura 4.17 conclui-se
que, dos intervenientes que especificam o revestimento, a maioria opta por mais que uma camada
sendo que 57% (13 inquiridos) respondeu afirmativamente, 30% (7) habitualmente e 9% (2)
raramente, esta última equivalente a fornecedores e fabricantes de materiais de construção.
Constata-se que os consultores técnicos, directores de obra e empreiteiros, fornecedores e
fabricantes, perfazem a percentagem dos que habitualmente o fazem, sendo que foram sobretudo os
restantes grupos que deram respostas afirmativas. Um só interveniente (dos grupos de projectistas
arquitectos bem como promotores e donos-de-obra) apenas respondeu que opta por uma única
camada. Quanto a esta opção, à qual alguns dos intervenientes que optam por mais que uma
camada (48%) também responderam, 13% (3) da amostra aplicável respondeu afirmativamente ou
habitualmente, ambas correspondendo tanto a fornecedores e fabricantes de materiais de construção
como a promotores e donos-de-obra, 13% (3) raramente e 9% (2) não o faz. Conclui-se, assim, que é
dada maior importância à opção por mais que uma camada relativamente a uma única, cujas razões
são analisadas na questão seguinte, que corresponde à maior opção por produtos doseados em obra.

Mais que uma camada 13 7 2

Uma única camada 3 3 3 2

0 5 10 15 20 25

Sim Habitualmente Raramente Não

Figura 4.17 - Especificação ou execução de revestimento exterior

63
A questão 17, “Quais as razões/objectivos para a necessidade de mais que uma única camada?”
(figura 4.18), de acordo com Faria Rodrigues (1993) e Flores-Colen e Brito (2012), possibilitou uma
maior dispersão nas respostas sendo de salientar que 71% (17) da amostra identificou baixa
tendência para fendilhação por retracção, à excepção de fornecedores e fabricantes de materiais.
Boa aderência ao suporte ou descontinuidade em cada camada evitando fissuração na seguinte,
receberam ambas a preferência de 54% (13) dos inquiridos, constituindo deste modo as razões
menos consensuais. Traduzem-se, assim, as principais razões pelas quais os intervenientes optam
maioritariamente por mais que uma camada, como se concluiu na questão anterior. Já 33% (8)
assinalou boa compacidade e também barreira eficaz contra penetração de água, enquanto 25% (6)
referiu uma boa trabalhabilidade.

18
16
14
12
10
Descontinuidade em cada camada
evitando fissuração na seguinte; 13 8 Boa trabalhabilidade; 6
6 Boa aderência ao suporte; 13

4
2
0

Barreira eficaz contra penetração de Boa compacidade; 8


água; 8

Baixa tendência para fendilhação por


retracção; 17

Figura 4.18 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada

Foram também identificadas pelos intervenientes outras razões, tais como: (i) boa carbonatação; (ii)
bom aspecto; (iii) possibilidade de eventuais correcções de imperfeições ou irregularidades do
suporte; (iv) compatibilidade mecânica com os suportes; (v) espessura do revestimento; (vi) evitar
fissuração devida ao peso excessivo de uma camada espessa; (vii) diversidade de acabamentos; (viii)
granulometria da argamassa; (ix) especificidades do produto (tabela 4.5; anexo A-tabela A1.2).

64
Tabela 4.5 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada
Razões para a necessidade de mais que uma única camada Nº de respostas Amostra %
Boa trabalhabilidade 6 25%
Boa aderência ao suporte 13 54%
Boa compacidade 8 33%
Baixa tendência para fendilhação por retracção 17 71%
Barreira eficaz contra penetração de água 8 33%
Descontinuidade em cada camada evitando fissuração na seguinte 13 54%
65 24 100%
Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
Boa carbonatação 1 4%
Bom aspecto 1 4%
Possibilidade de eventuais correcções de imperfeições ou irregularidades do suporte 1 4%
Compatibilidade mecânica com os suportes 1 4%
Espessura do revestimento 1 4%
Evitar fissuração devida ao peso excessivo de uma camada espessa 1 4%
Diversidade de acabamentos 1 4%
Granulometria da argamassa 1 4%
Especificidades do produto 1 4%
9 24 100%

Quanto à questão 18, “Verifica e utiliza as normas aplicáveis?”, a análise do gráfico da figura 4.19
permite concluir que, da amostra aplicável, 68% o faz e 18% apenas habitualmente, sendo que 14%
raramente verifica e utiliza as normas aplicáveis, o que, não sendo percentagens satisfatórias,
revelam essa preocupação pela maior parte dos intervenientes. Um aspecto relevante a analisar é
que os intervenientes que responderam que raramente verificam e utilizam normas correspondem
sobretudo ao grupo de projectistas arquitectos, também aos de gestores de projecto e de directores
de obra e empreiteiros. Traduz-se, assim, num ponto a corrigir sobretudo a nível do projecto e da
execução das intervenções em edifícios antigos, sendo que é um procedimento a ser integrado na
metodologia de apoio ao projecto proposta no capítulo seguinte, a adoptar pelos projectistas na
concepção.
Raramente
14%

Habitualmente
18%
Sim
68%

Figura 4.19 - Verificação e utilização das normas aplicáveis

Em relação à questão 19 representada no gráfico da figura 4.20, “Especifica os requisitos que


pretende que o revestimento exterior cumpra?”, 65% da amostra aplicável afirmou especificar
enquanto 25% apenas habitualmente (equivalendo esta sobretudo a consultores técnicos bem como
directores de obra e empreiteiros), 5% fá-lo raramente e 5% não especifica. Estas duas últimas
correspondem, respectivamente, a fornecedores e fabricantes ou projectistas arquitectos, o que
constitui um aspecto negativo por dever partir sobretudo destes últimos a definição e especificação

65
dos requisitos pretendidos para o revestimento, por forma a assegurar que é sobretudo compatível
com o desempenho pretendido.
Raramente
5% Não
5%

Habitualmente
25%
Sim
65%

Figura 4.20 - Especificação dos requisitos pretendidos para o revestimento exterior

Relativamente à questão 20, “Concorda com os seguintes critérios de compatibilidade dos


revestimentos?”, os resultados das respostas foram genericamente afirmativos para os critérios de
compatibilidade apresentados à excepção de três deles (figura 4.21). Proteger as paredes, não
prejudicar a apresentação visual nem descaracterizar o edifício ou serem duráveis e contribuírem
para a durabilidade do conjunto foram os critérios que receberam respostas negativas de três
intervenientes. Quanto a este último, um interveniente entendeu não ser aplicável. Verifica-se que os
critérios de compatibilidade questionados, de acordo com Veiga (2003b), são consensuais à grande
maioria dos intervenientes em reabilitação. Foram ainda acrescentados por alguns intervenientes
outros critérios de compatibilidade dos revestimentos: (i) continuar as técnicas originais; (ii)
exequibilidade tendo em conta o contexto em que se desenvolve a obra; (iii) critérios estéticos; (iv)
ser compatível com a base e materiais adjacentes em termos físico-químicos; (v) não introduzir sais
solúveis no sistema (anexo A-tabela A1.2).

Não introduzir sais solúveis no sistema 1

Ser compatível com a base e materiais adjacentes em termos físico-químicos 1

Estéticos 1

Continuar as técnicas originais 1

Exiquibilidade, tendo em conta o contexto em que se desenvolve a obra 1

Ser duráveis bem como contribuir para a durabilidade do conjunto 22 1

Não prejudicar a apresentação visual nem descaracterizar o edifício 22 1

Proteger as paredes 23 1

Não contribuir para degradar os elementos preexistentes sobretudo alvenarias 24

0 5 10 15 20 25

Sim Não

Figura 4.21 - Critérios de compatibilidade dos revestimentos

66
No que respeita a questão 21, “Para além de ter por base requisitos de compatibilidade, quais os
factores que considera que o método de selecção de uma argamassa de substituição deve ter em
conta?”, a análise do gráfico da figura 4.22 possibilita tirar conclusões relevantes. Dos factores
referidos, de acordo com Veiga (2003b), à excepção das tecnologias a utilizar, que 50% (12 dos
inquiridos) identificou serem importantes para o caso e portanto constituir um factor que não é
consensual (em que directores de obra e empreiteiros bem como fornecedores e fabricantes de
materiais não o consideraram), todos os outros foram reconhecidos pela maioria dos intervenientes.
Destacam-se as características do suporte e perícia do executante (21; 88%), seguindo-se soluções
que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível (18; 75%), bem
como ainda a adequação da mistura e das condições de aplicação correspondendo a 71% (17).
Relativamente a este factor, os tipos de intervenientes que não o consideraram integram os
fornecedores e fabricantes de materiais de construção bem como directores de obra e empreiteiros, o
que não parecia expectável por se relacionarem com a aplicação dos materiais e produtos
seleccionados ou se tratarem de intervenientes directos em obra. No que respeita a soluções que
permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rentabilidade possível, este factor não foi
referido por alguns intervenientes sendo eles consultores técnicos, directores de obra e empreiteiros
bem como também fornecedores e fabricantes de materiais. Quanto às características do suporte e
perícia do executante, curiosamente foram promotores e donos-de-obra bem como directores de obra
e empreiteiros que não as consideraram.
25

20 Adequação da mistura e das


condições de aplicação; 17

15

10

5
Soluções que permitam bom
desempenho e durabilidade com a
0
melhor rendibilidade possível; 18
Tecnologias a utilizar; 12

Características do suporte e perícia


do executante; 21

Figura 4.22 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição

Foram ainda referidos outros factores a ter em conta, tais como ser de fabrico nacional (quando
exista), compatibilidade com a argamassa existente/adjacente e factores estéticos (tabela 4.6; anexo
A-tabela A1.2).

67
Tabela 4.6 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição
Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição Nº de respostas Amostra %
Adequação da mistura e das condições de aplicação 17 71%
Tecnologias a utilizar 12 50%
Características do suporte e perícia do executante 21 88%
Soluções que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível 18 75%
68 24 100%
Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
Ser de fabrico nacional (quando exista) 1 4%
Compatibilidade com a argamassa existente/adjacente 1 4%
Factores estéticos 1 4%
3 24 100%

Na questão 22, “Quais os factores que influenciam de forma decisiva a estrutura física do reboco de
argamassa, o seu comportamento e a sua durabilidade?” (figura 4.23), quase a totalidade da amostra
identificou a interacção com o suporte (23; 96%), seguindo-se o modo de preparação e a cura (com
75% (18) e 67% (16), respectivamente) e, por fim, a evolução ao longo do tempo ainda com cerca de
metade das respostas (11; 46%) o que permite concluir que este factor não é consensual. Os
intervenientes que consideraram a influência deste factor integram os projectistas arquitectos,
consultores técnicos, bem como fornecedores e fabricantes de materiais de construção, o que já por
si é diversificado a nível de experiência de cada um. Verifica-se que o modo de preparação e a cura
não foram identificados por alguns dos projectistas arquitectos e promotores e donos-de-obra da
amostra.
25

20
Modo de preparação; 18

15

10

Evolução ao longo do tempo; 11


0
Cura; 16

Interacção com o suporte; 23

Figura 4.23 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco

Outros factores foram ainda referidos por intervenientes, sobretudo o modo de aplicação (8%), entre
outros como número e espessura das camadas, composição (constituintes e traço), condições de
aplicação e condições ambientais, o que revela a diversidade de aspectos que a amostra considera
influenciarem o reboco de argamassa (tabela 4.7; anexo A-tabela A1.2).

68
Tabela 4.7 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco
Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco Nº de respostas Amostra %
Modo de preparação 18 75%
Cura 16 67%
Interacção com o suporte 23 96%
Evolução ao longo do tempo 11 46%
68 24 100%
Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
Modo de aplicação 2 8%
Nº e espessura das camadas 1 4%
Composição (constituintes e traço) 1 4%
Condições de aplicação 1 4%
Condições ambientais 1 4%
6 24 100%

No que se refere à questão 23, “Considera verdadeira a afirmação de que a conservação do


revestimento é a opção mais correcta e favorável a nível de durabilidade, funcionalidade e
economia?” (figura 4.24), genericamente os intervenientes responderam que a consideram verdadeira
(92%), sem qualquer objecção. Excepção foi a resposta afirmativa de um interveniente referindo que
em geral sim, mas que há casos em que considera preferível a substituição, por exemplo, de rebocos
de argamassa cimentícia ou de rebocos soltos e muito desagregados com muito baixa resistência
mecânica. Outros dois intervenientes responderam negativamente (8%), um referindo que depende
da situação e outro que nem sempre, que por vezes a sua remoção/substituição é preferível. Verifica-
se que, apesar da existência destes casos, a grande maioria dos intervenientes concorda com a sua
conservação como a opção mais correcta e favorável em durabilidade, funcionalidade e economia, de
acordo com Veiga (2009).

Não
8%

Sim
92%

Figura 4.24 - Conservação do revestimento como opção mais correcta e favorável

77% daqueles que responderam afirmativamente à questão justificaram-no. Os motivos de


considerarem verdadeira a afirmação foram variados; no entanto são relacionáveis e genericamente
revelam a mesma importância de aspectos a ter em conta, bem como respectivas preocupações. A
razão principal atribuída pelos intervenientes para a conservação, pela análise da tabela 4.8, é o facto
de o revestimento servir de protecção (pele) ao suporte evitando a sua degradação (33% das
justificações aplicáveis). As restantes, com um peso de 13% no total de respostas, prendem-se com o
facto de o revestimento original ou próximo ser compatível e durável, bem como o de a conservação
aumentar a durabilidade do edifício e o facto de a substituição implicar riscos e custos acrescidos
para além de perda de características (tabela 4.8; anexo A-tabela A1.2).

69
Tabela 4.8 - Justificações para a conservação do revestimento
Justificações para a conservação do revestimento Nº de respostas Amostra %
O material original é um documento de estudo 1 7%
O revestimento preserva o valor cultural 1 7%
O revestimento é compatível e durável (se for o original, ou próximo disso) 2 13%
O revestimento já carbonatou 1 7%
O revestimento serve de protecção (pele) ao suporte evitando a sua degradação 5 33%
Aumenta a durabilidade do edifício 2 13%
Contribui para a manutenção da qualidade do interior dos edifícios 1 7%
O revestimento possui função decorativa de grande relevância para a imagem do edifício 1 7%
Prolonga de forma significativa o tempo útil de vida do revestimento 1 7%
A não conservação provoca o aparecimento de anomalias, cujos custos de reparação são significativos 1 7%
A conservação é medida preventiva de anomalias de maior gravidade 1 7%
A substituição implica riscos e custos acrescidos para além de perda de características 2 13%
A manutenção periódica evita perda material e reduz custos de conservação 1 7%
A conservação periódica permite monitorização do comportamento, manutenção e eventuais correcções 1 7%
O edifício mantém o aspecto inicial, bem cuidado, sem necessidade de trabalhos profundos de reabilitação 1 7%
22 15 100%

Dos resultados relativos à questão 24, “Onde costuma aceder a informações sobre as boas práticas
de projecto e execução de revestimentos de paredes exteriores com argamassas?” (figura 4.25), é
possível verificar que os congressos e palestras, manuais de aplicação de revestimentos e normas e
documentação técnica do LNEC são as fontes de informação salientadas pela maioria dos
intervenientes, seguindo-se logo as revistas de especialidade e os manuais de aplicação de
fabricantes de argamassas. Entre 67% (16) e 71% (17) da amostra de intervenientes costuma aceder
a cada aspecto questionado, exceptuando-se as revistas de especialidade que correspondem a 58%
(14) da amostra, seguindo-se a internet com apenas 42% (10). Constata-se que os tipos de
intervenientes que afirmaram geralmente aceder a todos os exemplos questionados, ou apenas à
excepção da internet, correspondem a alguns fornecedores e fabricantes de materiais, bem como
também a certos consultores técnicos. Pelo contrário, aqueles que menos aspectos referiram
equivalem maioritariamente a directores de obra e empreiteiros, consultando sobretudo manuais de
aplicação de revestimentos.
18
16
14
12 Internet; 10

10 Congressos e palestras; 17
Normas e documentação técnica do
LNEC; 16
8
6
4
2
0

Revistas de especialidade; 14
Manuais de aplicação de fabricantes
de argamassas; 16

Manuais de aplicação de
revestimentos; 17

Figura 4.25 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores

70
Para além dos items questionados também outros foram especificados por determinados
intervenientes, tais como: (i) bibliografia técnica especializada; (ii) documentos académicos (teses e
artigos); (iii) contactos com antigos mestres; (iv) investigação e experimentação própria; (v)
experiência própria e de mestres aplicadores; (vi) conselho de outros profissionais; (vii) obras de
referência (de preferência com algum tempo decorrido sobre a aplicação dos revestimentos); (viii)
contacto directo com a obra. De todos, os que foram referidos por mais que um interveniente foram
os documentos académicos e o conselho de outros profissionais (8%). (tabela 4.9; anexo A-tabela
A1.2) Conclui-se, deste modo, que grande parte dos intervenientes em reabilitação recorre aos
principais meios de acesso a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de
revestimentos de paredes exteriores com argamassas. No entanto, ainda assim, há vários que não o
fazem e este aspecto pode ser de certa forma compensado e eventualmente solucionado com a
existência de um documento de apoio ao projecto, que constitua uma metodologia ou modelo de
apoio ao projecto de reabilitação a nível dos revestimentos de paredes de edifícios antigos.

Tabela 4.9 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores
Informações sobre as boas práticas Nº de respostas Amostra %
Internet 10 42%
Congressos e palestras 17 71%
Revistas de especialidade 14 58%
Manuais de aplicação de revestimentos 17 71%
Manuais de aplicação de fabricantes de argamassas 16 67%
Normas e documentação técnica do LNEC 16 67%
90 24 100%
Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
Bibliografia técnica especializada 1 4%
Documentos académicos (teses e artigos) 2 8%
Contactos com antigos mestres 1 4%
Investigação e experimentação própria 1 4%
Experiência própria e de mestres aplicadores 1 4%
Conselho de outros profissionais 2 8%
Obras de referência 1 4%
Contacto directo com a obra 1 4%
10 24 100%

4.3. Síntese de conclusões do inquérito

As principais conclusões da análise de resultados aos inquéritos respondidos pelos intervenientes


seleccionados e apresentados em detalhe no presente capítulo são sumariadas nos parágrafos
seguintes. Pretende-se assim obter uma valiosa percepção prática das metodologias e
procedimentos aplicados por estes intervenientes.

A especificação de materiais e sua adequabilidade ao projecto e à obra bem como a avaliação do


estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes foram os dois aspectos mais
consensuais à maioria dos inquiridos no que respeita à sua importância para a intervenção de
conservação e reabilitação de revestimentos de paredes antigas.

71
Para caracterizar o estado de conservação dos revestimentos, a totalidade dos inquiridos respondeu
que o tipo de anomalias que revelam é o aspecto mais importante.

Por outro lado, o aspecto mais importante que a equipa projectista deve identificar ao delinear as
acções a desenvolver, e o mais consensual (96% das respostas), foi o número, tipo e espessura de
camadas do revestimento para posterior caracterização.

Sobre a utilização de técnicas experimentais de caracterização do edifício e dos revestimentos de


paredes, a maioria dos inquiridos afirmou recorrer à avaliação de propriedades físicas e mecânicas
mediante ensaios in situ sobre o revestimento antigo. Destas propriedades questionadas, a maioria
classificou como muito importante ou importante a humidade do suporte e as deformações deste.

Quando questionados se no projecto incluem desenhos e especificações tendo em conta a natureza


do suporte, condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento, a maioria (87%)
respondeu que o faz sempre ou habitualmente, o que é positivo.

Verifica-se que não há uma preferência clara entre produtos doseados em obra ou pré-doseados,
apesar de os doseados em obra terem tido a preferência dos projectistas arquitectos, consultores
técnicos, conservadores-restauradores e promotores e donos-de-obra. Este aspecto pode demonstrar
as suas preocupações e escolhas pelo que é tradicional e adaptado à especificidade do revestimento
em causa e à obra, mas também alguma falta de soluções pré-doseadas específicas ou consideradas
adequadas. Por outro lado, sobretudo os fornecedores e fabricantes referem produtos pré-doseados,
pelo que se pode concluir que quem especifica ainda não está sensibilizado para este tipo de
produtos produzidos por este grupo de intervenientes, aspecto que deve ser corrigido. Note-se ainda
que, para 30% dos intervenientes inquiridos, a escolha não é clara, fazendo depender a sua escolha
da especificidade da situação e da intervenção em causa.

Constata-se ainda que os intervenientes afirmaram especificar os materiais e produtos a utilizar ou


habitualmente o fazer, o que é positivo para garantir um projecto adequado e execução correcta das
intervenções. No entanto, tal situação revela especificação prescritiva e não exigencial, que estaria
mais directamente ligada com o desempenho em serviço (responsabilizando mais os técnicos
directamente intervenientes na obra, a partir de requisitos previamente definidos pelos projectistas)
que com as características técnicas típicas dos materiais de per se.

A inclusão da ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra
parece não ser consensual entre os intervenientes abrangidos pela amostra, até dentro do mesmo
grupo, apesar de a maioria (67%) ter respondido afirmativamente. De referir que os inquiridos podem
fornecê-la por iniciativa própria ou por exigência da obra.

Note-se que na especificação do material/produto, o critério mais utilizado por 96% dos intervenientes
é o do âmbito de aplicação, tendo sido o critério mais frequentemente apontado, por oposição ao
custo do produto, que foi o menos referido. Entre os inquiridos, o âmbito de aplicação revelou ser,
portanto, mais importante que o custo do produto apesar de que este também tem relevância no
processo. Fornecedores e fabricantes bem como directores de obra e empreiteiros correspondem
genericamente aos que não referiram o traço da argamassa. De referir que a prescrição por traço é

72
muito limitativa, contrária à prescrição exigencial pretendida, pela especificação de requisitos de
desempenho, por exemplo segundo a NP EN 998-1:2013. Note-se ainda que 61% especifica a
composição da argamassa a utilizar, geralmente o traço em volume, no caso de argamassas
doseadas em obra. Destes, todos afirmam fazê-las acompanhar-se de uma descrição técnica das
tecnologias de aplicação.

Conclui-se também que a grande maioria opta pela aplicação de mais que uma camada, o que
corresponde à verificada preferência pela opção por produtos doseados em obra. Ao invés, os pré-
doseados têm adições e adjuvantes que permitem a aplicação em apenas uma única camada.
Apesar da dispersão na escolha das razões para a opção por mais que uma, a preferência vai para a
baixa tendência para fendilhação por retracção. Conforme abordado no capítulo 3, uma das razões
para a execução dos rebocos tradicionais com mais que uma única camada advém do facto de,
apenas com uma, não serem completamente conseguidas as características exigidas, entre as quais
se refere a baixa tendência para a fendilhação por retracção (Faria Rodrigues, 1993). Adicionalmente,
segundo Veiga (2003b), função dos requisitos e para a formulação das argamassas de substituição, a
tensão desenvolvida por retracção restringida deve ser inferior à resistência à tracção do suporte
constituindo, assim, um princípio básico e com influência na tendência para fendilhação. Por fim, a
norma europeia EN 13914-1:2005 recomenda aspectos referentes à concepção, preparação e
aplicação de argamassas de reboco, na qual se refere que estes revestimentos devem ser compostos
pelo menos por duas camadas e as camadas sucessivas devem devem ser mais fracas do que as
anteriores.

Um ponto a corrigir ao nível do projecto e da execução das intervenções em edifícios antigos é a


utilização das documentação principalmente pelos projectistas na concepção, dado que mediante as
respostas foi possível concluir que alguns não o fazem com frequência. Apresentadas no subcapítulo
3.4. do presente trabalho, determinadas normas e documentos técnicos internacionais e nacionais
são aplicáveis neste âmbito e devem ser consultadas e verificadas. Salientam-se a norma EN 13914-
1:2005 relativa a revestimentos de argamassa à base de ligantes minerais, o documento técnico DTU
26.1:2008 relativo a rebocos tradicionais, bem como normalização nacional como a NP EN 998-
1:2013 de argamassas para alvenarias e a NP EN 459:2011 quanto à cal de construção.

Verifica-se que dentro dos 10% de inquiridos que não especifica os requisitos pretendidos que o
revestimento exterior deve cumprir se encontram fornecedores e fabricantes, ou projectistas
arquitectos. Constitui um aspecto negativo por dever partir destes últimos a definição e especificação
dos requisitos pretendidos para o revestimento de forma a assegurar que é compatível com o
desempenho pretendido.

Os critérios de compatibilidade dos revestimentos são consensuais à grande maioria dos


intervenientes, o que demonstra a importância destes. Quanto aos factores que influenciam de forma
decisiva a estrutura física do reboco de argamassa, o seu comportamento e durabilidade, verificou-se
que a resposta consensual à quase totalidade dos inquiridos se prende com a interacção com o
suporte.

73
De notar que, apesar de alguns casos isolados de intervenientes terem referido que por vezes a
remoção/substituição dos revestimentos é preferível, a grande maioria concorda com a sua
conservação como a opção mais correcta e favorável em durabilidade, funcionalidade e economia.

Por fim, conclui-se que apesar de os intervenientes inquiridos consultarem diversas fontes de
informação sobre as melhores práticas de projecto e execução, alguns ainda não o fazem e que este
aspecto pode vir a ser de certa forma compensado e eventualmente solucionado com a existência de
um documento de apoio ao projecto que constitua uma metodologia ou modelo para a reabilitação a
nível de revestimentos de paredes de edifícios antigos para o qual este trabalho se propõe contribuir.

De acordo com o inquérito realizado e as respostas obtidas e com vista à ficha de inquérito poder ser
utilizada, em trabalhos futuros, para alargamento da amostra ou desenvolvimento da metodologia por
outros investigadores, considera-se que é adequada e completa, no entanto podem deixar-se umas
notas e recomendar-se alguns ajustes. Ao longo da sua utilização foi possível perceber determinados
aspectos: (i) seria importante saber quais as razões pelas quais depende a opção por produtos pré-
doseados ou produtos tradicionais doseados em obra, pelo que o campo de justificação poderia ser
acrescentado na questão (9); (ii) quanto aos critérios utilizados na especificação do material/produto
seria relevante esclarecer melhor a questão (13), dado que os inquiridos interpretaram-na de forma
um pouco diferente uns dos outros inclusive especificando alternativas que o traduzem; (iii) um
número considerável de intervenientes não exemplificou a composição da argamassa a utilizar e,
ainda, seria interessante que referissem onde se baseiam para a recomendação do traço da
argamassa, pelo que este campo poderia ser acrescentado na questão (14); (iv) relativamente à
questão (23) de considerar-se verdadeira ou não a conservação do revestimento como primeira
opção, alguns inquiridos não justificaram a sua resposta e, ainda, seria relevante acrescentar o
campo ‘depende’, dado que casos pontuais acabaram por o fazer na própria justificação (tanto tendo
respondido ‘sim’ como ‘não’). Estas são as recomendações que se deixam para trabalhos futuros.

74
5. Metodologia para reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos

5.1. Considerações gerais

Tendo por base o estudo do estado dos conhecimentos (capítulos 2 e 3) e o estado da prática com a
investigação mediante o contacto com intervenientes em reabilitação (capítulo 4), o presente capítulo
tem como principais objectivos a proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de
revestimentos de paredes de edifícios antigos e a sua aplicação mediante um caso de estudo.
Integrados na metodologia proposta, salienta-se a definição dos aspectos a analisar no edifício e dos
procedimentos e critérios relevantes para a intervenção, sobretudo para o projectista na fase de
concepção. O edifício que constitui o caso de estudo para aplicação da metodologia proposta foi
seleccionado por se enquadrar no âmbito do presente trabalho, de património monumental e com
necessidades urgentes de intervenção atendendo ao seu estado de conservação actual. A
caracterização do edifício e dos seus revestimentos de paredes é importante para a aplicação da
metodologia proposta ao edifício, seguindo-se o seu diagnóstico e definição da intervenção a realizar
ao nível dos seus revestimentos de paredes exteriores.

5.2. Proposta de metodologia de estudo e apoio à reabilitação de revestimentos antigos

5.2.1. Objectivos da proposta de metodologia de avaliação e reabilitação

A proposta de metodologia visa constituir um modelo prático ou guia de apoio à decisão e projecto,
que consiste numa sequência de trabalhos ou procedimentos de apoio. Assim, os principais
objectivos da proposta de metodologia são estruturar e sintetizar os procedimentos relevantes à
reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e constituir um apoio ao projecto. O
estudo sobre o estado de conservação dos edifícios e em particular dos seus revestimentos permite
obter indicações essenciais sobre a estratégia a adoptar e os materiais e técnicas a utilizar nas
intervenções. Pretende-se clarificar os procedimentos e critérios que o projectista deve seguir na fase
de concepção, tendo em vista a compatibilidade dos vários constituintes das paredes e respectivas
argamassas de revestimento. O diagrama da figura 5.1 representa o processo para desenvolvimento
da proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação, atendendo a determinados factores
relevantes, abordados nos subcapítulos seguintes.

Estudo dos elementos e do


estado de conservação

Tipo de estratégia e Proposta de metodologia de Compatibilidade


técnicas a adoptar apoio ao projecto entre materiais

Procedimentos e critérios na
fase de concepção

Figura 5.1 - Processo para o desenvolvimento da proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação

75
5.2.2. Compatibilidade dos elementos

Um aspecto crucial no âmbito do presente trabalho consiste na compatibilidade entre os materiais


originais e os novos a aplicar, do ponto de vista mecânico, químico, físico, geométrico e estético. Com
efeito, as novas argamassas de revestimento têm de ser compatíveis com o suporte e elementos
preexistentes, mantendo níveis adequados de desempenho. Como referenciado no capítulo 2 do
presente trabalho, de acordo com Santos Silva (2002), para o conhecimento destes é necessária a
determinação da composição de argamassas antigas, pelo que no LNEC tem sido complementada e
actualizada uma metodologia nesse sentido. Tem sido particularmente desenvolvida no LNEC uma
metodologia para revestimentos com base em cal (Veiga et al., 2004). A existência de determinados
requisitos é essencial para garantir a compatibilidade e contribuir para o bom desempenho global e
durabilidade do edifício.

Por outro lado, a selecção e desenho das soluções de revestimentos de substituição devem basear-
se em critérios de compatibilidade com os elementos preexistentes. Conforme estudos e diversas
publicações do LNEC, as soluções não devem contribuir para degradar os elementos preexistentes,
sobretudo alvenarias. Com efeito, devem proteger as paredes, não devem prejudicar a apresentação
visual nem descaracterizar o edifício e, sem colocar em causa os aspectos anteriores, devem ser
duráveis bem como contribuir para a durabilidade do conjunto.

Para uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes de edifícios antigos,
aspectos pertinentes e prioritários ao interveniente na reabilitação e conservação são, entre outros, a
menor intrusividade possível na intervenção e a visão global do problema e das possíveis soluções.

5.2.3. Procedimentos e critérios relevantes na fase de concepção

Na fase de concepção é de grande relevância a avaliação do estado de conservação do edifício e em


particular dos revestimentos exteriores, o seu diagnóstico e da parede de suporte, a definição da
intervenção pretendida e adequada, a especificação de materiais a utilizar e a especificação dos
requisitos de desempenho a cumprir no revestimento.

Relativamente ao estado de degradação de elementos construtivos, tal como referido no capítulo 2,


existem algumas metodologias para registo e avaliação, tais como: uma implementação de checklists
em intervenções de reabilitação (Leitão e Almeida, 2004), uma plataforma multimédia designada por
Buildings Life (Paulo, 2009), um catálogo de fichas de anomalias criado pelo PATORREB (Freitas et
al., 2007), o método apresentado no “Guide Socotec de la Maintenance et de la Réhabilitation” e um
método para aferição do nível de degradação de um elemento construtivo (Gaspar, 2009).

Face a um revestimento existente e com base em critérios científicos, a selecção da estratégia deve
ter em conta factores como o estado de conservação do edifício, a autenticidade histórica dos
materiais existentes e a disponibilidade de recursos para a sua realização. De acordo com Veiga
(2003b), o tipo e estratégia de intervenção a adoptar devem ser, primeiramente, a conservação como

76
opção mais correcta e também favorável a nível da durabilidade, funcionalidade e economia.
Seguidamente, pode optar-se por uma reparação pontual com recurso a novos materiais e novas
tecnologias semelhantes ao preexistente. Justificada por elevado valor histórico ou artístico do
revestimento ou por raridade do material ou da técnica, pode ainda optar-se pela consolidação do
revestimento. Caso nenhuma das anteriores seja viável pode então optar-se, por fim, pela
substituição parcial ou total do revestimento exigindo a utilização de materiais e tecnologia
compatíveis, devendo seleccionar-se os revestimentos de substituição tendo em conta critérios de
compatibilidade funcional e estética bem como aspectos de viabilidade de execução e durabilidade.
De modo a limitar a deterioração e prolongar o tempo de vida útil do revestimento, devem
estabelecer-se planos de conservação e de manutenção periódica.

Por forma a evitar o risco de acelerar a degradação, são essenciais determinados aspectos gerais de
concepção e execução como a adequabilidade dos materiais de reparação, consolidação e
substituição, a adequabilidade do reboco ao projecto e às condições locais da obra, a recepção de
materiais ou de produtos pré-doseados, a preparação do suporte e as condições de execução. Para
além da importante questão dos materiais seleccionados, a forma como é feita a mistura e aplicação
posterior da argamassa é fundamental pelo que, assim, uma correcta operação de conservação
requer a adequação dos materiais usados e a execução em boas condições.

5.2.4. Proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes

Sendo a elaboração de proposta teórica de metodologia de apoio ao projecto para reabilitação de


revestimentos de paredes em edifícios antigos o primeiro objectivo do capítulo 5, a metodologia
proposta é, assim, apresentada no presente subcapítulo. Tal como é representado no diagrama da
figura 5.2, tem-se por base o estudo do estado dos conhecimentos e a consequente investigação
mediante o inquérito realizado aos intervenientes bem como a sua análise crítica permitindo
estabelecer prioridades, validar e complementar os principais procedimentos de apoio a uma
intervenção em revestimentos de paredes antigas (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012; Paiva
et al., 2006; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).

Bibliografia específica

Estudo do estado Proposta de metodologia de Inquérito aos


da arte apoio ao projecto intervenientes

Lista de verificação de
procedimentos

Figura 5.2 - Base para a proposta de metodologia de apoio ao projecto

Deste modo, apresenta-se uma proposta, sob a forma de checklist com pontos de verificação dos
procedimentos importantes, a serem realizados quando aplicável e possível (figura 5.3).

77
Proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes

1. Acesso a informação

1.1. Aceder a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de revestimentos de paredes
exteriores – ex: congressos e palestras; manuais de aplicação de revestimentos e/ou de fabricantes de
argamassas; normas e documentação técnica do LNEC; revistas de especialidade; bibliografia técnica
especializada; documentos académicos (teses e artigos); conselho de outros profissionais; contactos com
antigos mestres; experiência de mestres aplicadores; obras de referência; contacto directo com a obra.

1.2. Aceder a informações sobre o edifício em estudo, particularmente sobre a data de construção e
intervenções posteriores – ex: documentos relativos ao edifício; contactos com conhecedores deste.

2. Estado de conservação

2.1. Avaliar e caracterizar o estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes – inspecção.

2.1.1. Identificar as anomalias, diagnosticar o seu tipo, severidade e viabilidade da reparação

2.1.2. Identificar origem/causas das anomalias

2.1.3. Reconhecer as anomalias associadas a outros elementos (quando aplicável)

2.1.4. Verificar as funções do revestimento afectadas

2.1.5. Identificar a autenticidade e o valor técnico e decorativo, bem como ter informações sobre
revestimentos decorativos a proteger

2.1.6. Determinar correlações com os factores de degradação principais e definir/escalonar tratamentos –


ex: mediante o registo das áreas afectadas e mapeamento das anomalias com o registo dos tipos, categorias
e níveis/índices de degradação ou de susceptibilidade.

3. Diagnóstico

3.1. Delinear as acções a desenvolver de diagnóstico dos revestimentos – inspecção.

3.1.1. Identificar o número, tipo e espessura de camadas do revestimento para caracterização

3.1.2. Identificar a composição e as propriedades da argamassa original (quando possível)

3.1.3. Reconhecer incompatibilidades e materiais diferenciados

3.1.4. Analisar o histórico de intervenções anteriores (quando aplicável)

3.1.5. Definir o conjunto de ensaios a realizar e eventualmente os pontos de aplicação

3.1.6. Prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior aplicação

3.1.7. Determinar as decisões a tomar face aos resultados obtidos nos ensaios

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto

78
3.2. Efectuar o diagnóstico da parede de suporte (nomeadamente a nível de estabilidade, quando necessário)
e particularmente dos revestimentos – inspecção e ensaios.

3.2.1. Inspecção visual

3.2.2. Ensaios in situ sobre o revestimento antigo – ex: avaliação das propriedades mecânicas; avaliação
das propriedades físicas; análise estratigráfica in situ.

3.2.3. Ensaios de laboratório sobre amostras extraídas em obra (quando necessário) – ex: análise
química; análise mineralógica; análise microestrutural; análise orgânica; análise estratigráfica em laboratório;
ensaios físicos e mecânicos em laboratório.

3.2.4. Outros ensaios realizados por equipas de conservação e restauro

4. Definição da intervenção

4.1. Definir a necessidade ou não de intervenção de outros técnicos como conservadores-restauradores e de


outras acções a desenvolver a montante – ex: reforço estrutural; tratamento de humidades – elemento de
projecto.

4.2. Definir o tipo e estratégia de intervenção a adoptar, fundamentada com base na avaliação do estado de
conservação do revestimento antigo e importância da técnica empregue – conservação, reparação pontual,
consolidação ou substituição – elemento de projecto.

4.3. Identificar disponibilidade de recursos, materiais, técnicas e mão-de-obra para concretização – projecto.

4.4. Verificar a exequibilidade da intervenção em boas condições, tendo em conta o contexto em que se
desenvolve a obra – inspecção.

4.5. Definir os valores e características a preservar nas paredes e seus revestimentos – ex: valor histórico e
arquitectónico; autenticidade histórica dos materiais existentes; aspecto formal da sua arquitectura e conjunto
funcional, materiais, técnicas; texturas e cores; bom funcionamento global das paredes resultante da
compatibilidade entre materiais e soluções construtivas – elemento de projecto.

5. Especificação dos revestimentos

5.1. Especificar os revestimentos de paredes exteriores atendendo a determinados factores – ex: humidade
do suporte; deformações do suporte; condições atmosféricas; valor cultural do edifício e do revestimento;
estabilização ou não das anomalias do suporte; compatibilidade com o preexistente; natureza do suporte e do
revestimento; tipo de suporte; resistências mecânicas; função do espaço e/ou parede; envolvente de áreas
anexas; área superficial da parede – elemento de projecto.

5.2. Incluir desenhos e especificações tendo em conta natureza do suporte, natureza e condições de
exposição do reboco, exigências, tipo de reboco e de acabamento – elemento de projecto.

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto (cont.)

79
5.3. Definir os critérios a utilizar na especificação do material/produto – ex: âmbito de aplicação; traço da
argamassa; cumprimento dos requisitos de compatibilidade com as preexistências e desempenho especificados;
preparação do suporte; modo de execução; especificidades da obra, do suporte e do revestimento; marcação CE
(quando aplicável); custo do produto – elemento de projecto.

5.4. Optar por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra – projecto.

5.5. Experimentar/avaliar através de ensaio os produtos escolhidos (quando aplicável) – ensaios.

5.6. Especificar os materiais e produtos a utilizar e verificar a sua adequabilidade ao projecto e às condições
locais da obra – elemento de projecto; ensaios e inspecção.

5.7. Incluir ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra –
elemento técnico.

5.8. Optar por uma única camada ou mais que uma na especificação/execução do revestimento – elemento
de projecto.

5.9. Proceder à análise da compatibilidade (mecânica, química, física, geométrica e estética) da argamassa a
aplicar com o suporte e a argamassa preexistente (quando aplicável), mantendo níveis adequados de
desempenho – ensaios.

5.10. Especificar a composição da argamassa a utilizar – ex: traço em volume; tipo de areias; características
dos constituintes e número de camadas a aplicar; relação água/ligante – elemento de projecto.

5.11. Acompanhar as especificações relativas à composição da argamassa com uma descrição técnica
detalhada das tecnologias de aplicação propostas – elemento de projecto.

5.12. Verificar e utilizar as normas aplicáveis e eventualmente documentação técnica do LNEC – ex: NP EN
998-1:2013 (Especificação de argamassas para alvenarias - Parte1: Argamassas para rebocos interiores e
exteriores); NP EN 459:2011 (Cal - definições, especificações e critérios de conformidade; métodos de ensaio;
avaliação da conformidade) – elementos legais.

5.13. Especificar os requisitos de desempenho a cumprir pelo revestimento exterior – ex: critérios de
compatibilidade a diversos níveis entre reboco, suporte e acabamento final; critérios funcionais, de aspecto e
comportamento futuro com os elementos preexistentes; conformidade com regras que garantam a conservação
das características construtivas, da funcionalidade e da imagem do edifício – elemento de projecto.

5.14. Seleccionar e especificar a argamassa de substituição (quando aplicável) tendo em conta determinados
factores – ex: características do suporte e perícia do executante; adequação da mistura e das condições de
aplicação; soluções que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível;
tecnologias a utilizar; ser de fabrico nacional (quando exista); compatibilidade com a argamassa
existente/adjacente; factores estéticos – elemento de projecto.

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto (cont.)

80
6. Plano de manutenção

6.1. Estabelecer planos de conservação/manutenção periódica com vista a limitar-se a deterioração,


prolongar-se a vida útil do revestimento e do edifício antigo – elemento de projecto.

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto (cont.)

5.2.5. Considerações finais sobre a proposta de metodologia

Baseada e fundamentada com o estudo do estado da arte relativo aos revestimentos de paredes de
edifícios antigos, abordado nos capítulos 2 e 3, e com a investigação mediante inquérito realizado a
determinada amostra de intervenientes em reabilitação, apresentada no capítulo 4, a proposta de
metodologia apresentada neste capítulo 5 sob a forma de lista de verificação de procedimentos de
apoio ao projecto pode ser seguida e aplicada a edifícios neste âmbito. Cumprindo o objectivo de
estruturar e sintetizar os procedimentos relevantes à reabilitação de revestimentos de paredes de
edifícios antigos, a proposta de metodologia constitui um modelo prático de apoio à decisão e
projecto, sequência de trabalhos ou procedimentos de apoio (figura 5.4). Estes podem ser ajustados
consoante o edifício em causa e os respectivos revestimentos de paredes, podendo a lista de
verificação ser reduzida ou aumentada se necessário e adaptada, assim, ao caso particular.
1 2 3 4 5 6
Acesso a Estado de Definição da Especificação Plano de
Diagnóstico
informação conservação intervenção revestimentos manutenção

 Sobre boas  Do edifício e dos  Dos revestimentos  Tipo e estratégia  Critérios  Plano de
práticas de seus e também do  Disponibilidade de  Materiais/produtos inspecção e
projecto e de revestimentos de suporte recursos e  Número de manutenção
execução paredes  Argamassa técnicas camadas programada/
 Conhecimento  Anomalias original  Exequibilidade em  Composição da periódica
geral sobre  Causas  Incompatibilidades boas condições argamassa
características  Factores de  Intervenções  Valores e  Tecnologias de
das argamassas degradação anteriores características a aplicação
doseadas em  Conhecimento preservar  Documentação
obra e pré- geral sobre aplicável
doseadas, assim ensaios a realizar  Requisitos de
como do edifício, (in situ e de desempenho
incluindo datas laboratório)  Possibilidades de
argamassas de
substituição

Figura 5.4 - Síntese da proposta de metodologia

A existência de um modelo ou metodologia de apoio ao projecto, como é exemplo a proposta


apresentada, tornar-se-ia muito relevante e produtiva neste âmbito a vários níveis, bem como
propiciadora de uma melhor qualidade das intervenções de reabilitação e conservação nos
revestimentos de edifícios antigos. Primeiramente, pode constituir um apoio em particular para os
projectistas, para que possam seguir uma orientação possível e verificar a aplicabilidade dos vários
procedimentos à particularidade do edifício em estudo que constitui objecto do projecto.
Consequentemente, por se traduzir em projectos com as necessárias e adequadas especificações,
pode também melhorar o entendimento por parte dos intervenientes directos em obra e a correcta
execução da intervenção, aspecto fulcral na reabilitação e conservação deste tipo de edifícios. No
subcapítulo seguinte testa-se a aplicabilidade da presente metodologia proposta, pela sua aplicação a
um caso de estudo seleccionado.

81
5.3. Aplicação da metodologia proposta a caso de estudo

5.3.1. Considerações gerais

O presente subcapítulo, envolvendo o caso de estudo, aborda a intervenção de reabilitação em


determinado edifício antigo ao nível dos seus revestimentos exteriores de paredes, mediante
aplicação da metodologia proposta no subcapítulo anterior. Para tal, foi seleccionado o Observatório
Astronómico da Escola Politécnica de Lisboa (por conveniência, é também referido como
“Observatório Astronómico” ou apenas “Observatório”) por se enquadrar no tipo de edifícios que
constitui o âmbito do trabalho. Também por se considerar que apresenta um interesse histórico e
artístico bem como grandes potencialidades arquitectónicas, para além de várias anomalias que se
podem identificar e tipificar como estudo e inspecção do edifício antecedendo a reabilitação.

A escolha do edifício do Observatório Astronónimo prende-se também com o facto de a autora ter tido
uma participação activa particularmente na fase inicial do projecto - levantamento e inspecção -
aquando desempenhou funções no atelier de arquitectura co-responsável pelo projecto de
reabilitação do edifício. No decorrer da fase de levantamento e inspecção, a autora reuniu um
conjunto de elementos in situ que se julga trazerem um importante contributo para o enriquecimento
da investigação.

Para uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes é exigido um bom domínio
de determinados aspectos, ao nível do conhecimento dos revestimentos existentes e dos suportes,
estratégias possíveis e soluções adequadas, segundo Veiga (2009). Assim, inicia-se a aplicação da
metodologia proposta pelo acesso a informações sobre as boas práticas de projecto e concretamente
sobre o edifício em estudo, correspondendo ao ponto 1 da proposta.

Baseando a proposta de metodologia apresentada, pretende-se definir a intervenção a adoptar em


função da avaliação do estado de degradação do edifício, bem como das anomalias principais
verificadas nos revestimentos exteriores e causas prováveis, identificando-se consequentemente as
prioridades de intervenção. Para tal, torna-se necessário realizar o estudo do enquadramento
histórico e da evolução do edifício ao longo do tempo, bem como o seu levantamento e
caracterização genérica ao nível da tipologia, materiais utilizados nos elementos constituintes e
soluções construtivas, pelo que se considera importante abordá-lo no início do subcapítulo. Com este
estudo preliminar propõe-se demonstrar particularmente a importância de adequado diagnóstico e
inspecção a implementar com vista à reabilitação da construção existente, considerando-se também
a importância da prevenção como forma de minimizar as consequências das anomalias, bem como
da manutenção do edifício ao longo da sua evolução no tempo.

A aplicação de determinados procedimentos da metodologia proposta ao objecto de estudo permite


estudar a sua aplicabilidade, demonstrar a importância da sua aplicação logo desde a fase de análise
e diagnóstico conforme Paiva et al. (2006), e avaliar o contributo positivo que pode trazer como apoio
ao projecto e, consequentemente, à melhoria da qualidade em intervenções de reabilitação e
conservação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos.

82
5.3.2. Enquadramento histórico e caracterização do caso de estudo

No espaço da antiga Faculdade de Ciências há valores patrimoniais edificados do Museu da Ciência,


como o Laboratório Químico, o Laboratório de Física e o Observatório Astronómico, sendo que este
último é o que urge recuperar dado que o seu avançado estado de deterioração assim o exige. Uma
simultaneidade e sintonia verificam-se na génese dos edifícios do Observatório (1875) relativamente
à do denominado Jardim Botânico de Lisboa (1873-1878) (Carolino e Mota, 2009; Tavares, 1967)
classificado de Monumento Nacional em Dezembro de 2010. Um papel estratégico e decisivo na
vivificação de todo este conjunto em que se inserem é conferido àqueles edifícios, quer pela
proximidade com o acesso da Rua da Escola Politécnica quer pela sua implantação privilegiada como
espaço de recepção, charneira e transição entre a cota alta e baixa do próprio jardim (figura 5.5).

Junto à Escola Politécnica, da Faculdade de Ciências, foi concluído em 1877 o Observatório


Astronómico, com o objectivo de instruir a disciplina de Astronomia aos alunos e como instrumento de
estudo para professores e investigadores (figura 5.6) (Carolino e Mota, 2009; Cunha, 1937).

Figura 5.5 - Observatório Astronómico integrado no Jardim Botânico de Lisboa (fonte: Biblioteca do Museu da
Ciência, Universidade de Lisboa)

Figura 5.6 - Equipamentos de observação no âmbito da Astronomia (fonte: Museu da Ciência, Universidade de
Lisboa; F.C. e A. D., 2011)

83
Sendo na altura constituído por dois corpos, um principal e um anexo, o edifício do Observatório cedo
começou a apresentar graves problemas de deterioração, principalmente ao nível estrutural, com o
aparecimento de fissuras em diversos locais. Tendo o edifício sido construído sobre um terreno
formado de aterros, as oscilações naturais foram a principal causa dos seus danos por
assentamentos diferenciais. A ameaça de ruína levou a que os engenheiros responsáveis pela
consolidação do edifício ponderassem a hipótese de o demolir por completo e reconstruir noutro local
(Silva, 1996a,b). Em Janeiro de 1897 o edifício superior foi demolido e reconstruído com um recuo de
cerca de dezoito metros no eixo longitudinal relativamente à muralha adjacente. Contudo, o projecto
de reconstrução valorizou o lado estético em detrimento das necessidades reais do espaço, que
inutilizou a curto prazo algumas salas do novo edifício, pelo que este aspecto revelou alguns erros
técnicos cometidos (Silva, 1996a).

Presentemente, este edifício superior do conjunto é considerado e conhecido como Observatório


Astronómico (figuras 5.7 e 5.8), tendo subsistido até aos dias de hoje e constituindo-se como o único
observatório oitocentista de ensino existente em Portugal. As suas formas curvilíneas encimadas por
três cúpulas, das quais se destaca o desenho em semiesfera da cúpula central, singularizam o
Observatório, sendo também de salientar a sua dupla simetria em relação aos eixos longitudinal e
transversal (figura 5.9) (Silva, 1996a).

Figura 5.7 - Implantação do Observatório Astronómico no conjunto do Jardim Botânico de Lisboa (fonte:
adaptado de Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

84
Figura 5.8 - Vista da implantação do Observatório Astronómico

Figura 5.9 - Fachadas do Observatório Astronómico - fachada principal ou vista Sudeste (à esquerda) e fachada
lateral direita ou alçado Norte (à direita) (fonte: Biblioteca e Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

5.3.3. Caracterização estrutural e construtiva do edifício

O conjunto que compõe o Observatório Astronómico da Escola Politécnica de Lisboa é singular, tanto
de um ponto de vista estético como científico ou simbólico, atendendo à beleza do edifício, ao seu
significado como exemplo de arquitectura a nível científico e ao rigor que norteou a sua execução,
que o tornam só por si um elemento que certamente interessa preservar (figura 5.10).

85
O Observatório tem uma qualidade invulgar no âmbito da sua composição estrutural, à semelhança
do edifício inferior, sendo que se apresenta robusto e com muito poucas das anomalias que se
esperaria serem encontradas atendendo à data de construção, caso o conjunto se integrasse na
média da qualidade estrutural das construções do período final do século XIX no qual se insere. De
facto, estes edifícios não apresentam movimentos relevantes de fundações ou fracturas oblíquas nas
paredes principais, o que se constitui como invulgar em edifícios do período construtivo gaioleiro. O
fenómeno é manifestado com muito reduzida amplitude nos poucos elementos de cantaria que se
apresentam fracturados, sendo apenas alguns os exemplos detectados.

O facto de este edifício não ser o primeiro explica a sua robustez, tendo sido o segundo construído
neste local. Relativamente ao primeiro, datado de 1875, todos os relatos e registos revelam a sua
história, esta sim típica do período gaioleiro, de graves movimentos de assentamento e fracturas de
paredes. Segundo Vasco Rivotti da Silva, foi introduzido um conjunto absolutamente invulgar de
estudos de carácter estrutural e geotécnico bem como alguns projectos de reforço (Silva, 1996a,
1996b).

Um problema de génese de insuficiente cota de fundação do edifício de 1875 é revelado, tanto pelas
sondagens realizadas entre 1895 e 1897, como pelos efeitos do recalçamento com microestacas
(Silva, 1996a, 1996b). A razão pela qual os edifícios actualmente existentes, de 1898, têm uma
aparente robustez estrutural invulgar para a época, explica-se pelo facto de não ser crível que o
engenheiro responsável pelo levantamento, diagnóstico e confirmação do problema, no seu projecto
tivesse deixado que aquele se repetisse (figuras 5.11 e 5.12).

Figura 5.10 - Vistas do Observatório Astronómico - vista Sul (à esquerda) e vista Norte (à direita) (fonte:
Biblioteca do Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

86
Figura 5.11 - Desenhos do Observatório Astronómico - plantas (à esquerda) e alçado principal (à direita) (fonte:
Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

Figura 5.12 - Diversas vistas do Observatório Astronómico (fonte: F.C. e A. D., 2011)

87
O Observatório é, assim, um edifício do final do século XIX, com o sistema estrutural e construtivo
corrente neste período.

Entre os elementos principais da construção, contam-se fundações e paredes portantes de alvenaria,


1
de pedra irregular com argamassas de ligante de cal aérea (figura 5.13).

Ao nível dos revestimentos e acabamentos (figura 5.14), destacam-se paredes de alvenaria com
acabamento barrado liso pintado com tinta aquosa, estuque pintado com tintas diversas, estuque
polido sem pintura, réguas de madeira pintada, apainelados de madeira exótica “mogno da Guiné”
2
(Silva, 1996a) e chapas metálicas pintadas.

Figura 5.13 - Diversas vistas da fachada principal do Observatório Astronómico (fonte: F.C. e A. D., 2011)

1
Outros elementos principais englobam: pavimentos em estrutura de madeira e pavimentos de abobadilha com o
uso de estrutura metálica; coberturas em estrutura de madeira e ainda coberturas metálicas que constituíam as
cúpulas móveis das salas de observação salientes em relação ao edifício dado o seu carácter especial; escadas
com estrutura de madeira e escadas metálicas, entre as quais a escada de caracol metálica correspondente a
uma alteração posterior à construção original.
2
Incluem-se ainda: pavimentos de madeira de soalho de pinho importado “à inglesa” (Silva, 1996a), pavimentos
de ladrilho de pasta de cimento e pó de pedra com ou sem padrão, pavimentos de betonilha sendo alguns sobre
calçadas antigas, pavimentos de mosaico tipo S. Paulo, pavimentos de mosaicos hidráulicos com inertes
aparentes e pavimentos de marmorite, correspondendo estes últimos três revestimentos a alterações posteriores
à construção original; tectos de abobadilhas de tijolo barradas ou rebocadas e pintadas, abóbadas de alvenaria
rebocadas e pintadas, tectos de estuque sobre fasquiado de madeira, sobre placas de estafe, sobre lajes de
vigotas (todos estes com e/ou sem pintura) correspondendo estes dois últimos revestimentos a alterações
posteriores à construção original (F.C. e A. D., 2011).

88
Figura 5.14 - Vistas exteriores e interiores do Observatório Astronómico (fonte: F.C. e A. D., 2011)

Seguidamente, apresenta-se o exercício de aplicação da metodologia proposta ao caso concreto do


Observatório Astronómico, cujo estudo do edifício apresentado completa o conjunto de informação
necessária para alcançar este objectivo.

5.3.4. Metodologia de trabalho

Após o estudo do edifício (figura 5.15), bem como o acesso a informações sobre as boas práticas de
projecto e execução de revestimentos de paredes exteriores, desenvolvidos no capítulo anterior,
pretende-se apresentar a aplicação da metodologia proposta ao caso concreto e no qual a autora
participou activamente a nível profissional nas fases de levantamento e inspecção, e subsequentes,
no ano de 2011, durante o período em que desempenhou funções como arquitecta num dos
gabinetes de arquitectura responsáveis pelo projecto de reabilitação.

Na sequência do estudo sobre o estado do conhecimento e sobretudo do trabalho desenvolvido ao


longo do capítulo anterior, a metodologia de trabalho por forma a aplicar a proposta efectuada
consiste na execução prática das etapas principais incorporadas na própria proposta de metodologia
de apoio ao projecto. Trata-se, assim, da avaliação e caracterização do estado de conservação do
edifício e revestimentos de paredes, realização do diagnóstico dos revestimentos particularmente
através de inspecção visual, definição do tipo e estratégia de intervenção a adoptar bem como
especificação dos revestimentos e respectivos materiais ou produtos e, de algum modo,
determinação da conservação e manutenção adequada ao exterior das paredes do edifício.

89
Para a aplicação da proposta, a metodologia de trabalho seguida integra o estudo do edifício
seleccionado bem como de intervenções anteriormente nele realizadas, inspecções ao edifício,
acesso ao projecto de execução de arquitectura de Falcão de Campos Arq. e Appleton e Domingos
Arq. de 2011, contacto com estes e outros projectistas, experiência própria e acesso a bibliografia
técnica especializada. A proposta de metodologia identificada no início do presente capítulo é
apresentada como lista de verificação dos procedimentos relevantes, sendo realizados quando
possível por forma a ser aplicada a proposta a um caso de estudo e poder confirmar-se a sua
importância como apoio ao projecto.

Figura 5.15 - Fachada posterior ou vista Noroeste do Observatório Astronómico (fonte: desconhecida)

5.3.5. Estado de conservação e diagnóstico do edifício

5.3.5.1. Considerações iniciais

O diagnóstico e inspecção de um edifício em estudo baseiam a recolha de informação sobre a


construção e envolvente. O levantamento da sua geometria, materiais constituintes e seus sintomas
patológicos, bem como a avaliação das propriedades dos materiais e a determinação das suas
alterações possibilitam o estudo e caracterização da construção. Para tal, a inspecção visual ou com
o auxílio de dispositivos ópticos que potenciam a capacidade visual é o tipo de inspecção mais
simples, sendo a utilizada na aplicação da metodologia proposta ao caso de estudo desenvolvido. No
entanto, a realização de inspecções e ensaios com o objectivo de quantificar as propriedades
relevantes para os fins visados trata-se de um complemento ao estudo e caracterização de edifícios e
seus materiais, após reunida toda a informação disponível sobre a construção e efectuado o
levantamento no local. Quer o planeamento das inspecções e ensaios, variável conforme os motivos
que tornam necessária a intervenção e as respectivas circunstâncias, quer o número de ensaios a
realizar, dependem de diversos factores como a diversidade de elementos para caracterização, o
custo unitário dos ensaios e o tempo de execução necessário.

Para a previsão do comportamento do edifício e seus elementos face aos novos requisitos de
desempenho que determinam a necessidade da intervenção, é importante o conhecimento da sua
história pelo facto de as sucessivas alterações nela introduzidas determinarem conjuntamente o seu

90
estado actual e tornarem-se fundamentais à previsão da sua futura evolução. Este corresponde a um
aspecto crucial no edifício em estudo no presente trabalho.

Após o acesso a informações sobre as boas práticas de projecto e concretamente sobre o edifício em
estudo, correspondendo ao ponto 1 da proposta, a avaliação e caracterização do estado de
conservação do edifício bem como a realização de diagnóstico correspondem aos pontos 2 e 3 da
metodologia proposta no início do presente capítulo, os quais são abordados nos próximos
subcapítulos.

5.3.5.2. Identificação de problemas - de origem, do tempo e de alterações

O edifício sofre de diversos problemas, alguns dos quais se devem a incorrecções no momento inicial
da concepção e/ou execução da obra, à idade avançada da construção e a uma deficiente
manutenção, ou ainda a alterações introduzidas no edifício ao longo da sua vida. Estes factores estão
na origem de uma série de problemas de carácter estrutural e construtivo, que se diferenciam em
função dos elementos da construção a que dizem respeito e da origem do problema. Apesar da
robustez do conjunto edificado, nos dias de hoje o que se verifica é que globalmente o edifício
apresenta deficiências estruturais, não intrínsecas. No entanto, padece essencialmente de danos
causados por falta de manutenção e abandono, patentes no decaimento dos revestimentos de
paredes tanto interiores como exteriores (figura 5.16) bem como de tectos e, consequentemente, na
podridão de elementos de madeira e na corrosão de elementos de metal.

Uma intervenção no edifício não é inviabilizada por estes fenómenos mas terá necessariamente que
passar pela reparação de elementos de madeira, eventual reforço de algumas soluções estruturais
em pavimentos e eventual substituição de partes da estrutura que se encontrem excessivamente
danificadas. Tendo em vista uma adequada consideração das anomalias num projecto de reabilitação
ou de conservação, a caracterização envolve o seu levantamento com suficiente rigor, desde a
fundamental inspecção visual até a ensaios laboratoriais sobre amostras recolhidas em obra.

Figura 5.16 - Anomalias nas fachadas do Observatório Astronómico - vista Sudoeste (à esq.) e vista Este (à
direita) (fonte: F.C. e A. D., 2011)

91
Dado que o edifício apresenta algumas fragilidades e um elevado tempo de vida, mais exigente
deveria ser a sua manutenção, contudo diversos problemas nele identificados decorrem de uma
deficiente manutenção. As causas dos principais problemas detectados no edifício são, portanto, a
falta de manutenção da envolvente construtiva (coberturas, paredes, vãos) e problemas de uso,
nomeadamente ao nível dos pavimentos de madeira.

Tanto nas coberturas metálicas planas como nas restantes coberturas com aquele material, a falta de
manutenção leva à entrada de água que consequentemente vai destruindo as estruturas e os
revestimentos inferiores. Nos rebocos e pinturas exteriores, a falta de manutenção tem o mesmo tipo
de efeito, permitindo a entrada de água que, por sua vez, provoca a destruição dos pavimentos de
madeira e revestimentos interiores. Naturalmente que este aspecto também se aplica aos vãos que,
sendo na sua maioria de madeira, deixando de ter manutenção entram em degradação cada vez
mais acelerada, acabando por deixar de garantir a protecção do interior, nomeadamente face à água
da chuva.

As consequências deste tipo de problema no interior são visíveis essencialmente através de:
apodrecimento disseminado de estruturas de pavimentos de madeira; apodrecimento disseminado de
revestimentos de madeira (pavimentos, remates); oxidação e delaminação de elementos metálicos
das abobadilhas de tijolo; desagregação de alvenarias e de revestimentos ao nível das abóbadas e
das paredes (figura 5.17); presença de eflorescências, destacamento e desagregação de
revestimentos do edifício; delaminação das pinturas dos diversos revestimentos.

Figura 5.17 - Anomalias no Observatório Astronómico - empeno e corrosão de elementos metálicos (à esquerda);
sinais de desagregação da alvenaria nas abobadilhas, oxidação e delaminação de elementos metálicos (à direita)
(fonte: F.C. e A. D., 2011)

Tendo como principal objectivo a melhoria e a manutenção do edifício, as campanhas de obras e


alterações nele introduzidas ao longo do século XX são, em determinados casos, responsáveis por
problemas importantes, alguns de índole estrutural e construtivo, outros de índole patrimonial.

Ao nível dos revestimentos e acabamentos houve alterações generalizadas. Foram substituídos


quase todos os revestimentos interiores e exteriores do edifício, com algumas excepções. Os rebocos
e os estuques das paredes foram substituídos, sendo perceptível que os rebocos exteriores são de
base cimentícia. Como se observa em diversas situações, nomeadamente no exterior e no átrio de
entrada, foram também usadas tintas incompatíveis com o edifício por excessiva impermeabilidade

92
ao vapor de água. O demérito de incompatibilidade em termos construtivos com o suporte existente e
de destruição da unidade decorativa original do edifício, foram resultado destas diversas alterações.

5.3.5.3. Síntese do estado de degradação do edifício

Considerando adequadamente as anomalias aquando de um projecto de reabilitação ou conservação


desta construção, a sua caracterização compreende o levantamento rigoroso desde a essencial
inspecção visual até aos ensaios laboratoriais sobre amostras recolhidas no local.

O edifício objecto de estudo do presente trabalho apresenta diversos problemas, sendo que uns se
devem a incorrecções no momento inicial da concepção e/ou execução da obra, outros à idade
avançada da construção e a uma deficiente manutenção, outros ainda a alterações introduzidas no
edifício ao longo da sua vida. Os vários factores estão na origem de problemas de carácter estrutural
e construtivo, diferenciando-se em função dos elementos da construção e da origem do problema.

Apesar da robustez do edifício, hoje em dia verificam-se globalmente deficiências estruturais, não
intrínsecas. No entanto, sofre sobretudo de danos causados por falta de manutenção e abandono,
evidentes no decaimento dos revestimentos de paredes tanto interiores como exteriores bem como
de tectos, na podridão de elementos de madeira e na corrosão de elementos de metal.

Considera-se que o edifício está num avançado estado de degradação, estando presentemente em
risco por falta da quantia total para a recuperação, tendo-se contudo obtido verbas da Universidade
de Lisboa, da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Secretaria de Estado da Cultura. Em
Dezembro de 2012, o edifício foi tapado para o proteger da chuva e selado pela Protecção Civil, para
impedir que alguém possa aceder ao seu interior, tal o risco que já apresenta (figura 5.18).

Uma reabilitação do edifício terá necessariamente que passar pela reparação de elementos de
madeira, pelo eventual reforço de algumas soluções estruturais em pavimentos e eventual
substituição de partes da estrutura que se encontrem excessivamente danificadas.

Figura 5.18 - Observatório Astronómico em risco (fonte:


http://amigosdobotanico.blogspot.pt/2013/04/observatorio-astronomico-no-jardim.html)

93
5.3.6. Diagnóstico dos revestimentos de paredes

5.3.6.1. Anomalias existentes e causas prováveis

A patologia da construção implica um conhecimento detalhado das características arquitectónicas,


construtivas e funcionais do objecto em estudo, sendo que um diagnóstico das anomalias detectadas,
prognóstico das causas prováveis e definição de recomendações de actuação são efectuados a partir
daquele (Watt, 1999). Genericamente, as anomalias principais correntes nos rebocos tradicionais
consistem em: (i) fendilhação e fissuração; (ii) perda de aderência, manifestando-se através do
destacamento da argamassa relativamente ao suporte ou pela perda de coesão ou desagregação do
material constituinte; (iii) eflorescências e criptoflorescências; (iv) colonização biológica; (v) manchas
de humidade e sujidade. O sistema de reboco aplicado pode fazer variar o tipo ou a incidência das
anomalias, seja ele tradicional, pré-doseado ou com pintura como acabamento. O planeamento de
intervenção nos revestimentos ganha um contributo positivo com o diagnóstico correcto de causas e
avaliação do estado da argamassa.

O diagnóstico dos revestimentos de paredes integra o ponto 3 da metodologia proposta no início do


presente capítulo. Mediante inspecção visual ou com o auxílio de dispositivos ópticos que potenciam
a capacidade visual, é então possível detectar-se as anomalias existentes nos revestimentos de
paredes do caso de estudo e identificar-se as causas prováveis, funções do revestimento afectadas e
mecanismos de degradação associados.

Ao nível dos revestimentos de paredes, as fachadas do edifício antigo em estudo apresentam alguns
rebocos que se encontram desagregados, assim como certas alvenarias que constituem o seu
suporte. A causa provável desta perda de coesão pode ser a pintura dos rebocos das alvenarias,
sendo que podem impedir as trocas de humidade com o exterior causando concentração de
humidade, bolhas ou desagregações. Por outro lado, são bastante identificáveis revestimentos e
acabamentos com presença de eflorescências. No que respeita a este tipo de anomalia, causas
prováveis são, por um lado, a acumulação de sujidade por acção de poluentes atmosféricos pelo
vento e chuva facilitando a deterioração e o crescimento biológico, bem como, por outro lado, a
expansão associada à cristalização salina através da água proveniente do solo traduzindo-se na
acumulação à superfície sob a forma de eflorescências. Tanto o primeiro tipo de anomalia como o
segundo são identificados sobretudo nas zonas de parede em torno dos vãos e tubos de queda bem
como na parte inferior das fachadas junto às cantarias (figura 5.19).

Por outro lado, a existência em fachadas de revestimentos com sujidade, degradados, assim como
descolados e pinturas delaminadas revelando perda de aderência, pode ter origem ou agravamento
por anomalias associadas a outros elementos. Estes são não só os próprios elementos decorativos
degradados (sancas e remates) e outros destacados (frontão e sancas), como também cantarias e
elementos decorativos na presença de depósitos superficiais com alguma coesão e aderência,
substâncias de coloração cinzenta a negra (figura 5.20). Causas prováveis destas são a carência de
tratamentos dado que aqueles elementos podem requerer tratamentos específicos, incidência da
chuva ou lavagem que provoca, deterioração agravada pela acção do vento bem como de agentes

94
agressivos presentes na atmosfera ou na água da chuva provocando erosão da pedra e, ainda,
poluição atmosférica originando manchas no material. Todas estas acções de agentes atmosféricos
nos elementos decorativos em pedra também afectam os próprios rebocos, elementos construtivos
envolventes e que estão particularmente expostos.

Figura 5.19 - Anomalias em revestimentos de fachadas - desagregação e eflorescências (fonte: F.C. e A. D.,2011)

Figura 5.20 - Anomalias associadas a elementos decorativos de fachadas - sujidade e descolamento (fonte: F.C.
e A. D., 2011)

95
5.3.6.2. Consequências de anomalias e intervenções anteriores nos rebocos

Sendo que os principais problemas identificados no edifício se devem à falta de manutenção da sua
envolvente construtiva (coberturas, paredes e vãos) e a problemas de uso, a falta de manutenção dos
próprios rebocos e pinturas exteriores é detectável. Não garantindo a estanqueidade, têm o mesmo
tipo de efeito que a falta de manutenção de coberturas, permitindo a entrada de água, que provoca a
destruição dos pavimentos de madeira e dos revestimentos interiores.

Pode considerar-se que as funções dos revestimentos afectadas são a eficácia como protecção das
alvenarias de suporte e, consequentemente, das próprias paredes contra acções externas, a
impermeabilização das fachadas de modo a contribuírem significativamente para a estanqueidade
global das paredes exteriores e, por fim, a melhoria da imagem do edifício por condicionarem o seu
aspecto. Assim, é de grande relevância a intervenção a nível dos revestimentos não só como
melhoria de características no exterior do edifício mas também, e com um importante contributo,
como forma de diminuição da humidade no interior deste, que genericamente é a principal
propiciadora de muitas das anomalias nos espaços interiores.

Portanto, no edifício em estudo, os principais aspectos responsáveis por mecanismos de degradação


a nível dos seus revestimentos antigos são a água, a poluição e os sais, bem como de certa forma as
reacções expansivas e a biodeterioração que lhes estão associadas. Deve travar-se a acção dos
mecanismos de degradação e influência sobre os revestimentos, bem como evitar-se a progressão
de situações patológicas. Os tratamentos a executar nos revestimentos de paredes deste edifício
devem ser escalonados com prioridade nas anomalias relativas a perda de coesão e de aderência,
mais do que anomalias a nível das superfícies dos rebocos, apesar de todas deverem ser tratadas.

Relativamente a intervenções anteriores, constata-se que ao nível dos revestimentos e acabamentos


do edifício houve alterações generalizadas, pelo que quase todos os revestimentos interiores e
exteriores foram substituídos. A autenticidade e o valor técnico e decorativo dos revestimentos
exteriores originais das paredes, à base de cal aérea, tinham uma grande importância e papel no
edifício. No entanto, pela análise dos actuais se constata que os rebocos e estuques das paredes
foram substituídos e é visível a olho nú que os rebocos exteriores são de base cimentícia em vez do
mesmo tipo de solução tradicional, o que num edifício baseado em ligantes aéreos implica problemas
de incompatibilidade com o suporte. Da mesma forma, como se observa em diversas situações no
exterior, foram usadas tintas incompatíveis com o edifício por excessiva impermeabilidade ao vapor
de água. Trata-se de soluções inadequadas ao tipo de suporte e incompatíveis com a construção,
potenciadoras de patologia e, em consequência, um tempo depois de degradação generalizada.

5.3.7. Definição da intervenção no revestimento de paredes

A reabilitação de um edifício pressupõe a resolução das anomalias construtivas e a intenção de


melhoria do seu desempenho local ou geral, compreendendo, portanto, um conjunto de operações

96
destinadas a aumentar os seus níveis de qualidade, com vista à conformidade com níveis de
exigências funcionais superiores àqueles para os quais o edifício foi concebido (Appleton, 2011).

A humidade é uma das grandes preocupações nos edifícios antigos dos quais este caso de estudo é
exemplo, estando associada ao aparecimento de muitas das anomalias e à evolução destas para
situações bastante gravosas para a estrutura. As anomalias mais frequentes em paredes devem-se à
presença de humidade, sendo a de precipitação resolvida mediante intervenções sobre os
revestimentos. Existem fenómenos de higroscopicidade devidos à presença de sais higroscópicos
nos materiais, que sofrem ciclos de dissolução/cristalização com humidades relativas e consequentes
aumentos de volume com a cristalização. Deste modo, as medidas de protecção contra a humidade
tornam-se indispensáveis quando se pretende prevenir a manifestação das anomalias.

A exigência de especialização para além da área especificamente técnica torna-se particularmente


relevante sobretudo quando se trata de edifícios antigos com grande interesse histórico e patrimonial,
como o presente objecto de estudo, pelo que a escolha da solução a adoptar depende de diversos
factores, designadamente os seguintes: objectivos da intervenção, importância funcional do edifício,
interesse histórico e/ou cultural da construção, condicionamentos económicos e condicionamentos
locais aos trabalhos a realizar (Paiva et al., 2006).

Uma proposta de intervenção no edifício em estudo deve incluir, na globalidade, a conservação e


reparação dos elementos existentes, reposição das existências e substituição de soluções ilegítimas
ou inoportunas que foram sendo adoptadas ao longo dos mais de cem anos de existência do edifício,
operações que devem ser suportadas por algumas medidas de reforço e reparação estrutural. Numa
intervenção de reabilitação no objecto de estudo deve procurar-se a defesa exaustiva e rigorosa dos
valores patrimoniais da identidade e da memória do edificado, no entanto possibilitando acolher
novas utilizações, necessidades de acessibilidade, segurança, desempenho e sustentabilidade (F.C.
e A. D., 2011).

A definição da intervenção no revestimento de paredes, que se desenvolve de seguida, corresponde


ao ponto 4 da proposta de metodologia apresentada no início do presente capítulo.

Ao nível dos revestimentos e acabamentos do edifício (pavimentos, paredes, tectos, rodapés/lambris


e sancas), pode considerar-se que a operação deve ser de manutenção e conservação do que é
original ou se encontra estabilizado e de substituição dos revestimentos que apresentam problemas
e/ou incompatibilidades com os suportes. Como tal, ao nível dos revestimentos exteriores de paredes,
não se verifica ser viável ou recomendável manter o revestimento existente e podem definir-se
acções a desenvolver a montante como o tratamento de humidades.

Com base na avaliação do estado de conservação do revestimento exterior existente e importância


dos materiais e técnicas originalmente empregues nas paredes, define-se o tipo e estratégia de
intervenção a adoptar, a sua substituição por revestimentos compatíveis com o suporte, à base de cal
aérea como os originais. Os revestimentos das paredes exteriores são, então, removidos até à
alvenaria e substituídos por revestimentos com ligante de cal aérea. As soluções não estruturais
recomendadas relacionam-se com compatibilização de matérias e técnicas de forma a corrigir as

97
anomalias existentes. Trata-se da substituição de revestimentos degradados ou incorrectamente
aplicados por serem de base cimentícia ao nível do exterior do edifício, com a reposição de
revestimentos compatíveis com o suporte existente, conforme metodologia descrita adiante, bem
como a execução de pinturas com tintas compatíveis. Identificados os recursos, materiais, técnicas e
mão-de-obra necessários para a concretização da intervenção, torna-se possível conferir a sua
exequibilidade em boas condições e durabilidade do conjunto.

No presente caso de estudo, a definição dos valores e características a preservar nas paredes e seus
revestimentos exteriores tem uma grande relevância. Salienta-se, por um lado, o valor histórico,
cultural e arquitectónico do edifício e o conjunto formal dos materiais, técnicas, texturas e cores
originais dos seus revestimentos, bem como, por outro, o bom funcionamento global das paredes
resultante da compatibilidade entre materiais e soluções construtivas.

5.3.8. Especificação dos revestimentos

A especificação dos revestimentos de paredes, que a seguir se apresenta, corresponde ao ponto 5 da


metodologia proposta no presente capítulo.

A areia a empregar na confecção das argamassas deverá satisfazer as condições de ser bem limpa
ou lavada e isenta de terras, substâncias orgânicas ou quaisquer outras impurezas, e ser peneirada e
lavada quando julgado necessário. No fabrico de argamassas a empregar em rebocos deverá utilizar-
se areia de grão fino, esta considerada a que passe no crivo com orifícios de 1.5 mm.

“A cal aérea será de boa qualidade, extinta por imersão em tanque ou por aspersão e deve satisfazer
as seguintes condições: ser bem cozida, sem cinzas, matérias terrosas, fragmentos de calcário cru ou
recozido e isenta de quaisquer outras impurezas; ser bem cozida a mato; após a extinção, ser isenta
de fragmentos resultantes de deficiências ou excessos de cozedura de calcário. A cal extinta por
aspersão será guardada em armazém fechado, para não ficar sujeita à acção dos agentes
atmosféricos; na falta de armazém, poderá ser permitida a sua conservação ao ar livre, desde que
seja coberta depois de extinta com uma camada delgada de argamassa de cal e areia bem alisada.
No caso de se empregar cal extinta por imersão, esta será trabalhada sem nova adição de água” (F.C.
e A. D., 2011).

As operações relativas à execução de revestimentos de paredes com argamassas de cal serão


constituídas pelos procedimentos indicados de seguida. Os revestimentos de base cimentícia
existentes serão removidos; as paredes a revestir serão limpas de forma a retirar argamassas pouco
aderentes ou desagregadas, “os suportes serão limpos de materiais soltos ou pulverulentos e
deverão ser humedecidos para que não retirem a água de amassadura das argamassas que irão
constituir os novos revestimentos; os suportes serão molhados, pelo menos nos três dias anteriores
ao da execução do revestimento, duas vezes por dia, fazendo-se depender a quantidade de água de
humedecimento das condições atmosféricas existentes aquando da execução destes trabalhos; em
todo o caso, a molhagem será efectuada de cima para baixo e com recipientes de cerca de dois litros

98
de capacidade ou por intermédio de mangueira debitando um pequeno caudal; as fundações dos
suportes que irão receber estes revestimentos serão drenadas superficialmente e em profundidade,
bem como ventiladas, para minimizar a tensão de capilaridade da água no suporte; deverão
igualmente ser analisadas as condições de escoamento da água nas coberturas”; serão feitos
encasques necessários para que as paredes fiquem bem desempenadas (F.C. e A. D., 2011).

Para o revestimento exterior de paredes opta-se por produtos tradicionais doseados em obra,
especificando-se o traço em volume da argamassa a aplicar e requisitos. Inclui-se a ficha técnica dos
materiais na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra e opta-se por mais que uma
camada na especificação do revestimento. “Na execução de revestimento exterior de paredes com
argamassas de cal deverão ser utilizadas argamassas de cal aérea hidrófuga constituídas por:
Salpisco: (…) quando o suporte é constituído por alvenaria de pedra assente com argamassa de cal,
não deverá ser efectuado qualquer salpisco.
Emboço: os emboços serão executados com argamassa de cal aérea hidrófuga em pasta ‘D.
Fradique’, ou equivalente, ao traço 1:3.5, exclusivamente com areias lavadas com a composição de
2.5 volumes de areia média e 1 volume de areia fina lavada, com aditivo pozolânico em pó ‘D.
Fradique’, ou equivalente, a 20% do volume de cal.” As diversas camadas de emboço serão
executadas em conformidade com as indicações do fabricante das cais. “Este trabalho inclui, em
condições de calor, um abundante humedecimento do suporte, pelo menos nos três dias anteriores,
duas vezes por dia, uma delas ao final da tarde e ainda cerca de uma hora antes da projecção do
emboço que deverá ter espessura máxima de 1.5 cm (primeiro emboço) e de 1.0 cm (segundo
emboço), com acabamento sarrafado grosso. Quando houver necessidade de executar mais do que
uma camada de emboço (paredes de suporte em alvenaria de pedra), deverá decorrer pelo menos
cerca de três dias entre uma camada e a seguinte.” Isto pressupõe que a camada anterior foi
apertada e reapertada com sarrafo, quando começa a secar. “Entre uma camada e outra é
igualmente indispensável efectuar molhagem com sulfatador ou pulverizador, ou ‘caiada’ com água. A
aplicação de uma nova camada não deverá ser feita antes de a água da molhagem se ter infiltrado na
camada anterior ou alvenaria.
Reboco: o reboco será executado com cal aérea não hidrófuga em pasta ‘D. Fradique’, ou
equivalente, ao traço 1:3.5, só com areia fina lavada, com aditivo pozolânico em pó ‘D. Fradique’, ou
equivalente, a 20% do volume de cal, projectada após secagem do emboço (cerca de três dias).”
As diferentes camadas do revestimento serão realizadas com uma dosagem de água adequada à
consistência necessária à respectiva execução.
“O reboco será precedido de abundante humedecimento pulverizado do emboço, será areado e terá
espessura máxima de 0.5 cm, após aperto e reaperto à talocha, devendo entretanto ser efectuada
molhagem por pulverização caso se receie que haja demasiada secagem.
Quando a superfície a regularizar apresente maiores depressões deverá ser efectuada prévia
regularização da superfície a barrar utilizando esta massa à qual se adiciona igual volume de areia
fina. Igual procedimento deverá ser seguido quando se pretende um barramento de enchimento maior
que 0.5 mm de espessura.

99
Recomenda-se que a espessura da última camada, o reboco, quando contenha areia média, não seja
inferior a 1 cm de modo a que, com o aperto e reaperto, a areia de maiores dimensões ‘mergulhe’ na
argamassa e permita um acabamento adequado” (F.C. e A. D., 2011).
“As várias camadas de emboço e o reboco serão aplicadas por projecção mecânica. Para garantir a
qualidade do revestimento devem seguir-se as recomendações de fabrico, execução e cura indicadas
pelo fabricante das cais, nomeadamente do técnico do fabricante que acompanhe os trabalhos. Os
trabalhos de revestimento deverão ser precedidos de todos os que envolvam execução de roços ou
outros que introduzam vibrações. A limpeza das eventuais cantarias igualmente deverá preceder a
aplicação da última camada do revestimento. O reboco terá acabamento que deverá ser submetido à
aprovação do Projectista” (F.C. e A. D., 2011).

Os emboços dos revestimentos exteriores serão, portanto, executados com argamassa de cal aérea
hidrófuga de acordo com os traços definidos, enquanto o reboco será efectuado com argamassas de
cal aérea não hidrófuga. Estas superfícies com rebocos de cal deverão receber preparação e
aplicação de esquemas de pintura sendo que, de modo a evitar a eventual cristalização de sais
abaixo da superfície e consequentemente destacamentos e empolamentos do revestimento, só
deverão ser utilizadas tintas que permitam alta permeabilidade ao vapor de água. Neste caso
enquadram-se tintas de base de cal e tintas de silicato de acordo com a norma DIN 18363: 2012
(Allgemeine Technische Vertragsbedingungen (ATV). Maler- und Lackiererarbeiten - Beschichtungen.
Termos contratuais sobre condições técnicas gerais (ATV). Trabalhos de pintura e envernizamento -
revestimentos) relativa a pintura e envernizamento de revestimentos, que independentemente da sua
composição química não poderão conter mais do que 5% de resinas acrílicas, aplicadas de acordo
com as indicações dos fabricantes. Os revestimentos exteriores de paredes do edifício serão, assim,
rebocos areados finos de base de cal com pintura de base de cal apagada envelhecida ‘CIN, Rialto
Epoca Ottocento’ (14-935), de cor a definir.

As operações de pintura deverão ser efectuadas com prévia protecção dos vidros e caixilharias
adjacentes, bem como o acabamento final será obtido através de barramento de base de cal com
pigmentos baseado em óxidos naturais. Para a realização das pinturas deve obedecer-se, em
particular, às especificações do DTU 59:1952 (Cahier des Prescriptions Techniques Générales
applicables aux travaux de Peinture, Nettoyage, Mise en Service, Vitreries, Papier de Teinture) e
outras subsequentes (F.C. e A. D., 2011).

A respeito dos materiais ou produtos especificados, após o estudo de mercado nacional de materiais
e produtos resumido no anexo B (tabela B1), a cal ‘D. Fradique’ da Fradical (Fábrica de
Transformação de Cal, Lda.) tem patente nacional.

A ‘cal aérea hidrófuga em pasta D. Fradique’ consiste numa “cal aérea como ligante natural
hidrofugado a partir de utilização de subproduto do azeite”. Tem como características principais a
“fendilhação nula após conclusão dos trabalhos, baixo coeficiente de capilaridade, ser hidrófuga,
condutibilidade térmica constante, alta impermeabilidade à água no estado líquido, grande
permeabilidade ao vapor de água e óptimo envelhecimento” (ficha técnica do material). “Não havendo
entrada de água quer por absorção quer pela fendilhação, a resistência térmica da envolvente

100
exterior do edifício não é diminuída no tempo e permite a utilização de isolamentos térmicos e
acústicos com elevada permeabilidade ao vapor de água” (http://www.fradical.pt/).

Quanto à ‘cal aérea não hidrófuga em pasta D. Fradique’, consiste numa “cal aérea como ligante
natural CL 90”. Tem como características principais a “fendilhação nula após conclusão dos trabalhos,
boa aderência aos materiais de suporte, baixo coeficiente de capilaridade, elevada durabilidade, boa
plasticidade, condutibilidade térmica constante, ser bactericida e permeável ao vapor de água, boa
trabalhabilidade, óptimo envelhecimento e carbonatação (240 dias para 1.5 cm de espessura, variável
em função da humidade relativa)” (ficha técnica do material).

O ‘aditivo pozolânico em pó D. Fradique’ é uma pozolana artificial em pó, um metacaulino moído de


forma a apresentar uma elevada superfície específica. Trata-se, assim, de “um metacaulino, idêntico
ao utilizado pelos romanos, que uma vez adicionado às argamassas de cal aérea confere-lhes um
maior e mais rápido endurecimento, sem introdução de sais solúveis como aconteceria com a
utilização do cimento ou cal hidráulica. A sua utilização em pequenas percentagens nas camadas de
enchimento dos revestimentos permite que a camada seguinte se possa executar decorridos cerca de
três dias após a anterior sem afectar os bons desempenhos acima referidos” (http://www.fradical.pt/).
O ‘aditivo pozolânico em pó D. Fradique’ consiste num “aditivo para argamassas de cal aérea. (…) A
adição a argamassas de cal aérea confere-lhes características de hidraulicidade resultantes da
reacção pozolânica. A sua utilização possibilita ainda o encurtamento de prazos de execução dos
revestimentos e assentamentos” (ficha técnica do material).

‘Rialto Epoca Ottocento’, da gama Rialto, da CIN (Corporação Industrial do Norte, S.A.), é um
revestimento feito à base de cal apagada envelhecida, para interior e exterior (http://cindecor.cin.pt/).
“Para além de proteger fachadas da degradação provocada pelos agentes atmosféricos, permite
reproduzir fielmente o efeito aguarelado (…) das tradicionais fachadas italianas. O ‘Rialto Epoca
Ottocento’ responde totalmente aos requisitos italianos para estes produtos, a utilizar na recuperação
de centros históricos” (http://www.cin.pt/). “’Epoca Ottocento’ é um revestimento mineral para interior
e exterior, constituído por cal apagada envelhecida, pigmentos naturais, óxidos inorgânicos e aditivos
minerais, que confere um acabamento estético característico da cal aplicada a pincel, mate e
manchado.” Tem como características principais a “elevada permeabilidade ao vapor de água, boa
aderência ao suporte, resistência aos álcalis, resistência à abrasão e ser não inflamável” (ficha
técnica do material).

Relativamente a normas aplicáveis destacam-se as seguintes, anteriormente referenciadas no


capítulo 3 ou no presente capítulo:
• DIN 18363: 2012. Allgemeine Technische Vertragsbedingungen (ATV). Maler- und Lackiererarbeiten
- Beschichtungen (Termos contratuais sobre condições técnicas gerais (ATV). Trabalhos de pintura e
envernizamento - revestimentos);
• EN 13914-1:2005. Design, preparation and application of external rendering and internal plastering -
External rendering;
• EN 13914-2:2005. Design, preparation and application of external rendering and internal plastering -
Design considerations and essential principles for internal plastering;

101
• NP EN 998-1:2013. Especificação de argamassas para alvenarias. Parte 1: Argamassas para
rebocos interiores e exteriores.

• NP EN 459-1:2011. Cal de construção. Parte 1: Definições, especificações e critérios de


conformidade;

O revestimento exterior de paredes do edifício deve cumprir determinados requisitos de desempenho.


Referem-se sobretudo os critérios de compatibilidade a diversos níveis entre reboco, suporte e
acabamento final, abordados no capítulo 4, bem como a conformidade com regras que garantam a
conservação das características construtivas, da funcionalidade e da imagem do edifício.

5.3.9. Considerações finais sobre o caso de estudo

O tema abordado na segunda metade do presente capítulo consiste no estudo aprofundado de um


edifício antigo, o Observatório Astronómico que, por um lado, apresenta um grande valor tanto
histórico e científico como iconográfico e arquitectónico e no qual, por outro lado, é notória a
existência de anomalias relevantes na construção, por falta da sua manutenção ao longo dos tempos
mas também devido a intervenções incorrectas. Revela-se imprescindível a determinação e análise
das suas causas bem como a definição dos adequados métodos de diagnóstico, com vista a uma
intervenção apropriada e ajustada às necessidades e requisitos definidos.

No edifício em estudo, os diversos problemas que apresenta tanto se devem a incorrecções no


momento inicial da concepção ou execução da obra, como à idade avançada da construção e a uma
deficiente manutenção, bem como ainda a alterações nele introduzidas ao longo da sua vida. O
principal problema observado que constitui a origem da maior parte das anomalias nesta construção
é a humidade devido às entradas de água sob as suas diversas formas. Por fim, pode-se referir que
este edifício urge ser reabilitado e conservado, pelo agravamento do seu estado de deterioração com
o passar do tempo, sem a necessária manutenção da construção.

Um objectivo deste último subcapítulo, mediante a aplicação da metodologia proposta na primeira


parte deste capítulo 5 tendo em vista o estudo da sua exequibilidade e aplicabilidade, consiste na
apresentação de proposta de intervenção ao nível dos revestimentos exteriores de paredes do
edifício com vista a alcançar o restabelecimento de adequados níveis de desempenho durante a sua
vida útil. Como tal, também se pretende a retoma de materiais e técnicas originais compatibilizando-
os entre suporte, revestimento e acabamento. As principais operações nos revestimentos ao nível do
exterior do edifício passam pela substituição dos revestimentos de base cimentícia actualmente
existentes tendo sido incorrectamente aplicados ou consequentemente degradados, pela reposição
de revestimentos à base de cal aérea compatíveis com o suporte em alvenaria de pedra, bem como
por fim pela execução de pinturas com tintas compatíveis.

Para o exterior das paredes do edifício recomenda-se o material de acabamento apresentado, com
vista à garantia da possibilidade de uma manutenção simples, em lugar de garantia da sua

102
inexistência, que não seria de todo adequada. Trata-se de um acabamento de pouca e/ou fácil
manutenção, como um barramento que não exige repinturas cíclicas e envelhece de forma natural.

Por fim, importa referir o contributo do caso de estudo para o presente trabalho, que corresponde
sobretudo à verificação e estudo da aplicabilidade da metodologia de apoio proposta ao nível do
projecto, com vista a uma intervenção correcta e adequada nos revestimentos de paredes do edifício,
tendo-se verificado a vantagem de, no caso de as fases propostas na metodologia serem seguidas
rigorosamente por qualquer que seja o interveniente, se garantir a qualidade do planeamento do
projecto e da respectiva intervenção. Nos pontos seguintes procede-se, assim, à análise da aplicação
da metodologia ao presente caso de estudo, concluindo-se sobre as suas vantagens e possibilidade
de desenvolvimentos futuros.

5.4. Análise crítica da aplicação da metodologia de apoio proposta

A recolha de informação sobre uma construção e sua envolvente baseia-se, sobretudo, no


diagnóstico e inspecção do objecto de estudo, tanto ao nível da estrutura propriamente dita e das
fundações como das acções a que está sujeita em função da sua utilização e ambiente que a envolve.

O estudo e caracterização da construção integram não só o levantamento da sua geometria,


materiais constituintes e suas anomalias, como também a caracterização dos materiais incluindo a
avaliação das suas propriedades e a determinação das suas alterações. Por outro lado, o estudo da
envolvente construtiva visa o conhecimento das acções quer físicas quer químicas a que se encontra
sujeita e que demarca o tempo de resposta como instantâneo ou demorado. Por fim, o estudo do
comportamento da construção pretende saber a forma da sua interacção com a envolvente quando
submetida a forças e alterações, especialmente a nível estrutural.

Essencialmente para a avaliação das características geométricas da estrutura e para a identificação


genérica dos materiais que a constituem e dos eventuais sintomas patológicos, a inspecção visual ou
com o auxílio de dispositivos ópticos que potenciam a capacidade visual é o tipo de inspecção mais
simples, tendo sido o utilizado pela autora na aplicação da metodologia proposta ao caso de estudo.
No entanto, actualmente uma série de técnicas e instrumentos facilitam as observações ou
multiplicam o seu rigor e alcance. Segundo Cóias (2007), podem proporcionar aos responsáveis pela
concepção das intervenções de conservação, reparação e recuperação, determinados dados
importantes ajudando à recolha de informação para avaliar a capacidade de desempenho da
construção. Aqueles ajudam, ainda, não só à determinação das causas de possíveis anomalias
existentes e correcta avaliação da importância e extensão das degradações existentes, mas também
à adopção de medidas correctivas menos intrusivas e mais bem adaptadas, atempada definição e
planeamento das intervenções e monitorização do comportamento da construção após as mesmas.

Reunida toda a informação disponível sobre determinada construção e efectuado o levantamento no


local mediante a representação da sua geometria, um complemento ao estudo e caracterização do
edifício e dos seus materiais é a realização de inspecções e ensaios com o objectivo de quantificar as

103
propriedades relevantes para os fins visados. Pretende-se prever o seu comportamento face aos
novos requisitos de desempenho que determinam a necessidade de uma intervenção na construção.
Para tal, pressupõe-se também o conhecimento da sua história, desde a origem até ao estado em
que se encontra à data, na medida em que as sucessivas alterações nela introduzidas determinam
cumulativamente o seu estado actual e tornam-se essenciais para prever a sua futura evolução. Este
é um aspecto de extrema relevância no edifício que constitui objecto de estudo.

O planeamento das inspecções e ensaios é variável conforme os motivos que a tornam necessária e
as circunstâncias em que decorrerá, assim como o número de ensaios a realizar depende de vários
factores, entre os quais a diversidade dos elementos para caracterização, o custo unitário dos
ensaios e o tempo de execução necessário para aqueles. Como tal, não são definidos na aplicação
da proposta ao presente caso de estudo. De qualquer forma, por vezes, quando possível e aplicável,
realizam-se ensaios laboratoriais especializados sobre amostras de materiais ou partes da
construção recolhidas em obra, estas últimas adoptadas para completar e fundamentar o diagnóstico.

Na aplicação da proposta de metodologia de apoio ao caso de estudo executou-se a maioria das


etapas principais nela incorporadas, não só relativas ao estado de conservação do edifício e
revestimentos de paredes e ao diagnóstico destes últimos, como também à intervenção a adoptar, à
especificação dos revestimentos e à sua conservação e manutenção adequada. Correspondendo ao
objectivo final do presente capítulo, testa-se, deste modo, a aplicabilidade da metodologia de apoio
proposta. Na definição do tipo e estratégia de intervenção bem como especificação dos revestimentos,
respectivos materiais/produtos e técnicas recomendadas, faz-se referência a elementos escritos do
projecto de execução de arquitectura de Falcão de Campos Arq. e Appleton e Domingos Arq. em
2011. Trata-se de um projecto baseado no edifício existente e histórico de intervenções anteriores,
concebido com rigor e particularmente correspondendo às preocupações e aspectos abordados no
presente trabalho, podendo considerar-se que se constitui como forma de validação da metodologia
proposta e sua credibilidade.

Segue-se a metodologia de apoio proposta na primeira parte deste capítulo sob a forma de checklist,
com a marcação das etapas que foram efectuadas na sua aplicação ao caso de estudo, apresentada
na figura 5.21.

1. Acesso a informação

1.1. Aceder a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de revestimentos de paredes
exteriores

1.2. Aceder a informações sobre o edifício em estudo, particularmente sobre a data de construção e
intervenções posteriores

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta

104
2. Estado de conservação

2.1. Avaliar e caracterizar o estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes – inspecção.

2.1.1. Identificar as anomalias, diagnosticar o seu tipo, severidade e viabilidade da reparação

2.1.2. Identificar origem/causas das anomalias

2.1.3. Reconhecer as anomalias associadas a outros elementos (quando aplicável)

2.1.4. Verificar as funções do revestimento afectadas

2.1.5. Identificar a autenticidade e o valor técnico e decorativo, bem como ter informações sobre
revestimentos decorativos a proteger

2.1.6. Determinar correlações com os factores de degradação principais e definir/escalonar tratamentos

3. Diagnóstico

3.1. Delinear as acções a desenvolver de diagnóstico dos revestimentos – inspecção.

3.1.1. Identificar o número, tipo e espessura de camadas do revestimento para caracterização

3.1.2. Identificar a composição e as propriedades da argamassa original (quando possível)

3.1.3. Reconhecer incompatibilidades e materiais diferenciados

3.1.4. Analisar o histórico de intervenções anteriores (quando aplicável)

3.1.5. Definir o conjunto de ensaios a realizar e eventualmente os pontos de aplicação

3.1.6. Prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior aplicação

3.1.7. Determinar as decisões a tomar face aos resultados obtidos nos ensaios

3.2. Efectuar o diagnóstico da parede de suporte (nomeadamente a nível de estabilidade, quando necessário)
e particularmente dos revestimentos – inspecção e ensaios.

3.2.1. Inspecção visual

3.2.2. Ensaios in situ sobre o revestimento antigo

3.2.3. Ensaios de laboratório sobre amostras extraídas em obra (quando necessário)

3.2.4. Outros ensaios realizados por equipas de conservação e restauro

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta (cont.)

105
4. Definição da intervenção

4.1. Definir a necessidade ou não de intervenção de outros técnicos como conservadores-restauradores e de


outras acções a desenvolver a montante – elemento de projecto.

4.2. Definir o tipo e estratégia de intervenção a adoptar, fundamentada com base na avaliação do estado de
conservação do revestimento antigo e importância da técnica empregue – conservação, reparação pontual,
consolidação ou substituição – elemento de projecto.

4.3. Identificar disponibilidade de recursos, materiais, técnicas e mão-de-obra para concretização – projecto.

4.4. Verificar a exequibilidade da intervenção em boas condições, tendo em conta o contexto em que se
desenvolve a obra – inspecção.

4.5. Definir os valores e características a preservar nas paredes e seus revestimentos – elemento de projecto.

5. Especificação dos revestimentos

5.1. Especificar os revestimentos de paredes exteriores atendendo a determinados factores – elemento de


projecto.

5.2. Incluir desenhos e especificações tendo em conta natureza do suporte, natureza e condições de
exposição do reboco, exigências, tipo de reboco e de acabamento – elemento de projecto.

5.3. Definir os critérios a utilizar na especificação do material/produto – elemento de projecto.

5.4. Optar por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra – projecto.

5.5. Experimentar/avaliar através de ensaio os produtos escolhidos (quando aplicável) – ensaios.

5.6. Especificar os materiais e produtos a utilizar e verificar a sua adequabilidade ao projecto e às condições
locais da obra – elemento de projecto; ensaios e inspecção.

5.7. Incluir ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra –
elemento técnico.

5.8. Optar por uma única camada ou mais que uma na especificação/execução do revestimento – elemento
de projecto.

5.9. Proceder à análise da compatibilidade (mecânica, química, física, geométrica e estética) da argamassa a
aplicar com o suporte e a argamassa preexistente (quando aplicável), mantendo níveis adequados de
desempenho – ensaios.

5.10. Especificar a composição da argamassa a utilizar – elemento de projecto.

5.11. Acompanhar as especificações relativas à composição da argamassa com uma descrição técnica
detalhada das tecnologias de aplicação propostas – elemento de projecto.

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta (cont.)

106
5.12. Verificar e utilizar as normas aplicáveis e eventualmente documentação técnica do LNEC – elementos
legais.

5.13. Especificar os requisitos de desempenho a cumprir pelo revestimento exterior – elemento de projecto.

5.14. Seleccionar e especificar a argamassa de substituição (quando aplicável) tendo em conta determinados
factores – elemento de projecto.

6. Plano de manutenção

6.1. Estabelecer planos de conservação/manutenção periódica com vista a limitar-se a deterioração,


prolongar-se a vida útil do revestimento e do edifício antigo – elemento de projecto.

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta (cont.)

A metodologia proposta no início do presente capítulo pode ser adaptada como lista de apoio ao
projectista em obra, de aplicação prática, pelo que se apresenta de seguida na figura 5.22 um
exemplo de preenchimento do ponto 3 da metodologia proposta correspondente ao diagnóstico dos
revestimentos, na aplicação ao caso de estudo.

3. Diagnóstico

3.1. Delinear as acções a desenvolver de diagnóstico dos revestimentos – inspecção.

3.1.1. Identificar o número, tipo e espessura de camadas do revestimento para caracterização

Camadas de regularização e protecção (1, 2 ou 3 camadas principais)

Emboço: 1 subcamada mais que 1 subcamada (espessura máxima de 1.5 cm cada)

Reboco: 1 subcamada mais que 1 subcamada (espessura máxima de 0.5 cm com


areia fina, ou espessura mínima de
1 cm com areia média)
Esboço: 1 subcamada mais que 1 subcamada

Camadas de protecção, acabamento e decoração (1, 2 ou 3 camadas principais)

Barramento: 1 subcamada mais que 1 subcamada

Pintura: 1 subcamada mais que 1 subcamada

Ornamentação

Figura 5.22 - Exemplo de preenchimento relativo ao diagnóstico dos revestimentos na aplicação ao caso de estudo

107
3.1.2. Identificar a composição e as propriedades da argamassa original (quando possível)

Argamassa de cal e areia ao traço volumétrico entre 1:1 e 1:5 de cal aérea:areia.

3.1.3. Reconhecer incompatibilidades e materiais diferenciados

Argamassas de base cimentícia diferentes das originais à base de cal.

Tintas incompatíveis com o suporte em alvenaria de pedra.

3.1.4. Analisar o histórico de intervenções anteriores (quando aplicável)

Substituição dos rebocos originais com tipo de solução tradicional por rebocos de base cimentícia.

Utilização de tintas incompatíveis com o suporte por excessiva impermeabilidade ao vapor de água.

Figura 5.22 - Exemplo de preenchimento relativo ao diagnóstico dos revestimentos na aplicação ao caso de
estudo (cont.)

5.5. Considerações finais da metodologia

Tendo sido seguida a maioria dos passos indicados, a aplicação da metodologia proposta ao caso de
estudo possibilita concluir que esta não só é exequível como na realidade apoia a concepção do
projecto e, consequentemente, a definição da intervenção de reabilitação nos revestimentos de
paredes de edifícios antigos. Inclusive os procedimentos relativos aos ensaios, que no caso de
estudo não foram efectuados, são importantes e determinam escolhas correctas e intervenções
adequadas nos edifícios. A metodologia proposta apresenta-se de forma completa, no entanto
permite ser adaptada e ajustada ao tipo de edifício em causa, ao seu estado de conservação e
especificidades, adequando-se determinados pontos indispensáveis a uma intervenção correcta ao
nível dos revestimentos de paredes do caso particular. O contributo do caso de estudo para o
presente trabalho corresponde, assim, à verificação e estudo da aplicabilidade da metodologia
proposta ao nível do projecto, por forma a melhorar-se a sua eficácia e qualidade.

Analisando a aplicação da metodologia proposta ao caso de estudo, constata-se a sua exequibilidade


e aplicabilidade, pelo que permite também reforçar a importância da sua existência como modelo de
apoio ao projecto com vista aos frutos que possa ter a nível de qualidade tanto do projecto como da
própria execução da intervenção o que é realmente relevante e de salientar.

108
6. Conclusões e desenvolvimentos futuros

6.1. Considerações finais

A investigação realizada possibilitou a reflexão sobre a conservação e reabilitação de edifícios


antigos particularmente ao nível dos seus revestimentos de paredes. Um adequado projecto de
conservação e reabilitação exige um bom conhecimento dos revestimentos em argamassa de cal e
suas alvenarias de suporte, geralmente em pedra, por forma a avaliar correctamente o seu estado de
conservação, evitar a progressão de anomalias e planear intervenções apropriadas e eficazes. Para
tal devem ser utilizados materiais de reparação ou substituição de características semelhantes,
compatíveis com a construção existente e com durabilidade adequada. Um projecto deve estar na
base de todo o processo e as diversas fases devem ser cuidadosamente planeadas e concretizadas.

O planeamento de intervenções de reabilitação e conservação ao nível dos revestimentos de paredes


deve basear-se no estudo de aspectos relacionados com as componentes funcional e construtiva dos
edifícios, particularmente o suporte, revestimento e acabamento de paredes, no que respeita a sua
concepção original e estado em que se encontram no presente. Na conservação dos edifícios e
protecção das alvenarias, os revestimentos de paredes têm um papel relevante garantido pelo seu
conjunto.

O contacto com diversos intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios e a concretização


do inquérito a determinada amostra, tiveram em vista obter uma valiosa percepção prática das
metodologias e procedimentos aplicados pelos intervenientes seleccionados para o inquérito. A
análise de resultados efectuada permitiu concluir que, por um lado, no que respeita à importância de
determinados aspectos e procedimentos para a intervenção em revestimentos de paredes antigas, os
inquiridos consideram sobretudo a especificação de materiais e sua adequabilidade ao projecto e à
obra bem como a avaliação do estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes.

Por outro lado, para caracterizar o estado de conservação dos revestimentos, o tipo de anomalias
que revelam constitui o aspecto mais importante considerado pela totalidade dos inquiridos. O
número, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização traduz-se no
aspecto mais importante que a equipa projectista deve identificar ao delinear as acções a desenvolver.
No diagnóstico do edifício, a utilização de técnicas experimentais de caracterização do edifício e dos
revestimentos de paredes é mais comum através de ensaios in situ sobre o revestimento antigo, na
avaliação de propriedades físicas e mecânicas. Para a especificação de revestimentos de paredes, a
humidade do suporte e suas deformações constituem os factores aos quais os intervenientes
atribuem maior importância.

A nível prático, a maioria dos intervenientes afirmou incluir desenhos e especificações tendo em
conta determinados aspectos como a natureza do suporte, condições de exposição, exigências, tipo
de reboco e de acabamento, o que se revela um aspecto positivo para o projecto e intervenção.

Concluiu-se que não há uma preferência clara entre produtos tradicionais doseados em obra ou pré-
doseados, apesar de verificado que projectistas arquitectos, consultores técnicos, conservadores-

109
restauradores e promotores e donos-de-obra dão preferência aos doseados em obra. Este aspecto
demonstrou as suas preocupações e escolhas pelo que é tradicional e adaptado à especificidade do
revestimento em causa e à obra, mas também alguma falta de soluções pré-doseadas específicas ou
consideradas adequadas. Por outro lado, sobretudo fornecedores e fabricantes de materiais de
construção referem produtos pré-doseados. Concluiu-se que quem especifica ainda não está
sensibilizado para este tipo de produtos por aqueles fabricados ou fornecidos, aspecto que é
importante que seja corrigido ou equilibrado, bem como que para quase um terço dos intervenientes a
escolha não é clara, fazendo depender a sua escolha da especificidade da situação e da intervenção
em causa.

Sendo a especificação dos materiais e produtos a utilizar relevante para a garantia de um projecto
adequado e execução correcta das intervenções, salienta-se que todos os intervenientes o afirmaram
fazê-lo sempre (maioria) ou habitualmente. No entanto, a inclusão da ficha técnica do material na
especificação para controlo da qualidade e garantia da obra parece não ser consensual entre os
intervenientes abrangidos pela amostra, inclusive dentro do mesmo grupo, apesar de que a maioria
afirmou fazê-lo.

É possível aferir que na especificação do material ou produto o âmbito de aplicação é o critério mais
utilizado, por oposição ao custo do produto. Relativamente ao traço da argamassa, os intervenientes
que não o referiram correspondem sobretudo a fornecedores e fabricantes de materiais bem como a
directores de obra e empreiteiros. De referir que a prescrição por traço é muito limitativa, contrária à
prescrição exigencial pretendida, pela especificação de requisitos de desempenho, por exemplo
segundo a NP EN 998-1:2013. Adicionalmente, quase dois terços dos intervenientes especifica a
composição da argamassa a utilizar, geralmente o traço em volume, sendo que destes todos
afirmaram fazê-las acompanhar-se de uma descrição técnica das tecnologias de aplicação.

Na especificação ou execução de revestimento exterior em argamassa, verifica-se também que a


grande maioria opta pela aplicação de mais que uma camada, o que era de esperar verificada a
preferência por produtos doseados em obra e dados os diversos motivos possíveis para o fazer
atendendo também às alternativas de resposta dadas pelos intervenientes. Apesar da dispersão nas
razões para essa opção, salienta-se a baixa tendência para fendilhação por retracção. Quanto a
alternativas enunciadas, referem-se a boa carbonatação, bom aspecto, possibilidade de eventuais
correcções de imperfeições ou irregularidades do suporte, compatibilidade mecânica com os suportes
e espessura do revestimento, entre outros.

Ao nível do projecto e da execução das intervenções em edifícios antigos, um ponto a corrigir é a


utilização de documentação, principalmente pelos projectistas na concepção, dado que mediante as
respostas foi possível aferir que alguns não o fazem com frequência. Determinadas normas e
documentos técnicos internacionais e nacionais são aplicáveis neste âmbito e devem ser consultadas
e verificadas, salientando-se a norma EN 13914-1:2005 e o documento técnico DTU 26.1:2008 a
nível internacional, bem como a NP EN 998-1:2013 e a NP EN 459:2011 a nível nacional.

110
Outro aspecto verificado nas respostas ao inquérito corresponde ao facto de os fornecedores e
fabricantes bem como os projectistas arquitectos se encontrarem entre os que não especificam os
requisitos pretendidos que o revestimento exterior deve cumprir. Este constitui um aspecto negativo
por dever partir sobretudo destes últimos a definição e especificação dos requisitos pretendidos para
o revestimento de forma a assegurar a sua compatibilidade e contribuir para que seja bem executado
pelos intervenientes directos em obra.

A importância dos critérios de compatibilidade dos revestimentos foi demonstrada ao serem


consensuais à grande maioria dos intervenientes. Adicionalmente, a interacção com o suporte foi o
factor comum à quase totalidade dos intervenientes, quanto à sua influência decisiva para a estrutura
física do reboco de argamassa. Apesar da existência de alguns casos isolados de intervenientes que
consideram por vezes ser preferível a remoção/substituição dos revestimentos, a grande maioria
concorda com a sua conservação como a opção mais correcta e favorável a nível de durabilidade,
funcionalidade e economia.

Apesar de os intervenientes inquiridos consultarem diversas fontes de informação sobre as melhores


práticas de projecto e execução de revestimentos de paredes exteriores com argamassas, alguns
ainda não o fazem de forma regular, pelo que a existência de um documento de apoio que constitua
uma metodologia ou modelo de apoio ao projecto de reabilitação a nível de revestimentos de paredes
de edifícios antigos pode vir a compensar de certa forma e eventualmente solucionar este aspecto.
Pretende-se que a investigação desenvolvida no presente trabalho contribua em certa medida para
solucionar esta insuficiência.

Na presente dissertação concluiu-se que na fase de concepção é essencial a avaliação do estado de


conservação do edifício e em particular dos revestimentos exteriores, o seu diagnóstico e da parede
de suporte, definição da intervenção, especificação de materiais a utilizar e requisitos de desempenho
a cumprir no revestimento e, ainda, previsão de planos de conservação e manutenção periódica.
Propiciadora de melhor qualidade das intervenções de reabilitação e conservação nos revestimentos
de edifícios antigos, a existência de uma metodologia de apoio ao projecto constitui uma boa
orientação e verificação da aplicabilidade ao edifício em causa, em particular para os projectistas,
bem como melhorar o entendimento por parte dos intervenientes directos em obra e a correcta
execução da intervenção. Dada a inexistência de uma metodologia completa e eficiente para apoio ao
projecto neste âmbito, torna-se oportuno o contributo desta investigação, incluindo a sua aplicação
prática a um edifício existente proveniente da experiência profissional da autora, para o vasto
conjunto de estudos académicos, técnicos e empíricos relativamente a esta temática, tendo em conta
a importância deste aspecto na reabilitação e conservação de edifícios antigos.

Desenvolvendo-se o caso de estudo neste trabalho e correspondendo à sua utilidade, a aplicação de


determinados procedimentos da proposta de metodologia ao edifício permitiu não só testar a sua
exequibilidade e avaliar o contributo positivo como apoio ao projecto mas também o seu papel na
melhoria da qualidade em intervenções de conservação e reabilitação de revestimentos de paredes
de edifícios antigos. Em geral, grande parte dos procedimentos integrados na metodologia proposta
foi concretizada aquando da sua aplicação ao caso de estudo, tanto relativos ao estado de

111
conservação do edifício e revestimentos de paredes e seu diagnóstico, bem como à intervenção a
adoptar, especificação dos revestimentos e sua conservação e manutenção adequada. Deste modo,
testou-se a aplicabilidade da metodologia proposta sendo cumprido o objectivo que lhe está
associado, bem como se verifica e reforça o seu papel como modelo de apoio ao projecto visando os
frutos possíveis a nível de qualidade, não só do projecto como também da própria execução da
intervenção. Ao nível do projecto, por baseá-lo num estudo completo do edifício e particularmente dos
seus revestimentos, bem como definirem-se o tipo e estratégia de intervenção, os valores e
características a preservar e especificarem-se os revestimentos e requisitos de desempenho a
cumprir por estes, correspondendo a uma abordagem planeada e exigencial. Consequentemente, ao
nível da execução da intervenção, pelo facto de um projecto bem definido, claro e com as
especificações necessárias, contribuir para um melhor entendimento deste pelos intervenientes
directos em obra e, assim, para uma correcta concretização apoiada ao máximo pelo projecto.
Revelando o seu contributo para a qualidade do projecto e da obra, trata-se, assim, de um aspecto de
grande relevância e a salientar, sendo que o caso de estudo permite conclui-lo e pelo que se propõe
a existência e seguimento de metodologia em qualquer projecto de reabilitação neste âmbito.

De um modo geral, considera-se que os resultados da investigação permitiram retirar ilações


concretas sobre os procedimentos que uma reabilitação deve envolver, tendo sido integrados na
proposta de metodologia, e ilações gerais sobre a relevância de existência de metodologia ao nível
do projecto de intervenção num edifício antigo, sendo cumpridos os objectivos propostos. Considera-
se assim que na fase de concepção o projectista deve, portanto, seguir determinados procedimentos
e critérios visando a compatibilidade dos vários constituintes das paredes e respectivas argamassas
de revestimento. Espera-se que o trabalho desenvolvido fomente o posicionamento crítico face a todo
o processo que integra uma reabilitação e conservação de um edifício antigo, consistindo numa base
para a elaboração de estratégias de actuação no presente.

Pretende-se que a dissertação contribua para optimizar o processo de caracterização, diagnóstico e


intervenção em determinada fase da operação de reabilitação do edificado antigo em análise, bem
como contribua como apoio ao problema global da conservação e reabilitação de revestimentos de
edifícios mediante proposta de procedimentos de actuação relevantes, de metodologia adequada e
aplicável.

Reforça-se o facto de resultados importantes obtidos em estudos desenvolvidos neste âmbito


deverem ser divulgados no meio técnico sobretudo entre os projectistas arquitectos e engenheiros,
promotores e responsáveis por intervenções em edifícios antigos, por forma a melhorar a concepção
das intervenções neste tipo de edifícios. Para além disso, com vista à viabilidade de estratégias de
conservação e correcta execução de operações em revestimentos de edifícios antigos, é também
necessária a adequada consciencialização dos empreiteiros e fabricantes de materiais de construção.
Um ponto de vista fundamental a salientar com o presente trabalho é o da complementaridade entre
todos os tipos de intervenientes em conservação e reabilitação, tanto ao nível dos seus pontos de
vista como dos seus conhecimentos e experiência neste âmbito.

112
6.2. Perspectivas de desenvolvimento futuro neste domínio

O trabalho desenvolvido ao longo da presente dissertação enquadra-se num universo de estudos


consideravelmente vasto e actual, possibilitando o desenvolvimento de futuras investigações. No
âmbito de potenciais investigações a desenvolver, podem destacar-se as que se apresentam de
seguida.

 O alargamento do inquérito a um número maior de intervenientes na reabilitação de revestimentos


de edifícios antigos;

 A implementação da metodologia, após o seu aperfeiçoamento, a um conjunto alargado de


edifícios que necessitem de intervenção ao nível dos revestimentos de paredes e testar a sua
eficácia no apoio ao processo de reabilitação, bem como a elaboração de estratégias de actuação
no presente.

Poder-se-á, assim, aplicar a metodologia a diferentes edifícios com estados de conservação e de


intervenção distintos ao nível dos revestimentos de paredes, destacando-se os seguintes tipos de
situações: (i) outros edifícios antigos e/ou de património monumental que necessitem de ser
reabilitados, por forma a perceber as diferenças entre eles, função das necessidades específicas; (ii)
edifícios que estejam a ser reabilitados e nos quais seja possível comparar o procedimento seguido
com a aplicação da metodologia; (iii) edifícios que já tenham sido reabilitados e seja relevante a
comparação de actuações e a identificação das melhorias possíveis caso tivesse sido integrada e
seguida uma metodologia completa e adequada ao projecto.

113
114
Referências bibliográficas

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AGUIAR, J. Estudos cromáticos nas intervenções de conservação em centros históricos. Base para a sua
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119
Anexos

Anexo A. Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito

Anexo B. Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos

A
Anexo A. Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito

Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito


As respostas são apresentadas por siglas/acrónimos (cf. legenda abaixo para consulta da correspondência). Quando aplicável, i.e. nos casos em que é possível seleccionar mais do que uma opção
em determinada pergunta, o número da questão é seguido de um asterisco (*). As diferentes opções de resposta são apresentadas em numeração romana pela ordem indicada na ficha-tipo
(exibida no subcapítulo 4.2.2. do documento) pelo que a sua consulta é aconselhada para leitura das opções possíveis em cada questão.
Referência do Interveniente
Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
PA GP PeD
PA PA PE CR CR PeD CT
1 (*) PA PA GP CT CR CT CT DeE DeE FeF FeF FeF FeF FeF FeF FeF FeF
GP PeD CT CT DeE DeE FeF
PeD DeE DeE
2
a) I MI MI MI I MI MI MI MI MI MI I MI I I MI I MI MI MI I I MI I
b) MI MI MI I MI MI MI MI MI MI I I MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI I
c) MI MI MI I I MI I MI I I MI I MI MI I MI MI MI MI MI I I MI I
d) MI MI MI MI MI MI I MI I I MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI
3 (*)
i.                        
ii.                  
iii.              
iv.                  
Outro(s)       
N/A
4 H H S S S S H S S S S S H H S S N/A N/A S S H H H N/A
5 (*)
i.                      
ii.                   
iii.       
iv.             
Outro(s)      
N/A 
6
a)
i. R H R R S R H H S N/A S N S H H N N/A N/A H S R R H N/A
ii. R H N R H H H H S N/A S N S S R N N/A N/A H H R H H N/A
b)
i. R R R R H R R S S N/A H N H N/A R N N/A N/A R R R R N N/A
ii. R R R R S R R R S N/A H N H N/A R N N/A N/A R R N N N N/A
iii. R R N R R R R R S N/A H N H N/A R N N/A N/A R H N N R N/A
iv. R R R R S N R R S N/A R N H N/A R N N/A N/A R R N N N N/A
Outro(s) H H

A1.I
Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito (cont.)
Referência do Interveniente
Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
7
a) I MI I I I I I MI I MI I I I MI I I I MI I I I I MI I
b) I MI MI I MI MI I MI MI MI MI MI MI MI I MI MI MI MI MI MI I MI MI
c) MI MI I I PI MI MI MI I PI MI MI MI MI MI MI MI I MI MI MI MI MI MI
d) I I PI I I I I I I I I I I I PI MI MI I I I PI I I PI
Outro(s) I I MI MI MI MI MI MI I
8 S S S S H S N/A S S N/A N/A S H S H N/A N/A N/A N/A N/A H N/A R R
9
i.       
ii.         
iii.       
iv. 
10 R H H S R R H S S H S S H H S S S N/A H S S N/A N/A H
11 S S S S S S N/A S S S S S H H S S S S H S H N/A S N/A
12 N/A S H R S H R S S S N S H S S S S N/A S S H S S N/A
13 (*)
i.      
ii.                       
iii.               
Outro(s)        
N/A
14 S S S S S S R S S H S S H S S H N/A S N H H N S N
15 S S S S S H H S S R H H S S S S N/A N H S H H S S
16
a) N S R R H S N/A H N H R H
b) S S H S H H S S S S H S H S S S N/A R S R H H H
17 (*)
i.      
ii.             
iii.        
iv.                 
v.        
vi.             
Outra(s)      
N/A
18 R R S S N/A H R S S H H S S S S N/A S S H S S S S S
19 N H H S S H H S S N/A S S H S S N/A S S R S S S N/A N/A

A1.II
Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito (cont.)
Referência do Interveniente
Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
20
a) S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S
b) S S S S S S S S S N S S S S S S S S S S S S S S
c) S S N/A S S S S S S S S S S S S S S S S S N S S S
d) S S S N/A S S S S S N S S S S S S S S S S S S S S
Outro(s) S S S S S
21 (*)
i.                 
ii.            
iii.                     
iv.                  
Outro(s)   
N/A
22 (*)
i.                  
ii.                
iii.                       
iv.           
Outro(s)   
N/A
23 S S S S S S S S S S S N S S S S S S S S N S S S
24 (*)
i.          
ii.                  
iii.              
iv.                
v.                 
vi.                 
Outra(s)       
N/A
Legenda: PA = Projectistas arquitectos; PE = Projectistas engenheiros; GP = Gestores de projecto; CR = Conservadores-restauradores; PeD = Promotores e donos-de-
obra; CT = Consultores técnicos; DeE = Directores de obra e empreiteiros; FeF = Fornecedores e fabricantes de materiais de construção; MI = Muito Importante; I =
Importante; PI = Pouco Importante; NI = Nada Importante; N/A = Não Aplicável; S = Sim; H = Habitualmente; R = Raramente; N = Não.

A1.III
Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes
São apresentadas apenas as questões (em coluna) em que essa opção era permitida.

Questões
Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24
Sempre que
podemos e que o
revestimento está
em bom estado
Caracterização
preservamo-lo pois
1 do
preferimos um
revestimento
revestimento que já
'deu provas' de ser
compatível com o
suporte.
Necessidade de A conservação Outros
intervenção de periódica permite a projectistas;
Quando não Exequibilidade,
outros técnicos Possibilidade monitorização do Obras de
Ensaios especifico tendo em
(ex. restauro), tipo de eventuais comportamento dos referência (de
realizados por argamassas conta o
de patologias e correcções de revestimentos, a sua preferência
2 equipas de pré-doseadas, contexto em
outras acções a imperfeições ou manutenção e com algum
conservação especifico que se
desenvolver a irregularidades eventuais tempo
e restauro traços em desenvolve a
montante (ex. do suporte intervenções (mais decorrido sobre
volume. obra.
reforço estrutural, ou menos pontuais) a aplicação dos
humidades, etc). de correcção. revestimentos).
O revestimento
serve de protecção
Função do Preparação do (pele) ao suporte;
3
espaço suporte aumenta a
durabilidade do
edifício.
Qualquer
substituição implica
Incompatibilidades Traço em riscos e custos
Envolvente Modo de
4 e materiais volume 1:3 Estéticos Estéticos acrescidos para
áreas anexas execução
diferenciados por ex. além de perda de
características
(argamassas de cal).
Bibliografia
A sua manutenção
técnica
Autenticidade; Compatibilidad Continuar as periódica evita perda
especializada e
5 Valor técnico e e com 3:1 técnicas material e reduz
conselho de
decorativo existente originais custos de
outros
conservação.
profissionais

A1.IV
Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)
Questões
Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24
Em geral sim, mas
há casos em que
Identificar considero preferível
causas das a substituição, por
Verificar se as
anomalias; Traço em exemplo, de rebocos Experiência
anomalias do Ser de fabrico
Ter informação volume; de argamassa própria e de
6 suporte estão nacional (quando
sobre Tipo de cimentícia ou de mestres
ou não exista)
revestimentos areias. rebocos soltos e aplicadores
estabilizadas
decorativos a muito desagregados
proteger. com muito baixa
resistência
mecânica.
Registo das áreas
afectadas e o
7 nível de
degradação de
cada uma delas
Deve-se sempre
conservar o material
original, porque o
novo material nunca
irá consegui ter as
mesmas
características que o
original, por vezes
nem mesmo a sua
plasticidade. O
8 material original é
também um
documento de
estudo sobre como e
quais as
características das
argamassas
antigamente. Se se
remove tudo, deixa-
se de ter um registo
muito importante.
Traço em Teses
9
volume universitárias
10 O presente interveniente não apresentou alternativas de resposta.
Boa
Modo de
Análise carbonatação;
Cumprimento aplicação; nº Preserva o valor Contactos com
estratigráfica; Traço em bom aspecto
Decisões a tomar Valor cultural dos requisitos e espessura cultural; é de certeza antigos
Funções do Ensaios volume e (permite usar
face aos do edifício e de das compatível e durável mestres;
11 revestimento físicos e características agregado mais
resultados obtidos do compatibilidade camadas; (se for o original, ou Investigação e
afectadas mecânicos dos fino na camada
nos ensaios revestimento e desempenho composição próximo disso); já experimentação
em constituintes de
especificados (constituintes carbonatou. própria.
laboratório. acabamento,
e traço).
por exemplo).

A1.V
Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)
Questões
Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24
Traço em
Depende da
12 volume,
situação
relação a/l
13 O presente interveniente não apresentou alternativas de resposta.
Sim para
evitar
entrada de
Material e tipo água nas
14
de suporte paredes,
evitando a
sua
degradação.
Como medida
preventiva de
Prescrever
anomalias de maior
Identificar execução de Compatibilidade
gravidade, o
origem das amostras em obra com as
15 Volume revestimento deve
anomalias para validação e preexistências
ser prioridade na
(causas) posterior (se houver)
estratégia de
aplicação
conservação de
paredes.
Espessura do
revestimento.
As argamassas
Traço em
de cal em pasta Contacto
Viabilidade volume Modo de Evita a degradação
16 não directo com a
técnica quando não aplicação do suporte.
apresentam obra
pré-doseados
fissuração por
retracção
restringida.
De 5 em 5 anos
deve fazer-se o
diagnóstico e
consequentes
Não refiro o Evitar
operações de
traço, porque fissuração
conservação. O
só devida ao peso
17 edifício mantém-se
recomendamos excessivo de
com o aspecto
Argamassas uma camada
inicial, bem cuidado,
Fabris. espessa
sem necessidade de
efectuar trabalhos
profundos de
reabilitação.

A1.VI
Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)
Questões
Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24
Os revestimentos
são elementos
importantes da
estrutura edificada,
pois além de
Marcação CE Quando
possuírem uma
18 (quando solicitado pelo
função protectora
aplicável) cliente
possuem muitas
vezes uma função
decorativa de grande
relevância para a
imagem do edifício.
Ao efectuar a
manutenção ou seja
conservação do
revestimento irá de
forma significativa
prolongar o seu
tempo útil de vida,
19 tendo aqui um factor
importante a nível
económico na
medida em que a
conservação é mais
barata do que se
tivermos de refazer
tudo de novo.
A não conservação
provocará o
Compatibilidade aparecimento de
20 1:4
com o suporte patologias, cujos
custos de reparação
serão significativos.
Nem sempre; por
Resistências vezes, a sua
21
mecânicas remoção/substituição
é preferível.
Compatibilidade É também uma
mecânica com forma de contribuir
22 os suportes; para a manutenção
Diversidade de da qualidade do
acabamentos. interior dos edifícios.
Ser compatível É um dos factores,
Anomalias Histórico da obra Especificidades Granulometria com a base e Condições embora não seja o
Natureza do Compatibilidade
associadas a (possíveis da obra, do da argamassa e materiais de aplicação único e a análise
23 suporte e do Depende com a argamassa
outros intervenções suporte e do especificidades adjacentes em e condições deva ser efectuada
revestimento existente/adjacente
elementos anteriores) revestimento do produto termos físico- ambientais enquadrando a obra
químicos como um todo.

A1.VII
Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)
Questões
Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24
Preserva o material
existente, que muitas Documentos
Não introduzir
Tipo de vezes tem muitos académicos,
24 sais solúveis
suporte anos de existência, ex. teses,
no sistema
bem como o próprio artigos, etc.
edifício.

A1.VIII
Anexo B. Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos

Tabela B1 – Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos


Síntese do estudo de mercado de materiais e produtos tradicionais doseados em obra ou pré-doseados, incluindo a
identificação dos seus produtores e marcas presentes no mercado nacional, bem como a descrição das respectivas
constituições, propriedades e campos de aplicação, de acordo com informação do respectivo fabricante.

Nome do Tradicional
Empresa material / doseado em obra / Descrição
produto Pré-doseado
Ligantes / aditivo
Cal de elevada pureza, completamente hidratada e
em pasta. Pronta a aplicar em pinturas, trabalhos de
Calcidrata Cal em pasta
estuque e na preparação de argamassas para
construção. Material pronto ou doseado em obra.
Cal como produto químico, obtido por
Calcidrata Cal viva descarbonatação do calcário, em fornos apropriados
para o efeito. Material não pronto.
Cal viva produzida em fornos tradicionais destinada a
trabalhos de estuque tradicional. Após saída do forno
é direccionada para um processo de moagem.
Calcidrata Cal hidratada
Também denominada de cal apagada resulta da
reacção entre a cal viva e a água. Material pronto em
Material tradicional
seco ou doseado em obra.
Cal aérea
Cal aérea como ligante natural hidrofugado a partir de
hidrófuga em
Fradical utilização de subproduto do azeite. Material pronto ou
pasta D.
doseado em obra.
Fradique
Cal aérea não
hidrófuga em Cal aérea como ligante natural CL 90 de acordo com
Fradical
pasta D. EN 459-1. Material pronto ou doseado em obra.
Fradique
Aditivo
Aditivo para argamassas de cal aérea, pozolana
Fradical pozolânico em
artificial em pó. Material pronto ou doseado em obra.
pó D. Fradique
Argamassas / rebocos
NX2 Cinza Reboco pronto, de cor cinza, para interiores e
Calcidrata
Linha Intomix exteriores, aplicado por projecção mecânica.
NX2 Branco Reboco pronto, de cor branca, para interiores e
Calcidrata
Linha Intomix exteriores, aplicado por projecção mecânica.
NX2 Hidro
Reboco pronto, hidrofugado de cor cinza, para
Calcidrata Cinza
exteriores, aplicado por projecção mecânica.
Linha Intomix
NX2 Hidro
Reboco pronto, hidrofugado de cor branca, para
Calcidrata Branco
exteriores, aplicado por projecção mecânica.
Linha Intomix
Reboco à base de cal aérea. Bio-Reboco de efeito
Fassabortolo K 1710
pozolânico e fibro-reforçado, à base de pura nano-cal,
Linha Pura Cal
para interior e exterior.
Port’Cal Refª Produto Argamassa de cal aérea, bicomponente (formulada a
Matesica
441 pré-doseado dois componentes) e de granulometria grossa.
Port’Cal Refª Argamassa de cal aérea, bicomponente (formulada a
Matesica
442 dois componentes) e de granulometria fina.
Regularização e protecção de paredes em
construções antigas, sobre suportes de constituição
Saint-Gobain pouco coesa e sujeitas a forte humidade ascendente.
Weber.rev 158
Weber Cal hidráulica e aérea, cargas silenciosas
seleccionadas, fibras sintéticas e adjuvantes
específicos.
Regularização e protecção de paredes em
construções antigas, sobre suportes de constituição
Saint-Gobain Weber.rev
coesa e não sujeitas a forte humidade ascendente.
Weber tradition
Cal aérea, ligante hidráulico, cargas, fibras sintéticas
e adjuvantes específicos.

B1.I
Tabela B1 – Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos (cont.)
Nome do Tradicional
Empresa material / doseado em obra / Descrição
produto Pré-doseado
Reboco de enchimento à base de cal hidráulica
natural. Argamassa de reboco com fibras naturais, à
Secil REABILITA
base de cal hidráulica natural, para enchimento e
Argamassas CAL Reboco
regularização em sistemas de reabilitação de
alvenarias antigas.
REABILITA Argamassa de consolidação de alvenarias antigas,
Secil
Alvenaria RA com desempenho mecânico e físico compatível com
Argamassas
01 suportes antigos.
Argamassa de reboco macroporosa para acumulação
Secil REABILITA Produto de sais, de elevada permeabilidade ao vapor de
Argamassas RA 05 pré-doseado água, para o tratamento de paredes com a presença
de humidades ascensionais e salitre.
Produto hidrofugado e permeável ao vapor. Reboco
Topeca Rebetop rpti
para regularização de fachadas, tectos, muros etc.
Rebetop
Topeca Produto hidrofugado e permeável ao vapor.
monomassa
Topeca Rebetop pedra Produto hidrofugado e permeável ao vapor.
Reboco à base de cal para a regularização e
Topeca Rebetop kal protecção de suportes antigos, sem fortes problemas
de humidade por ascensão capilar.
Acabamentos
FX2 Branco Reboco pronto, para acabamento, de cor branca, de
Calcidrata
Linha Intomix aplicação manual em interiores e exteriores.
Rialto Epoca Revestimento mineral para interior e exterior,
CIN Ottocento constituído por cal apagada envelhecida, pigmentos
Gama Rialto naturais, óxidos inorgânicos e aditivos minerais.
Acabamento mineral colorido à base de cal para
paredes interiores e exteriores.
Suportes admissíveis: weber.rev tradition, reboco
Saint-Gobain
Weber.rev kal tradicional de cal, weber.rev classic, weber.rev dur e
Weber
reboco tradicional de cimento.
Produto Cal aérea, ligante hidráulico, cargas seleccionadas,
pré-doseado fibras sintéticas e adjuvantes específicos.
Produto hidrofugado, raspado fino e colorido,
Rebetop e permeável ao vapor. Revestimento colorido
Topeca
argamassa utilizado em fachadas, muros (de suporte, vedação,
jardim) de exterior.
Produto hidrofugado e permeável ao vapor.
Topeca Rebetop color Revestimento mineral decorativo de aplicação em
fachadas, muros de vedação e paredes de interior.
Revestimento mineral colorido de capa fina à base de
Rebetop kal
Topeca cal, para acabamento de paredes de interior e
color
exterior.

B1.II

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